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Os mundos do cinema - Eduardo Geada

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Os mundos do cinema - Eduardo Geada

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  • notciaseditorial

  • ISBN9724609553

    EduardoGeada

    DireitosreservadosporEditorialNotciasRuaPadreLusAparcio101.1150248Lisboa

    Capa:

    3designersgrficos

    Reviso:A.MiguelSaraiva

    Edion014080031.edio:Novembrode1998Depsitolegaln127424/98

    Primpresso:TextypeArtesGrficas,Lda.Impressoeacabamento:Rolo&FilhosArtesGrficas,Lda.

  • COLECOARTESEIDEIASOSMUNDOSDOCINEMA

    MODELOSDRAMTICOSENARRATIVOSNOPERIODOCLASSICO

  • Obraspublicadasnestacoleco:

    AGUERRACOLONIALEOROMANCEPORTUGUS2.edioRuideAzevedoTeixeira

    MGICOFOLHETIMLITERATURAEJORNALISMOEMPORTUGALErnestoRodrigues

    OSMUNDOSDOCINEMAMODELOSDRAMTICOSENARRATIVOSNOPERODOCLSSICOEduardoGeada

  • EDUARDOGEADA

    OSMUNDOSDOCINEMAMODELOSDRAMTICOSENARRATIVOSNOPERODOCLSSICO

    notciaseditoria

  • Vivemos num mundo fechado e mesquinho. No sentimos o mundo em que vivemos tal como no

    sentimos a roupa que trazemos vestida. Voamos pelo mundo como as personagens de Jlio Verne atravs doespaocsmiconoventredeumraio.Masonossoraionotemjanelas.

    Os pitagricos afirmavam que no ouvimos a msica das esferas porque toca incessantemente. Aqueles que vivem perto do mar no ouvem o rumor das ondas, mas ns nem sequer ouvimos as palavras que pronunciamos. Falamos uma miservel linguagem de palavras no assumidas. Olhamonos na cara e no nosvemos.

    Asimagensnosojanelasquedoparaoutromundo,soobjectosdonossomundo.

    VIKTORSKLOVSKILiteraturaeCinema,1923

  • Nickelodeonamericanonoprincpiodosculo.

    INTRODUO conhecida a reaco dos primeiros espectadores de cinema na clebre sesso

    inaugural do Cinmatographe Lumire no Grand Caf de Paris no dia 28 de Dezembro de 1895. Perante as imagens de um nico plano do comboio que entra na estao (L'Entre du train en gare de la Ciotat), tomado de pnico com a sensao de que a locomotiva se aproximava e o podia esmagar, o pblico abandonou as cadeiras e correu para a sada. A simples figurao do mundo tornado espectculo, graas iluso do movimento, durao do tempo do evento e apreenso do sentido das imagens no presente, provocou um extraordinrio efeito de realidade que , simultaneamente,umdosmaisfortesefeitosdeficodequeocinemaCapaz.

    A aclamao foi semelhante em toda a parte: o cinema restitua a vida com um grau de realismo que nenhum outro meio de reproduo ou de representao consegue atingir. As imagens em movimento preservam a memria das pessoas, das coisas e dos acontecimentos com uma autenticidade que parece desafiar a usura do tempo. Cumpriaseumdosmaispersistentessonhosdohomem,aplaudido

  • luz da crena positivista no progresso contnuo. Ao realizar a iluso perfeita do mundo sensvel, o cinema tornavase o inventrio universal das criaes e das aspiraes do ser humano, de que as prprias imagens projectadas constituam um testemunho exemplar. No eram s as maravilhas da paisagem natural e monumental, os usos e costumes de povos distantes que deslumbravam os espectadores nos quatro cantos do mundo, mas a descoberta de um semnmero de objectos, ordenados em contingentes de mercadorias, at ento apenas expostas nos armazns e nas galerias da especialidade, que inaugura a civilizao da imagem e a era do consumismo. Se certo que o homem teme ou ambiciona aquilo que v, ento o olhar fascinado do cinema, convertido hiptese da total visibilidade dos mundos exterior e interior, abre novoshorizontesaoslimitesdoseudesejo.

    Desde cedo, os tericos mais perspicazes intervieram na afirmao do cinema como arte, sublinhando que o filme apresenta o mundo no s objectivamente mas tambm subjectivamente. Cria novas realidades, em que as coisas podem ser multiplicadas pode inverter os seus movimentos e aces, distorclas, atraslas ou acelerlas. D vida a mundos mgicos onde no existe a gravidade, onde foras misteriosas fazem mover objectos inanimados e onde objectos partidos voltam a ficar inteiros. Cria relaes simblicas entre acontecimentos e objectos que no tm qualquerligaonarealidade(Arnheim).

    Enquanto modo de partilha da dimenso esttica, a fico narrativa um relato de acontecimentos imaginrios que no tm correspondncia no mundo real mas que se organizam a partir do entendimento humano e da recriao simblica da vida. A fico cria mundos possveis, alternativos aos da nossa experincia quotidiana, que s existem nos jogos da linguagem que os enuncia. Porm, a inteligibilidade da narrativa exige que as personagens e o curso dos acontecimentos ofeream pontos de analogia com as propriedades do mundo emprico, tais como a observncia dos princpios da coerncia cognitiva e a lgica das deslocaes espciotemporais. No cinema a articulao entre o mundo real e o mundo da fico particularmente sensvel, na medida em que a matria significante do filme reproduz e amplia com bastante preciso os referentes da representao audiovisual, criando assim uma forte impressoderealidadequeumdosfundamentosontolgicosdaestticadocinema.10