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nÚmero 139 15 de julho a 15 de Setembro de 2014 2 € periódico galego de informaçom crítica o meStre reinteGrata 18 A alcunha de Mário ‘o português’ per- mite intuír um dos piares docentes des- te professor da Ilha. A defesa do galego e da norma portuguesa trouxeram-lhe a represão da Inspeção, apesar da soli- dariedade recevida de alunos e pais. eleiçonS naS conFrariaS 10 A renovaçom da direçom das con- frarias deixárom sonoras derrotas para patrons maiores próximos do PP. Em Cambados, Benito Gonzá- lez, mao direita da Conselharia de Mar, perdeu o liderado do pósito. N ovas da G ali a “Gostaríamos de ter boa relaçom com todas as forças políticas, mesmo com o PP” maRcOS maceiRa, presidente da mesa pola normalizaçom linguística pág. 20 oPiniom cReBaR a pOLíTica LíqUiDa Olalha Barro / 3 máScaRa De peRfiL por Sabela fraga costa / 3 ReViVaL TaRDOfRaNqUiSTa por Xurxo Borrazás / 28 SuPlemento central a reviSta ViLaSaNTaR: DO NOUTRORa aO aGORa Rota por um concelho de passado viçoso e futuro incerto, retra- to sintético do futuro que o capital reserva a boa parte do rural ciNema Crónica da (S8) Mostra de Cinema Periférico, um festival que ano após ano leva à Corunha o mais sugestivo cinema de vanguarda “Nom é que os espaços de poder estejam ocupados por homens; estám atravessados por umha ideologia patriarcal” / PÁG. 22-23 Redes de cooperaçom para o futuro no rural movimentoS SociaiS A começos do mês de julho dú- zias de pessoas juntavam-se em Negueira de Moniz para a se- gunda ediçom das Jornadas Ru- rais Galegas. Este ponto de en- contro para quem procura vias de futuro para o agro galego. Este espaço para o debate e a posta em comum de conheci- mentos e ideias verá-se amplia- do neste verao com o lança- mento dumha web. Alfons, um dos seus impulsionadores, ex- plica que esta visa ser “umha fe- rramenta para criar rede entre projetos do rural”. / PÁGS. 16 Feminicídio na América Latina terroriSmo machiSta Como prender um fósforo num quarto escuro e descubri-lo lota- do de cascudas, o jornalismo desvenda a impunidade com a que feminicidas em série desen- volvem um ritual de seleçom, tortura e assassinato contra mul- heres polo singelo facto de sê-lo. De acender dous fósforos, os jor- nais já porám nomes aos polícias corrutos que envolvem de impu- nidade os crimes. Mas o medo a queimar-se fai com que poucas pessoas prendam três fósforos, ficando ocultos os insectos mel- hor camuflados. / PÁG. 12-13 além daS touradaS A Sega, crítica literária feminista eSPetÁculo e animaiS: até onde cheGa a tradiçom? Com a chegada do estio, nas poucas vilas em que ainda pervive a prática da tauromaquia celebram-se estes espetáculos, fundamentados no sofrimento e morte dum ser vivo. A legislaçom autonómica dá cobertura a este eventos taurinos, mantendo-os ex- cluídos da legislaçom de proteçom animal. Ainda que no nosso país nom se aprecia umha afeiçom ex- plícita por espetáculos com cenas de maus tratos a animais, coletivos animalistas e ecologistas tenhem alertado sobre o que acontece em celebraçons como a Festa do Boi de Alhariz, onde um exemplar desta espécie é axotado pola vila. / PÁGS. 16-17

ovas da Gali a pr esi dnt a mesa pola normalizaçom linguísticanÚmero 139 15 de julho a 15 de Setembro de 2014 2 € p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í

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  • nÚmero 139 15 de julho a 15 de Setembro de 2014 2 €

    p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

    o meStre reinteGrata 18A alcunha de Mário ‘o português’ per-mite intuír um dos piares docentes des-te professor da Ilha. A defesa do galegoe da norma portuguesa trouxeram-lhea represão da Inspeção, apesar da soli-dariedade recevida de alunos e pais.

    eleiçonS naS conFrariaS 10A renovaçom da direçom das con-frarias deixárom sonoras derrotaspara patrons maiores próximos doPP. Em Cambados, Benito Gonzá-lez, mao direita da Conselharia deMar, perdeu o liderado do pósito.

    Novas da Gali a

    “Gostaríamos deter boa relaçomcom todas asforças políticas,mesmo com o PP”

    maRcOS maceiRa,presidente da mesa pola normalizaçom linguísticapág. 20

    oPiniom

    cReBaR a pOLíTica LíqUiDa Olalha Barro / 3

    máScaRa De peRfiL por Sabela fraga costa / 3

    ReViVaL TaRDOfRaNqUiSTapor Xurxo Borrazás / 28

    SuPlemento central a reviSta

    ViLaSaNTaR: DO NOUTRORa aO aGORaRota por um concelho de passado viçoso e futuro incerto, retra-to sintético do futuro que o capital reserva a boa parte do rural

    ciNemaCrónica da (S8) Mostra de Cinema Periférico, um festival que anoapós ano leva à Corunha o mais sugestivo cinema de vanguarda

    “Nom é que os espaços de poder estejam ocupados por homens;estám atravessados por umha ideologia patriarcal” / PÁG. 22-23

    Redes de cooperaçompara o futuro no rural

    movimentoS SociaiS

    A começos do mês de julho dú-zias de pessoas juntavam-se emNegueira de Moniz para a se-gunda ediçom das Jornadas Ru-rais Galegas. Este ponto de en-contro para quem procura viasde futuro para o agro galego.Este espaço para o debate e a

    posta em comum de conheci-mentos e ideias verá-se amplia-do neste verao com o lança-mento dumha web. Alfons, umdos seus impulsionadores, ex-plica que esta visa ser “umha fe-rramenta para criar rede entreprojetos do rural”. / PÁGS. 16

    Feminicídio naAmérica Latina

    terroriSmo machiSta

    Como prender um fósforo numquarto escuro e descubri-lo lota-do de cascudas, o jornalismodesvenda a impunidade com aque feminicidas em série desen-volvem um ritual de seleçom,tortura e assassinato contra mul-heres polo singelo facto de sê-lo.

    De acender dous fósforos, os jor-nais já porám nomes aos políciascorrutos que envolvem de impu-nidade os crimes. Mas o medo aqueimar-se fai com que poucaspessoas prendam três fósforos,ficando ocultos os insectos mel-hor camuflados. / PÁG. 12-13

    além daS touradaS

    A Sega, crítica literária feminista

    eSPetÁculo e animaiS: até onde cheGa a tradiçom?

    Com a chegada do estio, nas poucas vilas em queainda pervive a prática da tauromaquia celebram-seestes espetáculos, fundamentados no sofrimento emorte dum ser vivo. A legislaçom autonómica dácobertura a este eventos taurinos, mantendo-os ex-cluídos da legislaçom de proteçom animal. Ainda

    que no nosso país nom se aprecia umha afeiçom ex-plícita por espetáculos com cenas de maus tratos aanimais, coletivos animalistas e ecologistas tenhemalertado sobre o que acontece em celebraçons comoa Festa do Boi de Alhariz, onde um exemplar destaespécie é axotado pola vila. / PÁGS. 16-17

  • 02 oPiniom Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

    GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

    o Pelourinho do novaS

    o aldraje de homenaGearFilGueira valverde

    A designaçom de Filgueira Valver-de como homenageado no diamais simbólico da língua e a cultu-ra galega é um aldraje para todosos cidadaos que sofrêrom tortu-ras, morte, cadeia, e exílio em de-fesa das liberdades do povo gale-go. Aliás, é umha afronta a toda ahistória de resistência na defesada língua e cultura galega levada acabo por mulheres e homens dasdistintas associaçons culturais dopaís na longa noite de pedra.

    O falangista Filgueira Valverdeparticipou desde o começo do al-çamento fascista do ano 1936, for-mou parte do mesmo, tanto polorádio como em jornais chamouem tomar parte do genocídio fran-quista. Naqueles momentos cen-tos e milhares de galegos eram de-saparecidos com um tiro na calu-ga na beira das estradas. Comoprémio foi procurador nas Cortesfranquistas, entre outros muitospostos de poder que possuiu no

    regime clerical-fascista. Regimeque fijo da perseguiçom mais fe-roz da língua e cultura galegas umdos seus objetivos, e extirpar des-te jeito toda raizame de pertençaà naçom galega, com consequên-cias que hoje estamos a padeceros cidadaos galegos.

    Nengumha obra literária, cien-tifica, artística, pode esconder atrajetória social e política de umhapessoa. A dignidade de um povo ede umha cultura nom é indiferen-te à barbárie.

    A língua e a cultura galegasnom podem estar seqüestradaspor uns mandarins que se consi-deram com direito de pernada.

    A.C. O Facho

    o PP utiliza aS inStituiçonScom intereSSeS PartidiStaS

    A visita do superdelegado da Juntaa Arvo nesta semana deixa váriascousas claras. A principal, e abso-lutamente rejeitável, é que o PPutiliza a Junta com interesses par-

    tidistas. A Coures Touriz nom lheimporta o bem-estar dos arvenses,o que o move som as siglas do seupartido. Este tipo de condutas ali-mentam a perceçom de que a clas-se política em geral nom estám àaltura das circunstáncias sociaisatuais, sendo necessária umhatransformaçom profunda.

    O anterior governo arvense re-cebeu sempre como resposta um“nom há dinheiro” quando solici-

    tou a colaboraçom da Junta paramelhorar alguns aspetos importan-tes do colégio. Quando o governomunicipal acometeu a homologa-çom do sistema elétrico e do siste-ma de calefaçom, depois de quaseumha década deixado da mao deDeus, a resposta foi “o colégio épropriedade do concelho e é a estea quem corresponde afrontar essegasto”. Por responsabilidade, o an-terior governo investiu das arcas

    municipais umha quantidade im-portante. A mesma resposta, “nomhá dinheiro”, ocorreu quando o go-verno municipal sainte solicitou aconstruçom dumha pérgola quecomunicasse as instalaçons educa-tivas com o pátio coberto, para evi-tar que os nenos/as se molhassemno inverno. A pérgola segue sem sefazer. Agora seica vam investir25.000 euros no colégio. Todo o quesignifique melhorar a qualidadedos serviços públicos bem-vindoseja. O que resulta criticável é quea atitude dos responsáveis da Juntacara Arvo tenha mudado justo coma moçom de censura. (...)

    Que contraprestaçons recebe doPP e das arcas públicas,para se si-tuar na primeira linha política local?A transparencia e a igualdade deoportunidades para todos debenser os alicerces dunha nova formade facer política, como represen-tou o goberno de Xavier Simóndurante 3 anos. O PP sitúase nasantípodas deste comportamentoao utilizar as institucións para osseus fins partidistas.

    BNG de Arvo

    Inquéritos tenhem demonstra-do a pouca afeiçom pola tau-romaquia no nosso país. As-

    sim, a empresa consultora Gallupteria recolhido, no período 2002-2006, que 86% da populaçom ga-lega tomava posiçom contra oseventos taurinos. Ao mesmo tem-po que esta desafeiçom é estatis-ticamente patente, a legislaçomautonómica sobre proteçom ani-mal que proíbe o emprego de ani-mais em eventos festivos mantémaberrantes exceçons para a tau-romaquia e para campeonatoscomo o do tiro ao pombinho. Um-ha herança da época Fraga que o

    Parlamento galego ainda nom seesforçou em modificar.

    Que a única praça de tourosatualmente ativa na Galiza se situena cidade de Ponte Vedra nom sig-nifica que o resto do nosso territó-rio se veja livre de espetáculoscom cenas de maus-tratos a ani-mais. Por Ponte Vedra passeiamanualmente os capotes, as espa-das e os vestidos de luzes, mas oseventos em que se exerce violên-cia humana contra os animaisnom som monopólio do construtoidentitário espanhol, em que sepoderiam enquadrar as 'corridas'de touros, senom que também es-

    tám presentes na realidade galega,se bem nom de jeito maioritário.

    Um dos animais mais espetacu-larizado em eventos festivos naGaliza é o boi, forçado protagonis-ta da alaricana Festa do Boi e das'chegas' já desaparecidas neste la-do da raia. Os defensores destascelebraçons, alguns deles naciona-listas e comprometidos com a cul-tura popular, assinalam a tradiçompara perpetuarem estes eventos.Mas os fogos do artifício do espe-táculo cousificam o animal e pro-vocam comportamentos sádicoscontra ele. Assim esquece-se o queé verdadeira tradiçom: que a rela-

    çom do homem com o animal tivoum fundamento económico, ao tersido este necessário para a sobre-vivência humana e a melhora dascondiçons de trabalho no agro.

    Neste plano do debate entramos 'curros' de cavalos e a 'rapa dasbestas', eventos onde as cenas desofrimento animal também estámpresentes e onde, concretamenteno caso de Sabucedo, se atingíromaltos níveis de espetacularizaçome turistificaçom. A imagem do ca-valo dominado polo 'aloitador'oculta o porquê da existência dos'curros', do mesmo jeito que um'flash' fotográfico nos mergulha

    numha cegueira provisória. A 'ra-pa das bestas' nom nasceu para ce-nificar umha luita primigénia, se-nom em base a razons económicase a umha relaçom que o ser huma-no mantinha com o seu contorno.Porém, também nessa relaçom sedam cenas de violência contra oanimal que cumpre denunciar.

    Destarte, a construçom dumhasociedade que se alicerce emideias de justiça e que medre com-prometida com a natureza precisade refletir sobre as diversas ex-pressons da tradiçom. Ao pé dasmanifestaçons mais espetaculari-zantes e próximas a conceçons tu-ristificantes, é preciso procurar nonosso país as tradiçons mais po-pulares e respeitosas com o con-torno. Umha questom de futuro.

    A tradiçom do maltrato animaleditorial

    humor mincinho

    D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

    eDiTORaa.c. miNhO meDia

    cONSeLhO De ReDaçOmiván G. Riobó, aarón López Rivas, Rubén melide, Xavier miquel, Raul Rios,Xoán R. Sampedro, Olga Romasanta, alonso Vidal e ana Viqueira

    SecçONScronologia: iván cuevas / economia:Raul Rios / mar: afonso Dieste / media: Xoán R. Sampedro e Gustavo Luca / além minho: eduardo S. maragoto / povos:

    José antom ‘muros’ / Dito e feito: Olga Ro-masanta / a Denúncia: iván García / Despor-tos: anjo Rua Nova e Xermán Viluba / consu-mir menos, Viver melhor: Xan Duro / a crian-ça Natural: maria álvares Rei / agenda: irenecancelas / a Revista: Rubén melide / a Gali-za Natural: João aveledo Língua Nacional:isabel Rei Samartim / criaçom: patricia Ja-neiro / cinema: Xurxo chirro, iván Garcíaambruñeiras e Julio Vilariño

    DeSeNhO GRáficO e maqUeTaçOmhilda carvalho, manuel pintor

    fOTOGRafiaarquivo NGZ, Sole Rei, Galiza independente(GZi-foto), Zélia Garcia, Borja Toja

    aDmiNiSTRaçOm: carlos Barros Gonçales

    aUDiOViSUaL: Galiza contrainfo

    hUmOR GRáficOSuso Sanmartin, pestinho, Xosé Lois hermo,Gonzalo, Ruth caramés, pepe carreiro, mincinho, Beto

    fechO De eDiçOm: 20/07/2014

    cORReçOm LiNGÜíSTicaXiam Naia, f. corredoira, Vanessa Vila Verde,mário herrero, Javier Garcia, iván Velho, JoséDias cadaveira, albano coelho

    cOLaBORam NeSTe NÚmeROOlalha Barro, Sabela fraga costa, Graciela atencio, alex antunes, maria álvares, eduardo maragoto, carlos c. Varela, Lara Dopazo Ruibal, Xurxo Borrazás, Óscar Valadares, Xermán García Romai, Rebeca Baceiredo

  • Preparamo-nos para posar,fabricamos a nossa ence-naçom, sacamos a nossa

    máscara a reluzir e temos final-mente a imagem que queremosmostrar ao mundo com umhaspautas de leitura definida. Hojeem dia as fotos já nom recolhemlembranças senom que se conver-tem em objetos – imagens de usare descartar, de consumo rápido,mensagens para enviar e trocar. Aurgência por comunicar novida-des ou simplesmente que todocontinua igual com umha fotogra-fia estabelece atualmente umamassificaçom de conteúdo visualque faz com que cada vez sejamais difícil refletir sobre a nossaexperiência e relaçom com asimagens. O que prevalece é a cir-

    culaçom sobre o conteúdo, tam-bém nom importa a qualidade se-nom contá-lo todo a través dumhafotografia.

    A essa altura a fotografia con-verte-se numha forma de alucina-çom, falsa ao nível de percepçommas verdadeira ao nível do tempo.As fotografias promovem a nos-talgia ativamente dando testemu-nho da despiedada disoluçom dotempo. Mas semelha que nestesespaços virtuais a memória passaa um segundo plano para alimen-tar um tráfego incessante de ima-gems sob a premisa “isso foi, euestivem alí”diariamente.

    O referente e o significado dasimagens pouco importa, fotogra-fa-se todo: as reunions com asamizades, os congestionamentos,o prato estrela da sexta, até oaborrecimento dum domingo àtarde. Esse registo já nom é priva-

    do, senom público e partilhado,ademais perdeu-se esse trabalhopessoal que se investia nos diáriosescritos, com umhas reflexons equestionamentos íntimos.

    As fotos já nom registam mo-mentos para guardar nums al-

    buns senom que servem comomensagens para enviar e parti-lhar, som gestos de comunica-çom numha era em que se faz di-fícil a distinçom entre as imagense as cousas. Como já reparavaSusan Sontag consumimos eproduzimos imagens a um ritmocada vez mais impetuoso e a ra-zom última da necessidade de fo-tografá-lo todo reside na lógicamesma do consumo: queimar, es-gotar e voltar a consumir.

    Em tempos que se calhar hojesoam arcaicos, a identidade dapessoa estava sujeita ao nome quecaracterizava o indivíduo, isso é, apalavra. Com a chegada da foto-grafia essa identidade tornou-seem imagem, numha face imortali-zada que era privilégio de poucaspessoas. Atualmente somos donasda nossa apariência e somosquem de geri-la como nos conve-

    nha, de facto podemos ter umhafoto perfil diferente em cada redesocial. Perante esta incessantemoreia de fotografias com as quenos topamos cada dia, longe ficamprojetos como os de Cindy Sher-man ou o Grupo de Boston ao re-dor da subjetividade e o quotidia-no que rachavam no seu momentocom todo o estabelecido.

    A importáncia que se outorga àimagem reflicte-se no ensino. Co-mo exemplo, em 1968 mais de milescolas e colégios, entre eles 177universidades, ensinavam foto-grafia nos Estados Unidos e trêsanos depois já existia um douto-ramento de fotografia na Univer-sidade de Nova Iorque. Hoje empoucas universidades do país seconcede o lugar e a importánciaque merece a fotografia, por darum dado, em História da Arte estamatéria é inexistente.

    03oPiniomNovas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    oPiniom

    Ooutro dia, fum a umhaconcentraçom e alguémachegou-se a mim e dixo-

    me: “que alegria ver caras novas!”Eu respondim: “Nom som umhacara nova, simplesmente mudeide comarca”. Para chegarmos aansiada transformaçom social,fam falta muitas e muitas carasnovas que nom vejo.

    Há tempo que me acompanhaum sentimento de orfandade polí-tica. Nom som capaz de sentir-meà vontade com o trabalho de orga-nizaçom política nengumha e porisso sempre trabalhei à margemdelas, em espaços de encontro co-mo os centros sociais, asociaçonsculturais e nos feminismos.

    Entendo a emergência social epolítica do momento e percebo, emesmo concordo, com as compa-nheiras que sentem que é neces-sário tomarem as instituiçonsporque nos estám a massacrar.

    E leio por toda a parte comen-tários dumha necessária unidadeda esquerda nacional ou da es-querda espanhola ou de renova-çons de discursos, de outras for-mas de fazer política (sic), etc.Mas na hora da verdade, pare-cem-me grandes palavras ocas,faltam-lhe realidade. Sinto queaquí nom há nada novo. Senom

    umha guerra de elites. Também se falou muito do êxi-

    to electoral de Podemos, do seu“modelo”, do poder dos mídia, docarisma, da necessidade de líde-res... Para mim o fenómeno Pode-mos tem mais a ver com o tipo desociedade em que vivemos. Forbom ou mau, vivemos na moder-nidade líquida. E o tipo de com-promisso que predomina nestasociedade nom vai além de lhedar a “gosto” no facebook. Perce-bo umha identificaçom política deusar e descartar.

    Já ninguém pode com um me-ta-relato forte como a libertaçom

    nacional, de género ou de classe.Os compromissos sólidos nomsom para nós.

    As grandes opressons nom ge-ram consensos porque há genteque oprime, gente oprimida e gen-te que nom quer saber onde está.Mas esses relatos som tabu por-que som fonte de conflito e o con-flito nom tem muitas amizades emfacebook, o marketing nom se le-va bem com o conflito (só se ad-mite um conflito espetáculo).

    A modernidade líquida nascedo consumismo. Penso que aíes-tá a questom, actuamos em polí-tica como consumidoras, se ca-

    lhar já nom sabemos actuardoutra maneira. Isto é “experi-mente, compare e se acha algomelhor, compre”. De aí compro-missos fracos, sempre insatis-factórios, sempre na procura dealgo puro, por isso nos mante-mos em grupúsculos. Claro estáque umha vez que se cometa umerro, há que ir na procura de al-go melhor e deitar ao lixo todoo feito até hoje porque um errodum colectivo de seres huma-nos que deveriam ser semi-deu-ses e terem predecido o futuro,é imperdoável. Temos que bus-car um novo Corte Inglés que fa-le melhor, que vista melhor eque convença melhor de que sónós temos o melhor produto.

    Penso que as candidaturas po-pulares para as municipais po-dem significar umha rupturacom esta política líquida, com es-ta lógica patriarcal de competên-cia entre siglas e começar a coo-perar entre pessoas. Procurarcompromissos reais com pes-soas reais, deixarmos o virtual,deixarmos o espetáculo.

    Para tomarmos o Palácio deinverno tenhem que mudar mui-tas lógicas, mas é claro que pre-cisamos sentir identificaçom,sentir compromisso, sentir forçae vontade e, sobre todo, sentirpessoas reais acompanhando-nos fora do facebook.

    Crebar a política líquidaOlalha Barro

    Máscara de perfilSabela fraga costa

    actuamos em políticacomo consumidoras,se calhar já nom sabemos actuardoutra maneira. isto é “experimente,compare e se achar algo melhor, compre”

    O referente e o significado das imagens pouco importa, fotografa-setodo: as reunionscom as amizades, oprato estrela da sexta, até o aborrecimentodum domingo à tarde

  • 04 oPiniom Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    aconteceA Subdelegaçom do Governo cursou mul-tas para os ativistas que defendérom estaokupa da Corunha, segundo informa Abor-daxe. A quantia é de 300 euros para os par-ticipantes na concentraçom do 17 de marçoe de 450 para os do dia 29 desse mês.

    multaS de 300 e 450 euroS Por deFender a Palavea

    O universo digital galego já conta com oPortal Galego da língua 3.0, a nova ver-som do sítio web da AGAl. Estreou-seno 17 de maio com um novo desenho einformando com maior periodicidadesobre a atualidade do idioma.

    o ‘Portal GaleGo da línGua’ maiS comPleto

    O militante independentista An-tom Garcia Matos atopa-se naclandestinidade desde 2006, e éassinalado polo aparelho de es-tado como um dos agentes fun-damentais das sabotagens eaçons com explosivos na Galizadesde a publicaçom do ‘Manifes-to pola resistência galega’ noano 2005. Na semana prévia aoDia da Pátria fazia-se público pordiversas vias um video em queexprime as suas consideraçonssobre o desenvolvimento dumhaatividade que “em palavras sim-ples e diretas do povo, chama-seluita armada”. O video, que seapresenta baixo o título 'Comu-nicaçom desde a clandestinida-de de Antom Garcia Matos, guer-rilheiro da resistência galega', foiremitido à redaçom do NOVAS DAGALIZA num disco compacto en-viado por correio postal e carim-bado em Compostela, com um fi-cheiro de 37 minutos de dura-çom de nome 'resistencia'.

    NGZ / “A luita armada na Galiza nosúltimos quarenta anos é a manifes-taçom mais irredutível dum conflitohistórico entre o movimento popu-lar independentista e o estado espa-nhol”. Assim começa o discurso emque Garcia Matos, semi-encarapu-çado, se estende a respeito das mo-

    tivaçons para o exercício da violên-cia por parte “dos e das combaten-tes da resistência galega”. Diz destaúltima que “recolhe com humildadee orgulho o testemunho desta dignatradiçom de luita guerrilheira polaindependência e o poder popular”.“Em palavras simples e diretas dopovo, as únicas que nos importam,a isto chama-se luita armada”.

    Numha citaçom direta da NovaPoesia Galega, primeira declara-çom do Exército Guerrilheiro do Po-vo Galego Ceive feita pública no ano88, lembra que “os combatentes dosanos 80 do século passado diziam'quando nom haja dinamita, butanodoméstico; quando nom haja me-tralhetas, caçadeiras... o povo deveusar as armas que tenha onde as te-nha e sejam oportunas'. [...] Os ini-migos da Galiza devem ser fustiga-dos em todo lugar e circunstancias”.

    Insistindo na autonomia do mo-vimento, afirma que “a resistência ée será unicamente o que nós, gale-gos e galegas livres e combatentesqueremos que seja. O seu sentidonom o vai traçar nengumha corpo-raçom mediática, nengum cientistasocial nem bufete de advogados”.

    Contra o ‘vitimismo’O militante fugido dos corpos po-liciais afirma que “os responsáveisda repressom acreditam ainda

    que o problema do combate arma-do na Galiza pode resolver-se danoite para a manhá a base dumhadúzia de fortes condenas, confian-do em que a sua maquinária puni-

    tiva bem aplicada pode produzirdissuasons extensas e duradei-ras”. “Até agora, nom o conseguí-rom” continua, ao tempo que re-conhece que no nível “da superio-

    ridade pola tecnologia da repres-som e do controlo social” o estado“pode e vai fazer-nos dano”. “Te-mos sofrido derrotas, algumhasmuito pesadas, mas ainda nom fo-mos atingidos no cerne da nossacondiçom indígena, a que assegu-ra que sejamos capazes de levan-tar-nos umha e outra vez”.

    Garcia Matos carga contra o quechama de “medo e escapismo”: “ostatus socio-político vitimário, ele-vado à condiçom de símbolo e sinalde identidade, retrotrai-nos semdúvida a novas formas de auto-ódio”. Incide em minimizar o im-pato da repressom, pois ao seu ver“nom existiu nengumha luita polaindependência e a liberdade quenom trouxesse as suas consequên-cias dolorosas para familiares, se-res queridos e umha parte mais oumenos ampla do povo rebelde”.

    Por suas palavras, “o nosso pro-blema nom é a AN espanhola,nem a aplicaçom mais ou menosrigorosa do código penal. Os nos-sos principais desafios som de or-dem político e social. Um enormeproblema político de falta e sobe-rania, um terrível poder económi-co empenhado no arrasamentometódico da nossa terra e umhaclasse prepotente decidida a nomceder nem umha grama do seu po-der e dos seus privilégios”.

    “Nom existiu nengumha luita pola independênciae a liberdade sem consequências dolorosas”

    novaS da Galiza recebe comunicado do militante indePendentiSta antom Garcia matoS deSde a clandeStinidade

    10.06.2014 / Cámara de Amoei-ro começa a colocar placas in-formativas contra a ditadurasobre a simbologia franquistapresente no concelho.

    11.06.2014 / Pessoal da Urbaser,concessionária da limpeça emLugo, irrompe na casa do Conce-lho ao dia seguinte de que a em-presa despedisse 10 trabalhado-res na primeira jornada da greve.

    12.06.2014 / Exército espanhol ne-ga a Raúl Solleiro o direito a recu-

    perar os documentos e folhetosconfiscados à sua mae, UraniaMella, após o alçamento fascista.

    13.06.2014 / Cámara de Lugorecorre a Tragsa para retirar olixo após cinco dias de grevena concessionária do serviço,Urbaser.

    14.06.2014 / Maria Osório detidapola Guardia Civil em Ponferrada.

    15.06.2014 / Duas mil pessoasparticipam na manifestaçom

    em Vigo da Plataforma Galegapolo Direito ao Aborto.

    16.06.2014 / Plataforma de afe-tados polas preferentes de Fer-rolterra anuncia o fim da suaatividade após conseguir a de-voluçom de 100% das poupan-ças retidas.

    17.06.2014 / J.J.O.C. morre nasobras do TAV na Gudinha.

    18.06.2014 / Falece um homemde 28 anos após sofrer um aci-

    dente com o trator em Penabil(Návia de Suarna).

    19.06.2014 / Motorista morre naFonsagrada ao capotar o seucamiom.

    21.06.2014 / Marchas da dignida-de rodeiam o Parlamento Gale-go para reivindicar que volte aestar ao serviço da cidadania.

    22.06.2014 / Juíza da operaçomPokémon chama a declarar comoimputados o alcalde de Ferrol,

    José Manuel Rei Varela e o ex-presidente da deputaçom de Ou-rense, José Luis Baltar Pumar.

    24.06.2014 / Ena Núñez García,de 63 anos, é assassinada poloseu ex-marido em Cubillos (Ber-zo), que a seguir se suicida.

    25.06.2014 / M.N.C., submari-nista morre afogado em Fis-terra enquanto mariscava. EmGrandas (Eu-Návia), faleceum lenhador esmagado porum pinheiro.

    cronoloGia

    Perante o mais do que eviden-te 'apagom informativo' arre-dor do video por parte dos me-dia sistémicos, e desde o com-promisso com a liberdade deexpressom, recolhemos al-guns dos traços fundamentaisdo discurso. O direito funda-mental à informaçom numhasociedade só é efetivo e útil pa-ra o debate, o confronto de

    ideias e a construçom de acor-dos quando se podem escuitartodas as vozes. Cremos numhasociedade crítica e madura,capaz de debater sem necessi-dade de censuras ou autocen-suras paternalistas. E é nessesentido que, agora como sem-pre, o NOVAS DA GAlIzA exercecom normalidade e coerênciao dever informativo.

    compromisso com a informaçom

  • 05aconteceNovas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    26.06.2014 / Na madrugada, ar-de um camiom da recolha de li-xo em Vilalva, dentro do con-texto de greve em Urbaser.

    27.06.2014 / Trunfa com osvotos do PP e AIAR a moçomde censura contra o alcaldede Arvo Xavier Simón, doBNG. O “popular” HoracioGil será o novo presidenteda cámara.

    28.06.2014 / Dous homens mor-tos em Vilardevós e Ponteces-

    so ao ficar atrapados baixo osseus tratores.

    29.06.2014 / Roteiro opom-seem Moanha ao desdobramentodo corredor do Morraço.

    30.06.2014 / Víctor Lanza Suá-rez, marinheiro de Porto de Vei-ga (Návia), morre na Irlanda en-quanto participava na campa-nha do bonito.

    01.07.2014 / Comunidade educa-tiva do Pinho manifesta-se

    contra o plano de reduzir emseis professores o quadro dedocentes do concelho.

    02.07.2014 / Emigrantes retorna-dos concentram-se em diferen-tes localidades galegas.

    03.07.2014 / Trabalhadores daUrbaser manifestam-se frente àcámara de Lugo.

    04.07.2014 / Governo espanholimpom liberalizaçom de horá-rios comerciais na Corunha, ao

    declarar a cidade “zona de es-pecial afluência turística”.

    05.07.2014 / RAG decide con-ceder o Dia das Letras Gale-gas ao fascista Xosé Filguei-ra Valverde.

    06.07.2014 / O Pino volve mani-festar-se contra o corte de pro-fessorado no centro educativodo concelho.

    07.07.2014 / Tribunal Supremoanula os convênios da Junta

    com cinco escolas privadasque segregam por sexo.

    08.07.2014 / Trasladados aohospital os dous operários daCitröen que levavam uma se-mana em greve de fome parareclamar a readmissom dedous companheiros.

    09.07.2014 / Umhas 200 pes-soas concentram-se em Cam-bados contra a desapariçomdos partidos judiciais desta lo-calidade e de Vilagarcia.

    cronoloGia

    Segundo denuncia o Foro Galego da Imigraçom, o vende-dor nigeriano foi maltratrado dous dias consecutivos polapolícia local. No primeiro dia, confiscarom-lhe “de formaviolenta” as larpeiradas que vendia perto de Marineda Ci-ty. Já no dia a seguir, foi mesmo espancado por váriosagentes uniformados também enquanto trabalhava.

    aGreSSom Policial a vendedor ambulante na corunha

    Marea Atlántica. É o nome do manifesto assinado inicial-mente por 99 corunhesas e que promove umha candida-tura unitária da esquerda para Maria Pita em 2015. Se-gundo informou La Opinión, BNG, Esquerda Unida ouCompromiso por Galicia recebérom com bons olhos aproposta, que incluiria um processo de primárias abertas.

    liSta unitÁria de eSquerdaS Para aS municiPaiS da corunha

    NGZ / Mais umha vez a unidadedas forças soberanistas nom foipossível e no vindeiro dia da Pá-tria em Compostela as forças na-cionalistas e independentistas te-rám cadanseu ato partidário. Estasituaçom contrasta com o movi-mento juvenil, que volta a convo-car umha manifestaçom unitáriapara o 24 de julho, e com a ativi-dade em diversas comarcas dopaís, onde centros sociais e coleti-vos convocam celebraçons nosdias prévios ao 25 de julho.

    Assim, desde a Alameda a parti-res das 12 horas do 25 de julho sai-rám cada meia hora um total detrês manifestaçons. Em primeirolugar, a militância do BNG desfila-

    rá baixo as palavras de ordem 'Empé por Galiza! Soberania, demo-cracia e direitos' rematando o seupercorrido na Praça da Quintá. Às12.30 horas partirá a manifesta-çom independentista de Nós-UP, aqual reclama umha 'República Ga-lega feminista e socialista' e quecontará com um ato político naPraça do Toral às 13.30 horas. Fi-nalmente, às 13 horas sairá a con-vocatória de Causa Galiza com alegenda 'Independência para vi-vermos com dignidade no nossopaís', a qual realizará o seu ato po-lítico na Praça do Pam. Por outrabanda, Anova chama a participarnum ato que se celebrará na Praçado 8 de Março durante o meiodia.

    Unidade juvenilPorém, na tarde do 24 de julho secelebrará por segundo ano conse-cutivo a manifestaçom unitária ju-venil que nesta ocasiom conta comas palavras de ordem 'A mocidademantendo viva a Galiza. Indepen-dência'. Convocam Agir, AMI, Bri-ga, Comités, Galiza Nova, Isca!, li-ga Estudantil Galega e Xeira. Nomanifesto conjunto expom-se quedepois de passado um ano “conta-mos mais razons para sair às ruas ereivindicar mais alto e com maisvozes, que Espanha, o Patriarcadoe o Capital som os piores inimigosda juventude galega”.

    Também para o 24 de julho, às18 horas na Praça da Galiza, está

    convocada a VII Cadeia Humanapola liberdade das presas e pre-sos independentistas, umha mobi-lizaçom marcada pola solidarie-dade e a denúncia das ilegalidadese ilegitimidades que padecem aspresas e presos independentistasnas prisons. Previamente, às 16horas, terá lugar polas ruas deCompostela o lipdub unitário po-la independência, que sairá doC.S.O Escárnio e Maldizer.

    Atividade comarcalA unidade de açom e convocatóriatambém estive presente em dife-rentes comarcas do país nos diasprévios ao 25 de julho, onde cen-tros sociais e coletivos como Gali-

    za pola Soberania convocaram di-versos atos. Em Vigo celebrou-seo sábado 19 o Dia da Pátria nestacidade, numha convocatória quediversos centros sociais da cidadelevam anos promovendo de formaconjunta e que nesta ocasiom con-vocárom o C.S. Faísca, o C.S. ARevolta e A.C. Bou Eva. O 12 dejulho também se celebrara emMarim a VII Romaria da Pátria, or-ganizada pola Revira de Ponte Ve-dra, A.C. Almuinha e o Grupo Cul-tural Ronsel. Por outra banda, ocoletivo Galiza pola Soberania ce-lebrou umha arenga em Cangasdo Morraço no sábado 19 e umhaRomaria na cidade de Ourensenessa mesma jornada.

    Soberanismo dividido nas ruas mais um 25-Jconvocam quatro atoS PartidÁrioS diFerenteS enquanto a juventude rePete mobilizaçom unitÁria

    Manifestaçom unitária da mocidade independentista em 2013 / GALIZA CONTRAINFO

  • 06 acontece Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    Assim o denuncia o coletivo pola memória histórica A Re-gaduxa, ao entender que o PP decidiu “silenciar e ocultar”a história desta ilha da ria de Vigo, que serviu de cadeia nofranquismo. Os ativistas assinalam que a ilha está “infra-utilizada” e pedem umha programaçom estável arredor dahistória desse “cenário de terror” que foi Sam Simom.

    a junta converte Sam Simom na “ilha do eSquecimento”

    Ambos forças alertárom dos efeitos negativos que terápara a cidadania galega e europeia o acordo de livre co-mércio (TTIP) que estám a negociar a UE e os EstadosUnidos. AGE exigiu o posicionamento em contra da Juntae anunciou moçons nos concelhos, enquanto BNG apoia-rá a criaçom da Plataforma Galega contra o TTIP.

    aGe e bnG rejeitam o tratado de livre comércio eua-ue

    Quanta diferença há entre a situa-çom laboral de Compostela e Lugo?Tem em comum a empresa maso conflito é radicalmente dife-rente. O reclamo picheleiro erasocial. Nesse sentido, as nossassolicitudes vam além, porque hátrabalhadores numha situaçommuito precária. Temos 17 pes-soas com contratos parciais de15 horas ao mês sem direito aoquadro de pessoal fixo, e algunsdeles levam 5 anos trabalhando.Outras 14 pessoas estám discri-minadas trabalhando todos osdias da semana quando o restotemos férias o domingo.

    Ademais, as nossas petiçonstambém som do ámbito econó-mico. Pedimos umha suba sala-rial conforme a atualizaçom doIPC e a consolidaçom dumha pa-ga de 600 euros.

    A pressom empresarial traduz-se em 11 despedimentos e 66pessoas sancionadas que, ca-sualmente, pertenciam ao comi-té de greve. Como se refletiu nasnegociaçons com a empresa?Endureceu-nas. Nós pedimos areadmissom das pessoas despe-didas e a retirada de sançons queimplicam dous meses sen empre-go nem soldo. A empresa só sabepôr sob a mesa cortes. Isso é oque começou o conflito e o que faique continue.

    Xosé López Orozco tambémameaça com rescindir o contratoda recolhida de lixo com Urba-ser. Essa postura guarda umhaintençom verdadeira?O alcalde de lugo dixo várias ve-zes que nom lhe vai tremer a mãoante a empresa Urbaser mas nóstemos sérias dúvidas... de se man-ter nesta linha, seria muito positi-vo. Contudo, chega tarde, nummomento em que as relaçons en-tre trabalhadores e empresa estámui deteriorada. Onde estava aolongo dos mais de 30 dias de gre-ve que levamos?

    Se andava nas ruas provavel-mente estivese com Tragsa. De-nunciades que esta empresa estáa recolher o lixo e o levades aoconcelho lucense perante o Jul-gado Social de Lugo. Que seagarda com esta medida?Entendemos que o concelho vul-nerou o nosso direito a greve tra-zendo a trabalhadores de Tragsaa recolher o lixo. Portanto, leva-mo-lo ao julgado para que exa-mine a parte social deste feito quenós consideramos um ataque ca-ra aos trabalhadores.

    Em princípio, Tragsa acudia a lim-par as ruas polos mais de 100 pon-tos em risco sanitário da cidade. Sim, e resulta que estám a varreras ruas! É denigrante! Mesmovam escoltados pola polícia local.

    É um ataque em toda regra quecomeçou como represália ante anossa negaçom a desenvolver unsserviços mínimos do 100% duran-te as festas do Arde lucus.

    A empresa sustém que as suas so-licitudes estám por cima dos con-vénios coletivos que se estám aassinar ultimamente. Como vemesta justificaçom da patronal?Umha justificaçom bastantepobre. Quando nom há umconvénio que nom se gera a ní-vel estatal ou autonómico, éindividual. Nom há outra ma-neira. Inclusive à empresa lheinteressa ter um convénio delocalidade porque assim podenegociar com cada um de for-ma diferente e evitam que ostrabalhadores fagamos umfrente mais amplo.

    Desde quando tem Urbaser a con-cessom do lixo em Lugo? Desde o ano 96.

    É a primeira vez que vam à grevepolo convénio?Nom, já fôramos em 2013. Nesse

    ano mantivemos umha negocia-çom de 18 horas e, finalmente,chegou-se a um acordo. Só hou-vo 6 horas de greve que, obvia-mente, nom se percebérom. Asnossas solicitudes eram, no pla-no económico, similares às deagora, pôr fim à congelaçom sa-larial, mas o compromisso daempresa nom chegou.

    Em dezassete anos nom figeramgreve algumha, influiu no de-senvolvimento do trabalho a re-forma laboral de 2012?Em 2012 notamos muitas mu-danças. O que mais influiu foi amudança de negociadores quese presentárom em lugo. Desdeaquela, som muito mais agres-sivos e buscam bloquear as ne-gociaçons. Já nom procuramsentar na mesa com umha ati-tude pausada e na procura dechegar a um acordo senom quemarcam pontos de conflito eimponhem cortes sem nenhumtipo de diálogo. Em troca de pa-lavras, usam congelaçons de sa-lário. Isso é o que acontece des-de o ano 2012.

    “Os serviços de TRAGSA, com a escoltapolicial, vulneram o direito a greve”

    julio Pacio é PreSidente do comité de emPreSa de urbaSer em luGo

    ANA VIQUEIRA / Ainda que o no-me da empresa Urbaser su-bisse aos titulares acompa-nhado do gentilício lucense, amultinacional da recolhida dolixo também opera em Ferrol,Narom, Ribeira, e Compostela.Os trabalhadores da capitalgalega também ameaçaramcom ir à greve mas após umhareuniom de 8 horas chegároma um acordo com a empresa.Os empregados e emprega-das aceitárom que os seus sa-lários só subam a metade doIPC enquanto que a empresafará fixos a dous trabalhado-res que despedira e a umhadúzia que se lhes ia rematar ocontrato de relevo. No marcodo acordo, o alcalde de Lugo,Xosé Clemente López Orozcochama aos trabalhadores lu-censes de Urbaser -em grevedesde o 9 de junho- a quetambém cheguem a um pacto.Mais o presidente do comitéde empresa, Julio Pacio, criti-ca as declaraçons do alcaldee sustém que “há que falar doque se conhece”.

    “a empresa só sabepôr sob a mesa

    cortes. isso fai que o conflito continue”

  • 07aconteceNovas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    Os marinheiros do buque escola Juan Sebastián Elcanoteriam comprado, supostamente, 20 quilos de cocaína emColômbia para vendê-la em Nova Iorque. Os três militaresfam parte da tripulaçom do buque (nom som alunos) e fô-rom detidos na sua chegada a Marim sob ordem interna-cional emitida desde os EUA.

    trêS militareS detidoS em marim Por narcotrÁFico

    Apesar da luita do feminismo iniciada em outono de 2012,com o anúncio de Gallardón, a polémica lei do aborto pas-sará o seu último trâmite este verao antes da sua aprova-çom definitiva. Umha vez o Conselho de Ministros dea oúltimo visto e praze ao projeto de lei, o texto passará aodebate em Cortes, onde o PP tem maioria absoluta.

    a lei do aborto a um PaSSo da Sua aProvaçom deFinitiva

    NGZ / A decisom tomada pola RealAcademia Galega (RAG) de ho-menagear o historiador e políticofalangista José Fernando Filguei-ra Valverde no Dia das letras Ga-legas 2015 nom deixou indiferen-te a ninguém. Após a votaçom se-greda do plenário da instituiçom,era o próprio secretário-geral dePolítica linguística Valentín Gar-cía o que antecipava a decisom naInternet e desatava a polémica. Às primeiras críticas das usuáriasdas redes sociais fôrom somando-se as vozes contrárias de multitu-de de entidades sociais e culturaisou mesmo de forças políticas co-mo Anova, BNG ou Nós-UP. Noentanto, o PSdeG ou Compromisopor Galicia evitárom fazer pro-nunciamentos sobre a eleiçom deFilgueira. Desta maneira, foi oPartido Popular, desde a Junta deGaliza, a única força política quedefendeu abertamente a homena-gem ao falangista.

    Mas a oposiçom a Filgueira Val-verde nom veu principalmentedas forças partidárias, mas do mo-vimento associativo cultural e lin-guístico. No fecho desta ediçomdo NOVAS DA GAlIzA, umha dúziade entidades civis já deram o pri-meiro passo cara a celebraçomdum Dia das letras alternativo,através da publicaçom dum mani-festo em que se marcam como ob-jetivo “que o Dia das letras Gale-gas continue a ser a data para fes-tejar a língua que nos une e dar-lhe à nossa literatura a difusomsocial que merece”. No manifesto,em que chamam a homenagear o

    “génio criador do povo galego”,sublinham que Filgueira Valverde“nom pode unir ninguém” poloseu papel destacado no regimefranquista, “que perseguiu a lín-gua e cultura galega e as suas fi-guras mais relevantes”. Entre asentidades assinantes figuram AMesa, AGAl, liga Estudantil Ga-lega, Comités, CTNl, CIG-Ensinoou a AS-PG.

    Além de pola sua obra literáriae cultural, José Fernando Fil-gueira Valverde (Ponte Vedra,1906-1996) destacou pola parti-cipaçom ativa nas estruturas po-

    líticas da ditadura franquista.Após cindir-se do Partido Gale-guista em 1935 e formar a Direi-ta Galeguista, contrário aos pac-tos com a esquerda espanhola,apoiou os fascistas no golpe deestado de 1936 que desembocana Guerra Civil. Esta colabora-çom valeu-lhe para ocupar diver-sos cargos públicos, destacandocomo procurador em Cortes poloterço de representaçom familiare, sobretodo, como alcaide dePonte Vedra entre 1959 e 1968,quando se permitiu a instalaçomda empresa ENCE em louriçám.

    RAG e PP ficam sós nadefesa de Filgueira Valverde

    aSSociaçonS de baSe Promovem dia daS letraS alternativo

    Galiza pode perder um milhom de habitantesem quarenta anosNGZ / Umha Galiza com menosde dous milhons de habitantes.Esse é o cenário ao que o país seenfrenta segundo um informesobre perspetivas demográficaselaborado polo Foro Económicoda Galiza. O seu responsável,Xaquín Fernández leiceaga,alertou que, de manterem-se asprevisons atuais, perderiam-seaté um milhom de habitantesnos próximos 40 anos.

    Ante esta situaçom, leiceagaassinala que o “mais urgente” éfixar populaçom e atrair imigra-çom, no canto de “centrar-se” noincremento de natalidade; justoo contrário do que levam predi-cando os governos do PP duran-te os últimos anos. Para incre-mentar natalidade, assinalam,“a chave é o emprego juvenil”.

    Nesse sentido, o informe dique a populaçom galega “sócresce historicamente” emmomentos que “impedem” ou“dificultam” a saída de emi-grantes. Por isso, contra aatual saída do país de jovensem idade de terem filhos, lei-ceaga aposta em fixar popula-çom ativa no território.

    Sobre a questom da natalida-de, o informe desmonta o mitoconservador sobre os valores ea família, destacando que “nomé um problema de valores se-nom de condiçons objetivas devida”. Assim, durante a apre-sentaçom do informe, leiceagafixo finca-pé no dado sobre ameia de filhos desejados polasparelhas, que tanto na Galizacomo no Estado espanhol supe-

    ra as duas crianças. Se a cifrade filhos é menor à desejada épor culpa de “dificuldades” co-mo a falta de emprego.

    Além da diminuiçom de po-pulaçom, o informe destaca oenvelhecimento da mesma e asua concentraçom nos núcleosurbanos; ainda que assinalaque as tendências podem sermatizadas ou corrigidas comdistintas iniciativas, “mas difi-cilmente invertidas”.

    Atendendo à açom política,leiceaga observa um acertodos Governos galegos ao intro-duzir o problema demográficona agenda política; mas tam-bém assinalou que nom seanalisa o problema desde a“via da urgência”, dado quesom precisas medidas “conti-nuadas” e a “meio e longo pra-zo” para produzir efeitos.

    Além do emprego juvenil, oeconomista aponta que as aju-das diretas à natalidade (sub-vençons monetárias por tercrianças) nom tenhem umha in-fluência tam importante na de-cisom de ser maes como a flexi-bilidade da jornada laboral ou adotaçom de serviços públicospara atender as crianças. “As-sim como as ajudas podem ver-se como um instrumento sus-ceptível de reversom em fun-çom das ofertas eleitorais, eportanto nom cumprem o re-quisito de estabilidade a longoprazo, os cidadaos percebem osserviços como menos submeti-dos à descrecionalidade políti-ca”, di o informe.

  • 08 acontece Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    A Ilha da Toja passou a denominar-se “Isla de la Toja”num concurso canino patrocinado polo concelho deOgrove e pola Deputaçom de Ponte Vedra, ambos gover-nados polo PP. A Mesa reclamou a correçom de toda acartelaria, paga com dinheiro “de todas e todos e que agri-de a nossa língua”, e que se substitua pola forma correta.

    concelho de oGrove inventa “iSla de la toja”

    O Tribunal Supremo insiste na necessidade de dar cum-primento à resoluçom ditada em 2009 em que se obrigavaà Autoridade Portuária, à Deputaçom de Ponte Vedra e àJunta da Galiza ao desmantelamento dos recheios reali-zados desde 1994 no Porto de Marim. Ecologistas denun-ciárom os danos ambientais produzidos por estas obras.

    juStiça inSta à retirada de recheioS no Porto de marim

    NGZ / O pleno do Tribunal Consti-tucional (TC) declarou inconstitu-cional a lei aprovada polo parla-mento da comunidade autónomade Cantábria que proibia a práticado 'fracking' no seu território. OTC estima assim o recurso apre-sentado polo Estado contra esta le-gislaçom e considera que a norma-tiva autonómica vulnera compe-tências estatais em matéria ener-gética. Outras comunidades autó-nomas que aprovárom legislaçonsrestritivas com o 'fracking', comoNafarroa e A Rioja, poderiam ver-se afetadas por esta sentença.

    O TC, na redaçom da sua sen-tença, expom que “a proibiçom ab-soluta e incondicionada de umhadeterminada técnica de investiga-çom e exploraçom de hidrocarbo-netos nom pode decidir-se por um-ha Comunidade Autónoma”,acrescentando que estas adminis-traçons podem “impor requisitos ecargas adicionais para o outorga-mento de autorizaçons e conces-sons nom previstos pola legisla-çom estatal, mas sem alterar o or-denamento básico em matéria deregime mineiro e energético”.Além disso, o TC também afirmaque Cantábria nom pode acolher-se às competências assumidas emmatéria de sanidade para proibir aexploraçom de hidrocarbonetosnom convencionais. Assim, o arti-go da lei 1/13 da Cantábria em queproíbe o 'fracking' é declarado “in-

    constitucional e nulo, por invadir acompetência exclusiva do Estadopara estabelecer a legislaçom bási-ca em matéria de regime mineiro eenergético, assim como em maté-ria de ordenaçom geral da econo-mia e de proteçom do ambiente”.

    A sentença conta com um votoparticular assinado por dous ma-gistrados e umha magistrada do TCem que se comparte o falho masnom a argumentaçom promovidapola maioria do pleno. Assim, criti-ca-se que a posiçom maioritária si-tue a controvérsia no ámbito mate-rial da energia e também lamentaque nom se aprofundasse no deba-te sobre a proteçom da saúde. Se-gundo este voto particular a sen-tença do TC “nom pondera devida-mente a incidência dos riscos do

    'fracking' num interesse da máximarelevância constitucional como é aproteçom da saúde humana”.

    Relatório sequestradoO jornal espanhol eldiario.es infor-mou de que em 2013 o InstitutoGeológico e Mineiro de Espanhaelaborara um estudo para o Minis-tério de Meio Ambiente sobre asmedidas de prevençom e correçomque deveriam adotar as empresasque quigeram extrair gás atravésdo 'fracking'. Segundo este meio, oministério espanhol estaria a man-ter oculto tal relatório, no qual seindicam perigos ecológicos dessaprática de extraçom, como podemser a utilizaçom de substânciasagressivas com o ambiente, a polui-çom do ar ou o risco de terremotos.

    Tribunal Constitucionalimpede às autonomiaslegislar contra o ‘fracking’

    o eStado blinda a unidade do Seu modelo enerGético A Lei Mordaça a um

    passo de ser aprovadaNGZ / Começa o verao e os go-vernos começam também a dar-lhe saída às normas legislativasmais convulsas aproveitando asférias. Na passada sexta-feira 11de julho o Governo espanhol re-metia ao Congresso o projeto delei de Proteçom da SegurançaCidadá –a conhecida popular-mente como ‘lei Mordaça’-, sen-do o debate em Cortes a últimapeneira antes da sua aprovaçomdefinitiva. Um debate em que,porém, o Partido Popular nomnecessita chegar a nenhumacordo com o resto de forças po-líticas ao contar com maioria ab-soluta na cámara legislativa.

    A norma chega ao congressosete meses depois de que o Con-selho de Ministros lhe dera luzverde ao anteprojeto, com peque-nas mudanças motivadas polasfortes críticas do resto do arco par-lamentário e das instituiçons jurí-dicas. É habitual que o Governoapresente anteprojetos de lei maisduros do que a lei que pretendemaprovar, antecipando o rejeita-mento social posterior e a conse-quente rebaixa de máximos.

    Assim, entre outras medidas, aidentificaçom de pessoas passa aser completamente arbitrária,dependendo exclusivamente docritério do polícia. Também seráumha infraçom sancionável foto-

    grafar polícias se se entender que“periga” a sua segurança ou a dasua família, dificultando aindamais o já precário trabalho infor-mativo no Estado espanhol. Esteponto da lei impedirá também fa-zer efetivas as denúncias contraa violência policial ao ser muitomais difícil contar com provasgráficas dos maltratos.

    Sançom do protestoEnquanto o Estado espanhol re-gista os maiores índices da suahistória no número de manifes-taçons diárias, a lei mordaçamantém as multas contra as pro-testas cidadás. Diversas oganiza-çons sociais e políticas tenhemapontado ao longo destes mesesque o que realmente pretende anova lei é dissuadir a populaçomde participar em qualquer tipo deprotesto, por pacífico que for. As-sim, qualquer facto assinaladopola polícia como infraçom po-derá ser sancionado com até600.000 euros e as multas nompoderám ser recorridas por viajudicial, posto que os procedi-mentos passam a ser de tipo ad-ministrativo. Este extremo impli-ca que, no canto de acudir à justi-ça, a pessoa multada encaminha-rá os seus recursos à Delegaçomdo Governo, que faz parte do po-der executivo.

  • 09aconteceNovas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    crónica GrÁFicaA populaçom galega saiu em várias ocasions nas últimas semanas às ruas para denunciar o ataque militar que está a padecer o povo palestiniano / GALIZA CONTRAINFO

    No 21 de junho as marchas da dignidade rodeárom o Parlamentogalego reclamando “Pam, trabalho e teito” / CUT

    Em andamento umha campanha internacional para visibilizar o apoio a umha Escócia independente do ReinoUnido / SOLIDARITY WITH SCOITLAND INTERNATIONAL CAMPAIGN

    Trabalhadores da Citroën em Vigo realizam desde começos de mês umha greve de fome na qual já três tivérom que ser substuídos. Exigem a readmissom de dous companheiros despedidos / CIG

    Na velha estaçom de comboio da Pontraga, Tordoia, comemorou-se mais umha ediçom da festa que rememora aproclamaçom da República Galega em 1931 / FESTA DA REPÚBLICA

  • 10 acontece Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    aGro

    REDAÇOM / Mais de quarenta cole-tivos e entidades defensoras domonte galego unirom forças nacampanha 'Cousa de Raízes' paraconscientizar da necessidade demanter vivo o bosque e as espé-cies autóctones. Impulsada porAdega, esta iniciativa procura im-plicar diferentes atores sociaisnumha das reivindicaçons históri-cas dos movimentos ecologistas eque se reconheça o amplo valordas árvores galegas a nível econó-mico, cultural e ambiental. Assim,nesta campanha estám a partici-par coletivos como Verdegaia,Fruga, Plataforma Sarriana poloRio, Associaçom Galega de Api-cultura ou mesmo algumhas co-munidades de monte vizinhal.

    Na sua apresentaçom em lugo,Xabier Bruña, vogal de medio ru-ral da Adega, expujo que a dia dehoje apenas 30% da massa arvo-rada da Galiza é de bosque autóc-tone, o que representa 15% doconjunto do território galego, eque nada semelha indicar que a

    sua regressom frene. Várias somas causas da reduçom de espéciesautóctones nos últimos anos, en-tre as quais Bruña enumerou osincêndios, a desapariçom do bos-que de ribeira, as talas indiscrimi-nadas ou a proliferaçom de espé-cies de crescimento rápido, sendoo exemplo mais paradigmáticodisto último o eucalipto. Paramais, Bruña também alerta dachegada de cultivos energéticosque contribuirám para piorar asubsistência do monte galego.

    Na mesma apresentaçom, Ma-ria Rosa Mosquera, diretora doDepartamento de Produçom Ve-getal da USC, amosou os benefí-cios que achega ao solo a presençadas árvores e salientou a sua fun-

    çom de reciclagem dos nutrientesdo solo, absorvendo os seus exce-dentes através das raízes e devol-vendo-os logo com a queda da fo-lha. Assim, Mosquera assinaloutambém que as raízes som o sub-ministro principal de carbono dosolo. Por outra banda, Adega sa-lienta que existem estudos da Es-cola Superior da Politécnica delugo que documentam que as es-pécies autóctones estám melhoradaptadas aos solos galegos e queas coníferas e as árvores de cresci-mento rápido acidificam o solo.

    Segundo se explica no blogue dacampanha, cousaderaices.word-press.com, para devolver ao bos-que galego o valor que tem, segui-ram-se duas direçons nesta inicia-tiva. Por umha parte, exigirá-se àAdministraçom pública que fagacumprir as normativas relativas àconservaçom das massas autócto-nes e, por outra, trabalhará-se anível social para impulsar umhaconscientizaçom positiva do valordas árvores autóctones.

    Defender o monte autóctone,umha ‘Cousa de raízes’

    mar

    Pontapé à Juntanas confrarias

    A.DIESTE / Tarde e mal, mas che-gárom finalmente as eleiçons pa-ra renovar os órgaos de direçomdas confrarias galegas, apósanos de espera por umha novalegislaçom. Foi em 28 de junho epor primeira vez votou-se nos 63pósitos galegos de vez. Umhas12.859 pessoas eram as que figu-ravam nos censos e com direitoa votar. Delas, 8.308 som mari-nheiros e mariscadoras. As 4.551restantes som armadores. O altonúmero de ‘armadores’ galegosdevém de que som os proprietá-rios das embarcaçons e na frotade baixura da Galiza há milharesde pequenas embarcaçons arte-sanais para faenar ao dia. Nadaa ver, logo, com a imagem de ‘ar-mador’ que se poda ter.

    Pois bem, as eleiçons supugé-rom um varrido dos dirigentes emandatários até agora nas con-frarias, que perdérom as elei-çons estrepitosamente. Umexemplo é o caso de Cambados,onde o patrom maior, BenitoGonzález, e presidente da Fede-raçom Galega de Confrarias, so-freu unha sonora derrota: ape-nas obtivo 4 dos 24 vogais (re-presentantes). O homem que émao direita da Conselharia doMar, descavalgado do pósito.

    Outro caso é o de Rianjo, ondedepois de 18 anos à frente daConfraria, Baltasar Rodríguezfoi humilhado nas urnas por ummoço mariscador duns 25 anos,pondo assim fora de jogo umdos homens de confiança daconselheira Rosa Quintana naRia de Arouça. Mas houvo mui-tos mais casos: Aguinho, Póvoa,Ilha de Arouça...

    Os comícios desenvolvérom-se em 3 partes, tal e como esta-

    belece a normativa de convoca-tória de eleiçons que regula todoeste processo eleitoral e detalhatodos os passos a seguir em ca-da momento para eleger o pa-trom maior e os membros do ca-bido. Em primeiro lugar, reali-zárom-se as eleiçons nas 63confrarias de pescadores da Ga-liza, depois realizaram-se as vo-taçons nas 3 federaçons provin-ciais e finalmente elegera-se opresidente da Federaçom Gale-ga de Confrarias de Galiza.

    Cara e cruzMas esta cara também tem um-ha cruz. O novo regulamento deconfrarias restringe a capacida-de de atuaçom (por exemplo,em orçamentos) das Confrarias,aumentando o poder da Junta.Desta forma, o governo galegotem muita maior margem deatuaçom nos Pósitos, minguan-do as possibilidades de operardas pessoas eleitas polos mari-nheiros e mariscadoras.

    Cumpre lembrar que o setordo mar na Galiza emprega con-juntamente 38.000 pessoas, re-presentando aproximadamente52% do emprego total pesqueirono Estado e 10% no conjunto daUE. A produçom extractiva gale-ga anual supom, em termos devalor, 15% da Uniom Europeia,superando assim a produçomconjunta da Alemanha, Bélgica,Finlândia, Grécia e Suécia. A de-pendência social da atividadepesqueira é especialmente im-portante em vários concelhos dacosta galega. Assim, o empregopesqueiro representa 30% da po-pulaçom ocupada nos concelhosde Ribeira e Bueu e atinge valo-res de 60% para a Ilha de Arouça.

    apenas 30% damassa arvorada é

    bosque galego

    as eleiçons nos 63 'pósitos de pescadores'galegos deixam sonoras derrotas para patrons maiores muito próximos do pp

    Apresentaçom do projeto Cousas de Raízes em Lugo

  • R.R. / A máxima da educaçom co-mo um direito universal está cadavez mais longe da realidade noEstado espanhol, sobre todo aofalar de ensino universitário. Osistema de bolsas, que apesar dassuas limitaçons leva anos permi-tindo o acesso à universidade deestudantes de rendas baixas, cor-re o risco de desaparecer. Depoisde vários cortes orçamentares edo endurecimento dos requisitospara aceder a estas ajudas, doámbito próximo do ministro Wertsurgem agora vozes questionan-do a própria pertinência do siste-ma de bolsas e advogando por umoutro sistema de empréstimos aoestilo norteamericano. Emprésti-mos que, é claro, o estudante de-veria devolver umha vez finaliza-da a carreira universitária.

    A ameaça foi formulada a prin-cípios de junho pola Secretária deEstado de Educaçom, FormaçomProfissional e Universidades,Montserrat Gomendio. Duranteum almoço informativo e semaprofundar muito na questom,Gomendio recurriu aos argumen-tos próprios do ideário neoliberalpara defender esta mudança desistema. Assim, assinalava que osistema universitário crescera ex-ponencialmente nos últimos anose que a questom nom era se eraou nom “gratuíto”, senom “quemo paga, como e quando”.

    Apesar de nom existir nengumprojecto de reforma por parte do

    Ministério de Educaçom espanhole de que assegurem nom valorartal medida; o globo-sonda lançadopor Gomendio em pleno períodode exames fazia saltar os alarmesdo movimento estudantil e tanto aliga Estudantil Galega como osComités rejeitarom a proposta.

    Com que objectivo?Quando o ministro Wert impul-sou o Real Decreto 1000/2012 emque impunha uns duros requisi-tos académicos para aceder àsbolsas universitárias, o argumen-to esgrimido polo mandatário po-pular era a procura da excelênciae do esforço dos alunos e, já ago-ra, a previssível poupança orça-mentar que se obteria ao deixarsem bolsas milhares de estudan-tes. Segundo a norma, aquelasuniversitárias que aprobandomais de 90% das cadeiras nomobtivessem umha média acadé-mica superior a 6,5 sobre 10 fica-riam sem direito a bolsa no cursopróximo; enquanto os que vi-nham de seletividade deviam al-cançar como mínimo 5,5 nos exa-mes de classificaçom. As discipli-nas técnicas contarom com unsrequisitos mais laxos.

    O decreto entrou em vigor noano 2012-2013 e, como já alertaraa comunidade educativa, o núme-ro de alunos com direito a bolsasufriu umha descida de 8.812 pes-soas (2,9% bolseiras menos que nocurso anterior). Wert rachava as-

    sim com umha tendência que semantinha em alta desde o inícioda crise, pois a caída geral da ren-da implicava que cada vez mais fa-mílias cumprissem as condiçonspara perceber umha bolsa de es-tudos. Com os novos requisitosacadémicos, muitos jovens fica-vam sem ajuda económica apesardas baixas rendas familiares.

    Mas no ano 2013-2014 aconte-ceu algo que apanhou por surpre-sa o ministério: voltou a aumen-tar o número de alunos com direi-to a bolsa, em parte polo recru-descimento da crise mas, tam-bém, por um inusitado aumentoda nota média de 6,87 a 7,4, afas-tando-se desse 6,5 por baixo doqual nom se pode optar à ajuda.A mesma Secretária de Estado deEducaçom facilitou estes dadosapenas duas semanas antes depropor suprimir o sistema de bol-sas e trocá-lo polo de emprésti-mos: de 290.000 bolseiras no ano2012-2013 passou-se às 322.000no já finalizado 2013-2014 (umhasuba de 10,7%), retomando assima tendência à alta. Isso sim, aquantia média por bolsa diminuiu

    em 300 euros (de 3.100 a 2.800),segundo dados adiantados tam-bém do ministério.

    Após constatar que os perceto-res de bolsa voltarom a aumentarapesar dos entraves de Wert; um-ha possível interpretaçom paraexplicar umha proposta tam radi-cal como a de Gomendio é que oGoverno, vista a impossibilidadede continuar a cortar a receita pa-ra bolsas através do endureci-mento dos requisitos académicos,se veja forçado a dar um salto ca-ra adiante na sua agenda de va-ziado do setor público e suprimiro sistema de bolsas universitáriasna sua totalidade.

    ‘Quem paga, como e quando?’Na comparecência de imprensaem que a Secretária de Estado deEducaçom lançava esta perguntatambém dava duas respostas pos-síveis: ou todas as famílias contri-buem para que o estudantadovaia à universidade de jeito gra-tuíto ou, pola contra, o aluno pagaumha maior proporçom do coste(com os empréstimos) ao ser be-neficiário direto dos seus pró-prios estudos. Seguindo este ra-zoamento, as famílias com uni-versitários estariam-se a aprovei-tar daquelas outras que nom ostenhem.

    Deste jeito, Gomendio passapor alto cousas tam fundamentaiscomo o papel redistribuidor doestado: os orçamentos gerais do

    Estado, de que se extrai a receitapara bolsas, nom procedem sódos impostos às famílias, senomtambém dos diferentes tipos deimpostos às empresas e grandesfortunas. A secretária de Wertpassava também por alto quenom é só o estudante o beneficiá-rio dos seus próprios estudos,mas a sociedade no seu conjuntoao contar com umha economiamais intensiva em conhecementoe, por tanto, mais produtiva.

    Assim, o previssível efeito detrocar o sistema de bolsas públicopor um sistema de emprestimosprivado seria a exclusom de ca-pas sociais ainda mais amplas dosistema universitário. O medo anom poder devolver o préstamoante a impossibilidade de obterum trabalho seria um forte desin-centivo para estudar: atualmentesó trabalham 21 de cada cem ga-legas entre 25 e 31 anos. Nestesentido, a liga Estudantil Galegarecorda que nos Estados Unidos,onde nom há bolsas públicas, um-ha de cada cinco estudantes somperseguidas por impago dos em-préstimos para a universidade.

    11acontece

    Nos estados Unidos, o país dos empréstimos, umha de cada cinco estudantes é perseguida por impagoeconomia

    O fim das bolsas universitárias?

    Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    Os duros requisitosacadémicos impostospor Wert rachárom a

    tendência histórica

    aPóS endurecer oS requiSitoS académicoS, deSde o PP ProPonhem mudar aS ajudaS Por emPréStimoS

    O número de bolseiras cresceu com

    a crise e a queda de renda das famílias

  • 12 internacional Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    ciudad Juárez conta com 1.441 mulheres assassinadas entre 1993 e 2003a terra treme

    “Umha vez vês os corpos das torturadasnom és capaz de mirar cara outro lado”Como prender um fósforo numquarto escuro e descubri-lo lo-tado de cascudas, o jornalismodesvenda a impunidade com aque feminicidas em série desen-volvem um ritual de seleçom,tortura e assassinato contra mu-lheres polo singelo facto de serumha mulher. Escreverám que66.000 mulheres e nenas somassassinadas cada ano em tudoo mundo convertendo-se em17% do total de vítimas de ho-micídios intencionados. Deacender dous, os jornais já po-rám nomes aos polícias corrup-tos que envolvem de impunida-de os crimes. Acusarám as Pro-curadorias Gerais de nom in-vestigar os feminicídios e as si-nalarám como responsáveis porque, por exemplo, em dez anos,Ciudad Juárez, México, fossecenário do assassinato de 1.441mulheres. Mas o medo a quei-mar os dedos fai com que pou-cas pessoas prendam três poloque, reptando, ficam invisíveisos insectos que melhor se ca-muflam na escuridade.

    TEXTO: ANA VIQUEIRA / FOTOS: GRA-

    CIELA ATENCIO / “Abandonei CiudadJuárez porque estava em risco mi-nha vida”. Os olhos escuros deGraciela Atencio combinam comsua pele fazendo que só o acentoportenho evidencie a sua estran-geiria no país mexicano. Gracielachegou ao norte de México acom-panhada da sua parelha e do seupassado de jornalista e ativista,ambas facetas vinculadas à luitacontra os desaparecimentos na di-tadura argentina. Quando sente aconfiança, sorri e assente “semprefum muito punk”. Reflite e acres-centa “agora penso-o e nom sei sevoltaria a fazer o mesmo”.

    Começou a trabalhar em La Jor-nada onde descubriu a lacra dos

    assassinatos massivos de mulhe-res. “Nom saim procurar o femini-cídio senom que foi o tema quemme encontrou a mim”. En El DiarioNorte conheceu o labor de três jor-nalistas destacadas pola investiga-çom de assassinatos de mulheresem Ciudad Juárez -Rosa Icela, Dia-na Washington e Sergio GonzálezRodríguez- polo que decidiu seguira linha de pescudas dos seus cole-gas. “Sabia que era perigoso. OSergio secuestrarom-no e quase omatam. Todos recebiamos amea-ças a cotio. Mas eu tinha na memó-ria os casos que cobrim de leva-mentamento de cadáver. Tivemque ver os corpos das mulherestorturadas e ler os informes peri-ciais onde relatam que lhes figé-rom. A partir de aí, nom es capazde mirar cara outro lado. Nom pu-dem deixar de cobrir feminicídiosdesde aquela, há já catorze anos”.

    Ciudad Juárez, com umha po-pulaçom de 1.321.004 pessoas,conta com 1.441 mulheres assas-sinadas desde 1993 a 2003 segun-do El Colegio de la Frontera Norte.A Red Nacional de Comunicación

    y Acción Urgente de Defensoras

    de Derechos Humanos em México

    sinala que a taxa de homicídios nacidade é de 34.73 por cada 100 milmulheres, é dizer, 15 veces maisalta que a taxa de homicídios demulheres a nível mundial, de 2,6.

    Modus operandi dos feminicídios seriaisAs ameaças aumentarom quandoGraciela Atencio investigou umhasérie de assassinatos de mulherescometidos como se fosse um ri-tual. “Eram asassinos em série! Es-tavam vinculados a homens pode-rosos da fronteira, de El Paso, as-sim que pronto recebemos amea-ças em redaçom.” A situaçom ob-rigou a jornalista a afortalar suasfontes. “Tinha que assegurar-mede que eram seguras e fiáveis maistambém tinha que conseguir queconfiassem em mim, para quenom me vendessem. Afortalei oslaços com algumhas fontes vincu-ladas com a investigaçom policialdo FBI e, ainda que nunca as cita-va, também contei com a ajudadas testemunhas protegidas”.

    Com isto, Atencio achou um mo-dus operandi.

    “Havia um grupo encarregadode selecionar as mulheres que se-guem um perfil muito vinculado àclasse. Nom matam mulheresbrancas e com aceszso doado à jus-tiça.” Escorrega-se-lhe umha gar-galhada, como se atuasse de telomda sua raiva. “Matam moças po-bres e trabalhadoras”. Fica um ana-co em silêncio. Nom a interrumpo.

    “Outro grupo de homens as se-questram e outro as assasina. É ummatar por matar, gozam de ser as-sassinos. Os corpos aparecem mu-tilados. Sinais de violaçom tumul-tuária, mutilaçom dum dos senos...O terceiro grupo encarrega-se delimpar e desfazer-se dos corpos.”

    Graciela Atencio elabora umhareportagem1 em que acusa as au-toridades de saber o modus ope-randi das máfias feminicidas enom fazer nada para evitá-lo. “En-viamos informaçom ao avogadodo Procurador Geral Especial doestado de Chihuahua em março”(…) “preferiu seguir a linha de in-vestigaçom que conduzia ao trá-

    jornaliSta de FeminicídioS em ciudad juÁrez, no Ponto de mira da miSoGínia

    "Nom matam mulheres brancas

    e com acesso doado à justiça”

    Familiares de moças assassinadas durante ato de protestoIrene Khan, secretária de Amnistía Internacional de 2001 a 2009, deixa um ramode flores ante as cruzes rosas que representam as oito moças que aparecéromtorturadas e assassinadas neste campo algodoeiro em novembro do 2001

  • 13internacionalNovas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    fego de órgaos e que aos três me-ses ficou descartada”, escreve. Si-nala como reclutam nenas de 16anos para forçá-las a prostituirem-se num restaurante chamado laSevillana- cujo encarregado éFrancisco lópez- e dá o nome dotransportista: El Güero, propietá-rio do clube Malboro. O local ficaperto do Clube 15, manejado porBernardo Urdina, onde aparecé-rom assassinadas e mutiladas 12moças em menos de três anos. To-das tinham as mesmas mutilaçonscaracterísticas dos feminicídiosseriais. O dia em que Atencio pu-blicou esta informaçom, a tiragemde La Jornada foi sequestrada.

    O FBI confirmou à jornalistaque, ao menos, há três bandascom este modus operandi. “Comoa pólvora, os modus operandi es-tendem-se e surgem imitadores.Ademais de México, os feminicí-dios seriais começam a aumentarem todo o triángulo de países vio-lentos e misóginos: Guatemala,Honduras e El Salvador.”

    No triángulo da misogíniaNos primeiros nove meses de2013, em Guatemala assassina-rom 592 mulheres, o que supom78 casos mais do que o ano ante-rior segundo o Instituto Nacionalde Ciências Forenses. O Ministé-rio Público assegurou que em2013 recebeu mais de 40.000 de-núncias por violência intra-fami-liar que inclúem agressons físicas,económicas, sexuais e psicológi-cas só no ámbito da família.

    Nos primeiros quatro meses do2014 houvo 80 feminicídios em ElSalvador enquanto nessa altura doano, em 2013, a cifra se situava em54, segundo o Instituto Salvadore-nho para o Desenvolvimento daMulher. Em 2013 o total de femini-cídios chegou aos 215 casos, 70 dasmulheres assassinadas tinham en-tre 18 e 30 anos, e 40 eram nenas eadolescentes menores de 17 anossegundo o Observatório da Violên-cia de Género do pais que tambémdenuncia que anualmente, 25.000mulheres reportam mau trato eviolência sexual.

    Em El Salvador passarom de 195feminicídios anuais em 1999 a 390em 2006, a 580 em 2010. Ainda quenesses anos também subirom osassassinatos como dado geral, o in-cremento dos feminicídios é supe-

    rior. Em 1999 houvo 3.845 assassi-natos e os feminicídios supunham5 por cento do total, em 2006 -com3.928 assassinatos- passarom a su-por 11 por cento, e em 2010 – com4.005 assassinatos- os feminicídiossupugérom 14,48 por cento do to-tal de assassinatos.

    Em Honduras cometérom-secerca de 600 feminicídios em2013, cifra que diagnostica o au-mento dos assassinatos machistasrespeito do ano anterior em quese alcançarom os 294 feminicí-dios. Pola contra, nom há umhaestabilidade nas cifras já que oServicio de Noticias de Mujeres de

    Latinoamérica y el Caribe cifra osfeminicídios do 2012 em 606.

    O Comisionado dos DireitosHumanos relata que, polo menos,3.923 mulheres fôrom assassina-das em Honduras entre 2002 e2013. A cifra é mais alertante sesó termos em conta os últimosanos, entre 2010 e 2013 houvo2.192 feminicídios, segundo Tri-buna de Mujeres contra los Femi-

    cidios. 90 por cento dos casos per-manecem impunes.

    As estatísticas sinalam que 17 porcento do total de assassinatos co-metidos no mundo- 66.000- tenhemcomo vítimas mulheres e nenas2.Entre os países com a taxa mais altade feminicídios, cinco som de Amé-rica latina -El Salvador, Guatema-la, Honduras, Colômbia e Bolóvia-superando os seis assassinatos demulheres por cada 100.000 habitan-tes de sexo feminino.

    A complicidade dos Estados ante os feminicídiosGraciela volta a escrever. Contacomo umha testemunha do assas-sinato de lilia Alejandra García -assassinada em 2001 em Chihua-hua, a mais de 300 quilómetros deJuárez- presenta umha denúnciaanónima ante o FBI. Dá nomes,endereços e códigos de actuaçomdum grupo relacionado com o nar-cotráfego em que os membros, pa-

    ra poder entrar, devem iniciar-secom esse ritual que implica violar,mutilar e matar umha mulher polofeito biológico de ser mulher. “APGE de Chihuaha nunca o investi-gou”, detalha.

    Mais de 6 mulheres -6,4- som as-sassinadas cada dia em México. Àimpunidade que inunda 95% doscasos, segundo a Organizaçom dasNaçons Unidas, une-se ao aumen-to de 40% dos feminicídios entre2006 e 2014. Em Estados como ode Chihuaha, o número de assassi-natos de mulheres é 15 veces maisalto que o promédio mundial.

    Atencio denuncia no reporte quesó haja umha condena, a do egipcioAbdel Sharif quem, finalmente,morreu em prissom pouco depoisde convocar umha rolda de impren-sa em que deu dous nomes: Alejan-dro Maynez e seu curmám, Mel-chor Maynez. Alejandro é conheci-do em Juárez por ser filho adotivodum empresário dono de casas dejogo e bares da fronteira. Hoje emdia, Alejandro Maynez mantem-seem paradeiro desconhecido paraevitar seu enjuizamento.

    Desde março de 2011 a junho de2012, a Procuradoria Geral de Jus-tiça do Estado de México cifrou acifra de assassinatos de mulheres

    em 563, delas só se reconhecem115 vítimas de feminicídio. “A má-fia narco-fascista continua aí de-trás, oferecendo umha dotaçomde notas a funcionários de anti-quário. As autoridades mexicanas– ao mais alto nível- estám ao tan-to destas atividades desde tempoatrás, e negam-se a intervir. Estesempresários -do ramo do gas,transportista, médios de comuni-caçom, refrigerantes e de estabe-lecementos do lazer, jogo e apos-tas- guardam nexos com políticosdo governo. Neste caso, com Vi-cente Fox Quesada”.

    Graciela Atencio fala da sua es-tadia em México com certa amar-gura. “Juárez cumpre as funçonsdumha lixeira enorme dos EstadosUnidos. Como nom vam precisaros estadounidenses fornecedoresdos seus vícios quando regista osmaiores índices em consumo dedrogas, pornografia, prostituiçomde mulheres, nenas e nenos? Mé-xico limita com o império e sofre oimpacto dos seus excesos”.

    Por riba do medo: Mulheres jornalistasSer mulher e jornalista nom é tare-fa doada num pais onde a misogí-nia liga com a coaçom a quem ousa

    romper a impunidade das máfias eredes do narcotráfico. A agênciaComunicación e Información de la

    Mujer (CIMAC) lançou um infor-me advertindo que nas cifras ge-rais dos jornalistas assassinados,agraviados ou desaparecidos, nomse desglosava por género e que, emocassons, as agressons a profissio-nais mulheres nom estavam a sercontabilizadas. A partir de 2005,CIMAC começou a documentar osassassinatos de jornalistas mu-lheres albergando dados desde2002. Desde este ano até 2011, emMéxico fôrom assassinadas 10 jor-nalistas e 94 denunciarom receberviolência por assuntos relaciona-dos com o seu trabalho. No entan-to, a violência geral contra o cole-tivo de jornalistas deixou duranteo sexénio de Calderón – de 2006 a2012- 55 pessoas que exerciam ojornalismo assassinadas. Em 2010a Organizaçom de Naçons Unidasconsiderou México como o paismais perigoso de América latinapara os jornalistas.

    A Fundaçom Böll Stiftung, emInforme diagnóstico, Violencia

    contra Mujeres Periodistas, assi-nala a necessidade de visibilizaro reparto de trabalho discrimina-tório nas redacçons dos méios decomunicaçom. Argumenta que seé umha informaçom em que sedeteta certo perigo para cubri-lanom se envia umha mulher. Tam-bém indica que a maioria das fon-tes som homens ao igual que osaltos cargos dos média, polo queas mulheres jornalistas desempe-nham o seu trabalho num am-biente onde o poder está supedi-tado ao varom.

    “Jamais se resolvérom estes ca-sos”. Graciela Atencio desvia a mi-rada cara o baleiro. “Pola impuni-dade jurídica, polo desamparo, eporque cheguei com a mentalida-de de irme, por todo isso marcheide Ciudad Juárez. Vivim um ana-co em Oaxaca e asentei em Ma-drid. De país facha a país facha!”Graciela Atencio volta a lançarumha risada que baila entre o car-pe diem e um lamento.

    “Aqui trabalho para a preven-çom e sensibilizaçom do feminicí-dio mediante a sua documenta-çom, também dando ou organi-zando palestras, fazendo fincapéna formaçom... Esteja onde esteja,nom abandonarei a luita contra aviolência e o assassinato de mu-lheres fazendo o único que sei: in-vestigaçom, documentaçom eanálise de dados... jornalismo!” Ti-nha razom Ryszard Kapuscinsky,“esta é umha profissom muito exi-gente. Todas o som, mas a nossade maneira particular. O motivo éque nós convivimos com ela vintee quatro horas ao dia”.

    1. El círculo de la muerte, Graciela Aten-

    cio, la Jornada, 01/09/2003.

    2. Femicide: A global Problem (2012)

    Small arms survey, Matthias Nowak.

    Cruz colocada na entrada da ponte internacional Passo do Norte dépois dumha marcha organizada polo grupo de direitos humanos 'Mujeres de Negro'em protesta de feminicídios no estado de Chihuahua, 2003

    “méxico limita com o império

    e sofre o impacto dos seus excesos"

    Jornalista Jenaro Villamil em 'La Sevillana', local que após umcorredoiro, tem um quarto onde se sospeita que levavam às mulheres para chantagea-las e abusar sexualmente delas

  • 14 internacional Novas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    melhores eram os tempos em que os jogadores não sabiam nem cantar o hino nacional, como Garrincha, mas sabiam jogaralém minho

    braSil 2014

    ALEX ANTUNES / O escritor e jorna-lista carioca Sérgio Porto (1923-1968), sob o pseudônimo de Sta-nislaw Ponte Preta, cunhou a siglaFEBEAPÁ – Festival de Besteirasque Assola o País. Porto (que tam-bém inventou a expressão “sambado crioulo doido”, referindo-se aonon sense usual dos sambas-enre-do), notou que no início da dita-dura militar, entre 64 e 68, houveum drástico aumento das declara-ções públicas imbecis.

    Certamente o clima de soleni-dade e patriotada também estavapor trás do besteirol. Porto mor-reu em 68, portanto não tevetempo de ver a criação, no finaldo ano de 1969, da sinistra maté-ria obrigatória Educação Moral eCívica nas escolas. Sinistra nãoporque tratava de educação, demoral ou de civismo, mas porquefazia parte de um “pacote” ideo-lógico que transformava em ini-migos todos os dissidentes do re-gime militar, incrementado após1968 e o decreto do AI-5. A serie-dade excessiva sempre anda per-to do ridículo.

    O inimigo dos milicos era tra-tado como “inimigo do país”. Éinteressante como a realizaçãodesta copa do mundo em 2014 te-nha disparado comportamentostão similares aos da época da di-tadura. Por um lado, nunca se fa-lou tanta asneira, particularmen-te após a derrota para a Alema-nha por 7 a 1. Foi um bombardeiode termos descabidos como “hu-

    milhação” e “vexame”. [...] “Sabemos, embora essa seja

    uma verdade esquecida entre osbrasileiros, que foi apenas umaderrota em um jogo. Não deveriaser – e de fato não foi – uma ‘hu-milhação nacional’ ou algo pare-cido. Foram só onze caras tendoum dia ruim, a maioria deles mi-lionários que trabalham e moramno exterior”, escreveu Adam Gop-nik na New Yorker. Porque os on-ze milionários encarnariam o “es-pírito nacional” é uma coisa quetambém me escapa. [...]

    Como sugeriu Gopnik, há umachave aí: a de que sob ideologiasautoritárias a discordância atraisempre um componente de “hu-milhação”. Como nas religiões

    monoteístas, há uma moral única,anterior e exterior às pessoas, quenão pode ser desafiada. É engra-çado como em nosso país psiqui-camente colonizado a idéia de“humilhação” está sempre pre-sente. É só digitar o termo “humi-lha” no google ou no youtube para

    acessar centenas de conteúdos emque alguém é supostamente “hu-milhado”. Vá lá e veja que em qua-se nenhum há “humilhação” – sódiscordância. [...]

    O governo da presidente Dilmacomeça a demonstrar sérios sin-tomas dessa doença dúplice. logodepois de Dilma declarar à repór-ter Renata lo Prete (...) que "OBrasil conseguiu construir umapolítica federativa de segurança(...) Todos contribuíram para ga-rantir um padrão de segurança,nós planejamos juntos, nós exe-cutamos juntos", uma megaopera-ção no Rio de Janeiro prendeu 19ativistas envolvidas com manifes-tações políticas. As prisões, “pre-ventivas” e sem fundamento legal,

    lembram os tempos da ditadura.Nove outros ativistas foram consi-derados “foragidos”. Quanto maisbesteira faz o governo, mais re-pressivo se torna. Seria ridículo,se não fosse sinistro.

    Melhores eram os tempos emque, observou alguém, os jogado-res não sabiam nem cantar o hinonacional, como Garrincha (essenão sabia às vezes nem qual era opaís adversário), mas sabiam jo-gar. Não havia uma crença no “di-reito divino brasileiro à vitória nofutebol”, esse amigo do ridículo,mas intuia-se como chegar a ela.Sem Cristo nem uma pátria auto-ritária na cabeça, mas com o Exunas pernas. Aí sim o melhor “espí-rito nacional” estava encarnado.

    Torturada pela ditadura em1970, a ativista Dilma, ao fim detanto tempo, virou ela mesmauma pró-ruralista, refém daschantagens políticas das organi-zações religiosas mais moralis-tas, adepta do populismo futebo-lístico e da repressão violenta aodireito de manifestação. Ou seja,na prática muito parecida com osmilicos que a encarceraram –mesmo que ela se diga o contrá-rio deles. A pergunta que nãoquer calar é: a tortura não funcio-nou, ou funcionou muito bem? OFebeapá nunca acaba.

    Alex Antunes é jornalista, escritor e pro-

    dutor cultural. Este texto é umha versom

    adaptada doutro publicado originalmen-

    te polo autor no Blog do Alex Antunes

    A copa dos crentes, os crentes da copa

    Dilma é refém das chantagens das

    organizações religiosasmais moralistas,

    adepta do populismofutebolístico

    israel apresenta-se a si próprio de maneira farisaica como “a única democracia do médio Oriente”PovoS

    JOSÉ ANTOM ‘MUROS’ / Nom vamosanalisar neste novo apartado a His-toria Oficial do Movimento de li-bertaçom Palestiniano, com o seucúmulo de siglas, líderes, milíciase odios cainitas errando em todo omundo árabe. Sim vamos mostrarcomo um apartado mais a heroicaresistência deste povo além da li-nha verde de 1967 e a sua situaçomde ocupaçom colonial mais ou me-nos clássica; as variadas resistên-

    cias, situaçons e estratégias que aspopulaçons palestinianas nos dis-tintos territorios. Falará-se tam-bém das caraterísticas dum Esta-do, o sionista, que se presenta demaneira farisaica como "a únicademocracia do Médio Oriente" ve-remos como esta "democracia ju-dea" exclue intencionadamentedos seus pactos constitutivos aspopulaçons palestinianas que apartir da Nakba em diante se man-

    tiverom dentro de Israel e como,chamando-os cidadaos, a entidadesionista lhes restringe muitos dosdereitos que como tal deviam ter,de como os cerca e circunscrevenas suas áreas de populaçom dum-ha maneira similar aos diferentesterritorios além da linha Verde de67. De como trata de dividi-los in-ternamente nom reconhecendo in-tencionadamente o carater árabedas populaçons que assim se con-

    sideram por fazer parte de comu-nidades particularizadas por moti-vos religiosos ou por modo de vi-ver. Também se falará das popula-çons refugiadas nos estados vizi-nhos da Grande Síria e Mesopotá-mia, de qual é a sua situaçomdentro das caraterísticas comuns aumhas populaçons irmás e simila-res em toda a área, da situaçomdos refugiados e dos próprios esta-dos vizinhos. Em definitivo, falare-

    mos de colonizaçons, de corposcoloniais estranhos na regiom-Is-rael-, de pluralidade, de deseios deliberdade e superaçom do auto-odio e a alienaçom herdeiras doImperialismo Ocidental e dum re-gime: o sionista, irmám do velhoApartheit da Sudáfrica branca dosAfrikaner ou do estado Orangistados Irlandeses leais à Grande Bre-tanha nos seis condados irlandesesadministrativamente británicos.

    Palestina, o Estado Sionista, refugiados (I)

  • 15dito e FeitoNovas da GaliZa 15 de julho a 15 de setembro de 2014

    “pode haver nenos e nenas que nasçam na nossa terra sem levar umha mala baixo o braço”dito e Feito

    entreviSta a alFonS de XiXirim, um doS criadoreS da web de recurSoS Para a vida no rural

    O.R. / Entre o 3 e o 6 de julho aparóquia de Erne (Negueira deMoniz) encheu-se de expetati-vas e ideias para recuperar oagro galego. Por volta de 130pessoas apresentárom proje-tos, debatérom, experimentá-rom e aprendérom no marcodas II Jornadas Rurais, um no-vo ponto de encontro depoisdo êxito da primeira ediçom emAgolada [ver número 134, en-trevista à Eira da Xoana]. Falá-rom de educaçom no rural, dedecrescimento, de economiafeminista, de bioconstruçom.Mas, sobretodo, reafirmárom-se na possibilidade de viverdoutro jeito e num outro rural,onde “as actividades tradicio-nais som presente e tenhem fu-turo”, e onde “pode haver ne-nos e nenas que nasçam nanossa terra sem levar umhamala baixo o braço”. Um dosprojetos que foi germolando aoabrigo destes encontros foi acriaçom dumha web com todotipo de recursos para as pes-soas que moram no rural ouque decidem empreender umprojeto de vida nele, com infor-maçons tam diversas como ummapa de aldeias abandonadas,umha biblioteca virtual comdocumentos de interesse, ouum foro onde partilhar conhe-cimentos sobre permacultura,bioconstruçom, e muito mais.Falamos com Alfons de Xixirim(Arçua), um dos criadores des-te espaço virtual que verá a luzno mês que vém.

    Fala-nos de como nasce a ideiade criar umha web para dinami-zar o rural galego.Comentámos a ideia nas primeirasjornadas, que se realizárom na Eirada Xoana. Numha das mesas dedebate falou-se da necessidade decriar rede entre todas as iniciativase pessoas que estávamos ali; vimosque havia muitos projectos diferen-tes, mas que nalguns casos esta-vam longe, mal comunidacados, et-cétera. O último dia falámos daspossiblidades do software livre pa-ra o rural, e foi quando se comen-tou a ideia da web. Eu pugem-me atrabalhar no tema com um compa-nheiro da Corunha, com o objetivo

    de criar essa rede de pessoas atra-vés da rede. Nós estamos aprofun-dando nas questons técnicas, masserá a gente quem crie os conteú-dos. Trata-se de compartilhar co-nhecimento, em coerência com afilosofia do software livre.

    Que conteúdos vai ter e como sevam organizar na web?Bom, o projeto está ainda algo ver-de, mas já temos mais ou menosclaras as categorias de conteúdo.Numha das seçons haverá artigosrelacionados com o tema do rural,ao estilo dum blogue. Noutra ha-verá umha biblioteca com docu-mentos e recursos online paraaprofundar em diferentes aspei-tos, e por último, contaremos comum foro em que se irám abrindovários fios moderados por quem odesejar. Podem-se dinamizar te-mas como a reabilitaçom de casas,a permacultura… As possibilida-des som muitas, e dependerámdos interesses das usuárias!

    Incluirá também um mapa de al-deias abandonadas, apartir dumque já está feito, mas que agoranos propomos melhorar e fazermais colaborativo. Queremos quea web albergue também um espa-ço onde se apresentem projetos dagente e se poda pedir colabora-çom: por exemplo, se queres fazerum banho seco, se calhar há al-guém que cho pode ensinar, ouque gostaria de aprender e ajudar-che a fazê-lo.

    Como gerides os custes económi-cos da iniciativa?É um projeto com poucos custes,porque a gente que trabalhamosnele fazêmo-lo de maneira volun-tarista. Nom queremos dependerde subvençons nem de ajudas;queremos umha web autogestio-nada e livre. Há que alugar umservidor, mas nas Jornadas saiuumha pessoa que se ofereceu apagar essa parte para colaborarcom o projeto. Há que dizer queintentamos inseri-la no domíniode ponto gal, mas pediam-nos 400euros e pareceu-nos umha exage-raçom, porque adoita custar 10 ou15 euros. É umha mágoa que nomapoiem doutro jeito as iniciativassociais, a verdade.

    Existe algo semelhante na Gali-za? E no resto do Estado, atopas-tes referentes?Na Galiza nom existe nada desteformato, e tampouco exactamenteno resto do Estado, que saibamos.Há pouco vim umha que se pujoem andamento através dumcrowdfunding, mas menos com-pleta. Conheço também foros depermacultura, por exemplo em

    Austrália, mas nom é muito útilpara os nossos espaços. Está nou-tro idioma, o clima nom é o mes-mo, a cultura, os tempos e as es-pécies tampouco… Precisavamosalgo mais esp