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OS PURITANOS Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800) Miguel de Araújo Proença Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos Outubro, 2015

OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

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OS PURITANOS

Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo

da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800)

Miguel de Araújo Proença

Dissertação de Mestrado em

História Moderna e dos Descobrimentos

Outubro, 2015

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção

do grau de Mestre em História Moderna e dos Descobrimentos, realizada sob a

orientação científica do Professor Doutor Jorge Pedreira

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Declaro que esta Dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e

independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão

devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

O Candidato,

Lisboa, 30 de Outubro de 2015

Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a

designar.

O Orientador,

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À avó

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Ag r a d e c i m e n t o s

- § -

À minha família - em especial à mãe - o meu mais sincero agradecimento pela presença

constante em todos os momentos da minha vida!

À Maria Guedes - a quem se deve, em muito, a apresentação deste trabalho - pelo apoio,

disponibilidade, paciência e graça, o meu muito obrigado!

Aos meus amigos, principalmente àqueles que mais saíram prejudicados com as minhas

ausências e afastamentos, agradeço o facto de serem os melhores do mundo e de não

terem desistido de mim, mesmo quando começaram a acreditar que eu já tinha desistido

deles (ou quando estavam simplesmente fartos de me ouvir falar dos Puritanos)!

Aos professores doutores Ana Isabel Buescu, Alexandra Pelúcia, Jorge Pedreira e Pedro

Cardim, o meu muito obrigado por tudo o que aprendi - e pela generosidade com que

foram partilhando o seu conhecimento comigo - nos seminários no âmbito do Mestrado

em História Moderna e dos Descobrimentos.

Last but not least (and again...), ao orientador do presente trabalho, o Professor Doutor

Jorge Pedreira, que me apresentou os Puritanos e aceitou acompanhar-me neste grande e

desafiante projecto, deixo o meu mais profundo agradecimento.

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OS PURITANOS

Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo

da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800)

THE PORTUGUESE PURITANS

Origin, identification, social reproduction and decline o f a

Portuguese Aristocracy group from the Ancien Régime (1630-1800)

Miguel de Araújo Proença

RESUMO

A presente dissertação tem como objectivo a produção de uma base historiográfica sobre

o grupo dos Puritanos em Portugal, capaz de explicar o enquadramento da sua origem na

sociedade do Antigo Regime, identificar os seus membros e a sua forma de reprodução

social e, por fim, o seu declínio, tanto enquanto grupo social, como ao nível do seu

discurso, apresentando como exemplo a Casa aristocrática, reputada como puritana, dos

marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior.

O período de análise sobre o qual incidirá esta dissertação está compreendido entre o ano

de criação da Confraria (de Nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da

Freguesia de Santa Engrácia, 1630, e o ano de 1800, último ano do século XVIII.

PALAVRAS-CHAVE: Puritanos; Aristocracia; Limpeza de sangue; Antigo Regime

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a b s t r a c t

This dissertation aims to create an historiographical basis to the study of the Portuguese

Puritans’ group, in order to explain its origins in the Portuguese Ancien Régime society,

who were its members and its social reproduction model, and, finally, its decline, not only

at a social group level but also in terms of discourse, presenting as an example the

Portuguese aristocratic house of the marquises of Alegrete, counts of Vilar Maior.

The period of analysis is comprehended between the year of the creation of Santa

Engrácia Parish’s Brotherhood (of nobility) of the Slaves of the Blesses Sacrament

(1630), and 1800, the last year of the 18th century.

KEYWORDS: Portuguese Puritans; Aristocracy; Cleanliness of blood; Ancien Régime

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ÍNDICE

- § -

In t r o d u ç ã o ............................................................................................................................1

Preâmbulo............................................................................................................................1

Abordagem metodológica.................................................................................................. 4

Fontes...................................................................................................................................8

Estado da Arte................................................................................................................... 12

Pa r t e 1 - Co m p o s iç ã o d o Lu g a r .....................................................................................17

1. O Rei: o epicentro do poder.......................................................................................17

2. Os cortesãos: os títulos e os ofícios maiores da Casa R eal....................................22

3. Os puritanismos: o sangue e as nobrezas................................................................ 29

4. A classe provável dos Puritanos.............................................................................. 36

Pa r t e 2 - Os PURITANOS..................................................................................................... 43

1. O Alvará Puritano..................................................................................................... 43

2. O Relatório do Monsieur de Torcy...........................................................................49

3. A dignidade real..........................................................................................................54

4. Proposta de identificação de um grupo................................................................... 62

5. O Modelo de reprodução social................................................................................ 71

6. As inconsistências e incoerências............................................................................ 79

7. O Processo dos Távoras ou o engano puritano....................................................... 86

8. Alguns contributos..................................................................................................... 92

Pa r t e 3 - Um a f a m í l i a PURITANA: o s M o u r a r ia s ............................................................ 99

1. A Casa “imaginada” dos Mourarias.........................................................................99

2. A Mouraria dos Cunhas..........................................................................................104

3. A Mouraria dos Alegretes.......................................................................................108

4. A reprodução social dos Mourarias.......................................................................114

Co n c l u s õ e s e De s a f io s ....................................................................................................119

Fo n t e s e Bib l io g r a f ia .....................................................................................................125

ANEXOS.............................................................................................................................. 139

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Li s t a d e Ab r e v i a t u r a s

- § -

ANTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo

BNF - Bibliothèque Nationale de France

BNP - Biblioteca Nacional de Portugal

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Na última aula de História do ano, o Velho Joe Hunt,

que conduzira os alunos letárgicos por Tudors e

Stuarts, vitorianos e eduardinos, pelo Nascimento do

Império e o seu Subsequente Declínio, convidou-nos

a olhar para trás, para todos aqueles séculos e tentar

tirar conclusões.

«Talvez possamos começar com a pergunta

aparentemente simples: O que é a História? Alguma

ideia, Webster?»

«A História são as mentiras dos vencedores»,

respondi com demasiada rapidez.

«Pois, receava que o dissesse. Sim, desde que se

lembre de que são também as ilusões dos vencidos.

[■■■]«Finn!»

« “A História é essa certeza que se produz no ponto

em que as imperfeições da memória se cruzam com

as insuficiências da documentação. "»

Julian Barnes, O sentido do fim

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INTRODUÇÃO

- § -

Preâmbulo

E não póde haver duvida para aquella conta, de que

havemos precisamente de descender de quantos

naquelle tempo havia em Portugal, e de muitos

Estrangeiros. Agora se todos elles erão puros, tem

muita rasão os Puritanos; mas como naquelle tempo

não havia Santo Officio, nem Mesa de Consciencia,

não sei quem nos hade passar essas certidões? O

certo é que no principio do nosso Reino havia Mouros

convertidos, havia Christãos, e havia Judeos 1

Num dos raros retratos da família real que saem fora da propaganda política que

marcou o período do Antigo Regime em Portugal - intimamente ligada à consolidação

do poder real, numa primeira fase relacionada com a legitimação da dinastia brigantina e

numa segunda com a necessidade de afirmação do poder da coroa face aos demais poderes

da sociedade portuguesa - podemos observar o rei D. João V a ser servido de uma chávena

de chocolate quente pelo infante D. Miguel, seu meio-irmão e 1.° marquês de Arronches,

numa composição onde se identificam mais cinco personagens, incluindo o próprio

pintor2 . Transformada numa fonte de grande interesse histórico pela recente historiografia

que reclama a inexistência de retratos artísticos sobre cenas de costumes de época com

personagens reais, tão importantes ao recente ramo da história que se centra,

precisamente, no estudo do quotidiano e da vida privada, versando sobre assuntos tão

vastos e diferentes como a sociabilização, a infância ou a alimentação, esta miniatura

1 Alexandre de Gusmão, Collecção de varios escritos ineditos politicos e literários. Porto: Na Typografya de Faria Guimarães, 1841, p. 83.2 Veja-se o Anexo 1 à presente Dissertação.

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Os Puritanos

produzida por Alessandro Castriotto, em 1720, em óleo sobre marfim, desafia-nos

também a questionar quem seriam estes homens aceites na mais exclusiva esfera privada

dos reis. Se é certo que grande parte dos validos e ministros deste período foram já muito

estudados, como o conde de Castelo Melhor ou, e até o melhor exemplo, o marquês de

Pombal, a verdade é que a grande maioria dos homens que influenciaram práticas e

políticas durante o Antigo Regime continuam a ser de conhecimento exclusivo de todos

quantos se debruçam sobre este período específico da história de Portugal, com nomes

que não ficaram gravados na memória colectiva de um povo, mas que foram sobejamente

conhecidos e reconhecidos pelos seus contemporâneos. Nesta cena específica, para além

dos já referidos rei e marquês de Arronches, o qual se supõe estar acompanhado do seu

filho D. Pedro Henrique de Bragança que viria mais tarde a ser o 1.° duque de Lafões, o

rei faz-se acompanhar do 1.° marquês de Angeja e do 2.° marquês de Alegrete, para além

de um clérigo, o Padre Chevalier, preceptor da criança e confessor da família real.

Não será assim de estranhar que tenhamos querido começar esta dissertação com

esta imagem que é tão rara como, no que respeita ao estudo dos Puritanos, provocadora,

uma vez que as Casas de Lafões/ Arronches, Angeja e Alegrete se encontravam no restrito

grupo da aristocracia reputado por puritano, aumentando assim o interesse, como

referido, de os encontrarmos também no restrito grupo que privava com o rei, um facto

que longe de representar uma coincidência, vem confirmar o interesse do estudo deste

grupo enquanto detentor de influência junto do rei e, através dele, das principais estruturas

do aparelho governativo do reino.

Mas como tantas outras histórias de que se compõe a História, também a realidade

dos Puritanos portugueses, adjectivo que importa introduzir para que a confusão com os

seus homónimos ingleses seja evitada, não foi pública o suficiente para ficar perpetuada

nos anais da história, contribuindo mais para o seu estudo a sua extinção do que a sua

criação.

Assim, em 5 de Outubro de 1768 o rei D. José, através do seu valido Sebastião

José de Carvalho e Melo, então conde de Oeiras, faz aprovar um Alvará que pela sua

natureza se revestiu de um carácter secretíssimo, não passando «a Tribunal algum, nem á

Chancellaria», antes ficando «occulto nos lugares mais recônditos dos Archivos do

Conselho de Estado, e da Secretaria de Estado, dos quaes não sahirá, nem se comunicará

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Introdução

a pessoa alguma, que não seja das que nelle se achão declaradas»3, cujo objectivo era pôr

fim à pretensão puritana de algumas famílias da nobreza portuguesa materializada num

esquema de reprodução social exclusivo e sectário que, na opinião do monarca, criava no

seio da sua nobreza «sedições, e discordias»4, algo que, enquanto «Protector da mesma

Nobreza»5, não considerava ser aceitável.

Este Alvará, em conjunto com o Parecer do Conselho de Estado e com a Consulta

da Mesa do Desembargo do Paço que o precederam, datados, respectivamente, de 3 de

Outubro e de 23 de Setembro de 1768, constitui uma fonte ímpar sobre a história deste

grupo da aristocracia portuguesa, que terá sido instituído pela alteração dos estatutos da

Confraria (da nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa

Engrácia em 20 de Dezembro de 1663. Esta fora criada para expiar o desacato ao

Santíssimo Sacramento ocorrido na Igreja da mesma freguesia, em 19 de Maio de 1630,

o primeiro de vários registados em Lisboa no século XVII e que se mostraram capazes de

confirmar o crescendo do sentimento anti-judaico experimentado pela sociedade

portuguesa do Antigo Regime6.

Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos

entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

josefina como principal objectivo acabar com a distinção - na primeira nobreza da Corte

portuguesa - que esta prática promovia, forçando os herdeiros das casas ditas puritanas

a realizar casamentos fora do grupo, mantendo inalterado o principio regalista de que

seria o rei «a unica fonte de Nobreza da qual sómente podem emanar as honras, as

graduações, e as qualificações para os seus Vassalos»7.

Apesar de a historiografia mais recente já referir, com alguma frequência, a

existência deste grupo8, a verdade é que não existe qualquer estudo sistemático do mesmo

que possa servir de ponto de partida para todos os que, no futuro, desejem aprofundar este

tema, tanto segundo uma perspectiva de relações clientelares capazes de produzir

impactos ao nível das políticas seguidas pelo governo central, como segundo uma

3 António Delgado da Delgado (org.), Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza (Anno de 1763 a 1790). Lisboa: Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, p. 184.4 Ibidem, p. 181.5 Ibidem, p. 183.6 Avaliado, entre outros, pelas numerosas obras de cariz anti-judaico publicadas em Portugal nesse tempo, cf. Jorge Martins, O Senhor Roubado. A Inquisição e a Questão Judaica. Lisboa: Europress, 2002, pp. 33­34.7 Ibidem, p. 189.8 Vejam-se os exemplos descritos no Estado da Arte da presente dissertação.

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Os Puritanos

perspectiva de análise das estruturas sociais do Antigo Regime que assentam, em grande

parte, no pressuposto da afirmação de uma aristocracia sólida e cristalizada9 , que a

identificação do grupo dos Puritanos pode vir questionar, sugerindo antes a existência de

uma aristocracia dividida, muito susceptível a rumores capazes de produzir, no seu seio,

distinções não oficiais, mas fracturantes.

A presente dissertação tem como obj ectivo a produção de uma base historiográfica

sobre o grupo dos Puritanos católicos em Portugal, capaz de explicar o enquadramento

da sua origem na sociedade do Antigo Regime, identificar os seus membros e a sua forma

de reprodução social e, por fim, o seu declínio, tanto enquanto grupo social como ao nível

do seu discurso. O período de análise sobre o qual incidirá esta dissertação está

compreendido entre o ano de criação da Confraria (de Nobreza) dos Escravos do

Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Engrácia, 1630, e o ano de 1800, último

ano do século XVIII.

Abordagem metodológica

Pode-se assim representar o mundo social em forma

de um espaço (a várias dimensões) contruído na base

de princípios de diferenciação ou de distribuição

constituídos pelo conjunto das propriedades que

actuam no universo social considerado, quer dizer,

apropriadas a conferir, ao detentor delas, força ou

poder neste universo.10

Propomos, então, a divisão da presente dissertação em três partes: uma primeira

dedicada ao estudo do nascimento na sociedade portuguesa de uma consciência e discurso

puritanos capazes de criar uma identidade materializada num grupo social; uma segunda

contendo uma proposta de identificação desse grupo, centrando-se nos critérios de

9 Termo utilizado por Nuno Gonçalo Monteiro para justificar, no período em análise, a manutenção do número de casas titulares na ordem da meia centena, in Elites e Poder: entre o Antigo Regime e o Liberalismo. Lisboa: ICS - Imprensa de Ciências Sociais, 2012, pp. 86.10 Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 136.

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Introdução

pertença que encontramos nas fontes coevas, bem como nos casamentos que o mesmo

realiza e na forma como estes confirmam, ou não, a existência de um ideal puritano; e,

finalmente, uma terceira parte que incidirá sobre estudo de uma das mais reputadas casas

puritanas, os Mourarias - a Casa dos marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior -,

por forma a tentar comprovar, para uma casa aristocrática portuguesa específica, o reflexo

de uma realidade puritana no discurso dos seus membros e, se possível, no seu acesso

aos mais elevados cargos e ofício de governo do reino.

São recorrentes as referências à complexidade e multidimensionalidade das

perspectivas de análise na construção de uma abordagem historiográfica capaz de

reproduzir, com exactidão, outros tempos e culturas. No caso particular do estudo dos

Puritanos, a complexidade advém directamente da sua origem estar intimamente

relacionada com a intersecção de várias dimensões da realidade social do Antigo Regime,

algumas destas amplamente estudadas. De facto, não se poderá falar de um único e

exclusivo processo de construção de um grupo social, antes de uma multiplicidade de

processos, não directamente relacionados, capazes de criar, dentro do grupo em

construção, uma consciência promotora de distinções e hierarquias internas, paralelas às

próprias ordenações régias, e, muitas vezes, mais eficazes na atribuição de capital

simbólico e social aos seus principais agentes, Na análise destes processo, adoptaremos

como orientação a proposta teórica apresentada por Bourdieu11.

Na primeira parte da dissertação tentaremos perceber o momento, ou momentos,

em que esta consciência puritana começou a revelar-se capaz de produzir efeitos ao nível

da alteração das classificações sociais não oficiais, sabendo que tal resultou,

principalmente, de três processos distintos: a curialização da nobreza; o Édito de

Expulsão e o consequente baptismo de milhares de judeus com vista ao pontual

cumprimento do mesmo; e a generalização dos estatutos de limpeza de nobreza e de

sangue nas principais instituições e corporações do Antigo Regime, enquanto

consequência dos dois pontos anteriores. Assumimos, então, que o processo de

curialização - ou domesticação - da nobreza acabou por promover no seu seio uma

necessidade de produção de critérios de distinção capazes de salvaguardar a sua

autonomia face a um poder régio que alargava o seu campo de acção, assumindo-se o rei

11 Ibidem, nomeadamente pp. 135-161.

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Os Puritanos

já não como um primus inter pares, mas antes como um senhor dos senhores12.

Assumimos igualmente que o clima de desconfiança vivido na sociedade portuguesa,

assente em rumores, provocado por um processo ineficaz de conversão dos judeus

baptizados, acabou por possibilitar a introdução de um critério eficaz de distinção entre

as antigas linhagens (fidalguia), que ganham um novo fôlego depois da Restauração, e a

nobreza titular nascida dos serviços prestados no primeiro grande momento dos

Descobrimentos Portugueses, permitindo-nos questionar se uma consciência puritana13

não poderia também ser considerada uma consciência identitária portuguesa, por

oposição a uma estrangeira, como é sugerido por, entre outros, Alexandre de Gusmão14.

A segunda parte da dissertação centrar-se-á, então, na tentativa de identificação

deste grupo, tendo como ponto de partida a única fonte que tenta sistematizar a origem e

fundamento do puritanismo dos principais protagonistas da Corte portuguesa de finais do

século XVII15, testando-a e percebendo a sua aderência à realidade que pretende relatar,

confrontando-a, nomeadamente, com outras fontes coevas. Deste modo, procurar-se-á

identificar um ou mais critérios para a definição e avaliação do nível de adesão ao

puritanismo de uma determinada casa aristocrática. Além dos titulares, incluiremos os

detentores dos ofícios maiores (ou mores) da Casa Real, tantas vezes excluídos das

análises do grupo da aristocracia não obstante a clara assunção do ofício maior palatino

como um título nobiliárquico de uma casa, juntos comummente designados Primeira

Nobreza de Corte16. Definido o grupo sobre o qual incidirá a análise, procederemos ao

estudo dos casamentos que realizaram, testando se o facto pelo qual se tornaram

conhecidos, o de apenas casarem dentro do grupo, pode ser considerado verdadeiro. Por

fim, tentaremos concluir sobre a existência ou não de uma consciência puritana neste

12 José Adelino Maltez, «O Estado e as Instituições». In João José Alves Dias (coord.), «Do Renascimento à Crise Dinástica», vol. V da Nova História de Portugal (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques). Lisboa: Editorial Presença, 1998, p. 386.13 Termo também sugerido por Nuno Gonçalo Monteiro, in O Crepúsculo dos Grandes: A casa e o património da aristocracia em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003, p. 141.14 In Collecção..., «Juízo, e calculo em geral sobre a Genealogia dos que erão tidos por Puritanos; pelo qual fica destruida a errada opinião, que elles concebião da absoluta desinfectação de parentesco dos seus ascendentes com os Judeos», pp. 81-85.15 Referimo-nos ao Relatório do Monsieur de Torcy, de 1684. Joaquim Veríssimo Serrão, Uma Relação do reino de Portugal em 1684. Coimbra: [s.n.], 1960.16 Tanto pela transmissão, como pela dignidade que conferia. Refira-se, a título de exemplo, o esforço encetado pelo duque de Cadaval D. Nuno para que o seu filho, D. Jaime, fosse nomeado estribeiro-mor e a forma como este ofício palatino foi incorporado na própria designação do duque novo que passou, nomeadamente, a assinar duque estribeiro-mor.

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Introdução

grupo da aristocracia portuguesa, identificando tanto as suas características, como as suas

inconsistências e incoerências.

Por fim, na terceira parte da dissertação, analisaremos a casa dos marqueses de

Alegrete, condes de Vilar Maior, também conhecidos como os Mourarias, com um

especial enfoque na sua influência durante o período em análise, nomeadamente através

da identificação dos principais cargos e ofícios que os seus membros ocupavam, tentando

identificar a existência de um discurso puritano e o seu reflexo na realidade desta Casa

aristocrática portuguesa. A escolha desta Casa, como exemplo, deve-se, por um lado, ao

peso que a Mouraria assume na definição simbólica do grupo dos Puritanos11, e por

outro, devido às conclusões a que chegou Nuno Monteiro relativamente às casas mais

procuradas pela aristocracia portuguesa para casamento dos seus filhos, no qual a casa

dos marqueses de Alegrete ocupa uma posição cimeira dentro do que designou o pólo

puritano18.

Importa ainda, por fim, referir um conceito ao qual faremos inúmeras e recorrentes

menções ao longo desta dissertação: o conceito de Casa, sempre escrita com letra

maiúscula para que seja entendida na sua dimensão nobiliárquica, ou seja, enquanto

habitat de uma família19, identificável «pela posse de certos bens vinculados, de uma

comenda, de um senhorio, de um ofício palatino e/ ou de um título nobiliárquico»20, que

surge, no Antigo Regime, «como uma entidade institucional e simbolicamente

consagrada, cuja reprodução repousava em mecanismos de autoridade e em noções de

dever»21, conceito essencial na tentativa de perscrutar um ideal subjacente a uma

dimensão puritana das políticas de reprodução social das Casas aristocráticas

portuguesas.

17 No já citado compêndio legislativo referente aos Puritanos, o único nome referido como estando por detrás da formação do grupo é o do jesuíta Nuno da Cunha que «governava a casa da Mouraria [...] e tinha ao mesmo tempo na Corte, e no Santo Ofício a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa», sendo ainda irmão de D. Mariana de Mendonça, casada com o primeiro conde de Vilar Maior, e «um dos padres que mais autorizaram por êsse tempo a Companhia de Jesus em Portugal». Assim, parece-nos razoável assumir o peso que a Mouraria assume na própria definição simbólica do grupo, uma casa incluída no dote de D. Mariana de Mendonça aquando do seu casamento, que passou a ser a residência dos marqueses de Alegrete, motivo pelo qual passaram a ser conhecidos como os “Mourarias”, in António Delgado da Silva (org.), Supplemento..., p. 188.18 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.19 Norbert Elias, A Sociedade de Corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1995, pp. 19-40.20 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 86.21 Ibidem, p. 99.

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Os Puritanos

Fontes

Meu irmão do meu coração. Principio a escrever-vos

de mão alhea porque vos assim mo mandaes para

poderdes entender o que vos digo, e eu tambem

reconheço que a minha letra se vai pondo tão ma

como me da a entender a fraqueza que sinto no

braço22

A realidade dos Puritanos, por estar intimamente relacionada com um aspecto

mais privado das políticas de reprodução social das Casas aristocráticas portuguesas,

apesar de, como veremos, se encontrar enformado por uma adesão a um ideal puritano

indiscutivelmente presente na sociedade portuguesa, ainda que não praticado de uma

forma tão radical, escapa à maior parte da documentação oficial do período ao qual se

refere. Aliás, uma das grandes dificuldades encontradas prende-se, justamente, com a

datação do início da utilização do termo Puritanos para descrever este grupo da

aristocracia portuguesa, sendo, no entanto, claro o facto de este termo não poder ser

considerado de índole oficial23 uma vez que não o encontramos definido, por exemplo,

no Vocabulario Portuguez e L a tino ., de 1720, do Pe. Raphael Bluteau24 O texto do

Alvará2 5 reflecte a opinião de D. Luís da Cunha que atribui a utilização do termo aos

próprios, confessando não saber «como familias tão catholicas, quais são as de que quero

falar tomassem o nome que o usurpador de Inglaterra, digo Oliver Cromwel deo de

puritanos aos que seguirão a sua infame seita»26. De qualquer forma, as fontes mais

22 BNP, Arquivo Tarouca, 163, Carta de 11 de Setembro de 1730 do 2.° marquês de Alegrete, Fernando Teles da Silva, ao seu irmão João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento.23 O próprio compêndio de legislação relativo ao tema refere que «impuzerão o nome de Puritanismo», in António Delgado da Silva (org.), Supplemento., p. 187.24 A referência a «Puritânio», no entanto, existe como sendo «o nome de certos Calviniitas de Inglaterra, os quaes pretendem que a doutrina que profeiiaõ he a verdadeyra, & pura doutrina. Os Puritânos saõ inimigos mortaes dos Catholicos», in Raphael Bluteau, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatomico, comico, critico, chimico, dogmatico, dialetico,., & Autorizado com exemplos dos melhores excriptores portuguezes, e latinos; e offerecido a elrey de Portugal D. João V. Lisboa: Na Officina de Pascoal da Sylva, 1720, p. 834.25 António Delgado da Silva (org.), Supplemento., pp. 182 e 187.26 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas de D. Luís da Cunha e Marco António de Azevedo Coutinho (prefácio de António Baião). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1930, p. 198.

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Introdução

antigas27 que referem a existência de um grupo denominado Puritanos, na sociedade

portuguesa, datam do início do século XVIII, nomeadamente pela mão de D. Luís da

Cunha (1662-1749), Alexandre de Gusmão (1695-1753) e de Frei João de S. José de

Queiroz (1711-1764), seguindo a cronologia do seu nascimento28.

No entanto, a mais completa fonte documental que nos apresenta este grupo, ainda

apenas enquanto «maisons que n’ont point de desfauts et qui’ls appellent limpas»29, é

Uma Relação do reino de Portugal em 1684, cuja autoria foi inicialmente atribuída ao

conde de La Vauguyon, sendo posteriormente proposto, por Joaquim Veríssimo Serrão,

Jean-Baptiste Colbert (1665-1746), marquês de Torcy - de apenas 20 anos e sobrinho do

seu homónimo e promotor da doutrina mercantilista - como seu verdadeiro autor. A este

documento dedicaremos um ponto da presente Dissertação (Parte 2 - Ponto 2),

cumprindo-nos salientar apenas a inexistência de uma referência ao nome Puritanos, que

julgamos ser posterior.

Este facto é também confirmado pelos relatos de estrangeiros que passaram por

Portugal, que assumem uma importância preponderante na prossecução do objectivo

desta dissertação dado que possibilitam perceber a imagem que o ideal, aqui também

materializado num ideário, puritano, deixou nestes homens e mulheres habituados a

outros credos e culturas30.

27 E também de referência, como encontramos menção em Diogo Ramada Curto, «As Práticas de Escrita». In Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri (dir.), História da Expansão Portuguesa, Volume 3, O Brasil na Balança do Império (1697-1808). Lisboa: Circulo de Leitores, 1998, p. 458.28 Referimo-nos às seguintes fontes: D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas.; Alexandre de Gusmão, Collecção.; e Camilo Castelo Branco (introdução e notas), Memorias de Fr. João de S. Joseph Queiroz. Porto: Typographia da Livraria Nacional, 1868.29 SERRÃO, Joaquim Veríssimo (ed.) - Uma R elação ., p. 78.30 Baseámo-nos nos relatos dos estrangeiros publicados, tanto ao género de livros de viagens, como epistolar, bem como em alguns trabalhos sobre a estadia de estrangeiros em Portugal, dos quais salientamos as seguintes obras: Arthur William Costigan, Retratos de Portugal. Sociedade e Costumes (tradução, prefácio e notas pode Augusto Reis Machado). Lisboa: Caleidoscópio, 2007; Marquis de Bombelles, Journal d'un Ambassadeur de France au Portugal, 1786-1788 (edition etablie, anotee et precedee d’une introduction par Roger Kann). Paris: Presses Universitaires de France, 1979; Carla Sofia Veríssimo da Costa, O património português visto pelos viajantes estrangeiros na 2.a metade do século XVIII. Lisboa: [s.n.], 2004. Dissertação de Mestrado; Castelo Branco Chaves (Apresentação, Tradução e notas) - Portugal nos séculos XVII & XVIII. Quatro Testemunhos. Lisboa: Lisóptima, 1989; Idem (Tradução, prefácio e notas), O Portugal de D. João V visto por três forasteiros, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1983; Charles Dumouriez, O Reino de Portugal em 1766. Lisboa: Caleidoscópio, 2007; Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal (traduzidas, prefaciadas e anotadas por Maria Eugénia de Montalvão Freitas Ponce de Leão). Coimbra: Imprensa de Coimbra, 1970; Thomas Cox e Cox Macro, Relação do Reino de Portugal (1701). Lisboa: Biblioteca Nacional, 2007; Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o País nos anos de 1765 a 1767 (tradução, prefácio e notas de Castelo-Branco Chaves). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989; Jacome Ratton, Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal de Maio de 1747 a Setembro de 1810. Lisboa: Fenda Edições, 2007; James Murphy, Viagens em Portugal (tradução, prefácio e notas de Castelo Branco Chaves). Lisboa: Livros Horizonte, 1988; Johan Brelin, De passagem pelo Brasil e

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Os Puritanos

Em relação à análise dos relatos e correspondência de estrangeiros - duas fontes

essenciais para uma mais cuidada análise de como eram vistos os portugueses, as suas

tradições e os seus costumes - são necessários cuidados acrescidos. Lembra-nos Castelo

Branco Chaves a importância que deverá ser dada, nesses relatos, aos motivos da sua

estada em Portugal enquanto forma de perceber a aderência do relatado à realidade,

sujeitando-os «a análise e a crítica», assumindo que muito do contido nesses relatos

poderia ser «propositadamente mentido»31. Já a correspondência enviada por

estrangeiros, de Portugal, que enquanto fonte histórica, e como refere Monteiro, «fornece

considerações apreciáveis»32, não devemos esquecer que levanta sempre inúmeras

dúvidas próprias do género epistolar em que se insere, sendo a questão mais discutida se

o destinatário seria assumido como o seu leitor último, ou se a escrita se dirigiria a um

público mais vasto, condicionando as referências a um carácter mais íntimo - e da esfera

do privado - da carta que as tenções e constrangimentos criados pela vivência de uma

Corte marcada por um constante escrutínio público de todas as acções veio promover33.

Esta será também a realidade das fontes biográficas e epistolares escritas por

portugueses. Numa das cartas enviadas ao seu marido, o morgado de Mateus que se

encontrava no Brasil, D. Leonor de Portugal refere que «me parece que se não venho, isto

digo só a Dom Luís (rasgue esta logo), se não efectuava o casamento»34, o que nos

evidencia uma importante característica deste tipo de fontes: até que ponto não estaremos

na presença de uma forma de construção de memória história, reconhecendo apenas a

história que os seus autores quiseram perpetuar, rasgando assim dos anais da História os

factos tal como os verdadeiramente observavam?

Portugal em 1756por Johan Brelin (tradução do original sueco por Carlos Pericão de Almeida e introdução e comentário de Nils Hedberg). Lisboa: «Casa Portuguesa», 1955; Heinrich Friedrich Link, Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha (tradução, introdução e notas de Fernando Clara). Lisboa: Biblioteca Nacional, 2005; Pietro Francesco Viganego - Ao serviço secreto da França na Corte de D. João V (introdução, tradução e notas de Fernando de Morais do Rosário e prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão). Lisboa: Lisóptima Edições - Biblioteca Nacional, 1994; William Beckford - Diário de William Beckford em Portugal e Espanha (introdução e notas de Boyd Alexander e tradução e prefácio de João Gaspar Simões). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1983; Edgar Prestage - «Memórias sôbre Portugal no reinado de D. Pedro II». In Separata do Arquivo Histórico de Portugal, Lisboa, 1935.31 Castelo Branco Chaves, Os livros de viagens em Portugal no Século XVIII e a sua projecção europeia. Lisboa: Biblioteca Breve - Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987, p. 13.32 Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e senhor muito do meu coração. Lisboa: ICS-Quetzal Editores, 2000,p. 11.33 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de Siescentos». In Tempo: Rio de Janeiro, n. 13, [s.n.], p. 160.34 Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas) - Nem o Tempo nem a Distância. Correspondência entre o 4.°Morgado de Mateus e sua mulher, D. Leonor de Portugal (1757-1798). Lisboa: Alêtheia Editores, 2007, p. 293.

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Introdução

Para a presente dissertação, as fontes com maior peso na reconstrução de uma

mentalidade que nem sempre se configura intuitiva aos nossos olhos, foram as

correspondências manuscritas do marquês de Alegrete35 e do conde de Tarouca36 que se

encontram no Arquivo Tarouca, na Biblioteca Nacional, e as publicadas do cavaleiro de

Oliveira37, bem como as Memórias Históricas de Tristão da Cunha e Ataíde, 1. ° Conde

de Povolide, esta já uma fonte de referência para quem pretende estudar os reinados de

D. Pedro II e D. João V38.

Uma das maiores limitações que sentimos relativamente às fontes manuscritas foi

a qualidade da caligrafia. Nos 23 volumes de correspondência do marquês de Alegrete

para o seu irmão, o conde de Tarouca, relativos ao período de 1710-1733, foram muitos

os momentos em que nos deparámos com folhas inundadas de palavras imperceptíveis.

Se o desabafo do marquês ao irmão, de 11 de Setembro de 1730, citado em epígrafe,

permite uma documentação factual desta dificuldade, a riqueza dos temas tratados e das

opiniões defendidas alimentam a frustração das limitações que sentimos na sua análise.

Por fim, cumpre-nos ainda referir o compêndio de legislação josefino/ pombalino

de 1768. Também lhe dedicaremos um ponto nesta dissertação (Parte 2, Ponto 2),

relevando apenas aqui a referência à origem das três versões que encontrámos

disponíveis. A primeira, e que seguimos neste trabalho, é o Supplemento á Collecção de

Legislação Portugueza (Anno de 1763 a 1790), de António Delgado da Silva39,

enquadrando este, desde logo, o carácter secretíssimo de que foi revestido, não podendo,

por isso, ser encontrado no corpo principal da mesma Collecção4 0 . As outras duas versões,

cópias manuscritas, poderão ser encontradas tanto na Biblioteca Nacional de Portugal41,

como no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no arquivo dos condes de Linhares42. A

primeira, julgamos tratar-se de uma cópia da segunda, dado que é um acervo documental,

35 BNP, Arquivo Tarouca, 163, 23 volumes.36 BNP, Arquivo Tarouca, 270.37 Consultámos Cavaleiro de Oliveira, Cartas Familiares, Historicas, Politicas, e Criticas. Discursos Serios e Jocosos, Tomos I e II. Lisboa: Typographia de Silva, 1855; e, Cartas inéditas (1739-1741). Coimbra: publicadas por A. Gonçalves Rodrigues, 1942.38 Tristão da Cunha de Ataíde, 1 ° Conde de Povolide, Portugal, Lisboa e a Corte nos Reinados de D. Pedro II e D. João V. Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde, 1. ° Conde de Povolide (introdução de António Vasconcelos de Saldanha e Carmen M. Radulet). Lisboa: Chaves Ferreira - Publicações, S.A., 199039 António Delgado da Silva (org.) - Supplemento.40 António Delgado da Silva (org.) - Collecção da Legislação Portugueza desde a última Compilação das Ordenações. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828.41 BNP, COD. 6937, fols. 1-15.42 ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, docs. 1-4.

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Os Puritanos

com o nome Puritanismo (incluindo também a legislação de 1773 que consagra o fim da

distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos), cujos 10 documentos correspondem aos

dez primeiros documentos que encontramos no arquivo dos Condes de Linhares, este

representando um compêndio de leis bem mais extenso43.

Estado da Arte

A tarefa das ciências humanas é explicar o social

complexificando-o e não simplificando-o através de

abstracções, enriquecendo-o de significações

actualizadas pelo labirinto indefinido das relações. E

preciso distinguir e classificar, sem dúvida; mas a

taxinomia tende antes de mais para a reunião e o

melhor ponto de vista é sempre aquele que permite

confrontar o maior número de fenómenos.44

No que diz respeito ao Estado da Arte, à excepção de Nuno Gonçalo Monteiro45

que dedica um capítulo do seu estudo aprofundado sobre a aristocracia portuguesa do

Antigo Regime ao «episódio puritano», centrando-se na evidência de ser o grupo mais

procurado para a realização de casamentos dentro da primeiro nobreza de Portugal, as

demais referências ao grupo, em estudos e trabalhos recentes, assentam precisamente

nesta obra, das quais Cluny46, Figueirôa-Rego47, Urbano48, Bonifácio49 e Pedreira e

Costa50, são bons exemplos. Releva esclarecer que em nenhuma destas obras encontramos

uma problematização da questão puritana na aristocracia portuguesa, antes o seu mero

43 Também será apenas neste compêndio que encontraremos todos os Termos em execução do Alvará de Lei, encontrando nos outros dois apenas o do conde de Vilar Maior e a referência à existência de mais quatro.44 Jacques Revel, A invenção da sociedade. Lisboa: DIFEL - Difusão Editorial, 1990, p. 27.45 Nuno Gonçalo Monteiro - O Crepúsculo., pp. 129-141.46 Isabel Cluny, O Conde de Tarouca e a Diplomacia na Epoca Moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006.47 João de Figueirôa-Rêgo, «A honta alheia por um fio». Os estatutos de limpeza de sangue nos espaços de expressão ibérica (sécs. XVI-XVIII). [Lisboa]: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2011.48 Pedro Urbano, A Casa de Palmela. Lisboa: Livros Horizonte, 2008.49 Maria de Fátima Bonifácio, Memórias do Duque de Palmela. [Lisboa]: Publicações Dom Quixote, 2011.50 Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. João VI. [s.l.]: Temas & Debates, 2009.

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Introdução

reconhecimento e/ ou o teste da mesma enquanto resposta e motivo de determinados

fenómenos sociais, esses sim em problematização.

É difícil precisar cronologicamente a data a partir da qual a realidade dos

Puritanos passou a fazer parte da historiografia portuguesa, sabendo que até ao citado

trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro eram apenas apontados como um grupo da

aristocracia portuguesa que casava exclusivamente entre si - sempre com referência aos

textos que encontramos em D. Luís Cunha, Alexandre de Gusmão ou Frei João de S. José

de Queiroz - do qual faziam parte as Casas dos «marqueses de Alegrete, de Valença, de

Angej a e outras», mas sem precisar um critério capaz de reproduzir uma realidade comum

que fosse para além do orgulho no seu sangue51. O melhor exemplo, e não sabemos até

se não terá sido a primeira referência historiográfica aos Puritanos no século XX, é Lúcio

de Azevedo52, que revela conhecer, inclusivamente, a realidade da legislação josefina/

pombalina a este respeito, sabendo-se que a mesma, como referimos anteriormente, já se

encontrava publicada desde meados do século XIX.

Apesar de já em 1926, Ayres de Sá53 evidenciar o conhecimento tanto do grupo

dos Puritanos como, mais interessante ainda, do relatório do marquês de Torcy - num

texto inundado de premissas xenófobas que, acreditamos, em muito terão contribuído

para o facto de ter sido pouco divulgado posteriormente - parece-nos ser mais razoável

assumir que é com Joaquim Veríssimo Serrão e a publicação do mesmo relatório, em

1960, que a realidade dos Puritanos e dos seus critérios de reprodução social, se torna

acessível a todos os que desejassem estudá-los, o que, até ao citado estudo de Monteiro,

não aconteceu54.

Finalmente, e dada a complexidade inerente à realidade dos Puritanos, que

intersecta distintas vertentes historiográficas como a questão dos Judeus em Portugal55,

51 Esta é a descrição que encontramos em Jaime Cortesão, in Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, Parte I, Tomo I (1695-1735). Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio-Branco, [s.n.], p. 81, reproduzida ipsis verbis em Vitorino Magalhães Godinho, Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa. Lisboa: Arcádia, 1980, pp. 214-215.52 J. Lúcio de Azevedo, História dos Cristãos-Novos Portugueses. Lisboa: Clássica Editora, 1989. Interessante é, no entanto, o facto de o grupo de os Puritanos não vir referido noutras obras suas, nomeadamente in O Marquês de Pombal e a sua Epoca. Lisboa: Alfarrábio, 2009.53 Ayres de Sá, «Dois livros contra o vôo das águias», in Anais das Bibliotecas e Arquivos, vol. VII, n. 25­28, 1926, pp. 56-76.54 Importa referir que, já em 1940, o Pe. Carlos da Silva Tarouca fazia referência ao trabalho de Ayres de Sá, in «História da Raça. História da Família», in Separata da Revista «Brotéria», Lisboa, Vol. XXX, Fascículos 1 e 2, 1940.55 A título de exemplo: Emílio Manuel da Silva Corrêa, Judaísmo e Judeus na Legislação Portuguesa. Da Medievalidade à Contemporaneidade. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado; Giuseppe Marcocci

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Os Puritanos

os Estatutos de limpeza de sangue e nobreza56, o modus vivendi e operandi da aristocracia

portuguesa, bem como a sua relação - e a da sociedade que a enforma - com o rei57, e

ainda todos os estudos desenvolvidos sobre a dinâmica das casas aristocráticas

portuguesas, nomeadamente pelo Pe. Carlos da Silva Tarouca58 relativos à Casa dos

marqueses de Alegrete (os Mourarias), muitos foram os outros estudos historiográficos59

que consultámos para a concretização desta dissertação. Estranhamos, no entanto, a quase

ausência da realidade puritana dos inúmeros estudos e biografias sobre o marquês de

Pombal, sobretudo pelo carácter ideológico de que se revestiu a legislação puritana, que

se nos apresenta como um reflexo claro do que pensava e defendia Pombal60.

e José Pedro Paiva, História da Inquisição Portuguesa (1536-1821). Lisboa: A Esfera dos Livros, 2013; Jorge Martins, O Senhor Roubado. A Inquisição e a Questão Judaica. Lisboa: Europress, 2002; Idem, Portugal e os Judeus, Vol. I. Lisboa: Nova Vega, 2010; Maria Idalina Resina Rodrigues, «Literatura e Anti- Semitismo. Séculos XVI e XVII». In Separata da Revista Brotéria. Lisboa: [s.n.], 1979.56 Cujos trabalhos mais relevantes serão os de João de Figueirôa-Rêgo, «A honta alheia...»; Fernanda Olival, As Ordens Militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar, 2001; e Ana Isabel López-Salazar, Fernanda Olival e João de Figueirôa-Rêgo (coord.) - Honra e Sociedade no mundo ibérico e ultramarino: Inquisição e Ordens Militares - séculos XVI-XIX. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2013.57 Para além do já referido e citado trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., referimos ainda, do mesmo autor, Elites ep o d e r ., e D. José. Na sombra de Pombal. [Lisboa]: Temas e Debates, 2008, não esquecendo Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança (1560-1640). Práticas senhoriais e redes clientelares. Lisboa: Editorial Estampa, 2000, e Carlos da Silva Lopes, «Ensaio sobre a Nobreza Portugueza», In Separata da «Nação Portuguesa», Série V (1929), Lisboa, bem como as principais biografias publicadas dos reis de Portugal que tão bem desenvolvem a temática da sua relação com a aristocracia, nomeadamente: Luís Adão da Fonseca, D. João II. [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I (1469-1521). Um Príncipe do Renascimento. [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; Ana Isabel Buescu, D. João III (1502-1557). Lisboa: Temas e Debates, 2008; António de Oliveira, D. Filipe III (1605-1665). [Lisboa]: Temas & Debates, 2008; Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João IV. Lisboa: Temas e Debates, 2008; Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II. O Pacífico (1648-1706). [Lisboa]: Temas e Debates, 2009; Paulo Drumond Braga, D. Pedro II - Uma Biografia. Lisboa: Tribuna da História, 2006; Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI: [Lisboa]: Temas e Debates, 2008; Maria Beatriz Nizza da Silva, D. João V. [Lisboa]: Temas e Debates, 2009; Mário Domingues, D. João V, o homem e a sua época. Lisboa: Prefácio, 2005; e Luís de Oliveira, D. Maria I. [Lisboa]: Temas e Debates, 2010.58 Carlos da Silva Tarouca: «História da R a ç a .» ; - «A colecção Aguilar no Arquivo Tarouca. Cartas inéditas de D. João II, D. Manuel, D. João III, Vasco da Gama, Tristão da Cunha». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXIV, Fasc. 3 (1942), Lisboa; «Conselhos dum Ministro de D. Pedro II para seu filho, Reitor da Universidade de Coimbra». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXVI, Fasc. 5 (1943), Lisboa; «Os «Livros Genealógicos» de Diogo Gomes de Figueiredo. General da Artilharia, +1684». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XLII, Fasc. 6 (1946), Lisboa; «A «Magna Charta» da história de Tarouca (séculos XV-XVII)». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XLVI, Fasc. 6 (1948), Lisboa; e «O Alferes-mor da Restauração». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXI, Fasc. VI. Lisboa: [s.e.], 194059 Para além dos que referiremos ao longo do trabalho, cumpre-nos evidenciar as quatro obras de referência relativas à História de Portugal consultadas: João José Alves Dias (coord.), «Do Renascimento à...»; António Manuel Hespanha (coord.), «O Antigo Regime (1620-1807)», Vol. 4 da História de Portugal (dir. de José Mattoso). [Lisboa]: Editorial Estampa, 1998; Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), «A Idade Moderna», Vol. 3 da História da Vida Privada em Portugal (dir. de José Mattoso). [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; e Rui Ramos (coord.), Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, História de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2012.60 Para além da já referida obra de J. Lúcio de Azevedo, analisámos Augustina Bessa-Luís, Sebastião José. Lisboa: Guimarães Editores, 2003; Mário Domingues, Marquês de Pombal - o Homem e a Sua Epoca. Lisboa: Prefácio, 2002; António Leite, «A Ideologia Pombalina». In Separata da Revista Brotéria, Vol.

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Introdução

Assim, julgamos poder concluir que o Estado da Arte relativo aos Puritanos

assenta, sobretudo, no capítulo que Nuno Monteiro dedica ao tema, salientando que,

apesar de não o desenvolver aprofundadamente, apresenta a maior parte das fontes a que

fizemos referência anteriormente, intuindo, a partir delas, aquela que seria a realidade do

grupo. Não será, então, de estranhar, que a presente dissertação acabe, necessariamente,

por estabelecer uma ponte com o trabalho desenvolvido por Monteiro, até porque surgem,

desde logo, como perguntas naturais da sua leitura: quem eram, qual a sua origem e como

se relacionavam os Puritanos com as demais Casas aristocráticas?

Torna-se, então, essencial a introdução da presente dissertação enquanto

continuação do trabalho desenvolvido por Monteiro, tentando explorar o «carácter

relativamente difuso»61 dos discurso e práticas puritanas, através do seu enquadramento

na sociedade coeva que, ainda que os criticasse, não deixou de reproduzir, ou tentar

reproduzir, os seus comportamentos, definindo-os, em muitas circunstâncias, como

modelo paradigmático.

114, Fasc. 5-6 (1982), Lisboa; António Lopes, Enigma Pombal. Lisboa: Roma Editora, 2002; Rui Manuel de Figueiredo Marques, A Legislação Pombalina. Alguns aspectos fundamentais. [Lisboa]: Almedina, 2006; Kenneth Maxwell, O Marquês de Pombal. Lisboa: Editorial Presença, 2004; e Joaquim Veríssimo Serrão, O Marquês de Pombal. O Homem, o Diplomata e o Estadista. Lisboa: [s.n.], 1987, apenas encontrando referências directas a este grupo no trabalho de Maxwell.61 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.

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Pa r t e 1 - Co m p o s i ç ã o d o Lu g a r

- § -

1. O Rei: o epicentro do poder

Conde, a vida dos reis está nas mãos de Deus, e não

no poder dos homens, e contra o que Ele dispõe

importa pouco o que os homens ordenam.62

Na definição de uma metodologia que permitisse identificar, numa primeira fase,

e estudar, numa segunda, as cortes do Antigo Regime, poucos terão sido tão pertinazes

como Norbert Elias, na sua obra Sociedade de Corte. Captando a complexidade da Corte

através das múltiplas dimensões em que pode ser estruturada, assenta primeiramente o

seu estudo na identificação de um espaço63, onde revela uma harmonia com o afirmado,

no século XIII, por Afonso X, no seu célebre Las Siete Partidas, que define a Corte como

«el lugar donde está el rey y sus vasallos y sus oficiales con él»64 Assim, a Corte é o

espaço, habitat, de todos os que rodeiam o rei, que ao longo do Antigo Regime se vai

afirmando como o seu centro, sendo que a estes que o rodeiam, também com referência

à obra de Afonso X, «é oferecida a oportunidade e a honra de guardar o monarca»65.

No caso português, e para o período em apreço, a Corte deverá ser entendida como

um espaço em construção e que foi assumindo, ao longo do período, diferentes

configurações, não podendo ser esquecida a dimensão «polissémica» do termo,

«apresentando uma semântica algo imprecisa, sobretudo no que diz respeito aos limites

do universo social e institucional a que se reportava»66. De uma forma mais recorrente

62 D. Afonso VI, após ter sido afastado do trono, a D. Francisco de Sousa, cit. in Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI, . , p. 287.63 Norbert Elias, A Sociedade., p. 19-40.64 Las Siete Partidas del Rey Don Alfonso el Sabio, cotejadas con varios codices antiguos por la Real Academia de la Historia. Madrid: Imprensa Real, 1807, II, t.° 9, lei 27.65 Jorge Osório «Erasmo, cortesia e piedade». In Espiritualidade e Corte em Portugal: Séculos X V Ia XVIII (Anexo V da Revista da Faculdade de Letras). Porto: Instituto de Cultura Portuguesa, 1993, p. 9.66 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de seiscentos». In Tempo, Rio de Janeiro, n.° 13, p. 17.

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Os Puritanos

deste o reinado de D. Manuel67, mas oficialmente desde o de seu filho, o rei D. João III,

a Corte é Lisboa e Lisboa é a Corte68, o que pode ser confirmado não apenas pelo facto

de o presidente da Câmara do Senado de Lisboa ser considerado um ofício do “governo

do reino” de nomeação régia mas, sobretudo, pelo facto de a maior parte da nobreza viver

na cidade, num movimento que não pode ser perfeitamente datado, mas ainda assim

anterior à Restauração (1640)69, mas que desde então levou a que Lisboa devesse ser

entendida também enquanto sinónimo de Corte.

Assim a Corte poderá ser entendida como um espaço social, caracterizada por um

conjunto de forças em interacção, capazes de produzir relações geradoras de consensos e

conflitos, enquadradas numa realidade que, não as domando totalmente, as foi

domesticando, numa concepção corporativa da sociedade que tinha à cabeça o rei, que já

não era, como na época medieval, um primus inter pares, mas sim um senhor dos

senhores70, epicentro de todas as relações de Corte, mas ainda do seu espaço e das suas

emoções. É por mimetismo que a Corte se revela através do seu rei, o que, para um

período tão extenso de análise, deverá alertar para as alterações naturais que um novo rei

introduz numa dinâmica de Corte. Já no princípio do reinado de D. João III, ainda no

século XVI, dizia o pai de Luís da Silveira a seu filho, depois de informado da sua missão

diplomática a Madrid, «tolo aonde vas»71, num claro entendimento que a estima e

consideração do rei se promoviam exclusivamente na Corte. Mais ainda, e resultante do

trabalho desenvolvido por Senos, podemos acrescentar que a própria organização do

espaço cortesão durante o Antigo Regime observou estes mesmos princípios, tornando o

acesso à pessoa real o bem simbólico mais ambicionado numa Corte - e aquele que

67 De acordo com Joana Almeida Troni, «foi também neste reinado [D. Manuel I] que se determinou que a Corte ficava sedeada em Lisboa, passando a cidade a estar associada à «caput regni» e começando a ser visível na documentação coeva de século XVI esta ligação entre Lisboa e Corte.». In A Casa Real Portuguesa ao Tempo de D. Pedro II (1668-1706). Lisboa: [s.n.], 2012. Tese de Doutoramento em História Moderna, p. 47.68 Ana Isabel Buescu, D. João I I I . , p. 20. Já Luís de Camões escreve sobre Lisboa que “Cabeça sou, & throno soberano do bellicoso Reyno Lusitano”, Os Lusíadas, [...], Cant. 3.°, 8.a, 26, frase que foi aproveitada, aquando das festas do casamento do rei D. Afonso VI, para ser exibida num arco triunfal levantado na cidade de Lisboa a 29 de Agosto de 1666, fazendo referência à mesma cidade, cf. Angela Xavier, Pedro Cardim e Fernando Bouza Alvarez, Festas que se fizeram pelo casamento do rei D. Afonso VI. Lisboa: Quetzal Editores, 1996, p. 101.69 Joana Almeida Troni refere que «Em 1640, Lisboa voltou a ser Corte», In A Casa R e a l., p. 15. Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro referem ainda que «no final da Guerra da Restauração, por volta de 1670, todos os titulares e a esmagadora maioria dos senhores de terras e demais primeira nobreza residiam em Lisboa», cf. «As Grandes Casas». In Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), A Id a d e ., p. 207.70 José Adelino Maltez, «O Estado e a s .» , p. 386.71 Anedotas Portuguesas e memórias biográficas da corte quinhentista (introdução de Christopher C. Lund). Coimbra: Livraria Almedina, 1980, p. 72.

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Parte 1 - Composição do Lugar

melhor define uma posição hierárquica efectiva72 -, criando um conjunto de espaços, as

antecâmaras, que separavam o rei do grosso dos cortesãos e que permitiam que o mesmo

encetasse uma política de distinção simbólica na Corte, através do acesso que concedia,

ou não, a esses mesmos espaços, observando-se uma realidade comparável com o

exemplo francês73, num processo que culminará, inevitavelmente, na criação de um

espaço privado74, ou seja, um espaço que se pretendia ausente de quaisquer considerações

de ordem política ou social.

Assim, e mais do que de uma não distinção entre um espaço público e um espaço

privado da pessoa régia, podemos falar de espaços de acesso exclusivo que definem

hierarquias e estimas pessoais do monarca, sem no entanto podermos esquecer que os

mesmos continuavam a ser espaços onde as questões de governo do reino eram tratados

a um nível indiscutivelmente exclusivo, mas que obrigavam a um entendimento público

de qualquer concepção de espaço privado, tal como o concebemos hoje em dia75. Também

para Madureira, e não apenas para a realidade do palácio real, a nova arquitectura

palaciana segue um modelo de «círculos concêntricos de privacidade»76, definindo

diferentes graduações de intimidade com o monarca, ou senhor da casa, «certamente

ligada a uma maior variedade de divisões e especializações funcionais»77, mas também

com um carácter eminentemente social78.

Nos seus consensos e conflitos, a Corte reage ao príncipe, no que poderá ser

entendido como uma reacção mimética à pessoa do rei, cujos constrangimentos causados

por um constante escrutínio público das suas acções vai promovendo, no acesso à sua

pessoa, um exclusivismo capaz de alterar, como vimos, a própria organização do espaço

72 Nuno Senor, O Paço da Ribeira. Lisboa: Editorial Notícias, 2002, p. 120.73 Leia-se, para o exemplo francês, Norbert Elias, A Sociedade..., pp. 25-26.74 Pedro Cardim, «A corte régia e o alargamento da esfera privada». In Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), A Id a d e ., pp. 160-161.75 Nuno Senos, O P a ço ., p. 120.76 Nuno Luís Madureira, Cidade: Espaço e quotidiano (Lisboa 1740-1830). Lisboa: Livros Horizonte, 1992, p. 119.11 Ibidem, p. 116.78 João Rosado de Villa-Lobos e Vasconcelos, em O perfeito pedagogo na arte de educar a mocidade, de 1782, refere ainda que «quem tiver mais [do que uma casa (sala) para receber visitas], deve lembra-se, que quanto mais interior for a casa, de todas as que podem receber visitas, tanto melhor será recebe-la no interior; guardando tambem a este respeito a proporção do caracter das Pessoas; e mostrando por tudo isto a distincção que faz do seu merecimento», cit. in Ibidem, p. 119. Esta realidade também não passou despercebida aos estrangeiros que visitavam a corte, nomeadamente Charles Fréderic Merveilleux, que descreve, com graça, o «penoso trajecto» do secretário de Estado entre o seu gabinete e os aposentos do rei, confirmando que «Poucas são as pessoas que frequentam os aposentos particulares do rei; só os nobres de alta estirpe ali podem ter acesso, e, mesmo esses, muito raramente», in Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , pp. 145-146 e 219.

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Os Puritanos

físico (habitat, para utilizarmos a expressão de Elias) em que se insere. Não obstante a

observação de dois critérios, a moral e o poder, enquanto os grandes geradores dos

consensos e conflitos referidos acima, o Antigo Regime demonstra ser um período onde

os elementos de continuidade são mais frequentes do que os de ruptura e onde,

principalmente, o conflito é entendido como a reacção a elementos de ruptura e não como

potenciador dos mesmos.

No centro desta discussão está a pessoa do rei e a sua capacidade de influenciar o

ambiente de Corte, tornando-se necessário aprofundar a relação da Corte com o rei,

nomeadamente através do seu enquadramento numa discussão mais abrangente que

engloba temas como a concepção corporativa da sociedade, o regalismo e o absolutismo

providencialista7 9 . Estes deverão ser entendidos enquanto consequência de um «pacto

histórico» entre o príncipe e os seus vassalos, configurador de direitos e deveres para

ambas as partes. E é precisamente neste enquadramento jurídico, moral e teológico que,

não obstante a liberalidade régia permitir definir muitas das características do ambiente

cortesão, o rei continua a precisar negociar muitas das suas decisões e procurar consensos

e apoios na sua Corte, que não menos vezes lhe causam inúmeros constrangimentos80, o

que entendemos dever potenciar uma nova apreciação sobre o conceito de absolutismo

régio e não, simplisticamente, a negação de que tenha existido, partindo da redutora

formulação de um conceito abstracto sobre o termo.

Finalmente, e para um correcto entendimento sobre a realidade cortesã do Antigo

Regime, torna-se imperativo introduzir os conceitos de teias de relações8 1 de Elias ou a

interpretação sobre o conceito de redes de Cunha. Enquanto o primeiro defende o estudo

de uma sociedade a partir da identificação da rede de relações ou de funções que os

indivíduos desempenham, ou seja, no conjunto de laços invisíveis que estabelecem entre

si e que criam situações de interdependência, de tensão, de auto-regulação ou de poder82,

que se concretizava numa consciência da natureza do conjunto de relações que as Casas

aristocráticas estabeleciam entre si com vista à confirmação do seu «estado» e à

manutenção e aumento do seu prestígio e influência83, que virão mais tarde a aumentar

79 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha, «A Representação da Sociedade e do Poder». In António Manuel Hespanha, «O A n tig o .» , pp. 113-140.80 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , pp. 26-27.81 Norbert Elias, A Sociedade., p. 28.82 Daniel Barreto [et al.], A contribuição de Norbert Elias para uma contemporânea teoria de redes sociais. Recife: XII Simpósio Internacional Processo Civilizador, Civilização e Contemporaneidade, 2009, p. 4.83 Norbert Elias, A Sociedade., p.28.

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Parte 1 - Composição do Lugar

os constrangimentos na forma afectiva como estas relações se concretizam, promovendo

o desencadeamento de um processo de diferenciação do espaço privado e do espaço

público84; a segunda, e para o exemplo português, defende o conceito de relações de

índole clientelar85, materializadas em redes que se interceptavam, «emergindo indivíduos,

grupos de indivíduos ou de parentelas que actuavam como pontes de comunicação» que

eram «mediadores de relações que permitiam ultrapassar - ou tão-só criar fluxos de

comunicação que encurtavam - as distâncias geográficas e sociais».86

Em ambos os casos, podemos concluir que este processo, denominado

curialização ou aristocratização da nobreza, esteve também ligado à instrumentalização

das relações sociais para outros fins que não os da mera sociabilização, com impactos ao

nível do aumento das possibilidades de acesso a pessoas e grupos de uma sociedade,

caracterizado pela diminuição das distâncias sociais entre indivíduos, motivo pelo qual,

para o presente estudo, resolvemo-nos pela inclusão no grupo da primeira nobreza de

Corte, para além dos titulares, dos detentores dos principais ofícios da Casa Real,

denominados maiores ou mores, que não poucas vezes se confundem, ou coincidem, com

os próprios titulares.

Também releva lembrar que esta realidade não foi estanque nem transversal ao

longo do período de análise e que oscilou entre períodos em que a Corte tentou moldar o

seu centro e de uma maior fragilidade da coroa, como foram os tempos iniciais do reinado

de D. João IV e de D. Pedro II e, claro, a deposição de dois reis, Filipe IV de Espanha e

D. Afonso VI, e entre períodos de clara afirmação do poder real face à sua Corte a partir

do final do reinado de D. Pedro II e nos reinados de D. João V e D. José, altura em que

se poderá falar de um poder central efectivo, independentemente do nome que se lhe dê.

É esta realidade cortesã que vai moldar e influenciar o comportamento dos

cortesãos, numa pluralidade de entendimentos sobre os modus operandi e vivendi em

Corte87, tendo sempre presente que, tanto nos momentos de maior poder e influência,

como nos de maior susceptibilidade, o rei foi sempre entendido e reconhecido como o

84 Pedro Cardim, «A corte ré g ia . », pp. 160-161.85 Conceito que desenvolvemos no ponto seguinte.86 Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança., p. 43.87 Concretizados em discursos que não são sempre coerentes entre si, o que não devemos considerar uma característica particular do período em análise, mas que neste período ganha particular relevância porque se assiste a uma ausência de um enquadramento jurídico/ legal definidor de um modelo vigente, resultando este modelo de um confronto doutrinário promovido pelos principais pensadores da época que, na sua maioria, eram também eles cortesãos

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Os Puritanos

epicentro do poder político em torno do qual se desenvolveram todos os acontecimentos

e, posteriormente, todas as apreciações sobre as concepções de sociedade observadas no

Antigo Regime.

2. Os cortesãos: os títulos e os ofícios maiores da Casa Real

Antes quero morrer estimado no campo do que viver

malvisto na corte8

Segundo a proposta de Cardim, ao redor deste epicentro de poder, concretizado

na pessoa do rei, «nascia uma espécie de comunidade de crença, e a coesão dessa

comunidade dependia de um conjunto de sentimentos de fidelidade e de esperança,

sentimentos esses dotados de um inegável potencial político, pois eram capazes de gerar

confiança e criar consenso, eram capazes de organizar e de disciplinar, sem que tal

implicasse o recurso à coacção e a meios violentos para manter a ordem.»89

A afirmação da nobreza - e de um modo muito concreto, e após a fixação do rei e

da sua Corte em Lisboa, dos cortesãos - enquanto o grupo social mais capaz de assumir

os principais cargos e ofícios relacionados com o governo dos reinos foi sobretudo um

fenómeno europeu com a sua origem nas concepções clássicas de formas de governo

desenvolvidas, entre outros, por Aristóteles, Platão e Heródoto, que assentavam na

proposta de atribuição do poder ou do Estado (“Kratos”) aos melhores (“Aristos”),

considerados os mais aptos a desenvolver essa função.90

Salientamos o facto de esta concepção de forma de governo aristocrático poder

ser entendida na sua forma pura, tal como se verificava em algumas repúblicas italianas,

ou num modelo mais híbrido, em que se questiona o poder efectivo, ou simbólico, do

grupo, nomeadamente por oposição ao poder efectivo do rei, devidamente enquadrado

88 Cavaleiro de Oliveira, Cartas inéditas (1739-1741). Coimbra: Publicadas por A. Gonçalves Rodrigues, 1942, p. 146.89 Pedro Cardim, O poder dos afectos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo Regime. Lisboa: [s.n], 2000. Tese de Doutoramento, p. 1690 Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, vol. 3, Lisboa/ São Paulo: Editorial Verbo, 1998. Entrada: Aristocracia.

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Parte 1 - Composição do Lugar

numa outra forma de governo, que dele depende ou no qual se apoia, o que deu origem a

expressões como “nobreza aristocratizada” ou “aristocracia de corte”.

Conforme refere Nuno Monteiro, nos finais do Antigo Regime, e para a realidade

portuguesa, quando se fala de nobreza ou fidalguia, enquanto grupo, designam-se

exclusivamente os titulares, esclarecendo que «a nobreza, em geral, não constituía um

grupo corporativo com uma identidade forte, como a que eventualmente poderá ter

constituído a fidalguia no início do período moderno, pois foi sendo decisivamente

enfraquecida por um duplo processo de mutação: alargamento das fronteiras na base e

contracção do topo com a constituição da elite dos Grandes, através dos títulos e

distinções da monarquia»91. Ainda assim importa referir que o exclusivismo deste grupo

foi sendo desenhado durante o período em análise e que a titulação nobiliárquica, bem

como a distinção que alguns ofícios palatinos (entendidos numa óptica quasi vincular92)

conferiram a algumas famílias não titulares da 1 a nobreza de Corte, foram um factor de

distinção entre os demais membros da pequena e média nobreza, reduzindo o grupo a

meia centena de casas titulares e a mais uma dezena de casas de 1.a nobreza de Corte93,

fenómeno denominado cristalização.

Ao nível das semelhanças com outros países europeus, a realidade aristocrática

portuguesa encontra muitas afinidades, na construção e características das elites, com a

sociedade espanhola, nomeadamente no facto de a avaliação sobre a nobreza de uma Casa

ou pessoa assentar em questões de limpeza de sangue, uma característica relativa à qual

a união dinástica e a forte adesão comum ao catolicismo não são alheios, questão que

abordaremos em maior detalhe no ponto seguinte. Comum a ambas, e ainda curiosamente

à sociedade inglesa94, era a existência de um ideário de nobreza capaz de, por um lado,

91 Nuno Gonçalo Monteiro Monteiro, Elites ep o d e r ., p. 33.92 Apesar de não se poder falar de rotinização do carisma para explicar este fenómeno, tal como definido por Weber, é inegável que existiu, no período de análise, uma “rotinização de Casas”, sendo que uma parte considerável dos ofícios maiores da Casa Real acabaram por torna-se “senhorios simbólicos” de algumas casas aristocráticas, in Max Weber, Economia e Sociedade, vol. 2. São Paulo: Editora UnB e Imprensa Oficial, 2004, pp. 323-408.93 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e Poder..., pp. 86-89.94 Baseámo-nos nos estudos de Laslett, Thompson, Cannadine e Neal, sobre a existência, ou não, de classes na sociedade inglesa do Antigo Regime, dadas as inúmeras referências aos principais critérios de distinção social observados neste período. Os estudos são: David Canadine «The Eighteenth Century: Class Without Class Struggle». In Class in Britain. New Heaven e Londres: Yale University Press, 1998, pp. 24-56; Peter Laslett, «A One-Class Society». In R. S. Neale (ed.), History and Class. Essencial Readings in Theory and Interpretation. Oxford: Blackwell, 1983, pp. 196-221; R.S. Neale, «Class and Class Consciousness in Early Nineteenth Century England: Three Classes or Five?». In History and Class. Essencial Readings in Theory and Interpretation. Oxford, Blackwell, 1983, pp. 143-164; E. P. Thompson, «Eighteenth-Century English Society: Class Struggle without Class?». In Social History, Vol. 3, No. 2 (1978), pp. 133-165.

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Os Puritanos

provocar uma divisão estrutural da sociedade em dois, os nobres e os plebeus95, e, por

outro, ser por vezes pouco clara na fronteira entre estas duas realidades, observando-se

nos dois países, e não obstante a cristalização do topo da hierarquia social, uma

mobilidade social que se acredita hoje ser muito superior ao que em tempos se julgou,

numa sociedade ainda assim profundamente marcada por um «very sharply delineated

system o f status which drew firm distinctions between persons and made some superior,

most inferior. There were various gradations, all authoritatively established and

generally recognized»96, lembrando que muitas destas graduações eram apenas

reconhecidas dentro do grupo social ao qual respeitavam.

Voltando à problemática do aparecimento em Portugal de uma «primeira nobreza

de corte»97, enformada pelo processo de curialização da nobreza, podemos afirmar que

foi no período brigantino que se assistiu ao aparecimento deste grupo, não obstante ser

este o culminar de um processo que já se vinha a observar desde os finais da dinastia dos

Avis, mas que com a ausência do rei, de Portugal, no período dos Habsburgos, acabou

por não possibilitar a criação de um espaço, a «Casa do Rei» ou «Corte», onde a nobreza

se reunisse em torno do seu monarca. Assim, e com a dinastia brigantina, o rei volta a

residir em Portugal, sendo que mantém a sua residência em Lisboa, possibilitando a

existência de um espaço onde se concentram todos aqueles que desejam, de certa forma,

exercer alguma influência no governo do reino, ou no próprio rei, ou beneficiar da

liberalidade régia98, tornando o exílio da Corte a maior desonra para um nobre.

Neste processo, que resultou na criação de uma elite cortesã, ou de uma nobreza

aristocratizada, cujo acesso privilegiado ao rei lhe permitiu, como refere Rudé, «exercer

uma desproporcionada influência sobre a vida dos seus próximos, quer na condição de

governantes, magistrados ou grandes proprietários, monopolizando os altos cargos do

Exército, da Igreja e do Estado, quer simplesmente pelo seu modo de viver ou estar na

95 Em estrito paralelo com a sociedade inglesa da Gentry e dos gentlemen e dos plebs e nobodies.96 Peter Laslett, «A O ne-C lass.», p. 196.97 Expressão que, de acordo com Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro, ganhou «ampla difusão» após a Restauração para designar «a principal elite da nova dinastia dos Braganças, parte dela recrutada nos restauradores, outra mais antiga ou com diversas proveniências», in «As grandes casas» . , p. 207.98 Se é verdade que tal seria já uma característica natural de uma corte, sabemos, de acordo com Pedro Cardim, que «em meados de quinhentos boa parte da nobreza portugueza continuava a manter as suas residências espalhadas pelo reino, não encarando a morada do rei de Portugal como um lugar aonde tinham necessariamente de acorrer», in «A corte ré g ia . », p. 324.

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Parte 1 - Composição do Lugar

vida»99, a aristocracia surge, conforme vimos, como uma ordem (ou “classe”) social que

repartia, em alguns casos, o poder com a monarquia, criando por vezes «situações de

equilíbrio instável entre ambas as forças»100.

Outro dos fenómenos importantes no aparecimento deste grupo, e já referido

anteriormente, é o da sua cristalização ao longo do período de análise, sendo que para um

período de mais de 150 anos, o número de casas titulares se manteve praticamente

inalterado. Este fenómeno estaria intrinsecamente ligado à consolidação do poder dos

Braganças, não existindo, no entanto, qualquer referência a uma política arquitectada e

posta em prática pelos reis brigantinos. Ainda que não houvesse um “número mágico”

nas cabeças que suportaram a coroa, este fenómeno, de consistência transversal a todos

os reis entre D. Afonso VI e D. José, e de enorme disparidade face à realidade europeia e

ao reinado imediatamente seguinte, o da rainha D. Maria I, levanta-nos algumas questões

quanto à hipótese de mera coincidência, sobretudo porque nos parece salvaguardar tanto

a liberalidade régia de ser considerada exagerada101, como condicionar uma posição forte

conjunta da aristocracia contra o rei102. Adicionalmente, o facto de a cristalização ocorrer,

não por casas aristocráticas criadas, mas por variação de casas ao longo do período, leva-

nos a questionar se a criação de novas casas não estaria, de alguma forma, condicionada

à extinção de outras. A título de exemplo, refira-se o período entre 1701 e 1730, onde o

número total de casas titulares não registou qualquer variação face ao período anterior,

tendo, no entanto, sido criadas cinco novas casas e extintas outras cinco103.

É precisamente sobre o restrito grupo da aristocracia portuguesa que nos

debruçaremos ao longo deste trabalho, tendo optado por incluir não apenas a nobreza

titular mas ainda os detentores dos ofícios maiores do palácio real que entendemos, como

99 George Rudé, A Europa no Século XVIII. A Aristocracia e o Desafio Burguês. Lisboa: Gradiva, 1988, p. 111.100 Ibidem. Ideia também desenvolvida, para o exemplo português, em Nuno Gonçalo Monteiro, «Poder Senhorial, Estatuto Nobiliárquico e Aristocracia». In António Manuel Hespanha (coord.), «O Antigo R eg im e» ., p. 301.101 Facto referido, nomeadamente, por um “comentador” político no tempo de D. Pedro II que referia que «Hoje ninguém se contenta com que o escudeiro se faça fidalgo, e o fidalgo ordinário melhorar-se à primeira nobreza, mas sim que todos querem ser príncipes contra a vontade de Deus, que não lhes deu esse nascimento, e contra as leis do reino, que não permitem que os homens cresçam com tanta desproporção. Deve Vossa Alteza atalhar essas demasias como a maior ruína das repúblicas, fazendo estar cada um dentro dos limites da sua esfera». ANTT, S. Vicente, Ms. 12, fols. 652-653, Junta sobre a obtenção de meios extraordinários, Lisboa, 8/I/1683, cit. in Rafael Valladares, A Independência de Portugal. Guerra e Restauração 1640-1680. [Liaboa]: A Esfera dos Livros, 2006, p.102 O que não deverá ser, de todo, desvalorizado num século em que se assistiu, em Portugal, a duas deposições de reis por parte da aristocracia portuguesa.103 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e Poder..., pp. 144-146.

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Os Puritanos

referido anteriormente, representar também eles o princípio de título nobiliárquico

associado - não obstante o facto de, muitos deles, pertencerem já a casas aristocráticas -

a um senhorio exclusivamente simbólico, materializado no que melhor define uma das

funções maiores da nobreza durante o Antigo Regime: o serviço ao rei.

Mas não seria esta a única característica identificadora do ethos aristocrático, para

utilizarmos o conceito de Monteiro que o “identifica [como sendo] um «sistema de

disposições incorporadas» legado por anteriores gerações, mas constantemente

potenciado e redefinido no contexto das práticas sociais para as quais se orienta”104, ou

seja, o modus operandi e o modus vivendi de um grupo social que, em muito, o orienta e

o define em termos de modelos de relacionamento e comportamento, devendo ainda ser

referidos a Casa, a liberalidade régia e o endividamento enquanto os pontos fundamentais

de análise da aristocracia portuguesa105, sendo a transversalidade deste modelo comum a

todos os que pertenciam a este grupo porque, conforme refere Elias, estamos «na presença

de um sistema social de ordens e valores a cujas exigências ninguém pode fugir, sob pena

de renunciar ao convívio com os seus semelhantes, de deixar de pertencer ao grupo

enquanto tal.»106

Importa ainda referir que o ethos da aristocracia de Corte do Antigo Regime era

também fortemente marcado pelo seu acesso a determinados direitos relativamente

exclusivos (privilégios), que operavam na sociedade como factores de distinção

susceptíveis de produzir desigualdades e de criar estruturas e hierarquias sociais, o que,

segundo Monteiro, estabeleciam a consagração de uma «taxonomia institucionalizada,

legitimada pela tradição» que «constituía o quadro de estruturação dos grupos sociais»107.

Berger acrescenta que os privilégios, bem como o poder e o prestígio, existem não apenas

enquanto factor de distinção susceptível de estratificação e hierarquização, mas ainda

como as principais recompensas da posição social108.

Assim não é demais relembrar que o acesso a determinados privilégios definia

uma correspondente posição social, e que esta se concretizava na obtenção de um status,

aqui entendido conforme a proposta de Mousnier, ou seja, «pelas diferenças de estima

social, de dignidade, de posição, de honra, de prestígio, verificadas entre os indivíduos e

104 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P o d er., p. 84.105 Leia-se Ibidem, pp. 83-103.106 Norbert Elias, A Sociedade., p. 42.107 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 23.108 Peter L. Berger, Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Editora Vozes, 2001, p.91.

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Parte 1 - Composição do Lugar

entre os grupos sociais (famílias, corpos, colégios, comunidades), e pelo seu

reconhecimento mútuo dessas diferenças numa dada sociedade», revelando-se em todas

as mais variadas formas de interacção social que condicionavam os comportamentos dos

homens «da aurora ao pôr do Sol, do nascimento à morte»109, sendo a manutenção desse

mesmo status, ou o seu engrandecimento, uma das mais visíveis características do ethos

aristocrático do Antigo Regime.

É neste enquadramento que os quatro pontos fundamentais acima referidos se

desenvolvem e se tornam características fundamentais e transversais a todos os membros

deste grupo, uma aristocracia que se reconhece enquanto uma «sociedade de “casas”»110,

representando estas não apenas uma família, mas um património definido também por

uma linhagem, uma disciplina, um senhorio, uma entourage de criados, comumente

designados simplesmente por família, e, claro, um edifício, contribuindo todos eles para

a definição e entendimento sobre o status que a Casa detinha por comparação com outras.

É precisamente na preservação, manutenção e aumento - ou, conforme referido

nas Ordenações Filipinas, «conservação e memória» e «accrescentamento»111 - deste

vasto património humano, cultural, económico e simbólico, que o endividamento aparece

como uma realidade comum à maioria das casas aristocráticas, uma vez que era o status

e não as receitas que definia os gastos de uma casa nobiliárquica no Antigo Regime,

encontrando-se todas elas condicionadas por um conjunto de «despesas impostas pela luta

pelo estatuto social e pelo prestígio»112. Mesmo após o terramoto de 1755, com tudo o

que exigiria em termos financeiros às Casas aristocráticas portuguesas, nomeadamente na

reconstrução dos seus palácios, foi suficiente para alterar esta circunstância, referindo

Brelin aquando da sua estada em Lisboa que «não obstante os prejuízos incontáveis que

os portugueses sofreram com o referido terramoto, nem por isso puseram de parte a sua

aristocrática maneira de ser, já tão enraizada, antes pelo contrário vivem presentemente

mais na opulência do que antes e por isso arriscam-se a ser depressa conduzidos à maior

pobreza»113, o que, conhecendo hoje a situação financeira destas Casas, seria mais uma

inevitabilidade do que um presságio.

Esta realidade, aliada a um discurso coevo assente na premissa de que uma

109 Roland Mousnier, As Hierarquias Sociais. Lisboa: Publicações Europa-América, 1974, pp. 12-13.110 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P o d er., p.89.111 De acordo com as Ordenações Filipinas, liv. IV, t.C., n.° 5, cit. in Ibidem, p. 93.112 Norbert Elias, A Sociedade., p. 42.113 Johan Brelin, De passagem p e lo ., p. 116.

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Os Puritanos

nobreza grande engrandecia o rei e nas «insistentes recomendações [na literatura

setecentista] para que os reis sejam liberais e generosos»114, ao qual se juntaria também,

inevitavelmente, o argumento de que o abandono dos seus senhorios tinha ocorrido no

âmbito do contrato que, desde tempos imemoriais, obrigava a nobreza a prestar consilium

et auxilium ao Príncipe, levou a que esta situação crónica de endividamento tivesse sido,

inicialmente, mitigada pela liberalidade régia, concretizada no monopólio e consequente

concentração da maioria das doações régias neste restrito grupo, todas elas enquanto

forma de remuneração115 dos serviços prestados à coroa através da assunção dos

principais cargos de governo e conselho. Como observado por um estrangeiro não

identificado que esteve em Lisboa em 1730, «os grandes de Portugal dividem-se em três

ordens: a primeira, dos duques, a segunda, dos marqueses, e a terceira, dos condes. Nelas

o Rei escolhe as pessoas que hão-de ocupar os principais cargos da corte, da guerra e dos

governos ultramarinos.»116

Se no ponto anterior tínhamos questionado o poder efectivo de uma coroa que se

afirma com o apoio de uma nobreza forte e influente, capaz, inclusivamente, de promover

a deposição e coroação de reis, percebemos que essa mesma coroa começou,

posteriormente, a afirmar-se através da dependência que estas grandes Casas

aristocráticas começaram a ter da liberalidade régia, que em muito as foi limitando na sua

capacidade de influenciar e condicionar efectivamente o poder do rei. Mas se é verdade

que o rei e a coroa - aqui entendidos também enquanto “proto-Estado” - começaram a

assumir um papel mais relevante na construção de um, como referiria Bourdieu,

«monopólio da violência simbólica legitima»117, podemos questionar-nos se não

existiram, dentro deste grupo, mecanismos que lhes permitissem definir hierarquias e

posições relativas de status assentes em critérios independentes dos benefícios e doações

da coroa, e até da vontade do próprio rei, assunto sobre o qual nos debruçaremos no ponto

seguinte.

114 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , p. 53.115 Importa salientar que a liberalidade régia se concretizaria, na linguagem da época, não numa remuneração atribuída às casas aristocráticas, mas em doações que visavam premiar um bom serviço e não remunerá-lo, uma vez que a remuneração, através de um salário, de um serviço prestado colidiria com o ethos aristocrático, cf. Ibidem, p. 48.116 C astelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , p. 51.117 Pierre Bourdieu, O P o d er., p. 149.

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Parte 1 - Composição do Lugar

Fez-me sorrir ver nas estantes de Mafra tantos livros

in-folio, in-quarto e in-oitavo, de genealogia. Oh

quantos lá existem! Estes livros são, talvez, o

alimento principal da bazófia insuportável dos 118portugueses. 118

Os conceitos de puritanismo que pretendemos tratar neste ponto nem sempre

receberam esta designação, apesar de terem estado, deste sempre, intrinsecamente ligados

ao conceito de pureza, de origem remota e indiscutivelmente revestida de um cariz

religioso. Eram precisamente os puros de coração1 1 9 aqueles que seriam os eleitos para o

Paraíso, representando esta pureza, de alguma maneira, uma forma mais verdadeira e

genuína de viver que, do cristianismo ao hinduísmo e do ocidente ao oriente, acabou por

marcar sociedades e discursos, com inegável impacto nas suas estruturas e hierarquias.

Figueirôa-Rêgo vem lembrar-nos, precisamente, que dificilmente poderemos defender

que as questões de limpeza ou pureza são, ou foram, uma problemática específica do

período em análise, estando presentes nas sociedades antigas e intimamente ligadas à

prática da religião desde, pelo menos, o tempo de Abraão, comum às tradições judaica,

cristã e islâmica120, não obstante o facto de terem, durante o mesmo período de análise,

assumido contornos distintos no que aos regulamentos internos de grupos sociais diz

respeito.

Assim, quer falemos de puritanismos relacionados com o sangue ou com a

nobreza, convém evidenciar que ambos estão intrinsecamente relacionados entre si sendo

por vezes desafiante a sua distinção121: ambos se transmitem de geração em geração e são

legitimados pela manutenção de um estado de pureza, que é o mesmo que dizer isentos

3. Os puritanismos: o sangue e as nobrezas

118 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 194.119 Referência bíblica que encontramos, por exemplo, no Sermão da Montanha, em Mt 5, 8. Bíblia Sagrada. Lisboa: Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos), 1991.120 João de Figueirôa-Rêgo, «A Honra A lheia .» , pp. 29-31.121 Ideia também defendida por João Cordeiro Pereira, «A Estrutura Social e o seu Devir». In João José Alves Dias, «Portugal do Renascimento à Crise Dinástica», Vol. 4 da Nova História de Portugal (dir. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques). Lisboa: Editorial Presença, 1998.

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Os Puritanos

de qualquer mácula1 2 2 . Verdade é que, não obstante os inúmeros tratados sobre pureza,

tanto de sangue como de linhagem, qualquer tentativa de uma abordagem linear e cabal

- ou até científica - desta realidade, sairá naturalmente frustrada, porque até a simples

assunção de que qualquer nobre seria, necessariamente, de puro-sangue (ou cristão-velho,

para utilizarmos a linguagem coeva) vem ser posta em causa no auge da adesão ao

puritanismo, tema central do presente estudo. Não obstante a constatação desta realidade

ao mesmo tempo complexa e desafiante, avançamos com as duas definições que mais se

encontram na literatura coeva sobre os mesmos puritanismos. Assim, a pureza de sangue

foi recorrentemente descrita utilizando uma fórmula comum similar a «sem raça de

mouro, judeu ou gente novamente convertida à nossa Santa Fé, e sem fama em

contrário»123 e a de nobreza, essencialmente baseada no princípio de que um nobre é

aquele que não tem qualquer ofício mecânico, assente no reconhecimento de que se

viveria à lei da nobreza, com bestas e criados, textos amplamente reproduzidos em

nobiliários e genealogias, mas apenas capazes de garantir o enquadramento na franja

muito duvidosa que separava os nobres do povo: para o desvanecimento desta

circunstância por vezes cinzenta, apenas uma ascendência de nobres cristãos-velhos

conhecidos que confirmasse inequivocamente uma origem pura e antiga da linhagem.

Ao debruçarmo-nos sobre os puritanismos presentes na sociedade portuguesa do

Antigo Regime importa perceber que não falamos de uma realidade exclusivamente

portuguesa: outras sociedades, ao longo do tempo, recriaram estruturas sociais com base

em critérios de distinção de sangue e nobreza ainda que nenhuma apresente as mesmas

características do modelo português, motivo pelo qual, neste ponto e no seguinte, nos

empenharemos em tentar perceber a forma como estes fenómenos conseguiram

reproduzir em Portugal uma realidade única e, mais ainda, se esta realidade era percebida

e entendida pelos contemporâneos como parte da sua identidade, tanto como resultado de

uma consciência colectiva, como por oposição a outras realidades estrangeiras.

Propomos como ponto de partida para um melhor entendimento do

enquadramento histórico destes puritanismos dois fenómenos observados na sociedade

portuguesa: o primeiro relacionado com as sucessivas tentativas de consolidação do poder

122 E por isso limpo, motivo pelo qual encontramos, indistintamente, a utilização dos termos limpeza e pureza significando, na maior parte das vezes, o mesmo.123 Reproduzimos o texto constante do regimento do Tribunal do Santo Ofício, de 1640, o primeiro a conter uma menção a questões de pureza de sangue, cit. in Bruno Feitler, «Hierarquias e mobilidade na carreira inquisitorial portuguesa: critérios de promoção». In Ana Isabel López-Salazar [et al.], Honra e Sociedade., p. 115.

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Parte 1 - Composição do Lugar

do rei, materializado, entre outros, na discricionariedade do rei em nobilitar, essencial à

legitimação da nobreza enquanto critério de distinção social; o segundo, a crescente

animosidade em relação a “nações estrangeiras”, abarcando este conceito de estrangeiros

pessoas não apenas de diferentes realidades geográficas, mas também, e sobretudo, de

diferentes credos, nomeadamente os judeus.

É com a subida de D. João I ao poder que se começa a observar um movimento

tendo como objectivo a consolidação do poder da coroa enquanto garante da estabilidade

da nova dinastia, trazendo consigo uma «nova nobreza» ávida de confirmação por parte

do novo centro do poder124, um fenómeno que podemos considerar, ainda assim, comum

a todas as crises dinásticas. Se parece ser consensual entre historiadores que, neste

período, a liberalidade régia se caracterizava pela «lógica de uma simbiose que garantia

à nobreza o seu engrandecimento e à realeza a sua segurança»125 - não sem os seus

sobressaltos, como a batalha de Alfarrobeira126 no reinado de D. Afonso V - é durante o

reinado de D. João II, contudo, que se observa uma alteração do paradigma da relação

entre a coroa e as grandes casas senhoriais, tendo sido este o último rei a matar alguém

com a as suas próprias mãos, sorte de que padeceu, em 1484, o duque de Viseu, D. Diogo,

tendo no ano anterior o duque de Bragança, D. Fernando II, sido também preso e degolado

em Évora127, cimentando-se a superioridade da coroa sobre os, outrora, seus pares.

No reinado de D. Manuel I, e graças ao grande empreendimento dos

descobrimentos que consagrou o rei como senhor inquestionável do território

ultramarino, observa-se a promoção de «uma política centralizadora», sustentada nos

rendimentos que dele advinham128, sendo esta realidade exponencialmente alavancada,

mais simbólica do que monetariamente, claro, com a incorporação pelo seu filho, o rei D.

João III, em 1551, das ordens religiosas militares e do seu vasto património, continental

e ultramarino, na coroa129. Não será, então, difícil perceber que grande parte deste

património foi investido na criação de uma rede de dependências que foram domesticando

a nobreza, no exacto sentido em que a foram tornando “da casa” do rei, perdendo a sua

autonomia senhorial, característica fundamental da nobreza feudal que povoou toda a

124 Rui Ramos [et al.], História d e . , pp. 135-151.125 Ibidem, p. 160.126 Batalha ocorrida em Portugal, em 1449, entre o exército do rei D. Afonso V e do seu tio, D. Pedro, duque de Coimbra, após este ter impedido o duque de Bragança de atravessar as suas terras.127 Rui Ramos [et al.] - História d e . , pp. 201-203.128 João Paulo Oliveira e Costa, D. M a n u e lI . , p. 193.129 Fernanda Olival, As Ordens M ilitares., p. 4 e Ana Isabel Buescu, D. João I I I . , p. 236.

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Os Puritanos

época medieval. Por outro lado, o crescimento do aparelho do Estado e a necessidade de

os príncipes em se rodearem de pessoas da sua confiança começou a talhar uma nova

forma de ordenação social que contrapunha a ordem social estabelecida - que seriam

sempre os mesmos a ocupar os mesmos lugares - à rede de lealdades pessoais do rei que

promovia, necessariamente, o enobrecimento daqueles em quem confiava mas que não

detinham ainda a qualidade para ocuparem os mais altos lugares de governo, aos quais

Rudé chama burocratas130 mas que em Portugal foram conhecidos, sem que os termos

fossem institucionalizados, por ministros ou validos131.

É esta imagem de uma linhagem real que continuamente, ao longo do século XVI,

se empenha em garantir a sua supremacia face à nobreza do reino, que nos permite,

posteriormente, perceber que os séculos XVII e XVIII, não obstante todos os

constrangimentos de ordem política aos quais estiveram expostos os monarcas, foram

marcados por uma indiscutível centralização do poder político na pessoa do rei e que,

mesmo em momentos marcadamente aristocráticos, a legitimidade da acção de governo

da aristocracia foi sempre garantida pela pessoa real.

Importa também salientar que este processo de centralização do poder real

assentou muito mais numa política de dádiva, para usarmos a definição de Mauss132, do

que no recurso recorrente ao confronto e ao conflito e foi, curiosamente, esta opção

política que mais danos causou na antiga nobreza medieval portuguesa, uma vez que

resultou no aparecimento de uma nobreza de serviço - a par com a discricionariedade do

rei em nobilitar - levando a que, no seio da nobreza, se criassem mecanismos de distinção

que tentaram, e na maior parte conseguiram, estigmatizar linhagens recém-criadas, apesar

de fortemente patrocinadas pela coroa.

Partindo do pensamento tardo-medieval já referido relativo a uma concepção

corporativa de sociedade onde todos os seus membros encontravam a sua função (o seu

lugar) através de uma ancestral necessidade de ordenação, o conceito de nobreza começa,

então, por ser entendido como esta comunhão com uma realidade divina, a nobreza

teológica, resultado de um processo de imitação da vida de Cristo e dos Santos, evoluindo,

130 George Rudé, A Europa n o . , pp. 160-161.131 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , p. 43.132 Relembramos que, para Marcel Mauss, «a dádiva não retribuída torna ainda inferior aquele que a aceitou, sobretudo quando é recebida sem espírito de retorno», sendo que «as sociedades progrediram na medida em que elas próprias, os seus subgrupos e, enfim, os seus indivíduos, souberam estabilizar as suas relações, dar, receber e, enfim, restituir». In Ensaio sobre a dádiva, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 185 e p. 204.

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Parte 1 - Composição do Lugar

no entanto, e de acordo com Oliveira133, para outros dois tipos de nobreza, a natural e a

civil, ambas resultado de uma “conquista” (ou recompensa de um esforço) e, a primeira,

assente numa linhagem.

Apesar do entendimento ideológico e, digamo-lo também, romântico, de nobreza

assentar sobre as qualidades e boas maneiras dos homens, o seu entendimento conceptual

na sociedade do Antigo Regime reflectia-se sobretudo, como já referido acima, na

identificação com um determinado estilo de vida ou, no caso particular de instituições

como as Universidades, a magistratura, o Tribunal do Santo Ofício ou as Ordens Militares

Religiosas, na confirmação, por provança, de que não se descendia de pessoa

«mecânica», também designado por limpeza de ofícios, obstáculo ainda assim

ultrapassável caso não se verificasse, podendo o rei intervir, como muitas vezes interveio,

garantindo a dispensa de provanças de limpeza mecânica desde que cessassem todos os

ofícios mecânicos tanto do habilitado como dos seus familiares134. Foi precisamente esta

manifestação da liberalidade régia na nobilitação que gerou na Corte portuguesa, entre a

nobreza dos ofícios e a de linhagem, discórdias e invejas, e que potenciou inúmeros

conflitos dentro de um grupo social cada vez mais heterogéneo, heterogeneidade essa que,

pensamos, a antiga nobreza portuguesa nunca demonstrou vontade de acolher, criando

antes entraves à sua integração.

Mas como refere Olival no seu grande estudo sobre os ingressos na Ordens

Militares Religiosas que julgamos poder ser, na sua essência, transponível para os demais

ingressos em instituições como o Tribunal do Santo Ofício, as Universidades, as

Misericórdias e grande parte das Confrarias, «as exigências [do ingresso] eram grandes

para todos os que eram alvo de inquérito: pureza de sangue, o que implicava não

descender de judeus, cristãos-novos e mouros; limpeza de ofícios, isto é não ter ofício

manual; nobreza, ou por outras palavras, ter um estilo de vida reputado como tal; não ser

herege, nem ter cometido crimes de lesa-majestade; não provir de gentios ou de

mulatos»135, sendo que aquele que maior influência teve na sociedade portuguesa do

Antigo Regime e que motivou muitos a sujeitarem-se ao processo de provanças como

133 Luiz da Silva Pereira de Oliveira, Privilegios da Nobreza, e Fidalguia de Portugal. Lisboa: Officina de João Rodrigues Neves, 1806, pp. 1-14.134 Fernanda Olival, As ordens M ilitares., p. 56, para o caso das Ordens Militares Religiosas.135 Ibidem, p. 164.

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Os Puritanos

forma de atestar, antes de mais a sua qualidade136, foi a questão da limpeza de sangue157.

Parece existir, na historiografia recente, um entendimento comum quanto ao facto

de a origem da limpeza de sangue enquanto questão estruturante da sociedade portuguesa

do Antigo Regime ter a sua origem no Édito de expulsão dos judeus de D. Manuel I, de

1496, no âmbito das negociações de casamento do rei português com a infanta D. Isabel

de Espanha, filha dos reis católicos. Aliás, parece ser consensual a ideia de uma

«coexistência pacífica ao longo do período medieval das comunidades judaicas em

Portugal, que mantiveram a sua identidade e autonomia»138, cenário que se terá

deteriorado após o Édito e, sobretudo, pelo baptismo forçado dos judeus que foram

impedidos de sair de Portugal, não obstante, como sabemos, este ter sido seguido por uma

paz precária, sendo estes neófitos cristãos isentados de quaisquer inquirições sobre a sua

fé por um período de vinte anos. É possível que o criptojudaísmo, ao invés de um efectivo

processo de conversão, que esta acção indiscutivelmente promoveu fosse, desde início, o

objectivo do rei, saindo assim duplamente beneficiado: por um lado possibilitava o seu

casamento com aquela que, à data do casamento, era já a herdeira do trono espanhol; e

por outro a manutenção dos judeus em Portugal, agora entendidos como cristãos, com

tudo o que isso relevava para a coroa e reinos no que à importância desta comunidade,

para a economia portuguesa, dizia respeito. A realidade, no entanto, foi bastante diferente

e marcou indelevelmente a história de Portugal, com repercussões também ao nível da

estrutura da sociedade portuguesa.

Não será difícil compreender que o criptojudaísmo existiu e perpetuou-se na

sociedade portuguesa, até porque não existiu nenhum investimento verdadeiro na

conversão de todos estes judeus baptizados, podendo identificar-se que se este foi, de

facto, acontecendo ao longo do tempo, ter-se-á devido ao eventual acesso que estes novos

cristãos possam ter tido a casamentos com famílias cristãs-velhas139. No entanto, na

136 Rui Ramos [et. al], História d e . , p. 240.137 Esta de contornos diferentes da limpeza mecânica, no que à acção do rei diz respeito, porque de acordo com Fernanda Olival, «depois de 1681, não há na Chancelaria da Ordem de Cristo uma só carta de hábito que assinale a dispensa de sangue, nem de modo explícito, nem camuflado». In As ordens m ilitares., p. 289.138 Rui Ramos [et. al.], História d e . , p. 236. Ideia também presente em Jorge Martins, Portugal e o s . , p. 11 e Emílio Manuel da Silva Corrêa, Judaísmo e Judeus na Legislação Portuguesa. Da Medievalidade à Contemporaneidade. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado, p. 13.139 É interessante a análise de María Antonia Bel Bravo que, não obstante a sua opinião, deixa, desde logo, antever um problema mais complexo, quando escreve: «Así pues, los cristianos «viejos» con sus exigencias de limpieza, y los cristianos «nuevos» con su afán de conservar las tradiciones judaicas, como veremos, hicieron todo lo posible por permanecer como dos grupos netamente separados, pero el matrimonio entre ellos logró lo que ninguno de los dos grupos quería: la integración. Algunos tratadistas hablarán de

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Parte 1 - Composição do Lugar

memória colectiva ficou bem vincada uma imagem de uma conversão forçada e, por isso,

não verdadeira, permitindo-nos enquadrar a referência à fama ou reputação em todos os

estatutos de limpeza de sangue que vão povoar os acessos às principais instituições do

Portugal Moderno, tornando claro o entendimento de que os termos cristãos-novos,

homens de nação, gentes da nação hebraica, entre tantos outros, queriam dizer única e

exclusivamente judeus140.

Verdade é o facto de, entre os finais do século XVI e os princípios do século XVII,

os estatutos de limpeza de sangue terem assumido uma relevância face aos de mecânica,

contrariando o que se verificava no passado uma vez que parte da elite aristocrática

descendia, por bastardias reais, de judias, temendo sobretudo a ascensão de classes como

a dos letrados que podiam comprometer o seu acesso quase exclusivo aos ofícios maiores

do reino141, sendo disso exemplo a instituição dos estatutos de limpeza de sangue, por

exemplo, em 1577, na Misericórdia de Lisboa, em 1602 nas habilitações para a

magistratura142 e, finalmente, no Regimento da Inquisição de 1640, relativamente aos

ministros inquisitoriais143.

Directamente relacionado com o extremar das posições em relação aos cristãos-

novos parece ainda ter estado a política dos Habsburgos que permitiu que o seu peso

aumentasse na sociedade portuguesa, tendo os cristãos-novos tentado, inclusivamente,

negociar um “perdão geral” com a Coroa entre 1602 e 1604144, tendo em 1627 conseguido

obter importantes regalias da Coroa, ainda que sob certas limitações145. Apesar de a

Restauração dever ser devidamente enquadrada pela «grave crise económica que sofria

Portugal, o crescente mal-estar social e as sucessivas derrotas militares nos territórios do

ultramar», bem como por uma realidade política dual caracterizada pela ausência do rei

da Corte de Lisboa, a verdade é que se generalizou a ideia que «o reino estava infectado

«contaminación», pero a mi juicio sería más acertado hablar de integración. El matrimonio se concibe así como la variable más sociológica de la población, puesto que entran en juego decisiones e intereses particulares, determinadas estrategias culturales, sociales, patrimoniales, de parentesco, etc. encaminadas, sobre todo, a la estabilidad y seguridad social.». In «Matrimonio versus ‘Estatutos de Limpieza de Sangre’ en la Espana Moderna». In Hispania Sacra, LXI, 123 (2009), pp. 106.140 Juan Ignacio Pulido, Judeus e Inquisição no tempo dos Filipes. Lisboa: Campo da Comunicação, 2007, p. 23.141 João de Figueirôa-Rêgo, A honra a lh e ia ., p. 47.142 Rui Ramos [et. al.], História d e . , p. 240.143 Bruno Feitler, «Hierarquias e mobilidade na carreira inquisitorial portuguesa: critérios de promoção». In Ana Isabel López-Salazar [et al.], Honra e Sociedade., p. 115.144 Rui Ramos [et. al.], História d e . , pp. 288-289.145 António de Oliveira, Movimentos Sociais e Poder em Portugal no Século XVII. Coimbra: Instituto de História Económica e Social da Faculdade de Letras de Coimbra, 2002, p. 329.

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Os Puritanos

de judaizantes»146, e que a questão anti-judaica terá também contribuído para o desenrolar

da revolta contra os Habsburgos, facto ao qual acontecimentos como os motins dos

estudantes da Universidade de Coimbra e o desacato de Santa Engrácia (1630)147 não

foram indiferentes, mas ainda assim correlacionados entre si, porque conforme defende

Oliveira: «as épocas de crise económica amplificam a violência contra o judeu ou

criptojudeu»148.

Indiscutível é o facto destes puritanismos terem marcado profundamente a

realidade portuguesa dos séculos XVII e XVIII e de, como tão bem sintetizado por

Marcocci e Paiva, «ser tido por nobre, ter sangue limpo, ascender socialmente e alcançar

um estatuto honrado, eram objectivos partilhados pela generalidade dos indivíduos, a que

se chegava, por norma, após um percurso que se podia prolongar por mais do que uma

geração, que previa inquirições na genealogia familiar e, por vezes, a inspecção cruzada

de habilitações recebidas por diferentes instituições»149, aliado ao facto de que «ortodoxia

que o Santo Ofício tutelava já não visava somente um estado de plena e sincera adesão

aos preceitos da fé e respeito pela disciplina da Igreja, mas também um ideal de perfeição

social, o qual era partilhado pela maioria dos portugueses, por convicção ou mera

conveniência»150, algo transversal à sociedade portuguesa, e inegavelmente ligado a um

sentimento, consciente ou inconsciente, de identidade e de sentido de pertença a uma

cultura, tema que abordaremos no ponto seguinte.

4. A classe provável dos Puritanos

Quando eles assim casam, elas são as que casam151pior.151

146 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., p. 159.147 A 4 de Março de 1630 os cristãos-novos são expulsos da Universidade de Coimbra, tendo-se iniciado nesse dia e prologando-se durante uma semana um motim de estudantes. Relativamente ao Desacato de Santa Engrácia, leia-se o ponto 3 do capítulo II.148 António de Oliveira, Movimentos Socia is., p. 320.149 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., p. 245.150 Idem, p. 243.151 D. Pedro de Sousa, 1.° conde do Prado, sobre os fidalgos que aceitavam, por dinheiro, casar com mulheres baixas, In Ditos portugueses dignos de memória. História íntima do século XVI anotada e comentada por José H. Saraiva. Póvoa do Varzim: Publicações Europa-América, [s.n.], p. 293.

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Parte 1 - Composição do Lugar

É neste lugar, a Corte, entendido enquanto o espaço de interacção entre o rei e os

seus cortesãos, caracterizado pela existência de puritanismos de sangue e de nobreza, nos

quais a primeira nobreza de corte, títulos e ofícios maiores, assume um papel de maior

relevância, que assentaremos a nossa análise sobre um grupo específico. De acordo com

a proposta de Bourdieu que defende que um determinado grupo, ou classe, pode ser

estudado como tal mesmo que não seja um «grupo mobilizado para a luta» - introduzindo

o conceito de classe provável, ou seja, um «conjunto de agentes que oporá menos

obstáculos objectivos às acções de mobilização do que qualquer outro conjunto de

agentes»152 - propomos a razoabilidade de estudar um conjunto de indivíduos que

mantém uma prática social comum como um grupo, não obstante a possibilidade de

inexistência de um vínculo formal entre eles.153

Aliás, esta análise é sobretudo possível porque a realidade do Antigo Regime se

encontra enformada por um conjunto de juízos de valor sociais assentes, muitas vezes,

«em critérios mal definidos, mais ou menos vagos, frequentemente implícitos, e de que

os indivíduos têm consciência limitada»154, que fundamentam, como diria também

Mousnier, as diversas escalas de estratificação social, das quais, na sua perspectiva, a

mais importante será «a do estatuto social, que se define pelas diferenças de estima social,

de dignidade, de posição, de honra, de prestígio [ . ] e pelo reconhecimento mútuo dessas

diferenças numa dada sociedade»155.

A característica fundamental do grupo dos Puritanos, cujo estudo propomos

enquanto classe provável, prende-se com os esforços encetados nas suas políticas de

reprodução social com vista à preservação da pureza do sangue das suas Casa e linhagem.

Convém esclarecer que a novidade é introduzida pela impossibilidade biológica de

alteração de estado, inviabilizando qualquer mobilidade social, o que contraria o que

encontramos, por exemplo, em outras sociedades do Antigo Regime em que «são

necessárias, em média, três gerações para se mudar de ordem ou, por vezes, para mudar

de «estado» [e onde] a mobilidade social é limitada e controlada pela sociedade.»156

152 Pierre Bourdieu, O P o d er., p. 137.153 Devemos, no entanto, lembrar que muitas vezes o conceito de grupo é «tão ambíguo como indispensável», dado que, como tão bem refere Peter Burke, é possível observar em todas as sociedades relações que «incluem o sentido de solidariedade no seio de um determinado grupo, o seu sentido da diferença em relação (e possível conflito com) aos outros grupos e o sentido da hierarquia, da posição relativamente aos outros». Peter Burke, Sociologia e História. Porto: Edições Afrontamento, 1990, p. 56.154 Roland Mousnier As hierarquias., p. 7.155 Ibidem, pp. 12-15.156 Ibidem, p. 20.

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Os Puritanos

Talvez por isso seja mais intuitiva a identificação de um grupo como o dos Puritanos com

o de uma sociedade de castas onde «a pureza religiosa provém da pureza do sangue [e] o

pertencer a uma casta é uma questão de raça»157, apesar de não podermos ir muito além

da identificação uma vez que «o sistema de castas não é um mecanismo»158 e como

sabemos os Puritanos foram acusados pelo marquês de Pombal de que «não só se

arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que

casavão nellas [Casas puritanas], ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os

defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na

escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos

exemplos»159. Assim, e não seremos os primeiros a propô-lo, mais do que um sistema de

castas, podemos falar de um grupo cuja reprodução social se encontra orientada por um

princípio de casta160, mais constante no discurso do que na prática e que continua a ser

muito influenciada por uma matriz vincadamente aristocrática e muito condicionada pela

sua filial relação com o príncipe.

E se é verdade que um grupo destes dificilmente poderia ter “vingado” na

sociedade portuguesa do Antigo Regime sem o patrocínio real, nomeadamente durante o

reinado de D. Pedro II, considerado «um dos mais brilhantes da historia da aristocracia

portugueza, e talvez o do apogeu da sua influencia na vida nacional»161 - onde nos parece

poder verificar-se um aumento da influência do partido puritano na Corte dos reis de

Portugal - é para o reinado de D. João V que inúmeras referências passam a associar este

movimento a um sentido mais estrito do puritanismo, sendo também no século XVIII

onde encontramos inúmeras referências feitas por estrangeiros que passam pela Corte

portuguesa e que referem a existência deste grupo.

Com base nos principais relatos destes estrangeiros162, é a experiência da fé, pelos

portugueses, a característica mais comummente referida, acentuando, no entanto, que esta

religiosidade é superficial, fanática, supersticiosa, escrupulosa e violenta, sendo Gorani o

mais pertinaz ao identificar a contradição existente entre «os esforços empregados para

157 Ibidem, p. 23.158 Ibidem, p. 25.159 António Delgado da Silva (org.), Supplemento., p. 189.160 Conceito proposto pelo orientador da presente Dissertação, o Prof. Jorge Pedreira.161 Zacharias d ’Aça, Um D. João de Castro de Capa e Espada. Estudo histórico sobre a aristocracia e a sociedade portugueza no seculo XVIII. Lisboa: Imprensa de Libanio da Silva, 1900, pp. 22-23.162 Baseámo-nos nos relatos dos estrangeiros publicados, tanto ao género de livros de viagens, como epistolar, bem como em alguns trabalhos sobre a estadia de estrangeiros em Portugal, devidamente identificados no ponto relativo às Fontes, na Introdução desta dissertação.

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Parte 1 - Composição do Lugar

converter maometanos, judeus e heréticos à religião católica romana»163 e a observância

dos efeitos que os estatutos de limpeza de sangue causavam na sociedade portuguesa,

nomeadamente quanto à violência do Auto de Fé, que, em Portugal, adquiria um estatuto

de festa visto «constituir para os portugueses um verdadeiro divertimento»164. A par desta

constatação está o facto de os portugueses serem anti-estrangeiros, porque «tudo o que é

estrangeiro lhes desagrada e indigna»165 e um «português considera qualquer estrangeiro

um herege»166, não obstante Lisboa estar cheia «de uma tal variedade de caras singulares,

que fazem o viajante duvidar se Lisboa fica na Europa» sendo «lícito prever que, daqui a

poucos séculos, não existirá uma gota de sangue português puro, porque terá sido todo

corrompido pelos judeus e negros, apesar do seu muito santo tribunal da Sagrada

Inquisição»167, levando a que lord Tyrawley comentasse, com tanto de graça como de

perspicácia, que os portugueses «se dividiam em Judeus e em Sebastianistas. Metade,

disse ele, espera a vinda do Messias e a restante a chegada de D. Sebastião.»168 Baretti,

no entanto, não se fica por aqui, acrescentando que «são poucas as famílias portuguesas

que se mantêm europeias puras e, com o andar do tempo, abastardar-se-ão todas»169,

promovendo, necessariamente, a discussão se a pureza, no discurso coevo, não estaria

também relacionada com um embrionário sentido de nacionalidade.

Ana Cristina Silva e António Manuel Hespanha, quando abordam a questão da

existência de uma identidade portuguesa no Antigo Regime, referem «que os Portugueses

não eram apenas isso; que eram também (e sobretudo) católicos, que eram (muito menos)

europeus, que eram hispânicos; que eram, depois, minhotos ou beirões; vassalos do rei

ou de um senhor; eclesiásticos, nobres ou plebeus; homens ou mulheres. E que, sendo

tudo isto, sem deixarem de ser portugueses, eram portugueses de uma maneira muito

menos nítida e unidimensional do que o que hoje supomos, à luz dos paradigmas de

distinção nacional (agora, em português) estabelecidos desde o século passado»170.

Omitiram, nesta definição, que os portugueses eram brancos, o que, desde sempre e não

se observando, originou suspeitas de mesclas com outras “raças”, como então se

chamavam, e que, não obstante os eventuais regionalismos (sotaques) que existissem,

163 Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o . , p. 107.164 Charles Fréderic de Merveilleux in Castelo Branco Chaves, O Portugal d e . , p. 168.165 Ibidem, p. 149.166 Heinrich Friedrich Link, Notas de u m a ., p. 135.167 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 158.168 Cit. in James Murphy, Viagens e m ., p. 190.169 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 119.170 In «A Identidade Portuguesa». In António Manuel Hespanha, «O A ntigo . », p. 19.

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Os Puritanos

partilhavam uma língua comum, capaz de distinguir efectivamente um português de um

estrangeiro, tanto pela fala, como, por exemplo, pelo nome próprio utilizado. Percebemos

então que, para o período de análise, a identidade portuguesa resultava da intersecção de

um conjunto de características, algumas exclusivas, como a língua e o nome próprio,

outras não, como a religião ou a cor de pele. É certo, e comprovamo-lo pelos relatos dos

estrangeiros que referimos acima, que estas características foram suficientes para definir

uma identidade portuguesa susceptível de análise por comparação/ oposição com outras,

não apenas europeias, mas existe da parte de historiadores e sociólogos um cuidado na

abordagem “interna” deste conceito, ou seja, enquanto identidade que nasce de uma

consciência colectiva, geográfica e socialmente transversal, e por isso, nacional.

Ainda assim, sabemos que a questão da identidade foi sendo forjada tanto «pelas

alterações políticas» como pelos «conflitos com os castelhanos»171, salientando Sobral

que a realidade portuguesa apresenta ainda «uma forte homogeneidade e expulsou ou

integrou - com violência - há muitos séculos etnias minoritárias, como os mouros e os

judeus»172. Assim, permitimo-nos questionar se correntes como o lusitanismo e o

sebastianismo - enquanto óptica mística, profética e mitológica das origem e destino do

povo português como povo eleito -, aos quais poderíamos acrescentar os puritanismos

tratados no ponto anterior, não foram, para a aristocracia portuguesa, a concretização de

uma necessidade de identificação com um sentimento puramente português, através da

criação de mecanismos de garantia da pureza das sociedade e “raça” portuguesas, com

impactos visíveis tanto na imagem que deixavam nos estrangeiros que visitavam Portugal,

como na definição das políticas e estruturas endógenas.

Principiámos o presente ponto com uma frase atribuída ao 1.° conde do Prado, D.

Pedro de Sousa, onde este deixa transparecer que, não obstante ser a maior obrigação de

um chefe de uma família fidalga o engrandecimento da sua Casa, este não deverá ser

obtido à custa do empobrecimento da qualidade sua linhagem173, o que somado ao

crescente sentimento anti-judaico e a «uma política, com alguns resultados, destinada a

promover os casamentos mistos entre fidalgos portugueses e castelhanos e, ainda, a

171 José Manuel Sobral, «A formação das nações e o nacionalismo: os paradigmas explicativos e o caso português». In Análise Social, vol. XXXVII (165) (2003), pp. 1108-1109.172 Idem, «Nações e Nacionalismo. Algumas teorias recentes sobre a sua génese e persistência na Europa (Ocidental) e o caso português». In Inforgeo, 11 (1996), p. 31.173 Um paradigma que se perdeu, de alguma forma, com as conquistas ultramarinas, como defende Ivone Correia Alves, Gamas e Condes da Vidigueira: percursos e genealogias. Lisboa: Edições Colibri, 2001, p. 159.

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Parte 1 - Composição do Lugar

deslocação de muitos fidalgos portugueses para Madrid»174 nos tempos dos Habsburgos,

não será difícil enquadrar a realidade portuguesa que sai da Restauração, principalmente

em relação à sua nobreza, como extremamente sequiosa de um paradigma capaz de

marcar uma identidade indiscutivelmente portuguesa e inegavelmente pura e de se

afirmar face à muita nobreza portuguesa que se aliou, neste tempo, aos castelhanos, tendo

inclusivamente muitos deles permanecido em Madrid. Também interessantes são as

conclusões de Monteiro quando analisa o grupo dos Puritanos e conclui que, longe de

serem a maior e mais graduada nobreza do reino, é sobretudo composta por Casas

aristocráticas recém tituladas que se conseguem destacar ao apoiarem D. João IV175.

Terminamos salientando que, longe de querermos defender a existência ou não de

um sentido de nacionalidade portuguesa durante este período, a questão da identidade foi

sendo advogada recorrentemente pelos Puritanos numa tentativa de legitimação assente

na preservação da pureza dos “verdadeiros e imaculados” portugueses, não obstante o

cuidado em manter esta questão a um nível quase exclusivo da reprodução social das suas

Casas, numa tentativa de não constituir nunca, directamente, uma afronta ao poder real

que lhes custaria, como mais tarde confirmamos pela leitura do Alvará Puritano, uma

parte considerável do seu património, parecendo-nos inegável que a questão puritana, até

pelas imagens que deixou nos estrangeiros que passaram por Portugal, estará intimamente

relacionada com um entendimento de identidade capaz de justificar posições hierárquicas

privilegiadas no acesso aos principais benefícios resultantes da liberalidade régia.

174 Rui Ramos [et al.], História d e . , pp. 287-288.175 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 133.

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Pa r t e 2 - Os Pu r i t a n o s

- § -

1. O Alvará Puritano

A sua prosa não podia considerar-se um modelo de

elegância; pelo contrário, era um tanto pastosa e

pesada, mas continha ideias; boas ou más, erróneas

ou certas, vinha prenhe de ideias, coisa rara num

tempo em que os escritores e os poetas se

compraziam em discursos difusos e em versos ocos,

vazios de sinceridade e alheios a qualquer ideal

elevado}16

Foi Monteiro o primeiro a propor que os Puritanos fossem estudados a partir do

já referido Alvará de 1768177 - que marca o princípio da sua extinção enquanto tal -

proposta que seguimos no presente trabalho, não apenas por coerência historiográfica,

mas, sobretudo, porque acreditamos ser este a melhor justificação para a quase total

ausência de documentação sobre este grupo, bem como sobre a importância que lhe era

reconhecida na sociedade portuguesa do Antigo Regime, capaz de promover um

enquadramento legal contra a sua própria existência. Adicionalmente, não deixamos de

reconhecer a ironia subjacente ao facto de os documentos que tiveram como objectivo

apagar da história os Puritanos serem precisamente os mesmos propostos para

principiarem a imortalização da sua realidade nos anais da história portuguesa,

definitivamente não enquanto paradigma, mas inquestionavelmente enquanto facto.

No presente ponto debruçar-nos-emos, portanto, sobre o compêndio de legislação

pombalina produzido em 1768 com o objectivo específico de tratar o tema dos Puritanos,

tentando enformar o desenvolvimento desta segunda parte da dissertação a partir das

176 Mário Domingues, sobre o marquês de Pombal, in Marquês de P om bal., p. 33.177 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 133.

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Os Puritanos

principais ideias e conclusões aí defendidas. Este compêndio inclui não apenas o Alvará

de 5 de Outubro de 1768 (“Alvará”), mas também o Parecer do Conselho de Estado

(“Parecer ”) e a Consulta da Mesa do Desembargo do Paço que o precedeu (“ Consulta”),

datados, respectivamente, de 3 de Outubro e de 23 de Setembro de 1768, e ainda o Termo

que fez o conde de Vilar Maior (“ Termo” em execução do Alvará, datado de 11 de

Outubro do mesmo ano178.

Não será de mais lembrar a complexidade política inerente ao período em análise:

se é verdade que para o Antigo Regime é o príncipe que assume o epicentro de todas as

relações de poder, enquanto cabeça de uma concepção corporativa da sociedade179, o

reinado de D. José poderá ser descrito por um centro bicéfalo, onde as fronteiras entre a

vontade do rei e a pena do marquês de Pombal são, na maioria das vezes, ténues e

imperceptíveis180. Importante para o entendimento da legislação josefina/ pombalina está

o facto, sustentado por Pombal, «que a majestade não consistia somente na pessoa do rei,

mas também nas suas leis»181, que importa ter presente de uma forma especial neste

estudo uma vez que, por um lado, nos permite intuir o empenho do ministro de D. José

em reflectir o seu ideário político através das suas leis e por outro, apercebermo-nos da

mudança que se está a operar na sociedade portuguesa, nomeadamente na substituição do

paradigma corporativo pelo regalismo, que se começa a operar no consulado

pombalino182.

Talvez um dos aspectos mais desafiantes numa análise ao compêndio de

legislação pombalina relativo aos Puritanos seja o seu enquadramento temporal na acção

política do ministro de D. José. É certo que os dois vectores maiores desta mesma acção

política podem ser encontrados como fundamento do próprio Alvará, tanto a

“domesticação” da Nobreza - intimamente ligada à secularização do poder político -,

como, paralelamente, a tentativa de eliminar da sociedade portuguesa quaisquer

distinções entre cristãos meramente baseadas na duração temporal da sua conversão. Mas

se relativamente ao primeiro, o grande apogeu do controle da nobreza ocorre com o

Processo dos Távoras em finais da década de 50 do século XVIII (permanecendo muitos

178 Cf. Anexo 2. Doravante utilizaremos as referências a itálico, seguidas do número da página a que respeitam, com base na versão de António Delgado da Silva (org.) - Supplemento.179 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha - «A Representação d a . , pp. 114-116.180 Nuno Gonçalo Monteiro, D. J o s é ., pp. 9-12.181 Rui Manuel de Figueiredo Marcos, A Legislação., p. 100.182 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha, «A Representação d a . pp. 124-125. António Leite defende também a ideia de «regalismo exacerbado», in António Leite, A Ideologia., p. 3.

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Parte 2 - Os Puritanos

aristocratas presos até à morte de D. José), já o segundo só é efectivado em 1773 com a

legislação contendo o fim da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Em 1768, e

não obstante encontrarmos em algumas colectâneas de legislação a assunção de que este

Alvará se enquadraria no segundo vector acima referido183, não encontramos vestígios de

uma motivação maior de Pombal, ou do rei, existindo apenas uma correlação temporal

com a publicação da Dedução Chronológica e Analítica (1767) e a criação da Real Mesa

Censória e a abolição dos róis de fintas, as listas relacionadas com o pagamento de

impostos dos cristãos-novos, em Abril e Maio de 1768184, respectivamente, ou com o

casamento não consumado do conde da Redinha, filho segundo de Pombal, com D. Isabel

Juliana de Sousa Coutinho, em Abril de 1768. Maxwell avança ainda com a hipótese da

legislação pombalina contra os Puritanos se enquadrar no âmbito «de um processo de

enobrecimento dos colaboradores de Pombal, recrutados entre mercadores e homens de

negócios que participavam nas empresas com apoios estaduais»185, o que dificilmente

poderia ser considerada uma questão de ingresso na aristocracia de Corte.

Voltando ao compêndio de legislação relativa aos Puritanos, este encontra-se

sustentado nos estatutos da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento da

Freguesia de Santa Engrácia que, como já referimos, tinha sido criada para expiar o

desacato ao Santíssimo Sacramento ocorrido na Igreja da mesma freguesia, em 19 de

Maio de 1630, sendo composta pela «primeira, e mais graduada Nobreza»186. De acordo

com o texto do Alvará, estes estatutos teriam sido alterados, em 1663, passando a

incorporar, no seu capítulo 5.°, que «A Eleição [de novos membros] se fará nomeando

cada hum dos doze, huma pessoa para irmão, declarando debaixo de juramento, que tem

recebido, que não se lhe falou na dita pessoa para a propor, e que a tem por Christão

Velho sem nunca se entender o contrario»187, entendido este como sendo «sem fama ou

183 Nomeadamente, e como já referido, a colectânea em BNP, COD. 6937.184 Jorge Martins, Portugal e o s . , p. 213.185 Para Kenneth Maxwell, tal poderia ser demonstrado pelo facto de um desses homens de negócio da praça de Lisboa, Joaquim Inácio da Cruz, ter recebido, em 1768, «o título de Sobral e as propriedades a ele vinculadas», o que julgamos tratar-se de um equívoco uma vez que Joaquim Inácio da Cruz só terá adquirido terras na Vila de Sobral de Monte Agraço em 1770, datando a instituição deste morgado de 19 de Dezembro de 1776185. Adicionalmente, já desde 1763 que o seu irmão, José Francisco da Cruz, seria Cavaleiro Fidalgo da Casa Real185, ao qual se seguirá Joaquim Inácio em 5 de Janeiro de 1769, esta data já temporalmente correlacionável com a do Alvará185, sendo que à data, releva acrescentar, j á exercia os cargos de Tesoureiro-mor do Erário Régio, Provedor da Junta do Comércio e Conselheiro da Fazenda Real. Kenneth Maxwell, O Marquês d e . , p. 170 e Mário Eurico Lisboa, O Solar do Morgado da Alagoa. Os irmãos Cruz e os significados de um património construído (segunda metade do século XVIII). Lisboa: Edições Colibri, 2009, pp. 95-101.186 Consulta, p. 188.187 Alvará, p. 182.

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Os Puritanos

rumor em contrario verdadeira ou falsa», parecendo este acrescento resultar da

interpretação, resultante da tradição, da fórmula e não da sua redacção188. Este facto

parece confirmado também pela visão de Baretti que em 1760 escrevia que «a incessante

diligência da Inquisição em detectar judeus, fá-los redobrar as artes de se encobrirem e (o

que completa a desgraça) multiplica a superstição e fomenta a hipocrisia»189. Tentaremos

perceber a importância desta Confraria na sociedade portuguesa do Antigo Regime no

ponto 3.° da presente parte, cumprindo apenas referir os Estatutos enquanto

enquadramento e mote sobre o qual se desenvolve toda esta legislação contra o

puritanismo, uma linha de desenvolvimento de um raciocínio que nem sempre resulta

clara, confirmando-se aqui, mais uma vez, a vitória do pragmatismo sobre a coerência do

discurso na acção de Pombal.

Ainda assim, e parecendo confirmar uma coerência cronológica na acção de

Pombal, no texto da Consulta, identifica-se, sobretudo, uma linha de continuidade com o

texto da Dedução Chronológica e Analítica - publicado um ano antes por José Seabra da

Silva190 (cuja autoria é comummente aceite, pelo menos em parte, como sendo de Pombal)

- que defendia a existência de um «Sinédrio Jesuítico» que teria estado por detrás de todas

as grandes alterações políticas e sociais ocorridas em Portugal desde a entrada da

Companhia de Jesus no país, ainda no século XVI, tais como a união dinástica, a

Restauração e o afastamento do rei D. Afonso VI do poder, apenas para referirmos

algumas. Certo é que no compêndio pombalino dos Puritanos apenas um nome é referido:

o do jesuíta Nuno da Cunha191.

A proposta de apresentação de um jesuíta como um homem de Corte não é

inédita192. A sua presença constante nas principais cortes da Idade Moderna - na Europa

188 Consulta, p. 188. Nuno Gonçalo Monteiro refere ainda que esta fórmula se encontraria reproduzida transversalmente na sociedade portuguesa, e que, a ser verdade, talvez o puritanismo exagerado se encontra mais na forma da sua efectivação pelos responsáveis pela eleição do que, outra vez, da sua redacção. In Crepúsculo., p. 141.189 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 160.190 José Seabra da Silva, Deducção Chronologica, e Analytica. Parte Primeira, na qual se manifestão pela successiva serie de cada hum dos Reynados da Morarquia Portugueza, que decorrêrão desde o Governo do Senhor Rey D. João III. até o presente, os horrorosos estragos, que a Companhia denominada de Jesus fez em Portugal, e todos seus Dominios, por hum Plano, e Systema por ella inalteravelmente seguido desde que entrou neste Reyno, até que foi delle proscripta, e expulsa pela justa, sabia, e providente Ley de 3. de Setembro de 1759, 3 Volumes. Lisboa: Na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1767-1768.191 Consulta, p. 188. Na verdade são referidos mais três nomes, a saber: Mariana de Mendonça, Fernão Teles da Silva e D. Manuel da Cunha, todos estes, no entanto, pela relação que tinham com o Pe. Nuno da Cunha (respectivamente, irmã, cunhado e irmão).192 Leia-se, por exemplo, Jonathan Wright, Os jesuítas: missões, mitos e histórias. Lisboa: Quetzal, 2005, p. 16; Dauril Alden, The Making o f an Enterprise. The Society o f Jesus in Portugal, its Empire, and Beyond 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996, p. 229; ou Georg Schurhammer, Francisco Javier:

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Parte 2 - Os Puritanos

e fora dela - cedo instituiu o “saber estar” em Corteo parte integrante da formação de um

jesuíta, não obstante o facto, tão frequentemente observado, desse “saber estar” fazer já

parte da educação de muitos deles à data de entrada na Companhia. Um cunho

marcadamente aristocrático - que ganhou também uma dimensão aristocratizante - que

figuras como Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Francisco de Borja e Luís de Gonzaga,

só para referirmos alguns, vieram perpetuar.

É precisamente esta característica dual de muitos dos jesuítas (nobres e religiosos)

que leva a que se considere sempre as duas hipóteses na análise da influência que a

Companhia de Jesus teve no governo do reino durante este período, sendo certo que,

independentemente de resultar de uma acção individual de alguns padres ou de uma

política concertada da ordem religiosa, sempre foi associada ao todo, mesmo

comprovando-se que, em determinados momentos, este não foi coeso. Salientamos ainda

que muitos dos ofícios que alguns padres jesuítas foram assumindo junto da Casa Real

resultavam de estimas pessoais dos monarcas e não tanto de opções políticas favoráveis

à Companhia de Jesus, uma realidade à qual o Pe. Nuno da Cunha não foi alheio quando

afastado da Corte pela rainha regente D. Catarina de Gusmão, sendo substituído por outro

jesuíta com quem estava em conflito193, não obstante ser amplamente referido no texto da

Dedução, nomeadamente como o homem «cujas forças, e maquinações ficão bem

manifestas nos dous Reynados próximos precedentes [D. João IV e D. Afonso VI]; e que

neste [D. Pedro II], de que estou tratando, fez os estragos, que logo se verão com tanto

sentimento, como horror»194.

Talvez por este motivo resulte pouco clara ou forçada a ideia defendida acima

sobre a existência de um Sinédrio Jesuítico, não obstante a influência inegável que a

Companhia teve no período em análise, transversal a toda a sociedade, e que vem bem

descrita pelo francês Teófilo Daupineaut quando refere, para o reinado de D. Pedro II,

que «C ’est donc sur troispersonnes que repose le gourvernement du Portugal, le Roy, le

Duc de Cadaval, et le Marquis d ’Allegrette; sans parler ici des Jésuites»195. Mas terá

sido, sem dúvida, a publicação dessa obra de referência no discurso anti-jesuítico da época

que levou à inclusão do nome do Padre jesuíta Nuno da Cunha no Alvará, quanto mais

su viday su tiempo, trad. Félix de Areitio Ariznabarreta... [et al.]. Bilbao: Mensajero, 1992, Vol. II, p. 201, para o exemplo de Francisco Xavier.193 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, 4 Tomos. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1931-1944, pp. 509-510.194 José Seabra da Silva, D edução., Divisão X, §. 395, p. 225.195 Edgar Prestage, «Memórias so b re . », p. 18.

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Os Puritanos

não fosse pela quantidade da sua correspondência e publicações que aparece enquanto

fundamento da teoria defendida por Pombal na mesma obra e, mais ainda, pela ligação

do Pe. Nuno da Cunha à Mouraria, um bastião do puritanismo1 9 6 , tanto por ser a casa

onde terá nascido e onde cresceu, como enquanto cunhado que foi do primeiro conde de

Vilar Maior.

Mas o texto da Consulta consagra ainda outros ideais pombalinos que vão além

da mera oposição à acção da Companhia de Jesus em Portugal e no mundo, como o da

sujeição do príncipe à sua nobreza ou a promoção de uma nobreza enfraquecida incapaz

de cumprir a sua função de engrandecimento do “Estado” e do seu príncipe. Um ponto

também relevante no texto da Consulta é a assunção da prática do puritanismo -

«ordenada a semiar sizanias na mesma Nobreza, para levantar no meio della sedições, e

discórdias, e para denegri-la com injurias tão atrozes, e offensivas da paz publica de

Minha Corte, como da Magestade da Minha Corôa, da Authoridade do [sic] Meus

Tribunaes, e das causas por elles julgadas, cuja inviolavel observancia constitue hum dos

mais solidos fundamentos do socego dos Povos»197 - enquanto crime de lesa-majestade.

Se o texto da Consulta generaliza a acusação sobre a prática deste crime por todos os que

envolve na prática do puritanismo - jesuítas e Puritanos - , o Parecer, enquanto

documento de consulta do Conselho de Estado (que, acreditamos, ainda no tempo de

Pombal, seria mais permeável e sensível à questão dos Puritanos), não hesita em isentar

os actuais que «tem seguido o mesmo puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma

geral preocupação, que achárão estabelecida», sugerindo que o crime cometido pelos seus

antepassados fosse remetido a um «profundo silêncio» e que a benignidade do rei se

manifestasse na manutenção, pelos actuais, das suas Casas, sujeita ao cumprimento do

estabelecido no Alvará. Já o Alvará opta por não elaborar a questão da manutenção da

prática do crime de lesa-majestade pelos actuais Puritanos (mantendo inalterável, no

entanto, todo o discurso anti-jesuítico), insistindo, sobretudo, na ideia sobre a prevalência

da vontade do príncipe sobre a sua nobreza e o quanto a prática do puritanismo atenta

contra a mesma, ordenando que se cumpram seis acções relativamente a esta questão,

entre elas: a obrigação de todos os Puritanos em idade de casar que o fizessem, no espaço

de quatro meses, fora do grupo, perdendo as suas Casas, caso não cumprissem esta

decisão, todos os bens da Coroa e Ordens de que dispunham; a elaboração de novos

196 Ideia que defenderemos adiante, mas que poderá ser confirmada por ser uma das Casas mais procuradas para casamentos por outras, de acordo com Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., pp. 132-133.197 Alvará, pp. 181-182.

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Parte 2 - Os Puritanos

Estatutos da Confraria sem quaisquer laivos de puritanismo e, por fim; a manutenção do

secretismo do Alvará que deveria ser seguido da publicação de outro, público, onde se

impedisse a publicação de quaisquer textos resultantes dos processos de habilitações às

Ordens Militares Religiosas ou ao Santo Ofício que pudessem por em causa o julgamento

quanto à nobreza ou limpeza de sangue de qualquer pessoa198.

2. O Relatório do Monsieur de Torcy

Les fidalgues portugais sont persudés qu’il n ’y a

point au monde de meilleur noblesse que la leur. On

ne leur parle dès leur infance que de la grandeur de

leurs maisons.199

Ainda hoje se encontra na Biblioteca Nacional de França, no Départment des

manuscripts, Recueil de copies de memóires diplomatiques, em francês, com a cota 7120,

um documento intitulado «Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684»

(fol. 41). O conhecimento deste documento por parte dos historiadores portugueses data,

pelo menos, de 1827, com a publicação, pelo segundo visconde de Santarém, de um

resumo dos documentos com referência a Portugal presentes, entre outros, na actual

Biblioteca Nacional de França200. Um século depois, em 1926, Ayres de Sá publica um

artigo de cariz eminentemente rácico, num suplemento aos Anais das Bibliotecas e

Arquivos, sobre uma pretensão alemã relativa à aquisição de Angola e Moçambique a

Portugal, com uma referência à obra alemã Die Deutschen Kolomien, de 1913 mas que

teria sido reeditada por essa altura, onde se dizia dos portugueses, e da sua capacidade de

gestão dos territórios coloniais, que «a sua mistura com os indígenas africanos agravou

os sinais de degenerescencia que tem justificado a denominação de negros-brancos dada

198 Através da análise do compêndio de legislação presente em António Delgado da Silva (org.), Collecção d a . , não conseguimos identificar a execução desta decisão resultante do Alvará que, sem dúvida, ajudaria a uma mais clara associação deste compêndio de leis no fim da distinção entre cristãos-velhos e cristãos novos.199 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma R elação., p. 78.200 Noticia dos Manuscriptos Pertencentes ao Direito Publico Externo Diplomatico de Portugal e á Historia e Literatura do Mesmo Paiz que Existem na Bibliotheca Real de Paris e Outras da Mesma Capital, e nos Archivos de França, examinados, e coligidos pelo Segundo Visconde de Santarém, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1827, pp. 60-64.

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Os Puritanos

aos portugueses em África»201. Este é, então, o mote para que, em nota de rodapé,

introduza a parte deste documento relativa ao f. 87 - Families des fidalgues de Portugal

- 1684 (apresentando-a em forma de resumo), onde discorre sobre os reparos das

principais linhagens portuguesas, acrescentando que a mesma teria sido «conhecida, mas

não publicada» pelo visconde de Santarém com vista à protecção da sua própria

ascendência202, concluindo «que, desde o século XVII, os títulos de barão a duque, em

Portugal, são um indício de judaismo e moirismo que desaparecerá, com esses títulos, se,

um dia, se levantar a questão semita».203

Quanto à autoria do referido documento, o visconde de Santarém refere-se ao

autor por «este Ministro», não concretizando quem seria ou se acreditava, como Ayres de

Sá, que era parte integrante do documento que, em termos de fólio, o precedia, ou seja,

as Memoires de Mr. le Comte de la Vaugoion sur ce qui s ’est passé pendant son

ambassade en Espagne en 1683 et 16832 0 4 , atribuindo por isso a sua autoria ao conde de

la Vauguyon205, não obstante o documento que se seguia ser da autoria de M. de

Guénegaud206, podendo, desde logo, ter sido levantada a dúvida sobre a sua autoria, o que

veio a acontecer posteriormente.

Também importa salientar a crítica que, em 1940, o padre Carlos da Silva Tarouca

faz ao texto de Ayres de Sá, centrando-se no resumo deste e por análise do texto original

presente na Biblioteca Nacional de França207. Finalmente, só em 1960 o texto original do

«Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» é integralmente publicado,

201 Ayres de Sá, «Dois liv ro s .» , pp. 56-76.202 Indiscutível é o facto de, sobre o documento, o visconde de Santarém apenas referir que «São mui notáveis as opiniões politicas deste Ministro a nosso respeito, e o interesse, que parecia tomar, em que perdessemos a independencia, que conquistámos na glorioza guerra da Acclamação, triunfando constantemente de Castella [ . ] Foi, sem duvida, em consequencia da errada opinião, que aquelle Ministro fazia da Nação Portugueza, que elle ordenou o referido esboço Statistico-Politico, e talvez de accordo com o Ministerio Hespanhol, para dispôr a França, no cazo de nova invazão de Castella em Portugal.», in Noticia dos Manuscriptos Pertencentes., p. 60.203 Ayres de Sá, «Dois liv ro s .» , p. 61. Salienta-se que, para o presente trabalho, o interesse deste texto se centra exclusivamente no conhecimento que, desde o visconde de Santarém, se tem sobre o texto do «Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» que ora analisamos, não representando o seu conteúdo nada mais do que uma argumentação sobre questões rácicas, que voltavam a estar em voga no tempo a que o texto se reporta.204 BNF, Département des manuscrits, cota 7120, f. 1. Recueil de copies de mémoires diplomatiques, em francês.205 Que de acordo com Ayres de Sá, seria Antoine de Quélen de Stuer de Caussade, conde depois duque de la Vauguyon (1703-1772), se bem este, como vemos, apenas nasceu em 1703 o que torna impossível ter escrito um texto sobre a corte portuguesa em 1 6 8 4 . Assim, acreditamos tratar-se de André de Béthoulat, conde de la Vauguyon e embaixador de França no período compreendido entre 1630 e 1693.206 Mémoires sur le mariage de llnfante de Portugal, par M. de Guénegaud. BNF, Département des manuscrits, cota 7120, f. 113. Recueil de copies de mémoires diplomatiques, em francês.207 Carlos da Silva Tarouca, «História da R aça .» .

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Parte 2 - Os Puritanos

pela mão de Joaquim Veríssimo Serrão, altura a partir da qual podemos assumir que o

seu conteúdo passa a estar à disposição dos historiadores portugueses e entra,

definitivamente, para as fontes de historiografia portuguesa relativas ao reinado de D.

Pedro II.

É precisamente Serrão quem vem questionar a autoria do texto, concluindo que a

mesma deveria ser atribuída ao marquês de Torcy, Jean-Baptiste Colbert, aquando da sua

passagem por Portugal, em 1684, enquanto enviado extraordinário do rei Luís XIV de

França, para assistir nos eventuais problemas diplomáticos que a rejeição da infanta D.

Isabel pelo duque de Sabóia poderiam ter causado às relações entre os dois países208.

Certo é que, até ao grande estudo de Monteiro, amplamente referido neste trabalho, parece

não ter existido um interesse por parte dos historiadores portugueses em testar a hipótese

sugerida por este documento, ou seja, a da existência de uma característica fracturante no

seio da aristocracia portuguesa, capaz de influenciar relações e alianças, com claros

impactos ao nível da reprodução social das Casas aristocráticas.

Não é, no entanto, inédito o interesse dos estrangeiros que passavam por Portugal

pela estrutura da sociedade portuguesa, devendo ser esclarecido que se à maior parte dos

relatos de estrangeiros que hoje em dia conhecemos interessavam sobretudo os usos e

costumes dos portugueses - podendo discriminar, ou não, o caso particular dos Grandes

da Corte - para os diplomatas, o peso e a influência da aristocracia junto do rei e da Corte

(bem como as suas características mais distintivas) eram frequentemente observados nos

relatos que enviavam para os seus países de origem, levando, inclusivamente, à

preocupação de D. Luís da Cunha quando afirmava que quando chegava um estrangeiro

à Corte, «cada [Casa] (...) informa do bom da sua família, e do máo das outras: e assim

sabem, o que chamamos os podres de todas»209.

A parte do Relatório relativa às famílias fidalgas de Portugal encontra-se dividida,

também ela, em duas partes: uma primeira, que se centra num dos critérios de definição

de grandeza que influencia directamente a reprodução social do grupo, a limpeza das

Casas; e uma segunda parte em que divide a nobreza portuguesa em vinte e uma linhagens

208 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., pp. 1-18.209 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 94. Salientamos que se tal afirmação nos ajuda a enquadrar as fontes para a elaboração do Relatório, nada podemos concluir quanto ao facto de se ter baseado apenas numa fonte ou, pelo contrário, ter cruzado fontes distintas que lhe permitissem elaborar um critério capaz, nomeadamente, de ser critico em relação a muitas das informações que ia recolhendo na corte portuguesa.

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Os Puritanos

(identificadas pelo apelido) e, para cada, refere quem são os seus descendentes por

varonia e que reparos ou mesaliances2 1 0 podem ser atribuídos às mesmas.

De acordo com Torcy, podia imputar-se à nobreza portuguesa as mesmas

preocupações que se imputavam à mulher de César, que mais do que sê-lo, era importante

parecê-lo, motivo pelo qual os portugueses faziam uso indistinto dos apelidos dos seus

antepassados, tentando com isso ocultar qualquer defeito que outro apelido pudesse trazer

à sua Casa. Acrescenta ainda que estes defeitos tanto poderiam provir de mesaliances -

apesar de salvaguardar que, quando muito antigas, teriam menos influência - como de

sangue judeu ou mouro «qui ne s ’effacent jamais» e estes sim geradores de reparos nas

linhagens das principais famílias portuguesas.

Ao todo, Torcy elenca treze reparos que são identificáveis nas principais

linhagens portuguesas: Aragão, Azambuja, Bocanegra, Brandão, Caiada, Granada,

Zuzarte, Lucena, Lafetá, Pinheiro, Talaveira, Torres e Zurriga, nomes pelos quais,

acreditamos, seriam reconhecidos no período que ora estudamos. Adicionalmente,

identifica ainda, na descrição das principais famílias de Portugal, o de Bobadilha, sem

esquecer a menção ao reparo genérico de judeu. Deixaremos a proposta de identificação

do grupo para o ponto quatro deste capítulo, centrando-nos agora nestes reparos, tentando

estabelecer pontes entre o Alvará, os Estatutos da Confraria dos Escravos de Santa

Engrácia e as fontes utilizadas neste Relatório, incluindo a tentativa de identificação de

algum sentido crítico por parte do seu autor.

A primeira ponte deverá ser estabelecida com a única parte do texto dos Estatutos

da Confraria dos Puritanos que conhecemos que, no fundo, acaba por ser um reflexo do

quanto os puritanismos influenciavam transversalmente o dia-a-dia da sociedade do

Antigo Regime: «a fama, ou rumor em contrario, verdadeira ou falsa». Esta condição

poderá ser enquadrada no facto de, ainda que o rumor fosse entendido por

esclarecidamente falso, continuava por explicar o que lhe tinha dado origem, podendo

entender-se que onde há fumo, há fogo, e este motivador de um acção capaz de manchar

toda uma descendência, o que, em ambos os casos, seria considerado um atentado à sua

210 Assumiremos sempre a apresentação deste termo em francês, reconhecendo que o sentido que Torcy lhe dava vai para além da sua tradução literal, “más alianças”, centrando-se sobretudo num conceito amplamente tratado pela genealogia: os casamentos desiguais, que estavam relacionados com a realização de um casamento abaixo da condição social de um dos nubentes.

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Parte 2 - Os Puritanos

nobreza, adquirindo assim o mesmo valor, tornando a verdade, ou a percepção dela, um

elemento de análise meramente circunstancial.

Outra ressalva que pode ser feita ao texto de Torcy, ainda que mais subtil, prende-

se não tanto com os reparos em si, mas com a origem da linhagem, o que não deverá ser

considerado como um pormenor, uma vez que muitos destes rumores escondiam também

invejas e maledicências que sempre foram utilizadas pela nobreza enquanto formas de

auto-regulação e defesa do grupo, concretizadas, nomeadamente, na sua participação

activa tanto na Mesa de Consciência e Ordens como no Tribunal do Santo Ofício. Assim,

e no que respeita às linhagens que perpetuaram estes reparos, podemos concluir que duas

delas, Aragão e Granada, descendiam de reis, cinco, Bobadilha, Bocanegra, Pinheiro,

Talaveira e Zuniga, de linhagens nobres, e as restantes sete, Azambuja, Brandão, Caiada,

Juzarte, Lucena, Lafetá e Torres, de mercadores ou heróis dos descobrimentos, em ambos

os casos de homens reconhecidamente enobrecidos.

Recorrente era também a associação de famílias oriundas de Espanha com o

judaísmo, como fica claro no texto do Relatório, quer quando refere «tous les Espanholes

qui viennent en Portugal sont ordinairement Juifs»211, a respeito do reparo Bocanegra,

ou a respeito do reparo Bobadilha «comme le nom de Bobadilla est un desfault en

Espagne, l ’alliance des Saldanhe est regardée en Portugal comme un desfault»212.

Parecem-nos, assim, saltar à vista duas primeiras conclusões sobre o relatório: a

primeira de que, confirmando o entendimento de Monteiro213, Torcy estaria de facto

muito bem informado sobre esta particularidade da nobreza portuguesa (o suficiente, pelo

menos, para a considerar digna de ser transmitida à Corte francesa); e a segunda,

resultante da primeira, de que o marquês de Pombal tinha razão quando referia que

«fazendo-se crer aos Estrangeiros, que vivem nesta Corte, que em Portugal só ha pureza

de sangue naquellas poucas Casas, ficão persuadidos, que a mesma Nobreza, se compõe

só daquelle pequeno numero de Familias Christãas velhas, e que todas as outras são

maculadas com sangue Hebreo»214, não deixando, por isso, de ser curioso o facto de uma

211 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 79.212 Ibidem, p. 101. Não será de excluir a possibilidade desta posição anti-espanhola ser ainda um resquício do período imediatamente anterior à Restauração que, entre outros, «conferiu um tom xenófobo a vários dos livros que foram então publicados». Pedro Cardim, «Estatuto territorial e debate político em Portugal e no mundo ibérico (séculos XVI-XVII). In Artur Teodoro de Matos, João Paulo Oliveira e Costa e Roberto Carneiro (coord.), História. Portugal e Espanha. Amores e desamores, Vol. 1. [Lisboa]: Círculo de Leitores, 2015, p. 395.213 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 135.214 Alvará, p. 182.

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Os Puritanos

importante parte da história deste grupo da aristocracia portuguesa ter sido perpetuada

nos anais da história justamente através dos relatos destes estrangeiros.

3. A dignidade real

Que! Algum barbadão? Diga o padre que sou rei; o

mais não importa. A dignidade real é a pia baptismal

dospeccados originaes.215

Escreve-nos Bourdieu que «o poder simbólico como poder de constituir o dado

pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do

mundo [...] só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário»216. Este

foi, também, o poder detido pelos reis durante o período que abordamos. Poderíamos

discutir a efectividade deste poder e facilmente concluiríamos que esta não foi constante

e, como já referido, resultou, no caso português, da oscilação entre períodos aristocráticos

e absolutistas, onde nem um nem outro termo alguma vez chegaram a produzir os efeitos

que muitos tentaram, em vão, defender. A ideia central que pretendemos defender neste

ponto é a da importância do rei na sociedade do Antigo Regime enquanto, sobretudo,

legitimador, formal e informal, directa e indirectamente, de todo e qualquer «sistema

simbólico»217 que possa ser identificado, o que, para este trabalho se prende sobretudo

com a importância de garantir a manutenção de um rei puritano no topo da hierarquia

social.

Torcy, ao descrever o defeito de Granada, refere que «Muley Abul Hazen

vingtiesme Roy de Grenade eut deux fils bastards [...]. Ceux qui son descendants, outre

la tache de Maometisme [do seu pai], ont encore celle de Judaísme [da sua mãe]. Cette

dernière est la plus considerable»218. No entanto, abaixo do Termo, encontramos uma

nota219 referindo que igualmente o teriam feito, entre outros, Fernando de Miranda, que

215 Resposta de D. João V a D. António Caetano de Sousa, reagindo aos “embaraços” deste. Camilo Castelo Branco (introdução e notas), M em orias., p. 156.216 Pierre Bourdieu, O P o d er . , p. 11.217 Ibidem, p.7.218 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 79.219 Salientamos o facto de na nota à versão do Termo presente no Supplemento á Collecção d e . , apenas vir referido que «Identicos Termos assignárão em os dias seguintes o Ex.mo Marquez de Valença, e de

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Parte 2 - Os Puritanos

supomos ser Fernando de Miranda Henriques, 2.° conde de Sandomil, casado com

Violante Josefa de Melo, descendente de uma família a quem Torcy imputava o reparo

Granada, mas que não era, por esse via, impedido de ser identificado como puritano, o

que parece indicar uma desconsideração deste reparo enquanto tal, permitindo-nos

questionar se tal não se poderia dever à sua origem real, ideia que defenderemos no220próximo ponto220.

Também em relação à Casa Real Portuguesa, conforme a reacção de D. João V ao

Pe. D. António Caetano de Sousa em epígrafe, existia um rumor que punha em causa a

intemporalidade da sua limpeza de sangue. Na sua obra História Genealógica da Casa

Real Portuguesa o Pe. D. António seguiu, na íntegra, as recomendações do rei

esclarecendo que «os filhos illegitimos dos Reys qualificam a nobreza de sua mãy na Real

ascendencia do pay»221, acrescentando «naõ duvidará ninguem, que quando a mãy do

Senhor D. Affonso necessitasse de nobreza, poder tinha seu pay, e seu filho, para lhe

conferirem a mais superior origem»222, continuando, no entanto, a sentir necessidade223

de confirmar quem seria, afinal, este Barbadão que veio a ser ascendente de reis, o que

fez com recurso a inúmeros nobiliários, concluindo que «concordaõ os Genealogicos ser

homem honrado, de bom, e civil nascimento»224. A verdade é que o Barbadão povoou,

durante séculos, o espírito de todos os que desejavam, de alguma forma, criticar a Casa

de Bragança, berço também das mais importantes casas aristocráticas portuguesas, como

a dos duques do Cadaval ou a dos marqueses de Valença. Avô materno do primeiro duque

de Bragança, que era filho natural do rei D. João I e de D. Inês Pires, ficou este homem

para a história como embaraço de uma ascendência que se queria imaculada, apesar de

não se encontrarem referências claras ao motivo do mesmo, apenas a sombra de uma

cristã-novice não provada, não desmentida. Torcy, por exemplo, conclui que «il estoit

cordonnier de Veiros dans la province d’Alentéje»225, não sabendo se pretendia apenas

Angeja, e outros Fidalgos», p. 191. Já na versão manuscrita que se encontra na BNP, o texto refere que «Seguem-se outros Termos que assignarão o Ill.mo e Ex.mo D. Joze Miguel João de Portugal Marquez de Vallença em Ex.am do Alvará de Ley de cinco do corrente mês de Outubro. E o Ill.mo e Ex.mo D. Pedro de Noronha Marquez de Angeja, e do Monteiro Mor do Reyno Francisco de Mello, e de Fernando de Miranda», BNP, COD. 6937, fol. 15. Já na Torre do Tombo encontrámos todos os Termos referidos no documento da BNP, in ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.220 Ideia idêntica não pode ser defendida, tout cours, para o reparo de Aragão dado que não existia nenhuma Casa apenas com este reparo.221 D. António Caetano de Sousa, História Genealógica., Tomo II, Livro III, p. 26.222 Ibidem.223 Confirmado pelo facto de dedicar 10 páginas ao assunto, Ibidem, pp. 26-36.224 Ibidem, p. 27.225 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 98.

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referir, como o fez para tantos outros, uma basse naissance ou se, e dada a «participação

fundamental nas actividades artesanais» dos judeus na sociedade portuguesa do século

XV226, nomeadamente como sapateiros, pretendeu subentender o que dificilmente muitos

correriam o risco de deixar por escrito: que o rei português descendia de um judeu.

Reconhecido é o esforço encetado por linhagistas e genealogistas no sentido de

preservar o sangue real limpo de qualquer mácula, fenómeno reproduzido pela nobreza

que inundava os livros de linhagens, os processos do Santo Ofício e as habilitações aos

hábitos das Ordens Religiosas Militares de termos como gente limpa, limpo de sangue,

limpo de toda a nação infecta2 2 7 ... Deste tipo de comentários não escapavam os reis, ou

melhor, as mães dos bastardos reais, não fosse dar-se o caso de se ter de recorrer, como

no passado, como bem lembrava ao marquês de Marialva o marquês de Saint Romain, a

um destes neófitos para perpetuar a continuidade da Casa Real228, motivo pelo qual a sua

legitimação esteve muitas vezes condicionada à pureza do sangue de suas mães.

Uma das ideias que defenderemos ao longo deste trabalho e que resulta mais de

uma sensibilidade do que de constatações inegáveis assentes em factos concretos, é a de

que a relação da sociedade do Antigo Regime, em particular da nobreza, com os

puritanismos atrás identificados, de sangue e de nobreza, existia enquanto alimento de

um mecanismo de defesa e legitimação229 de uma posição (hierarquia) num espaço social

que se queria estanque e imutável. Esta ideia permite-nos perceber, por um lado, o facto

de a adesão ao sentimento puritano não ter sido constante ao longo de todo o período,

existindo uma clara correlação temporal entre os períodos de maior pressão dos cristãos-

novos em Roma para obtenção de um perdão geral do Papa e a existência de desacatos ao

Santíssimo Sacramento, e a observação de posições mais conservadoras na Mesa de

Consciência e Ordens ou no Tribunal do Santo Ofício230; e por outro, na pressão exercida

sobre o rei - nomeadamente através de estruturas como as mesmas Mesa de Consciência

e Ordens e Tribunal do Santo Ofício, mas também, podemos supô-lo, de confrarias como

a dos Escravos de Santa Engrácia - na manutenção de um status quo social que, com a

226 Jorge Martins, Portugal e o s . , p. 131.227 Maria Beatriz Niza da Silva, D. João V . , pp. 58-60.228 Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 85.229 Para o caso português, António de Oliveira, M ovimentos., pp. 326. Já em René Rémond, Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias. Lisboa: Gradiva, 2009, p. 49, encontramos a generalização desta ideia para todo o período do Antigo Regime, impossibilitando, por exemplo, a ascensão social da Burguesia.230 Cf., por exemplo, António de Oliveira, M ovimentos., pp. 320-340.

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Parte 2 - Os Puritanos

ascensão de cristãos-novos e de judeus, se via ameaçado, defendendo um contrato antigo

estabelecido entre o rei e os seus pares, obrigando-o à preservação da sua nobreza231.

No caso concreto da primeira nobreza de Corte parecem-nos existir dois vectores

maiores de análise na identificação da consolidação destes mecanismos de defesa e

legitimação de uma posição social. Um primeiro respeita ao próprio processo de

curialização que resulta na migração da principal nobreza do reino para Lisboa,

abdicando assim de parte da sua autonomia financeira e social, realidade que subsistia

somente por contraposição à concentração da maior parte dos bens da Coroa e Ordens

neste reduzido grupo de Casas, tornando indiscutível o facto de, à data do Alvará,

nenhuma destas estar em condições de arriscar perder uma parte substancial do seu

património. Este, aliás, poderá ter sido o motivo pelo qual todas as Casas puritanas

compareceram na secretaria de Estado, cumprindo o estabelecido no Alvará tão

cabalmente como lhes era exigido. Um segundo relacionado directamente com a forma

como se materializariam as questões puritanas no seio do restrito grupo da aristocracia e

do papel que terá tido a Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa

Engrácia na ordenação social, com impactos políticos e económicos, de cada uma destas

Casas no perímetro de preferências, tanto do rei como do restante universo da primeira

nobreza de Corte.

É precisamente na origem da criação desta confraria que todos estes elementos se

conjugam e ajudam a recriar uma realidade que, aos nossos olhos, nem sempre se revela

coerente e intuitiva. Em Oliveira encontramos a proposta de enquadramento do Desacato

de Santa Engrácia de 1630 num período extremamente favorável aos cristãos-novos232,

sendo que, não obstante datar-se de meados do século XVI a existência de uma maior

preocupação com questões de limpeza de sangue233, é a partir deste acontecimento que se

começa a perceber, na sociedade portuguesa, um maior empenho na identificação da

adesão ao ideal puritano como promotor da defesa contra os inimigos internos e externos,

231 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P o d er., pp. 83-86. É precisamente em relação a este segundo ponto que o aparecimento da figura do primeiro-ministro no Antigo Regime deverá também ser analisada, não excluindo a hipótese do facto que lhe dá origem poder ir muito além da mera existência de um rei fraco e permeável, mas poder ser também entendido como um mecanismo do poder real para se ir libertando de um conjunto de constrangimentos que limitavam a sua acção, algo apenas possível fazendo-se representar por interposta pessoa.232 António de Oliveira, M ovimentos., p. 329 ou Paulo Varela Gomes, Arquitectura, religião epolítica em Portugal no século XVII: a planta centralizada. Porto: FAUP-Faculdade de Arquitectura, 2001, p. 237 e 273.233 Fernando Dores Costa e Nuno Gonçalo Monteiro, 2.° Duque de Lafões - Uma Vida Singular no Século das luzes. Lisboa: Edições Inapa, 2006, pp. 13-14.

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Os Puritanos

através «de uma devoção ao Santíssimo Sacramento caracterizada como orgulhosamente

portuguesa, aristocrática e militar»234.

Quando, quarenta e um anos mais tarde, em 10 de Maio, Lisboa acorda assolada

por mais um desacato ao Santíssimo Sacramento, desta vez ocorrido na Igreja de

Odivelas, o discurso anti-judaico já se tinha radicalizado, o que pode ser comprovado pela

obra de Roque Monteiro Paim que, ainda antes de descoberto o culpado, escrevia a

Perfídia Judaica onde defendia os motivos da presunção de culpa dos cristãos-novos em

qualquer desacato, «em rezaõ do sangue infecto que os gera, è da creaçaõ, è doutrina de

seus antepassados, è ascendentes, que sempre amaõ, è nunca esquecem»235.

É, então, no seio desta aristocracia, votada a ofícios e cargos, na Corte e no

estrangeiro, que se observa o crescimento de um sentimento puritano, que publicamente

se concretizaria também no papel desempenhado no desagravo destas ofensas ao

Santíssimo Sacramento, o que cumpria religiosamente, em São Vicente de Fora ou em

Odivelas, todos os anos pela altura da celebração da data dos desacatos.

Voltando ao desacato de Santa Engrácia, foi na noite de 15 para 16 de Janeiro de

1630 que alguém roubou da Igreja de Santa Engrácia, após arrombar a porta, «um cofre

de tartaruga, guarnecido de prata, em que estavam vinte e sete formas consagradas e uma

hóstia e, de outro vaso, doze formas e mais uma hóstia»236, fazendo acordar Lisboa

sobressaltada, e enquanto «uns gemiam, muitos gritavam e choravam, outros

lamentavam, mas todos pediam vingança contra o autor ou autores do sacrílego crime»237.

E a vingança chegava logo: no imediato em forma de desagravo «por meio de procissões,

jejuns, missas [...] e havia luto oficial»238, mas também era frequente a constituição de

confrarias ou a promoção da construção de conventos: a primeira para perpetuar a

lembrança do sacrílego crime e, não poucas vezes, para ficar encarregue da realização da

segunda. A constituição da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento foi, então,

uma das formas de desagravo encontradas, tendo o seu compromisso (ou estatutos) sido

assinado a 19 de Maio de 1630. Refere Lamas que o presidente era o rei, sendo que em

234 Paulo Varela Gomes, Arquitectura., p. 234.235 Roque Monteiro Paim, Perfid[ia] judaica, Christus vindex munus prin[cipis], Ecclesia Lusitan[iae] ab apostatis liberata : Discurso juridico, è po litico . Madrid, [s.n.], 1671, p. 2.236 Jorge Martins, O Senhor Roubado., p.38.237 Artur Lamas, O Desacato na Igreja de Santa Engrácia e as Insígnias dos Escravos do Santíssimo Sacramento. Lisboa: Imprensa Nacional, 1905, p. 5.238 Ibidem, p. 9.

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Parte 2 - Os Puritanos

Povolide encontramos uma referência relativa ao facto de as pessoas reais só passarem a

encabeçar a Confraria após a Restauração, já com D. João IV239.

Lamas refere ainda que era composta por «cem fidalgos que se obrigavam,

debaixo de juramento, a não consentir que para ella entrasse quem tivesse raça, ou sequer

fama, de christão-novo»240, uma fórmula que não conseguimos provar ter estado presente

desde a sua origem, sendo Monteiro quem esclarece que «a restrição da admissibilidade

aos cristãos-novos consta da generalidade dos compromissos das confrarias e irmandades,

não se revestindo de qualquer especificidade», não sendo posta de parte a possibilidade

de, posteriormente, ter existido um estreitamento sobre um entendimento mais puritano

capaz, como vimos, de criar conflitos internos no seio da primeira nobreza de Corte241,

sabendo que para a realidade de 1730 já era reconhecido na sociedade que o limite da

transmissão de qualquer reparo seria «até que se perca a memória»242. O número de

fidalgos - títolos e não títolos243 - pelo contrário, parece-nos ter sido mantido, só sendo

possível entrar na Confraria por morte de um irmão, e por proposta de um outro, facto

testemunhado pelo mesmo conde de Povolide quando escreve que «Este ano me fez meu

Tio o Conde de Pontével irmão de S. Engracia e desde então até ao ano que escrevo, isto

é o de 1724, tenho sempre pago tudo.»244

A importância desta Confraria percebemo-la também em Povolide que refere

várias vezes as cerimónias de desagravo que continuaram a ser realizadas ao longo, pelo

menos, do período em análise. Diz-nos ainda que, desde o Desacato, «todos os anos se

celebrou e celebra ua festa em desagravo do Santíssimo, com grande solinidade, e assiste

toda à Irmandade, de que doze são da mesma mesa cada ano»245, sendo que, após a

Restauração, a mesma Irmandade terá passado a ser encimada pelas pessoas reaes, o que

lhe conferiu, como pretendemos defender neste ponto, uma dignidade que poderá suportar

a tese da sua relevância para o universo estudado. Existe apenas uma lista de confrades

de Santa Engrácia disponível246, ainda que incompleta, para os anos de 1630 a 1737, da

qual foi possível extrair 476 nomes, que permitirão, a quem o deseje, tentar reproduzir a

239 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, Memorias..., p. 354.240 Artur Lamas, O D esacato., p. 10.241 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141.242 Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , p. 57.243 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, M em orias., p. 316.244 Ibidem, p. 44.245 Ibidem, p. 354.246 BNP, COD. 170. Memória para a História das Irmandades e Confrarias da cidade de Lisboa. Apresentamos a lista de nomes apresentados nesta Memória no Anexo 5 desta dissertação.

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Os Puritanos

realidade da Confraria num dado tempo, demonstrando, no entanto e com facilidade, que

a realidade da aristocracia se mostra insuficiente para explicar a realidade da mesma, uma

vez que do total analisado, os membros da família real, os títulos, os eclesiásticos

(cardeais, arcebispos, bispos, capelães-mor e clérigos) e os ofícios maiores da Casa Real

apenas explicam 209 (43,9%) do total referido acima. Para além disso, encontramos

nomes como o de António Cavide, Bartolomeu de Sousa Mexia, Diogo de Mendonça

Corte-Real, Francisco de Lucena247 e até Rui Fernandes de Almada248, que poderíamos

designar por burocratas intimamente ligados ao aparelho de estado, ajudando a perceber

a heterogeneidade de que se foi revestindo esta Confraria e o quanto estava também ligada

à realidade do Paço. É Monteiro que vem referir uma possível «monopolização puritana

da dita confraria»249, que poderá ser entendida pelo monopólio também dos seus cargos

mais elevados, o que esta relação não discrimina. No entanto, através dos conhecimentos

das esmolas realizadas pelo visconde de Vila Nova da Cerveira para a construção da nova

Igreja disponíveis na Torre do Tombo, conseguimos, para 18 anos (período entre 1690 e

1716), identificar quem seriam os Tesoureiros e Escrivães da Confraria250, propondo

então uma análise que nos permita validar a existência de um núcleo puritano ao comando

da mesma251.

Ao todo analisámos a relação de 20 confrades, num total de 33 registos, tentando

perceber se, de acordo com o relatório de Torcy, seriam Puritanos, ou se, não sendo, se

podia estabelecer uma qualquer relação de parentesco entre eles252. Dos vinte confrades,

apenas 8 (20%) seriam Puritanos: os marqueses de Angeja e Alegrete, os condes de S.

Vicente e Tarouca, o visconde de Vila Nova de Cerveira, o Capitão da Guarda Alemã, D.

Filipe de Sousa e o seu irmão, D. João de Sousa, Prior de Guimarães, e Aires de Sousa e

Castro. No entanto, quando analisadas as relações de parentesco em primeiro grau entre

eles, verificamos que este número aumenta para 15 (75%), ficando apenas de fora os

marqueses de Minas e de Fronteira, os condes de Assumar e Ribeira Grande e Luís de

247 António Cavide (?) foi Escrivão da Puridade de D. João IV; Bartolomeu de Sousa Mexia (1650-1720), secretário de Estado de D. João V, Diogo de Mendonça Corte-Real (1658-1736), secretário das mercês de D. Pedro II, secretário de Estado de D. João V e diplomata; e Francisco de Lucena (c. 1578 - 1643), secretário de Estado de Filipe IV e D. João IV.248 Que supomos ser descendente do seu homónimo, Rui Fernandes de Almada, de quem descendiam todas as Casas com o reparo de Caiada.249 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141.250 ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira (Administração da Casa 1392-1842), Cx. 21, n.os 69-71, 73-85.251 Análise que desenvolvemos, em maior detalhe, no Anexo 5 da presente dissertação.252 Tanto por casamento em Casas puritanas como por relação de parentesco em primeiro grau com famílias puritanas.

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Parte 2 - Os Puritanos

Saldanha da Gama. Conclusão idêntica observamos se analisarmos o número de vezes

que um determinado cargo é ocupado (uma vez um dado indivíduo poder ocupar, em anos

distintos, um cargo). No total identificamos 33 ocupações conhecidas de cargos, das quais

16 (42%) por Puritanos e 24 (73%) com relações de parentesco, permitindo-nos induzir,

apesar de a amostra ser reduzida, a existência de uma influência puritana na constituição

da mesa da Confraria de Escravos de Santa Engrácia, o que só poderíamos generalizar se

tivéssemos uma relação de confrades sistemática para um dado período específico.

Adicionalmente, sendo difícil propor uma hierarquia no que aos reparos

identificados para cada uma das Casas representadas por estes homens diz respeito,

podemos registar que, por exemplo, tanto os marqueses de Fronteira e Minas e o conde

de Assumar teriam os mesmos reparos, de Aragão, Bocanegra e Pinheiro, e ambos se

encontravam na mesma situação de “excluídos” de relações de parentesco com famílias

puritanas, apenas sendo possível visualizar na árvore genealógica proposta o marquês de

Minas pelo casamento de um neto seu com uma filha do conde dos Arcos, genro do filho

herdeiro do conde de S. Vicente.

Longe de conseguirmos provar uma influência exclusivamente puritana à cabeça

da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, até porque,

como refere Jacquinet «ao longo dos tempos, por ela passaram membros de casas tão

sonantes como as do Louriçal, Cadaval, Távora, Vila Nova de Cerveira, Angeja,

Lumiares, Barbacena e tantas outras»253, estando estas longe de reflectir uma realidade

exclusivamente puritana, inegável parecem ser as relações de parentesco entre os seus

maiores responsáveis, facto que poderá ser também explicado pela já estudada endogamia

no seio da primeira nobreza de Corte254. O que parece ser indiscutível é que, para o

período estudado, a cabeça silenciosa e por vezes até ausente de acções concretas de toda

esta sociedade (corpo) era o rei (e a sua dignidade), cuja acção legitimadora operava como

condição sine qua non a um sentido de pertença sobre o qual assentariam, posteriormente,

estruturas e hierarquias, muitas vezes apenas confirmada pelas excepções que

encontramos cada vez que tentamos demonstrar um qualquer movimento de índole

estritamente aristocrático.

253 Maria Luísa de Castro Vasconcelos Gonçalves Jacquinet, Em desagravo do Santíssimo Sacramento: o “Conventinho Novo ”. Devoção, memória e património religioso. Lisboa: [s.n.], 2008. Dissertação de

Mestrado, p. 29.254 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 129.

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Os Puritanos

4. Proposta de identificação de um grupo

O que entendo é que a maior parte das casas de

Hespanha está como as de Portugal, onde entra

Maria Pinheira ou Julianes (outros dizem Gilianes ou

mestre Gabriel, ou Duarte Brandão) ou casamentos

de Hespanha, como da casa de Moscoso e outras. E,

quando se não verifica judaismo, ha bastante com

que humilhar os que prezam de fazer com as allianças

grandes roda [...].255

Fomos, ao longo deste trabalho, fazendo inúmeras referências a Casas e homens

da aristocracia portuguesa sobre os quais se supõe terem sido reputados como Puritanos,

propondo-nos, neste ponto, a uma análise mais minuciosa dos membros deste grupo, com

todas as ressalvas que deverão ser inicialmente feitas. A primeira prende-se

necessariamente com o facto de o puritanismo, tal como nos é apresentado, não ser

imutável, ou seja, uma Casa podia perder o seu estatuto puritano ao adquirir um reparo

por casamento, não sendo ainda claro se os reparos poderiam, eles mesmos, ser

hierarquizados e se, conforme sugerido no Alvará, existiria a possibilidade de as Casas

puritanas «purificarem, porque as ditas familias associadas não só se arrogarão pureza

para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas,

ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão,

erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se

derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos.»256 Este facto leva-nos a ter

de precisar a geração exacta de uma determinada Casa aristocrática para testarmos a sua

condição de puritana, porque muitas foram perdendo o seu estatuto ao longo do tempo e

a outras, não obstante os reparos, encontramo-las associadas aos Puritanos, tornando

desafiante uma apreciação geral sobre uma determinada Casa ao longo do período em

análise. Acresce a este o facto de a realidade das Casas aristocráticas em Portugal não ser

estanque. Apesar da já citada cristalização da aristocracia, ao longo do período de análise

assistiu-se à extinção, incorporação e criação de Casas aristocráticas, o que numa análise

255 Camilo Castelo Branco (introdução e notas), Memorias. , p. 66.256 Consulta, p. 189.

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Parte 2 - Os Puritanos

temporalmente transversal obriga, novamente, à eleição de critérios que garantam a

coerência temporal do estudo, questionando, por exemplo, qual a relevância de estudar a

Casa dos condes da Feira, puritana, quando os dois únicos titulares no período estudado,

o 7.° e o 8.° condes, irmãos, não asseguraram descendência varonil, perdendo a Casa o

título, deixando de existir um lastro para as suas políticas de reprodução social.

Uma segunda, directamente relacionada com esta, diz respeito à relação entre as

fontes. É indiscutível que, para o estudo dos Puritanos, nenhuma outra propõe, de uma

forma clara e criteriosa, um método para validar a pureza das Casas da primeira nobreza

de Corte como o Relatório de Torcy. No entanto, e como já referimos acima, muitas são

as outras fontes que indicam como puritanas, Casas às quais Torcy atribui alguns reparos,

tornando difícil perceber se a excepção se devia ao caso particular da Casa, e portanto

específico e excepcional, ou do reparo, beneficiando, por aí, todas as demais com o

mesmo reparo. Por outro lado, existem também Casas que, à falta de melhor informação,

poderiam ser consideradas puritanas, mas que a sua exclusão dos casamentos dentro

desse grupo nos alerta para outra das limitações deste estudo: até nos Puritanos, a limpeza

de sangue não seria o único critério de eleição presente na reprodução social de uma Casa

e, consoante o período e a situação de cada uma, poderá nem ter sido o mais relevante,

motivo que confirma outra das ideias subjacentes a este trabalho, ou seja, a de que os

Puritanos seriam, sobretudo, aristocratas e partilhavam com restante a aristocracia

portuguesa a maior parte dos seus critérios de eleição.

No seu Relatório (1684), Torcy identifica 43 linhagens, mantendo-se fiel ao

princípio da varonia segundo o qual apresenta 127 pessoas (que para a análise

correspondem, por aproximação, a Casas257), sendo que, para muitas, não refere se tinham

ou não reparos. Deste universo, 50 (39,4%) seriam puritanas, número que poderá estar

sobrestimado dado que considerámos, por simplismo, a não referência a reparos como a

sua não existência. Dos reparos elencados, aquele que aparece como mais frequente na

nobreza portuguesa é o de Pinheiro (conforme citação inicial) com 28 (22%) observações,

seguido do de Aragão (13%), do reparo genérico de judeu (9%) e o de Granada (8%). Já

nos menos observados temos o de Torres com apenas uma observação relativa ao 2.°

257 Esta consideração é, no entanto, simplista, dado que algumas das referências de Torcy são relativas a religiosos o que nos remete imediatamente para uma definição forçada de existência de uma Casa nesta circunstância particular.

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Os Puritanos

conde da Ponte, Garcia de Melo e Torres258, e com apenas duas observações o de Juzarte

(António de Saldanha e o 3.° conde da Ericeira), Lucena (João Furtado de Mendonça e o

3.° conde de Unhão) e Lafetá (D. João de Castro e Manuel de Sousa). Outro dado é o de

que, no universo das pessoas a quem eram apontados reparos, estas apresentam em média

1,4 reparos, número que, dada a política de casamentos endogâmica observada na

aristocracia portuguesa, nos leva a questionar se a questão puritana não poderá também

ser analisada a um nível mais lato, podendo falar-se também da existência de uma

consciência puritana, independente da circunstância ao nível de limpeza de sangue da

Casa.

Numa segunda análise à mesma lista, e para o universo que pretendemos estudar

neste trabalho, excluímos todas as pessoas que não eram titulares nem detinham qualquer

ofício maior da Casa Real, considerando apenas, a título excepcional, aquelas pessoas que

mais tarde viriam a ser encartadas (como os condes das Galveias, de Povolide, do Rio

Grande e de Valadares), ou cuja descendência directa viria a ser também titulada, como

é o caso de Luís Cesar e Menezes, pai do 1.° conde de Sabugosa, de D. Diogo de Faro e

Sousa, neto do 1.° conde do Vimieiro e pai do 2.° conde e de Fernando de Miranda

Henriques, avô do 1.° conde de Sandomil. Ao todo reduzimos para metade o número de

Casas analisadas, 68, sendo que destas, 54 de titulares, 7 de ofícios maiores não titulares

e as restantes 7, que descrevemos acima, de futuras Casas titulares, possibilitando-nos

confirmar que estamos, de facto, a olhar para todo o universo de análise definido, uma

vez que encontramos as (aproximadamente) 60 Casas que configurariam o universo da

aristocracia portuguesa (número estável para os 150 anos que intermedeiam os reinados

de D. João IV e D. Maria I) confirmando a proposta de Monteiro quando introduz a sua

cristalização, no Antigo Regime, como um fenómeno eminentemente português259.

Assim, e para a primeira nobreza de corte, os reparos identificados por Torcy mais

frequentes são o de Pinheiro (29%), seguido do de Aragão (18%), do de Bocanegra (13%)

e dos de Granada e ascendência genérica de judeu (ambos 9%). Por outro lado, os reparos

que teriam menos influência neste grupo seriam os de Bobadilha e Lafetá (sem

observações) e os de Juzarte, Lucena e Torres (com uma observação apenas). Esta

258 Torcy não refere o conde da Ponte como tendo o reparo Torres, mas como descreve o reparo e seria indiscutível que o conde da Ponte provinha dessa linhagem, consideramo-lo, porque caso contrário Torcy teria descrito um reparo que não se aplicaria a nenhuma casa nobre portuguesa. Entendimento diferente teve Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 136.259 Idem, Elites e P o d er., p. 144-146.

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Parte 2 - Os Puritanos

realidade permite-nos introduzir uma das questões que julgamos ser basilar no que

respeita aos impactos produzidos, pela existência de puritanismos, na sociedade de corte

do Antigo Regime: se por um lado promoviam a exclusão de algumas Casas do universo

de reprodução social de outras, um dos temas centrais do presente trabalho, por outro, e

para as Casas em ascensão, a incidência de alguns destes reparos poderia ser uma forma

de aproximação e identificação com as Casas que os tinham, ou seja e a título de exemplo,

permitimo-nos questionar se uma Casa nobre com o reparo de Pinheiro, sendo

conceptualmente excluída de uma pertença ao grupo dos Puritanos, não veria facilitado

o seu acesso à reprodução social de outras Casas mais preeminentes pela existência de

uma ascendência comum conhecida, ainda que com mancha.

Para a realidade portuguesa de 1684, data do Relatório, apresentamos de seguida

uma proposta de constituição do grupo dos Puritanos que resulta de três níveis de análise

distintos: um primeiro que agrega todas as Casas puritanas identificadas por Torcy cuja

ausência de reparos foi também confirmada por nós; um segundo que elenca as Casas

identificadas por Torcy que desconsiderámos enquanto puritanas neste trabalho, ou

porque foram irrelevantes ao nível de identificação de políticas de reprodução social260

ou porque, ao contrário de Torcy, identificámos reparos por si desconhecidos ou

desconsiderados; e, finalmente, um terceiro nível relativo ou às Casas que em 1684 não

seriam titulares (mas que o serão mais tarde, motivo pelo qual acreditamos deverem ser

incluídas neste estudo), ou a eventuais reparos identificados por Torcy que não

conseguimos confirmar. Adicionalmente, e com o objectivo de facilitar a identificação

temporal das Casas, optámos por nomear cada uma pelo nome do seu título de maior

graduação no período ao qual fazemos referência, quer já existisse ou não, ordenando por

ordem de importância relativa do seu título maior e, dentro de cada classe, por ordem

alfabética.

Assim, o grupo de Puritanos, em 1684, seria constituído pelas seguintes Casas,

num total de 28:

1.° Nível Cadaval Lafões Alegrete Angeja Penalva

Ponte de Lima Valença Alvor Arcos Óbidos Redondo

Sandomil Valadares Fonte Arcada C. G. Alemã Armeiro-mor

260 Como a Casa dos condes da Feira já referida acima ou dos condes de Serém, com apenas um titular no período de análise.

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Os Puritanos

2.° Nível Linhares Caparica261 Feira Ficalho Pontével

S. Vicente262 Serém Soure

3.° Nível263 Asseca Galveias Mesquitela V. N. Souto

Partindo desta realidade observada em 1684, e com base nos critérios de

identificação de reparos nas linhagens das Casas elegidos por Torcy, propusemo-nos

estudar a evolução do grupo de Puritanos para o período estudado, extrapolando,

primeiro, quais as Casas puritanas em 163 0264, e, depois, quais dessas Casas se teriam

mantido no grupo até à data do Alvará. Para tornar este estudo possível e viável, elegeram-

se 70 casas da primeira nobreza de corte que podem considerar-se um exemplo da

aristocracia portuguesa no período estudado, desconsiderando muitas outras casas que,

podendo ser importantes para perceber a aristocracia num momento específico dos 170

anos sobre os quais assenta esta análise, têm uma relevância negligenciável no nosso

estudo. Reconhecemos que esta análise poderá ser considerada limitada, mas não

conseguiríamos estudar um grupo, como o dos Puritanos, enquanto pertença de outro, a

primeira nobreza de corte, durante um dado período, se a base não fosse constante para a

maioria do período. Por outro lado, o estudo dos Puritanos assenta sobretudo na análise

dos seus critérios de reprodução social, pelo que se revela essencial garantir que as casas

analisadas asseguram uma continuidade ao longo do período de análise.

Assim, o grupo de Casas inicialmente puritanas, seriam as seguintes:

Aveiro Cadaval Lafões Abrantes 1265 Alegrete Alorna

Alvito Angeja Penalva Ponte de Lima Távora Valença

Almada Alvor Arcos Aveiras Bobadela Caparica

261 Tanto as Casas dos condes da Caparica e dos condes de Ficalho ainda não existiam em 1684, mas Torcy refere que D. José de Menezes, ascendente comum a ambas e casado com uma filha do marquês de Arronches, não teria reparo, o que não validamos, uma vez que D. José de Menezes era bisneto de D. Madalena de Lancastre, neta de Madalena de Granada, tendo esse reparo por essa sua avó comum.262 A referência de Torcy ao conde de S. Vicente enquanto puritano centra-se exclusivamente na pessoa de Miguel Carlos de Távora, conde por casamento, irmão do conde de Alvor e por isso puritano, uma vez que a ascendência da Casa de S. Vicente teria o reparo de Bocanegra.263 Não vem referida por Torcy a linhagem da Casa dos Condes de Asseca, na qual não identificámos qualquer reparo, mas cuja ascendência varonil não se cruzava com a dos grandes e estava muito ligada a Espanha, motivo pelo qual acreditamos ter sido desconsiderada. Também excluídas da análise de Torcy estão as Casas de Mesquitela e Vila Nova do Souto d’El Rei.264 Importa referir que apenas dez anos depois do início do período de análise assiste-se em Portugal à Restauração onde a realidade da primeira nobreza de corte sofre uma alteração significativa, com a ascensão de muitas Casas à grandeza e a manutenção de tantas outras em Espanha, sendo excluídas da nobreza portuguesa. Por este facto, uniformizamos este grupo, centrando-nos nas Casas que se mantiveram em Portugal, assumindo os títulos de que, posteriormente, vieram a ser encartadas.265 Ramo da Casa dos marqueses de Fontes, condes de Penaguião.

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Parte 2 - Os Puritanos

Cunha Ficalho Galveias S. Lourenço Óbidos Povolide

Redondo Rib. Grande Sabugosa Sandomil Santiago Sarzedas 1

Sarzedas 2 Valadares Vila Flor Asseca Fonte Arcada Mesquitela

V. N. Souto C. G. Alemã Armeiro-mor

Uma primeira apreciação deste grupo permite-nos concluir que representa, no seio

da primeira nobreza de corte, uma realidade heterogénea: por um lado, e para 1630,

apenas 17 destas 40 Casas seriam já titulares; por outro, Casas como as dos viscondes de

Asseca, Mesquitela e Vila Nova do Souto d’El Rei nem sequer são referidas por Torcy,

permitindo-nos concluir que a sua inclusão no grupo que definimos acima dever-se-á ao

mesmo motivo pelo qual acabaram por ser excluídas de casamentos dentro do exclusivo

grupo da aristocracia portuguesa, ou seja, a inexistência de relações de parentesco com as

restantes Casas, muitas vezes só possíveis pela existência de uma ascendência comum.

À data do Alvará este grupo seria já muito mais reduzido, sendo composto apenas

por onze Casas, a saber:

Cadaval266 Lafões Alegrete Angeja Penalva267 Ponte de Lima

Valença Óbidos Sandomil268 C. G. Alemã Armeiro-mor

Seria, então, de esperar que fossem estas as Casas a comparecer na Secretaria de

Estado para, no âmbito do definido no Alvará, assinarem um Termo em como tinham

tomado conhecimento no que nele se estabelecia. No entanto, apenas terão sido chamados

a assinar o mesmo, o conde de Vila Maior (Alegrete e Penalva), o marquês de Valença, o

marquês de Angeja, o Monteiro-mor do Reino e Fernando de Miranda (Sandomil). À

excepção do Monteiro-mor, todos os restantes vêm referidos acima, tendo sido excluídos

da convocatória os duques de Cadaval e de Lafões, o marquês de Ponte de Lima, o conde

de Óbidos, D. Manuel de Sousa e o representante da Casa dos Armeiro-mor. Destes, a

Casa do duque de Cadaval, após o seu casamento com uma filha do conde de S. Vicente,

já não teria uma descendência puritana, dado o reparo de Bocanegra presente nesta Casa.

O duque de Lafões estava há muito exilado da corte por oposição ao marquês de Pombal,

266 Em 1768 era duque de Cadaval D. Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, que tinha casado com Leonor da Cunha, filha do 5.° conde de S. Vicente, com o reparo Bocanegra, deixando a sua descendência de poder ser considerada puritana, de acordo com o critério de Torcy.267 A filha H. do 1.° marquês de Penalva, que tinha morrido em 1758, tinha casado em 1748 com o seu primo, o conde de Vilar Maior, pelo que ambos os títulos deverão ser considerados como, a partir de 1758, representando apenas uma Casa.268 Em 1768 era conde de Sandomil Francisco Xavier de Miranda Henriques, puritano, casado com Violante Maria Josefa de Melo, neta paterna do 2.° marquês de Alegrete, mas com o reparo Granada pela mãe.

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Os Puritanos

estando, igualmente por oposição ao marquês, D. Manuel de Sousa (Capitão da Guarda

Alemã) e o conde de Óbidos presos por suspeita de envolvimento na tentativa de regicídio

que culminou no Processo e Tragédia dos Távoras. Já o marquês de Ponte de Lima, ainda

apenas 13.° visconde de Vila Nova de Cerveira, cujo pai morreu também na prisão para

onde tinha sido enviado a mando do marquês de Pombal, poderá não ter comparecido por

este mesmo motivo ou porque o seu filho era, à data, menor269.

Por fim, e no que respeita ao Armeiro-mor, mantemos o já referido em cima, ou

seja, que muito provavelmente nem um ofício maior na corte, nem a limpeza de sangue

por desconhecimento de reparos, serão, por si só, suficientes para garantir a pertença a

este grupo, pelo que, muito provavelmente, a sua inclusão não seja correcta. Por outro

lado, a presença da Casa do Monteiro-mor, que era filho do 4.° conde de Tarouca, na nota

de rodapé do Termo, leva-nos a precisar de aprofundar mais a questão já referida, e

também presente no Alvará, de se uma mancha podia ser limpa por uma política de

casamentos puritana, dado que esta Casa deteria, à data, o reparo de Azambuja.

Assim, e numa primeira fase270, tentámos definir o conceito de política de

casamentos puritana2 7 1 e ver se conseguíamos identificá-la nas 70 Casas eleitas e para o

período de análise. Partindo, outra vez, do Relatório, e para a realidade posterior a

1684272, analisámos que Casas teriam mantido intacto o seu estatuto em questões de

pureza de sangue, ou seja, quais as políticas de casamento que não tinham adicionado

qualquer novo reparo às Casas analisadas273. As Casas não puritanas nas quais se

identifica uma política puritana de casamentos são as seguintes:

C. Melhor274 Marialva Tancos Távora Atouguia Sarzedas 1275

269 D. Tomás Xavier de Lima, filho do 1.° marquês de Ponte de Lima, nasceu em 1754, tendo apenas 14 anos em 1768. Casa apenas após a morte de D. José, em 1777, com 23 anos, em claro incumprimento do Alvará, com uma filha do conde de Óbidos. Também desconhecemos o acesso aos bens da Coroa e Ordens que esta Casa ainda teria, não sendo de descartar que, com a prisão do 12.° visconde, o mesmo acesso lhes ter sido negado, motivo pelo qual não teriam qualquer interesse em comparecer na Secretaria de Estado para assinar o Termo.270 Sugerímos a consulta do Anexo 3 para uma visão mais “gráfica” desta análise.271 Por política de casamentos puritana, e no que a este ponto diz respeito, considerámos apenas os casamentos daqueles que vieram a ser chefes de Casa.272 Considerando todo o período de análise remanescente, até ao último chefe de Casa vivo antes de 1800.273 Como as conclusões de Torcy nem sempre são idênticas às nossas, no que aos reparos das Casas diz respeito, optámos por considerar que estas teriam todos os reparos possíveis em 1684, os seus e os nossos, apenas adicionando novos que fossem sendo, entretanto, incorporados por casamento.274 A partir do 3.° conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa, com a manutenção dos reparos de Caiada e Granada durante o período de análise.275 Linha varonil da Casa dos condes de Sarzedas que se extingue com a 4.a condessa, casada com um filho do 1 ° conde de Alvor, cujo neto casa, posteriormente, com a nova herdeira da Casa, mantendo inalterada a nova varonia da Casa dos condes de Sarzedas.

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Parte 2 - Os Puritanos

S. Vicente

Uma curiosidade desta análise é encontrarmos um trio de casas que podemos

designar do universo Távora: a dos marqueses de Távora, a dos condes de Atouguia e a

dos condes de S. Vicente. Todas elas garantiram, durante o período de análise, a

manutenção exclusiva do reparo de Bocanegra, não acrescendo mais nenhum através das

suas políticas de casamentos. Também a Casa dos Condes de Sarzedas (até à 4.a

condessa), manteve este princípio na sua política de reprodução social. A Casa dos

marqueses de Marialva mantém também apenas um reparo, o de Zuniga. A Casa dos

marqueses de Tancos, fruto de uma política de casamentos consecutivos na Casa dos

condes da Ribeira Grande, apenas aceita o reparo desta, de Pinheiro e, finalmente, na

Casa dos marqueses de Castelo Melhor, que desde o 3.° conde de Castelo Melhor não se

regista nenhum casamento com famílias não puritanas.

Também releva salientar que o facto de o presente estudo assentar sobre uma

análise sistémica de gerações, partido do último titular/ detentor do ofício vivo antes de

1800, até ao seu ascendente directo que estaria vivo em 1630, pela linhagem do título ou

do ofício, implica uma limitação que, neste caso, enviesa os resultados para a Casa dos

Monteiros-mores. Em 1768 o detentor do ofício seria Francisco José de Melo, que morre

em 1789, passando o ofício para o seu primo co-irmão D. Francisco José da Cunha de

Mendonça e Menezes, com perda de varonia e aquisição de mais um reparo, desta vez o

de Granada, passando este a ser considerado nesta análise276.

Mas seria o puritanismo um critério tal como Torcy o define, ou um modelo de

reprodução social? Podemos falar de hierarquia de reparos ou, de facto, um casamento

dentro do grupo ajudaria a limpar um reparo e a tornar uma Casa apta a ser considerada

puritana? Teriam Casas como a dos marqueses de Távora ou de Marialva alguma palavra

a dizer sobre a verdade do seu reparo, levando a que este fosse desvalorizado como tal,

permitindo assim o seu acesso ao exclusivo grupo dos Puritanos?

Por forma a melhor perceber estas hipóteses, resolvemos testar a retirada de alguns

dos reparos da realidade das Casas, criando um conceito em linha com o realizado

anteriormente, ou seja, o de Casa puritana em sentido lato. Os reparos que elegemos

foram os de Aragão e Granada, os reparos reais, e os de Azambuja (Monteiro-mor),

276 Curiosamente, o reparo de Granada é adquirido pela mesma linha das Casas dos condes de Caparica e Ficalho, Casas onde Torcy não o identifica.

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Os Puritanos

Bocanegra (Távora) e Zuniga (Marialva). Ao todo testámos os cinco cenários base e as

26 combinações possíveis da desconsideração destes reparos (começando apenas por um

e depois consecutivamente até ao cenário em que os retiramos a todos), tendo chegado

aos seguintes resultados:

Aveiro Cadaval Abrantes 1277 Marialva Távora Alvor

Atouguia Caparica Ficalho S. Vicente Sabugosa Sandomil

Sarzedas 1 Valadares Monteiro-mor

Dos 31 cenários, apenas sete devolveram resultados, não acrescentando os demais

qualquer nova Casa ao grupo. Apesar de estarmos apenas num cenário hipotético, a

verdade é que os resultados parecem devolver, de facto, aquele que seria o topo da

hierarquia da aristocracia em Portugal, já incorporando, nomeadamente, o universo

Távora, com as Casas de Távora, Alvor, Atouguia e S. Vicente, o universo Santa Cruz,

com as Casas de Aveiro e Sabugosa, as Casas reputadas por Puritanos em Torcy às quais

encontrámos reparos, Caparica, Ficalho e Sandomil, a Casa dos marqueses de Marialva

e também as Casas onde observamos quase um exclusivo de casamentos Puritanos,

Valadares e Monteiros-mores.

Será difícil confirmar se um universo puritano existiria por oposição a estas

grandes Casas aristocráticas de Portugal, como a dos marqueses de Távora e de Marialva,

ou se, pelo contrário, foi obrigado a viver com elas e aceitar a sua integração no seu

modelo de reprodução social278. Inegável é que, no seu conjunto, em sentido estrito e lato,

não temos quaisquer dúvidas de estar diante das mais influentes Casas da primeira

nobreza de corte em Portugal, que encontraremos nos principais cargos de governo e ao

lado dos reis enquanto membros do seu conselho. Como exemplo, quando o 1.° duque de

Cadaval tem de eleger as Casas com quem se vai associar pelos casamentos dos seus

filhos, não é de estranhar que esta eleição recaia, precisamente, nas Casas de Abrantes,

Alegrete, Távora, Alvor e, obviamente, na Casa Real.

Outra curiosidade, fora do âmbito do presente trabalho, mas decorrente dele, é o

percurso realizado por outras Casas que inicialmente detinham poucos ou nenhuns

reparos e que terminam o período de análise com uma realidade completamente diferente.

Para estas, como já referimos acima, e na impossibilidade de acederem ao grupo dos

277 Da linha dos marqueses de Fontes, condes de Penaguião.278 Apresentamos, no Anexo 4 à presente dissertação, algumas Notas relativas a estes reparos que desconsiderámos.

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Parte 2 - Os Puritanos

Puritanos, podemos questionar se processo de aquisição de novos reparos funcionaria

como a possibilidade de uma maior identificação com os seus pares279, ou se, pelo

contrário, configuraria um processo de dérogeance social, um fenómeno ainda assim

pouco observado na sociedade portuguesa do Antigo Regime.

Propomos, então, como conclusão da nossa tentativa de identificação de um grupo

esta realidade dual dos Puritanos, percebendo que, muito provavelmente, o grupo seria

entendido no seu sentido estrito, que, ao longo do tempo, e face a eventuais provas ou até

circunstâncias da corte que forçavam novas alianças, se viu obrigado a um entendimento

mais lato do puritanismo, interessando demonstrar o impacto destes dois níveis de

puritanismo numa apreciação global das políticas de reprodução social destas Casas

aristocráticas, o que faremos no ponto seguinte.

5. O Modelo de reprodução social

Existem famílias cuja maior prosápia é a da pureza

do seu sangue ou seja, a de nunca ter havido nelas

cruzamentos com sangue moiro ou judeu. Disso se

glorificam, e tanto que não querem aliança com

família que não tenha igual prosápia, e é esta a razão

por que os portugueses se casam com parentes,

embora as dispensas de Roma lhe custem os olhos da

cara. Outras há, por tal forma obstinadas na

manutenção da pureza da sua casta, que preferem

extinguir-se a aliar-se com gente menos ilustre que a

Do capítulo anterior percebemos que a realidade do grupo dos Puritanos não

deverá ser considerada estática, podendo uma análise mais restrita prejudicar a qualidade

da informação que dela se tira, correndo-se ainda o risco de devolver resultados

279 Referimos os exemplos das Casas de Fronteira, Niza (pelos condes de Unhão), Bobadela, Lumiares, S. Miguel, Penafiel, Pombeiro e Sande.280 Castelo Branco Chaves, O Portugal d e . , pp. 63-64.

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Os Puritanos

enviesados e que não encontram qualquer reflexo na realidade que pretendem estudar.

Assim, e no que a políticas de reprodução social diz respeito, entendemos dividir a análise

no estudo de dois grupos seguindo os princípios enumerados anteriormente, ou seja, a

consideração de um grupo de Puritanos em sentido estrito - os que à data da publicação

do Alvará se manteriam Puritanos - mas também a análise de um grupo de Puritanos em

sentido lato, Casas que à data do Alvará já não poderiam, de acordo com o conceito de

puritanismo “biológico”281, ser consideradas puritanas, mas que ainda assim

continuavam a casar dentro do grupo e, algumas delas, a ser consideradas puritanas, como

nos apercebemos pelos relatos da época, bem como Casas que, não podendo ser

consideradas puritanas pelos reparos que tinham, demonstraram uma endogamia nos

casamentos dentro de um reduzido grupo de reparos. Fora do âmbito deste capítulo ficará

a análise da evolução do grupo dos Puritanos desde a data da criação da Confraria dos

Escravos de Santa Engrácia, tentando perceber em que momento do tempo poderão ter

algumas dessas Casas deixado de ser consideradas puritanas, tema que não

desenvolveremos, mas em relação ao qual, pontualmente, comentaremos a propósito de

alguns exemplos concretos282.

Para estes dois grupos dividimos a nossa análise em dois momentos temporais

distintos: um primeiro, desde o primeiro casamento de um filho do chefe da Casa

realizado após 1630 até à publicação do Alvará (1768), permitindo com isso perceber

como foram escolhidas as alianças matrimoniais dos filhos destas Casas aristocráticas

antes do Alvará; e um segundo desde a publicação do Alvará até ao último casamento

realizado por um filho da Casa até ao final do século XVIII, permitindo-nos aferir os

impactos reais, ao nível da reprodução social, do mesmo. Acresce a este o facto de termos

ainda dividido os casamentos puritanos de cada Casa em simplesmente puritanos (ou

puritanos em sentido estrito) se da análise que fizemos ao cônjuge não tivermos

encontrado qualquer reparo, e em casamentos puritanos em sentido lato, se da mesma

análise tivesse resultado um dos reparos que anteriormente incluímos numa definição

281 Usaremos este termo para designar o puritanismo entendido enquanto linhagem isenta de qualquer reparo. Releva, no entanto, referir que para Jean-Louis Flandrin, «A raça, na medida em que era marcada pelo patronímico, não constituía portanto uma realidade biológica, mas sim jurídica». In Famílias. Parentesco, casa e sexualidade na sociedade antiga. Lisboa: Editorial Estampa, 1991, p. 22.282 Referimo-nos às Casas dos marqueses de Abrantes (ramo Figueiró/ Vila Nova de Portimão), de Alorna e do Alvito, dos condes de Almada, dos Arcos, de Aveiras, da Bobadela, da Cunha, das Galveias, de S. Lourenço, de Povolide, do Redondo, da Ribeira Grande, de Santiago de Beduído, de Sarzedas (ramo T ávora) e de Vila Flor, dos viscondes de Asseca, da Fonte Arcada e de Mesquitela e de Vila Nova do Souto d’El Rei e dos Armeiros-mores.

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Parte 2 - Os Puritanos

mais lata do conceito de puritanismo, a saber: Aragão, Azambuja, Bocanegra, Granada e

Zuniga283.

Quanto ao grupo dos Puritanos em sentido estrito, a análise recaiu nas seguintes

Casas aristocráticas284:

Lafões Alegrete Angeja Penalva Ponte de Lima Valença

Óbidos C. G. Alemã

Ao todo analisámos 129 casamentos, a maior parte deles - 101 - realizados antes

do Alvará, de acordo com a tabela seguinte:

Puritanos (sentido estrito)

Antes do Alvará Depois do AlvaráPuritanos

(sentido estrito)Puritanos

(sentido lato)Puritanos

(sentido estrito)Puritanos

(sentido lato)

Lafões 6 / 9 8 / 9 0 / 1 1 / 1

Alegrete 17 / 23 20 / 23 1 / 8 2 / 8

Angeja 4 / 15 8 / 15 0 / 5 2 / 5

Penalva285 11 / 13 12 / 13 n/a n/a

Ponte de Lima 10 / 14 10 / 14 2 / 6 3 / 6

Valença 5 / 5 5 / 5 2 / 3 2 / 3

Óbidos 8 / 15 12 / 15 2 / 3 2 / 3

C. G. Alemã 4 / 7 5 / 7 1 / 2 1 / 2

Total 65 / 101 80 / 101 8 / 28 13 / 28

% 64,4% 79,2% 28,6% 46,4%

No global, a maioria, 64,4%, foram registados, de facto, com Casas às quais não

identificámos qualquer reparo, aumentando este número para 79,2% se entendido o

conceito puritano num sentido lato. As Casas que registam mais casamentos, Alegrete,

Penalva e Ponte de Lima, são também aquelas onde a percentagem de casamentos

puritanos é maior, acima dos 70%, sendo que a única Casa com casamentos

283 Também relativamente a este ponto, importa referir que muitas das Casas em relação às quais não encontramos quaisquer reparos, também não nos foi possível encontrar uma ligação óbvia das mesmas à aristocracia portuguesa, tendo assumido que a mesma existia, o que representa uma simplificação do conceito de puritano que temos vindo a utilizar neste trabalho, ou seja, de que seriam membros da aristocracia portuguesa sem quaisquer reparos de sangue.284 Optámos pela exclusão das Casas dos duques de Cadaval e dos condes de Sandomil por ambos os titulares, em 1768, terem j á casado fora do universo puritano e a Casa dos Armeiros-mores por entendermos que as suas alianças matrimoniais não se cruzaram com a dos Puritanos.285 Com o casamento do 6.° conde de Vilar Maior com a herdeira da casa dos marqueses de Penalva, condes de T arouca, os casamentos passam a ser considerados na Casa de Alegrete/ Vilar Maior.

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Os Puritanos

exclusivamente puritanos é a dos marqueses de Valença, que, no entanto, só realiza 5

casamentos neste período (o que compara, por exemplo, com 23 casamentos da Casa dos

marqueses de Alegrete, dos quais 17 no grupo puritano estrito). No extremo oposto temos

a Casa dos marqueses de Angeja com apenas 26,7% de casamentos puritanos e 53,3% de

casamentos puritanos em sentido lato, o que parece confirmar a possibilidade de distinção

entre Casa puritana, aquela à qual não são imputados quaisquer reparos, e Casa com um

modelo de reprodução puritano, enquanto uma Casa que realiza, ou se esforça por

realizar, a grande maioria dos seus casamentos dentro de um universo de Casas sem

reparos. Ainda assim, em comum e não obstante as demais políticas de reprodução social

seguidas, estas Casas têm o facto de terem casado os seus herdeiros dentro do grupo de

Casas sem quaisquer reparos, o que pode demonstrar uma valorização da preservação do

capital simbólico puritano da Casa, optando por outros critérios nos seus demais

casamentos.

Também em relação às excepções, considerando os casamentos em Casas

puritanas em sentido lato, destacam-se a Casa dos Monteiros-mores que casa quatro

vezes neste grupo, a dos marqueses de Marialva, três, e a dos condes de Valadares, com

dois casamentos. Quanto às Casas não puritanas, nenhuma parece evidenciar-se, sendo

as que apresentam maior número de casamentos, dois, são as dos marqueses de Cascais,

Niza, Minas e dos condes de Vale de Reis.

Outras duas tendências que observamos neste grupo de Casas, e que poderão

ajudar a enquadrar a relação do puritanismo com as demais preocupações aristocráticas

da época, são: por um lado, o facto de que sempre que casam fora do grupo de Casas sem

reparos, casam com herdeiros, existindo apenas a excepção do segundo casamento do 3.°

marquês de Angeja com uma filha do 3.° marquês de Marialva; por outro lado, a questão

dos secundogénitos também nos parece merecer uma análise mais detalhada. Se é verdade

que a utilização dos casamentos para equilibrar as finanças de uma Casa foi algo raro na

aristocracia portuguesa do Antigo Regime286, também é verdade que, neste ponto, os

secundogénitos poderiam ter saído beneficiados com esta prática uma vez que, estando

excluídos das disposições testamentárias da sua Casa, aumentariam por aí o incentivo,

por forma a garantir a sustentabilidade das Casas que criariam287. No entanto, não é esta

286 Piedade Braga Santos, Teresa Rodrigues e Margarida Sá Nogueira, Lisboa Setecentista Vista por Estrangeiros. Lisboa: Livros Horizonte, 1996, p. 37; e Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo.., pp.77-81.287 Sobre o importante papel destinado aos secundogénitos, leia-se Miguel Jasmins Rodrigues, Nobreza e poderes: da Baixa Idade Média ao Império. Cascais: Patrimonia Historica, 2000, pp. 82-83.

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Parte 2 - Os Puritanos

a realidade que observamos. Dos catorze casamentos de secundogénitos que observamos

dentro deste grupo, todos os que não são em Casas puritanas são com herdeiras, sendo

que as Casas de Penalva, Ponte de Lima, Valença e Óbidos casam secundogénitos com

não herdeiras. A confirmar a conclusão chegada por Monteiro quanto à preeminência da

Casa dos marqueses de Alegrete no que à sua reprodução social diz respeito288, temos o

facto de não apenas ser a que regista mais casamentos de secundogénitos, quatro, como a

única que casa todos com herdeiras, duas de Casas puritanas, Penalva/ Tarouca e Ponte

de Lima/ Vila Nova de Cerveira, uma de uma Casa puritana em sentido lato, Casa dos

Senhores de Vila Verde de Ficalho (cujo trineto é feito conde de Ficalho) e, por fim, uma

com a herdeira da Casa dos marqueses de Niza, uma Casa não puritana. Se para esta

última, por não haver descendência, não podemos aferir da efectividade de uma prática

de limpeza de sangue por parte dos Puritanos, não podemos contestar a importância do

contributo da Casa dos marqueses de Alegrete na própria definição de puritanismo

português ao ir-se tornando, também, a linhagem varonil comum de outras Casas

aristocráticas portuguesas, ajudando ainda a enquadrar a opção tomada neste estudo de

inclusão do conceito de Casas puritanas em sentido lato na qual incluímos a Casa dos

condes de Ficalho que, ao casar na Mouraria, passa a ter mesma varonia das principais

Casas puritanas como a dos marqueses de Ponte de Lima ou de Penalva.

Não será de estranhar que esta realidade sofre uma alteração substancial após a

publicação do Alvará e até ao final do século. Não apenas o número de casamentos

puritanos se reduz para 28,6%, como mesmo entendidos em sentido lato não alcançam

os 50%, mesmo considerando que com a morte de D. José, Pombal é definitivamente

afastado do poder e deixa de ter qualquer influência na reprodução social das Casas

aristocráticas portuguesas. Se é verdade que, para a posteridade e enquanto confirmação

do puritanismo que se observava na aristocracia portuguesa, ficaram os casamentos

cruzados entre as Casas de Ponte de Lima e Óbidos289 logo após a morte de D. José, a

realidade da reprodução social deste grupo de Casas aristocráticas encontra-se já muito

diferente, identificando-se uma maior abertura a casar fora daquelas que foram, durante

mais de 100 anos, as Casas mais procuradas por esta elite aristocrática portuguesa290.

288 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., pp. 132-133.289 Referimo-nos aos casamentos do 14.° visconde de Vila Nova de Cerveira com D. Maria José Mascarenhas, filha do 3.° conde de Óbidos, e do casamento do filho deste, o futuro 4.° conde de Óbidos, com D. José Maria Mascarenhas, com D. Helena Xavier de Lima, filha do primeiro.290 Alguns bons exemplos disso são os casamentos nas Casas dos marqueses de Niza e de Tancos, e dos condes de Castelo Melhor, da Ribeira Grande e do Redondo.

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Os Puritanos

Em relação ao grupo das Casas puritanas entendidas em sentido lato, a análise

recaiu nas seguintes:

Aveiro Cadaval Abrantes 1 Marialva Távora Alvor

Atouguia Caparica Ficalho S. Vicente Sabugosa Sandomil

Sarzedas 1 Valadares Monteiro-mor

Ao todo analisámos 252 casamentos, a maior parte deles - 220 - realizados antes

do Alvará:

Puritanos (sentido estrito)

Antes do Alvará Depois do AlvaráPuritanos

(sentido estrito)Puritanos

(sentido lato)Puritanos

(sentido estrito)Puritanos

(sentido lato)

Aveiro 5 / 13 10 / 13 0 / 0 0 / 0

Cadaval 10 / 15 15 / 15 1 / 3 3 / 3

Abrantes 1 5 / 17 14 / 17 0 / 0 0 / 0

Marialva 4 / 14 7 / 14 2 / 6 2 / 6

Távora 10 / 19 19 / 19 0 / 0 0 / 0

Alvor 2 / 15 9 / 15 0 / 0 0 / 0

Atouguia 8 / 15 11 / 15 0 / 0 0 / 0

Caparica 9 / 21 14 / 21 0 / 2 0 / 2

Ficalho 9 / 14 12 / 14 1 / 2 1 / 2

S. Vicente 6 / 15 10 / 15 0 / 4 0 / 4

Sabugosa 6 / 13 10 / 13 0 / 8 0 / 8

Sandomil 7 / 8 8 / 8 0 / 1 1 / 1

Sarzedas 1 9 / 18 14 / 18 n/a n/a

Valadares 6 / 10 9 / 10 0 / 3 2 / 3

Monteiro-mor 13 / 13 13 / 13 1 / 3 1 / 3

Total 109 / 220 175 / 220 5 / 32 10 /32% 49,5% 79,5% 15,6% 31,3%

Em relação a estas Casas aristocráticas, e para o período anterior ao Alvará, a

realidade dos casamentos celebrados com o grupo de Puritanos em sentido estrito é

substancialmente diferente do referido acima, registando-se apenas 49,5% observações

dos 220 casamentos analisados. Se entendido o conceito de puritanismo em sentido lato,

estas Casas apresentam um número relativo de casamentos dentro do universo lato dos

Puritanos em linha com o que observámos acima (79,5%). Ainda assim, e para algumas

Casas, os resultados não deixam de ser elucidativos em relação à prática de endogamia

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Parte 2 - Os Puritanos

puritana, como são disso exemplo a Casa dos Monteiros-mores que casa exclusivamente

dentro do grupo dos Puritanos em sentido estrito. Já as Casas dos duques de Cadaval, dos

marqueses de Távora e dos condes de Sandomil, realizam todos os seus casamentos no

universo puritano em sentido lato, sendo que, conforme já referimos, a primeira apenas

foi desconsiderada do primeiro grupo que apresentámos neste ponto por o 4.° duque ter

casado com uma filha do 5.° conde de S. Vicente, o que encontra uma explicação pelo

facto desta ser sobrinha do conhecido e influente cardeal da Cunha291.

No entanto, e no que a excepções diz respeito, as considerações são diferentes das

referidas para a realidade dos Puritanos em sentido estrito. Não só nos apercebemos dos

inúmeros casamentos fora da realidade dos títulos e dos ofícios maiores, 13, como a Casa

dos marqueses de Távora assume um lugar de destaque registando 10 casamentos dentro

do grupo dos Puritanos em sentido estrito, para o qual muito contribui, indiscutivelmente,

a sua influência na Corte, comprovado pelos casamentos do 5.° conde de S. João da

Pesqueira e do 2.° conde de Alvor na Casa dos duques de Cadaval, mas também pelo facto

de as Casas que podemos designar do universo Távora fazerem parte, também, deste

grupo lato de Puritanos, como a Casa dos condes de Atouguia, Alvor, S. Vicente e de

Sarzedas, que são precisamente aquelas que manteriam um estatuto puritano ao longo

deste período se o reparo de Bocanegra fosse desconsiderado. Para além das Casas do

universo Távora, como Atouguia, com 6 casamentos e S. Vicente e Sarzedas com 4,

temos também a Casa dos marqueses de Abrantes com 5 casamentos dentro deste grupo

e a dos condes dos Arcos com 4. Esta última parece merecer-nos uma análise mais

profunda dado que, de acordo com Monteiro, terá sido uma das Casas mais escolhidas

para a realização de casamentos da aristocracia portuguesa292 e, como já referimos atrás,

seria uma das Casas puritanas em 1630. E assim parece ser, de facto, quando observamos

que a descendência do 3.° conde dos Arcos casou dentro do mais restrito grupo dos

Puritanos, sendo este um ascendente comum das Casas dos marqueses de Alegrete,

Penalva e Ponte de Lima, bem como dos marqueses de Távora, e ainda da dos condes de

Atouguia e Sandomil. O puritanismo, em sentido estrito, é perdido com o casamento do

4.° conde com uma filha do 1.° marquês de Távora, sendo que a sua descendência apenas

291 João Cosme de Távora (1715-1783), depois da Cunha, ficou conhecido como cardeal da Cunha. Era filho do 4.° conde de S. Vicente e primo dos Távoras, apelido que deixou de usar após o Processo com o mesmo nome. Foi bispo de Leiria e elevado a cardeal em 1770. Em 1777, após a morte de D. José, e não obstante ter sido um dos homens mais próximos de Pombal, terá dito a Pombal: Vossa Senhoria não tem mais nada a fazer neste lugar.292 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., pp. 132-133.

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Os Puritanos

pontualmente e fora da 1.a nobreza de Corte consegue realizar casamentos puritanos,

representando uma alteração radical no seu modelo de reprodução social.

No que respeita às excepções fora da concepção puritana, estrita ou lata, nenhuma

Casa parece evidenciar-se, sendo que o maior número de observações se deve à realidade

das outras Casas - não titulares e sem ofícios maiores - o que nos deverá relembrar que,

apesar de estarmos muito próximo do que se considerava a 1.a nobreza de corte, haverá

sempre a possibilidade de algumas Casas influentes poderem ter sido postas de parte com

o critério utilizado no presente trabalho293. Ainda assim, fazemos referência às Casas dos

condes de Redondo e de Soure, com 3 casamentos, e a dos marqueses de Fronteira e dos

condes da Ribeira Grande, de Sarzedas, de Unhão e do Vimieiro, com 2 casamentos.

Para o período posterior ao Alvará, mantemos as mesmas conclusões a que

chegámos em relação às Casas puritanas - 16% de casamentos puritanos e 31% de

casamentos puritanos em sentido lato -, tendo em consideração que quatro destas Casas

aristocráticas tinham sido extintas em 1759 no âmbito do Processo dos Távoras (Aveiro,

Távora, Alvor, e Atouguia), que desconsiderámos uma Casa deste grupo por se ter

extinguido no ramo Menezes (Abrantes 1) e que outras quatro Casas não apresentam

qualquer casamento nesse período (Caparica, S. Vicente, Sabugosa e Sarzedas).

Assim, e para a realidade analisada antes do Alvará, um resumo possível poderá

ser apresentado de acordo com a seguinte tabela:

Casas Puritanos Puritanos (lato)N.° % N.° %

Puritanas 65 64,4 109 49,5Estrito 34 33,7 19 8,6Casa Real 1 1,0 3 1,4Nobreza estrangeira 11 10,9 9 4,1Outras Casas titulares294 11 10,9 29 13,2Outras 8 7,9 49 22,3

Puritanas lato 15 14,9 66 30,0Titulares e Ofícios maiores 13 12,9 53 24,1Outras 2 2,0 13 5,9

Outras Casas 21 20,8 45 20,5Titulares e Ofícios maiores 18 17,8 38 17,3Outras 3 3 7 3,2

Total 101 100,0 220 100,0

293 Podemos, a título de exemplo, referir alguns secundogénitos dos Grandes que conseguiram “vingar” na Corte, apesar de não terem sido titulados, bem como as famílias de homens muito influentes na corte, como Gaspar de Faria Severim e Roque Monteiro Paim, cuja descendência casou no universo dos Grandes.294 Casas aristocráticas que foram, pelos motivos enunciados anteriormente, desconsideradas desta análise.

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Parte 2 - Os Puritanos

Apesar de, como verificámos anteriormente, a maioria dos casamentos realizados

por ambos os grupos analisados ter seguido uma reprodução puritana, esta revela-se

incapaz, ainda assim, de explicar toda a realidade no que à reprodução social destas Casas,

neste período, diz respeito. Um facto indiscutivelmente interessante é o peso que as outras

Casas, não titulares e não detentoras de ofícios maiores, assumem nesta análise estatística.

A metodologia de análise, através do estudo exaustivo das genealogias de cada Casa,

permitindo perceber se “entroncavam” em qualquer ramo ao qual se imputasse um

reparo, levou a que: por um lado, conseguíssemos ser muito criteriosos em relação à

forma como avaliámos este grupo, permitindo a sua divisão também em Puritanos

(sentido lato e estrito) e não Puritanos; por outro, e apesar de ser a minoria, muitas foram

as vezes em que não nos foi possível confirmar todos os ramos e, por isso, algumas

conclusões poderão ser redutoras. Ainda assim, 13% dos casamentos do grupo dos

Puritanos e, mais expressivo, 31% dos casamentos do grupo dos Puritanos em sentido

lato, faz-se fora da nobreza titular e detentora dos principais ofícios da Casa Real.

Também interessante é o facto desta realidade ser mais expressiva para o grupo dos

Puritanos em sentido lato que, dos 109 casamentos que celebram com Puritanos, aqui

entendidos como Casas sem reparos, 45% são com Casas não titulares, o que nos permite

questionar a afirmação de Monteiro que refere que «os matrimónios com outras nobrezas

portuguesas correspondiam a “casar abaixo”»295, reabrindo a discussão sobre o

entendimento de Torcy sobre mesaliances e o quanto, a verdade, não nos poderá falar

exactamente do contrário, ou seja, que estes casamentos deverão ser considerados

enquanto garantes de um dado status de uma Casa aristocrática.

6. As inconsistências e incoerências

Se algum estrangeiro chega a Lisboa, e se introduz

com a nobreza, cada qual o informa do bom da sua

família, e do máo das outras; e assim sabem, o que

chamamos os podres de todas, seja com razão ou sem

ella [ . ] . 296

295 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., pp. 131.296 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 94.

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Os Puritanos

Já referimos anteriormente que acreditamos que o puritanismo observado na

reprodução social de algumas Casas aristocráticas portuguesas deverá ser analisado

enquanto seguindo um modelo de reprodução social sob um princípio de casta2 9 7 e não

enquanto consequência de um sistema de castas. Talvez por isso a primeira incoerência a

identificar deverá ser a nossa no que aos pressupostos deste trabalho diz respeito.

Como já referido, na proposta e análise do grupo dos Puritanos, tanto em sentido

estrito como em sentido lato, baseámo-nos numa abordagem estritamente biológica de

puritanismo, assente em estudos genealógicos que acreditamos terem sofrido alterações

ao longo do tempo, não apenas circunscrito ao período de análise, mas até à actualidade,

principalmente quando a inexactidão das fontes esteve directamente relacionada com a

vontade directa dos visados nas mesmas genealogias.

Outra questão, mais interessante, prende-se justamente com o próprio

entendimento sobre o puritanismo que os contemporâneos teriam, supondo que o mesmo,

em Casas distintas, poderia conter entendimentos diversos, como supomos pelo relato do

1.° conde de Povolide que, nas suas memórias pessoais, refere, no ajuste do seu casamento

com uma filha dos 2.os condes de S. Vicente - estes ainda Puritanos - ter falado «com

genealógicos amigos e verdadeiros»298, não obstante a sua Casa ter o reparo de Granada

pelo lado da sua mãe, descendente de Madalena de Granada, sabendo ainda que era

também confrade de Santa Engrácia, como já vimos anteriormente.

A este nível, também o exemplo dos Távoras nos parece paradigmático. Desde

que perdem o estatuto puritano, com o casamento do 1.° marquês com uma filha do 1.°

conde de Sarzedas, com o reparo Bocanegra, apenas realizam casamentos puritanos ou

noutras Casas com o mesmo reparo, sendo que identificamos esta política também, como

já referimos atrás, num conjunto de Casas que considerámos como sendo do universo

Távora, como Alvor, Atouguia e S. Vicente, que se mantém também durante todo o

período com apenas este reparo. É verdade que estas Casas nunca vêm referidas como

puritanas, no entanto, no referido estudo de Monteiro, são Casas que figuram nos lugares

cimeiros das mais procuradas e que praticam, ainda assim, uma política muito fechada

nos seus casamentos. Se é verdade que o reparo Bocanegra foi dos mais conhecidos e

com maior incidência na aristocracia portuguesa, também o é que «com o evoluir do

297 Conceito sugerido por Jorge Pedreira, orientador desta Dissertação.298 Cit. in António Vasconcelos da Gama, «Introdução: Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde, 1.° Conde de Povolide». In Tristão da Cunha de Ataíde, 1.° Conde de Povolide, Portugal..., p. 25.

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Parte 2 - Os Puritanos

tempo, o modo e o espírito dos Távoras haviam assumido certas feições e características

que suscitaram a atenção de contemporâneos e vindouros»299, levando a que, por um lado,

pudesse existir um incentivo puritano em desvalorizar esta linhagem, tema que

continuaremos no ponto seguinte, e por outro que este reparo se tornasse “atractivo” para

outras Casas pelo mero simbolismo da associação à Casa dos marqueses de Távora300.

Assim, parece-nos legítimo assumir que, mais do que uma questão estritamente

biológica, como num sistema de castas, os puritanismos de sangue foram,

fundamentalmente, um fenómeno social orientado por um princípio de casta, mas não

limitado pelo mesmo, ajudando a um melhor entendimento do referido no Alvará

relativamente à possibilidade de se limpar uma linhagem através da celebração de um

casamento dentro do grupo. Outra das questões que nos parece importante analisar é o

próprio entendimento de verdade e o quão difícil poderá revelar-se, nos nossos dias e com

a informação de que dispomos, a imagem que se teria de uma determinada Casa e a forma

como essa imagem seria transversal para o resto da aristocracia portuguesa, como nos

apercebemos pelas referências do marquês de Bombelles ao assunto, já depois da morte

de D. José, referindo que «Les maisons d ’Obidos et de Castelo Melhor sont rangées dans

la classe des families nommées puritaines»301, o que é uma surpresa porque a Casa dos

marqueses de Castelo Melhor teria os reparos de Caiada e Granada, sendo que não

acrescentaram mais nenhum reparo durante o período, tornando razoável, pelo menos, a

assunção que, seguindo uma política de casamentos puritana, se pudesse ganhar esse

estatuto ao olhos de, neste caso, um estrangeiro.

Não será assim de espantar a abertura do presente trabalho a uma realidade mais lata

do conceito de puritanismo enquanto modelo de reprodução social não exclusivamente

assente na sua vertente biológica, mas também, e tal como refere Monteiro, com critérios

que «só eram percebidos por dentro, ou por quem dominava certos segredos e os saberes

que os apoiavam»302, podendo até promover ideias difusas, como a do já citado marquês

299 João Bernardo Galvão-Telles e Lourenço Correia de Matos, «que os do nome de Tavora que de nos descenderem nam haja de ser esquecido»: a sucessão dos condes de São Vicente no morgado dos Távoras. Lisboa: LMT- Consultores em História e Património, 2012, p. 6.300 Sugerimos esta possibilidade referindo-nos, claro, a Casas a quem a entrada no grupo dos Puritanos estaria vedada, quer por existência de reparos, quer por linhagens menos ilustres, salientando que o reparo não era uma marca de cristã-novice.301 Marquis de Bombelles, Journal..., p. 136.302 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo, p. 131.

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Os Puritanos

de Bombelles, para quem o puritanismo se observava nas Casas «qui portent le rigorisme

beaucoup plus loin que celles des autres nobles portugais»303.

Certo é que muitos tentaram condicionar o futuro da sua linhagem a uma realidade

puritana, o que fez D. Filipe de Sousa, da Casa dos Capitães da Guarda Alemã, quando,

em 1666, impôs em testamento que a sucessão na ilustre casa do Calhariz ficasse vedada

a «pessoa alguma que tenha raça de nação infecta, mouro, judeu ou mourisco, nem pessoa

que seja casada com quem tenha alguma das ditas raças, e se depois da sucessão casar

com tal pessoa, por isso mesmo perca o dito morgado»304, e ainda António Teles da

Silva305 que, instituindo morgado e as condições do mesmo no seu testamento, esclarece

que: «aquele ou aquela que asi o não comprir, desde logo a hei por não nomeada, e nomeo

a pessoa que successiuamente da descendencia dos ditos meus irmaos lhe pertencer (...).

E o mesmo será cazando alguns dos sucessores do ditto morgado, macho ou femea, com

pessoa de Nação Hebrea, ou de outra alguma ceita, ou raça»306, reproduzindo a fórmula,

já enunciada atrás que povoou os estatutos das principais instituições do Antigo Regime,

como as universidades, as confrarias, as Ordens Religiosas Militares, o Tribunal do Santo

Ofício e a Casa Real. No entanto, e conforme constatámos pela leitura de alguns

testamentos da Casa puritana dos marqueses de Ponte de Lima, a mesma fórmula não

terá sido transposta para estes307, confirmando, por um lado, que se para algumas Casas

a prossecução de um modelo puritano na sua política de reprodução social foi promovida

por disposições testamentárias impostas que criaram constrangimentos na transmissão

dos seus morgados308, permitindo também perceber porque é que algumas Casas se

preocuparam mais com a questão puritana ao nível quase exclusivo dos herdeiros, outras

há que, não obstante serem reconhecidas como puritanas na sua reprodução social,

acabaram por não materializar esse modelo em quaisquer restrições testamentárias à

transmissão dos seus bens, confirmando assim que o próprio entendimento de modelo

303 Marquis de Bombelles, Journal..., p. 253.304 ANTT, Casa Palmela, liv. 2, fols. 6 e 6v.305 Irmão do 1 ° conde de Vilar Maior que beneficiou da sua fortuna, por morrer sem deixar descendência.306 Virgínia Rau, «Fortunas ultramarinas e a nobreza portuguesa no século XVII». In Separata da Revista Portuguesa de História, Tomo VIII. Coimbra: Instituto de estudos Históricos Doutor António de Vasconcelos/ FL-UC, 1961, p. 25.307 Analisámos os testamentos do visconde D. Tomás Teles da Silva, irmão do 3.° marquês de Alegrete, ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32, n.° 45 (1758) e das viscondessas D. Maria Ana Teresa de Hohenlohe e D. Joana de Vasconcelos, ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32, n.° 12 (1720) e Cx. 22, n.° 7 (1653), respectivamente.308 Interessante será a leitura, por exemplo, da instituição do morgado dos Távoras onde se condicionava também a transmissão do mesmo, não a questões puritanas de sangue, mas de linhagem, conforme citado em João Bernardo Galvão-Telles e Lourenço Correia de Matos, «que os do n o m e ., pp. 13-14.

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Parte 2 - Os Puritanos

puritano - bem como sobre os instrumentos utilizados na manutenção de um estatuto

puritano - variava de Casa para Casa.

Mas, no discurso público puritano poucos terão sido tão incisivos como o já citado

neste trabalho, Roque Monteiro Paim na sua Perfídia Judaica...309, um discurso que

deverá ser enquadrado numa realidade de ascensão social feita à conta tanto de serviços

prestados à Coroa como ao Tribunal do Santo Ofício que, apenas em três gerações,

permitiram que esta família concentrasse um património elevado310 terminando com a

ascensão à grandeza da filha herdeira de Roque Monteiro Paim que casa com aquele que

vem a ser o 1.° conde de Alva. Conforme referem Xavier e Cardim, o acesso ao poder

«pelos fidalgos aclamadores só foi possível pela constituição de uma rede de

cumplicidades com extensões à magistratura e à alta administração»311, concretizando

que, entre estes, se encontrava Pedro Fernandes Monteiro, pai do referido Roque

Monteiro Paim e homem de confiança de D. João IV. Não obstante os rumores que

existiam à época de que a mãe de Pedro Fernandes Monteiro seria cristã-nova e dos

problemas que Martim Monteiro Paim, seu filho, enfrentou na Inquisição312, a influência

de Pedro Fernandes Monteiro na corte foi suficiente para garantir a manutenção do status

da sua família, com os seus filhos Roque Monteiro Paim a ascender ao Conselho Privado

do regente D. Pedro II e António Monteiro Paim a assumir funções de relevo no próprio

Tribunal do Santo Ofício, chegando a Deputado do Conselho Geral em 1700. Se é

verdade, e a história desta família parece comprová-lo, que «a Inquisição era, nesta fase,

importante estância de tutela da «pureza» dos indivíduos, famílias e sociedade»313, tal não

foi, no entanto, suficiente para garantir um modelo de reprodução social puritano, tal

como esperaríamos da descendência do autor da Perfídia Judaica, porque na sua ascensão

social, mais importante do que a pureza seria a grandeza da Casa com quem se aliava,

confirmando que este modelo de reprodução social, para todo o período de análise e para

a maior parte da população analisada, foi mais pragmático do que ideológico. Assim, não

só a «a Inquizição não era Guardanapo a que as Gentes se fossem alimpar»314, como

nunca o foi de facto para os Puritanos, porque os instrumentos de confirmação de pureza

309 Roque Monteiro Paim, Prefid[ia] Judaica, Christus VindexMunus Prin[cipis], Ecclesia Lusitan[iae]. Madrid: [s.n.], 1671.310 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 270.311 Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I . , p. 330.312 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., pp. 191-192.313 Ibidem, p. 192.314 Alvará, p.182.

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Os Puritanos

de sangue, para estes, foram muito além de uma familiatura do Santo Ofício ou de um

hábito das Ordens Religiosas Militares.

Outro caso curioso é o do processo de habilitação de José do Couto Pestana ao

hábito da Ordem de Cristo, entre 1718 e 1721. Como tantos outros, a identificação do

defeito de mecânica na sua avó paterna que «Escolhia trigo por Sellario para os Padres da

Companhia» foi suficiente para que o mesmo fosse indeferido. No entanto, terá o mesmo

esclarecido a Mesa da Consciência que a sua avó paterna era também avó materna do 2.°

marquês de Valença e que este teria sido aprovado sem qualquer dispensa. Analisado o

caso, veio-se a demonstrar que, afinal, a avó comum colhia, de facto, trigo para os jesuítas,

algo que fazia, esclareceu-se, por caridade e não por salário315. O marquês a que nos

referimos, D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, era filho natural do 7.° conde de

Vimioso316, cuja mulher morreu sem descendência, e de Antónia de Bulhões, «mulher

nobre» de acordo com o Pe. D. António Caetano de Sousa ou «de baixa condição» se

atendermos a Torcy317, com quem nunca se casou e cujo filho terá sido legitimado à hora

da morte, possibilitando a continuidade da Casa. Curioso será também o facto de tal

origem não ter comprometido o estatuto puritano que esta Casa detinha, assente num

exclusivismo dos casamentos celebrados, como já referimos anteriormente, tendo D.

Francisco de Paula ido casar à Mouraria, sendo posteriormente feito marquês por D. João

V. Para Torcy esta condição qualificaria seguramente a Casa dos marqueses de Valença

enquanto detentora de mesaliances, mas a história desta Casa aristocrática não se reduz a

este acontecimento e sabemos que tanto a família do seu bisavô paterno, D. Luís de

Portugal, 4.° conde de Vimioso, como da sua bisavó paterna, D. Joana de Castro e

Mendonça, tinham uma forte relação com o Tribunal do Santo Ofício, sendo muitos os

que ocuparam o lugar de deputado do Conselho Geral da mesma instituição318, o que,

conforme vimos atrás, reforçava a imagem de pureza associada à Casa que D. Francisco,

não obstante os constrangimentos que poderiam ter causado a circunstância do seu

nascimento, soube capitalizar, promovendo assim a imagem puritana que a sua Casa

teria.

315 Fernanda Olival, As Ordens M ilitares., p. 378.316 D. Miguel de Portugal (1631-1687). Foi 7.° conde de Vimioso e casou com Maria Margarida de Castro e Albuquerque, de quem não houve descendência.317 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma R elação., p. 99.318 Referimo-nos ao seu pai, o já referido 7.° conde do Vimioso, a D. João de Portugal e Castro, bispo de Viseu, a D. Miguel de Castro e ao seu tio-avô, também D. Miguel de Castro, in Ana Isabel López-Salazar, «Familia y parentesco en la Inquisición portuguesa: el caso del Consejo General (1569-1821)». In [et al.], Honra e Sociedade., p. 152.

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Parte 2 - Os Puritanos

Mas talvez por ser um dos aristocratas portugueses do século XVIII com maior

número de cartas e diários estudados e publicados, é em D. João de Almeida Portugal, 2.°

marquês de Alorna, que encontramos uma grande incoerência de discurso, neste caso,

anti-puritano. Sabemos que esta Casa não seria puritana e que o próprio marquês terá

escrito, sobre o que considerava um excesso de procura matrimonial na Casa dos condes

de Óbidos, que «Não estava athe agora esta casa nos termos de ser tão procurada como

outras, por conta de hua quimera m.to ridicula, que não significa nada, e consestia, n’isso

a preocupação de m.ta gente»319, não obstante o facto de, na sua juventude, ter escrito a

seu pai, após os seus estudos em Paris, que «as companhias que aqui cultivo são a de

Tomás Lima [14.° visconde de Vila Nova], o [6.°] Conde de S. Lourenço, Manuel Teles

[da Silva, 6.° conde de Vilar Maior] e os filhos do Barão [do Alvito, D. Vasco José Lobo,

futuro 11.° barão, e D. Fernando José Lobo, 2.° marquês do Alvito por morte, sem

descendência, do irmão] em que sempre falamos nestas matérias porque todos são muito

aplicados». Também durante a sua prisão escreveu a sua mulher informando que «O rapaz

da caza de Obidos, he o que faz o nosso mayor apetite»320, permitindo-nos questionar que

tal não seria mais despeito do que convicção por sentir a sua Casa desconsiderada para

enlaces matrimoniais pelo grupo de poucas Casas que pareciam merecer o seu respeito

intelectual, até porque será o mesmo marquês de Alorna mais tarde, e já após a morte de

D. José, a defender a manutenção de um exclusivismo no grupo da nobreza, porque

apenas «a Nobreza antiga, isto é, a que vem desde o Senhor Rei D. Afonso V, ou mais de

trás» detém «um valor, para assim dizer, intrínseco neste Reino, e predem-no se ele deixa

de conservar a sua independência»321, num claro apelo à manutenção de um exclusivismo

aristocrático não assente num ideal puritano, antes entendido segundo uma lógica de

antiguidade da nobreza.

Ainda assim convém enquadrar estas posições numa realidade que o terá marcado

profundamente pelas dificuldades que sentiu para casar como queria os seus filhos, à

imagem do que teria acontecido consigo, pois escreve-lhe sua mãe a propósito do

planeamento do seu casamento, em 1745, referindo que o seu pai, «a não ser com esta [D.

Madalena de Lancastre], nem com as Távoras, nem com as Óbidos, nem com as

319 José Cassiano Neves, Miscelânea Curiosa. Lisboa: [s.n.], 1983, pp. 112-113.320 Ibidem, p. 116.321 Marquês de Alorna, Marquês de Alorna - Memórias Políticas (Apresentação de José Norton). Lisboa: Tribuna, 2008, p. 109.

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Os Puritanos

Moirarias, porque as não há»322, não aceitaria o casamento com outras Casas. Parece-nos

que a expressão «não há» deverá ser entendida como não há disponíveis, uma vez que a

mesma, noutra carta, concluía que os parentes da jovem Tarouca «não haviam de querer

arriscar a sua puritanice»323 com tal casamento, sendo que na continuação ainda

considerava como casamentos possíveis «as Óbido [e] as Mouraria»324, acabando, como

sabemos, o jovem conde de Assumar a casar na Casa dos marqueses de Távora.

Não pretendemos neste ponto evidenciar as incoerências e inconsistências do

modelo de reprodução social puritano como uma característica exclusiva e identificadora

dos grupo e período em análise, antes demonstrar, através de alguns exemplos, que o

entendimento sobre o puritanismo não foi, como temos vindo a perceber ao longo deste

trabalho, estanque e imutável, dependendo muitas vezes de percepções sobre a realidade

que variaram não apenas de Casa para Casa aristocrática, mas também, acreditamos, ao

longo do tempo.

7. O Processo dos Távoras ou o engano puritano

Andava a fidalguia da nossa côrte por então tão

dividida de interesses, tão retalhada de facções, e tão

agitada pela ambição de logares, de preeminencias,

e de poderio, que ao principe, n ’este caso, seria muito

mais dificil o ignorar do que o saber, ainda que não325perguntasse.325

É por vezes difícil o entendimento do sucedido em Lisboa no ano de 1759 com a

morte, em praça pública, dos marqueses de Távora e dos seus dois filhos, o marquês novo

Luís Bernardo e o seu irmão José Maria, do duque de Aveiro e do conde de Atouguia,

bem como das consequências, para a aristocracia portuguesa, deste acontecimento.

322 Carta da marquesa de Alorna ao seu filho de 14 de Setembro de 1745 - ANTT, Casas de Fronteira e Alorna, n.° 122, referida em nota de rodapé em Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e..., p. 62323 Cit. in Laura de Mello e Souza, «Fragmentos da vida nobre em Portugal». In Walnice Nogueira Galvão e Nádia Batella Gotlib (organização), Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.84.324 Ibidem, pp. 84-85.325 Zacharias d’Aça, Um D. J o ã o ., p. 8.

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Parte 2 - Os Puritanos

Noventa anos antes, a mesma aristocracia, advogando que «tinha sido pela sua «graça»

que os Bragança se tinham tornado reis de Portugal»326, tinha patrocinado a conjura que

depôs o rei D. Afonso VI, anulando assim a influência que o conde de Castelo Melhor,

“um dos seus”, tinha junto do rei enquanto seu valido. Agora, pelo contrário, abstinha-se

de se defender, pecando pela reacção tardia para a qual terá indiscutivelmente contribuído

a rapidez do Processo e o crime de lesa-majestade que lhe deu origem. É certo que

Monteiro vem questionar até que ponto a condenação dos Távoras não seria mais do

interesse do próprio rei do que do marquês de Pombal327, o que não nos parece ser

particularmente relevante neste ponto porque ambos defendiam o poder real em

competição com a aristocracia, tendo ambos beneficiado largamente deste acontecimento.

A tomar por certa a afirmação do jovem conde de Assumar sobre a família de sua

mulher, em que este dizia «que basta o simples nome de Tavora para se fazerem

formidáveis em matéria de reputação e de valor»328, podemos perceber que esta família

estava longe de ser das mais queridas e aceites na Corte portuguesa mas, ainda assim,

convém relembrar que a sociedade que patrocinava a altivez dos Távoras, e que era em

grande medida também definida por ela, era a mesma sociedade que começou a colapsar

após o Processo que vitimou e encarcerou mais de oito chefes de Casas aristocráticas e

ainda aquela onde o puritanismo encontrava o seu lugar enquanto mecanismo de

construção e manutenção de elites, motivo pelo qual propomos a ideia de que a não

reacção da aristocracia se terá devido, também, a um engano.

Ainda assim, e mesmo que se tratasse de uma vendeta pessoal do rei, o motivo

pelo qual se mantiveram nas prisões da Junqueira, sem qualquer acusação formal nem

acesso a julgamento, o conde de Óbidos, o conde da Ribeira Grande, o visconde de Vila

Nova de Cerveira e, no meio do rol de nomes da lista inicial de presos directamente

relacionados com a família Távora (incluindo o conde de Atouguia e o marquês de

Alorna), D. Manuel de Sousa (Calhariz), ao qual se juntaram mais tarde os seus filhos,

mantém-se desconhecido329.

326 Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I . , pp. 134-135.327 Nuno Gonçalo Monteiro, D. J o s é ., pp.135-166.328 Idem (Selecção, Introdução e Notas), Meu Pai e . , p. 125.329 O Processo dos Távoras (escrito sobre a direcção de A. Pedro Gil). Lisboa: Amigos do Livro, [s.n.], p. 31, e Luiz T. de Sampayo, Em volta do processo dos Távoras. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1929, p. 12-13 e 27-28.

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Os Puritanos

Este facto assume uma maior curiosidade porque, conforme já referimos atrás, os

puritanos que se encontravam presos ficaram imediatamente excluídos do alcance do

Alvará porque, tomando por certo o testemunho de D. Luís da Cunha sobre o facto de a

mulher de D. Manuel de Sousa, a princesa Maria Ana de Holstein, viver «na ultima

indigencia, sem ter que comer nem quem a sirva»330, leva-nos a pressupor que o acesso

que todas estas Casas teriam ao seu património estaria muito limitado, senão

completamente interdito, pelo menos no que respeitava aos bens da Coroa e Ordens331,

não obstante as tentativas de Pombal em interferir com a reprodução social destas Casas.

Como nos relata o marquês de Alorna acerca da Casa dos condes de Óbidos e dos receios

sobre os impactos na sua: «se a ordem q’aquela caza recebeu, para não cuidar em

matrimonio ainda agora, tem algum fim que não podemos saber, que venha a tirar a

Condeça d’Obidos e a seu filho, a liberdade de fazerem n’essa materia o que quizerem,

será coiza rara, que a nossa corte não tem praticado com ninguem, e poderá cauzarnos

damno, pello empate a q’ nos vemos obrigados»332.

No entanto, a atenção da aristocracia já a teria captado Pombal anos antes do início

da sua carreira política, quando conheceu a viúva D. Teresa de Noronha Almada, neta do

3.° conde dos Arcos, e com ela fugiu para se casarem em segredo, tendo inclusive sido

perseguidos pelos seus primos, o 5.° conde dos Arcos e o 4.° marquês de Minas, para que

se desfizesse o enlace, o que não aconteceu333. O casal remeteu-se ao exílio em Soure,

onde permaneceu alguns anos, até que Sebastião José é chamado para servir o rei em

Londres. D. Teresa permanece em Portugal, morrendo em 1739, supõe-se, sem nunca se

ter reconciliado com a sua família. Bessa-Luís refere a pena que esta morte terá causado

a Sebastião José, ignorando se seria tão grande como a vergonha que passou na corte pelo

casamento e posterior reclusão em Soure até porque, de acordo com a mesma, «temia

tudo o que o podia embaraçar e despromover»334, o que não sendo o motivo da sua

animosidade para com os aristocratas portugueses, seguramente não terá promovido uma

melhor relação com os mesmos.

330 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o . , p. 37.331 Também confirmado por Monteiro, que refere que «em 1777, eram dadas como vagas 242 comendas (pouco menos de metade do total), nelas se incluindo não apenas as das Casas extintas, mas ainda todas ou a maior parte das que antes eram administradas por Casas como a dos duques de Lafões, dos marqueses de Alorna e Valença, dos condes de Óbidos/ Sabugal, de São Lourenço, de São Miguel, e de Vila Nova, entre muitas outras.». Rui Ramos [et al.], História d e . , p. 426.332 Cit. in José Cassiano Neves, M iscelânea., p. 130.333 Augustina Bessa-Luís, Sebastião J o s é ., p. 23.334 Ibidem, p. 9.

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Parte 2 - Os Puritanos

Certo é que, em 1768, já o caminho trilhado por Pombal ia longo, não apenas no

controlo da aristocracia, mas também no das principais instituições que à data persistiam

enquanto garantes de uma sociedade que se queria, como temos comprovado, pura. A sua

influência nas Ordens Religiosas Militares começou a sentir-se logo em 1755 com a

instituição da dispensa régia à verificação da mecânica335, sob a forma de lei, a todos os

que investissem em 10 ou mais acções da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão.

Posteriormente reproduziu esta mesma fórmula aquando da criação das Companhia da

Agricultura e da Vinhas do Alto Douro e Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba336,

e desde sempre relacionado com a prossecução do seu objectivo de criação de uma elite

comercial337 capaz de manter a influência portuguesa no mapa das relações comerciais à

escala mundial338, através da tentativa de privilegiar o seu acesso ao exclusivo grupo da

nobreza339, mas que, mais do que isso, foi permitindo que o poder e a discricionariedade

do rei imperassem sobre quaisquer outros critérios de definição e legitimação das elites

(como as provanças), independentemente a sua origem.

Paralelamente, desde 1760 que Paulo de Carvalho, seu irmão, era cabeça do

Conselho Geral da Inquisição e o seu genro, o conde de São Paio, Gentil-homem da

câmara do infante D. Pedro, cuja primeira nomeação ocorre logo em 1759, confirmada

novamente em 1768340, dois annus horribilis para a aristocracia portuguesa. Também se

assiste, em 1768, à nomeação de Henrique José de Carvalho e Melo, filho de Pombal,

para Gentil-homem da Câmara do infante D. Pedro341, não podendo ser descartada a

hipótese da existência de uma movimentação da aristocracia em torno de D. Pedro, o que

aconteceria, precisamente, cem anos decorridos sobre a deposição de D. Afonso VI e a

da subida ao trono do seu irmão D. Pedro, fortemente patrocinadas pela aristocracia.

Assim, parece confirmar-se que, em 1768, a aristocracia já estaria, de facto,

controlada por Pombal, e que o Alvará surgiria no âmbito exclusivo do fim da distinção

335 Instituição da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (6 de Junho de 1755), art.° 39.°, in António Delgado da Silva (org.), Collecção da..., p. 387.336 A Companhia da Agricultura e da Vinhas do Alto Douro em 1756 e a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba em 1759.337 Ou de uma Burguesia, cf. nos é sugerido em Teresa Bernardino, Sociedade e atitudes mentais em Portugal (1777-1810). Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986, p. 40.338 Nuno Luís Madureira, Mercado e Privilégios: A Indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa: Editorial Estampa, 1997, pp. 83-93; e Kenneth Maxwell, O M arquês., pp. 79-80.339 Fernanda Olival, As Ordens Militares. , pp. 202-204.340 Celestino José Fernandes da Silva, António José de São Payo, 1.° Conde de São Payo (1720-1803): Donatário, Guerreiro e Homem de Corte. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003. Dissertação de Mestrado, pp. 169-170.341 Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I I . , p.119.

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Os Puritanos

entre cristãos-novos e cristãos-velhos que se vai materializar cinco anos depois, em

1773342. Acresce a este facto que a 2 de Maio do mesmo ano de 1768 já outra acção tinha

sido tomada por Pombal no âmbito de garantir um poder real enquanto «única fonte da

qual sómente he que podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações Civis»343

com o fim dos Róis de Fintas344 e da sua divulgação pública, impedindo assim que as

famílias de cristãos-novos que tivessem pago este imposto pudessem ser pesquisáveis por

terceiros. Mas se tal era verdade, por que razão sentiu Pombal a necessidade de voltar a

nomear o seu genro, o 1.° conde de São Paio, e nomear o seu filho como Gentis-Homens

da Câmara do infante D. Pedro, à data do Alvará? É possível supor que, não obstante os

muitos aristocratas que se encontravam presos e o controlo efectivo que Pombal j á detinha

sobre a nobreza de corte - nomeadamente na aristocracia, pelo apoio e confissões de

lealdade que foi recebendo de homens como o marquês de Tancos345 - continuaria a

sentir-se ameaçado ou de alguma forma posto em causa pelos demais membros da

aristocracia portuguesa que continuavam fora do seu alcance?

A resposta a estas perguntas julgamos poder encontra-las no famoso casamento

não consumado do filho segundo de Pombal, José Francisco de Carvalho e Daun, futuro

conde da Redinha e 3.° marquês de Pombal por morte sem descendência de seu irmão,

com Isabel Juliana Monteiro Paim de Sousa Coutinho346, bisneta paterna dos 10.os condes

de Redondo e do já referido Roque Monteiro Paim. O casamento ter-se-á realizado a 11

de Abril de 1768, contra a vontade expressa da noiva, porque numa carta de sua tia D.

Leonor de Portugal347 ao marido no Brasil, esta dizia «Eu vim a Lisboa por baixo de água

com grande trabalho (...). E me parece que se não venho, isto digo só a Dom Luís (rasgue

esta logo), se não efectuava este casamento»348. Se a obstinação da noiva, aliada à

ingenuidade e imbecilismo do noivo349, possibilitaram que a não consumação do

342 Kenneth Maxwell, O Marquês. , p. 170.343 Alvará, p. 183.344 Os róis de fintas eram listas que confirmavam o pagamento do imposto devido pelos cristãos-novos.345 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o . , p. 34.346 Aparece referenciada com inúmeros nomes como D. Isabel Juliana Bazeliza José de Sousa, in Pedro Urbano, A Casa Palm ela ., p. 14, ou com os apelidos invertidos - Sousa Coutinho Monteiro Paim - in Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o . , p.54 (nota de rodapé).347 D. Leonor de Portugal (1722-1806) era irmã de D. Vicente de Sousa Coutinho, pai de Isabel Juliana, e de Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola e pai do futuro conde de Linhares. Casou com o morgado de Mateus, nomeado capitão-general e governador da Capitania de São Paulo, no Brasil.348 Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas), Nem o Tem po., p. 293.349 O 1.° duque de Palmela refere que: «O marquês de Pombal havia sido infeliz nos seus filhos; e ( . ) [José Francisco], sobre todos, era quase notoriamente imbecil, e foi conhecido por tal até ao termo da sua vida. ( . ) Pode portanto dizer-se, que ( . ) José Francisco de Daun foi o inconsciente cúmplice mais útil de minha mãe.» in Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o . , 2011, pp. 63-64. Já Maria Amália Vaz de Carvalho escreve que: «Nos primeiros tempos [de casamento] a propria ignorancia infantil do noivo - que só pena

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Parte 2 - Os Puritanos

casamento permanecesse no íntimo do casal, será difícil conceber que este

desconhecimento se tivesse mantido durante os seis meses que intermedeiam este

casamento e a publicação do Alvará350.

Assim, tomando por certa a descrição de Carvalho de que «a côrte interessava-se,

como é de prever, n’esta lucta extravagante, original, em que o terrivel ministro apparecia

pela primeira vez mais ridiculo do que ameaçador»351, permitindo-nos, pelo menos,

equacionar a existência de uma motivação pessoal de Pombal na promoção da legislação

contra os Puritanos. Certo é que a imagem que nos é transmitida pelo nome carinhoso

com que Pombal a tratava - Bichinho-de-Conta - , ainda que seja utilizado por alguns

para referir alguma simpatia pela sua nora352, não encontram qualquer fundamento no seu

esforço de a manter presa num convento após o início do processo de nulidade do

casamento e onde permaneceu até à morte de D. José353.

É certo que o núcleo puritano que ainda se mantinha na corte portuguesa se

encontrava já muito descaracterizado, mas a julgar pela obsessão de Pombal na associação

do grupo dos puritanos à Confraria dos Escravos de Santa Engrácia, assumindo que com

todas as mortes e prisões que decorreram desde 1759 muitos seriam os lugares vagos na

mesma e supondo que Pombal nunca nela teria sido admitido354 - lembrando ainda a

causa, e não indignação, pois era tão infeliz como ella - a auxiliou n ’este proposito difficil. // Nem aos paes o pobre pequeno ousou revelar o mysterio humilhante do seu simulado matrimonio.», in Vida do Duque de Palmela D. Pedro de Sousa Holstein, Volume I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1898, p. 19. Por fim, Andrée Mansuy-Diniz Silva, acerca de D. Isabel Juliana, diz: «Cependant, l ’union célébrée le 11 avril 1768 ne fut jamais consommée: en dépit de toutes les pressions quotidiennement exercées sur elle, Isabel Juliana s’y refusa avec une obstination que rien ni personne ne put ébranler [ . ] » , transcrevendo posteriormente uma carta de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, primo de D. Isabel Juliana e futuro conde de Linhares, a seu pai, D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola, onde este diz que a discórdia entre os noivos «só se deveu à mesma natureza humana, que uniforme sempre em todos os seculos, jamais pode consentir que uma alma grande e nobre e cheia de talentos, s’unisse e obedessece à outra fraca, estupida, ignorante, e para a qual não podia olhar semm o maior desprezo.» in Portrait d ’un homme d ’Etat: D. Rodrigo de Souza Coutinho (1755-1812). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 49 e 326, respectivamente.350 T anto mais que a recusa da noiva em casar era j á sobej amente conhecida porque j á um ano antes, a 8 de Fevereiro de 1676, escrevia a mesma D. Leonor a seu marido dizendo: «a menina esteve com intento de ser freira, eu ignorava isso ( . ) . Isto deu infinita aflição a minha Mãe, e como víamos que poderia ser tentação e não devoção, e que lá este casamento muito nos servia e que não podia ter acerto melhor tentação, digo que lhe dissessem não cassasse ainda ou coisa semelhante», o que fizeram, reagendando-o para após o aniversário do noivo, mas que só aconteceu, como dissemos acima, um ano depois, in Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas), Nem o Tem po., p. 261.351 Maria Amália Vaz de Carvalho, Vida d o . , p. 19352 Augustina Bessa-Luís, Sebastião. , p. 245.353 Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o . , pp. 64-65.354 De acordo com Mário Domingues, «numa célebre Carta que a Portugal se escreveu e um grande de Espanha, recentemente impressa, um panfleto datado de 25 de Fevereiro 1756» dizia-se que o pai de Pombal «tinha publicado, sob nome suposto, um livro de genealogias, para nele instituir a sua ascendência fidalga, motivo por que a nobreza de Sebastião José era mais do que duvidosa.», in Marquês d e . , p. 161. Também Augustina refere «que Sebastião José era judeu dos quatro costados e, além disso, tendo por tio-

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Os Puritanos

importância que as comemorações do Desacato de Santa Engrácia sempre tiveram para a

nobreza portuguesa - será também legítimo questionar se a sua revolta, mais do que

contra o puritanismo aristocrático que dificilmente poderá ser advogado enquanto

promotor de divisões na aristocracia portuguesa entre cristãos-velhos e cristãos novos (até

porque um nobre, ainda mais titular ou detentor de um ofício maior da Casal Real, jamais

poderia ser um cristão-novo de acordo com os estatutos tanto das Ordens Religiosas

Militares como do Tribunal do Santo Ofício), não seria, sobretudo, relativa à exclusão

que o próprio sentiria de, enquanto nobre, titular, grande e detentor do mais influente

cargo palatino, continuar a ser excluído de um grupo que se ocupava a «injuriar a maior

parte da Nobreza desta Corte, e Provincias deste Reino»355, parte da nobreza essa que,

muito provavelmente, seria precisamente aquela que o apoiava, para além, claro está, da

sua recém-adquirida grandeza.

8. Alguns contributos

Estas noticias me fizeram cá uma bulha muito

grande, porque segundo o sistema daqueles senhores,

certamente tão injurioso a toda a nobreza não podia

esperar que se quisessem vir misturar com as nossas

impuridades, o que te posso segurar é, que se eles

guardavam sistema para si, a respeito de se não

misturarem conosco, também eu para mim o tinha

determinado para meu filho em observar o mesmo

sistema a respeito deles356

avô um certo «abade negro», de sengue preto ou mestiço [ . ] era coisa que corria ma voz do povo». Augustina Bessa-Luís, Sebastião., p. 131.355 Alvará, p. 189.356 Carta do marquês do Lavradio a Paulo de Carvalho, de 1 de Maio de 1769, já depois do casamento dos seus filhos nas Casas puritanas em cumprimento do Alvará de 1768, de acordo com Fabiano Vilaça Santos, in A. Sérgio et al. (dir.), Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, v.3. Lisboa, Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, s.n., p. 169-70), cit. in «Mediações entre a fidalguia portuguesa e o Marquês de Pombal: o exemplo da Casa de Lavradio». In Revista Brasileira de História. v. 24, n.° 48 (2004) São Paulo, pp. 301-329.

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Parte 2 - Os Puritanos

Se a frase em epígrafe confirma, indiscutivelmente, a existência de uma fractura

na aristocracia portuguesa capaz de influenciar profundamente a forma como as Casas

aristocráticas se relacionaram entre si ao longo do Antigo Regime (avaliada pelas

políticas de reprodução social que seguiram), tal não poderá ser entendido como a

prevalência de dois modelos paradigmáticos de reprodução social: os Puritanos terão

garantido a preeminência do seu modelo face ao que, de acordo com o sugerido pelo

marquês do Lavradio, poderia ser entendido como um modelo anti-puritano. De facto, tal

como observámos anteriormente para o caso do marquês de Alorna, também Lavradio

referirá alguns anos após o Alvará, à condessa de S. Vicente, sua cunhada, que «do

Tarouca357 ainda que pouco mais conhecia que a sua figura, contudo devia-me tanta fé a

exemplar educação que naquela casa se dá aos filhos dela que sempre esperei dele o que

agora com tanto gosto todos me dizem (...)», confirmando-se assim o reconhecimento de

que as famílias aristocráticas aceitariam o critério puritano enquanto definidor de status

na já muito socialmente elevada aristocracia portuguesa.

Mas se a prática de um modelo puritano na política de reprodução social das Casas

foi, de facto, fracturante no seio da aristocracia portuguesa, não poderemos deixar de

referir o texto do Parecer onde se refere que os Puritanos «não tendo culpas pessoaes

daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma

geral preocupação, que achárão estabelecida», confirmando a ideia de que, não obstante

os fundamentos para a adesão a este modelo, os mesmos foram ao longo do período de

análise perdendo qualquer carácter religioso, se é que este alguma vez existiu. Aliás,

encontramos em Bourdieu uma possível explicação que vem confirmar a ideia do

Parecer, ou seja, que «o mundo social está assim povoado de instituições que ninguém

concebeu nem quis, cujos «responsáveis» aparentes não só não sabem dizer - nem mesmo

mais tarde graças à ilusão retrospectiva, como se «inventou a fórmula», - como também

se surpreendem que elas possam existir como existem, tão bem adaptadas a fins nunca

formulados expressamente pelos seus fundadores.»358

Pertinaz é a questão da existência de uma consciência puritana, levantada desde

logo por Monteiro, concluindo que esta poderia ser fundamentada por testemunhos da

época, envoltos, no entanto, num «carácter relativamente difuso»359. Até mais do que a

357 Lembramos que o «Tarouca» a que se referia era o seu genro, Fernando Teles da Silva, futuro 3.° marquês de Penalva, com quem a sua filha tinha casado, em 1769, no âmbito da execução do Alvará.358 Pierre Bourdieu, O p o d er ., pp. 90-91.359 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.

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Os Puritanos

sua relação com a limpeza de sangue, o tema mais difícil de perscrutar e promotor de um

discurso incontornavelmente difuso é a constante relação que identificámos entre

puritanismo e anti-estrangeirismo. Cortesão não hesita em classificar os puritanos como

racistas e casticistas3 6 0 , apesar de julgarmos exageradas as associações que estabelece,

nomeadamente, entre a Lei dos Tratamentos de D. João V, de 1739, e a vontade do rei

em levantar «entre as classes divisões estanques [ . ] para as transformar em castas»361,

ou então ao concluir que teria sido a prática do puritanismo a votar à vida celibatária os

filhos e filhas segundos das Casas aristocráticas, o que sabemos hoje ser uma prática

generalizada da aristocracia e não apenas dos Puritanos. Aliás, e dada a procura

matrimonial de que foram alvo, não nos espantaria que a realidade das famílias puritanas

fosse precisamente a inversa.

Curioso é, no entanto, o discurso de D. Luís da Cunha que, se por um lado critica

«certas famílias [que] se dizem puritanas para se não aliarem com outras», por outro alerta

para o facto de que «se não deverião consentir os cazamentos fora do Reino, pois não

vemos que algum francez, espanhol ou alemão vá buscar mulher em Portugal, antes

cuidão que nos fazem muita honrra em nos darem suas filhas»362, confirmando que um

entendimento casticista do puritanismo aristocrático seria, de facto, difuso e até

contraditório.

De qualquer forma, o marquês de Alorna escreverá, a respeito da existência de um

defeyto nas Casas de Óbidos, de Alegrete e Angeja, que o mesmo teria a sua origem

porque «hum dos Condes de Portalegre, cazou com hua filha de Garcia d’Almeida, filho

bastardo do segundo Conde de Abrantes, o qual foi tido em hua mulher Castelhana...»363,

confirmando que, não poucas vezes, a origem estrangeira da ascendência, principalmente

espanhola, era a confirmação da existência de um reparo. Neste ponto, a questão

espanhola não poderá ser diminuída uma vez que se assiste a inúmeros casamentos com

a nobreza estrangeira entre o grupo dos Puritanos (Cadaval, Lafões, Tarouca, Ponte de

Lima, Óbidos, Sousas, Aveiro, Caparica) que, inclusive, e para o caso dos Sousas,

capitães da Guarda Alemã, lhes mantiveram a pureza364, grande parte destes ao tempo de

D. Luís da Cunha, ajudando a enquadrar a sua opinião.

360 Jaime Cortesão, Alexandre d e . , p. 81.361 Ibidem, p. 80.362 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 198.363 José Cassiano Neves, M iscelânea,. pp. 112-113.364 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 139.

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Parte 2 - Os Puritanos

Também convém relembrar que, não existindo “legalmente” judeus em Portugal

desde o Édito de Expulsão de D. Manuel I, um judeu não baptizado seria, por conseguinte,

estrangeiro, tal como refere Azevedo quando escreve sobre «a nódoa, se podia ser, que o

estrangeiro lançava sobre a nacionalidade em massa»365, sendo este, recorrentemente, o

argumento das fontes na atribuição de reparos ou nódoa às ascendências das famílias não

puritanas.

No entanto, o modelo puritano estaria condenado, como referiu a lei pombalina,

porque «vendo se por este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano

em termos de acabar-se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas,

como he manifesto, com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com

as Leis da Igreja, e do Reino, he preciso que venhão a perder, por huma parte com a falta

de Esposas, que necessariamente hade haver em hum tão reduzido numero de Familias,

pela outra parte com as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros

Gráos dos seus reciprocos, e mutuos parentescos»366.

É à luz desta realidade que o modelo de reprodução social puritano deverá ser

também entendido, percebendo que as suas incoerências e inconsistências, que é o

mesmo que dizer uma abordagem menos ideológica ou sectária367 de puritanismo, se

devem também aos constrangimentos para uma descendência, tal como evidenciados

acima, ou seja, a falta de noivos, o que reduziria a oferta matrimonial possível, e os

elevados custos com dispensas que em muito prejudicariam, como de facto

prejudicaram368, os patrimónios das suas Casas.

Não deixará, no entanto, de ser considerado relevante que a execução do Alvará

foi muito para além do mero cumprimento do disposto no mesmo, revestindo-se estes

casamentos de um carácter eminentemente político, continuando por explicar o porquê

de o filho de Fernando de Miranda Henriques, Luís, solteiro e com 41 anos à data do

Alvará, não ter casado no âmbito do mesmo, casando dez anos mais tarde, e já depois da

morte de D. José, com uma filha do 5.° conde de Valadares, neta do 2.° marquês de

Angeja. Quanto às Casas escolhidas para que se cumprisse pontualmente o disposto no

365 J. Lúcio de Azevedo, História d o s ., p. 341.366 Consulta, p. 182367 Não obstante o recurso ao termo seita para definir a prática do puritanismo que encontramos tanto na Consulta, fol. 88, como na correspondência do 2.° marquês de Lavradio, cit. in Fabiano Vilaça Santos, «M ediações.», pp. 316.368 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 111.

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Os Puritanos

Alvará, a escolha recaiu sobre as Casas dos marqueses de Tancos e do Lavradio. Ao

primeiro podemos entendê-lo como remuneração pelo apoio que sempre consagrou a

Pombal, nomeadamente durante o Processo dos Távoras369, casando a filha herdeira dos

terceiros marqueses com o filho herdeiro do 3.° marquês de Valença. Já em relação ao

marquês do Lavradio, a questão parece-nos ligeiramente diferente. Em Agosto de 1767 o

marquês de Lavradio é nomeado governador do Brasil370, após ter sido sugerido pelo rei

D. José para aio do seu neto homónimo, o que seria do desagrado do marquês371. Em

Setembro de 68, Lavradio escrevia a Pombal referindo o seu desejo de voltar a Lisboa

para que pudesse cuidar da sua casa e da sua tão numerosa família372. Certo é que Pombal

não autorizou o seu regresso, mas interveio na reprodução social desta Casa, fazendo

casar duas filhas de Lavradio com os filhos herdeiros do marquês de Alegrete e de

Valença. Em 1771, Lavradio escreverá à condessa de S. Vicente, sua cunhada, referindo

que «como já não subsistia o que me embaraçava a procurar alianças naquela família que

eu nisso sinto não tinha dúvida contanto que nada se fizesse sem primeiro aprovação

particular do Marquês do Pombal, porque além do muito que lhe sou obrigado»373.

Em ambos os casos acima observamos que, longe de se tratar de uma humilhação,

os casamentos não puritanos promovidos pela intervenção de Pombal vão ao encontro do

modelo endogâmico praticado pela aristocracia portuguesa, garantindo que todos estes se

celebram entre Casas marquesais. Esta era também a fórmula de D. Luís da Cunha, que

apoiava o crescimento da nobreza, criticando duramente «o mal, que estava tão arreigado

na má inclinação, que nos era natural e na soberba, com que nos queríamos distinguir

huns dos outros, não havendo algum, que não tenha tal ou qual parte do que achava aos374mais»374.

Não será, então, de estranhar que o cumprimento do Alvará se fizesse “com

dignidade”375 - fazendo com que, mais tarde, o mesmo Pombal se revolte com certas

acusações da marquesa de Lavradio, referindo «que pertence à calumnia com que me

pretendem malquistar com a senhora Marqueza do Lavradio: nada do que diz relação a

369 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o . , p. 34.370 D. José d’Almeida, 6.° marquês de Lavradio, Vice-Reinado de D. L uizd'Almeida Portugal, 2. °Marquez de Lavradio, 3. ° Vice-Rei do Brasil (Prefácio de Pedro Calmon). S. Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1942, p. 17.371 Ibidem, p.5.372 Ibidem, p. 17.373Marquês do Lavradio (2.°) - Cartas do Rio de Janeiro - 1769-1776. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado de Educação e Cultura. Departamento de Cultura, 1978, p. 81.374 D. Luís da Cunha, Instruções Inéd ita s., p. 94.375 Ainda assim convém recordar que o texto do Parecer remete para a «Benigníssima Clemencia» do rei,p. 86.

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Parte 2 - Os Puritanos

este negocio se me faz novo: porque há muitos annos sabia o que agora ouvi: e muito

mais ainda em matérias de muito mais graves consequências»376, uma referência que

contradiz o agradecimento do marquês referido anteriormente, mas que é sintomático na

sociedade portuguesa após o afastamento de Pombal.

Apesar de ser um tema pouco tratado e conhecido, é de se supor que a relação da

aristocracia, que permanecia na Corte, com Pombal, podendo não ser um exemplo de

cumplicidade, seria, pelo menos, cordial, recusando-se assim uma ideia de constante

conflito e opressão. O próprio marquês de Lavradio escreverá ao seu genro, o conde de

Vila Verde, em 1777, pedindo-lhe que «ao senhor Marquês dará você um grande recado

meu que eu não escrevo agora a Sua Ex.a, porque sei quanto lhe custa o obrigá-lo a

responder, que basta que S. Ex.a conheça o meu profundo respeito, e a verdadeira amizade

que sempre lhe protesto», sendo este uma prova de que o conde de Vila Verde, filho do

marquês de Angeja, se “cruzaria” na Corte com Pombal.

Por fim, a desvalorização da linhagem em prol da Casa377, a par do premeio das

famílias nobres que arriscaram a sua vida na Restauração, permitiu que estas assumissem

o topo da hierarquia social, o que de outra forma não aconteceria num tão curto espaço

de tempo. Como tão bem notou Monteiro - sugerindo que «o estudo do fenómeno

puritano ajuda-nos a compreender melhor este aparente paradoxo»378 - o topo da

hierarquia social deixou de ser constituído pelas Casas elevadas há mais tempo à

grandeza, o que deverá ser sempre enformado por uma realidade onde «crescera a

ostentação dos puritanos no exclusivismo, ao mesmo passo que entre os agravados

borbulhava a tendência para a reacção.»379

376 Celestino José Fernandes da Silva, António José de, p. 139.377 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 86.378 Ibidem, p. 133.379 J. Lúcio de Azevedo, História d o s ., p. 342.

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Pa r t e 3 - Um a f a m í l i a p u r i t a n a : o s Mo u r a r i a s

- § -

1. A Casa “imaginada” dos Mourarias

[...] porem lembraivos querido Irmão, de quantos

outros somos empenhados na Vossa Conservação, e

lembraivos com_piedade especial de que este pobre

tio velho já não poderá aturar mais sustos e

tormentos se os vir padecidos na Mouraria! ah

Mouraria Adorada! Emquanto nella vos não abraço

e sirvo, pondome de todo aparte ás Vossas Ordens,

para obedecervos [...] 380

Mais do que Cunhas, Teles, Silvas e Menezes, Vilares Maiores, Alegretes,

Taroucas e Penalvas, mais tarde também Britos, Limas, Melos e Gamas, Vilas Novas de

Cerveira, Pontes de Lima, Vidigueiras e Nizas, todos os nascidos e criados nas casas sitas

à Mouraria, foram, sobretudo, Mourarias (ou Moirarias). A presente parte desta

dissertação pretenderá demonstrar a incidência de uma consciência puritana nesta Casa

aristocrática portuguesa, não devendo, no entanto, desmerecer-se outras considerações

que a levavam ao topo da hierarquia no que à reprodução social dizia respeito381. A

Mouraria sempre foi, mais do que um palácio, uma Casa ou um habitat, uma escola capaz

de formar consciências e impor tendências no exclusivo grupo da primeira nobreza de

corte.

Refere Silva Miguel desconhecer a extensão do fenómeno de «identificação e

denominação dos titulares, feita por outros dos seus congéneres, pelo bairro onde se

situava o seu palácio»382, sendo os Mourarias, no entanto, o único exemplo que aponta.

380 BNP, Arquivo Tarouca., 270, Cartas do Conde de Tarouca para sua família e parentes. Carta do conde de Tarouca ao seu sobrinho Nuno da Silva, de 25 de Agosto de 1734.381 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo, pp. 132-133.382 Pedro Silva Miguel, Descobrir a dimensão palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII. Titulares, a corte, vivências e sociabilidades, Vol. 1. Lisboa: [s.d.], 2012. Dissertação de Mestrado, p.55.

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Os Puritanos

De facto, e pelo que nos foi possível observar em todas as fontes analisadas para o

presente trabalho, esta identificação parece-nos única, uma vez que, por regra, as Casas

da primeira nobreza de corte eram conhecidas pelos senhorios dos seus títulos (Cadavais,

Angejas, Marialvas, Távoras, ...), ou pelos seus ofícios palatinos (copeiros-mores,

monteiros-mores, ...), ou até pelo nome de um dos seus senhorios (Calharizes, Mateus,

. ) . Certo é o facto de cada uma destas denominações estar associada a uma característica

identificadora da Casa, comum a todos os seus membros, mas que ainda assim nenhuma

outra conseguiu reproduzir tão eficazmente como a Casa dos marqueses de Alegrete. Isto

mesmo comprovamos pela carta do Cavaleiro de Oliveira a Nuno Teles da Silva, que

«esperando toda a fortuna da honra de conhecer a casa de Alegrete, encontrei toda a

disgraça na acçam de entrar na de Tarouca, e sendo tudo Mouraria obriga me a desordem

dos fados a que me queixe dos mesmos objectos que respeito, e que venero [ . ] » 383.

Importa relembrar que o conceito de Casa tem a sua origem associada,

inquestionavelmente, à noção de lar, ou seja, uma construção onde vive uma família e

onde convivem todos aqueles que, ou lá trabalham, ou, de um modo mais privado, com

ela se relacionam384, numa simbiose entre linhagem e património. Como tão bem refere

Monteiro, para o período do Antigo Regime, a «sociedade aristocrática portuguesa era,

em primeiro lugar, uma sociedade de “casas”»385 - materializada também num conjunto

de regras às quais estavam obrigados todos os seus membros (disciplina), cujos objectivos

principais seriam assegurar descendência que perpetuasse a Casa e favorecer o

acrescentamento do seu património. Neste sentido, era à Casa, ou mais concretamente ao

seu chefe, ou cabeça para usarmos a expressão do conde de Tarouca, que cabia decidir,

entre outros, o destino dos seus filhos, tanto no que respeita a políticas de reprodução

social, como em relação à sua educação.

Sendo o tema do presente trabalho o estudo dos Puritanos, saltará à vista o facto

de a família que melhor personifica uma adesão ao ideal puritano ser aquela que é

conhecida por Mourarias. Este facto não deixou de ser notado na altura, chegando,

inclusivamente, a ser utilizado por membros da família enquanto forma de distinção e,

não poucas vezes, de escárnio, salientando, quando acusados de uma ascendência não

mais pura do que a demais aristocracia portuguesa, que «o ser mouros só lhes convinha

383 Cavaleiro de Oliveira, Cartas inéditas., p. 239.384 Norbert Elias desenvolveu estas diferentes realidades do conceito Casa dividindo-o em quatro dimensões: casa-edifício, casa-linhagem, casa-grande e casa-corte, in A Sociedade d e . , pp. 31-38.385 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e poder... , p. 89.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

por terem o seu palacio na Mouraria»386. Revelar-se-á difícil documentar o início desta

identificação e o motivo pelo qual se desenvolveu de uma forma tão diferente, e sob

muitos aspectos tão mais carismática, do que a restante nobreza portuguesa, mas

apresentaremos neste capítulo aquela que consideramos ser uma proposta possível de

resposta.

Esta poderá ser encontrada em Madureira e nos seus trabalhos desenvolvidos

sobre a Lisboa setecentista, onde refere, a respeito dos palácios situados “às portas” de

Lisboa, em S. Sebastião da Pedreira, que o seu «relativo isolamento exprime o ostracismo

aristocrático e a manutenção do modo de vida tradicional da nobreza, sob os horizontes

da grande cidade», conseguindo manter uma casa senhorial reveladora do seu estatuto

sem abdicar de «estarem próximos do centro cosmopolita, com o que isso significa de

participação nas áreas de decisão política e económica, e nos indispensáveis contactos

sociais e culturais». Esta era, sem dúvida, uma posição privilegiada da primeira nobreza

de corte, uma vez que, de acordo com o mesmo estudo, os homens de negócio estariam

excluídos desta alternativa uma vez que «A azáfama da bolsa, da alfândega e da zona

ribeirinha, desaconselha veleidades aristocráticas», exceptuado, claro, e para o século

XVIII, homens como os Cruzes, os Bandeiras e os Quintelas.387

É certo que Madureira diz não existir, para o caso de Lisboa, «uma

correspondência linear entre anéis concêntricos definidos a partir de um centro e funções

económicas»388, à qual podíamos acrescentar também funções sociais, mas Lisboa é a

Corte, e esta relação é intrínseca à própria dinâmica social da cidade pelo que a

identificação com um bairro teria como consequência a identificação com um espaço

específico dentro da corte: os Mourarias não tinham uma casa senhorial na corte, mas

eram identificados com a Mouraria, que, pouco a pouco, se foi tornando para esta Casa

o seu senhorio simbólico em Lisboa, ou seja, na Corte.

É sobre este senhorio simbólico que se edifica um “corpo” composto por todos

aqueles que lá tinham nascido e sido educados, que se desenvolve tendo por base uma

forte rede de fidelidades que obrigava os Mourarias à cabeça da Casa, conforme nos é

sugerido pela já citada correspondência do conde de Tarouca com a sua família, após a

morte do seu irmão. Apesar da natureza da identidade nobre do Antigo Regime nos levar

386 Camilo Castelo Branco (introdução e notas), M em orias., p. 66.387 Nuno Luís Madureira, C idade., p. 90. Refere-se aos mais conceituados comerciantes da praça lisboeta de meados do século XVIII.388 Ibidem, pp. 101-102.

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Os Puritanos

a assumir que a cabeça do corpo da Mouraria recairia sobre o chefe da Casa dos

marqueses de Alegrete, esse não seria, contudo, um entendimento consensual entre os

membros do mesmo corpo, identificando-se uma separação entre a chefia da Casa “real”,

que recairia sobre o herdeiro, e a da Casa que designámos “imaginada”, assente numa

lógica de antiguidade e carisma389, confirmando que «em redor desse líder carismático

nascia uma espécie de comunidade de crença, e a coesão dessa comunidade dependia de

um conjunto de sentimentos de fidelidade e de esperança, sentimentos esses dotados de

um inegável potencial político, pois eram capazes de gerar confiança e criar consenso,

eram capazes de organizar e de disciplinar, sem que tal implicasse o recurso à coacção e

a meios violentos para manter a ordem.»390

À data da morte de Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete, em 1731, o

seu filho D. Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por casamento,

escreve ao tio, o conde de Tarouca, a sugerir que este passasse a ser «cabeça da familia

Mouraria», respondendo-lhe o tio: «meu Senhor e meu seguro amigo, eu não posso ser

cabeça de hum corpo, a quem profeço venerallo, e obedecerlhe; aspiro somente a ser fino

[sic], e quinto Irmão de quatro honradissimos homens391, os quais verão emquanto a vida

me durar a pureza do meu agradecimento a aquelle perfeyto Varão, que me encheo sempre

dos mais ternos, e mais cordeaes afagos»392. Na impossibilidade de comprovarmos esta

adesão a um sentido mais ideológico da experiência de pertença a uma Casa, por parte de

todos os membros da família Mouraria, tentaremos, nos próximos pontos desta parte do

trabalho, descobrir se existia, ou não, um modelo que possamos considerar transversal a

todos eles no que respeita às imagens deixadas junto dos seus contemporâneos.

Terminamos este ponto com uma referência à Casa “real” da Mouraria, um palácio

aumentado em finais do século XVII - no apogeu da influência política da Casa dos

marqueses de Alegrete - permitindo adicionar ao palácio antigo, o “Quarto Velho”, um

“Quarto Novo” mais digno da posição que ocupava na corte, ficando os dois ligados por

«um passadiço sobre o arco que substituíra em 1674 as velhas portas de S. Vicente. Esse

389 Seguimos a definição de carisma proposta em Max Weber, Economia e . , pp. 323-408.390 Pedro Cardim, O poder d o s ., p. 16. Apesar de Cardim associar esta ideia à relação com o príncipe, extrapolamo-la também para a realidade das Casas aristocráticas enquanto senhorios que, mesmo no Antigo Regime, nunca deixaram de ser.391 Referia-se, julgamos, aos quatro filhos varões do seu irmão, o 2.° marquês de Alegrete: Manuel Teles da Silva, 4.° conde de Vilar Maior; D. Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por casamento; Nuno da Silva Teles, eclesiástico; e António Teles da Silva, 2.° senhor de Vila Verde de Ficalho por casamento.392 BNP, Arquivo Tarouca, 270, Cartas do Conde de Tarouca para sua família e parentes. Carta do conde de Tarouca ao seu sobrinho Nuno da Silva, de 25 de Agosto de 1734.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

passadiço acabava por ser para a família um testemunho do seu crescimento, e unia o seu

passado ao presente.»393 Ao estudar este palácio lisboeta, Silva Miguel contesta o

entendimento de que o novo palácio teria apenas contado com um andar acima do piso

térreo, avançando com a possibilidade deste ter ainda mais um andar (três ao todo),

descrevendo ainda todas as aquisições de casas vizinhas realizadas «para as Cazas serem

demolidas e a Rua ficar mais larga e o Pallacio dezafugado»394 Podemos enquadrar assim

o senhorio simbólico acima referido também numa sumptuosa construção digna de um

Grande de Portugal. Mas como Grande de Portugal que era, a construção não se realizou

sem dificuldades financeiras, tendo a sua finalização dependido da ajuda do seu primo,

D. Frei Luís da Silva, arcebispo de Évora395, que, em alvará de 31 de Julho de 1698,

escreverá que «Vendo nós que estava parada a obra das cazas do Marquez de Alegrete,

Manuel Tellez da Silua nosso primo, citas na Mouraria de Lisboa, e que elle a não podia

adiantar polas grandes obrigações, com que se achava, e desejando nos muito ver acabada

a ditta obra, nos deliberamos a tomalla por nossa conta, e assim mandamos continuar com

ella a nossa custa, mandando dar o dinheiro necessario para ella por mão de Manoel Leal

ourives do ouro, morador em Lixboa, segundo constará do seu livro, com o qual se foy

continuando the o prezente a ditta obra, e se vay continuando»396. Parece confirmar-se

assim que, muito provavelmente, a disciplina familiar dos Teles da Silva e o entendimento

da sua Casa enquanto um corpo, ao qual todos os seus membros estavam obrigados, seria

anterior à sua mudança para a Mouraria.

393 Pedro Silva Miguel, D escobrir., Vol. II, Anexos, p. 13. Veja-se o Anexo 6 para uma melhor imagem da proposta de Silva Miguel relativamente ao que teria sido o palácio da Mouraria.394 C.f. escritura de 24 de Maio de 1678, cit. in Ibidem, p.9.395 Luís da Silva Teles (1626-1703), arcebispo, filho natural de Francisco da Silva (clérigo, deputado da Inquisição de Lisboa) e de Margarida de Noronha. Era primo co-irmão do 1 ° marquês de Alegrete uma vez que os pais eram irmãos. Apesar de ter ajudado amplamente o seu sobrinho na construção do palácio da Mouraria, «abundam ecos do seu modo de vida simples e humilde, da sua preocupação em não fazer gastos excessivos consigo, com os seus familiares e fâmulos, para assim poder ter meios para auxiliar os mais pobres. Alimentava-se frugalmente, por norma só fazia uma refeição diária à mesa, vestia-se com suma modéstia, chegando a usar vários anos a mesma murça, aparelhava os seus aposentos com magro e humilde mobiliário.» José Pedro Paiva, D. Frei Luís da Silva e a gestão dos bens de uma mitra. O caso da diocese de Lamego (1677-85). Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001, Vol. II, p. 249.396 Cit. in Carlos da Silva Tarouca, Conselhos d u m ., p. 4.

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Os Puritanos

2. A Mouraria dos Cunhas

O litígio terminou efectivamente nesse ano, como era

da vontade do rei, e os bens ficaram, por última e

definitiva decisão, na posse do colégio; nem outra

resolução se podia esperar do prelado elvense [D.

Manuel da Cunha], tão afeiçoado à Ordem ignaciana,

e irmão do P. Nuno da Cunha, um dos Padres que

mais autorizaram por êsse tempo a Companhia de Jesus em Portugal. 3 9 7

A única coisa que sabemos quanto à relação dos Cunhas com o palácio da

Mouraria, o “Quarto Velho”, é que este seria propriedade de Simão da Cunha398, pai de

Mariana de Mendonça casada antes de 1641 com o 1.° conde de Vilar Maior, sendo parte

do dote de casamento desta, altura em que passa a incorporar o património da Casa de

Alegrete/ Vilar Maior, ainda que, em 1643, continuasse a ser morada de D. Manuel da

Cunha, bispo de Elvas e irmão da referida Mariana de Mendonça.

Simão da Cunha pertencia a um ramo secundogénito da antiga família dos Cunhas

- descendente, entre outros, de Tristão da Cunha, imortalizado pela sua embaixada a

Roma no reinado de D. Manuel I - origem de Casas como a dos condes da Cunha, de

Pontével e de Povolide, e de homens como D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa,

D. Luís da Cunha ou D. Nuno da Cunha e Ataíde, o conhecido e influente cardeal da

Cunha, sendo que, para o período em análise, ficarão também conotados com o grupo de

famílias que terão beneficiado do apoio que, de imediato, prestaram à causa

restauracionista3 9 9 , tendo ainda estado associados ao ofício maior de Trinchante da CasaReal400.

397 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia., p. 18.398 De acordo com Silva Miguel, este foi «aforado em 4 de Janeiro de 1501 a Aires de Almada» e, «Por sucessivas heranças a vendas [ . ] veio à posse de Simão da Cunha, pai de Mariana de Mendonça», in Descobrir... (Anexos), p. 6.399 Maria Paula Marçal Lourenço, D . Pedro II... , p. 21.400 Apesar de existir o registo do mesmo ofício também ter sido exercido por Tomé de Sousa e por Diogo de Brito Coutinho e pelos seus genro e neto, Manuel e José de Vasconcelos e Sousa, respectivamente.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Não temos forma de comprovar há quantas gerações estaria a Mouraria na posse

destes Cunhas, nem se Simão da Cunha e a sua família alguma vez terão lá vivido,

supondo apenas que o poderão ter feito porque, como referimos acima, D. Manuel da

Cunha tinha os seus aposentos neste palácio, o que poderá ter acontecido posteriormente.

Apesar de provirem de ramos secundogénitos da grande e ilustre família dos Cunhas, o

ramo que ora retratamos esteve sempre ligado ao serviço da Casa Real, sendo Rui Gomes

da Cunha, pai de Simão da Cunha, Copeiro-mor dos reis D. João III e D. Sebastião, e

Simão da Cunha o Trinchante do rei Filipe II. Este casou com Luísa de Almeida, filha de

Simão Ferreira Palha que foi secretário de Estado na Índia, o suficiente para que Torcy

identificasse nesta família «quelque mésalliances.»401, e deste casamento houve nove

filhos: D. Pedro da Cunha, que «foi Sr. Da Caza de seu Pay», herdando a Comenda de

Morufe da Ordem de Cristo, bem como o ofício de Trinchante a Casa Real402; Mariana

de Mendonça que casou, como vimos, com o 1.° conde de Vilar Maior; D. Manuel da

Cunha e Nuno da Cunha de quem falaremos de seguida; Tristão da Cunha, que morreu

na Índia; Catarina da Cunha e Isabel da Cunha, ambas freiras, a primeira na Anunciada e

a segunda na Madre de Deus; outro Pedro da Cunha, capucho; e, por fim, Joana da Cunha

que terá morrido menina.

Cumpre ainda salientar que, no que aos Cunhas e os seus diferentes ramos diz

respeito, pelo facto de uns usarem o título de representação de Dom e outros não e dos

nomes como Pedro, Nuno, Tristão e Simão se repetirem com frequência, não é raro

encontrarmos inúmeras confusões entre membros da família, da qual a mais frequente,

ainda assim, é a entre o Pe Nuno da Cunha (c. 1594 - c. 1668), da Companhia, filho de

Simão da Cunha; D. Nuno da Cunha e Ataíde (1664-1750), o famoso cardeal da Cunha;

e ainda o Pe. Nuno da Cunha (1705-1774), também da Companhia de Jesus, filho do 1.°

conde de Povolide.

Curiosa, no entanto, é a menção da Mouraria na Consulta, não ligada

directamente aos Alegretes, mas aos Cunhas. Diz-se na Consulta que o «padre Nuno da

Cunha governava a casa da Mouraria, tão despoticamente como consta de Documentos

Originaes que existem entre os seus papeis, por ser irmão de Dona Mariana de Mendonça,

401 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 90.402 Este ofício, no entanto, permanecerá apenas mais uma geração neste ramo da família uma vez que o filho de Pedro da Cunha, Simão, vendê-lo-á a D. António Alvares da Cunha, 17.° senhor da Tábua e pai do embaixador D. Luís da Cunha, cf. Isabel Cluny, D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1999, p. 22.

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Os Puritanos

mãe do primeiro conde de Villar-Maior, Fernão Telles da Silva, e tinha ao mesmo tempo

na Corte, e no Santo Officio a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da

Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa»403. O engano da Consulta na

identificação do 1.° conde de Vilar Maior enquanto filho de Mariana de Mendonça, com

quem era, no entanto, casado, poderá ser enquadrado no desabafo de Pombal ao conde de

São Paio, seu genro, quando refere que «eu nunca me apliquei a genealogias. He profissão

a que sempre tive grande aborrecimento, porque poucas vezes sucedeu fazer bem, e mais

ordinário he fazer muito mal»404, sendo que a identificação da Mouraria com o Padre

Nuno da Cunha é explícita.

Certo é que, tanto através do Padre Nuno da Cunha, como do seu irmão, o bispo

D. Manuel da Cunha, esta família gozou de muita influência durante os reinados de D.

João IV a D. Pedro II. Já nos referimos à proximidade temporal do Alvará com a Dedução

Chronologica e Analítica e entendemos que parte da aversão de Pombal ao Pe. Nuno da

Cunha terá vindo daí. De acordo com o texto da mesma, a Companhia de Jesus teria sido

responsável por todos os atentados ao poder real desde a sua fundação - e aqui não nos

enganemos, entendido na óptica de Pombal, ou seja, segundo uma perspectiva regalista -

, esclarecendo que «não ha Jesuitas Portuguezes, e Jesuitas Hespanhoes; porque huns, e

outros são na realidade os mesmos Jesuitas, que não conhecem outro Soberano, que não

seja o seu Geral; outra Nação, que não seja a sua própria Sociedade; porque pela

Profissão, que a ella os une, ficão logo desnaturalizados da Patria, dos Pays, e dos Parentes

(,..)»405, e defendendo que os mesmos operariam num Synedrio entendido como um

“contra-poder” que foi minando quaisquer tentativas de afirmação do poder do príncipe,

chegando até à deposição de reis, sendo que na de Afonso VI, concluirá, foram «guiados

pelo dito Nuno da Cunha, Chefe então do Synedrio dos ditos Regulares; como fica

mostrado, e como constou especificamente, pelo que toca á direcção do Congresso das

referidas Cortes.»406

É tão indiscutível a importância que o Pe. Nuno da Cunha teve na Restauração,

como questionável se tanto ele como a Companhia terão estado por detrás dos principais

acontecimentos da sociedade portuguesa do Antigo Regime. O que sabemos - e talvez

403 Consulta, p. 188.404 Carta do 1.° marquês de Pombal ao seu genro António José de Sampaio e Melo, cit. in Celestino José Fernandes da Silva, António José d e . , p. 17.405 José Seabra da Silva, D edução., Primeira Parte, Divisão IX, p. 191.406 Ibidem, Divisão XI, pp. 337-338.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

mais por aqui percebamos a obsessão de Pombal - é que o Pe. Nuno da Cunha foi, em

toda a sua essência, um curialista, defendendo «a supremacia do papado sobre os poderes

temporais, e a mediação do pontífice na outorga dos poderes dos príncipes»407, o que, na

deposição de D. Afonso VI, e não obstante acreditar que «era contra a sua religião votar

em coisas políticas» e que «sempre se devia recorrer a Sua Santidade», enquanto um dos

letrados escolhidos para decidir se se poderia ou não coroar D. Pedro II em vida de seu

irmão, apoiou a facção que defendia a manutenção do estatuto de príncipe regente, facção

essa na qual contou com o apoio do seu sobrinho, o conde de Vilar Maior, e do seu primo,

Tristão da Cunha408.

A Mouraria, vê-la-emos enquanto Casa reconhecida destes Cunhas, sendo, no

entanto, raras quaisquer menções por este nome, fazendo supor que esta associação terá

sido posterior, já sob a chancela dos Alegretes. De qualquer forma, escrevia o embaixador

D. Francisco de Sousa Coutinho409 sobre D. Manuel da Cunha, «que em sua casa tinha

grande auditório [...] até os homens de negócio, que é o que mais me espantou»410,

levando a crer que tanto os condes de Vilar Maior como os seus filhos muito terão

usufruído também desta realidade. Também a 15 de Junho de 1643 se assinava «à porta

da Mouraria, nos aposentos de D. Manuel da Cunha, bispo de Elvas e capelão-mor»411 o

contrato que punha fim à contenda entre o bispado de Elvas, agora com um novo bispo,

e a Companhia de Jesus, sobre a instalação de um novo colégio naquela cidade. Do lado

da Companhia, sem grande surpresa, assinaria o contrato o Pe. Nuno da Cunha, irmão do

recém-nomeado bispo, em representação do provincial Pe. António Mascarenhas.

Outra característica dos Cunhas está relacionada com a sua vocação para as letras,

porque, para além dos padres Nuno e Manuel, também o seu irmão Pedro «foy muito

perito nas lingoas Latina, Franceza, e Italiana, e naõ menos versado na Historia Sagrada,

e profana.»412 Já Arriaga questionava se não teria sido o 1.° marquês de Alegrete, sobrinho

neto destes irmãos Cunha, «o iniciador da importante livraria, cujos impressos ainda

407 Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I . , p. 264.408 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, M em orias., pp. 96-97.409 Referência biográfica.410 Cit. in Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João I V . , p. 266.411 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia., p. 18.412 Diogo Barbosa de Machado, Bibliotheca Lusitana. Historia, Critica, e Cronologica. Na qual se Compreende a Noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compuzeraõ desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo presente, Tomo III. Lisboa: Na Officina de Ignacio Rodrigues, 1752, p. 574.

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Os Puritanos

existem no antigo e arruinado palacio dos marquezes de Alegrete, á Mouraria»413, mas

podemos questionar se a mesma não seria anterior, datando precisamente desta altura.

Assim, parece inegável que a Mouraria, enquanto senhorio simbólico, foi sendo

construída ainda no tempo destes Cunhas, cuja influência na sociedade portuguesa do

Antigo Regime ficou como herança de uma família que a soube capitalizar e perpetuar

através da associação com esta casa, às portas da Mouraria.

3. A Mouraria dos Alegretes

( . ) do Tarouca ainda que pouco mais conhecia que

a sua figura, contudo devia-me tanta fé a exemplar

educação que naquela casa se dá aos filhos dela que

sempre esperei dele o que agora com tanto gosto

todos me dizem (...) 414

Se nos apercebemos de que a Mouraria enquanto senhorio simbólico foi sendo

construída no tempo dos Cunhas, foram indiscutivelmente os Alegretes - Teles da Silva

- que lhe conferiram uma posição privilegiada no espaço social, ou seja, e seguindo a

proposta de Bourdieu, pela posição relativa que esta Casa conseguiu adquirir em relação

às demais Casas da aristocracia portuguesa, posição essa entendida nas dimensões

económica, cultural, social e simbólica415. Importa salientar que a manutenção deste

estatuto, ou prestígio, durante todo o período de análise só foi possível devido a uma forte

cultura familiar assente na disciplina, lembrando que «o respeito pelas hierarquias no seio

da família, inculcado pela prática desde a infância, era garante do respeito pelas

hierarquias sociais “naturais e inevitáveis”»416, e também, porque não, pelas práticas

sociais, entendidas como “naturais e inevitáveis”, como um puritanismo capaz de

sustentar e justificar uma consciência puritana. Assim, neste ponto, propomo-nos

413 José de Arriaga, Catalogo dos Manuscriptos da Antiga Livraria dos Marquezes de Alegrete, dos Condes de Tarouca e dos Marquezes de Penalva e pertencente à sua actual representante a Condessa de Tarouca. Lisboa: Imprensa de João Romano Torres, 1898, p. v.414 D. Luís de Almeida Portugal, 2.° marquês de Lavradio, sobre o genro, Fernando Teles da Silva, 3.° marquês de Penalva, in Marquês do Lavradio (2.°), Cartas do R io . , p. 55.415 Pierre Bourdieu, O P o d er., p. 137.416 Jean-Louis Flandrin, F am ílias., p. 62.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

localizar a posição relativa da Casa dos marqueses de Alegrete no espaço social da

aristocracia portuguesa, tentando abordar a política seguida por esta Casa enquanto forma

de construção e perpetuação de uma elite ou, por outras palavras, enquanto justificação

da posição que ocupavam enquanto parte do «conjunto mais favorecido»417 de Casas no

que à procura por outras, nas suas políticas de reprodução social, diz respeito.

Em relação ao capital económico da Casa dos marqueses de Alegrete, não deixa

de ser curioso que o mesmo teve a sua origem numa fortuna ultramarina, não obstante

todos os constrangimentos que este tipo de enriquecimento, rápido e pouco nobilitante,

sempre causou à antiga nobreza portuguesa. Fernão Teles de Menezes, que veio a ser o

primeiro conde de Vilar Maior e o primeiro Teles da Silva a viver na Mouraria418, era um

filho segundo de Luís da Silva419 e de sua mulher Mariana de Lencastre e ganhou

protagonismo enquanto alferes-mor da Restauração420. Excluído do testamento de seu pai

que beneficiou exclusivamente, sob a forma de morgado, o seu irmão João Gomes da

Silva, é pela morte sem descendência de seu irmão, António Teles da Silva, que a avultada

fortuna deste, avaliada em mais de 52 contos de reis, vai parar à Mouraria421.

António Teles da Silva, irmão mais novo de João Gomes da Silva e de Fernão

Teles de Menezes, acumulou uma fortuna considerável enquanto governador do Brasil,

entre 1642 e 1647, seguindo uma prática dos secundogénitos das Casas dos Grandes que

não votavam a sua vida ao Clero ou não eram beneficiados por um casamento com uma

herdeira, concretizada nos «vastos horizontes de possibilidades, em que o serviço del-rei

permitia, indirectamente e sem derrogar «fidalguia», amealhar na «mercancia» ou no

«prestamismo» o suficiente para se igualarem financeiramente aos seus «maiores» no

«regresso ao território metropolitano»422. Foi precisamente no seu regresso ao território

metropolitano que o barco em que seguia António Teles da Silva naufragou, tendo este,

em testamento, designado o seu irmão Fernão Teles de Menezes como seu herdeiro

universal, não apenas da sua fazenda, mas também dos seus serviços, referindo que

417 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 133.418 Até então, e desde o seu nascimento, terá vivido à rua da Oliveira, na freguesia da Trindade, numas casas compradas, em 1589, pelo seu avô, João Gomes da Silva, cf. Carlos da Silva Tarouca, «O Alferes-m or.»,p. 12.419 De acordo com Virgína Rau, em nota de rodapé, «Alcaide-mor e comendador de Seia, governador da Relação do Porto, Vedor da Fazenda, e do Conselho de Estado, serviu por algum tempo de mordomo-mor», in «Fortunas. », p. 5.420 Leia-se Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.», onde apresenta um estudo sobre a família de Fernão Teles de Menezes.421 Virgínia Rau, «Fortunas.», p. 11.422 Ibidem, p. 5.

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Os Puritanos

«pesso a Sua Mag.de que a merce que me tinha feito de Conde de Villar Major, com o

mais que de sua grandeza espero a faça a meu irmão o Senhor Fernam Telles para que

iunto com o morgado que lhe deixo aia memoria de vassalos que com tanto amor o

seruião.»423 Ainda assim, é importante referir que a atribuição do título de conde de Vilar

Maior, em 1653, a Fernão Teles de Menezes, não se reduziu ao elencar de serviços do seu

irmão, mas também pelo que «obrou na aclamação, sendo um dos primeiros fidalgos que

mais se arriscaram aquele dia na sala dos Tudescos em companhia de António Teles da

Silva, seu irmão»424.

Conforme verificámos anteriormente, esta fortuna não terá sido suficiente, no

entanto, para permitir que a Mouraria estivesse isenta de problemas financeiros apenas

50 anos depois, tendo o marquês de Alegrete necessitado da ajuda do seu primo, Frei D.

Luís da Silva, para concluir as obras de acrescentamento do seu palácio, confirmando o

problema crónico que o endividamento representava para a aristocracia portuguesa,

motivo pelo qual «a segunda metade do reinado de D. João V foi assinalada por indícios

crescentes de dificuldades financeiras das grandes casas aristocráticas»425, ainda que se

tenha observado que a sua ascensão na preferência dos reis tenha sido acompanhada pelo

aumento de comendas das Ordens Religiosas Militares.426

No que respeita ao capital cultural desta família, tanto relativamente à educação

que conferia aos membros da sua casa, como testemunhámos pelo comentário inicial

deste ponto do marquês do Lavradio sobre o conde de Tarouca, como à sua erudição, pela

opinião do também erudito marquês de Alorna, que encontrava na Mouraria homens

«muito aplicados»427, vamo-nos apercebendo de que esta Casa foi cultivando, ao longo

do tempo, um gosto pela cultura do seu tempo, interesse esse que era reconhecido pelos

seus pares, referindo ainda Silva Tarouca o «índice deslumbrante» de títulos presentes na

biblioteca dos marqueses de Alegrete, com «edições de clássicos latinos, portugueses,

espanhóis e italianos»428.

423 Testamento de António Teles da Silva, de 19 de Julho de 1650, transcrito in Ibidem, p. 26.424 Texto constante da atribuição do título de conde de Vilar Maior a Fernão Teles de Menezes, cit. in Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João I V . , p. 40.425 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 372.426 A título de exemplo, se o 1.° conde de Vilar Maior detinha apena a Comenda de Albufeira, da Ordem de Avis, o seu filho, 1.° marquês de Alegrete, acrescentou a Casa com as comendas de S. João de Moura, também da Ordem de Avis, e de S. João de Alegrete, Lagares e Soure, da Ordem de Cristo.427 Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e. , p. 65.428 Carlos da Silva Tarouca, Conselhos d u m ., p. 5.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Este poderá também ser o motivo pelo qual não encontramos nenhum Teles da

Silva a exercer cargos ultramarinos, à excepção, claro, do já referido António Teles da

Silva, antes recorrentemente ligados ao serviço ao rei no Paço, nomeadamente enquanto

membros do Conselho de Estado, ou em representações diplomáticas, como os 1.° e 2.°

marqueses de Alegrete, o conde de Tarouca, ou ainda Tomás Teles da Silva, 12.° visconde

de Vila Nova de Cerveira por casamento. Certo é que este capital cultural sempre foi uma

característica dos Mourarias, o que confirmamos em Manuel Teles da Silva, 1.° marquês

de Alegrete, «chronista insigne do Senhor Rey D. Joam o 2. na língua latina, muito pura

e elegante»429 e um dos fundadores da Academia dos Generosos (1647-1716) e da

Academia das Conferências Discretas e Eruditas (1696-1705), tendo ainda participado na

elaboração dos Estatutos da Academia Real da História Portuguesa (1720-1760),

academias por onde passou também o seu filho Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de

Alegrete430.

Mas é na corte que os Alegretes se impõem no consilium et auxilium ao príncipe,

tanto a um nível mais privado, enquanto seus gentis-homens da câmara, como no

Conselho de Estado, com uma grande influência nos reinados de D. Pedro II e D. João V.

São inúmeros os historiadores que referem Manuel Teles da Silva, 1.° marquês de

Alegrete, como um dos principais validos de D. Pedro II - a par do duque de Cadaval, D.

Nuno Álvares Pereira de Melo431 -, «considerado por um contemporaneo, talvez Teofilo

Daupineaut, numas curiosas memórias sobre Portugal no reinado de D. Pedro II, como o

único estadista dêsse tempo.»432 Esta influência ter-se-á mantido durante o reinado de D.

João V, tendo o 2.° marquês sido recomendado por D. Pedro II a seu filho, em 1706,

enquanto uma das pessoas «muyto capazes e convenientes» para o «assistirem no

Despacho»433, deixando-se ao início, segundo alguns, «influenciar e conduzir pelos

seus»434 conselhos, perpetuando-se esta relação durante toda a vida do 2.° marquês, que

sempre assistiu o rei como seu gentil-homem da câmara.

429 Fernando Portugal e Alfredo de Matos, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: [s.n.], 1974, p. 135.430 Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II..., pp. 327-328.431 Nomeadamente os seus biógrafos Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 139 e Maria Paula Marçal Lourenço, D . Pedro II... , p. 208.432 Eduardo Brazão, O Conde de Tarouca em Londres (1709-1710). Lisboa: Imprensa Lucas & C.a, 1935,p. 11.433 Cit. in Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 148.434 João Ameal, D. João Ve a sua época. Lisboa: Of. Gráf. Da C.M.L., 1952, p. 10.

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Os Puritanos

Esta foi a realidade partilhada por todos os membros da Casa até, imaginamos, à

subida de Pombal ao poder, concretizada por uma presença constante no Conselho de

Estado, actuando enquanto Vedores da Fazenda, Regedores da Casa da Suplicação e das

Justiças, Presidentes da Câmara de Lisboa e, no que a ofícios maiores da Casa Real diz

respeito, como vimos, enquanto gentis-homens da câmara de D. Pedro II, D. João V e D.

José, gozando assim, todos eles, de uma grande proximidade com o rei, revelada também

na confiança depositada nos membros desta família através da sua designação, entre

outros, enquanto embaixadores extraordinários de Portugal nas negociações dos

casamentos de D. Pedro II com Maria Sofia de Neuburg, filha do Eleitor Palatino Filipe

Guilherme, que valeu à Casa a elevação a marquesado, e de D. João V com D. Maria Ana

de Áustria, filha do imperador Leopoldo I.

Mas as disposições testamentárias de António Teles da Silva, que referimos

acima, exigiam ainda que «o ditto morgado não passe a outra familia nem appellido que

não seia Sylua» e que aquela pessoa que casar com «com pessoa de Nação Hebrea, ou de

outra alguma ceita, ou raça», «a hei por não nomeada, e nomeo a pessoa que

successiuamente de descendencia dos dittos meus irmãos lhe pertencer»435. Apercebemo-

nos, assim, de que a questão da limpeza de sangue nesta Casa, aqui entendida enquanto

capital simbólico, assumiu contornos que ultrapassavam a mera adesão a um ideal

puritano, mas obrigada à manutenção, geração após geração, das disposições

testamentárias para manutenção dos morgados definidas pelos seus maiores436. Não

sabemos até que ponto estas disposições limitaram efectivamente a transferência dos bens

herdados, mas acreditamos que poderão ter sido referidos enquanto justificativo das

políticas de reprodução social seguidas, com elevado impacto no carisma das Casas

aristocráticas portuguesas, o que estudaremos no ponto seguinte para o exemplo da

Mouraria. O que sabemos é a relação que esta Casa manteve com o Tribunal do Santo

435 Testamento de António Teles da Silva, de 19 de Julho de 1650, transcrito em RAU, Virgínia - «Fortunas.», p. 25.436 É importante, no entanto, não descartar a hipótese de simples disciplina em relação a disposições testamentárias dos seus maiores, quer tivessem ou não impacto na transmissão do morgado, dado que, ao nível do apelido, sempre mantiveram o uso do apelido Teles, advindo esta obrigação de uma disposição testamentária de uma trisavó do 1 ° conde de Vilar Maior, Maria de Vilhena, que instituiu morgado em 1483, «desejamdo eu mujto, que seu nome [do seu marido, Fernão Teles de Menezes, 4.° senhor de Unhão] para sempre em mjm e em aquelles, que delle e mym descemderam, nom aja de ser esquecido [ . ] [e] que sempre aquelle ou aquella que for menistrador do dito moorgaado e bems delle possuir, se “chame d’allcunha Tellez”», in Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.», pp. 9-10. Sabemos que o morgado foi herdado, por varonia, pela Casa dos condes de Unhão, que sempre mantiveram o uso do apelido Teles de Menezes, mas não deixamos de apontar que, mesmo este ramo secundogénito da descendência de Maria de Vilhena, não deixou de fazer uso do mesmo apelido, não obstante ser esta família de varonia Silva.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Ofício durante este período, nomeadamente no envolvimento do 1.° marquês de Alegrete

no impedimento dos acusados pelo Tribunal saberem quem eram as testemunhas dos

processos em que estavam envolvidos. Apesar de Cluny referir, em relação ao 1.° marquês

de Alegrete, que «ao que parece a decisão de provar a limpeza de sangue, esteve

relacionada com a herança deixada pelo fundador do morgado, António Telles», a

verdade é que desde João Gomes da Silva, avô deste, até pelo menos ao 4.° marquês,

todos os chefes da Casa foram familiares do Santo Ofício437, ou seja, “institucionalmente”

considerados - ou publicamente reconhecidos - puros.

Concluímos com aquela que nos parece ser a confirmação da ideia de Bourdieu,

ou seja, que o capital simbólico existe enquanto resultado de um processo de capitalização

da importância relativa de um agente nas diversas dimensões do espaço social. Na

aristocracia portuguesa, o capital simbólico associado a um modelo puritano mostrou-se

capaz de definir uma prática exclusiva de um grupo de Casas que acumularam este

prestígio ou status enquanto definidor de um estatuto potenciador, ele próprio, de

prestígio ou status, noutras Casas, e tudo isto sem que possamos afirmar

contundentemente que resultou de um paradigma que estas Casas tenham tentado impor

à sociedade coeva. No entanto, parece-nos ter criado, indiscutivelmente, uma

«consciência puritana» nas mesmas, pelo menos entendida numa dimensão mais privada,

ou seja, enquanto princípio orientador das suas políticas de reprodução social.

Bourdieu diz-nos que «o mundo social está assim povoado de instituições que

ninguém concebeu nem quis, cujos «responsáveis» aparentes não só não sabem dizer -

nem mesmo mais tarde graças à ilusão retrospectiva, como se «inventou a fórmula», -

como também se surpreendem que elas possam existir como existem, tão bem adaptadas

a fins nunca formulados expressamente pelos seus fundadores»438, ideia importante e que

nos parece ser confirmada pelo texto do Parecer quando refere, para o caso dos puritanos,

que «os Descendentes dos sobreditos Reos de Lesa Magestade não tendo culpas pessoaes

daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma

geral preocupação, que achárão estabelecida»439, mas ainda assim estruturante no

entendimento que hoje temos da Mouraria.

437 Isabel Cluny, O Conde d e . , pp. 93-94.438 Pierre Bourdieu, O P o d er., pp. 90-91.439 Parecer, p. 186.

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Os Puritanos

Em que se cazem dous Primos com Irmãoz que

descendem de Voz, há huma igualdade, e tem eles

ambos naquella qualidade de Vossos descendentes

tal merecimento, que nunca vos será necessario em

semelhantes occaziões avizar, e esperar resposta,

nem haverá conçelho humano que se voz der com

sinceridade, que não seja effectivamente mais elogio,

ainda do que Conçelho. 440

Em 19 de Julho de 1710, Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete,

escrevia ao seu irmão João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento e

embaixador extraordinário em Utreque, informando que «João Soares descobriu no

testamento de António Teles uma cláusula em que manda que nos bens do morgado que

instituiu se façam benfeitorias e que tudo o que se fizer fique vinculado ao mesmo

morgado. Tenho comunicado este ponto com os principais Letrados e a todos parece que

tenho justiça em pretender por ele (...)»441. A referência a uma análise ao testamento de

António Teles vem confirmar que as regras de instituição dos morgados estavam

presentes nas dinâmicas das Casas aristocráticas do Antigo Regime em Portugal e que

eram conhecidas, levando-nos a supor que, ainda que não fossem entendidas enquanto

impositoras de uma política puritana numa determinada Casa, poderão ter sido assumidas

pelos chefes das Casas enquanto o motivo pelo qual prosseguiram com uma política

puritana de reprodução social.

A importância da Mouraria enquanto promotora de uma consciência puritana na

sociedade portuguesa pode ser observada pelo facto de registar mais casamentos

puritanos (para além de ser também das Casas que regista um maior número de

casamentos), sendo assim aquela que mais frequentemente aparece associada aos

casamentos de Casas puritanas. Um bom exemplo disto é o facto de, se analisadas as

4. A reprodução social dos Mourarias

440 BNP, Arquivo Tarouca, 270 - Carta de João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento, para o marquês de Angeja, datada de 22 de Abril de 1730, sobre o casamento da sua neta com o conde de Vale de Reis.441 BNP, Arquivo Tarouca, 163 - 1.° Volume (1710).

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

ascendências de todos os que tiveram de assinar o Termo, à excepção de Fernando de

Miranda, que como já referimos julgamos ser Fernando de Miranda Henriques, 2.° conde

de Sandomil, todos os restantes vão buscar à Mouraria um antepassado comum: Manuel

Teles da Silva, 1.° marquês de Alegrete. Até mesmo o 2.° conde de Sandomil, apesar de

não descender de Manuel Teles da Silva, era casado com Violante Josefa de Melo, esta

também descendente do 1.° marquês de Alegrete442.

Se anteriormente subscrevemos a existência de uma consciência puritana

enquanto inevitabilidade do seguimento de uma política de casamentos puritanos,

importa referir que esta não terá existido enquanto critério de desconsideração recorrente

das demais Casas aristocráticas. Na correspondência pessoal do 2.° marquês de Alegrete

para o seu irmão, o conde de Tarouca443, apercebemo-nos que a forma como são

comentadas as inúmeras alianças matrimoniais relatadas têm o seu enfoque mais em

questões de ordem económica - heranças de morgados e ofícios (o que julgamos ser uma

preocupação generalizável a toda a aristocracia) -, do que em questões de ordem puritana,

salientando que apenas identificamos estas últimas nas cartas do conde de Tarouca e no

que respeita aos casamentos da sua própria Casa.

Tal aconteceu na negociação do casamento de sua filha Luísa Josefa, ao recusar a

proposta de seu irmão de, não tendo por garantido o casamento com o filho o conde de

Vila Verde (futuro 1.° marquês de Angeja), manter o conde da Ribeira Grande “em

espera”, respondendo-lhe Tarouca «como heide eu depois de enjeitar tantos genros tomar

um que tão provavelmente hade dar a ocasião a sotaques e isto não são apreensões mal

[ . ] bem sabe o que me disse Luís Vieira e qual hé um sesudo que por gosto casa a filha

mais velha com acerto diplomático.»444 Desconhecemos a que «sotaques» capazes de

gerar «acertos diplomáticos» se referia Tarouca, sendo no entanto claro que o problema

se colocava também por ser o casamento com a filha mais velha que, em caso de falta de

sucessão varonil e dispensa da Lei Mental, seria a herdeira da Casa. Também à sua irmã,

Catarina de Menezes, escreverá, comentando o seu casamento na Casa dos capitães da

guarda alemã, «parece-me que as Memórias dos antecessores na sua caza devem ser muy

442 Não deixa também de ser curioso que o único antepassado comum de todas estas famílias é D. Tomás de Noronha, 3.° conde dos Arcos, Casa puritana no início do nosso período de análise, mas que, pura e simplesmente, não seguiu uma política puritana de casamentos.443 Referimo-nos à correspondência constante em BNP, Arquivo Tarouca, 163, 23 Vols. contendo as cartas do marquês do Alegrete (assinadas e muitas autografadas) para seu irmão o conde de T arouca. Nalgumas encontram-se logos períodos de cifras. Abrange os anos de 1709-1732.444 Cit. in Isabel Cluny, O Conde d e . , pp.185-188.

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Os Puritanos

obrigadas a V. Ex.a no esclarecido sangue que lhes ajuntou com esta Nora, além de

conservarlhes a pureza»445. Já numa carta ao marquês de Angeja, sobre o casamento de

uma neta de ambos, D. Joana Francisca de Noronha, com o conde de Vale de Reis,

também neto do marquês de Angeja, sugeria, como vimos no início deste ponto, que a

«igualdade» dos cônjuges era conferida por uma ascendência comum. Por aqui podemos

confirmar que o nível de conhecimento de Pombal sobre a realidade do puritanismo era

grande, porque, apesar do conde de Vale de Reis não ser puritano, ao ter casado na Casa

dos marqueses de Angeja, o seu filho adquiria esta «qualidade», confirmando que «as

ditas familias associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para

outros, de sorte que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos»446.

Mas a crítica devotada a este modelo de reprodução social não assentava apenas

no facto de este se concretizar num modelo sectário, mas também porque «Vendo se por

este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar-

se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto,

com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e

do Reino»447. Já para Tarouca, em carta à sua já referida filha na altura já marquesa de

Angeja, «Huma das cousas que estimei m.to nesta Vida, foy que cazarse Pedro com Neta

de meu Irmão de quem Vos fostes tão valida»448, referindo-se ao casamento do seu neto

e herdeiro da Casa dos marqueses de Angeja com Maria de Lorena, filha do 3.° marquês

de Alegrete, demonstrava um entendimento oposto.

Sendo desde sempre identificados com uma política de reprodução social

puritana, enquanto uma das «famílias cuja maior prosápia é a da pureza do seu sangue

[...] e tanto que não querem aliança com família que não tenha igual prosápia, e é esta a

razão por que os portugueses se casam com parentes, embora as dispensas de Roma lhes

custem os olhos da cara»449, facto confirmado tanto pelo Alvará, que chama a atenção

para «as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus

reciprocos, e mutuos Parentescos»450, como pela própria descendência da Mouraria

(cujos casamentos apresentamos de seguida), questionamos se a prática do puritanismo

445 BNP, Arquivo Tarouca, 270. Também cit. in Ibidem, p. 188.446 Alvará, p. 189.447 Alvará, p. 182.448 BNP, Arquivo Tarouca, 270.449 Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , p. 63-64.450 Alvará, fol. 182

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

não terá sido um dos motivos para, não obstante a herança de António Teles da Silva, a

Casa se encontrar em dificuldades financeiras ainda no final do século XVII.

Exemplo da prática puritana de casamentos na Mouraria

Também através do discurso de Tarouca, acreditamos que um estudo mais

aprofundado de Casas puritanas, no que às suas políticas de reprodução social diz

respeito, não obstante a imagem que deixaram nos seus contemporâneos, poderá revelar

que a questão puritana se colocaria nestas de uma forma bem menos ideológica e clara

do que hoje julgamos, até porque a mesma nunca existiu enquanto seita, ou modelo

sectário, uma vez que se mostrou capaz de aceitar e incorporar excepções.

Para terminar, e tendo referido anteriormente que após o Alvará os laivos de

puritanismo já são muito exíguos na sociedade portuguesa, tal não quer dizer que não

observemos alguns casamentos que revivem um passado de sucessivas alianças

matrimoniais na já descaracterizada Mouraria, como são o casamento do 4.° marquês de

Valença com uma filha do 6.° conde de Vilar Maior451, ou de um neto deste com uma

filha do 4.° marquês de Angeja, ambos netos, graças à execução do Alvará, do 2.° conde

do Lavradio.

451 Apesar do filho herdeiro do 3.° marquês de Valença ter casado, no âmbito do Alvará, com a herdeira da Casa dos marqueses de Tancos, a sua morte sem sucessão, ainda em vida de D. José, leva a que o seu irmão se case, em 1778, com uma Mouraria, garantindo a manutenção do estatuto puritano da Casa.

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Co n c l u s õ e s e De s a f i o s

- § -

Todo o sangue he quasi de uma côr, e se algum se

acha mais claro, que outro, a saude o faz, e não a

nobreza.452

Pombal não estava enganado. Uma sociedade composta exclusivamente por

«Fidalgo[s] e Christão[s] velho[s] de tempo immemorial sem fama, ou rumor, em

contrario verdadeira ou falsa»453, não era reflexo de uma sociedade cristã, porque não

acolhia um dos pilares fundamentais do cristianismo: a conversão!

Este facto não passou despercebido aos inúmeros estrangeiros que estiveram em

Portugal, nomeadamente Gorani, que não deixa de comentar que «em Portugal, assim

como em Espanha, existia então um absurdíssimo preconceito, aliás em absoluta

contradição com todos os esforços empregados para converter maometanos, judeus e

heréticos à religião católica romana. Olhavam-se os prosélitos e os seus descendentes com

tão grande horror que equivalia a estas pessoas viverem à margem da sociedade. Eram

precisas quatro gerações na profissão da nova religião para levar uma família da mancha

desonrosa de ter outrora professado a religião de Moisés, de Maomé, de Lutero ou de

Calvino.»454

Mas enganava-se nas contas. No seio da mais alta e conceituada nobreza, o

puritanismo - materializado na política de reprodução social das suas Casas - impedia

toda e qualquer possibilidade de limpeza, associando um conjunto de famílias a reparos,

manchas, nódoas e notas que os impediam de se associar, em casamentos, com outras.

É difícil datar com precisão o início desta prática mais radical subjacente a uma

cultura de limpeza de sangue presente e instituída na sociedade portuguesa desde o século

XVI. O que sabemos, é que a mesma nobreza que a praticava não era a que tinha sido

452 Alexandre de Gusmão, Collecção de vários. , pp. VI-VII.453 Consulta, p. 187.454 Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o . , p. 107.

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Os Puritanos

titulada há mais tempo, nem a que detinha os títulos mais graduados. Assim, o

aparecimento dos Puritanos aparece no seio de uma nova aristocracia, amplamente

beneficiada pela Restauração, que patrocinou. Puritanas seriam assim, as Casas dos

duques de Cadaval e de Lafões, dos marqueses de Alegrete, Angeja, Penalva, Ponte de

Lima e Valença, dos condes de Óbidos e dos capitães da Guarda Alemã (também

conhecidos por Sousas do Calhariz). Mas a realidade que este grupo configurava na

sociedade portuguesa apresentou-se mais complexa e, sabemo-lo, não foram apenas estas

a ser conotadas com o puritanismo, nem a questão puritana nos parece poder reduzir-se

exclusivamente à identificação de quem seriam os Puritanos.

No desenvolvimento deste estudo deparámo-nos com um conjunto de Casas

aristocráticas que, apesar de terem reparos, foram aceites e incorporadas por este grupo,

cujos membros, conforme explícito no texto da Consulta, «não só se arrogarão pureza

para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas,

ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão,

erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se

derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos»455. Este facto levou-nos a

introduzir o conceito de Casa puritana em sentido estrito - para todas as famílias que não

apresentavam qualquer reparo conhecido - e em sentido lato - para todas as demais

famílias nas quais identificámos uma prática puritana na reprodução social das suas

Casas.

A conclusão à qual chegámos foi a de que, não apenas as Casas puritanas em

sentido estrito não seriam suficientes para explicar a realidade dos Puritanos, como a

própria prática de um modelo de reprodução social puritano, entendido em sentido estrito

ou lato, não seria um exclusivo dos Puritanos. Assim, podemos indiscutivelmente referir

o puritanismo enquanto um sistema estruturado e estruturante4 5 6 , seguindo a proposta de

Bourdieu, que é o mesmo que dizer, enquanto modelo transversal a toda a aristocracia,

quer a Puritanos, que o praticavam, quer a não Puritanos, que se sentiam excluídos desse

grupo ao qual, ainda assim, desejavam aliar-se. Comprova-se então que, quer falemos de

famílias puritanas, quer não457, a prática de uma política de reprodução social

455 Consulta, p. 189.456 Pierre Bourdier, O P o d er., pp. 6-7.457 No grupo não puritano, os melhores exemplos são os do universo Távora: Casas de Távora, Alvor, Atouguia e S. Vicente; o universo Santa Cruz: Casas de Aveiro e Sabugosa; e a Casa dos marqueses de Marialva.

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Conclusões e Desafios

exclusivista, até no seio da aristocracia, foi considerada durante este período como uma

prática de elites e, por isso, promotora de uma consciência puritana.

Esta condição do puritanismo ajuda-nos a percebê-lo não como um fenómeno

religioso, mas sobretudo como um fenómeno social. E se a sua origem aparece

intrinsecamente ligada à criação de uma confraria de nobres para espiar o desacato de

Santa Engrácia, de 1630, a sua realidade não parece poder ser explicada pela evolução da

mesma, ao contrário do que defende a legislação josefina/ pombalina contra os Puritanos

e de acordo com o que conclui Monteiro, ou seja, que «a acusação feita à Confraria dos

Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, sem dúvida a mais importante

nos rituais da corte, não parece, de acordo com os testemunhos conhecidos, revestir-se de

qualquer fundamento»458.

É enquanto fenómeno social que a existência de um grupo como os Puritanos se

torna de mais difícil compreensão, não apenas aos nossos olhos, mas, sobretudo, aos olhos

dos seus contemporâneos. Mas se a prática do puritanismo, aos olhos dos Puritanos,

configurava uma forma de manter a mais alta nobreza pura de qualquer mácula de sangue

não genuinamente português - o que muitas vezes se confunde com esclarecidamente não

judeu e não espanhol -, não poderemos dizer que os seus maiores críticos quisessem uma

realidade diferente, defendendo D. Luís da Cunha que «se não deverião consentir os

cazamentos fora do Reino» porque «se algum estado necessita de que nelle se multiplique

a nobreza he o de Portugal»459.

Também no discurso do 4.° conde de Tarouca, João Gomes da Silva, identificamos

uma interpretação da prática puritana relacionada, não directamente com a inexistência

de reparos, mas sobretudo com a existência de uma ascendência comum. É verdade que,

ao contrário das demais famílias puritanas, os Mourarias conseguiram incorporar, de

uma forma exemplar, Casas não puritanas no seu universo de reprodução social, sendo

que nada conseguimos concluir quanto ao facto de o puritanismo nesta Casa, e nas suas

Casas de relação, se ter revestido de um carácter mais familiar, ou até consanguíneo, do

que nas demais.

A par deste fenómeno encontra-se a questão relativa à coerência e consistência do

discurso puritano e se seria transversal a todos os Puritanos. Aliás, o facto que

458 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.459 D. Luís da Cunha, Escritos Inéditos., p. 198.

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Os Puritanos

defendemos enquanto fundamento para a existência de uma consciência puritana é

exactamente o mesmo que advogamos para podermos estudar os Puritanos enquanto

grupo, ou seja, a existência de uma prática comum ao nível da reprodução social. Fora do

âmbito deste trabalho ficou a possibilidade de se testar, em diferentes momentos, a

possibilidade de os Puritanos se terem mobilizado, enquanto tal, na prossecução de algum

objectivo comum - também proposto por Monteiro quando refere que «não é impossível

que esta polarização tenha tido alguma tradução na política»460 - o que acreditamos poder

ser feito a partir da base historiográfica para o estudo do grupo que ora apresentamos.

Ainda assim, talvez seja, outra vez ao contrário do que é sugerido no Alvará, a

própria natureza não “política” dos Puritanos o principal motivo pelo qual o cumprimento

do Alvará terá sido suficiente para acabar com a sua prática de reprodução social. Apesar

dos «casamentos cruzados» entre as Casas de Óbidos e Ponte de Lima aquando da morte

de D. José, e de conseguirmos identificar uma tentativa de manutenção de uma política

de casamentos puritana ao nível, pelos menos, dos primogénitos nestas Casas, a realidade

era já bem diferente, podendo considerar-se que o Alvará foi bem sucedido, deixando esta

prática de, tanto quanto sabemos, causar quaisquer constrangimentos no seio da

aristocracia portuguesa, um grupo que também se preparava para uma grande mudança

no decurso do reinado de D. Maria I.

Terminamos com um sentido do dever cumprido, acreditando que esta dissertação

contribuirá, enquanto base historiográfica, para quem, como nós, se deixe interessar por

este tema. O tema transversalmente complexo que reveste a realidade dos Puritanos

possibilitará que a nossa proposta de identificação do grupo, bem como o poder e

influência que enquanto grupo detiveram no período de análise, seja testada a outros

níveis e, sobretudo, para reinados e períodos mais específicos, ajudando-nos a perceber

melhor o que motivava os Puritanos na prossecução de uma política de reprodução social

que aos nossos olhos, e aos dos seus contemporâneos, parece fruto de uma pura

obstinação, mas que ainda assim não só não os diminuiu, como ainda conseguiu

capitalizar a importância que detiveram ao longo de cinco reinados461.

Adicionalmente, e não obstante termo-nos centrado sobretudo na expressão do

puritanismo na aristocracia portuguesa, não devemos excluir a possibilidade de uma

adesão igualmente radical noutros grupos da sociedade portuguesa, o que configuraria,

460 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.461 Lembramos, a título de exemplo, Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. João VI..., p.92.

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Conclusões e Desafios

indiscutivelmente, um tema interessante de ser estudado, até porque permitiria testar se

um modelo de reprodução social elitista, ou de alguma forma promotor e capaz de

suportar uma elite, seria aceite por modelo paradigmático pelos demais grupos da

sociedade e, por isso, reproduzido (ou reinventado) com o objectivo de promover e

definir, ele próprio, posições sociais hierárquicas superiores noutros grupos sociais.

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Fo n t e s e Bi b l i o g r a f i a

- § -

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ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 21

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ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 21

ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32

ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32

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BNP, COD. 170,

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n.° 7;

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Os Puritanos

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2009;

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RAMOS, Luís de Oliveira - D. Maria I. [Lisboa]: Temas e Debates, 2010;

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XAVIER, Angela Barreto; CARDIM, Pedro; ALVAREZ, Fernando Bouza - Festas que

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Os Puritanos

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Dissertação de Mestrado, 2 Volumes;

Pág. 136

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Pág. 137

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Os Puritanos

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TAROUCA, Carlos da Silva - «A colecção Aguilar no Arquivo Tarouca. Cartas inéditas

de D. João II, D. Manuel, D. João III, Vasco da Gama, Tristão da Cunha». In Separata

da Revista «Brotéria», Vol. XXXIV, Fasc. 3 (1942), Lisboa;

TAROUCA, Carlos da Silva - «Conselhos dum Ministro de D. Pedro II para seu filho,

Reitor da Universidade de Coimbra». In Separata da Revista «Brotéria», Vol.

XXXVI, Fasc. 5 (1943), Lisboa;

TAROUCA, Carlos da Silva - «História da Raça. História da Família», in Separata da

Revista «Brotéria», Lisboa, Vol. XXX, Fascículos 1 e 2, 1940;

TAROUCA, Carlos da Silva - «O Alferes-mor da Restauração». In Separata da Revista

«Brotéria», Vol. XXXI, Fasc. VI (1940) Lisboa;

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Lisboa: [s.n.], 2012. Tese de Doutoramento em História Moderna.

Pág. 138

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An e x o s

ANEXO 1:

ANEXO 2:

ANEXO 3:

ANEXO 4:

ANEXO 5:

ANEXO 6:

- § -

D. João V bebendo chocolate (miniatura a óleo sobre marfim) [p. 1]

Compêndio de Legislação sobre os Puritanos [p. 3]

Retrato puritano da Aristocracia Portuguesa [p. 19]

Notas sobres os reparos “perdoados” ou “esclarecidos” [p. 95]

Alguns contributos para o estudo da Confraria dos Escravos do Santíssimo

Sacramento de Santa Engrácia [p. 107]

A casa “real” da Mouraria: o contributo de Pedro Silva Miguel [p. 131]

Pág. 139

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A N E X O 1 : D. João V bebendo chocolate | miniatura a óleo sobre marfim

Alessandro Castriotto, 1720 | Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Proposta de identificação das personagens:

1. Infante D. Miguel (1699-1724), filho natural de D. Pedro II;

2. Fernando Teles da Silva (1662-1731), 2.° marquês de

Alegrete;

3. D. António Pedro de Noronha (1661-1731), 1.° marquês de

Angeja;

4. O pintor;

5. D. João V (1689-1750);

6. D. Pedro Henrique de Bragança (1718-1761), filho do infante

D. Miguel e futuro duque de Lafões;

7. Pe. Pedro Chevalier, perceptor da criança e confessor da

família real.

Fonte: FERREIRA, Paulo - Decifrar a Arte em Portugal, Barroco. [Lisboa]: Círculo de Leitores, 2014, pp. 132-133.

Pág. 1

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ANEXO 2: Compêndio de Legislação sobre os Puritanos

Termo que faz o Ill.mo e Ex.mo D. José Miguel João de Portugal, Marquez de Valença

em execução do Alvara de Ley de sinco do corrente mez de Outubro462

Alvará de 5 de Outubro de 1768463

(“Alvará dos Puritanos”)

[181] Eu ELRei Faço saber aos que este Alvará de Lei virem, que tendo chegado á Minha

Real Presença pela primeira vez o Compromisso, que em 20 de Dezembro de 1663 se

formou para Governo da Confraria da Nobreza, que antes se tinha levantado, para a

expiação do Desacato, que na noite de quinze, para dezasseis de Janeiro do anno de 1630,

se havia commetido no Sacrario da Freguezia de Santa Engrácia: Havendo mandado

462 ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.463 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, pp. 181-185, por comparação com o presente na BNP, COD. 6937, fols. 1-15.

Pág. 3

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Anexo 2

Consultar na Meza do Desembargo do Paço, com assistencia dos Procuradores Regios o

sobredito Compromisso: E fazendo ver, e ponderar muito seriamente no Conselho

d’Estado, o que sobre elle se Me consultou, foi uniformemente assentado por todos os

votos da sobredita Meza, e Conselho, que o referido Compromisso em lugar de conter em

si as pias regras com que a mesma Nobreza se devia unir nos exercicios de devoção, que

erão proprios de hum fim tão Santo, como o que havia feito o objecto da dita Confraria,

continha em si muito pelo contrario a base de huma associação ordenada a semiar sizanias

na mesma Nobreza, para levantar no meio della sedições, e discórdias, e para denegri-la

com injurias tão atrozes, e offensivas da paz publica de Minha Corte, como da Magestade

da Minha Corôa464, da Authoridade do [sic] Meus Tribunaes, e das causas465 por elles

julgadas, cuja inviolavel observancia constitue hum dos mais solidos fundamentos do

[182] socego dos Povos: E que assim se manifestava, logo que o referido Compromisso

se combinava com a historia do tempo em que foi machinado, vendo-se que foi feito em

uma conjunctura, na qual a feroz sociedade Jesuitica por huma parte se tinha arrojado o

despotico arbitrio de todas as disposições do Governo da Corte, e da Cidade, e pela outra

parte procurava concitar nella seduções, e perturbações da tranquilidade publica: Vendo-

se que assim para estes máos fins fora buscar (para illudir466 os Gremios dos Artifices de

Lisboa) os estratagemas da Liga de França, da mesma sorte para dividir, e perturbar a

armonia do Estado da Nobreza copiou ao vivo o outro infame Original de Puritanismo

que em Inglaterra se tinha levantado desde o anno de 1565 até ao de 1569, pretendendo

os inventores, e os sequazes delle persuadir aos Inglezes, que eram mais puros na Religião

do que todos os outros dos seus compatriotas; vendo-se que os referidos Jesuitas com o

mesmo intento inventárão, e copiarão tambem nesta Corte o outro Puritanismo de sangue

a que lhe derão por difinição - Fidalgo e Christão velho de tempo imemorial, sem fama,

ou rumor em contrario, verdadeira ou falsa. - Vendo se que isto foi na substancia o

mesmo que identicamente se escreveo no Capitulo 5.° do referido Compromisso pelas

fromaes palavras. E que a tem, isto he a pessoa, que houver de ser recebida na Confraria,

por Christão velho sem nunca se entender o contrario: Vendo se que assim ficou suspeito

e infamado todo o Estado da Nobreza, desde aquelle tempo, suppondo nella Hebreos o

mesmo Compromisso, publicando-o assim os sequazes delle, e da difinição que fez a sua

base, levantando, e sustentando os dois differentes partidos de Puritanos, e de Infectos,

464 No documento da BNP não aparece esta expressão: «como a Magestade da Minha Corôa», p. 2.465 No documento da BNP aparece «couzas», p. 2.466 No documento da BNP acresce «como iludio», p. 3.

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

que durárão desde então até agora, tratando dele os Genealogicos nos seus

necessariamente mal informados, e temerarios livros, praticando-se com desenvoltura o

mesmo nas convenções, e nos ajustes de casamentos, chegando a estabelecer se, por

máxima commum, que a Inquizição não era Guardanapo a que as Gentes se fossem

alimpar, e sustentando-se aquella sediciosa barbaridade com a afrontosa supposição de

inhabilidade, e exclusiva de tantas Casas da primeira Grandeza deste Reino, como forão

as que se virão privadas de entrarem no Serviço das Inquizições, e de darem filhas para

as outras Casas, não só da mesma Classe, mas ainda de outras de menos graduação, sem

reparar em que isto he o mesmo que ainda estão praticando os Hebreos, os quaes não

casão fora da Tribu de sua Geração: Vendo se por este modo até a mesma Nobreza

daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar-se, porque coajuntando-se os

seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto, com huma sujeição de

Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e do Reino, he preciso

que venhão a perder, por huma parte com a falta de Esposas, que necessariamente hade

haver em hum tão reduzido numero de Familias, pela outra parte com as custosas despezas

das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus reciprocos, e mutuos

parentescos: E vendo-se em fim, que todo o corpo da dita Nobreza se acha assim

atrozmente injuriado no conceito Universal da Europa, porque fazendo-se crer aos

Estrangeiros, que vivem nesta Corte, que em Portugal só ha pureza de sangue naquellas

poucas Casas, ficão persuadidos, que a mesma Nobreza, se compõe só daquelle pequeno

numero de Familias Christãas velhas, e que todas as outras são maculadas com sangue

Hebreo. Representando-se-Me na sobredita Consulta, e Assento do Conselho de [183]

Estado; em consequecia de tudo o referido, que aos sobreditos inconvenientes accrescia,

para fazer indispensavel, a mais prompta e efficaz providencia applicada sem mais perda

de tempo: Primeiramente que em nenhum Reino ou Estado Catholico e Civil se permittio

até agora huma Associação, União, ou Conventiculo de certas Familias, ou Pessoas

particulares, que pela sua própria Authoridade, se atrevão a separar-se do Commum dos

seus Compatriotas, ainda quando claramente não conste, que he para lhes fazer injurias

tão atrozes como as que este partido Puritano tem por tantos annos accumulado, não só

contra o outro partido por elle, e pelos seus Sequazes pertendido Infecto, mas tambem

geralmente a todo o Corpo da mesma Nobreza de que são membros: Em segundo lugar,

que sendo Eu o Protector da mesma Nobreza, e da sua honra [muito mais precisa do que

a vida] não devo permitir, que na Minha corte se lhe faça a offensa de se lhe pòrem, e

darem pelo arbitrio particular, e temerario dos sobreditos Puritanos as referidas

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Anexo 2

inhabilidades, e exclusivas, sendo contrarias a todas as Leis Divinas, e humanas. Em

terceiro lugar, que sendo Eu tambem a única fonte da qual sómente he que podem emanar

as honras, as graduações, e as qualificações Civis para os Meus Vassallos, não poderia

permitir, depois de informado, sem lesão da Magestade da Minha Corôa, que entre os

mesmos Vassallos houvessem alguns que se atrevessem a qualificar, e graduar, pelo seu

proprio arbitrio, nem os que lho são iguaes na Classe de Graduação467, nem ainda

quaiquer dos outros nella inferior na graduação, usurpando assim temerariamente a

Suprema juriadicção da mesma Coroa, á qual são intransmissivelmente inherentes a

distribuição e regulação das Classes, e das honras dos Meus ditos Vassallos, e a protecção

do que entre elles se achão opprimidos: Concluindo finalmente a sobredita Consulta, e

Assento sobre ella tomada: Que fazendo se in dispensável que Eu arrancasse, sem mais

perda de tempo pelas suas raizes hum mal de tão preniciosas consequencias, não podia

haver para este fim outros meios, que não fossem os que vão abaixo declarados. E

conformando-Me com os pareceres da Consulta da mesma Meza do Desembargo do Paço,

e do mesmo Conselho d’Estado, Sou servido Ordenar o seguinte.

1.° Mando que todos os que são, e forem cabeças das Familias ate agora

chamadas Puritanas, logo que tiverem filhos em idade para poderem Casar, sejão

chamados á Secretaria de Estado: Que nella se lhes declare no Meu Real Nome, que Eu

reprovo e condemno todos os Casamentos ajustados, ou que se houverem de ajustar

dentro do Grémio dos mesmos chamados Puritanos.

2.° Item Mando, que todos os que são, e forem Cabeças de Familias chamadas

Puritanas que dentro do termo de quatro mezes premptorios, contínuos, e improrogaveis,

hajão de ajustar a casar os referidos seus filhos em qualquer das outras Familias, que elles

até agora excluirão, como não Puritanas desterrando-se para isto, como sou servido

desterrar, debaixo das penas ao diante declaradas, o outro horroroso absurdo, com que no

mesmo sedicioso espirito de Puritanismo se andavão excogitando (ainda entre os que o

não seguião) defeitos inventados, e quimericos para se injuriarem huns aos outros,

inhabilitando-se reciprocamente para os Matrimonios aquellas Familias, a que se tinhão

imputado estes, ou aquelles defeitos diversos dos que se atribuião aos que necessitavão

de Casarem seus filhos, e dizendo estes que não querião manchar a sua casa com outras

notas, além das que já tinhão [184]. E isto como se estivesse no arbitrio dos Genealogicos,

467 No documento da BNP vem «Classe da Grandeza».

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

ou dos outros particulares detractores anullarem as Sentenças de habilitações dos

Tribunaes do Santo Officio da Inquizição, e das Ordens Militares, ou sentirem mal delles,

sem levantarem huma sedição criminosa, e punivel por todas as Leis Divinas e humanas;

como se fossem necessario ser mais puro no sangue do que os Ministros dos Tribunaes

da Fé, e das Ordens Militares; e como se esta pertendida pureza podesse ter outros effeitos

que não fossem os das perturbações, e das discórdias que tem causado no Corpo da

Nobreza.

3.° Item. Determino, que não casando os sobreditos Puritanos os seus filhos

dentro dos quatro mezes acima declarados, depois de haverem sido para isso intimados,

fiquem pelo mesmo lapso de tempo irremissível, e effectivamente privados de todos os

Fóros, Dignidades, Honras, e Bens da Corôa, e Ordens, que tiverem, para delles mais não

gozarem de modo algum, qualquer que elle seja, revertendo todas as referidas Honras, e

Bens a incorporar-se na Minha Coroa, não obstante quaisquer Doações, que dellas e delles

tenhão os transgressores desta Lei, porque desde agora para então Hei por cassadas, e

abullidas e nullas, como se nunca houvessem existido: Primeiro a de haver algumas vidas,

se os sobreditos Transgressores della houvessem falecido sem deixarem descendentes.

Segundo o de requererem com Certidões no termo preciso de trinta dias, continua e

sucessivamente contados desde o dia da privação dos sobreditos Transgressores, os seus

Descendentes que lhe succederião por Direito, se elles mortos fossem, mostrando que tem

cumprido as disposições desta Lei no referido Termo, porque neste cazo lhes serão

restituídas as mesmas honras, e Bens, posto que já se achem incorporadas no Meu Fisco,

e Camara Real.

4.° Item. Àttendendo a que seria muito indecoroso fazer authenticamente

publica a injuria que á Minha Coroa, ou Corpo da Nobreza, e a toda a Nação se seguiria

de constar na Europa, que por tanto tempo se tolerárão neste Reino attentados e absurdos

tão estranhos na Sociedade Civil, e na União Christãa, como os referidos, Mandei que

tudo o acima determinado se reduzisse a este Alvará secretissimo, o qual não descerá a

Tribunal algum, nem á Chancellaria, mas antes pelo contrario ficara occulto nos lugares

mais reconditos dos Archivos do Conselho de Estado, e da Secretaria de Estado, dos quaes

não sahirá; nem se comunicará a pessoa alguma, que não seja das que nelle se achão

declaradas.

5.° Item. Mando que para a boa e decente execução de todo o que tenho deste

ordenado, sejão os sobreditos Cabeças de Familias Puritanas opportunamente chamados

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Anexo 2

a Secretaria d’Estado dos Negocios do Reino, e que nella lhes seja lido o presente Alvará,

desde a primeira até à última palavra, de sorte, que bem fiquem comprehendendo o

conteúdo nelle. E que sobre esta especifica, e segnificante intimação sejão obrigados

assignarem no mesmo acto termos, pelos quaes se dêem por notificados, se obriguem a

cumprir tudo o que fica acima ordenado, e promettão inviolavel segredo das intimações

que se lhes fizerem, e tudo isto debaixo das mesmas penas acima declaradas468.

6.° Item. Mando que para mais efficazmente obviar tambem aos temerarios

absurdos, com que até agora se attentou criminosa, e sediciosamente [185] contra as

Sentenças dos Tribunaes da Mesa da Consciencia e Ordens, e do Santo Officio da

Inquizição, attrevendo-se os Authores dos Livros Genealogicos, e os Interlocutores de

conversações malevolas a escreverem, e falarem mal da pureza de sangue das Familias

julgadas competentemente por limpas nos referidos Tribunaes, seja logo expedido outro

Alvará em termos decentes para se publicar, aos fins de se conhecer dos referidos Livros

Genealogicos, e dos que delles fazem reprovados usos para se cohibir a maledicencia dos

que por praticas infamão ignorante e barbaramente as sobreditas familias, com o pretexto

dos mesmos Livros, e de rumores vagos, e populares ordinariamente suscitados pelas

paixões daquelles que os inventão para os espalharem.

Este se cumprirá inteiramente como nelle se contém, sem duvida, ou embargo

algum. Valerá como Lei publicada na Chancellaria, posto que por ella não hade passar. E

Mando quês as Intimações passoaes acima ordenadas tenhão força de publicação, de

citação, e de bastante Audiencia das Partes para todos os effeitos de facto, e de Direito:

Que as matérias pertencentes á referida execução tenhão a natureza dos negocios de

Estado, e sejão expedidas na forma, que o Direito determina para tão importante negócio,

pelos Ministros privativos, que Eu fôr servido nomear nos casos occurrentes: E que este

tenha sempre, e em todo o tempo a mesma força e vigor, posto que o seu effeito haja de

durar mais de hum, e muitos annos, e não haja sido publicado na Chancellaria, não

obstante as Ordenações, que o contrario determinão, e quaesquer outras Leis, e

Disposições de Direito Pátrio, e Civil, e opiniões de Doutores, que da mesma sorte sejão

em contrario, porque todas, e todos, Hei por expressas em forma especifica para as

derrogar (como derrogo) para este effeito sómente, de Meu Motu Proprio, certa Sciencia,

Poder Real, Pleno, e Supremo, e nomeadamente o sobredito Compromisso; ordenando

468 No documento da BNP lê-se «estabelecidas».

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

que logo se lavre outro, que seja digno de huma Confraria, cujo objecto he tão devoto, e

pio, e da qual Eu sou Perpetuo Juiz, e Protector. Escripta no Palacio de Nossa Senhora da

Ajuda a 5 de Outubro de 1768 - Rei - Conde de Oeiras.

- § -

Parecer do Conselho d’Estado que precedeo este Alvará de 3 de Outubro de

1768469

[185] Na Real Presença de Sua Magestade se virão, e ponderárão em Conselho de Estado

assim o Compromisso da Confraria do Santissimo Sacramento da Freguezia de Santa

Engrácia datado de 20 de Dezembro de 1663, como a secretissima Consulta, que com o

assunto delle subio da Meza do Desembargo do Paço na data de 23 de Setembro proximo

preterido: E foi por todos os votos uniformemente assentado que se louvasse á sobredita

Mesa o judicioso zello, e o completo acerto, com que aconselhou o dito Senhor em hum

Negocio de tanta delicadeza, de tanta importancia, e de tanta urgencia: Que se lavrasse

logo Alvará por ella indicado, que a este se lhe desse a sua devida execução, sem mais

perda de tempo debaixo das penas declaradas da referida Consulta, pelo que pertence á

parte respectiva á total extinção, e abolição do Puritanismo, e a se obrigarem os Cabeças

das Casas, que na Inquisição, e na Misericórdia desta cidade o ficárão sustentando, e se

prevallecerão delle para as ruinas da honra, e da fazenda dos Vassalos de Sua Magestade

[186]: Estas Instituições pias da mesma Misericórdia que forão manifestas

constrangendo-os a casarem logo que tiverem idade os seus filhos nas outras casas, por

elles até agora excluídas, e injuriadas como infectas; que porem pelo que toca a outra

parte da mesma Consulta que diz respeito á sujeição com que os Chefes, e Corifeos do

mesmo Puritanismo submetterão a Soberana e temporal da Côroa destes Reinos á

Jurisdicção Ecclesiastica do Ordinário de Lisboa, para com a cooperação delle darem á

sua infame Associação as maiores forças, com que depois fizerão e ficárão fazendo no

Real Throno, e nas referidas Inquizição, e Misericórdia da mesma Cidade de Lisboa os

469 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, pp. 185-186.

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Anexo 2

estragos, que as Histórias referem, e os viventes virão ainda com igual horror: Se assentou

que este delicado ponto se conservasse por ora em profundo silencio, não só porque os

factos das referidas associação, e sujeição da Auctoridade Regia com hum tão abominavel

fim, manifesto pelo dito Compromisso, e os igualmente abominaveis effeitos, que delles

se seguirão, e ficarão seguindo até aos tempos visinhos contém atrocíssimos crimes de

Lesa Magestade de primeira cabeça, os quaes se não extinguirão com a morte, segundo o

Direito, mas tambem porque nesta certeza seriam de hum preneciosissimo exemplo, que

tratando-se do sobredito Alvará destes execrandos crimes, deixasse de condemnar as

memorias dos que os commetterão, e dos que os seguirão, impondo-se-lhes as penas que

as Leis determinão. E porque havendo-se inclinado a Benigníssima Clemencia do Mesmo

Senhor a conservar as casas daquelles que entre os Descendentes dos sobreditos Reos de

Lesa Magestade não tendo culpas pessoaes daquella natureza, tem seguido o mesmo

Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma geral preocupação, que achárão

estabelecida, não pode haver para o fim desta Clementíssima Indulgencia outro meio, que

não seja o do referido profundo silêncio, quanto a esta parte. E sendo Sua Megestade

servido conformar-se com a referida Consulta e modificações, votos sobre ella dados no

presente Conselho d’Estado, mandou que de todo o sobredito se lavrasse o presente

Assento, e que immediatamente se procedesse á execução do nelle conteúdo. Palacio de

Nossa Senhora da Ajuda em Conselho de tres de Outubro de mil setecentos sessenta e

oito - F. Cardeal Patriarca - Dom João Arcebispo Regedor - Marquez d’Alvito - Conde

de Oeiras - Dom Luiz da Cunha - Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

- § -

Consulta que precedeo o Conselho d’Estado de 23 de Setembro de 1768470

[186] Senhor - O Conde de Oeiras, Ministro e Secretario d’Estado participou a esta Mesa

a Ordem de Vossa Magestade, para que nella com assistencia dos dois Procuradores

Regios, se visse o Compromisso que até agora estava occulto na Irmandade do Santissimo

470 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, pp. 186-192.

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

Sacramento de Santa Engracia, de que Vossa Magestade he Perpetuo Juiz, e Protector, e

que sobre ella se lhe consultasse no mais delicado segredo, que he tão proprio de hum

Tribunal desde a sua origem do intimo Conselho de Vossa Magestade.

Não se pode, Senhor, nem comprehender toda a abominavel malicia que se

envolveo no dito Compromisso, sem o socorro da Historia do seculo, em que elle foi

machinado, nem ver-se sem horror, que se tomasse [187] hum tão sagrado pretexto para

se arruinar a Monarchia, a Nobreza, a honra, e a Fama; e como a Mesa deve propòr a

Vossa Magestade os meios que lhe parecer proporcionados para arrancar de uma vez as

raizes de hum tão grande mal, não pode dispensar-se de pòr diante dos olhos com o

subsidio da Historia o systema, e espírito machiavelico do referido Compromisso.

Depois que os Jesuitas impedirão neste Reino toda a introducção de Livros

Estrangeiros, e até das novas publicas da Europa, para a sua malignidade poder arruinar-

nos com toda a segurança, sem que conhecêssemos o mal que elles nos fazião, passarão

a copiar em distruição deste Reino, tudo o que os mais temerarios, e impios Facinorosos

tinhão praticado nas outras Monarchias do nosso Continente. Já se vio na primeira parte

da Dedução Chronologica, e Analitica, que desde a feliz Acclamação do Senhor Rei Dom

João 4.°, até ao tragico fim do Reinado do Senhor Dom Affonso 6.°, copiarão os ditos

Jesuitas nesta Corte e Reino identicamente os mesmos originaes do Fanatismo da Liga de

França, e das Hipocrisias do Imbusteiro Campanella, fazendo o papel deste impostor ao

vivo o Padre António Vieira, e as figuras do partido da dita Liga, as Irmandades de todos

os Gremios do Povo de Lisboa. Faltava-lhes fazer a mesma união fanatica do Estado da

Nobreza, e para isto forao copiar da mesma sorte ao vivo o outro original da Seita dos

Puritanos que se tinha alevantado em Inglaterra, segundo alguns Authores no anno de

1565, e segundo outros no de 1569, que persuadião que erão mais puros na Religião do

que todos os outros; que debaixo deste pretexto da maior pureza levantárão os maiores

tumultos em Inglaterra; e que ultimamente armárão a temeridade de Cromwel até ao ponto

de arruinar a Monarchia daquelles Reinos, e de cortar no anno de 1649 a cabeça ao seu

Rei Carlos 1.° em hum Cadafalso, como he publico em todas as Historias, e especialmente

na do Puritanismo de Inglaterra, escripto por Amecio Gari; e outros muitos, assim como

o Puritanismo de Portugal armou contra o Senhor Rei Dom Affonso 6.° a Seita, que lhe

roubou a Coroa, a Liberdade, e a Esposa.

A experiencia tinha mostrado aos Jesuitas que nada lhe ministrava tantas forças

como a maliciosa invenção das Associações, e uniões que tinhão estabelecido, debaixo

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Anexo 2

da sua direcção em tantas Confrarias dos Grémios da Plebe de Lisboa, e da ordem dos

Ministros da Toga. Guiados pois pelo mesmo espírito de união viciosa quando projectárão

a ruína do Senhor Rei Dom Affonso 6.° e da honra dos Vassalos deste Reino, com huma

infamia que durará nas Memorias funestas de Portugal até ao fim dos séculos, foi hum

dos seus principaes estratagemas, o com que machinárão no meio das Classes da Nobreza

aquelle horroroso monstro, ao qual impuzerão o nome de Puritanismo. Monstro que com

a mesma denominação, acabava em Inglaterra de cortar a cabeça a ElRei Carlos 1.°, e

derão por distinção (que ainda hoje dura com o referido nome) Fidalgo e Christão velho

de tempo immemorial sem fama, ou rumor, em contrario verdadeira ou falsa. Definição

que abortou a abominavel máxima, que a bondade do Cardeal da Cunha achou, e seguio

no cargo de inquizidor Geral, por haverem antecedentemente feito passar em provérbio

os machinadores da referida Seita - Que a Inquizição não era guardanapo a que as gentes

se fossem alimpar, máxima cujo maligno espirito manifesta que ella se ordenou a fazer a

mesma Inquizição hum monopolio dos ditos Puritanos, excluindo della os outros Fidalgos

[188] em que não concorressem aquellas esquisitas e inventadas circumstancias de serem

- Christãos velhos sem fama ou rumor em contrario veradeira ou falsa. Proseguindo pois

os ditos Jesuitas o referido plano malicioso de formarem huma união na Nobreza por elles

dirigida, e valendo-se para este effeito da authoridade com que o seu padre Nuno da

Cunha governava a casa da Mouraria, tão despoticamente como consta de Documentos

Originaes que existem entre os seus papeis, por ser irmão de Dona Mariana de Mendonça,

mãe do primeiro Conde de Villar-Maior, Fernão Telles da Silva, e tinha ao mesmo tempo

na Corte, e no Santo Officio a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da

Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa, tomando este, e os mais

Padres da sua feroz Sociedade, o sagrado pretexto da expiação do sacrilegio, que na noite

de 15 para 16 de Janeiro de 1630 se havia commetido na Igreja de Santa Engrácia,

publicárão trinta e três annos depois no de 1663 o Compromisso que desde então até agora

se ficou observando com dois absurdos tão manifestos, e dois extratagemas tão

extraordinários, e nocivos, como são os seguintes: O primeiro delles, foi o de

estabelecerem o referido Puritanismo por Lei do Capitulo 5.° nestas formaes palavras. “A

Eleição se fará nomeando cada hum dos doze, huma pessoa para irmão, declarando

debaixo de juramento, que tem recebido, que não se lhe falou na dita pessoa para a propor,

e que a tem por Christão Velho sem nunca se entender o contrario.” Palavras tão cheias

de diabolica malícia, tão incompativeis com huma Confraria composta da primeira, e mais

graduada Nobreza, com o Senhor Rei Dom Affonso seu Protector á testa, e tão injuriosas

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

ao corpo de huma tal Nobreza, em quanto supponhão judeos nella, como coherentes, e

conformes, com o maligno espírito das outras palavras da difinição do tal Puritanismo

acima copiadas que dizem sem fama ou rumor em contrario verdadeira ou falsa. E com

o mesmo projecto de Associação dos ditos chamados Puritanos, excluindo todas as outras

famílias desta Confraria de Nobreza, assim com as tinhão procurado excluir da

Inquizição, como com effeito consegurão com injuria de tantas casas de primeira

grandeza deste Reino.

O segundo dos ditos estratagemas, foi o de estabelecerem pelo termo escripto no

verso da carta de confirmação, e protecção do dito Monarcha que se iria pedir

confirmação ao Prelado, como foi com effeito pedida à Relação Ecclesiatica desta Corte,

a qual lhe defirio da maneira seguinte. - Accordão em Relação &c. que antes de outro

Despacho fação os supplicantes termo de sujeição ao Prelado, para se poder deferir -

Lisboa 20 de Março de 1604 - Diniz - Almeida - Paço - Barreto. Accordão que da mesma

sorte foi tão incompativel com uma Irmandade de Leigos, composta da primeira, e mais

gradoada Nobreza do Reino, e com a precedente confirmação, e Protecção Real do dito

Rei Dom Affonso, que era dos chamados supplicantes, expressos no referido Accordão

como demonstrativo de que esta sujeição, em que pelo referido Compromisso pozerão o

dito Senhor, e todo o corpo da sua Nobreza, subordinando-o á dita Relação Ecclesiatica,

foi o mesmo de que habilita-lo para a outra infame e abominavel causa da dissolução de

Matrimónio, cuja Sentença com horror de toda a Europa se proferio, poucos annos depois

de 1667.

Desde o tempo do dito Compromisso, he pois constante e notório a toda esta Corte,

que pelo meio daquelle maligno estratagema chamado [189] Puritanismo se forão as

familias, por elle assignadas, apropriando o arbitrio dos Matrimonios das outras familias

mais distinctas, e mais numerosas da mesma Corte. Ellegendo humas como Puritanas,

reprovando outras como infactas, e fazendo assim a poderosa união, que forão ampliando

com os casamentos de algumas daquellas mesmas famílias chamadas infectas, para as

trazerem á sua associação, debaixo do pretexto de as purificarem, porque as ditas familias

associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte

que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os

defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na

escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos

exemplos.

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Anexo 2

Assim arruinarão os ditos Puritanos o Throno desta Monarchia, assim levantárão

sobre as ruinas delle a façanhosa Aristocracia, que durou todo o Reinado do Senhor Rei

Dom João 5.° com os estragos dos cabedaes, das forças, e da reputação desta Corôa, e dos

Vassallos della que ainda se estão fazendo presentes aos olhos dos que hoje vivemos. Este

he o monstro, que ainda se está nutrindo, e sustentando-se nas preocupações dos

descendentes dos authores daquelle fatal estratagema, animados e illudidos pelo que

ouvirão aos seus maiores, e pelo que lerão, e lêem nos escriptos que elles lhe deixarão em

abominavel Patrimonio. Este he o monstro que parece que de necessidade se deve

debilitar até o distruir inteiramente, sem delle ficarem os menores vestígios, e sem perda

de tempo por muitas razões claras.

A primeira porque em nenhum Estado Soberano que vive debaixo de hum

Governo Supremo, se permittio até agora huma Associação, união ou conventiculo de

certas pessoas particulares, como he o que constitue esta Seita chamada Puritanismo, e

que na realidade constitue, além do referido huma sedição punível pelas Leis de todas as

Nações Civilisadas, ainda quando não consta do mal com que as referidas pessoas se

separão pela sua authoridade própria do commum dos seus compatriotas.

A segunda razão he porque as referidas disposições de Direito se fazem muito

mais urgentemente indispensáveis, quando consta que a tal sedição, não só for ordenada,

e dirigida a dois males tão grandes, com os que já tem feito, e está ainda fazendo entre

nós: Isto he por uma parte conspirar contra a Coroa, e contra o publico socego com

tumultos, como já succedeo tão desgraçadamente: E por outra parte injuriar a maior parte

da Nobreza desta Corte, e Provincias deste Reino, pondo nella huma inhabilidade, e

dando-lhe huma exclusiva tão offensiva da honra, como contraria a todas as Leis Divinas,

e Humanas, como ainda agora se está praticando com publicidade escandalosa, que está

desafiando a Real Providencia.

A terceira razão he, porque sendo Vossa Magestade a única fonte de Nobreza da

qual sómente podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações para os seus

Vassalos, não pode haver maior temeridade, nem barbaridade mais clara, e manifesta do

que pode haver entre os mesmos Vassallos alguns tão arrogantes que se atrevão a ser elles

árbitros da graduação, e da Nobreza dos que lhes são iguaes na classe da mesma Nobreza,

e ainda na linha de Vassallos, com huma notoria usurpação da Dignidade Regia, e

Jurisdição Suprema, ás quaes he inherente a distribuição das honras, e das classes para as

regular, e ordenar, como bem lhe parecer.

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

[190] A quarta razão he porque reduzindo-se os taes Puritanos a hum piqueno

numero, que quasi se conta pelos dedos, sendo tão numerosos os que elles publicão

maculados, segue-se que os Estrangeiros, que vêem isto na Corte, ficão persuadidos de

que a Nobreza se compõe de hum pequeno numero de Christãos Velhos, e que todos os

outros são judeos, accrescendo que os taes Puritanos se não esquecem de assim o

divulgarem com a propria jactancia.

Estas além de outras, são as razões que occorrem á Mesa para consultar a Vossa

Magestade a urgentíssima necessidade, que ha de inteiramente destruir este monstro sem

perda de tempo. Não deixou de lembrar á dita Meza para este fim, a providencia da Lei

de 23 de Novembro de 1616, em quanto comunicou perda de perdimento dos bens da

Côroa aos Donatários, que casarem sem expressa licença de Vossa Magestade, e a de

inhabilidade para nelles succederem aquelles, que não sendo donatarios esperassem se­

lo: parecendo, que seria bastante providencia negar Vossa Magestade as licenças aos dos

grémios, e união dos Puritanos na occasião em que qualquer delles possa pedi-la para

casar dentro do gremio. Porém lembrou ao mesmo tempo tempo, que esta providencia

nas presentes circumstancias não só seria inefficaz, mas poderia ser mais prejudicial, que

a dissimulação: Por quanto mostra a experiencia, que todas as vezes, que a males urgentes

de uniões, e sedições da natureza do Puritanismo, se senão applicão remedios promptos,

e efficazes, converte-se em maior mal o remedio paliativo, ou a providencia prolongada,

porque anima os espiritos inquietos, enchendo-os de vanglorias, e esperanças vãas de

futuros contingentes, que muitas vezes se vereficão lastimosamente para ressuscitarem as

sedições com maior furor, e para maior damno da Republica.

Entende pois a Meza que o único remedio prompto e efficaz para extinguir o

monstro do Puritanismo, sómente pode consistir em Vossa Magestade ser servido Mandar

declarar aos cabeças das familias Puritanas, que ou estiverem por casar, ou tiverem filhos

para casar, que tem determinado não approvar os seus casamentos dentro do gremio do

Puritanismo, e que justamente tem determinado, que com effeito casem logo dentro do

preciso termo de tres ou quatro mezes, aquelles que estiverem em idade de casar, e que

não casando dentro do termo preciso, serão privados das honras, e dignidades, que

tiverem, e serão por esse mesmo effeito privados dos bens de Coroa e Ordens, remedio

único para efficazmente, extinguir o Puritanismo, e castigo proporcionado aos que com

injuria da maior parte da Nobreza, e com offensa da Real Authoridade pertenderem

sustentar huma união tão disforme.

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Anexo 2

Não he Vossa Magestade ir impedir por este meio, nem ainda coarctar a liberdade

dos Matrimonios, antes he heito ampliar a dita liberdade dos Matrimonios, que os

Puritanos limitavão dentro do seu gremio, com tanta injuria da Nobreza, e com fins tão

reprovados, sem que ao mesmo tempo constranja a cada hum delles com certa, e

determinada pessoa, que he o que elles verdadeiramente practicavão e praticão. E porque

não parece conveniente fazer authenticamente a injuria da Corôa, da Nobreza, e da Nação,

que tem tolerado por tanto tempo este monstro, entende a mesma Meza, que Vossa

Magestade explicará com maior decencia, e dignidade as suas Reaes Ordens, sendo

servido Mandar declarar o sobredito por um Alvará secretissimo, que não desça ao

Tribunal, nem á Chancellaria, Mandando-o reservar, ou na Secretaria [191], ou no seu

Conselho d’Estado. A forma da execução do referido Alvará, pode ser, encarregando

Vossa Magestade a hum dos Ministros Secretario d’Estado, que em particular intime

áquelle, ou áquelles Puritanos, que estiverem nos termos de casar, obrigando-os a assignar

Termo pelo qual se dêem por notificados, e se obriguem a cumpri-lo como Vossa

Magestade Ordena.

Não pode persuadir-se a Meza que depois de intimadas as Reaes Ordens de Vossa

Magestade, haj a Puritano que se atreva a transgredi-las, não obedecendo no termo prefixo,

que elle deve ser assignado, porém quando tal suceda contra toda a esperança, pode

praticar-se a execução, ou por hum Decreto, em que Vossa Magestade por justos, e

particulares motivos, que lhe forem presentes, o declare incurso nas sobreditas penas, ou

pelo Juízo da Inconfidencia, remettendo-se-lhe da Secretaria d’Estado por hum Aviso o

Termo nella feito, e assignado para por elle proceder.

Finalmente parece á Meza, que Vossa Magestade deve ser servido abolir o

incompetente e sedicioso Compromisso da sobredita Irmandade, e mandar-lhes dar outro

novo para o seu governo. Lisboa 23 de Setembro de 1768. - Veiga - Castro - Pacheco -

Fonseca - Cordeiro.

- § -

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

Termo que faz o Illustrissimo e Excellentissimo Manoel Telles da Silva, Conde de

Villar Maior, em execução do Alvará de Lei de 5 do corrente mez de Outubro

[em nota de rodapé vem escrito: Identicos Termos assignárão em os dias seguintes

o Ex.mo Marquez de Valença, e de Angeja, e outros Fidalgos471]

[191] Aos onze dias do mez de Outubro do anno de mil setecentos sessenta e oito,

compareceo nesta Secretaria d’Estado dos Negocios do Reino, o Ill.mo e Ex.mo Manoel

Telles da Silva, Conde de Villar Maior, vindo a ella chamado por Ordem de ElRei Nosso

Senhor, em execução do seu Alvará de Lei, datado do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda

aos 5 deste dito mez, que está correndo, e sendo-lhe lido da primeira até á ultima palavra

em presença do Illustrissimo e Excellentissimo Conde de Oeiras, Ministro e Secretario

d’Estado, por mim Official da mesma Secretaria abaixo assignado, o sobredito Alvará,

em voz clara, e intelligivel: E sendo-lhe perguntado se havia distincta, e especificamente

comprehendido as disposições, Termos, e Comminações estabelecidas pela Lei do mesmo

Alvará, ou se o queria ler para ficar plenamente instruido no conteudo nelle: Respondeo

que tudo havia entendido no seu verdadeiro, e literal sentido; e que sendo obrigado, como

fiel e leal, e obediente Vassallo de Sua Magestade a respeitar, e executar religiosamente,

como justas e santas todas as Leis do dito Senhor, observaria esta prompta, e exactamente,

pelo que nella pertence á sua pessoa, casa, e familia. Em fé e certeza do que assignou este

Termo, com o mesmo Ministro e Secretario d’Estado, no mesmo dia, mez, e anno acima

escripto. - Conde de Oeiras - Conde de Villar Maior - E eu João [192] Gomes d’Araujo,

que sirvo de Official Maior da Sacretaria d’Estado o escrevi, e assignei - João Gomes de

Araújo.

Na Collec. do Conselheiro Trigoso.

- § -

471 No documento da BNP, a seguir ao Termo, vem o seguinte texto: «Seguem-se outros Termos que assignarão o Ill.mo e Ex.mo D. Joze Miguel João de Portugal Marquez de Vallença em Ex.am do Alvará de Ley de cinco do corrente mês de Outubro. E o Ill.mo e Ex.mo D. Pedro de Noronha Marquez de Angeja, e do Monteiro Mor do Reyno Francisco de Mello, e de Fernando de Miranda». Estes Termos poderão ser encontrados no ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.

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ANEXO 3: Retrato puritano da Aristocracia Portuguesa

Tentámos, ao longo desta dissertação, recriar a sociedade na qual vivia a

aristocracia portuguesa do Antigo Regime, como forma de melhor perceber o

enquadramento do grupo dos Puritanos, sendo Nuno Monteiro peremptório a concluir

sobre o «carácter relativamente difuso»472 dos testemunhos sobre a sua existência, que

são, ainda assim, contundentes no que à importância atribuída a estas Casas aristocráticas

diz respeito.

Mas como se viam e eram vistos os membros destas Casas? Como se definiriam

as suas estratégias de reprodução social concretizadas em subgrupos onde a probabilidade

de estabelecimentos de alianças era maior? Terá a prática endogâmica de casamentos pela

qual a aristocracia portuguesa ficou conhecida sido ainda mais exclusiva, criando

«sedições, e discórdias»473, como nos é sugerido pelo Alvará?

Para que pudéssemos estudar o fenómeno e impactos do puritanismo na

aristocracia portuguesa, começamos por ter de definir o grupo base que iríamos estudar.

Resolvemo-nos por estudar o grupo dos Grandes (que, no Antigo Regime, fazia

referência aos duques, marqueses, condes e o visconde de Vila Nova de Cerveira), ao

qual juntámos os demais títulos (viscondes e barões) e ainda, por considerarmos terem

sido entendidos numa óptica quasi vincular, também os ofícios maiores da Casa Real474.

No entanto, uma das questões que desde logo surge na definição de um grupo que se

pretende estudar durante um período de 170 anos, adicionando o facto do que se pretende

analisar ser a sua política de reprodução social, é a de que Casas analisar. Para tal foi

necessário garantir que as Casas eleitas foram capazes de promover uma política de

reprodução social (logo, tiveram descendência), tendo-se também desconsiderado todas

as Casas criadas após, ou imediatamente antes, do Alvará475.

472 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141.473 Alvará, p. 181.474 Para um melhor entendimento da importância dos ofícios maiores da Casa Real, leia-se Pedro Cardim, O poder dos afectos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo Regime. Lisboa: [s.n], 2000. Dissertação de Doutoramento, pp. 477-521.475 A título de exemplo, desconsideraram-se as Casas dos duques de Aveiro (ramo da Casa que ficou em Espanha após a Restauração), o ramo da Casa dos marqueses de Gouveia, condes de Portalegre que se extingue, as Casas dos condes de Figueiró, Pontével e Viana, apenas com um titular e as Casas dos condes da Azambuja, Mesquitela (antigo), Redinha, dos viscondes de Anadia, Bahia, Lourinhã e dos barões de Alverca e Mossâmedes, porque a sua data de criação é imediatamente anterior, ou posterior, ao Alvará.

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Anexo 3

Também em relação aos ofícios maiores da Casa Real, consideraram-se apenas

aqueles que foram considerados “ofícios de Casas”, que excluem, naturalmente, os

reservados a eclesiásticos, como o capelão-mor, o esmoler-mor e o sumilher da cortina,

mas ainda os ofícios de Mordomo-mor e Estribeiro-mor, e o de Camareiro-mor, que foi,

ao longo do tempo de análise, dando lugar aos camaristas - gentis-homens da câmara -

que assistiam a somana. Sem uso, ou relevância, no período em análise estariam os ofícios

de Caçador-mor e Guarda-mor.

Assim definimos o grupo como sendo composto por um total de 68 Casas

aristocráticas (sendo que duas delas, Abrantes e Sarzedas, consideradas em dois ramos

distintos476). Nestas, e partindo do último chefe de Casa vivo antes de 1800, analisámos

até seis gerações (como objectivo de chegar ao titular vivo em 1630) da sua ascendência,

tentando identificar, de acordo com a informação fornecida no já muito referido Relatório

do marquês de Torcy, quais seriam os reparos da sua linhagem. Para tal, recorremos aos

índices disponíveis no sítio Geneall.net que julgamos fidedigno (porque não só identifica

as fontes da informação, como o nosso objecto de análise são as Casas titulares estudadas

pelo Pe. D. António Caetano de Sousa, trabalho que se encontra reflectido no referido

sítio) e, sobretudo, facilitou uma tarefa que, de outra forma, se revelaria muito mais difícil.

Importa salientar que a atribuição de um dado reparo a uma Casa aristocrática não

quererá dizer que essa Casa o tenha mantido durante todo o período, mas que chegou ao

final do período com esse reparo. Este simplismo assumiu-se, não apenas porque seria

praticamente impossível fazê-lo de outra forma, mas também porque a questão puritana

se coloca, sobretudo, pela existência do Alvará de 1768, permitindo-nos perceber a

realidade dos reparos das Casas aristocráticas por essa data. Por outro lado, o objecto de

estudo do presente trabalho é o grupo dos Puritanos, pelo que a manutenção do estado de

uma Casa aristocrática sem reparos ao longo do período de análise é, por si só, uma forma

de confirmar a sua adesão a um ideal puritano.

Na Tabela 1, apresentamos os resultados a que chegámos. Assim, e para a

aristocracia portuguesa, tal como a definimos, os reparos mais observados eram o de

Pinheiro (41/70), Bocanegra (36/70), Granada (34/70) e Aragão (24/70). Os menos

observados eram o de Lafetá (1/70) e os de Brandão, Juzarte e Torres (4/70). Também

podemos acrescentar que, em média, as Casas aristocráticas portuguesas apresentavam,

476 Na Casa dos marqueses de Abrantes considerámos os ramos dos condes de Penaguião e dos condes de Vila Nova de Portimão, e na Casa de Sarzedas, nas varonias Silveira e Távora.

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Retrato puritano

no final do Antigo Regime, 3 reparos (que comparam com os 1,4 à data do Relatório de

Torcy, ou seja, 1684) sendo a realidade sem reparos conhecidos composta por apenas 9

Casas.

Posteriormente, atribuímos a cada reparo uma cor e elaborámos, para cada Casa,

uma árvore de costados, partindo, como referimos, do último chefe da Casa vivo anterior

a 1800 e, no caso das Casas extintas a essa data, do último chefe da Casa. Na tabela 2

apresentamos o resumo das árvores de costados que apresentamos a seguir, chamando a

atenção para o facto da 1.a geração dizer sempre respeito ao titular mais recente.

Não sabemos se este retrato corresponderá à forma como as Casas aristocráticas

portuguesas se viam umas às outras, mas a verdade é que parece permitir-nos identificar,

claramente, as Casas aristocráticas que investiram em políticas de reprodução social

puritanas, mesmo tendo já elas próprias reparos.

Foi, precisamente, este o motivo que nos levou a propor a análise do grupo

também em sentido lato uma vez que em Casas que mantiveram, durante todo o período,

o mesmo reparo, e assumindo por verdade a prática endogâmica de casamentos da

aristocracia portuguesa, a coincidência ou a casuística parecem ser justificações fracas

para tal, numa realidade onde a prática do puritanismo foi, como vimos, associada a honra

e prestígio.

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Anexo 3

Tabela 1 - A incidência dos reparos nas Casas aristocráticas portuguesas

(à data do último titular vivo, antes de 1800)

Casa

Ara

gão

Aza

mbu

ja

I Bra

ndão

Cai

ada

Gra

nada

Juza

rte 1 L

afet

á

Pin

heir

o

Tal

avei

ra

Tor

res

Zun

iga 1

Bob

adill

a

Tot

al d

e R

epar

os

Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz x x 2Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal x 1Lafôes/ Arronches/ Miranda 0Abrantes/ Fontes/ Penaguião x x 2Abrantes/ V.N. Portimão/ Penaguião x x x x x x 6Alegrete/ Vilar Maior 0Alorna/ Castelo Novo/ Assumar x x x x 4Alvito/ Oriola/ Alvito/ Alvito x x x 3Angeja/ Vila VerdeCascais/ M onsanto/ Coudeis-móres x x x 3Castelo Melhor/ Calheta/ Castelo Melhor/ Repost. x xFronteira/ Torre/ Coculim x x x x x 5Lavradio/ Avintes x x x x 4Loulé/ Vale de Reis x x xLouriçal/ Ericeira x x x x x 5Marialva/ Cantanhede x 1Minas/ Prado x x x x x 5Niza/ Vidigueira x x x x 4Niza/ Vidigueira/ Unhão x x x x x x x 7Penalva/ Tarouca 0Pombal/ Oeiras x x 2Ponte de Lima/ Vila Nova de Cerveira 0Tancos/ Atalaia x x 2Távora/ S. João da Pesqueira x 1Valença/ Aguiar/ VimiosoAlmada/ Mestres-s alas x x x 3Alva x xAlvor x 1Arcos x x x x x x x x 8Atouguia x 1Aveiras x x x 3Bobadela x x x x x x x 7Caparica x 1Co culim x x x x 4Cunha x x x 3Ega x x x x 4Ficalho x 1Galveias x 1Lousã x x x 3Lumiares/ Ilha do Príncipe x x x x x xS. Lourenço/ Sabugosa x x x 3S. Miguel x x x x x x x x 8Óbidos/ Sabugal/ PalmaPenafiel x x x x x x x 7Pombeiro x x x x x x x x xSande/ Ponte x x x x x x x x 8Povolide x x x x x 5Redondo x x x 3Resende/ Almirantes x x x x x 5Ribeira Grande/ Vila Franca x xSão Paio x x x x x x x 7Sabugosa x xSandomil x 1Santiado de Beduído x x x 3Sarzedas 1 x 1Sarzedas 2 x x x 3Soure x x x x 4Valadares x xS. Vicente x 1Vila Flor/ Copeiros-móres x x x x 4Vimieiro x x x x x 5Asseca x x x x x xBarbacena x x x x x xFonte da Arcada x x x x 4Mesquitela/ Ilha Grande de Joanes x x x x x x x 7Vila Nova de Souto d'El Rei x x x x 4Capitães da Guarda Alemã 0Armeiros-móres 0Monteiros-móres x x 2Porteiros-móres x x x x x x x 7

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Tabela 2 - Análise dos reparos das Casas aristocráticas portuguesas477Retrato puritano

Reparos:

AragãoAzambujaBocanegraBrandãoCaiadaGranadaJuzarteLucenaLafetáPinheiroTalaveiraTorresZunigaJudeuBobadilla

Gerações consideradasCasa: 1.a 2." 3.a 4." 5." 6."A veiro/ Gouveia/ Santa Cruz s.r. s.r.Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal s.r. s.r. s.r. s.r. n.c.Lafões/ A rronches/ M iranda s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.A brantes/ Fontes/ Penaguião s.r.A brantes/ V.N. Portimão/ Penaguião » • • • • • • • • • • • • •Alegrete/ Vilar M aior s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Alorna/ Castelo N ovo/ A ssum ar • • • • • • s.r. n.c. n.c.Alvito/ Oriola/ A lvito/ Alvito » • • • » • • s.r.Angeja/ Vila Verde s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. n.c.Cascais/ M onsanto / Coudeis-mores • • • • • • n.c. n.c.Castelo M elhor/ Calheta/ Castelo M elhor/ Re • • • • • • • s.r.Fronteira/ Torre/ Coculim » • • • • • • • • • • • • •Lavradio/ A vintes » • • • • • • • • • omLoulé/ Vale de Reis M * • • • • • • • •Louriçal/ Ericeira • • • • • • • • • • • • • •Marialva/ Cantanhede • • • • • ftM inas/ Prado • • • • • • • • • • •Niza/ Vidigueira • • • • • • •Niza/ Vidigueira/ Unhão • • • • • • • •moPenalva/ Tarouca s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Pombal/ Oeiras M M »• »• • •Ponte de Lima/ Vila N ova de Cerveira s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Tancos/ A talaia • • • • • • • • • • MTávora/ S. João da Pesqueira s.r. s.r.Valença/ A guiar/ Vimioso s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Almada/ M estres-salas M * * é • s.r. n.c.A lva * n.c. n.c. n.c. n.c. n.c.A lvor s.r. s.r. s.r. n.c.Arcos M • • • M • • • s.r. s.r.AtouguiaAveiras • * • • s.r. s.r.Bobadela M • • • • • n.c. n.c.Caparica s.r. s.r.Coculim » • • • • • • • • • MCunha »• »• s.r. s.r. s.r.

Eg a » •• • * * * MFicalho • • • • • s.r.Galveias • • • s.r. s.r. n.c.Lousã • • • • • •Lumiares/ Ilha do Príncipe • • • • • • • • •S. Lourenço/ Sabugosa/ Alferes-mores • • • • • s.r.S. M iguel M • •O bidos/ Sabugal/ Palma s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Penafiel • • • •> i t • • • M • •Pombeiro • • • • • •Sande/ Ponte » • 1 M M * • • • • • • • • • n.c.Povolide • • s.r. s.r.Redondo • • • • s.r. s.r.Resende/ Almirantes • • • • • • • • • • • • •Ribeira Grande/ Vila Franca • • • • • s.r.São Paio • • » • • • • • • • • • • • • • • • • •Sabugosa/ Alferes-mores • • • • s.r. s.r.Sandomil s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Santiado de Beduído • • M • • s.r. s.r.Sarzedas 1 s.r. n.c.Sarzedas 2 » • • • » • s.r.Soure • i • • » s.r.Valadares • s.r.S. VicenteVila Flor/ Copeiros-mores » • • * • » s.r. s.r.Vimieiro • • • • • s.r.A sseca s.r. s.r. s.r. n.c.Barbacena • • • • • • • • • •Fonte Arcada • • s.r. s.r. s.r. s.r.M esquitela/ Ilha Grande de Joanes • • » • • • s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Vila N ova de Souto d'El Rei • • • • • s.r. s.r. s.r. s.r.Capitães da Guarda Alemã s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.Armeiros-mores s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.M onteiros-moresPorteiros-mores » • • • • n.c.n.c. - Geração não considerada s.r. - Sem reparos

477 A primeira geração analisada respeita ao último titular chefe da Casa vivo antes de 1800, representando a 2.a geração a do seu pai, e daí em diante, excepção feita quanto este herda a Casa de um ramo feminino, tendo-se, nesse caso, optado por seguir a linhagem da Casa em detrimento da varonil.

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Anexo 3

Casa dos duques de Aveiro/ marqueses de Gouveia/ condes de Santa Cruz• •

D. Martinho Mascarenhas, 3.° M. Gouveia O

D. Martinho Mascarenhas, 6.° M. Gouveia • •

D. José Mascarenhas da Silva de Lancastre, 8.°D. Aveiro • •

D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia •D. Maria de Lancastre

Teresa de Moscoso Osório

Inácia Rosa de Tavora

António Luis de Tavora, 2.° M.

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

Leonor Teresa Rosa de Sousa

D. Maria Inácia de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Leonor Tomásia de Tavora e Lorena

Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C.

Francisco de Tavora, 1.° C. Alvor

António Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

Inês Catarina de Tavora

D. Joana de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

António Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C.

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. Távora

Marta de Vilhena

D. Miguel de Noronha, 4.° C.

D. Inácia de Menezes e Vasconcelos

António Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C.

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

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Retrato puritano

Casa dos duques de Cadaval/ marqueses de Ferreira/ condes de Tentúgal

D. Miguel Caetano Álvares Pereira de Melo,

° D. Cadaval

D. Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, 4.° D.

Leonor da Cunha

D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 3.° D. Cadaval

Henriqueta de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

Miguel Carlos da Cunha Silveira e Tavora, 5.° C.

Manuel Carlos de Tavora, 4.° C.

D. Rosa Leonarda de Ataíde

D. Isabel de Noronha

D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C.to

Mariana Teresa de Tavora

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. V icente

D. Marcos de Noronha, 4.° C.

Maria Josefa de Tavora •D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C.

D. Margarida de Vilhena

António Luis de Tavora, 2.° M.

Leonor Teresa Rosa de Sousa

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Anexo 3

Casa dos duques de Lafões/ marqueses de Arronches/ condes de Miranda do CorvoP

D. João Carlos de Bragança, 2.° D. Lafões

D. Miguel de Bragança

Luísa Casimira de Sousa, 6.a C. Miranda

Rei D. Pedro II

Ana Armanda de Vergé

Príncipe Carlos José de Ligne

Mariana Francisca de Sousa Tavares, 2.a M. Arronches

Diogo Lopes de Sousa, 4.° C. Miranda

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. Margarida de Vilhena

D. João Mascarenhas

D. Beatriz de Menezes, 3.a C.

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

D. Francisco Mascarenhas

D. Margarida de Vilhena

D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C.

D. Luisa Coutinho

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Retrato puritano

Casa dos marqueses de Abrantes e de Fontes/ condes de Penaguião• •

D. Maria Margarida de Lorena, 4.a M. Abrantes

D. Rodrigo de Melo

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Ana Maria Catarina Henriqueta de Lorena, 3.a M. Abrantes

• •

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 1.° M. Abrantes • •

D. Francisco de Sá e Menezes, 1.° M. Fontes

D. João Rodrigues de Sá e Menezes, 3.° C. Penaguião • '

Luisa Maria de Faro

D. Joana Luisa de Lancastre

D. Rodrigo de Lancastre

D. Isabel Luísa Vicência de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Henriqueta de Lorena

Inês Teresa de Noronha

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião

D. Joana de Castro

D. Luis de Ataíde, 5.° C.

D. Filipa de Vilhena

D. Lourenço de Lancastre •Inês de Noronha

João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras

Maria de Castro

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Page 186: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Abrantes/ condes de Figueiró e Vila Nova de Portimão• • • • •

D. José Maria de Lancastre e Tavora, 6.° C. Vila Nova • • •

D. Pedro de Lancastre da Silveira de Castelo- Branco S á e Menezes, 5.° M. Abrantes • • • • • •

Manuel Rafael de Tavora

Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C.

D. Joana de Lorena

D. Pedro de Lancastre, 5.° C. V ila Nova • • •

D. Isabel de Lancastre e Menezes • • • •

D. Maria Sofia de Lancastre • •

D. Pedro Baltazar de Almeida de Lancastre • •

D. José de Lancastre Saldanha • • • •

D. Maria da Conceição de Lancastre • • • • •

Inês Josefa de Tavora • • •

D. António Henriques • •

D. Leonor Henriques de Faria Pereira • •

Francisco de Tavora, 1.° C. Alvor

Inês Catarina de Tavora

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Luis de Lancastre, 4.° C. Vila Novamom

Madalena de Noronha

D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 1.° M. Abrantes • •

D. Isabel Luísa Vicência de Lorena

D. João de Lancastre

D. Maria Teresa Antónia de Portugal

Aires de Saldanha de Menezes e Sousa

Luisa Inês de Tavoraomm

D. Jorge Henriques

D. Madalena de Bourbon • •

António Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

D. Pedro de Lancastre, 2.° C. Figueiró • •D. Madalena Lancastre • •D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

D. Francisco de Sá e Menezes, 1.° M. Fontes

D. Joana de Lancastre

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

D. Maria Angélica de Lorena

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

D. Pedro de Almeida •Luísa Antónia de Portugal

Luis de Saldanha •Violantes de Mendonça

Juan de Saldanha de Sousa • •Inês Antónia de Tavora

D. Henrique Henriques

Maria Luísa de Menezes

D. António de Almeida, 2.° C. Avintes • •D. Maria Antónia de Bourbon

Josefa Francisca

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Page 187: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Manuel Teles da Silva, 6.° C. V ilar Maior

Casa dos marqueses de Alegrete/ condes de Vilar MaiorP

Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Helena de Noronha

D. Eugénia Rosa de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Tomás de Noronha, 3.° C.

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

Retrato puritano

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Marcos de Noronha

D. Maria Henriques

D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C.

Vitória de Cardaillac

Maria Josefa de Menezes

João Gomes da Silva

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Luisa de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C.

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Marcos de Noronha

D. Maria Henriques

D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C.

Vitória de Cardaillac

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Anexo 3

Casa dos marqueses de Alorna e Castelo Novo/ condes de Assumar• • •

D. João de Almeida Portugal, 2.° M. Alorna • • •

D. Pedro José de Almeida, 1.° M. Alorna • •

D. Maria Josefa da Nazaré de Lancastre • • •

D. João de Almeida, 2.°C. Assumar

D. Isabel de Castro • •

D. Pedro de Almeida, 1.°C. Assumar

D. Margarida André de Noronha '• •

D. Luis de Lancastre, 4.(C. V ila Nova • • •

Madalena de Noronha

D. João Mascarenhas,1.° M. Fronteira • •

D. Madalena de Castro

D. Pedro de Lancastre, 2.° C. Figueiró • •

D. Madalena Lancastre

• •

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre • •

D. Maria de Noronha

D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre • •

D. Maria de Noronha •D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião

D. Joana de Castro

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Page 189: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos marqueses, condes e barões do Alvito/ condes de Oriola

• • •

D. José António F rancisco Lobo da Silveira, 1.° M. Alvito • • •

D. Fernando José Lobo da S ilre ira Quaresma, 2.° M. Alvito• • •

D. José An tón io P lác ido Lobo da S ilre ira Quaresm a, 3.° M. Alvito • •

D. Teresa de A ss is M ascarenhas

D. V a sco Lobo, 2. ° C. Oriola

D. Luis Lobo, 1.° C. O riola

D. Eu frásia Maria de Tavora

Inês Margarida José de Lancastre • • •

D. Fernando Martins M ascarenhas, 2.° C. Ó bidos

Cristovão de A lm ada

D. F ilipa M aria de Melo

D. V a sco M ascarenhas, 1.° C. Ó bidos

D. Joana F rancisca de V ilhena

D. João Lobo, 6.° B. Alvito

D. M adalena de Lancastre

D. F rancisco da Gama, 4.° C. V idigueira •Leonor Coutinho

Rui Fernandes de A lm ada

M adalena de Lancastre

D. Luís de A lm ada

D. Luísa de M enezes

D. B e a triz M ascarenhas C aste lo-B ranco da Costa, 4 .a C. Sabugal, 3 .a C. Palm a

D. João M ascarenhas C aste lo-B ranco da Costa, 2.° C. Pa lm a

D. Maria Bárbara de M enezes

D. José de M enezes da Silveira de C astro e Tavora

Luísa G onzaga

D. Diogo M enezes de Tavora

D. Joana de Castro

D. José de M enezes de Tavora

Brites F rancisca de M endoça

D. João M ascarenhas

D. Beatriz M ascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. Nuno M ascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. F rancisco M ascarenhas

D. M argarida de V ilhena

D. Diogo de M enezes

Maria de O liveira •Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. A rronches

D. Mariana de Castro

Maria Barbara Josefa Breyner

Pág. 31

Page 190: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

D. José Xavier de Noronha Camões Albuquerque Sousa Moniz, 4.° M. Angeja

Casa dos marqueses de Angeja/ condes de Vila VerdeP

D. Pedro José de Noronha Camões, 3.° M. Angeja

D. António de Noronha, 2.° M. Angeja

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

Luisa Josefa de Menezes

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. António de Noronha, 1.° C. V ila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Maria de Lorena

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Eugénia Rosa de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Tomás de Noronha, 3.° C.

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

Pág. 32

Page 191: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos marqueses de Cascais/ condes de Monsanto/ Coudeis-mores

D. Manuel José de Castro Noronha de Sousa Ataíde, 3.° M. Cascais • •

D. Luís José Leonardo de Castro Noronha Ataíde e Sousa, 4.° M. Cascais • •

D. Luisa de Noronha

D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais

D. Maria Joana Coutinho

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais •

D. Bárbara Estefânia de Lara •

D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva •D. Catarina Coutinho

D. António de Noronha, 1.° C. V ila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Retrato puritano

Pág. 33

Page 192: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Castelo Melhor/ condes da Calheta e Castelo Melhor/ Reposteiros-mores• •

António José de Vasconcelos e Sousa Camara Caminha Faro e Veiga, 2.° M. Castelo Melhor

José de Vasconcelos e Sousa Caminha Camara Faro e Veiga, 1.° M. Castelo Melhor

Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Camara Faro e Veiga, 5.° C. Calheta

Luis de Vasconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo Melhor

João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa,2.° C. Castelo Melhor •

Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara

Luis de Sousa Ribeiro de Vasconcelos

Maria de Moura e Tavora

Simão Gonçalves da Camara, 3.° C. Calheta

Margarida de Menezes Vasconcelos

Guiomar de Tavora Sousa Faro e Veiga

Bernardim de Távora e Sousa, R.P.

D. Leonor Mascarenhas

D. Estevão de Faro, 2.°C. Faro

D. Guiomar de Castro

Em ília de Rohan

D. Maria Rosa Quitéria de Noronha

D. António de Noronha,2.° M. Angeja

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

D. António de Noronha,1.° C. V ila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Luisa Josefa de Menezes

João Gomes da Silva

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Diogo Lopes de Sousa,2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes,3.a C. Sabugal

D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Luisa de Castro

D. Tomás de Noronha,3.° C.

D. Madalena de Brito e Bourbon

Pág. 34

Page 193: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos marqueses de Fronteira/ condes da Torre e Coculim• • • •

D. João José Luis M asca renhas Barreto, 6 .° M . F ronteira

D. José Luis M asca renhas, 5.° M. Fronteira

D. João M ascarenhas, 3 .° M . F ronteira

D. Fernando M asca renhas, 2 .° M. F ronteira

D. Joana Leonor de Toledo e M enezes

D. Luis de Lancastre, 4.° C. V ila Nova •••

D. Helena Josefe N azaré de Lancastre

D. João M asca renhas, 1.° M. F ronteira

D. M ada lena d e C astro

D. Jerónim o de A taíde, 6.° C. A tougu ia

D. Leonor M aria de M enezes

D. P e d ro d e Lancastre, 2.° C. Figueiró

M ada lena T eresa d e Noronha

D. M ada lena de Lancastre • •

D. Estevão de M enezes

D. Helena de Noronha

A fon so de V a scon ce lo s e S o u sa C unha C am ara Faro e V e iga , 5 .° C. ••

José d e V a scon ce lo s e S o u sa C am inha C am ara Faro e V e iga , 1.° M.••

M ariana Josefa de V a scon ce lo s e S ousa ••

Luis de V a scon ce lo s e Sousa , 3 .° C.••

G u io m ar d e Tavora S o usa Faro e V e iga

E m ilie Sophronie Pe lagie de Rohan

D. M aria R osa Q uitéria de Noronha

D. A n tó n io d e Noronha, 2.° M. Ange ja

Lu isa Josefa de M enezes

D. Pedro A n tó n io de Noronha, 1.° M. Ange ja

Isabel M aria A n tó n ia de M endonça

João G o m e s da Silva

D. Joana R osa de M enezes, 4.a C. Tarouca

D. Fernando M asca renhas, 1.° C. Torre

D. M aria d e Noronha

D. F ranc isco de S á de M enezes, 2.° C. Penagu ião

D. Joana d e C astro •

D. Luis de A taíde, 5 .° C. A tou gu ia

D. F ilipa de V ilhena

D. Fernando de M enezes

D. Joana d e Toledo d a C am ara

D. F ranc isco Luis de Lancastre

F ilipa de M endonça

D. Luis da Silveira, 3.° C. ••

D. M aria de V ilhena

D. D uarte Luis de M enezes, 3.° C. Tarouca

D. Lu isa d e C astro

D. Tom ás de Noronha, 3.° C.

D. M ada lena d e Brito e Bourbon

João R odrigues de V a scon ce lo s e Sousa, 2.° C.

M ariana d e Lancastre V a scon ce lo s e C am ara

Bernardim de Tavora e S ousa

D. Leonor M asca renhas

D. A n tó n io d e Noronha, 1.° C. V ila Ve rde

D. M aria d e M enezes

H enrique d e S ousa Tavares da Silva, 1.° M. A rronches

D. M ariana d e C astro

M anuel Teles da Silva, 1.° M. A legre te

D. Lu isa C outinho

D. Estevão d e M enezes

D. Helena de Noronha

Retrato puritano

Pág. 35

Page 194: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Lavradio/ condes de Avintes• • • •

D. Luís de Almeida Soares Portugal, 2.° M. Lavradio •• •

D. António Máximo de Almeida Portugal, 3.° M. ••O»

D. António de Almeida Soares Portugal, 1.° M. Lavradio

D. Luís de Almeida Portugal, 3.° C. Avintes

D. Joana Josefa Antónia de Lima

D. Francisca das Chagas Mascarenhas

D. Martinho Mascarenhas, 3.° M. Gouveia

Inácia Rosa de Tavora

Maria Ana Teresa Rita da Cunha

Miguel Carlos da Cunha Silveira e Tavora, 5.° C. S. Vicente

Manuel Carlos de Tavora, 4.° C. S. Vicente

D. Isabel de Noronha

D. Rosa Leonarda de Ataíde

D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C.

Mariana Teresa de Tavora

D. António de Almeida, 2.° C. Avintes ••

D. Maria Antónia de Bourbon

D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Vitória de Bourbon

D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz

Teresa de Moscoso Osório

António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora

Leonor Teresa Rosa de Sousa

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente

D. Marcos de Noronha, 4.° C.

Maria Josefa de Tavora

D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C.

D. Margarida de Vilhena

António Luis de Tavora, 2.° M.

Leonor Teresa Rosa de Sousa

D. Luís de Almeida, 1.°C. Avintes ••D. Isabel de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7.° V.

D. Joana de Vasconcelos

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M.

D. Mariana de Castro

António Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

João Nunes da Cunha, 1.° C. S. Vicente

VD. Isabel de Bourbon

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C.

D. Leonor Maria de Menezes

D. João Mascarenhas

D. Beatriz de Menezes, 3.a C.

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Pág. 36

Page 195: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos marqueses de Loulé/ condes de Vale de Reis

• • •

Lourenço de Mendoça e Moura, 3.° C. Vale de Reis

Lourenço Filipe Nery de Mendoça e Moura, 5.° C. Vale de Reis

Agostinho Domingos José de Mendoça Rolim de Moura Baireto, 1.° M. Loulé

Nuno José de Mendoça e Moura, 6.° C. Vale de Reis

Nuno Manuel de Mendoça, 4.° C. Vale de

Maria Madalena de Mendonça

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

D. Leonor de Maria Antónia de Noronha

Isabel Mana Antónia de Mendonça

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

D. António de Noronha, 2.° M. Angeja

D. Joana Francisca de Noronha

Isabel Maria Antónia de Mendonça

Luisa Josefa d Menezes

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

D. Diogo de Noronha

D. Pedro José de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho, 4.° M. Marialva

D. Ana José Mónica de Menezes e Noronha

Isabel Maria Antónia de Mendonça

D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Menezes, 3.a M. Marialva

D. Pedro António de Menezes, 2.° M. Marialva

D. Catarina Coutinho

D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C. Óbidos

D. Manuel Mascarenhas, 3.° C.Óbidos

D. Eugénia de Assis Mascarenhas

Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis

Luisa de Castro e Moura

Manuel de Sousa da Silva e Menezes •

Joana Francisca de Mendonça

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva •

D. Catarina Coutinho

D. Rodrigo de Menezes

D. Guiomar de Menezes •D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. Óbidos

D. Joana Francisca de Vilhena

D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma

Helena Josefa de Lorena

D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4.a C. Sabugal, 3.a C. Palma

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

D. Eugénia Rosa deLorena

D. Joana de Castro

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Pág. 37

Page 196: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

D. Luis Eusébio Maria de Menezes Silveira, 4. M. Louriçal O N N

Casa dos marqueses de Louriçal/ condes da Ericeira• • • •

D. Luis Carlos InácioXaver de Menezes, 1.° M. Louriçal

D. Henrique de Menezes e Toledo, 3.° M. Louriçal

D. Francisco Xaver de Menezes, 4.° C. Ericeira

D. Luis de Menezes

D. Joana Josefa de Menezes, 3.a C. Ericeira

D. Joana Madalena de Noronha

D. Ana Xavier de Rohan

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C.

Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise

D. Luis da Silveira, 2.° C.

Mariana da Silva e Lancastre

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C.

Mécia de Mendoça

D. Henrique de Menezes

D. Margarida de Lima •

D. Fernando de Menezes, 2.° C. Ericeira • •Leonor Filipa de Noronha • •

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C.

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

João Gomes da Silva

D. Joana de Tavora

Rodrigo da Camara, 3.° C.

D. Maria Coutinho

Diogo Lopes de Sousa,2.° C.

D. Leonor de Mendoça

Manuel Inácio da Cunha e Menezes

D. Maria da Glória da Cunha e Menezes

D. José Félix da Cunha e Menezes

D. Teresa Josefa de Menezes

D. Constança Xavier de Menezes

D. Luis Carlos InácioXavier de Menezes, 1.° M. Louriçal

D. Ana Xavier de Rohan

Tristão António da Cunha

Leonor Tomásia de Tavora

D. José de Menezes de Tavora

Brites Francisca de Mendoça

D. Francisco Xavier de Menezes, 4.° C. Ericeira

D. Joana Madalena de Noronha

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C.

Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise

Manuel da Cunha

Francisca Joana de Albuquerque

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M.

D. Mariana de Castro

D. Luis de Menezes

D. Joana Josefa de Menezes, 3.a C. Ericeira

D. Luis da Silveira, 2.° C.

Mariana da Silva e Lancastre

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C.•

Mécia de Mendoça

Pág. 38

Page 197: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos marqueses de Marialva/ condes da CantanhedeRetrato puritano

D. D iogo de N oronha

D. Pedro A n tó n io de

N oronha, 1.° M. A n ge ja

D. A n tó n io de N oronha,

1.° C. V ila Ve rde

D. M aria de M en eze s

H enrique de S ousa Tavares da S ilva, 1.° M. A rron che s

Isabe l M aria A n tó n ia de

M endonça

D. M ariana de C astro

D. Pedro Jo sé de A lcâ n ta ra de M en eze s

N oronha C outinho, 4 .° M. M arialva

D. A n tó n io Lu is de M enezes, 1.° M.

M arialva

D. Pedro A n tó n io de

M enezes, 2 .° M.

M arialva

D. C ata rina C ou tinho

D. D iogo J o s é V ito de M en eze s N oronha

C outinho, 5 .° M.

D. Joaqu ina M aria M ada lena da C once ição

de M en eze s , 3.a M .M arialva•

D. C ata rina C ou tinho

D. R od rig o de M en eze s

D. G u io m a r de M en eze s

D. F erna nd o M artins

M asca re nh as , 2 .° C.

D. V a s c o M asca re nh as ,

1.° C.

D. Joa na F ra n c is c a deV ilhe na

D. M anue l M asca re nh as,

3 .° C.

D. João M asca re nh as

C as te lo -B ran co da

C osta , 2 .° C. Pa lm a

D. Beatriz M asca re nh as

C as te lo -B ran co da C osta , 3.a C . P a lm a e 4.a

C. Sabuga l

D. E u g é n ia de A s s is

M asca re nh as

D. Joa na de C astro

M anue l Te les da Silva,

3 .° M . A le g re te

F erna nd o T e les da Silva, 2 .° M . A le g re te

D. H e lena de N oronha

H elena Jose fa de Lo rena

D. N uno Á lva res Pere ira de M elo, 1.° D. Cadaval

D. E u g é n ia R o sa de

LorenaM arga rida de Lorena

D iogo Lopes de Sousa , 2 .° C. M iranda

D. Leonor de M endoça

D. A n tó n io M asca re nh as

Isabe l de C astro

D. Pedro de M en eze s, 2 .° C. C an tanhede

D. C on s tan ça de

G u sm ã o

D. M anue l C ou tinho

D. M aria de Faro

D. Pedro de M en eze s, 2 .° C. C an tanhede

•D. C on s tan ça de

G u sm ã o

D. A n tó n io Luis de

M enezes, 1.° M. M arialva

•D. C ata rina C ou tinho

D. F e rnã o M artins

M asca re nh as

D. M aria de La ncastre

D. João M asca re nh as

D. Beatriz M asca renhas,

3.a C.

D. N uno M asca re nh as

C osta

D. Beatriz de M enezes,

3.a C.

D. F ra n c isco

M asca re nh as

D. M arga rida de V ilhe na

M anue l Te les da Silva,

1.° M . A le g re te

D. Lu isa C ou tinho

D. T om ás de N oronha,

3.° C.

D. M ada lena de B rito e Bourbon

D. F ra n c is c o de M elo,

3.° M . Ferre ira

Joana P im en te l

Pág. 39

Page 198: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Minas/ condes do Prado• • • • •

D. João F ran c isco

B e ne d ito de S o u s a e

La ncastre , 7 .° M . M in as

D. Lourenço José das

B ro tas de La nca s tre e

N oronha

D. A fo n so de N oronha

D. M arco s de N oronha,

4 .° C.

M aria Jose fa de Tavora

D. R od rig o de La nca s tre ••

D. G u io m a r M aria

F ra n c isca de La nca s tre ••

D. V ic ê n c ia de M en eze s

D. M aria F ran c isca

A n tó n ia da P ie d a d e de

S o usa , 5.a M . M in as

D. João de S o u sa

D. A n tó n io C ae tan o Luis de S o usa , 4 .° M . M in as

D. Lu isa de N oronha

D. T om ás de Noronha,

3 .° C.

D. M ad a len a de B rito e Bourbon

Lu is Á lva res de Tavora, 1 .° M . Tavora

D. M aria In á c ia de

M e n eze s

D. Lourenço de

La nca s tre

D. Isabe l de M en eze s

D. R od rig o de M e n eze s

D. G u io m a r de M e n eze s

D. João de S o usa , 3.°

M . M in as

F ra n c isca M ad a len a de

N eufville

D. M arco s de N oronha, 4 .° C.

M aria Jose fa de Tavora

Joana de M en eze s

Fernão T e le s da Silva,

4 .° M . A le g re te

M aria Jose fa de

M e n eze s

M anue l Te les da S ilva, 3 .° M . A le g re te

D. E u g é n ia R o sa de

Lorena

João G o m e s da S ilva

D. Joana R o s a de

M en eze s , 4.a C . T arouca

D. M a rco s de N oronha

D. M aria H en riq ue s

D. Lu is de L im a B rito e

N ogue ira , 1.° C.

V ic to ire de C arda illac

A n tó n io Lu is de Tavora,

2 .° C.

D. A rcâ n g e la M aria de

Portugal

D. R od rig o Lobo da

S ilve ira, 1 .° C.

D. M aria A n tó n ia de

V a s c o n c e lo s e M en eze s

D. R od rig o de Lanca s tre

Inês T eresa de N oronha

D. A n tó n io Lu is de

M en eze s , 1 .° M.

M aria lva

•D. C a ta rin a C ou tinho

D. R od rig o de M e n eze s

D. C o n s ta n ça de

G u sm ã o

D. A n tó n io Lu is de

M en eze s , 1 .° M.

M aria lva

•D. C a ta rin a C ou tinho

D. A n tó n io Lu is de

S o usa , 2 .° M . M in as

D. M aria M ad a len a de

N oronha ••

D. T om ás de N oronha,

3 .° C.

D. M ad a len a de B rito e

Bourbon

Lu is Á lva res de Tavora,

1.° M . Tavora

D. M aria Inác ia de M en eze s

Fernando T e le s da Silva,

2 .° M . A le g re te

D. H e le na de N oronha

D. N un o Á lva res Pe re ira

de M elo, 1.° D. Cadaval

M arga rid a de Lorena

M anue l T e le s da S ilva,

1 .° M . A le g re te

D. Lu isa C ou tinho

D. E s tevã o de M e n eze s

D. H e le na de N oronha

Pág. 40

Page 199: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos marqueses de Niza/ condes da Vidigueira

• • • •

D. V asco José da Gama, 5.° M. Niza

Nuno da Silva Teles

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

Fernando Teles da Silva, 2.° M. A legrete

D. H elena de Noronha

D. Eugénia Rosa de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. C a d a ^ l

Margarida de Lorena

Manuel Teles da Silva, 1.° M . A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Tom ás de Noronha, 3.° C.

D. Madalena de B rito e Bourbon

D. F rancisco de Melo, 3.° M . Ferreira

Joana P im ente l

Fernão Teles de M enezes, 1.° C. V ilar M aior

M ariana de M endonça

D. Nuno M ascarenhas Costa

D. Beatriz de M enezes, 3. a C. Sabugal

D. M arcos de Noronha

D. Maria Henriques

D. Luis de Lim a Brito e Nogueira, 1.° C.

V itó ria de Cardaillac

D. M aria Josefa da Gama, 4.a M. Niza

D. V asco José Luís da Gama, 3.° M. Niza

D. F ranc isco Luís Ba ltazar da G am a, 2.° M. Niza

D. V asco Luis da G am a, 1.° M. Niza

Inês de Noronha

D. Brites de V ilhena

D. Luís Álvares de C astro , 2.° M . C asca is • •

D. Bárbara Isabe l de Lara

D. Maria Joana Coutinho

D. V asco M ascarenhas, 1.° C. Ó bidos

D. Joana Franc isca de Vilhena

D. Álvaro P ires de C astro , 1.° M. C ascais • •D. Bárbara Estefânia de Lara

D. An tón io Luis de M enezes, 1.° M. Marialva •D. Catarina Coutinho

D. F ranc isco da G am a, 4.° C. V idigueira

Leonor Coutinho

S im ão G o n ç a l^ s da Camara, 3.° C.•Margarida de M enezes V asconce los

D. Fernão Martins M ascarenhas

D. M aria de Lancastre

D. João M ascarenhas

D. Beatriz M ascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Pág. 41

Page 200: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Niza/ condes da Vidigueira e Unhão• • • • • •

Rodrigo Xaver Teles de Menezes Castro e Silveira, 4.° C. Unhão

D. Eugénia Maria Teles de Castro da Gama, 7.a M. Niza • •••••

D. Rodrigo Xaver Teles de Castro da Gama, 6.° M. Niza

João Xaver Fernão Teles de Menezes, 5.° C. Unhão

Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° C. Unhão

Vitória de Távora

D. Vasco José Luís d Gama, 3.° M. Niza

D. Maria Josefa da Gama, 4.a M. Niza

D. Bárbara Isabel de Lara

D. Maria Ana Josefa Xaver de Lima

D. Tomás Xavier de Lima Nogueira Teles da Silva, 1.° M.

D. Tomás Teles da Silva

D. Maria de Lancastre

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente

D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza

D. Brites de Vilhena

D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais •O

D. Maria Joana Coutinho

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Maria Xavier de Lima e Hohenlohe, 12.a V.

Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete

Eugénia Maria Josefa de Bragança

Maria Josefa deMenezes

D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira, 11.° V.

Maria A na Teresa de Hohenloe

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

D. Eugénia Rosa de Lorena

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão •••D. Joana Luisa de Lancastre

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

António Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

João Nunes da Cunha, 1.° C.

D. Isabel de Bourbon

D. Vasco Luis da Gama, 1.° M. Niza

Inês de Noronha

D. Vasco Mascarenhas, 1.° C.

D. Joana Francisca de Vilhena

D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais

D. Bárbara Estefânia de Lara

D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva •D. Catarina Coutinho

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Tomás de Noronha, 3.° C.

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Vitória de Bourbon

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Pág. 42

Page 201: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos marqueses de Penalva/ condes de TaroucaRetrato puritano

Fernando Teles da Silva, 3.° M. Penalva

M anuel Teles da Silva, 6 .° C. V ila r Maior

Manuel Teles da Silva, 3 .° M. A legre te

Fernando Teles da Silva, 2.° M. A legrete

D. Helena de Noronha

D. Eugénia Rosa de Lorena

D. Nuno Á lvares Pereira de Melo, 1 .° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Manuel Teles da Silva, 1 .° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Tom ás de Noronha, 3 .° C.

D. M adalena de B rito e Bourbon

D. F ranc isco de Melo, 3 .° M. Ferreira

Joana P im entel

Fernão Teles de M enezes, 1 .° C. V ila r Maior

M ariana de M endonça

D. Nuno M ascarenhas Costa

D. B ea triz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. M arcos de Noronha

D. Maria Henriques

D. Luis de L im a B rito e Nogueira, 1 .° C.

V itó ria de Cardaillac

Eugénia de M enezes da Silva, 2.a M. Penalva

Estevão de M enezes, 1° M. Penalva

João G om es da Silva

Manuel Teles da Silva, 1 .° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Joana Rosa de M enezes, 4.a C. Tarouca

D. Estevão de M enezes

D. Helena de Noronha

Margarida A na A rm anda de Lorena

Manuel Teles da Silva, 3 .° M. A legrete

Fernando Teles da Silva, 2 .° M. A legrete

D. Helena de Noronha

D. Eugénia Rosa deLorena

D. Nuno Á lvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Fernão Teles de M enezes, 1.° C. V ila r Maior

M ariana de M endonça

D. Nuno M ascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Duarte Luis de M enezes, 3 .° C. Tarouca

D. Luisa de Castro

D. Tom ás de Noronha, 3 .° C.

D. Madalena de B rito e Bourbon

Manuel Teles da Silva, 1 .° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Tom ás de Noronha, 3 .° C.

D. Madalena de B rito e Bourbon

D. F ranc isco de Melo, 3 .° M. Ferreira

Joana P im entel

Pág. 43

Page 202: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Pombal/ condes de Oeiras• •

Henrique José de Carvalho e Melo, 2.° M. Pombal • •

Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.° M. Pombal

Manuel de Carvalho e Ataíde

Teresa Luisa de Mendonça e Melo

Leonor Ernestina de Daun

Sebastião de Carvalho e Melo

Sebastião de Carvalho

Leonor Maria de Ataíde

João de Almada e Melo

Maior Luisa de Mendonça

Luisa de Melo

Gonçalo da Costa Coutinho

D. Isabel de Ataíde

António José de Almada e Melo

Úrsula de Vasconcelos

Francisco de Mendonça Furtado

D. Maria de Melo

Sebastião de Carvalho •Maria de Braga e Figueiredo

Gaspar Leitão Coelho

Joana de Mesquita •

Gaspar da Costa

Leonor de Vilhena

D. João de Ataíde

Catarina de Sá e Sousa

Pág. 44

Page 203: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos marqueses de Ponte de Lima/ viscondes de Vila Nova de Cerveira

P

D. Tomás Xavier de Lima Nogueira Teles da Silva, 1.° M. Ponte de Lima

D. Tomás Teles da Silva

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Luisa Coutinho

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7.° V. Vila Nova de Cerveira

D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V. V ila Nova de Cerveira

D. Joana de Vasconcelos

D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira, 11.°V. V ila Nova de Cerveira

D. Maria Xavier de Lima e Hohenlohe, 12.a V. V ila Nova de Cerveira

D. Vitória de Bourbon

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Maria Ana Teresa de Hohenlohe

D. Lourenço de Lima Brito Nogueira, 6.° V. V ila Nova de Cerveira

Luísa de Tavora

D. João Luis de Vasconcelos e Menezes

Maria Cabral de Noronha

Pág. 45

Page 204: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Tancos/ condes da Atalaia• •

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. V ila Franca

D. Domingas Manoel de Noronha, 3.a M. Tancos • •

D. Duarte Rodrigo da Camara

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande

Constança Emília, Princesa de Rohan- Soubise

D. João Manuel de Noronha, 1.° M. Tancos • •

D. Constança Manoel, 2.a M. Tancos • •

D. Mécia de Rohan

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

Mécia de Mendoça

D. Maria Coutinho

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. Luis Manoel de Tavora, 4.° C. Atalaia • •

D. Álvaro Manoel • •

Inês de Lima e Tavora

D. Francisca Leonor de Mendonça

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

Mécia de Mendoça

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande •

Constança Emília, P rincesa de Rohan- Soubise

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

Mécia de Mendoça

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 2.° C. Vila Franca

Leonor Enriquez de Villena

D. Francisco da Gama, 4.° C. Vidigueira •Leonor Coutinho

D. Pedro Manoel, 2.° C. Atalaia • •D. Maria de Ataíde •

Álvaro Pires de Tavora

D. Maria de Lima

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. V ila Franca

D. Maria Coutinho •

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. V ila Franca

D. Maria Coutinho

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

Pág. 46

Page 205: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos marqueses de Távora/ condes da S. João da PesqueiraRetrato puritano

Luis Bernardo de Tavora, 4.° M. Tavora

Francisco de A ss is de Tavora, 3.° C. Alvor

Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor

Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

Inês Catarina de Tavora'

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira

Marta de Vilhena

D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares

D. Inácia de M enezes e Vasconcelos

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da S il^ ira , 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

D. Joana de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. C a d a ^ l

Margarida de Lorena

Joana Pimentel

Leonor Tomásia de Lorena e Tavora, 3.a M.

Luis Bernardo Álvares de Tavora, 5.° C. S. João da Pesqueira

António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Leonor Teresa Rosa de Sousa

D. A n a de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. C a d a ^ l

M argarida de Lorena

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana P im e nte l

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da S il^ ira , 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

Pág. 47

Page 206: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos marqueses de Valença/ condes de VimiosoP

D. Afonso Miguel de Portugal e Castro, 4.° M. Valença

D. José Miguel João de Portugal e Castro, 3.° M. Valença

Luisa de Lorena

D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, 2.° M. Valença

Francisca Rosa de Menezes Coutinho

D. Eugénia Rosa deLorena

D. Miguel de Portugal, 7.° C. Vim ioso

D. Afonso de Portugal, 1.° M. Aguiar

Antónia de Bulhões

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Maria de Mendonça

Agostinho Pestana

Antónia Ferreira

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Helena de Noronha

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Tomás de Noronha, 3.° C.

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

D. Luis de Portugal, 4.° C. Vim ioso

D. Joana de Castro Mendonça

D. Cristovão de Moura, 1.° M. Castelo Rodrigo

Margarida Côrte-Real

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Marcos de Noronha

D. Maria Henriques

D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C.

Vitória de Cardaillac

Pág. 48

Page 207: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

D. Lourenço José Boaventura de Almada, 1.° C. Almada • • •

Casa dos condes de Almada/ Mestres-salas da Casa Real

D. Luis José de Almada, 2.° Mestre-sala

D. Antão de Almada, 4.° M.S.

D. V iolante de Portugal

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala

D. Catarina Henriques

D. Luis de Almeida

Maria Josefa de Melo Côrte-Real

D. Luis de Almada

D. Luisa de Menezes •

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias •

Ângela Maria da Silveira

D. Violante Josefa de Almada Henriques

D. Lourenço de Almada, 3.° Mestre-sala

D. Luis José de Almada, 2.° Mestre-sala

Francisca Josefa de Tavora

Lourenço (ou Luis) de Mendonça Furtado e Albuquerque •

Maria da Penha de França de Mendonça

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala

D. Catarina Henriques

Tristão António da Cunha

Leonor Tomásia de Tavora

Tristão de Mendoça e Albuquerque

D. Violante de Almada Henriques

D. Inês Joana de Vilhena

Retrato puritano

D. Luis de Almada

D. Luisa de Menezes •

D. João de Almeida

D. V iolante Henriques

Manuel da Cunha

Francisca Joana de Albuquerque

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes •

António de Mendonça Furtado

Filipa de Tavora

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala •

D. Catarina Henriques

Pág. 49

Page 208: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Alva

D. Fernão de Sousa de Castelo-Branco, 10.° C. Redondo

D. Rodrigo de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes

D. Luisa Simoa de Portugal

D. Vicente Roque de Sousa Coutinho de Menezes Monteiro Paim

Roque Monteiro Paim

Maria Antónia de São Boaventura Menezes Monteiro Paim

irmã da mulher do 1.° C. Alva, D. João de Ataíde e Sousa, s.g.

Joana Francisca de Menezes

D. Luís de Sousa Coutinho, 3.° C. Alva

Luisa Isabel de Canilliac

Tomé de Sousa

D. Francisca de Menezes

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas •

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Pedro Fernandes Monteiro

Constança Paim

Lourenço de Melo da Silva de Mesquita

Bernarda Micaela da Silva

Fernão de Sousa

D. Maria de Castro

D. João de Castelo- Branco

D. Cecília de Menezes Coutinho

Martim Fernandes Monteiro

Isabel Vaz

Roque Álvares

Leonor Rodrigues Paim

Pantaleão de Sá e Melo

Joana de Lima

Miguel Brandão da Silva

Isabel de Madureira

Pág. 50

Page 209: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes de AlvorRetrato puritano

Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor

António Luis de Tavora 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

Francisco de Assis de Tavora, 3.° C. Alvor

Inês Catarina de Tavora

D. Joana de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Maria Inácia de Menezes

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira

Marta de Vilhena

D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares

D. Inácia de Menezes e Vasconcelos

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Pág. 51

Page 210: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes dos Arcos • • • • •

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

D. Pedro José de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho, 4.° M. Marialva

D. Manuel José de Noronha e Menezes

D. Marcos de Noronha e Brito, 8.° C. Arcos — • • • • •

D. Diogo de Noronha

Isabel Mana Antónia de Mendonça

D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Menezes, 3.a M. Marialva

D. Pedro António de Menezes, 2.° M. Marialva

D. Catarina Coutinho

D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C.

D. Eugénia de Assis Mascarenhas

D. Manuel Mascarenhas, 3.° C.

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva•

D. Catarina Coutinho

D. Rodrigo de Menezes

D. Guiomar de Menezes

D. Vasco Mascarenhas, 1.° C.

D. Joana Francisca de Vilhena

D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma

D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 3.a C. Palma e 4.a C. Sabugal

Helena Josefa de Lorena

D. Marcos José de Noronha e Brito, 6.° C. Arcos

D. Juliana Xaver de Lancastre, 7.a C. Arcos

D. Tomás de Noronha, 5.° C. Arcos

D. Madalena Bruna de Castro • •

Maria Xavier de Lancastre

Tomás José Botelho de Tavora, 3.° C. São Miguel

Juliana Xavier de Lancastre

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

D. Eugénia Rosa de Lorena

D. Marcos de Noronha, 4.° C. Arcos

Maria Josefa de Tavora

D. João de Almeida, 2.° C. Assumar • •

D. Isabel de Castro •C«

Álvaro José Botelho de Tavora, 2.° C. S. Miguel

D. Antónia Luisa de Bourbon

Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° C. Unhão

D. Maria de Lancastre

D. Joana de Castro

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assumar

D. Margarida André de Noronha

D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira • •D. Madalena de Castro

Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° C. S. Miguel

Cecília de Tavora

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão

D. Joana Luisa de Lancastre

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa C r^

Juliana de Lancastre

Pág. 52

Page 211: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes de AtouguiaRetrato puritano

D. Jerónimo de Carvalho e Menezes de Ataíde, 11.° C. Atouguia •

D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia • ~

D. Luis Pedro Peregrino de Carvalho e Menezes de Ataíde, 10.° C. Atouguia

D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. Atouguia

D. Margarida de Vilhena

D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia

D. Leonor Maria de Menezes

D. João Mascarenhas

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora

Mariana Teresa de Tavora

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Leonor Teresa Rosa de Sousa

D. Luis de Ataíde, 5.° C. Atouguia

D. Filipa de Vilhena

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M.

D. Mariana de Castro

D. Fernando de Menezes

D. Joana de Toledo da Camara

D. Francisco Mascarenhas

D. Margarida de Vilhena

D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C. Sabugal

D. Luisa Coutinho

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

D. Clara de Assis Mascarenhas

D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C. Óbidos

D. Vasco Mascarenhas,

D. Joana Francisca de Vilhena

D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4.a C. Sabugal

D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma

D. Joana de Castro

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. Nuno Mascarenhas

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Francisco Mascarenhas

D. Margarida de Vilhena

D. João Mascarenhas

D. Maria da Costa

D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C. Sabugal

D. Luisa Coutinho

D. Nuno Mascarenhas

Isabel de Castro

D. João Mascarenhas

D. Maria da Costa

1.° C. Óbidos

Pág. 53

Page 212: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Aveiras • •

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

D. Duarte Rodrigo da Camara

D. Francisco da Silva Telo e Menezes, 6.° C. Aveiras • • »

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande •

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. V ila Franca

Mécia de Mendonça

D. Maria Coutinho

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise

João da Silva Telo de Menezes, 3.° C. Aveiras

Inês Joaquina da Silva, 5.a C. Aveiras • •

Luis da Silva Telo e Menezes, 4.° C. Aveiras • •

Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras

D. Juliana de Noronha

D. Joana Inês de Portugal • •

D. João da Costa, 1.° C. de Soure

D. Francisca de Noronha

Maria Inácia de Tavora

Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor

Inês Catarina de Tavora

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 2.° C. V ila Franca

Leonor Enriquez de Villena

D. Francisco da Gama, 4.° C. Vidigueira •Leonor Coutinho

João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras

Maria de Castro

D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais •

D. Maria de Portugal

Pág. 54

Page 213: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes da BobadelaRetrato puritano

Gomes Freire de Andrade, 3.° C. Bobadela — t • •

• • • • • •

José António Freire de Andrade, 2.° C. Bobadelato

Bernardim Freire de Andrade

Manuel Freire de Andrade

Joana de Brito

Joana Vicência de Menezes

Ambrósio Pereira de Berredo

D. João de Almeida •to

D. Antónia Xavier de Lencastre de Almeida e Bourbon '•••< •

D. Fernando de Almeida e Silva

Joana Cecília de Noronha • •

Isabel Teresa de Lancastre Baena Sanches de Farinha

Rodrigo Sanches Farinha e Baena

Bernardim Freire de Andrade

Luisa de Faria

Maria Lobo da Silveira

Henrique Pereira de Berredo

D. Maria de Menezes

Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias

Ângela Maria da Silveira

D. António de Almeida, 2.° C. Avintes • •

D. Maria Antónia de Bourbon

Fernando Jaques da Silva

Sebastiana de Noronha Lobo • •

Pedro Sanches de Farinha

D. Luís de Almeida, 1.° C. Avintes

D. Isabel de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Henrique Jacques Silva

Isabel Moniz Pereira

António Lobo de Saldanha

Joana Maria de Alcáçova

Luisa Baena

Mariana Josefa Benta de Lancastre

Manuel de Vasconcelos e Sousa

Isabel de Sousa Coutinho

João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor

Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara

Diogo de Brito Coutinho

Ana de Sousa de Lima

Pág. 55

Page 214: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

D. Francisco Xavier de Menezes da Silveira e Castro, 1.° C. Caparica •

Casa dos condes de Caparica

D. José de Menezes da Silveira de Castro e Tavora

D. Diogo Menezes de Tavora

D. José de Menezes de Tavora

Brites Francisca de Mendoça

Maria Bárbara Josefa Breyner

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. João de Menezes

Madalena de Tavora

Luis Francisco de Oliveira e Miranda

Luisa de Tavora

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

Luísa Gonzaga de Rappach

Pág. 56

Page 215: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritano

D. Francisco Mascarenhas, 3.° C. Coculim • •

D. Joaquim Mascarenhas, 4.° C. • •

Casa dos condes de Coculim

D. Francisco Mascarenhas, 1.° C. Coculim • •

D. Filipe Mascarenhas, 2.° C. Coculim • •

D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira • •

D. Madalena de Castro

D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre • •

D. Maria de Noronha

D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião

D. Joana de Castro •

D. Vasco Luis da Gama, 1.° M. Niza

D. Maria Josefa de Noronha • •

D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza

D. Catarina Úrsula de Lancastre

D. Luis da Silveira, 2. C. Sarzedas

D. Teresa Madalena de Lancastre • • •

D. Luis de Lancastre, 4.° C. V ila Nova • • •

Madalena de Noronha

Mariana da Silva e Lancastre

D. Pedro de Lancastre, 2.° C. Figueiró • •

D. Madalena Lancastre

• •

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

D. Helena da Silveira e Noronha • •

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

João Gomes da Silva

D. Joana de Tavora

Inês de Noronha

D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre • •

D. Maria de Noronha

Pág. 57

Page 216: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes da Cunha/ Trinchantes da Casa Real• • •

D. José Vasques Álvares da Cunha, 2.° C. Cunha • • •

D. Pedro Álvares da Cunha, Trinchante

D. Maria Teresa de Vilhena

D. António Álvares da Cunha, Trinchante

D. Maria Manoel de Vilhena

D. Lourenço da Cunha

Isabel de Aragão

D. Pedro da Cunha

Maria da Silva

Fradique Carneiro

Melícia Pais

D. Cristovão Manoel de Vilhena

D. Francisco Manoel de Vilhena

Joana de Faria

D. António de Menezes

D. António de Menezes

Mariana da Silva

Antónia Madalena de Vilhena

Pedro Jaques de Magalhães, 1.° V. Fonte Arcada

Maria V icência de Vilhena

Beatriz da Silva de Menezes

Gaspar Gil Severim

Juliana de Faria

D. António de Menezes Sotomaior

D. Cecília de Mendonça

Gonçalo Gomes da Silva

Francisca da Silva

Henrique Jaques de Magalhães

Violante de Vilhena

António Correia Baharem

Antónia Henriques

D. Aires da Cunha

Maior Afonso

Rui Pereira da Silva

Isabel da Silva

Luís Carneiro

D. Leonor de Aragão •Francisco Pais

Isabel Ferreira

D. Cristovão Manoel de Vilhena

Francisca de Castro

Manuel de Abreu Pessanha

D. Filipa da Silva

Pág. 58

Page 217: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes da Ega• • • •

Aires de Saldanha Albuquerque e Castro • • •

Manuel de Saldanha de Albuquerque e Castro, 1.° C. Ega

• • •

Aires José Maria de Saldanha de Albuquerque Coutinho Matos e Noronha, 2.° C. Ega

D. Ana Ludovina de Almada Portugal

João de Saldanha de Albuquerque • • •

Aires de Saldanha de Albuquerque

Isabel da Silva

D. Catarina de Noronha

D. Pedro Coutinho

Mariana de Noronha

D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz

D. Maria Leonor de Lancastre e Moscoso

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

Teresa de Moscoso Osório

D. Luis José de Almada, 2.° Mestre-sala

D. Violante de Portugal

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala

D. Catarina Henriques

D. Luis de Almeida, o Manteigas

Maria Josefa de Melo Côrte-Real

D. Luis de Almada

D. Luisa de Menezes •

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

Dinis de Melo e Castro,

Ângela Maria da Silveira

Retrato puritano

António de Saldanha

D. Joana da Silva

Luis de Saldanha • •Maria da Silva

D. Álvaro Coutinho

Joana da Silva

António de Matos de Noronha

Catarina da Silva

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia •D. Maria de Lancastre

Pág. 59

Page 218: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Ficalho

António José de Mello Breyner e Meneses

Francisco José de Mello Breyner Teles da Silva, 2.° C. Ficalho

Francisco José de Melo

António Teles da Silva

Teresa Josefa Tavora de Melo

D. Isabel Josefa de Breyner e Menezes, 1.a C. Ficalho

D. Diogo Menezes de Tavora

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

Francisco de Melo

D. Inês Tomásia de Tavora

D. José de Menezes de Tavora

Brites Francisca de Mendoça

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Pedro de Melo

Teresa Maria de Mendonça

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira •

Henrique de Sousa Tavares da S il^ , 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Maria Bárbara Josefá Breyner

D. Maria Margarida Josefa Xaver de Lima

D. Tomás Xaver de Lima Nogueira Teles da Silva, 1.° M. Ponte de Lima

D. Tomás Teles da Silva

Fernando Teles da S il^ , 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Maria Xaver de Lima e Hohenlohe, 12.a V. Vila Nova de Cerveira

Eugénia Maria Josefa de Bragança

Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete

Maria Josefa deMenez es

D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira, 11.° V. Vila Nova de Cerveira

Maria Ana Teresa de Hohenlohe

Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete

D. Eugénia Rosa de Lorena

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V. Vila N o ^ de Cernira

D. Vitória de Bourbon

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Pág. 60

Page 219: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes das Galveias

D. João de Almeida de Melo e Castro, 5.° C. Galveias

D. António José de Almeida Beja e Noronha

D. João Teotónio de Almeida Portugal

D. Teresa Antónia de Melo Castro e Beja

Violante Joaquina de Melo e Castro

D. Luis de Almeida, o Manteigas

Maria Josefa de Melo Côrte-Real

D. António Luis de Beja e Noronha

Isabel Coelho e Castro

Francisco de Melo e Castro, o Encamisado

Maria Joaquina Xavier da Silva

André de Melo e Castro, 4.° C. Galveias

Manuel da Silva Pereira

Micaela Antónia da Silva

N

Retrato puritano

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

Dinis de Melo e Castro,1.° C. Galveias •

Ângela Maria da Silveira

Egas Coelho da Cunha

Vicência da Silva

Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias

Ângela Maria da Silveira

Pág. 61

Page 220: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes da Lousã• • •

D. Rodrigo de Lancastre • •

D. Luis António de Lancastre Basto Baharem, 2.° C. Lousã

D. João de Lancastre, 1.° C. Lousã

D. João de Lancastre

D. Maria Teresa Antónia de Portugal • •

João Correia de Lacerda

Isabel Francisca Xavier de Castro

Luisa Catarina Fontoura

Mariana Joaquina de Basto Baharem

Luis António de Basto Baharem

António de Basto Pereira

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

D. Pedro de Almeida • •

Luisa Antónia de Portugal

Francisco Correia de Lacerda

Isabel Maria de Castro

Diogo Carneiro Fontoura

Catarina de Fontoura

Luis Gomes de Basto

Bernardina de Torres de

António Correia Baharem

D. Lourenço de Lancastre •Inês de Noronha

João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras

Maria de Castro

Miguel de Quadros e Tavora

Catarina de Portugal

Manuel Correia de Lacerda

D. Francisca de Aragão •António Gonçalves da Camara

Maria de Castro

Paula Maria de Alcáçovas Baharem

D. Violante Josefa de Portugal

D. João Teotónio de Almeida Portugal

D. Teresa Antónia de Melo Castro e Beja

Maria de Brito

D. Luis de Almeida, o Manteigas

Maria Josefa de Melo Côrte-Real

D. António Luis de Beja e Noronha

Isabel Coelho e Castro

Jerónimo Correia Baharem

D. Maria de Alcáçova Carneiro

Miguel de Vasconcelos

Catarina Lobo

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias

Ângela Maria da Silveira

Pág. 62

Page 221: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes de Lumiares e Ilha do Príncipe

• • • • • •

Bernardo de Tavora de V asconcelos e Sousa

José Francisco Portugal da Gama e Vasconcelos

H. Maria do Resgate Carneiro Portugal da Gam a Vasconcelos Sousa Faro, 3.a C. Lumiares

Luis José de Portugal da G am a e Vasconcelos

D. Maria Madalena de Portugal

Luis de Vasconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo Melhor

Guiom ar de Tavora Sousa Faro e Veiga

D. Luis de Portugal

D. Inácia Agostinha Xavier de Rohan

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande

Constança Emília, Princesa de Rohan- Soubise

A ntónio Carneiro de Sousa, 3.° C. Ilha do Príncipe

Carlos Carneiro de Sousa e Faro, 5.° C. Ilha do Principe, 1.° C. Lumiares • •••

H. Madalena Gertrudes Carneiro de Sousa e Faro, 2.a C. Lumiares

D. Madalena de Lancastre

A na V icência de Noronha

Caetano de Melo e Castro

Mariana de Faro

D. Inês da Silva

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

Mécia de Mendoça

João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Caste lo Melhor

Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara

Bernardim de Távora e Sousa, R.P.

D. Leonor Mascarenhas

D. Paulo da Gama

D. Maria de Portugal

D. Diogo de Alm eida

D. Luisa Maria da Silva

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca

D. Maria Coutinho

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

Francisco Carneiro de Sousa, 2.° C. Ilha do Príncipe

D. E u fá s ia Filipa de Lima

D. Carlos de Noronha, 2.° C. Valadares

Maria Teresa de Lancastre

Manuel de Melo e Castro

Francisca Madalena de Castro

Francisco Carneiro de Sousa, 2.° C. Ilha do Príncipe

D. E u fá s ia Filipa de Lima

Luis Carneiro de Sousa, 1.° C. Ilha do Príncipe

D. Mariana de Faro e Sousa ••D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas

D. E u fá s ia Filipa de Noronha •••

D. Miguel Luis de Menezes, 1.° C. Valadares

D. Madalena Maria de Lancastre e Abranches

Luis da Cunha A taíde

D. Guiom ar de Lancastre

António de Melo e Castro

Luis Carneiro de Sousa, 1.° C. Ilha do Príncipe

D. Mariana de Faro e Sousa ••D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas

D. E u fá s ia Filipa de Noronha •••

Pág. 63

Page 222: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de S. Lourenço e Sabugosa/ Alferes-mores• • •

D. António Maria de Melo da Silva César de Menezes, 7.° C. S. Lourenço

D. João José Ausberto de Noronha

D. António de Noronha, 2.° M. Angeja

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

Luisa Josefa de Menezes

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. António de Noronha, 1.° C. V ila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Ana de Melo da Silva César de Menezes, 6.a S. Lourenço

Rodrigo de Melo da Silva, 5.° C. S. Lourenço

Luis de Melo da Silva, 3.° C. S. Lourenço

Filipa de Faro

H. Mariana Rosa de Lancastre, 3. a C. Sabugosa

Vasco Fernandes César, 1.° C. Sabugosa

D. Juliana Francisca de Lancastre

Martim Afonso de Melo

Madalena da Silva, 2.a C. São Lourenço

Bernardim de Távora e Sousa, R.P.

D. Leonor Mascarenhas

Luis César de Menezes, Alféres-mor

D. Mariana de Lancastre

D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz

Teresa de Moscoso Osório

Isabel de Castro

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Luisa de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

António de Melo

Margarida da Silva

Pedro da Silva, 1.° C. São Lourenço

Luisa da Silva Pereira

D. Estevão de Faro, 2.° C. Faro

D. Guiomar de Castro

Vasco Fernandes César de Menezes, Alféres-mor

OD. Maria Madalena de Lancastre

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

Pág. 64

Page 223: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes de S. Miguel

• • • • • • •

Álva ro José Xavier Bote lho, 4 .° C. S. M igue l ••••••

F ernando Xavier Bo te lho

de Tavora, 5.° C. S.

M iguel •• ••••

Á lva ro Jorge Bo te lho de S o usa e M enezes

N oronha C orre ia de Lacerda, 6 .° C. S.

M iguel

Tom ás Jo sé B o te lh o de

Tavora, 3 .° S. M igue l

Juliana Xavier de La ncastre

Á lvaro José B o te lh o de

Tavora, 2 .° S. M igue l

D. A n tó n ia Lu isa de Bourbon

Fernão Te les de

M en eze s e C astro , 3.° C. U nhão

D. M aria de La ncastre

D. Lu isa do P ila r de

N oronha

D. T om ás de N oronha,

3 .° C. A rco s

D. M ada lena Bruna de

C astro

A n a Isabel de Portugal C orre ia de Lacerda

C oronel de S á e M enezes

M anue l Joaquim C orreia

de Lacerda

Luís F ran c isco C orreia

de Lacerda

D. João de A lm e id a , 2.° • •

D. Isabel de C astro #€)#

M anuel C orre ia de

Lacerda

Luísa M aria A n tó n ia de

Portugal C oronel de S á e

Isabel F ran c isca Xavier

João C orre ia de Lacerda

Luísa C a ta rin a Fon toura

Bernarda G a brie la de

V ilh e n a e S ousa

Rui (ou R odrigo) de

S o usa da Silva A lco forado

Isabel F ran c isca Lobera

e S ilva

F ran c isco de S o usa da

A n tó n ia G a brie la de A lm e id a

Jerónim o B randão da

P a tron ilha de A n drad e e

F ran c isco N un o Á lvares

Bote lho, 1.° S . M iguel

C ecília de Tavora

D. T om ás de N oronha,

3.° C. A rco s

D. M ada lena de B rito e Bourbon

Rodrigo Te les de M enezes, 2 .° C. U nhão •••

D. Joana Lu isa de La ncastre

D. M artinh o M asca re nh as , 4 .° C.

S an ta Cruz

Juliana de La ncastre

D. Pedro de A lm e id a , 1.°C. A s s u m a r

D. M arga rida A n d ré de

N oronha•O#D. João M asca re nh as ,

1.° M . Fronte ira •••D. M ada lena de C as tro

F ran c isco C orre ia de

Lacerda

Isabel M aria de C astro

Luís G o m e s C oronel de

S á e M enezes

D. M aria de Portugal ••Fran c isco C orre ia de

Lacerda ••Isabel M aria de C astro

D iogo C arne iro Fontoura

C ata rina de Fontoura

Rodrigo (ou Rui) de S o usa da Silva

A lco forado

H elena da S ilva de Seabra

M anue l de S o u sa de A lm e id a

V io la n te E n g rá c ia de S á

M igue l B randão da Silva

Isabel de M adureira

Pedro M arinho de Lobera

B en ita de A ndrad e S o to m a yor

Pág. 65

Page 224: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Óbidos, Palma e Sabugal

D. José Maria de A ssis Mascarenhas, 4.° C. Óbidos

D. Manuel Mascarenhas, 3.° C.Óbidos

D. Fernando Martins M ascarenhas, 2.° C. Óbidos

D. V asco Mascarenhas, 1.° C . Óbidos

D. Joana Francisca de Vilhena

D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4.a C. Sabugal, 3.a C. Palma

D. João Mascarenhas Castelo-Branco da C osta , 2.° C . Palma

D. Joana de Castro

D. João Mascarenhas

D. Beatriz M ascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Francisco Mascarenhas

D. Margarida de V ilhena

D. F rancisco de Castelo- Branco, 2.° C . Sabugal

D. Luisa Coutinho

Helena Josefa de M enezes

Fernão Teles da Silva, 4.° M. A legrete

Maria Josefa de M enezes

Manuel Teles da Silva, 3.° M. A legrete

Fernando Teles da Silva, 2.° M. A legrete

D. Helena de Noronha

D. Eugénia Rosa de

João G om es da Silva

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

Manuel Teles da Silva, 1.° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Joana Rosa de M enezes, 4.a C . Tarouca

D. Estevão de Menezes

D. H e lena d e N o ronha

Manuel Teles da Silva, 1.° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. F rancisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana P im ente l

Fernão Teles de M enezes, 1.° C . V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de M enezes, 3.a C. Sabugal

D. Duarte Luis de M enezes, 3.° C . Tarouca

D. Luisa de Castro

D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Pág. 66

Page 225: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Manuel José de Mata de Sousa Coutinho, 1.° C. Penafiel • • • • • •

Retrato puritanoCasa dos condes de Penafiel/ Correios-mores

• • • • •

José António da Mata de Sousa Coutinho, Correio- mór •• •

Luis Vitório de Sousa Coutinho da Mata, Correio-mór

Duarte de Sousa Coutinho da Mata

Isabella Caffaro

João Gonçalves da Camara Coutinho, Almotacé-mór

Joana Catarina de Menezes

Luís Gomes da Mata, Correio-mór

Violante de Castro

João Gomes da Mata Coronel, Correio-mór

Filipa Barbosa

Lopo de Sousa Coutinho

D. Joana de Castro

António Luis Coutinho da Camara, Almotacé-mór

Ambrósio de Aguiar Coutinho

Filipa de Menezes

Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras

D. Luisa de Menezes

Constança de Portugal ••

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala

D. Catarina Henriques

D. Joana Inês de Portugal

D. Luis de Almada

D. Luisa de Menezes

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

D. Luis José da Camara Coutinho • ••

D. Catarina da Camara

D. Gastão José da Câmara Coutinho

D. Luis Gonçalves da Câmara

Isabel de Noronha

D. Francisco Gonçalves da Câmara

D. Filipa Coutinho

Diogo de Saldanha de Sande

D. Catarina Pereira

D. Maria Benta de Noronha • •

D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assumar

Isabel Maria de Mendoça e Moura

Nuno Manuel de Mendoça, 4.° C. Vale de Reis

D. Leonor de Maria Antónia de Noronha

D. Margarida André de Noronha

Lourenço de Mendoça e Moura, 3.° C. Vale de Reis •

Maria Madalena de Mendonça

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isa be l M aria A n tó n ia de

M e n d o n ça

D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre

D. Maria de Noronha •Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis •

Luisa de Castro e Moura

Manuel de Sousa da Silva e Menezes

Joana Francisca de Mendonça

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D . M aria n a de C a s tro

Pág. 67

Page 226: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Pombeiro• • • • • • • •

D. António Joaquim Caste lo-Branco Correia e Cunha, 5.° C. Pombeiro ••O

D. Maria Rita de Castelo Branco Correia da Cunha, 6.a C. Pombeiro

D. Luis de Castelo- Branco e Cunha, 4.° C. Pombeiro

D. António de Castelo- Branco e Cunha, 2.° C. Pombeiro

D. Pedro de Castelo- Branco da Cunha, 1.° C. Pombeiro

Luísa Ponce de Leão

Luis de Melo da Silva, 3.° C. S. Lourenço

D. António de Castelo- Branco da Cunha

Leonor Maria de Faro

D. Pelágia Teresa Agostinho de A lm ada

D. Francisco José de A lm ada

Guiom ar Francisca de Vasconcelos e Sousa

D. Bernardo de Noronha

Maria Antónia de Alm ada

Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Camara Faro e Veiga, 5.° C. Calheta

Emília de Rohan

Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° C. Unhão

D. Ana V itó ria Xavier Teles

João Xavier Fernão Teles de M enezes, 5.° C. Unhão

Rodrigo Xavier Teles de Menezes Castro e Silveira, 4.° C. Unhão

V itó ria de Távora

D. Maria Josefa da Gama, 4.a M. Niza

D. V a sco José Luís da Gama, 3.° M. Niza

D. Bárbara Isabel de Lara

D. Maria de Lancastre

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. V icente

D. Francisco Luís Ba ltazar da Gama, 2.° M. Niza

D. Brites de V ilhena

D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais

D. Maria Joana Coutinho

Martim Alonso de Melo

Madalena da Silva, 2.a C. São Lourenço

Bernardim de Távora e Sousa, R.P.

D. Leonor Mascarenhas

D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Cristovão de A lm ada

D. Filipa Maria de Melo

Luis de Vasconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo Melhor

Guiom ar de Tavora Sousa Faro e Veiga

Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão •••D. Joana Luisa de Lancastre

D. Martinho M ascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

A ntónio Luis de Tavora, 2.° C.

D. Arcângela Maria de Portugal

João Nunes da Cunha,

D. Isabel de Bourbon

D. V asco Luis da Gama, 1.° M. Niza

Inês de Noronha

D. V asco Mascarenhas, 1.° C.

D. Joana Francisca de Vilhena

D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais

D. Bárbara Estefânia de Lara

D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva •D. Catarina Coutinho

1.° C

Pág. 68

Page 227: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes da Ponte/ [marquês de Sande]

• • • • • • •

João de Saldanha da Gam a•mm

Manuel de Saldanha da Gam a • • • • •

João de Saldanha da Gam a Melo Torres Guedes Brito, 6.° C. •€>••••••

Joana Bernarda de Noronha e Lancastre • •

Lourenço Gonçalves da Camara Coutinho, A lm .M.• I

Francisca Joana Josefa da Camara • • •

D. Leonor Josefa d Tavora • •

Luis de Saldanha da Gam a • • •

Madalena Cazem ira de Mendonça de Mello e Torres

Luis César de M enezes, Alf.M .

João de Saldanha da Gam a • • •Margarida de Vilhena

F rancisco de Melo e Torres, 1 .° M . Sande

Leonor de Mendonça

V asco Fernandes César de Menezes, A lféres-m or

D . Maria M adalena de Lancastre

D. Mariana de Lancastre

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

João Gonçalves da Camara Coutinho, A lm otacé-m ór

António Luis Coutinho da Camara, A lm otacé-m ór

D. Luisa de Menezes

D. Luis José de Almada, 2.° M estre-sala

C onstança de P ortugal • •

D. Lourenço de A lm ada, 1 .° M estre-sala

D. Catarina Henriques

D. Lourenço de A lm ada, 1 .° M estre-sala

D. Catarina Henriques

Tristão António da Cunha

Francisca Josefa de Tavora

Leonor Tom ásia de

D. Lourenço de Lancastre

Inês de Noronha

João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras

Maria de Castro

A m brósio de Aguiar Coutinho

F ilipa de Menezes

Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras

D. Joana Inês de Portugal

D. Luis de A lmada

D. Luisa de Menezes

D. João de A lm eida

D. V io lante Henriques

D. Luis de A lmada

D. Luisa de Menezes •

D. João de A lm eida

D. V io lante Henriques

M anuel da Cunha

F rancisca Joana de Albuquerque

Luis Álvares de Tavora, 1.° M . Tavora

D. Maria Inácia deMenezes

Pág. 69

Page 228: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Povolide• • • •

Tristão da Cunha Ataíde,1 .° C. Povolide

Luis Vasques da Cunha Ataíde, 2.° C. Povolide

José da Cunha Grã Ataíde e Melo, 3.° C. Povolide

Luis José da Cunha Grã Ataíde e Melo, 4.° C. Povolide

Arcângela Maria de Vilhena

Luis da Cunha Ataíde

D. Guiom ar de Lancastre

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2 a C. S. V icente

D. Carlos de Noronha,2.° C. Valadares

D. Miguel Luis de M enezes, 3.° C. Valadares

D. Helena de Caste lo Branco

Maria de Caste lo-Branco

Maria Teresa de Lancastre

Fernando Teles da Silva,2.° M. A legrete

D. Helena de Noronha

D. Francisco da Silva Telo e M enezes, 6.° C. Aveiras

D. Maria R oberta da Silva Telo de Menezes

D. Duarte R odrigo da Camara

Inês Joaquina da Silva, 5.a C. Aveiras

D. Bárbara Josefa Maria Xavier da Gama

Nuno da Silva Teles

D. Maria Josefa da Gama, 4 a M. Niza

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande

C onstança Emília, p rincesa de Rohan- Soubise

Luis da Silva Telo e M enezes, 4.° C. Aveiras

Maria Inácia de Tavora

Manuel Teles da Silva,3.° M. A legrete

D. Eugénia Rosa de Lorena

D. V asco José Luís da G ama, 3.° M. Niza

D. Bárbara Isabel de Lara

Tristão da Cunha e Ataíde

Antónia de Vasconcelos

D. Álvaro Coutinho da Camara

D. Maria de Lancastre

A n tón io Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcânge la Maria de Portugal

João Nunes da Cunha, 1.° C. São V icente

D. Isabel de Bourbon

D. M iguel Luis de M enezes, 1.° C. Valadares

D. Madalena Maria de Lancastre e Abranches

Luis da Cunha A taíde

D. Guiom ar de Lancastre

Manuel Teles da Silva,1.° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Tom ás de Noronha,3.° C. A rcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande

M écia de M endonça

João da Silva Telo de M enezes, 3.° C. Aveiras

D. Juliana de Noronha

Francisco de Tavora, 1 °C. Alvor

Inês Catarina de Tavora

Fernando Teles da Silva,2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza

D. Brites de Vilhena

D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais

D. Maria Joana Coutinho

Pág. 70

Page 229: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes de Redondo• • •

Retrato puritano

Tom é de Sousa

Tom é de Sousa C outinho Castelo-B ranco e Menezes, 11.° C. Redondo • •

D. Fernando de S ousa Coutinho C astelo-B ranco e Menezes, 12.° C. Redondo

D. Tom é Xavier de S ousa C outinho de Castelo- Branco e Menezes, 13.° • • •

D. Madalena Inês V icência de V ilhena

D. Maria Antónia da Conce ição Breyner de M enezes •

D. Fernão de S ousa de C astelo-B ranco Coutinho e Menezes, 10.° C. Redondo

D. F ranc isca de M enezes

D. Luisa S im oa de Portugal

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas

D. Maria A ntón ia de V asconce los e Menezes

D. Jerónim o de Ataíde, 9.° C. A touguia

D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. A touguia

D. Margarida de V ilhena

M ariana Teresa de Tavora

António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora

D. José de M enezes de Tavora

D. Diogo M enezes de Tavora

Brites F ranc isca de Mendoça

Leonor Teresa Rosa de Sousa

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira

Henrique de S ousa Tavares da Silva, 1.° M. A rronches

D. M ariana de Castro

Fernão de Sousa

D. Maria de Castro

D. João de Castelo- B ranco

D. Cecília de M enezes Coutinho

Luis Lobo da Silveira

D. Joana de Lima

Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares

D. Inácia de M enezes e V asconcelos

D. Jerónim o de Ataíde, 6.° C. A touguia

D. Leonor Maria de M enezes

D. João M ascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. San ta Cruz

Luis Á lvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de M enezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. M ariana de Castro

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António M ascarenhas

Isabel de Castro

Maria Barbara Josefa B reyner

Pág. 71

Page 230: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Resende/ almirantes• • • •

D. António José de Castro, 1.° C. Resende • • • •

D. José Luis de Castro, 2.° C. Resende • • • • •

D. Luís Inocêncio de Castro, A lmirante

• •

Joana Cecília de Lancastre

Manuel Carlos de Tavora, 4.° C.

Teresa Xavier da Cunha e Tavora

D. Isabel de Noronha

D. Francisco de Castro, A lmirante

• •

D. João de Castro, A lmirante • •

D. Mariana de Lancastre • •

Francisca Josefa de Vilhena

Cristóvão de Melo

Mécia de Vilhena

Pedro de Vasconcelos e Sousa

Simão de Vasconcelos e Sousa

Joana de Tavora

Mariana de Lancastre

Luis de Vasconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo Melhor

Guiomar de Tavora Sousa Faro e Veiga

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente

D. Marcos de Noronha, 4.° C.

Maria Josefa de Tavora

D. Simão de Castro

D. Bernarda de Menezes •

D. Francisco Luis de Lancastre •Filipa de Mendonça

Luis de Melo

D. Guiomar Coutinho

Lourenço Pires de Carvalho •Madalena de Vilhena

João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor •

Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara •

João Gomes da Silva

D. Joana de Tavora

João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor •

Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara •Bernardim de Távora e Sousa, R.P.

D. Leonor Mascarenhas

Pág. 72

Page 231: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes da Ribeira Grande e Vila Franca

D. Lu is M anue l da C am ara, 3 .° C. R ibe ira

G rande •D. G u id o A u g u s to da C am ara e A ta íde , 5 .° C.

R ibe ira G rande ••

D. Lu is A n tó n io Jo sé

M aria da C am ara , 6 .° C . R ibe ira G rande ••

D. Jo sé R odrigo da C am ara , 2 .° C . R ibe ira

G rande •

C on s tan ça E m ília de

Rohan

D. M an ue l Luis B a lta za r

da C am ara , 1 .° C .

R ibe ira G rande •

M éc ia de M endoça

D. R odrigo da C am ara ,

3.° C. V ila F ranca

D. M aria C ou tinho

D iogo Lopes de S o u sa , 2 .° C . M iranda

D. Leonor de M endoça

D. Jerón im o de A taíde,

9 .° C. A to u g u ia

D. Leonor T eresa M aria de A ta íd e de M en eze s

M ariana Teresa de Tavora

D. Jo sé d a C am ara , 4 .°

C . R ibe ira G rande ••

D. Joana T om ás ia da

C am ara

D. Lu is M an ue l da C am ara , 3 .° C . R ibe ira

G rande

D. Leonor T eresa M aria

de A ta íd e de M en eze s

B ernardo A n tó n io F ilipe

N eri de T avora, 2 .° C . de A lvor

M arga rida F ran c isca de

Lorena

D. Joana de Lorena

D. Lu is P e re g rino de

A taíde, 8 .° C. A to u g u ia

D. M arga rida de V ilhe na

A n tó n io Lu is de Tavora, 2 .° M . de Tavora

Leonor T eresa R osa de S o usa

D. José R odrigo da

C am ara , 2 .° C . R ibe ira G rande

C on s tan ça E m ília de

Rohan

D. Jerón im o de A ta íde ,

9.° C . A to u g u ia

M ariana Teresa de

Tavora

F ran c isco de Tavora, 1 °

C . A lvor

Inês C ata rina de Tavora

D. N un o Á lva res P e re ira de M e lo , 1 .° D . Cadaval

M arga rida de Lorena

D. Jerón im o de A taíde,

6 .° C . A to u g u ia

D. Leonor M aria de

M enezes

D. João M asca re nh as

D. B e a triz de M en eze s , 3.a C . S a bu ga l

Luis Á lva res de Tavora, 1 .° M . Tavora

D. M aria In á c ia de M enezes

H enrique de S o usa

Tavares da S ilva , 1 .° M . A rron che s

D. M ariana de C astro

D. M an ue l Luis B a lta za r da C am ara , 1 .° C .

R ibe ira G rande

M éc ia de M endoça

D. Lu is P e re g rino de

Ataíde, 8 .° C. A to u g u ia

D. M arga rida de V ilhe na

A n tó n io Lu is de Tavora,

2 .° M . de Tavora

Leonor T eresa R osa de

S o usa

A n tó n io Lu is de Tavora,

2.° C. S ã o João da Pesqueira

D. A rcâ n g e la M aria de

Portugal

Luis Á lva res de Tavora, 1 .° M . Tavora

D. M aria In á c ia de

M enezes

D. F ran c isco de M elo , 3.° M . Ferreira

Joana P im en te l

Pág. 73

Page 232: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

António de São Paio Melo e Castro Moniz Torres de Lusignan, 1.° C. São Paio • • • • • • •

Casa dos condes de São Paio• • • • • •

Francisco José de Sampaio e Castro • • • •

Manuel António de São Paio • • •

Joana Antónia de Tavora

Manuel António de São Paio

Francisco de São Paio

Leonor de Torres e Lusignan

D. Jerónima de Bourbon • •

D. António de Almeida, 2.° C. Avntes • •

D. Maria Antónia de Bourbon

João de Saldanha de Sousa

Inês Antónia de Tavora

D. Luís de Almeida, 1.°C. Avntes • •

D. Isabel de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Manuel de São Paio

Filipa de Castro •

Febo Moniz de Torres e Lusignan • • •

Filipa Coutinho

Fernão de Saldanha

D. Joana de Noronha •Luis Francisco de Oliveira e Miranda

Luisa de Tavora

D. Luís de Almeida Portugal, 3.° C. A vntes • •

D. Vitória Josefa de Bourbon

D. António de Almeida, 2.° C. Avntes • •

D. Maria Antónia de Bourbon

D. Joana Josefa Antónia de Lima

D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Vitória de Bourbon

D. Luís de Almeida, 1.°C. Avntes • •

D. Isabel de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7.° V.

D. Joana de Vasconcelos

D. Tomás de Noronha,3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Pág. 74

Page 233: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos condes de Sabugosa/ Alferes-mores• •

H. Mariana Rosa de Lancastre, 3.a C. Sabugosa

Vasco Fernandes César de Menezes, A lféres-mor

Vasco Fernandes César, 1.° C. Sabugosa

Luis César de Menezes, A lféres-mor

Luis César de Menezes, Alféres-mor

D. Mariana de Lancastre

D. Maria Madalena de Lancastre

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

Vicência Henriques

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. Juliana Francisca de Lancastre

D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz

Juliana de Lancastre

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Manrique de Silva, 1 .° M. Gouveia

D. Maria de Lancastre

Teresa de Moscoso Osório

Retrato puritano

Vasco Fernandes César

D. Ana de Menezes

Manuel de Melo, Monteiro-mor

Guiomar Henriques

Pág. 75

Page 234: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Sandomil

Luis José Xavier de M iranda Henriques M ascarenhas, 3.° C. Sandom il

Fernando X aver de M iranda Henriques, 2.° C. Sandom il

Luis de M iranda Henriques

Fernão de M iranda Henriques

Helena M anoel de M endonça

M adalena de Bourbon

Fernão M ascarenhas

D. Antónia Luisa de Bourbon

S im ão de M iranda Henriques

Lourença Salem a

Pedro de Melo

Teresa M aria de M endonça

Pedro M ascarenhas

Helena Henriques

D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

V io lante Maria Josefa de Melo

A ntón io Teles da Silva

Fernando Teles da Silva, 2.° M. A legrete

D. Helena de Noronha

Teresa Josefa Tavora de Melo

F rancisco de Melo

D. Inês Tom ásia de Tavora

Manuel Teles da Silva, 1.° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Pedro de Melo

Teresa M aria de M endonça

D. Diogo de M enezes

M a ria de O l i^ i r a

Fernão de M iranda Henriques

Maria de Menezes

João Sa lem a

Isabe l Barradas

Francisco de Melo

D. Catarina de Castro

Tristão de M endonça Furtado

Helena M anoel

S im ão M ascarenhas

D. F ilipa de M endonça

Pedro Vaz Côrte-Real

Inês de Noronha

Fernão Teles de M enezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de M endonça

D. Nuno M ascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

F rancisco de Melo

D. Catarina de Castro

Tristão de M endonça Furtado

Helena M anoel

Pág. 76

Page 235: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes de Santiago de Beduído/ Aposentadores-mores

• •

Nuno A le ixo de Sousa da Silva, 4.° C. Santiago

A le ixo de Sousa da Silva e M enezes, 2.° C. Santiago

Lourenço de Sousa M enezes, 1.° C. Santiago

A le ixo de Sousa da Silva e M enezes, 4.° Aposentador-m ór

Lourenço de Sousa da Silva, 3.° Aposentador- mór

D. Luisa de Menezes

Luisa de Tavora

Luís de Miranda Henriques

Joana de Távora

Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis

Luisa Maria de Mendoça e Tavora

Luisa de Castro e Moura

D. Fernando Mascarenhas, 2.° M. Fronteira • •

D. Leonor Maria Josefa de Menezes

D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira

D. Joana Leonor de Toledo e Menezes

D. Madalena de Castro

D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia

D. Leonor Maria de Menezes

Lourenço de Mendoça

D. Maria de Ataíde

Rui de Moura Teles

D. Luisa de Castro

D. Fernando M ascarenhas, 1.° C. Torre • •D. Maria de Noronha

D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião

D. Joana de Castro •

D. Luis de Ataíde, 5.° C. Atouguia

D. Filipa de Vilhena

D. Fernando de Menezes

D. Joana de Toledo da Camara

Manuel de Sousa da Silva, 2.° Aposentador- mór

Ana de Tavora

D. Álvaro de Menezes

D. V iolante de Ataíde

Henrique Henriques de Miranda

Briolanja Henriques

Pedro Guedes

Luisa de Tavora

Nuno de Mendoça, 1.° C. Vale de Reis •G uiom ar da Silva Teles de Menezes

D. Francisco Luis de Noronha e Albuquerque

D. Catarina de V ilhena e Sousa

António de Moura Teles

D. Luisa de Noronha

D. Francisco Rolim de Moura

D. Cecília Henriques

Pág. 77

Page 236: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Sarzedas 1 (ramo principal extinto)

D. Rodrigo da Silveira, 3.° C. Sarzedas

D. Teresa Marcelina da Silveira, 4.a C. Sarzedas

D. Luis da Silveira, 2.° C. Sarzedas

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Mariana da Silva e Lancastre

D. Inácia de Noronha

D. Marcos de Noronha, 4.° C. Arcos

Maria Josefa de Tavora

João Gomes da Silva

Joana de Távora

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

D. Luis Lobo da Silveira

D. Joana de Lima •

D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares

D. Inácia de Menezes e Vasconcelos

Luís da Silva

D. Mariana de Lancastre

D. João de Menezes

Francisca de Tavora

Pág. 78

Page 237: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes de Sarzedas 2 (ramo secundogénito)

• •

Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

Inês Catarina de Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Nuno Gaspar de Tavora

D. Bernardo José Maria da Silveira e Lorena, 5.° C. Sarzedas •••

D. Joana de Lorena

D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 3.° D. Cadaval

Henriqueta de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Luis Baltazar da Silveira

D. Fernando Lobo da Silveira

Joana Maria de Tavora Leitão

D. Brás Baltazar da Silveira • •

D. Maria Inácia da Silveira •••

D. Luisa Bernarda de Menezes • •

D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas

D. Eufrásia Filipa de Noronha•••

Joana Inês Vicência de Menezes • •

Aleixo de Sousa da Silva e Menezes, 2.° C. Santiago

Lourenço de Sousa Menezes, 1.° C. Santiago •

Luisa Maria de Mendoça e Tavora

D. Fernando Mascarenhas, 2.° M. Fronteira • •

D. Leonor Maria Josefa de Menezes • •

D. Joa na L e o n o r de

T o le d o e M e n e ze s

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira

Marta de Vilhena

D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares

D. Inácia de Menezes e Vasconcelos

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas

D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

D. Luis Lobo da Silveira

D. Joana de Lima •

Francisco de Sá de Menezes

Ana de Andrade

Aleixo de Sousa da Silva e Menezes, 4.° Aposentador-mór •

Luisa de Tavora

Nuno de Mendoça, 2.°C. Vale de Reis •

Luisa de Castro e Moura

D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira • •

D. Madalena de Castro •

D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia •

D. L e o n o r M aria de

M e n e ze s

Pág. 79

Page 238: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

D. José António Francisco da Costa, 6.° C. Soure • • •

D. João da Costa, 1.° C. Soure

Casa dos condes de Soure• • •

D. Gil Eanes da Costa, 2.° C. Soure

D. Francisca de Noronha

D. Henrique da Costa Carvalho e Sousa, 4.° C. Soure • • •

D. João da Costa, 3.° C. Soure

• •

Maria Lourenço de Portugal

Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras

Luisa Francisca de Tavora • •

Henrique de Carvalho de Sousa Patalim

Helena de Távora

D. Joana Inês de Portugal

Lourenço Pires de Carvalho •

Madalena de Vilhena

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

D. Antónia Maria de Rohan

D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande •

Mécia de Mendoça

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. V ila Franca

D. Maria Coutinho

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

Constança Emília de Rohan

D. Gil Eanes da Costa

D. Francisca de Vasconcelos

D. Pedro de Noronha e Sousa

Juliana de Noronha

João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras

Maria de Castro

D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais •

D. Maria de Portugal

Pág. 80

Page 239: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes de Valadares

D. Álvaro de Noronha Abranches Castelo Branco, 7.° C. Valadares ••

D. José Luis de Menezes Castelo Branco e Abranches, 6.° C. Valadares

D. Álvaro de Noronha Castelo Branco, 5.° C. Valadares

D. Miguel Luis de Menezes, 3.° C. Valadares

Maria de Castelo-Branco

D. Teresa Josefa de Noronha

D. António de Noronha, 2.° M. Angeja

Luisa Josefa de Menezes

Luisa Josefa Maria Rita Antónia Fausta de Noronha •

D. Pedro José de Noronha Camões, 3.° M. Angeja

D. António de Noronha, 2.° M. Angeja

Luisa Josefa de Menezes

D. Francisca Rita de Menezes

D. Diogo de Noronha

D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Menezes, 3.a M. Marialva

D. Carlos de Noronha, 2.° C. Valadares

Maria Teresa de Lancastre

Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete

D. Helena de Noronha

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabel Maria Antónia de Mendonça

D. Pedro António de Menezes, 2.° M. Marialva

D. Catarina Coutinho

D. Miguel Luis de Menezes, 1.° C. Valadares

D. Madalena Maria de Lancastre e Abranches

Luis da Cunha Ataíde

D. Guiomar de Lancastre

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva

D. Catarina Coutinho

D. Rodrigo de Menezes

D. Guiomar de Menezes

Pág. 81

Page 240: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Miguel Carlos da Cunha da Silveira e Lorena, 7.° C. S. Vicente •

Casa dos condes de S. Vicente

Manuel Carlos da Cunha e Tavora, 6.° C. S. Vicente

Miguel Carlos da Cunha Silveira e Tavora, 5.° C. S. Vicente

Manuel Carlos de Tavora, 4.° C. São Vicente

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. São Vicente

D. Isabel de Noronha

D. Marcos de Noronha, 4.° C. Arcos

Maria Josefa de Tavora

D. Rosa Leonarda de Ataíde

D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. Atouguia

D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia

D. Margarida de Vilhena

Mariana Teresa de Tavora

António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora

Leonor Teresa Rosa de Sousa

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

João Nunes da Cunha, 1.° C. São Vicente

D. Isabel de Bourbon

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes •

D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia

D. Leonor Maria de Menezes

D. João Mascarenhas

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. Luisa Caetana deLorena

D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 3.° D. Cadaval

Henriqueta de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval

Margarida de Lorena

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira

Joana Pimentel

Pág. 82

Page 241: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos condes de Vila Flor/ Copeiros-mores

• • •

Luis Manoel de Sousa e Menezes, 4.° C. Vila Flor •

Antón io Francisco de Paula Manoel de Sousa e M enezes, 5.° C. V ila Flor

António de Sousa Manoel de Menezes Severim de Noronha, 6.° C. V ila Flor

Martim de S ousa de M enezes, 3.° C. de Vila Flor

Maria Antónia da Silva

D. Jorge Henriques

D. Antónia Caetana Henriques

D. M adalena de Bourbon

D. Maria Tom ásia Xavier da Silveira

D. António Inácio Xaver da Silveira

D. Luis B a ltaza r da Silveira

D. Luisa Bernarda de Menezes

Martim de S ousa de Menezes, 3.° C. de Vila Flor •

Mariana Joaquina de Mendoça Severim de Noronha •

Luis de Sousa de M enezes, 4.° Copeiro- mór

D. Maria Ana Manoel de Noronha

Martim Correia de Sá e Benevides Ve lasco , 1.° V. A sseca

D. Ânge la de Melo

D. Henrique Henriques

Maria Luisa de Menezes

D. António de A lm eida, 2.° C. A vn te s • •

D. Maria An tón ia de Bourbon

D. Fernando Lobo da Silveira

Joana Maria de Tavora Leitão

D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas

D. E u fá s ia Filipa de Noronha •••

Luis de Sousa de M enezes, 4.° Copeiro- mór

D. Maria Ana Manoel de Noronha

Tristão da Cunha

Martim de S ousa de Menezes, 3.° Copeiro- m ór

Maria de Sousa Coutinho

D. Sancho Manoel de V ilhena, 1.° C. V ila Flor

Ana de Noronha

Salvador Correia Sá

Joana Catarina Ram irez de Ve lasco

D. Diogo de Alm eida

D. Luisa Maria da Silva

D. Jorge Henriques

Catarina Brandão

Brás Pere ira de Miranda

Juliana (ou Joana) de M enezes

D. Luís de A lm eida, 1.° C. Avintes

D. Isabel de Castro

D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

D. Luis Lobo da Silveira

D. Joana de Lima

Francisco de Sá de M enezes

Ana de Andrade

Luísa Maria de Mendonça

Martim de S ousa de Menezes, 3.° Copeiro- m ór

Maria de Sousa Coutinho

D. Sancho Manoel de V ilhena, 1.° C. V ila Flor

Ana de Noronha

Pedro da Cunha

Helena de M endonça

Joana Luísa deM endonça

Pedro de Melo

Teresa Maria deM endonça

Pág. 83

Page 242: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos condes de Vimieiro• • • • •

D. Sancho de Faro, 2.° C. Vimieiro • •

D. João de Faro e Sousa, 5.° C. Vimieiro

D. Diogo de Faro e Sousa, 3.° C. Vimieiro

D. Maria Josefa de Menezes

D. Teresa Josefa de Mendonça • •

Maria Barbara Josefa Breyner

D. Diogo de Faro e Sousa

Francisca Maria de Menezes

D. Luis Manoel de Tavora, 4.° C. Atalaia • •

D. Sancho de Faro • •

Isabel de Luna y Carcamo

Gaspar de Faria Severim

D. Mariana de Noronha

D. Álvaro Manoel • •

Inês de Lima e Tavora

D. Francisca Leonor de Mendonça

D. Diogo Menezes de Tavora

D. José de Menezes de Tavora

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande •

Mécia de Mendoça

D. Diogo de Menezes

Brites Francisca de Mendoça

Maria de Oliveira

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

D. Francisco de Faro, 1.° C. V imieiro

Mariana de Sousa da Guerra •

D. Pedro Manoel, 2.° C. Atalaia • •D. Maria de Ataíde •

Álvaro Pires de Tavora

D. Maria de Lima

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca

D. Maria Coutinho •

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

Pág. 84

Page 243: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Salvador Correia de Sá Benevides Velasco da Camara, 5.° V. Asseca• momm

Retrato puritanoCasa dos viscondes de Asseca/ Almotacés-mores

Luis José Correia de Sá Velasco e Benevides • •

Diogo Correia de Sá e Benevides Velasco, 3.° V. Asseca

Martim Correia de Sá e Benevides Velasco, 1.° V. Asseca

D. Angela de Melo

Luis César de Menezes, Alféres-morO

Inês Isabel Virgínia da Hungria de Lancastre

D. Mariana de Lancastre

Salvador Correia Sá

Joana Catarina Ramirez de Velasco

D. Diogo de Almeida

D. Luisa Maria da Silva

Vasco Fernandes César de Menezes, Alféres-mor

D. Maria Madalena de Lancastre

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

Luis César de Menezes, Alféres-mor

Vicência Henriques

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Francisca Joana Josefa da Camara

Lourenço Gonçalves da Camara Coutinho, Alm.M.

João Gonçalves da Camara Coutinho, Almotacé-mór

António Luis Coutinho da Camara, Almotacé-mór

Constança de Portugal

D. Luisa de Menezes

D. Leonor Josefa de Tavora

D. Luis José de Almada, 2.° Mestre-sala

Francisca Josefa de Tavora

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala

D. Catarina Henriques

D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala

D. Catarina Henriques

Tristão António da Cunha

Leonor Tomásia de Tavora

Ambrósio de Aguiar Coutinho

Filipa de Menezes

Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras

D. Joana Inês de Portugal • •

D. Luis de Almada

D. Luisa de Menezes

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

D. Luis de Almada

D. Luisa de Menezes •

D. João de Almeida

D. Violante Henriques

Manuel da Cunha

Francisca Joana de Albuquerque

Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora

D. Maria Inácia de Menezes

Pág. 85

Page 244: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos viscondes de Barbacena• • • • •

Luis An tón io Furtado de C astro do Rio de M endonça e Faro, 6.° V. Barbacena

Franc isco V icen te Furtado de C astro do Rio de M endoça, 5 .° V . Barbacena

Luis Xavier Furtado de M endonça, 4.° V . Barbacena

Jorge Furtado de M endonça, 2 .° V . Barbacena

Afonso Furtado de C astro do Rio e M endonça, 1.° V . Barbacena

M aria F ranc isca de Tavora

Jorge Furtado de M endonça

M ariana de V ilhenaO

João Furtado de M endonça

M adalena de Tavora

A na Luísa Hohenlohe

Inês F rancisca Xavier de N oronha

F rancisco Carneiro de S o u sa , 2 .° C . Ilha do Príncipe

D. Eufrásia F ilipa de Lima #0#

M aria An tón ia G ertrudes de M endoça

Nuno M anuel de M endoça , 4.° C . Va le de Reis

Lourenço de M endoça e Moura, 3.° C. Va le de Reis

M aria M adalena de M endonça

D. Leonor de Maria

A n tón ia de Noronha

D. Pedro An tón io de Noronha, 1.° M. Angeja

Isabe l M aria A n tón ia de M endonça

Luis Carneiro de S ousa , 1.° C. Ilha do Príncipe

D. M ariana de Faro e S ousa • •D. F rancisco de S o usa , 1.° M . M inas

D. Eufrásia F ilipa de Noronha • •

Nuno de M endoça, 2.° C . V a le de Reis

Luisa de C astro e Moura

M anuel de S ousa da S ilva e M enezes

Joana F rancisca de M endonça

D. An tón io de Noronha, 1.° C . V ila Verde

D. M aria de M enezes

Henrique de S ousa Tavares da S ilva , 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Diogo Lopes de S o usa , 2.° C . M iranda

D. Leonor de Mendoça

D. An tón io M ascarenhas

Isabel de Castro

Pág. 86

Page 245: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos viscondes de Fonte Arcada

• • •

João António Jaques de Magalhães, 4.° V. Fonte Arcada

António Jaques de Magalhães, 3.° V. Fonte Arcada

João Jaques de Magalhães

D. Antónia Mariana de Noronha • •

D. José de Noronha

Mariana Isabel das Montanhas Ribeiro Soares de Castilho • •

Henrique Jaques de Magalhães

Lourença Henriques

D. Mariana Inácia de Menez es

D. António de Menezes

Pedro Jaques de Magalhães, 1.° V. Fonte Arcada

Luisa Freire de Andrade

João Lobo Brandão

Isabel Henriques de Menezes

D. António de Menezes

Henrique Jaques de Magalhães

Violante de Vilhena

Manuel Dias de Andrade

Brites da Silva

Antónia Madalena de Vilhena

Mariana da Silva

Pedro Jaques de Magalhães, 1.° V . Fonte Arcada

Maria V icência de Vilhena

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

Madalena Bruna de Castro

Joaquim Manuel Ribeiro Soares de Castilho

D. Teresa Bárbara de Menezes • • •

D. João de Almeida, 2.° C. Assum ar

D. Isabel de Castro

Diogo Luis Ribeiro Soares

Isabel Senhorinha de Castro

D. Luis Baltazar da Silveira

D. Luisa Bernarda deMenezes

D. António de Menezes Sotomaior

D. Cecília de Mendonça

Gonçalo Gomes da Silva

Francisca da Silva

Henrique Jaques de Magalhães

Violante de Vilhena

António Correia Baharem

Antónia Henriques

D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assum ar

D. Margarida André de Noronha • •D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira

D. Madalena de Castro

Manuel Ribeiro Soares

Mariana Francisca da Silva

António de Eça de Castro

D. Catarina de Tavora

D. Fernando Lobo da Silveira

Joana Maria de Tavora Leitão

D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas

D. Eufrásia Filipa de Noronha • •

Pág. 87

Page 246: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos viscondes de Mesquitela/ barões da Ilha Grande de Joanes e Mullingar• • • • • • •

A n tó n io de S o u sa de M acedo , 2 .° B. Ilha

G rande de Joanes

M aria Jo sé de S o u sa de

M acedo , 2 .a V. M esq u ite la

Luís de S o u sa de

M acedo , 1 .° V . M esq u ite la

Lu ís G o n ça lo de S o usa

de M acedo , 1 .° B. Ilha G rande de Joanes

M ariana de Távora

C ata rina M arga rida de Tavora

M anue l F e rre ira de E ç a

F ra n c is c a B e n ta de A lm ad a

Joana A n tó n ia de São Pa io e L im a

M anue l A n tó n io de São

Paio

F ra n c is c o J o s é de S a m p a io e C as tro

D. Je ró n im a de Bourbon • •

D. Luís de A lm e id a

Portugal, 3 .° C. A v in tes • •

D. V itó r ia Jose fa de Bourbon ••

D. Joa na Jose fa A n tó n ia

de Lim a

A n tó n io de S o u sa de

M acedo , 1 .° B. M u llinga r

M arianne Le M erc ie r

F ra n c is c o F u rta do de

M endonça

 n ge la Tavares

G reg ório F e rre ira de E ç a

M arga rida Lu isa de V ilh e n a C ou tinho e

A la rcã o

A n tó n io de E ç a de C astro

D. C ata rina de Tavora

M anue l A n tó n io de São

Paio

Joana A n tó n ia de Tavora

D. A n tó n io de A lm eid a,

2.° C. A v in tes ••

D. M aria A n tó n ia de Bourbon

D. A n tó n io de A lm eid a, 2.° C. A v in tes ••

D. M aria A n tó n ia de Bourbon

D. João Fe rna nd es de L im a V a s c o n c e lo s de

B rito e N ogue ira , 10 .° V.

D. V itó ria de Bourbon

G o n ça lo de S o u sa de

M acedo

M arga rida M ore ira

João F u rta do de

M endonça

M adalena de Tavora

V a s c o P ires F a lcã o

M aria Them udo

M anue l M a ch ad o de M iranda

Jerón im a F e rre ira de E ç a

F ra n c is c o de Barros de V a sco n ce lo s

D. P au la de V ilh e n a de A la rcã o

F ra n c is c o de S ã o Pa io

Leonor de T orres e

Lusignan

João de S a lda nh a de S ousa

Inês A n tó n ia de Tavora

D. Luís de A lm e id a , 1.°

C. A v in tes ••D. Isabel de C astro

D. T om ás de N oronha, 3 .° C. A rco s

D. M ada lena de B rito e Bourbon

D. Luís de A lm e id a , 1.°C. A v in tes ••D. Isabel de C astro

D. T om ás de N oronha, 3 .° C. A rco s

D. M ada lena de B rito e Bourbon

D. D iog o de L im a B rito e N ogue ira , 7 .° V .

D. Joa na de

V a sco n ce lo s

D. T om ás de N oronha,

3 .° C. A rco s

D. M ada lena de B rito e Bourbon

Pág. 88

Page 247: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Casa dos viscondes de Vila Nova do Souto d’El Rei

António José de Almada de Melo

D. João José Francisco de Almada Melo Velho e Lencastre, 3.° V. V. N. de Souto de El-Rei

D. António José de Almada de Melo, 2.° V. V. N. de Souto de El-Rei

D. João de Almada de Melo

Maria Josefa de Lima da Cunha Velho

D. Ana Joaquina de Lancastre e Moscoso

D. Rodrigo de Lancastre

Isabel Francisca Xavier de Castro

D. Rodrigo de Lancastre•O#

D. António de Lancastre•O #

D. Francisca Felizarda de Lancastre da Fonseca e Camões

Isabel Francisca Xavier de Castro

Guiomar Anacleta de Carvalho Fonseca e Camões ••

Tadeu Luis António Lopes de Carvalho

João de Almada e Melo

Maior Luisa de Mendonça

Francisco da Cunha daSilva

Engrácia Catarina Barbosa

D. João de Lancastre

D. Maria Teresa Antónia de Portugal ••

João Correia de Lacerda

Luisa Catarina Fontoura

D. João de Lancastre

D. Maria Teresa Antónia de Portugal ••

João Correia de Lacerda

Luisa Catarina Fontoura

Gonçalo Lopes de Carvalho

Guiomar Bernarda de Alarcão e Silva

D. Francisca Rosa de Menezes

D. Francisco Furtado de Mendonça ••

Mariana Luisa de Valadares

António José de Almada e Melo

Úrsula de Vasconcelos

Francisco de Mendonça Furtado

D. Maria de Melo

André Velho de Azevedo

Maria de Sousa Barbosa

Fernão Leite Barbosa

Vicencia Bárbara Peixoto

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

D. Pedro de Almeida

Luisa Antónia de Portugal

Francisco Correia de Lacerda •Isabel Maria de Castro

Diogo Carneiro Fontoura

Catarina de Fontoura

D. Rodrigo de Lancastre

Inês Teresa de Noronha

D. Pedro de Almeida

Luisa Antónia de Portugal

Francisco Correia de Lacerda •Isabel Maria de Castro

Diogo Carneiro Fontoura

Catarina de Fontoura

Luis Lopes de Carvalho

Ana da Silva de Almeida

Gonçalo Peixoto da Silva de Almeida

Paula Maria Cardoso de Alarcão

D. João Manuel de Menezes

Francisca Furtado de Mendonça

João de Valadares Carneiro

Margarida Machado da Silva Menezes Soutomaior

Retrato puritano

Pág. 89

Page 248: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

D. Alexandre de Sousa Holstein

Casa dos Capitães da Guarda AlemãP

D. Manuel de Sousa, Cap. Guarda Alem ã

D. Filipe de Sousa, Cap. Guarda Alem ã

D. Francisco de Sousa, Cap. Guarda Alem ã

D. Helena de Portugal

Catarina de Menezes

Manuel Teles da Silva, 1.° M. A legrete

D. Luisa Coutinho

D. António de Sousa

Leonor de Melo

D. João de Almeida

D. V iolante Henriques

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. V ilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Maria Ana Leopoldina, princesa de Holstein

Pág. 90

Page 249: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritano

D. José Francisco da Costa de Sousa e Albuquerque

Casa dos Armeiros-mores s.r.

D. António José da Costa

D. António Estevão da Costa

D. Luís da Costa

D. Maria de Noronha

D. Madalena Luísa de Mendonça

D. António José de Melo

D. António da Costa

Madalena de Mendonça

D. Pedro da Costa

D. Violante de Noronha

D. Pedro José de Melo

D. Maria de Mendonça

Joana de Mendonça

Pedro Guedes de Miranda

Maria Josefa de Mendonça

D. Ana Rosa de Melo

D. Cristóvão de Melo

Rosa de Almeida

D. Luís José de Melo

Maria Arnau

D. Jorge de Melo

Madalena de Távora

D. Álvaro da Costa, o Queimado

Maria Manoel

Luís de Goes Perdigão

Margarida de Eça

D. Gonçalo da Costa

Mariana Henriques

D. Francisco de Noronha

Maria de Azevedo

D. Jorge de Melo

Madalena de Távora

D. Álvaro da Costa, o Queimado

Maria Manoel

Luís de Miranda Henriques

Joana de Távora

Pedro Guedes

Luisa de Tavora

D. António de Melo

Francisca Henriques

Pedro Guedes

Luisa de Tavora

Pág. 91

Page 250: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 3

Casa dos Monteiros-mores• •

D. Francisco José da Cunha de Mendonça e Menezes, Monteiro-mór ••

D. Pedro José da Cunha de Mendonça e Menezes

D. Carlos José Bento de Menezes

D. José de Menezes de Tavora

Brites Francisca de Mendoça

Brites Josefa da Cunha e Menezes

Pedro da Cunha de Mendonça

D. Luisa Josefa de Menezes

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Tristão da Cunha

Joana Luísa de Mendonça

D. José de Menezes de Tavora

Brites Francisca de Mendoça

Joana Catarina de Melo

Fernão Teles da Silva, Monteiro-mór

João Gomes da Silva

D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete

D. Luisa Coutinho

D. Estevão de Menezes

D. Helena de Noronha

Maria Josefa de Melo

Francisco de Melo, Monteiro-mór

D. C a ta r in a de N oron ha

Garcia de Melo, Monteiro-mór

D. Isabel de Castro

D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja

Isa be l M a ria A n tó n ia de

M e n d o n ça

Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda

D. Leonor de Mendoça

D. António Mascarenhas

Isabel de Castro

Pedro da Cunha

Helena de Mendonça

Pedro de Melo

Teresa Maria de Mendonça

D. Diogo de Menezes

Maria de Oliveira •

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. Mariana de Castro

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior

Mariana de Mendonça

D. Nuno Mascarenhas Costa

D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal

D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Luisa de Castro

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Francisco de Melo, Monteiro-mór

Luisa de Mendonça

D. Francisco Mascarenhas

D. Margarida de Vilhena

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde

D. Maria de Menezes

Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches

D. M a ria n a de C a s tro

Pág. 92

Page 251: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Retrato puritanoCasa dos Porteiros-mores

• • • • • •

Manuel António de Sousa e Melo, Porteiro- mór

Vitória Xavier de Melo • • • • • • •

José de Melo e Sousa, Porteiro-mór

Rodrigo Xavier Teles de Menezes Castro e Silveira, 4.° C. Unhão • • • • •

Maria Teresa Ana Josefa Caetana Teles de Menezes • • • • • •

Vitória de Távora

Manuel de Melo, Porteiro- mór

Francisca de Vilhena

D. Madalena Teresa de Bourbon

D. Bernardo de Noronha

Maria Antónia de Almada • • •

Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° C. Unhão

• • •

Luís de Melo, Porteiro- mór

D. Guiomar Coutinho

Álvaro de Sousa

Leonor de Vilhena

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos

D. Madalena de Brito e Bourbon

Cristovão de Almada

D. Filipa Maria de Melo

Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão • • •

D. Joana Luisa de Lancastre

D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz

D. Maria de Lancastre

Juliana de Lancastre

Miguel Carlos de Tavora

Maria Caetana da Cunha, 2.a C. São Vicente'

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira

D. Arcângela Maria de Portugal

João Nunes da Cunha, 1.° C. São Vicente

D. Isabel de Bourbon

Rui Fernandes de Almada !•Madalena de Lancastre

D. Luís de Almada

D. Luísa de Menezes

D. João Mascarenhas

D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia !•D. Maria de Lancastre

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira

Marta de Vilhena

D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares

D. Inácia de Menezes e Vasconcelos

Pág. 93

Page 252: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei
Page 253: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

ANEXO 4: Notas sobres os reparos “perdoados” ou “esclarecidos

Optámos por, no presente anexo, explorar apenas os reparos que não parecem ter

impedido, tanto casamentos de algumas Casas dentro do grupo dos Puritanos, como

políticas de reprodução social puritanas quando excluído o reparo da Casa. Assim,

descreveremos abaixo, sucintamente, a história conhecida dos cinco reparos que

considerámos para a introdução do conceito de Puritanos, em sentido lato.

Transversal, no entanto, a todos os reparos, é que os mesmos foram

permanecendo na memória colectiva das Casas aristocráticas portuguesas desde a data da

sua passagem a Portugal478, sendo transmitidos de geração em geração. É natural que

tenham ganho destaque a partir do século XVII, mas seriam já conhecidos e comentados

anteriormente, pelo que deverão estar sempre mais associados a um “senso comum” do

grupo da aristocracia, do que relacionadas com os famosos tições cujo impacto nestas

Casas não conseguimos perceber.

Importa também salientar que Torcy não segue um racional de Casa no elencar

dos reparos, uma vez que o que analisa é o chefe da Casa seguindo um critério de

linhagem, querendo isto dizer que o que analisa é se este, e apenas este, detém algum

reparo, ignorando recorrentemente o facto de a realidade da sua descendência poder já

ser diferente por casamentos entretanto contraídos. Isto pode explicar porque é que à data

do Relatório os herdeiros de muitas Casas pudessem já ser associados a muitos outros

reparos que Torcy, no entanto, desconsidera.

Também já referimos anteriormente a origem dos reparos, restando-nos apenas

acrescentar que a maioria dela assentava em rumores não documentados. A excepção

encontramo-la, por exemplo, no reparo de Brandão, ficando imortalizada nos arquivos

da Mesa de Consciência e Ordens a dispensa de sangue concedida por D. Afonso V a

Duarte Brandão para que este pudesse ostentar o hábito da Ordem de Cristo, sendo esta

mancha, também por este motivo, nomeado como «une des plus considerables de

Portugal»479. Nunca terá sido, como durante muito tempo se pensou, cavaleiro da ordem

da Jarreteira em Inglaterra, mas beneficiou amplamente da protecção do rei inglês, tendo

478 Julgamos ser este uma característica fundamental dos reparos, ou seja, o facto de virem de fora de Portugal e estarem, muitas vezes, relacionadas com alianças com famílias estrangeiras, maioritariamente espanholas.479 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relação do Reino de Portugal em 1684. Coimbra: 1960, p. 80.

Pág. 95

Page 254: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 4

obtido o título de representação por Sir ao ser nomeado para “guarda do rei”480, uma

posição normalmente ocupada por cavaleiros (knrghts). Aos seus pares dirá, com

sabedoria, «E eu sou Duarte Brandão, que, por força de armas, ganhei nobreza para mim

e meus descendentes, como os de que vós, Senhores, vindes para si e para vós. E quem

isto contradisser adiante-se.»481 Se o não fizeram na altura, não terão poupado a sua

descendência.

Também curiosos são os casos dos reparos de Caiada e Lafetá. Ambos com

rumores fundados em mães desconhecidas associadas a mercadores ricos. Se Isabel

Caiada era suspeita de ser judia, em estudos recentes sobre Rui Fernandes de Almada

nem se consegue confirmar que tenha sido, de facto, mãe dos seus filhos482. Também o

conde João Francisco Lafetá, ou Affaitati, natural de Cremona, poderá ter tido de lidar

com uma animosidade face ao seu sucesso enquanto grande mercador483 (apesar de Torcy

referir «petit»), acrescido do facto de não ser português. Certo é que a suspeita de cristã-

novice sobre a mãe, ou mães, dos seus filhos sempre existiu, sabendo que a família se

teve de esforçar por dissipá-la, podendo ser encontrada na Coleccção Pombalina da BNP

um documento intitulado «Discurso histórico juridico sobre a pureza de sangue dos

Lafetás.»484

Por fim, cumprirá falar no reparo mais observado na aristocracia portuguesa:

Pinheiro. É conhecida a importância que esta família teve no século XVI, sendo

ascendência comum de dois dos títulos mais influentes da corte de D. João III, os

condados do Prado e da Castanheira, ao qual poderemos juntar as carreiras de Tomé de

Sousa ou Martim Afonso de Sousa485, podendo ter sido, sem dúvida, este o motivo de

invejas e rumores. Braamcamp Freire é, no entanto, contundente quando diz: «agora

480 Cecil Roth, «Sir Edward Brampton, alias Duarte Brandão: Governor of Guernesey, 1482-1485». In Sep. Report and transactions o f La Société Guernesiaise, Vol. XVI, pt. II. Guernsey: La Société Guernesiaise, The Guille-Allès Library, 1957, pp. 160-170, p. 165. Tradução literal de Knight o f the Body, também conhecidos por Esquires in Ordinary o f the King's Body ou, simplesmente, Esquires o f the Body.481 Ditos portugueses dignos de memória. História íntima do século XVI anotada e comentada por José H. Saraiva. Póvoa do Varzim: Publicações Europa-América, s.d., p. 237.482 Maria do Rosário de Sampaio Themudo Barata, Rui Fernandes de Almada. Diplomata Português do Século XVI. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, Centro de Estudos Históricos, 1971, p. 21.483 Baseámo-nos no estudo de Nunziatella Alessandrini, Os italianos de 1500 a 1680: das hegemonias florentinas às genovesas, Vol I. Lisboa: [s.n.], 2009. Tese de Doutoramento em História Moderna. Esta refere que «a profunda influência do conde Affaitati no mercado português é nitidamente evidenciada por Lope Hurtado, embaixador espanhol em Lisboa, que escreve: “Acá no puden hazer cosa buena sin ele”», p. 139.484 BNP, Pombalina, Ms. 688, fls. 261-270 e 342-361485 Alexandra Pelúcia, Martim Afonso de Sousa e a sua linhagem: trajectórias de uma elite no império de D. João III e D. Sebastião. Lisboa: CHAM, 2009, P. 315

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Notas sobre os reparos

saber-se se a mulher de Pero Esteves [o pai de Maria Pinheiro] era ou não Judia, isso é

averiguação em que não me meto»486. Certo é que seria o reparo observado em quase um

quarto dos 127 homens referidos por Torcy, número que ascende a 60% quando só

considerados os titulares e os ofícios maiores no final do século XVIII, podendo assim

ser apelidado o grande reparo da aristocracia portuguesa. Numa sátira ao conde da

Castanheira, dir-se-á:

Mestre João sacerdote,

de Barcelos natural,

houve de uma moira tal

um filho de boa sorte.

Pero Esteves se chamou;

honradamente vivia;

por amores se casou

com uma formosa Judia.

Dêste, pois nada se esconde,

nasceu Maria Pinheira,

mãe da mãe daquele Conde

e sua avó verdadeira. (ou noutra variante, Que é o Conde da Castanheira.) 487

De seguida apresentamos os cinco reparos de acordo com a nossa proposta de

entendimento de um grupo Puritano entendido em sentido lato. Na sequência do exercício

que realizámos, ao desconsiderarmos reparos ao conjunto das Casas da aristocracia

portuguesa, novas Casas surgiriam como Puritanas, apresentando os resultados na tabela

abaixo:

Reparos desconsiderados488 Puritanos (sentido lato)

Bocanegra • Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal• Távora/ S. João da Pesqueira/ Alvor• Atouguia• S. Vicente

486 Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Liv. I. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922, p. 227.487 Ibidem, p. 226.488 Qualquer outra combinação destes cinco reparos, num total de 26 possíveis, não devolveu nenhum resultado.

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Anexo 4

Reparos desconsiderados488 Puritanos (sentido lato)• Sarzedas 1

Granada • Caparica• Ficalho• Sandomil

Zuniga • Marialva/ Cantanhede

Azambuja e Bocanegra • Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz

Azambuja e Granada • Sabugosa• Monteiros-mores

Bocanegra e Granada • Abrantes/ Fontes/ Penaguião

Granada e Zuniga • Valadares

Assim, a história destes reparos será:

1. ARAGÃO

De acordo com Torcy, «D. Juan d’Arragon, père de Ferdinand le Catholique, eut

des bastards d’une jeune nommée la Blanca Coneja. Ceux qui en descendent sont regardés

comme /88/ estant de race juive»489.

O reparo passou a Portugal através de Leonor de Milão e Aragão que casou com

D. Nuno Manoel, senhor de Salvaterra de Magos e almotacé-mor do rei D. Manuel I,

sendo perpetuado pela sua descendência. Esta Leonor de Milão e Aragão era filha

bastarda de Afonso de Aragão, 1.° duque de Villahermosa e de Maria Junquers, sendo

Afonso de Aragão ele próprio também filho bastardo do rei João II e de Leonor Escobar.

É precisamente nesta sucessão de bastardos que se identifica uma confusão de gerações,

porque Torcy refere que seria pela mulher de quem o rei João II teve bastardos que o

reparo teria chegado a Portugal, o que representa uma interpretação distinta dos

genealogistas portugueses.

Ao contrário de outros reparos cujas referências coevas não encontramos além

das de Torcy, o de Aragão vem tratado pelo Pe. D. António Caetano de Sousa nas suas

Provas da História Genealógica da Casa Real Portugueza, onde se empenha em

489 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relaçao..., p. 79.

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Notas sobre os reparos

desconstruir os rumores que existiam sobre Leonor de Milão e Aragão, «Donzella nobre

Catalãa, que ele estimou muito, e a quem entregou o cuidado dos seus filhos»490 e não

uma «mulher ordinaria, e de nascimento escuro, como alguns mal instruidos

entenderaõ»491. Este esclarecimento, que se estende por várias páginas com recurso a

textos e estudos genealógicos estrangeiros, vem confirmar que este seria um reparo com

importância na aristocracia portuguesa e sobre o qual, terá achado o padre D. António,

valeria a pena desvanecer quaisquer dúvidas quanto ao facto de não ser verdade.

Em relação a seu marido, D. Afonso mestre de Calatrava, escreve que «era filho

delRey D. Joaõ II. de Aragaõ, havido em D. Leonor de Escovar, filha de Affonso

Rodrigues, Alcaide môr da terra delRey D. Joaõ de Navarra, em Castella, da Casa de

Escovar, de quem procedem ilustres Casas»492, permitindo-nos concluir sobre Torcy se

ter, de facto, enganado na sua descrição.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. José de Lancastre, 3.° conde de Figueiró;

■ D. Luís de Lancastre, 4.° conde de Vila Nova de Portimão;

■ D. António de Almeida, 2.° conde de Avintes;

■ D. Miguel de Almeida, governador da Índia;

■ Francisco Barreto de Menezes;

■ Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel;

■ Francisco Carneiro de Sousa, 2.° conde da Ilha do Príncipe;

■ Bernardim de Távora e Sousa, governador de Angola;

■ Nuno de Mendonça, 2.° conde de Vale de Reis;

■ Lourenço de Mendonça e Moura, 3.° conde de Vale de Reis;

■ D. Rodrigo de Moura Teles, arcebispo de Braga, Primaz de Espanha;

■ D. Fernando Mascarenhas, 2.° marquês de Fronteira, 3.° conde da Torre;

■ D. Francisco Mascarenhas, 1.° conde de Coculim;

■ D. Luís Manuel de Távora, 4.° conde da Atalaia;

■ D. António Luís de Sousa, 2.° marquês de Minas.

490 D. António Caetano de Sousa, Historia Genealogica da Casa Real Portugueza, Livro XII, Primeira Parte pp. 424-425.491 Ibidem, pp. 428-429.492 Ibidem, pp. 431.

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Anexo 4

Apenas não nos foi possível confirmar o reparo em Francisco Álvares Botelho, 1.°

conde de S. Miguel, que não descenderia de Leonor de Milão e Aragão, salientando-se

que, inversamente, não aparece referido como tendo este reparo D. João de Almeida, 2.°

conde de Assumar, o que estranhamos dado que o teria por sua mãe, Margarida André de

Noronha, filha de D. Fernando Mascarenhas, 1.° conde da Torre.

2. AZAMBUJA

Luciano de Sousa, biógrafo de Diogo d’Azambuja, comenta com tanto de graça

como de verdade, que «como frequentemente acontece, os genealogistas depois de

reunirem uma enorme massa de nomes e de informações truncadas para reconstruir

fidalgamente, até aos ultimos confins da história, a ascendencia de Diogo d’Azambuja,

não conseguem acertar-lhe com o nome dos paes nem com a data de nascimento

d’elle.»493 Esta realidade poderia ser transposta para todas as suspeitas de cristã-novice

pois como já referimos, era o desconhecido, muitas vezes aliado à inveja de carreiras

rápidas e bem-sucedidas, o principal motor dos rumores que corporizavam estes reparos.

Torcy refere que Diogo d’Azambuja «eust deux bastardos d’une femme inconnue

nommée Leonor Botelha qui soit soupçonée de Judaisme.»494 Sabemos apenas que foi

Cavaleiro da Ordem de Avis e que teve uma vida longa, sendo que em 1508, já quase

octogenário, é mandado regressar à pátria - das suas inúmeras incursões expansionistas

- pelo rei D. Manuel I, sobre o que terá comentado «que o Rei o achara moço para

conquistar a cidade e velho para a defender»495. Em Portugal, foi feito membro do

conselho do rei e vedor-mor da artilharia, morrendo dez anos depois, com 86 anos.

Nunca casou, tendo filhos de uma mulher, Leonor Botelho, com quem, defendem

alguns genealogistas, se terá casado após o fim da obrigação de verificação do celibato

por parte de membros da ordem. Desconhece-se, no entanto, a ascendência de Leonor

Botelho, inclusivamente se seria ou não cristã-nova, sabendo apenas que posteriormente

Monterroyo defendeu que teria casado não com esta Leonor, mas com Leonor Velha,

493 Luciano de Sousa, Diogo d'Azambuja. Lisboa: Imprensa Nacional, 1892, p. 8.494 SERRÃO, Joaquim Veríssimo (ed.) - Uma Relaçao..., p. 79.495 Cit. in Luciano de Sousa, D io g o ., p. 9.

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Notas sobre os reparos

irmã de Fernão Velho, comendador de Almorol496, contradições que muitas vezes são

indicadoras de suspeitas de cristã-novice.

Apesar de Sousa apenas identificar duas filhas, Cecília e Catarina, e defender que

a primeira teria «sido legitimada, ainda por João II, em 1486» levando em dote, quando

casou, o morgado de seu pai, encontramos referência, nos índices do Geneall, a um filho,

António, também com descendência. De qualquer forma, podemos concluir, face ao

desconhecimento da linhagem de Diogo d’Azambuja, que a sua descendência terá sido

amplamente beneficiada pelo estatuto, social e económico, alcançado por este e que, por

aí, entrou na ascendência de algumas das principais Casas aristocráticas portuguesas.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. João Mascarenhas, 5.° conde de Santa Cruz;

■ Garcia de Melo, monteiro-mor;

■ João da Silva, 2.° marquês de Gouveia.

D. Miguel de Noronha, 2.° duque de Linhares, não é referido por Torcy, apesar de

ser primo co-irmão do marquês de Gouveia, referindo um duque de Linhares, talvez o 1.°,

como não tendo reparos.

3. BOCANEGRA

Este será um dos mais conceituados reparos, reflexo também da importância que

as Casas que o tinham foram ganhando ao longo do período de análise pelo seu

investimento nas suas políticas de reprodução social: se para uns foi motivo de

maledicência, para outros foi a possibilidade de se ligarem, ancestralmente, ao reputado

núcleo de famílias que se relacionavam com os Távoras, das quais as Casas dos marqueses

de Fontes e de Fronteira e dos condes de S. Miguel, Atouguia, Alvor e Sarzedas497 são

bons exemplos.

496 Ibidem, p. 59497 Relembramos que foi, precisamente, pelo casamento do 1 ° marquês de T ávora com uma filha do 1 ° conde de Sarzedas que este reparo entrou na Casa dos marqueses de Távora.

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Anexo 4

Torcy refere que «Francisco Idasques, appellé Bocca Negra, passa en Portugal

avec Caterine, femme du Roy D. João tròisieme. On dit qu’il étoit cuisinier de cette

princesse, comme tous les Espagnols qui viennent en Portugal sont ordinairement Juifs

on l’acusoit aussi de l’être»498. Podemos comprovar por este texto que os fundamentos

que consubstanciavam muitas destas suspeitas de judaísmo na ascendência destas Casas

eram fracos e pobres e estavam longe de poderem ser comprovados factualmente. Ao

falar da Casa da rainha D. Catarina de Áustria, Buesco escreve que «Quando entrara em

Portugal, naturalmente a sua casa era sobretudo composta por castelhanos», lembrando

que «o protagonismo de certas famílias que a acompanharam - como os Bocanegra,

Velasquez e Aguilar - revelou-se marcado»499, o que mais uma vez parece confirmar a

prática do puritanismo enquanto reacção à importância que Casas recém-criadas, de

ascendência desconhecida, e também de Casas estrangeiras, principalmente espanholas,

foram adquirindo na sociedade de corte portuguesa.

No seu estudo sobre a Casa da rainha D. Catarina, Sousa identifica um «Francisco

Velasquez, camareiro, casado com Dona Cecília Boca Negra, também camareira»500 que

julgamos terem sido os pais de Maria Bocanegra, casada com D. António de Lima, cuja

neta D. Joana de Lima casou com D. Luís Lobo da Silveira e foram pais do 1.° conde de

Sarzedas, Casa a partir da qual o reparo se propagou. Importa salientar que Sousa apenas

os identifica como pais de «Filipe Boca Negra, pajem»501 e que muitas vezes o pai de

Maria Bocanegra vem referido como Juan Velasquez de Aguillar, sendo que o cozinheiro

que a rainha D. Catarina trouxe de Espanha no seu séquito se chamava João, o Galego.

De qualquer forma, a ser verdade, explicaria a opção pelo apelido da sua filha e o bom

casamento que realizou, sabendo-se ainda que existia, no séquito de D. Catarina, uma

Maria Boca Negra, moça de câmara, que recebia 2.500 reis e tinha o domínio intermédio

da escrita502.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel;

498 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma Relação..., 79.499 Ana Isabel Buescu, Catarina de Austria (1507-1578), Infanta de Tordesilhas, Rainha de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007, p. 259.500 Maria José Azevedo Santos, Assina quem sabe e lê quem pode. Leitura, transcrição e estudo de um rol de moradias da Casa da Rainha D. Catarina de Austria (1526). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2004, p. 26.501 Ibidem.502 Ibidem, p. 123. Para a posterioridade, no entanto, ficou a imagem de que os Távoras descendiam de um cozinheiro Bocanegra.

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Notas sobre os reparos

■ D. Luís Peregrino de Ataíde, 8.° conde de Atouguia;

■ D. Fernando Mascarenhas, 2.° marquês de Fronteira;

■ D. Francisco Mascarenhas, 1.° conde de Coculim;

■ D. João Rodrigo de Sá Menezes, 2.° marquês de Fontes;

■ D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 3.° marquês de Fontes;

■ D. Luís da Silveira, 2.° conde de Sarzedas;

■ D. Miguel da Silveira, alcaide da Guarda;

■ António Luís de Távora, 2.° marquês de Távora.

Torcy não refere, no entanto, o 3.° conde da Ericeira, D. Luís de Menezes, que

teria este reparo pela mãe, D. Margarida de Lima, o 2.° marquês de Minas, D. António

Luís de Sousa, pelo lado da sua mãe, D. Eufrásia Filipa de Noronha, neta de D. Joana de

Lima, e a Casa dos condes de S. Vicente - através do seu herdeiro, o 3.° conde -, que

adquiriria este reparo pelo casamento do 2.° conde por casamento, Miguel Carlos de

Távora, sem reparos, com Maria Caetana da Cunha, herdeira da Casa dos condes de S.

Vicente e neta paterna de D. Francisca de Lima.

4. Granada

Tal como a maior parte dos reparos que ora identificamos, também o de Granada

foi comentado no seu tempo, sendo este o único a ter a particularidade de juntar não

apenas a mancha de judaísmo, mas também de mourismo, apesar de, como refere Torcy,

a de judaísmo ser considerada «la plus considerable»503. Já para a corte da rainha D.

Catarina, mulher de D. João III, existem relatos de reacções menos positivas à

permanência de D. Madalena de Granada, camareira da rainha, e que foi quem trouxe o

reparo para Portugal. Buescu relata um conflito que existiu entre esta e D. Maria de

Menezes, filha de João Rodrigues de Sá de Menezes, sobre uma questão de precedências

no serviço à rainha que acabou com a dispensa de D. Maria de Menezes no seu serviço.

A rainha terá comunicado isto ao pai da jovem, lembrando-lhe que «D. Madalena de

Granada era filha de rei», que lhe terá respondido «Esses reis senhora, trazemos nós cá

503 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relaçao..., p. 80.

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Anexo 4

pelas nossas estrebarias», sendo que, depois da rainha ripostar, lhe terá ainda respondido

«Vossa Alteza fala-me como estrangeira»504.

D. Madalena era filha de Juan de Granada, meio-irmão de Boabdil, o último rei

de Granada, que à data da conquista pelos reis católicos foi agraciado com títulos de

nobreza e serviu os reis católicos505. D. Madalena vem para Portugal, como dissemos, no

séquito da rainha D. Catarina, e casou com D. Luís de Lancastre, 1.° comendador-mor de

Avis, filho de D. Jorge, duque de Coimbra e neto, por bastardia, do rei D. João II. Sabemos

também que, no exercício da sua função de camareira, recebia 6.750 reis, possuindo

também o domínio da escrita506, reflexo da educação fidalga de que terá beneficiado após

o acolhimento dos reis católicos.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. Veríssimo, de Lancastre, arcebispo de Braga e Grande Inquisidor;

■ D. José de Lancastre, 3.° conde de Figueiró;

■ D. Luís de Lancastre, 4.° conde de Vila Nova de Portimão;

■ D. João de Lancastre, governador de Angola e do Brasil;

■ D. Lourenço de Lancastre, vedor do infante;

■ D. Francisco de Castro, 17.° almirante de Portugal;

■ Tristão da Cunha, 1.° conde de Povolide;

■ D. Luís Manuel de Távora, 4.° conde da Atalaia;

■ Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° conde de Unhão;

■ D. Vasco Lobo, 2.° conde de Oriola e 9.° barão do Alvito.

Destes apenas não conseguimos confirmar o reparo no 4.° conde da Atalaia.

Também não refere o 3.° conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa, nem o

2.° marquês de Nisa, D. Francisco Luís Baltazar da Gama, ambos descendentes de D.

Madalena de Granada pelo casamento de uma filha desta, D. Maria de Lancastre, com

João Gonçalves da Câmara, o 2.° conde da Calheta. Esta confusão poderá ter-se dado

porque o terceiro conde também casa com uma D. Maria de Lancastre, com este reparo,

de quem, no entanto, não tem descendência.

504 Ana Isabel Buescu, Catarina de Áustria, pp. 222-223.505 Ibidem, p. 223.506 Maria José Azevedo Santos, Assina quem sa b e ., p. 121.

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Notas sobre os reparos

Ao contrário dos reparos que descrevemos anteriormente, não conseguimos

encontrar para este, além das referências de Torcy, qualquer informação que nos ajudasse

a enquadrar a existência do mesmo. Diz-nos Torcy que «Inez de Zuniga étoit bastarde du

Marquis de Mirabel, et d’anne de Crasto soupçonée d’estre Juive ou mourisque. le

Marquis de Marialve a cette tache, parce que son trisajeul épousa cette Inez»507.

Certo é que se no Pe. D. António Caetano de Sousa nada encontramos sequer em

relação à bastardia, em Felgueiras Gayo esse facto já vem referido, confirmando este que

«D. Inês de Zuniga filha B. de D. Fradique de Zuniga Sotomaior de Alconchel, e de D.

Ana de Castro Montanhesa filha de D. João de Castro, e de D. Maria Gonçalves»508.

Para Sousa, no entanto, a história é diferente. Sem qualquer referência à bastardia

ou a questões de limpeza de sangue, conclui apenas que era «Anna de Castro, filha de

João Serrano, natural de Avila, Mordomo do Bispo de Placencia, e de Maria de Castro,

Camareira da Duqueza de Bejar»509, não evidenciando qualquer rumor ou suspeita de

cristã-novice.

Inês de Zuniga seria mãe de D. António de Menezes, pai do 2.° conde de

Cantanhede e avó de D. António Luís de Menezes, 1.° marquês de Marialva, e também

mãe de D. Joana de Menezes, casada com D. João de Azevedo, almirante de Portugal.

Assim, e de acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. Francisco de Castro, 17.° almirante de Portugal;

■ D. Pedro António de Menezes, 2.° marquês de Marialva;

■ D. José de Menezes, 1.° conde de Viana.

5. Zuniga

507 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma Relação..., p. 82.508 Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, Nobiliário de Familias de Portugal. Braga: Oficinas Gráficas da «PAX», 1938, Tomo VI, p.703509 D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portugueza. Lisboa: Na oficina Sylviana, da Academia Real, 1738, p. 160

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ANEXO 5: Alguns contributos para o estudo da Confraria dos Escravos

do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia

1. Transcrição da Memória para a História das Irmandades e Confrarias da cidade de Lisboa510

Ano Relação de Confrades

1630 "Nos abaixo assinados juramos aos Santos Evangelhos em que pomos as mãos de servir a Nosso Senhor nesta Confraria intitulada Escravos do Santíssimo Sacramento, e guardaremos o compromisso que para ella se fez inteiramente como nelle se contem e nunca em tempo algum [notaremos] que se extinga nem diminua; antes procuraremos ampliá-lo em serviço de Nosso Senhor e lhe pedimos nos receba por seus Escravos iluminados para o servirmos este anno e os mais que nos nomearem com toda a prefeição em consideração do desacato que os sacrílegos ereges apóstatas fizeram nesta Igreja [...] de 15 para 16 de Janeiro deste anno de seiscentos e trinta, e de como a si o prometemos e juramos assinando este termo que fez nosso Irmão D. António da Silva que serve de Escrivão em Lisboa na Igreja de Santa Engrácia em 19 de Mayo de 1630.

Neste anno o Conde dos Arcos foi eleito Luís da SIlva."

1633 "Em 15 de Janeiro de 1633 foi eleito Pedro da Cunha por morte de Simão de Mello.

510 BNP, COD. 170, fls. 23-32. [Extrato] Livro da Criação dos Irmãos da Confraria intitulada do Santíssimo Sacramento cita na Igreja de Santa Engrácia. Em dia do Espírito Santo que foi a 19 de Mayo de 1630.

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Anexo 5

Ano Relação de Confrades

Em 18 de Janeiro de 1633 foram eleitos o Governador Conde de Castro [Daire], e Manuel da Cunha, Inquisidor, D. António Pereira, Presidente do Desembargo do Paço, e Pedro da Cunha e o Alcaide-mor de Sintra, e Henrique Correia da Silva e o conde D. Diogo da Silva e Jorge de Mello e D. Álvaro da Costa e o conde de Castelo Novo e Fernão de Sousa e António Telles.

Escrivão Manuel da Cunha; Tesoureiro: Fernão de Sousa; Procurador: António Teles; Escravo dos Escravos: D. António da Silva"

1634 "Em 18 de Janeiro de 1634 foram eleitos o Príncipe Nosso Senhor o Inquisidor Geral D. Francisco de Castro, o Conde de Miranda, e Tristão de Mendonça Furtado, e D. Lourenço de CastelloBranco, D. António de Alcáçova, D. Álvaro de Abranches, Martim Correa da Silva, o conde de Castelo Novo D. Fernão Mascarenhas, D. Antão de Almada, Lourenço Pires Carvalho, o conde de Atouguia.

Escrivão: conde de Miranda; Tesoureiro: conde de Atouguia; Procurador: D. Álvaro de Abranches; Escravo dos Escravos: D. António da Silva."

1635 "Em 18 de Janeiro de 1635 foram eleitos a Sr.a Princesa Margarida o conde de Cantanhede, o Barão de Alvito, Tomé de Sousa, D. João de CastelloBranco, Francisco de Mendonça, D. Tomás de Noronha, Luís da Cunha, D. Luís de Almada, Luís da Silva, D. Manuel de Castro.

Escrivão: conde de Cantanhede; Tesoureiro: D. Tomás de Noronha; Procurador das demandas: Francisco de Mendonça Furtado; Superintendente dos foros: D. João de Castelo Branco andador com o título de Escravo dos Escravos do Santíssimo Sacramento na forma do Compromisso D. António da Silva."

1636 "Em 18 de Janeiro de 1636 foram eleitos o arcebispo de Évora, o Arcebispo de Lisboa, António de Mendonça, Comissário da Cruzada, Diogo de Sousa, Deputado do Santo Ofício, D. João Lobo de Faro, Fernão Martins Freire, Senhor de Bobadela, o Marques de Porto Seguro, Tristão da Cunha de Menezes, Ruy Fernandes de Almada, Provedor da Casa da Índia, D. Francsico de Menezes, D. Álvaro de Portugal.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

Escrivão: António de Mendonça; Tesoureiro: Diogo de Sousa; Procurador das Demandas: Fernão Martins Freire; Contador e Tesoureiro das Obras: D. António da Silva"

1637 "Em 18 de Janeiro de 1637 foram eleitos D. António Luís de Menezes, D. João de Castelo-Branco, João da Silva Tello, Luís Francisco de Oliveira, Luís de Saldanha, D. Lucas de Portugal, Francisco Moniz, D. Francisco de Faro, D. João de Almeyda, Gaspar de Sousa, Ayres de Saldanha, o conde de Penaguião.

Escrivão: D. João da Silva Tello de Menezes; Tesoureiro: D. António Luís de Menezes; Procurador: D. João de Almeida; e para Andador D. António da Silva."

1638 "Em o anno de 1638 falta o acento dos eleitos, e tem o juramento , no qual assinam João da Silva Tello de Menezes, que era Escrivão, o Marques que entendo ser de Porto Seguro, o conde de Santa Cruz, D. António de Almeyda, o conde de Villa Franca, Francisco Soares, Lourenço da Silva, Ruy Lourenço de Távora, D. Pedro de Almeyda, António de Saldanha, o conde de S. Miguel, João de Saldanha da Gama, o conde de Linhares.

Escrivão: conde de Vila Franca; Tesoureiro: Francisco Soares; Procurador: António de Saldanha"

1639 "No anno de 1639 em 18 de Janeiro se achou serem falecidos dos cento três irmãos e em seu lugar foram eleitos, o Marques de Gouveia, e D. João de Sáa porem não elenca quaes foram os que morreram e se escolheram para servirem nesste anno da primeira Mesa os que se achavam nesta cidade, o conde de S. João, o conde Capitão, D. Gonçalo Coutinho, D. António da Silva, e da segunda para cumprimento dos doze Álvaro Pires de Távora, D. Jeónimo de Ataíde, D. João Mascarenhas, Fernão Cabral, e João Gomes da Silva.

Escrivão: Jerónimo de Ataíde; Tesoureiro: Álvaro Pires Távora; Procurador: D. João Mascarenhas; para correr com as obras D. Fernão Cabral Chanceler-mor"

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Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1640 "Em 18 de Janeiro de 1640 se elegeo em lugar do conde de Atouguia que Deus perdoe foi eleito seu filho o conde de Atouguia. Seu filho D. Jerónimo de Ataíde e se elegeram da Mesa mais antiga D. Miguel de Almeyda, o conde de Vila Nova, António Tavares, e o conde de Odemira, Fernão Telles, D. Pedro de Alcáçova, António Luís de Távora, conde de S. João, estes da terceira Mesa de 1632 e da de 1633 D. António Pereira, António Telles, o conde da Castanheira, Jorge de Mello.

Escrivão: D. Miguel de Almeida; Tesoureiro: o conde de Vila Nova; Procurador: António Teles; Escravo dos Escravos: António de Alcáçova."

1641 "Em 18 de Janeiro de 1641 por se acharem falecidos cinco irmãos a saber: o conde de Castelo Novo, D. Lourenço Coutinho, D. Álvaro de Portugal, D. Gonçalo Coutinho, Álvaro Pires de Távora e de se haver de eleger em lugar do Príncipe de Castela ao Príncipe Nosso Senhor e se fez assim e foram eleitos: o Príncipe de Portugal no dito lugar o marquês de Ferreira, D. Pedro de Menezes, D. Luís de Almeyda, o Monteiro-mor e dos velhos serviram o visconde, o conde dos Arcos, Gonçalo Pires Carvalho, D: Álvaro da Costa, Capellão mor, Pedro da Cunha, Pedro da Cunha, Pedro Cunha Vedor.

Escrivão: D. Álvaro da Costa, capellão mor; Tesoureiro: Gonçalo Pires Carvalho; Procurador: D. Luís de Almeyda; Escravo: Jorge de Mello."

1642 "Em 18 de Janeiro de 1642 eram falecidos o Conde de Odemira, o Marquês de Villa Real, Tristão de Mendonça, Lourenço Pires Carvalho - entraram o Conde de Unhão, Estevão da Cunha, Cristóvão de Távora, Francisco de Lucena, o Conde de Vimioso, Sebastião César, o Conde da Torre, Ruy de Moura Telles.

Em 9 de Março de 1642 por morte de Cristóvão de Távora foi eleito o Conde de Valle de Reis.

Em 3 de Agosto do anno em lugar de Dom Lourenço de Castelo-Branco foi eleito Martim Affonso de Lucena.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

Nota lateral: Ausentes em Castella D. Francisco de Menezes, Luís da Silva e se [...] os seus lugares reputandos dos ditos e da Princesa Margarida."

1643 Em 1643 eram falecidos o Arcebispo de Lisboa, António Tavares, Dom Álvaro da Costa capelão-mor, conde de Unhão, conde de Basto - E por estarem ausentes e seus bens confiscados o Marques de Castelo Rodrigo, o Marques de Porto Seguro, o Conde de Linhares. Foram eleitos António Telles, D. António de Lencastre, o Barão do Alvito, Luís César, Francisco de Mello, Tristão da Cunha, Pedro Vieira da Silva, Dom João de Castro, e para completar o numero de cento, o Conde de Castelo Melhor, Luís de Mello, o Conde de Redondo.

1644 "Em 18 de 1644 eram falecidos Francisco de Mendonça, Francisco de Lucena, o Arcebispo de Évora D. João Coutinho.

Em de do dito mes e anno se fez hum acento de privarem do lugar a Martim Afonso de Lucena pella infamia em que encorreo por seu Rey e [...] e em seu lugar foi eleito António Cavide.

Em 6 de Novembro de 1644 se fez mesa por ser falecido o Conde de Cantanhede. Em 2 de Dezembro do dito anno era falecido D. Antão de Almada."

1645 Em 18 de Janeiro de 1645 eram falecidos João de Saldanha da Gama, Ayres de Saldanha, D. António Pereira e Lourenço da Silva.

1646 Em 1646 a 18 de Janeiro eram falecidos o Marques de Ferreira, Henrique Correa da Silva, D. Pedro de Alcáçova e Jerónimo de Mello é ausente provido no Bispado de Astorga D. Bernardo de Ataíde.

1647 Em 18 de Janeiro de 1617 eram falecidos o Bispo Conde, Gonçalo Pires Carvalho, e Fernão Cabral. Neste anno de 1647 foi eleito por aclamação o Infante D. Affonso depois Rey.

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Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1648 Em 18 de Janeiro de 1648 D. João de Castelo Branco, D. Carlos de Noronha, o Conde dos Arcos, o Conde de Alegrete, o Conde de Penaguião, o Conde de Cantanhede e D. João de Castro. Em 31 de Agosto de 1648 era falecido João Gomes da Silva foi eleito o Conde do Prado.

1649 Em 9 de Novembro de 1649 era falecido o visconde. Em 1649 foi eleito o Infante D. Pedro.

1650 Em 18 de Janeiro de 1650 por impedimentos que houve se juntaram a 27 de Agosto e se achou serem falecidos no anno passado Marques de Aguiar, o Bispo do Brasil, o Conde de Feira, o Bispo do Algarve, o Conde de Serem e Tomé de Sousa.

1651 Em 18 de Janeiro de 1651 eram falecidos Fernão Martins Freire, Tristão da Cunha, Francisco Soares. Escusou-se da Irmandade D. Pedro de Lencastre.

1652 Em 18 de 1652 eram falecidos Conde de Santa Cruz, o Conde João da Silva Tello, o Conde de Unhão, o Monteiro-mor Francisco de Melo, António Teles de Silva, D. Leão de Noronha e D. António da Silva.

1653 Em 18 de Janeiro de 1653 eram falecidos o Marquês de Montalvão, Pedro de Mendonça, o Reposteiro-mor, D. Rodrigo de Mello, o Inquisidor Geral.

1654 Em 1654 faleceu o Príncipe Nosso Senhor e o Conde de S. João

1655 Em 1655 faleceram o Barão de Alvito, o Estribeiro-mor Pedro Guedes e António de Saldanha.

1656 Em 1656 eram falecidos Tristão da Cunha de Ataíde, Domingos Dias Preto, o Conde de Vimioso, Francisco Moniz, o Conde de Redondo.

1657 Em 1657 eram falecidos D. João Lobo de Faro, o Conde Capitão, o Conde de Sarzedas, o Conde de Abrantes e S. Majestade [..]

1658 Em 1658 eram falecidos Pedro da Silva de Faria, D. Francisco de Almeida, Fernando de Castro, Pedro da Cunha, D. Rodrigo de Lencastre D. António de Alcáçova.

1659 Em 18 de Janeiro de 1659 eram falecidos nove irmãos e não os nomeia senão os que elegem - no dito anno faleceo D. João de Lencastre e D. Manuel de Eça.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1660 Em data do anno de 1660 era falecido D. João de Meneses e se houve por morto a D. Fernando Teles de Faro por se passar para Castela - neste anno faleceram D. Álvaro de Abranches e o Conde da Feira, e elegeram os irmãos em 6 de Julho.

1661 Em data do anno de 1661 era falecido D. Luís de Almada e tinham passado para Castela o Duque de Aveiro e em seu lugar foi eleito o duque de Cadaval e D. António de Lencastre.

1662 Em 18 de Janeiro de 1662 eram falecidos D. Nuno de Ataíde, o Conde de Odemira, D. João de Almeyda, Francisco de S. Payo.

1663 Em 18 de Janeiro de 1663 eram falecidos D. Pedro de Meneses, Bispo eleito do Porto, Estevão da Cunha, Bispo eleito de Miranda e Luís da Silva Telles.

1664 Em 18 de Janeiro de 1664 eram falecidos D. Francisco de Noronha, João Rodrigues de Sousa, o Conde de Redondo - em 1664 faleceo o Conde de Soure a 22 de Janeiro.

1665 Em 18 de Janeiro de 1665 eram falecidos D. João de Sousa da Silveira e Pedro Severim de Noronha.

1666 Em 18 de Janeiro de 1666 eram falecidos o Conde de Atouguia, D. Rodrigo da Cunha, Jorge de Mello.

1667 Em 18 de Janeiro de 1667 eram falecidos o Conde de Villa Nova, Martim Fonseca da Silva, Gaspar de Faria Severim, António de Sousa Tavares, Luís César, Pedro César de Meneses. Neste anno faleceo o Marques de Sande em Setembro.

1668 Em 1668 não faltou irmão para a eleição de 18 de Janeiro. Depois faleceo o Conde de Santa Cruz D. João Mascarenhas em Fevereiro, a 16, sahio eleito João da Silva Tello filho do conde de Aveyras e tomou posse a 20 de Setembro.

1669 Em 1669 faleceram Luís de Saldanha, D. Diogo de Meneses e Francisco Correa da Silva - em este anno faleceu o Conde da Castanheira.

1670 Em 18 de Janeiro de 1670 eram falecidos o Conde de S. Vicente vice-rei da India, o Conde Dos Arcos, Manuel de Sousa da Silva, o Bispo de Targa, Luís de Sousa Copeiro-mor. Luís de Sousa foi eleito no lugar do Bispo de Targa e o Conde da Ericeira D. Luís de Meneses.

1671 Em 18 de Janeiro de 1671 era falecido D. Fradique da Câmara. Neste anno foi eleito Miguel Carlos de Távora. Neste anno em Outubro a 16 se fez eleição pela morte do Conde de S. Lourenço.

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Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1672 Em 18 de Janeiro de 1672 eram falecidos o Conde de Avintes, o Bispo de Lisboa, Luís de Mello Porteiro-mór. Neste anno faleco João de Saldanha e se fez eleição a 16 de Julho.

1673 Em 18 de Janeiro de 1673 eram falecidos Sebastião César de Meneses, Luís da Cunha de Ataíde, o Conde de Vila Franca D. Rodrigo da Câmara, o Conde de Aveiras Luís da Silva e o Marques de Távora Luís Alvares.

1674 Em 18 de Janeiro de 1674 eram falecidos o Conde da Ribeira, D. Affonso de Faro, Jorge Furtado. Nesta eleição foi [...] o Conde de Soure eleito.

1675 Em 18 de Janeiro de 1675 eram falecidos o Marques de Cascaes, o Marques de Minas, o Visconde de Asseca, Christóvão de Mello, D. Pedro Mascarenhas, Francisco de Faria Almotacé-mor, Luis Freire, Conde de Vila Verde, Fernão Mascarenhas, Francisco Mendonça - em 28 de Novembro do dito ano por morte do Marques de Marialva foi eleito seu filho.

1676 Em 18 de Janeiro de 1676 eram falecidos o Arcebispo de Lisboa D. António de Mendonça, D. Rodrigo de Menezes, o conde de S. Tiago, Antão de Faria, D. João de Castro, o Conde de Pombeiro.

1677 Em 18 de Janeiro de 1677 eram falecidos Pedro Vieira da Silva, Bispo de Leiria, o Conde de Santa Cruz, D. Francisco Rolim, Rui de Moura Teles, Marques de Nisa.

1678 Em 18 de Janeiro de 1678 eram falecidos o Marques de Fontes, o Conde de Vila Flor, D Pedro da Costa. Em 4 de Julho faleceu D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, como se vê do acento de 10 do dito mês e anno.

1679 Em 18 de Janeiro de 1679 eram falecidos D. Diogo Sousa, Arcebispo de Évora, Gil Vaz Lobo Freire, Luís de Saldanha de Albuquerque, D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, Francisco de Miranda Henriques, Rui Fernandes de Almada e Rui de Figueiredo.

1680 Em 18 de Janeiro de 1680 não era falecido nenhum.

1681 Em 18 de Janeiro de 1681 era falecido Salvador Correia de Sá, e a cinco se lhe elegeo outro no lugar que elle tinha. Depois na eleição de 18 do dito mês se acharam vagos os seguintes, o Conde de Soure, D. João de Sousa Prior do Crato, D. Pedro de Almeyda, Viso Rey da India, Tristão da Cunha Mestre de Campo General de Trás os Montes, Alexandre de Sousa Freire.

1682 Em 18 de Janeiro de 1682 eram falecidos Simão de Vasconcelos e Sousa, Marques de Fronteira, o Conde de Vimioso

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1683 Em 18 de Janeiro de 1683 era falecido António de Sousa de Macedo

1684 Em 18 de Janeiro de 1684 era falecido D. Pedro de Almeyda

1685 Em 18 de Janeiro de 1685 eram falecidos Manuel de Magalhães de Meneses, o [Capitão?] da Guarda Martim Afonso de Melo, D. Lucas de Portugal.

1686 Em 18 de Janeiro de 1686 não era falecido nenhum.

1688 Em 18 de Janeiro de 1688 eram falecidos o Conde de S. Miguel, o Conde de Unhão, D. João da Gama e o Conde de Figueiró.

1689 Em 18 de Janeiro de 1689 eram falecidos Francisco Barreto, D. Ignácio Mascarenhas

1690 Em o anno de 1690 falta acento da eleição e está o do juramento feito a 18 de Março do dito anno - em o dito dia ficaram [...] oficiais [...].

1691 Em o anno de 1691 também falta acento e está o do juramento feito a 3 de Abril do dito anno, e a eleição dos oficiais a 20 do dito mês.

1692 Em o anno de 1692 também falta acento do dia 18 de Janeiro, e tem o juramento e a eleição dos oficiais, e huma declaração a 22 de Setembro em que diz que no anno passado não fizera acento o que para as eleições futuras faria grande confusão. Declara os que foram eleitos e que vagara um lugar e que entrara em um lugar vago o Sr. Infante D. Francisco.

1693 Em 18 de Janeiro de 1693 eram falecidos o Cardeal de Lencastre, o Conde de Val de Reys, D. Miguel da Silveira, Pedro de Melo, D. Diogo Fernandes de Almeida. Neste anno foi eleito o Duque de Cadaval D. Luís

1694 Em 1694 falta de acento tem o pb juramento e de oficiais.

1695 Em o anno de 1695, não fala mais que na eleição e não de que se provesse lugar vago

1696 Em 18 de Janeiro de 1696 eram falecidos Manuel de Melo Prior do Crato e D. Marcos de Noronha

1697 Em 1697 a 18 de Janeiro eram falecidos D. Diogo de Almeyda, o Conde de Pontével e o Conde de Pombeiro. E foi eleito o Sr. Infante D. António.

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Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1698 Em 18 de Janeiro de 1698 eram falecidos D. João de Castro Teles, D. Manuel de Sousa, Diogo de Mendonça Furtado. Neste anno foi eleito o Inf. D. Manuel e o Cardeal da Cunha.

1699 Em 18 de Janeiro de 1699 eram falecidos Manuel de Melo de Castro, João de Vasconcelos e Sousa Deão da Sé de Lisboa, Henrique Correa da Silva, D. Diogo de Faro, nesta anno entraram o Marques de Cascaes D. Manuel de Castro o conde de Atalaya D. João Meneses. Neste anno a 20 de Novembro era falecido Ayres de Sousa e Castro.

1700 No anno de 1700 a 18 de Janeiro se não fez acento depois houve quem o declarou e faleceram o conde da Ericeira D. Fernando de Menezes, João de Melo da Silva, o Conde da Feira

1701 Em 18 de Janeiro de 1701 não houve lugares vagos.

1702 Em 18 de Janeiro de 1702 eram falecidos o Cardeal de Sousa, Simão da Cunha.

1703 Em 18 de Janeiro de 1703 eram falecidos António Luís Conde Almotacé-mor, o Conde da Ponte Garcia de Melo

1704 Em 18 de Janeiro de 1704 eram falecidos D. João de Sousa, Nuno da Silva Teles, Bernardim de Távora, Pedro Sanches Farinha, D. Nuno Álvares de Portugal e o Conde de Vila Nova.

1705 Em 18 de Janeiro de 1705 eram falecidos o Conde de Vila Flor, D. Cristóvão Manoel e D. Bernardo de Noronha.

1706 Em 18 de Janeiro de 1706 eram falecidos José de Vasconcelos, Deão de Lisboa, o Conde Barão, o Inquisidor Geral D. Jorge de Lencastre. Neste anno por acento de 28 de Novembro era falecido D. Manoel da Câmara.

1707 Em 18 de Janeiro de 1707 eram falecidos Garcia de Melo Monteiro-mor, o Conde de Sarzedas, D. Luis da Silveira, D. Pedro de Sousa. Nesta eleição por El Rey Nosso Senhor passar a ser Protetor da Irmandade se proveu o seu lugar. Em 5 de Julho do mesmo ano era falecido o conde de Redondo e se proveu o seu lugar no Secretário Diogo de Mendonça Corte-Real. Em 20 de Novembro do dito anno era falecido o Conde de Val de Reys Lourenço de Mendonça e foi provido no seu lugar D. Rodrigo de Melo, filho do duque.

1708 Em 18 de Janeiro de 1708 eram falecidos D. João de Lencastre, o Marques de Nisa, Mendo Foyos Pereira.

1709 Em 1709 não se acha o acento de 18 de Janeiro mas outros de oficiais.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1710 Também não tem acento

1711 Em 18 de Janeiro de 1711 eram falecidos o Conde de Alvor, o Conde da Castanheira, o Arcebispo de Lisboa D. João de Sousa. Em 15 de Abril do dito anno se [ . ] o lugar de D. Francisco de Sousa.

1712 Em 18 de Janeiro de 1712 era falecido o Marquês de Marialva

1713 Em 18 de Janeiro de 1713 eram falecidos Francisco de Melo Monteiro-mor, o Conde de Atouguia, D. Fernando de Almeida

1714 Em 18 de Janeiro de 1714 eram falecidos o marquês de Arronches, o Conde de Viana, D. Rodrigo de Mello, filho do duque, Cristovão de Almada, Manuel Galvão. Neste anno entrou o o Principe Nosso Senhor na Irmandade. Era o Sr. D. Pedro que já era falecido a 14 de Novembro do dito ano em entrou no seu lugar o Sr. D. José.

1715 Em 18 de Janeiro de 1715 eram falecidos o Conde de Valadares D. Miguel Luís de Menezes, D. Felipe de Sousa, João Furtado de Mendonça, Diogo Luís Ribeiro Soares. Nesta mesma foi eleito o Infante D. Miguel filho de El Rey D. Pedro. Em 11 de Julho do dito anno era falecido Luís de Miranda e foi provido o seu lugar

1716 Em 18 de Janeiro de 1716 eram falecidos o Bispo do Algrave, o Arcebispo de Évora, o Conde de Avintes, D. Lourenço de Lencastre. Nesta ocasião foi provido o Sr. D. José filho de El Rey D. Pedro

1717 Em 18 de Janeiro de 1717 eram falecidos D. Francisco da Silveira, Álvaro da Silveira, D. Luís Manoel

1718 Em 18 de Janeiro de 1718 eram falecidos o Bispo de Coimbra D. António de Vasconcelos. Em 6 de Abril do dito ano era falecido o Conde dos Arcos D. Marcos de Noronha

1719 Em 18 de Janeiro de 1719 eram falecidos D. João Rolim de Moura, o Conde de S. Lourenço, Bernardo de Vasconcelos, o Conde Meirinho-Mor

1720 Em 18 de Janeiro de 1720 era falecido Francisco de Melo

1721 Em 18 de Janeiro de 1721 eram falecidos o Conde de Castellomilhor, o Marquês de Cascaes, o Marquês de Távora, Luís César de Meneses, Bartolomeu de Sousa Mexia

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Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1722 Em 18 de Janeiro de 1722 eram falecidos Luís de Saldanha da Ganam Marquês de Minas

1723 Falta o asento de dia 18 de Janeiro, e esta o termo do juramento feito a 22 de Março do dito ano.

1724 Em 18 de Janeiro de 1724 eram falecidos o Marquês de Gouveia D. Martinho Mascarenhas, o Conde da Ribeira D. Luís Manuel da Câmara. E já a 17 do dito mês e anno se tinha feito eleição do lugar do Infante D. Miguel por ser falecido

1729 Está em falta e a 11 de Março se fez eleição do lugar de D. Lourenço de Almada por ser falecido

1730 A 18 de Janeiro eram falecidos o marquês de Fronteira D. Fernando Mascarenhas D. João Mascarenhas

1731 Em 18 de Janeiro de 1731 eram falecidos o Conde de Avintes D. Luís de Almeida, o Conde de Sarzedas D. Rodrigo da Silveira, Pedro Sanches Farinha Francisco de Almada

1732 Falta o asento da eleição e tem o termo feito em 26 de Janeiro do anno

1734 Está em falta o acento. Porem a 16 de Janeiro foi provido o lugar de José Pedro da Câmara

2. Relações familiares dos Tesoureiros e Escrivães da Confraria dos Escravos de Santa Engrácia (1690 - 1716)

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

25-11­1690

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392-

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa

Tesoureiro: Francisco de Melo (n. 1659).

Monteiro-mór do Reino. Teria o reparo de Azambuja pelo avô paterno. A avó materna, Luísa de Mendonça, era irmã de Helena de Mendonça, casada com o Trinchante da Casa Real Pedro da Cunha, irmão da 1 .a condessa de Vilar Maior. Do

511 Não procedemos à validação das fontes, tendo apenas consultado, online, os descritivos de cada uma delas, que continham as informações que precisávamos para a elaboração desta relação.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

1842/ Caixa 21/ N.° 74512

Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

lado da mãe descendia da Casa puritana dos Senhores de Palma (Mascarenhas). Casa duas vezes: a primeira com uma filha do 1.° marquês de Alegrete; e a segunda com uma filha do 1.° marquês de Angeja.

Escrivão: Não refere n.a.

31-05­1691

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 79

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: D. Francisco de Castro (n. c. 1650, m. 1693).

Almirante de Portugal. Teria os reparos de Pinheiro e Zuniga pelo pai e Granada e Pinheiro pela mãe. Era primo dos condes de Figueiró e de Vila Nova de Portimão e casado com uma filha do porteiro-mór. O filho H. casa na Casa dos condes de Castelo Melhor, com uma sobrinha do 6.° conde da Calheta, casado com uma filha do 1.° marquês de Angeja.

Escrivão: Luís Saldanha da Gama (n. c. 1640, m. 1721)

Do Conselho da Guerra. Teria os reparos de Caiada, Torres e Bobadilha. Casa com uma filha do 1.° marquês de Sande, irmã do 2.° conde da Ponte. Não tem qualquer relação familiar com famílias puritanas.

08-01­1693

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do

Tesoureiro: Aires de Sousa de Castro (n. c. 1660, m. 1699)

Deputado da Junta dos Três Estados. Não teria reparos, apenas identificadas as mesmas bastardias que o marquês de Arronches. Casa com uma filha de um filho

512 Todas as fontes poderão ser identificadas, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, pela cota: Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. e n.° (neste caso, Cx. 21, n.° 74), ou pelo Código de Referência PT/TT/VNC/B/Cx. e n.° (neste caso PT/TT/VNC/B/21074).

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Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 73

Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

segundo do 2.° conde de Castelo Melhor, com os reparos de Caiada e Granada. De famílias puritanas, casa na Casa dos condes de Castelo Melhor.

Escrivão: Não refere

30-05­1699

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 85

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: Luís Saldanha da Gama (n. c. 1640, m. 1721)

Igual ao descrito como Escrivão em 1691

Escrivão: Aires de Sousa e Castro (n. c. 1660, m. 1699)

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1693

10-03­1700

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 83

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: Luís Saldanha da Gama (n. c. 1640, m. 1721)

Igual ao descrito como Escrivão em 1691.

Escrivão: conde de Aveiras (3.°), João da Silva Telo de Menezes (n. 1648, m. depois de 1726)

3.° Conde de Aveiras. Teria, pelo lado da mãe, os reparos de Pinheiro e Talaveira, sendo neto materno do 1.° marquês de Cascais. Casa com uma filha do conde de Soure e o seu filho H. casa, em 1700, com uma filha do 1.° conde de Alvor.

02-09­1700

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da

Tesoureiro: marquês de Fontes (3.°), D. Francisco Anes de Sá

1.° Marquês de Abrantes, 3.° marquês de Fontes, 7.° conde de Penaguião e camareiro-mór. Teria os reparos de

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte50 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 84

Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Almeida e Menezes (n. 1676,m. 1733)

Bocanegra pela via paterna e de Granada pela materna. Casa com uma filha do 1.° duque de Cadaval, assim como dois dos seus filhos.

Escrivão: conde de Vila Verde (2.°), D. Pedro António de Noronha (n. 1661, m. 1731)

2.° Conde de Vila Verde, 1.° marquês de Angeja. Puritano. Casa com uma filha do 1.° marquês de Arronches. O filho H. casa com uma filha do 4.° conde de Tarouca.

30-12­1701

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 81

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: conde de Vilar Maior52 (3.°), Fernando Teles da Silva (n. 1662, m. 1731)

3.° Conde de Vilar Maior, 2.° marquês de Alegrete, gentil-homem da câmara do rei. Puritano. Casa com uma filha do 3.° conde dos Arcos e o seu filho H. casa com uma filha do 1.° duque de Cadaval.

Escrivão: Miguel Carlos53 de Távora, 2.° conde de S. Vicente (n. 1641, m. 1726)

Puritano. Casa com a H. da Casa dos condes de S. Vicente, com o reparo Bocanegra, sendo feito 2.° conde de S. Vicente, motivo pelo qual a sua descendência deixa de ser puritana.

ANTT/ Viscondes de

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila

Tesoureiro: D. João de Almeida54, 2.° conde de

2.° Conde de Assumar. Teria os reparos de Aragão, Bocanegra e Pinheiro pela via

52 Acreditamos ser este o conde de Vilar Maior em 1701, dado que o seu pai, o 1.° marquês de Alegrete (1641-1709), ainda estaria vivo nesta data, motivo pelo qual é referido o título menos graduado da Casa, utilizado pelo seu filho H.53 Vem apenas referido como “Miguel Carlos”, que assumimos ser Miguel Carlos de Távora, 2.° conde de S. Vicente por casamento, e irmão do 1.° marquês de Távora e do 1.° conde de Alvor.54 Em 1704 existiam dois “D. João de Almeida” que poderiam ser este Tesoureira: o 2.° conde de Assumar, e o irmão do 3.° conde de Avintes e de D. Tomás de Almeida, 1.° cardeal patriarca de Lisboa. Não é fácil a opção entre um deles porque, por um lado, estranhamos que o 2.° conde de Assumar não se apresente como tal (dado que terá sido

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Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

30-07­1704

Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 69

Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Assumar (n. 1663, m. 1733)

materna. Casou com uma filha do 1.° marquês de Fronteira e não tem qualquer relação com famílias puritanas.

Escrivão: conde da Ribeira Grande (2.°), D. José Rodrigo da Câmara (n. 1665, m. 1724)

2.° Conde da Ribeira Grande. Teria o reparo de Pinheiro pela sua avó materna. Casou com uma princesa estrangeira e o seu filho H. casa com uma filha do 9.° conde de Atouguia, com o reparo de Bocanegra, mas ligada à casa dos Távoras, não tendo no entanto qualquer relação de parentesco com famílias puritanas.

12-11­1705

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 70

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: D. Filipe de Sousa (Calhariz) (n. 1666,m. 1714)

Capitão da Guarda Alemã. Puritano. Casa com uma filha do 1.° marquês de Alegrete e o seu filho H. com uma princesa de Holstein-Beck.

Escrivão: conde de Tarouca (4.°), João Gomes da Silva (n. 1671, m. 1738)

Puritano. Casa com a filha H. da Casa dos condes de Tarouca, pelo que é feito 4.° conde de Tarouca. É filho do 1.° marquês de Alegrete e irmão do 2.° marquês, já identificado nesta Relação.

30-10­1707

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da

Tesoureiro: conde de Vale de Reis (4.°516), Nuno Manuel de

4.° Conde de Vale de Reis. Teria os reparos de Aragão e Pinheiro, o primeiro pelo avô paterno e o segundo pelo materno. Casa em

encartado do título em 1694, de acordo com os índices do ANTT), e por outro, a idade de apenas 29 anos de D. João de Almeida (Avintes). Por estar em desacordo com os demais, pesa mais a idade como motivo de exclusão, pelo que interpretamos D. João de Almeida como sendo o 2.° conde de Assumar, que aparece como escrivão em 1714.516 O 3.° conde de Vale de Reis, e pai do 4.° conde, teria morrido quatro dias antes da data deste Conhecimento do pagamento realizado pelo visconde de Vila Nova de Cerveira.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 78

Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Mendonça (n. 1670, m. 1732)

1700 com uma filha do 1.° marquês de Angeja, casando o seu filho H. na mesma casa, com uma filha do 2.° marquês.

Escrivão: conde de Avintes (3.°), D. Luís de Almeida Portugal (n. 1669, m. 1730)

3.° Conde de Avintes. Teria os reparos de Aragão e Pinheiro pelo avô paterno, sendo neto materno do 3.° conde de Arcos, sendo sobrinho, por essa via, do 10.° visconde de Vila Nova de Cerveira e do 2.° marquês de Alegrete. Casa com uma sobrinha, filha do 10.° visconde de Vila Nova de Cerveira.

30-12­1708

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 78

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: conde da Calheta (5.°), Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Câmara Faro e Veiga (n. 1664, m. 1734)

5.° Conde da Calheta e reposteiro-mór. Teria os reparos de Caiada pelo avô paterno e de Granada pela avó paterna. Casa com uma estrangeira e o seu filho H. casa com uma filha do 2.° marquês de Angeja.

Escrivão: visconde de Vila Nova de Cerveira (11.°), D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

Puritano. Casa com uma estrangeira. Não tendo descendência varonil, a sua filha H. casa com um filho segundo do 2.° marquês de Alegrete.

06-01­1709

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da

Tesoureiro: conde da Calheta (5.°), Afonso de Vasconcelos e Sousa

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1708.

Pág. 123

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Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 77

Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Cunha Câmara Faro e Veiga (n. 1664, m. 1734)

Escrivão: visconde de Vila Nova de Cerveira (11.°), D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

Igual ao descrito como Escrivão em 1708.

30-12­1711

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 75

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: marquês de Minas517 (2.°), D. António Luís de Sousa (n. 1644, m. 1721)

2.° marquês de Minas. Teria os reparos de Aragão, Bocanegra e Pinheiro. O filho H. casa com uma estrangeira e o neto H. casa, logo em 1712, com uma filha do 4.° conde dos Arcos.

Escrivão: marquês de Fronteira (2.°), D. Fernando Mascarenhas (n. 1655, m. 1729)

2.° Marquês de Fronteira. Teria os reparos de Aragão, Bocanegra e Pinheiro. Casa com uma filha do 9.° conde de Atouguia e a sua família não tem qualquer relação de parentesco com famílias puritanas.

28-11­1712

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392-

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa

Tesoureiro: conde de Vilar Maior (3.°), Fernando Teles da Silva (n. 1662, m. 1731)

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1701.

Escrivão: conde da Ribeira Grande (2.°), D.

Igual ao descrito como Escrivão em 1704.

517 Vem referido que quem assina o documento não é o marquês de Minas, mas o conde de Vilar Maior.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

1842/ Caixa 21/ N.° 76

Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

José Rodrigo da Câmara (n. 1665, m. 1724)

28-05­1713

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 71

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: Tesoureiro: D. Filipe de Sousa (Calhariz) (n. 1666, m. 1714)

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1705.

Escrivão: não refere.

05-05­1714

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 71

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: D. João de Sousa, prior de Guimarães

Puritano. Eclesiástico e irmão de D. Filipe de Sousa (Calhariz).

Escrivão: Tesoureiro: D. João de Almeida, 2.° conde de Assumar (n. 1663,m. 1733)

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1704.

21-11­1716

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 82

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: conde da Calheta (5.°), Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Câmara Faro e Veiga (n. 1664, m. 1734)

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1708.

Escrivão: Escrivão: visconde de Vila Nova de Cerveira (11.°), D.

Igual ao descrito como Escrivão em 1708.

Pág. 125

Page 284: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

11-12­1716

ANTT/ Viscondes de Vila Nova de Cerveira/ Administração da Casa 1392- 1842/ Caixa 21/ N.° 80

Conhecimento do pagamento feito por D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira, irmão da Irmandade dos escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, da esmola que deu para obras da igreja nova.

Tesoureiro: conde da Calheta (5.°), Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Câmara Faro e Veiga (n. 1664, m. 1734)

Igual ao descrito como Tesoureiro em 1708.

Escrivão: Escrivão: visconde de Vila Nova de Cerveira (11.°), D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

Igual ao descrito como Escrivão em 1708.

3. Resumo e análise quantitativa das Relações

N.0 Nome Título/ Ofício

N.° de vezes que ocupa um cargo

Puritano

Relação familiar com

puritanosReparos

1 Francisco de Melo Monteiro-mór 1 Não Sim Azambuja

Pág. 126

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

N.0 Nome Título/ Ofício

N.° de vezes que ocupa um cargo

Puritano

Relação familiar com

puritanosReparos

2 D. Francisco de Castro Almirante de Portugal 1 Não Sim Granada, Pinheiro e Zuniga

3Luís de Saldanha da Gama Conselheiro da Guerra 3 Não Não

Caiada, Torres e Bobadilha

4 Aires de Sousa de Castro Deputado da Junta 2 Sim Sim Não tem

5 João da Silva Telo de Menezes 3.° Conde de Aveiras 1 Não Sim Pinheiro e Talaveira

6 Francisco de Sá Almeida e Menezes 1.° Marquês de Abrantes 1 Não Sim Bocanegra e Granada

7 D. Pedro António de Noronha 1.° Marquês de Angeja 1 Sim Sim Não tem

8 Fernando Teles da Silva 2.° Marquês de Alegrete 2 Sim Sim Não tem

9 Miguel Carlos de Távora 2.° Conde de S. Vicente 1 Sim Sim Não tem

10 D. Filipe de Sousa Capitão da Guarda Alemã 2 Sim Sim Não tem

11 João Gomes da Silva 4.° Conde de Tarouca 1 Sim Sim Não tem

12D. João de Almeida 2.° Conde de Assumar 2 Não Não

Aragão, Bocanegra e Pinheiro

13 D. José Rodrigo da Câmara 2.° Conde da Ribeira Grande 2 Não Não Pinheiro

14 Nuno Manuel de Mendonça 4.° Conde de Vale de Reis 1 Não Sim Aragão e Pinheiro

15 D. Luís de Almeida Portugal 3.° Conde de Avintes 1 Não Sim Aragão e Pinheiro

Pág. 127

Page 286: OS PURITANOS§ão...Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei

Anexo 5

N.0 Nome Título/ Ofício

N.° de vezes que ocupa um cargo

Puritano

Relação familiar com

puritanosReparos

16 Afonso de Vasconcelos e Sousa 5.° Conde da Calheta 4 Não Sim Caiada e Granada

17 D. Tomás de Lima Brito Nogueira

12.° Visconde de Vila Nova de Cerveira 4 Sim Sim Não tem

18D. António Luís de Sousa 2.° Marquês Minas 1 Não Não

Aragão, Bocanegra e Pinheiro

19D. Fernando Mascarenhas 2.° Marquês de Fronteira 1 Não Não

Aragão, Bocanegra e Pinheiro

20 D. João de Sousa Prior de Guimarães 1 Sim Sim Não tem

33

Conclusões: % Valor Total

N.° de puritanos 40,00% 8 20

Relações com puritanos 75,00% 15 20

N.° de vezes que um cargo é ocupado por um puritano 42,42% 14 33

N.° de vezes que um cargo é ocupado por alguém com relações com puritanos 72,73% 24 33

Pág. 128

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

4. Árvore genealógica com as Relações

Pág. 129

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ANEXO 6: A casa “real” da Mouraria: o contributo de Pedro Silva Miguel518

Há muito ainda por

estudar sobre o impacto do

Terramoto de 1755 na vida

palaciana lisboeta, sabendo-

se apenas que, dado o nível

de endividamento das

Figura 1 - Fachada Sul do palácio da M ouraria («Quarto novo») nos anos 40 do século XX fam ílias aristocráticas

portuguesas, e na impossibilidade de reconstruirem os seus palácios, muitas «passaram a habitar

palácios que funcionavam até então como segunda residência e que se situavam nos arredores

da cidade»519, das quais os Mourarias serão também exemplo.

Sobre os vestígios do outrora imponente palácio da Mouraria, extrapolou-se que este

teria tido mais um andar - através na desproporcionalidade do edifício principal face ao arco

que o unia ao «Quarto velho» - tendo sido Pedro Silva Miguel o primeiro a sugerir, através da

observação de uma gravura de Lisboa, da autoria do gravador Zuzarte, a existência de, não

apenas um, mas dois andares acima do corpo principal do palácio, que terá sobrevivido ao

Terramoto.

518 A presente descrição baseia-se no trabalho desenvolvido por Pedro Silva Miguel, Descobrir a dimensão palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII. Titulares, a Corte, vivências e sociabilidades, Vol. II. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado em História Moderna, pp. 6-13. As fontes e imagens utilizadas poderão, também, ser encontradas no mesmo estudo.519 Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo, «As Grandes Casas», In, Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), «A Idade Moderna...», p. 209.

Pág. 131

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Anexo 6

Por entre as ruas estreitas da Mouraria erguer-se-ia, assim, um imponente palácio, casa

de uma reputada família da Corte portuguesa e símbolo de poder e prestígio de uma Casa

aristocrática que tão bem o soube capitalizar, aliando-o a um modelo de reprodução social que,

apesar de amplamente criticado, foi sendo silenciosamente procurado e seguido pela demais

aristocracia portuguesa.

Pág. 132