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Os Pilares
da Vida da
Igreja
Jamê Nobre
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INTRODUÇÃO
...louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o
Senhor os que iam sendo salvos. (At 2.47)
Este verso é apenas uma consequência, um efeito e precisamos entender quais são
as suas causas. Vemos neste texto que três coisas aconteciam na vida daquela igreja
do livro de Atos:
1) O povo louvava a Deus.
Nós sabemos que louvor é diferente de cantoria; tem gente que louva e outros
que cantam; gente que dá show e outros que adoram. Hoje encontramos, de maneira
geral, muita cantoria no meio das igrejas, mas que agrada somente aos corações que
cantam e não ao coração de Deus.
O louvor é a manifestação de duas coisas básicas: Primeiro, vida manifesta de
Deus nas pessoas. Segundo, uma profunda gratidão ao Senhor. Eu sonho com o
tempo em que os nossos dirigentes de louvor não precisarão “tocar manivela” para
fazer o povo cantar; sonho com o tempo em que precisaremos fazer o povo parar de
adorar porque precisamos trazer uma palavra. Não vamos cantar porque alguém nos
manda, mas como uma expressão da manifestação da vida de Cristo em nós, de uma
profunda gratidão por aquilo que Deus fez nas nossas vidas.
2) A igreja caiu na graça (ou simpatia) do povo.
Aquela não era uma igreja que se esmerava, que se esforçava para que o povo
gostasse dela. Inclusive, lemos que as pessoas não se ousavam juntar-se à igreja,
porque tinha medo dela devido aos muitos sinais de Deus. Um dos sinais, inclusive,
era a morte. É que não pensamos na morte como um dos sinais de Deus. Quando um
casal (Ananias e Safira) resolveu fazer uma coisa com aparência de outra houve um
milagre – eles morreram! Isso porque mentiram ao Espírito Santo, que era o pastor
daquela igreja (At 5.3). Havia sinais na igreja, sinais no meio daquele povo. Ora, um
povo que olha para a igreja e vê que não há mentiras (porque quem mente morre),
não vai querer se junta a ela. Eu penso que se esses sinais voltassem a acontecer
teríamos grandes lucros montando uma funerária. Afinal, esse é um dos sinais, pois
mostra a presença de Deus no lugar e que Ele não aceita o pecado no meio do povo.
A igreja não pode conviver com o pecado. Então, quando o texto diz que a
igreja caia na simpatia do povo, não significa que ela tinha posições políticas para se
tornar agradável, mas ela infundia temor, respeito às pessoas ao seu redor. O povo
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respeitava, mas não se juntava. Assim, eu pergunto: A Igreja hoje é simpática ao
mundo? Ou o mundo a teme? Eu fico com vergonha de tantas piadas que existem
usando a igreja e pastores como tema. E os pastores têm chegado a tal ponto de
descrédito que poucos ainda conseguem fazer compras a crédito. Hoje a igreja não é
respeitada, mas isso não é culpa do mundo e, sim, culpa nossa, pois não nos damos
ao respeito, não temos uma vida reta e plena como Deus quer. Ainda entramos em
falcatruas e em corrupções; cortamos filas em bancos e no comércio; usamos pessoas
que trabalham em repartições públicas para pedirmos favores pessoais; passamos
por semáforos vermelhos; jogamos papeis no chão; não respeitamos a natureza etc.
Tudo isso é corrupção.
A Igreja precisa passar por um avivamento, mas no sentido da manifestação
da vida de Cristo em nós em todos os lugares e não somente nas reuniões. É isso que
eu desejo, sonho e creio que Deus quer, e é por isso que aquela igreja de Atos tinha
o respeito pelas pessoas.
3) Deus acrescentava dia-a-dia à igreja os que iam sendo salvos.
Tenho certeza de que todos nós gostaríamos que isso acontecesse em nosso
meio, que todos os dias Deus trouxesse gente nova, mas, para isso, as demais
condições devem sem cumpridas.
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CAPÍTULO 1
O AMBIENTE DA IGREJA
O Cumprimento de uma Promessa
Atos 2.47 é, também, o cumprimento de uma promessa e não apenas o resultado das
condições que vimos acima; é a promessa que está em Isaías 2.3:
Irão muitos povos, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de
Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de
Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor.
Eu não entendo que esse texto está falando de Sião, em Israel, ou de uma
igreja em Jerusalém. Esse Sião e essa Jerusalém referem-se a nós – a Igreja, a
Jerusalém de Deus. Deus está dizendo que as pessoas virão a nós, nos lugares onde
nós estamos, para ouvir as palavras do Senhor. O texto refere-se a uma promessa de
que as nações virão para junto de Deus na Igreja, e Atos 2.47 é o começo do
cumprimento dessa promessa quando Ele acrescenta, dia a dia, os que iam sendo
salvos. Isso é obra do Espírito Santo. Nosso vizinho ou colega de trabalho irá nos
pedir: “Me ensine o que Deus pensa, me fale o que Deus quer!” As nações virão
buscar conselhos!
Você já recebeu uma promessa de Deus em sua vida que nunca se cumpriu?
Provavelmente, não. Mas será que por isso Deus é menor? Não! No entanto, todas
as promessas Dele são acompanhadas de pelo menos uma condição. Eu desafio
qualquer pessoa a me mostrar uma só promessa nas Escrituras que não tenha uma
condição. Toda promessa precisa de um ambiente para se cumprir. Por exemplo,
Salmos 23.1 diz: O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Qual é a condição para a
promessa de que nada me faltará? Ser ovelha do Senhor!
A promessa de Isaías 2 necessita de um ambiente, de um “ninho”. A Palavra
diz que Jesus veio na plenitude dos tempos, ou seja, as coisas se alinharam, se
organizaram para dar condições de Jesus chegar. O império romano dominava as
nações, criou estradas em todos os lugares, a língua grega era a oficial, tudo isso
facilitando as comunicações. É por isso que existe um ditado de que “todos os
caminhos levam a Roma”, porque isso era verdade. Assim, Deus deixou esse império
crescer, criar caminhos para que os missionários pudessem ir a todos os lugares da
Terra. Foi nesse tempo que Jesus Cristo veio, pois Deus sempre prepara o ambiente
para que Suas promessas se cumpram.
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Alguém pode dizer: “Mas Deus, o Senhor não cumpriu isso comigo!” E Ele
responde: “Eu quero cumprir, mas você precisa criar o ambiente, cumprir a condição”.
Observe a condição e a promessa colocadas por Deus no texto de 2 Crônicas 7.14:
...e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha
face, e se desviar dos seus maus caminhos, (condições) então eu ouvirei do céu, e
perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra (promessa).
Desta forma, posso afirmar que Atos 2.47 é consequência e não causa.
Promessa sem condição é astrologia, é horóscopo de crente. Não podemos cobrar
algo de Deus sem antes cumprirmos as condições, prepararmos o ambiente para que
as promessas se cumpram.
O Ambiente da Igreja
O que acontecia na igreja de Atos para que acontecessem aqueles resultados?
Qual era o ambiente que lá existia?
...e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações. (At 2.47)
A primeira palavra que fala de uma condição para a promessa se cumprir é
perseverança. Eu não conheci, em toda minha história de vida, um povo igual ao de
nossa época atual, tão sem perseverança. Quantas coisas prometemos no começo
do ano e no final de janeiro já esquecemos? Como disse alguém, somos um povo de
muita iniciativa e pouca ‘acabativa’. Gostamos de começar muitas coisas, muitos
projetos, mas não os levamos até o fim. Essa é uma debilidade da igreja, pois
frequentemente iniciamos alguma coisa e não permanecemos nela até que se finalize.
Eu sempre falo aos irmãos que andam comigo: “Não faça muitos projetos, faça
só um por vez e termine cada um deles”. Em João 17.4, Jesus diz ao Pai: Eu te
glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer. Então, se queremos
glorificar a Deus, nós temos de terminar aquilo que Ele nos manda fazer. Não apenas
fazer, mas fazer bem feito, com diligência, até o fim. Isso implica em não parar no
meio ou não fazer promessas “mirabolantes”, mas acostumarmos a cumprir poucas
coisas.
Um texto que conhecemos muito bem é o de Lucas 10, quando Jesus está na
casa de seus três amigos (Lázaro, Marta e Maria). Marta cobrou de Jesus (e não de
Maria) uma atitude em relação a Maria – isso revela que Jesus era “da casa”, pois,
caso contrário, Marta a chamaria à parte para conversar.
Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse:
Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois,
que me ajude. (Lc 10.40)
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Outra versão diz que Marta andava ansiosa por causa de muitos trabalhos, e Jesus
lhe responde:
Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto poucas são
necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada. (Lc 10.41,42)
Em outra versão: “poucas coisas interessam, e uma só basta”. Esse texto fez
uma revolução no meu coração, pois eu comecei a procurar quais são as poucas
coisas que importam na minha vida e qual é a única que basta – e quero ficar nesta.
Eu sou uma pessoa limitada (acho que todos somos), então, não posso me
dedicar a muitas coisas. Existe hoje um fenômeno conhecido como “Síndrome do
Pensamento Acelerado – SPA”. Muitas pessoas se queixam de esquecimento e
tomam remédios para a memória. Porém, o problema não é a memória que está fraca,
mas o pensamento que vive muito acelerado. Pensa em muitas coisas ao mesmo
tempo e não fixa em nada. Não é um problema de remédio, mas de foco. Não estou
falando contra médicos ou remédios, mas que, nesse caso, precisamos voltar a ter
foco.
Em 1984 eu comprei o meu primeiro computador, um Apple, 8 MHz de
velocidade. Uma máquina! As pessoas iam à minha casa para ver aquele aparelho
fantástico! Depois comprei um XT de 12 MHz. Que evolução! Depois comprei um AT,
depois um PENTIUN... e fui subindo. Então saí do Windows e hoje eu tenho o
Notebook mais avançado da Apple. E às vezes acho que ele é lento demais! O que
aconteceu? Nós fomos nos moldando às coisas desta vida! Colocamos o cartão no
caixa eletrônico, digitamos a senha e, se demora mais de 10 segundos, reclamamos
que a máquina é lerda. É que não nos lembramos de quando tínhamos de ficar uma
hora na fila do Banco.
Infelizmente, transportamos este tipo de coisas para o nosso relacionamento
com Deus. Nos ajoelhamos, fazemos uma oração, digitamos a senha: “Em nome de
Jesus!” – e queremos que ele responda rápido! Ora, relacionamentos superficiais não
são característicos do Senhor. Ele não Se satisfaz com o “ficar”, mas quer “casar”,
quer um relacionamento duradouro, permanente, sem pressa conosco. Quando
transformamos nossa vida espiritual nessas coisas aceleradas, sem fim, permanência
ou insistência deixamos de receber o que Deus tem para nós.
No evangelho de Lucas, Jesus conta uma parábola sobre a necessidade e
importância da perseverança na oração:
Contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer.
(...) E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite,
ainda que tardio para com eles? (Lc 18.1)
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Deus, embora pareça tardio, responde depressa, porque Ele tem o tempo certo
de amadurecimento – de nós e de nossas orações. Às vezes não estamos
amadurecidos e pedimos o que não devemos. Vamos falar sobre isso mais à frente.
Precisamos, assim, aprender a ter perseverança, insistência em Deus. Não
estou dizendo, entretanto, que pela insistência convencemos Deus a fazer algo que
Ele não quer fazer. Ele não é como muitos pais que cedem aos seus filhos quando
esses insistem em querer algo, que pedem sempre as mesmas coisas variando os
tons e cujos pais acabam dizendo: “Tá bom, filho!” Não pense que Deus vai mudar de
opinião. Aliás, infeliz é o homem a quem Ele responde todo desejo, pois nós não
sabemos orar como convém. Às vezes pedimos coisas que serão verdadeiros
desastres lá na frente.
Eu tenho aprendido que precisamos festejar mais o “não” do que o “sim” de
Deus; isso porque o “sim” pode ser uma concessão, mas o “não” sempre será
proteção. Quando Deus disser “não” faça festa, porque Ele o livrou de alguma coisa.
Mas, quando Ele disser “sim”, cuidado, pois pode ser por insistência sua. Em Números
11, o povo reclamou tanto do maná que Deus lhes enviou codornizes para comer, mas
a consequência foi terrível:
Quando a carne estava entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, se acendeu a
ira do Senhor contra o povo, e feriu o Senhor o povo com uma praga mui grande (Nm
11.33).
Até aquele dia ninguém tinha morrido de fome, mas, quando as codornizes
foram derramadas por Deus, muitos morreram de tanto comer. Deus deu aquilo que
o povo tanto insistiu, mas este arcou com as consequências. Então, quando você
insistir com Deus, dê-Lhe a liberdade de dizer “não” e, se Ele disser “não”, faça um
culto de ações de graças, pois Deus está lhe protegendo de alguma coisa. Você
precisa confiar na bondade, na intenção do Senhor.
Moisés, durante 39 anos e 364 dias, foi fiel sobre a Casa de Deus. Mas teve
um dia em que ele se irou com o povo e feriu a rocha (Nm 20.11). Por este motivo o
Senhor lhe disse:
Porquanto não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por
isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado (v.12).
Será que Deus foi demasiadamente duro ou injusto? Afinal, Moisés só falhou
aqui, só não foi fiel nesse único dia! Eu acredito que Moisés conversou com Deus
várias vezes sobre esse assunto; perguntava a Ele se não poderia mesmo entrar na
terra e o Senhor não lhe respondia nada. Até que, de tanto insistir, Deus lhe disse:
Basta; não me fales mais deste assunto (Dt 3.26).
Paulo, da mesma forma, insistiu a Deus para que Ele o livrasse de uma situação
de angústia:
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Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A
minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. (2 Co 12.8,9)
Ele recebia muitas revelações do Senhor e, por isso, aquele mensageiro de
Satanás não o abandonava. Deus usava essa situação para que Paulo não se
vangloriasse com as grandezas das revelações e continuasse sempre se sentindo na
condição de homem.
Irmão (ã), dê liberdade a Deus para Ele lhe dizer “não”, para lhe dizer o que
você não gostaria de ouvir; confie na boa e santa intenção de Deus para sua vida;
insista naquilo que Ele lhe tem dado; persevere na oração e no que Deus tem falado
com você.
Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição (sofrimento) e paciência os profetas que
falaram em nome do Senhor. (Tg 5.10)
Tiago nos orienta a tomarmos como modelo os profetas, em situações de
sofrimento e na paciência. Nós somos uma geração que não suporta o sofrimento. Há
um livro excelente nessa área, chamado “Cristo e o Sofrimento Humano” (Stanley
Jones). Este irmão trabalhou na Índia e analisou como é que cada cultura enfrenta o
sofrimento. Nós, ocidentais, fazemos de tudo para não sofrer, fazemos de tudo para
que os nossos filhos não sofram; os isentamos e protegemos de tudo. Mas, não é o
sofrimento que fortalece o nosso caráter?
Outra pessoa que pediu algo a Deus e não teve sua oração atendida foi o
próprio Senhor Jesus:
E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim
sem eu o beber, faça-se a Tua vontade. (Mt 26.42)
O escritor aos Hebreus, falando sobre isso, disse:
O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e
súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era
Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a
ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem (Hb 5.7-9)
Em outra versão, “foi aperfeiçoado pelas coisas que sofreu”. Assim, precisamos
ser perseverantes em meio ao sofrimento, em meio à dor. Nós só estamos aqui hoje
porque muitos irmãos e irmãs no passado pagaram um preço de oração perseverante
por nós; pessoas que deixaram tudo para trazer o evangelho até nós. O sofrimento
não é mal, o problema é como reagimos a ele. Por isso precisamos insistir, perseverar.
Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo. (Mt 24.13)
Em Apocalipse, todas as cartas de João às igrejas terminam desta forma:
“Quem permanecer”, “Quem perseverar”, “Quem insistir” – esses verão a salvação, a
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glória de Deus! Então, a perseverança, a insistência, a paciência faz parte do caráter
do Senhor Jesus Cristo que Deus quer trazer para nós.
No início do nosso ministério, estávamos construindo um barco em Manaus
para morarmos, eu e minha esposa, enquanto trabalhávamos para alcançar os
ribeirinhos no interior do Amazonas. Gosto de trabalhar com madeira, mas não sou
carpinteiro e tive grande dificuldade em fazer o ângulo das esquadrias das janelas.
Tentei diversas vezes e sempre dava errado até que ficou apenas uma frestazinha.
Decidi que eu colocaria massa nela e a pintaria dando por terminada a minha tarefa.
Mas o Espírito Santo, falou: “Você está fazendo isso para quem? Se estiver fazendo
esse barco para você, tudo bem, está bom. Mas se é para mim, faz direito”. Então, eu
fiz direito. Tudo o que nós fazemos é para o Senhor. O padrão de qualidade não é
nosso, é Dele. Se pensarmos assim, teremos a atitude de diligência e insistência que
precisamos ter.
Eu penso que nós criamos algo chamado “Teologia da desistência”. O que é
isso? Fazemos uma oração um dia, no outro e, ainda, no outro dia. Se Deus não
responde, dizemos: “Bem, então não é da vontade Dele!” Mas foi realmente Ele que
disse que não é a Sua vontade? Ora, se eu orei por cura e a pessoa não foi curada,
então é porque não é da vontade de Deus? Não! Eu devo continuar orando pela cura
até que o próprio Senhor me mande parar de orar. Se Ele disser: “Não toque mais
nesse assunto” ou “a Minha graça te basta”, “sobre isso não ore mais”, então eu paro
de orar. Mas, enquanto Ele não falar isso, devo continuar orando, pedindo, pois Deus
prova o que está no nosso coração e precisamos ser pessoas que insistem, que não
desistem:
Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hb
10.38)
Nós somos o povo que, tendo colocado a mão no arado, não temos mais
possibilidade de retroceder:
E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o
reino de Deus. (Lc 9.62)
Napoleão, quando foi invadir a Rússia, o fez no inverno. Os seus generais
entendiam que isso era uma grande loucura, mas ele queimou as pontes dizendo:
“Ninguém volta”. Por este motivo, milhares de soldados morreram naquela terrível
batalha. De certa forma, nós somos o povo que deve queimar as pontes, que não tem
possibilidade alguma de voltar.
Um de nossos pastores disse algo muito interessante: “Quando entregamos
nossas vidas ao Senhor, Deus nos estragou para o mundo”. Não adianta voltar para
o mundo, pois não damos mais certo lá! Só damos certo agora na igreja. Deus
queimou a ponte de volta, portanto, não vamos mais insistir nisso. Só temos um
caminho a seguir – para frente! Então, vamos insistir nisso, perseverar na graça de
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Deus. A igreja de Atos insistia na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do
pão e nas orações.
Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe,
e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.
Porque, os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na
verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de
tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não
se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade. (Hb
11.13-16)
Esses homens e mulheres tinham uma visão e nela permaneceram, insistiram.
Os heróis da fé estão aqui hoje, pois aquelas pessoas não eram especiais. Especial
é Deus, que estava neles, que é o mesmo Deus que está em nós. O que a Bíblia diz
que nos torna um povo especial?
Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo?
Acaso não é por andares tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o teu povo, de
todos os povos que há sobre a face da terra? (Êx 33.16)
Desta forma, não são pessoas especiais, mas um Deus especial que anda no
meio do povo e o torna especial. Nós não temos nada de diferente das pessoas do
mundo – o que nos difere delas é a presença de Deus em nós.
Combati o bom combate, acabei (completei) a carreira, guardei a fé. (2 Tm 4.7)
Isso foi exatamente o que Jesus também falou e fez:
Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. (Jo 17.4)
Sabemos que completamos a carreira quando sabemos para onde vamos. Se
eu não sei para onde vai, não saberei onde chegar. Para onde estamos indo em
termos de ministério, de projeto de Deus para nós nesta vida? Se isto está claro para
você, chegará um dia em que Deus dirá: “Filho, terminamos”. E você responderá a
Ele da mesma forma que Simeão respondeu:
Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois já os meus
olhos viram a tua salvação (Lc 2.29,30)
Por que ele disse isso? Porque ele esperava, tinha expectativa:
...e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel... E fora-
lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do
Senhor. (v.25,26)
O capítulo ainda fala de outra pessoa: Ana.
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E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a
Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. (v.37)
Interessante é que Ana “não se afastava do templo”, mas naquele dia ela não
estava lá. Simeão também não estava presente, mas o Espírito Santo o mandou ir até
lá para se encontrar com o Messias (v.27). Jesus era de uma família pobre e o
sacrifício que iriam entregar por ele eram duas rolinhas. Ora, esse era um ritual que
durava no máximo uns dez minutos, mas Ana e Simeão se dirigiram para lá
exatamente naqueles minutos. Se eles não tivessem atentos e obedientes à voz do
Senhor não teriam visto o Messias e toda a expectativa de uma vida inteira teria sido
perdida. Percebe como é importante conhecermos a carreira que Deus tem para nós?
Muitos crentes seguem aquela doutrina do “deixa a vida me levar”, mas quem
leva é a morte; a vida nos traz permanência. Por isso, eu preciso conhecer o que Deus
quer de mim para eu ter clareza de que estou fazendo e terminando o que Ele me
mandou fazer. Há um livro maravilhoso sobre esse assunto: “A Crucificação de Felipe
Strong” (Charles M. Sheldon). Esse homem tinha um desejo em seu coração que o
moveu por toda a sua vida. Se temos alvos, saberemos quando os atingimos. Se não
temos, como poderemos afirmar que completamos a carreira? Como poderemos dizer
que guardamos (mantivemos) firmes a fé que Deus derramou em nossos corações
pelo Espírito Santo? Isso fala de perseverar, de insistir.
Exemplos Bíblicos de Perseverança
Há três homens nas Escrituras que me chamam muito a minha atenção nesse
aspecto da perseverança.
1) Noé. Ele era lavrador, estava trabalhando na vinha e, então, Deus lhe deu
uma palavra: “Constrói uma Arca porque irá chover muito e todo ser vivente irá viver”.
O interessante é que Deus poderia ter chamado um carpinteiro para esta obra, mas
Ele não trabalha assim. Deus chama os que “não são” para que toda a glória seja
Dele. Na construção do muro, em Neemias, havia ourives, comerciantes, escrivães,
perfumistas etc. – a única profissão que não tinha era pedreiro, pois, se tivesse, eles
colocariam suas “plaquinhas” no final. Então, para que ninguém colocasse uma
plaquinha na Arca ou no muro, Deus disse: “Essa obra é minha, e a minha glória não
divido com ninguém”. Assim, Deus chama gente como eu e você.
Você diz: “Senhor, mas quem sou eu?” E Ele responde: “É você mesmo. Vai
nesta tua força. Enquanto você não for, Eu sou. Enquanto você for nada, Eu sou tudo”.
Eu imagino a seguinte situação: Deus falou com Noé, ele volta para casa e diz
à sua família: “Gente, Deus falou comigo lá na vinha e disse que vai chover!” No
entanto, até aquele tempo nunca havia chovido na Terra; ou seja, a família não sabia
o que era chuva. Então ele continua: “Vai chover muito, haverá um imenso dilúvio e
todo mundo vai morrer. Por isso, precisamos construir uma Arca que caiba casais de
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todos os animais da face da Terra”. E aqui acontece um tremendo milagre: a família
inteira crê em Noé e anda nisso por cerca de 100 anos. O nome disso é perseverança!
Andar sem ver chuva, sem ver dilúvio, mas andar naquilo que Deus mandou fazer. Se
Deus mandou, faça. Nós não podemos cumprir as promessas Dele, mas criamos o
ambiente, formamos um ninho para que elas se cumpram.
Penso nos anos passando, naqueles meninos crescendo e, juntamente com
suas esposas, construindo aquela Arca. Os vizinhos deviam comentar: “Aquele velho
louco enlouqueceu toda sua família e agora estão todos envolvidos nesse negócio
louco”. Mas graças a Deus por isso! Quando os vizinhos nos chamarem de loucos é
porque estamos no lugar certo, fazendo a coisa certa.
Certo dia um vizinho me disse: “Jamê, você é um homem equilibrado”. Então
eu pensei: “Estou perdido”, porque cada um mede o equilíbrio dos outros pelo seu
próprio equilíbrio, e aquela pessoa era extremamente desequilibrada! Então, quando
o mundo lhe chamar de louco, levante as mãos para o céu e agradeça ao Pai. Afinal,
como diz Paulo,
Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus
escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as
coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;
para que nenhuma carne se glorie perante ele. (1 Co 1.27-29)
2) Calebe. Moisés mandou doze homens analisar a terra de Canaã. Eles
voltaram com um relatório único: a terra era boa, os frutos bons, mas havia gigantes.
Eles não mentiram. O problema é que Deus não os mandou olharem os gigantes, mas
unicamente a terra. Quando você olha para o que Deus não mandou olhar, você fica
com um problema.
Ora, será que Deus não sabia que lá havia gigantes? A questão é que nós
temos a mania de informá-Lo das coisas que Ele já sabe! Sim, Deus sabia, mas isso
era um problema Dele, e não de Israel. Deus iria derrotar os gigantes usando o povo,
mas o foco era a terra. O relatório de todos foi verdadeiro e unânime, mas a atitude
de Calebe e Josué foi diferente dos demais:
Então Calebe fez calar o povo perante Moisés, e disse: Certamente subiremos e a
possuiremos em herança; porque seguramente prevaleceremos contra ela. (Nm 13.30)
Por causa desta atitude, Deus disse a respeito deles:
Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em
seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua descendência a possuirá em
herança. (Nm 14.24)
Calebe tinha 40 anos nessa ocasião. Essa é uma idade considerada de
“maturidade plena”. O homem já errou o que tinha de errar, já definiu sua vida, já
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escolheu sua esposa, já está relativamente pronto. No entanto, Deus diz ao povo que
eles não entrariam na terra, mas continuariam mais 40 anos no deserto.
E passam-se 10, 20, 30... e apenas 40 anos depois eles começam a entrar na
terra. Tinha Calebe, nesta ocasião, 80 anos. Ele entra na terra, ajuda a colocar as
duas tribos e meia do lado de fora, como também todas as demais nos seus devidos
lugares. Mais 5 anos se passam. Então eu pergunto: Quais são os planos que um
homem de 85 anos faz? “Quem serão os convidados para o meu velório? Que músicas
serão cantadas? Será que vão esquecer de avisar alguém?” Ora, nessa idade
ninguém tem mais projetos; só está esperando o Senhor levar! Mas com Calebe foi
diferente. Ele chegou a Josué e disse:
Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cades-Barnéia
a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração; mas meus
irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu porém perseverei
em seguir ao Senhor meu Deus. Então Moisés naquele dia jurou, dizendo: Certamente
a terra que pisou o teu pé será tua, e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois
perseveraste em seguir ao Senhor meu Deus.E agora eis que o Senhor me conservou
em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o Senhor falou
esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já
oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me
enviou; qual era a minha força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra
como para sair e entrar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele
dia; pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades.
Porventura o Senhor será comigo, para os expulsar, como o Senhor disse. (Js 14.7-12)
Calebe citou de memória, palavra por palavra, o que Moisés lhe havia dito 45
anos antes. O que foi que lhe sustentou nesse tempo todo? A promessa que Moisés
lhe havia dado. Se você não tem nenhuma promessa será muito difícil perseverar,
pois é isso que nos sustenta. Portanto, insista nas promessas do Senhor para sua
vida.
Eu fico imaginando Calebe passeando, olhando para sua terra e pensando:
isso é tudo meu! Ele via as ovelhas pastando, via seus netinhos brincando etc. Essas
eram resultados de uma visão espiritual, porque a visão natural era gigantes, pedras,
terra ruim. Mas ele não andava sobre visões naturais, mas, sim, sobre o que Deus lhe
havia mostrado.
Quando Josué o autorizou a conquistar sua terra, Calebe disse:
Quem ferir a Quiriate-Sefer, e a tomar, lhe darei a minha filha Acsa por mulher. Tomou-
a, pois, Otniel, filho de Quenaz, irmão de Calebe; e deu-lhe a sua filha Acsa por mulher.
(Js 15.16,17)
14
Como seriam os filhos desse casal? Acsa foi criada na atmosfera desse
ambiente familiar, e Otniel, um homem valente. Que tipo de filhos esse casal gerou?
E que tipos de filhos espirituais nós estamos gerando hoje? São crentes fracos,
desanimados, ou pessoas que olham para nós e são desafiadas a caminhar mais em
Deus? Paulo disse:
E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para
maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram
manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos
irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais
confiadamente, sem temor. (Fp 1.12-14)
Os irmãos, olhando para ele, se sentiam mais animados a pregar o Evangelho,
porque Paulo reagia segundo a esperança que ele tinha em Deus. Qual era sua
atitude?
E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros
presos os escutavam. (At 16.25)
Meu pai na fé, Arthur Hemmons, dizia que Paulo cantou com tanto entusiasmo
que Deus começou a “marcar o compasso com o pé” e a terra tremeu! Eu creio nisso!
Eu creio que os anjos vão se animar conosco, que os nossos filhos vão se animar
conosco. Quantos filhos de crentes têm se desviado porque seus pais são
desanimados, não têm perseverança? Alguns dizem: “Esse menino não quer nada
com Deus!”, mas, será que esse pai ou essa mãe quer algo com Deus? São pais que
lutam, que creem, que têm planos de vida? Nós geramos segundo a nossa espécie!
Por isso, minha oração é que a nossa próxima geração seja bem melhor do que nós,
mas que seja inspirada em nós. Que nossos filhos naturais e espirituais olhem para
nós e se sintam desafiados a serem melhores, mais santos, mais apegados a Deus,
porque veem em nós o desafio de serem mais crentes.
Por favor, não chegue em sua casa dizendo: “Ser crente é muito difícil”. Isso
desanima a família. Aliás, você sabia que “o desânimo desanima mais o animado, do
que o animado anima o desanimado”? Sente-se perto de alguém desanimado e tente
cantar de todo o seu coração; você se sentirá desanimado também. Mas nós não
somos assim! Somos o povo que olha para as algemas de Paulo e nos sentimos mais
desafiados a fazer a obra de Deus. Nós somos o povo que não olha para trás.
3) Abraão. Deus o mandou sair da sua terra e ir para uma terra que Ele havia
dado (Gn 12). É interessante observarmos que Abraão morou em tendas. Ora, será
que era porque ele não tinha dinheiro? Não, pois ele era muito rico. Mas Abraão
morava em tendas porque sabia que era um peregrino na terra e não poderia fixar
aqui sua morada. E você, mora em tendas ou em casas (espiritualmente falando)?
Você está preso a que? Luta pelo que?
15
Tenda fala de mobilidade, de disponibilidade, de prontidão. Anos atrás
começamos a orar para comprar uma casa em Jundiaí, pois já estávamos cansados
de pagar aluguel. E Ele nos deu uma casa, nós a reformamos e ela ficou muito boa.
Quando ela estava pronta para nos mudarmos, Deus me falou com voz muito clara:
“Esta casa é um sinal de que agora você pode sair de Jundiaí na hora em que Eu
quiser”. Morar em tendas fala de desapego, de estar pronto para ir onde Deus quiser,
de ter a consciência de estrangeiro e peregrino. Ainda que tendo possibilidade, não
se fixar em nada. Nós somos a única planta na face da Terra que tem raiz para cima.
Por isso Abraão morava em tendas.
Eu ajudei uma igreja cigana em Campinas. A maior parte deles morava em um
bairro de classe média-alta e suas casas eram fantásticas, luxuosas, com grandes
quintais e, nesses quintais, construíam suas tendas e nelas moravam. A casa era só
para mostrar aos outros que eles eram ricos, mas eles ficavam nas tendas. Eu sonho
com uma igreja que mora em tendas. Uma igreja que, em uma noite qualquer, recebe
uma palavra do Espírito Santo dizendo: “Separe fulano e ciclano para a obra que os
tenho chamado”. E impomos as mãos e os enviamos. Eu sonho com uma igreja que
não é presa em nada, que é fixa somente em Deus.
Quando Deus falou com Abraão que ele teria um filho, este pediu um sinal ao
Senhor, que lhe mandou oferecer um sacrifício. E tomou pegou alguns animais, os
cortou, mas as aves de rapina desciam para comer aqueles animais mortos. Abraão,
então, pegou seu cajado e começou a espantá-las, isso desde cedo até a noite (Gn
15.8-11). Quando você faz uma entrega a Deus as aves de rapina virão para tentar
devorar esta oferta e sua tarefa é espantá-las. Estas aves vêm, principalmente, por
meio dos nossos pensamentos. O Diabo nos fala em nosso próprio tom e timbre de
voz para pensarmos que somos nós que estamos falando. Ele não fala com sua
própria voz, pois, neste caso, nos assustaríamos.
Na língua hebraica, a melhor tradução para a palavra “serpente”, em Gênesis,
é “sussurro” – pois é assim que Satanás nos fala – justamente para acreditarmos que
aquele pensamento vem de nós mesmos. Quando o Diabo falou com Jesus o fez com
sussurros, e não fez nenhuma proposta que não tivesse base bíblica (Mt 4.1-10). Só
que Jesus tinha uma visão de Deus: Tu és meu filho amado (Mt 3.17), e Satanás lhe diz:
Se tu és o Filho de Deus (Mt 4.6). É dessa forma que ele se achega a nós e, por isso,
precisamos, com nosso cajado, sempre espantar essas aves de rapina que vêm
através de nós mesmos, de nossos pensamentos, de pessoas, de circunstâncias etc.
que tentam matar as nossas decisões, a nossa entrega ao Senhor.
Nós queremos ser uma Igreja na qual o Senhor acrescente todos os dias
pessoas que serão salvas. Isso é uma promessa de Deus, mas somos nós quem
devemos criar o ambiente para isso, dar espaço para Ele fazer. Devemos fazê-Lo
confiar em nós como pessoas e como congregações para que Ele coloque em nosso
meio aqueles que serão salvos. A vontade de Deus é que ninguém se perca, mas
16
encontre a salvação; e nós iremos fazer tudo o que nos diz respeito para que Ele
cumpra essa Sua promessa.
Senhor, eu aceito o desafio que Tu me tens feito hoje, no decorrer dos dias e dos anos.
Quero ser uma pessoa que alegra o Teu coração, afinado, sincronizado contigo. Que
eu seja tocado pelo Teu Santo Espírito e que a minha vida mude radicalmente. Que a
minha motivação, os meus conceitos, as minhas expectativas, aquilo que tenho por
ideal mude completamente, e que o meu querer seja aquilo que o Senhor quer; que a
minha vontade seja realmente a Tua vontade. Senhor, ajude-me a discernir aquilo que
o meu desejo daquilo que é o Teu desejo. Ajude-me, Pai, a renunciar aquilo que me
tem afastado de Ti e me aproximado das coisas desta vida. Eu não quero nenhum
compromisso com as coisas desta vida, mas eu quero me comprometer somente
contigo. Ajuda-me nisso, para a glória do Teu Santo e Bendito nome. Amém!
17
CAPÍTULO 2
A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS
Somos um povo de muitos livros, muita literatura, muitas apostilas e quando
pensamos em doutrina dos apóstolos, nossa tendência é fazer uma lista de
ensinamentos que possivelmente os apóstolos pregavam. Mas, à medida em que eu
me aprofundo no estudo deste tema (buscando de Deus e nas Escrituras), percebo
que a doutrina dos apóstolos não é um compêndio nem uma série de estudos, mas é
uma Pessoa – Jesus Cristo. É muito importante que fixemos isso em nossa mente e
coração.
A doutrina dos apóstolos não são doutrinas a respeito de Cristo ou de suas
características, mas é a própria apresentação do Senhor Jesus, e este vivo e atuante
em nossas vidas. Em outras palavras, é a apresentação de quem Jesus Cristo é.
Houve no Brasil, talvez na década de 70, a doutrina do Louvor. Seus adeptos
diziam que o versículo de Atos iria acontecer de qualquer jeito e, por isso, não era
necessário sair às ruas para evangelizar, Deus mesmo traria as pessoas. Claro que
esse é um tremendo equívoco porque a Palavra também diz: Como, porém, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão,
se não há quem pregue? (Rm 10.14). Nós não trazemos as pessoas, mas levamos a
semente. Deus, então, a faz germinar, brotar, dar fruto, e acrescenta à igreja. O fato
de Deus trazer não nos isenta da responsabilidade de sair e pregar. É Deus que traz,
mas somos nós que buscamos e vamos atrás das pessoas. Depois disso, o Senhor
arrebanhará as pessoas para as quais nós pregamos. Concluindo: A nossa pregação
é indispensável! É você que tem de pregar e anunciar para as pessoas, mas é Deus
que as convence, pelo Espírito Santo, do pecado, da justiça e do juízo. Isso produzirá
arrependimento e fé em seus corações, e irá trazê-las para o corpo de Cristo. Esse é,
então, um trabalho de parceria, a igreja e o Senhor trabalhando na salvação das
pessoas. Portanto, o versículo 47 de Atos 2 é um resultado ou uma consequência do
que foi falado a partir do versículo 42.
De acordo com Efésios 2:21, Jesus Cristo é o Senhor, a pedra fundamental e
ninguém pode lançar outro fundamento. Ele é o fundamento da Igreja!
Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus
Cristo (1 Coríntios 3:11).
Vamos analisar a passagem abaixo lembrando essa verdade:
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O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos
próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós temos visto, e dela damos testemunho. E
vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), o que
temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente,
mantenhais comunhão conosco. Ora. A nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho,
Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa.
(1 João 1:1-4).
a) “O que era desde o princípio...” – Perceba que ele está se referindo a uma
Pessoa, Jesus Cristo.
b) “... o que temos ouvido...” – Isso nos remete a João sentado ao lado de
Jesus, ouvindo-o falar. Ele gostava tanto de ouvi-lo que reclinou sua cabeça em seu
peito. Quando vai ao sepulcro com Pedro, ele se refere a si mesmo como “aquele
discípulo, a quem Jesus amava”.
c) “... o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos...”
– Ele fala sobre duas coisas: “o que os nossos olhos viram” e “o que contemplamos”.
Contemplar é mais que ver; é analisar ou observar com atenção aquilo que se vê. Fico
imaginando João se afastando um pouco de Jesus a fim de olhá-lo melhor. Chegará
a nossa vez! Não terá relógio, diabo nem pecado e, então, poderemos nos sentar
diante dele e ficar olhando, olhando e olhando.
d) “... o que nossas mãos apalparam...” – Veja que ele não está falando de uma
doutrina ou de um estudo bíblico, mas de uma pessoa, de alguém.
e) “... a respeito do Verbo da vida” – E a vida se manifestou e a Palavra se fez
visível. Foi tirado o véu e Aquele que esteve oculto dos profetas, dos nossos pais, se
revelou nesses dias. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Não sei se há nas
Escrituras versículo mais profundo que este. Como pode um Deus tão grande descer
em nosso meio? Gosto de pensar que Deus tinha saudade de nós e, por isso, veio
para cá. Deus fez o homem não porque estava carente, mas porque tinha muito amor
para dar e prazer em conversar com ele todos os dias.
Na sua procura de alguém para conversar, Deus encontrou Enoque. Meu pai
na fé contava a história de Enoque assim: “Todos os dias, Deus vinha encontrar
Enoque e eles iam pelo caminho conversando e trocando pensamentos. Um dia se
distraíram e foram muito longe da casa de Enoque. Então Deus disse: Vamos hoje
para a minha casa, Enoque? E os dois subiram.”
Esse é o caráter de Deus, um Deus de relacionamento. E Ele veio para morar
conosco! Mas João diz ainda que “Aquele que habita convosco estará em vós.” Deus
achou que habitar com era muito longe e que ficar do lado era muito distante, então,
passou a morar dentro. Como pode um Deus tão grande morar dentro de mim? Mas
foi isso o que aconteceu!
19
...mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os
gentios. (1 Coríntios 1:23).
O que nós precisamos falar é o mesmo que os apóstolos falavam. Eles falavam
de uma Pessoa e o primeiro capítulo de 1 Coríntios é muito forte sobre isso. Nele,
Paulo reduz toda a doutrina à pessoa de Jesus Cristo e mostra que a revelação de
Deus é o próprio Cristo. Ele é o fundamento e a revelação de Deus. Cristo era o centro
da pregação de Paulo:
Porque eu decidi não saber nada entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. (1
Coríntios 2:2)
Parafraseando: “Eu me determinei não cultivar nenhum outro conhecimento,
senão Cristo, e este crucificado”. Essa foi a decisão de Paulo, um homem que cresceu
aos pés do sábio Gamaliel, que conhecia as Escrituras e que foi treinado nelas desde
a sua meninice. O judeu, normalmente, aos quinze anos de idade já havia decorado
todo o Antigo Testamento. Mas esse homem de nome Paulo disse: “Eu decidi não
saber nada, senão a Jesus Cristo”.
Eu creio que assim como Jesus Cristo é a exata expressão de Deus aqui na
Terra, a Igreja também será a exata expressão de Cristo, ou seja, ela vai mostrar tudo
o que Deus é. A Palavra diz que a Igreja é a plenitude de Deus, a plenitude de Jesus
Cristo. Jesus não é completo sem nós. Isso não é um defeito dele, ele mesmo
estabeleceu que assim fosse. Jesus não disse que era carente da Igreja, mas resolveu
não ser tudo sem ela. Nós somos a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas
(Ef 1.23). No versículo anterior a este, diz: e, para ser o cabeça sobre todas as coisas,
Deus o deu à Igreja (Ef 1.22).
Jesus é o cabeça da Igreja para que possa ser o cabeça de todas as coisas. E
nós estamos aqui para trazer o reino de Jesus Cristo a todas as nações da Terra
porque está escrito que, onde pisar a planta dos seus pés, esse lugar será vosso.
Essa promessa foi feita a Josué (Js 1.3) e sabemos que toda promessa do Antigo
Testamento tem uma aplicação imediata e uma aplicação escatológica. A aplicação
imediata foi para Josué, mas a aplicação escatológica é para Jesus Cristo. Ele seria
o Senhor para todas as nações, ou seja, em todas as nações onde pisar a planta de
seus pés. É, por isso, que a Bíblia diz:
Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir
a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus
reina! (Is 52.7).
Não existe nenhum podólogo ou pedicure que fará com que os nossos pés
sejam tão formosos, como Jesus o faz quando saímos para pregar o evangelho e para
dizer às nações que “o teu Deus reina”. É isso que embeleza os pés de uma pessoa.
É sintomático que quando Jesus celebrou a ceia ele lavou os pés de seus discípulos.
Não lavou o corpo, mas lavou os pés porque são os pés de Jesus em nós que se
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sujam ao tocar nesse mundo. Por isso, precisamos sempre lavar os nossos pés, ou
seja, eu lavo os pés dos irmãos e eles lavam os meus. Esse foi o mandamento de
Jesus a seus discípulos: Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também
vós deveis lavar os pés uns dos outros (Jo 13.14). Nós precisamos lavar os pés uns dos
outros, pois estamos indo a todas as nações e aonde chegarmos aquele lugar passa
a ser do Senhor. A promessa não é para o Senhor Jesus, mas para nós que
devolvemos a ele o controle das nações trazendo o seu reino a elas. Quão formosos
serão os nossos pés na medida em que anunciamos o evangelho e a pessoa de Jesus
Cristo!
Anos atrás eu li a história de um missionário. Uma missão inglesa foi
evangelizar no interior da Tanzânia (África) e seus missionários começaram a
descrever para os nativos o Senhor Jesus, falando sobre sua bondade e
generosidade. Eles, então, disseram: “Ah ele morou aqui perto, a gente conheceu ele”.
Um dos missionários explicou que eles estavam enganados, pois a pessoa de quem
estava falando havia morrido há dois mil anos. Eles insistiram: “Não, você está
enganado, ele morreu há pouco tempo e conhecemos a casa dele”. O missionário
ficou curioso e quis saber de quem eles estavam falando. Disseram que falavam de
David Livingstone. Esse homem havia vivido de tal maneira que foi confundido com
Jesus Cristo. Que santa confusão! E Deus quer fazer isso também conosco, que a
descrição do caráter de Jesus caiba, exatamente, em nós.
Carluci dos Santos, um dos presidentes da ABU, escreveu:
Os discípulos de Jesus (re) leram as Escrituras a partir da pessoa de Jesus
Cristo. A Lei, os Profetas – todas as Escrituras – falam a respeito de Jesus, o
filho de Maria, o filho de Deus (Lucas 24:25-27, 45-49). Quando falamos de
Escrituras no contexto cristão, devemos lembrar que as Escrituras as quais
Jesus Cristo e os apóstolos leram e interpretaram são o que hoje chamamos
de Antigo Testamento (AT). Foi com base nestes textos que Jesus lhes explicou
sua identidade, propósito e missão (João 5:39, Lucas 24:25-27); foi na leitura
destes textos que os apóstolos se embasaram para a missão evangelizadora e
transformadora de suas vidas pessoais e da realidade político-social dos seus
dias. Os livros e cartas que compõem o que chamamos de Novo Testamento
(NT) nascem no encontro daqueles que seguiram a Cristo na sua história e nas
Escrituras; na caminhada com Jesus Cristo eles leram ou releram as Escrituras;
creram que Jesus era o Cristo, e colocaram em prática os seus ensinamentos.
Jesus passou a ser o filtro e o que explicava o Antigo Testamento. Eles
deixaram de ver o Antigo Testamento como uma Escritura normal, mas a partir
de Cristo eles entenderam o Antigo Testamento. A narrativa bíblica nos conduz
a Jesus Cristo como ponto máximo da revelação de Deus e do projeto de Deus
para reconstruir a humanidade. Usamos as Escrituras para interpretar as
Escrituras, tendo Cristo como sua chave hermenêutica.
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Hermenêutica é a arte de interpretar as Escrituras. Se nós queremos interpretar
e compreender as Escrituras, a chave é o Senhor Jesus Cristo. Não podemos nos
desviar disso um milímetro sequer, pois Jesus é o grande explicador das Escrituras.
Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo
exposto como crucificado? (Gálatas 3:1).
Os gálatas foram chamados de insensatos, isto é, sem noção, porque estavam
se desviando da pessoa de Jesus Cristo.
Assim, o ensino dos apóstolos compreendia a vida de Jesus, sua vontade, sua
divindade, sua encarnação, sua morte, sua ressurreição e seu senhorio.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada
do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. (Jo 1:1-4).
A primeira base do ensino apostólico é que Jesus Cristo é Deus, e a segunda
é que Deus se fez carne. A única possibilidade de sermos salvos do pecado e do
inferno é Deus descendo entre nós. Nenhum outro deus fez isso, somente o nosso
Deus Yahweh. A Palavra diz que quando entrou no mundo Ele recebeu um corpo. Há
duas interpretações verdadeiras sobre isso: 1ª – Ele recebeu um corpo físico no ventre
de Maria; 2ª – Ele recebeu um corpo espiritual, que somos nós.
De acordo com Augusto Cury, Jesus Cristo viveu na Terra desde criança e
resgatou todas as fases da vida do homem (infância, adolescência, juventude e idade
adulta), sendo perfeito e sem pecado em todas elas. Ele resgatou toda a história do
homem, tomando-o sobre si; pregou a história e a vida do homem na cruz; matou-o e
levou-o para a sepultura. Mas, quando ressuscitou, ele o levou de novo para Deus
fazendo dele uma nova criação Nele.
É preciso pregar sobre a encarnação e morte de Jesus. Ele morreu por mim e
todos os pecados contra mim foram pagos. Por isso a Escritura diz que já não há mais
nenhum pecado, até mesmo os cometidos na infância, na juventude ou no dia de
ontem. Todo pecado que vez ou outra me incomoda não pode mais me perturbar, pois
Jesus pagou cada um deles. Ele pagou todos os nossos pecados de hoje e todos os
que ainda vamos cometer. Não há mais nenhuma condenação. Por isso a morte de
Jesus precisa ser anunciada. Ele nos perdoou os pecados e nos ressuscitou para
vivermos em novidade de vida com ele, sem nenhuma dívida. Hoje nós podemos
entrar diante do Senhor olhando para Ele com o rosto descoberto porque já não há
mais nenhuma condenação. Se a consciência nos acusa, Paulo diz: Maior é Deus que
a minha consciência; não há mais nada que me envergonhe diante do meu Senhor.
Em Efésios 1, Paulo fala algo que foi de tremenda libertação para mim. Ele
disse que Deus me fez agradável a Ele no Amado. Não preciso fazer absolutamente
nada para agradá-Lo, pois eu já sou agradável a Ele. E, porque sou agradável, eu
22
procurarei fazer coisas agradáveis. Ele não me libertou para fazer minha própria
vontade, mas para recebê-Lo como meu Senhor. Ele agora é o dono da minha vida.
No Antigo Testamento lemos que o escravo, quando era liberto, mas amava
seu Senhor e não o queria deixar, era levado diante do juiz e sua orelha era furada.
Todos que o vissem com a orelha furada sabiam que ele era um escravo de amor.
Nós somos esse povo, pois Deus nos libertou e, livres, decidimos servi-Lo. Eu o sirvo
não por medo do inferno, mas porque amo o meu libertador e resgatador. O ano do
Jubileu só é possível porque temos um resgatador!
Pedro, em sua primeira pregação, fala da divindade e encarnação do Senhor:
Varões irmãos, seja-me lícito dizer-lhes livremente acerca do patriarca Davi, que ele
morreu e foi sepultado, e está até hoje entre nós a sua sepultura. Sendo ele, pois,
profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto dos seus
lombos, segundo a carne, ele levantaria o Cristo para sentar no trono. Nesta previsão
disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no hades, nem a sua
carne viu corrupção. Deus ressuscitou a esse Jesus, do que todos nós somos
testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, tendo recebido do Pai a
promessa do Espírito Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis. Porque Davi não
subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha
direita, até que ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Saiba, pois, com
certeza toda a casa de Israel que esse Jesus, a quem vós crucificastes Deus o fez Senhor
e Cristo (Atos 2:29-36).
Os anúncios (ingredientes) do evangelho contidos no texto acima são:
• Jesus é Deus (v. 34 – Jo 1:1);
• Jesus é Deus encarnado (v. 30 – Jo 1:14);
• Jesus Cristo morto (v. 31 – aponta para a ressurreição que implicou em
morte);
• Jesus Cristo ressuscitado (v. 32);
• Jesus Cristo é Senhor (vv. 30,36 – Deus o fez Senhor e Cristo).
Essa é a doutrina dos apóstolos! Foi sobre isso que eles pregaram.
Algumas referências complementares:
• Mateus 16:21; Marcos 8:31; Lucas 9:22 – morto e ressuscitado;
• Atos 2:21,23,24,29,32,33,36; 4:33 – ressurreição;
• Atos 10:33,36,39-46 – morto, ressuscitado e juiz;
• Apocalipse 1:18 – “estive morto, mas estou vivo e tenho as chaves da morte
e do inferno”;
• Apocalipse 2:8 – esteve morto e tornou a viver;
• Apocalipse 5:3-14 – o Cordeiro como tendo sido morto, assentado no trono;
• Apocalipse 13:8 – o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo
23
• Leia também o maravilhoso texto que está em Apocalipse 5:4-8,12,13.
Esse é o nosso Jesus e tudo converge para ele! Os versículos de Apocalipse
dão ênfase extremamente forte na figura do Cordeiro, mas fala também da Raiz de
Jessé e do Leão. João não vê o Leão no trono, mas o Cordeiro. É verdade que o
Cordeiro tem força de Leão, mas João foca o Cordeiro, porque o Cordeiro fala do
nosso resgate eterno que está diante de Deus pelos séculos dos séculos. É o nosso
resgate de uma vez por todas e por toda a eternidade.
A história de Adão nunca mais se repetirá, pois o reino, o domínio, a glória, a
santidade Dele e a nossa é definitiva. Acabou a história! Agora somos livres do
pecado, do poder do pecado, da presença do pecado e daquele que nos tenta a pecar,
porque esse será amarrado e jogado no lago de fogo. O Cordeiro estará eternamente
no Trono, e é por isso que Apocalipse enfatiza tanto isso.
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus
ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz para que se aumente o seu governo e venha paz sem fim sobre o trono
de Davi e sobre o seu reino para estabelecer e o firmar diante do juízo e a justiça desde
agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isto (Isaías 9:6,7).
Você quer garantia maior que esta?
Paulo falou algo que alguns escritores e historiadores dizem ser um cântico da
Igreja:
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus; quão
insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos. Quem pode
conhecer a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro ou quem primeiro deu a ele
para que lhe venha ser restituído? Porque dele e por meio dele e para ele são todas as
coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém. (Romanos 11:33-36).
A palavra “inescrutável” pode ser explicada, por exemplo, quando numa caçada
você não encontra nenhum rastro do animal que está caçando e, por isso, não pode
de fato segui-lo. Paulo diz no versículo acima que é impossível seguir ao Senhor se
você não estiver “dentro” dele, pois é um caminho inescrutável, sem pista alguma
Dele. Mas Paulo foi crescendo em sua revelação de Deus, e diz:
Bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos tem abençoado com toda sorte
de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo. (Efésios 1:3).
Há um problema “técnico” em Efésios 1, porque é extremamente difícil dividi-
lo. Esse capítulo é quase um monobloco, um concreto indivisível. Porém,
pretensiosamente eu o dividi e cheguei, então, ao versículo 9:
Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo a boa vontade que propusera
em Cristo de fazer convergir nele na dispensação da plenitude dos tempos, todas as
24
coisas, tanto as do céu como as da terra. Nele, digo, no qual também fomos feito
herança, predestinados pelo propósito daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória nós, os que de
antemão esperamos em Cristo. (Efésios 1:9-12).
Quem aconselhou Deus? Ele próprio! Qual foi o conselho que Ele deu a Si?
Ser bondoso para conosco! Deus gosta de exercitar o Seu conselho e, por isso, é
bondoso para conosco. Por isso declaramos que Ele é bom.
Vamos adiante, no texto de Efésios 1:
Por isso também eu tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para
com todos santos, não cesso de dar graças por vós fazendo menção de vós nas minhas
orações para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda
espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos
do vosso coração para saber qual a esperança do seu chamamento. Qual a riqueza da
glória nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para os que cremos. Segundo
a eficácia da força do seu poder o qual exerceu ele em Cristo ressuscitando-o dentre os
mortos e fazendo sentar à sua direita nos lugares celestiais acima de todo principado
e potestade e poder e domínio e de todo nome que se possa referir, não só no presente
século, mas também no vindouro e pôs todas as coisas debaixo dos pés e para ser o
cabeça sobre todas as coisas o deu à Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele
que a tudo enche em todas as coisas. (Efésios 1:15-23).
Mas Paulo não parou por aí; ele foi caminhando na sua revelação. Vejamos:
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu
amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus
invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas. Nele
foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam
tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades, tudo foi criado por meio
dele e para ele. (Colossenses 1:13-16).
Analisando a preposição “Nele”, concluí que a Palavra de Deus é de uma
riqueza e profundidade sem tamanho. Essa preposição fala de tempo, de lugar, de
estado e de instrumentalidade. “Nele” também dá uma ideia de descanso, um lugar
que você entrou para descansar e “arriou a sua mochila”. Se você está dentro de Deus
é porque você descansou de suas obras, assim como Deus das Dele.
O versículo 17 fala de identidade:
Ele é antes de todas as coisas, e Nele tudo subsiste. (Colossenses 1:17).
A palavra “subsistir” dá a ideia de que Deus colocou a Terra na exata distância
do Sol e colocou uma “trava”. Essa trava é Ele próprio. Se a Terra chegar um
pouquinho mais perto do Sol, ou se afastar um pouquinho mais dele, será sem dúvida
25
uma tragédia. Ela se encontra exatamente no lugar em que está porque é sustentada
pela Palavra do Seu poder! Isso é o que significa “Nele”.
Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos
para em todas as coisas ter a primazia. Porque aprouve a Deus que nele residisse toda
a plenitude e que havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz por meio dela
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer sobre os céus.
(Colossenses 1:18-20).
Amados, essa história tem um fim! As lutas, as doenças e as tristezas terão um
fim. Todas essas coisas vão acabar!
Havendo Deus outrora falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais pelos
profetas, nesses últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas, pelo qual também fez o universo, ele que é o resplendor da glória e a
expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder.
Depois de ter feito a purificação dos pecados assentou-se à direita da majestade nas
alturas, tendo se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome
do que eles. (Hebreus 1:1-4).
Qual é o quadro dessa passagem? No Antigo Testamento, o sacerdote levava
o sangue do cordeiro para diante do propiciatório e Deus o recebia. Aqui, o Cordeiro
levou seu próprio sangue diante do Pai e satisfez completamente a justiça de Deus
para todo o sempre. Deus falou: “Eu estou satisfeito!”.
Pensando sobre essas coisas e indagando de Deus como pode ser tudo isso,
eu escrevi o seguinte:
Reflexo perfeito, não retém em si nenhum pouco de Luz, pois não tem nenhum
ponto escuro (A luz da lua não é dela e sim do sol. A lua não reflete toda luz
que recebe do sol porque ela é sombra, então, retém um pouco de luz. Mas
Jesus não tem nele nenhuma sombra e, por isso, reflete toda a luz de Deus.
Ele é o resplendor da glória de Deus), mas deixa brilhar toda a glória do Pai –
é a imagem, a efígie de Deus, gravada em uma vida humana, esculpida com
toda exatidão na figura de um ser humano, mantendo todas as leis de física em
equilíbrio, as forças da natureza, as órbitas dos planetas, a gravidade, os ciclos
da vida, as estações, a razão da fotossíntese, o germinar, o brotar, o florir e o
fruto, o dia e a noite, a luz e a sombra, o Norte perfeito, aquele que divide e
sustenta os firmamentos, aquele que Jó chama de ferrolho dos mares; a força
dos ventos, o calor do fogo, a fonte da beleza, a plenitude da sabedoria, a
centelha da vida, o dono da morte, as cores do universo, as estrelas são uma
pálida amostra do Seu brilho, a profundeza desconhecida dos oceanos, o limite
do infinito, a fronteira final do universo; Ele é a cura de toda doença da alma e
do corpo; é o que alivia as dores das feridas abertas; Ele é a razão da saudade
que temos de algo que ainda não conhecemos, de um lugar onde ainda não
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fomos; Ele é força que me faz respirar e aquele que diz qual é a hora em que
eu paro de respirar o ar daqui; Ele é a centelha da vida na fecundação e a
mesma centelha que me levantará dos mortos; Ele me fez abrir os olhos no dia
do meu nascimento, fechará minhas pálpebras no meu último dia aqui, e os
abrirá, de novo, no dia da Sua glória.”
Concluo, então, afirmando que JESUS É DEUS!
Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe
serei Pai e ele me será Filho? E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz:
E todos os anjos de Deus o adorem. Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus
anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo; mas acerca do Filho: O teu trono,
ó Deus é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino. Amaste a
justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria
como a nenhum dos teus companheiros. Ainda: No princípio, Senhor, lançaste os
fundamentos da terra, e os céus são obra das suas mãos; eles perecerão; tu, porém,
permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste; também, qual manto, os
enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os
teus anos jamais terão fim. Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha
direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés? (Hebreus 1:5-13).
Davi escreveu:
Antes que os montes nascessem e se formasse a terra e o mundo, de eternidade a
eternidade tu és Deus. (Salmos 90:2).
E, finalmente, João diz em Apocalipse:
Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o
Todo-Poderoso. (Apocalipse 1:8).
Resumindo, JESUS É A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS.
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CAPÍTULO 3
A COMUNHÃO
Nós somos chamados à comunhão, apesar das dificuldades que possam surgir e,
também, a um estilo de vida intenso, ao ponto de ninguém se sentir sozinho no nosso
meio e, quando um solitário se aproximar de nós, que seja atraído pelo amor de Jesus
manifestado em nossas relações.
Todos nós temos algumas pessoas com as quais não nos damos muito bem.
O que fazer? Insistir! Lembro-me de quando fui trabalhar numa tribo indígena e ali ter
tido um caso de antipatia à primeira vista entre mim e um dos índios, a antipatia era
mútua. Quando fazíamos reunião ele ficava encostado numa madeira olhando de
longe e não se aproximava. Eu não me importava com ele, e pensava: se ele quer ir
para o inferno que vá. Verdade, eu não gostei dele. Graças a Deus não há o
mandamento “gostai-vos uns dos outros”, mas “amai-vos uns aos outros”. É diferente!
Podemos não gostar de muitas coisas, mas devemos amar as pessoas. Porém, nem
mesmo esforcei-me em amar aquele rapaz. Mas aconteceu algo interessante: Eu me
preparava para ir a Manaus e estava com o meu facão na mão, um facão muito bom,
cuja bainha era bem trabalhada. Um facão, no interior do Amazonas, é uma coisa
muito cobiçada. Aquele rapaz, o melhor caçador da aldeia, se aproximou, pegou o
facão, olhou e disse: “Bonito. Você quer trocar?” Eu respondi que sim e ele perguntou
quanto eu queria por ele. “Eu quero dois veados”, falei. Pensei nisso porque eu ia
viajar e a caça serviria de alimento para Irani, minha esposa. Ele achou caro. Então,
eu disse que sempre que trouxesse uma caça desse um pedaço para Irani. Ele ficou
muito feliz com o negócio e foi saindo, mas eu lhe disse que levasse o facão. “Mas eu
não paguei”, ele falou. Insisti que o levasse, ou seja, instituí a primeira venda a crédito
naquela aldeia. Ele levou o facão. Eu não havia planejado aquele negócio, foi
espontâneo, mas aquilo mudou a nossa relação. Ele passou a ser o meu melhor amigo
e eu o seu melhor amigo. Agora era um amor mútuo, passamos a nos amar.
É claro que há pessoas que têm coisas que não gostamos, mas na medida em
que as amamos, passamos a gostar. O gostar é variável, tem horas que eu gosto de
um e não gosto do outro. Mas não se preocupe com não gostar, preocupe-se em
amar.
Uma das coisas que o pecado estraga, de acordo com nosso irmão Tony, é a
comunhão. A Palavra diz que os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus.
Perceba a ordem dos pronomes: entre nós e Deus, e não entre Deus e nós. Deus
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nunca se move do lugar Dele, quem se move somos nós. Quando pecamos nos
afastamos do Senhor e, automaticamente, uns dos outros.
Quando criticamos a congregação ou os nossos irmãos, algo errado está
acontecendo em nossas vidas. Somos parte do Corpo de Cristo, então, ao criticarmos
o Corpo estamos criticando a nós mesmos. Falar mal da igreja é falar mal de si
mesmo. O único lugar no qual é permitido falar mal da igreja é diante do espelho. Ali
você pode falar o que quiser da igreja e aproveitar, inclusive, para orar pela pessoa
incrédula que você vê na imagem. Em nenhum outro lugar lhe é permitido fazer isso.
Tudo de mau que você vê na igreja faz parte de sua pessoa, porque você e a igreja
são indivisíveis. Há duas coisas impossíveis de se fazer sozinho: casar e ser cristão.
Essas coisas, portanto, nos remetem à comunhão.
Porque nós, conquanto muitos, nós somos um só pão... (1 Coríntios 10:17).
Esse texto fala do corpo, mas nesse versículo em especial fala de pão. Nós
somos UM pão. Quais as implicações disso? A primeira coisa para fazer um pão é
triturar o grão de trigo, o qual desaparece em seguida. É ir para o moinho e acabar
com o individualismo. Não é “acabar com a individualidade”, pois individualidade é a
nossa personalidade e características pessoais, que são imutáveis. Individualismo é
tirar proveito da individualidade para si mesmo e a Bíblia nos ensina a fugir dele, ou
seja, do egoísmo ou egocentrismo. Quando encontramos com o Senhor Jesus,
encontramos uma pedra de moinho pesada.
Depois que o trigo é moído e triturado, ele é misturado e não se pode mais
restaurar os seus grãos. Isso acontece conosco! Quando chegamos à igreja de Deus
nós desaparecemos com relação ao nosso individualismo, porque nos misturamos no
Corpo de Cristo. Após esses dois processos (trituração e mistura) a massa é sovada
e alguns pães ainda podem passar pelo cilindro. A última coisa é ir para o forno para
assar (queimar).
Se quisermos alimentar as nações precisamos nos conformar com o processo
de Deus em nossas vidas. É preciso aceitar e conformar-se com o moinho de Deus,
porque é nele que todo individualismo e egoísmo caem por terra. Deus quer nos dar
às nações, por isso, não estranhemos o fogo que vem sobre nós, pois é ele que acaba
com tudo o que não presta, com tudo o que nos amarra. Para nós, muitas vezes, o
fogo significa um culto abençoado, mas para Deus é fogo de purificação; Ele queima
e destrói tudo aquilo que não é Dele em nós.
Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 João 1:7).
Ser um só pão fala também de andar na luz, de confissão de pecados. Não é
andar em qualquer luz, mas na luz de Deus, na luz da Sua Palavra, na luz daquilo que
Ele fala a nós. É quando percebemos um pecado em nossa vida e o trazemos à tona
29
para tratar com ele. É ser guiado pela Palavra de Deus, pois ela é luz e lâmpada para
os nossos caminhos.
Quando andamos na luz há uma consequência imediata: o sangue de Jesus
Cristo, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado (ou “de cada pecado”). Outra
consequência imediata é que temos comunhão uns com os outros. Não existem
pecados particulares! Fazer coisas erradas (pecados) no particular, afeta a vida da
igreja em geral. Sendo assim, eu deixo de ser um ajudante e passo a ser um peso
para a igreja. A purificação do sangue de Jesus Cristo vem para quem está em
comunhão, mas só temos comunhão se estivermos na luz. Se estivermos na luz nós
vamos buscar comunhão e se alguma coisa estiver quebrada nela, nós vamos buscar
consertar, imediatamente.
Alguns exemplos bíblicos a este respeito:
Israel vinha numa constância de vitórias sobre seus oponentes e adversários.
Estava mesmo invicto! Mas quando deviam atacar a pequena e despreparada cidade
de Ai, Josué não achou necessário que todo o exército fosse para a batalha. No
entanto, no confronto, a cidade de Ai se levantou com seu fraco exército e venceu o
exército de Deus. Josué, então, orou ao Senhor e Deus lhe disse que a derrota de
Israel aconteceu porque havia pecado entre o povo. Lançaram a sorte para encontrar
o culpado e essa caiu sobre Acã. Ele havia trazido consigo despojos de Jericó, sendo
que Deus mandara destruir tudo. Nada de Jericó poderia ser tomado para Israel. O
pecado de Acã trouxe maldição para Israel – o particular afetando o coletivo (Js 7).
Outro exemplo foi Saul, rei de Israel. Samuel havia ordenado atacar, matar e
destruir tudo dos amalequitas, mas Saul poupou o melhor das ovelhas e dos bois, os
bezerros gordos e os cordeiros (1 Samuel 15:9). Quando Samuel chegou e ouviu o
barulho do gado mugindo, interrogou a Saul e este disse que “pegou o melhor do
maldito” para oferecer ao Senhor. Mas o melhor do maldito também é maldito! O
pecado de Saul foi a causa de Deus ter se arrependido de tê-lo feito rei de Israel. Seu
pecado afetou a todo povo e a si próprio.
Assim, não existe pecado particular! Você não está sozinho no seu pecado
porque nós somos um só corpo e tudo o que você fizer afetará a igreja como um todo.
Não somos desligados uns dos outros! Eu preciso ser santo, primeiro por causa de
Deus, e segundo por causa do povo de Deus.
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão do seu Filho Jesus Cristo nosso
Senhor. (1 Coríntios 1:9).
Esse é um dos primeiros chamados que recebemos: ter comunhão com Jesus
Cristo! Não podemos nos descuidar disso, pois o pecado em nós pode impedir esse
chamado.
Analisando esse texto, fiquei pensando: por que ele se inicia com uma
referência a Deus como um Deus fiel? Porque a comunhão exige fidelidade, lealdade,
30
entrega, honra – coisas que estão em falta na Igreja hoje. Aliás, é impossível ter
comunhão com Deus e não ter comunhão com os irmãos. E não há nenhuma desculpa
maior do que a morte de Cristo para isso. Ele morreu para juntar em um só corpo os
seus filhos que andavam dispersos. Infelizmente, pensamos em situações,
acontecimentos, doutrinas que nos dão uma permissão para não andarmos juntos,
mas essa permissão não vem de Deus. No projeto Dele não existe a divisão, mas
unicamente a Sua Noiva completa, sem ruga, sem mancha.
O que temos visto, ouvido e anunciamos também a vós outros, é para que também vós
mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho
Jesus Cristo. (1 João 1:3).
Nesse texto percebemos que há uma comunhão horizontal e uma comunhão
vertical. Elas estão intimamente ligadas entre si. Que Deus nos livre de pecar e perder
esta comunhão!
Filhinhos, eu vos escrevo para que não pequeis e aquele que está no Senhor não peca.
(1 João 2:1).
Em outra versão diz: aquele que está no Senhor não vive pecando. Quando Deus
nos desenhou, antes do primeiro Adão, Ele não nos fez para pecar, mas para andar
num ambiente maravilhoso de flores, de frutos e com a própria presença Dele. Porém,
veio o pecado e nos afastou desse ambiente. Quando Jesus veio, ele restaurou esse
“desenho” e disse: “Eu vim para libertá-lo do pecado, do poder do pecado e da
presença do pecado”. A partir daí o nosso “desenho” continua sendo o mesmo de
antes.
Não fomos feitos para pecar, mas João diz: mas se pecardes.... A ideia
nessa expressão é: “se por acidente pecardes”. Quem trabalha com empresas sabe
que acidentes não acontecem, mas são provocados. Não adianta clamar a Deus por
proteção se você entrar numa rodovia a 140 km/h com pneus lisos no seu carro, freios
que não funcionam adequadamente e com farol queimado. Certamente os anjos do
Senhor não estarão ao seu redor! Pecado é uma conjunção de fatores. Tiago diz que
a cobiça do coração vai aumentando até levar à prática do pecado”. Na verdade, nós
“provocamos” o pecado!
Ele passava na porta da prostituta, era tarde, tardezinha, noite escura e densas trevas.
(Provérbios 7:7-9).
Se eu tivesse de colocar um título em Provérbios 7 e Jó 32, seria: “Passos para
o Pecado”. Salomão disse ter visto por entre as grades um homem néscio. Por que
ele chegou à conclusão de que aquele homem era néscio? Porque o texto diz que ele
passava quatro vezes por dia à porta da casa da prostituta! Então, não se pode dizer
que ele “pecou sem querer”, mas que ele provocou o pecado. Se pecado fosse “sem
querer” não seria necessário o arrependimento e a confissão. Precisamos de
arrependimento porque cultivamos, provocamos o pecado. Mas, se por acidente
31
pecarmos, temos um Advogado diante de Deus – Jesus! Por meio dele podemos no
achegar diante de Deus e confessar nosso pecado. Tiago completa, dizendo:
...confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para que
possais ser sarados. (Tiago 5:16).
O nosso grande opositor à comunhão é o pecado, portanto, não permita que
ele entre em sua vida! Às vezes dizemos que é difícil ter comunhão com determinado
irmão, mas quem sabe esse também é você? É por isso que a Palavra fala de
perseverar. Se fosse fácil não precisaria perseverar!
Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor
fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro (1
Pd 1.22)
Nós passamos por vários processos de purificação na nossa vida cristã.
Primeiro, a purificação do nosso espírito pelo sangue de Jesus Cristo. Estávamos
mortos em nossos delitos e pecados e o sangue de Jesus nos purificou e nos perdoou
do pecado e dos pecados (cometidos e ainda por cometer). Com isso, entendo que a
Bíblia não está nos liberando para pecar, porque Paulo disse: Pecaremos porque não
estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum (Rm 6.15). Deus é tão
radical que ele matou o pecado e também o pecador.
Segundo, a purificação da nossa alma, que é a sede dos desejos, ideais,
sentimentos, pensamentos. A purificação no espírito acontece no momento em que
reconhecemos a Cristo como Cordeiro suficiente diante de Deus; a purificação na
alma acontece no nosso dia a dia pela obediência à Palavra de Deus.
Se voltarmos para a história do povo de Deus no Egito, veremos que houve
três momentos de salvação. O primeiro foi quando o povo saiu do Egito, sendo salvo
dele. O terceiro foi quando o povo entrou em Canaã. Mas o segundo foi quando o
povo viveu no deserto por 40 anos, pois ali ele foi purificado de toda mentalidade,
cultura e herança egípcia. Eu penso que se Deus os levasse diretamente do Egito
para Canaã, uma viagem que se calcula durar 15 dias, Israel ou Canaã seria uma
província do Egito – estariam construindo pirâmides, adorando animais etc. Por isso
o povo precisou desse tempo para ser limpo pela obediência à verdade. Esse é
momento ou o processo que nós estamos vivendo hoje, colocando cada coisa de
nossa vida que ainda não obedece ao Senhor aos pés de Cristo.
Deus disse acerca das nações que habitavam em Canaã: Não os lançarei fora
de diante de ti num só ano, para que a terra não se torne em deserto, e as feras do campo não
se multipliquem contra ti (Ex 23.29). Ano após ano Ele foi tirando essas nações para
que o povo conquistasse toda a terra de Canaã. Deus faz o mesmo conosco: Ele não
nos trata de uma só vez.
32
Eu gostaria que em uma só noite o Senhor tratasse comigo e me transformasse
por completo; apertasse o botão “formatar” na minha vida e implantasse em mim um
“sistema operacional novo” e eu acordasse totalmente santo. Mas a promessa de
Deus é que Ele supre as minhas necessidades enquanto eu durmo, mas só trabalha
em mim quando estou acordado. Isso porque eu preciso concordar com o que Ele
quer fazer em mim. Deus não me invade, não me violenta, mas pergunta se eu quero.
Desta forma eu posso dizer: “Senhor, eu quero. Eu não gosto daquilo que o Senhor
não gosta e rejeito isso que o Senhor rejeita. Tira de mim o que o Senhor quer tirar”.
Essa é a razão desse tempo que estamos vivendo hoje. Eu não sei qual é o “tempo
de 40 anos” que você está vivendo, mas Deus está tirando de você tudo o que
pertence a Faraó.
Quando enxertamos um galho em uma árvore, a seiva que vem da raiz entra
neste galho e o vai transformando. No início os frutos que dele nascem ainda não
serão muito bons; mas quando a seiva da boa planta chegar no último galhinho
implantado, os frutos serão bons para se comer. Por enquanto, em minha vida, você
ainda verá coisas que não são de acordo com a minha raiz, mas eu estou no processo.
Um dia todos os meus frutos serão bons, porque estou nessa fase de purificação da
alma por meio da obediência à verdade.
...para o amor fraternal, não fingido. Se nós não estivermos neste processo de
transformação será muito difícil amarmos os irmãos. Será um amor fingido, superficial.
Daí a importância deste processo, para que o amor flua através de nós em plenitude.
...amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro. Esse é o alvo de
Deus para nós, o Seu padrão para toda a Igreja – nos amarmos ardentemente. Eu
não estou falando de nível de comunhão, de profundidade de relacionamento, porque
este depende do nível de afinidade, mas o amor ardente deve ser para todos. Se há
algo que machuca o coração do Senhor é a nossa atitude de indiferença para com as
pessoas, porque Jesus nos amou ardentemente. Seu trabalho em nós é movido por
íntima compaixão; suas motivações interiores é que o movem em direção a mim. Por
isso precisamos ter essa mesma motivação que Jesus tem por nós.
Nós já temos o Espírito Santo em nosso interior; o que precisamos agora é
aprender a dar lugar a Ele, deixar Deus agir e amar ardentemente os irmãos através
de nós.
Mas, sobretudo, tende ardente (intenso) amor uns para com os outros; porque o amor
cobrirá a multidão de pecados (1 Pd 4.8).
O amor não acoberta, mas cobre multidão de pecados. Acobertar é dizer que
o irmão não pecou; cobrir é entender que ele pecou e o receber mesmo assim. E o
que lidera isso é o amor ardente, intenso. Se não houver isso será impossível
insistirmos na comunhão.
33
E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma
de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma. (1 Sm 18.1)
É impossível, lendo este texto, que não nos lembremos de Atos 2, onde o povo
“era uma só alma”. Jônatas é um exemplo de um homem fiel a Deus e ao seu amigo.
Ele se desfez de coisas valiosas e as deu para Davi: capa, vestes, espada, arco, cinto
(1 Sm 18.4) e, por fim, disse: Nem tampouco cortarás da minha casa a tua beneficência
eternamente; nem ainda quando o Senhor desarraigar da terra a cada um dos inimigos de
Davi (1 Sm 20.15). Jônatas estava falando de seu próprio pai, Saul. E ainda disse que
gostaria de ser o segundo de Davi quando este se assentasse em seu trono. Isso era
considerar Davi superior, mas Jônatas era filho do rei, o substituto natural do trono, e
Davi era um simples pastor de ovelhas. No entanto, ele abriu mão em favor do seu
irmão – isso é amor intenso.
Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque
aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo
é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei
sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte
me separar de ti. (Rt 1.16,17)
Conquanto seja um texto muito cantado em casamentos, aqui fala de
comunhão, amizade, relacionamento, amor ardente entre duas pessoas. É
interessante que Deus trabalha nos extremos, porque Ele pega o relacionamento mais
conflituoso e complicado que existe entre os relacionamentos humanos, que é entre
sogra e nora, e o usa para mostrar o que é unidade.
Morreram os maridos das três (Noemi, Orfa e Rute). Noemi, que era uma
mulher de Israel, sugere que suas noras a deixem, sigam suas vidas, e ela voltaria
para sua terra. Mas Rute insiste para permanecer com ela, renunciando a muitas
coisas. Primeiro, a sua cultura (o teu povo é o meu povo). Você é capaz de renunciar
sua cultura para andar com os irmãos? Segundo, a sua fé (o teu Deus é o meu Deus).
Têm coisas que eu não abro mão: Jesus Cristo, sua divindade, encarnação, morte,
ressurreição, senhorio. Essas são coisas indiscutíveis, mas qualquer outra coisa da
igreja eu discuto, converso. Terceiro, à sua autodeterminação. Se há algo que
gostamos é de mandar na própria vida. Quarto, ao seu destino (onde quer que tu fores
irei eu). Quinto, a descansar sozinha (onde quer que pousares, ali pousarei eu, e ali serei
sepultada). Por causa disso ela entrou na genealogia do Senhor Jesus Cristo.
Outro fato interessante é que ela era moabita e Deus havia dito: Nenhum
amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração
entrará na congregação do Senhor eternamente (Dt 23:3). São duas pessoas que eu não
entendo como entraram na genealogia de Jesus: Rute e Raabe. Mas, como Deus é
Deus, eu não costumo questioná-Lo e Lhe dou liberdade para fazer o que Ele quer!
34
Jesus curava as pessoas e mandava-as não contar a ninguém, porque ele não
trabalhava com curas usando-as como marketing pessoal. Jesus não queria que as
pessoas o seguissem por aquilo que ele fazia e, sim, pelo que ele era. E nós
precisamos aprender a viver com esse mesmo padrão, andar com os irmãos pelo que
eles são. “Ah, mas quem são eles?” No mínimo, superiores a mim. São irmãos, são
santos. Mas aos santos que estão na terra, e aos ilustres em quem está todo o meu prazer (Sl
16.3). Nosso prazer deve estar nos santos que há na Terra. Ora, se todo o nosso
prazer está nos santos, o que sobra para fora? Nada! O meu prazer está em andar no
meio do povo de Deus, servi-lo, ser cuidado por ele e cuidar dele.
Essas são coisas que precisamos insistir, porque são contra nossa natureza,
nossa cultura, nossa cabeça. Eu sei que quando ouvimos isso, pensamos: “Mas isso
fere meu individualismo”. Sim, é verdade, mas vamos nos lembrar do trigo que foi
moído para se tornar pão. Sem moagem não há trigo, sem trigo não há pão.
E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo,
disse-lhe: Queres ficar são? O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem
algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou,
desce outro antes de mim. (Jo 5.7)
Eu considero essa história muito triste para estar nas Escrituras, mas como
Deus coloca coisas tristes e alegres para o nosso ensino e edificação, Ele a colocou.
Quando Jesus chega diante do poço de Betesda ele encontra o homem paralítico e
lhe faz uma pergunta cuja resposta está patente. Ele fez a mesma pergunta ao cego:
O que queres que eu te faça? (Lc 18.41). Mas às vezes Jesus nos faz perguntas só saber
se sabemos o que ele já sabe.
A resposta daquele homem entristece o meu coração: Não tenho ninguém que,
quando a água é agitada, me ponha no tanque. Ora, Betesda significa “casa de
misericórdia”, que é a Igreja! Então, será que podemos admitir que na Igreja exista
alguém sozinho? Para mim isso é uma incoerência! Mas, infelizmente, há muita gente
sozinha na casa de misericórdia e nós não podemos continuar permitindo isso. Essa
é uma condição propícia para alguém se vitimizar: “Estou sozinho, ninguém me ama,
ninguém me busca”. Mas, que tal essa pessoa ir em busca dos outros? “Ninguém me
telefona!” Que tal pegar o telefone e ligar para alguém? Quando você se aproximar de
alguém que está sozinho, você não estará mais sozinho.
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhe também vós,
porque esta é a lei e os profetas. (Mt 7.12)
Esta é a “regra áurea” da constituição do Reino de Deus. Você está se sentindo
sozinho? Vá atrás de alguém que está sozinho. Está se sentindo sem pastoreio? Vá
pastorear alguém. Tudo o que você quer que as pessoas façam com você, faça para
os outros. Isso resume todo o nosso relacionamento.
35
E alguns dias depois entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa.
E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam; e
anunciava-lhes a palavra. E vieram ter com ele conduzindo um paralítico, trazido por
quatro. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o
telhado onde estava, e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico.
(Mr 2.1-4)
Jesus estava em sua própria casa e logo se ajuntou muita gente para ouvi-lo.
Graças a Deus, ao contrário do aleijado no Poço de Betesda que não tinha ninguém
para ajudá-lo, esse homem tinha quatro amigos “loucos”, pois é uma loucura você
chegar em uma casa que não é sua, colocar uma cama em cima do telhado, abrir um
buraco no meio da sala e descer a mesma. Estava todo o povo ali reunido e, de
repente, começa a cair o telhado e descer uma cama. Ora, só louco faz uma coisa
dessas! Mas eu lhe pergunto: você é louco o suficiente para fazer algo parecido pelos
seus irmãos em Cristo? Você é louco de amor pelas pessoas? Você é louco para fazer
coisas que ninguém mais faria, de entregar tudo o que você tem por amor aos irmãos
da igreja? Pois este é o padrão de Deus.
Há sabedoria humana em Deus mandar Seu único Filho para morrer por nós,
sendo nós ainda inimigos Dele? Não! Por isso o Evangelho é loucura e escândalo
para os homens, porque ninguém é capaz de morrer pelos seus inimigos. Mas Jesus
foi e esse é o seu padrão para nós. A Igreja dos próximos dias será assim: um povo
que não deixa ninguém sozinho; um povo que não telefona para o pastor fazer uma
visita, mas vai e faz; um povo onde todos pastoreiam todos; um povo onde ninguém
tem a resposta de Caim (Não sei; sou eu guardador do meu irmão?), Gn 4.9. Deus não
respondeu nada, pois Ele não responde a perguntas tolas. Ora, afinal, existem apenas
dois irmãos na face da Terra – quem é que deve guardar quem? O problema é que
Caim tinha planos malignos em seu coração, mas eu não creio que nós tenhamos isto.
O que falta em nós é sair da inércia e isto exige mais força ou energia do que se
manter em movimento. Mas o profundo amor de Deus, juntamente com o Espírito
Santo operando em nosso coração, vai nos levar a isso.
E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
(Ef 2.16)
Inimizade não é somente ter um coração com animosidade contra o irmão, mas
é ter falta de amizade. Deus matou a inimizade, portanto, não precisamos carregar
conosco algo que Ele já matou.
Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem
alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te
primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa
com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que
o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.
(Mt 5.23-25)
36
O texto não diz “se você se lembrar que fez alguma coisa contra a pessoa”,
mas “se a pessoa tem algo contra você”. O que deve fazer? Primeiro, deixar a oferta
no altar. Veja que a oferta não estava em discussão, ela era boa, pois, caso contrário,
Deus mandaria tirá-la de lá. Mas Deus não aceita uma oferta se há problemas entre
os irmãos. Segundo, ir até o irmão e reconciliar-se com ele. Deus literalmente “Se
cansa” de determinados cultos, pois irmãos indiferentes uns aos outros chegam diante
Dele, levantam as mãos, cantam, mas isso é para Ele como um “cheiro mal”:
Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom
cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei
delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim
o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. (Am 5.21-
23).
“Reconciliar” é restaurar a amizade que havia antes. Eu aprendi algumas coisas
com esse texto: Primeiro, que a amizade é mais importante do que cultos. Segundo,
que relacionamento é mais importante que ofertas. Pense um pouco: se você tem
quatro filhos e, um dia, eles resolvem comemorar o seu aniversário, mas você sabe
que eles são inimigos, você aceitaria esta festa? Pois Deus não aceita! Por isso nós
fazemos muitos cultos onde Deus não está presente e que se tornam abominações
diante Dele pelo fato de sermos irmãos, mas não termos amizade.
Terceiro, que eu preciso pedir perdão de coisas que eu não fiz, mas de
sentimentos que eu causei. Às vezes você machuca alguém e nem percebe, não foi
por querer, mas aquele irmão fica profundamente magoado. O que você faz? Diz a
Deus que “ele é carnal, pois não foi por querer”? Não! Na igreja, entretanto, sempre
acontece de pisarmos nos irmãos sem perceber. E o que devemos fazer? Pedir
perdão! Eu aprendi algo: Nunca explique um pecado, uma ferida! Você causou uma
ferida? Peça perdão e não explique. Alguns vão pedir perdão e apenas contam o
pecado do outro: “Ah, estou magoado com você, porque fez isso comigo!”
Aprendi também, no pastoreamento, que existe uma verdade factual e uma
verdade emocional. Se, por acaso, eu seguro um copo e ele se quebra em minha mão
e me fere, a partir de então eu vou olhar para ele como um assassino, pois “se levantou
contra mim para me matar”! Está é uma verdade emocional. E não adianta ninguém
me explicar que é somente um copo, porque minha visão sobre ele está baseada na
ferida, então, não adianta discutir. É preciso eu pegar um outro copo para perder esta
falsa impressão. E qual é a verdade factual? Este é apenas um copo de vidro! Mas a
pessoa ferida não consegue enxergar isso, porque ela está ferida. Assim, não adianta
tentar justificar pecados, mas chegar à pessoa e pedir perdão, se humilhar.
Jesus disse: Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho
com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao
oficial, e te encerrem na prisão. Eu vejo esse texto como uma situação sem saída, pois,
como vou pagar algo estando na prisão? É impossível! Por isso preciso me reconciliar
37
com o irmão enquanto estou andando com ele. E isso é insistir na comunhão! Assim,
está diante de nós um caminho, uma proposta para alcançarmos os frutos do verso
47 de Atos 2.
O sentido da palavra “reconciliar”, no texto de Mateus 5, é restaurar a amizade
que havia antes e que se quebrou. Nós não podemos ter inimizades nem sermos
indiferentes uns com os outros, antes temos que ter comunhão. E na comunhão temos
que ter amor intenso e ardente de uns para com os outros. Esse é o padrão de Deus
para nós e para a Sua igreja.
Nos capítulos 39 e 40 de Êxodo, que fala sobre a construção do templo, há
registrada catorze vezes a expressão: Como Deus mostrara a Moisés no monte. Moisés
fez tudo de acordo com o padrão que Deus lhe havia mostrado.
A construção do tabernáculo é a história de milagre após milagre.
1º milagre: Deus revelar a Moisés como tinha de ser, exatamente, o
tabernáculo, e ele (um homem) ser capaz de receber a sua planta;
2º milagre: Moisés ser capaz de contar para as pessoas exatamente o que
Deus lhe havia mostrado. Ele teve uma visão com detalhes fantásticos sobre o
tabernáculo e a repassou àqueles que iriam trabalhar na sua construção;
3º milagre: Os homens fazerem exatamente como Deus havia mostrado a
Moisés.
No capítulo 39, Moisés passa pelo tabernáculo e vê que tudo era como Deus
lhe havia mostrado no monte. O capítulo termina dizendo: Então Moisés abençoou. Esse
“então” é conclusivo e significa “por causa disso”, ou seja: “Porque está de acordo eu
posso abençoar”. Se nós quisermos a bênção de Deus, temos de fazer exatamente
como Ele nos manda fazer. Deus tem um padrão, um modelo e uma forma de ser para
a igreja e, por isso, precisamos pegar dele a planta para que tudo fique segundo o que
Ele quer.
No final do capítulo 40, diz: Então, a glória do Senhor encheu o tabernáculo. A
palavra “então”, significa: “Porque fizeram conforme eu falei a minha glória pode
habitar nesse lugar”. Nós queremos a bênção e a glória de Deus? Então façamos as
coisas segundo a Sua vontade. Deus não precisa inventores, Ele quer apenas que O
obedeçamos. Muitos têm capacidade criativa fantástica, mas não é isso que Deus
quer, pois o que tinha de ser criado e inventado, Ele mesmo o fez.
Em 1 Crônicas 28 e 29, Davi entrega as plantas (algumas versões dizem
“riscos”) para seu filho Salomão, e o orienta: “Você vai fazer segundo isso”. Salomão
não tinha liberdade de mudar a planta do templo, e nem nós temos liberdade de mudar
alguma coisa porque, afinal, estamos sendo edificados para ser a habitação de Deus
em Espírito. De maneira alguma podemos ser voluntariosos (seguir nossos próprios
caprichos e/ou vontades) quanto ao que Deus nos manda fazer. A casa que nós
38
estamos edificando, no nome do Senhor Jesus Cristo, é para morada Dele; Ele precisa
vê-la, e dizer: “Essa é a minha casa, do jeito que Eu queria”. Não podemos mudar o
que Deus determinou e, por isso, precisamos da intercessão e unção do Espírito Santo
para nos ajudar a fazer exatamente conforme a vontade do Senhor.
Voltando para a questão da comunhão, em Cristo Jesus nós nos aproximamos
daqueles que estão em Cristo. Num triângulo ou pirâmide temos duas linhas que
chegam ao vértice e automaticamente se aproximam uma da outra – o vértice é o
Senhor Jesus Cristo. Se você deseja encontrar a pessoa certa para a sua vida vá para
Jesus, pois ele é o ponto de encontro.
Isaque, em Gênesis 24, encontrou Rebeca junto ao poço chamado Beer-Laai-
Roi, que significa “o poço daquele que vive e me vê”. Esse poço é Jesus. É em Jesus
que a gente se encontra. A nossa comunhão não está nas coisas que cremos, pois
estas são relativas; a comunhão está numa Pessoa. Nós precisamos ter uma atitude
de insistir na comunhão, apesar de, às vezes, ser tão difícil andarmos uns com os
outros. Mas, em Cristo Jesus, você e eu devemos insistir na comunhão, pois ela
certamente florescerá.
Ezequiel 37 fala do vale de ossos secos e de como cada um deles se ligou ao
seu osso. Nós não podemos viver sem nossos irmãos. Deus trata e usa uma
ferramenta na proporção da dureza do seu material. Se Ele colocou ao seu lado uma
pessoa dura é porque você precisa dela. Se você é teimoso, Deus colocará ao seu
lado uma pessoa mais teimosa ainda. A dureza da ferramenta é proporcional à dureza
do seu material. A igreja é o lugar das ferramentas e Deus nos colocou nela para, em
comunhão, sermos aperfeiçoados juntamente com os santos. Esse é o rio no qual
Deus nos colocou e nele permaneceremos até que todos nós sejamos parecidos com
o Senhor Jesus. Ele aprendeu a obediência e foi aperfeiçoado pelas coisas que sofreu;
e nós também estamos no mesmo caminho.
A comunhão aponta para a partilha de vida. A palavra “comunhão” significa
“fazer comum de outros aquilo que é meu”. Torno comum de vários os bens que eu
tenho. Torno comum dos irmãos as minhas dores e minhas alegrias. Comunhão não
é estar num culto juntos, mas é partilhar alegrias e tristezas; é dar à nossa família, a
igreja, aquilo que eu estou sofrendo ou aquilo que me faz alegrar. A Palavra diz
exatamente isso: Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (Rm
12.15).
Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu
favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade
(Fp 4.10)
O que o apóstolo Paulo está falando é que os filipenses se associaram na sua
tribulação. Associar significa comprar ações. É como se Paulo dissesse: “Vocês
compraram ações nas minhas tribulações”. Já pensou você comprar ações e se meter
39
na tribulação do outro? Isso é comunhão! Paulo estava se referindo a uma oferta que
os filipenses haviam lhe enviado através de Epafrodito.
Ele continua:
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação. (...) já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece. Todavia, fizestes
bem, associando-vos na minha tribulação. (...) Não que eu procure o donativo, mas o
que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. (vs. 11-17).
Aqueles irmãos resolveram investir na vida de Paulo e ouviram dele: “O meu
Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades” (v.19). Em outras palavras, o texto diz que Deus vai nos recompensar
não segundo o que investimos, mas segundo a Sua riqueza na glória. Quanto é isso?
É incalculável!
Eu chamo a carta aos filipenses de “carta das emoções” ou “carta dos
sentimentos”. Em quatro capítulos ele faz referência, cinquenta e uma vez, a
sentimentos. No capítulo 2, ele diz:
Espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível, a fim de
que eu me sinta animado também, tendo conhecimento da vossa situação. Porque a
ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses;
pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus” (vs.19-21).
Quando fala de Timóteo, Paulo diz que este estava cuidando das coisas de
Cristo, isto é, as coisas do Senhor é a vida dos irmãos. É impossível servir a Deus
sem servir às pessoas ou separando-se delas. Servir às pessoas e cuidar delas; é o
nosso chamado. Se você não sabe servir, aprenda. No princípio, leve um copo d’água,
depois uma blusa se a pessoa está com frio ou telefone dando-lhe uma palavra de
ânimo e conforto. O que Timóteo fazia? Ele cuidava das coisas do Senhor cuidando
dos irmãos. Cuidar das coisas do mundo é cuidar de si mesmo, mas cuidar das coisas
do Senhor é cuidar das pessoas.
Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão,
cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro e vosso auxiliar
nas minhas necessidades; visto que ele tinha saudade de todos vós e estava angustiado
porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se
compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse
tristeza sobre tristeza. (Fp 2.25-27)
Epafrodito foi um apóstolo enviado pela igreja de Filipos para cuidar de Paulo.
Esse era o seu grande ministério – servir, cuidar e proteger Paulo. Um homem para
cuidar de um homem! Mas Paulo, agora, quer mandá-lo aos filipenses porque estes
estavam preocupados com a sua saúde. No final do texto diz que Deus o havia curado,
40
principalmente por causa de Paulo. O nome disso é igreja, isto é, quando nos
preocupamos com a preocupação do outro.
Isso é insistir na comunhão e esse é o nosso caminho. Foi esse o jeito que
Deus nos mostrou no monte; essa é a planta do tabernáculo do Senhor, da Casa de
Deus – um povo que se preocupa uns com os outros. O ápice da carta aos filipenses
está no capítulo 2, versículo 5 a 7: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual
a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo.... Em outras palavras,
Cristo não pensou em si mesmo, mas se esvaziou para cuidar de nós. Esse é o padrão
que Deus quer para as nossas vidas.
A morte de Jesus Cristo pode ser vista sob dois prismas ou dois pontos de
vista. Um deles é o jurídico: aquele que pecar, morre. Mas Jesus veio e pagou um
preço pelos nossos pecados e nos livrou da morte. A cédula que era contra nós foi
cravada na cruz e já não temos mais nenhuma dívida com o Pai.
Porém, a questão jurídica não é tudo: Jesus Cristo veio também para restaurar
a nossa comunhão que estava quebrada com Deus. Para isso ele precisou que a
justiça (o lado jurídico) se cumprisse – quem pecar, morre. Isso é justo diante de Deus.
Contudo, Jesus não somente nos livrou da morte, mas também rasgou o véu que nos
separava da comunhão com o Pai. O objetivo da morte de Cristo (aspecto jurídico)
era restaurar a nossa comunhão. Nós precisamos viver no poder da ressurreição
(poder da vida) de Jesus Cristo e não permitir que nada nos separe mais. A única
maneira de nada nos separar é estarmos, cada um de nós, em Cristo Jesus – dentro
da pessoa de Jesus Cristo.
Sobre a obra de Jesus por nós:
Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão
por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo,
estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus,
vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é
a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que
estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz,
e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo
por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz
também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um
Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e
sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo
ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce
41
para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo
edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2.11-22).
De acordo com o texto acima, existem dez coisas que Jesus fez quando o seu
corpo foi moído:
1ª – Ele morreu por nós. Na Ceia somos “nós”, mas na cruz sou “eu” (Ef 2.13).
2ª – Ele tornou-se a nossa paz (Ef 2.14).
3ª – Ele fez de judeus e gentios um só povo formando um novo homem. Um
homem coletivo, que é a igreja, o Corpo de Cristo no qual ele é a Cabeça. Paulo exorta
a que nos revistamos do novo homem, ou seja, da igreja. A igreja é a nossa cobertura,
nossa nova vestimenta (Ef 2.14-16 e 4.24).
4ª – Ele derrubou a parede de separação entre judeus e gentios, tornando-se
a nossa paz. Essa paz não é um sentimento, mas uma Pessoa. Se você tem Cristo,
você tem paz. Se você não tem Cristo, você tem apenas um sentimento, porque a paz
verdadeira é ele (Ef 2.14-16).
5ª – Ele aboliu a lei dos mandamentos. Não é que ele jogou fora os
mandamentos, mas aboliu o peso e a carga da lei sobre nós. Hoje nós não cumprimos
a lei porque temos medo do pecado, mas a cumprimos porque essa lei se deslocou
da pedra para o coração. Essa é a grande diferença entre o Antigo e o Novo
Testamento. Obedecemos ao Senhor e as Suas leis porque são boas, santas e
perfeitas. Elas iluminam os olhos, são desejáveis e doces ao coração. Não temos mais
medo delas, pois agora elas são boas e nós as amamos. Por isso, meditamos nelas
dia e noite (Ef 2.15).
6ª – Ele fez a paz entre judeus e gentios (Ef 2.15,16).
7ª – Ele reconciliou o homem com Deus (Ef 2.16).
8ª – Ele matou a inimizade. As ações de Deus são muito fortes e, na cruz de
Cristo, Ele fez uma coisa extremamente definitiva: matou o pecado e o pecador. Se
ele tivesse matado apenas o pecado, certamente continuaríamos fazendo outras
coisas erradas. Então ele nos matou também. Essa é a nossa vitória sobre o pecado:
estamos mortos em Cristo Jesus! Morremos com Cristo, mas também fomos
ressuscitados com ele para vivermos em novidade de vida! Ele matou a inimizade que
havia entre nós e ele e entre nós e os nossos irmãos. Deus quer que tenhamos
amizade com todo o Seu povo; claro que não é no mesmo nível, mas não pode haver
entre nós nenhuma frieza ou indiferença. Não existe nenhum mandamento na
Escritura que diz “gostai uns dos outros”, mas, sim, “amai-vos uns aos outros”. Não
importa o que a pessoa faça de errado, o amor cobre multidão de pecados. Assim,
você sai do nível do gostar e entra no nível do amar – isso é a morte da inimizade (Ef
2.15,16).
42
9ª – Ele trouxe a pregação da paz para todo homem em todas as nações,
judeus ou gentios. O evangelho da paz precisa ser anunciado a todo homem: Jesus
Cristo se fez paz entre Deus e nós (Ef 2.17).
10ª – Ele abriu o acesso ao Pai para todo homem. Havia um véu que nos
separava, mas quando Jesus morreu na cruz esse véu foi rasgado. Não de baixo para
cima, mas de cima para baixo, mostrando com isso que a iniciativa não foi nossa, mas
de Deus. O véu foi rasgado de alto a baixo, portanto, hoje temos acesso diante do Pai
(Ef 2.18).
Nós somos chamados para a comunhão com Jesus Cristo e
consequentemente uns com os outros. Não permita que a sua comunhão se esfrie!
Um irmão disse, certa vez: “Qualquer brecha que haja entre mim e você, é um espaço
para Satanás entrar”. Nós precisamos andar colados, ligados um ao outro para que
Satanás não encontre nenhuma brecha para entrar. Isso deve levar você a atitudes
práticas, tal como: não escute nada que alguém fale do seu irmão, defenda-o sempre
etc.
Quando Davi sobe ao trono ainda guardava no coração a figura do seu amigo,
Jônatas, a quem sua alma tinha se apegado. Jônatas havia feito Davi jurar que
cuidaria dos seus descendentes. Esse não foi um pedido normal, pois, naquele tempo,
quem chegasse ao trono matava os descendentes do rei anterior para evitar qualquer
tentação por parte deles. Mas Davi jurou cuidar dos descendentes de Jônatas e, por
isso, procura saber se ainda restava algum descendente seu. Sim, havia um filho dele,
chamado Mefibosete, que tinha os pés aleijados. Davi manda chamá-lo à sua
presença, mesmo que o costume era que ninguém defeituoso chegasse diante do rei.
Davi não apenas permitiu que ele viesse à sua presença, mas também que se
sentasse à sua mesa daquele dia em diante.
A mesa da comunhão esconde os nossos aleijões, os nossos defeitos. Por isso,
a Palavra diz que o amor cobre multidão de pecados (1 Pe 4.8). Quando nós temos
comunhão com os irmãos os defeitos se tornam invisíveis, porque não nos
relacionamos com defeitos, mas, sim, com pessoas. Amamos o outro com tal
intensidade que os problemas dele são cobertos pelo amor do Senhor. Ver os defeitos
do outro mostra o nosso baixo nível espiritual.
A comunhão estreita a nossa relação a tal ponto que passamos a considerar
valorosos os irmãos que antes não valorizávamos. Na verdade, descobrimos que eles
completam as nossas vidas. Nenhum de nós é tão pequeno que não possa cooperar
ou tão grande que não necessite cooperação. Se nós estamos de pé é porque o
Senhor nos sustenta através de pessoas que oram e jejuam por nós. Muitas vezes
essas pessoas não aparecem nem estão nos púlpitos, mas são gigantes diante de
Deus na oração. Como nós precisamos uns dos outros!
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Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois
quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que
há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. (1 Co 11.28)
Eu não posso estar em Cristo sem compreender que o irmão é parte da minha
vida. Se eu me separo dele isso produzirá carência, porque o sangue, a vida, não
chega a mim, isto é, a vida de Cristo deixa de fluir dele para mim. Não use garrote
(borracha que prende o sangue) na sua vida, deixe com que o sangue flua de você
para o irmão. Permita que seus dons espirituais e a misericórdia de Deus sejam para
as pessoas.
Nós somos guardadores dos nossos irmãos, responsáveis por suas vidas. Eu
não tenho o direito de falar de alguém que caiu em pecado se não estive
suficientemente perto dele para impedir que caísse. Resta-me pedir perdão a Deus
por não tê-lo ajudado. Claro que haverá casos em que a pessoa estará fechada para
a ajuda ou conselho; nesse caso, devemos orar por ela. Minha esposa costuma dizer
o seguinte: “Tem horas que eu tenho de parar de falar de Deus para a pessoa e
começar a falar da pessoa para Deus”. Precisamos incomodar Deus para que Ele faça
alguma coisa pela pessoa. Isso é cuidar um do outro em comunhão.
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CAPÍTULO 4
O PARTIR DO PÃO
1 Pedro 4.10 diz que nós precisamos ser bons despenseiros da graça de Deus, servindo
aos irmãos com os dons que temos. Esse é o princípio do partir do pão. Interessante
notar que eles insistiam no “partir do pão” e não em “comer o pão”. A ênfase é repartir
o que eu tenho para as pessoas.
Tudo o que chega a nossas mãos, sejam coisas naturais ou espirituais, são
dons que Deus nos dá, não para serem estancados em nós, mas para, através de
nós, abençoarem outros. Tudo o que você tem é para ser usado na vida de pessoas.
Por exemplo: Vai comprar um carro? Compre um que seja maior para transportar as
pessoas que você irá evangelizar. Vai construir uma casa? Construa uma com sala
maior para receber a igreja e com quarto extra para hospedar as pessoas. Não se
preocupe com seus tapetes e sofás, pois as coisas não devem ser mais importantes
que as pessoas. Tudo o que Deus nos dá é para ser usado em benefício de outros.
Que Jesus, quando voltar, nos encontre alimentando os nossos conservos. Nós
queremos esperar Jesus com os braços para cima, mas ele quer que o esperemos
fazendo coisas em favor dos outros.
Partir é diferente de comer. Quando parte o pão, você automaticamente está
pensando em alguém. Nós gostamos muito de sentar e comer, mas precisamos gostar
mais de partir o pão. Partir o pão fala de darmos aquilo que nós temos, fala de suprir
aos outros. Nenhum bem que está em nossas mãos, sob os nossos cuidados, foi dado
por Deus para o nosso próprio prazer. A carta aos Efésios é muito forte nisso,
principalmente o capítulo 4 que fala de uma mudança radical de vida. Eu chamo esse
capítulo de “outrora” e “agora”, antes eu era assim e agora eu sou assim. É a nossa
atitude de mudar de reino, de cultura e de prática. Ele diz, por exemplo: Aquele que
furtava, não furte mais, antes trabalhe (Ef 4.28). Trabalhar para quê? Para ter com o quê
acudir aos necessitados.
Lucas 12 fala de um homem que, ajuntando muito no seu celeiro, disse à sua
alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te
(v.19). Mas Deus o repreende: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens
preparado, para quem será? (v.20). Em Eclesiastes 4, lemos: um homem sem ninguém,
não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de
riquezas; e não diz: Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? (v.8). O
trabalho não é para nós, mas para que tenhamos condições de suprir as necessidades
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das pessoas. Muitos acham que o pecado de Sodoma (Gn 16) era sexual, mas o seu
pecado era a soberba, a fartura de pão, sem se preocupar com os pobres. O pecado
sexual, na verdade, foi consequência de uma vida farta sem se preocupar com os
outros. Por isso, veio enxofre do céu sobre ela. Partir o pão é cuidar de pessoas que
necessitam.
É absolutamente impossível estar em Cristo e ao mesmo tempo estar separado
dos irmãos. Não dá para ser cristão sozinho, precisamos dos santos.
...habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em
amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o
comprimento, e a altura, e a profundidade (Ef 3.17,18)
O versículo acima fala de quatro dimensões: largura, comprimento, altura e
profundidade. A mente humana foi feita para ver as coisas em três dimensões, não
mais que isso. Mas o texto diz que o fato de andarmos juntos, em unidade, nos faz
ver uma quarta dimensão. Deus nos limitou como indivíduos, mas expande a nossa
compreensão e capacidade na unidade. Com a igreja nós podemos entrar numa
dimensão que nunca pensávamos em entrar. Isso nos faz concluir o quanto é forte a
unidade no corpo de Cristo.
Deus amplia a nossa compreensão no contexto da coletividade. Por exemplo:
Você pensa ter paz em fazer uma determinada coisa, mas os que andam com você
não sentem paz nisso. Sua prova está na Palavra, quando diz: Seja a paz de Cristo o
árbitro em vosso coração, à qual, também fostes chamados em um só corpo... (Cl 3.15). Veja
que o texto não fala no singular, mas que a paz de Cristo está no meio da igreja. A
paz que eu sinto sozinho não é bíblica, por isso, tenho que ter a paz que se manifesta
na vida da igreja.
Como funciona essa dinâmica da paz? Ao fazer alguma coisa que está
abalando a paz dos irmãos, entendo que isso é o árbitro que está “apitando” e dizendo:
“Pare!” Então eu paro, porque a paz particular e pessoal é extremamente perigosa.
Ao insistir em seguir a sua paz particular verá no futuro que foi um erro, e ficará
admirado consigo mesmo por ter tido a capacidade de ter feito tal coisa. A paz
particular é, de fato, uma paz enganosa. Como diz um hino antigo da Igreja Batista:
“Que o Senhor nos livre da paz enganosa”. O parâmetro não está em nós, mas em
nossos irmãos em Cristo. Tudo o que você fizer depois que o “apito do árbitro” tocar,
será inválido. O juiz apitou para você parar porque aconteceu uma falta. Se não parar
e fizer um gol, este não será válido. Andar segundo a paz no meio da igreja é uma
proteção para nós, mas fazer uma coisa de nossa própria cabeça é um desastre. Não
ande sozinho porque, se cair, quem o levantará? Se tiver frio, quem o esquentará?
Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se
caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não
haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas
46
um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe
resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. (Ec 4.9-12)
Um dos aspectos da unidade é que ela potencializa as coisas. Quando Deus
cria Adão Ele o manda cuidar do Jardim, mas quando cria Eva Ele diz: “Domine a
terra”. Você percebe a potencialização da unidade? Não era Eva que era poderosa,
mas a unidade entre os dois.
Na construção da Torre de Babel, Deus se preocupou com a unidade errada
entre aqueles que a construía. Ele disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma
linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer
(Gn 11.6). Não existe nada mais poderoso na face da Terra do que a unidade, seja
ela para o bem ou para o mal. Se desejamos mudar a história do nosso país, nós
precisamos ser UMA igreja. Não necessariamente nos reunirmos num só lugar, mas
nos comportarmos e vivermos como UMA SÓ igreja para que as nações sejam
convertidas ao Senhor. Quando está EM Cristo você se aproxima, naturalmente, dos
que estão EM Cristo também.
Em meus estudos da Bíblia costumo mudar os textos negativos para positivos
e os positivos para negativos. Por exemplo: “Se eu andar na luz como ele na luz está
eu tenho comunhão, porque o sangue do Senhor Jesus Cristo me purifica de todo
pecado”. Colocando na negativa: “Se eu não andar na luz como ele na luz está, eu
não tenho comunhão com os irmãos e nem o sangue de Jesus me purifica de todos
os meus pecados”. Isso é grave? Sim, isso é uma questão de vida. Por isso, a unidade
da igreja não é uma opção, mas é a nossa salvação e a esperança para o mundo. É
isso que Paulo diz: Cristo em vós, a esperança da glória (Cl 1.27b). Para quem? Para nós,
gentios.
A morte de Cristo pode ser vista sob dois ângulos. Um ângulo é o jurídico, que
é quando Jesus vem e paga a dívida que tínhamos para com Deus. Mas ele não
morreu só pelo jurídico, morreu também para juntar num só corpo todos os filhos
dispersos, quebrando assim toda a barreira de separação que havia entre nós e ele,
e, consequentemente, entre um e outro. Porque, quando há barreira de separação
entre eu e Deus, também há separação entre eu e meu irmão. É impossível ter uma
sem ter a outra. Quando Deus nos perdoou Ele abriu o caminho para nos
relacionarmos com nossos irmãos.
Sobre partir o pão, chamo a atenção para 1 Coríntios 11.28-30, que diz:
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois
quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que
há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.
Invertendo o texto, teremos: A falta de discernimento produz fraqueza
espiritual, doença espiritual e muitos que dormem; mas, se tivermos discernimento
haverá cura, avivamento e despertamento na Igreja. É isso que nós queremos? Louvo
47
a Deus pelos que oram insistentemente por avivamento, mas isso só virá quando nós
discernirmos o corpo de Cristo. Não pare de orar por avivamento porque, talvez, isso
nos leve ao discernimento; a sua oração vai provocar um mover de Deus no meu
coração e isso avivará a minha vida.
Existe algo que eu penso que nos confunde a respeito da unidade. É o
pensamento de que há unidade entre estruturas. Não! A unidade não é entre igrejas,
mas entre pessoas. Hoje existe uma proliferação do marketing nos programas
“evangélicos”. Vendem-se “coisas inventadas” para adquirir a bênção dos céus. Não
quero nenhuma comunhão com esse tipo de coisa, mas quero me aproximar da
pessoa envolvida nisso porque, talvez, eu seja a esperança que Deus tem para falar
com ela. Posso visitá-la e, sentados em comunhão, abrir-lhe o meu coração,
alertando-a para o perigo desses marketings.
Eu evito falar sobre o que vejo por esse mundo afora. Mas tem muita invenção
por aí que mostra que o homem usa o marketing para atrair os incautos. As promessas
são vendidas e o povo (na verdade, nada incauto) as compra. Sabemos que, enquanto
tiver corruptos, haverá corruptores. No entanto, a nossa abordagem a essas pessoas
deve ser semelhante à de Jesus. Ele poderia ter vindo diretamente do céu aos trinta
anos, ter feito um grande sinal e convertido todo mundo pelo temor e pelo medo. Mas
ele não fez isso, pois não quer ganhar as nações “por atacado”, mas ganhar coração
após coração. As pessoas se preocupam com a massa, a multidão, e se esquecem
de que Jesus conquistava cada coração. Havia a multidão, mas a sua estratégia era
sempre chegar a cada indivíduo. Em se tratando de pessoas que praticam “pecado
teológico”, vamos dizer assim, precisamos fazer o papel de pacificadores. O fato de
termos essa revelação nos responsabiliza, ou seja, se temos a visão da unidade da
Igreja, o nosso trabalho aumenta. Jesus vai requerer isso de nós e, por essa razão,
devemos andar segundo a luz que temos.
Dois anos atrás fui convidado a pregar para líderes, padres e freiras, na
Catedral Católica de Copacabana. Eu pretendia pregar sobre família usando o livro
de Neemias. Mas, para minha tristeza, Deus lembrou-me que para conhecer Neemias
eu tenho primeiro de conhecer Jeremias. Em Jeremias é relatado que as mulheres
queimavam incenso à rainha do céu e Deus queria que eu começasse minha palavra
por aí. Falei para Ele que eu não podia.
Quando cheguei ao Rio de Janeiro já era noite e fiquei hospedado no
apartamento enorme de um casal. A mulher me explicou que precisaram morar num
lugar grande onde coubesse as suas imagens. O lugar estava abarrotado de imagens,
inclusive no quarto que fui dormir. Ali orei pelo dia seguinte e Deus me orientou que
começasse com o capítulo 45 de Jeremias. Argumentei com Ele dizendo que eu não
queria ofender as pessoas, mas apenas pregar o evangelho. Não sei como Deus
resolve essas coisas com você, mas comigo Ele se cala e vai cuidar de outras coisas,
deixando-me “estrebuchando”. Não dormi naquela noite, pois briguei o tempo todo
comigo, dizendo: “Eu não posso!”
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No dia seguinte, já na reunião, eu fiz um panorama do livro de Neemias e disse
que a causa estava em Jeremias, o qual dizia que o povo queimava incenso à rainha
do céu. Como Deus não mandara explicar o texto eu apenas o li. Sim, eu precisava
passar por ali. Após a leitura o ambiente ficou como um céu de chumbo, um olhando
para o outro, assustado. Continuei a palavra e os convidei a se arrependerem. Todos
ficaram de joelhos e choraram diante de Deus. Era a direção de Deus funcionando:
“Olhe para as pessoas e não para as estruturas”.
O partir do pão é também um aspecto da ceia. A ceia é o momento mais
significativo e importante da vida da Igreja. Eu tenho medo quando vejo as pessoas
desprezando-a, porque ela é uma coisa muito séria. Em Números 9, lemos a respeito
da primeira ceia, que é a Páscoa, e a única razão pela qual a pessoa não a celebra é
se estiver viajando. Do contrário, se ela não está viajando, está pura e não participa,
sua alma será “eliminada do meio do povo de Deus”.
A ceia é a nossa identidade nacional, nos identifica nacionalmente. Quando os
israelitas eram escravos no Egito, Deus ordenou que pusessem o sangue do cordeiro
no umbral de suas portas. Sendo assim, cada casa se identificava com a outra que
também era sinalizada com o sangue. Naquela noite, eles não eram mais escravos
dos egípcios porque passaram a ser o povo de Deus; tinham, agora, uma identidade
nacional. A ceia nos traz essa revelação.
Em Lucas 24, temos a interessante história dos dois discípulos que subiam de
Jerusalém para Emaús. Jesus caminha com eles e, percebendo os seus semblantes
tristes, os interroga sobre a sua causa. Eles ficam admirados por Jesus ser o único
em Jerusalém que não sabe dos últimos acontecimentos e explicam o que aconteceu
com Jesus, o Nazareno. Depois disso, Jesus os chama de “néscios e tardos de
coração” e passa a explicar-lhes tudo através da lei e dos profetas. Eles, porém, não
o entendiam, mas o convidaram a entrar na cidade e comer com eles. À mesa, o
costume é que ao visitante seja dada a honra de partir o pão. Jesus, então, parte o
pão e nesse exato momento os olhos deles se abrem e o reconhecem. A ceia nos
abre os nossos olhos e nos revela quem é Jesus Cristo.
Ela também aponta para uma vida de compromisso com a Igreja, ou seja, ela
me impulsiona e constrange a relacionar-me com os irmãos e a me congregar.
Congregar não é estar numa reunião esporádica, mas significa pertencer a um
rebanho. O capítulo 10 de Hebreus nos exorta ao dizer que aquele que pecar
deliberadamente sofrerá o castigo. Pecar deliberadamente é escolher não congregar,
escolher não pertencer, ser um “lobo solitário” vagando por aí.
Outro ponto é sobre a verdade emocional, que é quando eu enxergo as coisas
não em cima da realidade, mas em cima de um acontecimento ruim que me
aconteceu. Por exemplo: Se um copo quebra na mão de alguém e o machuca, a partir
desse acontecimento a minha visão a respeito dos copos de vidro é alterada, isto é,
eu passo a ter uma visão emocional sobre os copos. Não adiantará nada querer mudar
minha visão até que ela seja curada dessa verdade emocional.
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O sangue opera no contexto do corpo. Ele precisa de veias e artérias e não é
algo externo a nós. A figura ilustrativa sobre isso é você indo a um hospital escola e
vendo mãos e pés em frascos para serem estudados. Não adianta nada você, movido
de compaixão, derramar sangue sobre eles. Isso não lhes trará vida, pois só teriam
vida se estivessem ligados ao corpo. Se você disser sessenta vezes por minuto “o
sangue de Jesus tem poder” isso de nada adiantará, não funciona. Só funciona se eu
e você estivermos ligados no corpo de Cristo. Só assim o sangue fluirá.
A Bíblia não era um livro dividido em capítulos e versículos. Isso só foi feito
posteriormente para facilitar a organização na leitura e, na verdade, os textos bíblicos
são como cartas. Nesta luz, voltemos à carta aos Coríntios. Há uma sequência nela,
isto é, seus capítulos são interligados.
Do capítulo 11 para o 12 o assunto não muda. O final do capítulo 11, fala sobre
examinar e comer; o capítulo 12, fala dos dons espirituais. Veja que ele termina de
falar sobre a ceia e começa a falar da vida prática do Espírito Santo através dos dons.
Isso nos faz lembrar que assim como o sangue opera vida no corpo humano, o Espírito
Santo opera os dons em nós. Quando me deixo ser usado nos dons espirituais eu
estou trazendo vida e saúde para a igreja. Veja, então, que continua dentro do assunto
“vida no corpo”, e continua no mesmo assunto do capítulo 1, que é sobre a unidade
da igreja. O capítulo 13 nos dá a motivação da unidade que é o amor de Deus; o
capítulo 14 fala como devemos usar os dons para a edificação dos irmãos, sendo isso
o mover do amor de Deus em nós. Isso fala de unidade. O capítulo 15 aponta para a
volta de Jesus Cristo, porque uma igreja unida está preparada para estar com o
Senhor; o capítulo 16 diz que “já que somos um, o povo de Jerusalém está passando
fome, vamos levar uma oferta para cuidar deles”. Então, do capítulo 1 até ao capítulo
16, Paulo trata da nossa relação com a igreja. 1 Coríntios é um bloco completo de vida
de Cristo para combater as preferências mencionadas no primeiro capítulo.
Certa vez, numa reunião do Conselho de Pastores em Jundiaí, quando diversas
denominações estavam participando, um repórter me abordou: “Vocês dizem que são
unidos, mas aqui tem várias denominações, não é?” Esquivei-me e pedi a um diácono
que lhe explicasse. Ele explicou: “Não, nós não somos divididos. Assim como na Igreja
Católica tem os Salesianos, os Franciscanos e os Jesuítas, assim somos nós”. Pensei
comigo: “Que sujeito esperto!” Mas se Paulo fosse o entrevistado, ele responderia:
“Sois carnais!” Não há outra resposta para a nossa situação. Somos carnais! Como já
disse, eu não creio que unidade da Igreja seja todos se reunirem em um só lugar, mas
creio que Deus nos espalhou para que cada rua da cidade nos conhecesse. Por outro
lado, a unidade da Igreja está nos pastores juntos para abençoar toda a Igreja. Não
podemos ter comunhão e unidade com irmãos que estão do outro lado do bairro, mas
os pastores podem e devem estar juntos para abençoar toda a Igreja. A unidade se
manifesta na vida dos pastores. A nossa situação e nossa responsabilidade é muito
mais séria do que imaginamos. Nós temos de buscar e cuidar uns dos outros para o
bem da Igreja e do povo de Deus.
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Não podemos esperar uma comunhão profunda em uma reunião. Esperar por
isso vai gerar decepção, porque uma reunião não pode dar mais do que ela pode dar.
Onde podemos esperar a comunhão profunda? Na casa do irmão. Faça uma proposta
para você mesmo de visitar os pastores da cidade, ir à casa deles e ser amigo deles.
Um irmão de Sabará (MG), sentiu Deus o incomodando sobre isso e resolveu
comprar cestas básicas e levá-las para os pastores das igrejas menores. A princípio,
alguns deles estranharam e perguntaram se ele era candidato a alguma coisa. Ele
dizia que não e que estava ali para abençoá-los. Foi difícil vencer essa resistência,
mas ele insistiu e, hoje, os pastores de Sabará se reúnem quase todas as semanas,
atraindo também as autoridades da cidade, como o juiz e o promotor, que estão
participando com eles. Tudo isso porque um homem decidiu visitar a casa das
pessoas. Por isso, não podemos acabar com as reuniões, pois elas servem, pelo
menos, para encontrarmos as pessoas e marcar encontros com elas para ter
comunhão fora dali. Tente fazer isso com as mais diferentes pessoas e você se
surpreenderá com o resultado.
O que eu diria sobre o assunto “perdão”? Nós viemos do inferno e lá não tem
perdão. Foi de lá que Deus nos resgatou. Como Paulo diz, nós estávamos mortos em
nossos delitos e pecados, éramos filhos da ira e da desobediência, isto é, filhos de
Satanás.
Certa vez, um pastor chegou para mim e disse: “Mas na minha igreja só
converte tranqueira”. Eu falei: “No dia em que evangelizar o céu, os querubins e
serafins hão de converter, mas, aqui, onde você está evangelizando, só tem tranqueira
mesmo.” Todos nós somos “tranqueiras” que Deus está transformando. Quando você
sai para evangelizar, você evangeliza dentro do inferno. É por isso que a Palavra diz
que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja. Quando saímos para
evangelizar nós estamos arrombando as portas do inferno. O que tem lá dentro são
os filhos do diabo, iguais ao que nós éramos. Saímos do inferno com toda essa carga
porque lá não tem perdão. Chegamos à igreja habituados a não perdoar, a sermos
vítimas e a pensar apenas em nós mesmos. Ao entrar para a vida cristã é preciso
fazer toda uma reformulação e adquirirmos novos conceitos para que haja mudança
em nosso comportamento. Não temos em nosso DNA humano o perdão, mas nós
adquirimos de Deus essa capacidade.
A vida de unidade tem de começar com o perdão, porque o ambiente da igreja
onde estamos inseridos é um ambiente de feridas. Nós nos ferimos e ferimos uns aos
outros. Jesus foi ferido não pelos de fora, mas pelos da religião. Quem o matou não
foram os de fora, mas os da religião. Durante toda a história, a Igreja foi perseguida
pelos religiosos. Por isso, precisamos sempre nos armar de um coração perdoador
em todos os ambientes. Perdoar não vem de nós mesmos, mas é uma dádiva dada a
por Deus. Nós, então, perdoamos como o Senhor nos perdoa, perdoamos com o Seu
poder em nós. Perdoamos porque Ele nos dá graça para perdoar, porém, a decisão
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de perdoar é nossa. Costumo dizer que a decisão é minha, mas a capacitação é de
Deus.
Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros
da multiforme graça de Deus. (1 Pe 4.10)
O dom é uma dádiva que veio a nós de graça, é tudo aquilo que recebemos de
Deus, tanto espiritual como natural. O texto diz que devemos servir aos outros
conforme o dom que nós recebemos. Tudo o que você tem (carro, casa, roupas, o
falar em línguas, etc.) é dom de Deus. O único dom espiritual que é para o nosso
consumo pessoal é o dom de línguas; todos os outros são para benefício e serviço
aos outros. O dom de variedade de línguas é para a minha edificação, só posso
edificar outros se eu mesmo estiver edificado. Portanto, o falar em línguas não é
exatamente para meu benefício, mas para estar com a “bateria” carregada para ajudar
aos irmãos. Em última instância, tudo o que eu tenho é para os outros.
Pedro, no texto acima, nos exorta a ser “bons despenseiros”. Despenseiro era
a pessoa que cuidava do armazém de alimentos e o “bom despenseiro” é aquele que
é achado pelo Senhor alimentando os seus conservos, cuidando deles com os dons
que Deus lhe deu.
Todos nós temos dons naturais e espirituais. Quando alguém me pergunta
quantos dons espirituais nós temos, eu respondo: “Todos, e nenhum”. Você tem o
Espírito Santo, então tem todos os dons que ele tem. Os dons são do Espírito Santo,
por isso, você tem tudo e nada. A questão, contudo, é você se colocar à disposição
para Deus lhe usar. Em 1 Coríntios 14.26, diz: Quando vos reunis, um tem salmo, outro,
doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Isso me dá
a ideia das idas ao tabernáculo (templo) para fazer o sacrifício, quando cada pessoa
trazia de casa uma oferta. Nós nos preparamos em casa para vir ao culto trazendo os
nossos dons e, então, prestamos atenção sobre quem precisa deles (uma palavra de
profecia, de consolo, de exortação, de ânimo). Pedimos a Deus que nos oriente e Ele
nos aponta o irmão que está precisando. Isso é ser “um bom despenseiro da
multiforme graça de Deus”.
Partir o pão é repartir a sua vida e o que você tem. Isso é mais que participar
da ceia, pois esta é a manifestação de um estilo de vida que tivemos durante o mês
(se a ceia for mensal). Ao nos reunirmos para comer do pão e tomar do cálice com os
irmãos nós estamos, na verdade, proclamando o que foi a nossa vida naquele mês.
Caso contrário, estaremos proclamando uma mentira. Qual a solução para isso? Parar
de celebrar a ceia? Não! A solução é mudar de vida, é servir ao irmão – abraçá-lo,
oferecer o seu ombro e chorar com ele nas suas dificuldades. Nem sempre é preciso
falar porque uma boa palavra, muitas vezes, é o silêncio. Não sou capaz de
compreender a dor do outro, só posso chorar com ele. Isso é partir o pão!
Considero Mateus 14 o capítulo do estresse porque é muito pesado. Nele
vemos Jesus pregando, evangelizando, curando e, no meio do dia, ele fica sabendo
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da morte de João Batista. A Palavra diz que Jesus se isola para buscar força em Deus,
pois João era uma pessoa que ele muito respeitava. No final da tarde, lá está Jesus
com milhares de pessoas e os seus discípulos o aconselham a despedi-las em paz
para que possam comprar pão e se alimentar. Essa foi uma proposta “indecente”. Eles
estavam num lugar deserto, onde iriam comprar pão? Na verdade, os discípulos não
estavam dando uma solução, mas, sim, se livrando de um problema. Jesus se volta e
diz: “Deem vocês pão para eles”.
Nós também temos essa mania de jogar para outros as nossas
impossibilidades, esperando que eles resolvam. As crianças de rua estão passando
fome, quem tem de resolver? O governo ou a igreja? Bem, o governo não tem coração,
ele é uma instituição. Apenas a igreja tem compaixão dos necessitados, porque ela é
o lugar da misericórdia. Não critique o governo, mas faça você o que perceber ser
necessário fazer.
Alguém traz uns pãezinhos e peixinhos para Jesus e ele os entrega aos
discípulos para que alimentem a multidão. À medida que iam repartindo o pão, este
não se acabava. O mesmo aconteceu com a mulher que derramou azeite na botija (2
Reis 4). Enquanto ela tinha botijas, o azeite não parou de ser derramado. O texto não
diz que o azeite acabou, mas que ele parou por não ter mais vasilhas. O infeliz da
história de Mateus 14 é que, mesmo vendo o milagre, os discípulos não
compreenderam. Eles queriam que Jesus resolvesse o problema, mas Jesus nos
ensina que nós é que vamos resolvê-lo. O problema de fome e crianças abandonadas
na cidade é a igreja que vai resolver. Nós somos o povo que tem coração, que cuida
dos povos e dos pobres; nós somos o povo que reparte o pão e insistimos no partir
do pão. Não diga que tem pouco! Nós não damos porque temos pouco, mas temos
pouco porque não damos. Quanto mais você der, mais Deus lhe dará.
Certa vez, numa igreja pobre da Bahia, entendi de Deus que devia dar uma
oferta para ajudar na campanha que estavam fazendo para comprar cadeiras. Dei o
que eu tinha no bolso, fiquei sem dinheiro. Depois da reunião daquela noite uma irmã
chegou para mim, e disse: “Jamê tenho de lhe falar uma coisa e não sei nem como
começar, pois nunca fiz isso, mas Deus me mandou fazer”. Ela tirou da sua bolsa um
envelope com dinheiro e me entregou. O valor era mais do que eu havia ofertado. Na
próxima cidade aconteceu o mesmo. Estavam fazendo uma campanha e eu dei o que
tinha no envelope. Na saída, um irmão ofertou-me com um valor maior ainda. No
tocante a dar, ninguém nunca conseguirá vencer a Deus. Ao dar, você abre sua mão
para Deus dar-lhe mais. Ele não precisa do nosso dinheiro, mas quer o nosso coração.
Deus tanto supre as grandes como as pequenas necessidades. Eu precisava
sair do aluguel e oramos, eu e minha esposa, por uma casa. Deus, então, usou irmãos
com os recursos para comprá-la. Ao sentar-me com eles para negociar a devolução
do dinheiro, me disseram que não tinha sido um empréstimo, mas um presente. Em
Moçambique, comentei na mesa de um irmão o desejo de comer uma caranguejada
e ele me disse que não era tempo de caranguejo. Enquanto ele falava, bateram à
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porta. Era um vendedor de caranguejos. Em outra ocasião, quando me preparava para
uma viagem ao interior do Brasil, minha esposa comentou sobre minha necessidade
de ter uma calça social, camisa social, sapato social e uma camisa polo. Disse-lhe
que quando voltasse pensaria sobre isso. Fui para a viagem e fiquei hospedado na
casa de um irmão, dono de uma rede de lojas. No final do trabalho naquela cidade,
ele levou-me à loja e deu-me de presente uma calça social, camisa social, sapato
social e uma camisa polo. Você entende quem é Deus?
Em muitas e muitas situações Deus Se mostra o nosso supridor. Por isso,
quando Ele disser a você “entregue isso”, entregue. Não relute, porque Deus está
querendo abrir espaço para lhe dar mais. Não seja uma pessoa mesquinha que retém
as coisas para si, porque tudo o que você tem não é para você. Nós somos meros
mordomos, pois as coisas que estão em nossas mãos não são nossas. Ao dar o
dízimo você está declarando que 100% é de Deus, e 10% você entrega para Ele como
um símbolo, porque o que ficou no seu bolso é do Senhor.
O Pr. Ernesto, da Igreja Batista, dizia que “a oferta se mede pelo tanto que fica
no bolso e não pelo tanto que é colocado na caixinha”. A oferta tem que doer, porque
se não doer é esmola. O padrão de Deus é nos dar coisas caras – Ele nos deu o Seu
Filho. Nunca dê esmola para Deus! Quando ofertar, oferte o melhor que você pode,
aquilo que vai lhe fazer falta. A viúva pobre deu todo o seu sustento (Lc 21). Esse é o
padrão de Deus. Repartir o pão fala de um coração dadivoso, generoso.
Quando ensino sobre a prática da oferta, eu trabalho em cima de três pontos:
generosidade, proporcionalidade e regularidade. Nós temos que ser generosos
porque o nosso Deus é generoso; Aquele que habita em nós é generoso e nós somos
filhos parecidos com Ele. Se o nosso Pai é generoso, nós também somos generosos.
Deus não retém, não fecha a Sua mão nem o Seu coração para nós.
A igreja de Antioquia era uma igreja muito especial e tinha todas as
características de uma igreja madura: os ministérios eram claros (havia profetas e
mestres), dependia de Deus em oração e jejuns e ouvia a Deus, porque a oração é
um caminho de duas vias: nós falamos e ouvimos. Oração não é um monólogo, mas
um diálogo. Outra característica desta igreja é que ela obedecia ao Senhor. Por
exemplo: Tinha de separar Barnabé e Saulo, então, a igreja separou Barnabé e Saulo.
Quem era Barnabé e Saulo para aquela igreja? Eram sua coluna. Foram eles que a
estruturaram. Mas Deus os pediu e a igreja os deu. Maturidade fala de dar a Deus o
melhor que nós temos em nossos corações. Sejamos generosos, pois isso é partir o
pão!
Tenho o costume, quando vou ao supermercado, de comprar um pouco a mais
para os irmãos necessitados. Devemos colocar os pobres na nossa agenda, no nosso
dia a dia. Existe uma doutrina na Bíblia a respeito deles. Cuidar dos pobres faz parte
da vida cristã. Em Mateus 25, sobre o grande julgamento, aqueles que praticaram
boas obras serão separados e a estes será dito: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na
posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me
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destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu,
e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. (vs.34-36). Acudir aos
necessitados é a medida, a motivação do julgamento. Fica claro aqui que a falta de
boas obras nos leva para o inferno. Precisamos, como Jesus, cuidar dos necessitados
e insistir no partir do pão; insistir em sermos bons despenseiros da multiforme graça
de Deus. A graça é multiforme e vem para nós em forma de muitas coisas: roupas,
pão, carro, casa, dons espirituais etc. Nós não somos de nós mesmos, somos dos
irmãos. A maior prova de que somos de Cristo é sermos dos irmãos, dos necessitados,
dos fracos, daqueles que dependem de ajuda.
Os critérios que Paulo usa para falar sobre o cuidado com as viúvas que
estavam na lista para receberem alimentos eram: ter mantido a sua viuvez, isto é, não
tivessem se casado de novo; ter lavado os pés dos apóstolos; ter praticado a
hospitalidade. De acordo com Romanos 12, hospitalidade é um mandamento. Isso
fala do temperamento e da natureza da igreja, fala de acolhimento. Como já disse, eu
não vou cuidar de uma pessoa se não acolhê-la primeiro no meu coração. Não falo
de hospitalidade em relação à nossa casa, mas em relação ao nosso coração. Nós,
primeiro, a recebemos no coração e, depois, a recebemos na nossa casa. Talvez a
pessoa que mais pode nos ensinar sobre hospitalidade é Maria, pois ela hospedou
seu filho Jesus com todos os riscos, com toda a má fama criada sobre ela, com tudo
aquilo que cercava o fato de uma mulher solteira ter uma criança.
É verdade que hospedar dá trabalho, mas precisamos ter essa prática, pois,
alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos (Hb 13.2). Não falo de casa, mas de
abrir o coração; se não abro o coração para hospedar, também não evangelizo. É
preciso acolher a pessoa no coração para, depois, falar de Jesus para ela. O
evangelho não é uma comunicação fria de uma verdade fria, mas a comunicação de
uma Pessoa. Meu coração deve encher-se de íntima compaixão para, assim, acolher,
falar de Jesus, pastorear e fazer da pessoa um discípulo de Cristo. Lembre-se:
acolher, hospedar é um mandamento.
Deus ensinou muito a mim e minha esposa sobre hospitalidade. Nossa primeira
casinha tinha apenas um quarto e cozinha. Numa reunião, através de Miguel Piper, o
Senhor falou com minha esposa: “Abra o seu coração, porque vou mandar muita gente
para você hospedar”. A primeira pessoa que hospedamos foi meu pai. Colocamos seu
colchão debaixo da mesa da cozinha e seus pés ficaram debaixo do fogão. Mas era
ali que Deus dissera para abrir o nosso coração e hospedar as pessoas. À medida
que Ele mandava as pessoas, Ele também alargava a nossa casa. Certa vez,
chegamos a hospedar vinte e cinco pessoas, por dois meses, em nossa casa. Nessa
época tínhamos dois quartos, sala e cozinha.
Hospitalidade é uma característica da igreja. Muitas pessoas virão para os
nossos cultos e precisamos ter um coração acolhedor para abrigar as que chegam
necessitadas. É preciso que prestemos atenção naqueles que estão à nossa volta e
que precisam de ajuda. Isso é insistir em partir o pão.
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Praticar a hospitalidade, como diz em Romanos 12, não é no sentido de você
abrir a sua porta, mas de você sair pela rua procurando a quem hospedar. Não é uma
atitude passiva, mas ativa, isto é, correr atrás, buscar as pessoas que precisam ser
hospedadas. Isso é evangelismo, é discipulado, é trazer a pessoa para casa.
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CAPÍTULO 5
AS ORAÇÕES
Eu comparo a oração à respiração. A coisa mais básica da vida humana é a
respiração, porque basta que deixemos de respirar por três minutos para que a vida
não esteja mais em nós. A partir da respiração você faz todas as demais coisas. E
assim também é a oração. Não podemos parar de orar, porque ela tem para o nosso
espírito o mesmo efeito que a respiração tem para o corpo humano. Nós devemos
orar não porque a Bíblia nos manda, mas porque nós necessitamos orar.
A oração é a declaração da minha incapacidade, incompetência e dependência
de Deus. Quanto mais sou dependente de Deus, mais eu oro; quanto menos dependo
Dele, menos eu oro. Se eu sei fazer determinada coisa não peço conselho, mas se eu
não sei o peço. Jesus disse, em João 15.5, que sem mim nada podeis fazer. Precisamos
ter uma revelação dessa verdade porque nós somos relativos em nossos conceitos.
Costumamos dizer, por exemplo, que “todo mundo foi à reunião”. Ora, isso quer dizer
que mais de sete bilhões de pessoas estavam na reunião? Ou, então, dizemos: “Eu
nunca fiz isso, só naquele dia e no outro”. Ou, ainda: “Você sempre faz isso”. Quando,
na verdade, a pessoa fez uma vez ou outra. Isso acontece porque relativizamos os
termos absolutos. Quando o Senhor fala “sem mim nada podeis fazer”, o que nós
entendemos? Que “quase nada” nós podemos fazer sem ele. Ele diz “nada” e nós
entendemos “quase nada”. Deus fala que você não pode e você diz: “Eu consigo”.
Mas “nada”, significa “nada” mesmo.
Onde nós manifestamos a nossa dependência em Deus? Na oração. É por
meio dela que colocamos diante Dele toda a nossa incapacidade. A oração não é para
“torcer” o braço de Deus para que seja convencido a fazer a minha vontade, mas é a
forma que temos para sincronizar o nosso entendimento com o entendimento do
Senhor. Ela é a sintonia aonde você busca e encontra o canal de Deus. Pedimos muita
coisa a Ele quando oramos, mas, como não sabemos orar como convém, pedimos o
que não devemos. Mas Deus é tão misericordioso que não responde a essas orações
indevidas; Ele espera você refinar a sua oração.
O cego Bartimeu, em Marcos 10.46-52, fez um pedido a Jesus, em voz alta:
Jesus filho de Davi, tem compaixão de mim. Esse texto é muito forte, porque ninguém
podia atribuir a uma pessoa comum o título de “filho de Davi”. O único a ter esse direito
seria o Messias, o qual se assentaria no trono de Israel e reinaria para sempre. Mas
aquele cego, sem ver, teve uma revelação de quem estava passando por ali. Sim, o
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cego viu antes de ver e pediu a compaixão de Jesus sobre si. E o texto diz algo que
gosto muito: Jesus parou. Não obstante o clamor e a contrariedade dos seus discípulos,
ele parou, se voltou para aquele homem e fez uma pergunta aparentemente tola: Que
queres que eu te faça? Ele fez essa pergunta, porque havia um leque de possibilidades
na cabeça de Bartimeu (um lugar no templo para pedir esmolas, um cão-guia, uma
nova bengala, uma nova capa). Ele poderia pedir muitas coisas, mas Jesus queria
saber o que ele pensava que precisava. O que Deus poderia fazer em sua vida que
causaria uma mudança radical? Mas não era nada dessas coisas que ele queria, por
isso respondeu: Mestre, que eu torne a ver. Jesus, então, disse: A tua fé te salvou. E
imediatamente ele tornou a ver e começou a seguir Jesus.
Às vezes nós pedimos coisas que não precisamos e, por isso, aparentemente,
Deus demora a responder. Mas é porque Ele quer que refinemos as nossas orações.
Lemos que Daniel, desde o primeiro dia em que se dispôs no coração a buscar a
Deus, Ele deu orientação aos anjos para levar-lhe a resposta. Mas Ele não podia
enviá-la se Daniel não pedisse. Deus quer responder depressa as nossas orações,
como está escrito em Lucas, “embora pareça tardio”. Os anjos estão apenas
esperando que você peça de acordo com o que Deus quer lhe dar. A oração vai
purificando a nossa vontade até que peçamos exatamente o que precisamos. Deus
prova a nossa oração deixando-nos amadurecer até que cheguemos à Sua perfeita
vontade para nós.
Em Atos, o Espírito Santo veio num ambiente de expectativa e concordância.
A Palavra diz que eles estavam unânimes naquele ambiente e oravam em
concordância. Se dois ou três pedirem qualquer coisa ao meu Pai, Ele o concederá, porque
há unidade na oração. O povo daquela época se reunia nas casas tanto no partir do
pão quanto nas orações. A oração era um hábito, porque eles haviam descoberto que
nada podiam fazer sem Deus. Foi isso que provocou neles uma vida de oração. Eles
oravam a Deus segundo os acontecimentos. Quando os apóstolos eram presos e
açoitados, eles voltavam para junto da igreja e oravam unanimemente para que o
Senhor confirmasse com sinais quando saíssem novamente para pregar. A oração
deles era extremamente prática, em cima de uma situação e em unanimidade.
A oração nos faz descobrir a vontade de Deus, descobrir o que Ele quer fazer.
Tenho ouvido dizer que a Terra move os céus, mas eu acho que é o contrário, pelo
que vejo nas Escrituras. A ideia de que a Terra move os céus pode nos levar a pensar
que a nossa oração muda a vontade de Deus. Porém, a vontade de Deus é imutável.
A oração faz a nossa vontade se afinar com a vontade de Deus e, assim, podermos
cooperar com Ele. Mas se você crê diferente disso, não tem problema.
A igreja de Atos tinha consciência que a sua oração era um serviço ao Senhor.
Ela servia a Deus em oração e jejum (At 13). E oração é um dos trabalhos mais árduos
que existe. Ela é um verdadeiro trabalho de parto, porque muitas vezes você não vê
um resultado imediato e, por isso, precisa continuar orando. Por isso nós precisamos
ser insistentes na oração.
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Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de
Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. (Fp 4.6)
“Coisa alguma” significa “nenhuma coisa”. Vamos nos habituar a pensar na
forma absoluta que Deus fala. Deus sempre fala o que Ele quis dizer e sempre quis
dizer o que Ele fala. Não existe força de expressão no que Deus fala. Quando diz “não
andeis ansiosos”, Ele quis dizer “não ande ansioso”.
Podemos perguntar: “Mas como fica a questão da ansiedade?” A ansiedade é
o desejo de controlar o que nós não podemos controlar; o desejo de poder de controlar
as pessoas, o tempo e os acontecimentos. Ansiedade é a causa e depressão é o
efeito da ansiedade, assim como outras coisas que vêm são “filhos” dela (síndrome
do pânico e outras coisas mais). Nos dias de hoje não há profissional que trabalha
mais do que um psicólogo ou um psiquiatra. Sempre haverá emprego para eles,
porque vivemos no século da ansiedade.
Numa conversa, um irmão disse algo que eu acredito: “Não existe o ontem nem
o amanhã, só existe o hoje, filosoficamente falando”. A única coisa que você pode
controlar é o agora. Você não pode controlar o passado nem o futuro, por isso,
acostume-se a viver plenamente o agora. “Não tente passar sobre a ponte antes de
chegar nela”. Preocupar é uma das palavras mais elucidativas que existe. Preocupar
é ocupar-se antecipadamente. Quem se preocupa se cansa, no mínimo, duas vezes
porque faz antes de fazer.
“Distração” significa “estar debaixo de duas trações”. Todos nós estamos
debaixo de duas trações. Por exemplo: Eu posso estar aqui, mas pensando em minha
esposa e filho que ficaram em casa e no que faremos juntos quando eu chegar lá.
Obviamente, não posso estar nos dois lugares ao mesmo tempo, porque não sou
onipresente nem tenho o dom da ambiguidade. O que devo fazer, então? Viver 100%
o momento que estou vivendo, isto é, viver tudo o que Deus tem para mim AGORA.
Daqui a pouco é futuro! Em relação à igreja, devo sentar-me durante uma reunião e
experimentar tudo o que Deus tem para mim naquele momento e não me preocupar,
porque a preocupação gera ansiedade. Esse é o significado do mandamento “não
andeis ansiosos”. Veja que é um mandamento e não uma sugestão.
Eu descobri que há uma ansiedade santa. Jesus a teve! Ele disse aos seus
discípulos: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa... (Lc 22.15). Ou
seja, você pode ter anseio por estar em comunhão com os irmãos. Essa é uma
ansiedade lícita. Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó
Deus (Sl 42.1). Esse anseio é permitido. Fora isso, não andeis ansiosos por coisa alguma.
Certa vez, comecei a sentir algumas dores diferentes e fiz uma consulta para
ver do que se tratava. A médica diagnosticou-me com estresse por causa do trabalho.
Quando li a bula do remédio (tarja preta) que me fora receitado, eu fiquei pior. Resolvi
pesquisar, ler e me informar a respeito de depressão, pois eu estava no começo de
uma. Descobri várias coisas, inclusive que para verificar a depressão de uma pessoa
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é preciso analisar, pelo menos, seus três últimos anos de vida. Vamos supor que
temos uma tomada em nossa casa de apenas 150 V, mas você a usa com um secador
de cabelos de 2000 V. Os fios da tomada esquentam e a capa deles se torna frágil,
porém, não queimam naquela hora. Você, então, usa aquela tomada para ligar outros
aparelhos e, passado um tempo, usa novamente o secador. Resultado: fragilizou
ainda mais a capa dos fios, mas ainda não queimou a tomada. Depois, você a utiliza
para ligar um pequeno ventilador e ocorre uma explosão. Você culpa o ventilador, mas
a culpa é da sobrecarga no decorrer dos anos que foi enfraquecendo e fragilizando a
capa dos fios. Essa é uma ilustração para mostrar o que acontece conosco.
O Conselho de Psiquiatria tem uma tabela de tensão. Não sei se os números
são exatamente esses, mas dizem que a perda do emprego gera um pico de 60
pontos, a morte do cônjuge 80 pontos, o divórcio 100 pontos. Ao passar por esses
picos a pessoa vai se tornando enfraquecida até que, um dia, por causa de uma coisa
boba que acontece ela entra em depressão.
Há também a depressão por cansaço e aqui podemos dar como exemplo o
caso de Elias. Ele havia acabado de matar oitocentos e cinquenta profetas e,
certamente, isso o cansou muitíssimo. Quando fica sabendo que Jezabel estava no
seu encalce para matá-lo, ele correu para o deserto e deitou-se debaixo de uma
árvore, dizendo: “É melhor morrer, eu não devia estar vivo”. Elias estava deprimido
por causa de uma mulher. Ela não era poderosa, mas ele estava muito cansado. Deus
enviou um anjo que lhe deu pão e água e o mandou dormir. Ele acordou ainda
deprimido e o anjo o mandou dormir mais um pouco. Depois disso, ele levantou curado
da depressão. No auge da depressão Elias falou o que não devia, porque a depressão
faz com que não vejamos o que Deus está vendo.
Hagar, serva de Sara, também entrou num estado de estresse, porque sua
senhora a tinha mandado embora com seu filho. Os dois já estavam sem água para
beber e, então, ela deixou a criança em determinado lugar e se afastou para não vê-
lo morrer. Porém, um anjo apareceu e lhe disse: “Deus ouviu o choro da criança”.
Então, Deus abriu os seus olhos e ela viu um poço com água. A depressão não
permite que vejamos os escapes que estão diante dos nossos olhos.
E a ansiedade? Certa vez, em viagem para o Canadá, quando cheguei ao
Aeroporto, comecei a sentir uma tristeza que eu nunca tinha sentido antes. Pensei
que fosse por estar deixando minha família por um longo período, mas eu já tinha
viajado tanto e porque essa tristeza agora? Fiz uma oração e pedi a Deus que tirasse
aquilo de mim e me fizesse dormir durante a viagem. Eu sempre tive problemas para
dormir no avião, mas naquela viagem eu dormi e só acordei quando chegávamos a
Toronto. Pensei que a minha oração tinha sido poderosa, mas, ao desembarcar,
aquela tristeza veio pior do que antes. Inquiri de Deus sobre o que estava acontecendo
e Ele falou: “Estou deixando você sentir o que o povo desse país sente”. Nunca vi
gente tão deprimida! Em todas as igrejas que visitei eu orei por pessoas deprimidas.
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Na última igreja, uma senhora chegou até mim e disse: “Jamê, é pecado tomar
remédio para depressão?” Eu falei: “Não minha irmã, mas você tem de cuidar da
causa para não precisar tomar remédio.” Ela disse: “Eu não sei o porquê disso, pois
tenho uma vida muito boa, ganho muito bem, meu marido ganha mais do que eu,
meus filhos são excelentes e nós não precisamos de nada.” Deus, então, me falou:
“Aí está a causa: ela não tem motivo para lutar”. Você já viu um homem da roça,
trabalhando com a enxada, deprimido? Ele não tem tempo para isso. Nosso problema
é que temos muito tempo e, então, começamos a pensar em nós mesmos como
vítimas. Então, pare com isso e vá cuidar das pessoas!
Não estou dizendo que todo depressivo tem essa mesma causa. Existe
depressão que é causada por desequilíbrios químicos no organismo da pessoa.
Tivemos um caso desses em Jundiaí. Depois de muito orar por essa pessoa sem
sucesso, um irmão teve uma visão. Ele viu no cérebro dela uma veia entupida.
Levamos a irmã num psiquiatra cristão e ele detectou o problema através de um
exame. Ele a medicou com pequenos comprimidos e ela ficou totalmente curada.
Existem, sim, depressões por razões de desequilíbrio químico, mas a
depressão da qual estou falando é causada por ansiedade. Jesus disse para não
andarmos ansiosos, e eu fico procurando aquela “tomadinha” para desligar a
ansiedade. Então, fico ansioso porque não a encontro e apelo para os ansiolíticos,
mas eles apenas mascaram o meu problema, não o resolve. Mas, graças a Deus,
aquele que falou para não ficarmos ansiosos deu também a solução:
Voltando ao texto de Filipenses 4.6, veja que Jesus nos dá o remédio que não
mascara, mas que resolve. Resolve quando faço conhecido diante de Deus o que me
causa ansiedade. O interessante é que ele não diz “para fazer Deus conhecer”, mas
para que seja conhecida diante de Deus. Quem vai conhecer? Não é Deus, porque Ele
conhece tudo. Ao trazer o problema diante de Deus, Ele traz luz sobre o mesmo e eu
o enxergo na sua dimensão correta. Assim, preciso fazer conhecido diante de Deus o
que está me perturbando. E como faço isso? Pela oração, pela súplica e com ações
de graça.
Oração e súplica, como muitos imaginam, não é a mesma coisa. Quando a
Palavra diz que devemos orar sem cessar, isso não significa que devemos falar em
voz alta em todo lugar em que nos encontramos. Oração é mais do que fala, ela é
uma atitude de expectativa em Deus que você deve ter em todos os lugares. A figura
que uso para explicar isso é a do filhote de passarinho no ninho. Quando a mãe chega
ele abre o bico. Essa é a atitude de oração. Muitas vezes a sua oração é sem palavras.
Ela pode ser apenas um gemido ou clamor diante do Senhor, ou uma alegria no seu
coração diante Dele. Isso é oração! A súplica é quando você coloca em palavras o
que está lhe incomodando. Ações de graças são atitudes de gratidão diante de Deus,
sabendo que Ele ouviu o que você colocou diante Dele.
Certa vez, eu estava ensinando a nossa filha mais nova sobre os valores em
casa: o valor da conta de luz, da água, do mercado. Aconteceram algumas coisas em
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cima disso. Uma foi quando recebemos um visitante em casa e ele deixou a luz do
quarto, acesa. Ela disse a ele: “Tio, pode apagar a luz? Meu pai paga caro.” A segunda
coisa foi quando falei para ela que no dia seguinte seria seu aniversário e que eu a
levaria à loja de brinquedos e ela poderia escolher o presente que quisesse. Não seria
arriscado fazer isso? Sim, mas eu tinha que provar a minha doutrina de que a havia
ensinado bem. Se ela escolhesse um presente caro eu estaria com um problema. No
caminho para a loja ela me abraçou por trás e disse: “Pai, muito obrigada pelo
presente.” Eu lhe disse: “Mas eu ainda não te dei.” Ela respondeu: “Mas você falou
que daria; muito obrigada!” Isso é ação de graça! É a atitude de confiança de que
Deus ouviu e vai responder.
Deus ouve as nossas orações, em primeiro lugar, porque Ele é misericordioso,
e, em segundo lugar, porque nós somos filhos e Jesus é o nosso intercessor que nos
conduz diante do Pai. É a certeza absoluta de que Deus ouve as nossas orações. Não
estou dizendo que Ele vai responder conforme o que nós pedimos, mas que Ele
escutou a nossa oração. Por isso, temos uma atitude de gratidão. Você pode abraçar
Deus por trás e dizer: “Deus, muito obrigado, porque eu pedi e o Senhor me ouviu!”
Então, a chave para resolver a questão da ansiedade é a oração, é falar com
Deus sobre o que está lhe incomodando. Assim, você lança sobre Ele toda a carga
que está sobre sua vida. Precisamos aprender isso, principalmente se cuidamos de
vidas. Os pastores precisam aprender a colocar diante de Deus as suas cargas, pois
nenhum de nós é capaz de tratar com o próprio pecado e muito menos com o pecado
dos outros. Não fomos criados para isso. Nós estamos numa profissão contingencial,
numa profissão que não foi o plano de Deus para nós. Ele nos criou para o paraíso
onde há frutas, grama, não tem baratas, formigas ou espinhos. Mas o homem pecou
e fomos viver entre os espinhos. No entanto, Ele chama o pecador para cuidar de
pecadores. Nenhum homem suporta isso! Pastores, muitas vezes, sofrem doenças
(AVC, derrame, infarto etc.) porque não aguentam a carga que carregam. Precisamos
aprender a ouvir os problemas das pessoas e ser somente um canal de passagem.
Precisamos colocar diante de Deus os problemas das pessoas e esperar que Ele nos
diga o que fazer e falar a elas. Sendo assim, saímos livres e não sucumbimos junto.
Deus nos manda ter compaixão e sentir a dor da pessoa, mas não nos manda
ficar com a dor. Não precisamos ficar com ela porque Jesus já fez isso; ele levou sobre
si todas as nossas dores. Que possamos aprender a transferir os nossos pesos para
Aquele que pode todas as coisas. E qual é a consequência de agirmos assim?
A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa
mente em Cristo Jesus. (Fp 4.7)
Interessante é que o versículo não fala que vai mudar o nosso sentimento, mas
vai guardá-lo. O sentimento é como um cão bravo que precisa ficar na jaula para não
nos machucar. Depois de algum tempo, ele deixa de ser um cão bravo e se torna um
indefeso coelhinho. O sentimento é assim: uma hora você sente aquele “vulcão” e
outa hora você não sente nada. Então, não se preocupe com os sentimentos, pois
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Deus os guardará para que eles não determinem as suas atitudes. Deus não quer que
percamos nossos sentimentos, mas quer que eles não ditem os rumos da nossa vida.
Ele os guardará dentro de Cristo – e não há melhor lugar para que fiquem guardados.
Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é
justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma
virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. (Fp 4.8).
Esse texto nos livra da ansiedade. Quando você pensar alguma coisa, pare e
pergunte: “Isso que eu estou pensando é honesto, puro, amável, justo, de boa fama e
trás algum louvor ao Senhor?” Se alguma dessas perguntas tiver como resposta o
“não”, jogue fora o que estiver pensando.
Nunca trabalhe em cima de impressões. Se uma pessoa o olha diferente, você
fica com a impressão de que ela não gosta de você. Se isso acontecer, o melhor que
tem a fazer é procurar a pessoa e perguntar se ela tem algo contra você. Se ela disser
que não, creia e fique livre. Nunca interprete que “ele falou isso, mas queria falar
aquilo”. Você não é Deus para discernir os pensamentos do coração de alguém. O
que a pessoa falou é o que ela falou, e pronto.
A nossa vida precisa ser mais simples, porque senão nós não vamos
evangelizar, não vamos cuidar das pessoas e morreremos antes da hora. Eu creio
que Deus está nos chamando para a simplicidade da vida de Cristo, uma vida mais
simples de comunhão, aceitação, amor e cuidado uns para com os outros.
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CONCLUSÃO
Que o Senhor nos ajude a oferecer para Ele a igreja dos Seus sonhos, a igreja que
Ele desenhou. Um dia Ele nos dirá: Vinde benditos do meu Pai, vocês fizeram conforme
lhes havia mostrado. Que possamos insistir em todas essas coisas sobre as quais
falamos e colocá-las como pilares da vida pessoal e da igreja. Estes são os pilares
que sustentam nossa estrutura de vida e os devemos colocar como fundamentos do
nosso dia a dia.
Edição e transcrição: Luiz Roberto Cascaldi