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OS TESTES GENÉTICOS QUE LHE DIZEM COMO DEVE COMER São cada vez mais baratos e fiáveis. Os resultados revelam os alimentos que ajudam a emagrecer, a reduzir o stress e a aumentar o bem-estar. E ainda indicam as doenças que pode vir a ter

OS TESTES GENÉTICOS QUE LHE DIZEM COMO DEVE COMER · influência na maneira como lidamos com a comida e isso tem impacto na nossa saúde. Nem toda a gente pre-cisa de cortar no pão

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Page 1: OS TESTES GENÉTICOS QUE LHE DIZEM COMO DEVE COMER · influência na maneira como lidamos com a comida e isso tem impacto na nossa saúde. Nem toda a gente pre-cisa de cortar no pão

OS TESTES GENÉTICOSQUE LHE DIZEM

COMO DEVE COMERSão cada vez mais baratos e fiáveis. Os resultadosrevelam os alimentos que ajudam a emagrecer,

a reduzir o stress e a aumentar o bem-estar.E ainda indicam as doenças que pode vir a ter

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Imagine

que tem um Perra-ri, mas a gasolina que usanão é de qualidade. Era o

que acontecia a Glória Dias,de 62 anos. Apesar de sem-

pre ter tido uma atividadefísica regular, e de tentar ir

ao ginásio quatro vezes por semana,tinha muita dificuldade em perderpeso. Mas facilidade em ganhar. "Aluta contra o peso era uma guerra",diz à SÁBADO a secretária, que trabalha numa empresa farmacêutica.Os pais eram obesos, porque co-miam muito e, a partir dos 40 anos,Glória também começou a engor-dar. Mede 1,72 metros e chegou a

pesar 96 quilos.Na verdade, a culpa não era intei-

ramente dela. Mas também dos ge-nes - c da forma como o seu ADN

interage com aquilo que come e

com o exercício que faz. "Descobri

que tudo no meu organismo estavaa trabalhar contra mim", conta. Emdezembro de 2018 fez um teste ge-nético que lhe permitiu perceber a

resposta do seu corpo à ingestão dos

alimentos. "A Glória tem predisposi-ção para tudo o que é mau: um índi-ce de massa corporal elevado, rela

ção cintura-anca elevada, acumula-

ção de gordura abdominal e risco

alto de insulina e colesterol. Além de

ter muita facilidade em recuperar o

peso perdido e dificuldade em con-trolar o apetite", explica AdrianaFerreira, nutricionista do HolmesPlace do Parque das Nações, ondeela é acompanhada e também ondefez este teste. Ou seja, mais do que oexercício, era na alimentação queseria preciso intervir.

As principais mudanças foram os

pequenos-almoços e os lanches.

"Passei a comer ovos e abacate ao

pequeno almoço, quando normalmente comia cereais ou um pãocom chá", diz. Explicação: a proteína(presente em alimentos como os

ovos. a carne, o peixe ou o leite) dásaciedade, que ajuda a controlar o

apetite, e também contribui para a

recuperação dos músculos - neces-sária por causa do exercício. Desde

então, perdeu oito quilos, 10 centímetros na cintura e 11 de perímetroabdominal. Diz que nunca foi "papa-açorda", mas agora sente se com

mais energia. "Aos meus amigosdói-lhes tudo, a mim, com a idade

que tenho e o exercício que faço,não me dói nada", conta, satisfeita.O teste acabou também por lhe dar

um estímulo para mudar.O nosso genoma tem 23 pares de

cromossomas, dentro dos cromos-somas existem genes e estes genesvão ser transformados em proteínas.Temos cerca de 30 mil genes quevão ser transformados em 10 mil

proteínas. Mas, o que é que explicaque do mesmo gene se obtenhamdiferentes versões de proteínas? Os

estímulos do meio ambiente, comoa alimentação. "As pessoas são ge-neticamente diferentes e também

reagem de forma diferente aos ali

mentos", explica à SÁBADO a biólo-

ga e especialista em genética CarlaGuilhas. Ou seja, há genes que têminfluência na maneira como lidamos

com a comida e isso tem impacto nanossa saúde. Nem toda a gente pre-cisa de cortar no pão para emagrecer, há quem tenha mesmo de co-mer carnes vermelhas para não ficar

com anemia e cada um reage deforma diferente ao café. "tu possoter uma variante genética que mepermite tomar três cafés por dia e

não me fazer mal; e outra pessoa, só

com um, pode nem conseguir dor-

mir", exemplifica Carla Guilhas.A esta área chama-se nurrigencrica.

Analisa características (as chamadas

variantes genéticas, ou polimorfis-mosl que indicam a predisposição

para determinadas doenças relacionadas com o nosso estilo de vida. "É

como sabermos que uma pessoa de

pele clara, ruiva e com sardas temmaior propensão para doenças rela-cionadas com o sol", diz a nutricio-nista Danicla Scabra. Este tipo de

teste não faz diagnósticos. "Não mediz que vou ser diabética, o que diz é

que metabolizo mal os hidratos de

carbono. Mas eu sei que a diabetes

tem a ver com a absorção dos hidra-fos de carbono", diz a fistologista da

gestão do peso, Teresa Branco.

Um trabalho de alfaiateO "A nutrigenética é o meu armario de roupa. Posso ter vestidos ca-ros ou baratos. Percebendo queaquela pessoa só tem vestidos de

marca branca, sei que ela tem de

fazer outras coisas para ficar maisbonita. Conhecer o que a pessoatem no código genético permite--Ihe saber com o que deve ter cui-dado. É um trabalho de alfaiate,em que faço pequenos acertos às

recomendações gerais", explicaDaniela Seabra, nutricionista naClínica Cristina Sales.

Tudo o que c analisado correspon-de a uma tendência. Por exemplo: as

pessoas lidam de maneira diferentecom o stress. Isso está relacionado

com a forma como processam a

ESTESTESTES NÃOFAZEM DIA-GNÓSTICOS.SÓ INDICAMPREDISPOSI-

ÇÕES PARADOENÇAS

OUINTÓLE-RÀNCIAS

O foco dos tes-

tes não deveser na doença,mas no saúde,diz Carla Gui-

lhas. "Não queroprevenir a dia-

betes, quero tersaúde", diz

Percebeu queprecisa de um es-tímulo maior parasentir prazer nascoisas. Mudou de

atitude: o mealhei-ro-chuteira (ondepunha urna moe-da sempre que se

chateava) temestado vazio

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adrenalina. As que têm personalida-des explosivas metabolizam mais

rapidamente a adrenalina, mas háoutras que ficam a remoer naquilo

que as chateia. Razão: o seu orga-nismo é mais lento a processar a

adrenalina, que fica mais tempo emcirculação. "Nestas, o stress faz

pior", diz Daniela Seabra.Sílvia Soares é uma dessas pessoas.

A designer na área da saúde humana

e ambiental, de 41 anos, demora três

vezes mais tempo (do que o dito nor-mal) a processar a adrenalina. O quesignifica que, sempre que lhe acon-tece alguma coisa, fica a cismar, Já

tinha alguma consciência desta sua

característica, mas o teste genéticoajudou-a a ficar mais alerta. "Fiqueia conhecer-me melhor e aprendi anão desvalorizar os sinais do meu

corpo. Tenho de ter muito cuidado a

gerir o stres^', diz à SÁBADO. Prati-ca ioga tibetano três vezes por se-

mana, faz meditação em casa, dia-riamente, e também corre. Todos os

dias reserva um momento para si, "e

quando não o faço é como se mefaltasse alguma coisa importante",diz. Tem um ritual definido: acordamais cedo, estende um tapete no

chão no hall da zona dos quartos e

faz os seus movimentos. No fim,medita e depois ouve uma músicaou fica, só, em silêncio. Não tem dú-vidas: "Há massa em casa, todos

comem, mas não devia ser assim.

Cada um é um ser único."

Através deste teste também é pos-sível saber a predisposição de uma

pessoa para comportamentos aditi

vos. Isso tem a ver, entre outras coi-sas, com a dopamina, uma substân-cia química produzida pelos neuró-nios que é responsável pelo prazer e pelo bem-estar. 'Há um geneque processa a dopamina e, quandoestá lentificado [tem uma ação mais

lenta], as pessoas têm mais dificul-dade em sentir prazer", explica a

nutricionista Daniela Seabra. "É

como quando alguém não ouvebem e tenho de falar mais vezes, e

mais alto", compara.Há muito tempo que Helena Gil da

Costa, 62 anos, tinha noção de queera mais capaz de agir, e de se cen-

trar, do que de celebrar. Com o tes- O

AS PESSOAS

QUE FICAM AREMOER NO

QUE ASCHATEIA

PROCESSAMMAIS LENTA

MENTE AADRENALI-

NA. O STRESSFAZ -LHES

PIOR

Atuar na prevençãoDiferença entre os testes dediagnóstico e os preventivos

PreçoOs testes são

cada vez maisbaratos por cau-

sa da tecnologiade descodifica-

ção do genomaque é cada

vez melhor

Os testes de diagnósticoanalisam mutações genéticasque correspondem a doenças,o que significa que a presençadaquela alteração confirma a

doença. Já os preventivosidentificam características, em

que tanto a genética como o

ambiente têm influência. Ou

seja, pode intervir-se para asevitar. É o caso da diabetes.Dor exemplo.

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O te percebeu que a característica fa-zia parte do seu ADN. No verão de

2018, dois alunos ofereceram à pro-fessora do ensino superior um mealheiro, em forma de chuteira, do I"u-tebol Clube do Porto. Levou-o para o

seu gabinete e colou lhe um bilhete:

"Transformando chatice em coisaboa." "De cada vez que alguma coisa

me aborrecia, punha lá dinheiro",conta a socióloga. Fez o teste emmaio de 2019 e. no período entresetembro e dezembro, não pôs umcentimo lá dentro. "A minha atitudemudou", diz, vitoriosa. Ao tomarconsciência de que tinha mais diíiculdade cm sentir prazer, decidiu

ser proativa: agora faz exercício

três vezes por semana (e até foi

ao jantar de natal com os cole-

gas do ginásio), vai com mais

frequência ao teatro e procuraestar mais tempo com os ami

gos. "O caso da Helena é mode-rado, ela consegue ir buscar satis-

fação ás coisas da vida normais,

como o exercício ou os amigos. Mas

aquilo que ela tem, elevado ao ex-tremo, pode conduzir a compulsões.São pessoas que precisam de mais

para sentir o mesmo e, às vezes, só

encontram isso nas drogas", esclare

ce a especialista.

Tudo começou pelas favasO Os lestes de nutrigenctica exis-tem em Portugal desde 2006. Na al-tura, custavam mais de 1.000 euros- hoje custam, em média, 300 curos.O preço tornou-se mais acessível porcausa da tecnologia, mas o painel de

genes, c de variantes genéticas, analisados também aumentou. "Com o

evoluir do genoma, e dos estudos

científicos, fomos adicionando va-riantes quer nos mesmos genes, querem genes diferentes, que se desco-briu que tem impacto para evitar oenvelhecimento precoce ou para o

desencadear de doenças", diz a es-

pecialista em genética Carla Guilhas.

E, acrescenta: "Os testes têm de ser

úteis: sabendo as minhas caracterís-ticas quero saber como posso usá-

las cm meu proveito."São sobretudo as mulheres que

mais procuram, mas também pes-soas com cargos de topo ou funçõesde responsabilidade. Como Luís Cor-

Usar a genética para ter vantagemTreinar em altitude traz benefícios aos atletas

Sabendo que as pessoas quevivem em altitude têm mais gló-bulos vermelhos, que se encar-

regam do transporte de oxi-

génio para os tecidos, osat letas começaram a treinar em altitude para terem melhores performan-

ces. Rosa Mota chegou a fazer treinosnn Colorado, nos Estados Unidos

Mas, como so gastava muito di-

nheiro em viagens, agora já o

azem em tendas hipobáricasIque simulam as condições doar em altitude]", diz à SÁBADO,Manuel Bicho.

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reia, de 51 anos. Tem uma relação

profissional com esta área (é sócio de

uma empresa que explora uma clíni

ca onde se fazem os lestes), e decidiufazê-lo por curiosidade. "Acabei porreceber mais informação do que es

tava à espera", diz à SÁBADO.O empresário pratica padel social-

mente, lesionava-se duas a três ve-zes por ano e tinha bastante dificuldade em recuperar das lesões. O

teste revelou-lhe que tem tendência

para as lesões em exercícios de

impacto, como o padel, e que, alémdisso, o seu organismo é mais apto

para desportos de resistência, estilo

maratonas. "Nunca levei muito asério aquelas recomendações do

aquecimento e dos alongamentosantes e depois do exercício. Quero é

estar ali com os meus amigos e

depois beber umas cervejas. Mas aminha atitude mudou", conta. Dimi-nuiu a regularidade com que prati-ca, agora só vai uma vez por sema

na, e começou a fazer caminhadas."Se tivesse feito este teste aos 20anos, talvez tivesse enveredado poroutras atividades", acredita.

Em dois meses (recebeu os resulta-

dos em outubro de 2019) perdeuquatro quilos - porque, além do

exercício físico, também descobriu

que processava mal os liidralos de

carbono e agora, apesar de adorar

massas, faz uma abstinência com

plcta. Estava, sem saber, quase pré--diabético. "Isto acaba por ser umaforma de comunicação incisiva c

mais persuasiva do que as recomen-dações genéricas", considera.

É isso mesmo que diz uma revisão

sistemática (uma investigação cien-tífica que reúne vários estudos sobre

a mesma questão), publicada em2018 na revista Lifestyle Genomics,

por investigadores da Universida-de de Ontário Ocidental, no Ca-nadá. "Vários estudos demonstraram mudanças no estilo devida decorrentes do conheci-mento destas intervenções ge

néticas". pode ler-se nas conclu-sões. "As pessoas com conheci-

mento do seu perfil genético adotam

com mais afinco as recomendaçõesdadas: têm uma maior aceitação e

implementação dos cuidados",corrobora Daniela Seabra.

Curiosamente, a nutrigenética teve

origem na genética médica (ver cai

xa), com a identificação de doençasrelacionadas com a nutrição. O fa-vismo, que é uma doença causada

pela ingestão de favas, terá sido das

primeiras. Agora |á existem 30. "Tema ver com a nutrigenética tal como avemos recentemente. É uma situa

ção em que os componentes das fa-vas destroem os glóbulos verme-lhos", explica o professor de genéti-ca da Taculdade de Medicina da

Universidade de Lisboa. Manuel Bi-cho. Pitágoras sofria dessa condição:"Reza a história que ele nem podiacheirar o pólen das favas porquepassava muito mal. Tinha febre, calafrios e urina escura", conta.

Hoje, sabe-se também que muitasdestas patologias (como a obesidadeou a diabetes, que se pretende pre-venir) têm a ver com a interação en-tre genes e ambiente durante a ges

tacão. Ou ate antes disso. "Nos anos40, um investigador chamado UavidBarker verificou que as pessoas comdoenças cardiovasculares tinhambaixo peso à nascença e tambémtinham nascido de pré-eclampsia O

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Os genes não são tudoEspecialistas alertam que ostestes ainda são insuficientes

Na verdade, só 30% 6 que ó

genética, 70% são fatores am-bientais. Apesar de a nutrigenéti-ca ser uma área em expansão,"não so devem sobrevaiorizar as

suas conclusões", diz TeresaBranco. À partida, os testes nãotêm perigos, mas depende de

como a informação é dada.

Segundo a lei portuguesa qual-

quer :este de genética deve ser

pedíco por um especialista de

genética médica. Mas isso nem

sempre acontece. Problema. "Os

estudos que associam genes a

doenças são estatísticos: um denós pode vir a ter a doença enão ter aquele gene. Ou o con-trário Pode introduzir-se un alar-

mismo desnecessário", alerta Ma-nuel Bicho, Por exemplo, há um

gene associado ao Alzheimer

chamado APÕE. Através destestestes sabe-se se a pessoa temesse gene. Mas é possível ter o

gene e não vir a ter a doença.Na nutrlgenótica não se faz dia-

gnóstico de doenças mas, quan-do se intervém - fazendo um pla-

no personalizado, onde se reti-

ram alimentos ou dão suplemen-tos para resolver a falta de nu-

trientes -, pode gerar-se doença.Além disso, nunca se consegue

dar toda o informação, só uma

parte de um todo. "As pessoasarriscam-se a ser mal informadas,

por insuficiência científica atual,

ou porque a população estudadatem características diferentes",alerta a geneticista médica Heloí-

sa Santos. Para a presidente da

Comissão de Bioética da Socie-dade Portuguesa de Genética

Humana, daqui a uns anos, tere-

mos informações mais fidedig-nas. "Os genes funcionam comouma orquestra, não há solistas, e

estamos longe de conhecequais são, em cada caso, os músi-

cos que tocam", sublinha.

O (complicação na gravidez causa-da por pressão arterial alui. Durantea Grande Fome. cm 1944, quando os

nazis invadiram a Holanda, muitasmulheres estavam grávidas, eleestudou as crianças que nasceramdessa altura. Vieram a ter obesidade,diabetes e hipertensão", diz. O quesignifica que existe uma certamemória genética.

Dieta três vezes mais eficazO A obesidade acabou por ser o

gatilho para os estudos de nutrige-nética. Não tem só uma causa, de

pende de vários fatores. Contudo,um plano personalizado, baseado

na forma como a pessoa vai reagir

aos alimentos, é um ponto de par-tida. "Uma dieta desenhada combase na genética individual podeser duas a três vezes mais eficazdo que a convencional", acredita a

patologista clínica Lavra Brum,

que é diretora médica da SynlabPortugal, uma rede de laboratóriosonde se fazem os testes.

Llisabcte Nunes. 47 anos, admite

que é bastante gulosa, mas. desde

que soube o resultado do seu teste

genético, nunca mais tocou em do-ces. |á passaram três meses. "'Saber

que posso vir a ter diabetes faz com

que não tenha vontade de comer".diz à SÁBADO. Descobriu que temuma predisposição para a resisfen

cia à insulina, ou se|a, que as suascélulas não absorvem o açúcar em

circulação, o que pode levar à alte-

ração dos níveis de gordura, a coles

terol e triglicéridos altos. "É algo quesó aparece nas análises quando a

pessoa já está pré-diabética ou comdiabetes", explica Adriana Ferreira,nutricionista do Holmes Place do

Parque das Nações, onde ela é

seguida. Além disso, também temuma tendência para a intolerância àlactose e ao glúten - o que significa

que ainda não c intolerante, mastem um risco alto de vir a ser.

A sua alimentação mudou radical-

OS TESTESTAMBÉM SÃOIMPORTANTESPARAOS

ATLETAS;PARA SELE-CIONAR OSMAIS APTOSPARA CADADESPORTO

0 professor de

genética da Facul-dade de Medicinada Universidade

de Lisboa acredita

que toda a pre-venção tem a vercom a medicina

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mente c, apesar de ter passado pouco tempo, jã sente a diferença. "Perdidois quilos de gordura e aumentei a

massa muscular. Sentia me sempreinchada e agora já não", diz.

Além da dieta, a nutrição personalizada também é importante para a

performance desportiva. "Hoje. os

testes genéticos conseguem selecto

nar os atletas que são mais aptos

para determinados desportos", diz o

professor de genética, Manuel Bicho.

Um exemplo paradigmático são os

atletas que têm o gene da hemocro-matose - doença genética caracteri-zada pela acumulação excessiva deferro. E que acabam por beneficiarcom isso. "Os atletas perdem muitoferro durante as maratonas, chegama perder um litro de sangue. Portan-to, aqueles que conservam mais o

ferro, que é essencial para a forma-

ção de hemoglobina que transportaoxigénio, têm vantagem em relaçãoaos outros. Não precisam de fazer

suplementos", explica.O interesse por este tipo de teste

surgiu primeiro cm atletas cm fimde carreira, que queriam perceberpor que razão se lesionavam. "A ge

nctica responde a isso: começámosa observar que um resultado emdeterminado gene se associa mais a

um tipo de lesão", diz à SÁBADO anutricionista Bárbara Nogueira, quetambém é country manager dos Iaboratórios Nordic. Hoje, já são os

atletas das formações, assim comoos clubes e os empresários, os principais interessados. "Querem dimi-nuir o risco de lesões e potendar os

seus pontos fortes", explica. Não só

do futebol (o que acontece mais cm

Portugal e no Brasil), mas triatletas.tenistas, automobilistas, e até cava-leiros de hipismo.

Só se analisam variantes genéticas

que tenham evidência cientifica, ou

se|a, características em que se pos-sa intervir - como as relacionadas

com o risco de lesão, que são pelomenos três. Mas o gene que estámais estudado, e que tem maior

impacto na performance desporti-va, tem a ver com a cafeína. "A ab-sorção da cafeína aumenta a per-formance", diz Manuel Bicho. Umaconclusão que foi recentementereiterada num estudo da Universi-dade de Toronto, no Canadá, publicado em fevereiro de 2019 na revis-ta científica Frontlers in Nutrítion.

A hora ideal do caféO Mesmo em desportos coletivos.

como o futebol, haver estratégiaspersonalizadas, com base na gené-tica, tem utilidade. "Para o atletaé um fator de motivação, permite-

lhe desbloquear certos aspetos, e

para os clubes pode ser uma ferra-menta muito forte", diz Bárbara

Nogueira. Não é por acaso que já

há jogadores de clubes da Primeira

Liga, inclusive dos "três grandes", afazerem embora não o queiramadmitir publicamente.

Ricardo Pereira, que está atual-mente no Leicester City, também ofez e falou com a SÁBADO sobre

isso. O futebolista português, querecentemente regressou à selecão

nacional, fez o teste no verão, em

junho de 2019, quando esteve de

férias em Portugal - por propostade um preparador físico seu amigo.Uma das coisas que descobriu foi a

predisposição para a intolerância à

lactose "algo que pode influenciar indiretamente os seus treinos,

já que o açúcar presente no leitelhe aumenta a inflamação e isso di-ficulta a recuperação", explica a

nutricionista. Mais: também percebcu que metaboliza lentamente acafeína e que o seu corpo prefereos treinos matinais - o que tem aver com um gene chamado clock."Ele é a chamada A person, aquelas

pessoas que gostam de se levantarcedo", diz Bárbara Nogueira.

Em relação à cafeína, "agora tenho

atenção à hora a que a tomo", diz àSÁBADO Ricardo Pereira. Como é ochamado "metabolizador lento" temde beber café cerca de uma hora antes de começar um jogo, para que a

cafeína faça efeito logo na primeiraparte. "Se fosse 'rápido', o ideal seriatomar mesmo antes de começar o

jogo", explica Bárbara Nogueira.Explicação: beber café antes das

provas, ou dos jogos, é praticamente um hábito generalizado entre os

desportistas, já em relação aos trei-nos, como grande parte dos jogos é

ao fim da tarde. Ricardo Pereira temde arranjar estratégias para estar

capaz nesse período do dia. Comodormir bem ã noite ou fazer alonga-mentos de manhã.

"Acredito que o teste é uma mais-valia para os desportistas porque

há pequenos detalhes que fazem a

diferença no alto nível", considera o

futebolista. Quer esteja ou não rela-cionado, o que é certo é que o fute-bolista português voltou à seleçãonacional como titular e, no fim de

2018. começou a destacar se nasua equipa como melhor jogadorem campo. O

JÁ HÁ lOGADORES DE

CLUBES DAPRIMEIRA

LIGA. INCLU-SIVE DOS

TRÊS GRAN-DES. A FAZE

REM ESTESTESTES

2006Surgiramos primeirostestes genéti-cos de vendadireta ao con-

sumidor, apesarde ser proibido

em Portugal

DopingO atleta finlan-

dês Lasse Vírén

tirava sanguedepois de cor-

rer, congelava-oe reintroduzia-o

antes das

provas, paramelhoraras suas

performances

A biólogaconsidera que

os testes de nutri-

genética têm deser úteis: dar in-

formação às pes-soas sem introdu-

zir alarmismo

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