90
1

Padre Cícero na Berlinda - eBooksBrasil · Não foi sem motivo, pois, que ele se transformou ao longo dos anos numa figura ... santidade, etc. Na Terceira ... O senhor já fez mal

Embed Size (px)

Citation preview

1

Padre Cícero na Berlinda (1999)Daniel WalkerFonte digital

RocketEdition - Ed. eBooksBrasilColocado na Rocket-Library

www.ebooksbrasil.org

© 1999 Daniel Walker

2

Daniel Walker

PADRE CÍCERO NABERLINDA

TERCEIRA EDIÇÃObaseada na versão digital disponível na Internet

3

AUTORDaniel Walker nasceu em Juazeiro do Norte,Ceará, é jornalista, radialista e exerce omagistério como Professor Adjunto da FundaçãoUniversidade Regional do Cariri-URCA É autor devários trabalhos sobre o Padre Cícero, entre osquais: O Pensamento Vivo de Padre Cícero,História do Padre Cícero em Resumo, PequenaBiografia do Padre Cícero e Curiosidades SobrePadre Cícero.

[email protected]

4

ÍndiceAPRESENTAÇÃO

PRIMEIRA PARTE•Entrevista-biográfica• Fontes de Consulta

SEGUNDA PARTE•Depoimentos•Padre Cícero era uma pessoa culta?•Qual a contribuição de Padre Cícero para aeducação em Juazeiro?•Era o Padre Cícero um paranóico?•Padre Cícero foi heresiarca?•Padre Cícero foi líder?•Padre Cícero é santo?•Tem sentido chamar ao Padre Cícero de coronel?•Que participação teve o Padre Cícero naRevolução de 1914?•Padre Cícero deu alguma contribuição para odesenvolvimento regional?

TERCEIRA PARTE•Acusações e punições

QUARTA PARTE•Pensamentos

5

“Padre Cícero é uma figura a ser estudada comcuidado e absoluta isenção. Estou certo de que,num meio anárquico, retardado e peculiar comoo sertão daquele tempo, ele representou a ordem,uma disciplina, uma centralização de energia,

um sentido de vida, uma mensagem mais para obem do que para o mal. Cometeu erros e

equívocos. Quem não os comete?”

Gustavo Barroso

6

Apresentação

Este trabalho, agora publicado em terceiraedição, revista e aumentada, apresenta emdestaque a autobiografia de Padre Cícero,organizada sob a forma de um curioso recursojornalístico, conhecido como entrevista-montagem. A primeira edição (um opúsculo de 12páginas apenas) foi lançada em 1978, editadapelo Instituto Cultural do Vale Caririense.

Para quem está acostumado a ver o PadreCícero como um sacerdote obediente à Igreja eum conselheiro apaziguador de ânimosacalorados e levantador de espíritos deprimidos,esta autobiografia surpreende e inova, pormostrar um Padre Cícero diferente. Um PadreCícero que se defende das acusações e fazdenúncias que permaneceram em sigilo durantemuitos anos. Não foi sem motivo, pois, que ele setransformou ao longo dos anos numa figuracarismática e amada por milhares de devotosespalhados por todo o Brasil, mas,paradoxalmente, sendo também o padre maispolêmico do clero brasileiro.

Ele, como se sabe, teve uma vida bastanteatribulada, especialmente depois da ocorrência

7

dos chamados milagres das hóstias, os quaistiveram como personagem central uma beataconhecida como Maria de Araújo.

Seu envolvimento nesse episódio,trouxe-lhe amargos dissabores e severaspunições, as quais marcaram sua vida parasempre, como foi o caso, por exemplo, dasuspensão de ordem.

Sua incursão pelo caminho tortuoso dapolítica partidária lhe trouxe, igualmente, sériosaborrecimentos, dos quais somente sedesvencilhou graças à ação protetora e destemidado grande amigo e defensor Dr. Floro Bartolomeuda Costa.

Por isso, durante sua quase secularexistência, pois morreu aos 90 anos de idade,conseguiu canalizar a admiração e o respeito demilhares de devotos que pranteiam sua memóriae o santificam, mas também atiçou a raiva e ainveja de um punhado de inimigos que não lhedeixam em paz, e são responsáveis pelasmaledicências publicadas a seu respeito naimprensa e em livros.

Assim, admirado por uns e repudiado poroutros, Padre Cícero tornou-se assuntoinesgotável, a ponto de ser, desde algum tempo,o vulto mais estudado, discutido e biografado doBrasil, com mais de duas centenas de obras jápublicadas sobre sua vida.

Com efeito, escritores nacionais e

8

estrangeiros, dos mais distintos perfis, já sepronunciaram sobre ele, estudando-lhe osaspectos religioso, político, social e cultural, sem,contudo, como disse o pesquisador JoaryvarMacêdo conseguirem mudar as mentalidades dequantos têm juízo formado a seu respeito.

Durante muito tempo, principalmente noslivros, Padre Cícero foi sempre analisadoobedecendo a uma invariável dicotomia de juízosdiametralmente opostos: de um lado, sendoatacado com radicalismo por quem não lhereconhece nenhum valor; de outro, sendoexaltado com exagero por quem lhe conferemuitas qualidades.

Ultimamente, porém, depois que oscientistas sociais passaram a estudá-lo, suafigura real começou a ser delineada dentro deuma nova ótica de observação e análise. E, aoque tudo indica, nessa nova visão Padre Cícero émostrado com os defeitos comuns aos homensnormais e as virtudes inerentes aos homensextraordinários. Tudo dentro da lógica, conduzidosem paixão, para que, um dia, quem sabe, elefinalmente deixe de ser, usando uma expressãode Padre Azarias Sobreira: um cruciante ponto deinterrogação.

Na Primeira Parte deste trabalho aentrevista-biográfica contém uma súmula dahistória do Padre Cícero, com a vantagem de sercontada por ele mesmo. Ali, ele fala sobre sua

9

castidade, sua vida sacerdotal, a ocorrência domilagre, a questão religiosa dele decorrente, asproibições e punições da Igreja a que foisubmetido, as artimanhas no julgamento doprocesso, sua viagem a Roma, a distribuição dosseus bens, sua passagem pela política, suaparticipação na Revolução de 1914, seu encontrocom Lampião, o pedido especial que fez aosromeiros, além de muitos outros assuntospalpitantes de sua existência.

Na Segunda Parte, ainda na berlinda,Padre Cícero tem alguns aspectos de suapersonalidade e do seu trabalho analisados porhistoriadores e escritores. Foram selecionados osaspectos mais polêmicos, justamente os quedespertaram maior interesse dos biógrafos, taiscomo a cultura, o carisma, a liderança, asantidade, etc.

Na Terceira Parte é mostrado umlevantamento das punições e proibições a que foisubmetido o Padre Cícero e as principaisacusações de que foi alvo.

Na Quarta Parte é apresentada uma sériede pensamentos seus, extraídos de suas cartas ede suas pregações.

Nada é ficção, tudo está conforme seencontra literalmente nos livros consultados,cuja relação inserimos no final, comrecomendação de leitura aos que quiseremconhecer maiores detalhes da vida desse líder,

10

possivelmente o maior e mais eterno do Nordestebrasileiro, e sobre quem muito ainda haverá dese falar, pois, conforme disse Dr. NapoleãoTavares Neves, em artigo publicadorecentemente, quanto mais dele se fala, maisdele se tem o que dizer.

Daniel Walker

11

"A minha defesa quem vai fazer é a própriaIgreja. Para tudo tem o seu tempo"

Padre Cícero Romão Batista

12

Primeira ParteENTREVISTA-BIOGRÁFICA

01. Qual o seu nome completo e de quem osenhor é filho?— Cícero Romão Batista, filho legítimo dosfalecidos Joaquim Romão Batista e donaJoaquina Vicência Romana.(1)

02. Onde e quando nasceu?— Nasci na cidade de Crato, Estado do Ceará, nodia 24 de março de 1844.(2)

03. Onde, quando e por quem foi ordenado?— No Seminário da Prainha, em Fortaleza, no dia30 de novembro de 1870, por Dom Luís Antôniodos Santos, primeiro bispo do Ceará.

04. Qual o motivo de sua castidade perpétua?— Em virtude de um voto por mim feito, aos 12anos de idade, pela leitura nesse tempo que eufiz, da vida imaculada de São Francisco de Sales.

05. Qual o seu conceito de Deus?— Deus está sobre tudo e é providência até dasfolhas que caem das árvores. E é certo: o bemque Ele não nos dar, não o teremos; e o mal deque não nos livrar, virá sobre nós. É dono detodas as coisas e dirige o homem por caminhosque só Ele sabe. Deus nunca deixou trabalho

13

sem recompensa, nem lágrimas sem consolação.Deus é o Criador de todas as coisas, ainda asmínimas, é Autor absoluto de todo o bem e detoda graça. Só Deus nos basta.

06. Dê a sua opinião sobre o demônio?— O demônio nunca deixou de procurar destruirtoda obra de Deus.

07. Qual é a melhor religião?— Não há mais dúvida de que a religião boa é anossa, a Católica Apostólica Romana.

08. O senhor já fez mal a alguém?— Nunca fiz mal a ninguém, nem a ninguémvotei ódio ou rancor.

09. O senhor cobrava algum dinheiro pelosatos religiosos praticados?— Desde minha ordenação, mesmo durante opouco tempo que fui vigário de São Pedro doCrato, nunca percebi um real sequer pelos atosreligiosos que tenho praticado como SacerdoteCatólico.(3)

10. E o que fazia com o dinheiro dadoespontaneamente?— Todos os dinheiros que me foram dados comooferta a mim unicamente, os tenho distribuídoem atos de caridade que estão no conhecimentode todos, bem como em grandes e vantajosasobras de agricultura, cujo resultado tenhoaplicado em bens que deixo na maior parte paraa Benemérita e Santa Congregação dosSalesianos, a fim de que ela funde aqui no

14

Juazeiro os seus colégios de educação para ascrianças de ambos os sexos.

11. Por que, dentre tantas instituiçõesreligiosas, o senhor escolheu a OrdemSalesiana como herdeira maior dos seus bens?— Porque dentre as existentes nenhuma se meafigura mais benemérita e de ação mais eficaz ede caridade mais acentuada do que a dos bons esantos discípulos de Dom Bosco.

12. Qual a razão de sua predileção por DomBosco?— Dom Bosco sabia o segredo de corrigir semmolestar. O seu saber assombrou os centrosmais cultos do mundo.

13. Cite alguns dos bens que o senhor deixapara os Salesianos.— Todas as terras que possuo nos sítiosLogradouro, Salgadinho, Mochila, Carás, PauSeco; sítio Conceição, na Serra do Araripe,município de Crato; os terrenos que possuo naSerra do Araripe e mais o sítio Brejinho; osprédios e a capela em construção na Serra doHorto, com todas as suas benfeitorias; o prédioonde funciona o açougue público desta cidade,sito à avenida dr. Floro, antiga rua Nova; osprédios contíguos à casa de residência dareligiosa Joana Tertulina de Jesus, conhecidacomo beata Mocinha, sitos à rua São José; o sítioFaustino, sito no município de Crato; o sítioBaixa Dantas, no município de Crato; as

15

fazendas Letras, Caldeirão e Monte Alto, nomunicípio de Cabrobó, no Estado dePernambuco, com todas as benfeitorias e gadosnelas existentes; o quarteirão de prédios sitos àrua de São Pedro, os quais comprei ao dr. FloroBartolomeu da Costa; a fazenda Juiz, sita nomunicípio de Aurora; o prédio onde funcionou oOrfanato Jesus Maria José, sito à rua São José;o sítio Fernandes, no município de Crato; o sítioPeriperi, no pé da serra de São Pedro; os sítiosSanta Rosa e Taboca, no município de Crato; osítio Rangel, no município de Santana do Cariri.

14. Essa doação tem alguma finalidadeespecífica?— A finalidade é de abrir escolas em Juazeiro. Osbeneficiários não satisfazendo esta únicaimposição, o patrimônio passará para o domíniodo Vaticano.(4)

15. Deixou alguma coisa para Nossa Senhoradas Dores?— Deixo para a Santíssima Virgem das Dores,desta Matriz de Juazeiro, os seguintes bens: osítio Porteiras; o sobrado onde Manoel Sabinotem a loja de santos, à rua Padre Cícero; o prédioonde funciona a Cadeia Pública desta cidade, sitoà avenida dr. Floro, bem como os demais que seseguem contiguamente à mesma rua; o sítioPalmeira, no município de Ceará Mirim, Estadodo Rio Grande do Norte; o sítio Petinga, domunicípio de Touros, no Rio Grande do Norte.

16

16. Por que nada deixou para os seusparentes?— Não tenho ascendentes vivos, nem tampoucodescendentes, e assim julgo poder dispor dosmeus bens que se acham livres e desimpedidos,de acordo com as leis do meu País.

17. Vamos agora entrar num assuntomelindroso: a Questão Religiosa. Comoocorreu pela primeira vez o chamado Milagreda Hóstia?— Temos aqui uma Irmandade do SagradoCoração de Jesus - o Apostolado da Oração - commuita gente; fazemos a solenidade das primeirassextas-feiras com missas, comunhões, tudoconforme o regulamento. Nós todos aqui namaior aflição, desenganados de inverno, semrecursos absolutamente nenhum paraescaparmos de morrer pela fome, faziam-seromarias, preces, novenas e mais novenas;orava-se pública e particularmente muito porquea aflição de todos era imensa, tendo cada um ojusto temor da seca. Chegou a primeirasexta-feira do mês de março, da quaresma doano de 1889, eu chamo a toda a irmandade,como de costume, para uma comunhãoreparadora do mês e todos mais que quisessemtomar parte, para fazermos uma comunhãoreparadora grande ao Sagrado Coração de Jesus,segundo a sua divina intenção e para que usassede misericórdia conosco. Passei toda a noite

17

confessando homens, na igreja, aonde passavamtambém orando seis ou oito mulheres, quefaziam parte da irmandade; com pena delas,interrompi o trabalho e fui despachá-las,dando-lhes a comunhão de quatro e meia para àscinco horas, antes dos outros. Quando dei àbeata Maria de Araújo, que era a primeira, asagrada forma, logo que a depositei na boca dela,imediatamente transformou-se em porção desangue, que uma parte ela engoliu, servindo-lhede comunhão e outra correu pela toalha, caindoalgum no chão. Eu não esperava e vexado paracontinuar as confissões interrompidas, que eramainda muitas, não prestei atenção e por isto nãoapreendi o fato na ocasião em que se deu; porémdepois que depositei a âmbula no Sacrário e voudescendo, ela vem entender-se comigo, cheia deaflição e vexame de morte, trazendo a toalhadobrada, para que não vissem, e levantava a mãoesquerda aonde nas costas havia caído um poucoe corria um fio pelo braço e ela com temor detocar com a outra mão naquele sangue, comocerta que era a mesma hóstia, conservava umcerto equilíbrio para não gotejar no chão.(5)

18. O senhor chamou algum médico paratestemunhar o fenômeno?— Dois médicos e um farmacêutico distinto doCrato todos viram e examinaram com o maiorescrúpulo e consciência, afirmando a verdade esinceridade do fato. (6)

18

19. Mas, a verdade é que a Igreja condenou omilagre.— De fato, a Igreja condenou, mas a condenaçãoresultou do modo como fizeram o processo aquino Ceará. Foi empregado tudo, ameaças,seduções de todo modo, os mais refinadossentimentos de compaixão, até as lágrimas defino cômico. Padre Alexandrino e os outrosencarregados de destruir a verdade pegaram umapobre mocinha e, aterrada, sem saber o quedizia, afirmou horrores, cobrindo tudo de infâmiae dizendo que davam sangue de pinto para sebotar nas hóstias, e outros absurdos. Tudo queexigiram que dissesse, ela dizia, e outro servindode secretário escrevia para ser mandado ao Sr.Bispo, e este à Santa Sé, como documentosfidedignos. Pagaram até a pessoas inconscientes,doando 5.OOO réis, vestidos e outros manejosindecentes, fazendo-as dizer calúnias contra mime outras pessoas. Fizeram como se fez com Joanad'Arc: um processo para um resultadocondenatório. O Santo Ofício, perante um talprocesso, devia condenar como fez, e não podiajulgar de outro modo. O processo foi deturpado.O mesmo bispo disse a Mons. Monteiro que tinhaarranjado o seu relatório, e na Pastoral declarouque havia juntado outras peças. Tudo fez paradestruir o fato do Juazeiro. Peço encerrar comesta afirmação este assunto. Jurei, prometi aoTribunal do Santo Ofício, não falar mais sobreestas cousas.

19

20. Pessoalmente o senhor acredita nomilagre?— Eu sou obrigado a dizer que é verdade porquefui testemunha muitas vezes. Ainda que exceda apouca fé minha e de outras pessoas, que nãosabemos os excessos de amor do SagradoCoração de Jesus, fazendo esforços para salvaros homens, não posso duvidar, porque vi muitasvezes.

21. Sendo assim, por que não o sustentoupublicamente?— Não quero de forma alguma sustentar nemdefender os fatos ocorridos no Juazeiro, quandojá declarei e torno a declarar que, uma vez que aSuprema Congregação do Santo Ofício oscondenou e reprovou, eu os condeno e reprovo,obedecendo sem restrição nem reserva a suadecisão e decretos, como filho submisso eobediente da Santa Igreja.

22. Alguns escritores disseram que opropalado milagre não passou de um embuste,e até chegam a insinuar a sua participação.— Perante Deus tenho a minha consciênciatranqüila. Neste mundo, durante toda a minhavida, quer como homem, quer como sacerdote,nunca, graças a Deus, cometi um ato dedesonestidade, seja sob que ponto de vista sepossa ou se queira encarar, nem nunca cometinem alimentei embuste de espécie alguma. Euofereço Deus como meu Juiz inteiro em

20

testemunho de minha inocência.

23. Esse milagre de que tato se fala, de fatolhe causou muitos dissabores. O senhor atéchegou a ser suspenso de ordem. Mas, nãosatisfeitos só com isto, queriam os seussuperiores hierárquicos impedir a visita dosromeiros à sua casa, e isto o senhor nãoaceitou. Por quê?— Não posso fechar as portas de minha casa aosque me vêm visitar. Não recebê-los seria nãosomente imperdoável descortesia, mas umaingratidão inominável. São amigos meus que vêmde muito longe, com sacrifícios de toda sorte,render seu preito de veneração a Nossa Senhoradas Dores.

24. O ato de suspensão de suas ordens tevealguma repercussão?— Foi um horror terem-me assim roubado o meusacerdócio e terem-me assim coberto de tãogrande injúria no meio da sociedade e no meio daIgreja, com tais penas e opressões tão grandescontra mim e contra os meus. Foi tão grave aosolhos de todos que uma grande parte do Brasilonde sou muito conhecido, todos ficaramadmirados, e outros escandalizados e cheios deindignação por cousa tão inesperada, como se vêdos mesmos jornais de diferentes Estados.

25. Desde quando vem seu conhecimento coma beata Maria de Araújo?— Desde a idade de oito anos, quando ela fez sua

21

primeira comunhão.

26. Qual a sua opinião sobre ela?— A vida desta criatura é uma maravilha degraça de Deus. Sei de consciência, comoconfessor, que ela era dotada de grande espíritode piedade e de temor de Deus. Uma das almasmais enriquecidas de graças de Deus que jáconheci.(7)

27. É verdade, que depois das repetições dofenômeno das hóstias que se transformavamem sangue, a beata Maria de Araújo passou aser alvo de constantes romarias?— Aqui nunca houve romaria a Maria de Araújo,mas somente ao São. Sacramento por suasmanifestações aqui ocorridas, e a Nossa Senhoradas Dores, em cuja capela se tinham dado estesfatos que despertaram a Fé e a Piedade do povo,que vindo aqui como ainda hoje o fazem, nãoprocuravam somente outra coisa senão sereconciliar com Deus, se confessar, benzerobjetos de piedade e cuidar da salvação somente.E quanto a Maria de Araújo, desde o processocontinuou reclusa por muito tempo por ordem doSr. Bispo, mesmo na Casa de Caridade do Crato,três léguas de Juazeiro, e tanto lá como aqui,desde a sua volta, sempre procurou evitarvisitas.

28. Em virtude do seu comportamento nafamosa Questão Religiosa seus superioreshierárquicos chegaram a acusá-lo de fazer

22

pregações contrárias aos preceitos da Igreja. Osenhor é mesmo revoltado com a Igreja?— É uma grandessíssima calúnia dizer que tenhorevoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidassobre a Fé Católica; nunca disse nem escrevi,nem em cartas particulares, nem em jornais,nem em qualquer escrito nenhuma proposiçãofalsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisaalguma contra o ensino da Igreja. Nosso Senhorsabe que, com sua graça, nunca desobedeci, nempratiquei, nem ensinei coisa alguma contra oensino da Santa Igreja e da Moral Cristã. Nãopreguei às escondidas e Nosso Senhor mejustificará. Quem não ouvir e obedecer a Igrejadeve ser tido como pagão e publicano; fora daIgreja não há salvação. Eu condeno tudo o que aSanta Igreja condena, sigo tudo o que ela mandacomo a Deus mesmo. Graças à bondade emisericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristominha fé na doutrina ensinada pela Santa Igrejaé viva, inteira e pura, pela qual, ajudado nagraça divina, darei, se preciso for, a própria vida.

29. Em que data o senhor teve audiência como Papa, em Roma?— No dia 6 de outubro de 1898, ao meio dia, diade São Bruno.(8)

30. Quem o apresentou ao Papa?— Fui apresentado por Monsenhor Cagiano deAzevedo e falei a sós ao Santo Padre e lhe oferecium rosário de ouro da Santíssima Virgem, e ele

23

benzeu dois crucifixos que intencionei dar aomeu Bispo, o Sr. Dom Joaquim, e o outro ao Sr.Bispo de Olinda, Dom Manoel.

31. Como o senhor foi tratado em Roma?— Com muita consideração e com a melhor boavontade fui tratado em Roma. Apresentei-me aoSanto Tribunal do Santo Ofício em váriassessões, julgaram-me inocente, dando-meabsolvição se por ventura incorresse em algumacensura, ficando absolvido de todas, emandaram-me para o meu domicílio - o Juazeiro-, para aqui mesmo celebrar. Requeri ao SantoPadre a faculdade de Oratório Privado, alegandoo estado de cegueira e de doença de minha mãe ea Santa Congregação dos Bispos de Trento meconcedeu por um Rescripto Apostólico, o qual oSr. Dom Joaquim não quis dar o visto e nem oconsiderou em nada.

32. É verdade que o senhor foi nomeadoCapelão em Roma?— Fui nomeado Capelão pelo Eminentíssimo Sr.Cardeal Parrochi, na Igreja de São Carlos, emRoma, depois da absolvição do Tribunal. Se euficasse em Roma me dariam mais faculdades.

33. E como o Bispo o recebeu, depois que osenhor voltou de Roma, absolvido?— Voltando de Roma na melhor boa fé, o Sr.Bispo quis retirar-me de Juazeiro, e tendo aSanta Sé dado-me positivamente a faculdade deaqui morar e aqui celebrar, ele, entretanto, não

24

fez caso da prescrição da Santa Sé e tratou decontinuar a proibição de celebrar no Juazeiro.Podia celebrar em outra parte. Tirou-me afaculdade de Oratório Privado. Eu, não obstanteo Secretário da Congregação dos Bispos deTrento me ter dito que, no caso de ele fazeroposição, reclamasse para a Santa Sé, eu, quenunca quis fazer questão, calei-me.

34. Sendo assim, de nada adiantou sua viagema Roma!— De nada, pois, aproveitou-me ter ido a Roma,ter-me submetido a tudo o que o Santo Ofícioquis de mim, como sacerdote, nem ter sidoabsolvido de todas as penas.

35. O senhor alguma vez desejou ser político?— Nunca desejei ser político; mas em 191l,quando foi elevado o Juazeiro, então povoado, àcategoria de Vila, para atender aos insistentespedidos do então Presidente do Estado, o meusaudoso amigo Comendador Antônio PintoNogueira Acioli, e para evitar, ao mesmo tempo,que outro cidadão, na direção política deste povo,por não saber ou não poder manter o equilíbriode ordem, até esse tempo mantido por mim,comprometesse a boa marcha desta terra, vi-meforçado a colaborar na política.

36. Como foi seu comportamento na política?— Apesar das bruscas mutações da políticacearense, sempre procurei conservar-me ematitude discreta, sem apaixonamentos, evitando

25

sempre as incompatibilidades que pudessemdeterminar choques de efeitos desastrosos. Paraconseguir isto, muitas vezes tive de me expor aoconceito de homens sem idéias bem definidas.

37. Por quanto tempo o senhor esteve napolítica?— Após a queda do governo Acioli, por motivo deordem moral, retraí-me da política, mantendo,entretanto, relações de cordialidade com ogoverno Franco Rabelo, sendo até eleito Terceiro-Vice-Presidente do Estado. E o meu amor àordem foi tão manifesto que, a despeito da mávontade do partido dominante para comigo, nãohesitei em atender ao pedido da população destaterra e autorizar que o meu nome fosseapresentado para voltar ao cargo de Prefeitodeste município, naquele mesmo governo que meera sobremaneira hostil.

38. O que o senhor acha de eleições indiretas?— Creio que o nosso processo eleitoralingressaria pela porta da dignidade nacional se opovo, na sua quase totalidade analfabeto,concorresse simples e unicamente com o seuvoto inconsciente para a formação das CâmarasMunicipais, ponto de partida de uma eleiçãoindireta, cabendo a estas câmaras as eleiçõesdos prefeitos e das assembléias estaduais que,por sua vez, escolheriam os presidentes deestado e os deputados federais, vindo estes, aomesmo tempo, elegerem os presidentes da

26

república. Assim teríamos a cristalização doprocesso eleitoral, adaptado ao nosso atrasadograu de cultura. Deste modo, acredito que osnossos homens públicos ficariam moralmenteobrigados a bem desempenhar os mandatos paraos quais foram eleitos.

39. E o que se deve fazer com governo ruim?— Rezar para ele, meu filho, a fim de que venhaa governar com justiça.

40. O senhor considera o serviço militarimportante?— A caserna, hoje em dia, é a grande escola docivismo, onde o cidadão vai aprender a maisimprescindível das lições: o culto à nossa Pátriaquerida.

41. Falemos agora da Sedição de Juazeiro.Apesar de Dr. Floro Bartolomeu da Costahaver declarado que foi ele o chefe e únicoresponsável pelo famoso movimento sediciosoque culminou com a deposição do governoFranco Rabelo, ainda há quem atribua aosenhor a responsabilidade direta.— Posso afirmar, sem nenhum peso deconsciência, que não fiz revolução, nela nãotomei parte, nem para ela concorri, nem tive nemtenho a menor parcela de responsabilidade diretaou indiretamente nos fatos ocorridos.

42. Mas dizem que o senhor chegou a pedir arenúncia do Presidente Franco Rabelo?— Quando, em novembro de 1913, o meu amigo

27

Dr. Floro Bartolomeu da Costa, atual DeputadoFederal por esta cidade e diretor político destaterra, de volta do Rio de Janeiro me informouque os chefes do partido decaído haviamresolvido reunir a Assembléia Estadual aqui, porser impossível a reunião em Fortaleza, emvirtude da pressão exercida pelo partidogovernante, e dar-lhe a direção do movimentoreacionário, com a maior lealdade ponderei, emcarta reservada ao coronel Franco Rabelo, sobrea vantagem da sua renúncia. E assim procediporque, sem nada mais de grave propriamentesaber, a não ser da reunião da Assembléia,percebi, pelos precedentes de violência do entãogoverno, a possibilidade de uma luta.

43. De qualquer forma seu nome continualigado ao movimento sedicioso.— Estou certo de que, quando se fizer averdadeira luz sobre esses fatos, meu nomerealçará limpo como sempre foi.

44. Quem foi Dr. Floro para o senhor?— Meu grande e inolvidável amigo, cuja morterefuto uma grande perda para o Juazeiro, para oCeará e mesmo para a Nação.(9)

45. O senhor foi a favor da participação dele,inclusive em traje de guerra, na Revolução de1914?— Se ele era, naquela época, o comandante echefe de uma revolução, e necessitava estar nocampo raso da luta, não poderia se encontrar de

28

cartola, fraque ou mesmo vestido na beca quevestira no dia da sua colação de grau, comomédico que era. Tinha que mostrar o querealmente era: homem que lutava em campoaberto, superando a fadiga, comandando, dandoordens, rastejando.

46. Quando a Revolução de 1914 estavarealmente decidida e o senhor nada maispodia fazer para evitá-la, como era seu desejo,que conselhos o senhor deu aos comandadosde Dr. Floro Bartolomeu?— Uma recomendação para vocês, meus filhos:não se pode evitar o mal que está à nossa porta,todavia peço que não atirem para matar; os queforem fugindo, deixem ir embora; não peguem noque for alheio; respeitem as mulheres, moças,velhos e viúvas; respeitem as autoridades,especialmente os padres, o Vigário Quintino.Lembrem-se que os velhos merecem nossaatenção. Socorram os feridos; deixem estradasabertas para os fugitivos saírem livremente.

47. Por que o senhor permite que o povo ochame de Santo e de Deus?— Meu amiguinho, eu não admito que se digaisto em minha presença, mas fique tranqüilo,pois os que por aí a fora dizem que eu sou ruim,que eu não presto, são tantos que não dá paraequilibrar. Deus está no céu. Eu não sou Deus.

48. O que Juazeiro representa para osromeiros?

29

— Aqui tem sido um refúgio dos náufragos davida, tem gente de toda parte que,modestamente, vem abrigar-se debaixo daproteção da Santíssima Virgem. Eu tenhoaconselhado sempre a todos que aqui vêm querezem o Santíssimo Rosário da Mãe de Deus emsufrágio e salvação das almas do purgatório paraque ela nos tome e nos guarde.

49. É verdade, que durante o período queantecedeu à independência de Juazeiro, osenhor proibiu o povo de Juazeiro de ir darfeira no Crato?— Não. Não houve essa proibição, apenas fiz ver,depois de ter feito o possível para evitar prisões,ter falado com os responsáveis pela comuna,para apaziguar os ânimos, que evitassem atritos.

50. O senhor gosta mais de Crato ou deJuazeiro?— Sou filho de Crato, mas Juazeiro é meu filho.

51. Em 1926 o Bispo lhe ofereceu aoportunidade de anular a pena de suspensãode ordens, desde que o senhor deixasseJuazeiro. Por que o senhor não aceitou aoferta?— Seria uma calamidade se eu me visse nacontingência de abandonar esta cidade, porque,além do mais, acredito e devo dizer que o povonão se conformaria com uma tal medida, quetalvez desse lugar a um movimento dedesastrosas conseqüências.

30

52. Sendo assim, não há dúvida, o senhorgosta mais é de Juazeiro.— Sou responsável por este povo. Por elesacrificarei até minha vida. Juazeiro foi umacidade feita por mim. Se Deus em pessoa mebotou aqui, só Deus pode me retirar.

53. Qual será o futuro da cidade de Juazeiro?— Depois da minha morte é que Juazeiro irácrescer.(10)

54. Que motivos o levaram a lutar pelainstalação do Bispado do Cariri?— A criação do Bispado do Cariri foi umainspiração do Céu, benefício de Deus: suasvantagens não precisam de demonstrações, sãointuitivas.

55. E por que razão a sede do Bispado deveriaser em Juazeiro?— Isto não se pergunta, dirá talvez o Crato, noseu orgulho, quiçá legítimo, de ser a cidade maisvelha. Entretanto não é assim que o homem põee Deus dispõe. Há, pois, que opor à perguntauma circunstância digna de nota e que não podeabsolutamente passar despercebida. Obra daprovidência de Deus, ou coincidência do acaso -o centro do Bispado do Cariri, o pontoeqüidistante da sua confluência, queiram ou nãoqueiram - é o Juazeiro. É uma verdadeinquestionável, e dela se convencerá quem querque fosse desse um golpe de vista sobre a cartageográfica do Bispado do Cariri. Mas ainda não é

31

tudo. A Providência que deu Loreto à Itália,Lourdes à França, Canindé ao Ceará, tambémteve seus desígnios dando Juazeiro ao Cariri. Asede pois do Bispado do Cariri no lugar que lhedestinou a Providência de Deus. E faça-se a suavontade.

56. Se o senhor fosse bispo, o que faria?— Se eu fosse um bispo, eu ia fazer muitas casasde caridade para proteger os órfãos e viúvas, edava aos homens pobres, pais de família,esmolas, durante o inverno, para eles trabalhar,que é meio de santificação muito grande protegeros pobres. E me entregava para eles estudargrátis e lhes ajudava a comprar os livros e ostratava em suas doenças. Que a Igreja pode fazeristo que tem muita gente por ela. É só pedir queo povo ajuda. Se assim a Igreja fizesse, não tinhatanta pobreza no lugar. A Igreja somos nós! Não ésó os padres não!

57. Houve uma época em que o senhor,indignado com a concessão de terrasbrasileiras a estrangeiros, lançou veementeprotesto, inclusive endereçando telegramas àsautoridades. Com isto o senhor estariademonstrando alguma forma de nacionalismo?— Precisamos de um nacionalismo inteligente,sadio, sem embargo de espírito de cordialidade,de fraternidade mesmo, que deve existir entre asnações, unindo os povos, mas respeitando-se aintegridade territorial de cada país, que os seus

32

filhos receberam dos antepassados e devemtransmitir intata às gerações vindouras. Maismoço, tudo envidaria no sentido de evitar opredomínio do estrangeiro no comércio e naindústria de nosso País, com supremacia sobreas nossas terras, por entender descabida,criminosa, esta situação singular de estrangeirosimigrados para a nossa cara Pátria.

58. Quer dizer, que Padre Cícero é contraqualquer interferência estrangeira no Brasil?— Meu amiguinho, este velho que aqui lhe fala, évisceralmente contrário à concessão de qualquerespécie, notadamente as territoriais, a filhos deoutras nações, embora com estas mantenhamosas mais amistosas relações diplomáticas. Aexploração das nossas florestas, do nosso solo,das nossas minas e, enfim, de todas as riquezasda nossa Pátria, pertence aos brasileiros e aosseus governantes que trabalham e querem o seuengrandecimento.

59. Qual a sua opinião sobre Dom Quintino,ex-bispo da Diocese de Crato?— Dom Quintino foi sempre um padre virtuoso einteligente. Conheci-o desde que chegou aoCariri, ainda muito moço, para ser Coadjutor doVigário de Missão Velha. Foi, muitas vezes, meuhóspede e sempre o estimei de coração. Se, emrelação a minha pessoa, cometeu algumainjustiça, nem por isto deixou de ser um justo,pois estava convencido que só assim procedia

33

exemplarmente.

60. Que valor tem o professor?— Todo aquele que ensina é portador de luz paraos que não sabem.

61. Quem é pobre na Terra vai ser rico noCéu?— Se o pobre viver direitinho na Terra vai enricarno Céu.

62. Os ricos também ganharão o céu?— Os ricos, se quiserem ganhar o Céu, é só viverse confessando, comungando, rezando,praticando a caridade, não andar fazendo mal aninguém.

63. Qualquer pessoa pode ser santo ou santa?— Todos ainda podem ser santos, assim queirame obedeçam ao chamado de nosso bom Deus que,ainda mais do que nós, quer fazer-nos santoscom Ele no Céu.

64. A educação religiosa é necessária?— Sem educação religiosa perfeita não háagremiação que progrida e seja útil a si, àfamília, à sociedade e à Pátria.

65. O que o senhor acha das guerras entre asnações?— Que horror é a guerra! Não há dúvida, é ocomeço do fim. É Deus obrigado a castigar aTerra com severidade.

66. Que conselhos o senhor daria aosalcoólatras?

34

— Quem bebeu, não beba mais. Quem bebe,obedece a Satanás, e quem obedece a Satanás,não se salva, vai para o inferno. O homem quebebe falta com os seus deveres de pai, de esposoe de amigo. A cachaça é um poderoso agenteenviado de Satanás.

67. Que conselhos daria aos homicidas?— Quem matou, não mate mais. Ninguém tem odireito de ofender o seu semelhante. Só Deus temo poder de tirar a vida de suas criaturas. O quelucra quem mata os outros? Fica maldito deDeus, sujeito a grandes castigos.

68. Que conselhos daria a quem rouba?— Quem roubou, não roube mais. Quem roubavai para o inferno.

69. E a quem mente, que conselhos o senhordaria?— Quem mentiu, não minta mais. A mentira éfilha do diabo, e o mentiroso, seu encarregado.

70. O senhor começou a construção de umacapela na Serra do Horto. Por quê?— Comecei a construí-la para cumprir um votoque eu e os meus falecidos colegas e amigos, ospadres Manuel Felix de Moura, FranciscoRodrigues Monteiro e Antônio Fernandes Távora,então vigário de Crato, fizemos. Fizemos essevoto com o povo desta terra, ao SantíssimoCoração de Jesus, quando apavorados com osresultados das secas de 1889, receávamos, aliáscom razão justificada, que o ano de 1890 fosse

35

também seco.

71. Por que não concluiu a obra?— Não pude terminar essa obra, é verdade, tãosomente para não desobedecer as ordensproibitórias do meu Diocesano, o então bispo doCeará Dom Joaquim José Vieira. Peço aosbeneméritos padres Salesianos que concluamesse templo de acordo com a planta que eutrouxe de Roma e a miniatura em folhas deflandres, que deixo depositada em lugarseguro.(11)

72. O casamento religioso é necessário?— O casamento religioso é um sacramentoindispensável.

73. E o casamento civil?— O casamento civil é a lei e a segurança dafamília. Não abençôo quem não casa primeiro nocivil. O civil é a lei da Nação, mas é precisotambém a união com a Igreja.

74. Que importância tem o rosário?— Muita gente reza o rosário da Mãe de Deus,porém poucos são os que sabem do valor e daforça do mesmo. Quem o faz com devoção estarálivre de qualquer mal, porque mesmo querendo oindivíduo prejudicar, Nossa Senhora intervém,evitando qualquer desgraça. Rezem o rosário daMãe de Deus, que é quem nos poderá livrar dascalamidades que a maldade e perversidade doshomens estão atraindo para a Terra. Sejam fiéisem rezar cada dia o rosário da Mãe de Deus,

36

mesmo andando pelas estradas, mesmo doentes.Não deixem um só dia de rezar.

75. E o que dizer da seca do Ceará?— Só quem viu 77 entre nós, pode avaliar o queseja o flagelo das secas nos sertões do Norte! Éuma aflição os horrores da seca; parece que ficadeserto o Ceará. Cada cearense deve ser umatrombeta na imprensa e em toda parte, gritandocom toda força, pedindo socorro para o grandenaufrágio do Ceará. Pode ser que esses governos,que têm dever de salvar os Estados nascalamidades públicas, despertem este clamor enão queiram passar por assassinos, deixandomorrer caprichosamente milhares de vidas quepodiam salvar e não querem. Estamos certos quesó a Providência nos dará remédios.

76. Qual o melhor caminho para a salvação daalma?— O sacrifício individual tem sido muitas vezes asalvação. Perdoem, e ainda que as nossaspaixões não queiram perdoar, perdoem, porqueDeus, Nosso Pai, que é dono de nós, manda; e épreciso para nos salvar que perdoemos aos quenos ofendem. Para ganhar o Céu é preciso fazercaridade e não ter inveja de ninguém.

77. O Padre Alencar Peixoto no seu livroJuazeiro do Cariri chegou a duvidar de sua tãopropalada castidade. Como o senhor encarouessa acusação?— Era só o que faltavam dizer contra mim. Até

37

há pouco, atribuíram-me todos os defeitos, masdeixavam comigo a pureza sacerdotal. Agora,arrebatam-me também esta qualidade, e quem ofaz, é aquele que comeu muitas vezes comigo namesma mesa e a quem dispensei todas asatenções que merecem os que nos batem àporta...(12)

78. Foi o senhor quem chamou Lampião aJuazeiro?— Esse homem veio porque mandaram chamá-loutilizando o meu nome.(13)

79. Certa vez, Lampião quis morar com todo oseu bando em Juazeiro, e o senhor oconvenceu a retirar-se, sem lhe causardesgosto. O que o senhor lhe disse?— Aqui não pode ser. Esta cidade é um centro deromaria e de devoção. Aconselho e evito o mal.Nesta terra todos trabalham. Vocês terão quetrabalhar noutra parte. Na cadeia de Recife estáAntônio Silvino, quando poderia estar plantandoe criando numa fazenda. Ninguém pode ter umbom fim, fazendo o mal. Nosso Senhor JesusCristo fez o bem e morreu na cruz, quanto maisquem pratica o mal. Procurem uma casa e sehospedem, até que eu os recomende para bemlonge do Juazeiro.

80. O que o senhor aspira da vida?— Aspiro a um cantinho esquecido e desapegadode tudo, cuidando só de salvar-me.

81. Onde o senhor quer ser sepultado?

38

— Na Capela de Nossa Senhora do PerpétuoSocorro, no cemitério desta cidade, e que meusfunerais sejam feitos com simplicidade, bemcomo sejam rezadas, pelo eterno repouso deminha alma, doze missas em cada ano;igualmente o mesmo número de missas duranteo mesmo tempo pelas almas do purgatório. Deixoa minha propriedade, a fazenda Coxá, encravadanos municípios de Aurora e Milagres, ecompreendendo na mesma área, os sítios Coxápropriamente dito, Contendas, Escondido,Taveiras e Bandeiras, com todas as benfeitorias ecom todos os meus direitos nas minas de cobreque ditas terras possam conter, bem como o sítioLameiro, sito no município de Missão Velha, paraque sejam vendidos e com a importânciaadquirida pela venda dessas mesmaspropriedades sejam pagas as dívidas que possadeixar quando morrer, as despesas do meuenterramento e os sufrágios de minha alma.

82. O senhor deseja fazer alguma mensagemou algum pedido especial aos moradores destaterra?— Aproveito o ensejo para pedir a todos osmoradores desta terra, o Juazeiro, muitoespecialmente aos romeiros, que depois daminha morte não se retirem daqui nem aabandonem; que continuem domiciliados aqui noJuazeiro, venerando e amando sempre aSantíssima Virgem Mãe de Deus, único remédio

39

de todas as nossas aflições, auxiliando amanutenção do culto e de todas as instituiçõesreligiosas que aqui se fundarem, e com especialmenção à dos beneméritos Padres Salesianos,que serão os meus continuadores nas obras decaridade que aqui iniciei. Insistindo, peço, comosempre aconselhei, que sejam bons e honestos,trabalhadores e crentes, amigos uns dos outros,e obedientes e respeitadores às leis e autoridadescivis e da Santa Igreja Católica ApostólicaRomana, no seio da qual tão somente pode haverfelicidade e salvação. Estes conselhos quesempre os dei em minha vida, não me canso derepeti-los aqui, para que depois de minha mortebem gravados fiquem na lembrança deste povo,cuja felicidade e salvação sempre foram objeto daminha maior preocupação.

83. Ao final desta entrevista, quais as suasúltimas palavras?— No céu pedirei a Deus por vocês todos.

40

NOTAS ADICIONAIS1. No batistério de Padre Cícero consta que

seu nascimento ocorreu no dia 23 de março de1844. Mas Padre Cícero, não se sabe ao certo porque razão, sempre comemorou seu aniversárioem 24 de março. Até em documentos oficiais,como é o caso do seu Testamento, ele prefereesta data. O escritor Otacílio Anselmo, em seulivro Padre Cícero, Mito e Realidade (EditoraCivilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1968)apresenta uma explicação para justificar essapreferência do Padre Cícero pelo 24 de março,segundo a qual, o salto de 24 horas "tivera umobjetivo determinado, qual seja o de vincular onascimento do Padre Cícero ao dia 25 de março,que é consagrado pela Igreja à Anunciação deNossa Senhora". E o autor ainda insinua que:"Admitindo-se que a idéia dessa transposição dedata tenha partido dele (Padre Cícero), a fraudese ajusta à vaidade doentia de que foi portador..."

Ora, se fosse,realmente, um caso devaidade doentia, Padre Cícero com mais aprumoteria optado mesmo era pelo próprio dia 25 demarço, pois, véspera de dia santo ou feriado éum dia comum.

2. O pai de Padre Cícero foi comerciante epequeno proprietário na cidade de Crato, ondemorreu em 28 de junho de 1862, vítima da

41

epidemia de cólera-morbo que dizimou parte dapopulação cearense naquela época. A mãe dePadre Cícero era conhecida popularmente porDona Quinô. Morreu em Juazeiro, cega eparalítica, em 5 de agosto de 1914. Padre Cícerotinha duas irmãs, ambas solteiras: MariaAngélica e Angélica Vicência.

3. Padre Cícero foi Vigário de São Pedro doCrato (depois Caririaçu), de 21 de dezembro de1877 a 6 de agosto de 1892, quando foidispensado pelo bispo Dom Joaquim José Vieira,como conseqüência do processo da QuestãoReligiosa decorrente dos chamados milagres dahóstia. Embora fosse Vigário de Caririaçu, PadreCícero continuou residindo em Juazeiro.

4. A Congregação Salesiana cumpriu asdeterminações de Padre Cícero instalando emJuazeiro o Colégio Salesiano São João Bosco.

5. O Apostolado da Oração foi fundado peloPadre Cícero no dia 19 de outubro de 1888 e atéhoje encontra-se em plena atividade na Matriz deNossa Senhora das Dores.

A primeira sexta-feira da Quaresma de1889 caiu no dia 1o de março, data em queocorreu pela primeira vez, publicamente, ofenômeno da transformação da hóstia emsangue. Muitos livros referem-se ao eventodatando-o como tendo sido no dia 6 de março.

6. Os médicos eram os doutores MarcosRodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima. O

42

farmacêutico era o Sr. Joaquim Secundo Chaves.

7. A beata Maria de Araújo, cujo nomecompleto é Maria Magdalena do Espírito Santo deAraújo, nasceu em Juazeiro no dia 24 de maio de1863, conforme suas declarações que estão nodepoimento prestado aos membros da PrimeiraComissão nomeada pelo bispo D. Joaquim JoséVieira para investigar os chamados milagres deJuazeiro. Faleceu no dia 17 de janeiro de 1914,quando estavam em curso os combates daSedição de Juazeiro.

8. Na época, o papa era Leão XIII.

9. Dr. Floro Bartolomeu da Costa eranatural da Bahia, onde se formou em Medicina.Chegou ao povoado de Juazeiro em maio de1908, atraído pelas notícias da existência deminério de cobre nas minas do Coxá, depropriedade do Padre Cícero. Tornou-serapidamente merecedor da confiança do PadreCícero, de quem recebeu todo apoio paraingressar na política. Fundou o jornal Gazeta doJoaseiro. Foi também redator do jornal ORebate, o pioneiro da imprensa juazeirense.Faleceu no Rio de Janeiro em 1926. A ele muitodevem o Padre Cícero e a cidade de Juazeiro.

10. Este prognóstico de Padre Cícero estáplenamente concretizado. Juazeiro não pára decrescer, e é com muita justiça a maior e maisimportante cidade do interior cearense.

11. Até meados da década de 60 ainda se

43

podia ver parte das paredes dessa igreja na Serrado Horto. A miniatura em folhas de flandres, aque se refere o Padre Cícero, encontra-se expostaà visitação pública no seu Museu em Juazeiro doNorte.

12. Padre Alencar Peixoto foi o fundador dojornal O Rebate, referido na nota n. 9. Porquestões políticas fugiu de Crato, refugiando-sena casa de Padre Cícero, de quem recebeu amelhor atenção. Foi um dos baluartes na lutapela independência de Juazeiro. Seu grandedesejo era ser Prefeito de Juazeiro tão logohouvesse a emancipação política do povoado.Mas a escolha ficou com o Padre Cícero, dissoresultando o ódio incontido que o Padre Peixotopassou a devotar ao Padre Cícero, sobre quemescreveu o referido livro.

13. O convite, ao que tudo indica, foi feitodeliberadamente por Dr. Floro Bartolomeu, sendoaté possível que ele tenha usado o nome do PadreCícero (sem autorização deste) para poderconvencer Lampião. A versão, segundo a qual, foiPadre Cícero quem autorizou a concessão dodocumento concedendo a Lampião a patente deCapitão do Exército, espalhada por muitos livros,carece de comprovação. Optato Gueiros, em seulivro Lampião, transcreveu o famigeradodocumento, como tendo sido ditado por PadreCícero ao agrônomo Pedro Albuquerque Uchoa,que o teria assinado por ordem do Padre Cícero.

44

Nele consta que a patente foi lavrada e entreguequando Lampião acompanhado de seu bandoesteve em Juazeiro. O citado documento,conforme está naquela obra, tem a data de 12 deabril de 1926. Mas, acontece que o famosocangaceiro saiu de Juazeiro no dia 9 de março de1926...

45

FONTES DE CONSULTA

As respostas do Padre Cícero às perguntas aquiinseridas foram extraídas literalmente daspublicações abaixo citadas:

– O Patriarca de Juazeiro, Azarias Sobreira,1969.– Padre Cícero, o Santo do Juazeiro, EdmarMorel, Editora Civilização Brasileira, Rio deJaneiro, 1966.– O Padre Cícero que eu conheci, Amália Xavierde Oliveira, 1969.– Mistérios do Joaseiro, M. Diniz, 1935.– Padre Cícero e Juazeiro, Aldenor Benevides,1969.– O Padre Cícero por ele mesmo, TherezinhaStela Guimarães e Anne Dumoulin, EditoraVozes, Petrópolis, 1983.– Cartas do Padre Cícero, Antenor de AndradeSilva, 1982.– Padre Cícero, Reis Vidal, l936.– Padre Cícero: Pessoas, Fatos e Fotos, WalterBarbosa, 1980.– Voz do Padre Cícero, Maria da Conceição LopesCampina, Edições Paulinas, São Paulo, 1985.– A Terra da Mãe de Deus, Luitgarde Oliveira

46

Cavalcanti Barros, Livraria Francisco Alves, Riode Janeiro, 1988.– Homens e Fatos na História do Juazeiro.Fátima Menezes e Generosa Alencar, EditoraUniversitária, Recife, 1989.

47

“A calúnia e a má vontade me perseguem e mefazem sua vítima. Façam de mim o que

quiserem.”

Padre Cícero Romão Batista

48

Segunda ParteDEPOIMENTOS

Padre Cícero era uma pessoa culta?Depoimentos de:

Antônio Alencar AraripeJáder de Carvalho

Edmar MorelLuís Sucupira

Cândido RondonPhillip Von Luetzelberg

Amália Xavier de Oliveira

— "Só na velhice, pelas sinceras provas delealdade durante toda vida do homem, é quepode-se ter a convicção da verdadeira amizade."

—"As ambições e elementos corrosivosmovem os que governam."

—"No terreno político, os homens de valor,por questões de patriotismo não têm direito deser modestos."

—"Há generosidade que não se pode e nemse sabe pagar."

—"Sem a unidade da fé é impossível avitalidade, a grandeza e a inexpugnabilidade de

49

um povo."

Padre Cícero Romão Batista

Antônio de Alencar Araripe, escritor:"Nas centenas de vezes em que estive em suaresidência, onde inexistia biblioteca... aípermanecendo horas a fio, nunca o vi lerqualquer livro, fascículo ou jornal, nem se referirao respectivo conteúdo, a não ser quandoremontava ao seu tempo de estudante ouprofessor".(1)

Jáder de Carvalho, escritor:"Padre Cícero não era o homem culto que muitagente, ainda hoje apregoa... Jamais lhe descobriqualquer traço de intelectualidade". (2)

Edmar Morel, jornalista:"Desgraçadamente o Padre Cícero não tem amorpelo saber, nem culto à literatura. Sempre viveualheio aos livros e sem a amizade de homens devalor cultural. Era um ignorante, sem cultura,mesmo no campo religioso". (3)

Luís Sucupira, escritor:"Padre Cícero era possuidor de elevada culturapara seu tempo, tendo adquirido um lastro bemsólido de conhecimentos intelectuais, como ótimoaluno que foi de História, Geografia e Teologia noSeminário de Fortaleza". (4)

Cândido Mariano da Silva Rondon, militar:"O Padre Cícero tem palestra interessante de

50

letrado. Fala com fluência sobre História,Literatura e Política, discreteando sobre a vidanacional, cujas tricas conhece palmo a palmo".(5)

Phillip Von Luetzelberg, naturalista:"Padre Cícero é um homem que dispõe deinstrução e saber invulgares. Aborda com igualfacilidade a política e a história brasileira; temconhecimentos profundos de história universal,ciências naturais, especialmente quanto àagricultura". (6)

Amália Xavier de Oliveira, educadora eescritora:"Os assuntos de suas palestras eram sempreedificantes; jamais uma conversa fútil e muitomenos leviana". (7)

Qual a contribuição de Padre Cícero para aeducação em Juazeiro?

Depoimentos de:Lourenço Filho

Jáder de CarvalhoOtacílio AnselmoEdmar Morel

Amália Xavier de OliveiraAzarias SobreiraFernandes Távora

Neri FeitosaAntônio Teixeira Junior

51

"Deixo a maior parte dos meus bens para abenemérita e santa Congregação dos Salesianos,a fim de que ela funde aqui no Juazeiro os seuscolégios de educação para crianças de ambos os

sexos".

Padre Cícero Romão Batista

Lourenço Filho, educador e escritor:"Padre Cícero nunca se interessou pela instruçãoe até a tem embaraçado algumas vezes". (8)

Jáder de Carvalho, escritor:"Tive vários encontros com o Padre Cícero. Delejamais consegui um prédio para a instalação deuma escola". (9)

Otacílio Anselmo, militar e escritor"Para um povo carente de instrução, não fundouescolas. Aliás, sua aversão ao ensino foicomprovada em 1922, ocasião em que, comoPrefeito Municipal, não permitiu a instalação deum grupo escolar em Juazeiro".(10)

Edmar Morel, jornalista"Esperava-se, pelo seu contato com os grandescentros científicos, num País onde o Rei dirigiauma cruzada de alfabetização, que o PadreCícero, ao chegar no Juazeiro, cuidasse de abrirescolas primárias e mandasse buscar na capitalprofessores experimentados. O capelão não faznada no terreno educacional. Populações inteirasvivem na ignorância. Só sabem desfiar o rosárionos dedos e cantar benditos... A ele interessa

52

este lamentável estado de cousas. Tivesse umespírito culto, progressista e teria prestado umrelevante serviço ao Brasil, abrindo escolas paraa infância, orfanatos e colégios". Na verdade,abandona o problema educacional, para serpersonagem principal de um ciclo lendário decrendices religiosas". (11)

Amália Xavier de Oliveira, educadora eescritora"O que foi possível fazer o Padre Cícero fez:fundou algumas escolas particulares,gratificando, do próprio bolso, alguns professoresquando as mensalidades recebidas não cobriamsuas despesas com a manutenção. Em 1896, poriniciativa do Padre Cícero, foi instalada a escolafeminina, sob a regência da Professora IsabelMontezuma da Luz. O Orfanato Jesus MariaJosé, iniciado nesta cidade em 1916, teve comofundador o Padre Cícero, coadjuvado por JoanaTertuliana de Jesus. O fim desta instituição queainda hoje existe funcionando com as mesmasfinalidades, foi amparar as crianças do sexofeminino, pobres e órfãos, dando-lhes umaeducação adequada capaz de lhes garantir viverhonestamente, quando pela idade ou outrascircunstâncias tiverem que deixar a tutela daentidade de sua formação. A Associação dosEmpregados do Comércio de Juazeiro, fundadano dia 3 de julho de 1926 sob os auspícios doPadre Cícero, desde a sua fundação teve como

53

objetivo principal a instrução primária dos sóciose de seus dependentes". (12)

Azarias Sobreira, sacerdote e escritor"Não é de hoje que se vem dizendo,ordinariamente com segundas intenções, ser oPatriarca de Juazeiro um obscurantista, figadalinimigo da alfabetização do seu povo. Se,entretanto, nos dermos ao paciente esforço detirar a limpo essa tese sustentada comindisfarçável ênfase, esbarraremos em ilaçõesdiametralmente opostas. É que contra fatos amancheias não podem prevalecer argumentos.Bem ao contrário do que se tem dito, às vezes deoitiva, o Padre Cícero viveu sempre idealizando afelicidade e, portanto, a alfabetização de suagente, na maior escala possível. Apenas se fixouem Juazeiro, embora ali já funcionasse umaescola, andou dando aulas particulares a um ououtro rapazito que lhe pareceram com algumaaptidão e gosto para aprender". (13)

Fernandes Távora, médico, político e escritor"O meu ilustre amigo Lourenço Filho afirma quenão pôde conseguir a boa vontade do PadreCícero no sentido de incrementar a instruçãoprimária em Juazeiro. Eis outro paradoxoaparente, só compreensível e explicável pelos queconheceram intimamente os homens e as coisasdaquela terra. Padre Cícero sempre amou ainstrução e desejou vê-la difundida em suacidade, como poderão dar testemunho diversos

54

moços que, a expensas dele, se educaram desdea escola primária até os cursos superiores. Senão atendeu ao esforçado e digno Diretor daInstrução Pública do Ceará, terá sido por causaestranha à sua vontade". (14)

Neri Feitosa, sacerdote e escritor"Padre Cícero fez as duas coisas: instruiu eeducou seu povo. Quanto à instrução, o PadreCícero fez de Juazeiro um modelo". (15)

Antônio Teixeira Junior, jornalista"Padre Cícero preocupou-se com escolas a pontode no seu testamento legar todos os seus bensaos Salesianos, com a condição de essesreligiosos construírem um colégio". (16)

Era o Padre Cícero um paranóico?Depoimentos de:Nertan Macedo

Helvídio Martins MaiaFernandes Távora

José Leite MaranhãoAntônio Teles

Abelardo F. Montenegro

“Não sou doido! Não sou idiota! Não entendo demagia! O que vos digo, o que vistes, eu ouvi, mefoi predito. Jesus Cristo derramou Seu sangue

para nos salvar. Os que acreditarem, Ele o disse,se salvarão. Ele escolheu este lugar.”

55

Padre Cícero Romão Batista

Nertan Macedo, jornalista e escritor"As quatro pastorais do bispo dom Joaquim,sábias e incisivas, de condenação ao milagre dabeata Maria de Araújo, feriram profundamente oPadre do Juazeiro: na sua paranóia, crença eamor-próprio." (17)

Helvídio Martins Maia, sacerdote e escritor"Após examinarmos, cuidadosamente, opronunciamento de teólogos e cientistas,consideramos o Padre Cícero um paranóico defundo místico e não um louco". (18)

Fernandes Távora, médico, político e escritor"Se analisarmos, com atenção, a vida do PadreCícero, verificaremos que ela foi sempredeficiente, não só em relação à mentalidade,como a outras funções fisiológicas. Bastariam,para justificar esta asserção, os constantesêxtases em que caía, durante horas, e a suaabsoluta castidade, ou melhor, frigidez, por todospropalada. E, realmente, nunca houve quemlobrigasse, na longa vida do velho sacerdote, asombra de uma mulher... Foi nesse organismomioprágico que o choque profundo dodesentendimento com as autoridadeseclesiásticas evidenciou a paranóia. Eu nãoencontro motivos para discrepar do que formulei,há tantos anos e agora reitero, com integralconvicção". (Depoimento de 1943). (19)

56

Fernandes Távora"Padre Cícero era um homem de ótimasqualidades morais, e estas nunca deixaram demanifestar-se no decurso de sua vida patológica:não esqueceu velhas amizades; dava esmolas;educava, por sua conta, grande número demoços pobres...". (Depoimento de 1961). (20)

José Leite Maranhão, psiquiatra e professor"O Padre Cícero teve uma personalidade normal,o seu psiquismo foi hígido e equilibrado com raropoder de autocrítica e inteligência. Sei que étemeroso avançar esta afirmação, numa espéciede perícia póstuma, para juízo dos homenscultos, à luz da ciência e da sociologia. É todavia,um dever de quem o conheceu de perto eacompanhou a sua projeção na história,restabelecer a verdade numa visão históricaserena e científica à luz da psicologia e percepçãosociológica. Posso, pois, afirmar: o Padre Cíceronão é paranóico. Como definir a personalidade doPatriarca? Dentro da classificação biopatológicade Kretschmer, aliás da escola alemã, o PadreCícero é um ciclóide, biótipo admiravelmentecaracterizado na sua organizaçãopsicossomática, e na confluência dos fenômenossociais, políticos e religiosos que o envolveram. OPadre Cícero não é paranóico. Talvez não se devedizer, nem mesmo para exaltar a obra que elerealizou e legou à posteridade de uma grandecidade, um grande povo...". (21)

57

Antônio Teles, médico e escritor"Inimigo político, de longa data, do Patriarca, aquem, muitas vezes, atacou ferozmente pelaimprensa, até injustamente, como ele próprioreconhece, e outrora partidário fanático doCoronel Franco Rabelo apeado do poder pelosbacamartes dos romeiros do Padre Cícero, o sr.Fernandes Távora jamais lhe perdoou adeposição do seu antigo chefe e atirou-lhe, porisso, a pecha de paranóico, como um ajuste decontas póstumo. O diagnóstico de paranóia nãose coaduna com o comportamento do PadreCícero, todo ele balizado pelos princípiosevangélicos da humildade, da abnegação e doamor ao próximo". (22)

Abelardo F. Montenegro, advogado, professor eescritor"Padre Cícero não era um paranóico, ummegalomaníaco ou um paciente digno de umconsultório psicanalítico. Mas, sim, um psicólogoque conhecia perfeitamente o meio e o homem dosertão". (23)

Padre Cícero foi heresiarca?Depoimentos de:

Euclides da CunhaOtacílio AnselmoManoel Diniz

José de Medeiros Delgado

58

“É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenhorevoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidassobre a Fé Católica, nunca disse nem escrevi,nem em cartas particulares, nem em jornais,nem em quaisquer outros escritos nenhuma

proposição falsa, nem herética, nem duvidosa,nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Eucondeno tudo o que a Santa Igreja condena. Sigotudo o que ela manda como Deus mesmo. Quemnão ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como

pagão e publicano. Fora da Igreja não hásalvação.”

Padre Cícero Romão Batista

Euclides da Cunha, escritor"Padre Cícero é um heresiarca sinistro". (24)

Otacílio Anselmo, militar e escritor"Inegavelmente, o Padre Cícero começou bem...Só depois, numa progressão lenta, mascontinuada, ele mudou de rumo, dando umsentido nebuloso ao seu sacerdócio, parafinalmente transformá-lo em heresia, movidopelo impulso de pendores ancestrais (recorde-seque o pai era mitômano) e pela influênciadecisiva do primo e inseparável amigo JoséMarrocos". (25)

Manuel Diniz, advogado, educador e escritor"Heresiarca por que, se Padre Cícero jamaisdeixou de obedecer até mesmo ao zeloinexplicável dos seus superiores?". (26)

59

José de Medeiros Delgado, arcebispo e escritor"Padre Cícero teve mil oportunidades para serum heresiarca e não o foi. Pôde erguer oestandarte do cisma e não o fez". (27)

Padre Cícero foi líder?Depoimentos de:Leandro Konder

Helvídio Martins MaiaAyres de Montalvo

Napoleão Tavares NevesNeri Feitosa

“Sou responsável por este povo. Por elesacrificarei até minha vida.”

Padre Cícero Romão Batista

Leandro Konder, escritor"Padre Cícero era um líder de massascomprometido com o atraso das massas queliderava". (28)

Helvídio Martins Maia, sacerdote e escritor"Padre Cícero era um líder de fanáticos". (29)

Ayres de Montalvo, escritor"Padre Cícero foi o maior líder natural que já deuo nosso povo. Um líder verdadeiro a cujainfluência bem pouca gente pôde ficarindiferente: ou o amava ou o odiava". (30)

60

Napoleão Tavares Neves, médico e escritor"Padre Cícero foi, inquestionavelmente, umgrande líder popular e religioso, líder realmentecarismático, com uma extraordinária visão dofuturo e uma ímpar capacidade de prever paratentar prover". (31)

Neri Feitosa, sacerdote e escritor"No Brasil, não consta que alguém já tenha tidouma liderança maior e mais duradoura que a doPadre Cícero". (32)

Padre Cícero é santo?Depoimentos de:Rodolpho TeófiloHélder Câmara

Raquel de QueirozAntoine Vergote

Sebastião NegreiroHermínio B. De Oliveira

“Todos ainda podem ser santos, assim queiram eobedeçam ao chamado de nosso bom Deus que,ainda mais do que nós, quer fazer-nos santos

com Ele no Céu.”

Padre Cícero Romão Batista

Rodolpho Teófilo, escritor"Padre Cícero se passava por santo". (33)

Hélder Câmara, arcebispo e escritor

61

"Faltou competência à Igreja Brasileira paracanonizá- lo, mas santo ele era". (34)

Raquel de Queiroz, escritora"Padre Cícero é o nosso santo". (35)

Antoine Vergote, sacerdote, filósofo epsicanalista"Pessoalmente, considero-o um padre santo.Lamento que as autoridades da Igreja tenhamsido mal informadas a seu respeito e espero queelas reconheçam, um dia, oficialmente, o valorhumano e religioso excepcional desse padre". (36)

Sebastião Negreiro, jornalista"Padre Cícero foi o santo que abalou os sertões".(37)

Hermínio B. de Oliveira, sacerdote e escritor"O Padre Cícero é um desses santos populares,canonizado pelo povo, como muitos por aí. É tidocomo alguém que viveu entre eles, que conheceusuas necessidades e com quem eles seidentificam e em quem podem confiar. Istoexplica a veneração do nordestino à sua pessoa".(38)

Padre Cícero pode ser chamado de coronel?Depoimentos de:

Maria de Lourdes M. JanottiJosé Fábio Barbosa da Silva

Rui FacóJosé Boaventura de Sousa

62

Francisco Régis Lopes RamosNeri Feitosa

Daniel Walker

“Apesar das bruscas mutações da políticacearense, sempre procurei conservar-me em

atitude discreta, sem apaixonamentos, evitandosempre as incompatibilidades que pudessemdeterminar choques de efeitos desastrosos.”

Padre Cícero Romão Batista

Maria de Lourdes M. Janotti, escritora"Padre Cícero foi o mais célebre de todos oscoronéis". (39)

José Fábio Barbosa da Silva, professor eescritor"Padre Cícero também era o coronel dono deimensa força política que passou a representaros romeiros, quando Juazeiro se tornouindependente. O Padre Cícero também possuía ostatus mais elevado, mais alto que o dos coronéistradicionais". (40)

Rui Facó, jornalista"Por que o Padre Cícero desfrutando de enormepopularidade, dispondo de tudo quanto fazia dealguém um coronel, por que não seria ele umcoronel? Apenas porque vestia batina,ordenara-se padre, fazia milagres? Na verdade,nada diferenciava o Padre Cícero Romão Batista

63

de qualquer dos latifundiários da zona. Utilizou,e em grande escala, os mesmos métodosfamiliares àqueles, como dar abrigo a capangas ecangaceiros e aproveitá-los ou permitir queoutrem os aproveitassem para a consecução deobjetivos políticos que também eram os seus".(41)

José Boaventura de Sousa, historiador eprofessor"Padre Cícero foi um coronel, mas um coroneldiferente da conotação que a sociologia aponta.Não foi um coronel explorador, foi um coronelporque todos o procuravam como um líder". (42)

Francisco Régis Lopes Ramos, historiador eescritor"Padre Cícero alia-se aos coronéis, mas não setorna um deles. Suas atitudes são deapadrinhamento, de um protetor dosdesclassificados, de um conselheiro e não de umpolítico ou coronel". (43)

Neri Feitosa, sacerdote e escritor"Ele não tinha patente militar nem da GuardaNacional. Ninguém o chamou oralmente decoronel. Por escrito, deram-lhe este epíteto porhipérbole e por analogia". (44)

Daniel Walker, professor e escritor"A pecha de coronel, no sentido como o termo éusado e entendido no Nordeste, não se coadunacom o comportamento e a personalidade doPadre Cícero. Ninguém conhece registro da

64

existência de armas em sua casa ou de capangasa sua disposição, coisas muito comuns aoscoronéis de que fala a literatura". (45)

Que participação teve o Padre Cícero naRevolução de 1914?Depoimentos de:Otacílio AnselmoRodolpho TeófiloEdmar Morel

Ralph Della CavaIrineu Pinheiro

C. Livino de CarvalhoAzarias Sobreira

Amália Xavier de OliveiraFloro Bartolomeu da Costa

“Posso afirmar, sem nenhum peso deconsciência, que não fiz revolução, nela não

tomei parte, nem para ela concorri, nem tive nemtenho a menor parcela de responsabilidade,

direta ou indiretamente, nos fatos ocorridos. Nãotenho culpa de que, por um despeito

mal-entendido e de ordem política, houvesse eainda exista quem me queira tornar por ela

responsável. Estou certo de que, quando se fizera verdadeira luz sobre esses fatos, meu nome

realçará limpo como sempre foi.”

Padre Cícero Romão Batista

65

Otacílio Anselmo, militar e escritor"O movimento armado foi organizado por Floro eliderado pelo Padre Cícero. Deflagrado omovimento, o Padre Cícero pretendeu estendê-loa outros municípios. Neste intuito mandou Floroe Pedro Silvino a Missão Velha, à frente denumerosa comitiva armada, onde esperavareceber a adesão de Domingos Furtado, JoséInácio e Manoel Chicote". (46)

Rodolpho Theophilo, escritor"O Padre Cícero esperava o momento oportunopara insurgir-se contra o governo do Estado.Manhoso e precavido, ia contemporizando,sujeitando-se a certas exigências dos poderespúblicos dentro dos seus domínios, à espera daordem de ataque do Rio de Janeiro. Nãoprecisava ser muito arguto para verificar que oPadre Cícero agia de comum acordo com oGoverno Federal. Caso a deposição de FrancoRabelo não pudesse ser feita em Fortaleza pelosmarretas, começaria por um movimentosedicioso em Juazeiro, promovido pelo PadreCícero Romão Batista, e viria sobre a capital doEstado. (47)

Edmar Morel, jornalista e escritor"O Padre Cícero arquitetou uma revolução paraalijar o coronel Franco Rabelo do governo...Franco Rabelo foi deposto pelos cangaceiros doPadre Cícero e Floro Bartolomeu, com o dinheirofácil do Banco do Brasil, mandado pelo Senador

66

Pinheiro Machado, o dono do País." (48)

Ralph Della Cava, historiador"Contrariamente à maioria das interpretaçõestanto contemporâneas quanto atuais, parececerto que o Cel. Antônio Luís foi o arquitetoprincipal do plano no Cariri; Floro foi oexecutor-chefe e Padre Cícero, seu cúmpliceatônito e indeciso. É hoje evidente que nãopoderia ter sido de outra forma. Antônio Luís,primo-irmão do ex-governador Accioly, chefedeposto do Crato, antigo deputado estadual eoutro "Grande Eleitor" de todo o Vale do Cariri,era quem mais tinha a lucrar com a "revolução".Além disso, tratava-se de um político experiente,enquanto Floro não conhecia uma únicapersonalidade política do Ceará e jamais estiveraem Fortaleza! Somente depois de ter ido ao Riode Janeiro, em agosto de 1913, travou relaçõescom os Accioly, com o senador Cavalcante e como próprio Pinheiro Machado! Admite-se queAntônio Luís e Floro não foram os únicosconspiradores. Havia, ainda, o imprevisível JoãoBrígido, redator-chefe do jornal "O Unitário", aprimeira pessoa a partir para o Rio de Janeiroem 1913 com o fim de conspirar contra o governode Franco Rabelo." (49)

Irineu Pinheiro, médico e escritor"Em seu testamento declarou o Padre Cícero demodo textual: "Não fiz revolução, nela não tomeiparte, nem para ela concorri, nem tive, nem

67

tenho a menor parcela de responsabilidade,direta ou indiretamente nos fatos ocorridos". Maso que se pode afirmar é que sem o apoio do PadreCícero não teria sido possível ao Dr. Floro, chefeostensivo da revolução, conduzir de Juazeiro umromeiro sequer para enfrentar as forçaslegalistas daquele tempo". (50)

C. Livino de Carvalho, escritor"Foi o Dr. Floro o inspirador e chefe absoluto darebelião do Juazeiro, que, levada a bom termo,logrou derribar o governo estadual do coronelFranco Rabelo. Nessa empresa, de que recolheriahonra e preitos, usou dos romeiros do PadreCícero o qual lhe emprestava a força da própriainfluência e prestígio." (51)

Azarias Sobreira, padre e escritor"Padre Cícero em tempo algum pretendeu armarsua gente contra quem quer que fosse. Normainvariável de seu viver até os setenta anos, suapolítica era toda de paz e boa vizinhança. Foi achegada de Floro em 1908, a sua gradativaascendência sobre o guia espiritual daqueleaglomerado humano, que a tudo imprimiu novadiretriz. Foi Floro quem, ao apagar das luzes de1913, acendeu o facho da rebelião popular, queteve por epílogo a deposição do Governador doEstado Marcos Franco Rabelo. Diga-se,entretanto, de passagem, que, se Franco Rabelonão houvesse sido inepto e desavisado, Juazeironunca teria pensado em pegar em armas para

68

depô-lo. Porque é inegável que o militar que tinhaentão as rédeas do Governo Estadual, desdemuito afastado no Sul do País, ignorava osanseios da alma cearense naquele agitadomomento político. Certamente por isto, admitiu aseu conselho figuras inexpressivas e sempassado, sequiosas de reivindicações absurdas eressumantes de malquerenças individuais.Dentre eles não faltava quem apontasse adestruição de Juazeiro como um fato digno detodos os louvores. Reduzir a cinzas a terra doPatriarca, eis o que se impunha. Afirmavam istonas ruas de Fortaleza e seus partidários orepetiam pelo interior, criando, assim, nosertanejo conformista, paulatina predisposiçãopara uma reação armada. Insuflados por taismentores, rapazes situacionistas, porventura sobo incentivo de libações alcoólicas, faziamruidosas serenatas, indo, às vezes, proferirexpressões equívocas, em noites de luar, bemperto da residência do Padre Cícero.Enquantoisto, os políticos decaídos, sabedores de tudo esaudosos da administração Acioli recém-apeadado poder, instavam com Floro Bartolomeu nosentido de se desvencilhar de Franco Rabelo,prometendo-lhe irrestrito apoio do GovernoFederal. Choviam argumentos sobre argumentos.Sucediam-se emissários do partido aciolinodesarvorado, suplicando ao Padre Cícero quesalvasse o Ceará daquele a quem chamavamdéspota da demagogia. E já que ninguém

69

dispunha de elementos e prestígio paraempunhar o estandarte da inconfidência, que ele,Padre Cícero, não hesitasse em assumir taldecisão, ainda com sacrifício de seu passado deanjo da paz! Cedeu, enfim, o Patriarca, mas sementusiasmo. Só o fez depois que lhe asseveraram,insistentemente, que não se faria precisoderramar sangue: bastaria reunir em Juazeiro osdeputados dissidentes, armar algumas centenasde homens e declarar deposto o Governo doCeará." (52)

Amália Xavier de Oliveira, educadora eescritora"Todo brasileiro, todo cearense, todo juazeirense,precisa saber que aquela revolução, que teve porpalco Juazeiro do Padre Cícero pelo fato de haverrebentado aqui no dia 9 de dezembro de 1913, foium movimento de ordem política, orientado eapoiado, material e moralmente pelos altospoderes da República e que, membros da altacúpula política da oposição, deram ao Dr. FloroBartolomeu, a incumbência de chefiá-la.Infelizmente ainda hoje há quem, ou por má fé,ou por não conhecer as causas da mesmarevolução, dê a responsabilidade de tudo aoPadre Cícero. (53)

Floro Bartolomeu da Costa, médico, jornalistae político"Será possível que não se saiba ainda hoje quefui eu o chefe da revolução do Juazeiro e o único

70

responsável por ela? Já está por demais repisadoeste caso. Esse movimento que, por motivos deordem especial, fiz irromper no Juazeiro, não foinem podia ter sido sustentado somente porcangaceiros e por fervorosos adeptos daquelesacerdote, porquanto, com a causa que odeterminou, estava grande parte da populaçãocearense, constituída dos religionários do grandepartido em oposição ao governo.(54)

Padre Cícero deu alguma contribuição para odesenvolvimento regional?

Depoimentos de:Otacílio AnselmoEdmar MorelRui Facó

Irineu PinheiroAriosto Holanda

Mário Souto MaiorJoão Alves de Melo

“Todos os dinheiros que me foram dados, comoofertas feitas a mim unicamente, os tenho

distribuídos em atos de caridade que estão noconhecimento de todos, bem como em grandes e

vantajosas obras de agricultura...”

Padre Cícero Romão Batista

Otacílio Anselmo, militar e escritor

71

"Enclausurado num recanto do sertão emcontato apenas com tabaréus, o Pe. Cícero nãopoderia realizar a obra social e religiosa que lheatribuem seus apologistas, isto porque lhefaltavam o equilíbrio mental, a cultura e a visãode um Ibiapina, por exemplo".(55)

Rui Facó, jornalista"Padre Cícero contribuiu decisivamente parafomentar a agricultura no Cariri e fundou umacidade que, poucos anos mais tarde, seria asegunda do Estado, depois da Capital". (56)

Irineu Pinheiro, médico e escritor"Sem auxílio dos governos da União e do Estado,Padre Cícero canalizou espontaneamente parauma das porções mais férteis do Ceará umaintensa migração de elementos puramentenacionais, pacíficos e trabalhadores... Lucroueminentemente o Cariri com a imigração dosromeiros. Sob esse ponto de vista foi o PadreCícero - não há duvidar - um dos maiores fatoresde progresso da vida econômica sul cearense".(57)

Ariosto Holanda, político e professor"Três preocupações orientaram a ação política doPadre Cícero: a) atacar de frente o problema dassecas periódicas que flagelavam os sertões; b)industrialização do interior nordestino e c)transformação dos hábitos e costumes locaismediante educação do sertanejo. Inicia aconstrução de diversos açudes com a ajuda de

72

mão-de-obra dos romeiros e depois vem atuar demaneira decisiva na criação e estruturação daantiga Inspetoria Federal de Obras Contra asSecas junto com Arrojado Lisboa. Incentiva aconstrução de usinas de beneficiamento dealgodão e outras leguminosas. Sonha com aprodução de cobre na área do Coxá, tendo trazidoengenheiro de minas da França para a realizaçãode estudos de prospecção geológica do Cariri.Finalmente, entusiasmado com o que viu naItália, sonha com a implantação de escolasprofissionais salesianas, educando as populaçõessertanejas. Pode-se, contudo, constatar que amaior contribuição histórica do Padre Cíceropara as mudanças estruturais do Ceará e doNordeste foi a de conseguir transformar o modode produção sertaneja, mediante a organizaçãoda produção artesanal, tirando sua característicade eventual e esporádica, dando-lhe um caráterpermanente e profissionalizando o artesão.(58)

Mário Souto Maior, escritor e etnólogo"0 problema habitacional mereceu, da parte doPadre Cícero, uma atenção toda especial". (59)

João Alves de Melo, economista"Padre Cícero foi um dos primeiros cidadãosnordestinos a clamar pela Região. Clamar pormelhores condições de vida. Clamar poreducação. Clamar por verdadeiras oportunidadesde trabalho. (60). Vejam estas característicasanotadas por diversos estudiosos: vigoroso

73

propulsor do desenvolvimento; orientador econdutor investido de responsabilidade social;solidariedade, integração e ação comunitária;promoção do homem; planejamento de fábricas;contribuição ao desenvolvimento agrícola,econômico e cultural. Ninguém duvida que essascaracterísticas sejam de uma instituição social,de desenvolvimento, como o Banco do Nordeste.Mas seus autores estavam se referindo ao PadreCícero".(61)

74

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS01. Antônio de Alencar Araripe, O Padre

Cícero I, in O Povo, de 29.12.1970, apud HelvídioMartins Maia, Pretensos Milagres em Juazeiro,Petrópolis, 1974, p. 52.

02. Jáder de Carvalho, A Gazeta deNotícias, de 22.7.1973, apud Helvídio MartinsMaia, o.c. p. 52.

03. Edmar Morel, Padre Cícero, o Santo doJuazeiro, 2ª ed., Rio de Janeiro, EditoraCivilização Brasileira, 1966, pp.126 e 127.

04. Luís Sucupira, A Perpétua Fisionomiado Padre Cícero, in Memorial da Celebração doCentenário de Ordenação Sacerdotal do PadreCícero Romão Batista, Fortaleza, EmpresaEditora A Fortaleza, 1970, p. 12.

05. Trecho extraído do Relatório da visitafeita ao Padre Cícero pelo Marechal Rondon, aserviço do Governo Federal em 1922.

06. Phillip Von Luetzelberg, EstudoBotânico do Nordeste, Rio de Janeiro, Ministérioda Viação e Obras Públicas, 1923, p. 59.

07. Amália Xavier de Oliveira, O PadreCícero que eu conheci, Rio de Janeiro, 1969, p.14.

08. Lourenço Filho, Juazeiro do Padre

75

Cícero, 3ª ed., Rio de Janeiro, EdiçõesMelhoramentos, s/d, p. 186.

09. Jáder de Carvalho, apud HelvídioMartins Maia, o.c., p. 52.

10. Otacílio Anselmo, Padre Cícero Mito eRealidade, Rio de Janeiro, Editora CivilizaçãoBrasileira, 1968, p. 62.

11. Edmar Morel, o.c., p. 43.

12. Amália Xavier de Oliveira, o.c., pp.238,241,242 e 243.

13. Azarias Sobreira, O Patriarca deJuazeiro, Juazeiro, 1969, pp. 173 e 174.

14. Fernandes Távora, Algo de Minha Vida,apud Azarias Sobreira, o.c., p. 183.

15. Neri Feitosa, O Padre Cícero e a Opçãopelos Pobres, São Paulo, Edições Paulinas, 1984,pp. 97 e 100.

16. Antônio Teixeira Junior, revista OCruzeiro, 6.1.1971.

17. Nertan Macedo, O Padre e a Beata, Riode Janeiro, Edições O Cruzeiro, s/d, p. 68.

18. Helvídio Martins Maia, o.c., p. 11.

19. Fernandes Távora, O Padre Cícero,Considerações sobre sua Mentalidade e Ação

Social, in Revista do Instituto do Ceará,Fortaleza, Ano LVII, vol. 53, 1943, apud AntônioTeles, Padre Cícero nas Pegadas do Mestre,Juazeiro, 1985, pp. 25 e 26.

20. Idem, apud Azarias Sobreira, o.c., p.

76

181.

21. José Leite Maranhão, Padre CíceroParanóico?, in Revista do Instituto do Ceará,Fortaleza, LXXX, 1966, apud Antônio Teles, o. c.,pp. 41 e 47.

22. Antônio Teles, o.c., pp. 32 e 39.

23. Abelardo F. Montenegro, História doFanatismo Religioso no Ceará, Fortaleza, EditoraA. Batista Fontenele, 1959, p. 55.

24. Euclides da Cunha, Os Sertões, apudDaniel Walker Almeida Marques, O PensamentoVivo de Padre Cícero, São Paulo, Martin ClaretEditores, 1988, p. 56.

25. Otacílio Anselmo, o.c., p 164.

26. Manuel Diniz, Mistérios do Juazeiro,Juazeiro, Tipografia do O Juazeiro, 1935, p. 45.

27. José de Medeiros Delgado, PadreCícero, Mártir da Disciplina, Documento Pastoral,Fortaleza, 1970, p. 81.

28. Leandro Konder, apud Edmar Morel,o.c., orelha.

29. Helvídio Martins Maia, o.c., p.187.

30. Ayres de Montalvo, apud AzariasSobreira, o.c., p. 83.

31. Napoleão Tavares Neves, O Que Pensode Padre Cícero Romão Batista, crônica,22.7.1991, apresentada na Rádio Progresso deJuazeiro do Norte.

32. Neri Feitosa, o.c., p. 169.

77

33. Rodolpho Teófilo, A Sedição de Juazeiro,São Paulo, Edição Revista do Brasil, 1922, p. 61.

34. Hélder Câmara, apud Daniel WalkerAlmeida Marques, o.c., p. 61.

35. Raquel de Queiroz, apud Amália Xavierde Oliveira, o.c., p. 7.

36. Antoine Vergote, Padre Cícero: SantoPopular e Figura Paternal, palestra proferida no ISimpósio Internacional sobre o Padre Cícero e osRomeiros de Juazeiro do Norte, 18.4.1988.

37. Sebastião Negreiro, revista O Cruzeiro,10.11.1970.

38. Hermínio B. De Oliveira, FormaçãoHistórica da Religiosidade Popular no Nordeste,São Paulo, Edições Paulinas, 1985, pp. 102 e103.

39. Maria de Lourdes M. Janotti, OCoronelismo, uma Política de Compromissos, SãoPaulo, Editora Brasiliense S.A., 1981, p. 73.

40. José Fábio Barbosa da Silva,Organização Social de Juazeiro e Tensões entre

Litoral e Interior, in Sociologia, vol. XXIV, n° 3,setembro de 1962, Fundação Escola de SociologiaPolítica de São Paulo.

41. Rui Facó, Cangaceiros e Fanáticos, 3ªed., Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira,1972, p. 161.

42. José Boaventura de Sousa, apudDaniel Walker Almeida Marques, o.c., p. 71.

78

43. Francisco Régis Lopes Ramos,Caldeirão, Fortaleza, Editora da UniversidadeEstadual do Ceará, 1991, pp. 101 e 102.

44. Neri Feitosa, o.c., pp. 172 e 173.

45. Daniel Walker, A Importância de PadreCícero para Juazeiro, palestra proferida no CentroEducacional Professor Moreira de Sousa,20.04.1984.

46. Otacílio Anselmo, o.c., p. 401.

47. Rodolpho Theophilo, o.c., p. 63.

48. Edmar Morel, O Povo, 7.1.1978, apudAntônio Feitosa, Falta um Defensor para o PadreCícero, São Paulo, Edições Loyola, 1983, p. 106.

49. Ralph Della Cava, Milagre em Joaseiro,2ª ed.,Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985, pp. 225e 226.

50. Irineu Pinheiro, O Juazeiro do PadreCícero e a Revolução de 1914, Rio de Janeiro,Irmãos Pongetti Editores, 1938, p. 168.

51. C. Livino de Carvalho, A Couvada,Egastenia, A Tomada do Crato, Recife, EdiçõesGERSA, 1959, p. 80.

52. Azarias Sobreira, o.c., pp. 213 a 215.

53. Amália Xavier de Oliveira, o.c., pp. 190e 191.

54. Floro Bartolomeu da Costa, Juazeiro e oPadre Cícero, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional,1923, p. 89.

55. Otacílio Anselmo, Padre Cícero, Mito e

79

Realidade, Rio de Janeiro, Editora CivilizaçãoBrasileira, 1968, p. 62.

56. Rui Facó, Cangaceiros e Fanáticos, 3ªedição, Rio de Janeiro, Editora CivilizaçãoBrasileira, 1972, p.134.

57. Irineu Pinheiro, O Joaseiro do PadreCícero e a Revolução de 1914, Rio de Janeiro,Irmãos Pongetti Editores, 1938, p. 170.

58. Ariosto Holanda, Padre Cícero e aMudança do Ceará-II, in jornal Diário do Nordeste,Fortaleza, 26.03.1994.

59. Mário Souto Maior, Ecólogo ouFuturólogo?, in Jornal do Commercio, Recife,25.03.1994.

60. João Alves de Melo, Mensagem, inrevista Memorial, Juazeiro do Norte, março de1994.

61. Discurso proferido por ocasião dolançamento da revista Memorial, em Juazeiro doNorte, no dia 18.04.1994.

80

“Sempre perdoei e perdôo todas as calúnias eperseguições com que procuram oprimir-me, sem

temor de consciência nem piedade.”

Padre Cícero Romão Batista

Terceira ParteACUSAÇÕES E PUNIÇÕES

Padre Neri Feitosa mediante exaustivapesquisa conseguiu reunir num artigo que éparte do seu livro Padre Cícero e a opção pelospobres (Edições Paulinas, São Paulo, 1984) aspunições, proibições e censuras eclesiásticas aque foi submetido o Padre Cícero. Segundo ele,Padre Cícero foi quem mais sofreu sanções daIgreja em todo o curso da História.

Padre Neri anotou que Padre Cícero foi:

a) Proibido de:- benzer objetos de piedade, ou outro qualquer;- abençoar as pessoas;- receber romeiros e visitas;- falar com pessoas de casa; de falar nosmilagres;

81

- expor a imagem do Coração de Jesus adquiridana Europa, a qual teve de ser benta de novo;- pregar, confessar e administrar sacramento;- dirigir almas;- batizar meninos privadamente;- dar a comunhão;- confessar-se;- receber presentes;- ser padrinho;- celebrar;- fazer a Igreja do Sagrado Coração de Jesus,embora fosse promessa alcançada;- fazer a capela do cemitério;- todas as ordens sagradasb) Obrigado a:- desdizer-se do púlpito;- denunciar mais de uma vez os fatosextraordinários;- fazer repetidos atos de submissão;- combater a "idéia supersticiosa de santidadeque lhe atribuem os romeiros"- pôr fim às romarias ou sair da diocese(portanto, do Ceará);- declarar para o povo que quem cresse nos fatoscondenados ficaria privado dos sacramentos atéem artigo de morte;- declarar para o povo que não pode e não quercomunicar-se com romeiros ou visitantes;- restituir todo dinheiro recebido do povo;- mandar recolher e queimar os livros eopúsculos escritos em defesa dos acontecimentos

82

de Juazeiro.c) Acusado de:- fazer revolução armada;- ter reformado o Estatuto da Legião da Cruz;- colaborar com Antônio Conselheiro, deCanudos;- reter armas da revolução;- querer subornar os cardeais com o dinheiro daLegião da Cruz;- ter batizado, sem poder, um menino de 7 anos;- abençoar o povo como os bispos, com trêscruzes;- saber o paradeiro de panos roubados no Crato;- tornar elástico o princípio teológico que diz:"Não há reserva em artigo de morte";- profanar o Santíssimo Sacramento;

Até aqui, o que anotou Padre Neri. Aforaisto, foi também o Padre Cícero acusado deconceder a Lampião a patente de Capitão doExército; passar-se por Santo; forjar os milagresda hóstia em parceria com a beata Maria deAraújo e o Professor José Marrocos; patrocinarcampanhas e livros em seu louvor; e de pregardoutrina contrária aos ensinamentos da Igreja.

Por ser uma figura polêmica, ao PadreCícero foram atribuídos muitos predicativos paraexaltar e denegrir a sua imagem. Eis alguns,extraídos de uma extensa relação anotada peloPadre Antônio Feitosa no seu livro Falta umdefensor para o Padre Cícero (Edições Loyola,

83

São Paulo, 1983).

A FAVOR: santo, mártir, taumaturgo,missionário, anjo da paz, apóstolo, patriarca,culto, piedoso levita, conciliador, Anchieta doSéculo XX, etc., etc.

CONTRA: embusteiro, farsante, adúltero, ladrão,desequilibrado, paranóico, falsário, opinioso,pirrônico, inculto, analfabeto, revolucionário,fanático, retardatário, ignorante, megalômano,caviloso, insubmisso, desobediente, rebelde,mentiroso, hipócrita, fraudulento, mistificador,impostor, psicopata, coronel, monstro; diabo,satanás, etc., etc...

84

“Se a esperança é a última que morre, assimcomo Paulo VI suspendeu a censura geradora decisma ao bispo de Constantinopla e João Paulo II

sugeriu revisão no processo de Galileu esuspensão da censura, nunca será tarde esperar

que se faça justiça ao Padre Cícero e fazervalerem as conclusões da primeira comissão de

investigação.”

Padre Neri FeitosaEm Eu defendo o Padre Cícero, 1983, p. 83)

Quarta PartePENSAMENTOS

Sobre Deus

Deus está sobre tudo e é providência atédas folhas que caem das árvores, quanto mais denós que somos seus filhos. E é certo: o bem queEle não nos dá não o teremos; e o mal de quenão nos livrar virá sobre nós.

Sempre é mais seguro obedecer a Deus doque aos homens.

Deus é dono de todas as coisas e dirige o

85

homem por caminhos que só Ele sabe.

Deus perdoa ainda o pior pecador, masexige arrependimento sincero.

Deus nunca deixou trabalho semrecompensa nem lágrimas sem consolação.

Sobre o casamento

O casamento religioso é um Sacramentoindispensável. O casamento civil é a lei e asegurança da família. Não abençôo quem nãocasa primeiro no civil. O civil é a lei da Nação,mas é preciso também a união pela Igreja.

Sobre Juazeiro do Norte

Esta cidade é um centro de romaria e dedevoção.

Aqui tem sido o refúgio dos náufragos davida.

Sobre o rosário

Muita gente reza o rosário da Mãe de Deus,porém poucos são os que sabem do valor e daforça do mesmo. Quem o faz com devoção estarálivre de qualquer mal, porque mesmo querendo oinimigo prejudicar, Nossa Senhora das Doresintervém evitando qualquer desgraça.

Rezem o rosário da Mãe de Deus que équem nos poderá livrar das calamidades que amaldade e a perversidade dos homens estãoatraindo para a terra.

Sobre a seca

É uma aflição os horrores da seca; parece

86

que fica deserto o Ceará.

Sobre a Revolução de 1914

Posso afirmar, sem nenhum peso deconsciência, que não fiz revolução, nela nãotomei parte nem para ela concorri nem tive amenor parcela de responsabilidade direta ouindiretamente.

Sobre Dom Bosco

Dom Bosco sabia o segredo de corrigir semmolestar. O seu saber assombrou os centrosmais cultos do mundo.

Sobre a Beata Maria de Araújo

A vida dessa criatura é uma maravilha degraça de Deus.

Sobre o nacionalismo

Precisamos de uma nacionalismointeligente, sadio, sem embargos de espírito decordialidade, de fraternidade mesmo, que deveexistir entre as nações, unindo os povos, masrespeitando-se a integridade territorial de cadapaís, que os seus filhos receberam dosantepassados e devem transmitir intata àgerações futuras. A exploração das nossasflorestas, do nosso solo, das nossas minas eenfim, de todas as riquezas da nossa Pátriapertence aos brasileiros e aos seus governos quetrabalham e querem o seu engrandecimento.

Sobre a guerra

Que horror é a guerra! Não há dúvida, é o

87

começo do fim. É Deus obrigado a castigar aTerra com severidade.

Sobre o perdão

Perdoem, e ainda que as nossas paixõesnão queiram perdoar, perdoem, porque Deus,Nosso Pai, que é dono de nós, manda; e é precisopara nos salvar que perdoemos aos que nosofendem.

Sobre o Catolicismo

Não há mais dúvida de que a religião boa éa nossa - a Católica Apostólica romana.

Sobre a calúnia

Muito pode a calúnia feita e movida comaudácia.

Sobre educação religiosa

Sem educação religiosa perfeita não háagremiação que progrida e seja útil a si, àfamília, à sociedade e à Pátria.

Sobre a gratidão

A gratidão com certeza é uma virtude docéu.

Seu pensamento clássico

Quem bebeu, não beba mais. A cachaça éum poderoso enviado agente de Satanás. Quemmatou, não mate mais. Ninguém tem o direito deofender o seu semelhante. Só Deus tem o poderde tirar a vida de suas criaturas. Quem roubou,não roube mais. Quem rouba vai para o inferno.Quem mentiu, não minta mais. A mentira é filha

88

do Diabo e o mentiroso, seu encarregado.

***

OUTRAS OBRAS DO AUTORGRÁTIS PELA INTERNET

Pequena biografia de Padre CíceroPadre Cícero e a Educação AmbientalPadre Cícero na ótica do prof. Daniel WalkerComo Elaborar Trabalhos Escolares (Manual paraestudantes de ensino fundamental e médio)

Pedidos pelo:E-mail: [email protected]

89

© 1999, 2008 Daniel Walker

pdf: eBooksBrasil.org — Maio 2008

Proibido todo e qualquer uso comercial.Se você pagou por esse livro

VOCÊ FOI ROUBADO!Você tem este e muitos outros títulos

GRÁTISdireto na fonte:eBooksBrasil.org

90