Leitura, escrita e conhecimento linguístico

- uma perspectiva formativa

Luiz Percival Leme Britto(Universidade de Sorocaba)

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – ampliação e a diversificação da base produtiva e reestruturação do modelo de produção.

URBANIZAÇÃO – as formas de produção, socialização, circulação e delimitação das ações em tempos e espaços realiza-se com base em processos característicos da escrita.

TECNOLOGIA – ampliação dos meios de comunicação e dos objetos e produtos incorporados ao cotidiano e ao processo produtivo.

A expansão alfabetismo no mundo moderno - causas

Dimensão pragmática da escrita O deslocamento no espaço urbano, o trato com as coisas domésticas, os

cuidados consigo, o lazer, o trabalho, as obrigações públicas, a participação em esferas identitárias (igreja, associação, clubes, etc.);

Tudo isso mediado, em diferentes níveis de complexidade, por “ordenações escritas”;

Esta dimensão está referenciada num senso comum complexo, que implica aprendizagens que superam o relacionamento imediato com os pares, fazendo-se por mediações de meios sofisticados de comunicação e formação.

Os indivíduos devem ter conhecimento das coisas modernas (nível prático operacional), de modo a:◦ encontrar soluções para problemas;◦ avaliar suas ações; e ◦ reajustar seu comportamento de acordo as circunstâncias.

Relacionam-se com os processos reguladores do cotidiano, que impõem a necessidade de usos específicos da escrita, num nível de quase automatismo.

Supõem a expansão de usos da escrita – principalmente dos mais contextualizados –, mas não conduzem à produção de novas formas de relacionamento com o conhecimento.

Os usos da escrita em atividades da vida diária, correspondem a situação em que esta atua como processamento mecânico.

As “novas demandas” de conhecimento no mundo moderno

Por que saber e poder ler e escrever é necessário?

O quanto é preciso saber ler e escrever?

Em que a Educação linguística transcende a aprendizagem pragmática?

A escrita faz com que a memória se situe fora dos indivíduos, promovendo:

a produção de formas de pensamento descontextualizado.

a monitoração continuada de ações e atividades intelectuais.

O registro da produção intelectual.

Escrita e expansão da memória

METACOGNIÇÃO: controle do ato de pensar;

administração deliberada do raciocínio e da interação.

Em função de sua materialidade e da forma como é realizada, a escrita permite um nível de controle da atividade intelectual que não se verifica com a mesma intensidade em outras formas de registro.

o envolvimento do sujeito com o texto;o ritmo da a atividade intelectual;a possibilidade de controle da ação;a intervenção consciente no fluxo do pensamento.

Escrita e metacognição

A expansão e o controle da MEMÓRIA resultantes da escrita oferecem:

Maior capacidade e controle do pensamento, liberando a mente da necessidade de memorizar.

A reprodução e a continuidade do conhecimento, uma vez que não é necessário fixar na mente todas as informações, mensagens, idéias, raciocínios (“saber de cor”).

Armazenando e registrando a informação fora do corpo físico, mas ao alcance dos interessados, a escrita teve e tem papel fundamental no desenvolvimento da ciência, da filosofia, das leis, das artes.

Escrita e conhecimento

Qual o papel da escola no ensino da leitura e da escrita?

Estudar a língua materna contribui para o conhecimento da leitura e da escrita?

Qual a relação entre leitura, cultura e conhecimento?

Leitura e escrita na educação escolar

A EDUCAÇÃO ESCOLAR contribui para o desenvolvimento intelectual e social dos

alunos, em especial no que concerne aos conhecimentos que superam o saber

cotidiano.

Há aprendizagens essenciais da / para a vida moderna que ocorrem apenas ou

prioritariamente na escola, inclusive no que concerne ao conhecimento da

linguagem, à leitura e à escrita

A aprendizagem escolar (incluindo a leitura e a escrita) pressupõe a inserção num

ambiente de cultural que amplie as referências e as formas de perceber o mundo, a

vida e a sociedade.

Uma das características essenciais da aprendizagem em ambiente escolar está no

fato de ela se fazer de forma estruturada, sistemática, com objetivos e métodos

definidos.

Para que serve a educação escolar?

Há dois conhecimentos de natureza distinta no que diz respeito à língua:

I. Um saber que decorre da condição de ser falante;

(se aprende na vida prática)

II. Um saber que supõe o conhecimento reflexivo – prático e teórico;

(deve ser aprendido pelo estudo formal e disciplinar na escola) –

Saberes e estudo da língua

EDUCAÇÃO LINGÜÍSTICA

1. A EDUCAÇÃO LINGÜÍSTICA supõe a ação pedagógica que leve o aluno a:

Perceber a língua e a linguagem como fenômenos históricos complexos; Compreender seu funcionamento, usos e formas; Usá-la com propriedade nas modalidades oral e escrita, em especial para

estudar e aprender e viver sua subjetividade.

2. Há conhecimentos lingüísticos significativos para serem explorados e aprendidos.

Faz sentido considerar a língua como um objeto de investigação e de conhecimento para ampliar a percepção do fenômeno da linguagem, independentemente do uso prático e cotidiano.

Fundamentos da Educação lingüística

8. As formas de escrita, principalmente as que não se associam com as atividades da vida prática, mostram organizações distintas da língua oral e devem ser objeto de ensino.

9. O ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita fazem parte das atividades de todas as disciplinas.

Não se oferece ao aluno apenas a informação, mas sua busca através do texto escrito.

A organização do conhecimento deve ser escrita.

Fundamentos da Educação lingüística escolar

5. O ensino e a aprendizagem da língua pelo uso e pela prática não significa o abandono da formalização do conhecimento. É importante o estudo de explicações consistentes do funcionamento da linguagem.

6. Para que a aprendizagem não se limite ao imediatismo da vida cotidiana, a prática deve ser objeto de reflexão e de indagação continuadas.

7. A mudança da perspectiva do ensino impõe não sua facilitação ou sua submissão à ordem do pragmático, mas a ênfase nos aspectos do conhecimento que vão além do senso comum e os saberes da vida prática.

Fundamentos da Educação lingüística escolar

Esfera de produção cultural e intelectual Apresenta textos de conteúdos e com forma de exposição que

transcendem o imediatismo e pragmatismo; tendem a ser auto-referenciados e supor maior nível de metacognição.

Nela se encontram as produções que se realizam, por exemplo, nas ciências, na literatura, na filosofia, (produções intelectuais humanas mais orgânicas e sofisticadas).

Leitura, neste caso, interação com objetos culturais complexos é uma ação intelectual que se realiza pela que se organizam por sistemas distintos daqueles que se adquirem nas práticas cotidianas.

Leitura e formação

Leitura e formação Os meios eletrônicos expandiram a disposição e a variedade de

informação. Isso não significa que a organização do conhecimento e o acesso às formas elaboradas da cultura se realize simplesmente pela interação direta e não dirigida dos sujeitos com as mídias.

A ideia de que a aprendizagem espontânea, assistemática é superior à atividade rotineira disciplinada resulta de uma visão limitada de conhecimento e do valor da informação.

A precariedade do conhecimento científico determina que ele não pode ser, nunca, apresentado como verdade total e acabada, por mais óbvia que pareça.

A postura aberta ao conhecimento difere das formas automatizadas das explicações do senso comum e se faz com disciplina e dúvida.

“A ciência como ritual dispensa o pensamento e a liberdade” e na “aliança entre a ausência pura e simples da reflexão intelectual e o estereótipo da visão de mundo oficialista delineia-se uma conformação dotada de afinidades autoritárias”.

(Theodor Adorno)