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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
MÁRCIO DA SILVA RIBEIRO
PADRÕES DE LEITURA DE PALAVRAS, NÚMEROS E LETRAS EM SISTEMA BRAILLE DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
São Paulo 2017
MÁRCIO DA SILVA RIBEIRO
PADRÕES DE LEITURA DE PALAVRAS, NÚMEROS E LETRAS EM SISTEMA BRAILLE DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento
da Universidade Presbiteriana Mackenzie para
obtenção do título de Mestre em Distúrbios do
Desenvolvimento.
Orientador: Profª. Drª. Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira
Co-Orientador: Profº. Dr. Elizeu Coutinho Macedo
Linha de Pesquisa:
Estudo do desenvolvimento e seus transtornos na área clínica, cognitiva, comportamental e epidemiológica.
São Paulo 2017
R484p Ribeiro, Márcio da Silva. Padrões de leitura, números e letras em sistema Braille de
alunos com deficiência visual / Márcio da Silva Ribeiro – São Paulo, 2017.
100 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2017.
Orientadora: Maria Cristina Triguero Velox Teixeira Bibliografia: f. 89-94
1. Deficiência visual. 2. Sistema Braille. 3. Leitura. I. Teixeira, Maria Cristina Triguero Velox. II. Título.
CDD 371.911
AGRADECIMENTOS
Ao eterno Deus que habita minha mente e coração, dando-me a capacidade
de dia a dia refletir sobre o que posso fazer e aquilo que se mostra impossível o
mesmo Deus toma pra si as minhas dificuldades.
Ao meu pai Lúcio Virgínio e minha mãe Joaninha Batista que dedicaram sua
vida ao meu cuidado e até hoje, que sempre lutaram por mim e meus irmãos Marco
Antonio e Luciana Ribeiro para que tivéssemos oportunidades prazerosas através
daquilo que é imensurável, o conhecimento.
Aos meus irmãos que recordo sempre com gratas lembranças de todos os
momentos e pela torcida deles a mim e pela minha vida.
Aos meus professores e colegas de trabalho do Centro de Apoio Pedagógico
- CAP/DV, que têm dedicado suas vidas àqueles que não apenas foram partícipes
da pesquisa, mas que são hoje reconhecidos em nossa comunidade como bons
alunos, profissionais eficientes e amigos, em especial a professora Josiane Martins
que oportunizou a mim o trabalho no Centro no qual eu tento com todas as minhas
forças, cumprir da mesma forma com que ela ainda faz, com dedicação,
profissionalismo, amor e respeito às pessoas com deficiência.
A professora Maria Cristina que não objetou quanto ao tema, que mesmo não
sendo sua atuação, mas dedicou-se a conhecer e dando-me enormes contribuições
que não tenho como retribuir. Da mesma forma o professor Elizeu que contribuiu
imensamente com suas sugestões e pela sua ampla visão, o que muitas vezes deu
luz a ideias não observadas durante a pesquisa.
Finalmente à minha esposa Lílian Souza que dedicou por um período o
cuidado de nossos filhos Caius e Júlia sem a minha presença, e num momento difícil
dessa trajetória, deu-me encorajamento para continuar, sempre pensando no que
poderia deixar aos nossos filhos, que é a educação, uma base sólida para a vida.
Soli deo Gloria.
RESUMO
A verificação de indicadores de consciência fonológica em padrões de leitura de
alunos com deficiência visual (DV) que usam o sistema Braille é um indicador
importante competências de leitura. O estudo teve como objetivo geral: verificar
padrões de leitura de palavras, números e letras no sistema Braille em pessoas com
deficiência visual; e como objetivos específicos: a) identificar e classificar os tipos de
erros durante a leitura de palavras em Braille; b) Verificar associações entre o
número de acertos na leitura de palavras, letras e números em Braille com o tipo de
DV, idade de perda da visão, idade cronológica, anos que frequenta a escola e o
tempo de exposição ao Braille; c) Identificar padrão de leitura em Braille em função
do tipo de palavras. O estudo adotou um desenho transversal do tipo exploratório. A
seleção amostral seguiu critérios de conveniência e foi formada por 22 alunos cegos
sem indicadores de deficiência intelectual (média de idade=29,09; desvio
padrão=11,09; 8 são do sexo feminino e 14 do sexo masculino) do total de 47 alunos
com DV que frequentam o Atendimento Educacional Especializado da cidade de
Marabá, estado do Pará. Os instrumentos de coleta de dados foram: a) Teste de
Nomeação Automática Rápida (RAN/provas de letras e números), transcrito para o
Braille; b) Teste de Leitura de Palavras adaptado e transcrito para o Braille (TCLP);
c) Formulário de classificação socioeconômica familiar. Os principais resultados
mostraram melhor desempenho no RAN se comparado ao teste TCLP adaptado. No
TCLP adaptado o padrão de leitura mostrou médias maiores de acertos nas palavras
correta regular (média=0,89) e correta irregular (média=0,80). Os piores
desempenhos verificaram-se nas pseudopalavras homófonas (média=0,29) e
pseudopalavras estranhas (média=0,42). Correlações positivas estatisticamente
significativas foram observadas entre o tempo de execução no teste RAN (provas de
letras e números) e a idade em que a pessoa adquiriu a DV. Correlações negativas
estatisticamente significativas foram verificadas entre a idade em que a pessoa
adquiriu a DV e o número de acertos no RAN-Letras. Os maiores erros na leitura de
palavras no TCLP adaptado foram por trocas de letras, seguidas das omissões e
das adições. Em função da escrita das palavras em Braille levantou-se a hipótese
que os padrões de escrita de letras do sistema Braille com inversão de pontos
(superior/inferior e 1ª coluna/2ª coluna) tenham contribuído com erros na leitura de
palavras. Conclui-se, a partir das análises de dados, que nos padrões de leitura de
palavras em Braille houve um predomínio de erros de leitura com trocas de letras,
omissões e adições que em associação com a representação do sistema Braille
contribuiu consideravelmente com o número elevado de erros ortográficos. Muitas
das trocas, omissões e adições de letras contribuíram com um padrão de leitura com
um número expressivo de erros por aproximação semântica de leitura evidenciando
os déficits fonológicos e dificuldades de leitura dos participantes.
Palavras-chave: deficiência visual; sistema Braille; leitura.
Patterns of reading words, letters and numbers in Braille system for students
with visual impairment
ABSTRACT
The identification of indicators of phonological awareness in reading patterns
for students with visual impairment (VI) who use the Braille system is an important
indicator of reading competences. The general objective was to verify patterns of
reading of words, numbers and letters in Braille in individuals with visual impairment.
The specific objectives were: a) to identify and classify the types of errors in reading
Braille words; b) to verify associations between the number of correct answers in
Braille words, letters and numbers with type of VI, age of vision loss, chronological
age, years attending school and time of exposure to Braille; c) to identify Braille
reading pattern according to the type of words. The study adopted a cross-sectional
exploratory design. The sample followed convenience criteria and was formed by 22
blind students without intellectual disability indicators (mean age = 29,09; standard
deviation = 11,09; 8 females and 14 males) selected among 47 students with VI that
attend a specialized educational service in Marabá, state of Pará, Brazil. The data
collection instruments were: a) Rapid Automatized Naming Test (RAN/Letters and
Numbers) transcribed into Braille; b) Test of word reading competence adapted and
transcribed into Braille (TCLP); c) family socioeconomic classification form. The main
results show a better performance at RAN compared to adapted TCLP. Participants
displayed higher mean scores at TCLP for correct regular words (mean=0,89) and
correct irregular words (mean=0,80). The worst performances were presented in
homophone pseudo-words (mean=0,29) and strange pseudo-words (mean=0,42).
Statistically significant positive correlations were observed between execution time at
RAN (letters and numbers test) and age of onset of the VI. Statistically significant
negative correlations were verified between the age of onset of the visual impairment
and the number of correct answers at RAN-Letters. Most mistakes in reading words
at TCLP were reverse letters, followed by omissions and additions. Considering the
writing form of Braille system, we advanced the hypothesis that Braille‟s own writing
patterns, with the inversion of dots (upper/lower and first/second column), may have
contributed to the mistakes in reading words. The analysis of the collected data leads
to the conclusion that, in reading patterns of Braille words, there was a prevalence of
mistakes with reversion of letters, omissions and additions that, associated with the
representation of Braille system, contributed to the high number of spelling mistakes.
Many of the reversions, omissions and additions of letters contributed to a reading
pattern with an expressive number of mistakes by semantic approximation, which
highlights the participants‟ phonological deficits and reading difficulties.
Keywords: visual impairment; Braille system; reading.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Formato da cela Braille 24
Figura 2. Todas as combinações configuração Braille 24
Figura 3. Modelo do TCLP original (itens de treino) 45
Figura 4. Máquina fusora para impressão 48
Figura 5. Modelo original do teste RAN(letra e números) 50
Figura 6. Modelo do teste RAN em Braille 50
Figura 7. Médias de acerto com o tipo de palavra do TCLP adaptado 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Caracterização das tecnologias assistiva 26
Tabela 2. Distribuição de Tipo de cegueira 43
Tabela 3. Distribuição de Classificação ABEP 43
Tabela 4. Caracterização do grupo em função de idade 44
Tabela 5: Nível de escolaridade e o tipo de DV (congênita ou adquirida). 44
Tabela 6. Lista de palavras da versão adaptada do TCLP 47
Tabela 7. Médias de acertos no RAN 55
Tabela 8. Correlação referentes à associação idade cronológica 57 Tabela 9. Diferenças de médias no número de acertos 59
Tabela 10. Correções sugeridas, palavras CR após julgamento da escrita 61
Tabela 11. Correções sugeridas, palavras CI após julgamento da escrita 62
Tabela 12. Correções sugeridas nas TF após julgamento da escrita 62
Tabela 13. Correções sugeridas nas PH após julgamento da escrita 63
Tabela 14. Correções sugeridas nas TV após julgamento da escrita 64
Tabela 15. Correções sugeridas nas PE após julgamento da escrita 65
Tabela 16. Tipos de processamento envolvidos nas correções sugeridas
com escrita incorreta do TCLP adaptado 68
Tabela 17. Distribuição do número correções (certas/incorretas) sugeridas
às palavras do teste TCLP adaptado 69
Tabela 18. Distribuição de tipos de erro em função da leitura Braille 71
Tabela 19. Distribuição de tipos de erro em função de hipótese de
processamento fonológico 72
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 19
2.1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA DEFICIÊNCIA VISUAL 19
2.2 A EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 20
2.3 O SISTEMA TÁTIL DE LEITURA DE LOUIS BRAILLE E SUA RELEVÂNCIA HISTÓRICA NA VIDA DOS CEGOS 23
2.4 AS TECNOLOGIAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 26
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DO DV EM MARABÁ 30
2.6 HABILIDADES DE LEITURA E ESCRITA EM ESCOLARES ALFABETIZADOS NO SISTEMA BRAILLE E OS DESAFIOS DA AVALIAÇÃO 33
3. OBJETIVOS 40
4. MÉTODO 42
4.1 LOCAL DO ESTUDO 42
4.2 AMOSTRA E DESENHO DO ESTUDO 42
4.3 INSTRUMENTOS 44
4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS 51
4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS 52
5. RESULTADOS 55
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 75
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 85
REFERÊNCIAS 89
ANEXOS 96
I - INTRODUÇÃO
12
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas têm-se verificado mudanças significativas em termos de
práticas educativas mais humanistas e inclusivas, por oposição aos modelos
segregadores assistenciais e protecionistas praticados em anos anteriores
(REGIANE e MOL, 2013). Nessas novas concepções associam-se fatores
relacionados com a forma de conceituar as deficiências e os transtornos do
neurodesenvolvimento associados a necessidades educacionais especiais, com o
reconhecimento progressivo dessas crianças como cidadãos de pleno direito e com
uma nova forma de vê-los com potencialidades de desenvolvimento em função do
meio (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2015; MELETTI, 2014; BORGES,
2009). Assim a intervenção educativa passa a ser abordada tendo em consideração
o tipo de deficiência em conjunto com as necessidades de escolarização e de
educação.
Sabemos que a atividade escolar não é uma necessidade de sobrevivência,
mas é uma prática cultural, que sendo desenvolvida adequadamente, contribui para
a realização do ser humano e para sua valorização plena. Desta forma, entendemos
que o fato de uma pessoa estar acometida por algum tipo de deficiência, não
significa a neutralização das capacidades e potencialidades de adaptação.
No Brasil, a LBD (Lei 9394/96) no seu Art.4º, inciso III estabelece as diretrizes
para o atendimento educacional especializado aos educandos com necessidades
especiais, preferencialmente na rede de ensino, seja nas próprias salas de aula
regular dos alunos com ou sem apoios educacionais especiais no contra turno do
horário regular de sala de aula (BRASIL, 1996). O posicionamento legal para o
acesso dessa população à educação nem sempre se concretiza em termos de
desenvolvimento de repertórios de aprendizagem dos alunos com necessidades
educacionais especiais (NEE), como mostram estudos conduzidos no país.
Estudo conduzido por Meletti (2014) analisou a escolarização de alunos com
necessidades educacionais especiais no Paraná e no Brasil por meio dos dados
oficiais do poder público sobre o acesso e permanência desta população na
Educação Básica. Neste estudo foram acessados e discutidos dados divulgados
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)
sobre o tipo de escola que esses alunos frequentam. Meletti (2014) identificou que
no estado de Paraná a proporção de alunos com necessidades educacionais
13
especiais no ensino regular e no ensino especial (substitutivo) é praticamente a
mesma. Esses dados foram diferentes das estatísticas do país que mostravam no
momento em que o estudo foi conduzido que somente 24,33% dos alunos estavam
matriculados em sistemas segregados de ensino. Outro aspecto destacado no
estudo é que há déficits expressivos em indicadores efetivos de escolarização que
são verificados nas defasagens idade cronológica-ano escolar e no baixo índice de
uso dos atendimentos educacionais especializados, dentre outros (MELETTI, 2014).
Estudos anteriores têm também descrito outras condições que interferem nas
possibilidades de aprendizagem de alunos com NEE como a falta de capacitação de
professores que os obrigam a buscar rearticulações de práticas docentes
alternativas para a promoção da inclusão, mas que nem sempre promovem o
desenvolvimento de habilidades de aprendizagem, por exemplo, leitura e escrita;
déficits de capacitação de profissionais da saúde para atender às demandas de uma
sociedade inclusiva; salas de recursos e salas comuns deficitárias quanto às
demandas de alunos com NEE, dentre outros (INGLES, ANTOSZCZYSZEN,
SEMKIV, OLIVEIRA, 2014; SATO, MAGALHÃES, JÚNIOR, 2012; VILARONGA
&CAIADO, 2013).
Uma das condições associadas a NEE é a Deficiência Visual (DV). Indivíduos
com DV poderão apresentar graus variados de visão residual. De acordo com o
Conselho Brasileiro de Oftalmologia adotando a 10ª edição da Classificação
Internacional de Doenças - CID-10 (OMS, 2003), existe quatro níveis de função
visual. São elas: a) visão normal; b) deficiência visual moderada; c) deficiência visual
grave; d) cegueira. A Deficiência visual moderada combinada com deficiência visual
grave são agrupadas sob o título “baixa visão”. Baixa visão, em conjunto com a
cegueira, representam a deficiência visual. Dois componentes da função visual são
usados como parâmetro para avaliar a deficiência visual: a acuidade visual (a maior
capacidade de discriminar dois pontos a uma determinada distância) e campo visual
(a amplitude do espaço percebido pela visão). O termo cegueira reúne indivíduos
com vários graus de visão residual. Ela não significa, necessariamente, total
incapacidade para ver, mas o prejuízo dessa aptidão em níveis incapacitantes para
o exercício de tarefas rotineiras. A cegueira congênita é aquela que ocorre desde o
nascimento; a cegueira adquirida ocorre após o nascimento e a cegueira total ou
amaurose consiste em uma perda completa da visão sendo referido na literatura que
14
não é possível perceber tampouco estímulos luminosos (STEVENS, WHITE,
FLAXMAN et al., 2013).
Como a cegueira abrange graus diferentes de visão residual, os níveis de
prejuízos na percepção visual geralmente são variados. Quando crianças
apresentam redução na sua capacidade visual sabe-se que esta condição será um
fator que poderá interferir no desempenho escolar e adaptação social desta. Escolas
em geral deveriam estar preparadas para proporcionam desenvolvimento a alunos
com algum grau DV. Contudo, as ações inclusivas em pró de uma escolarização
efetiva continuam deixando a desejar quando colocadas em prática, mediante as
ações “político-pedagógicas” de muitas escolas que não conseguem garantir a
necessária adaptação aos alunos com deficiência visual, nas simples adequações
em salas de aula e nos recursos didáticos acessíveis, por meio de livros em Braille,
por exemplo (VILARONGA, CAIADO, 2013; CAMARGO, NARDI, VERASZTO, 2008;
CAMARGO, NARDI, 2007). Alguns dos aspectos essenciais para um adequado
desenvolvimento de habilidades de aprendizagem em alunos com DV são a
formação do professor, o desenvolvimento de currículos adaptados e a utilização de
tecnologias assistiva em contexto escolar, por exemplo, Braille Falado, Linha Braille,
as tecnologias open book, uso de impressoras de pontos Braille e impressoras de
relevo, dentre outras (OLIVEIRA, NUNES, 2015).
A inserção de um aluno com deficiência visual na escola e sua permanência,
não é escolha da unidade escolar e sim um cumprimento legal (Lei 13.146/2015). No
Art.27combinado com o Art. 28, incisos II, V, VI, XII, a lei estabelece a condição de
acesso e permanência, bem como as ofertas de serviços e recursos de
acessibilidade que promovam uma inserção plena (BRASIL, 2015). Entretanto,
estudos mostram que a infraestrutura da escola e o modelo de ensino nem sempre
contemplam os dispositivos necessários para o ensino de alunos com algum grau de
DV (VILARONGA, CAIADO, 2013; OLIVEIRA, NUNES, 2015). Na DV participam
diversos fatores associados como enfermidades, traumatismos ou disfunções do
sistema visual que acarretam a diminuição da acuidade visual, dificuldades para
enxergar de perto e/ou de longe, campo visual reduzido, alterações na identificação
de contraste, na percepção de cores, entre outras alterações visuais (BRASIL,
2010). Pessoas com DV necessitam apoios diferenciados, a saber, adaptações para
ampliação de caracteres impressos, lupas manuais, lupas eletrônicas, adequações
de luminosidade do ambiente, cadernos com pautas grossas para melhora a
15
visualização dos espaços entrelinhas, recursos de informática para aumentar
acessibilidade a contrastes de cores e tamanhos de fontes e ícones, dentre outras
(BRASIL, 2010).
Nesse contexto, preconiza-se que o aluno com DV deve ser atendido na sua
plenitude, ou pelo menos com a adaptação necessária, para que seja dirimida essa
lacuna deixada pela deficiência e para tal depois de assegurado o direito ao ensino
regular, a escola deverá ser capaz de implementar as adequações necessárias com
vistas ao melhor atendimento a esse aluno. A aquisição de um acervo bibliográfico
no sistema Braille é imprescindível para o processo de aquisição de leitura, essa
etapa do ensino nesse sistema será uma das mais importantes nesse processo de
conhecimento de mundo.
Desde 1994, a partir da Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) existe no
país um compromisso educacional de reconhecer e implementar programas de
alfabetização e educação para crianças, jovens e adultos com necessidades
educacionais especiais. Tratando-se de alfabetização, o mesmo pressupõe que
essas pessoas, na condição de necessidades educacionais especiais, tenham
oportunidade de aprender a ler e escrever a partir de adaptações escolares. Um
indivíduo pode ser considerado apto para a leitura se, basicamente, ele é capaz de
identificar automaticamente as palavras e seus significados. E será apto para a
escrita se ele consegue transcrever os sons da fala. O processo de leitura envolve
duas habilidades separadas, porém interrelacionadas: reconhecimento de palavra e
compreensão. O reconhecimento inclui o domínio da correspondência grafema-
fonema e estratégias fônicas, assim como também a capacidade de aplicar estas
habilidades rapidamente e sem grandes esforços, de tal forma que o
reconhecimento da palavra seja feito de forma automática. Dificuldades no
reconhecimento automático da palavra afeta negativamente a fluência de leitura e
compreensão (HEIN, TEIXEIRA, SEABRA, MACEDO, 2010).
Desde 1987, existe uma política governamental paraense implementada com
classes especiais, salas de recursos e ensino itinerante para beneficiar alunos com
DV (MENDES, 2012). No ano 2000 de fato essa política foi adotada no município de
Marabá (estado do Pará). Trata-se do Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes
Visuais CAP/DV que em 2004 surge como proposta de um atendimento
especializado a pessoas com deficiência visual, principalmente os alunos da rede
municipal de ensino. O CAP/DV tem parceria com a Secretaria Municipal de
16
Educação de Marabá. O CAP é um centro mantido pela prefeitura municipal, mas
que sempre atendeu a comunidade em geral, escolares da rede estadual de ensino
e universitários.
Portanto após quase 15 anos da implementação do atendimento no Centro de
Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais CAP/DV, alunos com DV nunca
receberam avaliações especializadas para verificar possíveis benefícios que alunos
com deficiência visual estão tendo com o mesmo em termos de aquisição de leitura.
Por isso é importante verificar indicadores de consciência fonológica envolvidos nos
padrões de leitura desses alunos com DV que usam o sistema Braille.
O estudo buscou identificar padrões de leitura de palavras, letras e números
em pessoas com deficiência visual a partir da apropriação dessas pessoas com o
sistema de leitura Braille
O presente estudo possui 8 capítulos. Neste primeiro capítulo, abordamos
nessa parte introdutória, as propostas de atendimento às pessoas com deficiência,
através da legislação vigente e a inserção da pessoa com DV no sistema de ensino
nacional e o seu AEE no município de Marabá e cidades vizinhas no sudeste do
Pará. Apresentamos o CAP/DV como centro de referência para às pessoas com DV,
e a falta de avaliações que possam verificar o aprendizado dos escolares em termos
de aquisição de leitura que recebem esse atendimento e mostramos os objetivos do
estudo.
No capítulo 2, com a fundamentação teórica, trazemos as características
clínicas da DV; a educação das pessoas com DV; o sistema tátil de leitura de Louis
Braille e sua relevância histórica na vida dos cegos; as tecnologias para a pessoa
com DV; políticas públicas para a educação do DV em Marabá e as habilidades de
leitura e escrita em escolares alfabetizados no sistema Braille e os desafios da
avaliação.
No capítulo 3, trazemos os objetivos desse estudo, com destaque para a
identificação dos tipos de erros durante a leitura no sistema Braille e uma
classificação desses erros na tentativa de associar os acertos na leitura de palavras,
letras e números em função do tipo de DV, com a idade cronológica, com a idade da
perda da visão e o tempo que essa pessoa tem de exposição a esse sistema Braille.
No capítulo 4, temos o método com o local, amostra e o desenho do mesmo,
os instrumentos utilizados na pesquisa e suas devidas adaptações para o sistema
17
Braille devido as limitações visuais dos participantes e os procedimentos de coleta e
análise dos dados.
No capitulo 5, apresentamos os resultados com tabelas e gráfico mostrando
com detalhes as associações e o desempenho dos participantes mediante os testes
utilizados.
No capítulo 6, fizemos a discussão dos resultados no qual observou-se o
desempenho mais significativo nas associações das variáveis, citadas no capítulo 3,
com os testes de nomeação rápida para letras e números.
No capítulo 7, nas considerações finais algumas limitações e recomendações
foram inseridas como conclusão do estudo.
Os anexos completam a dissertação, neles encontram-se alguns recursos
utilizados para as adaptações dos testes nesse estudo.
18
II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
19
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA DEFICIÊNCIA VISUAL
Para se definir o conceito de deficiência visual, faz-se necessário a
classificação em duas categorias (baixa visão e cegueira). Esse processo de
definição é realizado com base em dois tipos de avaliação. A primeira é a avaliação
clínica oftalmológica, que diagnostica as causas fisiológicas que prejudicam a visão;
a segunda, refere-se à uma avaliação funcional que é responsável por identificar que
tipo de função a visão pode realizar; essa identificação é fundamental para o
desenvolvimento de atividades diárias, como a educacional, por isso mesmo deve
ser procedida por profissionais da área de educação que possui conhecimento
especializado sobre a função visual (BRUNO, MOTTA, 2001).
A definição de baixa visão (ambliopia, visão subnormal ou visão residual) é
complexa devido a variedade e a intensidade de comprometimentos das funções
visuais. Em muitos casos, observa-se o nistagmo, movimento rápido e involuntário
dos olhos, que causa uma redução da acuidade visual e fadiga durante a leitura.
Vale ressaltar que muitos problemas de baixa visão são progressivos (como a
retinose pigmentar), o que pode levar a cegueira.
A classificação da baixa visão é empregada para níveis menores de perda
visual, nos quais os indivíduos precisam ser auxiliados, de maneira significante,
mesmo utilizando de recursos ópticos para tal (ALMEIDA, 2014).
A avaliação clínica não deve ser exclusiva no que se refere ao
desenvolvimento das atividades educacionais. Para este fim professores
especializados deverão realizar a avaliação funcional da visão com a utilização dos
recursos ópticos e tecnológicos e, a partir dessa avaliação a equipe educacional
deve definir as adequações necessárias que o aluno precisa para desenvolver suas
atividades escolares. Por exemplo, alunos na mesma condição diagnóstica de baixa
visão poderão níveis diferentes de desempenho visual e necessitar adaptações
educacionais diferentes.
A cegueira define-se como perda total da visão ou a apresentação de um
resíduo visual insignificante, que permite apenas a identificação da projeção da luz,
mas sem nenhuma possibilidade de identificar uma imagem precisamente ou até
mesmo parcialmente; não conseguindo utilizar o resíduo visual com nenhum tipo de
20
adaptação. Ainda segundo Bruno e Mota (2001), para efeito educacional, deve-se
desprezar o conceito de cegueira legal, pois este conceito engloba vários tipos de
pessoas com baixa visão que podem ficar cegos um dia, mas ainda possui um bom
resíduo visual e consequentemente, não utiliza os recursos didáticos destinados aos
cegos, como por exemplo, o sistema de leitura e escrita Braille.
De acordo com os dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia de
Estatística – IBGE, (BRASIL, 2010) no Estado do Pará são 15.459 pessoas com
cegueira total, sendo 403 no município de Marabá, cujo último censo revelou que
tinham 233.669 habitantes (BRASIL, 2010). O indivíduo com cegueira tem uma
acuidade visual menor que 3/60, no melhor olho, com a melhor correção óptica, ele
enxerga a 3 metros o que uma pessoa com visão normal enxerga a 60 metros
(OMS).
2.2 A EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Está previsto na Constituição de 1988 em seu art.° 208 que o atendimento
educacional especial ocorrerá preferencialmente na rede regular de ensino. Caso
isso não se faça oportuno, a Lei de Diretrizes Nacionais de Educação Especial na
Educação Básica (2001) assegura que, extraordinariamente, os serviços de
educação especial podem ser oferecidos em classes especiais, escolas especiais,
classes hospitalares e em ambientes domiciliar. A formação dos professores para
atuarem na modalidade de educação especial é fundamental para a efetivação
democrática da educação inclusiva. O professor precisa dominar as tecnologias
(recursos didáticos e tecnologias de comunicação e informação) além das
metodologias específicas que facilitam o trabalho com os alunos que possuem
necessidades educacionais especiais. Precisa ainda, perceber as necessidades
educacionais especiais dos alunos, flexibilizar a prática pedagógica nas diferentes
áreas do conhecimento, trocar experiências com professores especialistas em
educação especial (BORGES, 2003).
As perspectivas da educação especial no Brasil estão condicionadas às
precariedades e contradições da estrutura e políticas do sistema de ensino. Há
avanços, alguns dos quais inclusive no ensino superior (FERNANDES, COSTA,
2015; CAMARGO, NARDI, 2006), mas estes poderiam ser bem mais substanciais se
as ações e políticas desenvolvidas no campo da Educação Especial estivessem em
21
consonância com diversos fatores envolvidos neste tipo de educação: tipo de
doença ou transtorno que exige a condição educacional especial, adaptação
curricular necessária (currículos multinivelados, currículos sobrepostos ou currículos
adaptados), professores e educadores devidamente formados no tipo de
necessidade educacional especial, infraestruturas tecnológicas adequada e fatores
ligados à relação família-escola, dentre outros (REILLY, 2012; SÁ, BRUNO, 2012;
VILARONGA, CAIADO, 2013; MARUYAMA, SAMPAIO, REHDER, 2009).
Em se tratando do tipo de doença ou transtorno que exige a condição
educacional especial, no caso a DV (cegueira e baixa visão), o professor precisa
entender características físicas associadas a esta condição, bem como ter
habilidades relacionadas a ferramentas de adaptação de conteúdos mediadas por
sistemas de leitura e escrita como o Braille por exemplo.
De acordo com Bruno e Mota (2001, p. 28), no Brasil, além do Instituto
Benjamin Constant (IBC), existem instituições que se dedicam ao atendimento das
pessoas com deficiência visual e à capacitação de recursos humanos que atende
essa clientela, como mostra a seguinte lista com os anos de fundação de cada
entidade:
• 1926 – Instituto São Rafael – Belo Horizonte/MG;
• 1928 – Instituto Padre Chico – São Paulo/SP
• 1929 – Instituto de Cegos da Bahia – Salvador/BA
• 1941 – Instituto Santa Luzia – Porto Alegre/RS
• 1943 – Instituto de Cegos do Ceará – Fortaleza/CE
• 1956 – Instituto Álvares de Azevedo – Belém/PA
• 1957 – Instituto de Cegos Florisvaldo Vargas – Campo Grande/MS
É oportuno fazer um adendo que atualmente existem dois centros de
referência nacionais que juntamente com o IBC, também vem realizando um
importante trabalho na área da qualificação de profissionais que pretendem trabalhar
com alunos deficientes visuais; habilitação e reabilitação sócio-educativa de pessoas
cegas e com baixa visão; e ainda, reproduzem materiais adaptados para essa
categoria. São eles o Instituto Laramara e a Fundação Dorina Nowill, ambas com
sede em São Paulo.
Passaremos a tratar agora de questões específicas ao deficiente visual. São
conceitos e práticas que podem ajudar os profissionais que atuam nessa área a
22
terem um discernimento melhor de como se deve desenvolver o trabalho
pedagógico.
A progressão escolar de alunos com DV é semelhante à que ocorre em outras
categorias de deficiência associadas à NEE, nas quais o desempenho escolar
depende de uma avaliação qualitativa, baseada em conceitos. A progressão desses
alunos para as séries seguintes ocorre sem nenhum critério, não se preocupando
com melhorias no ensino e nem na aprendizagem (TEIXEIRA et al., 2010) o que
revela que muitos professores interpretam erroneamente o que diz o texto da LDB
(9394/96), no seu Art. 59, inciso II: - terminalidade específica para aqueles que não
puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude
de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa
escolar para os superdotados; compreensão entendida como: devemos avançar
esse aluno, pois não podemos exigir mais do mesmo. O Atendimento Educacional
Especializado (AEE) deveria priorizar e buscar implementar formas de aquisição de
conhecimento e aprendizagem que fossem menos conformativas com a condição
que o indivíduo já apresenta. A ideia de aplicar os recursos disponíveis é justamente
para que tais recursos possibilitem a esses alunos melhores habilidades de
aprendizagem. No caso da cidade Marabá, lócus do estudo, a avaliação de
desempenho escolar nos primeiros anos de escolarização também depende de
indicadores qualitativos baseados em conceitos, que o professor realiza nos
primeiros anos, 1º ao 5º ano (MARABÁ, 2013). Já o desempenho dos alunos de 5º
ao 9º ano é avaliado por meio de notas e daí a participação de todos os professores
em conselho, no qual é decidido se o aluno será retido ou aprovado (MARABÁ,
2013).
Estudo conduzido por Lippe, Alves e Camargo (2012) com amostra composta
por dois alunos com DV e seus professores de sala de aula regular e de recursos
utilizou a técnica de entrevista para verificar indicadores de socialização, adaptação
curricular e aspectos relativos à inclusão. No trabalho se reportaram como principais
dificuldades para a realização da inclusão escolar a falta de formação dos
professores da sala regular que ela chama de professores generalistas, bem como a
comunicação destes professores com os professores de salas de recursos, os
especialistas, que para os alunos com DV essa comunicação é superficial, não
favorecendo uma adaptação nos materiais didáticos, nem tampouco disponibilizando
recursos como: máquina Braille ou computador na sala para que os mesmos com
23
esse acesso possam ter uma maior participação em sala. O estudo mostra que o
déficit na aprendizagem desses alunos com DV é expressivo, quando não há um
consenso entre profissionais, que mesmo tendo a mesma clientela trabalham de
forma distintas, esquecendo do propósito principal que é a inclusão.
A utilização de recursos pedagógicos adaptados não só promove a inclusão,
mas o desenvolvimento social do aluno com DV. Se houver materiais de uso
pedagógico, como livros, mapas, brinquedos, adaptados ao aluno com DV, isso
possibilitará a motivação pela aprendizagem, bem como a interação social com
colegas e a vontade de realizar atividades conjuntas. Para Laplane e Batista (2008),
a participação nas atividades escolares só será plena para os alunos com DV
quando não apenas a orientação familiar e a intervenção precoce forem trabalhadas
conjuntamente. Os autores ressaltam também a necessidade de instrumentalizar os
professores com recursos pedagógicos de acordo com a faixa etária do aluno
utilizando os recursos táteis, visuais e auditivos de forma a contemplar todas
necessidades educacionais especiais (LAPLANE, BATISTA, 2008).
2.3 O SISTEMA TÁTIL DE LEITURA DE LOUIS BRAILLE E SUA RELEVÂNCIA
HISTÓRICA NA VIDA DOS CEGOS
A forma de leitura e escrita pelos cegos é feita pelo sistema Braille, técnica
aperfeiçoada por Louis Braille, pela relevância que teve esse aperfeiçoamento a
mesma foi batizada com o nome desse francês que teve como precursor uma forma
de leitura tátil baseada em um código militar criada por Charles Barbier, que durante
a guerra queria inventar uma forma de comunicação entre os militares e que fosse
possível a leitura no escuro, fazendo com que os inimigos não tivessem acesso as
informações sigilosas, mas esse método não foi bem aceito entre os militares,
principalmente pelas dificuldades na leitura Depois que ficou cego, alguns
historiadores divergem quanto a sua idade, uns afirmam que fora aos 3 anos, outros
afirmam que ele começou a frequentar aos 5 anos; mas o fato é que Louis Braille
passou a frequentar o Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, onde aprendeu com
Valentin Hauy outros métodos de leitura, mas ainda assim eram pouco eficazes, pois
os mesmos utilizavam os caracteres usualmente empregados aos videntes, mas
como forma de ampliação dos mesmos. Essa técnica se tornava quase imprópria
para o acesso de livros, pelo tamanho das letras (BORGES, 2009).
24
Do método de Barbier, Louis Braille na esperança de melhorar e facilitar a sua
utilização pelos cegos, aperfeiçoou esse código (CERQUEIRA, 2009). O ano de
1837 marca o início de uma nova metodologia para as pessoas cegas no mundo, foi
quando de uma combinação de 6 pontos, Braille conseguiu fazer aquilo que o
general não conseguira, um método que consistia na combinação de pontos onde de
tal combinação surgiriam todas as letras do alfabeto, inclusive de códigos
matemáticos e até na sua utilização na música.
Braille desenvolveu o que se chamou “cela Braille”, um retângulo com duas
colunas: na coluna da esquerda conta-se de cima para baixo 1, 2 e 3; na coluna da
direita da mesma forma, mas seguindo a sequência 4, 5 e 6 (BRASIL, 2006).
Figura 1. Formato da cela Braille atual.
(Extraído de: http://www.lerparaver.com/ver/imagens/fotos/celulabraille.jpg).
Essa disposição era colocada como uma espécie de retângulos, que
continham buracos, que uma vez pressionados com outro instrumento criado para
este fim, chamado de punção, dava o formato de um ponto no lado inverso da folha.
Assim, Louis Braille criou esta configuração:
Figura 2. Todas as combinações possibilitadas pela configuração Braille, (Extraído de Borges,
2009).
25
Sabe-se, porém que outras formas de leitura tátil foram criadas mesmo antes
do General Barbier, como o método de Girolamo Cardano (1501-1576), Rampazetto
em 1575, a do padre Lana-Terzi, (BORGES, 2009). Mas definitivamente o sistema
braille foi um marco para todos os cegos, pela forma dedicada que tanto trabalhou
para que os mesmos pudessem escrever e ler com autonomia, foi sem dúvida uma
criação que estava à frente de sua época, e só uma pessoa com essa deficiência
para ter a sensibilidade de fazer algo que estaria voltado não para os outros, mas
para si mesmo, este foi o grande sucesso do código de Braille (BORGES, 2009).
Em 1854, depois de dois anos de sua morte, o sistema de leitura e escrita
Braille já estava sendo utilizado em diversos países da Europa, incluindo Brasil, com
a inauguração do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin
Constant. Cegos de todo o país puderam ser alfabetizados e tornaram-se por meio
do acesso à leitura, ter posições na sociedade antes negadas aos mesmos
(BORGES, 2009).
Essa forma de leitura pelo sistema Braille possibilitou ao DV um forma ímpar
de acesso a impressos, um artigo publicado por Dallabrida e Lunardi (2008), em
uma pesquisa feita entre os anos de 2002 e 2007, para comparação do acervo de
uma biblioteca pública e a demanda de leitores que utilizam os livros em Braille
nesse período, revelou a precariedade dos títulos e a falta de políticas que atuem
com rigor para que sejam implementadas não apenas as adaptações como a
transcrição de todo acervo em Braille, mas o acesso a essas pessoas que estão
entrando nesses locais mas que não são atendidos na sua totalidade. Esses autores
destacam que cada vez mais os DV estão melhorando o nível de escolaridade, mas
que o avanço nas condições de informações através da leitura pelo sistema Braille
ainda são pouco acessíveis, (DALLABRIDA, LUNARDI, 2008).
A pessoa com DV conta hoje com diversos projetos que procuram promover a
sua adaptação e acessibilidade em ambientes acadêmicos como mostra as autoras
Fialho e Silva (2012), que buscaram estudar essa acessibilidade em bibliotecas
universitárias, principalmente nas adequações relevantes ao acesso da informação.
Destacaram que algumas bibliotecas possuem adaptações, mas que não são
acessíveis, pois mesmo tendo toda a estrutura para receber pessoas com DV se
mostraram inacessíveis quanto a todo suporte que uma pessoa cega necessita,
como todas as informações impressas em Braille e um acervo bem robusto nesse
26
sistema de leitura. Para isso é imprescindível que todo o acervo seja transcrito para
o Braille, e não apenas parte dele, (FIALHO, SILVA, 2012).
Apesar do avanço do sistema Braille, os recursos tecnológicos também têm
contribuído para que pessoas com DV desenvolvam habilidades escolares e
competência de adaptação às atividades da vida diária. Por exemplo, o uso de
softwares como leitores de tela que descrevem ao deficiente visual as informações
contidas na tela do computador e ainda lendo os textos (SANTOS, 2014). Nesta
tecnologia a criação de sintetizadores de voz têm sido excelentes recursos pois os
mesmos possibilitam a conversão de textos para uma mídia portável a diversos
aparelhos eletrônicos de reprodução sonora. Sobre algumas dessas tecnologias
tratará o seguinte tópico.
2.4 AS TECNOLOGIAS PARA OS DEFICIENTES VISUAIS
A Tecnologia Assistiva (TA) caracteriza-se pelo arsenal de recursos e
serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de
pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e
inclusão (GALVÃO FILHO, 2009). Na tabela 1 é resumida um grupo de TA
elaborada por Oliveira e Nunes (2013) com base na descrição e classificação de
Amorim, Carvalho e Menezes (2004).
Tabela 1. Caracterização das tecnologias assistiva (Extraído de Oliveira e Nunes, 2013). (Anexo I)
Denominação Descrição
Braille Falado Os dados que entram em Braille são eletronicamente guardados e permitem escrever, revisar e editar.
Linha Braille As linhas Braille são dispositivos utilizados com leitores de telas, que servem para os usuários cegos e com baixa-visão acessarem de forma táctil a informação contida no monitor.
Programa TGD (Tactile Graphics Designer)
É um software pedagógico criado para a geração de figuras e/ou gráficos em Braille.
Software GRAPHIT Programa para produção de gráficos a partir de equações matemáticas.
Virtual Magnifying Glass É uma lupa virtual que permite a ampliação da tela do computador.
Open Book
Permite que as pessoas com deficiência visual possam acessar e editar materiais impressos mediante um processo de escaneamento e digitalização. O software com voz sintetizada faz a leitura de todos os textos
Jaws Oferece tecnologia de voz sintetizada em ambiente Windows para acessar softwares, aplicativos e recursos na Internet.
Impressora de pontos Braille
Imprime em Braille.
Plástico estofável por calor
Um desenho é criado em tinta escura sobre o plástico (por exemplo, utilizando-se uma impressora de jato de tinta) que, ao ser submetido ao
27
Denominação Descrição
calor, estufa as regiões escritas.
Impressoras de relevos Imprime mapas, plantas, símbolos matemáticos, tabelas, gráficos, músicas. É utilizada no desenvolvimento de noções 2D.
Folha de plástico (German Paper)
Para desenho (bidimensional). Ao escrever se obtém um relevo.
Painel de preguinhos Para desenho (bidimensional). Por meio dele se "desenha" com elásticos em um painel com pregos (utilizado para o ensino da geometria).
Magic É um ampliador de tela (de 2 a 16x) para ambiente Windows e todos os aplicativos compatíveis. O software também faz a leitura da tela através de voz sintetizada.
Tabela 1. Caracterização das tecnologias assistiva (Extraído de Oliveira e Nunes, 2013).
(Continuação).
As tecnologias assistiva (TA), por exemplo, estão postas como um novo
paradigma desafiador que exige dos sujeitos uma grande capacidade de abstração e
operacionalização para manipulá-las. O avanço tecnológico redunda em mudanças
de técnicas de forma constante e estimável; algo que muitas vezes não possibilita
que os indivíduos possam assimilar conhecimentos novos que os tornem capazes
de atuar efetivamente no mercado de trabalho e no meio social como um todo. O
acesso às novas tecnologias, tem se tornado presente nas escolas, principalmente
na pública, que é responsável pela maioria do atendimento dos educandos.
No Brasil ainda há falta de acessibilidade às novas tecnologias assistiva (TA).
Entretanto, são recursos que, se utilizados dentro de uma perspectiva pedagógica
de educação tecnológica, podem contribuir para uma educação de qualidade, ainda
mais em ambientes de educação inclusiva (OLIVEIRA, NUNES, 2015). As TA
apresentam elementos que podem ser utilizados pela escola para responder às
necessidades de aprendizagem dos alunos com deficiência visual. Por exemplo, as
que auxiliam os cegos nas tarefas de leitura de textos, é mais uma forma que tais
avanços permitiram aos que só tinham acesso por meio do sistema Braille.
Segundo PORTO (2006), um "game", por exemplo, é uma atividade lúdica e
agradável, com sentido para o aluno, o que possibilita que ele construa e desenvolva
as suas habilidades cognitivas. Nesse tipo de atividade, o aluno se coloca numa
condição de sujeito protagonizador, que manipula os objetos e interage com outros
sujeitos, toma decisões que o jogo disponibiliza ao usuário, fazendo com que este,
possa a associar habilidades de raciocino e habilidades motoras.
A escola por sua vez, deve funcionar como um espaço colaborativo, com
capacidade de mobilização de conhecimentos a respeito das novas tecnologias,
28
criando condições concretas para que os indivíduos possam estar manipulando
essas novas tecnologias e atribuindo-lhes novas aplicações, como por exemplo, no
ambiente educacional. Segundo PORTO (2006), sobre o papel da escola: "cumpre-
nos refinar o uso da linguagem oral e escrita com o que tradicionalmente
trabalhamos [...] e explorar outras imagens como a pictórica, a musical, a literária, a
expressão corporal, a cinematográfica, a televisual". Isso reflete diretamente a
necessidade de se utilizar os recursos disponíveis das TA para dinamizar o ensino,
facilitando para os alunos em particular, os que apresentam necessidades de
aprendizagem decorrentes de uma patologia ou não, a assimilação dos conteúdos.
As TA no espaço escolar dinamizam o ensino. BORGES (2003) ressalta que
a tecnologia tem hoje um papel fundamental na vida das pessoas, e para as
pessoas com deficiência visual poderá se tornar imprescindível. Citaremos algumas
alternativas para os alunos com essa deficiência.
Para alunos de baixa visão estão disponíveis no mercado recursos como as
lupas eletrônicas que possibilitam o acesso a informações impressas. Atualmente
existem versões portáteis de lupas, assim como grandes lupas ligadas a um monitor,
com recursos de contraste de cor, diferencial que as primeiras lupas manuais não
ofereciam, grande parte delas são utilizadas no AEE no município de Marabá. Por
exemplo, o software LENTEPRO para sistemas Windows (criado pelo Núcleo de
Computação Eletrônica da UFRJ), e o Kmag para softwares livres como Linux, de
distribuição gratuita. A lente de aumento também é um recurso nativo na grande
parte de sistemas operacionais para computadores. O recurso OCR (Optical
Character Recognition), permite que a digitalização de impressos seja editável,
scanners que já leem os textos sem a necessidade de digitalizá-los e para posterior
leitura por algum software de leitura, câmeras acopladas a monitores de tela plana,
promovendo assim a ampliação de livros e jornais para uma leitura na mesa
(PORTES, 2013, p.105).
Para os alunos cegos existem softwares com sintetizador de voz que auxiliam
esses alunos nas operações com computadores, inclusive o uso da Internet. Outra
tecnologia recente são as linhas Braille que em algumas versões dispensam a
conexão com um computador, podendo ser digitados diretamente na mesma, onde o
seu teclado é idêntico a de uma máquina Braille, só com um acréscimo de mais uma
tecla, somando 4 de cada lado da mão. A mesma pode ser conectada a um
computador e oferece a leitura através dessa linha, pois o sujeito ficará na posição
29
de leitura como em um livro e tudo o que está sendo mostrado na tela do
computador, estará automaticamente sendo passado em Braille, portanto o
deficiente visual tem acesso simultâneo por meio do leitor sonoro e do Braille tátil.
Algumas linhas Braille possuem áudio agregado, para que no momento da digitação
já tenha acesso falado dos caracteres e tendo uma saída visual no display,
geralmente monocromático, para os videntes acompanharem o texto inserido.
Depois do processo de inserção do texto ele poderá ser armazenado para posterior
uso em conexão com outros dispositivos (PORTES, 2013, p.98).
Sobre os leitores de tela, um dos mais usado no Brasil e de distribuição
gratuita é o MonitVox, pacote que está dentro do sistema DOSVOX do Núcleo de
Computação Eletrônica NCE da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Outro leitor de dela que está cada vez mais difundido é o NVDA, um software
gratuito e que tem a versão em português do Brasil. Já o Jaws, um dos melhores
leitores avaliados pelos cegos, porém com preços que inviabilizam o acesso de
muitos usuários cegos. Existe também o Virtual Vision que é também um dos leitores
de tela bem difundido e que sua distribuição se dá de forma gratuita apenas para os
clientes do Banco Bradesco que tem deficiência visual. (BORGES, 2009, PORTES,
2013). Além de fabricar um sintetizador de voz, a UFRJ também criou um conversor
de textos comuns para o sistema Braille (Braille Fácil) permitindo que textos dos
processadores simples como Word, possam ser formatados e impressos em Braille,
(BRUNO e MOTA, 2001). O editor de textos chamado EDIVOX, foi um avanço para
que os cegos pudessem escrever de uma forma que as pessoas sem deficiência
visual tivessem acesso aos escritos daqueles, permitindo também que os mesmos
possam ler qualquer texto escrito por uma pessoa vidente (BORGES, 2009). O
grande empecilho até aqui é a aquisição da maioria dos produtos citados, que
geralmente tem um custo elevado. Com o isso o CAP/DV da cidade de Marabá, por
meio de todos os recursos, proporciona aos alunos o aprendizado por meio do
contato com tais equipamentos.
Por mais que nos apropriamos de uma concepção amadurecida que revela
que as tecnologias de comunicação e informação dinamizam o ensino, ainda é
preciso resolver questões básicas de logística, acesso à rede mundial de
computadores, altos custos, etc. A educação tecnológica é uma área de trabalho
interdisciplinar que reúne duas ciências, educação e tecnologia, agregando saber
técnico com saber pedagógico. Nessa perspectiva entendemos que adotar uma
30
tecnologia de ensino para se trabalhar com os alunos que apresentam necessidades
educacionais visuais é uma atitude acertada. Pois, além de oferecer recursos
técnicos, didáticos e de tecnologia de informação (ex. softwares adaptados para esta
finalidade), é um tipo de ensino que permite ao indivíduo está sempre em sintonia
com os progressos do mundo.
O fato de a pessoa apresentar uma deficiência não significa dizer que a
mesma não possua potencialidades, pelo contrário, são essas potencialidades que
devem ser estimuladas. Isso é perfeitamente possível numa educação humanista de
ensino que parte da subjetividade, que se preocupa com o sujeito (que pensa). A
educação tecnológica pode contribuir muito nessa filosofia de trabalho, já que é
interdisciplinar e facilmente adaptável a qualquer disciplina. Outro fato interessante é
que essa educação pode proporcionar ao indivíduo a capacidade de ação e reflexão,
para que o indivíduo possa expressar sua consciência (FREIRE, 1987, p.144).
Apesar dos avanços tecnológicos é imprescindível que o aluno com DV que
usufruíram, tanto das TA como do sistema Braille, para aprender a ler e escrever
seja avaliado quanto às competências de leitura e escrita. São avaliações que
poderão verificar com acurácia se de fato há ocorreu a aprendizagem dessas
habilidades, em termos de precisão de leitura, velocidade de leitura e fluência,
dentre outros indicadores (BABAYIGIT & STAINTHORP, 2010). A aplicação de
instrumentos padronizados que avaliem essas habilidades de leitura e escrita em
alunos com deficiência visual, poderá ser um marco em nossa educação, pois
promoverá melhores adaptações no atendimento a esses alunos e abertura para
novas pesquisas sobre essa temática tendo em vista que em países de primeiro
mundo o termo inclusão já está consolidado, seja no aspecto de capacitação de
profissionais e tecnologias voltadas para o deficiente visual (BORGES, 2009).
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DO DV EM MARABÁ
A população de Marabá no último censo tinha 233.669 habitantes (BRASIL,
2010), o mesmo instituto divulgou uma população estimada para o ano de 2016 de
262.932 habitantes. Na educação os dados do INEP (BRASIL, 2011b, 2012)
apontavam o aumento da matrícula no ensino regular e declínio das unidades
especializadas. Em 2011 os alunos da na Educação Especial matriculados no
ensino regular foram 649, no ano seguinte saltando para 832, predominando o sexo
31
masculino com 832 e 526 do sexo feminino. Na educação de jovens e adultos de 31
matriculados foi para 35, registrados em 2012. Todos os alunos da Educação
Especial eram brasileiros e correspondem 1358 (BRASIL, 2012).
O número de matrículas da zona urbana é maior em detrimento da zona rural,
com 1.171 e 187 respectivamente (BRASIL, 2012). Nota-se aí que a educação do
campo, antes designada como zona rural, é pouco contemplada pelas políticas do
Atendimento Educacional Especial, não apenas pelo fato da clientela ser menor,
mas a não caracterização da matrícula é com base na precariedade do atendimento
ou na inexistência do mesmo. Pais preferindo deixar os filhos em casa, a ter que
mobilizá-los a distâncias longínquas até mesmo pela falta de um transporte escolar
adequado e acessível a esses alunos.
A implantação de uma política de Educação inclusiva na cidade de Marabá,
foi no ano de 1987, com oferta de serviços de caráter educacional promovidos pelo
sistema estadual de ensino na forma de classes especiais, salas de recursos e
ensino itinerante para grupos de alunos predominantemente com deficiências visual,
auditiva e mental, totalizando cento e doze (112) alunos, atendidos em nove (9)
escolas por doze (12) professores (COSTA, 2006).
De 1987 até 2001 os serviços educacionais eram prestados pela Secretaria
Estadual Executiva de Educação – SEDUC, por meio da 4ª URE – Unidade Regional
de Educação do governo estadual - instalada em Marabá.
O Centro de Apoio Pedagógico para o deficiente visual – CAP/DV, foi criado
em 2004, com o intuito de atender de forma especializada escolares que buscavam
as adaptações necessárias, como produção de livros didáticos e literatura infanto-
juvenil, natação adaptada, orientação e mobilidade, para aqueles que já estão
matriculadas no ensino regular. O centro prioriza a alfabetização no sistema Braille
para os alunos que já desenvolveram precocemente a cegueira (congênita), bem
como o ensino da leitura e escrita Braille para aqueles que perderam completamente
a visão por causas orgânicas ou por alguma lesão (adquirida). Também como forma
de inserção tecnológica no ensino e utilização das tecnologias assistiva e o uso das
TICs com ferramentas adaptadas para seu público e visando o mercado de trabalho.
Atua também na capacitação de professores da rede regular de ensino e
principalmente no apoio aos professores de Salas de Recursos Multifuncional que
atendem alunos com deficiência visual. O CAP/DV de Marabá é um dos quatro
centros de apoio pedagógicos instalados em todo o Estado do Pará.
32
Conforme os dados da Secretaria Municipal de Educação de Marabá, em
2012 haviam 17 Salas de Recursos Multifuncional (SRM) com o atendimento a 572
alunos, os quais destes 35 são deficientes visuais. Atualmente existem 22 SRM no
município, dentre essas algumas são atendidos os alunos do ensino médio, de
competência da rede estadual de ensino.
O que se tem observado no atendimento especializado principalmente por
parte dos professores que atuam diretamente com escolares com deficiência visual,
é uma inexistência de modelos avaliativos para mensurar competências de leitura e
escrita por exemplo. A equipe que elabora o planejamento desses atendimentos tem
total desconhecimentos de processos de avaliação que poderiam ter um
direcionamento para uma intervenção mais adequada.
Existe uma portaria de n.º 163/2013/GS (MARABÁ, 2013), publicada em 28
de junho de 2013, que prevê o papel do professor do AEE:
II - Realizar avaliação junto aos alunos encaminhados, a fim de verificar suas necessidades educativas especiais. […] IV - Coletar dados, junto a equipe técnico-pedagógica e administrativa, à família e ao professor da sala de aula comum de forma a identificar as necessidades específicas do aluno […]. XIX - Elaborar o registro diário do desenvolvimento do aluno, observando os avanços e dificuldades ocorridos durante a realização das atividades previstas no Plano Diário de Atendimento. XX - Realizar a avaliação contínua dos alunos, registrando através de relatório descritivo, o seu desenvolvimento e as intervenções pedagógicas propostas no período (MARABÀ, 2013, p.4-6).
Esse modelo descrito nos remete a uma forma simplória de observação do
professor que na sua visão de prestador de serviço especializado está de
conformidade com a política nacional da educação especial, mas que redunda em
uma lacuna quando esse aluno é posto em uma avaliação de desempenho feita nos
moldes nacionais.
Nesse sentido, está o reflexo de uma política que vem colocando o Brasil em
posições cada vez piores quanto às habilidades de leitura (BRASIL, 2012). Isto
revela a necessidade da utilização de métodos específicos que contribuam de forma
significativa para melhoria dessas habilidades, e que a capacitação do professor
seja também vinculada a programas estruturados e validados cientifica e
empiricamente (ANDRADE, et al. 2014). Essa implementação e capacitação se for
adaptada para programas que visam o ensino de pessoas com necessidades
educacionais especiais, como os escolares com deficiência visual, teremos então
33
uma relevância não apenas educacional, mas social para esses que, notadamente
são os mais excluídos dessas políticas.
2.6 HABILIDADES DE LEITURA E ESCRITA EM ESCOLARES ALFABETIZADOS
NO SISTEMA BRAILLE E OS DESAFIOS DA AVALIAÇÃO
Diversos estudos foram conduzidos com a finalidade de avaliar habilidades de
leitura e escrita e procurar formas de intervenções específicas para as dificuldades
de aprendizagem de crianças sem deficiências sensoriais.
Assim, a avaliação de habilidades como consciência fonológica tem se
destacado como um importante preditor de aquisição de habilidade de leitura e
escrita, sendo que a consciência fonológica definida como a capacidade de refletir
sobre os sons em suas diferentes unidades. (FARIA e BOTELHO, 2009). Além
disso, estudos de intervenção com o treino de consciência fonológica tem se
mostrado eficaz para a aquisição de competências de leitura e escrita.
Nesse sentido, Capovila e Capovila (2000), verificaram os efeitos do trabalho
com exercícios de consciência fonológica em crianças com baixo nível
socioeconômico e constatou que elas apresentaram melhor desempenho na escrita.
Além de estudos com crianças com desenvolvimento típico, estudos de intervenção
com treino de consciência fonológica revelou que crianças com Síndrome de Down
também se beneficiam desse tipo de abordagem (CARDOSO-MARTINS, 1999). De
fato, crianças com essa síndrome apresentaram melhoras significativas nas
habilidades de leitura.
Há ainda estudos que buscam identificar outros tipos de preditores para a
aquisição de leitura e escrita. Outra medida que tem se relacionado com a
habilidade de leitura é a prova de nomeação automática rápida (NAR). A NAR
envolve a avaliação da velocidade para nomear símbolos visuais, como objetos,
cores, números e letras. Estudos foram feitos com crianças que apresentaram
queixas de aprendizagem, sempre evidenciando que a nomeação rápida estava
diretamente ligada à velocidade de acesso a memória de curto prazo e influenciando
o desenvolvimento da leitura e escrita (FERREIRA et al., 2003). Segundo o estudo
feito com o teste de nomeação rápida automatizada (RAN), o desempenho dos
escolares com queixas de dificuldades de aprendizagem foi significativamente
34
inferior ao de escolares sem histórico de dificuldade de aprendizagem (BICALHO e
ALVES, 2010).
Existem diferentes instrumentos para avaliação de leitura para crianças sem
deficiência sensorial. Um desses instrumentos é o Teste de Competência de Leitura
de Palavras e Pseudopalavras (TCLPP), que avalia o estágio de desenvolvimento de
leitura ao longo das etapas logográficas, alfabética e ortográfica (CAPOVILLA et al.
2004). O teste é formado por uma figura e uma palavra escrita em baixo e a tarefa
do examinando é verificar se a palavra escrita corresponde à figura e se está
grafada corretamente.
Embora os estudos apontem relações entre consciência fonológica e
nomeação automática rápida com a leitura, tais estudo tem focado principalmente
em crianças sem deficiências sensoriais. Assim, parece importante entender como
tais fatores se relacionam com o processo de aquisição da leitura e escrita em
pessoas com deficiência visual que usam o Braille para se comunicar. Dessa forma
a criação e adaptação de instrumentos para avaliação de leitura em cegos pode ser
feito a partir da prova RAN (letras e números em Braille do TCLP adaptado para ser
dito o nome da figura em voz alta).
A aplicação de testes dessa natureza em escolares com deficiência visual
pode ajudar a esclarecer se os preditores de aquisição de leitura em pessoas sem
deficiência sensorial, também apresentam as mesmas características para pessoas
que usam o Braille para a leitura.
Portanto nesse processo de alfabetização, período em que a criança já
passou a interagir também com outros grupos sociais, sobretudo o escolar, é preciso
observar algumas peculiaridades atinentes à estrutura cognitiva da criança cega,
tendo em vista que segundo estudiosos cerca de 80 a 85% das informações chegam
até o cérebro de uma pessoa por intermédio da visão (ALMEIDA, 2014). Essas
peculiaridades estão relacionadas a ocorrência de falhas ou lacunas na estrutura
cognitiva em razão dos modelos de linguagens não verbais serem projetados para
um mundo majoritariamente visual, em detrimento dos elementos hápticos. Neste
sentido, os educadores que assistem crianças cegas devem levar em consideração
as suas dificuldades e particularidades, pois elas precisam ser estimuladas por
meios de linguagens que maximizem os mecanismos do háptico; do contrário, os
educadores podem adotar métodos de condicionamento da criança cega no seu
processo de alfabetização, fato este que condiz com uma prática pedagógica
35
desastrosa que pode causar sérios danos ao processo de aprendizagem da pessoa
cega durante toda a vida.
Por mais que nossa principal pretensão aqui seja problematizar o processo
de desenvolvimento de leitura da criança cega, não podemos deixar de reconhecer
que este processo está inter-relacionado com o processo de escrita. Mas o fato é
que, ainda na fase inicial de alfabetização é preciso atentar para especificidades de
aprendizagem da criança cega, pois as garatujas em relevo e depois, as letras e
sílabas em Braille devem fazer parte do contexto sociocultural que a criança está
inserida, evitando dessa forma que a criança seja treinada apenas para decifrar
simbologias e letras, sem nenhum significado real de mundo.
Para que a criança cega possa desenvolver um processo de alfabetização
de forma plena, é fundamental que a família e a escola, sobretudo, os educadores
que trabalham diretamente com a criança, valorizem e potencialize suas habilidades
e sua condição de sujeito do processo, de forma integral e dentro do seu contexto
sociocultural. Desta feita, a criança terá condições de problematizar suas
experiências, ou seja, terá condições de explorar seus conhecimentos empíricos
para servir de base a seu processo de aprendizagem de escrita e leitura, já que a
leitura de mundo precede a leitura das palavras. Isso dinamizará a aprendizagem da
criança cega, valorizando suas experiências, respeitando sua forma peculiar de ver
ou ler o mundo e o que também é muito importante, combatendo os modelos
padronizados de aprender a ler e escrever a partir de métodos arcaicos de
condicionamento de estímulo e resposta, repressão pelo erro e recompensa pelo
acerto, como se o erro não fizesse parte do processo de aprendizagem da criança.
No âmbito da aprendizagem da leitura a criança cega parte da manipulação
de simbologias e conceitos dados pelas diferentes texturas, diversos formatos e
grandezas de objetos, sinais e símbolos sonoros, exploração corporal e social de
ambientes, interação social de forma verbal, experimento de coisas e situações
através dos sentidos remanescentes, etc. Todos esses elementos fazem parte de
uma gama bem mais diversificada de experiências que a criança usa como base
para aprender a ler em uma fase posterior de alfabetização. Quando esses pré-
requisitos são negados ou ignorados pela escola, essa instituição estará
fracassando e consequentemente, comprometendo o processo de alfabetização da
criança cega.
36
Para Freire (2002), as práticas reacionárias de reprovação sinalisa o
pragmatismo que os educadores praticam, onde só conseguem enxergar os seus
alunos como meros acolhedores do saber pré-elaborado, neutralizando as
experiências de vida desses alunos, que por sinal são ricas em informação e cultura
inacabada.
O avanço no conhecimento da mente humana e dos sofisticados
mecanismos que entram nos processos de aprender está levando os profissionais
do ensino-aprendizagem a ser mais cuidadosos e respeitosos com os alunos que
eram classificados como tendo problemas de aprendizagem (ARROYO, 2004).
As afirmações contundentes de Freire (2002), sobre a concepção do ser
mais enfatizam a razão pela qual entendemos que a ação do educador não pode se
respaldar em ideias fatalistas que, gerada pela ideologia do determinismo, tenta
neutralizar a ação do educador progressista que busca uma autoconsciência
norteada pelos princípios da criticidade. Como afirma o autor, o professor que ”cheio
de si mesmo” visualiza o seu aluno como um paciente, de seus conteúdos, coloca o
seu fazer pedagógico a serviço da ideologia dominante e seletista e, por isso
mesmo, jamais pode promover nas suas aulas um espaço prazeroso que respeite a
relevância da experiência construída pelo seu aluno.
Assim como o educador, o aluno cego é um ser “inconcluso” e
rigorosamente nada que ele faça - na escola ou fora dela – na intenção de ampliar a
sua inquietação pelo conhecimento, deve está alheio ao espaço socioambiental da
qual ele faz parte e interfere como ser humano (FREIRE, 2005, p.84). Por esta razão
e outras de cunho mais sistemático, é que sustentamos a hipótese de que: os
conteúdos e técnicas apresentadas aos alunos cegos devem ser acompanhados de
lucidez, clareza, acessibilidade no sentido de revelar que os mesmos têm intrínseca
relação com o mundo construído pelo educando. Não pretendemos aqui, ser mal
interpretado e despertar no leitor a ideia que esta finalidade dos conteúdos e
técnicas deva limitar-se a uma visão mercadológica e funcionalista que
posteriormente poderá ser vivenciada pelo educando. Mas o que queremos dizer é
que o aluno só se sente contemplado com algo que foi construído numa
coparticipação com o educador, se esta construção for relevante para sua vida
sociocultural (FREIRE, 2005). Portanto, o aluno cego só pratica o descrédito sobre o
que foi proposto pelo professor, só abdica de tal informação, se esta, por excelência,
se fazer dispensável, incapaz de despertar, de provocar a curiosidade no aluno.
37
Nestas circunstâncias o aluno só se submete a tentar aprender por via da disciplina
rigorosa que jamais lhe causará prazer.
Deste modo, compreendemos que a criança cega se desperta para o ato de
aprendizagem da leitura. É mais oportuno considerá-la como sujeito de habilidades e
requisitos peculiares. Nessa perspectiva, é provável que alunos com DV que não
conseguem aprender a ler e escrever, fracassem porque os pré-requisitos não
podem se fazer presentes diariamente no contexto escolar e sociocultural.
Na fase inicial do processo de leitura em Braille, a criança cega passa a ter
contato com termos ou gêneros linguísticos que geralmente até então, não faziam
parte do seu vocábulo ou se já conhecia, era apenas de maneira verbalizada, sem
experimentar. Isso pode ser evidenciado quando a criança é ensinada a ler palavras
como “arco-íris”, “cor do fogo”, “estrela”, “claro/escuro”, “pôr do sol”, “cara de tristeza
ou de alegria”, “gesto de reprovação ou de aprovação de algo”, etc. Esses aspectos
precisam ser bem trabalhados para não se sedimentarem em vias lacunosas de
interpretação do que se lê.
Essas lacunas no ato da leitura podem ocorrer também porque geralmente,
a criança cega não tem contato com o sistema Braille na fase pré-escolar, algo que
limita o seu vocabulário, pois nesta fase, fica restrito ao uso de linguagens
oralizadas, em detrimento da linguagem escrita.
Para iniciação do ensino da leitura em Braille os educadores precisam
desenvolver com a criança cega algumas atividades de predisposição que tem por
finalidade estimular a criança e potencializar suas habilidades. São atividades, por
exemplo, de adequação postural, estimulação da sensibilidade tátil, aprimoramento
da coordenação motora, conhecimento de vários tipos de textura, desenvolvimento
da oralidade com artes musicais, reconhecimento de formas geométricas e formatos
de objetos, dentre outros.
Ao ensinar uma criança cega a ler é preciso que os educadores atentem
para a forma como essa criança está habituada ver o mundo. Uma criança sem DV
conhece as coisas partindo de uma visão global do todo e depois segue para a
análise das partes, quer dizer, quem enxerga busca primeiro uma noção sintética
das coisas; já uma criança cega, conhece as coisas iniciando das partes para o
todo, pois através do tato ela constrói uma percepção analítica das coisas e isso é
característica do ser háptico, é algo sinestésico, devendo ser valorado no
38
desenvolvimento da leitura em Braille, tendo em vista que é nessa dinâmica que o
cognitivo da criança cega trabalha.
Ao iniciar uma leitura de letras, palavras ou frases em Braille, a criança não
dispõe de elementos visuais para primeiro fazer uma visão panorâmica do que se
vai ler, por essa razão, o texto Braille precisa está bem organizado e sistematizado
para não confundir a criança ou levá-la a levantar hipóteses erradas do que ainda
não leu, e tudo que for apresentado como proposta de leitura deverá estar
contextualizado com o meio da criança.
Outro aspecto de extrema relevância a ser considerado na leitura Braille
envolve a leitura simbólica, sobretudo das linguagens não verbais. Em regra, ao se
iniciar o processo de leitura com uma criança vidente é imprescindível que a criança
faça uso de seus conhecimentos pré-adquiridos de leitura e interpretação de
imagens, simbologias e outros elementos que transmitem as mesmas informações
de um texto escrito (linguagem verbal). Contudo, quando se tratar de uma criança
cega deve ser observado que a mesma não pré-adquiriu a experiência de ler e
interpretar imagens e simbologias meramente visuais; a leitura logográfica feita pela
criança cega das linguagens não verbais se dá de forma diferenciada, ou seja,
imagens que proporcione percepção tátil ou sinais e simbologias sonorizadas, ou
ainda, que possa ser percebida com os outros sentidos sensoriais. Nesse contexto,
entendemos que a criança cega também desenvolve leitura simbólica como
predisposição para a leitura Braille, mas a partir das suas peculiaridades de
percepções sensoriais (ALMEIDA, 2014).
Levando em consideração todos esses aspectos, os educadores terão
condições de realizar um processo avaliativo sobre o desenvolvimento de leitura da
criança cega. Poderá analisar questões como: diversidade de códigos e linguagens
assimilados pela criança, o nível real ou em potencial de interpretação do que se lê,
o grau de abstração a partir de experiências já vivenciadas no contexto escolar e
fora dele, a diferenciação entre a escrita e a fonética das palavras, a dicção das
pronúncias, o poder de contextualização dos textos lidos. Sintetizando, a avaliação
deve dar conta de identificar se o aluno está progredindo nível de leitura alfabético
para o nível de letramento, que é a habilidade de ler e compreender o que se está
lendo.
39
III - OBJETIVOS
40
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVO GERAL
Verificar padrões de leitura de palavras, números e letras no sistema Braille
em pessoas com deficiência visual.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Identificar e classificar os tipos de erros durante a leitura de palavras em
Braille.
b) Verificar associações entre o número de acertos na leitura de palavras,
letras e números em Braille com o tipo de DV, idade de perda da visão, idade
cronológica, anos que frequenta a escola e o tempo de exposição ao Braille.
c) Identificar padrão de leitura em Braille em função do tipo de palavras.
41
IV - MÉTODO
42
4. MÉTODO
4.1 Local do estudo A pesquisa foi realizada no Centro de Apoio Pedagógico para o Deficiente
Visual – CAP/DV do município de Marabá, que atua na educação de alunos com
deficiência visual regularmente matriculados desde a educação infantil até os de
cursos de graduação. O centro também trabalha com pessoas com deficiência visual
da comunidade que não frequentam escola regular, mas que precisam aprender a
ler e escrever no sistema Braille, inclui também aulas de Orientação e Mobilidade e
treinamento em tarefas do cotidiano que podem ser realizadas mesmo tendo uma
limitação sensorial. O CAP/DV é uma referência na região Sudeste do Pará, onde
está situada a cidade de Marabá que no último censo tinha 233.669 habitantes
(BRASIL, 2010). A cidade fica localizada numa área estratégica, pelo fato de haver
importantes rodovias, como as BR-230 e BR-155; rota obrigatória para o
escoamento de diversos produtos que abastecem toda a região sul e sudeste do
Estado e está a 500 km da capital Belém. Marabá também oferece atendimento a
escolares de outras cidades vizinhas que não têm centros especializados e por isso
são atendidos neste CAP/DV e em salas de recursos.
4.2 Amostra e desenho do estudo
O estudo adotou um desenho transversal do tipo exploratório. A seleção
amostral seguiu critérios de conveniência e foi formada por 22 de um total de 47
alunos com DV que são atendidos no AEE de Marabá. A faixa etária dos
participantes variou entre de 10 e 47 anos (Média=29,09; Desvio padrão=11,09).
Seis (6) são crianças e adolescentes entre 10 e 18 anos e dezoito (18) estão acima
de 18 anos. Oito (8) do gênero feminino e quatorze (14) do gênero masculino. Sete
(7) estão matriculados no ensino fundamental; sete (7) no ensino médio e dez (10)
em cursos de graduação. Os critérios de inclusão foram: a) alfabetizados e usuários
do sistema Braille; b) matriculados no Atendimento Educacional Especializado
(AEE), em centro especializado ou Sala de Recursos Multifuncional (SRM); c) sem
indicadores de deficiência intelectual, de acordo com informações do prontuário da
escola. A amostra selecionada faz parte de escolas das redes municipais e
estaduais dos municípios de Marabá, Tucuruí, Parauapebas e Nova Ipixuna, todos
localizados no sudeste do Estado de Pará. O projeto foi aprovado pelo Comitê de
43
Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Presbiteriana Mackenzie
sob o processo CAAE 56465916.7.0000.0084 (Anexo II).
Na ficha de atendimento do aluno da escola foram retiradas as informações
relativas a causas da deficiência visual, tipo de cegueira (congênita ou adquirida) e
quando adquirida a idade de aquisição e causa. Na tabela 2 apresenta-se a
distribuição dos participantes em função do tipo de cegueira bem como os
resultados do teste não paramétrico de Igualdade de Duas Proporções que mostram
que não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas na distribuição
das frequências.
Tabela 2. Distribuição dos participantes em função do tipo de cegueira.
Tipo de cegueira N P-valor
Adquirida 13 0,56
Congênita 09
Na tabela 3, observa-se a classificação socioeconômica familiar, sendo a
classe mais representada a C2 (40,9%), seguidas pelas classificações de classes D
e E (31,8%).
Tabela 3: Distribuição dos participantes de acordo com o Critério Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa/ABEP.
Classificação ABEP N %
B2 2 9,09%
C1 4 18,18%
C2 9 40,9%
D-E 7 31,8%
Questionário que inclui uma combinação de itens para identificar a classe social da família. Permite classificar as classes sociais em função do escore em A (35-46), B (23-34), C (14-22), D (8-13) e E (0-7). Quanto mais baixo o escore, menor o poder de compra da família. (Anexo II).
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Na tabela 4 apresenta-se a caracterização do grupo em função de idade,
idade da perda da visão e idade de alfabetização em Braille.
Tabela 4: Caracterização do grupo em função de idade, idade da perda da visão, número de anos que frequenta a escola, idade de alfabetização em Braille e número de anos em contato com o sistema Braille.
Variável Média Desvio Padrão N
Idade 29,09 11,09 22
Idade da perda da visão 8,23 8,68 22
Idade da alfabetização em Braille 18,1 11,0 22
Número de anos que frequenta a escola 12,36 4,26 22
Número de anos em contato com o sistema Braille
10,95 4,75 22
Na tabela 5 temos a distribuição dos participantes em função do nível de
escolaridade com o tipo de deficiência visual, se congênita ou adquirida.
Tabela 5: Distribuição dos participantes de acordo com o nível de escolaridade e o tipo de DV (congênita ou adquirida).
Nível de escolaridade
Quant. Cegueira Congênita
Quant. Cegueira Adquirida
Total
Fund. I (2º - 5º) 2 1 3
Fund. II (6º - 9º) 1 1 2
Ens. Médio 3 4 7
Curso Superior 3 7 10
4.3 Instrumentos
Os seguintes instrumentos foram aplicados ao participante com DV:
1) Teste de Leitura de Palavras baseado no TCLP com transcrição para o
Braille
Avalia a competência de leitura silenciosa de palavras isoladas. A tarefa é
composta por 8 itens de treino e 70 de teste, sendo que cada item é composto por
uma figura e um elemento escrito correspondente. Este pode ser uma palavra ou
uma pseudopalavra. O objetivo é julgar se a palavra escrita corresponde à figura ou
não. Existem 7 subtipos de pares figura-palavra, com dez itens cada, sendo dois
tipos de itens corretos e cinco incorretos: 1) palavras Corretas Regulares(CR), como
FADA sob a figura de uma fada; 2) palavras Corretas Irregulares (CI), como TÁXI,
45
sob a figura de um táxi; 3) palavras com Troca Semântica (VS), como LARANJA,
sob a figura de uma banana; 4) pseudopalavras com Trocas Visuais/Tátil1 (TV/Tátil),
como CAEBÇA, sob a figura de uma cabeça; 5) pseudopalavras com Trocas
Fonológicas (VF), como CANCURU sob a figura de um canguru; 6) Pseudopalavras
Homófonas (PH), como OSPITAU sob a figura de um hospital; e 7) Pseudopalavras
Estranhas (PE), como RASSUNO sob a figura de uma mão. Estes tipos diferentes
de itens permitem identificar e estágio do desenvolvimento da leitura como o
logográfico, alfabético ou ortográfico, bem como as estratégias de leitura
prevalecentes tais como a logográfica, fonológica ou lexical (SEABRA, CAPOVILLA,
2010a).
Na figura 3 observam-se exemplos de cada um dos tipos figura e escrita da
versão original do Teste de Competência de Leitura de Palavras.
Figura 3: Exemplos de cada um dos tipos figura e escrita da versão original do Teste de Competência de Leitura de Palavras (TCLP). Nesta figura estão os itens de treino: Na letra A, uma palavra correta regular (CR: UVA); letra B uma palavra com incorreção semântica (VS: LARANA sob figura de banana); letra C uma pseudopalavra homófona (PH: JÊNIU); na letra D uma pseudopalavra com troca visual/tátil (TV/tátil: CADEIPA); letra E uma com troca fonológica (TF: JUVEIRO); letra F uma palavra correta irregular (CI: CASA); letra G uma palavra correta irregular (CI: CHAVE) e na letra H uma pseudopalavra estranha (PE: PAZIDO) (SEABRA, CAPOVILLA, 2010a).
Em função da DV dos participantes foram efetuadas adaptações ao teste
TCLP. As mesmas serão descritas a continuação.
a) Todas as palavras foram impressas em Braille. Em razão deste tipo de
impressão, os participantes tiveram a leitura tátil como meio para a verificação
1 Será substituído a partir daqui o termo Troca Visual (TV) por Troca Visual/Tátil (TV/Tátil) para
harmonizar as adaptações feitas ao TCLP nas quais não foram utilizados os estímulos visuais originais do teste para comparação com as palavras escritas. A adaptação do TCLP somente utilizou o recurso tátil de leitura de acordo como o sistema Braille.
46
de competências de leitura de palavras. Foi necessário realizar adaptações
no TCLP, pois em alguns tipos de palavras, eles não teriam como comparar
uma representação de figuras com as palavras lidas para responder ao teste.
Como os participantes não tem o acesso visual ao estímulo para julgar uma
palavra como certa ou errada as instruções do teste foram modificadas e
adaptadas à condição de DV. As adaptações serão descritas seguidamente
na mesma ordem em procedeu-se com os participantes:
Foi solicitada a leitura de cada palavra (o pesquisador atribuiu escore 1 ou
escore 0 a depender da leitura certa ou errada, independentemente da
escrita da palavra).
Foi solicitado o julgamento correto ou incorreto da escrita de cada palavra.
No caso de palavras que foram julgadas com escrita errada foi solicitada a
identificação do tipo de erro e a correção sugerida à palavra para verificar
se o participante reconhecia o erro. Foram instruídos a soletrar a palavra
para auxiliar no julgamento, caso achassem necessário.
No próximo parágrafo serão descritas outras modificações nos casos em que o
desempenho no teste dependia do acesso visual ao estímulo.
b) Foi necessário excluir do teste as palavras com trocas semânticas ou vizinhas
semânticas (VS), pois são palavras ortograficamente corretas, mas
semanticamente incorretas que dependiam do reconhecimento visual do
estímulo para poder responder ao teste. Foram elas: palavra escrita
CACHORRO sob figura de camundongo, TREM sob figura de ônibus, TERRA
sob figura de árvore, SOFÁ sob figura de cama, COBRA sob figura de peixe,
RÁDIO sob figura de telefone, AVIÃO sob figura de águia, MAÇÃ sob figura
de morango, CHINELO sob figura de sapato e SORVETE sob figura de
bombom (SEABRA, CAPOVILLA, 2010a). Também foi necessário excluir um
item com troca fonológica (VF) ou vizinha fonológica. Foi a palavra FACA,
pois a mesma no teste aparece grafada corretamente, mas indicando a figura
de uma vaca. O examinando com DV não poderia rejeitá-la sem o acesso à
figura.
47
Feitas as adaptações necessárias, de 70 palavras que o teste tem
originalmente, 59 fizeram parte da versão final. De 8 itens de treino na versão
original, somente fizeram parte do teste adaptado 7 palavras, totalizando 66 palavras
(entre os itens de treino e os itens do teste).
Na tabela 6 pode ser observada a lista de palavras da versão adaptada do
teste TCLP, após as exclusões das palavras com trocas semânticas e a palavras
com troca fonológica. Essa foi a lista utilizada pelo pesquisador no momento da
coleta de dados para registro do tipo de resposta (certo ou errado) relativa à leitura
da palavra bem como a descrição do tipo de erro. Optou-se por manter na 1ª coluna
o tipo de figura para melhor visualização dos itens do teste na sua versão original.
Tabela 6. Lista de palavras da versão adaptada do Teste de Competência de Leitura de Palavras.
Figuras Palavra escrita
PONTUAÇÃO: 0 = Erro/ 1 = acerto
Braille tinta Indicar o tipo de erro
UVA UVA
GÊNIO JÊNIU
CADEIRA CADEIPA
CHUVEIRO JUVEIRO
CASA CASA
CHAVE CHAVE
REMÉDIO PAZIDO
FADA FADA
SANFONA XUNVACO
BRUXA BRUXA
CABEÇA CAEBÇA
ABELHA HAPELHA
TÁXI TÁXI
PÁSSARO PÁÇARU
COELHO ASPELO
BATATA BATATA
GATO GAIO
XADREZ XADREZ
PÊRA FÊRA
TOMADA TOMADA
SINAL CINAU
ÓCULOS MITU
CALÇAS CALÇAS
CANGURU CANCURU
CRIANÇAS CRIANQAS
GELO JÊLU
MÃO RASSUNO
BUZINA BUZINA
AGASALHO AGASALHO
MÁGICO MÁCHICO
TESOURA TESOURA
VENTILADOR VENTILATOR
MAPA MAPA
ALMOÇO AUMOSSU
48 Tabela 5. Lista de palavras da versão adaptada do Teste de Competência de Leitura de Palavras.
(continuação)
TELEVISÃO TEIEUISÃO
APAGAR APATAR
PINCEL PINCEL
PALHAÇO MELOCE
MAIÔ MAIÔ
CHINELO CAINELO
PIJAMA PIJAMA
MEIA FOTIS
EXÉRCITO EXÉRCITO
HOSPITAL OSPITAU
CHAPÉU XAPEL
PIPOCA PIPOTA
JACARÉ JACAPÉ
MENINO MININU
BONÉ BONÉ
TIGRE JAMELO
RELÓGIO RELÓCHIO
PRINCESA PRINCESA
PARQUE PAPOUE
URSO SOCATI
MENINA MENINA
TÁXI TÁCSI
EXERCÍCIO EXERCÍCIO
OVELHA OFELHA
ESTRELA ESTERLA
HOMEM ÓMI
BONECA PONÉCA
BOXE BÓQUISSE
PIPA PIPA
TÊNIS CATUDO
CADERNO CADEPMO
A versão final do teste foi impressa utilizando a impressora térmica, conhecida
como máquina fusora (figura 4).
Figura 4. Máquina fusora. (imagem do próprio pesquisador, tirada do Núcleo de Acessibilidade e
Inclusão Acadêmica da Universidade do Sul e Sudeste do Pará - NAIA/UNIFESSPA).
49
Na impressão Braille as palavras ficam mais espaçadas não sendo possível
alterar os pontos que formam os códigos, necessitam de mais folhas, diferente de
uma impressão na forma padrão em tinta, por isso a quantidade de palavras foi
reduzida a cinco itens por página. As margens de cada folha ficaram com 1cm para
um melhor posicionamento dos dedos e uma leitura confortável. Todas as palavras
foram alinhadas da esquerda para a direita seguindo a leitura padrão. O
espaçamento entre as linhas seguiu o da própria impressora Braille.
2) Teste de Nomeação Automática Rápida – RAN:
O teste é dividido em quatro provas: cores, objetos, letras e números. Os
estímulos do teste apresentam alta frequência na língua portuguesa e são repetidos
randomicamente 10 vezes em cada uma das 5 linhas, totalizando um total de 50
estímulos por prancha. As pranchas representam as provas. Em todas as provas, o
examinador pergunta o nome de cada estímulo e solicita que o sujeito nomeie cada
item o mais rápido possível sem cometer nenhum erro.
No caso desse estudo, por se tratar de uma amostra com DV, não foram
aplicados os testes de cores e objetos, apenas os testes de letras e números. Após
selecionados os estímulos, os mesmos foram transcritos para Braille. Cada estímulo
foi apresentado de maneira oral em voz audível pelo examinador, na sequência o
participante com DV leu as letras e números e avaliou a congruência entre o item
que escutou e sua escrita em Braille, concomitantemente foi registrada a pontuação
e tempo de reação de duração na tarefa do teste. Foram computados o número de
erros e o tempo total de nomeação para todos os itens da prancha, diferentemente
da versão original do teste que somente são levados em consideração o tempo de
nomeação.
As letras foram impressas em Braille seguindo o padrão da grafia Braille para
língua portuguesa. As letras foram as mesmas da versão original do teste,
compostas por vogais e consoantes sendo apresentadas de maneira aleatória e não
seguindo a sequência alfabética. Na figura 6 pode ser observada a distribuição
aleatória das letras „O, A, D, P e S‟ do teste. Assim como as letras, os números
foram impressos também em Braille respeitando o código matemático unificado –
CMU e escolhidos igualmente aos da versão original do teste (WOLF e DENCKLA,
2005). Foram eles: 7, 4, 2, 9 e 6 (figura 6).
50
LETRAS
O A S D P A O S P A
S D A P D O A P S O
A O S P S D P O D A
D A P O D S A S O P
A O S P S D P O D A
NÚMEROS
2 6 9 4 7 6 2 9 7 4
9 4 2 7 4 2 6 7 9 6
6 2 9 7 4 2 6 7 9 6
4 6 7 2 4 9 6 9 2 7
9 2 4 7 6 7 2 6 4 9
Figura 5. Itens do Teste de Nomeação Automática Rápida/Letras e Números.
Na figura 6 podem ser observados as letras e números do Teste de
Nomeação Automática Rápida na impressão em Braille.
LETRAS
Figura 6. Teste de Nomeação Automática Rápida/ Letras e Números na impressão em Braille.
51
NÚMEROS
Figura 6. Teste de Nomeação Automática Rápida/ Letras e Números na impressão em Braille
(continuação).
3) Formulário de classificação socioeconômica familiar: abrangem dados e
informações para caracterização do cuidador em termos de idade, escolaridade e
nível socioeconômico. Os dados de nível socioeconômico serão acessados
mediante a aplicação do Critério Brasil (Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa, 2015). As informações permitem estratificar classes A1, A2, B1, B2, C1,
C2, D e E (Anexo III).
4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
O estudo foi desenvolvido nos meses de setembro de 2016 a novembro de
2016 em duas etapas. Na primeira etapa foi realizado um encontro com os
responsáveis pelos menores de 18 anos e com os adultos para apresentação da
proposta da pesquisa. Para tal, foi solicitado assinatura do termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE) de cada participante após serem explicados os objetivos,
métodos, benefícios e riscos potenciais do estudo.
A segunda etapa foi a coleta de dados junto aos participantes com DV. Os
testes foram coletados e aplicados individualmente nas dependências do Centro de
Apoio Pedagógico na cidade de Marabá, em sala devidamente reservada para as
aplicações.
52
Após finalização do estudo foi feita uma devolutiva mediante relatório
individual dos resultados da avaliação, entregue por escrito aos pais de alunos
menores de idade e aos alunos adultos participantes.
4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
Todos os dados coletados foram organizados em um banco com o auxílio do
programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 19.0. O teste
de leitura de palavras adaptado do TCLP e o teste RAN foram corrigidos em função
de número de acertos e erros. Como foram feitas adaptações no teste TCLP, os
resultados relativos ao número de acertos não foram comparados com amostras
normativas.
Foram conduzidas análises descritivas dos dados mediante uso de tabelas de
frequências simples e tabelas cruzadas com medidas de associação e testes de
significância, assumindo-se o intervalo de 95% de confiança para valor de p≤0,05).
Foi conduzido teste T para comparar os desempenhos no teste RAN (Número e
Letras) em função de tempo de execução e número de acertos. Análises de
correlação de Pearson foram realizadas para verificar o grau de associação entre o
tempo de execução e números de acertos do teste RAN-Letras e RAN-Números,
bem como para testar associações entre as variáveis idade cronológica, anos que
frequenta a escola, idade de perda da visão e tempo de exposição ao sistema Braille
com o número de acertos nos testes de leitura TCLP e teste de nomeação RAN
(Letras e Números). Na interpretação dos coeficientes de associação foi adotado o
seguinte critério: índices superiores a 0.7 foram considerados correlação forte;
índices entre 0.5 a 0.7, considerados correlação moderada; índices abaixo de 0.5
até 0.3 serão considerados fracos e índices abaixo de 0.3 serão indicam uma
correlação desprezível (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). Para comparar
possíveis diferenças no número de acertos em função do tipo de palavras do teste
TCLP (CR, CI, TF, PH, TV/Tátil e PE) foi conduzida uma análise multivariada. As
respostas dadas pelos participantes nas quais era solicitada a indicação do tipo de
correção feito
Como foi descrito no método as instruções do TCLP envolveram três etapas: na
primeira era solicitado a leitura de cada palavra atribuindo-se escore 1 ou escore 0 a
depender da leitura certa ou errada, independentemente da escrita da palavra; na
53
segunda etapa foi solicitado o julgamento correto ou incorreto da escrita de cada
palavra e na terceira etapa, no caso de palavras que foram julgadas com escrita
errada, os participantes eram instruídos a identificar o tipo de erro e a correção
sugerida à palavra para verificarmos se o participante reconhecia o erro e se
mostrava um bom ou mau leitor. Para isso foi atribuído uma pontuação a cada
correção: certo (valor 1, quando no estímulo “caebça” - palavra com TV/Tátil,
identificar a inversão das letras „b‟ e „e‟ como incorretas) e incorreta (valor 0, quando
no estímulo “táxi” – palavra CI, não identificar o erro e ainda corrigir para uma
palavra errada, no caso „taxa‟ e „túxi‟). Com base nessa codificação foram calculados
os números de acertos e erros nas correções feitas.
54
V - RESULTADOS
55
5. RESULTADOS
A continuação a descrição dos resultados do estudo. Os resultados do
Teste de Nomeação Automática Rápida (RAN) podem ser verificados na tabela 7.
Diferente dos resultados no TCLP, os participantes atingiram pontuações mínimas
muito elevadas e próximas do escore total máximo de 50 pontos. A média de
acertos, tanto para letras quanto para números foi elevada também. Um teste T para
comparar os desempenhos nos testes de número e letras foi conduzido cujos
resultados evidenciam que houve diferenças estatisticamente significativas entre o
tempo de execução do teste RAN para letras e para números. Foi observado que o
tempo de execução na prova de letras foi inferior ao da prova de números. Já em
relação ao número de acertos essa diferença não foi constatada.
Tabela 7. Médias de acertos no Teste de Nomeação Automática Rápida (RAN).
RAN Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Teste T (valor
t/valor de p)
N
Tempo de execução
RAN-Letras (segundos)
64,86 53,26 27,00 283,00
t=2,13 p=0,04
22
Tempo de execução
RAN-Números (segundos)
80,40 44,83 33,00 200,00
22
Acertos RAN-Letras
49,72 ,55 48,00 50,00 t=1,71 p=0,09
22
Acertos RAN-Números
48,55 3,09 36,00 50,00 22
Foi conduzida uma análise de correlação de Pearson para verificar o grau de
associação entre o tempo de execução do teste RAN-Letras e o tempo de execução
do teste RAN-Números obtendo-se rho=0,77, p=0,000, isto é, na medida que
aumenta o tempo na execução em um dos testes, o tempo para desempenhar a
tarefa no outro teste também aumenta. Já entre os números de acertos no mesmo
teste RAN para letras e números não foi verificada associação estatisticamente
significante.
Foi conduzida uma análise de correlação de Pearson para verificar o grau de
associação das variáveis idade cronológica, anos que frequenta a escola, idade de
perda da visão e tempo de exposição ao sistema Braille com o número de acertos
nos testes de leitura TCLP e teste de nomeação RAN (Letras e Números). Os
56
resultados relativos ao teste de nomeação RAN (Letras e Números) são
apresentados na tabela 8. Observa-se que existem correlações positivas
estatisticamente significantes entre o Tempo de execução. RAN- Letras e RAN-
Números e a idade em que a pessoa adquiriu a DV, indicado que quanto maior a
idade, maior o tempo para executar as tarefas de ambos os testes. Verificou-se
também que a idade em que a pessoa adquiriu a DV correlacionou negativamente e
com significância estatística com número de acertos no RAN-Letras sugerindo que
quanto maior a idade pior é o desempenho no teste. As correlações entre essas
mesmas variáveis e o desempenho no teste TCLP não mostraram associações
estatisticamente significantes e por isso não constam na tabela.
57
Tabela 8. Coeficientes de correlação de Pearson referentes à associação idade cronológica, anos que frequenta a escola, idade de perda da visão e tempo de exposição ao sistema Braille com o número de acertos nos testes de nomeação RAN.
Variáveis
Idade cronológica
Anos que frequenta a escola
Idade de perda da visão
Tempo de exposição ao Sistema Braille
Tempo de execução. RAN- Letras (em segundos)
Acertos RAN-Letras
Tempo de execução. RAN- Números (em segundos)
Acertos RAN-Números
Idade cronológica Correlação 1 ,360 ,524* ,212 ,225 -,137 ,340 -,002
p-valor ,099 ,012 ,344 ,314 ,543 ,121 ,995
Total de participantes
22 22 22 22 22 22 22 22
Anos que frequenta a escola
Correlação 1 ,307 ,490* ,187 -,199 ,259 -,218
p-valor ,165 ,021 ,406 ,374 ,244 ,330
Total de participantes
22 22 22 22 22 22 22
Idade de perda da visão
Correlação 1 -,301 ,636** -,455* ,665
** ,121
p-valor ,174 ,001 ,034 ,001 ,592
Total de participantes
22 22 22 22 22 22
Tempo de exposição ao Sistema Braille
Correlação 1 -,272 ,031 -,207 -,192
p-valor ,221 ,890 ,355 ,391
Total de participantes
22 22 22 22 22
Tempo de execução. RAN- Letras (em segundos)
Correlação 1 -,769** ,772** ,071
p-valor. ,000 ,000 ,755
Total de participantes
22 22 22 22
Acertos RAN-Letras Correlação 1 -,605** -,104
p-valor ,003 ,645
Total de participantes
22 22 22
Tempo de execução. RAN- Números (em segundos)
Correlação 1 -,262
p-valor. ,239
Total de participantes
22 22
Acertos RAN-Números Correlação 1
p-valor.
Total de participantes
22
Legenda *Coeficiente de correlação estatisticamente significativo (p≤0,05) **Coeficiente de correlação estatisticamente significativo (p≤0,001)
58
Na figura 7 podem ser observados os dados referentes ao desempenho dos
participantes no TCLP adaptado. Verifica-se um número baixo de acertos em vários
tipos de palavras. As médias maiores de acertos foram registradas nas palavras
correta regular (0,89) e correta irregular (0,80). Os piores desempenhos verificaram-
se nas pseudopalavras homófonas (0,29) e pseudopalavras estranhas (0,42).
Figura 7. Distribuição de médias de acerto de acordo com tipo de palavra do teste TCLP adaptado.
Legenda:
CR = Corretas regulares CI = Corretas Irregulares TF = Trocas fonológicas PH = Pseudopalavras Homófonas TV/Tátil = Trocas visuais/tátil PE = Pseudopalavras Estranhas
Para comparar possíveis diferenças no número de acertos em função do tipo
de palavras do teste TCLP adaptado (CR, CI, TF, PH, TV/Tátil e PE) foi conduzida
uma análise multivariada (tabela 8). Todas as diferenças de médias de acertos entre
os tipos de palavras foram diferentes com significância estatística com exceção das
palavras com TV/Tátil e PE e as palavras PH e PE.
59
Tabela 9. Diferenças de médias no número de acertos em função do tipo de palavras do teste TCLP (CR, CI, TF, PH, TV/Tátil e PE).
Fator 1 Fator 2 Diferença de
médias (1-2)
Erro padrão Valor de p.a
CR
(Média de
acerto=0,89)
CI ,10* ,037 ,014
TF ,33* ,035 ,000
PH ,60* ,038 ,000
TV ,42* ,032 ,000
PE ,47* ,043 ,000
CI
(Média de
acerto=0,80)
CR -,10* ,037 ,014
TF ,23* ,029 ,000
PH ,50* ,033 ,000
TV ,32* ,037 ,000
PE ,37* ,050 ,000
TF
(Média de
acerto=0,57)
CR -,33* ,035 ,000
CI -,23* ,029 ,000
PH ,27* ,038 ,000
TV ,09* ,040 ,024
PE ,14* ,046 ,005
PH
(Média de
acerto=0,29)
CR -,60* ,038 ,000
CI -,50* ,033 ,000
TF -,27* ,038 ,000
TV -,18* ,043 ,000
PE -,13* ,043 ,005
TV/Tátil
(Média de
acerto=0,47)
CR -,42* ,032 ,000
CI -,32* ,037 ,000
TF -,09* ,040 ,024
PH ,18* ,043 ,000
PE ,045 ,039 ,261
PE
(Média de
acerto=0,42)
CR -,47* ,043 ,000
CI -,37* ,050 ,000
TF -,143* ,046 ,005
TV ,136* ,043 ,005
PH -,045 ,039 ,261
Legenda:
CR = Corretas regulares CI = Corretas Irregulares TF = Trocas fonológica PH = Pseudopalavras Homófonas TV/Tátil = Trocas visuais/tátil PE = Pseudopalavras Estranhas
60
Nas tabelas 10 até a 15 observam-se as distribuições dos tipos de correções
sugeridas pelos participantes às palavras do teste TCLP adaptado após julgamento
da escrita destas como incorreta.
61
Tabela 10. Tipos de correções sugeridas pelos participantes às palavras corretas regulares do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta.
Tipo de palavra
CR
Tipo de correção sugerida à palavra
1-Maiô 2- Batata 3-Tomada 4-Tesoura 5- Mapa 6- Calças 7- Buzina
Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
1-Maio Não Sim Não Ô O Sim Não Não Não
1-Maior Não Sim (R) Ô O Sim Não Não Não
2-Batáta Não Não Não A Á Não Não Não Não
3-Tomáda Não Não Não A Á Não Não Não Não
4-Tisolra I E U Á
Não Não Não Não Não Não Não
4-Tezôra S Z (U) Não Não Não Sim Não Não
4-Tezoura S Z Não Não Não Não Não Não Não
5- Mapá A Á Não Não Não Não Não Não Não
5- Mâpa A Â Não Não Não Não Não Não Não
5- Mápa A Á Não Não Não Não Não Não Não
6- Calsas Ç S Não Não Não Não Não Não Não
6- Cauças L U Não Não Não Não Não Não Não
7- Busina Z S Não Não Não Não Não Não Não
Total 10 3 1 4 2 1 0 0
62
Tabela 11. Tipos de correções sugeridas pelos participantes às palavras corretas irregulares do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta.
Tipo de palavra
CI
Tipo de correção sugerida à palavra
1- Bruxa 2- Táxi 3- Princesa 4- Xadrez
Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
1- Broxa U O Não Não Não Não Não Não Não
1- Brucha X CH Não Não Não Não Não Não Não
2- Taxa I A Sim Não Não (Á A) Não Não Não
2- Túxi Á Ú Não Não Não Não Não Não Não
2- Tax Não (I) Não Não (Á A) Não Não Não
2- Tachi X CH Não Não Não (Á A) Não Não Não
3- Princeza S Z Não Não Não Não Não Não Não
4- Xadrêz Z S Não Não Não Não (Ê) Não Não
Total 7 1 0 0 3 1 0 0
Tabela 12. Tipos de correções sugeridas pelos participantes às palavras com trocas fonológicas do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta.
Tipo de palavra TF
Tipo de correção sugerida à palavra
1- Hapelha 2- Apatar 3- Ofelha 4- Cancuru 5- Máchico
Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
1- Hapilha E I Não Não Não Não Não Não Não
1- Capela H C (H) Não Não Não Não Não Não
1- Abelha P B Não Não Não Não Não Não Não
2- Apartar Não Não (R) Não Não Não Não Não
3- Oferta LH T Não (R) Não Não Não Não Não
3- Ovelha F B Não Não Não Não Não Não Não
4- Canguru C G Não Não Não Não Não Não Não
4- Calculadora Não Não (L) Não Não Não (ladora) Não
4- Cachorro Não (N) Não Não Não Não (chorro) Não
5- Mágico CH G Não Não Não Não Não Não Não
Total 8 2 3 8 0 0 2 0
63
Tabela 13. Tipos de correções sugeridas pelos participantes às pseudopalavras homófonas do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta.
Tipo de palavra PH
Tipo de correção sugerida à palavra
1- Bóquisse 2- Cinau 3- Jêlu 4- Tácsi 5- Ómi
Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
1- Burrice Ó U
QU RR SS C
Não Não Não Não Não Não Não
1- Boqueira I E
SS R E A
Sim Não Ó O
Não Não Não Não
2- Cinal U L Não Não Não Não Não Não Não
3- Jilo E I O U
Não Não Não Não Não Não Não
4- Taxe CS X I É
Não Não Não Não Não Não Não
4- Tási Não (C) Não Não Não Não Não Não
5- Homem I E
Não (H) (M)
Não Não Não Não Não
5- Umil Ó U Não (L) Não Não Não Não Não
Total 13 1 3 1 0 0 0 0
64
Tabela 14.Tipos de correções sugeridas pelos participantes às palavras com trocas visuais do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta.
Tipo de palavra TV/Tátil
Tipo de correção sugerida à palavra
1- Caebça 2- Gaio 3- Fêra 4- Cainelo 5- Esterla 6- Cadepmo 7- Crianqas 8- Teieuisão 9- Paroue
Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
1- Caimbra E I Ç R
Não (M) Não Não Não Não Não
2- Galho I LH Não Não Não Não Não Não Não
2- Joia G J A O O A
Não Não Não Não Não Não Não
2- Gaiola Não Não (L)
(A) Não Não Não Não Não
3- Fera Não Sim Não Ê E Não Não Não
3- Feira Não Não (I) Não Ê E Não Não Não
4- Carneiro I R L R
Não Não Não Não Não Não Sim (I)
4- Canela O A (I) Não Não Não Não Não Não
4- Camelo N M (I) Não Não Não Não Não Não
4- Castelo I S N T
Não Não Não Não Não Não Não
5- Estela Não (R) Não Não Não Não Não Não
5- Esterna L N Não Não Não Não Não Não Não
5- Esteira Não (L) (I) Não Não Não Não Não
6- Cadete M T O E
(P) Não Não Não Não Não Não
6- Cardápio E A M I
Não (R) Não Não Não Não Não
65
Tabela 14.Tipos de correções sugeridas pelos participantes às palavras com trocas visuais do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta (continuação).
6- Caderno P M M N
Não Não Não Não Não Não Não
7- Crianças Q Ç Não Não Não Não Não Não Não
8- Televisão I L U V
Não Não Não Não Não Não Não
8- Reunião T R
(I) (E) (S)
(N) Não Não Não Não Não
9- Papel R P
(O) (U)
(L) Não Não Não Não Não
9- Papua R P E A
(O) Não Não Não Não Não Não
Total 26 12 8 0 2 0 0 1
Tabela 15. Tipos de correções sugeridas pelos participantes às pseudopalavras estranhas do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta.
Tipo de palavra PE
Tipo de correção sugerida à palavra
1- Xunvaco 2- Aspelo 3- Mitu 4- Rassuno 5- Meloce 5- Dilha 6- Fotis 7- Jamelo 8- Socati 9- Catudo
Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
1- Suvaco X S (N) Não Não Não Não Não Não
2- Áspero L R Não Não Não Não Não Não Não
2- Espelho A E Não (H) Não Não Não Não Não
2- Aspecto L T Não (C) Não Não Não Não Não
3- Mito U O Não Não Não Não Não Não Não
4- Rassudo N D Não Não Não Não Não Não Não
66
Tabela 15. Tipos de correções sugeridas pelos participantes às pseudopalavras estranhas do TCLP adaptado julgadas com escrita incorreta (continuação).
4- Rascunho Não (S) (C)
(H) Não Não Não Não Não
5- Melancia O A E I
Não (N e A) Não Não Não Não Não
5- Filha D F Não Não Não Não Não Não Não
5- Telha D T I E
Não Não Não Não Não Não Não
5- Dia Não (LH) Não Não Não Não Não Não
6- Fontes I E (N)
6- Fotos I O Não Não Não Não Não Não Não
6- Fortis Não Não (R) Não Não Não Não Não
7-Camelo J C
7- Janela M N O A
Não Não Não Não Não Não Não
8- Sucata O U I A
Não Não Não Não Não Não Não
8- Soquete C QU A E I E
Não Não Não Não Não Não Não
8- Tomate S T C M I E
Não Não Não Não Não Não Não
9- Canudo T N Não Não Não Não Não Não Não
9- Caduco T D D C
Não Não Não Não Não Não Não
9- Cartucho D CH Não (R) Não Não Não Não Não
Total 28 3 8 0 0 0 0 0
67
Observam-se nas tabelas 10 até 15 correções que, na tentativa de dar
significado à palavra lida, envolveram trocas da palavra-estímulo do teste para
outras palavras com predomínio de erros baseados em critérios por aproximação
semântica. Por exemplo:
a) Estímulo do teste (Correta irregular): “táxi” para “taxa”.
b) Estímulo do teste (Troca Visual/Tátil): “cainelo” foi corrigido “carneiro”; “gaio” para
“galho”; “caebça” para “câimbra”; “esterla” para “estela”.
c) Estímulo do teste (Troca Fonológica): “hapelha” para “abelha”; “cancuru” para
canguru”.
d) Estímulo do teste (Pseudopalavra Estranha): “rassuno” para “rascunho”, “meloce”
para “melancia”; “fotis” para “fontes”.
Outros tipos de correções foram feitas predominando erros de processamento
fonológico da palavra lida no teste para efetuar a correção, por exemplo:
a) Estímulo do teste (Correta regular): “maiô” para “maio”. Neste caso há um
processamento fonológico errado da palavra lida e com base nele o estímulo do
teste foi modificado evidenciando um erro de leitura.
b) Estímulo do teste (Correta irregular): “xadrez” para “xadrés” e “chadrez”. Neste
caso há um processamento fonológico e ortográfico errado da palavra lida e com
base nele o estímulo do teste foi modificado evidenciando um erro de leitura.
c) Estímulo do teste (Troca Visual/Tátil): “fêra” foi corrigido para “fera” e “feira”.
Nesses dois casos a correção seguiu tanto critérios de troca fonológica como
aproximação semântica.
d) Estímulo do teste (Troca Fonológica): “máchico” foi corrigido para “mágico”. Nesse
caso a correção seguiu tanto critérios de troca fonológica como aproximação
semântica.
e) Estímulo do teste (Pseudopalavra Estranha): “xunvaco” para “suvaco”. Nesse
caso a correção seguiu tanto critérios de troca fonológica como aproximação
semântica.
Na tabela 16 observa-se a distribuição dos tipos de correções sugeridas pelos
participantes por categoria de palavras do teste TCLP adaptado. As categorias de
palavras que mais correções receberam foram as palavras com troca visual (26),
seguidas das pseudopalavra estranha (28) e pseudopalavra homófona (13). Já os
tipos de correções que mais predominaram, tanto as correções certas ou incorretas
foram com base na troca de letras (92), adições (23) e omissões (22).
68
Tabela 16. Distribuição dos tipos de processamentos envolvidos nas correções sugeridas às palavras julgadas com escrita incorreta no teste TCLP
adaptado.
Tipo de palavra
Tipo de processamento envolvido na correção
Total Troca Omissão Adição Troca
Acentuação Omissão de Acentuação
Adição de Acentuação
Acréscimo sufixo
Alteração de ordem
CR 10 3 1 4 2 1 0 0 21
CI 7 1 0 0 3 1 0 0 12
TF 8 2 3 0 0 0 2 0 15
PH 13 1 3 1 0 0 0 0 17
TV/Tátil 26 12 8 0 2 0 0 0 48
PE 28 3 8 0 0 0 0 0 39
Total 92 22 23 5 7 2 2 1 154
Legenda:
CR = Corretas regulares CI = Corretas Irregulares TF = Trocas fonológicas PH = Pseudopalavras Homófonas TV/Tátil = Trocas visuais/tátil PE = Pseudopalavras Estranhas
69
Como apresentado no método nas palavras que foram julgadas com escrita
errada, os participantes foram instruídos a identificar o tipo de erro e a correção
sugerida à palavra. Com isso se verificou se o participante reconhecia o erro para
avaliar se este era um bom ou mau leitor. Na tabela 17 podem ser observados os
números de correções certas e incorretas sugeridas pelos participantes às palavras
do teste. Observa-se que as palavras com maior número de correções incorretas
sugeridas pelos participantes foram as PH (65%), TV (60,5%) e PE (57,7%) e as
palavras com os maiores números de correções certas foram as CR (90%), CI
(79,5%) e TF (69,1%).
Tabela 17. Distribuição do número de correções certas e incorretas sugeridas pelos participantes às
palavras por categorias do teste TCLP adaptado.
Tipo de palavra / Tipos de correções sugeridas
CR (10 palavras)
CI (10 palavras)
TF (9 palavras)
PH (10 palavras)
TV/Tátil (10 palavras)
PE (10 palavras)
Total (59 palavras)
Certa 198 175 127 77 87 93 757
Incorreta 22 45 71 143 133 127 541
Percentual de correção certa
90% 79,5% 64,1% 35% 39,5% 42,3% 58,32%
Percentual de correção incorreta
10% 20,5% 35,9% 65% 60,5% 57,7% 41,68%
Legenda:
CR = Corretas regulares CI = Corretas Irregulares TF = Trocas fonológicas PH = Pseudopalavras Homófonas TV/Tátil = Trocas visuais/tátil PE = Pseudopalavras Estranhas
Na tabela 18 observa-se a distribuição de tipos de erros na leitura por
categorias de palavras do teste TCLP adaptado em função da escrita no sistema
Braille. Os erros mais comuns que os participantes cometeram foram relativos ao
acréscimo de pontos na cela (2), omissão de pontos (3), inversão de pontos
superior/inferior (4) e inversão 1ª coluna/2ª coluna (3). Por exemplo, na palavra “táxi”
o participante leu “túxi”, uma palavra inexistente, mas que devido a inversão de um
ponto da 1ª coluna para a segunda, o ponto 1 foi erroneamente lido como ponto 4 e
pela configuração da cela Braille a representação do grafema “á” se tornou em “ú”.
Observou-se o mesmo tipo de erro na palavra “ómi” cuja leitura gerou a palavra
“umil”: a representação em Braille do grafema “ó” é muito parecida com o “u”, mas
70
que ao acrescentar um “l” na tentativa de dar algum sentido a palavra esta é lida
erroneamente. Nas pseudopalavras estranhas ocorrem os mesmos erros, mas com
uma característica peculiar, no qual o leitor lê a palavra inexistente do teste e faz
inversões e omissões, como por exemplo, na palavra “dilha”, onde leu “filha”, a
representação no Braille do grafema “d” é muito parecida com o “f”, por isso ocorre
esse tipo de troca, assim como na palavra “catudo”, que pela inversão do ponto 2 da
representação do grafema “t” para o ponto 1 no Braille o leitor lê a palavra “canudo”,
fazendo essa troca.
71
Tabela 18. Distribuição de tipos de erros identificados nas correções sugeridas pelos participantes às palavras do TCLP adaptado em função de escrita no
sistema Braille.
Tipo
de palavra
Palavra do Teste
Escrita em Braille
Pronúncia Escrita em Braille
Tipo de erro na escrita Braille
Omissão de
pontos
Acréscimo de pontos
Inversão de pontos (sup/inf)
Inversão de pontos
(1ª col./2ª col.)
CR Tesoura Tisolra Não Não
eiNão
CI Táxi Túxi Não Não Não
áú
TF Hapelha Hapilha Não Não
ei Não
PH
Ómi Umil Não
L Não
ó uBóquisse Burrice
Não Não Não ó u
TV/Tátil Teieuisão Televisão
u v Não Não Não
Esterla Estela r Não Não Não
PE
Aspelo Áspero Não r Não Não
Rassuno Rassudo n d Não Não NãoDilha Filha Não Não
f d NãoCatudo Canudo Não Não
t n Não Total de erros 3 2 4 3
72
Na tabela 19 observa-se a distribuição de tipos de erros identificados nas
correções sugeridas pelos participantes às palavras do TCLP em função de
hipóteses de processamento fonológico, ortográfico e semântico. Os erros mais
comuns que os participantes cometeram foram as trocas fonológicas e as trocas por
aproximação semântica.
Tabela 19. Distribuição de tipos de erros identificados nas correções sugeridas pelos participantes às
palavras do TCLP adaptado em função de hipóteses de processamento fonológico, ortográfico e
semântico.
Tipo de palavra
Palavra do Teste
Pronúncia Hipóteses de tipo de
processamento associado a correção das palavras
CR
Maiô Maio Maior
Troca por aproximação semântica
Batata Batáta Troca ortográfica
Tomada Tomáda Troca ortográfica
Tesoura Tezôra
Tezoura
Troca fonológica
Mapa Mapá
Mâpa
Mápa
Troca ortográfica
Calças Calsas
Cauças
Troca ortográfica e Troca fonológica
Buzina Busina Troca fonológica
CI
Táxi Taxa
Tax
Tachi
Troca por aproximação semântica Troca fonológica Troca ortográfica
Princesa Princeza Troca fonológica
Xadrez Xadrês
Chadrez
Troca fonológica
TF
Hapelha Capela Troca por aproximação semântica
Apatar Apartar Troca por aproximação semântica
Ofelha Abelha
Ofelia
Oferta
Ovelha
Troca por aproximação semântica
Cancuru Canguru
Calculadora
Troca por aproximação semântica
73 Tabela 19. Distribuição de tipos de erros identificados nas correções sugeridas pelos participantes às
palavras do TCLP adaptado em função de hipóteses de processamento fonológico, ortográfico e
semântico (continuação).
TF Máchico Mágico
Troca por aproximação semântica e fonológica
PH
Bóquisse Boqueira Troca por aproximação semântica e Troca fonológica
Cinau Cinal Troca fonológica
Jêlu Jiló Troca por aproximação semântica e
Troca fonológica
Tácsi Taxe
Tási
Troca fonológica
Ómi Homem Troca por aproximação semântica
e Troca fonológica
74
VI - DISCUSSÃO DE RESULTADOS
75
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O estudo teve como objetivos verificar padrões de leitura de palavras,
números e letras em sistema Braille com a finalidade de identificar e classificar os
tipos de erros e estabelecer comparações de desempenho na leitura em função do
tipo de palavras. Também foi objetivo do estudo a verificação de associações entre o
número de acertos na leitura de palavras (teste TCLP adaptado), letras e números
(Teste RAN) com o tipo de DV, idade cronológica, idade de perda da visão, anos
que frequenta a escola e o tempo de exposição ao Braille.
A aquisição de habilidades de leitura, seja no sistema convencional ou em
sistema Braille é essencial para o desenvolvimento de habilidades de aprendizagem
acadêmica no contexto escolar (GERMANO & CAPELLINI, 2011). Quando o aluno
precisa adquirir habilidades de leitura com uso de outros recursos ou tecnologias
assistiva, por exemplo, mediante a tecnologia tátil do sistema Braille, é importante
identificar o tipo de processamento que ele faz durante a leitura. A identificação dos
padrões de processamento pode auxiliar professores e educadores na identificação
de competências de leitura em pessoas com DV.
Existem diversos fatores que podem dificultar a aprendizagem de leitura e
escrita em pessoas com DV, ainda mais quando no processo de alfabetização não
se dispõem de tecnologias assistiva apropriadas. Entretanto, durante o processo de
desenvolvimento dessas habilidades sabe-se que poderão ser verificados erros de
processamento durante a leitura, frequentemente identificados em crianças que não
tem DV (NICOLAIEWSKY, 2008). As relações grafofonêmicas que uma pessoa com
DV aprende quando é alfabetizada em Braille demanda uma compreensão de
relações entre sons e representações em sistema Braille. Representações feitas a
partir de duas colunas de pontos em relevo que são disponibilizadas em celas
(BORGES, 2009).
Os resultados do estudo no que diz respeito ao teste RAN (Letras e Números)
revelaram um bom desempenho dos participantes. O percentual de acertos foi
elevado em ambas as provas o que mostra que eles conseguem ter um acesso aos
léxicos de maneira correta. Parece haver uma associação entre a nomeação correta
e velocidade de nomeação de letras, por exemplo, com habilidades de leitura e
escrita e processamento fonológico, daí que o teste RAN possa ser utilizado para
identificar preditores dessas habilidades (CAPELLINI & CONRADO, 2009). Os
76
resultados favoráveis obtidos no teste RAN quanto ao desempenho
(aproximadamente 100% de acertos nas duas provas, sem diferenças
estatisticamente significantes entre as mesmas/ t=1,71; p=0,09 – tabela 6) mostram
que os participantes conseguem fazer as associações necessárias entre os
componentes fonêmicos e os componentes gráficos dos pontos em relevo da escrita
de letras e números em Braille. Houve diferenças estatisticamente significativas
entre o tempo de execução do teste RAN para letras e para números, sendo menor
o tempo de execução na prova de letras com aproximadamente 15 segundos de
diferença entre os tempos de ambas as provas. A nomeação mais rápida das letras
indica um funcionamento adequado de demanda cognitiva e de memória de
reconhecimento de léxicos. É provável que a velocidade de execução na prova de
números tenha sido maior por conta de que a leitura de um número demanda uma
cela a mais no Braille. A pessoa precisa fazer a associação entre essa cela e a
representação da letra que corresponderá ao número. Em razão disso, é possível
que sejam recrutados de maneira mais expressiva uma demanda cognitiva para o
reconhecimento dos pontos em relevo das celas e por isso a velocidade de
nomeação aumentará. Entretanto, como as provas de cores e objetos não foram
aplicadas em razão dos participantes terem DV, não foi possível verificar outros
indicadores de velocidade de nomeação de estímulos que podem demandar
processamentos cognitivos mais complexos.
Os coeficientes de correlação negativos em nível moderado e
estatisticamente significantes obtidos entre o tempo de execução. RAN- Letras e
RAN-Números e a idade em que a pessoa adquiriu a DV indicaram que quanto
maior a idade, maior o tempo para executar as tarefas de ambos os testes.
Não foram verificadas associações entre desempenho no TCLP com tipo de
cegueira, idade de perda da visão, e tempo de exposição ao sistema Braille, por
exemplo, entretanto, o número pequeno de participantes não permite afirmar que
possa ser conclusiva essa falta de associação entre as variáveis considerando a
importância e o efeito positivo que tem a estimulação precoce em pessoas com DV
(ORTIZ, SANTOS, ORTIZ et al., 2015).
Verificou-se também que a idade em que a pessoa adquiriu a DV
correlacionou negativamente e com significância estatística com número de acertos
no RAN-Letras sugerindo que quanto maior a idade pior é o desempenho no teste.
77
O fato de ter dado um coeficiente estatisticamente significante entre o número
de acertos no RAN letras e a idade de perda da visão e sendo um coeficiente
negativo (-0,45), significa que quanto mais cedo eles perdem a visão mais eles
acertam no RAN e vice-versa. Uma hipótese que levantamos é que provavelmente
os participantes tiveram a oportunidade de receber estimulação sensorial e
aumentar a sensibilidade do sistema sensório tátil que os habilita melhor para a
aprendizagem do Braille. Isso pode ter contribuído para eles terem melhor
desempenho na leitura em Braille, sistema esse que depende do reconhecimento
tátil. O fato de não ter dado nenhuma significância estatística entre o tempo de
exposição ao sistema Braille, nós atribuímos ao número amostral muito pequeno e
idade muito variadas, muito distintas de tempo de exposição ao Braille, o que pode
ter influenciado nos resultado.
Esses dados indicam que é provável que o tempo de contato que eles têm
com o sistema Braille parece estar associado à possibilidade de desenvolvimento
maior de habilidades relativas à segmentação lexical e numeral (avaliadas pelo teste
RAN). Como apontam NICOLAIEWSKY e CORREA (2009), no Brasil a escola é um
contexto essencial para o domínio dessas habilidades no ensino formal, pois em
contextos familiares e sociais em geral o acesso que as pessoas com DV têm são
muito escassas e se limitam a oportunidades de leitura em painéis de elevadores,
remédios e alguns produtos da indústria alimentícia. Como 13 participantes têm
cegueira adquirida (tabela 2) e a idade média de perda da visão da amostra foi de
8,23 anos (tabela 4), é provável que muitos deles não tenham sido expostos a ações
de estimulação psicomotora, cognitiva e sensorial que oportunizará o
desenvolvimento de habilidades cognitivas e sensoriais que auxiliam na
aprendizagem do sistema Braille no ambiente educacional infantil e mais tarde na
escola. Estudos anteriores mostram que quando a criança com DV é estimulada
precocemente (preferencialmente nos primeiros cinco anos de vida), processos de
neuroplasticidade são ativados facilitando conectividades neuronais e o
desenvolvimento de habilidades como resultado de experiências de aprendizagem e
de estimulação sensorial e cognitiva (ORTIZ, SANTOS, ORTIZ et al., 2015;
THEUREL, WITT, CLAUDET, 2013).
Os dados da figura 7 indicaram que as médias mais elevadas de acertos
foram registradas nas palavras correta regular (média=0,89) e correta irregular
78
(média=0,80). Os piores desempenhos verificaram-se nas pseudopalavras
homófonas (média=0,29) e pseudopalavras estranhas (média=0,42). Esses dados
indicam que nas categorias de palavras de maior dificuldade compostas pelas
pseudopalavras homófonas, pseudopalavras estranhas e trocas visuais/táteis o
desempenho foi pior, pois os participantes erraram mais. O processamento cognitivo
de leitura que embasa o TCLP parte do pressuposto que cada um dos subtestes
avaliará diferentes habilidades de processamento. A saber, processamento
logográfico, fonológico e lexical (MACEDO, CAPOVILLA, NIKAEDO et al., 2015;
CAPOVILLA, MARCILIO & CAPOVILLA, 2004). Os dados da tabela 9 revelam que
não houve diferenças estatisticamente significativas no número de acertos entre as
palavras com TV/Tátil e PE e as palavras PH e PE, indicando que tiveram o mesmo
nível de dificuldade para os participantes. E como mostrado na figura 7 nessas
categorias de palavras verificamos as menores médias de acertos na leitura.
Como foi descrito no método as instruções do TCLP envolveram três etapas:
na primeira era solicitado a leitura de cada palavra atribuindo-se escore 1 ou escore
0 a depender da leitura certa ou errada, independentemente da escrita da palavra;
na segunda etapa foi solicitado o julgamento correto ou incorreto da escrita de cada
palavra e na terceira etapa, no caso de palavras que foram julgadas com escrita
errada, os participantes eram instruídos a identificar o tipo de erro e a correção
sugerida à palavra para verificarmos se o participante reconhecia o erro. Nas tabelas
10 até 15 foram descritos os exemplos de correções feitas pelos participantes após
eles julgarem que as palavras estavam incorretamente escritas. Os dados dessas
tabelas mostram o recrutamento de diversos processamentos de leitura que
determinaram que o participante convertesse os pontos das celas em fonemas
evidenciando em alguns casos que houve um processamento fonológico, em outros
processamento lexical da palavra, porém em vários casos se constatou ausência de
qualquer processamento de leitura, já que nas correções eles cometiam erros por
aproximação semântica da palavra convertendo a palavra-estímulo do teste para
outra a partir de critérios semânticos ou critérios predominantemente perilexicais que
não priorizam aspectos lexicais ortográficos.
Não foram identificados no Brasil estudos com uso do TCLP em pessoas com
DV, provavelmente este trabalho seja pioneiro. Consideramos uma limitação do
estudo a adaptação do teste excluindo as figuras, embora foi necessário realizar
79
essa adaptação em função da DV. Apesar disso, a nova instrução feita ao teste para
o participante julgar a escrita como certa ou errada e apresentar correções às
palavras escritas de maneira errada possibilitou identificar indicadores de
processamentos de leitura. Com base nessa instrução, verificou-se que os acertos
no reconhecimento dos erros foram feitos soletrando as palavras e indicando trocas,
omissões e acréscimos de letras e, inclusive, identificando, como no caso das
pseudopalavras estranhas, que estas não existiam na língua portuguesa.
Na tabela 17 verifica-se que as palavras com maior número de correções
incorretas sugeridas pelos participantes foram as PH (65%), TV/Tátil (60,5%) e PE
(57,7%). Nessas categorias de palavras mais de 50% das correções estavam
erradas, sendo predominantemente correções efetuadas por erros de aproximação
semântica, erros por trocas fonológicas e erros ortográficos (tabela 19). Por
exemplo, nos casos de troca por aproximação semântica a correção seguiu um
padrão de dar significado à palavra, por exemplo, estímulo do teste “hapelha” para
“abelha”, “ofelia”, “oferta” sem o devido reconhecimento visual dos erros ortográficos
representando mediante os pontos das celas. São falhas que evidenciam a
necessidade de estimulações de alfabetização em Braille neste grupo para
desenvolver habilidades de leitura que recrutem processamentos fonológicos e
lexicais-ortográficos das palavras. Essas estimulações são importantes dada a
complexidade do ensino de leitura e escrita em pessoas com DV. O processamento
dessas habilidades na DV envolve relações complexas entre aspectos fonológicos,
táteis e espaciais no sistema Braille. Se a pessoa não tem déficits no processamento
auditivo (indicadores estes que não foram verificados no estudo) pressupõe-se que a
pessoa cega tenha um processamento fonológico de palavras semelhante ao de
pessoas visonormais, como mostrado no estudo de VEISPAK, BOETS &
GHESQUIÈRE (2013). E se adequadamente estimulados aspectos ligados ao
processamento lexical rotas de leitura também poderão ser desenvolvidas. Nesse
mesmo estudo de VEISPAK, BOETS & GHESQUIÈRE (2013), que envolveu uma
amostra formada de crianças e adultos, os participantes cegos apresentaram
indicadores piores de processamento lexical se comparados aos visonormais.
Na tabela 17 observa-se que as palavras com os maiores números de
correções certas foram as CR, CI e TF revelando que os participantes realizam um
processamento de leitura rejeitando palavras do teste escritas incorretamente.
80
Os dados indicam que na maior parte das pseudopalavras homófonas,
pseudopalavras estranhas e palavras com trocas visuais os participantes leram a
palavra escrita em Braille julgando-a como certa, quando na realidade a escrita
delas estava errada. De um lado, os erros não identificados permitem supor que os
mesmos ainda não dominam a rota lexical revelando problemas no processamento
lexical e fonológico. Esses problemas frequentemente podem ser observados em
crianças durante as primeiras fases de alfabetização e em crianças com Dislexia
(LUKASOVA,BARBOSA & MACEDO, 2009). De outro lado, sabe-se que
aprendizagem do sistema Braille é complexa se comparado ao sistema convencional
impresso, já que em razão da similaridade entre as letras, o aprendizado da língua
escrita em Braille demanda um desenvolvimento refinado de habilidades de
coordenação motora fina e orientação espacial (NICOLAIEWSKY, 2008). Esta
autora destaca que a ocorrência de dificuldades no domínio do sistema Braille é
frequente, pois são observados erros não intencionais que resultam na
transformação de uma letra em outra e com isso erros de leitura.
Observamos que tanto no teste de leitura de palavras bem como no teste de
nomeação rápida de letras e números, ambas as categorias se mostraram
equiparadas nos resultados para esta associação. Descartando a hipótese anterior
de uma habilidade maior e, portanto, mais eficaz mediante a sua condição
congênita.
Pessoas com DV devem ser estimuladas precocemente utilizando métodos
que promovam o conhecimento de diversas palavras ampliando assim o seu
conjunto de vocábulos. Um dos métodos mais conhecidos, trabalhado com pessoas
com DV, seria por meio da sinestesia (ALMEIDA, 2014). Para desenvolver bons
leitores no sistema Braille, a competência deve ser desenvolvida com a introdução
precoce de técnicas e métodos que estimulem o desenvolvimento de habilidades de
aprendizagem relativas ao sistema Braille.
Como colocado por Nicolaiewsky e Correa (2009, p. 343), as dificuldades no
domínio do sistema Braille acarretam, com frequência, a produção de erros não
intencionais que resultam na transformação de uma letra em outra. No sistema
Braille alguns caracteres podem ter mais de um significado, como no caso dos
números que são representados pelos mesmos pontos das letras com adição de um
prefixo próprio, que não terá nenhuma função se colocado sozinho (ver figura 2).
81
Como por exemplo, os pontos 1 na cela Braille que representa a letra “a” se for
antecedida dos pontos 3 4 5 6, o leitor desse sistema entenderá que ali é um
número 1. A forma em Braille tinta do número 1 teria essa configuração:
As palavras acentuadas no sistema Braille também tem caracteres
diferenciados, uma letra “á” terá os seguintes pontos 1 2 3 5 6, ficando assim
representada: . Já os pontos que envolvem a letra “o” são: 1 3 5 configurando: .
Ao passo que a letra “ô” são designadas pelos pontos 1 4 5 6 com essa
configuração: . Nota-se que nessa palavra em questão, não existe nem mesmo
uma similaridade nas suas configurações, seja nas pontuações representativas pelo
sistema Braille, nem mesmo pela forma como se apresenta na impressão.
Na tabela 18 observa-se a distribuição de tipos de erros na leitura por
categorias de palavras do teste TCLP adaptado em função da escrita no sistema
Braille. A palavra BONÉ, uma correta regular teve destaque no teste por ser uma
das mais acertadas pelos participantes. A razão para tal consideração é por se tratar
de uma palavra regular onde a nasalização colabora para o entendimento direto da
palavra sem mais associações, e a formação da mesma pelo sistema Braille mesmo
tendo o fonema “É”, uma letra acentuada que diferente da ortografia em tinta, no
sistema Braille é composto pelos seguintes pontos: 1 2 3 4 5 6, portanto a letra
acentuada em questão é o que chamamos de cela Braille cheia, sem espaços
vazios, quando escritas pelo DV, em tinta ela tem essa configuração: . (figura 2).
Portanto mesmo para os visonormais é fácil a apresentação desta letra em
particular, pois representa toda cela Braille. Depois da letra “a”, está é a que os
alunos apresentam maior facilidade quando começam a introdução no sistema
Braille. Observamos que os erros cometidos nas palavras corretas irregulares (CI),
são muito similares aos erros daqueles que estão iniciando à alfabetização, destaca-
se aí as palavras EXÉRCITO e XADREZ. Esse dado indica que em palavras com
TV/Tátil, a introdução precoce de métodos de aprendizagem é importante. Por isso a
importância de literatura acessível às pessoas com deficiência visual (ALMEIDA,
2014), para se ter um desenvolvimento mais consistente em habilidades de leitura.
Na grafia Braille existe pontuações que são parecidas pela sua configuração
desde a sua criação como na figura 2. Destacamos algumas dessas semelhanças
nas palavras do teste TCLP adaptado, conforme mostrado na tabela 18. Essas
82
semelhanças induzem a erros ao tentar ler a palavra que mesmo sendo conhecida
será lida incorretamente pela similaridade de algumas representações na escrita
Braille. O leitor com DV pode fazer essa associação levando ao erro, principalmente
em palavras do tipo trocas visuais (TV/Tátil). Exemplificamos a continuação algumas
dessas características da configuração do sistema Braille para melhor entender os
erros cometidos pelos DV (tabela 18).
Uma hipótese sobre os erros cometidos pelos participantes, descritos na
tabela 18, faz-nos pensar que o próprio sistema Braille com sua forma peculiar de
apresentação tenha contribuído para tais resultados. Uma forma na qual a mudança
de um ponto altera totalmente o significado do grafema pode ser um fator que
aumenta a probabilidade de indução a erro de leitura. No sistema Braile muitas
letras apresentam-se de uma forma que se denomina „espelhada‟, como
mostraremos a seguir, e essa similaridade provavelmente seja uma forma que
explique os erros. Outra hipótese pode estar associada à dificuldade da leitura tátil,
pois trata-se de um outro sentido envolvido na decodificação das palavras escritas
que depende de estimulação sensório tátil intensa para uma adequada habilitação
no sistema. A forma como os participantes fazem as correções, e correções
semânticas forçadas, dá impressão que eles têm dificuldades no processamento
fonológico; eles pensam em determinados sons e como esses sons poderiam
corresponder semanticamente a grafemas induzindo a erros de leitura daquilo que
está escrito em Braille. Esse tipo de indução semântica de erro na leitura lembra
processamentos de leitura que também estão presentes em pessoas com dislexia.
De outro lado, há outros agravantes que são as diferenças de sensibilidade do
reconhecimento tátil entre as pessoas. Entretanto, como não foi controlada essa
variável recomenda-se que estudos futuros a tenham em consideração ou garantir
que a avaliação de leitura seja feita em pessoas com sensibilidades táteis
semelhantes e que tiveram a oportunidade de serem estimuladas logo que iniciaram
na educação infantil ou tão logo que adquiriram a cegueira.
Observa-se que em pessoas cegas que usam o sistema Braille, esse
reconhecimento tátil pode ocorrer com apenas um dedo, com mais de um dedo, com
uma mão inteira ou com as duas mãos e dependendo da destreza manual no
reconhecimento tátil do Braille, o desempenho, piora ou melhora. Essa seria outra
variável que não foi controlada nesse estudo e que pode ser contemplada em
estudos futuros.
83 Letras não acentuadas (espelhadas)
e → i f → d
h → j r → w
ç → y
Letras acentuadas (espelhadas)
á → ú
â → í
ã → ê
Letras acentuadas com letras não acentuadas (espelhadas)
à → n
õ → o
ó → u
ô → p
Existe caracteres que sozinhos não possui significado, mas precede uma letra, mudando o sentido
usual.
Caractere que indica numeração →
Ex: = 1, = 2
Caractere que indica caixa alta → k ( a distância dos pontos deve ser observada)
Ex: →A →ka
84
VII- CONSIDERAÇÕES FINAIS
85
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os instrumentos utilizados no estudo, incluindo a adaptação do TCLP,
possibilitaram avaliar os padrões de leitura do grupo. Os resultados mostraram que
os participantes conseguem fazer associações entre os componentes fonêmicos e
componentes gráficos dos pontos em relevo relativo à escrita de segmentos de
letras e números em Braille, o que foi observado no bom desempenho no teste RAN.
Foi verificado a partir dos coeficientes de correlação negativos em nível moderado
que há uma relação entre o tempo de execução. RAN- Letras e RAN-Números e a
idade em que as pessoas adquiriram a DV, no contexto da amostra do estudo.
Esses dados indicam que é provável que o tempo de contato que eles têm com o
sistema Braille parece estar associado à possibilidade de desenvolvimento maior de
habilidades relativas à segmentação lexical e numeral (avaliadas pelo teste RAN).
Entretanto, como as provas de cores e objetos não foram aplicadas em razão dos
participantes terem DV, não foi possível verificar outros indicadores de velocidade de
nomeação de estímulos que podem demandar processamentos cognitivos mais
complexos.
As relações grafofonêmicas que uma pessoa com DV aprende quando é
alfabetizada em Braille demanda uma compreensão de relações entre sons e
representações táteis em sistema Braille. Representações feitas a partir de duas
colunas de pontos em relevo que são disponibilizadas em celas de palavras,
números e letras em sistema Braille com a finalidade de identificar e classificar os
tipos de erros e estabelecer comparações de desempenho na leitura em função do
tipo de palavras.
Não foram encontrados resultados estatisticamente significantes nos testes
de correlação para verificação de associações entre a idade de perda da visão e tipo
de deficiência visual (adquirida ou congênita) com o desempenho no teste de leitura
TCLP adaptado. Sobre o tipo de DV, infere-se então que independentemente deste,
há necessidade de estimulação precoce tanto sensorial, como cognitiva e
fonológica. É provável que alguns dos participantes não tenham sido expostos a
estimulação psicomotora, cognitiva e sensorial para oportunizar o desenvolvimento
de habilidades cognitivas e sensoriais que auxiliassem de maneira mais expressiva
a aprendizagem do sistema Braille no ambiente educacional infantil.
86
Encontrou-se um resultado discrepante quanto ao desempenho dos
participantes nos testes de leitura de palavras e o teste de nomeação rápida. O bom
desempenho no teste RAN (tanto na nomeação como na velocidade de nomeação
de letras e números), foi diferente na execução do teste TCLP adaptado.
Levando-se em consideração o conjunto de palavras utilizadas na categoria
das corretas irregulares (CI), os participantes apresentaram numa estimativa global
os mesmos erros característicos de pessoas sem DV em processo de alfabetização,
permitindo hipotetizar que, provavelmente, o processamento de leitura que conduz a
determinados erros de leitura possa ser o mesmo para pessoas com DV. A inserção
de medidas que promovam a capacitação eficaz de profissionais da educação no
AEE, os recursos destinados a aquisição de equipamentos de produção de materiais
com tecnologias atuais, a maior e mais atualizada produção didática, científica e
cultural em Braille, a acessibilização dos espaços públicos por meio do sistema
Braille e a instalação de mais centros que atendam a pessoa com deficiência visual
como um braço da educação, são ações importantes para promover a melhoria tanto
acadêmica, quanto social dessas pessoas.
Os dados referentes à leitura de palavras mostraram o recrutamento de
diversos processamentos de leitura que determinaram que os participantes
convertessem os pontos das celas em fonemas evidenciando em diversos tipos de
palavras (CR e CI, por exemplo) que houve um processamento fonológico e lexical.
Em outros tipos de palavras como as PE e PH se constatou ausência de qualquer
processamento de leitura sendo cometidos erros nas correções das palavras-
estímulos do teste para outras a partir de critérios semânticos ou critérios
predominantemente perilexicais que não priorizam aspectos lexicais ortográficos.
Como limitação o estudo não controlou a forma como se dá a leitura, se o
leitor o faz com apenas um ou mais dedos, se com uma mão ou com as duas, pois
assim podemos pensar na quantidade de elementos táteis usados, e que nesse
caso poderia ser mais eficiente do que em participantes que não se utilizam de mais
de um elemento tátil. Outra limitação do estudo foi não avaliar a quantidade de
tempo de exposição que esses indivíduos têm à leitura em Braille em momentos fora
do âmbito escolar ou acadêmico, por exemplo mediante a leitura de livros. Estudos
futuros deveriam utilizar testes adaptados focando as rotas fonológicas e lexicais.
Estudos futuros devem contemplar amostras maiores, instrumentos que
promovam a interação não apenas pelo sistema Braille, mas por outros recursos que
87
permitam maior acessibilidade às tarefas ou testes propostos, utilização de outros
testes com recursos em relevo para a manipulação tridimensional de objetos que
representem palavra lida; a inserção de todas as categorias que pudessem ser
adaptadas no teste de nomeação rápida. Recomenda-se também a utilização de
grupos etários diferentes cujos números amostrais maiores permitam comparar
idade, tipo de DV e tempo de exposição ao Braille em função de habilidades de
leitura.
Este estudo será transcrito para o Braille e depositado na biblioteca no
CAP/DV para uso das equipes educacionais, e serão feitas recomendações para
essas equipes que atendem alunos com DV e fazem formações específicas na
utilização do sistema Braille, atentem para os erros que os alunos cometem, tanto na
leitura de letras, números e palavras.
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REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS AFFONSO, M. J. C. O. et al. Avaliação de escrita na dislexia do desenvolvimento: tipos de erros ortográficos em prova de nomeação de figuras por escrita. Revista Cefac, v. 13, n. 4, p. 628-635, 2011. ALMEIDA, Maria da Glória de Souza. A importância da Literatura como elemento de construção do imaginário da criança com deficiência visual. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant, 2014. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-5 (5a ed.). Porto Alegre: Artmed, 2015. ANDRADE, Elizabete Maria de Almeida; MECCA, Tatiana Pontrelli; ALMEIDA, Roselaine Pontes de; MACEDO, Elizeu Coutinho de. Eficácia de um programa de intervenção fônica para crianças com dificuldades de leitura e escrita. Rev. psicopedag. [online]. 2014, vol.31, n.95, pp. 119-129. Acesso em 03/04/2016. ARROYO, Miguel G. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Editora Vozes, 2004. BICALHO, Lorena Gabrielle Ribeiro; ALVES, Luciana Mendonça. A nomeação seriada rápida em escolares com e sem queixas de problemas de aprendizagem em escola pública e particular. Rev CEFAC, v. 12, n. 2, p. 608-16, 2010. BORGES, José Antonio dos Santos. Do Braille ao DOSVOX – diferenças nas vidas dos cegos brasileiros – Rio de Janeiro: Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia de Sistemas e Computação, 2009. BORGES, José Antônio dos Santos. Impactos das Tecnologias de Informação sobre os Deficientes Visuais. In: SILVIA, Shirley e VIZIM, Marli (org). Políticas Públicas: educação, Família e Pessoas com Deficiência. Campinas. São Paulo. Mercado e Letras; Associação de Leitura do Brasil (ALB), 2003, p.219-254.
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http://www.cbo.com.br/novo/medico/pdf/01-cegueira.pdf
95
ANEXOS
96
ANEXO I
RECURSOS DE TECNOLOGIAS ASSITIVA
Fonte: https://goo.gl/images/NJ2cwy – braille falado
Fonte: https://goo.gl/images/OeYLrr – linha braille
Fonte: https://goo.gl/images/ofZ2or – software jaws
97
Fonte: https://goo.gl/images/hNUhA2 - multiplano
Fonte: https://goo.gl/images/n7zlDn – termorfom
Fonte: https://goo.gl/images/UcwU1y – braille impressora
98
ANEXO II
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ANEXO III
Questionário para caracterização sociodemográfica e familiar
Nome completo do aluno: _________________________________Data: ___/___/____ Tem casa própria? _______________________________________________________
Preencher com o que a pessoa possui em casa; considerar a quantidade de itens a partir da primeira
linha do quadro.
Quadro 1
(ABEP) Não Tem Tem
1 2 3 4 ou +
Televisão em cores 0 1 2 3 4
Rádio (qualquer aparelho no domicílio, exceto rádio do carro)
0 1 2 3 4
Banheiro (com vaso sanitário e privativo do domicílio) 0 4 5 6 7
Automóvel (sem uso profissional) 0 4 7 9 9
Empregada mensalista 0 3 4 4 4
Máquina de lavar (excluir tanquinho) 0 2 2 2 2
Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 4 4 4 4
Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)
0 2 2 2 2
SOMA DE PONTOS
Quadro 2
Grau de Instrução do chefe de família Última série que completou Pontos
Analfabeto / Primário incompleto Analfabeto até 3ª série do fundamental
0
Primário completo / Ginasial incompleto 4ª a 7ª do fundamental 1
Ginasial completo / Colegial incompleto 8 – 10 (Fundamental completo) 2
Colegial completo / Superior incompleto Médio completo 4
Superior completo Superior completo 8
100
QUANTIDADE QUE POSSUI
ITENS DE CONFORTO NÃO
POSSUI 1 2 3 4+
Quantidade de automóveis de passeio exclusivamente para uso particular
Quantidade de empregados mensalistas, considerando apenas os que trabalham pelo menos cinco dias por semana
Quantidade de máquinas de lavar roupa, excluindo tanquinho
Quantidade de banheiros
DVD, incluindo qualquer dispositivo que leia DVD e desconsiderando DVD de automóvel
Quantidade de geladeiras
Quantidade de freezers independentes ou parte da geladeira duplex
Quantidade de microcomputadores, considerando computadores de mesa, laptops, notebooks e netbooks e desconsiderando tablets, palms ou smartphones
Quantidade de lavadora de louças
Quantidade de fornos de micro-ondas
Quantidade de motocicletas, desconsiderando as usadas exclusivamente para uso profissional
Quantidade de máquinas secadoras de roupas, considerando lava e seca
A água utilizada neste domicílio é proveniente de?
1 Rede geral de distribuição
2 Poço ou nascente
3 Outro meio
Considerando o trecho da rua do seu domicílio, você diria que a rua é:
1 Asfaltada/Pavimentada
2 Terra/Cascalho
Nomenclatura atual Nomenclatura anterior