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AVALANCHE E MORTES NA SUÍÇA Rebeldes avançam Três pessoas morreram e uma desapareceu ao se- rem atingidas por uma ava- lanche, ontem, na frontei- ra da Suíça com a Itália. Ou- tras seis foram levadas pa- ra o hospital. Manifestantes queimaram a sede do partido do presi- dente sírio, Bashar al-As- sad, e uma delegacia, em Ta- fas, perto de Deera, e foram à praça central de Deera clamar por liberdade. LÍBIA mundo Taylor participou de guerras civis Operação na Somália deu errado nos anos 90 e milícias dominam o país Caças franceses, que já atingiram uma aeronave de Kadhafi, patrulham zona de exclusão no espaço aéreo líbio N o papel, os motivos são nobres e a missão, heroi- ca: defender o povo sofrido de violações de direitos hu- manos cometidas por um di- tador tirano ou por grupos re- beldes descontrolados. Inter- venções autorizadas pela ONU, como a que está aconte- cendo atualmente na Líbia, entretanto, muitas vezes vêm acompanhadas de polêmica: países invasores são acusa- dos de chegarem atrasados ou de ter interesse em recur- sos naturais do povo que esta- riam protegendo. Especialista em assuntos militares da Universidade Fe- deral de Juiz de Fora, Expedi- to Carlos Estephani Bastos observa que, geralmente, os países mais poderosos en- tram num conflito quando há motivos econômicos e polí- ticos que justificam a inter- venção: “No caso da Líbia, o país ainda é uma fonte de pe- tróleo para a Europa”. Desde a década de 90, que testemunhou alguns dos mais graves genocídios na África, intervenções aprova- das pela ONU têm se tornado mais comuns. Entre 1990 e o ano 2000, foram iniciadas 13 missões das Nações Unidas, fora operações que tiveram sua autorização e foram con- duzidas pela Otan, modelo em vigor na Líbia. Foi nesse período, mais pre- cisamente em outubro de 1993, que aconteceu a missão mais traumática para o Oci- dente: durante operação para tentar capturar o ‘senhor da guerra’ somali Muhammad Fa- rah Aideed, 18 soldados ameri- canos foram mortos e 75, feri- dos, após uma emboscada em Mogadíscio. Depois, o então presidente dos EUA, Bill Clin- ton, encerrou a missão. No mesmo ano, começou outro vexame para as mis- sões de paz: a intervenção da ONU em Ruanda, que não im- pediu o massacre de até 1 mi- lhão de pessoas da etnia tútsi pelos hutús. Várias potências não participaram e foram acu- sados de negligência. Na mes- ma década, massacres em Ser- ra Leoa e Libéria, ambos com participação do ditador Char- les Taylor, correram sem se- rem confrontados a tempo. Fora da África, a Otan só par- ticipou efetivamente na guer- ra da Bósnia depois do massa- cre de Srebrenica, quando 8 mil bósnios foram mortos. EFE A estratégica cidade petroleira de Ajdabiya, a 160 quilômetros ao su- doeste de Benghazi, no leste da Líbia, foi recon- quistada na manhã de ontem pelos rebeldes, uma semana após o iní- cio da intervenção mili- tar da coalizão interna- cional aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU para impedir que as forças leais ao di- tador Muamar Kadhafi continuem massacran- do a população. Segun- do informações da agên- cia Efe, os rebeldes lí- bios revolucionários se- guiram para a cidade pe- troleira de Brega, na re- gião leste da Líbia, e, no final da tarde de ontem, afirmaram ter obtido o controle da cidade. Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Ba- rack Obama, tranquili- zou a população ameri- cana. Obama afirmou que os ataques aéreos es- tão tendo êxito e que es- tá fora de questão com- prometer de novo suas tropas em um país mu- çulmano. Ele insistiu que a missão internacio- nal na Líbia é clara, tem um foco bastante defini- do e está sendo bem-su- cedida, salvando incon- táveis inocentes de um “banhode sangue”. PROTESTOS NAS RUAS DA SÍRIA JAPÃO: NÍVEL DE IODO RADIOATIVO NO MAR ESTÁ 1.250 VEZES ACIMA DO PERMITIDO Riscos das ‘guerras pela paz’ O Japão anunciou ontem ter detectado no mar, perto da avariada central nuclear de Fu- kushima, níveis de iodo radioa- tivo 1.250 vezes acima do per- mitido, aumentando ainda mais o temor de que a blinda- gem de um dos reatores tenha sofrido uma fissura. Esta gran- de concentração de iodo ra- dioativo agrava o risco de con- taminação alimentar dos fru- tos do mar. “Se alguém bebe 50 centilitros de água com esta concentração de iodo, atingirá de uma só vez o limite anual que pode absorver. É um nível relativamente elevado”, expli- cou um porta-voz da Agência de Segurança Nuclear. Horas, antes, o primeiro-ministro ja- ponês, Naoto Kan, admitiu que a situação segue “imprevi- sível” em Fukushima. Intervenções de potências em países em conflito têm histórico de polêmica e críticas JOÃORICARDO GONÇALVES [email protected] QUATRO CANTOS O DIA I DOMINGO, 27 . 3 . 2011 33

Os riscos das Guerras pela paz

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Page 1: Os riscos das Guerras pela paz

AVALANCHE EMORTES NA SUÍÇA

Rebeldesavançam

Três pessoas morreram euma desapareceu ao se-rematingidasporumaava-lanche, ontem, na frontei-radaSuíçacomaItália.Ou-tras seis foram levadas pa-ra ohospital.

Manifestantes queimarama sede do partido do presi-dente sírio, Bashar al-As-sad,eumadelegacia,emTa-fas, pertodeDeera, e foramà praça central de Deeraclamarpor liberdade.

LÍBIA

mundo

Taylor participou de guerras civisOperação na Somália deu errado nos anos 90 e milícias dominam o país

Caças franceses, que já atingiram uma aeronave de Kadhafi, patrulham zona de exclusão no espaço aéreo líbio

N o papel, os motivos sãonobres e a missão, heroi-

ca: defender o povo sofridode violações de direitos hu-manos cometidas por um di-tador tiranoouporgrupos re-beldes descontrolados. Inter-venções autorizadas pelaONU, comoaque estáaconte-cendo atualmente na Líbia,entretanto,muitas vezes vêmacompanhadas de polêmica:países invasores são acusa-dos de chegarem atrasadosou de ter interesse em recur-sosnaturaisdopovoqueesta-riamprotegendo.

Especialista em assuntosmilitaresdaUniversidadeFe-deral de Juiz de Fora, Expedi-to Carlos Estephani Bastosobserva que, geralmente, ospaíses mais poderosos en-tram num conflito quandohámotivos econômicos epolí-ticos que justificam a inter-venção: “No caso da Líbia, opaís ainda é uma fonte de pe-tróleo para a Europa”.

Desde a década de 90, quetestemunhou alguns dosmais graves genocídios naÁfrica, intervenções aprova-das pelaONUtêmse tornadomais comuns. Entre 1990 e oano 2000, foram iniciadas 13missões das Nações Unidas,fora operações que tiveramsua autorização e foram con-duzidas pela Otan, modeloem vigor na Líbia.

Foinesseperíodo,mais pre-cisamente em outubro de1993, que aconteceu a missãomais traumática para o Oci-dente: durante operação paratentar capturar o ‘senhor daguerra’ somaliMuhammadFa-rahAideed, 18soldadosameri-

canos forammortos e 75, feri-dos, após uma emboscada emMogadíscio. Depois, o entãopresidente dos EUA, Bill Clin-ton, encerrouamissão.

No mesmo ano, começououtro vexame para as mis-sões de paz: a intervenção da

ONUemRuanda, quenão im-pediu omassacre de até 1 mi-lhão de pessoas da etnia tútsipelos hutús. Várias potênciasnãoparticiparameforamacu-sados de negligência. Names-madécada,massacresemSer-ra Leoa e Libéria, ambos com

participação doditadorChar-les Taylor, correram sem se-rem confrontados a tempo.Fora da África, a Otan só par-ticipouefetivamentena guer-radaBósniadepoisdomassa-cre de Srebrenica, quando 8mil bósnios forammortos.

EFE

■A estratégica cidadepetroleira de Ajdabiya,a 160quilômetros ao su-doeste de Benghazi, noleste da Líbia, foi recon-quistada na manhã deontem pelos rebeldes,uma semana após o iní-cio da intervençãomili-tar da coalizão interna-cional aprovada peloConselho de Segurançada ONU para impedirque as forças leais ao di-tador Muamar Kadhaficontinuem massacran-do a população. Segun-do informaçõesdaagên-cia Efe, os rebeldes lí-bios revolucionários se-guiramparaacidadepe-troleira de Brega, na re-gião leste da Líbia, e, nofinal da tarde de ontem,afirmaram ter obtido ocontroleda cidade.

Ontem, o presidentedos EstadosUnidos, Ba-rack Obama, tranquili-zou a população ameri-cana. Obama afirmouqueosataquesaéreoses-tão tendo êxito e que es-tá fora de questão com-prometer de novo suastropas em um país mu-çulmano. Ele insistiuqueamissão internacio-nal na Líbia é clara, temumfocobastantedefini-do e está sendo bem-su-cedida, salvando incon-táveis inocentes de um“banhode sangue”.

PROTESTOS NASRUAS DA SÍRIA

JAPÃO: NÍVEL DE IODO RADIOATIVO NO MARESTÁ 1.250 VEZES ACIMA DO PERMITIDO

Riscos das ‘guerras pela paz’

O Japão anunciou ontem terdetectado no mar, perto daavariadacentralnucleardeFu-kushima,níveisdeiodoradioa-tivo 1.250 vezes acima do per-mitido, aumentando aindamais o temor de que a blinda-

gemdeumdos reatores tenhasofridoumafissura.Estagran-de concentração de iodo ra-dioativo agravao riscode con-taminação alimentar dos fru-tosdomar.“Sealguémbebe50centilitros de água com esta

concentraçãode iodo,atingiráde uma só vez o limite anualquepode absorver. É umnívelrelativamente elevado”, expli-cou um porta-voz da Agênciade Segurança Nuclear. Horas,antes, o primeiro-ministro ja-ponês, Naoto Kan, admitiuquea situaçãosegue “imprevi-sível”emFukushima.

Intervenções de potências em países em conflito têm histórico de polêmica e críticasJOÃO RICARDO GONÇ[email protected]

QUATRO CANTOS

O DIA I DOMINGO, 27.3.2011 33