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Anais do I X Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais SI MPOI 2006 - FGV-EAESP OTIMIZANDO O SERVIÇO DE DELIVERY EM REDES DE FAST FOOD, UTILIZANDO O SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA GEO-ROTA Carlos Leonardo Ramos Póvoa, D.Sc. (1) [email protected] Geraldo Galdino de Paula Jr., D.Sc. (1) [email protected] Rodrigo Tavares Nogueira, D.Sc. (1) [email protected] (1) Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF, Laboratório de Engenharia de Produção. Av. Alberto Lamego, 2000 – Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, 28015-620 – Tel.: (22) 2726-1632 Ramal 212 / 218 / 214 Resumo Com o número crescente de pessoas que preferem fazer pedidos pelo telefone a sair de casa ou do trabalho, o delivery torna-se ferramenta estratégica para o setor de food service. A utilização de sistemas integrados (call center) para centralizar os pedidos feitos por telefone é uma tendência desses setores. Neste trabalho é apresentado um estudo de caso, em uma rede de fast food, utilizando o sistema de informação geográfica Geo-Rota para a designação da loja mais próxima do cliente, bem como para a realização de estratégias de marketing. 1- Introdução A entrega em domicílio, também conhecida como delivery, pode ser definida como serviço de entrega de materiais ou produtos pedidos por telefone pelo cliente ou consumidor. É consenso que o delivery recebe tratamento diferenciado na gestão dos negócios, com importância tão fundamental quanto à da loja física. Faz-se então necessário pensar em uma estrutura diferenciada, englobando conceitos de logística e tecnologia da informação aplicada. Com a atual tendência em utilizar sistemas integrados para centralizar os pedidos (call center) surge o problema da definição da loja que vai atender o pedido do cliente. Os sistemas para gerenciamento de pedidos por telefone disponíveis no mercado utilizam um cadastro previamente montado pelo usuário de quais trechos de logradouros cada loja vai atender. Essa forma de divisão geográfica das lojas torna-se bastante suscetível a erros, que vão desde uma rua que não foi cadastrada no sistema até nomes de logradouros duplicados em diferentes bairros da cidade. Sem falar que a divisão das entregas fica a cargo do usuário, ou seja, o sistema não tem nenhuma forma de otimizar a escolha. Neste contexto, os mapas assumem importância primordial. Uma base cartográfica usada para fins de logística de distribuição, geralmente uma rede de vias, deve conter vários atributos, além da localização geográfica dos logradouros, por exemplo, se a rua é de mão única ou dupla e velocidade máxima permitida, dentre outros. Representar esses atributos, requer a utilização de sistemas computacionais que tenham a capacidade de manipular

OTIMIZANDO O SERVIÇO DE DELIVERY EM REDES DE … · horizonte de planejamento de um dia. Já o trabalho de Drummond et al. (2001) considera que o consumidor é suprido em um período

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OTIMIZANDO O SERVIÇO DE DELIVERY EM REDES DE FAST FOOD, UTILIZANDO O SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA GEO-ROTA

Carlos Leonardo Ramos Póvoa, D.Sc.(1)

[email protected]

Geraldo Galdino de Paula Jr., D.Sc.(1)

[email protected]

Rodrigo Tavares Nogueira, D.Sc. (1) [email protected]

(1) Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF, Laboratório de Engenharia de Produção. Av. Alberto Lamego, 2000 – Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, 28015-620 – Tel.:

(22) 2726-1632 Ramal 212 / 218 / 214

Resumo

Com o número crescente de pessoas que preferem fazer pedidos pelo telefone a sair de casa ou do trabalho, o delivery torna-se ferramenta estratégica para o setor de food service. A utilização de sistemas integrados (call center) para centralizar os pedidos feitos por telefone é uma tendência desses setores. Neste trabalho é apresentado um estudo de caso, em uma rede de fast food, utilizando o sistema de informação geográfica Geo-Rota para a designação da loja mais próxima do cliente, bem como para a realização de estratégias de marketing. 1- Introdução

A entrega em domicílio, também conhecida como delivery, pode ser definida como serviço de entrega de materiais ou produtos pedidos por telefone pelo cliente ou consumidor. É consenso que o delivery recebe tratamento diferenciado na gestão dos negócios, com importância tão fundamental quanto à da loja física. Faz-se então necessário pensar em uma estrutura diferenciada, englobando conceitos de logística e tecnologia da informação aplicada.

Com a atual tendência em utilizar sistemas integrados para centralizar os pedidos (call center) surge o problema da definição da loja que vai atender o pedido do cliente. Os sistemas para gerenciamento de pedidos por telefone disponíveis no mercado utilizam um cadastro previamente montado pelo usuário de quais trechos de logradouros cada loja vai atender. Essa forma de divisão geográfica das lojas torna-se bastante suscetível a erros, que vão desde uma rua que não foi cadastrada no sistema até nomes de logradouros duplicados em diferentes bairros da cidade. Sem falar que a divisão das entregas fica a cargo do usuário, ou seja, o sistema não tem nenhuma forma de otimizar a escolha.

Neste contexto, os mapas assumem importância primordial. Uma base cartográfica usada para fins de logística de distribuição, geralmente uma rede de vias, deve conter vários atributos, além da localização geográfica dos logradouros, por exemplo, se a rua é de mão única ou dupla e velocidade máxima permitida, dentre outros. Representar esses atributos, requer a utilização de sistemas computacionais que tenham a capacidade de manipular

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informações geográficas. Esses sistemas, denominados Sistemas de Informação Geográfica (SIG), encontram-se presentes, dentre outras, as funções de análise que são capazes de permitir ao usuário operações sobre aspectos espaciais dos dados georreferenciados, sobre atributos não espaciais, ou sobre atributos espaciais e não espaciais combinados.

Conforme discutido acima, o objetivo desse artigo é descrever a utilização do sistema de informação geográfica Geo-Rota (Póvoa, 2005) para otimizar o sistema de delivery em um franqueado da rede Bob’s de fast food. Bem como demonstrar sua utilização para traçar estratégias de marketing.

O presente trabalho tem a seguinte composição: a seção 2 apresenta os problemas de distribuição física de produtos. Já a seção 3 trata das definições de sistemas de informação geográfica, bem como do modelo de dados utilizado no SIG Geo-Rota. Na seção 4 é apresentada a aplicação na rede Bob’s de fast food. E por fim a seção 5 apresenta as conclusões e sugestões para trabalhos futuros.

2 - Distribuição física de produtos

A atividade de distribuição física de produtos de uma empresa compreende toda a movimentação de bens entre a fábrica e os centros de distribuição. A última etapa nesta movimentação de bens entre a fábrica e os centros de distribuição para os consumidores, a qual pode ser definida como transporte local ou entrega, representa o elo mais caro da cadeia de distribuição (Christofides, 1981). Para esta etapa ser realizada de maneira eficiente, a empresa deve desenvolver o planejamento e a execução desta atividade de transporte de forma racional e otimizada (Bodin et al., 1983).

Um dos pontos de destaque na atividade de transporte de mercadorias consiste na definição do percurso ou rota de entrega a ser feito pelos veículos, de forma a minimizar o custo de operação.

Embora haja variantes dos problemas de distribuição, eles podem ser reduzidos a três tipos básicos. O problema de encontrar um trajeto através de uma rede na qual o ponto de origem seja diferente do ponto de destino (problema do caminho mais curto). Outro problema a ser considerado é quando existem múltiplos pontos a serem entregues e um único ponto de chegada e partida (problema do caixeiro viajante). Existe ainda o problema de roteirização de veículos, onde o objetivo é definir a alocação de qual veículo vai atender a qual rota, e ainda estabelecer roteiros que minimizem o custo total de atendimento.

2.1 – Problema do caminho mais curto

O problema do menor caminho ou caminho mais curto é bastante conhecido e tem como

objetivo obter um percurso mínimo entre dois vértices de um grafo, uma estrutura matemática usada para representar redes de vias. Composta por nós, localizações pontuais onde os fluxos se originam ou terminam, e arestas, que conectam os nós e representam o fluxo.

O algoritmo mais utilizado para a solução do problema é o algoritmo de Dijkstra (1959) descrito na figura 1. Os vértices do grafo são enumerados de 1 até n (quantidade de vértices do grafo), isto é, o conjunto de vértices é N={1,2,...,n}. O conjunto S inicialmente contém o vértice de origem. O vetor D[2..n] conterá a distância que separa todo vértice do vértice de origem.

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função Dijkstra(L = [1..n, 1..n]: grafo): vetor[2..n]

C := {2,3,...,n} {Implicitamente S = N - C} Para i := 2 até n:

D[i] := L[1,i] Repetir n-2 vezes:

v := Elemento de C que minimiza D[v] C := C - {v} Para cada elemento w de C: D[w]:= min(D[w],D[v]+ L[v,w])

Retornar D Figura 1 – Algoritmo Dijkstra 2.2 – Problema do caixeiro viajante

Dado um conjunto de pontos a serem visitados (Clientes) e um ponto de partida, o

problema do caixeiro viajante tem como objetivo determinar a seqüência ótima, que minimizará o custo total da rota, na qual os clientes são visitados uma única vez.

O problema do caixeiro tem diversas aplicações, como, reabastecimento de alimentos ou de drogarias a partir de um ponto de distribuição central; otimização do trajeto de caminhões de entregas das lojas de varejo aos clientes (entrega domiciliar de mercadorias); caminhões de entrega de jornal, etc.

Numerosos métodos foram propostos para resolvê-lo. Encontrar a rota ótima para um problema particular não tem sido prático para problemas que contém muitos pontos. O tempo computacional de solução é demasiadamente alto para problemas reais. Os procedimentos heurísticos de solução têm sido boas alternativas (Campelo e Maculan, 1994), entre eles, 2-opt e heurística de inserção mais distante (Reinelt, 1994).

2.3 – Roteamento de veículos

Segundo Laporte et al. (2000) o problema de roteamento de veículos (PRV), consiste

em definir roteiros que minimizem o custo total de atendimento, cada um dos quais iniciando e terminando no depósito ou base de veículos, assegurando que cada ponto seja visitado exatamente uma vez e a demanda em qualquer rota não exceda a capacidade do veículo que a atende.

O interesse e a demanda pela aplicação de modelos de roteirização para problemas reais, através de softwares comerciais disponíveis no mercado, têm crescido muito nos últimos anos, em particular no Brasil, principalmente após a estabilização da economia, conforme discutido em detalhes por Cunha (1997). Entre as razões podem-se destacar as exigências dos clientes com relação a prazos, datas e horários de entregas; o agravamento dos problemas de trânsito, acesso, circulação e estacionamento de veículos nos centros urbanos, em particular, caminhões; o aumento da competitividade pelo mercado e a busca de eficiência trazida pela estabilização da economia; o custo do capital levando à redução de estoques e ao aumento da freqüência de entregas.

Existem extensões para o problema de roteamento, dentre eles pode-se citar o problema de roteamento para caminhões com trailer associados, onde cada veículo pode ter vários

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trailers engatados ao truck (Chao, 2002), com solução proposta pelo autor baseada na metaheurística busca tabu (Glover, 1989; Glover, 1990). Já Tarantilis e Kiranouids (2001) adaptam o modelo básico do PRV para distribuição de produtos perecíveis e solucionam o problema utilizando a metaheurística de busca estocástica Backtracking Adaptive Threshold Accepting (Ducker e Scheuer, 1990), apresentando um excelente estudo de caso em uma indústria de laticínios. Os trabalhos de Nanry e Barnes (2000) e Irnich (2000) apresentam o problema de pickup e delivery, ou seja, cada consumidor deve ser atendido por um único veículo que deve carregar a mercadoria em um local e descarregá-lo em um outro local. O caso de veículos com multi-compartimentos, foi abordado por Póvoa (2005), que utiliza uma heurística GRASP para solução do mesmo.

Todos os problemas de roteamento de veículos apresentados acima tratam sempre de um horizonte de planejamento de um dia. Já o trabalho de Drummond et al. (2001) considera que o consumidor é suprido em um período de m dias, ou seja, cada consumidor deve ser suprido uma única vez durante o período considerado. Para solução do problema foi proposto um algoritmo genético paralelizado.

A aplicação dos problemas citados, requer a utilização de diversas informações dentre elas a localização espacial dos clientes e a localização geográfica da rede de vias, sejam rodovias ou vias urbanas. A próxima seção trata da definição de sistemas de informação geográfica, bem como da modelagem de dados geográficos.

3 – Sistemas de Informação Geográfica - SIG

Burrough (1987) define SIG como um conjunto de ferramentas destinadas à aquisição,

armazenamento, recuperação, transformação e visualização de dados espaciais do mundo real para uso em diversos campos de aplicação. Os dados geográficos descrevem objetos do mundo real em termos de sua posição em relação a um sistema de coordenadas, seus atributos e seu relacionamento espacial com outros objetos (relacionamento topológico).

Arnoff (1989) inicia sua abordagem dizendo que SIGs são sistemas computacionais usados para armazenar, manipular e analisar objetos e fenômenos, onde a localização geográfica é uma característica importante ou crítica para a análise. Acrescenta ainda que a despeito do poder de análise desta tecnologia, deve haver também facilidades, equipamentos e um sistema organizacional envolvendo as pessoas num todo, o que possibilitará a sua implementação e manutenção.

Um SIG proporciona aos profissionais os meios necessários para melhorar sua eficiência e eficácia nos trabalhos que envolvem informações contidas nos mapas e em atributos não gráficos. (Almeida, 1993)

As definições de SIGs refletem, cada uma à sua maneira, a diversidade de usos e visões possíveis desta tecnologia e apontam para uma perspectiva interdisciplinar de sua utilização. A partir destes conceitos é possível indicar duas importantes características dos SIGs:

- permitem a integração, em uma única base de dados, de informações geográficas

provenientes de fontes diversas tais como dados cartográficos, dados de censo e cadastro urbano e rural, etc. ;

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- oferecem mecanismos para recuperar, manipular e visualizar estes dados, através de algoritmos de manipulação e análise.

Um SIG não pode existir sem os dados descritos na primeira característica, logo,

confundem-se a capacidade do SIG de integração de dados e a sua exigência dos mesmos. O custo de aquisição de dados geográficos é a parte que consome mais recursos na implementação de um SIG. Pode-se dizer que a correta modelagem dos dados, principalmente os geográficos, que irão compor o sistema é um fator chave para reduzir os custos de implementação dos mesmos.

3.1 – Modelagem de dados geográficos – Framework GeoFrame

Segundo Lisboa (2000) o GeoFrame é um framework conceitual que fornece um diagrama de classes básicas para auxiliar o projetista tanto na modelagem conceitual de dados geográficos como, também, na especificação de padrões de análise em bancos de dados geográficos.

Johnson (1992) define um framework como sendo “um projeto reutilizável de um programa, ou parte de um programa, expresso como um conjunto de classes”.

O GeoFrame foi definido de acordo com as regras do formalismo da orientação a objetos, utilizando a notação gráfica do diagrama de classes da linguagem UML.

Segundo Lisboa (2000) cada classe identificada no domínio da aplicação deve ser modelada como subclasse de uma das seguintes classes do GeoFrame: OBJETONÃOGEOGRÁFICO; CAMPOGEOGRÁFICO; ou OBJETOGEOGRÁFICO. Com o objetivo de evitar sobrecarga visual do diagrama, devido ao grande número de ligações, é utilizado um mecanismo de simplificação de esquemas denominado estereótipo. Um estereótipo estende o vocabulário UML permitindo ao projetista criar novos tipos de construtores que podem ser empregados como qualquer outro elemento da linguagem (Booch, 1998). Para substituir os relacionamentos de generalização entre as classes do domínio e as classes do GeoFrame, são utilizados três estereótipos (figura 2).

Fig. 2 - Estereótipos para generalização

No GeoFrame todo campo e objeto geográfico pode ser representado por múltiplas instâncias das classes REPRESENTAÇÃOCAMPO e OBJETOESPACIAL respectivamente.

Segundo Lisboa (2000) a possibilidade de se ter múltiplas representações para um mesmo fenômeno geográfico é modelada através de diferentes associações entre o fenômeno geográfico e as possíveis formas de abstração de seu componente espacial. No GeoFrame estas variações podem ser especificadas através da combinação livre de diferentes estereótipos em uma mesma classe.

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Um segundo conjunto de estereótipos (figura 3) é usado para substituir as associações que resultam da modelagem do componente espacial dos fenômenos geográficos. A semântica de cada estereótipo, neste caso, é a substituição de uma associação entre o fenômeno geográfico e sua representação espacial, além da indicação da forma geométrica de tal representação (Lisboa, 2000).

Fig. 3 – Estereótipos para associação

3.2 - Descrição do Sistema de Informação Geográfica Geo-Rota

O projeto do SIG Geo-Rota foi iniciado em meados de 1999, motivado pela elaboração de um sistema computacional capaz de resolver problemas logísticos de distribuição em pequenas e médias empresas (Póvoa, 2000), devido ao alto custo de aquisição de sistemas similares. A versão inicial do sistema manipulava de forma simples (usando objetos desenvolvidos) os dados necessários (rede de vias e clientes) para a correta utilização dos algoritmos de otimização aplicados a problemas logísticos de distribuição física de produtos (caminho mais curto, caixeiro viajante e roteamento de veículos) para mais detalhes ver em Póvoa (2000). Na versão atual, buscou-se uma modelagem mais detalhada dos dados que fazem parte do sistema, visando reduzir os custos de aquisição dos dados geográficos.

3.3 - Esquema Conceitual de Dados do SIG Geo-Rota

A metodologia empregada na modelagem conceitual, seguiu a abordagem tradicional de modelagem. Primeiramente foram identificados os temas de interesse, em seguida as classes que compõem cada tema. Os temas identificados foram: Frota_Veículos, Rota_Entrega e Rede de Vias, conforme a figura 4. A seguir é apresentada a descrição das principais classes identificadas em cada tema. 3.3.1 Tema Frota_Veículos

O tema Frota_Veículos engloba somente classes que não possuem referência a uma posição geográfica (Objetos não geográficos). Neste tema é modelada a frota de veículos que farão a distribuição física de produtos. Deve-se ressaltar que a classe Tipo_Divisão existe para contemplar veículos com diferentes compartimentos.

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3.3.2 - Tema Rota_Entrega

O tema Rota_Entrega modela as rotas de entrega dos veículos. A classe Rota_Veículo é do tipo objeto complexo que por sua vez agrega as classes Trecho_Rota e Nó_Rede. Cada rota de entrega deve atender clientes específicos, esses por sua vez, estão sobre trechos de vias. Em cada trecho pode existir um ou mais clientes (classe Pto de Entrega).

Fig. 4 – Modelo Conceitual de Dados do SIG – Geo-Rota

3.3.3 - Tema Rede_Vias

O tema Rede_Vias modela a rede de circulação viária. A classe Malha_Viária é do

tipo objeto complexo que por sua vez agrega as classes Trecho e Cruzamento. Essas duas classes materializam as esquinas e os trechos de logradouro.

Frota_Veículos

Veículos

Monta_Rota() :

Id_Veículo : intId_Tipo : intPlaca : textoDPVA : textoCidade : textoMarca : textoKm Rodados : floatData_Aquisição : dataDisponível : bool

Tipo_Veículo

Id_Tipo : intCapacidade : floatPeso : floatVelocidade : floatEixos : intDescrição : texto

Tipo_Divisão

id_Divisão : intVolume : floatDescrição : texto

**

*1

Rede de Vias

Malha_Viaria

Trecho

Id_trecho : intVelocidade : float

Conecta() :

Cruzamento

Id_Cruzamento : int

*

*

**Logradouro

IdLogradouro : intNome : texto

*

Via Urbana

� Via Estadual

� Via Federal

Topologia Arco

Monta_Topologia() :

idTrecho : intNó_Inicial : intNó_Final : intCusto_Inicial_Final : floatCusto_Final_Inicial : float

1

1

Rota_Entrega

Rota_Veículo

Custo : float

Pto deEntrega

id_cliente : int

Trecho_Rota

� Nó Rede

�**1*

* *

*

1, 0

1

1,0

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A classe Logradouro é uma agregação da classe Trecho (cada logradouro é formado por vários trechos). As classes Via Urbana, Via Estadual e Via Federal são especificações da classe logradouro. O objeto não geográfico Topologia Arco especifica a topologia Nó-Arco. As propriedades Custo_Inicial_Final e Custo_Final_Inicial especificam respectivamente o custo de percorrer o arco no sentido do nó inicial para o nó final e do nó final para o nó inicial.

O modelo conceitual de dados do Geo-Rota é composto pelos temas descritos nas seções acima. A classe veículos (tema frota_Veículos) se relaciona com a classe rota_veículo (tema rota_entrega), ou seja, cada rota deve ser associada a um veículo de entrega disponível.

Cada trecho de rota (classe trecho_Rota do tema rota_veículo) está associado com o trecho de logradouro da malha viária (classe trecho do tema malha_viária). Bem como cada nó da rede (classe nó rede do tema rota_veículo) está associado a cada esquina (classe cruzamento do tema malha_viária).

4 – Estudo de Caso – Bob’s

O roteirizador Geo-Rota foi implementado há cerca de um ano em um franqueado da rede Bob’ s de fast food que controla um total de sete lojas nas cidades de Campos dos Goytacazes, Cabo Frio, Búzios, Rio das Ostras e Nova Friburgo, todas localizadas no estado do Rio de Janeiro. O franqueado tem um sistema de call center, localizado na cidade de Campos dos Goytacazes que recebe os pedidos (delivery) dessas lojas.

As cidades de Campos dos Goytacazes e Cabo Frio têm duas lojas cada uma. Com a necessidade de estabelecer qual loja é a mais próxima para realizar o atendimento do cliente, o roteirizador Geo-Rota foi customizado para atender esta especificidade.

O primeiro passo foi adquirir os mapas das cidades de Campos dos Goytacazes e Cabo Frio e atualizar os nomes das ruas bem como o sentido de deslocamento das mesmas, conforme a figura 5.

Fig. 5 – Exemplo de Edição de topologia (mão e contra mão) da rede viária

Já havia na base de dados cerca de 6.000 (seis mil) clientes localizados no município de

Campos dos Goytacazes os quais deveriam ser georreferenciados e alocados para a loja mais

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próxima. Foi desenvolvida uma rotina para alocar esses clientes que utiliza um link ODBC (Object Database Connection) para fazer a ligação com a base de dados. Todos os parâmetros são configurados de maneira dinâmica pelo usuário, permitindo a ligação com diferentes bases de dados conforme a figura 6.

Fig. 6 – Parâmetros de Configuração

Para os endereços que porventura forem digitados de maneira errada o sistema querer a

intervenção do usuário, conforme figura 7, possibilitando a escolha do logradouro correto. Destaca-se que todo o processo de georreferenciamento levou cerca de quatro horas de trabalho.

Fig. 7 – Georreferenciamento de Clientes

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Inicialmente os atendentes iriam utilizar os dois sistemas em conjunto, mas essa idéia foi descartada, devido à dificuldade de manipulação de dois sistemas distintos. Foi feita então uma versão servidor do Geo-Rota que é capaz de monitorar a base de dados do sistema de pedidos (call Center), conforme os parâmetros de configuração da figura 6.

O fluxograma da figura 8 descreve todo o processo, que inicia com o recebimento da ligação do cliente e registro do mesmo no sistema de pedidos, aqui chamado de Bob’ s Fone.

Cálculo da Lojamais próxima ao

Cliente

FIM

Ligação do ClienteRegistro do Pedidono Sistema Bob's

Fone

ClienteGeoReferenciado

?

Sim

Não

GeoReferenciarCliente (GeoCode)

Geo-Rota(Servidor)

Emissão do pedidoPara a Loja - Web

Linkar GeoObjetoao Banco de Dados

Atualizar CampoLoja no Banco de

Dados

Cálculo da Rota emCada Loja Bob's

Geo-Rota

Impressão da Rota

Fig. 8 – Fluxograma do processo de registro e entrega de pedidos

O Geo-Rota, versão servidor, verifica se o cliente é georreferenciado, ou seja, se o mesmo está no mapa. Caso não esteja, o mesmo converte automaticamente o endereço em um par de coordenadas geográficas (GeoCode). Em seguida é calculada a loja mais próxima do cliente, considerando ruas de mão única e mão dupla, e atualizado o campo, no banco de dados, que indica a loja mais próxima do cliente. O sistema de pedidos envia, via Web, o pedido para a loja especificada. Está em fase de implementação o módulo que permite otimizar e imprimir as rotas dos entregadores.

Foram implementadas algumas rotinas para auxiliar na formulação de estratégias de marketing, já que os clientes ficam armazenados no banco de dados geográfico. O principal meio de propaganda utilizado pelo franqueador é a distribuição de panfletos. Uma das rotinas implementadas permite o levantamento dos logradouros em potencial, ou seja, faz a cruzamento de setores censitários do IBGE, com os clientes, permitindo, por exemplo, a realização de análises do tipo marcação dos trechos de logradouros que não estão sendo atendidos que têm renda maior do que R$:1500. A figura 9 mostra os logradouros que tem renda superior a R$:2000 que não estão sendo atendidos. Essas análises são feitas em estações

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que tem a versão cliente do Geo-Rota. A próxima seção resume as principais funções implementadas no SIG Geo-Rota.

Fig. 9 – Exemplo de utilização de ferramenta de análise espacial

4.1 – Funções Implementadas no Geo-Rota (delivery)

O Geo-Rota na sua versão customizada para problemas de delivery tem as seguintes funções:

- Gerenciamento de Projetos: responsável pela abertura, gravação e gerenciamento

dos arquivos que compõem o mapa, bem como os parâmetros de configuração. - Gerenciamento de Mapas: responsável pelo gerenciamento das camadas que

compõem o mapa utilizado em cada projeto de roteamento. Engloba funções de adicionar e remover camadas, ferramentas de zoom, representação cartográfica (sistemas de projeção e simbologia), geração de toponímia a partir de um atributo não geográfico, montagem de regras de endereçamento automáticas, utilizadas para transformar um endereço (Rua y, no x) em uma par de coordenadas geográficas (GeoCode) e ligação com banco de dados externo via ODBC, aqui chamado de GeoLink.

- Gerenciamento de Clientes: responsável pelo gerenciamento das camadas de clientes

a serem roteados. Engloba funções de criação de novos arquivos, remoção e inserção de novos clientes. Possibilita a inserção de duas maneiras distintas, via mapa ou via endereçamento (GeoCode). Tem uma função específica para o cadastro de novas lojas.

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- Roteamento: resolve o problema do caminho mais curto, entre dois clientes e otimiza a escolha da loja mais próxima do cliente.

- Análise de Mercado: responsável pela análise espacial dos clientes, possibilitando o

estabelecimento de logradouros em potencial que não estão sendo atendidos. Permite fazer análises utilizando os setores censitários do IBGE.

5 - Considerações Finais

O SIG Geo-Rota revelou-se adequado ao setor de fast food, uma vez que sua

adaptação foi feita sem muitos esforços, conseqüência da utilização de orientação a objetos em sua implementação. Destaque-se que o custo dessa implementação, principalmente com relação à aquisição dos dados geográficos, foi compatível com o retorno esperado. O ganho obtido pelo franqueado foi expressivo, tanto na otimização da distribuição dos pedidos para as lojas, quanto na utilização do sistema na formulação de estratégias de marketing. Adicionalmente, um outro fator positivo foi a rápida curva de aprendizado do sistema, o que não acarretou necessidade de longos treinamentos para a correta utilização dos recursos.

6 - Referências Bibliográficas

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