Os Sentidos Atribuídos à Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida Por Jovens Em Conflito Com a Lei e Seus Socioeducadores

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    Os sentidos atribudos medidasocioeducativa de liberdade assistida

    por jovens em conflito com a lei e seussocioeducadores

    Vera Lcia Trevisan de SouzaMagda Machado Ribeiro Venancio

    Os sentidos da medida de liberdade assistida para jovens

    em conflito com a lei: a histria de Pacfico

    A complexidade da problemtica envolvendo os jovens em conflito coma lei tem ocupado espao cada vez maior na mdia, motivado pesquisas cient-ficas, integrado discursos polticos, mobilizado vultosos recursos, incrementadoa criao de inmeras polticas pblicas e se constitudo mote para persistentes

    tentativas de mudana em relao maioridade legal. Quando se toma, porm,como referencial o aspecto do desenvolvimento humano, fundamental o sen-tido que determinadas aes e tambm polticas pblicas tm para jovens emconflito com a lei. sobre esta questo que versa o presente artigo, em que seapresenta parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado cujo objetivo foiinvestigar os sentidos atribudos medida de liberdade assistida por jovens emconflito com a lei e seus socioeducadores.

    O panorama histrico, jurdico e cultural

    O Estatuto da Criana e do Adolescente, promulgado em 13 de julho de1990, apresenta considervel avano em relao legislao anterior ao estabe-lecer a doutrina de proteo integral como diretriz nica para o atendimento scrianas e adolescentes brasileiros.

    Ali esto explcitos os direitos e garantias, inclusive o direito dignidade, liberdade e tambm proteo. So os adultos da sociedade de maneira abran-

    gente, sobretudo aqueles que tomam medidas de repercusso coletiva, inclusiveeconmicas, os responsveis por essa proteo e por colocar em exerccio os

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    direitos garantidos no Estatuto. Para garantir a aplicabilidade do Estatuto foramcriados vrios instrumentos, entre eles o Conselho Tutelar, rgo responsvelpor fiscalizar o cumprimento do disposto no Estatuto e o Sistema Nacional deAtendimento Socioeducativo (SINASE), construo coletiva do governo e dosgrupos da sociedade civil interessados pela situao das crianas e dos adolescentese que prev normas para padronizar os procedimentos jurdicos envolvendo essepblico. Sua atuao abrange desde a apurao do ato infracional at a aplicaodas medidas socioeducativas.

    O Estatuto da Criana e do Adolescente completou, em 2008, dezoitoanos. Atingiu sua maioridade. poca foi lanada uma plataforma, Estatutoda Criana e do Adolescente: 18 anos, 18 compromissos A criana no centroda gesto Municipal1, elaborada por um grupo de organizaes compromissadocom os direitos das crianas e da juventude brasileiras. A inteno da plataforma,voltada aos candidatos e candidatas ao cargo de prefeitos e vereadores de todoo pas, era comprometer os representantes do povo dos municpios brasileiroscom as metas propostas. Reafirmar-se-ia, caso eleitos, o compromisso com osdireitos de meninos e meninas brasileiros.

    Por ocasio das comemoraes dos dezenove anos do ECA, Alves (2009)

    menciona o grande desafio que a efetiva implantao do Estatuto representa,destacando que, alm da mobilizao dos poderes pblicos e da sociedade emgeral, preciso que os oramentos pblicos e privados privilegiem os investi-mentos nas reas sociais. Afirma, tambm, que por simbolizar um novo modelode sociedade, dificuldades seriam encontradas, mas que, apesar de todas asdificuldades, h o que comemorar. Os indicadores sociais relativos educao,mortalidade e tambm ao trabalho infantil mostrariam avanos.

    Parte substancial do Estatuto dedicada ao que se refere s crianas e

    jovens em conflito com a lei. Para aqueles nessa situao, o ECA prev o que por ele prprio denominado medidas socioeducativas. O Captulo IV, do LivroII, Ttulo III, o que dispe sobre essas medidas.

    O artigo 112 explicita quais so as medidas socioeducativas que deveroe podero assisti-los, todas de carter educativo e no essencialmente punitivo,como o era anteriormente no que se denominava Cdigo de Menores (1979).Segundo o ECA (1990), entende-se por medida socioeducativa aquela que oautor de ato infracional obrigado a participar por ordem judicial e que visa

    1 Disponvel em: www.promenino.org.br/.../Carta%20Compromisso%20Prefeitos.doc

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    sua reintegrao social. As medidas socioeducativas so orientadas por socioe-

    ducadores, denominados orientadores de medidas, em instituies autorizadas

    legalmente, e devem priorizar o fortalecimento dos laos familiares e a convivnciacomunitria (ECA, 1990).

    Sotto Maior (2009) faz lembrar que havendo justia social evitar-se-iam a

    criminalidade e a delinquncia juvenil. A justia social, no entanto, no vigora,

    e o Estatuto prev medidas no contexto da proteo integral. Ainda de acordo

    com o autor, dentro da tica de proteo integral e do objetivo que se pretende

    alcanar, a medida socioeducativa denominada liberdade assistida a que mais

    chance tem de obter xito em sua proposta. Essa medida, tambm designadapor L. A., prev acompanhamento, orientao e auxlio aos adolescentes e suas

    famlias, a insero no sistema educacional e o acesso ao mundo do trabalho com

    apoio tcnico especializado, tendo em vista a promoo social e o reforo dos

    vnculos com a famlia e a comunidade. Muitos adolescentes e jovens, no entanto,

    antes de poderem participar da liberdade assistida, passam pela internao,

    medida socioeducativa com as piores condies para serem colhidos resultados

    favorveis ao desenvolvimento desses jovens.No que concerne aplicao das medidas, so os prprios municpios

    os responsveis por atender aos jovens e adolescentes assistidos por medidas

    socioeducativas de liberdade assistida e de prestao de servios comunitrios.

    O atendimento orientado segundo a Resoluo do Conselho Nacional de

    Assistncia Social, de nmero 109, de 11 de novembro de 20092. Resoluo

    que em seus dispositivos intenciona abranger tudo o que possa colaborar para

    o desenvolvimento integral dos jovens assistidos. O Centro de RefernciaEspecializado de Assistncia Social (CREAS)3 a unidade pblica e estatal, na

    esfera municipal, que presta servios especializados e articula aes com a rede

    de servios socioassistenciais de proteo bsica e especial, com as outras polticas

    pblicas e demais rgos do Sistema de Garantia de Direitos.

    2 Disponvel em: http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/resolucoes/arquivos-2009/resolucoes-norma-tivas-de-2009/ - CNAS 2009 109 - Aprova a Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais

    3 Maiores informaes: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/creas/index.php?p=2003

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    A temtica na Literatura

    Fato demonstrativo do interesse que a temtica desperta e da relevncia

    que apresenta, a considervel produo em pesquisas em diversas reas deconhecimento. Entretanto, na rea da Educao que tem sido desenvolvida amaioria dos estudos.

    Oliveira (2002), que direciona seus estudos para a preveno de situaesque contribuam no ambiente escolar para o que chama de comportamentosdesviantes, sugere aes desde o Ensino Fundamental para que se diminuam aspossibilidades de atitudes e atuaes que levem os jovens ao conflito com a lei.

    Fortkamp (2008) aborda em seu trabalho as transformaes trazidas pelomacio ingresso das mulheres no mercado de trabalho e as dificuldades que asescolas de Educao Infantil sentem em se assumirem como instncias educati-vas complementares s famlias, focalizando aspectos que contribuiriam para acriao de polticas pblicas que priorizassem a dignidade humana.

    Cella (2007) aborda a relevante questo da formao acadmica daquelesque trabalham em contato permanente com jovens infratores, rea na qual osdesafios so consistentes.

    Visto que o presente estudo desenvolvido da perspectiva da Psicologia,deu-se rea especial ateno. Pela amplitude de viso que os estudos encon-trados possibilitam, alguns merecem ser destacados.

    Zamora (2008), em estudo realizado durante o perodo de 2000 a 2007sobre a produo da Psicologia a respeito do tema, esclarece que os aspectos maisabordados so os que concernem ao perfil desses jovens, s medidas socioeduca-tivas, s condies de vida nas quais transcorreu o desenvolvimento dos jovens

    e s ligaes com o trfico de drogas.Gallo (2008) realiza em seus estudos uma comparao entre o ECA e as

    leis ou medidas semelhantes s adotadas no Canad, apresentando trabalho rea-lizado com os jovens em conflito com a lei cujo destaque a atuao conjunta econvergente das instncias formativas, como a escola, a famlia e todos os demaisprofissionais envolvidos no atendimento a esses jovens.

    Com o referencial da psicologia histrico-cultural, Castro e Guareshi(2007) problematizam o conceito de adolescncia na contemporaneidade e dis-cutem os efeitos dos processos de excluso social nas formas de subjetivao dos

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    adolescentes considerados em conflito com a lei. Aps breve contextualizaodos paradoxos da contemporaneidade, discute-se o conceito de adolescncia, mos-trando que esta, assim como o ato infracional, uma construo scio-histrica.

    Os estudos aqui considerados com o aporte terico da psicologia histrico--cultural permitem perceber a importncia atribuda s interaes sociais, aoambiente, enfim, ao contexto no qual se constituem esses adolescentes e ondeso realizadas as medidas socioeducativas. Possibilitam tambm considerar aexistncia de aspectos da conjuntura cultural e social, fora e dentro das medidas,antes e durante sua aplicao, merecedores de anlises mais aprofundadas.

    Assim, nosso estudo procurou problematizar, para analisar e compreender,

    a multiplicidade dos aspectos e das questes envolvidas na relevante problem-tica dos adolescentes em conflito com a lei, das medidas socioeducativas e dosorientadores de medidas ou socioeducadores.

    Teve como objetivo maior o de investigar os sentidos que jovens assistidospela Medida e seus socioeducadores atribuem s mesmas. Para os propsitosdeste artigo, destacamos a histria de um jovem que cumpre medida socioedu-cativa, por entender que ela contm aspectos reveladores do que vivenciam osadolescentes que vivem este contexto.

    A psicologia histrico-cultural e a constituio do sujeito

    Vygotski (2004), cujo interesse maior era compreender o desenvolvimentodas funes psicolgicas superiores, elaborou importante teoria do desenvolvi-mento humano. No acreditando ser possvel compreender o sujeito a partir dasvises propostas pelas correntes da psicologia de sua poca, props uma novateoria que toma como objeto de estudo o sujeito histrico e como mtodo, omaterialismo dialtico, que estariam indissociavelmente ligados. Dentro dessa

    perspectiva, o desenvolvimento humano forjado do social para o singular, dasinteraes para o particular, em um processo dialtico permanente, no qual osujeito, ao ser afetado pelo social, tambm o afeta. Assim, desenvolvimento atransformao do natural, no caso do homem, do biolgico, para o cultural, oque se d pela prpria ao humana.

    A psicologia histrico-cultural pressupe o homem como ser histricoe cultural. O homem se constitui humano imerso na cultura e nas relaes

    sociais. Relaes sociais entendidas como a um s tempo estrutura da sociedadee estrutura social da personalidade, que devem ser entendidas como um sistema

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    complexo de posies e papis, que determinam o lugar que se ocupa em umgrupo e as aes, atitudes e reaes consideradas adequadas nessas interaes(PINO, 2005, p. 106). Embora, segundo o autor, alguns conceitos de Vygotski,no tenham sido explicitados claramente em seus escritos, possvel compreenderpor cultura a ao transformadora do homem sobre a natureza. Cultura desen-volvida pelo movimento histrico da humanidade, da qual o homem produtore produto (OLIVEIRA, 1992). Nesse processo de transformao da naturezaem cultura que se desenvolvem duas criaes humanas: os instrumentos,elementos de ao sobre a natureza externa; e os signos, elementos de transfor-mao interna do homem. A evoluo tcnica, dos instrumentos, e a evoluo

    simblica, dos signos, caminham juntas e constroem a mesma histria. Cr-senecessrio esclarecer que instrumentos e signos adquirem significado na relaocom o Outro, pois por intermdio de outra pessoa que se d o nascimentocultural de cada ser humano.

    Dois conceitos da obra de Vygotski foram aprofundados no estudo queora apresentamos: o de mediao e o de internalizao. So as operaes comsignos que possibilitam ambos os processos. Entende-se por mediao o processode uso dos smbolos disponveis na cultura e acessveis ao sujeito, os quais possi-

    bilitam ou facilitam a aquisio de novas aprendizagens e modos de funcionar.Propicia inclusive, de acordo com Vygotski (2000), o desenvolvimento do quepode ser chamado de funo organizadora,cujo produto so novas formas decomportamento especificamente humanas, as funes psicolgicas superiores.Dois aspectos complementares esto presentes no conceito de mediao: a repre-sentao mental, capacidade humana de operar mentalmente sobre o mundo,e a origem social dos sistemas simblicos, advindos da cultura, que permitemas representaes mentais e suas operaes. A linguagem humana e o Outro

    so os mediadores fundamentais, que nos inserem no processo de humanizao.A Internalizao, por sua vez, um processo dinmico e dialtico, de

    incio com constantes intervenes de um outro j imerso e tambm formado etransformado pela cultura, no qual os processos anteriormente compartilhadostornam-se individuais. Aquilo que anteriormente era produto das interaessociais e culturais, da indispensvel, at ento, mediao cultural e humana,torna-se processo voluntrio e independente, no qual gradativamente deixa--se o apoio dos signos externos e passa-se a utilizar as imagens, os conceitos erepresentaes elaborados pelo prprio sujeito (REGO, 1999).

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    Para Vygotski (2000), aprendizagem e desenvolvimento so processoscomplementares e interdependentes que se desenvolvem em interao com omeio e atravs dos smbolos criados pela cultura. Nesse processo, a fala assumegrande relevncia como sistema simblico humano pelo qual o homem estrutura,organiza e desenvolve suas funes psicolgicas superiores, em seu ambiente sociale cultural, em um determinado momento histrico, o que explica as diferenasentre as diversas sociedades e grupos humanos. Fala e pensamento no tm amesma origem, porm, a aquisio da fala essencial para o desenvolvimentodo pensamento. A apreenso do sistema simblico e a capacidade de operar comsignos que a aquisio da fala possibilita so fundamentais para o salto qualita-tivo rumo ao pensamento e para os inmeros outros saltos evolutivos que serodados ao longo da vida (VYGOTSKI, 2003). Os conhecimentos expressos eobjetivados na palavra so o eixo da conscincia.

    Conscincia, conforme Leontiev (1978, p. 87), a forma superior do psi-quismo, que s aparece pelo processo de trabalho, e, assim como a linguagem,tambm a conscincia produto da coletividade humana (p. 87). Segundo Davis(2004) e Duarte (2004), na conscincia esto presentes os aspectos cognitivos etambm os afetivos, sentimentos e emoes. Leontiev (1978, p. 80) j destacavatal aspecto ao afirmar a relao entre fim, objeto da ao e motivo, o geradorda atividade, ambos originados socialmente. Para ter acesso aos contedos psi-colgicos da conscincia, imprescindvel saber como se formam suas relaesfundamentais: as condies histricas, culturais, econmicas, sua atividade,enfim, a existncia do sujeito. Em virtude do estudo que se apresenta, precisosalientar o dinamismo da organizao da conscincia, se ocorrem alteraes nasinter-relaes das funes psicolgicas superiores, h interferncias no desenvol-vimento da conscincia (OLIVEIRA, 2005).

    Na perspectiva em questo, no se pode falar em funes psicolgicassuperiores, em conscincia, sem referir a significado e sentido. De acordo comAguiar e Ozella (2006), so eles as mediaes constitutivas do sujeito de quem sefala neste enfoque terico. Significado e sentido, embora diferentes, no podemser compreendidos em separado, um constitui o outro. Os significados so frutosda atividade humana que possibilitam sua comunicao e socializao, permitemcompreender a cultura, so de entendimento coletivo e o ponto de partida paraque se possa entender o sujeito. Os sentidos so a maneira singular pela qual se

    apreendem os significados, so da ordem do privado e dizem respeito ao modocomo o sujeito configura a realidade. De acordo com Souza (2010), o fundamento da

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    singularidade do sujeito.Significado e sentido so elaboraes histricas e culturais,que junto com as sensaes, com o que se denomina contedo sensvel, esto nabase da conscincia, criados na e pela vida (LEONTIEV, 1978). Afirma-se, por-tanto, que a conscincia, assim como as demais funes psicolgicas superiores, construda histrica e socialmente.

    Foca-se a ateno deste estudo nos sentidos, por ser esta a unidade deanlise da perspectiva terico-metodolgica que adotamos.

    Para Vygotski (2003), o sentido de uma palavra a soma da totalidade dosepisdios psicolgicos despertados em nossa conscincia por essa palavra. Pode-seperguntar: o que isso quer dizer? Quer dizer que so os motivos e os afetos que

    movimentam, diferenciam e singularizam os seres humanos e suas manifestaese expresses. Expresses que se efetivam no sistema simblico humano, quepela sua complexidade com frequncia no se apresentam claramente. Revela opredomnio do sentido em relao ao significado da palavra, sendo o significadomais estvel do que o sentido. Esclarece, ainda, o carter dinmico, complexo einstvel do sentido, o qual muda de acordo com o contexto, com o momento,com os outros da relao. Enfatiza tambm o autor, o dinamismo que o sentido dao significado da palavra, palavra que, dependendo do contexto, pode significar

    mais ou menos o que expressa. Mais, porque de acordo com o contexto surge umcontedo diverso e, menos, pelo carter restritivo que cada contexto determina.

    A adolescncia e o contexto dos adolescentes estudados

    psicologia histrico-cultural no interessa estudar a adolescncia em si,mas como foi construda historicamente, entendendo-a como construo socialque repercute subjetiva e socialmente na representao do chamado homemmoderno. Para compreend-la, preciso ir gnese de sua construo histrica

    e social, pois s assim poder-se- entend-la como fator identitrio.Vrios foram os fatores que contriburam e determinaram o aparecimento

    da adolescncia na sociedade ocidental, fatores de ordem econmica e social. Osistema capitalista com taxa de desemprego que faz parte de sua estrutura, aliadaao aspecto anteriormente citado, torna preciso retardar a entrada dos jovens notrabalho e sua permanncia na escola, preparando-se. A cincia tambm contri-buiu, pois o homem passou a ter mais sade e mais tempo de vida. Preocupaes

    com o mercado de trabalho e com a sobrevivncia aumentaram. Assim, surge aideia da adolescncia como tempo de preparo para a vida adulta (BOCK, 2004).

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    Aguiar, Bock e Ozella (2001, p. 169) lembram que para a teoria scio--histrica s possvel compreender qualquer fato a partir de sua insero natotalidade onde este fato foi produzido. No se acredita possvel, partindo dessaviso, dissociar as condies concretas de vida da constituio do sujeito, ignorara relao dialtica entre ele, a cultura e a histria (AGUIAR e OZELLA, 2008).Faz-se, necessrio, portanto, apresentar alguns aspectos relacionados s condiessociais que constroem a adolescncia dos sujeitos deste estudo.

    Dados obtidos no CREAS, local da realizao da pesquisa que ora relata-mos, revelam que mais de 90% das famlias dos jovens assistidos pela medidade L. A. tem renda igual ou inferior a um salrio mnimo, residem nos bairros

    mais carentes e sem infraestrutura da cidade, no frequentam a escola ou fazem--no de modo irregular, encontrando-se muito atrasados em relao equaoidade-srie, e que declaram no gostar da escola, parecendo no perceber suaimportncia, alm de se preocuparem, desde muito cedo, em ter dinheiro. Osncleos familiares so normalmente grandes, mais de dois filhos, a maioria dasmes trabalha como faxineira, sem vnculo empregatcio e garantia dos direitostrabalhistas. Expressivo ndice de pais encontra-se fora do mercado de trabalhoformal, apresentando comportamento violento e com alto consumo de lcool.

    Metodologia

    A perspectiva terica norteadora deste trabalho v como indissocivel arelao entre a viso que se tem de um fenmeno, sua significao, significadoe sentido, a representao social que se estabelece a partir da e o processo deconscincia e singularizao do sujeito. Levando-se em conta que a pesquisa foiefetuada em situaes envolvendo a interao entre sujeitos (FREITAS, 2002),considerou-se necessrio assumir um carter dialgico.

    Alm da observao em campo, dada a complexidade e particularidadesda temtica e dos sujeitos envolvidos no estudo, escolheu-se como instrumentocomplementar da pesquisa a entrevista conversacional, por entend-la comoinstrumento que favorece a construo da interatividade como espao permeadopelos vnculos estabelecidos entre entrevistado e entrevistador, em que novossentidos so configurados (GONZLEZ REY, 1999). Em virtude da abordagemterica escolhida, foi importante perceber as contradies que surgiram durante

    as situaes vivenciadas. Contradies que evidenciaram significativos e revela-dores indicadores de sentidos.

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    A pesquisa foi realizada com o grupo de socioeducadores e de adolescentesem medida de liberdade assistida, que, por determinao judicial, frequentam oCREAS de uma cidade do interior de So Paulo, prxima capital. Entretanto,para os propsitos deste artigo ser apresentada a anlise realizada com um dosjovens que cumpre medida socioeducativa. Ainda assim, importante apresentaralgumas caractersticas do grupo de adolescentes participantes da pesquisa demodo a contextualizar a situao vivenciada por eles e melhor situar o leitor.

    Os jovens estudados, ainda que no constituam um grupo homogneo,apresentam similaridade marcante relativa s condies materiais de vida, deescolaridade, moradia, de gnero e pela experincia das passagens na Fundao

    CASA. So meninos e meninas entre 15 e 18 anos, a maioria meninos.Os orientadores de medidas so mulheres, graduadas em Psicologia,Servio Social, Pedagogia e uma artista plstica responsvel pelas oficinas deartes. Todas residentes na cidade, em bairros prximos ao centro. Nenhuma delascontratada diretamente pela prefeitura do Municpio. Todas prestam serviospara uma ONG. As que permaneceram trabalhando ao longo da pesquisa tmmais de 30 anos.

    Optamos por caracterizar, de maneira mais particular, os trs sujeitos

    entrevistados: um jovem, uma orientadora de medidas e a oficineira. Todos osnomes so fictcios.

    Os dados da pesquisa foram coletados, em intervalos regulares, por umperodo de aproximadamente doze meses aps a autorizao ser concedida e apesquisa obter aprovao dos rgos competentes. Iniciou-se o trabalho pelaimerso da pesquisadora no campo, atitude que permitiu o aprofundamento datemtica a ser abordada e sua dimenso e a percepo dos detalhes e das contra-dies decisivos para atingir os objetivos propostos. A coleta de dados ocorreu,

    desde a etapa exploratria, em todas as situaes das quais a pesquisadora par-ticipou. Situaes previamente programadas pela pesquisadora e tambm as quesurgiram sem programao prvia. A psicologia histrico-cultural embasou asanlises realizadas a partir dos indicadores e ncleos de significao construdos.Foram elaboradas de acordo com o contexto e as interaes que as possibilitaram,significaram e atriburam sentido.

    Organizados os dados, foram feitas vrias leituras em busca dos indciosque revelassem a configurao de sentidos em relao s medidas socioeducativaspelos jovens e os socioeducadores. Focalizamos, nesse momento, as contradies

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    das expresses apreendidas e elaboramos ncleos de significao envolvendo osindicadores que emergiram da construo de informao. Esses ncleos deramorigem a subncleos, que foram analisados da perspectiva dialtica.

    Realizou-se tambm um ltimo esforo de anlise ao nos determos na sin-gular histria de um dos garotos, denominado Pacfico, que ilustra de maneiranotvel a complexa problemtica e o percurso traado historicamente por umsignificativo nmero de jovens brasileiros, do qual muitos tentam persistente-mente escapar e no conseguem. Sua histria, que elegemos explorar neste artigo,revela tambm, embora no abertamente, os sentidos atribudos Medida.

    A histria de Pacfico

    Certo dia, ele apareceu. Nas mos, trazia um livro. Aproximando-se daoficineira, esboou um sorriso e disse: Desta vez, no esqueci. O livro era Esta noitea liberdade, sobre a vida de Mahatma Gandhi, no qual se fundem os significadosdas palavras paz e no-violncia. A oficineira, a orientadora de medida e eu nosentreolhamos espantadas, surpresas e intrigadas. Naquele lugar, CREAS, aquilono era o esperado. Nem o livro, nem o ttulo. O tema, menos ainda. Num curtoespao de tempo, muitas perguntas surgiram. Uma mais persistentemente: o que

    aquele rapaz alto, delgado, de fala mansa e olhos tristes queria dizer com aquilo?Que era da paz? Que no era violento, apesar de traficar armas e drogas desdeos 13 anos? Ou que a Medida estava atingindo seu objetivo? Ou ainda: que elej no precisava mais dela, que havia escolhido o caminho oposto? Intimamentepercebi: esse sujeito me mobilizar e eu precisaria tentar compreend-lo. oque com esforo, com dolorida angstia, n apertado no peito, choro incontidoe com muito respeito, gratido e compaixo intento fazer a seguir.

    Pacfico nasceu aqui na cidade, em um lugar que pela proximidade com

    um depsito de lixo (desativado h pouco tempo) ficou conhecido como lixo.Em dias ventosos, o odor do lugar espalha-se por quilmetros. Ratos, baratas,esgoto a cu aberto e casebres, muitos e miserveis. Foram essas as condiesmateriais de vida nas quais se deu o desenvolvimento de Pacfico. Foram elas asmediadoras de sua insero na cultura humana, tambm so elas a prpria cultura.

    Pacfico filho de pais trabalhadores, porm subempregados. Fazem partedo que se denomina economia informal. A me, quando consegue, faz faxinas.

    Segundo ele, do lado de l da ponte. A me faz faxina nas casas de famlias comboa renda, as que esto do lado de l da ponte. Uma das marcas de Pacfico diz

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    respeito a essa situao. Nos finais de semana prolongados, a polcia impede quemeninos do lado da ponte em que ele mora circulem livremente. Segundo ele:tem medo que a gente apronte, que crie confuso.... No entanto, os que moram dolado de c, circulam livremente em qualquer horrio e circunstncia. At paracomprar drogas. Esto de acordo com padres sociais, estticos e financeiros,livres de impedimentos e de estigmas. Como podem alguns, mesmo que sejamem grande nmero, acreditar que so iguais perante a Lei? Como respeit-la?Acreditamos que crescer com tal estigma, colabora para que se internalize, nomnimo, que h duas espcies de pessoas, as que por atenderem a determinadospadres tm direitos garantidos e as que por no atenderem, no os tm. Como

    entender a contradio de valores nessa ao da polcia? ela a instituioencarregada, legitimada, incumbida da segurana, da ordem, do patrimniopblico, da integridade da pessoa e do cumprimento s leis. Nossa lei maior, aConstituio, garante o direito de ir e vir, e a polcia, para eles, no!

    H algum tempo, o pai de Pacfico est adoentado, sem possibilidades detrabalhar. Pacfico e a irm precisam e devem contribuir para as despesas da casaalm de dar conta de suas necessidades. Pacfico, porm, no completou o 7ano. Depois do 5 ano, frequentou a escola irregularmente. Faltava muito, no

    gostava. Afirma textualmente que: escola no serve para nada. No tem nada a ver.O que a gente aprende l?. Podemos considerar e, de fato o fazemos, estarrecedorque a instituio social e legalmente responsvel por inserir crianas e jovens nasociedade e na cultura seja considerada intil, que no sirva para nada. Sabemose salientamos que a instituio escola poderia ser uma instncia preventiva paramilhares de crianas e jovens. A escola desenvolve no s aspectos cognitivos, mastambm os axiolgicos. Valores sociais, carregados de significados que deveriamnortear nossas vidas e convivncia. A Constituio brasileira considera-a um

    direito. A Medida socioeducativa tem-na como obrigao. No entanto, Pacficono a frequenta, no consegue vaga e nem se esfora para conseguir. Em suaspalavras: o diretor de l um polcia, s quer me ferrar, nunca gostou de mim. Eu vou le fico na porta, gosto de conversar, encontrar meus amigos.... Repete-se a contradio.A lei no cumprida nem como direito e nem como dever! Quem tem direito,por vrios motivos, srios, no a aproveita, e quem a impe no a faz cumprir!Podemos perguntar: para que servem as leis, ou melhor, para quem servem asleis? No para Pacfico e seus semelhantes! Quando a lei no se faz presentecomo garantia de direitos, o que esperar da justia social?

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    Wallon (1952, p. 217) permite que se pense um aspecto determinantepara que a frequncia escola seja um imperativo para esses jovens. A escolacoloca para os jovens a necessidade de se fazer escolhas, de se posicionar, quemarcam uma evoluo decisiva do indivduo, a sua tomada de contato coma sociedade. Entende-se que os adolescentes vivem inclusive a difcil escolhados valores sociais e que no se pode deixar de lado tambm a importncia erelevncia do mestre (p. 219), visto como aquele que os auxilia a discernir, avislumbrar caminhos, que no permite, nem colabora para que tomem vulto asatitudes de preconceito, rivalidade e hostilidade to habituais, quanto nefastas.No isso, porm, que esses jovens encontram nas escolas. L predomina sua

    identidade de infrator.Pacfico conta que seus pais trabalhavam muito e que desde pequeno gos-

    tava de ficar na rua. Gostava de brincar com seus amigos, de empinar pipa e debrigar. Eu era briguento, diz, mas hoje no sou mais. Hoje sou da paz!. Volta-me cabea o livro sobre a vida de Gandhi...

    Prossegue contando que muitas vezes tambm catava papelo e latinhas,pois gostava de ter dinheiro.Porm, as donas do conselho me pegavam e levavampra ameaar a minha me. Eu no tava fazendo nada!,diz ele.O Conselho Tutelarameaava a me, mas no supervisionava sua frequncia escola, como tambmno promovia aes que pudessem favorecer seu desenvolvimento. O ConselhoTutelar tem a incumbncia de proteger e garantir os direitos s crianas e aosadolescentes. A me tentava mant-lo em casa, mas ele fugia. Eu gosto da rua,at hoje gosto da rua, gosto das coisas do corao, que tocam o corao. Somos levados apensar que na rua se sentia bem, acolhido. Seus pais no podiam parar em casa.Na escola, no encontrava interesse ou acolhida. A rua o mobilizava afetivamente.

    A rua impunha-se como significao e sentido. Na rua, o corao.Foi na rua que encontrou trabalho. Trabalho grande e srio,de responsa

    mesmo.Tinha treze anos. Comeou a ir aos morros do Rio e de Belo Horizontebuscar armas para os traficantes daqui. Fez muitas e muitas viagens. De nibuse de carona em caminhes. Mas diz que depois de um tempo comeou a ficarperigoso. Passou ento a assaltar. O destino seguia seu curso. Sua trajetriaestava traada. Aps um assalto, ele e um outro garoto foram pegos pela polcia.Antes de serem conduzidos delegacia, apanharam, apanharam muito. Arrepiapensar que possam ser essas as bases determinantes do processo de internalizao

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    desses jovens. O desrespeito, a violncia, a falta de apreo, a baixa autoestimae o uso deturpado e violento do poder transformando-se em recursos internose em valores.

    Foram delegacia e depois encaminhados Fundao Casa, at o julga-mento, cuja sentena foi de internao. Dois anos na Fundao, em So Paulo.L, voltou a frequentar a escola e conta que foi bem tratado, pois fazia tudo oque mandavam. No gostava, no entanto, da conversa com psiclogos. Elasdominam a mente da gente. Querem saber de tudo, tem que ficar falando e eu no gostoque mandem em mim!Nova contradio aparece. No gosta de ser mandado,porm na Fundao obedecia. Parece-nos que, sem verbalizar, fala-nos de serimperioso obedecer, diante das consequncias da no obedincia. Intriga-nos aassociao estabelecida entre falar com a psicloga, revelar-se e ser mandado.Ser que ele sabe ou percebe a dimenso psicolgica das palavras? Depreendemosque, de certo modo, fala-nos de conscincia, da relao entre fala pensamento desenvolvimento da conscincia, dos aspectos afetivos e volitivos que a envol-vem. Falar, de fato, pode ser perigoso, sobretudo em seu contexto, se pensarmosque ao falar no s nos revelamos aos outros, mas revelamo-nos a ns mesmos,conhecemo-nos. Saber de si, de sua condio de vida pode ao mesmo tempo serdoloroso e facilitador de transformaes. Por que ento o medo, a resistncia?

    Ao voltar para sua Cidade, saindo da Fundao, comeou a trabalhar nafeira, mas como o dinheiro era pouco e outro trabalho impossvel, voltou parao que chama decorreria:O dinheiro da feira s no dava, fao uns corre de vez emquando e agora d.So, sob nosso ponto de vista, as condies materiais de vidae o estigma social, no favorecedores de trabalho ou emprego para essas crianase jovens, sobrepondo-se ao carter socioeducativo da internao na FundaoCASA. Para algum que cresceu e gosta da rua, podemos calcular o efeito...

    Os dias fora da Fundao foram poucos, bem poucos. No demorou, foipreso novamente. Morava numa casa, em um bairro prximo ao de seus pais,com 18 outros garotos e garotas, alguns traficantes, outros usurios. Um dia, aovoltar para casa com mais dois ou trs, foram surpreendidos pela polcia. Repete-seo ritual, so levados para um bairro afastado e apanham, apanham muito. Emsuas palavras: recebemos uma boa massagem. A palavra escolhida, apesar da ironiacom que foi dita, remete-nos a um universo, para ele, inacessvel, inatingvel...Mgoa e ressentimento sendo expressos? Levado mais uma vez para a Fundao

    CASA da Cidade, foi liberado aps 45 dias. No havia sido julgado. Ao saber dasentena, dois anos de internao, novamente na Fundao CASA da Vila Maria,

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    SP, fugiu. Ao voltar para ver a me, os policiais o encontraram na casa dela e olevaram. Nossa cultura significa a casa, o lar, como o local de acolhimento, desegurana emocional inclusive. Para ele, possivelmente nunca o foi. Nenhumacasa proporcionou-lhe desenvolvimento favorvel, nem a sua casa, nem a casade sua me e muito menos a Fundao CASA.

    Na Fundao Casa da Vila Maria, tambm se comportava bem e sentia-sebem tratado. Conta que l tem um esquema diferente. Os com 18 anos ou maisso separados dos que ainda no atingiram essa idade e ele v isso com bonsolhos. No h mistura, ficam os iguais,afirma.Iguais em qu? Parece-nos quefaz aluso s vivncias que os levaram at ali. Essa sim, talvez, demonstrao depreocupao socioeducativa, embora possamos consider-la excludente, limita-dora e preconceituosa. No entanto, podemos pensar tambm que se trate defacilitar o controle, de evitar conflitos e confrontos, de no favorecer influnciase interferncias afetivas perniciosas aos de idade inferior.

    L, fez muitos cursos profissionalizantes: de gesseiro, na rea de hotelaria eturismo, de padeiro e at um de DJ. Gostou de todos, mas no consegue exercernenhuma das atividades para as quais se preparou...

    Conta que a comida no era muito boa e que tambm no gostava deter que conversar com a psicloga. Mais uma vez aparece o assunto e a mesmaexplicao. Cremos ser necessrio rever a maneira pela qual se do os encaminha-mentos. Tentar alterar, transformar as representaes relativas ao atendimento,ao falar. Conseguimos entender melhor a resistncia de Pacfico em falar con-siderando dois aspectos: foi muito difcil encontrar algum com quem quisesseconversar, dar entrevista; a participao nos grupos de que faz parte no cumpri-mento da medida quase nula. Falar parece mais do que difcil, parece perigoso.

    Em janeiro de 2010, saiu da Fundao. J com 19 anos e, por seis meses,precisaria cumprir a medida de liberdade assistida. Pergunta insistentemente:algum sabe de um emprego? Preciso trabalhar, dona!.No consegue! Os cursos daFundao no so o suficiente. No garantem emprego. Acreditamos que maisdo que o curso ou a qualidade dele, o que contribui a passagem pela Fundaoe pelas medidas. So elas e ns, que constituem o social, os Outros da relaocom Pacfico, os grandes empecilhos na medida em que reproduzimos as relaesque ele tem vivenciado ao longo de sua histria.

    Percorrido o caminho, Pacfico afirma que as medidas no adiantam nada,

    no servem para nada. Que o que resolve no ter estado l! O que resolveria, dona, tertido o que as outras crianas e adolescentes que tm dinheiro tiveram.

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    Sobre a medida de L. A., diz que gosta das atividades da oficina, mas quedetesta o atendimento individual e em grupo:Ficar falando, falando de mim no comigo. Pra mim no resolve, s fao o que eu quero.Triste iluso, ou no? Seriao no falar uma forma de ser sujeito, de no ceder ao mando de outrem? Dedemonstrar que pode, que tem voz, ainda que expressa pelo silncio? Fato queessa estratgia no funciona na Medida, muito pelo contrrio, favorece a atri-buio de sentidos negativos a ela, de que no serve para nada. Tudo leva a crer,ento, que Pacfico s faz o que pode e pode pouco! Tal iluso provavelmenteprovenha dos significados sociais que lhe atribuem como jovem em conflito coma lei, ou menor infrator.

    Ainda no conseguiu trabalho. Continua, segundo ele, nacorreria, agora,na parte financeira. Menos exposta, menos perigosa. O dinheiro guarda embaixodo colcho. Por trabalhar no trfico, s usa drogas leves, cocana s de vez emquando, na balada. Crack nem pensar: acaba com a pessoa,faz perder a cabea.Mesmo na Fundao, o crack no entra. O PCC no deixa, quer mandar pro Rio.

    Afirma no ter sonhos. O dinheiro guardado embaixo do colcho parafazer um curso de DJ. Pede ainda um emprego! De preferncia, dona, na rea devendas. Sou bom de vendas!

    Diante do referencial norteador deste estudo, de sua anlise, demais enca-minhamentos metodolgicos e por ser tambm local das mediaes de parceladeterminante da histria de Pacfico, cremos oportuno descortinar o que deno-minamos de cenrio da Medida, o CREAS.

    Cenrio da Medida

    Na fachada do sobrado, conforme a orientao do Guia, a placa do CREASidentifica o local. Na sala principal, hoje j com pouco espao por ter quatro

    mesas e estar dividida por um biombo, que possibilita uma outra sala, nota-seuma foto na qual a gerente do CREAS, no envolvida diretamente com a Medida,est sorridente ao lado de dois policiais militares, prximos a uma viatura daPolcia Militar. Na parte de cima da casa h dois quartos e um banheiro. Em umdos quartos, no qual so realizados atendimentos individuais e em dias de chuvaatividades de artes, nota-se de imediato um exemplar do Cdigo Penal na estante.As instalaes do CREAS atendem ao determinado no Guia de Orientaes.H, inclusive, dois pequeninos espaos verdes floridos e no dos fundos h uma

    bela jabuticabeira, que proporciona sombra para a mesa que se monta para a

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    realizao das atividades de artes plsticas. Toda relao social carregada deafetos, e a educao antes de tudo uma relao entre sujeitos, um sendo espe-lho, referncia, para o outro, ambos se produzindo como sujeitos e produtoresdas interaes; e, no caso de uma proposta educativa to particular como a dosgarotos em L.A., indispensvel que a confiana esteja pressuposta. Os signi-ficados do Cdigo Penal e da foto com os policiais talvez no sejam favorveiss interaes cujo objetivo , segundo a denominao do ECA, socioeducativa.Ocorre-nos tambm que o significado dos dois elementos possa ser usado paraenfatizar que naquele territrio impera antes de tudo a Lei e, assim, a viso sobreo trabalho socioeducativo poder resultar um sentido negativo.

    Os sentidos da Medida para os adolescentes

    Os adolescentes e jovens que comparecem ao CREAS para as atividadesda medida de L. A. carregam consigo vivncias de falta. Faltas que os impedi-ram de verem-se e sentirem-se como sujeitos de direito, faltou-lhes o mnimo,mesmo que as leis o garantissem. Por motivos diversos, que no so o objetivodesse estudo, so obrigados a cumprir a medida de L. A. num local no centroda Cidade. Um local de fcil acesso e tambm de alta visibilidade, cuja placa

    identificatria, exigida pelos documentos pertinentes s instalaes dos CREAS,coloca em evidncia muito mais do que um espao fsico, d destaque ao que alise faz e para quem se faz. um espao carregado de representaes. O simplesfato de frequentar o CREAS j os determina, reafirma e marca como jovens emconflito com a Lei. Conflito que aos olhos dos outros no foi fato passado, masatitude, maneira de ser, para a qual no h reparao possvel.

    Esses adolescentes e jovens no s no se veem como detentores de diretos,como no se acreditam capazes de reverter por si prprios, com suas prprias

    foras e recursos, trajetrias historicamente traadas para suas vidas. Um dos dire-cionamentos do ECA diz respeito ao estmulo, ao desenvolvimento de habilidadese habilitao para que possam ingressar no mercado de trabalho. Todavia, quandose fala sobre trabalho para narrar as dificuldades em conseguir um emprego:

    Como vamos fazer? Preciso trabalhar, ningum d chance. Vou ter de voltar para a cor-reria... (Pacfico, 19)

    Observe-se que os sentidos das medidas socioeducativas configuradospelos jovens se expressam de duas formas: a medida de L. A. somente uma

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    punio, a qual cumprem por serem obrigados, e a medida de L. A. refora suas

    condies de infratores, contribuindo para que permaneam margem da socie-

    dade e impedindo que vislumbrem um futuro diferente. A ttulo de ilustrao,apresentamos a seguir algumas consideraes sobre os sentidos da medida para

    alguns socioeducadores.

    Os sentidos da Medida para os orientadores de medidas

    ou socioeducadores

    Embora no se acredite que exista trabalho institucional que no esteja

    submetido a normas, regras, cumprimento de determinadas e s vezes muitas

    orientaes, e nesse caso tambm s leis, no se pode ignorar que em um trabalho

    que existe e se justifica pelo outro e para o outro, o trabalho educativo, o que de

    fato predomina so as interaes. Interaes que se do em condies materiais

    e socioculturais particulares, assim como so particulares cada um dos sujeitos

    envolvidos na trama ou teia que se tece nos momentos de convivncia. Logo,

    tambm no se pode desprezar que em tais momentos sentidos so produzidos.

    Sentidos que tambm trouxeram, encaminharam essas pessoas para esse trabalho.

    Em algumas falas, revela-se inequivocamente o fato:

    Eu gosto de trabalhar com o ser humano e o trabalho com arte previne, nele voc se coloca.

    (Esperana)

    Eu j fazia um trabalho com jovens l na ONG, no exatamente esse, mas quando apareceu

    a oportunidade de trabalhar com a Medida achei que seria bom. (Valentina)

    Porm, em outra vivncia, a fala demonstra que novos sentidos sobre o

    trabalho com os jovens foram configurados a partir da experincia vivida. Diz

    uma das orientadoras, a respeito de estar trabalhando com a Medida:

    Quando Valentina falou comigo, pensei que fosse trabalhar com grupos de jovens e famlias

    e no assim com os jovens na Medida... (Maria das Dores)

    Foi o que eu consegui, o que apareceu, mas logo vou sair... (Monei)

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    Se para os jovens, comparecer s atividades uma imposio, constatou-seque, independentemente dos motivos, para os orientadores ou socioeducadores,trabalhar com a Medida uma oportunidade ou uma escolha, cujos sentidosforam sendo construdos nas vivncias da prpria Medida.

    Os elementos acima, componentes de um todo particular, a medida deL. A., os que nela atuam, jovens e orientadores/socioeducadores, o contexto eo ambiente no qual se realiza, aliados clareza das seguintes palavras: dessejeito no d certo, no resolve nada! (Maria das Dores), coloca em evidncia aseguinte constatao: a medida de liberdade assistida, tal como , tem vriossentidos configurados pelos adolescentes e pelos socioeducadores, os quais se

    afastam e muito dos objetivos do ECA ou dos demais documentos examinados.Instrumentos que se referem e se dirigem ao homem, mas dele se esquecem.No os pensa em todas suas dimenses e complexidades ou nos entraves que avida cotidiana apresenta. Os sentidos se restringem, pelo menos, nesse caso, aaspectos negativos: trabalho exigente, solitrio, rduo, hermtico e estafante.Trabalho que provoca alm de desgaste, frustrao.

    Consideraes finais

    Apreender os sentidos que jovens assistidos por L. A. e seus socioeducado-res atribuem Medida foi o objetivo principal desse trabalho. No poderamosfaz-lo sem previamente procurarmos captar e compreender a medida de liber-dade assistida, o contexto na qual transcorre, a histria de vida dos garotos, aescolha pelo trabalho com medidas socioeducativas, o trabalho em si e, primor-dialmente, o movimento dialtico de todos esses aspectos em interaes. Foinessa teia de complexidade (Gonzalez Rey, 2003, p. 174), que percebemosos indcios reveladores dos sentidos que emergiram. No pudemos ignorar a

    dimenso cultural que nos humaniza, as condies na qual ocorrem e os signi-ficados que fornecem.

    Urge procurar solues para a problemtica que envolve crianas e jovensdas camadas desfavorecidas; em especial, pensarmos em novas possibilidadese alternativas para as medidas de L. A. Em algumas localidades do pas j asencontramos, porm so isoladas. Quaisquer que sejam as possibilidades encon-tradas, no entanto, fazemos questo de destacar a imprescindvel participao do

    profissional da psicologia em todo o processo e em todas as instncias e institui-es nas quais estejam presentes crianas, famlias e os que com elas trabalham.

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    As situaes a que esto expostos trazem a necessidade tambm dos cuidadosdestes profissionais. Elaborar as questes que se apresentam em seus cotidianos,como os direitos que embora garantidos no so cumpridos, a ausncia ou faltade qualidade no atendimento dos servios pblicos de modo geral, a inversode valores que norteiam a convivncia e o estigma que carregam constituemterreno propcio para a atuao do psiclogo.

    Mais do que disparidade de sentidos, o que encontramos nos sentidosatribudos medida de L. A. foi uma convergncia de sentidos. Socioeducadorese garotos expressaram de vrias maneiras que no acreditam que a Medida vfazer diferena na vida desses jovens. A omisso, o descaso e a inoperncia das

    instituies pblicas, a percepo ou desconfiana de que o CREAS vem se tor-nando local favorvel para retribuir favores polticos, o reencaminhamento dasprioridades polticas, j transcorridas as eleies, porm com a aproximao deoutra, contribuem para que pensemos que as dificuldades encontradas para aconcreta aplicao do Estatuto no so s questo de tempo. So, sim, questode interesse e seriedade poltica, questes que fazem referncias direta s escolhasdos valores sociais e da tica que norteia nosso iderio poltico e social.

    Resumo

    Este artigo fruto da pesquisa cujo objetivo foi compreender e analisar os sentidosque jovens em medida socioeducativa de liberdade assistida e seus socioeducadoresatribuem Medida. O aporte terico-metodolgico que sustentou a anlise o dapsicologia histrico-cultural, representados por Vygotski e Leontiev, alm de muitos deseus leitores. Tal escolha conduziu a procedimentos que priorizaram a observao dasinteraes no contexto da Medida, focalizando os variados momentos e atividades que

    a constituem. Foram realizadas, tambm, entrevistas de aprofundamento e os dados dasobservaes foram registrados em dirio de campo. A anlise teve como foco central ascontradies que emergiram dos momentos de interao da pesquisadora com o contexto.

    Palavras-chave:jovens em conflito com a lei; socioeducadores; psicologia histrico-cultural; sentidos e polticas pblicas.

    Abstract

    This article results of a research which had as objective to comprehend and analyzethe meanings to which youngsters under social educative measures of assisted liberty and its

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    social educators attribute to the Social Educational Measure of Assisted Liberty. The theoretic-

    methodological principal which sustained this analysis was that of historic-cultural psychology,

    represented by Vygotski and Leontiev as well as many of their readers. Such a choice of method

    leads to procedures which prioritized the observation of the interactions within the context of the

    Measure, focusing on different moments and activities which structure it. Further interviews and

    examinations were held and registered in field reports. The analysis core developed around the

    contradictions which emerged from the moments of interaction of the research author and the context.

    Keywords:youngsters in conflict with the law; social educators; cultural-historic psychology;

    meanings and public policies.

    Resumen

    El objetivo de esta investigacin fue comprender y analizar los sentidos que jvenes en medida

    socio-educativa de libertad acompaada y sus socio-educadores atribuyen a la Medida. El aporte

    terico-metodolgico que sustent el anlisis es el de la sicologa histrico-cultural, representados

    por Vygotski y Leontiev, adems de sus otros lectores. Esta opcin nos llev a procedimientos que

    dieron prioridad a la observacin de las intenciones en el contexto de la Medida, focando los diversos

    momentos y actividades que la constituyen. Tambin fueron realizadas entrevistas de profundidady los datos de las observaciones fueron registrados en diario de campo. El anlisis tubo como foco las

    contradicciones que aparecieron de los momentos de interaccin de la investigadora con el contexto.

    Palabras clave:jvenes en conflicto con la ley; socio-educadores; sicologa histrico-cultural;

    sentidos y polticas pblicas.

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    Vera Lcia Trevisan de SouzaDocente do Departamento de Ps-Graduao em Psicologia da PUC-Campinas.

    E-mail: [email protected]

    Magda Machado Ribeiro Venancio

    Docente da FAAT Faculdades Atibaia.E-mail: [email protected]