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PANFLETO SANITÁRIO 04 MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA - MARÇO 2014 PING PONG É HORA DE SUPERAR O TRAUMA O QUE É O TRAUMA? O trauma é quando nosso sistema fica impossibi- litado de se estressar dentro de um movimento natural. Normalmente a gente luta, foge ou fica imobilizado diante de uma situação, e o trauma se instala quando o nosso sistema não pode fluir e fica impedido de fazer alguma dessas ações. PODE EXISTIR O TRAUMA A PARTIR DE UMA SITUAÇÃO NÃO VIVIDA? Sim. A partir do momento em que o sujeito vivencia com o olhar, é como se estivesse participando da cena. E quando você, dentro de sua casa, ouve e vê cenas muito chocantes, também está experienciando aquilo e se traumati- zando. É a pura verdade. COMO UM TRAUMA PODE SER CURADO? O trauma, em si, não tem uma cura. Mas a gente pode renegociá-lo, ou seja, ver a experiência vivida a partir de outro ponto. A gente não pode dizer que aquela experiência não existiu e simplesmente esquecê-la, porque isso é fato. Precisamos aprender a conviver com ela. TODOS NÓS SOMOS TRAUMATIZADOS? Somos! O grande trauma que nós vivemos é o parto. E, as vezes, passamos por um trauma antes disso, que vem da vida intrauterina, se a mãe sofreu uma queda, por exemplo. As pesqui- sas mostram que, se a mãe vive momentos difí- ceis, como a morte de um parente, a criança vai vivenciar tudo aquilo junto com ela. Estes são traumas de ordem emocional e psicológica, que nós chamamos de “traumas de desenvolvimento”. COMO A ARTE AJUDA NA NEGOCIAÇÃO DO TRAUMA? A arteterapia é fantástica, principalmente com traumas que dizem respeito a torturas. Quando o sujeito é torturado, ele perde a fé e a sua conexão com a espiritualidade. Então ele começa a perceber que pode, através da arte, resgatar o seu poder de criar, a confiança em si e perceber que faz parte da humanidade. EULINA LAVIGNE, TERAPEUTA UM DIA NA HISTÓRIA Vista geral da Exposição Bahia no Ibirapuera, São Paulo 1959. (Foto Miroslav Javurek) ESPÍRITO DO TEMPO MANIFESTO "seja marginal, seja herói", 1968, de Hélio Oiticica Bruno Marcelo 1) O ALGO MAIS QUE OS RÓTULOS NÃO DIZEM O QUE É TROPICALISMO: POSIÇÃO DE RADICALIDADE CRÍTICA E CRIADORA DIANTE DA REALIDADE BRASILEIRA HOJE; VANGUARDA CULTURAL COMO SINÔNIMO DE MILITÂNCIA, DA INSTAURAÇÃO DE NOVOS PROCESSOS CRIATIVOS [...]; “VER” COM OLHOS “LIVRES”. O QUE É TROPICANALHA: ATITUDE CONSERVADORA E POLÍTICA EM FACE DA CULTURA E DA REALIDADE BRASILEIRA HOJE; RETAGUARDA CULTURAL SIGNIFICANDO ALHEAMENTO, DE TENTAR DAR RESPOSTA PASSADA AOS PROBLEMAS, REVELANDO O PASSADISMO ATRAVÉS DA NOSTALGIA, DO DONZELISMO, DO PITORESCO DO CARTÃO POSTAL, DA CARÊNCIA DE INFORMA- ÇÃO, CONTRIBUINDO ASSIM PARA UMA PERPETUAÇÃO DO SUBDESENVOLVIMENTO; ENXERGAR COM VISEIRAS E PRECONCEITOS. TRECHO DO MANIFESTO TROPICALISTA (1968) A 3ª Bienal da Bahia vai fechar uma lacuna de 46 anos na história da Bahia. Isso porque a última edição do evento, em 1968, foi impedi- da pelo Regime Militar de prosseguir com a sua programação logo após sua abertura. A justificativa: 10 obras expostas no Convento da Lapa, sede do evento, foram consideradas subversivas. Seus autores, artistas renomados da época, nunca mais as viram novamente. Agora, com a chegada da terceira edição da Bienal, é hora de superar o trauma deixado pela experiência anterior. Mas como saber se ele foi realmente esquecido? Para a terapeuta Eulina Lavigne, especialista em Psicotrau- matologia Junguiana com Experiência Somá- tica, o trauma não tem cura (confira a entre- vista nesta edição). Apesar disso, ele pode ser renegociado, e a arte é uma das maneiras de superá-lo. Neste caso, a 3ª Bienal da Bahia – que acontece de 29 de maio a 7 de setembro – retorna para dar continuidade a proposta original, construindo novas temáticas, desta- cando novos artistas e superando os traumas do passado. Runas são pequenas pedras, cristais ou seixos sobre os quais são gravados desenhos que representam as letras de um antigo alfabeto germânico. Cada letra desse alfabeto traz mensagens do nosso inconsciente e facilitam o contato com a nossa espiritualidade. Nesta edição, perguntamos as Runas: Este é o momento certo para superar os traumas do passado? Wird (a Runa Branca) - Fé e coragem para encontrar o seu destino. Assim como é o fim, o vazio também pode significar uma oportunida- de para se recomeçar. Por isso, esta Runa é a pedra da confiança absoluta e deve ser encarada como um sinal de contato com o verdadeiro destino. Com ela, vêm a tona nossos temores mais profundos, porque estamos frente ao indeterminado. No entanto, nossas melhores possibilidades também estão nelas. Sua autotransformação está se desenvolvendo.

Panfleto Sanitário #04

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PANFLETO SANITÁRIO 04

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PING PONG

É HORA DE SUPERAR O TRAUMA

O QUE É O TRAUMA?

O trauma é quando nosso sistema fica impossibi-litado de se estressar dentro de um movimento natural. Normalmente a gente luta, foge ou fica imobilizado diante de uma situação, e o trauma se instala quando o nosso sistema não pode fluir e fica impedido de fazer alguma dessas ações.

PODE EXISTIR O TRAUMA A PARTIR DE UMA SITUAÇÃO NÃO VIVIDA?

Sim. A partir do momento em que o sujeito vivencia com o olhar, é como se estivesse participando da cena. E quando você, dentro de sua casa, ouve e vê cenas muito chocantes, também está experienciando aquilo e se traumati-zando. É a pura verdade.

COMO UM TRAUMA PODE SER CURADO?

O trauma, em si, não tem uma cura. Mas a gente pode renegociá-lo, ou seja, ver a experiência vivida a partir de outro ponto. A gente não pode dizer que aquela experiência não existiu e simplesmente esquecê-la, porque isso é fato. Precisamos aprender a conviver com ela.

TODOS NÓS SOMOS TRAUMATIZADOS?

Somos! O grande trauma que nós vivemos é o parto. E, as vezes, passamos por um trauma antes disso, que vem da vida intrauterina, se a mãe sofreu uma queda, por exemplo. As pesqui-sas mostram que, se a mãe vive momentos difí-ceis, como a morte de um parente, a criança vai vivenciar tudo aquilo junto com ela. Estes são traumas de ordem emocional e psicológica, que nós chamamos de “traumas de desenvolvimento”.

COMO A ARTE AJUDA NA NEGOCIAÇÃO DO TRAUMA?

A arteterapia é fantástica, principalmente com traumas que dizem respeito a torturas. Quando o sujeito é torturado, ele perde a fé e a sua conexão com a espiritualidade. Então ele começa a perceber que pode, através da arte, resgatar o seu poder de criar, a confiança em si e perceber que faz parte da humanidade.

EULINA LAVIGNE, TERAPEUTA

UM DIA NA HISTÓRIA

Vista geral da Exposição Bahia no Ibirapuera, São Paulo 1959.(Foto Miroslav Javurek)

ESPÍRITO DO TEMPO

MANIFE

STO

"seja marginal, seja herói", 1968, de Hélio Oiticica

Bruno Marcelo

1) O ALGO MAIS QUE OS

RÓTULOS NÃO DIZEM

O QUE É TROPICALISMO: POSIÇÃO DE RADICALIDADE CRÍTICA E CRIADORA DIANTE DA

REALIDADE BRASILEIRA HOJE; VANGUARDA CULTURAL COMO SINÔNIMO DE MILITÂNCIA, DA INSTAURAÇÃO DE NOVOS

PROCESSOS CRIATIVOS [...]; “VER” COM OLHOS “LIVRES”.

O QUE É TROPICANALHA: ATITUDE CONSERVADORA E POLÍTICA EM FACE DA CULTURA E DA REALIDADE BRASILEIRA HOJE; RETAGUARDA CULTURAL SIGNIFICANDO ALHEAMENTO, DE TENTAR DAR RESPOSTA PASSADA AOS PROBLEMAS, REVELANDO O PASSADISMO ATRAVÉS DA NOSTALGIA, DO DONZELISMO, DO PITORESCO DO CARTÃO POSTAL, DA CARÊNCIA DE INFORMA-ÇÃO, CONTRIBUINDO ASSIM PARA UMA PERPETUAÇÃO DO SUBDESENVOLVIMENTO; ENXERGAR COM VISEIRAS E PRECONCEITOS.

TRECHO DO MANIFESTO TROPICALISTA (1968)

A 3ª Bienal da Bahia vai fechar uma lacuna de 46 anos na história da Bahia. Isso porque a última edição do evento, em 1968, foi impedi-da pelo Regime Militar de prosseguir com a sua programação logo após sua abertura. A justificativa: 10 obras expostas no Convento da Lapa, sede do evento, foram consideradas subversivas. Seus autores, artistas renomados da época, nunca mais as viram novamente. Agora, com a chegada da terceira edição da Bienal, é hora de superar o trauma deixado pela experiência anterior. Mas como saber se ele

foi realmente esquecido? Para a terapeuta Eulina Lavigne, especialista em Psicotrau-matologia Junguiana com Experiência Somá-tica, o trauma não tem cura (confira a entre-vista nesta edição). Apesar disso, ele pode ser renegociado, e a arte é uma das maneiras de superá-lo. Neste caso, a 3ª Bienal da Bahia – que acontece de 29 de maio a 7 de setembro – retorna para dar continuidade a proposta original, construindo novas temáticas, desta-cando novos artistas e superando os traumas do passado.

Runas são pequenas pedras, cristais ou seixos sobre os quais são gravados desenhos que representam as letras de um antigo alfabeto germânico. Cada letra desse alfabeto traz mensagens do nosso inconsciente e facilitam o contato com a nossa espiritualidade. Nesta edição, perguntamos as Runas:

Este é o momento certo para superar os traumas do passado?

Wird (a Runa Branca) - Fé e coragem para encontrar o seu destino. Assim como é o fim, o vazio também pode significar uma oportunida-de para se recomeçar. Por isso, esta Runa é a pedra da confiança absoluta e deve ser encarada como um sinal de contato com o verdadeiro destino. Com ela, vêm a tona nossos temores mais profundos, porque estamos frente ao indeterminado. No entanto, nossas melhores possibilidades também estão nelas. Sua autotransformação está se desenvolvendo.