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Os reflexos da prática de atividades físicas na ... · dimensões da promoção da saúde, da qualidade de vida e da atividade física. ... cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la

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Os reflexos da prática de atividades físicas na qualidade de vida dos indivíduos

Ana Felícia de Bittencourt1

Fábio Nakamura2

RESUMO

O objetivo central deste artigo consiste em apresentar os resultados de implantação de proposta cuja finalidade foi proporcionar momentos de informação, reflexão e prática de atividades físicas para a comunidade escolar interna do Colégio Estadual “Célia Moraes de Oliveira”, de Londrina. Deste modo, ao vincular a prática de atividades físicas à promoção de qualidade de vida, a intervenção realizada amparou-se em uma demanda mais do que atual na sociedade deste início de milênio. A metodologia adotada partiu de pesquisa bibliográfica em diferentes bases de dados, seguida de atividades práticas, como o trabalho com vídeos que abordaram temos como saúde, sedentarismo e suas consequências; bem como a utilização do pedômetro para medir e analisar atividades diárias de um grupo de alunos do Ensino Médio, no intuito de identificar a relação entre atividades diárias e gasto energético, Da mesma forma, foi investigada, por meio da aplicação de questionário, a realização ou não de atividades físicas e o efetivo gasto energético em adolescentes de uma turma da escola selecionada. Os resultados permitiram redimensionar a prática da atividade física no universo escolar discutindo seus benefícios na relação compreendida entre atividade física, aptidão física e saúde. Palavras-chave: Atividade física, saúde, qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

A realização das atividades aqui descritas atendeu às determinações

legais do Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE) e insere-se na

perspectiva dos conteúdos básicos da disciplina de Educação Física.

A proposta formulada priorizou a necessidade de proporcionar

informação e estimular o aluno e a comunidade escolar a adoção de

comportamentos favoráveis para a manutenção e aprimoramento de componentes

de estilo de vida relacionados à saúde, por meio de vivências sistematizadas.

Evidências epidemiológicas indicam que o estilo de vida é um fator

determinante na prevalência de doenças crônicas degenerativas em populações de

adolescentes, adulto e pessoas idosas. Doenças como diabetes, colesterol,

1 Professora de Educação Física da rede estadual de Educação do Paraná, participante do PDE/2010.

2 Professor orientador da Universidade Estadual de Londrina

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hipertensão arterial e obesidade são resultantes, além de indicadores genéticos, de

fatores condicionantes da nutrição e atividade física.

Nesse sentido, a promoção da saúde por meio da mudança do estilo

de vida está associada às alterações de hábitos alimentares e à prática regular de

atividade física. Portanto, programas de promoção de saúde são apontados como

importantes estratégias na melhoria da qualidade de vida.

A qualidade de vida tem sido um tema bastante discutido na

atualidade, sendo concebida pela Organização Mundial de Saúde (WHO) como a

percepção do individuo sobre sua posição na vida, no contexto da cultura e dos

sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas,

padrões e preocupações.

Deste modo, ao vincular a prática de atividades físicas à promoção

de qualidade de vida, a proposta em tela ampara-se em uma demanda mais do que

atual na sociedade deste início de milênio.

A opção por se trabalhar com professores e funcionários deve-se à

constatação de que existe um número crescente de profissionais que vêm

adoecendo, em decorrência de problemas relacionados à ausência de hábitos

saudáveis de vida.

Da mesma forma, uma grande parcela dos alunos que frequentam o

Ensino Fundamental e Médio restringe suas atividades físicas à participação nas

aulas de Educação Física.

Esta proposta ampara-se na necessidade de redimensionar a prática

da atividade física no universo escolar discutindo seus benefícios na relação

compreendida entre atividade física, aptidão física e saúde. Assim, além das aulas

de educação física, os alunos puderam adquirir conhecimento sobre a importância e

benefícios da atividade física regular em um enfoque interdisciplinar, já que todos os

professores estiveram envolvidos na realização das atividades.

Apesar de todas as informações e alertas da importância de ser

ativo fisicamente, poucas pessoas realizam atividade física constantemente para se

tornarem ativos evitando assim inúmeras consequências de ser sedentário.

Assim, buscou-se, como questão norteadora, identificar de que

maneira se pode implementar no ambiente escolar a prática sistematizada e

programada de atividade física, com vistas a influenciar, despertar e motivar a

adoção de hábitos positivos para uma melhor qualidade de vida.

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ATIVIDADE FÍSICA COMO VETOR DE QUALIDADE DE VIDA

Hoje não se tem dúvida da importância de um estilo de vida para a

saúde em geral. Estudos epidemiológicos, em todo o mundo, apontam para a

associação entre sedentarismo e incidência de inúmeras doenças.

A prática de atividade física associada a bons hábitos alimentares,

controle do stress é uma das recomendações médicas mais enfatizadas nos dias de

hoje. Basta ligar a televisão, ouvir rádio, ler jornal. Cada vez mais pesquisas

demonstram que a prática regular de atividade física pode retardar e até evitar

inúmeras doenças.

As evidências de que a vida moderna utiliza-se cada vez menos

movimentos corporais e de que o sedentarismo é um fator decisivo no

desenvolvimento de doenças degenerativas, sustentam a necessidade de mudança

no estilo de vida, levando o indivíduo a incorporar a prática de atividade física ao seu

cotidiano.

Nahas (1996) e Guedes & Guedes (1997) defendem as relações

entre atividade física e saúde e, da mesma forma, entendem que cabe à Educação

Física papel relevante nos programas de promoção da saúde.

Nahas (2003, p.14), define a qualidade de vida como: “Condição

humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais,

modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano”.

No quadro a seguir são apresentados os parâmetros individuais e

sócio-ambientais que podem influenciar a qualidade de vida.

Quadro 1: Parâmetros que influenciam a qualidade de vida

PARÂMETROS SÓCIO-AMBIENTAIS PARÂMETROS INDIVIDUAIS

Moradia, transporte, segurança.

Assistência médica

Condições de trabalho e remuneração

Educação

Opções de lazer

Meio-ambiente

Hereditariedade

Estilo de Vida

Hábitos alimentares

Controle do Stress

Atividade Física habitual

Relacionamento

Comportamento preventivo

Fonte: NAHAS (2003, p. 14)

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ATIVIDADE FÍSICA E APTIDÃO FÍSICA

Na concepção de Barros e Nahas (2003), o conceito vigente de

atividade física mostra-se abrangente e engloba todo tipo de movimentação corporal

que resulte em gasto energético maior que o gasto de repouso, incluindo os

contextos domésticos, do trabalho, do lazer e os deslocamentos diários. Difere da

aptidão física, que é concebida como a capacidade individual de realizar atividades

físicas.

Nesta direção:

Define-se a atividade física como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética que resulta num gasto energético acima dos níveis de repouso. Esta definição considera quatro contextos principais: o trabalho (as atividades ocupacionais), as atividades domésticas (em casa e no quintal), o transporte (deslocamento, caminhando ou de bicicleta), e as atividades de lazer (incluindo exercícios físicos, esporte, dança, artes marciais etc.). A maioria dos estudos da atividade física relacionada à saúde observa a seguinte classificação dos níveis de atividade física: leve [...], (por exemplo caminhar normalmente, realizar tarefas domésticas, banhar-se, jogar boliche); moderadas [...] (caminhar em passos rápidos, pedalar, jogar voleibol recreativo ou lavar o carro) e intensas ou vigorosas [...] (correr, pedalar ou nadar em ritmo forte, jogar futebol ou basquete, capinar ou cavar buracos). (BARROS; NAHAS, 2003, p. 11).

Conforme se percebe, a medida dos níveis de atividade física

considera a intensidade do esforço realizado, em comparação com o gasto

energético em repouso.

Não se deve confundir atividade física com exercício, sendo este

uma das formas de atividade física planejada, estruturada, repetitiva, cujo objetivo é

o desenvolvimento da aptidão física, de habilidades motoras ou reabilitação orgânica

funcional. (BARROS; NAHAS, 2003).

É importante ainda diferenciar atividade física de aptidão física, a

qual pode ser compreendida como:

Aptidão física, por sua vez, pode ser definida como a capacidade de realizar atividades físicas, distinguindo-se duas formas de abordagem: a) aptidão física relacionada à performance motora – que inclui componentes necessários para a performance no trabalho ou nos esportes; b) aptidão física relacionada à saúde – que congrega aquelas características associadas à disposição para o trabalho e o lazer, proporcionando, paralelamente, menor risco de desenvolver doenças ou condições crônico-degenerativas associadas a baixos níveis de atividade habitual. (BARROS; NAHAS, 2003, p.11).

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Os autores apontam ainda a definição de saúde como uma condição

humana inserida nas dimensões física, social e psicológica, caracterizada num

continuo com polos positivos e negativos. A saúde positiva seria caracterizada pela

capacidade de se ter uma vida satisfatória e proveitosa; a saúde negativa estaria

associada à morbidade, ao extremo, à morbidade prematura (BARROS; NAHAS,

2003).

Para Guedes (1996, p. 15), aptidão física é entendida como:

Um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um não apenas a realização das tarefas do cotidiano, as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas sem fadiga excessiva, mas, também, evitar o aparecimento das funções hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentindo uma alegria de viver. [...] seria a capacidade de realizar esforços físicos sem fadiga excessiva, garantindo a sobrevivência de pessoas em boas condições orgânicas no meio ambiente em que vivem.

Assim, ao se relacionar a atividade física e suas relações com a

saúde, verifica-se que os fatores estão inter-relacionados e devem, portanto, ser

considerados para a proposição de uma prática que vise à determinação da melhora

da qualidade de vida a partir da prática de atividades físicas.

É importante atentar, com base no modelo proposto, que a aptidão

física não é determinada apenas pela atividade física habitual. Devem ser

considerados outros fatores ambientais, sociais, atributos pessoais, bem como

características genéticas que também afetam os principais componentes da aptidão

física.

Assumpção et al. (2002) refere que as evidências presentes na vida

contemporânea destacam o baixo nível de atividade física como fator decisivo no

desenvolvimento de doenças degenerativas e respalda a necessidade de serem

propostas mudanças no estilo de vida, levando à incorporação de prática de

atividades físicas ao seu cotidiano.

Nos aportes teóricos de Assumpção et al. (2002), encontram-se

resultados de estudos envolvendo a relação positiva entre atividade física, saúde,

estilo de vida e qualidade de vida. Identifica-se, neste paradigma, a interação das

dimensões da promoção da saúde, da qualidade de vida e da atividade física.

Mesmo face a todas as informações disponíveis sobre a importância

de se ser ativo fisicamente, poucas pessoas realizam atividade física

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constantemente para se tornarem ativos evitando assim inúmeras consequências de

ser sedentário.

Nesta direção, pode-se pensar no papel efetivo das aulas de

Educação Física, como disciplina escolar que utiliza a atividade física para atingir

objetivos educacionais, e por tanto formar o aluno não só para vida enquanto

permanece na escola, mas na sua formação como individuo.

Nesta via de pensamento, Farinati e Ferreira (2006, p. 163):

Depreende-se disso que a educação física não pode perder de vista o caráter multifatorial da saúde, e, portanto, da qualidade de vida. Como disciplina escolar, não deve abandonar sua preocupação em subsidiar e encorajar as pessoas a adotarem modos ativos de vida.

Com base na finalidade de incentivar a adoção de modos ativos de

vida, cabe ao professor da disciplina proporcionar informação e estimular o aluno a

adotar comportamentos favoráveis para a manutenção e aprimoramento de

componentes de estilo de vida relacionados à saúde, por meio de vivências

sistematizadas e contextualizadas e o que se deve buscar com a disciplina

educação física.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) vêm contribuindo para

levar a disciplina educação física a um lugar de destaque na formação de cidadãos

críticos, participativos e com responsabilidade social.

A educação física enquanto componente curricular deve assumir então tarefas como: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança das ginásticas e práticas de aptidão física em benefício da qualidade de vida. (BETTI, 2002, p. 75).

Também nas Diretrizes Curriculares para a Educação no Estado do

Paraná encontram-se os elementos articuladores dos conteúdos estruturantes.

Dentre eles, situa-se os eixos da Cultura corporal e corpo, bem como cultura

corporal e saúde. Nesta última dimensão, alguns elementos são propostos como

temas de discussão pelas DCE (PARANÁ, 2008, p. 55-56):

- Nutrição: refere-se à abordagem das necessidades diárias de ingestão de

carboidratos, de lipídios, de proteínas, de vitaminas e de aminoácidos, e

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também de seu aproveitamento pelo organismo, no processo metabólico

que ocorre durante uma determinada prática corporal;

- Aspectos anátomo-fisiológicos da prática corporal: trata-se de conhecer o funcionamento do próprio corpo, identificar seus limites na relação entre prática corporal e condicionamento físico, e propor avaliação física e seus protocolos [...].

As determinações contidas nas DCE são corroboradas pelas idéias

de Silva (2001), quando o autor afirma que os cuidados com o corpo no atual estágio

da civilização tem se tornado uma exigência na modernidade, e implicam a

convergência de uma série de elementos, dentre os quais se incluem as tecnologias

que vão se desenvolvendo de maneira acelerada; a expansão do mercado dos

produtos e serviços voltados para o corpo; a prática de atividades moldada pelos

prazeres do corpo; e o apelo às preocupações com a aparência. Dadas essas

circunstâncias, o cuidado com o corpo remete a uma ditadura do corpo, um corpo

que corresponde à expectativa desse tempo, um corpo que seja trabalhado

arduamente e do qual, os vestígios de naturalidade sejam eliminados.

Além dos benefícios imediatos da atividade física na infância e na

adolescência, experiências positivas associadas à prática de atividades vivenciadas

nessas faixas etárias se caracterizam como importantes no desenvolvimento de

habilidades e hábitos que auxiliam futuramente na adoção de um estilo de vida ativo

na idade adulta. Práticas criativas envolvendo elementos de motivação deverão

estabelecer um ambiente favorável à prática da atividade física.

Uma vez delimitada a importância da prática de atividades físicas

para a manutenção da qualidade de vida, deve-se indagar a frequência e

intensidade com que tais atividades devem ser realizadas no intuito de garantir a

saúde.

O conceito mais recente difundido de atividade física acumulada

surge em contraposição ao antigo ditame de exercício contínuo. Com base na

recomendação de acúmulo de 30 minutos de atividade física diária, de intensidade

moderada, como quantidade mínima eficaz, o desafio que se interpõe consiste em

identificar e quantificar essa atividade assim como a busca por melhores estratégias

para ser incentivada (HASKEL et al. apud PORTO; JUNQUEIRA JR., 2009).

Dumit (2008, p. 111) ensina:

A recomendação atual mais difundida mundialmente preconiza que, para que a atividade física proporcione benefícios para a saúde, os adultos

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saudáveis devem praticar pelo menos 30 minutos de atividade física de intensidade moderada em pelo menos cinco dias da semana, ou 20 minutos de atividade vigorosa em pelo menos três dias da semana. Para crianças e adolescentes, a recomendação é que pratiquem diariamente pelo menos 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa.

Deve-se acrescentar que não existe um método único para se medir

as atividades físicas. Neste estudo, vão ser usados questionários e o pedômetro,

instrumento utilizado para quantificação da atividade física não estruturada.

O pedômetro é um contador mecânico que grava movimentos de

passos em resposta a aceleração vertical do corpo. Para a maioria das pessoas,

caminhar é uma forma simples e barata de fazer exercício físico. Nesse caso o

pedômetro pode ajudar a monitorar o número de passos que se dá por dia. Com o

pedômetro é possível medir a quantidade mínima de passos necessários para

adequada equivalência entre passos diários e o tempo preconizado de 30 minutos

de atividade recomendada.

Porto e Junqueira Jr. (2008, p. 50) explicam que:

A mudança do foco no exercício contínuo, para o conceito mais recente de atividade física acumulada, teve enorme impacto nas ações de promoção da saúde. Com base na recomendação do acúmulo de 30 minutos de atividade física diária, de intensidade moderada, um dos desafios atuais é a identificação de melhores métodos para a quantificação da atividade física e a busca por melhores estratégias para seu efetivo incremento. Diferentes instrumentos para quantificação da atividade física, como pedômetros e questionários, vêm sendo avaliados.

Conforme Neto (1999), o aumento em 15% da produção diária de

calorias – cerca de 30 minutos de atividades físicas moderadas – pode fazer com

que indivíduos sedentários passem a fazer parte do grupo de pessoas consideradas

ativas, diminuindo, assim, suas chances de desenvolverem moléstias associadas à

vida pouco ativa.

O PROJETO EM AÇÃO: RELATO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS

Conforme previsto na elaboração do projeto que sustenta a proposta

que deu origem a este artigo, foi trabalhada a temática da atividade física como meio

privilegiado de imprimir maior qualidade de vida. Nesta direção, inicialmente foi

aplicado o questionário junto a uma turma de segundo ano do Ensino Médio, bem

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como em professores e funcionários do Colégio Estadual “Prof.ª Célia Moraes de

Oliveira”, localizado na zona leste do município de Londrina, Paraná.

Sobre a metodologia adotada, deve-se ponderar que o uso de

questionário visa tornar mais efetivos os conteúdos relacionados a atividades físicas

e gasto energético.

Algumas técnicas de medidas como os sensores de movimentos, a calorimetria e os testes físicos são de difícil aplicabilidade em estudos de base populacional, pelo custo elevado e longa duração de coleta de dados. Em estudos amplos, outros instrumentos são facilmente aplicáveis, como os recordatórios, observações comportamentais, questionários e entrevistas. Destes, destacam-se os questionários e entrevistas, pois são mais facilmente aplicáveis e não exigem participação ativa do entrevistado na coleta de dados. Outras vantagens da utilização de questionários são o baixo custo e permite o levantamento de informações sobre a duração e intensidade das atividades realizadas. (LAMONTE; AINSWORTH, 2001 apud PAPINI, 2009, p. 19).

Foi utilizado como instrumento de coleta de dados o Questionário

Internacional de Atividade Física (IPAQ) em sua versão curta, conforme consta no

Anexo 1.

A amostra da pesquisa consistiu em 32 alunos e 18 professores e

funcionários. Os resultados foram tabulados e deram origem aos gráficos

apresentados na sequência.

Inicialmente foi solicitado que os sujeitos pensassem nas atividades

que realizam por ao menos 10 minutos contínuos de cada vez. Quando

questionados em quantos dias da última semana haviam caminhado por pelo menos

10 minutos contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de

um lugar para outro, por lazer, por prazer ou como forma de exercício, foram obtidas

respostas que deram origem ao Gráfico 1.

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Gráfico 1- Frequência de atividades físicas leves na semana anterior à pesquisa

Fonte: da pesquisa (2011)

Verifica-se que, entre os alunos, a frequência maior foi de cinco

vezes por semana, tendo sido indicada por 11 alunos, enquanto 9 disseram que não

fizeram este tipo de exercício nenhum dia da semana anterior à aplicação do

questionário. No que diz respeito aos professores e funcionários, houve respostas

variadas, indicando que a realização de atividades leves na semana anterior à

pesquisa oscilou, uma vez que 3 pessoas disseram não ter feito nenhum tipo de

atividade, 5 profissionais declararam que tiveram esta prática 3 vezes por semana,

igual número de entrevistados realizam atividades físicas ao menos por dez minutos

5 vezes por semana e outros 5 profissionais realizam este tipo de ação todos os

dias.

Na questão seguinte, foi questionado, aos participantes que

responderam de forma afirmativa à questão anterior, quantas horas haviam sido

gastas caminhando por dia. Os resultados podem ser visualizados no Gráfico 2.

nenhum 2 vezes por

semana

3 vezes por

semana

4 vezes por

semana

5 vezes por

semana

todos o dias

9

3 4

2

11

3 3

0

5

2 3

5

ALUNOS PROFISSIONAIS

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Gráfico 2- Tempo de realização de atividades físicas leves na semana anterior à pesquisa

Fonte: da pesquisa (2011)

Observa-se, que, dentre os 23 alunos que haviam realizado

atividades físicas na semana anterior à pesquisa, o tempo médio predominante foi

de uma hora diária, tendo esta opção sido indicada por 11 entrevistados. Em

segundo plano, 5 alunos disseram ter feito menos de uma hora diária de atividades,

4 reportaram-se ao tempo de 2 horas, 2 mencionaram ter se exercitado por 3 horas

diárias e apenas um registrou um tempo superior a 3 horas por dia.

Quanto aos 15 professores e funcionários que responderam ter

praticado atividade física, 6 o fizeram por uma hora diária, 3 por menos de uma hora

e igual número por 2 e 3 horas, enquanto um profissional relatou ter feito atividade

física na semana anterior durante três horas diárias.

No quadro a seguir, é apresentada a classificação das atividades

leves, moderadas e intensas.

menos de 1 hora

1 hora 2 horas 3 horas mais de 3 horas

5

11

4

2 1

3

6

3

1 2

ALUNOS PROFISSIONAIS

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Quadro 2 - Atividades físicas segundo classificação por níveis de intensidade

LEVE MODERADA INTENSA

Caminhada: caminhar em torno da casa, escritório ou loja

Caminhada a um ritmo muito vigoroso

Trote e corrida Caminhada muito, muito vigorosa Caminhada em montanha em ritmo moderado com subida ou bagagem leve Caminhada em montanha íngreme e bagagem pesada

Atividades cotidianas e Laborais (ocupacionais) Sentado: utilizar o computador para trabalho e utilizando objetos leves Em pé executando trabalho leve como fazer uma cama, lavar pratos, passar roupas e preparar comida. Ainda vender em balcão

Atividades cotidianas e Laborais (ocupacionais) Limpeza pesada: lavar janelas, carro, limpar garagem Varrer chão ou carpete, aspirar pó, passar pano no chão Carpintaria geral Carregar e cortar madeira Cerrar com cerra elétrica Caminhando e aparando grama

Atividades cotidianas e Laborais (ocupacionais) Pegar areia, carvão, etc. com a pá Carregar material pesado como tijolos Trabalho de fazenda, como puxar, juntar feno Carregar e cortar madeira Cavar córregos e valas

Lazer e Esportes Artesanato, jogar cartas Sinuca Velejar em barco a motor Dardo Pescar sentado Tocar a maioria dos instrumentos

Lazer e Esportes Basquete: Arremessos Ciclismo no plano: esforço leve Dança de salão Pescar dentro do rio Golfe Velejar Wind surf Natação recreativa Tênis de mesa Voleibol: recreação

Lazer e Esportes Basquete jogo Ciclismo no plano Cross country Ski Futebol Natação moderado/vigoroso Tênis simples Voleibol— competição ou Vôlei de praia

Fonte: CSM e American Heart Association (2007)

Na questão seguinte do IPAQ, foi perguntado a todos os

entrevistados em quantos dias da última semana eles tinham realizado atividades

moderadas por pelo menos 10 minutos contínuos, sem incluir caminhada.

No Gráfico 3, podem ser visualizados os resultados obtidos.

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Gráfico 3 - Frequência de atividades físicas moderadas na semana anterior à pesquisa

Fonte: da pesquisa (2011)

Na continuidade de aplicação do questionário, foi perguntado aos 10

profissionais e 26 alunos que disseram ter praticado ao menos dez minutos de

atividades moderadas diárias na semana anterior, qual a quantidade de tempo

despedida nesta atividade.

Gráfico 4- Tempo de realização de atividades físicas moderadas na semana anterior à pesquisa

Fonte: da pesquisa (2011)

nenhum 2 vezes por semana

3 vezes por semana

4 vezes por semana

5 vezes por semana

todos o dias

6

12

8

0

4

2

8

4

3

2

0

1

ALUNOS PROFISSIONAIS

menos de 1 hora

1 hora 2 horas 3 horas mais de 3 horas

8

15

0

3

0

2 3

0

5

0

ALUNOS PROFISSIONAIS

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Neste ponto, deve-se recorrer à recomendação atual mais difundida

mundialmente, conforme Dumit (2008), que preconiza para adultos ao menos 30

minutos de atividade física de intensidade moderada em pelo menos cinco dias da

semana, ou 20 minutos de atividade vigorosa em pelo menos três dias da semana.

No que diz respeito a adolescentes, a recomendação é de pelo menos 60 minutos

diários de atividade física de intensidade moderada a vigorosa.

Desta forma, os resultados mostram-se insatisfatórios, uma vez que

nenhum dos participantes da pesquisa realizada respondeu que pratica atividades

moderadas por mais de três horas.

Em momento posterior, foi perguntado sobre a realização de

atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos contínuos, como correr, fazer

ginástica aeróbica, jogar futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer

serviços domésticos pesados em casa, no quintal ou cavoucar no jardim, carregar

pesos elevados ou qualquer atividade que tivesse feito aumentar muito a respiração

e/ou batimentos cardíacos.

No Gráfico 5 podem ser verificadas as respostas obtidas neste

sentido.

Gráfico 5 - Frequência de atividades físicas vigorosas na semana anterior à pesquisa

Fonte: da pesquisa (2011)

nenhum 2 vezes por semana

3 vezes por semana

4 vezes por semana

5 vezes por semana

todos o dias

13

4

10

0 1

4

11

0

6

0 0 1

ALUNOS PROFISSIONAIS

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A realização de atividades vigorosas foi bastante reduzida entre

alunos e profissionais. Na primeira categoria treze alunos disseram não ter feito

nenhum tipo de atividade que exigisse maior esforço, 10 fizeram este tipo de

atividade três vezes por semana, 4 alunos mencionaram a realização todos os dias e

igual número apontou a frequência de duas vezes por semana, enquanto um aluno

disse realizar atividades vigorosas cinco vezes por semana.

Dentre os professores e funcionários, os percentuais são ainda mais

reduzidos, posto que 13 deles disseram não realizar atividades vigorosas, enquanto

6 realizam este tipo de atividade três vezes por semana e apenas um as realiza

todos os dias.

Quanto ao tempo gasto na realização de atividades vigorosas, os 19

alunos e 7 profissionais que disseram praticá-las indicaram as respostas expressas

pelo Gráfico 6.

Gráfico 6 - Tempo de realização de atividades físicas vigorosas na semana anterior à pesquisa

Fonte: da pesquisa (2011)

Quanto ao tempo despendido em atividades físicas vigorosas, seis

alunos e cinco profissionais disseram gastar menos de uma hora neste tipo de

menos de 1 hora

1 hora 2 horas 3 horas mais de 3 horas

6

10

0 0

3

5

0 0

2

0

ALUNOS PROFISSIONAIS

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prática, enquanto dez alunos disseram que o fazem por uma hora e 3 informaram

que gastam mais de três horas na realização de atividades que exigem mais vigor

físico. Dois profissionais disseram praticar este tipo de atividade por três horas.

As duas últimas questões do questionário aplicado objetivaram

investigar o tempo que os sujeitos da pesquisa permanecem sentados todo dia, seja

no trabalho ou na escola, em casa e durante o tempo livre. As ações incluem fazer

atividades escolares, ler, assistir à TV sentado ou deitado, sem incluir o tempo gasto

em meios de transporte.

O Gráfico 7 aponta tempo diário indicado pelos sujeitos da pesquisa.

Gráfico 7 - Tempo gasto sentado por dia de semana

Fonte: da pesquisa (2011)

Verifica-se que a maior incidência de respostas vincula-se ao tempo

de mais de três horas, tanto para alunos quanto para profissionais. Vinte alunos

disseram que passam mais de três horas sentados, 6 indicaram o tempo diário de

uma hora, 3 relataram que ficam duas horas sentados e igual número de sujeitos

sinalizou o tempo de três horas. Por sua vez, 8 profissionais disseram que ficam

menos de uma hora diária sentados, 4 disseram ficar uma hora, 3 reportaram-se a

um tempo superior a três horas, enquanto 2 disseram que ficam duas horas

sentados e apenas um referiu-se a três horas em inatividade.

menos de 1 hora

1 hora 2 horas 3 horas mais de 3 horas

0

6

3 3

20

8

4

2 1

3

ALUNOS PROFISSIONAIS

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Em dias do final de semana, a quantidade de horas em inatividade

aumenta, conforme se pode comprovar pela observação do Gráfico 8.

Gráfico 8 - Tempo gasto sentado aos finais de semana

Fonte: da pesquisa (2011)

O tempo diário em inatividade aos finais de semana são mais

elevados que nos outros dias. Isto se percebe quando se constata que 15 alunos e

11 profissionais disseram ficar mais de três horas sentados, enquanto 8 alunos e 2

profissionais passam três horas e 3 alunos e 5 profissionais declararam ficar por

duas horas e 2 alunos indicaram o tempo de uma hora.

De posse destes dados, deve-se retomar os conceitos apresentados

anteriormente para avaliar a atividade física dos alunos e profissionais envolvidos.

Desta forma, quanto aos alunos, percebeu-se que suas respostas evidenciam uma

prática reduzida de atividades, sobretudo as mais vigorosas e um excesso de horas

em inatividade tanto em dias comuns quanto em finais de semana.

Os profissionais também revelaram um reduzido tempo de

realização de atividades físicas durante a semana e o aumento de tempo sentados,

talvez devido às suas funções profissionais, pois os professores e gestores passam

muito tempo sentados na elaboração de atividades e correção de tarefas. Assim,

quando se fala em inatividade, quer-se expressar uma ausência de gasto de energia

física.

menos de 1 hora

1 hora 2 horas 3 horas mais de 3 horas

0

2 3

8

15

0 0

5

2

11

ALUNOS PROFISSIONAIS

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Os gráficos acima foram apresentados em forma de slides para os

profissionais e alunos, e na ocasião foi sugerida a realização de atividades diárias de

alongamento no próprio ambiente escolar. Esta ação, no entanto, não foi

implementada por problemas no horário das aulas e pela não aceitação por parte de

alguns profissionais que atuam no estabelecimento.

Junto aos alunos, foi trabalhada a pirâmide da atividade física,

conforme consta na figura a seguir.

Figura 1 - Pirâmide da atividade física

Fonte: www.wikipediacomonns.com.br

Os alunos demonstraram bastante interesse pela atividade e

puderam comparar com os dados revelados pelos gráficos a partir da aplicação do

questionário do IPAQ.

Depois, em grupos, elaboraram suas próprias pirâmides, utilizando

recortes de revistas, papel e tinta. Os trabalhos foram expostos em diferentes pontos

da escola, para divulgar as ideias relacionadas à necessidade de praticar atividades

físicas para toda a comunidade escolar.

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Nesta direção, e tendo em vista os resultados atingidos pelos

trabalhos, deve-se retomar o que afirma Assumpção et al. (2002), quando se reporta

às evidências presentes na vida contemporânea as quais sinalizam um baixo nível

de atividade física como fator decisivo no desenvolvimento de doenças

degenerativas e como fator que deve motivar mudanças no estilo de vida, levando à

incorporação de prática de atividades físicas ao seu cotidiano.

Ainda em cumprimento às atividades estabelecidas no projeto que

deu origem à intervenção didático-pedagógica, foi elaborado um painel em que eram

afixados, de forma livre e continuada, notícias e reportagens sobre a importância da

prática de atividades físicas.

Foram ainda utilizados vídeos que abordaram temas como saúde,

sedentarismo e suas consequências.

A etapa seguinte do trabalho foi a leitura da reportagem A quantas

você anda?, escrita por Thais Szegö e que aponta o resultado de experimento

realizado junto a quatro pessoas com profissões e rotinas bem diferentes que

utilizaram o pedômetro, um aparelho que, preso à cintura, para medir o número de

passos dados ao longo de cinco dias.

Os alunos se surpreenderam com os resultados obtidos por Cleitos

de Souza, com 17.500 passos diários, bem acima dos dez mil indicados como

ideais, e de Alexandre Chut, com 15.000 passos e comentaram que o professor de

artes marciais está constantemente em atividade por conta de seu trabalho, mas o

médico poderia ser sedentário e relataram ainda ter achado muito interessante o

caso da comerciante que faz 7.000 passos diários aumentando seu limite diário

apenas por ir e voltar a pé do banco.

Após a leitura do texto, os alunos responderam a questões e a

professora falou sobre o pedômetro, mostrando um aparelho e propondo a utilização

em dois dias seguidos, em alguns alunos sorteados, para a medição dos passos que

cada um efetua no período.

A figura a seguir apresenta um modelo do aparelho utilizado na aula

e nas atividades seguintes.

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Figura 2 - Pedômetro

O pedômetro tem o tamanho de um bip e possui sensores que, por

meio das oscilações provocadas pelo movimento dos quadris, contabiliza o número

de passos. É encontrado em lojas de materiais ortopédicos ou de acessórios

esportivos.

Trata-se, de um contador mecânico que grava movimentos de

passos em resposta a aceleração vertical do corpo. Para a maioria das pessoas,

caminhar é uma forma simples e barata de fazer exercício físico. Nesse caso o

pedômetro pode ajudar a monitorar o número de passos que se dá por dia. Com o

pedômetro é possível medir a quantidade mínima de passos necessários para

adequada equivalência entre passos diários e o tempo preconizado de 30 minutos

de atividade recomendada.

Foi explicitado aos alunos que o objetivo do Programa dos Dez Mil

Passos coloca o foco sobre a acumulação da atividade ao longo do dia todo e

comparou-se a tabela a seguir com as informações contidas na pirâmide

anteriormente trabalhada.

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De 2 a 3 vezes por semana

Atividades de lazer (como futebol, basquete ou boliche); Atividades de flexibilidade e força (musculação, ioga, alongamento, flexões);

De 3 a 5 vezes por semana

Exercícios aeróbicos (caminhada rápida, ciclismo, natação, jogging); Exercícios de recreação (dança, caminhadas, trilhas);

Diariamente

Passear com o cachorro, procurar caminhos mais longos, usar escadas em vez de elevador; Deixar o carro na garagem e caminhar quando você precisar ir a locais próximos; Trabalhar no jardim de sua casa

Fonte: PORTO; JUNQUEIRA JR. (2009)

Na discussão que se seguiu à comparação feita, foi explicado que o

Programa Dez Mil Passos serve como ferramenta motivacional para iniciar as

transformações requeridas, basta começar com pequenos passos para implantar as

mudanças no estilo de vida.

Na tabela a seguir, são sinalizados os índices de pedômetro,

desenvolvidos para proporcionar uma orientação sobre quantos passos são

suficientes.

PASSOS POR DIA NIVEL DE ATIVIDADE

<5.000 Sedentário

5000 – 7499 Pouco ativo

7500 – 9999 Ativo

> 10.000 Altamente ativo

Fonte: PORTO; JUNQUEIRA JR. (2009)

Durante o período em que as atividades estavam sendo realizadas,

foi explicado o uso do aparelho e propôs-se a utilização do pedômetro para medir e

analisar a atividade desenvolvida por um grupo de alunos e profissionais da

instituição.

Foram sorteados cinco alunos e selecionados dois funcionários e

dois professores para compor a testagem do número de passos. Esta etapa foi

demorada, pois havia apenas três aparelhos, sendo assim somente depois de treze

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dias os resultados foram divulgados para os alunos. Após a medição, foi solicitado

que os participantes descrevessem as atividades realizadas para confrontar as

diferenças percebidas entre os dois dias.

A tabela a seguir apresenta os resultados obtidos.

Tabela 1 - Resultados do uso do pedômetro em alunos, funcionários e professores

DIA I DIA II

Aluno 1 3980 4032

Aluno 2 6045 6237

Aluno 3 5015 5945

Aluno 4 8204 8165

Aluno 5 6339 7431

Professor 1 8150 9465

Professor 2 4817 3142

Funcionário 1 10138 6050

Funcionário 2 10245 9951

Fonte: Desenvolvimento próprio

Observa-se que os números encontrados mantiveram-se bem

aquém da média de dez mil passos proposta pelos atuais padrões de atividade

física. Apenas em relação a dois funcionários houve o cumprimento dos dez mil

passos, e mesmo assim no primeiro dia da medição. Em relação à funcionária 1,

observou-se que a função exercida nos dois dias foi responsável pela variação, pois

no segundo dia esteve na cozinha e sua movimentação restringiu-se ao espaço do

local, enquanto no primeiro dia esteve no pátio e demais dependências, além de ter

realizado serviços externos. Trata-se de uma senhora de 53 anos.

O funcionário 2, um homem de 41 anos, que manteve o número de

passos próximo aos dez mil também no segundo dia, pratica exercícios físicos, além

de vir a pé para a escola todos os dias, pois mora em um bairro afastado e com

poucos horários de ônibus.

Em relação aos professores, os resultados foram muito distantes do

ideal esperado de dez mil passos. A primeira professora, de 39 anos, vem de carro

para o trabalho e diz não praticar nenhuma atividade física, porém no período da

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tarde leva e busca suas filhas na escola e depois passeia com as crianças em um

parque nas proximidades de sua casa. Disse que a filha pequena dorme tarde e que

ela precisa acompanhar a menina constantemente, por isso os números obtidos

encontram-se próximos do ideal.

Já o segundo professor, de 36 anos, trabalha em três escolas e vai a

todas de carro. Busca o filho na escola também de carro e disse que em suas

(poucas) horas vagas assiste à televisão e lê jornais.

Entre os cinco alunos sorteados, verificou-se que a maior média de

passos foi obtida pelo aluno 5, que manteve os números acima de dez mil passos

nos dois dias. O jovem, de 17 anos, vem a pé para a escola e a tarde participa de

treino de futebol.

Já a aluna 1, de 16 anos, foi quem apresentou o menor número de

passos nos dois dias. Vem de carro com o pai para a escola e volta com a mãe de

uma amiga da mesma turma. Não faz qualquer atividade física além daquelas

realizadas na escola. Observou-se que se trata de uma adolescente que já

apresenta problemas de obesidade.

Os outros alunos que participaram da amostra mantiveram uma

média entre 5 e 7 mil passos, o que poderia ser melhorado com mais incentivos,

pois se percebeu que todos os cinco procuraram melhorar os números obtidos no

primeiro dia.

Foi interessante observar que muitos alunos demonstraram

interesse em comprar o pedômetro, pois gostaram muito de usar o instrumento. Uma

professora que não participou da pesquisa adquiriu e vem utilizando o aparelho com

regularidade.

Assim sendo, a realização desta etapa permitiu perceber que

pequenas mudanças no jeito de viver, resultantes do acréscimo gradual de

atividades físicas no cotidiano podem diminuir as barreiras existentes na prática de

atividade física. No caso dos alunos que participaram da medição por meio do

pedômetro, mesmo a incorporação de pequenas doses de atividades físicas pôde

trazer benefícios.

A culminância do projeto deu-se com a produção de um parágrafo

opinativo sobre progresso, tecnologia, atividade física e sedentarismo, após a

observação de imagens em uma charge e discussão em grupo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do objetivo inicialmente estabelecido, que consistiu em

discutir os reflexos da prática de atividades físicas na qualidade de vida dos

indivíduos, tornou-se possível aferir, de forma pontual, a reduzida importância que

muitos jovens e adultos dão a este importante aspecto da vida humana.

Os textos e informações constantes do painel e da pirâmide,

expostos em vários pontos da escola, foram oportunos para chamar a atenção da

comunidade escolar para a importância de se repensar os hábitos de vida como

pressuposto básico de mudança.

Percebe-se que, mesmo face a todas as informações disponíveis

sobre a importância de se ser ativo fisicamente, poucas pessoas realizam atividade

física constantemente para se tornarem ativos evitando assim inúmeras

consequências de ser sedentário.

Reforça-se, segundo os aportes teóricos que subsidiam este estudo,

que foi comprovado nas ações desenvolvidas a relação positiva entre atividade

física, saúde, estilo de vida e qualidade de vida.

Desta forma, as ações engendradas ao longo da implantação da

proposta didático-pedagógica deixam entrever a interação das dimensões da

promoção da saúde, da qualidade de vida e da atividade física.

Deve-se salientar a postura de muitos jovens, professores e

funcionários quanto à falta de preocupação sobre a prática de atividades e a

melhoria das condições de bem estar e saúde.

No trabalho com os professores, foi destacado o conceito mais

recente difundido de atividade física acumulada, em contraposição ao antigo ditame

de exercício contínuo. Assim, foi enfatizado que o pedômetro representa uma

alternativa de quantificar as melhores estratégias na direção de um estilo de vida

mais saudável.

Já no trabalho com os alunos, os resultados obtidos pelo uso do

pedômetro em cinco adolescentes da turma foi determinante para despertar o

interesse dos demais, que quiseram, mesmo sem fazer parte do projeto, utilizar o

pedômetro. Assim, muitos outros alunos buscaram usar o aparelho e melhorar os

números encontrados.

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Nesta direção, é possível argumentar que, dentre as ações

realizadas, a que mais surtiu resultados foi a utilização do pedômetro pois, embora a

pirâmide tenha chamado bastante a atenção de professores, funcionários, alunos e

pais que frequentam a escola, foi a demonstração prática que tornou possível

destacar a necessidade de incrementar a prática de atividades físicas.

Em muitos momentos, os alunos questionaram a professora sobre

seus próprios números, os quais se mostram bastante elevados devido ao fato de

ser uma pessoa com hábitos bastante ativos, superando diariamente a meta dos dez

mil passos.

Deste modo, além do trabalho com o pedômetro, o posicionamento

dos professores também representa um incentivo para muitos jovens que nem

sempre têm exemplos familiares positivos.

Sugere-se, em continuidade a este trabalho, que os demais

professores da escola utilizem o pedômetro com regularidade – o qual pode ser

comprado inclusive com o dinheiro proveniente do programa PDDE – para estender

o trabalho a um número crescente de alunos e, assim, buscar reforços positivos na

tarefa de propor a melhoria das ações voltadas não apenas para a obtenção de

resultados dentro do ideal de dez mil passos, mas que faça os alunos refletirem

sobre como a simples mudança de um hábito pode impactar de forma positiva a vida

das pessoas.

REFERÊNCIAS

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BRASIL, Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997. DUMITH, Samuel C. Proposta de um modelo teórico para a adoção da prática de atividade física. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. v. 13, n. 2, 2008. GUEDES, D. P. et al. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes. Revista Brasileira de Medicina Esportiva. v. 7, n. 6, Nov./Dez. 2006. ______. Atividade física, aptidão física e saúde. In: CARVALHO, T.; GUEDES, D.P., SILVA, J.G. (orgs.). Orientações básicas sobre atividade física e saúde para profissionais das áreas de educação e saúde. Brasília: Ministério da Saúde e Ministério da Educação e do Desporto, 1996. GUEDES, D.P.; GUEDES, J.E.P. Crescimento, composição corporal e desempenho motor em crianças e adolescentes. São Paulo, CLR Baleeiro, 1997. FARINATTI, Paulo de Tarso Veras; FERREIRA, Marcos Santos. Saúde, promoção da saúde e educação física: conceitos, princípios e aplicações. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2006. NAHAS, Markus Vinicius. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3 ed. Londrina: Midiograf, 2003. _____. Revisão de métodos para determinação dos níveis de atividade física habitual em diversos grupos populacionais. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.1, n.4, p.27-37, 1996. NETO, TURIBIO LEITE DE BARROS. Atividade Física e Qualidade de vida. In: Anais do I Congresso Centro-Oeste de Educação Física, Esporte e Lazer; Brasília, setembro de 1999. PAPINI, Camila Bosquiero. Associações entre nível, oferta de atividade física no trabalho e atividade física de lazer. (Dissertação de Mestrado) Rio Claro: UNESP, 2009. PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Educação Física. Curitiba: SEED-PR, 2008.

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PORTO, Luiz Guilherme Grossi; JUNQUEIRA JR., Luiz Fernando. Padrão usual de passos diários de indivíduos com atividade profissional administrativa pública. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 17, N. 1, 2009. _____. Adesão a um programa de atividade física baseado no incremento do número de passos diários, por homens saudáveis sedentários. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 16, n. 2, 2008. SILVA, A. M. Corpo, ciência e mercado: reflexões acerca da gestação de um novo arquétipo da felicidade. Campinas, São Paulo: Autores Associados: Florianópolis: Editora da UFSC, 2001. WHO. Versão em português dos instrumentos de avaliação de qualidade de vida (WHOQOL). Disponível em: < http://www.ufrgs.br/psiq/WHOQOL.html> Acesso em: 28 abr. 2011.

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ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FÍSICA – VERSÃO CURTA

Nós estamos interessados em saber que tipos de atividade física as pessoas fazem como parte do seu dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito em diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas nos ajudarão a entender que tão ativos nós somos em relação à pessoas de outros países. As perguntas estão relacionadas ao tempo que você gasta fazendo atividade física na ÚLTIMA semana. As perguntas incluem as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Suas respostas são MUITO importantes. Por favor, responda cada questão mesmo que considere que não seja ativo. Obrigado pela sua participação!

Para responder as questões lembre que: atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o normal atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal

Para responder as perguntas pense somente nas atividades que você realiza por pelo menos 10 minutos contínuos de cada vez.

1a Em quantos dias da última semana você CAMINHOU por pelo menos 10 minutos contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de um lugar para outro, por lazer, por prazer ou como forma de exercício?

dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum

1b Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no total você gastou caminhando por dia?

horas: ______ Minutos: _____

2a. Em quantos dias da última semana, você realizou atividades MODERADAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar, fazer ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do coração (POR FAVOR NÃO INCLUA CAMINHADA)

dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum

2b. Nos dias em que você fez essas atividades moderadas por pelo menos 10 minutos contínuos, quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia?

horas: ______ Minutos: _____

3a Em quantos dias da última semana, você realizou atividades VIGOROSAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica, jogar futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em casa, no quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos

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elevados ou qualquer atividade que fez aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração.

dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum

3b Nos dias em que você fez essas atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia?

horas: ______ Minutos: _____

Estas últimas questões são sobre o tempo que você permanece sentado todo dia, no trabalho, na escola ou faculdade, em casa e durante seu tempo livre. Isto inclui o tempo sentado estudando, sentado enquanto descansa, fazendo lição de casa visitando um amigo, lendo, sentado ou deitado assistindo TV. Não inclua o tempo gasto sentando durante o transporte em ônibus, trem, metrô ou carro.

4a. Quanto tempo no total você gasta sentado durante um dia de semana?

______horas ____minutos

4b. Quanto tempo no total você gasta sentado durante em um dia de final de semana?

______horas ____minutos