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F | Período: 15 a 21 de março Balcão de redação − Tema 3 − 2010 A vida é sonho – Página de diário Orientações para o aluno A vida é sonho! Você costuma sonhar todas as noites? Tem um, dois ou mais sonhos em cada vez que se deita? “Sonhar acordado” é uma realidade para você? Você sonha outras realidades para o mundo em que vive? Leia a matéria a seguir, publicada pela revista Superinteressante: E se... não sonhássemos? O sonho, que surgiu há mais ou menos 140 milhões de anos, quando os mamíferos se desenvolveram a partir dos répteis, é importantíssimo no processo de aprendizado. Caso o homem não tivesse a capacidade de sonhar, você não estaria lendo esta revista, pois provavelmente ainda estaríamos na Pré-história – na melhor das hipóteses. O sonho, que surgiu há mais ou menos 140 mi- lhões de anos, quando os mamíferos se desenvolveram a partir dos répteis, é importantíssimo no processo de aprendizado. Segundo as suspeitas de alguns cientistas, a atividade mental notur- na é também crucial para a preservação da espécie. “Sem sonhar, nos- sa capacidade intelectual ficaria comprometida”, afirma o neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, da Universidade Duke, nos EUA. E o ser hu- mano, esse animal tão frágil diante das ameaças da natureza, não poderia tirar tanto proveito de sua arma mais poderosa – o cérebro. O cenário não seria animador: a ciência evoluiria muito lentamente, viveríamos com medo de tudo e seríamos dominados por outros bichos sonhadores. Isso tudo aconteceria se a nossa espécie como um todo não pudesse sonhar. Mas o fato é que algumas pessoas realmente não sonham. Elas sofrem de uma doença raríssima, a síndrome de Charcot-Wilbrand, que geralmente surge após um acidente vascular cerebral e costuma vir acom- panhada de problemas visuais. Além disso, alguns medicamentos, como os antidepressivos, podem reduzir, principalmente no início do tratamento, a duração da fase REM, que é o estágio do sono no qual ocorrem quase todos os sonhos. No primeiro caso, os resultados podem ser devastadores: amné- sia, agressividade e ansiedade são alguns sintomas prováveis. No segundo, os próprios remédios ajudam a controlar os sintomas da falta de sonhos. Um mundo sem sentido A confusão mental é a consequência mais branda que teríamos de encarar no caos de uma vida sem sonhos Nobel sem dono Nós perderíamos a capacidade de resolver problemas. Algumas pes- quisas recentes relacionam o sonho aos insights, que são aquelas sacadas geniais que mudam o mundo, como a invenção da roda. O químico alemão Kekulé, apontado como um dos descobridores do benzeno – molécula em forma de anel com 6 átomos de carbono – disse que a descoberta surgiu de um sonho em que viu uma serpente mordendo o próprio rabo. Você tem medo do quê? O psicólogo Antti Revonsuo, da Universidade de Turku, na Finlân- dia, afirma que o sonho serve para simular ameaças reais. Um homem das cavernas, ao sonhar com um predador, teria mais chances de se defender do bicho. Sem sonhos, ficaríamos vulneráveis e teríamos medo de tudo, sem discernimento – tanto faz se a ameaça é um mamute ou uma formiga. Animais no poder O homem se firmou como espécie dominante graças às suas habi- lidades intelectuais. Sem o sonho, o aprendizado ficaria comprometido. Não aprenderíamos a escrever, não teríamos capacidade para desenvolver a agricultura, para inventar o dinheiro, para fabricar armas atômicas... seríamos, enfim, uma espécie sem grandes talentos. E algum outro bicho que sonha – mamíferos e aves – poderia ocupar o nosso trono na natureza. Mortos pela própria burrice Na contramão da teoria defendida pelo finlandês Antti, há a tese de que perderíamos o medo. A razão, de novo, é a falta de discernimento. De- vido ao fato de não sonhar, não conseguiríamos avaliar direito os perigos envolvidos em nossas decisões. Assim, faríamos coisas muito idiotas que poriam nossa vida em risco o tempo todo – como pular da janela de um prédio atrás de uma nota levada pelo vento. Assassinos por natureza Seríamos mais ansiosos, violentos e surtados. Isso porque o sonho serve para solucionar parte dos problemas que não resolvemos no dia a dia, como o tiro que temos vontade de dar no cara que faz bobagem no trânsito. Sem essa válvula de escape, ficaríamos inclinados a resolver todos os nossos conflitos e desavenças durante o dia. E as pessoas se mata- riam – ainda mais – umas às outras. Confusão mental Sonhos transformam memórias de curto prazo – o conteúdo de uma aula, por exemplo – em memórias de longo prazo, que podem ser recupera- das no futuro. Sem sonhar, seríamos incapazes de organizar as informações que entram na nossa cabeça. Viveríamos o tempo todo em um estado de sobrecarga mental, sem assimilar nada, como se estivéssemos o tempo todo numa rua de Salvador, no Carnaval, ouvindo 10 trios elétricos ao mesmo tempo. André Santoro. <http://super.abril.com.br/ciencia/se-nao-sonhassemos-446672. shtml>. Acesso em 18/fev./2010. A matéria trata o tema do ponto de vista fisiológico; explica por que o sonho é importante para o equilíbrio físico-mental de um ser humano. Sabemos, no entanto, que o sonho tem, também, uma dimensão poética; dele é que vem toda nossa capacidade de “fabulação”, de “faz de conta”, capacidade indispensável para tornar nosso cotidiano mais leve e lúdico. Leia os textos a seguir que também abordam o tema “Sonho” sob outras perspectivas: Texto 1 Estado permanente de sonho Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Más há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem impor- tância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. William Shakespeare. Sonhos de uma noite de verão.

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F | Período: 15 a 21 de março

Balcão de redação − Tema 3 − 2010A vida é sonho – Página de diário

Orientações para o aluno

A vida é sonho!

Você costuma sonhar todas as noites? Tem um, dois ou mais sonhos em cada vez que se deita? “Sonhar acordado” é uma realidade para você? Você sonha outras realidades para o mundo em que vive? Leia a matéria a seguir, publicada pela revista Superinteressante:

E se... não sonhássemos?

O sonho, que surgiu há mais ou menos 140 milhões de anos, quando os mamíferos se desenvolveram a partir dos répteis, é importantíssimo no processo de aprendizado.

Caso o homem não tivesse a capacidade de sonhar, você não estaria lendo esta revista, pois provavelmente ainda estaríamos na Pré-história – na melhor das hipóteses. O sonho, que surgiu há mais ou menos 140 mi-lhões de anos, quando os mamíferos se desenvolveram a partir dos répteis, é importantíssimo no processo de aprendizado.

Segundo as suspeitas de alguns cientistas, a atividade mental notur-na é também crucial para a preservação da espécie. “Sem sonhar, nos-sa capacidade intelectual ficaria comprometida”, afirma o neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, da Universidade Duke, nos EUA. E o ser hu-mano, esse animal tão frágil diante das ameaças da natureza, não poderia tirar tanto proveito de sua arma mais poderosa – o cérebro. O cenário não seria animador: a ciência evoluiria muito lentamente, viveríamos com medo de tudo e seríamos dominados por outros bichos sonhadores.

Isso tudo aconteceria se a nossa espécie como um todo não pudesse sonhar. Mas o fato é que algumas pessoas realmente não sonham. Elas sofrem de uma doença raríssima, a síndrome de Charcot-Wilbrand, que geralmente surge após um acidente vascular cerebral e costuma vir acom-panhada de problemas visuais. Além disso, alguns medicamentos, como os antidepressivos, podem reduzir, principalmente no início do tratamento, a duração da fase REM, que é o estágio do sono no qual ocorrem quase todos os sonhos. No primeiro caso, os resultados podem ser devastadores: amné-sia, agressividade e ansiedade são alguns sintomas prováveis. No segundo, os próprios remédios ajudam a controlar os sintomas da falta de sonhos.

Um mundo sem sentido

A confusão mental é a consequência mais branda que teríamos de encarar no caos de uma vida sem sonhos

Nobel sem donoNós perderíamos a capacidade de resolver problemas. Algumas pes-

quisas recentes relacionam o sonho aos insights, que são aquelas sacadas geniais que mudam o mundo, como a invenção da roda. O químico alemão Kekulé, apontado como um dos descobridores do benzeno – molécula em forma de anel com 6 átomos de carbono – disse que a descoberta surgiu de um sonho em que viu uma serpente mordendo o próprio rabo.

Você tem medo do quê?O psicólogo Antti Revonsuo, da Universidade de Turku, na Finlân-

dia, afirma que o sonho serve para simular ameaças reais. Um homem das cavernas, ao sonhar com um predador, teria mais chances de se defender do bicho. Sem sonhos, ficaríamos vulneráveis e teríamos medo de tudo, sem discernimento – tanto faz se a ameaça é um mamute ou uma formiga.

Animais no poderO homem se firmou como espécie dominante graças às suas habi-

lidades intelectuais. Sem o sonho, o aprendizado ficaria comprometido. Não aprenderíamos a escrever, não teríamos capacidade para desenvolver a agricultura, para inventar o dinheiro, para fabricar armas atômicas... seríamos, enfim, uma espécie sem grandes talentos. E algum outro bicho que sonha – mamíferos e aves – poderia ocupar o nosso trono na natureza.

Mortos pela própria burriceNa contramão da teoria defendida pelo finlandês Antti, há a tese de

que perderíamos o medo. A razão, de novo, é a falta de discernimento. De-vido ao fato de não sonhar, não conseguiríamos avaliar direito os perigos envolvidos em nossas decisões. Assim, faríamos coisas muito idiotas que poriam nossa vida em risco o tempo todo – como pular da janela de um prédio atrás de uma nota levada pelo vento.

Assassinos por naturezaSeríamos mais ansiosos, violentos e surtados. Isso porque o sonho

serve para solucionar parte dos problemas que não resolvemos no dia a dia, como o tiro que temos vontade de dar no cara que faz bobagem no trânsito. Sem essa válvula de escape, ficaríamos inclinados a resolver todos os nossos conflitos e desavenças durante o dia. E as pessoas se mata-riam – ainda mais – umas às outras.

Confusão mentalSonhos transformam memórias de curto prazo – o conteúdo de uma

aula, por exemplo – em memórias de longo prazo, que podem ser recupera-das no futuro. Sem sonhar, seríamos incapazes de organizar as informações que entram na nossa cabeça. Viveríamos o tempo todo em um estado de sobrecarga mental, sem assimilar nada, como se estivéssemos o tempo todo numa rua de Salvador, no Carnaval, ouvindo 10 trios elétricos ao mesmo tempo.

André Santoro.<http://super.abril.com.br/ciencia/se-nao-sonhassemos-446672.

shtml>. Acesso em 18/fev./2010.

A matéria trata o tema do ponto de vista fisiológico; explica por que o sonho é importante para o equilíbrio físico-mental de um ser humano. Sabemos, no entanto, que o sonho tem, também, uma dimensão poética; dele é que vem toda nossa capacidade de “fabulação”, de “faz de conta”, capacidade indispensável para tornar nosso cotidiano mais leve e lúdico. Leia os textos a seguir que também abordam o tema “Sonho” sob outras perspectivas:

Texto 1

Estado permanente de sonho

Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Más há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem impor-tância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

William Shakespeare. Sonhos de uma noite de verão.

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F | Período: 15 a 21 de março

Balcão de redação − Tema 3 − 2010A vida é sonho – Página de diário

Texto 2

Dimensão poética do sonho

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Texto 3

Sem idade para sonhar

Maria Barroso confidencia: “Ainda tenho muitos sonhos por realizar”.Aos 84 anos, a antiga primeira-dama continua empenhada em reali-

zar um dos seus maiores sonhos: tornar o mundo um lugar mais solidário e justo, sobretudo para as crianças.

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Maria Barroso é uma pessoa pragmática. Mulher de convicções for-tes, a antiga primeira-dama nunca baixou os braços e sempre lutou por realizar os seus sonhos. Agora que já tem 84 anos, a sua atitude perante

a vida não mudou e continua empenhada em realizar aquele que tem sido sempre o seu sonho mais ambicioso: tornar o mundo um lugar melhor. Foi numa acção de solidariedade, na qual promoveu a iniciativa Fábrica dos Sonhos, no CascaiShopping, que a presidente da Fundação Pro Dignitate partilhou com a CARAS como tem vivido a realização dos seus desejos mais profundos: “Ainda tenho muitos sonhos por realizar... Gostava que o mundo deixasse de ser um sítio de violência, de intolerância, de um certo egoísmo. Gostava de ver um mundo de paz, solidariedade, de justiça... Um mundo que esteja impregnado daquela cultura do amor que falava o Papa João Paulo II. E são esses os meus desejos para 2010.”

Apesar de se entusiasmar com o futuro, Maria Barroso partilhou tam-bém algumas vitórias passadas que foram decisivas para a sua realização pessoal: “Concretizei tantos sonhos... Quis tirar um curso superior e tirei, quis viver com os meus pais num círculo de grande afecto e vivi...”<http://aeiou.caras.pt/maria-barroso-confidencia-ainda-tenho-muitos-

sonhos-por-realizar=f27199>.

Proposta de redação

O desafio da semana será bastante introspectivo. Utilizando a estru-tura de uma página de diário, escreva um texto apresentando “os sonhos” que você tem.1. Decida que aspecto seu texto abordará: se um sonho noturno ou se os

sonhos de vida.2. Escreva seu texto imaginando cada cena de seu sonho com detalhes; ca-

priche nas descrições e faça seu leitor descobrir que mundo é esse que se passa em sua cabeça.

3. Faça um rascunho e, se quiser, leia o texto para alguém de sua confiança; verifique as melhores partes do texto e aquelas que ainda necessitam de correções.

4. Tenha coragem e, depois de pronto, leia seu texto para seus colegas de classe.

5. Guarde seu texto em um lugar seguro; daqui a alguns anos você vai gos-tar de reler esses registros de suas sensações e experiências.

Bom trabalho!Fernanda Baccaro e Kelly Naiara.

Página de diário? Mas o que é isso?Diário é um caderno de textos pessoais em que seu escritor registra

as experiências e impressões de sua vida cotidiana. Não há uma regra para redigi-lo; alguns simplesmente registram os fatos para, no futuro, poder relembrar cada detalhe de sua vida; outros fingem que estão escrevendo para alguém especial e inventam até nomes para seus interlocutores; o mais significativo, no entanto, é a sensação de companhia, de desabafo, de parti-lha que a escrita pode propiciar. O texto a seguir foi retirado de um diário. Leia-o para inspirar-se e, depois, compor a sua própria página. Aí vai:

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F | Período: 15 a 21 de março

Balcão de redação − Tema 3 − 2010A vida é sonho – Página de diário

Texto 4

Página de diário

www.sistemapoliedro.com.br

25 de fevereiro de 2010

Acabei de chegar da escola. Nunca imagi-nei que eu fosse escrever esse tipo de coisa aqui, mas pintou um projeto que, dessa vez, acho que vai rolar. A professora levou a galera até a biblioteca e lá visitamos um site bem legal: www.meusonhonaotemfim.org.br. Pude ler o depoimento de várias pessoas sobre os sonhos que realizam ou que estão por realizar. Tem cada projeto bacana! Fiquei assim meio estranha, porque não tenho sonhos tão nobres... acho até que sou meio egoísta. Tô sempre sonhando com modelitos novos, um celular mais moderno, em con-quistar o gato... sou sempre o centro das atenções! É, mas de repente tem tanta coisa acontecendo no mundo que pensar um pouquinho no outro não faz mal. Acho que já

estava na hora de eu me tocar disso. Já

pensou que diferença faria se todo mundo

reciclasse o seu lixo? Ou se pra cada roupa

nova, uma velha fosse doada? Ou se ainda,

numa classe, os nerds ajudassem os pobres

coitados que nem eu que sofrem tanto para aprender aquela maldita matemática? Descobri também uma palavra bonita: utopia. Parece que é aquele sonho que você não realiza nunca, mas também não de-siste dele...Talvez tudo isso que eu acabei de falar sejam só utopias. Sei lá, mas acho

que pensar mais sobre isso vai ser legal...