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A REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 out. dez. ‘17 Distribuição Gratuita ISSN: 2183-5985

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C.E.DIRETORNUNO BORGES | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO

COORDENADOR CONSELHO CIENTÍFICONUNO BORGES | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO

COORDENAÇÃO EDITORIALHELENA REAL | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO

PAINEL DE REVISORES

CONJUNTO DE DOUTORADOS COM RECONHECIDO PERCURSO PROFISSIONAL NACIONAL E INTERNACIONAL

SAIBA MAIS SOBRE CADA UM EM: WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT

CORPO EDITORIAL

Acta Portuguesa de Nutrição N.º 11, outubro-dezembro 2017 | ISSN 2183-5985 | Revista da Associação Portuguesa de Nutrição | Rua João das Regras, n.º 278 e 284 - R/C 3, 4000-291 Porto | Tel.: +351 22 208 59 81 | Fax: +351 22 208 51 45 | E-mail: [email protected] |Propriedade Associação Portuguesa de Nutrição | Periodicidade 4 números/ano (1 edição em papel e 3 edições em formato digital):

janeiro-março; abril-junho; julho-setembro e outubro-dezembro | Conceção Gráfica COOPERATIVA 31 | Notas Artigos escritos segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores, podendo não coincidir com a opinião da Associação Portuguesa de Nutrição. É permitida a reprodução dos artigos publicados para fins não comerciais, desde que indicada a fonte e informada a revista. A publicidade não tem necessariamente o aval científico da Associação Portuguesa de Nutrição.

FICHA TÉCNICA

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1ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) | LICENÇA: cc-by-nc ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

I.ÍNDICEEDITORIALNuno Borges

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A.O._ARTIGO ORIGINALRODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARESCatarina Barbosa; Pedro Pimenta; Helena Real

6

A.O._ARTIGO ORIGINALHÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENILJoão Lima; Jéssica Rodrigues; José Canhola; Ada Rocha

16

A.R._ARTIGO DE REVISÃOPADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE Mariana Almeida; Andreia Oliveira

22

A.R._ARTIGO DE REVISÃONUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIASofia Alves Cardoso; Isabel Paiva

30

A.P._ARTIGO PROFISSIONALDIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOSIvo Barbedo Faria; Cláudia Silva; Maria Gil Ribeiro

36

A.P._ARTIGO PROFISSIONALO DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?Inês Gaspar; Renata Ramalho; Hélder Muteia

42

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 47

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Cumpriu-se no mês de dezembro 4 anos sobre o reconhecimento da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Este processo, que teve o contributo de Portugal, consagrou um modelo de vida, que não sendo exclusivamente sustentado por um tipo de dieta, tem nesta o seu lado mais visível e porventura mais carismático também. Este modelo, baseado numa agricultura de subsistência, pobre, mas com uma inteligentíssima gestão dos parcos recursos, tem recebido a atenção da comunidade científica desde as primeiras observações de Ancel Keys, na já longínqua década de 50 do século XX. São hoje conhecidas inúmeras relações entre a Dieta Mediterrânica (ou, talvez melhor, o conjunto das várias “Dietas Mediterrânicas”) e a nossa saúde, sendo essas relações, quando existem, sempre no sentido de propiciar melhores índices a quem melhor adere aos seus princípios. Não cabendo neste Editorial a descrição exaustiva desses benefícios, diremos apenas que doença cardiovascular, diabetes tipo II, demência de Alzheimer e várias neoplasias são doenças cuja incidência é reduzida para os que cumprem os preceitos deste modelo alimentar. Acresce que se trata de um tipo de dieta claramente amigo do ambiente, sustentável e que merece, também por isso, um destacado lugar quando olhamos para essa vertente cada vez mais indissociável da análise que devemos fazer a cada modelo alimentar.

As virtudes desta dieta resultam, ainda antes de mergulharmos no fascínio das relações bioquímicas e fisiológicas entre os seus componentes e o nosso organismo, de um secular apuramento de ingredientes, nada rejeitando e usufruindo do que a Natureza e o esforço humano propiciavam. Num mundo tão rápido e que sucumbe tão facilmente a modas alimentares que ora proíbem, ora veneram determinados alimentos, serve de importante lição pensarmos que foi o tempo, a sabedoria e o pragmatismo que moldaram este extraordinário modelo alimentar.

Nesta 11.ª edição da Acta Portuguesa de Nutrição damos destaque a três artigos que se debruçam, precisamente, sobre a Dieta Mediterrânica, com distintas abordagens. Ao contribuir, assim, para um ainda mais amplo conhecimento deste nosso património, cumpre-se também um desígnio cultural para esta revista, associando-a pela nobre via da Ciência a esta importante efeméride.

Nuno BorgesDiretor da Acta Portuguesa de Nutrição

E.EDITORIAL

ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 02 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1101ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

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Catarina Barbosa1; Pedro Pimenta1; Helena Real1,2*1 Instituto Universitário de Ciências da Saúde, CESPU - Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, crl, Rua Central de Gandra, n.º 1317, 4585-116 Gandra, Portugal

2 Associação Portuguesa de Nutrição, Rua João das Regras, n.º 278 e 284, R/C 3, 4000-291 Porto, Portugal

*Endereço para correspondência:

Helena RealAssociação Portuguesa de Nutrição, Rua João das Regras, n.º 278 e 284, R/C 3, 4000-291 Porto, [email protected]

Histórico do artigo:

Recebido a 2 de janeiro de 2017Aceite a 31 de dezembro de 2017

RESUMOINTRODUÇÃO: A Dieta Mediterrânica é considerada um dos padrões alimentares mais saudáveis do mundo, contudo, a maioria dos países tem o seu próprio guia alimentar. Em Portugal, utiliza-se como guia a Roda dos Alimentos. Contudo, dado que Portugal é um país com características mediterrânicas, foi desenvolvida a Roda da Alimentação Mediterrânica.OBJETIVOS: Comparar a Roda da Alimentação Mediterrânica e a Pirâmide da Dieta Mediterrânica para verificar e analisar as diferenças e concordâncias entre ambas. METODOLOGIA: Foram estabelecidos quatro níveis de comparação de diversos parâmetros estabelecidos pelos guias (I: igual em todos os aspetos; II: existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da recomendação; III: só se verifica na Roda da Alimentação Mediterrânica; IV: só se verifica na Pirâmide da Dieta Mediterrânica). Foram analisados 27 parâmetros: sustentabilidade; carnes brancas; carnes vermelhas; carnes processadas; pescado; ovos; leguminosas; hortícolas; fruta; cereais; água; vinho; açúcar e produtos açucarados; gorduras e óleos; atividade física; sazonalidade; sementes; frutos oleaginosos; gastronomia nacional; atividades culinárias; convivência; ervas aromáticas; sal; laticínios; porções equivalentes; descanso; biodiversidade.RESULTADOS: A percentagem do nível I, II, III e IV é de 29,6%, 48,2%, 3,7% e 18,5%, respetivamente. Os parâmetros correspondentes ao nível I são: convivência, biodiversidade, sustentabilidade, sazonalidade, atividade física, vinho, gastronomia nacional e atividades culinárias; ao nível II são: laticínios, carnes brancas, carnes vermelhas, pescado, ovos, leguminosas, frutos oleaginosos, produtos hortícolas, fruta, cereais, água, gorduras e óleos e ervas aromáticas; ao nível III é: porções equivalentes; ao nível IV são: carnes processadas, sal, açúcar e produtos açucarados, sementes e descanso. Acresce ainda o facto de os guias terem formas esquemáticas diferentes.CONCLUSÕES: Comparando os dois guias, verifica-se que existe elevada concordância entre ambos, sendo que a Roda da Alimentação Mediterrânica, elaborada com base na realidade portuguesa e tradições nacionais, pode afigurar-se como mais adequada para a utilização nas ações destinadas à população portuguesa. Será ainda fundamental dar mais destaque à Roda da Alimentação Mediterrânica nos manuais escolares.

PALAVRAS-CHAVEGuias alimentares, Manuais escolares, Pirâmide da Dieta Mediterrânica, População portuguesa, Roda da Alimentação Mediterrânica

ABSTRACTINTRODUCTION: The Mediterranean Diet is considered one of the healthiest food patterns of the world, however, most countries have their own food guide. In Portugal, it is used as guide, the Portuguese Food Wheel. However, as Portugal is a country with Mediterranean characteristics, the Mediterranean Food Wheel has been developed.OBJECTIVES: Compare the Mediterranean Food Wheel and the Mediterranean Diet Pyramid, to see and analyze the differences and concordances between the two.METHODOLOGY: It was established four levels of comparison of several parameters set by the guides (I: equal in every aspects; II: existence of the parameter in the two guides, but with differences in the recommendation; III: the parameter only exists in the Mediterranean Food Wheel; IV: the parameter only exists in the Pyramid of Mediterranean Diet). Were analyzed 27 parameters: sustainability; white meat; red meat; processed meat; fish; eggs; beans; vegetables; fruit; cereals; water; wine; sugar and sugar products; fat and oils; physical activity; seasonality; seeds; oleaginous fruits; national cuisine; culinary; living together; herbs; salt; dairy products; equivalent portions; rest; biodiversity. RESULTS: The percentage of the level I, II, III and IV is 29.6 %, 48.2 %, 3.7 % and 18.5 %, respectively. The parameters corresponding to the level I are: conviviality, biodiversity, traditional local foods, seasonality, physical activity, wine, national cuisine and culinary; at level II are: dairy, white meat, red meat, fish/seafood, eggs, beans, oleaginous fruits, vegetables, fruit, cereals, water, fat and oils and herbs; at level III are: equivalent portions; at level IV are: processed meat, salt, sugar and sugar products, seeds and rest. Besides that, the guides have different schematic forms. CONCLUSIONS: Comparing the two guides, it is verified that there is a high agreement between both, being the Mediterranean Food Weel, elaborated based on the Portuguese reality and the entire national culture, history and traditions, and may appear to be the more suitable for use in actions aimed at the Portuguese population. It will also be essential to increase information about the Mediterranean Food Wheel in school textbooks.

KEYWORDSFood guides, School textbooks, Mediterranean Diet Pyramid, Portuguese population, Mediterranean Food Weel

RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARESMEDITERRANEAN FOOD WHEEL AND MEDITERRANEAN DIET PYRAMID: COMPARISON BETWEEN THE TWO FOOD GUIDES

RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARESACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102

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ARTIGO ORIGINALA.O.

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INTRODUÇÃOPortugal é um país com uma vasta herança mediterrânica resultante de constantes migrações que, ao longo dos séculos, configuraram o Mediterrâneo em geral (1–3). O homem soube tirar partido dos recursos escassos do solo da região mediterrânica, nomeadamente os arbustos, ao utilizá-los para a lenha; as ervas, ao propiciarem o pasto para os animais; bem como os frutos e óleos, extraídos de algumas plantas bravas. Para além disso, o homem também introduziu várias plantas agrárias, que permaneceram nestas terras, até aos dias de hoje, enriquecendo a vegetação e transformando as paisagens. São exemplos disso a oliveira, a videira, a figueira e as plantas de inúmeras leguminosas (2–4). A designação de “Dieta Mediterrânica” (DM) surge na década de 50/60 do século XX , no decurso de um conjunto de estudos que o fisiologista norte-americano Ancel Keys realizou no Mediterrâneo (5–7). Contudo, este estilo de vida desenvolvia-se nesta região desde há muito mais tempo. O conceito ganhou novo destaque após a distinção pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a qual veio trazer uma maior abrangência do mesmo (8), por oposição a um modelo de caracterização baseado nas questões alimentares e o seu impacto na saúde, sobejamente conhecido (9–13). Todavia, se se considerar apenas a parte alimentar, é possível referir que o Padrão Alimentar Mediterrânico (PAM) que daí advém é caracterizado por um elevado consumo de alimentos de origem vegetal, de entre os quais cereais, hortícolas e fruta, leguminosas, frutos oleaginosos, azeitonas e sementes. Este padrão recomenda ainda o azeite como a gordura de eleição e incentiva um consumo moderado de pescado, carnes brancas, ovos e laticínios, de preferência sob a forma de queijo e iogurte. Por outro lado, aconselha um baixo consumo de carnes vermelhas e processadas e um consumo moderado, às refeições principais, de vinho (14). A sistematização destas recomendações alimentares pode ser encontrada no formato de uma pirâmide – Pirâmide da Dieta Mediterrânica (PDM) -, um guia alimentar que permite transmitir as mesmas de forma simples e acessível (14). De acordo com a Food and Nutrition Board/ World Health Organization, os guias alimentares são documentos elaborados com a finalidade de orientar e promover a educação nutricional de uma determinada população (15). A criação de um guia alimentar deve respeitar aspetos relacionados com a disponibilidade alimentar nacional, o padrão de consumo alimentar e nutricional e o estado nutricional da população (16). Um dos objetivos na elaboração dos guias alimentares é possibilitar uma fácil leitura e interpretação, tal como descodificar a linguagem científica em conceitos e representações mais simples (17).Em Portugal, A Roda dos Alimentos (RA) corresponde ao guia alimentar que foi elaborado para acompanhar os hábitos alimentares, a gastronomia, a cultura, e as tradições da população portuguesa, tendo por base os conhecimentos nutricionais essenciais para a sua adequabilidade (17).Recentemente, a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, a Direção-Geral do Consumidor e a Direção Geral da Saúde lançaram uma adaptação da RA aos conceitos da DM, funcionando como complemento à RA já existente. A criação da Roda da Alimentação Mediterrânica (RAM), destinada à população portuguesa, contribui para a valorização e promoção deste padrão alimentar, estando a base do seu desenvolvimento assente na RA (18).Portugal possui uma identidade mediterrânica caracterizada pelo clima, que, embora regulado pelo Oceano Atlântico, sofre também influência do mar Mediterrâneo, o que é visível na paisagem e modo de vida (4). Assim, a elaboração da RAM teve por base as nossas tradições alimentares e gastronómicas, que tinham já contribuído para a criação da RA, mas também teve influência na DM (3).

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Dado que em Portugal se tem vindo a reforçar o debate e promoção da DM, para além de se ter incrementado informação sobre o tema nos manuais escolares, onde surge maior destaque para a PDM em detrimento da RA, torna-se importante explorar quais as diferenças e semelhanças entre os dois guias de forma a clarificar estes aspetos junto dos profissionais da área da nutrição e alimentação e também os professores.

OBJETIVOSComparar a RAM e a PDM, com o intuito de verificar e analisar as possíveis diferenças e concordâncias entre ambos os guias alimentares.

METODOLOGIAProcedeu-se ao estudo de dois guias alimentares, tendo sido selecionados 27 parâmetros para análise, tendo em conta todos os aspetos referenciados nos respetivos cartazes que contêm as representações gráficas (Figura 1 e 2) (18, 19). Os parâmetros selecionados foram os seguintes: convivência; biodiversidade; sustentabilidade; sazonalidade; atividade física; gastronomia nacional; atividades culinárias; porções equivalentes e descanso. Nos grupos de alimentos pertencentes à RAM e à PDM foram considerados: vinho; laticínios; carnes brancas; carnes vermelhas; pescado; ovos; leguminosas; frutos oleaginosos; produtos hortícolas; fruta; cereais; água; gorduras e óleos; ervas aromáticas; carnes processadas; sal; açúcar e produtos açucarados; sementes. A RAM apresenta as porções e respetivos equivalentes na documentação acessória e não na representação esquemática central da Roda. Por outro lado, a PDM não quantifica as porções equivalentes, pelo que se assumiu que as porções representam quantidades semelhantes às da RAM (20).

Roda da Alimentação Mediterrânica, guia alimentar português (18)

Figura 1

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Comparação de parâmetros entre a Roda da Alimentação Mediterrânica e a Pirâmide da Dieta Mediterrânica

Tabela 1

NÍVEL PARÂMETROS RAM PDM OBSERVAÇÕES

I Convivência Menciona MencionaA RAM e a PDM conferem relevância à convivência e à partilha, aquando a realização das refeições, e às atividades de lazer.

I Biodiversidade Surge recomendado Surge recomendado A RAM e a PDM preconizam este parâmetro através da recomendação de uma alimentação variada.

I Sustentabilidade Menciona MencionaA RAM apela a um conceito semelhante com a recomendação de consumo de alimentos locais e a PDM recomenda um consumo de produtos amigos do ambiente.

I Sazonalidade Menciona Menciona A RAM e a PDM recomendam o consumo de alimentos da época.

I Atividade Física Surge recomendado de forma regular

Surge recomendado de forma regular

A RAM e a PDM recomendam e fazem referência a este parâmetro.

I Vinho Recomendado consumo moderado e às refeições

Recomendado consumo moderado

A RAM e a PDM emitem recomendações iguais para o vinho, enfatizando o consumo de vinho em quantidades moderadas às refeições, sendo que a RAM salvaguarda que o seu consumo não deve ser efetuado por crianças, grávidas e aleitantes.

I Gastronomia Nacional Menciona Menciona

A RAM referencia este ponto, tal como a PDM, nomeadamente a valorização da gastronomia saudável e tradicional, o respeito pelo consumo de alimentos de produção nacional das diferentes regiões do país.

I Atividades Culinárias Menciona Menciona

A RAM defende a promoção da utilização de técnicas culinárias saudáveis, tal como a PDM que evoca a frugalidade e a cozinha simples, atividades culinárias protetoras dos nutrientes e dos alimentos.

II Laticínios 2 a 3 porções diárias 2 porções diárias

A recomendação do consumo é diária em ambos os guias. A RAM faz referência a todos os laticínios, recomendando um consumo de 2-3 porções diárias, enquanto a PDM centra-se no predomínio de queijo e iogurte, dando destaque aos laticínios magros.

II Carnes Brancas 1,5 a 4,5 porções diárias 2 porções semanais

Na RAM, as recomendações de carne estão incluídas no grupo “carne, pescado e ovos”, diferindo nas porções. A PDM recomenda este tipo de carne, a qual se encontra separada das restantes.

Pirâmide da Dieta Mediterrânica (19)

Figura 2

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II Carnes Vermelhas 1,5 a 4,5 porções diárias Menos de 2 porções semanaisNa RAM, a recomendação está incluída no grupo “carne, pescado e ovos”. A PDM recomenda um menor consumo deste tipo de carne, estando separada das restantes.

II Pescado 1,5 a 4,5 porções diárias Mais ou 2 porções por semana

A RAM realça o consumo de peixe em especial a sardinha, carapau, cavala, atum, entre outros, dentro do grupo das “carnes, pescado e ovos”, ao passo que a PDM dá orientações sobre a frequência de consumo de pescado em concreto.

II Ovos 1,5 a 4,5 porções diárias 2 a 4 porções semanaisA RAM e a PDM recomendam este fornecedor proteico, contudo, a RAM fá-lo incluído no grupo das “carnes, pescado e ovos”, e a PDM de forma específica.

II Leguminosas 1 a 2 porções diárias Mais ou 2 porções por semana As leguminosas aparecem em ambos os guias, mas com recomendações diferentes.

II Frutos Oleaginosos Menciona 1 a 2 porções diáriasA RAM aconselha o consumo de frutos oleaginosos mas não especifica a frequência ou quantidade de consumo. A PDM recomenda uma ingestão diária.

II Produtos Hortícolas 3 a 5 porções diárias 2 porções ou mais por refeiçãoA RAM e a PDM exibem recomendações diferentes, sendo que a RAM realça o consumo de cebola, alho, couve galega, grelos, tomate, pimentos, beldroegas, entre outros.

II Fruta 3 a 5 porções diárias 1 a 2 porções por refeição principal

A RAM recomenda sobretudo o consumo de melão, figo, ameixa, laranja, tangerina, nêspera, romã, entre outras e a PDM faz referência ao consumo deste grupo por refeição principal.

II Cereais 4 a 11 porções diárias 1 a 2 porções por refeição principal

A RAM e a PDM recomendam o consumo distinto de alimentos pertencentes a este grupo alimentar. A RAM destaca ainda o consumo de cereais, tubérculos e frutos amiláceos, ao passo que a PDM diferencia a batata e dá preferência aos cereais integrais.

II Água Ingestão de 1,5 a 3 Litros diários Ingestão de 1,5 a 2 Litros diários (equivalente de 6 a 8 copos)

A RAM e a PDM aconselham a ingestão de água, em quantidades distintas.

II Gorduras e Óleos 1 a 3 porções diárias Consumo de azeite a cada refeição principal

A RAM refere outros equivalentes, destacando o azeite e a azeitona ao passo que a PDM enfoca unicamente o consumo de azeite.

II Ervas Aromáticas Menciona Consumo diário

A RAM recomenda a sua utilização como forma de substituir a adição de sal. A PDM recomenda a adição diária de ervas aromáticas e especiarias às preparações culinárias como forma de obter grande variedade de aromas e sabores.

III Porções Equivalentes Menciona em documento acessório Não menciona Na PDM está ausente a quantificação em peso das porções

recomendadas.

IV Carnes Processadas Menciona em documento acessório Menciona Este parâmetro só é mencionado na PDM, com

recomendações diferentes dos restantes tipos de carnes.

IV Sal Menciona em documento acessório

Menciona a necessidade de reduzir a adição de sal às confeções culinárias

A PDM refere a necessidade de existir uma menor adição de sal. A RAM apresenta informação em documentos acessórios.

IV Açúcar e Produtos Açucarados Menciona em documento acessório Menos de 2 porções semanais

A PDM aconselha a um consumo inferior a 2 porções numa semana. A RAM apresenta informação em documentos acessórios.

IV Sementes Não menciona 1 a 2 porções diárias Na PDM, o consumo destas é promovido nas quantidades referidas.

IV Descanso Não menciona Menciona A PDM foca a importância de um descanso adequado.

PDM: Pirâmide da Dieta MediterrânicaRAM: Roda da Alimentação Mediterrânica Nível I: O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer na existência do mesmo no guia

Nível II: Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da reco-mendaçãoNível III: O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAMNível IV: O parâmetro em questão só está presente e é recomendado na PDM

Comparação dos parâmetros analisados pertencentes à Roda da Alimentação Mediterrânica e à Pirâmide da Dieta Mediterrânica e respetivas percentagens por nível

Tabela 2

NÍVEL PERCENTAGEM PARÂMETROS

I 29,6% Convivência, biodiversidade, sustentabilidade, sazonalidade, atividade física, vinho, gastronomia nacional e atividades culinárias

II 48,2% Laticínios, carnes brancas, carnes vermelhas, pescado, ovos, leguminosas, frutos oleaginosos, produtos hortícolas, fruta, cereais, água, gorduras e óleos e ervas aromáticas

III 3,7% Porções equivalentes

IV 18,5% Carnes processadas, sal, açúcar e produtos açucarados, sementes e descanso

Nível I: O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer na existência do mesmo no guiaNível II: Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da reco-mendação

Nível III: O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAMNível IV: O parâmetro em questão só está presente e é recomendado na PDM

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Posteriormente foram criados quatro níveis, de modo a comparar todos os parâmetros selecionados: (I) O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer na existência do mesmo no guia; (II) Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da recomendação; (III) O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM;(IV) O parâmetro só está presente e é recomendado na PDM. A análise foi efetuada no mês de julho de 2016, sendo que os resultados

foram obtidos recorrendo ao auxílio do programa Microsoft Office Excel® 2010 para o sistema operacional Windows 8.1.

RESULTADOSNa Tabela 1, é apresentada a comparação de parâmetros entre a RAM e a PDM.Dos 27 parâmetros analisados, a percentagem dos mesmos pertencentes aos níveis I, II, III e IV corresponde respetivamente a: 29,6%, 48,2%, 3,7% e 18,5%, tal como é representado na Tabela 2.

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOSVerificou-se que dos 27 parâmetros analisados, existem parâmetros comuns em 77,8% dos casos. Destes, 29,6% são iguais nos dois guias alimentares. Desta percentagem fazem parte nomeadamente a convivência, importante para a aquisição de hábitos promotores de estilos de vida mais saudáveis e melhor estado de saúde (21–24). A biodiversidade, sustentabilidade e sazonalidade alimentar são parâmetros considerados pelos dois guias, estando espelhados conceitos como o recurso a produtos da época, tradicionais e de proveniência local.A RAM e a PDM também preconizam a prática de atividade física, um fator fulcral na saúde e bem-estar, recomendação transversal a todas as faixas etárias (25, 26). A importância destas recomendações prende-se com o facto de esta prática contribuir para a diminuição dos comportamentos sedentários e poder reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, de diabetes Mellitus, de hipertensão arterial e de certos tipos de cancro (25). A RAM e a PDM fazem ainda alusão ao consumo de vinho, produto muito associado à região mediterrânica (27). Estas recomendações sustentam-se no interesse para a saúde do consumo dos componentes, sobretudo, do vinho tinto, especialmente o resveratrol, com ação anti--aterogénica, e os flavonóides, que têm uma ação antioxidante e que diminuem o stress oxidativo, inibindo a formação de espécies reativas de oxigénio (27–30). Estes benefícios ocorrem aquando um consumo moderado e às refeições principais (31, 32). A gastronomia nacional é outro parâmetro pertencente a este nível de comparação, de forma a promover a presença de pratos tradicionais das várias regiões do país, que representam o modo como as pessoas se relacionam e usam os diferentes produtos alimentares, e contribuem para que as tradições se mantenham ao longo dos anos (33). A RAM e a PDM enfocam a importância da realização de atividades culinárias, cujas técnicas sejam saudáveis e tradicionais (como sopas, ensopados, estufados e caldeiradas) dado preservarem a qualidade nutricional dos alimentos e por serem simples e práticas de realizar (33, 34). Quanto aos parâmetros comuns aos dois guias, mas com recomendações distintas, identificaram-se 48,2% dos parâmetros nessas condições. Desta percentagem fazem parte nomeadamente as recomendações de consumo de laticínios, onde se verifica, por exemplo, que o consumo de iogurte e queijo é mais evidenciado, do que o leite, pela PDM. A escolha de consumo de queijo, sobretudo proveniente de cabra e ovelha, prende-se com razões históricas e culturais, pelo facto de estes serem animais com mobilidade suficiente para procurarem os pastos nos locais disponíveis e, por vezes de menor acesso, sendo, por isso, animais mais comuns nos países do Mediterrâneo. O clima representa outro aspeto determinante para uma maior presença de alimentos derivados do leite, pois temperaturas mais elevadas determinam a necessidade de existirem alimentos que possuam um prazo de validade mais alargado (3). O consumo de laticínios faz parte das recomendações diárias tanto da PDM como da RAM. Contudo, a RAM salienta o consumo de laticínios como um todo, visto que o consumo de leite é muito comum na população portuguesa. O leite é um alimento com um valor nutricional muito importante, dado ser uma fonte de energia, de cálcio e de fósforo e sobretudo de proteína de alto valor biológico, essencial para a manutenção da saúde óssea (35). De acordo com a Fundação Internacional de Osteoporose, a incidência mundial desta doença está a aumentar, sendo, por isso, importante promover o consumo de leite desde cedo (36). O leite tem ainda outras vantagens, derivadas do seu elevado teor proteico de alto valor biológico, que apresenta benefícios na prevenção do desenvolvimento de sarcopenia, condição onde se desenvolvem perdas musculares relacionadas com

o avançar da idade (37). Para além disso, o leite tem ainda importantes nutrientes, como o magnésio, o cálcio e o potássio, com ação preventiva no desenvolvimento de doenças cardiovasculares (38,39). Face às vantagens anteriormente enumeradas, o consumo deste alimento é importante e deve ser incentivado, recomendação que está presente sobretudo na RAM. Mencionando o grupo “Carne, Pescado e Ovos”, a RAM inclui as carnes brancas, carnes vermelhas, pescado e ovos no mesmo grupo, contrariamente à PDM, que exibe recomendações separadas e distintas. Contudo, seria benéfico que a RAM procedesse a uma separação das diversas fontes proteicas, à semelhança da PDM, pois a carne, o pescado e os ovos deviam possuir recomendações de frequência de consumo diferentes. A corroborar esta sugestão existem as recomendações de várias instituições, entre as quais a The American Heart Association (AHA) e a European Food Safety Authority (EFSA), que defendem o consumo de peixe, sobretudo o peixe gordo, no mínimo duas vezes por semana (40, 41). Por outro lado, segundo o relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da International Agency for Research of Cancer (IARC), evidencia-se a recomendação de não ultrapassar o consumo de 100 g de carnes vermelhas e 50 g de carnes processadas, pois podem aumentar em 17% e 18% respetivamente, o risco de desenvolvimento do cancro colorretal (42). Existem inclusivamente relações estabelecidas entre o consumo de carnes vermelhas e processadas com o desenvolvimento de hipercolesterolemia, hipertensão ou mesmo síndrome metabólica, questão que não se evidencia nas carnes brancas (43). Por estas razões e pelas diferenças nutricionais seria importante a separação dos diferentes tipos de carnes. Será, assim, importante, que a indicação relativa a um consumo diferenciado dos alimentos que compõe o grupo das “carnes, pescado e ovos” possa ser feita de forma acessória quando se apresenta a RAM à população. Desta forma, verifica-se que a divisão por frequência de consumo da PDM é mais vantajosa, dado que transmite uma informação mais completa sobre estas fontes proteicas, do que apenas englobá-las num só grupo. A PDM refere um consumo semanal destes alimentos, dando maior preferência ao pescado, aspeto este que se assume benéfico porque o mesmo representa uma fonte de energia, de proteínas de alto valor biológico, de iodo, de selénio, de cálcio, de vitaminas A e D e ácidos gordos essenciais (41). Quanto às leguminosas, estas são individualizadas dos restantes fornecedores proteicos tanto na RAM como na PDM. Apesar disso, nos dias de hoje é notória uma menor valorização e utilização das leguminosas, muito presentes em pratos da gastronomia tradicional portuguesa. As recomendações dos dois guias diferem quanto à frequência de consumo, na medida em que a RAM aconselha o consumo de 1 a 2 porções diárias e a PDM um consumo superior ou igual a 2 porções por semana. As leguminosas são alimentos que exercem inúmeros benefícios para a saúde, contribuem para um melhor controlo glicémico, para a modulação lipídica, são ricas em substâncias bioativas e fibras, não apresentam colesterol e são boas fornecedoras de proteínas (44). Desta forma, pelos benefícios inerentes, seria preferível a recomendação basear-se no consumo diário, tal como se verifica com a RAM. O consumo de frutos oleaginosos é promovido de forma diária em cerca de 1 a 2 porções na PDM, contrariamente à RAM, cuja menção não surge incluída na Roda, mas sim nas recomendações adicionais, não sendo dada uma orientação quanto à frequência de consumo. Os frutos oleaginosos são caracterizados por serem alimentos com elevado teor de lípidos, sobretudo ácidos gordos insaturados (45). Dentro destes, é de destacar o ómega 6, particularmente importante no desenvolvimento cerebral e na proteção da pele, entre outros (46).

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Para além disso, estes alimentos apresentam ainda boas quantidades de ómega 3 com uma ação importante no sistema cardiovascular e que previne a ocorrência de doenças cardíacas e vasculares (47). Segundo a EFSA, as recomendações de ingestão dos ácidos gordos ómega 3 e ómega 6 são 2 e 10 g por dia, respetivamente (47).O consumo de frutos oleaginosos acima de três doses por semana é cientificamente sustentado como tendo efeitos significativos na redução do risco de mortalidade (48). O consumo de uma porção equivalente a uma mão de frutos oleaginosos por dia está associado à prevenção de doenças, tais como obesidade, doenças cardiovasculares ou a diabetes Mellitus. Desta forma, a recomendação diária deste tipo de alimentos, à semelhança do que ocorre na PDM, destaca-se como mais vantajosa (49). Os hortofrutícolas pela sua riqueza nutricional, devem estar presentes em abundância num padrão alimentar promotor de saúde, como sugerem as recomendações da RAM e da PDM. No primeiro guia são recomendados entre 3 a 5 porções por dia e no segundo um consumo maior ou igual a 2 porções para os hortícolas e 1 a 2 porções para as frutas, a cada refeição principal. De acordo com as recomendações da OMS, que preconiza um consumo mínimo diário de 400 g de produtos hortícolas e de fruta, verifica-se que os dois guias superam estas recomendações (50, 51). O consumo diário de 400 g pode reduzir o risco de desenvolvimento de doenças crónicas não transmissíveis, como a doença coronária, doenças cerebrovasculares e hipertensão arterial. Nutricionalmente, este grupo de alimentos apresenta uma grande variedade de vitaminas, minerais, fitonutrientes e elevado teor de fibra (50). A grande discordância entre os dois guias, quanto às recomendações de fruta e produtos hortícolas, prende-se com o momento do seu consumo. A RAM é mais vantajosa neste sentido, dado promover um consumo ao longo do dia e não exclusivamente nas refeições principais. A reforçar esta mensagem temos as recomendações da OMS que aconselham a promoção do consumo destes alimentos durante as refeições e nas refeições intercalares. Relativamente aos cereais, a RAM recomenda uma ingestão de 4 a 11 porções diárias e a PDM refere o consumo de 1 a 2 porções por cada refeição principal. O PAM elege o consumo de cereais integrais dado que estes são uma importante fonte de energia, hidratos de carbono, proteína e fibra (52, 53). De acordo com dados disponíveis, poderá existir uma redução de 21% no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em indivíduos que consomem em média entre 48 a 80 g de cereais integrais por dia, em comparação com os que não atingem estas recomendações (54). Desta forma, ambos os guias são benéficos para a promoção do consumo de cereais, embora as recomendações da PDM sejam mais evidentes para os cereais integrais. Incidindo nas recomendações hídricas, os dois guias referem a importância da ingestão diária de água, embora as quantidades recomendadas sejam distintas (14, 17). De facto, a água é essencial à vida e para realçar a importância do balanço hídrico, a imagem da água foi colocada em destaque no centro da RAM, ocupando igualmente uma posição de destaque na PDM (14,55). Relativamente às recomendações, estas devem ter em consideração diversos factores e de acordo com a OMS, em condições normais, os valores de ingestão de água total para homens e mulheres são de 2,9 e 2,2 L, respetivamente (56). Para além disso, a EFSA estipulou valores de ingestão adequados de água total de 2,5 e 2,0 L para homens e mulheres, respetivamente (57). Em virtude dos valores de ingestão de água reportados pelos portugueses, o Instituto de Hidratação e Saúde adotou os valores de referência da EFSA supracitados (57). Contudo, estas recomendações não se reportam exclusivamente à ingestão de água em natureza, mas também a outras bebidas e alimentos ou preparados culinários, que possuam água na sua composição. Porém, dada a grande variabilidade do conteúdo de água

nos alimentos, é mais fácil apresentar à população valores de referência de bebidas, pelo que o Instituto de Hidratação e Saúde recomenda o consumo de 1,9 e 1,5 L para homens e mulheres, respetivamente (57). Os valores preconizados pela RAM aproximam-se mais destas recomendações do que os da PDM, dado que a recomendação se situa entre 1,5 a 3,0 L de água total a ingerir. No âmbito do grupo “Gorduras e Óleos”, a RAM apresenta recomendações quanto às porções diárias de consumo dos vários alimentos deste grupo, enquanto a PDM elege o azeite como a gordura preferencial, aconselhando o seu consumo a cada refeição principal, ocupando um destaque central na Pirâmide, visto que constitui um dos pilares deste padrão alimentar. Esta fonte de lípidos é composta por ácidos gordos monoinsaturados, vitamina E e β carotenos com propriedades salutogénicas, pelo que o seu consumo deve ser valorizado (58–60). De acordo com a EFSA, o total de gordura ingerida deve corresponder entre 20 a 35% do total calórico diário para adultos (46). Ao nível do tipo de gordura a consumir, a EFSA não estipula nenhum valor, contudo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), menos de 10% devem ser atribuídos à gordura saturada, 15 a 20% para a gordura monoinsaturada e 6 a 11% para a gordura polinsaturada (61). Posto isto, o azeite devido aos seus benefícios deve ser privilegiado em relação às outras gorduras, não necessitando as restantes de ser negligenciadas, desde que não sejam ultrapassados os valores recomendados pela EFSA, uma vez que contribuem para uma maior variabilidade dentro deste grupo. Relativamente às ervas aromáticas, estas são muitas vezes encaradas como substitutos da utilização do sal, por potenciarem os sabores dos pratos, atribuindo-lhes mais cor e aromas. Esta substituição traz vantagens para a saúde, sobretudo se contribuir para alcançar as as recomendações da OMS de um consumo máximo de 5 g/dia de sal (62). Além disso, é ainda possível considerar a valorização nutricional das ervas aromáticas em vitaminas como a A, a C e do complexo B, em compostos voláteis e substâncias fitoquímicas (63). Assim sendo, é de ressalvar que a PDM aconselha a sua utilização diária, o que não se verifica na RAM, onde a menção às ervas aromáticas apenas aparece nas mensagens acessórias como sugestão de substituto do sal. Neste contexto, face aos benefícios apresentados o consumo diário de ervas aromáticas deve ser promovido. Apesar das diferenças nas recomendações nestes grupos alimentares, na generalidade verifica-se uma aproximação entre a RAM e a PDM, uma vez que os alimentos mediterrânicos mais destacados estão de acordo com o padrão alimentar português. Assim, os alimentos que se destacam para cada um dos grupos são: Óleos e Gorduras (predomina o consumo de azeite e azeitona); Carne, Pescado e Ovos (salienta-se o consumo sobretudo de peixe, em especial sardinha, carapau, atum, cavala, pescada e sarda); Hortícolas (menciona a cebola, o alho, a couve galega, os grelos, o tomate, o pimento, o pepino e as beldroegas); Fruta (predomina melão, figo, ameixa, citrinos, nêspera, romã, melancia, pêssego, maçã, pera, cerejas e uva); Cereais e Tubérculos (em especial batata doce, castanha, massa e arroz integrais, flocos de aveia e broa). Paralelamente, constatou-se que quanto ao nível de comparação III, 3,7% dos parâmetros (Tabela 2) só aparecem indicados na RAM, nomeadamente a menção às porções equivalentes, o que facilita a realização de uma alimentação variada, baseada nas quantidades recomendadas (17). A PDM não refere o parâmetro das porções equivalentes, uma vez que menciona apenas as frequências de consumo (semanalmente, diariamente e a cada refeição principal), não fazendo sequer referência à quantificação das porções recomendadas (33,64). Assume-se como uma limitação deste trabalho o facto de se considerar que as porções alimentares recomendadas por ambos os guias são

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semelhantes em termos de quantidades. A PDM não apresenta informação sobre este aspeto, o que não permite uma comparação fiel, podendo condicionar erros associados a uma comparação abusiva. Além disso, a RAM recomenda porções dirigidas a grupos etários e níveis de atividade física diferentes, o que incrementa a limitação da comparação, visto que a PDM apenas se destina à população adulta, sem fazer destrinça de recomendações por níveis de atividade física.Por fim, para o nível de comparação IV, 18,5% dos parâmetros analisados (Tabela 2) apenas surgem mencionados na PDM, como o exemplo das sementes, em que a PDM aconselha o consumo diário entre 1 a 2 porções. Estes alimentos podem contribuir para um enriquecimento nutricional das ementas (65, 66), nomeadamente devido ao seu teor de fibra e lípidos com predominância de ácidos gordos polinsaturados. Desta forma, a inclusão na alimentação dos portugueses de sementes, como as de girassol ou abóbora, produzidas em Portugal, poderia ser promovida. Relativamente ao sal, a PDM refere a necessidade de se reduzir a sua adição, contrariamente à RAM, que não o faz de forma explícita na representação gráfica do guia, embora faça referência ao assunto nos documentos acessórios à representação. Uma vez que os últimos dados relativos ao consumo de sal referem que os portugueses consomem, em média, 7,3 g de sal por dia, seria importante reforçar e promover uma menor utilização do mesmo (67, 68). Quanto ao açúcar e produtos açucarados, a OMS tem frequentemente enfocado as recomendações para a redução do consumo de açúcar, para menos de 10% do valor energético total, uma vez que se estima ser elevado e comprovadamente prejudicial à saúde (69, 70). A PDM possui a recomendação de consumo dos produtos açucarados no topo da Pirâmide, com uma frequência de consumo semanal e inferior ou igual a 2 porções. Este tipo de recomendação pode simultaneamente apresentar uma vantagem e uma desvantagem. Se por um lado a indicação de porções e frequência de consumo pode auxiliar na limitação de consumo, por fixar um valor, por outro lado a colocação dos produtos açucarados no topo da Pirâmide pode ser um fator confundidor, devido ao facto de se poder associar o topo da representação gráfica a alimentos mais importantes (71, 72). A RAM apenas apresenta informação sobre o assunto em documentos acessórios à representação e não no modelo gráfico genérico.Deste modo, é percetível que estes dois guias possuem diversas concordâncias entre si, sendo poucas as diferenças ao nível das recomendações alimentares e informações adicionais. A diferença mais evidente nestes dois guias trata-se da sua representação gráfica. A pirâmide alimentar consiste numa representação bastante comum, não só utilizada pela PDM, mas também por países como Áustria, Finlândia, Grécia, Espanha, entre outros (73). A pirâmide é uma estrutura gráfica que conduz a uma interpretação com uma orientação de cima para baixo, o que motiva uma associação hierárquica dos alimentos ou informações alimentares presentes. Os alimentos situados nas divisões mais estreitas podem erradamente ser considerados mais importantes que os alimentos localizados nas divisões inferiores (71, 72). A forma circular tem vindo a ser cada vez mais adotada. Refira-se o facto de historicamente determinados países terem guias alimentares em formato de pirâmide e terem atualizado para o formato de roda/prato. Veja-se o caso dos Estados Unidos que utilizou durante anos um guia em formato de pirâmide e que atualmente adota um formato de prato (1). Um formato circular apresenta a vantagem de não hierarquizar os alimentos, uma vez que lhes atribui igual importância. Esta representação divide-se em várias fatias de tamanhos distintos, simbolizando quais os grupos alimentares que devem ser consumidos em maiores e menores quantidades e agrupando os alimentos com propriedades nutricionais similares (17, 74).

É ainda de ressalvar que a RAM apresenta mensagens específicas relativas ao consumo moderado de vinho às refeições, exceto por crianças, grávidas e aleitantes, e o incentivo ao consumo de frutos secos oleaginosos. A razão pela qual os anteriores não surgem comtemplados em grupos alimentares pertencentes à representação gráfica é por não se desejar que o seu consumo seja feito diariamente, tal como se pretende para os grupos alimentares incluídos na RAM. Juntamente com estas recomendações é visível o incentivo à prática de atividade física e o aumento do tempo despendido em atividades de lazer; a utilização de ervas aromáticas em substituição ao sal; a promoção de técnicas culinárias saudáveis e tradicionais no quotidiano; a adoção de um estilo de vida fomentador de práticas sustentáveis, com respeito à sazonalidade e proveniência dos alimentos; o convívio e partilha no momento das refeições (33).Ao longo dos tempos tem sido observado um gradual afastamento da prática da alimentação mediterrânica por parte dos países da região do Mediterrâneo (65, 75). As possíveis causas deste acontecimento podem centrar-se na globalização e no desenvolvimento económico, que contribuem para uma maior partilha de culturas de outros povos que influenciam o consumo alimentar tradicional (65, 76, 77). Neste sentido, é importante promover este padrão alimentar de forma a serem recuperados os seus princípios e a sua aplicação por parte da população. Neste campo, um guia alimentar adaptado à nossa população, que incorpore indicações deste padrão, representa uma mais-valia no âmbito da educação alimentar. Nos manuais escolares, os conteúdos programáticos incluem temáticas relativas à alimentação, sendo disponibilizada informação sobre a RA e a PDM, o que pode potenciar alguma confusão e dificultar a comparação entre os guias, sobretudo se o enfoque não for feito na RAM e for efetuado na PDM. Será importante que a informação seja clara e concisa, dando-se destaque ao guia alimentar português. Seria igualmente fundamental que na próxima revisão curricular seja incluida nos manuais escolares informação sobre a RAM, de forma a complementar a informação veiculada pela RA, promovendo-se, assim, a DM, adaptada à realidade portuguesa.

CONCLUSÕESA RAM e a PDM constituem ferramentas que permitem boas formas de promover uma alimentação saudável, visto que ambos os guias se baseiam em recomendações alimentares suportadas pela evidência científica. Face aos pontos comuns a RAM é mais específica para a população portuguesa, porque foi elaborada com base na realidade e necessidades dos portugueses. Além disso, foi construída com base nos dados de disponibilidade alimentar nacionais, incluindo ainda informações mais esclarecedoras acerca das porções, quanto à sua quantificação. É também de ressalvar a sua forma circular, uma vez que permite uma interpretação mais fácil e imediata da informação a transmitir à população.Dada toda a nossa tradição alimentar, seria pertinente incluir na RAM, uma menção relativamente à importância de um baixo consumo de carnes processadas. Quanto ao total de sal ingerido, a RAM deveria conter uma recomendação alusiva ao limite máximo de consumo. Considera-se ainda que à semelhança da indicação para a prática de atividade física, deveria existir uma para o descanso, nomeadamente focada nas horas de sono, dado este ser importante para a manutenção de um bom estado de saúde, não só física mas também psicológica. A adaptação da RA para a RAM permitiu uma maior aproximação do guia alimentar português aos princípios da DM, o que veio enriquecer o guia e fortalecer esta ferramenta de educação alimentar. Desta forma,

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os profissionais de saúde, em concreto os nutricionistas, têm agora à sua disposição uma ferramenta mais completa e de fácil inclusão nas suas ações de promoção de saúde junto dos portugueses, esperando--se que possa também ser incluída nos manuais escolares, de forma a potenciar um ensino uniforme e consertado sobre alimentação saudável, baseada nos princípios da DM.

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João Lima1; Jéssica Rodrigues2; José Canhola2,3; Ada Rocha1,2*1 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto,Rua Dr. Roberto Frias, s/n, 4200-465 Porto, Portugal 2 Federação Portuguesa de Remo,Doca de Santo Amaro, 1350 Lisboa, Portugal 3 Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra,Estádio Universitário – Pavilhão III,Stª Clara, 3040-156 Coimbra, Portugal

*Endereço para correspondência:

Ada RochaFaculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto,Rua Dr. Roberto Frias,4200-465 Porto, [email protected]

Histórico do artigo:

Recebido a 13 de janeiro de 2017Aceite a 23 de dezembro de 2017

RESUMOVários estudos têm demonstrado uma correlação positiva entre o sucesso competitivo e o perfil antropométrico em remadores.Este trabalho teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e perfil antropométrico de atletas de remo do escalão de juvenis. Foram avaliados 163 atletas maioritariamente do sexo masculino e com idades entre os 15 e 16 anos. Os hábitos alimentares foram avaliados através de um questionário de aplicação indireta desenvolvido para o efeito e recolhidas as medidas antropométricas: peso, estatura, altura sentado, envergadura e pregas cutâneas. A maioria dos atletas era normoponderal e foi observada uma maior percentagem de gordura corporal nas atletas do sexo feminino (p<0,001) e nos atletas mais velhos (p<0,001). Cerca de 67% dos atletas referiram realizar 5 ou mais refeições por dia e os que, habitualmente, tomam o pequeno-almoço (p=0,001), meio da manhã (p=0,026) e ceia (p=0,005) apresentam uma menor percentagem de gordura corporal do que os restantes. Apenas 23,3% dos atletas ingerem fruta fresca mais do que duas vezes por dia, 27,0% sopa e 33,1% hortícolas duas vezes por dia. Aproximadamente 10% dos jovens não consomem qualquer alimento ou bebida antes do treino e mais de 10% referiram ingerir suplementos alimentares com regularidade. Verificou-se uma associação entre a ingestão de água diária e um melhor resultado desportivo (p=0,029).

PALAVRAS-CHAVEAvaliação antropométrica, Hábitos alimentares, Remadores

ABSTRACTSeveral studies have shown a positive correlation between competitive success and anthropometric profile of rowers. This study aimed to evaluate the eating habits and anthropometric profile of juvenile oar rowing athletes.163 athletes were evaluated most of them from the male gender and were aged between 15 and 16 years old. The dietary habits were evaluated through application of an indirect questionnaire developed for this purpose and the anthropometric measures were collected: weight, height, sitting height, wingspan and skinfolds.Most athletes showed normal weight and a higher percentage of fat was observed in female athletes (p <0.001) and in older athletes (p <0.001).Approximately 67% of the athletes reported to have 5 or more meals a day and those who routinely eat breakfast (p = 0.001), mid-morning (p = 0.026) and supper (p = 0.005) presented lower fat mass than the others. Only 23.3% of athletes eat fresh fruit more than twice a day, 27.0% soup and 33.1% vegetables respectively. Approximately 10% of athletes do not consume any food or drink before training and more than 10% reported to consume food supplements. There was an association between daily water intake and a better sports result (p = 0.029).

KEYWORDSAnthropometric evaluation, Food habits, Rowers

HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENILFOOD HABITS AND ANTHROPOMETRIC PROFILE OF YOUNG JUVENILE ROWERSARTIGO ORIGINAL

A.O.

HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENILACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 16-20 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1103

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INTRODUÇÃOSão inúmeros os efeitos benéficos da atividade física regular na saúde e bem estar dos indivíduos, melhorar a função muscular e a massa óssea e diminuir a incidência de doenças cardiovasculares, diabetes Mellitus, hipertensão arterial e obesidade, são alguns dos exemplos (1). A prática desportiva em jovens encontra-se associada a numerosos comportamentos positivos em relação à saúde e reduzidos comportamentos negativos (2), observando-se uma

redução de 20-40% em todas as causas de morte nos seus praticantes comparativamente aos não praticantes (3).O remo como modalidade olímpica teve início nos jogos de Paris em 1900, sendo uma das mais antigas (4). Envolve os grandes grupos musculares e requer uma capacidade aeróbia e anaeróbia bem desenvolvida (4, 5). A prática deste desporto desenvolve a capacidade de resistência e força ao nível de todo o corpo. Envolve ainda uma componente técnica e tática, nomeadamente, no que toca ao controlo

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do equilíbrio, requerendo movimentos simétricos (6-8). Apesar da duração relativamente curta de uma competição, o remo é considerado uma das modalidades desportivas de maior intensidade, exigindo do remador o desenvolvimento de diversas capacidades para ter uma boa performance (1, 9, 10).Vários estudos têm demonstrado uma correlação positiva entre o sucesso competitivo e o perfil antropométrico em remadores de pesos ligeiros e pesados (11, 12). Os remadores com melhor desempenho são mais altos, com mais massa não gorda, extremidades mais longas e com valores de pregas cutâneas mais baixos do que os seus concorrentes menos bem-sucedidos (7, 12, 13). Este perfil antropométrico encontra-se relacionado com uma maior capacidade aeróbica e anaeróbica (5, 7).As características antropométricas dos atletas podem ser usadas pelos treinadores como critério de seleção em idades precoces (14). O atleta de competição tem como objetivo alcançar a melhor condição física possível, realizando diferentes tipos de treino e cumprindo um plano alimentar de acordo com os objetivos pretendidos. O controlo regular da composição corporal é frequentemente realizado através da medição de pregas cutâneas, nomeadamente a tricipital, bicipital, subescapular, supra ilíaca, subescapular, coxa, por ser prático e fácil de realizar (8, 13). Desta forma, é possível a monitorização da eficácia dos treinos e dos planos alimentares a partir da avaliação da massa gorda e não gorda, seja em períodos de manutenção ou de alteração do peso corporal (13, 15).É fundamental que a alimentação diária proporcione a quantidade necessária de energia e nutrientes, de modo a melhorar a resposta fisiológica do atleta. A quantidade de energia necessária para atingir ou manter o peso adequado e a composição corporal dependem do sexo, da idade e do nível de exercício físico. A alimentação deve ser adequada ao calendário de competições e treinos e o momento da ingestão de uma refeição apropriada à prática desportiva (16, 17).A alimentação do atleta é semelhante à estabelecida para a população em geral. No entanto, as necessidades energéticas são maiores, para fazer face aos gastos com a realização do exercício, além de ser necessário a ingestão adicional de líquidos para cobrir as perdas hídricas (11, 17, 18). De acordo com as atuais recomendações nutricionais, a percentagem do valor energético total deve ser de 50-70% de hidratos de carbono, 15-30% de gorduras e 10-15% de proteínas (19). Vários estudos indicam que a alimentação diária dos desportistas não cumpre as recomendações nutricionais (20-23). O nutricionista tem um papel primordial na educação alimentar, com foco na correção de hábitos e orientação da ingestão alimentar contribuindo, se necessário para a perda de peso com redução da massa gorda e preservação ou aumento da massa não gorda, sem comprometimento da hidratação do atleta (15).

A faixa etária compreendida entre os 14 e os 16 anos é um período crítico caracterizado, frequentemente, por um consumo alimentar desajustado em relação às recomendações, com frequente consumo excessivo de alimentos com elevada densidade energética e um consumo reduzido de sopa e hortofrutícolas, o que se revela preocupante (24). Adicionalmente, é durante este período que sedimentam grande parte dos hábitos alimentares, que na maioria das vezes perduram na idade adulta (25), aumentando assim a importância de atuar no sentido de sensibilizar para um correto comportamento alimentar, potenciador de melhores resultados desportivos e de saúde no imediato e no futuro (26, 27).O número de refeições, o consumo de sopa, hortícolas e fruta, hábitos de hidratação e de ingestão de bebidas alcoólicas e a toma de suplementos, bem como o consumo de alimentos e/ou bebidas antes, durante e após o treino são bons indicadores da adequação dos hábitos alimentares em jovens atletas (28, 29).O objetivo deste estudo foi avaliar os hábitos alimentares e perfil antropométrico de atletas de remo portugueses da categoria de juvenis.

METODOLOGIAFoi realizado um estudo descritivo transversal, com a participação de 163 atletas de 16 clubes dos 27 existentes a nível nacional, do escalão de juvenis. Todos os clubes foram contactados tendo sido todos os atletas convocados para avaliação, tendo sido avaliados todos os que participaram no campeonato nacional e que compareceram no local de avaliação.75,5% dos atletas eram sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 16 anos (Tabela 1). A recolha de dados foi realizada no decorrer do campeonato nacional de remo, em julho de 2016, no Centro de Alto Rendimento de Montemor--o-Velho. Previamente à recolha de dados foi solicitada autorização à Federação Portuguesa de Remo, bem como o consentimento informado para a participação neste estudo, aos encarregados de educação de todos os atletas. A cada atleta, no momento da avaliação, foram também explicados os objetivos e procedimentos deste trabalho. Os procedimentos utilizados respeitaram as normas internacionais da Declaração de Helsínquia (1975).Os atletas foram inquiridos acerca do consumo alimentar habitual através de questionário de aplicação indireta desenvolvido para o efeito. Através deste questionário alimentar foi avaliado o número de refeições, consumo de sopa, hortícolas e fruta, hábitos de hidratação e de consumo de bebidas alcoólicas e suplementos, bem como o consumo de alimentos e/ou bebidas antes, durante e após o treino.

HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENILACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 16-20 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1103ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

Caracterização antropométrica da amostra, de acordo com a faixa etária e o género

Tabela 1

IDADE (ANOS) PESO (KG) ALTURA

(CM) IMCPERCENTIL

MASSA GORDA(%)

ENVERGADURA(CM)

ESTATURASENTADA

(CM)EXCESSO DE PESO (P85 ≤ IMC < P97)

OBESIDADE (IMC ≥ P97)

N Média (±D.P.) Média (±D.P.) Média (±D.P.) N (%) N (%) Média (±D.P.) Média (±D.P.) Média (±D.P.)

Ambos os sexos

Total 160 64,5 (±9,4) 125,0 (±13,5) 21,9 (±2,5) 31 (19,4%) 6 (3,7%) 13,3 (±6,6) 174,4 (±9,6) 91,1 (±4,4)

15 80 62,2 (±9,7) 169,8 (±8,2) 21,5 (±2,6) 11 (6,9%) 4 (2,5%) 12,8 (±6,3) 172,5 (±9,2) 89,9 (±4,4)

16 80 66,7 (±8,5) 173,2 (±8,0) 22,2 (±2,4) 14 (12,5%) 2 (1,2%) 13,8 (±7,0) 176,3 (±9,6) 92,3 (±4,1)

Rapazes

Total 123 65,6 (±9,3) 174,1 (±7,2) 21,6 (±2,4) 20 (12,5%) 4 (2,5%) 10,4 (±3,2) 177,6 (±7,9) 92,2 (±4,3)

15 57 63,2 (±9,9) 172,7 (±7,0) 21,1 (±2,5) 5 (3,1%) 3 (1,9%) 10,2 (±3,6) 175,7 (±7,9) 91,1 (±4,5)

16 66 67,6 (±8,4) 175,3 (±7,3) 21,9 (±2,2) 15 (9,4%) 1 (0,6%) 10,5 (±3,0) 179,2 (±7,6) 93,2 (±3,8)

Raparigas

Total 37 60,7 (±8,6) 162,6 (±4,6) 23,0 (±2,7) 11 (6,9%) 2 (1,2%) 23,5 (±5,1) 163,4 (±6,2) 87,5 (±2,6)

15 23 59,6 (±8,9) 162,2 (±4,8) 22,6 (±2,6) 6 (3,8%) 1 (0,6%) 23,4 (±4,4) 163,9 (±6,7) 86,9 (±2,4)

16 14 62,3 (±8,1) 163,2 (±4,4) 23,6 (±2,7) 5 (3,1%) 1 (0,6%) 23,7 (±6,2) 162,6 (±5,7) 88,3 (±2,8)

IMC: Índice de Massa Corporal

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O consumo de sopa, hortícolas e fruta foi avaliado através de uma escala com 8 possibilidades de resposta, desde “nunca” até “todos os dias, mais que duas vezes por dia”.Na questão relativa ao consumo de água era pedido aos atletas que quantificassem em litros o consumo médio diário de água, incluindo chá, café e infusões. No que se refere às bebidas alcoólicas, foi questionada a frequência de ingestão, e ainda que identificassem as bebidas que costumam consumir. Quanto à ingestão de suplementos, para além de questionar acerca da sua utilização, foi também pedido que indicassem qual(ais) utilizavam.A ingestão alimentar antes, durante a após o treino foi inquirida com respeito à frequência, através de uma escala de resposta com quatro opções: “Nunca”, “Poucas vezes”, “Quase sempre” e “Sempre”. Posteriormente através de resposta aberta os atletas foram questionados acerca do tipo e quantidade de alimentos ingeridos nesses momentos.A avaliação antropométrica foi realizada recorrendo a métodos diretos como a medição do peso, estatura e envergadura e métodos indiretos – medição de pregas cutâneas, para avaliação da percentagem de gordura corporal.A medição do peso e da estatura foi realizada de acordo com os procedimentos recomendados internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (30) e aceites pela Direção-Geral da Saúde em Portugal (31).A estatura foi medida com recurso a estadiómetro portátil marca SECA, com uma precisão de 1 mm e o peso com balança digital marca SECA, com uma precisão de 100 g. Para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) foi utilizada a fórmula de Quetelet (32) e foram utilizados os referenciais da OMS de acordo com a faixa etária para categorizar o IMC destes jovens (30).Foram medidas 6 pregas cutâneas utilizando o lipocalibrador Holtein com sensibilidade de 0,2 mm, de acordo com as recomendações da Federação Internacional de Remo (tricipital, bicipital, subescapular, supra ilíaca, abdominal e da coxa) (33). Uma prega de pele e de tecido subcutâneo foi presa firmemente entre o polegar e o indicador para realizar a medição. Foram realizadas três medições de cada prega, por avaliadores treinados e calculada a média. A percentagem de gordura corporal foi calculada multiplicando a soma das pregas pelos respetivos fatores de conversão para o sexo masculino: (Soma das pregas cutâneas x 0,1051) + 2,585 e para o sexo feminino (Soma das pregas cutâneas x 0,1548 + 3,58) (34).A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa informático Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0 e do Programa Microsoft Office Excel 2010. Foi utilizada a correlação de Spearman para verificar a associação entre as variáveis. Adicionalmente, foram realizados o teste de Kruskal-Wallis e o Teste t de student. Foi considerado como nível de significância crítico para rejeição da hipótese nula, um valor de p inferior a 0,05.

RESULTADOS Perfil AntropométricoVerificou-se que as atletas apresentam uma maior percentagem de gordura corporal (p<0,001) e um valor maior de IMC (p=0,002) do que os rapazes. Verificou-se que os atletas mais velhos apresentam um valor de IMC (p<0,001) e uma percentagem de massa gorda superior (p<0,001) à dos mais jovens.Na Tabela 2 apresentam-se as correlações obtidas entre os parâmetros antropométricos avaliados. Foram encontradas associações positivas fortes, com significado estatístico, entre o peso e os restantes parâmetros, à exceção da percentagem de massa gorda. Verifica-se também correlações fortes entre a estatura e a envergadura, estatura e altura sentado e a altura sentado e a envergadura.O IMC continua a ser um preditor aceitável da percentagem de massa gorda uma vez que foi encontrada uma correlação positiva moderada, com significado estatístico, entre as variáveis. Os indivíduos com maior envergadura apresentam uma percentagem de massa gorda inferior, atendendo à correlação obtida (Tabela 2).

Refeições diáriasA maioria dos atletas inquiridos (67,4%) referiram realizar 5 ou mais refeições por dia (Tabela 3).Dos inquiridos apenas 2,5% não têm por hábito tomar o pequeno--almoço e 30,1% não tomam qualquer refeição a meio da manhã. No entanto, 2% dos remadores referiram fazer normalmente um segundo meio da manhã (Tabela 3).Todos os atletas almoçam e apenas um não tem por hábito jantar. Em relação ao lanche da tarde, 8,0% referem não lanchar e 14,7% costumam fazer dois lanches, durante a tarde. 23,9% dos jovens remadores tomam uma refeição ligeira (ceia) antes de dormir (Tabela 3).Verificou-se que os atletas que habitualmente tomam o pequeno-almoço (p=0,001), meio da manhã (p=0,026) e ceia (p=0,005) apresentam uma menor percentagem de gordura corporal do que os restantes. Os atletas do sexo masculino referem ingerir mais frequentemente o pequeno--almoço (p<0,001) e a ceia (p=0,035) do que as raparigas.

Consumo de fruta, sopa e hortícolasApenas 23,3% dos inquiridos ingere fruta fresca mais do que duas vezes por dia. O consumo de sopa e hortícolas duas vezes por dia foi referido por 27,0% e 33,1%, respetivamente (Tabela 4).Verificou-se uma correlação positiva fraca entre a frequência de consumo de fruta e sopa (r=0,287; p<0,001), o consumo de fruta e hortícolas (r=0,197; p=0,012) e o consumo de sopa e hortícolas (r=0,268; p=0,001).Não se verificaram diferenças na frequência de consumo de fruta, sopa e hortícolas entre sexos, nem correlação entre os dados antropométricos dos atletas e estas frequências de consumo.

Correlação entre os parâmetros antropométricos dos atletas avaliados

Tabela 2

ESTATURA (CM) IMC ESTATURA SENTADO (CM) ENVERGADURA (CM) % GORDURA

r p r p r p r p r pPeso (Kg) 0,630 <0,001 0,741 <0,001 0,657 <0,001 0,611 <0,001 0,123 0,127

Altura (cm) -0,041 0,610 0,873 <0,001 0,913 <0,001 -0,480 <0,001

IMC 0,098 0,225 -0,011 0,894 0,597 <0,001

Estatura sentado (cm) 0,766 <0,001 -0,355 <0,001

Envergadura (cm) -0,502 <0,001

IMC: Índice de Massa Corporal

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Consumo de água e bebidas alcoólicasEm média os jovens remadores referiram ingerir 1,57 (±0,68) L de água/dia (mínimo 0,5 e máximo 5 L). Foi encontrada uma associação significativa entre o sexo masculino e uma maior ingestão de água (p<0,001). Apesar da idade dos atletas, 3,7% referiram ingerir bebidas alcoólicas, e fazê-lo com uma periodicidade de 1-3 dias por semana. Em 83,3% dos casos a bebida alcoólica referida foi a cerveja e em 16,7% dos casos shots.Foi encontrada uma correlação entre o consumo de bebidas alcoólicas e um menor consumo de sopa (r=0,162; p=0,038).

Ingestão de suplementosDos atletas inquiridos, 10,4% referiram ingerir suplementos alimentares com regularidade. Na Tabela 5 é apresentada a distribuição de consumo por tipo de suplemento.Foi encontrada uma associação entre o consumo de suplementos e um peso corporal mais elevado (p=0,03).Verificou-se que o consumo de suplementos é superior nos rapazes (12,2% vs. 5,4%).

Ingestão alimentar antes, durante e após o treinoApesar da importância da ingestão de alimentos e/ou bebidas antes do treino, 10,4% dos atletas inquiridos referem não costumar ingerir qualquer alimento ou bebida antes do treino. Dos que realizam esta refeição, apenas 57,1% o fazem sempre.98,8% dos atletas costumam ingerir água durante o treino e destes 94,4% referiram fazê-lo sempre. Foi encontrada uma correlação entre a frequência de ingestão de água durante o treino e a menor percentagem de gordura corporal (r=0,160; p<0,05).1,8% dos inquiridos não ingerem qualquer alimento ou bebida depois do treino. Dos que ingerem, 75,8% referiram fazê-lo sempre.Não se encontrou relação entre os resultados desportivos e os dados antropométricos e hábitos alimentares. Destaca-se, contudo, a associação encontrada entre a ingestão de água e a melhor classificação na regata (p=0,029).

DISCUSSÃO DOS RESULTADOSA distribuição por sexos dos atletas avaliados é concordante com a encontrada nos remadores a nível nacional e internacional, havendo uma predominância notória do sexo masculino (15, 18).A maioria dos atletas avaliados é normoponderal, o que se encontra em concordância com outros estudos, sendo os valores médios de IMC semelhantes (5, 14-16).No presente estudo, não se encontrou correlação entre os valores de IMC e de percentagem de gordura corporal com melhores resultados desportivos, o que contraria os resultados obtidos noutros estudos (5, 14). Por outro lado, Perera et al encontraram uma relação entre o peso corporal e a performance para remadoras, mas não encontrou relação entre a performance dos atletas e a sua gordura corporal (12).Alguns estudos mostram que em atletas de remo, o aumento da idade está relacionado com uma diminuição do IMC e da percentagem de gordura corporal (14, 15). No entanto, neste trabalho foi encontrada uma relação inversa, que poderá ser justificada pelo facto dos atletas avaliados serem todos da categoria juvenil (15-16 anos).O IMC e a percentagem de gordura corporal foi superior nas raparigas, encontrando-se em concordância com outros estudos a nível nacional e internacional (15, 16).Os suplementos proteicos foram os mais utilizados pelos atletas avaliados, o que se encontra de acordo com um trabalho realizado em atletas canadianos (35).O hábito de tomar o pequeno-almoço, realizar um segundo lanche a meio da manhã e a ceia, bem como a frequência de ingestão hídrica durante o treino estão associados a uma menor percentagem de massa gorda, nos atletas avaliados.Os rapazes realizam mais frequentemente o pequeno-almoço e a ceia e apresentam uma maior ingestão hídrica, fatores que contribuem para uma melhor adequação da percentagem de massa gorda, o que poderá conferir-lhes alguma vantagem competitiva.O facto de apenas 23,3% dos atletas inquiridos ingerirem fruta fresca mais do que duas vezes por dia, de apenas 27,0% e 33,1% ingerirem sopa e hortícolas, duas vezes por dia, respetivamente, e de 10,4% dos inquiridos não costumarem tomar qualquer alimento ou bebida antes do treino, assim como a correlação encontrada entre o consumo de bebidas alcoólicas e um menor consumo de sopa e entre o consumo de suplementos e um maior peso corporal, revela a necessidade de corrigir hábitos alimentares desadequados, e a importância do acompanhamento nutricional dos atletas.A maior ingestão hídrica global parece estar associada a um melhor resultado desportivo, o que evidencia o papel importante da hidratação do atleta na performance desportiva (36).O consumo de sopa, fruta e hortícolas correlacionam-se positivamente, o que demonstra coerência na ingestão dos vários itens alimentares avaliados promotores de saúde. Adicionalmente, o consumo de sopa, esteve associado a um menor consumo de bebidas alcoólicas, o que reforça a tendência anterior.

Frequência de consumo de fruta, sopa e hortícolas pelos atletas

Tabela 4

FREQUÊNCIAFRUTA SOPA HORTÍCOLAS

N % N % N %Nunca 0 0 3 1,8 8 4,9Menos que um dia por semana 0 0 6 3,7 6 3,7

Uma vez por semana 1 0,6 11 6,7 4 2,5

2-4 vezes por semana 13 8,0 46 28,2 25 15,3

5-6 vezes por semana 9 5,5 17 10,4 17 10,4Todos os dias, uma vez por dia 30 18,4 35 21,5 48 29,4

Todos os dias, duas vezes por dia 72 44,2 44 27,0 54 33,1

Todos os dias, mais que duas vezes por dia 38 23,3 1 0,6 1 0,6

Número de refeições realizadas pelos atletas

Tabela 3

N.º DE REFEIÇÕES N %

3 3 1,8

4 50 30,7

5 70 42,9

6 27 16,6

7 11 6,7

8 2 1,2

Suplementos alimentares consumidos pelos atletas

Tabela 5

SUPLEMENTO N %

Whey Protein 9 52,9

BCA's 3 17,6

Magnésio 2 11,8

Multivitamínico 3 17,6

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BCA: Branched-chain amino acids- aminoácidos de cadeia ramificada

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CONCLUSÕESVerificaram-se diferenças significativas entre sexos e idades no perfil antropométrico dos atletas avaliados. Observou-se um baixo consumo de sopa, fruta e hortícolas e consumo elevado de suplementos alimentares. Mostra-se a necessidade de intervenção ao nível da promoção de hábitos alimentares, tendo em vista uma otimização do perfil antropométrico e dos resultados desportivos.

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Mariana Almeida1; Andreia Oliveira1,2*1 Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, Rua Carlos da Maia, n.º 296, 4200 – 150 Porto, Portugal

2 EPIUnit – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Rua das Taipas, n.º 135, 4050-600 Porto, Portugal

*Endereço para correspondência:

Andreia OliveiraFaculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, Rua Carlos da Maia, n.º296, 4200 – 150 Porto, [email protected]

Histórico do artigo:

Recebido a 21 de dezembro de 2017Aceite a 31 de dezembro de 2017

RESUMOO estudo dos padrões alimentares capta o efeito cumulativo e de interação dos vários alimentos e nutrientes e podem ser mais facilmente interpretados pela população, assumindo assim particular importância em Saúde Pública. O Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico são padrões alimentares definidos por uma abordagem orientada por hipóteses prévias (a priori) e são representativos de uma determinada região, como é o caso de Portugal, e dos seus costumes culturais e sociais, reforçados ao longo de vários anos. Cada um apresenta na sua composição propriedades que lhes conferem o estatuto de alimentação saudável. Em termos de efeitos benéficos na saúde, o Padrão Alimentar Mediterrânico e os seus componentes têm sido exaustivamente associados a um menor risco cardiovascular, conferindo também um papel protetor sobre a incidência e mortalidade por cancro, em especial cancro da mama, da próstata, gástrico e colorretal. O Padrão Alimentar Mediterrânico também apresenta evidência de ter um papel favorável na prevenção e tratamento da obesidade, diabetes, doenças inflamatórias reumáticas, osteoporose e a nível cognitivo. Em relação ao papel do Padrão Alimentar Atlântico na saúde, este tem muito menor evidência fruto da sua definição muito mais recente, tendo sido já associado a melhor perfil cardiovascular. A ocidentalização destes padrões alimentares tradicionais preocupa a comunidade científica em geral.

PALAVRAS-CHAVEDoença, Padrão Alimentar Atlântico, Padrão Alimentar Mediterrânico, Padrões alimentares, Saúde

ABSTRACTThe study of dietary patterns captures the cumulative and interaction effect of various foods and nutrients and can be more easily interpreted by the population, thus assuming particular importance in Public Health. The Mediterranean Diet and the Atlantic Diet are dietary patterns defined by an hypothesis-oriented approach (a priori) and are representative of a particular region, such as Portugal, and its cultural and social customs, reinforced over several years. Each one has properties that give them the status of healthy diets. In terms of benefits to health, the MD and its components have been extensively associated with a lower cardiovascular risk, and also a protective effect on cancer incidence and mortality, especially breast cancer, prostate, gastric and colorectal cancer has been described. The MD also presents evidence of having a favorable role in the prevention and treatment of obesity, diabetes, inflammatory rheumatic diseases, osteoporosis and at the cognitive level. The role of the AD in health has much less evidence due to its much more recent definition, but it has already been associated with a better cardiovascular profile. The westernization of these traditional dietary patterns concerns the scientific community in general.

KEYWORDSDisease, Atlantic Diet, Mediterranean Diet, Dietary patterns, Health

PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE MEDITERRANEAN AND ATLANTIC DIETARY PATTERNS – AN APPROACH TO KEY CHARACTERISTICS AND HEALTH EFFECTS

PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1104

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ARTIGO DE REVISÃOA.R.

INTRODUÇÃOOs padrões alimentares captam o efeito cumulativo e de interação dos vários alimentos e nutrientes e podem ser facilmente interpretados pela população (1), tendo assim particular importância em Saúde Pública. Para avaliar a adesão aos padrões alimentares são mais frequentemente usados em estudos observacionais dois tipos de abordagem metodológica: a posteriori, que utiliza métodos estatísticos exploratórios para identificar grupos de indivíduos que apresentam consumos semelhantes ou alimentos/nutrientes frequentemente consumidos em conjunto e o método a priori, que utiliza índices ou scores que avaliam a adesão a recomendações nutricionais ou

guias alimentares, ou a padrões de consumo específicos de uma população (1, 2), como é o caso do Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico. Ambos são o espelho de uma cultura gastronómica ancestral e tradicional que pode ser observada, ainda hoje, nas regiões que as adotaram como padrão alimentar, como é o caso de Portugal.O conceito de Alimentação Mediterrânica espelha diferentes culturas alimentares presentes na zona do Mediterrâneo (3). A sua definição inclui diretrizes para o alto consumo de azeite virgem extra (principal gordura na alimentação), produtos hortícolas, fruta, cereais, leguminosas e frutos secos/gordos; o consumo moderado de peixe e outras

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23PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017. 1104ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

carnes, de produtos lácteos, de vinho tinto, de ovos e a baixa ingestão de doces (4). Em relação ao Padrão Alimentar Atlântico, este é definido como a dieta tradicional da região da Galiza e norte de Portugal (5). A sua definição inclui o consumo elevado de peixe e crustáceos, assim como de leguminosas, cereais, hortícolas e frutas; o consumo diário de produtos lácteos; o consumo moderado a elevado de carne, especialmente carne vermelha; o azeite como principal gordura culinária (mas não como principal gordura na alimentação) e a moderada ingestão de vinho (5, 6). A contextualização histórica e a definição de cada um dos padrões serão descritos nesta revisão da literatura, assim como as opções metodológicas disponíveis para a sua definição e caracterização. Os efeitos na saúde, quer do Padrão Alimentar Mediterrânico, de forma mais extensa e fundamentada, quer do Padrão Alimentar Atlântico serão explorados neste trabalho, nomeadamente a sua associação com a doença e mortalidade cardiovasculares, o cancro, a obesidade, doenças do foro mental, entre outras patologias. Serão sugeridos mecanismos potenciais para esses efeitos. Por último, uma análise comparativa entre ambos os padrões será fundamentada.

Padrão Alimentar MediterrânicoPara os Gregos antigos, a Alimentação Mediterrânica original era representativa do povo onde a carne era considerada uma ostentação, apenas consumida em dias festivos, e as refeições baseadas em vegetais crus, queijo de cabra e frango, ocasionalmente. Por definição é um padrão alimentar baseado nos padrões tradicionais da ilha de Creta (Grécia) e Sul de Itália mas espelha diferentes culturas alimentares presentes na zona do Mediterrâneo (3), podendo dizer-se que é muito mais que uma dieta na medida em que exibe o encontro de várias expressões culturais, ao nível do seu estilo de vida e cultura alimentar (7). Nos anos 90, os padrões alimentares dos países Mediterrânicos começaram a afastar-se do padrão originalmente descrito (8). Nas últimas décadas, tem sido sugerida uma diminuição da adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico nos países da região (9), algo que já havia sido previsto em 2005 (10). Atualmente, nos países Mediterrânicos, assiste-se a uma mudança do padrão tradicional havendo diversas variações do padrão original e uma aproximação a um padrão alimentar mais ocidental, devido à modernização das áreas urbanas e à globalização do estilo de vida (9, 11). Já em 2010, o Padrão Alimentar Mediterrânico foi considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como Património Intangível da Humanidade sendo reconhecido como padrão alimentar, criado e transmitido ao longo de vários séculos. É vista como uma forma única de usar a comida como base para a construção de uma comunidade em que tradições alimentares, como o comer em comunidade, são elementos de um código alimentar.No decorrer do ano de 2012, o Padrão Alimentar Mediterrânico foi incluído no grupo das Dietas mais Sustentáveis do Mundo pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO)(12), pelo facto de ser um padrão de baixo impacto ambiental devido à preferência pelo consumo de alimentos de origem vegetal, em vez de origem animal (13).

Definição A definição de Alimentação Mediterrânica tem evoluído e variado ao longo do tempo. Numa primeira instância foi definida com sendo uma dieta baixa em gordura saturada e rica em óleos vegetais por Ancel Keys, após observações na Grécia e Sul de Itália nos anos 60 (4). Uma das limitações metodológicas de estudar a Alimentação Mediterrânica são as diferentes definições que lhe são atribuídas, o que dificulta a

compreensão dos seus efeitos e benefícios para a saúde. A solução passará pela formulação de uma definição mais universal que combine exemplos modernos e tradicionais (4). No entanto, a comunidade científica está de acordo em duas caraterísticas: a contribuição dos macronutrientes para a ingestão calórica total e a qualidade da gordura ingerida. O Padrão Alimentar Mediterrânico privilegia o uso do azeite como principal gordura culinária; o maior consumo de alimentos de origem vegetal (fruta, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos, como as nozes e amêndoas); o consumo diário e abundante de cereais, batatas, massa, arroz, pão e produtos integrais; consumo de alimentos pouco processados, frescos e de época; consumo moderado de produtos lácteos com baixo teor de gordura; consumo moderado de peixe e ovos; menor consumo de carne vermelha (preferência pelas carnes magras); consumo de fruta fresca como sobremesa (doces e pastelaria ocasionalmente); consumo moderado de vinho (geralmente às refeições), integrados num estilo de vida saudável (4, 14-16). Os guias alimentares representam uma forma simplificada de transmitir informação educacional à população. As pirâmides têm sido consideradas uma maneira útil de exibir os princípios gerais do Padrão Alimentar Mediterrânico (4). A mais recente foi criada pela Fundação da Dieta Mediterrânica (FDM), em 2010 (14). O intuito da FDM era criar uma pirâmide adaptada ao estilo de vida mediterrânico tendo em conta o contexto geográfico, socioeconómico e cultural. Pela primeira vez, a pirâmide do Padrão Alimentar Mediterrânico junta conceitos como nutrição, produtos amigos do ambiente, biodiversidade, produção de comida local, atividade física e convívio familiar à mesa, com o conceito da sustentabilidade (14, 17). Mais recentemente, a Direção-Geral da Saúde, através do seu portal do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, juntamente com a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, apresenta a nova Roda da Alimentação Mediterrânica, que tem como base a roda dos alimentos portugueses (18). Pela primeira vez, esta incorpora os princípios sobre o estilo de vida saudável associados ao Padrão Alimentar Mediterrânico. Cada área da roda, e sua respetiva dimensão, representa a importância que cada grupo deve ter na nossa alimentação diária. O círculo exterior enfatiza os alimentos mediterrânicos de cada grupo. Ao contrário da pirâmide, a nova roda dos alimentos tem mais informação nutricional. Os princípios que a regem são: a preferência por alimentos locais e da época; valorização da gastronomia saudável; a partilha de refeições e tradições; o uso de ervas aromáticas; valorizar o consumo de frutos secos/gordos; beber vinho com moderação (em caso de amamentação, o abandonar do consumo de vinho) e ter uma vida ativa.

Índices de adesão ao Padrão Alimentar MediterrânicoOs índices de Alimentação Mediterrânica têm como objetivo avaliar a adesão a este tipo de padrão alimentar, tendo como referência um padrão mediterrânico tradicional, já definido anteriormente. Os mais frequentemente descritos na literatura são: Índice da Dieta Mediterrânica (DMS-2) (19); Índice de Qualidade da Dieta Mediterrânica (DMQI) (20); Índice de Adesão a um Padrão de Dieta Mediterrânica Cardioprotetor (IAPDM-C) (21); Índice de Adequação Mediterrânica (MAI) (22); Adesão ao Padrão de Dieta Mediterrânica (23); Escala do Padrão de estilo Mediterrânico (24); Score de Dieta Mediterrânica (SDM) (25); Índice para avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico em indivíduos mais velhos com alto risco cardiovascular (MEDAS) (26), o Score de Adesão à Dieta Mediterrânica alternativo (aMed) (27) e a ferramenta PREDIMED (28).O primeiro índice a ser proposto foi o de Trichopoulou e colaboradores, com o objetivo de avaliar a relação entre adesão ao Padrão Alimentar

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Mediterrânico e a mortalidade total, bem como a mortalidade por doença coronária (DC) e mortalidade por cancro, com ajuste para idade, sexo, índice de massa corporal (IMC) e nível de atividade física (19). Esta investigação envolveu 22.043 adultos na Grécia, os quais preencheram um questionário extenso acerca da frequência alimentar. A adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico tradicional foi avaliada por uma escala de 10 pontos que incorporou as caraterísticas principais desta alimentação. Na construção desta escala foram incluídos nove componentes: cinco considerados como integrantes de um Padrão Alimentar Mediterrânico (produtos hortícolas, leguminosas, frutas e nozes, cereais e peixes) e dois considerados mais afastados deste padrão (carne/aves e produtos lácteos). Em relação aos alimentos integrantes, indivíduos cujo consumo estava abaixo da mediana de consumo da população pontuaram 0 e indivíduos cujo consumo era igual ou superior à mediana foi atribuído um valor de 1. Quanto aos restantes, a pontuação foi invertida. Assim, a pontuação total variou de 0 (adesão mínima à DM) a 9 (adesão máxima à DM), sendo que maior grau de adesão foi relacionado com a redução da mortalidade em geral (19). Cada autor tenta adaptar o padrão alimentar às características da sua população, pelo que existem descritas várias variações do mesmo índice. Esta multiplicidade metodológica pode dificultar a comparação entre diferentes estudos, mas por outro lado revela a importância e relevância do tema na esfera científica.

Efeitos na SaúdeO Padrão Alimentar Mediterrânico tem sido extensivamente associado a outcomes em saúde. Alguns dos seus constituintes individuais como o azeite, o peixe, a fruta, os produtos hortícolas e as leguminosas, os frutos gordos e o vinho têm reconhecido papel na regulação dos mecanismos para o desenvolvimento de várias doenças, como a doença cardiovascular (DCV), o cancro, a obesidade entre outras.

Padrão Alimentar Mediterrânico e Doença CardiovascularO Padrão Alimentar Mediterrânico e os seus componentes têm sido associados a um menor risco de DCV por mecanismos que incluem a redução de fatores desencadeadores como a pressão arterial, os lípidos sanguíneos, a disfunção endotelial, a glicose plasmática, o IMC e o perímetro de cintura (29). Também parece promover o aumento da biodisponibilidade de óxido nítrico, apresentando propriedades antioxidantes e efeitos anti-inflamatórios. O primeiro estudo de intervenção com o Padrão Alimentar Mediterrânico foi o Lyon Heart Study (30), o qual avaliou 605 indivíduos com antecedentes de enfarte agudo do miocárdio aleatorizados em dois grupos de intervenção: um grupo a seguir o Padrão Alimentar Mediterrânico enriquecido com o ácido gordo alfa-linolénico e outro grupo a seguir uma dieta controlo. Ao fim de 27 meses verificou-se uma redução na incidência de eventos coronários (73%) assim como na mortalidade coronária (70%). O estudo concluiu que o Padrão Alimentar Mediterrânico, em prevenção secundária, é uma estratégia não farmacológica eficaz a médio prazo, na diminuição dos eventos coronários a nível clínico (30). De maneira a avaliar os efeitos a longo prazo do Padrão Alimentar Mediterrânico em novos eventos de DCV em mulheres e homens com elevado risco cardiovascular, foi desenvolvido o estudo PREDIMED (Prevenção com Dieta Mediterrânica) (28, 31). Este é um ensaio clínico randomizado, de prevenção primária e intervenção nutricional realizado em larga escala entre 2003 e 2011 em Espanha. O endpoint final primário foi a DCV incidente, e os endpoints secundários incluíram a mortalidade total, a diabetes, a síndrome metabólica, a doença arterial periférica, a fibrilação atrial, as doenças neurodegenerativas e diferentes tipos de cancro. Os participantes foram aleatoriamente alocados a três

grupos de intervenção: Alimentação Mediterrânica suplementada com azeite virgem extra; Alimentação Mediterrânica suplementada com frutos gordos e dieta controlo (conselhos sobre uma dieta com baixo teor de gordura). Este estudo mostrou que o Padrão Alimentar Mediterrânico tradicional tem um efeito protetor para a DCV na medida em que influencia beneficamente os fatores de risco cardiovasculares emergentes (31). Observou-se uma redução em 30% do risco de DCV com o Padrão Alimentar Mediterrânico sendo que os resultados mostram que uma dieta rica em gorduras não saturadas é melhor para a saúde cardiovascular do que uma dieta com baixo teor de gordura. Também mostrou resultados promissores em pessoas idosas com alto risco de DCV, sendo igualmente eficaz no controlo de parte do risco residual observado após tratamento dos fatores de risco cardiovascular (31). Uma meta-análise que investigou a associação entre a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico e o estado de saúde mostrou que o aumento em 2 pontos na adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico determina uma redução em 10% de incidência ou morte por DCV (32).

Padrão Alimentar Mediterrânico e CancroVários estudos observacionais de coorte sugerem um papel protetor do Padrão Alimentar Mediterrânico sobre a incidência e mortalidade por cancro. Uma meta-análise de estudos de coorte prospetivos concluiu que uma maior adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico reduz em 6% a mortalidade e incidência do cancro (32). Na coorte EPIC (Investigação Prospetiva Europeia em Cancro e Nutrição), foram seguidos durante 4 anos 22.000 indivíduos e uma maior adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico relacionou-se com a redução em 24% da mortalidade por cancro (19). Nos países mediterrânicos há uma menor incidência de vários tipos de cancro, sugerindo sob uma perspetiva ecológica que a Alimentação Mediterrânica poderia prevenir 25% dos casos de cancro colorretal, 10-15% do cancro endometrial e da próstata e 15-20% do cancro da mama (33). O cancro da mama apresenta-se como o mais comum em mulheres de todo o mundo. O aumento dos níveis endógenos de estrogénio estão associados com o aumento do risco de cancro da mama, e o Padrão Alimentar Mediterrânico pode baixar esses níveis (34). Estudos mostram que a adesão a um padrão alimentar saudável, como o Mediterrânico, mostra ser eficaz na diminuição do risco de cancro da mama sendo importante enfatizar a importância de aumentar o consumo de alimentos de origem animal e vegetal ricos em ácidos gordos polinsaturados n-3, e diminuir o consumo de alimentos ricos em n-6 (35).Nos homens, o cancro da próstata é o 2.º mais comum a nível mundial e o mais comum a nível europeu, havendo evidência de baixa incidência e mortalidade desta doença em países que adotam o Padrão Alimentar Mediterrânico (36). No entanto, ainda há pouca evidência que avalie o efeito do Padrão Alimentar Mediterrânico na incidência do cancro da próstata. No estudo de coorte EPIC, com o objetivo de explorar a associação entre a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico e a incidência do adenocarcinoma gástrico, verificou-se que uma maior adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico estava associada a uma redução significativa de 33% do risco de cancro gástrico. Por cada ponto de aumento no índice de adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico, o risco diminui 5% (37).Em relação ao cancro colorretal, um estudo conduzido em 45.275 participantes italianos do estudo EPIC, mostrou que o índice de Alimentação Mediterrânica italiano associou-se inversamente com o risco de cancro (38).

Padrão Alimentar Mediterrânico e ObesidadeO Padrão Alimentar Mediterrânico parece ter um papel relevante na

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prevenção da obesidade. Devido aos seus atributos e propriedades na saúde, constitui uma ferramenta interessante e eficaz para a terapia comportamental no tratamento da obesidade (39). O Padrão Alimentar Mediterrânico tem sido associado com diversos outcomes relacionados com a obesidade. Revisões sistemáticas anteriores (40, 41), as quais examinaram resultados de diversos estudos de coorte prospetivos e transversais, assim como de ensaios clínicos, concluíram que embora nem todos os estudos mostrem um efeito protetor do Padrão Alimentar Mediterrânico no peso corporal e na obesidade, existe evidência que sugere um possível papel protetor deste padrão alimentar. Os efeitos anti-obesidade do Padrão Alimentar Mediterrânico têm sido frequentemente salientados na literatura (42, 43). Os seus efeitos benéficos devem-se sobretudo ao elevado consumo de alimentos de origem vegetal que fornecem uma grande quantidade de fibra, baixa densidade energética e baixa carga glicémica. Gorduras monoinsaturadas, em especial o azeite, também ajudam a melhorar o metabolismo da glicose, a aumentar a oxidação da gordura pós-prandial, a realçar a termogénese induzida pela dieta e assim, a aumentar a despesa diária total de energia. Também parece ser um elemento-chave nos efeitos do Padrão Alimentar Mediterrânico no controlo do peso corporal (44). Outros fatores que também podem contribuir para os efeitos anti-obesidade do Padrão Alimentar Mediterrânico são os ácidos gordos polinsaturados n-3, os compostos fenólicos, a fibra e os antioxidantes da dieta, como é o caso do resveratrol (42, 43). Os ácidos gordos monoinsaturados, especialmente o oleico, estão associados a um menor número de adipócitos no tecido adiposo, sugerindo que eles podem limitar a hiperplasia em populações obesas (44). Padrão Alimentar Mediterrânico e outras PatologiasO Padrão Alimentar Mediterrânico tem efeitos benéficos em muitas outras patologias, entre elas a osteoporose. A incidência de osteoporose é mais baixa na área do Mediterrâneo, algo que é maioritariamente atribuído ao padrão alimentar específico da zona (45). As propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e alcalinizantes dos seus componentes contribuem para o efeito “poupador do osso” (46). Alguns estudos demonstram que a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico tradicional tem sido associada a uma elevada densidade mineral óssea e reduzido risco de fratura (45). Assim, é demonstrada uma associação entre caraterísticas-chave individuais do Padrão Alimentar Mediterrânico e a redução da incidência da osteoporose ou ocorrência de fratura, como o consumo elevado de fruta, produtos hortícolas e azeite, o consumo moderado a alto de peixe e a ingestão moderada de bebidas alcoólicas (45).Uma revisão sistemática e meta-análise de 2014 sugere que uma elevada adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico está associada com o risco reduzido de desenvolver dano cognitivo e Doença de Alzheimer (47), além de ajudar na redução da transição de dano cognitivo em Alzheimer. O mesmo estudo sugere que há evidência do papel neuroprotetor do Padrão Alimentar Mediterrânico, possivelmente devido às propriedades vasculares dos seus componentes e a sua habilidade para reduzir a inflamação e o stress oxidativo, também associados com a fisiopatologia das doenças degenerativas (47).Indivíduos com doenças inflamatórias reumáticas crónicas podem obter uma dupla vantagem ao aderir ao Padrão Alimentar Mediterrânico como terapêutica: a redução dos sintomas clínicos e a proteção do sistema cardiovascular (48). Alterações metabólicas (hiperglicemia, redução do colesterol HDL, aumento do colesterol LDL, redução do rácio colesterol total/HDL e triglicerídeos elevados) encontradas em doentes com doenças reumáticas inflamatórias podem contribuir para o aumento significativo do risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares (49).

O Padrão Alimentar Mediterrânico pode ser uma terapia auxiliar nestes indivíduos devido ao seu efeito anti-inflamatório e antioxidante, que regula certos fatores metabólicos e protetores do sistema cardiovascular. O consumo independente de certos componentes deste padrão alimentar como o peixe, hortícolas e azeite, conferem o papel protetor contra doenças reumáticas (48).Uma revisão sistemática de 2010 sugere também que uma elevada adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico está significativamente associada a um risco reduzido de diabetes tipo 2, na população em geral e em indivíduos com enfarte do miocárdio pré-existente (50). O mesmo artigo refere que alguns ensaios clínicos randomizados mostram que os indivíduos com diabetes tipo 2 seguidores do Padrão Alimentar Mediterrânico têm, em comparação com pacientes diabéticos após uma dieta controlo, um melhor controlo glicémico (níveis mais baixos de glicemia em jejum e hemoglobina A1c), associado à redução da resistência à insulina. Como prevenção secundária das doenças cardiovasculares, há evidência de que o Padrão Alimentar Mediterrânico pode aumentar a esperança de vida também em pacientes diabéticos. Os resultados até agora acumulados sugerem que a opção pelo Padrão Alimentar Mediterrânico pode ajudar a prevenir a diabetes tipo 2 na população e também melhorar o controlo glicémico e o risco cardiovascular em pessoas com diabetes estabelecida (50).

Padrão Alimentar AtlânticoA Alimentação Atlântica é um conceito cuja origem advém da discussão entre diferentes Instituições da Península Ibérica, nomeadamente o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, em Portugal, a Universidade de Santiago de Compostela, a Fundação Espanhola de Nutrição (FEN) e a Associação Galega para o estudo da Dieta Atlântica (ASGAEDA), localizadas em território espanhol. O objetivo principal da discussão foi colocar a Alimentação Atlântica no mapa mundial pretendendo que fosse reconhecida como um padrão alimentar saudável. Assim, em 2003, com este mesmo objetivo e em seguimento da discussão ibérica sobre a Alimentação Atlântica, foi fundado o Centro Europeu para a Dieta Atlântica (CEDA), em Portugal (5). Mais recentemente, várias instituições, entre elas a FEN e a ASGAEDA, uniram-se em prol da criação da Fundação para o Estudo da Dieta Atlântica (51).A primeira vez que se abordou o conceito da Alimentação Atlântica foi em 1999 aquando do congresso que reuniu inúmeros profissionais da área da Nutrição, chamado “Decálogo Xacobeo sobre a alimentação no século XXI”. A realização deste congresso deu origem a outros eventos como as Reuniões Internacionais de Alimentação e Nutrição no século XXI realizadas em Espanha, no município de Baiona, ao longo dos anos 2000 (52). No decorrer de 2006, todas as estas instituições assinaram a “Declaração de Baiona sobre a Dieta Atlântica” e após este acordo houve vários congressos, seminários e reuniões dedicadas à Alimentação Atlântica, entre 2003 e 2008, organizadas pela FEN (5).

DefiniçãoA Alimentação Atlântica tem as suas raízes no perfil alimentar de países banhados pelo Oceano Atlântico, especificamente os países da Península Ibérica, com destaque para o Noroeste de Espanha (Galiza) e o Norte de Portugal. Aquando da criação Centro Europeu de Dieta Atlântica, esta foi definida como a dieta tradicional de Galiza e do Norte de Portugal devido à forte adesão a este padrão alimentar nestas regiões (5). Ambas as regiões têm particularidades tanto a nível geográfico, como climático e cultural, que levam a que os seus habitantes sigam um padrão alimentar, próprio destas regiões. A localização destes países ao longo da costa Atlântica beneficia, em grande escala, a indústria local da pesca, e em particular do bacalhau, quer seja salgado, fresco

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ou seco, sendo muito comum e frequentemente consumido. Outras características da região ajudam a explicar este Padrão Alimentar Atlântico desde logo a precipitação, que sendo muito elevada, traz benefícios ao solo que fica favorável à massagem e ajuda à criação, em larga escala, de toda a espécie de gado assim como o gado suíno. Essa junção de fatores favorece alguns dos alimentos-chave do Padrão Alimentar Atlântico como a carne vermelha, a carne de porco e os produtos lácteos, como o queijo e o leite. Importa referir que apesar da elevada precipitação, são regiões muito solarengas e de temperaturas amenas que beneficiam a indústria vinhateira (53). Em 2009, a Alimentação Atlântica é apresentada como uma alternativa saudável ao padrão de Dieta Ocidental. Em sequência, foi criada a Pirâmide da Alimentação Atlântica (54).O Padrão Alimentar Atlântico caracteriza-se por um maior consumo de peixe, moluscos e crustáceos; maior consumo de leguminosas, batatas e cereais; maior consumo de hortícolas e fruta; uso de azeite como principal gordura culinária; consumo diário de produtos lácteos; consumo moderado a alto de carne (preferência pela carne vermelha); elevada ingestão de água mineral e consumo moderado de vinho; gosto pela simplicidade na preparação de alimentos; hábitos alimentares atlânticos tradicionais e a realização de atividade física diária (5, 6).

Índices de adesão ao Padrão Alimentar AtlânticoPara avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Atlântico foi criado em 2010, pela primeira vez na literatura, o índice Alimentação Atlântica do Sul da Europa (Southern European Atlantic Diet – SEAD) (6) que deriva da definição da própria Alimentação Atlântica e de um conjunto de decisões dos próprios autores com base no receituário tradicional da região do Norte de Portugal e da Galiza. É composto por 9 componentes-chave: peixe fresco; bacalhau; leguminosas e produtos hortícolas; produtos lácteos; pão integral; sopa de legumes; carne vermelha e produtos cárneos de porco; batatas e vinho. Para todos os itens, exceto o vinho, um consumo maior ou igual à mediana de consumo da população, especifica por sexo, era classificado com um ponto, e um consumo inferior era classificado com 0 pontos. Quanto ao vinho, o consumo elevado (>2 copos/dia nos homens e 1 copo/dia nas mulheres) ou inferior foi classificado com 0 pontos. Após a soma das pontuações de todos os componentes, a pontuação resultante podia variar entre 0 e 9, sendo que 9 representa uma adesão a todos os componentes da Alimentação Atlântica. Um estudo de 2017 avaliou igualmente a adesão à Alimentação Atlântica através de uma adaptação do índice descrito anteriormente, adaptado a adolescentes, já que o estudo pretendia estudar o seu impacto em fatores de risco cardiometabólicos em adolescentes (55). A partir do índice SEAD, a pontuação foi adaptada tendo sido atribuídos 0 pontos a qualquer consumo de vinho, dado que a ingestão de etanol não é recomendada aos adolescentes.

Benefícios da adesão ao Padrão Alimentar Atlântico na SaúdeEm comparação com o Padrão Alimentar Mediterrânico, o Padrão Atlântico é um conceito relativamente atual daí não haver tanta investigação ou evidência dos seus potenciais efeitos benéficos para a saúde. Sabe-se que os seus componentes-chave têm um papel assumido na saúde, destacando-se o papel dos ácidos gordos monoinsaturados provenientes do azeite, assim como os ácidos gordos polinsaturados n-3 provenientes do pescado e marisco. Também é de referir o aporte de fibra concedido pelo consumo de fruta, cereais, leguminosas e batatas, para além do teor proteico da carne. A presença de flavonóides, no vinho e nos produtos hortícolas, também é de realçar (53).

Em termos de benefícios globais do padrão alimentar, um estudo pioneiro avaliou, em 2010, a associação entre a adesão ao Padrão Alimentar Atlântico do Sul da Europa (SEAD) e a ocorrência de enfarte e agudo do miocárdio (EAM) não fatal (6). O estudo caso-controlo foi realizado numa população adulta da cidade do Porto, em Portugal, que sofreram o seu primeiro EAM e que sobreviveram para além do 4.º dia após o evento coronário. O estudo conclui que uma maior adesão ao padrão SEAD associou-se de forma inversa com a ocorrência de EAM não fatal. Os resultados mostraram que o aumento de 1 ponto na adesão à SEAD estava associado com a redução em 10% da probabilidade de ter EAM. Foi ainda referido que a redução do consumo de certos alimentos, como a batata, e em particular a carne vermelha e os produtos de porco (que se mostraram associados de forma positiva com o evento coronário), pode aumentar os efeitos benéficos do SEAD na doença coronária. É igualmente sugerido que a maioria dos componentes da SEAD podem contribuir para os baixos níveis de mortalidade coronária registados na região Norte de Portugal e Galiza (6). Em 2013 foi publicado um estudo transversal feito pelos mesmos autores em conjunto com autores espanhóis, que quantificou a associação entre a adesão ao padrão SEAD e biomarcadores de risco coronário, como a pressão arterial e parâmetros antropométricos, em 10.231 indivíduos adultos espanhóis. Os resultados mostraram que uma maior adesão ao SEAD está associada a baixas concentrações de proteína C-reativa de alta sensibilidade, triglicerídeos e insulina, menor resistência à insulina, menor albumina urinária e pressão arterial sistólica inferior (56). Em 2015, o estudo GALIAT (Dieta Atlântica da Galiza) foi o primeiro ensaio clínico a analisar os efeitos da Alimentação Atlântica na saúde ao nível do perfil lipídico, do metabolismo da glicose, dos marcadores de inflamação e adiposidade num grupo de pessoas de uma cidade no noroeste de Espanha (57). O objetivo era produzir evidência científica que pudesse justificar a promoção do Padrão Alimentar Atlântico como uma escolha saudável, e permitir a sua potencial integração em estratégias preventivas de saúde familiar tendo em conta o património cultural e gastronómico próprios das regiões europeias banhadas pelo Atlântico. Os participantes foram alocados aleatoriamente a um grupo de dieta controlo e a um grupo intervenção (com um plano de adesão à Alimentação Atlântica), por um período de 6 meses. Foi apresentado um protocolo de ensaio clínico que envolveu uma intervenção dietética concentrada em três questões: o uso de um padrão alimentar global em vez de um número reduzido de alimentos, a família como a unidade de intervenção e uma amostra representativa da população em geral. O estudo também envolveu uma ampla gama de fatores relacionados com a alimentação (hábitos alimentares e consumo de alimentos), com o estilo de vida (atividade física, uso de tabaco, hábitos sedentários e caraterísticas socioeconómicas, de saúde e culturais), além de ter avaliado uma ampla gama de biomarcadores. Verificou-se que a entrega de alimentos aos domicílios dos indivíduos, as sessões educacionais, as aulas de culinária e o material de suporte fornecido ao grupo intervenção (com Alimentação Atlântica) (aos quais o grupo da dieta controlo não teve acesso), podia facilitar a adesão a este tipo de padrão (57).A adesão ao Padrão Alimentar Atlântico e a sua associação com caraterísticas do músculo-esquelético, também foi estudado, assim como os efeitos dessa combinação em fatores de risco cardiometabólicos em adolescentes. Estes foram avaliados após soma dos valores padronizados, por sexo e idade, dos triglicerídeos, pressão arterial sistólica, colesterol total e colesterol-HDL. Indivíduos 1 ponto acima do desvio padrão desta pontuação foram classificados como tendo um risco cardiometabólico elevado. Os adolescentes com baixa aptidão muscular e baixa adesão ao Padrão Alimentar Atlântico tiveram o perfil cardiometabólico pior, indicando a importância do efeito combinado de

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um padrão alimentar saudável e a força muscular elevada. Foi também demonstrado que o Padrão Alimentar Atlântico estava inversamente associado com o perímetro de cintura, a pressão arterial sistólica e um conjunto de fatores de risco cardiometabólico (55).

Padrão Alimentar Atlântico e Mediterrânico: o que os une e separaO Padrão Alimentar Atlântico e Mediterrânico têm diversas caraterísticas em comum, mas ao mesmo tempo algumas que os diferenciam (51). Entre si, partilham o gosto pelo consumo de pescado local (mais evidente na Alimentação Atlântica), pelo consumo de fruta fresca e da época, de frutos gordos, assim como de cereais pouco refinados ou integrais. São ambos padrões alimentares que valorizam o consumo de produtos hortícolas e de leguminosas. Para além disso, repartem o mesmo gosto pelo uso de técnicas de confeção simples aquando da elaboração dos seus pratos e igualmente, o prazer de comer em família (4-6). Em termos do que as distingue, na Alimentação Atlântica há uma característica que sobressai, que é o elevado consumo de proteínas de origem animal, principalmente proveniente da carne vermelha e particularmente da carne de porco (6). Também no consumo de peixe há diferenças na medida em que, nos países da zona atlântica há um acréscimo do consumo de marisco e crustáceos. A ingestão de laticínios e derivados também é superior na Alimentação Atlântica (4-6, 51). Em relação ao azeite, na Alimentação Atlântica este não é o principal contribuinte para a ingestão de gordura total, assim como a fruta e os frutos gordos não são elementos chave (6).

ANÁLISE CRÍTICA/CONCLUSÕES O Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico são padrões alimentares definidos a priori, cujo papel benéfico para a saúde é vastamente evidenciado em diversos estudos nacionais e internacionais, particularmente o do Padrão Alimentar Mediterrânico, para o qual a investigação tem sido exaustiva. Como representativas de uma determinada região e dos seus costumes culturais e sociais, reforçados ao longo de vários anos, cada um apresenta na sua composição propriedades que lhes conferem o estatuto de alimentação saudável. Num mundo cada vez mais sedentário e adepto da comida rápida e de alimentos processados, fruto da industrialização e marketing publicitário, é imperativo alertar para a importância de adotar um estilo de vida mais saudável, sendo que os benefícios para a saúde da adesão a certos padrões alimentares mais tradicionais, como o Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico, têm sido demonstrados em diversos artigos e demais publicações, como são exemplo disso, os descritos neste trabalho. No que diz respeito ao Padrão Alimentar Mediterrânico e ao valor nutricional dos seus componentes major (peixe, fruta, hortícolas, leguminosas, frutos gordos, azeite e vinho), há evidência do seu efeito protetor no tratamento e prevenção das DCV, assim como na mortalidade cardiovascular. Também se mostrou associada de forma inversa a diversos tipos de cancro, nomeadamente ao cancro colorretal, do endométrio, da próstata, da mama e gástrico e a outras patologias como a diabetes, a osteoporose, a doença de Alzheimer e as doenças reumáticas. Quanto ao papel do Padrão Alimentar Atlântico, os seus efeitos são maioritariamente observados em relação à DCV, nomeadamente na redução da ocorrência de EAM não fatal e a um melhor perfil cardiometabólico, lipídico e na diminuição da pressão arterial, entre outros referidos ao longo do trabalho. Contudo, importa referir que em comparação com o Padrão Alimentar Mediterrânico, o Atlântico necessita que as diversas entidades e instituições públicas/privadas unam esforços em prol da validação e da transição de dieta regional para uma dieta global, como já aconteceu com o Padrão Alimentar Mediterrânico. Há ainda um longo caminho a percorrer em

termos de reconhecimento da Alimentação Atlântica, sendo notória a falta de artigos e literatura acerca deste padrão alimentar. Importa ressalvar que existem já alguns trabalhos que mostram que em Portugal os hábitos alimentares têm vindo a afastar-se destes padrões mais tradicionais, havendo assim uma aproximação a outros padrões de regiões caracteristicamente diferentes. Esta “ocidentalização” dos padrões preocupa a comunidade científica em geral, o que exalta ainda mais a importância da globalização de ambos os padrões, sempre salvaguardando o seu carácter regional.

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Sofia Alves Cardoso1; Isabel Paiva2*1 Nutricionista

2 Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados do ACES Porto Oriental, Rua do Vale Formoso, n.º 466, 4200-510 Porto, Portugal

*Endereço para correspondência:

Isabel PaivaRua Barão Nova Sintra, n.º 244, 4300-365 Porto, [email protected]

Histórico do artigo:

Recebido a 21 de março de 2017Aceite a 30 de novembro de 2017

RESUMOAtualmente, a demência é uma epidemia global com grande impacto social, económico e na saúde, sendo urgente aumentar o conhecimento sobre a sua prevenção e tratamento. Diversos macro e micronutrientes, alimentos e padrões alimentares têm sido estudados como potenciais fatores de risco e de proteção, e agentes no tratamento. Para além da potencial modulação dos fatores de risco vascular, os fatores nutricionais poderão ter uma ação direta na patogénese. Embora ainda não haja evidência consistente e definitiva de ensaios controlados randomizados sobre o efeito dos fatores nutricionais na demência, vários trabalhos sugerem que estratégias nutricionais podem ser custo-efetivas, seguras e fáceis de implementar. Desta forma, é necessário realizar mais investigação para esclarecer o papel da nutrição e alimentação e estabelecer recomendações preventivas e terapêuticas na demência.

PALAVRAS-CHAVEAlimentação, Demência, Demência Vascular, Doença de Alzheimer, Nutrição, Prevenção, Tratamento

ABSTRACTCurrently, dementia is a global epidemic with great impact at social, economic and health levels. Thus, it is urgent to improve knowledge about prevention and treatment. Various macro- and micronutrients, specific foods and food patterns have been studied as potential risk and protection factors and treatment agents. Besides potential modulation of vascular risk factors, nutritional factors may have a direct action in pathogenesis. Albeit there is still no consistent and definitive evidence from randomized controlled studies about the role of nutritional factors in dementia, studies suggest nutritional strategies may be cost-effective, safe and easy to implement. Therefore, the role of nutrition and diet needs to be further investigated to clarify their role and to draw preventive and therapeutic recommendations.

KEYWORDSDiet, Dementia, Vascular Dementia, Alzheimer’s Disease, Nutrition, Prevention, Treatment

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIADIET AND NUTRITION IN THE PREVENTION AND TREATMENT OF DEMENTIA

INTRODUÇÃOA demência é uma síndrome que pode ser definida como uma deterioração adquirida das capacidades cognitivas, que compromete a performance das atividades de vida diária (1). A maioria dos casos é de natureza crónica e progressiva e surge após os 65 anos de idade (2, 3). Os tipos de demência mais comuns são a Doença de Alzheimer (DA) e a Demência Vascular, podendo ser coexistentes (4). Os marcadores neuropatológicos da DA são os novelos neurofibrilares e as placas neuríticas resultantes de agregados de proteína beta-amiloide (Aβ), que levam à morte neuronal (5). A Demência Vascular deve-se à insuficiência cerebrovascular (6). Atualmente, a prevalência mundial é de 47 milhões de pessoas e deverá triplicar até 2050, sendo considerada uma epidemia global (7). Em 2012 a demência afetava 1,7% da população portuguesa (8). O presente cenário tem impacto a nível social, económico e da saúde, acarretando custos que tenderão a agravar-se (9).

O atual tratamento farmacológico da demência é sintomático (10) e apesar de as causas exatas não estarem esclarecidas, sabe-se que fatores genéticos e ambientais intervêm na etiologia e evolução (5, 6). Para fazer face a este desafio de saúde pública, é urgente ampliar o conhecimento sobre os fatores ambientais influentes e estratégias preventivas (5, 6). Fatores de risco modificáveis que englobam os estilos de vida, como a alimentação e a atividade física, e fatores de risco vascular têm sido alvo de investigação (6). A prevenção deve focar-se na modulação destes fatores, nomeadamente nos de risco vascular (6, 11). Diversos estudos sugerem que os fatores nutricionais, incluindo micro e macronutrientes, alimentos, bebidas e padrões alimentares, podem modificar o risco e atrasar a ocorrência de demência (12-14). Por outro lado, também têm sido estudados no âmbito do tratamento, quer no atraso da progressão da demência, de declínio e de comprometimento cognitivo, quer na melhoria da função

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIAACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 30-34 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1105

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ARTIGO DE REVISÃOA.R.

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cognitiva e dos sintomas (15-17). O presente artigo pretende analisar o papel da nutrição e alimentação na prevenção e na terapêutica da demência, através da revisão da literatura existente, focando os principais fatores nutricionais investigados e os possíveis mecanismos subjacentes.

Fatores de risco vascularOs fatores de risco vascular incluem lesões cerebrovasculares, doenças cardiovasculares (CV), diabetes Mellitus tipo 2, hipercolesterolemia e hipertensão arterial na meia-idade (16, 17). Em geral, a presença destes fatores duplica o risco de desenvolver demência (16). Alguns autores incluem ainda a hiperhomocisteinémia e a obesidade na meia-idade (16-18). A definição de “meia-idade” dos estudos é variável, mas a maioria refere idades entre os 35 e os 65 anos. Os fatores poderão interagir entre si e com aspetos genéticos (nomeadamente o alelo para a apolipoproteína-E ε4), aumentando o risco de demência (16). Os mecanismos subjacentes ainda são desconhecidos, mas poderão iniciar-se décadas antes da manifestação clínica (16, 19). A obesidade poderá aumentar o risco devido ao perfil inflamatório da adiposidade e ao maior risco de comorbilidades como a hipertensão arterial (16, 17). A sua possível influência é complexa e carece de mais estudos (17).

Papel da Nutrição e AlimentaçãoOs fatores protetores de doenças CV, como hábitos alimentares adequados, poderão estar associados a um menor risco de desenvolver DA e outras demências (20, 21). Por outro lado, sugere-se que vários nutrientes e alimentos possam agir de uma forma mais direta, interferindo na capacidade de regeneração celular e nas vias patogénicas da demência (16, 22). A sinergia entre vários nutrientes presentes nos alimentos poderá ser importante para se verificar um efeito protetor (17). Para além de nutrientes, o efeito do consumo de alguns alimentos, bebidas e outros compostos também tem sido estudado (16). Desta forma, discutir-se-ão primeiro os nutrientes mais investigados, em segundo, alimentos, bebidas e outros compostos e, em terceiro, a sua combinação através de padrões alimentares. Por último, abordam-se formulações nutricionais que estão a ser alvo de pesquisa no tratamento da demência. A Figura 1 sumaria os potenciais fatores nutricionais protetores e de risco de demência e/ou DA, abordados com maior ênfase no presente artigo.

AntioxidantesAs vitaminas E e C, o selénio e os flavonoides protegem de danos oxidativos que podem surgir como causa e/ou consequência da demência (17, 23). Vários estudos mostram que estes fatores são potencialmente protetores na incidência de demência e que a sua obtenção na alimentação poderá ser preferível à suplementação (21, 24). Apesar de não haver evidência de que a toma de vitamina E (alfa-tocoferol) melhore função cognitiva na DA, um estudo apresentou um atraso do declínio funcional (25).

Vitaminas do complexo B e FolatoA maioria das vitaminas do complexo B e o folato têm demonstrado associação com a saúde neuronal, intervindo nas suas vias metabólicas (17). Adicionalmente, o défice destas vitaminas pode levar ao aumento da homocisteína plasmática. Diversos trabalhos mostram uma associação entre a ingestão de vitaminas do complexo B e um menor risco de demência; e que altos níveis de homocisteína e baixos níveis de vitamina B12 se associam a um maior risco de DA (17, 26). Tal como para os antioxidantes, o seu papel no tratamento tem sido pouco estudado e com resultados conflituosos (15, 27). Uma meta-análise verificou efeitos moderados da suplementação de vitaminas do complexo B na melhoria da memória em casos de comprometimento cognitivo, mas não de DA (28). A sua toma foi ainda associada a uma redução da homocisteína (29). A suplementação em ácido fólico (com ou sem vitamina B12) não estabilizou nem atrasou o declínio em doentes com DA (28). Não obstante, mais estudos são necessários nesta área (28).

Vitamina DA vitamina D pode ser importante na proteção de doenças CV e na neuroproteção (30). Baixos níveis ou défice de vitamina D têm sido associados a doenças cerebrovasculares e a um maior risco de demência (31). Os mecanismos subjacentes podem envolver as vias da proteína Aβ, vasculares, metabólicas, anti-inflamatórias e antioxidantes (32). O défice desta vitamina é comum e pode agravar a DA, sendo importante garantir níveis adequados (6).

Ácidos GordosOs ácidos gordos ómega 3 (AGn-3) diminuem os níveis de colesterol sérico e inflamação sistémica e inibem a agregação plaquetária (26), e podem estar envolvidos nas vias vasculares, inflamatórias e amiloides da DA e da Demência Vascular (17). Diversos estudos observacionais sugerem um papel protetor dos AGn-3 na prevenção da demência. Suplementos de óleo de peixe, ácido docosahexaenóico (DHA) e ácido eicosapentaenóico (EPA) têm sido investigados, mas ainda não é claro qual a melhor fonte ou combinação (16, 17, 26). Relativamente ao tratamento, apesar de algumas intervenções com suplementos terem verificado melhorias cognitivas em doentes com DA ou declínio cognitivo, comparando com o placebo (26), uma revisão não encontrou efeito benéfico em indivíduos com DA ligeira ou moderada (33). Quanto aos AG saturados, existe uma associação positiva entre a sua ingestão e o risco de demência e de DA (34, 35). Num estudo, indivíduos com um rácio superior entre a ingestão de AG polinsaturados e AG saturados, apresentaram uma redução de 70% no risco de desenvolver DA (34). No entanto, um rácio superior de AGn-6:AGn-3 associa-se a um maior risco de demência (36).

PeixeAlguns estudos revelam uma associação entre o consumo de peixes gordos e de óleo de peixe e um menor risco de demência e/ou DA (26). Huang et al (2005) verificaram que uma ingestão de peixe gordo

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIAACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 30-34 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1105ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

Potenciais fatores nutricionais protetores e de risco de demência e/ou DA

Figura 1

AG: Ácidos gordosAGn-3: Ácidos gordos ómega 3AGn-6: Ácidos gordos ómega 6

DA: Doença de AlzheimerVit: Vitamina

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superior a 2 vezes/semana estava associada a uma redução de risco de demência e de DA em 28% e em 41%, respetivamente, comparando com ingestão inferior a 1 vez/mês (37). Enquanto os estilos de vida saudáveis e a escolaridade são possíveis confundidores desta associação, a presença do alelo da apolipoproteína-E ε4 e uma ingestão elevada de AGn-6 podem contribuir para a ausência da associação (17, 26).

Hortofrutícolas O consumo de hortofrutícolas tem sido associado a um menor risco de demência e DA, e o consumo de hortícolas tem sido associado a um abrandamento do declínio cognitivo (32, 38).

Bebidas com cafeína (café e chá)Os potenciais efeitos protetores de bebidas com cafeína, especialmente café, também têm sido investigados (16, 32, 39). Uma meta-análise indicou um possível efeito protetor da ingestão de cafeína, através de café e/ou chá, na demência, DA ou no declínio cognitivo (39). A cafeína poderá intervir na neurodegeneração através da diminuição da produção de proteína Aβ, do poder anti-inflamatório e antioxidante e da antagonização do recetor A2 da adenosina (40).

Bebidas alcoólicas A ingestão baixa a moderada de bebidas alcoólicas, sobretudo de vinho, tem sido indicada como protetora do declínio cognitivo e de demência, em alguns trabalhos, mas a sua interpretação deve ser cautelosa (16, 41, 42). Embora seja difícil estabelecer uma dose que conduza a estes benefícios (43), sugere-se uma curva em U ou em J para representar a relação entre a quantidade ingerida e o risco de demência (5, 6). O mecanismo ainda é desconhecido, mas verifica-se que a ingestão moderada auxilia a reduzir o risco de eventos CV e poderá estimular a acetilcolina no hipocampus (6, 44). Os efeitos do vinho tinto na redução do risco de DA poderão dever-se ao etanol e/ou aos polifenóis, que diminuem a formação de placa neurítica e protegem contra a neurotoxicidade da proteína Aβ (32, 43). Inversamente, a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas é prejudicial à saúde, aumentando o risco de demência (16, 45). A sua recomendação a abstémios não tem justificação científica e indivíduos que possuem o hábito de consumir estas bebidas, não devem ultrapassar os limites da ingestão moderada (mulheres: 1 porção/dia e homens: 2 porções/dia) (46). Devido aos seus riscos devem realizar-se mais estudos (41).

Compostos naturais e outros alimentosA huperzina A e a Ginkgo biloba têm demonstrado resultados positivos em alguns estudos em animais e/ou humanos na prevenção ou progressão da demência e melhorias cognitivas (16, 47). Uma meta-análise concluiu que a toma de 240 mg/dia de extrato de Ginkgo biloba estabilizou ou abrandou o declínio na cognição e no comportamento, em casos de comprometimento cognitivo e de demência (48). Para desenvolver recomendações, é necessário obter evidência consistente de benefícios e segurança assim como acautelar interações com fármacos (16, 26, 49).

Padrões alimentaresDiversos trabalhos têm investigado o efeito de padrões alimentares no declínio cognitivo e demência (17, 22). Como possíveis protetores, destacam-se a Dieta Mediterrânica (DiMe) (22) e a dieta MIND (Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay), uma combinação da DiMe e da DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) (50). Estudos epidemiológicos mostram evidência moderada relativa a uma associação entre a adesão à DiMe e um menor risco de demência, assim como a uma potencial diminuição

do risco de progressão de síndromes pré-demenciais (17, 51). Uma revisão sistemática de 2013 verificou que em nove dos doze estudos, uma maior adesão à DiMe se associou a uma melhor função cognitiva, menor taxa de declínio cognitivo e um risco reduzido de DA (52). Um estudo experimental testou esta associação, comparando o efeito da intervenção da DiMe suplementada com azeite virgem extra ou oleaginosas, com uma dieta controlo baixa em gordura. Após 6,5 anos, os grupos de intervenção possuíam melhor função cognitiva que o grupo de controlo (53), resultados semelhantes a outra investigação similar (54).Os benefícios da DiMe têm sido atribuídos aos alimentos e aos micro e macronutrientes característicos, em particular aos AG poli- e monoinsaturados (predominantes no azeite) (51, 55). A redução do risco de doenças CV, o aumento de neurotrofinas e/ou ações anti--inflamatórias, poderão explicar os seus efeitos benéficos (17).A dieta ocidental, caracterizada por uma elevada ingestão de AG saturados, colesterol e açúcares refinados e uma reduzida ingestão de AG polinsaturados, foi associada a um maior risco de demência e de declínio cognitivo (16, 26).

Formulações nutricionais na progressão da demênciaSob investigação existem algumas formulações de nutrientes com objetivo de melhorar sintomas da DA e cuja toma deve supervisionada medicamente (medical foods) (16, 26, 56). Um dos suplementos é Fortasyn Connect,® composto por substratos e nutrientes antioxidantes com ação na integridade neuronal, incluindo uridina monofosfato, colina, EPA, DHA, fosfolípidos, vitaminas C, E, B6 e B12, selénio e ácido fólico (57). Em alguns estudos, indivíduos em fases precoces de DA, apresentaram melhorias no metabolismo fosfolipídico (58) e nos testes de memória após a sua toma (59, 60), o que não se verificou em fases mais avançadas (61). Porém, o estabelecimento da sua eficácia e de recomendações só será possível com a realização de mais estudos, particularmente estudos independentes (58, 62).

ANÁLISE CRÍTICA E CONCLUSÕESVários estudos, sobretudo epidemiológicos, mostram um papel promissor da nutrição e alimentação na demência, apesar de haver resultados discrepantes (26). À exceção da DiMe, ainda não há evidência consistente e clara de um papel protetor dos fatores nutricionais aqui abordados, sendo necessário mais investigação (17, 63). Embora ainda não existam ensaios controlados randomizados que confirmem definitivamente o papel dos nutrientes e dos alimentos, é necessário atender à dificuldade da sua execução e adequação neste âmbito (63). As limitações metodológicas e o reduzido número de investigações contribuem para o desafio de estabelecer recomendações e estratégias preventivas (63). Não obstante, determinados autores advogam que podem ser feitas recomendações nutricionais e alimentares cautelosas, nomeadamente as que diminuem o risco CV, como a adesão à DiMe, pois parecem não acarretar efeitos adversos (26, 64, 65).Como forma de reduzir o risco de demência, pode recomendar-se o tratamento/controlo dos fatores de risco vascular (17).Os défices nutricionais devem ser tratados, sugerindo-se que intervenção nutricional na demência seja particularmente benéfica nestes casos (17, 64).Atualmente, em idosos, existe uma elevada prevalência de patologias que são fatores de risco vascular, como a hipertensão arterial (17, 66, 67). Neste grupo etário também é alta a prevalência dos défices de vitaminas do complexo B, vitamina D e antioxidantes (17, 66, 67). Dado o seu possível papel na demência, torna-se ainda mais pertinente assegurar um bom estado nutricional da população, prevenindo estados de défice e excesso (17, 26, 68).Para a prevenção da demência, será igualmente importante sensibilizar

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a população e profissionais de saúde acerca da síndrome, fatores de risco e possíveis estratégias preventivas (68).Desta forma, é plausível que o nutricionista possa desempenhar um papel na prevenção da demência através da intervenção no controlo, tratamento e prevenção dos fatores de risco vascular, ao longo da vida, nomeadamente a nível dos Cuidados de Saúde Primários. As modificações nutricionais podem ser medidas-custo efetivas, fáceis de implementar e geralmente seguras, na prevenção e terapêutica da demência, e é pertinente que continuem a ser alvo de investigação, nomeadamente em ensaios de controlo randomizados.

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Ivo Barbedo Faria1*; Cláudia Silva1,2; Maria Gil Ribeiro1,2 1 Faculdade das Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, Rua Carlos da Maia, n.º 296, 4200-150 Porto, Portugal

2 Unidade de Investigação da Universidade Fernando Pessoa em Energia, Ambiente e Saúde (FP-ENAS), Centro de Investigação em Biomedicina (CEBIMED) da Universidade Fernando Pessoa, Rua Carlos da Maia, n.º 296, 4200-150 Porto, Portugal

*Endereço para correspondência:

Ivo Barbedo FariaFaculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, Rua Carlos da Maia, n.º 296, 4200-150 Porto, [email protected]

Histórico do artigo:

Recebido a 1 de março de 2017Aceite a 9 de agosto de 2017

RESUMOA Dieta Mediterrânica é caracterizada pela abundância de nutrimentos e substâncias com atividade antioxidante e anti-inflamatória, tendo sido implicada na prevenção do envelhecimento celular e de várias doenças crónicas. O conhecimento sobre a influência global desses nutrimentos na fisiologia celular e humana é crucial para uma melhor compreensão acerca dos benefícios da adesão à Dieta Mediterrânica na saúde e doença. Nesse sentido, as tecnologias “ómicas” são ferramentas analíticas muito atrativas uma vez que fornecem informação molecular funcionalmente inter-relacionada, facultando um nível de conhecimento amplo e integrado sobre a ação desses nutrimentos. Contudo, a aplicação dessa abordagem metodológica ao estudo dos benefícios da adesão à Dieta Mediterrânica é presentemente limitada, em parte devido à sua complexidade científica e sofisticação tecnológica. O presente trabalho estabelece a perspetiva histórica dos principais avanços científicos e tecnológicos subjacentes à Genómica Nutricional. Adicionalmente, analisa a contribuição desta área emergente das Ciências da Nutrição para a elucidação dos mecanismos de ação da Dieta Mediterrânica e para a evolução da nutrição personalizada.

PALAVRAS-CHAVEAzeite, Dieta Mediterrânica, Genómica nutricional, Nutrigenética, Nutrigenómica, Variação genética

ABSTRACTThe Mediterranean Diet is characterised by the abundance of nutrients and substances with antioxidant and anti-inflammatory activity and has been implicated in the prevention of cellular aging and several chronic diseases. Knowledge about the global influence of these nutrients on cell and human physiology is crucial for a better understanding of the benefits of adherence to Mediterranean Diet in health and disease. In this sense, “omic” technologies are very attractive analytical tools since they generate functionally interrelated molecular information, providing a broad and integrated level of knowledge about the action of these nutrients. Nevertheless, the current application of this methodological approach to the study of the benefits of adherence to the Mediterranean Diet is currently limited, in part because of its scientific complexity and technological sophistication. The present work establishes the historical perspective of the main scientific and technological advances underlying Nutritional Genomics. In addition, it analyses the contribution of this emerging field from Nutritional Sciences to the elucidation of the mechanisms of action of Mediterranean Diet and evolution of personalised nutrition.

KEYWORDSOlive oil, Mediterranean Diet, Nutritional genomics, Nutrigenetics, Nutrigenomics, Genetic variation

DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOSMEDITERRANEAN DIET AND NUTRITIONAL GENOMICS: POTENTIALITIES AND CHALLENGES

INTRODUÇÃOO padrão alimentar mediterrânico, mais conhecido por Dieta Mediterrânica (DM), é um dos que melhor combina a sustentabilidade ambiental e económica e a saúde, pelo que tem sido amplamente estudado. A DM é nutricionalmente adequada, sendo caracterizada pelo elevado consumo de hortícolas, frutas frescas, frutos secos e oleaginosas, leguminosas e cereais pouco espoados; utilização do azeite como principal gordura de adição; ingestão moderada a elevada de pescado; consumo moderado de carne de aves, ovos e produtos lácteos, como o iogurte e o queijo; consumo reduzido de carne vermelha; e ingestão regular e moderada de bebidas alcoólicas, principalmente vinho, durante as refeições (1). Este estilo de vida, definido

como uma herança cultural, foi reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade (2) e caracteriza-se também pela convivialidade, socialização, estimulação sensorial, biodiversidade, sazonalidade dos produtos, sustentabilidade, tendo sido associado ao bem-estar, qualidade de vida e envelhecimento saudável (1, 3-5). Simultaneamente, este padrão alimentar tem sido implicado na prevenção de doenças de etiologia diversa (6-11). Relativamente a outros padrões alimentares, um dos elementos básicos e diferenciadores da DM, e também um dos mais bem estudados, é o azeite, que está associado a benefícios acrescidos para a saúde (9). O presente trabalho analisa o desenvolvimento da Genómica1 Nutricional, bem como a sua contribuição para o conhecimento dos

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ARTIGO PROFISSIONALA.P.

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benefícios da adesão à DM e para o desenvolvimento da nutrição molecular. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e selecionados os artigos científicos publicados na era pós-genómica e com informação relevante para a contextualização e aprofundamento dos subtemas a seguir desenvolvidos.

O advento da genómica funcional A era pós-genómica iniciou-se após a conclusão do Projeto do Genoma2 Humano em 2003 (12). O desenvolvimento da bioinformática possibilitou a recolha, seleção, análise e armazenamento de dados obtidos em larga escala sobre moléculas previamente isoladas e do mesmo tipo (DNA, RNA, proteínas ou metabolitos). A caracterização global dessas moléculas foi agrupada em ciências “ómicas”, e.g. transcriptómica3, proteómica4 e metabolómica5 (13-15). A genómica funcional combina, assim, a utilização de várias ferramentas “ómicas” para caracterizar a totalidade dos genes de um organismo e compreender a relação, numa escala global, entre genótipo6 e fenótipo7. Simultaneamente, ocorreram avanços significativos a nível da caracterização das variações genéticas humanas associadas à doença (16-18). Variações genéticas que ocorrem com uma frequência típica mínima de 1% entre indivíduos de uma população são conhecidas por polimorfismos. O tipo mais comum de polimorfismo envolve a variação num único par de bases e é conhecido por polimorfismo de nucleótido único (SNP, single nucleotide polymorphism) (19). Uma vez que o fenótipo resulta da interação dinâmica entre o genótipo e o ambiente (e.g. padrão alimentar), a existência de variações genéticas interindividuais, herdadas ou adquiridas, acentua a complexidade dessa inter-relação (20). Estudos de associação genómica ampla (GWA, genome wide association study) têm permitido associar SNPs a fenótipos patológicos específicos (21), contribuindo para a identificação de variantes genéticas de risco e o estabelecimento de relações genótipo-fenótipo (14, 16, 22).

Da interação nutrimento-gene à “ómica” nutricional A influência de variações genéticas na resposta ao padrão alimentar não é um conceito recente e um bom exemplo disso são as doenças metabólicas hereditárias, tais como a fenilcetonúria (MIM 261600), defeitos associados à oxidação de ácidos gordos de cadeia muito longa (MIM 300100) ou absorção de ferro (hemocromatose, MIM 235200). Contudo, o estudo da interação nutrimento-gene é uma área das Ciências da Nutrição relativamente recente e em expansão. Resultados de estudos in vitro e in vivo têm demonstrado que macronutrimentos, micronutrimentos e químicos bioreativos (e.g. fitoquímicos e zooquímicos) presentes na DM (e.g. resveratrol, carotenóides, ácidos gordos monoinsaturados, ácidos gordos essenciais ómega 3 e 6, vitaminas C, D e E, e folato) podem modificar (i.e. ativar ou reprimir) a expressão de genes específicos de múltiplas formas, diretamente (e.g. como ligantes de fatores de transcrição) ou indiretamente (e.g. atuando em etapas específicas de vias sinalizadoras ou modulando a estrutura da cromatina), ajustando as respostas metabólicas a nível molecular e, desse modo, a inter-relação nutrimento-gene (23-32).A expressão “interação nutrimento-gene” usada essencialmente desde

2007 para designar a relação entre genes, nutrição e doença integra, atualmente, a expressão “genómica nutricional” que se refere à inter-relação das áreas nutrigenómica e nutrigenética8, e à epigenómica9 nutricional10 (14, 15, 33-35). A nutrigenómica estuda o efeito global dos componentes do padrão alimentar na fisiologia celular e no fenótipo, integrando a informação obtida através de tecnologias “ómicas” (Figura 1). A nutrigenética analisa a consequência da variabilidade genética na inter-relação nutrimento-doença, procurando compreender o impacto de diferentes padrões genotípicos sobre vias metabólicas (e.g. implicadas na absorção, digestão, transporte, metabolismo e/ou eliminação) ou celulares potencialmente moduladoras da resposta aos nutrimentos da dieta. A epigenómica nutricional refere-se à influência do padrão alimentar na expressão génica11 que é modulada por alterações que não afetam a sequência do DNA.

A DM na perspetiva “ómica”Devido à sua riqueza e diversidade em nutrimentos e substâncias com atividade antioxidante e anti-inflamatória, e.g. o azeite (36), a DM tem sido implicada na manutenção da estabilidade do genoma humano (37). Apesar da ação coordenada de mecanismos de supervisão e de controlo de qualidade de alterações no DNA (38), fatores de natureza diversa, exógenos ou endógenos, podem induzir alterações na composição e/ou estrutura do DNA, ou promover instabilidade genómica. Essa instabilidade pode favorecer a ocorrência de mutações (cromossómicas ou génicas) e/ou alterações da expressão génica que, não sendo revertidas, poderão conduzir a alterações fisiopatológicas relevantes e, eventualmente, a doença (39). O papel da dieta na prevenção de doenças associadas à instabilidade genómica (e.g. cancro) (40-42) tem sido investigado utilizando biomarcadores da integridade do genoma como é o caso do comprimento dos telómeros de leucócitos (43). No caso da DM, a adesão a este padrão alimentar tem sido associada a telómeros mais longos e efeito protetor contra danos no genoma (44, 45). Efetivamente, se por um lado, a dieta é o fator exógeno a que o ser humano está mais exposto durante toda a sua vida e, por isso, um fator de risco potencial para doenças complexas e multifatoriais, por outro lado ela é também um fator ambiental que pode ser ajustado para promover um envelhecimento saudável (46). A nível dos fatores endógenos é de salientar que, em contraste com as dramáticas transformações sociais, culturais e de padrão alimentar que ocorreram nos últimos 10 000 anos, o genoma humano pode ainda refletir os milhões de anos de seleção que visaram a sua adaptação ao padrão alimentar da Era Paleolítica, não se encontrando integralmente adaptado ao padrão alimentar atual. Apesar da sua evolução, esta possibilidade pode justificar, pelo menos em parte, a predisposição e a incidência das denominadas “doenças da civilização” (19). De facto, vários exemplos da nutrigenética12 têm demonstrado que uma dieta inadaptada ao genótipo de um indivíduo pode ser um fator de risco para doenças monogénicas, poligénicas ou multifatoriais (46, 47). Assim, para avaliar os benefícios de um padrão alimentar é necessário considerar as sinergias e o efeito cumulativo proveniente de diferentes nutrimentos, assim como a inter-relação com outros

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1Genómica: Estudo da sequência dos genomas (genes e respetivos elementos reguladores) com vista a elucidar a sua estrutura, função, origem e evolução.2Genoma: Totalidade do DNA de uma célula.3Transcriptómica: Estudo (identificação e quantificação) do transcriptoma, i.e. da totalidade dos transcritos que são produzidos pelo genoma, incluindo o RNA não codificante e o mi-croRNA, num determinado tipo celular e sob condições específicas.4Proteómica: Estudo (identificação e quantificação) do proteoma, i.e. da totalidade de proteínas que são produzidas num contexto biológico específico.5Metabolómica: Estudo (identificação e quantificação) do metaboloma, i.e. da totalidade de pequenas moléculas presentes nas células, tecidos e fluídos de um organismo. 6Genótipo: Conjunto dos genes existentes nas células de um organismo e que constituem o seu património genético. 7Fenótipo: Características observáveis de um organismo. 8Nutrigenómica: Estudo da interação entre os componentes da dieta e o genoma visando a caracterização da sua influência global sobre a expressão génica. 9Epigenómica: Estudo global das modificações epigenéticas (alterações da estrutura da cromatina que não resultam de variações na sequência de bases do DNA) presentes no genoma de uma célula (epigenoma). 10Epigenómica nutricional: Estudo da interação entre os componentes da dieta e o epigenoma.11Expressão génica: Fluxo da informação do gene para a proteína através da transcrição e da tradução. 12Nutrigenética: Estudo que visa identificar e compreender a resposta dos diferentes padrões genotípicos aos componentes da dieta.

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fatores exógenos e fatores individuais endógenos. Tradicionalmente, os estudos de fatores nutricionais aplicam uma metodologia com uma variável única. Contudo, as dietas são mais do que a soma dos seus componentes (48) e a genómica nutricional tem a potencialidade de contribuir para esse conhecimento. Utilizando a abordagem “ómica”, vários estudos, essencialmente transcriptómicos, têm demonstrado que a atividade antioxidante e anti-inflamatória da DM (com o azeite como fonte predominante de gordura) associada ao envelhecimento mais saudável e maior longevidade, e à redução da incidência de várias doenças (e.g. doenças cardiovasculares, cancro, doenças metabólicas, doenças inflamatórias e doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimento, tais como a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer), resulta da expressão de genes associados, nomeadamente, com a inflamação, stress oxidativo, ciclo celular e ritmo circadiano (49-52). Os compostos fenólicos que se encontram em maior quantidade no azeite virgem extra são os secoiridóides e linhanos (53). Os seus efeitos cardioprotetores (9, 49, 54, 55), anticarcinogénicos (9, 49, 54, 56, 57), neuroprotetores (9, 58, 59), anti-inflamatórios (54, 60), antienvelhecimento (61) e na síndrome metabólica (9, 62) têm sido investigados em numerosos estudos. Assim, existe hoje uma ampla evidência científica sobre a capacidade de modulação da expressão génica e de vias celulares específicas por parte não só da DM mas também dos constituintes do azeite, especialmente do azeite virgem extra. No caso do azeite virgem extra, os alvos biológicos incluem, nomeadamente, recetores, cinases e fatores de transcrição associados com o stress celular e inflamação, metabolismo lipoproteico e instabilidade genómica (alterações epigenéticas), assim como a regulação do ciclo celular ou do stress oxidativo (36, 49, 63).

Do binómio nutrigenómica-nutrigenética à nutrição personalizada Apesar do conhecimento acumulado acerca do papel biológico da DM e de nutrimentos específicos na saúde e doença e do impacto

de variações genéticas na relação nutrimento-genoma, ainda não é possível propor um padrão dietético baseado no perfil genético (35, 64-66). No futuro, a aplicação mais generalizada de tecnologias “ómicas” em virtude da expectável redução progressiva dos seus custos deverá produzir uma quantidade apreciável de informação que terá de ser analisada quanto à influência de vários fatores (e.g. origem geográfica e étnica, fatores ambientais tais como a interação exercício físico-dieta, epigenética e microbioma13), integrada e validada (34, 35, 67-70). Uma vez que a interação nutrimento-gene é dinâmica, para além da recolha de informação acerca dos fatores genéticos de risco para o desenvolvimento da doença, será crucial a atualização constante da informação científica por parte de todos os agentes envolvidos, direta ou indiretamente, no processo de aconselhamento nutricional. Se esta abordagem transdisciplinar e holística das ciências da nutrição representa uma oportunidade para a implementação da nutrição personalizada preventiva baseada em aconselhamento genético (Figura 2), ela também implica novos desafios. Neste âmbito, destacam-se as questões legais e éticas associadas à realização de testes genéticos (e.g. proteção e confidencialidade da informação genética, bases de dados genéticos humanos, condições de realização dos testes genéticos e critérios científicos que subjazem à sua validação), a promoção de uma maior consciencialização da sociedade acerca da importância do padrão alimentar na saúde e na doença, e o envolvimento de equipas multidisciplinares com conhecimento especializado diferenciado (e.g. geneticista, nutricionista, etc.) na atividade de aconselhamento nutricional de base genética (66, 71, 72). Um aspeto importante dessa atividade é a comunicação da informação genética em linguagem comum uma vez que este tipo de informação, pela sua contemporaneidade, complexidade e sensibilidade, parece ser menos susceptível a alterações comportamentais do que a informação tradicional baseada na análise dos parâmetros dietéticos, fisiológicos (e.g. nível de colesterol, peso, gordura, etc.) e estilos de vida (e.g. prática regular do exercício físico) (73, 74).

Interações biológicas dos componentes do padrão alimentar na modulação do fenótipo

Figura 1

Microbioma

GenomaDNA

~35 000 genes

TranscriptomaRNA

Proteoma> 100 000 proteínas

Metaboloma~5 000 metabolitos

Genómica

Transcriptómica

Proteómica

Metabolómica

Transcrição

Tradução

Anabolismo Catabolismo

Epigenoma

Biologia desistemas*

Fenótipo

Epigenómica

• Ciclo celular• Diferenciação/ proliferação celular• Apoptose• Inflamação• Metabolismo/ libertação hormonasBi

oinf

orm

átic

a

Nutrimentos

Alteração do genoma e.g. SNPs

Alteração do epigenoma

Fatores de transcrição

Modificaçõespós-traducionais

Os nutrimentos e compostos bioativos dos alimentos podem influenciar a expressão génica interatuando, direta ou indiretamente, a diferentes níveis celulares ou, ainda, influenciar a inter-relação do microbioma intestinal com o genoma/epigenoma. Os números representam a quantidade total aproximada de moléculas presentes na célula humana em cada nível funcional. A análise e integração da informação obtida nos diferentes níveis funcionais através da bioinformática visa melhorar a compreensão sobre a globalidade das interações que ocorrem no sistema biológico e que determinam o respetivo fenótipo.*Biologia de sistemas: Estudo sistemático da globalidade das interações que ocorrem num sistema biológico através da aplicação de metodologias holísticas, e.g. estudo simultâneo do genoma, transcriptoma, proteoma e metaboloma.

13Microbioma: Genoma da totalidade dos microrganismos de um sistema.

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ANÁLISE CRÍTICAApesar dos benefícios da DM na promoção da saúde e na prevenção de doenças de etiologia diversa e com relevância em Saúde Pública, os mecanismos moleculares fisiopatológicos dos seus nutrimentos e componentes bioativos não estão, ainda, completamente esclarecidos. No entanto, os recentes avanços técnico-científicos possibilitam o estudo funcional dos alimentos através da análise de diferentes níveis “ómicos” ou, preferencialmente, numa escala multi-“ómica”. No futuro, a integração dessa informação deverá proporcionar uma melhor compreensão acerca dos mecanismos interindividuais responsáveis pelas características protetoras da DM e será essencial para analisar o efeito de alterações genéticas sobre a inter-relação nutrimento-gene. Neste âmbito, destaca-se a importância da realização de estudos em larga escala que visem elucidar o papel dos compostos funcionais presentes nos componentes da DM e o impacto fisiológico das suas interações e sinergias. Apesar das potencialidades da genómica nutricional, a integração do conhecimento proveniente de outras áreas disciplinares (e.g. genética, bioquímica, fisiologia, microbiologia e imagiologia) será fundamental para promover uma melhor compreensão acerca da possibilidade de modulação dinâmica da DM face às necessidades individuais, i.e. em função de fatores ambientais (e.g. exercício físico e área geográfica), culturais e sociais (e.g. hábitos de consumo), biológicos (e.g. microbioma) e genéticos. Uma vez que a variabilidade genética é um dos fatores que pode alterar a dinâmica dessa inter-relação, o desenvolvimento da nutrição personalizada, preventiva ou corretiva, implicará necessariamente a análise da relação genótipo-fenótipo per si e em populações de diferentes etnias já que diferenças a nível do património genético podem modificar a resposta a nutrimentos específicos. Uma vez que a transferência progressiva do conhecimento científico para a prática clínica implica a existência de uma ampla evidência científica, é expectável que as tecnologias “ómicas” proporcionem um contributo decisivo para o desenvolvimento, no futuro, de protocolos de nutrição personalizada.

CONCLUSÕESA associação do conceito de fenótipo à interação entre a genética e a nutrição foi estabelecida no início do séc. XX com Archibald Garrod e o seu trabalho sobre doenças hereditárias do metabolismo. Contudo, só um século mais tarde emergiu o conceito de Genómica Nutricional em resposta à necessidade de integração da Biologia Molecular e Genética no conhecimento clássico de Epidemiologia e Fisiologia (66). Dada a atualidade e importância do tema para a prática do Nutricionista,

o presente artigo fornece e analisa informação relevante no domínio da Genómica Nutricional, associada à DM, com manifesto interesse para a prática da nutrição personalizada. Tratando-se de uma área emergente e promissora das Ciências da Nutrição, a compreensão dessa informação será fundamental para permitir ao Nutricionista: (i) acompanhar a expectável (r)evolução nesta área, nomeadamente acerca dos mecanismos de ação dos nutrimentos da DM, na saúde e no envelhecimento, e do seu papel na complexa rede de inter-relações que estabelecem o fenótipo; (ii) compreender se existem efetivas vantagens da nutrição personalizada, face à abordagem tradicional, para a promoção de uma vida saudável e prevenção de doenças crónicas.

AGRADECIMENTOSTrabalho desenvolvido parcialmente no âmbito do projeto UID/Multi/04546/2013 financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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A genómica nutricional na prevenção da doença

Figura 2

PadrãoAlimentar

Genoma(genes e elementos

reguladores)Prevençãoda doença

Variação genética

Macronutrimentos e micronutrimentos

Nutrigenómica

Nutrigenética

A nutrigenómica refere-se ao estudo do efeito dos nutrimentos e compostos bioativos dos alimentos na expressão dos genes, i.e. na produção de proteínas funcionais, enquanto a nutrigenética compreende o estudo do impacto de variações genéticas, tais como os SNPs, na interação nutrimento-genoma, nutrimento-epigenoma e/ou nutrimento-microbioma. A integração dessa informação está subjacente ao conceito de nutrição personalizada que considera, entre outros fatores, a influência das variações genéticas de risco na relação nutrimento-gene.

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Inês Gaspar1*; Renata Ramalho1; Hélder Muteia1 Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, Campus Universitário, Quinta da Granja, Monte de Caparica, 2829 - 511 Caparica, Portugal

*Endereço para correspondência:

Inês GasparAvenida Coronel Eduardo Galhardo, n.º 4 - 7.º Esquerdo1170-105 Lisboa, [email protected]

Histórico do artigo:

Recebido a 30 de maio de 2017Aceite a 13 de dezembro de 2017

RESUMOA população mundial está em crescimento e estima-se que atinja cerca de 8,9 biliões de pessoas em 2050, despoletando na União Europeia a importância para um desenvolvimento sustentável face às alterações que os sistemas alimentares enfrentam, nomeadamente, o choque entre duas realidades, que são o excesso de alimentos e insegurança alimentar e fome. Uma das soluções para atenuar esta realidade é a redução do desperdício alimentar, existindo vários projetos que estão a ser realizados em Portugal para combater esta problemática. E, por isso, neste trabalho foram realizadas entrevistas a algumas entidades, com recurso a um questionário constituído por três perguntas de resposta fechada e cinco perguntas de resposta aberta, tendo como objetivo compreender como é que estas entidades combatem o desperdício alimentar, bem como, encaram a importância do nutricionista neste processo. Concluindo-se que este profissional de saúde, perante as entidades inquiridas, pode ter um papel importante ao longo da implementação dos diversos projetos de combate ao desperdício alimentar existentes em Portugal.

PALAVRAS-CHAVECadeia alimentar, Desperdício alimentar, Nutricionista, Perda de alimentos

ABSTRACTThe world’s population is growing and is estimated to reach 8.9 billion people by 2050. To achieve a sustainable development in the European Union it is mandatory to change food systems, specifically the shock between two realities, one with excess of available food and another with food insecurity and hunger. One of the solutions to mitigate this reality is the reduction of food waste, and there are various projects that are being carried out in Portugal to fight this problem. In this study entities were interviewed, using a questionnaire composed by three questions with closed answers and five questions with open answers, with the objective of understanding how these entities combat food waste, as well as to know how they see the importance of the nutritionist in this process. The results showed that this health professional, for entities, can play an important role in the implementation of various projects to combat food waste in Portugal.

KEYWORDSFood chain, Food waste, Nutritionist, Food loss

O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?THE FOODWASTE IN PORTUGAL: WHAT IS THE ROLE OF THE NUTRITIONIST?

O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 42-45 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1107

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INTRODUÇÃOO aumento da população mundial dos 6,3 biliões para 8,9 biliões, em 2050 (1, 2), levará a um enorme desafio para assegurar a disponibilidade de alimentos suficientes para satisfazer as necessidades básicas (3), uma vez que situar--se-á, principalmente, esta população em meio urbano (4). Sendo, por isso, importante garantir que o consumo seja económico, social e ecologicamente sustentável (5).A União Europeia, dada esta realidade, tem como um dos principais objetivos criar políticas de consumo e produção sustentável (6), visto que o sistema alimentar atual, devido às alterações dos padrões alimentares (7), apresenta uma distribuição desigual em termos de acesso aos alimentos embora estes sejam suficientes para alimentar a população mundial (5, 8). Por um lado, deparamo-nos com o excesso alimentar, devido ao aumento exponencial de ofertas e do marketing abusivo dos produtos já existentes (9) e, por

outro, a pouca disponibilidade de alimentos (10). Uma das soluções para atenuar esta discrepância é a redução da perda de alimentos ao longo da cadeia alimentar (11, 12), designando-se por desperdício alimentar. Este apresenta uma enorme heterogeneidade de conceitos, mas de um modo geral refere-se a alimentos próprios para consumo, desde a produção até ao consumidor final, que não são disponibilizados para o consumo humano, representando cerca de 50% (13, 14). Isto é, cerca de 1,6 biliões de toneladas de alimentos por ano no mundo são desperdiçados, cerca de 89 milhões de toneladas na Europa-27 (15, 16). Contribuindo, assim, para a insustentabilidade da cadeia alimentar pois, os escassos recursos naturais gastos em crescimento, produção, processamento e transporte dos alimentos, representando 28% na União Europeia, são consequentemente desperdiçados (17, 18).Nos países em desenvolvimento, este desperdício ocorre

ARTIGO PROFISSIONALA.P.

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em maior grau na distribuição e venda dos produtos alimentares, devido à falta de técnicas agrícolas avançadas, sistemas de transporte, infraestruturas desadequadas e falta de conhecimento sobre a manipulação de alimentos (13, 19, 20). Enquanto que, nos países desenvolvidos, ocorre em toda a cadeia alimentar, principalmente, no consumidor, devido as más práticas na aquisição, armazenamento e confeção dos produtos alimentares (12, 20).A redução do desperdício alimentar é algo complexo que necessita de mudanças tecnológicas, práticas, comportamentais e políticas, sendo importante a intervenção de todos os atores da cadeia de abastecimento, como, agricultores, empresas agroalimentares, consumidores (5, 12, 20).

OBJETIVOSO presente trabalho pretende analisar, em Portugal, que tipo de projetos e métodos estão a ser realizados no combate ao desperdício alimentar, bem como, qual a importância da colaboração do nutricionista.

METODOLOGIAOs resultados apresentados neste trabalho tiveram como base a realização de uma entrevista, apresentando esta 3 perguntas de resposta fechada, designadamente: “Alguma vez tiveram algum tipo de apoio de um nutricionista?”; “Acha importante ter a presença de um nutricionista no seu projeto?” e “Tem alguma noção se produzem desperdício alimentar?”; e 5 perguntas de resposta aberta: “Fale-me um pouco do projeto”; “Como combatem o desperdício alimentar”; “Qual acha que seria o papel de um nutricionista nesse projeto”; “Que barreiras o projeto apresenta ou acha que apresenta no combate ao desperdício alimentar” e “Qual seria a solução para que este desperdício não ocorra”. Tendo sido esta entrevista realizada nos meses de maio e julho de 2016, por meio de reuniões, contacto telefónico, via Skype ou por correio eletrónico, a 8 entidades que desenvolvem ou desenvolveram projetos na área do desperdício alimentar em Portugal, nomeadamente, Cáritas, Zero Desperdício, Re-food, Banco Alimentar, Lipor, Fruta Feia, União das Misericórdias e Cozinha Solidária.A seleção das entidades para a realização das entrevistas foi feita através de uma minuciosa busca via online de entidades que se encontrem ou já tenham desenvolvido projetos no âmbito do combate ao desperdício alimentar. Sendo escolhidas todas as entidades encontradas nesta pesquisa, e com trabalhos desenvolvidos no âmbito do combate ao desperdício alimentar em Portugal.Os dados obtidos das perguntas de resposta fechada foram tratados no IBM SPSS Statistics 22, Statistical Package for the Social Sciences, para Windows 2010 e no Excel, tendo sido utilizada a estatística descritiva. As respostas de pergunta aberta foram analisadas fornecendo dados qualitativos, permitindo realizar um enquadramento para perceber o modo como as diferentes entidades atuam no combate ao desperdício alimentar. Bem como, aferir perante as entidades o reconhecimento de produção de desperdício alimentar, barreiras e soluções e a importância dos nutricionistas nos seus diferentes projetos.

RESULTADOSDescrição dos projetosNeste trabalho foram realizadas entrevistas a 8 entidades que têm ou tiveram projetos na área do desperdício alimentar. Estas 8 entidades são a Cáritas, que detém diversas ações de sensibilização no âmbito do desperdício alimentar, através de como executar uma eficiente conservação dos alimentos e como ter uma alimentação equilibrada e moderada. O movimento Zero Desperdício, que surgiu a partir da Associação Dariacordar, e que estabelece parcerias entre fontes de

alimentos, como, restaurantes, hotéis, entre outros, e outras Associações de Solidariedade que encaminham estes bens alimentares para quem mais necessita. A Re-food que recolhe das fontes de alimentos bens alimentares confecionados ou ainda em crú/embalados, com o prazo de validade a expirar ou embalagens deterioradas, sendo posteriormente entregues num centro de operações e distribuídos às famílias carenciadas. O Banco Alimentar, à semelhança da Re-food que recolhe excedentes da indústria, da agricultura, dos mercados abastecedores e da distribuição, para em seguida serem utilizados pelas instituições apoiadas para confecionar refeições ou entregar sob a forma de cabazes, tendo também campanhas de recolha de produtos em superfícies comerciais. A Lipor - Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, entidade que desenvolve o projeto “Dose Certa”, tendo como objetivos principais reduzir o desperdício alimentar e promover uma alimentação equilibrada, sendo desenvolvido em restaurantes e cantinas escolares e empresariais com o apoio da Associação Portuguesa de Nutrição. Em paralelo, desenvolveu a Horta da Formiga, onde são disponibilizados workshops sobre culinária sustentável; compostagem caseira e desperdício alimentar, e jardinagem e agricultura biológica. Outra entidade é a Fruta Feia, que compra frutas e hortícolas diretamente aos produtores, que não os conseguem escoar por não apresentarem as características estéticas necessárias para serem comercializados em grandes mercados, sendo vendidos a associados. A União das Misericórdias,detém também diversos projetos ao longo de todas as misericórdias para combaterem o desperdício alimentar, como por exemplo, a criação de hortas para a sensibilização do desperdício alimentar que é feito. A oitava entidade, é a Cozinha Solidária, da Associação Integrar, que tem como objetivo transmitir competências a grupos socialmente desfavorecidos no âmbito promoção de programas de formação específica nas áreas da cozinha através do Programa de Treino de Competências em Gestão Doméstica – Economia Familiar. Além disso, distribui diariamente refeições já confecionadas, em regime de take-away, a pessoas com carência social.

Enquadramento do nutricionista nos projetosAs entidades inquiridas embora tenham projetos com o objetivo similar de combater o desperdício alimentar, a forma como os desenvolvem é bastante diferente. E, por isso, das 8 entidades entrevistadas apenas 7 responderam à questão se tiveram apoio de um nutricionista em alguma fase do projeto, em que 57% (Gráfico 1) respondeu que sim. Embora 75% (Gráfico 1) destas entidades defende a importância da presença de um nutricionista no seu projeto, podendo este, desempenhar diversos papéis abrangendo as várias fases dos projetos existentes no combate ao desperdício alimentar. Por isso, o apoio que este profissional de

O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 42-45 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1107ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

Resultados das 3 questões de resposta fechada às 8 entidades entrevistadas

Gráfico 1

Sim Não

57,10%

42,90%

75%

25%

42,90%

57,10%

Tem/teve apoio de nutricionista

Importante ternutricionista

Tem noção que produz desperdício alimentar

Resultados

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saúde dá é visto pelas diversas entidades como uma benesse para identificar carências e dar uma resposta eficaz, através da elaboração de técnicas de monitorização dos métodos implementados para que possam ser estruturadas abordagens e desenvolvidos conteúdos e atividades para ações de sensibilização. Assim como, devido aos vastos conhecimentos sobre os alimentos e alimentação, os nutricionistas, na perspetiva destas entidades, têm também um papel importante na partilha de conhecimentos técnicos importantes para as adaptações alimentares com o objetivo de mostrar à comunidade que a refeição precisa de ser abundante em qualidade nutricional e não em quantidade.

Reconhecimento da produção de desperdício alimentar, barreiras e soluções apresentadasA questão relativa a se as 8 entidades tinham noção que produzem desperdício alimentar, das apenas 7 entidades que responderam a esta questão, 57% (Gráfico 1) confirma, mesmo não tendo meio de contabilizar a quantidade de desperdício que produz. Desperdício este que advém de comida que se deteriora no transporte até às instituições e durante o armazenamento ou produtos como frutas ou legumes que são doados em grandes quantidades e necessitam de ser selecionados.As barreiras apresentadas por algumas entidades no combate ao desperdício alimentar são a falta de sensibilização da comunidade em geral para a importância de um consumo com consciência. Bem como, a falta de logística que a maior parte destas entidades tem, pois muitas funcionam à base do voluntariado, impedindo que consigam atuar de forma eficaz na redução em massa do desperdício alimentar produzido. Visto que é da responsabilidade de todos inverter esta situação, as entidades consideram necessária sua união, assim como, a articulação ao longo de toda a cadeia de abastecimento para que haja uma mudança de comportamentos e de mentalidades.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOSA Assembleia da República decretou que 2016 seria o ano de combate ao desperdício alimentar em Portugal (21), tendo sido criadas estratégias que vão ao encontro deste objetivo, sendo uma delas a recuperação dos excedentes alimentares ao longo da cadeia alimentar, através da doação dos produtos a entidades que têm programas de redistribuição ou de doação de alimentos (22).Apesar de todos os esforços, combater o desperdício é um enorme desafio pois não resulta apenas de um único fator (5). Existindo, assim, barreiras que impedem o seu eficaz combate por parte das entidades inquiridas, como os padrões atuais de consumo, falta de informação e sensibilização e, preocupações sobre a eficácia dos métodos usados (22).Para além de todo o desperdício alimentar produzido ao longo de toda a cadeia, existe também produção de desperdício alimentar por parte das entidades que lutam para a sua redução. Fenómeno este que não consegue ter um meio de contabilização para que estas entidades possam melhorar esta realidade que lhes é transversal. E, por isso, desde junho de 2016 foi desenvolvido um padrão global de medição da perda e desperdício alimentar, através do FLWProtocol, que consiste num conjunto abrangente de definições e requisitos de comunicação para se medir, relatar e gerir de forma consistente e confiável a perda e o desperdício alimentar (23).Perante esta realidade, as entidades participantes veem o nutricionista como uma mais valia para o desenvolvimento das várias fases dos diversos projetos, pois com os seus conhecimentos pode promover uma aproximação entre o conhecimento popular e o científico, proporcionando alterações nos hábitos alimentares da população, nomeadamente, no que toca a mudanças de comportamentos que vão influenciar a alteração da atitude face à produção de desperdício alimentar (24).

CONCLUSÕESO desperdício alimentar é uma problemática que está a ganhar alguma importância nas sociedades atuais, incentivando a criação de políticas para promover a redução do desperdício alimentar atualmente gerado. Apesar de ainda existirem muitas alterações que têm de ser efetuadas, com esta entrevista realizada junto das diversas entidades nacionais que criam formas de atenuar esta realidade, uma das mudanças mais mencionadas foi a mudança de mentalidades e comportamentos que têm um papel fundamental para que a redução do desperdício alimentar aconteça. A par desta reflexão, as entidades participantes também consideram que a presença de um nutricionista nos mais variados projetos, é importante para fazer o elo de ligação entre os conhecimentos técnicos e a aplicabilidade na população.

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O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 42-45 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1107

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47ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 47 | LICENÇA: cc-by-ncASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

The Acta Portuguesa de Nutrição is a scientific journal, property of the Portuguese Association of Nutrition. It publishes papers in the area of nutrition and food sciences and also professional articles, related to the professional practice of Nutritionists. This journal continues the work of Revista Nutrícias released in 2001.Its periodicity is quarterly, with one paper edition (april-june) and the others in digital format. The Acta Portuguesa de Nutrição is also available on our journal website.It is distributed free of charge to all Portuguese Association of Nutrition members, institutions of food and nutrition area and to the Food Industry.Manuscripts submitted for publication should meet the following criteria: - Presentation of a current and original scientific research or a literature review of a topic related to food and nutrition; or an article of professional character with the description and discussion of matters relevant to the profession practice of nutritionists. - Articles written in Portuguese or English; if written in English, the title, abstract and keywords must be translated into Portuguese.Articles must be submitted for publication directly on the following website:www.actaportuguesadenutricao.pt.

WRITING THE ARTICLE Different publishing norms should be followed according to the type of article: 1. Original articles 2. Review articles 3. Clinical Cases4. Articles of professional nature

1. ORIGINAL ARTICLESFull papers will normally present no more than 10 pages (including the text, references, figures and tables and excluding the title page). The articles must be written in Arial font, size 12, 1.5 line spacing, normal margins, and with the indication of the line number in the lateral margin.

The original research article must present the following structure: 1º Title; 2º Abstract; 3º Keywords; 4ºIntroduction; 5º Aim (s); 6º Materials and Methods; 7º Results; 8º Discussion; 9º Conclusions; - 10º Acknowledgments (optional); 11º References; 12º Figure, tables and respective legends.

1.º TitleThe article title should be as brief and as explicit as possible, not exceeding 15 words. It must not include abbreviations and should be presented in English and in Portuguese.2.º AbstractThe text should start with a structured abstract not exceeding 300 words: Background; Material and Methods, Results, Conclusions. It must be presented in English and Portuguese. 3.º Keywords Provide a list with up to six keywords of the article. It must be presented in English and Portuguese.4.º Introduction The introduction should include the previous knowledge about the topic being researched and the reasons for the investigation. Abbreviations should be indicated in parenthesis in the text the first time they are used.The units should be expressed as SI units. References should be placed throughout the text in Arabic numerals within parenthesis.5.º Aim (s) They should be clear and concise. The remaining text should answer them.6.º Material and Methods The methodology must be explicit and explain the techniques, methods and practices used. It also must describe all the materials, people and animals used and the time reference in which the study/investigation and statistical analysis (when applicable) were carried out. The methods used must be accompanied by the corresponding references. When reporting experiments on human subjects it is necessary to indicate the use of Informed Consent and approval of the investigation project by an Ethics Committee. Authors also should indicate that the experiments where standards accordingly to Helsinki Declaration. When reporting experiments on animals, it is necessary to indicate the care used for the treatment of them. 7.º Results The results should be presented in a clear and didactic way for easy perception.The figures and tables should be referred, indicating their name and Arabic number between parentheses. Example: (Figure 1) It should not be exceeded a limit of 6 representations in total figures, graphs and tables.8.º Discussion It is intended to present a discussion of the results obtained, comparing them with previous studies and related references indicated in the text by Arabic numbers in parenthesis. The discussion should also include the principal advantages and limitations of the study and its implications.9.º Conclusions The major conclusions of the study should be presented. Statements and conclusions not based in the results obtained should be avoided. 10.º AcknowledgementsThese are optional. If there are conflicts of interest on behalf of any of the authors, they should be declared in this section. The source of funding for the study, if any, should also be mentioned. 11.º References References should be numbered by order of entry in the text and indicated between parentheses. The citation of an article should respect the following order:Author(s) name(s). Title. Year of publication; Volume: pagesExample: Rodrigues S, Franchini B, Graça P, de Almeida MDV. A New Food Guide for the Portuguese Population. Journal of Nutrition Education and Behavior 2006; 38: 189 -195

For the citation of other references (book, book chapter, online reports…), please consult the international guidelines of biomedical journals at www.icmje.org.Only published papers should be cited (including those “in press”). The citation of personal communications and abstracts should be avoided. 12.º Figures, tables and respective legends The reference of figures and tables should be indicated throughout the text in Arabic numbers in parentheses. These illustrations should be placed after the bibliographic references, on separate pages, and the order in which they should be inserted must be the same in which they are referenced throughout the text.The titles of the tables should be placed above them and referred with Arabic numbers (example: Table 1). The legend should appear under each figure and referred with Arabic numbers (example: Figure 1). Graphics and legends should be written in Arial font, size not less than 8.

2. REVIEW ARTICLESFull papers will normally present no more than 12 pages (including the text, references, figures and tables and excluding the title page). The articles must be written in Arial font, size 12, 1.5 line spacing, normal margins, and with the indication of the line number in the lateral margin. If the article is a systematic review it should follow the requirements specified above for the original articles. If the article has no systematic character it must be structured according to the following order: 1º Title; 2º Abstract; 3º Keywords; 4º Main text; 5º Critical Analysis; 6º Conclusions; 7º Acknowledgments (optional); 8º References; 9º Figure, tables and respective legends. The points in common with the guidelines mentioned above for original articles should follow the same indications.

4.º Main textShould preferentially include subtitles for better understanding of the various aspects of the subjects addressed. 5.º Critical analysis It should include a critical view by the author(s) on the various aspects addressed.

3. CLINICAL CASESFull papers will normally present no more than 8 pages (including text, references and figures, graphs and tables and excluding the title page). The articles must be written in Arial font, size 12, 1.5 line spacing, normal margins, and with the indication of the line number in the lateral margin. It is considered a clinical case an article that describes a detailed and reasoned manner a case whose publication is justified in view of its complexity, diagnosis, rarity, evolution or type of differential treatment.Clinical cases must present the following structure: 1º Title; 2º Abstract; 3º Keywords; 4º Main text; 5º Clinical Case Description; 6º Critical Analysis 7º Conclusions; 8º Acknowledgments (optional); 9º References; 10º Figure, tables and respective legends. The points in common with the guidelines mentioned above for original articles should follow the same indications.

5.º Clinical Case DescriptionIt must be explicit and explanatory of all aspects characterizing the clinical case, based on actual cases, but without direct reference to the submitted individual. Just merely exemplary or vague data should be indicated (ex .: individual A).

4. ARTICLES OF PROFESSIONAL NATUREFull papers will normally present no more than 8 pages (including the text, references, figures and tables and excluding the title page). The articles must be written in Arial font, size 12, 1.5 line spacing, normal margins, and with the indication of the line number in the lateral margin. This category includes articles that address one approach or opinion on a particular subject, technique, methodology or activity carried out within the professional practice of Nutritionists.Articles of professional nature must present the following structure: 1º Title; 2º Abstract; 3º Keywords; 4º Main text; 5º Critical Analysis; 6º Conclusions; 7º Acknowledgments (optional); 8º References (if used); 9º Figure, tables and respective legends. The orientations of these points were mentioned above in points 1 and 2.

EDITORIAL PROCESSINGUpon reception all manuscripts are numbered. The number of the manuscript is then communicated to the authors and it identifies the manuscript in the communication between the authors and the journal.The manuscripts (anonymous) will be examined by the Editorial Board and by the Scientific Board of the Journal, as well as by two elements of a group of reviewers designated by the Boards.Following the arbitration, the manuscripts may be accepted without changes, rejected or accepted after the authors correct the changes proposed by the reviewers. In this case, the proposed changes are sent to the authors and they have a deadline to make them. The rejection of a manuscript will be based on two negative opinions emitted by two independent reviewers. In the presence of a negative and a positive opinion, the decision of the manuscript publication or rejection will be assumed by the Editor of the Journal. Upon acceptance of the manuscript for publication, proof review should be made within a maximum of three days, where only spelling errors can be corrected. The article will contain the submission date and the date of the approval of the manuscript for publication.

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NORMASD E P U B L I C A Ç Ã O

ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 48 | LICENÇA: cc-by-ncASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | [email protected]

A Acta Portuguesa de Nutrição é uma revista de índole científica e profissional, propriedade da Associação Portuguesa de Nutrição, que tem o propósito de divulgar trabalhos de investigação ou de revisão na área das Ciências da Nutrição para além de artigos de carácter profissional, relacionados com a prática profissional do Nutricionista. Esta Revista dá continuidade ao trabalho iniciado pela Revista Nutrícias, lançada em 2001.Tem periodicidade trimestral, com uma edição em papel (abril-junho) e as restantes em formato exclusivamente digital e disponibilizadas no website da revista. É distribuída gratuitamente junto dos associados da Associação Portuguesa de Nutrição, instituições da área da saúde e nutrição e empresas agroalimentares.São aceites para publicação os artigos que respeitem os seguintes critérios:- Apresentação de um estudo científico atual e original ou uma revisão bibliográfica de um tema ligado à alimentação e nutrição; apresentação de um caso clínico; ou um artigo de carácter profissional com a descrição e discussão de assuntos relevantes para a atividade profissional do Nutricionista.- Artigos escritos em Português (com o Acordo Ortográfico de 1990) ou Inglês.Os artigos devem ser submetidos para publicação diretamente no site:www.actaportuguesadenutricao.pt.

REDAÇÃO DO ARTIGOSerão seguidas diferentes normas de publicação de acordo com o tipo de artigo:1. Artigos originais2. Artigos de revisão 3. Casos clínicos4. Artigos de carácter profissional

1. ARTIGOS ORIGINAISO número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, grá-ficos e tabelas) não deve ultrapassar as 10 páginas e deve ser escrito em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de número de linha na margem lateral. O artigo de investigação original deve apresentar-se estruturado pela seguinte ordem: 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Introdução; 5.º Objetivo(s); 6.º Metodologia; 7.º Resultados; 8.º Discussão dos resultados; 9.º Conclusões; 10.º Agradecimentos (facultativo); 11.º Referências Bibliográficas; 12.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas.

1.º TítuloO título do artigo deve ser o mais sucinto e explícito possível, não ultrapassando as 15 palavras. Não deve incluir abreviaturas. Deve ser apresentado em Português e em Inglês.2.º ResumoO resumo poderá ter até 300 palavras, devendo ser estruturado em Introdução, Objetivos, Métodos, Resultados e Conclusões. Deve ser apresentado em Português e em Inglês.3.º Palavras-Chave Indicar uma lista por ordem alfabética com um máximo de seis palavras-chave do artigo. Deve ser apresentada em Português e em Inglês.4.º Introdução A introdução deve incluir de forma clara os conhecimentos anteriores sobre o tópico a abordar e a fundamentação do estudo.As abreviaturas devem ser indicadas entre parêntesis no texto pela primeira vez em que foram utilizadas.As unidades de medida devem estar de acordo com as normas internacionais. As referências bibliográficas devem ser colocadas ao longo do texto em numeração árabe, entre parêntesis curvos. 5.º Objetivo(s) Devem ser claros e sucintos, devendo ser respondidos no restante texto. 6.º Metodologia Deve ser explícita e explicativa de todas as técnicas, práticas e métodos utilizados, devendo fazer-se igualmente referência aos materiais, pessoas ou animais utilizados e qual a referência temporal em que se realizou o estudo/pesquisa e a análise estatística nos casos em que se aplique. Os métodos utilizados devem ser acompanhados das referências bibliográficas cor-respondentes.Quando se reportarem investigações com humanos, é necessário indicar o uso do Consen-timento Informado e a aprovação do projeto de investigação por uma Comissão de Ética. Os autores também devem indicar que os procedimentos experimentais estiveram de acordo com a Declaração de Helsínquia.No reporte de experiências com animais, é necessário indicar os cuidados utilizados para o tratamento dos mesmos.7.º Resultados Os resultados devem ser apresentados de forma clara e didática para uma fácil perceção. Deve fazer-se referência às figuras, gráficos e tabelas, indicando o respetivo nome e número árabe e entre parêntesis. Ex.: (Figura 1). Não deverá ser excedido um limite de 6 representações no total de figuras, gráficos e tabelas. 8.º Discussão dos resultados Pretende-se apresentar uma discussão dos resultados obtidos, comparando-os com estudos anteriores e respetivas referências bibliográficas, indicadas ao longo do texto através de número árabe entre parêntesis. A discussão deve ainda incluir as principais limitações e vantagens do estudo e as suas implicações.9.º Conclusões De uma forma breve e elucidativa devem ser apresentadas as principais conclusões do estudo. Devem evitar-se afirmações e conclusões não baseadas nos resultados obtidos.10.º Agradecimentos A redação de agradecimentos é facultativa. Se houver situações de conflito de interesses devem ser referenciados nesta secção.11.º Referências Bibliográficas Devem ser numeradas por ordem de citação ou seja à ordem de entrada no texto, colocando-se o número árabe entre parêntesis curvos.A indicação das referências bibliográficas no final do artigo deve ser apresentada segundo o estilo Vancouver.

Devem citar-se apenas artigos publicados (incluindo os aceites para publicação “in press”) e deve evitar-se a citação de resumos ou comunicações pessoais.Devem rever-se cuidadosamente as referências antes de enviar o manuscrito.12.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendasAo longo do artigo a referência a figuras, gráficos e tabelas deve estar bem percetível, devendo ser colocada em número árabe entre parêntesis. Estas representações devem ser colocadas no final do documento, a seguir às referências bibliográficas do artigo, em páginas separadas, e a ordem pela qual deverão ser inseridos terá que ser a mesma pela qual são referenciados ao longo do artigo. As legendas deverão aparecer por cima das figuras, gráficos ou tabelas, referenciando-se com numeração árabe (ex.: Figura 1). Devem ser o mais explícitos possível, de forma a permitir uma fácil interpretação do que estiver representado. No rodapé da representação deve ser colocada a chave para cada símbolo ou sigla usados na mesma. O tipo de letra a usar nestas representações e legendas deverá ser Arial, de tamanho não inferior a 8.

2. ARTIGOS DE REVISÃO O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 12 páginas e deve ser escrito em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de número de linha na margem lateral.Caso o artigo seja uma revisão sistemática deve seguir as normas enunciadas anteriormente para os artigos originais. Caso tenha um carácter não sistemático deve ser estruturado de acordo com a seguinte ordem:1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Texto principal; 5.º Análise crítica; 6.º Conclusões; 7.º Agradecimentos (facultativo); 8.º Referências Bibliográficas; 9.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas. Os pontos comuns com as orientações referidas anteriormente para os artigos originais deverão seguir as mesmas indicações.

4.º Texto principalDeverá preferencialmente incluir subtítulos para melhor perceção dos vários aspetos do tema abordado.5.º Análise críticaDeverá incluir a visão crítica do(s) autor(es) sobre os vários aspetos abordados.

3. CASOS CLÍNICOSO número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 8 páginas e deve ser escrito em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de número de linha na margem lateral.Considera-se um caso clínico um artigo que descreva de forma pormenorizada e fundamentada um caso cuja publicação se justifique tendo em conta a sua complexidade, diagnóstico, raridade, evolução ou tipo de tratamento diferenciado. Estes artigos devem ser estruturados pela seguinte ordem: 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Introdução; 5.º Descrição do Caso Clínico; 6.º Análise crítica; 7.º Conclusões; 8.º Agradecimentos (facultativo); 9.º Referências Bibliográficas; 10.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas. Os pontos comuns com as orientações referidas anteriormente para os artigos originais deverão seguir as mesmas indicações.

5.º Descrição do Caso Clínico; Deve ser explícita e explicativa de todos os aspetos que caracterizem o caso clínico, baseado em casos reais, mas sem referência direta ao indivíduo apresentado. Apenas deverão ser indi-cados dados meramente exemplificativos ou vagos (ex.: indivíduo A).

4. ARTIGOS DE CARÁCTER PROFISSIONALO número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 8 páginas e deve ser escrito em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de número de linha na margem lateral.Nesta categoria inserem-se os artigos que visem uma abordagem ou opinião sobre um deter-minado tema, técnica, metodologia ou atividade realizada no âmbito da prática profissional do Nutricionista.Estes artigos devem ser estruturados pela seguinte ordem: 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Texto principal; 5.º Análise crítica; 6.º Conclusões; 7.º Agradecimentos (facultativo); 8.º Referências Bibliográficas; 9.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas. As orientações destes pontos foram referidas anteriormente nos pontos 1 e 2.

TRATAMENTO EDITORIALAquando da receção todos os artigos serão numerados, sendo o dito número comunicado aos autores e passando o mesmo a identificar o artigo na comunicação entre os autores e a revista.Os textos, devidamente anonimizados, serão então apreciados pelo Conselho Editorial e pelo Conselho Científico da revista, bem como por dois elementos de um grupo de Revisores indi-gitados pelos ditos Conselhos. Na sequência da citada arbitragem, os textos poderão ser aceites sem alterações, rejeitados ou aceites mediante correções, propostas aos autores. Neste último caso, é feito o envio das alterações propostas aos autores para que as efetuem dentro de um prazo estipulado. A rejeição de um artigo será baseada em dois pareceres negativos emitidos por dois revisores independentes. Caso surja um parecer negativo e um parecer positivo, a decisão da sua publicação ou a rejeição do artigo será assumida pelo Editor da revista. Uma vez aceite o artigo para publicação, a revisão das provas da revista deverá ser feita num máximo de três dias úteis, onde apenas é possível fazer correções de erros ortográficos.No texto do artigo constarão as indicações relativas à data de submissão e à data de aprovação para publicação do artigo.

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A Acta Portuguesa de Nutrição é disponibilizada gratuitamente a:Administrações Regionais de SaúdeAssociações Científicas e Profissionais na área da SaúdeAssociados da Associação Portuguesa de NutriçãoCâmaras MunicipaisCentros de SaúdeDireções Regionais de EducaçãoEmpresas de Restauração ColetivaHospitaisIndústria AgroalimentarIndústria FarmacêuticaInstituições de Ensino Superior na área da SaúdeJuntas de FreguesiaMinistériosMisericórdias Portuguesas

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