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1 Os Pilares da Vida da Igreja Jamê Nobre

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Os Pilares

da Vida da

Igreja

Jamê Nobre

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INTRODUÇÃO

...louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o

Senhor os que iam sendo salvos. (At 2.47)

Este verso é apenas uma consequência, um efeito e precisamos entender quais são

as suas causas. Vemos neste texto que três coisas aconteciam na vida daquela igreja

do livro de Atos:

1) O povo louvava a Deus.

Nós sabemos que louvor é diferente de cantoria; tem gente que louva e outros

que cantam; gente que dá show e outros que adoram. Hoje encontramos, de maneira

geral, muita cantoria no meio das igrejas, mas que agrada somente aos corações que

cantam e não ao coração de Deus.

O louvor é a manifestação de duas coisas básicas: Primeiro, vida manifesta de

Deus nas pessoas. Segundo, uma profunda gratidão ao Senhor. Eu sonho com o

tempo em que os nossos dirigentes de louvor não precisarão “tocar manivela” para

fazer o povo cantar; sonho com o tempo em que precisaremos fazer o povo parar de

adorar porque precisamos trazer uma palavra. Não vamos cantar porque alguém nos

manda, mas como uma expressão da manifestação da vida de Cristo em nós, de uma

profunda gratidão por aquilo que Deus fez nas nossas vidas.

2) A igreja caiu na graça (ou simpatia) do povo.

Aquela não era uma igreja que se esmerava, que se esforçava para que o povo

gostasse dela. Inclusive, lemos que as pessoas não se ousavam juntar-se à igreja,

porque tinha medo dela devido aos muitos sinais de Deus. Um dos sinais, inclusive,

era a morte. É que não pensamos na morte como um dos sinais de Deus. Quando um

casal (Ananias e Safira) resolveu fazer uma coisa com aparência de outra houve um

milagre – eles morreram! Isso porque mentiram ao Espírito Santo, que era o pastor

daquela igreja (At 5.3). Havia sinais na igreja, sinais no meio daquele povo. Ora, um

povo que olha para a igreja e vê que não há mentiras (porque quem mente morre),

não vai querer se junta a ela. Eu penso que se esses sinais voltassem a acontecer

teríamos grandes lucros montando uma funerária. Afinal, esse é um dos sinais, pois

mostra a presença de Deus no lugar e que Ele não aceita o pecado no meio do povo.

A igreja não pode conviver com o pecado. Então, quando o texto diz que a

igreja caia na simpatia do povo, não significa que ela tinha posições políticas para se

tornar agradável, mas ela infundia temor, respeito às pessoas ao seu redor. O povo

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respeitava, mas não se juntava. Assim, eu pergunto: A Igreja hoje é simpática ao

mundo? Ou o mundo a teme? Eu fico com vergonha de tantas piadas que existem

usando a igreja e pastores como tema. E os pastores têm chegado a tal ponto de

descrédito que poucos ainda conseguem fazer compras a crédito. Hoje a igreja não é

respeitada, mas isso não é culpa do mundo e, sim, culpa nossa, pois não nos damos

ao respeito, não temos uma vida reta e plena como Deus quer. Ainda entramos em

falcatruas e em corrupções; cortamos filas em bancos e no comércio; usamos pessoas

que trabalham em repartições públicas para pedirmos favores pessoais; passamos

por semáforos vermelhos; jogamos papeis no chão; não respeitamos a natureza etc.

Tudo isso é corrupção.

A Igreja precisa passar por um avivamento, mas no sentido da manifestação

da vida de Cristo em nós em todos os lugares e não somente nas reuniões. É isso que

eu desejo, sonho e creio que Deus quer, e é por isso que aquela igreja de Atos tinha

o respeito pelas pessoas.

3) Deus acrescentava dia-a-dia à igreja os que iam sendo salvos.

Tenho certeza de que todos nós gostaríamos que isso acontecesse em nosso

meio, que todos os dias Deus trouxesse gente nova, mas, para isso, as demais

condições devem sem cumpridas.

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CAPÍTULO 1

O AMBIENTE DA IGREJA

O Cumprimento de uma Promessa

Atos 2.47 é, também, o cumprimento de uma promessa e não apenas o resultado das

condições que vimos acima; é a promessa que está em Isaías 2.3:

Irão muitos povos, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de

Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de

Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor.

Eu não entendo que esse texto está falando de Sião, em Israel, ou de uma

igreja em Jerusalém. Esse Sião e essa Jerusalém referem-se a nós – a Igreja, a

Jerusalém de Deus. Deus está dizendo que as pessoas virão a nós, nos lugares onde

nós estamos, para ouvir as palavras do Senhor. O texto refere-se a uma promessa de

que as nações virão para junto de Deus na Igreja, e Atos 2.47 é o começo do

cumprimento dessa promessa quando Ele acrescenta, dia a dia, os que iam sendo

salvos. Isso é obra do Espírito Santo. Nosso vizinho ou colega de trabalho irá nos

pedir: “Me ensine o que Deus pensa, me fale o que Deus quer!” As nações virão

buscar conselhos!

Você já recebeu uma promessa de Deus em sua vida que nunca se cumpriu?

Provavelmente, não. Mas será que por isso Deus é menor? Não! No entanto, todas

as promessas Dele são acompanhadas de pelo menos uma condição. Eu desafio

qualquer pessoa a me mostrar uma só promessa nas Escrituras que não tenha uma

condição. Toda promessa precisa de um ambiente para se cumprir. Por exemplo,

Salmos 23.1 diz: O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Qual é a condição para a

promessa de que nada me faltará? Ser ovelha do Senhor!

A promessa de Isaías 2 necessita de um ambiente, de um “ninho”. A Palavra

diz que Jesus veio na plenitude dos tempos, ou seja, as coisas se alinharam, se

organizaram para dar condições de Jesus chegar. O império romano dominava as

nações, criou estradas em todos os lugares, a língua grega era a oficial, tudo isso

facilitando as comunicações. É por isso que existe um ditado de que “todos os

caminhos levam a Roma”, porque isso era verdade. Assim, Deus deixou esse império

crescer, criar caminhos para que os missionários pudessem ir a todos os lugares da

Terra. Foi nesse tempo que Jesus Cristo veio, pois Deus sempre prepara o ambiente

para que Suas promessas se cumpram.

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Alguém pode dizer: “Mas Deus, o Senhor não cumpriu isso comigo!” E Ele

responde: “Eu quero cumprir, mas você precisa criar o ambiente, cumprir a condição”.

Observe a condição e a promessa colocadas por Deus no texto de 2 Crônicas 7.14:

...e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha

face, e se desviar dos seus maus caminhos, (condições) então eu ouvirei do céu, e

perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra (promessa).

Desta forma, posso afirmar que Atos 2.47 é consequência e não causa.

Promessa sem condição é astrologia, é horóscopo de crente. Não podemos cobrar

algo de Deus sem antes cumprirmos as condições, prepararmos o ambiente para que

as promessas se cumpram.

O Ambiente da Igreja

O que acontecia na igreja de Atos para que acontecessem aqueles resultados?

Qual era o ambiente que lá existia?

...e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas

orações. (At 2.47)

A primeira palavra que fala de uma condição para a promessa se cumprir é

perseverança. Eu não conheci, em toda minha história de vida, um povo igual ao de

nossa época atual, tão sem perseverança. Quantas coisas prometemos no começo

do ano e no final de janeiro já esquecemos? Como disse alguém, somos um povo de

muita iniciativa e pouca ‘acabativa’. Gostamos de começar muitas coisas, muitos

projetos, mas não os levamos até o fim. Essa é uma debilidade da igreja, pois

frequentemente iniciamos alguma coisa e não permanecemos nela até que se finalize.

Eu sempre falo aos irmãos que andam comigo: “Não faça muitos projetos, faça

só um por vez e termine cada um deles”. Em João 17.4, Jesus diz ao Pai: Eu te

glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer. Então, se queremos

glorificar a Deus, nós temos de terminar aquilo que Ele nos manda fazer. Não apenas

fazer, mas fazer bem feito, com diligência, até o fim. Isso implica em não parar no

meio ou não fazer promessas “mirabolantes”, mas acostumarmos a cumprir poucas

coisas.

Um texto que conhecemos muito bem é o de Lucas 10, quando Jesus está na

casa de seus três amigos (Lázaro, Marta e Maria). Marta cobrou de Jesus (e não de

Maria) uma atitude em relação a Maria – isso revela que Jesus era “da casa”, pois,

caso contrário, Marta a chamaria à parte para conversar.

Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse:

Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois,

que me ajude. (Lc 10.40)

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Outra versão diz que Marta andava ansiosa por causa de muitos trabalhos, e Jesus

lhe responde:

Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto poucas são

necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será

tirada. (Lc 10.41,42)

Em outra versão: “poucas coisas interessam, e uma só basta”. Esse texto fez

uma revolução no meu coração, pois eu comecei a procurar quais são as poucas

coisas que importam na minha vida e qual é a única que basta – e quero ficar nesta.

Eu sou uma pessoa limitada (acho que todos somos), então, não posso me

dedicar a muitas coisas. Existe hoje um fenômeno conhecido como “Síndrome do

Pensamento Acelerado – SPA”. Muitas pessoas se queixam de esquecimento e

tomam remédios para a memória. Porém, o problema não é a memória que está fraca,

mas o pensamento que vive muito acelerado. Pensa em muitas coisas ao mesmo

tempo e não fixa em nada. Não é um problema de remédio, mas de foco. Não estou

falando contra médicos ou remédios, mas que, nesse caso, precisamos voltar a ter

foco.

Em 1984 eu comprei o meu primeiro computador, um Apple, 8 MHz de

velocidade. Uma máquina! As pessoas iam à minha casa para ver aquele aparelho

fantástico! Depois comprei um XT de 12 MHz. Que evolução! Depois comprei um AT,

depois um PENTIUN... e fui subindo. Então saí do Windows e hoje eu tenho o

Notebook mais avançado da Apple. E às vezes acho que ele é lento demais! O que

aconteceu? Nós fomos nos moldando às coisas desta vida! Colocamos o cartão no

caixa eletrônico, digitamos a senha e, se demora mais de 10 segundos, reclamamos

que a máquina é lerda. É que não nos lembramos de quando tínhamos de ficar uma

hora na fila do Banco.

Infelizmente, transportamos este tipo de coisas para o nosso relacionamento

com Deus. Nos ajoelhamos, fazemos uma oração, digitamos a senha: “Em nome de

Jesus!” – e queremos que ele responda rápido! Ora, relacionamentos superficiais não

são característicos do Senhor. Ele não Se satisfaz com o “ficar”, mas quer “casar”,

quer um relacionamento duradouro, permanente, sem pressa conosco. Quando

transformamos nossa vida espiritual nessas coisas aceleradas, sem fim, permanência

ou insistência deixamos de receber o que Deus tem para nós.

No evangelho de Lucas, Jesus conta uma parábola sobre a necessidade e

importância da perseverança na oração:

Contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer.

(...) E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite,

ainda que tardio para com eles? (Lc 18.1)

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Deus, embora pareça tardio, responde depressa, porque Ele tem o tempo certo

de amadurecimento – de nós e de nossas orações. Às vezes não estamos

amadurecidos e pedimos o que não devemos. Vamos falar sobre isso mais à frente.

Precisamos, assim, aprender a ter perseverança, insistência em Deus. Não

estou dizendo, entretanto, que pela insistência convencemos Deus a fazer algo que

Ele não quer fazer. Ele não é como muitos pais que cedem aos seus filhos quando

esses insistem em querer algo, que pedem sempre as mesmas coisas variando os

tons e cujos pais acabam dizendo: “Tá bom, filho!” Não pense que Deus vai mudar de

opinião. Aliás, infeliz é o homem a quem Ele responde todo desejo, pois nós não

sabemos orar como convém. Às vezes pedimos coisas que serão verdadeiros

desastres lá na frente.

Eu tenho aprendido que precisamos festejar mais o “não” do que o “sim” de

Deus; isso porque o “sim” pode ser uma concessão, mas o “não” sempre será

proteção. Quando Deus disser “não” faça festa, porque Ele o livrou de alguma coisa.

Mas, quando Ele disser “sim”, cuidado, pois pode ser por insistência sua. Em Números

11, o povo reclamou tanto do maná que Deus lhes enviou codornizes para comer, mas

a consequência foi terrível:

Quando a carne estava entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, se acendeu a

ira do Senhor contra o povo, e feriu o Senhor o povo com uma praga mui grande (Nm

11.33).

Até aquele dia ninguém tinha morrido de fome, mas, quando as codornizes

foram derramadas por Deus, muitos morreram de tanto comer. Deus deu aquilo que

o povo tanto insistiu, mas este arcou com as consequências. Então, quando você

insistir com Deus, dê-Lhe a liberdade de dizer “não” e, se Ele disser “não”, faça um

culto de ações de graças, pois Deus está lhe protegendo de alguma coisa. Você

precisa confiar na bondade, na intenção do Senhor.

Moisés, durante 39 anos e 364 dias, foi fiel sobre a Casa de Deus. Mas teve

um dia em que ele se irou com o povo e feriu a rocha (Nm 20.11). Por este motivo o

Senhor lhe disse:

Porquanto não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por

isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado (v.12).

Será que Deus foi demasiadamente duro ou injusto? Afinal, Moisés só falhou

aqui, só não foi fiel nesse único dia! Eu acredito que Moisés conversou com Deus

várias vezes sobre esse assunto; perguntava a Ele se não poderia mesmo entrar na

terra e o Senhor não lhe respondia nada. Até que, de tanto insistir, Deus lhe disse:

Basta; não me fales mais deste assunto (Dt 3.26).

Paulo, da mesma forma, insistiu a Deus para que Ele o livrasse de uma situação

de angústia:

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Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A

minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. (2 Co 12.8,9)

Ele recebia muitas revelações do Senhor e, por isso, aquele mensageiro de

Satanás não o abandonava. Deus usava essa situação para que Paulo não se

vangloriasse com as grandezas das revelações e continuasse sempre se sentindo na

condição de homem.

Irmão (ã), dê liberdade a Deus para Ele lhe dizer “não”, para lhe dizer o que

você não gostaria de ouvir; confie na boa e santa intenção de Deus para sua vida;

insista naquilo que Ele lhe tem dado; persevere na oração e no que Deus tem falado

com você.

Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição (sofrimento) e paciência os profetas que

falaram em nome do Senhor. (Tg 5.10)

Tiago nos orienta a tomarmos como modelo os profetas, em situações de

sofrimento e na paciência. Nós somos uma geração que não suporta o sofrimento. Há

um livro excelente nessa área, chamado “Cristo e o Sofrimento Humano” (Stanley

Jones). Este irmão trabalhou na Índia e analisou como é que cada cultura enfrenta o

sofrimento. Nós, ocidentais, fazemos de tudo para não sofrer, fazemos de tudo para

que os nossos filhos não sofram; os isentamos e protegemos de tudo. Mas, não é o

sofrimento que fortalece o nosso caráter?

Outra pessoa que pediu algo a Deus e não teve sua oração atendida foi o

próprio Senhor Jesus:

E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim

sem eu o beber, faça-se a Tua vontade. (Mt 26.42)

O escritor aos Hebreus, falando sobre isso, disse:

O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e

súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era

Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a

ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem (Hb 5.7-9)

Em outra versão, “foi aperfeiçoado pelas coisas que sofreu”. Assim, precisamos

ser perseverantes em meio ao sofrimento, em meio à dor. Nós só estamos aqui hoje

porque muitos irmãos e irmãs no passado pagaram um preço de oração perseverante

por nós; pessoas que deixaram tudo para trazer o evangelho até nós. O sofrimento

não é mal, o problema é como reagimos a ele. Por isso precisamos insistir, perseverar.

Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo. (Mt 24.13)

Em Apocalipse, todas as cartas de João às igrejas terminam desta forma:

“Quem permanecer”, “Quem perseverar”, “Quem insistir” – esses verão a salvação, a

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glória de Deus! Então, a perseverança, a insistência, a paciência faz parte do caráter

do Senhor Jesus Cristo que Deus quer trazer para nós.

No início do nosso ministério, estávamos construindo um barco em Manaus

para morarmos, eu e minha esposa, enquanto trabalhávamos para alcançar os

ribeirinhos no interior do Amazonas. Gosto de trabalhar com madeira, mas não sou

carpinteiro e tive grande dificuldade em fazer o ângulo das esquadrias das janelas.

Tentei diversas vezes e sempre dava errado até que ficou apenas uma frestazinha.

Decidi que eu colocaria massa nela e a pintaria dando por terminada a minha tarefa.

Mas o Espírito Santo, falou: “Você está fazendo isso para quem? Se estiver fazendo

esse barco para você, tudo bem, está bom. Mas se é para mim, faz direito”. Então, eu

fiz direito. Tudo o que nós fazemos é para o Senhor. O padrão de qualidade não é

nosso, é Dele. Se pensarmos assim, teremos a atitude de diligência e insistência que

precisamos ter.

Eu penso que nós criamos algo chamado “Teologia da desistência”. O que é

isso? Fazemos uma oração um dia, no outro e, ainda, no outro dia. Se Deus não

responde, dizemos: “Bem, então não é da vontade Dele!” Mas foi realmente Ele que

disse que não é a Sua vontade? Ora, se eu orei por cura e a pessoa não foi curada,

então é porque não é da vontade de Deus? Não! Eu devo continuar orando pela cura

até que o próprio Senhor me mande parar de orar. Se Ele disser: “Não toque mais

nesse assunto” ou “a Minha graça te basta”, “sobre isso não ore mais”, então eu paro

de orar. Mas, enquanto Ele não falar isso, devo continuar orando, pedindo, pois Deus

prova o que está no nosso coração e precisamos ser pessoas que insistem, que não

desistem:

Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hb

10.38)

Nós somos o povo que, tendo colocado a mão no arado, não temos mais

possibilidade de retroceder:

E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o

reino de Deus. (Lc 9.62)

Napoleão, quando foi invadir a Rússia, o fez no inverno. Os seus generais

entendiam que isso era uma grande loucura, mas ele queimou as pontes dizendo:

“Ninguém volta”. Por este motivo, milhares de soldados morreram naquela terrível

batalha. De certa forma, nós somos o povo que deve queimar as pontes, que não tem

possibilidade alguma de voltar.

Um de nossos pastores disse algo muito interessante: “Quando entregamos

nossas vidas ao Senhor, Deus nos estragou para o mundo”. Não adianta voltar para

o mundo, pois não damos mais certo lá! Só damos certo agora na igreja. Deus

queimou a ponte de volta, portanto, não vamos mais insistir nisso. Só temos um

caminho a seguir – para frente! Então, vamos insistir nisso, perseverar na graça de

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Deus. A igreja de Atos insistia na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do

pão e nas orações.

Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe,

e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.

Porque, os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na

verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de

tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não

se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade. (Hb

11.13-16)

Esses homens e mulheres tinham uma visão e nela permaneceram, insistiram.

Os heróis da fé estão aqui hoje, pois aquelas pessoas não eram especiais. Especial

é Deus, que estava neles, que é o mesmo Deus que está em nós. O que a Bíblia diz

que nos torna um povo especial?

Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo?

Acaso não é por andares tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o teu povo, de

todos os povos que há sobre a face da terra? (Êx 33.16)

Desta forma, não são pessoas especiais, mas um Deus especial que anda no

meio do povo e o torna especial. Nós não temos nada de diferente das pessoas do

mundo – o que nos difere delas é a presença de Deus em nós.

Combati o bom combate, acabei (completei) a carreira, guardei a fé. (2 Tm 4.7)

Isso foi exatamente o que Jesus também falou e fez:

Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. (Jo 17.4)

Sabemos que completamos a carreira quando sabemos para onde vamos. Se

eu não sei para onde vai, não saberei onde chegar. Para onde estamos indo em

termos de ministério, de projeto de Deus para nós nesta vida? Se isto está claro para

você, chegará um dia em que Deus dirá: “Filho, terminamos”. E você responderá a

Ele da mesma forma que Simeão respondeu:

Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois já os meus

olhos viram a tua salvação (Lc 2.29,30)

Por que ele disse isso? Porque ele esperava, tinha expectativa:

...e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel... E fora-

lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do

Senhor. (v.25,26)

O capítulo ainda fala de outra pessoa: Ana.

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E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a

Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. (v.37)

Interessante é que Ana “não se afastava do templo”, mas naquele dia ela não

estava lá. Simeão também não estava presente, mas o Espírito Santo o mandou ir até

lá para se encontrar com o Messias (v.27). Jesus era de uma família pobre e o

sacrifício que iriam entregar por ele eram duas rolinhas. Ora, esse era um ritual que

durava no máximo uns dez minutos, mas Ana e Simeão se dirigiram para lá

exatamente naqueles minutos. Se eles não tivessem atentos e obedientes à voz do

Senhor não teriam visto o Messias e toda a expectativa de uma vida inteira teria sido

perdida. Percebe como é importante conhecermos a carreira que Deus tem para nós?

Muitos crentes seguem aquela doutrina do “deixa a vida me levar”, mas quem

leva é a morte; a vida nos traz permanência. Por isso, eu preciso conhecer o que Deus

quer de mim para eu ter clareza de que estou fazendo e terminando o que Ele me

mandou fazer. Há um livro maravilhoso sobre esse assunto: “A Crucificação de Felipe

Strong” (Charles M. Sheldon). Esse homem tinha um desejo em seu coração que o

moveu por toda a sua vida. Se temos alvos, saberemos quando os atingimos. Se não

temos, como poderemos afirmar que completamos a carreira? Como poderemos dizer

que guardamos (mantivemos) firmes a fé que Deus derramou em nossos corações

pelo Espírito Santo? Isso fala de perseverar, de insistir.

Exemplos Bíblicos de Perseverança

Há três homens nas Escrituras que me chamam muito a minha atenção nesse

aspecto da perseverança.

1) Noé. Ele era lavrador, estava trabalhando na vinha e, então, Deus lhe deu

uma palavra: “Constrói uma Arca porque irá chover muito e todo ser vivente irá viver”.

O interessante é que Deus poderia ter chamado um carpinteiro para esta obra, mas

Ele não trabalha assim. Deus chama os que “não são” para que toda a glória seja

Dele. Na construção do muro, em Neemias, havia ourives, comerciantes, escrivães,

perfumistas etc. – a única profissão que não tinha era pedreiro, pois, se tivesse, eles

colocariam suas “plaquinhas” no final. Então, para que ninguém colocasse uma

plaquinha na Arca ou no muro, Deus disse: “Essa obra é minha, e a minha glória não

divido com ninguém”. Assim, Deus chama gente como eu e você.

Você diz: “Senhor, mas quem sou eu?” E Ele responde: “É você mesmo. Vai

nesta tua força. Enquanto você não for, Eu sou. Enquanto você for nada, Eu sou tudo”.

Eu imagino a seguinte situação: Deus falou com Noé, ele volta para casa e diz

à sua família: “Gente, Deus falou comigo lá na vinha e disse que vai chover!” No

entanto, até aquele tempo nunca havia chovido na Terra; ou seja, a família não sabia

o que era chuva. Então ele continua: “Vai chover muito, haverá um imenso dilúvio e

todo mundo vai morrer. Por isso, precisamos construir uma Arca que caiba casais de

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todos os animais da face da Terra”. E aqui acontece um tremendo milagre: a família

inteira crê em Noé e anda nisso por cerca de 100 anos. O nome disso é perseverança!

Andar sem ver chuva, sem ver dilúvio, mas andar naquilo que Deus mandou fazer. Se

Deus mandou, faça. Nós não podemos cumprir as promessas Dele, mas criamos o

ambiente, formamos um ninho para que elas se cumpram.

Penso nos anos passando, naqueles meninos crescendo e, juntamente com

suas esposas, construindo aquela Arca. Os vizinhos deviam comentar: “Aquele velho

louco enlouqueceu toda sua família e agora estão todos envolvidos nesse negócio

louco”. Mas graças a Deus por isso! Quando os vizinhos nos chamarem de loucos é

porque estamos no lugar certo, fazendo a coisa certa.

Certo dia um vizinho me disse: “Jamê, você é um homem equilibrado”. Então

eu pensei: “Estou perdido”, porque cada um mede o equilíbrio dos outros pelo seu

próprio equilíbrio, e aquela pessoa era extremamente desequilibrada! Então, quando

o mundo lhe chamar de louco, levante as mãos para o céu e agradeça ao Pai. Afinal,

como diz Paulo,

Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus

escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as

coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;

para que nenhuma carne se glorie perante ele. (1 Co 1.27-29)

2) Calebe. Moisés mandou doze homens analisar a terra de Canaã. Eles

voltaram com um relatório único: a terra era boa, os frutos bons, mas havia gigantes.

Eles não mentiram. O problema é que Deus não os mandou olharem os gigantes, mas

unicamente a terra. Quando você olha para o que Deus não mandou olhar, você fica

com um problema.

Ora, será que Deus não sabia que lá havia gigantes? A questão é que nós

temos a mania de informá-Lo das coisas que Ele já sabe! Sim, Deus sabia, mas isso

era um problema Dele, e não de Israel. Deus iria derrotar os gigantes usando o povo,

mas o foco era a terra. O relatório de todos foi verdadeiro e unânime, mas a atitude

de Calebe e Josué foi diferente dos demais:

Então Calebe fez calar o povo perante Moisés, e disse: Certamente subiremos e a

possuiremos em herança; porque seguramente prevaleceremos contra ela. (Nm 13.30)

Por causa desta atitude, Deus disse a respeito deles:

Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em

seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua descendência a possuirá em

herança. (Nm 14.24)

Calebe tinha 40 anos nessa ocasião. Essa é uma idade considerada de

“maturidade plena”. O homem já errou o que tinha de errar, já definiu sua vida, já

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escolheu sua esposa, já está relativamente pronto. No entanto, Deus diz ao povo que

eles não entrariam na terra, mas continuariam mais 40 anos no deserto.

E passam-se 10, 20, 30... e apenas 40 anos depois eles começam a entrar na

terra. Tinha Calebe, nesta ocasião, 80 anos. Ele entra na terra, ajuda a colocar as

duas tribos e meia do lado de fora, como também todas as demais nos seus devidos

lugares. Mais 5 anos se passam. Então eu pergunto: Quais são os planos que um

homem de 85 anos faz? “Quem serão os convidados para o meu velório? Que músicas

serão cantadas? Será que vão esquecer de avisar alguém?” Ora, nessa idade

ninguém tem mais projetos; só está esperando o Senhor levar! Mas com Calebe foi

diferente. Ele chegou a Josué e disse:

Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cades-Barnéia

a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração; mas meus

irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu porém perseverei

em seguir ao Senhor meu Deus. Então Moisés naquele dia jurou, dizendo: Certamente

a terra que pisou o teu pé será tua, e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois

perseveraste em seguir ao Senhor meu Deus.E agora eis que o Senhor me conservou

em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o Senhor falou

esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já

oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me

enviou; qual era a minha força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra

como para sair e entrar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele

dia; pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades.

Porventura o Senhor será comigo, para os expulsar, como o Senhor disse. (Js 14.7-12)

Calebe citou de memória, palavra por palavra, o que Moisés lhe havia dito 45

anos antes. O que foi que lhe sustentou nesse tempo todo? A promessa que Moisés

lhe havia dado. Se você não tem nenhuma promessa será muito difícil perseverar,

pois é isso que nos sustenta. Portanto, insista nas promessas do Senhor para sua

vida.

Eu fico imaginando Calebe passeando, olhando para sua terra e pensando:

isso é tudo meu! Ele via as ovelhas pastando, via seus netinhos brincando etc. Essas

eram resultados de uma visão espiritual, porque a visão natural era gigantes, pedras,

terra ruim. Mas ele não andava sobre visões naturais, mas, sim, sobre o que Deus lhe

havia mostrado.

Quando Josué o autorizou a conquistar sua terra, Calebe disse:

Quem ferir a Quiriate-Sefer, e a tomar, lhe darei a minha filha Acsa por mulher. Tomou-

a, pois, Otniel, filho de Quenaz, irmão de Calebe; e deu-lhe a sua filha Acsa por mulher.

(Js 15.16,17)

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Como seriam os filhos desse casal? Acsa foi criada na atmosfera desse

ambiente familiar, e Otniel, um homem valente. Que tipo de filhos esse casal gerou?

E que tipos de filhos espirituais nós estamos gerando hoje? São crentes fracos,

desanimados, ou pessoas que olham para nós e são desafiadas a caminhar mais em

Deus? Paulo disse:

E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para

maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram

manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos

irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais

confiadamente, sem temor. (Fp 1.12-14)

Os irmãos, olhando para ele, se sentiam mais animados a pregar o Evangelho,

porque Paulo reagia segundo a esperança que ele tinha em Deus. Qual era sua

atitude?

E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros

presos os escutavam. (At 16.25)

Meu pai na fé, Arthur Hemmons, dizia que Paulo cantou com tanto entusiasmo

que Deus começou a “marcar o compasso com o pé” e a terra tremeu! Eu creio nisso!

Eu creio que os anjos vão se animar conosco, que os nossos filhos vão se animar

conosco. Quantos filhos de crentes têm se desviado porque seus pais são

desanimados, não têm perseverança? Alguns dizem: “Esse menino não quer nada

com Deus!”, mas, será que esse pai ou essa mãe quer algo com Deus? São pais que

lutam, que creem, que têm planos de vida? Nós geramos segundo a nossa espécie!

Por isso, minha oração é que a nossa próxima geração seja bem melhor do que nós,

mas que seja inspirada em nós. Que nossos filhos naturais e espirituais olhem para

nós e se sintam desafiados a serem melhores, mais santos, mais apegados a Deus,

porque veem em nós o desafio de serem mais crentes.

Por favor, não chegue em sua casa dizendo: “Ser crente é muito difícil”. Isso

desanima a família. Aliás, você sabia que “o desânimo desanima mais o animado, do

que o animado anima o desanimado”? Sente-se perto de alguém desanimado e tente

cantar de todo o seu coração; você se sentirá desanimado também. Mas nós não

somos assim! Somos o povo que olha para as algemas de Paulo e nos sentimos mais

desafiados a fazer a obra de Deus. Nós somos o povo que não olha para trás.

3) Abraão. Deus o mandou sair da sua terra e ir para uma terra que Ele havia

dado (Gn 12). É interessante observarmos que Abraão morou em tendas. Ora, será

que era porque ele não tinha dinheiro? Não, pois ele era muito rico. Mas Abraão

morava em tendas porque sabia que era um peregrino na terra e não poderia fixar

aqui sua morada. E você, mora em tendas ou em casas (espiritualmente falando)?

Você está preso a que? Luta pelo que?

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Tenda fala de mobilidade, de disponibilidade, de prontidão. Anos atrás

começamos a orar para comprar uma casa em Jundiaí, pois já estávamos cansados

de pagar aluguel. E Ele nos deu uma casa, nós a reformamos e ela ficou muito boa.

Quando ela estava pronta para nos mudarmos, Deus me falou com voz muito clara:

“Esta casa é um sinal de que agora você pode sair de Jundiaí na hora em que Eu

quiser”. Morar em tendas fala de desapego, de estar pronto para ir onde Deus quiser,

de ter a consciência de estrangeiro e peregrino. Ainda que tendo possibilidade, não

se fixar em nada. Nós somos a única planta na face da Terra que tem raiz para cima.

Por isso Abraão morava em tendas.

Eu ajudei uma igreja cigana em Campinas. A maior parte deles morava em um

bairro de classe média-alta e suas casas eram fantásticas, luxuosas, com grandes

quintais e, nesses quintais, construíam suas tendas e nelas moravam. A casa era só

para mostrar aos outros que eles eram ricos, mas eles ficavam nas tendas. Eu sonho

com uma igreja que mora em tendas. Uma igreja que, em uma noite qualquer, recebe

uma palavra do Espírito Santo dizendo: “Separe fulano e ciclano para a obra que os

tenho chamado”. E impomos as mãos e os enviamos. Eu sonho com uma igreja que

não é presa em nada, que é fixa somente em Deus.

Quando Deus falou com Abraão que ele teria um filho, este pediu um sinal ao

Senhor, que lhe mandou oferecer um sacrifício. E tomou pegou alguns animais, os

cortou, mas as aves de rapina desciam para comer aqueles animais mortos. Abraão,

então, pegou seu cajado e começou a espantá-las, isso desde cedo até a noite (Gn

15.8-11). Quando você faz uma entrega a Deus as aves de rapina virão para tentar

devorar esta oferta e sua tarefa é espantá-las. Estas aves vêm, principalmente, por

meio dos nossos pensamentos. O Diabo nos fala em nosso próprio tom e timbre de

voz para pensarmos que somos nós que estamos falando. Ele não fala com sua

própria voz, pois, neste caso, nos assustaríamos.

Na língua hebraica, a melhor tradução para a palavra “serpente”, em Gênesis,

é “sussurro” – pois é assim que Satanás nos fala – justamente para acreditarmos que

aquele pensamento vem de nós mesmos. Quando o Diabo falou com Jesus o fez com

sussurros, e não fez nenhuma proposta que não tivesse base bíblica (Mt 4.1-10). Só

que Jesus tinha uma visão de Deus: Tu és meu filho amado (Mt 3.17), e Satanás lhe diz:

Se tu és o Filho de Deus (Mt 4.6). É dessa forma que ele se achega a nós e, por isso,

precisamos, com nosso cajado, sempre espantar essas aves de rapina que vêm

através de nós mesmos, de nossos pensamentos, de pessoas, de circunstâncias etc.

que tentam matar as nossas decisões, a nossa entrega ao Senhor.

Nós queremos ser uma Igreja na qual o Senhor acrescente todos os dias

pessoas que serão salvas. Isso é uma promessa de Deus, mas somos nós quem

devemos criar o ambiente para isso, dar espaço para Ele fazer. Devemos fazê-Lo

confiar em nós como pessoas e como congregações para que Ele coloque em nosso

meio aqueles que serão salvos. A vontade de Deus é que ninguém se perca, mas

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encontre a salvação; e nós iremos fazer tudo o que nos diz respeito para que Ele

cumpra essa Sua promessa.

Senhor, eu aceito o desafio que Tu me tens feito hoje, no decorrer dos dias e dos anos.

Quero ser uma pessoa que alegra o Teu coração, afinado, sincronizado contigo. Que

eu seja tocado pelo Teu Santo Espírito e que a minha vida mude radicalmente. Que a

minha motivação, os meus conceitos, as minhas expectativas, aquilo que tenho por

ideal mude completamente, e que o meu querer seja aquilo que o Senhor quer; que a

minha vontade seja realmente a Tua vontade. Senhor, ajude-me a discernir aquilo que

o meu desejo daquilo que é o Teu desejo. Ajude-me, Pai, a renunciar aquilo que me

tem afastado de Ti e me aproximado das coisas desta vida. Eu não quero nenhum

compromisso com as coisas desta vida, mas eu quero me comprometer somente

contigo. Ajuda-me nisso, para a glória do Teu Santo e Bendito nome. Amém!

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CAPÍTULO 2

A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS

Somos um povo de muitos livros, muita literatura, muitas apostilas e quando

pensamos em doutrina dos apóstolos, nossa tendência é fazer uma lista de

ensinamentos que possivelmente os apóstolos pregavam. Mas, à medida em que eu

me aprofundo no estudo deste tema (buscando de Deus e nas Escrituras), percebo

que a doutrina dos apóstolos não é um compêndio nem uma série de estudos, mas é

uma Pessoa – Jesus Cristo. É muito importante que fixemos isso em nossa mente e

coração.

A doutrina dos apóstolos não são doutrinas a respeito de Cristo ou de suas

características, mas é a própria apresentação do Senhor Jesus, e este vivo e atuante

em nossas vidas. Em outras palavras, é a apresentação de quem Jesus Cristo é.

Houve no Brasil, talvez na década de 70, a doutrina do Louvor. Seus adeptos

diziam que o versículo de Atos iria acontecer de qualquer jeito e, por isso, não era

necessário sair às ruas para evangelizar, Deus mesmo traria as pessoas. Claro que

esse é um tremendo equívoco porque a Palavra também diz: Como, porém, invocarão

aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão,

se não há quem pregue? (Rm 10.14). Nós não trazemos as pessoas, mas levamos a

semente. Deus, então, a faz germinar, brotar, dar fruto, e acrescenta à igreja. O fato

de Deus trazer não nos isenta da responsabilidade de sair e pregar. É Deus que traz,

mas somos nós que buscamos e vamos atrás das pessoas. Depois disso, o Senhor

arrebanhará as pessoas para as quais nós pregamos. Concluindo: A nossa pregação

é indispensável! É você que tem de pregar e anunciar para as pessoas, mas é Deus

que as convence, pelo Espírito Santo, do pecado, da justiça e do juízo. Isso produzirá

arrependimento e fé em seus corações, e irá trazê-las para o corpo de Cristo. Esse é,

então, um trabalho de parceria, a igreja e o Senhor trabalhando na salvação das

pessoas. Portanto, o versículo 47 de Atos 2 é um resultado ou uma consequência do

que foi falado a partir do versículo 42.

De acordo com Efésios 2:21, Jesus Cristo é o Senhor, a pedra fundamental e

ninguém pode lançar outro fundamento. Ele é o fundamento da Igreja!

Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus

Cristo (1 Coríntios 3:11).

Vamos analisar a passagem abaixo lembrando essa verdade:

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O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos

próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao

Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós temos visto, e dela damos testemunho. E

vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), o que

temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente,

mantenhais comunhão conosco. Ora. A nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho,

Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa.

(1 João 1:1-4).

a) “O que era desde o princípio...” – Perceba que ele está se referindo a uma

Pessoa, Jesus Cristo.

b) “... o que temos ouvido...” – Isso nos remete a João sentado ao lado de

Jesus, ouvindo-o falar. Ele gostava tanto de ouvi-lo que reclinou sua cabeça em seu

peito. Quando vai ao sepulcro com Pedro, ele se refere a si mesmo como “aquele

discípulo, a quem Jesus amava”.

c) “... o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos...”

– Ele fala sobre duas coisas: “o que os nossos olhos viram” e “o que contemplamos”.

Contemplar é mais que ver; é analisar ou observar com atenção aquilo que se vê. Fico

imaginando João se afastando um pouco de Jesus a fim de olhá-lo melhor. Chegará

a nossa vez! Não terá relógio, diabo nem pecado e, então, poderemos nos sentar

diante dele e ficar olhando, olhando e olhando.

d) “... o que nossas mãos apalparam...” – Veja que ele não está falando de uma

doutrina ou de um estudo bíblico, mas de uma pessoa, de alguém.

e) “... a respeito do Verbo da vida” – E a vida se manifestou e a Palavra se fez

visível. Foi tirado o véu e Aquele que esteve oculto dos profetas, dos nossos pais, se

revelou nesses dias. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Não sei se há nas

Escrituras versículo mais profundo que este. Como pode um Deus tão grande descer

em nosso meio? Gosto de pensar que Deus tinha saudade de nós e, por isso, veio

para cá. Deus fez o homem não porque estava carente, mas porque tinha muito amor

para dar e prazer em conversar com ele todos os dias.

Na sua procura de alguém para conversar, Deus encontrou Enoque. Meu pai

na fé contava a história de Enoque assim: “Todos os dias, Deus vinha encontrar

Enoque e eles iam pelo caminho conversando e trocando pensamentos. Um dia se

distraíram e foram muito longe da casa de Enoque. Então Deus disse: Vamos hoje

para a minha casa, Enoque? E os dois subiram.”

Esse é o caráter de Deus, um Deus de relacionamento. E Ele veio para morar

conosco! Mas João diz ainda que “Aquele que habita convosco estará em vós.” Deus

achou que habitar com era muito longe e que ficar do lado era muito distante, então,

passou a morar dentro. Como pode um Deus tão grande morar dentro de mim? Mas

foi isso o que aconteceu!

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...mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os

gentios. (1 Coríntios 1:23).

O que nós precisamos falar é o mesmo que os apóstolos falavam. Eles falavam

de uma Pessoa e o primeiro capítulo de 1 Coríntios é muito forte sobre isso. Nele,

Paulo reduz toda a doutrina à pessoa de Jesus Cristo e mostra que a revelação de

Deus é o próprio Cristo. Ele é o fundamento e a revelação de Deus. Cristo era o centro

da pregação de Paulo:

Porque eu decidi não saber nada entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. (1

Coríntios 2:2)

Parafraseando: “Eu me determinei não cultivar nenhum outro conhecimento,

senão Cristo, e este crucificado”. Essa foi a decisão de Paulo, um homem que cresceu

aos pés do sábio Gamaliel, que conhecia as Escrituras e que foi treinado nelas desde

a sua meninice. O judeu, normalmente, aos quinze anos de idade já havia decorado

todo o Antigo Testamento. Mas esse homem de nome Paulo disse: “Eu decidi não

saber nada, senão a Jesus Cristo”.

Eu creio que assim como Jesus Cristo é a exata expressão de Deus aqui na

Terra, a Igreja também será a exata expressão de Cristo, ou seja, ela vai mostrar tudo

o que Deus é. A Palavra diz que a Igreja é a plenitude de Deus, a plenitude de Jesus

Cristo. Jesus não é completo sem nós. Isso não é um defeito dele, ele mesmo

estabeleceu que assim fosse. Jesus não disse que era carente da Igreja, mas resolveu

não ser tudo sem ela. Nós somos a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas

(Ef 1.23). No versículo anterior a este, diz: e, para ser o cabeça sobre todas as coisas,

Deus o deu à Igreja (Ef 1.22).

Jesus é o cabeça da Igreja para que possa ser o cabeça de todas as coisas. E

nós estamos aqui para trazer o reino de Jesus Cristo a todas as nações da Terra

porque está escrito que, onde pisar a planta dos seus pés, esse lugar será vosso.

Essa promessa foi feita a Josué (Js 1.3) e sabemos que toda promessa do Antigo

Testamento tem uma aplicação imediata e uma aplicação escatológica. A aplicação

imediata foi para Josué, mas a aplicação escatológica é para Jesus Cristo. Ele seria

o Senhor para todas as nações, ou seja, em todas as nações onde pisar a planta de

seus pés. É, por isso, que a Bíblia diz:

Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir

a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus

reina! (Is 52.7).

Não existe nenhum podólogo ou pedicure que fará com que os nossos pés

sejam tão formosos, como Jesus o faz quando saímos para pregar o evangelho e para

dizer às nações que “o teu Deus reina”. É isso que embeleza os pés de uma pessoa.

É sintomático que quando Jesus celebrou a ceia ele lavou os pés de seus discípulos.

Não lavou o corpo, mas lavou os pés porque são os pés de Jesus em nós que se

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sujam ao tocar nesse mundo. Por isso, precisamos sempre lavar os nossos pés, ou

seja, eu lavo os pés dos irmãos e eles lavam os meus. Esse foi o mandamento de

Jesus a seus discípulos: Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também

vós deveis lavar os pés uns dos outros (Jo 13.14). Nós precisamos lavar os pés uns dos

outros, pois estamos indo a todas as nações e aonde chegarmos aquele lugar passa

a ser do Senhor. A promessa não é para o Senhor Jesus, mas para nós que

devolvemos a ele o controle das nações trazendo o seu reino a elas. Quão formosos

serão os nossos pés na medida em que anunciamos o evangelho e a pessoa de Jesus

Cristo!

Anos atrás eu li a história de um missionário. Uma missão inglesa foi

evangelizar no interior da Tanzânia (África) e seus missionários começaram a

descrever para os nativos o Senhor Jesus, falando sobre sua bondade e

generosidade. Eles, então, disseram: “Ah ele morou aqui perto, a gente conheceu ele”.

Um dos missionários explicou que eles estavam enganados, pois a pessoa de quem

estava falando havia morrido há dois mil anos. Eles insistiram: “Não, você está

enganado, ele morreu há pouco tempo e conhecemos a casa dele”. O missionário

ficou curioso e quis saber de quem eles estavam falando. Disseram que falavam de

David Livingstone. Esse homem havia vivido de tal maneira que foi confundido com

Jesus Cristo. Que santa confusão! E Deus quer fazer isso também conosco, que a

descrição do caráter de Jesus caiba, exatamente, em nós.

Carluci dos Santos, um dos presidentes da ABU, escreveu:

Os discípulos de Jesus (re) leram as Escrituras a partir da pessoa de Jesus

Cristo. A Lei, os Profetas – todas as Escrituras – falam a respeito de Jesus, o

filho de Maria, o filho de Deus (Lucas 24:25-27, 45-49). Quando falamos de

Escrituras no contexto cristão, devemos lembrar que as Escrituras as quais

Jesus Cristo e os apóstolos leram e interpretaram são o que hoje chamamos

de Antigo Testamento (AT). Foi com base nestes textos que Jesus lhes explicou

sua identidade, propósito e missão (João 5:39, Lucas 24:25-27); foi na leitura

destes textos que os apóstolos se embasaram para a missão evangelizadora e

transformadora de suas vidas pessoais e da realidade político-social dos seus

dias. Os livros e cartas que compõem o que chamamos de Novo Testamento

(NT) nascem no encontro daqueles que seguiram a Cristo na sua história e nas

Escrituras; na caminhada com Jesus Cristo eles leram ou releram as Escrituras;

creram que Jesus era o Cristo, e colocaram em prática os seus ensinamentos.

Jesus passou a ser o filtro e o que explicava o Antigo Testamento. Eles

deixaram de ver o Antigo Testamento como uma Escritura normal, mas a partir

de Cristo eles entenderam o Antigo Testamento. A narrativa bíblica nos conduz

a Jesus Cristo como ponto máximo da revelação de Deus e do projeto de Deus

para reconstruir a humanidade. Usamos as Escrituras para interpretar as

Escrituras, tendo Cristo como sua chave hermenêutica.

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Hermenêutica é a arte de interpretar as Escrituras. Se nós queremos interpretar

e compreender as Escrituras, a chave é o Senhor Jesus Cristo. Não podemos nos

desviar disso um milímetro sequer, pois Jesus é o grande explicador das Escrituras.

Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo

exposto como crucificado? (Gálatas 3:1).

Os gálatas foram chamados de insensatos, isto é, sem noção, porque estavam

se desviando da pessoa de Jesus Cristo.

Assim, o ensino dos apóstolos compreendia a vida de Jesus, sua vontade, sua

divindade, sua encarnação, sua morte, sua ressurreição e seu senhorio.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no

princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada

do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. (Jo 1:1-4).

A primeira base do ensino apostólico é que Jesus Cristo é Deus, e a segunda

é que Deus se fez carne. A única possibilidade de sermos salvos do pecado e do

inferno é Deus descendo entre nós. Nenhum outro deus fez isso, somente o nosso

Deus Yahweh. A Palavra diz que quando entrou no mundo Ele recebeu um corpo. Há

duas interpretações verdadeiras sobre isso: 1ª – Ele recebeu um corpo físico no ventre

de Maria; 2ª – Ele recebeu um corpo espiritual, que somos nós.

De acordo com Augusto Cury, Jesus Cristo viveu na Terra desde criança e

resgatou todas as fases da vida do homem (infância, adolescência, juventude e idade

adulta), sendo perfeito e sem pecado em todas elas. Ele resgatou toda a história do

homem, tomando-o sobre si; pregou a história e a vida do homem na cruz; matou-o e

levou-o para a sepultura. Mas, quando ressuscitou, ele o levou de novo para Deus

fazendo dele uma nova criação Nele.

É preciso pregar sobre a encarnação e morte de Jesus. Ele morreu por mim e

todos os pecados contra mim foram pagos. Por isso a Escritura diz que já não há mais

nenhum pecado, até mesmo os cometidos na infância, na juventude ou no dia de

ontem. Todo pecado que vez ou outra me incomoda não pode mais me perturbar, pois

Jesus pagou cada um deles. Ele pagou todos os nossos pecados de hoje e todos os

que ainda vamos cometer. Não há mais nenhuma condenação. Por isso a morte de

Jesus precisa ser anunciada. Ele nos perdoou os pecados e nos ressuscitou para

vivermos em novidade de vida com ele, sem nenhuma dívida. Hoje nós podemos

entrar diante do Senhor olhando para Ele com o rosto descoberto porque já não há

mais nenhuma condenação. Se a consciência nos acusa, Paulo diz: Maior é Deus que

a minha consciência; não há mais nada que me envergonhe diante do meu Senhor.

Em Efésios 1, Paulo fala algo que foi de tremenda libertação para mim. Ele

disse que Deus me fez agradável a Ele no Amado. Não preciso fazer absolutamente

nada para agradá-Lo, pois eu já sou agradável a Ele. E, porque sou agradável, eu

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procurarei fazer coisas agradáveis. Ele não me libertou para fazer minha própria

vontade, mas para recebê-Lo como meu Senhor. Ele agora é o dono da minha vida.

No Antigo Testamento lemos que o escravo, quando era liberto, mas amava

seu Senhor e não o queria deixar, era levado diante do juiz e sua orelha era furada.

Todos que o vissem com a orelha furada sabiam que ele era um escravo de amor.

Nós somos esse povo, pois Deus nos libertou e, livres, decidimos servi-Lo. Eu o sirvo

não por medo do inferno, mas porque amo o meu libertador e resgatador. O ano do

Jubileu só é possível porque temos um resgatador!

Pedro, em sua primeira pregação, fala da divindade e encarnação do Senhor:

Varões irmãos, seja-me lícito dizer-lhes livremente acerca do patriarca Davi, que ele

morreu e foi sepultado, e está até hoje entre nós a sua sepultura. Sendo ele, pois,

profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto dos seus

lombos, segundo a carne, ele levantaria o Cristo para sentar no trono. Nesta previsão

disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no hades, nem a sua

carne viu corrupção. Deus ressuscitou a esse Jesus, do que todos nós somos

testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, tendo recebido do Pai a

promessa do Espírito Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis. Porque Davi não

subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha

direita, até que ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Saiba, pois, com

certeza toda a casa de Israel que esse Jesus, a quem vós crucificastes Deus o fez Senhor

e Cristo (Atos 2:29-36).

Os anúncios (ingredientes) do evangelho contidos no texto acima são:

• Jesus é Deus (v. 34 – Jo 1:1);

• Jesus é Deus encarnado (v. 30 – Jo 1:14);

• Jesus Cristo morto (v. 31 – aponta para a ressurreição que implicou em

morte);

• Jesus Cristo ressuscitado (v. 32);

• Jesus Cristo é Senhor (vv. 30,36 – Deus o fez Senhor e Cristo).

Essa é a doutrina dos apóstolos! Foi sobre isso que eles pregaram.

Algumas referências complementares:

• Mateus 16:21; Marcos 8:31; Lucas 9:22 – morto e ressuscitado;

• Atos 2:21,23,24,29,32,33,36; 4:33 – ressurreição;

• Atos 10:33,36,39-46 – morto, ressuscitado e juiz;

• Apocalipse 1:18 – “estive morto, mas estou vivo e tenho as chaves da morte

e do inferno”;

• Apocalipse 2:8 – esteve morto e tornou a viver;

• Apocalipse 5:3-14 – o Cordeiro como tendo sido morto, assentado no trono;

• Apocalipse 13:8 – o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo

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• Leia também o maravilhoso texto que está em Apocalipse 5:4-8,12,13.

Esse é o nosso Jesus e tudo converge para ele! Os versículos de Apocalipse

dão ênfase extremamente forte na figura do Cordeiro, mas fala também da Raiz de

Jessé e do Leão. João não vê o Leão no trono, mas o Cordeiro. É verdade que o

Cordeiro tem força de Leão, mas João foca o Cordeiro, porque o Cordeiro fala do

nosso resgate eterno que está diante de Deus pelos séculos dos séculos. É o nosso

resgate de uma vez por todas e por toda a eternidade.

A história de Adão nunca mais se repetirá, pois o reino, o domínio, a glória, a

santidade Dele e a nossa é definitiva. Acabou a história! Agora somos livres do

pecado, do poder do pecado, da presença do pecado e daquele que nos tenta a pecar,

porque esse será amarrado e jogado no lago de fogo. O Cordeiro estará eternamente

no Trono, e é por isso que Apocalipse enfatiza tanto isso.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus

ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,

Príncipe da Paz para que se aumente o seu governo e venha paz sem fim sobre o trono

de Davi e sobre o seu reino para estabelecer e o firmar diante do juízo e a justiça desde

agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isto (Isaías 9:6,7).

Você quer garantia maior que esta?

Paulo falou algo que alguns escritores e historiadores dizem ser um cântico da

Igreja:

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus; quão

insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos. Quem pode

conhecer a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro ou quem primeiro deu a ele

para que lhe venha ser restituído? Porque dele e por meio dele e para ele são todas as

coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém. (Romanos 11:33-36).

A palavra “inescrutável” pode ser explicada, por exemplo, quando numa caçada

você não encontra nenhum rastro do animal que está caçando e, por isso, não pode

de fato segui-lo. Paulo diz no versículo acima que é impossível seguir ao Senhor se

você não estiver “dentro” dele, pois é um caminho inescrutável, sem pista alguma

Dele. Mas Paulo foi crescendo em sua revelação de Deus, e diz:

Bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos tem abençoado com toda sorte

de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo. (Efésios 1:3).

Há um problema “técnico” em Efésios 1, porque é extremamente difícil dividi-

lo. Esse capítulo é quase um monobloco, um concreto indivisível. Porém,

pretensiosamente eu o dividi e cheguei, então, ao versículo 9:

Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo a boa vontade que propusera

em Cristo de fazer convergir nele na dispensação da plenitude dos tempos, todas as

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coisas, tanto as do céu como as da terra. Nele, digo, no qual também fomos feito

herança, predestinados pelo propósito daquele que faz todas as coisas conforme o

conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória nós, os que de

antemão esperamos em Cristo. (Efésios 1:9-12).

Quem aconselhou Deus? Ele próprio! Qual foi o conselho que Ele deu a Si?

Ser bondoso para conosco! Deus gosta de exercitar o Seu conselho e, por isso, é

bondoso para conosco. Por isso declaramos que Ele é bom.

Vamos adiante, no texto de Efésios 1:

Por isso também eu tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para

com todos santos, não cesso de dar graças por vós fazendo menção de vós nas minhas

orações para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda

espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos

do vosso coração para saber qual a esperança do seu chamamento. Qual a riqueza da

glória nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para os que cremos. Segundo

a eficácia da força do seu poder o qual exerceu ele em Cristo ressuscitando-o dentre os

mortos e fazendo sentar à sua direita nos lugares celestiais acima de todo principado

e potestade e poder e domínio e de todo nome que se possa referir, não só no presente

século, mas também no vindouro e pôs todas as coisas debaixo dos pés e para ser o

cabeça sobre todas as coisas o deu à Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele

que a tudo enche em todas as coisas. (Efésios 1:15-23).

Mas Paulo não parou por aí; ele foi caminhando na sua revelação. Vejamos:

Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu

amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus

invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas. Nele

foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam

tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades, tudo foi criado por meio

dele e para ele. (Colossenses 1:13-16).

Analisando a preposição “Nele”, concluí que a Palavra de Deus é de uma

riqueza e profundidade sem tamanho. Essa preposição fala de tempo, de lugar, de

estado e de instrumentalidade. “Nele” também dá uma ideia de descanso, um lugar

que você entrou para descansar e “arriou a sua mochila”. Se você está dentro de Deus

é porque você descansou de suas obras, assim como Deus das Dele.

O versículo 17 fala de identidade:

Ele é antes de todas as coisas, e Nele tudo subsiste. (Colossenses 1:17).

A palavra “subsistir” dá a ideia de que Deus colocou a Terra na exata distância

do Sol e colocou uma “trava”. Essa trava é Ele próprio. Se a Terra chegar um

pouquinho mais perto do Sol, ou se afastar um pouquinho mais dele, será sem dúvida

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uma tragédia. Ela se encontra exatamente no lugar em que está porque é sustentada

pela Palavra do Seu poder! Isso é o que significa “Nele”.

Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos

para em todas as coisas ter a primazia. Porque aprouve a Deus que nele residisse toda

a plenitude e que havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz por meio dela

reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer sobre os céus.

(Colossenses 1:18-20).

Amados, essa história tem um fim! As lutas, as doenças e as tristezas terão um

fim. Todas essas coisas vão acabar!

Havendo Deus outrora falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais pelos

profetas, nesses últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas

as coisas, pelo qual também fez o universo, ele que é o resplendor da glória e a

expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder.

Depois de ter feito a purificação dos pecados assentou-se à direita da majestade nas

alturas, tendo se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome

do que eles. (Hebreus 1:1-4).

Qual é o quadro dessa passagem? No Antigo Testamento, o sacerdote levava

o sangue do cordeiro para diante do propiciatório e Deus o recebia. Aqui, o Cordeiro

levou seu próprio sangue diante do Pai e satisfez completamente a justiça de Deus

para todo o sempre. Deus falou: “Eu estou satisfeito!”.

Pensando sobre essas coisas e indagando de Deus como pode ser tudo isso,

eu escrevi o seguinte:

Reflexo perfeito, não retém em si nenhum pouco de Luz, pois não tem nenhum

ponto escuro (A luz da lua não é dela e sim do sol. A lua não reflete toda luz

que recebe do sol porque ela é sombra, então, retém um pouco de luz. Mas

Jesus não tem nele nenhuma sombra e, por isso, reflete toda a luz de Deus.

Ele é o resplendor da glória de Deus), mas deixa brilhar toda a glória do Pai –

é a imagem, a efígie de Deus, gravada em uma vida humana, esculpida com

toda exatidão na figura de um ser humano, mantendo todas as leis de física em

equilíbrio, as forças da natureza, as órbitas dos planetas, a gravidade, os ciclos

da vida, as estações, a razão da fotossíntese, o germinar, o brotar, o florir e o

fruto, o dia e a noite, a luz e a sombra, o Norte perfeito, aquele que divide e

sustenta os firmamentos, aquele que Jó chama de ferrolho dos mares; a força

dos ventos, o calor do fogo, a fonte da beleza, a plenitude da sabedoria, a

centelha da vida, o dono da morte, as cores do universo, as estrelas são uma

pálida amostra do Seu brilho, a profundeza desconhecida dos oceanos, o limite

do infinito, a fronteira final do universo; Ele é a cura de toda doença da alma e

do corpo; é o que alivia as dores das feridas abertas; Ele é a razão da saudade

que temos de algo que ainda não conhecemos, de um lugar onde ainda não

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fomos; Ele é força que me faz respirar e aquele que diz qual é a hora em que

eu paro de respirar o ar daqui; Ele é a centelha da vida na fecundação e a

mesma centelha que me levantará dos mortos; Ele me fez abrir os olhos no dia

do meu nascimento, fechará minhas pálpebras no meu último dia aqui, e os

abrirá, de novo, no dia da Sua glória.”

Concluo, então, afirmando que JESUS É DEUS!

Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe

serei Pai e ele me será Filho? E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz:

E todos os anjos de Deus o adorem. Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus

anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo; mas acerca do Filho: O teu trono,

ó Deus é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino. Amaste a

justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria

como a nenhum dos teus companheiros. Ainda: No princípio, Senhor, lançaste os

fundamentos da terra, e os céus são obra das suas mãos; eles perecerão; tu, porém,

permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste; também, qual manto, os

enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os

teus anos jamais terão fim. Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha

direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés? (Hebreus 1:5-13).

Davi escreveu:

Antes que os montes nascessem e se formasse a terra e o mundo, de eternidade a

eternidade tu és Deus. (Salmos 90:2).

E, finalmente, João diz em Apocalipse:

Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o

Todo-Poderoso. (Apocalipse 1:8).

Resumindo, JESUS É A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS.

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CAPÍTULO 3

A COMUNHÃO

Nós somos chamados à comunhão, apesar das dificuldades que possam surgir e,

também, a um estilo de vida intenso, ao ponto de ninguém se sentir sozinho no nosso

meio e, quando um solitário se aproximar de nós, que seja atraído pelo amor de Jesus

manifestado em nossas relações.

Todos nós temos algumas pessoas com as quais não nos damos muito bem.

O que fazer? Insistir! Lembro-me de quando fui trabalhar numa tribo indígena e ali ter

tido um caso de antipatia à primeira vista entre mim e um dos índios, a antipatia era

mútua. Quando fazíamos reunião ele ficava encostado numa madeira olhando de

longe e não se aproximava. Eu não me importava com ele, e pensava: se ele quer ir

para o inferno que vá. Verdade, eu não gostei dele. Graças a Deus não há o

mandamento “gostai-vos uns dos outros”, mas “amai-vos uns aos outros”. É diferente!

Podemos não gostar de muitas coisas, mas devemos amar as pessoas. Porém, nem

mesmo esforcei-me em amar aquele rapaz. Mas aconteceu algo interessante: Eu me

preparava para ir a Manaus e estava com o meu facão na mão, um facão muito bom,

cuja bainha era bem trabalhada. Um facão, no interior do Amazonas, é uma coisa

muito cobiçada. Aquele rapaz, o melhor caçador da aldeia, se aproximou, pegou o

facão, olhou e disse: “Bonito. Você quer trocar?” Eu respondi que sim e ele perguntou

quanto eu queria por ele. “Eu quero dois veados”, falei. Pensei nisso porque eu ia

viajar e a caça serviria de alimento para Irani, minha esposa. Ele achou caro. Então,

eu disse que sempre que trouxesse uma caça desse um pedaço para Irani. Ele ficou

muito feliz com o negócio e foi saindo, mas eu lhe disse que levasse o facão. “Mas eu

não paguei”, ele falou. Insisti que o levasse, ou seja, instituí a primeira venda a crédito

naquela aldeia. Ele levou o facão. Eu não havia planejado aquele negócio, foi

espontâneo, mas aquilo mudou a nossa relação. Ele passou a ser o meu melhor amigo

e eu o seu melhor amigo. Agora era um amor mútuo, passamos a nos amar.

É claro que há pessoas que têm coisas que não gostamos, mas na medida em

que as amamos, passamos a gostar. O gostar é variável, tem horas que eu gosto de

um e não gosto do outro. Mas não se preocupe com não gostar, preocupe-se em

amar.

Uma das coisas que o pecado estraga, de acordo com nosso irmão Tony, é a

comunhão. A Palavra diz que os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus.

Perceba a ordem dos pronomes: entre nós e Deus, e não entre Deus e nós. Deus

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nunca se move do lugar Dele, quem se move somos nós. Quando pecamos nos

afastamos do Senhor e, automaticamente, uns dos outros.

Quando criticamos a congregação ou os nossos irmãos, algo errado está

acontecendo em nossas vidas. Somos parte do Corpo de Cristo, então, ao criticarmos

o Corpo estamos criticando a nós mesmos. Falar mal da igreja é falar mal de si

mesmo. O único lugar no qual é permitido falar mal da igreja é diante do espelho. Ali

você pode falar o que quiser da igreja e aproveitar, inclusive, para orar pela pessoa

incrédula que você vê na imagem. Em nenhum outro lugar lhe é permitido fazer isso.

Tudo de mau que você vê na igreja faz parte de sua pessoa, porque você e a igreja

são indivisíveis. Há duas coisas impossíveis de se fazer sozinho: casar e ser cristão.

Essas coisas, portanto, nos remetem à comunhão.

Porque nós, conquanto muitos, nós somos um só pão... (1 Coríntios 10:17).

Esse texto fala do corpo, mas nesse versículo em especial fala de pão. Nós

somos UM pão. Quais as implicações disso? A primeira coisa para fazer um pão é

triturar o grão de trigo, o qual desaparece em seguida. É ir para o moinho e acabar

com o individualismo. Não é “acabar com a individualidade”, pois individualidade é a

nossa personalidade e características pessoais, que são imutáveis. Individualismo é

tirar proveito da individualidade para si mesmo e a Bíblia nos ensina a fugir dele, ou

seja, do egoísmo ou egocentrismo. Quando encontramos com o Senhor Jesus,

encontramos uma pedra de moinho pesada.

Depois que o trigo é moído e triturado, ele é misturado e não se pode mais

restaurar os seus grãos. Isso acontece conosco! Quando chegamos à igreja de Deus

nós desaparecemos com relação ao nosso individualismo, porque nos misturamos no

Corpo de Cristo. Após esses dois processos (trituração e mistura) a massa é sovada

e alguns pães ainda podem passar pelo cilindro. A última coisa é ir para o forno para

assar (queimar).

Se quisermos alimentar as nações precisamos nos conformar com o processo

de Deus em nossas vidas. É preciso aceitar e conformar-se com o moinho de Deus,

porque é nele que todo individualismo e egoísmo caem por terra. Deus quer nos dar

às nações, por isso, não estranhemos o fogo que vem sobre nós, pois é ele que acaba

com tudo o que não presta, com tudo o que nos amarra. Para nós, muitas vezes, o

fogo significa um culto abençoado, mas para Deus é fogo de purificação; Ele queima

e destrói tudo aquilo que não é Dele em nós.

Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os

outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 João 1:7).

Ser um só pão fala também de andar na luz, de confissão de pecados. Não é

andar em qualquer luz, mas na luz de Deus, na luz da Sua Palavra, na luz daquilo que

Ele fala a nós. É quando percebemos um pecado em nossa vida e o trazemos à tona

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para tratar com ele. É ser guiado pela Palavra de Deus, pois ela é luz e lâmpada para

os nossos caminhos.

Quando andamos na luz há uma consequência imediata: o sangue de Jesus

Cristo, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado (ou “de cada pecado”). Outra

consequência imediata é que temos comunhão uns com os outros. Não existem

pecados particulares! Fazer coisas erradas (pecados) no particular, afeta a vida da

igreja em geral. Sendo assim, eu deixo de ser um ajudante e passo a ser um peso

para a igreja. A purificação do sangue de Jesus Cristo vem para quem está em

comunhão, mas só temos comunhão se estivermos na luz. Se estivermos na luz nós

vamos buscar comunhão e se alguma coisa estiver quebrada nela, nós vamos buscar

consertar, imediatamente.

Alguns exemplos bíblicos a este respeito:

Israel vinha numa constância de vitórias sobre seus oponentes e adversários.

Estava mesmo invicto! Mas quando deviam atacar a pequena e despreparada cidade

de Ai, Josué não achou necessário que todo o exército fosse para a batalha. No

entanto, no confronto, a cidade de Ai se levantou com seu fraco exército e venceu o

exército de Deus. Josué, então, orou ao Senhor e Deus lhe disse que a derrota de

Israel aconteceu porque havia pecado entre o povo. Lançaram a sorte para encontrar

o culpado e essa caiu sobre Acã. Ele havia trazido consigo despojos de Jericó, sendo

que Deus mandara destruir tudo. Nada de Jericó poderia ser tomado para Israel. O

pecado de Acã trouxe maldição para Israel – o particular afetando o coletivo (Js 7).

Outro exemplo foi Saul, rei de Israel. Samuel havia ordenado atacar, matar e

destruir tudo dos amalequitas, mas Saul poupou o melhor das ovelhas e dos bois, os

bezerros gordos e os cordeiros (1 Samuel 15:9). Quando Samuel chegou e ouviu o

barulho do gado mugindo, interrogou a Saul e este disse que “pegou o melhor do

maldito” para oferecer ao Senhor. Mas o melhor do maldito também é maldito! O

pecado de Saul foi a causa de Deus ter se arrependido de tê-lo feito rei de Israel. Seu

pecado afetou a todo povo e a si próprio.

Assim, não existe pecado particular! Você não está sozinho no seu pecado

porque nós somos um só corpo e tudo o que você fizer afetará a igreja como um todo.

Não somos desligados uns dos outros! Eu preciso ser santo, primeiro por causa de

Deus, e segundo por causa do povo de Deus.

Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão do seu Filho Jesus Cristo nosso

Senhor. (1 Coríntios 1:9).

Esse é um dos primeiros chamados que recebemos: ter comunhão com Jesus

Cristo! Não podemos nos descuidar disso, pois o pecado em nós pode impedir esse

chamado.

Analisando esse texto, fiquei pensando: por que ele se inicia com uma

referência a Deus como um Deus fiel? Porque a comunhão exige fidelidade, lealdade,

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entrega, honra – coisas que estão em falta na Igreja hoje. Aliás, é impossível ter

comunhão com Deus e não ter comunhão com os irmãos. E não há nenhuma desculpa

maior do que a morte de Cristo para isso. Ele morreu para juntar em um só corpo os

seus filhos que andavam dispersos. Infelizmente, pensamos em situações,

acontecimentos, doutrinas que nos dão uma permissão para não andarmos juntos,

mas essa permissão não vem de Deus. No projeto Dele não existe a divisão, mas

unicamente a Sua Noiva completa, sem ruga, sem mancha.

O que temos visto, ouvido e anunciamos também a vós outros, é para que também vós

mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho

Jesus Cristo. (1 João 1:3).

Nesse texto percebemos que há uma comunhão horizontal e uma comunhão

vertical. Elas estão intimamente ligadas entre si. Que Deus nos livre de pecar e perder

esta comunhão!

Filhinhos, eu vos escrevo para que não pequeis e aquele que está no Senhor não peca.

(1 João 2:1).

Em outra versão diz: aquele que está no Senhor não vive pecando. Quando Deus

nos desenhou, antes do primeiro Adão, Ele não nos fez para pecar, mas para andar

num ambiente maravilhoso de flores, de frutos e com a própria presença Dele. Porém,

veio o pecado e nos afastou desse ambiente. Quando Jesus veio, ele restaurou esse

“desenho” e disse: “Eu vim para libertá-lo do pecado, do poder do pecado e da

presença do pecado”. A partir daí o nosso “desenho” continua sendo o mesmo de

antes.

Não fomos feitos para pecar, mas João diz: mas se pecardes.... A ideia

nessa expressão é: “se por acidente pecardes”. Quem trabalha com empresas sabe

que acidentes não acontecem, mas são provocados. Não adianta clamar a Deus por

proteção se você entrar numa rodovia a 140 km/h com pneus lisos no seu carro, freios

que não funcionam adequadamente e com farol queimado. Certamente os anjos do

Senhor não estarão ao seu redor! Pecado é uma conjunção de fatores. Tiago diz que

a cobiça do coração vai aumentando até levar à prática do pecado”. Na verdade, nós

“provocamos” o pecado!

Ele passava na porta da prostituta, era tarde, tardezinha, noite escura e densas trevas.

(Provérbios 7:7-9).

Se eu tivesse de colocar um título em Provérbios 7 e Jó 32, seria: “Passos para

o Pecado”. Salomão disse ter visto por entre as grades um homem néscio. Por que

ele chegou à conclusão de que aquele homem era néscio? Porque o texto diz que ele

passava quatro vezes por dia à porta da casa da prostituta! Então, não se pode dizer

que ele “pecou sem querer”, mas que ele provocou o pecado. Se pecado fosse “sem

querer” não seria necessário o arrependimento e a confissão. Precisamos de

arrependimento porque cultivamos, provocamos o pecado. Mas, se por acidente

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pecarmos, temos um Advogado diante de Deus – Jesus! Por meio dele podemos no

achegar diante de Deus e confessar nosso pecado. Tiago completa, dizendo:

...confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para que

possais ser sarados. (Tiago 5:16).

O nosso grande opositor à comunhão é o pecado, portanto, não permita que

ele entre em sua vida! Às vezes dizemos que é difícil ter comunhão com determinado

irmão, mas quem sabe esse também é você? É por isso que a Palavra fala de

perseverar. Se fosse fácil não precisaria perseverar!

Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor

fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro (1

Pd 1.22)

Nós passamos por vários processos de purificação na nossa vida cristã.

Primeiro, a purificação do nosso espírito pelo sangue de Jesus Cristo. Estávamos

mortos em nossos delitos e pecados e o sangue de Jesus nos purificou e nos perdoou

do pecado e dos pecados (cometidos e ainda por cometer). Com isso, entendo que a

Bíblia não está nos liberando para pecar, porque Paulo disse: Pecaremos porque não

estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum (Rm 6.15). Deus é tão

radical que ele matou o pecado e também o pecador.

Segundo, a purificação da nossa alma, que é a sede dos desejos, ideais,

sentimentos, pensamentos. A purificação no espírito acontece no momento em que

reconhecemos a Cristo como Cordeiro suficiente diante de Deus; a purificação na

alma acontece no nosso dia a dia pela obediência à Palavra de Deus.

Se voltarmos para a história do povo de Deus no Egito, veremos que houve

três momentos de salvação. O primeiro foi quando o povo saiu do Egito, sendo salvo

dele. O terceiro foi quando o povo entrou em Canaã. Mas o segundo foi quando o

povo viveu no deserto por 40 anos, pois ali ele foi purificado de toda mentalidade,

cultura e herança egípcia. Eu penso que se Deus os levasse diretamente do Egito

para Canaã, uma viagem que se calcula durar 15 dias, Israel ou Canaã seria uma

província do Egito – estariam construindo pirâmides, adorando animais etc. Por isso

o povo precisou desse tempo para ser limpo pela obediência à verdade. Esse é

momento ou o processo que nós estamos vivendo hoje, colocando cada coisa de

nossa vida que ainda não obedece ao Senhor aos pés de Cristo.

Deus disse acerca das nações que habitavam em Canaã: Não os lançarei fora

de diante de ti num só ano, para que a terra não se torne em deserto, e as feras do campo não

se multipliquem contra ti (Ex 23.29). Ano após ano Ele foi tirando essas nações para

que o povo conquistasse toda a terra de Canaã. Deus faz o mesmo conosco: Ele não

nos trata de uma só vez.

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Eu gostaria que em uma só noite o Senhor tratasse comigo e me transformasse

por completo; apertasse o botão “formatar” na minha vida e implantasse em mim um

“sistema operacional novo” e eu acordasse totalmente santo. Mas a promessa de

Deus é que Ele supre as minhas necessidades enquanto eu durmo, mas só trabalha

em mim quando estou acordado. Isso porque eu preciso concordar com o que Ele

quer fazer em mim. Deus não me invade, não me violenta, mas pergunta se eu quero.

Desta forma eu posso dizer: “Senhor, eu quero. Eu não gosto daquilo que o Senhor

não gosta e rejeito isso que o Senhor rejeita. Tira de mim o que o Senhor quer tirar”.

Essa é a razão desse tempo que estamos vivendo hoje. Eu não sei qual é o “tempo

de 40 anos” que você está vivendo, mas Deus está tirando de você tudo o que

pertence a Faraó.

Quando enxertamos um galho em uma árvore, a seiva que vem da raiz entra

neste galho e o vai transformando. No início os frutos que dele nascem ainda não

serão muito bons; mas quando a seiva da boa planta chegar no último galhinho

implantado, os frutos serão bons para se comer. Por enquanto, em minha vida, você

ainda verá coisas que não são de acordo com a minha raiz, mas eu estou no processo.

Um dia todos os meus frutos serão bons, porque estou nessa fase de purificação da

alma por meio da obediência à verdade.

...para o amor fraternal, não fingido. Se nós não estivermos neste processo de

transformação será muito difícil amarmos os irmãos. Será um amor fingido, superficial.

Daí a importância deste processo, para que o amor flua através de nós em plenitude.

...amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro. Esse é o alvo de

Deus para nós, o Seu padrão para toda a Igreja – nos amarmos ardentemente. Eu

não estou falando de nível de comunhão, de profundidade de relacionamento, porque

este depende do nível de afinidade, mas o amor ardente deve ser para todos. Se há

algo que machuca o coração do Senhor é a nossa atitude de indiferença para com as

pessoas, porque Jesus nos amou ardentemente. Seu trabalho em nós é movido por

íntima compaixão; suas motivações interiores é que o movem em direção a mim. Por

isso precisamos ter essa mesma motivação que Jesus tem por nós.

Nós já temos o Espírito Santo em nosso interior; o que precisamos agora é

aprender a dar lugar a Ele, deixar Deus agir e amar ardentemente os irmãos através

de nós.

Mas, sobretudo, tende ardente (intenso) amor uns para com os outros; porque o amor

cobrirá a multidão de pecados (1 Pd 4.8).

O amor não acoberta, mas cobre multidão de pecados. Acobertar é dizer que

o irmão não pecou; cobrir é entender que ele pecou e o receber mesmo assim. E o

que lidera isso é o amor ardente, intenso. Se não houver isso será impossível

insistirmos na comunhão.

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E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma

de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma. (1 Sm 18.1)

É impossível, lendo este texto, que não nos lembremos de Atos 2, onde o povo

“era uma só alma”. Jônatas é um exemplo de um homem fiel a Deus e ao seu amigo.

Ele se desfez de coisas valiosas e as deu para Davi: capa, vestes, espada, arco, cinto

(1 Sm 18.4) e, por fim, disse: Nem tampouco cortarás da minha casa a tua beneficência

eternamente; nem ainda quando o Senhor desarraigar da terra a cada um dos inimigos de

Davi (1 Sm 20.15). Jônatas estava falando de seu próprio pai, Saul. E ainda disse que

gostaria de ser o segundo de Davi quando este se assentasse em seu trono. Isso era

considerar Davi superior, mas Jônatas era filho do rei, o substituto natural do trono, e

Davi era um simples pastor de ovelhas. No entanto, ele abriu mão em favor do seu

irmão – isso é amor intenso.

Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque

aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo

é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei

sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte

me separar de ti. (Rt 1.16,17)

Conquanto seja um texto muito cantado em casamentos, aqui fala de

comunhão, amizade, relacionamento, amor ardente entre duas pessoas. É

interessante que Deus trabalha nos extremos, porque Ele pega o relacionamento mais

conflituoso e complicado que existe entre os relacionamentos humanos, que é entre

sogra e nora, e o usa para mostrar o que é unidade.

Morreram os maridos das três (Noemi, Orfa e Rute). Noemi, que era uma

mulher de Israel, sugere que suas noras a deixem, sigam suas vidas, e ela voltaria

para sua terra. Mas Rute insiste para permanecer com ela, renunciando a muitas

coisas. Primeiro, a sua cultura (o teu povo é o meu povo). Você é capaz de renunciar

sua cultura para andar com os irmãos? Segundo, a sua fé (o teu Deus é o meu Deus).

Têm coisas que eu não abro mão: Jesus Cristo, sua divindade, encarnação, morte,

ressurreição, senhorio. Essas são coisas indiscutíveis, mas qualquer outra coisa da

igreja eu discuto, converso. Terceiro, à sua autodeterminação. Se há algo que

gostamos é de mandar na própria vida. Quarto, ao seu destino (onde quer que tu fores

irei eu). Quinto, a descansar sozinha (onde quer que pousares, ali pousarei eu, e ali serei

sepultada). Por causa disso ela entrou na genealogia do Senhor Jesus Cristo.

Outro fato interessante é que ela era moabita e Deus havia dito: Nenhum

amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração

entrará na congregação do Senhor eternamente (Dt 23:3). São duas pessoas que eu não

entendo como entraram na genealogia de Jesus: Rute e Raabe. Mas, como Deus é

Deus, eu não costumo questioná-Lo e Lhe dou liberdade para fazer o que Ele quer!

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Jesus curava as pessoas e mandava-as não contar a ninguém, porque ele não

trabalhava com curas usando-as como marketing pessoal. Jesus não queria que as

pessoas o seguissem por aquilo que ele fazia e, sim, pelo que ele era. E nós

precisamos aprender a viver com esse mesmo padrão, andar com os irmãos pelo que

eles são. “Ah, mas quem são eles?” No mínimo, superiores a mim. São irmãos, são

santos. Mas aos santos que estão na terra, e aos ilustres em quem está todo o meu prazer (Sl

16.3). Nosso prazer deve estar nos santos que há na Terra. Ora, se todo o nosso

prazer está nos santos, o que sobra para fora? Nada! O meu prazer está em andar no

meio do povo de Deus, servi-lo, ser cuidado por ele e cuidar dele.

Essas são coisas que precisamos insistir, porque são contra nossa natureza,

nossa cultura, nossa cabeça. Eu sei que quando ouvimos isso, pensamos: “Mas isso

fere meu individualismo”. Sim, é verdade, mas vamos nos lembrar do trigo que foi

moído para se tornar pão. Sem moagem não há trigo, sem trigo não há pão.

E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo,

disse-lhe: Queres ficar são? O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem

algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou,

desce outro antes de mim. (Jo 5.7)

Eu considero essa história muito triste para estar nas Escrituras, mas como

Deus coloca coisas tristes e alegres para o nosso ensino e edificação, Ele a colocou.

Quando Jesus chega diante do poço de Betesda ele encontra o homem paralítico e

lhe faz uma pergunta cuja resposta está patente. Ele fez a mesma pergunta ao cego:

O que queres que eu te faça? (Lc 18.41). Mas às vezes Jesus nos faz perguntas só saber

se sabemos o que ele já sabe.

A resposta daquele homem entristece o meu coração: Não tenho ninguém que,

quando a água é agitada, me ponha no tanque. Ora, Betesda significa “casa de

misericórdia”, que é a Igreja! Então, será que podemos admitir que na Igreja exista

alguém sozinho? Para mim isso é uma incoerência! Mas, infelizmente, há muita gente

sozinha na casa de misericórdia e nós não podemos continuar permitindo isso. Essa

é uma condição propícia para alguém se vitimizar: “Estou sozinho, ninguém me ama,

ninguém me busca”. Mas, que tal essa pessoa ir em busca dos outros? “Ninguém me

telefona!” Que tal pegar o telefone e ligar para alguém? Quando você se aproximar de

alguém que está sozinho, você não estará mais sozinho.

Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhe também vós,

porque esta é a lei e os profetas. (Mt 7.12)

Esta é a “regra áurea” da constituição do Reino de Deus. Você está se sentindo

sozinho? Vá atrás de alguém que está sozinho. Está se sentindo sem pastoreio? Vá

pastorear alguém. Tudo o que você quer que as pessoas façam com você, faça para

os outros. Isso resume todo o nosso relacionamento.

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E alguns dias depois entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa.

E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam; e

anunciava-lhes a palavra. E vieram ter com ele conduzindo um paralítico, trazido por

quatro. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o

telhado onde estava, e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico.

(Mr 2.1-4)

Jesus estava em sua própria casa e logo se ajuntou muita gente para ouvi-lo.

Graças a Deus, ao contrário do aleijado no Poço de Betesda que não tinha ninguém

para ajudá-lo, esse homem tinha quatro amigos “loucos”, pois é uma loucura você

chegar em uma casa que não é sua, colocar uma cama em cima do telhado, abrir um

buraco no meio da sala e descer a mesma. Estava todo o povo ali reunido e, de

repente, começa a cair o telhado e descer uma cama. Ora, só louco faz uma coisa

dessas! Mas eu lhe pergunto: você é louco o suficiente para fazer algo parecido pelos

seus irmãos em Cristo? Você é louco de amor pelas pessoas? Você é louco para fazer

coisas que ninguém mais faria, de entregar tudo o que você tem por amor aos irmãos

da igreja? Pois este é o padrão de Deus.

Há sabedoria humana em Deus mandar Seu único Filho para morrer por nós,

sendo nós ainda inimigos Dele? Não! Por isso o Evangelho é loucura e escândalo

para os homens, porque ninguém é capaz de morrer pelos seus inimigos. Mas Jesus

foi e esse é o seu padrão para nós. A Igreja dos próximos dias será assim: um povo

que não deixa ninguém sozinho; um povo que não telefona para o pastor fazer uma

visita, mas vai e faz; um povo onde todos pastoreiam todos; um povo onde ninguém

tem a resposta de Caim (Não sei; sou eu guardador do meu irmão?), Gn 4.9. Deus não

respondeu nada, pois Ele não responde a perguntas tolas. Ora, afinal, existem apenas

dois irmãos na face da Terra – quem é que deve guardar quem? O problema é que

Caim tinha planos malignos em seu coração, mas eu não creio que nós tenhamos isto.

O que falta em nós é sair da inércia e isto exige mais força ou energia do que se

manter em movimento. Mas o profundo amor de Deus, juntamente com o Espírito

Santo operando em nosso coração, vai nos levar a isso.

E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.

(Ef 2.16)

Inimizade não é somente ter um coração com animosidade contra o irmão, mas

é ter falta de amizade. Deus matou a inimizade, portanto, não precisamos carregar

conosco algo que Ele já matou.

Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem

alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te

primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa

com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que

o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.

(Mt 5.23-25)

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O texto não diz “se você se lembrar que fez alguma coisa contra a pessoa”,

mas “se a pessoa tem algo contra você”. O que deve fazer? Primeiro, deixar a oferta

no altar. Veja que a oferta não estava em discussão, ela era boa, pois, caso contrário,

Deus mandaria tirá-la de lá. Mas Deus não aceita uma oferta se há problemas entre

os irmãos. Segundo, ir até o irmão e reconciliar-se com ele. Deus literalmente “Se

cansa” de determinados cultos, pois irmãos indiferentes uns aos outros chegam diante

Dele, levantam as mãos, cantam, mas isso é para Ele como um “cheiro mal”:

Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom

cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei

delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim

o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. (Am 5.21-

23).

“Reconciliar” é restaurar a amizade que havia antes. Eu aprendi algumas coisas

com esse texto: Primeiro, que a amizade é mais importante do que cultos. Segundo,

que relacionamento é mais importante que ofertas. Pense um pouco: se você tem

quatro filhos e, um dia, eles resolvem comemorar o seu aniversário, mas você sabe

que eles são inimigos, você aceitaria esta festa? Pois Deus não aceita! Por isso nós

fazemos muitos cultos onde Deus não está presente e que se tornam abominações

diante Dele pelo fato de sermos irmãos, mas não termos amizade.

Terceiro, que eu preciso pedir perdão de coisas que eu não fiz, mas de

sentimentos que eu causei. Às vezes você machuca alguém e nem percebe, não foi

por querer, mas aquele irmão fica profundamente magoado. O que você faz? Diz a

Deus que “ele é carnal, pois não foi por querer”? Não! Na igreja, entretanto, sempre

acontece de pisarmos nos irmãos sem perceber. E o que devemos fazer? Pedir

perdão! Eu aprendi algo: Nunca explique um pecado, uma ferida! Você causou uma

ferida? Peça perdão e não explique. Alguns vão pedir perdão e apenas contam o

pecado do outro: “Ah, estou magoado com você, porque fez isso comigo!”

Aprendi também, no pastoreamento, que existe uma verdade factual e uma

verdade emocional. Se, por acaso, eu seguro um copo e ele se quebra em minha mão

e me fere, a partir de então eu vou olhar para ele como um assassino, pois “se levantou

contra mim para me matar”! Está é uma verdade emocional. E não adianta ninguém

me explicar que é somente um copo, porque minha visão sobre ele está baseada na

ferida, então, não adianta discutir. É preciso eu pegar um outro copo para perder esta

falsa impressão. E qual é a verdade factual? Este é apenas um copo de vidro! Mas a

pessoa ferida não consegue enxergar isso, porque ela está ferida. Assim, não adianta

tentar justificar pecados, mas chegar à pessoa e pedir perdão, se humilhar.

Jesus disse: Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho

com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao

oficial, e te encerrem na prisão. Eu vejo esse texto como uma situação sem saída, pois,

como vou pagar algo estando na prisão? É impossível! Por isso preciso me reconciliar

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com o irmão enquanto estou andando com ele. E isso é insistir na comunhão! Assim,

está diante de nós um caminho, uma proposta para alcançarmos os frutos do verso

47 de Atos 2.

O sentido da palavra “reconciliar”, no texto de Mateus 5, é restaurar a amizade

que havia antes e que se quebrou. Nós não podemos ter inimizades nem sermos

indiferentes uns com os outros, antes temos que ter comunhão. E na comunhão temos

que ter amor intenso e ardente de uns para com os outros. Esse é o padrão de Deus

para nós e para a Sua igreja.

Nos capítulos 39 e 40 de Êxodo, que fala sobre a construção do templo, há

registrada catorze vezes a expressão: Como Deus mostrara a Moisés no monte. Moisés

fez tudo de acordo com o padrão que Deus lhe havia mostrado.

A construção do tabernáculo é a história de milagre após milagre.

1º milagre: Deus revelar a Moisés como tinha de ser, exatamente, o

tabernáculo, e ele (um homem) ser capaz de receber a sua planta;

2º milagre: Moisés ser capaz de contar para as pessoas exatamente o que

Deus lhe havia mostrado. Ele teve uma visão com detalhes fantásticos sobre o

tabernáculo e a repassou àqueles que iriam trabalhar na sua construção;

3º milagre: Os homens fazerem exatamente como Deus havia mostrado a

Moisés.

No capítulo 39, Moisés passa pelo tabernáculo e vê que tudo era como Deus

lhe havia mostrado no monte. O capítulo termina dizendo: Então Moisés abençoou. Esse

“então” é conclusivo e significa “por causa disso”, ou seja: “Porque está de acordo eu

posso abençoar”. Se nós quisermos a bênção de Deus, temos de fazer exatamente

como Ele nos manda fazer. Deus tem um padrão, um modelo e uma forma de ser para

a igreja e, por isso, precisamos pegar dele a planta para que tudo fique segundo o que

Ele quer.

No final do capítulo 40, diz: Então, a glória do Senhor encheu o tabernáculo. A

palavra “então”, significa: “Porque fizeram conforme eu falei a minha glória pode

habitar nesse lugar”. Nós queremos a bênção e a glória de Deus? Então façamos as

coisas segundo a Sua vontade. Deus não precisa inventores, Ele quer apenas que O

obedeçamos. Muitos têm capacidade criativa fantástica, mas não é isso que Deus

quer, pois o que tinha de ser criado e inventado, Ele mesmo o fez.

Em 1 Crônicas 28 e 29, Davi entrega as plantas (algumas versões dizem

“riscos”) para seu filho Salomão, e o orienta: “Você vai fazer segundo isso”. Salomão

não tinha liberdade de mudar a planta do templo, e nem nós temos liberdade de mudar

alguma coisa porque, afinal, estamos sendo edificados para ser a habitação de Deus

em Espírito. De maneira alguma podemos ser voluntariosos (seguir nossos próprios

caprichos e/ou vontades) quanto ao que Deus nos manda fazer. A casa que nós

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estamos edificando, no nome do Senhor Jesus Cristo, é para morada Dele; Ele precisa

vê-la, e dizer: “Essa é a minha casa, do jeito que Eu queria”. Não podemos mudar o

que Deus determinou e, por isso, precisamos da intercessão e unção do Espírito Santo

para nos ajudar a fazer exatamente conforme a vontade do Senhor.

Voltando para a questão da comunhão, em Cristo Jesus nós nos aproximamos

daqueles que estão em Cristo. Num triângulo ou pirâmide temos duas linhas que

chegam ao vértice e automaticamente se aproximam uma da outra – o vértice é o

Senhor Jesus Cristo. Se você deseja encontrar a pessoa certa para a sua vida vá para

Jesus, pois ele é o ponto de encontro.

Isaque, em Gênesis 24, encontrou Rebeca junto ao poço chamado Beer-Laai-

Roi, que significa “o poço daquele que vive e me vê”. Esse poço é Jesus. É em Jesus

que a gente se encontra. A nossa comunhão não está nas coisas que cremos, pois

estas são relativas; a comunhão está numa Pessoa. Nós precisamos ter uma atitude

de insistir na comunhão, apesar de, às vezes, ser tão difícil andarmos uns com os

outros. Mas, em Cristo Jesus, você e eu devemos insistir na comunhão, pois ela

certamente florescerá.

Ezequiel 37 fala do vale de ossos secos e de como cada um deles se ligou ao

seu osso. Nós não podemos viver sem nossos irmãos. Deus trata e usa uma

ferramenta na proporção da dureza do seu material. Se Ele colocou ao seu lado uma

pessoa dura é porque você precisa dela. Se você é teimoso, Deus colocará ao seu

lado uma pessoa mais teimosa ainda. A dureza da ferramenta é proporcional à dureza

do seu material. A igreja é o lugar das ferramentas e Deus nos colocou nela para, em

comunhão, sermos aperfeiçoados juntamente com os santos. Esse é o rio no qual

Deus nos colocou e nele permaneceremos até que todos nós sejamos parecidos com

o Senhor Jesus. Ele aprendeu a obediência e foi aperfeiçoado pelas coisas que sofreu;

e nós também estamos no mesmo caminho.

A comunhão aponta para a partilha de vida. A palavra “comunhão” significa

“fazer comum de outros aquilo que é meu”. Torno comum de vários os bens que eu

tenho. Torno comum dos irmãos as minhas dores e minhas alegrias. Comunhão não

é estar num culto juntos, mas é partilhar alegrias e tristezas; é dar à nossa família, a

igreja, aquilo que eu estou sofrendo ou aquilo que me faz alegrar. A Palavra diz

exatamente isso: Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (Rm

12.15).

Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu

favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade

(Fp 4.10)

O que o apóstolo Paulo está falando é que os filipenses se associaram na sua

tribulação. Associar significa comprar ações. É como se Paulo dissesse: “Vocês

compraram ações nas minhas tribulações”. Já pensou você comprar ações e se meter

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na tribulação do outro? Isso é comunhão! Paulo estava se referindo a uma oferta que

os filipenses haviam lhe enviado através de Epafrodito.

Ele continua:

Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e

qualquer situação. (...) já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de

abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece. Todavia, fizestes

bem, associando-vos na minha tribulação. (...) Não que eu procure o donativo, mas o

que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. (vs. 11-17).

Aqueles irmãos resolveram investir na vida de Paulo e ouviram dele: “O meu

Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas

necessidades” (v.19). Em outras palavras, o texto diz que Deus vai nos recompensar

não segundo o que investimos, mas segundo a Sua riqueza na glória. Quanto é isso?

É incalculável!

Eu chamo a carta aos filipenses de “carta das emoções” ou “carta dos

sentimentos”. Em quatro capítulos ele faz referência, cinquenta e uma vez, a

sentimentos. No capítulo 2, ele diz:

Espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível, a fim de

que eu me sinta animado também, tendo conhecimento da vossa situação. Porque a

ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses;

pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus” (vs.19-21).

Quando fala de Timóteo, Paulo diz que este estava cuidando das coisas de

Cristo, isto é, as coisas do Senhor é a vida dos irmãos. É impossível servir a Deus

sem servir às pessoas ou separando-se delas. Servir às pessoas e cuidar delas; é o

nosso chamado. Se você não sabe servir, aprenda. No princípio, leve um copo d’água,

depois uma blusa se a pessoa está com frio ou telefone dando-lhe uma palavra de

ânimo e conforto. O que Timóteo fazia? Ele cuidava das coisas do Senhor cuidando

dos irmãos. Cuidar das coisas do mundo é cuidar de si mesmo, mas cuidar das coisas

do Senhor é cuidar das pessoas.

Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão,

cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro e vosso auxiliar

nas minhas necessidades; visto que ele tinha saudade de todos vós e estava angustiado

porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se

compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse

tristeza sobre tristeza. (Fp 2.25-27)

Epafrodito foi um apóstolo enviado pela igreja de Filipos para cuidar de Paulo.

Esse era o seu grande ministério – servir, cuidar e proteger Paulo. Um homem para

cuidar de um homem! Mas Paulo, agora, quer mandá-lo aos filipenses porque estes

estavam preocupados com a sua saúde. No final do texto diz que Deus o havia curado,

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principalmente por causa de Paulo. O nome disso é igreja, isto é, quando nos

preocupamos com a preocupação do outro.

Isso é insistir na comunhão e esse é o nosso caminho. Foi esse o jeito que

Deus nos mostrou no monte; essa é a planta do tabernáculo do Senhor, da Casa de

Deus – um povo que se preocupa uns com os outros. O ápice da carta aos filipenses

está no capítulo 2, versículo 5 a 7: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também

em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual

a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo.... Em outras palavras,

Cristo não pensou em si mesmo, mas se esvaziou para cuidar de nós. Esse é o padrão

que Deus quer para as nossas vidas.

A morte de Jesus Cristo pode ser vista sob dois prismas ou dois pontos de

vista. Um deles é o jurídico: aquele que pecar, morre. Mas Jesus veio e pagou um

preço pelos nossos pecados e nos livrou da morte. A cédula que era contra nós foi

cravada na cruz e já não temos mais nenhuma dívida com o Pai.

Porém, a questão jurídica não é tudo: Jesus Cristo veio também para restaurar

a nossa comunhão que estava quebrada com Deus. Para isso ele precisou que a

justiça (o lado jurídico) se cumprisse – quem pecar, morre. Isso é justo diante de Deus.

Contudo, Jesus não somente nos livrou da morte, mas também rasgou o véu que nos

separava da comunhão com o Pai. O objetivo da morte de Cristo (aspecto jurídico)

era restaurar a nossa comunhão. Nós precisamos viver no poder da ressurreição

(poder da vida) de Jesus Cristo e não permitir que nada nos separe mais. A única

maneira de nada nos separar é estarmos, cada um de nós, em Cristo Jesus – dentro

da pessoa de Jesus Cristo.

Sobre a obra de Jesus por nós:

Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão

por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo,

estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da

promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus,

vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é

a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que

estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de

ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz,

e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo

por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz

também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um

Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e

sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo

ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce

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para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo

edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2.11-22).

De acordo com o texto acima, existem dez coisas que Jesus fez quando o seu

corpo foi moído:

1ª – Ele morreu por nós. Na Ceia somos “nós”, mas na cruz sou “eu” (Ef 2.13).

2ª – Ele tornou-se a nossa paz (Ef 2.14).

3ª – Ele fez de judeus e gentios um só povo formando um novo homem. Um

homem coletivo, que é a igreja, o Corpo de Cristo no qual ele é a Cabeça. Paulo exorta

a que nos revistamos do novo homem, ou seja, da igreja. A igreja é a nossa cobertura,

nossa nova vestimenta (Ef 2.14-16 e 4.24).

4ª – Ele derrubou a parede de separação entre judeus e gentios, tornando-se

a nossa paz. Essa paz não é um sentimento, mas uma Pessoa. Se você tem Cristo,

você tem paz. Se você não tem Cristo, você tem apenas um sentimento, porque a paz

verdadeira é ele (Ef 2.14-16).

5ª – Ele aboliu a lei dos mandamentos. Não é que ele jogou fora os

mandamentos, mas aboliu o peso e a carga da lei sobre nós. Hoje nós não cumprimos

a lei porque temos medo do pecado, mas a cumprimos porque essa lei se deslocou

da pedra para o coração. Essa é a grande diferença entre o Antigo e o Novo

Testamento. Obedecemos ao Senhor e as Suas leis porque são boas, santas e

perfeitas. Elas iluminam os olhos, são desejáveis e doces ao coração. Não temos mais

medo delas, pois agora elas são boas e nós as amamos. Por isso, meditamos nelas

dia e noite (Ef 2.15).

6ª – Ele fez a paz entre judeus e gentios (Ef 2.15,16).

7ª – Ele reconciliou o homem com Deus (Ef 2.16).

8ª – Ele matou a inimizade. As ações de Deus são muito fortes e, na cruz de

Cristo, Ele fez uma coisa extremamente definitiva: matou o pecado e o pecador. Se

ele tivesse matado apenas o pecado, certamente continuaríamos fazendo outras

coisas erradas. Então ele nos matou também. Essa é a nossa vitória sobre o pecado:

estamos mortos em Cristo Jesus! Morremos com Cristo, mas também fomos

ressuscitados com ele para vivermos em novidade de vida! Ele matou a inimizade que

havia entre nós e ele e entre nós e os nossos irmãos. Deus quer que tenhamos

amizade com todo o Seu povo; claro que não é no mesmo nível, mas não pode haver

entre nós nenhuma frieza ou indiferença. Não existe nenhum mandamento na

Escritura que diz “gostai uns dos outros”, mas, sim, “amai-vos uns aos outros”. Não

importa o que a pessoa faça de errado, o amor cobre multidão de pecados. Assim,

você sai do nível do gostar e entra no nível do amar – isso é a morte da inimizade (Ef

2.15,16).

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9ª – Ele trouxe a pregação da paz para todo homem em todas as nações,

judeus ou gentios. O evangelho da paz precisa ser anunciado a todo homem: Jesus

Cristo se fez paz entre Deus e nós (Ef 2.17).

10ª – Ele abriu o acesso ao Pai para todo homem. Havia um véu que nos

separava, mas quando Jesus morreu na cruz esse véu foi rasgado. Não de baixo para

cima, mas de cima para baixo, mostrando com isso que a iniciativa não foi nossa, mas

de Deus. O véu foi rasgado de alto a baixo, portanto, hoje temos acesso diante do Pai

(Ef 2.18).

Nós somos chamados para a comunhão com Jesus Cristo e

consequentemente uns com os outros. Não permita que a sua comunhão se esfrie!

Um irmão disse, certa vez: “Qualquer brecha que haja entre mim e você, é um espaço

para Satanás entrar”. Nós precisamos andar colados, ligados um ao outro para que

Satanás não encontre nenhuma brecha para entrar. Isso deve levar você a atitudes

práticas, tal como: não escute nada que alguém fale do seu irmão, defenda-o sempre

etc.

Quando Davi sobe ao trono ainda guardava no coração a figura do seu amigo,

Jônatas, a quem sua alma tinha se apegado. Jônatas havia feito Davi jurar que

cuidaria dos seus descendentes. Esse não foi um pedido normal, pois, naquele tempo,

quem chegasse ao trono matava os descendentes do rei anterior para evitar qualquer

tentação por parte deles. Mas Davi jurou cuidar dos descendentes de Jônatas e, por

isso, procura saber se ainda restava algum descendente seu. Sim, havia um filho dele,

chamado Mefibosete, que tinha os pés aleijados. Davi manda chamá-lo à sua

presença, mesmo que o costume era que ninguém defeituoso chegasse diante do rei.

Davi não apenas permitiu que ele viesse à sua presença, mas também que se

sentasse à sua mesa daquele dia em diante.

A mesa da comunhão esconde os nossos aleijões, os nossos defeitos. Por isso,

a Palavra diz que o amor cobre multidão de pecados (1 Pe 4.8). Quando nós temos

comunhão com os irmãos os defeitos se tornam invisíveis, porque não nos

relacionamos com defeitos, mas, sim, com pessoas. Amamos o outro com tal

intensidade que os problemas dele são cobertos pelo amor do Senhor. Ver os defeitos

do outro mostra o nosso baixo nível espiritual.

A comunhão estreita a nossa relação a tal ponto que passamos a considerar

valorosos os irmãos que antes não valorizávamos. Na verdade, descobrimos que eles

completam as nossas vidas. Nenhum de nós é tão pequeno que não possa cooperar

ou tão grande que não necessite cooperação. Se nós estamos de pé é porque o

Senhor nos sustenta através de pessoas que oram e jejuam por nós. Muitas vezes

essas pessoas não aparecem nem estão nos púlpitos, mas são gigantes diante de

Deus na oração. Como nós precisamos uns dos outros!

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Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois

quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que

há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. (1 Co 11.28)

Eu não posso estar em Cristo sem compreender que o irmão é parte da minha

vida. Se eu me separo dele isso produzirá carência, porque o sangue, a vida, não

chega a mim, isto é, a vida de Cristo deixa de fluir dele para mim. Não use garrote

(borracha que prende o sangue) na sua vida, deixe com que o sangue flua de você

para o irmão. Permita que seus dons espirituais e a misericórdia de Deus sejam para

as pessoas.

Nós somos guardadores dos nossos irmãos, responsáveis por suas vidas. Eu

não tenho o direito de falar de alguém que caiu em pecado se não estive

suficientemente perto dele para impedir que caísse. Resta-me pedir perdão a Deus

por não tê-lo ajudado. Claro que haverá casos em que a pessoa estará fechada para

a ajuda ou conselho; nesse caso, devemos orar por ela. Minha esposa costuma dizer

o seguinte: “Tem horas que eu tenho de parar de falar de Deus para a pessoa e

começar a falar da pessoa para Deus”. Precisamos incomodar Deus para que Ele faça

alguma coisa pela pessoa. Isso é cuidar um do outro em comunhão.

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CAPÍTULO 4

O PARTIR DO PÃO

1 Pedro 4.10 diz que nós precisamos ser bons despenseiros da graça de Deus, servindo

aos irmãos com os dons que temos. Esse é o princípio do partir do pão. Interessante

notar que eles insistiam no “partir do pão” e não em “comer o pão”. A ênfase é repartir

o que eu tenho para as pessoas.

Tudo o que chega a nossas mãos, sejam coisas naturais ou espirituais, são

dons que Deus nos dá, não para serem estancados em nós, mas para, através de

nós, abençoarem outros. Tudo o que você tem é para ser usado na vida de pessoas.

Por exemplo: Vai comprar um carro? Compre um que seja maior para transportar as

pessoas que você irá evangelizar. Vai construir uma casa? Construa uma com sala

maior para receber a igreja e com quarto extra para hospedar as pessoas. Não se

preocupe com seus tapetes e sofás, pois as coisas não devem ser mais importantes

que as pessoas. Tudo o que Deus nos dá é para ser usado em benefício de outros.

Que Jesus, quando voltar, nos encontre alimentando os nossos conservos. Nós

queremos esperar Jesus com os braços para cima, mas ele quer que o esperemos

fazendo coisas em favor dos outros.

Partir é diferente de comer. Quando parte o pão, você automaticamente está

pensando em alguém. Nós gostamos muito de sentar e comer, mas precisamos gostar

mais de partir o pão. Partir o pão fala de darmos aquilo que nós temos, fala de suprir

aos outros. Nenhum bem que está em nossas mãos, sob os nossos cuidados, foi dado

por Deus para o nosso próprio prazer. A carta aos Efésios é muito forte nisso,

principalmente o capítulo 4 que fala de uma mudança radical de vida. Eu chamo esse

capítulo de “outrora” e “agora”, antes eu era assim e agora eu sou assim. É a nossa

atitude de mudar de reino, de cultura e de prática. Ele diz, por exemplo: Aquele que

furtava, não furte mais, antes trabalhe (Ef 4.28). Trabalhar para quê? Para ter com o quê

acudir aos necessitados.

Lucas 12 fala de um homem que, ajuntando muito no seu celeiro, disse à sua

alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te

(v.19). Mas Deus o repreende: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens

preparado, para quem será? (v.20). Em Eclesiastes 4, lemos: um homem sem ninguém,

não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de

riquezas; e não diz: Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? (v.8). O

trabalho não é para nós, mas para que tenhamos condições de suprir as necessidades

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das pessoas. Muitos acham que o pecado de Sodoma (Gn 16) era sexual, mas o seu

pecado era a soberba, a fartura de pão, sem se preocupar com os pobres. O pecado

sexual, na verdade, foi consequência de uma vida farta sem se preocupar com os

outros. Por isso, veio enxofre do céu sobre ela. Partir o pão é cuidar de pessoas que

necessitam.

É absolutamente impossível estar em Cristo e ao mesmo tempo estar separado

dos irmãos. Não dá para ser cristão sozinho, precisamos dos santos.

...habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em

amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o

comprimento, e a altura, e a profundidade (Ef 3.17,18)

O versículo acima fala de quatro dimensões: largura, comprimento, altura e

profundidade. A mente humana foi feita para ver as coisas em três dimensões, não

mais que isso. Mas o texto diz que o fato de andarmos juntos, em unidade, nos faz

ver uma quarta dimensão. Deus nos limitou como indivíduos, mas expande a nossa

compreensão e capacidade na unidade. Com a igreja nós podemos entrar numa

dimensão que nunca pensávamos em entrar. Isso nos faz concluir o quanto é forte a

unidade no corpo de Cristo.

Deus amplia a nossa compreensão no contexto da coletividade. Por exemplo:

Você pensa ter paz em fazer uma determinada coisa, mas os que andam com você

não sentem paz nisso. Sua prova está na Palavra, quando diz: Seja a paz de Cristo o

árbitro em vosso coração, à qual, também fostes chamados em um só corpo... (Cl 3.15). Veja

que o texto não fala no singular, mas que a paz de Cristo está no meio da igreja. A

paz que eu sinto sozinho não é bíblica, por isso, tenho que ter a paz que se manifesta

na vida da igreja.

Como funciona essa dinâmica da paz? Ao fazer alguma coisa que está

abalando a paz dos irmãos, entendo que isso é o árbitro que está “apitando” e dizendo:

“Pare!” Então eu paro, porque a paz particular e pessoal é extremamente perigosa.

Ao insistir em seguir a sua paz particular verá no futuro que foi um erro, e ficará

admirado consigo mesmo por ter tido a capacidade de ter feito tal coisa. A paz

particular é, de fato, uma paz enganosa. Como diz um hino antigo da Igreja Batista:

“Que o Senhor nos livre da paz enganosa”. O parâmetro não está em nós, mas em

nossos irmãos em Cristo. Tudo o que você fizer depois que o “apito do árbitro” tocar,

será inválido. O juiz apitou para você parar porque aconteceu uma falta. Se não parar

e fizer um gol, este não será válido. Andar segundo a paz no meio da igreja é uma

proteção para nós, mas fazer uma coisa de nossa própria cabeça é um desastre. Não

ande sozinho porque, se cair, quem o levantará? Se tiver frio, quem o esquentará?

Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se

caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não

haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas

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um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe

resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. (Ec 4.9-12)

Um dos aspectos da unidade é que ela potencializa as coisas. Quando Deus

cria Adão Ele o manda cuidar do Jardim, mas quando cria Eva Ele diz: “Domine a

terra”. Você percebe a potencialização da unidade? Não era Eva que era poderosa,

mas a unidade entre os dois.

Na construção da Torre de Babel, Deus se preocupou com a unidade errada

entre aqueles que a construía. Ele disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma

linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer

(Gn 11.6). Não existe nada mais poderoso na face da Terra do que a unidade, seja

ela para o bem ou para o mal. Se desejamos mudar a história do nosso país, nós

precisamos ser UMA igreja. Não necessariamente nos reunirmos num só lugar, mas

nos comportarmos e vivermos como UMA SÓ igreja para que as nações sejam

convertidas ao Senhor. Quando está EM Cristo você se aproxima, naturalmente, dos

que estão EM Cristo também.

Em meus estudos da Bíblia costumo mudar os textos negativos para positivos

e os positivos para negativos. Por exemplo: “Se eu andar na luz como ele na luz está

eu tenho comunhão, porque o sangue do Senhor Jesus Cristo me purifica de todo

pecado”. Colocando na negativa: “Se eu não andar na luz como ele na luz está, eu

não tenho comunhão com os irmãos e nem o sangue de Jesus me purifica de todos

os meus pecados”. Isso é grave? Sim, isso é uma questão de vida. Por isso, a unidade

da igreja não é uma opção, mas é a nossa salvação e a esperança para o mundo. É

isso que Paulo diz: Cristo em vós, a esperança da glória (Cl 1.27b). Para quem? Para nós,

gentios.

A morte de Cristo pode ser vista sob dois ângulos. Um ângulo é o jurídico, que

é quando Jesus vem e paga a dívida que tínhamos para com Deus. Mas ele não

morreu só pelo jurídico, morreu também para juntar num só corpo todos os filhos

dispersos, quebrando assim toda a barreira de separação que havia entre nós e ele,

e, consequentemente, entre um e outro. Porque, quando há barreira de separação

entre eu e Deus, também há separação entre eu e meu irmão. É impossível ter uma

sem ter a outra. Quando Deus nos perdoou Ele abriu o caminho para nos

relacionarmos com nossos irmãos.

Sobre partir o pão, chamo a atenção para 1 Coríntios 11.28-30, que diz:

Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois

quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que

há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.

Invertendo o texto, teremos: A falta de discernimento produz fraqueza

espiritual, doença espiritual e muitos que dormem; mas, se tivermos discernimento

haverá cura, avivamento e despertamento na Igreja. É isso que nós queremos? Louvo

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a Deus pelos que oram insistentemente por avivamento, mas isso só virá quando nós

discernirmos o corpo de Cristo. Não pare de orar por avivamento porque, talvez, isso

nos leve ao discernimento; a sua oração vai provocar um mover de Deus no meu

coração e isso avivará a minha vida.

Existe algo que eu penso que nos confunde a respeito da unidade. É o

pensamento de que há unidade entre estruturas. Não! A unidade não é entre igrejas,

mas entre pessoas. Hoje existe uma proliferação do marketing nos programas

“evangélicos”. Vendem-se “coisas inventadas” para adquirir a bênção dos céus. Não

quero nenhuma comunhão com esse tipo de coisa, mas quero me aproximar da

pessoa envolvida nisso porque, talvez, eu seja a esperança que Deus tem para falar

com ela. Posso visitá-la e, sentados em comunhão, abrir-lhe o meu coração,

alertando-a para o perigo desses marketings.

Eu evito falar sobre o que vejo por esse mundo afora. Mas tem muita invenção

por aí que mostra que o homem usa o marketing para atrair os incautos. As promessas

são vendidas e o povo (na verdade, nada incauto) as compra. Sabemos que, enquanto

tiver corruptos, haverá corruptores. No entanto, a nossa abordagem a essas pessoas

deve ser semelhante à de Jesus. Ele poderia ter vindo diretamente do céu aos trinta

anos, ter feito um grande sinal e convertido todo mundo pelo temor e pelo medo. Mas

ele não fez isso, pois não quer ganhar as nações “por atacado”, mas ganhar coração

após coração. As pessoas se preocupam com a massa, a multidão, e se esquecem

de que Jesus conquistava cada coração. Havia a multidão, mas a sua estratégia era

sempre chegar a cada indivíduo. Em se tratando de pessoas que praticam “pecado

teológico”, vamos dizer assim, precisamos fazer o papel de pacificadores. O fato de

termos essa revelação nos responsabiliza, ou seja, se temos a visão da unidade da

Igreja, o nosso trabalho aumenta. Jesus vai requerer isso de nós e, por essa razão,

devemos andar segundo a luz que temos.

Dois anos atrás fui convidado a pregar para líderes, padres e freiras, na

Catedral Católica de Copacabana. Eu pretendia pregar sobre família usando o livro

de Neemias. Mas, para minha tristeza, Deus lembrou-me que para conhecer Neemias

eu tenho primeiro de conhecer Jeremias. Em Jeremias é relatado que as mulheres

queimavam incenso à rainha do céu e Deus queria que eu começasse minha palavra

por aí. Falei para Ele que eu não podia.

Quando cheguei ao Rio de Janeiro já era noite e fiquei hospedado no

apartamento enorme de um casal. A mulher me explicou que precisaram morar num

lugar grande onde coubesse as suas imagens. O lugar estava abarrotado de imagens,

inclusive no quarto que fui dormir. Ali orei pelo dia seguinte e Deus me orientou que

começasse com o capítulo 45 de Jeremias. Argumentei com Ele dizendo que eu não

queria ofender as pessoas, mas apenas pregar o evangelho. Não sei como Deus

resolve essas coisas com você, mas comigo Ele se cala e vai cuidar de outras coisas,

deixando-me “estrebuchando”. Não dormi naquela noite, pois briguei o tempo todo

comigo, dizendo: “Eu não posso!”

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No dia seguinte, já na reunião, eu fiz um panorama do livro de Neemias e disse

que a causa estava em Jeremias, o qual dizia que o povo queimava incenso à rainha

do céu. Como Deus não mandara explicar o texto eu apenas o li. Sim, eu precisava

passar por ali. Após a leitura o ambiente ficou como um céu de chumbo, um olhando

para o outro, assustado. Continuei a palavra e os convidei a se arrependerem. Todos

ficaram de joelhos e choraram diante de Deus. Era a direção de Deus funcionando:

“Olhe para as pessoas e não para as estruturas”.

O partir do pão é também um aspecto da ceia. A ceia é o momento mais

significativo e importante da vida da Igreja. Eu tenho medo quando vejo as pessoas

desprezando-a, porque ela é uma coisa muito séria. Em Números 9, lemos a respeito

da primeira ceia, que é a Páscoa, e a única razão pela qual a pessoa não a celebra é

se estiver viajando. Do contrário, se ela não está viajando, está pura e não participa,

sua alma será “eliminada do meio do povo de Deus”.

A ceia é a nossa identidade nacional, nos identifica nacionalmente. Quando os

israelitas eram escravos no Egito, Deus ordenou que pusessem o sangue do cordeiro

no umbral de suas portas. Sendo assim, cada casa se identificava com a outra que

também era sinalizada com o sangue. Naquela noite, eles não eram mais escravos

dos egípcios porque passaram a ser o povo de Deus; tinham, agora, uma identidade

nacional. A ceia nos traz essa revelação.

Em Lucas 24, temos a interessante história dos dois discípulos que subiam de

Jerusalém para Emaús. Jesus caminha com eles e, percebendo os seus semblantes

tristes, os interroga sobre a sua causa. Eles ficam admirados por Jesus ser o único

em Jerusalém que não sabe dos últimos acontecimentos e explicam o que aconteceu

com Jesus, o Nazareno. Depois disso, Jesus os chama de “néscios e tardos de

coração” e passa a explicar-lhes tudo através da lei e dos profetas. Eles, porém, não

o entendiam, mas o convidaram a entrar na cidade e comer com eles. À mesa, o

costume é que ao visitante seja dada a honra de partir o pão. Jesus, então, parte o

pão e nesse exato momento os olhos deles se abrem e o reconhecem. A ceia nos

abre os nossos olhos e nos revela quem é Jesus Cristo.

Ela também aponta para uma vida de compromisso com a Igreja, ou seja, ela

me impulsiona e constrange a relacionar-me com os irmãos e a me congregar.

Congregar não é estar numa reunião esporádica, mas significa pertencer a um

rebanho. O capítulo 10 de Hebreus nos exorta ao dizer que aquele que pecar

deliberadamente sofrerá o castigo. Pecar deliberadamente é escolher não congregar,

escolher não pertencer, ser um “lobo solitário” vagando por aí.

Outro ponto é sobre a verdade emocional, que é quando eu enxergo as coisas

não em cima da realidade, mas em cima de um acontecimento ruim que me

aconteceu. Por exemplo: Se um copo quebra na mão de alguém e o machuca, a partir

desse acontecimento a minha visão a respeito dos copos de vidro é alterada, isto é,

eu passo a ter uma visão emocional sobre os copos. Não adiantará nada querer mudar

minha visão até que ela seja curada dessa verdade emocional.

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O sangue opera no contexto do corpo. Ele precisa de veias e artérias e não é

algo externo a nós. A figura ilustrativa sobre isso é você indo a um hospital escola e

vendo mãos e pés em frascos para serem estudados. Não adianta nada você, movido

de compaixão, derramar sangue sobre eles. Isso não lhes trará vida, pois só teriam

vida se estivessem ligados ao corpo. Se você disser sessenta vezes por minuto “o

sangue de Jesus tem poder” isso de nada adiantará, não funciona. Só funciona se eu

e você estivermos ligados no corpo de Cristo. Só assim o sangue fluirá.

A Bíblia não era um livro dividido em capítulos e versículos. Isso só foi feito

posteriormente para facilitar a organização na leitura e, na verdade, os textos bíblicos

são como cartas. Nesta luz, voltemos à carta aos Coríntios. Há uma sequência nela,

isto é, seus capítulos são interligados.

Do capítulo 11 para o 12 o assunto não muda. O final do capítulo 11, fala sobre

examinar e comer; o capítulo 12, fala dos dons espirituais. Veja que ele termina de

falar sobre a ceia e começa a falar da vida prática do Espírito Santo através dos dons.

Isso nos faz lembrar que assim como o sangue opera vida no corpo humano, o Espírito

Santo opera os dons em nós. Quando me deixo ser usado nos dons espirituais eu

estou trazendo vida e saúde para a igreja. Veja, então, que continua dentro do assunto

“vida no corpo”, e continua no mesmo assunto do capítulo 1, que é sobre a unidade

da igreja. O capítulo 13 nos dá a motivação da unidade que é o amor de Deus; o

capítulo 14 fala como devemos usar os dons para a edificação dos irmãos, sendo isso

o mover do amor de Deus em nós. Isso fala de unidade. O capítulo 15 aponta para a

volta de Jesus Cristo, porque uma igreja unida está preparada para estar com o

Senhor; o capítulo 16 diz que “já que somos um, o povo de Jerusalém está passando

fome, vamos levar uma oferta para cuidar deles”. Então, do capítulo 1 até ao capítulo

16, Paulo trata da nossa relação com a igreja. 1 Coríntios é um bloco completo de vida

de Cristo para combater as preferências mencionadas no primeiro capítulo.

Certa vez, numa reunião do Conselho de Pastores em Jundiaí, quando diversas

denominações estavam participando, um repórter me abordou: “Vocês dizem que são

unidos, mas aqui tem várias denominações, não é?” Esquivei-me e pedi a um diácono

que lhe explicasse. Ele explicou: “Não, nós não somos divididos. Assim como na Igreja

Católica tem os Salesianos, os Franciscanos e os Jesuítas, assim somos nós”. Pensei

comigo: “Que sujeito esperto!” Mas se Paulo fosse o entrevistado, ele responderia:

“Sois carnais!” Não há outra resposta para a nossa situação. Somos carnais! Como já

disse, eu não creio que unidade da Igreja seja todos se reunirem em um só lugar, mas

creio que Deus nos espalhou para que cada rua da cidade nos conhecesse. Por outro

lado, a unidade da Igreja está nos pastores juntos para abençoar toda a Igreja. Não

podemos ter comunhão e unidade com irmãos que estão do outro lado do bairro, mas

os pastores podem e devem estar juntos para abençoar toda a Igreja. A unidade se

manifesta na vida dos pastores. A nossa situação e nossa responsabilidade é muito

mais séria do que imaginamos. Nós temos de buscar e cuidar uns dos outros para o

bem da Igreja e do povo de Deus.

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Não podemos esperar uma comunhão profunda em uma reunião. Esperar por

isso vai gerar decepção, porque uma reunião não pode dar mais do que ela pode dar.

Onde podemos esperar a comunhão profunda? Na casa do irmão. Faça uma proposta

para você mesmo de visitar os pastores da cidade, ir à casa deles e ser amigo deles.

Um irmão de Sabará (MG), sentiu Deus o incomodando sobre isso e resolveu

comprar cestas básicas e levá-las para os pastores das igrejas menores. A princípio,

alguns deles estranharam e perguntaram se ele era candidato a alguma coisa. Ele

dizia que não e que estava ali para abençoá-los. Foi difícil vencer essa resistência,

mas ele insistiu e, hoje, os pastores de Sabará se reúnem quase todas as semanas,

atraindo também as autoridades da cidade, como o juiz e o promotor, que estão

participando com eles. Tudo isso porque um homem decidiu visitar a casa das

pessoas. Por isso, não podemos acabar com as reuniões, pois elas servem, pelo

menos, para encontrarmos as pessoas e marcar encontros com elas para ter

comunhão fora dali. Tente fazer isso com as mais diferentes pessoas e você se

surpreenderá com o resultado.

O que eu diria sobre o assunto “perdão”? Nós viemos do inferno e lá não tem

perdão. Foi de lá que Deus nos resgatou. Como Paulo diz, nós estávamos mortos em

nossos delitos e pecados, éramos filhos da ira e da desobediência, isto é, filhos de

Satanás.

Certa vez, um pastor chegou para mim e disse: “Mas na minha igreja só

converte tranqueira”. Eu falei: “No dia em que evangelizar o céu, os querubins e

serafins hão de converter, mas, aqui, onde você está evangelizando, só tem tranqueira

mesmo.” Todos nós somos “tranqueiras” que Deus está transformando. Quando você

sai para evangelizar, você evangeliza dentro do inferno. É por isso que a Palavra diz

que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja. Quando saímos para

evangelizar nós estamos arrombando as portas do inferno. O que tem lá dentro são

os filhos do diabo, iguais ao que nós éramos. Saímos do inferno com toda essa carga

porque lá não tem perdão. Chegamos à igreja habituados a não perdoar, a sermos

vítimas e a pensar apenas em nós mesmos. Ao entrar para a vida cristã é preciso

fazer toda uma reformulação e adquirirmos novos conceitos para que haja mudança

em nosso comportamento. Não temos em nosso DNA humano o perdão, mas nós

adquirimos de Deus essa capacidade.

A vida de unidade tem de começar com o perdão, porque o ambiente da igreja

onde estamos inseridos é um ambiente de feridas. Nós nos ferimos e ferimos uns aos

outros. Jesus foi ferido não pelos de fora, mas pelos da religião. Quem o matou não

foram os de fora, mas os da religião. Durante toda a história, a Igreja foi perseguida

pelos religiosos. Por isso, precisamos sempre nos armar de um coração perdoador

em todos os ambientes. Perdoar não vem de nós mesmos, mas é uma dádiva dada a

por Deus. Nós, então, perdoamos como o Senhor nos perdoa, perdoamos com o Seu

poder em nós. Perdoamos porque Ele nos dá graça para perdoar, porém, a decisão

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de perdoar é nossa. Costumo dizer que a decisão é minha, mas a capacitação é de

Deus.

Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros

da multiforme graça de Deus. (1 Pe 4.10)

O dom é uma dádiva que veio a nós de graça, é tudo aquilo que recebemos de

Deus, tanto espiritual como natural. O texto diz que devemos servir aos outros

conforme o dom que nós recebemos. Tudo o que você tem (carro, casa, roupas, o

falar em línguas, etc.) é dom de Deus. O único dom espiritual que é para o nosso

consumo pessoal é o dom de línguas; todos os outros são para benefício e serviço

aos outros. O dom de variedade de línguas é para a minha edificação, só posso

edificar outros se eu mesmo estiver edificado. Portanto, o falar em línguas não é

exatamente para meu benefício, mas para estar com a “bateria” carregada para ajudar

aos irmãos. Em última instância, tudo o que eu tenho é para os outros.

Pedro, no texto acima, nos exorta a ser “bons despenseiros”. Despenseiro era

a pessoa que cuidava do armazém de alimentos e o “bom despenseiro” é aquele que

é achado pelo Senhor alimentando os seus conservos, cuidando deles com os dons

que Deus lhe deu.

Todos nós temos dons naturais e espirituais. Quando alguém me pergunta

quantos dons espirituais nós temos, eu respondo: “Todos, e nenhum”. Você tem o

Espírito Santo, então tem todos os dons que ele tem. Os dons são do Espírito Santo,

por isso, você tem tudo e nada. A questão, contudo, é você se colocar à disposição

para Deus lhe usar. Em 1 Coríntios 14.26, diz: Quando vos reunis, um tem salmo, outro,

doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Isso me dá

a ideia das idas ao tabernáculo (templo) para fazer o sacrifício, quando cada pessoa

trazia de casa uma oferta. Nós nos preparamos em casa para vir ao culto trazendo os

nossos dons e, então, prestamos atenção sobre quem precisa deles (uma palavra de

profecia, de consolo, de exortação, de ânimo). Pedimos a Deus que nos oriente e Ele

nos aponta o irmão que está precisando. Isso é ser “um bom despenseiro da

multiforme graça de Deus”.

Partir o pão é repartir a sua vida e o que você tem. Isso é mais que participar

da ceia, pois esta é a manifestação de um estilo de vida que tivemos durante o mês

(se a ceia for mensal). Ao nos reunirmos para comer do pão e tomar do cálice com os

irmãos nós estamos, na verdade, proclamando o que foi a nossa vida naquele mês.

Caso contrário, estaremos proclamando uma mentira. Qual a solução para isso? Parar

de celebrar a ceia? Não! A solução é mudar de vida, é servir ao irmão – abraçá-lo,

oferecer o seu ombro e chorar com ele nas suas dificuldades. Nem sempre é preciso

falar porque uma boa palavra, muitas vezes, é o silêncio. Não sou capaz de

compreender a dor do outro, só posso chorar com ele. Isso é partir o pão!

Considero Mateus 14 o capítulo do estresse porque é muito pesado. Nele

vemos Jesus pregando, evangelizando, curando e, no meio do dia, ele fica sabendo

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da morte de João Batista. A Palavra diz que Jesus se isola para buscar força em Deus,

pois João era uma pessoa que ele muito respeitava. No final da tarde, lá está Jesus

com milhares de pessoas e os seus discípulos o aconselham a despedi-las em paz

para que possam comprar pão e se alimentar. Essa foi uma proposta “indecente”. Eles

estavam num lugar deserto, onde iriam comprar pão? Na verdade, os discípulos não

estavam dando uma solução, mas, sim, se livrando de um problema. Jesus se volta e

diz: “Deem vocês pão para eles”.

Nós também temos essa mania de jogar para outros as nossas

impossibilidades, esperando que eles resolvam. As crianças de rua estão passando

fome, quem tem de resolver? O governo ou a igreja? Bem, o governo não tem coração,

ele é uma instituição. Apenas a igreja tem compaixão dos necessitados, porque ela é

o lugar da misericórdia. Não critique o governo, mas faça você o que perceber ser

necessário fazer.

Alguém traz uns pãezinhos e peixinhos para Jesus e ele os entrega aos

discípulos para que alimentem a multidão. À medida que iam repartindo o pão, este

não se acabava. O mesmo aconteceu com a mulher que derramou azeite na botija (2

Reis 4). Enquanto ela tinha botijas, o azeite não parou de ser derramado. O texto não

diz que o azeite acabou, mas que ele parou por não ter mais vasilhas. O infeliz da

história de Mateus 14 é que, mesmo vendo o milagre, os discípulos não

compreenderam. Eles queriam que Jesus resolvesse o problema, mas Jesus nos

ensina que nós é que vamos resolvê-lo. O problema de fome e crianças abandonadas

na cidade é a igreja que vai resolver. Nós somos o povo que tem coração, que cuida

dos povos e dos pobres; nós somos o povo que reparte o pão e insistimos no partir

do pão. Não diga que tem pouco! Nós não damos porque temos pouco, mas temos

pouco porque não damos. Quanto mais você der, mais Deus lhe dará.

Certa vez, numa igreja pobre da Bahia, entendi de Deus que devia dar uma

oferta para ajudar na campanha que estavam fazendo para comprar cadeiras. Dei o

que eu tinha no bolso, fiquei sem dinheiro. Depois da reunião daquela noite uma irmã

chegou para mim, e disse: “Jamê tenho de lhe falar uma coisa e não sei nem como

começar, pois nunca fiz isso, mas Deus me mandou fazer”. Ela tirou da sua bolsa um

envelope com dinheiro e me entregou. O valor era mais do que eu havia ofertado. Na

próxima cidade aconteceu o mesmo. Estavam fazendo uma campanha e eu dei o que

tinha no envelope. Na saída, um irmão ofertou-me com um valor maior ainda. No

tocante a dar, ninguém nunca conseguirá vencer a Deus. Ao dar, você abre sua mão

para Deus dar-lhe mais. Ele não precisa do nosso dinheiro, mas quer o nosso coração.

Deus tanto supre as grandes como as pequenas necessidades. Eu precisava

sair do aluguel e oramos, eu e minha esposa, por uma casa. Deus, então, usou irmãos

com os recursos para comprá-la. Ao sentar-me com eles para negociar a devolução

do dinheiro, me disseram que não tinha sido um empréstimo, mas um presente. Em

Moçambique, comentei na mesa de um irmão o desejo de comer uma caranguejada

e ele me disse que não era tempo de caranguejo. Enquanto ele falava, bateram à

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porta. Era um vendedor de caranguejos. Em outra ocasião, quando me preparava para

uma viagem ao interior do Brasil, minha esposa comentou sobre minha necessidade

de ter uma calça social, camisa social, sapato social e uma camisa polo. Disse-lhe

que quando voltasse pensaria sobre isso. Fui para a viagem e fiquei hospedado na

casa de um irmão, dono de uma rede de lojas. No final do trabalho naquela cidade,

ele levou-me à loja e deu-me de presente uma calça social, camisa social, sapato

social e uma camisa polo. Você entende quem é Deus?

Em muitas e muitas situações Deus Se mostra o nosso supridor. Por isso,

quando Ele disser a você “entregue isso”, entregue. Não relute, porque Deus está

querendo abrir espaço para lhe dar mais. Não seja uma pessoa mesquinha que retém

as coisas para si, porque tudo o que você tem não é para você. Nós somos meros

mordomos, pois as coisas que estão em nossas mãos não são nossas. Ao dar o

dízimo você está declarando que 100% é de Deus, e 10% você entrega para Ele como

um símbolo, porque o que ficou no seu bolso é do Senhor.

O Pr. Ernesto, da Igreja Batista, dizia que “a oferta se mede pelo tanto que fica

no bolso e não pelo tanto que é colocado na caixinha”. A oferta tem que doer, porque

se não doer é esmola. O padrão de Deus é nos dar coisas caras – Ele nos deu o Seu

Filho. Nunca dê esmola para Deus! Quando ofertar, oferte o melhor que você pode,

aquilo que vai lhe fazer falta. A viúva pobre deu todo o seu sustento (Lc 21). Esse é o

padrão de Deus. Repartir o pão fala de um coração dadivoso, generoso.

Quando ensino sobre a prática da oferta, eu trabalho em cima de três pontos:

generosidade, proporcionalidade e regularidade. Nós temos que ser generosos

porque o nosso Deus é generoso; Aquele que habita em nós é generoso e nós somos

filhos parecidos com Ele. Se o nosso Pai é generoso, nós também somos generosos.

Deus não retém, não fecha a Sua mão nem o Seu coração para nós.

A igreja de Antioquia era uma igreja muito especial e tinha todas as

características de uma igreja madura: os ministérios eram claros (havia profetas e

mestres), dependia de Deus em oração e jejuns e ouvia a Deus, porque a oração é

um caminho de duas vias: nós falamos e ouvimos. Oração não é um monólogo, mas

um diálogo. Outra característica desta igreja é que ela obedecia ao Senhor. Por

exemplo: Tinha de separar Barnabé e Saulo, então, a igreja separou Barnabé e Saulo.

Quem era Barnabé e Saulo para aquela igreja? Eram sua coluna. Foram eles que a

estruturaram. Mas Deus os pediu e a igreja os deu. Maturidade fala de dar a Deus o

melhor que nós temos em nossos corações. Sejamos generosos, pois isso é partir o

pão!

Tenho o costume, quando vou ao supermercado, de comprar um pouco a mais

para os irmãos necessitados. Devemos colocar os pobres na nossa agenda, no nosso

dia a dia. Existe uma doutrina na Bíblia a respeito deles. Cuidar dos pobres faz parte

da vida cristã. Em Mateus 25, sobre o grande julgamento, aqueles que praticaram

boas obras serão separados e a estes será dito: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na

posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me

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destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu,

e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. (vs.34-36). Acudir aos

necessitados é a medida, a motivação do julgamento. Fica claro aqui que a falta de

boas obras nos leva para o inferno. Precisamos, como Jesus, cuidar dos necessitados

e insistir no partir do pão; insistir em sermos bons despenseiros da multiforme graça

de Deus. A graça é multiforme e vem para nós em forma de muitas coisas: roupas,

pão, carro, casa, dons espirituais etc. Nós não somos de nós mesmos, somos dos

irmãos. A maior prova de que somos de Cristo é sermos dos irmãos, dos necessitados,

dos fracos, daqueles que dependem de ajuda.

Os critérios que Paulo usa para falar sobre o cuidado com as viúvas que

estavam na lista para receberem alimentos eram: ter mantido a sua viuvez, isto é, não

tivessem se casado de novo; ter lavado os pés dos apóstolos; ter praticado a

hospitalidade. De acordo com Romanos 12, hospitalidade é um mandamento. Isso

fala do temperamento e da natureza da igreja, fala de acolhimento. Como já disse, eu

não vou cuidar de uma pessoa se não acolhê-la primeiro no meu coração. Não falo

de hospitalidade em relação à nossa casa, mas em relação ao nosso coração. Nós,

primeiro, a recebemos no coração e, depois, a recebemos na nossa casa. Talvez a

pessoa que mais pode nos ensinar sobre hospitalidade é Maria, pois ela hospedou

seu filho Jesus com todos os riscos, com toda a má fama criada sobre ela, com tudo

aquilo que cercava o fato de uma mulher solteira ter uma criança.

É verdade que hospedar dá trabalho, mas precisamos ter essa prática, pois,

alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos (Hb 13.2). Não falo de casa, mas de

abrir o coração; se não abro o coração para hospedar, também não evangelizo. É

preciso acolher a pessoa no coração para, depois, falar de Jesus para ela. O

evangelho não é uma comunicação fria de uma verdade fria, mas a comunicação de

uma Pessoa. Meu coração deve encher-se de íntima compaixão para, assim, acolher,

falar de Jesus, pastorear e fazer da pessoa um discípulo de Cristo. Lembre-se:

acolher, hospedar é um mandamento.

Deus ensinou muito a mim e minha esposa sobre hospitalidade. Nossa primeira

casinha tinha apenas um quarto e cozinha. Numa reunião, através de Miguel Piper, o

Senhor falou com minha esposa: “Abra o seu coração, porque vou mandar muita gente

para você hospedar”. A primeira pessoa que hospedamos foi meu pai. Colocamos seu

colchão debaixo da mesa da cozinha e seus pés ficaram debaixo do fogão. Mas era

ali que Deus dissera para abrir o nosso coração e hospedar as pessoas. À medida

que Ele mandava as pessoas, Ele também alargava a nossa casa. Certa vez,

chegamos a hospedar vinte e cinco pessoas, por dois meses, em nossa casa. Nessa

época tínhamos dois quartos, sala e cozinha.

Hospitalidade é uma característica da igreja. Muitas pessoas virão para os

nossos cultos e precisamos ter um coração acolhedor para abrigar as que chegam

necessitadas. É preciso que prestemos atenção naqueles que estão à nossa volta e

que precisam de ajuda. Isso é insistir em partir o pão.

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Praticar a hospitalidade, como diz em Romanos 12, não é no sentido de você

abrir a sua porta, mas de você sair pela rua procurando a quem hospedar. Não é uma

atitude passiva, mas ativa, isto é, correr atrás, buscar as pessoas que precisam ser

hospedadas. Isso é evangelismo, é discipulado, é trazer a pessoa para casa.

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CAPÍTULO 5

AS ORAÇÕES

Eu comparo a oração à respiração. A coisa mais básica da vida humana é a

respiração, porque basta que deixemos de respirar por três minutos para que a vida

não esteja mais em nós. A partir da respiração você faz todas as demais coisas. E

assim também é a oração. Não podemos parar de orar, porque ela tem para o nosso

espírito o mesmo efeito que a respiração tem para o corpo humano. Nós devemos

orar não porque a Bíblia nos manda, mas porque nós necessitamos orar.

A oração é a declaração da minha incapacidade, incompetência e dependência

de Deus. Quanto mais sou dependente de Deus, mais eu oro; quanto menos dependo

Dele, menos eu oro. Se eu sei fazer determinada coisa não peço conselho, mas se eu

não sei o peço. Jesus disse, em João 15.5, que sem mim nada podeis fazer. Precisamos

ter uma revelação dessa verdade porque nós somos relativos em nossos conceitos.

Costumamos dizer, por exemplo, que “todo mundo foi à reunião”. Ora, isso quer dizer

que mais de sete bilhões de pessoas estavam na reunião? Ou, então, dizemos: “Eu

nunca fiz isso, só naquele dia e no outro”. Ou, ainda: “Você sempre faz isso”. Quando,

na verdade, a pessoa fez uma vez ou outra. Isso acontece porque relativizamos os

termos absolutos. Quando o Senhor fala “sem mim nada podeis fazer”, o que nós

entendemos? Que “quase nada” nós podemos fazer sem ele. Ele diz “nada” e nós

entendemos “quase nada”. Deus fala que você não pode e você diz: “Eu consigo”.

Mas “nada”, significa “nada” mesmo.

Onde nós manifestamos a nossa dependência em Deus? Na oração. É por

meio dela que colocamos diante Dele toda a nossa incapacidade. A oração não é para

“torcer” o braço de Deus para que seja convencido a fazer a minha vontade, mas é a

forma que temos para sincronizar o nosso entendimento com o entendimento do

Senhor. Ela é a sintonia aonde você busca e encontra o canal de Deus. Pedimos muita

coisa a Ele quando oramos, mas, como não sabemos orar como convém, pedimos o

que não devemos. Mas Deus é tão misericordioso que não responde a essas orações

indevidas; Ele espera você refinar a sua oração.

O cego Bartimeu, em Marcos 10.46-52, fez um pedido a Jesus, em voz alta:

Jesus filho de Davi, tem compaixão de mim. Esse texto é muito forte, porque ninguém

podia atribuir a uma pessoa comum o título de “filho de Davi”. O único a ter esse direito

seria o Messias, o qual se assentaria no trono de Israel e reinaria para sempre. Mas

aquele cego, sem ver, teve uma revelação de quem estava passando por ali. Sim, o

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cego viu antes de ver e pediu a compaixão de Jesus sobre si. E o texto diz algo que

gosto muito: Jesus parou. Não obstante o clamor e a contrariedade dos seus discípulos,

ele parou, se voltou para aquele homem e fez uma pergunta aparentemente tola: Que

queres que eu te faça? Ele fez essa pergunta, porque havia um leque de possibilidades

na cabeça de Bartimeu (um lugar no templo para pedir esmolas, um cão-guia, uma

nova bengala, uma nova capa). Ele poderia pedir muitas coisas, mas Jesus queria

saber o que ele pensava que precisava. O que Deus poderia fazer em sua vida que

causaria uma mudança radical? Mas não era nada dessas coisas que ele queria, por

isso respondeu: Mestre, que eu torne a ver. Jesus, então, disse: A tua fé te salvou. E

imediatamente ele tornou a ver e começou a seguir Jesus.

Às vezes nós pedimos coisas que não precisamos e, por isso, aparentemente,

Deus demora a responder. Mas é porque Ele quer que refinemos as nossas orações.

Lemos que Daniel, desde o primeiro dia em que se dispôs no coração a buscar a

Deus, Ele deu orientação aos anjos para levar-lhe a resposta. Mas Ele não podia

enviá-la se Daniel não pedisse. Deus quer responder depressa as nossas orações,

como está escrito em Lucas, “embora pareça tardio”. Os anjos estão apenas

esperando que você peça de acordo com o que Deus quer lhe dar. A oração vai

purificando a nossa vontade até que peçamos exatamente o que precisamos. Deus

prova a nossa oração deixando-nos amadurecer até que cheguemos à Sua perfeita

vontade para nós.

Em Atos, o Espírito Santo veio num ambiente de expectativa e concordância.

A Palavra diz que eles estavam unânimes naquele ambiente e oravam em

concordância. Se dois ou três pedirem qualquer coisa ao meu Pai, Ele o concederá, porque

há unidade na oração. O povo daquela época se reunia nas casas tanto no partir do

pão quanto nas orações. A oração era um hábito, porque eles haviam descoberto que

nada podiam fazer sem Deus. Foi isso que provocou neles uma vida de oração. Eles

oravam a Deus segundo os acontecimentos. Quando os apóstolos eram presos e

açoitados, eles voltavam para junto da igreja e oravam unanimemente para que o

Senhor confirmasse com sinais quando saíssem novamente para pregar. A oração

deles era extremamente prática, em cima de uma situação e em unanimidade.

A oração nos faz descobrir a vontade de Deus, descobrir o que Ele quer fazer.

Tenho ouvido dizer que a Terra move os céus, mas eu acho que é o contrário, pelo

que vejo nas Escrituras. A ideia de que a Terra move os céus pode nos levar a pensar

que a nossa oração muda a vontade de Deus. Porém, a vontade de Deus é imutável.

A oração faz a nossa vontade se afinar com a vontade de Deus e, assim, podermos

cooperar com Ele. Mas se você crê diferente disso, não tem problema.

A igreja de Atos tinha consciência que a sua oração era um serviço ao Senhor.

Ela servia a Deus em oração e jejum (At 13). E oração é um dos trabalhos mais árduos

que existe. Ela é um verdadeiro trabalho de parto, porque muitas vezes você não vê

um resultado imediato e, por isso, precisa continuar orando. Por isso nós precisamos

ser insistentes na oração.

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Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de

Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. (Fp 4.6)

“Coisa alguma” significa “nenhuma coisa”. Vamos nos habituar a pensar na

forma absoluta que Deus fala. Deus sempre fala o que Ele quis dizer e sempre quis

dizer o que Ele fala. Não existe força de expressão no que Deus fala. Quando diz “não

andeis ansiosos”, Ele quis dizer “não ande ansioso”.

Podemos perguntar: “Mas como fica a questão da ansiedade?” A ansiedade é

o desejo de controlar o que nós não podemos controlar; o desejo de poder de controlar

as pessoas, o tempo e os acontecimentos. Ansiedade é a causa e depressão é o

efeito da ansiedade, assim como outras coisas que vêm são “filhos” dela (síndrome

do pânico e outras coisas mais). Nos dias de hoje não há profissional que trabalha

mais do que um psicólogo ou um psiquiatra. Sempre haverá emprego para eles,

porque vivemos no século da ansiedade.

Numa conversa, um irmão disse algo que eu acredito: “Não existe o ontem nem

o amanhã, só existe o hoje, filosoficamente falando”. A única coisa que você pode

controlar é o agora. Você não pode controlar o passado nem o futuro, por isso,

acostume-se a viver plenamente o agora. “Não tente passar sobre a ponte antes de

chegar nela”. Preocupar é uma das palavras mais elucidativas que existe. Preocupar

é ocupar-se antecipadamente. Quem se preocupa se cansa, no mínimo, duas vezes

porque faz antes de fazer.

“Distração” significa “estar debaixo de duas trações”. Todos nós estamos

debaixo de duas trações. Por exemplo: Eu posso estar aqui, mas pensando em minha

esposa e filho que ficaram em casa e no que faremos juntos quando eu chegar lá.

Obviamente, não posso estar nos dois lugares ao mesmo tempo, porque não sou

onipresente nem tenho o dom da ambiguidade. O que devo fazer, então? Viver 100%

o momento que estou vivendo, isto é, viver tudo o que Deus tem para mim AGORA.

Daqui a pouco é futuro! Em relação à igreja, devo sentar-me durante uma reunião e

experimentar tudo o que Deus tem para mim naquele momento e não me preocupar,

porque a preocupação gera ansiedade. Esse é o significado do mandamento “não

andeis ansiosos”. Veja que é um mandamento e não uma sugestão.

Eu descobri que há uma ansiedade santa. Jesus a teve! Ele disse aos seus

discípulos: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa... (Lc 22.15). Ou

seja, você pode ter anseio por estar em comunhão com os irmãos. Essa é uma

ansiedade lícita. Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó

Deus (Sl 42.1). Esse anseio é permitido. Fora isso, não andeis ansiosos por coisa alguma.

Certa vez, comecei a sentir algumas dores diferentes e fiz uma consulta para

ver do que se tratava. A médica diagnosticou-me com estresse por causa do trabalho.

Quando li a bula do remédio (tarja preta) que me fora receitado, eu fiquei pior. Resolvi

pesquisar, ler e me informar a respeito de depressão, pois eu estava no começo de

uma. Descobri várias coisas, inclusive que para verificar a depressão de uma pessoa

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é preciso analisar, pelo menos, seus três últimos anos de vida. Vamos supor que

temos uma tomada em nossa casa de apenas 150 V, mas você a usa com um secador

de cabelos de 2000 V. Os fios da tomada esquentam e a capa deles se torna frágil,

porém, não queimam naquela hora. Você, então, usa aquela tomada para ligar outros

aparelhos e, passado um tempo, usa novamente o secador. Resultado: fragilizou

ainda mais a capa dos fios, mas ainda não queimou a tomada. Depois, você a utiliza

para ligar um pequeno ventilador e ocorre uma explosão. Você culpa o ventilador, mas

a culpa é da sobrecarga no decorrer dos anos que foi enfraquecendo e fragilizando a

capa dos fios. Essa é uma ilustração para mostrar o que acontece conosco.

O Conselho de Psiquiatria tem uma tabela de tensão. Não sei se os números

são exatamente esses, mas dizem que a perda do emprego gera um pico de 60

pontos, a morte do cônjuge 80 pontos, o divórcio 100 pontos. Ao passar por esses

picos a pessoa vai se tornando enfraquecida até que, um dia, por causa de uma coisa

boba que acontece ela entra em depressão.

Há também a depressão por cansaço e aqui podemos dar como exemplo o

caso de Elias. Ele havia acabado de matar oitocentos e cinquenta profetas e,

certamente, isso o cansou muitíssimo. Quando fica sabendo que Jezabel estava no

seu encalce para matá-lo, ele correu para o deserto e deitou-se debaixo de uma

árvore, dizendo: “É melhor morrer, eu não devia estar vivo”. Elias estava deprimido

por causa de uma mulher. Ela não era poderosa, mas ele estava muito cansado. Deus

enviou um anjo que lhe deu pão e água e o mandou dormir. Ele acordou ainda

deprimido e o anjo o mandou dormir mais um pouco. Depois disso, ele levantou curado

da depressão. No auge da depressão Elias falou o que não devia, porque a depressão

faz com que não vejamos o que Deus está vendo.

Hagar, serva de Sara, também entrou num estado de estresse, porque sua

senhora a tinha mandado embora com seu filho. Os dois já estavam sem água para

beber e, então, ela deixou a criança em determinado lugar e se afastou para não vê-

lo morrer. Porém, um anjo apareceu e lhe disse: “Deus ouviu o choro da criança”.

Então, Deus abriu os seus olhos e ela viu um poço com água. A depressão não

permite que vejamos os escapes que estão diante dos nossos olhos.

E a ansiedade? Certa vez, em viagem para o Canadá, quando cheguei ao

Aeroporto, comecei a sentir uma tristeza que eu nunca tinha sentido antes. Pensei

que fosse por estar deixando minha família por um longo período, mas eu já tinha

viajado tanto e porque essa tristeza agora? Fiz uma oração e pedi a Deus que tirasse

aquilo de mim e me fizesse dormir durante a viagem. Eu sempre tive problemas para

dormir no avião, mas naquela viagem eu dormi e só acordei quando chegávamos a

Toronto. Pensei que a minha oração tinha sido poderosa, mas, ao desembarcar,

aquela tristeza veio pior do que antes. Inquiri de Deus sobre o que estava acontecendo

e Ele falou: “Estou deixando você sentir o que o povo desse país sente”. Nunca vi

gente tão deprimida! Em todas as igrejas que visitei eu orei por pessoas deprimidas.

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Na última igreja, uma senhora chegou até mim e disse: “Jamê, é pecado tomar

remédio para depressão?” Eu falei: “Não minha irmã, mas você tem de cuidar da

causa para não precisar tomar remédio.” Ela disse: “Eu não sei o porquê disso, pois

tenho uma vida muito boa, ganho muito bem, meu marido ganha mais do que eu,

meus filhos são excelentes e nós não precisamos de nada.” Deus, então, me falou:

“Aí está a causa: ela não tem motivo para lutar”. Você já viu um homem da roça,

trabalhando com a enxada, deprimido? Ele não tem tempo para isso. Nosso problema

é que temos muito tempo e, então, começamos a pensar em nós mesmos como

vítimas. Então, pare com isso e vá cuidar das pessoas!

Não estou dizendo que todo depressivo tem essa mesma causa. Existe

depressão que é causada por desequilíbrios químicos no organismo da pessoa.

Tivemos um caso desses em Jundiaí. Depois de muito orar por essa pessoa sem

sucesso, um irmão teve uma visão. Ele viu no cérebro dela uma veia entupida.

Levamos a irmã num psiquiatra cristão e ele detectou o problema através de um

exame. Ele a medicou com pequenos comprimidos e ela ficou totalmente curada.

Existem, sim, depressões por razões de desequilíbrio químico, mas a

depressão da qual estou falando é causada por ansiedade. Jesus disse para não

andarmos ansiosos, e eu fico procurando aquela “tomadinha” para desligar a

ansiedade. Então, fico ansioso porque não a encontro e apelo para os ansiolíticos,

mas eles apenas mascaram o meu problema, não o resolve. Mas, graças a Deus,

aquele que falou para não ficarmos ansiosos deu também a solução:

Voltando ao texto de Filipenses 4.6, veja que Jesus nos dá o remédio que não

mascara, mas que resolve. Resolve quando faço conhecido diante de Deus o que me

causa ansiedade. O interessante é que ele não diz “para fazer Deus conhecer”, mas

para que seja conhecida diante de Deus. Quem vai conhecer? Não é Deus, porque Ele

conhece tudo. Ao trazer o problema diante de Deus, Ele traz luz sobre o mesmo e eu

o enxergo na sua dimensão correta. Assim, preciso fazer conhecido diante de Deus o

que está me perturbando. E como faço isso? Pela oração, pela súplica e com ações

de graça.

Oração e súplica, como muitos imaginam, não é a mesma coisa. Quando a

Palavra diz que devemos orar sem cessar, isso não significa que devemos falar em

voz alta em todo lugar em que nos encontramos. Oração é mais do que fala, ela é

uma atitude de expectativa em Deus que você deve ter em todos os lugares. A figura

que uso para explicar isso é a do filhote de passarinho no ninho. Quando a mãe chega

ele abre o bico. Essa é a atitude de oração. Muitas vezes a sua oração é sem palavras.

Ela pode ser apenas um gemido ou clamor diante do Senhor, ou uma alegria no seu

coração diante Dele. Isso é oração! A súplica é quando você coloca em palavras o

que está lhe incomodando. Ações de graças são atitudes de gratidão diante de Deus,

sabendo que Ele ouviu o que você colocou diante Dele.

Certa vez, eu estava ensinando a nossa filha mais nova sobre os valores em

casa: o valor da conta de luz, da água, do mercado. Aconteceram algumas coisas em

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cima disso. Uma foi quando recebemos um visitante em casa e ele deixou a luz do

quarto, acesa. Ela disse a ele: “Tio, pode apagar a luz? Meu pai paga caro.” A segunda

coisa foi quando falei para ela que no dia seguinte seria seu aniversário e que eu a

levaria à loja de brinquedos e ela poderia escolher o presente que quisesse. Não seria

arriscado fazer isso? Sim, mas eu tinha que provar a minha doutrina de que a havia

ensinado bem. Se ela escolhesse um presente caro eu estaria com um problema. No

caminho para a loja ela me abraçou por trás e disse: “Pai, muito obrigada pelo

presente.” Eu lhe disse: “Mas eu ainda não te dei.” Ela respondeu: “Mas você falou

que daria; muito obrigada!” Isso é ação de graça! É a atitude de confiança de que

Deus ouviu e vai responder.

Deus ouve as nossas orações, em primeiro lugar, porque Ele é misericordioso,

e, em segundo lugar, porque nós somos filhos e Jesus é o nosso intercessor que nos

conduz diante do Pai. É a certeza absoluta de que Deus ouve as nossas orações. Não

estou dizendo que Ele vai responder conforme o que nós pedimos, mas que Ele

escutou a nossa oração. Por isso, temos uma atitude de gratidão. Você pode abraçar

Deus por trás e dizer: “Deus, muito obrigado, porque eu pedi e o Senhor me ouviu!”

Então, a chave para resolver a questão da ansiedade é a oração, é falar com

Deus sobre o que está lhe incomodando. Assim, você lança sobre Ele toda a carga

que está sobre sua vida. Precisamos aprender isso, principalmente se cuidamos de

vidas. Os pastores precisam aprender a colocar diante de Deus as suas cargas, pois

nenhum de nós é capaz de tratar com o próprio pecado e muito menos com o pecado

dos outros. Não fomos criados para isso. Nós estamos numa profissão contingencial,

numa profissão que não foi o plano de Deus para nós. Ele nos criou para o paraíso

onde há frutas, grama, não tem baratas, formigas ou espinhos. Mas o homem pecou

e fomos viver entre os espinhos. No entanto, Ele chama o pecador para cuidar de

pecadores. Nenhum homem suporta isso! Pastores, muitas vezes, sofrem doenças

(AVC, derrame, infarto etc.) porque não aguentam a carga que carregam. Precisamos

aprender a ouvir os problemas das pessoas e ser somente um canal de passagem.

Precisamos colocar diante de Deus os problemas das pessoas e esperar que Ele nos

diga o que fazer e falar a elas. Sendo assim, saímos livres e não sucumbimos junto.

Deus nos manda ter compaixão e sentir a dor da pessoa, mas não nos manda

ficar com a dor. Não precisamos ficar com ela porque Jesus já fez isso; ele levou sobre

si todas as nossas dores. Que possamos aprender a transferir os nossos pesos para

Aquele que pode todas as coisas. E qual é a consequência de agirmos assim?

A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa

mente em Cristo Jesus. (Fp 4.7)

Interessante é que o versículo não fala que vai mudar o nosso sentimento, mas

vai guardá-lo. O sentimento é como um cão bravo que precisa ficar na jaula para não

nos machucar. Depois de algum tempo, ele deixa de ser um cão bravo e se torna um

indefeso coelhinho. O sentimento é assim: uma hora você sente aquele “vulcão” e

outa hora você não sente nada. Então, não se preocupe com os sentimentos, pois

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Deus os guardará para que eles não determinem as suas atitudes. Deus não quer que

percamos nossos sentimentos, mas quer que eles não ditem os rumos da nossa vida.

Ele os guardará dentro de Cristo – e não há melhor lugar para que fiquem guardados.

Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é

justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma

virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. (Fp 4.8).

Esse texto nos livra da ansiedade. Quando você pensar alguma coisa, pare e

pergunte: “Isso que eu estou pensando é honesto, puro, amável, justo, de boa fama e

trás algum louvor ao Senhor?” Se alguma dessas perguntas tiver como resposta o

“não”, jogue fora o que estiver pensando.

Nunca trabalhe em cima de impressões. Se uma pessoa o olha diferente, você

fica com a impressão de que ela não gosta de você. Se isso acontecer, o melhor que

tem a fazer é procurar a pessoa e perguntar se ela tem algo contra você. Se ela disser

que não, creia e fique livre. Nunca interprete que “ele falou isso, mas queria falar

aquilo”. Você não é Deus para discernir os pensamentos do coração de alguém. O

que a pessoa falou é o que ela falou, e pronto.

A nossa vida precisa ser mais simples, porque senão nós não vamos

evangelizar, não vamos cuidar das pessoas e morreremos antes da hora. Eu creio

que Deus está nos chamando para a simplicidade da vida de Cristo, uma vida mais

simples de comunhão, aceitação, amor e cuidado uns para com os outros.

Page 63: Os Pilares da Vida da Igreja - servindocomapalavra.com.br · Eu fico com vergonha de tantas piadas que existem usando a igreja e pastores como tema. E os pastores têm chegado a tal

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CONCLUSÃO

Que o Senhor nos ajude a oferecer para Ele a igreja dos Seus sonhos, a igreja que

Ele desenhou. Um dia Ele nos dirá: Vinde benditos do meu Pai, vocês fizeram conforme

lhes havia mostrado. Que possamos insistir em todas essas coisas sobre as quais

falamos e colocá-las como pilares da vida pessoal e da igreja. Estes são os pilares

que sustentam nossa estrutura de vida e os devemos colocar como fundamentos do

nosso dia a dia.

Edição e transcrição: Luiz Roberto Cascaldi