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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES OS MONSTROS NA ILUSTRAÇÃO PARA A INFÂNCIA A ponte que liga o medo à sua resolução Beatriz Túbal Carapuça Dissertação Mestrado em Educação Artística Dissertação orientada pela Profª Doutora Cristina Tavares e pela Profª Doutora Ana Bela Mendes 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

OS MONSTROS NA ILUSTRAÇÃO PARA A

INFÂNCIA

A ponte que liga o medo à sua resolução

Beatriz Túbal Carapuça

Dissertação

Mestrado em Educação Artística

Dissertação orientada pela Profª Doutora Cristina Tavares e pela Profª Doutora Ana Bela

Mendes

2017

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

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Resumo

Desde tenra idade que começa a nossa relação com os monstros: o medo do escuro, do

desconhecido, da solidão. Imaginamos o que não conseguimos compreender e isso pode

ser assustador. A sensação de medo é uma forma do nosso organismo nos avisar que

existem situações de perigo, físico ou emocional.

Criaturas monstruosas, algumas com aparência humana, outras híbridas, surgiam

descritas na mitologia greco-romana. As Esfinges, com corpo de leão e rosto humano,

protegiam os templos egípcios, criaturas sobrenaturais assombravam os indígenas na

América do Norte e os espíritos demoníacos oni faziam parte da tradição japonesa. Na

Idade Média a Europa medieval estava repleta de histórias fantásticas com dragões que

cuspiam fogo e gigantes que comiam homens.

Autores de fábulas, contos de fadas, contos tradicionais e moralistas tentaram, ao longo

dos anos, descrever ao público infantil, juvenil e adulto, de forma simples e objetiva, o

significado do medo e como enfrentá-lo. O psicanalista Bruno Bettelheim dedicou-se ao

estudo dos contos de fadas e que impacto teriam na vida das crianças. As crianças

identificam-se com as personagens: a solidão, os medos e os receios do herói.

Com o maravilhoso legado que escritores e ilustradores, portugueses e internacionais,

nos deixaram neste novo milénio, surge uma nova abordagem no cuidado dado à

ilustração na literatura infantil. Em todo o mundo são organizados festivais, exposições

e conferências, onde os melhores autores e artistas/ilustradores são premiados.

Atualmente, na Península Ibérica existem editoras especializadas em publicações para

crianças e jovens e que estão a ter sucesso em mercados além fronteiras. Destacam-se:

“Planeta Tangerina”, “Pato Lógico” e “Kalandraka”.

Nos livros infantis modernos predomina a presença do humor, e é desta maneira que as

histórias selecionadas apresentam a visão do medo, com monstros brincalhões,

demónios, bruxas, fantasmas inofensivos e animais fantásticos que espalham magia

desde o nascimento da civilização.

Palavras-chave: monstro; medo; ilustração; infância; literatura infanto-juvenil.

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

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Abstract

Since young age that our relation with monsters begins: fear of the dark, the unknown,

the loneliness. We imagine what we can’t understand and that can be frightful. The

sensation of fear is a way for our body to warn us about danger situations, physical or

emotional.

Monstrous creatures, some with human appearance, other hybrids, appeared described

in graeco-roman mythology. The Sphinxes, with lion body and human face, protected

the egypcian temples, supernatural creatures haunted North America’s natives and

demonic spirits “oni” made part of the Japanese tradition. In Middle Age medieval

Europe was filled with fantastic stories about fire breathing dragons and giants who ate

men.

Authors of fables, fairy tales, traditional and moralist tales tried, over the years, to

describe to children, young and adult people, in a simple and objective way, the

meaning of fear and how to face it. Psychoanalyst Bruno Bettelheim dedicated himself

to the study of fairy tales and what impact they would have on children’s lives. Children

identify with the characters: the loneliness, the fears and restlessness of the hero.

With the wonderful legacy that writers and illustrators, Portuguese and international,

have left us in this new millennium, a new approach arises in care given to illustration

in children’s literature. Around the world festivals, exhibitions and conferences are

organized, where the best authors and artists/illustrators are awarded.

Currently, in Iberian Peninsula there are book publishers specialized in publications for

children and young people, who are succeeding in markets across borders. Some of the

most relevant are: “Planeta Tangerina”, “Pato Lógico” and “Kalandraka”.

In modern children’s books the presence of humor predominates, and in this way the

selected stories introduce the vision of fear, with playful monsters, demons, witches,

harmless ghosts and fantastic animals that spread magic since the birth of civilization.

Keywords: monster; fear; illustration; childhood; children’s literature.

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Agradecimentos

Ninguém cresce sozinho!

Sem a ajuda da Orientadora Cristina Tavares e da Coorientadora Ana Bela Mendes esta

dissertação não teria sido possível. No entanto, não me posso esquecer os esforços da

Coorientadora inicial, a professora Sara Bahia. Também quero agradecer aos amigos,

colegas de mestrado, pessoal ao serviço nas bibliotecas públicas a que me dirigi, ao

Agrupamento de Escolas de Ferreira do Alentejo e seus alunos e aos ilustradores que

partilharam comigo elementos do seu trabalho.

Quero agradecer à minha família todo o esforço e empenho que tiveram na minha

formação pessoal. Sem eles, não seria a pessoa que sou hoje.

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Índice

Introdução ......................................................................................................................... 7

1 - O papel pedagógico dos “monstros” ......................................................................... 10

1.1 - Os monstros na pedagogia...................................................................................... 10

1.2 – A abordagem do “medo” na infância ..................................................................... 14

1.2.1 – A visão do “medo” nas artes e no mundo do espectáculo .................................. 21

2 - Contextualização da ilustração infanto-juvenil portuguesa no novo milénio (2000-

2016) ............................................................................................................................... 22

2.1 – A ilustração na literatura................................................................................... 22

2.1.1 – Breve resumo das origens da literatura e da ilustração infanto-juvenil .............. 22

2.1.2 - A ilustração infanto-juvenil no novo milénio...................................................... 33

2.2 –Ilustradores portugueses mais relevantes do século XXI ....................................... 35

2.2.1 – Editora Pato Lógico ............................................................................................ 35

2.2.2 – Editora Planeta Tangerina................................................................................... 36

2.2.3 – Editora Kalandraka ............................................................................................. 37

3 – Abordagem teórica e abordagem plástica das ilustrações infanto-juvenis portuguesas

relacionadas com a temática dos medos e monstros....................................................... 39

3.1 - Medos ..................................................................................................................... 39

3.2 - O Desconhecido ..................................................................................................... 46

3.3 - Monstros ................................................................................................................. 51

3.4 – Mitologia, Figuras Bíblicas e Criaturas Fantásticas .............................................. 55

3.5 – Diabos .................................................................................................................... 64

3.6 - Bruxas e Feiticeiros ................................................................................................ 69

3.7 - Fantasmas ............................................................................................................... 71

3.8 – Extraterrestres ........................................................................................................ 73

3.9 – Obras, autores e ilustradores internacionais relacionados com a temática do medo

e dos monstros ................................................................................................................ 75

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4 – Atividade “Desenhar o medo” .................................................................................. 79

Conclusão ....................................................................................................................... 84

Índice de Imagens ........................................................................................................... 86

Bibliografia Geral ........................................................................................................... 89

Bibliografia de Livros de Ilustração infanto-juvenil ...................................................... 91

Webgrafia ....................................................................................................................... 94

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Introdução

A literatura e a ilustração para crianças é algo relativamente recente. Os contos de fadas

e os clássicos da literatura infantil dos irmãos Grimm e de Perrault foram, na altura da

sua publicação, dedicados a um público adulto. Só com a ascensão da burguesia e a

construção de uma visão de família diferente é que a criança começa a ser vista como

um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias.

As obras que me proponho apresentar pertencem à “nova vaga” de literatura para

crianças. Estes novos escritores e ilustradores revelam um grande investimento, tanto ao

nível da apresentação gráfica e ilustração, como ao nível da escrita e dos assuntos

abordados. A sociedade mudou, as crianças mudaram e a forma como os assuntos são

abordados junto delas também se alterou muito nas últimas décadas.

As dúvidas e as questões colocadas pelas crianças deste século não podem ser as

mesmas que as crianças do século XVIII ou XIX colocavam; se a literatura para a

infância tinha uma função propedêutica e em muitos casos era uma forte arma para

instruir e educar, hoje, é também uma forma de estimular a imaginação e desenvolver o

espírito crítico. No entanto, muitas das dúvidas existencialistas continuam a ser comuns

a muitas gerações… Continuamos a procurar um sentido para a nossa vida e um

caminho para a felicidade.

No primeiro capítulo, intitulado de O papel pedagógico dos “monstros”, irei fazer uma

breve abordagem do mundo dos monstros de uma forma fabulosa/fantástica, remetendo

ao imaginário infantil, e ao imaginário do adulto que “se põe no papel da criança”

abordando a ideia de monstro desde a mitologia grega até aos escritores do

Romantismo.

O antropólogo David D. Gilmore refere quais os monstros mais temidos ao longo dos

séculos em diversas culturas, enquanto o historiador Luiz Nazário agrupa os monstros

em cinco classes e classifica em dezasseis conceitos as características dos monstros e

dos episódios do quotidiano que suscitam o medo.

Em tempos, o medo, a ansiedade e o pânico foram vistos como uma sensação corporal.

Nos nossos dias, a ciência localizou a origem das células nervosas que espoletam essa

sensação. As crianças pequenas não sabem exprimir os sentimentos por palavras e

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fazem-no indiretamente através do medo do escuro e do medo dos monstros. A

abordagem do medo para o público infantil começou pelos contos de fadas que

tradicionais e moralistas, simbolizam o mal através de seres monstruosos, desfigurados,

gigantes…

O conceito do medo também é bastante explorado ao nível cinematográfico, na dança e

na música.

No segundo capítulo, intitulado de Contextualização da ilustração infanto-juvenil

portuguesa no novo milénio (2000-2016), encontra-se um breve resumo da literatura e

da ilustração infanto-juvenil ao longo das épocas, com maior foco em autores

portugueses. As primeiras histórias para as crianças foram as fábulas e as cartas de

sílabas ou cartilhas que ajudavam as crianças a aprender a ler e continham ilustrações

maravilhosas.

Com o desenvolvimento das novas tecnologias, os ilustradores, deste novo milénio têm

uma maior facilidade em editar os seus trabalhos, pois os ambientes digitais conseguem

simular diferentes técnicas artísticas: aguarela, carvão, tinta da china, óleo, acrílico, etc.

Neste capítulo também é feita uma apresentação do trabalho, no âmbito da temática

abordada, de alguns ilustradores portugueses com provas dadas em três editoras

dedicadas à publicação de obras para a infância. Foram escolhidos alguns ilustradores

participantes da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha.

No terceiro capítulo, intitulado de Abordagem teórica e abordagem plástica das

ilustrações infanto-juvenis portuguesas relacionadas com a temática dos medos e

monstros, irei fazer um levantamento de livros com ilustrações focados no mundo

fantástico dos monstros, nos receios das crianças, e em alguns casos os medos dos

próprios monstros. O capítulo está organizado em oito categorias: “Medos”; “O

Desconhecido”; “Monstros”; “Mitologia, Figuras Bíblicas e Criaturas Fantásticas”;

“Diabos”; “Bruxas e Feiticeiros”; “Fantasmas”; “Extraterrestres”. Em cada categoria os

livros estão organizados segundo o ano da primeira publicação.

De forma a contextualizar as obras de novos artistas e autores irei recorrer a algumas

publicações do século XX, no entanto, os livros a que vou dar maior ênfase são de

autoria portuguesa e foram publicados entre os anos 2000 e 2016. Na vertente ilustração

vou dar uma atenção especial à sua plasticidade, tal como o tema da dissertação indica.

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Por último, no quarto capítulo, intitulado de Estudo de Caso, vou remeter para uma

atividade realizada na Escola Básica de Ferreira do Alentejo, no âmbito da

comemoração do “Dia das Bruxas”, onde vários alunos se disponibilizaram a desenhar o

“medo”.

Objetivo

O objetivo desta dissertação é dar a conhecer autores e ilustradores portugueses, cujas

obras literárias e artísticas se focam no maior medo das crianças: os monstros, o escuro

e o desconhecido.

Metodologia do trabalho prático

No âmbito do projeto multidisciplinar sobre a comemoração do “Dia das Bruxas” foi

realizada uma leitura expressiva, em voz alta, da obra “A Bruxa Arreganhadentes” de

Tina Meroto e ilustrada por Maurizio A. C. Quarello. Após a leitura foi elaborada uma

exploração oral das ilustrações. As crianças tiveram a oportunidade de falar sobre o que

sentiam, o que pensavam, o que lhes sugeria, cada uma das ilustrações que acompanham

a história. No seguimento, foi lançada a proposta de uma atividade de expressão

plástica. Cada aluno recebeu uma folha com instruções visuais e escritas e material para

a realização de uma pequena bruxa montada numa vassoura. Com a ajuda do professor e

seguindo o guião, as crianças, foram construindo primeiro a bruxa e depois a vassoura.

No dia seguinte, foi proposto por mim, após uma breve explicitação do pretendido a

realização de uma atividade de desenho. As crianças desenharam a temática

apresentada: o “medo”.

No final da atividade, cada um entregou o seu trabalho. Estes trabalhos constam no

capítulo 4.

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1 - O papel pedagógico dos “monstros”

1.1 - Os monstros na pedagogia

Desde tenra idade que as crianças são atormentadas pelo medo do escuro, da noite, do

desconhecido e dos monstros.

“O corpo do monstro incorpora — de modo bastante literal — medo, desejo, ansiedade

e fantasia.”1

Na Grécia Antiga, os monstros surgiam muitas vezes referidos na mitologia. Monstros

como cíclopes, centauros, criaturas híbridas que devido às suas características humanas

e animalescas aparentavam ser verídicos e suscitavam o medo aos grandes heróis

clássicos. Paul Newman refere no seu livro “História do Terror: O medo e a angústia

através dos tempos” que da mitologia grega nasceu a expressão de “pânico” do deus-

bode Pan, que atacava qualquer pessoa que interrompesse a sua sesta.

De acordo com Jacques Le Goff, muita da imaginação destas criaturas provinha da

curiosidade e do mistério das terras orientais. Os escritos de Ctésia de Cnido, no início

do século IV a.C., e de Megástenes, no ano 300 a.C., estão na origem das fábulas

relativas à Índia, conotada como “mundo maravilhoso dos sonhos do Ocidente”2, que

descreviam criaturas fantásticas. Os deuses descritos na religião hindu são

particularmente seres híbridos.

Na Idade Média todas as histórias eram contadas através do discurso oral. As narrações

eram reforçadas de forma a mostrar aos ouvintes a veracidade, a bestialidade e a

malvadez desta histórias fantásticas. Insistia-se na descrição e na credibilidade através

do excesso de caracteristicas reais: os monstros apresentavam corpos desfigurados e

deformados, desproporcionais, ora exageradamente altos ou com falta de partes do

corpo.

1 Jeffrey Jerome Cohen (2007) p. 26 e 27

2 Jacques Le Goff (1980) para. 604

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Tal como na maioria dos mitos, dos contos tradicionais e dos contos de fadas, os

receios, os desejos proibidos e os medos dos indivíduos são personificados nos

monstros. Medo este que era combatido através da inteligência e da força do herói.

No Renascimento, de acordo com Gil, o monstro era “produzido” igualmente

por uma vontade de saber científico, para aumentar a erudição sobre os novos

mundos e para conhecer o mundo em que se vivia.3

No renascimento os monstros são encarados com um olhar científico. Já não são

somente fruto da imaginação e são também características complementares de pessoas

reais, as chamadas de aberrações.

Alex Martoni escreveu um ensaio intitulado de “A estética gótica na literatura e no

cinema”, onde refere que existe um fascínio por monstros que vem do “romance gótico”

do príncipio do século XIX. Os escritores da época vitoriana viram o potencial dos

corpos mumificados e inspiraram-se em personagens que voltam à vida após a morte.

Os famosos romances de horror ocidentais como o Frankenstein de Mary Shelley e o

Drácula de Bram Stoker trouxeram o terror a um outro nível. A primeira história na

literatura inglesa sobre um vampiro foi da autoria de John Polidori e intitulava-se de

“Vampyre”, escrito em 1819.

Neste fim de século4, os monstros proliferam: vemo-los por todos os lados, no

cinema, na banda desenhada, em gadgets e brinquedos, livros e exposições de

pintura, no teatro e na dança. Invadem o planeta, tornando-se familiares. 5

David D. Gilmore, professor de antropologia e autor de vários livros, estudou o mundo

fascinante dos monstros imaginários. Na sua obra “Monsters: Evil Beings, Mythical

Beasts, and All Manner of Imaginary Terrors” descreve, ao longo das épocas, quais

foram os monstros mais temidos das diversas culturas. Desde as esculturas

monumentais de esfinges protectoras dos templos egípcios, como os monstros e deuses

mitológicos relatados nas aventuras do herói Hércules e nas obras Odisseia e Ilíada de

Homero, a criatura sobrenatural wendigo, que faz parte do folclore dos indígenas da

América do Norte, até aos demónios descritos na tradição japonesa, intitulados de

espíritos oni, e ao monstro asiático mais célebre: “Godzilla”.

3 Fernando M. M. Arnaldo Pinto da Silva (2007) p. 88

4 Remetendo ao final do século XX.

5 José Gil (2007) p. 167

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Graças à imaginação sentida na magia da Idade Média, por contraste com os contos de

fadas ao relatarem de forma moralista e infantilizada esta magia, a Europa medieval está

repleta de folclore, os dragões eram alguns dos monstros mais temidos e na Europa do

norte, na Escandinávia e na antiga Germânia, acreditava-se na existência de gigantes

que comiam homens.

O escritor de contos de fadas Charles Perrault (1628-1703) inspirou-se no medo à volta

da criatura lobisomem para criar a história do Capuchinho Vermelho.

Como os pesadelos dos homens são universais, muitos dos monstros partilham

características comuns: são gigantes, agressivos, comem humanos, têm corpos bizarros

e deformados.

No livro “Da Natureza dos Monstros”, escrito pelo historiador brasileiro Luiz Nazário,

o autor, através de teorias da monstruosidade, faz um paralelismo entre os monstros e o

cinema. Agrupa os monstros em cinco classes: os “monstros antropomorfos” que são

seres humanos alterados por natureza ou por ciência e criaturas sobrenaturais com

características híbridas humanas; os “monstros zoomorfos” que englobam animais

únicos, alterados por experiência ou com características sobrenaturais; os “monstros

vegetais” que, tal como o nome diz, são criaturas que tomam a forma de plantas

monstruosas; os “monstros polimorfos” em que as criaturas têm formas indefinidas e

matérias informes e disformes; e, por fim, os “monstros microscópicos”,

microorganismos como vírus, bactérias e germes.

Para classificar os diversos atríbutos dos monstros ou episódios do quotidiano que

suscitem o terror e o medo, Nazário faz referências a vários conceitos: “Agarramento”,

é o medo que sentimos ao ser agarrados, por um estranho em plena luz do dia ou por um

monstro; “Ubiquidade”, ver alguém ou algo num local inesperado, o monstro pode estar

em toda a parte e atacar quando menos se espera; “Unicidade”, monstros únicos e de

origens misteriosas, com características divinas primitivas e devastadoras;

“Invisibilidade”, capacidade de ver e não ser visto, possibilidade de se deslocar no

espaço e no tempo sem restrições; “Ferocidade”, monstros mutantes de dimensões

extraordinárias com características de animais ferozes e selvagens; “Voracidade”,

monstros que devoram tudo o que encontram; “Imortalidade”, muitos homens procuram

a juventude eterna, e nos mitos populares aqueles que a encontram tornam-se criaturas

monstruosas, como por exemplo a personagem principal do livro “O Retrato de Dorian

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Gray”, de Óscar Wilde; “Materialidade”, monstros com características concretas, têm

corpos musculados, pêlos, dentes aterradores, garras, etc.; “Progressividade”, todas as

histórias assustadoras têm uma evolução crescente, em que no início o mal reina e no

grande final o bem triunfa, ou não; “Indestrutibilidade”, monstros resistentes a todos os

ataques; “Hereditariedade”, mal que se transmite pelo sangue de forma hereditária;

“Reprodutibilidade”, monstros que se reproduzem através de ovos, virús, parasitas, etc.,

ou até deles próprios, dividindo-se, e que dão origem a uma nova geração de criaturas;

“Mutabilidade”, o processo de metamorfose no corpo; “Contaminação”, corpo

contagiado e que sofre uma transformação, perdendo a identidade e padecendo de

deterioração moral e decomposição física; “Despersonalização”, o corpo perde a sua

identidade e converte-se à monstruosidade; “Reversão”, suspeitar que os humanos não

são humanos na realidade, o que vemos é uma casca e o que se esconde por dentro leva

à paranoia.

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1.2 – A abordagem do “medo” na infância

(…) a sensação de medo é produzida em caminhos minúsculos entre células

nervosas numa pequena porção de tecido em forma de amêndoa chamada

amígdala. (…) O medo tem sido dividido em quatro componentes: a experiência

subjectiva de se estar nervoso ou apreensivo: mudanças fisiológicas; efeitos

exteriores, como tremores ou tensão; e a tendência para recuarmos perante

certas situações ou para as evitarmos. 6

Paul Newman7 refere que em tempos o medo era visto como uma sensação corporal, os

joelhos tremem, o estômago contrai-se e cria uma sensação de ansiedade e pânico, mas

com a evolução da ciência, mesmo não sendo totalmente exacto, foi possível sintetizar

estas sensações a um único local: a amígdala. Fisiologicamente, o medo é semelhante à

curiosidade e à excitação, o que diferencia é a maneira como é interpretado de forma

psicológica. Um método terapêutico de tratar o medo é obter conhecimento e

experiência de modo a controlar as emoções e a enfrentá-lo.

O autor fala sobre a comercialização do medo, e como por exemplo refere que as

pessoas tinham medo de ir à rua e ser atacadas até ser colocada iluminação, desde então

esse medo apaziguou mas resultou num outro: o medo de ser assaltado e os bens serem

roubados. Quantos mais bens necessários, mais apólices de seguro são vendidas.

Segundo David Guedes no texto informativo da exposição “Experimentar emoções”

refere que:

As emoções estão envolvidas em quase tudo o que fazemos. (…) A todo o

momento da nossa interação com o mundo estamos a sentir alguma coisa. Por

vezes, somos capazes de traduzir certos aspectos desta experiência interior e

6 Paul Newman (2004), p. 11, 13

7 Paul Newman é um escritor e leitor universitário residente no Reino Unido. É autor de várias obras

como Os Deuses Perdidos de Albion (1998) e Haunted Cornwall (2005). No livro História do Terror: O

medo e a angústia através dos tempos (2000) descreve a sensação de medo desde os espíritos ancestrais

da pré-história, o medo do desconhecido, o fascínio medieval pelo inferno, a caça às bruxas, num sentido

profundo e emocional como é explorado no romântismo, até ao fenómeno moderno da possível existência

de extraterrestres.

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

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utilizamos palavras como “tristeza”, “medo” ou “alegria” para comunicar aos

outros aquilo que estamos a sentir. 8

Mais adiante refere ainda:

Mais cedo ou mais tarde, é expectável que cada um de nós passe por

experiências de perda, conquistas, perigos ou frustações. (…) Em grande parte

dos casos, conseguimos identificar alterações no nosso corpo quando sentimos

uma emoção, tais quais como as “borboletas no estômago” na paixão, o “nó na

garganta” associado à ansiedade, o coração a palpitar com o medo ou o

ruborescer das faces com a vergonha. 9

Embora o conhecimento possa ser construído a partir de origens irracionais, antes de

tudo, é a partir dos pais e de quem cuida da criança que esta encontra um sentido na

vida.

Bettelheim10 (1903-1990) considera que: “Quando as crianças são pequenas, é a

literatura que da melhor maneira contém essa informação”.11 É a partir dos livros

infantis e através de histórias tradicionais, moralistas ou informativas que as crianças

batalham com o seu consciente interior, em que para além de aprenderem a enfrentar

problemas também se divertem com essa mesma aprendizagem. Enriquecem a forma

como encaram a vida e como solucionam problemas que as pertubam, com base na

estimulação da imaginação, no desenvolvimento do intelecto e das emoções. É essencial

na educação a leitura e o ouvir ler. As crianças precisam de compreender o que se

sucede no seu consciente para poder enfrentar as questões do subconsciente.

Familiarizando-se com este por meio de devaneios para responder a tensões

inconscientes.

Dos dois anos e meio aos três anos de idade começa a relação da criança com os

monstros, quando aprende a substituir os objetos por imagens mentais desses mesmos

objetos, o que faz com que ela consiga imaginar coisas como figuras monstruosas e

objetos inanimados com vida.

8 David Guedes (2016), texto de apresentação do folheto da exposição “Exprimentar Emoções”.

9 Idem, ibidem.

10 Bruno Bettelheim é um psicanalista austro-americano. Estudou literatura, história de arte e estética.

Durante 30 anos foi diretor da Escola Ortogénica em Chicago, um centro terapêutico para crianças com

perturbações graves do comportamento, inclusive autismo e esquizófrenia. 11

Bettelheim (1998), p. 10

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16

As histórias infantis e as histórias tradicionais e moralistas, tais como os contos de

fadas, oferecem à imaginação das crianças novas dimensões que seria impossível ela

descobrir por si só.

Segundo Paul Newman, Sigmund Freud diz que o medo advém do condicionamento e

de estimulos negativos, por parte de padrões familiares, de experiências pessoais ou até

mesmo da lei.

De acordo com Bettelheim os pais desenvolvem a ideia de que as crianças têm que ser

poupadas daquilo que mais as perturba, fazendo com que os filhos acreditem que todos

os homens são bons, que os homens não são monstros. Em fase precoce, as crianças não

sabem exprimir sentimentos por palavras e fazem-no de forma indirecta como o medo

do escuro, o medo de animais, o medo de monstros.

Em muitas histórias para crianças, como os contos de fadas, a virtude e a maldade estão

presentes nas personagens, as quais são boas ou são más, não existe meio termo,

contrariamente aos contos modernos. Este mal é simbolizado por bruxas, gigantes,

dragões, etc. Luiz Nazário faz esse paralelismo acerca da história da “Bela Adormecida”

adaptada em animação pelos estúdios do Walt Disney para o cinema:

(…) é um dragão negro, com asas de morcego, dominando a tela inteira,

expelindo fogo, revolucionando o universo com sua aparição, empurrando para

o abismo o pequeno herói desarmado, que representa todo o Bem. Nesse

imaginário, o Mal é identificado à primeira vista, por uma característica fisica

que pode ser o gigantismo (…).12

Não é o facto da virtude ganhar no fim que promove a moralidade, mas sim que o herói

é simpático e a criança identifica-se com ele, pois quer parecer-se com uma pessoa boa.

Nalguns livros de ilustração para a infância, a que irei fazer referência, os próprios

monstros reencarnam a personagem do herói, ou o seu fiel companheiro.

Há muitas histórias que proporcionam esperança de que os fracos e os hediondos

também podem triunfar e ser heróis. Mostram às crianças a necessidade de sermos

amados e o medo de sermos descartáveis e inúteis, o amor pela vida e o medo pela

morte.

12

Luiz Nazário (1998) p. 11

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17

Ainda dentro do estudo da psicanálise, Bettelheim considera que os contos tradicionais

mostram que para encontrarmos o amor numa relação interpessoal é preciso haver um

desapego do amor dos pais. É enfrentando a vida que a criança se vai encontrar e

relacionar com a personagem das histórias: a solidão, os medos e os receios do herói. As

crianças de hoje identificam-se com estes heróis pois também se sentem sozinhas,

aborrecidas e angustiadas; por outro lado, têm medo de não se identificarem com a

personagem bondosa, e têm medo de serem abandonadas e desprezadas. Estes medos

são comuns a crianças e a adultos.

Remetendo aos primórdios da pedagogia e da educação, o filósofo Platão compreendia

as ideias e defendia uma educação literária a partir do mito. Mesmo Aristóteles, mestre

da razão pura, concorda com os ensinamentos através do mito. O mito é fonte de

conhecimento. A morte é metafórica, pois a alma irá renascer num plano superior de

existência.

Segundo Michelle Taylor, um dos agentes encontrados nos livros infantis com histórias

de monstros é a catarse, termo utilizado por Aristóteles para purgar as emoções na

“Poética”. Através das histórias a criança consegue indiretamente expulsar os

sentimentos violentos e de medo.

Os contos infantis projectam o alívio nas tensões que atormentam as crianças e

oferecem formas de resolver estes problemas com soluções felizes.

Os episódios, nas histórias, são contados de forma casual. São acontecimentos

improváveis apresentados de uma maneira vulgar. As crianças obtêm mais conforto dos

contos e histórias do que o intelectual e o racional dos adultos.

Segundo Piaget13 (1896-1980), as crianças são egocêntricas e exigem que tudo tenha

uma explicação, o que espoleta um pensamento animista até à puberdade. As crianças

estão convictas de que os seus brinquedos possuem vida, acariciam os seus peluches

porque estão convencidas que eles gostam de ser tratados daquela forma, tal como elas

próprias. Falam com os seus brinquedos e pensam que eles sentem emoções e

13

Jean Piaget, de origem suíça e fundador da Epistemologia Genática, foi considerado um dos grandes

pensadores do século XX. Estudou matemática, biologia, química, geologia, filosofia, epistemologia e

lógica. Dedicou-se à investigação do desenvolvimento inteletual da criança e redigiu mais de quinhentos

artigos e cinquenta livros.

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18

necessidades como elas, tal como lêem e ouvêm nas histórias. Também os heróis muitas

das vezes são ajudados por objetos mágicos para triunfar nos seus objetivos.

Nos contos e histórias, quando a personagem principal se torna amigo de uma

personagem menos improvável e que à primeira vista parece desagradável, ajuda as

crianças a formar laços de amizade entre si sem preconceitos. Os leitores acreditam que

também são capazes de se comportar como a personagem principal ao tornarem-se

amigos de crianças desconhecidas, estranhas e que aparentemente as assustem.

Desde os primordios da humanidade que a crença em deuses sempre deu segurança aos

homens que não compreendiam a origem e a razão da sua existência. Com o progresso

social, científico e tecnológico, o homem libertou-se deste medo constante e tornou-se

mais racional.

Segundo Michelle Taylor, debruçando-se no trabalho do psicólogo Arthur Jersild, a

maior parte das crianças em idade pré-escolar já experienciaram o medo dos monstros

ou medos relacionados com monstros, muitas das vezes relacionados com a hora de

dormir, com o escuro e o ser deixado sozinho.

Ainda dentro do pensamento de Bettelheim, as histórias fantásticas estimulam o lado

emocional da criança e as histórias reais estimulam a capacidade racional. O maior

medo do homem está identificado como sendo a morte, mas no consciente das crianças

pequenas, essa é uma questão que elas ainda não conseguem compreender. Estas

histórias exploram, de forma personificada, os maiores medos das crianças: o escuro; o

desconhecido; a solidão; o abandono; a rejeição. Para assegurar a confiança da criança,

o herói é protegido, por exemplo, pelas fadas madrinhas ou por amuletos da sorte.

A criança cede muito facilmente ao aborrecimento quando alguém estimado não lhe dá

a atenção de que ela precisa, ou fica impaciente quando a fazem esperar. Surgem

sentimentos de raiva e estes desejos furiosos também são demonstrados nas histórias:

um trágico desfecho quando desejamos algo demasiado, ou porque não esperamos que

as coisas aconteçam ao seu tempo.

Em muitas histórias o herói é inicialmente depreciado e considerado estúpido, tal como

as crianças se sentem em relação aos adultos. Isto faz com que a criança se identifique,

mais uma vez, com a personagem.

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Cheri J. Meiners14, pedagoga americana, é a autora do livro infantil “Quando tenho

medo: Como ensinar as crianças a combaterem os seus medos”, ilustrado por Meredith

Johnson.

As crianças pequenas podem ter medo do escuro, dos trovões, das aranhas e dos

monstros. Podem ficar assustadas depois de observarem personagens, criaturas

ou acontecimentos na televisão. Podem temer desastres, como terramotos,

incêndios, cheias ou violência de que tenham sido vítimas, que tenham

observado ou de que tenham ouvido falar.15

De forma muito objetiva e de fácil compreensão para os mais novos, no seu livro, a

autora explora os mais profundos receios das crianças: pensam em coisas que podem

acontecer, imaginam coisas que as assustam, no escuro ou em sonhos, os filmes de

terror... Podem ser coisas imaginárias ou coisas reais, como a guerra, sensações menos

boas como a tristeza, a zanga, o susto. Infelizmente estas coisas acontecem

frequentemente, incluindo factos irreversíveis como a morte de alguém familiar, no

entanto existem pessoas que gostam das crianças e as escutam: a mãe, o pai, a família, o

professor. É bom ter um adulto chegado à disposição, que faça companhia à criança

para enfrentar a solidão, que dê segurança, que a conforte, que a ajude a distinguir o

imaginário do real. Os amigos também são fundamentais no crescimento emocional,

falar, brincar e rir ajuda a ultrapassar e esquecer as preocupações. Ter um lugar onde a

criança se sinta em segurança, onde possa dizer palavras agradáveis, respirar fundo,

pensar sobre as coisas que a fazem feliz.

O livro apresenta algumas sugestões para ajudar a tranquilizar e a dar soluções às

crianças para enfrentarem o medo: Escutar e fazer perguntas, as crianças gostam de

atenção, perguntar do que têm medo; falar com simplicidade e honestidade, dar

respostas verdadeiras consoante a idade; falar baixo e calmamente, ser gentil para não

alimentar o pânico da criança; esclarecer confusões, ajudar a distinguir o que é

imaginário e o que é real; pôr os medos em perspectiva, tranquilizar a criança e

demonstrar que ela não é a causadora dos seus medos; ler livros que falem sobre o

medo, oferecer instrumentos visuais e didáticos para aumentar a coragem e as crianças

identificarem-se com as personagens; ajudar as crianças a concentrarem-se nas coisas

14

Cheri, especializada em ensino primário e mestre em educação elementar e educação sobredotada, é

professora de pedagogia na Universidade do estado do Utah, nos Estados Un idos da América. 15

Cheri J. Meiners (2004) p. 36

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positivas; estar disponível, pois as crianças podem sentir medo a qualquer momento;

dizer às crianças que se gosta delas, as crianças devem sentir-se amadas; deixar as

crianças saberem que nunca estarão sozinhas, as crianças devem saber quem é o

responsável pelo bem-estar; manter abertas as linhas de comunicação entre a casa e a

escola, discutir os receios em ambiente escolar; seguir uma rotina saudável, manter o

equilíbrio físico e emocional; supervisionar a televisão e os jogos, pois deve-se ter

cuidado com o que vêem na televisão, controlar o nível de violência; encorajar o jogo

saudável, exprimir emoções através da arte, da escrita, jogos criativos; preparar para

mudanças e emergências, para não entrar em stress; ajudar as crianças a ajudarem os

outros, como no caso de instituições, por exemplo enviar cartas aos bombeiros; ensinar

as crianças a perceberem as diferenças, as pessoas têm características, culturas, hábitos

diferentes; caso o medo limite a vida da criança deve-se procurar ajuda profissional

junto a um pediatra, um psicólogo ou um orientador pedagógico.

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21

1.2.1 – A visão do “medo” nas artes e no mundo do espectáculo

O conceito de medo e de monstro é cada vez mais comercializado e explorado a nível

social, científico e artístico. Na literatura o universo fantástico dos monstros remete para

as histórias mitológicas, os contos de tradição oral, os contos de fadas e os romances

góticos. No cinema estas histórias são adaptadas para o grande ecrã, com efeitos

especiais e ruídos de fundo, criando múltiplas sensações nos espectadores.

Podemos exemplificar com diferentes situações:

Como grande impulsionador da partilha de sensações arrepiantes, o Festival

Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, Motel X, deu a conhecer a produção de

curtas metragens e filmes portugueses neste género cinematográfico nos últimos dez

anos.

Não é só na literatura e no cinema que os medos dos mais pequenos têm destaque, a

pianista Joana Gama em colaboração com o coreógrafo Victor Hugo Pontes criaram o

espétaculo “Nocturno”, inspirado nos medos das crianças acerca do escuro e da noite,

em que “Aranhas, trovoadas, sombras, roupa ou brinquedos que ganham vida, sons e

silêncios que se ampliam, são convocados para este espetáculo, debaixo de um gigante

lençol estrelado (…).”16 (ver Anexo 1)

O “Monstro no Labirinto” é uma ópera multimédia do inglês Jonathan Dove que estreou

no Festival d’Aix en-Provence, na França, em julho de 2015. Junta adultos e crianças, e

o espetáculo conta o mito grego sobre a viagem de Teseu em busca do Minotauro, para

resgatar as crianças que tinham sido oferecidas como sacrifício ao monstro de Creta.

16

Agência Lusa (2017) artigo na revista digital “O Observador”.

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22

2 - Contextualização da ilustração infanto-juvenil portuguesa no novo

milénio (2000-2016)

2.1 – A ilustração na literatura

2.1.1 – Breve resumo das origens da literatura e da ilustração infanto-

juvenil

Antes de existir a escrita, os homens comunicavam por desenhos figurativos. Na pré-

história eram desenhados e pintados nas paredes das cavernas episódios do quotidiano

como as caçadas. Na civilização egípcia o interior das pirâmides, dos mausoléus e dos

locais de culto eram decorados com pinturas, e manuscritos como, por exemplo, o livro

dos mortos que era ilustrado com imagens.

Na Grécia os feitos mitológicos eram pintados nas cerâmicas. Durante o Império

Romano, as paredes da cidade de Pompeia, antes de ser devastada pelo vulcão Vesúvio,

estavam decoradas com frescos que representavam episódios mitológicos.

Na Idade Média temos exemplos de imagens ilustrativas na tapeçaria, nos vitrais, nos

baixo-relevos nas colunas. As igrejas eram decoradas com episódios bíblicos para

instruir as pessoas que não tinham o previlégio a uma educação escolar e literária. As

iluminuras ilustravam os livros das horas e as xilogravuras ilustravam o antigo e o novo

testamento na Bíblia dos pobres. Em Portugal temos exemplos de narrativas ilustradas

nas esculturas nas frentes das igrejas, iluminuras e azulejos.

A ilustração é uma interpretação de um texto, ideia, etc. Pretende transmitir algo, pois:

(…) estimula a fantasia do leitor, clarificar o conteúdo literário tornando-o

mais acessível, contribuir para criar (recriar) a atmosfera do texto, acentuar os

aspectos recreativos e permitir uma síntese de parte do conteúdo.17

17

Emílio Távora Vilar (1997)

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23

No caso da literatura para crianças, as imagens contam uma história, e a beleza dessas

imagens permite persuadir e motivar a que estas se interessem mais pela leitura.

Os contadores de histórias têm um papel importante na transmissão do conto de

tradição oral, da passagem do testemunho dos mais velhos para os mais novos. A

tradição oral é o gesto de contar e ouvir histórias, e é das atividades mais antigas

praticadas pelo homem. Numa época recuada, o desconhecido e o extraordinário

constituíam mistério para a cabeça humana, e a imaginação e a fantasia, transcrita para

fábulas, mitos e lendas, eram uma tentativa de explicar estes fenómenos naturais e,

alegadamente, sobrenaturais.

Na obra “História da Literatura Infantil Portuguesa”, originalmente publicado em 1982,

a autora Maria Pires refere que as fábulas orientais, como por exemplo os dois maiores

épicos clássicos da Índia, o Mahabharata e o Ramayana, serviram de inspiração às

fábulas ocidentais.

Durante a Idade Média até ao final do século XVI predominavam os contos populares

de tradição oral, que corriam de boca em boca. Foi uma época em que poucos sabiam

ler e os livros existentes eram predominantemente de cariz religioso. Uma das formas de

uma franja da população contactar com a literatura eram nos poucos teatros de rua com

marionetas e outros acessórios que dramatizavam pequenos episódios e histórias da

tradição oral. Como não existia a preocupação de escrever para crianças e a própria

ideia de infância era algo desvalorizado ou inexistente, estes contos destinavam-se a

todos os públicos. Nos dias de hoje seria impensável apresentar a crianças contos com

tamanha violência e perversidade.

Como atrás referido, as crianças ou o público infantil não eram preocupação dos

contadores de histórias e verificamos que com a descoberta da imprensa continuam a

não o ser. As crianças liam livros que não eram adequados para a sua faixa etária.

As primeiras histórias para as crianças foram as fábulas. As fábulas, originadas na

Sumália, tiveram um papel essêncial na compreensão e educação das crianças desde

sempre. Citando Maria Pires:

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24

As fábulas são pequenas histórias, em que geralmente intervêm animais, para

ilustrar as experiências morais dos seres humanos, explicando com sabedoria

popular uma facto da natureza. 18

Esopo (século VI a.C.), escritor grego, foi o criador deste género literário. A famosa

fábula “A cigarra e a formiga” é originalmente atribuída a Esopo, que mais tarde sofreu

reinterpretações por parte de outros autores, como o francês Jean de La Fontaine (1621-

1695).

As cartas de sílabas ou cartilhas, que continham abecedários com imagens e rimas,

ajudavam as crianças a aprender e a ler. Durante os descobrimentos, difundimos os

contos para o Brasil, Macau e Timor.

Na Idade Média também surgem os bestiários, voltando à temática da monstruosidade, e

a maioria era concebida especialmente na Inglaterra e na França. Os bestiários cujas

origens já remontavam ao período greco-romano, eram catálogos ilustrados que reuniam

informação acerca de animais reais e animais fantásticos. Citando Angélica Varandas19,

professora universitária, acerca dos bestiários:

O Bestiário organiza-se em torno de pequenas narrativas que descrevem várias

espécies animais, com propósitos morais e didácticos. Neste sentido, cada uma

dessas narrativas é composta por duas partes distintas: uma parte descritiva de

sentido literal (a descrição, proprietas ou naturas) e a sua moralização e

interpretação teológica de sentido simbólico-alegórico (também designada

como moralização, moralitas ou figuras).20

Os animais personificavam as qualidades humanas, como por exemplo o leão a coragem

e a coruja a sabedoria. Como irei especificar no capítulo 3 onde refiro que o escritor

Nuno Matos Valente em parceria com a ilustradora Natacha Costa Pereira criaram um

Bestiário Tradicional Português destinado a um público jovem, onde fazem uma

recolha de algumas criaturas fantásticas do folclore lusitano.

18

Maria Pires (1982) p. 38 19

Mestre e Doutorada em Literatura Inglesa Medieval, é professora auxiliar na Faculdade de Letras da

Universidade de Lisboa. O artigo A Idade Média e o Bestiário está disponível online na Revista

Medievalista. 20

Angélica Varandas (2006) artigo na revista digital “Medievalista”.

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25

No século XVII continuou a predileção pela fábula. Na França foram publicadas as

Fábulas de La Fontaine, em que as histórias eram acompanhadas de ilustrações21.

Em Portugal, o escritor e poeta D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666) foi autor de

muitas obras didáticas. Nos quatro Apólogos dialogais, uma coletânea de vários textos,

a intervenção de seres inanimados conduz-nos ao fabuloso, no entanto é um texto

híbrido, ao gosto barroco, pois existe um diálogo entre os objetos, e não uma narração

da história.

John Locke (1632-1704), filósofo inglês, aconselha o público infantil a iniciar a sua

leitura com as fábulas de Esopo e que este género literário “(…) deveria ter ilustrações a

fim de divertir as crianças e de as encorajar a ler (…)”.22 Os educadores foram

influenciados pelas suas ideias humanistas e pela sua filosofia iluminista.

A imprensa, como processo gráfico de extensão da comunicação informativa, foi usada

desde o século XVI e a partir do século XVIII, essencialmente, na impressão de jornais.

No entanto, com o uso desta nova tecnologia foi possível “democratizar” o acesso ao

romance escrito.

No século XVIII, periodo do Romantismo, o interesse pelo passado e o fantástico,

intensifica-se.

Nos contos de fadas é descrito um mundo diferente do real, povoado de

personagens como as fadas, os gigantes, os anões, os dragões, os animais que

falam que parece corresponder à satisfação das necessidades irracionais do

público infantil, que não eram de todo consideradas nos chamados contos

morais e de formação. 23

Em França Charles Perrault (1628-1703), contemporâneo de Jean de La Fontaine, é

autor de inúmeros contos de fadas tais como “A Bela Adormecida” e a “Cinderela”.

Na Inglaterra, o escritor e ilustrador Edward Lear (1812-1888) publicou poemas de

humor e absurdos e nos contos de fadas destacou-se Lewis Carrol (1832-1898), autor da

famosa obra “Alice no País das Maravilhas”, ilustrada por John Tenniel (1820-1914).

21

Em 1995, a artista portuguesa Teresa Lima ilustrou esta colectânea de contos fabulásticos, que foi

editado pela Edinter. 22

Maria Pires (1982) p. 306 23

Idem, p. 60

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26

O artista francês Paul Gustave Doré (1832-1883) foi um dos ilustradores mais bem

sucedidos da sua época, nomeadamente nos contos de fadas e nos contos para a

infância. (Ver Anexo 2)

(…) seu talento incomparável e seu estilo inconfundível podem ser comprovados

e aplaudidos em cada uma de suas obras, ricas em contrastes luminosos e

formas fantásticas; sua presença no imaginário iconográfico dos leitores mais

dedicados no mundo todo também é uma certeza. Seus desenhos possuem uma

materialidade plástica inigualável, não apenas acompanhando, mas também

ampliando decisivamente as metáforas e os símbolos presentes em grandes

clássicos da literatura mundial, como em obras de Honoré de Balzac, François

Rabelais, Miguel de Cervantes, La Fontaine, Charles Perrault, Edgar Allan

Poe, Victor Hugo, Dante Alighieri, e até mesmo a Bíblia.”24

O “Gato das Botas”, a “Capuchinho Vermelho” e a “Bela Adormecida” são alguns

exemplos de histórias ilustradas por Doré. As suas ilustrações serviram de referência

para as futuras gerações de artistas, não só no âmbito das artes plásticas como também

no cinema:

“Sendo uma referência iconográfica absoluta para leitores do cânone literário

mundial, a obra de Doré também teve imensa importância para várias

produções cinematográficas, mostrando que a dramaticidade de suas imagens,

ao mesmo tempo deslumbrantes e aterradoras, feéricas e demoníacas,

ultrapassa os limites da própria gravura, passando a interagir e a influenciar

não apenas a palavra escrita, mas a moderna imagem-movimento do cinema de

nosso tempo.25

Em Portugal a peça “O Auto das Fadas”, do dramaturgo Gil Vicente, é um bom

exemplo da presença dos contos de fadas no teatro português. A peça de teatro foi

apresentada no reinado de D.Manuel I e é formada por várias personagens: a Feiticeira,

o Diabo, dois Frades e três Fadas. Argumento:

A peça trata de uma feiticeira, Genebra Pereira, que se vai queixar a el-rei

porque vivia receosa de ser presa devido ao seu ofício. Perante o rei, a feit iceira

24

Giuliarde de Abreu (2017) Artigo na revista digital “Obvious”. 25

Idem Ibidem.

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27

argumenta a necessidade do seu ofício e relata os benefícios que o mesmo tem

trazido para muita gente.26

Por sua vez, Almeida Garret (1799-1854), escritor e poeta, autor da obra “Fábulas e

Contos”, refere-se ao hábito de usar as fábulas como meio educativo.

Na literatura tradicional alemã destacam-se os irmãos Wilhelm (1786-1859) e Jacob

(1785-1863) Grimm. Publicaram contos de fadas e fábulas, onde elementos mágicos e

fantásticos são incorporados com a realidade.

Na Dinamarca, Hans Christian Andersen (1805-1875), apesar de ser poeta e romancista,

é nas histórias infantis e juvenis que vai ganhar destaque, com as suas adaptações dos

contos de tradição oral:

De facto, por culpa do escritor dinamarquês, rouxinóis e imperadores, soldados

de chumbo, reis mais ou menos vestidos, pequenas sereias e vendedeiras de

fósforos, povoam o nosso imaginário desde a mais tenra idade e são passados

de geração em geração, como verdadeiro património genético da espécie

humana.27

Em 1866 Hans Christian Andersen esteve em Portugal e descreveu detalhadamente esta

visita na sua obra “Uma visita a Portugal”. O escritor dinamarquês fez uma travessia no

rio Tejo e passou pelo Barreiro28.

Mais tarde a inglesa Beatrix Potter (1866-1943) fascinada pelos contos de fadas e

interessada tanto na área da literatura como na área da ilustração, públicou e ilustrou

inúmeras obras dedicadas à infância. A história de “Peter Rabbit”, em português

“Pedrito Coelho”, é a sua obra mais famosa. As suas ilustrações são delicadas e

detalhadas, com traços finos e cores suaves.

Sensivelmente no mesmo período, Guerra Junqueiro (1850-1923), politico, escritor e

poeta português, publicou contos para a infância.

26

Infopédia (2003-2017) Artigos de apoio Infopédia. 27

Ju Godinho e Eduardo Filipe (2005) p. 5 28

Em 2005, O município do Barreiro, em homenagem ao bicentenário do nascimento do escritor, criou

uma iniciativa que visa promover a ilustração para a infância. Desta ideia nasceu o projecto “Ervilhas

Para Verdadeiras Princesas” que contou com a participação de 10 ilustradores portugueses e 10

ilustradores estrangeiros. (Ver Anexo 3)

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Mas foi Aquilino Ribeiro (1885-1963) que se destacou no contexto ao publicar em 1924

as aventuras da raposa Salta-Pocinhas, em o famoso “Romance da Raposa”, inspirado

numa história árabe, que viria a ser o seu maior êxito e uma das fábulas mais

encantadoras da literatura infantil e jovem portuguesa. Esta obra foi ilustrada pelo

francês Benjamin Rabier (1864-1939) “(…) o primeiro lápis de todas as grandes

revistas parisienses da especialidade, que expressamente fez os desenhos a cores.”29

Passada a época conturbada em relação à leitura e à produção de livros, em que o foco

foi apenas a reedição de obras, os ideais da revolução francesa simultaneamente com o

romantismo não tardaram a chegar a Portugal, e com eles a inspiração tomou como

mote o folclore português e também o galego. Ambos palco deste mundo de fantasia,

onde abundam as bruxarias, os espíritos, as lendas e os mitos da Serra de Sintra, as

fadas, as mouras encantadas dos velhos castelos, etc.

Nos contos populares distingue-se Adolfo Coelho (1847-1919) pedagogo, filólogo e

escritor que utiliza jogos e rimas infantis, na coletânea em que recolheu contos de

tradição popular, intitulada de “Contos Populares Portugueses” e que publicou em 1879.

Durante este período verificou-se um grande desenvolvimento nas áreas da literatura

infanto-juvenil, que decorria já de um interesse visível no século XIX começam a fazer-

se traduções de autores estrangeiros. Traduções do francês e de outras línguas.

No que toca à ilustração a maior parte dos artistas eram estrangeiros pois a produção

artística nacional era muito dispendiosa. As gravuras em metal e em madeira do século

XVIII foram sendo substituídas pela litografia e a impressão a quatro cores no século

XIX que vem potenciar aspetos expressivos da ilustração.

Por outro lado, obrigatoriedade do ensino primário em 1911 (Decreto de 29 de março de

1911) vai fazer surgir as bibliotecas escolares, e consequentemente o aumento da leitura

por parte dos jovens.

No século XX a literatura infantil começa a refletir as condições sociais. Adquiriu

dimensão própria, estimula a imaginação, desenvolve o sentido de humor, o gosto pela

literatura em geral, e estimula a compreensão de outras raças e países. Acentua as

diferentes faixas etárias, entre as crianças e os adultos, e os diferente géneros: o

romance na literatura feminina e as aventuras na literatura masculina.

29

Aquilino Ribeiro (1924) p. 183

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A difusão de obras nacionais na literatura para as crianças e jovens foi uma solução para

combater o analfabetismo em Portugal. Os livros infantis não se destinavam só a

entreter a criança, esta vertente lúdica irá motivar os mais novos a ganhar o gosto pela

leitura, e também é essencial para o seu desenvolvimento psicológico, para a formação

do carácter e para fomentar o poder de opinião.

A literatura infantil teve um impacto muito grande durante este século, pois para além

de divertir, passou também a ter um carácter formativo, educativo e instrutivo, desde a

temas como a religião, a ciência, técnicas agrícolas, etc. É no jardim infantil que as

crianças têm um primeiro contacto com os livros. As brincadeiras à volta da fogueira e

os jogos infantis nos recintos pré-escolares modernizaram-se, e as professoras contam

histórias e os alunos ilustram através de desenhos, pinturas e dramatizações com

fantoches. Passou a ser comum nos meios modernos de comunicação, os contadores de

histórias na televisão, na rádio e nos teatros. E a partir dos anos vinte a ilustração

também ganha uma certa notoriedade, sendo que os ilustradores passam a assinar as

suas criações e começam a ser reconhecidos.

Na literatura de fantasia, a autora Rosa Silvestre30 escreveu “A Lenda da Borboleta”,

conto ilustrado pelo pintor Roberto Araújo (1908-1969), em que este usou a técnica da

collage em folhas de cartão espesso com o texto impresso a preto em papel dourado e

prateado.

Maria Alice G. d’Andrade Santos31, escritora e ilustradora, publicou “Bonecos e Flores”

“Nas Grutas Maravilhosas”, onde existe um mundo de animais e bruxas, e as

personagens exploram grutas horrorosas.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das figuras mais importantes

no universo da poesia e das histórias para a infância e para adultos. Citando José

António Gomes, Sophia deslumbrou-nos com um dos estilos mais originais da literatura

do século XX:

30

Pseudónimo de Maria Lamas (1893-1983). Jornalista, tradutora, ativista política, teve um importante

papel no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, no Movimento Democrático de Mulheres e no

Movimento Unidade Democrática. É autora de romances e contos para a infância, criou revistas infantis,

organizou exposições e conferências. 31

A sua irmã Maria Teresa d'Andrade Santos escreve para a Revista “Beiral” durante o tempo do Estado

Novo.

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Produzindo um efeito quase encantatório, as suas obsessivas enumerações são

servidas pela sábia combinação de nome e adjectivo. Das imagens emana uma

sensorialidade que resulta também duma prosa riquíssima de recursos rítmicos

e musicais, cujo léxico se reporta fundamentalmente ao mundo natural, fixando-

se nos elementos ligados à água, à terra, ao ar e ao fogo. 32

O ilustrador português Henrique Cayatte ilustrou várias obras de Sophia Andresen,

como “O Bojador” e “O Cavaleiro da Dinamarca”.

Na ilustração Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e Stuart de Carvalhais (1887-1961),

numa linha mais virada para a caricatura, também chegam a ilustrar livros para crianças

e jovens. As ilustrações são livres, podem ter apenas um carácter decorativo, sem uma

relação literal com o texto, como é o caso das ilustrações do arquiteto Raul Lino (1879-

1974) para no livro “Animaes nossos amigos”, escrito pelo poeta Afonso Lopes Vieira

(1878-1940).

Na literatura tradicional Portuguesa destaca-se Ana de Castro Osório33 (1872-1935) com

“Contos Maravilhosos da tradição popular”, ilustrado pelo pintor e caricaturista Tomás

Leal da Câmara (1876-1948). Para melhor compreensão dos clássicos, o Dr. João de

Barros fez adaptações em prosa dos “Lusíadas” de Luíz Vaz de Camões e da “Odisseia”

de Homero destinadas às crianças. Temas históricos, adaptações, traduções e contos

tradicionais são muito requisitados, e na ilustração destacam-se os artistas modernistas

como António Carneiro (1872-1930), Almada Negreiros (1893-1970) e Sarah Afonso

(1899- 1983), que ilustrou vários livros de Sophia de Mello Breyner Andresen, como

por exemplo “A Menina do Mar”.

“Inconfundível Maria Keil”34 (1914-2012) foi uma figura notável na pintura, design e

na ilustração portuguesa. Para além da ilustração de livros infantis, a sua vasta

experiência como desenhadora deixou marcas na azulejaria e nos processos de

comunicação, tais como os anúncios publicitários e os cartazes. Foi, e é, uma artista que

valorizou a cor e a linha.

32

José António Gomes (2001) p. 21 33

Ana de Castro Osório é considerada a fundadora da literatura infantil em Portugal, com a obra de “Para

as Crianças” (1897). Traduziu contos dos irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen e escreveu peças de

teatro infantil. 34

Fernando de Azevedo (2001) p. 171.

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Segundo Ligia Cademartori35, os versos de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando

Pessoa (1888-1935), no poema “Dactilografia” fazem um paralelismo entre a vida

adulta e o primeiro contacto com os livros infantis e a ilustração:

Temos todos duas vidas:

A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,

E que continuamos sonhando, adultos num substrato de névoa;

A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,

Que é a prática, a útil,

Aquela em que acabam por nos meter num caixão.

Na outra não há caixões, nem mortes,

Há só ilustrações de infância:

Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;

Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.36

Nos anos 30, devido ao domínio do Estado Novo, houve um declive na produção

literária infantil. As obras literárias publicadas visam apenas a defesa do regime político

em vigor. As traduções de livros estrangeiros são muito frequentes e o interesse

acentua-se pelos livros de carácter moralizante, histórico e apologético.

À exceção de autores de renome, as restantes ilustrações não são assinadas, o que

mostra que ainda é um trabalho com pouca relevância.

Após a revolução dos cravos, em 1974, problemáticas como a pobreza, a emigração, a

diferenciação social, os conflitos sociais e a descriminação racial eram temáticas

abordadas na produção literária infantil e juvenil.

No panorama internacional, destacou-se o escritor e ilustrador norte-americano Theodor

Seuss Geisel (1904-1991), mais conhecido por Dr. Seuss. Publicou dezenas de livros

35

Escritora de nacionalidade brasileira, é autora do livro “O Que É Literatura Infantil”. 36

Álvaro de Campos (1933) p. 301.

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infantis, com ilustrações divertidas a aproximarem-se da caricatura, e todos com

mensagens educacionais e inspiradoras.

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33

2.1.2 - A ilustração infanto-juvenil no novo milénio

Nos dias de hoje a literatura e a ilustração têm um papel fundamental. São organizados

em todo o mundo congressos, exposições, feiras e conferências, e são atribuídos

prémios aos melhores escritores e aos melhores ilustradores. Nos livros infantis

modernos predomina a presença do humor e do “nonsense”.

A ilustração tem um lugar de destaque nos livros infantis e juvenis, e passou a ser

considerada um complemento ao texto. Em alguns livros infantis a ilustração tem um

papel mais importante que o próprio texto, pois o público-alvo ainda não descodifica o

código escrito.

Foram feitas muitas adaptações dos clássicos dos contos de fadas, por exemplo, como já

referi no subcapítulo anterior, a título de exemplo a artista Teresa Lima37 que ilustrou as

“Fábulas de La Fontaine”, e Jorge Ribeiro ilustrou uma série de contos infantis, entre

eles a “Bela Adormecida”, o “Gato das Botas” e “Hansel e Gretel”, com texto adaptado

de Alice Eça Guimarães.

O novo conceito de literacia é mais vasto e engloba o desenvolvimento da capacidade

de interpretação e de entender a informação que o autor ou o ilustrador pretendem

passar.

A importância da ilustração não é só ao nível das monografias. Com o forte crescimento

nas áreas do marketing e da publicidade, a ilustração é encontrada nos anúncios,

catálogos e cartazes.

Para a nova geração de ilustradores, podemos considerar que representa um concorrente

muito forte os meios audio-visuais. São introduzidas novas técnicas como a arte

multimédia e digital que permitem simular todas as técnicas artísticas, desde a aguarela,

colagem, tinta a óleo, entre outras. Muitos livros publicados contém ilustrações digitais

que aparentemente parecem realizadas com técnicas tradicionais.

37

Teresa Lima nasceu em 1962, vive e trabalha em Lisboa, e é licenciada em Pintura pela Faculdade de

Belas Artes da Universidade de Lisboa. A partir de 1994 começou a dedicar-se à ilustração de livros

infanto-juvenis. A técnica mista (na qual junta pintura, desenho e colagem) é a predilecta e alguns dos

seus trabalhos são inspirados no imaginário de Lewis Carrol e de outros contos fantásticos. É professora

de artes visuais na Escola Vergílio Ferreira em Lisboa.

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34

Outro recurso muito utilizado na ilustração infanto-juvenil é a técnica mista, que

combina vários materiais.

O mercado dos livros infantis em Portugal não tem grande consistência e muitas vezes

as editoras optam por traduzir obras estrangeiras. No entanto, existem editoras

especializadas em publicações para crianças e jovens que estão a ter sucesso em

mercados além fronteiras. Nas editoras portuguesas para o público infantil e jovem

destacam-se “O Planeta Tangerina”, “Pato Lógico” e “Mini Orfeu”.

A pintora portuguesa Paula Rego (1935) também dedicou muito do seu trabalho aos

contos populares tradicionais e aos contos de fadas. Fez uma série de seis litografias

coloridas que ilustram o conto “O Príncipe Porco”, a história de um príncipe meio porco

meio humano, que na versão original foi publicado pelo escritor italiano Giovanni

Francesco Straparola (1480-1557). Também o conto “A Gata Branca”, da escritora

francesa Madame d’Aulnoy, mereceu destaque na obra de Paula Rego. Na sua pintura

ilustra o príncipe rodeado de gatos, entre eles a gata branca, que na verdade é uma

princesa que está enfeitaçada num corpo de um felino.

João Pedro Ferro, citando M. Helena Duarte-Santos, refere que a banda desenhada

infantil tem um importante papel na educação. Ajuda a conhecer o mundo da criança,

ensina a ver, a ler, a tomar consciência da linguagem falada, real, com as suas

singularidades, estimula a expressão oral e desperta na criança o interesse por

determinados assuntos.

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2.2 –Ilustradores portugueses mais relevantes do século XXI

2.2.1 – Editora Pato Lógico

A Editora “Pato Lógico”, nome escolhido por ser engraçado e de ser fácil de memorizar,

é uma editora que nasceu em 2010. Foi criada com a parceria de pai, José Letria, e filho,

André Letria. Dos inúmeros artistas que colaboram com esta editora destaquei oito

ilustradores, dos quais alguns também são autores.

Afonso Cruz nasceu na Figueira da Foz, em 1971. Estudou na Faculdade de Belas Artes

da Universidade de Lisboa e no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira.

Trabalha na área da literatura, da música, do cinema e da ilustração. Autor do livro

“Capital” editado pela Pato Lógico, e autor das obras “Os Livros que Devoraram o Meu

Pai” e “A Contradição Humana”. (Ver Anexo 4)

Alex Gozblau nasceu em Perugia, Itália, em 1971. Vive e trabalha em Lisboa, na área

da ilustração, da banda desenhada, das artes plásticas, animação, teatro, som, etc.

Ilustrou “Aristides de Sousa Mendes” da Pato Lógico. (Ver Anexo 5)

André da Loba nasceu em Aveiro, em 1979. Estudou ilustração na School of Visual

Arts em Nova Iorque. Colaborou com jornais e é professor de ilustração na Parsons

School of Design em Nova Iorque. É autor do livro “Bestial” editado pela “Pato

Lógico” e também tem colaborações com a editora “Kalandraka”. (Ver Anexo 6)

João Fazenda nasceu em Lisboa, em 1979. Vive e trabalha em Londres. Publicou livros

de banda desenhada, faz ilustrações para livros e trabalha com cinema de animação.

Ilustrou o livro “Fernando Pessoa, o menino que era muitos poetas”, “Atento ao

medicamento” e “Ilha dos Diabretes”. (Ver Anexo 7)

André Letria nasceu em Lisboa, em 1973. Estudou Pintura na Faculdade de Belas Artes

da Universidade de Lisboa e trabalha como ilustrador desde 1992. É filho do célebre

escritor José Jorge Letria, com quem tem algumas parcerias em livros infanto-juvenis.

Ilustrou para a revista Visão e para o JL, Jornal de Letras e Ideias. Participou na Bienal

de Ilustração de Bratislava em 1995 e já ganhou inúmeros prémios tanto a nível

nacional como a nível mundial. Tem livros publicados em vários países para além de

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Portugal como os EUA e Itália. Também realizou filmes de animação, cenários para

teatros e trabalhos em design gráfico. As técnicas mais exploradas são a aguarela sobre

papel, acrílico sobre papel, técnica mista e a colagem. As suas ilustrações estão

presentes em quatro obras que irei abordar no capítulo seguinte: “Animais Fantásticos”;

“os Estrambólicos”; “David e Golias”; “Anéis do Diabo”.

Teresa Cortez nasceu em Lisboa em 1981. É licenciada em pintura, mestre em Arte

Multimédia e pós-graduada em ilustração. Trabalha na ilustração de capas, revistas e

discos desde 2003 e foi selecionada para a Exposição Internacional de Ilustradores da

Feira do Livro Infanto-Juvenil de Bolonha. É autora do livro “Balbúrdia”. (Ver Anexo

8)

Ana Seixas nasceu em Viseu em 1984 e é licenciada em design pela Universidade de

Aveiro. Mudou-se para Barcelona onde estudou design editorial e ilustração para livros

infanto-juvenis. Dedica-se à ilustração e à serigrafia. É autora do livro “Viseu”. (Ver

Anexo 9)

Tiago Albuquerque nasceu em Lisboa em 1982. É licenciado em escultura pela

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e estudou banda desenhada no

Ar.Co Lisboa. Ilustrou “Almada Negreiros, viva o Almada, Pim!” e “Sou o Lince-

Ibérico, o Felino mais Ameaçado do Mundo”. (Ver Anexo 10)

Catarina Sobral é ilustradora e designer de comunicação que está a distinguir-se na

atualidade. Nasceu em Coimbra em 1985. É licenciada em design gráfico e pós-

graduada em ilustração. Usa uma paleta de cores limitada, mistura texturas que recriam

imagens bidimensionais. O livro “O Meu Avô”, da sua autoria, foi o vencedor do

Prémio Internacional de Ilustração na Feira do Livro de Bolonha 2014. Vive em Lisboa

e trabalha para várias editoras, nomeadamente a Orfeu Negro e a Kalandraka, que

públicou o livro “Não há dois iguais”. (Ver Anexo 11)

2.2.2 – Editora Planeta Tangerina

A Editora Planeta Tangerina foi criada em 1999 e dois dos seus fundadores são

Bernardo P. Carvalho e Madalena Matoso, que são simultaneamente autores e

ilustradores.

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Bernardo P. Carvalho nasceu em Lisboa em 1973. Entrou na licenciatura em design de

comunicação mas entretanto saiu, estudou desenho. Ilustrou “A Bola Amarela”, “Os

figos são para quem passa”, “Pê de pai”, “Obrigado a todos!” “Coleção de Cantos

Redondos – “Daqui ninguém passa”, todos eles editados pelo “Planeta Tangerina”.

Também tem ilustrações editadas pela “Kalandraka” e tem livros da sua própria autoria

com “Um dia na praia” Tem livros traduzidos em várias línguas e publicações em

França, Espanha, Noruega, Coreia, México, Estados Unidos da América, entre outros.

(Ver Anexo 12)

Madalena Matoso nasceu em Lisboa em 1974. Estudou Design de Comunicação na

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. A técnica que utiliza é sobretudo

simples, com recorte e colagem, recorrendo ao digital e, frequentemente, representa

elementos naturalistas. É autora de obras como “Livro Clap” e “Conta-quilómetros”, e

ilustradora do livro “O que há” e “A Charada da Bicharada”. (Ver Anexo 13)

2.2.3 – Editora Kalandraka

“Kalandraka” é uma editora criada em 1998 e foi fundada pelo escritor de livros infantis

Xosé Ballesteros. A sede fica em Pontevedra, Galiza, Espanha, no entanto é uma editora

que trabalha com muitos autores e artistas portugueses.

João Vaz de Carvalho nasceu no Fundão em 1958. É autodidata e dedica-se à pintura e à

ilustração. A técnica usada nos seus trabalhos é sobretudo o acrílico e as personagens

são representadas com grandes olhos e expressão boquiaberta. É ilustrador das obras “A

Avó Adormecida”, “O Carnaval dos Animais” (livro-cd) e “28 Histórias Para Rir”,

editadas pela “Kalandraka” (Ver Anexo 14)

João Caetano nasceu em Angola em 1962. É licenciado em Pintura pela Faculdade de

Belas Artes da Universidade do Porto. Ilustrou livros como “A Casa da Mosca Fosca” e

“O fato novo do rei”. (Ver Anexo 15)

Fátima Afonso nasceu em Torres Vedras em 1962. É licenciada em Pintura pela

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Para além de ilustradora também

é professora de Artes Visuais em Setúbal. Usa sobretudo a cor e atribui uma grande

expressividade às suas ilustrações. Tem um especial interesse em personagens históricos

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e do maravilhoso. Ilustrou obras como “A Bela Desaparecida” e “Contos e Lendas de

Portugal e do Mundo”, da editora “Kalandraka” ilustrou o livro “Sonho com Asas”.

(Ver Anexo 16)

Gémeo Luís nasceu em 1965 em Maputo, Moçambique. Pseudónimo de Luís

Mendonça, é professor na Escola Superior de Artes e Desenho de Matosinhos e da

Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. A sua técnica tem influências

orientais, as figuras de papel são recortadas com bisturi. Ilustrou livros como “Azul”,

“A Boneca Palmira” e “Tanto quanto”, que foi traduzido para espanhol pela

“Kalandraka”. (Ver Anexo 17)

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3 – Abordagem teórica e abordagem plástica das ilustrações infanto-

juvenis portuguesas relacionadas com a temática dos medos e monstros

3.1 - Medos

Em 1991, Sérgio Godinho publicou a obra autobiografica “O Pequeno Livro dos

Medos”, editado pela “Assírio e Alvim”, já com algumas

reedições.

Nasceu no Porto em 1945, e para além de interprete,

compositor e poeta de renome, Sérgio Godinho

demonstra a sua aptidão na escrita para o público infanto

juvenil e a sua sensibilidade artística na ilustração.

As ilustrações tomam a forma de borrões. Estes borrões

de cor persupõem que a técnica eleita seja a aguarela, no

entanto podemos visualizar uma mistura de técnicas, tais

como um delineador, uma caneta preta talvez, para

contornar alguns detalhes e a imagem tornar-se mais compreensível. Os elementos

figurativos e percetíveis, como por exemplo os olhos do dono do circo ou o perfil do

leão e o perfil do dono da drogaria, detalhes que estão mais visíveis na representação

dos rostos das personagens do livro, fundem-se com elementos abstractos, sendo estes

retratados com borrões e manchas de cor. No geral as imagens são simplificadas, com

uma paleta cromática muito variada, de cores suaves e não muito saturadas, em que a

ausência de tinta prevalece e o branco do papel respira.

Nesta obra Sérgio Godinho relata episódios da sua vida em que sentiu o medo. Começa

por tentar descrever o que é o medo através da definição no dicionário e de sinónimos.

Insatisfeito com o conceito de medo através de definições, tenta explicá-lo com base nas

suas memórias mais aterradoras, através de episódios que aconteceram, na realidade ou

na imaginação, durante a sua infância. A primeira história é sobre uma ida ao circo, em

que depois de Sérgio Godinho entrar sem pagar o bilhete para ver o espéctaculo, o dono

do circo assusta-o dizendo que vai soltar um leão. Outra história aterradora aconteceu na

Figura 1. Ilustração do “Pequeno Livro dos Medos” (Sérgio Godinho,

1991).

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rua da avó dele, na qual o dono da drogaria tenta assustá-lo dizendo que habita um

bicho desconhecido nas traseiras da sua loja. Uma criatura sem forma e misteriosa é

motivo para deixar muitas questões no ar, porque, o que é um bicho desconhecido?

Já imaginaram um bicho desconhecido? Nunca sabemos o que esperar dele.

Morderá, não morderá? É venenoso? Feroz ou pachorrento? Traiçoeiro? E já

agora, quantos são? Reproduzem-se muito? Invadem a terra? Trazem micróbios

para dentro de casa? Doenças? Só atacam se atacados? Ou atacam eles logo?

Enfim, mil perguntas. (…) É por isso que o desconhecido é um bicho que mete

medo e ao mesmo tempo apetece conhecer. 38

Algumas imagens, tomando como melhor exemplo o bicho desconhecido, é apenas

ilustrado com um borrão de tinta, semelhante a uma sombra e, de certo modo,

simbolizando o desconhecido.

Sérgio Godinho também tem, ou já teve, medo de bichos simpáticos. No livro dá o

exemplo de dois episódios,: no primeiro acerca de um cavalo que correu em direcção a

ele mas, por sorte e para evitar uma tragédia, abrandou o marcha, e no segundo, escreve

a respeito de uma cabra que o marrou e o atirou ao chão.

A memória mais mágica relatada no livro são os barulhos no sótão da casa da avó. Certo

dia enche-se de coragem e no sótão encontrou um bicho desconhecido de estatura média

mas mais pequeno do que grande, meio castor meio esquilo, sujo com pó e que tinha um

ramo de flores na sua mão.

Para o seu espanto, o bicho dos medos desconhecidos era muito simpático e leu-lhe um

poema intitulado “Coisas esquisitas que acontecem ao nosso corpo quando se tem

medo”. (Ver Anexo 18)

Este bicho desconhecido vivia no sótão desde sempre, também conhecia o avó e o pai

do Sérgio. O avó Francisco de Magalhães escreveu para o pai João um texto intitulado

“História para o meu filho João, de cada vez que tiver medo.” 39 É uma história sobre o

João enfrentar o medo, pois não o pode expulsar, porque faz parte de si.

38

Sérgio Godinho (1991) p. 14. 39

Idem, p. 38.

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“O Manel e o Miúfa: O medo medricas” é das histórias mais divertidas sobre o

mundo dos medos, e das mais extensa. A autora é Rita Taborda Duarte, a ilustração é da

autoria de Maria João Lima. A primeira publicação é de 2012, na “Editorial Caminho”.

O Manel é um menino de dez anos que acredita em tudo, nas ciências exactas, nas

ciências naturais, nas ciências ocultas, nos livros sobre história, nos livros que contam

histórias e nos medos que se apoderam dos seus sonhos. Os pais dizem que os monstros

são imaginação dele, mas as coisas que eles acreditam também não são visíveis: virús,

micróbios e bactérias.

A família dos medos vive debaixo da cama do Manel e ganha vida quando o quarto está

escuro. Têm a função de provocar emoções assustadoras às crianças e aos adultos. É

uma família constituída pelo pai Terror, a mãe Apavorante, a tia Agorafobia, a tia

Claustrofobia, a tia Xenofobia, o tio Susto, e os medos filhos, como por exemplo o filho

do medo escuro, o medo das vacinas, o medo de estar sozinho, o medo dos fantasmas, o

medo que a mãe se zangue, etc.

Há medos mais fáceis de combater do que outros, por exemplo o primeiro dia de aulas.

- Olha, que terrível é a família do escuro; olha lá o escuríssimo, marido da

enorme escuridão, gorda e feíssima, mascarada de negro, e olha as escuridades

pequeninas todas por aí fora, o que será que estão a esconder? Uhuhuh, uhuhu,

gemia o medo na minha cabeça. Olha que, com o escuro, não vês nada e nunca

se sabe o que se pode esconder por aí, se monstros, dragões lanzudos ou leões

desmedidos ou aranhas peludas ou ratazanas com os dentes amarelos todos de

fora, bem espetados. 40

Mas o escuro também tinha medo do Manel, porque quando ele acendia a luz o escuro

era derrotado. E o medo susurrava-lhe:

- Ui, aquele miúdo, o Manel, é terrível e assustador. Às vezes carrega, de

repente, num botão e zás, acende-se o candeeiro cheiinho de luz e tu, truca,

desapareces, trás, não vai sobrar nada, nadinha de ti, ó escuro. Basta ele querer

que tu desapareces. É terrível e perigosíssimo esse Manel… 41

40

Rita Taborda Duarte (2012) p. 29 41

Idem, p. 30

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E foi assim que o Manel expulsou o seu medo do escuro pois é estúpido ter medo de

algo que tem medo de nós. Os medos vivem em todo o lado: na escola, nos hospitais,

nas finanças, nas casas, dentro do armário, nas florestas…

Debaixo da sua cama vivia o Miúfa, um medo muito medricas, que fora abandonado

pela sua família por ser muito assustadiço. “(…) um medo que tem medo do próprio

medo…” 42

Os barulhos que Manel ouvia debaixo da sua cama era a família do Miúfa a tentar

convencê-lo a entrar no seu ouvido e aterrorizar os seus pensamentos. O rapaz sentiu

pena do pequeno medo e resolveu ajudar o Miúfa a ganhar confiança em si próprio e

respeito pela sua família dos medos, mas Miúfa tinha receio de entrar na cabeça de um

humano.

No dia seguinte a mãe do Manel, furiosa, entra de rompante no quarto

e desata aos gritos por o filho ainda não se ter levantado. O Miúfa com

medo da mãe do Manel esconde-se dentro do ouvido dele, pois

quando um medo é mais poderoso esquece-se o primeiro. Tornou-se

chato porque o pequeno medo falava demasiado e dava muitas ordens

ao Manel.

Existia um medo na escola chamado Jaime, um miúdo com a mesma

idade do Manel mas muito mais desenvolvido fisicamente. Depois de

um acidente em que o compasso do Manel se espetou na perna do Jaime, correu um

boato na escola de que ele era perigosíssimo e o medo virou-se contra o feiticeiro: “(…)

os medos pertencem a uma família de oportunidades: mal veêm uma hipótese, galgam-

na logo e aproveitam-na bem.” 43

No entanto, os conselhos medricas do Miúfa faziam com que o Manel tivesse medo de

tudo e fosse um cobarde, e então ficou conhecido na escola por “Manel Miúfa”. Desde

sempre que o Manel era um miúdo fixe, sentava-se na fila de trás, aproveitava a

diversão e demorava nos intervalos, e desde que o Miúfa vivia na sua cabeça o Manel

42

Rita Taborda Duarte (2012) p. 45 43

Idem, p. 72

Figura 2. Ilustração

do “O Manel e o

Miúfa” (Maria João

Lima, 2012)

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43

sentava-se na primeira fila, chegava antes dos professores, fazia todos os trabalhos de

casa. O Manel “já tinha Miúfa de olhar, Miúfa de ouvir, Miúfa de pensar.” 44

Para a felicidade do Manel, certo dia, numa tentativa de porrada com o Jaime, o Miúfa

sai disparado e entra na orelha dele. O Jaime apanhou Miúfa, o medo medricas ficou

mais poderoso e tornou-se o Pânico, ficando glorificado pela família dos medos.

O Manel e o “Miúfa” é ilustrado pela Maria João Lima. Nasceu a 1969 em Lisboa.

Tirou o curso de Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade

de Lisboa. Trabalhou como designer gráfica e agora é freelancer. Ilustração a preto e

branco, o texto em harmonia com a imagem. Todas as ilustrações deste livro foram

feitas no computador, mais especificamente no Photoshop. As imagens que aparecem ao

longo do livro foram desenhadas a partir de fotografias; as ilustrações dos monstros que

aparecem no final, foram feitas com montagens de diversas imagens recolhidas - uma

espécie de corta e cola.

Rita Castanheira Alves, psicóloga clínica desde 2007, que trabalha específicamente com

crianças, é autora da obra infantil “Maria do Medo”. Foi publicada pela primeira vez

em novembro de 2015 pela “Booksmile”, uma chancela da “20|20 Editora”.

Conta a história sobre uma menina chamada Maria, filha única e que tem um quarto só

para si. Todas as noites, na hora de dormir, a Maria recebe a visita do medo: começa a

tremer, de olhos bem abertos vê sombras na parede do quarto, o coração bate rápido, e

as lágrimas escorrem pela face. Durante a noite torna-se a Maria do Medo.

Numa aula a Maria confessou os seus receios noturnos e a professora e os colegas

discutiram sobre os seus próprios medos. Escreveram soluções e ideias para enfrentar o

44

Rita Taborda Duarte (2012). p. 79

Figura 3. Ilustração de “Maria do Medo” (Carla Nazareth, 2015).

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medo: ler um livro com os pais; pensar em coisas divertidas e nos amigos, pedir um

beijo à avó, cantar uma canção… No final da atividade, a professora oferece à Maria a

caixa que estava cheia de ideias.

A partir desse dia, a menina torna-se uma “Super Maria”, enfrentando de uma vez por

todas, com a ajuda do cão-peluche Mário, o medo do seu quarto escuro.

Nas últimas páginas, o livro oferece conselhos de como lidar com as emoções dos mais

pequenos: “O medo apareceu e é preciso lidar com ele… Não vale a pena desvalorizar,

ridicularizar, chamar medricas ou não permitir que haja medo, como se desaparecesse

por magia.”45

Carla Nazareth, ilustradora desta obra, nasceu em Moçambique em 1975. Viveu em

Coimbra mas de momento reside em Lisboa. É licenciada em Design de Comunicação

pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa. É designer desde 1998 e em 2001 e inicia a

sua actividade como ilustradora infantil, colabora com diversas editoras nacionais e

internacionais, ilustra manuais escolares e contos. “Adoro “trabalhar” para gente

pequena com mente gigante e para gente grande com alma de criança.”46 A ilustração é

rica em cores, o texto em harmonia com a imagem, a personagem Maria é

extremamente carismática. Toda a página está preenchida.

Em 2016, Rodrigo Abril de Abreu publica o seu primeiro livro “Medo do quê?”,

editado pela “Presença”. Natural de Lisboa, é formado em física e doutor em

Neurociências pela Fundação Champalimaud e Universidade Nova de Lisboa.

É uma reflexão sobre o medo, que estão presentes em crianças e adultos, e como ver o

medo de outra forma, de maneira a esse mesmo medo nos ensinar algo valioso. As

sombras utilizadas para ilustrar o livro são do próprio autor, que representam o medo e a

superação do medo. O livro está dividido ao centro: na página esquerda refere um medo

e na página direita refere uma visão otimista acerca desse medo.

À primeira vista a técnica de eleição parece ser realizada com materiais aguados,

marcador preto, as sombras resultantes das mãos, com edição digital. A fotografia é de

João Abril de Abreu.

45

Rita Castanheira Alves (2015). p. 35 46

Carla Nazareth (2015). p. 38

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45

Apresenta vários medos: o medo do desconhecido; o medo do escuro; o medo de

palhaços; o medo das tempestades; o medo do silêncio; o medo das alturas; o medo de

ser pequeno; o medo de ficar sozinho; o medo da dor; o medo dos monstros; o medo de

ser diferente; medo de sonhar; medo de se perder e o medo do fim.

E apresenta várias visões otimistas desse medo: explorar o que ainda não é conhecido; é

na escuridão que nascem as estrelas; os palhaços são engraçados e fazem-nos rir;

procurar um abrigo seguro; é no silêncio que nos ouvimos a nós próprios; visto do alto

todos os medos são pequenos; podemos ser pequenos mas o mais importante é ter um

grande coração; quando estamos sozinhos a coragem é a melhor companheira; a dor é

temporária; os monstros também precisam de amigos; ser diferente é ser igual, todos

somos feitos da mesma matéria; quando sonhamos temos asas e conseguimos voar; se

nos perdermos só temos que seguir a corrente e quando há um fim, há um novo começo.

Figura 4. “Tenho medo do escuro. Aí nascem as estrelas”. (Rodrigo Abril de

Abreu, 2016).

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46

3.2 - O Desconhecido

A obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, “O Bojador”, publicado em 1961 pela

Direcção-Geral do Ensino Primário, está incluído no Plano Nacional de Leitura e é

recomendado para o 7ºano de escolaridade. A 2ª edição desta obra foi publicada em

2000 pela “Editorial Caminho” e a ilustração é da autoria de Henrique Cayatte.

Especializou-se em design multimédia e realizou inúmeros trabalhos na área de

ilustração, em 1988 o seu trabalho de ilustração foi premiado pela Fundação Calouste

Gulbenkian e foi responsável pela coordenação do design na Expo’98 em Lisboa.

Esta obra, em formato de peça dramática, retrata um dos maiores triunfos alcançados

pela coragem do povo português:

Nas viagens para descobrir a costa ocidental africana, os marinheiros

enfrentaram lendas fabulosas e um mar tenebroso. Acreditavam que o Bojador

era o fim do mundo. Mas o infante D. Henrique estava convencido do contrário

e Gil Eanes dobrou o medo em 1434.47

O primeiro quadro é um diálogo entre uma mulher, uma criança, um velho e um rapaz.

Especulam acerca do Cabo Bojador, lendas antigas inventadas pelo medo dos homens,

nenhum povo algum conseguiu dobrar este cabo. Dizem que é ali que acaba o mundo,

que se parte para o desconhecido, e o que é desconhecido é sempre motivo de

inquietude e medo: as águas do mar fervem, o nevoeiro é negro, a escuridão cai sobre o

dia, os monstros marinhos atacam os barcos.

Os cenários estão descritos ao detalhe e Henrique Cayatte, em diversos tons de azul, faz

jus às suas ilustrações:

Promontório de Sagres. Cenário esquemático e sem realismo mas com cores

puras e vivas como um desenho de criança.

Ao fundo, sozinho, voltado para o mar, vestido de escuro (única cor sombria no

meio das cores claras), de costas para a cena, para os outros personagens e

para o público, o Infante.

47

Luc Cuyvers (1998) Artigo Ensina RTP.

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47

Está sentado numa pedra, ligeiramente curvado para a frente, com o queixo

apoiado na mão direita e o cotovelo direito apoiado no joelho; o pé direito

avança à frente do outro pé. O Infante está no fundo da cena mas um pouco à

esquerda e ligeiramente voltado para a direita.

No primeiro plano, mesmo à boca da cena, falam e movem-se as outras

personagens.

Entre eles e o Infante está um vazio.

Há portanto na cena três planos que devem ser nitidamente desenhados.48

No segundo quadro as personagens são o escrivão, o pajem, o segundo pajem, o Infante

e Gil Eanes. Gil Eanes dá a felicíssima noticia que dobrou o Cabo Bojador ao Infante.

Tudo o que diziam acerca do mar tenebroso não era verdade, os corajosos marinheiros

ancoraram em areias virgens, num deserto sem pessoas e animais, uma África

desconhecida pelo povo ocidental.

Acerca do cenário proposto para este quadro e mais uma vez uma belíssima e simples

ilustração de Henrique Cayatte:

Sala em casa do infante. O cenário é um pano de fundo que representa uma

parede branca com uma janela. No meio da cena, à direita, uma cadeira. À

48

Sophia de Mello Breyner Andresen (2000) p. 5

Figura 5. Ilustração do “Primeiro Quadro”

no livro “O Bojador” (Henrique Cayatte,

2000).

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48

esquerda, uma mesa e uma cadeira postas de forma a que a pessoa ali sentada

fique de perfil para o público.49

“O Cuquedo” é um dos livros mais trabalhados nos espaços educacionais e mais

conhecido pelo público infantil. Foi publicado pela primeira vez em 2008 pela Editora

“Livros Horizonte”.

A autora Clara Cunha explora o medo do desconhecido através de diálogos repetidos

entre animais da savana. Os hipopótamos, as zebras, os elefantes, as girafas e os

rinocerontes, que, passando a palavra de boca em boca, questionam “Quem é o

Cuquedo?”50

Os animais demonstram-se assustados, no

entanto curiosos, espalhando a palavra aos

restantes habitantes da savana, em busca

desse tal “Cuquedo” que “é muito

assustador, prega sustos a quem estiver

parado no mesmo lugar.”51 Enfrentam o

medo no coletivo, pois à medida que a

história avança, cada vez mais animais se

vão juntando à causa.

As ilustrações são de Paulo Galindro, que usa neste livro técnica mista sobre MDF,

mais sucintamente acrílico, lápis de cor, lápis de cera, pastel, caneta bic, lápis de carvão

e colagens sobre placas de madeira. O plano de fundo está em tons alaranjados, próprios

da paleta do ambiente da savana, e as sombras do “Cuquedo”, que suscitam suspense

entre os animais. Embora as personagens estejam horrizadas pela procura de quem será

o dito Cuquedo, as formas divertidas e os rostos dos animais estão muito animados e

emotivos (o medo, o espanto). Os laranjas da savana e os amarelos das girafas

contrastam com os pretos, os cinzentos e os brancos dos animais.

Paulo Galindro nasceu em 1970 e estudou arquitetura. Gosta de mostrar os bastidores

nas suas ilustrações, em que o próprio esboço muitas das vezes está presente nas

páginas dos livros.

49

Sophia de Mello Breyner Andresen (2000) p. 17 50

Clara Cunha (2008) p. 9 51

Clara Cunha (2008) p. 9

Figura 6. Ilustração de “O Cuquedo” (Paulo Galindro,

2008)

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49

Marta Cancela, licenciada na área das Línguas Modernas, em colaboração com a

ilustradora Maria João Lopes, pública em 2009 o livro infantil “Tenho um Monstro no

meu Quarto”, editado pela “Papa-Letras”.

As crianças têm medo do escuro (tal como alguns adultos), pois no escuro não

se vê. Então, é fácil acreditar na presença de monstros, insectos ou seres que

aterrorizam e que querem fazer mal.

A sensação de inquietação ligada à escuridão remonta à noite dos tempos, em

que alguns animais nocturnos ou outras pessoas podiam ser uma ameaça na

escuridão. (…)

Numa idade em que o real e o imaginário têm fronteiras muito ténues, há um

“mau” escondido no escuro, um monstro, uma bruxa, um tigre, um lobo

feroz…52

História em quadra, rimas e versos, traz ritmo e musicalidade à leitura. O quarto está

totalmente escuro, imaginar o que não conseguimos ver. Quando conhecemos melhor o

desconhecido, os segredos revelam-se.

Um rapaz mudou de casa e está ansioso por dormir na nova cama porque tem um quarto

só para si. Mas mal apagou a luz sentiu a presença de um monstro:

É do tamanho de um cão,

Mas tem olhos de moscardo,

Focinho de lobo mau

E garras de urso pardo!53

Um monstro que só gosta da escuridão. O pai deu-lhe uma ideia: quando o monstro

aparecer iluminá-lo com a lanterna e dar-lhe com o pau. No entanto, quando chegou a

noite, o rapazinho cheio de coragem não teve medo e tentou conhecer melhor o

monstro. Agora que já sabe o que se esconde na escuridão do quarto, já não tem mais

medo dele, afinal o monstro só queria ser seu amigo.

52

Marta Cancela (2009) p. 3 53

Idem, p. 11

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Maria João Lopes nasceu em Braga, em 1952. É licenciada em Filologia Românica, e

tirou o Curso de Desenho e o Curso de Experiências Plásticas na SNBA.

Esteve ligada ao ensino do Português e do Francês no Ensino Básico, trabalhou em

banda desenhada e em cinema de animação. Faz ilustrações para jornais, revistas e

livros didáticos para diversas editoras. No geral, utiliza uma técnica mista com ecolines,

pastéis e tinta-da-china para criar as suas ilustrações.

Neste livro o suporte foi o cartão, as ilustrações são pintadas a acrílico e contornadas

com caneta de tinta da china e esferográfica. A escolha de cores é variada, acentuando

os azuis, violetas, rosas e amarelos.

Figura 7. Ilustração de “Tenho um Monstro no meu

quarto” (Maria João Lopes, 2009).

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51

3.3 - Monstros

“O Papão no Desvão” é um livro infantil da autora Ana Saldanha. A ilustração é de

Yara Kono, artista de nacionalidade brasileira mas que trabalha em Portugal. Foi

publicado pela primeira vez em 2009, pela “Editorial Caminho”.

O papão é uma criatura que só aparece no escuro e que

gosta de espreitar no desvão da escada em caracol. A

Sofia sabia que existia um papão e nunca olhava para o

desvão na hora de subir as escadas para ir dormir, fazia

de tudo para adiar esse caminho. Até que um dia a Sofia,

farta de sofrer horrores por parte do papão, diz que não

tem mais medo do monstro e que se os pais soubessem

da sua existência tratavam-lhe da saúde, que ele fugia

para as estradas e quintais. O papão afinal era bonzinho,

e diz à Sofia que se sentia sozinho e que queria companhia. Saiu do desvão e deu a mão

à menina, subiram as escadas e o papão ficou a dormir debaixo da cama da Sofia,

porque ela protegia-o da solidão.

Ilustrações simples mas muito carismáticas, fortes emoções nos rostos das personagens,

rostos geométricos, cores sólidas, página inteira preenchida.

Yara Kono estudou Farmácia Bioquímica na Universidade Estadual Paulista, no Brasil.

Durante os estudos, estagiou numa agência de publicidade e acabou por tirar um curso

de Design e Comunicação. Estudou no Centro de Design Gráfico Yamanashi, no Japão.

Em 2001 veio viver para Portugal e entrou na editora “Planeta Tangerina”, onde tem

trabalhado sobretudo na área do design de identidade e editorial e na ilustração. Em

2010 ganhou o Prémio Nacional de Ilustração.

Figura 8. Capa do livro “O Papão no

Desvão” (Yara Kono, 2009).

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52

“Pê, o Monstro da Preguiça” pode ser uma história para miúdos e graúdos, pois a

preguiça ataca todos. Foi publicado pela primeira vez em 2011 pelas “Edições Asa”. O

texto é de Maria Teresa Maia Gonzalez e a ilustração de Raquel Pinheiro. Muito

sucintamente, a história gira em torno de um menino chamado Maximiliano Henrique,

que é uma criança cheia de energia até ao dia em que aparece o Monstro da Preguiça.

Tudo começou quando a mãe o acordou para ir para o primeiro dia de escola e Max não

queria sair da cama, sentia o seu corpo pesado e a cama estava mais confortável do que

nunca. Depois de muito esforço lá foi para a escola, mas o seu rendimento estava muito

lento. Mais tarde ao chegar a casa tomou um banho e sentiu-se mais leve. Abismado

com a sua tamanha moleza, olhou-se ao espelho para ter a certeza que continuava a ser

ele mesmo. Olhou com muita atenção e reparou que tinha uma pequena nuvem no fundo

dos seus olhos. O sono era tanto que não tinha forças para fazer os trabalhos de casa.

Quando ia carregar no botão do computador:

Ainda com os olhos meio abertos, olhei para o ecrã e vi uma coisa

estranhíssima: uma cara enorme, de cor azulada, com os olhos papudos e os

cabelos ainda não despenteados do que os meus! 54

O monstro saiu de dentro do computador e apresentou-se como “Pê, o Monstro da

Preguiça”.

O meu colega Tomás já me tinha dito que acreditar em monstros e outras

criaturas estranhas era sinal de ter medo. Ora, a partir desse dia, eu decidi

54

Maria Gonzales (2011) p. 20

Figura 9. Ilustração de “Pê, o

Monstro da Preguiça”

(Raquel Pinheiro, 2011).

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53

deixar de ter medo e a verdade é que também tinha deixado de acreditar em

monstros.55

O monstro explicou ao Max que ele só o conseguia ver porque estava a tornar-se

preguiçoso e, tal como o nome diz, a função de um monstro conhecido como preguiça é

alimentar a procrastinação e aliciar o rapaz a jogar jogos no computador o dia todo. Mas

cada vez que Max confronta o Pê, este gradualmente diminui de tamanho, e quando a

pouca vontade de fazer os trabalhos de casa e a vontade de ver televisão e jogar no

computador aumenta, o Pê também aumenta de tamanho. O rapaz tentou concentrar-se

ao máximo como o seu avô lhe tinha ensinado e conseguiu terminar os trabalhos de

casa, e Pê voltou a ficar pequeno e saiu derrotado, minúsculo, pois Max é mais

inteligente do que ele pensava.

Max aprendeu uma valiosa lição com Pê, deixar-se levar pela preguiça é das piores

coisas que lhe pode acontecer e descobriu um poder fantástico dentro de si: a força de

vontade.

A ilustração de Raquel Pinheiro é rica em padrões, pormenores e cores. As sombras dão

a sensação de uma tridimensionalidade e as personagens cabeçudas dão um toque

cómico à composição.

Nasceu no Porto em 1976 e vive em Oeiras. Em 2000 licenciou-se em Pintura pela

Faculdade de Belas Artes de Lisboa e, em 2001, inicia a sua atividade como ilustradora

Infantil. Tem o seu próprio atelier e dedica-se sobretudo à ilustração e ao design.

Mais uma vez uma obra criada em parceria pai e filho, com texto de José Jorge Letria e

ilustração de André Letria, os “Estrambólicos” é um livro escrito em poesia com

quadras e quintetos. A primeira publicação foi em 2011 pela editora “Pato Lógico”.

Só se encontra estrambólicos em locais escondidos e inacessíveis, como grutas

geladas na Antártida, uma densa floresta nórdica, ou o interior… das nossas

cabeças.56

Livro com 16 estrambólicos ao cubo, divididos em 3, o que dá 4096 combinações

diferentes, para descobrir à medida que se viram as páginas.

55

Maria Gonzales (2011) p. 25 56

José Letria (2011) p. 3.

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54

Os 16 Estrambólicos são constituidos por criaturas que se assemelham a animais e

plantas, em que as palavras estão divididas por sílabas de forma a formar novos

monstros: Sapongo (sapo); Aranhuço (aranha); Anelônzio (anéis de esponja); Caracólio

(caracol); Crustâncio (caranguejo); Viscôsio (lama viscosa); Coguménio (cogumelo);

Reptílico (réptil); Larvarico (larva); Mocholas (mocho); Moscóvio (mosca); Nevoento

(nuvém); Artólio (insecto); Arbolídio (árvore); Peixónio (peixe); Felpúdico (criatura

peluda).

Figura 10. Ilustração de “Estrambólicos”, “Ane/Tân/Nio”,

combinação de “Anelônzio”, “Crustâncio” e “Peixónio”

(André Letria, 2011).

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3.4 – Mitologia, Figuras Bíblicas e Criaturas Fantásticas

Publicado pela primeira vez em fevereiro de 1995, pela “Civilização Editora”, “David e

Golias” conta, de forma elementar, aos meus pequenos os feitos bíblicos de uma

personagem tão apreciada na arte, com uma forte inspiração na escultura e na pintura.

O texto é de António Mota e a ilustração de André Letria. Contrapondo com outras

ilustrações de André Letria, neste livro o seu estilo direcciona-se para formas simples e

infantis, no entanto as figuras não deixam de ser carismáticas.

David é o mais novo de oito irmãos e vive em Belém.

O pai acordava-o cedo para ele ir pastorear as ovelhas

no deserto. Tocava harpa e atirava pedras para se

entreter. Os três irmãos mais velhos eram soldados na

guerra, ao comando do rei israelita Saul. Durante um

combate com o exército dos filisteus, um gigantesco

soldado saiu do meio do exército. Chamava-se Golias e

fez uma proposta ao exército israelita:

- Escolhei entre vós um homem que tenha a coragem de vir lutar contra mim! Se

ele me vencer, e me matar, vós ganhais a batalha e todos nós seremos vossos

escravos. Mas… se for eu o vencedor, então todos vós sereis nossos escravos.57

O exército israelita ficou amedrontado e durante quarenta dias ninguém teve coragem de

enfrentar o gigante Golias. A mando do seu pai, David levou comida para os três irmãos

que estavam no acampamento a prepararem-se para a batalha. Ao chegar ouviu Golias

novamente a dizer o desafio e perguntou-lhe quem era ele para insultar o exército de

Israel. Toda o povo de Israel ficou a saber que o pequeno David fez frente ao gigante, e

o rei Saul mandou chamá-lo aos seus aposentos. David diz ao rei que ele próprio vai

enfrentar o gigante, que pode ser pequeno mas tem experiência em proteger o seu

rebanho de ovelhas contra os predadores. Como não tinha experiência com armas nem

força para carregar o capacete, foi buscar o seu cajado e cinco pedras. No campo de

batalha foi troçado por Golias e, nada obstante, o corajoso David lançou a primeira

pedra com a funda e acertou exatamente na testa do gigante, que perdeu as forças e

57

António Mota (1995) p. 10

Figura 11. Capa do livro “David e

Golias” (André Letria, 1995).

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

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tombou. Com a própria espada do gigante, David cortou-lhe a cabeça, os filisteus

fugiram e Israel venceu a batalha.

O escritor José Jorge Letria em parceria com o ilustrador, e filho, André Letria criam o

livro “Os Animais Fantásticos”, publicado pela “Ambar” em 2004. Uma divertida

“enciclopédia de monstros” onde através de versos o autor descreve os maiores feitos,

qualidades e defeitos, dos dezoito animais fantásticos que todos conhecemos dos mitos

e dos contos de fadas. Segundo as características que o historiador Luiz Nazário atribui

aos monstros, podemos enquadrar estas criaturas, sobretudo as de caracter mitológico,

no conceito de Unicidade:

Unicidade. Há monstros cuja característica principal é a existência única.

Animal raro, de origem misteriosa, mutante singular de sua espécie, torna-se

objeto de um culto selvagem (…). Enquanto outros representantes da

monstruosidade dispensam denominações, o monstro único possui nome (…).58

O primeiro é o Basilísco, uma criatura mitológica e híbrida de um galo e de uma

serpente, tem espinhos e patas de galo, e quem o olha nos olhos fica enfeitiçado. O

Bucéfalo é o cavalo de Alexandre o Grande, que participou em grandes combates nos

tempos da Grécia antiga. Foi um cavalo famoso pelas suas vitórias e em sua honra

Alexandre deu o seu nome a uma cidade. Enquadrado na mitologia greco-romana, o

Centauro é uma criatura metade homem e metade cavalo. Tem a bravura de um homem

e a velocidade de um cavalo. O Cérbero, na mitologia grega, é um cão de três cabeças

que guarda as portas do submundo. O Ciclope possui um só olho no meio da testa e é

um dos três filhos de Urano. A personagem do ciclope Polifemo está presente na obra

58

Luiz Nazário (1998) p. 34

Figura 12. Ilustração de “Animais Fantásticos”, “O Grifo” (André Letria,

2004).

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

57

“Odisseia” de Homero. O Dragão é um monstro muito popular nas fábulas e nos contos

de fadas, expira fogo pelas narinas e pela boca, combate guerreiros e rapta princesas. Na

china os dragões representam pássaros e serpentes. A Esfinge do Egipto tem corpo de

leão e cabeça de faraó, é sábia e eterna. O Fauno é uma criatura híbrida de homem com

cabra, vive nos bosques e persegue raparigas. A Fénix faz parte dos mitos do Egipto,

tem penas de ouro e de fogo e renasce das cinzas. O Grifo tem cabeça de águia, corpo

de leão e asas de pássaro. A famosa Hidra de Lernas cujas nove cabeças for cortadas por

Hércules. Por cada cabeça que era cortada havia outra que nascia, sendo a cabeça do

meio imortal. O Lobisomem meio homem e meio lobo, de tamanho e força bruta,

assombra as florestas nas noites de quinta-feira e de lua cheia. O Minotauro nas

histórias da mitologia grega é um touro gigante que vivia no labirinto do rei Minos. O

Ogre é um monstro que devora crianças, e é conhecido como papão em alguns países. O

Pégaso é um cavalo alado e é descrito na obra “Teogonia” de Hesíodo. A Salamandra é

um réptil da família dos lagartos que já foi símbolo de magia e que não se queimava

com o fogo. A Sereia é metade mulher metade peixe, que gosta de cantar e enfeitiçar os

navegadores para estes naufragarem. A Serpente Marinha é uma cobra gigante

representada em muitas obras de arte, e acreditava-se que atacava os navegadores. E,

por último, o famoso Unicórnio, um cavalo que tem um chifre mágico e que vive nas

florestas encantadas.

André Letria recorre a técnicas mistas, com colagem e acrílico. De um ponto de vista

geral, a ilustração é detalhada, com texturas e sobreposições a partir de colagens. As

cores são fortes e os fundos com aspeto degastado, possivelmente para simbolizar os

quão antigos são os mitos que envolvem estes animais fantásticos.

Ainda no tópico dos monstros fantástico, o livro “Um Dragão na Banheira” percorre a

amizade entre uma menina chamada Ana e um dragão marinho. Obra escrita por Tiago

Salgueiro e ilustrada por José Manuel Saraiva, foi publicada em 2004 pelas “Edições

Gailivro”.

Fazendo um breve resumo deste livro, o autor conta a história a partir do momento em

que Ana se prepara para tomar banho e um dragão marinho entra pela torneira, e a

menina, simpatizando com o bichinho, batiza-o de Jupo. Como na maioria dos livros

infantis, a simplicidade das palavras nunca demonstra reacções agressivas por parte das

personagens, de modo a não ferir a susceptibilidade das crianças, e desta forma, os pais

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da Ana aceitaram o Dragão como se fosse um bicho de estimação. No entanto, para

demonstrar o lado mais selvagem da natureza animal, o pai da Ana estava com receio

que o dragão fosse mau e feroz então comprou-lhe uma coleira. Mas o dragão, muito

mansinho e traquinas, cresceu e cresceu ficando do tamanho dos móveis da casa.

Remetendo à temática dos receios das crianças, Ana deixou de ter medo dos seus

pesadelos pois tinha a protecção do seu dragão. De forma divertida, o autor relata que o

dragão Jupo contava histórias à Ana, que a sua mãe lhe tinha contado, acerca de dragões

que tinham que fugir dos príncipes, pois eles não

gostavam que estes brincassem com as suas

namoradas. Sendo um dragão marinho tinha o

curso de nadador salvador, mas devido às histórias

que a sua mãe lhe contava, tinha medo de vir ao de

cima e de um homem lhe tentar fazer mal. Nesta

história, o medo é inerente a ambas as

personagens.

José Manuel Saraiva nasceu no Porto em 1974.

Licenciou-se em Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade

do Porto e de momento é professor na Escola Superior de Artes e Design em

Matosinhos. Já ganhou inúmeros prémios e participou em exposições de ilustração

internacionais, como por exemplo na Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de

Bolonha. Também tem obras escritas, assinando pelo pseudónimo Tiago Salgueiro.

A técnica utilizada é lápis de cor, canetas, guache e photoshop. A inspiração surge de

variadas maneiras, o desenho ingénuo dos seus filhos e o seu gosto pela Arte Bruta que

o ajudaram a ser um pouco mais direto no uso dos materiais para as suas ilustrações. A

paleta cromática é essencialmente dominada pelo vermelho, o branco e o azul.

A sua ilustração é peculiar, sendo constante nos seus trabalhos dedicados à infância.

Ilustra os episódios vividos entre a Ana e o Jupo com um efeito riscado e cores

contrastantes, os vermelhos quentes com os azuis e turquesas, com perspectivas

distorcidas criando um ambiente de fantasia e de brincadeira.

Figura 13. Ilustração do “Um Dragão na

Banheira” (José Manuel Saraiva, 2004).

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Com influências do folclore escocês, António Antunes Carvalho escreve “O Monstro”,

ilustrado por Anabela Cotrim, história que retrata um monstro chamado Acácio que tem

como missão ser assustador. A primeira publicação foi em 2006 pela “Porto Editora”.

Anabela Cotrim escolhe materiais riscadores como

técnica de eleição, as ilustrações são figurativas e

abonecadas, cheias de linhas curvas. As cores são

saturadas, onde predominam os verdes, os amarelos, os

azuis e os vermelhos.

Um monstro chamado Acácio vivia num lago muito

profundo e todas as criaturas que viviam com ele eram

especialistas em assustar quem se aproximava. Tinha um

aspecto físico horrendo: era verde, cuspia fogo, era muito

comprido pois media cerca de 15 metros e tinha cristas ao longo do dorso. A sua missão

era partir alguns barcos de pesca, roubar peixes aos pescadores, roubar piqueniques, e

lançar umas cuspidelas de fogo.

No primeiro dia de trabalho como monstro assustador, Acácio ao tentar assustar um

pescador levou com um remo na cabeça. Ficou traumatizado: “Então as pessoas já se

atrevem a não ter medo dos monstros!?”59

O pescador contou a toda a gente que no lago vivia um monstro, e exagerando ia

dizendo que tinha uns trinta metros. Acácio, ganhando fama por ter sido derrotado por

um pescador, planeia pregar o maior susto da sua carreira. Depois de assustar uns

miúdos, um rapazinho chamado Joãozinho fica esquecido junto ao lago e tornam-se

amigos. O monstro não era mau, só tinha a missão de assustar as pessoas que fossem

para junto do lago, e isto não passava de um trabalho. Contudo, não tinha nascido para

ser um monstro assustador e Acácio passou a ter a missão de brincar com as crianças no

lago.

(…) o miúdo “super-herói” lhe explicou que, em muitos desenhos animados,

havia monstros amigos das crianças e apenas os adultos podiam fazer mal aos

monstros e até matá-los.60

59

António Antunes Carvalho (2006) p. 10 60

Idem Ibidem

Figura 14. Capa do livro “O Monstro”

(Anabela Cotrim, 2006).

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“Bestiário Tradicional Português: As criaturas fantásticas do imaginário popular”

é uma enciclopédia ilustrada que reune texto e pesquisa de Nuno Matos Valente e

ilustração de Natacha Costa Pereira. A primeira edição é de 2016 e a segunda edição é

de 2017, ambas pela “Edições Escafandro”.

Cerca de quarenta criaturas do folclore português estão agrupadas em sete categorias

diferentes, e foram recolhidas de diversas fontes como obras publicadas da autoria de

etnógrafos, conversas diretas, etc.

Recorrendo a seres mágicos, explicaram-se fenómenos difíceis de entender,

como o estado do tempo, a doença ou a sorte; atríbuia-se sentido à vida,

reconhecendo o papel da reprodução, do crescimento e da morte; educavam-se

as crianças para que continuassem as tradições e os modos de vida que

garantiam a sua sobrevivência e a das suas comunidades. 61

Na primeira categoria, “Medos e Papões”, encontramos o “Homem do Saco” que rouba

crianças e as transporta dentro de um saco; a “Maria Gancha” que vive dentro do poço,

tem ganchos em vez de dedos e ataca as pessoas que atiram pedras para o poço; o

“Bicho Papão” esconde-se nos cantos escuros das casas e come crianças; A “Coca” tem

uma cabeça de abóbora e alimenta-se de crianças desobedientes; o “Insonho”, que usa

uma carapuça vermelha na cabeça, senta-se em cima da pessoa e alimenta-se dos seus

sonhos, provocando pesadelos; a “Maria da Manta” mora nos rios e afoga as crianças

que se aproximam da água.

A segunda categoria, “Os Corredores de Fado” são pessoas que foram amaldiçoadas,

são muito pálidas e têm olhos massados e mãos quentes. Destacam-se as “Peeiras de

Lobos”, que são a versão feminina dos corredores, vivem entre os lobos; o “Tardo” é

alguém que pode tomar a forma de um animal, e se ao fim de sete anos a maldição não

estiver quebrada transforma-se num “lobisomem”; o “Lobisomem” alimenta-se de

animais e humanos, se morrer sem a sua maldição ser quebrada, ou seja se não o

fizerem sangrar ou disparar uma bala contra a sua própria sombra irá transformar-se

num “Corrilário”; o “Corrilário” é a alma penada de um “lobisomem”, obrigado a

vaguear para sempre na forma de um cão.

61

Nuno Matos Valente (2017) p. 5

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61

São quatros os “Animais” raros alguma vez avistados na terceira categoria. O “Verdugo

Barbudo” é uma cobra muito grande com barba; a “Zorra Berradeira” é uma alma

penada que toma a forma de uma raposa e apenas os seus berros a distinguem de uma

raposa normal; o “Bicho Cidrão” vive numa montanha da ilha da Madeira e é o

resultado da união da alma de um pastor e do seu cão; o “Cavalo do Pensamento” tem

asas de morcego e deita fogo pelos olhos, pela boca e pelas narinas, e aparece quando

alguém pensa muito nele, nem sempre pelos bons motivos.

Na quarta categoria, as “Fadas Moiras e Bruxas” são criaturas femininas que habitam o

imaginário do fólclore português. As “Jãs” são fadas do tamanho da mão, vivem nas

casas das pessoas e entretêm-se a fiar linho; as “Hirãs” têm a cabeça muito grande e

apenas a mais nova de sete irmãs se transforma nesta criatura, quando cumprem o seu

décimo segundo aniversário transformam-se em cobras; as “Moiras Encantadas” podem

tomar a forma de uma bela mulher ou uma mistura de mulher com um animal, têm

longos cabelos e guardam grandes tesouros que prometem oferecer a quem quebrar o

seu encantamento; as “Bruxas Lavadeiras” podem ser vistas durante a noite junto a

lagos e rios, lavando a roupa, vestem-se de branco e podem assumir a forma de patos ou

gansos; as “Mulheres Marinhas” são as sereias portuguesas, têm metade do corpo

coberto de escamas, pés de cabra e umas orelhas enormes; a “Velha da Égua Branca”,

durante as noites de lua cheia, aparece montada na sua égua e quando passa pelos

campos solta os animais que estão a pastar.

Da quinta categoria “Espíritos, Fantasmas, Bruxos e Demónios” fazem parte oito

perigosas criaturas. Os “Borborinhos” são pequenos remoinhos de vento que podem

conter no seu interior almas penadas, demónios e bruxas; o “Tatro Azeiteiro” provoca o

nevoeiro e tem um ligeiro cheiro a azeite; as “Aventesmas” são fantasmas muito altos

que usem batinas ou camisas, quanto mais se olha para um mais ele cresce; o “Secular

das Nuvens” é quem provoca as tempestades e as transporta pelo céu; o “Dianho” é um

demónio que tem a forma de um bezerro com cornos; o “Homem do Chapéu de Ferro” é

uma criatura gigante que usa um chapéu de ferro, tem o corpo da cor do bronze e a boca

rasgada, anda sempre acompanhado por um animal; o “Homem das Sete Dentaduras” é

um ser maléfico que aparece quando está muito calor; o “Entreaberto” surge

normalmente ao meio-dia e à meia-noite, e carrega brasas nas suas costas que causam a

morte a quem olha.

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62

“Criaturas Diminutas” encontram-se na sexta categoria e são seres muito pequenos. Os

“Trasgos” vivem nas casas das pessoas e durante a noite dedicam-se às travessuras; os

“Fradinhos da Mão Furada” são semelhantes aos “Trasgos”, mas é mais frequente

realizarem favores aos donos das casas onde vivem; os “Maruxinhos” são “Trasgos”

que vivem nos montes, grutas e ruínas e guardam tesouros dos sítios onde moram; os

“Moirinhos Encantados” têm olhos enormes, são vistos nas ruas, junto às árvores ou

sentados num muro; os “Labregos” vivem no mar e no mato e transportam pedaços de

madeira.

“Gigantes” é a última categoria desta odisseia de criaturas mágicas. Os “Olharapos”

podem ter até três olhos, são muito violentos e comem tudo o que encontram; as

“Almajonas” aparentam ser mulheres muito altas que carregam os filhos às costas; os

“Bisarmas” são as maiores criaturas que se encontram em Portugal, são desajeitados,

desproporcionais, não usam roupa e têm uma voz horrível.

A artista Natacha Costa Pereira estudou na Faculdade de Belas Artes pela Universidade

do Porto e trabalha em teatro de marionetas. Nas palavras de Natacha, o processo que

adotaram na criação das ilustrações foi o seguinte:

O Nuno forneceu-me uma lista de quarenta e tal personagens com as suas

descrições (…). O que fiz foi tentar saber o menos possível sobre elas, (mesmo

sobre as personagens mais conhecidas como a coca ou o homem do saco), para

tentar criar uma visão mais minha de raiz, e comecei por fazer uns desenhos

digitais, bastante complexos tecnicamente. Na fase inicial ainda não tínhamos

definido se o projeto iria ser para crianças ou para adultos. Depois concluímos

que seria mais apelativo se o livro fosse para todas as idades e comecei por

fazer estudos em papel até chegar a um resultado plástico que agradasse aos

dois, pois a ideia não era infantilizar demasiado as personagens. Foi um

processo que demorou alguns meses, cerca de 6 ou 7, porque à medida que ía

construindo as imagens, ía debatendo-as com o Nuno, centrando-nos nos pontos

comuns do nosso imaginário. O nosso consenso passou mais por debater

pormenores da personagem, como acessórios e ambientes, do que propriamente

debater a plasticidade das ilustrações.

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63

A técnica que usei foi desenho a grafite sobre papel que depois sublinhei (fiz o

outline), a caneta Staedtler pigment liner 0,1. Digitalizei e colori digitalmente,

usando o Photoshop e o corel painter X3.62

62

Natacha Costa Pereira (2017) resposta a e-mail.

Figura 15. Ilustração de “O Bestiário Tradicional Português”

(Natacha Costa Pereira, 2016).

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64

3.5 – Diabos

À medida que se intensificou a tendência para o monoteísmo, os princípios do

Bem e Mal separaram-se e a noção de um demónio-chefe ou de um génio

maléfico que presidisse a todos os outros enraizou-se em várias culturas. (…)

Conhecido de várias maneiras como Diabo, Satanás, Mafarrico, Belzebu ou

“príncipe das trevas”, ele era um génio maligno cujo dever era fazer com que

os homens caíssem cada vez mais em tentação.63

Alice Vieira, jornalista e escritora de renome, em parceria com o ilustrador André

Letria, publicou em 1998 “Os Anéis do Diabo”, uma obra que faz parte da coleção das

“Histórias Tradicionais Portuguesas”, editada pela “Caminho”.

Conta a história sobre um soldado que, como não tinha emprego na sua área, vai

trabalhar para a casa de um mercador e apaixona-se pela filha do mesmo. Depois de

lavar a casa, passar a roupa e cozer o pão durante sete anos, pede em casamento a filha

do mercador. Ele só concede a mão da sua filha em casamento ao soldado se este for ao

inferno e trouxer os três anéis do diabo.

O soldado aceita o desafio e no caminho encontra várias personagens que o ajudam na

procura do inferno. Na primeira encruzilhada um rei que estava a caçar disse-lhe para

seguir a estrada de espinhos e cardos e para perguntar ao diabo onde estava o anel que

havia perdido, e não encontra. Na segunda encruzilhada um rei que estava à pesca disse-

lhe para seguir a estrada em volta da Lagoa das Trevas, e perguntar ao diabo onde

estava o filho dele que tinha viajado pelo mundo e ainda não tinha voltado. Na terceira

encruzilhada encontrou um rei que andava a colectar raízes e disse-lhe para seguir a

estrada onde estava a erva-do-enforcado e a erva-das-setes-cabeças, e para perguntar ao

diabo que doença tinha a filha dele pois ninguém a conseguia curar.

Quando chegou ao final da estrada encontrou um velho que lhe disse que o diabo vivia

do outro lado do mar e que só poderia regressar se encarasse o diabo de frente. Um

grande pássaro ajudou-o a fazer a travessia e encontrou do outro lado a mãe do diabo,

que depois de ouvir a sua história de amor prometeu ajudá-lo.

63

Paul Newman, (2004) p. 25

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65

“(…) o soldado teve tanto medo do diabo quando o olhou de frente que por

pouco não desatou a gritar por socorro.” 64

A mãe com muito jeitinho tirou o primeiro anel da sua mão direita, o diabo estava a

sonhar com o rei da primeira encruzilhada e disse-lhe que tinha sido o vento que tinha

levado o anel para o fundo do areal. Depois tirou o anel que estava na mão esquerda e o

diabo estava a sonhar com o rei da segunda encruzilhada, dizendo que o filho do rei

estava junto com uma princesa e não voltaria. Por fim a mãe tirou o anel que tinha na

língua e o diabo sonhando com o rei da terceira encruzilhada diz que a filha do rei

estava doente por causa do sapo que lançava veneno no enxergão.

Na manhã seguinte o soldado partiu com os três anéis do diabo. Nas três encruzilhadas

encontrou os três reis, que agradeceram pela informação que o diabo lhe tinha contado e

concedendo-lhe três dias com os seus poderes. No primeiro dia deu trabalho a toda a

gente da aldeia, no segundo dia ordenou que todos os habitantes da aldeia podiam casar

com quem quisessem e no terceiro dia o soldado encontrou-se com o mercador. Este

mesmo depois de receber os três anéis do diabo, não queria que o soldado casasse com a

sua filha. Felizmente o amor triunfa nesta historia, o teimoso mercador transforma-se

numa nuvem de fumo e o soldado casa com o amor da sua vida.

A ilustração é típica do artista André Letria, as personagens são expressivas e a paleta

de cores extensa.

De forma caricata e cómica, José Vaz publica em 2003 o livro infanto-juvenil “Mala

Diabo!”, ilustrado por Helena Magalhães e das “Edições Gailivro”.

64

Alice Vieira (1998) p. 9

Figura 16. Ilustração do “Os Anéis do Diabo” (André Letria, 1998).

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66

Conta a história de Nelito, que a seguir ao Quim Xanato, é o homem mais popular na

Aldeia Nova. Com 50 anos de idade, tinha uma mentalidade de criança inocente, para

ele a maldade era inexistente e tinha medo de trovões e da noite, cantando para

afugentar o medo.

No programa de festas, o Tono Prego era o guardador da mala que continha as roupas

das personagens da representação teatral “O Auto das Barcas do Inferno”. Entretanto

dá-lhe uma valente dor de barriga e pede ao Nelinho para guardar a mala, dizendo-lhe

que tem lá dentro as roupas do diabo. Quando a procissão termina o fogueteiro lança um

foguete, Nelinho assustado pensando que era um trovão aponta para a mala e desata a

gritar:

“- Mala Diabo! Mala Diabo! Mala Diabo!”65

A população fica eufórica e pensa que Santanás está dentro da mala. A população vai

chamar o Presidente da Junta de Freguesia pois tinha o cargo mais importante da aldeia

e deveria ser ele a enfrentar o diabo. O medricas recusou. O bombeiro João Pequeno,

destemido, apetrechado com um machado abre a mala, dá um grito dá-lhe uma

machadada. Não aconteceu nada, então João Pequeno levantou a tampa da mala com

muita cautela, viu um pano de cetim e uns cornos brancos e deu uma gargalhada. O

medo deu lugar ao riso que durou até à noite.

Então o Nelito veste as roupas e mascara-se

de satanás até o teatro começar.

Ilustração mista e rica, colagens, tecido,

texturas. Padrão azul, no céu, no chão,

pontilhado na natureza. Personagens

humanas com rostos desenhados com

materiais riscadores (o que se assemelha a

carvão ou grafite) e padrões na roupa.

“Diabos, diabritos e outros mafarricos: Contos e Lendas de tradição oral” é uma

colectânea de dez contos de tradição oral, que envolvem o mundo da superstição e dos

demónios, com propostas diabólicas e tentadoras. A autoria é de Alexandre Parafita e a

ilustração de Fátima Buco. Foi publicado em abril de 2003 pela “Texto Editora”.

65

José Vaz (2003) p. 10

Figura 17. Ilustração de “Mala Diabo!” (Helena

Magalhães, 2003).

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

67

As histórias deste livro fazem parte da tradição oral transmontana, e são

versões recontadas pelo autor a partir dos documentos originais incluídos numa

vasta colecção de literatura oral tradicional que o mesmo tem vindo a compilar

e a estudar. 66

Este livro incluí histórias sobre um diabo com propostas tentadoras, diabos com medo

de crianças, corvos de aspeto sinistro que são a transfiguração do próprio diabo, diabos

que comem fruta amarga… Segundo algumas superstições quando uma pessoa espirra

ou boceja pode vir a ser possuída pelo diabo. Existem lendas que dizem que o diabo foi

construtor de pontes, crianças que morreram sem ser baptizadas e que se tornaram

diabretes conhecidos por “trasgos”,

diabretes estes que atormentam as pessoas

durante a noite.

As ilustrações são coloridas, ocupam a

página inteira, com contorno a preto e

preenchimento que se assemelha a aguarela.

Diabo é representado com uns grandes

olhos verdes, corpo vermelho a segurar

num tridente.

“O Diabo do Alfusqueiro” conta a história da construção da ponte67 que une as

margens do rio Alfusqueiro. Foi escrito por Maria da Conceição Vicente e ilustrado por

Flávia Leitão, publicado em outubro de 2011 pela “Trinta por uma linha”.

Conta a história sobre um homem cristão que ficou encarregue de construir uma ponte

sobre o rio Alfusqueiro, rio que desce a Serra do Caramulo e desagua no rio Àgueda.

Comprometeu-se em construir a ponte mas era uma tarefa muito complicada para um

simples homem até que apareceu o diabo com uma proposta tentadora. Disse-lhe que a

ponte ficaria terminada até ao cantar do galo na noite de Natal, e em troca o cristão

pagaria com a sua própria alma.

O cristão começava a ficar com remorso em ter vendido a alma ao diabo, e perante o seu

desespero, uma fada apareceu e disse-lhe para, no aproximar da hora do cantar do galo,

66

Alexandre Parafita (2003) p. 32 67

Tal como no conto “O diabo, a menina e a ponte”, que faz parte do livro apresentado anteriormente, nas

lendas de tradição oral algumas pontes são obra do diabo.

Figura 18. Ilustração do conto “O diabo e o lavrador”

no livro “Diabos, diabritos e outros mafarricos” (Fátima

Buco, 2003).

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o homem dirigir-se à ponte e atirar um ovo ao diabo antes deste colocar a ultima pedra.

Assim o fez, e no momento que atirou o ovo saiu de lá um galo a cantar. O diabo

quebrou a promessa e o contrato ficou sem efeito.

Ilustrações feitas com colagens, são utilizados texturas, padrões, imagens impressas de

tecidos, lãs, pedras, contornos com picotados. Tons verdes da serra, azul do rio,

cinzento da ponte.

Figura 19. Ilustração de “O Diabo do Alfusqueiro” (Flávia Leitão, 2011).

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69

3.6 - Bruxas e Feiticeiros

O evento de gala das bruxas era a reunião de feiticeiros. Tradicionalmente, esta

tinha lugar depois da meia-noite de uma sexta-feira, pelo menos uma vez por

ano, em lugares remotos e desertos, charnecas altas ou montanhas (…).68

A “Dona Bruxa Gorducha” é um livro muito engraçado escrito pela Anabela Mimoso

e ilustrado pelo João Caetano. Foi publicado pela primeira vez em 1995 e editado pela

“Livraria Arnado”, com sede em Coimbra. A edição mais recente é ilustrada por Pedro

Pires.

Esta história acompanha as peripécias da Dona Bruxa Gorducha na procura de uma

solução para o seu problema de peso, o qual tem que ser solucionado até “à reunião

semanal das Bruxas, Fadas, Feiticeiros & Profissões similares (B. F. F. & Ps)”69, que se

realizava todos os sábados à meia noite. Os problemas de peso são uma preocupação

que cada vez mais tem impacto nas vidas das pessoas, seja por uma questão de saúde ou

pura estética, e, de forma caricata, são aprofundados nesta história adaptada para os

mais novos.

A dona Bruxa Gorducha tinha um grande problema, era tão gorda que nenhuma

vassoura aguentava com o seu peso. De modo a encontrar uma solução, ao longo da

história vai apelando às personagens que a ajudem. Pede ao bruxo-vassoureiro que lhe

fizesse uma vassoura personalizada, mas ele desconhecia qualquer feitiço ou material

que aguentasse com a estatura da sua cliente. O Geringonças, um bruxo todo moderno,

68

Paul Newman (2004) p. 40 69

Anabela Mimoso (1995) p. 3

Figura 20. Capa do livro

“Dona Bruxa Gorducha”

(João Caetano, 1995).

Figura 21. Capa do livro

“Dona Bruxa Gorducha”

(Pedro Pires, 2007).

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70

sugeriu um aspirador gigante, umas asas de morcego, uma trotineta, uns patins com asas

ou uma prancha voadora. E sempre que as propostas não eram do agrado da bruxa, com

tristeza, voltava a comer desalmadamente e engordar cada vez mais. Experimentou uma

poção para se transformar numa ave de rapina veloz e forte, uma águia-real.

Infelizmente para azar seu, esqueceu-se de adaptar as medidas da poção para o seu porte

massivo e a transformação não ficou completa. Tentou outra poção chamada “Filtro

Mágico”70, que estava no livro de receitas da avó Adamastora, que dava para todos os

tipos de feitiços e que era infalível. Desta vez, exagerou na dose e acabou por se

transformar numa tartaruga.

Final da história: envergonhada de todos os seus falhanços, a bruxa saiu de casa e andou

e andou… Até que certa noite, dois anos depois de andar à deriva, viu uma claridade no

meio da floresta. Era o Congresso Anual das B. F. F. & Ps. Tão magra por andar sem

parar e não se lembrar de comer, o Bruxo-Mor e todos os feiticeiros felicitaram-na pelo

objectivo alcançado, e por “mostrar como a perseverança dá os seus frutos”.71

João Caetano nasceu em Moçambique em 1962. Fez o curso de Pintura na Faculdade de

Belas-Artes da Universidade de Lisboa, antiga ESBAP. Muito diferente da típica

ilustração infantilizada, João Caetano deu vida às páginas com ilustrações complexas e

ricas, de um cariz que faz lembrar a banda desenhada. Meticulosamente bem

trabalhadas, as texturas e os rabiscos complementam-se com cores frias, a puxar para

um semblante do universo da feitiçaria e bruxaria.

70

Anabela Mimoso (1995) p. 18 71

Idem, p. 30

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71

3.7 - Fantasmas

Os fantasmas são facetas exiladas da personalidade; eles assombram porque

lhes é negado o seu habitat natural. Assim, não se deve afugentar um fantasma

mas sim integrá-lo (…).72

Luísa Ducla Soares publica pela primeira vez a história infantil “O Fantasma” em

1982. Em 2007, por cortesia da “Civilização Editora”, o livro foi revisto pela autora e as

ilustrações simples da 1ª edição, pintadas com lápis de cor rosa e verde, e delineadas

com caneta preta/tinta da china são substituídas pelo maravilhoso trabalho da ilustradora

Maria João Lopes. A técnica da ilustração é mista, com muita textura e colagem. Utiliza

uma camada prévia de gesso acrílico, de modo a criar textura, coberta de tinta acrílica,

em que o suporte é o cartão. Foi o primeiro trabalho em que utilizou o gesso acrílico, e

é, portanto, bastante experimental. As cores são garridas, fora do comum

fantasmagórico, as perspetivas são distorcidas, e as personagens cabeçudas, redondas e

animadas.

A história desenrola-se acerca de um fantasma, chamado Prega-Sustos

Fantasmagóricos, que vive num castelo em ruínas e está farto da sua rotina. A sua

família incentivava-o a ser assustador, contudo ele era um menino bem-comportado e o

que ele mais queria era sair do castelo e conhecer a terra dos homens. Até que um dia,

para quebrar a monotonia, um grupo de militares acampou junto ao castelo. Os

fantasmas, eufóricos, resolveram pregar-lhes um grande susto. Como era carnaval, não

72

Paul Newman (2004) p. 67?

Figura 22. Capa do livro “O Fantasma”

(Maria João Lopes, 2007).

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72

foram levados a sério por os soldados pensarem que se tratava de uma brincadeira, e

com o barulho frenético das armas militares ninguém os conseguia ouvir.

Desiludido com a vida que levava, o fantasma ruma à cidade, onde também existiam

fantasmas, só que mascarados… “Muito se enganou o meu avô (…) Afinal aqui

também há fantasmas. E usam sapatos por debaixo dos lençóis para não criarem calos.

Assim é que é!”73

Entrou numa festa e dançou com a Isabel, mais conhecida por Menina do Capuchinho

Vermelho, ele que nunca tinha estado tão próximo de uma pessoa. Bateu a meia noite e

a menina, pensando que o seu companheiro de dança era um menino mascarado,

convence-o a ficar em sua casa.

Após confessar que era um fantasma verdadeiro, o pai chama uns especialistas: um

médico, um psicólogo, um astronauta, o chefe da polícia e o dirigente da Liga dos

Direitos e Liberdades e todos debateram as características e os direitos do fantasma.

A Isabel sugeriu levar o fantasma para a escola mas a diretora tinha medo do fantasma,

e os colegas gozavam com ele. Para se inscrever, precisava de tirar o bilhete de

identidade, era impossível medir a altura do fantasma porque ele pairava no ar. Sem

identidade não podia ir à escola mas podia trabalhar. Fez de fantasma num filme.

Sentia saudades do castelo assombrado e da sua família, mas se voltasse ia sentir

saudades da cidade e da sua amiga. Com o dinheiro que ganhou como ator, o fantasma

voltou ao castelo e ofereceu prendas a todos, lençóis novos, uma televisão para verem

filmes de terror, novelos de lã e agulhas de tricotar e uma máquina de lavar a roupa para

terem os lençóis sempre limpos, e ofereceu ao pai um livro que mostra como concertar o

castelo. Para si próprio, comprou-o um telemóvel para poder falar com a Isabel. Todos

os fantasmas adoraram as suas prendas, contudo não se sentiam felizes porque não

tinham pessoas para assustar, mas felizmente Prega-Sustos Fantasmagórico teve a ideia

uma ideia fantástica! Meteu um anúncio a publicitar um espetáculo assustador no

castelo assombrado. Foi o furor e os fantasmas voltaram a sentir-se como verdadeiros

génios assustadores.

73

Luísa Ducla Soares (2007) p. 13

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73

3.8 – Extraterrestres

“O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo”, conta a história sobre um gato que tem

uma certa implicância por uma criatura de outro mundo, que mais parece um ET mas na

verdade é um aspirador de pó.

Foi publicado pela primeira vez em 2012 pela “Dinalivro”, tem autoria de Maria João

Lopes e ilustração de Paulo Galindro. Natural de Guimarães, Maria João Lopes é

jornalista e colaboradora do jornal Público. Este texto foi vencedor do Prémio

Branquinho da Fonseca 2011, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo

jornal Expresso.

O gatuno tem medo de um estranho objecto que vive na marquise: é verde como os

extraterrestres, não fala a língua dos humanos, tem rodas e uma tromba. Os felinos são

conhecidos pela sua curiosidade e o gatuno sente-se ameaçado porque este extraterrestre

tem direito a mordomias: partilha a marquise com ele, não se lambe, não come, e ainda

recebe duas horas de atenção por parte dos humanos. Os donos permitem tudo ao

extraterrestre, até desviam móveis, levantam os tapetes e andam com ele pela casa

inteira.

Furioso planeia a sua vingança contra o inimigo, no entanto, após algum uso, o

extraterrestre estraga-se e acaba abandonado no lixo. O pequeno André, o dono mais

novo, recebe uma bicicleta que fica guardada na marquise. Agora o gatuno tinha um

novo inimigo.

A ilustração é do Paulo Galindro. A técnica utilizada é a colagem e recorte de papéis

previamente pintados com tinta acrílica. Nas ilustrações os esboços estão visíveis e na

última página que cola à capa estão três fotografias do método utilizado. (Ver Anexo

19)

Um facto curioso foi que uma menina de dez anos, residente na Suíça, com problemas

de autismo, foi sujeita a terapia, e a partir dos desenhos que viu neste livro e do método

de ilustração utilizado ela tentou imitar e criar.

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74

As ilustrações são bastante engraçadas, as personagens muito expressivas, fundos

brancos onde é possível notar o relevo das colagens. Última ilustração é uma referência

ao ET.

Figura 23. Ilustração do “O Gatuno e o

Extraterrestre Trombudo” (Paulo

Galindro, 2012).

Figura 24. Ilustração do “O Gatuno e o Extraterrestre

Trombudo” (Paulo Galindro, 2012).

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75

3.9 – Obras, autores e ilustradores internacionais relacionados com a

temática do medo e dos monstros

“Onde vivem os Monstros”, de Maurice Sendak, é das obras infantis mundialmente

mais conhecidas entre crianças e adultos. Foi publicado pela primeira vez em 1963 nos

Estados Unidos da América e a tradução portuguesa de Elisabete Ramos foi publicada

pela “Kalandraka” em 2009.

O albúm ilustrado por excelência, que foi adaptado ao cinema, transporta o

leitor para uma inesquecível viagem de ida e volta até ao território da

imaginação.74

O pequeno Max gostava de se mascarar de lobo e só fazia trapalhices por casa. A mãe

ordena-o a ir para o quarto e a nessa noite acontece algo mágico. O quarto transforma-se

numa enorme floresta, com um oceano para o Max navegar de barco, até chegar onde os

monstros vivem. Eram assustadores, tinham dentes, olhos e garras terríveis. Max

mandou-os estarem quietos e os próprios monstros, que não eram assim tão

monstruosos, ficaram com medo do menino, que para eles era um monstro. Max tornou-

se o rei dos monstros, brincaram muito até que o menino ficou aborrecido e queria

voltar para um sítio onde gostassem dele. Desistiu de ser o rei dos monstros e voltou

para casa.

74

Catálogo Kalandraka Portugal (2017), p. 23

Figura 25. Ilustração de “Onde vivem os Monstros” (Maurice Sendak, 1963).

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76

Mercer Mayer, escritor e ilustrador norte-americano, publicou em 1968 “Um pesadelo

no meu armário” editado pela “Dial Books”. Em 2004 a “Kalandraka” editou para

português, traduzido por Dora Isabel Batalim.

Conta a história sobre um rapazinho que antes de dormir fecha a porta do armário pois

existe um pesadelo lá dentro. Como em todas as histórias sobre crianças corajosas,

numa noite decidiu enfrentar esse pesadelo, colocou um capacete na cabeça, brinquedos

na cama para o protegerem e quando o quarto ficou escuro o pesadelo apareceu. O

rapazinho ameaçou-o dizendo que se ele não desaparecesse lhe dava um tiro com uma

arma de brincar. Ele disparou a fingir e o pesadelo desatou a chorar. O rapazinho com

pena do pesadelo consolou-o e aconchegou-o.

As ilustrações são detalhadas, em tons de verde e laranja, riscador preto para contornar e

fazer texturas. O Pesadelo está ilustrado sobre a forma de monstro, com umas grandes

orelhas que fazem lembrar asas de morcego, manchas verdes a cobrir o corpo, cabelos

na cabeça, dois dentes de fora, e um rabo com uma ponta de picos, três dedos em cada

mão e três dedos em cada pé.

“The Gruffalo”, na versão portuguesa “O Grufalão”, é uma obra infantil original da

autora Julia Donaldson, com ilustração de Axel Scheffler. Foi publicado pela primeira

vez em 1999 pela editora “Macmillan” (UK). A primeira tradução é de Maria da Fé

Peres, publicado pela “Jacarandá Editora” e a tradução de 2003 é de João Magalhães

Guedes, publicado pela “Editorial Verbo”.

Ilustrações mais infantilizadas, contornadas a preto, cores saturadas contrastando as

cores quentes com as cores mais neutras como os castanhos, amarelos e ocres da terra

Figura 26. “No meu armário havia um pesadelo” (Mercer

Mayer, 1968).

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da floresta, da cor do ratinho; laranjas da raposa, da coruja, dos olhos do grufalão;

castanhos dos troncos das árvores e do corpo do grufalão; verdes da vegetação, das

folhas das árvores; cinzentos das rochas e da cor da cobra; azuis claros do rio.

Um ratinho encontra uma raposa e diz-lhe que vai almoçar com

o grufalão, mas o que é um grufalão?

– Tem umas presas terríveis, e umas garras terríveis, e uns

dentes terríveis numa boca terrível. 75

– Tem umas patas nodosas, os dedos revirados e uma borbulha

venenosa na ponta do nariz. 76

– Tem olhos cor de laranja, a língua preta e, espetados nas

costas, espinhos violeta.77

O ratinho inventa que existe um monstro terrível chamado Grufalão que come animais:

faz assado de raposas, gelado de coruja, cobra mexida. Até que o ratinho encontra

mesmo o monstro terrível que tinha inventado para escapar aos animais que o queriam

comer. Para dar a volta ao grufalão e não ser comido, o ratinho disse-lhe que todos os

animais da floresta tinham medo dele. Usando o grufalão como protecção, pois já tinha

avisado todos os animais da floresta que ele os queria comer, todos os animais fugiram

do monstro, ou como o ratinho fez o gurfalão acreditar, nele mesmo.

- Bem, Grufalão – disse o rato -, estás a ver? Todos os animais têm medo de

mim! Mas sinto que a barriga me está a dar horas. E sabia-me bem um belo

puré de grufalão! – Puré de grufalão? – disse o Grufalão. Deu logo meia volta e

fugiu sem demoras. 78

Em 2004, Julia Donaldson públicou o volume seguinte, “A Filha do Grufalão”, que em

2010 foi editado pela “Pi”.

Em 2014 foi públicado o livro “A Minha Professora é um Monstro! (Não sou, não)”,

da autoria e ilustração de Peter Brown. Foi traduzido para diversas línguas, entre as

75

Julia Donaldson (2004) p. 5, 6. 76

Idem, p. 10. 77

Idem, p. 14. 78

Idem, p. 25.

Figura 27. Capa do livro “O

Grufalão” (Axel Scheffler,

1999).

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quais o português. A tradução é de Rui Lopes e foi editado pela “Orfeu Negro”, na

Colecção Orfeu Mini.

Para o Frederico a professora Dona Lurdes é um monstro, porque mandava calar os

alunos e quem atirava aviões de papel na aula não podia ir ao intervalo. Um dia, num

sábado de manhã, o Fred encontra a professora no jardim e a partir dai começa uma

aventura entre os dois. Depois de recuperar o chapéu da Dona Lurdes que voou com o

vento, a professora começa a simpatizar com ele e o Fred mostra-lhe o seu sitio

preferido do parque. Em chegando à hora de almoço os dois despedem-se e a professora

transforma-se, depois de um processo ao longo da história, numa linda senhora, não é

mais um monstro para o Frederico… até que ele volta a lançar outro avião de papel

durante a aula.

As imagens são simples, geométricas e rígidas. Inicialmente as ilustrações têm tons

acastanhados, tons terra e o verde da professora monstruosa. As imagens vão expandido

e destaca-se o verde da vegetação e do parque onde o Frederico encontra a professora

Lurdes. A imagem ocupa a folha inteira e está harmonizada com o texto. No diálogo

entre aluno e professora a ilustração toma uma dimensão de banda desenhada, com

balões, no narrador são frases corridas. As imagens começam a tornar-se mais

preenchidas.

A técnica mista desenhada na ilustração é a tinta da china, a aguarela e o guache, que

foram editadas e coloridas digitalmente. O texto é composto por caracteres Archer e

Chelsea Market Pro.

Figura 28. Ilustração “A Minha

Professora é um Monstro!” (Peter

Brown, 2014).

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4 – Atividade “Desenhar o medo”

“If your child can draw a picture of a monster, the monster may be less terrifying.” 79

No seguimento de uma conversa sobre a comemoração do "Dia das Bruxas", com os

alunos da Escola Básica de Ferreira do Alentejo, numa turma mista de 3º e 4º ano, foi

sugerida a elaboração de um desenho. Previamente, a professora bibliotecária leu a

história “A Bruxa Arreganhadentes”80 e os alunos construíram uma bruxa em papel com

uma vassoura feita de um pau de espetada e ráfia.

Participaram na atividade sete alunos representativos da turma. Dois alunos com

necessidades educativas especiais, três alunos de português língua não materna e dois

alunos de currículo normal a frequentar o 3º ano.

Foi pedido, aos alunos, que desenhassem o "medo". Disponibilizaram-se folhas brancas,

lápis de cores variadas e marcadores também de cores variadas. Foi estabelecido um

período de tempo entre os 30 e os 45 minutos para a realização da atividade proposta.

O aluno é do sexo masculino, frequenta o 3ºano e tem nove anos de idade. A criança

desenha uma figura central com vários componentes: seis braços, todos diferentes, duas

orelhas e dois pés. Tem olhos, uns óculos protectores e uma boca. Esta figura de

configuração oval é muito colorida. Por cima desta figura central foi desenhado, o que

parece ser uma núvem, de cor cinzenta mas contornada a vermelho e azul.

79

Farah Lofti Kashani (2005) p. 747 80

Livro infantil escrito por Tina Meroto e ilustrado por Maurizio A. C. Quarello. Conta a história de três

irmãos que, perdidos no bosque, decidem entrar na casa da bruxa.

Figura A

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80

É uma criança do sexo feminino, tem nove anos e está a frequentar o 3ºano. Utilizou

todo o espaço disponível da folha e desenhou três figuras centrais: uma personagem

semelhante a uma bruxa montade numa vassoura, com uma varinha mágica e um

coração; uma torre que tem uma figura prisioneira e o que parece ser uma escada; e por

último uma árvore desfolhada. Na parte superior da folha desenhou uma lua cheia, duas

núvens e um morcego. Sombreou o fundo a cinzento para escurecer a cena. Deu

especial relevância à noite.

Esta criança é do sexo masculino e tem dez anos, frequenta o 4ºano e integra o regime

da educação especial, em currículo específico. É um aluno com dificuldades cognitivas

permanentes.

Por coincidência o dia escolhido para a realização da tarefa foi também o dia que o pai

da criança fazia dois anos que tinha falecido.

Desenhou vários elementos ao longo da folha parecendo querer relatar diferentes tipos

de medo. Em primeiro plano surge uma figura que parece estar em chamas, a flutuar ou

prisioneiro. Em seguida uma figura fantasmagórica e ao lado estão duas tabuletas com a

Figura B

Figura C

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81

inscrição "não ir". No plano de fundo surgem algumas figuras que poderão ser

interpretadas como um fantasma, uma casa, uma bruxa e um homem pendurado pela

cabeça. Do lado direito uma forma azul que parece representar uma tempestado ou um

tornado. Fez questão de salientar sombreando a cinzento que as figuras estavam na

noite.

Esta criança é do sexo masculino, tem nove anos, é de nacionalidade romena e frequenta

o 3ºano.

Desenhou trinta e nove quadrados de tamanhos semelhantes e cores variadas. As

primeiras quatro fileiras de quadrados representam um padrão, quatros quadrados da

mesma cor, dois quadrados de cor igual, dois quadrados de cor igual, quatro quadrados

de cor igual. Nas últimas três fileiras os quadrados e as cores são aleatórios.

Esta criança é do sexo feminino, tem dez anos e anda no 3ºano de escolaridade. É de

nacionalidade romena. Representa no desenho uma criatura semelhante a um morcego,

uma cobra, uma bruxa, uma vassoura e uma árvore desfolhada com um morcego nos

ramos. As figuras caminham em direcção à árvore. No plano superior uma lua cheia, a

Figura D

Figura E

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Os Monstros na Ilustração para a Infância

82

folha está sombreada para representar a noite. As cores utilizadas são sombrias e

neutras.

Esta criança é do sexo feminino, tem dez anos, frequenta o 4ºano e integra o regime de

educação especial, currículo específico. Inspirou-se numa série televisiva sobre

vampiros.

Representa duas figuras femininas, uma delas montada numa vassoura e com uma

varinha mágica que envia ondas de amor para derrotar a "chica vampira". Por baixo da

bruxa foi desenhado uma forma semelhante a uma chama ou uma árvore. No plano

superior estão dois morcegos sorridentes e uma núvem escura entre eles.

É a aluna mais velha do grupo de participantes na atividade. Tem doze anos e frequenta

o 3ºano, é de nacionalidade romena.

É o desenho mais simples, representa duas árvores desfolhadas, e uma bando de sete

morcegos a voar. O céu está sombreado a cinzento e com uma lua cheia de fundo. As

cores utilizadas são em tons de cinza e castanho, com uns laivos de verde na base.

Figura F

Figura G

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83

No geral todas as crianças identificaram a noite como o período relacionado com os

medos. Verificamos que existem estereótipos: morcegos, bruxas, lua cheia, que

aparecem na grande maioria dos trabalhos.

Os dois rapazes mais novos fugiram às cores neutras e escuras e realizaram

representações do medo coloridas com cores garridas, quentes, fortes. As suas

representações parecem conectadas a situações virtuais como por exemplo jogos de

computador, vídeos, animação.

A figura C elaborada por um aluno com dificuldades permanentes ao nível da cognição

e organização de pensamento parece representar essas mesmas dificuldades e apresenta

uma representaçao do medo algo confusa.

Todos os elementos empenharam-se na tarefa e revelam um grau satisfatório de

imaginação, todos representam uma cena com exceção da figura D.

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Conclusão

Uma biblioteca é um labirinto. Não é a primeira vez que me perco numa. Eu e o

meu pai temos isso em comum. Penso que foi o que lhe aconteceu. Ficou

perdido no meio das letras, dos títulos, perdido no meio de todas as histórias

que lhe habitavam a cabeça. Porque nós somos feitos de histórias, não é de a-

dê-enes e códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros. É de

histórias.81

Porque todos nós somos feitos de histórias. Histórias que definem, em muitos casos, a

forma como encaramos a vida. Desmistificar os medos é dar ferramentas que abrem a

porta da felicidade, da esperança e do conhecimento.

Os livros destinados a crianças e jovens são uma realidade recente e o cuidado na sua

ilustração é algo dos nossos dias. Hoje, verificamos que, em muitas publicações, o

ilustrador aparece no mesmo plano do escritor e em alguns casos ilustrador e escritor

são a mesma pessoa. Com a criação de concursos/prémios internacionais de ilustração

sentiu-se uma crescente valorização do trabalho artístico do ilustrador. Algumas

publicações para crianças são autênticas obras de arte ao nível da ilustração e temos, em

Portugal, algumas editoras que se especializaram na ilustração da literatura infantil. Por

exemplo a editora “Planeta Tangerina” tem editado títulos muito criativos ao nível da

ilustração e que até têm ganho importantes prémios nacionais e internacionais, nessa

área.

Nas publicações analisadas verifica-se que o ilustrador tem um cuidado especial em

acrescentar informação ao próprio texto. Estas ilustrações têm vida própria e contam de

forma gráfica e artística a sua própria história. A ilustração deixou de ser um mero

complemento ao texto escrito e tornou-se parte dele.

No que concerne ao tema do meu trabalho, tenho a referir que, a nova vaga de

ilustradores portugueses, apresenta graficamente a temática “Os Monstros na Ilustração

para a Infância” de forma divertida, colorida, com humor, com recurso a técnicas

mistas, texturas, etc. As cores utilizadas nas figuras centrais são predominantemente

cores fortes e garridas. Em quase todas as ilustrações o único elemento que representa o

81

Afonso Cruz (2010) p. 27.

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medo é a própria sombra projectada no fundo da ilustração. Aos monstros são dadas

qualidades ou particularidades humanas que os tornam próximos do público alvo: são

trapalhões, desajeitados, medrosos, solitários e procuram quase sempre um amigo.

Ao projetar os medos das crianças nos próprios monstros é-lhes permitido pensar que os

seus próprios medos são ultrapassáveis. Pois se o próprio monstro tem o mesmo

problema da criança torna-se solidário com ela. A identificação do próprio medo é o

primeiro passo para a sua resolução. Penso que a representação gráfica dos diferentes

medos: do escuro, dos monstros, dos fantasmas, do desconhecido, da morte, da solidão,

ajuda a criança a desmistificar a imagem criada na sua cabeça. Acaba por formar uma

nova imagem, mais clara, mais objectiva e mais humana. Muitas vezes, a criança tem

medo sem saber do quê, por isso existir um livro que é um objeto de conforto a dar

forma e cor àquilo que ela não consegue exteriorizar, leva a que interiorize de forma

mais positiva e tenha uma atitude mais assertiva perante os seus próprios medos.

Após um trabalho prévio de pesquisa sobre a ilustração de livros para a infância que

abordassem a temática dos monstros e medos, verifiquei que existe muita recolha,

análise e produção sobre esta temática nas vertentes cinema, literatura e videojogos, mas

pouca no âmbito da ilustração infantil portuguesa.

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Índice de Imagens

Figura 1. Sérgio Godinho. Ilustração do “Pequeno Livro dos Medos” (1991). Fonte da

imagem: http://catatu.catalivros.org/janela_papel/m_pequeno_livro_medos.jpg

Figura 2. Maria João Lima. Ilustração do “O Manel e o Miúfa” (2012). Fonte da

imagem: própria.

Figura 3. Carla Nazareth. Ilustração de “Maria do Medo” (2015). Fonte da imagem:

própria.

Figura 4. Rodrigo Abril de Abreu. “Tenho medo do escuro. Aí nascem as estrelas”

(2016). Fonte da imagem: própria.

Figura 5. Henrique Cayatte. Ilustração do “Primeiro Quadro” no livro “O Bojador”

(2000). Fonte da imagem:

http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/outros_materiais/000445_BOJ.jpg

Figura 6. Paulo Galindro. Ilustração de “O Cuquedo” (2008). Fonte da imagem:

http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/outros_materiais/001265_m_o_cuquedo.jpg

Figura 7. Maria João Lopes. Ilustração de “Tenho um Monstro no meu quarto” (2009).

Fonte da imagem: própria.

Figura 8. Yara Kono. Capa do livro “O papão no desvão” (2009). Fonte da imagem:

http://www.leyaonline.com/fotos/produtos/500_9789722120999_papao_no_Desvao.jpg

Figura 9. Raquel Pinheiro. Ilustração de “Pê, o Monstro da Preguiça” (2011). Fonte da

imagem: própria.

Figura 10. André Letria. Ilustração de “Estrambólicos”, “Ane/Tân/Nio”, combinação de

“Anelônzio”, “Crustâncio” e “Peixónio” (2011). Fonte da imagem: própria.

Figura 11. André Letria. Capa do livro “David e Golias” (1995). Fonte da imagem:

http://c4.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/Be9043d14/13351147_I2s5s.jpeg

Figura 12. André Letria. Ilustração de “Animais Fantásticos”, “O Grifo” (2004). Fonte

da imagem: http://catatu.catalivros.org/janela_papel/m_os_animais_fantasticos.jpg

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Figura 13. José Manuel Saraiva. Ilustração do “Um Dragão na Banheira” (2004). Fonte

da imagem: http://catatu.catalivros.org/janela_papel/m_um_dragao_na_banheira.jpg

Figura 14. Anabela Cotrim. Capa do livro “O Monstro” (2006). Fonte da imagem:

https://static.fnac-

static.com/multimedia/PT/images_produits/PT/ZoomPE/2/2/8/9789720718822/tsp2011

1018204328/O-Monstro.jpg

Figura 15. Natacha Costa Pereira. Ilustração de “Bestiário Tradicional Português”

(2016). Fonte da imagem: própria.

Figura 16. André Letria. Ilustração do “Os Anéis do Diabo” (1998). Fonte da imagem:

http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/outros_materiais/000647_AD.jpg

Figura 17. Helena Magalhães. Ilustração de “Mala Diabo!” (2003). Fonte da imagem:

própria.

Figura 18. Fátima Buco. Ilustração do conto “O diabo e o lavrador” no livro “Diabos,

diabritos e outros mafarricos” (2003). Fonte da imagem: própria.

Figura 19. Flávia Leitão. Ilustração do “O Diabo do Alfusqueiro” (2011). Fonte da

imagem: própria.

Figura 20. João Caetano. Capa do livro “Dona Bruxa Gorducha” (1995). Fonte da

imagem: http://bibliotecas.cm-

loures.pt/nyron/Library/catalog/winlibimg.aspx?skey=401FF7E193FB4536A3FB1F289

06C35D4&doc=18184&img=12901&thb=true&pag=1&res=150

Figura 21. Pedro Pires. Capa do livro “Dona Bruxa Gorducha” (2007). Fonte da

imagem: https://img.wook.pt/images/dona-bruxa-gorducha-anabela-

mimoso/MXwxOTIzMzR8MjQzMDc5fDEzODM1MjMyMDAwMDA=/500x

Figura 22. Maria João Lopes. Capa do livro “O Fantasma” (2007). Fonte do imagem:

https://static.fnac-

static.com/multimedia/PT/images_produits/PT/ZoomPE/8/4/8/9789722624848/tsp2010

0806201230/O-Fantasma.jpg

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Figura 23. Paulo Galindro. Ilustração de “O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo”

(2012). Fonte da imagem: http://www.paulogalindro.com/wp-

content/uploads/2012/06/Ilustra%C3%A7%C3%A3o01_PauloGalindro.jpg

Figura 24. Paulo Galindro. Ilustração de “O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo”

(2012). Fonte da imagem: http://www.paulogalindro.com/wp-

content/uploads/2012/06/Ilustra%C3%A7%C3%A3o02_PauloGalindro.jpg

Figura 25. Maurice Sendak. Ilustração de “Onde vivem os Monstros” (1963). Fonte da

imagem: https://image.slidesharecdn.com/onde-vivem-os-monstros-livro-

130717010854-phpapp02/95/onde-vivem-os-monstros-17-638.jpg?cb=1374023384

Figura 26. Mercer Mayer. “No meu armário havia um pesadelo” (1968). Fonte da

imagem: http://catatu.catalivros.org/janela_papel/m_um_pesadelo_no_meu_armario.jpg

Figura 27. Axel Scheffler. Capa do livro “O Grufalão” (1999). Fonte da imagem:

https://img.wook.pt/images/o-grufalao-julia-

donaldson/MXwxNjA0NTg4NnwxMTU5MDkyMXwxNDE1NTc3NjAwMDAw/250x

Figura 28. Peter Brown. Ilustração de “A Minha Professora é um Monstro!” (2014)

Fonte da imagem: https://recursos.wook.pt/recurso?&id=10944777

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Brown, Peter (2014) A Minha Professora é um Monstro! (Não sou, não). Lisboa: Orfeu

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Cancela, Marta (2009) Tenho um monstro no meu quarto. Lisboa: Papa-Letras.

(Ilustrações de Maria João Lopes)

Carvalho, António Antunes (2006) O Monstro. Porto: Porto Editora. (Ilustrações de

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Cunha, Clara (2008) O Cuquedo. Lisboa: Livros Horizonte. (Ilustrações de Paulo

Galindro)

Donaldson, Julia (2003) O Grufalão. Lisboa: Editorial Verbo. (Ilustrações de Axel

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Donaldson, Julia (2010) A Filha do Grufalão. Lisboa: Pi. (Ilustrações de Axel

Scheffler)

Duarte, Rita Taborda (2012) O Manel e o Miúfa: O medo medricas. Lisboa: Caminho.

(Ilustrações de Maria João Lima)

Godinho, Sérgio (1991) O Pequeno Livro dos Medos. Lisboa: Assírio e Alvim.

(Ilustrações do autor)

Gonzalez, Maria Teresa Maia (2011) Pê, o Monstro da Preguiça. Lisboa: Edições Asa.

(Ilustrações de Raquel Pinheiro)

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Letria, José Jorge (2004) Os Animais Fantásticos. Porto: Ambar. (Ilustrações de André

Letria)

Letria, José Jorge (2011) Estrambólicos. Lisboa: Pato Lógico. (Ilustrações de André

Letria)

Lopes, Maria João (2012) O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo. Lisboa: Dinalivro.

(Ilustrações de Paulo Galindro)

Mayer, Mercer (2004) Um pesadelo no meu armário. Pontevedra: Kalandraka.

(Ilustrações do autor)

Mimoso, Anabela (2007) Dona Bruxa Gorducha. Alfragide: Gailivro. (Ilustrações de

Pedro Pires)

Mota, António (1995) David e Golias. Civilização. (Ilustrações de André Letria)

Parafita, Alexandre (2003) Diabos, diabritos e outros mafarricos: Contos e Lendas de

tradição oral. Lisboa: Texto Editora. (Ilustrações de Fátima Buco)

Saldanha, Ana (2010) O Papão no Desvão. Lisboa: Caminho. (Ilustrações de Yara

Kono)

Salgueiro, Tiago (2004) Um Dragão na Banheira. Lisboa: Edições Gailivro.

(Ilustrações de José Manuel Saraiva)

Sendak, Maurice (2009) Onde vivem os Monstros. Pontevedra: Kalandraka. (Ilustrações

do autor)

Soares, Luísa Ducla (2007) O Fantasma. Porto: Civilização Editora. (Ilustrações de

Maria João Lopes)

Valente, Nuno Matos (2016) Bestiário Tradicional Português: As criaturas fantásticas

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Vaz, José (2003) Mala Diabo! Lisboa: Edições Gailivro. (Ilustrações de Helena

Magalhães)

Vieira, Alice (1998) Os Anéis do Diabo. Lisboa: Caminho. (Ilustrações de André Letria)

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