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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Wanderley Rodrigues de Mesquita Os textos eucológicos atualizados pelo Concílio Vaticano II e sua adaptação hoje em grupos e igrejas particulares no Brasil MESTRADO EM TEOLOGIA SÃO PAULO 2012

Os textos eucológicos atualizados pelo Concílio Vaticano ... · RESUMO A presente ... Vatican Concílio II in its document on the liturgy, the Constitution Sacrosanctum Concilium

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC - SP

Wanderley Rodrigues de Mesquita

Os textos eucológicos atualizados pelo Concílio Vaticano II

e sua adaptação hoje em grupos e igrejas particulares no Brasil

MESTRADO EM TEOLOGIA

SÃO PAULO

2012

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC - SP

Wanderley Rodrigues de Mesquita

Os textos eucológicos atualizados pelo Concílio Vaticano II

e sua adaptação hoje em grupos e igrejas particulares no Brasil

MESTRADO EM TEOLOGIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de MESTRE EM TEOLOGIA, com

especialização em Liturgia, sob a orientação do Prof. Dr.

Valeriano dos Santos Costa.

SÃO PAULO

2012

Banca Examinadora

_______________________________

_______________________________

_______________________________

Dedicatória

Ao Maurício Iacobacci. Meu amigo, que muito ajudou a descobrir

potencialidades para realizar este mestrado. Com gratidão.

À minha mãe, Lucimar. Sua história e luta me estimulam.

À Dely, minha querida irmã. Pelo seu exemplo de vida.

Agradecimentos

A Deus. “Pois seu amor é sem fim!” (Sl 136)

À Ordem dos Pregadores,

através da Província Frei Bartolomeu de Las Casas.

À comunidade do Convento Santo Alberto Magno,

da cidade de São Paulo.

Ao Prof. Dr. Valeriano dos Santos Costa.

Ao Prof. Fernando Cupertino, pela atenção e generosidade.

A Dom Frei Tomás Balduíno, OP.

A Frei Domingos dos Santos, OP (o Mingas).

Ao Dr. Luis Cláudio Figueiredo.

À Yury. Amiga, incentivadora e colaboradora.

À Silvia Savadovski.

À Marília, Odila, Diva, Maria Diva, Fátima Barriquelo, Maria D‟Alessandro,

Edivânia, Frei Humberto Pereira, Frei Louis Granot, José Aparecido, Pepita,

Isabel Benelli, Zuleide, Dala, João Diogo, Genésio, André, Marcelo Naldi,

Nica, Cícero P. de Mesquita, Walkíria, Noeli, Borba, Fernando e Eurídice,

Dr. Vanildo e D. Cida, Naia e Cícero, Marcos e Silmara, Gilza e Franco,

Tânia e Pedro.

A todas e todos que colaboraram de muitas formas, inclusive com a força da

oração.

RESUMO

A presente dissertação traz como principal frente de estudo os textos eucológicos

litúrgicos reformulados pelo Concílio Vaticano II e sua aplicação em comunidades da Igreja

no Brasil com possíveis adaptações. O texto apresenta um estudo histórico do termo

“eucologia”, na história da Igreja, mostrando como foi formulada a eucologia da liturgia

romana através dos tempos. Faz lembrar também como a eucologia é uma ciência pouco

conhecida e pouco estudada nas academias e na Igreja.

A eucologia romana com suas características próprias, marcada pela simplicidade

e sobriedade em suas fórmulas, se firmou através dos séculos. Mas é importante salientar que

ela foi construída em bases culturais múltiplas, agregando um pouco de cada cultura

contemplada.

O estudo também mostra a caminhada do Movimento Litúrgico, iniciado na

Europa para tentar fazer com que a liturgia voltasse ao estilo romano clássico, depois de

séculos de uma liturgia cristalizada, com as regras impostas pelo Concílio de Trento. Este

movimento chegou a outros países do mundo, inclusive ao Brasil, e marcou época,

provocando a revolta de grupos que não aceitavam a renovação litúrgica.

Fruto dessa caminhada do Movimento Litúrgico foi a reflexão litúrgica a partir de

sua teologia até então ignorada. Assim, a Igreja ganha, na forma de celebrar e refletir os

mistérios da vida de Cristo, nos ritos, e nos textos eucológicos. Mas as grandes mudanças e

ganhos de tudo isso culmina com o Concílio Vaticano II em seu documento sobre a liturgia, a

Constituição Sacrosanctum Concilium.

A partir do documento conciliar, o estudo tenta mostrar, as bases para uma

adaptação mais profunda dos textos litúrgicos eucológicos nas culturas locais. Há espaço nas

leis da Igreja, para esta flexibilidade.

Por fim, esta dissertação traz exemplos de textos adaptados ou adaptáveis à

liturgia, nas realidades das igrejas locais. Na diversidade cultural do Brasil, há muita

criatividade e possibilidades de celebrar com textos eucológicos mais autóctones, sem ferir a

integridade do rito romano e sem alterar o conteúdo teológico-eucológico essencial.

PALAVRAS-CHAVE: Eucologia, Textos eucológicos, Liturgia Renovada,

Adaptação Litúrgica.

ABSTRACT

The present dissertation brings as main front of study the liturgical eucological texts

reformulated by Vatican Concílio II and its application in communities of the Church in

Brazil with possible adaptations. The text presents a historical study of the term “eucology”,

in the history of the Church, showing as the eucology of the liturgy was formulated Roman

through the times. It makes to also remember as the eucology is a science little known and

little studied in the academies and the Church.

The eucology Roman with its proper characteristics, marked for simplicity and

sobriety in its formulas, if firmed through the centuries. But it is important to point out that it

was constructed in multiple cultural bases, adding a little of each contemplated culture.

The study also it shows the walked one of the Liturgical Movement, initiated in the

Europe to try to make with that the liturgy came back to the classic Roman style, after

centuries of a crystallized liturgy, with the rules imposed for Concílio de Trento. This

movement arrived at other countries of the world also to Brazil and marked time, provoking

the revolt of groups that did not accept a renewal liturgical.

Fruit of this walked of the Liturgical Movement was the liturgical reflection to leave

of its ignored theology until then. The liturgical theology is born thus, and the Church earns,

in the form to celebrate and to reflect the mysteries of the life of Christ, in the rites, and the

eucological texts. But the great changes and profits of everything this, culminates with

Vatican Concílio II in its document on the liturgy, the Constitution Sacrosanctum Concilium.

Leaving of the document to conciliate, the study it tries to show, the bases for a deeper

adaptation of the eucological liturgical texts in the local cultures. It has space in the laws of

the Church, for this flexibility.

Finally, this dissertation brings examples of suitable or adaptable texts to the liturgy,

in the realities of the local churches. In the cultural diversity of Brazil, it has much creativity

and possibilities to celebrate with eucological texts autochthons more, without wounding the

integrity of the Roman rite and without modifying the theological-eucológico content.

KEY WORDS: Eucology, Eucological Texts, Renewed Liturgy, Adaptation Liturgical.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11

CAPÍTULO I

EUCOLOGIA: DEFINIÇÃO, HISTÓRIA, ESTRUTURA E CONTEXTUALIZAÇÃO....... 14

1. Definição .............................................................................................................................. 14

2. Divisão da eucologia ............................................................................................................ 15 2.1. Eucologia menor ................................................................................................................ 16

2.1.1. Oração coleta.............................................................................................................16

2.1.2. Oração sobre as ofertas (super oblata) ..................................................................... 17

2.1.3. Oração depois da comunhão (gratiarum actio).........................................................18

2.2. Eucologia maior ................................................................................................................. 19 2.2.1. Cânon romano. Origens e estrutura ......................................................................... 20

2.2.2. As orações eucarísticas modernas ............................................................................ 23 2.2.3. Desdobramentos ....................................................................................................... 24

3. Natureza dos textos eucológicos........................................................................................... 24

4. O papel da palavra na liturgia e na eucologia ....................................................................... 26

5. As origens: liberdade e fidelidade ........................................................................................ 26

6. Os textos litúrgicos ou fórmulas litúrgicas ........................................................................... 28

7. História e características da eucologia latina ........................................................................ 29

8. Os Textos litúrgicos bíblicos - Palavra de Deus ................................................................... 33

9. Os textos litúrgicos patrísticos .............................................................................................. 34

10. Os textos litúrgicos eucológicos - Palavra da Igreja........................................................... 35

11. Eucologia e hermenêutica .................................................................................................. 36

12. Criatividade eucológica - um problema? ............................................................................ 37

13. Estrutura dialógica do culto cristão .................................................................................... 38

CAPÍTULO II

O MOVIMENTO LITÚRGICO ............................................................................................... 40

1. O movimento litúrgico primitivo a partir de Trento ............................................................. 40

2. O Barroco ............................................................................................................................. 42

2.1. Entre os devocionismos ..................................................................................................... 42 2.2. O devocionismo moderno .................................................................................................. 42

2.3. Arte, cultura e culto ........................................................................................................... 43

3. O Iluminismo e a crise .......................................................................................................... 44

3.1. O Iluminismo católico ....................................................................................................... 45

4. O Movimento Litúrgico moderno ........................................................................................ 46

4.1. Liturgia e Espiritualidade .................................................................................................. 47 4.2. Liturgia e compromisso cristão ......................................................................................... 47

5. O Movimento Litúrgico e a Ciência Litúrgica ..................................................................... 48

6. Principais expoentes do Movimento Litúrgico e de sua teologia ......................................... 48

6.1. Próspero Guéranger (1805-1875) ..................................................................................... 49 6.2. Lambert Beauduin (1873-1960) ........................................................................................ 49 6.3. Emanuele Caronti (1882-1966) ......................................................................................... 50 6.4. Romano Guardini (1885-1968) ......................................................................................... 51

6.5. Maurice Festugière (1870-1950) ....................................................................................... 51 6.6. Odo Casel (1886-1948) ..................................................................................................... 53

6.7. Cipriano Vagaggini (1909-1999) ...................................................................................... 54

6.8. Salvatore Marsili (1910-1983) .......................................................................................... 55

7. A Encíclica Mediator Dei - consagração do movimento litúrgico? .................................... 56

7.1. Contexto histórico-político e características da encíclica Mediator Dei ........................... 56 7.2. Divisão da encíclica ........................................................................................................... 59

7.3. Conteúdos principais da encíclica e ausências .................................................................. 59

8. O Movimento Litúrgico no Brasil ....................................................................................... 60

8.1. Com que catolicismo e liturgia, fomos iniciados no Brasil ............................................... 61 8.2. Primeira fase do movimento litúrgico no Brasil (1933-1939) ........................................... 62

8.3. Segunda fase do movimento litúrgico no Brasil (1933-1947) ........................................... 63 8.4. Como o movimento se expandiu no Brasil ........................................................................ 65

8.5. O divisor de águas ............................................................................................................. 65 8.6. Mudança de mentalidade na liturgia .................................................................................. 66

CAPÍTULO III

A SACROSANCTUM CONCILIUM E A NOVIDADE NO RESGATE E ADAPTAÇÃO

DOS TEXTOS EUCOLÓGICOS ............................................................................................. 68

1. A necessidade de um Concílio ............................................................................................. 68

2. Sempre num processo dialético ........................................................................................... 70

3. Do rubricismo à teologia. ..................................................................................................... 71

4. Eucologia e rito .................................................................................................................... 72

5. Liturgia e Sagrada Escritura na SC ...................................................................................... 72

6. Para uma adaptação inculturada na Sacrosanctum Concilium ............................................ 73

6.1. Sobre a língua latina e o vernáculo na liturgia - SC 36 ..................................................... 76 6.2. Adaptar a liturgia às culturas - SC 37-40 .......................................................................... 77 6.3. Criatividade textual e unidade substancial. ....................................................................... 78 6.4. Os perigos da não criatividade litúrgica ............................................................................ 79

7. Exemplos de inculturação litúrgica ...................................................................................... 80

8. Liturgia na América Latina ................................................................................................. 80

9. A caminhada litúrgico-popular no Brasil ............................................................................. 81

9.1. Exemplos de adaptação litúrgica no Brasil........................................................................ 81 9.2. Exemplos de textos eucológicos adaptados no Brasil ....................................................... 82 9.3. Duas propostas que merecem ser conhecidas ................................................................... 83

9.3.1. Biografia de Fernando Cupertino..............................................................................84

9.3.2. Biografia de Dom Frei Tomás Balduíno, OP ...........................................................86

9.3.3. Biografia de Frei Domingos dos Santos, OP............................................................87

9.4. Análise do texto de Fernando Cupertino, Dom Tomás e Frei Domingos. ...................... 87 9.5. Análise do texto de Frei Domingos dos Santos, OP - Prefácio e Santo de Natal. ............ 94

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 98

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 101

DOCUMENTOS DO MAGISTÉRIO DA IGREJA .............................................................. 101

BIBLIOGRAFIA GERAL ...................................................................................................... 102

ANEXO 1

TRECHO DA CARTA PASTORAL DE D. MÁRIO DE MIRANDA VILLAS-BÔAS,

BISPO DE GARANHUNS, PERNAMBUCO, DE 1938. ..................................................... 109

ANEXO 2

ACUSAÇÕES FEITAS AOS DEFENSORES DO MOVIMENTO LITÚRGICO ............... 111

ANEXO 3

PREFÁCIO E ORAÇÃO EUCARÍSTICA DA VIGÍLIA PASCAL .................................... 113

ANEXO 4

MELODIA DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA DA VIGÍLIA PASCAL .................................. 117

ANEXO 5

LOUVAÇÃO DE NATAL E SANTO .................................................................................. 118

ANEXO 6

MELODIA DA LOUVAÇÃO DE NATAL E SANTO ......................................................... 119

11

INTRODUÇÃO

A ação litúrgica da Igreja tem o propósito de fazer com que os crentes celebrem

da melhor forma possível, a fim de que a relação do ser humano com Deus seja um diálogo. A

ação litúrgica pressupõe a necessidade humana de louvar, ou seja, proclamar os feitos de

Deus.

Uma das facetas da ação litúrgica se mostra através da oração, que, juntamente

com os ritos, dão concretude à celebração litúrgica. Uma parte da celebração é pautada pela

palavra. É a partir desta realidade palpável da oração que este trabalho tem sua razão de ser e

elaborar sua proposta. Faz um recorrido histórico dos textos litúrgicos na Igreja e mostra a

mudança, depois de quatro séculos da reforma do concílio Trento. Mostra também o esforço

do Concílio Vaticano II em voltar às fontes, como também as inquietações diante da rigidez,

que dificulta a criatividade e a espontaneidade próprias de cada cultura.

Os textos litúrgicos usados pela Igreja são divididos em três grupos, a saber: 1)

Textos extraídos da Palavra de Deus; 2) Textos retirados da rica tradição patrística; e 3)

Textos especialmente elaborados para a oração, que são chamados textos eucológicos.

A presente dissertação está dividida em três capítulos e pretende apresentar o

resultado de uma pesquisa feita com a pretensão de contribuir para o estudo da liturgia no

aspecto especifico da eucologia.

O primeiro capítulo apresenta a ciência eucológica: sua índole, sua origem e

função, como também tenta fazer notar que a eucologia é uma ciência pouco conhecida nos

meios acadêmicos e fora deles. A história dos textos litúrgicos mostra passo a passo a

importância da eucologia para a liturgia. A liturgia não existiria sem a eucologia, como

também a eucologia não existiria sem a liturgia.

12

A elaboração dos textos eucológicos tem regras próprias, estilos e características

influenciados pela cultura das regiões onde foram elaborados. No caso da Igreja latina ou

romana, os textos eucológicos são criações e compilações de muitas origens, o que lhes dá

uma riqueza muito grande. É bom lembrar que antes de existir o rito latino, existiam muitos

ritos elaborados por suas respectivas regiões que também eram conhecidas por Igrejas. Era

como se fosse o que atualmente chamamos Igrejas particulares. Desses grupos, muita coisa foi

aproveitada, mas o que havia de genuíno e autóctone foi sendo supresso. Somente após alguns

séculos é que houve na Igreja a exigência de texto e língua unificados, ao que se chamou

estilo romano, elaborado em língua latina. Do que era uma pluralidade de culturas e estilos

passou a ser um estilo único e uma língua única.

O segundo capítulo apresenta o cansaço que a liturgia sentiu depois de séculos,

demarcada pelas normas do Concílio de Trento. Surge então o Movimento Litúrgico na

Europa e se espalha pelo mundo com força e empenho de muitos teólogos amantes da liturgia.

Mostra também como o Movimento Litúrgico aconteceu no Brasil. O desfecho desse

movimento singular foi o documento sobre a liturgia do Concílio Vaticano II, com grandes

novidades para a Igreja e para o culto.

O terceiro capítulo contextualiza o Concílio Vaticano II, mais especificamente, o

que o referido documento proporcionou para a renovação da liturgia. A retomada dos inícios,

no que se refere aos textos e aos ritos, e a liberdade para adaptar ao encargo das Igrejas

particulares, como também o uso da língua vernácula, foram as locomotivas da renovação

litúrgica. O verbo adaptar, que produz o substantivo adaptação, proporciona um material de

expressivo valor para uma liturgia mais inculturada. No entanto, este assunto ainda carece de

estudos e aplicação, nas academias e em nossas Igrejas particulares.

13

Por fim este trabalho dissertativo apresenta concretamente alguns exemplos de

textos litúrgicos adaptados. Faz-se necessário lembrar que quando se fala de adaptação de

textos eucológicos, o essencial do conteúdo deve ser preservado.

14

CAPÍTULO I

EUCOLOGIA: DEFINIÇÃO, HISTÓRIA, ESTRUTURA E CONTEXTUALIZAÇÃO

Este capítulo tem como objetivo apresentar a eucologia em sua caminhada e

mostrar como esta ciência foi se desenvolvendo. É inegável que a história dos textos litúrgicos

e, consequentemente, da eucologia está em direto contato com a história da liturgia.

A eucologia faz parte da rica economia de textos da liturgia. Como ela se fez em

fases distintas da história, está marcada por muitos elementos que a história carrega consigo.

Por isso, ao construir um texto litúrgico, o autor imprime nele sua cultura, elementos da

língua que marcam e dão identidade ao texto. No caso da eucologia latina, tudo isso está

presente e é tudo isso que dá rosto próprio aos textos da liturgia romano-latina.

É desejo nosso também que no desenvolvimento deste capítulo fique mais

evidente o porquê de a eucologia ser uma ciência pouco estudada e, consequentemente, pouco

conhecida nos meios acadêmicos e na prática litúrgica do povo de Deus.

1. Definição

O termo eucologia é pouco conhecido na língua portuguesa. Apesar de existir o

vocábulo, muitos dicionários ainda não o conhecem, mas sim os termos dele derivados, como

eucológio ou eucológico. A palavra eucologia é um neologismo proveniente de duas palavras

gregas: εὐχή (euché) = oração e λόγος (logos) = discurso, palavra, ciência, que juntas formam

a palavra eucologia, que significa a ciência que estuda a oração. Trata-se da ciência que

estuda o fazer da oração ou a feitura dela e as leis que a regem e a governam quando o assunto

é a sua formulação.

15

Em sentido menos próprio, porém já em uso corrente, a „eucologia‟ é o

conjunto das orações contidas em um formulário litúrgico, em um livro ou,

em geral, nos livros de uma tradição litúrgica. O conjunto desses textos se

chama também „depósito eucológico‟.1

A ausência de conhecimento do termo mostra o quanto ele é pouco estudado e,

consequentemente, pouco empregado. Pouco se sabe dele e o que ele significa, como também

a ciência que dele deriva. Para a ciência litúrgica é uma área de extrema importância, pois a

liturgia não poderia existir sem a oração nem a oração litúrgica poderia existir sem as

fórmulas litúrgicas onde se emprega a eucologia. Portanto estudar e fazer liturgia significa

estudar e fazer eucologia.

A eucologia possui uma variedade de matizes a serem considerados, tais

como ação de graças, apologia, pedido, exorcismo, exortação, didático,

mistagógico, confissão de fé. Os textos compostos pela Igreja revestem-se,

por um lado do conteúdo e da linguagem bíblicos, a fim de acentuar e

interpretar a mensagem centralizada no mistério de Cristo, e, por outro, do

gênero literário próprio de um determinado autor, influenciado pela época,

pelo lugar e pela cultura. Esses dois fatores caracterizam, além do aspecto

formal externo no texto, a expressão e compreensão do seu conteúdo

doutrinal.2

2. Divisão da eucologia

No contexto da liturgia eucarística, a eucologia divide-se em eucologia maior e

eucologia menor. À eucologia maior pertencem as orações mais complexas, ou mais longas,

como os prefácios, as orações eucarísticas e as bênçãos solenes.

1 AUGÉ, M. Eucologia, In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus,

2002. p. 415. 2 CANALS, J. M. In: BOROBIO, D. (Org.) A celebração na Igreja. Liturgia e sacramentologia fundamental.

São Paulo: Loyola, 2006. p. 34.

16

2.1. Eucologia menor

Ao grupo da eucologia menor, pertencem: as orações da coleta, sobre as oferendas

e depois da comunhão, a oração de bênção sobre o povo e as orações que incluem os salmos

que também são chamadas orações sálmicas.

Os itens a seguir pretendem mostrar, de forma concisa, as características das três

fórmulas mais conhecidas da eucologia menor, bem como um resumido percurso histórico e

teológico de cada uma.

As orações da coleta, sobre as ofertas e depois da comunhão, formam um

conjunto dentro da celebração eucarística. São conhecidas como orações presidenciais

clássicas e cada uma tem sua função dentro da celebração. Embora não seja uma regra rígida,

há paralelismo entre as três orações como em outras partes da celebração.

Pois abertura, preparação das oferendas e comunhão representam três

formações litúrgicas de estrutura exatamente correspondente. Cada vez há

um rito exterior vinculado a um movimento no espaço: a entrada, a procissão

das oferendas, a comunhão. 3

2.1.1. Oração coleta

A oração coleta, também chamada de oração do dia, é a oração que foi pensada

inicialmente para ser o momento primeiro da celebração. É quando o sacerdote toma a palavra

diante do povo com a força que a oração propõe. Depois dela até o momento da oração das

oferendas tudo o que era realizado era por parte de outras pessoas. “De fato, a oração do dia é

a oração com a qual o sacerdote „recolhe‟ a oração do povo, que a antecede ou que é

pressuposta e a leva para diante de Deus.” 4 O convite à oração que hoje se faz com o

“oremos”, antes era precedido por “Dominus vobiscum”, o Senhor esteja convosco. Este

3 JUNGMANN, J. Missarum Sollemnia. São Paulo: Paulus, 2006. p. 856.

4 Id. p. 357.

17

detalhe da liturgia antiga mostra algo profundo. Há a interpretação que diz que neste

momento, “quando o sacerdote oferece a Deus a oração de todas as pessoas, o Senhor queira

estar perto delas, e que a graça de Deus queira acompanhar sua oração.” 5

A coleta da missa, além de ser ela a única que possui conclusão longa, é

fórmula que pode mudar quando a oração sobre as ofertas e a oração depois

da comunhão permanecem invariáveis por várias semanas. (...) Algumas

festividades oferecem-nos até duas coletas à escolha. (...) Função específica

da coleta da missa é, pois, a de criar o ambiente espiritual em que a

assembléia reunida se sinta estimulada a escutar a palavra de Deus e a

celebrar a eucaristia; por isso, a coleta não raro exprime, muito

sinteticamente, um pensamento central da festividade do dia ou de

determinado tempo litúrgico.6

A riqueza da história e do conteúdo da oração da coleta mostra também que ela é

uma oração inclusiva, ou seja, nela a comunidade toda está incluída no que se refere à

comunhão que deve acontecer entre o sacerdote e a assembléia, de tal modo que todos

formem um só coração e uma só alma.

2.1.2. Oração sobre as ofertas (super oblata)

O que se sabe sobre esta oração é que, em tempos remotos, ela era proferida pelo

celebrante em voz alta e depois passou a ser feita em silêncio. Do que se tem registro, esta

oração já era feita em silêncio no século oitavo nos territórios do rito franco. Na missa do rito

milanês sempre se preservou o costume de fazer esta oração em voz alta até hoje. Por que no

rito romano ela foi feita em silêncio do século oitavo até o Concílio Vaticano II, ainda é um

assunto controverso.

No entanto, se queremos chegar até o sentido verdadeiro desta nossa oração,

ou seja, até o sentido que lhe era próprio desde a sua origem, precisamos, (...)

olhar para trás, e não para a frente. A oração sobre as oferendas confere à

oblação e ao depósito da oferenda material, seu encerramento e a

interpretação de seu sentido, traduzindo-os para a linguagem da oração. Criar

5 Ib. p. 357.

6 AUGÉ, M. Eucologia. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 422.

18

tal fórmula era recomendável, se não natural, uma vez que se tivesse dado o

passo de considerar também a oferenda material como oferecimento a Deus e

de reforçá-la neste seu sentido simbólico através da inclusão do povo. 7

A liturgia romana sempre manteve o caráter comunitário dessa oração.

Toda a tradição romana de sacramentários afirma que a oração sobre as

oferendas não é apenas formulada no plural, a partir da comunidade porque é

uma oração comunitária: offerimus, immolamus, munera nostra, oblationis

populi tui, (oferecemos, imolamos, nossa oferta, oblação do teu povo) mas

também que ela é dirigida a Deus e encerrada com Per Dominum. Ainda o

missal de Pio V não conhecia nenhuma exceção desta regra. 8

Outro caráter importante da oração sobre as oferendas é que em muitos casos

pede-se ao Pai que receba as oferendas junto com as preces feitas anteriormente pela

comunidade, na oração dos fiéis.

2.1.3. Oração depois da comunhão (gratiarum actio)

A oração depois da comunhão ou oração de ação de graças é mencionada nos

textos mais antigos, até mesmo em forma de reclamação porque as pessoas se ausentavam do

recinto da celebração logo após comungarem.

Essa oração é encontrada em vários ritos antigos, tanto no Oriente como no

Ocidente, sempre com o objetivo de render graças a Deus pela comunhão recebida.

Em termos de conteúdo, o tema da oração depois da comunhão é dado com a

comunhão que acabou de acontecer; e aqui se pensa sempre na comunhão da

comunidade reunida, não na comunhão apenas do sacerdote; esta é uma lei

estilística que determinou em parte até aquelas fórmulas que provêm de

tempos nos quais uma comunhão do povo pertencia às raras exceções.9

7 JUNGMANN, J. Op. cit. p. 564.

8 Id. p. 565. A tradução entre parêntesis é nossa.

9 Ib. p. 857.

19

Como em outros casos, a oração era sempre precedida por um convite ou por uma

admoestação à comunidade. Encontramos nas Constituições Apostólicas um exemplo em que

o diácono convidava o povo a orar com as seguintes palavras:

Depois termos recebido o corpo e o precioso sangue de Cristo, vamos dar

graças àquele que nos dignou de participar de seus santos mistérios, e vamos

pedir que isso não nos sirva para a culpa, mas para a salvação, para o

benefício da alma e do corpo, para a preservação da piedade, o perdão dos

pecados, a vida em eternidade.10

Após essas palavras, a oração depois da comunhão era proferida, e no meio do

agradecimento acontecia um novo momento de intercessão pelas várias necessidades da

comunidade.

A liturgia romana caracteriza-se também aqui por uma especial brevidade de

sua linguagem oracional. Todavia, também nela havia originalmente uma

conclusão dupla de oração de agradecimento e oração de bênção. A oração

de agradecimento, que na maioria dos sacramentários gregorianos tem o

título, Ad complendum ou Ad completa, e nos gelasianos, Post

communionem, pertencem em suas fórmulas variáveis ao acervo básicos dos

sacramentários romanos, do mesmo modo como a oração do dia e a oração

sobre as oferendas. A oração depois da comunhão é também construída do

mesmo modo como essas; por isso, apresenta, como essas, sem exceção a

Deus, através de Cristo, portanto, conclui com a fórmula Per Dominum que

em algumas Igrejas medievais recebeu nesse momento uma importância

especial pelo fato de ser rezada no centro do altar. 11

2.2. Eucologia maior

É considerada eucologia maior, a parte da celebração eucarística que inclui a

Oração Eucarística, com o Prefácio, inclusive o canto do Santo. As bênçãos solenes e as

orações principais na celebração dos sacramentos também fazem parte desta eucologia.

Podemos dizer que são as orações principais, onde estão contidas as palavras, que com os

gestos, realizam os sacramentos.

10 Ib. p. 855.

11 Ib. p. 856. Neste texto, em nota de rodapé, o autor faz uma referência ao rito próprio dos Frades Dominicanos,

que desde sua origem até hoje prescreve que a oração pós-comunhão seja feita no centro do altar. O autor cita

também outros ritos que fazem o mesmo.

20

Nesta dissertação destacamos a Oração eucarística, que pode ser dividida em

prefácio, santo e os demais momentos, que compõem a oração eucarística, propriamente dita.

2.2.1. Cânon romano. Origens e estrutura 12

O cânon romano, que conhecemos hoje por Oração Eucarística I, foi único, até a

reforma do concílio Vaticano II. A oração eucarística também é conhecida por anáfora,

palavra que chegou a nós através das tradições de Alexandria e Antioquia, que estão na

origem do texto da oração eucarística, juntamente com características herdadas da tradição

judaica. “Quanto ao Ocidente, impõem-se as referências às quatro grandes tradições: romana,

ambrosiana, galicana e hispânica.” 13

O que se destaca em qualquer pesquisa sobre o tema, é que o conjunto de textos

que compõem a oração eucarística é uma composição muito antiga, formada através dos

tempos como um mosaico de vários textos e tradições. É um exemplo de texto adaptado.

A oração eucarística, pode se dizer, é um louvor. Embora haja nela momentos de

súplica, tudo concorre para um louvor ao Pai.

Nos três primeiros séculos do cristianismo encontramos pouca coisa sobre a

Oração Eucarística. Algumas alusões, e somente um exemplar completo do ano 215. Em um

comentário sobre a estrutura dessa oração eucarística, Adrien Nocent diz:

A oração eucarística se compunha de um louvor e de uma ação de graças ao

Pai através do Filho e do Espírito. O povo a concluía com um Amen. Aquele

que presidia dizia uma longa ação de graças. (...) aquele que presidia dava

graças na medida de suas possibilidades, segundo a sua capacidade. O

12 Cf. NOCENT, A. In: MARSILI, S. et al. A eucaristia teologia e história da celebração. Col. Anámnesis 3.

São Paulo: Edições Paulinas, 1987. p. 250-265. Também para uma análise mais aprofundada, indicamos

JUNGMANN, J. Op. cit. p. 571-726. O autor faz uma análise bastante aprofundada e detalhada de toda a oração

eucarística. 13

BROVELLI, Franco. Prece Eucarística. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 939.

21

esquema da oração parece já estabelecido, mas havia espaço para uma ampla

criatividade. 14

Neste período, não havia o “Santo” na estrutura da oração eucarística. É uma

oração considerada breve e simples, com estrutura característica de Antioquia, atribuída a

Hipólito de Roma, mas sem provas, o que não dá pra afirmar que o cânon romano tem origem

em Hipólito. Esta oração não foi aceita em Roma.

No século IV juntam-se trechos de orações das várias tradições compilados por

Santo Ambrósio, para sua diocese, com a estrutura da oração que conhecemos hoje. Mas

ainda não estava terminado o cânon.

O prefácio é por assim dizer, uma introdução à oração eucarística. Inicia com um

diálogo, que também foi chamado prefácio em um determinado momento. Neste período os

prefácios eram numerosos, depois foram reduzidos. E na reforma do Vaticano II foram

novamente multiplicados.

O canto do Santo só foi introduzido por volta do ano 530, em princípio para as

celebrações com grande número de pessoas. É um canto usado na liturgia judaica tirado do

livro do profeta Isaias (6,3). As liturgias orientais já usavam antes do ocidente.

Outras partes da oração eucarística, como o momento de pedir pelos mortos, pelos

vivos, são como que secundárias, se considerarmos que o núcleo da oração eucarística é o

momento que antecede e realiza a consagração com as palavras do próprio Senhor. Em

seguida à consagração se faz a memória, a anamnese, do que Cristo mandou fazer em sua

memória. Esta é a parte considerada nuclear no conjunto da oração eucarística canônica

romana.

14 NOCENT, A. In: MARSILI, S. et al. Op. cit. p. 250.

22

A conclusão é feita com a doxologia final. Outras tradições litúrgicas também

terminam assim. Isso significa que a tradição romana se apropriou entre tantas, desta fórmula

conclusiva da oração eucarística. Há na conclusão da doxologia romana o que os estudiosos

consideram um problema teológico. A fórmula, “com o Espírito Santo” que sempre foi usada,

coloca uma dúvida na questão da unidade das três pessoas igualmente. A doxologia romana

adota a fórmula, na unidade do Espírito Santo, que “é uma insistência na união das pessoas

divinas, negando ao mesmo tempo o triteísmo.” 15

O cânon romano, (...) apresenta-se num texto dotado de rica teologia, a da

oferta do sacrifício e do seu refluir sobre os que dele participam, e isso feito

num estilo também rico de uma notável majestade com simplicidade. Não

seria justo falar em pobreza do cânon romano, mas temos o direito de fazê-lo

depois de o termos visto privado - em decorrência da redução realizada pelo

Gregoriano - de sua abundante variedade de prefácios, cujas riquezas

perdidas não foram recuperadas até hoje.16

O cânon romano como se apresenta hoje, contém problemas. Sentem-se

ausências, cortes inadequados, lacunas de ordem teológica e também é considerado um texto

de difícil assimilação pelos fiéis. Uma possível correção não seria suficiente sem alterações

grandes na sua estrutura, na sua rica tradição, e

... felizmente, percebeu-se em tempo que não haveria nenhuma vantagem em

corrigir o cânon romano, destruindo assim um monumento com a sua

característica e o seu valor. Por outro lado, na composição de novas preces

eucarísticas, não era necessário copiar literalmente o passado, mesmo

conservando-se escrupulosamente os elementos essenciais de cada prece

eucarística. 17

Finalmente podemos contemplar este rico texto da eucologia maior antiga, o

cânon romano, que é básico na construção de outros textos, de teor e função similares na

estrutura da celebração eucarística, e que carrega em si problemas estruturais.

15 Id. p. 261.

16 Ib. p. 266-267.

17 Ib. p. 268. Grifo nosso.

23

2.2.2. As orações eucarísticas modernas

Com a reforma da liturgia do Vaticano II tomou-se a decisão de criar novas

orações eucarísticas, pois só existia uma até então. Para a criação da Oração Eucarística II,

resolveu-se retomar a tradição daquela primeira proposta de Hipólito de Roma, cujo conteúdo

e formas não foram levados em conta pelo cânon romano.

Desejava-se celebrar com esta anáfora porque ela segue com sobriedade uma

estrutura simples, que se aproxima um pouco daquela da oração de bênção

que Cristo certamente usou na última ceia; ela apresenta uma estrutura fácil

de seguir-se e um esquema prático para a composição de outras orações

semelhantes. 18

A partir da Oração II, foram criadas a Oração III e a Oração IV, cada uma com

suas características próprias, e que formam o conjunto de novas orações que entraram em

vigor em 1968.

A questão sobre a necessidade de formular novas orações eucarísticas tem sua

fundamentação a partir de necessidades pastorais, o que vai gerar preocupações de ordem

teológica, de preservação da estrutura da oração e do depósito eucológico da liturgia romana.

“A atenção predominante é colocada, não na inteireza material, mas na inspiração

eucarística da prece e na sua unidade interna, de modo que seja capaz de conferir significado a

todos os elementos que a compõem.” 19

São preocupações legítimas, mas isso não significa que entremos numa

estagnação criativa, pelo contrário devemos incentivar ao máximo a criação de novos textos,

contribuindo para uma maior participação na liturgia, e uma maior inculturação.

18 Ib. p. 268.

19 BROVELLI, Franco. Prece Eucarística. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 943.

24

2.2.3. Desdobramentos

A partir da abertura do Vaticano II, houve uma tendência de multiplicação de

orações eucarísticas sem o aval da autoridade romana. Isso fez com que se produzisse um

documento disciplinar em 1973, para regularizar essa questão. Mas a Igreja não afastou a

idéia de incentivar a criação de novas orações eucarísticas, e em 1974,

a Congregação para o Culto divino apresenta „esquemas‟ de preces

eucarísticas em língua latina para a composição de três anáforas que

deveriam ser utilizadas para as missas das crianças e de duas anáforas sobre

o tema da reconciliação para serem usadas por ocasião do ano santo de 1975

e em outras circunstâncias. 20

As três orações para missas com crianças e as duas sobre a reconciliação foram

oficializadas. Em língua portuguesa foram formuladas e aprovadas quatro orações para

diversas circunstâncias e uma para o Congresso Eucarístico de Manaus, esta especialmente

para o Brasil.

Portanto, no Missal, em sua edição típica para o Brasil, temos um total de catorze

orações eucarísticas. Isso não significa que tenhamos muitas orações eucarísticas, nem que

entremos num processo de estagnação criativa. Pelo contrário, temos de criar textos novos que

facilitem cada vez mais a participação de todos na liturgia, com suas culturas e seu jeito

próprio de se relacionar com Deus através de seu culto.

3. Natureza dos textos eucológicos

As orações formuladas pela eucologia se definem pela diversidade de origem, ou

seja, pela cultura e pelo contexto em que foram criadas. Neste sentido, devem ser levados em

conta as culturas e os ambientes socioculturais nos quais foram criadas as orações de cada

20 BROVELLI, Franco. Prece Eucarística. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 942.

25

família litúrgica. A eucologia mostra a concepção que a Igreja tem do mistério litúrgico. Os

textos eucológicos carregam em si uma riqueza de elementos que mostram a situação real da

comunidade na época em que foram escritos, salientando seus problemas, suas lutas, suas

vitórias, seus fracassos. Por isso na interrelação humana, eles são fruto do religioso, do

psíquico, do antropológico e do histórico. Neste sentido vale lembrar que no caso da liturgia

romana, a língua latina usada não foi a forma clássica, mas sim a forma corrente da época.

“Hoje, com as traduções dos livros litúrgicos para as línguas vernáculas, devem nascer em

cada língua formas estilísticas e rítmicas próprias, expressão de uma cultura.” 21

A eucologia é, portanto parte formal, material e substancial da liturgia, sem negar

os ritos e os símbolos, pois as palavras falam por si só. Sem elas e sem o sentido que elas

evocam, a liturgia pode se tornar árida e sem sentido.

É verdade, porém que a própria fórmula eucológica pode transformar-se em

fórmula mágica quando não consegue exprimir mais nenhuma dimensão do

diálogo, da reciprocidade e do intercâmbio, dimensões que são essenciais a

toda experiência religiosa autêntica. (...) Quando os atos materiais do culto

fogem do espírito que os anima e da oração que os reaviva, ficam reduzidos

a um ritualismo vazio, muito próximo da magia.22

Neste sentido, a palavra desempenha um papel primordial na celebração. Sua

força e seu poder fazem com que a liturgia e os mistérios celebrados possuam uma base como

a de uma construção. Sem ela o edifício não se sustenta e não atinge a sua finalidade.

21 CANALS, J. M. In: BOROBIO, D. (Org.) Op. cit. p. 35. Tudo o que se refere à adaptação e/ou inculturação no

sentido de que a liturgia seja mais maleável e inteligível culturalmente, reforça o objeto deste trabalho. O grifo é

nosso. 22

AUGÉ, M. Eucologia. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 416.

26

4. O papel da palavra na liturgia e na eucologia

A palavra, de forma escrita ou de forma oral, manifesta todo um cabedal de

informações que nela está latente. Pode-se afirmar que na liturgia moderna o peso que a

palavra tem é muito maior do que em alguns ritos antigos quando se caía no perigo de a

liturgia ser transformada num ritual vazio, mais propenso a um ato teatral.

Quanto mais a liturgia foi se modernizando e ao mesmo tempo retomando o

caminho dos inícios, a palavra pronunciada foi retomando também o seu papel, no sentido de

uma participação maior e mais profunda na liturgia.

5. As origens: liberdade e fidelidade

Um dos grandes desafios do estudo e desenvolvimento da liturgia e da eucologia é

a fidelidade ao núcleo teológico-cristocêntrico da celebração litúrgica, ou seja, a bênção de

Jesus na última ceia. Neste sentido o que nos desafia é a fidelidade ao ato de que se faz

memória e não a uniformidade das fórmulas com que se faz memória. “Herança apostólica

organizada e estruturada concretamente com grande liberdade é sinônimo de pluralismo. Na

origem, se abstrairmos das poucas linhas fundamentais, encontraremos variedades de formas e

não uma forma única e obrigatória para todos.”23

O maior testemunho que temos do período

apostólico é o que está escrito na Didaqué: “Todo domingo, reunimo-nos, partimos o pão e

rendemos graças...” 24

Outro testemunho importantíssimo que temos é da metade do segundo século. São

Justino atesta como se realizava a celebração eucarística, e o que é mais importante para o

23 NEUNHEUSER, Burkhard. História da Liturgia através das épocas culturais. São Paulo: Loyola, 2007. p.

527. 24

DIDAQUÉ - O catecismo dos primeiros cristãos para as comunidades de hoje, Nº 14. São Paulo: Ed. Paulinas,

1989.

27

estudo e celebração da liturgia, um testemunho que permanece e nos faz celebrar hoje com a

mesma estrutura dos inícios. Diz São Justino:

No “dia do sol” todos se reúnem; leem passagens dos escritos dos apóstolos

e dos profetas; acompanham a homilia e as orações de intercessão; em

seguida, levam-se o pão e o vinho misturado com água e o presidente da

assembléia pronuncia sobre eles, “da forma como melhor sabe”, orações e

agradecimentos, aos quais todos respondem com um “Amém”; os dons,

assim “eucaristizados” são distribuídos a todos; agora eles são mudados em

carne e sangue de Jesus encarnado.25

É claro que na época de Justino ainda não existiam textos preparados para a

liturgia. A tradição como uma das fontes da revelação de Deus na história nos coloca em

contato com as mais remotas formas de comunicação que na maioria das vezes foi oral, e com

o seu desenvolvimento, se tornou escrita. Não se pode reduzir a comunicação somente ao seu

aspecto escrito. Este belíssimo texto, sobretudo com a expressão “da forma como melhor

sabe”, 26 nos coloca obrigatoriamente em diálogo com vários pontos a serem levados em

conta em nossa reflexão, sejam eles de ordem metodológica, lingüística, hermenêutica, e

também abre espaço para a interdisciplinaridade que a teologia e a liturgia são convidadas a

praticar, como qualquer outra ciência. A expressão “da forma como melhor sabe”, não

exclui a fidelidade às origens, e pela autoridade de quem preside e testemunha a celebração,

não exclui também a autenticidade. Pelo contrário, o conteúdo pode ser enriquecido quando se

explicita livremente.

25 NEUNHEUSER, Burkhard. História da Liturgia. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 525.

26 Esta expressão é de muita importância neste estudo. Mesmo que alguém possa argumentar que naquela época

ainda não existia uma liturgia canonizada, o fato de celebrar, pronunciar as palavras e fazer a memória do

mistério celebrado de forma livre, abre espaço para uma discussão sobre os textos eucológicos. Como são feitos,

onde são feitos e como cada cultura os acolhe e assimila o que eles querem evocar. Destaque e grifo nossos.

28

6. Os textos litúrgicos ou fórmulas litúrgicas

Os textos litúrgicos são o caminho para a compreensão do mistério celebrado.

Através da palavra escrita, ou seja, dos textos, entramos em contato com a realidade do

mistério. Portanto por força desta realidade o estudo da liturgia é essencialmente o estudo dos

seus textos eucológicos. Esse estudo leva a pessoa crente a uma maturidade de conhecimento,

portanto, intelectual, e a uma maturidade de vida, prática, enquanto se esforça para viver

aquilo que celebra. “A liturgia nesse campo possui uma função educativo-pedagógica, que

conduz progressivamente o cristão à plenitude de Cristo.” 27

Os textos usados na liturgia estão oficialmente dentro do contexto daquilo que

chamamos fontes da liturgia, que em princípio são muitas, mas podem ser reduzidas a cinco.

São elas: 1) mundo religioso Natural; 2) Sagrada Escritura; 3) Padres da Igreja; 4) Concílios e

5) Livros litúrgicos. 28

Neste sentido

... os livros litúrgicos representam um produto específico, e o mais genuíno,

da Liturgia. Neles e especialmente nos textos eucológicos permaneceram

plasmadas as riquezas do mistério celebrado pela Liturgia, motivo por que

tais textos constituem ao mesmo tempo também a fonte mais preciosa da

qual pode brotar o conhecimento do mistério do culto cristão. Os textos

litúrgicos representam portanto um patrimônio de sã tradição à qual é

necessário sempre recorrer para conhecer o pensamento autêntico da Liturgia

acerca das realidades cristãs que ela considera e acerca da própria liturgia. A

exegese de tais textos requer um método particular em razão da sua

natureza.29

Cada fonte litúrgica requer um método de interpretação de acordo com as origens,

a natureza, a cultura em que surgiu.

27 CANALS, J. M. In: BOROBIO, D. (org.) Op. cit. p. 32.

28 AUGÉ, M. In: NEUNHEUSER, Burkhard et al. A liturgia momento histórico da salvação. Col. Anámnesis

1. São Paulo: Paulinas, 1986. p. 194. O autor indica para cada fonte, uma bibliografia específica. 29

Id. p. 194-195.

29

7. História e características da eucologia latina

Quando falamos da liturgia romana ou latina, faz-se necessário conhecer um

pouco as características eucológicas desta liturgia e situá-la no tempo, para se entender

melhor suas características. Qualquer análise deve levar em conta que, do ponto de vista da

legislação, já “a partir dos primeiros tempos até a época contemporânea, traduz-se de fato na

história da progressiva fixação das fórmulas rituais e na uniformidade que paulatinamente vai

se impondo, com todo o proveito do centralismo romano, que no fim chega a reter o seu

monopólio.” 30

Segundo o teólogo Adrien Nocent, com a mentalidade de hoje somos tentados a

imaginar que a liturgia romana se fez a partir de uma matriz romana, ou seja, da cidade de

Roma, e que de lá os textos se espalharam por meios que achamos terem sido de fácil

expansão.

Desta maneira seriamos mais levados a julgar mais autêntico o texto que

mais se aproximasse do protótipo. Ao contrário, digamos logo que tudo

aconteceu de maneira totalmente diferente, no sentido de que nos

encontramos frente a criações mais ou menos espontâneas e locais. O texto

mais autêntico será então aquele que foi usado nas celebrações da Igreja ou

comunidade local. 31

A espontaneidade, característica deste período, não pode ser confundida com

artificialidade, pelo contrário, o fato de a comunidade ser pequena em número de

participantes, contribuía para esta espontaneidade e a oração era revestida de um carisma

divino que era peculiar àquelas reuniões eucarísticas.

A tradição hebraica era marcada por certa improvisação, mas possuía pontos

referenciais fixados, esquemas precisos, o que facilitava também, ao mesmo tempo,

30 AUGÉ, M. In: NEUNHEUSER, Burkhard et al. Op. cit. p. 233.

31 NOCENT, A. In: MARSILI, S. et al. Panorama histórico geral da liturgia. Col. Anámnesis 2. 1. Ed. São

Paulo: Ed. Paulinas, 1987. p. 145. O grifo é nosso.

30

variedade, criatividade e também uma inquestionável unidade. E como a nossa raiz é judaica,

na medida em que as comunidades cristãs iam crescendo, a função do animador da

comunidade ia se tornando mais complexa. “Por conseguinte, não apenas o bom êxito, mas

até a possibilidade de uma improvisação era mais precária.” 32

Depois aparecem os esquemas preparados para determinadas liturgias, mas eram

esquemas que não obrigavam a serem seguidos ou lidos, ao pé da letra. Era como uma ajuda

para o celebrante, isso já no século III.

Pelo final do século IV, assiste-se a um processo de verdadeiro fervor

criativo, não tanto talvez em Roma, quanto na África setentrional. Não nos

resta documentação exata dessa intensa produção litúrgica. Mas os concílios

e sínodos africanos se encarregam de fazer-nos saber que a liberdade e a

abundância da produção litúrgica não estavam muitas vezes isentas de

inconvenientes mesmo graves. Santo Agostinho se lamenta tanto da

decadente qualidade literária de tais composições, quanto da mediocridade

do conteúdo e, às vezes, da ignorância teológica que revelam. 33

Para corrigir tais dificuldades aconteceram concílios que não só ofereciam

esquemas para a composição dos textos, como também censuravam previamente o uso dos

mesmos. Daí vai se passando para um período de fixação dos textos, paralelamente a uma

multiplicação de ritos e textos dentro e fora de Roma, como na Espanha e nos países francos.

Neste período destaca-se a figura de Gregório Magno, o papa que inovou a

liturgia, pois tentou simplificá-la e, ao mesmo tempo, popularizá-la. É nesse período que são

recolhidos textos de vários lugares para a liturgia de Roma. Com isso houve grande produção

de textos litúrgicos. Gregório Magno se preocupava com a Igreja da cidade Roma e não com a

igreja ocidental. Assim orientou Agostinho de Cantuária, em sua missão de evangelizar a

Inglaterra, para fazer uso também de outras liturgias que pudessem ajudá-lo na missão:

32 Id. p. 146.

33 Ib. p. 146.

31

Tem sempre presente a tradição da Igreja romana, na qual foste educado, e

ama-a sempre. Mas a mim me agrada que, se encontras na Igreja Romana,

ou nas da Gália, ou em qualquer outra, alguma coisa que possa agradar mais

a Deus onipotente tu a recolhas com todo cuidado e o leves à Igreja dos

anglos, ainda tão jovem na fé juntando tudo quanto hajas podido reunir das

diversas Igrejas. Pois tens de amar, não as coisas pelos lugares, mas os

lugares pelas coisas boas que há neles. Assim, pois, escolhe de cada Igreja o

que é de piedoso, de religioso e de reto e, tendo tudo isso reunido como num

ramalhete, oferece-o como tradição à mente dos ingleses.34

Temos neste texto um exemplo clássico de que a Igreja de Roma não era sinônimo

de Igreja Ocidental. Havia várias Igrejas, cada qual com suas peculiaridades, seus costumes e

sua liturgia, porém, subsistia a liberdade de adotar usos litúrgicos de outras Igrejas.

A obra litúrgica de Gregório Magno, pensada e organizada para o povo de

Roma, também teve êxito fora da Urbe e, com efeito, foi aceita por muitas

outras Igrejas. Diversos motivos devem ter influído nisso: o costume secular

de olhar para Roma, como garantia da ortodoxia, inclusive na organização

do culto; a situação pastoral das outras Igrejas, muito parecida com a de

Roma; e, por último, a admiração sempre crescente pela figura e pela obra de

Gregório. 35

Roma foi se apoderando de muitos textos de outras regiões e, consequentemente,

tornando-os obrigatórios para toda a região sob seu domínio. Com isso cresce rapidamente o

processo de fixação e de estabilidade. “A legítima necessidade de reprimir abusos provocava

fatalmente a tendência para a centralização e fixação, naturalmente à medida que isto era

possível naquele tempo.” 36

O auge da liturgia romana no que diz respeito às fórmulas e também à sua

teologia, se dá entre os séculos V e VIII. É um período conhecido como época clássica, em

que a liturgia e suas fórmulas ganharam certa maturidade. Período em que a língua grega dá

lugar à língua latina. “Na base dessa criação tipicamente romana, há uma espécie de

34 BASURKO, X. In: BOROBIO, D. (Org.) Op. cit. p. 87.

35 Id. p. 87.

36 NOCENT, A. In: MARSILI, S. et al. Op. cit. p. 147.

32

„movimento litúrgico‟ mais geral, que abarca toda a área ocidental, fundamentada, por sua

vez, numa mesma língua, o latim cristão”. 37

É importante ressaltar que da mesma forma como lá nos inícios, nos dois

primeiros séculos, quando havia uma grande liberdade na formulação das orações litúrgicas,

quando ainda não havia textos escritos, como também no início da formulação dos textos

latinos, houve uma grande liberdade, sem o controle da hierarquia.

Por muito tempo a formulação da palavra da oração estava confiada ao

próprio liturgo, seja que ele quisesse criá-la livremente do mesmo jeito que

era sua tarefa formar livremente a palavra de admoestação da homilia

dirigida ao povo, seja que ele recitasse um texto formulado e anotado com

antecedência por ele mesmo ou por outra pessoa. 38

É claro que mesmo com esta certa liberdade de criação e expressão, as

formulações litúrgicas desta época possuíam leis próprias em seu estilo. Ou seja, leis segundo

as formas e as características próprias da língua latina, com suas tradições e estilos, também

com as características próprias dos estilos literários de expressão latina. Exemplos disso, são

os textos baseados na arte da retórica, muito usada no período clássico, e também o estilo de

prosa muito usado no final do império romano, como também indícios de ritmos da poesia

clássica.

Mais do que outras partes da liturgia, a oração romana sofreu a influência da

elevada linguagem administrativa e especialmente do estilo retórico. Desde

sempre, isso tem se mostrado principalmente em sua nobre fluidez, em seu

ritmo. É óbvio que aqui continua vivo algo da arte retórica do fim da

Antiguidade, por cujas escolas passaram, sem dúvida, os autores destas

orações. 39

Neste fértil momento histórico-litúrgico desenvolveram-se várias orações para a

liturgia, quando antes se conhecia apenas uma oração eucarística. O culto sai enriquecido

37 BASURKO, X. In: BOROBIO, D. (Org.) Op. cit. p. 87.

38 JUNGMANN, J. Op. cit. p. 367.

39 Id. p. 370.

33

culturalmente e a eucologia se desenvolve amplamente. Mas o que caracteriza esta liturgia

romana? Quais são suas características próprias? O que a sua formalização apresenta como

essencialmente seu?

Quanto ao estilo (“caráter”) dessa liturgia romana clássica, devemos

observar: a) como elementos formais: sua precisão, sobriedade, brevidade e

sua escassa concessão ao sentimento; sua disposição geral transparente e

lúcida; a grandeza contida no seu estilo literário; b) como elementos

teológicos: a oração litúrgica romana sempre se orienta para o Pai, por

Cristo, no Espírito Santo; em contraposição às liturgias orientais, gálicas ou

visigodas nas quais com frequência se fala diretamente ao Senhor Jesus, não

há esse modo de oração na liturgia romana clássica; não há manifestações

exteriores de veneração ou adoração dos elementos sagrados, nem intenções

de explicar com argumentos teológicos ou especulativos a presença real do

corpo e do sangue de Cristo; a celebração eucarística se mostra plenamente

ligada com a comunidade local e como expressão total desta. 40

Assim se firma este estilo eucológico, que ocupou seu espaço, pouco a pouco,

apoiado na geopolítica da época, e, consequentemente, firmado nos costumes e culturas de

muitos povos.

8. Os Textos litúrgicos bíblicos - Palavra de Deus

Entre os textos bíblicos usados na liturgia, merecem destaque as leituras e os

cânticos que são usados na Liturgia da Palavra. Destacando o aspecto dialogal da liturgia

cristã, podemos afirmar que é o mesmo meio usado por Deus para se comunicar com seu povo

na história da salvação, ou seja, a liturgia da palavra é o jeito de Deus se comunicar conosco

na celebração litúrgica. Há um entrelaçamento de relação entre Deus e o povo.

A forma como se aplicam os textos bíblicos na liturgia foi se moldando ao longo

dos tempos. Dos textos sagrados bíblicos temos dois tipos distintos: as leituras e os cânticos,

cada qual com sua função na liturgia. Quanto à escolha dos textos bíblicos para a liturgia, é

40 BASURKO, X. In: BOROBIO, D. (Org.) Op. cit. p. 88.

34

claro que houve uma evolução na seleção dos textos, o que muitas vezes se pode concordar ou

não com a ausência de certos versículos em algumas perícopes usadas na liturgia. “A igreja

empregou um tríplice sistema para proclamar a Palavra de Deus à assembléia: o sistema de

leitura contínua, hoje desaparecida, da semicontínua e da temática, hoje em uso”. 41

Os cânticos na liturgia da palavra são os salmos e os cânticos bíblicos. Eles

aparecem na liturgia das horas em laudes e vésperas, na liturgia da palavra após as leituras, e

em outros momentos da liturgia.

O texto do cântico por vezes aparece na liturgia com ligeiras variantes com

relação ao original. Trata-se de modificações por exigências de adaptação à

época litúrgica, à festa, etc. que se celebra ou por razões musicais. O estudo

do canto deve delinear a fisionomia própria de cada texto para descobrir o

conteúdo, o sentido litúrgico e sua expressão musical. 42

9. Os textos litúrgicos patrísticos

Os textos patrísticos litúrgicos têm uma ligação direta com os textos bíblicos, pois

os padres da Igreja citam muito a Sagrada Escritura. Estes textos estão presentes na liturgia

das horas, sobretudo do Ofício das Leituras, que traz uma riqueza de textos patrísticos para a

meditação e reflexão, diariamente durante todo o ano litúrgico. A hermenêutica dos textos

patrísticos está em contato com a hermenêutica dos textos bíblicos. Também vale ressaltar

que os textos patrísticos possuem uma linguagem própria, e uma divisão própria. 43

41 CANALS, J. M. In: BOROBIO, D. (org.) Op. cit. p. 33.

42 Id. p. 33.

43 Cf. VAGAGGINI, C. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Loyola, 2009. p. 507-512. O grande teólogo

da liturgia, Cipriano Vagaggini, nesta magistral obra recentemente traduzida para a língua portuguesa, faz uma

brilhante divisão da literatura patrística de cunho litúrgico em cinco grupos. São eles: 1) As catequeses dos

catecúmenos e neófitos, que é a literatura mistagógica da iniciação cristã; 2) Tratado explicativo de liturgia geral,

seja em forma de sínteses, seja em forma de monografias sobre temas particulares; 3) As homilias sobre as festas

litúrgicas; 4) As cartas pascais que os patriarcas alexandrinos habitualmente endereçavam aos seus fiéis no início

da quaresma; e 5) Obras teológicas patrísticas de gêneros variados que têm interesse teológico litúrgico notável.

Esta divisão nos ajuda muito a identificar e conhecer melhor os textos litúrgicos patrísticos na sua vastidão e na

sua riqueza.

35

10. Os textos litúrgicos eucológicos - Palavra da Igreja

Os textos litúrgicos eucológicos são os textos especialmente criados pela Igreja

através de muitos autores para expressar o mistério. Sua riqueza é imensurável, ao lado dos

textos bíblicos e dos textos patrísticos, cada grupo com seu valor e sua especificidade.

Esses textos assumem múltiplas expressões sob o ponto de vista da estrutura,

sendo muito diversas uma da outra. Desta forma encontramos textos

eucológicos dirigidos a Deus (anáforas, fórmulas de bênção e de

consagração, preces...), outros, ao contrário, dirigidos à assembléia: como as

exortações; e por fim existem os textos deprecatórios (exorcismos). Sob

outro ponto de vista, podem distinguir-se fórmulas pertencentes ao sacerdote

e fórmulas próprias da assembléia. 44

Os textos eucológicos distinguem-se de todos os textos bíblicos antes de

tudo pela diversidade da origem. Com efeito as fórmulas eucológicas são

criadas ex-professo pela Igreja a fim de exprimir o mistério de seu culto de

modo que se adapte às condições sócio-culturais da assembléia. Portanto, a

eucologia das várias tradições litúrgicas é a manifestação mais característica

da concepção que determinada Igreja local tem em relação à Liturgia e ao

seu mistério. 45

Acompanhando os passos para uma liturgia formulada em textos escritos, temos

antes, textos não prescritos, mas exemplificativos, que a pessoa que preside pode usar com

toda liberdade. Como exemplo, temos uma formulação de Hipólito de Roma para a eucaristia,

no início do século III. É um texto do que hoje chamamos oração eucarística. Depois de uma

introdução, se dizia: “Nós te agradecemos ó Deus, por meio de teu amado filho Jesus Cristo,

que nesses últimos tempos, nos enviaste como salvador e redentor”.46

O que esta reflexão, no presente trabalho, pretende mostrar é que o fato de não

haver algo escrito, em primeiro lugar, não invalida a ação litúrgica, e também é fato que, até

se chegar aos textos escritos houve um período de liberdade de expressão, sem alterar o

44 AUGÉ, M. In: NEUNHEUSER, Burkhard et al. Op. cit. p. 197.

45 Id. p. 203.

46 NEUNHEUSER, Burkhard. História da Liturgia. In: SARTORI, D. e TRIACCA, M. Op. cit. p. 525.

36

conteúdo, “da forma como melhor sabe”. Parece que a evolução deste processo caminhou

para a uniformização, que de certa forma empobrece a liturgia.

A eucologia mostra para nós a diversidade e também a capacidade de criar da

Igreja. A partir de cada cultura, de cada povo surgem textos que manifestam as diversas

expressões. A comunidade se caracteriza por sua criatividade e sua espontaneidade. Isso é um

dom que o Espírito suscita na Igreja, que celebra e publica as ações de Deus no mundo.

11. Eucologia e hermenêutica

O estudo e o conhecimento dos textos eucológicos estão ligados diretamente à

hermenêutica litúrgica, e conseqüentemente à sua metodologia, porque para que se possa

analisar e conhecer melhor os textos eucológicos, a ciência eucológica lança mão da

metodologia litúrgica, e esta “propõe-se com seu objetivo específico, esclarecer ulteriormente

a natureza e o valor dos documentos ou das fontes próprias da Liturgia e introduzir no estudo

do seu conteúdo, para um conhecimento mais profundo da própria Liturgia”. 47

“Quando a

Igreja cria fórmulas eucológicas para o culto, é movida fundamentalmente pelo propósito de

transmitir, ilustrar, exercer e aplicar o poder recebido de Cristo com vistas à realização da

salvação no meio dos homens.” 48

Os textos eucológicos mostram sempre o pensamento doutrinal da Igreja em sua

origem. Eles são formulados de acordo com o pensamento teológico vigente.

Geralmente, os textos litúrgicos foram usados no culto, isto é, passaram a ter

- como se costuma dizer - uma „funcionalidade litúrgica‟. Descobrir os

termos da funcionalidade litúrgica de determinado texto, pode preencher

47 AUGÉ, M. In: NEUNHEUSER, Burkhard et al. Op. cit. p. 194.

48 Id. p. 204. Para falar do caráter didascálico da eucologia, o autor explica cada verbo de forma muito clara,

ajudando bastante o leitor a se inteirar mais do assunto. Destaque nosso.

37

eventuais lacunas sobre a data e sobre o autor, enquanto que ao mesmo

tempo é garantia do valor tradicional do elemento que é examinado.49

12. Criatividade eucológica - um problema?

A formulação dos textos eucológicos, nos coloca diante de um desafio, que

também é uma riqueza: a criatividade e a adaptação. Mesmo nos livros litúrgicos modernos,

que foram reformados, aparece a estrutura dos textos do passado e junto com ela, uma herança

bastante rica da tradição de que é portadora. Isso é inegável. No entanto um problema se

apresenta sempre quando se traduz um texto e ainda mais quando ele é portador de uma

tradição tão larga. Corre-se o risco de o texto não acompanhar a dinâmica e a expressividade

da língua moderna. Do ponto de vista pastoral e teológico o texto pode refletir problemas do

passado, que em nome de uma suposta fidelidade, são transmitidos a outros tempos.

A tradição litúrgica nos oferece um exemplo de criatividade. Quando, no

Ocidente, a Igreja passou do grego para o latim, não houve uma preocupação

com tradução dos textos do grego para o latim, mas a criação de novas

fórmulas em termos de estilo, espírito e expressão. A uma língua nova,

corresponde uma nova forma. Assim nasceu a nova literatura latino-cristã. É

um exemplo único na história, um exemplo que deve ser objeto de reflexão

e, talvez, de imitação.50

Em termos gerais podemos dizer que a liturgia, nestes dois milênios de história,

teve no primeiro milênio um ambiente mais propício à criatividade. Mesmo quando a liturgia

latina se estabilizou, esta estabilização foi fruto da junção de muitas culturas, de muitas

tradições litúrgicas que foram juntadas numa só liturgia. Do final do primeiro milênio para o

inicio do segundo milênio, tudo se cristalizou, e, consequentemente, a criatividade foi tolhida.

49 Ib. p. 196.

50 CANALS, J. M. In: BOROBIO, D. (org.) Op. cit. p. 35.

38

A idade média foi forjando um ambiente pobre de criatividade e pensamento

litúrgicos, e o segundo milênio é marcado por uma preguiça institucional no que se refere à

criatividade teológico-litúrgica. Mas esta cristalização se concretizou mesmo com as

determinações do Concílio de Trento. Tudo foi fechado, encerrado em uma forma que durou

quase cinco séculos. Neste período a criatividade foi considerada um problema, uma ameaça.

13. Estrutura dialógica do culto cristão

Esta característica do culto e, portanto da liturgia cristã, merece destaque, pois é o

que enriquece e democratiza o culto. Numa visão renovada da liturgia somos convidados a

colocar em prática esta característica. O diálogo se estabelece no vasto e rico campo da

comunicação. A comunicação na liturgia é uma premissa para qualquer ato litúrgico.

Através da Palavra, Deus se comunica com seu povo e quando a Palavra se faz

carne, essa comunicação chega ao seu auge através da pessoa de Jesus. No constante diálogo

de Deus com o povo através dos seus enviados, é que acontece a Revelação.

Além do diálogo entre Deus e seu povo, há também o diálogo entre os

participantes do culto, o que é uma novidade de resgate na liturgia renovada. Assim há mais

harmonia e comunicação e cada um sente-se participando ativamente, exercendo seu papel na

celebração.

A Oração litúrgica, em sua estrutura, necessita dessa sacramentalidade

dialogal o tempo todo. Assim cada um se sente incorporado ativamente na

assembléia em oração. Uma das preocupações da reforma litúrgica foi

restabelecer mais claramente tal aspecto (cf. SC 30). Por isso aumentou a

39

participação externa de todos aqueles que não exercem a presidência ou

outro ministério durante o culto da Igreja. 51

Na liturgia há comunicação de Deus com o ser humano e sempre uma resposta do

ser humano a Deus. Deus dialoga, deixando-se interpelar e, ao deixar-se interpelar, está aberto

ao diálogo. Ao dialogar Deus leva em conta o interlocutor. Nesse sentido, não podemos nos

deter somente nas partes da celebração em que há diálogo entre o presidente da celebração e o

povo. É muito mais profundo. Como há comunicação no silêncio da oração, a liturgia se

caracteriza também por proporcionar ao crente esta dialogia silenciosa. Seja nos momentos de

silêncio ou de fala, o diálogo deve acontecer. Podemos afirmar que sem diálogo não pode

haver ação litúrgica.

O diálogo provoca nos crentes a consciência de que na liturgia existem diversas

funções e cada uma delas deve ser exercida por quem é de direito. Outro resultado do aspecto

dialogal da liturgia é de cunho estético. Tanto no que se refere aos textos rezados,

proclamados, como nos textos cantados, o diálogo enriquece e torna mais bela a liturgia.

51 COSTA, Valeriano dos Santos. Viver a ritualidade litúrgica como momento histórico da salvação. São Paulo:

Paulinas, 2005. p. 63.

40

CAPÍTULO II

O MOVIMENTO LITÚRGICO

Sempre houve mudanças na liturgia católica, e essas mudanças sempre foram

precedidas por inquietações de pessoas e grupos no interior da Igreja, que impelidos pelo

Espírito de Deus geram algo novo. Pode-se chamar a isso, movimento.

O Movimento Litúrgico foi uma luta em torno da reforma da liturgia católica,

resgatando a liturgia cristã e renovando a Igreja, como afirma D. Clemente Isnard: “O

Movimento litúrgico foi uma grande aventura vivida pela Igreja no século XX. Aventura

fecunda, pois é inegável que a renovação eclesial, escopo e fruto do concílio Vaticano II, dele

muito recebeu.” 52

Este capítulo pretende fazer um recorrido pela história do Movimento litúrgico,

contextualizando-o, mostrando seus principais representantes e a contextualização de cada

passo dado. O Movimento Litúrgico precedeu o Concílio Vaticano II no que diz respeito às

reformas na Liturgia, expressas no documento Sacrosanctum Concilium.

1. O movimento litúrgico primitivo a partir de Trento

Pode-se dizer que o Movimento litúrgico tem seus precedentes já a partir do

Concílio de Trento no século XVI, que aconteceu como uma resposta-reação à reforma

protestante. Talvez as reformas propostas pelo Concílio de Trento não tenham sido

suficientemente satisfatórias. Daí o fato de já, imediatamente depois de Trento, se sentir a

necessidade de reforma na liturgia católica.

52 SILVA, José Ariovaldo da. O Movimento litúrgico no Brasil - estudo histórico. Petrópolis: Vozes, 1983.

41

Dos limites da reforma litúrgica tridentina tomou-se consciência desde o

primeiro momento, e com o andar do tempo, eles foram se tornando mais

manifestos, de sorte que bem depressa caiu o princípio da absoluta e perene

(...) imutabilidade, que era a intenção de Pio V a respeito da Liturgia por ele

reformada. A não superada sensação de contínuo “mal-estar litúrgico”

continuava, disto deram provas as tentativas - mesmo fragmentárias de

ulteriores reformas, após a tridentina propriamente dita. 53

O Concílio de Trento se realiza num borbulhar de novidades que acontecem na

esteira da Reforma Protestante, que, por sua vez, ocorre num período em que a história nos

apresenta grandes novidades, como as grandes descobertas, a invenção da imprensa e o

declínio da Idade Média. Do ponto de vista eclesial, “o principal alvo dos esforços do

Concílio de Trento estava determinado de antemão pela própria situação da Igreja, que

apresentava duas frentes fundamentais: os problemas internos, de extraordinária gravidade, de

um lado, e a inovação protestante, de outro.” 54

O contexto político e religioso europeu justificava os temas e as discussões do

Concílio e certo temor por parte da Igreja, de perder, além de fiéis, o poder. Os temas tratados

no Concílio de Trento foram ditados pela Reforma Protestante. Num segundo momento,

quase que forçadamente houve, por assim dizer, um olhar da Igreja para si mesma em que se

discutiram temas de autoavaliação e novidades, numa tentativa de mostrar algo novo, como

um clero renovado. Foi nesse contexto que foram criados os seminários e também se cunhou

uma nova maneira de ser e agir dos bispos.

O que não se pode negar é que a liturgia e os sacramentos, tanto no que se refere

às questões doutrinais quanto às questões práticas, tiveram espaço no concílio.

53 NEUNHEUSER, Burkhard. In: MARSILI, S. et. al. Op. cit. p. 267.

54 BOROBIO, D. (org). Op. cit. p. 112.

42

2. O Barroco

Do ponto de vista histórico é difícil marcar precisamente o início ou o fim do

período barroco. Neste sentido o barroco se coloca entre o medievo e o moderno, entre a

escolástica, o Concilio de Trento e a contra-reforma, como uma cunha em busca do novo,

ainda que de forma bastante tímida. O barroco é o reavivamento de um estilo de arte e de

cultura muito praticado na baixa idade média e que incidiu fortemente na teologia, na

espiritualidade e na liturgia. Pode se afirmar que o período barroco é, por assim dizer, um

resquício do período medieval com requintes próprios. Prova disso é que sua influência

durou pouco, entrando logo em decadência.

2.1. Entre os devocionismos

O Barroco está incrustado do ponto de vista teológico, espiritual e litúrgico entre

duas fases de devoção que marcaram época: a Devotio e a Devotio moderna. A época do

devocionismo se caracterizou pelo alegorismo externo marcando o final da escolástica. A

baixa Idade Média sinalizava com o surgimento de novas corporações, confrarias, línguas

vulgares regionais e movimentos conhecidos como penitenciais e ordens terceiras. Tudo isso

proporcionou um ambiente que elevava as procissões com matizes triunfalistas, e as

penitencias, sempre marcadas por muitas alegorias.

É um período que surge como algo novo que queria marcar o fim de uma época

influenciada pelo intelectualismo que, de certa forma, foi se tornando ininteligível tanto ao

clero como ao povo em geral.

2.2. O devocionismo moderno

A euforia das reformas do Concílio de Trento levou a Igreja a sentir-se

renovada, ciente do dever cumprido e de ter preservado a fé na Europa, ou em parte dela.

43

Impelida pelos ecos da reforma protestante desenvolveu-se na Igreja um movimento que era

contra qualquer tipo de culto externo “em que, colocado o interiorismo religioso como a meta

que devia ser alcançada, teorizou-se sobre o que então se chamou devotio moderna.” 55

O estilo de devocionismo moderno adquire conotação própria buscando uma

espiritualidade pessoal individualista, fazendo uma ruptura com tudo o que era externo e

entrando num viés mais intimista e interior. Neste sentido,

a devotio moderna orientou para um contato imediato, individual e pessoal,

alcançado mediante um processo psicológico, isto é, através de um esforço

de meditação-contemplação sobre a humanidade de cristo. A imitação de

Cristo não nasce da presença sacramental do Senhor, como seu

desenvolvimento, mas procede de uma visão de Cristo que está dentro de nós

como exemplo evidente e que é tanto mais válido quanto mais capaz de

impressionar nossa sensibilidade. 56

O período barroco do ponto de vista da liturgia foi marcado por um

distanciamento do mistério de Cristo, revelado em sua páscoa, valorizando-se mais a vida

humana de Jesus em seus detalhes. O sofrimento de Cristo era o tema principal das

meditações e da espiritualidade. A integridade da ressurreição foi esfacelada e era mais

confortador venerar “as feridas, as chagas, os espinhos, as lágrimas, o coração, o rosto, a

cabeça e os membros.” 57

2.3. Arte, cultura e culto

Na esteira da contra-reforma que se arvorava ser uma resposta a todas as questões

provocadas pela reforma protestante, o barroco manifesta uma euforia impregnada de

triunfalismo. Na arte, na cultura e também na arte sacra, o grandioso e o opulento se destacam

como símbolos de uma nova etapa que surgia sobre as “cinzas” da ameaça protestante.

55 FLORES, Juan J. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 54

56 Id. p. 56-57.

57 Ib. p. 58.

44

O barroco encarna sem dúvida a consciência eufórica de ter salvo a fé e a

Igreja e de estar com a verdade. É essa a ultima época da Europa cristã, em

que tudo ainda se encontra determinado e como que impregnado pelo fator

religioso. Cultura fundamentalmente festiva, que traduz o entusiasmo pela

unidade da Igreja católica, de onde se eleve um fervor místico perceptível até

mesmo na realidade sensível. 58

O cultural se mescla com o cultual. Isso se mostra na liturgia, nos templos, que se

tornaram imponentes, imitando os salões das cortes européias. Assim as liturgias se tornaram

de tal forma festivas, como que a apregoar a idéia do dever cumprido, por ter salvado a Igreja

do protestantismo.

3. O Iluminismo e a crise

As idéias iluministas surgem no final do século XVII. Os cidadãos parecem não

aguentar mais o peso de tantas regras morais e espirituais impostas pela Igreja e pelo

soberano. O racionalismo moderno toma forma e coloca o homem no centro. As consciências

são norteadas pela razão, pela liberdade de consciência.

A uma civilização fundamentada na idéia do dever, para com Deus e para

com o príncipe, surge-se agora uma civilização fundada no direito, na

consciência individual e na razão, do homem e do cidadão. O homem, é só

ele, é a medida de todas as coisas; e é por isso mesmo, sua razão de ser e seu

alvo. 59

A ciência avança e coloca nas mãos do ser humano o domínio da natureza e faz

com que ele seja confiante no seu futuro, um futuro baseado no bem-estar e na felicidade.

Tudo isso levou a Igreja a entrar numa crise sem precedentes, ao se deparar com uma

sociedade e cultura pouco religiosas ou quase sem religião e, por isso mesmo,

antieclesiásticas. Uma realidade em que tudo dependia da Igreja, agora dá lugar a outra

realidade em que nada depende dela.

58 BASURKO, X. e GOENAGA, J. In: BOROBIO, D. (org), Op. cit. p. 113.

59 Id. p. 113.

45

O século XIX já nasce cansado do ponto vista eclesial e social. Tentando resolver

os problemas ora surgidos, recorre-se a uma volta ao passado clássico recriando modelos

clássicos assim chamados “neo”, na escultura, na pintura, nas artes em geral. “Todavia é

sempre um tempo em que se manifestam forças novas e poderosas: a industrialização, a

técnica, o proletariado como classe social, o movimento socialista, etc.” 60

A visão que o iluminismo tinha da liturgia, era bastante distante do que é

verdadeiramente a liturgia. “Em última análise, a liturgia, para o iluminismo, era pouco mais

do que um meio para a educação moral do ser humano e não a realização da adoração de Deus

em espírito e verdade.” 61

3.1. O Iluminismo católico

A onda iluminista que através da filosofia atingiu outros campos da sociedade fez

ressoar suas idéias também no interior da Igreja, fazendo eclodir um iluminismo católico.

Concentrando a tensão no âmbito do Iluminismo religioso e, em particular, o

católico, deve-se dizer também que o iluminismo denunciou a piedade

popular porque se alimentava de certa superstição e do fanatismo, enquanto

pretendia buscar uma prática religiosa iluminada pela inteligência e pela

cultura. Do mesmo modo, denunciou os vícios introduzidos no campo

litúrgico. O movimento litúrgico foi uma resposta concreta às provocações

iluministas e pode ser considerado como uma época histórica com uma

identidade precisa. 62

Do ponto de vista da liturgia o iluminismo católico produziu ou tentou produzir

reformas, cujas propostas foram apresentadas no Sínodo de Pistóia na Itália, em 1786,

consideradas o fruto mais importante das idéias iluministas. O sínodo de Pistóia propunha um

enxugamento dos ritos, dos textos litúrgicos e, como grande novidade, a língua vernácula ao

lado da língua latina nos livros litúrgicos.

60 Ib. p. 114.

61 FLORES, Juan J. Op. cit. p. 68.

62 Id. p. 69.

46

Diante do novo tempo protagonizado pelo iluminismo e das tentativas de

restauração dos estilos clássicos, houve na Igreja um movimento de reação fortemente

marcado pelo conservadorismo. “A consequência foi a de que a „restauração‟ por um fato

rígido e conatural de reação, rejeitou exatamente toda e qualquer reforma litúrgica e se

polarizou em conservadorismo tradicionalista” 63

4. O Movimento Litúrgico moderno

A história mostra que o movimento litúrgico, que se pode chamar moderno, nasce

no Congresso de Obras Católicas em Malines, na Bélgica no ano de 1909. Entre seus

mentores está o beneditino D. Lambert Beauduin do mosteiro de Monte César na França.

Como a França tinha passado por uma tentativa de separar-se de Roma através da liturgia, o

trabalho de Beauduin foi o de retomar a liturgia católica através da Pastoral Litúrgica. Para ele

a paróquia era o centro de difusão da liturgia, conscientizando sacerdotes e leigos.

Beauduin cria como meios para divulgar essas novas mudanças litúrgicas, a

revista “Questões Litúrgicas Paroquiais”, em 1910, e as semanas de liturgia, através de cursos

e conferências.

Houve arrefecimento na difusão dessas idéias francesas durante as duas grandes

guerras mundiais. E após as respectivas guerras houve uma grande difusão pastoral em vários

países da Europa, principalmente através das abadias beneditinas, culminando nos Congressos

Internacionais de Liturgia através dos quais, o movimento se difundiu por toda a Igreja. “No

desenvolvimento do movimento litúrgico, surgiram duas crises de crescimento que, por não

63 NEUNHEUSER, Burkhard. Movimento Litúrgico. In: SARTORI, D. e TRIACCA, A. Op. cit. p. 788.

47

terem sido bem curadas, ressurgiram periodicamente. Uma ligada com a liturgia e a

espiritualidade e, a outra, com a liturgia e o compromisso.” 64

4.1. Liturgia e Espiritualidade

A polêmica entre liturgia e espiritualidade, que para alguns autores é permanente,

se dá entre dois representantes principais, cada um apontando um lado da questão: o

beneditino Maurice Festugière e o jesuíta Jean Navatel, e se acentua a partir de 1913. Há um

momento de suavização e depois vem à tona com maior força a partir de 1929, até a

publicação da encíclica Mediator Dei do papa Pio XII, em 1947.

As relações entre liturgia e espiritualidade dependem das concepções do

culto da Igreja e das atividades espirituais dos membros da mesma Igreja.

Para Navatel e muitos outros, ainda hoje, a liturgia é a fase cerimonial e

decorativa da missa, dos sacramentos e sacramentais. Daí porque ela deva

ocupar um segundo ou terceiro plano na recepção desses mesmos

sacramentos e entre as atividades espirituais e ascéticas. Todavia para

Festugière e os teólogos posteriores da Liturgia, o culto da Igreja é a oração

do Cristo total e, a um só tempo, presença privilegiada do mistério salvífico

de Deus em Cristo. Os membros da Igreja devem personificar a liturgia, por

meio da participação nela, qualificada mais precisamente pelo Vaticano II

como “consciente e ativa”. Dessa concepção da liturgia brotou, com força, o

sentido eclesial-comunitário e a exaltação dos valores objetivos do culto

cristão em contraposição ao sentido individual e/ou individualista, subjetivo

e/ou subjetivista das atividades espirituais dos fiéis, próprias à

espiritualidade pós-tridentina. O próprio vigor do movimento litúrgico levou

repetidas vezes ao exagero dos valores adquiridos: do sentido eclesial-

comunitário, passava-se ao cumunitarismo e, da exaltação, nunca suficiente,

dos valores objetivos da salvação cristã, passava-se ao objetivismo (forma de

quietismo) e ao panliturgismo. 65

4.2. Liturgia e compromisso cristão

Sobre este tema tão importante foram muitos os debates promovidos pelo Centro

de Pastoral Litúrgica de Paris, entre especialistas e sacerdotes em missões nos meios rurais e

urbanos. Aparece aí com força, a Ação Católica, tão conhecida por representar vários

64 BASURKO, X. e GOENAGA, J. In: BOROBIO, D. Op. cit. p. 129.

65 Id. p. 129.

48

segmentos da sociedade e sua relação com a Igreja. “Nessas reuniões aparecia com frequência

o desejo de uma maior inserção dos valores mundanos na liturgia da Igreja, bem como de uma

maior acomodação do culto às novas situações européias e dos países de missão.” 66

5. O Movimento Litúrgico e a Ciência Litúrgica

O desenvolvimento e o sucesso do movimento litúrgico, com muitos estudos e

pesquisas, feitos por muitos especialistas, deu um grande impulso à liturgia como ciência. Os

trabalhos mais importantes foram desenvolvidos na França e na Alemanha. Esses dois países

foram de grande importância para a pesquisa litúrgica, pois neles se concentravam os grandes

amantes e pesquisadores da liturgia. Essas pesquisas deram origem ao Centro de Pastoral

Litúrgica de Paris, fundado em 1943 e ao Instituto Superior de Liturgia de Paris criado em

1956. Além da França e da Alemanha, destacam-se também neste processo a Inglaterra, Itália

e Espanha, com suas contribuições. 67

6. Principais expoentes do Movimento Litúrgico e de sua teologia

O movimento litúrgico foi de grande alcance, pelo tempo que durou, pelo grande

número de pessoas que dele participaram68

, pelo peso científico do seu conteúdo e pelo

significativo embate político que gerou. Apresentamos alguns personagens que se destacaram,

pela coragem, pela reflexão, pelo estudo e, sobretudo por um grande amor à liturgia. 69

66 Ib. p. 130.

67 Sobre este assunto, Cf. BASURKO, X. e GOENAGA, A. In: BOROBIO, D. Op. cit. p. 130-133. Esses autores

dão uma boa contribuição, apresentando os principais expoentes e uma rica bibliografia. Constata-se também

que existe pouco material sobre o tema em língua portuguesa. 68

É bom frisar que é grande o número de pessoas que se engajaram no movimento litúrgico. Aqui apresentamos

apenas os que mais se destacaram. 69

Os nomes aqui apresentados e suas contribuições para a liturgia têm como fonte principal, FLORES, Juan J.

Op. cit.

49

6.1. Próspero Guéranger (1805-1875) 70

A história do movimento litúrgico mostra que ele não existiria sem os mosteiros

beneditinos, centros de estudo e irradiação da liturgia e da sua teologia. Dom Guéranger,

iniciou esta caminhada com a renovação monástica, principalmente beneditina, no mosteiro

de Solesme. Depois de a França ter passado pelo movimento chamado galicanismo, que quis

elaborar uma liturgia própria, francesa, Guéranger se opôs a esta tentativa com todas as suas

forças e lutou para que a liturgia romana fosse resgatada. Como diz Flores: “para ele a

„hierarquia‟ queria dizer a Cúria romana.” 71

Guéranger era um inimigo declarado de toda forma de galicanismo e, vendo

na unidade litúrgica com Roma a premissa indispensável para qualquer

verdadeira vida eclesial, combateu não somente as chamadas liturgias

neogalicanas, mas também qualquer resquício proveniente da antiga e

venerável tradição galicana. 72

Sua vasta obra teológico-litúrgica fez com que nascesse um movimento litúrgico

que continha, ao mesmo tempo, idéias conservadoras e revolucionárias. Estas contribuíram

em muito para se chegar ao grande movimento litúrgico na Igreja.

6.2. Lambert Beauduin (1873-1960)

A partir da abadia beneditina de Mont-César na Bélgica, da qual era monge,

Lambert Beauduin é o primeiro a se preocupar seriamente com a crise pela qual a liturgia

passava no final do século XIX e início do século XX. Juan Xavier Flores afirma: “O

70 Os números que aparecem entre parêntesis após o nome de cada autor deste subitem, e dos subseqüentes

correspondem aos anos de nascimento e de morte respectivamente, do referido teólogo. 71

FLORES, Juan J. Op. cit. p. 75. 72

Id. p. 75.

50

iniciador e animador desse movimento foi Lambert Beauduin, que fez a liturgia dar um salto

para diante no plano teológico.” 73

Teólogo empenhado em estreitar a relação entre teologia e liturgia, Beauduin

“organizou sessões de liturgia para sacerdotes, para sacristães, para cantores e também para

leigos”. 74

Concomitantemente à teologia litúrgica, Beauduin enfatizou a pastoral litúrgica no

que diz respeito à formação, com inúmeras publicações. Pode-se dizer que os escritos de

Beauduin são a base para as reflexões que culminaram no Concílio Vaticano II.

6.3. Emanuele Caronti (1882-1966)

Caronti foi o responsável pela entrada do movimento litúrgico na Itália75

através

de artigos na Rivista Litúrgica, influenciado principalmente pelas idéias e espiritualidade de

Beaduin. Tendo como tema principal a participação e a espiritualidade, Caronti acrescentou

às reflexões que já vinham sendo feitas temas mais eclesiológicos, sempre insistindo também

no tema da participação dos fiéis na liturgia e no conteúdo do missal romano como sendo a

oração oficial e da tradição da Igreja, combatendo assim o pietismo dos manuais populares.

É de se ressaltar a influência de Beauduin nas reflexões da obra de Caronti. O

tema da participação cada vez mais ia tomando corpo, “especialmente pela influência do moto

próprio de Pio X. Ela irá se manifestar em atos mais concretos e externos de participação

cerimonial e musical mais do que em atitudes internas e plenas.” 76

73 Ib. p. 100.

74 Ib. p. 98.

75 Cf. Ib. p. 129. “O movimento litúrgico entrou na Itália com um conteúdo teológico e pastoral muito purificado,

foi reflexo fiel das correntes centro-européias e soube adquirir uma índole própria que produziu uma simbiose

original.” 76

Ib. p. 129.

51

6.4. Romano Guardini (1885-1968)

De romano Guardini se diz: “Não é nem arqueólogo, nem historiador, tampouco

rubricista, mas teólogo-filósofo da liturgia e, ao mesmo tempo mestre de vida spiritual.” 77

Desenvolveu suas reflexões a partir do Mosteiro de Maria Laach na Alemanha. Suas reflexões

em favor da liturgia são mais de cunho filosófico-antropológico.

A posição de Guardini com relação ao movimento litúrgico faz com que o

coloquemos no centro do mesmo movimento, do ponto de vista ideológico, ressaltando sua

importância. Suas reflexões foram muito importantes, pois naquela época os temas por ele

desenvolvidos, como antropologia, questão simbólica, corpo, sentidos, eram vistos como tabu.

Ele se posicionou claramente naquilo que chamou “perigos”, no movimento litúrgico: “o

liturgismo (hoje conhecido com o termo “panliturgismo”), o praticismo e o diletantismo

litúrgico. A esses perigos acrescentou a análise da atitude contrária ao movimento litúrgico: o

conservadorismo.” 78

Na sua tentativa de tornar científica a liturgia, dedicou-se ao movimento

litúrgico de forma mais sistemática. 79

6.5. Maurice Festugière (1870-1950)

Este autor foi como que um solitário na caminhada do movimento litúrgico. Isso

não significa que seu pensamento não tenha sido útil, pelo contrário o movimento ainda não

tinha se deparado com uma reflexão de cunho filosófico da qual ele foi mentor e o fez com

77 Ib. p. 131.

78 Ib. p. 132.

79 Segundo Flores, Guardini apresentou três tarefas que seriam do movimento litúrgico. São elas: 1- “A

formação, uma tarefa do tipo escatológico, isto é, favorecer no ser humano o crescimento da capacidade de

imagem e de visão.” 2- “Tarefa propriamente litúrgica, isto é restituir aos atos litúrgicos sua singularidade, que é

a de ser “forma contemplável” e “ação desinteressada”, na qual se entra atuando.” 3- “Considerar a necessidade

de fazer e de esclarecer ainda mais, segundo o caráter da ciência que estuda a liturgia, ou seja, a situação de um

modelo epistemológico para a mesma liturgia.” Cf. FLORES, Juan J. Op. cit. p. 135. É interessante ver que as

teses de Guardini são típicas de um homem aberto, que viveu no limiar de um tempo de grandes mudanças para a

liturgia e para a Igreja.

52

muita categoria. Seu pensamento não teve continuadores e tampouco precursores, o que fez

com que a liturgia ficasse por muito tempo carente de reflexão filosófica da qual foi mentor.

Certamente, Festugière deve ser considerado mais um filósofo que tentou

reformular o fundamento da liturgia para a fé cristã e que por isso prestou,

embora indiretamente, um serviço precioso à teologia. Nisso, é tão original e

precursor que não teve nem apenas seguidores, nem sequer simples

interlocutores. 80

Mas talvez na biografia de Festugière, uma das passagens mais importantes foi o

embate entre ele o jesuíta Jean Joseph Navatel. Este debate ficou também conhecido como,

controvérsia entre jesuítas e beneditinos. Festugière afirmava que a proposta de Santo Inácio

de Loyola ao fundar a Companhia de Jesus era de um despertar intimista, individualista e

piedoso, fora da liturgia. Isso influenciou a liturgia da Igreja levando a um distanciamento da

sua tradição. Também a liturgia ficou relegada a algo de pouca importância, e pouca prática

comunitária.

O Jesuíta Jean Navatel, por sua vez, tentou responder a Festugière e criticou o

movimento litúrgico dizendo que “os apóstolos do movimento litúrgico tinham a pretensão de

ver na participação no culto litúrgico o grande e único meio com o qual se poderia suscitar

uma renovação católica e religiosa.” 81

Não se pode negar a grande importância de Festugière para o movimento litúrgico

e para a teologia litúrgica e sacramental. Seus escritos, sua reflexão, seu posicionamento

foram de grande importância para os desdobramentos da liturgia no Concílio Vaticano II.

80 Ib. p. 140.

81 Ib. p. 152.

53

6.6. Odo Casel (1886-1948)

A Abadia de Maria Laach foi uma escola de liturgia em que se destacou o grande

teólogo alemão, Odo Casel.

Dom Casel desenvolveu seu conhecimento litúrgico sempre buscando interpretar

fielmente a doutrina cristã. Casel se ocupou incansavelmente a estudar a liturgia como algo

que está além do culto. Ele se perguntava sobre a natureza do culto no cristianismo e como o

culto se realiza na Igreja. Ao estudar as línguas antigas, consciente de que a linguagem não

pode ser estudada fora do contexto cultural, ele voltou-se para o estudo do mistério.

Partindo do fato de que a “Liturgia” cristã é denominada constantemente

mistério, Casel descobre que os componentes essenciais deste termo técnico-

cultual são: 1) A existência de um evento primordial de salvação; 2) que este

evento tornou-se presente num rito; 3) que o homem de todos os tempos,

através do rito realiza a sua universal história da salvação. (...) Por isso Casel

define a liturgia como “a ação ritual da obra salvífica de Cristo, ou seja,

presença, sob o véu de símbolos, da obra divina da redenção.” 82

O culto cristão foi antes de tudo, a atualização real da obra da redenção sob

os véus dos ritos e dos símbolos da liturgia. Os monges de Maria Laach

batizaram esta presença da obra redentora nos atos de culto como nome de

mistério, uma expressão de conteúdo rico e de história gloriosa na tradição

da igreja. Com efeito, quer dizer ação concreta que torna presente uma ação

passada.. 83

Este estudo do mistério e seus desdobramentos foram o eixo da obra de Casel

sendo ele considerado o filólogo da liturgia e de sua teologia. “Para Casel, o mistério de

Cristo alimenta o mistério do culto, para que nós, mediante ele, possamos chegar à realidade

do mistério de Cristo.” 84

82 MARSILI, S. In: NEUNHEUSER, Burkhard. et al. Op. cit. p. 94.

83 FLORES, Juan J. Op. cit. p. 160.

84 Id. p. 202.

54

Através de Casel a Igreja chega à teologia litúrgica. “Inserindo esta como

„mistério cultual‟ no próprio „mistério de Cristo‟, que constitui o ponto de chegada e a

realidade mesma de toda a revelação.” 85

Odo Casel foi um teólogo combativo, um pesquisador da teologia no verdadeiro

sentido da palavra. Sua teologia é ampla e até chegar ao seu objetivo pesquisou muitos temas.

Enfrentou a muitos que combateram sua teologia, mas ele como um pesquisador incansável

mostrava sempre o resultado de suas pesquisas, galgando sempre mais um degrau rumo à

teologia litúrgica.

6.7. Cipriano Vagaggini (1909-1999)

Grande estudioso da teologia litúrgica, Cipriano Vagaggini foi um teólogo

preocupado com a sistematização e metodologia da teologia. Não participou diretamente do

movimento litúrgico, como lembra Flores: “Vagaggini não provém do movimento litúrgico

nem o apoiou. Longe dos interesses e dos temas mais apreciados por esse movimento, diante

do qual se mostrava crítico, foi um típico autor autônomo na liturgia, no âmbito de uma

tradição escolástica e de uma reflexão litúrgica.” 86

No entanto não se pode falar ou trabalhar a ciência litúrgica e o movimento

litúrgico sem a contribuição deste autor. Sua primeira e grande obra: “O sentido teológico da

liturgia” lançada antes do Concílio Vaticano II, foi atualizada por ele próprio após o Concílio.

É nesta obra que aparece, segundo Vagaggini, a fórmula principal da liturgia, que afirma:

“...todo bem vem a nós do Pai, por meio do Filho encarnado, Jesus Cristo, na presença do

85 MARSILI, S. In: NEUNHEUSER, Burkhard. et al. Op. cit. p. 94.

86 FLORES, Juan J. Op. cit. p. 216.

55

Espírito santo em nós. E na presença do Espírito Santo, por meio do Filho encarnado, Jesus

Cristo, tudo retorna ao Pai.” 87

A luta de Vagaggini para unir liturgia e teologia perpassa sua obra. É de se

colocar em ênfase a importância e o método do pensamento de Vagaggini para o estudo da

liturgia, não somente no período do movimento litúrgico, mas também hoje, já que

continuamos no intento de tornar a liturgia sempre mais, fruto de uma elaboração teológica.

6.8. Salvatore Marsili (1910-1983)

Monge beneditino, este italiano é um dos grandes estudiosos da liturgia. Foi um

dos fundadores do Pontifício Instituto de Liturgia de Roma. Como tantos outros autores,

Marsili coloca-se como teólogo entre outros dos quais ele usa as suas reflexões. Neste sentido

Vagaggini e Odo Casel são seus preferidos. Isso não significa que ele concorde com todas as

afirmações desses teólogos. “Foi o único na Itália, antes da Mediator Dei, que apresentou a

liturgia em sua dimensão teológica e um dos primeiros a introduzir, depois do Concílio

Vaticano II, o discurso sobre a relação liturgia-teologia.” 88

Marsili lutou sempre para que a liturgia tivesse uma identidade própria garantida

pela teologia litúrgica. Para ele, segundo Flores,

a liturgia cristã é essencial e existencialmente teologia, porque é sempre

Palavra de Deus, atualizada celebrada e constituída na realidade que o rito

simbólico adquire. A celebração litúrgica revela-se assim um momento

teológico por excelência, enquanto é revelação concretamente recebida e

vivida, partindo da idéia de que a teologia consiste no conhecimento da

Palavra de Deus e que esta se apresenta nos dois momentos de anúncio e de

realização/atualização do mistério de Cristo. Nesse sentido, Marsili

considera que a teologia propriamente dita tem de ser explicada como

87 Cf. VAGAGGINI, Cipriano. Op. cit. p. 191. Esta síntese de Vagaggini está classicamente formulada em língua

latina, que em sua obra é chamada, “A fórmula resumidora a, per, in, ad no Novo Testamento.” 88

FLORES, Juan J. Op. cit. p.247.

56

conhecimento desses dois momentos assumidos historicamente pela Palavra.

89

Sem nenhuma dúvida, Marsili é um dos teólogos mais completos desta fase da

liturgia. Sua obra é ampla, detalhada. Mas como nem tudo é perfeito Marsili tem seus limites

apontados por vários autores. Um deles, talvez o mais destacado, é de que ele não trabalhou

por uma reflexão que dentro da liturgia viesse a ser encarada como objeto de uma ciência

litúrgica. Mas nada pode dissolver o consenso de que este grande autor foi um mestre, e que

sua obra é um marco na caminhada da teologia litúrgica.

7. A Encíclica Mediator Dei - consagração do movimento litúrgico? 90

O Papa Pio XII destaca-se neste momento da história da Igreja e da liturgia com a

encíclica Mediator Dei, publicada no dia 20 de novembro de 1947. “A encíclica, a primeira da

história completamente dedicada ao tema litúrgico, é o documento do magistério mais

importante - no âmbito litúrgico - de todo o período pós-tridentino.” 91

Dada a importância da encíclica Mediator Dei, para a liturgia e para história da

Igreja, ela é considerada um marco histórico. O movimento litúrgico e a própria liturgia

católica em suas reflexões e estudos devem ser vistos, antes e depois da Mediator Dei.

7.1. Contexto histórico-político e características da encíclica Mediator Dei

Após as crises decorrentes do período da segunda guerra mundial, a liturgia não

podia negar o impulso sem volta, dado pelo movimento litúrgico, que já vinha desde muitos

89 Id. p. 249.

90 A interrogação neste subitem quer chamar a atenção do leitor para a realidade das intenções do lançamento da

Mediator Dei. Ao mesmo tempo que consagra os avanços do movimento litúrgico, é clara a intenção de controlar

também estes avanços. 91

FLORES, Juan J. Op. cit. p. 271.

57

anos. A Mediator Dei é, por assim dizer, uma mescla de louvor ao movimento litúrgico e seus

estudos teológico-litúrgicos, mas também uma solene e oficial chamada de atenção para os

avanços que o mesmo movimento produziu no sentido de dizer a todos que a autoridade

eclesiástica estava atenta a tudo que acontecia. 92

Segundo Constantino Koser, através da

encíclica, o papa, em matéria de liturgia não diz nada de novo.

Pela leitura da encíclica, repetida e atenta, há de se perceber que Pio XII em

toda parte se empenha em não dizer ou prescrever coisas novas, mas fazer

ver simplesmente o que já foi proposto como doutrina e prescrito como

preceito em toda esta matéria que é liturgia ou com liturgia interfere. 93

O Papa Pio XII é de uma grande vivacidade quando no texto da encíclica exalta as

novidades dos estudos litúrgicos, aprova-as, sem esquecer em nenhum momento de que a

Igreja e seu magistério estão atentos aos desvios e aos exageros. E com uma linguagem

polidamente política escreve:

Todavia, enquanto pelos salutares frutos que dele derivam, o apostolado

litúrgico nos é de não pequeno conforto, o nosso dever nos impõe seguir

com atenção esta “renovação” na maneira pela qual é concebida por alguns,

e cuidar diligentemente para que as iniciativas não se tornem excessivas nem

insuficientes. 94

Em meio às mudanças suscitadas pelo movimento litúrgico, o papa Pio XII

enfrentava outras mudanças no âmbito da Igreja, quer em questões teológico-litúrgicas, quer

em outras áreas, também no que concerne aos métodos utilizados. Portanto, certo temor de

novidades poderia ser explicado pela conjuntura de então, o que leva o grande teólogo

dominicano Yves Congar a afirmar:

92 KOSER, Frei Constantino. A Encíclica “Mediator Dei” de Pio XII. In: Revista Eclesiástica Brasileira, Vol.

10, Fasc. 3, p. 553-595. Petrópolis: Vozes, 1950. O documento mais completo e bem escrito encontrado nesta

pesquisa sobre o tema, na época. O artigo foi publicado como suporte para o segundo Congresso Brasileiro de

Teologia realizado naquele ano, em São Paulo. O autor faz um detalhado estudo do documento pontifício,

analisando cada item de forma séria, crítica, com acurado rigor científico quando ainda sequer havia sido feita a

tradução do documento para a língua portuguesa. 93

Id. p. 558. 94

Mediator Dei 6. In: Documentos da Igreja - Documentos de Pio XII (1939-1958). São Paulo: Paulus, 1999. p.

291.

58

O grande papa Pio XII não era certamente contrário às mudanças mas queria

conservar um controle estrito delas e deter a iniciativa. Além disso, se ele

realizava, no âmbito interno das realidades católicas, certas aberturas

reformistas (exegese, liturgia), mantinha uma atitude extremamente prudente

nos setores nos quais os católicos pudessem se encontrar com os outros.

Finalmente, no plano teológico, não somente se mostrava atento em manter

um controle rigoroso, mas também sensível à inquietude suscitada por

alguns métodos de pesquisa. 95

O movimento litúrgico fez surgir, principalmente na Europa, reflexões,

experiências novas, estudos teológico-litúrgicos que de certa forma necessitavam de

acompanhamento por parte da autoridade eclesiástica. Portanto assim escreve o papa:

Ora, se de uma parte verificamos com pesar que em algumas regiões o

sentido, o conhecimento e o estudo da liturgia são às vezes escassos ou

quase nulos; de outra, notamos, com muita apreensão, que há algumas

pessoas muito ávidas de novidades e que se afastam do caminho da sã

doutrina e da prudência. Na intenção e desejo de um renovamento litúrgico

esses inserem muitas vezes princípios que, em teoria ou na prática,

comprometem esta santíssima causa e freqüentemente até a contaminam de

erros que atingem a fé católica e a doutrina ascética. 96

Mas numa encíclica de tão grande porte, tanto no volume escrito, como no

conteúdo e também tendo em vista o contexto em que foi escrita, há de se exaltar a coragem e

as disposições de mudança do pontífice, dando continuidade a uma reflexão que iniciara no

início do século XX com Pio X e o movimento litúrgico. A aparente ausência de mudança na

encíclica está permeada do resultado do trabalho incansável de tantos que se dedicaram ao

movimento litúrgico, fato que o papa jamais poderia esquecer ou negar.

Nenhuma doutrina, assim nos parece adquire nova qualificação teológica por

meio deste pronunciamento do Magistério, e nenhum preceito adquire

obrigatoriedade nova, maior ou menor do que já tinha antes. Nenhuma

controvérsia doutrinal fica resolvida que não estivesse já resolvida antes da

encíclica. Apenas Pio XII, com mão de mestre e com esta delicadeza

tradicional do Magistério de não impedir evoluções e não antecipar

95 CONGAR, Y. C. In: FLORES Juan J. Op. cit. p. 285.

96 Mediator Dei 7. Op. cit. p. 291.

59

descobertas, ajunta em toda a parte os pontos realmente assentes e as

posições razoavelmente sustentáveis. 97

7.2. Divisão da encíclica

Considerado um documento longo, a encíclica se desenvolve da seguinte forma:

uma introdução, uma primeira parte: “Natureza, origem, desenvolvimento da liturgia”; Uma

segunda parte: “O culto eucarístico”; uma terceira parte: “O ofício divino e o ano litúrgico”;

uma quarta parte: “Normas práticas pastorais” e um “Epílogo”.

7.3. Conteúdos principais da encíclica e ausências

Na obra “A Celebração na Igreja”, organizada por Dionísio Borobio, os autores

Basurko e Goenaga apresentam os temas mais aperfeiçoados da encíclica e que segundo eles

mostram os conteúdos principais do documento papal. São eles:

a) A teologia da liturgia como culto público integral do corpo místico de

Cristo, da cabeça e dos membros, e como presença privilegiada da mediação

sacerdotal de Cristo-cabeça. b) A espiritualidade da liturgia, a dimensão

interior e profunda do culto da Igreja: “Estão inteiramente equivocados

aqueles que consideram a liturgia como o mero lado exterior e sensível do

culto divino ou como cerimonial decorativo; e não o estão menos aqueles

que pensam ser a liturgia o conjunto de leis e preceitos com que a hierarquia

eclesiástica configura e ordena os ritos”. c) O equilíbrio teológico, não

oportunista entre: panliturgismo e subestimação do culto; piedade objetiva e

subjetiva; comunitarismo e individualismo; celebração e culto da eucaristia;

progressismo e conservadorismo. 98

Da mesma forma, na obra acima citada, os mesmos autores levantam pontos

ausentes e ou passiveis de serem aperfeiçoados.

A ausência do desdobramento adequado da doutrina sobre o sacerdócio dos

fiéis, fundamento da participação litúrgica. Uma teologia por vezes

inacabada, de tendência extrínseca, dos signos simbólicos com que a liturgia

é celebrada. A compreensão parcial do adágio lex orandi, lex credendi, visto

apenas como reflexo da fé da Igreja e não como, ao mesmo tempo,

97 KOSER, Frei Constantino. Op. cit. p. 559.

98 BASURKO e GOENAGA. In: BOROBIO, D. (org). Op. cit. p. 134-135.

60

amadurecimento desta, já que oramos de acordo com a maneira como

cremos e também cremos segundo o modo pelo qual oramos. A apresentação

talvez ambígua do ano litúrgico, no tocante ao seu sentido mistérico e ao seu

sentido moralizador. 99

As ausências sentidas na encíclica mostram antes de tudo, que nada é perfeito, e

também deve se levar em conta o contexto político-eclesial do momento. Mas também se

deve reconhecer o que há de positivo detectando os avanços.

8. O Movimento Litúrgico no Brasil 100

O movimento litúrgico, que se expandiu em vários países europeus, teve

interlocutores também em outros continentes. No Brasil, os ecos do movimento litúrgico

chegaram de maneira muito forte, movimentando e revolucionando a vida litúrgica em muitas

Igrejas particulares pelos mais remotos rincões deste imenso país.

Sem dúvida alguma, o papa estava a par do que acontecia em termos de expansão

do movimento litúrgico em todo o mundo católico. No início da encíclica Mediator Dei, ele

afirma: “não somente em muitas regiões da Europa, mas ainda nas terras além-mar, se

desenvolveu a esse respeito uma louvável e útil emulação.” 101

Segundo José Ariovaldo da

Silva: “O Papa se refere ao movimento litúrgico presente também em países do outro lado do

oceano. Que países são? Não o diz. Contudo podemos afirmar: Pio XII se refere indiretamente

ao Movimento Litúrgico presente também no Brasil como um dos países ultramarinos.” 102

99 Id. p. 135. Os pontos levantados pelos autores são bem fundamentados nesta obra, e na obra de outros autores.

100 Cf. SILVA, José Ariovaldo da. O movimento litúrgico no Brasil – estudo histórico. Petrópolis: Vozes, 1983.

Nenhuma abordagem sobre este tema poderia deixar de citar e consultar esta, que parece ser a maior obra sobre o

assunto no Brasil e que é a tese doutoral do autor. É o que de mais fundamentado existe, mesmo tendo um

caráter histórico, mas o histórico não elimina o conteúdo de fundo que no caso é a teologia litúrgica, a

eclesiologia, a pastoral e a moral que se manifestam na Igreja do Brasil no período abordado. É uma obra

importantíssima e digna de louvor. 101

Mediator Dei 4. In: Op. cit. p. 290. 102

SILVA, José Ariovaldo da. Op. cit. p. 23.

61

8.1. Com que catolicismo e liturgia, fomos iniciados no Brasil

Nosso catolicismo e, consequentemente, nossa liturgia, são herança do

catolicismo europeu medieval. A celebração é marcada pela alegoria das procissões, dos

altares enfeitados, e uma espiritualidade fortemente marcada pela idéia de que os sacramentos

e todos os atos devocionais e litúrgicos eram remédio para os mais variados tipos de

necessidades do povo. Os evangelizadores faziam “verdadeiras „vacinações‟ em massa contra

o pecado e todos os males, aplicando os remédios adequados para cada caso, seja para curar,

seja para prevenir, seja para fortalecer o „sistema imunológico‟ espiritual.” 103

Outra característica do nosso catolicismo e liturgia, nos inícios é o devocionismo

medieval, distanciado quase que totalmente do mistério pascal. Pela falta de assistência

espiritual esses devocionismos iam sendo criados livremente.

A fonte de espiritualidade na Idade Média centrou-se nas devoções

populares, e não na Liturgia como celebração comunitária do mistério

pascal. O povo, na verdade, se alimentava em sua espiritualidade nas

devoções por ele elaboradas, bem como na assistência devota ao espetáculo

clerical da missa e nas “fantasias alegóricas” em torno da mesma. 104

Esta forma de celebrar que já durava quatro séculos marcou profundamente o

povo brasileiro e sua forma de se relacionar com o divino. É neste contexto que se inicia o

movimento litúrgico no Brasil.

103 SILVA, José Ariovaldo da. Avanços e retrocessos no movimento litúrgico no Brasil. In: Revista de Cultura

Teológica, Ano VIII, n. 31. Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. São Paulo: abr/jun

2000. p. 113. 104

Id. p. 113.

62

8.2. Primeira fase do movimento litúrgico no Brasil (1933-1939)

Desde que o movimento litúrgico firmou suas bases na Europa com seus inícios

em 1909, ecos desse movimento chegavam ao Brasil. Em algumas dioceses se podia ver a

pastoral litúrgica fazendo alguma movimentação, o que era uma novidade.

Mas foi precisamente no ano de 1933 que, com forte influência do movimento

litúrgico alemão, tem início o movimento litúrgico no Brasil com o monge beneditino alemão

Dom Martinho Michler, recém chegado ao Brasil, em um curso por ele dado no Rio de

Janeiro no Instituto Católico de Estudos Superiores. Pode-se dizer que este curso era para um

grupo seleto de universitários católicos, ávidos por novidades na liturgia e na espiritualidade,

entre eles o famoso convertido e fervoroso católico, Alceu Amoroso Lima. Ele próprio

descreve como foi o curso:

Desde suas primeiras aulas na Praça 15 foi uma revelação. Tudo o que ele

dizia era rigorosamente católico. Sua pregação era exatamente no sentido de

um perfeito „sentire cum Ecclesia‟. Mas sua palavra abria novos caminhos.

Seus esquemas coloridos no quadro negro nos arrancavam de um

intelectualismo exagerado, para nos lançar no caminho da vida cristã,

realmente vivida como Corpo Místico, pela inteligência e pela ação. Foi uma

aurora para muitos. Foi uma grande luz para todos... 105.

A multiplicação das idéias novas a respeito da liturgia se disseminava por vários

estados do Brasil. O estado de Minas Gerais teve uma acolhida grande ao movimento com

várias cidades acolhendo os cursos e palestras promovidos por seus mentores.

Também merece destaque o fato de a Ação Católica ter encontrado bastante

adesão em Minas Gerais, como também em outros estados do país.

O eixo da renovação litúrgica proposta pelo movimento litúrgico era centralizado

na celebração eucarística mais participada e dialogada.

105 Ib. p. 41.

63

Fazendo um balanço da primeira fase do movimento litúrgico no Brasil José

Ariovaldo da Silva afirma:

... apesar do inesgotável esforço e da inegável intenção de levar a liturgia às

massas populares mais humildes, o Movimento Litúrgico teve sua força

maior e seu maior desenvolvimento no ambiente das elites, nos inícios.

Implantou-se no meio universitário e intelectual, e desenvolveu-se sobretudo

nesse meio. (...) E não faltou mesmo quem chamasse a atenção para o perigo

de “exclusivismo, separatismo e aristocratismo errado.” 106

8.3. Segunda fase do movimento litúrgico no Brasil (1933-1947)

Constatou-se que o catolicismo brasileiro é marcado profundamente pelo estilo

medieval de um povo que gosta das procissões, da dramaticidade e assistir à liturgia como a

um espetáculo, o que leva a um distanciamento do clero com relação ao povo e

consequentemente a uma falta de formação em geral.

O clero monopoliza a liturgia. Só ele sabe a língua da liturgia. A própria

forma de celebrar a liturgia se complicou com um emaranhado sem fim de

gestos e dramatizações incompreensíveis para o povo. O povo, à distância,

apenas assiste ao espetáculo clerical, desconhecido em sua linguagem e

incompreendido em sua forma, monopolizada pelo clero, roubada ao povo. 107

As características do catolicismo popular e os motivos pelos quais estas

características se moldaram foram, de certa forma, ignorados pelos propulsores do movimento

litúrgico no Brasil. Nesta segunda fase o que houve foi uma verdadeira batalha para mudar a

visão e a prática litúrgicas do povo. Queria-se criticar tudo o que era popular e inserir de

forma rápida uma nova mentalidade litúrgica. Neste sentido, José Ariovaldo da Silva cita

como documento emblemático deste período a carta pastoral de D. Mário de Miranda Villas-

Bôas, bispo de Garanhuns - Pernambuco, de 1938. 108

106 Ib. p 74.

107 Ib. p. 111.

108 Um trecho contundente desta carta está inserido nesta dissertação como Anexo 1.

64

A carta se destaca pela sua linguagem corajosa, contundente, pesada e direta,

conclamando os católicos a restaurar a vida litúrgica. De certa forma o teor da carta é pesado

no sentido de condenar os mais variados tipos de vivência popular do catolicismo.

Analisando a carta pastoral citada, José Ariovaldo da Silva afirma:

Esta carta teve ampla aceitação nos meios de Ação Católica pelo Brasil

afora. E esse é um exemplo de como os entusiastas pelo movimento,

entusiasmados pela redescoberta do espírito da liturgia, às vezes se

expressam em relação à religiosidade popular. E aqui podemos já detectar

uma limitação do movimento. Na época não tinham condições ainda de

perceber que a nossa raiz cultural é a do catolicismo popular. Não tinha

condição de tentar uma integração entre a cultura religiosa popular e a

liturgia, como estamos tentando hoje, dentro do processo de inculturação. E

o método de trabalhar as questões na época, era o da apologética. 109

Vale lembrar que a carta pastoral citada, que em princípio foi escrita para uma

Igreja particular, ficou famosa pelo país afora e tornou-se documento importante

principalmente para os membros da Ação Católica.

Mas no seu conteúdo, como afirmado acima, tornou-se também, símbolo de uma

limitação do movimento litúrgico no Brasil. Houve exageros claros e reconhecidos. Como diz

José Ariovaldo da Silva: “Não resta dúvida, houve imprudência e precipitação. Houve falta de

precisão na linguagem. Houve exageros no falar e no agir.” 110

Por outro lado houve acusações pesadas aos defensores do movimento litúrgico

feitas pelos opositores do mesmo. Acusações também pesadas sempre defendendo as práticas

litúrgicas e a teologia do catolicismo tradicional. 111

109 SILVA, José Ariovaldo da. Avanços e retrocessos no movimento litúrgico no Brasil. In: Op. cit. p.122.

110 Id. p. 124.

111 Um texto com essas acusações está inserido nesta dissertação como Anexo 2.

65

8.4. Como o movimento se expandiu no Brasil

O movimento litúrgico na Brasil se espalhou por muitos lugares. Muitas cidades,

desde as grandes capitais como também cidades pequenas, trabalharam muito para a formação

que o movimento propunha.

O que ajudou também na expansão do movimento litúrgico foram as

publicações. Muitos artigos em revistas, (...) foram publicados em torno dos

ideais do movimento. Muitos livros traduzidos do estrangeiro, divulgavam

aqui os ideais do movimento litúrgico. Por exemplo, já em 1938, foi

publicado aqui o célebre livro, Vida Litúrgica, de Lambert Beauduin. Em

1943, foi publicada a famosa obra de Romano Guardini, O espírito da

Liturgia. 112

O ponto alto foi a encíclica Mediator Dei em 1947, com grande repercussão.

Houve grande interesse no estudo e no debate da encíclica.

“A encíclica veio como que botar um pouco „em ordem‟ a casa, pois muitas eram

as controvérsias em torno dos ideais do movimento litúrgico. Foi difícil aceitar que a liturgia

constitui o centro e a fonte primeira da teologia e de toda espiritualidade cristã.” 113

8.5. O divisor de águas

O liturgista José Ariovaldo da Silva, analisando os grupos pró e contra as

propostas do movimento litúrgico que se digladiavam em acusações e defesas calorosas,

coloca a encíclica Mediator Dei como o ponto de chegada e também de partida para analisar o

movimento litúrgico no Brasil.

Os acusadores do movimento litúrgico foram contundentes.

Exageraram com uma terminologia que chega a ser descaridosa, caluniosa e

ofensiva, com métodos pouco corretos, segundo se queixam alguns. (...) Da

112 Ib. p. 118

113 Ib. p. 118-119.

66

parte dos acusados, eles reconhecem que houve erros e imprudência. No

entanto apesar dos deslizes, estão convencidos de que o movimento é bom,

seus frutos são realmente consoladores, e que por isso mesmo é um dever

sagrado defendê-lo. 114

A recepção da encíclica, é claro, não foi unânime. Havia os que a defendiam como

apoio e consagração do movimento litúrgico e os que a viam com olhos legalistas e fizeram

dela um argumento para combater os assim chamados “desvios” dos reformadores.

Houve muitas discussões acaloradas entre grupos, bispos de um lado e de outro, e

até chamadas de atenção de Roma, no sentido de influenciar na formação dos seminaristas, o

que não foi avante. O fato é que tudo concorreu para uma grande mudança.

8.6. Mudança de mentalidade na liturgia

O movimento litúrgico, com suas lutas e enfrentamentos, com suas reflexões e

estudos, provocou uma mudança de mentalidade na liturgia e na Igreja. A pastoral litúrgica e

a ciência litúrgica ganharam fôlego no sentido de que a teologia deveria agora levar em conta

a liturgia. A liturgia passa a ter um sentido teológico.

A liturgia não é mais um discurso sobre o culto cristão, mas, principalmente,

uma celebração mistérica e institucional da Igreja, que é “expressão e

revelação do mistério de Cristo e da autêntica natureza da verdadeira Igreja”

(SC 2). Por isso, a fonte real do estudo teológico da liturgia é a própria

celebração litúrgica. Entre a celebração litúrgica e a teologia (a fé viva de

um crente que busca compreender aquilo em que crê), surge a teologia

litúrgica; essa simbiose situa o pensamento litúrgico em seu contexto

próprio, fora de todo ritualismo frívolo e de toda secularização racionalista.

O liturgista é antes de tudo um mistagogo, alguém que crê no mistério de

Jesus Cristo e o celebra no meio da Igreja, sendo sua reflexão teológica um

fruto da sua atividade celebrante. A teologia litúrgica é a própria celebração

enquanto objeto de reflexão, nascendo esta da experiência daqueles que dela

participam e nela vivem.115

114 Ib. p.125.

115 MALDONADO, L. e FERNÁNDEZ, P. In: BOROBIO, D. (Org.). Op. cit. p. 236.

67

Concluindo este capítulo, fica evidente a característica dialética de todo processo

histórico. Os fatos que marcaram o movimento litúrgico na Europa e no Brasil dão-nos os

elementos para entender o quão difícil foi a renovação da liturgia depois de quatro séculos. A

ciência em geral e especificamente a ciência litúrgica, também estão inseridas neste processo

dialético, sempre produzindo sínteses e avançando.

Foi este processo, desencadeado pelo movimento litúrgico que provocou o

surgimento da ciência litúrgica e com ela o grande ganho para a teologia e para a Igreja.

68

CAPÍTULO III

A SACROSANCTUM CONCILIUM 116

E A NOVIDADE NO RESGATE

E ADAPTAÇÃO DOS TEXTOS EUCOLÓGICOS

Neste capítulo pretendemos apresentar a Constituição Sacrosanctum Concilium.

Mostraremos um pouco de sua história e sua proposta de renovação da liturgia como a grande

novidade de retomada dos textos eucológicos, num processo de volta às fontes. É um capítulo

que propõe um diálogo para avançarmos no processo de uso dos textos eucológicos, de forma

a levar mais em conta as culturas locais, considerando a adaptação já prevista, porém numa

linha de inculturação, sem mudar o conteúdo teológico que a Igreja preserva há séculos. Nesta

linha de reflexão analisaremos os conteúdos da constituição Sacrosanctum Concilium, com o

suporte de cientistas da liturgia e também apresentaremos exemplos de textos litúrgicos

usados em comunidades na Diocese de Goiás.

1. A necessidade de um Concílio

Quando se fala do grande acontecimento do “Concílio Vaticano II”, fala-se de

algo extraordinário no que se refere à eclesiologia, à teologia dogmática, à moral, à vida

religiosa e clerical e principalmente à teologia litúrgica.

Não foi por acaso que a Constituição sobe a liturgia foi o primeiro documento do

concílio. Era uma área que gritava por reformas há muito tempo. E como a liturgia é feita de

doutrina e práxis, a Igreja necessitava urgentemente de algo novo para que o ato de celebrar se

tornasse vivo e fosse atualizado do ponto de vista teológico, antropológico e histórico.

116 Nesta dissertação, é usada também para citar esta constituição, a sigla SC.

69

A necessidade de uma vivência mais atuante do mistério pascal era premente.

Afinal a liturgia estava “congelada” há séculos, e a Igreja viva não suportava mais prestar o

devido louvor ao seu Deus com uma comunicação quase nula.

Por esses e outros motivos, a necessidade de uma mudança era urgente. O que os

estudiosos e historiadores falam é que algo novo tinha que acontecer. A crise econômica e

social pela qual o mundo passava na época, provocou mudanças também na Igreja.

Na constituição apostólica que convoca o Concílio, assinada pelo papa João XXIII

e seus auxiliares em 25 de dezembro de 1961, aparece a expressão “constatações dolorosas”,

como ponto de partida para justificar a necessidade de um concílio. Neste documento o papa

também reconhece o peso das realidades do mundo sobre a Igreja.

A Igreja assiste, hoje, a uma crise que aflige gravemente a sociedade

humana. Enquanto a humanidade está para entrar num tempo novo,

obrigações de gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como

nas épocas mais trágicas de sua história..

117

O que de imediato sobressai da constatação dessa crise que aflige a humanidade é

a sensação de que a Igreja ainda não entrara na modernidade, ou seja, não acompanhara o

progresso do mundo. E no que se refere ao campo moral, o documento acima citado diz que

“a sociedade moderna caracteriza-se por um grande progresso material ao qual não

corresponde igual progresso no campo moral”. 118

É importante frisar que, geralmente, os

problemas eclesiais, partem sempre do campo da moral ou desembocam nele. Os avanços ou

retrocessos sociais e históricos influenciam os costumes, as culturas, e consequentemente

surgem desafios morais para a Igreja.

117 Constituição Apostólica com a qual é convocado o Concílio Vaticano II, In: Documentos do Concílio

Ecumênico Vaticano II (1962-1965), Coleção Documentos da Igreja. São Paulo: Paulus, 1997. p. 9. 118

Id. p. 10.

70

2. Sempre num processo dialético

Em todos os setores da vida e da história humanas, por mais que se avance,

sempre se carregam resquícios do passado. Cada fase da história avança e retrocede. Na Igreja

não é diferente. Por ocasião do encerramento da segunda sessão dos trabalhos do Concílio

Vaticano II, quando foi votado o esquema dos trabalhos da comissão de liturgia, com apenas

quatro votos contrários, o nosso grande Dom Helder Câmara, numa de suas circulares

conciliares, escreve:

A SESSÃO SOLENE DE ENCERRAMENTO foi preparada por Vigília

mais longa, e Missa mais intensa. E nós fomos para a Basílica. Entrada pelo

portão de Bronze, travessia dos Museus (pintura, escultura, arqueologia),

Capela Sistina... Quando saímos em S. Pedro, foi na saída exata da colossal

estátua eqüestre de Constantino...

Quem disse que terminou a era constantiniana? Durante a cerimônia toda -

parecia um pesadelo - quase via e ouvia - o Cavalo de Pedra passar a galope

pela Basílica, carregando o Rei que, coitado, se tornou o triste símbolo de

uma fase que desejamos superar, mas que está ainda vivíssima... 119

É uma alegoria partindo de uma situação real que ilustra muito bem o momento

que a Igreja vivia; seus anseios por mudanças, e também a luta que as mudanças provocam,

com os perigos de coisas velhas sempre resistirem ao novo.

A Igreja é sempre vagarosa nos processos de mudança e evolução em seu interior.

Oficialmente é difícil reconhecer isso. É mais fácil afirmar-se como sujeito ativo nos

processos da história recente, ou seja, a evolução dos povos, a evolução da ciência, as

revoluções sociais, tanto no campo econômico, como nos processos de subjetivação, que no

geral eram vistos como materialistas e que levavam à negação da fé.

119 CAMARA, Dom Helder. Coleção Obras completas. Circulares conciliares. Org. Luiz Carlos Luz Marques e

Roberto de Araújo Faria. Vol. I - Tomo I, Recife: CEPE Editora, 2009. 2 v. em 3. p. 364. Esta obra monumental

mostra a atuação de Dom Helder no Concílio Vaticano II através de cartas endereçadas a seus amigos e amigas.

Mesmo sem nunca ter falado nas reuniões oficiais, do concílio, ele foi de uma articulação impressionante. Suas

circulares são como que um diário de sua atuação no concílio e de tudo o que acontecia, oficialmente ou não,

entre os participantes. Obra digna de apreciação e conhecimento, de uma riqueza impressionante.

71

3. Do rubricismo à teologia

O rubricismo na liturgia é um conceito criado para tornar válidos ou não, os atos

litúrgicos em sua forma e em sua teologia, que surgiu na Igreja no século XIV, e ganhou força

no século XVI, com o concílio de Trento, perdurando por aproximadamente quatro séculos. O

rubricismo se desenvolveu de tal forma que para um sacerdote ou um fiel, tornava-se muito

complexa a observância de tantas regras, e sua infração era passível de ser qualificada como

falta grave ou pecado. Ora, quando as rubricas são demasiadamente valorizadas, a essência

teológica fica em segundo plano.

O Concílio Vaticano II deu um salto qualitativo, no sentido de superar a visão de

uma liturgia estática, rubricista e jurisdicista.

Era preciso sair da visão “estático-jurídica” que parecia ser o caráter próprio

e típico da Liturgia, no sentido de que o valor desta consistia todo em “ser

feita”, isto é, em ser um rito externamente realizado segundo as normas das

leis rubricais e como manda o cerimonial. Com efeito, a rubrica abonava, em

grande parte, a “validade” do rito, e a cerimônia garantia o “espetáculo

sagrado” necessário para a edificação espiritual dos que a ela assistiam.120

Fruto dos avanços do movimento litúrgico, a teologia litúrgica ganhou corpo e se

oficializou na Igreja. De uma liturgia que era extremamente amarrada ao excesso de rubricas,

que mais se preocupava com os detalhes dos gestos, passou-se a valorizar cada rito, cada

texto, a partir do seu significado teológico. Era necessária uma teologia litúrgica para melhor

celebrar o Deus que deve ser conhecido e louvado.

120 MARSILI, S. In: NEUNHEUSER, Burkhard. et al, Op. cit. p. 106.

72

4. Eucologia e rito

Quando se fala da reforma litúrgica do concilio Vaticano II, da tradução dos

textos e também quando se fala dos ritos, de sua realização que se dá na liturgia, passa-se uma

idéia de que os ritos são desvinculados da linguagem oral, que por sua vez, no caso dos textos

eucológicos, está escrita. Ora, os textos da eucologia da Igreja existem para dar vida ao rito,

no sentido de expressar em palavras o que o rito quer transmitir. É preciso cuidar muito para

que a liturgia seja um conjunto, em que suas partes se integrem, de forma a não prejudicar o

objetivo a que se propõe.

O Concílio Vaticano II em sua constituição sobre a liturgia colocou como eixo da

vida litúrgica da Igreja, o Mistério Pascal de Jesus e sua realização na liturgia. Todo ato

litúrgico parte dele e chega ao Pai através dele, neste diálogo ininterrupto entre Deus e o ser

humano.

5. Liturgia e Sagrada Escritura na SC

A relação estreita entre Liturgia e Sagrada Escritura acontece naturalmente como

duas partes que estão intimamente ligadas. Como a Palavra é uma fonte inesgotável da

revelação de Deus, ela é pilar na realização da liturgia. Neste sentido o que herdamos da

tradição da sinagoga judaica do Antigo Testamento tem influência direta na liturgia atual. A

liturgia nos ajuda a proclamar as maravilhas das realizações de Deus na história e, por isso,

ela não pode prescindir da Palavra de Deus. “Portanto, assim como a Sagrada Escritura, em

73

todas as suas épocas, é sempre „anúncio‟ da salvação, assim também a liturgia, em todos os

seus momentos, é sempre „confirmação‟ dela, no plano ritual.” 121

A partir da SC 7 e 33, se faz necessário valorizar a Palavra de Deus na liturgia,

seja nos momentos rituais, seja na elaboração dos textos eucológicos, tendo em vista a liturgia

como momento anunciador, para que os crentes sejam cada vez mais conscientes de

... que a liturgia é sempre - e em sentido forte - “revelação em ato” enquanto

constitui o momento em que a “Palavra se faz carne e habita entre nós” (Jo

1,14). Com efeito, sendo a Liturgia cristã “presença real e ativa” de Cristo,

ela nos manifesta nele o AT, não só dando-nos a visão da glória do Senhor

Jesus, mas realmente nos transforma com a força do Espírito na Imagem

dele, fazendo-nos passar para uma compreensão cada vez mais clara dele (cf.

2Cor 3,14-18). 122

Assim a Palavra de Deus é cada vez mais valorizada naquilo que ela é: fonte

inesgotável da revelação de Deus e, portanto, ponto de partida para a liturgia.

6. Para uma adaptação inculturada na Sacrosanctum Concilium

No capítulo III da SC, sobre a tradução dos textos da liturgia, o principal objetivo

a ser levado em conta é sempre a participação consciente e ativa, um dos principais itens da

novidade do concílio, já que antes a liturgia era para ser assistida e havia pouquíssima

participação da assembléia litúrgica. “A principal razão para traduzir os textos litúrgicos é

fomentar a participação inteligente e ativa. Até que ponto os textos traduzidos conseguem

realizar isto?” 123

121 Id. p. 124.

122 Ib. p. 124.

123 CHUPUNGCO, Anscar J. Liturgias do futuro. Processos e métodos de inculturação. São Paulo: Ed. Paulinas,

1992. p. 55. Este autor, que é filipino, da Ordem de São Bento, trabalha de forma brilhante o tema da

inculturação litúrgica.

74

Para tratar o assunto da adaptação dos textos eucológicos, necessariamente

entraremos na matéria sobre inculturação que é um passo mais profundo do que a adaptação

propriamente dita, embora no caso específico desta dissertação, parece ser melhor usar a

palavra adaptação, talvez pela forma como a usamos no Brasil, e também porque a adaptação

é o primeiro passo rumo à inculturação. 124

A liturgia, historicamente já passou por muitos processos de adaptação e

inculturação, desde os inícios, quando o cristianismo surge como um movimento dentro do

judaísmo, passando pelas várias fases da história do cristianismo e como ele teve que se

adaptar às várias culturas. Estas adaptações incluem aspectos políticos, sociais e culturais.125

“A adaptação litúrgica é problema complexo. Ela envolve a teologia, as fontes cristãs, a

história, as legislações litúrgicas, e a cultura”. 126

A aculturação é um passo importante no processo de inculturação. Trata-se de um

respeito que deve haver entre as partes.

Nunca é questão de adotar um método com a exclusão dos outros. Até

mesmo hoje o método de aculturação, que é encarado às vezes como nada

mais do que uma justaposição externa de duas ou mais culturas, pode

demonstrar ser útil no estabelecimento do contato preliminar entre a liturgia

cristã e a cultura. A aculturação opera de acordo com a dinâmica da

interação cultural. Trata-se de um encontro inicial, uma espécie de encontro

de „apresentação‟ entre duas pessoas estranhas, cada uma das quais tem

interesses para proteger. Esta fase é exemplificada pelo contato inicial entre

a forma cristã primitiva do culto e a cultura greco-romana.127

124 Cf. SOUZA, Joaquim Fonseca de. Música litúrgica e inculturação: análise teológico-litúrgica da música

litúrgica inculturada no nordeste brasileiro através de constâncias modais, verificadas no repertório litúrgico

do tríduo pascal do compositor Geraldo Leite Bastos. Dissertação (Mestrado em Teologia) Pontifícia Faculdade

de Teologia Nossa Senhora da Assunção. São Paulo: 2008. Em sua dissertação no capítulo II, o autor se dedica a

este tema, com muita propriedade e nos ajuda bastante a entender esse assunto tão relevante. 125

CHUPUNGCO, Anscar J. Adaptação. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p.1-12. O citado

verbete nos dá um panorama histórico da adaptação na Igreja, de forma concisa e completa. 126

Id. p. 11. 127

CHUPUNGCO, Anscar J. Op. cit. p. 34. O autor traz também exemplos de processos em que a aculturação

aconteceu na liturgia romana.

75

Como a nossa matéria é voltada para os textos litúrgicos e sua adaptação pelo

Concílio Vaticano II, abordaremos o que a Sacrosanctum Concilium discorre sobre o assunto,

analisando este material. É claro que o documento fala de adaptação no sentido geral da

liturgia. A palavra adaptação, que é bastante usada no documento conciliar parece ser mais

interessante em nossa matéria.

No contexto dos povos do terceiro mundo, surge com muita força a palavra

“inculturação”, que é considerada uma palavra nova, como que um prolongamento da palavra

adaptação, que nos é mais familiar. Na SC podemos chamar inculturação ao que o documento

chama “adaptações mais profundas,” no número 40. “Enquanto SC 38 e 39 prevê que seja o

rito a adaptar-se aos grupos particulares, SC 40 considera a possibilidade de admitir

elementos culturais no rito romano.” 128

Não podemos esquecer o estilo próprio da liturgia romana oficializada nos séculos

IV ao VII, quando foram elaborados os textos clássicos. Tem uma característica sóbria, direta;

acena mais para o lado intelectual da pessoa sem muitos rodeios e sem apelações ao

emocional. Isso era cultural. Estava visceralmente colocado na cultura daqueles povos que

foram dominados pela cultura romana.

O movimento litúrgico, que é tema do capítulo II desta dissertação, e que prepara

a reforma litúrgica do Vaticano II, trabalhou para que estas características fossem

preservadas. A grande prova da manutenção dessas características está na SC 34 quando diz:

“As cerimônias resplandeçam de nobre simplicidade, sejam claras na brevidade e evitem as

repetições inúteis; devem adaptar-se à capacidade de compreensão dos fiéis e não precisar, em

geral, de muitas explicações.”

128 CHUPUNGCO, Anscar J. Adaptação. In: SARTORE, D. e TRIACCA, A. (org.) Op. cit. p. 9.

76

De certa forma pode-se dizer que os textos da liturgia na maioria dos países foram

traduzidos com o rigor das leis da Igreja para tal, mas as adaptações foram poucas.

6.1. Sobre a língua latina e o vernáculo na liturgia - SC 36

Quando nos tempos atuais vemos alguns fiéis e pastores da Igreja, com gosto para

celebrar em língua latina, ficamos atônitos. Embora seja difícil aceitar iniciativas desse tipo,

muitas vezes não atinamos que o latim nunca deixou de ser a língua oficial da Igreja. Parece

assustar, e as perguntas naturalmente vêm. Mas, o grande avanço do Concílio não foi a

mudança para o vernáculo? Sim, e isso está clara e sucintamente expresso na SC 36, parágrafo

1: “Salvo o direito particular, seja conservado o uso da língua latina nos ritos latinos.” Graças

a este “direito particular” garantido, e com todas as normas que o Concílio exige para se

traduzir os textos litúrgicos, é que podemos celebrar em nossa língua mãe. Celebrar em língua

vernácula foi, inegavelmente, uma das grandes novidades do Concílio. Neste ponto

importante das mudanças acontecidas na liturgia, constatamos que foi a partir de detalhes

pequenos do texto conciliar que surgiram as grandes mudanças.

A tradução de textos na liturgia, a adaptação de textos, que deve ser algo que

mostre o que cada palavra quer dizer à cultura que a lê ou ouve, tem sua primeira razão de ser

no âmbito da participação plena, consciente, ativa, frutuosa e piedosa, que o concílio faz

questão de destacar. 129

O que não é difícil detectar é que todos os resultados da SC foram conseguidos

através de muitas lutas, de muitas negociações, porque os ventos contrários também eram

muito fortes. Então o que parece ser um pequeno detalhe do texto foi o que trouxe grandes

129 Cf. COSTA, Valeriano dos Santos. Op. cit. p. 35-42. Nesta obra o autor desenvolve uma boa reflexão sobre

estes cinco adjetivos mencionados na SC, no capítulo que ele intitula: “Qualificações da participação litúrgica na

Sacrosanctum Concilium”.

77

mudanças e que também nos possibilita ainda hoje, baseados no que a lei abre para a

flexibilizar, adaptar e inculturar cada vez mais a nossa liturgia.

6.2. Adaptar a liturgia às culturas - SC 37-40

Quando se fala de adaptação da liturgia, com tudo o que o termo „adaptação‟

carrega de complexidade, necessidade de diálogo e abertura, na SC está resumido nos

números de 37 a 40. Ao desenvolver um panegírico sobre esse trecho da constituição

conciliar, Chupungco escreve:

SC 37-40 é a carta magna da flexibilidade e do pluralismo litúrgicos na

igreja ocidental. Com sucesso ela combinou a tradição litúrgica com a

abertura ao progresso litúrgico. Podemos dizer que ela resume a reforma

litúrgica do Vaticano II. Ela é a carta magna cuja amplitude de visão alarga

os horizontes da Igreja como comunidade universal e defende com firmeza o

direito das liturgias locais de existirem. SC 37-40 expressa o reconhecimento

da Igreja de sua própria estrutura pluralista, de seu ser romana em tradição e

internacional em expressão, de sua unidade doutrinal na diversidade cultural. 130

A simplicidade e a sobriedade da liturgia romana, segundo Chupungco, não

podem ser valor para todos os povos. Algumas culturas podem não concordar que essas

características da liturgia romana sejam adequadas à sua forma de exaltar a Deus, e achar que

seria uma pobreza ou miséria ritual.

De qualquer maneira, quando uma igreja local afirma possuir identidade

cultural suficientemente distinta da identidade da liturgia romana clássica, a

questão da adaptação precisa ser abordada. A recusa em adaptar-se poderia

representar rejeição do progresso legítimo. 131

Isso mostra o quanto a questão da adaptação é complexa e merece ser tratada com

carinho, levando em conta as culturas locais e a forma como cada cultura se coloca diante do

que é supremo. Este tema da simplicidade e sobriedade que caracterizam a liturgia romana,

130 CHUPUNGCO, Anscar J. Op. cit. p. 16.

131 Id. p. 17

78

mostra que essas características podem denotar fragilidade quando o assunto é adaptação e

inculturação, justamente por não contemplar com a força que mereceria, a visão que algumas

culturas têm de um Deus .

6.3. Criatividade textual e unidade substancial

Todo o tema da criatividade litúrgica, que é também criatividade textual, passa

pelo que no documento conciliar se concentra na preocupação com a preservação da

integridade substancial do rito romano, como está expresso na SC 38. As normas

estabelecidas pela Igreja para que as publicações sejam realizadas sempre devem ser fiéis à

edição típica dos livros litúrgicos. Embora pareça ser algo muito fechado, Chupungco nos

ajuda a ver neste processo de adaptação dos textos, possibilidades de flexibilização:

A Santa Sé propõe às conferências episcopais que façam em tais livros as

mudanças que elas estão livres para introduzir nos rituais particulares. As

mudanças adotadas pelas conferências são confirmadas pela santa Sé e

depois inseridas nos rituais locais como traços especiais. Mudanças desse

tipo não alteram a unidade substancial do rito romano. Elas simplesmente

mostram que no esquema dessa unidade há espaço para a flexibilidade. 132

Os textos eucológicos romanos passaram da liberdade para a formalização. Mas

isso não significa que a criatividade textual não exista mais. Essa criatividade que muitas

vezes brota de uma espontaneidade, não significa uma improvisação irresponsável, mas sim

uma abertura para o novo e sua riqueza.

A criatividade textual significa que novos modelos de formulários são

elaborados de acordo com o padrão linguístico e os traços retóricos do povo.

O conteúdo teológico não será fornecido exclusivamente pelo formulário

romano, mas pode ser extraído de outras tradições eucológicas ou inspirar-se

nas conclusões da teologia litúrgica contemporânea. 133

132 Ib. p. 15. O grifo é nosso.

133 Ib. p. 44.

79

O texto acima nos ajuda a ver no processo de criação de textos, um olhar para o

novo de cada grupo cultural, e que eles têm algo a oferecer sempre à liturgia e à teologia.

6.4. Os perigos da não criatividade litúrgica

Muitas vezes o que se constata atualmente na Igreja, são liturgias pouco

participativas, frias, e sem criatividade. Esta realidade que envolve a participação da

assembléia, envolve também a participação do ministro. Há certa apatia ou pouco interesse

dos ministros no que se refere à criatividade e adaptação. Parece ser mais cômodo não

adaptar, mesmo porque não ferir a unidade substancial exige estudo e atualização teológica e

litúrgica, e isso se torna pesado para alguns.

A dinamicidade da vida, do mundo e da natureza exige que tudo seja dinâmico. Se

a criatividade litúrgica não acontece, corre-se o risco de entrarmos num ostracismo, e a

consequência disso seria um isolamento, ameaçador de qualquer vivacidade.

Chupungco nos lembra que, usando o bom senso, mesmo a Igreja proibindo

qualquer pessoa de mudar o que está estabelecido ( SC 22, § 3), isso não exclui mas incentiva

a criatividade do ministro. Essas adaptações já estão previstas nos livros litúrgicos com as

chamadas “adaptações feitas pelo ministro”. O Vaticano II retoma certa liberdade. 134

A reforma do Vaticano II reintroduziu boa dose de liberdade na liturgia, mas

compete ao ministro fazer bom uso dela. A regra de ouro é a de que o

ministro deveria ter aguçada percepção do que as normas litúrgicas

permitem e profunda compreensão da situação pastoral ou, em outras

palavras, sólido juízo prático. 135

Cabe a todos: ministros ordenados, ministros não ordenados, agentes de pastoral e

todos os batizados e batizadas que são a Igreja, contribuir para que a criatividade aconteça.

134 Cf. Ib. p. 29-30.

135 Ib. p. 30.

80

7. Exemplos de inculturação litúrgica

Tomando os exemplos de inculturação na liturgia, constata-se que os grupos

culturais de países que propuseram e propõem inculturação da liturgia romana em suas

culturas, são grupos marcados por forte identidade cultural.

Anscar Chupungco apresenta três exemplos de proposta de inculturação. O rito

indiano, o rito zairense e o rito filipino. Os dois primeiros, aprovados, o terceiro ainda não

aprovado. 136

A partir desses exemplos fica claro o quanto é difícil processos como esses, pela

força que o rito romano adquiriu e como ele se impõe. Mesmo em países onde o rito foi

aprovado pela Igreja, muitas vezes o rito romano suplanta o rito alternativo, já que mesmo

sendo aprovado um novo rito, o rito romano não é extinto naquele ambiente.

8. Liturgia na América Latina 137

Na América Latina, como também em outras regiões marcadas pela opressão

política e econômica, desenvolveu-se uma reflexão teológica com matizes próprios, que

resultou também numa forma própria de celebrar. Sobretudo com as conferências de Medellin

e Puebla, a Igreja latinoamericana assumiu rosto próprio, a partir da realidade de pobreza e

opressão do continente.

Desse jeito próprio de vivenciar a fé, a liturgia na América Latina ganha feições

próprias. Não podemos dizer que houve uma inculturação da liturgia romana na América

136 Cf. Ib. p. 95-105. O autor discorre sobre o processo de criação desses ritos, os aspectos das culturas

envolvidas que foram incluídos nos ritos, e como eles foram acolhidos mais ou menos pelas comunidades. 137

Cf. SOUZA, Joaquim Fonseca de. Op. cit. p. 52-60. Sobre a inculturação da liturgia na América Latina e

Brasil.

81

Latina, profundamente marcada por características do catolicismo medieval europeu, mas

podemos constatar que houve e continua havendo, tentativas de adaptação litúrgica bem

sucedidas.

9. A caminhada litúrgico-popular no Brasil

Pelos mais diversos lugares deste imenso Brasil, a maneira de celebrar a fé

também é diversa, pela característica rural ou urbana, pela condição social, pela marca mais

tradicional de algumas regiões e também pelos processos de adaptação e inserção pelos quais

passaram, passam e passarão muitas igrejas particulares.

Tendo como base a forma como o catolicismo se firmou no Brasil, tema mostrado

no Capítulo II desta dissertação, nossas comunidades são marcadas pelos resquícios da Igreja

medieval, com suas procissões, litanias, a alegoria dos enfeites e uma espiritualidade

fortemente marcada por devocionismos arraigados.

Quer concordemos ou não com essas características, elas estão presentes no dia a

dia das nossas comunidades. E a liturgia deve levar em conta tudo isso para não cometer erros

de caridade pastoral e de método de adaptação. Neste sentido há uma riqueza imensurável de

elementos litúrgicos pelos quatro cantos do país, que merece ser respeitada em qualquer

método autêntico de adaptação numa linha de inculturação.

9.1. Exemplos de adaptação litúrgica no Brasil

No caso da adaptação que é um estágio anterior à inculturação, temos no Brasil

muitos exemplos, tanto a partir da criatividade de ministros, como também exemplos de

Igrejas particulares que valorizam a cultura do lugar, e também confiam na competência de

82

pessoas dedicadas à liturgia: teólogos, músicos, compositores, homens e mulheres

empenhados na criatividade e na adaptação litúrgicas.

Muitas comunidades também levam em conta na sua ação litúrgica as culturas e

ações pastorais mais marcantes. Grupos de maioria afro-descendente, grupos de mulheres,

grupos de jovens, pastoral da criança, pastoral da saúde, pastoral da terra e outros tantos.

Quanto mais a identidade do grupo é definida e clara, mais oportunidade este grupo tem para

realizar uma ação litúrgica rica de simbologia em que a liturgia pode e deve ser adaptada.

9.2. Exemplos de textos eucológicos adaptados no Brasil

No âmbito da Liturgia das Horas temos no Brasil o Ofício Divino das

comunidades, que foi publicado em sua primeira edição no ano de 1988. Fruto do trabalho de

um grupo de liturgistas, compositores, músicos, com a proposta de levar a riqueza do Ofício

divino aos grupos populares de forma mais simples e cantada, com melodias simples, tiradas

das tradições das várias regiões do país. Este exemplo de adaptação litúrgica foi muito bem

sucedido, merecendo inclusive estudo científico em dissertação de mestrado sobre ele. 138

No âmbito da celebração eucarística temos os hinários litúrgicos da Conferencia

Nacional dos Bispos do Brasil, um material riquíssimo para ajudar a incrementar as

celebrações eucarísticas, com várias partes da missa cantadas, inclusive partes das orações

eucarísticas, o que não deixa de ser uma novidade e um incentivo para celebrar o ano

litúrgico.139

138 Cf. CARPANEDO, Maria da Penha. Ofício das comunidades: liturgia das horas incultas. Dissertação

(Mestrado em Teologia) Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. São Paulo: 2002. 139

Cf. CNBB, Hinário Litúrgico. São quatro fascículos citados na bibliografia desta dissertação. Um para cada

tempo litúrgico: Advento e Natal; Quaresma, Semana Santa, Páscoa e Pentecostes; Domingos do Tempo

Comum; Sacramentos, Comum dos Santos e Missas para diversas necessidades.

83

No âmbito da celebração da palavra de Deus, a Igreja no Brasil tem incentivado

bastante que ela aconteça, porque os ministros ordenados são poucos e não atendem a muitas

comunidades. O documento da CNBB 140, intitulado, “Orientações para a celebração da

Palavra de Deus,” com as regras que orientam estas celebrações, ajuda a realizá-las bem.141

É claro que a CNBB, algumas dioceses e grupos estudiosos da liturgia que se

empenham na elaboração desse material, colocam-no como proposta, alargando as possibilidades

de celebrar melhor com textos alternativos e adaptados. São exemplos de propostas de

flexibilidade e de adaptação na forma de celebrar a liturgia.

9.3. Duas propostas que merecem ser conhecidas 142

Como está previsto nos objetivos deste trabalho dissertativo, ele pretende trazer

para o espaço acadêmico, exemplares de textos litúrgicos adaptados e adaptáveis, a partir do

momento em que se tornam conhecidos e aceitos palas igrejas particulares.

Como primeiro exemplo, apresentamos o texto de um prefácio e oração

eucarística, composto na Diocese de Goiás em 1996. Um dos aspectos interessantes desse

texto é que ele foi composto em mutirão. Autoria do leigo, músico e compositor, Fernando

Cupertino; com coautoria de um bispo, Dom Tomás Balduíno; e um sacerdote, Frei

Domingos dos Santos. O fato de ter sido construído em equipe dá ao texto uma credibilidade

e uma autoridade ainda maior. Textos como esse são usados por alguns ministros nas

comunidades da Diocese de Goiás. Dom Tomás Balduíno também os usa. Oxalá sejam

adotados como textos adaptados.

140 A sigla CNBB, nesta dissertação, significa: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

141 Cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL Orientações para a celebração da palavra de

Deus. 32ª assembléia geral. São Paulo: Paulinas, 1994. 142

Os dois textos apresentados aqui foram autorizados pelos respectivos autores.

84

Como segundo exemplo, trazemos o texto de uma Louvação de Natal, - que na

linguagem de uma liturgia mais popular é sinônimo de Prefácio, - e um Santo, compostos por

Frei Domingos dos Santos, na diocese de Goiás. A seguir apresentamos uma breve biografia

dos autores. 143

9.3.1. Biografia de Fernando Cupertino

Fernando Passos Cupertino de Barros nasceu em Goiânia, capital do estado de

Goiás, em 1959. Seus estudos de música e canto começaram na Cidade de Goiás, antiga

capital do estado de Goiás, onde teve como principal professora a regente do Coro da Catedral

de Sant'Ana, Darcília de Amorim. Essa estreita convivência, somada ao ambiente familiar

muito musical, deu-lhe o gosto pela música sacra, levando-o a escrever intensamente, no

início, música para uso litúrgico (missas, motetes, cânticos para os diferentes tempos do ano

litúrgico, etc).

Durante o curso de Medicina, nos anos 70, frequentou o Instituto de Artes da UFG

- Universidade Federal de Goiás, como aluno não regular, onde aprofundou os conhecimentos

de Harmonia e Contraponto com o professor Oscarlino Pereira da Rocha.

De 1984 a 1998 atuou ativamente como organista da Catedral de Sant'Ana, na

antiga capital goiana, onde ainda hoje colabora por ocasião das principais festas litúrgicas.

A partir de 2002, com o forte estímulo das professoras Belkiss S. Carneiro de

Mendonça e Consuelo Quireze, passa a se dedicar mais intensamente à escrita para piano e

música de câmara.

143 Os dados biográficos dos autores a seguir foram fornecidos por eles próprios.

85

Desde 2003, com a pianista Consuelo Quireze, forma um duo que se dedica

especialmente à divulgação da canção de câmara brasileira. Desde então, o duo tem se

apresentado em diversas salas de concerto no Brasil e no exterior, tais como, no Centro de

Música Brasileira, em São Paulo (2005 e 2006), na Embaixada do Canadá no Brasil (2006),

na Embaixada do Brasil na França (2005), na Maison Trestler e na Maison des Jeunesses

Musicales du Canadá, em Montreal (2007). Em 2008, a convite da Missão Brasileira junto à

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o duo apresentou-se em diferentes salas de

concerto em Portugal, incluindo a Fundação Gulbenkian, o Palácio Foz e o Mosteiro de

Alcobaça.

Ainda em 2004, lançou três CDs que reúnem um representativo número de suas

obras em diversos gêneros e para diferentes formações.

No mesmo ano, recebeu do Conselho de Cultura do Estado de Goiás a Medalha

do Mérito Cultural na categoria "Composição Musical".

Em 2005, o compositor e professor Osvaldo Lacerda (São Paulo) o aceita como

aluno de composição e, rapidamente, ele se torna um de seus discípulos mais afeiçoados.

Em 2009 concluiu seu Mestrado em Música, pela Universidade Federal de Goiás,

sob a orientação do prof. Dr. Ângelo Dias, com o tema "As canções de Osvaldo Lacerda com

textos de Manuel Bandeira".144

Em 2010, compôs, por encomenda, a Missa Jubilar para coro, solistas e orquestra,

em comemoração ao cinquentenário da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. No mesmo

144 Cf. BARROS, Fernando P. Cupertino de. As canções de Osvaldo Lacerda com textos de Manoel Bandeira.

Dissertação (Mestrado em Música) Universidade Federal de Goiás. Escola de Música e Artes Cênicas. Goiânia:

2009. Este trabalho ilustra a formação do autor, como músico e compositor.

86

ano, escreveu a Missa Festiva em homenagem ao Jubileu de Ouro da Faculdade de Medicina

da Universidade Federal de Goiás. Ambas tiveram sua primeira audição em Goiânia, sob a

direção do maestro Eliseu Ferreira.

Em 2011, foi nomeado conselheiro titular do Conselho de Cultura do Estado de

Goiás. É professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.

9.3.2. Biografia de Dom Frei Tomás Balduíno, OP

Frade dominicano, bispo emérito da Diocese de Goiás. Nasceu na cidade de

Posse, estado de Goiás, em 31 de dezembro de 1922. Teve sua formação inicial dominicana

no Brasil. Fez seus estudos de teologia no convento dominicano de Saint Maximin, na França.

É pós-graduado em Antropologia e Linguística pela Universidade de Brasília.

Em 1966 foi prelado coadjutor da Prelazia de Conceição do Araguaia no Pará.

Eleito bispo, esteve à frente da diocese de Goiás de 1967 a 1998, quando se tornou emérito. É

co-fundador do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, do qual também foi presidente. É

um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra.

D. Tomás é sempre um incansável na luta pelos direitos humanos, principalmente

dos pobres, lavradores e indígenas. Sua luta lhe rendeu vários prêmios nacionais e

internacionais. Tem um gosto apurado pela música e pela liturgia. Possuidor de bela voz, suas

liturgias são marcadas pelo bom gosto e por iniciativas de adaptação litúrgica. Sempre

procura realizar liturgias levando em conta as culturas populares.

D. Tomás segue em plena atividade intelectual e pastoral, e atualmente reside no

Convento São Judas Tadeu, dos Frades Dominicanos em Goiânia.

87

9.3.3. Biografia de Frei Domingos dos Santos, OP

Frade dominicano, sacerdote, nasceu em Salto Grande, estado de São Paulo, no

dia 04 de agosto de 1940. Fez sua formação inicial na Ordem Dominicana, em Santa Cruz do

Rio Pardo, estado de São Paulo, e em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, onde fez o

noviciado. Cursou filosofia no convento das Perdizes, em São Paulo, capital, e Teologia em

Bolonha na Itália.

Trabalhou na comissão Pastoral da Terra. Sua ação pastoral tem sido há muitos

anos na diocese de Goiás, junto aos lavradores, em acampamentos e assentamentos rurais.

Frei Domingos é compositor de músicas para encontros de pastoral, músicas

litúrgicas e de espiritualidade, e já lançou 2 CDs. Algumas de suas composições são

conhecidas em todo o país. Participou também da equipe que elaborou o Oficio Divino das

Comunidades.

9.4. Análise do texto de Fernando Cupertino, Dom Tomás e Frei Domingos. 145

Passemos a uma análise do texto, “Oração Eucarística da Vigília Pascal.”

Analisaremos do ponto de vista da linguagem, da teologia, do estilo, tentando mostrar que é

um texto adaptado e fiel ao que a liturgia da Igreja propõe. Destacaremos o trecho analisado.

“ - O Senhor esteja com vocês...

- Corações ao alto...

- Demos graças ao Senhor Nosso Deus... ”

145 O texto completo e a respectiva melodia estão dispostos nesta dissertação como Anexos 3 e 4.

88

A introdução inova com o uso da forma pronominal menos formal, mais usada no

cotidiano brasileiro, “com vocês”. Embora sabendo que a liturgia oficial optou pela forma,

“convosco,” esta não é uma forma pronominal usada no dia a dia, na linguagem usual. O

pronome “vocês”, parece ser mais acessível e aproximar mais os interlocutores.

“Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!”

Este refrão que funciona como resposta da assembléia a cada parte da Oração

Eucarística, torna-se um mantra que perpassa todo o texto após cada duas estrofes. É um

louvor, bendizendo a Deus pela ressurreição de Jesus, já que é uma oração para a Vigília

Pascal. Nas adaptações previstas a serem feitas pelos ministros na celebração, este refrão

poderia ser cantado também em outras partes da celebração, até porque a melodia ajuda na

contemplação e no louvor.

“Ó Pai santo tão querido,

Aqui vimos te agradecer,

Pelo Cristo nosso Senhor.

Filho do teu bem querer.”

Destaca-se nesse trecho a linguagem íntima, carinhosa e filial das filhas e dos

filhos que se dirigem ao Pai Santo, “tão querido” pelos seus, e traz a figura do filho de Deus

em quem o Pai concentra o seu “bem querer”.

“Nesta noite memorável,

Em que Cristo ressurgiu,

Te louvamos com alegria,

O cordeiro nos remiu.”

89

O louvor continua, já que esta parte da oração corresponde ao prefácio. A

assembléia reunida louva ao Pai pelo cordeiro que “remiu” o mundo.

“Jesus amando até à morte,

Toda morte destruiu,

Ressurgindo deu-nos vida,

Vida nova garantiu.”

Recorda-se aqui o mistério de amor da entrega de Jesus para nos salvar,

destruindo a morte e garantindo-nos “vida nova” e eterna.

“Profundamente contentes,

Pelo dom da salvação,

Com todos anjos e santos

Te ofertamos louvação.”

Ainda em estilo prefacial de louvor, convida a todos para entoar o cântico de

louvor ao Pai, proclamando-o santo, “profundamente contentes”. A palavra “louvação,” que é

muito usada nas liturgias populares, é sinônima, de louvor.

“Santo, santo, santo...” 146

“ Suplicantes te pedimos,

Teu Espírito derramar,

Santifica as oferendas

Pra teu povo saciar.”

146 O texto em análise não contempla uma letra própria para o canto do Santo. Deixa aberto para letras já

existentes e/ou outras que possam surgir.

90

“Que se tornem para nós

Corpo e sangue de Jesus,

Que nos una num corpo

E nos banhe tua luz.”

Este é o momento de invocação do Espírito Santo sobre as oferendas, para que

elas sejam transubstanciadas. Este momento chamado epiclese, parece nos fazer entrar mais

profundamente no mistério. Destaque para o pedido de “saciar” o povo, e para que a “luz”, o

esplendor do Pai, “banhe” a todos.

“Pois chegando a sua Páscoa

Em suas mãos tomou o pão,

Deu-te graças, repartiu-o

Declarando aos irmãos:”

“TOMEM E COMAM TODOS VOCÊS, ISTO É O MEU

CORPO QUE SERÁ ENTREGUE POR VOCÊS!”

“E ao fim daquela ceia

Tomou o cálice nas mãos,

Deu-te graças e o serviu

Declarando aos irmãos:”

“TOMEM E BEBAM TODOS VOCÊS, ESTE É O CÁLICE

DO MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA E ETERNA

91

ALIANÇA, QUE SERÁ DERRAMADO POR VOCÊS E POR

TODAS AS PESSOAS PARA A REMISSÃO DOS PECADOS.

FAÇAM ISTO EM MEMÓRIA DE MIM!”

A narrativa da ceia e da consagração se dá de forma singela e em termos de

conteúdo, muito fiel ao texto oficial, colocando as palavras introdutórias na forma de rima e

poesia.

Nas palavras da consagração, que não são cantadas, também usa a forma

pronominal “vocês” e usando uma linguagem mais inclusiva, de gênero, diz: “...que será

derramado por todas as pessoas,” o que não altera o conteúdo original.

“Eis, irmãs e irmãos, o mistério da nossa fé!”

“De Jesus a sua páscoa,

Sua memória revivemos,

Ó Pai santo te damos graças,

Estes dons te oferecemos.”

“Sim, ó Pai te agradecemos

Por estar aqui reunidos

E cantar em tua presença,

O louvor dos redimidos.”

“Unifica em teu Espírito

Esta família reunida

Que a tua páscoa se prolongue

92

Para sempre em nossa vida.”

Os versos acima compõem o que chamamos anamnese, a memória que se faz do

Cristo, destacando sua paixão e gloriosa ressurreição, isto é, o mistério pascal. Nela está

contida também a oblação, “estes dons te oferecemos,” momento em que a Igreja pede que as

pessoas ofereçam a hóstia ao Pai, mas também se ofereçam a si mesmas como hóstias vivas.

Merece destaque a lembrança de cantar “o louvor dos redimidos” em Cristo. Contempla a

assembléia e o ministro presidente, como “família reunida”, e o pedido de que a páscoa seja

eterna.

“Vela ó Pai por tua Igreja

Presente no mundo inteiro,

Que ela seja servidora,

Pois Jesus serviu primeiro.”

“Pelo Papa e nosso bispo

E por todos os pastores,

As mulheres e os homens

De teu povo servidores.”

Nas intercessões, pede-se que a Igreja seja “servidora”, imitando o próprio Jesus

que veio para servir. Ao pedir por aqueles que devem ser servidores do povo, além do papa e

dos bispos, enquanto na oração oficial se pede por todos os ministros do povo de Deus, aqui

também usando linguagem inclusiva, se explicita que há ministras e ministros, mulheres e

homens que servem ao povo de Deus, numa comunidade eclesial sempre mais ministerial.

“Pelas pessoas falecidas

Te pedimos ó Senhor,

93

Tenham parte na herança

De teu reino de esplendor.”

“E que um dia a tua face

Nós possamos contemplar,

Com Maria e todos os santos

Teus louvores celebrar.”

Concluem-se as intercessões contemplando os mortos e o vivos, igreja celeste e

terrestre. Mais uma vez a linguagem inclusiva, “pelas pessoas falecidas”. Pede-se que os que

aqui estão possam “um dia” “contemplar” a face de Deus e, com a Igreja celeste, “celebrar”

os “louvores” eternos.

“Toda honra e toda glória

A ti Deus Pai e Senhor

Por teu Filho Jesus Cristo

No Espírito de amor.”

Amém...

A doxologia final glorifica o Pai, por Cristo, no Espírito Santo e é concluída pela

aclamação do povo dizendo ou cantando, Amém!

Ressaltamos ainda como característica deste texto, o uso do pronome pessoal “tu”,

e do possessivo “teu”, “tua”, que em algumas regiões do país são bastante usados, como

linguagem mais informal e íntima. Alguns verbos estão no modo imperativo afirmativo:

“tomem”, “comam”, “bebam”, “unifica”, “vela”, o que torna a linguagem mais incisiva.

94

Tradicionalmente assimilamos que o modo verbal imperativo parte sempre de alguém

superior. Aqui, o Pai, o Cristo e o povo, se comunicam, conjugando o verbo no mesmo modo,

igualmente.

9.5. Análise do texto de Frei Domingos dos Santos, OP - Prefácio e Santo de Natal. 147

A análise do texto a seguir, usa os critérios usados na análise do texto anterior.

Salientamos que é um prefácio ou louvação, e um Santo, para a festa do Natal. Numa proposta

de inculturação da liturgia, o texto possui uma melodia em ritmo típico da música popular de

raiz, presente no interior do Brasil, geralmente usando a viola caipira como instrumento

principal.

Muitas graças e louvores

Nós te damos,

Ó Pai Santo do universo Criador!

Tu que és o Deus da vida

Rei dos tempos e da história,

Da beleza doador!

Por Jesus teu Filho amado

No teu amor consagrado

Que por nós se encarnou.

Do poder do Espírito Santo

Por Maria que é um encanto,

Entre os pobres acampou. (bis)

147 O texto e a respectiva melodia estão dispostos nesta dissertação como Anexos 5 e 6.

95

Todo o texto traz uma linguagem simples, carinhosa e de uma beleza ímpar. Esta

primeira parte deixa transparecer o reconhecimento da beleza doada pelo Criador. Ressalta a

presença do criador que “acampou” entre os pobres, se encarnou pelo Espírito, através de

Maria que é um “encanto”, explicitando o mistério da encarnação e do nascimento de Jesus

numa realidade de pobreza.

Os profetas predisseram

As promessas se cumpriram

O Messias já chegou!

Oprimidos libertados,

Os doentes são curados

Toda a terra se alegrou!

O seu santo nascimento

Só nos traz contentamento

Nova esperança raiou!

Com teu povo redimido

Numa voz ao céu unidos,

Proclamamos teu amor.

Esta segunda parte do prefácio começa fazendo referência à realidade profética

que prepara e realiza a vinda do Messias. Mostra a característica revolucionária desta vinda:

“oprimidos libertados”, doentes curados, e um contentamento que gera esperança renovada. E

encerra chamando os redimidos a proclamar o “amor” do Pai por todas e todos ao enviar seu

Filho ao mundo, proclamando-o três vezes, Santo.

96

Santo, Santo, Santo

Senhor do universo

Terra, céus e mares

Cantam teu louvor!

Bendito e louvado

Em nome do Senhor

Glória no mais alto

Reino de Esplendor!

Ao que vem salvar

O povo sofredor

Glória no mais alto

Reino de Esplendor!

Terra, céus e mares

Cantam teu louvor!

Glória no mais alto

Reino de Esplendor

A parte do Santo é muito fiel ao texto bíblico em que a eucologia se inspira, (Is

3,6), com acréscimos que dão beleza e originalidade ao texto, fazendo referência ao Cristo

que nasceu. É Ele que “vem salvar o povo sofredor”. A ele seja o louvor, “no mais alto reino

de esplendor”, o reino de luz que ilumina o mundo.

O texto traz uma linguagem libertadora no sentido dado por uma reflexão

teológica a partir da realidade dos empobrecidos que lutam pela sua libertação. E quando se

97

louva, é porque existe esperança, característica cristã dos que foram salvos em Cristo e

esperam a sua libertação.

Concluindo este terceiro capítulo, podemos reafirmar a importância do Concílio

Vaticano II para a Igreja. Do ponto de vista da liturgia, ele foi o cume de um processo

inovador, difícil, e bem sucedido que teve suas origens no início do século XX, com o

movimento litúrgico. Mas a partir de suas conclusões ele torna-se o início de um processo

ainda em andamento. A renovação litúrgica vai acontecendo na medida em que nos

empenharmos em colocar em prática o Concílio.

No âmbito da liturgia e dos textos eucológicos, ainda se tem muito a caminhar no

sentido de adaptar, aculturar e inculturar. Iniciativas novas existem, como as apresentadas

neste trabalho dissertativo, levando em conta as possibilidades de flexibilidade existentes.

Partindo de onde o Concílio nos enviou, estamos neste caminho e não podemos parar.

98

CONCLUSÃO

Ao nos dispormos realizar este trabalho dissertativo, tínhamos como ponto de

partida a realidade dos textos litúrgicos e o desejo de conhecê-los mais e consequentemente

torná-los mais conhecidos. Conhecer uma realidade científica necessita entrar nela, investigá-

la, torná-la conhecida, dando razões para tal.

Conhecer a eucologia, suas leis, suas fórmulas, foi um dos resultados deste

trabalho. Tivemos a oportunidade de, através da história, entrar no universo eucológico, saber

o porquê das características da eucologia romana com suas marcas, sobretudo de simplicidade

e sobriedade.

Foi possível conhecer também o processo pelo qual a liturgia romana foi se

desfigurando, tentando assimilar processos históricos, culturais e políticos através dos tempos.

O Concílio de Trento foi um ponto alto deste processo e suas decisões se cristalizaram na

liturgia romana de tal forma a perdurar por quatrocentos anos, criando um ambiente

insuportável, do ponto de vista do peso das regras e de uma liturgia ininteligível que excluía a

participação.

O Movimento Litúrgico, em sua grande empreitada de dissecar a liturgia em suas

entranhas, foi uma luta que tinha como princípio inovar a partir das fontes, mas não tinha

consciência do desfecho que seu trabalho ia ter. No entanto estava aberto ao diálogo, com o

suporte teórico de muitos teólogos apaixonados pela liturgia. A ciência litúrgica se estruturou

e com ela a liturgia.

Descortina-se o novo e aparecem os ventos conciliares do Vaticano II como um

dos maiores acontecimentos dos tempos modernos na Igreja. Sua renovação litúrgica,

expressa no documento Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia é o ponto de partida para

99

novos horizontes. Ao lançar mão do documento conciliar encontramos nele possibilidades de

termos sempre mais uma liturgia adaptada e inculturada.

Ilustrando essas possibilidades, apresentamos dois exemplares de texto litúrgico

eucológico, adaptados para a celebração eucarística, usados numa Igreja particular do nosso

País, a Diocese de Goiás. Fizemos algumas análises desses textos para entender melhor sua

elaboração, estrutura e origem. Nisso constatamos que quanto mais identidade tem um grupo

cultural ou pastoral naquilo que lhe é específico, mais necessidade tem de celebrar uma

liturgia acomodada às suas características culturais. Também recordamos exemplos de

iniciativas de textos litúrgicos adaptados no campo do ofício divino, da celebração eucarística

e da celebração em torno da Palavra Deus, estes dois últimos, de iniciativa da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil.

A Intenção deste estudo também é que nos assuntos tratados, tendo como

principal foco a questão dos textos litúrgicos, se avance sempre, sendo fiel às normas da

Igreja e fazendo uso de suas leis que possibilitam flexibilidade, sem ferir a integridade do rito

romano naquilo que lhe é mais autêntico e fiel ao Evangelho. Isso não impede, todavia, de se

inovar, tendo bem claras duas idéias bastante insistentes nesta dissertação: não perder o

conteúdo litúrgico, e como insiste o concílio Vaticano II, facilitar e aumentar a participação

ativa, consciente e frutuosa na liturgia (SC 11), característica renovadora e revolucionária da

liturgia moderna.

Como perspectivas e desafios, algo que toda reflexão científica é chamada a

produzir, esperamos que esta pesquisa provoque outras, mais aprofundadas, mais específicas,

pois a ciência nos possibilita abrir sempre mais o leque da questão em foco. Ela não está

fechada.

100

Oxalá também a Igreja, através de seus ministros e de todo o povo, não se

acomode e nem entre num estado de letargia com relação à criatividade na celebração.

E no campo dos textos litúrgicos eucológicos, que se pesquise mais, que se

proponham câmbios de abertura, de propostas, para que a liturgia, como o próprio Deus

encarnado, esteja em contínuo processo de adaptação para se inculturar na diversidade das

culturas.

101

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109

ANEXO 1

TRECHO DA CARTA PASTORAL DE D. MÁRIO DE MIRANDA VILLAS-BÔAS,

BISPO DE GARANHUNS, PERNAMBUCO, DE 1938.

"Quantas vezes, nossas Igrejas, nos grandes dias, dão-nos a trágica impressão de

um clube de festas, pelo profano e ridículo da decoração, flores de papel, nem sempre

artísticas, e fitas e laços e lanternas e todo um mundo de quinquilharias fúteis e inexpressíveis

(...). Adulteração litúrgica nos célebres novenários e trezenários de paraninfos, com a

teatralidade de cerimônias e encenações estapafúrdias, em que o respeito à casa de Deus é

sacrificado e profanada mesmo a presença real do Deus sacramentado (...) Abuso nas

procissões, desvirtuadas de suas tão piedosas finalidades e rebaixadas à categoria de passeatas

puxadas a charola com santos!. .. Não dói na alma ver, assim, conspurcado o sublime culto

das Imagens?! E, às vezes,... nem bastam as imagens de nossos Santos..., recorre-se ao

reprovável costume de fantasiar de Santos a meninos, meninas e moças! (...) coisa vazia que

se inventou de chamar de cântico sacro que, de sacro, tem apenas o lugar onde é executado,

berrante profanação que é. Melodias profanas, cadenciadas ao sabor de nossas velhas

modinhas sentimentais. Letras mais profanas ainda, e, por vezes; até ímpias: - 'Deus é a flor

desabrochando, Deus é o pássaro que voa, Deus é o eco da espessura, Deus é o ai que mal

soa!!!...". Suprema inconsciência, diríamos, não fora alguma coisa mais grave, isto é, o

sentido panteístico e pagão que há na sensabedoria destes versos. Nada mais belo que...

nossos velhos hinos religiosos... e... o canto gregoriano. Todas essas adulterações da vida

litúrgica..., de par com o laicismo da sociedade, produziram essa religiosidade vaga e

imprecisa, de festa e foguetório e bandeirolas... E a vida cristã se foi desonrando. Substituiu-a

uma piedade mole, piegas, estéril, que vai da devoção de orações românticas, de papeluchos e

amuletos, à grosseria das mais crassas superstições. Que vai do êxtase ante a imagem de Santa

Terezinha, à gélida indiferença diante do Tabernáculo. Que conhece, a fundo, a história dos

milagres de Sto Antônio, Santo Onofre, São Cosme e São Damião, e nunca leu os Evangelhos

110

de Jesus Cristo e as candentes Epístolas de São Paulo. Católicos de sacramentais e não de

sacramentos... Urge dar um combate sério a esse catolicismo tradicional, festivo e comodista.”

148

148 SILVA, José Ariovaldo da. Avanços e retrocessos no movimento litúrgico no Brasil. In: Op. cit. 31 p. 121-

122.

111

ANEXO 2

ACUSAÇÕES FEITAS AOS DEFENSORES DO MOVIMENTO LITÚRGICO

“- Só pensam em liturgia, olvidando-se da ação social. Só a liturgia é que para

eles valem (“Mania de liturgia”!).

- Há mesmo um irritante snobismo litúrgico (terminologia nova! etc.) de uns

grupos arrogantes de iniciados litúrgicos, “fanáticos”.

- Advogam o uso exclusivo do Missal (e folhetos litúrgicos), abolindo com isso o

terço na missa.

- Desprezam o Goffiné = célebre livro de explicação alegórica da missa.

- Querem introduzir à força a missa dialogada, a missa versus populum,

paramentos largos, procissão do Ofertório. (Falam até mesmo em se dever mastigar a hóstia

na comunhão, pois a liturgia diz: manducamus!)

- Querem abolir as orações no fim da missa, por não serem litúrgicas.

- Alegando não ser o rosário oração litúrgica, querem por força substituí-lo pelo

ofício divino.

- Atentam contra as devoções do povo, querendo substituí-las (eliminá-las) pela

única devoção: a litúrgica (missa, sacramentos, ofício divino).

- Atentam contra os retiros fechados, especialmente os retiros segundo os métodos

de Santo Inácio. Alegam deverem estes ser substituídos por palestras litúrgicas em ambientes

mais livres e descontraídos, com jogos recreações, suprimindo-se o terço, a via-sacra, não

podendo aí se falar do inferno, da luta contra as paixões, das virtudes passivas, etc. Atentam

112

contra os retiros quaresmais, alegando que a quaresma é o grande retiro da Igreja, segundo a

liturgia.

- Forçam substituir (não querem ver) a imagem do Cristo das dores pela do Cristo

glorioso e vencedor, o Cristo pantocrator.

- Sob pretexto de restaurar uma piedade autenticamente católica, litúrgica,

criticam fortemente - querendo até excluir - o valor doutrinal e prático das formas de piedade

extralitúrgicas e de ascese (retiros espirituais, meditação, exame de consciência, exercícios de

vontade, rosário, via-sacra, devoção ao Santíssimo, tesouros espirituais, devoção aos santos

- só pensam em São Paulo e nos Santos Padres!)

- Querendo ser cristocêntricos, atentam contra a piedade mariana.

- Criticam as escolas de espiritualidade (a que mais se ressente é sempre a dos

Jesuítas), alegando que só existe uma: a litúrgica.

- São erros, a maioria deles, provenientes do conceito mecânico e mágico de

liturgia, que tem sua origem no espírito modernista de horror à mortificação e ao sacrifício,

em busca de prazeres sensuais.” 149

149 Id. p. 123-124.

113

ANEXO 3

PREFÁCIO E ORAÇÃO EUCARÍSTICA DA VIGÍLIA PASCAL 150

(cantado ou rezado pelo ministro com as respostas oficiais cantadas ou

rezadas pela assembléia)

- O Senhor esteja com vocês...

- Corações ao alto...

- Demos graças ao Senhor Nosso Deus...

(cantado pelo ministro e repetido pela assembléia):

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

Ó Pai santo tão querido,

Aqui vimos te agradecer,

Pelo Cristo nosso Senhor.

Filho do teu bem querer.

Nesta noite memorável,

Em que Cristo ressurgiu,

Te louvamos com alegria,

O cordeiro nos remiu.

(cantado pela assembléia)

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

Jesus amando até à morte,

Toda morte destruiu,

Ressurgindo deu-nos vida,

Vida nova garantiu.

Profundamente contentes,

Pelo dom da salvação,

Com todos anjos e santos

Te ofertamos louvação.

(cantado pelo ministro com a assembléia)

Santo, santo, santo...

150 Letra e música de Fernando Cupertino. Coautoria de Dom Frei Tomás Balduíno, OP e Frei Domingos dos

Santos, OP.

114

(cantado pelo ministro)

Suplicantes te pedimos,

Teu Espírito derramar,

Santifica as oferendas

Pra teu povo saciar.

Que se tornem para nós

Corpo e sangue de Jesus,

Que nos una num corpo

E nos banhe tua luz.

(cantado pela assembléia)

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

Pois chegando a sua Páscoa

Em suas mãos tomou o pão,

Deu-te graças, repartiu-o

Declarando aos irmãos:

(falado pelo ministro)

TOMEM E COMAM TODOS VOCÊS, ISTO É O MEU

CORPO QUE SERÁ ENTREGUE POR VOCÊS!

(cantado pelo ministro)

E ao fim daquela ceia

Tomou o cálice nas mãos,

Deu-te graças e o serviu

Declarando aos irmãos:

(falado pelo ministro)

TOMEM E BEBAM TODOS VOCÊS, ESTE É O CÁLICE

DO MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA E ETERNA

ALIANÇA, QUE SERÁ DERRAMADO POR VOCÊS E POR

TODAS AS PESSOAS PARA A REMISSÃO DOS PECADOS.

FAÇAM ISTO EM MEMÓRIA DE MIM!

(cantado ou falado pelo ministro)

Eis, irmãs e irmãos, o mistério da nossa fé!

115

(cantado pela assembléia)

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

De Jesus a sua páscoa,

Sua memória revivemos,

Ó Pai santo te damos graças,

Estes dons te oferecemos.

Sim, ó Pai te agradecemos

Por estar aqui reunidos

E cantar em tua presença,

O louvor dos redimidos.

(cantado pela assembléia)

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

Unifica em teu Espírito

Esta família reunida

Que a tua páscoa se prolongue

Para sempre em nossa vida.

Vela ó Pai por tua Igreja

Presente no mundo inteiro,

Que ela seja servidora,

Pois Jesus serviu primeiro.

(cantado pela assembléia)

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

Pelo Papa e nosso bispo

E por todos os pastores,

As mulheres e os homens

De teu povo servidores.

Pelas pessoas falecidas

Te pedimos ó Senhor,

Tenham parte na herança

De teu reino de esplendor.

116

(cantado pela assembléia)

REFRÃO: Bendito sejas nosso Pai, Aleluia!

Pois Jesus ressuscitou, Aleluia!

(cantado pelo ministro)

E que um dia a tua face

Nós possamos contemplar,

Com Maria e todos os santos

Teus louvores celebrar.

Toda honra e toda glória

A ti Deus Pai e Senhor

Por teu Filho Jesus Cristo

No Espírito de amor.

(cantado ou falado pela assembléia)

Amém...

117

ANEXO 4

MELODIA DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA DA VIGÍLIA PASCAL

118

ANEXO 5

LOUVAÇÃO DE NATAL E SANTO 151

Muitas graças e louvores

Nós te damos,

Ó Pai Santo do universo Criador!

Tu que és o Deus da vida

Rei dos tempos e da história,

Da beleza doador!

Por Jesus teu Filho amado

No teu amor consagrado

Que por nós se encarnou.

Do poder do Espírito Santo

Por Maria que é um encanto,

Entre os pobres acampou. (bis)

Os profetas predisseram

As promessas se cumpriram

O Messias já chegou!

Oprimidos libertados,

Os doentes são curados

Toda a terra se alegrou!

O seu santo nascimento

Só nos traz contentamento

Nova esperança raiou!

Com teu povo redimido

Numa voz ao céu unidos,

Proclamamos teu amor.

Santo, Santo, Santo

Senhor do universo

Terra, céus e mares

Cantam teu louvor!

Bendito e louvado

Em nome do Senhor

Glória no mais alto

Reino de Esplendor!

Ao que vem salvar

O povo sofredor

Glória no mais alto

Reino de Esplendor!

Terra, céus e mares

Cantam teu louvor!

Glória no mais alto

Reino de Esplendor!

151 Texto e música de Frei Domingos dos Santos, OP - Diocese de Goiás. Publicado no CD - Muitas graças e

louvores - do mesmo autor.

119

ANEXO 6

MELODIA DA LOUVAÇÃO DE NATAL E SANTO

Texto e Música: Frei Domingos dos Santos, OP

Notação: Silvia Savadovsky

120