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OS MUTANTES Uma nova humanidade para um novo milênio

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OS MUTANTESUma nova humanidade para um novo milênio

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W422

Weil, Pierre.

Os mutantes: uma nova humanidade para um novo milênio/ Pierre Weil. – Campinas: Verus, 2003. 162 p.; 14 x 21 cm

ISBN 85-87795-37-6

1. Filosofia. 2. Sociologia. 3. Antropologia. 4. Religião. I. Título

CDD 100

DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃONA PUBLICAÇÃO (CIP)

DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO

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OS MUTANTESUma nova humanidade para um novo milênio

Pierre Weil

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Copidesque

Katia de Almeida

Revisão

Aurea G. Tullio VasconcelosRaïssa Castro Oliveira

Capa & Projeto Gráfico

André S. Tavares Silva

© 2003 by Verus Editora Ltda.

Todos os direitos reservados.Nenhuma parte desta obra pode ser

reproduzida ou transmitida por qualquerforma e/ou quaisquer meios (eletrônico

ou mecânico, incluindo fotocópia egravação) ou arquivada em qualquer

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VERUS EDITORA

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Sumário

Introdução: Um novo ser humano à procura de uma novavisão do universo e do sentido da nossa existência ............. 9

I O pontifex ........................................................................... 17

O que significa ser um pontifex? ........................................... 17O mutante como pontifex ....................................................... 18As fronteiras pessoais ............................................................... 19O pontifex diante do caos social e econômico ..................... 21A destruição da vida no planeta ............................................. 22Pontes com o universo ............................................................. 24

II Coincidências significativasDefinição, histórico e condições de aparição ...................... 25

O que é sincronicidade? ......................................................... 25História das coincidências significativas ............................... 28Em que condições aparecem as sincronicidades? ............... 29

a) Morte e situação de transição .............................................. 30b) Laços interpessoais afetivos e espirituais ............................. 33c) Criatividade ............................................................................. 33d) Força do desejo ...................................................................... 34e) Controle mental ...................................................................... 35f) Força do símbolo arquetípico .............................................. 36g) Oráculos ................................................................................... 37h) Entrega ..................................................................................... 38i) Sincronicidade de sincronicidades ....................................... 39

III Hipóteses sobre a natureza da sincronicidade .................... 41

1ª) Abertura do sujeito ............................................................ 432ª) Parapsicologia..................................................................... 443ª) Caráter involuntário e imprevisível .................................. 454ª) Conexão entre uma manifestação psíquica

e outra material ................................................................... 465ª) Transcomunicação direcionada e significativa .............. 50

a) Como ensinamento ................................................................ 50b) Como auxílio numa dificuldade .......................................... 51

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c) Como cura “milagrosa” ..................................................... 51d) Como realização de um pedido ....................................... 51e) Como confirmação do acerto da escolha

de um caminho espiritual ................................................. 51

IV A materialização como transcomunicação sincronística ..... 55

As caraterísticas da sincronicidade e transcomunicação . 57

V Quem são os agentes da transcomunicação significativa ... 63

A transcomunicação com os anjos ....................................... 68

VI O transpessoal como propulsor de evolução do mutante .. 72

Uma luz no horizonte ........................................................... 72Uma profunda transformação .............................................. 73Um ponto de convergência .................................................. 73Uma nostalgia indefinida ..................................................... 74Procura de saída numa relação a dois ................................ 75Crise existencial .................................................................... 76Procura de drogas ................................................................. 76Emergência espiritual .......................................................... 77Experiência culminante ...................................................... 78A saudade do paraíso perdido ............................................ 80

VII O processo evolutivo ........................................................ 81

A busca .................................................................................... 81Uma olhadela para fora de sua religião .............................. 82Sacerdotes abertos para a mutação ...................................... 82E os mutantes leigos? ............................................................ 84A caminhada da transformação ........................................... 85Os estágios evolutivos ........................................................... 87

VIII Rumo ao despertar ............................................................ 90

A diferença entre o mutante,o ser desperto e a pessoa comum .................................. 91

A busca como maior obstáculo ............................................. 92A onda se lembra de quem ela é... ...................................... 94Como se manifesta uma experiência transpessoal? .......... 95

a) A experiência da vacuidade ............................................. 96

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b) A vivência de energia e luz ................................................... 97c) A vivência da não-dualidade ................................................ 98d) O encontro com o Divino .................................................... 99e) A convicção de realidade ..................................................... 99f) O caráter repentino .............................................................. 100g) Não tenho palavras... ............................................................ 100h) A experiência de saída do corpo físico ............................. 100i) Fenômenos parapsicológicos ................................................ 102j) Encontro com seres em outra dimensão ............................ 102l) Efeitos posteriores .................................................................. 104

IX O papel do mutante numa estratégia globalde salvação da vida no planeta ........................................... 106

Estado de consciência ............................................................ 107Visão do universo .................................................................... 108Perspectiva antropológica ...................................................... 109Funções psíquicas ................................................................... 111Valores, opiniões e atitudes ................................................... 111Hábitos e comportamentos diários ....................................... 115Importância da transformação

do estagnante em mutante .............................................. 119

X A grande transformação ...................................................... 124

Uma questão de métodos ....................................................... 125A formação do mutante .......................................................... 125A) EDUCAÇÃO ........................................................................ 126Nível de sensibilização ............................................................ 126O nível de formação. A Formação Holística de Base (FHB) 128A Arte de Viver a Vida ............................................................. 129

a) Breve histórico ....................................................................... 129b) Finalidades .............................................................................. 130c) A quem se destina .................................................................. 130d) Processos e métodos ............................................................. 130e) Breve descrição de cada módulo ........................................ 131

Módulo 1: A Arte de Viver em Paz .................................... 131Módulo 2: A Arte de Viver Consciente ............................... 131Módulo 3: A Arte de Viver em Plenitude ........................... 132Módulo 4: A Arte de Viver em Harmonia .......................... 132Módulo 5: A Arte de Viver o Conflito ................................ 132

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Módulo 6: A Arte de Viver a Natureza ................................... 133Módulo 7: A Arte de Viver a Passagem ............................. 133Módulo 8: E A Vida Continua... .................................... 133

A educação do futuro mutante.A questão dos jovens e das crianças ................................ 134

B) OS ENFOQUES TERAPÊUTICOS .............................................136As terapias do ego ................................................................... 137Terapias iniciáticas ................................................................. 138

a) A terapia analítica de Carl Gustav Jung ............................. 139b) A terapia holotrópica de Stanislav Grof ............................ 140c) Emergência espiritual de Stanislav e Christina Grof ........ 141d) O diário workshop de Ira Progroff ....................................... 141e) O sonho acordado de Desoille ............................................ 141f) A psicossíntese de Roberto Assagioli ................................... 142g) A energética da essência de John Pierrakos ...................... 142h) O pathwork de Eva Pierrakos ................................................ 143i) As mãos de luz de Barbara Brennan ................................... 144j) Os vinte e um dias de Jasmuheen ......................................... 144l) A síntese transacional de Roberto Crema:

uma ecologia do ser .............................................................. 145m) Colégio Internacional dos Terapeutas:

um espaço de encontro de mutantes na Unipaz ............. 145C) A PESQUISA SOBRE A VALIDADE DOS MÉTODOS ....................... 146

Conclusão: Um livro cheio de surpresas e descobertas ............ 155

Bibliografia ............................................................................... 160

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Introdução

Um novo ser humanoà procura de uma nova visão do universo

e do sentido da nossa existência

“Lembra-te que tu estás numa hora excepcional,de uma época única e que tu tens esta grande

alegria e este inestimável privilégio de assistir aonascimento de um mundo novo!”

AUROVILLE, A mãe

No meio da confusão caótica da nossa época, está nas-cendo um novo ser humano, mulher e homem, mais equi-librado e mais capacitado para compreender e enfrentaros desafios da grande transformação que, como tudo indi-ca, já se iniciou. Ele é a primeira pessoa a se perguntar oque significa essa desordem e a se preocupar em encon-trar respostas e soluções.

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De que tipo de pessoa se trata? Quais as suas posturasideológicas e religiosas? Quais os seus interesses, atitudes ehábitos? Que ser humano é esse?

É bem possível que o leitor destas linhas já faça partedessa nova rede invisível que une essas pessoas. Pode sertambém que, saindo de uma crise existencial, ele estejacaminhando em direção a uma transformação que vai levá-lo a se alinhar com esse grupo de pessoas, sem que essaposição estimule a sua vaidade. Pode ser também que, mo-vido por simples curiosidade, o leitor, embora não tenhaainda sentido nada de especial em si mesmo, nem observa-do alguma mudança profunda no seu círculo de amizadeou de relações, se sinta tocado, em algum ponto de seuser, pelo conteúdo da presente obra. Se isso acontecer, queseja bem-vindo ao rol desta nova humanidade.

O objeto da presente obra consiste em esboçar umretrato desta nova humanidade em pleno despertar.

No fim do meu livro Lágrimas de compaixão, no qualcontei a segunda parte de minha história e evolução pes-soal, perguntei-me qual era a minha postura em relação àsreligiões pelas quais passara ou que estudara mais a fundo.Veio-me de modo repentino uma resposta que me satisfezbastante: espiritualidade transreligiosa. Tudo se passou co-mo se esse termo colocasse em relevo, de modo claro elúcido, como eu estava me sentindo e me situando em ma-téria religiosa. Senti-me como um pintor que, delicadamen-te, dá o último retoque em seu quadro antes de nele apora sua assinatura.

Passado algum tempo, dei-me conta de que eu não erao único que tinha adotado essa postura. Podem-se reunirsob esse título inúmeras pessoas que assumem uma atitudesemelhante ou igual à minha, pouco importando se elas

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participam de uma religião organizada ou não, qualquerque seja sua preferência política ou classe social.

O que nos une, sejamos nós mulheres ou homens? Oque faz com que, quando nos encontramos em reuniõessociais, congressos ou eventos casuais, nós nos reconheça-mos rapidamente e entremos num intercâmbio de idéiase opiniões, sintonizando-nos como se sempre nos tivésse-mos conhecido uns aos outros?

Nas linhas que seguem, procurarei colocar em evidên-cia os aspectos que, parece-me, permitem situar essas pes-soas.

Centenas de milhares ou milhões? É difícil saber quan-tas são, justamente porque até agora não foram identificadascomo uma categoria definida. Se você perguntar a algumadelas se tem uma religião, obterá uma resposta como esta:“Eu sou católico, sigo os preceitos da minha religião, mas...”Ou então: “Eu não tenho religião, mas...” O que será queune o religioso e o livre pensador? É justamente o que seráexpresso depois deste “mas...”.

A seguir, descreveremos as principais característicasdesse novo tipo de ser humano, tais como suas visões demundo e de lugar do ser humano neste, bem como seusvalores opiniões, atitudes, interesses, modos de ser, círcu-los e hábitos sociais, entre outros.

O que vamos descrever a partir de agora é fruto deobservações feitas ao longo dos últimos quarenta anos, quenos levaram a emitir uma série de hipóteses dentro de umtrabalho de natureza especulativo. As idéias aqui expostaspodem ser objeto de inúmeras pesquisas, dentro ou forado campo universitário. É, aliás, esse o nosso voto.

Antes de começar, quero tranqüilizar o leitor mais lú-cido quanto aos aspectos psicológicos que podem envolver

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um autor de uma análise descritiva como esta. Refiro-meao perigo de ele — eu, no caso presente — projetar as pró-prias crenças e valores pessoais sobre os seres humanos quedescreve e tomar os seus desejos como realidade. Real-mente, como me incluo nessa rede, ao me descrever, des-crevo os outros também, e vice-versa. Porém a minha ex-periência tem demonstrado que, mesmo que eu tenha ini-ciado por minha própria análise, o que muito me facilitoua tarefa, fui descobrindo progressivamente as mesmas ca-racterísticas em outras pessoas. Um dos melhores testes é areação dos leitores dos meus livros ou dos participantes demeus seminários ou conferências. Inúmeros são os que medeclaram que eu estava descrevendo as suas vivências, preo-cupações e interesses atuais e me agradecem por isso.

Um dos primeiros aspectos marcantes é a procura daverdade além das fronteiras das ideologias atuais, científicasou religiosas. Em outras palavras, o religioso procura a ver-dade, ou a confirmação da “sua” verdade, na sua e/ou emoutras religiões, ou na ciência; de outro lado, o cientista,cansado dos estreitos e rígidos limites da pesquisa, ou oagnóstico que começa a duvidar da sua sistemática descren-ça de tudo, abrem-se para a busca religiosa. Estabelecem-sepontes sobre fronteiras. Essas pessoas revelam-se verdadei-ros pontifices, como os denomina Aldous Huxley.

O segundo aspecto que as une é a leitura de livros deautores que preconizam ou constatam uma mudança deparadigma, uma nova visão holística e transdisciplinar, umamudança de sentido tal como a defini num de meus livrosmais recentes, A mudança de sentido e o sentido da mudança, aqual constitui uma abertura para a compreensão do surgi-mento desse novo tipo de ser humano.

Certos autores o chamam mutante. Trata-se de um no-me que surgiu nas décadas de 1960 e 1970 na França e

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designava toda uma geração de pessoas insatisfeitas com oestado de coisas e que manifestavam uma nova visão domundo, de acordo com a física quântica e com a perspec-tiva dos místicos. Mais tarde, no Brasil, um conjunto musi-cal de rock adotou o mesmo nome pelo qual se tornou céle-bre: Os Mutantes, grupo criado pelos irmãos Sérgio e Ar-naldo Batista.

Provavelmente, o nome mutante foi escolhido por oterem relacionado com o fenômeno a que, em genética,se denomina mutação de genes. O ponto de mutação, deFritjof Capra, inscreve-se nessa perspectiva. Sua publica-ção em inglês data daquela época, assim como A conspira-ção aquariana, de Marilyn Ferguson. Estes e muitos outrosautores são a principal fonte de inspiração e constituemmodelos para a grande mutação pessoal. São teólogos, físi-cos, antropólogos, psicólogos, romancistas, entre outros,todos eles mutantes também. Encontramos, ao longo dosanos, o, ou melhor, os denominadores comuns a esses au-tores, o que pode nos dar uma pista para traçar o perfil donosso mutante. A essa visão comum chamamos de holísticae transdisciplinar.

Todos os mutantes caracterizam-se por uma nova vi-são do Divino. A versão primitiva de um Deus antropo-mórfico, para eles, é relegada a estória para embalar o sonode crianças. A nova visão divina não é apenas mais um con-ceito, mas faz parte de uma vivência. Essa postura é forte-mente influenciada por um conjunto de evidências colo-cadas em relevo por ciências de ponta, entre as quais con-vém citar a microfísica e a física quântica, a parapsicologia,a psicologia transpessoal e a antropologia das religiões.Entre essas evidências figura, em primeiro lugar, a desco-berta da inexistência do caráter sólido da matéria; a maté-ria é uma expressão da luz, é espaço luminoso. Desvane-

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cem-se também, além das três dimensões espaciais, as trêsdimensões do tempo. Tudo se passa como se a realidadefosse expressa por duas verdades: uma relativa, em queexistem o tempo e a matéria; outra absoluta, em que a pri-meira é apenas uma ilusão dos sentidos.

Esses primeiros dados tornam aceitável e compreensí-vel a existência, em nosso cotidiano, de coincidências signi-ficativas, batizadas por Jung de sincronicidades, em que seenquadram também todas as experiências ditas paranor-mais, objeto de estudo da parapsicologia. O sobrenatural setorna aos poucos natural para o nosso mutante e lhe dá asegurança da existência de outra dimensão da realidade.Tal segurança é reforçada pela notícia, que lhe fornece apsicologia transpessoal, de que todos nós temos acesso di-reto, em certas condições conhecidas há milênios, a essaoutra dimensão.

A antropologia das religiões está mostrando especial-mente que o objetivo comum a todas as tradições religiosasé justamente essa visão transpessoal, expressão de um esta-do de superconsciência ao alcance de cada um de nós.

Isso dá aos praticantes das religiões uma nova razão deser da sua própria religião, fazendo-os voltar às origens. Osagnósticos encontram um novo sentido para sua existênciae resolvem procurar um caminho espiritual. E ambos osgrupos passam a adotar a postura de espiritualidade trans-religiosa, mesmo permanecendo em sua religião de ori-gem ou não aderindo a uma religião organizada especifi-camente determinada.

O que caracterizará essencialmente o nosso mutanteserá o resultado do trabalho sobre si mesmo, visando a umatransformação profunda em direção à superconsciência.Seus heróis e modelos são os grandes sábios, místicos e san-

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tos da história ou da contemporaneidade. As práticas trans-formativas é que determinam sua nova forma de ser consi-go mesmo e com os outros, isto é, a qualidade de suas rela-ções amorosas e da vida profissional e social, caraterizadaspela prática da compaixão.

Nesta breve introdução, acabamos de delinear o con-teúdo deste livro com um breve esboço do que vem a ser ummutante. Basta agora desenvolvermos os principais temasapresentados. Começaremos por descrever o aspecto pontifexdo nosso mutante. Em toda a nossa obra, já falamos suficien-temente do movimento renovador holístico e transdisciplinare dos principais autores que lhe servem de fonte de inspira-ção. Como já expressei, seria demasiado repetitivo voltar aesses temas no presente volume, até mesmo porque eles jános levaram a aprofundar, de uma maneira ou de outra, anova visão do Divino que os une. Estendi-me sobre este as-sunto em Meu Deus, quem é você e em Lágrimas de compaixão,sem contar A arte de viver a vida. As evidências que fortale-cem essa nova visão divina já foram sucessiva e suficientementedescritas, partindo da micro e da macrofísica, da psicologiatranspessoal e da parapsicologia, para que possamos abordardiretamente as sincronicidades ou coincidências significati-vas que são efetivamente um dos aspectos mais marcantes davida dos mutantes. O assunto foi até agora marginalizado emereceu, por isso, um destaque especial neste volume. Elecompletará os fundamentos já enumerados para a posturade espiritualidade transreligiosa. Enfim, mostraremos comoas práticas transformadoras do mutante em direção ao trans-pessoal estão modelando de forma evolutiva este novo serhumano, dentro de uma humanidade também em evolução,porém bem mais lenta e mais perto da estagnação.

A conclusão do livro será uma excelente oportunida-de para lembrar as grandes fases desta evolução individual

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e coletiva e o papel preponderante que deverá exercer omutante na salvação da vida no planeta e na instauração deuma nova civilização, pois é bem disso que trata o essencialdeste livro.

Com certeza, a maioria, senão todos os nossos leitores,poderá tirar proveito desta obra. Uns porque se reconhe-cerão em várias partes dela; outros porque encontrarão ex-plicações e apoio para as posturas que já assumiram em suaexistência; outros ainda, à procura de uma saída coerentee saudável da situação mais ou menos caótica em que seencontram e/ou encontram o mundo em torno de si, po-derão esboçar uma nova perspectiva e iniciar nova cami-nhada em função do que passarão a conhecer na presenteobra.

À medida que isso se der, contarei com a felicidadede ter atingido mais uma finalidade de minha própria exis-tência. E, para terminar esta longa mas necessária introdu-ção, quero lembrar o que o texto talvez não tenha deixadosuficientemente claro: quando falo em mutante, dirijo-metanto aos homens quanto às mulheres, para além do gêne-ro gramatical do termo. Aliás, a grande mutação de nossaépoca é o fim da guerra dos sexos, assunto de meu livroprecedente.

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I

O pontifex

“Tal como toda ciência, a novatransdisciplinaridade jamais irá veicular certezas

absolutas, mas, através de um permanentequestionamento do ‘real’, levará à elaboração de

um enfoque aberto, em permanente evolução,que irá se nutrir de todos os conhecimentos

humanos e que irá recolocar o homem no centrodas preocupações do homem.”

BASARAB NICOLESCU

O que significa ser um pontifex?

Na sua origem, pontifex é o título que se dava antiga-mente aos construtores de pontes, em virtude dos rituaisreligiosos que acompanhavam essa construção. A Vulgatadá o título de pontifex a Jesus Cristo, já que ele era conside-rado ponte entre os seres humanos e Deus. Até hoje, pontifex

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é o título conferido ao papa, ou Sumo Pontífice, signifi-cando provavelmente a sua característica de ponte entre aterra e o céu, entre os fiéis e Deus.

Aldous Huxley usou o termo para caracterizar aqueleque tem prazer em aproximar mais particularmente pes-soas pertencendo a religiões diversas, ou a ideologias dife-rentes. Ele mesmo se declara literato pontifex.

Isso implica que os pontifices apresentem uma aberturainterior e um respeito muito grande pelas principais cor-rentes religiosas e ideológicas do nosso tempo. Neste últi-mo sentido, o nosso mutante pode, antes de tudo, ser con-siderado um pontifex.

O mutante como pontifex

Ávido de conhecer a realidade última, o mutante nãovacila em procurar religiões diferentes da sua e comparar oque os seus fundadores ou textos sagrados afirmam. Ele seentusiasma ao descobrir inúmeras semelhanças com a suaprópria religião, o que vai reforçar a sua convicção a respei-to do acerto de sua escolha religiosa. Aos poucos, ele desco-bre que uma corrente religiosa pode enriquecer a outra comexplicações de detalhes que se perderam na noite dos tem-pos. Age do mesmo modo com a ciência: procura explica-ções e confirmações ou mesmo provas da existência de Deusou de uma dimensão divina no universo.

Se ele for agnóstico, tendo deixado a sua religião denascimento, possivelmente se tornará fervoroso adepto dapesquisa científica e ficará fascinado pelas maravilhosas des-cobertas da física, da biologia e da informática. Mais um pas-so, e ele gostará das surpresas que lhe reserva o lado esotéri-co das religiões. Por exemplo, descobrir o princípio esoté-rico de que “o que está embaixo, está em cima”, ou de que

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“o microcosmos reproduz o macrocosmos”, torná-lo-á facil-mente um adepto de ciências ocultas. Talvez ele se inscre-va na teosofia, na ordem rosa-cruz, ou venha a aderir àantroposofia de Rudolf Steiner, ou a outra ordem esotérica— a lista é longa. Tendo abandonado a religião e abraçadoa ciência, através do esoterismo, ele inicia verdadeira bus-ca espiritual.

O mesmo pode acontecer com uma pessoa que per-tença a uma religião organizada. São inúmeros os religio-sos que abraçam ao mesmo tempo uma ou várias ordensesotéricas. Para muitos, a ligação esotérica será apenas umapassagem enriquecedora e iniciática. Alguns se apegam aospoderes que ela lhes confere. Nesse caso, param de evo-luir como mutantes.

Isso significa que muitos mutantes começam a aden-trar, a explorar e a superar as fronteiras psicológicas e cor-porais. Em outras palavras, como pontifex, o mutante vai cons-truir pontes sobre todas as fronteiras artificialmente cria-das por sua própria mente. Mas, este último aspecto, ele ovai descobrir mais perto do fim de sua jornada.

Vamos descrever sucessivamente as fronteiras que elevai dissolver. São principalmente fronteiras pessoais e inter-nas, fronteiras externas, sociais e planetárias e fronteiras cós-micas. A descoberta do caráter ilusório da fronteira da peleo levará a estender a última ponte: a da dualidade exterior-interior.

As fronteiras pessoais

Além das tradições esotéricas, muitos são os que que-rem saber mais a respeito de si mesmos. Submetem-se auma psicoterapia. Seja a psicanálise, seja o psicodrama, sejaa gestaltterapia ou a psicossíntese, o nosso mutante vai

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primeiro restabelecer as pontes entre sua consciência e seucorpo. Descobrirá aos poucos muitas necessidades frustra-das e começará a cuidar do corpo através de uma alimen-tação sadia, em geral naturista ou vegetariana. Hatha yoga,ou Tai chi, ou ainda aikido irão ajudá-lo a restabelecer a har-monia e o equilíbrio psicossomático. Aos poucos, toma cons-ciência de quanto as emoções destrutivas, como a raiva ouo apego exagerado, se tornam lesivas para seu corpo e parasua alma. À medida que cultiva os sentimentos e os valoreselevados, como a alegria, o amor, a beleza, a verdade e acompaixão, as emoções e os valores destrutivos arrefeceme ele se torna uma criatura aberta para os outros, amorosa,paciente e tolerante.

Através do relaxamento e, sobretudo, da meditação,torna-se mais criativo, o que faz dele um ser cada vez me-nos à mercê das fórmulas batidas e dos textos empoeirados.O pontifex não é um ser escravo da rotina, mas uma perso-nagem em constante renovação. Como todos os seres li-vres, ele é imprevisível, embora se possa confiar na sua ín-dole serena e lúcida. E, quando se encontrar em dificulda-de, não vacilará em procurar orientação em outra dimen-são, seja lendo o livro da vida e das sincronicidades, sejaconsultando o tarô ou o I Ching. Como mostraremos maisadiante, no capítulo sobre as coincidências significativas,ele sabe que não está só neste universo e que pode contarcom uma mão amiga que o guie nas suas dificuldades ounas de outras pessoas, pois, como já dissemos, é um ser abertoa ajudar a todos no que for necessário. Ele sabe que a com-paixão e o amor são o cimento das pontes sobre as frontei-ras que separam os seres humanos entre si.

Onde há fronteiras que dividem pessoas, grupos e na-ções, ou separam seres humanos da natureza, provocandosoluções violentas aos conflitos gerados pelas mesmas frontei-

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ras imaginárias, encontramos um ou vários pontifices traba-lhando em silêncio ou ensinando como agir.

À medida que o mutante estende pontes sobre todasas fronteiras, a sua visão e experiência do mundo se desen-volvem a tal ponto que se estabelece uma comunicaçãobastante estranha e, no início, ele se vê cercado de coinci-dências significativas.

Antes de descrevermos outras características do mu-tante, examinaremos mais de perto em que consistem es-sas coincidências e quais as explicações atuais, em nível aca-dêmico, para elas.

O pontifex diante do caos social e econômico

Esta tarefa interior seria relativamente fácil se o nossopontifex fosse indiferente ao que se passa ao redor de si:uma sociedade em desagregação; famílias se pulverizan-do, incluindo-se, muitas vezes, a sua própria; violência nuncavista ameaça a porta da sua própria casa. Ao votar, ele nãosabe mais em que político confiar. A corrupção impera. Asdrogas tomam conta da juventude sem rumo, pois os paisperderam o significado da existência. A fragmentação atin-ge o próprio conhecimento e todas as estruturas adminis-trativas, públicas ou privadas. As religiões disputam entre sia prerrogativa de possuir a última verdade e, com isso, ge-ram ortodoxias e fanatismos sempre prestes a gerar guer-ras entre fundamentalismos.

As guerras e violências têm, entre outras fronteirascausais, a que separa países, grupos e pessoas ricas e po-bres. A revolta dos pobres é um barril de pólvora perma-nentemente montado, traduzindo-se em assaltos e grevessangrentas, sem falar em revoluções nas quais também cor-re muito sangue. Onde houver violência, há muitas vezes

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um pontifex preenchendo o papel de mediador ou mesmode árbitro.

A destruição da vida no planeta

Além do caos individual e socioeconômico, encontra-mos mutantes enfrentando o tremendo problema criadopela destruição ecológica da nossa Gaia – resultado de umamiopia que consiste em acreditar que somos separados danatureza e que existe uma fronteira entre nós e ela, o quenos permite explorá-la sem nenhum dano para nós. Gran-de parte dos ecologistas são mutantes e todos são pontifices,pois o próprio meio ambiente está a lhes ensinar que tudodepende de tudo, o que lhes dá uma visão sistêmica holís-tica e transdisciplinar.

Por todas essas razões, o pontifex não pode ser indife-rente ao caos que o cerca. O pontifex sabe por intuição queessa desordem geral ainda pode ter fim. Ele conhece aslinhas gerais dos caminhos que levam à paz e à harmonia.Mesmo que se sinta só, aprendeu a fazer a sua parte. Paraquem desanima, ele conta esta estória:

A estória do menino e dos peixes

Um menino, estando numa praia, viu centenas de milhares depeixes sendo lançados fora d’água pelas ondas; os peixes,então, morriam asfixiados. O menino, cheio de compaixão,passava o seu tempo devolvendo os peixes ao mar. Ao ser inter-pelado por um transeunte que quis convencê-lo de que haviapeixes demais e de que seu trabalho era inútil, o menino res-pondeu: “É verdade. Eu não posso salvar todos. Mas pelo me-nos estes eu salvei!”

Assim, além de cuidar da sua transformação pessoal —o que já considera como uma contribuição à transformação

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da sociedade —, ele se torna progressivamente uma espéciede catalisador de evolução dos outros. Escreve, faz conferên-cias públicas, fala na tevê e no rádio ou, se não for famoso,conversa em rodas de amigos. Embora não goste muito defestas superficiais, ele as freqüenta, porque sabe que temum papel importante a preencher. Caso exerça função deresponsabilidade, ele é conhecido pela sabedoria das solu-ções que encontra para os problemas mais complexos.

Para aproximar as religiões, organiza ou participa ativa-mente de encontros ou eventos inter-religiosos. O mesmo sedá na política, em que o mutante aparece preenchendo opapel de pontifex. Ele se identifica por sua flexibilidade eabertura. É conhecido como hábil articulador interpartidário;tem amigos em todos os partidos, sem no entanto abdicar desuas opiniões ou posturas pessoais. Porém, ao ouvir os ou-tros, ele pode eventualmente mudar as próprias posições.Também é conhecido como não conformista em relação acertas pressões de ordem cultural. Adota os valores da cultu-ra após examiná-los de maneira profunda e lúcida. Mesmodesconhecendo o conceito de normose, na prática dificil-mente permanece normótico por muito tempo — verdadeque se aplica tanto aos seus hábitos alimentares como ao usode tecnologias diversas. Só consome aquilo que é convenien-te para ele e, ao mesmo tempo, sadio e isento de perigopara a humanidade, pelo menos tanto quanto possível.

Do ponto de vista econômico, sabe o valor relativo dodinheiro e da perenidade das posses materiais. Tambémnesse campo procura ter uma vida equilibrada, mesmo segenerosa, pronto para abrir mão sem comoção emocionalem caso de perda ou de crise. Movido por profunda com-paixão, participa de obras sociais e beneficentes, preferin-do, porém, antes contribuir para doar uma vara de pescardo que um peixe.

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Mas há uma ordem de preocupação que supera tudoo que descrevi até agora. O caos socioeconômico que nosameaça constantemente é progressivamente reforçado pelodesequilíbrio do meio ambiente. O pontifex é muito sensí-vel a tudo o que ameaça a natureza, da poluição da maté-ria à intervenção nos sistemas atômicos e genéticos, passan-do pela destruição da biodiversidade. Além de tomar pro-vidências na esfera pessoal — como separar o lixo reciclávele fechar as torneiras, por exemplo —, ele dá todo o apoiopossível aos diferentes esforços de proteção ou restauraçãoecológica, através de diversos organismos ambientais. Isso oconecta com o universo.

Pontes com o universo

Fascinado pelos mistérios que se escondem por detrásdo mundo quântico tanto do micro como do macrouni-verso, o nosso pontifex descobriu os caminhos da meditação,pois sabe que todos esses sistemas se encontram tambémnele mesmo.

Muitas vezes, inspirado pela tradição taoísta, ele reco-nhece dentro de si as duas grandes vertentes da energiado Tao: o yin e o yan, o feminino e o masculino. Seja ho-mem ou mulher, ele trabalha para reequilibrar o masculi-no e o feminino na própria pessoa, aliando a firmeza daascendência masculina à doce abertura do feminino.

Ele sabe como conjugar a intuição feminina com a razãomasculina, harmonizando a afetividade com a necessidadede efetividade. Sabe que esse equilíbrio interno o aproxi-ma do casamento interior e reconstitui nele mesmo as bo-das cósmicas. Considera o casamento a dois como o elo, aponte entre o ser e o Ser. Para ele, tudo no universo é sagra-do e divino.

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II

Coincidências significativasDefinição, histórico e condições de aparição

“Porque um fenômeno é raro e inabitual, nãotemos, de jeito nenhum, o direito de concluir

que ele não existe. Porque um fenômeno é dedifícil análise, não se deve ter medo de

empreender o seu estudo.”

CHARLES RICHET

Prêmio Nobel de Medicina

O que é sincronicidade?

Muitas pessoas, mais especialmente os mutantes, têm-se deparado com uma situação em que, ao pensarem numamigo, este telefona ou aparece na esquina. Costuma-se fa-lar, nessa ocasião, de coincidência. Mas, em certos casos, ascoincidências se multiplicam a tal ponto que se chega à

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conclusão de que elas não podem mais ser consideradassimples coincidências, de que esses eventos não constituemum acaso, de que aquilo a que se chama acaso ou coinci-dência não é uma coisa nem outra.

Ou então basta que um desses eventos esteja envolvidocom tantos detalhes significativos para uma determinadapessoa que se torna impossível classificá-lo como coincidên-cia. A coincidência, que então se torna significativa exclusi-va e reservadamente para aquela pessoa, comporta-se comose fosse uma mensagem com endereço certo. Quem estáfora desse contexto não enxerga e não entende nada. To-das as explicações e esclarecimentos feitos a quem quer queseja são pouco convincentes. Ou se acredita na pessoa querelata sua experiência, ou não; outra alternativa não há.

Tudo indica que as sincronicidades estão se multipli-cando mais particularmente na vida do mutante, pois elasestão descritas, conforme veremos adiante, como fenôme-nos colaterais da evolução e transformação pessoal em di-reção à vivência de outra ordem da realidade, a transpes-soal. Pode ser também que as sincronicidades façam parteda vida de todos, mas que o homem comum deixe de per-cebê-las, pois, ao contrário do mutante, ainda não apren-deu a ler o livro da vida. Ser mutante consiste, entre outrascoisas, em aprender a ler esse livro. E tudo indica que assincronicidades constituem uma verdadeira alfabetizaçãodo ser humano, para que ele aos poucos se redescubracomo parte integrante do Ser.

É objetivo nosso, depois de oferecer a definição e ohistórico do fenômeno, fazer um resumo das hipóteses queo expliquem e, em seguida, testar essas hipóteses e os con-ceitos emitidos num caso especial: a vida de um sensitivo,também mutante, na qual dia e noite, durante anos, têmocorrido coincidências significativas. Trata-se de Amyr Ami-

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den, que foi objeto de um capítulo especial do meu livroLágrimas de compaixão. Convidado a se submeter a observa-ções e experiências em nível acadêmico, ele consentiu, etodo o material resultante compõe o livro intitulado Trans-comunicação e materialização (no prelo).

Para começarmos, definiremos o termo sincronicidadee descreveremos a história dos estudos a respeito dessetema. No decorrer da investigação, assinalaremos os aspec-tos que se aplicam particularmente ao mutante. Isso per-mitirá ao leitor entender progressivamente a relação dasincronicidade com a profunda transformação que está seoperando no mutante.

Tenho a impressão — e são muitos a constatar o mes-mo — de que as sincronicidades estão aumentando demodo significativo nesta nossa época. O autor de A profeciacelestina, James Redfield, tem afirmado o mesmo. Mas ofenômeno é muito antigo.

Carl Gustav Jung ficou muito intrigado com um even-to desse tipo, quando, no momento em que uma clientesua relatava um sonho envolvendo um escaravelho doura-do, entrou pela janela um inseto dessa espécie. Jung ficoutão impressionado que acabou desenvolvendo uma teoriasobre esse fenômeno, juntamente com o físico Pauli, em1934, muito antes de este último ganhar o prêmio Nobelem 1945.

O termo sincronicidade pode ser definido como umacorrespondência, significativa para quem lhe está sujeito,entre uma seqüência de eventos sem relação causal conhe-cida entre eles. Em geral, tais eventos apresentam um sen-tido interior e psicológico e outro exterior e físico, mas hátambém casos de coincidências entre fenômenos apenasexteriores, cujo vínculo psicológico é apenas o seu signifi-cado.

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História das coincidências significativas

Já em 1920 Jung teria tido um encontro com Einsteinsobre o assunto, tendo sido ambos atraídos pelo aspecto deunidade do cosmos, interior e exterior ao ser humano. Se-gundo Allan Combs e Mark Holland, Jung considerava Scho-penhauer o precursor do conceito de sincronicidade, já queesse filósofo atribuía a uma harmonia preestabelecida o fatode eventos sem causalidade aparente entre si manifestarem-se entre dois indivíduos.

Uma outra autora, Anne Ancelin Schutzenberger, fi-cou intrigada com correspondências aparentemente casuaisque se dão entre séries repetitivas de comportamentos depessoas situadas em linhagens transgeneracionais e que nãotêm laços hereditários de parentesco. Ao se dedicar à his-tória da sincronicidade, descobriu que, já no século XVIII,existia estudo a respeito. Horace Walpole, em 1754, forjouo termo serendipidity. Ele tinha lido a estória intitulada Ostrês príncipes de Serendip, uma epopéia em que três prínci-pes, à procura de uma espécie de Graal, são sujeitos a umasérie de “acasos felizes”, ou melhor, encontram coisas devalor, agradáveis, ou importantes, que não buscavam inten-cionalmente. O termo serendipity, que podemos traduzir por“serendipidade”, vem do nome antigo da ilha de Ceilão,Serendip, hoje Sri Lanka.

Neste século, Jung foi precedido, em matéria de pes-quisa sistemática do assunto, por um biólogo austríaco, PaulKammerer. Esse pesquisador passou a vida, desde a idadede vinte anos, estudando séries de eventos sucessivos, à pro-cura de certas repetições significativas. Por exemplo, fica-va num parque observando as pessoas passarem e anotavaos detalhes de sua roupa, esperando encontrar repetiçõessignificativas. Publicou, em 1919, um livro em alemão so-

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bre a lei das séries que nunca foi traduzido para outra lín-gua, mas que se tornou conhecido por uma análise feitapor Arthur Koestler. Nessa obra Kammerer relata umascem coincidências significativas. O caso dez, citado porAllan Combs e Mark Holland, integra seis parâmetros. É ahistória de dois soldados — que não se conheciam —, am-bos com 19 anos, ambos nascidos na Silésia, ambos voluntá-rios no corpo de transporte, ambos admitidos no mesmohospital militar em 1915, ambos vítimas de pneumonia eambos com o nome de Franz Richter. Na segunda parte dolivro, o autor faz uma análise do que ele chama de morfo-logia da série, em que estabelece distinções entre a ordemdas séries, o número de eventos similares no mesmo tem-po e o seu poder, tudo classificado em função do númerode parâmetros. Seguidor de Lamarck e defensor de suasteorias com base em experimentos, ele foi incompreendidoe criticado pelos biologistas adeptos do paradigma antigo.Isso o levou ao suicídio, mas não impediu que abrisse cami-nho para a experimentação, no que se refere à sincroni-cidade.

Nas últimas décadas, muitos dados foram acumuladospor vários autores, o que permite fazer um balanço das con-dições ou circunstâncias em que aparecem as sincronici-dades. É disso que vamos tratar agora.

Em que condições aparecem as sincronicidades?

As condições para a aparição de coincidências signifi-cativas são muito variadas, mas talvez seja possível descobrircertos denominadores comuns que permitiriam encami-nhar hipóteses explicativas dos fenômenos. Vamos come-çar por uma das condições mais freqüentes: aquelas liga-das à passagem e à transição.

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a) Morte e situação de transição

As circunstâncias que mais nos parecem provocar o fe-nômeno se encontram em torno de períodos de transição,a começar pela passagem para um outro plano, ou morte.

Em um dos psicodramas de passagem que costumodirigir no seminário que ministro, intitulado A Arte de Vi-ver a Passagem, a protagonista, uma mulher com cerca dequarenta anos, representou o desenlace de sua avó. A avólhe confidenciou o seu medo de morrer, pois havia sonha-do, na véspera, que não havia lugar no cemitério para ela:embora lhe tivesse sido reservada uma cova ao lado do ma-rido já falecido, vira seu caixão depositado sobre o de ou-tra pessoa. A neta então prometeu-lhe cuidar para que issonão acontecesse, o que a acalmou e permitiu um lindo diá-logo entre elas, preparando-a para uma morte tranqüila.Obrigada a visitar um parente recém-operado num hospi-tal a cerca de três horas dali, a neta deixou-a. Chegando aseu destino, ela sentiu de repente o perfume preferido daavó, intuindo assim ser aquele o momento exato de seudesenlace. Trata-se da primeira sincronicidade. Voltou en-tão para casa, trazendo consigo uma vela amarela que forausada em seu próprio aniversário. Lá constatou que, efeti-vamente, a avó falecera. Havia quatro velas acesas. Quandoentrou no quarto, uma tempestade muito violenta obri-gou-a a fechar a janela; depois de acender a vela amarela,as outras quatro apagaram-se, e não houve mais jeito deacendê-las. A vela amarela continuou acesa até o enterro.No enterro, as outras quatro velas foram acesas e não seapagaram, apesar de haver um vento muito forte.

O pai da neta havia notado que o caixão era demasiadocomprido e não caberia no túmulo. Mandou que este fosseaumentado. Mas, ao tentarem colocar o caixão no lugar quelhe era devido, constatou-se que era muito largo. Então se

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cumpriu aquele sonho da avó: o caixão foi colocado em cimado túmulo vizinho; logo, seu corpo ficou sobre o de outrodefunto! Depois de tiradas as alças do caixão, este, emboraainda largo demais, encaixou-se em seu lugar, graças a ummovimento apropriado em relação às duas beiradas de con-creto que constituíam o obstáculo principal. A avó fora, en-fim, enterrada. Essa foi a segunda coincidência.

A terceira foi também bastante significativa: a neta ha-via comprado um carro novo, mas sua chave fora trocadapor engano na hora do emplacamento. Em razão do enterroda avó, ela se esquecera de alertar o despachante sobre atroca. Na segunda-feira após o enterro, recebeu um tele-fonema dele avisando que podia ir buscar o carro: o empla-camento havia sido feito e a chave fora encontrada. Ficoubastante surpresa, pois nada permitia prever um desfechotão rápido. Ao aproximar-se do carro, teve uma nova sur-presa: a placa começava com as iniciais de sua avó! Quatrocoincidências significativas formando uma impressionantesincronicidade em torno de uma morte...

O caso mais clássico na literatura é o da mulher de umcliente de Jung a qual ficara bastante impressionada comum fenômeno ocorrido por ocasião da morte de sua mãe etambém de sua avó: uma revoada de pássaros apareceraem torno da casa. Certo dia, esse cliente de Jung apareceucom alguns sintomas que Jung interpretou como suscetí-veis de serem de natureza cardiopática e encaminhou-o aum cardiologista. O médico concluiu que o paciente nãotinha nada de grave e dispensou-o. Ainda no caminho, po-rém, ele sofreu um ataque cardíaco e morreu em seguida,ainda com o diagnóstico negativo no bolso. Naquele exatomomento, em casa, sua mulher afligia-se ao ver a residên-cia cercada por incontáveis pássaros... Jung observa que apartida da alma é muitas vezes representada na mitologia

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por pássaros ou, ainda, por penas, e que, por conseguinte,havia nesse caso uma mensagem simbólica.

Podemos considerar esse exemplo de Jung como ode um primeiro tipo de aparecimento de sincronicidadesno momento da morte. Trata-se de presságio. O presságioé bastante conhecido no folclore de todas as culturas.

Um segundo tipo é constituído pelos inúmeros casosde precognição ou premonição manifestados em pessoasque sonham com a morte de alguém — ou dela têm visões—, por acidente ou por outra causa, e a morte se dá efeti-vamente.

Um terceiro tipo de sincronicidade é o que se mani-festa por meio de aparições, diante dos familiares mais ín-timos, de pessoas que acabaram de falecer. O caso narradono psicodrama classifica-se como uma combinação de vá-rios tipos.

Allan Combs e Mark Holland afirmam que as sincro-nicidades se multiplicam em situações de transição taiscomo mudança de emprego, viagens, crescimento pessoal,meditação, passagem de um estado de consciência a ou-tro, processo de individuação e no caso da morte propria-mente dita. O que os autores vêem em comum entre osdiferentes tipos de condições é o fato de se passar por fron-teiras e superá-las. Essas fronteiras podem ser físicas ou psi-cológicas. De fato, sabemos que todas as fronteiras foramcriadas pela mente humana. Dissolver as fronteiras é umaoperação antes de mais nada psicológica, em que se alargao campo mental. Em suma, havendo um alargamento docampo pessoal, haverá uma tendência ao aparecimento desincronicidades. Vamos voltar a esse importante aspectodepois de examinar e descrever outras condições. No quese refere ao mutante, esse é um dado bastante interessan-

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te, pois descrevemos com bastantes detalhes o seu aspectode pontifex, que ultrapassa as fronteiras e estende pontessobre elas. Como já frisamos, os mutantes são, atualmente,alvo de muitas sincronicidades.

b) Laços interpessoais afetivos e espirituais

Coincidências significativas — mais especialmente ca-sos de telepatia e de precognição — são bem freqüentesentre amigos ou casais unidos por profundos laços de amor.O mesmo acontece no caso de grupos de pessoas bastantecoesos e unidos por propósitos comuns e por laços afetivospronunciados. Nas tradições esotéricas, esse fenômeno re-cebe o nome de egrégore, uma espécie de campo energético.Em ambos os casos, há uma dissolução de barreiras ou fron-teiras psicológicas entre as pessoas.

c) Criatividade

O processo criativo está muitas vezes cercado de sin-cronicidades, e estas, conforme o caso, podem influir nodesenvolvimento do próprio processo. Isso pode acontecerdurante uma pesquisa científica, uma inspiração poéticaou uma tentativa de reencontrar o caminho quando se estáperdido no mato. Mas pode acontecer também durante umprocesso de individuação, de transformação e de evolução,em que a criatividade pode ser reforçada e encorajada pe-las sincronicidades.

Aqui também podemos constatar a dissolução de fron-teiras como a rotina burocrática, velhos hábitos de pensarou resolver as coisas rotineiramente. O processo criativonos coloca também em contato com a dimensão espiritualdo ser, impulsionando-nos para além das fronteiras do ego.Mais uma vez atua o pontifex!

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d) Força do desejo

Muitas sincronicidades ocorrem em concomitânciacom fortes desejos, como o de encontrar um companhei-ro ou uma companheira, de reencontrar um ente queri-do, de alcançar uma promoção ou de ganhar um carronovo; ou, ainda, de solucionar um problema de naturezacientífica ou existencial. Nesses casos, a sincronicidade sedá como uma coincidência significativa que leva a encon-trar o objeto do desejo ou a solução esperada. Tudo sepassa como se o conteúdo do desejo fosse transportadoalém dos limites do sujeito — e levado a um espaço oudimensão onde se trata a informação e se organiza a açãona direção desejada.

Foi o que aconteceu comigo ao tomar meu lugar numavião. Estava, naquela época, precisando de um físico nu-clear que pudesse proceder a uma análise de certas pe-dras semipreciosas materializadas na presença do sensiti-vo Amyr e, eventualmente, providenciar o teste de carbo-no para determinar a idade do material. Sentou-se ao meulado um senhor de cerca de quarenta anos, barbado. So-bre os joelhos eu pousara o manuscrito da pesquisa. Co-mecei a ler. Senti que o meu vizinho estava espiando otexto; não se contendo, ele perguntou se eu era pesquisa-dor. Respondi afirmativamente e perguntei-lhe qual erasua profissão. Era físico nuclear do Instituto de Física daUniversidade do Rio de Janeiro. Aceitou cooperar paranossa pesquisa. Mas a sincronicidade não parou ali. Quan-do fomos retirar as bagagens, deparei-me com um amigoque não encontrava havia muito tempo. Fora justamenteele que me apresentara ao Amyr. Minha impressão era deestar sendo verdadeiramente teleguiado por uma forçasuperior desconhecida, que me indicava que eu estava nocaminho certo!

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e) Controle mental

É possível canalizar a força do desejo e da necessidadena prece e na oração. Em todas as tradições religiosas háinúmeras evidências dos chamados milagres, em cujas des-crições percebemos um caráter de sincronicidade. Em cer-tas tradições espirituais usa-se a técnica de visualização emestado de relaxamento para se obter o que se deseja, so-bretudo quando se está a serviço da cura de outrem.

Recentemente, José Silva elaborou um sistema chama-do Silva Mind Control ou, ainda, Psicoorientologia. O méto-do, ministrado num seminário de fim de semana, incide maisparticularmente sobre o uso da visualização do que se querobter, estando-se imerso num profundo relaxamento. Paraquem se submeteu ao processo, os resultados foram surpreen-dentes. Certo fim de semana, eu estava saindo de um dosmeus seminários de cosmodrama, acompanhado de uma dasparticipantes. Tinha pressa de pegar um táxi para chegar atempo ao aeroporto. As ruas estavam vazias e poucos carroscirculando. Lembrei-me então de uma técnica que consisteem juntar três dedos para produzir as condições de chega-da de um carro. Disse à minha amiga que ia usar uma técni-ca para obter uma condução. Juntei meus três dedos. Nãose passaram trinta segundos e um carro parou à nossa fren-te. A senhora que o dirigia fez um sinal para a amiga que meacompanhava: era uma colega dela, que nos convidou paraentrar. Sentei-me à frente. Ao ver um livro sobre o teste daárvore, perguntei qual era a sua profissão: psicóloga. Naque-le momento, voltei-me para minha amiga e disse: “Viu comoa técnica dos três dedinhos funciona?” Nossa motorista, sur-presa, exclamou então: “Eu também fiz o curso do MindControl!”

Nesse caso, juntaram-se dois “acasos” simultaneamen-te: a chegada de um carro imediatamente depois de eu

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ter juntado os três dedos e o fato de a motorista ter feito oMind Control.

Como o treinamento se faz em estado de relaxamen-to profundo, as fronteiras da mente se dissolvem, só per-manecendo as imagens da visualização. Mais uma vez,estamos diante de uma abertura de fronteiras, de uma am-pliação do campo da consciência. Mais uma demonstraçãopara o pontifex...

f) Força do símbolo arquetípico

Certa ocasião dediquei todo o meu tempo a pesquisassobre o significado do símbolo da esfinge. Meu espírito es-tava exclusivamente voltado para esse tema. Foi nessas con-dições que as coincidências significativas começaram a semultiplicar, a tal ponto que eu chegava a entrar em livra-rias e bibliotecas, encontrando “por acaso” o livro e, nele, apágina com referências sobre a esfinge.

Cerca de trinta e cinco anos depois, fui tomado porum idêntico entusiasmo ao escrever o livro sobre a bipola-ridade masculino-feminina, o que me levou a lidar comsímbolos arquetípicos variados, como o da Grande Mãe, odo Cálice, o da Espada, o do Andrógino e o do Velho Sábio,e sobretudo o do animus e anima. De novo, as sincronicida-des facilitaram e abreviaram o tempo da minha pesquisa.

Em ambos os casos, tive a sensação de que uma mãoinvisível me guiava e me dava sinais significativos de queera isso mesmo que eu tinha de fazer.

Foi Jung quem primeiro estabeleceu a relação entreo uso do símbolo arquetípico e o aparecimento de sincro-nicidades. Ora, o arquétipo faz parte do espaço fora dotempo, e o seu símbolo, ainda carregado de significadosculturais limitados à dimensão do tempo e ao mundo cau-

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sal, constitui a ponte que permite dissolver as barreiras efronteiras entre os dois mundos, entre os dois estados deconsciência, um mais amplo do que o outro. O arquétipocomo pontifex!... Ainda há muitas discussões a respeito de serou não o arquétipo a causa da sincronicidade. É um assuntobastante aprofundado por Carminda Proença, que concor-da com os que se manifestam contra a opinião de Jung.

g) Oráculos

Como mostra mais especificamente Marie-Louise vonFranz, num estudo sobre adivinhação, o uso dos chamadosjogos adivinhatórios, tais como o tarô, o I Ching, os búzios,entre outros, constitui aplicações evidentes da sincroni-cidade. Com efeito, todos apresentam a mesma particula-ridade: de um lado, a pessoa com a sua cadeia de causali-dade própria; de outro, uma outra cadeia de causalidadeprópria ao sistema do oráculo. Nenhuma das duas cadeiasde causalidade tem relação entre si. É o que nos mostra IraProgroff ao descrever a experiência que teve quando o pró-prio Jung lhe aplicou o I Ching. A experiência de Jung e,posteriormente, a de Ira Progroff mostram que, emborasem nenhuma relação causal com o consulente, as respos-tas do texto sempre têm uma clara relação com sua vidaatual e suas eventuais transformações.

A nossa experiência pessoal vai na mesma direção. Che-guei mesmo à conclusão de que qualquer livro sagrado —como a Bíblia ou o jogo com figuras de Anjos — pode serusado e ter como resultado fenômenos de sincronicidade.

O que há de comum entre os diferentes jogos adivinha-tórios é a postura do consulente: ele supera as fronteirasdo ego e da razão, pois, fascinado pelo mistério do proces-so, direciona sua pergunta para um espaço ou área maisampla, embora desconhecida. Ao fazê-lo, o consulente con-

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fia em uma força maior do que ele próprio e a ela se entre-ga. Certos jogos adivinhatórios são precedidos de um reco-lhimento, de uma concentração; por exemplo, o jogo dosAnjos de Findhorn. No Tibet, existe uma técnica chamadaMO, que teria precedido o I Ching, em que há um verda-deiro cerimonial sagrado de veneração do buda Mandushrie de meditação acompanhada de mantras. Após esses ri-tuais, o dado é jogado depois de ter sido abençoado. O quehá de comum entre todas essas situações é a entrega a umaforça, ou espaço maior, que ultrapassa as fronteiras do nos-so pequeno ego. É disso que trataremos agora, voltando aenfatizar a idéia do pontifex que ultrapassa fronteiras.

h) Entrega

Existem certas pessoas, em geral místicas, seres des-pertos e santos, cuja caraterística comum é a completa en-trega a uma força maior ou divina. Sua confiança é tão in-condicional que essas personagens deixaram de manifes-tar vontade própria provinda do ego. O ego, de naturezailusória, dissolveu-se. Existe apenas um espaço sem frontei-ras a partir de onde se manifestam todos os possíveis e im-possíveis.

É justamente em torno desses seres desapegados detudo que se manifesta grande número de sincronicidades,chamadas milagres pelas tradições religiosas a que per-tencem. Jesus e seus discípulos, Buda, Francisco de Assis,Shimeon bar Yochai e tantos outros são exemplos vivos detais evidências. Todas as tradições reconhecem a existênciadas sincronicidades, mas ao mesmo tempo atribuem esseseventos a carismas pessoais, considerando-os de valor secun-dário e até mesmo desprezíveis. A recomendação geral écontinuar no caminho do desapego e da entrega em vez dese apegar às sincronicidades, arriscando colocá-las a serviço

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da vaidade do ego, o que anularia toda a prática espiritual.Um lama tibetano chamou a isso de materialismo espiri-tual. Essas sincronicidades devem ser consideradas apenassinais de que a pessoa está trilhando o caminho certo, obje-tivando o próprio despertar, ou de que ela já despertou.

Notei que as sincronicidades se manifestam também,no caso de pessoas comuns, quando estas se encontram emperíodos mais ou menos longos de entrega pessoal e dedesapego. Como exemplo — já contei na primeira partede minha autobiografia — cito o fato de ter transmitidoenergia para uma pessoa (e esta teve consciência disso) ede haver tido visões de luz sagrada e de um colar de cabe-ças cortadas que identifiquei um ano depois, num templode Kali na Índia, como sendo o símbolo do desapego e daentrega. Acontece que, nesse período, em Esalen, eu esta-va particularmente desapegado de tudo e inteiramenteentregue a serviço dos outros. A maior coincidência signi-ficativa é que as minhas visões se referiam justamente àentrega e ao desapego.

Antes de finalizar este capítulo, quero ainda assinalaruma situação sui generis e atípica.

i) Sincronicidade de sincronicidades

Alan Vaugham, citado por Combs e Holland, obser-vou que basta que uma pessoa se ocupe de sincronicidades,estude ou leia sobre o tema, para que ela se torne objetode coincidências significativas. Tudo se passa como se algu-ma entidade dissesse: “Está vendo? Eu existo mesmo!”

Anne Ancelin Schutzenberger contou-me que, naépoca em que estava pesquisando a sincronicidade, ela foipara a Suécia a fim de ministrar um psicodrama. Lá, per-deu sua bolsa com todos os documentos, inclusive o passa-

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porte. Inconformada com essa situação incômoda, procu-rou o cônsul da França, país onde reside. O cônsul lhe ex-plicou que, infelizmente, não podia fornecer-lhe um novopassaporte, pois não tinha nenhuma prova de sua identi-dade. Ela teria que comprová-la, o que era impossível. Anneencontrava-se num beco sem saída. Intrigado com a calmaque ela aparentava, o cônsul expressou sua surpresa. Anneexplicou-lhe então que já se encontrara, quando adoles-cente, em uma situação semelhante: sua casa fora incen-diada pelos nazistas, com os próprios pais dentro dela, eela ficara na rua, sozinha, sem mais nada, a começar pelosdocumentos. Ao ouvir o nome da cidade onde isso se pas-sara, o cônsul exclamou, estupefato: “Eu morava na casa aolado!” É óbvio que ele lhe forneceu um novo passaporte.

Ao relatar essa sincronicidade, Anne me perguntou queconjunto de eventos teria sido aquele que a levara a perdera bolsa com o passaporte e também a obter um outro passa-porte, contra todas as evidências de impossibilidade legal.Para que assim fosse, ela tivera de encontrar um cônsul que,durante a Segunda Guerra Mundial, fora seu vizinho e pre-senciara o incêndio e o assassinato dos pais dela.

Naquela época eu desconhecia o fenômeno chamadopor Alan Vaughan de sincronicidade de sincronicidades.Hoje eu responderia a Anne que esse evento foi montadopara demonstrar-lhe a realidade do fenômeno.

Depois dessa breve enumeração das condições em queaparecem as sincronicidades, podemos agora efetuar oque tínhamos em mente ao fazê-lo, isto é, procurar os pon-tos em comum entre essas diversas circunstâncias, visandoelaborar algumas hipóteses a respeito dos princípios queas regem.

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III

Hipóteses sobre a natureza da sincronicidade

“A clínica está aí para mostrar que asincronicidade se manifesta de fato e que é

urgente, por isso, tentar pensá-la, e pensá-la mais além do que fez Jung em seu tempo, à luz das

descobertas das ciências contemporâneas.”

MICHEL CAZENAVE

Antes de entrar a fundo na questão, gostaria simples-mente, para maior clareza de nossa análise, de enumeraras diferentes espécies de evidências observadas por váriosautores quanto à natureza da sincronicidade.

Em primeiro lugar, ela acontece quando a pessoa aquem ela se destina está numa atitude que poderíamosdefinir com vários termos: abertura, disponibilidade, en-trega, fé, superação de obstáculos e de fronteiras, contatocom outro plano da realidade, como é o caso de muitosmutantes em seu aspecto de pontifex.

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Em segundo lugar, a sincronicidade assume o caráterde um dom sobrenatural, de um carisma, de um poderparanormal, já que ela se manifesta por percepção extra-sensorial como clarividência, precognição, retrocognição,cura psíquica, entre outros fatores PSI de Rhine.

Em terceiro lugar, situa-se uma outra evidência: as pes-soas não têm nenhum poder sobre a sincronicidade, nempara provocá-la nem para modificar o seu rumo; por issomesmo, ela acontece quando menos se espera, assumindoa aparência de um acaso.

Em quarto lugar, há uma justaposição de componen-tes psicológicos e comportamentais de um lado, e de even-tos materiais de outro, resultantes todos de causalidadesindependentes, conferindo à sincronicidade uma aparên-cia acausal, o que não seria sempre o caso de fenômenosparanormais, segundo análise de Carminda Proença, cujatendência é excluir a parapsicologia do conjunto de fenô-menos de sincronicidade.

Enfim, em quinto lugar, parece evidente que a sincro-nicidade tem um destino específico. Tem sentido apenaspara a pessoa que é alvo dela, mais raramente para duas oumais pessoas. Mas, se alguém começa a ler e a estudar so-bre o assunto, torna-se alvo de sincronicidades. Talvez sepossa afirmar o mesmo quanto aos fenômenos parapsico-lógicos: não seriam eles também uma mensagem significa-tiva para todos os que a eles estão sujeitos, ou mesmo paraos que os provocam, de que existe uma outra dimensão,uma outra força que rege esses fenômenos?

Em outras palavras, são cinco as características essen-ciais da sincronicidade. Vamos agora examinar sucessiva-mente cada uma delas, o que talvez nos permita elucidarmelhor a natureza e o funcionamento da sincronicidade.

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1ª) Abertura do sujeito

Em todos os exemplos que acabamos de relatar, en-contramos sistematicamente uma atitude que Combs eHolland têm assinalado como fator integrante das condi-ções em que se encontram sincronicidades. De uma formaou de outra, encontramo-la em praticamente todas as si-tuações. Trata-se de uma atitude de disponibilidade, de a-bertura para um espaço maior, psíquico ou físico; de umacerta entrega, para não dizer uma ampliação do estado deconsciência. Em certos casos, a sincronicidade é precedidade relaxamento e meditação — pelo menos, costuma ocor-rer com pessoas que praticam sistematicamente relaxamen-to e meditação, ou oração.

Ora, sabemos, desde o advento da psicologia transpes-soal, que o relaxamento e a meditação, entre outros pro-cessos ou situações, favorecem a mudança do estado deconsciência. De outro lado, está também demonstrado,mais particularmente pelos estudos de Stanislav Grof, quea mudança do estado de consciência leva à vivência de ou-tras formas da realidade. Temos uma fórmula que resumeessa lei: VR = f (EC). Essa fórmula significa que a vivência(V) da realidade (R) é função (f) do estado de consciência(EC) em que está a pessoa.

Existem quatro estados de consciência. Em cada umdeles vivemos uma ordem de realidade diferente. São avigília, o sonho, o sono sem sonho e a superconsciência ouestado transpessoal.

No estado de vigília, experimentamos uma realidadede separatividade que favorece a vivência de um mundo decausalidade linear, pois estamos usando os sentidos físicos eo raciocínio lógico-formal. No estado de sonho, perdemos o

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contato com o mundo físico e tornamo-nos sujeitos a per-cepções extra-sensoriais. No estado de sono profundo, a cons-ciência em estado puro ainda está adormecida. No estadode superconsciência ou estado transpessoal, vivenciamos umarealidade dentro de uma dimensão fora do tempo-espaço.

Stanislav Grof observou aumento da freqüência desincronicidades justamente quando as pessoas atingem ní-veis transpessoais de consciência, mais particularmente emsua terapia holotrópica.

É o momento de assinalar aqui que uma das caracte-rísticas do mutante é navegar, viajar pelos diferentes esta-dos de consciência, praticando mais particularmente o re-laxamento e a meditação.

2ª) Parapsicologia

A ocorrência de fenômenos parapsicológicos comocomponentes da sincronicidade tem atraído a atenção devários autores. Por exemplo, casos de premonição de aci-dentes que efetivamente acontecem podem ser conside-rados sincronicidades. Mas a sucessão ou a simultaneidadede eventos sincronísticos também pode ser considerada,devido a seu caráter paranormal, de natureza parapsico-lógica.

Combs e Holland são inclinados a considerar que to-dos os fenômenos parapsicológicos são sincronicidades enão vêem razão para fazer uma distinção. Eles fazem men-ção a alguns autores que contam casos de precognição, taiscomo de acidentes, ou de sonho premonitório, como serlevado por um Óvni — precognições que se realizaram efe-tivamente. Os autores fazem uma pergunta, já clássica nocaso: A imagem da precognição teria influenciado a emer-gência de determinado evento, ou realmente se trataria

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de uma antevisão do evento? Ambas as questões nos colo-cam diante de uma só evidência que caracteriza a sincroni-cidade e que Jung fazia questão de realçar: a coexistênciaentre um fenômeno psicológico, de um lado, e um fenô-meno físico, de outro, em concomitância com a significa-ção evidente para o sujeito-alvo da sincronicidade.

Os autores citam Koestler como o primeiro pesquisa-dor a constatar a semelhança e a coexistência entre sincro-nicidade e fenômenos parapsicológicos.

Essa evidência vem reforçar o que afirmamos anterior-mente, isto é, que a sincronicidade é fruto de uma mudançado estado de consciência.

3ª) Caráter involuntário e imprevisível

Os eventos que compõem a sincronicidade acontecemquando menos se espera. Por isso mesmo, eles não podemser nem planejados nem resultantes de algum ato da von-tade, produto de uma decisão pessoal.

Mesmo no caso do Silva Mind Control, ao qual nos re-ferimos, o máximo que se consegue é colocar as pessoasem postura de relaxamento profundo e estimular o uso daimaginação para programar uma eventual mudança ou aocorrência de determinado evento. No entanto, exatamen-te o que, como e quando vai ocorrer o que foi pedido inde-pendem do sujeito que programou a sincronicidade.

Certos autores, como Carminda Proença, mostram que,nesse aspecto, os fenômenos parapsicológicos diferem dasincronicidade, pois eles podem ser experimentalmenteprovocados. A curva de Gauss de distribuição desses resul-tados mostra, no entanto, que há uma enorme variedadeno êxito obtido entre os sujeitos. Podemos nos perguntar:Até que ponto os mais dotados teriam acesso a maior nú-

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mero de mensagens significativas ligadas à sincronicidade?É uma questão em que ainda há muito que pesquisar.

Os processos de imaginar um evento para que eleaconteça — e ele acontece — e o de sonhar com um even-to — e ele também se concretiza — parecem ser idênticosou, pelo menos, muito semelhantes. Em ambos os proces-sos está em jogo a imaginação e em ambos há uma mudan-ça do estado de consciência propiciado pelo relaxamento,voluntário no primeiro caso e involuntário no caso do so-nho. A diferença consiste no fato de que, no primeiro caso,há uma intenção e, no segundo, o fenômeno é involuntário.

Há também o caso dos jogos adivinhatórios, em que oconsulente programa uma pergunta, isto é, elicia um pro-cesso imaginário, obtendo, muitas vezes, uma resposta ade-quada. Também nesse caso o aparecimento ou não de umaresposta certa, assim como seu conteúdo não dependemdo consulente.

Em resumo, mesmo que a sincronicidade seja deseja-da pelo interessado, a sua realização — formalização, deta-lhes relativos à sua intensidade, data e hora da sua efetiva-ção — é involuntária e imprevisível.

Com essas constatações, adentramos o âmago do pro-blema levantado pela ocorrência de sincronicidades. Tra-ta-se da aparente ausência de causalidade que reúne váriascadeias de causalidades independentes.

4ª) Conexão entre uma manifestação psíquicae outra material

As diferentes definições de sincronicidade concordamentre si no que se refere a um dos aspectos de suas diversasmanifestações: o encontro coincidente entre no mínimoduas cadeias causais lineares, uma de ordem interna e psico-

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lógica, outra de ordem externa e material. O caso maissimples é a coincidência entre pensar numa pessoa — oque é um fenômeno interno de natureza psíquica, provo-cado por uma série de causas diversas — e o telefonema dapessoa — fenômeno externo, material e com uma causali-dade independente do pensamento da primeira pessoa. Aconexão é que parece não ter causa.

Para onde é que estamos caminhando com as observa-ções feitas até agora?

Em primeiro lugar, mostramos que o que precede eacompanha toda sincronicidade é uma atitude de abertu-ra do sujeito, alvo do fenômeno. Essa constatação nos per-mitiu emitir a hipótese de que tal atitude leva a uma mu-dança, mesmo se fugaz e imperceptível, do estado de cons-ciência. Essa mudança do estado de consciência é acompa-nhada da vivência, ou pelo menos do contato com umarealidade fora das leis espaço-temporais que caracterizamo estado de vigília no qual estamos inseridos e sobre o qualestá fundamentado o paradigma newtoniano-cartesianoque ainda impregna a ciência atual, a começar pelo prin-cípio de causalidade.

Embora haja uma certa coerência nesta nossa especu-lação, chegou o momento de examinarmos as diferentesteorias emitidas até hoje quanto à realidade e à naturezadesta “outra dimensão”, que se manifesta no estado trans-pessoal ou de superconsciência. Mais particularmente, tra-taremos das suas características, incompreensíveis para anossa lógica formal, própria do estado de consciência devigília.

Aqueles que não conseguem aceitar a existência dasincronicidade são justamente os que se limitam a aceitarcomo realidade apenas o que se submete a um princípiode causalidade e determinismo. No entanto existem hoje

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inúmeras teorias científicas construídas sobre evidênciasprovenientes da física quântica, da biologia e da psicologiatranspessoal, assim como teses filosóficas sobre a existênciade uma realidade acausal. Vamos nos limitar a citar as prin-cipais, já que muitos autores holísticos e transdisciplinares,como Capra, Marilyn Ferguson, Erwin Laszlo, Stanislav Grof,têm tratado exaustivamente do assunto.

Em primeiro lugar, convém citar o trabalho do físicoDavid Bohm, que emite a hipótese de duas espécies deordem no universo: uma, explicada, em que existe causali-dade, espaço e tempo tridimensional e que correspondeao mundo material tal como o conhecemos. Por detrás des-sa, há o que ele chama de ordem implicada, fora do tem-po, em que predomina a não-localidade e a acausalidade.Pouco antes de seu desenlace, ele emite a hipótese da exis-tência de uma ordem superimplicada.

O físico indiano Amit Goswami afirma que nosso uni-verso é autoconsciente e que a nossa consciência indivi-dual faz parte integrante dessa consciência universal.

Um biologista, Rupert Sheldrake, que se encontroucom David Bohm muito tempo depois de ter emitido suateoria, procura explicar a origem da programação das di-versas formas do nosso universo por meio do que ele inti-tulou de campo morfogenético, invisível a nossos olhos.

O filósofo, teólogo e antropólogo belga Teilhard deChardin nos fala da existência, além da geosfera e da bios-fera, de uma noosfera, a qual conteria todos os programasdo nosso universo, até mesmo os pensamentos.

Erwin Laszlo emite a possibilidade de haver um campoPSI que seria responsável pela junção entre o mundo damacrofísica, localizado no tempo-espaço, e o mundo da mi-crofísica, no qual reina a não-localidade.

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Não nos cabe aqui entrar na discussão das semelhan-ças, diferenças e compatibilidades entre as diversas teorias.Basta-nos constatar que todas elas — sob variadas denomi-nações — admitem a existência do que podemos chamarde um termo cômodo, ou seja, um espaço além das dimen-sões do tempo e da causalidade linear.

Com base nesses novos pontos de vista, podemos vis-lumbrar a resolução do quebra-cabeça criado pela presençada sincronicidade, isto é, saber como podem coincidir as cau-salidades lineares e a acausalidade ou ausência de causa.

A mesma questão é posta pelo mestre tibetano S. S.Sakya Trizin, em prefácio ao livro MO, de Mipham, sobre osistema adivinhatório ao qual já nos referimos. Eis o queele afirma a respeito das duas realidades:

O MO possui também uma finalidade secundária. O ensi-namento principal e mais profundo do Buda é [...] a criaçãointerdependente ou princípio co-dependente. Esse ensina-mento explica simultaneamente a essência da reciprocidadedas causas e condições no nível da realidade mundana, relati-va, e a essência da vacuidade ou do desprendimento no nívelda realidade definitiva. Apesar de serem necessários esforçosdiligentes de concentração e discernimento para atingir umarealização de origem interdependente, um sistema como oMO revela uma noção dessa atividade interdependente e cau-sal do mundo no qual vivemos e deve persuadi-lo confiante-mente a investigar em um nível mais profundo.

Em outras palavras, o sistema adivinhatório MO é umconvite para a experiência vivenciada dos dois níveis derealidade dos quais falamos aqui. Mesmo para aqueles queconhecem a fundo a lei da causalidade, seja aquela docarma, para os budistas, seja a da ciência, para o pesquisa-dor ocidental, o MO é um convite para ir além e descobrira realidade absoluta fora da causalidade.

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Tudo indica que a lei da sincronicidade seja uma leigeral própria a essa outra realidade, sendo que sua mani-festação no nosso mundo causal e interdependente é ape-nas uma pálida amostra da existência de um princípio or-ganizador do universo, responsável pela característica deglobalidade do universo como um todo.

Das mônadas de Leibniz à visão holonômica de DavidBohm, passando pelo holismo como força unificadora pro-posto por Jan Cristian Smuts, são cada vez mais numerososos autores que nos assinalam a existência desse princípiounificador expresso pela lei da sincronicidade de Jung. Há,porém, algo que fala mais alto do que todas as investiga-ções teóricas e que, no entanto, nos coloca diante de umdesafio teórico importante. Referimo-nos ao aspecto deter-minante que cada sincronicidade apresenta para aquele aquem se revela: o aspecto significativo. É disso que vamostratar agora.

5ª) Transcomunicação direcionada e significativa

Qual a natureza desse princípio? Como ele passa donível de realidade absoluta ao nível de realidade relativa?Como a acausalidade se relaciona com a causalidade?

A característica principal da sincronicidade, sob a for-ma pela qual se manifesta para cada um de nós, é o seucaráter evidentemente intencional. Podemos até forneceruma classificação dessa intencionalidade. Com efeito, a sin-cronicidade pode manifestar-se com as seguintes intenções,tornadas mais ou menos evidentes para o receptor da men-sagem:

a) Como ensinamento

Jung foi o primeiro a assinalar a sincronicidade que semanifesta durante o processo de individuação. Quanto mais

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a pessoa se desapega de aspectos insignificantes deste mun-do, mais as sincronicidades aparecem, completando a apren-dizagem da pessoa. Sua manifestação muitas vezes parece serum simples lembrete da existência da outra dimensão quepreside ao processo de transformação. A sincronicidade desincronicidades e o episódio da vida de Anne Schutzenbergernarrado aqui enquadram-se perfeitamente nessa categoria.

b) Como auxílio numa dificuldade

Às vezes, quando estamos em perigo ou em situaçãodifícil, aparece uma pessoa completamente inesperada quenos tira do atoleiro em que estamos presos.

c) Como cura “milagrosa”

Segundo nosso ponto de vista e conforme a maioriados que pesquisam a respeito de sincronicidades, as dife-rentes formas de cura vistas como milagrosas podem ser con-sideradas uma intervenção direta sincronística sobre a ca-deia causal da doença.

d) Como realização de um pedido

Muitas sincronicidades acontecem quando as pessoasprecisam de algo para si, ou quando pedem, com profundaconviccção, que as necessidades de outrem sejam atendidas.

e) Como confirmação do acerto da escolhade um caminho espiritual

Fenômenos de sincronicidade começam a ocorrer emmuitas situações para determinadas pessoas que passam apercorrer um caminho espiritual. Tudo se passa como sealguém assinalasse, por meio do aspecto inusitado da coin-cidência, não somente o acerto da escolha desse caminho,mas sobretudo a presença de um guia, mestre ou protetor.

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Por todas essas razões, sentimo-nos grandemente ten-tados a personificar o autor da sincronicidade e respondera uma pergunta que seria formulada da seguinte forma:Quem é que planeja e dirige as sincronicidades? Existe umaespécie de regente de orquestra? Se existe, quem é?

Tudo se passa como se um ser — ou seres — em outradimensão quisesse comunicar-se com os destinatários, ten-do em mente vários objetivos. Entre outros, o principal se-ria o de dar sinais de sua presença. Haveria, por intermé-dio da sincronicidade, uma transcomunicação.

A idéia de um regente de orquestra não é nova. A mi-tologia nos oferece exemplos acabados. Hermes é aponta-do por Combs e Holland como o mais característico perso-nagem a orquestrar as sincronicidades: conforme as situa-ções, ele se apresenta como mágico, guia das almas, mes-tre das fronteiras, mensageiro dos deuses, regente dos so-nhos, criador dos mundos e assim por diante. Hermes erao deus que estabelecia a conexão entre o conhecido e odesconhecido.

A procura de um regente da orquestração das sincroni-cidades nos leva à idéia de uma personalidade de naturezadivina, quem sabe Deus em pessoa, como causa primeira eúnica. A acausalidade volta à causalidade, neste caso a cau-sa última de tudo o que existe. Aliás, Pauli, quando traba-lhou a sincronicidade com Jung — trabalho em que emiti-ram a hipótese de que, além dos três princípios do mundofísico, isto é, o tempo, o espaço e a causalidade, haveria umquarto princípio, o da sincronicidade —, afirmou que a sin-cronicidade deveria ser de ordem metafísica. Parece quea acausalidade e a causalidade ainda estão muito próximas,pois, ao nos esforçarmos para definir e aceitar a próprianatureza da sincronicidade como sendo acausal, acabamosprocurando novas formas não físicas de causas... O próprio

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Jung insurgiu-se contra essa forma de abordagem quandoinsistiu para que não se considerassem os arquétipos a cau-sa das sincronicidades, pois ele os considerava como con-teúdos internos da psique que cuidam da coesão interna esignificativa para a pessoa. Ao levantar essa questão, IraProgroff cita textualmente Jung, o qual afirma que pode-mos “evitar esse perigo, se considerarmos a sincronicidadeum caso especial da organização acausal geral”.

A partir dessa constatação, estamos forçosamente indoalém do universo mecânico de Descartes e Newton, queimplicava leis rígidas nas quais não havia lugar para a pleni-tude da criatividade. O mundo a partir de Einstein e suateoria da relatividade e de Heisenberg, com o princípiode indeterminação, abre-se para o inesperado da criati-vidade e, podemos acrescentar, da poesia. O poeta sabemuito bem que a combinação de palavras e sentenças, an-tes desconexas, faz-se de modo inesperadamente harmô-nico, sem que se possa afirmar que o poeta seja o autor,isto é, a causa do poema. O poema se cria à sua revelia,como se ele fosse apenas o espectador e o escrevente de“coincidências” significativas de palavras. Seu agrupamen-to harmônico não depende do poeta. Assim são as sincro-nicidades. Elas se efetuam, apesar das pessoas a quem sedestinam e para quem fazem sentido. A criação poéticatem, pois, o aspecto de uma sincronicidade, bem como todoato de criação. Criar, inventar, consiste em juntar elemen-tos díspares numa combinação impregnada de um novosentido. Lembremos aqui que os nossos mutantes são parti-cularmente criativos, quando não simplesmente poetas.

Para quem procura um criador, um autor da criação,podemos perguntar se o criador não seria o próprio pro-cesso criativo — o processo seria, assim, acausal. Para exis-tir, ele precisa de uma testemunha, para quem ele tem

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significado. Assim como o poeta é testemunha do processocriativo da poesia, a pessoa é testemunha do processo desincronicidade que lhe é dirigido.

Dentro dessa linha de raciocínio, não adiantaria pro-curar um autor, divino ou não, dessa transcomunicação.Há uma mensagem evidente e significativa cujo autor, noentanto, é o próprio processo. Podemos aceitar essa pro-posição como razoável?

As experiências de transcomunicação através de mate-rializações realizadas por Amyr Amiden parecem vir emnosso socorro para dar uma resposta a essa pergunta.

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IV

A materialização comotranscomunicação sincronística

“O que é acaso aos olhos dos homensé desígnio aos olhos de Deus.”

BOSSUET

“Tudo na vida é milagre. Uma flor,um sorriso da criança, um gesto de carinho.[...]

O sobrenatural seria o natural mal-explicadose o natural tivesse explicação.”

PEDRO BLOCK

Os fenômenos de materialização que ocorrem na pre-sença de Amyr Amiden, um sensitivo que reside em Brasília,foram objeto de dois textos publicados, de nossa parte: umcapítulo da segunda parte de minha autobiografia, intitu-lada Lágrimas de compaixão, e o livro Transcomunicação e ma-terialização. Nesta última obra, relatamos observações e ex-

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periências realizadas, com a colaboração de Amyr, por umgrupo de pesquisa organizado pela Universidade HolísticaInternacional de Brasília, Unipaz, que contou com a cola-boração, entre outros, de Stanley Krippner, do SaybrookInstitute da Califórnia; do físico Harbans Lal Arora, da Uni-versidade Federal do Ceará; de Roberto Crema, do Colé-gio Internacional dos Terapeutas da Unipaz; da médicaRuth Kelson; e deste autor.

Em presença de Amyr Amiden costumam aparecerpedras semipreciosas ou mesmo diamantes, anéis e brin-cos de ouro, medalhas de ouro com efígies religiosas, hós-tias, livros, impressos diversos, dinheiro em papel ou emmoedas antigas. Ele mesmo é sujeito a manifestar os estig-mas e as chagas de Cristo. Todos os fenômenos observadosem presença de Uri Geller também se manifestam em pre-sença dele, mais particularmente a torção de garfos e co-lheres. Essas manifestações se dão desde a sua infância,quando se deparou com seres de outra dimensão.

Embora já estivéssemos bastante entrosados com osfenômenos da sincronicidade na época da pesquisa, em1994, não tínhamos estabelecido uma ligação entre fenô-menos paranormais e as coincidências significativas da sin-cronicidade, tanto é que nem citamos o termo sincronici-dade nos relatos até agora publicados. Agora que a identida-de entre os fenômenos PSI e aqueles da sincronicidade éaceita pela maioria dos autores, ficamos surpresos com apresença das principais características da sincronicidade des-critas no capítulo anterior. O que mais atraiu nossa aten-ção é o fato de a maioria quase absoluta das materializaçõesterem significação evidente para uma determinada pes-soa, isto é, terem “endereço certo”. Além disso, recebemosuma aparente resposta, por transcomunicação instrumen-tal, à nossa questão sobre a autoria das sincronicidades, so-bretudo no que se refere ao significado.

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Há muito mais: nossa hipótese de base era que seresde outra dimensão queriam se comunicar conosco, atravésdas materializações, em presença de Amyr.

Retomaremos alguns dados a respeito de Amyr a fimde demonstrar, em primeiro lugar, que a fenomenologiaque o cerca tem as principais características da sincroni-cidade; depois, vamos nos deter no que nos interessa maisparticularmente aqui, isto é, no caráter de comunicação demensagem desses fenômenos por pertencerem a outra di-mensão.

As caraterísticas da sincronicidade etranscomunicação

No que se refere ao primeiro critério, o da aberturado sujeito, precisamos fazer uma ressalva quanto à defini-ção de quem é o sujeito, pois, no caso das materializações,há sempre no mínimo duas pessoas presentes, isto é, Amyre a pessoa que esteja sendo alvo da materialização. Segun-do nossa pesquisa, Amyr costuma apresentar, durante cadamanifestação dos fenômenos, sintomas de pressão sangüí-nea alta e aumento do ritmo cardíaco; sua saliva torna-seácida. Seu estado de consciência permanece aparentemen-te em vigília; eu diria mesmo que ele fica bastante atento atudo o que se passa de anormal ao redor, mais particular-mente à localização do estalido típico da materialização doobjeto.

Não possuindo dados observáveis sobre o estado psico-lógico de outras pessoas, posso falar de mim mesmo, poistenho sido objeto de inúmeras materializações, obviamen-te dirigidas a mim. Em todas elas, eu estava aberto ao quedesse e viesse, sem barreiras e conversando normalmente.Notei que os fenômenos se dão com maior freqüência quan-

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do estou absorto pela conversa e esqueço da possibilidadede haver materializações. Às vezes, não há nenhuma espec-tativa de minha parte. Um exemplo disso foi a ocasião emque eu disse para Amyr que tinha dúvidas a respeito deusar o termo “lágrima” no singular ou no plural no títuloda segunda parte das minhas memórias. Cerca de dez mi-nutos depois, meu jardineiro veio, intrigado, avisar-me quea casa estava cercada de chuva enquanto o resto do bairroestava ensolarado. Amyr e eu estávamos sentados na varan-da e já havíamos notado as gotas caindo ao lado da piscina.Perguntei a Amyr o que significava aquilo. Ele lembrou-me da dúvida que eu havia acabado de expressar: a respos-ta era que a referência à palavra lágrima, no título, deveriaser feita no plural.

Certo dia, Amyr comentou que havia observado queos fenômenos só costumavam acontecer quando havia, en-tre os que os testemunhavam, um ambiente de entendi-mento e de amizade, ou até mesmo de amor. Eu tambémtenho notado que, quando Amyr e eu nos reunimos parauma atividade puramente intelectual, como, por exemplo,discutir os termos usados em nosso livro, nada acontece.Quando ele chega em casa apenas para uma visita, no en-tanto, em geral faz-se acompanhar de materializações oude outros fenômenos físicos — por exemplo, o balançar deum lustre sobre sua cabeça.

No que se refere ao critério do aspecto parapsicológicodos fenômenos, não há nenhuma dúvida a respeito, já quetodos eles se enquadram na psicokinesia (PK) e, além dis-so, são freqüentes as manifestações de percepções extra-sensoriais (PES) realizadas pelo próprio Amyr. Isso, por sisó, bastaria, como vimos acima, para classificar como sin-cronicidade toda a fenomenologia referente a Amyr. Ape-sar disso e a fim de reforçar este aspecto, prosseguiremosem nossa análise.

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Embora Amyr avise, de vez em quando, que vai acon-tecer a manifestação de algum fenômeno, seja por precog-nição, seja por sentir aumento de acidez da sua saliva, ébastante evidente que não é ele quem provoca as sincroni-cidades; até mesmo sua presença se revela, às vezes, dis-pensável. Isso ocorria quando ele me deixava, e os fenôme-nos que tinham começado com a sua presença continua-vam a se manifestar em sua ausência. Por exemplo, certavez ele me deu um papel de seda dobrado em quatro e mepediu para colocá-lo em uma das prateleiras de minha bi-blioteca. Em seguida, retirou-se. Algumas horas depois, aopegar o papel na estante de livros, constatei que nele —em branco e com a superfície plana, no momento em queme fora entregue por Amyr — estava se manifestando umverdadeiro holograma, com espirais em relevo.

Aliás, já contei no meu livro Lágrimas de compaixãocomo, na ausência de Amyr, ao passar para meus alunosum cálice com sangue e um resto de hóstia que se haviammaterializado um mês atrás nas mãos de dois alunos, norecipiente apareceu óleo perfumado, bem como várias hós-tias. Essa é mais uma evidência de que sua presença físicanão é necessária e de que, por conseguinte, não é ele oautor das façanhas. Aliás, ele mesmo afirma que tudo sepassa à sua revelia. Em certas situações, pede que algo acon-teça, mas não obtém resposta. E, se acontece alguma mani-festação, sempre é para ele um fenômeno imprevisível.

A respeito disso, na obra a que me referi, cito o casoda visita de um amigo meu que pediu a Amyr para mani-festar algo a respeito de seu mestre. Amyr não conheciaaté então o meu amigo nem o seu mestre francês, pratica-mente desconhecido no Brasil. Mesmo na França ele éconhecido por um grupo limitado de pessoas.

Amyr pediu a meu amigo que escrevesse num papel onome do mestre, Philippe de Lyon, e estendesse na dire-

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ção do horizonte a folha contendo o que acabara de redi-gir. Não se passara um minuto, e ouvimos o ruído da que-da de algo no quarto vizinho. Ao abrirmos a porta do quar-to, vimos sobre o chão um livro em português sobre mestrePhilippe, com anotações manuscritas. A presença de Amyrfacilitou o evento, mas foi só.

Se os fenômenos estão fora do controle de Amyr, commaior razão ainda pode-se afirmar o mesmo em relação àpessoa a quem eles se destinam. Mesmo que estejamos avisa-dos do que pode acontecer e inteiramente tomados por umdeterminado desejo ou por uma fantasia, isso não irá neces-sariamente realizar-se. O caráter involuntário do evento lheconfere uma característica suplementar: a imprevisibilidade.Como vimos, não se sabe o que vai acontecer, nem quando,nem como. Quem costuma conviver com Amyr tem oportu-nidade de se dar conta desse fato a todo o momento: assincronicidades acontecem sem aviso prévio.

Quanto à conexão entre duas ou mais causalidades —um dos critérios citados no capítulo anterior como carac-terística de fenômenos de sincronicidade —, observamosesse aspecto constantemente na fenomenologia que cercaAmyr. Por exemplo, eu nunca havia testemuhado pessoal-mente um processo de materialização e queria que issoacontecesse. Ao passear pela Granja do Ipê — sede daUnipaz — com Amyr, este observou que o tom da água dacachoeira da qual nos encontrávamos próximos estava pra-teado. Poucos minutos depois, eu vi com meus própriosolhos formar-se, a uns vinte metros de minha cabeça, umapequena corrente de prata que veio cair a meus pés.

Estamos aqui diante de duas cadeias causais indepen-dentes. A primeira foi a formação de meu desejo de pre-senciar in vivo um processo qualquer de materialização. Suacausa foi a minha formação científica, que exigia de mim

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esse evento, pois achava insuficiente limitar-me a ver osobjetos já formados. O meu desejo era ainda reforçado pelaexcitação que causava em mim a perspectiva de assistir pes-soalmente ao processo efetivo de materialização. A segun-da causalidade foi a percepção que Amyr teve do tom pra-teado da água e, por conseguinte, seu senso estético queexpressou diante de mim. A sincronicidade aparece comoum evento de ordem física: a materialização de uma cor-rente de prata. Estamos aqui frente a uma conexão de doiseventos psíquicos sem relação causal entre si — mas cadaum com sua própria causalidade — e a manifestação físicada sincronicidade — sob a forma de uma corrente de pra-ta —, como conexão evidente entre meu desejo de assistira uma materialização e da cor prata antes vista por Amyr.Ambos os eventos psíquicos estão conectados ao evento sin-cronístico manifestado como um evento físico.

Podemos especular à vontade sobre eventuais causas.Por exemplo, é possível imaginar que meu desejo foi aten-dido devido à força de minha mente. Vimos essa possibili-dade no Mind Control. A observação feita por Amyr a res-peito do tom prateado da água pode ser uma espécie deprecognição de sua parte. Resta saber como se efetuou ajunção ou conexão de um evento psíquico ao evento físicoda sincronicidade da aparição da corrente de prata. Jungsitua o encontro da psique com o mundo físico num espa-ço que ele chama de unus mundi. Para ele, a ocorrência dedois eventos, um consciencial e outro pertencendo ao mun-do físico, implica que a origem dessa conexão se encontraalém de ambos os mundos — o psíquico e o físico. O unusmundi situa-se num nível profundo, ligado ao inconscientecoletivo, aos arquétipos, num estágio semipsíquico e semi-físico, ao qual chamou nível psicóide.

No caso citado, eu estava por assim dizer possuído peloarquétipo do mágico, arquétipo que, segundo Ira Progroff,

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vai muito além do nível pessoal. Pertence ao transpessoal,o qual teria a sua energia intensificada a partir da diminui-ção da energia puramente mental. A essa intensificaçãoenergética, de nível transpessoal ou do inconsciente co-letivo, Jung chama de numinoso. O termo derivado destapalavra, “numinosidade”, corresponde a uma luminosidadeextrema que acompanha uma intensificação da energia psí-quica.

Resta-nos explicar qual a natureza dessa acausalidadee se, sob esse termo, não estaria oculta uma maneira sim-plesmente hábil de escamotear uma hipótese inaceitávelpelo público acadêmico, já convencido da realidade do fe-nômeno da sincronicidade. É o que abordaremos no pró-ximo capítulo.

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V

Quem são os agentes datranscomunicação significativa

“Os anjos são criadores evolutivos.Eles não são mais o que os homens

pensam ainda deles.E nós, os homens, somos a sua obra.

Enquanto obra, nós somos salvadores,pois somente os nossos atos podem tudo salvar.”

GITTA MALLASZ

Há um aspecto essencial da sincronicidade que é pou-co citado, embora esteja sempre presente e evidenciado.É o fato de que tudo se passa como se um agente desco-nhecido lesse o pensamento de determinada pessoa e pro-videnciasse a resposta por ela esperada, resposta esta devi-damente identificada como sendo destinada a ela, ou aum grupo de pessoas, e a mais ninguém. Isso implica umaleitura do pensamento por alguém que, além de possuir

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esse dom, é dotado de onisciência e onipotência para po-der operar o evento sincronístico, em nosso caso a materia-lização significativa. Nesse caso, sendo verificada essa hipó-tese, a chamada acausalidade poderia muito bem ter umacausa movida por um ser ou por vários deles, vivendo eatuando numa outra dimensão, num mundo fora do nossoespaço-tempo, mas tendo acesso a ele.

Compreendo que, mesmo que tal hipótese tenha passa-do pela cabeça de Jung, que começou suas pesquisas pelosespíritos, ou na de Progroff, ela tenha sido violentamentereprimida, pois eles viviam numa época em que tudo o quese referisse ao mundo dos espíritos era violentamente com-batido ou desdenhosamente ignorado. Para não cair nessepântano de críticas, era melhor falar de acausalidade. O pró-prio Jung nos dá uma pista nessa direção quando, nas Memó-rias, sonhos e reflexões, ele conta que se sentia só e isolado najuventude, pois no campo, onde fora criado, era natural falarem fantasmas e espíritos normais entre a natureza, mas eleera ridicularizado pelos seus colegas quando se referia a isso.

Quais seriam então esses seres de outra dimensão co-nhecidos como existentes em outros planos e que apresen-tam pelo menos as características de poder penetrar namente das pessoas, ler os seus desejos e providenciar o seuatendimento? Quais os seres, conhecidos como mestres in-visíveis, que ensinam por meio de sincronicidades? Existemseres assim? Quem são?

Há respostas satisfatórias para essas perguntas, graçasao desenvolvimento não só de pesquisas nos domínios dapsicologia transpessoal e da tanatologia, mas também doestudo comparado das tradições espirituais.

Em primeiro lugar, convém citar pesquisas em nívelacadêmico, conhecidas hoje sob o termo NDE (Near DeathExperience), ou seja, experiências no limiar da morte, so-

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bre estados de consciência observados durante morte clí-nica acontecida por acidentes durante a cirurgia ou ou-tros. Certos números de pacientes lembraram-se de teremsaído de seu corpo físico, viajado por diferentes espaços elugares e terem encontrado seres também desprovidos decorpo físico como eles. Relatam que a comunicação se fazatravés de leitura telepática. Nos relatos, distinguem entreseres ainda ligados ao corpo físico e seres desencarnados.Uma das características dessas experiências é a convicção ea certeza de que não se trata de imaginação ou de sonho.Alguns reconhecem o espírito de um parente, e há seresprotetores e guias que aconselham o paciente a voltar parao seu corpo físico. A experiência de saída do corpo físico(ESC) acontece também em outras oportunidades, comono relaxamento, na meditação e no sonho. Ela pode serinduzida em laboratório.

Praticamente todas as tradições espirituais falam daexistência desses seres. O Bardo Thodol, ou Livro tibetano dosmortos, descreve vários interregnos, ou bardos, em que seencontram seres dessa natureza. No bardo da Dharmata ouda Luminosidade encontramos seres em corpos de luz. Es-ses seres têm acesso a todo o conhecimento do nosso passa-do, presente e futuro, já que vivem fora de nossa dimensãotemporal. No bardo do Vir a Ser, os seres vivem num corpomental, comunicam-se por telepatia, têm órgãos sensoriaissutis que lhes permitem ver-nos e ouvir-nos sem serem vistospor nós. São chamados por nós de espíritos desencarnados.

Na tradição judaica e cristã, encontramos inúmeras des-crições de anjos que nos instruem e nos protegem, assimcomo demônios que podem nos prejudicar ou mesmo des-truir. O mesmo se dá nas tradições hinduísta e islâmica. Aexistência de espíritos é considerada um fator essencial emtoda a tradição xamânica de todas as culturas indígenas domundo. O xamã trabalha, cura e alivia o sofrimento com

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ajuda dos espíritos ancestrais. Muitos recebem instruções di-retas sobre plantas medicinais.

Uma vez aceita e demonstrada a existência desses se-res, parece-nos importante examinar a hipótese de queexiste uma causa para a própria sincronicidade; a conexãosignificativa seria fruto de uma atuação de um ou de váriosdesses seres.

Convém lembrar aqui que a hipótese básica da pes-quisa com Amyr Amiden foi de que seres de outra dimen-são queriam se comunicar com os humanos através do pro-cesso de materialização. Chamamos a esse processo hipoté-tico de transcomunicação. Já existiam, na época em que rea-lizamos o estudo com Amyr Amiden, pesquisas, hoje famo-sas, de transcomunicação instrumental, em que espíritosse comunicam com humanos através de fitas, videocassetes,emissões de tevê, computadores e impressoras de informá-tica, e até de simples telefones. O papa reconheceu o pro-cesso oficialmente, logo no início das pesquisas, na Suécia.Clovis S. Nunes nos mostra em livro bastante bem-docu-mentado os enormes progressos realizados.

Quais seriam os seres que fariam a junção entre o es-pírito e a matéria, entre manifestações da consciência e ma-nifestações físicas de sincronicidade?

Escrevi estas linhas no dia do aniversário de uma ami-ga, que me contou haver consultado o Livro dos anjos naocasião: obteve como resultado o Anjo da Síntese. Qualnão foi minha surpresa? O Anjo da Síntese é, segundo essejogo do livro, o anjo da sincronicidade. Eis aqui o texto in-tegral extraído do livro de Sônia Café:

A síntese é uma qualidade-chave para os tempos futuros. Pen-sar positivamente é muito importante para compreender osignificado da síntese em nossa vida, sem nos aprisionarmos

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ou nos tornarmos vítimas dos acontecimentos. Desse modo,estaremos abrindo caminho para a intuição que nos põe emcontato direto com a sabedoria interior, ao mesmo tempo quetorna possível a ocorrência de uma extraordinária sincronicidadeem nossa vida [grifo nosso].

No dia seguinte, 16 de abril de 2001, data de meuaniversário de 77 anos, não resisti ao impulso de consultaros anjos. Tirei também o Anjo da Síntese!

Uma sincronicidade da sincronicidade ocorria na horade designar os seres que apareceram na transcomunicaçãoque descreverei agora. Jean-Yves Leloup, cujo livro Alémda luz e da sombra eu estava consultando no mesmo dia emque se deu esse fenômeno de sincronicidade, dá a seguin-te definição do anjo: “O anjo é a proximidade de Deus nohomem: é o órgão do seu Espírito que se manifesta a nossoespírito; as palavras que ele nos inspira são o eco das pala-vras do Logos encarnado.”

No mesmo livro, Jean-Yves nos fornece as condiçõesde surgimento das sincronicidades:

Os fenômenos de sincronicidade estudados por Jung mos-tram a inter-relação que pode existir entre nossos estados in-teriores e os fenômenos exteriores [...]. O unus mundus não éum mito, mas justamente o que se revela nos momentos“numinosos”, ditos de “sincronicidade”.

Em outras palavras, as sincronicidades são as expres-sões provindas de um espaço divino, no qual os anjos seencarregam de estabelecer a relação significativa entre nos-sos estados interiores e fenômenos exteriores. O anjo reali-za essa síntese em sintonia com pessoas que estão abertaspara ela.

A síntese que acabei de apresentar foi uma demons-tração da força sintética da sincronicidade, pois, a partir

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de 15 de abril, os dados da síntese foram paulatina e lite-ralmente jogados em minhas mãos! Era exatamente aquilode que eu precisava para estabelecer a conexão entre tudoo que escrevi até agora e a revelação final, obtida direta-mente por transcomunicação com anjos pelo rádio. Devodizer que havia relutado desde 1994 — ano em que foramrealizadas nossas experiências com Amyr — até hoje. Mes-mo até aquele período de 2001 eu ainda não decidira serevelaria esta parte final ou se me limitaria a mostrar a efe-tividade da hipótese de ser a parapsicologia parte integrantedos fenômenos paranormais. A sincronicidade que acabode descrever representou, para mim, o sinal verde paraque pudesse escrever a respeito.

A transcomunicação com os anjos

Já descrevi os fenômenos aos quais vou me referir aquino volume contendo a segunda parte de minha autobio-grafia, intitulado Lágrimas de compaixão. E a revolução silencio-sa continua. Nele, afirmo que entramos em comunicação comseres que se identificaram como anjos. Depois dessa publi-cação, adquiri coragem para incentivar a publicação, noBrasil, do livro que relata todos esses fatos e que, no mo-mento em que redijo este livro, já está no prelo.

Menciono a expressão “coragem” porque a descriçãodo diálogo com os anjos é tão insólita que muitos leitoresterão vontade de fechar o livro, convencidos de que medeixei enganar por algum erro de percepção ou por umeventual poder hipnótico de Amyr. Não estou exageran-do: acabo de ler, a respeito das sincronicidades, que umcientista renomado exclamou: “Mesmo se me demonstra-rem que tudo isso é verdadeiro, ainda assim não acredita-rei!” Tal se apresenta o grande obstáculo. Sei que, paraessas pessoas, não adiantará lembrar que éramos seis mem-

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bros representativos de várias disciplinas científicas a ates-tar o fenômeno e que tudo foi minuciosamente anotado,não havendo nenhuma possibilidade de fraude ou trapa-ça. Não acreditarão! Eu os compreendo, pois de vez emquando me surpreendo perguntando-me se não sonhei!

Então, apesar dos pesares, vamos aos fatos realmenteocorridos. Apenas os resumirei, pois tudo foi minuciosa-mente anotado por Stanley Krippner e relatado na segun-da parte de minha autobiografia.

Mais ou menos no meio do período das investigações,em 15 de maio de 1994, Amyr repentinamente pergun-tou-me se eu tinha um rádio. Diante de minha respostaafirmativa, ele me pediu que trouxesse o aparelho até ele.Às 17:45h, Stanley Krippner ligou o rádio, e Amyr come-çou a procurar alguma faixa de ondas médias, se me lem-bro bem. Parou de procurar quando se ouviram alguns bips— não se tratava de sinais em código Morse, pois os conhe-ço muito bem. Eram sinais alternados de um e dois bips.“São eles!”, exclamou Amyr. Todos nós voltamos nossa aten-ção para o rádio, e um dos pesquisadores sugeriu-me per-guntar-lhes se eles aceitariam manter conosco uma con-versa com base em um determinado código: um bip para“sim”, dois bips para “não”. Tomei a iniciativa de fazer apergunta, em português; a resposta imediata foi um bip:sim. Continuei a conversa por meio desse processo. O quesegue é um resumo do que eles nos declararam — os inte-ressados podem procurar maiores detalhes no texto escri-to por Stanley Krippner no referido livro.

Em primeiro lugar, deixaram claro que não são nemdeste planeta nem de nenhum outro; eles não têm corpofísico, mas são luminosos. Vivem em uma dimensão dife-rente da nossa e, para se comunicarem conosco, precisamde um campo magnético intenso — como era o caso, já

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que, naquele momento, relâmpagos riscavam os céus devi-do a uma tempestade. Identificaram-se, então, como an-jos, declarando que não vêm para ajudar a salvar a vida noplaneta, mas sim para nos demonstrar a existência de Deus.Disseram que não são oniscientes nem onipotentes: só Deuso é. Cada vez que eu me referia a Deus, as respostas setransformavam numa multiciplidade de bips, expressandoo seu júbilo e reforçando o caráter positivo da resposta. Nomeio da sessão, as luzes da cidade se apagaram duranteuns dez minutos. Quando perguntei se haviam eles sido oscausadores daquilo, responderam que sim.

Em sessão posterior, com a presença de Jean-Yves Le-loup, iniciou-se o processo de cura de minha artrite. Aoconversar com eles, Jean-Yves ficou impressionado, comoteólogo, com a exatidão das descrições dos anjos quanto àsua hierarquia. Mais detalhes encontram-se na autobiogra-fia já citada.

O que interessa aqui, em função da sincronicidade, éque conseguimos identificar os agentes causadores do fe-nômeno e as razões de ele ter um aspecto significativo paracada pessoa. Tudo indica que esses agentes são anjos. Mes-mo recusando tal explicação e adotando a hipótese de Jungde que se trata de acausalidade, a sincronicidade é umadas evidências da existência de uma outra dimensão, alémde nosso mundo relativo e dualista. É uma das razões maisfortes a sustentar esta nova consciência, que veio trazer umanova força, estabelecer uma nova maneira de viver e o ver-dadeiro sentido da existência, unindo milhões de sereshumanos, estejam eles dentro, fora ou além de tradiçõesespirituais ou científicas.

Nota importante de última hora: Ao terminar a revi-são deste capítulo, cujo final estabelece a hipótese de queas sincronicidades seriam dirigidas por seres de outra di-

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mensão, isto é, além da dimensão humana, sob forma detranscomunicação, ocorreu uma transcomunicação signifi-cativa para mim! Uma campainha de uso interno na mi-nha casa disparou sozinha, por volta das onze e meia danoite. Como todos em casa estavam dormindo, não havianinguém que pudesse tê-la acionado. O evento se deu exa-tamente quando eu acabava de ler a pergunta: “Quem sãoeles?”

Devo uma explicação preliminar para que o leitor possacompreender melhor o que se passou. Há cerca de doisanos, essa mesma campainha toca do mesmo modo, isto é,sem que ninguém a acione, às vezes durante o dia, às vezesà noite e até de madrugada. Tomei isso como uma transco-municação de espíritos ali presentes, de modo permanen-te ou esporádico.

Consultando um sensitivo, este confirmou a presençade muitos espíritos, até mesmo a de uma entidade queorientava esse sensitivo — e descreveu minha residênciasem conhecê-la: por exemplo, declarou preferir ficar per-to de um relógio mineiro de coluna, antigo, em vez depróximo a um carrilhão novo. Só tendo freqüentado ante-riormente a casa, ele poderia saber desses detalhes.

Interpreto esse evento como uma mensagem que vemconfirmar a minha hipótese de que as sincronicidades sãodirigidas por espíritos e a minha convicção de que serialícito enveredar por esse caminho.

É o que faremos no próximo capítulo, sobre a aborda-gem transpessoal da vida do mutante.

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VI

O transpessoal como propulsorde evolução do mutante

“Uma visão da natureza sem Deus deve incluirum princípio unitário criativo que, por sua vez,

inclui todo o cosmos e une as dualidades epolaridades encontradas em todo

o domínio natural.Mas isso não está muito distante das visões da

natureza com Deus.”

RUPERT SHELDRAKE

Uma luz no horizonte

Vamos agora situar em que fase de seu porvir o mu-tante começa a notar as sincronicidades descritas nos capí-tulos precedentes. Para isso, precisamos prosseguir com adescrição das principais características da caminhada domutante, depois de ter falado sobre seu aspecto de pontifex

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e sobre as coincidências significativas que o acompanhame lhe assinalam, periodicamente, que ele não está só nestemundo.

Ao relatar as condições para o surgimento da sincro-nicidade, reiteramos quanto é importante a expansão docampo consciencial, provocada pelo ato de estender pon-tes sobre as fronteiras, todas imaginárias e inventadas peloego na mente humana.

Uma profunda transformação

Tudo o que relatamos transcorre no caminho do trans-pessoal. De que se trata? No meio do caos que carateriza oinício do terceiro milênio, a perspectiva de uma luz surgeagora para inúmeras pessoas que, consciente ou incons-cientemente, partiram à sua procura. Elas iniciaram ou es-tão vivendo uma profunda transformação: são essas pessoasos mutantes dos quais trata este livro.

Além de se descobrirem rodeados por sincronicidades,os mutantes são sujeitos a uma série de manifestações inte-riores e fenômenos que podem ser classificados sob o ter-mo transpessoal e que são objeto de estudos da psicologiatranspessoal. Embora pouco conhecido, esse novo ramo dapsicologia permite compreender melhor o que se passacom os mutantes.

Um ponto de convergência

O que significa o termo transpessoal ? Que conceitosabrange? Porque a psicologia transpessoal constitui nãosomente um ponto de mutação para o mutante, mas aindao ponto de convergência de todas as disciplinas do conhe-cimento. Trata-se, por conseguinte, de uma perspectiva

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para o fim da crise de fragmentação experimentada portodo o planeta, a qual nos leva a um suicídio coletivo. Naqualidade de tema transdisciplinar e manifestação de umanova revolução paradigmática e epistemológica, a psicolo-gia transpessoal é a condição essencial da visão e da abor-dagem holística do real, pois ela nos aponta para o reen-contro com a última dualidade: a Realidade absoluta, arealidade relativa. Mais ainda, a psicologia transpessoal vemcontribuir para a resolução do maior problema atual da hu-manidade: a perda do sentido da nossa existência no pla-neta Terra.

Que encontra o mutante no transpessoal que lhe ofe-rece a força e o entusiasmo para prosseguir em seu pro-cesso de transformação? Quais os maiores obstáculos emseu caminho e quais os maiores perigos para sua eventualliderança? E, antes de tudo, como o mutante atinge o trans-pessoal?

A essas e outras perguntas procuraremos responderem função do que pudemos depreender das experiênciaseducacionais e terapêuticas, bem como das observaçõesfeitas ao longo desta nossa existência.

Uma nostalgia indefinida

Em geral, o transpessoal começa a se manifestar demaneira mais sensível e aguda sob forma de uma infinitanostalgia, difícil de definir e de localizar. Vamos então co-meçar por ela.

No início de sua transformação, o mutante constataque tudo o que conquistou e obteve até aquele momentonão corresponde ao que ele precisa. Mas, ao mesmo tem-po, ele não sabe o que quer. Bens materiais, casa, geladei-

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ra, tevê, carro e casa de campo, tudo o que a mídia preco-niza com grande alarde como condição essencial à felici-dade, ele já teve, ou já tem, ou despreza, porque algo muitoprofundo lhe insufla que a verdadeira felicidade não sedeixa encontrar aí: algo lhe diz que estão confundindo con-forto com felicidade. Conforto dá um certo prazer, transi-tório, que se desvanece com o uso rotineiro. Passada a no-vidade, retornam o vazio existencial e uma certa nostalgiade não se sabe o quê...

Mesmo que seja um intelectual, o futuro mutante, ávi-do de aprender e de instruir-se, empilha livros na bibliote-ca, preenche cadernos e cadernos de anotações, até che-gar à conclusão a que chegou Simone de Beauvoir, umpouco antes de seu desenlace: “Não posso saber tudo...”

Em sua profissão, qualquer que seja ela — acadêmicaou não —, ele vive algo semelhante a um sonho. Ao sair dotrabalho, tem a sensação de inutilidade, quando não defutilidade. Para que tudo isso? Às vezes, pergunta-se: “Queé que estou fazendo aqui?” Sabe, por intuição, que existeuma resposta, ou saída, mas não sabe onde.

Procura de saída numa relação a dois

Ele (ou ela) procura resposta ou saída no casamento,ou num namoro. Ao longo dos anos, o futuro mutante sur-preende-se vítima de uma espécie de programação pre-estabelecida que pode ser resumida da seguinte forma: Osdois se encontram, sentem-se tomados por um encantamen-to mútuo; o amor transborda por todos os seus poros. Afelicidade é total. É uma fase romântica, criativa e genero-sa. Mas, na maior parte das vezes, desaparece depois dealgum tempo de relações físicas mais íntimas e intensas.Para alguns raros casais, o amor permanece eternamente.

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Mas, para outros, é mais do que provável que tenha havidoconfusão entre o verdadeiro amor altruísta, ligado a cen-tros mais elevados de nosso ser, e uma atração física provi-soriamente sublimada no período mais sentimental do na-moro. Faz parte da programação que a ligação seja desfei-ta, mais cedo ou mais tarde, e que se recomece tudo comoutra pessoa. Resultam desse programa repetitivo situaçõesmais ou menos dolorosas, dependendo do grau a que sechegou — matrimônio e filhos, ou não. E a saudade nostál-gica continua...

Crise existencial

A constante repetição desse programa nas relações a-morosas, aliado à insatisfação profissional, social e, sobretu-do, íntima, pode levar o futuro mutante a uma crise exis-tencial mais ou menos prolongada. À nostalgia, começama mesclar-se a sensação de vazio e a melancolia, o que poderedundar numa crise depressiva mais séria na qual o deses-pero alterna-se com um tédio mortal.

Procura de drogas

Tudo indica que é nessa fase que aparecem os candi-datos a drogas de toda espécie, do álcool à cocaína, passan-do pela maconha e pelo ecstasy, o que engrossa as fileirasdos clientes do tráfico ilegal e do comércio legal. Isso por-que, como demonstrou mais particularmente Christina Grof,o que o drogado procura inconscientemente é o transpes-soal e o sentimento de plenitude que o acompanha ou oprecede.

A melhor prova disso é o fato de que aqueles que con-seguem livrar-se do apego à droga acabam abraçando uma

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tradição espiritual, como a ioga, por exemplo. Isso faz comque abandonem em definitivo o uso de drogas.

Foi o que aconteceu com o psicólogo Richard Allpert,conhecido por suas pesquisas psicossociológicas, que aten-de, hoje, pelo nome Baba Ram Dass. Esse místico, um oci-dental de renome, consumia grandes quantidades de áci-do lisérgico. Um dia, na Índia, visitou um mestre de ioga, oqual, sem jamais tê-lo visto antes desse contato, pediu-lheque buscasse as drogas que trazia no carro. Ao recebê-las, omestre engoliu-as todas de uma só vez, sem que nada lheacontecesse, tal era o domínio que mantinha sobre o pró-prio espírito. A partir desse dia, Ram Dass tornou-se discí-pulo desse mestre e nunca mais ingeriu drogas. Hoje, éum conhecido mestre de meditação, criador de um siste-ma de meditação nas prisões norte-americanas.

Emergência espiritual

Conforme os antecedentes e a história pessoal, o esta-do descrito anteriormente pode piorar, e a crise existen-cial advinda chega a ser confundida com um surto psicóti-co. É aí que intervém o conceito de “crise espiritual”, obje-to de vários estudos, mais especialmente os de StanislavGrof. Esse médico psiquiatra iniciou experiências de usode LSD na terapia ministrada a psicóticos na Tchecoslo-váquia, onde a droga estava à venda em farmácias, mas apsicanálise era proibida. Descobriu aos poucos que a cha-mada doença mental e as alucinações são, muitas vezes,fenômenos paranormais ou transpessoais que expressamoutros níveis de realidade, em outros estados de consciên-cia, desconhecidos pelo paciente, pelo público leigo e pelomédico — que coloca nesses fenômenos o rótulo inade-quado de esquizofrenia ou psicose maníaco-depressiva.

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Chegando aos Estados Unidos, onde o LSD era proibi-do, mas a psicanálise autorizada, ele criou uma terapiaque batizou de holotrópica, em substituição ao LSD, em-bora tivesse recebido uma autorização especial do governonorte-americano para prosseguir nas pesquisas com esseproduto.

Grof organizou, com a ajuda de inúmeros terapeutas,uma rede de organismos que cuidam do que ele chamoude spiritual emergencies. Esses terapeutas recebem e acom-panham as pessoas dominadas por uma crise até que elas atransformem em um processo de individuação. Muitos sãoos que se tornam mutantes depois de semelhante crise epassam a compreender que o que estão procurando é oque denominamos transpessoal. O chamado surto psicó-tico nunca mais aparece, e a pessoa passa a cuidar cons-cientemente de seu processo de evolução.

Experiência culminante

Mas, na maioria das vezes, as pessoas são tocadas pelotranspessoal quando menos esperam e sem crise, sob for-ma do que Abraham Maslow chamou de peak experience, ouexperiência culminante. Essas experiências não são aindatranspessoais, mas delas pode-se dizer que constituem umantegosto e uma ante-sala do transpessoal.

Essa vivência acontece de modo repentino, no momentode um pôr-do-sol particularmente envolvente, ou ao nascerdo sol. Pode acontecer também ao se segurar uma criançano colo, durante a gravidez, durante um parto, ou ao entrarnum lugar sagrado como um templo ou uma igreja. Há pes-soas que entram subitamente num estado desses ao toma-rem contato com pessoas particularmente carismáticas, taiscomo um guia espiritual, um mestre ou uma pessoa que

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mobiliza a admiração por sua pureza de alma e por seu mag-netismo. São, por exemplo, freqüentes os casos de visitantesde mestres iogues que, durante a visita, entram em êxtase,recebendo uma espécie de amostra do transpessoal. Às ve-zes isso acontece ao se ouvir uma música, assistindo a umfilme, no teatro, ou ao entrar em contato com uma obra dearte. Às vezes, basta um encontro de almas por meio do olhar.

O teólogo cristão hesicasta Jean-Yves Leloup conta, porexemplo, que um dos fatos que desencadearam sua espiri-tualidade foi quando, durante um almoço na fazenda deseus pais, uma cabra subiu à mesa de refeições e deixou unsexcrementos em seu prato. Ele foi profundamente tocadopela perfeição desse ato.

John Lilly, um engenheiro e escritor de livros sobretranspessoalidade, conta-nos como se sentiu transportadoe entrou em êxtase logo ao primeiro encontro com aquelaque iria ser sua companheira até o fim de sua existência.Ela o acompanhou nas pesquisas sobre a linguagem dos gol-finhos e na indução de experiências culminantes, nas quaisas pessoas flutuavam num tanque cheio de água, isoladasde ruídos externos.

Abraham Maslow consagrou grande parte da existên-cia ao estudo desse processo e de suas influências sobre ocomportamento humano. Ele afirma que as pessoas tocadaspor uma experiência culminante mudam seu sistema devalores, voltando-se para aqueles absolutos, referentes à espi-ritualidade, como a beleza, o amor e a verdade.

Em outras palavras, quem passou por uma vivência se-melhante já não é mais o mesmo. A lembrança dessa expe-riência tornou-o um mutante. Ela deixa saudades e aumen-ta ainda mais sua nostalgia infinita. Mas quanto mais o mu-tante se apega a ela, menos ela se repete. Ele terá muito

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que aprender, mais tarde, sobre os aspectos destrutivos doapego.

A saudade do paraíso perdido

Essa nostalgia imensa cujas principais manifestaçõesdescrevemos até agora, é desencadeadora da busca, mui-tas vezes ansiosa, que o mutante promove. Trata-se daquiloque, na Bíblia, é representado simbolicamente pelo paraí-so perdido — o paraíso entendido como uma sensação per-manente de consciência, como um estado de bem-aven-turança, perdido com a expulsão de Adão e Eva. Essa “ex-pulsão do paraíso” deve ser entendida como privação doestado transpessoal da consciência. Dedicamos um livro aesse tema, intitulado A neurose do paraíso perdido.

O paraíso pode ser interpretado como o estado trans-pessoal em que toda a humanidade se encontrava antes daqueda. Que queda foi essa? É a que está simbolizada pelapassagem da árvore da vida para a árvore do conhecimen-to do bem e do mal, isto é, pela transição de um estado abso-luto, caracterizado pela vida, para um estado de dualidadepróprio à existência fora da vida, de discriminações tais co-mo sujeito/objeto, certo/errado, características da pessoa,do ego, que vive na ilusão de uma permanente separação.

O mutante procura sair dessa dualidade e voltar à ár-vore da vida. Sair do pessoal para voltar-se para além doego pessoal, para o transpessoal. Seria um retorno à Idadedo Ouro da qual falam as lendas.

Começa então uma longa procura de caminhos quepossam levar a esse despertar da plena consciência. É doque trataremos no próximo capítulo.

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VII

O processo evolutivo

“A borboleta se faz no corpo da lagarta,não no exterior. Nossas metamorfoses obedecem

ao mesmo princípio. A ausência de provaçãoimplica uma ausência de esforço

para se estruturar e se torna um obstáculoao se despertar.”

JEANNE GUESNÉ

“Caminhante, não há caminho,o caminho se faz caminhando.”

ANTONIO MACHADO

A busca

A procura de um caminho para sair da crise existencialassume várias formas, conforme as condições de cada um.Em princípio, podemos distinguir os casos a seguir.

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Uma olhadela para fora de sua religião

Primeiramente podemos citar os que estão praticandosua religião ou sentem-se ainda pertencentes ao credo emque foram educados: católicos, evangélicos, judeus, muçul-manos, espíritas, entre outros. Algo não lhes satisfaz maisna religião que professam. Podem ser aparentes contradi-ções entre a educação laica e científica da escola públicaou das universidades e a educação religiosa; uma insatisfa-ção quanto ao conceito de Deus, um tanto infantil e ingê-nuo, ou ainda, a falta de respostas às perguntas essenciaissobre o sentido da existência.

São vários os comportamentos observados, e as reaçõessão bem diversificadas. Há os que, ao mesmo tempo em quepermanecem fiéis à sua religião, começam a ler textos, arti-gos, livros pertencentes a outra tradição.

A partir dessa atitude inicial, alguns começam a partici-par de ensinamentos de um ou de vários outros cultos oucrenças. O Brasil talvez seja o país que bate o recorde mundialde práticas plurirreligiosas. São inúmeros os brasileiros quese declaram oficialmente católicos apostólicos romanos, mas,em conversas particulares, confessam-se também espíritas kar-decistas, umbandistas ou adeptos do candomblé. A maioriadessas pessoas não vê nenhuma contradição nisso. Todas elasdeclaram-se espiritualistas, o que as satisfaz. O mesmo se dácom a ioga e com o taoísmo. A prática dessas tradições orien-tais não parece chocar-se com a de outras religiões. Uma dasevidências são os encontros entre sacerdotes de várias reli-giões e o intercâmbio e o respeito mútuo que deles resultam.

Sacerdotes abertos para a mutação

Um bom exemplo desses encontros é o caso de um pa-dre jesuíta que encontrei em Darjeeling, na Índia, em um

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mosteiro budista tibetano. Ele me declarou que se consi-derava discípulo de Kanjur Rimpoché, o qual lhe ensinavauma meditação que abrangia a visualização de Jesus. Disseele que estava se tornando um cristão melhor sob a orien-tação desse monge da ioga tibetana. No shivaísmo encon-trei um pastor protestante que era discípulo de Baba Muk-tananda. Seu templo presbiteriano era enfeitado por re-tratos de Muktananda. Muktananda era um mestre que des-pertava a experiência espiritual da kundalini, que ele asso-ciava à do Espírito Santo.

Poderíamos invocar também os inúmeros encontrosinter-religiosos havidos no mundo inteiro. Um dos mais no-táveis foi o de Assis, convocado pelo papa.

No Brasil, em pleno carnaval, já há cerca de dez anosrealiza-se anualmente, em Campina Grande, Paraíba, umgrande Encontro para a Nova Consciência, em geral aber-to por um bispo católico, por um pastor protestante e porum rabino. A qualidade desses encontros é indescritível.São milhares de fiéis de várias religiões que se reúnem, demanhã entre eles e à tarde em plenário. Afirmo com todaa certeza que a maioria dos participantes pode ser conside-rada mutante. E os líderes religiosos que ali se encontramalargam seus horizontes, aumentando a compreensão mú-tua e descobrindo os grandes pontos em comum, entre ou-tros, o transpessoal.

Existem também padres católicos que são ao mesmotempo swamis de ioga. Poderia citar também o caso do pa-dre Marcelo de Barros que, além de dirigir um mosteiroecumênico em Goiás, onde a cada dia celebra-se o culto deuma religião diferente, está se iniciando no candomblé.

Há nesses meios uma certa consciência da necessida-de de evitar misturas. Mas encontro não significa necessa-riamente mistura. O Dalai Lama, por exemplo, ao ser en-

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trevistado na França, respondeu a alguém que lhe pergun-tou se uma pessoa pode receber ensinamentos budistaspermanecendo cristã:

Penso que sim. Em primeiro lugar, a pessoa é cristã e diz a simesma que poderia ser budista. Ela se sente feliz buscandorefúgio em Buda, ao mesmo tempo em que ama Jesus Cristo.Então ela segue cada uma dessas religiões em seus pontosespecíficos. Mas, quando se chega à vacuidade budista, a ver-dade absoluta apresenta algumas dificuldades.

É possível que, por essas razões, o Dalai Lama tenhaafirmado que preferia que cada um procurasse a verdadei-ra natureza do espírito em sua própria religião e que ob-servava cristãos em dificuldades ao passarem para o budis-mo, e budistas em dificuldades ao se tornarem cristãos.

Concordando ou não com esses encontros e práticastransreligiosos, somos obrigados a reconhecer que eles ca-racterizam uma das formas de buscar uma saída da proble-mática espiritual em que se encontram muitos mutantesno início de sua transformação.

E os mutantes leigos?

Muitos são os mutantes que não têm religião nenhu-ma, ou por ausência de educação religiosa, ou por teremdeixado a própria crença em razão de motivos vários, polí-ticos ou científicos, por exemplo. Eles também sentem sau-dade do paraíso perdido, passam por crises existenciais,procuram a solução num encontro com o sexo oposto e aca-bam à procura de uma tradição espiritual. Têm tendênciaa pesquisas em escolas místicas e esotéricas ocidentais, taiscomo a teosofia, a antroposofia, algum tipo de ordem rosa-cruz, a logosofia, a maçonaria, o espiritismo, sob as formas

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já enunciadas. Os que não permanecem numa dessas cor-rentes do pensamento, adquiriram suficiente compreen-são para procurar sabedorias orientais, gurus e sábios dasdiferentes escolas da ioga budista, hinduísta, shivaísta, lei-ga, ou do taoísmo, entre outras.

Qualquer que seja a forma adquirida pela busca, estacomeça em determinado momento da evolução do ser hu-mano, dependendo do estágio em que se encontra em seupróprio processo evolutivo. Conforme o estágio em que seencontra, o ser humano pode ou não se tornar um mutantee iniciar sua busca. Precisamos, pois, conhecer melhor esseprocesso, o que será feito no próximo capítulo.

A caminhada da transformação

A expressão caminhada nos lembra a peregrinação aSantiago de Compostela, uma experiência que leva muitoscristãos a experiências místicas ímpares e a uma profundatransformação posterior.

Os que procuraram outras maneiras, já descritas an-teriormente, com freqüência encontram sua via espiritual.Encontrar o caminho da transformação não significa des-pertar e iluminar-se. Quando muito, significa ter sido toca-do por algo mais profundo que proporcionou a convicçãoíntima de que esse é o caminho. Resta ainda caminhar.

Nem sempre a pessoa permanece no caminho ondeencontrou sua primeira experiência espiritual. Foi o queaconteceu ao jornalista francês Arnaud Desjardins: ao rea-lizar um filme sobre a tradição tibetana, ele encontrou pelaprimeira vez um dos meus mestres, Kanjur Rimpoché, e fi-cou em estado de graça durante várias horas. Embora gra-to por isso, aderiu mais tarde a uma linha hinduísta de io-ga, seguindo a orientação de outro mestre. Embora ensine

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ioga e escreva livros sobre o assunto, ele mesmo continua aprópria caminhada dentro dos ensinamentos dessa últimaescola de sabedoria.

A ioga nos fornece uma descrição bastante precisa dasfases dessa caminhada, que corresponde, ao mesmo tem-po, a sete centros ou entroncamentos de canais energéticos.Cada um desses chacras, como são chamados em sânscrito,corresponde a um grupo de funções bem definidas. Já fi-zemos deles descrições detalhadas nos livros As fronteiras daevolução e da morte, A arte de viver a vida e O fim da guerra dossexos. Vamos nos limitar, aqui, a colocar o leitor a par de suaaplicação à evolução do ser humano.

Encontramos nas tradições espirituais a idéia da exis-tência de uma escala evolutiva do adulto, sob a forma demitos e símbolos tais como a escada de Jacó ou as moradas deTereza d’Ávila e de João da Cruz, ou ainda do sétimo céu.

A psicologia evolutiva nos dá alguns modelos de evolu-ção da inteligência e da afetividade ou da motricidade, masquase todas as descrições limitam-se a ir até o fim da puber-dade. Somente a psicanálise, com Freud, tentou ir além noque se refere à sexualidade, referindo-se à existência de umestágio genital maduro. Faltou, para Freud, um mapa com-pleto dessa evolução. Jung tentou chegar a isso quando sereferiu ao processo de individuação, o que o levou a descre-ver os chacras, um pouco antes do fim da guerra mundial,num seminário bastante difícil de se compreender.

O que descreveremos a seguir é inspirado nesse siste-ma, mas tentaremos fazê-lo de modo claro e compreensí-vel. Mostraremos em que ponto da evolução humana apa-rece o mutante e para onde o leva sua transformação. Po-demos situar, além disso, em que ponto da escala come-çam o estágio do pontifex e as sincronicidades. Creio que es-tabeleceremos também uma melhor compreensão da in-

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tervenção de seres de luz, como os anjos, na aparência acau-sal da sincronicidade.

Vou descrever os estágios como se fosse a história deum personagem, Mário (ou Maria), o que permitirá ao lei-tor situar-se pessoalmente em relação a essa escala.

Uma última consideração: não convém considerá-laalgo linear, hierarquizado de modo contínuo. É antes umaespiral em que se volta várias vezes ao mesmo ponto, masnum nível mais elevado. O termo “elevado”, aqui, não im-plica em superioridade, pois todos nós temos o mesmo po-tencial para chegar ao último estágio.

Os estágios evolutivos

Para sobreviver, Mário — que pode também ser Maria— tem que garantir a sua subsistência, abrigar-se do frioextremo ou defender-se do calor excessivo e de agressõesde toda ordem. Ele(a) tem de cuidar da própria segurança.Nada estará fazendo além do que é mais natural: atende eresponde ao instinto de conservação que lhe é próprio.

Conseguido isso, atenderá a outro poderoso instinto: oda conservação da espécie. Graças à sensualidade e ao prazersexual, ele(a) vai gerar filhos e garantir sua descendência.

Para conseguir exercer um papel na sociedade, sejano trabalho, seja em um grupo de estudos, seja mesmoentre amigos, ele(a) precisa ser respeitado(a) e sentir quetem um certo poder sobre os outros, uma certa influência,para obter aquilo de que precisa: um emprego ou uma com-panhia para conversar e trocar idéias.

Certo dia, ele(a) descobre em seu coração uma forçaimensa que o(a) conduz a gostar dos outros, de toda a hu-manidade, de todos os seres vivos, da natureza e do univer-

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so. Mário, ou Maria, descobre o verdadeiro amor, desinteres-sado, altruísta e cheio de compaixão. Uma clareira se abre.

Em estado de amor, nosso personagem se torna poéti-co, criativo, sensível aos símbolos, ao verbo. É justamentenessa fase que começam a aparecer as sincronicidades, cujadescoberta lhe ensina a ler o livro da vida. Sob a força dainspiração, Mário, ou Maria, descobre que não está só.

Então surge o verdadeiro conhecimento, como um equi-líbrio entre a razão e a sensação masculina — do lado es-querdo do cérebro —, e a intuição e o sentimento femini-no — do lado direito de cérebro. No meio, juntamente comas sincronicidades, aparecem as funções paranormais.

Essas seis primeiras funções humanas e estágios detransformação são ainda pessoais, pois implicam a crençanum conceito de ego, ou em que as pessoas se distinguemdos objetos, vistos como externos. Só o último estágio é trans-pessoal, isto é, situa-se além de todo conceito de “pessoa”. Éum estado de consciência em que desaparecem todas asoposições e dualidades. Um pouco mais adiante, aprofun-daremos a descrição desse estágio.

Podemos agora afirmar que o mutante começa a sedestacar dos outros seres humanos.

A maior parte da humanidade atual permanece fixadaem um dos três primeiros estágios, por apego ao prazer queemana do exagero de cada função: o prazer da luta e do usoda força, no primeiro estágio; o prazer sexual, erótico e sen-sual, no segundo; e o prazer do exercício do poder empre-sarial, político ou religioso, no caso do terceiro estágio. Comonenhum prazer é duradouro, essas fases passam.

Como já vimos, para certas pessoas surge um desinte-resse por esses prazeres, sobretudo depois de os ter vividointensamente e sem freios. Isso deixa um vazio mais ou me-

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nos intolerável e leva a uma crise existencial. Esta, por suavez, conduz de um modo ou de outro à transição do amorao poder para o poder do amor.

É nesse ponto que começa a grande mutação; é esse olugar de origem do mutante. É ali que se inicia a busca,movida pela saudade do paraíso perdido citada anterior-mente. Mário, ou Maria, já sabe definitivamente que sedeixou confundir: felicidade e paz não se encontram alia-das ao verbo ter.

Depois de ter encontrado um caminho e/ou um mes-tre, ele(a) passa a saber da existência do estado transpessoalda consciência. Esse estágio será objeto do próximo capí-tulo.

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VIII

Rumo ao despertar

“Deusdorme no Mineral,

sente no Vegetal,sonha no Animal,

desperta no Homem,regozija-se no Sábio.”

Parábola oriental e sufi,segundo ROBERTO CREMA

Caso o leitor pense que basta um mutante ter encon-trado um mestre ou ingressado em uma via de transforma-ção para ter garantido o acesso ao transpessoal, engana-seredondamente. Salvo raríssimas exceções, o caminho é lon-go e, conforme condições pessoais ligadas a situações pas-sadas, pode levar muitas vidas.

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A diferença entre o mutante,o ser desperto e a pessoa comum

A pessoa comum não reconhece que existem outrosestados de consciência e se deixa levar pela ilusão da exis-tência de um ego separado de um mundo puramente ma-terial. Como já vimos, o mutante é alguém que tem conhe-cimento do caráter ilusório do estado de consciência de vi-gília e busca uma saída dessa ilusão por meio de um cami-nho espiritual, ou alguém que já encontrou um caminhoque o tenha levado, de uma forma ou de outra, a uma expe-riência transpessoal. Se permanecer no estado transpessoal,não é mais um mutante; é um ser desperto, um iluminado,um mestre. Mas o mutante que teve uma ou várias expe-riências transpessoais e voltou a viver no nosso plano relativo,continua sendo um mutante, eventualmente um professorde ioga, tai chi ou meditação, se tiver habilidade para isso.

Nesse sentido, pode-se dar um novo significado à pala-vra mutante, muito mais precisa: mutante é aquele que as-pira ao transpessoal e norteia sua existência de acordo comessa finalidade. Para o mutante, pois, o transpessoal consti-tui a razão essencial de ser. É isso que distingue o mutantede uma pessoa comum: enquanto o ser comum procura paze felicidade, de modo inconsciente e fora de si mesmo —onde não se encontram —, o mutante tem plena consciên-cia de que paz e felicidade acham-se nele mesmo, no trans-pessoal, e não no mundo exterior. Mesmo que tenha atingi-do esse estado de modo esporádico, reconhece seus limites.Alguns mutantes, depois de anos de prática, começam acomunicar sua experiência por meio de conversas, entrevis-tas, palestras ou livros. Mesmo assim, em geral eles reconhe-cem as próprias limitações. Eis, por exemplo, o depoimentode Neale Donald Walsch:

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Embora eu seja capaz de escrever coisas inspiradoras, sou umser humano normal, sujeito a muitos erros. É um desafio per-manente para mim cumprir o que digo. Estou a caminho, masde modo algum cheguei a meu destino e provavelmente nemestou perto. [...]

O que é realmente diferente entre o eu de agora e o eu deantes é que pelo menos encontrei o caminho. Para mim é umgrande avanço. Passei a maior parte da minha vida não saben-do sequer aonde ia. [...]

Agora sei aonde estou indo. Estou indo para Casa, em dire-ção a uma comunhão maior com Deus. E nada poderá meimpedir de chegar lá. Deus prometeu, e eu acreditei nessapromessa. [...]

Nada melhor do que essa declaração para definir oque diferencia um mutante de uma pessoa comum e deum mestre, ou de um ser completamente desperto. O mu-tante é consciente, encontrou um caminho, confia nele eestá certo da realidade do objetivo que tem em mira.

No entanto, antes que encontre o caminho, ele podetropeçar em um obstáculo muito sutil: a busca.

A busca como maior obstáculo

Mesmo que o mutante esteja convencido de que otranspessoal se encontra em seu mundo interior, um obs-táculo inesperado se apresenta em seu caminho. É a fanta-sia da separatividade, própria do paraíso perdido do qualacabamos de falar. Pelo fato de ele se sentir separado domundo exterior, projeta essa separação no mundo interior.Da mesma forma que o sonhador vê um sonho como exte-rior a si mesmo — embora o sonho esteja dentro dele e opróprio sonhador seja também um sonho —, ele imaginaa experiência ou o estado transpessoal como algo exterior.Inicia então um processo de busca da experiência trans-

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pessoal fora de si mesmo, processo este que acaba por re-presentar um obstáculo dificilmente transponível se o bus-cador não se conscientizar dele. Será preciso que o mutantese dê conta de que essa busca que ele tanto valorizava e queo levou a encontrar um caminho, como vimos mais acima,tornou-se agora um adversário temível. Precisará compreen-der que o que ele procura está mais perto do que imagina,já que se trata dele mesmo, de seu próprio espírito. Ele seencontra na situação de um jovem gato querendo agarrara própria cauda — o objeto do transpessoal é a descobertada natureza do espírito pelo próprio espírito. E, nesse sen-tido, toda busca torna-se um contra-senso, pois como po-deria um observador buscar a si mesmo?

Eis o que nos diz Ken Wilber a respeito:

Quando descanso como observador eterno, a grande busca sedesfaz. A grande busca é o inimigo do Espírito sempre pre-sente, uma mentira brutal frente a um infinito gentil. A gran-de busca é uma busca por uma experiência máxima, uma visãofabulosa, um paraíso de prazer, um bom tempo eterno, umdiscernimento poderoso — uma busca por Deus, uma buscapela Deusa, uma busca pelo Espírito, mas o Espírito não é umobjeto. O Espírito não pode ser pego, ou alcançado, ou busca-do, ou visto: ele é o Visionário sempre presente. Buscar o Visio-nário é para sempre não compreender. Como você pode bus-car por algo que está agora mesmo consciente desta página?VOCÊ É ESSE ALGO! Você não pode sair por aí, buscando obuscador. [...]

Quando não sou um objeto, sou Deus. Quando busco por umobjeto, paro de ser Deus, e essa catástrofe nunca poderá sercorrigida por mais busca de mais objetos. [...]

Em vez disso posso descansar como observador, que já estálivre dos objetos, livre do tempo, livre da busca. Quando nãosou um objeto, sou Espírito. Quando descanso como observa-dor livre e sem forma, estou com Deus, agora mesmo, nestemomento eterno e atemporal. Provo o infinito e fico pleno,

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precisamente porque não estou mais buscando, mas apenasdescansando como o que sou. [...]

Antes de Abraão existir, eu sou. Antes da grande explosão, eusou. Depois que o universo se dissolver, eu sou. Em todas ascoisas grandes e pequenas, eu sou. E, ainda assim, nunca possoser ouvido, sentido, conhecido ou visto. EU SOU é o Visionáriosempre presente.

Há uma estória que simboliza de modo magistral essavisão. “Era uma vez uma onda que encontrou outra onda,aflita e apressada: ‘Aonde é que tu vais tão afobada?’ ‘Euvou por aí, em busca do mar...’ ‘Mas você é o mar!’”

Nós somos ondas que se esqueceram de que são mar.Daí a busca desesperada promovida pelo mutante para re-encontrar, ou melhor, para redescobrir a própria natureza...

Tudo o que ele tem de fazer é não fazer nada; simples-mente estar aí, presente e consciente. Só observar, sem bus-car nada nem ninguém... Sem que haja alguém para buscaralguma coisa exterior... Se ele mantiver essa atitude, tantodurante a meditação como no cotidiano, um dia, quandomenos esperar, de repente, a onda se redescobrirá comomar. Escrevi um livro a respeito desse tema, cujo título éOndas à procura do mar.

A onda se lembra de quem ela é...

Em relação ao transpessoal, somos algo semelhante aondas que se esqueceram de que são mar e que, de repente,redescobrem que elas são também mar, além de serem on-das. A experiência transpessoal é justamente esta súbita, re-pentina revelação de quem somos realmente: além de umego ou uma pessoa isolada, somos ou pertencemos a “algo”muito maior, de onde a expressão transpessoal, isto é, além dapessoa.

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O transpessoal é esse “algo”. Os mutantes sabem dissopor meio da leitura de testemunhos de pessoas despertas,oriundos de várias culturas e/ou tradições espirituais, taiscomo os que constam de meu livro Antologia do êxtase. Asimples leitura pode tê-los convencido da realidade do fe-nômeno e entusiasmado pela descoberta de que é essavivência que se encontra na fonte das tradições espirituaise das religiões.

Mas muitos são os mutantes que, sem nenhuma leitu-ra prévia, tiveram repentino acesso ao transpessoal, o quemudou o curso da sua existência. Acontece freqüentemen-te que a leitura posterior de relatos de experiências seme-lhantes e o contato com textos oriundos da psicologia trans-pessoal, além de constituírem uma surpresa agradável, re-forçam, pela existência de um consenso e de um respaldoacadêmico, a convicção da realidade da experiência vivi-da por eles. Graças a descrições minuciosas das diferentesmanifestações da experiência transpessoal — do que têmem comum entre elas através dos tempos e das culturas —,essa convicção vem a se formar. É disso que trataremosagora.

Como se manifesta uma experiência transpessoal?

Acabamos de mostrar quanto é importante para omutante encontrar apoio nas pesquisas da psicologia trans-pessoal. É em vista disso que vamos agora relatar e descre-ver os principais aspectos de uma vivência transpessoal.

Muitos foram os estudos de psicologia transpessoal quese realizaram desde a sua criação, em 1969, na Califórnia,por Abraham Maslow, Antony Sutich, Stanislav Grof, ViktorFrankl e James Fadiman. Anteriormente, no início do sé-culo XX, o filósofo americano William James e um psiquia-

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tra canadense Richard Maurice Bucke haviam estabeleci-do o conceito da experiência transpessoal, denominando-aconsciência cósmica, nome mais moderno em relação aoutros mais tradicionais — como samadhi, na ioga hinduísta;nirvana, na ioga budista; devekuth, no judaísmo; reino doPai, no cristianismo; dikr no islamismo. Mais recentemen-te, foi chamada superconsciência, consciência universal, êx-tase, experiência mística, iluminação, despertar e, enfim,experiência transpessoal. Os apelidos diferem conforme acultura e a época, mas o fenômeno é fundamentalmenteo mesmo. Vamos passar à descrição já anunciada.

a) A experiência da vacuidade

Graf Dürckheim, um místico alemão, relata-nos o efei-to que lhe causou a leitura, feita por sua futura esposa, dodécimo primeiro aforismo do Tao Te King, de Lao Tse:

Trinta raios sustentam o eixo de uma rodaMas é o vazio que há nele que cria a natureza da roda.Os vasos são feitos de argilaMas é o vazio que há neles que faz a natureza do vaso.

“E aquilo”, disse Graf Dürckheim, “foi inesperado”.Enquanto escutava, foi atingido por uma revelação repen-tina. O véu se rasgara:

Eu fora despertado. Eu havia experimentado aquilo. Todo oresto era e, no entanto, não era mais; era este mundo e, aomesmo tempo, transparente para um outro. Eu estava preen-chido, capturado. Não obstante, completamente presente. Fe-liz e como que vazio de sentimentos; muito distante e, todavia,profundamente imerso nas coisas. Eu havia experimentadoaquilo de um modo evidente, como o impacto de um raio, eclaro, como um dia de sol; aquilo que era totalmente incom-preensível.

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Convém enfatizar que esse vazio — preferimos usar aexpressão vacuidade — nunca é realmente vazio. Trata-seda vacuidade de onde tudo provém, para onde tudo retornae que constitui todo o universo. O vazio não existe. Saberdisso evita a depressão do niilismo e o suicídio. Faço essadigressão para evitar mal-entendidos perigosos. Jamais can-sarei de repeti-lo para os mutantes.

b) A vivência de energia e luz

Mais da metade das pessoas entrevistadas ou cujo rela-to foi analisado referem-se a uma luz muito forte, muitomais forte do que o próprio sol, ou de fortíssima vibraçãoenergética. Elas têm uma visão vibrante e luminosa do pró-prio universo e de tudo o que o cerca, até mesmo do pró-prio corpo. A luz está dentro delas; elas são constituídasdessa luz e situam-se dentro dela.

Ninguém melhor do que um físico como Fritjof Caprapara relatar a sua primeira vivência, que o levou a escrevero clássico livro O tao da física. Eis parte do relato:

Há cinco anos experimentei algo de muito belo que me levoua percorrer o caminho que acabaria por resultar nesse livro.Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de verão, eobservava os movimentos das ondas, sentindo ao mesmo tem-po o ritmo da minha respiração. Nesse momento, de súbito,apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: estese me afigurava como se participasse de uma gigantesca dançacósmica. Como físico eu sabia [...] que a atmosfera da Terra erapermanentemente bombardeada por chuvas de “raios cósmi-cos”, partículas de alta energia [...]. Tudo isso era familiar paramim em razão de minha pesquisa em física de alta energia; atéaquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas atravésde gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia,senti que minhas experiências anteriores adquiririam vida.Assim, “vi” cascatas de energia cósmica, provenientes do espa-ço exterior, cascatas nas quais, em pulsações rítmicas, partícu-

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las eram criadas e destruídas. “Vi” os átomos dos elementos —bem como aqueles pertencentes a meu próprio corpo — par-ticiparem desta dança cósmica de energia. Senti o seu ritmo e“ouvi” o seu som. Nesse momento compreendi que se tratavada dança de Shiva, o senhor dos dançarinos, adotado peloshindus. [...] Esse momento foi seguido por inúmeras outrasexperiências semelhantes que me auxiliaram, gradativamente,a compreender que começa a emergir — da física moderna,em harmonia com a antiga sabedoria oriental — uma nova econsistente visão do mundo.

Temos aqui, ao mesmo tempo e ilustrados com muitabeleza, o nascimento e o desenvolvimento de um físico mu-tante.

c) A vivência da não-dualidade

Neste nível a dualidade sujeito/objeto acaba, assimcomo toda espécie de separação. O ego desaparece, ou me-lhor, é como se nunca tivesse existido. A “fantasia da sepa-ratividade” dissolve-se como todas as outras ilusões.

“Eu era o universo e tinha o universo dentro de mim.Não tinha mais separação nenhuma”: esse é um exemplode descrição típica.

Essa percepção de não-separatividade pode incidir so-bre qualquer objeto. Eis o que descreve o mutante escritore médico John Lilly, a respeito de uma mesa de mármore,em sua primeira experiência transpessoal:

O realce e aprofundamento de toda cor e forma, a transparên-cia de todos os objetos reais, a aparente natureza vivente damatéria material, tudo apareceu imediatamente.

Eu iniciei olhando o tampo de mármore de uma mesa e vi opadrão do mármore se tornar vivo, plasmático e se movendo.Eu me desloquei dentro do padrão e me tornei parte dele,vivendo e me movendo no padrão do mármore. Eu me trans-formei em mármore vivo.

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d) O encontro com o Divino

A experiência é sentida como sendo de caráter sagra-do. Não raros são os que falam em ambiente ou conotaçãodivinos.

Às vezes, a pessoa afirma ter entrado em contato comDeus, ou ter sentido a sua presença. É o que aconteceucom Neale Donald Walsch, já citado, que, no mais profun-do desespero, escreveu uma carta indignada de protestoendereçada a Deus. Em seguida, recebeu respostas redi-gidas pelas próprias mãos, as quais se transformaram nolivro constante da bibliografia.

e) A convicção de realidade

A vivência é percebida como real, mais real, dizemalguns, do que a realidade do cotidiano. É o que nos afir-ma o psiquiatra canadense Richard Maurice Bucke, citadopor William James, ao relatar sua experiência cósmica:

Vi que o universo não se compõe de matéria morta, mas, pelocontrário, de uma presença viva; tornei-me cônscio, em mimmesmo, da vida eterna. Não era a convicção de que eu possuiriaa vida eterna, mas a consciência de que já a possuía; vi que todosos homens são imortais; que a ordem cósmica é de tal naturezaque, sem qualquer dúvida, todas as coisas trabalham juntas pelobem de cada um e de todos, e que o princípio fundamentaldo mundo e de todos os mundos é o que chamamos de amor,e que a felicidade de cada um e de todos, afinal de contas, éabsolutamente certa. A visão durou uns poucos segundos edesapareceu; mas sua lembrança e o sentido da realidade doque ensinou permaneceram durante o quarto de século quetranscorreu depois disso. Conheci que era verdadeiro o que avisão mostrava. Eu atingi uma perspectiva de onde via que ela sópodia ser verdadeira. Essa perspectiva, essa convicção, possodizer essa consciência, nunca, nem mesmo durante os perío-dos da mais profunda depressão, se perdeu.

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f) O caráter repentino

“E aquilo foi inesperado. Enquanto o escutava, fui atin-gido por uma revelação repentina”, diz-nos Graf Dürckheim,na descrição de sua experiência de vacuidade citada ante-riormente.

A expressão “de repente” encontra-se em muitos re-latos. Este caráter repentino se explica, já que a experiên-cia se realiza fora do tempo, numa espécie de estrito e eter-no “aqui e agora”.

É muito bonita a estória contada pelo ex-secretário doPartido Comunista francês. Certa noite, ao sair da sede dopartido, foi atraído para uma igreja; entrou e teve umaexperiência de iluminação em frente à imagem de Cristo.Isso mudou sua vida — ele chegou a publicar um artigosobre os mutantes da época.

g) Não tenho palavras...

A inefabilidade ou a impossibilidade de expressar aexperiência é algo bastante freqüente. Eis o que nos afir-ma Denise Desjardins, discípula francesa de um grandemestre indiano:

Não há palavras para descrever esta grandeza sem medida,onde não existe mais nem tu nem eu, mas uma ampla plenitu-de, num “mim” que não é mais eu, que não está nem no exte-rior, nem no interior.

h) A experiência de saída do corpo físico

Sair do corpo físico, ver o seu corpo físico de longe,sendo operado ou transportado numa ambulância, ou ain-da simplesmente deitado na cama, ao lado do cônjuge, sãoexperiências mais freqüentes do que se imagina. Elas po-

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dem, como qualquer fenômeno parapsicológico, prece-der ou acompanhar uma vivência transpessoal. Muitos mu-tantes, entusiasmados pelas descobertas que elas levam afazer, cultivam essas experiências, por meio de treinamen-tos especiais já existentes e ministrados comercialmente,ou por intermédio de um caminho descoberto particular-mente .

Foi o que aconteceu com Jeanne Guesné. Durante dezanos, ela experimentou inúmeras saídas do corpo que lhecomprovaram que a morte é apenas um desligamento docorpo físico e que a alma continua. Mas, fora do corpo, nãotemos mais nenhuma liberdade, somos escravos do pensa-mento; enquanto dentro do corpo podemos treinar, atra-vés da meditação, para não nos deixarmos levar por eles,mas deixá-los passar. Ao fim de dez anos, ao encontrar oseu mestre, Jeanne abandonou completamente esse pro-cesso. Eis o que ela nos diz a esse respeito:

O desdobramento, isto é, a saída do nosso corpo físico, o queeu chamaria de nosso corpo de energia, não constitui emcaso nenhum uma chegada. Ele não leva a nada de sólido, desério, numa fantasmagoria em que o nosso “eu–mim” se dei-xa envolver, sem jamais controlar. E isso por uma razão muitosimples: sair do seu corpo não é sair do seu ego, isto é, do seueu psicológico. Pelo contrário, é ele que não é mais protegidopelo confortável amortecedor que constitui o corpo físico.

Isso não deve nos levar a um radicalismo extremo.Penso que devem ser aproveitadas as saídas do corpo quan-do acontecem naturalmente, como durante um sonho,uma morte clínica com reanimação, um coma, uma me-ditação ou relaxamento, ou mesmo de modo fortuito. Ve-remos, mais adiante, a surpreendente vivência do analistapsicológico Jung num leito de hospital.

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Tendo em vista a sua importância, destaquei o fenô-meno da saída do corpo entre outros fenômenos parapsi-cológicos. Vamos agora abordar esse assunto.

i) Fenômenos parapsicológicos

Neste item estão incluídas todas as sincronicidades queintegram os fenômenos parapsicológicos já descritos emcapítulos anteriores deste livro. Coincidências significati-vas, telepatia, premonição, clarividência, saída do corpofísico — que acabamos de citar —, vidas passadas ou futu-ras, entre outros, podem aparecer antes, durante ou de-pois da vivência transpessoal propriamente dita, mas nãodevem ser confundidos com ela, por serem todos duais,isto é, implicam um sujeito e um objeto.

Há unanimidade nas tradições espirituais autênticasno que se refere a recomendar aos discípulos que não dêematenção aos siddhis ou carismas. Eles são sinais de progressoe mais nada. Quem se apega a eles, pára de evoluir, oumesmo regride, pois o poder se coloca a serviço do orgu-lho ou da cobiça. Um lama tibetano, Chögyam Trungpa,chamava de materialismo espiritual o apego a essas expe-riências, até mesmo à transpessoal. O apego impede novasexperiências, pois quem é que se apega senão o ego, omaior obstáculo à própria transcendência?

Como esses fenômenos já foram amplamente descri-tos, não voltaremos a eles, com exceção dos encontros comseres em outras dimensões, mais particularmente os anjos,que identificamos como os causadores de sincronicidades.É o que vamos abordar a seguir.

j) Encontro com seres em outra dimensão

Os mutantes brasileiros ou indianos têm bastante difi-culdade em aceitar esse aspecto da experiência transpes-

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soal, pois eles foram educados em culturas ou subculturasque consideram natural a existência de espíritos desin-corporados. Especialmente os ocidentais educados fora deum ambiente religioso e influenciados pela lógica carte-siana relutam em aceitar essa idéia.

Um exemplo clássico de experiência transpessoal acom-panhada de encontro com ser em outra dimensão é a deJung, que, à beira da morte, viu-se a mais de mil e quinhen-tos quilômetros acima da Terra e relatou que nosso plane-ta é azul. Em seguida, viu-se dentro de um templo e obser-vou um hindu em posição sentada. Mais tarde, ele encon-trou o espírito de seu médico que se dirigiu a ele de formatelepática. Disse que Jung não podia deixar a terra poismuitas pessoas ainda precisavam dele. Quando retornouao corpo, Jung permaneceu assim ainda por três semanas,até decidir sobreviver. Em 4 de abril de 1944, seu médicodesencarnou. Jung fora o seu último paciente e tivera aintuição de que isso iria ocorrer.

Existem também relatos de contatos com anjos. O quemais me tocou, por seu aspecto profundamente real e hu-mano, foi o de uma cristã húngara, Gitta Mallasz, campeãesportiva, única sobrevivente de um grupo de quatro ami-gos: ela, duas mulheres e um homem judeu. No dia 25 dejunho de 1943, Hannah, uma das judias, mudou de voz ecomeçou a manifestar o que foi identificado como anjo. Esseser, durante 17 meses, todas as sextas-feiras, à mesma hora,manteve entrevistas respondendo às perguntas de Gitta. Essasentrevistas foram publicadas num livro bastante conhecido,traduzido em várias línguas, que contém um verdadeiro ro-teiro de conselhos e orientações para chegar à transcen-dência. No Dialogues avec l’ange [Diálogo com o anjo], Gittarelata todas as entrevistas e como seus três amigos judeusmorreram tragicamente, deportados pelos nazistas.

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De seu ensinamento se depreende o papel transfor-mador do ser humano, que estaria situado entre o mundocriado, integrando o mineral, o vegetal e o animal, e o mun-do criador, integrando o anjo, o serafim e ele. O anjo é,assim, o primeiro elo entre o ser humano e o mundo cria-dor. Como vimos mais acima, uma das formas de despertaro mutante para esse segundo mundo são as sincronicidades.

Esses diálogos lembram muito a experiência de EvaPierrakos cujo “guia” realizou, por meio dela, 258 conferên-cias, o que deu margem a um método completo de desper-tar e autotransformar-se, conhecido hoje como Pathwork, evários livros, o primeiro deles e o mais conhecido sob o títuloO caminho da autotransformação.

l) Efeitos posteriores

Quando a experiência é real e profundamente viven-ciada, o que vem depois, na existência do mutante, trans-forma-se de modo significativo. Os campos de interesse mu-dam; os tipos de amizade mudam; os hábitos mudam. Emoutras palavras, o mutante torna-se mais mutante ainda...

Muito ilustrativo dessas modificações posteriores é oque Graf Dürckheim nos conta sobre o que aconteceu comele depois de ter vivenciado a experiência da vacuidaderelatada aqui:

A vida continuava, a vida de antes, e no entanto já não era maisa mesma. Havia a espera dolorosa de mais Ser, uma promessaprofundamente sentida. E, ao mesmo tempo, forças crescen-do até o infinito e a aspiração, no sentido de um compromissocom o quê?

Esse estado excepcional durou um dia inteiro e uma parte danoite. Ele me marcou definitivamente [...]. Continua servindode ponto de referência para me indicar e aos outros a direçãoacertada de conhecimento e de trabalho.

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Com essa última descrição das características da expe-riência transpessoal, obtivemos uma idéia do que vem a sera caminhada de um mutante. Mais um passo longo e elepermanecerá permanentemente no transpessoal, sem dei-xar a dimensão relativa do nível pessoal. Então ele será umser desperto, um mestre.

Depois da descrição dos estágios pelos quais passa ummutante na sua evolução até o transpessoal, podemos, commais lucidez, retratá-lo e distingui-lo daquele que não mu-dou, a quem chamaremos, no próximo capítulo, de o es-tagnante. Isso nos levará ao essencial deste livro: o papel domutante na salvação da vida em nosso planeta.

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IX

O papel do mutante numa estratégia globalde salvação da vida no planeta

“Se um número suficiente de pessoas passar porum processo de profunda transformação interna,talvez seja possível alcançar um nível de evolução

da consciência no qual possamos merecer onome suntuoso que demos à nossa espécie:

homo sapiens.”

STANISLAV GROF

Chegou o momento de cumprirmos nossa promessainicial, isto é, definir o que vem a ser este novo persona-gem a quem chamamos mutante, cuja trajetória evolutivaacabamos de delinear. Já sabemos que ele, na qualidadede pontifex, gosta de estender pontes sobre todas as frontei-ras e que seu alvo final é o transpessoal. Isso o leva a passarpor uma série de estágios evolutivos, em meio aos quais elese surpreende recebendo mensagens por sincronicidades,

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o que lhe dá a certeza da existência de uma força que oguia na sua vida e no universo.

Temos dados suficientes para definir o mutante: qualé sua visão da realidade e do lugar do ser humano nesteplaneta; seus valores, atitudes e opiniões políticas e religio-sas, entre elas sua postura perante Deus e a morte; enfim,quais são seus hábitos e comportamentos diários.

Para facilitar nossa explanação, vamos comparar o mu-tante a outra personagem que não sabe, não pode ou nãoquer mudar, a quem chamamos de estagnante. Iremos, sis-tematicamente, em relação a cada grupo de características,descrever como se apresentam o estagnante e o mutante.

Estado de consciência

O estagnante se distingue do mutante pelo grau deconsciência que possui de si mesmo e do mundo em quevive.

Nesse sentido, poderíamos considerar que os cidadãosdo mundo, em sua maioria, são autômatos, e não seres cons-cientes. O autômato é condicionado pelas normas da so-ciedade, pela imitação dos mais fortes ou mais bem-suce-didos, pela obediência cega às orientações, instruções ouordens dos que ele considera mais competentes, ou pelofato de se comportar como a maioria das pessoas, seguindouma norma sem se perguntar se ela é realmente sadia (porexemplo: fumar ou comer doces em excesso).

Gurjief, grande mestre vindo do Oriente para o Oci-dente, afirmava que a maior parte dos povos do mundoestá adormecida e que é preciso despertá-la.

Despertar significa mudar de estado de consciência;passar do estado de consciência de vigília, no qual perma-

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necemos durante a maior parte do dia, para o estado dosonho e do sono lúcidos e alcançar a superconsciência ouestado transpessoal que descrevemos anteriormente.

O estagnante precisa deixar de ser autômato para setornar um mutante lúcido e consciente; precisa sair do es-tado adormecido para acordar plenamente, transforman-do-se em mutante; precisa sair da sua inconsciência parase tornar um ser consciente, um mutante.

Essa diferença de consciência entre o mutante e oestagnante tem uma de suas raízes na visão do universo decada um.

Visão do universo

Quatro mil anos de dominação masculina em nossacivilização fizeram com que predominasse o racionalismo apartir do qual o universo é considerado apenas um com-posto de matéria e elementos sólidos, funcionando dentrode uma mecânica de engrenagens de peças fragmentadase obedecendo a leis próprias. O estagnante parte dessa pers-pectiva chamada objetiva, pois separa o sujeito do objeto, ohomem do universo, ilusão a que, como já dissemos, cha-mamos de fantasia da separatividade. Permanece preso aovelho paradigma newtoniano-cartesiano, a uma visão frag-mentada do mundo, do planeta, dos assuntos humanos ede si mesmo. Essa visão masculina inclui a repressão do as-pecto feminino e, por conseguinte, do amor, nos homensestagnantes, e o confinamento nos lares, junto das criançase da cozinha, nas mulheres estagnantes.

O mutante, por sua vez, está procurando dissolver afantasia da separatividade e já distingue o caráter ilusóriotanto do sujeito como do objeto. Por isso, ele reconhece a

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limitação desse velho paradigma à área da macrofísica epercebe o universo e o nosso planeta — assim como tudo oque se manifesta nele — como feito de energia, de uma sóenergia sob forma de matéria, de vida e de programas in-formacionais geradores de forma.

O mutante integra o paradigma mecanicista numa vi-são maior, masculina e feminina, racional e intuitiva, alian-do razão a coração, visão própria de um novo paradigma,holístico e transdisciplinar. Segundo a nova visão, não so-mente as partes se encontram no Todo, mas o Todo seencontra em todas as partes, como num holograma — essachapa fotográfica em relevo que, uma vez cortada, deixaentrever todas as partes cortadas, superpostas, reproduzi-rem o retrato em sua totalidade. Assim sendo, a nossa vi-vência da Realidade depende estreitamente do estado deconsciência no qual estamos vivendo.

Ambas as cosmovisões, tão diferentes entre si, vão ge-rar quatro maneiras completamente diversas de concebero lugar e a natureza do ser humano no universo.

Perspectiva antropológica

Jean-Yves Leloup aponta para quatro maneiras de vera natureza e o lugar do ser humano no universo: o pressu-posto antropológico unidimensional, bidimensional, tridi-mensional e quadridimensional.

O pressuposto unidimensional corresponde à visão douniverso como um composto de matéria, e unicamente dematéria. É o pressuposto materialista. Num universo consi-derado assim, o ser humano é também composto unica-mente de matéria; seu corpo é a única realidade. A cons-ciência é uma espécie de emanação do corpo físico, um

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subproduto, um epifenômeno, isto é, um fenômeno mar-ginal. Só existe o corpo físico, o soma, em grego. Este é opressuposto típico do estagnante.

O pressuposto bidimensional postula, além da maté-ria, a existência da alma ou, em grego, psique, que se ma-nifesta sob a forma de memória, idéias, imagens, pensa-mentos e sentimentos — tudo o que constitui nossa men-te. Soma e psique são independentes e interdependentes,segundo uma concepção bem conhecida, a psicossomáti-ca. O estagnante um pouco mais evoluído adota tambémeste pressuposto, já que é aceito pela ciência e pela psico-logia modernas. O pressuposto bidimensional é o pontode partida do mutante.

O pressuposto tridimensional amplifica ainda maisnossa visão, pois acrescenta e implica a existência de umespelho que tudo observa — o corpo, a mente e o mundoem geral — e reflete, sem se deixar envolver. Trata-se daconsciência ou, em grego, noûs, cuja qualidade noética depaz, calma, lucidez, vai permitir silenciar o barulho inces-sante do pensamento e colocar ordem no caos da psique.É da consciência que surgem a sabedoria e o amor pere-nes. Estamos, aqui, no campo do mutante por excelência,pois o que desperta nele é a consciência. Mas as três partesreveladas no ser humano, soma, psique e noûs — corpo,alma e consciência —, precisam de algo que as una, pene-tre e componha. Isso nos leva à quarta perspectiva.

O pressuposto antropológico quadridimensional im-plica na existência do Ser ou Espírito, Pneuma em grego,Ruach em hebraico. É o Sem Nome, que, embora apareçacomo último elemento do quadridimensional, forma, im-pregna, fora do tempo e do espaço, ou de modo eterno einfinito no nosso tempo-espaço, tudo o que existe, numatri-unidade. A partir desta última perspectiva, o mutante

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vai ao encontro da experiência transpessoal. Já vimos que,se essa experiência se transformar em estado permanente,ele terá deixado de ser um mutante para se tornar um serdesperto, um mestre.

Funções psíquicas

Sob influência de quatro mil anos de predomínio damasculinidade, as quatro funções elaboradas por Jung fo-ram desmembradas, dissociadas. Deram-se preferência e valorabsoluto — sobretudo com o desenvolvimento da ciência eda tecnologia — à razão e à sensação, que se tornaram fun-ções propriamente masculinas. Disso adveio a repressão, nohomem, das funções femininas do sentimento e da intui-ção, toleradas e relegadas ao lar e às relações com os filhos.Mesmo as mulheres — com o movimento feminista — aca-baram por masculinizar em parte suas funções psíquicas.Assim sendo, no estagnante, as funções psíquicas são frag-mentadas, sendo que as masculinas — da razão — reprimemas femininas — da intuição.

Com o mutante dá-se o oposto. Ao procurar reequili-brar internamente o gênero masculino-feminino, ele tam-bém procura reequilibrar a razão em relação ao sentimen-to, a sensação em relação à intuição.

Valores, opiniões e atitudes

Os pressupostos antropológicos vão influenciar dire-tamente no sistema de valores e nas opiniões, diferencian-do, nisso também, o estagnante do mutante.

O sistema de valores do estagnante será constituídopor aqueles valores ligados à segurança, ao prazer sensuale ao exercício do poder sobre os outros. Ele valorizará, por

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conseguinte, o consumo sob todas as suas formas; a com-petição física, esportiva, comercial ou empresarial; os pra-zeres gastronômicos, sexuais, eróticos, sensuais; a ascen-são a posições importantes, em que possa comandar, darordens, sentir-se superior e importante. Limita a idéia deevolução ao plano do desenvolvimento físico — por meiodos esportes, por exemplo — ou do conhecimento inte-lectual, do progresso acadêmico e profissional. Assim, umapessoa estagnada pode vir a alcançar um prêmio literário,artístico, científico ou profissional sem sair da condiçãode estagnante.

As opiniões políticas e religiosas do estagnante irãoexpressar esses valores. Do ponto de vista político, aderiráfacilmente a ideologias materialistas, socialistas ou capita-listas. Embora seja democrata, vota mais em favor de ex-tremos — seja de esquerda, seja de direita — ou, ao con-trário, vota nos candidatos mais populares, para seguir amaioria.

No plano religioso, seu Deus será pessoal, autoritá-rio, punitivo, culpabilizante e bastante poderoso, ou, comoum genuíno materialista, o estagnante será descrente,agnóstico e ateu. Ateu ou teísta, o estagnante buscará fun-dar-se na razão e jamais aceitará qualquer evidência, ex-periencial ou vivencial, da existência de Deus. Se ele forreligioso, irá ater-se ao significado literal dos textos sagra-dos, podendo cair facilmente nos extremos dos fanatis-mos e fundamentalismos, assim como do maniqueísmo.Este último fará com que julgue qualquer coisa com baseem duas categorias: a do bem e a do mal. Por isso o estag-nante é um grande defensor da justiça. Se chegar a serteólogo ou sacerdote, sua dialética será puramente racio-nal, intelectual e moralista. Se ele se tornar um político,seguirá também a mesma tendência.

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Quanto à sua postura diante da morte, há estagnantes,mais especialmente os agnósticos, que negam peremptoria-mente qualquer forma de existência depois da morte. Sepertencerem a uma religião, sua posição será de adesãocega ao que os textos sagrados ensinam e de recusa emaceitar toda e qualquer forma de sincronicidade, ou de“sinais” desse eventual “além”.

O além não pode ser experimentado. Para quem crê,isso só foi possível nos tempos bíblicos. Para o ateu, nuncafoi possível. Por isso a pergunta clássica que um estagnantefaz a outro é: “Você acredita em Deus?”; ou ainda: “Vocêacredita em vida depois da morte ou em reencarnação?” Aresposta é sim, não ou, ainda, talvez.

Para um mutante, uma pergunta apresentada dessamaneira não tem muito sentido. Ele pode responder “sei”ou “não sei”, pois sua visão é baseada na experiência, navivência, incluindo nisso os próprios valores.

Os valores que movem os mutantes são bem diferentesdaqueles dos estagnantes. Embora integrem os valores dointelecto e da razão na busca da verdade como os estagnantes,os valores dos mutantes estão bastante ligados ao amor docoração, à compaixão, à ternura, ao carinho, à criatividadeda inspiração, à poesia, à beleza, à alegria, à fome de saber, àintuição, ao conhecimento da verdade, à pureza de alma, àelevação espiritual, ao sagrado e ao divino.

Suas opiniões políticas e econômicas inscrevem-se noliberalismo democrático, na transpolítica — culto aos valo-res superiores que unem os partidos políticos —, no apoioa candidatos que são conhecidos por cultivar esses valoresou que sejam também mutantes. Alguns preferem se abs-ter de toda e qualquer atividade política para não se des-viarem da sua meta principal ligada ao valor da transcen-

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dência. Mas os mais evoluídos atuam com responsabilida-de em relação à espiritualidade e sabem quanto a políticapode influir na redução da pobreza e da miséria. Nessesentido, o mutante costuma aderir a movimentos que pro-movem uma forma de viver voluntariamente simples, a fimde reduzir o consumismo exagerado das regiões economi-camente desenvolvidas. Muitos procuram também se limi-tar a um conforto essencial.

O mutante sabe que os sistemas comunistas ruíram eque o sistema neocapitalista apresenta sinais de extremafragilidade, além de reduzir à miséria a maior parte da po-pulação do mundo. Ele sonha com um novo sistema eco-nômico que integre as vantagens dos dois precedentes. En-quanto isso não acontece, pratica a simplicidade voluntáriae mantém-se limitado a um conforto essencial, como já foimencionado.

Evoluir, para o mutante, é ir além do estágio intelec-tual de conhecimento para integrar a visão direta, intuiti-va, da Realidade. Ele procura o equilíbrio entre as funçõesligadas aos dois hemisférios do cérebro, equilíbrio que ameditação e outras práticas lhe proporcionam.

Se ele pertencer a um sistema religioso desde o nasci-mento, ele procurará um orientador ou diretor de consciên-cia que seja também mutante ou mestre. Em outras pala-vras, sua religião será flexível, tolerante e aberta a outrascorrentes religiosas. Seu conceito de Deus estará mais liga-do à possibilidade de uma vivência de caráter divino naexperiência transpessoal. Evita uma definição de Deus, poissabe que se trata de um espaço-luz inefável, que Cristoencarnou e que Buda despertou. Se ele for teólogo ou sa-cerdote, será adepto da teologia experimental. O mutan-te sabe que cada um de nós é expressão do Eterno e que,por isso mesmo, a vida também é eterna, para além da mor-

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te, considerada por ele uma passagem, uma simples mu-dança de estado de consciência.

Em suma, para o mutante, o lema do estagnante —“trabalhar, consumir e morrer” — não tem sentido.

Valores, opiniões e atitudes são os fatores que guiamnossos hábitos de vida e nossos comportamentos no dia-a-dia. É o que descreveremos a seguir.

Hábitos e comportamentos diários

Os hábitos e comportamentos do estagnante coinci-dem com os da população atual, na nossa civilização pós-industrial, em plena era da informática.

Isso quer dizer que, em geral, ele acorda e se levantano mesmo horário, mas, caso se deite tarde ou de madru-gada, levanta-se mais tarde. Eventualmente faz algum exer-cício físico ou ginástica, vai trabalhar, almoça em casa ouno restaurante. É carnívoro, fazendo exceção a esse hábitoalimentar se precisar obedecer a dietas ou regimes por mo-tivos de saúde.

Seu lazer consiste em assistir a campeonatos esporti-vos, telenovelas, algum noticiário, filmes com temas român-ticos, de ação ou suspense, jogar cartas, freqüentar super-mercados.

Costuma passar as férias e os feriados tomando banhosde mar ou passeando pela cidade ou montanha, semprecom rádios ou aparelhos de CD ligados e com som alto,pois, em geral, o estagnante não suporta o silêncio próprioda natureza. As conversas com amigos são ligadas a dinhei-ro, compras, terrenos, moda, situação política — se houvercrise — ou futebol. O resto do tempo, dedica-o ao compu-tador, à internet ou à tevê.

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A vida de casal do estagnante é geralmente bem tra-dicional: namoro, noivado e casamento. O homem é ma-chista convencional e sente dificuldades em assumir qual-quer trabalho profissional atribuído à mulher. No livrointitulado O fim da guerra dos sexos apontamos sete fases naevolução dos casais. O estagnante se encontra em uma dastrês primeiras: matricial, patriarcal ou conflitiva — na quala mulher estagnante, por meio do movimento feminista,procura se libertar da repressão do feminino promovidapelo homem.

Sua vida sexual limita-se ao prazer sensual e a ter fi-lhos. Se os tiver, estes receberão também uma educaçãode estagnantes.

Obviamente, o retrato traçado aqui é bem genérico,pois cada caso é um caso... Procederemos da mesma formaquanto aos hábitos e comportamentos do mutante.

Em geral, ele acorda cedo. A meditação diária dimi-nui a necessidade de muitas horas de sono. O mutante me-dita e/ou ora todas as manhãs e, eventualmente, todas asnoites.

De madrugada, ao despertar, ele freqüentemente vi-vencia uma lucidez intelectual e uma criatividade inusita-da. É a hora em que lhe aparecem as boas idéias e tambémas soluções para seus problemas pessoais ou teóricos.

Ele prática ioga ou tai chi, não apenas para manter asaúde do corpo, mas também para sustentar física e psiqui-camente sua meditação. Esta não se limita ao tempo fixadopara manter-se sentado, mas ele faz de seu dia-a-dia umaforma de meditação, cultivando a atenção e a presença.

Seus hábitos alimentares tendem a ser naturais, limi-tando-se a legumes, verduras e frutas, acompanhados oca-

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sionalmente de carnes brancas e/ou de peixes, acabandopor serem vegetarianos.

A maior parte dos mutantes conseguiu fazer de seutrabalho diário uma missão a serviço da paz, da não-violên-cia, do alívio do sofrimento alheio. Por isso mesmo, paraele o lazer confunde-se com o trabalho. Se, por motivos eco-nômicos, ainda exercer uma profissão que não correspondaa seus ideais e valores, o mutante preencherá seus momen-tos de lazer, os feriados e as férias com afazeres voltadospara a própria evolução.

A internet será usada para relacionar-se com outrosmutantes, em companhia dos quais ele se organiza em re-des, com finalidade de intercâmbio, conhecimento ou tra-balho social e econômico. Muitas redes são criadas parameditar-se em horas determinadas, a fim de criar camposenergéticos — ou morfogenéticos.

O mutante procura lugares silenciosos, gosta de ficare, eventualmente, morar junto à natureza. Seu círculo deamizades é formado por outros mutantes, com os quais com-partilha suas experiências e leituras. Poderá ter tambémamigos estagnantes, em geral do tempo anterior ao iníciode sua mutação. Ele costuma fazer disso uma oportunida-de de cultivar a tolerância, a equanimidade e o amor. Àsvezes, seu exemplo desperta no estagnante a vontade demudar e evoluir.

Com relação à tevê e ao cinema, prefere programa-ções com conteúdos espirituais e que cultivam os altos valo-res estéticos e éticos.

Na vida em comum, o mutante procura transformarseu casamento ou sua ligação em oportunidade de se an-corar para uma transformação a dois. Ele cria uma relaçãoevolutiva, que procura cultivar através de encontros perió-

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dicos. A relação evolutiva pode se estabelecer depois dafase conflitiva, terceira fase que identificamos como pró-pria do casal de estagnantes. Os casais de mutantes podempassar por uma quarta fase, dita “esclarecida”, em que cadaum procura se informar sobre a vida a dois, freqüentandoseminários ou terapias de casais, lendo livros ou assistindo apalestras. Como demonstro em meu livro, existem aindafases posteriores, próprias aos mutantes: lunar, andróginae desperta. A última fase é, na realidade, específica de umser iluminado ou de um mestre.

Na vida sexual, muitos mutantes aprendem ou apren-deram sobre circulação da forma sexual da energia e suatransformação em maior prazer, alegria e, mesmo, êxtasetranspessoal, através do atraso e/ou da retenção do orgas-mo. Falei muito sobre isso — tal como o ensinam o tantrismoe o taoísmo — em meus livros A mística do sexo e A arte deviver a vida.

Se tiver filhos, o casal de mutantes procurará criá-losconforme a visão do universo e do pressuposto antropoló-gico acima descritos. A maioria dos filhos será produto doamor.

Convém enfatizar, uma vez mais, que um mutantepode divergir de outros em certos aspectos da descriçãoque acabamos de fazer, pois alguns encontram-se num es-tágio intermediário entre o estagnante e o ser desperto,tendo ainda, conforme o caso, alguns ou muitos aspectosligados a seu ponto de partida.

Feita essa ressalva, resta-nos focalizar o aspecto essen-cial resultante de tudo o que apresentamos até agora: quala importância para a humanidade, em sua totalidade, epara cada indivíduo em particular, homem e mulher, detransformar o estagnante em mutante. Em seguida, uma

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vez elucidado esse primeiro aspecto, como efetuar essatransformação.

Importância da transformaçãodo estagnante em mutante

A fim de termos uma idéia ainda mais clara das dife-renças essenciais entre o estagnante e o mutante, apresen-tamos um quadro sinótico da análise que acabamos de fa-zer:

O mutante é um verdadeiro catalisador de evolução

QUADRO SINÓTICO

QUADRO COMPARATIVO ENTRE O ESTAGNANTE E O MUTANTE

CLASSIFICAÇÃO

ASPECTOSESTAGNANTE MUTANTE

Consciência Adormecido, inconscien-te, autômato.

Vigilante, consciente, des-perto.

Cosmovisão

Funçõespsíquicas

Pressupostoantropológico

Fantasia da separativida-de: eu-cosmos.

Universo feito de matéria.

Visão mecanicista.

Conhecimento da insepa-ratividade de tudo.

Universo feito de espaço/energia/luz.

Visão sistêmica.

Separação entre intenso,sensação e sentimento eintuição.

Reintegração, razão, sen-sação, sentimento, intui-ção.

Unidimensional e bidi-mensional.

Bidimensional, tridimen-sional e quadridimensio-nal em formação.

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VALORES,ATITUDES E

OPINIÕES

ESTAGNANTE MUTANTE

BanhoAutomático, pensandoem outra coisa.

Consciente, com prazer.

Valores

Opiniõespolíticas

Opiniõesreligiosas

Deus

Vida após amorte

VidaVisãoevolutiva

Acordar

Estagnante

Segurança, sensualidade,poder, competição, con-sumo.

Democrático, extremistaou conformista.

Crença no discurso, na ra-zão ou na fé: “Eu creio.”

Ou agnóstico e descrente.

Personagem autoritária eculpabilizante ou inexis-tente.

Crença na imortalidadeda alma ou em nada.

Limitada aos progressosfísicos, das aptidões inte-lectuais e dos conheci-mentos acadêmicos e ar-tísticos.

Mutante

Confuso, variável.

Amor, inspiração, verda-de, transcendência, divi-no, beleza, sagrado.

Senso de responsabilida-de política. Liberal demo-crático ou apartidário.

Saber fundamentado naexperiência interior: “Eusei.”

Experiência de luz divina,sagrada, espaço aberto deluz e força.

Inefável.

Experiência e vivência fo-ra do corpo, pessoal oude outros, de vidas passa-das ou de contato comespíritos.

Mais o equilíbrio e a har-monia, o amor e a vivênciado sagrado.

Sonho lúcido e conscien-tização do sonho.

Lúcido, criativo.

LevantarHoras variadas eventuais,ginástica.

Cedo e regular.Meditação ou oração, io-ga, tai chi, etc.

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De um lado, temos um ser humano cego, adormeci-do, profundamente normativo e condicionado por umasociedade desequilibrada. Por tudo o que mostrei, a exem-plo de muitos outros autores que escreveram ao longo dosúltimos 15 a vinte anos, é a cultura normótica, masculinista,racionalista, fragmentada ao extremo, desprovida do amor

Roupa

Alimentação

Profissão

Lazer, fériase feriados

Vidaamorosa

Gênero

Qualquer uma, confor-me o gosto.

Predominantemente car-nívora, em geral desre-grada.

Qualquer.

Comum, segue o desejo eo prazer.

Simplicidade voluntária,porém bonita e simbólica.

Natural, sadia, com pou-ca carne, limitada a fran-go e peixe, ou vegetariana.

Encontros ocasionais oucasal tradicional (namo-ro, noivado, casamento).

Sexo muitas vezes dissocia-do do amor.

Tendência ao predomí-nio absoluto do mascu-lino ou do feminino tan-to no homem quanto namulher.

Se possível, a serviço deseus valores e de sua mis-são.

Lazer e profissão insepa-ráveis, a serviço da alegria,do amor, da evolução.

Estabelecimento de rela-ção evolutiva.

Amor e sexo inseparáveis.

Aprendizagem de trans-formação da energia se-xual em êxtase divino.

Tendência ao equilíbrioentre o masculino e o fe-minino tanto no homemquanto na mulher.

Casamento entre si.

VALORES,ATITUDES E

OPINIÕES

ESTAGNANTE MUTANTE

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feminino, tecnológica e fria, que está levando a esta crisede violência sem precedentes e à destruição da vida nesteplaneta. E o agente dessa destruição é o estagnante.

De outro lado, temos um ser humano bem diferente,em plena transformação, voltado para o equilíbrio entre oselementos interiores masculino e o feminino, que procuracontribuir para uma cultura de paz e não-violência, parauma sociedade em harmonia com a natureza. Logo, o agen-te de transformação nessa nova cultura é justamente o nos-so mutante.

Como ser humano, o mutante sai progressivamentedo estresse próprio do estagnante, adquirindo bem-estar,equilíbrio, paz e felicidade interior estável, mesmo se ascircunstâncias exteriores forem desfavoráveis. Ele se tornaum melhor amigo, companheiro, pai, marido ou esposa,chefe ou colega de trabalho.

Quanto à cultura e à humanidade em geral, assisti-remos a um reequilíbrio da ecologia planetária e talvezainda consigamos ultrapassar o perigo de extinção da bios-fera, incluindo o da própria humanidade. De qualquer for-ma, teremos de esperar a redução da violência e a expan-são da paz.

Todas essas espectativas estão condicionadas a um fa-tor: o aumento expressivo do número de mutantes e a dimi-nuição do número de estagnantes; em outras palavras, atransformação de grande parte dos estagnantes em mu-tantes. Há quem afirme que não há necessidade de trans-formar todos os estagnantes em mutantes. Bastaria que sechegasse ao que chamam de massa crítica para que o volu-me resultante contaminasse o resto. Os estudos de RupertSheldrake e da sua escola sobre a existência de camposmorfogenéticos simbolizados pela famosa história do cen-

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tésimo macaco*, levam a pensar assim. A aprendizagem obti-da por determinado número de seres, animais ou huma-nos, se transmitiria à distância por ressonância mórfica, qual-quer que seja ela, a outros seres desprovidos dessa apren-dizagem.

Aceitando-se ou não essa teoria fascinante da morfo-gênese, porque fundamentada em experiências concretas,temos de começar essa transformação quanto antes.

É essa possibilidade que proponho que examinemosjuntos no próximo e último capítulo.

Referência à história a seguir: numa praia, alguns macacos aprenderam adescascar batatas que se apresentavam sujas de areia. Depois de algumtempo, quando já eram cerca de cem macacos a utilizar o processo, emoutras ilhas os macacos também começaram a utilizá-lo, embora não tives-sem tido contato físico com os primeiros. (N. do A.)

*

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X

A grande transformação

“A emoção mais bela que podemos experienciaré a mística.

Ela é a propagadorade toda verdadeira arte e ciência.

Aquele para quem essa emoção é estranha [...]está, por assim dizer, como morto.”

ALBERT EINSTEIN

“Não se preocupe,meu sistema manteráa consciência do Ser.

Você pensará.Seu corpo será mais brilhante.

A mente, mais inteligente.Tudo em superdimensão.

O mutante é mais feliz,feliz porque na nova mutaçãoa felicidade é feita de metal.”

GILBERTO GIL

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Uma questão de métodos

A esta altura de nossas reflexões está claro e evidenteque o que a sociedade humana precisa fazer nestes próxi-mos tempos, para sair da cultura de guerra e violência etentar ainda salvar a vida neste planeta, é transformar amaior parte possível da população em mutante.

O mutante é a figura central, o modelo, o padrão, oproduto final desse processo de transformação. Definir comclareza esse modelo facilita muito a resposta às seguintes ques-tões: Agora que sabemos quem transformar (o estagnante)e em quem transformá-lo (no mutante), como efetuar essatransformação? Quais os métodos existentes atualmente, ouem fase de elaboração, que se mostram eficazes para essatarefa — missão, eu diria — tão importante e, por que nãodizer, capital? É o que vamos abordar neste capítulo, inspi-rados na classificação usada pela Unipaz, cujo objetivo é omesmo. De fato, desde 1988, a Unipaz prepara mutantes.

Iremos distinguir três pontos principais neste trabalho:a educação, a terapia e a pesquisa, definindo, a princípio,cada um desses termos em função de nosso objetivo.

A formação do mutante

Na Unipaz, considera-se que uma dessas três direçõesmostra-se suscetível de ser adequada a várias faixas etárias(infantil, adolescente, juvenil e adulta), a três áreas de atua-ção (individual, social e ambiental) e, no caso específicoda educação, a três níveis de complexidade (sensibilização,formação e pós-formação).

Embora a Unipaz tenha operado em todas estas dire-ções — faixas etárias, áreas de atuação e níveis de complexi-dade —, nossa experiência maior e contínua se situa, no

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âmbito das três direções, na faixa etária de adultos, na áreaindividual e apenas em dois dos três níveis de complexidade,a saber, o de sensibilização e o de formação. Daremos, pois,prioridade à explanação do que aprendemos neste campo,assim limitado, repito: a sensibilização e formação de indiví-duos adultos. É claro que, em seguida, iremos também foca-lizar alguns aspectos essenciais dos outros campos aqui expos-tos, nos quais já temos alguma experiência, embora menor.

Vamos ter de definir e distinguir o que entendemospor educação, terapia e pesquisa direcionadas aos adultos,no que se refere ao objeto deste livro, o mutante.

A educação visa a transformar estagnantes em mutan-tes, ou a aperfeiçoar e a facilitar a evolução do mutante emdireção ao despertar da plena consciência.

A terapia visa a desbloquear os obstáculos emocionaisou psíquicos, ou a desatar os nós do ego que impedem eentravam a educação do estagnante ou do mutante (tera-pia do ego), a dissolver crises espirituais próprias ao desper-tar ou ao desenvolvimento de mutantes, reconectando omutante à sua essência (terapia espiritual).

A pesquisa visa a verificar e a “medir” os efeitos da edu-cação e da terapia na transformação esperada.

A) EDUCAÇÃO

Exporemos agora alguns métodos conhecidos de sen-sibilização, de formação e de pós-formação da educação deadultos mutantes.

Nível de sensibilização

Como indica o título, nesse nível procura-se sensibili-zar mutantes em diferentes estágios evolutivos ou estag-

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nantes maduros para iniciar uma transformação. Sensibili-zar a quê? Na Unipaz, procuramos mostrar-lhes como o serhumano atualmente desenvolve desarmonia, violência, ten-sões e estresse no plano individual e como chega a destruira vida no planeta. Ele aprende sobre a gênese dessa des-truição, de acordo com a teoria fundamental da Unipaz.Depois lhe é revelado em que nível de seu ser ele podeencontrar a paz interior.

O método usado e criado na Unipaz chama-se A Artede Viver em Paz. Ele indica como ficar em paz consigo mes-mo, com os outros e com a natureza. Desperta-se, com isso,a ecologia interior, a ecologia social e a ecologia ambiental.Procura-se demonstrar a necessidade de despertar a cons-ciência de si mesmo, a consciência social e a consciênciaecológica, transitando para uma consciência ainda maior:a consciência holística ou universal.

RODA DA TRANSFORMAÇÃO

VIVEREM PAZ

NaturezaC

om o

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utros

Eco

logi

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cial

Con

sciê

ncia

Socia

l

Soci

ed

ade

Com a Natureza

Ecologia da Natureza

Consciência Am

biental

IndivíduoConsigo mesmo

Ecologia interiorConsciência pessoal

VISÃO HOLÍSTICA

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No nível individual, a pessoa aprende onde e comodespertar a paz. Inicia-se pela paz do corpo, mais especial-mente pelo relaxamento profundo. Passa-se depois para apaz do coração, quando se aprende a lidar com a raiva,com o apego, com o orgulho, com o ciúme e, também, adespertar a alegria, o amor, a compaixão e a imparcialida-de. Finaliza-se com a paz de espírito, graças à meditação.

O Seminário A Arte de Viver em Paz tem sido minis-trado no Brasil e em muitos países do mundo para gruposde pais, professores, profissionais de todos os tipos, inclusi-ve policiais e dentro das cadeias, sempre despertando sur-presa e entusiasmo. O manual com a teoria em que basea-mos esse seminário acaba de ver publicada sua segundaedição pela Unesco, de Paris, em francês e em inglês, masjá foi editado em seis línguas, inclusive em português.

A sensibilização promovida pelo seminário leva as pes-soas a quererem se submeter a uma formação mais profun-da. Muitos afirmam que ele significou um marco em suavida, em direção a uma mudança profunda na maneira dever o mundo.

O nível de formaçãoA Formação Holística de Base (FHB)

Desde 1989, estamos realizando na Unipaz uma For-mação Holística de Base, que se estendeu a uma dezenade campos avançados no Brasil e em Portugal. O modeloteórico é também a Roda da Transformação no caso espe-cífico da teoria fundamental da Unipaz.

Essa formação é ministrada aproximadamente em trêsanos e termina pela apresentação de uma obra-prima, talcomo o faziam e fazem até hoje os aprendizes de artesãosdo Movimento do Companheirismo, na França, originário

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dos construtores do Templo de Salomão e das igrejas me-dievais. A obra-prima deve ser a expressão de uma profun-da transformação interior. Por exemplo: um escultor apre-senta uma estátua; um médico, casos tratados por medici-na holística, convencional e não convencional; um educa-dor apresenta o projeto de realização de um congresso ho-lístico; etc. No primeiro ano, os aprendizes começam oucontinuam uma terapia e uma prática holística. No segun-do ano, além de prosseguirem em sua formação por meiode seminários e terapia, fazem vários estágios em centrosde retiro e de vivência provindos de várias orientações.

A transmissão é feita num sistema de seminários men-sais que acontecem aos fins de semana, ministrados ao lon-go dos três anos. A coluna central da FHB é um conjuntode oito seminários ou módulos interligados, que podemser aplicados separadamente em lugares onde inexiste aindaa FHB, sobretudo para a formação de facilitadores de AArte de Viver em Paz. O conjunto de seminários referen-tes a esse tema denomina-se A Arte de Viver a Vida.

A Arte de Viver a Vida

a) Breve histórico

Por volta de 1970, fui convidado pelo Departamentode Psicologia da Universidade de Minas Gerais (UFMG) aorganizar o curso de formação em psicologia transpessoal.Criei, então, um novo método de sensibilização aos diferen-tes estados de consciência, ao qual denominei cosmodrama.

Em 1986, ao retornar de um retiro com mestres tibe-tanos, acrescentei vários módulos ao método. Em 1990, jáocupando o cargo de reitor da Universidade Holística Inter-nacional de Brasília, Unipaz, criei o seminário intitulado AArte de Viver em Paz, que constituiu uma síntese dos traba-

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lhos anteriores. O programa atual, A Arte de Viver a Vida,foi estruturado em oito módulos ou seminários, tendo iní-cio com A Arte de Viver em Paz, como vimos anteriormente.

b) Finalidades

1. Descobrir o sentido da própria existência e a verdadei-ra natureza do espírito.

2. Levar os participantes a aprender a identificar os obstácu-los que nos impedem de viver o espaço de paz, amor,sabedoria e felicidade que existe em cada um de nós.

3. Prevenir e dissolver o estresse.

4. Desenvolver a inteligência emocional e aprender a apro-veitar as crises para a própria transformação.

5. Possibilitar o aperfeiçoamento de facilitadores do pri-meiro seminário, A Arte de Viver em Paz.

6. Constituir-se na espinha dorsal da formação holística debase da Unipaz.

c) A quem se destina

A todas as pessoas interessadas em evoluir nesse assun-to, mais particularmente a educadores, pais de família, ca-sais, dirigentes de empresas e organizações, diretores deconsciência e sacerdotes, psicólogos, juristas e profissionaisda área de saúde.

d) Processos e métodos

Os seminários têm uma metodologia própria e comum.Em primeiro lugar, o facilitador tenta chegar à mente dointeressado, explicando o que será feito, pois, como se sabe,se o intelecto não está convencido da utilidade do que sevai fazer, ele pode trabalhar contra isso e até bloqueá-lo.

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Explicações intelectuais precedem a vivência e, desta, vol-ta-se para a elaboração intelectual.

Esse ritmo é mantido até o último Seminário A Artede Viver a Vida. Por isso mesmo, este constitui um verda-deiro ensinamento ativo de como ler o livro da vida e vivê-la plenamente.

As vivências inspiram-se em métodos ocidentais deeducação e a terapia em métodos orientais, seguindo asrecomendações da Declaração de Veneza pronunciada pelaUnesco (1986).

Seria preferível seguir a seqüência dos seminários, mas,como eles constituem unidades relativamente autônomas,podem ser vivenciados separadamente.

e) Breve descrição de cada módulo

Módulo 1: A Arte de Viver em Paz

Este seminário introdutório foi criado e inspirado emgrande parte pelos módulos que o sucedem, constituindo-se numa visão global dos objetivos e processos de A Arte deViver a Vida. Objetiva também sensibilizar adultos em ge-ral que desejam encontrar, de modo vivencial, a paz consi-go mesmos (na dimensão do corpo, das emoções e da men-te); a paz com os outros (na economia, na sociedade e nacultura); e a paz com a natureza (nos planos da matéria,da vida e da informação). Constitui também uma introdu-ção vivencial geral e uma aplicação da teoria fundamentalda Unipaz. Este seminário foi objeto de um livro publicadopela Unesco em 1990, traduzido para seis línguas.

Módulo 2: A Arte de Viver Consciente

Este seminário possibilita que o praticante descubravários estados de consciência, além do estado de vigília ao

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qual ele está acostumado. Além disso, apercebe-se do fatode que, em cada estado de consciência, vivencia-se umarealidade diferente. Também enfoca o desejo do ser, usan-do, para isso, a simbologia da esfinge.

Módulo 3: A Arte de Viver em Plenitude

Este seminário representa uma grande oportunidadede revisão de vida, pois constitui um exame da maneira pelaqual cada um gasta sua energia na vida cotidiana, do levan-tar-se até o deitar-se, e de que nível do ser ele a extrai. Atra-vés do cultivo da presença na vida cotidiana, o participanteaprende a viver plenamente, escolhendo entre ser um au-tômato ou um ser consciente. O módulo enfatiza a arte deviver o trabalho, o dinheiro, o lazer, as refeições, entre ou-tras situações.

Módulo 4: A Arte de Viver em Harmonia

Este seminário destina-se especialmente às relações deamizade e entre o casal. Procura ajudar a resolver a grandequestão do descompasso evolutivo provocado pela evoluçãounilateral de um dos membros do par. Revela também comopodemos aproveitar a oportunidade de uma relação a doispara transformá-la em uma relação evolutiva. Trata-se dedesenvolver a arte de viver o verdadeiro amor e a empatia.

Módulo 5: A Arte de Viver o Conflito

Este seminário é uma continuação do precedente, nosentido de aproveitar as crises da existência como oportu-nidades de transformação. Oferece uma ocasião para apro-fundarem-se as questões relacionadas aos conflitos intra-pessoais, interpessoais, intergrupais, sociais e internacionais,procurando oferecer metodologias próprias para transcen-dê-las. Foi criado a partir de muitos anos de observação decertas comunidades e movimentos espirituais. Vivências e

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modelos de resolução de conflitos nos vários níveis darãoao participante bons instrumentos para começar a enfrentá-los através da empatia e do diálogo.

Módulo 6: A Arte de Viver a Natureza

Este seminário procura aprofundar a relação do serhumano com a natureza e com o meio ambiente, assimcomo a questão da dualidade sujeito/objeto e a relaçãoentre os dois. É o aprofundamento da teoria fundamentalda Unipaz, com enfoque ecológico.

Módulo 7: A Arte de Viver a Passagem

Inspirado no Livro dos mortos, dos tibetanos, este semi-nário aponta para as oportunidades que os intervalos exis-tentes antes, durante e depois da passagem representampara a realização da verdadeira natureza do espírito. Reve-la também o caráter de grande aventura que, tal como avida, essa passagem possui. Apoiando-se nas descobertasmais recentes da psicologia transpessoal e da parapsicolo-gia, demonstra de maneira insofismável que a morte é nãosomente uma ilusão, mas também uma grande oportuni-dade para a transcendência. Aprendendo a viver a morte,aprendendo a viver a vida...

Módulo 8: E A Vida Continua...

Este seminário visa preencher lacunas, esclarecer dú-vidas, aprofundar certos temas — ou mesmo resolver ques-tões pessoais — relativos aos sete primeiros seminários. In-teiramente centrado na turma, o programa se realiza emfunção de suas necessidades.

Os exemplos que acabamos de dar, um de sensibili-zação, os dois outros de formação, abrem perspectivas imen-

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sas nesse novo campo da educação dos mutantes adultos.Foi e ainda é um trabalho criativo e pioneiro no campo daeducação para a paz. Por isso mesmo, o leitor ainda não vaiencontrar na Unipaz os termos estagnante e mutante, por-que a sugestão de seu uso nasceu por ocasião deste livro.Somente a posteriori acordei para a evidência de que a po-pulação que procurava os métodos que desenvolvemos eraexatamente a que chamamos de mutante. E os inúmeroscidadãos que não entendem o que estamos fazendo, mes-mo quando limitamos nosso objetivo à educação para a paze para a não-violência, parecem-me ser justamente os es-tagnantes.

Agora está mais claro para mim que precisamos mon-tar estratégias para sensibilizar o estagnante à necessidadepremente de se tornar um mutante e para o método de seconseguir isso.

Como prometi, quero mostrar que a questão se afigu-ra de um modo um tanto diferente no que se refere à edu-cação de jovens e de crianças.

A educação do futuro mutanteA questão dos jovens e das crianças

No que diz respeito aos jovens, já que aparecem entreeles casos de estagnantes bem nítidos e de candidatos amutantes, parece-me que o enfoque tem que ser seme-lhante ao adotado com relação aos adultos. Lembremo-nos,porém, de que os jovens têm maior urgência, pois muitosdeles já estão em crise existencial e apresentam problemasespecíficos, tais como dependência financeira, revolta con-tra os pais, incerteza quanto a empregos futuros, tudo issomisturado a confusões e dúvidas quanto a posturas a ado-tar em matéria de sexo e amor. Muitos deles estão em crise

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por terem perdido a noção do sentido da existência. Porisso, abrimos uma formação holística para jovens, seguidade uma formação de jovens líderes, assim como um Pro-grama Taba (Trabalho Artesanal em Benefício do Aper-feiçoamento) para jovens carentes. Parece-me cedo paratirar qualquer conclusão.

A criança em idade pré-escolar apresenta perfil niti-damente diferente, pois não é nem estagnante nem mutan-te, a não ser que ela tenha um problema de atraso inte-lectual ou emocional, o que explicaria alguma estagnação,embora de outra ordem. Mas a nossa cultura de violência eas nossas normoses vão sendo transmitidas, moldando osvalores, opiniões, atitudes e comportamentos, resultandona formação de um futuro estagnante. Tudo indica que acriança mantém ainda desenvolvidas aquelas qualidadesparapsicológicas e transpessoais que o mutante procura des-pertar em si mesmo. Há controvérsias quanto à generaliza-ção desse princípio. Alguns, como Satya Sai Baba e JoséSilva, tendem a aceitar a idéia de que a maioria absoluta decrianças vive ainda numa outra dimensão. Outros, adeptosdo budismo tibetano, afirmam que isso depende do passa-do cármico da criança e reservam o estatuto de pequenobuda ao caso dos tulkus, os pequenos emanados de grandeslamas. Mesmo nesse caso, a criança reencontrada tem quereaprender tudo o que já sabia na outra existência, na qualfoi mestre, com apenas uma grande diferença: ela reapren-de tudo muito mais depressa, de tal forma que, já por voltade dez anos, está pronta para assumir a direção do monas-tério em que foi mestre em vida anterior.

Podemos admitir mesmo que haja uma variação enor-me dessas habilidades nas crianças, variabilidade cuja dis-tribuição obedeceria a certas leis estatísticas (Gauss ou Dal-ton). Explicando melhor, haveria casos raros extremos, com

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uma maioria situada na média. É uma tese que eu mesmodesenvolvi há muitos anos, num simpósio sobre superdo-tados, em que falei sobre a existência do que chamei desuperdotado PSI.

Qualquer que seja a postura adotada, a solução paradesenvolver mutantes mais que estagnantes será criar ou en-contrar métodos que permitam proteger e manter intatosaqueles aspectos parapsicológicos e transpessoais desejáveispara um mutante e, ao mesmo tempo, transmitir os conhe-cimentos próprios da modernidade e da pós-modernidade.Sai Baba, na Índia, tem desenvolvido um método educacio-nal que tem este objetivo: o de proteger a criança.

O Programa Casa do Sol, criado e desenvolvido porLídia Rebouças, tem ficado bastante atento à existência desuperdotados PSI. É uma das razões pelas quais esse edu-candário da Unipaz cuida de educar não somente as crian-ças, mas seus pais e professores. Se queremos futuros mu-tantes, seus próprios educadores têm de ser mutantes. Porisso, resolveu-se recentemente que todos os professores daCasa do Sol deverão passar pela formação holística de base.Enquanto isso, teremos de preparar projeto especial paraos pais carentes.

Em resumo, enquanto, no caso da criança, a educa-ção visa a preservar os seus dotes e virtualidades de mutante,no adulto se trata de despertar o ser do mutante para oSer (educação), ou desobstruir o caminho do ser para o Ser(terapia). É esse o próximo assunto.

B) OS ENFOQUES TERAPÊUTICOS

Acima, distinguimos duas grandes categorias de tera-pia. A primeira constitui o grupo de terapias do ego.

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As terapias do ego

Essas terapias procuram, antes de tudo, reforçar o egoquando está enfraquecido a tal ponto que a pessoa não temcontrole sobre o conflito entre o superego e o id, entre ospais introjetados dentro dela, que impedem as pulsões de semanifestarem ou, ao contrário, entre as pulsões desenfrea-das e um superego fraco acompanhado de um ego ausente.

Esse primeiro grupo de terapias é próprio do mundodos estagnantes e, muitas vezes, revela-se importante nasprimeiras fases evolutivas do mutante. São as terapias tradi-cionais, já bastante conhecidas pelos leitores. Basta citar aquia psicanálise de Freud e seus seguidores, a análise transa-cional de Erich Berne, a gestaltterapia de Fritz Pearl e opsicodrama de J. L. Moreno.

Quando bem-sucedidos, esses tratamentos propiciamàs pessoas maior equilíbrio, paz interior, segurança, menossentimento de culpa e, sobretudo, capacidade de adiar umprazer menor em nome de uma alegria maior. Nas rela-ções interpessoais, essas terapias, através da maior compreen-são de nós mesmos, permitem desenvolver a empatia, atolerância e a capacidade de evitar ou enfrentar e resolverconflitos de modo harmonioso e pacífico.

Várias décadas da sua aplicação têm evidenciado, aolado desses sucessos, certas limitações no que se refere àprocura pelos clientes de encontrar o verdadeiro sentidoda existência, de saber mais sobre a vida e sobre a morte,de encontrar uma saída de terapias intermináveis, de com-preender o lugar de cada ser humano no universo. Parale-lamente a todas essas manifestações, existe uma insatisfa-ção básica que nenhuma experiência de regressão edipia-na, oral ou anal, resolveu. Para responder a essas e a outrasdemandas, nasceram as terapias iniciáticas.

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Terapias iniciáticas

O termo terapia iniciática foi criado por Karlfried GrafDürckheim, conhecido terapeuta alemão, que desenvol-veu um processo terapêutico inspirado mais particular-mente em Jung, em lutas marciais japonesas e na medita-ção zen. Na Unipaz, dois discípulos seus, Jean-Yves Leloupe Vera Kon, transmitem a tradição de quem seja talvez oúnico mestre ocidental do século passado.

Escolhemos esse termo por ser ele mais apropriadopara agrupar terapias que visam transcender o ego e levarà Essência, à natureza do Espírito, ao Ser essencial, e pro-curam responder às demandas acima descritas. Todas elastêm realmente um caráter iniciático, pois transmitem umensinamento especial que lhes é comum: trata-se de reve-lar a natureza ilusória do ego e iniciar a dissolução da fan-tasia da separatividade, própria do estagnante.

As terapias do ego distinguem-se das terapias iniciáticasjustamente pelo fato de que as segundas dissolvem progres-sivamente aquilo que as primeiras costumam consolidar epreconizam que o que mais importa é o ego. Podemos tam-bém afirmar que, entre os terapeutas, uma distinção impor-tante e mesmo capital deve ser feita: os terapeutas do egosão, salvo algumas exceções, também estagnantes. Muitosdeles até ignoram as terapias iniciáticas. De outro lado, to-dos os terapeutas iniciáticos são necessariamente mutantes— trata-se de uma condição essencial para compreender oque eles próprios estão fazendo. O que faço ao estabeleceraqui essa distinção é constatar uma realidade, embora pen-se que todos os terapeutas do ego deveriam ser mutantestambém.

Resta-nos citar e descrever as mais importantes tera-pias iniciáticas atuais, com uma pequena ressalva: de fato,

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com exceção dos fundadores desses métodos e alguns deseus discípulos mais fiéis e ortodoxos, a maioria dos tera-peutas realiza sínteses pessoais de vários métodos. Por isso,costumo afirmar que não há terapias e, sim, terapeutas.

a) A terapia analítica de Carl Gustav Jung

Jung tem realmente servido de ponte intermediáriaentre as terapias do ego e as terapias iniciáticas, mais parti-cularmente entre as decorrentes das teorias freudianas, asquais inspiraram, além da psicanálise propriamente dita,muitas das terapias do ego. As ligações entre elas se confun-dem em grande parte com as discordâncias entre Freud eJung.

Freud descobriu o princípio energético a que cha-mou libido, ligado sobretudo ao prazer sexual, havendopossibilidade de sublimar essa energia.

Jung generalizou e estendeu o conceito a todos osníveis do ser, afirmando que a libido não é apenas de na-tureza sexual. Jung expandiu a descoberta do inconscien-te individual de Freud, estabelecendo o conceito de incons-ciente coletivo, no qual localizou outro conceito, o dos sím-bolos arquetípicos, que constituem um enorme enrique-cimento da simbologia freudiana. Além disso, Jung lidoucom as sincronicidades — o termo foi criado por ele —, eFreud rompeu praticamente com ele devido a isso. Comojá vimos, Jung teve várias experiências psíquicas e trans-pessoais, o que lhe forneceu uma base para lançar seu con-ceito de individuação, que consiste em descobrir a indivi-sibilidade entre interior e exterior. Eis a porta, aberta porele, para a saída da dualidade eu/mundo. Para isso, o egotem que se transformar em self individual, representanteinseparável do Self universal.

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b) A terapia holotrópica de Stanislav Grof

Stanislav Grof era um psiquiatra e psicanalista que vi-via e clinicava em Praga, em pleno regime comunista. Nes-se regime, o exercício da psicanálise era proibido; o LSD,no entanto estava não somente autorizado, mas tambémera vendido nas farmácias como medicamento contra aesquizofrenia. Stan Grof chegou a realizar e a gravar umastrês mil sessões com pacientes sob efeito do LSD. Essa pes-quisa sistemática mostrou que os estágios de evolução e deregressão descobertos por Freud eram reencontrados nes-sas sessões. Havia, porém, uma memória que ia muito alémdo estágio oral, havendo possibilidade de regredir e revivero nascimento, a vida intra-uterina, a fecundação, a vida pré-uterina, no nível da família, de vidas passadas, nos estágiosanimal, vegetal, mineral, molecular, subatômico e da va-cuidade luminosa. Grof confirmou também todas as des-crições de Jung já mencionadas aqui resumidamente.

Tais descobertas levaram Grof a montar um mapa daregressão que permite ao clínico diagnosticar em que nívelse encontra a vivência neurotizante ou psicotizante. Grof dábastante valor à influência das matrizes perinatais básicas,onde ele situa a origem da violência atual, entre outros sin-tomas.

Ao ter de emigrar para os Estados Unidos, ele encon-trou uma situação inversa. Lá, a psicanálise era autorizada,mas o LSD constava da lista das drogas proibidas. Como járelatamos, embora tenha recebido autorização especial dogoverno dos Estados Unidos para prosseguir em suas pes-quisas, ele preferiu, por uma questão prática, substituir oLSD por um método de hiperventilação, inspirado por Leo-nardo Orr, acompanhado de música adequada e de dese-nhos de mandalas. Chamou esse método de terapia holo-trópica.

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c) Emergência espiritual de Stanislav e Christina Grof

Stanislav e Christina Grof perceberam que muitas rea-ções e manifestações observadas durante a terapia holotró-pica eram idênticas às crises psicóticas clássicas. Daí nasceu àidéia de tratar as últimas como crises espirituais, dando-lheso mesmo acolhimento e interpretação regressiva da terapiaholotrópica. Muitos dos chamados “doentes mentais” volta-ram para casa “curados”. Hoje, existe no mundo inteiro umarede de centros para atendimento a crises espirituais.

d) O diário workshop de Ira Progroff

Ira Progroff, um seguidor de Jung, desenvolveu umengenhoso processo de autotransformação usando o velhosistema do diário íntimo bastante usado pelos adolescen-tes. O diário é subdividido em seções que se referem a di-ferentes partes do ser humano. Assim, além do diário debordo clássico, em que se anotam diariamente os princi-pais eventos ou sentimentos e pensamentos, há espaçosreservados para análises do período em que a pessoa seencontra. Redigem-se também diálogos imaginários com ocorpo, com os sonhos, com pessoas com as quais se está emconflito. Esses diálogos são feitos em estado de relaxamen-to profundo, o que leva a pessoa a entrar contato com asesferas inconscientes de seu ser. Um sistema de conscien-tização das interações das diferentes partes revela-se bas-tante enriquecedor, ainda mais quando é esclarecido emdiálogo com um sábio.

e) O sonho acordado de Desoille

Outro seguidor de Jung, o terapeuta francês Desoille,concebeu usar a expressão do imaginário dos símbolosarquetípicos e criou uma terapia que ele chamou de sonho

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acordado. O paciente, deitado no divã em profundo esta-do de relaxamento, recebe do terapeuta temas arquetí-picos como, por exemplo, estes: subir numa montanha;voar pelo espaço e encontrar um mestre, o velho sábio oua grande mãe; ou ainda mergulhar nas profundezas daterra e aprender a enfrentar demônios.

f) A psicossíntese de Roberto Assagioli

Reconhece-se a influência de Desoille na obra doterapeuta italiano Roberto Assagioli, também discípulode Jung. Assagioli montou um processo a que chamoupsicossíntese, em reação à extrema tendência analíticade grande parte das terapias da época. Na realidade,além de ter grande valor terapêutico em si, a psicossín-tese é também um modelo estratégico que se pode apli-car à maioria das outras terapias. Usam-se muitos pro-cessos de visualização, de expressão verbal, vocal ou cor-poral de sentimentos em conflito, identificam-se sub-personalidades contraditórias, para, através da imagina-ção, realizar a síntese simbólica dos opostos. Um dos as-pectos bastante eficientes da psicossíntese é que ela pro-cura levar a pessoa a preparar-se para colocar em práticaos resultados obtidos pela síntese.

g) A energética da essência de John Pierrakos

Discípulo e colaborador de Wilhelm Reich e de Ale-xander Lowen, os protagonistas da bioenergética, JohnPierrakos também adotou a idéia da existência de umaenergia única existente no ser humano e no universo, aqual Reich denominou orgone, e adotou o método de tra-balhar as couraças caracterológicas de Reich. Mas ele foialém, procurando desbloquear esses nós causados pela ten-

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são na couraça muscular para poder desvelar a essência daenergia, daí o nome de core energetic atribuído por ele àeterna realidade do Ser em cada um de nós. Ele realizouuma síntese entre o trabalho com as couraças musculares ecaracterológicas de Reich e o sistema dos centros energéti-cos, ou chacras, conceituados pela ioga. Ele foi tambémmuito influenciado pelas descobertas da sua mulher, EvaPierrakos.

h) O pathwork de Eva Pierrakos

Eva Pierrakos era uma mulher normal, relativamentefeliz, que gostava de danças e de esportes, quando se trans-formou em “canal”, recebendo mensagens e até conferên-cias que continham o ensinamento e a forma de transmis-são de um método completo para transformação. Ela trans-mitiu mais de duzentos e oitenta conferências, cujo con-junto foi intitulado de pathwork.

O “guia” de Eva ensina que todos temos um espaçodivino interior, cujo acesso nos foi vedado por duas cama-das de obstáculos do ego: o eu imaturo, que é a parte emo-cional infantil dentro de nós e que não cresceu; e o eu idea-lizado, que é o conjunto de máscaras que usamos para pa-recermos o oposto desse eu imaturo. Um exemplo disso éa máscara do “bonzinho” usada pelo raivoso. A primeira par-te do método consiste em cultivarmos nossa verdade inte-rior e reconhecermos as nossas máscaras, para aprender-mos a lidar com as emoções imaturas.

A segunda parte é uma terapia mais espiritual, poste-rior à terapia do ego. Consiste em constatarmos perma-nentemente o divino dentro de nós, embora continuandoa observar quanto fugimos de nos entregarmos ao amor e àcompaixão.

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i) As mãos de luz de Barbara Brennan

Barbara Brennan foi discípula de John Pierrakos e re-cebeu também muita influência de Eva Pierrakos. Forma-da em medicina, depois de trabalhar na Nasa, ela desen-volveu um método de cura que parte do princípio de queexiste, em torno do corpo físico, uma aura ou campo ener-gético. Esse campo registra todas as informações e experiên-cias sadias, normais ou patológicas do ser humano. Barbaraensina a ler esse campo diretamente e a agir sobre ele paraevitar ou curar doenças físicas. Sua metodologia assumecaráter de precisão tal que ela consegue que dez pessoasvejam o mesmo campo e cheguem ao mesmo diagnóstico.No Brasil, a dinâmica energética de Teda Bastos e IdaPusnick inspira-se em sua metodologia.

j) Os vinte e um dias de Jasmuheen

Já está no Brasil a australiana Jasmuheen, mundialmen-te conhecida por ter parado, desde 1995, de se alimentarno plano físico e viver exclusivamente da luz, da energialuminosa chamada no ioga de prana.

Também sob inspiração telepática e visual, ela desen-volveu uma metodologia de autocura, que é comunicadaem um seminário com duração de 21 dias, já ministradona Unipaz-Bahia.

O fator essencial de seu ensinamento não é parar decomer, mas reequilibrar as energias do corpo físico, emo-cional, mental e espiritual em relação ao campo cósmicode energia. Ela ensina como restabelecer o equilíbrio vibra-tório e a capacidade de ressonância. Parar de se alimentaré apenas um resultado dessa reforma completa do ser, quechega a divinizar as próprias células do corpo físico.

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l) A síntese transacional de Roberto Crema:uma ecologia do ser

No Brasil também, outro terapeuta, Roberto Crema,foi durante longos anos analista transacional e estudioso eseguidor de Jung, tornando-se um dos líderes do movimen-to de análise transacional. Movido por várias influências, asquais descreve no livro, já clássico e de título bastante suges-tivo, Análise transacional e mais além, ele resolve aos poucoscriar um novo enfoque terapêutico que define como umaterapia iniciática, no sentido de Graf Dürckheim, e que elepassa a chamar de síntese transacional. Trata-se de um mé-todo analítico-sintético, visando formar pontifices e restabele-cer a ecologia do Ser, dissolvendo o ego em direção ao Selfindividual e universal, em concordância com o conceito deJung. Ele auxilia o processo de individuação até mesmo commétodos transcomunicacionais. Ao longo dos últimos anostem colaborado com Jean-Yves Leloup na direção do ramobrasileiro e sul-americano do Colégio Internacional dosTerapeutas.

m) Colégio Internacional dos Terapeutas:um espaço de encontro de mutantes na Unipaz

Há cerca de vinte anos impressionei-me muito com afigura de Fílon de Alexandria e com sua descrição da EscolaJudaica dos Terapeutas que, entre outros, curavam com asmãos, sendo que a maior dessas escolas se encontrava noEgito. Ora, é ao Egito que Jesus foi levado pelos seus paispara fugir da perseguição do governador romano. E Je-sus curava com as mãos. Nasceu então a hipótese de queJesus teria sido iniciado pela escola dos terapeutas e deque ele era um rabi terapeuta. Trocando idéias com Jean-Yves Leloup, este confessou-me que tivera a mesma idéia e

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resolveu, posteriormente, não somente retraduzir para ofrancês, em edição comentada, o livro Os terapeutas, de Fílonde Alexandria, mas ainda criar na Unipaz-Brasil a primeiraunidade do Colégio Internacional dos Terapeutas (CIT).

O objetivo desse colégio é reavivar, entre os terapeutasmodernos, o espírito dos terapeutas aos quais se refere Fílonde Alexandria. Esse espírito, ao que tudo indica, está ain-da presente na linha hesicasta do cristianismo. Seus mem-bros são terapeutas de várias linhas, especialmente as queacabamos de descrever, que assumem compromissos éti-cos e profissionais bastante precisos. O CIT é, assim, umespaço de estudo e de encontro para os seus membros.

Há muitas questões levantadas pela existência, atual-mente, das diferentes terapias aqui enunciadas. É de seesperar que, dos encontros do CIT, surjam pesquisas quepermitam esclarecer as semelhanças e as diferenças entreas terapias, assim como a eventual necessidade de juntaralgumas para torná-las mais eficazes. Outro aspecto a anali-sar é a relação entre as terapias e as metodologias das tradi-ções espirituais propriamente ditas.

Isso nos leva ao último item deste capítulo: a pesquisa.

C) A PESQUISA SOBRE A VALIDADE DOS MÉTODOS

Agora que definimos melhor o que deveria ser, deagora em diante, o objeto da educação e das terapias, istoé, o mutante, serão necessárias muitas pesquisas para veri-ficar a eficiência dos métodos adotados.

Na Unipaz, estamos aplicando sistematicamente umquestionário de opinião dos participantes dos seminários AArte de Viver em Paz já há muitos anos. Creio que está nahora de apurarmos os dados para tirarmos conclusões im-portantes.

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Venho observando uma tendência dos meios holísticosa desprezar a pesquisa, pois as pessoas consideram que onovo paradigma rejeita toda espécie de pesquisa quantita-tiva, limitando-se ao aspecto qualitativo. Isso constituiria umaregressão ao período pré-científico. Por isso, em todas asminhas obras sobre abordagem holística, insisto na necessi-dade da pesquisa tanto qualitativa como quantitativa.

Foi o que fizeram Izabel Zago e Telma Spagnolo numapesquisa da Unipaz sobre a Formação Holística de Base(FHB). Embora as autoras não tenham ainda assimilado oconceito de mutante específico deste livro, elas fixaramum objetivo estreitamente ligado ao aspecto essencial doque faz de um ser humano um mutante, que é sua transfor-mação direcionada para o Ser. Como elas mesmas decla-ram, entre outras afirmações: “A pesquisa investigou quan-to essas pessoas foram sensibilizadas, quanto realmente têmcuidado do Ser e o que conseguiram de concreto ou abs-trato neste processo.”

A pesquisa é bastante ampla, abrange questões colo-cadas a 422 pessoas vindas de todos os pontos do país, alémde uma maioria do Distrito Federal. Dentre essas, 112 res-ponderam a um questionário com 28 questões.

Podemos traçar o perfil do tipo de mutante que pro-cura a FHB. Ele tem em média 42,5 anos, a grande maioriase situando entre 31 e 50 anos; 59% são casados; 88% têmcurso superior, quase 60% destes em ciências humanas ousociais, mas há uma diversidade bastante grande de profis-sionais. A renda familiar oscila entre a de classe média e ade classe alta, o que levanta a questão a respeito de umaprovável seleção de mutantes de elite econômica, já que aFHB é paga.

Por seus objetivos, pudemos verificar que os partici-pantes da FHB são realmente mutantes, pois praticamen-

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OBJETIVOS

Buscar o crescimento pessoal como um todo

Buscar o desenvolvimento da espiritualidade

Buscar a paz interior

Ampliar o conhecimento relativo à visão holística

Ampliar a visão de mundo

Buscar maior equilíbrio emocional

Capacitar-se para trabalhar pela paz

Mudar o estilo de vida

Melhorar o relacionamento interpessoal

Desenvolver a consciência ecológica

Aprender a manter um bom estado de saúde física

Saber lidar com o estresse

Participar de grupo

Aprimorar as habilidades profissionais

Adquirir ferramentas para resolver problemas

Desenvolver a criatividade e o lado artístico

Outros objetivos

Otimizar a atenção, a memorização e a assimilação

%

73,2

44,6

43,9

40,2

34,8

26,8

21,4

16,0

13,4

9,8

8,9

8,0

7,1

7,1

6,3

5,4

2,7

0,9

te todos os objetivos que citaram relacionam-se a seu pro-cesso de transformação. Reproduzimos aqui a tabela resul-tante da pesquisa realizada por Izabel Zago e TelmaSpagnolo.

OBJETIVOS PRINCIPAIS AO INICIAR A FHB

As pesquisadoras procuraram, então, investigar a opi-nião dos aprendizes da FHB quanto aos objetivos alcança-dos. O quadro a seguir revela as proporções desse alcance.

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0,9%

22,3%

34,8%

42,0%

Alcançadoplenamente

Não alcançado

Alcançado

Alcançadoparcialmente

Como podemos constatar, a maioria absoluta alcançouseus objetivos.

É bastante interessante ler o que cada um diz a respei-to. Eis uma lista de frases pronunciadas por participantesdos dez primeiros grupos, o de objetivos alcançados plena-mente e o de objetivos simplesmente alcançados.

OBJETIVOS ALCANÇADOS

Muitos consideraram os objetivos alcançados porque,além de já os terem alcançado, ainda continuam procu-rando alcançá-los, isto é, colocam o seu desenvolvimentocomo um processo, indicando que, após a sensibilização daFHB não há retorno nem estagnação:

“A minha experiência na Unipaz foi positiva, pois aoportunidade de grandes encontros com mestres especiaistocou minha alma e minha mente, fazendo com que a mi-nha visão das pessoas e do mundo se ampliasse, trazendomaior consciência humana e espiritual.”

“Ainda falta uma área da minha vida a ser atingida:uma situação financeira mais equilibrada.”

ALCANCE DOS OBJETIVOS

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“Consegui crescer interiormente, amadureci bastante.”

“Consegui sair sem traumas do sistema que se caracte-riza por trabalhar/produzir/consumir; vivo mais tranqüilo,sem pressões e urgências.”

“Estou no caminho do encontro pessoal e coletivo parame tornar a cada dia um ser humano melhor.”

“Eu estava aberta para mudanças.”

“Sinto-me uma pessoa mais equilibrada, mais centradae mais esclarecida; mais sensível aos outros ‘seres’.”

“Meu estilo de vida mudou na medida do possível, pois,para que isso acontecesse plenamente, não bastaria eu mu-dar... mas o mundo, como mudança de paradigma.”

“O processo de desenvolvimento é contínuo. A FHB ser-viu para despertar o que já era latente, e esse despertar vaimostrando novos rumos.”

“Passei a admitir as diferenças entre as pessoas; hojeadmito e assimilo e, com isso, vivo bem melhor.”

“Sinto-me vendo, percebendo e avaliando de maneiradiferente a vida, as pessoas e o relacionamento humano.”

“Tomei consciência do meu Ser, ou seja, do Ser que sou.”

“Sinto-me dona deste mundo, porque a cada dia sinto-me mais responsável por aquilo que me cabe.”

OBJETIVOS ALCANÇADOS PARCIALMENTE

Além dos motivos ou problemas pessoais, também ébastante enfatizada a característica de continuidade do pro-cesso de transformação, bem como a necessidade de rea-limentação do processo, de reaprimoramento, de manu-tenção da disciplina no caminho da busca interior. A frase“a plenitude está na busca” resume bem essa idéia.

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No que tange mais especificamente às poucas críticassobre a FHB, ressalta-se a menção sobre a falta de aprofun-damento dos assuntos nos seminários.

Como alguns colocaram, o resultado parcial é, na ver-dade, integrado a outros processos paralelos, não sendoatribuído o crescimento apenas à FHB. O mérito do cresci-mento é pessoal, mas fica patente o papel de agente dodespertar efetuado pela FHB:

“Ainda estou em processo, fazendo novos cursos parao meu aprimoramento, mas já estou atuando como agenteda paz.”

“Ainda não coloquei em prática muita coisa que viven-ciamos na Unipaz. Não é fácil mudar um comportamentoe modo de vida muito antigos.”

“Descobri que a plenitude está na busca.”

“[...] Dificuldade de aplicação dos ensinamentos teó-ricos dentro do ambiente holístico.”

“Em momentos críticos, ainda não consigo me man-ter calma.”

“Essas mudanças ocorrem de forma lenta e gradual edependem de muita disciplina.”

“Faltou tempo e maior empenho (não terminou a for-mação).”

“Não cheguei a dar continuidade; achei que pagáva-mos muito e víamos pouco retorno. Tudo sai muito, muitocaro para nós, estudantes sem renda, que dependemos debolsa da universidade.”

“Não existe um ponto do desenvolvimento em que sepossa afirmar: ‘Cheguei’; novas dimensões intelectuais, afe-tivas, novos encontros e desencontros impõem constantereaprimoramento.”

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“O processo ainda é contínuo, e até vocês colocam oeterno (ex) aprendiz.”

“Os seminários são muito curtos, não se aprofundamem nenhum assunto. Se o aprendiz quiser, vai ter que estu-dar sozinho e sozinho continuar sua busca.”

“Este foi o início da caminhada, o despertar. E hoje es-tou segura de que esse caminhar não se esgota aí, é eterno.”

As pesquisadoras procuraram aprofundar-se mais naquestão típica do mutante, a sua transformação interior. Eiso resumo dos resultados obtidos:

DISTRIBUIÇÃO DOS ASPECTOS DAS MANIFESTAÇÕESDE TRANSFORMAÇÃO INTERIOR

ASPECTOS

Emocional

Espiritual

Mental

Profissional

Familiar

Físico

Ambiental (ecológico)

Social

Religioso

Artístico

Econômico

Lazer

Financeiro

Esportivo

Outros

%

70,5

68,8

58,0

58,9

56,3

52,7

51,8

50,9

42,9

33,9

30,4

30,4

27,7

23,2

12,5

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Uma análise qualitativa bastante minuciosa segue oaspecto quantitativo. Enumeramos aqui um breve relatodos principais aspectos levantados, nos quais se encontramincontáveis expressões e testemunhos espontâneos e de-poimentos sobre mudança e transformação:

. Ecologia ambiental: consciência ecológica, interação coma natureza, preservação e respeito ambiental.

. Ecologia social: cuidar dos outros, maior aceitação dooutro, compreensão, melhor relacionamento interpes-soal, harmonia, sociabilização e até prosperidade eco-nômico-financeira, provocada pela harmonização geral.

. Ecologia pessoal: concentração, conscientização, aten-ção, lucidez, clareza, ampliação de conhecimento, tole-rância, paciência, tranqüilidade, desapego, auto-estima,abertura, busca do transcendental, cura, cuidado consi-go mesmo, equilíbrio, integração.

As pesquisadoras ainda estenderam a investigação paraa área de gestão de vida, assim como para a área profissio-nal, e verificaram também uma influência bem expressivado seminário em ambas. Encontramos também dados im-portantes sobre os métodos de autotransformação usados.

Um dado bastante importante, que caracteriza o mu-tante, foi enfatizado: a aplicação em outras pessoas das téc-nicas que ele aprendeu — 87% dos aprendizes atendemgenerosamente aos outros.

O relato de mais de cem páginas seguiu o modelo dateoria fundamental da Unipaz e termina com inúmerassugestões pedagógicas, administrativas, ambientais, merca-dológicas e outras, as quais estão sendo examinadas atual-mente por vários setores da Unipaz. Em suas conclusões, as

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autoras insistem na necessidade de ampliar a ação da FHBno que se refere à área ambiental.

Quanto ao nosso enfoque da transformação do estag-nante em mutante, o relato nos mostra que métodos deeducação de adultos como a FHB atendem plenamente aosobjetivos traçados. Eles serão ainda mais proveitosos quandofocalizarem o mutante como alvo da transformação.

Só nos resta agora tecer algumas considerações finaissobre o mutante.

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Conclusão

Um livro cheio de surpresas e descobertas

“[...] não se meta a exigir do poetaque determina o conteúdo em sua lata.

Na lata do poeta tudo-nada cabe,pois ao poeta cabe fazer

com que na latavenha caber o incabível.”

JEANNE GUESNÉ , GILBERTO GIL

Quando termino um livro, encontro-me diante de duassituações possíveis: ou eu o escrevi segundo um planejamentofeito antes do início, ou não fiz plano nenhum e o esboçosurgiu à medida que escrevia o livro. No primeiro caso, seide antemão o que o livro irá conter. No segundo, eu mesmonão sei o que vou contar, ou, quando muito, tenho umaidéia geral e algumas específicas.

No primeiro caso, sinto uma certa monotonia ao es-crever o livro, como se eu estivesse fazendo um dever de

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casa para o meu professor de curso primário ou secundá-rio. No segundo, sinto-me solto, livre por estar criando efeliz. Tenho até a sensação de assistir a um filme cujo fimestou ansioso para desvendar.

A presente obra se inscreve na segunda categoria. Foiuma verdadeira aventura! Quantas vezes eu dizia a algumamigo que me perguntava como andava o livro: “Estou doi-do para saber como continua!”

Agora, estou muito curioso para saber como vai ser estefinal. É claro que um livro bem-planejado é mais seguro quan-to à sua consistência e coerência interna. O segundo tipotem o sabor da espontaneidade e, às vezes, da surpresa. Foi,aliás, o caso do presente livro — ao final da redação do capí-tulo sobre as coincidências significativas, ocorreram váriosfenômenos de sincronicidade como numa avalanche, o que,a meu ver, significava que eu estava seguindo o caminhocerto e interpretando corretamente as experiências relata-das. Tratava-se até de uma demonstração impressionante dainfluência da abertura do espírito na facilitação desse fenô-meno. Eu estava plenamente aberto à inspiração, a qual es-tou ciente de que não me pertence! Minha criatividade fa-voreceu a emergência de coincidências significativas. Os anjostinham entrado no meu canal no momento em que me re-feri à sua influência. Com certeza, esse é um dos pontosaltos — senão o mais alto — do livro. Faço com que o autorparticipe daquilo a que antigamente se denominaria umverdadeiro milagre.

Outro ponto alto foi um “heureca”, um insight, revela-ção ou descoberta de uma idéia que já estava implícitanuma frase no início do livro, mas de cuja importância eunão me havia dado conta. Descobri que realmente o mutan-te era, ou deverá ser, a figura central, o modelo, o preciosoobjeto da educação do futuro, a começar pela educação

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para a paz, e disso estou convencido. Essa verdadeira toma-da de consciência aconteceu ao observar, no quadro com-parativo, os dois personagens: o estagnante e o mutante.

A primeira evidência que me ocorreu foi que, até ago-ra, a educação pela paz — e aí me incluo — tem estabele-cido finalidades e objetivos bastante empolgantes, tais comoa nova consciência, a não-violência, a ecologia pessoal, so-cial e ambiental. Mas, mesmo inseridos em programas deseminários e de cursos, essas finalidades ficavam um tantovagas, embora apresentassem uma certa eficácia. Faltavaconcretizar o alvo dessa educação, definir que tipo de pes-soa se queria produzir. Creio ser esse um problema da edu-cação em geral no mundo: definem-se programas, mas nãose definem pessoas.

Em segundo lugar, ficou evidente que a missão daeducação, no futuro, será transformar o estagnante em mu-tante. Isso significa tirar os estagnantes adultos da sua letar-gia e acordar os bilhões de entorpecidos que constituem agrande maioria do mundo atual, tanto do Oriente comodo Ocidente. Isso levanta também um outro aspecto: o daeducação da criança e do adolescente de amanhã, que con-sistirá em evitar que esses educandos adormeçam e contri-buam para aumentar o peso morto que constituem as le-giões formadas por seus pais.

Ao realizar isso, a figura do mutante será ainda capazde salvar a vida deste planeta. Daí o título conferido aoúltimo capítulo: “A grande transformação”.

É claro que uma operação humana dessa envergadu-ra exigirá estratégias lúcidas por parte das autoridades edu-cacionais e terapêuticas. Isso levanta questões teórico-prá-ticas que nem tivemos tempo de abordar aqui, mas que meaparecem à medida que reflito a esse respeito.

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Uma das questões é como a metodologia educacio-nal poderá, e se poderá, encaixar-se no sistema educa-cional público, ou se ela constitui um sistema completa-mente à parte e completo por si. Temos que nos lembrarde que o mutante que descrevemos tem atualmente umaformação acadêmica idêntica à do estagnante. A Casa doSol da Unipaz tem ministrado uma educação que visa àformação do mutante, segundo os parâmetros e exigên-cias oficiais. Deixo a questão aberta.

Outra questão levantada é a que se refere à dicotomiaadotada entre metodologias educacionais e terapêuticas.Quais, em relação às novas técnicas, as semelhanças e dife-renças entre educação e terapia? A terapia, ao tratar e cu-rar, não estará fazendo a mesma coisa que a educação aomodelar ou transformar? E a educação, ao adaptar, modi-ficar, reorientar, não estará tratando e curando, sobretudoquando está presente o amor, como é o nosso caso?

Também seria interessante indagar como se articula-riam na prática, se for o caso, as terapias aqui citadas e osensinamentos orientais tradicionais — como a ioga, o taichi, o aikido, a acupuntura, entre outros — e os ocidentais— como a teosofia, a antroposofia, Amorc, a logosofia eoutros. São questões como essas que a Unipaz e seus cola-boradores terão de enfrentar, a fim de evoluir dentro doperpétuo movimento da vida.

E com essas considerações termino esta conclusão quepensei apresentar sob a forma de um resumo bem-feito eclássico deste livro. Acabei por dar continuidade a esta aven-tura criativa e surpreendente. Nunca pensei que a conclu-são fosse assim tão... Bem, é melhor acabar aqui.

Gostaria de terminar com uma sessão viva de pergun-tas e respostas com você, leitor, de coração a coração, como

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faço, quando é possível, depois das minhas palestras. Massó posso lhe dizer que, se você se reconheceu como mutanteao ler este livro, espero que ele tenha confirmado muitasde suas observações e experiências. Por outro lado, se estelivro despertou em você o desejo de ser mutante, só possolhe dizer: “Mãos, mente e coração à obra!”

E eu ficarei com a imensa alegria da missão cumprida...

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