Pais Ausentes Material Para o Coordenador (1)

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/17/2019 Pais Ausentes Material Para o Coordenador (1)

    1/51

    1. Objetivos da reunião

    1.1. Introdução do conceito de estilo parental.

    1.2. Entendimento de que o comportamento da família contribui para determinar odesenvolvimento e a socialização de crianças e adolescentes.

    1.3. Conscientização da responsabilidade compartilhada (família e escola) da vidaescolar dos alunos.

    1.4. Compreensão de que o relacionamento afetivo entre pais e filhos é de extremaimportância na formação de crianças e adolescentes.

    Reunião com pais

    Tema: Pais ausentes

    2. Desenvolvimento

    2.1. Fazer uma cópia da charge (cópia maior em anexo) e distribuí-la a cada participanteda reunião.

    2.2. Pedir que todos os participantes leiam a charge.

    2.3. Solicitar que alguns participantes teçam comentários sobre o diálogo apresentadona charge.

  • 8/17/2019 Pais Ausentes Material Para o Coordenador (1)

    2/52

    Reunião com pais

     Ao observarmos como pais e mães educam seus filhos, concluímos que cada famíliatem sua prática. A educação dos filhos é legítima tarefa dos pais e acontece por meio,principalmente, de uma conduta educativa consciente e intencional, presente no relaciona-mento cotidiano.

    De acordo com vários estudos na área da psicologia, o conjunto de atitudes dos paisé um elemento condutor do modo de ser dos filhos; assim sendo, há demonstraçõescientíficas de que o comportamento social de crianças e adolescentes é profundamenteinfluenciado pela forma paterna de ser.

    Considerando o momento em que vivemos, podemos observar que o trabalho e osdemais compromissos assumidos fora da alçada familiar levam os pais a negligenciar seupapel educativo, e, cada vez mais com menos tempo, eles se tornam desatentos aosacontecimentos da vida dos filhos. Entretanto, o aumento das tarefas fora do lar e aspoucas horas do dia não podem servir como desculpa para o descumprimento da funçãoessencial de pais.

    A ausência dos pais pode ser muito prejudicial, já que os filhos, em formação, nãopossuem todo o discernimento contextual nem todos os recursos emocionais que lhespermitam refletir, decidir e agir da melhor forma.

    O que fazer diante da situação atual? Não se advoga a desistência do profissionalis-mo, pois nosso tempo histórico não nos permite tal hipótese; o que se pretende é eviden-ciar aos pais a necessidade de uma pedagogia da presença, que significa estar junto paraorientar, corrigir, impor limites, acarinhar, enfim, para construir um relacionamentocapaz de oferecer bases de sustentação por onde os filhos possam se guiar.

    Levar para o contexto familiar atividades profissionais pode desqualificar a presençano lar, o que se configuraria como uma presença maculada, visto que, fisicamentepresentes, os pais focam sua atenção em outras coisas e, por isso, na realidade, sãoausentes.

    3. “Ser todo em cada coisa”

    2.4. Iniciar a formulação das perguntas sugeridas a seguir para a construção de reflexõessobre a temática. É um momento de exposição de opiniões, portanto não devehaver correção das respostas emitidas.

    • O modo de vida atual pode dificultar o relacionamento entre pais e filhos? Emquais circunstâncias?

    • A luta pela manutenção da vida material pode ser justificativa para a ausência dos

    pais? Em que sentido?• Qual é a diferença entre o conceito de quantidade e o de qualidade de tempo?

    • Qual deve ser a atitude da família quando não puder responder às solicitações daescola?

    • Como a escola pode facilitar a participação dos pais na vida escolar dos alunos?

    • A ausência parental pode levar crianças e adolescentes a apresentar comporta-mentos sociais inadequados?

    • Como é que os pais gostariam de ser ajudados pela escola?

    2.5. Distribuir uma cópia do texto-base (em anexo) para cada participante da reunião.

    2.6. Ler o texto em voz alta.2.7. Pedir que alguns pais destaquem trechos do texto que lhes foram significativos.

    2.8. Fechamento: levar os pais a responder a pergunta: Que devemos fazer ao interagircom crianças e jovens? Estamos, de fato, nos relacionando com eles? Ou será queestamos ali só fazendo número, apenas de “corpo presente”?

  • 8/17/2019 Pais Ausentes Material Para o Coordenador (1)

    3/53

    Reunião com pais

    Ressalta-se, ainda, outra constatação: para não sacrificar a atividade profissional,muitos pais contam com a ajuda de babás, avós e tias que acabam responsabilizando-seinteiramente pelas crianças e jovens. Tais pessoas devem comportar-se como auxiliado-ras e não como substitutas, pois a transferência de uma tarefa que é genuinamente decada pai ou mãe pode ser maléfica.

    Outras vezes, abandonados pela atuação paterna, os filhos passam a ser conduzidospelos programas de TV, que têm qualidade questionável, ou por um interlocutor desco-nhecido nos sites de relacionamento da internet.

    Para finalizar, levantamos uma última questão: não é só o tempo que falta, há tambémfalta de compromisso e coragem em assumir a postura de pais educadores. A ação educati-va dá trabalho, cansa, requer posicionamento e, conseqüentemente, provoca desgaste narelação. Assim, confusos, cheios de receio, inquietações e imaturidade, muitos pais eva-dem-se da tarefa que lhes é imposta, deixando os filhos em planos secundários, selecionan-do, equivocadamente, outras prioridades e valorizando aspectos que poderiam ocuparmenos espaços em suas vidas.

    Ocupar-se das oportunidades de relacionamento com os filhos, não estar com a cabeçaem outras preocupações e buscar a valorização do tempo que se dedica a eles podem seralternativas interessantes, mesmo porque, como nos lembra o grande poeta FernandoPessoa, devemos “ser todo em cada coisa”, para podermos estar inteiros e brilhar.

    4. Textos complementares

    Para participar, não basta estar presente

    Esta semana vi a propaganda de um modelo de telefone celular, estampada em duaspáginas numa revista, que nos dá uma excelente pista a respeito de como temos pensado asrelações entre pais e filhos em nossa sociedade. A propaganda sugere que um pai, ao assistirà encenação de um teatro infantil provavelmente com seu filho atuando, use o seu celularpara acompanhar o desenrolar de um jogo de futebol. "Mude o canal" é o texto que pretendeconvocar o leitor a se identificar com uma cena em que o protagonista consegue escapar deuma situação sem grande interesse para outra que lhe diz muito mais respeito.

    "Vamos fazer de conta que os pais se relacionam com os filhos com verdadeiro interes-se. Vamos fingir que o que os filhos fazem e falam desperta nos pais a vontade destes departiciparem ativamente das conquistas e desafios rotineiros que eles vivenciam. Vamosocultar o fato de que o tédio toma conta dos pais nas atividades festivas que as escolaspromovem com seus alunos com a participação da família. Vamos simular a presença dospais na vida dos filhos etc." Esses parecem ser alguns princípios embutidos na propagandaem questão e no modo de pensarmos o relacionamento com os filhos.

    Talvez seja importante considerar, aqui, que os pais estão sob pressão social intensa.Como a vida em família e a relação entre pais e filhos têm sido consideradas elementos-chave na formação de pessoas de bem, os pais têm considerado necessário, no mínimo,estar de corpo presente na vida do filho, principalmente quando essa presença é ou podeser observada por outros. No caso de crianças, esse outro costuma estar na escola.Quando os pais não marcam presença, sabem que serão julgados. "Pais ausentes” é umaexpressão bastante usada por educadores do espaço escolar para qualificar pais que nãocomparecem a seus chamados.

    Tomando uma parte pelo todo, os trabalhadores da educação nem se dão conta deque pais ausentes dos chamados que a escola faz podem ser verdadeiramente presen-tes na vida do filho e de que pais presentes no espaço escolar que o filho freqüentapodem ser totalmente ausentes no relacionamento diário entre eles, que é o queconstrói, na verdade, o vínculo de pertencimento. Afinal, o que acontece entre pais efilhos na privacidade do lar só eles mesmo sabem, não é verdade?

  • 8/17/2019 Pais Ausentes Material Para o Coordenador (1)

    4/54

    Reunião com pais

    E é debaixo de tanta pressão que os pais se sentem obrigados a fazer coisas com osfilhos que nem sempre curtem, gostam ou acham necessário ou importante fazer. É nabusca de serem identificados bons pais, presentes na vida dos filhos e que honram ocompromisso assumido, que acreditam ser necessário exprimir, sem sinceridade algu-ma, emoções suscitadas pela observação do crescimento do filho.

    Mas, é bom avisar em alto e bom som: as crianças têm antenas de alta precisão

    voltadas aos pais o tempo todo. São as primeiras a perceberem a dissimulação, o enfado,o tédio e o fingimento, quando eles existem mesmo disfarçados. É essa a parte que, paraelas, fica. Do mesmo modo, são elas as primeiras a perceberem o esforço real que os paisfazem para acompanhá-las, o interesse verdadeiro que surge no relacionamento entreeles, na prioridade que dão, em certos momentos, para os filhos. Essa é a parte que fica eque pode render bons frutos.

    Em oposição à propaganda que estamos comentando, lembro-me de um episódio deum filme já antigo: Bagdá Café. Um jovem pratica piano insistentemente enquanto a mãee a maioria dos presentes no local lamentam o estorvo do som produzido. Cada vez commais fúria, ele pratica. Até que um dia uma hóspede do pequeno e maltratado hotel se

    põe a ouvir, com real interesse, o que ele toca. O rapaz se transforma e passa a executar,com extrema delicadeza e sensibilidade, uma música clássica. Ele percebe que há umouvinte para sua música, enfim.

    Essa é a pergunta que devemos fazer ao interagir com crianças e jovens: estamos, defato, nos relacionando com eles? Ou será que estamos lá só fazendo um número, apenasde corpo presente? Nesse caso, o modelo de celular anunciado do modo como foi, atéque pode ser bem útil.

    Rosely Sayão. Folha de S.Paulo, 21 out. 2004.

    O que é estilo parentalÉ o conjunto de atitudes dos pais que cria um clima psicológico-emocional em que

    se expressam os comportamentos dos pais; mães e pais podem se comportar de maneiradiferente; os estilos parentais incluem as práticas parentais (elogios, gritos, punições etc.)e outros aspectos da interação pais–filhos, tais como: tom de voz, linguagem corporal,descuido, atenção, mudanças de humor etc. Atualmente, os estudos psicológicos mos-tram que família é essencial na vida de todos, mas ela pode determinar tanto aspectos dePROTEÇÃO (envolvimento, afeto, regras claras, responsividade etc.) quanto de RISCO(punição física, negligência, regras inconsistentes ou ausência de regras etc). Cada estilode pai/mãe contribui para determinar o desenvolvimento e socialização de crianças e

    adolescentes, que formarão um repertório comportamental que levam para o resto davida. O estudo dos estilos parentais divide as relações entre pais e filhos (de qualqueridade) em 4 tipos básicos: participativo (centrado na relação e socialização do filho);negligente (pais ausentes); autoritário (centrado nos pais); permissivo (centrado no filho).As pesquisas internacionais e longitudinais revelam que as influências começam muitocedo e continuam na adolescência e que o estilo parental não muda no decorrer dosanos. Para medir os estilos parentais, foram utilizadas as Escalas de Exigência eResponsividade (Lamborn e cols.) e, para medir práticas educativas, foram utilizadas asEscalas de Qualidade na Interação Familiar (Weber e cols.).

    Descrição de estilos parentais:

    1. PAIS PARTICIPATIVOS:  também chamados de autoritativos ou participativo-democráticos (tanto exigentes quanto responsivos). São pais centrados tanto narelação quanto na socialização e desenvolvimento do filho. Apresentam muitasregras e limites e também muito afeto e envolvimento, “dão bastante, mas tambémpedem muito”: são aqueles que educam dando muito apoio, atenção emocional,estrutura positiva e direção para os filhos.

  • 8/17/2019 Pais Ausentes Material Para o Coordenador (1)

    5/55

    Reunião com pais

    Conseqüências para os filhos: estas crianças definem-se e são classificadas como maiscompetentes em todos os níveis, ou seja, boa auto-estima, habilidades sociais, estilo deatribuição otimista, bom desempenho acadêmico e desenvolvimento de resiliência (capaci-dade de recuperação, de adaptação).

    2. PAIS NEGLIGENTES: (pouco responsivos e pouco exigentes; apresentam pouco afeto eenvolvimento e poucas regras e limites). São considerados pais ausentes. Ainda, esperam,

    às vezes, que o filho responda a suas necessidades e formam famílias instáveis (separa-ções e conciliações freqüentes); são pais pouco presentes na vida dos filhos, sem tolerân-cia e aborrecem-se facilmente, seja com o choro natural de um bebê, seja com os pedidosde crianças ou adolescentes, e deixam a criança fazer o que bem quiser; quando os filhoschegam ao limite, ou quando eles sentem culpa por sua ausência, podem controlarexageradamente ou punir.

    Conseqüências para os filhos: são os que apresentam pior  performance em todos asáreas; podem ter desenvolvimento atrasado, problemas afetivos e comportamentais; esteestilo parental correlaciona-se com uso de drogas e álcool, com doenças sexualmentetransmissíveis, com início precoce da vida sexual, baixa auto-estima e auto-eficácia, com

    probabilidade maior de depressão, estresse, estilo explicativo pessimista, baixo desempe-nho acadêmico, baixas habilidades sociais e futuro comportamento anti-social (mentir,xingar, roubar, agredir, machucar).

    3. PAIS AUTORITÁRIOS: (muito mais exigentes do que responsivos; apresentam muitas regrase limites, mas são pouco afetivos e envolvem-se pouco). São pais centrados em si próprios,portanto desejam somente a obediência dos filhos. Caracterizam-se por nível baixo de apoioe atenção emocional, mas alto de estrutura positiva e direção; são demasiadamente exigen-tes, tendo como resposta comum “Porque eu disse assim”, querem que o filho faça o queeles desejam, comandam a vida dos filhos e não deixam que eles próprios se expressem.

    Conseqüências para os filhos: tendem a apresentar performance moderada na escola, mas,se a coerção for muito forte, podem ter ansiedade e, com isso, abaixar o desempenhoescolar; não apresentam problemas de comportamento, geralmente são crianças e adoles-centes quietos e passivos, mas, se a coerção dos pais for muito forte, podem mostrar hostili-dade e agressividade contra figuras de autoridade (professores, por exemplo); apresentampiores desempenhos em habilidades sociais, humor instável (pouco amigáveis), baixa auto-estima e altos níveis de depressão, condições que podem levar para a vida futura.

    4. PAIS PERMISSIVOS: também chamados de indulgentes (muito mais responsivos do queexigentes; apresentam muito afeto e envolvimento e poucas regras e limites. São paiscentrados no filho. Dão muito apoio e atenção emocional, mas pouca estrutura positiva edireção aos filhos; às vezes são pais que têm receio de serem rejeitados e não seremamados pelos filhos, então permitem em demasia, ou sentem culpa pela ausência notrabalho e permitem tudo ou são inconsistentes; a pouca resistência acaba levando acrianças mimadas e falta de resistência à frustração.

    Conseqüências para os filhos: estão mais propensos a envolver-se em problemas decomportamento e têm pior desempenho na escola, mas podem ter boa auto-estima eboas habilidades sociais e baixos níveis de depressão, mas há um alto risco de envolvi-mento com drogas no futuro, pois não aprenderam que existem regras e limites no mun-do, acham que podem e devem experimentar tudo e testar todos; geralmente são crianças(e até adultos) mimadas, sem limites, que depois de um tempo de convivência tornamchatas, pois pensam somente em si próprias e não aprenderam como o mundo funcionanem as suas regras de convivência.

    Lidia Weber e colaboradores

    http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/051005/pesquisas.doc (acesso em 10 dez. 2006)

    se