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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA OS SIGNIFICADOS DO CUIDAR DE UMA CRIANÇA QUE APRESENTA DOENÇA CRÔNICA RELATADOS POR CUIDADORES FAMILIARES. THALITA BERLINCK Itajaí, (SC) 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

OS SIGNIFICADOS DO CUIDAR DE UMA CRIANÇA QUE

APRESENTA DOENÇA CRÔNICA RELATADOS POR CUIDADORES

FAMILIARES.

THALITA BERLINCK

Itajaí, (SC) 2008

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THALITA BERLINCK

OS SIGNIFICADOS DO CUIDAR DE UMA CRIANÇA QUE

APRESENTA DOENÇA CRÔNICA RELATADOS POR CUIDADORES

FAMILIARES.

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí

Orientadora: Profª MSc Márcia Aparecida Miranda de Oliveira

Itajaí SC, 2008

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Dedico este trabalho aos meus pais, Sérgio Luiz

Berlinck e Oliene Hemkmaier Berlinck, que sempre me

ajudaram e incentivaram na realização deste sonho.

Reconheço seus esforços, e serei eternamente grata,

por terem acreditado em mim. E ao meu filho Victor

Berlinck Von Gilsa meu amor verdadeiro, meu amor

eterno, muito obrigada.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Márcia Aparecida Miranda de Oliveira pela dedicação,

amizade e paciência com que me auxiliou na elaboração deste trabalho.

As professoras Josiane Aparecida Ferrari de Almeida Prado e Giovana

Delvan Stülhler, que gentilmente aceitaram participar da minha banca examinadora

contribuindo com seus conhecimentos

Agradeço meus amigos e colegas de curso, pelo afeto informal durante a

formulação deste trabalho, em especial a minha amiga e colega de estágio Aline

Farina Gonçalves, pela paciência, dedicação e carinho a mim destinado.

Aos cuidadores familiares participantes desta pesquisa que mesmo em um

momento difícil como o da hospitalização, gentilmente aceitaram participar das

entrevistas.

Muito obrigada a todos!

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SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................06

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................08

2. EMBASAMENTO TEÓRICO .................................................................................11

2.1 Hospitalização Infantil .......................................................................................11

2.2 Família e doença crônica ..................................................................................13

2.3 Cuidador familiar ...............................................................................................14

2.4 Dificuldades e sentimentos vivenciados pelo cuidad or familiar decorrente

do período de hospitalização .................................................................................16

2.5 Família e rede social .........................................................................................18

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS ..........................................................................20

3.1 Participantes ......................................................................................................20

3.2 Quadro de participantes ...................................................................................21

3.3 Instrumento ........................................................................................................21

3.4 Coleta de Dados ................................................................................................21

3.5 Análise dos Dados ............................................................................................22

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .....................................24

4.1 Sentimentos vivenciados pelo cuidador familiar no p eríodo de

hospitalização da criança ........................................................................................24

4.1.1 Apreensão ........................................................................................................24

4.1.2 Medo da perda .................................................................................................25

4.1.3 Dificuldades de aceitação ...............................................................................27

4.2 Dificuldades decorrentes do período de hospitalizaç ão................................28

4.2.1 Afastamento do trabalho e dificuldades financeiras ...................................29

4.2.2 Ausência de casa e da família ........................................................................30

4.2.3 Estresse e cansaço .........................................................................................31

4.3 Dinâmica familiar no período de internação ....................................................32

4.3.1 Desequilíbrio nos hábitos da família .............................................................33

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4.3.2 União e apoio da família no processo de internação ...................................34

4.4 Expectativas do cuidador familiar frente ao futuro da criança ......................35

4.4.1 Confiança e esperança ...................................................................................36

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................38

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................42

7. APENDICES ..........................................................................................................45

7.1 Apêndice 1- Termo de Consentimento Livre e esclare cido ..........................45

7.2Apêndice 2- Ficha de identificação do paciente ..............................................47

7.3 Apêndice 3- Roteiro de entrevista semi-estruturada .....................................48

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OS SIGNIFICADOS DO CUIDAR DE UMA CRIANÇA QUE APRESEN TA

DOENÇA CRÔNICA RELATADOS POR CUIDADORES FAMILIARES.

Orientadora: Profª Márcia Aparecida Miranda de Oliveira

Defesa: Junho de 2008

Resumo:

A hospitalização de uma criança que apresenta doença crônica afeta não só a criança, mas também a sua família. A internação muitas vezes promove mudanças no cotidiano de ambos, provocando uma reestruturação dessa família em função do tratamento. Geralmente a criança hospitalizada é acompanhada por um familiar, o qual presta o papel de cuidador. Este cuidador desempenha importante função no tratamento e na recuperação da criança que tem doença crônica, sendo que seus sentimentos devem ser priorizados, uma vez que ele também sofre as conseqüências do processo de hospitalização. Frente ao exposto, este trabalho teve como objetivo analisar qual o significado do cuidar para o familiar que presta o cuidado a criança hospitalizada em função desta apresentar uma doença crônica. A presente pesquisa fez uso do método qualitativo, e utilizou para a coleta de dados a entrevista semi-dirigida. Os relatos foram analisados através da Análise de Conteúdo, proposta de Bardin (1977). Chegando as seguintes categorias: os sentimentos vivenciados pelo cuidador familiar no período de hospitalização; dificuldades decorrentes do período de hospitalização; dinâmica familiar no período de internação; expectativas do cuidador familiar frente ao futuro da criança. Os resultados demonstram o quanto é difícil para o cuidador familiar prestar o cuidado, pois muitas vezes eles sentem-se impotentes diante de tal situação. Os cuidadores demonstram também dificuldades em conciliar trabalho, com o cuidado a criança, recebendo apoio e união da família no processo de internação. Mediante os resultados levantados referentes ao significado do cuidar e das dificuldades enfrentadas pelo cuidador familiar, pode-se favorecer uma maior adaptação do mesmo à nova situação, oferecendo apoio ao familiar no momento em que o mesmo passa por períodos de readaptações, devido à internação da criança cronicamente enferma.

Palavras-chave: Cuidador familiar; doença crônica; hospitalização infantil

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Sub-Área de concentração (CNPq): 7.07.05.01-1 Relações Interpessoais

Membros da Banca: Geovana Denvan ; Josiane Prado.

______________________________________

Giovana Delvan Stülhler (professor coonvidado)

______________________________________

Josiane Aparecida Ferrari de Almeida Prado (professor convidado)

________________________________________

Márcia Aparecida Miranda de Oliveira

Professor Orientador

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1 INTRODUÇÃO

O adoecimento e a hospitalização de uma criança representam rupturas no

cotidiano dela própria e de sua família. Em geral, a criança deixa de ir à escola, se

afasta de seus familiares e amigos, não realiza muitas de suas atividades cotidianas.

Os familiares, por sua vez, têm sua rotina alterada, precisam se afastar do lar,

além de gerenciar os cuidados com a criança doente e as demandas da família.

Quando uma criança fica doente, como no caso de doenças crônicas, todos

aqueles que estão envolvidos com este sujeito vivem momentos difíceis. Muitas

vezes, as condições impostas pelo tratamento demandam um tempo considerável

de hospitalização, quer para a realização de procedimentos e intervenções, quer

com relação às idas constantes aos hospitais e ambulatórios. As mudanças na vida

marcam este período e o cotidiano passa a ser organizado em função do tratamento.

Assim, a doença crônica impõe modificações na vida da criança e sua família,

exigindo readaptações frente a nova situação e estratégias de enfrentamento.

De acordo com Santos e Sebastiani (2001), a doença crônica é caracterizada

pelo longo período de internação e por ser incurável e permanente.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS,2007), as doenças

crônicas que mais atingem a população Brasileira são as doenças cardiovasculares,

diabetes, HIV (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS), tumores e doenças

respiratórias, pois representam cerca de 59% do total de 57 milhões de mortes por

ano e 46% do total de mortes por doenças.

As mães em geral, se vêem internadas com a criança e geralmente têm que

permanecer o dia todo no hospital, ficar longe de seus lares, afastadas dos outros

filhos, não podendo permanecer no trabalho. Há cansaço, desestruturação familiar e

máxima atenção voltada para a criança doente, sendo que muitas vezes seus

sentimentos não são priorizados, ou até mesmo desconsiderados (OLIVEIRA;

COLLET,1999).

Pode-se verificar na literatura que mães de crianças cronicamente enfermas

carecem de apoio emocional e de informação, necessitam compartilhar sentimentos

pessoais e precisam ser encorajadas nas suas habilidades de cuidar da criança.

A internação torna-se um momento difícil, onde o amor e o apoio materno

tornam-se essenciais na recuperação da criança enferma. Assim podemos perceber

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o quanto o acompanhamento de um dos pais se torna importante para a criança,

sendo que a ausência da mãe, ou da família levam a criança à sentir-se

abandonada. O suporte familiar e as competências de cada membro da família são

importantes fontes de informação que influenciam o modo da criança lidar com a

doença. O cuidado à criança com doença crônica consome da família energia e

tempo, retirando sua privacidade e provocando isolamento social e emocional.

SLUSKI (1997), enfatiza a importância das redes sociais, no momento em que

o indivíduo ou família encontra-se numa situação de extrema dificuldade, esta rede

inclui a família ampla, os amigos, a comunidade, os profissionais de saúde e

também grupos de apoio e associações. A co-responsabilização e a troca de

experiências entre as pessoas podem ajudar no desenvolvimento de estratégias

para enfrentar as dificuldades do processo de adoecimento e hospitalização das

crianças.

Por sua vez, o cuidador familiar em muitos casos é a mãe. De acordo com

Oliveira e Collet (1999) “as mães reconhecem a importância em permanecer com

seu filho num período de estresse como o da hospitalização”.

Através dos resultados levantados sobre as dificuldades decorrentes da

internação da criança sobre o cuidador e as mudanças ocorridas na estrutura

familiar, pode-se oferecer um maior apoio à este e sua rede familiar, favorecendo

uma maior adaptação do mesmo a nova situação.

Sabendo as expectativas do cuidador familiar perante o tratamento e

recuperação da criança com doença crônica, pode-se tornar mais fácil o

enfrentamento, tanto para a criança quanto para os familiares. Em especial, aos que

oferecem o cuidado no período de internação, o que geralmente se torna

desgastante não só para a família como também para a criança internada.

Pode-se identificar na literatura, poucos trabalhos sobre o cuidador familiar,

principalmente quando o assunto é a hospitalização de uma criança com doenças

crônicas. Como também se pode verificar nas poucas literaturas encontradas, nas

quais o cuidador familiar muitas vezes não é priorizado, sendo que ele é importante

no tratamento e na recuperação da criança com doença crônica e que seus

sentimentos devem ser considerados, pois ele também sofre as conseqüências da

hospitalização.

A presente pesquisa visa verificar qual o significado do cuidar para o familiar

que presta o cuidado a criança hospitalizada, em função desta apresentar uma

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doença crônica, pois sabendo quais os significados do cuidar para este familiar,

pode-se oferecer um maior apoio ao cuidador e a rede familiar que, em

conseqüência da doença e da hospitalização da criança, participa em graus variados

desse momento marcante da vida da criança, que é o período de internação, bem

como, saber como o cuidador acompanhante se adapta a esta nova situação, ou

seja, a entrada no mundo hospitalar, assim poderá ser oferecido auxílio, para que

esta adaptação seja mais natural e sem grandes dificuldades, tanto para os

cuidadores, quanto para as crianças.

Tem como objetivos também, identificar quais os tipos de mudanças que

ocorreram no cotidiano do cuidador, assim como verificar se em função da doença

crônica, ocorreu alguma mudança na dinâmica familiar e identificar quais as

expectativas do cuidador frente a criança que tem a doença crônica

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 Hospitalização Infantil

A palavra Hospital vem do latim hospes, que significa "hóspede" ou "visita".

Segundo Campos (1995), este seria um lugar que na antiguidade abrigava

enfermos, peregrinos e viajantes. O hospital era considerado um hotel, onde

temporariamente eram abrigadas pessoas.

Atualmente o hospital é uma instituição, que consegue proporcionar a

população tanto a assistência curativa, como também a preventiva. Oferece não só

o serviço médico, como também a assistência de profissionais que compõe uma

equipe multidisciplinar, tais como enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, pedagogos

entre outros (BITTAR,1997).

O paciente no período de internação hospitalar vivencia um intenso

sofrimento físico/psíquico e diante do processo de doença, muitas vezes imobiliza-

se, paralisa-se e a única saída encontrada é a passividade. O paciente se encontra

em um momento de ruptura: ruptura das relações, da realização das atividades,

ruptura do “estar” no social das formas conhecidas, costumeiras e singulares de

cada sujeito, enfim, ruptura do cotidiano (ELSEN; MARCON; SILVA,2004).

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A doença da criança é um fator desorganizador, que provoca ruptura

significativa no seu processo de crescimento e desenvolvimento. A hospitalização

gera ansiedade e desorganização na percepção, emoção e compreensão da criança

(BITTAR,1997).

A necessidade de hospitalização tem um significado único para a criança,

assim como para o adulto, porém, a criança apresenta maior dificuldade em

compreender o que está acontecendo com ela em decorrência da doença. Por este

motivo, a hospitalização constitui um momento de crise para a criança

(CREPALDI,1999).

Entre as doenças que necessitam de um longo período de hospitalização,

estão as doenças crônicas. Segundo Vieira e Lima (2002), “considera-se doença

cônica aquela que tem um curso longo, podendo ser incurável, deixando seqüelas e

impondo limitações ás funções do indivíduo, requerendo adaptação”

A doença crônica na infância apresenta uma prevalência bastante elevada

com implicações para o desenvolvimento da própria criança e também para sua

relação familiar.

A doença crônica se caracteriza por seu curso demorado, progressão,

necessidade de tratamentos prolongados e pelo seu impacto na capacidade

funcional da criança . Embora o tratamento médico para as doenças crônicas tenha

evoluído e as taxas de sobrevivência tenham aumentado de forma significativa, a

criança geralmente precisa passar por procedimentos médicos aversivos,

hospitalizações e agravamento de sua condição física (CAMPOS,1995).

A criança portadora de doença crônica pode ter seu desenvolvimento físico e

emocional afetado, podendo apresentar desajustes psicológicos decorrentes da

enfermidade e do tratamento.

Campos (1995), relata que um dos problemas existentes na hospitalização

infantil deriva do descuido de aspectos psicológicos, pedagógicos e sociológicos

envolvidos nesta situação. Na criança, os efeitos da hospitalização podem variar em

função de sua idade, das experiências prévias de hospitalização, de determinadas

variáveis individuais e, especialmente, do repertório de habilidades de

enfrentamento de cada uma.

A hospitalização leva a criança a confrontar-se com um estado de desamparo,

ao perceber sua fragilidade corporal que resultou no adoecimento

(CREPALDI,1999).

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A hospitalização para a criança traz um sentimento de ameaça, agressão,

medo do desconhecido, pois é nesse momento que ocorre a separação de todos os

objetos significativos de sua segurança.

Segundo FERREIRA (1996) a criança não pode ser compreendia de forma

isolada, desconsiderando o todo como ser humano e o seu contexto histórico, na

qual está inserida, além também, das necessidades de cuidados para o corpo, com

alimentação e aprendizado.

Entretanto, durante o período infantil, a criança pode encontrar situação de

privação do convívio familiar por diferentes motivos, sendo um delas a

hospitalização (OLIVEIRA & COLLET, 1999).

As reações da criança à doença frente à hospitalização dependem

principalmente do nível de desenvolvimento psíquico na ocasião da internação, grau

de apoio familiar, tipos de doença e do grau de apoio médico (BALDINI; KREBS,

1999).

2.2 Família e Doença crônica

A família tem sido em diferentes épocas, identificada como uma unidade que

cuida de seus membros e, apesar das mudanças ocorridas em sua estrutura e

organização, continua sendo considerada como principal agente socializador da

criança e responsável na atenção de suas necessidades básicas, bem como pela

formação dos referenciais de vida que lhe possibilitará enfrentar um mundo em

permanente mudança (ELSEN,2002).

Segundo Armond e Boemer (2004), a família é considerada como uma

instituição sólida e tem sido objeto de pesquisa e estudo nos últimos anos no Brasil

e no mundo. Devido às mudanças sofridas por ela em sua estrutura, os valores e

papéis não podem assim ser considerados um modelo de organização familiar

único.

A família é um sistema de saúde para seus membros, sistema este do qual

fazem parte um modelo explicativo de saúde-doença, ou seja, um conjunto de

valores, crenças, conhecimentos e práticas que guiam as ações da família na

promoção de saúde de seus membros, na prevenção e no tratamento da doença.

Este sistema inclui um processo de cuidar, no qual a família supervisiona o estado

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de saúde de seus membros e toma decisões quanto aos caminhos que deve seguir

(ELSEN, 2002).

Na vida familiar ocorrem inevitavelmente, épocas de crise, entre elas as

geradas pelas enfermidades. Durante muito tempo, o bem-estar desta família flutua

entre o estável e o instável. O modo de enfrentar esta situação depende de vários

fatores: o estágio de vida familiar, o papel desempenhado pela pessoa doente na

família, as implicações que o impacto da doença causa em cada elemento da família

e o modo em que ela se organiza durante o período de doença e internação, entre

outras (ELSEN,2002).

A doença é um estado que afeta a integridade e o desenvolvimento emocional

da criança, e deve ser compreendida a partir da ótica da própria criança e de sua

família, cada um com suas angústias e medos específicos (NIGRO, 2004).

A família atribui ao hospital, sua experiência negativa no inicio da internação,

apresentando sentimentos de impotência, culpa entre outras. Quando a

hospitalização é necessária, a família é colocada diante de um conjunto de variáveis

que altera, acentuadamente, sua dinâmica e seus padrões de funcionamento

(CREPALDI,1999).

Ao vivenciar a doença do filho, a família ingressa em um mundo novo, cuja

organização, dinâmica e lógica são muito diferentes de seu cotidiano, e ao viver a

facticidade da doença do filho, geralmente a família mostra-se solidária à criança e

às outras famílias que vivenciam a mesma realidade.

Segundo Oliveira e Ângelo (2000) a hospitalização altera tanto a vida da

criança como a dinâmica familiar. Referem ainda que a doença seja um processo

que provoca mudanças no cotidiano da família, necessitando de novas organizações

de suas atividades. Além dos sentimentos de angústias, impotência, preocupação e

incerteza, também há sofrimento por ambas as partes, devido à estreita ligação

família-criança que se rompe durante a este período.

Embora os fatores que influenciam na resposta da criança à problemática da

hospitalização, bem como as vivências sejam muito variados, a ausência total ou

parcial do familiar possui o maior peso no processo de adaptação e desabituação da

criança no ambiente hospitalar (SCHIMITZ, 2000). A hospitalização é um momento

difícil para a criança, pois ela tem que se separar do ambiente familiar e entrar num

ambiente hostil que é o hospital.

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A presença da família na assistência da criança hospitalizada é de grande

importância, contribuindo para torná-la capaz de suportar os sofrimentos e

ansiedades surgidas durante a doença e a hospitalização.

2.3 Cuidador Familiar

O cuidar representa desafios a serem superados, envolvendo longos períodos

de tempo voltados ao paciente, desgastes físicos e sobrecargas emocionais.

Na maioria das vezes, cuidar de um paciente com doença crônica representa

um papel difícil, que facilmente compromete o bem-estar do cuidador familiar.

Geralmente há necessidade de uma nova organização na vida do cuidador familiar

que muitas vezes, é marcada por aspectos considerados negativos, gerando tensão,

angústia e um sentimento de sobrecarga. Entretanto, é importante lembrar que

também existem fatores positivos na relação entre o cuidador de pacientes com

doenças crônicas, favorecendo uma relação satisfatória. Isto é, algumas interações

dessa relação são consideradas agradáveis, gerando sentimentos de prazer e

conforto (ELSEN; MARCON; SILVA, 2004).

O diagnóstico de uma doença crônica pode condicionar de forma muito

significativa o estilo de vida de uma criança e da sua família, com repercussões

eventualmente graves no âmbito pessoal, familiar e comunitário.

De acordo com Elsen (2002), a maioria dos problemas de saúde são tratados

na família. Essa é a primeira a reconhecer os sinais de alterações de saúde de seus

membros como também a primeira em realizar o cuidado, uma vez que o

desequilíbrio na saúde do individuo afeta não só a ele, mas também a dinâmica

familiar.

A mãe sendo o familiar mais próximo da criança doente, demonstrando o seu

amor materno, codifica os sinais, sintomas e a preocupação quanto à gravidade da

doença através do choro e das sensíveis mudanças no comportamento do seu filho

durante o período de internação, ela sofre com os acontecimentos, ou seja, os

sofrimentos da criança, porém ela não se rende, estando sempre forte e imbatível

dia após dia do tratamento e recuperação do seu filho (OLIVEIRA, 2000).

Segundo Oliveira e Collet (1999), a presença do acompanhante junto à

criança hospitalizada é vista como benéfica, pois há ajuda na recuperação da

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criança, provocando sentimento de competência e realização, além de diminuir a

permanência nos hospitais e as infecções hospitalares.

De acordo com Oliveira e Ângelo (2000), apesar da satisfação em estar

acompanhando a criança, este enfrenta tudo para cumprir o que define como seu

dever. Principalmente, o de ser mãe, se entregando à missão prioritária de proteger,

de poupar o filho de mais sofrimento, mesmo que esteja ausente de casa, deixando

outros filhos e sua família, o que conseqüentemente, lhe cause maiores

preocupações e angústias.

A mãe sofre assistindo ao sofrimento, sofre junto ao filho e sofre pelo fato de

vê-lo sofrendo. Em especial nas situações em que é submetido a procedimentos

terapêuticos dolorosos na sua frente, sem que ela possa fazer alguma coisa para

evitar ou minimizar a dor dele, sendo este um dos principais motivos da resistência

da mãe para efetivamente colaborar no cuidado da criança (OLIVEIRA; ANGELO

(2000).

Em meio a tanto sofrimento, resistência à proteção do acompanhante,

prevalece na internação conjunta sua presença, a qual favorece recuperação, auxilia

nos procedimentos e com isso a criança melhor responde na terapêutica.

O cuidado com a criança é fundamental, mas também o acompanhante não

deve ser esquecido. De acordo com Costenaro (1998), a permanência contínua do

acompanhante pode ser mantida se as suas necessidades físicas e psíquicas são

supridas, com isto evita afastamento da criança, favorecendo a diminuição da

ansiedade da criança e proporciona conforto a ambos, além de levar o

acompanhante a se sentir de certa forma mais bem cuidado.

2.4 Dificuldades e sentimentos vivenciados pelo cui dador familiar decorrente

ao período de hospitalização

De acordo com Collet e Rocha (2003), os sentimentos dos cuidadores durante

a hospitalização são ambivalentes; ao mesmo tempo em que permanecem

acompanhando a criança, estes vão sendo superados ou suportados, tendo em vista

o bem estar do seu filho. Também fazem tudo que está ao seu alcance para ficar no

ambiente hospitalar, mesmo que isto signifique cansaço físico e sofrimento.

Além de deixar os demais para ficar com a criança hospitalizada, o

acompanhante enfrenta a dificuldade em se adaptar com o ambiente hospitalar, o

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qual não lhe oferece meios de bem estar, como repouso, alimentação, higiene

adequada

Segundo Oliveira (2000), sentimentos de responsabilidade, de necessidade

de manterem controladas suas emoções e serem fortes para apoiar a criança são

sentimentos revelados por muitos cuidadores familiares.

Encobrindo seus próprios sentimentos, estresse e necessidades pessoais, o

cuidador permanece aparentemente forte para manter seu papel de cuidador da

família, mais este também sofre as conseqüências da hospitalização.

De acordo com Crepaldi (1999), diversos fatores estão ligados aos pais nas

representações que estes fazem sobre a hospitalização dos filhos. O principal

sentimento vivenciado pelos pais, descritos na pesquisa, é o sentimento de culpa.

Estes pais acreditam que de alguma forma poderiam ter evitado a doença, sentindo-

se culpado e impotente em relação a doença.

A angústia causada pela falta de diagnóstico, o medo do que virá a acontecer

com o filho, e principalmente o medo da morte do filho, e diante da necessidade de

internação, a ansiedade, são alguns dos sentimentos vivenciados pelos pais quando

têm um filho hospitalizado (CREPALDI,1999).

A autora já citada, afirma ainda que o início da hospitalização é sempre

acompanhado de muitas incertezas, medo e aflição. A família tende a negar a

necessidade da internação, ainda que os sintomas apresentados sejam importantes

e persistentes. Pois a iminência da hospitalização obriga a família a admitir a

gravidade da doença e passar a conviver com ela e com todos os riscos que esta

pode causar.

É extremamente difícil para o familiar aceitar a situação, tal qual esta se

apresenta: filho doente, doença grave, sem diagnóstico definitivo, hospitalização,

separação de casa e da família. Muitas vezes é a mãe quem expressa os

sentimentos de se encontrar nessa situação. Este fato se dá em parte, por ser a mãe

normalmente a acompanhante do filho na internação hospitalar (OLIVEIRA,2000).

A dinâmica familiar é frequentemente alterada pelo diagnóstico quando se

refere a uma doença crônica e também pela hospitalização. A família enfrenta a

crise de perda de uma criança perfeita e, posteriormente, a tarefa de se ajustar e

aceitar a criança e a sua doença.

O impacto da doença nos membros de cada família é fortemente

condicionado pelos recursos físicos, sociais e emocionais de que dispõem. A

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situação financeira da família tem influência igualmente na reação dos pais à doença

crônica. Na realidade, o seu impacto, traduzido em preocupações adicionais à

situação, depende, por um lado, dos próprios recursos que a família tem e, por

outro, das despesas que a situação específica exija. Na maior parte dos casos, a

doença impõe pesadas exigências financeiras (COLLET; ROCHA, 2003).

Frequentemente, ocorrem problemas profissionais desencadeados pela

situação de doença. Alguns pais ao acompanharem a criança no período de

hospitalização prolongada, ficam sujeitos, por vezes, a pressões do emprego. Esta

situação é mais notória no papel da mulher, que na maioria das vezes, para

acompanhar a criança no período de internação, acaba por prejudicar ou abdicar da

sua vida profissional, em benefício do filho (OLIVEIRA, 2000).

A busca de sentido para a doença é procurada constantemente pela família

da criança internada. Há a necessidade de defini-la, conhecer suas origens e

conseqüências, para assim tornar-se menos dolorosa a hospitalização. Crepaldi

(1999), atribui este fator à necessidade que o ser humano tem de refletir sobre a

morte e o significado da vida, pois a doença põe o homem em contato direto com a

inevitabilidade de sua finitude.

Com as dificuldades e sentimentos atribuídos a doença e a hospitalização da

criança, Oliveira (2000), salienta que os cuidadores necessitam de oportunidades

para falar sobre suas preocupações e medos, sendo estes sentimentos vivenciados

diariamente pelo familiar que presta o cuidado.

2.4 Família e Rede Social

A presença de uma doença, especialmente quando se trata de uma doença

crônica, produz um impacto nas interações entre o individuo, a sua família, e a rede

social mais ampla.

Os pacientes acabam se sentindo isolados, expressando não somente em

termos de distância interpessoal, mas também numa maior inércia à ativação do

contato por parte da rede social (SLUZKI, 1997).

O isolamento social da família em que um dos membros é portador de doença

crônica é um acontecimento freqüente que pode deixar o doente mais vulnerável a

transtornos emocionais, perpetuar o estigma da doença e criar problemas para o

enfrentamento da enfermidade (OLIVEIRA; COLLET, 1999).

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Sluski (1997) define redes sociais com sendo formadas pelo conjunto

daqueles que interagem com o individuo em sua realidade social cotidiana. É um

nível intermediário da estrutura social que inclui todo o conjunto de vínculos

interpessoais do sujeito: família, amigos, relações de trabalho, escolares, de serviço,

inserção comunitária e práticas sociais.

O apoio social fornecido pelas redes evidencia aspectos positivos das

relações sociais, como compartilhar informações, o auxilio em momentos de crise e

presença em eventos sociais (OLIVEIRA; COLLET, 1999).

Na situação de enfermidade, a disponibilidade de apoio social, tanto para a

família, quanto para o paciente, aumenta a vontade de viver e a auto-estima, o que

contribui para o tratamento. As famílias sentem-se mais seguras em relação ao

tratamento, com a troca de experiências e no desenvolvimento de estratégias para

enfrentar a hospitalização (OLIVEIRA;COLLET, 1999).

A sensação de acolhimento, com a troca de experiências, permite à família

sentir-se segura e impulsionam-na a engajar-se em um movimento mais integrado e

participativo, em relação ao tratamento. A família sente-se acolhida ao interagir com

as pessoas e experienciar ações como recebendo atenção, tendo troca afetiva,

tendo troca de amizade, recebendo palavras de conforto, ao perceber-se podendo

contar com o profissional de saúde e tendo liberdade para expressar-se (SLUSKI,

1997).

A adaptação da criança à doença crônica não resulta apenas de fatores

relacionados com a própria doença, mas é um processo contínuo entre a criança e o

seu meio. Neste processo, a família ocupa um lugar especial como potenciais

facilitadores da adaptação da criança às transformações exigidas por uma doença

crônica e da aceitação das restrições decorrentes do diagnóstico (OLIVEIRA;

COLLET,1999).

O apoio das redes sociais torna-se de fundamental importância no

enfrentamento da hospitalização e da doença crônica, pois com a troca de

experiências, o apoio da família, dos vizinhos, amigos, o cuidador familiar não sente

tanto as conseqüências da hospitalização, sendo este um momento difícil para ele e

de grandes mudanças na sua estrutura familiar, enfim no seu cotidiano.

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 Participantes da pesquisa

Esta pesquisa fez uso do método qualitativo para a compreensão dos dados

obtidos.

O método qualitativo possui a facilidade de poder descrever a complexidade

de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis,

compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais,

apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões

de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade a interpretação das

particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos. A pesquisa

qualitativa nos dá uma compreensão mais detalhada dos significados e

características situacionais apresentados pelos sujeitos da pesquisa

(RICHARDSON,1999).

Minayo (1999) considera o método qualitativo o mais adequado a ser utilizado

em pesquisa na área da saúde, pontua que no campo da saúde há uma realidade

complexa que necessita de conhecimentos distintos integrados.

Para esta pesquisa, foram convidados cuidadores familiares, sendo que todos

os cuidadores convidados aceitaram participar da pesquisa, todos eram

acompanhantes de crianças com doenças crônicas, independente da idade

cronológica, internadas em um Hospital Pediátrico localizado na cidade de Itajaí

(SC), com quadros que exigiam um tempo de hospitalização de pelo menos 5 (cinco)

dias no período de março a maio de 2008.

Segundo Vieira e Lima (2002), a doença crônica é caracterizada por um longo

período de internação, onde o individuo passa por varias mudanças e adaptações.

As escolhas dos sujeitos justificam-se pelo seguinte motivo:

- A escolha de cuidadores de crianças com doenças crônicas deu-se pelo fato de

que estas normalmente necessitam de um período maior de internação.

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3.2 Quadro de Participantes

Nome da mãe

Idade da mãe

Estado cívil da mãe

Sexo da

criança

Idade da

criança

Doença crônica

apresentada

Nº de internações

Tempo de internação até a data prevista

A.I.R

(M1)

23 anos solteira fem 6 meses

Bronquite crônica

01 5 dias

E.M.B

(M2)

22 anos solteira fem 6 meses

Bronquite crônica

06 8 dias

J.A.G

(M3)

15 anos casada fem 2 meses

Cardiopatia congênita

01 5 dias

S.S

(M4)

27 anos solteira fem 3 anos Bronquite crônica

02 8 dias

3.3 Instrumento

Foi utilizada a entrevista semi-dirigida (Apêndice C), elaborada com o objetivo

de obter dados pertinentes a pesquisa.

Segundo Triviños (1987), é um instrumento de coleta que considera a

participação do sujeito como um dos elementos de seu fazer cientifico, ao mesmo

tempo, valoriza a presença do investigador e oferece liberdade e espontaneidade

necessária ao informante a respeito de seu pensamento e experiência dentro do

foco colocado pelo investigador, enriquecendo a pesquisa.

As entrevistas foram gravadas através de um gravador de áudio, onde

possibilitou a transcrição literal dos dados obtidos.

3.4 Coleta dos Dados

A pesquisa foi realizada em um Hospital Pediátrico, na cidade de Itajaí (SC).

Foi feito o contato com a direção da instituição para a obtenção da autorização para

a realização da pesquisa, como também para a identificação dos sujeitos da

pesquisa.

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Aos familiares que estavam acompanhando a criança no Hospital Pediátrico,

foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice

A) por escrito, para a participação na pesquisa. As entrevistas tiveram

aproximadamente vinte minutos de duração, e foram realizadas em local reservado,

conforme disponibilidade da instituição, algumas entrevistas foram realizadas nos

corredores afastados de circulação de pessoas e distante do leito da criança.

Os relatos foram colhidos em dias variados conforme o período de internação

do paciente completasse cinco dias. Os convites para a participação na pesquisa

eram feitos nos quartos, conforme informações obtidas através dos prontuários.

3.5 Análise dos Dados

Para a análise dos dados desta pesquisa, foi utilizado a Análise de Conteúdo.

Segundo Bardin (1977) á análise de conteúdo se refere:

“Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens ( p.42)”.

Segundo Bardin (1977), a análise de conteúdo é organizada por diferentes

fases através de três pólos cronológicos:

1. Pré-análise;

2. Exploração do material;

3. Tratamento dos resultados, a interferência e a interpretação.

A pré-análise, é a fase de organização propriamente dita, tem por objetivo

tornarem operacionais e sistematizar as idéias iniciais.

Esta primeira fase possui três missões: a escolha dos documentos a serem

submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de

indicadores que fundamentam a interpretação final.

A exploração do material consiste numa fase longa e fastidiosa, de operações

de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente

formuladas.

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Os resultados obtidos são considerados significativos e válidos, pois pode

então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos

previstos.

Desta forma, os relatos das entrevistas foram analisadas, originando quatro

categorias e dez subcategorias citadas abaixo:

3.5.1 Sentimentos vivenciados pelo cuidador familia r no período de

hospitalização da criança

3.5.1.1 Preocupação

3.5.1.2 Medo da perda

3.5.1.3 Dificuldades de aceitação

3.5.2 Dificuldades decorrentes do período de hospit alização.

3.5.2.1 Afastamento do trabalho e dificuldades financeiras

3.5.2.2 Ausência de casa e da família

3.5.2.3 Estresse e cansaço

3.5.3 Dinâmica familiar no período de internação

3.5.3.1 Desequilíbrio nos hábitos da família

3.5.3.2 União e apoio da família no processo de internação

3.5.3 Expectativas do cuidador familiar frente ao f uturo da criança

3.5.3.1 Confiança e esperança

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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme os objetivos propostos na presente pesquisa, foram analisados os

significados do cuidar de uma criança que apresenta doença crônica, a partir de

relatos dos cuidadores familiares, justificando-os através das bases teóricas do

respectivo assunto. A seguir as categorias elencadas das entrevistas.

4.1 Sentimentos vivenciados pelo cuidador familiar no período de

hospitalização da criança

A doença é um estado que afeta a integridade e o desenvolvimento emocional

da criança, e deve ser compreendida a partir da ótica da própria criança e de sua

família, principalmente do cuidador que acompanha a criança neste período, sendo

cada um com suas angústias e medos específicos (NIGRO, 2004).

Cada familiar possui modos próprios de lidar com seus sentimentos diante da

vulnerabilidade da saúde da criança. Para isso, dispõe de estratégias próprias de

enfrentamento de problemas (PINTO; RIBEIRO; SILVA, 2005).

A doença crônica exige uma readaptação à nova realidade e a compreensão

de que haverá uma constante busca pelo controle da situação nas crises, as quais

exigem do cuidador, bem como da família participação no processo e conseqüente

crescimento diante de cada nova experiência vivida.

4.1.1 Preocupação

O familiar tem, cada vez mais, assumido a responsabilidade de cuidar de

seus membros. Cuidar de um familiar doente exige fundamentalmente a captação

das suas experiências internas, aquelas que nos revelam os significados que a

família atribui aos eventos que vivenciam (CONTIM,2001)

O familiar enfrenta toda a trajetória adversa na busca incessante em cumprir o

que define como sendo o seu dever, a prioridade de proteger, saber o diagnóstico da

criança e possibilidades de cura, bem como poupar a criança do sofrimento, essa

preocupação torna-se constante na vida do cuidador familiar, aonde o mesmo busca

então recursos para minimizar esse sofrimento (CONTIM,2001).

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O estado de preocupação e angústia é vivido pelo acompanhante em que o

medo vem sendo um dos principais fatores geradores de ansiedade. O cuidador

familiar sente-se apreensivo em relação ao que poderá acontecer com a criança

hospitalizada ( MENDONÇA,2001).

A preocupação com a rotina de cuidados, também é uma característica

freqüente evidenciada nos cuidadores. Existe uma preocupação com o bem-estar do

filho internado. Há uma desorganização temporária da família. O cuidador se

percebe atribulado de atividades, suas preocupações agora são constantes.

(OLIVEIRA,2000).

Tal sentimento apresentado pode ser evidenciado através das seguintes

falas:

“(...) fiquei bem assustada e preocupada quando soube do diagnóstico, estou

aqui direto no hospital (...)” (M1).

“(...) fiquei bem preocupada, por isso que estou aqui, para ver o que está

acontecendo, a gente fica preocupada né, não sabe o que vai acontecer (...)” (M3).

“(...) fiquei preocupada quando ele foi internado, mas senti que meu filho

precisa de mim (...)” (M4).

A presença do acompanhante é fundamental no cuidado, pois este se sente

geralmente como fonte de proteção e segurança para o filho, mesmo que a

preocupação e o medo tornam-se constante, devido a hospitalização. Esta presença

possibilita uma relação de estímulos agradáveis, tornando o ambiente menos

agressivo, à criança internada. Neste sentido percebe-se através das entrevistas

realizadas que o cuidador busca amenizar o sofrimento da criança hospitalizada,

quando a preocupação torna-se parte da rotina do cuidador familiar.

4.1.2 Medo de perda

A angústia causada pela falta de diagnóstico, o medo do que virá a acontecer

com o filho, e principalmente o medo da morte do filho, e ainda diante da

necessidade de internação, são alguns dos sentimentos vivenciados pelos pais

quando têm um filho internado ( ARMOND E BOEMER,2004).

As autoras já citadas , ainda afirmam que o início da hospitalização é sempre

acompanhado de muitas incertezas, medo e aflição. A família tende a negar a

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necessidade da internação, ainda que os sintomas apresentados sejam importantes

e persistentes. Pois a iminência da hospitalização obriga a família a admitir a

gravidade da doença.

Quando a doença aparece, inevitavelmente a família é tomada pelo medo da

gravidade dela, e consequentemente o medo da perda do filho, ou seja, medo da

morte. Schliemann (2006), afirma que a família é colocada de frente com novos

aspectos e rotinas, e vivem emoções que são reflexos da dificuldade em lidar com a

dor e a morte do filho.

O medo da perda, ou morte são evidenciados através das seguintes afirmações:

“(...) tenho medo do que possa acontecer com ela, consigo dormir no máximo

dez minutos, e acordo assustada, com medo de que aconteça alguma coisa (...)”.

(M1)

“(...) eu tenho medo que ela não volte para casa, eu sempre penso que ela

não vai voltar para casa, pois tem uns dias que ela fica a ponto de ir para a U.T.I

(...)” (M2)

“(...) a gente fica com medo né, não sabe o que vai acontecer, tem dias que

ela piora e eu não sei se voltará para casa ou não (...)” (M3).

“(...) tenho medo do que possa vir acontecer com minha filha, às vezes penso

que ele não volta para casa (...)” (M4).

De maneira geral, as pessoas sentem medo da morte, para os pais entrarem

em contato com a possibilidade da morte do filho através de uma doença, é algo que

traz a eles um sofrimento insuportável. A hospitalização leva-os a crer que a doença

que o filho tem é grave, aumentando assim este medo. Quando o período de

internação se torna mais longo, a angústia aumenta, e o medo do que pode

acontecer com o filho se torna mais presente para estas mães (CREPALDI, 1999)

Pode-se perceber através das entrevistas, um medo permanente do cuidador

familiar em relação ao futuro da criança hospitalizada, ao que poderá acontecer com

a mesma, o que foi confirmado na literatura pesquisada em relação ao assunto

discutido em pauta. A morte ainda é pouco discutida, e torna-se difícil aceitar e

compreender que somos finitos, a hospitalização traz consigo inúmeras

possibilidades, entre elas o medo da perda, que também podem estar presentes no

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dia a dia das unidades de internação. Portanto a presença da família nas instituições

de saúde, em especial nos momentos em que a finitude se torna uma possibilidade,

traz benefícios importantes para o ser que está hospitalizado.

4.1.3 Dificuldades de aceitação do diagnóstico.

Segundo Contim (2001), existem sentimentos que são experimentados pelos

familiares durante o processo de uma doença crônica. Inicialmente, quando é

informado da doença, o paciente e seus familiares, especialmente seu cuidador,

deparam-se com um choque inicial e sentimentos de negação. Existe uma recusa e

uma incapacidade de aceitar suas condições atuais. Em um segundo momento, é

mobilizado raiva, fúria havendo questionamentos sobre o porquê desse fato ter

acontecido com ele e chega-se a invejar a saúde de outros.

O diagnóstico de uma doença crônica, muitas vezes, é recebido pelo doente e por

sua família como uma agressão, pois, com o advento de uma doença, seja ela grave

ou não, o paciente tem seus planos e sua própria vida interrompida, perde seus

sonhos e sua esperança depositada no futuro e vê-se totalmente diante de sua

própria finitude (CONTIM,2001).

O contato inicial com a doença gera nos pais a ansiedade e o medo. Muitas

vezes, eles expressam a incredulidade com relação ao diagnóstico, o receio da

perda do filho de imediato (SANTOS,1997).

Através do exposto, podemos identificar tal situação:

“(...) eu não aceito esse diagnóstico, porque isso aí foi erro médico, porque o

próprio médico poderia ter visto na ultrassom, porque se tu sabe que desde o

começo tem uma filha com Sindrome de Down, desde o começo da ultrassom tu vai

aceitar e se acostumar, e eu foi da noite para o dia, não sei muito bem o que ela

tem, assim não tenho paciência com a minha filha (...)”. (M2)

Pode-se constatar, através da fala da mãe, a dificuldade da mesma em

aceitar o diagnóstico da filha, enfatizando que não houve um tempo de adaptação do

cuidador em relação ao diagnóstico da criança, sendo que o desconhecimento da

doença faz com que as famílias simulem situações futuras que as impedem de se

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adaptar à nova condição e de compreender o significado de cuidado e atenção

contínua.

Essas fases enfrentadas pela família, descritas como as reações iniciais dos

pais, sendo essas o choque, incredulidade, confusão, medo, raiva, conflito e tensão,

apresentam duração variável e uma negação prolongada, têm reflexo em toda a

família, impedindo assim uma adaptação bem sucedida (OLIVEIRA; BASTOS,

2000).

Os familiares experienciam diferentes estágios de adaptação, semelhantes

aos que são vivenciados pelo próprio paciente. Inicialmente, muitos deles não

acreditam que seja verdade, permanecendo negando o fato de que há uma doença

na família. Toda negação envolve um processo de recusa, minimização dos fatos,

descrença e desejo em ignorar sintomas. Os Diagnósticos são questionados e os

tratamentos são recusados. A negação, também, é vista como uma tentativa de se

poupar da visão assustadora da morte do outro, pois esta leva o indivíduo a

consciência de sua própria finitude. Nestas situações, oferecer a oportunidade das

pessoas falarem sobre seus temores dirime a tensão e ajuda na reorganização de

suas forças para encarar a realidade (MINUCHIN, 1999)

A aceitação da doença ocorre com o aumento do conhecimento que dela se

adquire, de como cuidar da criança e como essa pode reagir. O cuidador passa a se

sentir seguro a partir do momento em que começa a aprender a lidar com a doença

do filho e sente que está realizando um bom cuidado, com resultados visíveis, ou

seja, com melhora no estado clínico da criança (MINUCHIN,1999).

4.2 Dificuldades decorrentes do período de hospital ização.

As novas demandas e dificuldades surgem quando a família, tem contato com

o inesperado, se depara com a doença e com a hospitalização de um de seus

membros. Essa é uma situação que interfere na evolução do ciclo vital da família,

provocando um abalo emocional em seus membros que não esperavam a

ocorrência da hospitalização (SOUZA,1999).

Armond e Boemer (2004), apontam as dificuldades enfrentadas pelos pais de

crianças internadas para conciliar hospital, cuidados com a criança e o seu trabalho,

que muitas vezes é o único sustento da família e em alguns casos há necessidade

de abandonar o trabalho para permanecer com o filho no hospital.

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De acordo com o autor já citado, os pais vêem suas vidas envolvidas pela

doença e o mesmo ocorre com toda a família e esse envolvimento reflete uma

necessidade de atenção especial, alterando o ritmo familiar.

4.2.1 Afastamento do trabalho e dificuldades financ eiras

Uma das mudanças decorrentes da doença crônica no núcleo familiar refere-

se ao trabalho das mães fora de casa. A mulher, que divide os papéis de mãe e

trabalhadora, tem seu lado maternal e cuidador revelado de maneira intensa,

quando se trata de doença no âmbito familiar. Nesses casos, ela deixa o trabalho,

para segundo ou até mesmo para último plano, ao se defrontar com a necessidade

de cuidar de um filho doente. Sua atuação no lar impede o exercício de atividades

externas a ele e, como mulher e mãe, à frente do cuidado do filho doente, ela acaba

não tendo como dividir seu tempo entre as duas atividades, pois a exigência de

atenção integral ao cuidado impossibilita que tenha outra atividade, que não a do

cuidado com a criança hospitalizada (DIAS,2000).

Muitas transformações se instalam na vida de pessoas obrigadas a enfrentar

uma situação como a da doença crônica na infância. Os cuidadores enfrentam

alterações muito significativas em suas vidas, em todos os sentidos. Tais mudanças

se refletem no mundo do trabalho, que muitas são obrigadas a deixar, juntamente

com os anseios e sonhos individuais. Também são afetadas em seus papéis de

esposas, amigas e mulheres, sem função da canalização de todas as energias e

esforços em direção a um objetivo único que é cuidar do filho doente

(CONTIM,2001)

De acordo com o mesmo autor, algumas situações das famílias e do cuidador

familiar se agrava pelo contexto sócio econômico, ou seja, dependem do trabalho

diário para sobreviver. A doença e a hospitalização os colocam diante de mais um

obstáculo, o de conciliar, cuidados à criança e o trabalho. A mãe vê-se obrigada a

abandonar o emprego ou acaba perdendo, pela impossibilidade de conciliá-lo com o

cuidado da criança.

Através das respostas abaixo podemos identificar tal situação:

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“(...) tive que largar meu emprego, para cuidar da minha filha, antes ganhava

dois sálarios por mês, hoje dependo dos outros até para comprar leite para ela (...)”

(M2).

“(...) não sei se ainda estou trabalhando, faz muito tempo que eu não apareço

lá, ou eu trabalho ou cuido da minha filha, dependo dos outros para tudo (...)”. (M3)

“(...) tive que largar meu trabalho, para cuidar do minha filha, agora dependo

dos outros (...)” .(M4)

O cuidador familiar passa por várias situações que para ele são difícieis, além

dos aspectos emocionais envolvidos na hospitalização, há também o afastamento

do trabalho e as dificuldades financeiras, quando os mesmos, de acordo com as

entrevistas realizadas, ampliam suas redes sociais, dependendo assim além dos

familiares, dos amigos, vizinhos, enfim da comunidade.

4.2.2 Ausência de casa e da família.

Outro aspecto relevante no estudo de Crepaldi (1999), evidencia como é

desastrosa a separação temporária, ou eventualmente definitiva da família, e para

lidar com esta separação a família é obrigada a traçar novas estratégias.

O cotidiano da internação na unidade pediátrica impede a permanência de

mais de um familiar acompanhante junto à criança durante a internação, tendo como

conseqüência um afastamento do cuidador e da criança hospitalizada dos demais

familiares, sendo que esse afastamento pode ocasionar ao cuidador insegurança,

sentimentos de isolamento e solidão (ROMANO,1999).

Além de ter de conviver com o adoecimento de um de seus membros, a

família viu-se imersa em um mundo em que difere completamente daquele que

acontece no espaço doméstico, tem que enfrentar os limites impostos pela

instituição, que nem sempre dispõe de ambiente adequado ao seu descanso,

higienização e alimentação; depararam-se com a existência de regras, de aparelhos

altamente sofisticados; com normas e rotinas diferentes e que lhes dão atribuições

que nem sempre são exercitadas no cotidiano do lar (CONTIM,2001).

O hospital representa um afastamento do ambiente simbólico do lar, da casa

e do espaço doméstico. Para a família, implica redobrada dose de preocupação e

desgaste, outras vezes, cria-se um sentimento de solidão no cuidador por não

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contarem com a presença dos familiares com as quais possam desabafar a angústia

que estes sentimentos provocam.

O afastamento do cuidador do contexto familiar e de casa leva a família a

mudar os papéis familiares, mudanças na rotina, sentimentos de isolamento e perda

de controle. A família se vê diante de dilemas como cuidados de crianças que estão

em casa e cuidados com a criança hospitalizada (ROMANO, 1999).

Quando a família vivencia a internação prolongada de seu filho, necessita de

apoio emocional e da solidariedade de sua rede social. Amigos, parentes e vizinhos

podem ser transformados em fonte de força, a fim de resgatar aspectos da vida

saudável e poderem, assim, prosseguir, cuidando da criança doente

(CONTIM,2001).

Os relatos a seguir denotam essas afirmações:

“É difícil ficar longe de casa e da família, a minha família me dá bastante

apoio, mais queria ter eles por perto, ter com quem desabafar (...)”. (M1)

“(...) ficar longe da família é difícil, dos avós dela que estão acostumados com

ela por perto né. É difícil ficar aqui sozinha, sem ninguém, só em horário de visita

(...)”. (M3)

“(...) me sinto sozinha aqui, sem ter a companhia de quem confio, mais recebo

bastante ajuda, dos familiares, dos vizinhos, de todos (...)”. (M4)

A inexistência de espaços em que a família possa expressar seus

pensamentos amplia o sentimento de solidão, de não ter com quem contar o que a

distancia ainda mais de si mesma e, às vezes, de seus entes queridos. Esta

constatação retoma a necessidade de os profissionais de saúde consideraram a

família também como foco de cuidado.

4.2.3 Estresse e cansaço

A principal conseqüência da doença muitas vezes é a hospitalização, sendo

um acontecimento que altera acentuadamente a vida familiar, além de acarretar uma

intensa carga de estresse para a família, principalmente para o cuidador. A

internação hospitalar infantil, geralmente, é uma situação geradora de estresse e

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ansiedade para a família, modificando o seu cotidiano, necessitando reorganizar-se

(MENDONÇA, 2001)

A hospitalização, por si só, é considerada um fator estressante por ser

motivada por doença. Quando ocorre de uma criança ser hospitalizada, a angústia,

ansiedade e o estresse surgem na família em proporções maiores

(MENDONÇA,2001).

O ambiente hospitalar por melhor adaptado que seja, é um ambiente hostil e

desconfortável para os cuidadores. A dificuldade encontrada para se acomodar na

hora de dormir causa muitas vezes incomodo e alterações no sono. Quando o

período de internação é longo, o cansaço físico se torna cada vez mais acentuado, o

sono é interrompido várias vezes durante a noite por conta de medicações e

monitoramento, seja do próprio filho, ou pelo leito de outra criança que se encontra

no mesmo quarto.

O que pode ser verificado através das afirmações relatadas:

“(...) estou muito cansada com essa situação de hospital (...)” (M1).

“(...) eu tenho um estresse, às vezes não tenho paciência com minha filha,

nesse período eu to estressada, não consigo dormir direito, estou cansada, quero

passar uma tranqüilidade para minha filha que eu não tenho (...)” (M2).

“(...) com a internação dela me sinto mais cansada, não consigo dormir as

vezes, e também fico sem paciência, um pouco estressada né (...)” (M4)

Torna-se difícil para as mães que acompanham seus filhos não ficarem

tensas e estressadas diante da permanência em um hospital. A dificuldade para

dormir, a falta de ter o que fazer, bem como permanecer em um ambiente de doença

faz com que o estresse e o grande cansaço se torne visível nestas mães.

4.3 Dinâmica familiar no período de internação

A família é considerada uma unidade primária do cuidado, pois ela é o espaço

social onde seus membros interagem, trocam informações, apóiam-se mutuamente,

buscam e medeiam esforços para amenizar ou solucionar problemas. A cultura

familiar é determinada pelo conjunto de princípios implícitos e explícitos que

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norteiam os indivíduos na sua concepção de mundo, maneira de sentir, experienciar

e de se comportar (DIAS,2000).

A doença crônica pode ser vista como um estressor que afeta o

desenvolvimento normal da criança e também atinge as relações sociais dentro do

sistema familiar. A rotina da família muda com constantes visitas ao médico,

medicações, reincidências e reinternações ao longo do desenvolvimento e

crescimento da criança e agravamento do quadro clínico, atingindo todas as

pessoas que convivem com a criança (DIAS,2000).

De acordo com Cerveny (2002) interação entre os componentes de um

sistema manifesta-se como uma seqüência circular, de modo que a relação entre

quaisquer de seus elementos é bilateral. As partes unidas de um sistema estão em

relação circular, cada pessoa afeta e é afetada pelo comportamento de outra pessoa

e do contexto em que está inserido. A família em si é considerada uma unidade, em

que todas as partes estão ligadas e interagem. Existindo um movimento contínuo e

circular de troca entre o sistema familiar e a estrutura individual.

4.3.1 Desequilíbrio nos hábitos da família

Com a internação hospitalar da criança, é modificada a estrutura interna e

externa da família. O cuidado do ser doente é prioridade para a família, tornando-se

secundária muitas vezes às suas próprias vontades. Os valores modificam-se e a

postura da família também pode alterar-se (OLIVEIRA; ANGELO, 2000).

Para os autores acima citados a hospitalização altera tanto a vida da criança

como a dinâmica familiar. Referem ainda que a doença é um processo que provoca

mudanças no cotidiano da família, necessitando de novas organizações de suas

atividades

As limitações impostas pela doença crônica afetam também a família que

precisa se adaptar às necessidades do membro doente, para isso utilizando de

novos recursos de enfrentamento. Segundo Romano (1999), há uma quebra do

equilíbrio dinâmico familiar diante do novo evento. As mudanças que ela acarretará

e as adaptações que essa família realizará, depende dos recursos que dispõe, de

como o evento começou e o significado que atribui ao acontecimento. O equilíbrio é

buscado através das novas adaptações.

A seguir trechos das entrevistas que afirmam tais alterações:

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“(...) Mudou tudo lá em casa, a nossa rotina, todo mundo teve que se

organizar com essa situação (...)”. (M1)

“(...) todo mundo teve que mudar, quem fuma dentro de casa parou de fumar

em casa, por causa da minha filha (...)”. (M2)

“(...) com a internação da minha filha, a família teve que mudar toda sua

rotina, todos lá em casa mudaram (...)”. (M3)

“(...) com a hospitalização da minha filha, a rotina de todos mudaram lá em

casa (...)”. (M4)

De acordo com Romano (1999), a família se abala, frente à doença crônica,

Segundo o mesmo autor, a família é o primeiro grupo social ao qual somos

inseridos. Esta, como unidade nuclear do indivíduo, deve-nos acolher, permitindo-

nos desenvolver nossas habilidades, experiências, vivências e novas relações

humanas. É o ambiente em que a pessoa recebe todo o apoio afetivo, psicológico,

valores humanos e éticos, além de outras ferramentas necessárias para seu pleno

desenvolvimento físico e mental, sofrendo muitas modificações e privações para

atender ao membro doente.

4.3.2 União e apoio da família no processo de inter nação

Os autores Vieira e Lima (2002), relatam o quanto é importante para o

cuidador familiar o apoio recebido de diferentes grupos como família, amigos, equipe

de saúde, entre outros, para o enfrentamento das situações vivenciadas no cuidado

cotidiano da criança hospitalizada. É a partir das redes de apoio e da troca de

experiências promovendo esse apoio que as famílias desenvolvem meios para

superar as dificuldades que encontram nessa assistência.

As famílias podem, inicialmente, enfrentar sozinhas a doença e o que ela traz

consigo: a dependência de uma atenção contínua, cuidados com a alimentação,

tratamento medicamentoso e também a constante preocupação com o estado clínico

do doente. Mas o contexto que as envolve vai além dos limites do lar. A rede social

mostra-se como fonte necessária para os enfrentamentos cotidianos (SLUSKI,1997).

A ajuda prestada pelas famílias que estão com seus filhos em situações

semelhantes é mencionada nas entrevistas como expressão de alívio, por encontrar

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pessoas que possuem as mesmas vivências e encontrar o apoio da família neste

momento difícil que é o da hospitalização.

As redes de apoio aparecem como uma necessidade mais do que eminente,

visto que as famílias dividem experiências semelhantes, adquirem segurança na

condução do tratamento do filho, reflexo que acaba beneficiando todos os membros

da família (SLUSKI,1997).

Através do exposto, seguem as seguintes afirmações:

“(...) minha família se uniu mais depois da hospitalização, eles me ajudam e

apóiam no que preciso, me ajudam com fralda, alimentação e ficam com ela quando

necessário (...)”. (M1)

“(...) minha família me ajuda muito, no que preciso, se eu não tivesse essa

ajuda eu não estava agüentando ainda, cem por cento da minha família me dá apoio

(...)”. (M2)

“( ) meus pais me ajudam muito, eles me ajudam em tudo que eu preciso( )”

(M3).

“(...) eu encontro apoio da minha família, e também dos meus vizinhos,

amigos de todos (...)” . (M4)

As mães demonstraram poder contar com a ajuda dos familiares para

poderem se adaptar a esta nova situação que é a permanência no hospital. Crepaldi

(1999), afirma que é de suma importância que os acompanhantes tenham com

quem poder dividir as tarefas exigidas pela internação, seja dentro do hospital, seja

em casa.

4.4 Expectativas do cuidador familiar frente ao fut uro da criança

A expectativa em relação à doença diz respeito a quanto ela pode ou não

encurtar o tempo de vida do indivíduo. Algumas doenças podem não interferir na

duração de vida, já outras tem sua progressão, que abrange o grupo das doenças

crônicas que encurtam o tempo de vida do doente e as de possível morte súbita

(DIAS,2000)

O doente acometido por doenças que afetam a duração da vida, pode temer

não realizar seus planos de vida futura (CONTIM,2001)

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A expectativa de perda está presente e é clara para todos os membros,

fazendo com que todos mobilizem recursos para lidar com isso.

4.4.1 Confiança e esperança

A esperança é sentimento permanente, ainda que os pais reconheçam a

gravidade da doença, e que é remota a possibilidade de recuperação. Pois não ter

esperança é eliminar a possibilidade de não ter expectativas, não ter futuro

(CREPALDI,1999).

O que move muitas vezes os familiares é a esperança, mesmo que remota,

de sair dessa situação e voltar para o ambiente familiar. A luta contra o sofrimento é

constante e de crucial importância, pois sem a vontade de combatê-lo o paciente,

bem como, a família passa a conformar-se com o sofrimento que os desestabilizam

(GUIMARÂES,1996).

O hospital parece ser considerado pelas mães como única forma para que

seus filhos melhorem. Mostram confiança na instituição e na equipe de saúde e a

esperança de sair com o filho curado do hospital (GUIMARÂES,1996).

Através das respostas abaixo podemos identificar tal situação:

“Eu tenho esperança que o tratamento de certo, e que ela consigo viver como

uma pessoa normal e feliz (...)” (M1)

“Tenho esperança que ela se de bem né, que seja uma pessoa feliz, em

relação ao diagnóstico que ele desapareça, ou que no futuro isso não traga

problemas para ela né (...)” . (M2)

“(...) Tenho esperanças que ela saia daqui bem, o hospital é bom né, os

médicos são bons, a gente conversa com tanta gente que passou, aqui mesmo no

hospital, por isso, e a esperança aumenta né (...)” . (M4)

Ao conversar, as mães contam umas às outras seus sentimentos,

preocupações, enfim, acabam se identificando, pois todas têm muitos aspectos em

comum. Estão passando por situações semelhantes, no mesmo ambiente e,

enquanto conversam, encontram no desabafo uma maneira de desviar o

pensamento quando percebem que não são as únicas a viverem essa situação de

sofrimento, passam a se conformar e a ter uma melhor aceitação da real situação,

voltando assim a ter confiança e esperança em relação ao tratamento.

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As entrevistadas sentem necessidade no momento em que estão passando

por uma situação desconhecida de desabafar e serem ouvidas, reforçando assim, a

necessidade de haverem grupos de apoio para estes cuidadores, havendo assim

uma troca de experiência e consequentemente o cuidador familiar passará a ter uma

maior confiança e esperança em relação ao tratamento, através dos relatos de

pessoas que passaram por cituações semelhantes, diminuindo assim as

conseqüências da hospitalização.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar qual o significado do cuidar,

para o familiar que presta o cuidado a criança hospitalizada, em função desta

apresentar uma doença crônica, através de entrevistas realizadas com tais

cuidadores, assim como identificar mudanças ocorridas devido a hospitalização de

uma criança cronicamente enferma.

Através das entrevistas realizadas com os cuidadores familiares

acompanhantes, foi constatado como na literatura, que as mães são as pessoas que

geralmente acompanham os filhos em situação de internação, por esta oferecer os

cuidados básicos para a criança e reconhecerem a importância em permanecer com

seu filho num período de estresse como o da hospitalização.

A hospitalização torna-se um momento difícil para o familiar que presta o

cuidado, por esse estar fragilizado diante da nova situação. Os cuidadores

demonstraram, através das suas falas, sentimentos de preocupação e impotência

por não saber o que poderá acontecer com seus filhos.

Pode-se perceber diante dos relatos, que o cuidador frente à doença, se

depara com o medo da perda ou seja, o medo da morte. Sentem-se culpados pelo

surgimento da doença, ocasionando angústia e ansiedade durante o período de

hospitalização, pelo sentimento de impotência diante a doença apresentada.

Esse sentimento de impotência acaba ocasionando muitas vezes, dificuldades

dos familiares em aceitar o diagnóstico, havendo um processo de negação da

doença, e luto por parte da mãe na perda do filho saudável idealizado. A doença

crônica é tida como situação permanente e limitadora a qual é necessário que o

paciente se adapte pois inúmeras perdas são sentidas, além do luto de seus ideais.

O projeto de vida do mesmo toma um novo rumo e uma nova condição é assumida,

o ser doente.

Com a internação, o cuidador que geralmente é a mãe, além da dificuldade

emocional apresentada, como sentimentos de culpa, preocupação, entre outros,

encontra outras mudanças ocasionadas pela hospitalização, como o afastamento do

trabalho e dificuldades financeiras, por ter que deixar o emprego e dedicar-se ao

cuidado intensivo do filho enfermo.

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Porém, pode-se constatar a ajuda dos familiares á esse cuidador e da rede

social a qual o mesmo esta inserido, tanto dentro quando fora do hospital, como

essencial para o enfrentamento da doença. Sem esta ajuda, a adaptação no período

de hospitalização seria muito difícil para estas mães.

As entrevistadas demonstraram receber grande apoio da família e da rede

social, contando com estas para os cuidados de casa. E salientam que esta ajuda

torna-se essencial para a adaptação a esta nova rotina.

Outro aspecto relevante é a ausência de casa e dos familiares, no período da

hospitalização, aonde o familiar que presta o cuidado, geralmente sentem falta dos

filhos que ficaram em casa, do marido, enfim de todos que fazem parte de seu

cotidiano, dedicando então o cuidado apenas a criança hospitalizada, deixando os

outros filhos aos cuidados de parentes, vizinhos, acarretando assim uma carga

intensa de estresse.

As mães relatam também dificuldades para dormir e cansaço físico devido a

grande carga de estresse e angústia que está vivenciando. É visível o cansaço físico

nas mães, pois a preocupação com o filho hospitalizado e o medo de perda são

constantes.

Com a hospitalização, ocorre uma mudança na dinâmica familiar, havendo um

desequilíbrio e limitações impostas pelo período de internação, nesse momento os

familiares mudam sua rotina, para se adaptar a nova realidade.

Apesar da doença crônica apresentada pela criança, pode-se perceber que

das quatro mães entrevistadas, três delas, mantém o sentimento de confiança e

esperança, em relação a uma vida saudável para seu filho, que mesmo com

algumas limitações a criança futuramente possa manter uma vida normal e feliz.

O desâmino em relação ao futuro da criança que apresenta a doença crônica,

também pode ser constatado por uma mãe, das quatro que foram entrevistadas,

talvez como uma forma de negação e fuga devido o diagnóstico apresentado pela

filha.

Apesar das dificuldades encontradas diante da hospitalização de seus filhos,

as mães demonstram estar cientes da importância em permanecer com seu filho no

período de hospitalização e atribuem o cuidar do filho enfermo como necessário

para a melhora da criança, pois percebem o quanto torna-se importante para o

doente que esta fragilizado o apoio do cuidador familiar.

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Através deste levantamento, pôde-se entrar em contato com as reações que a

doença crônica traz para a família. Tal constatação permite concluir que o

profissional de saúde é de extrema importância, pois auxiliará a promover orientação

e suporte para a adaptação, uma vez que o adoecimento crônico acarreta situações

de crise, limitações e perdas que irão influenciar na estrutura familiar.

A doença crônica é aceita a partir de um significado que lhe é atribuído e que

nomeia tal experiência. Todos os membros vivenciam o processo de adoecer com

os recursos que lhe são disponíveis, portanto diferentes significados surgem de

acordo com a história pessoal de cada membro.

Na formação desse significado, muitos sentimentos e reações foram

constatados nos cuidadores familiares como, culpa, desespero, raiva, frustração,

inconformismo, incerteza, dúvidas, medo, negação por falta de recursos, sensação

de impotência e desânimo.

O equilíbrio do sistema pode ser resgatado desde que se mobilizem os

recursos necessários. A equipe de saúde deve estar atenta às necessidades da

família, ampliando a assistência também a essa rede de apoio tão importante.

Pode-se perceber também através da literatura pesquisada, uma maior

freqüência de internação de crianças com doenças crônicas, em relação as que não

apresentam este tipo de doença, devido aos sinais e sintomas podem ser

freqüentemente submetidos a hospitalizações para exames e tratamento à medida

que a doença progride.

Sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas sobre esta temática no

campo da psicologia, havendo poucos artigos referente ao familiar que presta o

cuidado a criança hospitalizada em conseqüência desta apresentar uma doença

crônica, pois o cuidador também sofre as conseqüências da hospitalização.

Torna-se visível a necessidade que as mães têm em falar dos sentimentos

acerca da hospitalização dos filhos, e o quanto as mesmas sentem-se menos

angustiadas e acolhidas com o fato de serem ouvidas nesse momento de crise,

reforçando assim, a necessidade de haverem grupos de apoio para estes

cuidadores.

Os objetivos propostos por esta pesquisa, foram atingidos, tendo em vista que

não tive perguntas sem respostas, e as entrevistadas colaboraram na realização das

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entrevistas, não havendo nenhuma dificuldade da estagiária na aplicação das

questões.

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7. APÊNDICES

7.1 Apêndice 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa cujo objetivo é

Analisar qual o significado do cuidar, para o familiar que presta o cuidado a criança

hospitalizada, em função desta apresentar uma doença crônica.

Sua tarefa consistirá na participação em uma entrevista.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:

a) seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido o seu

anonimato;

b) os resultados desta pesquisa serão utilizados somente com finalidade

acadêmica podendo vir a ser publicado em revistas especializadas, porém,

como explicitado no item (a) seus dados pessoais serão mantidos em

anonimato;

c) não há respostas certas ou erradas, o que importa é a sua opinião;

d) a aceitação não implica que você estará obrigado a participar, podendo

interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado,

bastando portanto, comunicar a pesquisadora;

e) você não terá direito a remuneração por sua participação, ela é voluntária;

f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e não visa intervenção imediata;

g) durante a participação, se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético,

você poderá contatar com a responsável por esta pesquisa.

Pesquisador responsável: Profª. Márcia Aparecida Miranda de Oliveira E-mail: [email protected] Telefone: 47 9983-9854 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itaj aí- CCS Rua: Uruguai,448 – bloco 25B

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Eu, ________________________________________________________declaro

estar ciente dos propósitos da pesquisa, da maneira como esta será realizada e no

que consiste a minha participação. Diante dessas informações aceito participar da

pesquisa.

Assinatura: ________________________________________________________

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7.2 Apêndice 2

FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Cuidador familiar Sexo: ( ) fem ( ) masc Grau de parentesco: Idade: Estado Civil: N° de filhos: Idade (s): Profissão: Escolaridade: Criança Sexo: ( ) fem ( ) masc Idade: Escolaridade: Doença crônica apresentada: Congênita ou adquirida: Quando recebeu o diagnóstico (idade da criança): Tempo de internação (dias em média): Número de internações:

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7.3 Apêndice 3

ENTREVISTA

1) O que aconteceu com você a partir da descoberta do diagnóstico ? 2) Quais dificuldades que você encontra frente à hospitalização da criança?

3) A partir do diagnóstico o que aconteceu na família? Como a família lida com

isso?

4) O que apresenta para você cuidar de uma criança tem uma doença crônica?

5) Quais suas expectativas em relação ao futuro desta criança?