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OS PROBLEMAS DA COMERCIALIZAÇÃO DE HORTIGRANJEIROS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE! JOÃO BATISTA REZENDE • ALCIONE RIBEIRO DE CASTRO' MÔNICA BARROS DE LIMA STARLING' 1 INTRODUÇÃO o abastecimento urbano tem-se tornado, nos anos recentes, questão de extrema relevância, tendo em vista o crescimento e o empobrecimento das populacões no entorno dos grandes centros urbanos do País, ampliando o elevado déficit alimentar. O Brasil está entre os cinco países com maiores problemas de desnutrição entre sua população. A solução para os graves problemas da carência alimentar da população brasileira não está relacionada apenas ao aumento da oferta "per capita" de alimentos, mas passa também por uma distribuição de renda mais igualitária e pela redução dos 1 Artigo baseado na peequiea "Comercialização e Abastecimento de Hortigranjeiros na Região Metropolitana de Belo Horizonte", desenvolvida pela Fundação João Pinheiro para a Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A (CEASA-MO) e Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, em 1994, sob a coordenação de João Batista Rezende. Economistas e pesquisadores do Centro de Estudos Econômicos (CEE) da Fundação João Pinheiro. preços relativos dos alimentos na composição da cesta básica. O relevante crescimento da produção de alguns alimentos através do aumento de produtividade não contribuiu para uma melhora do quadro de carência alimentar, que não reverteu estes ganhos em benefícios do consumidor, através de uma redução dos preços. o aumento da produção e o crescimento das populações urbanas suscitaram a necessidade do melhoramento da distribuição dos produtos, que agora precisavam ser comercializados em escala ampliada. A cadeia de comercialização caracterizava-se, então, por um grande número de intermediações, cujas práticas especulativas envolviam margens de lucro exorbitantes. A comercialização de alimentos, até recentemente descuidada pela maioria dos planos e programas de política agrícola e regional, e considerada como área de atuação do governo federal, restringiu-se a intervenções dos órgãos compradores de safra e reguladores de mercado. Esses órgãos praticaram uma política inadequada do ponto de vista da alocação de recursos, da escassez de infra- estrutura de armazenagem em regiões mais distantes e da falta de perspectiva de uma política de estocagem de médio prazo. As principais proposrçoes referentes à comercialização de hortigranjeiros encontram-se no Programa de Metas do Governo Juscelino Kubitschek (1956160), quando se identificou a necessidade da construção de centrais de abastecimento destinadas a substituir os tradicionais mercados atacadistas de hortaliças e frutas nas grandes cidades do País. No entanto, somente a par-tir- do final da década de sessenta é que se inicia o movimento de implantação das centrais de abastecimento, ainda restrito às capitais. Os mercados existentes localizavam-se então nas áreas centrais das grandes cidades, criando problemas para carga e descarga dos produtos e dificultando o trânsito. Além de apresentarem restrições para sua expansão física, não permitiam o controle eo acompanhamento das quantidades e preços dos produtos comercializados . No llllClO da década de setenta, elaborou-se o Programa de Modernização do Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, n° 213, maioldez. 1993 43

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OS PROBLEMAS DACOMERCIALIZAÇÃO DEHORTIGRANJEIROS NAREGIÃO METROPOLITANADE BELO HORIZONTE!

JOÃO BATISTA REZENDE •ALCIONE RIBEIRO DE CASTRO'

MÔNICA BARROS DE LIMA STARLING'

1 INTRODUÇÃO

o abastecimento urbano tem-setornado, nos anos recentes, questão de extremarelevância, tendo em vista o crescimento e oempobrecimento das populacões no entorno dosgrandes centros urbanos do País, ampliando ojá elevado déficit alimentar. O Brasil está entreos cinco países com maiores problemas dedesnutrição entre sua população.

A solução para os gravesproblemas da carência alimentar da populaçãobrasileira não está relacionada apenas aoaumento da oferta "per capita" de alimentos,mas passa também por uma distribuição derenda mais igualitária e pela redução dos

1 Artigo baseado na peequiea "Comercialização e Abastecimentode Hortigranjeiros na Região Metropolitana de Belo Horizonte",desenvolvida pela Fundação João Pinheiro para a Centrais deAbastecimento de Minas Gerais S/A (CEASA-MO) e PrefeituraMunicipal de Belo Horizonte, em 1994, sob a coordenação de JoãoBatista Rezende.

• Economistas e pesquisadores do Centro de Estudos Econômicos(CEE) da Fundação João Pinheiro.

preços relativos dos alimentos na composição dacesta básica. O relevante crescimento daprodução de alguns alimentos através doaumento de produtividade não contribuiu parauma melhora do quadro de carência alimentar,já que não reverteu estes ganhos em benefíciosdo consumidor, através de uma redução dospreços.

o aumento da produção e ocrescimento das populações urbanas suscitarama necessidade do melhoramento da distribuiçãodos produtos, que agora precisavam sercomercializados em escala ampliada. A cadeiade comercialização caracterizava-se, então, porum grande número de intermediações, cujaspráticas especulativas envolviam margens delucro exorbitantes.

A comercialização de alimentos,até recentemente descuidada pela maioria dosplanos e programas de política agrícola eregional, e considerada como área de atuaçãodo governo federal, restringiu-se a intervençõesdos órgãos compradores de safra e reguladoresde mercado. Esses órgãos praticaram umapolítica inadequada do ponto de vista daalocação de recursos, da escassez de infra­estrutura de armazenagem em regiões maisdistantes e da falta de perspectiva de umapolítica de estocagem de médio prazo.

As principais proposrçoesreferentes à comercialização de hortigranjeirosencontram-se no Programa de Metas doGoverno Juscelino Kubitschek (1956160),quando se identificou a necessidade daconstrução de centrais de abastecimentodestinadas a substituir os tradicionaismercados atacadistas de hortaliças e frutas nasgrandes cidades do País.

No entanto, somente a par-tir- dofinal da década de sessenta é que se inicia omovimento de implantação das centrais deabastecimento, ainda restrito às capitais. Osmercados existentes localizavam-se então nasáreas centrais das grandes cidades, criandoproblemas para carga e descarga dos produtos edificultando o trânsito. Além de apresentaremrestrições para sua expansão física, nãopermitiam o controle e o acompanhamento dasquantidades e preços dos produtoscomercializados.

No llllClO da década de setenta,elaborou-se o Programa de Modernização do

Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, n° 213, maioldez. 1993 43

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Sistema de Abastecimento, em àrnbito nacional,CUJO objetivo era reduzir o excesso deintennediação e centralizar as transsções decompra e venda de produtos agrícolas nosmercados atacadistas e varejistas. As primeirascentrais de abastecimento instaladas no pais,sob coordenação da Companhia Brasileira deAlimentos (COBAL), foram as de BeloHorizonte, Porto Alegre e Curitiba.

A partir de 1972, foi criado oSistema Nacional de Centrais deAbastecimento (SINAC), cujas principaisunidades eram as Centrais de Abastecimento(CEASA).

Não obstante os esforçosgovernamentais voltados para a modernizaçãodo sistema de comercialização e abastecimentonas duas últimas décadas, ainda persistem emMinas Gerais, sobretudo na RMBH2, gravesdistorções. Esta situação se deve, entre outrosfatores, à desarticulação da política deabastecimento nas três esferas do governo ­federal, estadual e municipal -; à baixaintegração do sistema de comercialização, compequena participação de cooperativas eassociações de produtores; e às tendências ob­servadas de urbanização, que apontam parauma concentração do aumento populacional nasregiões metropolitanas, localizadaprincipalmente nas cidades vizinhas a BeloHorizonte que são completamente desprovidasde equipamentos de comercialização.

o consumo de hortigranjeirosestimado para RMBH em 1987/88 era de 80,8kglhab.lano, inferior ao consumo brasileiro(93,4 kglhab.lano) (Pesquisa Nacional... , 1988),que é baixo se considerarmos apenas o maiorestado consumidor brasileiro, o Rio Grande doSul, com um consumo de 150 kglhnb.lano. J

Fora do Brasil, tem-se a Argentina, com umconsumo de 220 kglhab.lano, e a Europa, com250 a 400 kglhab.lano.

2 A RlIgilo Metropolitana de Belo Honzonte, criada em 1973, UNeaUIlire. dl'l abrallJtênda ampliada 1lp6e atentoado proceao deurbanizaçAo nae déeadu de aetenta 8 adenta. Ataalmente atieompoeta per 20 muniefpms: Belo Horizohte. Betim. 8nlmacünho,Ceeté. Contagem. Enneraldae, IbiriUl, 19arap', Jaatuba, LagoaSanta, MaLcue Leme, Nova Lima, Pedro Leopoldo, RapolOfl, RibeirAoda. N6Y", Rio Acima, Sabari, Santa Luzia, Slo J0e6 d. 1A~ eveepesienc. A populaçAo total da RMBH, de acordo tom 01 dad08 doIBGE. pauoa de 1.6milhAo em 1970 para aprmimadamente 3.4milhôe. de habitantell em 1991

3 O.dOl da Aaeoc:iaçl1o B~leira d•• Centnie de Abaltecimento­(ABRACEN)

A questão que se coloca, pois,para tornar acessíveis quantidades e qualidadeadequadas de hortaliças e frutas às populaçõesurbanas, sobretudo aquelas de menor poderaquisitivo, é proporcionar preços melhores emais estáveis aos horticultores e criarmecanismos e organizações que consigamequacionar os problemas apontados.

o estudo elaborado procurou,portanto, identificar os principais problemasapresentados pelo sistema de comercialização eabastecimento de hortigranjeiros na RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte (RMBH), comênfase no papel desempenhado pelaCEASAlMG - Unidade Grande BH.

Dessa forma, foi traçado o perfildo processo de cornercialização dos produtosselecionados, identificando-se os principaiscanais e explicitando as inter-relações entre osagentes envolvidos nas diferentes etapas. Paraisso, foram estabelecidos os fluxos de origem edestino dos produtos selecionadoscomercializados junto à CEASAlMG-UnidadeGrande BH. Com base nessas informaçõesforam pesquisadas as formas decomercialização e transporte nas principaisregiões abastecedoras. Na RMBH foramrealizadas entrevistas nas prefeituras e nosequipamentos públicos e privados decomercialização (atacado e varejo).

Além diaso, foram mensuradas eanalisadas as variáveis condicionantes daformação dos preços dos hortigranjeirosselecionadoe, bem como suas margens decomercialização.

A análise quantitativa associadaà análise da dinãmica do funcionamento dosistema possibilitou detectar os principaispontos de estrangulamento, dimensionando aparticipação dos agentes e das variáveis queinfluenciam a elevação dos preços desaesprodutos na RMBH.

2 METODOLOGIA

2.1 População e amostra

A natureza e a complexidadedos objetivos deste estudo fundamentaram adefinição da linha metodológica que orientousua elaboração. Baseou-se, para isso, em le-

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vantamentos bibliográficos, ccleta einterpretação de dados quantitativos e pesquisade campo, com entrevistas realizadas com ospróprios agentes participantes do processo deprodução, comercialização e abastecimento. Oselementos da amostra foram selecionados emfunção de sua importância nas distintas fasesdo processo em questão.

A utilização combinada destastécnicas de pesquisa não objetivou a mera ob­tenção de dados numéricos sobre processos deprodução, comercialização e abastecimento.Obtiveram-se, com a pesquisa de campo,interpretações das condições reais em que se dáa transferência de posse, no atacado e novarejo, dos produtos bortigranjeirosconsumidos, principalmente, nos municípiosque compõem a RMBH.

A pesquisa de campo envolveuprodutores, comerciantes (atacadistas evarejistas) e suas entidades representativas,técnicos da extensão rural e assistência técnicaEmpresa de Assistência Técnica, e ExtensãoRural do Estado de Minas Gerais (EMATER­MG), grandes consumidores e representantesdos poderes públicos, municipal e estadual, naRMBH e principais regiões produtoras doEstado, todos relacionados com acomercialização e o abastecimento.

Para efeito de regionalização daprodução e dos fluxos dos produtos comer­cializados na CEASAlMG - Unidade GrandeBH, utilizou-se a divisão regional para oplanejamento proposta pela Fundação JoãoPinheiro e Secretaria de Estado doPlanejamento e Coordenação Geral (SEPLAN­MG).

QUADRO 2.\REGlÓES DE I'lANEJAMENTO 00 ESTADODE fl,.ID.;AS GF.RAL"l

1992

REGlAO DE PLA."aJAMENTO MlCRORREGlÁO Gt:OGRAFICA

emlral B.rt>JIC.efa, Belo Hcnacnte, Ccncerçãc do !\.blo Omlro, Conselhee-cLafalcte, Curvelo , DLIlnUlntlna,Itablt'a, ltagu.a. Ouro Preto. Pari deMinas.. São Joilo del -Rey. Sete LagOiLS e Três Manas

MM. Calquascs, Jurz de Fora, M.thu.çu. Mw*,Ponle Nova, Ub' e VlçoU.

Sul de MItl&'\ Alfm.as., Andrclând.... IlaJubil, Lavras. Pasos.Poços de Calda, PousoAlcere, Sant.a RLU! do Sapuc.aí, Sic Lourenço, Sic Scb&Jtilo do Pa.boe VarglnhL

TninjtUlo Fru\.al, ItulUtabL l,"bcf-abae UbcrLindUl

Aho P...íb. Aroá. p.a.,,,de MII\B e P.rrodmo

Centre-Oeste de Muw BomDespecbo.

Noroeste de Mmas Pvac.alu e L'nai.

Norte de Mma..~ Boc.aluva, GTlo.Mogol Janrlba, Montes Claros, Pnpon e Salina

kqullJnbonhalMueun Almena-a. Anç.uaI. Capelinha, Nanuquc. Pedra Azul e Teófilo Otam.

RJo Doce Amorb. C.-.t&n&a.V~ lpaunga. M.\tc:nae~Fonte: FUNDAÇAO JOAO PIJIolIEIRO. Centro de Estudos f..cona11'llcos. R,..lo de planeJUMtI1o.1k.l0 Honzcnte, 1992

2.2 Seleção dos produtos

A seleção dos produtosinvestigados se baseou em informaçõescoletadas na CEASAlMG - Unidade GrandeBH. Foram trabalhados os dados primáriosreferentes à quantidade e ao preço nominal de1991 de todos os produtos comercializados, porgrupos, na unidade localizada em Contagem­MG. A multiplicação desses dois fatores

resultou no valor estimado da produçãocomercializada, o que, juntamente com avariável quantidade, permitiu a seleçâo dosprodutos descritos no quadr02.2.

Os trinta produtosbortigranjeiros selecionados apresentaram, noano de 1991, 43,2% da quantidadecomercializada e 25,1% do valor estimado,considerando-se o movimento global daCEASAlMG - Unidade Grande BH , que incluicereais, combustíveis e outros.

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QUADRO 2.2PRODlTfOS SELECIONADOS PARA ANÁLISE

1993

GRUPO/SUBGRUPO PRODUTOHOTALlÇAS (22)

Flor, folha e haste (5)

Fruto (9)

Bulbo, Raiz, tubérculo e rizoma (8)

FRtrrAS NACIONAIS (8)

Alface, couve, cebolinha, couve-flor e repolho-híbrido(95,3% da quantidade e 86% do valor comercializado).

Tomate santa-cruz, moranga-Iubrida, chuchu, pepino, pi­mentão, jiló- comprido, quiabo, vagem- macarrão e BbC).brinha- italiana (910/. da quantidade e 90,2% do valorcomercializado).

Batata-lisa, cebola- amarela, cenoura, batata-doce, inhame,beterraba- sem -folhas, mandioca e alho-brasileiro (94.3%da quantidade e 65,5% do valor comercializado).

Laranja-pêra, banana- prata, banana- nanica, maçã, melan­cia, mamão fonnosa, ahacaxi e limão- tahili (78.9% daquantidade c 65,5% do valor comercializado).

4 No ~eu]o da ma~ rel.tiva total da comen:ializ.açlo - quemode a participaçào relativa do produtor no preço ftnal do produLo ­utiliecu-ee a r6rmula MRTe _ [(Pvv· Pp" PvvJ 100, onde Pvv-preçopago pelo con.umidor final ft Pp= Preço pago ao produtor 1'1Iral Parao cákulo do markup relativo lotai - que mede o aumento perceutualdo J11"8ÇtI recebido pelo produtor· atibzon'lifl a f6nnula MKT _ (CPnr·Pp)IPplIOO.

o comportamento-padrão dospreços e das margens de comercialização, nodecorrer dos anos, foi obtido através da análisede tendência, expressa por equações de

Calcularam-se, também, asmargens relativas de comercialização média emarkups" para um conjunto de seis segmentosde mercado: varejão da CEASAlMG - UnidadeGrande BH; Feira Coberta do Padre Eustáquio(FECOB); sacolões, supermercadoa; mercadostradicionais (Mereado Central, Mercado Novo eFeira dos Produtores da Cidade Nova); emercados distritais (Mercados Distritais daBarroca, Santa Tereza e Cruzeiro). Nesse caso,a série temporal abrange apenas operíodo/1990-92.

Fonte: Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S.A. (CEASA-MG)Nota: Os números entre parênteses referem-se às quantidades de produtos investigados

Procedimentos estatísticos A intensidade das variaçõesestacionais teve como medida de referência amédia aritmética, e foi dividida em trêsintervalos: elevado, regular e baixo. Como ele­vado. definiu-se toda variação estacionaIsuperior a 15% da média (>115%); comoregular, definiram-se aqueles valores dentro deum intervalo inferior e superior a 15% damédia (85 a 115%); como intensidade baixa,foram considerados todos dos valores inferioresa 15% da média (85%).

Para a realização dos estudosquantitativos, como cálculo das margens,tendência, índices de preços reais e índices deestacionalidade dos przaram-se os dados depreços nominais e quantidades comercializadaspesquisados pela CEASAlMG UnidadeGrande BH no período 1987-92eços equantidades de hortigranjeiros, utili.

Os valores nominais foramdeflacionados, tendo como base agosto de 1992,pelo Índice Geral de Preços- DisponibilidadeInterna (IGP-DI), calculado pela FundaçãoGetúlio Vargas.

No caso das variaçõesestacionais, investigaram-se não apenas ospreços e as quantidades, mas também asmargens totais de comercialização, as quais sãoinfluenciadas pelos preços e quantidadescomercializadas, de acordo com o seucomportamento nos diversos meses do ano.

Para efeito deste trabalho,definiu-se como preço médio recebido pelo pro­dutor aquele registrado na Central deAbastecimento em estudo; como referente,aquele pago pelo atacado nos negócios decompra realizados naquela unidade, sediada nomunicípio de Contagem; e como preço médiopago pelo consumidor, aquele pesquisado poresta mesma unidade de abastecimento nosdiversos estabelecimentos varejistas de BeloHorizonte.

2.3

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regressão linear simples dos preços em relaçãoao tempo, o que permitiu, juntamente com osíndices de preço real\ verificar a evolução dospreços dos hortigranjeiros comparativamenteao Índice Geral de Preços, conceitodisponibilidade interna, calculado pelaFundação Getúlio Vargas.

E, por último, investigaram-se,também, a procedência e a evolução das quan­tidades ofertadas de hortigranjeiros naCEASNMG - Unidade Grande BH nos últimosseis anos (I987-1992), bem como a sua inter­relação com as margens e preços praticados nocomércio atacadista e varejista da RMBH.

3 CONCLUSÕES

A maior parte dos produtoscomercializados na CEASNMG - UnidadeGrande BH é produzida no Estado de MinasGerais. Os produtos com elevado índice deperecibilidade, como as fclhosas e algumas dashortaliças-fruto, são procedentes da RegiãoCentral, com grande concentração na RMBH.As demais hortaliças são oriundas demunicípios distantes 300 a 600 quilõmetros nopróprio Estado. Quanto maior o grau deperecibilidade, menos distante é a área deprodução do centro de comercialização.

As frutas, em geral, sãoprovenientes de outros estados, mas a RegiãoCentral é importante produtora de banana­nanica, banana-prata, limão-tahiti e abacaxi.

As outras regiões produtorasmais importantes são: o Sul de Minas, nofornecimento de batata-lisa e banana-prata; oAlto Paranaíba, no fornecimento da cenoura; oRio Doce, que tem participação significativa nacomercialização de quiabo e jil6-comprido; e oNorte de Minas, no fornecimento de banana­nanica.

A CEASNMG-Unidade GrandeBH funciona, portanto, como um importante

6 Chamcu-ee de lndictl de f'rcçol Roais Mltdiol do Ataeado(IPRMA) e índice de PreÇQI Reais Médioe do Varejo (IPRMV) oquociente entre o valor rflal do mAil drvididc pelo valor, tambémdeâecicnedc, do mAil imf!iualsmen&e anterior, dos reepeenvce precoepraticadoll no aLacado e no varejo. O resultado, que ccneíete tu..média aritmiltlta Nmples dOIl quocienl.ca, permite avahar &fi 01

preços dos produtos, no varejo e 1"10 atacado, constituiram Iatoree deprolW\o inOacion'"a, na medida em que o lPRMA f! o IPRMVestiverem tanto rneie enpencr a 100.

entreposto comercial regional, aglutinandoprodutores da Região Central e demais regiõesque estão a uma distância de até 600quilômetros de Belo Horizonte. Os produtores,entretanto, atuam isoladamente, sem o apoio deuma entidade representativa. A Associação deProdutores de Hortigranjeiros do Estado deMinas Gerais (APHEMIG), que pretenderepresentar os horticultores que comercializamnaquela unidade, ainda não vem cumprindosatisfatoriamente suas funções.

Estima-se que a CEASNMG ­Unidade Grande BH abasteça cerca de trezen­tos municípios no Estado. No âmbitointerestadual, esta Unidade faz negócios com osmercados de Goiás, Brasília, Espírito Santo,Rio de Janeiro e São Paulo, entre outros.

Caso persista a tendênciaobservada nesses últimos seis anos, estima-seque o volume de legumes comercializado pelaCEASNMG - Unidade Grande BH atinja 85 miltoneladas/ano até o ano 2000, ou seja, 7 miltoneladas/mês. Esse incremento no volumecomercializado considera apenas os legumes:beterraba-sem-folhas, batata-doce, cenoura,mandioca e inhame, todos do subgrupo dashortaliças bulbo, tubérculo, raiz e rizoma.Entretanto, ao se considerar o conjunto dashortaliças comercializadas na Unidade GrandeBH, verifica-se um movimento mensal médio de34,5 mil toneladas (1987-93) e um crescimentode 4,6% ao ano." Considerando-se esta taxa,estima-se que no ano 2000 serãocomercializadas na CEASAlMG - UnidadeGrande BH cerca de 54,5 mil toneladas mensaissó de hortaliças.

Das três formas decomercialização observadas - o Mercado LivreProdutor (MLP), o leilão sobre caminhões e aslojas de atacado -, o MLP representa o espaçode comercialização direta pelo produtor. Aespecificidade de seu funcionamento éresultado de uma política deliberada daCEASNMG - Unidade Grande BH no sentidode estimular a presença de produtores,sobretudo frente ao insucesso dos Mercados doProdutor nos locais onde foram implantados.

O MLP é o espaço decomercialização da maioria dos legumes e dealgumas frutas, como a banana e o mamão. Osprincipais clientes são os lojistas de atacado da

6 Tua geométrica de O'e8dimento

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CEASNMG - Unidade Grande BH e os diversossetores varejistas, como os saeclões, ossupermercados, os restaurantes industriais etc.A importância do MLP no mercado dehortigranjeiros é tão acentuada que alterou operfil do atacadista, levando-o à diferenciaçãode suas atividades, quer em redes de comérciovarejista e serviços de entrega, quer em aetoresda produção frutícola. A concorrência com oMLP no comércio de legumes fez com que osatacadistas investissem no ramo de sacolões,instalando verdadeiras redes com várias lojasem Belo Horizonte e no interior. As lojas daCEASNMG - Unidade Grande BH vêm-setransfonnando em verdadeiros depósitos demercadorias, enquanto os sacolões do interiorfuncionam também como centrais de compra.

Todavia, o acesso ao MLP aindaé limitado. O pequeno produtor, isto é, aqueleque produz pequenas quantídadee" , necessitade comercializar seu produto através docomerciante de origem. Esse intennediário écomumente um caminhoneiro ou mesmo umprodutor que reúne a produção local e atransporta até a CEASNMG-Unidade GrandeBH. Nesse caso, o produtor está subordinado aesse comerciante porque embora possa haveruma determinada concorrência, são poucas 8S

chances de o produtor estabelecer uma novatransaçào a tempo de não comprometer toda asua produção. Provavelmente, ele poderá fazerum novo cantata comercial apenas na safraseguinte.

É necessário ressaltar que quemfaz a comercialização, na maioria das vezes, é oparceiro. Esse é um fato indicativo do fracopoder de barganha do produtor.

Nas áreas de concentração daprodução de folhosas observam-se núcleos oli­gopsorucos fonnados por comerciantesintennediários que combinam o preço a serpago ao produtor. Embora a CEASNMG­Unidade Grande BH não desempenhe funçãosignificativa nesse mercado porque, nesse caso,a comercialização se realiza diretamente entreo comerciante de origem e os varejistas,

7 Apell&l' da predominlncia de pequenas propriedade- ecm beiacnível de eepiLabzaçào, eaíetem prodUloru que perteneere ao que MIecneenetcecu chamar de pequena produçAoruereanlilruodema, comeIpnt.llDvo volume de produçêo concentrado em p8qtUlllU ireu. Sloprociularfl_mai. teenine.dol que normahuente reatium •comerriahzaçAo do NUA produtos direlaJDente com o. COIDemanlMdo CEASA/MG-Unidade Grande BlI

verifica-se com maior intensidade a de­pendência da intannediação.

O afluxo de comerciantes,corretores e caminhoneiros semcredenciamento da CEASNMG - UnidadeGrande BH e, portanto, sem posaibilidade deacesso ao MLP, acabou gerando uma segundamodalidade de comércio atacadista - "leilõessobre caminhões". Nesse caso, o produto entra,freqüentemente, como "mercadoria a vender". Abatata é um dos principais produtoscomercializados através de leilões, que ocorremdiariamente entre 5 e 7 horas da manhã.

O setor atacadista propriamentedito da CEASNMG - Unidade Grande BH (oslojistas) atua especificamente em alguns gruposde produtos, como a batata, cebola e alho;citrcs; maçã e outras frutas finas; banana emamão; abacaxi, melancia e legumes diversos.

As frotas se caracterizam porum comércio especializado, realizado direta­mente entre produtores comerciantesintennediários e ou comerciantes atacadistasda CEASNMG - Unidade Grande BH. Estecomércio nonnalmente não passa pelo MLP.

Mas o MLP da CEASNMGUnidade Grande BH constitui o espaço referen­cial de comercialização do mercado atacadistade hortigranjeiros da RMBH. É naquele espaçoque se defrontam os principais agentes(produtores, comerciantes de origem, ata­cadistas e varejistas, grandes consumidores),definindo-se o nível da oferta e os preços aserem praticados.

O comércio atacadista dehortigranjeiros caracteriza-se pela possibilidadede oscilação de preços em curtos espaços detempo, evidenciando estratégias especulativasdos comerciantes na determinação de preços.As oscilações de preços no atacado refletem aspróprias características da sazonalidade eperecibilidade dos produtos.

A especulação no comércioatacadista de hortigranjeiros, portanto, não sefaz sobre estoques, mas sobre a própriaperecibilidade e sazonalidade dos produtos, avulnerabilidade dos produtores frente àurgência da comercialização e os diferentesníveis diferenciados de informação nos diversossegmentos do mercado. Quando o mercado si­naliza excesso de quantidade do produto,ocorrem imediatas modificações no compor-

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tamento dos comerciantes, seguindo-se umadesvalorização dos preços. Nessa circunstância,os produtores terão de liquidar seus estoquesou perderão toda a sua produção.

Todavia, os resultados dapesquisa da formação de preços indicam que osetor de distribuição tem praticado markupsmuito elevados, o que leva a crer que 08

maiores problemas da comercializaçãoencontram-se nesse setor.

Nesse sentido, verifica-se que aoferta de hortigranjeiros nos municípios quecompõem a RMBH é marcada por deficiênciassignificativas relacionadas à comercialização edistribuição de produtos.

No que diz respeito àorganização institucional, somente o municípiode Belo Horizonte possui Um órgão atuando naárea de abastecimento. A Secretaria Municipalde Abastecimento (SMAB), criada em julho de1993, exerce ações nonnalizadoras e regu­lamentadoras, destacando-se na execução deprogramas alternativos de abastecimento(Programa de Alimentação a Baixo Custo,Comboio do Trabalhador, Feira de Produtoresetc.).

Os demais municípios daRMBH caracterizam-se, de fonna geral, pelaausência de instituições na área doabastecimento, com exceção de Contagem,Betim e lbirité. Em Contagem, as funçõesreguladoras do abastecimento são coordenadaspela Secretaria Municipal de Agricultura eAbastecimento; em Ibirité, pelo Departamentode Produção Rural e Abastecimento, vinculadoà Secretaria de Planejamento eDesenvolvimento Econômico; e, em Betim, pelaSeção de Abastecimento da Secretaria daIndústria e Comércio.

Dentre os principais problemasrelativos ao abastecimento de hortigranjeirosapontados pelas prefeituras dos municípios daRMBH, chama-se atenção para a inexistênciade espaços alternativos ou ações das prefeiturasvoltadas para o abastecimento local, fazendocom que a CEASNMG - Unidade Grande BH seconstitua no único mercado para 08 produtores.Esta situação acaba gerando poucasalternativas de renda para os produtores dehortigranjeiros, além de uma carência deprodutos, variedades e qualidade em alguns

municípios da RMBH, prejudicandoprincipalmente a população mais carente.

A Secretaria de Estado daFazenda registrou, em fevereiro de 1993, 952estabelecimentos comerciais varejistas dehortigranjeiros na RMBH. De acordo com osdados, estes estabelecimentos estãoconcentrados em Belo Horizonte (73%) eContagem (10,5%). Alguns municípiosdestacam-se pela extrema carência deequipamentos varejistas, que, somada àinexistência de soluções alternativas deabastecimento (Programas de Alimentação aBaixo Custo, feiras do produtor, feiras livres,etc.), agrava ainda mais o quadro de deficiênciaalimentar.

De acordo com estimativa daCEASNMG-Unidade Grande BH, adistribuição de hortigranjeiros na RMBH érealizada basicamente através dos sacolões esupermercados, que controlam 85% dessecomércio. Os 15% restantes correspondem aocomércio realizado pelos mercados distritais etradicionais, feiras livres, quitandas e pequenasmerceanas.

Os sacolões são, hoje, aprincipal alternativa da distribuição final dehortigranjeiros na RMBH. As feiras livres, talcomo 09 mercados, perderam e continuam aperder espaço para os sacoIões esupermercados. Com margens relativassuperiores em 16 pontos percentuais às dosdemais concorrentes, 08 comerciantes dasbancas de mercado, seja o dos mercadostradicionais ou distritais, estão em nítidadesvantagem comparativa. Essa situaçãoprovavehnente está associada àsdeseconomiasde escala decorrentes do menorvolume que comercializam. As margensrelativas e markups estão explicitados nosquadros 3.1 e 3.2.

Entretanto, os comerciantes debancas dos mercados alegam que vendem pro­dutos de qualidade superior. De fato, existediferença visível com relação à qualidade dealguns produtos. Mas essa afirmação não podeser generalizada porque os saco Iões e su­permercados que atendem à classe média nosbairros onde a população tem melhor poderaquisitivo estão aprimorando cada vez mais aqualidade de seus produtos, buscando atenderàs expectativas do público que os freqüenta.

Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, n' 2/3, maio/dez. 1993 49

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50

QUADRO 3.1MARGENS RElA11\1AS DE COMEIlClALll.AÇÃO 00 VAREJO NA REGIÃO METROPOLrrAl'OA DE RELO HOIUZONTE (RMBH)

1990-92(%)

EQUlPAMEl'ITO

PRODLJmSupamcrc.-lo Mqcm

Média

HORTALIÇAS

nor. rGlha ....tc

Alface 21,00 21,00 28.00 40,90 ~3.90 ~4,.~ 33,10C'..cbolinha 1~,50 81,'" 80.:W 18.20 86,60 85.40 HO,OOCouve 29,00 34,10 41,30 56,00 57,30 59,10 40,40Cccve-üce 51,30 39,60 24,50 41.10 57,30 ~8,20 48,70

Ropolho 51,40 67.00 36,90 63,90 74,00 11,90 66,00

BIIIIlo, hlWrndo, ...tr • rUOGUI

A1hG-bnsiletro 67,00 50,20 17,90 21.40 55,50 61.90 51,30.........cce 34.30 33,10 4,80 36,00 47,40 43,50 33,108alala·hu 41,10 41,20 IH,30 31,80 45,00 49,80 43.508eten'.tI •. sem.folha 46,50 2~,50 30,00 ;4,80 59,80 56,20 41,70Cebola-amarela 28,40 33,20 21.40 33,40 4<;.50 4S,RO 33,60Ccno~ 55.30 45,50 39,00 5\20 67.40 68,00 54,80

1nlwn. 50,90 31,50 )6,10 50.10 62,40 5S,~ 46,\0Mandioca 61,80 65,20 ''''0 61.40 11,20 1Z,00 67,10

'",,0

Ab6bore-ltaliana .'i2..70 41,80 33,00 54,'" 65,00 64,20 51,20Chuchu 55,50 53.50 40,20 .S9.60 67,80 61,00 58,00

1JL~compndo 56,10 '1,40 41,00 '1,40 64,40 65,90 50,70

Mormg.hrbnda ",30 47,10 35,10 '1,40 63,20 61,10 "',00

""',"o 56,00 53.50 35,90 64,90 70,70 6H,20 58,80Pun",1io 47,50 9,60 40,80 41,SO 16,20 71,30 49,00

00'''' >4,80 32,10 45,10 50.20 63,00 59,20 48,10

Tom~santacnJZ >4,90 47,30 29,40 46,40 64,80 63.40 53,70

Vasem-rnK8fTio 51,80 17,10 40,:W 38,10 57.10 61,00 41,00

FRUTAS NACIONALo;

Abllt&l(l 29,30 30,10 ·15,10 8,60 16,10 43,50 30,50_...,"'" 35,90 41,60 16,40 '6.20 49,10 52,30 41.80

a.n..-P'" 39,70 46,00 23,40 42,20 53,70 51,70 ""0LannJ.·p~ 26,30 49,70 1,00 2.5,60 45,10 41,90 41,90

llmIo-tabltt 30,10 43,00 40,00 26,10 55,60 5&,10 ......30

Maç1 21,80 28,90 -10,40 .1,40 41,60 47,30 28.,70

MJmic>.fonnOSll 34,70 47,90 27,90 40,40 59,20 61,10 ""0MeI.nua 27,10 48,40 .1,60 21,20 49,20 53,20 42.00

MARGEM MiDtA 41,63 311,06 26,40 38,89 53,711 S4,55 -43,97

Fontes: Dados b6Rcos: Ccntnúl de Abadccancnto de Mme 0Uals SÃ. (CHASA-MO).Elabonç1o : FundaçJo Joio Ptnbcuv (FJP). Ccn\ro$ de Estudos Ecor1ÓfnICOJ (CEE).

Notas: Quadro elabondo com AS médlllS mensm du mIr'JGU reWtiYm de comercu..hmç1o."·eu-. Coberta do Padre EUSÜ({wo (};'ECOO)

Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, nO 2/3, maio/dez. 1993

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QUAOR03.2MARKUP RUATIVO DE COMERCIALIZAÇÃO NO VAREJO flôA REGIÃo MElROPOl.ITANA DE BELO HOR1l0l'n'E (RMBH)

1990-92(~'.)

EQUlPAMBNTO

PRODLrt"() Supermercado ....~M....

IIDkTALIÇAS

Flor, rnau. blUUAlface 33,6 40,8 425 77,M 122,' 124,5 51,9

Cebohnha 422,2 555,1 >09,0 461,0 181.3 162,3 506,1Ccuve 49,3 ..., 83,9 166,4 \4lS,5 158,5 17,'Ccuve-Flor 120,2 16,1 40,1 104,3 139,6 145,8 102.5Re-polho 1';\9 266,S 69,6 236,0 322,6 302.7 229,2

Bulbll. tuberçuto nu rlU....

Alho·brasJlelJ"O 24\8 111,6 28,9 88,1 132,5 114,6 153,5Ratala-doce n,1 62.1 16,6 73,6 123,1 102,1 61,4

8&tata-hu 13,1 79.0 24,3 ~,2 8S,9 103,5 82.'Beternbll·u:m·folha 99,2 M.S 46,2 ,6.4 165,6 15....2 86,1Cebola·amarela 44,1 58,9 29,8 ".0 89,0 91.2 55,4

Cmoura 131,0 109.0 70,2 146,1 215.2 225.1 133,9lnh~, 109,4 S7.1 59.6 125.5 169.6 141,6 91,7

Mandioca 169,0 204,1 138,1 23],1 270,lS 265,5 202.'

hUloAbóbora'llahana 120,9 88,3 59.6 154,4 199.1 191,5 116,5Chuchu 132,9 195.3 85.6 204.9 248,8 246,2 181,1Jüó.compnõo 137.2 61,8 ss.s 141,2 2OI,lS 213,1 112..3Monnia·hibnda 8<'.4 116,9 67,2 150.9 196,1 186,0 111,9

""'~O 1-11,1 \5U,1 ...' 233,0 216,2 245,2 164.0Punmlio 101,3 17,0 KI.5 158,8 367,11 3lS2,2 105,3

Qu...." 13l.3 :59.8 88,8 i24.1 154,6 186,9 101,8Tomate-unt.a crvz 12"5.2 104.4 49,1 97.4 (91.7 180,6 /22,'Vaiem· mae-T'io 112,7 26.0 7S,3 79.0 138.9 i63,2 76,'

FRUl'AS ~A('10NAIS

Aboteal(l 44.6 4Sd ·11.8 19,1 58.7 17,8 4MBanana-nanJUI 59.5 82.' 21.2 62.2 9ll.' 112,2 ?S,lBanan.a-P~ 73,2 81.7 33,0 74.7 120,5 141,5 87,7LaranJa.pêra 311,3 i08,2 6,2 39,6 83,6 93,0 711,4LLlTlio·l.atIlh 1l~,6 106.3 14,0 61.3 153,1 155.1 91,2MM,. 60,2 '2.3 .7.2 s.a n.3 91,8 <2.0'flotamlu-formosl1 (,~.~ 1006,6 '2.7 t'it'i,5 154.1 170.0 92.'MelanCia 42.ll: 101,8 ·1,7 46,1 102,0 118,8 16,8

Fontes: Dados náslcos: Cmtrau de Abu~çLlTlm\.O de ~ilnl&:l (ief&1S S.A. (ChASA·MCl)l:IaboT3Çio: fUllciaç.io Joj(\ PmheJro (FlP). ('mtro~de Estudo.sECOnómICOS (G:.E)

Nota: Quadro elabondo com &1 mb:has mauals dos mnllps rriab'o'OJde comen;wluçAofcltt C.oberta do p~ Eustéqulo (FECOB)

Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, n' 2/3, maio/dez. 1993 51

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Com relação às feiras, foiconstatado que a Feira Coberta do PadreEustáquio (FECOB) não apresenta preços maisvantajosos que os sacolões.

Por outro lado, foi observadoque existem grandes diferenças de preços entreos sacalões e supermercados, apesar de asmargens relativas médias de comercializaçãoentre os dois tipos de estabelecimentos serempraticamente iguais.

Os sacclões praticaram menoresmargens relativas que os supermercados paraum conjunto de 12 hortaliças, a saber:abobrinha italiana, jilõ-comprido, inhame,batata-doce, beterraba, cenoura, vagem,pimentão, quiabo, tomate, alho e couve-flor. Oquiabo, a vagem, o jil6, a beterraba e o inhametiveram nos sacalões margens relativas decomercialização mais baixas do que no Varejãoda CEASAlMG . Unidade Grande BH, onde oproduto é adquirido do comerciante de origemou do produtor. Todos esses produtos, comexceção da cenoura, em vários meses,apresentaram preços mais baixos nos sacolôesem quase todo o período analisado. Issodemonstra que não há indicação de que asmargens relativas mais baixas praticadas pelossacoIões se devam à época de safra do produto.

Os supennercados, por sua vez,praticaram menores margens relativas para orepolho, a alface, a couve, a cebolinha e quasetodas as frutas.

Na verdade, as folhosas maisperecíveis funcionam apenas como um comple­mento nos sacolões, porque a quantidadecomercializada nesses estabelecimentos é re­duzida.

As menores margens relativaspraticadas pelos supermercados em relação àsfrutas advêm do prazo de pagamento obtido nanegociação com os atacadistas desses produtos.Essa vantagem dos supermercados na aquisiçãodas frutas é circunstancial porque estárelacionada à atual conjuntura inflacionária. Odesaparecimento da vantagem dossupermercados na aquisição das frutas podecondicioná-los a funcionarem com margensrelativas de comercialização mais próximas dossacolões.

No período 1990-92, o pepino, ochuchu, a moranga-híbrida, a mandioca, abatata-lisa, a cebola-amarela e o abacaxi foram

vendidos com pequena diferença de margensrelativas entre os aaeolões e supermercados.

As informações da pesquisa decampo associadas à análise do comportamentodas margens relativas de comercializaçãolevam a concluir que os supermercados, aosubstituírem a venda de produtos mais carospor outros mais baratos, para solucionar oproblema da perda do poder aquisitivo doconsumidor, estão fortalecendo as suas seçõesde hortigranjeiros, que paseam a asaumir maiorimportância nas vendas totais desses es­tabelecimentos.

A comercialização dehortigranjeiros no varejo da RMBH tende, pois,a ser conduzida pelo sistema de preço únicopara alguns produtos e a ser liderada peloseacolões, que permanecem ditando os preços nomercado varejista de hortigranjeiros.

Com relação aos rnarkupa, quenesse caso mensuram apenas a margem brutado varejo, observa-se que os produtosprovenientes das regiões mais pr6ximas de BeloHorizonte, especificamente as hortaliças-fruto ealguns tubérculos, apresentam markupssuperiores a 1000/0, o que não ocorrefreqüentemente com as frutas e tubérculos,como a batata-lisa e a cebola-amarela,provenientes de outras regiões e que sãointermediadas no mercado atacadista ou sãovendidas através de corretagem, como a batata­lisa. O. markups acima de 100% sugerem que ovarejista está incorporando ganhos com a dis­solução do mercado atacadista de legumes naCEASAlMG - Unidade Grande BH. Essaincorporação é também praticada pelossacolões, embora nesse caso não seja extensivaa todo o grupo das hortaliças- fruto etubérculos.

Há ainda alguns aspectos nofuncionamento do sistema de comercializaçãode hortigranjeiros na RMBH que precisam deser destacados. Em primeiro lugar, não ""iatecontrole de qualidade, e o mercado da RMBHprefere o preço mais barato em detrimento doproduto de melhor padrão. Desse modo, oscomerciantes varejistas e atacadistas não sepreocupam em reclassificar o produto quecostuma vir misturado dentro das caixas. Oprodutor deixa visível a parte superior dacaixa, chamada de 'boca de caixa", e esse é oúnico controle de qualidade praticado pelocomprador. As vezes, o comprador pede para

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abrir a caixa para vistoriar a mercadoriaquando não conhece o produtor. Em geral, essatransação é realizada na base da confiança.Como o consumidor não conhece a padroni­zação, o comerciante atacadista ou varejistapode vender o produto misturado a preço deproduto classificado.

Além disso, em todas as pilhasde caixas no MLP, observam-se caixas comdimensões fora do padrão estabelecido peloMinistério da Agricultura, Abastecimento eReforma Agrária (MAARA)8 Essa diferençasignifica dois quilos e meio a menos demercadoria. Naturalmente que esse prejuízo étransferido ao consumidor.

Isso ocorre porque o produtoradquire as caixas de madeira no comércio decaixas usadas que funciona nas imediações daCEASAlMG-Unidade BH. Para o produtor ocusto da caixa é bastante alto, podendorepresentar entre 1 a 40% do produto nelacontido. O produtor é obrigado a reformar ascaixas que, dessa fonna, perdem as suasdimensões originais reduzindo o volume doproduto nela contido.

Já os grandes consumidores,exigem um padrão de qualidade mínimo; nessecaso, o usual é pagar-se um adicional sobre opreço. Não há outra forma de se obter umproduto de qualidade. Desse modo, o boletim depreços da CEASAlMG - Unidade Grande BHfunciona apenas como uma referência, já que ospreços vigentes no mercado são estabelecidosno momento da traneaçãc.

Através do estudo docomportamento das variáveis condicionantes doprocesso de comercialização (preços equantidades comercializadas) pode-se percebercom maior clareza quais são os fatoresdetenninantes, bem como a influência dosagentes de comercialização na detenninação donivel de preços.

Em primeiro lugar, a análisedas equações de regressã09 , utilizadas paraverificar o comportamento dos preços em umperíodo, demonstrou que os preços reais rece-

8 Parlaria n· 306 de 27 d" dezembro de 1990

9 A tendência dOIl preçce roais é dada pela equação linear simpleeY :Il II + ht, onde y • prtlçOIl reais (varejo c atacado) c t= tempo, CID

meflP.!l

bidos pelos agricultores da CEASAlMGUnidade Grande BH e aqueles pagos pelosconsumidores encontram-se em processo dequeda para praticamente todos os produtos. Oestudo dos Índices de Preço Real tambémevidenciou que na maioria dos meses do ano ospreços dos bortigranjeiros no atacado e varejosão reajustados em valores inferiores àquelesutilizados para medir a inflação (por exemplo, olGP - DI, da Fundação Getúlio Vargas). Issosignifica que, no geral, os preços pagos pelosconsumidores no mercado varejista de BeloHorizonte e os recebidos pelos produtores, naCEASAlMG Unidade Grande BH sãoreajustados com índices inferiores aos dainflação, de onde se conclui que no períodoanalisado (l987-92) os produtos hortigranjeirosnão constituíram foco de pressão inflacionária.

Em segundo lugar, entre ostrinta produtos pesquisados, 18 apresentarammargens totais de comercialização comtendência decrescente. Todas as hortaliças­fruto e tubérculos, com exceção do inbame,algumas frutas e o repolbo-hfbrido (único entreas folbosas), apresentaram queda maixacentuada de preços no varejo, beneficiando osconsumidores. Então, em se tratando dessesprodutos, as maiores perdas em termos depreços reais ocorreram no segmento docomércio varejista.

Por outro lado, a maior partedas folbosas, algumas hortaliças-fruto, como ochuchu, jilõ e quiabo, bem como algumas frutase o inhame, num total de 11 produtos,apresentaram margens totais decomercialização com tendência crescente, issoporque os preços recebidos pelos horticultoresna CEASAlMG - Unidade Grande BH caemmais que proporcionalmente aos pagos pelosconsumidores. Nesse caso, parte da renda dosetor produtivo está aendo apropriada pelosagentes de comercialização.

Esta situação é maix gravequando ocorre com produtos típicos do pequenoprodutor, caracterizado nessa pesquisa comoaquele horticultor que produz pequenasquantidades e depende de intermediários pararealizar a comercialização. Esse pequenoprodutor está sendo duplamente penalizado,porque além das perdas decorrentes da quedado preço real do seu produto ele tem que arcarcom o custo da intennediação, cujas condiçõesquase sempre lhe são desfavoráveis.

Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, nO 2/3, maio/dez 1993 53

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A participação média doprodutor na formação do preço final do produtoé inferior à margem apropriada pelo varejistapara quase 50% dos produtos pesquisados. Estedado revela que o produtor, que assume todosos riscos e custos do plantio e ainda arca comtodas as despesas até a central decomercialização, recebe uma parcela menor doque aquela recebida pelos comerciantes. Ou, emoutras palavras, o comerciante varejistapratica, nesses casos, markups superiores a100%, principalmente quando se trata dosprodutos comercializados pelo produtordiretamente no MLP.

Nesse contexto, todos 08

produtores transferem renda para o segmentovarejista nas épocas de safra. Nesse período opreço recebido pelo produtor cai devido aoexcesso de oferta do produto, enquanto o preçopago pelos consumidores não se altera ou caiem menores proporções.

Existe, portanto, um padrão decomportamento estacionai para os preços re­cebidos pelos horticultores. Apesar disso, aoferta de hortigranjeiros não apresenta umpadrão estacionai com variações brueces, aponto de justificar as variações nos preços. Issofica demonstrado pelas baixas amplitudes dosíndices de variação estacionaI das quantidades,constatando, assim, que 8S quantidadescomercializadas são praticamente estáveis aolongo do ano. Desse modo, verifica-se grandediferença entre as amplitudes dos índices depreços e quantidades, para a maioria dosprodutos pesquisados.

A maior regularidade da oferta,se comparada ao comportamento dos preços, éatribuida aos avanços tecnológicos da pesquisaagropecuária, particularmente às técnicas deirrigação, de melhoramento genético dasplantas e àquelas que permitem a produção emambientes controlados artificialmente. Mas oque chama a atenção é o fato de os indices dospreços demonstrarem grande instabilidadedurante todo o ano. Este fato faz supor quepode estar bavendo uma forte influência dolado da demanda associada a um forte fatorespeculativo na formação dos preços.

Pelo lado da demanda, osdiferentes períodos do ano, bem como asvariações da renda do consumidor durante omês, influenciam a sua elevação ou retração,

Mas o que se observa naCEASAlMG - Unidade Grande BH, no MLP enas lojas atacadistas é que um mesmo produtoapresenta cotações diferentes durante o períodode um dia. Essas oscilações ocorrem, também,em função do mercado atacadista, onde oscomerciantes, com uma boa infra-estrutura decomunicação, têm condições de estabelecernegócios em outras praças. O comércioatacadista entre as unidades CEASA tem umpapel importante na regularização da oferta,possibilitando a transferência do produto entre8S centrais de abastecimento quando ocorreexcesso ou escassez do produto. Entretanto, oatacadista pode, ocasionalmente, intervir naformação dos preços de uma forma prejudicialao produtor regional reduzindo ou aumentandoa oferta no mercado, de modo a provocar umadiminuição do preço recebido pelo produtor, oumesmo causando um aumento de preço, nãoabsorvido pelo mercado. Os varejistas, por suavez, acompanham a sinalização do mercado; porisso, o placar de entrada de produtos naCEASAlMG - Unidade Grande BH, funcionacomo um balizador de mercado.

Em suma, o que se depreendeda análise anterior é que a comercialização dehortigranjeiros na RMBH, centralizada naCEASAlMG-Unidade Grande BH, proporcionaas vantagens da reunião da produção, isto é,ganbos de escala na comercialização. Alémdisso, o Mercado Livre do Produtor (MLP)constitui um espaço onde os preços sãodetenninados através da livre concorrênciaentre 08 vendedores.

A desarticulação do setoratacadista de legumes dentro da CEASAlMG­Unidade Grande BH é uma evidência de que ospreços são determinados no MLP.

Resta saber se os beneficios dalivre concorrência praticada no MLP sãotransferidos para o consumidor. Tendo-se emvista que não existe uma política de preços novarejo e que 8S margens de lucro apontadasnesse setor são muito altas, conclui-se queparte desses ganhos deva estar sendotransferida para o setor varejista.

Por outro lado, constatou-seatravés da pesquisa de campo que a aberturado espaço de comercialização para o produtornão foi suficiente para garantir sua presença noMLP. A grande parte dos produtores não temcondições de acesso ao mercado e necessita da

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intermediação. A inexistência de associações oucooperativas de produtores que atuem nacomercialização, somadas à carência deequipamentos ou programas alternativos deabastecimento deixa o produtor isolado, nadependência do intermediário.

Outro ponto detectado atravésda análise de comportamento dos preços equantidades é a instabilidade dos preços doshortigranjeiros frente a uma certa regularidadena oferta desses produtos. Isso pode serexplicado, em parte, devido à influência do ladoda demanda, mas supõe-se que existe um fortefator especulativo na formação dos preços.

Ora, a quantidade de produtoque entra na CEASNMG·Unidade Grande BHé um sinalizador de mercado. Como trata-se deprodutos altamente perecíveis, um excesso dequantidade vai fazer despencar os preços nodecorrer do dia. Desse modo, atacadistas evarejistas orientam o horário de suas comprasde acordo com o registro de entrada dosprodutos na CEASNMG-Unidade Grande BH.O produto sofre, então, várias oscilações depreços durante todo o período de compra,dependendo das expectativas do mercado.

Percebe-se, também, que osatacadistas têm um maior poder de atuaçãoporque podem comprar ou vender os produtosem outras praças ou, ainda, estabelecertransações entre si. É claro que, dependendo dovolume das transações, os atacadistas podem,ocasionalmente, interferir na formação dospreços de mercado.

A CEASNMG-Unidade GrandeBH não controla essa situação. Técnicos daEMATERlMG apontam esse problema comocausador do comprometimento da safra deprodutos regionais. Eles também afirmam que

5 REFERÊNCIASBmLIOGRÁFIcAS

1 AGUNE. A.C. Comercialização doo produtos horticolasna região metropolitana da Grande São Paulo,1971·79. São Paulo, 1982. l40p (Mestrado)·Escola deAdministração de Empreeaa de Silo Paulo, FundaçãoGetúlio Vargas.

2 CENSO DEMOGRÁFICO. 1991: Resultado. Prelímínaree.Rio de Janeiro: lBGE, 1992

a falta de controle dessa situação podecomprometer o êxito do programa de ProduçãoProgramada, realização da CEASNMG­Unidade Grande BH em conjunto com aEMATERlMG.

A solução indicada pelostécnicos da EMATERlMG seria ummapeamento da produção com a finalidade dapriorização de recebimento pela CEASNMG­Unidade Grande BH das safras regionais.

Existem, todavia, outrosproblemas de ordem geral que poderiam serfacilmente resolvidos pelo poder público. Umdeles é a questão da embalagem. Oshortigranjeiros, sendo produtos altamentepereciveis, necessitam de embalagens ajustadasao seu tamanho para não se machucarem notransporte e com ventilação adequada.

As embabgens utilizadasatualmente são caras para o produtor einadequadas para o comércio. O sistema devendas de embalagens usadas para reforma éprejudicial ao produtor e ao consumidor. Oprodutor paga caro, tem de reformar asembalagens que ficam inadequadas e o prejuizoda diferença que ocorre no peso dos produtos étransferido ao consumidor, isso sem mencionaro fato de que embalagens apropriadas irãopermitir uma melhor classificação e eeleção doproduto.

Sob esse aspecto, sabe-se quenão se pratica controle de qualidade nomercado. Desse modo, 08 comerciantes não sepreocupam em reclassificar o produto que vemmisturado nas caixas. Esse problema poderiaser facilmente resolvido com a divulgação dapadronização ao consumidor ou através daimplantação do selo de qualidade.

3 FUNDAÇÃO JOÃO PlNHEmo. Centro do EstudoaEconõmicoe. Rerião de planeJamento. Belo Horizonte,1992.

4 HOFFMANN, Rodolfo. Estatútlca para 8C!ODomlstaa. SãoPaulo: Pioneira, 1980. p. 340-349.

5 HOFFMANN, Rodolfo et alo Aclm1Jlbt:raç!Ão da empreaaagrícola. São Paulo: Pioneira. 1984

Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, n' 2/J, maio/dez. 1993 55

Page 14: OS PROBLEMAS DA COMERCIALIZAÇÃO DE … · REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE! ... isso, foram estabelecidos os fluxos de origem e destino dos produtos selecionados comercializados

6 mGE (RJ). Con.umo aUmentar: antropometrio. Rio deJaneiro, 1977/1978. (Estudo Nacional da DespesaFamiliar, v.l. Dados Preliminares, t. 1).

7 IPEA (DF). Programa de estudos em politica alrico1a,comercialização e abastecimento. Brasfiia. [198·].

6 MAlMON, Dalia. Avaliação das CEASAS anquanlD po1lticade Abastecimento. Conjuntura Alimentos. SA.o Paulo, v. 5,o. 2. p. 13 . 24, jun 1993.

9 MAlMON. D., GATTI, G. Avaliação das CEASAS. Rio deJaneiro: IPEA, Washington: Banco Mundial, 1993.

10 MALUF, Renato Sérgio. A1gumaa questões teórico­metodolórfcas no estudo da comerclaUzaçãoalricol.. CampinaaIUNICAMP, 1982

11 PELlANO, A.M.T.M. (Ccord.I O mapa da fome: subsldioee formulação de uma política de segurança alimentar.Brasl1ia: IPEA, 1993. <Doe. de Politica, 14).

12 PESQUISA DE ORÇAMENTOS FAMILIARES 1987198:Consumo Alimentar Domiciliar "Per Capite" - RegiõesMetropolitanllB, Brasilia . DF, Goilnia. Rio de Janeiro:mGE, n.2, 1987188.

13 PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DEDOM1CtLiOS - 1986: Brasil e Grande. Regiõe•. Rio deJaneiro:mGE,v. 10,t. I, 1988.

14 RAMALHO SOBRINHO, Ruben, CORREIA, Luiz Gome•.Manual de comercialização de fruta. e hortaUçaa.Belo Horizonte: EMATER - MG, 1991. 94p.

15 REIS, Antônio João dOB, MORAIS, Vander Azevado,SETTE, Ricardo de Souza. Comereiallzação agrico1a emarketlnrrural. Lavras: ESA1lFAEPE, 1991. 131p.

16 REZENDE, João Batista (Coord.I. _1"10 Propoamadade HortaUçaa e Frutu: DO Âmbito do Projeto Nov_FronteIrulCEASA-GO. Brasl1ia: Ministério daAgricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária,1992.109P.

17 SALLES, Julieta Teresa Aier de Oliveira.Comerc:lallzação de hortIrranJelroo Da CEASA •CamplDu. 1981·1990. Campinas, 1991. Te.. (Meotrado)• Universidade Estatual de Campinas UNlCAMP.

18 SÃo PAULO. Secretaria da AgTicuItura e Abastecimento doEstado de São Paulo. Coordenadoria de Abastecimento.Perfil doa hortil'"U'Jelroa comercializado. noeDtrepoiRo terminal de São Paulo. São Paulo, 1990

19 WEISS, J., RAMPONl, R. M. Uma avaliaçAo do llistama decomercialização de hortigranjeiroe.. Revbta deEcoDomia Rural, Brasâía, v. 19, n. I, 69~, janJmar.1981.

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