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Palestras de 'Abdu'l-Bahá - Londres/1911

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Esta tentativa de reproduzir esta coletânea de palestras de 'Abdu'l-Bahá em Londres e seus arredores, é para o benefício de todos é feita na certeza e na esperança segura de que em virtude delas, o propósito e o trabalho do Orador poderão ser compreendidos e Seus esforços apoiarão professores de todos os credos e os habitantes de todas as regiões.

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I

PALESTRAS DE

‘ABDU’L-BAHÁ

LONDRES - 1911

II

III

PALESTRAS DE

‘ABDU’L-BAHÁ

LONDRES - 1911

COMPILADAS POR ERIC HAMMOND

IV

Título original: ‘Abdu’l-Bahá in London

© 2005 Todos os direitos reservados:

Editora Bahá’í do BrasilC.P. 19813800-970 – Mogi Mirim – SPwww.editorabahaibrasil.com.br

ISBN: 85-320-0119-X

1ª edição: 2005

Tradução: Bijan Ardjomand

Revisão: Comitê Nacional Bahá’í de Tradução e Revisão do Brasil

Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Impressão: Prisma Printer Gráfica e Editora, Campinas-SP

Coleção PALESTRAS DE ‘ABDU’L-BAHÁ:• Londres – 1911• Paris – 1911• Estados Unidos e Canadá – 1912 / A PROMULGAÇÃO DA PAZ

UNIVERSAL

Outras Obras de ‘Abdu’l-Bahá:EPÍSTOLAS DO PLANO DIVINO

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS

SEGREDO DA CIVILIZAÇÃO DIVINA, OSELEÇÃO DOS ESCRITOS DE ‘ABDU’L-BAHÁ

TRIBUTO AOS FIÉIS

ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

Outras Obras com Escritos de ‘Abdu’l-Bahá:COLEÇÃO “SELEÇÃO DE ESCRITOS BAHÁ’ÍS”ORAÇÕES BAHÁ’ÍSREVELAÇÃO BAHÁ’Í, A

Ilustração da Capa: Detalhe do premiado pano “Pour decoller” - Paris, 1994.

Artista Plástica: Ita Andrade.

Técnica: Pintura em Seda.

V

CONTEÚDO

Prefácio IXIntrodução XVPrólogo XIX

Palestras Públicas

O TEMPLO DA CIDADE: INTRODUÇÃO 1PALESTRA DE ‘ABDU’L-BAHÁ NO TEMPLO DA CIDADE 3IGREJA DE SÃO JOÃO DE WESTMINSTER: Introdução 7DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ NA IGREJA DE

SÃO JOÃO DE WESTMINSTER 9SOCIEDADE TEOSÓFICA: INTRODUÇÃO 13DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ NO CENTRO TEOSÓFICO 15RECEPÇÃO DE DESPEDIDA: INTRODUÇÃO 19REUNIÃO DE DESPEDIDA DE ‘ABDU’L-BAHÁ 21PALAVRAS DE DESPEDIDA DE ‘ABDU’L-BAHÁ 25CHENISTON GARDENS, NO 10 29UMA MENSAGEM DE ‘ABDU’L-BAHÁ 31DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ NA

RESIDÊNCIA DA SRTA. E. J. ROSENBERG 33DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ NA

RESIDÊNCIA DA SRA. THORNBURGH-CROPPER 35DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ NA

REUNIÃO DE UNIDADE DAS SRTAS. JACK E HERRICK 37

VI

Notas de ConversaçõesA CHEGADA EM LONDRES 41

Londres 42Diferenças 43Religião 44

DISCURSO A UMA ASSEMBLÉIA DE TEOSOFISTAS 47Preconceitos 48Teosofia 50Paz 51Manifestantes Divinos 51Budismo 52Fé 54Cura 54Sociedades Filantrópicas 55O Entendimento do Homem a Respeito de

Deus e dos Mundos Superiores 55Os Manifestantes Divinos 56

NOTAS DE UMA CONVERSA COM ‘ABDU’L-BAHÁ 57Os Ideais do Oriente e do Ocidente 58Ciência e Fé 60Educação 61Conversação com Pessoas Falecidas 61As Superstições São Úteis? 62A Vida Após a Morte 62

MENSAGEM ÀS MULHERES 65A CERIMÔNIA DE UM CASAMENTO BAHÁ’Í 66A VISITA A BRISTOL 71EM BYFLEET 75

O Cativeiro do Homem 77O Poder de Deus 78Mensageiros Inspirados 78Os Pobres 79

VII

Educação 81A Transformação do Coração 82Cristo e Bahá’u’lláh 83Arte 83Símbolos 84Esperanto 84Tolstoy 85Cura 85Morte 86Um Verdadeiro Bahá’í 88Difundindo os Ensinamentos 88Em Brooklands 89Os Dias em Londres 90O Trabalho da Mulher 91Zenóbia 93O Verdadeiro Bahá’í 95O Advento da Paz 96O Coração Puro 96A Verdadeira Espiritualidade 97Conhecimento Deve Resultar em Ação 97Sua Posição 99Visita ao Prefeito 100Algumas Características Pessoais 100

DE UMA ENTREVISTA CONCEDIDA POR ‘ABDU’L-BAHÁ

AO WEEKLY BUDGET 103O ADEUS 111SAUDAÇÕES DE ‘ABDU’L-BAHÁ ENVIADAS

DE PARIS A LONDRES 113UMA AMOROSA DESPEDIDA 115MENSAGEM DE ‘ABDU’L-BAHÁ AOS BAHÁ’ÍS DE LONDRES

PARA O DIA DO CONVÊNIO 117

VIII

Nota:A primeira publicação destas palestras foi através dos bonsserviços de Lady Blomfield, em 1912, pela revista bahá’ínorte-americana “Star of the West”, volume III, no 19.Em 1921, a Sociedade Bahá’í de Publicações de Chicagopublicou-as como uma edição independente; entretanto,o material original não está mais disponível e sendo assim,a Casa Universal de Justiça pede que declaremos que não émais possível verificar as traduções das palavras de ‘Abdu’l-Bahá.

IX

PREFÁCIO

À PRIMEIRA EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

De 1911 a 1913, ‘Abdu’l-Bahá empreendeu Suasaudaciosas viagens de ensino ao continente europeu e norte-americano, divulgando incessantemente neles a mensagemcuradora de paz e unidade da humanidade.

Com idade avançada (67 anos) e debilitado devido auma vida inteira de exílio, privação, sofrimento eperseguição, ‘Abdu’l-Bahá faz Seu primeiro discurso a umpúblico ocidental no City Temple, Londres, em 10 desetembro de 1911. Em 3 de outubro, Ele deixa a Inglaterrae parte para a França, ficando em Paris por nove semanas.Deixando a Europa em 2 de dezembro de 1911, ‘Abdu’l-Bahá retorna ao Egito na primavera seguinte, quando Eleinicia Sua segunda viagem ao Ocidente, desta vez para aAmérica, onde no curso de oito meses, visita mais dequarenta cidades, do Atlântico ao Pacífico, em ambos osEstados Unidos e Canadá. Em Wilmette, Chicago, lança apedra fundamental do primeiro Templo Bahá’í noOcidente. Em dezembro de 1912, ele volta a visitar aInglaterra e procede novamente para a França esubseqüentemente visita um grande número de cidades

X

européias, incluindo Stuttgart, Viena e Budapeste, antesde embarcar para o Egito, onde permanece por quase 5meses Se restabelecendo, e volta para Israel, em dezembrode 1913, nunca mais retornando ao Ocidente, vindo afalecer em Haifa, em 1921.

Durante estas estadias no Ocidente, proclamando aMensagem divina de Bahá’u’lláh a todas as camadas dasociedade ocidental, Ele palestrava em persa e árabe, esimultaneamente elas eram traduzidas ou para o inglês, oufrancês, ou alemão ou para a língua do país que estavavisitando. Ao mesmo tempo, sempre que possível, alguémtomava notas estenográficas das palestras no idiomaoriginal e às vezes, na língua do país. Foram essesapontamentos em inglês e francês, compilados pordevotados bahá’ís que deram origem à Coleção “Palestrasde ‘Abdu’l-Bahá”.

O livro Palestras de ‘Abdu’l-Bahá; Londres – 1911, é umacoletânea de Suas palestras durante Sua primeira estadianaquela cidade, compiladas por E. Hammond1 e publicadoem 1912 pelos bons préstimos de lady Blomfield. Ela,também, publica três outras palestras da segunda passagemde ‘Abdu’l-Bahá em Londres (1912-1913), porém as incluino final do livro de Paris – 1911.

O livro Palestras de ‘Abdu’l-Bahá; Paris – 1911, é outracoletânea de Suas palestras durante Sua primeira estadia naquelacidade, compiladas por lady Blomfield, com ajuda de suas duasfilhas e Beatrice Platt. Elas foram publicadas a pedido de ‘Abdu’l-Bahá.

O livro Palestras de ‘Abdu’l-Bahá; Estados Unidos eCanadá – 1912, o único a receber um título pelo próprio

1 Peter Smith, A Concise Encyclopedia of the Bahá’í Faith. p.20 e 377.

XI

‘Abdu’l-Bahá – A Promulgação da Paz Universal – é outracoletânea de Suas palestras durante Sua permanência nocontinente americano, compiladas por Howard MacNutt.Sua publicação foi estimulada por ‘Abdu’l-Bahá.

Infelizmente, ‘Abdu’l-Bahá não leu e não autenticoutodas as transcrições de Suas palestras, algumas destas tendosido traduzidas e publicadas em várias línguas. Muitas delas,incluídas nesta “coleção”, nenhum texto autêntico foi aindaachado. No entanto, Shoghi Effendi, o Guardião da FéBahá’í, permitiu que estas compilações fossem usadas pelosamigos.

No caso específico de Palestras de ‘Abdu’l-Bahá; Londres– 1911, nenhuma transcrição original existe e ShoghiEffendi esclarece que “ ‘Abdu’l-Bahá in London não podeser considerado como escritura devido a não haver textooriginal. Uma gravação verbal de Suas palestras em persa,seria, é claro, mais confiável que em inglês, porque Elenem sempre era interpretado com precisão. Entretanto,este livro tem valor e certamente tem seu lugar em nossaLiteratura”.1 E a respeito do status das palestras de ‘Abdu’l-Bahá que estão publicadas no Palestras de ‘Abdu’l-Bahá;Paris – 1911 e A Promulgação da Paz Universal algumastranscrições originais em persa destas palestras estãodisponíveis, porém não todas. O Departamento dePesquisa da Casa Universal de Justiça não pode nomomento, providenciar uma lista detalhada de quaisextratos são autênticos e quais não são, pois até o presente,tal lista não foi compilada. Isto não quer dizer que as não-identificadas tenham que parar de ser usadas – meramente

1 Shoghi Effendi. Unfolding Destiny. BPT of U.K., 1981, p.208.

XII

que o grau de autenticação de cada documento terá de serconhecido e compreendido.2

No futuro, cada palestra3 terá de ser identificada eaquelas que não forem identificadas terão que serclaramente diferenciadas daquelas que fazem parte daEscritura Bahá’í.

Editora Bahá´’í do Brasil

2 Trecho da carta da Casa Universal de Justiça de 23 de março de 1987.3 Há outras compilações de Suas palestras. Das que são de conhecimentopúblico, uma é de Sua segunda passagem por Paris em 1913; compiladaspela sra. I. Chamberlein: ‘Abdu’l-Bahá on Divine Philosophy. Outra é umacompilação feita pela Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís doCanadá, sobre a passagem de ‘Abdu’l-Bahá no Canadá em 1912, intitulada‘Abdu’l-Bahá in Canada.

XIII

ITINERÁRIO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

EGITO E VIAGENS AO OCIDENTE

EGITO

1910 Partida de Haifa, ? Ago.Port SaidAlexandria (Ramlih) até 11/8/1911

A PRIMEIRA VISITA À EUROPA

1911 Londres, 4-23 Set.Bristol, 23-25 Set.Londres, 25 Set. – 3 Out.Paris, 3 Out. – 2 Dez.Retorna para o Egito

AMÉRICA DO NORTE

COSTA LESTE

1912 Partida de Alexandria, 25 Mar.Nova York, 11-20 Abr.Washington DC, 20-28 Abr.Chicago, 29 Abr. – 6 MaioCleveland, OH, 6-7 MaioPittsburgh, 7-8 MaioWashington DC, 8-11 MaioNova York, 11-14 Maio

(Montclair, NJ, 12 Maio)Lake Mohawk, NY, 14-16 MaioNova York, 16-22 MaioBoston, 22-26 Maio

(Worcester, MA, 23 Maio)Nova York, 26-31 MaioFanwood, NJ, 31 Maio – 1 Jun.Nova York, 1-3 Jun.Milford, PA, 3 Jun.Nova York, 4-8 Jun.Filadélfia, 8-10 Jun.Nova York, 10-20 Jun.Montclair, NJ, 20-25 Jun.Nova York, 25-29 Jun.West Englewood, NJ, 29-30 Jun.Morristown, NJ, 30 Jun.Nova York, 30 Jun. - 23 Jul.

(West Englewood, NJ, 14 jul.)Boston, 23-24 Jul.Dublin, NH, 24 Jul. -16 Ago.Greenacre, nr. Eliot, ME, 16-

23 Ago.Malden, MA, 23-29 Ago.Montreal, Quebec, 30 Ago. - 9 Set.Buffalo, NY, 9-12 Set.

CENTRO-OESTE

Chicago, 12-15 Set.

Kenosha, WI, 15-16 Set.Chicago, 16 Set.Minneapolis, 16-21 Set.

OESTE

Omaha, NB, 21 SetLincoln, NB, 23 Set.Denver, CO, 24-27 Set.Glenwood Springs, CO, 28 Set.Salt Lake City, UT, 29-30 Set.São Francisco, 1-13 Out.Pleasanton, CA, 13-16 Out.São Francisco, 16-18 Out.Los Angeles, 18-21 Out.São Francisco, 21-25 Out.Sacramento, 25-26 Out.Denver, 28-29 Out.

VOLTA PARA O LESTE

Chicago, 31 Out. – 3 Nov.Cincinnati, OH, 5-6 Nov.Washington, DC, 6-11 Nov.Baltimore, 11 Nov.Filadélfia, 11 Nov.Nova York, 12 Nov. – 5 Dez.

SEGUNDA VISITA À EUROPA

INGLATERRA

Liverpool, 13-16 DezLondres, 16 Dez – 6. Jan. 1913

(Oxford, 31 Dez.)1913 Edinburgh, 6-11 Jan.

Londres, 11-15 Jan.Bristol, 15-16 Jan.Londres, 16-21 Jan. (Woking,

18 Jan.)EUROPA CONTINENTAL

Paris, 22 Jan. – 30 Mar.Stuttgart, 1-8 Abril (Bad

Mergentheim, 7-8 Abr.Vienna, 8 Abr.Budapeste, 9-19 Abr.Stuttgart, 25 Abr. – 1 MaioParis, 2 Maio – 12 Jun.Marselha, 12-13 Jun.

EGITO NOVAMENTE

Port Said, 17 Jun. – 11 Jul.Ismá‘iliyyah, 11-17 Jul.Alexandria (Ramlih), 17 Jul. – 2 Dez.Retorno para Haifa, 5 Dez.

XIV

XV

INTRODUÇÃO

Relativamente poucos dos fiéis em Londres e Parishaviam sido abençoados pela possibilidade de viajar a ‘Akkápara encontrar ‘Abdu’l-Bahá face a face; ouvir Sua voz; sernutridos física e espiritualmente por Sua própria pessoa.Muitos ansiavam vê-Lo, conversar com Ele, mas foramobstados por diferentes dificuldades. O crente firme quediligentemente havia mantido a chama acesa na Inglaterra,pôde sugerir que como os grilhões do Mestre haviam sidofinalmente rompidos e os portões de Sua prisão abertos,Ele poderia ganhar saúde e conforto viajando; que poderiade fato visitar Seu povo no Ocidente. Para eles, talsatisfação parecia quase inacreditável e, quando houve atraso,eles perguntavam uns aos outros com hesitação: “Cadê apromessa de Sua vinda?” A felicidade deles concretizou-secom Sua vinda. Ele chegou em Londres, com o segredoda Suprema Paz, de modo praticamente inesperado. Oobjetivo principal e supremo de Sua vinda foi oestabelecimento da prometida Paz Universal.

Hospedado sob o teto daquela que Ele chamou de Sua“respeitada filha”, imediata e alegremente Ele Se pôs “à

XVI

vontade”, o dia todo, todos os dias, com os visitantes quese apinhavam para Lhe prestar homenagem e receber Suasbênçãos. A atmosfera que O cercava harmonizava-se como perfeito espírito de incansável cortesia e benevolênciadEle próprio. Professores de diferentes credos vinham eeram conquistados pelo encanto de Suas maneiras e aconvicção de Sua alma. Sua mensagem de unidadepenetrava fundo nos corações de Seus ouvintes, quaisquerque fossem as suas religiões.

Muitas perguntas Lhe foram apresentadas. Suasrespostas, apesar da possível desvantagem da necessidadede tradução, surpreenderam e deleitaram Seus ouvintes.Sua compreensão de seus pensamentos, e Suas prontas ecalorosas respostas foram recebidas com admiração ecordialidade. Muito ocasionalmente Ele era persuadido apassear de carro por algumas ruas movimentadas da cidadeou em algum dos parques, sob o sol de um esplêndidoverão. Ocasionalmente, também, para o deleite e elevaçãoespiritual dos bahá’ís, Ele foi levado a sedes de associaçõese entidades. Lá Ele proferiu discursos, geralmente breves,mas sempre relevantes, tratando diretamente de Sua missãoe Sua mensagem. Sua voz estava sempre vibrante com aexpressão de unidade e paz. Apenas uma ou duas vezes EleSe permitiu o prazer de visitar amigos no interior campestredo país. Num pequeno automóvel, Se deslocava a umtípico povoado, ou até uma cidade grande, como Bristolna parte ocidental da ilha; nestas cidades Ele não sóencontrou hospitalidade, mas reuniões muito reverentes eatenciosas. Em outros dias memoráveis, ‘Abdu’l-Bahádirigiu-Se a grandes audiências em locais de adoração e deassistência social. O pastor do Templo da Cidade, o

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reverendo R. J. Campbell, apresentou-O, de um modoextremamente bondoso, a uma congregação numerosa queouviu ‘Abdu’l-Bahá com imenso interesse, sendo que odiscurso era imediatamente traduzido para o inglês.

Na Igreja de S. João, em Westminster, o venerávelarquidiácono Wilberforce realizou um ofício semelhante,no qual, a seu pedido, a congregação ajoelhou-se parareceber as bênçãos de ‘Abdu’l-Bahá. Na Fundação PassmoreEdward, em Tavistock Place, uma grande audiência reuniu-se para ver e ouvi-Lo.

Uma profunda impressão permaneceu nas mentes ememórias de homens e mulheres de todos os tipos econdições. A todo instante, a amplidão da compaixão de‘Abdu’l-Bahá mostrava-se tão eficaz quanto Seudiscernimento e perspicácia em lidar com dificuldades tantosutis como óbvias. Cada pessoa que se aproximava dElesentia-se confortada e se via maravilhada e aliviada pelacompreensão de ‘Abdu’l-Bahá das diferenças religiosas e,acima de tudo, da concórdia religiosa – algumas vezes,durante um monólogo breve, porém magistral; em outrasvezes, através de perguntas e respostas, cujos temas deinteresse individual ou universal eram tratados e explicados.

A permanência de ‘Abdu’l-Bahá em Londres foi muitoapreciada; e Sua partida, muito lastimada. Ele deixoumuitos amigos atrás de Si. Seu amor irradiou amor. Seucoração abriu-se ao Ocidente e os corações ocidentais seaglomeraram em torno de Sua presença patriarcal oriundado Oriente. Suas palavras continham em si algo que atraíanão somente Seus ouvintes diretos, mas a todos os homense mulheres em geral. Sua perspectiva era tão confiante eSua alma tão determinada na proclamação dos princípios

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de unidade e paz, que Seus discursos e Suas respostas nãopoderiam permanecer sem serem registrados. Esta tentativade reproduzi-los para o benefício de todos é feita na certezae na esperança segura de que em virtude delas, o propósitoe o trabalho do Orador poderão ser compreendidos e Seusesforços apoiarão professores de todos os credos e oshabitantes de todas as regiões.

Eric Hammond

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PRÓLOGO

Por que as nações estão em angústia até os maisremotos confins da terra?

Que sinais são estes do Oriente para o Ocidente?Que Salvador se esforça por nascer?A China desperta de seu longo período de sono, pois

é a terra do sol-nascente.Mostrou ao Oriente que ela pode rivalizar com o

Ocidente em mercadoria e pólvora;Amarelos e pardos, mongóis e mouros, você pode

contar com eles, meu filho.Quem irá unir o Oriente ao Ocidente? Quem irá

fazer um só desses díspares?O Senhor Buda – o Iluminado, ou Aquele da planície

do Jordão? O Profeta de Alá, ou Aquele que ultimamentecaminhou ao sopé do Carmelo – o Filho Santíssimo daPérsia que brilhou com o esplendor de Deus?

Jamais o Oriente aderirá a Ocidente, até que osdeuses compartilhem da mesma morada.

Do Alcorão, o muçulmano ouve a Verdade que deveaprender; nos Vedas, o hindu vê o Caminho que seus pés

A ANGÚSTIA DO MUNDO

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devem seguir; em Moisés e nos Profetas, o judeu restaurasua alma; no Evangelho, o cristão encontra a Vida que é atotalidade; e todos compreenderão a mesma língua, nãoimporta qual o pergaminho.

Que Deus é um; que os homens são um; a Fé ésempre a mesma.

Que o Amor ainda é a palavra mais próxima paraindicar o Nome inominável.

Este é o Credo do Oriente e do Ocidente, quandose sonda as profundezas, meu filho.

Pois a Palavra do Senhor é unidade, e a Vontade doSenhor será cumprida.

Mãos são negras, brancas, amarelas ou pardas, mas amatiz do coração é uma só.

Harrold Johnsonjornalista do Daily News

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PALESTRAS

PÚBLICAS

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1

O TEMPLO DA CIDADE

INTRODUÇÃO

Em 10 de dezembro, o primeiro domingo após achegada de ‘Abdu’l-Bahá à Inglaterra, Ele falou do púlpitodo Templo da Cidade à congregação noturna, atendendoao desejo especial do pastor, o reverendo R. J. Campbell.

Embora a vinda de ‘Abdu’l-Bahá não tivesse sidodivulgada, a igreja estava lotada ao máximo de suacapacidade. Dos que lá estavam, poucos esquecerão a visãodaquela venerável figura, vestida em Seus trajes orientais,subindo os degraus do púlpito para Se dirigir a uma reuniãopública pela primeira vez em Sua vida. O fato de ser umlugar de adoração cristã no Ocidente tem seu própriosignificado profundo. O sr. Campbell apresentou ovisitante com poucas e simples palavras, durante as quaisdisse: “Como seguidores do Senhor Jesus Cristo que paranós é e sempre será a Luz do Mundo, nós vemos comsimpatia e respeito todo movimento do Espírito de Deusna experiência da humanidade, e por isso, em nome detodos aqueles que compartilham o espírito do nossoMestre e procuram viver suas vidas de acordo com esseespírito, saudamos ‘Abdu’l-Bahá. O movimento bahá’í émuito intimamente afim, e acho mesmo que posso dizeridêntico, ao espírito e propósito do cristianismo.”

2

Antes de sair da igreja, ‘Abdu’l-Bahá escreveu naantiga Bíblia, usada por gerações de pregadores, as seguintespalavras em Seu próprio idioma nativo, o persa, seguidoda seguinte tradução:

Este é o Sagrado Livro de Deus, de inspiraçãocelestial. É a Bíblia da salvação. O nobreEvangelho. É o mistério do Reino e sua luz.É a Graça Divina, o sinal da orientação deDeus.

‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás

3

PALESTRA DE ‘ABDU’L-BAHÁ

NO TEMPLO DA CIDADE*

DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1911

nobres amigos, buscadores de Deus! Louvadoseja Deus! Hoje a luz da Verdade resplandeceprofusamente sobre o mundo; as brisas dojardim celestial sopram por todas as regiões;

o chamado do Reino é ouvido em todas as terras e oalento do Espírito Santo é sentido em todos os coraçõesfiéis. O Espírito de Deus concede vida eterna. Nestamaravilhosa era, o Oriente é iluminado, o Ocidente éfragrante, e em toda parte a alma inala o perfumesagrado. O mar da unidade da humanidade ergue suas vagascom júbilo, pois há verdadeira comunhão entre os coraçõese as mentes dos homens. A bandeira do Espírito Santo éiçada, os homens a vêem e são animados pelo conhecimentode que este é um novo dia.

*Esta palestra é publicada com a gentil permissão, em13 de setembrode 1911, da Comunidade Cristã. Proferida por ‘Abdu’l-Bahá, nalíngua persa, do púlpito do Templo da Cidade, a tradução acima foientão lida para a congregação pelo sr. W. Tudor-Pole.

Ó

4

Este é um novo ciclo de poder humano. Todosos horizontes do mundo estão luminosos, e o mundohaverá de se tornar deveras um jardim e um paraíso. Éa hora da unidade dos filhos dos homens e dacongregação de todas as raças e classes. Vós estais livresdas antigas superstições que mantiveram os homensignorantes, destruindo os fundamentos da verdadeirahumanidade.

A dádiva de Deus a esta era iluminada é oconhecimento da unicidade da humanidade e aunicidade fundamental da religião. A guerra há de cessarentre as nações e pela vontade de Deus há de vir aSuprema Paz; o mundo será visto como um novomundo e todos os homens viverão como irmãos.

Nas eras antigas, desenvolveu-se um instinto deguerra na luta com animais selvagens; isto já não é maisnecessário; ao contrário, cooperação e entendimentomútuos é que são conducentes ao máximo bem-estarda humanidade. Hoje a inimizade é apenas o resultadode preconceito.

Em As Palavras Ocultas, Bahá’u’lláh diz: “A maisamada de todas as coisas é a Justiça.” Louvado sejaDeus, neste país o estandarte da justiça foi erguido;um grande esforço está sendo feito para conceder atoda alma uma posição eqüitativa e verdadeira. Este éo desejo de todo caráter nobre; hoje, este é oensinamento para o Oriente e o Ocidente; por isso, oOriente e o Ocidente se entenderão e se respeitarãomutuamente, e se abraçarão como amantes há muitoseparados que encontram um ao outro.

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Deus é um; a humanidade é uma; osfundamentos da religião são um. Vamos adorá-Lo edar louvores por todos os Seus grandes Profetas eMensageiros que manifestaram Seu esplendor e glória.

Que a bênção do Ser Eterno esteja convosco emtoda a sua plenitude, que cada alma, de acordo comsua capacidade, possa obter copiosamente de Sua fonte.

Amém.

6

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IGREJA DE SÃO JOÃO

DE WESTMINSTER

INTRODUÇÃO

Em 17 de setembro, a pedido do respeitávelarquidiácono de Westminster, ‘Abdu’l-Bahá dirigiu-se, apóso serviço noturno, à congregação de São João, o Divino.Com poucas palavras calorosas, características de sua posturacomo um todo, o arquidiácono de Wilberforce apresentouo respeitável Mensageiro do Oriente que havia cruzadomares e países na Sua missão de paz e unidade pela qualhavia sofrido quarenta anos de prisão e perseguição. Paraseu Convidado, o arquidiácono havia colocado a cadeirado bispo sobre os degraus do altar, e ele próprio em pé aoSeu lado leu a tradução da palestra de ‘Abdu’l-Bahá. Acongregação ficou profundamente comovida e, seguindoo exemplo do arquidiácono, ajoelhou-se para receber asbênçãos do Servo de Deus – que permaneceu com os braçosestendidos – Sua maravilhosa voz erguendo-Se edesaparecendo no silêncio com o poder de Sua invocação.Em seguida, o arquidiácono disse: “Verdadeiramente, oOriente e o Ocidente se encontraram esta noite neste lugarsagrado.” A assembléia inteira entoou o hino Ó Deus, nossoamparo em eras passadas, enquanto ‘Abdu’l-Bahá e o

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arquidiácono, de mãos dadas, dirigiram-se através dasgalerias para o conselho paroquial.

Na parte externa da igreja, membros do Exército daSalvação estavam reunidos e ‘Abdu’l-Bahá ficouimpressionado e comovido ao ver homens, mulheres ecrianças reunidos naquela noite tocando e cantando nocanto da rua.

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DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

NA IGREJA DE SÃO JOÃO DE

WESTMINSTER

17 DE SETEMBRO DE 1911

nobres amigos! Ó buscadores do Reino de Deus!Em todo o mundo, o homem está buscandoDeus. Deus é tudo que existe; mas a Realidade daDivindade é santificada acima de toda

compreensão.As imagens da Divindade que nos vêm à mente são

produtos da nossa fantasia; elas existem no reino da nossaimaginação. Não correspondem à verdade; a verdade emsua essência não pode ser dita em palavras.

A divindade não pode ser abrangida porque ela éabrangente.

O homem, que também tem uma existência real, éabrangido por Deus; por isso, a Divindade que o homempode compreender é parcial, não é completa. A Divindade é aVerdade efetiva e a existência real e não uma representaçãodela. A Divindade em si contém a Totalidade, e não é contida.

Embora o mineral, o vegetal, o animal e o homempossuam todos existência real, o mineral não tem qualquer

Ó

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conhecimento do vegetal. Não pode apreendê-lo. Nãopode imaginar nem compreendê-lo.

O mesmo acontece com o vegetal. Qualquer queseja seu aperfeiçoamento, não importa o quanto possa sedesenvolver, jamais poderá perceber o animal nemcompreendê-lo. É, por assim dizer, desinformado a seurespeito. Não possui audição, visão ou compreensão.

O mesmo ocorre com o animal. Por mais que possase desenvolver em seu próprio reino, por mais refinadosque possam se tornar seus sentidos, não terá qualquer noçãoreal do mundo humano ou de suas faculdades especiais dointelecto.

O animal não pode entender a esfericidade da terra,nem seu movimento no espaço, nem a posição central dosol, nem pode imaginar tais coisas como a abrangência doéter.

Embora o mineral, o vegetal, o animal e o própriohomem sejam seres reais, a diferença entre seus reinosimpede os membros de um grau inferior decompreenderem a essência e a natureza daqueles de umgrau superior. Assim sendo, como podem o temporal e ofenomênico compreenderem o Senhor das Hostes?

É evidente que isto é impossível!Mas a Essência da Divindade, o Sol da Verdade,

resplandece sobre todos os horizontes e difunde seus raiossobre todas as coisas. Cada criatura é o receptor de umaporção daquele poder, e o homem, que contém asperfeições do mineral, do vegetal e do animal, bem comoas suas próprias qualidade distintivas, tornou-se o maisnobre dos seres criados. Está escrito que ele é criado àimagem de Deus. Ele descobre mistérios que eram ocultos;

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e traz à luz segredos que estavam escondidos. Através daciência e da arte, ele traz poderes desconhecidos ao mundovisível. O homem percebe a lei oculta nas coisas criadas ecolabora com ela.

Por fim, o Homem perfeito, o Profeta, é Alguémque é transfigurado, Alguém que tem a pureza e a clarezade um espelho perfeito – Alguém que reflete o Sol daVerdade. De tal Pessoa – de tal Profeta e Mensageiro –podemos dizer que a Luz da Divindade com as Perfeiçõescelestiais nEle habitam.

Se dissermos que o sol é visto no espelho, nãoqueremos dizer que o próprio sol desceu das sagradas alturasdo céu e entrou no espelho! Isto é impossível. A NaturezaDivina é vista nos Manifestantes e sua luz e esplendor sãovisíveis na máxima glória.

Por isso, os homens sempre foram ensinados eguiados pelos Profetas de Deus. Os Profetas de Deus sãoos Mediadores de Deus. Todos os Profetas e Mensageirosvêm do mesmo Espírito Santo e trazem a Mensagem deDeus, apropriada para a época em que aparecem. Neles háa mesma Luz e Eles são idênticos uns aos outros. Mas oEterno não se torna fenomênico; nem pode o fenomênicose tornar eterno.

São Paulo, o grande Apóstolo, disse: “Nós todos,com face radiante, contemplando como num espelho aglória de Deus, somos transformados na mesma imagemde glória em glória, como pelo Espírito do Senhor.”

Ó Deus Clemente! Ó Educador celestial! Estaassembléia é adornada com a menção de Teusanto Nome. Teus filhos volvem a face para

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Teu Reino, os corações estão jubilosos e asalmas confortadas.

Deus misericordioso! Faze com que nosarrependamos de nossas falhas! Aceita-nos emTeu Reino celestial e concede-nos uma moradaem que não haja erro. Dá-nos paz; dá-nosconhecimento, e abre diante de nós os portõesde Teu céu.

Tu és Aquele que tudo concede! És oPerdoador! És o Misericordioso!

Amém.

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SOCIEDADE TEOSÓFICA

INTRODUÇÃO

Em 30 de setembro, ‘Abdu’l-Bahá visitou aSociedade Teosófica em sua nova Sede a pedido explícitode sua presidenta, a sra. Annie Besant. Após um relatogeral sobre o movimento e as simpáticas palavras de boas-vindas do sr. A. P. Sinnet, ‘Abdu’l-Bahá levantou-Se edirigiu-Se à enorme assembléia, falando sobre o caráterdistintivo dos ensinamentos bahá’ís, elogiandocalorosamente a avidez da Sociedade em sua busca daVerdade.

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DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

NO CENTRO TEOSÓFICO

30 DE SETEMBRO DE 1911

distinta assembléia! Ó amigos da Verdade! Anatureza inerente do fogo é queimar, a naturezainerente da eletricidade é iluminar, a naturezainerente do sol é brilhar e a natureza inerente do

solo é o poder de crescimento.Não há separação entre uma coisa e suas qualidades

inerentes.A natureza inerente das coisas deste mundo é mudar,

assim, em toda parte vemos a mudança das estações. Todaprimavera é seguida de um verão e todo outono traz uminverno – todo dia, uma noite e toda noite, um amanhecer.Há uma seqüência em todas as coisas.

Assim, quando ódio, animosidade, luta, carnificinae frigidez de coração dominavam este mundo e escuridãocobria as nações, Bahá’u’lláh, como uma estrela brilhante,ergueu-Se do horizonte da Pérsia e resplandeceu com apoderosa Luz de Orientação, trazendo radiância celestial eestabelecendo o novo Ensinamento.

Ó

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Ele declarou as máximas virtudes humanas; Elemanifestou os poderes Espirituais e os pôs em prática nomundo ao Seu redor.

Primeiro: Ele dá ênfase à busca da Verdade. Isto é omais importante, pois as pessoas são facilmente levadaspela tradição. É por isso que elas freqüentemente se opõemumas às outras e contendem umas com as outras.

Mas a manifestação da Verdade revela a escuridão ese torna a causa da unicidade de fé e crença, pois a Verdadenão pode ser dupla! Isto não é possível.

Segundo: Bahá’u’lláh ensinou a unicidade dahumanidade; ou seja, todos os filhos dos homens estãoabrigados pela misericórdia do Grande Deus. São os filhosde um só Deus; são educados por Deus. Ele colocou acoroa da humanidade sobre a cabeça de todos os servos deDeus. Portanto, todas as nações e povos devem se considerarirmãos. Todos eles são descendentes de Adão. São ramos,folhas, flores e frutos da mesma Árvore. São pérolas damesma concha. Mas os filhos dos homens estão carentesde educação e civilização e precisam ser polidos até setornarem radiantes e esplendorosos.

Homem e mulher devem ser ambos igualmenteeducados e igualmente respeitados.

São os preconceitos de raça, de pátria, de religião ede classe que têm sido a causa da destruição da humanidade.

Terceiro: Bahá’u’lláh ensinou que religião é oprincipal alicerce de amor e unidade e causa de unicidade.Se uma religião se tornar causa de ódio e desarmonia, serámelhor que ela não exista. Ficar sem tal religião é melhordo que ficar com ela.

Quarto: Religião e ciência se entrelaçam uma com aoutra e não podem ser separadas. Estas são as duas asas

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com as quais a humanidade deve voar. Uma asa só não ésuficiente. Toda religião que não se relaciona com a ciênciaé mera tradição e não é a essencial. Portanto, ciência,educação e civilização são os mais importantes requisitospara a vida religiosa plena.

Quinto: A Realidade das religiões divinas é uma,pois a Realidade é una e não pode ser dupla. Todos osProfetas estão unidos em Suas mensagens, e inabaláveis.Eles são como o sol; nas diversas estações Eles aparecemem diferentes pontos de alvorecer no horizonte. Por isso,cada Profeta anterior deu as boas-novas do posterior, e cadaposterior aceitou o anterior.

Sexto: Igualdade e fraternidade devem serestabelecidos entre todos os membros do gênero humano.Isto está em concordância com a Justiça. Os direitos geraisdo gênero humano devem ser guardados e preservados.

Todos os homens devem ser tratadoseqüitativamente. Isto é inerente à própria natureza dahumanidade.

Sétimo: as condições do povo devem seradministradas de tal modo que a pobreza desapareça e que,na medida do possível, cada um possa ter confortosegundo sua posição e grau. Enquanto os nobres e outrosde alta posição se encontram em condições detranqüilidade, os pobres também devem ser capazes deobter seu alimento diário sem passar pelos rigores da fome.

Oitavo: Bahá’u’lláh declarou o advento da Supremapaz. Todas as nações e povos se abrigarão à sombra da tendada Suprema Paz e Harmonia – isto é, através de eleiçãogeral será estabelecido um Grande Corpo de Arbitramentopara apaziguar todas as diferenças e conflitos entre osgovernos a fim de que disputas não terminem em guerras.

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Nono: Bahá’u’lláh ensinou que os corações devemreceber a graça do Espírito Santo, de modo que sejaestabelecida a civilização espiritual, pois a civilizaçãomaterial não é adequada para as necessidades do gênerohumano e não pode ser causa de felicidade. A civilizaçãomaterial é como o corpo e a civilização espiritual como aalma. Sem alma, o corpo não pode viver.

Este é um pequeno resumo dos ensinamentos deBahá’u’lláh. Para estabelecer isto, Bahá’u’lláh passou porgrandes dificuldades e sofrimentos. Ele estava em constanteconfinamento e sofreu grande perseguição. Mas na fortaleza(‘Akká) Ele ergueu um palácio espiritual e, da escuridão deSua prisão, Ele irradiou um grande esplendor no mundo.

O desejo ardente dos bahá’ís é que estes ensinamentossejam amplamente praticados e eles se esforçarão de coraçãoe alma para dar suas vidas para este propósito, até que a luzcelestial ilumine o mundo da humanidade por inteiro.

Eu estou muito feliz por poder conversar convosconesta reunião e espero que esta minha profunda consciênciaseja aceitável para vós.

Oro por vós, para que sejais bem sucedidos emvossas aspirações e que as graças do Reino sejam vossas.

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RECEPÇÃO DE DESPEDIDA

INTRODUÇÃO

Na véspera do dia de São Miguel, foi feita umagrande recepção de despedida para ‘Abdu’l-Bahá no salãoda Fundação Passmore Edwards que se encheu até suamáxima capacidade com pessoas representando todas asprofissões, algumas vindo de longas distâncias.

Na plataforma, em torno de ‘Abdu’l-Bahá, pessoasde diferentes nuanças de pensamento se agrupavam paraexpressar sua solidariedade para com a obra e a missão deSeu ilustre visitante. O professor Michael E. Sadler presidiaa assembléia.

A reunião teve início com a Oração do Pai Nossorecitada em coro pela assembléia; esta foi seguida por umaoração pela unidade de Bahá’u’lláh e uma oração doséculo V atribuída ao papa Gelásio. Em seguida, oprofessor Sadler falou em palavras que jamais serãoesquecidas por aqueles que as ouviram; e em Seu discursousou uma citação de uma oração universal que um bahá’íhavia apresentado a ‘Abdu’l-Bahá no ano anterior no Egitoe que havia sido completada por Ele e recomendada comouma que podia ser usada por povos de todas as religiõesno Oriente e no Ocidente.

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O presidente foi seguido por sir Richard Stapley, sr.Eric Hammond, sr. Claude Montefiore, sra. Stannard doEgito e outros. Assim que ‘Abdu’l-Bahá deixou o salão,pessoas pobres da redondeza se aglomeraram na calçadapara vê-Lo, entre elas, uma garota manca que usava muletas,de aparência ansiosa, Lhe foi especialmente apresentada.

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REUNIÃO DE DESPEDIDA

DE ‘ABDU’L-BAHÁ*

29 DE SETEMBRO DE 1911

A convite do sr. Thornbourgh-Cropper, na noite daúltima sexta-feira, cerca de cento e sessenta pessoasrepresentativas se encontravam no salão da FundaçãoPassmore Edwards, em Tavistock Place, para se despediremde ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás na véspera de Sua partida a Paris.Chegando a Londres na segunda-feira à noite, 4 desetembro, Ele passou quatro semanas felizes e ativas emnosso meio. Com a exceção de uma breve visita a Bristolna semana passada, Ele permaneceu em Cadogan Gardens,no 97. Seu tempo ficou ocupado principalmente ementrevistas com pessoas que desejavam encontrá-Lo. Istoincluiu não poucos daqueles cujos nomes são familiaresneste país, e alguns viajaram longas distâncias para vê-Lo.

Um belo espírito prevaleceu na sexta-feira à noite. Aatmosfera estava muito diferente da de uma assembléiaordinária ou reunião religiosa. Todos os presentes foramenriquecidos pela sublime distinção dos procedimentos;

*Reeditada mediante a gentil permissão, em 4 de outubro de 1911, daComunidade Cristã.

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todas as observações foram feitas no sentido de fraternidade,unidade e paz. Embora um relato das palestras dê umaidéia muito inadequada do efeito produzido, ainda assim,elas foram tão bem concebidas, tão sinceras, expressas demodo tão requinto que são todas dignas de seremreproduzidas. Entre outros, Amír ‘Alí Siyyid escreveulamentando sua impossibilidade de estar presente e oarquidiácono Willberforce enviou saudações afetuosas.

Após a Oração do Pai Nosso, a oração pela unidadede Bahá’u’lláh e a do papa Gelásio (século V), o professorMichael Sadler discursou como segue:

DISCURSO DO PROFESSOR MICHAEL SADLER

Nós nos reunimos para dar adeus a ‘Abdu’l-Bahá erender graças a Deus por Seu exemplo de ensino e paraque o poder de Suas orações traga luz aos pensamentosconfusos, esperança onde haja temor, fé onde haja dúvida,e aos corações pesarosos o amor que supera egoísmo etemor.

Embora nós todos, entre nós próprios, tenhamosnossa lealdade pessoal ao objeto de nossa devoção, ‘Abdu’l-Bahá trouxe a todos nós uma mensagem de unidade, decompaixão e paz. Ele nos convida a todos a sermosverdadeiros e sinceros naquilo que professamos crer, e aestimar acima de tudo, o espírito que se oculta por trás daforma. Com Ele, nós nos curvamos perante o NomeOculto, perante aquilo que é a verdadeira vida, a VidaInterior! Ele nos convoca a venerarmos, com destemidalealdade, nossa própria Fé, porém a aspirarmos cada vezmais à unidade, fraternidade e amor, volvendo-nos em

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espírito e com todo o nosso coração de modo a podermospenetrar mais na vontade de Deus que está acima de classe,acima de raça e além do tempo.

O professor Sadler concluiu com uma bela oraçãode James Martineau.

O sr. Eric Hammond disse que o movimento bahá’íobjetiva a unidade; um Deus, um povo; uma miríade dealmas manifestando a divina unidade, uma unidade tãocompleta que nenhuma diferença de cor ou credo poderiafazer distinção alguma entre um Manifestante de Deus eoutro, e uma harmonia tão abrangente que inclui o maisínfimo, pobre e miserável dos homens; unidade, harmoniae fraternidade levando a uma concórdia universal. Eleconcluiu com uma citação de Bahá’u’lláh, que a divinacausa do bem-estar universal não pode ser confinado aoOriente ou ao Ocidente.

A srta. Alice Buckton disse que nós nos encontramosnuma das primaveras do mundo, e daquela assembléia derepresentantes de pensamento, trabalho e amor, poder-se-ia irradiar influências para a unidade e fraternidade, que acompleta igualdade entre homens e mulheres era uma dasprincipais características dos ensinamentos bahá’ís.

Sir Richard Stapley observou que a unidade não deveser buscada nas formas externas da religião, mas no espíritoíntimo. Na Pérsia houve tal impulso em direção àverdadeira unidade que foi uma censura a este chamadopaís cristão.

O sr. Claude Montefiore, como judeu, alegrou-sepelo crescimento do espírito de unidade e considerou a

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reunião como um prognóstico de tempos melhores e, emcerto sentido, um cumprimento da idéia expressa poralguém que foi um mártir da Fé Católica Romana, sirThomas More, que escreveu a respeito da Grande Igrejados Utopistas, na qual todas as variedades de credos sereuniram com um serviço e uma liturgia que expressavama mais elevada unidade, e ao mesmo tempo que admitiamlealdades particulares.

A sra. Stannard discorreu sobre o que aquela reuniãoe os sentimentos expressos significavam para o Oriente,especialmente para as mulheres, cujas condições eram dedifícil compreensão para o Ocidente.

Tammaddun’ul-Mulk deu testemunho dos efeitosunificadores que o movimento bahá’í havia tido na Pérsia,e o maravilhoso modo pelo qual ela se difundiu pelaAmérica e outros países.

Então, ‘Abdu’l-Bahá levantou-Se para o Seu discursode despedida. Uma figura impressiva, com a face abatidamas os olhos plenos de vivacidade, Ele permaneceu em pédurante quinze minutos, falando num persa suave emelodioso. Com as mãos estendidas, de palmas para cima,Ele concluiu com uma oração.

Tendo sido lida a tradução do discurso de despedidapelo professor Sadler, ‘Abdu’l-Bahá encerrou a reuniãoconcedendo Sua bênção em cadenciados tons flutuantes.

Quando estas linhas aparecerem, ‘Abdu’l-Bahá‘Abbás terá deixado nosso litoral, mas a memória de Suagraciosa personalidade é permanente. Sua influência serásentida durante muitos dias ainda por vir, e já fez muitopara promover aquela união do Oriente e Ocidente,longamente almejada por muitos. Segue-se Suas Palavras:

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PALAVRAS DE DESPEDIDA

DE ‘ABDU’L-BAHÁ

29 DE SETEMBRO DE 1911

nobres amigos e buscadores do Reino de Deus!Cerca de sessenta anos atrás, num tempo em quea flama da guerra ardia entre as nações do mundoe a carnificina era considerada uma honra para a

humanidade, num tempo em que o massacre de milharesde pessoas manchava a terra, quando pais estavam semfilhos e mães se consumiam em prantos, quando as trevasda animosidade e do ódio inter-racial pareciam envolver ogênero humano e extinguir a luz divina, quando o bafejodo santo sopro de Deus parecia estar interrompido – nessetempo Bahá’u’lláh ergueu-Se como uma estrela radiantedo horizonte da Pérsia, inspirado com a mensagem de paze fraternidade entre os homens.

Ele trouxe a luz da orientação ao mundo; ateou ofogo do amor e revelou a grande realidade do verdadeiroBem-Amado. Ele intentava destruir as bases do preconceitoreligioso e racial e da rivalidade política.

Ele comparou o mundo humano a uma árvore, etodas as nações a seus ramos e as pessoas a suas folhas,flores e frutos.

Ó

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Sua missão era transformar o fanatismo ignoranteem amor universal, estabelecer nas mentes de Seusseguidores a base da unidade da humanidade e realizar naprática a igualdade do gênero humano. Ele declarou quetodos os homens são iguais sob a misericórdia e bondadede Deus.

Então, a porta do Reino foi escancarada e a luz deum novo céu na terra foi revelada aos olhos atentos.

Ainda assim, toda a vida de Bahá’u’lláh se passouem meio a grandes provações e cruel tirania. Na Pérsia,Ele foi lançado na prisão, foi acorrentado e viveu sobconstante ameaça da espada. Ele foi escarnecido e flagelado.

Quando estava com cerca de trinta anos, Ele foiexilado a Bagdá, e de Bagdá a Constantinopla, de lá aAdrianópolis e finalmente à prisão de ‘Akká.

Contudo, acorrentado e de Sua cela, Ele conseguiudifundir Sua Causa e levantar o estandarte da unicidade dahumanidade.

Deus seja louvado! Nós vemos a luz do amorresplandecendo no Oriente e no Ocidente, e a tenda dafraternidade erguida entre todos os povos para aproximartodos os corações e almas.

O chamado do Reino soou, e o anúncio de que omundo necessita da Paz Universal iluminou a consciênciado mundo.

Minha esperança é que através do zelo e do ardordos puros de coração, a escuridão do ódio e divergênciaserá inteiramente abolida e a luz do amor e unidade há debrilhar; este mundo se tornará um novo mundo; as coisasmateriais se tornarão o espelho das coisas divinas; oscorações humanos se encontrarão e abraçarão uns aos outros;

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o mundo todo se tornará como a pátria do homem e asdiferentes raças consideradas como uma só raça.

Então as disputas e divergências cessarão e o divinoBem-Amado Se revelará neste mundo.

Como o Oriente e o Ocidente são iluminados pelomesmo sol, todas as raças, nações e credos serão vistos comoservos do Deus uno. Toda a terra é um só lar, e todos ospovos, se apenas soubessem, são banhados na unicidadeda misericórdia de Deus. Deus criou a todos. Ele dásubsistência a todos. Ele guia e instrui todos à sombra deSua bondade. Devemos seguir o exemplo que o próprioDeus nos dá e eliminar todas as disputas e rixas.

Louvado seja Deus! Os sinais da amizade estãosurgindo, e como prova disso, hoje, eu, vindo do Oriente,me encontro nesta Londres do Ocidente com extremagentileza, consideração e amor, e estou profundamente gratoe feliz. Jamais esquecerei este período que estou passandoconvosco.

Resisti quarenta anos numa prisão turca. Então, em1908, o Comitê da União e Progresso dos Jovens Turcosderrubou os portões do despotismo e libertou todos osprisioneiros, e eu entre eles. Suplico que sejam abençoadostodos aqueles que trabalham pela união e progresso.

No futuro, serão difundidos falsos relatos a respeitode Bahá’u’lláh a fim de impedir a difusão da Verdade. Euvos digo que deveis estar atentos e preparados.

Eu vos deixo com a súplica de que a beleza do Reinopossa ser vossa. Com profundo pesar pela nossa separação,eu vos dou adeus.

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CHENISTON GARDENS, NO 10*

Um dos mais interessantes e significativos eventosfoi a visita de ‘Abdu’l-Bahá a Londres. O Mago persa cujavida, passada na prisão, foi dedicada à promoção da paz eda unidade pelo único método infalível de apoiar odesenvolvimento espiritual individual, deve, no verdadeirosentido, ter “provado a angústia de sua alma e ficadosatisfeito”. Ele foi visitado privativamente não somentepor quase todo sincero pesquisador da verdade e líder deelevado pensamento em Londres, mas sua mensagem foilevada ao conhecimento de milhares de pessoas quedificilmente haviam ouvido seu nome antes.

O Higher Thought Centre (Centro do PensamentoElevado) era bem conhecido a ‘Abdu’l-Bahá como o lugarem que os bahá’ís realizavam suas reuniões semanais sob adireção da srta. Rosenberg, e um convite ao Centro foiaceito por Ele apenas dois dias antes de Sua partida. Porintermédio de Seu intérprete, ‘Abdu’l-Bahá apresentou umagentil saudação e um curto e comovente discurso, falandosobre a bem-aventurança de tal assembléia reunida numespírito de unidade e aspiração espiritual. Ele concluiu com

*As notas anexas são extratos do The Quarterly Record of ‘Higher Thought’Work, novembro de 1911.

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uma fervorosa oração humildemente oferecida em Suaprópria língua, e uma bênção cuja sinceridade foi sentidapor todos.

No dia seguinte foi transmitida uma mensagem de‘Abdu’l-Bahá ao Centro, expressando a plena apreciaçãode toda a bondade demonstrada pelos bahá’ís, e concluindocom as seguintes palavras:

ão importa como cada um sedenomina – A Grande Obra é Uma.Cristo sempre está no mundo daexistência. Ele jamais retirou-Se...

Estai seguros de que Cristo está presente. Abeleza espiritual que hoje vemos ao nossoredor é proveniente dos sopros de Cristo.

N

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UMA MENSAGEM DE ‘ABDU’L-BAHÁ

ESCRITA PARA A COMUNIDADE CRISTÃ*

eus envia Profetas para a educação do povo e oprogresso do gênero humano. Cada um dessesManifestantes de Deus elevou a humanidade. Elesservem ao mundo inteiro pela graça de Deus. A

prova segura de que Eles são Manifestantes de Deus estána educação e progresso do povo. Os judeus seencontravam na mais baixa condição de ignorância e cativosdo faraó quando Moisés surgiu e os ergueu a um elevadoestado de civilização. Foi assim que surgiu o reinado deSalomão e as ciências e artes foram levadas ao conhecimentodo gênero humano. Mesmo os filósofos gregos se tornaramestudiosos dos ensinamentos de Salomão. Assim provou-se que Moisés foi um Profeta.

Depois de certo tempo os israelitas degeneraram ese tornaram súditos dos romanos e dos gregos. Então abrilhante Estrela de Jesus ergueu-se do horizonte sobre osisraelitas, iluminando o mundo, até que a beleza da unidadefoi ensinada a todas as seitas, credos e nações. Não podehaver melhor prova de que Jesus foi o Verbo de Deus.

*Publicada em 29 de setembro de 1911.

D

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O mesmo ocorreu com as nações árabes, as quais,sendo incivilizadas, eram oprimidas pelos governos daPérsia e Grécia. Quando a luz de Muhammad resplandeceu,toda a Arábia foi iluminada. Esses povos oprimidos edegradados se tornaram esclarecidos e cultos; tanto assimque de fato outras nações absorveram a civilização árabeda Arábia. Esta foi a prova da missão divina deMuhammad.

Todos os ensinamentos dos Profetas são o mesmo;uma fé, uma luz divina luzindo por todo o mundo. Ora,sob a bandeira da unicidade da humanidade, todas aspessoas de todos os credos devem abandonar ospreconceitos e se tornar amigos e crentes em todos osProfetas. Assim como os cristãos crêem em Moisés, osjudeus deveriam crer em Jesus. Assim como osmuçulmanos crêem em Cristo e Moisés, os judeus e cristãosdeveriam crer em Muhammad. Então todas as disputasdesapareceriam e todos seriam unidos. Bahá’u’lláh veio paraeste propósito. Ele fez das três religiões uma. Ele ergueu oestandarte da unicidade de fé e da honra da humanidadeno centro do mundo. Hoje devemos nos reunir em tornodele e tentar, de coração e alma, realizar a união do gênerohumano.

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DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

NA RESIDÊNCIA DA

SRTA. E. J. ROSENBERG

REUNIÃO DE UNIDADE

8 DE SETEMBRO DE 1911

ouvado seja Deus que uma tal reunião de pureza efirmeza está sendo realizada em Londres. Oscorações dos presentes são puros e estão volvidospara o Reino de Deus. Tenho a esperança de que

tudo o que está contido e estabelecido nos Livros Sagradosde Deus possa se realizar em vós. Os Mensageiros de Deussão os principais e os primeiros Professores. Sempre queeste mundo se tornar sombrio, dividido em suas opiniõese indiferente, Deus enviará um de Seus Santos Mensageiros.

Moisés veio num tempo de escuridão, quando aignorância e a puerilidade prevaleciam entre o povo, eexistiam pessoas vacilantes. Moisés foi o Professor divino;Ele deu os ensinamentos da santidade e educou os israelitas.Ele ergueu o povo de sua degradação e o tornou altamentehonrado. Ensinou-lhes ciências e artes, treinou-os nacivilização e aumentou-lhes as virtudes humanas. Depoisde algum tempo, aquilo que eles haviam assim recebido

L

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de Deus perdeu-se; estendeu-se o caminho para o retornodas más qualidades e o mundo foi oprimido pela tirania.

Então, novamente o rumor da Luz da Realidade eos sopros do Espírito Santo se tornaram conhecidos. Asnuvens da bondade deixaram cair sua chuva e a Luz daOrientação resplandeceu sobre a terra. O mundo se vestiude nova roupagem, o povo se tornou um novo povo e aunicidade da humanidade foi proclamada. A grandeunidade de pensamento transformou a humanidade e criouum novo mundo. Novamente, depois de um tempo, tudoisto foi esquecido pelas pessoas. Os ensinamentos de Deusnão mais exerciam influência em suas vidas. Suas profeciase mandamentos se tornaram fracos e finalmente seextinguiram de seus corações, e mais uma vez prevalecerama tirania e a negligência.

Então veio Bahá’u’lláh e novamente restabeleceu osfundamentos da fé. Ele trouxe de volta os ensinamentosde Deus e as práticas benevolentes do tempo de Cristo.Ele saciou a sede dos sedentos, despertou os desatentos eatraiu a atenção dos negligentes para os segredos divinos.Ele declarou a unidade da humanidade e difundiuamplamente o ensinamento da igualdade de todos os sereshumanos.

Por isso, todos vós deveis vos esforçar com coraçõese mentes para conquistar as pessoas com bondade, de modoque esta grande unidade possa ser estabelecida e assuperstições infantis abandonadas, e todos vós possais vostornar um.

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DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

NA RESIDÊNCIA DA

SRA. THORNBURGH-CROPPER

13 DE SETEMBRO DE 1911

raças a Deus, esta é uma bela reunião. Ela é muitoiluminada, ela é espiritual.

Segundo escreveu um poeta persa: “OUniverso Celestial é formado de tal modo que o

mundo inferior reflete o mundo superior.” Isto quer dizerque tudo o que existe no céu reflete-se neste mundofenomênico. Ora, louvado seja Deus, esta nossa reunião éum reflexo da Assembléia Celestial; é como se tivéssemostomado um espelho e o fitássemos. Conhecemos estereflexo do mundo celestial como amor.

Do mesmo modo que o amor celestial existe naAssembléia Suprema, ele é refletido aqui também. AAssembléia Suprema é plena de desejo por Deus – graças aDeus, este desejo existe aqui também.

Portanto, se dissermos que esta reunião é celestial,será verdade. Por que? Porque não nutrimos nenhum outrodesejo senão aquele que provém de Deus. Nenhum outrodesejo temos, salvo a comemoração de Deus.

G

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Algumas pessoas do mundo desejam conquistaroutros; algumas anseiam por repouso e sossego; outrasdesejam altas posições; algumas desejam ficar famosas –agradeço a Deus que nosso desejo é espiritualidade e uniãocom Deus.

Agora que estamos reunidos aqui, nosso desejo éerguer o estandarte da unidade de Deus, difundir a Luz deDeus e fazer com que os corações das pessoas se volvam aoReino. Por isso, eu agradeço a Deus que Ele nos está levandoa realizar esta grande obra.

Suplico por todos vós, para que vos torneisguerreiros celestiais, que possais difundir a unidade de Deusem todos os cantos e iluminar o Oriente e o Ocidente, eque possais dar o amor de Deus a todos os corações. Este éo meu maior desejo, e eu oro a Deus para que o vossodesejo possa ser o mesmo.

Estou muito feliz por estar com todos vós. Estoucontente com o rei, o governo e o povo inglês.

Deveis agradecer a Deus que nesta terra sois tão livres.Não sabeis a falta de liberdade que há no Oriente. Quandoalguém vem para este país ele fica satisfeito.

Peço a proteção de Deus para todos vós. Adeus atodos vós.

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DISCURSO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

NA REUNIÃO DE UNIDADE

DAS SRTAS. JACK E HERRICK

22 DE SETEMBRO DE 1911

stá um dia frio e ruim, mas como eu estava ansiosopor vos ver, vim aqui. Para uma pessoa que temamor, o esforço é repouso. Ele percorrerá qualquerdistância para visitar seus amigos.

Agradeço a Deus por vos encontrar espirituais etranqüilos; eu vos dou esta mensagem de Deus de quedeveis estar volvidos a Ele. Louvor a Deus por estardespróximos a Ele! As coisas vãs deste mundo não vosimpediram de buscar o mundo do Espírito. Estando emharmonia com o mundo, não vos preocupastes com ascoisas que perecem; desejais aquilo que jamais se extinguee o Reino se encontrará aberto diante de vós. Tenho aesperança de que os ensinamentos de Deus se difundirãoatravés do mundo e causarão a união de todos.

No tempo de Jesus Cristo, houve uma emanaçãoda Luz do Oriente para o Ocidente que uniu o povo sobuma bandeira celestial e iluminou-o com a percepção divi-na. Países ocidentais foram iluminados pela Luz de Cristo.

E

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Oro sinceramente para que, nesta era avançada, a Luz ilu-mine o mundo de tal maneira que todos possam se reunirsob a bandeira da unidade e receber educação espiritual.

Então, não se verão mais aqueles problemas quecriam divergência entre os povos da terra, pois em verdadenão existem. Todos são ondas de um só oceano e espelhosda mesma reflexão.

Neste dia, os países da Europa estão tranqüilos; aeducação se tornou amplamente difundida. A luz daliberdade é a luz do Ocidente e a intenção do governo étrabalhar pela verdade e justiça nos países ocidentais. Masa luz da espiritualidade sempre resplandece a partir doOriente. Nesta era em que a luz enfraqueceu, a religião setornou uma questão de aparência e formalidade e o desejodo amor de Deus se perdeu.

Na própria era de grande escuridão espiritual, umaluz é acesa no Oriente. Assim, mais uma vez a luz dosensinamentos de Deus veio a vós. Tal como a educação e oprogresso vão do Ocidente para o Oriente, o fogo espiritualparte do Oriente para o Ocidente.

Espero que o povo do Ocidente possa ser iluminadopela luz de Deus; que o Reino possa chegar a eles, queencontrem a vida eterna, que o Espírito de Deus possa seespalhar entre eles como fogo, que possam ser batizadoscom a Água da vida e possam nascer de novo.

Este é o meu desejo; tenho a esperança que, se for avontade de Deus, Ele fará com que o recebais e vos fareisfelizes.

Do mesmo modo que tens educação e progressomaterial, que a luz de Deus possa ser vosso quinhão.

Que Deus proteja a todos vós.

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NOTAS DE

CONVERSAÇÕES

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A CHEGADA EM LONDRES

4 DE SETEMBRO DE 1911

Na noite de Sua chegada a Londres, domingo, 4 desetembro de 1911, ‘Abdu’l-Bahá disse: “O céu abençooueste dia.” Foi dito que Londres seria um lugar para umagrande proclamação da Fé. “Quando embarquei no vaporeu estava cansado, mas quando cheguei a Londres econtemplei as faces dos amigos, minha fadiga me deixou.Vosso grande amor me refrescou. Estou muito satisfeitocom os amigos ingleses.”

“O sentimento que existia entre o Oriente e oOcidente está mudando à Luz dos ensinamentos deBahá’u’lláh. Costumava ser tal que se um ocidental bebessedo copo de um oriental, o copo seria considerado maculadoe seria quebrado. Agora, quando um bahá’í ocidental jantacom um bahá’í oriental, os copos e pratos por ele usadossão guardados em separado e reverenciados em suamemória.” Em seguida ‘Abdu’l-Bahá deu este históricoexemplo do maravilhoso amor fraternal:

“Um dia, alguns soldados vieram à residência de umbahá’í e exigiram que de acordo com seu mandato um dosconvidados fosse entregue para execução. O anfitriãotomou o lugar de seu convidado e morreu em seu lugar.”

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LONDRES

ímã de vosso amor me trouxe a este país. Minhaesperança é que a Luz Divina possa resplandecer aqui,e a Estrela Celestial de Bahá’u’lláh vos fortaleça, de

modo que possais ser a causa da unicidade da humanidade,que possais ajudar a fazer desaparecer as trevas da superstiçãoe do preconceito e a unir todos os credos e nações.

Este é um século radiante. Os olhos estão agoraabertos à beleza da unicidade da humanidade, do amor eda fraternidade. A treva da superstição há de desaparecer ea luz da unidade brilhar. Não podemos produzir amor eunidade simplesmente falando a seu respeito.Conhecimento não é suficiente. Riqueza, ciências eeducação são desejáveis, nós sabemos, mas devemostambém trabalhar e nos esforçar para fazer amadurecer ofruto do conhecimento.

Conhecimento é o primeiro passo; resolução, osegundo passo; ação, o seu cumprimento, é o terceiro passo.Para construir um edifício, deve-se antes de tudo fazer umprojeto, depois é preciso ter capacidade (dinheiro), entãose pode construir. A Sociedade da Unidade está formada,isto é bom – mas reuniões e discussões não são suficientes.No Egito estas reuniões acontecem, mas há apenas conversae nenhum resultado. Estas reuniões aqui em Londres sãoboas, o conhecimento e a intenção são bons, mas comopode haver resultado sem ação? Hoje, a força para a unidadeé o Espírito Santo de Bahá’u’lláh. Ele manifestou esteespírito de unidade. Bahá’u’lláh reconcilia o Oriente e oOcidente. Fazei uma retrospectiva, pesquisai a história, nãoencontrareis um precedente disto.

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DIFERENÇAS

eus criou o mundo como um só – as fronteiras foramdemarcadas pelo homem. Não foi Deus que dividiuas nações, mas cada pessoa possui sua casa e prado;

cavalos e cães não dividem os campos em partes. É porisso que Bahá’u’lláh disse: “Que nenhum homem sevanglorie por amar seu país, mas por amar sua espécie.”Todos são uma família, uma raça; todos são seres humanos.Diferenças devidas a divisão de países não deveriam sercausa de separação entre as pessoas.

Um dos grandes motivos de separação é a cor. Vedecomo este preconceito tem força na América, por exemplo.Vede como eles odeiam uns aos outros. Animais nãobrigam por causa de sua cor! Certamente o homem que étão mais elevado na criação, não deveria ser inferior aosanimais. Refleti sobre isto. Quanta ignorância! Pombosbrancos não brigam com pombos azuis por causa de suacor, mas homens brancos lutam com homens de cor escura.Este preconceito racial é o pior de todos.

O Velho Testamento diz que Deus criou o homemà Sua própria imagem; No Alcorão está dito: “Não hádiferença na criação de Deus!” Pensai bem, Deus crioutodos, e todos estão sob Sua proteção. A política de Deusé melhor do que a nossa. Nós não somos sábios comoDeus!

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RELIGIÃO

ara a maioria das pessoas que não ouviram a mensagemdeste ensinamento, a religião parece ser uma aparênciaexterna, uma desculpa, meramente uma marca de

respeitabilidade. Alguns padres estão no santo ofício apenaspara ganhar seu sustento. Eles próprios não crêem nareligião que fingem ensinar. Dariam eles a sua vida pelasua Fé? Peça a um cristão deste tipo que renegue Cristopara salvar sua vida, e ele o fará.

Peça a um bahá’í que renegue qualquer um dosgrandes Profetas, que renegue sua Fé ou renegue Moisés,Muhammad ou Cristo, e ele dirá: preferiria morrer. Assimum bahá’í mulçumano* é um melhor cristão do que osassim chamados cristãos.

Um bahá’í não nega religião alguma; ele aceita aVerdade em todas, e morreria para sustentá-la. Ele amatodos os homens como seus irmãos, sejam eles de qualquerclasse, de qualquer raça ou nacionalidade, de qualquer credoou cor, sejam bons ou maus, ricos ou pobres, belos ouhorríveis. Ele não comete violência; se ele é atacado, nãorevida. Seguindo o exemplo de seu Senhor, Bahá’u’lláh, anada atribui a qualidade de mau. Como proteção contra aintemperança, ele não bebe vinho ou bebidas alcoólicas.Bahá’u’lláh disse que não é bom que uma pessoa sã tomeaquilo que destruirá sua saúde e percepção.

A religião de Deus possui dois aspectos em seumundo. O espiritual (o real) e o formal (aparente). O ladoformal muda conforme o homem muda de época em

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*Refere-se aos bahá’ís de origem muçulmana. (n.t.)

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época. O lado espiritual que é a Verdade, nunca muda. OsProfetas e Manifestantes de Deus sempre trazem o mesmoensinamento; no princípio as pessoas são fiéis à verdade,mas depois de algum tempo elas a desfiguram. A Verdadeé distorcida pelas formas externas e leis materiais feitas pelohomem. O véu da materialidade e mundanismo entra emcontato com a Verdade.

Do mesmo modo que Moisés e Jesus trouxeramSuas mensagens ao povo, Bahá’u’lláh traz a mesmaMensagem.

Cada vez que Deus nos envia um Grande Ser, umanova vida nos é conferida, mas a Verdade que cadaManifestante de Deus traz é a mesma. A Verdade nuncamuda, mas a visão dos homens muda. Ela se torna nubladae confusa pela complicação de aparências externas.

A Verdade é muito fácil de ser compreendida,embora a forma externa em que ela é expressa confunda ainteligência. À medida que os homens se desenvolvem,percebem a futilidade das formas criadas pelo homem e asdespreza. Por isso, muitos abandonam as igrejas, pois estaúltima muitas vezes enfatiza a aparência externa.

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DISCURSO A UMA

ASSEMBLÉIA DE TEOSOFISTAS

SETEMBRO DE 1911

stes são dias maravilhosos! Vemos um convidadooriental recepcionado com amor e cortesia noOcidente. Apesar da indisposição, fui atraído paracá pelo ímã de vosso amor e simpatia.

Alguns anos atrás um embaixador foi enviado daPérsia para Londres, onde permaneceu durante cinco anos.(Seu nome era Abdu’l-Hasan Khán). Quando ele voltoupara Pérsia, pediram que ele falasse a respeito do povoinglês. Ele respondeu: “Eu não conheço o povo inglês,embora tenha estado em Londres por cinco anos apenasme encontrei com as pessoas da corte.” Ele era um homemimportante na Pérsia e foi enviado à Inglaterra porpríncipes, e ainda assim não conheceu as pessoas emboratenha vivido entre ela por cinco anos. Agora, eu, prisioneiropor muito tempo, venho à Inglaterra pela primeira vez e,embora minha visita seja tão curta, eu já encontrei muitosamigos queridos e posso dizer que conheço o povo. Aquelescom quem me encontrei são verdadeiras almas quetrabalham pela paz e unidade. Reflitam sobre quantadiferença há entre este tempo em que vivemos e setenta

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anos atrás! Considerem o avanço! O avanço em direção aunidade e paz.

É vontade de Deus que as diferenças entre naçõesdesapareçam. Aqueles que auxiliam a causa da unidade estãofazendo a obra de Deus. A unidade é bondade divina paraeste século esplendoroso. Louvado seja Deus, hoje hámuitas sociedades e muitas reuniões são realizadas em prolda unidade. Não é tanto a inimizade a causa de separação,como costumava ser, hoje a causa da desunião éprincipalmente preconceito. Por exemplo, anos atrás,quando os europeus visitavam o Oriente, eramconsiderados impuros e odiados. Agora é diferente, quandopessoas do Ocidente visitam as do Oriente, as quais sãoseguidoras da Nova Luz, elas são recebidas com amor ecortesia.

(‘Abdu’l-Bahá, tendo uma criança bem junto de Si,acrescenta:) Os verdadeiros bahá’ís amam as crianças,porque Jesus diz que elas são do Reino celestial. Umcoração simples e puro está próximo de Deus; uma criançanão tem ambições mundanas.

PRECONCEITOS

Congresso Universal das Raças foi bom, poisobjetivava o avanço e o progresso da unidade entretodas as nações e um melhor entendimento

internacional. O propósito foi bom. As causas de disputaentre diferentes nações são sempre devidas a uma destascategorias de preconceitos: racial, lingüística, teológica,pessoal e preconceitos de costume e tradição. É necessáriauma força ativa universal para superar estas diferenças. Uma

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pequena enfermidade requer um remédio fraco, mas umadoença que penetra no corpo todo precisa de um remédiomuito forte. Uma lâmpada fraca pode iluminar um quarto,uma mais forte ilumina uma casa, uma ainda mais fortepode resplandecer na cidade, mas para iluminar o mundotodo é necessário o sol.

As diferenças de língua causam desunião entre asnações. Deve haver um idioma universal. A diversidade dereligiões também é causa de separação. O verdadeirofundamento de todas as religiões deve ser estabelecido e asdiferenças exteriores abolidas. Deve existir uma unicidadede Fé. Extinguir todas estas diferenças é uma tarefa árdua.O mundo todo está enfermo e necessita do poder doGrande Médico.

Estas reuniões nos ensinam que unidade é bom eque afastamento (escravidão sob o jugo da tradição epreconceito) é causa de desunião. Saber disso não ésuficiente. Todo conhecimento é bom, mas não podeproduzir qualquer fruto senão através de ação. É bom saberque as riquezas são boas, mas esse conhecimento não tornaráo homem rico; ele deve trabalhar, deve colocar seuconhecimento em ação. Esperamos que as pessoaspercebam e saibam que a unidade é boa, esperamos tambémque elas não se contentem em permanecer imóveis nesseconhecimento. Não digais apenas que unidade, amor efraternidade são bons; deveis trabalhar pela sua realização.

O czar da Rússia sugeriu a Conferência da Paz deHaia e propôs uma diminuição de armamentos para todasas nações. Nesta Conferência provou-se que a paz foibenéfica a todas as nações e a guerra destruiu o comércio,etc. As palavras do czar foram admiráveis, entretanto ele

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próprio foi o primeiro a declarar guerra (contra o Japão)depois de terminada a Conferência.

Conhecimento não é suficiente; esperamos que poramor a Deus colocaremos isto em prática. Para isto énecessária uma força espiritual universal. Reuniões são boaspara engendrar força espiritual. Saber que é possível alcançarum estado de perfeição é bom; avançar no caminho émelhor. Sabemos que ajudar os pobres e ser misericordiosoé bom e agrada a Deus, mas conhecimento apenas nãoalimenta os famintos, nem podem os pobres ser aquecidospor conhecimento e palavras durante o inverno rigoroso;devemos dar o auxílio prático de amorosa bondade.

E a respeito do Congresso de Paz?Assemelha-se a um grupo de embriagados reunidos

para protestar contra o consumo de álcool. Eles dizem quebeber é horrível e saem de casa diretamente de volta àbebida.

TEOSOFIA

Quando se perguntou a ‘Abdu’l-Bahá se Elereconhecia o bem que a Sociedade Teosófica haviaproporcionado, Ele respondeu:

u a conheço; penso muito a seu respeito. Sei que seudesejo é servir o gênero humano. Sou grato a estanobre Sociedade em nome de todos os bahá’ís e

em meu próprio. Espero que com a ajuda de Deus estesamigos conseguirão criar amor e unidade. É um importantetrabalho e precisa do esforço de todos os servos de Deus.

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PAZ

urante os últimos seis mil anos as nações têm odiadoumas às outras, agora é tempo de parar. A Guerradeve cessar. Sejamos unidos e amemos uns aos

outros, e aguardemos o resultado. Sabemos que asconseqüências da guerra são tristes. Então vamos, comouma experiência, tentar a paz, e se os resultados da pazforem maus, então poderemos decidir se seria melhor voltarao antigo estado de guerra! Vamos, de qualquer modo,fazer a experiência. Se percebermos que a unidade traz luzentão continuaremos com ela. Por seis mil anos temosandado na contra-mão; que andemos na via certa. Passamosmuitos séculos na escuridão; que avancemos à luz.

Pergunta: –– A Teosofia, foi frisado, ensina que averdade em todas as religiões é a mesma. A tarefa de unificartodas as religiões tem a simpatia de ‘Abdu’l-Bahá?

Resposta: –– Certamente.

Pergunta: –– Poderia ‘Abdu’l-Bahá sugerir algumamaneira de melhor realizar isto?

Resposta: –– Pesquisai a verdade. Buscai as realidadesnas religiões. Deixai de lado todas as superstições. Muitosde nós não compreendem a realidade de todas as religiões.

MANIFESTANTES DIVINOS

Pergunta: –– Qual é o ensinamento de ‘Abdu’l-Baháa respeito das diversas manifestações divinas?

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Resposta: –– A Realidade de todas é Uma. A Verdadeé uma só. As religiões são como os ramos de uma árvore.Um ramo é alto, um é baixo e um está no centro, mastodas obtêm vida do mesmo tronco. Um ramo estácarregado de frutos e outros não tão abundantementecarregados. Todos os Profetas são luzes, apenas diferemem intensidade; eles resplandecem como brilhantes corposcelestes, cada um possui seu próprio lugar e tempo deascensão. Alguns são como lâmpadas, alguns como a lua,alguns são estrelas distantes, e algumas poucas são como osol, luzindo de um extremo a outro da terra. Todosresplandecem com a mesma luz, no entanto são diferentesem intensidade.

BUDISMO

Alguns se referiram aos ensinamentos de Buda.‘Abdu’l-Bahá disse:

verdadeiro ensinamento de Buda se assemelha aoensinamento de Jesus Cristo. Os ensinamentos dosProfetas possuem o mesmo caráter. Os homens que

modificaram os ensinamentos. Se observardes a atual práticada religião budista, vereis que pouco sobrou de suarealidade. Muitos adoram ídolos embora seus ensinamentoso proíbam.

Buda tinha discípulos e desejava enviá-los para omundo afora para ensinarem, então lhes fez perguntas parasaber se estavam preparados como Ele queria:

–– Quando fordes ao Oriente e ao Ocidentee as pessoas vos fecharem suas portas e se

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recusarem a falar convosco, o que fareis? –disse-lhes o Buda.–– Seremos muito gratos por não noscausarem dano – os discípulos responderam.–– E se vos causarem dano e vos motejarem,o que fareis?–– Seremos muito gratos por não nos daremtratamento pior.–– Se vos lançarem na prisão?–– Ainda seremos gratos por não nosmatarem.–– E se vos matarem? – perguntou o Mestrepela última vez.–– Ainda assim, seremos gratos por fazeremde nós mártires. Que destino mais gloriosodo que este, morrer pela glória de Deus? –disseram os discípulos.–– Muito bem! – disse o Buda.O ensinamento de Buda foi como uma jovem e

linda criança, e agora ele se tornou como um homem velhoe decrépito. Como os idosos, ele não pode ver, não podeouvir, não pode lembrar de nada. Por que voltar tão longeno passado? Considerai as leis do Velho Testamento: osjudeus não seguem Moisés como exemplo nem guardamSeus mandamentos. O mesmo ocorre com muitas outrasreligiões.

Como podemos adquirir o poder de seguir ocaminho certo?

O poder será concedido colocando-se osensinamentos em prática. Sabereis que caminho seguir; nãopodereis vos enganar, pois há uma grande distinção entreDeus e o ente mau, entre luz e escuridão, verdade e falsidade,

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amor e ódio, generosidade e vileza, educação e ignorância,fé em Deus e superstição, leis boas e leis injustas.

Pergunta: –– Como se pode incrementar a fé?Resposta: –– Deveis fazer esforço. Uma criança não

tem conhecimento, ela obtém conhecimento através doestudo e pesquisa da verdade.

Há três espécies de fé: primeiro, aquela que provémda tradição e descendência. Por exemplo, uma criança nascede pais muçulmanos. Esta é uma fé frágil, tradicional.Segundo, aquela que advém do conhecimento e é a fé doentendimento. Esta é boa, mas há uma melhor, a fé daprática. Esta é a verdadeira fé.

Ouvimos a respeito de uma invenção, acreditamosque é boa; então vamos vê-la. Ouvimos que há umariqueza, nós a vemos; trabalhamos duro para consegui-la enós próprios nos tornamos ricos e ajudamos outros.Sabemos que estamos vendo a luz, aproximamo-nos dela,somos aquecidos por ela, e refletimos seus raios sobreoutros; esta é a verdadeira fé, e assim recebemos o poderde nos tornarmos eternos filhos de Deus.

CURA

‘Abdu’l-Bahá disse:

á duas espécies de doença: a material e a espiritual.Tomemos por exemplo, um corte na mão;

se rezardes para que o corte seja curado e nãoH

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estancardes o sangue, pouco adiantará; é necessário umremédio material.

Algumas vezes, se o sistema nervoso for paralisadopelo medo, há necessidade de remédio espiritual. A loucura,incurável de outro modo, pode ser curada através da oração.Se a tristeza freqüentemente faz adoecer, isto pode sercurado por meios espirituais.

SOCIEDADES FILANTRÓPICAS

Pergunta: –– As sociedades humanitárias são boas?Resposta: –– Sim, todas as sociedades, todas as

organizações que trabalham pela melhora da raça humanasão boas, muito boas. Todos aqueles que trabalham porseus irmãos e irmãs têm a bênção de Bahá’u’lláh. Elescertamente serão bem sucedidos.

‘Abdu’l-Bahá complementa:–– Ver todos os amigos em Londres me deixa feliz.

Vós todos sois, de todas as raças e credos, membros deuma só família. Os ensinamentos de Bahá’u’lláh voscompelem a realizar a irmandade uns para com os outros.

O ENTENDIMENTO DO HOMEM A RESPEITO

DE DEUS E DOS MUNDOS SUPERIORES

essência de Deus é incompreensível ao homem, eassim são também os mundos além deste e a suacondição. Ao homem é concedida a capacidade de

obter conhecimento, de atingir grande perfeição espiritual,descobrir verdades ocultas e manifestar até mesmo osatributos de Deus; mas ainda assim o homem não pode

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compreender a essência de Deus. Onde o círculo semprecrescente do conhecimento humano encontra o mundoespiritual, um Manifestante de Deus é enviado para refletirSeu esplendor.

OS MANIFESTANTES DIVINOS

Pergunta: –– O Manifestante Divino é Deus?Resposta: –– Sim, mas não na essência. Um

Manifestante Divino é um espelho que reflete a luz doSol. A luz é a mesma, mas o espelho não é o Sol. Todos osManifestantes de Deus trazem a mesma luz; Eles diferemsomente em intensidade, não em realidade. A Verdade éuma só. A luz é a mesma embora as lâmpadas sejam diversas;devemos contemplar a luz e não a lâmpada. Se aceitarmosque a luz é uma, devemos aceitar a luz que há em todas;todas concordam porque são todas iguais. O ensinamentoé sempre o mesmo; é apenas a aparência externa que muda.

Os Manifestantes de Deus são como corpos celestes.Todos têm sua designada posição e tempo de ascensão,mas a luz que refletem é a mesma. Se alguém deseja ver onascer do sol não olha sempre para o mesmo ponto, poisesse ponto muda com as estações. Quando vê o sol nascermais além ao norte ele o reconhece, embora tenha nascidonum ponto diferente.

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NOTAS DE UMA CONVERSA

COM ‘ABDU’L-BAHÁ

Uma pessoa de raça negra, provinda da África doSul, que estava visitando ‘Abdu’l-Bahá disse que mesmoagora nenhuma pessoa branca dá muita atenção aos negros.

‘Abdu’l-Bahá responde:

omparai o tempo e o sentimento atual em relaçãoà condição do sentimento para com as pessoas daraça negra de dois ou três séculos atrás, e vede comoo presente é melhor. Num curto período, o

relacionamento entre as pessoas de raça negra e as brancashá de melhorar ainda mais, e pouco a pouco nenhumadiferença permanecerá entre elas. Existem pombos brancose de cor púrpura, mas ambas as espécies são de pombos.

Certa vez, Bahá’u’lláh comparou as pessoas da raçanegra com a pupila do olho envolvida pelo branco. Nestapupila negra se vê o reflexo daquilo que se encontra diantedela, e através dela a luz do Espírito se irradia.

Aos olhos de Deus a cor não faz qualquer diferença.Ele olha os corações dos homens. É o coração dos homensque Deus quer. Um negro de bom caráter é muito superiora um homem branco cujo caráter não é tão bom.

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OS IDEAIS DO ORIENTE E DO OCIDENTE

Um dos organizadores presentes do Congresso dasRaças referiu-se aos ideais ocidentais de Bahá’u’lláh comodiferentes daqueles dos Profetas anteriores, matizadas pelasidéias e da civilização oriental. Em seguida ele perguntouse Bahá’u’lláh havia feito um estudo especial das escriturasocidentais e construiu Seus ensinamentos de acordo comelas.

‘Abdu’l-Bahá sorriu cordialmente e disse que oslivros de Bahá’u’lláh, escritos e impressos há sessenta anos,continham os ideais agora tão familiares ao Ocidente, masnaquela época não haviam sido impressos ou ensinadosno Ocidente. “Por outro lado,” continuou Ele, “supondoque um grande pensador do Ocidente tenha ido visitarBahá’u’lláh para Lhe ensinar, teriam permanecidodesconhecidos o nome de tal grande homem e o fato desua visita? Não! Em épocas anteriores, no tempo de Budae Zoroastro, a civilização na Ásia e no Oriente era bemmais elevada do que no Ocidente e os pensamentos e idéiasdos povos orientais muito superiores e mais próximos dospensamentos de Deus do que aqueles do Ocidente. Masdesde aquele tempo as superstições adentraram a religião eos ideais do Oriente e por muitas diferentes causas o caráterdos povos orientais foi decaindo mais e mais e se rebaixandocada vez mais, enquanto os povos do Ocidente estiveramavançando constantemente e se empenhando em direção àluz. Conseqüentemente, nesta época, a civilização ocidentalestava bem mais elevada do que a oriental e os pensamentose idéias dos povos do Ocidente mais próximos aopensamento de Deus do que os do Oriente. Por isso os

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ideais de Bahá’u’lláh haviam sido mais rapidamenterealizados no Ocidente.”

‘Abdu’l-Bahá mostrou ainda quão exatamenteBahá’u’lláh havia descrito, num de Seus livros, aquilo quedesde então fora efetivado no Conselho Internacional deArbitramento, descrevendo suas diversas funções, algumasda quais ainda não haviam sido realizadas e ele (‘Abdu’l-Bahá) descreveu-as para nós, de modo que quando fossemrealizadas, o que em breve aconteceria, nós soubéssemosque haviam sido profetizadas por Bahá’u’lláh.

“A guerra era a maior calamidade que poderia seapossar das nações, porque as pessoas que normalmentetrabalhavam na agricultura, ofícios, comércio e outras artesutilitárias eram afastadas de suas ocupações e transformadasem soldados, de modo que havia um grande desperdício eperda além da destruição e do massacre da guerra.

“Bahá’u’lláh dissera que as funções da CorteInternacional seriam para apaziguar disputas que de temposem tempos surgissem entre as nações; definir com exatidãoas fronteiras das diferentes nações e decidir a quantidadede soldados e armas a serem mantidas por cada nação, deacordo com sua população, a fim de preservar a ordeminterna. Por exemplo, um país poderia ter dez mil soldados,outro vinte mil, outro quinze mil, e assim por diante, deacordo com o tamanho e a população da nação; também,se qualquer povo se rebelasse contra a decisão da Corte e arejeitasse, a Corte autorizaria os outros a juntarem suasforças para apoiar sua decisão, unidos em ação caso fossenecessário.

“Ainda não vimos a realização de qualquer uma destascoisas, mas no futuro veremos.”

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CIÊNCIA E FÉ

O cavalheiro, então, propôs uma questão que disseconsiderar de grande importância em relação a ummovimento religioso que se diz universal. “Que posição”,perguntou ele, “se é que há alguma, Bahá’u’lláh deu às idéiase concepções modernas da ciência em Seus ensinamentos?Toda a estrutura da civilização moderna se baseia nosresultados do conhecimento obtido através de laboriosa epaciente observação de fatos coletados pelos homens deciência. Em alguns casos através de centenas de anos dediligente investigação.” Para se fazer mais claro, ele deu oexemplo de ética e ensinamentos morais dos filósofoschineses, além dos quais nada podia conceber de maiselevado. “No entanto”, segundo ele, “esses ensinamentostiveram muito pouco efeito fora da China porque não eramprimariamente baseados nos ensinamentos da ciência.”

‘Abdu’l-Bahá respondeu que “foi atribuída grandeimportância à ciência e ao conhecimento nos ensinamentosde Bahá’u’lláh, O qual escreveu que se uma pessoa educaros filhos de pobres, aqueles que não dispõem de recursospróprios para tal fim, aos olhos de Deus isto seria como seele tivesse educado o Filho de Deus.

“Se qualquer religião rejeitasse a ciência e oconhecimento, tal religião seria falsa. Ciência e religiãodeveriam avançar juntas – na verdade deveriam ser comodois dedos de uma mão.

“Em Seus escritos, Bahá’u’lláh deu ainda a maisimportante posição à arte e à prática de ofíciosespecializados. Ele disse que a prática de artes ou ofíciosem verdadeiro espírito de serviço é idêntico à adoração a Deus.”

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EDUCAÇÃO

Um cavalheiro ligado à obra de uma Fundaçãoperguntou “qual o melhor método de elevar e civilizar aspessoas mais decaídas, as mais degradadas e ignorantes, ese sua educação se realizaria gradualmente através dailuminação do espírito, ou se havia algum meio especialpara se atingir esse fim?”

‘Abdu’l-Bahá respondeu que “a melhor maneira élhes dar ensinamentos espirituais e esclarecimento.” Eleobservou também que “o modo de alargar a visão dosmesquinhos e preconceituosos, e fazer com que atentem aum ensinamento mais amplo é lhes mostrar a máximabondade e amor. Que o exemplo de nossas vidas é maisvalioso do que palavras.”

CONVERSAÇÃO COM PESSOAS FALECIDAS

Foi formulada a pergunta:–– É possível estabelecer comunicação com os

mortos, e se é sábio ou aconselhável participar de sessõesespíritas, se dedicar a mesa-branca, invocação de espíritos,etc?

O Mestre disse que:–– Essas invocações, etc., tratam-se de coisas da

matéria e do corpo. É necessário passar para além domaterial para o reino do puramente espiritual. Mesa-brancae coisas semelhantes são materiais, um efeito natural e nãoespiritual. Mas que é possível se comunicar com os mortospela condição do caráter e do coração.

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AS SUPERSTIÇÕES SÃO ÚTEIS?

Uma senhora perguntou:–– Algumas superstições não poderiam ser boas para

as pessoas ignorantes, sem as quais estas talvez ficassemsem crença de espécie alguma?

‘Abdu’l-Bahá respondeu:–– Superstições são de duas espécies: as prejudiciais

e perigosas, e as que são inofensivas e produzem algunsbons resultados.

Há, por exemplo, algumas pessoas pobres queacreditam que infortúnios e punições são causados por umgrande anjo com uma espada na mão, que golpeia aquelesque roubam e cometem assassinatos e crimes.

Elas acham que os clarões do relâmpago são as armasdesse anjo, e que se elas cometessem erro seriam atingidaspelo relâmpago. Esta crença as impede de más ações.

Os chineses possuem uma superstição de que sequeimarem certos pedaços de papel afastarão os demônios;algumas vezes queimavam estes pedaços de papel a bordode navios em que viajavam a fim de espantar os demôniose assim incendiavam os navios e destruíam muitas vidas.Este é o tipo de superstição prejudicial e perigosa.

A VIDA APÓS A MORTE

A sra. S. fez algumas perguntas referentes às condiçõesda existência no mundo vindouro e à vida depois da morte.Ela disse que tendo recentemente perdido um parentemuito próximo, ela estava pensando muito a respeito desseassunto. Muitos acham que somente depois de um longo

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período de tempo é que ocorre a reunião com aqueles queamamos e que passaram para a vida do além. Ela queriasaber se a pessoa se reuniria com aqueles que se foramanteriormente logo depois de morrer?

‘Abdu’l-Bahá respondeu que isto dependeria darespectiva condição das duas pessoas. Se ambas tivessem omesmo grau de desenvolvimento, elas se reuniriamimediatamente após a morte.

Então, a que perguntava indagou como este grau dedesenvolvimento poderia ser adquirido? ‘Abdu’l-Bahárespondeu que através de incessante esforço, procurandofazer o que é correto e adquirindo qualidades espirituais.

A pessoa que questionava frisou que há muitasopiniões divergentes a respeito das condições da vida doalém. Algumas pessoas pensam que todos teremosexatamente as mesmas perfeições e virtudes; que todosseremos iguais e idênticos.

‘Abdu’l-Bahá disse que haveria diversidade ediferentes graus de realização, como neste mundo.

Então, foi feita a pergunta de como seria possívelreconhecer diferentes entidades e personalidades sem corposmateriais ou ambientes, quando tudo estaria na mesmacondição e no mesmo plano de existência?

‘Abdu’l-Bahá disse que se diversas pessoas olhassempara um espelho ao mesmo tempo, elas veriam todas asdiferentes personalidades, suas características emovimentos; o vidro do espelho para o qual eles olham éo mesmo. Ele disse que a mente possui uma variedade depensamentos, mas todos esses pensamentos são separadose distintos. Talvez possamos, ainda, ter centenas de amigos,mas quando os invocamos à nossa memória não

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confundimos uns com os outros; cada um é separado edistinto, tendo suas próprias individualidades ecaracterísticas.

Em resposta a outro indagador, Ele disse que quandoduas pessoas, marido e mulher, por exemplo, estiveremperfeitamente unidos nesta vida, sendo suas almas comouma só alma, após a morte de um deles esta união decorações e almas permanece inquebrantável.

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MENSAGEM ÀS MULHERES

Na noite de 28 de setembro, ‘Abdu’l-Bahá estavacom um grupo de convidadas, onde um médico persa deQazvín disse que era uma grande obra de Deus o Orientee o Ocidente se tornarem tão unidos, e que devemos sempreagradecer a Deus que a Causa Bahá’í produziu tamanhaharmonia e união entre nós. O resultado dessa visita de‘Abdu’l-Bahá ao Ocidente irá ser muito grandioso.

‘Abdu’l-Bahá disse:

ós todas sois irmãs. A relação corpórea há de passar;até mesmo duas irmãs podem ser inimigas umada outra, mas a relação espiritual é eterna e cria

amor e serviço mútuos.Sede sempre bondosas para com todos e um refúgio

para aqueles que estão desabrigados.Sede filhas daqueles que são mais idosos que vós.Sede irmãs para aqueles que são da vossa idade.Sede mães para aqueles que são mais moços que vós.Sede enfermeiras para os doentes, tesouros para os

pobres e oferecei alimento celestial aos famintos.

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A CERIMÔNIA DE UM

CASAMENTO BAHÁ’Í

Um toque totalmente oriental foi dado ao final davisita de ‘Abdu’l-Bahá a Londres, com o casamento de umjovem casal persa que havia solicitado Sua presença nacerimônia, sendo que a noiva havia viajado de Bagdá,acompanhada por seu tio para encontrar seu noivo aqui ese casar antes da partida de ‘Abdu’l-Bahá. O pai e o avô danoiva haviam sido seguidores de Bahá’u’lláh na época deSeu exílio.

Hesitamos em alterar a descrição feita pelo noivo dacerimônia e por isso a publicamos em sua próprialinguagem simples e bela. Ela servirá para mostrar um ladonão citado em outros lugares, e sem a qual, nenhuma idéiade Sua visita é completa. Referimo-nos à atitude dereverência com a qual as pessoas do Oriente vinham ver‘Abdu’l-Bahá como seu grande Mestre. Elesinvariavelmente permaneciam em pé com as cabeçascurvadas sempre que Ele entrava no salão.

Mírzá Dáwud escreve:

No domingo de manhã, 1o de outubro de1911 d.C., correspondente a 9 de Tishi de5972 (Calendário Hebraico), Regina Núr

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Mahal Khánum e Mírzá Dáwud foramadmitidos na santa presença de ‘Abdu’l-Bahá,seja minha vida um sacrifício a Ele.

Depois de nos receber, ‘Abdu’l-Bahádisse: “Sois muito bem-vindos e fico muitofeliz em vê-los aqui em Londres.”

Olhando para mim, Ele disse: “Nuncaantes eu uni alguém em casamento, excetominhas próprias filhas, mas como tu prestasteum grande serviço ao Reino de Abhá, tantoneste país como em outras terras, hoje eucelebrarei a cerimônia de teu casamento. Éminha esperança que possais ambos continuarno abençoado caminho do serviço.”

Então, ‘Abdu’l-Bahá primeiro levouNúr Mahal Khánum à sala adjacente e lhedisse: “Tu amas Mírzá Yuhanna Dáwud comtodo o teu coração e alma?” Ela respondeu:“Sim, eu amo.”

Em seguida, ‘Abdu’l-Bahá me chamoue fez uma pergunta semelhante, ou seja: “Tuamas Núr Mahal Khánum com todo o teucoração e alma?” Eu respondi: “Sim, eu amo.”Juntos retornamos à sala e ‘Abdu’l-Bahátomou a mão direita da noiva e a colocou nado noivo e nos pediu para repetirmos depoisdEle: “Nós, tudo fazemos para agradar a Deus.”

Nós todos sentamos e ‘Abdu’l-Bahácontinuou: “O casamento é uma instituiçãosagrada e muito encorajada nesta abençoadaCausa. Agora vós dois não sois mais dois, mas

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um. O desejo de Bahá’u’lláh é que todos osseres humanos tenham o mesmo propósito ese considerem partes de uma grande família,que a mente do gênero humano não sejadivergente de si mesma.

“É meu desejo e esperança que vós sejaisabençoados em vossas vidas. Que Deus vosajude a prestar grande serviço ao Reino deAbhá e que vos torneis meios para o seuavanço.

“Que a alegria aumente para vós àmedida que os anos passam, e que possais vostornar árvores viçosas, produzindo frutosdeliciosos e fragrantes que são as bênçãos nocaminho do serviço.”

Quando saímos, todos os amigosreunidos, tanto da Pérsia como de Londres,congratularam-nos pela grande honra que nosfoi concedida e fomos convidados para jantarcom a bondosa anfitriã.

Logo depois reunimo-nos com Ele emtorno da mesa. Durante a refeição um dosamigos perguntou a ‘Abdu’l-Bahá sobre “comoEle desfrutou Sua permanência em Londres eo que achou do povo inglês?” ‘Abdu’l-Bahárespondeu: “Eu apreciei muito Londres e asfaces radiantes dos amigos deleitaram meucoração. Eu fui atraído para cá pela sua unidadee amor. No mundo da existência não há ímãmais poderoso do que o ímã do amor. Estespoucos dias hão de passar, mas sua significação

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será lembrada pelos amigos de Deus em todasas épocas e todas as terras.

“Existem nações vivas e nações mortas.Síria perdeu sua civilização por causa da letargiado espírito. A nação inglesa está viva, e quandonesta primavera espiritual a verdade divinaavança com vitalidade renovada, os inglesesserão como árvores fecundas e o Espírito Santofará com que medrem abundantemente.Então eles ganharão não só materialmente,mas naquilo que é muito mais importante,progredirão espiritualmente, o que os farácapazes de prestar um grande serviço aomundo humano.”

Outra pessoa perguntou “por que osensinamentos de todas as religiões sãoamplamente expressas em parábolas emetáforas e não na linguagem clara do povo?”

‘Abdu’l-Bahá respondeu: “Os assuntosdivinos são demasiadamente profundos paraserem expressos em palavras comuns. Osensinamentos celestiais são expressos emparábolas para serem preservados de era emera. Quando os de disposição espiritualmergulham profundamente no oceano de seussignificados, trazem à superfície as pérolas deseus significados interiores. Não há prazermaior do que estudar a Palavra de Deus comdisposição espiritual.

“O objetivo dos ensinamentos de Deusao homem é que ele possa conhecer a si próprio

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a fim de poder compreender a grandeza deDeus. A Palavra de Deus é para entendimentoe concórdia. Se fordes à Pérsia, onde osamigos de Abhá são numerosos, imedia-tamente percebereis a força unificadora daobra de Deus. Eles fazem o melhor que podempara estreitar este laço de amizade. Lá, pessoasde diferentes nacionalidades se reúnem numaassembléia e entoam as epístolas divinas numasó harmonia. Supor-se-ia que são todosirmãos. Não consideramos ninguém comoestranho, pois Bahá’u’lláh disse: ‘Sois todosos raios do mesmo sol, os frutos de uma sóárvore e folhas de um mesmo ramo.’ Nósdesejamos a verdadeira fraternidade dahumanidade. Assim será, e já começou.Louvado seja Deus, o Auxiliador, oPerdoador!”

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A VISITA A BRISTOL*

‘Abdu’l-Bahá passou o fim de semana de 23 a 25 desetembro no Clifton Guest House em Clifton, Bristol.

Na primeira tarde, enquanto andava de carro, Eleexpressou muito interesse pela área rural da Inglaterra,maravilhando-Se diante de árvores seculares e o vívido verdedas matas e colinas, tão diferente do árido Oriente.“Embora seja outono parece ser primavera”, disse Ele. Ascasas com seus pequenos canteiros de gramado sugeriamuma citação que ‘Abdu’l-Bahá fez dos Escritos deBahá’u’lláh nos quais Ele alude a cada família possuindouma casa com um pedaço de terra. ‘Abdu’l-Bahá comparouo campo à alma e a cidade ao corpo do homem, dizendo:“O corpo não pode viver sem a alma. É bom”, disse Ele,“viver sob o céu, exposto ao sol e ar fresco.” Observandouma jovem senhora que estava montando um cavalo, comseus cabelos flutuando soltos, e alguns que passavampedalando suas bicicletas sozinhos, Ele disse: “Esta é a erada mulher. Ela deve receber a mesma educação que seuirmão e gozar o mesmo privilégio, pois todas as almas sãoiguais perante Deus. O sexo, de acordo com as exigênciasdo plano físico, não tem relação com o espírito. Nesta erade despertar espiritual, por meio do caminho do progresso

*por Thomas Pole

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o mundo entrou para a arena do desenvolvimento, no qualo poder do espírito ultrapassa o do corpo. Logo o espíritoterá domínio sobre o mundo humano.”

À noite foi enviado cabograma de saudações aosbahá’ís de Teerã, informando-os da presença de ‘Abdu’l-Bahá em Bristol. Ele transmitiu Seu amor e queria queeles soubessem que Ele estava bem e feliz com os amigosde Clifton. Este foi enviado em resposta a um cabogramaanteriormente recebido de Teerã congratulando as pessoasdo Guest House pela futura visita de ‘Abdu’l-Bahá.

Posteriormente houve uma recepção geral, sendo quenoventa pessoas que vieram ao encontro de ‘Abdu’l-Baháouviram-Lhe falar com comovente fervor.

‘Abdu’l-Bahá disse:

ós sois muito bem-vindos. Vim de longe para vosver. Louvo a Deus que após quarenta anos deespera finalmente me foi permitido vir e trazer

minha mensagem. Esta é uma assembléia cheia deespiritualidade. Aqueles que se encontram presentesvolveram seus corações a Deus. Eles procuram e anseiampor boas novas. Nós nos reunimos aqui pelo poder doespírito, por isso nossos corações estão palpitantes degratidão. “Irradia Tua Luz e Tua Verdade, ó Deus. Fazecom que nos conduzam às sagradas montanhas!” Quesejamos refrescados pelas sagradas fontes que renovam avida do mundo! Assim como o dia segue a noite e após opôr-do-sol vem o alvorecer, Jesus Cristo apareceu nohorizonte deste mundo como o Sol da Verdade; aindaassim, quando as pessoas – depois de se esquecerem dos

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ensinamentos de Cristo, Seu exemplo de amor a toda ahumanidade – novamente se cansaram das coisas materiais,mais uma vez uma Estrela celestial resplandeceu na Pérsia,uma nova iluminação surgiu e agora uma grande luz sedifunde por todas as terras.

Os homens preservam suas posses para seu próprioproveito e não compartilham suficientemente com outrosa generosidade recebida de Deus. Assim, a primavera setransforma no inverno do egoísmo e da presunção. JesusCristo disse que “deveis nascer de novo” a fim de que avida divina possa nascer de novo em vós. Sede bondosospara com todos aqueles que vos cercam e servi uns aosoutros; sede justos e verazes em todos os vossosprocedimentos; orai sempre e assim vivei vossas vidas demodo que o aborrecimento não vos possa atingir.Considerai as pessoas de vossa própria raça e as de outrasraças como membros de um organismo; filhos do mesmoPai; deixai transparecer, através de vosso comportamento,que sois de fato o povo de Deus. Então guerras e disputasdeixarão de existir e sobre a terra se difundirá a Paz Máxima.”

Depois de ‘Abdu’l-Bahá se retirar, Tamaddun’ul-Mulk e o sr. W. Tudor Pole proferiram pequenos discursosnos quais fizeram referências aos martírios dos fiéis na Pérsia,com menção especial à eminente poetisa Qurratu’l-‘Ayn.

O dia seguinte foi um luminoso domingo e ‘Abdu’l-Bahá saiu com os amigos de carro e caminhou pelas colinas.Depois Ele reuniu os serventes da casa, falou-lhes a respeitoda dignidade do trabalho e agradeceu-lhes pelo seusserviços, dando a cada um deles uma lembrança de Sua

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visita. Foi até a casa de hóspedes e abençoou-a como umcentro para peregrinos de todas as partes do mundo e disseque ela realmente se tornará uma Casa de Repouso.

Na manhã do terceiro dia, um dignitário da IgrejaAnglicana foi ao Seu encontro no café da manhã. Aconversa girou em torno da relutância dos ricos emcompartilhar suas possessões. ‘Abdu’l-Bahá citou palavrasde Jesus: “Os que possuem riquezas dificilmente entrarãono Reino do Céu.” Ele frisou que somente quando overdadeiro buscador percebe que o apego às coisas materiaiso afastam de sua herança espiritual, é que ele alegrementeentra no caminho da renúncia. Desta forma, o ricocompartilhará jubilosamente suas possessões terrenas comos necessitados. ‘Abdu’l-Bahá destacou a diferença entre adespretensiosa hospitalidade a Ele oferecida e os custososbanquetes dos abastados, os quais muitas vezes se reúnemem suas festas e esquecem das multidões famintas.

Ele urgiu seus ouvintes a difundirem a Luz em suaspróprias casas de modo que ela pudesse finalmente iluminara comunidade inteira.

Em seguida, ‘Abdu’l-Bahá retornou a Londres. Odesejo mais sincero dos que tiveram o privilégio deencontrá-Lo foi que Seus seguidores em outras terrassoubessem o quanto o povo de Clifton apreciou Sua visitae percebeu Seu poder espiritual e amor.

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EM BYFLEET

À tarde de 9 de setembro, um grupo de funcionáriasda Fundação Passmore Edward que passava suas férias coma srta. Schepel e a srta. Buckton, em Vanners, Byfleet, umpovoado a cerca de vinte milhas de Londres, teve oprivilégio de visitar ‘Abdu’l-Bahá. Elas escreveram, para simesmas, um pequeno relato das conversas com Ele. Aquiestá um excerto do mesmo:

Nós nos reunimos num círculo em torno dEle, eEle nos fez sentar junto a Si próximo à janela. Um dosmembros que estava enfermo recebeu dEle uma saudaçãoespecialmente comovente. Ao sentar, ‘Abdu’l-Bahácomeçou dizendo: “Estais felizes?” Nossas faces devem terLhe mostrado que estávamos. Então Ele disse: “Eu vosamo a todas, sois as filhas do Reino e aceitas por Deus.Embora possais ser pobres, aqui sois ricas nos tesouros doReino e eu sou o Servo dos pobres. Recordai como SuaSantidade Jesus disse: ‘Bem-aventurados são os pobres!’Se todas as rainhas da terra se reunissem aqui, eu nãopoderia estar mais feliz!”

‘Abdu’l-Bahá soube que nós tínhamos um fundocom o qual ajudávamos pessoas menos afortunadas do quenós próprias. Logo Ele Se levantou e disse: “Vós sois caras

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a mim. Quero fazer algo por vós! Não posso cozinharpara vós (antes Ele nos havia visto ocupadas na cozinha),mas eis aqui algo para o vosso fundo.” Ele percorreu ocírculo com um belo sorriso a cada uma, apertando a mãode todas dizendo a saudação bahá’í: “Alláh’u’Abhá!”

Depois, Ele caminhou pelo povoado e muitascrianças pobres, mães com crianças doentes e homensdesempregados foram ao Seu encontro. Ele falou a todoseles por intermédio de um tradutor. Na hora do chá outrosamigos se juntaram a nós. ‘Abdu’l-Bahá apreciou o jardimdos chalés em Vanners, com seu pequeno pomar e as rosas.Ele disse: “Este é como um jardim persa. O ar é muitopuro.”

Ao partir para Londres, Ele presenteou todos comum amor-perfeito de cor púrpura do jardim, e disse váriase várias vezes: “Good-bye” em inglês.

Em 28 de setembro, ‘Abdu’l-Bahá novamente visitouVanners, a pequena casa de campo no antigo solar real quedata da época de Eduardo II. Partindo de Londres deautomóvel, ficou naquela cidade uma noite e retornou aoanoitecer do segundo dia.

Durante a viagem de carro, ‘Abdu’l-Bahá ficou muitocomovido com dois destacamentos de escoteirosmarchando pela estrada. Quando soube do lema dosescoteiros “Sempre Alerta” e que um ato de bondade acada dia é uma de suas leis, que alguns desses meninoshaviam apagado um incêndio e ajudado num recenteacidente de trem, Ele disse: “Isto me deixa muito feliz.”

Ao chegar a Vanners, Ele encontrou uma grandemultidão incomumente mesclada, reunida junto ao portãopara saudá-Lo, desde os muito pobres até os ricos que

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haviam vindo de suas casas de campo. Uma grandemultidão O seguiu e tantos quantos podiam se apinharamno jardim e sentaram em torno dEle. O silêncio era muitoimpressionante. Cada vez que ‘Abdu’l-Bahá apareceu nopovoado notou-se entre as pessoas a mesma atenção e avidezpor ouvir.

Depois de expressar Sua alegria por estar com eles,Ele começou a falar ao pequeno grupo em resposta a umapergunta sobre a esmerada civilização do Ocidente.

O CATIVEIRO DO HOMEM

‘Abdu’l-Bahá disse:

fausto elimina a liberdade de comunicação. Aqueleque é cativo dos desejos é sempre infeliz; os filhosdo Reino se desvencilharam de seus desejos. Rompei

todas as cadeias e buscai felicidade e esclarecimentoespiritual; então, embora caminheis sobre esta terra, havereisde vos sentir como no divino horizonte. Isto é possívelapenas ao homem. Ao olharmos em torno de nóspercebemos que qualquer outra criatura é cativa do seumeio-ambiente.

O pássaro é cativo no ar e o peixe é cativo no mar.Somente o homem se mantém à parte e diz para oselementos: Farei de vós meus servos! Posso governar-vos!Ele toma a eletricidade, e por meio de sua engenhosidadea aprisiona e a transforma numa maravilhosa força deiluminação e num meio de comunicação a uma distânciade milhares de milhas. Mas o próprio homem pode setornar escravo das coisas que ele inventou. Seu verdadeiro

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segundo nascimento ocorre quando ele é libertado de todasas coisas materiais, pois é livre somente aquele que não éescravo de seus desejos. Então ele se terá tornado cativo doEspírito Santo.”

O PODER DE DEUS

Um amigo perguntou a ‘Abdu’l-Bahá até que pontoum indivíduo pode chegar àquela consciência de Cristo aque São Paulo se refere como nossa esperança de Glória.

‘Abdu’l-Bahá voltou-se com um olhar de grandejúbilo e disse com um comovente gesto:

graça e o poder de Deus são ilimitados para cadaalma humana. Considerai o poder vivificador deCristo quando Ele esteve na terra. Vede Seus

discípulos! Eles eram homens pobres e sem cultura. Dorude pescador, Ele fez o grande Pedro, e da pobre aldeã,Madalena, Ele fez aquela que é um poder no mundo inteirohoje. Houve muitas rainhas que são lembradas por suasépocas na história e nada mais se sabe a respeito delas. MasMaria Madalena é maior do que todas elas. Foi ela cujoamor fortaleceu os discípulos quando sua fé estava sedesvanecendo. O que ela fez pelo mundo não pode seravaliado. Vede que poder divino foi aceso nela – o poderde Deus!

MENSAGEIROS INSPIRADOS

Quando Lhe foi perguntado se sempre serianecessário que Profetas viessem de tempos em tempos e se

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não iria o mundo, no curso dos acontecimentos, atingir acompleta percepção de Deus através de progresso, ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

gênero humano precisa de uma força motrizuniversal que o vivifique. O Mensageiro inspiradoque é diretamente assistido pelo poder de Deus

produz resultados universais. Bahá’u’lláh ergue-Se comouma luz na Pérsia e agora essa luz está se espalhando pelomundo todo.

É isto que se quer dizer pela segunda vinda de Cristo!Cristo é uma expressão da Realidade Divina, a únicaEssência da Entidade Celestial, a qual não tem começo oufim. Ele surge, ergue-Se, manifesta-Se e Se põe em cadaum dos ciclos.

OS POBRES

Aqueles que estiveram com ‘Abdu’l-Bahá perceberamque freqüentemente após francamente falar às pessoas, Elerepentinamente Se virava e Se afastava para ficar sozinho.Em tais ocasiões ninguém O seguia. Porém, numa ocasião,quando Ele terminou Sua conversa e passou pelo portãodo pomar e seguiu em direção ao povoado, todos sesurpreenderam com Sua livre e maravilhosa caminhada quefoi descrita por um dos nossos amigos americanos como ade um pastor ou um rei.

À medida que Ele passava pelas crianças maltrapilhasque se aglomeravam às dúzias em Sua volta, os meninosO saudavam como haviam sido ensinados na escola,mostrando quão instintivamente sentiam a grandiosidadede Sua presença.

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Extremamente notável era o silêncio, mesmo domais rude dos homens, quando ‘Abdu’l-Bahá apareceu.

Um pobre mendigo exclamou: “Ele é um bomhomem”, e acrescentou: “Ah, Ele é sofrido!”

Ele tinha particular interesse nas crianças doentes,mutiladas e malnutridas. Mães choravam enquanto seuspequeninos O seguiam, e um amigo explicou que estegrande Visitante veio da Terra Santa, através dos mares,onde Jesus nasceu.

O dia todo, pessoas de todas as condições seaglomeravam próximo ao portão esperando uma chancede vê-Lo, e mais de sessenta pessoas vieram a Vanners decarro ou bicicleta para vê-Lo, muitas desejando Lhe fazerperguntas a respeito de algum assunto especial. Entre elesestavam clérigos de diversas denominações, um diretor deuma escola pública para rapazes, um membro doparlamento, um médico, um famoso escritor político, ovice-chanceler de uma Universidade, diversos jornalistas,um bem conhecido poeta e um magistrado de Londres.

Ele será lembrado por longo tempo, sentado à janelaem arco, sob o sol da tarde, com Seus braços envolvendoum menino muito esfarrapado mas muito feliz que haviavindo para pedir um vintém a ‘Abdu’l-Bahá para seu cofree para sua inválida mãe, enquanto em Sua volta na salaestavam reunidos homens e mulheres discutindo educação,socialismo, a primeira reforma do Judiciário, e a relaçãode submarinos e telegrafia sem fio com a nova era em queo homem estava entrando.

Durante a noite, um jovem casal de noivos dopovoado que havia lido alguns livros bahá’ís, pediupermissão para se encontrar com Ele. Eles entraram

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timidamente, sendo o homem conduzido pela moça.‘Abdu’l-Bahá levantou-Se para cumprimentá-los e os feztomarem seus lugares no grupo. Ele lhes falou com fervora respeito da sacralidade do matrimônio, da beleza de umaunião verdadeira, e da importância da criança pequena ede sua educação. Antes de partirem, Ele abençoou-os epassou um perfume persa nos seus cabelos e testas.

EDUCAÇÃO

‘Abdu’l-Bahá deu grande ênfase à educação. Ele disse:

oje a educação da menina é mais importante que ado menino, pois ela é a mãe da futura raça. É atarefa de todos cuidarem das crianças. Aqueles que

não têm filhos deveriam, se possível, ser responsáveis pelaeducação de uma criança.

A condição dos destituídos nos povoados rurais bemcomo em Londres causou grande impressão em ‘Abdu’l-Bahá. Numa conversa séria com o dirigente de umaparóquia, ‘Abdu’l-Bahá disse:

u acho a Inglaterra alerta; há vida espiritual aqui. Masvossos pobres também são muito pobres! Isto nãodeveria ocorrer. De um lado tendes riqueza e grande

luxo; de outro, homens e mulheres estão vivendo emextrema fome e necessidade. Este grande contraste de vidaé uma das manchas da civilização desta era iluminada.

Deveis volver vossa atenção mais seriamente àmelhora das condições dos pobres. Não vos deixeis

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satisfazer até que cada um que vos diz respeito vos sejacomo membro de vossa família. Considerai cada um comoum pai ou um irmão, ou uma irmã, ou uma mãe, ou umfilho. Se puderdes atingir esta condição vossas dificuldadesdesaparecerão e sabereis o que fazer. Este é o ensinamentode Bahá’u’lláh.

A TRANSFORMAÇÃO DO CORAÇÃO

A alguém que falou do desejo das pessoas depossuírem terra, e da forte tendência de rebelião da partedas classes trabalhadoras, ‘Abdu’l-Bahá disse:

uta e emprego de força, mesmo por uma causa justa,não trará bons resultados. Os oprimidos que têm alegitimidade do seu lado, não devem se apoderar

desse direito a força; o mal continuaria. Os corações devemser transformados. Os ricos devem ter o desejo de doar! Avida no homem deveria ser como uma chama, aquecendotodos aqueles com quem entra em contato. Osespiritualmente despertos são como tochas brilhantes aosolhos de Deus, dão luz e conforto aos seus semelhantes.

Quando Lhe perguntaram se não achava os modosdos ingleses rudes e desagradáveis comparados aos doOriente, ‘Abdu’l-Bahá disse que não sentiu assim. À medidaque uma nação cresce em espiritualidade, os modos setornam diferentes.

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CRISTO E BAHÁ’U’LLÁH

Um amigo perguntou como os ensinamentos deBahá’u’lláh se diferenciam dos de Jesus Cristo. ‘Abdu’l-Bahá declarou:

s ensinamentos são os mesmos. É o mesmo alicerce eo mesmo templo. A verdade é uma e sem divisão.Os ensinamentos de Jesus estão numa forma

concentrada. Hoje os homens não concordam sobre osignificado de muitas das Suas palavras. Seus ensinamentossão como uma flor em botão. Hoje, o botão está se abrindoe se tornando uma flor! Bahá’u’lláh expandiu e completouos ensinamentos e os aplicou detalhadamente ao mundotodo.

Não existem solitários e eremitas entre os bahá’ís.O homem deve trabalhar com seus semelhantes. Todosdevem ter algum ofício, arte ou profissão, seja rico oupobre, e com isso deve servir à humanidade. Este serviço éaceitável como a mais elevada forma de adoração.

ARTE

Uma pintora perguntou: “Será a arte uma profissãomeritória?” ‘Abdu’l-Bahá, voltando-se para ela de modoimpressivo, disse: “Arte é adoração.”

Um ator mencionou o drama e sua influência. “Odrama é da maior importância”, disse ‘Abdu’l-Bahá. “Elefoi uma grande força educacional no passado e assim oserá novamente.” Ele relatou que quando jovem assistiuao drama religioso da traição e paixão de ‘Alí que O afetou

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tão profundamente que Ele chorou e não pôde dormirpor muitas noites.

SÍMBOLOS

Alguém deseja saber se é um bom costume usar umsímbolo, como, por exemplo, uma cruz. Ele disse:

sais a cruz para vos lembrar; ela concentra vossospensamentos, porém não possui qualquer podermágico. Os bahá’ís freqüentemente usam uma jóia

com o Máximo Nome gravado sobre ela; não há influênciamágica alguma na jóia. É algo para lembrar, umcompanheiro. Se estiverdes prestes a fazer algum ato egoístaou precipitado, e vossos olhos caírem sobre o anel em vossamão, havereis de lembrar e mudar vossa intenção.

ESPERANTO

Um amigo perguntou a respeito da profecia deBahá’u’lláh, em Palavras do Paraíso, de que uma línguauniversal seria constituída, desejando saber se o Esperantopoderia ser a língua escolhida. E ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

amor e o esforço empregados no Esperanto não serãoperdidos, mas nenhuma pessoa sozinha podeconstruir uma língua universal. Ela deve ser feita por

um Conselho representando todas as nações e deve conterpalavras de diferentes idiomas. Ela será regulada pelas maissimples regras e não haverá exceções; nem haverá gêneronem letras extras e mudas. Toda coisa designada terá apenas

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um nome. Em árabe há centenas de nomes para o camelo!Nas escolas de cada nação será ensinada a língua pátria,assim como a revisada língua universal.

TOLSTOY

A mesma pessoa disse: “Eu li muito sobre Tolstoy evejo muito paralelo entre os ensinamentos dele e os Seus.Num de seus livros ele fala do Enigma da Vida e descrevecomo a vida é desperdiçada em nosso esforço para encontrara Chave. Mas Tolstoy prossegue dizendo: ‘Há um homemna Pérsia que possui o segredo.’”

“Sim”, disse ‘Abdu’l-Bahá, “Eu recebi uma carta deTolstoy e nela ele disse que deseja escrever um livro sobreBahá’u’lláh.”

CURA

Um amigo interessado em cura citou as palavras deBahá’u’lláh: “Se alguém estiver doente que vá ao melhormédico.”

‘Abdu’l-Bahá disse:

xiste apenas um poder que cura – Deus. O estado ea condição através do qual a cura acontece é aconfiança do coração. Alguns atingem este estado

através de pílulas, poções e médicos. Outros, por meio dehigiene, jejum e oração. Outros, por percepção direta.

Em outra ocasião, em relação ao mesmo assunto,‘Abdu’l-Bahá disse: “Tudo o que vemos em torno de nós é

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o trabalho da mente. É a mente no vegetal e no mineralque age sobre o corpo humano e modifica sua condição.”

Depois, a conversa se desenvolveu num discursoerudito sobre a filosofia de Aristóteles.

MORTE

Um amigo perguntou: “Como se deve ver a morte?”‘Abdu’l-Bahá respondeu:

omo se olha para o fim de uma jornada? Comesperança e com expectativa. É o mesmo queacontece com o fim desta jornada terrena. No

mundo do além o homem se verá livre de muitasincapacidades das quais sofre agora. Aqueles que passarampela morte possuem uma posição própria. Ela não é afastadada nossa; a obra deles, a obra do Reino, é nossa; mas ésantificada daquilo que chamamos ‘tempo e espaço’. Paranós o tempo é medido pelo sol. Quando não há maisalvorecer nem pôr-do-sol, o tempo não existe para ohomem. Aqueles que ascenderam possuem atributosdiferentes daqueles que ainda permanecem sobre a terra,ainda assim não há verdadeira separação. Na oração há umamescla de estados, uma mistura de condições. Orai poreles assim como eles oram por vós. Quando estais numaatitude receptiva, sem que saibais, eles são capazes de vosdar sugestões se estiverdes em dificuldades. Isto algumasvezes acontece em estado de sono. Porém, não há qualquerrelação fenomenal! Aquilo que parece uma relaçãofenomenal tem outra explicação.

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O inquiridor exclamou: “Mas eu ouvi uma voz!”‘Abdu’l-Bahá disse:

im, isto é possível; nós ouvimos vozes claramenteem sonhos. Não é com o ouvido físico que ouvis; oespírito daqueles que faleceram estão livres do

mundo dos sentidos e não utilizam meios físicos. Não épossível colocar estes grandes temas em palavras humanas;a linguagem humana é linguagem de criança, e a explicaçãohumana muitas vezes nos desvia do caminho.

Um dos presentes perguntou: “Como é que emoração e meditação o coração freqüentemente se volta cominstintivo apelo a algum amigo que passou para a outravida?” ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

uma lei da criação de Deus que o fraco deve se apoiarsobre o forte. Aqueles a que vos volveis podem sermediadores do poder de Deus a vós, da mesma

forma que quando sobre a terra. Mas é o Espírito Santoque fortalece todos os homens.” Em seguida, outro amigoreferiu-se à comunhão de Jesus com Moisés e Elias nomonte da transfiguração, e ‘Abdu’l-Bahá disse: “Os fiéissão sempre apoiados pela presença da Assembléia Suprema.Na Assembléia Suprema se encontram Jesus, Moisés, Eliase Bahá’u’lláh, e outras Almas Supremas; lá estão tambémos mártires.

Quando Lhe foi perguntado a respeito dapersistência da personalidade animal após a morte, ‘Abdu’l-Bahá disse: “Nem mesmo o mais desenvolvido cão possui

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a alma imortal do homem; ainda assim o cão é perfeitoem sua própria posição. Vós não disputais com uma roseiraporque ela não consegue cantar!”

UM VERDADEIRO BAHÁ’Í

Um estudante de novos métodos de higher criticism*

perguntou a ‘Abdu’l-Bahá se seria bom ele continuar naigreja com a qual ele esteve associado durante toda a suavida e cuja linguagem lhe era cheia de significado. ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

ocê não deve se dissociar dela. Saiba disso; o Reinode Deus não se encontra em qualquer sociedade;alguns buscadores passam por muitas sociedades da

mesma maneira que o viajante passa por muitas cidadesaté atingir seu destino. Se você já pertence a uma sociedade,não abandone seus irmãos. Você pode ser um cristão bahá’í,franco-maçom bahá’í, judeu bahá’í, muçulmano bahá’í.O número nove contém o oito, o sete e todos os outrosnúmeros e não nega qualquer um deles. Não magoeis nemnegueis a ninguém, dizendo: ‘Ele não é bahá’í!’ Ele seráconhecido por seus atos. Não há segredo algum entre osbahá’ís. Um bahá’í não esconde nada.

DIFUNDINDO OS ENSINAMENTOS

Quando um amigo americano Lhe perguntou:“Qual é a melhor maneira de difundir os ensinamentos?”

*Uma das correntes de pensamento da época. n.e.

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Ele disse: “Por meio de atos. Este caminho é aberto a todose atos são entendidos por todos. Associai-vos àqueles quetrabalham pelos pobres, os fracos e os desafortunados –isto é muito louvável. Ensinar por palavras requer a destrezade um médico sábio. Ele não oferece ajuda àqueles quenão querem ser tratados. Não imponhais ajuda àquelesque não precisam de vossa ajuda. O trabalho de ensinonão é para todos.”

O seguinte incidente mostra como a atenção de‘Abdu’l-Bahá é dirigida aos mínimos detalhes naquilo quehá envolvimento de outros. Ao ouvir que alguns de Seusamigos haviam vindo de Londres e planejavam passar anoite no povoado a fim de estarem próximos a Ele, ‘Abdu’l-Bahá imediatamente os fez Seus convidados na hospedariae, preocupando-Se com o conforto deles, inspecionoupessoalmente os quartos, pois à noite estava começando aesfriar.

EM BROOKLANDS

Na manhã do segundo dia, uma vizinha mandouseu carro, perguntando a ‘Abdu’l-Bahá se Ele não gostariade levar Seus convidados ao campo de aviação deBrooklands. Embora estivesse ventando, um aviador seencontrava na pista e ao saber quem era o Visitante ofereceu-se para voar para Ele. ‘Abdu’l-Bahá deixou Seus amigos efoi até o centro da pista, onde ficou parado observando obiplano fazer grandes círculos acima dEle.

Um hindu que estava aprendendo a voar na escolauniu-se aos amigos de ‘Abdu’l-Bahá e perguntou: “Quemé o homem em vestes orientais?”

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Quando lhe disseram, ele exclamou: “Oh, eu Oconheço muito bem pelos Seus ensinamentos que estudei”e imediatamente foi ao encontro de ‘Abdu’l-Bahá.

Por algum tempo eles conversaram em árabe e ojovem mostrou grande alegria por estar em Sua presença.Depois disse que durante muitos anos havia ansiado poresse momento.

Enquanto tomavam chá ao ar livre, sentados naextremidade do longo banco que havia sido arranjado,‘Abdu’l-Bahá e o jovem hindu falavam alegremente comtodos.

‘Abdu’l-Bahá notou que dois dos aviadores estavampraticando luta-livre no campo, e quando eles pararam,Ele se aproximou deles batendo palmas e dizendo alto eminglês: “Bravo! Bravo! Este é um bom exercício.”

Em Seu retorno ao Egito, ‘Abdu’l-Bahá enviou umagentil mensagem de recordação ao povo de Byfleet,dizendo que jamais os esqueceria.

OS DIAS EM LONDRES

Durante a permanência de ‘Abdu’l-Bahá emCadogan Gardens as pessoas chegavam todos os dias, otempo todo, desde a manhã cedo até o cair da noite, naesperança de vê-Lo e ouvi-Lo. Houve muitas reuniões emtorno da mesa daquela casa hospitaleira e centenas de pessoasforam acolhidas. Muitos vieram sem serem apresentados eninguém foi recusado. Entre eles havia sacerdotes de váriasdenominações, membros do parlamento, magistrados ehomens de letras.

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Os visitantes não eram somente ingleses; numerosospersas viajaram de Teerã e de outras cidades orientais paraum encontro descontraído com Aquele que por tantotempo foi separado deles por causa de Seu cativeiro.

O editor de um jornal publicado no Japão alterousua rota de retorno a Tóquio para poder passar a noitepróximo de ‘Abdu’l-Bahá, e uma visita de última hora foifeita por um médico zoroastriano de Bombaim, na vésperade seu retorno a Índia.

O TRABALHO DA MULHER

O interesse de ‘Abdu’l-Bahá no trabalho e progressodas mulheres é bem conhecido, e entre as notáveis líderesque vieram vê-Lo pode-se mencionar Annie Besant, apresidente da Sociedade Teosófica, as organizadoras de váriasentidades sufragistas, agentes cívicas e filantrópicas, diretorasde vários colégios femininos, e médicas.

Uma animada conversa que resultou da visita de umaardorosa sufragista será lembrado por longo tempo poraqueles que tiveram o privilégio de estarem presentes. Asala estava repleta de homens e mulheres e muitos persas,que em sua usual atitude de respeito, estavam sentados nochão.

Depois de comparar a posição geral das mulheresorientais e ocidentais, e expor o fato de que em muitosaspectos a mulher oriental possui vantagens sobre sua irmãocidental, ‘Abdu’l-Bahá voltou-Se e disse à visitante: “Diga-me por que razões crê que hoje a mulher deveria votar?”

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Resposta: “Creio que a humanidade é divina e queela deve se elevar mais e mais alto, mas não pode voar comapenas uma asa.”

‘Abdu’l-Bahá expressou Seu prazer diante dessaresposta e sorrindo replicou: “Mas o que fará se uma asaestiver mais forte que a outra?”

Resposta: “Então devemos fortalecer a asa mais fraca,senão o vôo sempre será dificultado.”

‘Abdu’l-Bahá sorriu e perguntou: “O que dirá se eulhe provar que a mulher é a asa mais forte?”

A resposta veio naquele mesmo tom brilhante: “Teráa minha eterna gratidão!”, e todos os presentes ficaramfelizes.

Depois ‘Abdu’l-Bahá prosseguiu mais seriamente:

mulher é realmente da maior importância para araça. Ela é portadora de uma carga maior e umaobra maior. Considerai os mundos vegetal e animal.

A tamareira mais carregada de frutos é a mais estimadapelo cultivador de tâmaras. O árabe sabe que para umalonga jornada a égua tem maior fôlego. Devido à sua maiorforça e ferocidade, a leoa é mais temida pelo caçador que oleão.

O mero tamanho do cérebro não representa qualquermedida de superioridade. A mulher tem coragem moralsuperior ao homem; ela possui também dons especiais quea capacitam a manter controle em momentos de perigo ecrise. Se necessário ela pode se tornar uma guerreira.

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ZENÓBIA

‘Abdu’l-Bahá perguntou aos presentes se lembravamda história de uma mulher chamada Zenóbia e a queda dePalmira. E então continuou como segue, gesticulando comas mãos de um modo grave e simples, característico dEle:

avia certa vez um governante na antiga Síria quepossuía uma bela e inteligente esposa. Ela era tãocapaz que quando o governante morreu, ela o

sucedeu como governante. A terra prosperou sob seudomínio e os homens reconheceram que ela era melhorgovernante que seu marido. Depois de algum tempo aslegiões de Roma invadiram o país, mas por várias vezes elaos expulsou, lhes dando grande embaraço. Ela soltou seuformoso cabelo, cavalgando ela mesma à frente de seuexército, vestida num manto escarlate, usando uma coroade ouro, e empunhando uma espada de dois gumes. Então,o imperador romano retirou suas forças de cinco outrasprovíncias a fim de subjugá-la. Depois de uma longa edestemida luta, Zenóbia recolheu-se na cidade de Palmira,fortificou-a com admiráveis baluartes e lá suportou umcerco de quatro meses, sem que César fosse capaz deexpulsá-la. As provisões que ela havia armazenado nointerior dos muros finalmente se acabaram e a penúria deseu faminto e flagelado povo a obrigou a se render.

César ficou profundamente admirado com essagrande mulher devido à sua coragem e persistência e pediu-lhe que se tornasse sua esposa. Mas ela recusou-se, dizendoque jamais consentiria em ter como esposo o inimigo deseu povo. Por isso, César enfureceu-se e decidiu humilhá-

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la. Ao voltar, ele a levou para Roma em seus navios. Foipreparado um grande desfile para sua entrada triunfal e asruas ficaram repletas de gente. No desfile, primeiropassaram os elefantes, depois dos elefantes passaram oscamelos, depois dos camelos, os tigres e os leopardos, depoisdos leopardos, os macacos, e finalmente, depois dosmacacos, passou a Zenóbia com uma corrente de ouro emtorno do pescoço. Ela permaneceu com a cabeça erguida,firme em sua decisão. Nada podia abater sua vitalidade!Ela se recusou a se tornar a imperatriz de César, então foilançada numa masmorra e finalmente morreu.

‘Abdu’l-Bahá parou. O silêncio tomou conta da salae passou algum tempo até que fosse rompido.

Numa outra ocasião, ‘Abdu’l-Bahá disse a um grupode amigos reunidos em Sua volta:

e um modo geral, hoje as mulheres possuem um sensode religião mais forte que os homens. A intuição damulher é mais acurada; ela é mais receptiva e sua

inteligência é mais ágil. Dia virá em que a mulherreivindicará sua superioridade em relação ao homem.

Em todos os lugares a mulher foi louvada por suafé. Depois do sofrimento de Cristo, os discípulos chorarame se entregaram à tristeza. Eles achavam que suas esperançasforam destruídas e a Causa estava completamente perdida,até que Maria Madalena foi ao encontro deles e osfortaleceu, dizendo: “Vós lamentais pelo corpo de NossoSenhor ou pelo Seu Espírito? Se lamentais pelo SeuEspírito, estais equivocados, pois Jesus está vivo! SeuEspírito jamais nos deixará!” Assim, através de sua sabedoria

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e encorajamento, a Causa de Cristo foi confirmada paratodo o futuro. Sua intuição capacitou-a a compreender ofato espiritual.

Mas, perante Deus não faz qualquer diferença. Émaior aquele ou aquela que estiver mais próximo de Deus.

Uma manhã, ao entrar na sala, ‘Abdu’l-Bahá olhouem Sua volta e disse:

quase um milagre nós estarmos aqui reunidos. Nãohá restrições raciais, políticas ou patrióticas. Nósfomos unidos pelas palavras de Bahá’u’lláh, e da

mesma maneira todas as raças da terra serão unidas. Estaiseguros disso!

O VERDADEIRO BAHÁ’Í

“Eu nunca ouvi falar de Bahá’u’lláh”, disse um jovem.“Apenas recentemente li a respeito deste movimento, masreconheço a missão de ‘Abdu’l-Bahá e desejo ser umdiscípulo. Eu sempre acreditei na fraternidade do homemcomo a suprema solução de todas as nossas dificuldadesnacionais e internacionais.” A resposta de ‘Abdu’l-Bahá foi:

ão faz diferença se já ouvistes falar de Bahá’u’lláh ounão. A pessoa que vive a vida de acordo com osensinamentos de Bahá’u’lláh já é um bahá’í. Por

outro lado, uma pessoa pode se chamar de bahá’í porcinqüenta anos e se não viver a vida (bahá’í) não é bahá’í.Uma pessoa feia pode se chamar bela, mas não engana a

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ninguém, e um negro pode se chamar de branco, aindaassim não ilude a ninguém nem mesmo a si próprio!

O ADVENTO DA PAZ

“Por que processo”, continuou o indagador, “esta pazhaverá de ser estabelecida na terra? Virá imediatamente apósa declaração universal da Verdade?”

ão, ela acontecerá gradualmente – disse ‘Abdu’l-Bahá.Uma planta que cresce muito rapidamente duraapenas pouco tempo. Vós sois minha família – e

Ele lançou um olhar sorridente – meus novos filhos! Seuma família viver em harmonia, grandes resultados serãoobtidos. Ampliai o círculo; quando uma cidade vive emíntimo acordo, maiores resultados surgirão, e umcontinente perfeitamente unido unirá igualmente todosos outros continentes.

O CORAÇÃO PURO

Quando Lhe foi perguntado sobre uma definiçãode um coração puro, ‘Abdu’l-Bahá disse:

coração puro é inteiramente afastado do ego. Serabnegado é ser puro.O

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A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE

Outra manhã ‘Abdu’l-Bahá começou a falarimediatamente depois de Se reunir ao grupo depesquisadores. Ele disse:

ouvado seja Deus, este é um século glorioso, que oamor cresça a cada dia; que ateie o fogo para acendera vela na escuridão, como uma dádiva e misericórdia

de Deus.Sabei, ó vós que possuís percepção, que a verdadeira

espiritualidade é como um lago de águas cristalinas quereflete o divino. Tal foi a espiritualidade de Jesus Cristo.Há outro tipo que se assemelha a uma miragem, parecendoser espiritual sem sê-lo. Aquilo que é realmente espiritualdeve iluminar o caminho de Deus, e deve resultar em atos.Não podemos aceitar reivindicação espiritual quando nãohá resultado. Espírito é realidade, e quando em cada umde nós o espírito procura se aproximar da Grande Realidade,deve, por sua vez, conceder vida. No tempo de Cristo, osjudeus estavam mortos, não possuíam verdadeira vida, eJesus realmente insuflou uma nova vida em seus corpos.Vede o que foi realizado desde então.

CONHECIMENTO DEVE RESULTAR EM AÇÃO

Um representante de uma bem conhecida sociedadereferiu-se à suas reuniões com objetivo de pesquisa acercada realidade da verdade, e ‘Abdu’l-Bahá disse:

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u conheço a vossa obra e penso muito sobre ela.Acho que vosso desejo é servir ao gênero humanoe unir a humanidade sob a bandeira da unicidade;

mas vossos membros devem tomar cuidado a fim de queela não se torne apenas uma discussão. Olhai à vossa volta.Quantos comitês foram formados e, depois de viverempor pouco tempo, se tornaram mortos! Comitês esociedade não podem criar ou dar vida.

Pessoas se reúnem e conversam, mas apenas a Palavrade Deus é poderosa em seus resultados. Considerai porum momento: não fareis negócio se dele não obtiverdesrenda nem vantagem! Vede os seguidores de Cristo. Seupoder foi devido ao fervor e ações deles. Todo esforço deveter seus resultados, senão não será verdadeiro esforço. Deveisvos tornar o meio de iluminação para o mundo dahumanidade. Esta é uma prova e um sinal infalível. Todoprogresso depende de duas coisas: conhecimento e ação.Primeiro adquiri conhecimento e, ao atingirdes a convicção,colocai-o em prática.

Certa vez um erudito viajou para me encontrar ereceber minha bênção, dizendo que conhecia e compreendiaos ensinamentos bahá’ís. Quando lhe disse que podiareceber as bênçãos do Espírito Santo sempre que secolocasse numa atitude receptiva para recebê-las, ele disseque estava sempre em atitude receptiva.

“O que você faria”, eu lhe perguntei, “se subitamenteeu me voltasse e o golpeasse?” Ele imediatamente enfureceu-se com indignação, e zangado caminhou a passos largospela sala.

Logo depois, fui atrás dele e tomando-lhe pelobraço, disse: “Mas você deve retribuir o mal com o bem.

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Quer eu o honre ou o despreze, você deve seguir osensinamentos; por ora você meramente os leu. Lembre-sedas palavras de Jesus que disse: ‘Os primeiros serão osúltimos e os últimos os primeiros.’” O homem voltou-se,apertou minha mão e se foi, e desde então soube de muitosatos bondosos feitos por ele.

SUA POSIÇÃO

Quando ‘Abdu’l-Bahá era chamado de profeta, Elerespondia:

eu nome é ‘Abdu’l-Bahá, o Servo de Deus.”*

*Literalmente Servo da Glória. Compare: “Meu nome é ‘Abdu’l-Bahá.Minha realidade é ‘Abdu’l-Bahá e serviço a toda a humanidade é aminha perpétua religião... ‘Abdu’l-Bahá é a Bandeira da Suprema Paz...O Arauto do Reino é Ele, para assim Ele possa despertar os povos doOriente e do Ocidente. Ele é a Voz da Amizade, da Verdade, e daReconciliação, vivificando todas as regiões. Jamais terá qualquer nomeou título exceto ‘Abdu’l-Bahá. Este é o meu anelo. Esta é minha supremaperfeição. Ó vós amigos de Deus! ‘Abdu’l-Bahá é a manifestação deserviço e não é Cristo. O servo da humanidade ele é, e não o chefe.Convocai o povo à posição de servitude de ‘Abdu’l-Bahá e não à posiçãode Cristo.”

(De uma carta enviada aos amigos em Nova York, 1o de janeiro de 1907)

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VISITA AO PREFEITO

Ao desejo expresso do sr. prefeito, ‘Abdu’l-Bahá lhefez uma visita certa manhã cedo na Mansion House. Aconversa girou principalmente em torno das condiçõessociais das grandes cidades e ‘Abdu’l-Bahá disse que Londresera a cidade mais bem administrada que Ele viu.

Ele disse: “Toda pessoa que anda pelas ruas é livrecomo se estivesse em seu próprio reino. Há uma grandeluz espiritual em Londres. O esforço em prol da justiça éreal neste país, a lei é a mesma para os pobres e os ricos.”Ele teve grande interesse em saber a respeito do cuidadopara com os prisioneiros que deixam a cadeia, e falou queera feliz a terra onde os magistrados são como pais para opovo.

Antes de ‘Abdu’l-Bahá partir de Londres, Ele foi aum hospital em East-End para visitar um jovem escritorque estava muito ansioso para vê-Lo.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS

Há uma característica na personalidade de ‘Abdu’l-Bahá que ainda não foi enfatizada, sem a qual nenhumaidéia a Seu respeito é completa. A notável dignidade quedistingue Sua presença e porte é ocasionalmente iluminadapor um delicado e discreto humor que é tão espontâneoquanto contagiante e encantador.

Na Sua última tarde em Londres, um repórter foiao Seu encontro para Lhe perguntar a respeito de Seusfuturos planos, encontrando-O cercado de inúmerosamigos que vieram para Lhe dizer adeus. Quando, em

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resposta à sua pergunta, ‘Abdu’l-Bahá lhe disse, em inglêsperfeito, de Sua intenção de visitar Paris e de lá ir paraAlexandria, o representante da imprensa mostrou-sesurpreso diante de Sua impecável pronúncia. Logo a seguir,‘Abdu’l-Bahá começou a caminhar de modo descontraídode um lado para o outro da perfumada sala de estar, Suavestimenta oriental contrastando estranhamente comaquilo que o cercava; e, para a alegria dos presentes,pronunciou uma série de elaboradas palavras em inglês,terminando sorridente: “Falo palavras muito difíceis eminglês!” Então, um momento depois, com a rápida transiçãode alguém que sabe ser sério e alegre, ele Se mostrouextremamente sério.

Ele havia ordenado que ninguém fosse mandadoembora, mas uma pessoa que por duas vezes haviabuscado Sua presença, e por algum descuido havia sidoimpedida de vê-Lo, escreveu-Lhe uma pungente cartademonstrando ter se sentido rejeitada. Ela foi traduzidapelo tradutor persa. Imediatamente ‘Abdu’l-Bahá vestiuSeu sobretudo e, dirigindo-Se à porta, disse com expressãode indizível tristeza: “Um amigo meu foi martirizado eeu estou muito angustiado. Vou sair sozinho.” E apressou-Se escada abaixo. Poder-se-ia dizer como o título“Mestre” Lhe cai bem.

Outro aspecto de Seu caráter que quem quer que Otivesse visto jamais poderia esquecer era Sua atitude emrelação às crianças que Lhe eram apresentadas. Muitas deSuas palestras foram proferidas enquanto Ele permaneciasentado com uma delas em Seus braços.

Ele invariavelmente admoestava os pais desta forma:

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ai a esta criança uma boa educação; envidai todoesforço para que ela possa ter o melhor de vossosrecursos, de modo que possa ser capaz de desfrutar

as vantagens desta gloriosa era. Fazei tudo que for possívelpara estimular nelas a espiritualidade.

Alguém que buscou a presença de ‘Abdu’l-Bahá,percebeu que Sua simpatia era paternal. Ao falar de seuamor e do amor de outros a ‘Abdu’l-Bahá, a resposta foi:

u sei que você me ama, posso ver que é assim. Euorarei por você para que seja firme e sirva à Causa,tornando-se um verdadeiro servo de Bahá’u’lláh.

Embora eu vá embora, estarei sempre presente com todosvós.

Estas palavras foram ditas com uma amávelcompaixão e compreensão das dificuldades; durante osmomentos desta pequena conversa, ‘Abdu’l-Bahá afagou amão do interlocutor, e no final tomou sua cabeça nas mãose delicadamente puxou-a para si beijando a testa daquelejovem que sentiu ter encontrado um pai e um amigo.

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DE UMA ENTREVISTA

CONCEDIDA POR ‘ABDU’L-BAHÁ

AO WEEKLY BUDGET*

23 DE SETEMBRO DE 1911

Algumas das experiências de Seus 40 anos deencarceramento

Num apartamento em Cadogan Gardens estásentado um Oriental espiritualmente iluminado, cujarecente vinda a Londres marca a união do Oriente e doOcidente.

Os ensinamentos de ‘Abdu’l-Bahá já ocasionaram areunião de milhares de ingleses e inglesas com orientais detodas as regiões do Oriente. Sobre a base de auxílio mútuo,amizade e adoração a Deus, sem consideração de credo edenominação, eles se deram as mãos com uma sinceridadee amor fraterno, ao contrário de certos poetas e filósofoscínicos.

A maior parte da vida de ‘Abdu’l-Bahá foi vividanuma prisão oriental, a qual Ele suportou com alegria em

* por Isabel Fraser

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vez de renunciar Sua Fé, um dos princípios da qual é aabsoluta igualdade das almas, independente das diferençasfísicas como sexo e cor. Ele não reconhece qualquerdistinção de classe exceto aqueles concedidos pelo serviçodo amor fraternal. Por esta e outras doutrinas semelhantesEle foi mantido prisioneiro por quarenta anos na fortalezada cidade de ‘Akká, na Palestina. Quando eu solicitei parafalar com Ele, disseram-me para chegar cedo e, portanto,fui admitida para uma entrevista às nove horas. Já era meio-dia para ‘Abdu’l-Bahá que acordara às quatro e que antesdo desjejum, às seis e meia, já havia Se encontrado comdezoito pessoas.

Representantes de muitas línguas e nacionalidadesO aguardavam na sala de estar.

Sentamo-nos num círculo, de frente a ‘Abdu’l-Baháque indagou se havia alguma pergunta que gostaríamos deLhe fazer. Eu disse que meu editor me mandou paraaveriguar algo acerca de Sua vida na prisão, e ‘Abdu’l-Baháimediatamente relatou de um modo simples e impessoaluma das mais notáveis histórias que se pode conceber.

“Aos nove anos de idade, eu acompanhei meu Pai,Bahá’u’lláh, em Sua jornada de exílio a Bagdá, juntamentecom setenta de Seus discípulos. Este decreto de exílio que seseguiu a persistente perseguição, intentava efetivamenteerradicar da Pérsia aquilo que as autoridades consideravamuma religião perigosa. Bahá’u’lláh, juntamente com Suafamília e seguidores, foi banido e viajou de um lugar a outro.Quando eu estava com cerca de vinte e cinco anos, nós fomostransferidos de Constantinopla a Adrianópolis e de lá, comuma escolta de soldados, fomos levados à fortaleza de ‘Akká,onde fomos aprisionados e estritamente vigiados.”

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O Primeiro Verão

“Ele não tinha qualquer comunicação com o mundoexterior. Cada pedaço de pão era cortado pelos guardaspara ter a certeza de que não continha qualquer mensagem.Todos os que acreditavam na manifestação bahá’í, crianças,homens e mulheres, foram aprisionados conosco. Éramoscento e cinqüenta pessoas aglomeradas em duas salas eninguém tinha permissão de deixar o local com exceçãode quatro que a cada manhã, escoltados, iam ao bazar fazercompras. O primeiro verão foi terrível. ‘Akká é uma cidadeescaldante. Dizia-se que se um pássaro tentasse sobrevoá-la cairia morto. A comida era pobre e insuficiente, a águaera tirada de um poço infectado e o clima e as condiçõeseram tais que até mesmo os nativos da cidade adoeciam.Muitos soldados sucumbiam e oito dos dez guardas quenos vigiavam morreram. Durante o calor intenso, osprisioneiros foram atacados por malária, febre tifóide edisenteria, de modo que todos, homens, mulheres e criançasestavam doentes ao mesmo tempo. Não havia médicos,nem remédios ou comida adequada, e nem qualquerespécie de tratamento.”

“Eu costumava fazer sopa para as pessoas, e porpraticar muito, faço uma boa sopa”, concluiu ‘Abdu’l-Bahásorridente.

Nesse ponto, um dos persas me explicou que era porcausa da maravilhosa paciência, assistência e resignação de ‘Abdu’l-Bahá que Ele era sempre chamado de “Mestre”. Facilmente sepoderia sentir Sua posição de mestre em Sua completaindependência de tempo e de lugar e absoluto desprendimentode tudo que até mesmo uma prisão turca poderia infligir.

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Melhores Condições

“Depois de dois anos do mais rigorosoconfinamento permitiram-me encontrar uma casa, demodo que pudemos viver fora dos muros da prisão, masainda assim dentro das fortificações. Muitos crentesvieram da Pérsia para se unir a nós, mas não lhes foipermitido fazer isso. Nove anos se passaram. Algumasvezes nossas condições eram melhores e outras vezesmuito piores. Dependia do governador que, caso fossebondoso e brando, permitia-nos sair da fortaleza, e davaaos crentes livre acesso para visitarem a casa, mas se ogovernador fosse mais rigoroso, cercavam-nos de maisguardas e freqüentemente peregrinos que haviam vindode longe eram mandados embora.”

Posteriormente, através de um persa que durante ostempos difíceis havia residido na casa de ‘Abdu’l-Bahá, eusoube que o governo turco não confiava no fato de que ointeresse de visitantes ingleses e americanos era puramenteespiritual e não político. Freqüentemente esses peregrinoseram impedidos de O visitar, e muitas vezes toda a viagemda América era recompensada simplesmente por umvislumbre de ‘Abdu’l-Bahá da janela da prisão.

O governo achava que o sepulcro do Báb, umaimponente construção no Monte Carmelo fosse umafortificação erigida com a ajuda de dinheiro americano eque estava sendo armada e guarnecida secretamente. Cadanova chegada fazia aumentar a suspeita, e o resultado eramais espiões e guardas.

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A Delegação de ‘Abdu’l-Hamíd

“Um ano antes de ‘Abdu’l-Hamíd ser destronado,ele mandou uma delegação de investigação extremamentearrogante, traiçoeira e insultuosa. O chefe era um membrodo corpo de assistentes do governador, Aríf Bey, e com eleestavam três comandantes do exército de diferentescategorias.

“Imediatamente depois de sua chegada, Aríf Beycomeçou a denunciar-me e tentou reunir provas suficientespara justificar que me mandassem a Fízán, ou me jogassemno mar. Fízán é uma parada de caravanas localizada nafronteira de Trípoli na qual não há casas nem água. É umaviagem de um mês a camelo de ‘Akká.

“Por duas vezes a delegação foi enviada para ouvir oque eu tinha a dizer em minha própria defesa e por duasvezes eu a mandei de volta dizendo: ‘Conheço vossopropósito, não tenho nada a dizer.’

“De tal modo isto enfureceu Aríf Bey que eledeclarou que retornaria a Constantinopla e traria umaordem do sultão para me enforcar em frente ao portão de‘Akká. Ele e sua delegação embarcaram com seu relatóriocontendo as seguintes acusações: ‘Abdu’l-Bahá estáestabelecendo uma nova nação da qual ele deverá ser o rei;‘Abdu’l-Bahá está erguendo a bandeira de uma novareligião; ‘Abdu’l-Bahá construiu ou fez construirfortificações em Haifa, um vilarejo próximo e estácomprando todos os terrenos da vizinhança.

“Por volta desse tempo um navio italiano apareceuno porto, enviado por ordem de um cônsul italiano. Foiplanejado que à noite eu fugisse a bordo dele. Os bahá’ís

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em ‘Akká me imploraram para que eu fosse, mas eu envieia seguinte mensagem ao capitão: ‘O Báb não fugiu;Bahá’u’lláh não fugiu; eu não fugirei.’ Assim o navio partiudepois de esperar três dias e três noites.

“Quando a delegação do sultão se encontrava nasproximidades da pátria, a primeira bomba foi lançada nocampo de ‘Abdu’l-Hamíd e a primeira arma da liberdadefoi disparada na pátria do despotismo. Foi a arma de Deus.”– disse ‘Abdu’l-Bahá com um de Seus maravilhosos sorrisos.

“Quando a delegação chegou à capital turca, elestinham assuntos mais urgentes para se preocupar. A cidadeestava em estado de tumulto e rebelião e a delegação, comoparte do corpo de assessoria do governo, foi incumbida deinvestigar a insurreição. Nesse meio tempo, o povo estavaestabelecendo um governo constitucional e ‘Abdu’l-Hamídnão teve qualquer chance de agir.”

A Libertação

“Com a supremacia dos Jovens Turcos, efetivada porintermédio da Sociedade de União e Progresso, todos ospresos políticos do império otomano foram libertados.Os acontecimentos tiraram as correntes do meu pescoço eas colocaram em torno do de Hamíd; ‘Abdu’l-Bahá saiuda prisão e ‘Abdu’l-Hamíd entrou.”

“O que aconteceu à delegação?”, alguém perguntou,rompendo o profundo silêncio que se seguiu ao relato dessaemocionante página da história. “Aríf Bey”, continuou‘Abdu’l-Bahá, “foi executado com três balas, o general foiexilado, o de posição seguinte morreu e o terceiro fugiupara o Cairo onde buscou e obteve auxílio dos bahá’ís.”

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“Podeis nos dizer como vos sentistes na prisão ecomo considerais a vossa liberdade?”, perguntei. “Estamosfelizes porque estais aqui.”

“Obrigado”, disse Ele benevolamente, e continuou:“Liberdade não é uma questão de lugar. Ela é uma

condição. Eu era grato pela prisão, e a falta de liberdadeera muito prazerosa para mim, pois aqueles dias forampassados no caminho do serviço, em condições extremasde dificuldades e provações, produzindo frutos e resultados.

“Não se atinge a liberdade a menos que se aceiteterríveis dificuldades. Para mim, a prisão é liberdade, asdificuldades me confortam, a morte é vida, e ser desprezadoé honra. Portanto, eu estava feliz todo aquele tempo naprisão. Quando alguém se liberta da prisão do ego, esta é averdadeira libertação, pois ele é a maior prisão. Quandoacontece esta libertação, então não se pode ser exteriormenteaprisionado. Quando eles prendiam minhas pernas eu diziaao guarda: ‘Você não pode me aprisionar, pois aqui eu tenholuz, ar, pão e água. Tempo virá em que meu corpo estarána terra, e não terei nem luz, nem ar, nem comida e nemágua, mas nem mesmo então poderei ser preso.’ Asdificuldades que sobrevêm à humanidade algumas vezes,tendem a centrar a consciência nas limitações, e esta é averdadeira prisão. A libertação resulta quando se faz davontade uma porta através da qual as confirmações doEspírito emanam.”

Isto me pareceu tão semelhante à antiga teologia queo moderno em mim fez surgir dúvidas se a disciplinapoderia ser substituída pelo esforço. “O que quereis dizercom confirmações do Espírito?”, perguntei.

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“As confirmações do Espírito são todos aquelespoderes e dons com os quais alguns nascem (e que as pessoasalgumas vezes chamam de gênio), mas pelos quais outrostêm que se esforçar com infinito sofrimento. Eles advêmàquele homem ou mulher que aceita sua vida comaquiescência radiante.”

Aquiescência radiante – essa é a qualidade pela qualnós todos repentinamente parecíamos inspirados enquanto‘Abdu’l-Bahá despedia-Se de nós.

Foi uma experiência notável ouvir Alguém quepassou quarenta anos na prisão declarar: “Não há prisãosenão a prisão do ego”; e conferiu convicção à menteenquanto este Mensageiro oriental de vestes alvas mostravao caminho – não pelo caminho da “renúncia”, mas do“desprendimento”, aquiescência radiante – o caminhoresplendente que conduz para fora da “maior prisão doego”, como ‘Abdu’l-Bahá tão graciosamente chama aquelasbarreiras que nos afastam de nossa realização.

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O ADEUS

Na última manhã da permanência de ‘Abdu’l-Baháem Londres muitos amigos se reuniram tanto no CadoganGardens como na estação para Lhe dar adeus. Uma notávele interessante cerimônia foi realizada na casa por um médicozoroastriano que enviou um elaborado telegrama a algunspársis em Bombaim, dizendo: “A Tocha da Verdade foinovamente acesa no Oriente e no Ocidente por ‘Abdu’l-Bahá.” Instruído pelos seus irmãos, este seguidor de umadas mais antigas religiões do mundo havia trazido consigoum óleo sagrado de raro perfume, com o qual ungiu acabeça e o peito de ‘Abdu’l-Bahá, tocando em seguida asmãos de todos os presentes. Em seguida colocou umabelíssima grinalda de botões de rosa e lírios em torno dopescoço e ombros de ‘Abdu’l-Bahá.

O último vislumbre que os amigos tiveram naestação de trem “Victoria” foi da venerável Face e doSemblante em pé na janela, lançando para fora um olharde benevolência e maravilhosa ternura sobre aqueles queestava deixando.

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Depois de deixar Londres e duranteSua permanência de dois meses em Paris,‘Abdu’l-Bahá freqüentemente mandavamensagens aos Seus amigos ingleses, algunsdos quais viajaram até lá para desfrutar dasconferências.

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SAUDAÇÕES DE ‘ABDU’L-BAHÁ

ENVIADAS DE PARIS A LONDRES*

OUTUBRO DE 1911

‘Abdu’l-Bahá enviou Suas saudações a todos, pedindoa todos que continuassem adquirindo força em sua crençae coragem na proclamação da mesma.

Ele falou muito na satisfação que sentiu no ambienteda Inglaterra. Ele disse que havia uma força de determinaçãono povo inglês e uma firmeza que Ele apreciava e admirava,havia honestidade e retidão. Que eles eram lentos eminiciar uma nova idéia, mas que a começavam porque suamente e senso comum lhes diziam que a idéia era boa.

Os ingleses, como nação, haviam lhe agradadomuito.

“Os crentes”, acrescentou Ele, “devem mostrar suacrença na sua vida cotidiana, de modo que o mundo possaver a luz em suas faces. Uma face brilhante e feliz alegra aspessoas. Se estiverdes tristes e passardes por uma criançaque esteja sorrindo, ela vendo vossa face triste, deixará desorrir sem saber por quê. Se o dia estiver escuro, como é

*Ditas à sra. Enthoven para serem comunicadas a todos os amigos, eagora transcritas de memória.

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aprazível um vislumbre dos raios do sol; portanto, que oscrentes mostrem faces felizes e sorridentes, brilhando comoraios solares na escuridão. Que a luz da veracidade ehonestidade resplandeça neles, de modo que todos aquelesque os contemplarem possam saber que sua palavra, notrabalho ou no lazer, será uma palavra para se confiar edepender.

“Esquecei o ego e trabalhai para toda a raça. Lembraisempre que trabalhamos pelo mundo, não por uma cidadeou mesmo por um país; pois uma vez que todos somosirmãos, cada país é como se fosse o nosso próprio.

“Lembrai, acima de tudo, os ensinamentos deBahá’u’lláh a respeito de mexerico e conversa indecorosasobre os outros. Histórias repetidas a respeito de outremraramente são boas. Uma língua silenciosa é a maisprotegida. Até mesmo o bem pode ser prejudicial se faladoem hora imprópria, ou para a pessoa errada.”

Finalmente, ‘Abdu’l-Bahá mandou Suas saudaçõese bênçãos a todos, e me assegurou que estavaconstantemente pensando e orando por todos.

A um cavalheiro que Lhe estava questionando, Eleobservou: “No início todas as grandes religiões eram puras;mas os sacerdotes, dominando as mentes das pessoas,encheram-nas com dogmas e superstições, de modo que areligião gradualmente se tornou corrupta. Eu não vimensinar uma nova religião. Meu único desejo é, através dasbênçãos de Deus, mostrar o caminho para a Grande Luz.”Tocando delicadamente o cavalheiro no ombro, como umamoroso pai tocaria um filho, Ele disse: “Eu não sou umProfeta, sou apenas um homem como o senhor.”

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UMA AMOROSA DESPEDIDA

Na véspera de Sua partida para Alexandria, Eledespediu-Se com a seguinte advertência ao povo daInglaterra e da França, dizendo incessantemente:

rabalhai pelo dia da Paz Universal. Esforçai-vossempre para que possais ser unidos. Bondade eamor no caminho do serviço devem ser os vossos

recursos.Eu me despeço amorosamente do povo da França e

da Inglaterra. Estou muito satisfeito com eles. Aconselho-os para que dia após dia possam fortalecer os laços de amore amizade para esse fim – que se tornem a personificaçãoenfática de uma nação. Que possam se tornar umafraternidade universal para proteger os interesses e direitosde todas as nações do Oriente – que possam desfraldar abandeira divina da justiça – que possam tratar cada naçãocomo uma família composta de cada um dos filhos deDeus e saibam que aos olhos de Deus os direitos de todossão iguais. Pois todos nós somos filhos de um só Pai. Deusestá em paz com todos os Seus filhos; por que deveriam seempenhar em luta e combate entre eles mesmos? Deusestá derramando bondade; por que os habitantes destemundo deveriam trocar entre si selvageria e crueldade?

Eu orarei por vós para que sejais iluminados com aluz do Eterno.

T

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MENSAGEM DE ‘ABDU’L-BAHÁ

AOS BAHÁ’ÍS DE LONDRES

PARA O DIA DO CONVÊNIO*

26 DE NOVEMBRO DE 1911

BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!As portas do Reino de Deus estão abertas!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!Exércitos de anjos estão descendo do Paraíso!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!O Sol da Verdade está despontando!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!Alimento celestial está sendo mandado do alto!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!A Trombeta está soando!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!A bandeira da Grande Paz tremula em todo lugar!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!A luz da lâmpada da Unicidade da Humanidade estáresplandecendo!

*Especialmente enviada para a sra. Enthoven.

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BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!O fogo do amor de Deus flameja!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!O Espírito Santo está sendo emanado!BOAS NOVAS! BOAS NOVAS!Pois a Vida eterna se encontra aqui!

Ó vós que estais adormecidos, despertai!Ó vós desatentos, adquiri sabedoria!Ó cegos, recebei vossa visão!Ó surdos, ouvi!Ó mudos, falai!Ó mortos, ressuscitai!

Sede felizes!Sede felizes!Sede plenos de júbilo!

Este é o dia da Proclamação do Báb!É o Festival do Arauto da Abençoada Beleza.*É o dia do alvorecer da Manhã da Orientação.

*Bahá’u’lláh.

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