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62 HosT dezembro 2005 Ricardo Freire, publicitário, escritor, jornalista e turista radical, apresenta a sua versão da capital gaúcha Michel Gorski turista na sua cidade PORTO ALEGRE, muito prazer Laura Gorski Foto: divulgação

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Ricardo Freire, publicitário, escritor,jornalista e turista radical, apresentaa sua versão da capital gaúcha Michel Gorski

• •• turista na sua cidade

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Édifícil saber por onde começar a falarde Ricardo Freire, publicitário consa-grado que deixou as hostes olivettia-nas (isso mesmo, de Washington Oli-vetto) para explorar e difundir o

turismo brasileiro. Quem for do trade turísticoe ainda não souber quem é ele, pode-se ar-riscar: ou não é do trade ou já era.

Mas aí vão oportunidades para identificar algumasdas atividades desse turista radical: procure a colunaXongas na última página da revista Época; ou assista àssextas-feiras, na Rede Cultura, o quadro Turista Ur-bano, no programa Planeta Cidade; ou entre no site Via-je na Viagem; ou adquira o livro do mesmo nome; ouleia o guia Freire's Brasil Praias. Deu pra ti? Vamospara Porto Alegre?

O gaúcho Ricardo Freire nos conduz à sua cidadecomo num passeio, fazendo tantas comparações e citan-do tantas referências que nos sentimos íntimos de cadalocal. “O lugar mais interessante de Porto Alegre é obairro dos Moinhos de Vento. Ali você pode morar, tra-balhar, comer, beber e caminhar no parque sem precisarpegar o carro. É a nossa pequena Recoleta (referindo-seao bairro de Buenos Aires), que, mesmo não sendo ex-clusivamente residencial, conserva uma beleza e uma or-dem que não se vêem, por exemplo, nos Jardins, seuequivalente paulistano.” De cara, porém, ele já enquadraa capital gaúcha: “Existem cidades para visitar e cidades

para morar. Porto Alegre é,evidentemente, uma cidadepara morar. No máximo,para ser visitada não porsuas eventuais atrações turís-ticas, mas por sua qualidadede vida”.

Ele vai intercalando pon-tos da cidade com passagensde sua vida. “Nasci e moreilá até os 3 anos de idade, edepois dos 12 aos 21. Comoestou há 20 anos em SãoPaulo, já vivi mais tempopor aqui do que por lá.Morava com a família numbairro central, a Indepen-

dência, e cheguei aviver três anos sozinho em JKs (emgauchês, quitinete com cozinha separada) em outrobairro central, a Cidade Baixa, ambos muito perto doparque da Redenção. Fazia tudo a pé. Saí de Porto Ale-gre sem saber dirigir. Lia o Verissimo todos os dias noZero Hora – um privilégio que a minha geração porto-alegrense teve.”

Embalado, Ricardo Freire continua: “Porto Alegredeve ser a única cidade do Brasil com um viaduto lindo– o viaduto da Duque, que tem escadarias maravilhosase faz com que aquele pedacinho do Centro tenha um arde Chicago nos anos 30. Odeio, no entanto, o que aprefeitura fez na Avenida Carlos Gomes, construindoum cebolão futurista horrendo e transformando umaavenida charmosa numa estrada dentro da cidade.Tiran-do esse estrupício, acho Porto Alegre uma cidade muitobonita, extremamente arborizada, e muito menos verti-calizada do que suas congêneres do mesmo porte. Penaque, de 1990 para cá, os novos prédios venham ganhan-do mais andares e o acabamento dos edifícios de luxopecando pela ostentação excessiva; eu gostava daquelaPorto Alegre em que todo mundo fingia ter menos doque realmente tinha...”

No campo profissional, a perfeição do texto publi-citário foi, gradativamente, pendendo para o turismodesde 1998, quando ele tirou um semestre sabático paraescrever o primeiro livro, Viaje na Viagem.A partir daí, osperíodos de férias e seguidos meses de licenças dedica-dos às viagens eram dedicados ao trabalho. “Depois quecomecei a fazer o blog (viajenaviagem.zip.net), nocomeço deste ano, a coisa tomou um tamanho vulto naminha cabeça que me tirou o foco da publicidade. Vique precisava optar; não dava mais para fazer as duascoisas ao mesmo tempo.”

Ponto para o público. Em vez de vender geladeiras,

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Lembranças de Porto Alegre: a cidade às margens do Guaíba;o Centro Cultural Mario Quintana, instalado no antigo HotelMajestic (abaixo, à esquerda) e o Mercado Municipal.Ao lado, o Parque da Redenção, ponto verde da cidade

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Porto Alegreconseguiu, co-

mo Curitiba, sairdo estágio de pas-sagem para se tor-nar um importanteponto de parada,no caminho da in-tegração com oSul do país e o

Cone Sul. A proximidade de atrações turísticas, comoGramado e Canela, e eventos como a Bienal do Merco-sul e o Fórum Social Mundial, acabaram por inseri-latambém no circuito do turismo. Ao indicar locais paravisitação e sugerir atividades, Ricardo Freire lembra queo “outono e a primavera são as melhores épocas; tanto oinverno quanto o verão são úmidos - e, no verão, acidade fecha e vai para a praia”.

Para começar com um choque de adaptação, ele re-comenda: “Não perca os programas de Tânia Carvalho,uma síntese de Marília Gabriela, Hebe Camargo eAdriane Galisteu numa só apresentadora, na TV Com, ocanal local da RBS”. E, para complementar, indica “assis-tir ao que estiver passando no Theatro São Pedro; é o'municipal' mais encantador do Brasil - pequeno e man-tido com mão forte por dona Eva Sopher”.

A hospedagem pode variar muito, mas Freire afirmaque, “com grana”, fica no Sheraton. “Um dos hotéismais bem localizados do Brasil: fica em frente à Calçadada Fama (a Oscar Freire de Porto Alegre), no coraçãodos Moinhos de Vento (nossa Recoleta), ao lado doShopping Moinhos (nosso Pátio Higienópolis) e a meiaquadra do Parcão (o mais bem freqüentado dos nossosIbirapueras). O único ponto baixo são os vidros azuis,que deixam tudo azulado, inclusive a sua cara (se você seolhar no espelho, vai se sentir azul de fome, azul de frio,azul de raiva...).” Como alternativa,“sem grana, indico oEverest, um hotel antigão que fica no alto do viaduto

antigo da Borges, que no outono é especialmente lindo,com os jacarandás carregados de flor lá embaixo”.

Só quem é um autêntico turista na sua cidade sugere,e de forma meio restritiva, um passeio chinfrim para ofinal de semana.“Faz algum tempo que o Brique da Re-denção (aos domingos, na Avenida José Bonifácio)deixou de ser um mercado de pulgas para se tornar umafeirinha de artesanato meia boca. Mesmo assim é interes-sante para ver os porto-alegrenses andando com cuias dechimarrão e garrafas térmicas na mão.”

O programa mais cult sugerido por Riq se vincula aum dos elementos fortes da paisagem urbana, o RioGuaíba. “Nos últimos tempos os porto-alegrenses vêmdescobrindo as ilhas do Guaíba; se alguém convidar vocêpara um passeio de lancha até sua casa na Ilha da Pintadaou na Ilha das Flores, aceite sem pestanejar.”

O Efeito Sanfona: Confissões de um Dependente Químicode Comida, um dos livros publicados por Freire, sugereque as dicas de todos os tipos de comida sempre farãoparte de seu universo turístico:

• No Centro, uma salada de frutas com nata (emgauchês, chantili) na Banca 40 do Mercado Público e umcafé no fim de tarde no terraço da Casa Mário Quintana(antigo Hotel Majestic) são de rigueur.• A Rua Padre Chagas, nos Moinhos de Vento – tambémconhecida como Calçada da Fama – concentra restau-rantes e cafés, e é a melhor opção quando você não queresquentar a cabeça com um lugar para comer, beber oupassar o tempo.• Nenhuma visita a Porto Alegre será completa sem um“cachorro do Rosário” – uma banquinha de hot dog queestá há mais de 30 anos na esquina do Colégio Rosário,na Avenida Independência.• Existem churrascarias melhores, mas nenhuma tem umambiente tão gostoso quanto a Barranco, na mesmaavenida, com mesas ao ar livre (peça o espeto de lombi-nho gratinado com queijo).

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• •• turista na sua cidade

Calçada da fama, sanduíches abertos e ilhas do Guaíba

Riq, como às vezes assina, poderá percorrer todos os lu-gares e, com seu olhar cirúrgico, classificar tudo, talvezcomparando com o que há de melhor no mundo, emsua opinião: o Rio de Janeiro. E dizendo, por exemplo,que tal lugar não é nenhum Leblon!

Ele agora leva a vida que pediu a Deus? “Ainda não,porque não consegui viabilizar comercialmente essa car-reira, já que não viajo a convite nem aceito jabá. Mas, as-sim que as coisas engrenarem, invento uma matéria parafazer em Aparecida e agradecerei pela graça alcançada.”

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