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PAISAGEM: CONCEITOS E REALIDADES. UMA PERSPECTIVA ALÉM DO AMBIENTE ESCOLAR. Elvis Vieira Moreira [email protected] Abraão Levi dos Santo Mascarenhas [email protected] Marcos Mascarenhas Barbosa Rodrigues [email protected] UNIFESSPA INTRODUÇÃO A paisagem é um conceito que vem evoluindo ao longo do tempo e as suas diferentes definições vem sendo difundidas em vários seguimentos da ciência desde sua origem até hoje. Tal aprimoramento é conduzido pelo viés dos conceitos nas salas de aula de todo o país, bem como na cidade de Marabá (situada no sudeste Paraense), o qual a aplicação do conceito de paisagem não atendem as necessidades dos estudantes, pois segundo Vygotsky (2001) apresentar as definições de conceitos prontos e acabados para o aluno, quase sempre, haverá apenas uma reprodução do conceito sem a correlação com a realidade do aluno, assimilando apenas palavras, mas dissociado de conteúdo, permitindo com que o aluno não absorva as aulas adequadamente. O trabalho em questão visa pontuar os conceitos de paisagem a serem trabalhados e aplicados pelos professores de geografia na realidade escolar do aluno na rede municipal de ensino 1 , observando as formas de apropriação e transformações do espaço, benefícios e suas contradições, tendo em vista, como a dinâmica da cidade e as políticas atreladas ao plano diretor, o qual afetam a vida cotidiana dos alunos do município de forma positiva ou negativa no estabelecimento do desenvolvimento econômico e social do município. O objetivo da pesquisa é contribuir na prática para uma compreensão geográfica do conceito de paisagem e os direitos de uso da cidade assegurado em lei para os alunos do nono ano (9A e 9B), especificamente, da E.M.E.F. Professor Jonathas Pontes Athias, sendo desenvolvidos atividades de pesquisa e coleta de dados, observação e registro fotográfico da praça da folha 16 e nas folhas 19, 20, 21 e 23 tidas como objeto de estudo, 1 A escola em tela é a Escola Municipal de ensino fundamental e médio E.M.E.F Professor Jonathas Pontes Athias.

PAISAGEM: CONCEITOS E REALIDADES. UMA … · gravidade, a intensidade da cor azul do céu, o grau de extinção que perde a luz ao atravessar as camadas de ar, as refrações horizontais

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PAISAGEM: CONCEITOS E REALIDADES. UMA PERSPECTIVA ALÉM

DO AMBIENTE ESCOLAR.

Elvis Vieira Moreira

[email protected]

Abraão Levi dos Santo Mascarenhas

[email protected]

Marcos Mascarenhas Barbosa Rodrigues [email protected]

UNIFESSPA

INTRODUÇÃO

A paisagem é um conceito que vem evoluindo ao longo do tempo e as suas

diferentes definições vem sendo difundidas em vários seguimentos da ciência desde sua

origem até hoje. Tal aprimoramento é conduzido pelo viés dos conceitos nas salas de aula

de todo o país, bem como na cidade de Marabá (situada no sudeste Paraense), o qual a

aplicação do conceito de paisagem não atendem as necessidades dos estudantes, pois

segundo Vygotsky (2001) apresentar as definições de conceitos prontos e acabados para

o aluno, quase sempre, haverá apenas uma reprodução do conceito sem a correlação com

a realidade do aluno, assimilando apenas palavras, mas dissociado de conteúdo,

permitindo com que o aluno não absorva as aulas adequadamente.

O trabalho em questão visa pontuar os conceitos de paisagem a serem trabalhados

e aplicados pelos professores de geografia na realidade escolar do aluno na rede municipal

de ensino1, observando as formas de apropriação e transformações do espaço, benefícios

e suas contradições, tendo em vista, como a dinâmica da cidade e as políticas atreladas ao

plano diretor, o qual afetam a vida cotidiana dos alunos do município de forma positiva

ou negativa no estabelecimento do desenvolvimento econômico e social do município.

O objetivo da pesquisa é contribuir na prática para uma compreensão geográfica

do conceito de paisagem e os direitos de uso da cidade assegurado em lei para os alunos

do nono ano (9A e 9B), especificamente, da E.M.E.F. Professor Jonathas Pontes Athias,

sendo desenvolvidos atividades de pesquisa e coleta de dados, observação e registro

fotográfico da praça da folha 16 e nas folhas 19, 20, 21 e 23 tidas como objeto de estudo,

1 A escola em tela é a Escola Municipal de ensino fundamental e médio E.M.E.F Professor Jonathas Pontes

Athias.

devido à proximidade com a escola, onde são desenvolvidas variadas funções sociais por

grupos urbanos em diferentes horários, no caso da folha 16, e nas demais folhas (19, 20,

21, 23) enfatizamos as dificuldades no planejamento urbano, em que, serão relacionados

com as atribuições contidas no plano diretor e se afetam direta e/ou indiretamente a vida

dos alunos, que ao final, resultará com uma exposição das fotos obtidas pelos alunos no

trabalho, sendo utilizado nesse artigo como referência (CAVALCANTI, 2008) frisando

o direito à cidade constrói-se na escola, auxiliando na formação de cidadãos;

(MEZZOMO, 2010), contribuindo na formação histórica do conceito de paisagem;

(SALGUEIRO, 2001) faz uma relação individuo-ambiente focando a exploração dos

recursos naturais e a predominância da paisagem urbana; (BÓLOS, 1992) relação do

homem com o natural e formação de paisagens distintas; (COSTA, 2007) ao utilizar

Humboldt enfatiza a inserção da técnica na análise da paisagem; (BERTRAND, 1971)

faz um relação da dinâmica física, natural e antrópica que resulta na perpetua evolução

da paisagem; (PCN, 1998) discute o reconhecimento da paisagem e seus elementos

sociais, culturais e naturais e a interação existente entre eles; (PDM, 2011) que traça as

metas e os objetivos do desenvolvimento em todos os quesitos da cidade, mas que possui

certo distanciamento da pratica na realidade; (SOUSA, 2013) contribui no que diz

respeito a formação, expansão e apropriação da cidade e os impactos que isso

proporciona; (ANASTASIOU, 2000) vem contribuir com a aplicação metodológica no

que tange a participação dos alunos na criação e desenvolvimento da constituição do

painel. Todos usados como fonte de pesquisa bibliográfica que condizem com a realidade

do tema, como parâmetro de reflexão sobre o assunto, além das contribuições do projeto

PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Docência - Faculdade de Geografia)

do qual atuamos como bolsistas. Além disso, tem-se a observação do conceito de

paisagem inseridas na realidade dos alunos, como por exemplo, saber se os mesmos

usufruem dos seus direitos como cidadãos (direito ao saneamento básico, asfalto,

segurança etc), após a aplicação do conceito de paisagem e posteriormente a execução

dos registros fotográficos, terão como finalidade exporem em um mural na escola sobre

a deficiência dos direitos básicos de todo cidadão, mostrando através de fotos a falta de

prioridade do público nas melhorias de infraestruturas da cidade.

MATERIAIS E MÉTODO

A metodologia que foi seguida para a realização deste estudo na escola EMEF

Professor Jonatans Pontes Athias pode ser entendida através das seguintes atividades:

Levantamento/Pesquisa bibliográfica: Nesta fase inicial constitui em um

levantamento da produção científica de artigos em periódicos e livros que

correspondem a trabalhos relacionados e similares com a referente pesquisa;

Observação e descrição da prática docente: Onde podem ser observadas as

formas de compreensão dos alunos sobre o conceito de paisagem através de

atividades pedagógicas, no caso, a construção do painel relacionando com os

problemas da cidade e, como os mesmos, afetam a vida dos alunos, em especial,

referente às transformações na estrutura urbana;

Registro fotográfico: Nessa etapa será feito registros de fotografias, da Praça da

Folha 16, Núcleo Nova Marabá, enfatizando as mudanças contidas no mesmo

espaço em diferentes horários, buscando observar a apropriação cultural dessa

paisagem. E, também, dos locais onde moram (no caso, as folhas 19, 20, 21, 23),

e/ou durante o seu trajeto até a escola;

Síntese da Metodologia: Todo o material pesquisado será interpretado dentro da

busca das características que visem às transformações sociais, culturais e

econômicas relacionados ao conceito de paisagem desenvolvido na escola, do que

surgem as primeiras conclusões.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Contexto de formação da Cidade de Marabá-PA

Marabá cidade localizada no sudeste do Pará ao longo de sua história desde sua

emancipação do município de Baião em 1913, também passou por sucessivas divisões

territoriais para formação de outros municípios como Itupiranga em 1948, São João do

Araguaia e Jacundá em 1961 e por fim em 1988 Parauapebas e Curionópolis, restando

lhe uma área de 15.157,90 Km² (IBGE, 1995). Assim como outras cidades da Amazônia,

surgem às margens de rios, nesse caso, Marabá entre a planície de inundação de dois rios,

o Tocantins e Itacaiunas, servindo como entreposto comercial para circulação de

mercadorias e acesso a capital do Estado.

Seu primeiro núcleo urbano a Marabá Pioneira (conhecida também por cidade

velha) surge sem nenhum projeto de urbanização e sofre sucessivas enchentes devido a

sua localização geográfica. Nova Marabá que aparece no contexto dos anos de 1970 como

centro planejado pela SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) em

uma área de fazenda com o padrão altimétrico mais elevado a salvo das enchentes e

atendendo as necessidades expansionistas da cidade e que é cortada por diversas rodovias

como a BR-230 (Transamazônica), facilitou o processo de migração. O núcleo Cidade

Nova as margens do rio Itacaiunas cresce com residências de iniciativas individuais

(invasões), e, posteriormente o núcleo do São Felix e núcleo Morada Nova nos limites do

perímetro urbano fazendo parte dos cinco núcleos descontínuos da cidade. (SOUZA,

2013).

Todo esse Crescimento se deu através de ciclos econômicos começando pela

extração do caucho e da castanha passando pela pecuária e mineração atraindo migrantes

de todas as partes do país (SOUZA, 2013). Marabá sofreu grandes transformações na

paisagem em pouco intervalo de tempo resultando na modificação cultural da sociedade

nativa, tendo em vista os níveis de relações e as novas dinâmicas econômicas que utilizam

os recursos da região e produzem e reproduzem espaços como lhe convém disseminando

pobreza e riqueza no mesmo território.

A construção do conceito de Paisagem

A concepção do conceito de paisagem que a trata de forma integrada prevê a

compreensão da estrutura, do funcionamento e da evolução a partir do entendimento das

características de cada elemento natural, as relações entre si e as relações com a ação

antrópica. Esta última é entendida pelas interferências do uso e ocupação que acabam por

interromper, acelerar ou promover determinados processos. Essa forma de interpretação

é oriunda de pesquisas que foram sendo desenvolvidas ao longo do tempo na Geografia

e, por isso, a apreensão histórica sobre o sentido do termo paisagem é pertinente para

entender o atual estágio da concepção aqui utilizada (MEZZOMO, 2010).

A paisagem desde sua constituição como conceito vem sofrendo uma serie de

transformação de acordo com as atribuições das quais são conferidas, tal estudo baseando-

se em uma escala no tempo e no espaço, nos remonta a origem do termo derivado do latim

Pagus que significa país com o sentido de lugar e unidade territorial criado por volta dos

séculos XII a XIV no período renascentista (MEZZOMO, 2010). Até o momento a

paisagem estava associada ao belo, a perfeição (divino), ao conjunto natural dos

elementos terrestres e marinhos representados pela arte estampadas em pinturas,

evidenciando imagens contemplativas que nos séculos pôsteres levaram a valorização dos

espaços, despertando um novo interesse diante da natureza, o da exploração, resultado

dos avanços técnicos e científicos que distanciaram a interpretação da natureza do divino,

sendo vista cada vez mais como um recurso, objeto de conhecimento e transformação

(SALGUEIRO, 2001 citado por MEZZOMO, 2010).

O desenvolvimento do termo paisagem se deu a partir do século XIX, dentro da

geografia pela escola alemã, no qual, Bolos (1992, p.6) define paisagem como:

Um conjunto de elementos observáveis de um determinado ponto, as

concepções passam a considerar, cada vez mais, as formas terrestres,

sendo resultantes da associação dos elementos da superfície terrestre

com o homem, derivando em paisagens diversas como rural, urbana,

natural e cultural.

E ainda no mesmo século Alexander Von Humboldt foi o primeiro a introduzir a

técnica e ciência no termo paisagem com descrições e observações da natureza associando

localização, clima e características das plantas feitas no decorrer de suas viagens. Ao

descrever a Cordilheira dos Andes, Humboldt correlaciona vários elementos podendo ser

considerados:

A vegetação, os animais, os fenômenos geológicos, o cultivo, a

temperatura do ar, o limite das neves permanentes, a diminuição da

gravidade, a intensidade da cor azul do céu, o grau de extinção que

perde a luz ao atravessar as camadas de ar, as refrações horizontais e o

calor da água em seu ponto de fervura, a diferentes alturas

(HUMBOLDT, 1805 p. 42 apud COSTA 2007, p.10).

Em que hoje poderia ser denominado de ecossistêmico. Além desses autores que

ampliaram o conceito de paisagem como um elo entre a geografia humana e geografia

física, suas bases auxiliaram nas pesquisas de outros autores de outras escolas na Europa

como as da Rússia, anglo-saxônica e da França. Segundo a autora, Ferdinand Von

Richthofen apresenta uma visão de superfície terrestre baseada na interação das diferentes

esferas (litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera), as quais proporcionariam a

compreensão das interconexões do planeta. Já Sigfrid Passarge é considerado o primeiro

autor a publicar uma obra sobre paisagem (Grundlagem der Landschaftskunde,

1919/1920), o que teria influenciado na constituição da chamada ciência da Paisagem. No

caso de Alfred Hettner, as contribuições vieram da preocupação com questões

metodológicas, em que buscava a globalidade da paisagem com a inclusão do homem, o

que também contribuiu nos estudos sobre a inter-relação dos elementos naturais com os

humanos. Com estudos que aproximaram a paisagem das concepções da Ecologia, Carl

Troll ampliou a relação organismo e ambiente e aproximou a Geografia da Biologia com

a criação, em 1939, do termo Ecologia da Paisagem. Josef Schmithüsen, por sua vez,

trabalhou com a ideia de globalidade da paisagem destacando questões em relação à

dinâmica e funcionalidade (MEZZOMO, 2010).

Nas escolas anglo-saxônicas merece destaque Ludwig Von Bertalanfy (1977) se

referindo ao modelo sistêmico, que segundo ele em qualquer situação é preciso estudar

as partes e os processos envolvidos de forma integrada e não isoladas, pois os

comportamentos são diferentes quando os objetos são vistos separados e quando são

considerados no todo.

Na Rússia Vassili Vassiliévitch Dokouchaev, com suas pesquisas sobre solo e

Victor Sotchava (1977) com os estudos dos geossistemas que contribuíram de forma

expressiva no desenvolvimento do conceito, correspondendo a aplicabilidade em

qualquer paisagem concreta “os fenômenos naturais que não excluem os fatores sociais e

econômicos, os quais influenciam na estrutura e peculiaridades espaciais”.

A paisagem foi definida por George Bertrand pesquisador da escola francesa

como:

O resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos

físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre

os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em

perpétua evolução (BERTRAND, 1971, p. 2).

Para o autor a paisagem deveria ser objeto de estudo da geografia física e

atribuindo um conjunto de elementos dinâmicos e em constante evolução de acordo com

as constantes trocas de energia e matéria resulta na formação da paisagem.

Outro autor que contribuiu com o conceito foi Jean Tricart (1977), com uma

perspectiva evolucionista baseada na interação de elementos bióticos e abióticos, em que,

não há ecossistema sem que haja interferência humana. Tais definições tiveram bastante

expressão no Brasil no século XX, devido à quantidade de pesquisadores da escola

francesa atuando no país, com destaque para teoria sistêmica baseado no geossistemas,

pelo professor Carlos Augusto Figueiredo Monteiro que trabalhou suas pesquisas de

acordo com as necessidades das diferentes paisagens brasileiras. Para o autor a paisagem

é entendida assim como o resultado de integração dinâmica dos elementos de suporte e

cobertura (físicos, biológicos e antrópicos), sendo expressa em partes delimitáveis

infinitamente, mas individualizadas por meio das relações entre elas, que organizam um

complexo (sistema) conjunto em perpétua evolução (MONTEIRO, 2000, p. 39. Apud,

MEZZOMO, 2010).

Em escala global, a evolução teórica do conceito desencadeada ao longo do tempo,

fez com que as pesquisas sobre paisagem ganhassem espaço, favorecendo para

constituição de uma disciplina científica definida pela União Geográfica Internacional em

1983 como a Ciência da Paisagem. Tal disciplina inclui diferentes interpretações sobre o

termo paisagem, o que pode ser explicado pela própria evolução da ciência geográfica,

dos diferentes referenciais teóricos utilizados e do crescente aparato tecnológico para o

levantamento e tratamento das informações (MEZZOMO, 2010).

Conforme descrevem entre algumas das interpretações que estão sendo

empregadas destacam-se, a paisagem como um aspecto externo de uma área ou território,

que representa uma ou outra qualidade e que se associa à interpretação estética, resultado

de percepções diversas; paisagem como formação antropo-natural, consistindo em um

sistema territorial composto por elementos naturais e antropotecnogênicos condicionados

socialmente, que modificam ou transformam as propriedades das paisagens naturais

originais; paisagem como um sistema econômico-social, que correspondente à área onde

vive a sociedade humana, caracterizando o ambiente de relações espaciais que tem uma

importância existencial para a sociedade. Esta paisagem seria composta por uma

determinada capacidade funcional para o desenvolvimento das atividades econômicas;

paisagem cultural, sustentada na ideia de que a paisagem é o resultado da ação da cultura

ao longo do tempo, modelando-se por um grupo cultural, a partir de uma paisagem

natural. Inclui três formas: paisagem visual, percebida e valorizada (RODRIGUEZ et al.

2004, p. 14, citado por MEZZOMO, 2010).

Para Aziz Ab’Saber (2003) a paisagem é sempre uma herança, na verdade, ela é

uma herança em todo o sentido da palavra: herança de processos fisiográficos e

biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como

território de atuação de suas comunidades.

Para essa nova forma de pensar a paisagem, Salgueiro 2001, Afirmar;

A relação indivíduo-ambiente é colocada em novos termos teóricos mas

volta ao centro da preocupação de muitos geógrafos e, neste contexto,

os estudos sobre a paisagem e a paisagem urbana assumem particular

destaque, em paralelo com uma maior atenção prestada às ameaças e

aos perigos que a exploração intensa de recursos está a colocar.

Essa forma de entendimento possibilita assim, o desenvolvimento de pesquisas

que apresentam uma grande quantidade de informações, dados e análises, levando ao

reconhecimento de fragilidades e/ou potencialidades da paisagem. Os resultados dos

estudos são utilizados para subsidiar trabalhos e projetos de diversas áreas, como os de

planejamento da paisagem seja ela qual for. (MEZZOMO, 2010).

A Paisagem como referência dos estudos em ambientes urbanos no ensino de

Geografia

Sobre essa didática destaca-se a forma de ler a paisagem, a descrição, observação,

explicação e analogias que buscam entender as diversas paisagens, mesmas aquelas que

o indivíduo não tem contato. Porém a ideia centra-se em buscar entender a paisagem a

qual o aluno se insere, para este. Coloca-se inicialmente a evolução da paisagem urbana

de Marabá- PA, enquanto produto das diversas relações sociais, pois a perspectiva do

conceito de paisagem em relação à aplicabilidade no ensino básico pode ser

compreendida pela ação antrópica, sendo tanto na área urbana quanto na rural, tendo em

vista, o seu espaço de vivência, a percepção e como o aluno concebe as transformações

na paisagem evidenciando de forma mais clara os impactos causados por essa alteração,

do qual possui grande relevância, pois afeta diretamente nas formas de vida e as relações

em diversas escalas dos habitantes do município e região.

As ideias fomentadas para trabalhar a paisagem também são discutidas para o

ensino, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCN’s) que:

A abordagem dos conteúdos da Geografia pode colocar-se na

perspectiva da leitura da paisagem, o que permite aos alunos conhecer

os processos de construção do espaço geográfico. Conhecer uma

paisagem é reconhecer seus elementos sociais, culturais e naturais e a

interação existente entre eles; é também compreender como ela está em

permanente processo de transformação e como contém múltiplos

espaços e tempos.

No ensino da geografia, o conceito de paisagem é visto apenas com ilustrações e

ligadas apenas a natureza, ao relevo, mas, ela vai muito além disso, que ao invés de

esclarecer, confunde os alunos. O professor de geografia tem como objetivo principal ao

ensinar as categorias analíticas de forma diferente, fazendo com que o aluno realmente

entenda o conceito delas e com isso, passe a aplicar no seu cotidiano dentro e fora da

escola.

A paisagem como conceito real, além de ser tudo aquilo que o sentido alcança, é

necessário mostrar a ação do homem sobre ela, na perspectiva de paisagem humanizada

e organizada, humanizada porque o homem utiliza da paisagem de forma demasiada,

prejudicando e intervindo de forma negativa no elemento da paisagem. Organizada

porque a exploração da natureza existe, no entanto de forma harmônica, como na

construção de praças, orlas, cidades planejadas, entre outros.

Estratégia didático-pedagógica para trabalhar o conceito de Paisagem no ensino de

Geografia Escolar – transposição curricular

De maneira simplificada para compreensão do conhecimento sobre paisagem de

forma mais rápida e eficiente pelos alunos será aplicada a metodologia de painel,

seguindo quatro fases: a descrição, a operacionalização do conhecimento, a dinâmica da

atividade e a avaliação.

Na primeira fase – a descrição - o professor organiza grupos de alunos que

discutem sobre a forma, como veem a paisagem urbana, tendo como objeto de analise a

praça da folha 16, e nas folhas 19, 20, 21, 23 entre outros, observando a maneira como

esse espaço é apropriado pela população e o caráter da função social empregado pela

administração pública atribuindo à mesma, se corresponde com a utilização pelos grupos

urbanos que a frequentam em diferentes horários, apresentando seus pontos de vista

diversos sobre o tema, se há problema ou não e se os afeta direta e indiretamente. E, além

disso, nas demais folhas, identificar se o planejamento urbano está de acordo com o Plano

Diretor, se não, apontar as dificuldades enfrentadas devido ao “esquecimento” por parte

da prefeitura.

Já na segunda fase será feita a busca de dados, a organização, a obtenção de

arquivos, fotografias, observação, analises e interpretação que mostrem a praça e sua

utilização. A obtenção de dados será pela observação e por registro fotográfico feito pelos

alunos (podendo ser por celular, câmeras fotográficas, internet e ipad, etc) em diversos

horários e dias da semana objetivando maior precisão da pesquisa.

OCUPAÇÕES URBANAS AO REDOR DA FOLHA 16

O DESCASO PÚBLICO NAS FOLHAS 19, 20, 21, 23

Não obstante, na terceira fase o professor coordena os grupos compostos por sete

pessoas da classe, do 9A para falar sobre o assunto (ocupação urbana na folha 16) em

meio aos ouvintes, cada estudante possui um tempo máximo 10 minutos para falar, sendo

o professor a anunciar o tema da discussão. Já os alunos do 9ºB, após fazerem o registro

fotográfico, serão feitas dissertações sobre os problemas enfrentados por eles em suas

ruas, mostrando sua indignação com tal descaso. No final o professor fará as

considerações finais sobre o assunto e convida os ouvintes a tirarem duvidas e fazer

comentários sobre o tema observando o registro fotográfico dos alunos da praça da folha

16 e as demais folhas na classe como forma de exposição.

Por fim, o último passo será a avaliação dos alunos por assiduidade, concentração,

argumentos consistentes e perguntas elaboradas, além da qualidade das imagens obtidas

pelos alunos.

Quadro 01 – Elementos didático-pedagógicos da aula sobre conceito de paisagem

Conteúdo

Formas de Ensinar o

conteúdo

Forma de Aplicar o

conteúdo –

intervenção no campo

ou na aula

Formas de

avaliar

Paisagens

Urbanas

Breve debate sobre o

assunto, seguido de uma

aula expositiva dentro da

sala de aula, para melhor

entendimento do assunto,

além de fotos da cidade.

Debates antes, durante e

depois da explicação do

conceito em sala de

aula, e observação

crítica sobre a paisagem

das folhas 16, 19, 20,

21, 22.

Avaliação através

de texto

dissertativo

realizado pelos

alunos, discussão

sobre o tema,

registro

fotográfico e, por

fim, exposição

das fotos.

Fonte: Plano de Aula, 2014

Org.: Mascarenhas; Martins; Vieira; Sousa; Farias, 2014.

Considerações Finais

O conceito de paisagem pode ser observado por diferentes elementos, podendo

ser de domínio natural, humano, cultural etc, podendo sofrer modificações ao longo do

tempo. É possível observar, principalmente na praça da folha 16 e no seu entorno, a

constante mudança de paisagem, visto que em diferentes horários o público e os serviços

mudam. Já nas folhas 19, 20, 21 e 23 a paisagem corrente é o descaso público que não só

os alunos, mas todo restante da população residente nessas folhas enfrentam, como

buracos, ruas não asfaltadas, esgotos à céu aberto.

Dentro das salas de aula das escolas espalhadas pelo país, a aplicação do conceito

de paisagem é deficiente, visto que é apenas retratado de forma ilustrativa, como o relevo,

não atentando para a realidade dos alunos, ou seja, a paisagem que os cerca, seja natural

ou modificada pelo homem. A maneira mais relevante de retratar o conceito de paisagem

é, de acordo com o que foi explanado ao longo do texto, “aguçar” o senso crítico dos

alunos para o seu entorno, atentando para sua realidade, observando geograficamente a

paisagem e as mudanças que nela ocorrem, voltados para uma escala local (onde moram,

onde estudam, lugares que frequentam), fotografando, escrevendo, aplicando e expondo

tudo o que observaram.

A arte de ensinar deve ser além da sala de aula, do livro didático, a ação mediática

do professor é a ponte do conhecimento científico e do senso comum dos alunos, a

apresentação diferenciada do conteúdo transforma os alunos em críticos do saber, o qual

passam a analisar o seu cotidiano sempre ligando com o conteúdo ministrado em sala.

Daí a arte de ensinar além das paredes das escolas, gerando novos conhecimentos e

verdadeiros cidadãos.

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