10
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO LEONARDO TEIXEIRA MACIEL RESUMOS DAS PALESTRAS DA SEMANA FRANCO-BRASILEIRA DO DIREITO INTERNACIONAL REALIZADAS NOS DIAS 24, 25 E 28 DE AGOSTO DE 2.015 NA FD/UFC

Palestras Tarin

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Resumo das palestras da Semana Franco Brasileira de Direito Internacional realizada na FD-UFC em agosto de 2015.

Citation preview

Page 1: Palestras Tarin

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO

LEONARDO TEIXEIRA MACIEL

RESUMOS DAS PALESTRAS DA

SEMANA FRANCO-BRASILEIRA DO DIREITO INTERNACIONAL

REALIZADAS NOS DIAS 24, 25 E 28 DE AGOSTO DE 2.015

NA FD/UFC

FORTALEZA

2015

Page 2: Palestras Tarin

DIA 24 DE AGOSTO DE 2.015

Palestra: Aspectos Contemporâneos de Direito Internacional – O caso dos diamantes de

guerra, por Julia Motte-Baumvol (Université Nice Sophia Antipolis)

No dia 24 de agosto de 2.015 foi iniciada, na Sala 150 da Faculdade de Direito

da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Semana Franco-Brasileira de Direito

Internacional, um evento organizado pelo Grupo de Estudos em Direito e Assuntos

Internacionais (GEDAI), um grupo de extensão da Salamanca alencarina. Desta feita,

houve em princípio uma seriação de apresentações à platéia cujos assuntos abordavam,

de forma central, a temática do Direito Internacional.

Empós, encetou-se a palestra-magna do dia, cujo tema era “Aspectos

contemporâneos do Direito Internacional: o caso dos diamantes de guerra”,

proferida pela professora doutora franco-brasileira Julia Motte-Baumvol da Université

Nice Sophia Antipolis, na França. A exposição enfocou a problemática internacional da

exploração econômica dos chamados “diamantes de guerra” ou “diamantes de sangue”,

elucidando inicialmente a importância da indústria de diamantes para a economia dos

países da África Subsaariana, e esclarecendo que o comércio desses diamantes brutos é

maculado por intenções econômicas e bélico-sociais empresariais escusas e corruptas.

Não obstante, tal prática é acolhida como também de forma lícita pelos países africanos,

já que tal exploração consiste em suas importantes parcelas do PIB.

Nesses países, observa-se que as condições de trabalho dos mineradores nativos

é bastante precária, inclusive com apontamentos de trabalho infantil, de mulheres

grávidas e de constantes acidentes de trabalho. No entanto, tais fatos são acobertados

por práticas com interesses recônditos e corruptos, onde o dinheiro proveniente da

extração e comércio mineral é diversas vezes envidado no financiamento das guerras

civis africanas e no fomento ao mercado negro internacional de diamantes. Muitas

características dessa pedra preciosa facilitam tais ilicitudes: ela não desvaloriza, tem

grande dureza, é de fácil transporte, dentre outras. O monopólio sobre a exploração, a

extração e a comercialização de diamantes na África pela empresa holandesa De Beers

favoreceu o tráfico, onde muitos dos “diamantes de guerra” eram transportados para as

terras baixas antes de serem vendidos para os principais mercados do mundo.

Page 3: Palestras Tarin

Destarte, nos anos 1990 tal problematização passou a ganhar maior visibilidade

internacional, onde avultou-se a atuação de diversos organismos internacionais

pressionando as principais nações do mundo a assinarem tratados coibindo a compra e a

venda dos “diamantes de sangue”. Nesse jaez, editou-se a Resolução nº 1.521, de 22 de

dezembro de 2.003 da Organização das Nações Unidas (ONU), que cria alguns

embargos para combater os diamantes com origem ilícita, e o Processo de Certificação

Kimberley, de 2.000 uma soft law que impede os Estados de comprarem diamantes não

certificados. Contudo, esse último procedimento sofreu retaliações pelos Estados

perante a Organização Mundial do Comércio (OMC), sendo derrogado ulteriormente.

Por conseguinte, a palestra deu-se por encerrada, com a conclusão do primeiro

dia de apresentações da Semana Franco-Brasileira de Direito Internacional.

Page 4: Palestras Tarin

DIA 25 DE AGOSTO DE 2.015

Seminário: Direitos Humanos e Meio Ambiente

Palestra 1: A Emergência de um direito humano à água no Direito Internacional, por

Fréderique Coulée (Université d'Évry Val d'Essonne)

Palestra 2: A proteção de populações autóctones no sistema jurídico francês, por Julia

Motte-Baumvol (Université Nice Sophia Antipolis)

Na terça-feira, dia 25 de agosto de 2015, foram ministradas as palestras “A

emergência de um direito humano à água no Direito Internacional” pela prof.ª

francesa Fréderique Coulée (Université d'Évry Val d'Essonne) e “A proteção de

populações autóctones no sistema jurídico francês” pela prof.ª franco-brasileira Julia

Motte-Baumvol.

Na primeira palestra, a ilustre discente iniciou as tratativas de seu assunto

contextualizando a situação presente das reservas de água potável no planeta, indicando

degradações ambientais tais quais a poluição e o aquecimento global como

corresponsáveis pelo crescente comprometimento daquelas. Partindo de uma acepção

ambientalista, reputou à água seu razoável conceito como um bem essencial; sendo,

destarte, um direito humano fundamental. Assim, a professora nos propôs

questionamentos, centralizados na seguinte complexificação: Seria a água um direito

específico e obrigatório?

Para elucidá-la, a mestra, partindo da válida premissa da essencialidade da água

para a manutenção da vida na Terra, nos trouxe resoluções da Assembleia Geral das

Nações Unidas, em especial a Resolução nº 64/292, que reconhece como direito

humano o direito à água potável e ao saneamento básico, reconhecendo-o como direito

específico e obrigatório, malgrado esta acepção ser alvo de críticas de alguns Estados

haja vista que este recurso já estaria incluído no direito à alimentação e no direito à

vida.

Assim, firmado o entendimento de que a água seria um Direito Humano

Fundamental e que, como tal, decorre da dignidade e dos valores inerentes à pessoa

humana, que deve ser a principal beneficiária desses direitos, a professora ateve-se a

questionamentos mais práticos desta problematização, argumentando que esse direito

Page 5: Palestras Tarin

deve ser implementado na comunidade internacional de maneira progressiva,

respeitando-se a particularidade de cada país em seu tratamento com esse assunto,

consoante cinco premissas práticas: a suficiência e a constância do abastecimento de

água; sua potabilidade; acessibilidade e precificação.

A segunda palestra do dia nos trouxe a professora Julia Motte-Baumvol

explanando os principais aspectos referentes à proteção de populações autóctones no

sistema jurídico francês, onde estas enfrentam consideráveis imbróglios sociais e

jurídicos atualmente, como sua elevada taxa de suicídios e a lacuna de uma expressa

previsão constitucional que proteja e diferencie juridicamente este estamento,

diferentemente do ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, por exemplo; onde

nossa Lei Maior, em seus artigos 231 e 232, trata distintamente dos povos indígenas

brasileiros.

Ademais, o chamado Princípio da Unidade do Povo Francês prejudicaria os

povos autóctones, pois tal fundamento impede uma diferenciação de castas na sociedade

gaulesa. Vejamos, por oportuno, que a França não ratificou a Carta Europeia de

Línguas Regionais ou Minoritárias, alegando não poder ratificar essa Carta sem antes

“interpretá-la” e adequá-la ao ordenamento jurídico interno, o que pelo art. 21 desta é

considerado cláusula de reserva e como tal proibida; prática, consoante a mestra, ainda

laivosa dos outroras do Absolutismo francês.

Page 6: Palestras Tarin

DIA 28 DE AGOSTO DE 2.015

Palestra: Os bens públicos mundiais e as regras do comércio internacional, por Hervé

Ascensio (Université Paris 1Panthéon-Sorbonne),

No dia 28 de agosto de 2015 foi ministrada a palestra de encerramento da

Semana Franco-Brasileira de Direito Internacional pelo professor Hervé Ascensio

(Université Paris 1Panthéon-Sorbonne), cujo tema foi “Os bens públicos mundiais e

as regras de direito internacional”. A palestra foi ministrada em francês, sendo

traduzida pela professora Tarin Mont`Alverne.

Partindo da conceituação de bem público, o palestrante exaltou a concepção

eminentemente política desse, onde o que se caracterizaria por bem público seria

definido por cada Estado. Empós, o professor citou duas características dessa

conceituação: ausência de rivalidade e não exclusão do consumidor. Ademais, segundo

sua opinião, os bens públicos possibilitariam a mitigação dos direitos de propriedade

relativamente aos bens de utilidade e interesse público, consoante sua função social.

Nesse contexto, a água, a terra, o ar seriam espécies de bens públicos globais. Ocorre

que essa visão choca-se com o interesse do capital internacional contemporâneo, que

intenciona transformar tais bens em mercadorias.

Outrossim, o mestre destacou o relevante papel dos Estados no desenvolvimento

de políticas sustentáveis que permitam a preservação e o uso comum desses bens,

aclarando a crescente conexão político-jurídica, no plano internacional, entre o Direito

Internacional Econômico e o Direito Ambiental. Empós, tratou das mudanças

climáticas, fazendo uma ligação entre estas e os bens públicos mundiais. E ilustrando o

assunto com exemplificações de diversos instrumentos internacionais, como a COP 21.

Desta feita, a contenda entre o capital internacional e a preservação dos bens

públicos mundiais obriga a Organização Mundial do Comércio (OMC) assumir um

papel de destaque na harmonização desses intentos, tentando facilitar a exploração

desses bens públicos, uma vez que os Estados possuem interesses privados em seus

respectivos desenvolvimentos. Nessa senda, o professor dissertou sobre as

Page 7: Palestras Tarin

jurisprudências provenientes da OMC, e de que maneira os países poderiam adotar

medidas protetivas sem, no entanto, descumprir as normas daquela Organização.

Assim, os Estados perceberam que o desenvolvimento não pode ser obtido a

qualquer custo, principalmente porque a perpetuação da espécie humana depende da

preservação dos bens públicos mundiais. Ainda que a motivação para a mudança de

comportamento dos países não seja a percepção de que é necessário dividir

equitativamente e preservar as riquezas naturais, tidas como bens públicos mundiais, o

resultado dessa mudança de comportamento trazem consequências benéficas à toda

comunidade mundial, favorecendo a preservação dos bens públicos mundiais e a

manutenção da vida na Terra.

Desta sorte, após a apresentação desta palestra, encerrou-se a exitosa Semana

Franco-Brasileira de Direito Internacional.