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APA COSTA DOS CORAIS Panorama do território, atuação do ICMBio na região e viabilidade econômica e jurídica do modelo de PAPP

Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

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APA COSTA DOS CORAIS Panorama do território, atuação do

ICMBio na região e viabilidade econômica e jurídica do modelo de PAPP

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APA COSTA DOS CORAIS Panorama do território, atuação do

ICMBio na região e viabilidade econômica e jurídica do modelo de PAPP

Junho 2017

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Sumário

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1. APRESENTAÇÃO 6

2. CONTEXTUALIZAÇÃO 6

3. OBJETIVOS 73.1. Objetivo Geral 73.2. Objetivos Específicos 7

4. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO 84.1. Panorama geral do território da Costa dos Corais 84.2. Caracterização da Dinâmica Social e Econômica dos Municípios Abrangidos pelo Projeto 134.3. Panorama Turístico da Costa dos Corais 16

5. A APA COSTA DOS CORAIS 195.1. O Plano de Manejo da APA Costa dos Corais 205.2. O Programa de Uso Público da APA Costa dos Corais 23

6. O CENÁRIO TURÍSTICO DA APA COSTA DOS CORAIS 246.1. Perfil dos visitantes da região 246.2. Análise da oferta turística atual da APA Costa dos Corais 276.3. Consolidação e análise das atividades existentes nos municípios da APACC abrangidos pelo projeto 39

7. PROPOSTA PARA AS ATIVIDADES DE VISITAÇÃO DA APA COSTA DOS CORAIS 427.1. Análise das potencialidades dos municípios 427.2. Identificação e caracterização das atividades potenciais 437.3. Matriz Resumo de atividades x municípios 517.4. Priorização das atividades turísticas nos municípios da APACC abrangidos pelo Projeto 52

8. ANÁLISE ECONÔMICA SOBRE O CONTEXTO TURÍSTICO DOS MUNICÍPIOS DA APACC ABRANGIDOS PELO PROJETO 558.1. Projeção de Demanda Turística dos Municípios da APACC abrangidos pelo Projeto 558.2. Análise dos roteiros padrão e potencial de renda 61

9. ANÁLISE DE VIABILIDADE DAS ATIVIDADES DE TURISMO DA APACC DOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS PELO PROJETO 62

10. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CENÁRIO ECONÔMICO 63

11. ANÁLISE JURÍDICA 6411.1. Considerações preliminares para o estabelecimento de parcerias relacionadas à APACC 6511.2. Da possibilidade de exploração de bens e serviços inerentes às Unidades de Conservação por terceiros 6611.3. O Plano de Manejo sob o olhar Jurídico 6711.4. Área de Proteção Ambiental Marinha 6911.5. Contexto atual da APACC 69

12. ALTERNATIVAS DE ESTRUTURAÇÃO JURÍDICA 7112.1. Autorização de Uso de Bem Público 7212.2. Permissão de Uso de Bem Público 7212.3. Concessão de Uso de Bem Público 7312.4. Concessão Comum 7312.5. Concessão Patrocinada 7412.6. Concessão Administrativa 7612.7. Termo de Parceria com OSCIP 7612.8. Termo de Colaboração/Termo de Fomento/Acordo de Cooperação com Organização da Sociedade Civil – OSC 7712.9. Interações entre as Municipalidades e o ICMBio 78

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS 79

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Produto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais

14. METODOLOGIA 8214.1. Eixo Técnico Operacional 8214.2. Eixo Econômico-Financeiro 8214.3. Eixo Jurídico 83

15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 8415.1. Modelagem para o Cenário-Base 8415.2 Cenário com Atividades Potenciais 9315.3. Atividades Acessórias 9515.4. Considerações sobre os Cenários de Modelagem Econômico-financeiro 9515.5. Atividades de Contrapartida das Prefeituras 9515.6. Fluxo de Cobrança da Bilheteria Única 95

16. VIABILIDADE DAS ATIVIDADES EXERCIDAS E POTENCIAIS 96

17. CONCLUSÃO DA ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA E DE VIABILIDADE DAS ATIVIDADES 98

18. ALTERNATIVAS DE ESTRUTURAÇÃO JURÍDICA 100

19. SISTEMA ÚNICO DE BILHETERIA 10019.1. Instrumento Jurídico de Parceria – Acordo de Cooperação 10119.2. Termo de Parceria com OSCIP 10119.3. Parceria com Organização da Sociedade Civil – OSC 10219.4. Participação das Municipalidades na gestão do Projeto 10219.5. Projeto Toyota APA Costa dos Corais – Parceria no Desenvolvimento da APACC 103

20. CONSIDERAÇÕES FINAIS 104

21. ESCLARECIMENTOS JURÍDICOS 105

22. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 105

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pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

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1. APRESENTAÇÃONo âmbito do projeto de estruturação e celebração das Parcerias Ambientais

Público-Privadas, consiste em objetivo precípuo do Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (“ICMBio”), conforme delimitado no Termo de

Referência 4.2 (“Termo de Referência”), otimizar a gestão das Áreas de Proteção Ambiental sob sua responsabilidade, melhor absorvendo e realizando o potencial de exploração e de geração de benefícios econômicos e sociais e, com isto, viabilizando o enfrentamento das dificuldades de gestão destes ativos, por meio de alianças junto à iniciativa privada, o presente documento

visa apresentar o Produto 1, de 3 (três) produtos previstos.

Este primeiro produto está dividido em 3 importantes elementos, visando

apresentar um Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais (APACC) e atuação do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na região, através de elementos técnicos, econômicos

e jurídicos. Ao longo do presente estudo, é apresentado este panorama geral do

território da APACC buscando apresentar os principais elementos fundamentais

para compreensão da dinâmica turística (atividades atuais e potenciais), assim

como os processos/ mecanismos de parcerias adotadas pelo ICMBio no âmbito da

gestão da Unidade de Conservação (UC).

Tendo em vista que se trata de um projeto delineado em 3 etapas, esta primeira

etapa é de fundamental importância, pois tem como um dos principais objetivos,

apresentar à equipe gestora da APACC, assim como equipe da Coordenação

Geral de Uso Público (CGEUP) do ICMBio elementos que os auxiliem na tomada

de decisão em relação aos próximos passos do processo de aprimoramento das

parcerias ambientais público-privadas do Instituto.

2. CONTEXTUALIZAÇÃOAtualmente no Brasil existem 320 Unidades de Conservação (UC) Federais,

representando quase 9% do território nacional, sob responsabilidade de gestão

do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia

vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.

Os desafios de gestão das UC têm sido ampliados nas últimas décadas devido

a expansão do sistema com a criação de novas UC, e, consequentemente, pela

necessidade de maior disponibilidade de recursos para sua implementação.

Concomitantemente, tem se observado uma maior disputa pelo território e seus

recursos naturais em detrimento da manutenção dos serviços ecossistêmicos

fornecidos por essas áreas.

Apesar do constante apoio ao ICMBio, por meio dos acordos de cooperação

internacional, principalmente na forma de doação, ainda existem importantes

lacunas financeiras a serem redimidas para assegurar a sustentabilidade

econômica e operacional do SNUC. Por outro lado, identifica-se que as UC

possuem grandes oportunidades de geração de benefícios econômicos e sociais

que apresentam potencial para gerar melhorias na gestão das UC 1.

A partir deste cenário, no intuito de estabelecer as bases de referência para

estruturar uma política de fomento às parcerias público-privadas voltadas para a

geração de oportunidades no contexto da gestão das unidades de conservação, o

ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente – MMA, com o apoio financeiro do Fundo

Multilateral de Investimentos – FOMIN – do BID e da Caixa Econômica Federal

– CAIXA – e de outros parceiros nacionais, sob a responsabilidade executiva do

Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM – desenvolveram o Projeto

“Desenvolvimento de Parcerias Ambientais Publico- Privadas para gestão de UC

– PAPP”, que visa, em linhas gerais, ao estabelecimento de modelos de gestão

1 Compilado do documento Levantamento e sistematização de modelos e arranjos de parcerias com o setor privado e o terceiro setor compatíveis com as necessidades de gestão das Unidades de Conservação. Carrillo e Catapan, 2016 (PAPP – Parcerias Ambientais Públicos – Privadas)

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fundamentados no estabelecimento de arranjos institucionais e modelos de

parcerias público-privadas.

A partir deste cenário, a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) foi

uma das UC contempladas no âmbito do PAPP. A APACC já conta com algumas

parcerias, as quais se pode destacar, por exemplo, o projeto Toyota APA Costa

dos Corais, iniciativa patrocinada pela Fundação Toyota e operacionalizada

pela Fundação SOS Mata Atlântica e ICMBio. Além desta, existem outras

parcerias já consolidadas pela UC e a equipe gestora já identificou diversas

outras oportunidades de estabelecimento de parcerias sejam no âmbito de

instituições públicas, como por exemplo, órgãos públicos, universidades públicas

e centros de pesquisa, assim como com instituições privadas, organizações não

governamentais (ONG), associações, empresas privadas, dentre outras.

Neste contexto, o presente estudo visa inventariar, analisar e caracterizar os Instrumentos legais de cooperação com entidades privadas existentes e aplicáveis à gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) dos Corais

com o objetivo de contribuir no aprimoramento da gestão da UC através

do fortalecimento das parcerias já existentes, assim como propondo novos

modelos que contribuam neste aprimoramento da gestão. Para tanto, o estudo

irá contemplar a análise em quatro dos 11 municípios abrangidos pela APACC,

a saber: Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi. A

partir dos resultados advindos do presente estudo, espera-se também, contribuir

com o momento atual do ICMBio no que diz respeito à busca por novos

modelos que visem o aprimoramento da gestão das UC brasileiras, modelos

estes que possibilitem que as UC cumpram com os objetivos de conservação da

biodiversidade e dos recursos naturais, do patrimônio histórico/ cultural, assim

como o desenvolvimento socioeconômico das comunidades que vivem em

seu interior (no caso das UC de Uso Sustentável) e entorno (no caso das UC de

Proteção Integral).

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Caracterização do território abrangido pela APACC, formulação e fomento a

aplicação de modelos de parcerias ou alianças ambientais público-privadas voltados

para o aproveitamento sustentável das potencialidades econômicas de 4 municípios

abrangidos pela UC – Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi – com vistas à melhoria da gestão e a conservação da biodiversidade, a

geração de benefícios sociais e econômicos para o entorno, assim como a replicação

para contextos semelhantes àqueles identificados no projeto.

3.2. Objetivos Específicos

• Caracterização do território da APACC e seu contexto turístico;

• Identificação e caracterização das principais atividades turísticas realizadas no

âmbito dos municípios em análise e como estas se organizam em relação às

normas de gestão da APACC;

• Identificação de potenciais atividades turísticas a serem desenvolvidas nos

munícipios contemplados pelo projeto e definição de uma priorização de

implantação e ordenamento destas atividades;

• Identificação dos principais instrumentos de gestão da APACC;

• Identificação da problemática que envolve a realização de parcerias em sentido

“lato senso”, e cuja celebração de um instrumento de gestão adequado, possa

auxiliar no ordenamento e na gestão da visitação na APACC;

• Identificações de instrumentos – formais e informais – existentes e potenciais

de parcerias, seja entre o governo federal, estadual e municipal, ou entre

o governo federal e a iniciativa privada, capazes de viabilizar a gestão e o

ordenamento sustentável da visitação na APACC;

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• Identificação dos possíveis arranjos de parcerias ou cooperação existentes ou

que existiram na gestão das atividades de uso público desenvolvidas no âmbito

da APACC;

• Realização de estudo econômico, que identifique, sobretudo, como as

atividades turísticas estão organizadas, assim como análise das atividades

potenciais, e como estas podem vir a contribuir com o ordenamento da

visitação e aprimoramento da gestão da APACC;

• Levantamento das possibilidades de aplicação dos instrumentos jurídicos

identificados em estudos anteriores desenvolvidos no âmbito do projeto,

voltados às formas de cooperação público-privadas que potencializem o uso

sustentável do território, tornando mais eficiente, eficaz e efetiva a gestão da

visitação da UC.

4. Caracterização do território2 Buscando uma contextualização do território, apresenta-se, a seguir, uma

caracterização geral do Polo Turístico do Estado de Alagoas, denominado Costa

dos Corais (itens 4.1 a 4.1.2) e nos itens 4.2 e 4.3 tem-se uma caracterização do

contexto socioeconômico e turístico dos municípios abrangidos pelo projeto,

Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi.

4.1. Panorama geral do território da Costa dos Corais

A área da Costa dos Corais, é composta de 11 (onze) municípios, oito dos quais

pertencentes à microrregião do litoral norte alagoano e três estão na microrregião

da mata alagoana, abrangendo uma área total de 2.160,17 km2 (7,77% de AL) e

situados a uma distância média de 85 km de Maceió, capital do Estado, e de 195

2 As informações dispostas neste item foram compiladas de documentos oficiais sobre a região da Costa dos Corais publicados entre os anos de 2010 a 2017, como por exemplo, “O Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável do Turismo – PDTIS Costa dos Corais”, o “Plano Estadual de turismo do Estado de Alagoas 2013 – 2016”, o “Projeto Master Ecopólis”, dentre outros.

km de Recife, polos estes mais próximos que atuam como emissores do turismo

para a região.

Figura 1. Região da Costa dos Corais (em destaque laranja). Fonte: SEDETUR

A área que hoje corresponde aos dez municípios que compõem a Costa dos

Corais, além de Maceió, tem sua ocupação determinada pelo comércio portuário

e a plantação de cana de açúcar, desde o século XVII, guardando até hoje sinais

desse passado através da presença dos elementos de poder que compuseram o

empreendimento colonial.

O litoral navegável, a quantidade de rios e a existência de terras férteis à época,

mantiveram essa costa em evidência desde o início de sua colonização, visto

que essas características são fundamentais para a chegada dos colonizadores, de

escravos e de produtos necessários ao incremento da empresa colonial.

A área em questão relaciona-se a períodos importantes da memória do país

como as guerras, invasões e domínios ocorridos por holandeses e portugueses no

início do século XVI e integra-se à história mais ampla da expansão mercantilista

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europeia dos séculos XVI e XVII, uma vez que retrata a implantação de um modelo

de produção econômica que durou séculos: o engenho de açúcar, cuja produção

se estruturava na mão-de-obra escrava e na criação de uma aristocracia rural

externa.

Ocupado inicialmente pelos índios potiguares, dentre outros, o litoral norte

alagoano guarda até aos dias de hoje essa herança indígena, reproduzida

inclusive na nomenclatura de sua costa: Paripueira, Japaratinga, Camaragibe,

Maragogi, dentre outros, bem como no artesanato de palha e na presença de

casas-de-farinha encontradas na região. A herança dos engenhos, por outro lado,

decerto interferiu fortemente na culinária local, fato esse que pode ser facilmente

observado haja vista a diversidade de sobremesas feitas à base de frutas, além da

rapadura e da produção de cachaça e de licores.

A história econômica e social das cidades esteve entrelaçada ao longo do

tempo, tanto pela proximidade física como pelo compartilhamento de funções

econômicas e do próprio território. Vários municípios pertenceram uns aos

outros, demarcando várias similaridades. Em termos temporais, a capital irá se

urbanizar tardiamente no conjunto das capitais brasileiras. E a maioria das cidades

alagoanas, que são de pequeno porte, irá, nas últimas décadas, incorporando bens

e serviços sociais progressivamente, mas mantendo uma distância considerável

em relação a Maceió.

A região da Costa dos Corais dispõe de 130 quilômetros de praias, cercados por

extensas barreiras de corais, com areias finas e águas mornas, e vastos coqueirais,

além de rios, antigos engenhos, rica culinária, manifestações folclóricas e artísticas,

e muita hospitalidade. As praias oferecem opções para todos os gostos. Prática de

surf, pesca, esportes náuticos, mergulhos, etc.

4.1.1. Caracterização Ambiental da Costa dos Corais

De acordo com o zoneamento de recursos hídricos de Alagoas, aprovado em 2005

pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, os municípios da região da Costa

dos Corais estão inseridos em 4 regiões hidrográficas: a do Complexo Lagunar

Mundaú-Manguaba, a do Rio Pratagy, a do Rio Camaragibe e a do litoral norte. A

área da Costa dos Corais envolve, assim, dois dos três eixos descritos por Diegues

Jr (2006), como indutores do desenvolvimento histórico da indústria canavieira no

Estado, um ao longo do Rio Mundaú e outro na região denominada dos quatro

grandes rios, por onde escoava a produção de açúcar (Rios Camaragibe, Santo

Antônio, Tatuamunha e Manguaba).

A Região Hidrográfica do Complexo Lagunar, situada a sudeste, compreende a

bacia do Rio Sumaúma, que deságua na Lagoa Manguaba e a bacia do Complexo

Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba. Esta última é formada pelas duas lagoas

e seus canais, e por todas as demais micro-bacias que compõem sua rede de

drenagem. Destaca-se o Riacho do Silva, que nasce no Parque Municipal de

Maceió e deságua diretamente na Lagoa Mundaú.

A Região Hidrográfica do Rio Pratagy, a nordeste, é formada pelas bacias dos Rios

Pratagy, Meirim e Sapucaí, e por um conjunto de pequenas bacias hidrográficas

situadas a nordeste da cidade, denominada bacia Metropolitana, formada pelos

Rios Reginaldo, Jacarecica, Garça Torta, Guaxuma e Riacho Doce, todos eles

encravados no tabuleiro e desembocando nas praias do litoral norte de Maceió.

A Região Hidrográfica do Rio Camaragibe é formada pelas bacias dos Rios Santo

Antônio e Camaragibe e que deságuam respectivamente na Barra de Santo

Antônio e Barra de Camaragibe.

A Região Hidrográfica do Litoral Norte é formada pelas bacias dos Rios

Tatuamunha, Manguaba, Salgado, Maragogi, dos Paus e Tabaiana.

Os municípios da Costa dos Corais, situados nos trechos centro-oeste e norte

do litoral de Alagoas, abrigam um conjunto de ecossistemas de alta relevância ambiental cuja diversidade é marcada pela transição de ambientes terrestres

e marinhos. Entre as unidades mais representativas, destacam-se as praias e

restingas, recifes, estuários, lagunas e manguezais.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Na Costa dos Corais, predominam as praias planas e de areias claras e finas,

formando grandes enseadas. Próximo aos estuários encontram-se praias com

sedimento muito fino e coloração escura e consistência lodosa, em função

da influência de sedimentos de carreado pelos rios. Praias diferenciadas, com

falésias decorrentes da erosão eólica e hidráulica da encosta do tabuleiro costeiro,

encontram-se nos municípios de Barra de Santo Antônio e Japaratinga (Carro

Quebrado, Morro de Camaragibe, Barreiras do Boqueirão).

As restingas ocorrem praticamente em todos os municípios litorâneos da Costa

dos Corais com diferentes características ambientais. As formações podem

apresentar faixas largas e extensas, ou então ficar restritas a pequenas áreas ao

longo da linha de praia. Maceió é denominada pelo geógrafo Ivan Fernandes Lima

de “cidade restinga” (LIMA,1990).

Os estuários, formados pelo encontro entre as águas doces continentais

com o oceano, são reconhecidamente um dos mais produtivos ambientes da

natureza e fonte importantíssima de alimentos para toda a zona costeira, de

onde é retirada a maior parte do pescado para o consumo humano. São áreas

de criação e refúgio permanente ou temporário de inúmeras espécies de peixes,

moluscos e crustáceos. Tal fato se deve notadamente à elevada produtividade

primária, da qual depende cada ecossistema. Os estuários dos Rios Santo

Antônio e Camaragibe, destacam-se pelas suas dimensões e significado para a

sustentabilidade das comunidades pesqueiras do litoral norte.

O Complexo Estuarino Lagunar Mundaú–Manguaba - CELMM, que tem a sua

barra no limite sul do município de Maceió, configura-se como uma região de

aporte de nutrientes carreados pelos cursos d’água interioranos, o que origina

um ecossistema altamente produtivo, onde se desenvolvem organismos que se

constituem em importante fonte alimentar para a população local. Entre os recursos

naturais renováveis explorados, o molusco sururu (Mytella charruana) está entre

as espécies mais representativas, sendo encontrado nos bancos ou croas da lagoa

Mundaú. Apesar de fortemente impactado pela ocupação urbana de seu entorno,

se revitalizado pode vir a se constituir num excelente suporte para atividades

produtivas (pesca e aquicultura) integradas a atividades recreativas e esportivas,

como mais uma alternativa para o desenvolvimento do turismo em Maceió.

O manguezal, vegetação típica dos estuários, é encontrado em toda a faixa

litorânea da Costa dos Corais. O ambiente de reprodução de espécies marinhas

da fauna aquática e subaquática desempenha importante papel no processo da

cadeia trófica, mantendo o ciclo produtivo entre o estuário e o mar. Protegem a

costa da erosão marinha e retém sedimentos, evitando o assoreamento de áreas

circunvizinhas e acumulando nutrientes em tal quantidade, que são considerados

como ambientes da mais alta produtividade primária. Na área do Pólo, os

manguezais são mais representativos nos estuários dos Rios Santo Antônio e

Camaragibe, bem como no CELMM, embora sejam frequentes as formações de

mangues na desembocadura da maioria dos rios que drenam o todo o litoral.

O ecossistema recifal encontra-se presente ao longo de quase toda a região

costeira da Costa dos Corais, desde a linha de praia até alguns quilômetros com

formações de recifes sobre a plataforma continental. Podem apresentar duas

formações básicas: recifes de corais, constituídos por camadas sobrepostas

resultantes da sedimentação de esqueletos de organismos marinhos ou recifes

coralígenos, compostos principalmente por sedimentação de arenito e algas

calcárias. Esses, por sua vez, podem ser recifes de franja ou de barreira.

Ambientes de riquíssima biodiversidade e comprovada importância dentro da

cadeia alimentar marinha, contribuem de forma decisiva para a estabilidade da

linha de costa, constituindo-se na proteção natural do litoral com relação aos

processos erosivos.

As formações coralígenas, paralelas à linha da costa, são responsáveis pela

configuração das chamadas “piscinas naturais” destacando-se como um dos

mais importantes atrativos turísticos do litoral alagoano, como por exemplo, as

piscinas naturais das praias de Pajuçara, Ipioca, Paripueira, Japaratinga e as galés

de Maragogi.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

O bioma Mata Atlântica já possuiu uma distribuição ao longo de toda costa da

região do litoral do Estado de Alagoas, avançando para o interior em extensões

variadas, englobando um diversificado mosaico de ecossistemas associados, com

estruturas e composições bastante diferenciadas, tanto com relação à composição

florística quanto faunística. Representadas pelas matas dos tabuleiros, das

encostas e ciliares, as áreas remanescentes com manchas de mata nativa exercem

um importante papel devido à elevada biodiversidade. A vegetação ciliar, além do

papel primordial no ciclo de nutrientes, é responsável pela fixação das margens

dos rios, lagoas e estuários, evitando erosões e assoreamento.

Configurando um ambiente complexo e diversificado, os ecossistemas existentes

no Polo Costa dos Corais representam a base de sustentação econômica e

produtiva da comunidade local, e sua preservação, indiscutivelmente justificada,

deverá representar o grande diferencial para o desenvolvimento da atividade

turística sustentável na região. Constituindo-se um harmonioso conjunto de uma

rara beleza cênica, o ambiente apresenta, no entanto, inúmeras áreas consideradas

muito frágeis, principalmente aquelas diretamente localizadas próximas à linha de

costa.

A preocupação com a preservação desses ecossistemas levou os governos e

sociedade civil a criarem Unidades de Conservação na região que viria a ser o Polo

Costa dos Corais. São 4 UC, todas elas de uso sustentável, sendo três Estaduais e

uma Federal.

Em 1984, foi criada a Área de Proteção Ambiental de Santa Rita – APA de Santa Rita – com o objetivo de preservar as características ambientais e naturais das

regiões dos canais e lagoas Mundaú e Manguaba, ordenando a ocupação e uso

do solo. Com área de 10.230 hectares, abrange os municípios de Maceió, Marechal

Deodoro, Santa Luzia do Norte e Coqueiro Seco (Lei n°. 4.6074/1984). A APA tem

um Conselho Gestor formado e Plano de Manejo, concluído em 2010.

No ano de 1992, foi criada a APA de Fernão Velho e Catolé com uma área

de 5.415 hectares, abrangendo os municípios de Maceió, Satuba, Santa Luzia

do Norte e Coqueiro Seco, com o objetivo de preservar as características dos

ambientes naturais e ordenar a ocupação e o uso do solo. A área tem considerável

importância abrangendo também remanescentes da Mata Atlântica sendo

detentora de manancial que abastece 30% da cidade de Maceió. O bioma

predominante é o da Mata Atlântica, de ecossistemas variando da floresta

ombrófila ao manguezal (Lei n°. 5.347/1992). A APA formou seu Conselho Gestor,

mas não dispõe ainda de um Plano de Manejo.

Em 1998, com o objetivo de harmonizar as atividades com o equilíbrio ambiental

do ecossistema da Bacia Hidrográfica do Rio Pratagy, onde se localiza o principal

manancial de abastecimento de água de Maceió, foi criada a Área de Proteção

Ambiental do Pratagy - APA do Pratagy - com área 13.369,5 hectares, abrangendo

terras dos municípios de Messias, Rio Largo e Maceió (Decreto no 37.589/1998). O

Conselho Gestor da APA está formado, mas o Plano de Manejo ainda não existe.

Finalmente a Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais – APACC – foi

criada pelo Decreto Executivo de 23/10/1997, visando a proteção dos ambientes

marinhos e estuarinos, especialmente os recifes de coral, os manguezais e as

praias. A APACC, maior área marinha protegida no Brasil, abrange o litoral norte de

Alagoas e sul de Pernambuco, totalizando cerca de 413 mil hectares 3. Os objetivos

são: a) garantir a conservação dos recifes coralígenos e de arenito, com sua fauna

e flora; b) manter a integridade do habitat e preservar a população do Peixe-boi

marinho (Trichechus manatus); c) proteger os manguezais em toda a sua extensão,

situados ao longo das desembocaduras dos rios, com sua fauna e flora; d)

ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades econômicas

compatíveis com a conservação ambiental; e) incentivar as manifestações

culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional. A UC conta

com o Conselho Gestor (formalizado em 2011) e Plano de Manejo consolidado

(publicado em 2013).

3 A APACC abrange 13 municípios, sendo 10 pertencente ao estado de Alagoas (Maceió, Paripueira, Barra de Santo Antônio, São Luiz do Quitute, Passo do Camaragiibe, Porto Calvo, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga e Maragogi) e 3 pertencentes ao estado de Pernambuco (São José da Coroa Grande, Barreiros e Tamandaré)

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

O Peixe-boi marinho, com sua reduzidíssima população, é atualmente o mamífero

aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. Com a possibilidade de extinção

dessas espécies, o governo brasileiro proibiu sua caça e criou em 1980 o Projeto Peixe-Boi desenvolvido pelo CMA (Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e

Manejo de Mamíferos Aquáticos) com sede em Pernambuco. O projeto dedica-se

à pesquisa, resgate, recuperação e devolução à natureza do Peixe-boi, bem como

a informação e parceria com comunidades ribeirinhas e costeiras.

4.1.2. Os Municípios da Costa dos Corais

Visando apresentar uma visão geral dos municípios que compõem a Costa dos

Corais, apresenta-se a seguir uma breve caracterização dos mesmos 4:

• Paripueira: Distante 36 km do centro de Maceió, nome que significa “águas

mansas”. A cidade originou-se a partir de uma colônia de pescadores. Devido

a sua proximidade com Maceió, passou a ser área de veraneio. Até 1988, o

povoado pertencia ao município de Barra de Santo Antonio. A população é de

aproximadamente 10 mil habitantes e a economia é gerada pela pesca, turismo

e cana-de-açúcar. O município possui infraestrutura e belas praias, a exemplo

de Paripueira e Sonho Verde, onde estão concentradas as piscinas naturais, um

dos principais atrativos do município;

• Barra de Santo Antônio: O município fica distante 45 km de Maceió e sua

população é de aproximadamente 15 mil habitantes. A sede municipal,

que está localizada às margens do Rio Santo Antônio, que deu origem ao

nome da cidade, se divide entre a simplicidade da vida dos seus nativos e a

grandiosidade de alguns monumentos históricos da arquitetura holandesa

do século 18. A maior riqueza do município é o patrimônio natural, possuindo

um grande rio margeado por manguezais e belas praias como Tabuba, Carro

Quebrado e a Ilha da Croa;

• Passo de Camaragipe: Distante 89 Km de Maceió, tem uma população de

4 Esta breve caraterização foi compilada do site da SEDETUR de Alagoas, principal portal digital sobre a região.

aproximadamente 14 mil habitantes. Nas margens do rio Camaragibe começou

o povoado de Passo, ponto em que o rio oferecia mais facilidade na passagem

daqueles que vinham de Pernambuco para Alagoas, sendo ponto de apoio

para os navios holandeses. Daí a origem do nome, que passou a ser cidade em

1880 e fez parte dos acontecimentos históricos devido à invasão holandesa.

Pousadas e hotéis -fazenda fazem parte da paisagem desse município que tem

no cultivo do coco da Bahia, cana-de-açúcar, pesca e pecuária suas principais

atividades econômicas. O coco de roda e samba matuto são os representantes

da cultura popular. Os principais atrativos são os rios, lagoas e manguezais, além

do mar e dos recifes e corais. As principais praias são da Barra de Camaragibe,

Marceneiro e dos Morros;

• São Miguel dos Milagres: Distante 93 km de Maceió, o município tem

aproximadamente 9 mil habitantes. São Miguel dos Milagres passou a ser

município em 1960 e até hoje mantém um aspecto rural. O município é

tranquilo e de paisagens paradisíacas, o que estimulou a criação de pousadas

caracterizadas como “pousadas de charme”, destacando-se por ser um dos

circuitos de hospedagem mais charmosos do Brasil. No passeio de barco

nas águas do Rio Tatuamunha é possível conhecer o projeto de conservação

do peixe-boi marinho e eventualmente avistar os animais nadando entre os

manguezais. As Praias do Toque, Porto da Rua e São Miguel dos Milagres são os

principais atrativos do município. Além destes atrativos, na parte continental,

há o Morro do Cruzeiro onde pode-se ter uma ampla visão, não apenas do

município, mas de uma grande parte do litoral da Costa dos Corais;

• Porto Calvo: Porto Calvo fica a 96 km de Maceió, com uma população estimada

em 25 mil habitantes e está situado a 35 metros acima do nível do mar. A

origem do nome advém de uma lenda: Conta-se que um velho calvo, morava

às margens do rio e construiu um porto. Atualmente, é apenas uma referência

histórica que pode ser constatada nos poucos acervos existentes do século

16: a exemplo da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, considerada

monumento nacional, tombado em 1955, e o Alto da Forca;

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

• Porto de Pedras: Distante 128 km de Maceió, tem uma bela paisagem entre o

mar e uma bela encosta, que deu origem ao nome do povoado, que passou

a ser município em 1921, e tem uma população de aproximadamente 11

mil habitantes. Em 1633, Porto de Pedras sofreu a invasão dos holandeses,

mas os portugueses conquistaram o domínio de volta, e parte dessa época

ainda está preservada na conservação de alguns prédios dos séculos 17 a 19.

De um farol, localizado no alto do morro, pode-se observar grande parte do

litoral formado Alagoano. Fazendo parte de uma faixa de litoral em processo

de desenvolvimento (como em São Miguel dos Milagres) e de grande beleza

cênica, no município estão as praias de Tatuamunha e do Patacho, duas das

principais praias da região. A travessia de balsa pelo Rio Manguaba, que divide

o município com o de Japaratinga, apresenta também uma beleza singular;

• Japaratinga: Distante 121 km de Maceió, com aproximadamente 8 mil

habitantes, o município deve suas origens a uma colônia de pescadores cujo

desenvolvimento foi a partir do século 19 com o início do ciclo do coco. Até

1960, Japaratinga pertencia a Maragogi, e hoje, é um importante polo turístico

dotado de boa infraestrutura turística com restaurantes, hotéis e pousadas. As

fazendas de coqueiros são um dos atrativos do município e podem ser visitadas

por passeios a cavalos. Assim como nos outros municípios (exceção de Porto

Calvo), os principais atrativos são as praias, como por exemplo, Barreira do

Boqueirão, Bitigui e Japaratinga;

• Maragogi: Distante 131 km de Maceió, com uma população de 25 mil

habitantes, é o segundo destino mais procurado de Alagoas. Devido ao rio

que banha o local, Maragogi, que significa “rio livre”, deu nome ao povoado

em 1892. A infraestrutura turística conta com vários hotéis, pousadas, hotéis

fazenda, restaurantes, centros de artesanato e várias opções de lazer ao

visitante. O município conta com uma grande diversidade de atrativos, como

por exemplo, fazendas com trilhas de Mata Atlântica, coqueirais, praias e as

piscinas naturais (principal atrativo do município);

A seguir, apresenta-se uma caraterização sobre a dinâmica social e econômica

dos municípios abrangidos pelo projeto, visando um maior enfoque sobre a

organização socioeconômica destes.

4.2. Caracterização da Dinâmica Social e Econômica dos Municípios Abrangidos pelo Projeto

Em relação à dinâmica social e econômica da Costa dos Corais, será dado um

enfoque sobre os quatro municípios abrangidos pelo projeto – Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi – onde são exploradas

informações socioeconômicas, como crescimento do PIB, desenvolvimento

econômico (Saúde, Educação e Renda), dentre outros parâmetros, de modo a

observar a evolução dessas variáveis para Costa dos Corais e sua relação com as

informações nível Brasil e Nordeste.

Essa etapa da análise oferece a sensibilidade sobre como o desenvolvimento da

região de interesse se relaciona com o desenvolvimento do Brasil e Nordeste. Essa

sensibilidade é necessária para dar suporte às estimações realizadas na sequência,

no que tange ao contexto econômico, pois, com ela, é possível inferir com

maior confiança as estimações de demanda e crescimento do turismo na região

abarcada pelos municípios.

De acordo com a Tabela 1, dentre os municípios abarcados pelo projeto, Maragogi

(AL) é aquele que apresenta maior população, com 28.606 habitantes segundo o

Censo 2010 do IBGE. Em seguida está Paripueira (AL) com 11.287 habitantes, Porto

de Pedras (AL) com 8.328 habitantes e, por fim, São Miguel dos Milagres (AL) com

7.052 habitantes. É importante destacar que se tratam de municípios pequenos

quando comparados a Maceió (AL), por exemplo, cuja população em 2010 era de

924.611. No entanto, o Censo considera a população de fato residente em cada

município, e não contabiliza a movimentação de turistas.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 1: Análise População

População (Habitantes em 2010)Maragogi 28.606

São Miguel dos Milagres 7.052Porto de Pedras 8.328

Paripueira 11.287Maceió 924.611Recife 1.524.310

Fonte: Censo 2010. Descrição: número habitantes em domicílios permanentes

A Tabela 2 destaca, a partir de dados do Finbra, os principais componentes de

despesa nos anos de 2014 e 2015 dos municípios e suas respectivas taxas de

variação. Em Maragogi, a principal despesa municipal em 2015 foi na área de

educação, com R$ 23,51 milhões, o que corresponde a um aumento de 17% em

relação a 2014. Outras despesas consideráveis foram na área de saúde, de R$ 13,13

milhões (aumento de 8% em relação a 2014) e urbanismo, com R$ 11,94 milhões

(aumento de 21% em relação a 2014). Os municípios de Paripueira e Porto de

Pedras apresentam uma composição de despesas semelhantes à de Maragogi.

Em Paripueira, os maiores gastos foram com educação em 2015 foi de R$ 10,77

milhões, o que corresponde a um aumento de 22% e relação ao ano anterior,

seguido da área de saúde, com R$ 5,39 milhões (aumento de 20%) e urbanismo,

com R$ 4,03 milhões (aumento de 63% frente a 2014). Já em Porto de Pedras, a

área de educação também representou a maior parte dos dispêndios municipais,

com R$ 10,03 milhões em 2015, mesmo valor do ano anterior, seguido de saúde,

com R$ 4,63 milhões (aumento de 6%) e urbanismo, com R$ 2,23 milhões, redução

de 59% em relação a 2014. Os dados não foram reportados para o município

de São Miguel dos Milagres. Essa composição não difere muito das capitais

Maceió e Recife. Na primeira, os maiores dispêndios em 2015 foram em saúde e

administração pública, enquanto que em Recife foram saúde e urbanismo.

Além disso, Maragogi é a cidade com maior orçamento, com R$ 66,69 milhões em

2015, seguido de Paripueira, com R$ 26,47 milhões, e Porto das Pedras, com R$

22,19 milhões. Esta foi a única que apresentou redução nas despesas em relação a

2014, com queda de 12%.

Tabela 2. Análise Despesas Públicas

Despesa Pública (R$ Milhões)

Cidade Maragogi Paripueira Porto das Pedras

São Miguel

dos Milagres*

Maceió Recife

Área / Ano 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015Educação 20,06 23,51 8,86 10,77 10,03 10,03 - - 152,76 268,30 752,90 777,05Saúde 12,21 13,13 4,49 5,39 4,38 4,63 - - 556,74 524,67 850,85 919,91Urbanismo 9,91 11,94 2,47 4,03 5,47 2,23 - - 187,82 181,39 879,66 849,78Administração 7,21 7,00 2,60 3,34 2,17 2,05 - - 439,27 342,04 462,67 494,37Previdência Social

4,05 4,78 1,08 0,40 1,21 1,52 - - 210,19 232,56 328,99 381,06

Total 60,13 66,69 22,18 26,47 25,35 22,19 - - 1.668,59 1.680,89 3.863,31 4.048,69Taxa de variação (2014 para 2015)

Educação - 17% - 22% - 0% - - - 76% - 3%Saúde - 8% - 20% - 6% - - - -6% - 8%Urbanismo - 21% - 63% - -59% - - - -3% - -3%Administração - -3% - 28% - -6% - - - -22% - 7%Previdência Social

- 18% - -63% - 26% - - - 11% - 16%

Total - 11% - 19% - -12% - - - 1% - 5%

Fonte Finbra.

Nota: *Não são disponibilizadas as informações para São Miguel dos Milagres.

Outro indicador relevante no mapeamento do perfil socioeconômico de uma

determinada localidade é o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, o qual

considera três componentes: um relacionado à saúde, medido pela longevidade

(expectativa de vida), o segundo relacionado à educação, calculado com base na

escolaridade média e na escolaridade esperada, e o último relacionado à renda

e trabalho, calculado com base na renda per capita. O IDH é a média geométrica

dos três índices. Uma localidade apresenta IDH muito alto se o valor for maior do

que 0,8; alto se estiver entre 0,7 e 0,799; médio se estiver entre 0,6 e 0,799; baixo se

o valor estiver entre 0,5 e 0,599; e muito baixo se for abaixo de 0,5.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

A Tabela 3 contém o IDH calculado em 2010 para os municípios abrangidos

pelo projeto, para as capitais Maceió e Recife, para os estados de Alagoas e

Pernambuco e para o Brasil. As capitais apresentam um IDH consideravelmente

superior ao das outras quatro cidades. Recife apresenta um IDH de 0,772 e Maceió

tem um IDH de 0,721, ambos considerados altos e acima do IDH de seu respectivo

estado, sendo 0,673 em Pernambuco e 0,631 em Alagoas, pior índice dentre os

estados brasileiros. Dentre as quatro cidades da Costa dos Corais, o maior IDH é de

Paripueira, de 0,605, seguida por São Miguel dos Milagres (0,591), Maragogi (0,574)

e Porto de Pedras (0,541), todas abaixo do índice de Alagoas, principalmente

devido ao índice para renda e educação.

Tabela 3. IDH

Município Longevidade Educação Renda GeralMaragogi 0,766 0,443 0,556 0,574Paripueira 0,767 0,486 0,595 0,605Porto de Pedras 0,769 0,379 0,542 0,541São Miguel dos Milagres 0,752 0,504 0,545 0,591Maceió 0,799 0,635 0,739 0,721Recife 0,825 0,698 0,798 0,772Alagoas 0,755 0,520 0,641 0,631Pernambuco 0,789 0,574 0,673 0,673Brasil 0,816 0,637 0,739 0,727

IDH*

Fonte Censo 2010. *Alto: acima de 0,8; Médio: entre 0,5 e 0,799; Baixo: abaixo de 0,5.

Em relação à atividade econômica da região, a Figura 2 fornece uma descrição do

perfil econômico de cada um dos quatro municípios e das capitais Maceió e Recife

nos anos de 2006 e 2014. A maior parte da renda gira em torno das atividades

relacionadas à administração pública, mas essa categoria de gastos apresentou

queda em sua relevância em todos os municípios entre 2006 e 2014. São Miguel

dos Milagres é a cidade em que esta atividade é mais relevante, chegando a

representar 78% da renda total em 2006 e 68% em 2014, seguida de Porto de

Pedras com 71% em 2006 e 66% em 2014. Para São Miguel dos Milagres, merece

destaque o setor de hospedagem e alimentação, cujo dispêndio cresceu de

12% para 23% da renda total entre 2006 e 2014. Para Maragogi, a participação

de atividades ligadas à administração pública foi de 52% em 2006 e 44% em 2014,

e novamente há destaque para as atividades de hospedagem e alimentação,

que corresponderam a 27% e 29% de participação na renda total em 2006 e

2014. Por fim, Paripueira entre 2006 e 2014 reduziu a alocação do seu gasto com

administração pública de 41% para 25% e elevou a alocação com hospedagem e alimentação de 6% para 11%. É importante ressaltar que todos os municípios

apresentam um setor de hospedagem e alimentação mais significativo do que

Recife e Maceió, duas das principais capitais do nordeste brasileiro que recebem

um grande fluxo de visitantes.

Figura 2. Principais Atividades Econômicas

Fonte: Relatório Anual de Informações Sociais - RAIS

IDH *

Município Longevidade Educação Renda Geral

Perc

entu

al R

enda

Tot

al

(Prin

cipa

is a

tivid

ades

)

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Por fim, a análise da renda per capita na Figura 3 mostra uma trajetória de

crescimento desde 1991 até 2010, tanto para o Brasil quanto para Maceió, Recife,

Alagoas, Pernambuco e os municípios abarcados pelo projeto. A cidade de

Recife teve renda per capita de R$ 1.144,26, acima da média do Brasil (R$ 793,87),

cujos valores são parecidos com os de Maceió (R$ 792,54). Já os municípios

apresentaram valores abaixo inclusive da média de Alagoas (R$ 432,56). Paripueira

teve a maior renda per capita, de R$ 324,93, seguida por Maragogi (R$ 253,86), São

Miguel dos Milagres (R$ 237,78) e Porto de Pedras (R$ 233,72).

Figura 3. Análise Renda per capita

Fonte IBGE

4.3. Panorama Turístico da Costa dos Corais

Com a elaboração do Plano Estadual de Turismo (2005-2015), e com base nos

perfis de polos potenciais para exploração do turismo, características semelhantes

e complementares, foi proposta uma divisão do Estado em 8 regiões turísticas,

como observado na figura 4. Porém, com a revisão do Plano Estadual de Turismo

2013-2023, o estado passou a contar com 5 regiões turísticas, de acordo com os

critérios estabelecidos pelo Programa Nacional e Estadual de Regionalização do

Turismo: Costa dos Corais, Metropolitana, Lagoas e Mares do Sul, Caminhos do São Francisco e a região dos Quilombos, conforme demonstrado na figura 4. De

acordo com o Plano Estadual de Turismo (2013 – 2023), os municípios que não

foram classificados enquanto regiões turísticas irão receber auxílio do estado para

que possam ser estruturar e futuramente ser classificados de acordo com suas

características para comporem o programa estadual de regionalização do Turismo.

Figura 4. Regiões Turísticas de Alagoas. Fonte: SEDETUR

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

A Costa dos Corais corresponde à principal região turística do Estado de Alagoas,

sendo o indutor de todo desenvolvimento histórico do turismo no Estado,

especialmente, pelo fato de englobar a capital alagoana. Além disso, a região

da Costa dos Corais conta os dois municípios de Alagoas identificados pelo

Ministério do Turismo como indutores de desenvolvimento turístico regional dentre os 65 apresentados no estudo de competitividade, como parte do

Plano Nacional de Turismo 2007-2010, sendo eles Maceió e Maragogi. Estes

municípios vêm sendo priorizados por investimentos técnicos e financeiros

do Ministério do Turismo e são foco de articulações e parcerias com outros

ministérios e instituições.

A partir da realização do PDTIS (2012), a equipe responsável pela consolidação dos

estudos dividiu a região da Costa dos Corais em 5 subzonas:

1. Trecho de Veraneio e “Day Use” – Este trecho apresenta o menor grau de

evolução do ponto de vista de investimentos específicos no setor turístico

quando comparado aos outros trechos. Apesar da consolidação de pontos

de apoio, ainda predominam marcas de ocupação urbana desordenada,

principalmente nos municípios de Paripueira e Barra de Santo Antônio;

2. Trecho com Turismo em Desenvolvimento – Obedecendo a evolução natural

à vocação turística desta subzona, há hoje a predominância de pousadas

de charme e empreendimentos de baixa escala e alto valor agregado.

Praticamente 100% da mão-de-obra é local, e há um esforço conjunto dos

empresários em preservar as características estéticas, ambientais e sociais do

que foi denominado “Rota Ecológica”. Apesar de Japaratinga encontrar-se num

estágio um pouco diferenciado dos demais municípios da Rota Ecológica, a

cidade identifica-se mais com as características do turismo desenvolvido nesta

subzona. Além de Japaratinga, os municípios que compõem essa subzona são

Passo do Camarajipe, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras;

3. Trecho com Turismo em Consolidação – Maragogi é hoje um dos 65 destinos

indutores do turismo pelo MTUR. Possui a atividade turística em consolidação

com diversos equipamentos, que variam de pousadas, hotéis de médio porte e

resorts além da variedade nos pontos de apoio e serviços em geral;

4. Trecho com Turismo Consolidado – Maceió, destino turístico de Alagoas

consolidado nacional e internacionalmente, também faz parte do Programa

dos Destinos Indutores do Ministério do Turismo. Sendo a capital do Estado e

detentora de uma ampla infraestrutura turística e o principal núcleo receptor;

5. Trecho com Municípios Fora da Área Litorânea – Os municípios de São

Luís do Quitunde, Matriz de Camaragibe e Porto Calvo encontram-se fora da

área litorânea e, apesar de possuírem um vasto potencial cultural, estão num

processo incipiente de desenvolvimento da atividade turística.

A partir desta divisão realizada em 2012 e observando o estágio atual de

desenvolvimento do turismo na região da Costa dos Corais, esta poderia ser divida

em 4 Zonas:

1. Trecho de Veraneio e “Day Use” – Paripueira e Barra de Santo Antônio

continuam ocupando este trecho, onde o grau de desenvolvimento turístico

aumentou significativamente nos últimos anos, assim como a oferta de

possibilidades de atividades e infraestruturas de apoio ao turismo. Atualmente,

o governo do estado vem ampliando os investimentos em estruturação da rede

viária, saneamento, estrutura urbanas e outras obras de infraestrutura no vetor

norte da capital do estado, o que influencia diretamente na dinâmica territorial

destes dois municípios, uma vez que estão mais próximos da capital;

2. Trecho de Turismo Ecológico – Com a consolidação da “Rota Ecológica” e

consolidação das pousadas de charme e empreendimentos de baixa escala

e alto valor agregado, a região compreendida pelos municípios de São

Miguel dos Milagres e Porto de Pedras já recebe um fluxo maior de visitantes,

principalmente no verão (incluindo turistas do tipo “day use”), mas ainda

mantém características estéticas, ambientais e sociais que visam a valorização

da cultura local, abrigando também o projeto de conservação do peixe-boi

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

marinho e outras atividades que visem a valorização socioambiental. Porém, é

importante frisar que, com o aumento do fluxo turístico dos últimos 5 anos, a

manutenção das características locais é um dos principais os desafios para esta

subzona;

3. Trecho com Turismo Consolidado – Maragogi, além de ser hoje um dos

65 destinos indutores do turismo pelo MTUR, é também o segundo destino

turístico mais procurado do estado de Alagoas, ficando atrás apenas da capital.

O município ao longo dos últimos 5 anos consolidou seu principal produto

turístico (as piscinas naturais) e vem buscando uma maior diversificação,

visando oferecer aos visitantes uma maior variedade de atividades, visando uma

maior permanência no município. Maragogi possui diversos equipamentos de

apoio ao turismo, que variam entre pousadas, hotéis de médio porte e resorts,

além da variedade nos pontos de apoio e serviços em geral. Maceió, destino

turístico de Alagoas consolidado nacional e internacionalmente, também faz

parte do Programa dos Destinos Indutores do Ministério do Turismo. Sendo a

capital do Estado e detentora de uma ampla infraestrutura turística e o principal

núcleo receptor do estado. Em 2012, Japaratinga encontrava-se na subzona

de “Turismo em Desenvolvimento”, mas nos últimos 5 anos, devido às suas

características e maior proximidade com Maragogi, foi um dos municípios que

mais se desenvolveu no âmbito de estruturação turística e hoje possui uma

atividade consolidada, baseada também nas visitas as piscinas naturais;

4. Trecho com Municípios fora da Área Litorânea – Os municípios de São Luís

do Quitunde, Matriz de Camaragibe e Porto Calvo encontram-se fora da área

litorânea e, apesar de possuírem um vasto potencial cultural, continuam num

processo incipiente de desenvolvimento da atividade turística, tendo em

vista que o principal interesse dos visitantes da região da Costa dos Corais

concentram-se na parte litorânea.

No Plano Estadual de Turismo (2013-2023), é apontado que na região da Costa

dos Corais os principais segmentos turísticos desenvolvidos são: (i) Turismo de

Sol e Praia; (ii) Ecoturismo; (iii) Turismo de negócios e eventos; (iv) Turismo de aventura; (v) Turismo náutico; (vi) Turismo rural; e (vii) Turismo cultural e social. Dentro desta segmentação sinalizada pelo Plano Estadual, destacam-se o

turismo de sol e praia, principal segmento praticado ao longo de toda a região,

assim como o ecoturismo (concentrado na região da Rota Ecológica) e o turismo de negócios e eventos, principalmente em Maceió. Os outros segmentos veem,

ao longo dos últimos anos, sendo melhor trabalhados e estruturados de maneira a

contribuir para a diversificação do produto turístico da região da Costa dos Corais.

No que tange às potencialidades turísticas, o Plano Estadual subdividiu-se em 3

categorias de potencialidades e respectivos atrativos:

1. Natural: Praias, recifes de corais, piscinas naturais, falésias, rios, projeto peixe-

boi, enseadas, manguezais, biodiversidade marinha, coqueirais e APA Costa dos Corais;

2. Cultural: Artesanato (coco, madeira e fibra de bananeira), gastronomia,

folclore, casa de farinha e engenhos de açúcar, manifestações populares, como

por exemplo, bumba meu boi, pesca artesanal, pastoril, samba de matuto,

guerreiro, lapinha, coco e roda;

3. Histórico: Ocupação portuguesa disputada com a ocupação Holandesa.

Os dados apresentados pelo diagnóstico PDITS (2012) mostraram que a região

da Costa dos Corais já vinha se destacando, no cenário turístico nacional e

internacional, como destino referência de sol e praia no nordeste brasileiro. Neste

sentido, a região é atualmente o principal destino turístico do estado de Alagoas e

vem, através de programas federais, estaduais e municipais buscando diversificar

a oferta de atividades, produtos e serviços turísticos, visando o fortalecimento da

região no que diz respeito aos diferentes segmentos turísticos.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

5. A APA COSTA DOS CORAISA APA da Costa dos Corais foi criada a partir do Decreto Federal de 23 de outubro

de 1997, abrangendo os Estados de Alagoas e Pernambuco, sendo a maior UC

marinha federal com cerca de 413 mil ha, dos quais cerca de 120 km representam

uma extensão ao longo da costa, entre os municípios de Tamandaré (PE) e norte

de Maceió (AL).

Figura 5. APA Costa dos Corais.

Fonte: ICMBio

Os objetivos de criação da UC, segundo o Decreto são: garantir a conservação

dos recifes coralígenos e de arenito, com sua fauna e flora; manter a integridade

do habitat e preservar a população do Peixe-boi marinho (Trichechus manatus);

proteger os manguezais em toda a sua extensão, situados ao longo das

desembocaduras dos rios, com sua fauna e flora; ordenar o turismo ecológico,

científico e cultural, e demais atividades econômicas compatíveis com a

conservação ambiental; incentivar as manifestações culturais contribuindo para o

resgate da diversidade cultural regional. De modo a auxiliar esses objetivos, a UC

possui conselho gestor, de caráter consultivo (CONAPAC), que foi criado em 2011

e desde então realizou dois processos de renovação (2014 e 2016). O conselho

é composto por vários setores que atuam na UC incluindo entidades do poder

público e da sociedade civil.

Outro importante espaço de participação social, também contemplado no Plano

de Manejo é o incentivo para criação e implementação dos Conselhos Municipais

de Defesa do Meio Ambiente (CONDEMAS). Esses colegiados são responsáveis por

contribuir com a gestão ambiental local e são compostos pelos diversos setores

da sociedade local, contribuindo sobremaneira com os processos de gestão e

ordenamento territorial. O Plano de Manejo da APA Costa dos Corais, aprovado

em 2013, estabelece as diversas zonas de manejo, assim como suas regras de uso.

Uma vez que a UC abrange exclusivamente o ambiente marinho, compreendendo

tão somente áreas de domínio da união, não é possível ter propriedades

particulares em seu interior. As principais atividades antrópicas realizadas estão

voltadas para a pesca artesanal e o turismo, sendo que ambas prescindem de

ordenamento do poder público federal. As criações de novas zonas de visitação,

assim como o estabelecimento das suas regras de ordenamento, são realizadas

por meio de instrumentos legais do ICMBio (Instruções Normativas e Portarias).

Esses instrumentos legais delimitam as áreas de acesso à visitação, os tipos de

embarcação autorizados, a capacidade de suporte e as marés permitidas para a

visitação pública nas piscinas naturais que compõem a APA.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Esses fatores fazem com que a UC receba grande pressão local para a abertura

de novas piscinas naturais à visitação e o aumento da capacidade de suporte nas

piscinas já liberadas para a visitação. Dentre os desafios de expandir a visitação,

pode-se destacar a deficiência no monitoramento dos impactos da visitação

nos ambientes recifais, o fortalecimento do turismo de base comunitária e

a inclusão das populações locais nas atividades turísticas e no controle da

qualidade da experiência dos visitantes das nas piscinas naturais utilizadas para

visitação. Vale salientar que, no nordeste do país, é muito comum constatar locais

onde a expansão do turismo litorâneo ocorre de forma desordenada e sem

responsabilidade social, colocando as comunidades locais à margem do processo

de desenvolvimento, acarretando em perda de valores culturais e degradação dos

ambientes naturais visitados. A riqueza sociocultural, a beleza cênica e a diversidade

biológica da APACC agregam grande valor turístico a esse território. Por isso, torna-

se fundamental os esforços de planejamento do uso público a fim de garantir um

espectro ou gradiente de oportunidades de experiências de visitação que variem

desde as mais desenvolvidas e sofisticadas até aquelas mais rústicas e naturais, com

inclusão das comunidades locais e de baixo impacto ambiental.

A principal atividade de uso público na APACC é a visitação às piscinas naturais

localizadas nos ambientes recifais, onde são ordenados os serviços de transporte

de passageiros, mergulho conduzido, mergulho autônomo e fotografia

subaquática (conforme Plano de Manejo).

Essa atividade de passeio às piscinas naturais varia entre um formato de turismo

de massa, operacionalizado por grandes operadoras de turismo, como no caso

da visitação nas piscinas naturais do município de Maragogi – AL, e um de

turismo que tem a base comunitária como referência, onde as comunidades

locais, organizadas em associações, conduzem os visitantes até as piscinas

naturais localizadas nos recifes de corais e demais atrativos da região (Porto de

Pedras e São Miguel dos Milagres em Alagoas). Vale ressaltar que as atividades

de Turismo de Base Comunitária – TBC – têm recebido forte apoio de parceiros

locais, que recentemente realizaram nos municípios de Porto de Pedras, São

Miguel dos Milagres e Passo do Camaragibe ações de capacitação envolvendo

vários aspectos, desde o associativismo/empreendedorismo até treinamento para

conduta consciente em ambiente recifal.

Outra atividade de uso público extremamente desenvolvida na APACC é o turismo

de avistamento do peixe-boi no Rio Tatuamunha (Porto de Pedras e São Miguel

dos Milagres), uma atividade desenvolvida de forma exitosa com foco na inclusão

social local. O Plano de Manejo prevê essa atividade e estabelece ainda uma série

de regras e limites diários de visitação. Além da melhora da qualidade de vida dos

envolvidos diretamente e indiretamente com a atividade, é evidente a percepção

da qualidade do ambiente manguezal da região que passou a ser percebido pela

comunidade como um produto a ser conservado, garantindo a sustentabilidade

da atividade e a sua importância para manutenção das populações de peixe-boi.

5.1. O Plano de Manejo da APA Costa dos Corais

De acordo com informações do próprio Plano de Manejo (PM) da APACC,

o documento é resultado do esforço conjunto da Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE (Departamento de Oceanografia), do Projeto Recifes

Costeiros e do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral

Nordeste – CEPENE (IBAMA). O Plano é subdividido em 4 (quatro) encartes, os

mesmos trataram da contextualização da APACC, seu enfoque regional, nacional e

internacional, aspectos físicos, bióticos e socioeconômico.

A metodologia utilizada para elaboração do Plano de Manejo teve como um dos

seus objetivos a construção do conhecimento coletivo e a aplicação dos novos

direcionamentos Institucionais adotados pelo ICMBio, onde as táticas de manejo

devem estar alinhadas com o planejamento estratégico da Instituição, da UC e,

consequentemente, com seus objetivos de criação.

Neste cenário, o Plano de Manejo da APACC buscou apresentar informações que

justificam as decisões acordadas de forma participativa, visando seu planejamento

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

estratégico, zoneamento e seus programas de ações. Tais informações geradas

possibilitaram a criação de um instrumento estratégico focado em ações factíveis.

Ao analisar o Plano de Manejo publicado em janeiro de 2013, é possível identificar

que a equipe gestora da UC, em conjunto com outros atores locais envolvidos na

elaboração do documento, buscaram consolidar o Plano de Manejo de forma que

o mesmo pudesse dar subsídios ao planejamento e gestão da APACC. A partir deste

cenário, o documento foi dividido em 7 itens focados para a gestão da UC, a saber:

1. Visão geral do processo de planejamento;

2. Matriz de planejamento estratégico;

3. Objetivos de Manejo da APA Costa dos Corais;

4. Pressupostos;

5. Diretrizes de Planejamento;

6. Zoneamento;

7. Programas de Ação.

No que tange ao Planejamento Estratégico, a equipe fez uma análise baseada nas

fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças (Matriz FOFA), visando analisar a

situação geral da APACC de uma forma rápida e sintética, considerando os fatores,

tanto internos como externos, que fortalecem ou dificultam o cumprimento

dos objetivos de criação da UC. De acordo com os dados do Plano de Manejo,

a elaboração desta matriz foi realizada considerando as informações coletadas

durante as reuniões técnicas, oficinas de planejamento e audiências públicas para

consolidação do Plano de Manejo.

Ainda segundo o Plano de Manejo, a Matriz de Planejamento Estratégico

possibilitou construir uma visão integrada dos potenciais impactos, tanto positivos

quanto negativos, nos cenários interno e externo da APA. Desta forma, é possível

prever situações favoráveis e desfavoráveis, capazes de fomentar ou comprometer

o bom desempenho da sua gestão. Portanto, a análise da matriz subsidiou a

elaboração das principais ações a serem detalhadas no planejamento da APA.

A partir deste levantamento, pode-se observar que há uma falta de conhecimento,

percepção e valorização ambiental quanto à existência da APACC e seus objetivos.

Esta deficiência está claramente identificada nas quatro principais características

apontadas como fraquezas da APA: (i) analfabetismo ambiental das comunidades locais e baixa capacidade de organização social e institucional; (ii) atividades turísticas e recreativas desordenadas; (iii) poluição por esgoto doméstico; e, (iv) atividade pesqueira desordenada 5.

No que tange ao zoneamento da APACC, este teve como objetivo organizar

espacialmente a área da UC diferentes zonas, que demandam ações de manejo

distintas (proteção, monitoramento, pesquisa, uso etc). Desta forma, foi proposto

que o zoneamento representasse um mosaico de áreas costeiras, ao longo

de toda a UC, sendo este estabelecido conjuntamente com a sociedade civil,

pesquisadores e o poder público.

Desta forma, o zoneamento da APACC, de acordo com informações do Plano de

Manejo, buscou consolidar todas as experiências de manejo realizadas dentro da

UC, seja pela equipe da APA diretamente, como pela ação de parceiros, e também

das audiências públicas realizadas nas comunidades locais integrantes da UC,

ao longo dos anos de 2011 e 2012 (duração da elaboração do Plano de Manejo).

A partir deste cenário, e dos resultados de reuniões e oficinas realizadas para

subsidiar a elaboração do Plano de Manejo, a APACC foi dividida 7 zonas, onde

cada uma possuem regras, normas específicas, assim como atividades que podem

ser realizadas. As zonas da APACC estão divididas da seguinte forma:

1. Zona de Uso Sustentável – ZUS;

2. Zona de Praia – ZP;

3. Zona de Conservação – ZC;

4. Zona Exclusiva de Pesca – ZEP;

5 A matriz FOFA da APACC apresentada no Plano de Manejo encontra-se disponível em anexo

5. Zona de Visitação – ZV;

6. Zona de Preservação da Vida

Marinha – ZPVM;

7. Zona de Transição – ZT.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 6. Zoneamento da APA Costa dos Corais. Fonte: ICMBio Os Programas de Ação foram definidos prevendo-se o período em que serão

realizados, considerando, durante o período de 2013 a 2017. Neste contexto, os

programas foram organizados de forma bastante objetiva e apresentados em

sob forma de tabelas, além da equipe gestora da APACC ter-se preocupado em

apresentar também o cronograma físico-financeiro e a consolidação dos custos

por programas temáticos e fontes de financiamento.

Uma ressalva importante em relação aos Programas de Ação salientada pela

equipe gestora é a de que algumas ações são permanentes e outras, além de

permanentes, possuem características gradativas de aumento na medida em

que as ações se estendem ao longo da APACC. Além disto, a equipe gestora

ressalta também sobre a efetividade das ações a serem realizadas por programas,

que possuem inter-relações com os demais atores da APACC. E, por serem

corresponsáveis pela execução, se faz necessário definir os papéis dos atores e

suas respectivas responsabilidades sendo utilizada como ferramenta a Matriz de

Responsabilidades 6, na qual se atribui os níveis de responsabilidade a cada ação a

ser desempenhada.

Os Programas de Ação definidos no Plano de Manejo são:

1. Programa infraestrutura e gestão interinstitucional;

2. Programa de uso público (visitação);

3. Programa de pesquisa e monitoramento;

4. Programa de gestão socioambiental;

5. Programa de manejo da biodiversidade;

6. Programa proteção ambiental.

Conforme indicado no próprio Plano de Manejo, o planejamento das ações

considerou o período de 2013 a 2017 e o momento atual é de revisão do Plano de

Manejo da APACC. Neste contexto, a equipe gestora, em conjunto com a equipe

6 A matriz de responsabilidades apresentada no Plano de Manejo encontra-se disponível em anexo.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

de coordenação geral do ICMBio estão definindo os procedimentos e etapas

para revisão do Plano de Manejo da UC. Tendo em vista que concomitantemente

a este processo de revisão está sendo elaborado o projeto de Parcerias

Ambientais Público-Privada – PAPP – na APACC, os resultados advindos deste

projeto irão contribuir nesta revisão, uma vez que busca apresentar subsídios

para aprimoramento da gestão da UC no que diz respeito ao fortalecimento

das parcerias já existentes, assim como busca apresentar novos modelos de

aprimoramento de futuras parcerias.

5.2. O Programa de Uso Público da APA Costa dos Corais

De acordo com o Plano de Manejo, o “Programa de Uso Público da APACC tem como principal objetivo ordenar o uso público existente, e fomentar novas atividades de uso sustentáveis, substituindo outras de uso direto na geração de renda da população local” (Plano de Manejo APACC, 2013). A partir deste

direcionamento, a equipe gestora indicou a realização de 4 ações específicas a

serem realizadas entre os anos de 2013 a 2017 para alcance dos objetivos traçados

para o Programa de Uso Público, a saber:

1. Implementar e manter as normativas de ordenamento de turismo marinho

nas áreas definidas;

2. Aplicar os cursos de conduta consciente em ambiente recifal;

3. Apoiar a implantação da estrutura de embarque único na visitação às

piscinas naturais de Maragogi;

4. Implementar Programa de agente ambientais nas Zonas Visitação,

garantindo um agente por zona.

Conforme mencionado no item 5.3, o principal atrativo turístico da APACC são

as piscinas naturais, estando estas localizadas na Zona de Visitação definidas

no Plano de Manejo. Neste contexto, para esta zona foram definidas normas e

regras específicas para um melhor ordenamento e controle da visitação. Todos os

municípios abrangidos pela APACC possuem a delimitação de zonas de visitação,

porém, de acordo com o Plano de Manejo, atualmente apenas 3 munícipios

possuem regulamentações específicas para a visitação às piscinas naturais, a saber:

1. Maragogi – Alagoas;

2. Paripueira – Alagoas;

3. São José da Coroa Grande – Pernambuco;

Além da Zona de Visitação, outras zonas da UC também permitem o

desenvolvimento de atividades turísticas, desde que estejam de acordo com as

regras e normas estabelecidas no Plano de Manejo. A seguir, apresentam-se as

atividades turísticas elencadas no Plano de Manejo que podem ser desenvolvidas

(ou não) de acordo com as zonas da UC.

Tabela 4. Atividades Turísticas elencadas no Plano de Manejo e locais onde

estas são permitidas

Atividade

Zona

Zona de Uso

Sustentável

Zona de

Conservação

Zona

Exclusiva de

Pesca

Zona de

Transição

Zona de

Visitação

Zona de

Conservação

da Vida

Marinha

Turismo de base comunitária Permitido Permitido Não Permitido Permitido com

restrições Permitido Não Permitido

Turismo particular Permitido Permitido com restrições Não Permitido Permitido com

restrições Permitido Não Permitido

Passeio de Catamarã

Permitido com restrições Não Permitido Não Permitido Não Permitido Permitido Não Permitido

Passeio Lancha ou Barco

Permitido com restrições

Permitido com restrições Não Permitido Não Permitido Permitido Não Permitido

Mergulho Autônomo Particular

Permitido Não Permitido Não Permitido Permitido com restrições Permitido Não Permitido

Operadores de mergulho Permitido Não Permitido Não Permitido Permitido com

restrições Permitido Não Permitido

Pesca Amadora Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido Não PermitidoPesca Subaquática Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido Não PermitidoJet-ski (motonáutica) Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido Não Permitido

Tráfego Marinho de barcos de pesca e turísticas (NORMAN)

Permitido Permitido com restrições

Permitido com restrições

Permitido com restrições

Permitido com restrições Não Permitido

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tendo em vista que a APACC está localizada no principal destino turístico do

estado de Alagoas e um dos principais destinos turísticos de sol e praia do Brasil,

nos últimos anos houve um aumento significativo do fluxo de visitantes que

buscam conhecer a região. Neste cenário, diferentes atores locais, regionais e

nacionais, têm demandado da equipe gestora o ordenamento e consolidação

das outras zonas de visitação previstas no Plano de Manejo, outras atividades já

consolidadas, assim como demandado a regulamentação de novas atividades a

serem exploradas.

Como exemplo desta demanda, pode-se citar a visitação às piscinas naturais dos

municípios de São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, onde jangadeiros locais

têm-se organizado para que possam oferecer passeios de jangada às piscinas

naturais dos municípios. Além desta questão, há também municípios que tem

demandado junto à equipe gestora a regulamentação da visitação do que hoje se

denomina “turismo de orla”, onde atividades náuticas são praticadas nas faixas de

200 a 400 m a partir da faixa de areia.

Neste cenário, com a revisão do Plano de Manejo, o programa de Uso Público terá

um papel preponderante no que tange aos diferentes processos de gestão da

APACC, tendo em vista que uma das principais pressões sobre a UC advém das

atividades turísticas atuais e potenciais que a APACC proporciona.

Entendendo que os desafios em relação às ações que envolvem a visitação na

APACC são consideráveis, assim como a importância do programa de Uso Público/

Visitação da UC, nos itens 7 e 8, o cenário turístico da APACC será melhor discutido

visando apresentar uma análise do perfil do visitante da região, a oferta turística,

análise das atividades existentes, as potencialidades turísticas da APACC e uma

discussão sobre o ordenamento da visitação na UC. Além disso, posteriormente

será apresentada uma análise econômica sobre o cenário turístico da APACC.

6. O CENÁRIO TURÍSTICO DA APA COSTA DOS CORAIS

6.1. Perfil dos visitantes da região

• A identificação do perfil do turista é um fator importante para a identificação

de atividades de turismo atuais e potenciais para a APACC. A disponibilidade

de dados referente especificamente à região da Costa dos Corais é escassa, o

que torna os resultados, por vezes, limitados. Neste sentido, foram identificadas

três pesquisas sobre o perfil do turista em Alagoas, que são interessantes para o

estudo em questão:

• Perfil do turista hospedado em Maceió (da Silva, 2014): dissertação de mestrado

apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da

Universidade Federal de Alagoas, que utilizou dados dos anos de 2011 a 2013.

• Perfil do turista na Costa dos Corais no último trimestre de 2016 (SEDETUR,

2016): pesquisa amostral realizada entre os meses de outubro e dezembro de

2016, nos municípios de Maragogi, Japaratinga e Passo de Camaragibe e é

um dos únicos estudos encontrados neste sentido na região. Nela é possível

verificar aspectos interessantes sobre o turista, os quais serão apresentados a

seguir.

• Perfil dos turistas e dos condutores do passeio de observação do peixe-boi-

marinho em Alagoas (Gonzaga & Izidoro, 2016): pesquisa realizada em 2014 e

2015.

Segundo pesquisa do perfil do turista da SEDETUR (2016), a maioria dos visitantes

da região da Costa dos Corais são provenientes principalmentes do Sudeste do

país, sobretudo São Paulo (39%) e Rio de Janeiro (32%). Os demais Estados pode

ser observado na Figura 7.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 7. Origem do turista que frequentou a região em 2016

Fonte: Elaboração a partir de dados da SEDETUR (2016)

A pesquisa vem de encontro com o registrado por da Silva (2014) entre os

anos 2004 a 2013, no qual São Paulo apresenta-se como o principal emissor de

turistas para Alagoas, com valor médio de 37% do fluxo total durante o período

estudado. Outros Estados de relevância são: Pernambuco (9%), Rio de Janeiro

(6,9%), Minas Gerais (6,5%), Bahia (6,1%), Distrito Federal (5,4%), Rio Grande do Sul

(5,3%), Alagoas (5,3%), Paraná (3,9%) e Sergipe (3,6%). A análise da divisão regional

brasileira pode ser verificada na Figura 8.

Figura 8. Origem do turista que frequentou a região em 2016

Fonte: Elaboração a partir de dados da Silva (2014)

Com relação ao fluxo internacional, o mesmo representou 4,5% do fluxo total

para os anos de 2011 e 2013. Embora apresentando percentual baixo, a análise

deste mercado representa um potencial a ser melhor trabalhado no contexto

turístico da região. Segundo pesquisa de da Silva (2014), a Argentina é o principal

país emissor de turistas, com 43% do fluxo internacional de Alagoas, seguido de

Portugal (13,6%), Chile (8,8%), Itália (7,8%), Estados Unidos (4,1%), Uruguai (4,0%),

Paraguai (2,2%) e Espanha (1,8%).

A pesquisa da SEDETUR (2016) revela que a região recebe mais mulheres (67%) do

que homens (34%) e tem se consolidado como um destino voltado para famílias e

casais em lua de mel, visto que 55% dos visitantes são casados e 39% solteiros.

Nas pesquisas, a faixa-etária dos visitantes (figura 9) apresenta-se equilibrada entre

todas as faixa-etárias, com leve predominância para o público jovem (16 a 26 anos)

e melhor idade (46 a 60 anos) (SEDETUR, 2016).

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Figura 9. Faixa etária dos visitantes da região da Costa dos Corais

Fonte: Elaboração a partir de dados da SEDETUR (2016)

Segundo SEDETUR (2016), a maioria dos turistas chegaram à região utilizando

avião (53%) como meio de transporte, seguido de carro alugado (15%), carro

próprio (13%) e ônibus turístico (13%). Na pesquisa de da Silva (2014), o modal

aéreo também é o mais utilizado, chegando a representar 84,3% em 2013.

Observa-se que o turismo rodoviário também é importante, já que 39% dos

turistas utilizaram carro e ônibus para acessar a região da Costa dos Corais

(SEDETUR, 2016).

Figura 10. Tempo de permanência dos visitantes na região da Costa dos Corais

Fonte: Elaboração a partir de dados da SEDETUR (2016)

O tempo de permanência na região é, em média, de sete dias, de acordo com 46%

dos entrevistados pela SEDETUR (2016). Há também um número considerável que

permanece na região por três dias (22%), seguidos de 5 dias (19%).

É interessante destacar que cerca de 62% dos entrevistados pela SEDETUR

(2016) indicaram ter comprado o destino de forma direta através de consulta

pela internet, seguido de 22% de compra de pacote organizado por agência

de viagens. Pode-se observar, assim, a importância do ambiente virtual para as

atividades de turismo do Estado, que deve incorporar estratégias de marketing

voltados à internet.

Figura 11. Motivo predominante da viagem

Fonte: Elaboração a partir de dados da SEDETUR (2016)

O motivo da viagem da maioria dos turistas entrevistados pela SEDETUR (2016),

são as praias (52%), seguido de lazer (31%) e aventura/ecoturismo (10%);

evidenciando o potencial da região para atividades relativas a esses temas.

Com relação à pesquisa perfil dos turistas que realizaram o passeio de observação

do peixe-boi-marinho (Gonzaga & Izidoro, 2016), podemos retirar considerações

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

importantes referente aos visitantes que têm interesse pela atividade. Assim como

já apresentado e reforçando a questão, a maioria dos turistas do passeio são

provenientes do Sudeste (54%). Destaca-se também que 80,5% dos entrevistados

possuem ensino superior completo ou pós-graduação. A renda mais frequente,

entre os turistas, foi superior a 10 salários mínimos.

Figura 12. Renda familiar dos turistas entrevistados no passeio de observação

do peixe-boi-marinho

Fonte: Elaboração a partir de dados de Gonzaga & Izidoro (2016)

Além disso, observa-se que os turistas tiveram conhecimento a respeito do

passeio pela televisão (8%), agência de turismo (9%), amigos (15%), internet (26%)

ou por outros meios tais como pousada/hotel, guias turísticos ou passeando

(42%). Esta informação é válida para entender a cadeia do turismo da região –

como o turista chega até um determinado passeio.

6.2. Análise da oferta turística atual da APA Costa dos Corais

Como já comentado ao longo do estudo, a região que engloba a APACC é a

principal zona turística do Estado de Alagoas, atraindo milhares de visitantes

todos os anos. Seus municípios, com destaque para aqueles que são objetos

do presente estudo, Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi, apresentam um grande potencial turístico por conta da diversidade de

ecossistemas, como rios, lagunas, manguezais, piscinas naturais com arrecifes de

corais, entre outros atrativos naturais, dos quais, grande parte encontra-se dentro

da APACC.

A região é de fácil acesso, estando próxima de Recife (PE) e Maceió (AL), cidades

que possuem aeroportos internacionais com grande capacidade de operação para

recebimento de turistas nacionais e internacionais. A partir de Maceió, o principal

acesso é pela estrada que acompanha o litoral, AL 101. Já de Recife, a principal

via é a BR 101, entrando na PE 060 em Cabo de Santo Agostinho. Os municípios

foco do estudo distam a poucos quilômetros um dos outros, facilitando o

deslocamento dos turistas entre eles para realização de diferentes atividades.

Segundo dados do ICMBio (2016), a APACC recebeu 235.030 visitantes em 2016,

considerando apenas os números da visitação de Maragogi 7 e de Porto de Pedras 8 (locais onde há um monitoramento e maior controle da visitação via registros

junto à prefeitura e associação do peixe-boi, respectivamente). Destaca-se, neste

sentido, que na UC não há um efetivo controle do número de visitantes, que

acredita-se ser maior do que os dados oficiais apresentados, uma vez que trata-se

de um dos principais destinos de sol e praia do nordeste brasileiro e a principal

região turística do estado de Alagoas, conforme já mencionado. Atualmente, não

há cobrança de taxa para visitação nos atrativos da APACC por parte do ICMBio.

Alguns municípios cobram uma taxa ambiental, que está embutida no valor dos

passeios que utilizam dos atrativos da APACC, como por exemplo, a visitação às

piscinas naturais de Maragogi.

7 Passeio às piscinas naturais de Maragogi.

8 Passeio de observação do peixe-boi-marinho

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 13. Visitantes na APA Costa dos Corais (2013-2016)

Fonte: (ICMBio, Dados de Visitação 2007 – 2016 , 2016)

De modo geral, todos os municípios objeto deste estudo já apresentam atividades

turísticas consolidadas e muitas delas se relacionam com a APACC. Além do

turismo de massa, que ocorre principalmente em Maragogi e Paripueira, acontece

na região o turismo de charme, representado por pousadas ao longo da Rota

Ecológica 9; e o início de ações voltadas para o desenvolvimento do turismo

de base comunitária ocorrendo principalmente em São Miguel dos Milagres e

Porto de Pedras. Observa-se, assim, que cada município apresenta características

e valores singulares, que resulta em um leque abrangente de possibilidades de

atividades turísticas.

Neste sentido, a seguir será apresentada análise das atividades turísticas

existentes na APACC, identificadas a partir da observação dos pesquisadores

quando em visita de campo nos municípios de Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi, assim como do levantamento de

9 Roteiro turístico do estado de Alagoas que envolve principalmente os municípios de São Miguel dos Milagres e

Porto de Pedras.

informações junto a fontes bibliográficas sobre o desenvolvimento turístico na

região, conversas com as instituições públicas locais (secretarias municipais de

turismo e meio ambiente), conversa com os operadores turísticos locais e com a

equipe gestora da UC.

O objetivo desta análise é identificar as atividades já praticadas na APACC,

de acordo com o que está estabelecido no Plano de Manejo, assim como

a organização destas atividades no que diz respeito às regras e normas

estabelecidas pelo Plano de Manejo, visando também uma compreensão sobre

instrumentos e mecanismos utilizados pela equipe gestora para ordenar e

gerenciar a prática destas atividades.

6.2.1. Análise das atividades existentes na APACC

Conforme mencionado no item 6, o Plano de Manejo da APACC permite a

realização de atividades de turismo específicas. O objetivo é desenvolver e ordenar

a visitação na região de modo a minimizar os impactos ao meio ambiente. Assim,

é admitido na APACC (ICMBio, 2017):

1. Caminhadas na praia;

2. Banho de mar;

3. Passeio às piscinas naturais (a exploração dos serviços de turismo náutico

nas piscinas naturais dependem de autorização);

4. Avistamento do Peixe-boi;

5. Mergulho livre (snorkel);

6. Mergulho autônomo (apenas para mergulhadores credenciados);

7. Batismo: Mergulho com equipamento de mergulho autônomo com

presença em tempo integral do instrutor de mergulho;

8. Curso de megulho autônomo (só pode ser ministrado por instrutor de

mergulho credenciado);

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

9. Mergulho conduzido (apenas nas piscinas naturais com operadoras

credenciadas);

10. Pesca esportiva (pescador precisa estar credenciado pelo Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA );

As atividades de turismo náutico são permitidas nas Zonas de Visitação, conforme

definido no Plano de Manejo da UC. Atualmente, para a exploração dos serviços

de visitação às piscinas naturais, mergulho e fotografia subaquática é necessário

alvará da Prefeitura para que o ICMBio conceda a autorização aos operadores para

desenvolvimento das atividades nas piscinas naturais.

As atividades possuem regramentos específicos que devem ser respeitados,

como por exemplo: horários (que variam de acordo com maré), número limite de

visitantes no ambiente (determinado pelo Plano de Manejo), o que pode ou não

ser levado pelo visitante (como por exemplo a proibição de bebidas alcoólicas),

dentre outras regras. Aqueles operadores que descumprem com as normas

estabelecidas são autuados e multados.

Conforme já colocado anteriormente, trata-se de uma região com

singularidades e complexidades específicas e possui atividades turísticas

consolidadas, principalmente aquelas ligadas ao turismo de sol e praia e ao

turismo náutico. Como os municípios possuem características próprias, a

visitação em cada um é realizada de maneira singular. Há de se destacar que

existem diferentes níveis de regularização das atividades realizadas na APACC,

alguns municípios estão em um momento onde há maiores regramentos e

organização no que diz respeito às atividades e outros que ainda estão em

processo de organização e ordenamento. Assim, este estudo se apresenta

como oportuno, a fim de desenvolver instrumentos que fortaleçam as

relações existentes, bem como traçar possibilidades para novas parcerias,

sendo possível adequá-los para os outros municípios, de acordo com suas

respectivas realidades.

Há de se destacar, que de forma geral, a venda de passeios na região não é

organizada, não sendo possível identificar toda a cadeia turística envolvida.

Mesmo nos municípios onde há maiores regramentos e ordenamento, a venda

dos passeios ainda ocorre de forma desorganizada. Como exemplo desta

desorganização, é comum a abordagem aos turistas que chegam a praia, ou nos

receptivos beira-mar, sendo convidados a realizar o passeio às piscinas naturais,

não há estruturas específicas para que o turista busque saber as opções de

visitação na região.

Outra forma, um pouco mais organizada, diz respeito àqueles visitantes que

chegam aos municípios com guia de alguma agência turística, estes são

direcionados aos receptivos que fornecem o passeio e que já possuem alguma

relação pré-estabelecida com estes guias. Destaca-se, neste sentido, que esses

guias exercem grande influência na visitação da região, e chegam a receber de 10

a 20% de comissão dos receptivos e operadores.

A seguir serão apresentadas as atividades recorrentes nos municípios objeto do

estudo.

6.2.1.1. Paripueira

Paripueira está a cerca de 31 km de Maceió. Por causa desta proximidade,

o município é caracterizado como destino turístico de veraneio da capital,

possuindo diversos condomínios e casas de segunda residência. A sede municipal

dispõe de bons receptivos beira-mar utilizados para day use, recebendo inúmeros

turistas durante o ano. É interessante destacar que a praia de Paripueira é sede do

Parque Municipal Marinho de Preservação do Peixe-Boi, local onde se encontra

uma das maiores concentrações do animal no nordeste brasileiro.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 14. Receptivo beira-mar Mar & Cia em Paripueira.

Fonte: Camila Sanches

O município possui como atrativo principal a Piscina Natural de Paripueira, onde é

permitido o transporte de passageiros em catamarãs e lanchas, além da realização

de atividades de mergulho e serviços de fotografia subaquática.

Segundo a Secretaria de Turismo e Meio Ambiente, o município possui 17

embarcações cadastradas na prefeitura (com alvará), sendo 12 catamarãs e 5

lanchas. Estas fazem o transporte de turistas para visitação à piscina natural, onde

é permitido o número máximo de 252 pessoas por dia, distribuídas da seguinte

forma (ICMBio, 2012):

• 4 embarcações do tipo catamarã com no máximo 60 passageiros por

embarcação;

• 2 embarcações do tipo lancha com no máximo 6 passageiros e;

• 1 embarcação institucional (bombeiro, polícia, ICMBio, IBAMA).

Para respeitar o limite da visitação diária, as associações organizam rodízio entre os

operadores.

Figura 15. Passeio à piscina natural de Paripueira.

Fonte: Camila Sanches

O ordenamento da visitação da piscina natural se dá da seguinte maneira: o

interessado em explorar atividades de turismo náutico (transporte de passageiros

com embarcações, mergulho e fotografia subaquática) deve solicitar autorização

ao ICMBio, estabelecendo um Termo de Responsabilidade, assinado pelo

responsável pela atividade. No processo de autorização, os interessados devem

apresentar, conforme a categoria (ICMBio, 2012, p. 30):

• Embarcações: documentação referente à lei e ao decreto que dispõem sobre

a regulamentação do tráfego aquaviário (Lei nº 9.537/97 e Decreto nº 256/98),

além de Alvará da Prefeitura para execução da atividade;

• Operadora de mergulho autônomo: CNPJ e Razão Social, a certificação

de, no mínimo, um mergulhador na categoria de instrutor e para os demais

mergulhadores a categoria de dive master ou equivalente, além de Alvará da

Prefeitura para execução da atividade;

• Atividade de fotografia subaquática profissional: certificação de curso

específico para exercer a atividade e de primeiros socorros.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Está em processo de implementação a parceria entre a Prefeitura de Paripueira

e o ICMBio, de modo a melhor organizar e ordenar as atividades hoje permitidas

na área da APACC. A intenção é fazer com que a Prefeitura auxilie na fiscalização

das embarcações da área visitada, assim como no monitoramento do rodízio das

embarcações repassado pelas associações locais. Destaca-se, no entanto, que não

há um instrumento formal que estabeleça esta parceria entre as partes (prefeitura

e ICMBio), não estando claro as funções e as contrapartidas de cada instituição 10

em relação ao desenvolvimento das atividades.

Segundo o secretário de Turismo e Meio Ambiente de Paripueira em reunião de

campo, a prefeitura está se organizando para criar um Fundo Municipal do Meio

Ambiente por meio de COMDEMA 11. Ainda segundo o secretário, a intenção do

município é estabelecer uma taxa ambiental a ser cobrada dos operadores para

a realização dos passeios no município, recurso que auxiliará a fiscalização da

prefeitura na região.

O secretário também manifestou interesse em organizar a venda dos passeios

às piscinas naturais em uma bilheteria única ou em pontos específicos do

município, onde sinalizou que seria mais fácil controlar o número de visitantes,

além de oferecer atividades de sensibilização ambiental através de exposições

interpretativas sobre a APACC e sobre os principais temas ligados ao ambiente

marinho e ambientes de mangue.

Além das atividades turísticas já praticadas, o município possui outros atrativos

potenciais, que foram identificados pelos operadores locais:

• Passeio no Rio Suaçuí com jangada artesanal, sem motor, para contemplação

do mangue e avistamento de fauna;

• Rota do peixe-boi-marinho, passeio de orla na prainha com jangada artesanal

10 A análise referente aos modelos de parceria utilizados pelo ICMBio será melhor discutida no capítulo XXX, onde

faz-se uma discussão jurídica sobre os modelos atualmente adotados na APA para prestação de serviços turísticos.

11 O COMDEMA de Paripueira foi reativado em 06/06/2017

personalizada, com motor de rabeta, para possível avistamento do animal, que

segundo reunião de campo, está voltando a aparecer na região.

6.2.1.2. São Miguel dos Milagres

São Miguel dos Milagres encontra-se a aproximadamente 90 km de Maceió.

Possui belas paisagens naturais em função de suas praias pouco habitadas e tem

ganhado destaque no turismo nacional por suas pousadas de charme. Nota-se

também que, atualmente, vem se estabelecendo na praia principal do município

algumas barracas de praia e receptivos beira-mar, que estão sendo utilizados

como opção de day-use de turistas hospedados em Maceió ou Maragogi para

visita às piscinas naturais de São Miguel, ou simplesmente para conhecer as praias

mais famosas da região.

Figura 16. Receptivo turístico em São Miguel dos Milagres.

Fonte Camila Sanches

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 17. Receptivo turístico em São Miguel dos Milagres.

Fonte Camila Sanches

Figura 18. Receptivo turístico em São Miguel dos Milagres.

Fonte Camila Sanches

Além de suas belas praias, o município possui como atrativo piscinas naturais,

localizadas dentro da APACC, identificadas no Plano de Manejo. Porém, a visitação

a essas áreas está em fase de ordenamento pelo ICMBio 12, mas, mesmo sem

regulamentação (por parte do ICMBio e prefeitura) a atividade já é praticada com

12 A visitação nas piscinas naturais de São Miguel dos Milagres e Porto de Pedra está em fase de ordenamento e nãose sabe se o ICMBio permitirá a atividade em todas as piscinas.

jangadas e pequenas embarcações estilo catamarãs. Há de observar, com relação

à operação da atividade, que o Plano de Manejo limita a potência dos motores

das embarcações de turismo para impedir que alcancem altas velocidades, de

modo a resguardar o ecossistema da APACC local. Além da visita às piscinas, foi

identificado também a realização de fotografia subaquática, atividade que ocorre

concomitantemente à visitação.

Figura 19. Piscinas Naturais de São Miguel dos Milagres.

Fonte: ICMBio & APACC, 2017

Figura 20. Passeio às piscinas naturais de São Miguel dos Milagres que já

ocorre, mesmo sem autorização e ordenamento do ICMBio.

Fonte: Camila Sanches

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Destaca-se que o passeio às piscinas naturais no município começou em Porto da

Rua, distrito de São Miguel dos Milagres, que já possui associação de jangadeiros

para organização da atividade. Na sede municipal de São Miguel dos Milagres a

atividade é recente e ainda não está organizada por associações, sendo realizada

principalmente próximo ao local onde encontram-se as barracas de praia e

receptivos locais.

Segundo a secretária de Turismo e Meio Ambiente do município, eles estão

aguardando os estudos de capacidade de carga e ordenamento das piscinas

naturais por parte do ICMBio para organizar o procedimento de concessão

de alvarás aos interessados em operar as atividades náuticas nas piscinas do

município.

Figura 21. Embarcação do passeio às piscinas naturais de São Miguel dos Milagres.

Fonte: Camila Sanches

Além das atividades de praia e daquelas relacionadas às piscinas naturais,

observou-se no município o desenvolvimento de atividades de ecoturismo,

que oferecem a interação com a natureza e são realizadas em sua maioria por

pessoas da comunidade local. Dentre elas, se destacam: a trilha da camboa (interação com o mangue no Rio Tatuamunha), aluguel e aulas de Stand Up

Paddle (SUP), travessia de SUP, aluguel de caiaque e aluguel e bicicleta. Estas

vão de encontro com a proposta do ICMBio (2012), que deseja incentivar no

município preferencialmente atividades de turismo de base comunitária, a fim de

desenvolver a comunidade e a economia local.

Neste sentido, o Instituto Yandê: Educação, Cultura e Meio Ambiente, tem

desempenhado importante papel junto à comunidade local, com o intuito de

desenvolver ações que visem o desenvolvimento sustentável da região. Entre

2015 e 2016 realizou o projeto Jangadeiros da Rota Ecológica, que trabalhou

com 59 jangadeiros de 3 municípios da Rota Ecológica, tendo como parceiro o

ICMBio e o Instituto Bioma Brasil. O projeto tinha por objetivo o fortalecimento

de jangadeiros que realizam a condução de turistas pelos ambientes estuarinos

e recifais da costa dos municípios de Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres e

Passo de Camaragibe, visando o desenvolvimento de um turismo sustentável de

base comunitária e a conservação da natureza. Dessa maneira, esses atores foram

preparados para participarem do debate sobre o zoneamento da região e outras

questões importantes para a APACC no que tange ao desenvolvimento turístico.

Figura 22. Projeto Jangadeiros da Rota Ecológica.

Fonte: Instituto Yandê

Ao final do projeto, o Instituto Yandê solicitou à APACC a criação de zonas de

visitação nos municípios da Rota Ecológica e conforme mencionado, estas estão

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

em fase de estudo pelo ICMBio e validação junto à comunidade local. Destaca-se

que no município acontece o avistamento de peixe-boi no Rio Tatuamunha, tendo

como sede da atividade a cidade de Porto de Pedras.

6.2.1.3. Porto de Pedras

O município está a 106 km de Maceió, e é conhecido como “região dos grandes

rios”, por estar inserido às margens do Rio Manguaba e do Rio Tatuamunha. A

região também apresenta uma grande riqueza natural e vem atraindo visitantes

por conta do passeio para avistamento do peixe-boi marinho no Rio Tatuamunha,

que é realizado graças a duas iniciativas: o Programa Peixe-boi do ICMBio que

realiza as ações de manejo, conservação e pesquisa sobre o animal, com base

no rio Tatuamunha; e a Associação dos Condutores de Observação de Peixes-

boi (Associação Peixe-boi) que realiza os passeios para observação dos animais.

. Este tem sido o principal atrativo turístico do município, que é realizado por

guias credenciados pelo ICMBio e que fazem parte da Associação Peixe-Boi,

criada em 2009 por um grupo de guias locais motivados por lutar pelos direitos

dos comunitários de usufruir da natureza com consciência e responsabilidade,

discutindo e propondo soluções para os problemas em torno do turismo de

observação dos peixes-boi-marinhos em ambiente natural. A visitação é ordenada

pelo Plano de Manejo da APACC, que ratificou um Termo de Ajustamento de

Conduta (TAC), firmado em 2009, que regula o turismo de observação do animal

na APACC, atualmente permitido apenas no estuário do Rio Tatuamunha, entre

Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres.

A atividade vem sendo estimulada a ser desenvolvida pela equipe gestora da

APACC, assim como por ONGs locais, com bases no preceito do turismo de base

comunitária, visando o fortalecimento da comunidade local, organizada por meio

da Associação do Peixe-Boi, assim como possibilitando uma visitação de baixo

impacto que valorize as questões socioambientais. Ao todo são 48 associados,

que atuam por meio de rodízio, determinado pela associação. Esses associados

recebem treinamento e capacitação, com apoio do ICMBio, para informar os

visitantes sobre o peixe-boi-marinho e seu manejo, a APA Costa dos Corais (e

objetivos de criação), bem como sobre a importância de conservação do mangue

no que diz respeito à manutenção da vida marinha. Assim, a associação, além

de atender os turistas, vem trabalhando também com atividades de educação

ambiental nas escolas da região, levando estudantes e professores para conhecer

o peixe-boi e o manguezal. Sendo assim, seu trabalho está direcionado ao serviço

de condução de visitantes e às ações socioambientais através de uma parceria

com o ICMBio, mesmo que ainda de forma informal, e a melhoria da qualidade de

vida da população local.

Destaca-se que todos os condutores credenciados devem fazer parte da

associação, com o objetivo de que esta os represente (ICMBio, 2012). A Associação

Peixe-Boi é bem organizada e possui boa infraestrutura para recepção dos

visitantes. Nela, o turista recebe informações sobre o animal e sobre o mangue,

compra o passeio e pode levar um souvenir, já que possui uma pequena

loja dentro da associação, cujos produtos e artesanatos são produzidos

pela comunidade local. Pelo site da instituição também é possível agendar

antecipadamente o passeio, facilitando a organização da viagem do turista.

Figura 23. Receptivo da Associação Peixe-Boi.

Fonte: Camila Sanches

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 24. Receptivo da Associação Peixe-Boi, visão interna.

Fonte: Camila Sanches

A visitação é realizada no Rio Tatuamunha, onde o ICMBio, através da APA Costa

dos Corais e do CEPENE, mantém um viveiro de readaptação do peixe-boi, que

tem como objetivo a reintrodução do animal ao seu habitat natural. É interessante

o contato que o turista tem com o mangue, desde o início do percurso, que é

realizado com embarcações sem motor.

Figura 25. Viveiro de readaptação do peixe-boi no Rio Tatuamunha

onde ocorre o passeio de avistamento do animal.

Fonte: Camila Sanches

Figura 26. Embarcação utilizada no passeio do peixe-boi, sem motor.

Fonte: Camila Sanches

O trabalho que a Associação Peixe-Boi vem realizando é um diferencial na

região, devido a sua organização e atividades de educação ambiental. Existem,

no entanto, alguns pontos que podem ser melhorados, tais como o acesso às

embarcações, instalação de sinalização, criação de trilha entre a associação e

o embarque dos turistas no rio. A melhoria destas estruturas pode atender o

visitante com maior qualidade e segurança e, dentro do contexto de parceria

junto à associação, podem vir a ser discutidas, avaliadas e solicitadas como

contrapartidas pelo ICMBio.

Destaca-se também que a associação pode incrementar sua receita implantando

pequena venda de alimentos na recepção, que podem ser consumidos enquanto

o turista aguarda pelo passeio; além de aluguel de bicicletas aos turistas que vão

ao local sem veículo próprio, que poderiam usar tal equipamento para chegar até

o rio.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 27. Acesso à embarcação do passeio do peixe-boi.

Fonte: Camila Sanches

A atividade de visitação para avistamento do peixe-boi no Rio Tatuamunha deve

seguir as regras estabelecidas no Termo de Ajusta de Conduta (TAC), pactuado

entre as comunidades locais, Ministério Público Federal e o ICMBio. Estas regras

estão descritas no Plano de Manejo da APACC (ICMBio, 2012, p. 24), dentre as quais

se estabelece que:

• Os condutores e/ou guias de turismo devem ser capacitados e credenciados

pelo ICMBio através de programas de capacitação de condutores ou guias. A

presença de um condutor é obrigatória para a visitação, e este deve fazer parte

da associação;

• Todas as embarcações deverão possuir autorização de operação emitida pelas

prefeituras (alvará de licença) e deverão estar de acordo com as normas de

segurança no mar e navegação da Capitania dos Portos; e

• As regras de credenciamento e descredenciamento de condutores terão

como critério a valorização da mão-de-obra local, de modo que apenas a

comunidade residente a mais de 2 anos em Porto de Pedras e São Miguel dos

Milagres seja credenciada para o passeio.

A Associação Peixe-boi possui atualmente 4 embarcações para realização do

passeio, que precisam de alvará de licença da prefeitura para operação. No

entanto, segundo a associação, em visita de campo, um dos principais desafios

para regularização do passeio são as liberações dos alvarás junto à prefeitura.

Existem outras ações que a associação faz junto com o ICMBio no que diz respeito

a dar suporte ao projeto de preservação do peixe-boi, sendo estas realizadas

de maneira informal, sem acordo de cooperação assinado entre as partes, ou

outros termos de parceria. Dente as atividades desenvolvidas em conjunto está o

monitoramento e, quando necessário, auxílio no resgate do peixe-boi.

Outra atividade realizada no município, que está em fase de ordenamento pelo

ICMBio, é a visitação nas piscinas naturais do município. Mesmo sem ordenamento

por parte do ICMBio e do Plano de Manejo da UC, a atividade já é praticada com

jangadas 13, que também não possuem o alvará de licença da prefeitura.

Figura 28. Piscinas Naturais em Porto de Pedras.

Fonte: (ICMBio & APACC, 2017)

Assim como em São Miguel dos Milagres, foram identificadas no município a

13 Há uma proposta do ICMBio, a ser discutida na revisão do Plano de Manejo, para que seja permitido também a

operação de passeios turísticos nas áreas de conservação do peixe-boi fora dos limites do estuário do Rio

Tatuamunha, onde serão estabelecidas regras específicas para a atividade.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

realização de atividades de ecoturismo, tais como aluguel e aulas de Stand Up

Paddle (SUP), travessia de SUP e aluguel de caiaque. Destaca-se que o município

possui forte potencial para passeios turísticos no mangue, de forma a sensibilizar o

visitante sobre o ecossistema.

6.2.1.4. Maragogi

Dentre os municípios da APACC, Maragogi é o que possui o turismo mais

consolidado, estando incluído como um dos 65 destinos indutores de

desenvolvimento turístico regional do Brasil, conforme já mencionado. O

município possui localização privilegiada, estando equidistante de Maceió e

Recife, sendo por isso, de fácil acesso.

Possui uma diversificada infraestrutura turística, com hotéis, resorts, pousadas,

hotéis fazenda, restaurantes, centros de artesanato e diferentes opções de lazer

agregando qualidade aos serviços do município. Vilas de pescadores, fazendas

com trilhas e áreas conservadas de mata atlântica, coqueirais, praias, com

destaque as praias de São Bento, Peroba, Burgalhau, Barra Grande e as piscinas

naturais formadas por recifes de corais são alguns dos atrativos encontrados no

município.

Em Maragogi, o Plano de Manejo da APACC permite, nas Zonas de Visitação, a

realização de atividades de turismo náutico específicas, como por exemplo, a

visita às piscinas naturais. O objetivo é desenvolver e ordenar a atividade a fim

de minimizar os impactos ao meio ambiente do turismo de massa da região.

Segundo o Plano de Manejo da UC, há três piscinas naturais com autorização

para visitação no município, que recebem regramentos específicos definidos pelo

Plano de Manejo e redefinidas pela Portaria nº 145/2014 do ICMBio. São elas:

• Galés, com capacidade de até 720 pessoas por dia, distribuídas da seguinte

forma:

▶ 10 embarcações do tipo catamarã com no máximo 54 passageiros, por

embarcação;

▶ 10 embarcações do tipo lancha com no máximo de 6 passageiros, por

embarcação;

▶ 10 embarcações do tipo escuna com no máximo 12 passageiros, por

embarcação.

• Taocas, com capacidade de até 312 pessoas por dia, distribuídas da seguinte

forma:

▶ 4 embarcações do tipo catamarã com no máximo 54 passageiros, por

embarcação;

▶ 8 embarcações do tipo lancha com no máximo de 6 passageiros, por

embarcação;

▶ 4 embarcações do tipo escuna com no máximo de 12 passageiros, por

embarcação.

• Barra Grande, com capacidade de até 456 pessoas por dia, distribuídas da

seguinte forma:

▶ 6 embarcações do tipo catamarã com no máximo 654 passageiros, por

embarcação;

▶ 12 embarcações do tipo lancha com no máximo de 6 passageiros, por

embarcação;

▶ 5 embarcações do tipo escuna com no máximo de 12 passageiros, por

embarcação.

Além dessas embarcações, estão previstas embarcações que prestam serviço de

apoio ao mergulho e outros prestadores de serviço.

Destaca-se que no Plano de Manejo e na Portaria ICMBio nº 145/2014 (que altera

normas do Plano de Manejo) também fica instituído que não é permitido aos

prestadores de serviço realizar mais de um passeio diário por prestador de serviço,

e prestar serviços de visitação em mais de uma piscina natural por dia. Além do

que, os serviços devem estar previamente autorizados pela APACC/ICMBio.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 29. Passeios às piscinas naturais de Maragogi.

Fonte: Camila Sanches

Como já comentado anteriormente, nas piscinas são permitidas as atividades de

transporte de passageiros em catamarãs, lanchas e escunas, além das atividades

de mergulho e dos serviços de fotografia subaquática. O interessado em explorar

tais serviços deve solicitar autorização ao ICMBio e no processo de autorização, os

interessados devem apresentar, conforme a categoria (ICMBio, 2012, p. 30):

• Embarcações: documentação referente à lei e ao decreto que dispõem sobre

a regulamentação do tráfego aquaviário (Lei nº 9.537/97 e Decreto nº 256/98),

além de Alvará da Prefeitura para execução da atividade;

• Operadora de mergulho autônomo: CNPJ e Razão Social, a certificação de,

no mínimo, um mergulhador na categoria de instrutor e para os demais

mergulhadores a categoria de dive master ou equivalente, além de Alvará da

Prefeitura para execução da atividade;

• Atividade de fotografia subaquática profissional: certificação de curso específico

para exercer a atividade e de primeiros socorros.

Assim, como ocorre em Paripueira, a gestão municipal é parceira do ICMBio e

auxilia na fiscalização da área visitada. Destaca-se, que não há formalização desta

parceria entre as instituições (ICMBio e prefeitura).

Figura 30. Embarcação de fiscalização dos passeios às piscinas

naturais de Maragogi.

Fonte: Camila Sanches

A fiscalização da prefeitura é responsável pela contagem de pessoas nas piscinas,

de forma a controlar a capacidade limite definida por dia, de acordo com a

Portaria nº 145/2014 que atualizou o Plano de Manejo da APACC. Além disso, esta

fiscalização auxilia no controle para cobrança da taxa ambiental estabelecida

pelo município, de acordo com o Fundo Municipal de Meio Ambiente, que é de

R$ 2,00 por visitante. A prefeitura cobra ainda o Imposto Sobre Serviço (ISS) dos

operadores turísticos.

As associações existentes em Maragogi (lancheiros, catamarãs, mergulho e escuna)

são organizadas e também fazem rodízio nas piscinas. Assim, todos conseguem

operar os passeios, já que não é permitido um mesmo operador realizar mais de

um passeio diário e em mais de uma piscina natural por dia.

Além dessas opções, o turista pode realizar o passeio de orla 14, criado como

alternativa para os dias de grande procura (principalmente no verão) em que não

é possível visitar as piscinas devido o limite de carga permitido. Para esta atividade

não é necessária autorização específica do ICMBio, como no caso da visita às

piscinas naturais, mas os operadores necessitam ter o alvará da prefeitura, tendo

em vista que utilizam de embarcações para a realização das atividades. Além disso,

14 O passeio de orla é definido como atividades realizadas na faixa entre 200 a 400 metros de distância em relação à

faixa de areia.

Page 39: Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

também não existem regras definidas de forma detalhada no Plano de Manejo,

sobre as regras para o passeio de orla, como no caso da visitação às piscinas

naturais. Tendo em vista que as atividades definidas como passeio de orla estão

aumentando, principalmente em Maragogi, mas sendo também demandada por

outros municípios, é importante que regras e normas sejam melhor definidas para

esta atividade quando da revisão do Plano de Manejo.

Figura 31. Passeio de orla em Maragogi.

Fonte: Camila Sanches

Também foram identificadas no município atividades com brinquedos náuticos15,

que acontece de forma incipiente. De modo geral, as pousadas e hotéis

disponibilizam os equipamentos para seus hospedes, bem como infraestrutura de

praia, como guarda-sol e cadeira.

15 Definido pelo Plano de Manejo da APCC como atividades de lazer do tipo banana boat, canoagem/caiaque estand up.

Figura 32. Brinquedos náuticos e infraestrutura de praia disponibilizados para

os hóspedes de uma pousada em Maragogi.

Fonte: Camila Sanches

6.3. Consolidação e análise das atividades existentes nos municípios da APACC abrangidos pelo projeto

De modo geral, as parcerias existentes para realização das atividades turísticas na

APACC são frágeis 16. Algumas delas acontecem de maneira informal, assim como

ocorre em relação as parcerias institucionais junto as prefeituras municipais, por

exemplo. Dessa maneira, as contrapartidas, que poderiam auxiliar na fiscalização

e nas atividades de educação e sensibilização ambiental, não são legitimadas e

assim, há uma maior dificuldade no que tange a fiscalização do cumprimento das

regras e também no monitoramento das mesmas.

As tabelas apresentadas a seguir resumem as atividades identificadas nos

municípios da APACC abrangidos pelo projeto e seus agentes reguladores.

16 Esta fragilidade será melhor discutida no item XX do presente estudo, a partir de uma análise jurídica.

Page 40: Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 5. Resumo das atividades existentes em Paripueira

Atividades OperadorAgentes reguladores

ICMBio Prefeitura

Passeios piscinas naturais de Paripueira

Catamarã Privado (vinculados a alguma associação)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará

Lancha Privado (vinculados a alguma associação)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará

Fotografia subaquática

Privado (vinculado a atividade de mergulho e/ou independente, mas que são dependentes das embarcações)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará

Mergulho

Mergulho conduzido

Privado (dependente das embarcações para operação, mas os funcionários deslocam-se em embarcação do privado responsável pela atividade de mergulho)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará

Brinquedos náuticos (incipiente)

CaiaqueOperadores avulsos e/ ou também vinculados aos meios de hospedagem

– –

StandUpOperadores avulsos e/ ou também vinculados aos meios de hospedagem

– –

Tabela 6. Resumo das atividades existentes em São Miguel dos Milagres

Atividades OperadorAgentes reguladores

ICMBio Prefeitura

Passeios piscinas naturais de São Miguel dos Milagres

Jangada

Na sede municipal a atividade é autônoma, porém no distrito de Porto da Rua há uma associação, mesmo assim a atividade ainda não é regulamentada por nenhum agente interveniente

Atividade não regulamentada. Está em estudo o ordenamento da visitação nas piscinas naturais e também a capacidade de suporte destes locais

Atividade não regulamentada. Estão avaliando os mecanismos para fornecer alvará aos prestadores de serviços

Catamarã

Atividade autônoma ainda não regulamentada por nenhum agente interveniente e não há qualquer associação

Atividade não regulamentada. Está em estudo o ordenamento da visitação nas piscinas naturais e também a capacidade de suporte destes locais

Atividade não regulamentada. Estão avaliando os mecanismos para fornecer alvará aos prestadores de serviços

Fotografia subaquática

Atividade autônoma ainda não regulamentada por nenhum agente interveniente e não há qualquer associação

Atividade não regulamentada

Atividade não regulamentada

Brinquedos náuticos

Caiaque

Operadores avulsos, receptivo local de ecoturismo (Kumbaya Turismo) meios de hospedagem

– –

StandUp

Operadores avulsos, receptivo local de ecoturismo (Sup dos Milagres e Kumbayá Turismo) meios de hospedagem

– –

Passeio no mangue

Trilhas ecológicas

Receptivo local de Ecoturismo (Camboa, Hotel Angá) – –

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 7. Resumo das atividades existentes em Porto de Pedras

Atividades OperadorAgentes reguladores

ICMBio Prefeitura

Passeios piscinas naturais de Porto de Pedras

Jangada

Atividade autônoma via associação ainda não regulamentada por nenhum agente interveniente e não há qualquer associação

Atividade não regulamentada. Está em estudo o ordenamento da visitação nas piscinas naturais e também a capacidade de suporte destes locais

Atividade não regulamentada

Observação de fauna

Peixe boiAtividade desenvolvida exclusivamente pela associação do peixe-boi

Treinamento dos guias e a associação auxilia no monitoramento do peixe-boi

Tabela 8. Resumo das atividades existentes em Maragogi

Atividades OperadorAgentes reguladores

ICMBio Prefeitura

Passeios piscinas naturais de Maragogi

CatamarãPrivado (vinculados a alguma associação)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

LanchaPrivado (vinculados a alguma associação)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

EscunaPrivado (vinculados a alguma associação)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

Fotografia subaquática

Privado (vinculado a atividade de mergulho e/ou independente, mas que são dependentes das embarcações)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

Mergulho

Mergulho conduzido

Privado (dependente das embarcações para operação, mas os funcionários deslocam-se em embarcação do privado responsável pela atividade de mergulho)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

Mergulho de batismo Privado (embarcação do privado

responsável pela atividade de mergulho)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

Passeio de orla

Passeio embarcado (lancha, escuna e catamarã)

Privado (vinculados a alguma associação)

Autorização (vinculada a liberação do Alvará da prefeitura)

Alvará e ISS

Venda de bebidas e lanches

Vinculada ao passeio embarcado (bar na própria embarcação) e “vendedores ambulantes aquáticos”

– –

Atividades recreativas

Vinculado ao passeio embarcado (hidroginástica, lambaeróbica, etc)

– –

Brinquedos náuticos (incipiente)

Caiaque Operadores avulsos e/ ou também vinculados aos meios de hospedagem

– –

StandUp Operadores avulsos e/ ou também vinculados aos meios de hospedagem

– –

Page 42: Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 9. Resumo das atividades existentes na APACC

Atividades existentes ParipueiraSão

Miguel dos Milagres

Porto de Pedras Maragogi

Passeios piscinas naturais

Catamarã

Lancha

Escuna

Jangada

Fotografia subaquática

Mergulho

Mergulho conduzido

Mergulho de batismo

Brinquedos náuticos (incipiente)

Caiaque

StandUp

Passeio no mangue

Trilhas ecológicas

Observação de fauna

Peixe-boi

Passeio de orla

Passeio embarcado (lancha, escuna e catamarã)

Venda de bebidas e lanches

Atividades recreativas

7. PROPOSTA PARA AS ATIVIDADES DE VISITAÇÃO DA APA COSTA DOS CORAIS Conforme já mencionado ao longo do estudo, a APACC já possui diversas

atividades de visitação consolidadas, que são distribuídas de acordo com a

demanda e especificidade de cada município. Acredita-se que a UC tenha

potencial para o desenvolvimento de outras atividades, identificadas tanto nas

visitas de campo e nas reuniões com a equipe do ICMBio, com operadores locais e

com os representantes institucionais das prefeituras (secretários de turismo e meio

ambiente); como em estudos de benchmarking de atrativos naturais marítimos e

de ecoturismo.

7.1. Análise das potencialidades dos municípios

Os municípios estudados apresentam qualidades e perfis turísticos distintos. O

que se deseja, com o projeto, é potencializar tais características e desenvolver

ações sustentáveis que atraiam novos visitantes à região, além de beneficiar a

economia local.

Sendo assim, observa-se que em Maragogi e em Paripueira o turismo encontra-se

em um estágio mais avançado de desenvolvimento e apresenta características

de turismo de massa (com foco no segmento de sol e praia), com grande volume

de visitantes durante o ano. As atividades propostas para estes municípios têm

o objetivo de abrir novas opções ao turista, além de fomentar a educação e

interpretação ambiental, de modo que o turista saiba que está visitando uma

Unidade de Conservação.

Já São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras possuem potencial para o

desenvolvimento de atividades turísticas que visem uma maior interação com

as comunidades locais e com características de baixo impacto, visando conciliar

atividades recreativas com atividades educativas. Neste contexto, conforme

mencionado durante a análise das características destes municípios, o ICMBio

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

7.2.1. Bilheteria

Atualmente, a visitação nas áreas da APACC ocorre sem a cobrança de taxas

específicas para visitação da UC pelo ICMBio. Conforme exposto ao longo do estudo,

em alguns municípios, como por exemplo, Maragogi, há uma taxa ambiental

cobrada pela prefeitura, mas esta não é cobrada do visitante e sim do operador que

desenvolve as atividades passíveis de cobrança desta taxa. A venda dos passeios às

piscinas naturais se dá de maneira desorganizada, cada operador atua de um jeito e

em muitos casos não há contagem efetiva do número de visitantes.

Diante deste quadro, como uma das opções para um melhor controle da visitação,

propõe-se a implantação de um sistema de bilheteria única para venda dos

passeios às piscinas naturais e cobrança de possível taxa de visitação/ ingresso

pelo ICMBio. O sistema poderá ser implantado e gerido por meio de parcerias com

entidades públicas e/ou privadas, assim como as infraestruturas físicas necessárias,

que poderão ser inseridas em diferentes pontos da APACC e municípios, tendo

como finalidade:

• Controlar de forma mais efetiva e eficiente a visitação da APACC;

• Recepcionar, informar e orientar os visitantes a respeito da visitação na UC, com

pequena exposição interpretativa, de forma a sensibilizar o turista de que está

em uma UC, que deve ser preservada e cuidada;

• Vender os passeios às piscinas naturais (transporte de passageiros, atividades de

mergulho e fotografia subaquática);

• Monitorar o número de visitantes, bem como seu perfil;

• Explorar a venda de produtos da UC e artesanato local.

Considera-se a implantação desse serviço uma oportunidade de maior controle

e ordenamento das atividades de visitação do principal atrativo da APACC (as

piscinas naturais em ambientes recifais), tendo como foco a organização dos

passeios, o controle da visitação e a educação ambiental, já que junto à estrutura

pode ter espaço expositivo sobre a UC.

tem, em conjunto com ONG locais, uma proposta de desenvolvimento de

atividades turísticas com características baseadas nas premissas do Turismo de

Base Comunitária. O ICMBio acredita que o envolvimento da comunidade local

na UC apresenta-se como “um importante caminho para fortalecer os programas

de visitação, diversificar as atividades desenvolvidas e agregar valor à experiência

dos visitantes, bem como incrementar a renda desses moradores e aproximá-

los positivamente da gestão da UC, aumentando, assim, o apoio local à área

protegida” (ICMBio, 2017).

7.2. Identificação e caracterização das atividades potenciais

Neste item serão apresentadas as atividades potenciais da APACC, propostas como

sugestões iniciais, a serem validadas junto à equipe gestora da UC, assim como

da equipe da CGEUP, para incrementar e diversificar as possibilidades de visitação

da UC, além de proporcionar um maior contato dos turistas com a natureza,

divulgando também que a visita ao litoral norte do estado de Alagoas ocorre

dentro dos limites de uma importante UC Marinha. Algumas delas já acontecem,

mas de maneira incipiente e desorganizada, sendo assim, foram consideradas,

ainda, como atividades potenciais.

As atividades potenciais podem ser organizadas da seguinte maneira:

BILHETERIA

ATIVIDADES NO MANGUEZAL

ATIVIDADES DE PRAIA

ATIVIDADES NÁUTICAS

Na sequência, há a descrição das atividades, com imagens e referências de boas

práticas na gestão de ecoturismo que possam ser incorporadas à APACC.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Bonito, município turístico do Mato Grosso do Sul, apresenta-se como um

bom exemplo de sistematização e venda de passeios. A cidade conta com

mais de 60 atrativos turísticos que só podem ser comercializados pelas

agências de turismo local, ou seja, elas são as únicas autorizadas a reservar

e comercializar os passeios.

Os preços dos passeios são tabelados, o que faz com que as agências

cadastradas foquem na concorrência pela qualidade dos serviços

oferecidos aos turistas.

Sendo assim, nenhum passeio turístico em Bonito recebe um

visitante sem o voucher único, um tipo de entrada que é permitido

exclusivamente pelas agências de turismo locais, que já distribuem a

renda para cada setor envolvido no turismo. Sem o voucher e sem a

reserva, a entrada é barrada em todos os lugares.

Figura 33 - Venda de passeios on-line em agência de turismo de Bonito.

Fonte: Site Bonitotour

Assim como na APACC, os atrativos de Bonito têm limitação diária de

visitantes, que também é controlada pelo sistema do voucher único, que

reserva eletronicamente o dia do passeio para

o visitante por meio das agências de turismo locais. . É possível reservar

um passeio com até seis meses de antecedência, garantindo ao turista a

organização de sua viagem.

É interessante observar também que para realização dos passeios é

obrigatório o acompanhamento de um guia de turismo especialista, que

tem curso e formação sobre a área visitada. O nome do guia de turismo é

especificado no voucher.

Sendo assim, Bonito tem se tornado referência em preservação ambiental

e organização turística em todo o mundo. O sistema foi inserido pela

necessidade de se implantar um meio de controle que hoje é referência

no país sendo usada para fins estatísticos, de arrecadação municipal,

evitando a evasão fiscal, controlando a visitação dos passeios e

mensurando a capacidade de carga (Mariano, Gomes, & Salvadori). De

modo geral, o sistema funciona da seguinte maneira (Almeida, 2013):

• A prefeitura disponibiliza, controla e fornece os vouchers para as

agências de turismo locais cadastradas;

• Agências de turismo preenchem os vouchers e escolhe o guia de

turismo que irá acompanhar o turista ou o grupo;

• Turista solicita e paga o passeio, pega o voucher e é acompanhado

pelo guia de turismo;

• Atrativo recebe o voucher e proporciona o passeio;

• Guia de turismo acompanha o grupo e cobra das agências de turismo

pelo serviço realizado.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

O voucher único foi criado pelo COMTUR Conselho Municipal de

Turismo), através da Instrução Normativa nº 001/95, como instrumento de

ordenamento da atividade turística do município. Sua criação contribuiu

para induzir a um modelo de gestão, baseada na constituição de uma

rede de cooperação voltada à exploração sustentável dos recursos

naturais municipais, envolvendo o poder público e o trade turístico. Pode-

se defini-lo como “um contrato de prestação de serviços futuros no ramo

de turismo” (Mariano, p.3).

O conceito do sistema foi criado por um empresário local de Bonito, que

inicialmente era impresso em bloco, controlado pela Secretaria de Meio

Ambiente, emitido pelas agências locais de turismo, que uma vez por

semana repassavam os valores arrecadados a cada parceiro (proprietários

dos atrativos, guias de turismo e prefeitura). Neste contexto, comenta

Mariano que é necessário “seriedade de todos os envolvidos, desde os

serviços operacionais, infraestrutura pública, planejamento e marketing

local, através de uma ação integrada que objetive a manutenção e o

desenvolvimento do destino”.

Atualmente o município conta com o voucher único digital, permitindo

um maior controle da visitação, além de proporcionar a emissão de

relatórios em tempo real.

Outro importante aspecto a ser considerado, junto as bilheterias, é a exploração

da imagem da APACC. A infraestrutura poderá contar com loja de souvenirs, para

venda e exposição de artesanato local e souvenirs da APACC, que poderá utilizar

como conceito nos produtos os aspectos da paisagem, fauna e flora encontrados

na UC. Assim, o parceiro poderá explorar a marca da APACC para fabricação e

venda de produtos exclusivos como camisetas, canecas, bichos de pelúcia, etc.

Além disso, é interessante que sejam comercializados o artesanato local, de modo

a reforçar a produção da comunidade por meio de programas socioambientais.

Figura 34 - Produção de identidade visual e produtos para o

Parque Nacional de Jericoacoara

Fonte: Natureza Urbana para ICMBio – Estudo de Viabilidade para implantação de PPP no Parque Nacional

de Jericoacoara.

É interessante destacar que o sistema de bilheteria poderia auxiliar na organização

das autorizações dos operadores de serviços das piscinas naturais da APACC, com

maior controle das embarcações e dos próprios operadores. Estas podem receber

identificação própria com selo do ICMBio.

7.2.2. Atividades no Manguezal

A APACC possui diversas áreas de manguezal, que são fundamentais para a

manutenção da vida marinha. Acredita-se que estes espaços possuem potencial

para realização de atividades de educação e interpretação ambiental de forma

a ensinar e sensibilizar as pessoas sobre a importância da conservação do

ecossistema; e atividades de ecoturismo de baixo impacto, utilizadas para gerar

multiplicadores da consciência de preservação do meio ambiente.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Atividades de ecoturismo em manguezal são encontradas em diversas

localidades pelo Brasil, como em Itacaré (Bahia), Porto de Galinhas (PE),

Boipeba (BA), Praia Grande (SP), São Vicente (SP) e em diversas regiões do

Estado de Alagoas. Destaca-se também que os países da Ásia exploram

de maneira interessante e sustentável as áreas de mangue.

Figura 35. Trilha para Jeribucaçu pela Cachoeira da Usina em Itacaré. Atividade

realizada por agências ecoturismo, com guias capacitados da região.

Fonte: Agência Bicho Preguiça

Propõe-se, portanto, as seguintes atividades recreativas no manguezal para a APACC:

• Trilhas interpretativas e educativas, além da observação da fauna e flora;

• Passeio de caiaque ou Stand Up Padlle;

• Passeio noturno (lua cheia);

• Passeio de jangada;

• Infraestruturas de visitação flutuante.

Dentre os locais onde são realizadas atividades no manguezal, destaca-

se a Canoagem Ecológica no Manguezal Praia Grande e São Vicente,

no Estado de São Paulo, que oferece aos participantes desvendarem

os encantos do ecossistema. O passeio consiste em uma aula sobre a

importância do ecossistema aliada a duas horas de remadas em canoas

canadenses, com direito a avistamento de aves e à contemplação do

manguezal.

É permitido até três pessoas por canoa, acompanhadas de um guia

especializado, que vai em uma das canoas, orientando o roteiro e dando

aula sobre os mangues.

Figura 36. Canoagem no mangue

Fonte: Revista Nove – Ecoturismo: o lado verde do litoral

A área de manguezal possui grande potencial para atividades de

educação ambiental junto às escolas da região e até mesmo aos turistas

que queriam aprender mais sobre o ecossistema. Neste sentido, o Parque

Estadual Ilha do Cardoso, situado no extremo sul do estado de São

Paulo tem desenvolvido interessante projeto, que recebe escolas para

atividades de campo no mangue.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Figura 37. Alunos do Colégio Magno em atividade de campo no

Parque Estadual Ilha do Cardoso em São Paulo.

Fonte: Estudo do Meio – Colégio Magno

Para realização das atividades no manguezal, pode ser interessante a implantação

de infraestruturas de apoio, de modo a facilitar a visitação e os acessos dos

visitantes. Estas precisam ser em material que se integrem na paisagem, sem gerar

impactos na natureza. Para tanto, será necessário estudo do meio, identificando

quais são os pontos que podem ser visitados e onde há necessidade de

implantação de tais infraestruturas.

Figura 38. (1) Visitação na Mangrove Forest na Indonésia; (2) em Peam Krasop

Wildlife Sanctuary no Camboja; e (3) na Ngurah Rai Grand Florest Park na Indonésia.

Fonte: (1) Swaratours, (2) Mekongresponsibletourism e (3) Indonesia traveling guide

Poderão ser consideradas atividades em infraestruturas flutuantes, tanto para

observação e contemplação da natureza, como para prestação de serviços aos

visitantes, como venda de alimentos e bebidas.

Figura 39. (1) Infraestrutura flutuante na Mangrove Florest, Indonésia;

Fonte: (1) Mangrove biodiversity as tourism attraction: the perspective of tourist_JBES, (2)

• Observou-se que os municípios objetos do estudo, Paripueira, São Miguel dos

Milagres, Porto de Pedras e Maragogi, possuem áreas de manguezal e, portanto,

apresentam potencial para abrigar as atividades de mangue.

Os municípios possuem características diferentes, sendo assim, para implantação

das atividades no manguezal deseja-se que em São Miguel dos Milagres e

em Porto das Pedras elas estejam relacionadas às premissas do turismo de

base comunitária, capacitando a população local para a exploração e ações

de educação ambiental. Já em Paripueira e Maragogi, que possui turismo

consolidado de grande público, uma das possibilidades é implantar passeios com

jangada artesanal pelo rio, para observação da fauna e flora.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Destaca-se, no entanto, que para realização destas atividades é necessário avaliar,

em conjunto com a equipe do ICMBio, as fragilidades ambientais das áreas para

que sejam propostas atividades condizentes com a capacidade de suporte das

áreas de manguezais da APACC. Além disso, é importante destacar também que,

uma vez validada junto à equipe da APACC e CGEUP, as atividades propostas

serão melhor analisadas, no segundo momento do presente estudo, sob a

ótica econômica, onde será feita uma análise da a viabilidade econômica do

desenvolvimento destas atividades.

É importante destacar que o Plano de Manejo da APACC, define as áreas de

manguezal como Zona de Uso Sustentável, no qual estão permitidos os serviços

de turismo náutico, de passeio de orla e aluguel de brinquedos náuticos, sendo

aqui as propostas condizentes com as diretrizes gerais do Plano de Manejo. Além

disso, é válido ressaltar também que, a partir da revisão do Plano de Manejo,

estas atividades devem ser consideradas e também expostas as regras para a

prática visando facilitar a implantação das atividades, assim como fiscalizá-las e

monitorá-las.

7.2.3. Atividades de praia

Já ocorre nas praias da UC o turismo de sol e mar. Os receptivos a beira mar

e a rede de hospedagem oferecem aos turistas cadeiras de praia, guarda-sol,

brinquedos náuticos e serviços de alimentação.

Visando a implantação de novas atividades na APACC, propõe-se a

implantação de serviços de aluguel de bicicletas, a realização de caminhadas

de longo curso, que poderão usar as infraestruturas dos municípios como

apoio; e a recepção de eventos esportivos, tais como triathlon e corrida de

aventura na praia.

A Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de

Aventura (ABETA), referência nacional de organização empresarial nos

seguimentos de Ecoturismo, Turismo de Aventura e Natureza, incentiva

a prática de caminhadas de longo curso que a caracteriza como (ABETA,

2017) “realização de percurso a pé, em ambientes naturais com pouca

infraestrutura, com diferentes graus de dificuldade. Na caminhada de

longo curso, o praticante pernoitará em locais ao longo da trilha, pois

o trecho percorrido excede o limite de um dia de viagem. O pernoite

pode acontecer em situações diversas, como acampamentos, pousadas,

fazendas e bivaques, entre outros”. No caso da APACC, a atividade poderá

utilizar a infraestrutura turística dos municípios.

Em praias, a atividade vem ganhando adeptos. É o caso, por exemplo, da

travessia da praia do Cassino, considerada a maior praia do mundo no Rio

Grande do Sul. O roteiro é de 7 dias e 6 noites, com início na Praia do Cassino

e término nos Molhes do Arroio Chuí, na divisa com o Uruguai. O percurso é

de 220 km em faixa de areia contínua. Diferente da APACC, o local não possui

infraestrutura (hotéis, pousadas, lojas, sanitários, sinal de telefone).

Figura 40. Travessia Praia do Cassino.

Fonte: Roraima Brasil

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Com relação ao aluguel de bicicletas, pode-se citar como referência o

Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha, que tem incentivado o

uso do equipamento no interior da UC, por ser uma solução sustentável

de locomoção. Em 2015 foi implantado o “Bike Noronha”, projeto de

compartilhamento gratuito de bicicletas para turistas e moradores que

queiram explorar a ilha sobre duas rodas. Os equipamentos podem

ser retirados nas pousadas ou bicicletários espalhados pelo território.

Também é possível alugar bicicletas elétricas (ou convencionais, caso as

do “Bike Noronha”) estejam 100% emprestadas. As bicicletas e estações

de compartilhamento foram uma doação do Banco Itaú, que também

patrocina o sistema que funciona em Recife e em outras regiões do Brasil.

De modo a incentivar o uso do equipamento, o projeto distribuiu

gratuitamente bicicletas aos moradores locais, de modo que seja a

ferramenta de locomoção mais utilizado na ilha.

Figura 41. Bike Noronha.

Fonte: Férias Brasil, Fernando de Noronha

7.2.4. Atividades náuticas

A APACC já possui diversas atividades náuticas, categorizadas como transporte de

passageiros com embarcações, mergulho e fotografias subaquáticas. Em visita de

campo, junto com a equipe do ICMBio, operadores locais e com os representantes

institucionais das prefeituras foram identificadas outras atividades náuticas

potenciais de serem implantadas na UC. Destaca-se, no entanto, que para a

implantação de tais atividades é necessário avaliar, em conjunto com a equipe do

ICMBio as áreas onde poderão ocorrer, bem como a identificação das fragilidades

ambientais das áreas para que sejam propostas atividades condizentes com a

capacidade de suporte.

A implantação de tais atividades visa oferecer ao visitante novas oportunidades

de visitação dentro da APACC, diversificando, inclusive, algumas atividades

já existentes. Assim, o turista pode permanecer por mais tempo na região,

incrementando e desenvolvendo a economia local.

Propõe-se as seguintes atividades náuticas: Passeio de orla com jangada

artesanal, travessia com brinquedos náuticos, trilha subaquática para educação e

interpretação ambiental, mergulho de batismo, noturno e em naufrágios; pesca

turística noturna e esportes náuticos com kitesurf e windsurfe.

As trilhas subaquáticas têm sido uma das atrações mais procuradas

durante o verão no Parque Estadual Ilha Anchieta (PEIA), em Ubatuba

(SP), que são realizadas em conjunto com o Instituto de Biociências da

Universidade de São Paulo (USP) e com a ONG Ecosteiros. Este tipo de

atração tem um conceito diferente, pois além das belezas naturais da

superfície da Ilha Anchieta, segundo maior ilha do Estado, ela tem parte

de seu percurso com mergulhos livres e passeios de caiaque.

Segundo SMA/SP (2017), o obejtivo do passeio é fazer com que os

visitantes conheçam um pouco mais sobre as espécies do parque,

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50

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

promovendo a sensibilização ambiental; além de despertar nas pessoas

a existência de um universo de atividades relacionadas ao ambiente

marinho, assim como ressaltar a importância dos ecossistemas deles.

As trilhas possuem diferentes níveis de dificuldade, que contemplam

pessoas de diferentes idades e níveis de condicionamento. Existem as

seguintes modalidades:

• Trilha de mergulho livre ao longo de 350 m de costão, com paradas nos pontos de treinamento e de interpretação ambiental. É acompanhado por balsa de apoio e segurança;

• Aquário natural, sem precisar mergulhar. Piscina natural situada em uma praia protegida das ondas e com profundidade inferior a 1 metro;

• Trilha em caiaques ao longo de 350 m de costão, com paradas em pontos para interpretação do ecossistema. Está incluído o uso de colete salva-vidas além dos demais equipamentos de segurança;

• Trilha dos ecossistemas que consiste em caminhada terrestre ao longo de 300 m, cortando a região do parque;

• Trilha do Engenho e parte histórica da ilha.

Todas as atividades são gratuitas, acompanhadas por monitores

voluntários, que realizam o módulo prático do curso “Educação Ambiental

em Unidades de Conservação Marinha” promovido pela USP. O turista só

deve pagar o ingresso do parque.

Figura 42. Piscina Natural na praia do engenho do Parque

Estadual Ilha Anchieta.

Fonte: (SMA/SP, 2017)

Figura 43. Trilha subaquática com caiaque no Parque Estadual Ilha Anchieta.

Fonte: (SMA/SP, 2017)

Na APACC pode ser implantado, além das atividades apresentadas do

Parque Estadual Ilha do Anchieta, o passeio com embarcações de fundo

de vidro. Este tipo de atividade é oferecido no Parque Nacional Marinho

Fernando de Noronha, com embarcação do Projeto Natureza Viva. A

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51

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

embarcação Navi possibilita o passeio de barco com visão do fundo do

mar através de uma grande lente de vidro no fundo do barco. Ela foi

desenvolvida originalmente pela Marinha Soviética para uso militar.

O passeio marítimo, que pode ser realizado de noite também, é

acompanhado de um instrutor qualificado e material descritivo, que

auxilia o turista a interpretar a natureza submarina de Fernando de

Noronha.

Figura 44. Embarcação do Projeto Navi no Parque

Nacional Marinho Fernando de Noronha.

Fonte: G1

7.3. Matriz Resumo de atividades x municípios

A seguir é apresentada tabela resumo com a proposta das atividades potenciais

para cada município objeto da pesquisa.

Tabela 10. Resumo das atividades potenciais por município

Atividades potenciais Paripueira São Miguel dos Milagres

Porto de Pedras Maragogi

Bilheteria

Bilheteria

Atividades no manguezal

Trilhas interpretativas

Caiaque

StandUp Padlle

Passeio Noturno (lua cheia)

Observação de fauna/ flora Passeio de jangada sem motor

Atividades de praia

Aluguel de Bicicleta

Caminhada de longo curso

Atividades esportivas

Atividades náuticasPasseio de orla com jangada artesanal

Travessia (caiaque oceânico, SUP, canoa polinésia)

Trilha subaquática para educação e interpretação ambiental

Mergulho de batismo

Mergulho noturno

Mergulho em naufrágios Pesca Turística noturna (Tainha e Agulhinha)Esportes náuticos (kitesurf, windsurf )

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52

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

7.4. Priorização das atividades turísticas nos municípios da APACC abrangidos pelo Projeto

Como demonstrado ao longo do documento, pode-se classificar as atividades

turísticas apresentadas no estudo de duas formas: as (1) atividades existentes, que são aquelas que já ocorrem na APACC, mesmo que de maneira incipiente e sem ordenamento; e as (2) atividades potenciais, propostas com objetivo de abrir novas opções ao turista, além de fomentar a educação e interpretação ambiental na região. Entende-se que para o aprimoramento da gestão da UC

deve-se buscar tanto o fortalecimento e modernização das atividades e parcerias

já existentes, bem como o desenvolvimento de novos modelos de parceria para e

quando forem implantadas novas atividades na APACC.

Dessa maneira, a proposta para a ordem de prioridade da regularização,

ordenamento e implementação das atividades de visitação na APACC foi

organizada de duas maneiras, estando vinculadas às atividades existentes e às

atividades potenciais 17.

A priorização de regularização da parceria está relacionada às atividades

existentes. Apesar de precárias, algumas atividades turísticas na APACC,

17 É importante salientar que a proposta de ordenamento e implementação se baseou também no atualzoneamento da UC e sobre as regras/ normas de cada zona. Para implantação das atividades, sugere-se que,durante a revisão do atual plano de manejo, sejam estabelecidas regras e normas para o desenvolvimento das ativida-des. Desta forma, entende-se que os objetivos de conservação e desenvolvimento sustentável serápreservado, proporcionando melhores experiências para os visitantes, comunidade local e órgãos gestores.

principalmente aquelas relacionadas às piscinas naturais de Maragogi e Paripueira,

estão ordenadas e já possuem instrumentos que regularizam a exploração do

serviço na UC por meio das autorizações emitidas pelo ICMBio, por exemplo.

Acredita-se que o que deve ser feito, neste caso, é fortalecer as parcerias já

estabelecidas através do aprimoramento dos instrumentos jurídicos de parcerias

disponíveis 18. Há, no entanto, atividades que estão em processo de ordenamento

pelo ICMBio, como por exemplo, o passeio às piscinas naturais de São Miguel dos

Milagres e Porto de Pedras. Estas necessitam de regramento específico o quanto

antes, além do estabelecimento de instrumentos de parceria para a realização

do serviço turístico, que respalde tanto o ICMBio quanto o operador, instituindo

claramente as obrigações e deveres de ambas as partes.

Sendo assim, a ordem de prioridade para as atividades existentes tem relação

com a regularização e ordenamento atual da atividade, na qual deve-se avaliar e

aprimorar os mecanismos jurídicos de modo a fortalecer a atividade e a gestão

da APACC, além de garantir a conservação dos ecossistemas da UC. Portanto,

as atividades existentes identificadas como “atividades sem ordenamento e regularização” devem ser priorizadas frente aquelas que já são ordenadas e que

necessitam apenas de ajustes no modelo de parceria, marcadas como “atividades já ordenadas pelo ICMBio, mas que possuem instrumentos de parceria a serem aprimorados”.

1. Atividades sem ordenamento e regularização

2. Atividades já ordenadas pelo ICMBio, mas que possuem instrumentos de parceria a serem aprimorados

A intenção desta priorização é minimizar os impactos ambientais dos serviços

turísticos que ainda não foram ordenados dentro da APACC e que, por isso, devem

ser priorizados. No processo de regularização destes primeiros serviços, sugere-

18 A ser melhor discutido nos itens 13 e 14 do presente estudo

Atividades existentes

Atividades potenciais

Priorização de regularização da

parceria

Priorização de implantação

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53

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

se avaliar os modelos jurídicos indicados no estudo 19, de modo a fortalecer as

relações entre as partes. Em um segundo momento, as atividades que já são

ordenadas, passarão pela atualização de seus modelos, tendo como base os

contratos aplicados na primeira fase de implementação do projeto.

Com relação às atividades potenciais propostas neste estudo, sugere-se que a

ordem de priorização de implantação das novas atividades tenha como base os

objetivos de criação da APACC, dentre os quais destaca-se (ICMBio, 2012, p.17):

• Objetivos gerais

▶ Ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades

econômicas compatíveis com a conservação ambiental;

▶ Incentivar as manifestações culturais contribuindo para o resgate da

diversidade cultural regional.

• Objetivos específicos

▶ Estabelecer linhas de pesquisas prioritárias para APA proporcionar meios e

incentivos para atividades de pesquisa científica e estudos, para subsidiar o

manejo e monitoramento da APA;

▶ Assegurar a divulgação para o reconhecimento da sociedade da importância

da APA para a melhoria manutenção da qualidade de vida;

▶ Propiciar desenvolvimento socioambiental da população local garantindo o

acesso as informações conhecimento;

▶ Incentivar a prática de atividades de baixo impacto;

19 Apresentados nos itens 13 e 14

Sendo assim, sugere-se a seguinte ordem de implantação para as novas atividades:

1. Atividades para o aprimoramento e organização da gestão da APACC

2. Atividades voltadas para a educação e sensibilização ambiental

3. Alternativas turísticas complementares

Esta ordem de prioridade foi construída com a finalidade de, primeiramente

aprimorar e organizar a gestão das atividades turísticas que já são oferecidas na

APACC, além de ordenar as atividades recorrentes, identificadas nas reuniões

da visita de campo. Em seguida, são priorizadas as atividades voltadas para a

educação e sensibilização ambiental, entendidas como essenciais para que

o turista e a comunidade tenham o conhecimento sobre a UC. A intenção é

fortalecer a imagem da APACC na região para “assegurar a divulgação para

o reconhecimento da sociedade da importância da APA para a melhoria

manutenção da qualidade de vida”. As atividades entendidas como alternativas

turísticas visam complementar o panorama turístico da região, de modo a

incentivar o desenvolvimento econômico local.

A seguir, são apresentadas as matrizes de priorização sugeridas conforme exposto

acima. Estas visam auxiliar no monitoramento e avaliação da implementação das

atividades e dos modelos jurídicos, permitindo aos gestores uma gestão eficiente

sobre o planejamento e execução das atividades previstas no estudo.

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54

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

7.4.1. Atividades existentes

Tabela 11. Priorização das atividades existentes

Atividades existentes Paripueira São Miguel dos Milagres

Porto de Pedras Maragogi

Passeios piscinas naturaisCatamarã Lancha Escuna Jangada Fotografia subaquática

MergulhoMergulho conduzido Mergulho de batismo

Brinquedos náuticos (incipiente)Caiaque StandUp

Passeio no mangueTrilhas ecológicas

Observação de faunaPeixe-boi

Passeio de orlaPasseio embarcado (lancha, escuna e catamarã)

Venda de bebidas e lanches Atividades recreativas

Legenda:

1. Atividades sem ordenamento e regularização

2. Atividades já ordenadas pelo ICMBio, mas que possuem instrumentos de parceria frágeis

7.4.2. Atividades potenciais

Tabela 12. Priorização das atividades potenciais

Atividades existentes Paripueira São Miguel dos Milagres

Porto de Pedras Maragogi

BilheteriaBilheteria

Atividades no manguezalTrilhas interpretativas Caiaque StandUp Padlle Passeio Noturno (lua cheia) Observação de fauna/ flora Passeio de jangada sem motor

Atividades de praiaAluguel de Bicicleta Caminhada de longo curso Atividades esportivas

Atividades náuticasPasseio de orla com jangada artesanal

Travessia (caiaque oceânico, SUP, canoa polinésia)

Trilha subaquática para educação e interpretação ambiental

Mergulho de batismo Mergulho noturno Mergulho em naufrágios Pesca Turística noturna Esportes náuticos

Legenda:

1. Atividades para o aprimoramento e organização da gestão da APACC

2. Atividades voltadas para a educação e sensibilização ambiental

3. Alternativas turísticas complementares

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

8. ANÁLISE ECONÔMICA SOBRE O CONTEXTO TURÍSTICO DOS MUNICÍPIOS DA APACC ABRANGIDOS PELO PROJETOA partir da compreensão territorial da Costa dos Corais, e dos municípios da

APACC abrangidos pelo projeto, no que tange ao contexto turístico, perfil dos

visitantes, atividades turísticas atuais e potenciais, priorização de ordenamento

das atividades, dentre outras informações, esta seção busca apresentar os

elementos econômicos dos cenários apresentados ao longo do estudo com

objetivo de qualificar e quantificar monetariamente o turismo nos municípios. Esta

quantificação é importante, pois irá contribuir na tomada de decisão da equipe

gestora da UC e da CGEUP no que tange aos próximos passos do projeto (etapa 2),

concomitantemente ao que se apresenta nos itens 13 e 14, quando da avaliação

dos instrumentos jurídicos.

8.1. Projeção de Demanda Turística dos Municípios da APACC abrangidos pelo Projeto

Esta seção tem como intuito identificar o potencial turístico explorado e não

explorado dos municípios. Para tanto, é analisado sob a ótica econômica, o perfil

do turista típico da região, bem como seu orçamento potencial a ser alocado

com passeios turísticos na região. Em seguida, analisa-se o portfólio de atrações

turística disponíveis na região e atividades potencialmente oferecidas no futuro,

baseado nos levantamentos já apresentados anteriormente. Para as principais

atividades oferecidas, é feito estudo detalhado, estimada a demanda média,

receitas anuais e analisado os custos envolvidos na atividade. Por fim, todas as

informações são consolidadas em uma análise dos roteiros turísticos potenciais e

verifica-se se os valores cobrados pelos passeios são aderentes ao orçamento do

turista típico. Os estudos apresentados nesta seção são baseados em informações

obtidas no Ministério do Turismo 20, Banco Central do Brasil 21, ICMBio 22, relatório

Fipe (2012)23 e através dos resultados obtidos em campo.

8.1.1. Perfil do Turista sob a ótica econômica

A análise do perfil do turista consiste em estimar o gasto médio esperado para

o turista que visita a região, bem como o percentual desse valor reservado para

as atrações oferecidas nos municípios de Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi, ou seja, o valor esperado que um turista típico gasta

com visitas às piscinas naturais, observação da fauna local ou com atividades de

mergulho. A análise tem início com o turista doméstico, e, em seguida analisa-se

o turista internacional. Por fim, discute-se a distribuição de gastos esperada para

cada tipo de turismo.

A tabela 13 apresenta o gasto médio per capita e o gasto médio per capita

diário do turista doméstico com destino ao estado de Alagoas (AL). Os valores

são obtidos em Fipe (2012) e são atualizados para valores correntes (maio/2017)

pelo IPCA disponibilizado pelo IBGE. Como pode-se observar, o turista típico que

visita a região apresenta gasto médio de R$ 3.063,72. De acordo com Fipe (2012),

o período médio de viagem a lazer de um turista doméstico é de 8,7 dias, o que

implica em gasto médio diário de R$ 352,15.

20 Endereço eletrônico Ministério do Turismo (Mintur): www.turismo.gov.br.

21 Endereço eletrônico Banco Central do Brasil (BCB): www.bcb.gov.br.

22 Endereço eletrônico Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio): www.icmbio.gov.br/.

23 Fipe (2012): Estudo da demanda turística doméstica. Relatório elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisa

Econômica (Fipe) e disponibilizado pelo Ministério do Turismo com dados sobre o dimensionamento e

caracterização do mercado interno de viagens no Brasil.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 13. Gastos Médio Turista Doméstico com Destino ao Estados de Alagoas (AL)

Informação R$ (Valores set/2012) R$ (Valores mai/2017)***

Gasto per capita* 2.228,43 3.063,72

Gasto per capita por dia** 256,14 352,15Nota: *Gasto médio do turista com destino ao estado de AL. **Permanência média doméstica motivo lazer: 8,7 dias

(Fipe, 2012). **IPCA acumulado entre set/2012 e mai/2017: 137,48%.

A tabela 14 apresenta a análise feita para o turista internacional. As informações

dessa análise são obtidas no Ministério do Turismo e referem-se aos turistas que

visitaram o Brasil a lazer em 2014 e 2015. Nesse período, o gasto médio do turista

internacional é de U$ 74,22, ou aproximadamente R$ 245,79. Além disso, o período

médio de estadia é superior ao do turista doméstico e tem média de 12,5 dias.

Tabela 14. Gastos Médio Turista Internacional com Destino aos Estado de AL

Anos 2014 2015 Média

Gasto médio per capita diário (US$) 86,98 67,12 74,22

Gasto médio per capita diário (R$)* 277,47 214,11 245,79

Permanência média(Turismo Lazer) - Pernoites

13,4 11,6 12,5

Nota: *Valor convertido pela taxa de câmbio de 3,19 (expectativa para taxa de câmbio média de 2017 de acordo com

sistema Focus do Banco Central em 23/05/2017).

Portanto, com as informações dos turistas doméstico e internacional, pode-se

estimar o gasto médio esperado para cada um dos perfis durante todo o período

de viagem. Desta forma, estima-se que esse valor é de R$ 3.063,72 para o turista

doméstico e R$ 3.072,37 (12,5 dias x R$245,79) para turista internacional. Sendo

assim, a estimativa de gastos de ambos perfis é semelhante, porém o turista

internacional apresenta dispêndio superior.

A tabela 15 consolida as informações de dispêndio total e apresenta sua

distribuição nas classes: Transporte, Transporte local, Hospedagem, Alimentação,

Compras pessoais, Passeios e Atrações turísticas, Diversão noturna, e outros. Com

isso, obtém-se a estimativa de gastos alocados em cada categoria.

Tabela 15. Distribuição dos gastos em viagens

Distribuição gastos Gastos estimados

Item Gasto % Turista Doméstico(viagem de 8,7 dias)

Turista Internacional(viagem de 12,3 dias)

Transporte 30,3% R$ 927,80 R$ 930,42

Transporte local 3,2% R$ 97,67 R$ 97,94

Hospedagem 15,1% R$ 463,62 R$ 464,93

Alimentação 22,4% R$ 687,15 R$ 689,09

Compras pessoais 13,3% R$ 408,74 R$ 409,89

Passeios e Atrações turísticas 6,5% R$ 197,81 R$ 198,37

Diversão Noturna 4,9% R$ 150,42 R$ 150,84

Outros 4,3% R$ 130,52 R$ 130,89

Total 100,0% R$ 3.063,72 R$ 3.072,37Nota: Dados de distribuição obtidos no relatório Fipe (2012).

A categoria de maior interesse para análise refere-se a “Passeios e Atrações turísticas”, pois representa melhor as atividades analisadas neste estudo. Porém,

devido às características da região analisada e, consequentemente, ao perfil do

turista que visita a região, cabe destaque para as categorias “Diversão Noturna” e “Outros”. As principais atrações da região envolvem as praias, passeios na natureza

e observação da fauna local. Além disso, não é oferecido diversificado portfólio

atrações ou diversas atrações relacionadas a categoria “Diversão Noturna”.

Portanto, é razoável esperar que 6,5% do orçamento total do turista seja o valor

mínimo a ser gasto com atividades relacionadas a “Passeios e Atrações turísticas”,

uma vez que essa categoria naturalmente captura parte do orçamento das

categorias “Diversão Noturna” e “Outros”.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

8.1.2. Atividades Potenciais e Uso Capacidade Atual sob a ótica econômica

Esta seção tem como intuito analisar o portfólio de atividades oferecidas na

região, bem como as atividades potencialmente oferecidas no futuro sob a

ótica econômica, uma vez que estas foram elencadas e apresentadas nas seções

anteriores de forma a caracterizá-las e priorizá-las. Para tanto, são listadas todas as

atividades que podem ser oferecidas na região, e, em seguida, são analisados os

preços, custos, demanda e receitas das principais atividades. Por fim, é estimada a

remuneração total esperada por atividade para cada município situado na Costa

dos Corais.

A Tabela 16 dá início a análise com a exposição de todas as atividades que são

oferecidas e que podem ser potencialmente oferecidas nos municípios analisados.

Ao todo são listadas 27 atividades, entre aquelas oferecidas e potencialmente

oferecidas. Além disso, as atividades se diversificam de acordo com o município

analisado, conforme já colocado anteriormente ao longo do estudo.

Tabela 16. Atividades oferecidas e potenciais dos Municípios da APACC

abrangidos pelo projeto

Cidades Maragogi Paripueira Porto de Pedras

São Miguel dos Milagres

Atividades existentesCaiaque x x x

Catamarã x x x

Escuna x

Foto sub x x x

Jangada x x

Lancha x x

Mergulho conduzido x x

Mergulho de batismo x

Passeio embarcado (lancha, escuna e catamarã) x

Cidades Maragogi Paripueira Porto de Pedras

São Miguel dos Milagres

Atividades existentes (cont.)

Peixe boi x

Stand Up x x x

Trilhas ecológicas x

Atividades potenciaisBicicleta x x x x

Caiaque x

Caiaque oceânico (rota) x x x x

Caminhada de longo de curso x x x x

Kitesurf x

Mergulho de batismo x

Mergulho em naufrágios x

Mergulho noturno x

Passeio de orla x

Passeio Noturno (lua cheia) x x x x

Pesca Turística (Tainha e Agulhinha - noturna) x

Stand Up x

Stand Up (rotas oceânicas) x x x x

Trilha sub aquática para Educação e interpretação ambiental

x x x

Trilhas interpretativas e educativas x x x x

Turismo de observação de fauna/ flora x

Windsurf x

Rota do peixe-boi (passeio de Jangada artesanal) x

Fonte: pesquisa de campo.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Na Tabela 17, a seguir, analisa-se as seguintes atividades oferecidas na região:

Catamarã, Escuna, Fotos sub, Jangada, Lancha, Mergulho conduzido, Mergulho de

batismo e passeio de avistamento do Peixe boi. Conforme já exposto, estas são as

principais atividades desenvolvidas atualmente na região e também as únicas para

as quais obteve-se informações de demanda.

Tabela 17. Preços das Atividades Existentes

Cidades Maragogi Paripueira Porto de Pedras

São Miguel dos Milagres Média

Catamarã

Preço Principal 75 50 50 R$ 58,33

Preço extra* 15 10 R$ 12,50

Escuna

Preço Principal 50 R$ 50,00

Preço extra* 15 R$ 15,00

Fotos sub

Preço Principal 30 30 R$ 30,00

Preço extra* -

Jangada

Preço Principal 50 50 R$ 50,00

Preço extra* -

Lancha

Preço Principal 65 50 R$ 57,50

Preço extra* 15 10 R$ 12,50

Passeio embarcado

Preço Principal 30 R$ 30,00

Preço extra* 15 R$ 15,00

Mergulho conduzido

Preço Principal 100 90 R$ 95,00

Preço extra* -

Cidades Maragogi Paripueira Porto de Pedras

São Miguel dos Milagres Média

Mergulho de batismo

Preço Principal 280 R$ 280,00

Preço extra* -

Peixe boi

Preço Principal 50 R$ 50,00

Preço extra* -Fonte: pesquisa de campo.

Nota: *Preço extra refere-se a itens extras que podem ser oferecidos no passeio, por exemplo, máscaras de mergulho.

Como pode-se observar, as atividades variam de preço entre si e entre os

municípios, porém a variação não é muito expressiva quando as atividades

são organizadas entre atividades relacionadas às piscinas naturais, atividades

de mergulho e observação do peixe boi. Além disso, exceto pelo mergulho de

batismo, todas as atividades têm custos inferiores ao orçamento previsto do turista

típico. Esse é exatamente o comportamento apresentado a seguir na Figura 41.

Figura 45. Gastos Médio por Atividade (R$)

Fonte: Pesquisa de campo.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Entretanto, pode-se verificar que os custos envolvidos nas atividades consistem

em custos de propriedade, custos de manutenção de R$ 2.000 ao mês para

Catamarã e R$ 500 para lancha, cobrança de R$ 2 por passageiro referente ao valor

exigido para custear a preservação do local, e, por fim, tributação de ISS.

Ao que se refere à tributação, cabe destaque que atualmente apenas o município de Maragogi tem conseguido recolher adequadamente o ISS sobre o serviço de turismo, apesar da obrigação existir em todos os demais municípios. Ainda, os demais tributos que devem ser observados quando da execução de atividades econômicas tais como PIS, COFINS, Imposto de Renda e Contribuição Social, hoje não são recolhidos em nenhum dos municípios ou atividades. De maneira geral, a prestação destes serviços carece do devido enquadramento do ponto de fiscal, o que não ocorre atualmente.

Finalmente, nas Tabela 19 e Tabela 20 tem início a estimativa da demanda pelas atrações

oferecidas. As estimativas são realizadas para cada município e principais atividades.

Deste modo, tanto o turista doméstico quanto o turista internacional apresentam

orçamento adequado frente aos valores cobrados pelas atividades oferecidas

na região. Em relação à atividade de mergulho de batismo, deve-se observar

que, apesar do seu valor superar o orçamento estimado, sua demanda não está

atrelada ao perfil de um turista típico. A atividade de mergulho atrai turistas com

características próprias, dentre elas, a disposição a gastar mais com esse tipo de

atividade.

A seguir, na Tabela 18, são apresentadas as informações disponíveis sobre os

custos relacionados à oferta das principais atividades ofertadas atualmente nos

municípios da APACC. Como fica claro após análise da tabela, existem poucas

informações disponíveis sobre os custos envolvidos nessas atividades, o que

impossibilita uma análise detalhada do tema.

Tabela 18. Informações de custos de operação das atividades*

Atividade Catamarã Escuna Foto sub Jangada Lancha Mergulho conduzido

Mergulho de batismo Peixe boi

Equipamento 250.000,00Entre

R$ 70.000,00 e R$ 180.000,00

sem informação

Entre R$ 6.000,00 e R$ 10.000,00

Entre R$ 6.000,00 e R$ 80.000,00

sem informação

sem informação

Entre R$ 6.000,00 e R$ 10.000,00

Manutenção (R$/mês) 2.000 variável sem

informaçãosem

informação 500,00 variável variável sem informação

Comissão guia 10%

Taxa por passageiro R$ 2,00 R$ 2,00 R$ 0,00 R$ 2,00 R$ 2,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Tributação (ISS) Entre 2% e 4%

Mão de obra sem informação

48 com rendimento mensal entre R$ 1.000 a R$

1.800/ mês)

Fonte: Pesquisa de campo.Nota: *A tabela inclui apenas as atividades para as quais existe informação de demanda.

Na Tabela 19 são apresentadas

as estimativas relacionadas às

piscinas naturais. Estas foram

obtidas com base na capacidade

máxima de visitantes permitidas

segundo o Plano de Manejo da

APACC, revisadas pela portaria

145 do ICMBio, assim como na

demanda de alta temporada.

Além disso, é utilizada informação,

obtida em campo, junto aos

operadores locais, de que a média

anual de visitante é igual a 60% da

capacidade máxima permitida.

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60

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 19. Demanda Estimada Piscinas Naturais

Cidade Atividade Possui a atividade

Capacidade diária máxima

ICMBio

Demanda Alta

Temporada

Demanda Estimada**

Maragogi

Catamarã x 1080 1080 648Lancha x 180 180 108Escuna x 228 120 72Jangada - - -

Paripueira

Catamarã x 240 240 144Lancha x 12 12 7Escuna - - -Jangada - - -

Porto de Pedras*

Catamarã 270 - -Lancha - -Escuna - -Jangada x - 81

São Miguel dos Milagres*

Catamarã x - 69Lancha - -Escuna - -Jangada x - 12

Fonte: Diário Oficial da União – Portaria n° 145, de 24 de dezembro de 2014, ICMBio (2013): Plano de Manejo Área

Ambiental Costa dos Corais; e pesquisa de campo.

Nota: * A visitação às piscinas de Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres a ainda não é regulamentada, porém

utilizou-se como base a proposta preliminar da equipe gestora da UC, de 90 visitantes/ dias em cada uma das 3

(três) piscinas, sendo a estimativa de limite de 270 visitantes/ dia para as três piscinas naturais dos dois municípios. **

Demanda média do anual é 60% do limite máximo permitido.

De posse das estimativas de demanda das piscinas naturais, é possível estimar

a demanda para outras atividades, cujo valor está relacionado ao número de

visitas às piscinas. Essas atividades são apresentadas na Tabela 20. Tratam-se das

atividades de Fotos Sub, Mergulho conduzido, Mergulho de batismo e observação

do Peixe-boi. As estimativas são realizadas com base na demanda estimada para

as piscinas de cada município e nas informações descritas na quarta coluna da

tabela, obtidas durante a realização do trabalho de campo.

Tabela 20. Estimação Demanda outras atividades

Cidade Atividade Possui a atividade

Informações utilizadas para estimação

Demanda estimada

Maragogi

Fotos sub

x

20% do número total de visitantes, aproximadamente procuram a fotos sub.

166Paripueira x 30Porto de Pedras -

São Miguel dos Milagres

x 16

Maragogi

Mergulho conduzido

x

7,5% dos visitantes das piscinas buscam pela atividade de mergulho conduzido, sendo que essa categoria de mergulho corresponde a 90% das atividades de mergulho.

62Paripueira x 11Porto de Pedras 6

São Miguel dos Milagres

6

Maragogi

Mergulho de batismo

x 7Paripueira -Porto de Pedras -

São Miguel dos Milagres

-

Maragogi

Avistamento do Peixe-boi

70 visitantes diários é o limite permitido. A média anual foi considerada em 60% desse valor.

-Paripueira -Porto de Pedras x 42

São Miguel dos Milagres

-

Fonte: pesquisa de campo.

Por fim, de posse das informações de demanda e preço médio de cada atividade

foi possível estimar a receita anual esperada com cada uma das principais

atividades turísticas oferecidas. Os resultados dessa análise são apresentados na

Tabela 21, a seguir. A demanda anual é estimada multiplicando-se a demanda

diária por 360 dias, e os preços das atividades são estimados pelas suas médias.

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61

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Como pode-se observar, a receita total obtida com as atividades oferecidas nos

municípios da APACC abrangidos pelo projeto atinge R$ 35,6milhões ao ano, sendo que R$ 26,5milhões se referem à receita de Maragogi, R$ 4,8milhões de Paripueira, R$ 2,4 milhões de Porto de Pedras e R$ 1,8milhões São Miguel dos Milagres.

Além disso, temos que a principal atividade em termos de renda são as viagens de

Catamarã às piscinas naturais, que atinge receita anual de R$ 21,9 milhões. Em seguida, a atividade com maior receita é o mergulho conduzido e o passeio de lancha ambos com receita de aproximadamente de R$ 2,9 milhões ao ano.

Tabela 21. Receita Estimada por atividades e municípios

Atividades Existentes*

Demanda Média Anual Estimada(diária x 360) Preço

Médio

(R$)

Receita Anual

Estimada por

atividade (R$)

Maragogi Paripueira Porto de Pedras

São Miguel

dos Milagres

Catamarã 233.280 51.840 - 24.994 71 21.966.429

Escuna 25.920 - - - 65 1.684.800

Fotos sub 59.616 10.886 - 5.832 30 2.290.032

Jangada - - 29.160 4.166 50 1.666.286

Lancha 38.880 2.592 - - 70 2.903.040

Mergulho conduzido 22.356 4.082 2.187 2.187 95 2.927.178

Mergulho de batismo 2.484 - - - 280 695.520

Peixe boi - - 15.120 - 50 756.000

TOTAL 382.536 69.401 46.467 37.179 711 34.889.284

Receita Anual Estimada por município(R$)

25.538.220 4.567.860 2.421.765 2.361.439 - 34.889.284

Nota: *A tabela inclui apenas as atividades para as quais existe informação de demanda.

8.2. Análise dos roteiros padrão e potencial de renda

Esta seção tem como objetivo consolidar todas as informações obtidas

anteriormente, analisá-las diante de diversos cenários e verificar se existe potencial

de elevar a receita da região obtida com os passeios turísticos. Para tanto, uma

série de combinações de passeios tem seus custos contrapostos ao orçamento do

turista típico.

A análise é apresentada na Tabela 22. Na parte superior da tabela são apresentadas

todas as principais atrações, conjuntamente com diversas combinações das

mesmas. Essas combinações representam cenários razoáveis para um turista

típico e possuem diferentes custos de acordo com os passeios envolvidos.

Na parte inferior da tabela, são destacados na primeira coluna os orçamentos

reservados pelos turistas para três das categorias de gastos discutidas na seção

10.1.1: “Passeios e Atrações turísticas”, “Diversão Noturna” e “Outros”. Essas

categorias são destacadas pelos motivos apresentados anteriormente, ou seja, por

serem mais intimamente relacionadas com as atividades de turismo estudadas,

no caso da categoria “Passeios e Atrações turísticas”, ou, no caso das categorias

“Diversão Noturno” e “Outros”, devido ao perfil do turista que opta por visitar

a região e à limitada oferta de outras atividades que não sejam relacionadas aos

passeios para observar a fauna e natureza local.

Ainda na parte inferior da tabela, na segunda coluna são apresentados diversos

cenários de orçamento reservado para as atividades oferecidas na região: R$ 197

quando considerado apenas o dispêndio esperado com a categoria “Passeios e Atrações turísticas”, R$ 348 se considerado também o valor referente a “Diversão Noturna”, e R$ 479 se considerado também a categoria “Outros”. Por fim, nas

demais colunas são apresentados os saldos da diferença entre os custos de cada

uma das opções de Pacotes e os orçamentos médios estimados.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tabela 22. Despesas Pacotes e Renda Potencial

Atividades Preço Médio

Pacote 1

Pacote 2

Pacote 3

Pacote 4

Pacote 5

Jangada 50 x

Escuna 65 x

Lancha 70 x

Catamarã 71 x

Fotos sub 30 x x x

Passeio embarcado 45 x

Peixe boi 50 x x x x x

Mergulho conduzido 95 x

Mergulho de batismo 280

Gasto total pacotes 756 95 130 145 150 216

Gastos médios turista doméstico (R$) Renda potencial

Passeios e atrações turísticas (R$ 197,81) 198 103 68 53 48 -18

Diversão noturna (R$ 150,42) 348 253 218 203 198 132

Outros (R$ 130,52) 479 384 349 334 329 263

Portanto, o resultado apresentado na parte inferior da tabela 22 é aderente ao

orçamento esperado para o turista típico. Ainda mais, o resultado indica que

existe potencial para a região expandir suas atividades de turismo, uma vez que

existe saldo positivo entre o valor das principais atividades e o dispêndio médio

esperado do turista padrão.

9. ANÁLISE DE VIABILIDADE DAS ATIVIDADES DE TURISMO DA APACC DOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS PELO PROJETO24 Ao se analisar a estrutura atual que se organiza as atividades de turismo nos

municípios de Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi, assim como as informações disponíveis sobre a atividade econômica relacionada

a essas atividades, observa-se a necessidade de atentar para alguns detalhes

antes de aplicar os procedimentos tradicionais de análise de viabilidade para

as atividades de turismo da região, tanto aquelas já consolidadas, quanto as

potenciais.

Primeiramente, ao se avaliar a metodologia tradicional de análise de viabilidade e

confrontá-la com a realidade da região estudada, percebe-se que as ferramentas

tradicionais não se mostram adequadas para aplicação nas atividades de

turismo desenvolvidas nos municípios abarcados pelo projeto. As ferramentas tradicionais são elaboradas para estruturas de projetos complexas, normalmente envolvendo grandes empreendimentos, investimento de acionistas e bancos, administração centralizada, dentre outras características. Por outro lado, as atividades analisadas e potenciais, apresentam características distintas devido ao caráter da própria UC (Uso Sustentável onde não existe o domínio sobre a área da UC por parte da União). Elas são atividades

desempenhadas de maneira descentralizada, por profissionais autônomos, sem

investimentos programados e sem planejamento de longo prazo. Portanto, as

atividades em questão são mais semelhantes às atividades desempenhadas para garantir o sustento dos profissionais envolvidos e não para remunerar o capital investido no setor.

Ademais, para adequada análise de viabilidade, diversas informações necessárias

ainda não estão disponíveis ou não são adequadas. A seguir, são listados alguns

24 Para uma melhor compreensão da análise feita neste item, deve-se ler o anexo intitulado: Metodologias para

Análise de Viabilidade

Page 63: Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

63

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

pontos específicos não atendidos no estudo, mas necessários para análise

segundo a metodologia tradicional.

1. Demanda: Apesar da elaboração de estimativas de demanda para as

principais atividades oferecidas na região, as estimativas se limitam ao

cenário atual e não contemplam horizontes futuros. Além disso, não existe

informação de demanda para as atividades potenciais que ainda não são

oferecidas;

2. Receita: Além da ausência de informações de demanda necessárias para

análise de viabilidade, as informações de preço sofrem do mesmo problema.

Com as informações atuais, apenas as principais atividades oferecidas

podem ter seus preços estimados adequadamente;

3. Custos de Operação: As informações organizadas nesse estudo não são

adequadas para estimação dos custos de operação envolvidos na oferta dos

serviços de turismo, uma vez que estas não são confiáveis devido ao fato

de que grande parte dos operadores não tem um controle efetivo sobre os

custos operacionais dos serviços prestados. Essas informações são essenciais,

e sem elas não é possível calcular o valor financeiro que é redirecionada para

os profissionais envolvidos nas atividades de turismo. Além disso, sem essa

estimativa não é possível determinar valor adequado para eventual taxa a ser

cobrada e revertida ao ICMBio, caso seja um dos cenários a serem trabalhados.

4. Custos de investimento: Diante da estrutura atual em que são oferecidos

os serviços turísticos, não se identifica claramente os investimentos

necessários para garantir a exploração eficiente da área. Para determinação

dos investimentos necessários é preciso definir o arranjo de exploração e a organização das atividades de turismo na APACC, ou seja, definir entre

centralizar a administração das atividades; ou criar uma central de vendas de

ingressos para os passeios; ou transferir a um concessionário o direito pela

exploração do local em troca dos investimentos que esse concessionário seja

obrigado e executar; ou outra configuração que seja mais adequada a região.

Portanto, conclui-se que as metodologias tradicionais de análise de viabilidade

não são adequadas para analisar as atividades desenvolvidas na região, pois não

são compatíveis com a natureza das atividades praticadas. Diante desse fato, recomenda-se adoção de análise por margens de lucro, ou seja, analisar o

valor remanescente que permanece com o profissional envolvido na atividade

e verificar se esse valor é suficiente para garantir o sustento do mesmo. Essa

análise deve ser realizada após corretamente estimadas as informações de custos,

receita, tributos e taxas. Ademais, a metodologia de margem de lucro também é apropriada para determinação de eventual taxa a ser cobrada pela exploração das atividades de turismo na região e revertidas para o ICMBio. No entanto, é

necessária a definição do arranjo de exploração pretendido e estimativa adequada

da demanda, custos e preços das atividades atualmente oferecidas e atividades

potenciais.

10. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CENÁRIO ECONÔMICODiante dos resultados levantados, pode-se obter algumas conclusões sobre as

atividades de turismo nos municípios da APACC abrangidos pelo projeto, como

também algumas limitações da atual análise devido ao limitado conjunto de

informações disponível até o momento. A seguir são apresentadas as principais

conclusões organizadas em tópicos.

• Existe capacidade de expansão das atividades oferecidas. O resultado

apresentado na Tabela 22 evidencia que existe a possibilidade de se expandir

as atuais atrações turísticas oferecidas. Pode-se obter essa conclusão pois, ao

se confrontar os custos das principais atividades com o orçamento do turista

típico, observa-se saldo positivo. Portanto, é possível identificar potencial

de elevação da atual renda capturada e prever o desenvolvimento de novas

atividades, conforme exposto ao longo do estudo;

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

• Não é possível confirmar se parte dos recursos obtidos com as atividades turísticas pode ser redirecionada para o ICMBio sem inviabilizar a continuidade das atividades atuais. Apesar de se identificar que volume

relevante de recursos é obtido com as atividades de turismo da região e que

existe potencial para ampliar a diversidade de atrações, não é possível, com o

conjunto de informações disponíveis até o momento, quantificar quanto desses

recursos poderiam ser revertidos ao ICMBio. A quantificação não é possível

pois, para tanto, são necessárias informações de demanda, custos de instalação

e operação e definição do arranjo de exploração das atividades de modo a

permitir a mensurar o quanto desses recursos de fato ficam com os indivíduos

que oferecem e operacionalizam essas atividades atualmente. Ademais, sem

o conhecimento aprofundado sobre a real margem de receita obtidas pelos

operadores, se parte dos recursos obtidos com essas atividades for revertido ao

ICMBio, talvez as atividades possam ser comprometidas e se tornem inviáveis;

• Deve-se definir métricas de avaliação de rendimento compatíveis com a arranjo em que se pretende explorar as atividades pois, a depender do arranjo, pode-se identificar as melhores métricas de avaliação. As métricas

de avaliação das atividades da região dependem do arranjo de exploração

definido. No arranjo atual em que as atividades são operacionalizadas, ou seja,

de maneira descentralizada e por profissionais independentes e liberais, não

é adequada a aplicação de métricas convencionais para análises de projetos

de grande porte como TIR, VPL, dentre outras. Essas métricas são adequadas

diante de eventual arranjo em que as atividades sejam centralizadas em um

concessionário responsável por administrar todas as atividades da região e

remunerado em contrapartida pelos investimentos que venha a realizar e

pelos custos de manutenção que assuma. Na realidade atual, as atividades são mais adequadamente avaliadas por estudos de margens de lucro.

Estudos como esses possibilitam identificar se as atividades são rentáveis o

suficiente para gerar recursos o bastante para cobrir os custos e garantir o

sustento dos profissionais envolvidos. No entanto, novamente cabe destacar

que, para adequada avaliação, mais informações são necessárias, dentre elas:

informações mais precisas de custos, definição de arranjo de exploração das atividades.

11. ANÁLISE JURÍDICASob a ótica jurídica, conforme se observará ao longo deste Parecer, diversos foram

os modelos de contratação eleitos pelo ICMBio nos últimos anos para a gestão

destes ativos, sendo que a opção por uma ou outra forma de relacionamento

junto à iniciativa privada variou, evidentemente, conforme as características e

finalidades perseguidas em cada projeto/iniciativa. No que tange ao contexto

da APACC, tem-se o expresso objetivo de melhor capturar o potencial inerente aos ativos ambientais sob a gestão do ICMBio, além de otimizar sua gestão,

em cooperação com atores privados que detenham, de um lado, capacidade

técnica para a exploração deste potencial, e, de outro, capacidade financeira para

a realização de investimentos e custeio operacional de serviços que já sejam ou

passem a ser – no âmbito da aliança público-privada – oferecidos nas UC.

As APAs, como definidas em nossa legislação, caracterizam-se como Unidades de Conservação de Uso Sustentável, consistindo em áreas em geral extensas,

que podem ser constituídas por terras públicas ou privadas, com um certo grau

de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou

culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das

populações humanas, e que têm como objetivos básicos proteger a diversidade

biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade

do uso dos recursos naturais. A visitação – componente essencial para o

desenvolvimento de projeto de interação público-privada nesta categoria de UC-,

é permitida, porém condicionada às regras estabelecidas, conforme já tratado ao

longo do presente estudo, principalmente sob a ótica do plano de manejo.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

O presente estudo conforme já delineado ao longo do trabalho, nesse sentido,

objetiva a estruturação de projeto que, identifique as parcerias já existentes na

APA e contemple as formas de cooperação (“Parcerias”) que potencializem a

gestão sustentável, em observância à conservação da biodiversidade da UC,

através da exploração organizada do turismo e atividades inerentes à visitação

turística, sobretudo no tocante a regulamentação das atividades de visitação às

piscinas naturais – principal atrativo atual da APA –, com vistas a diminuir a pressão

ambiental decorrente da atividade, e, paralelamente, promover a geração de

benefícios sociais e econômicos para as populações residentes e do entorno.

Para tanto, necessária se faz a análise dos modelos hoje disponíveis em nosso

ordenamento jurídico-administrativo para a constituição destas Parcerias –

verificando-se, no Item 13.3 abaixo, quais dos modelos e em quais ocasiões foram

eleitos pelo ICMBio nos últimos anos –, bem como o regime jurídico aplicável às

UCs federais no Direito Brasileiro e incidentes sobre o Projeto, à luz da Constituição

Federal de 1988, também considerando os preceitos constantes:

i. da Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000 (que institui o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, “Lei SNUC”), suas alterações, e Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002 (“Decreto 4.340”), que o regulamenta;

ii. da Lei Federal nº 11.516, de 28 de agosto de 2007 (que dispõe sobre a

criação do ICMBio);

iii. da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (que dispõe sobre a

proteção da vegetação nativa, denominada popularmente de Novo Código

Florestal Brasileiro), e suas alterações;

iv. da Lei Federal no 8.671, de 4 de Janeiro de 1993 que dispõe sobre o mar

territorial, a

zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental

brasileiros, e dá outras providências;

v. Decreto nº de 23 de outubro de 1997, que criou a Área de Proteção

Ambiental Costa dos Corais;

vi. do plano de manejo referente a Área de Proteção Ambiental da Costa dos

Corais;

vii. Decreto-Lei nº 9.760/46, que versa sobre os bens da União, incluindo no rol

de bens as áreas de marinha;

viii. Decreto nº 5.300/2004 que define a APA como Zona Costeira;

ix. Projeto de Gestão Integrada de Orla Marinha (“Projeto Orla”) do Ministério

do Meio Ambiente;

x. Portarias e Instruções Normativas do ICMBio de cada Município pertencente

a APA.

Necessário, porém, ainda que preliminarmente, para que seja possível a análise

das alternativas que se põem ao ICMBio sob o prisma jurídico para as Parcerias

Ambientais, tecer algumas breves considerações sobre aspectos de grande

relevância para a estruturação do Projeto.

11.1. Considerações preliminares para o estabelecimento de parcerias relacionadas à APACC

Preliminarmente, é importante pontuar que, em virtude da grande extensão

da APACC, o recorte selecionado para análise do contexto atual da UC, desde

o arcabouço jurídico existente até os modelos de parcerias já estabelecidos,

abrangeu, conforme delineado ao longo do texto, os Municípios de Paripueira, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Maragogi, porém, as análises

jurídicas aqui apresentadas podem ser aplicadas no contexto territorial de toda a

APACC, adaptando-as de acordo com as atividades a serem contempladas, assim

como no que tange ao aprimoramento da gestão da UC.

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66

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Tal recorte possibilitou a síntese de um panorama geral das potencialidades da APACC

bem como de sua estruturação, cabendo a única observação de que, no tocante

aos aspectos jurídicos, as estruturações das parcerias também deverão observar as

normatizações em vigor exclusivas de cada município, tais como Instruções Normativas

e Portarias do ICMBio referentes especificamente ao município em questão.

11.1.1. Território de Marinha

O Decreto-Lei nº 9.760/46 25, que versa sobre os bens da União, inclui no rol de

patrimônio da União as áreas de marinha, cuja delimitação geográfica coincide

com as delimitações da APA. Por sua vez, as limitações de Zona Costeira 26 do

Decreto nº 5.300/2004 enquadra a APA nessa categoria, cuja gestão deve observar

o Plano de Gerenciamento Costeiro.

Tal Plano de Gerenciamento Costeiro foi instituído pela Lei nº 7661/98, a qual

estabelece normas gerais para a gestão ambiental da Zona Costeira, traçando

diretrizes para o planejamento integrado da utilização sustentável dos recursos

costeiros, aplicáveis à APA 27.

Também o Decreto nº 5.300/2004 é que regulamenta o Plano de Gerenciamento

Costeiro, dispondo sobre regras de uso e ocupação da zona costeira e

25 Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente,para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831:

a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influên-ciadas marés;

b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés.Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação periódica de 5(cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra em qualquer época do ano.

26 Art. 3o A zona costeira brasileira, considerada patrimônio nacional pela Constituição de 1988, corresponde ao espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendouma faixa marítima e uma faixa terrestre, com os seguintes limites:

I - faixa marítima: espaço que se estende por doze milhas náuticas, medido a partir das linhas de base, compreen-dendo, dessa forma, a totalidade do mar territorial;

II - faixa terrestre: espaço compreendido pelos limites dos Municípios que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na zona costeira.

27 O enquadramento da APA como área de Zona Costeira pode ser constatada no sítio eletrônico do Ministério do Meio Ambiente <http://www.mma.gov.br/gestao-territorial/gerenciamento-costeiro/gerenciamento-costeiro-noses-tados-gerco/item/10603>

estabelecendo critérios de gestão da orla marítima. Em consequência dessa

normatização, formalizou-se o Projeto de Gestão Integrada de Orla Marinha do

Ministério do Meio Ambiente (“Projeto Orla”) cujas diretrizes são o fortalecimento

da capacidade de atuação e articulação de diferentes atores do setor público e

privado na gestão integrada da orla, aperfeiçoando o arcabouço normativo para o

ordenamento de uso e ocupação desse espaço, bem como o desenvolvimento de

mecanismos de participação e controle social para sua gestão integrada, de forma

a valorizar ações inovadoras de gestão voltadas ao uso sustentável dos recursos

naturais e da ocupação dos espaços litorâneos.

11.2. Da possibilidade de exploração de bens e serviços inerentes às Unidades de Conservação por terceiros

O Decreto 4.340, em seu Capítulo VII, dispõe sobre a possibilidade de autorização para a exploração de produtos, subprodutos e serviços inerentes às Unidades de Conservação, de acordo com os objetivos de cada categoria de UC. Permite-

se, na norma, de forma expressa, a autorização a pessoas físicas ou jurídicas para a

exploração comercial de bens e serviços nas diferentes UC.

As APA, consideradas UC de uso sustentável, comportam a possibilidade de

exploração de seus recursos, sendo um dos principais objetivos inerentes a esta

categoria o uso múltiplo sustentável de seus recursos.

Alerta-se, contudo, que o termo “autorização” utilizado na norma, quando

analisado o contexto em que é empregado, não se confunde com o instituto da

autorização administrativa (o que conduziria, nesta hipótese, ao entendimento de

que somente esse instituto seria elegível a projeto que se baseie na exploração

de recursos e serviços na APA). O Decreto 4.340, neste sentido, determina que

a exploração de bens e serviços pode ser “autorizada”, “permitida”, abrindo-se

a possibilidade para que essa autorização aconteça nas mais diversas formas

de relacionamento público-privado admitidos em nosso ordenamento jurídico

(sendo que os mais relevantes serão abordados no item 14 abaixo).

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Noutras palavras – sendo relevante esclarecer tal aspecto –, independentemente

do modelo jurídico que venha a ser eleito para a formação de parcerias (dentre

aqueles descritos e explorados a seguir), ter-se-á, obrigatoriamente, o parceiro

privado como um autorizado à exploração dos serviços que forem designados em Edital, sempre observada a projeção econômico-financeira que permitirá a

aferição e fixação do “retorno” (lucro) esperado e admitido sobre tais atividades,

de forma compatível com os riscos (notadamente o risco de demanda) e

responsabilidades que serão assumidos pelo parceiro privado.

11.3. O Plano de Manejo sob o olhar Jurídico

É importante reforçar novamente que, para o exercício das atividades atuais,

assim como as potenciais a serem realizadas no âmbito das Parcerias, todas

devem estar, antecipadamente previstas no plano de manejo 28 referente a

APACC, sendo efetivamente vedada, pela legislação pátria, a realização das

Atividades que não estejam devidamente previstas neste instrumento de

planejamento 29. Na hipótese de alguma ou algumas das Atividades pretendidas

para o Projeto não estarem previstas no plano de manejo da APA, mas ainda

assim se julgar oportuna ou necessária (sob o prisma econômico) sua inclusão

no escopo do Projeto, este deve ser alterado, seja de forma pontual ou revisado

em sua integridade.

A alteração do plano de manejo, no caso da APA, é de responsabilidade da

Coordenação de Plano de Manejo do ICMBio, e poderá ser realizada de forma

direta pela equipe de planejamento do ICMBio ou por terceiros, por meio da

contratação de serviços ou estabelecimento de parcerias com instituições de

28 Plano de Manejo, de acordo com a Lei SNUC, é o documento técnico mediante o qual, com fundamento nos obje-tivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.

29 Em atenção ao artigo 26 do Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002, “A partir da publicação deste Decreto, no-vas autorizações para a exploração comercial de produtos, sub-produtos ou serviços em unidade de conservação de domínio público só serão permitidas se previstas no Plano de Manejo, mediante decisão do órgão executor, ouvido o conselho da unidade de conservação.”

pesquisa ou organizações não governamentais, com posterior publicação de

portaria do ICMBio no Diário Oficial da União aprovando o plano de manejo 30.

Tendo em vista que o Plano de Manejo atual foi concebido para a gestão de 2013

a 2017, este encontra-se atualmente em processo de revisão e nesse sentido,

estas revisões devem contemplar ações possíveis em seu território refletindo as

dinâmicas estabelecidas no Projeto Orla, assim como contemplar as sugestões,

pertinentes, deste projeto.

Conforme vem sendo apresentado ao longo do trabalho, o Plano de Manejo

da atual da APACC, datado do ano de 2013, estipulou como objetivo da APA ser

um Polo de Excelência na gestão integrada de áreas marinhas protegidas de uso

sustentável. Para tanto, estabeleceu objetivos gerais e específicos para a Unidade

de Conservação, no ínterim de 2013 a 2017, os quais ensejaram o delineamento

de Programas de Ação e estabeleceu o zoneamento 31 da APA.

Nesse contexto, elencou-se como objetivos gerais da Área de Preservação da

Costa dos Corais a (i) conservação dos recifes coralígenos, bem como sua fauna

e flora, (ii) preservação da população do Peixe-Boi marinho (Trichecus manatus),

(iii) proteção dos manguezais, (iv) organização do turismo ecológico, científico e

cultural e desenvolvimento de atividades econômicas adequadas à conservação,

(v) incentivo a manifestação cultural, a fim de resgatar e preservar a diversidade

cultural regional. Em complemento e reiterando os objetivos gerais, definiu-se

como objetivos específicos da APA a (i) recuperação da diversidade biológica dos

ambientes marinhos, (ii) organização da atividade de pesca comercial artesanal, de

subsistência e amadora, a fim de regular o estoque pesqueiro; (iii) preservação das

áreas de reprodução e desenvolvimento da fauna e flora marinha e dos estuários,

em especial das espécies ameaçadas, (iv) estabelecimento linhas de pesquisa, bem

como proporcionar meios e incentivos para produção científica, a fim de subsidiar

30 Artigo 12, inciso I, do Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002.

31 Lei nº 9.985/00 art. 2o, XVI - zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

o manejo e monitoramento da APA, (v) promoção à divulgação, informação e

conscientização da população acerca da relevância da APA, (vi) incentivo a prática

de atividades de baixo impacto, e, por fim, (vii) monitoramento e sistematização

normativa para tráfego de cabotagem, a fim de garantir a salvaguarda humana e

também minimizando os impactos da atividade à área.

A fim de concretizar tais objetivos, o Plano de Manejo criou um Programa de

Ação, respeitando as particularidades de cada Zona - no sentido de coadunar

a promoção de ações necessária e possíveis em cada uma delas, já que cada

zona autônoma demanda ações de manejo próprias às suas características -, e

identificando os atores responsáveis pela sua execução.

O Plano atual prevê 7 (sete) Zonas 32, as quais podem ser alteradas ao longo

do tempo em decorrência de novas informações técnico-científicas fruto de

pesquisa e monitoramento, paralelamente às demandas de setores da sociedade,

desde que conveniente à otimização da efetividade dos objetivos da APA. Tais

zonas possuem uma caracterização própria, a qual impacta nas atividades que

poderão ser desempenhadas. Assim, o Plano de Manejo delimitou à cada Zona

normas que definem quais as atividades vedadas e quais as permitidas, bem

como demais regras necessárias para a execução dessas atividades, dentre elas,

regras procedimentais a serem observadas, como por exemplo a necessidade de

autorização do órgão gestor para desempenhá-las.

Os Programas de Ação implantados no Plano de Manejo atual são os seguintes:

(i) Programa Infra Estrutura e Gestão Interinstitucional, que, em síntese, trata

de garantir a funcionalidade e financiamento operacional do programa, (ii)

Programa de Uso Público, que objetiva ordenar o uso público já existente, bem

como fomentar novas atividades de uso sustentável, (iii) Programa de Pesquisa

e Monitoramento, a fim de promover e sistematizar as pesquisas da APA para

melhor preservá-la e aproveitá-la, (iv) Programa Gestão Sócio Ambiental, que

tem como finalidade ampliar a participação da sociedade na gerência da APA, (v)

32 Estas já apresentadas ao longo do estudo

Programa de Manejo da Biodiversidade, que pretende-se avaliar e calibrar as ações

de manejo da área, e, por fim, (vi) Programa de Proteção Ambiental, cujo objetivo

é manter e restaurar a qualidade dos processos ecológicos.

Em suma, o Plano de Manejo traça o zoneamento da APACC, de acordo com suas

singularidades e, concomitantemente estabelece Programas de Ação, que têm

como pressuposto a concretização dos objetivos gerais e específicos da APA.

A partir dos programas, cada Zona deverá promover ações, permanentes ou

gradativas 33, conciliando as regras de cada Zona aos interesses adequados a seu

uso sustentável.

Importante anotar que o cenário ideal do Plano de Manejo é detalhar

especificamente quais atividades podem ser realizadas em cada zona em

específico, já que cada zona enseja ações de manejo específicas. Também

importante que o Plano de Manejo preveja as regras de uso e as condições legais

para exploração das atividades permitidas.

Como apontado, cada zona possui características específicas que permitem ou

vedam o desenvolvimento de atividades, de modo que o detalhamento das

atividades que possam ser executadas em cada uma delas é de suma importância

para clarificar e facilitar a gestão e fiscalização da APA.

33 Os programas envolvem ações permanentes, e outras intituladas gradativas no Plano de Manejo, que são as que poderão ser implementadas no período previsto para o plano, qual seja 2013 a 2017.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

11.4. Área de Proteção Ambiental Marinha

Como dito, a APACC é um patrimônio da União, localizada em área de marinha 34, e

de domínio da União 35.

Os bens imóveis da União, por sua vez, são caracterizados como de (i) uso comum, (ii) uso especial, os quais são destinados exclusivamente ao uso da Administração Pública e os de (iii) uso dominial, os quais não têm destinação pública definida e podem ser utilizados por terceiros.

Considerando-se esse ponto, importante ressaltar que a APACC, que constitui

o patrimônio da União, é um bem de domínio público natural 36 destinada ao

uso direto e coletivo de todos, de modo que não é passível de apropriação.

Independentemente dessa característica, é possível conceder ao particular a

gestão do uso da APACC de modo privativo 37, vez que também é objeto de

direitos reais, os quais se submetem aos moldes do direito público.

34 Decreto-Lei nº 9.760 de 1946: ”art. 1º Incluem-se entre os bens imóveis da União: os terrenos de marinha e seus acréscidos Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831:a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés;b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés.Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra em qualquer época do ano.”

35 Decreto-Lei nº 9.760 de 1946: “Art. 198. A União tem por insubsistentes e nulas quaisquer pretensões sobre o domí-nio pleno de terrenos de marinha e seus acrescidos, salvo quando originais em títulos por ela outorgadas na forma do presente Decreto-lei.

36 “Seriam bens de domínio público aqueles que, integrantes do patrimônio estatal, por sua natureza ou ato jurídi-co, estivessem postos ao uso e fruição indistinta de toda gente. Nas palavras do Rodrigo Otávio, o domínio público compreenderia os bens “in ‘usu publico sunt’, isto é, os destinados ao uso indistinto e colectivo dos indivíduos, que se acham fora do comércio e não são passíveis de apropriação por qualquer meio de direito” MARQUES NETO. Flo-riano de Azevedo Marques. Bens Públicos – Função social e exploração econômica. O regime jurídico das utilidades públicas. P. 84”

37 Fato é que não se sustenta mais, nos dias de hoje, a tese de uma extracomercialidade absoluta dos bens públicos. Lembremos o quanto dito no capítulo inicial: bens públicos são, antes de tudo, bens na acepção aqui adotada, objeto aos quais se pode atribuir valor econômico. Mesmo quando estiver qualificado a um uso público e, em função disso, for inalienável (artigo 100, CCB), o bem público pode ser objeto de direitos reais ou obrigacionais que não interditem ou obstem o uso para o qual o bem está consagrado. Certo deve estar, porém, que estes direitos reais ou contratuais esta-rão constituídos nos moldes do direito público, o que leva a alguns autores a afalarem em direitos reais administrativos ou em um “comércio jurídico de direito público” MARQUES NETO. Floriano de Azevedo Marques. Bens Públicos – Função

11.5. Contexto atual da APACC

Dos dados coletados no estudo de campo, bem como a vasta e minuciosa

pesquisa das legislações aplicáveis à APACC, foi possível elaborar um panorama

geral do contexto atual da APACC sob a ótica jurídica, bem como a indicação de

um diagnóstico do cenário desejável para o desenvolvimento sustentável da UC.

11.5.1. Turismo de Base Comunitária

Nos últimos anos, os povos e comunidades no interior ou entorno das Unidades

de Conservação federais passaram a atuar de modo relevante no desenvolvimento

das atividades turísticas. Paralelamente, gestores do Instituto Chico Mendes

reconheceram a importância de fortalecer a atuação desses atores no âmbito

dos programas de desenvolvimento turístico, bem como os reflexos sociais desse

movimento.

Surgiu, então, a concepção de Turismo de Base Comunitária nas UC federais,

que visa a um modelo de gestão de visitação protagonizado pela comunidade,

visando a salvaguarda da história e cultura das comunidades locais em comunhão

com o desenvolvimento local, por seguinte, concretizando os objetivos do

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

À luz desses conceitos inovadores e do cenário apresentado do estudo de

campo da APACC, pode-se observar que as atividades desempenhadas na UC são

realizadas em grande parte por intermédio de atores locais, conforme já exposto.

Perceptível, assim, o grande interesse em fortalecer a aliança entre a comunidade

social e exploração econômica. O regime jurídico das utilidades públicas. P. 313-314

“O uso privativo é aquele que é conferido a um ou a alguns particulares como objeto de uma titulação individual, espe-cial, que não pode ser estendida a outros administrados, mesmo que preenchendo as mesmas condições” Embora não possa ser perene (deve, pois, ser aprazado), confere ao seu titular um direito exercido com exclusão dos administrados [...]

Porém, nem sempre o uso privativo importará na interdição a que outros particulares façam uso do bem. A concessão de rodovia confere à concessionário o uso privativo deste bem para a sua exploração econômica, o que, óbvio, não ex-clui (muito ao contrário, pressupõe) que os demais administrados se utilizem do bem para trafegar (pagando o pedágio ao particular detentor do uso privativo). MARQUES NETO. Floriano de Azevedo Marques. Bens Públicos – Função social e exploração econômica. O regime jurídico das utilidades públicas. p. 316

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

local e o Poder Público na gestão da APACC, fortalecendo o desenvolvimento

de um turismo cada vez mais consciente e fomentando o desenvolvimento da

própria comunidade, conservando todo seu legado cultural, especificamente nos

municípios de São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, conforme já abordado

ao longo do estudo.

11.5.2. Normatização existente na APA

A normatização incidente na totalidade da extensão da APACC, desconsiderando-

se as legislações específicas de cada município, pode ser sintetizado no quadro a

seguir:

Legislação DescriçãoPortaria ICMBio n° 95 outubro de 2016

Delimita as Zonas de Preservação da Vida Marinha e de Visitação na APACC, em Japaratinga/AL

Portaria ICMBio n° 145 dezembro de 2014

Altera normas da Zona de Visitação do Plano de Manejo da APACC

Portaria ICMBio N° 12 fevereiro de 2014 Renova o Conselho Consultivo da APA Costa dos Corais

Portaria ICMBio N° 144 de fevereiro de 2013 Aprova o Plano de Manejo da APA Costa dos Corais

Portaria ICMBio N° 62 de 2011 Cria o Conselho Consultivo da APA Costa dos Corais

Portaria ICMBio n° 49 de 2011

Delega competência ao Chefe da APA Costa dos Corais para outorgar a pessoas fisicas, autorização para prestação de serviços e realização de atividades de apoio à visitação na UC

Instrução Normativa ICMBio n° 14 de 2010 - Revogada

Dispõe sobre o ordenamento da atividade de turismo e demais formas de exploração econômica das piscinas naturais de Maragogi e Paripueira

Instrução Normativa ICMBio n° 8 de 2009 - Revogada

Cria e regulamenta as Zonas de Visitação e uso Público em Maragogi e Paripueira

Instrução Normativa ICMBio n° 06 de 2008

Cria área de recuperação recifal (Zona de Preservação da Vida Marinha) em Tamandaré

Portaria IBAMA n° 35 de 2002 Regulamenta o cadastro da atividade pesqueira na APA Costa dos Corais

Portaria IBAMA n° 33 de 2002 Atividades proibidas na APA Costa dos Corais

Decreto 23 de outubro de 1997 Cria a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais

Conforme exposto, a extensão da APACC abrange alguns municípios, de modo

que a normatizações a nível municipal 38 também são instrumentos legais

existentes para colaborar na gestão da UC. A título exemplificativo, o estudo de

campo nos apresentou a Portaria nº 08/2009 que trata da exploração econômica

das piscinas naturais de Maragogi e Paripueira.

Outra especificidade levantada no estudo de campo diz respeito ao Conselho

Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente 39, que define e acompanha a

execução das políticas ambientais do Município, presente em todos os municípios

objeto do estudo.

Outro aspecto relevante é a instituição do Fundo Municipal de Meio Ambiente 40,

por meio de lei, apenas no Município de Maragogi, para gerenciar os recursos em

decorrência da atividade de visitação dos passeios às piscinas.

11.5.3. Parcerias celebradas na APA

Atualmente, diversas atividades sendo desenvolvidas nos municípios da APACC

abrangidos pelo projeto, porém, conforme explorado ao longo do estudo, há

três atividades principais desempenhadas que consistem na visitação às piscinas

naturais, distribuídas ao longo da APACC e com maior concentração na região de

38 A título exemplificativo pode-se anotar as seguintes normas:IN ICMBIO 8/2009: ordenamento da atividade de turismo e demais formas de exploração econômica das piscinasnaturais de Maragogi e Paripueira.IN ICMBIO 14/2010: (em acréscimo à IN 8/2009) ordena as atividades de turismo e demais formas de exploraçãoeconômica das piscinas naturais de Maragogi e Paripueira.Portaria 33/2002: atividades proibidas na APA (ex. extração de coral).Portaria 35/2002: regulamentação da atividade pesqueira na APA.Portaria 49/2011: Delega a competência ao Chefe da APA para outorgar a pessoas físicas autorização para aprestação de serviços e a realização de atividades de apoio à visitação na referida unidade de conservação.Portaria 95/2016: Delimita as Zonas de Preservação da Vida Marinha e de Visitação na Área de ProteçãoAmbiental (APA) Costa dos Corais, no Município de Japaratinga.Portaria 144/2013: aprova Plano de Manejo da APA.Portaria 14/2014: Altera normas da Zona de Visitação do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Costados Corais.Portaria 62/2011: Cria o Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais.Portaria 12/2014: Modifica a composição do Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais.

39 Instituídos pela Lei Municipal de Maragogi nº 296/200. Instituído pela Lei Municipal de Paripueira.

40 Instituídos pela Lei Municipal de Maragogi nº 296/200.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Maragogi e Paripueira, os passeios para avistamento do peixe-boi em Porto de

Pedras e os passeios de orla, principalmente em Maragogi.

No âmbito de aprimoramento da gestão da APACC, foram celebrados Acordos

de Cooperação 41 entre o ICMBio e outros atores institucionais para estabelecer

uma relação de reciprocidade a fim de promover e implementar ações para o

desenvolvimento sustentável da APACC.

Em observância às normas incidentes nas APACC e ao Plano de Manejo ora

vigente, os instrumentos jurídicos coletados na UC atualmente referem-se à

desenvoltura das atividades turísticas nas Zonas de Visitação e Zonas de Uso

Sustentável, e resumem-se em (i) autorizações para exploração de serviços

turísticos concedidas pelo ICMBio e (ii) alvarás de embarcações emitidas pela

Prefeitura.

De suma importância ressaltar, porém, que essa regulamentação é ínfima. Do

levantamento de campo e conforme elucidado ao longo do estudo, constatou-

se que apenas o Município de Paripueira e Maragogi possuem os alvarás das

embarcações e também os únicos que também possuem autorização do ICMBio

para a realização das atividades.

41 (i) Acordo de Cooperação Técnica ICMBIO – SEMA para estabelecer reciprocidade institucional entre o ICMBio, a CPRH e a SEMAS, no âmbito de suas atribuições, nos esforços de planejamento, organização, apoio, desenvolvimento, promoção e implementação de ações voltadas à conservação e ao uso sustentável dos ambientes costeiros e marinhos de Pernambuco.

(ii) Acordo de Cooperação a ser celebrado entre o INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVER-SIDADE e UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, objetivando a cooperação mútua em ações nas áreas de pesquisa, ensino e extensão para a conservação e gestão da biodiversidade marinha do nordeste brasileiro, buscando eficiência e efetividade na aplicação dos recursos humanos e materiais e no compartilhamento dos espaços físicos

(iii) Termo de Reciprocidade 09/2011: ICMBIO e SOS MATA ATLANTICA que objetiva a realização de ações conjuntas voltadas ao fornecimento de suporte físico, operacional e logístico à administração e gestão ambiental da Unidade de Conservação “Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais”

12. ALTERNATIVAS DE ESTRUTURAÇÃO JURÍDICASuperadas as considerações preliminares, passamos a tratar das possíveis

alternativas de estruturação jurídica, identificando e analisando os instrumentos

jurídicos possivelmente aplicáveis ao Projeto, à luz de suas características e

finalidades públicas. A adoção de um dos modelos de colaboração público-

privada, devidamente estruturado e escolhido observando-se as características

específicas da APACC, poderá auxiliar o ICMBio na sua gestão, de modo a garantir

o manejo 42, o uso sustentável 43, o turismo ecológico, bem como outras atividades

que contribuam para a conservação da biodiversidade e a geração de benefícios

econômicos e sociais.

Serão avaliados, no presente Estudo, os seguintes instrumentos jurídicos de

parceria, potencialmente aplicáveis a APACC:

1. Autorização de Uso de Bem Público;

2. Permissão de Uso de Bem Público;

3. Concessão de Uso de Bem Público;

4. Concessão Comum (de serviços públicos/de interesse público);

5. Parcerias Público-Privadas (Concessão Patrocinada e Concessão Administrativa);

6. Termo de Parceria com Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP;

7. Termo de Colaboração/Termo de Fomento/Acordo de Cooperação com Organização da Sociedade Civil – OSC.

8. Interações entre as Municipalidades e o ICMBio

42 Manejo, de acordo com a Lei SNUC, é todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversi-dade biológica e dos ecossistemas.

43 Uso sustentável, de acordo com a LEI SNUC, é a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos re-cursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

12.1. Autorização de Uso de Bem Público

A autorização de uso de bem público (“Autorização”) consiste em ato unilateral,

discricionário e precário, pelo qual a Administração consente com a prática de

determinada atividade individual, incidente sobre um bem público, permitindo

ao particular a sua ocupação temporária. As autorizações de uso de bem público

têm fundamento no artigo 21, inciso XI da Constituição Federal, dispensam lei

autorizativa e licitação para a sua concretização, sendo neste sentido bastante

céleres quando comparadas a outros modelos de interação público-privada.

Não há forma nem requisitos especiais para sua efetivação, contemplam (em

regra) objetos de menor relevância para a Administração e podem ser realizadas

por prazo determinado ou indeterminado, a depender do interesse público,

podendo, neste último caso, ser revogadas a qualquer tempo, sem que assista

qualquer direito indenizatório ao Autorizatário.

Neste sentido, considerando a gama de atividades desempenhadas atualmente

na APACC, bem como o cenário atual existente e as possíveis atividades de

interesse para o uso sustentável da unidade, a Autorização seria um instrumento

interessante e oportuno para fomentar o Turismo de Base Comunitária 44,

privilegiando a atuação da comunidade local.

Outro aspecto interessante é a periodicidade da Autorização. Como dito, as

Autorizações via de regra não tem prazo determinado, contudo, desde que

desejável ao interesse público, é possível delimitarmos um prazo. Assim,

considerando o intuito de garantir uma segurança mínima ao particular no

desenvolvimento da atividade, pode-se delimitar um prazo razoável para este

instrumento.

44 Sabemos das potencialidades do produto turístico brasileiro composto pela diversidade da nossa cultura e das inúmeras belezas naturais. Nesta perspectiva, o programa de regionalização do Turismo Roteiros do Brasil, nos indica os caminhos nos quais localizamos regiões e ou roteiros em que comunidades receptoras assumem o papel de atores principais na oferta dos produtos e serviços turísticos. Estes produtos e serviços ofertados por comunidades locais denominado de “turismo de base comunitária” é ainda um segmento pouco conhecido, todavia tem sido visível como campo de estudo e como demandante de uma ação mais efetiva por parte do poder público. Turismo de Base Comu-nitária diversidade de olhares e experiências brasileiras.

Quanto ao interesse em fomentar a promoção do desenvolvimento sustentável

através de atores locais, é possível realizar-se um Chamamento Público 45,

estabelecendo critérios específicos para a seleção dos atores.

Em síntese, o modelo de Autorização concilia a perspectiva de desenvolvimento

sustentável aplicável e desejável à realidade da APACC.

12.2. Permissão de Uso de Bem Público

Já a permissão de uso de bem público, consiste em instrumento jurídico

unilateral que viabiliza a transferência, usualmente outorgada com exclusividade,

do uso de bem público, pelo qual “o Poder Público faculta ao particular a execução

de serviços de interesse coletivo, ou o uso especial de bens públicos, a título

gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas pela Administração” 46.

Com efeito, a permissão de uso adequa-se para os casos em que se pretende

estimular o uso do bem público para execução de atividades de interesse coletivo

e que não requerem investimentos, os quais ensejariam um prazo significativo

para o retorno financeiro.

Desse modo, tal modalidade mostra-se igualmente adequada às condições

particulares da APACC e ao cenário pretendido de desenvolvimento sustentável.

45 Art. 23. A administração pública deverá adotar procedimentos claros, objetivos e simplificados que orientem os interessados e facilitem o acesso direto aos seus órgãos e instâncias decisórias, independentemente da modalidade de parceria prevista nesta Lei.Parágrafo único. Sempre que possível, a administração pública estabelecerá critérios e indicadores padronizados a se-rem seguidos, especialmente quanto às seguintes características:Parágrafo único. Sempre que possível, a administração pública estabelecerá critérios a serem seguidos, especialmente quanto às seguintes características: I - objetos; II - metas; III - métodos; IV - custos; V - plano de trabalho; VI - indicadores, quantitativos e qualitativos, de avaliação de resultados.”

46 “Permissão é o ato administrativo negocial, discricionário e precário, pelo qual o Poder Público faculta ao particular a execução de serviços de interesse coletivo, ou o uso especial de bens públicos, a título gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas pela Administração.”

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

12.3. Concessão de Uso de Bem Público

A concessão de uso de bem público, por sua vez, consiste em contrato administrativo celebrado entre poder público e particular, precedido de licitação,

por meio do qual a Administração transfere o uso de bem ao interessado em sua exploração, com os eventuais encargos fixados no Contrato, e sob as condições ali delimitadas.

Deve ser celebrada por prazo determinado, com prazo compatível com a

amortização e remuneração dos investimentos e despesas operacionais a serem

realizados e incorridos pelo particular.

Presta-se, em linhas gerais, a viabilizar a exploração econômica, pelo contratado,

de algum serviço de utilidade que exija um aporte inicial considerável para a

estruturação da atividade, tal como uma lanchonete ou um restaurante para

atendimento aos usuários do espaço público.

Por ser ato bilateral de natureza contratual, possui maior estabilidade do que a

autorização e a permissão de uso de bem público.

Em se tratando da utilização exclusiva do bem público por um único ente

privado, este modelo de parceria, a princípio, não se coaduna com as perspectivas desejáveis para APACC, vez que os modelos ora formulados para

o desenvolvimento sustentável da UC não ensejam aportes de infraestrutura

por parte do particular e também não satisfaz o objetivo de fomentar o

desenvolvimento pautado na pluralidade de atores locais.

Na hipótese de um projeto que preveja um aporte considerável de investimento em infraestrutura para o desenvolvimento das atividades turísticas como, por exemplo, a instalação de um terminal de embarcações, o modelo de concessão de uso pode ser adequado, o qual deverá atentar-se para as normas portuárias.

12.4. Concessão Comum

A concessão comum, regida pela Lei Federal nº 8.987/95 e demais legislação

correlata, consiste no contrato pelo qual um determinado ente da federação

delega a uma pessoa jurídica de direito privado ou, então, a um consórcio de

empresas, a execução remunerada de serviços públicos, para que o eventual

concessionário os explore por sua conta e risco, por prazo e condições

contratualmente determinadas.

A concessão comum tem como fundamento legal o artigo 175 da Constituição

Federal, que atribui ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob o

regime de concessão ou permissão, a prestação de serviços públicos. O dispositivo

constitucional deixa claro que a concessão comum corresponde à delegação da

execução de serviço cuja incumbência original é do Poder Público.

A lei prevê duas modalidades de concessão, a saber: a concessão de serviços

públicos e a concessão de serviços públicos precedida da execução de obra

pública. Na primeira modalidade de contratação, são delegados apenas os

serviços públicos relacionados a uma infraestrutura já existente. Na segunda

modalidade, além da delegação dos serviços, atribui-se ao concessionário a

obrigação de realização de investimentos, os quais devem ser amortizados

mediante a exploração do serviço ou da obra por um prazo determinado.

Ambas as formas de contratação encontram guarida no artigo 2.º, inciso II e III, da

Lei Federal nº 8.987/95, que assim determina:

“Art. 2.º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:

(...)

II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo

poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à

pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu

desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado;

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

III - concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação

ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo

poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à

pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para

a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da

concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do

serviço ou da obra por prazo determinado. (...).” (Grifos nossos)

Assim, fica clara a possibilidade de contratação de empresas privadas para a

prestação de serviços públicos, ainda que haja a necessidade de execução

de obra precedente para viabilizar referida prestação. A obra em tela deve ser

integralmente realizada pela(s) empresa(s) contratada(s), sendo-lhe(s) assegurada

a exploração dos serviços inerentes, de tal forma que o privado possa arcar com os

custos operacionais e, consequentemente, obter a amortização dos investimentos

e a geração de resultado econômico com a exploração da concessão.

Um dos conceitos centrais da concessão instituída e regulamentada pela Lei

Federal nº 8.987/95 está justamente na expressão “serviços públicos”. Referido

conceito não se encontra definido na lei, mas, sim, no bojo da interpretação da

própria legislação.

Para tanto, vale citar a definição do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello sobre

o assunto:

“Serviço público é toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade

material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível

singularmente pelos administrados, que o Estado assume como pertinente

a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça às vezes, sob um

regime de Direito Público” 47.

Da definição acima, adotada também por outros doutrinadores, depreende-se

que a noção de “serviço público” é composta por dois principais elementos: (i)

47 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, Malheiros Editores, 2009, p. 634.

prestação de utilidade ou comodidade fruível singularmente pelos administrados;

e (ii) prestação em regime de Direito Público.

Em outras palavras, para que um serviço seja considerado “público”, é necessário

que este (i) represente uma utilidade ou comodidade para o cidadão, (ii) seja

definido por meio de lei, e (iii) seja passível de individualização (situação esta que

permite a cobrança de tarifas). Mais além do que isso, o serviço público caracteriza

um serviço de execução obrigatória pelo Estado (ou por ente que por ele faça as

vezes) e essencial para a comunidade.

As atividades-chave que estão sendo vislumbradas no presente Estudo para a

parceria pretendida, como, por exemplo, a visitação às piscinas naturais e demais

atividades de turismo ecológico, não apresentam em si a essencialidade que

se observa como requisito para caracterização de serviços públicos. Podemos

compreendê-las como atividades de interesse público, visto que contribuem,

ainda que de maneira indireta, a outras atividades essenciais e obrigatórias, como

promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização

pública para a preservação do meio ambiente 48. Classificá-las como serviços

públicos, no entanto, pode ser considerado tecnicamente impreciso, eis que não

são de execução obrigatória pelo Estado, sendo “orientadas”/delimitadas pelos

instrumentos de planejamento de exploração acima referidos.

Considerando a aparente dissonância entre o conceito de serviço público e as

atividades pretendidas na APACC, o modelo de concessão comum não parece consistir no ideal para a consecução dos objetivos esperados neste Estudo.

12.5. Concessão Patrocinada

A concessão patrocinada é uma das formas existentes de Parceria Público-Privada

(PPP) e se encontra regida pela Lei Federal nº 11.079/04 (“Lei das PPPs”) e leis

correlatas.

48 Em atenção ao artigo 225, §1º, inciso VI da Constituição Federal de 1988.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

A concessão patrocinada consiste em contratação que, conforme a própria

denominação sugere, depende de subsídio financeiro, por parte da Administração

Pública, em relação à parte do serviço a ser prestado e/ou da obra pública a ser

executada, cabendo ao particular arcar com o restante dos custos, mediante a

cobrança de tarifa dos usuários dos serviços/obras.

É o que ocorre, por exemplo, em um contrato de concessão rodoviária, em que o

pedágio não é suficiente para cobrir os custos e a amortização dos investimentos

despendidos pelo concessionário.

A concessão patrocinada, cujo fundamento legal decorre do art. 175, da

Constituição Federal, encontra-se definida no artigo 2º, § 1º, da Lei das PPPs, que

assim dispõe:

“Art. 2º - Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na

modalidade patrocinada ou administrativa.

§ 1.º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. (...).” (Grifos nossos)

Aplicam-se à concessão patrocinada, subsidiariamente, as disposições da Lei

Federal nº 8.987 e leis correlatas, dentre as quais avulta em importância a Lei

Federal nº 9.074/95 (conforme art. 3.º, §1.º da Lei das PPPs).

Tal qual ocorre na concessão comum, um dos conceitos centrais da concessão

patrocinada está justamente na expressão “serviços públicos”.

Além disso, para a caracterização de uma PPP patrocinada, é imprescindível que

os investimentos para a execução das obras ou serviços públicos não sejam

financiáveis exclusivamente por meio da cobrança de tarifas dos usuários, haja

vista a necessidade de envolvimento de contraprestação pecuniária do parceiro

público ao parceiro privado.

Nas concessões patrocinadas em que mais de 70% (setenta por cento) da

remuneração do parceiro privado for paga pela Administração Pública, a Lei

Federal n.º 11.079/04 traz como requisito prévio à licitação a necessidade de

obtenção de autorização legislativa específica para a contratação.

Além da necessidade de contraprestação pecuniária por parte do Poder

Concedente, bem assim da observância do prazo e dos valores mínimos de

contratação, as Parcerias Público-Privadas afastam-se da concessão comum

na medida em que o parceiro privado não presta o serviço ou executa a obra

pública por sua conta e risco, havendo uma repartição objetiva dos riscos com a

Administração Pública.

As PPPs devem ser contratadas por prazo compatível com a amortização dos

investimentos previstos, sendo que o seu termo mínimo de vigência será de cinco

anos. Além disso, o valor mínimo do contrato, nos termos da Lei de PPPs, deve ser

de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de Reais), vedando-se a contratação de PPP

que tenha por objeto único o fornecimento de mão de obra, o fornecimento e a

instalação de equipamentos ou a execução de obra pública.

Considerando o vulto dos investimentos necessários à implantação de uma

Parceria Público-Privada, a Lei das PPPs previu, além das garantias de execução

do contrato pelo parceiro privado, um forte mecanismo de garantias a serem

prestadas pelo parceiro público, incluindo a possibilidade de (i) vinculação de

receitas em garantia pela Administração Pública; (ii) instituição ou utilização de

fundos especiais previstos em lei; (iii) contratação de seguro-garantia de entidades

não controladas pelo Poder Público; (iv) prestação de garantias por organismos

internacionais ou instituições financeiras não controladas pelo Poder Público; (v)

prestação de garantias por fundo garantidor ou empresa estatal criada para essa

finalidade; bem como (vi) outros mecanismos admitidos em lei, tudo com vistas a

assegurar a solidez financeira e atratividade do projeto.

Com base no exposto e, principalmente, no que se refere (i) à caracterização dos

serviços públicos e (ii) o valor mínimo do contrato admitido, considerando a não

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

necessidade de investimentos, o modelo de concessão patrocinada também não

se adequa ao desenvolvimento sustentável da APACC.

12.6. Concessão Administrativa

A concessão administrativa, igualmente regida pela Lei de PPPs, consiste no

modelo em que a Administração Pública é a usuária direta ou indireta do serviço

público ou de interesse público delegado, ainda que o contrato envolva a

execução de obra ou o fornecimento e a instalação de bens.

A conceituação da concessão administrativa vem expressa no artigo 2º, § 2º, da Lei

de PPPs, que assim dispõe:

“Art. 2ª - Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na

modalidade patrocinada ou administrativa.

(...)

§ 2º Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva

execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.

(...).” (Grifos nossos)

À Concessão Administrativa aplica-se, adicionalmente, a Lei Federal das PPPs, as

normas veiculadas pelos artigos arts. 21, 23, 25 e 27 a 39 da Lei nº 8.987/95, e pelo

art. 31 da Lei Federal nº 9.074/95 (conforme art. 3.º, §2º da Lei Federal das PPPs).

Em linhas gerais, a concessão administrativa distingue-se da concessão comum

e da concessão patrocinada na medida em que não tem como finalidade a

prestação de um serviço público, mas sim de um serviço de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, o qual não será passível de cobrança de tarifa (serviço de interesse público). Desta forma, a remuneração do privado

será composta integralmente por uma contraprestação paga pelo parceiro

público, sendo permitido eventual complemento por meio de receitas acessórias.

A Concessão, enquanto modalidade de PPP, deve ser estruturada de modo que

seu prazo seja compatível com a amortização dos investimentos e remuneração

do parceiro privado, sendo que seu termo mínimo de vigência é de cinco anos.

Também se faz necessário que a contratação apresente valor mínimo de R$

20.000.000,00 (vinte milhões de Reais), sendo vedada a celebração de contrato

que tenha por objeto único o fornecimento de mão de obra, o fornecimento e a

instalação de equipamentos ou a execução de obra pública.

Em suma, além de ser viável a repartição objetiva de riscos com o parceiro privado

para implantação do projeto, a adoção da concessão administrativa traz como

vantagem, dentre outras, a possibilidade de redução dos custos da Administração

Pública com a aplicação de investimentos vultosos em infraestrutura e serviços de

que esta seja usuária direta ou indireta, permitindo-se uma gestão mais eficiente,

pelo concessionário, em áreas de atuação estatal pouco atrativas.

Considerando-se as características e requisitos da concessão administrativa, tal modalidade não se adequa ao modelo de desenvolvimento da APACC.

12.7. Termo de Parceria com OSCIP

O Decreto nº 4.340/2002 prevê, expressamente, a possibilidade de gestão

compartilhada de Unidades de Conservação com as Organizações da Sociedade

Civil de Interesse Público (OSCIPs), que tenham como finalidade institucional a

proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, e o Poder Público,

mediante recursos financeiros públicos..

Além da gestão compartilhada, as OSCIPs podem auxiliar na elaboração do

Plano de Manejo, contribuindo para seleção do escopo de atividades a serem

desempenhadas na Unidade de Conservação.

O Termo de Parceria, instituído e regulamentado pela Lei nº 9.790/99 e pelo Decreto nº 3.100/99, consiste no instrumento pelo qual se formaliza a gestão compartilhada, o qual deverá especificar um Programa de Trabalho (“Programa

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

de Trabalho”) de acordo com o Plano de Manejo da Unidade de Conservação e estabelecer metas a serem atingidas no prazo de vigência do Termo.

“Art. 10. O Termo de Parceria firmado de comum acordo entre o Poder Público e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público discriminará direitos, responsabilidades e obrigações das partes signatárias.

§ 1º A celebração do Termo de Parceria será precedida de consulta aos Conselhos de Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, nos respectivos níveis de governo.

§ 2º São cláusulas essenciais do Termo de Parceria:

I - a do objeto, que conterá a especificação do programa de trabalho proposto pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público;

II - a de estipulação das metas e dos resultados a serem atingidos e os respectivos prazos de execução ou cronograma;

III - a de previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, mediante indicadores de resultado” (Lei nº 9.790/99).

Dentre as atividades passíveis de compartilhamento, encontra-se o turismo sustentável.

“Art. 21. A gestão compartilhada de unidade de conservação por OSCIP é

regulada por termo de parceria firmado com o órgão executor, nos termos da

Lei no 9.790, de 23 de março de 1999”

[...]

Art. 25. É passível de autorização a exploração de produtos, sub-produtos ou

serviços inerentes às unidades de conservação, de acordo com os objetivos de

cada categoria de unidade.

Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, entende-se por produtos, sub-

produtos ou serviços inerentes à unidade de conservação:

I - aqueles destinados a dar suporte físico e logístico à sua administração e

à implementação das atividades de uso comum do público, tais como visitação, recreação e turismo” (Decreto nº 4.340/2002)(Grifos nossos)

A transferência de atribuições para a OSCIP permite que o órgão público se

concentre em funções-chave para assegurar a gestão das áreas protegidas, como

a aprovação dos planos de manejo, a formulação e aprovação de políticas públicas

de conservação e uso sustentável dos recursos naturais e a fiscalização de todas as

demais atividades na Unidade de Conservação..

O modelo permite uma captação de fundos de forma mais fluida e eficaz para a gestão de áreas protegidas, assim como o retroinvestimento de recursos gerados nas próprias unidades de conservação, além de permitir uma forma transparente de desembolso de recursos. Compartilhar a responsabilidade de

manejo é também uma forma de aproveitar a expertise técnica diversificada

e as capacidades institucionais oferecidas por muitas organizações não-

governamentais.

Atualmente, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4573/2004,

disciplinando detalhadamente a cogestão das Unidades de Conservação entre o

Poder Público e as OSCIPs.

Sua utilização, no âmbito do Projeto, mostra-se possível, porém com delineamentos que não necessariamente representam os mais adequados para as finalidades precípuas do Projeto – como ocorre, por exemplo, no caso das Autorizações -, uma vez que ensejam transferência de recursos públicos.

12.8. Termo de Colaboração/Termo de Fomento/Acordo de Cooperação com Organização da Sociedade Civil – OSC

O marco legal das Organizações da Sociedade Civil – OSCs é Lei Federal nº

9.637/1998, que as qualifica como pessoas jurídicas de direito privado sem fins

lucrativos, em funcionamento há, no mínimo, três anos, cujas atividades sejam

relativas a promoção do ensino, da pesquisa científica, do desenvolvimento tecnológico, da proteção e preservação do meio ambiente, da cultura e da saúde.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

Por sua vez, a Lei Federal nº 13.019/14 estabelece como possível a parceria entre

o Poder Público e as Organizações da Sociedade Civil, amparando tal relação em

três instrumentos jurídicos elegíveis: o Termo de Colaboração, Termo de Fomento

e Acordo de Cooperação. Os dois primeiros envolvem transferência de recursos

financeiros, enquanto o último não.

Para tanto, os instrumentos jurídicos devem conter um Plano de Trabalho, o qual

descreve o objeto da parceria, contendo a descrição das atividades ou projetos a

serem desenvolvidos e metas a serem atingidas.

Sua utilização, no âmbito do Projeto, mostra-se possível, porém com

delineamentos que não necessariamente representam os mais adequados para

as finalidades precípuas do Projeto, vez que essa parceria não teria o foco no

fomento das atividades turísticas e sim em outros processos, principalmente

aqueles ligadas à pesquisa.

12.9. Interações entre as Municipalidades e o ICMBio

Independentemente de outros atores atuando na gestão da APACC, a Constituição

incumbe aos Municípios o dever de proteger e preservar o meio ambiente em

nome toda sociedade.

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

(...)

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondose ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e

futuras gerações. ” (Constituição Federal)

Tal incumbência foi repetida na Lei Nacional das Unidades de Conservação

atribuindo aos órgãos municipais a atuação supletiva na implementação das

diretrizes da Lei do SNUC.

“Art. 6º O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo,

os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar

as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais,

estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação.” (Lei do SNUC)

Em virtude desse dever constitucional de conservar o meio-ambiente, e a fim

de concretizálos, é possível que os Municípios desempenhem uma atividade

fiscalizatória, a qual pode demandar dispêndios financeiros.

Diante da necessidade de fontes alternativas de recursos para remunerar o

exercício desse poder de polícia fiscalizatório de interesse público, é possível que

os Municípios instituam taxas, conforme a Constituição Federal e às lei tributárias

nacionais.

Termo de Colaboração• Iniciativa de propor parceria

do Poder Público com transferência de recursos

• A OSC deve:

▶ promover atividades de relevância pública e social;

▶ ter ao menos 3 anos de atividade;

▶ em caso de dissolução, destinação do patrimônio a outra OSC;

▶ ter experiência prévia na realização do objeto da parceria.

• Necessidade de realização de chamamento Público

• Prazo máximo de 5 anos

Termo de Fomento• Iniciativa de propor parceria

da OSC com transferência de recursos

• A OSC deve:▶ promover atividades de relevância pública e social;▶ ter ao menos 3 anos de atividade;▶ em caso de dissolução, destinação do patrimônio a outra OSC;▶ ter experiência prévia na realização do objeto da parceria.

• Necessidade de realização de chamamento Público

• Prazo máximo de 5 anos

Acordo de Cooperação• Parceria com o Poder

Público sem transferência de recursos

• A OSC deve:▶ promover atividades de relevância pública e social;

• Necessidade de realização de chamamento Público caso o acordo envolva comodato, doação ou outra forma de compartilhamento de patrimônio

• Prazo máximo de 5 anos

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

“Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir

os seguintes tributos:

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou

potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte

ou postos a sua disposição” (Constituição Federal) (Grifos nossos)

“Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos

Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o

exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço

público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

(...)

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,

limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato

ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança,

à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao

exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do

Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos

individuais ou coletivos.” (Código Tributário Nacional) (Grifos nossos)

Sem prejuízo da atuação fiscalizatória dos municípios, e das parcerias possíveis

com atores particulares e o Terceiro Setor (OSCIP e OSC) expostas anteriormente,

os Municípios também podem atuar na gestão da APACC, por meio da celebração

de instrumentos em que se definirão os objetivos da parceria entre o ICMBio e a

Prefeitura no âmbito do desenvolvimento da APACC.

Tratando-se de parceria entre o ICMBio e as Prefeituras em que não haja

transferência de recursos financeiros, o instrumento adequado para sua formalização

são os Termos de Cooperação e os Termos de Reciprocidade sem transferência de

recurso financeiro – regulados pelo Manual de Convênios, Contratos de Repasse,

Termos de Cooperação, Termos de Parceria e Termos de Reciprocidade (“Manual de

Parcerias”) aprovado pela Portaria ICMBio nº 37 de 14/05/2009.

Por sua vez, as parcerias entre ICMBio e as Prefeituras em que haja transferência de

recursos financeiros, serão formalizados Convênios ou Termos de Reciprocidade

com transferência de recurso, também regulados pelo Manual de Parcerias, pelos

Decretos nº 6.170 e Decreto nº 6.428 e pela Portaria Interministerial nº 507 de

2011, que disciplinam a transferência de recursos.

13. CONSIDERAÇÕES FINAISA partir dos resultados apresentados ao longo do presente estudo, foi possível

identificar as peculiaridades do território da APACC, assim como dos municípios

que fazem parte do presente escopo do projeto. Neste sentido, para as próximas

duas etapas do projeto, faz-se necessário que a equipe gestora da UC, assim

como a equipe da CGEUP, através dos elementos trazidos pelo presente estudo,

consigam decidir sobre os caminhos a serem seguidos em relação ao(s) modelo(s)

de parceria aos quais se pretende em relação às dinâmicas turísticas da APACC.

Os resultados apresentados, sinalizam sob a ótica de 3 cenários, os quais foram

elencados pela equipe gestora, como fundamentais para a boa gestão da APACC,

a saber: (i) fortalecimento/ aprimoramento das parcerias existentes; (ii) modelo de parceria público-público (visando estabelecer relações mais robustas com as prefeituras); (iii) modelos alternativos de parcerias.

Conforme mencionado, a decisão sobre o(s) modelo(s) a ser escolhido, impacta

também na análise econômica, uma vez que esta é fundamental para a análise

sobre a viabilidade de formação das parcerias, conforme explicitado ao longo do

trabalho.

No que tange às questões jurídicas, preliminarmente, e independentemente

do modelo jurídico a ser adotado, uma primeira análise do plano de manejo da

APACC demonstra que, para consecução dos interesses perseguidos pelo ICMBio

no presente Estudo, o plano de manejo deve ser revisto para a gestão futura,

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na região

pensando em aprimorar as normas, ordenamento e atividades previstas no

atual documento. Essa revisão deverá observar as diretrizes do Projeto Orla para

propor Programas de Ação, assim como ter este estudo como um dos elementos

norteadores nesta revisão, uma vez que deverá ser considerado quais as atividades

aqui propostas, assim como outras, poderão ser desenvolvidas em cada Zona

respeitando suas especificidades.

Consecutivamente, considerando os modelos descritos jurídicos apresentados

os apontamentos feitos a respeito de cada um deles, paralelamente à realidade

atual da APACC e às pretensões de gestão futura da UC levantas nos estudos

técnico e econômico, voltada, em princípio, a conservar as atividades que

já são desempenhadas na sua extensão, entendemos que o modelo de

Autorização, com aprimoramento do mesmo, tende a ser o mais adequado para

a formalização da interface entre a o Poder Público e outros atores envolvidos no

desenvolvimento da APACC.

A conclusão decorre da compatibilização do modelo de projeto que se pretende

estruturar e das particularidades do modelo de Autorização, vez que não se trata

de um projeto que demanda um aporte financeiro de grande monta – o qual

conduziria para um outro modelo de parceria, como a concessão – e possibilita a

parceria com comunidade local na promoção das atividades da APACC.

Sem prejuízo, na hipótese de estruturação de um projeto que exija um aporte

considerável em investimento para o desenvolvimento das atividades na APACC,

como por exemplo a estruturação de um terminal de embarcação, o modelo de

concessão de uso de bem público pode ser uma alternativa, a qual deverá ser

objeto de análise no tocante às normas portuárias.

Por fim, na questão da interface entre o ICMBio e as municipalidades, na figura de

suas Prefeituras, ressalta-se que a Constituição Federal institui como competência

do Poder Público, em todas as esferas, o dever de preservar o meio ambiente.

Nesse sentido, a Lei do SNUC permite a gerência supletiva à gerência do ICMBio

na APACC, por órgãos executores municipais, independentemente de qualquer

formalização legal. Tais órgãos, por sua vez, na competência de fiscalizar a APACC,

poderão instituir taxa relativa ao exercício do Poder de Polícia de fiscalização, em

conformidade com as leis tributárias nacionais.

No mais, outras interações possíveis entre as Municipalidades e o ICMBio na

gestão da APACC serão formalizadas pelos instrumentos jurídicos cabíveis,

elencados no Manual de Parcerias do ICMBio, de acordo com o critério de

transferência de recursos, observando a legislação pertinente à transferência de

recurso quando pertinente.

A partir dos elementos aqui apresentados, é fundamental que a equipe gestora e

equipe CGEUP avaliem as propostas – em relação as atividades propostas (atuais e

potenciais), assim como sobre os modelos jurídicos – para que na próxima etapa a

equipe possa aprofundar nas análises – de acordo com as atividades e modelo(s)

escolhido(s) – e modelar, economicamente a viabilidade do(s) modelo(s)

escolhido e ao final do projeto, apresentar as minutas destes novos modelos de

parceria a serem formalizados com os atores públicos e privados que atuam sobre

a APACC.

Page 81: Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na regiãoProduto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais

Produto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental

Público-Privada para a APA Costa dos Corais

Page 82: Panorama do território, atuação do ICMBio na região e ... · 15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETO 84 15.1. Modelagem para o Cenário-Base 84 15.2 Cenário com Atividades

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na regiãoProduto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais

14. METODOLOGIAPara desenvolvimento do presente produto, partiu-se da premissa de

detalhamento das informações consolidadas no Produto 1 referente às 3 temáticas

trabalhadas ao longo do projeto – técnico operacional, econômico-financeiro

e jurídico. A partir das considerações e validações da equipe gestora da APACC

e da CGEUP/ ICMBio, cada uma das equipes temáticas fez um desdobramento

das informações referentes à possibilidade de implantação de um sistema de

bilheteria única para aprimoramento da gestão e atividades de Uso Público da

APACC, através do estabelecimento de uma parceria com o setor privado. Os

procedimentos metodológicos para este detalhamento são apresentados a seguir,

de acordo com cada eixo temático.

14.1. Eixo Técnico Operacional

Para consolidação das informações referentes ao eixo técnico operacional,

buscou-se apresentar neste documento um maior detalhamento do modelo

de bilheteria única, apresentando outros exemplos onde o sistema já é adotado

visando demonstrar boas práticas em relação ao sistema. Fez-se também uma

proposta (preliminar) de como seria a operação deste sistema de bilheteria única,

apresentado as contrapartidas, obrigações, modelo de gestão, dentre outras

informações que poderão contribuir para que a equipe gestora da APACC e

CGEUP/ ICMBio possam tomar decisões em relação ao modelo da minuta, a ser

consolidado na etapa posterior.

Além da apresentação do modelo de bilheteria única, apresentou-se também neste

documento um maior detalhamento das atividades potenciais (identificadas ao

longo das atividades da etapa anterior e consolidadas no Produto 1), apresentando

também exemplos de locais onde já ocorrem determinadas atividades. Ao fim da

análise, apresenta-se uma síntese das atividades potenciais, os municípios onde há

potencial para implantação da mesma e uma sugestão de priorização.

A consolidação destes elementos, permitiu a consolidação das análises referentes

ao eixo econômico-financeiro.

14.2. Eixo Econômico-Financeiro

No Produto 1, buscou-se qualificar e quantificar monetariamente o turismo nos

municípios que compreendem a APACC, no que tange ao contexto turístico, perfil

dos visitantes, atividades turísticas atuais e potenciais, priorização de ordenamento

das atividades, dentre outras informações. A caracterização econômico-financeira

do turismo nesta região é fundamental para dar suporte à decisão da equipe

gestora da UC e da CGEUP de eleger o melhor arranjo para o projeto.

Foi analisado o portfólio de atrações turística disponíveis na região e atividades

potencialmente oferecidas no futuro. Essa análise permitiu encontrar a demanda

das atividades já exploradas na região bem como estimar a demanda das

atividades potenciais. A partir de um estudo detalhado, foram estimadas, também,

as receitas anuais e analisados os custos envolvidos na atividade. Por fim, todas as

informações foram consolidadas em uma análise dos roteiros turísticos potenciais

e verificou-se que os valores cobrados pelos passeios são aderentes ao orçamento

do turista típico.

Verificou-se que o gasto médio diário do turista doméstico e internacional com

“Passeios e Atrações Turísticas” é de R$ 197,1 e R$ 198,37, respectivamente.

Sendo assim, tanto o turista doméstico quanto o turista internacional

apresentariam orçamento adequado frente aos valores cobrados pelas atividades

turísticas oferecidas, com exceção da atividade de mergulho de batismo, que

tem sua demanda atrelada a um perfil diferente de turista, uma vez que este

está disposto a gastar mais com esse tipo de atividade. A Figura 46 sintetiza essa

conclusão, apresentando os valores médios das atividades oferecidas na região em

comparação com o gasto médio dos turistas.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na regiãoProduto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais

Figura 46: Gastos Médio por Atividade (R$)

Fonte: Pesquisa de campo.

Considerando que a região não apresenta um vasto portfólio de atividades

noturnas, acredita-se, ainda, que seja possível que o turista tenha um potencial

de consumo de “Passeios e Atrações Turísticas” superior ao valor mencionado,

uma vez que poderia destinar recursos classificados como “Diversão Noturna” e

“Outros” para atrações turísticas. Desta forma, passaria a ter um gasto potencial de

R$ 348 e R$ 479 por dia, caso destinasse recursos dessas categorias, respectiva e

cumulativamente, às atividades de “Passeios e Atrações Turísticas”.

A partir da conclusão obtida quanto ao portfólio de atividades oferecidas e

potenciais na região, juntamente com a análise do potencial de consumo do

turista típico, buscou-se estabelecer cenários que viabilizem projeto de bilheteria

única das atividades turísticas da APACC.

Para que se possa apresentar os cenários de modelagem econômico-financeira

construídos até então para o viabilizar o projeto, faz-se necessário introduzir ao

leitor os conceitos financeiros teóricos que serão aplicados 49. Posteriormente,

serão apresentados os principais resultados encontrados, bem como as premissas

49 Os conceitos financeiros teóricos são apresentados no anexo I do presente documento.

adotadas. Na Conclusão são expostos os resultados e suas implicações para a

modelagem econômico-financeira do projeto.

14.3. Eixo Jurídico

No que tange ao eixo jurídico, no Produto 1 foram analisados e apresentados

8 (oito) diferentes modelos de arranjos jurídicos no que tange a modelos de

parceria, a saber:

1. Autorização de Uso de Bem Público;

2. Permissão de Uso de Bem Público;

3. Concessão de Uso de Bem Público;

4. Concessão Comum (de serviços públicos/de interesse público);

5. Parcerias Público-Privadas (Concessão Patrocinada e Concessão

Administrativa);

6. Termo de Parceria com Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

– OSCIP;

7. Termo de Colaboração/Termo de Fomento/Acordo de Cooperação com

Organização da Sociedade Civil – OSC.

8. Interações entre as Municipalidades e o ICMBio

Dentre os modelos apresentados, a equipe gestora da APACC em conjunto com a

equipe CGEUP/ ICMBio sinalizaram que, para a formalização de uma parceria para

implantação de um sistema de cobrança única, as melhores opções seriam através

da formalização de um Termo de Parceria com Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP ou através de um Termo de Colaboração/Termo de Fomento/Acordo de Cooperação com Organização da Sociedade Civil – OSC. Além

disso, a equipe da APACC e CGEUP/ ICMBio sinalizaram também sobre a importância

de elucidar como seriam as interações com as municipalidades da APACC.

Neste sentido, neste Produto 2, a temática jurídica apresenta o melhor cenário

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84

Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na regiãoProduto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais

para a formalização de uma parceria com o setor privado baseado na demanda

da equipe gestora da APACC e CGEUP/ ICMBio. A partir da validação do modelo,

o eixo jurídico irá detalhar e elaborar a minuta do termo, como produto final do

presente projeto.

15. MODELAGEM ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PROJETOConforme mencionado, um dos principais mecanismos proposto no presente

projeto é a implantação de um sistema de bilheteria única para venda

dos passeios às piscinas naturais, venda de outras atividades (conforme a

potencialidade de cada local) e cobrança de taxa de visitação. Este sistema tem

como objetivo:

• Controlar de forma mais efetiva e eficiente a visitação da APACC;

• Recepcionar, informar e orientar os visitantes a respeito da visitação na UC, com

pequena exposição interpretativa, de forma a sensibilizar o turista de que está

em uma UC, que deve ser preservada e cuidada;

• Vender os passeios às piscinas naturais (transporte de passageiros, atividades de

mergulho e fotografia subaquática) e outras atividades propostas;

• Monitorar o número de visitantes, bem como seu perfil;

• Explorar a venda de produtos da UC e artesanato local.

Para atingir este objetivo, o projeto prevê inicialmente a implantação de quatro

bilheterias físicas, uma em cada munícipio, quais sejam: Maragogi, Paripueira, São

Miguel dos Milagres e Porto das Pedras 50.

A seguir serão apresentados os principais arranjos construídos para a modelagem

econômico-financeira, bem como as principais premissas adotadas. Destaca-se

50 A partir da implantação destas bilheterias, pretende-se que o modelo seja replicado nos outros municípios da APACC, para tanto, será necessário também uma avaliação das atividades a serem exploradas/ comercializadas nestes outros municípios, caso a proposta seja esta.

que os parâmetros de investimento e operação, que incluem os quantitativos

e os valores monetários utilizados no estudo foram levantados junto aos operadores locais e outras informações disponibilizadas pelo ICMBio.

15.1. Modelagem para o Cenário-Base

O cenário-base de modelagem econômico-financeira do Projeto foi construído

de acordo com uma demanda considerada realista para as atividades turísticas

existentes na região da APACC. Essa demanda seria correspondente à utilização

de 60% da capacidade máxima atualmente permitida para a operação de cada

atividade. Foi considerado que todas as atividades operam durante 18 dias no

mês. A Tabela 23 apresenta os valores de demanda considerados para cada

atividade por município.

Tabela 23. Demanda diária por atividade por Município

Demanda diária por atividade/Município Maragogi Paripueira SMMilagres Porto de

Pedras

Catamarã 648 144 0 0

Lancha 306 7,2 0 0

Escuna 180 0 0 0

Jangada 0 0 270 90

Fotos sub 227 30 54 18

Mergulho conduzido 74 10 18 6

Mergulho de batismo 11 0 0 0

Avistamento do Peixe-boi 0 0 0 42

Passeio embarcado (lancha, escuna e catamarã) 113 0 0 0

Stand Up 113 15 0 0

Trilhas ecológicas 0 0 0 0

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15.1.1. Fluxo de Caixa do Projeto

Antes de apresentar o Fluxo de Caixa Livre do Projeto, faz-se necessário introduzir

a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) quantifica o desempenho

econômico-financeiro do Projeto em termos contábeis, sob o regime da

competência. A DRE é peça fundamental na determinação do Fluxo de Caixa Livre

do Projeto. É por meio da DRE que são apurados os impostos e repasses sobre

receitas (ISS, PIS e COFINS) e rendas (Imposto de Renda e Contribuição Social

sobre o Lucro Líquido) que compõem o Fluxo de Caixa Livre do Projeto.

No cálculo da Receita Líquida foi considerada a receita de taxa de visitação destinada

a remunerar o concessionário que irá operar as bilheterias e os sistemas de controle.

Sobre o valor bruto dessas receitas, foram consideradas as contribuições PIS e

COFINS, com alíquotas de 0,65% e 3,00%, respectivamente, e também a incidência

de Imposto Sobre Serviços (ISS), com uma alíquota de 5,00%.

Os custos operacionais do Projeto estão consolidados na rubrica OPEX (Custos

Operacionais, ou, do inglês Operational Expenditure). Nela, estão contidos os custos

com: Infraestrutura, T.I., equipamentos, serviços de terceiros, materiais e mão-de-

obra.

Para o cálculo do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre Lucro

Líquido (CSLL) foi adotado o regime de lucro presumido.

De acordo com as premissas assumidas, espera-se ao longo do Projeto um total

de Receita de taxa de visitação com a implantação do sistema de bilheterias da

ordem de R$ 52,88 milhões. Desse montante, considera-se que 40% (R$ 21,15

milhões) será destinado a remuneração da concessionária, 30% será destinado ao

ICMBio e 30% às prefeituras locais (R$ 15,86 milhões para ambos). Do montante

destinado a concessionária, estima-se um dispêndio de R$ 1,06 milhões em ISS, R$

137,50 mil em PIS e R$ 634,63 mil em COFINS. Finalmente, prevê-se uma Receita

Líquida de R$ 19,32 milhões.

Em termos de OPEX estima-se um dispêndio total de R$ 14,57 milhões, compatível

com um Lucro Antes dos Impostos (LAIR) de R$ 4,75 milhões. Por fim, para

determinação do Lucro Líquido de R$ 2,45 milhões, admite-se um gasto com R$

1,69 e R$ 0,61 milhões com IR e CSLL, respectivamente. A Tabela 24, exibida mais

adiante, expõe a evolução da DRE ao longo dos 20 anos do projeto.

Os valores reais ao longo dos anos do Projeto são considerados constantes pois

parte-se do pressuposto que receitas e custos cresceriam proporcionalmente. Em

outras palavras, caso haja crescimento real dos custos, a taxa de visitação seria

ajustada para obter uma receita capaz de absorver a variação nos custos.

Para a montagem do Fluxo de Caixa Livre, os valores presumidos para os

investimentos estão consolidados na rubrica CAPEX (Investimentos, ou, do inglês

Capital Expenditures). Nela estão contidos os investimentos em infraestrutura para

as bilheterias.

Estima-se que sejam investidos R$ 2,45 milhões ao longo do Projeto, considerando

tanto os investimentos iniciais como os reinvestimentos. Ainda, é previsto um

Fluxo de Caixa Livre do Projeto nulo, bem como TIR decorrente destes fluxos

de zero, compatíveis com a operação característica de uma Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP ou OSC.

Nas próximas subseções são apresentados os itens que compõem OPEX, CAPEX,

Receita, e Tributos. Maiores detalhes sobre a memória do cálculo podem ser vistos

no arquivo anexo no formato Excel, que acompanha este relatório.

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Tabela 24. Modelagem Econômica: DRE (R$ mil)

Tabela 25. Modelagem Econômica: Fluxo de Caixa Livre (R$ mil)

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Figura 47. Modelagem Econômica: Fluxo de Caixa Livre do Projeto (R$ mil)

15.1.2. Receitas

Para o presente trabalho, entende-se como Receita o total de taxas de visitação

a serem arrecadadas dos visitantes no momento de aquisição do bilhete

para realizar as atividades turísticas em qualquer dos quatro municípios da

APACC. A taxa de visitação está sendo calculada como um percentual do valor

médio cobrado pelos prestadores em cada atividade. Desta forma, evita-se o

estabelecimento de uma taxa fixa que possa representar um percentual alto

do valor de determinada atividade, logicamente aquelas atividades de menor

valor, e que, desta maneira, possa aumentar o preço da atividade e a afetar

significativamente sua demanda. Considerou-se uma taxa de visitação maior para

as atividades mais importantes e, consequentemente, mais lucrativas, quais sejam:

os passeios de catamarã e lancha. As tabelas a seguir apresentam o percentual do

valor das atividades considerado no cenário-base, bem como o preço médio por

atividade.

Tabela 26. Taxa de Visitação por Atividade (Percentual sobre o Valor das Atividades) 51

Tabela 27. Preço Médio da Atividade (R$)

Taxa por visitante Preço médio da atividadeCatamarã R$ 62,5

Lancha R$ 57,5Escuna R$ 50,0

Jangada R$ 50,0Fotos sub R$ 30,0

Mergulho conduzido R$ 95,0Mergulho de batismo R$ 280,0

Avistamento do Peixe-boi R$ 50,0Passeio embarcado (lancha, escuna e catamarã) R$ 30,0

Trilhas ecológicas R$ 33,8

51 Como premissa, não está sendo considerada na modelagem econômico-financeira a atividade de stand up, já exer-cida na região, pois trata-se de uma atividade de baixo impacto e de difícil controle e fiscalizaçõa, uma vez que pode ter viabilidade em uma área bastante extensa.

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É importante destacar que o aumento no preço das atividades turísticas em

decorrência da inclusão de uma taxa de visitação pode afetar a demanda por estas

atividades. Esta variação na demanda não está sendo considerada na modelagem.

Para que o modelo considerasse essa variação seria necessário saber qual a

elasticidade preço da demanda por cada atividade. No entanto, acredita-se que

manter a demanda inalterada não invalida o modelo, uma vez que o orçamento

do turista típico destinado a “Passeios e Atrações Turísticas” é bastante superior ao

preço das atividades oferecidas.

A partir das premissas apresentadas, verifica-se o seguinte perfil de receita,

destinado a remunerar os custos e gestão do parceiro:

Tabela 28. Modelagem Econômica: Receita por Atividade (R$ mil)

Figura 48. Modelagem Econômica: Receita por Atividade (R$ mil)

A respeito das estimativas de receita apresentadas, destacam-se duas atividades

exercidas predominantemente no município de Maragogi que juntas representam

70,8% das receitas do parceiro, quais sejam: passeios de catamarã (51,9% do total)

e lancha (18,9%).

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15.1.3. Investimentos (CAPEX)

Entende-se, no presente estudo, como Investimento (CAPEX) todo o esforço

financeiro realizado pela concessionária no decorrer do projeto, que seja

passível de mensuração e valoração e em acordo com as normas contábeis de

reconhecimento geralmente aceitas no Brasil.

A estimativa dos Investimentos (CAPEX) do projeto inclui todos os custos

de infraestrutura (exceto construção de imóveis), móveis, equipamentos,

utensílios, treinamento de equipe, investimentos em tecnologia da informação

e investimentos necessários a constituição da SPE – Sociedade de Propósito

Específico que deverá ser constituída para início do Projeto. Também foram

considerados reinvestimentos de acordo com a vida útil de cada categoria.

Ademais, foram considerados investimento em Necessidade de Investimento

no Giro (NIG), sendo este, todos os dispêndios incorridos pelo parceiro com o

descasamento entre os prazos de recebimento e pagamentos das suas contas

operacionais. É importante destacar que todo esforço financeiro realizado a

título de NIG retorna ao final do projeto. Esse efeito decorre do encerramento do

projeto, quando os prazos de recebimentos e pagamentos expiram.

Conforme as rubricas apresentadas, estão consolidados dentro CAPEX todos os

Investimentos necessários à operação regular do projeto, de acordo com valor

médio de parâmetros de investimento informados pelo contratante.

Conforme demostram a Tabelas 29 e a Figura 49 abaixo, vislumbra-se um CAPEX

total de R$ 2,45 milhões durante os 20 anos de projeto.

Tabela 29. Modelagem Econômica: CAPEX (R$ mil)

Figura 49. Modelagem Econômica: CAPEX (R$ mil)

A atividade de bilheteria demandará uma grande proporção dos investimentos em tecnologia de informação (71,4% do total). O desenvolvimento e atualização

de software será imprescindível para execução das atividades do parceiro, uma

vez que é por meio destes sistemas que se darão as vendas online, controle e

monitoramento da demanda por atividades turísticas.

A modelagem do Projeto considera que os imóveis onde as bilheterias físicas se

instalarão serão alugados ou cedidos pelas prefeituras (mediante acordos) e não

comprados/construídos. Portanto, os investimentos em infraestrutura se darão no

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âmbito de aquisição de materiais e equipamentos, representando 13,3% e 8,2%

dos investimentos totais, respectivamente.

Por fim, destacam-se os investimentos em serviços, que representam 5,1% dos

investimentos totais.

15.1.4. Custos Operacionais (OPEX)

Para o presente estudo, entende-se como Custos Operacionais (OPEX) todo

esforço econômico-financeiro decorrente das atividades operacionais do projeto,

que seja passível de mensuração e valoração, em acordo com as normas contábeis

de reconhecimento geralmente aceitas no Brasil.

Para a estimativa dos Custos Operacionais (OPEX) do Projeto, foram considerados o

escopo, a qualidade e o prazo dos serviços a serem prestados na operação regular

do projeto. Nesse sentido, os custos operacionais foram apenas considerados

quando do início da operação, enquanto os demais custos pré-operacionais estão

classificados no CAPEX.

Assim, foram mensurados e agrupados 7 (sete) rubricas de OPEX, sendo elas:

(i) Infraestrutura, que considera sobretudo pagamentos de aluguel; (ii) Mão-De-Obra; (iii) Tecnologia da informação; (iv) Equipamentos (manutenções); (v) Serviços (utilidades, marketing, taxa de cartão, serviços de terceiros); (vi) Materiais (informativos, eventos, promoções, limpeza) e; (vii) Despesas Administrativas.

Conforme demostram a Tabelas 30 e a Figura 50 abaixo, vislumbra-se um OPEX

total de R$ 14,57 milhões durante os 20 anos de projeto.

Tabela 30. Modelagem Econômica: OPEX (R$ mil)

Figura 50. Modelagem Econômica: OPEX (R$ mil)

Estima-se que o maior custo operacional do parceiro seja o de mão de obra, que

representa 71,1% dos custos operacionais totais ao longo dos anos do Projeto.

Estão sendo considerados o total de 24 funcionários, 6 para cada uma das 4

bilheterias.

Seguidamente os maiores custos operacionais da concessionária seriam despesas

administrativas (9,1% dos custos totais) e infraestrutura (6,2%).

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15.1.5. Depreciação

É comum a confusão entre a depreciações fiscal, depreciação contábil e

depreciação econômica. A depreciação fiscal é função das alíquotas fiscais

aplicáveis a cada item do CAPEX e é utilizada para reduzir a base fiscal na apuração

do Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CS). A

depreciação econômica determina os prazos de reinvestimento e o plano de

manutenção das máquinas, equipamentos e edificações. Entretanto, há casos em

que se usa a depreciação econômica para determinar a apuração do imposto de

renda, o que é um equívoco grave.

Além disso, a depreciação talvez seja um dos itens mais importantes no caso

de projetos de infraestrutura intensivos em capital, já que essa rubrica pode

reduzir consideravelmente a base de cálculo do imposto de renda, com efeitos

importantes já no início do empreendimento. Por isso, os impactos no resultado

econômico do projeto são extremamente importantes devido a essa rubrica.

Entretanto, conforme a legislação fiscal em vigor 52, para o projeto foi adotado o

regime de tributação baseado no lucro presumido, o qual não requer o cálculo

da depreciação fiscal. Assim, não é necessário o cálculo da depreciação fiscal para

apuração do Lucro Antes dos Impostos (LAIR).

52 Vide http://www.receita.fazenda.gov.br/pessoajuridica/dipj/2005/pergresp2005/pr517a555.htm

15.1.6. Tributos

Para o presente trabalho, entende-se como Tributos todo o recurso financeiro

devido - ou de direito - aos governos Municipais, Estaduais e Federal, decorrente

de fatos geradores originados nas atividades do projeto, que sejam passíveis

de mensuração e valoração e em acordo com as normas contábeis de

reconhecimento geralmente aceitas no Brasil.

Assim, para a estimativa dos gastos com Tributos do Projeto, foram observados o

escopo, a qualidade, o prazo e os tipos de serviços a serem prestados na operação

regular do projeto. Ademais, foram considerados dois grupos de incidência fiscal:

tributos sobre a receita e tributos sobre a renda.

Os tributos sobre receita foram estimados de acordo com o tipo de receita e

os respectivos encargos. Assim, sobre o valor bruto das receitas foi admitida a

incidência de PIS e o COFINS, com alíquotas de 0,65% e 3,00%, respectivamente.

Ainda sobre o valor bruto das receitas considerou-se a incidência de Imposto

Sobre Serviços (ISS), com alíquota de 5,00%.

Para estimar os tributos sobre a renda foram considerados o Imposto de Renda (IR)

e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) sob o regime de lucro presumido,

conforme previsão do Art. 46 da Lei Federal nº 10.637. Desse modo, adotou-se a

alíquota de presunção de 32% na determinação da base de cálculo de IR e CSLL,

em acordo com o Art. 223 da RIR/1999. Ademais, admitiram-se as alíquotas de 25%

para o IR e 9% para o CSLL.

Conforme demostram a Tabela 31 e a Figura 51 a seguir, vislumbra-se um total de

Tributos de R$ 4,13 milhões durante os 20 anos do projeto.

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Tabela 31. Modelagem Econômica: Tributos (R$ mil)

Figura 51. Modelagem Econômica: Tributos (R$ mil)

15.1.7. TIR

A Taxa Interna (TIR) deve ser entendida como o parâmetro de remuneração do

capital empregado no projeto. A TIR também deve ser vista como o retorno

esperado pelo investidor para o projeto, de modo a garantir o custo de

oportunidade do capital investido 53.

A natureza do Projeto, bem como o arranjo jurídico proposto estabelecem a

constituição de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP.

Sendo assim, o Projeto é compatível com uma TIR igual a zero. Ou seja, não a

finalidade de obtenção de retorno ao investidor.

53 Vide CHAGUE, Fernando D., DE-LOSSO, Rodrigo, GIOVANNETTI, Bruno C. & FILGUEIRAS, Felipe S. C. M. Modelagem Econômico-Financeira: Conceitos, Equilíbrio, Desequilíbrio e Reequilíbrio in SENNES, Ricardo, LOHBAUER, Rosane M., SANTOS, Rodrigo Machado M., KOHLMANN, Gabriel B., BARATA, Rodrigo S. Novos Rumos para a Infraestrutura: Eficiência, Inovação e Desenvolvimento. São Paulo: LEX, 2014. (Doc. XIV- 4)

15.1.8. Sensibilidade

Entende-se, no presente estudo, como Sensibilidade as variações da Taxa Interna

de Retorno do Projeto em resposta a mudanças nos Custos Operacionais (OPEX)

e nos Investimentos (CAPEX) estimados para o Projeto. Foram considerados os

intervalos de 5% de variação.

Conforme demostra a Tabela 32 a seguir, o Projeto apresenta uma sensibilidade

muito maior a variação dos custos operacionais do que aos investimentos. Uma

variação de 5% nos custos operacionais já seria suficiente para levar a taxa interna

de retorno para -13,35%, enquanto o mesmo aumento de 5% no valor dos

investimentos implicaria em uma redução da TIR de 0,00% para - 2,13%.

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Tabela 32. Sensibilidade da TIR a Variações no OPEX e CAPEX (em R$ mil)

15.2. Cenário com Atividades Potenciais

Este cenário foi construído com o objetivo de incorporar à modelagem a receita

de atividades potenciais da região da APACC. Os mesmos conceitos e premissas

apresentados anteriormente foram aplicados para a construção deste segundo cenário.

Embora este estudo tenha apresentado diversas atividades potenciais na região,

foram consideradas na modelagem econômico-financeira do projeto apenas

aquelas atividades cuja a atividade de fiscalização e controle são mais viáveis.

Neste sentido, foram excluídas as atividades de passeios de bicicleta, caiaque,

caminhada de longo percurso, e stand up.

A Tabela 33, abaixo, apresenta as atividades potenciais incluídas no modelo:

Tabela 33. Atividades Potenciais Considerada na Modelagem

Econômico-Financeira por Município

Atividade/Cidade Maragogi Paripueira SMMilagres Porto de PedrasMergulho de batismo x Passeio de orla x Passeio Noturno (lua cheia) x xTrilha sub aquática para Educação e interpretação ambiental

x x x x

Turismo de observação de fauna/ flora x x x x

Para considerar as atividades potenciais da região, assumiu-se que 30% dos turistas

que visitam as piscinas naturais optariam também por realizar alguma atividade

turística potencial. A partir daí, calculou-se a demanda potencial para cada

município. Esta demanda estaria dividida igualmente entre todas as atividades

potenciais do município. A partir deste parâmetro de demanda e do valor médio

destas atividades, foi possível estabelecer a receita com os atrativos turísticos

potenciais.

As Tabelas 34 e 35 apresentam os valores de demanda diária das atividades

potenciais por município bem como o preço médio de cada atividade.

Tabela 34. Demanda Diária por Atividade Potencial por Cidade

Demanda Maragogi Paripueira SMMilagres Porto de PedrasMergulho de batismo 0,0 18,9 0,0 0,0Passeio de orla 0,0 18,9 0,0 0,0Passeio Noturno (lua cheia) 0,0 0,0 45,0 15,0Trilha sub aquática para Educação e interpretação ambiental

283,5 18,9 45, 15,0

Turismo de observação de fauna/ flora 283,5 18,9 45, 15,0

Tabela 35. Preço Médio da Atividade (R$)

Atividade Preço médio da atividade

Mergulho de batismo R$ 200,0

Passeio de orla R$ 30,0

Passeio Noturno (lua cheia) R$ 50,0

Trilha sub aquática para Educação e interpretação ambiental R$ 33,8

Turismo de observação de fauna/ flora R$ 40,0

Para prever a receita com taxa de visitação, os seguintes valores percentuais de

taxa de visitação foram aplicados sobre o preço médio das atividades:

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Tabela 36. Taxa de Visitação por Atividade (Percentual sobre o Valor das Atividades)

Com base nas premissas apresentadas, previu-se o Fluxo de Caixa Livre do Projeto,

conforme apresentado na Tabela 37 abaixo:

Tabela 37. Modelagem Econômica: Fluxo de Caixa Livre (R$ mil)

Ao incluir atividades potenciais no modelo, foi possível obter uma receita

da ordem de R$ 5,12 milhões com taxa de visitação. A inclusão dessa receita

permitiu que a redução do percentual de taxa de visitação cobrada dos turistas,

ao mesmo tempo que a taxa de retorno do investimento se mantivesse igual a

zero, ou seja, este novo arranjo permitiria que o parceiro e/ou investidor obtivesse

o mesmo retorno e que o turista fosse menos onerado com a taxa de visitação.

A inclusão de novas receitas, provenientes das atividades potenciais da região, é

compatível com uma redução da ordem de 9,7% da taxa de visitação. Esta passou

de 12,84% para 11,59% nas atividades de catamarã e lancha, e de 6,42% para 5,8%

nas demais atividades oferecidas.

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15.3. Atividades Acessórias

Os cenários de modelagem apresentados acima não consideram as atividades de

lanchonete e venda de produtos da UC e artesanato local, uma vez que não há

informação detalhada sobre custos, demanda e preço dos produtos que seriam

comercializados.

No entanto, as atividades acessórias podem apresentar um comportamento

similar ao das atividades potenciais em relação a seu impacto financeiro. Ou

seja, podem permitir uma redução do valor da taxa de visitação a ser paga pelos

turistas que realizam os passeios oferecidos.

15.4. Considerações sobre os Cenários de Modelagem Econômico-financeiro

A partir dos dois cenários apresentados, verifica-se que é possível obter receita

suficiente das atividades turísticas existentes por meio de uma taxa de visitação

que cubra os custos do projeto, gere receita para o ICMBio e para as prefeituras

locais e seja capaz de atender o propósito de operação da OSCIP. Ou seja, o

sistema de implantação de bilheteria única, caso se comporte futuramente de

acordo com as premissas adotas na modelagem financeira, seria viável.

Atividades turísticas potenciais e acessórias podem ter como consequência:

(i) A elevação da receita e, como consequência, a possibilidade de investir

em ampliação do sistema, tornando-o ainda mais atrativo para para o

ICMBio, para as prefeituras locais e para a comunidade que se beneficiará da

operação da OSCIP, ou

(ii) A redução da taxa de visitação cobrada do turista ao mesmo tempo que a

taxa interna de retorno se mantivesse inalterada.

15.5. Atividades de Contrapartida das Prefeituras

A análise econômico-financeira do Projeto mostrou que O ICMBio e as prefeituras

dos municípios devem obter, juntos, o total de 60% da taxa de visitação arrecada.

As prefeituras dos quatro municípios onde a OSCIP atuará receberão o total

de 30% dessas taxas (além do valor do ISS arrecadado em decorrência da

implementação do projeto).

O objetivo deste projeto é otimizar a gestão das Áreas de Proteção Ambiental

sob responsabilidade do ICMBio para melhor absorver o potencial de exploração

e de geração de benefícios econômicos e sociais da região e, com isto, viabilizar

o enfrentamento das dificuldades de gestão destes ativos. Neste sentido, é

proposto que as prefeituras ofereçam contrapartidas quanto a utilização destes

recursos financeiros arrecadados, de modo a contribuir com o objetivo do projeto.

Espera-se, por exemplo, que as prefeituras realizem atividades de monitoramento

ambiental nas piscinas, dentre outras atividades determinadas pela equipe técnica.

Caso as prefeituras não realizem as atividades previstas como contrapartida,

estes recursos arrecadados deverão ser destinados ao ICMBio de modo a

garantir, juntamente com a OSCIP, que estas atividades sob responsabilidade das

prefeituras sejam executadas.

15.6. Fluxo de Cobrança da Bilheteria Única

Conforme exposto, as atividades de turismo na região da APACC são realizadas de

maneira descentralizadas. Cada operador cobra o valor do passeio diretamente

do turista. Com a implementação do projeto, espera-se que a venda dos passeios

seja realizada de maneira centralizada e organizada. Desta forma, o sistema de

bilheteria única realizaria a arrecadação dos recursos da venda dos passeios por

um preço de tabela por meio da bilheteria online ou física.

Assim, é necessário definir, juntamente com a equipe técnica, a melhor forma de

estabelecer os fluxos financeiros dos agentes envolvidos. Uma possibilidade que

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visa a manter a atual dinâmica dos operadores, é que a OSCIP realize a arrecadação

e repasse ao valor proporcional a cada operador à medida que esses realizem

os passeios. Desta forma, todos os dias os operadores poderiam realizar o saque

do valor correspondente a operação daquele dia. Para isso, seria preciso haver

um controle do total de tickets vendidos cujos passeios foram realizados com

determinado operador, e este realizaria o saque do valor que lhe cabe com a

OSCIP com a frequência que achar conveniente.

Este arranjo tem como ponto positivo manter a atual dinâmica dos operadores,

que arrecadam a receita das atividades de maneira direta, predominantemente

à vista, e tem seu fluxo de caixa atualizado todos os dias em que operam. O

ponto negativo deste arranjo está relacionado à necessidade de capital de giro

da OSCIP, que estaria adiantando vendas com cartão de crédito, por exemplo,

aos operadores. É necessário que a OSCIP seja capaz de gerir este possível

descasamento entre receitas e despesas decorrentes dos repasses que podem ser

diários, se este arranjo se concretizar.

A tributação da receita das atividades deve ser de responsabilidade dos

operadores. No entanto, o sistema de arrecadação centralizado permitiria melhor

controle das prefeituras, que poderia contar com a prestação de contas da OSCIP

em para seu planejamento fiscal.

16. VIABILIDADE DAS ATIVIDADES EXERCIDAS E POTENCIAISEsta seção tem como objetivo verificar viabilidade financeira das atividades

turísticas exercidas e potenciais na região da APACC.

Conforme exposto no primeiro relatório deste projeto, as ferramentas tradicionais

de análise de viabilidade financeira não se mostram adequadas para aplicação nas

atividades de turismo desenvolvidas nos municípios abarcados pelo Projeto. Estas

ferramentas são elaboradas para estruturas de projetos complexas, normalmente

envolvendo grandes empreendimentos, investimento de acionistas e bancos,

administração centralizada, dentre outras características. Por outro lado, as

atividades turísticas analisadas e potenciais, apresentam características distintas

devido ao caráter da própria UC (Uso Sustentável onde não existe o domínio sobre

a área da UC por parte do ICMBio). Elas são atividades desempenhadas de maneira

descentralizada, por profissionais autônomos, sem investimentos programados

e sem planejamento de longo prazo. Portanto, as atividades em questão são

mais semelhantes às atividades desempenhadas para garantir o sustento dos

profissionais envolvidos e não para remunerar o capital investido no setor.

Diante desse fato, recomenda-se adoção de análise por margens de lucro, ou seja,

analisar o valor remanescente que permanece com os operadores das atividades é

positivo, depois de descontar todos os seus custos operacionais.

Para realizar essa análise foram considerados estimativas de custos, receita, tributos e taxas para atividades turísticas exercidas e potencias da região, com base em informações fornecidas pelos operadores e outras informações disponibilizadas pelo ICMBio.

Para calcular a receita de cada atividade foram considerados três cenários de

demanda das atividades turísticas, a saber:

• Cenário otimista: considerado a capacidade máxima de demanda atualmente

permitida para cada atividade e operação da atividade durante 22 dias no mês;

• Cenário realista: considerado demanda média correspondente a 60% da

capacidade máxima de turistas em cada atividade e operação de 18 dias no

mês;

• Cenário conservador: considerado demanda média de 40% da capacidade

máxima de turistas em cada atividade e operação de 15 dias no mês.

Os preços médios considerados e demanda máxima são compatíveis com

os dados informados no primeiro relatório deste Projeto e nas premissas de

modelagem econômica já apresentadas.

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Sempre que aplicável à atividade, foram considerados os seguintes custos dos

operadores:

• Custos de Manutenção: manutenção de ativos necessários a operação, tais

como embarcações, kits de mergulho, equipamentos de fotografia, bicicletas,

entre outros;

• Gasolina;• Comissão do guia turístico;• Taxa municipal;

Os resultados abaixo mostram o valor remanescente da operação de cada

atividade considerando todos os operadores de cada município.

As premissas adotadas para compor cada rubrica, bem como memória de calculo

podem ser consultados no arquivo em Excel anexo a este relatório para consulta e

avaliação da equipe gestora da APACC e CGEUP/ ICMBio.

• Imposto sobre Serviço (ISS) 54

• Mão de obra• Financiamento 55

54 Este foi o único imposto considerado. Assumiu-se uma tarifa média de 3% sobre a receita. Não foram considerados PIS, COFINS e Imposto de Renda e Contribuição Social na análise.

55 Para todas as atividades que necessitam de investimentos, foi considerado um custo de financiamento que seria pago pelo operador durante a vida útil do bem adquirido. A taxa de juros utilizada para calcular o valor da parcela men-sal de financiamento foi de 1,5% a.m., correspondente a taxa média de juros no primeiro semestre/17 divulgada pelo Banco Central do Brasil para aquisição de outros bens.

Tabela 38. Lucro Mensal das Atividades Exercidas e Potenciais (R$)

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A análise por meio do método de margens de lucro para atividades existentes

e potenciais mostra que, caso a demanda máxima ocorra, todos os municípios

apresentariam valor remanescente positivo para os operadores. No entanto, o cenário realista reverteria esse resultado nos munícipios de Paripueira e São Miguel dos Milagres. Caso demanda seja baixa suficiente a ponto de prevalecer o cenário conservador, todos os municípios apresentariam valor remanescente negativo. Ou seja, neste caso, os operadores teriam dificuldades em honrar seus compromissos.

Em relação as atividades existentes, destaca-se que:

• Os passeios de catamarã são os que apresentam maior potencial de lucro para

os operadores.

• Os passeios de lancha, no entanto, apresentam valor remanescente negativo

em todos os cenários nos munícipios em que há essa atividade. Tal conclusão pode decorrer de imprecisão das premissas de custos assumidas, uma vez que não haveria razoabilidade econômica na continuidade de atividade deficitária por parte dos operadores.

• As atividades de mergulho e passeio de orla são as mais resilientes e apresentam

valor remanescente positivo em todos os cenários de demanda. Isso ocorre,

provavelmente porque a infraestrutura (embarcações) e mão de obra utilizada

nestas atividades são as mesmas de outras atividades. Isso faz com que estas

atividades funcionem como uma espécie de “receita acessória” dos operadores,

que evitam ociosidade na operação por meio dessas atividades.

Em relação as atividades potenciais, destaca-se que:

• Apenas o município de Maragogi apresenta potencial de gerar lucro aos

operadores. Isso se da, provavelmente, pelo perfil de demanda atual das

atividades turísticas nesse município.

• Para que as atividades potenciais sejam viáveis, é necessário otimizar custos, de

modo a aproveitar a infraestrutura e mão de obra ociosa em outras atividades,

fazendo com que a receita gerada seja capaz de cobrir os custos da operação.

A análise da viabilidade das atividades de turismo na região da APACC mostra

que dois fatores são determinantes para viabilizar as atividades existentes e

garantir expansão por meio das atividades potenciais: (i) perfil de demanda, que é uma vantagem comparativa do município de Maragogi e; (ii) otimização do aproveitamento da infraestrutura e mão de obra existentes de modo a reduzir possíveis casos de ociosidade na operação.

Atualmente, o potencial de expansão das atividades na região, de forma geral, não é alto, uma vez que no cenário realista apenas os municípios de Maragogi

e Porto das Pedras apresentariam valor remanescente dos operadores positivo.

É importante considerar que este valor remanescente não é um expressivo

e poderia se reverter em prejuízo caso o número de operadores autorizados

aumentasse de forma significativa.

17. CONCLUSÃO DA ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA E DE VIABILIDADE DAS ATIVIDADESA modelagem econômico-financeira foi dividida em três grandes etapas: (i)

renda disponível; (ii) viabilidade econômico-financeira da bilheteria unificada;

e (iii) potencial econômico de cada atividade. A seguir detalharemos cada uma

das etapas e a sua importância dentro da modelagem econômico-financeira do

projeto apresentada no relatório 1 e no presente relatório.

A primeira etapa consistiu em mensurar qual era o valor médio gasto pelos turistas

em visita a região, seguido do comparativo desse gasto médio com o preço das

atividades e passeios oferecidos, de modo a diagnosticar potencial disposição a

gastar não capturada.

Essa informação é de extrema relevância, uma vez que a implementação de novas

atividades e/ou aumento do preço das atividades existentes para custear possível

ordenamento, está sujeita a renda disponível dos turistas. Caso o gasto médio do

turista da região indicasse indisponibilidade de renda, não seria possível sugerir

novas atividades ou taxas.

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No caso em tela, existe renda não capturada do turista médio, ou seja, a disposição

a gastar do turista com atividades de lazer é maior do que os possíveis pacotes de

atividades e passeios oferecidos na região. Isso indica que é possível implementar

novas atividades e/ou cobrar um sobre-preço das atividades já existente de modo

a custear o ordenamento turístico. Essa informação é de extrema relevância, pois,

como dito, não seria razoável sugerir o ordenamento caso não houvesse renda

dos turistas suficiente para banca-lo.

A segunda etapa constituiu em modelar os custos operacionais (OPEX),

investimentos (CAPEX) e tributos a serem custeados pelo possível operador da

bilheteria unificada de modo a diagnosticar a viabilidade econômica da atividade.

Em outras palavravas, diante da renda disponível dos turistas para custear o

ordenamento turístico (bilheteria unificada) foi necessário verificar se esse valor

seria suficiente para viabilizar a atividade econômica da bilheteria por um possível

agente privado.

Assim, foram dimensionados os custos e investimentos envolvidos na operação

e mensuradas as taxas a serem cobradas nos “ingressos” de cada atividade. Se

consideradas apenas as atividades já existentes deveriam ser cobradas taxas

adicionais de 12,8% para as atividades de catamarã e lancha e 6,4% para as demais

atividades. Ou seja, deveriam ser adicionados aos preços das atividades essa taxa,

a qual seria repartida entre o futuro operador da bilheteria, ICMBio e prefeituras na

seguinte proporção: 40%, 30% e 30%, respectivamente.

Verificou-se que no cenário “realista” (60% da demanda potencial total) a cobrança

de 12,8% e 6,4% sobre o preço das atividades, com repasse de 40% desse valor ao

futuro operador da bilheteria seria suficiente para viabilizar a atividade econômica

(TIR real de 0%).

O mesmo ocorre, quando é considerado no estudo de viabilidade da bilheteria

unificada a operação de atividades potenciais, que hoje ainda não são exercidas.

Neste cenário há uma redução da taxa de 12,8% para 11,6% nas atividades de

catamarã e lancha e de 6,4% para 5,8% nas demais atividades existentes. Esta

segunda taxa também é a que atribuída ao valor dos passeios potenciais.

Assim, diagnosticou-se a capacidade dos turistas em custear o ordenamento

(renda disponível) e a viabilidade econômico-financeira de operar a bilheteria

unificada se aplicadas taxas de visitação citadas sobre os preços das atividades já

praticadas.

Por fim, a terceira etapa buscou diagnosticar a viabilidade econômico-financeiras

de cada atividade individualmente. É importante ressaltar que a qualidade do

diagnóstico foi restrita a disponibilidade de informações sobre cada atividade.

Neste sentido, a ausência de informações precisas, principalmente, sobre os custos

de operação, restringiu a assertividade do diagnóstico.

O estudo de viabilidade econômico-financeiras de cada atividade individualmente

é importante para dimensionar o número de operadores, uma vez que essas

atividades são prestadas pelos habitantes locais, constituindo do seu meio se

sustento. Uma vez que a renda disponível dos turistas é dada, o aumento ou a

diminuição do número de operadores, afeta diretamente a renta dos prestadores.

Quanto maior o número de operadores, dado o limite de oferta do serviço, menor

a renda a ser apropriada por cada prestador.

Apesar das limitações informacionais, o estudo aponta para a saturação do

número de operadores das atividades ligadas as piscinas. Apesar de indicar a

inviabilidade de algumas atividades isoladamente, o que pode ser explicado por

erro dimensionamento dos custos – principalmente de mão-de-obra, a avalição

conjunta destas atividades aponta que o número de operadores já está próximo

do limite máximo e que apenas em cenários de alta demanda haveria espaço –

renda – para inclusão de novos operadores.

No que diz respeito as atividades potenciais, apenas o município de Maragogi

apresenta viabilidade para desenvolvimento destas, uma vez que existe um

custo fixo atrelado a oferta destas atividades e que requerer um nível mínimo de

demanda, a qual só é observada em Maragogi.

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18. ALTERNATIVAS DE ESTRUTURAÇÃO JURÍDICAConsiderando as sugestões e direcionamentos apresentados pelo ICMBio

em face ao Produto 1, delineou-se o interesse em aprofundar e detalhar o

modelo de parceria via Organização da Sociedade Civil (OSC) para implantação

e operacionalização de um sistema de bilheteria único em toda a APACC,

sem transferência de recursos do ICMBio para o parceiro privado, para a

comercialização dos bilhetes que serão necessários para a realização de

algumas das atividades previstas para a APACC (“Sistema Único de Bilheteria ou

Bilheteria”). No próximo item, passaremos a tratar deste sistema.

19. SISTEMA ÚNICO DE BILHETERIAConforme já apresentado e discutido ao longo do trabalho, o Sistema Único de

Bilheteria compreenderá a instalação de uma estrutura física em cada um dos

municípios inseridos na APACC, de maneira gradativa, conforme prioridades

definidas pelo próprio ICMBio, bem como a implantação e gerenciamento de uma

plataforma digital para viabilizar a comercialização on-line dos bilhetes (“Bilheteria On-line”). Esta estrutura física também contemplará, além da própria bilheteria,

um centro de visitantes, de maneira a concentrar neste local o ordenamento,

comercialização e operacionalização de todas as atividades previstas para a APACC

(“Bilheteria Física”).

Considerando que a APACC se situa geograficamente em terreno completamente

submerso, não abrangendo porções de terra em solo firme, o ICMBio não teria

à sua disposição imóveis para que as Bilheterias Físicas pudessem ser instaladas.

Uma vez que o modelo desenhado pelo ICMBio prevê a instalação das Bilheterias

Físicas em cada um dos municípios abrangidos pela APACC, seria função do

ICMBio, no sentido de proporcionar a implantação do Sistema Único de Bilheteria

nos moldes pretendidos, identificar e viabilizar a utilização de imóveis em cada

município pelo parceiro privado.

Dentre as obrigações do do parceiro privado, inclui-se o credenciamento

dos prestadores de serviço (“Operadores Locais”), os quais deverão estar

autorizados pelo ICMBio para desenvolver suas respectivas atividades e, nos

casos em que haja transporte de pessoas em catamarãs, lanchas, escunas,

dentre outras, (“Embarcações”), deverão portar alvarás de funcionamento

das Embarcações emitidos pelas Prefeituras. Face ao interesse de promover a

interação da população local no desenvolvimento das atividades da APACC, o

ICMBio, encarregado de conceder as Autorizações aos interessados em atuar

nas atividades da APACC, poderá definir requisitos para concedê-las, como por

exemplo, ser residente em município localizado próximo à APACC.

Nesse sentido, os critérios para o credenciamento no Sistema Único de

Bilheteria promoverão o desenvolvimento turístico da APACC por meio da

própria população local. Outra incumbência da OSC é o gerenciamento dos

recursos advindos do Sistema Único de Bilheteria, os quais representam uma

contraprestação pecuniária a ser paga pelos visitantes para a OSC em razão

da venda dos bilhetes. Referidos recursos contemplam (i) os valores a serem

repassados aos Operadores Locais periodicamente, conforme será definido no

Contrato, (ii) os valores referentes à amortização dos investimentos realizados

pela OSC para a implantação da Bilheteria, (iii) os valores relativos à manutenção e

operacionalização da Bilheteria, e (iv) os valores que serão revertidos diretamente

para outros projetos e ações na gestão da própria APACC, conforme interesses a

serem apontados pelo próprio ICMBio.

Em síntese, o modelo do Sistema Único de Bilheteria delineado para a APACC

consiste na parceria com uma OSC para implantação de uma Bilheteria Física

e uma Bilheteria On-line, por meio das quais serão vendidos ingressos para a

realização das atividades previstas na APACC.

Feita essa síntese do modelo desenhado pelo ICMBio, passemos às considerações

quanto à modelagem jurídica a ser adotada.

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19.1. Instrumento Jurídico de Parceria – Acordo de Cooperação

A Lei Federal nº 13.019/14 estabelece como possível a parceria entre o Poder

Público e as Organizações da Sociedade Civil (“OSC”), amparando tal relação em

três instrumentos jurídicos elegíveis: o Termo de Colaboração, Termo de Fomento

e Acordo de Cooperação. Além destes instrumentos jurídicos, existe também o

Termo de Parceria, instituído e regulamentado pela Lei nº 9.790/99 e pelo Decreto

nº 3.100/99 as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (“OSCIP”),

quando há transferência de recursos.

Considerando que o Termo de Colaboração, o Termo de Fomento e o Termo de

Parceria pressupõem a transferência de recursos por parte do ente público ao

seu parceiro, podemos afirmar que tais instrumentos não se adequam ao modelo

desenhado pelo ICMBio.

Em razão disso, podemos afirmar que, em observação ao modelo de projeto

desejado pelo ICMBio, o instrumento jurídico de parceria mais adequado a ser

celebrado com o parceiro privado é o Acordo de Cooperação, que deverá ser

celebrado observando-se as características e requisitos previstos nas Leis nº

13.019/14 e nº 13.204/15.

Dentre os requisitos verificados nas leis apontadas acima, destacamos que o

Acordo de Cooperação, como regra, não necessita de chamamento público.

Entretanto, observado o artigo 29 da Lei 13.019/14, caso o objeto do Acordo de

Cooperação envolva a celebração de comodato, doação de bens ou outra forma

de compartilhamento de recurso patrimonial, torna-se necessária a realização

de chamamento público nos termos da referida lei, sendo este um ponto a ser

observado pelo ICMBio por conta da questão do imóvel a ser utilizado para

instalação da Bilheteria Física, conforme apontado mais acima.

19.2. Termo de Parceria com OSCIP

Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) é uma qualificação às

Organizações da Sociedade Civil (OSC) que atendam aos requisitos da Lei nº 9.790/99.

No caso da APACC, OSCIP são pessoas jurídicas de direito privado sem fins

lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em funcionamento

regular há, no mínimo, 3 (três) anos que tenham como finalidade defesa,

preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento

sustentável, conforme artigo 3º, inciso VI do referido texto legal.

Como já sinalizado no estudo anterior, o Decreto nº 4.340/2002 prevê,

expressamente, a possibilidade de gestão compartilhada de Unidades de

Conservação com as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIPs), que tenham como finalidade institucional a proteção do meio ambiente

e o desenvolvimento sustentável, e o Poder Público.

O Termo de Parceria, instituído e regulamentado pela Lei nº 9.790/99 e pelo

Decreto nº 3.100/99, é o instrumento jurídico celebrado entre a OSCIP e o ICMBio

pelo qual se formaliza a gestão compartilhada, o qual deverá especificar um

Programa de Trabalho (“Programa de Trabalho”) de acordo com o Plano de

Manejo da Unidade de Conservação e estabelecer metas a serem atingidas no

prazo de vigência do Termo.

“Art. 10. O Termo de Parceria firmado de comum acordo entre o Poder Público

e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público discriminará direitos,

responsabilidades e obrigações das partes signatárias.

§ 1º A celebração do Termo de Parceria será precedida de consulta aos Conselhos

de Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, nos

respectivos níveis de governo.

§ 2º São cláusulas essenciais do Termo de Parceria:

I - a do objeto, que conterá a especificação do programa de trabalho proposto pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público;

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II - a de estipulação das metas e dos resultados a serem atingidos e os respectivos prazos de execução ou cronograma;

III - a de previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a

serem utilizados, mediante indicadores de resultado” (Lei nº 9.790/99)

Dentre as atividades passíveis de compartilhamento, encontra-se o turismo

sustentável.

“Art. 21. A gestão compartilhada de unidade de conservação por OSCIP é

regulada por termo de parceria firmado com o órgão executor, nos termos da Lei

no 9.790, de 23 de março de 1999”

[...]

Art. 25. É passível de autorização a exploração de produtos, sub-produtos ou

serviços inerentes às unidades de conservação, de acordo com os objetivos de

cada categoria de unidade.

Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, entende-se por produtos, sub-

produtos ou serviços inerentes à unidade de conservação:

I - aqueles destinados a dar suporte físico e logístico à sua administração e à

implementação das atividades de uso comum do público, tais como visitação, recreação e turismo” (Decreto nº 4.340/2002)(Grifos nossos)

Esse instrumento jurídico é aplicável nos casos em que há transferência de

recursos público da União para a OSCIP, o qual deve discriminar direitos,

responsabilidades e obrigações das partes observando os requisitos da Lei nº

9.790/99 e o Decreto nº 3.100/99.

À luz do que foi sinalizado pelo ICMBio, tratando-se de uma parceria em que não

se prevê transferência de recursos ao parceiro privado, o instrumento adequado a

ser formalizado é o Acordo de Cooperação para a instituição do Sistema Único de

Bilheteria.

19.3. Parceria com Organização da Sociedade Civil – OSC

Como é sabido, o marco legal das Organizações da Sociedade Civil – OSCs

é Lei Federal nº 9.637/1998, que as qualifica como pessoas jurídicas de direito

privado sem fins lucrativos, em funcionamento há, no mínimo, três anos, cujas

atividades sejam relativas a promoção do ensino, da pesquisa científica, do desenvolvimento tecnológico, da proteção e preservação do meio ambiente, da cultura e da saúde.

Parafraseando o estudo anterior, escopo do projeto 1 apresentado, a Lei Federal

nº 13.019/14 estabelece como possível a parceria entre o Poder Público e as

Organizações da Sociedade Civil, amparando tal relação em três instrumentos

jurídicos elegíveis: o Termo de Colaboração, Termo de Fomento e Acordo de

Cooperação. Os dois primeiros envolvem transferência de recursos financeiros,

enquanto o último não.

Para tanto, os instrumentos jurídicos devem conter obrigatoriamente um Plano

de Trabalho, o qual descreve o objeto da parceria, contendo a descrição das

atividades ou projetos a serem desenvolvidos e metas a serem atingidas.

No caso da APACC, a OSC é aquela qualificada pelo Poder Público cujas atividades

sejam dirigidas ao ensino à proteção e preservação do meio ambiente, nos termos

da Lei nº 9.637/98.

19.4. Participação das Municipalidades na gestão do Projeto

Conforme anteriormente exposto, faz-se necessário relembrar que

independentemente de outros atores atuando na gestão da APACC, a

Constituição56 incumbe aos Municípios o dever de proteger e preservar o meio

56 “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; (...)Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. ” (Constituição Federal)

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ambiente em nome toda sociedade, fato este que se repete na Lei Nacional das

Unidades de Conservação – Lei do SNUC 57.

Desse dever constitucional de conservar o meio-ambiente, e a necessidade de

concretizá-lo, decorre a possibilidade de os Municípios desempenharem uma

atividade fiscalizatória, a qual pode demandar dispêndios financeiros.

Tais dispêndios podem ser solucionados por meio fontes alternativas de recursos, no

caso, é possível instituir taxa relativa ao exercício do poder de polícia fiscalizatório da

APACC, nos preceitos da Constituição Federal e das lei tributárias nacionais58.

Paralelamente a atuação fiscalizatória dos municípios, os Municípios também

podem atuar na gestão da APACC em conjunto com o modelo a ser desenvolvido

pelo parceiro privado por meio da concessão de Licenças Administrativas 59,

formalizadas por Alvarás 60, aos interessados em executar as atividades na APACC.

Nas palavras do I. Celso Antônio Bandeira de Mello, Licenças Administrativas são:

“Licença é o ato vinculado, unilateral, pelo qual a Administração faculta a

alguém o exercício de uma atividade, uma vez demonstrado pelo interessado o

preenchimento dos requisitos legais exigidos”.

57 “Art. 6º O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação.” (Lei do SNUC)

58 “Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos especí-ficos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição” (Constituição Federal) (Grifos nossos)“Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas res-pectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.(...)Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, inte-rêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à seguran-ça, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.” (Código Tributário Nacional)

59 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21 ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 418.

60 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 225.

E como nos explica a Dra. Maria Sylvia Zanella:

“Alvará é o instrumento pelo qual a Administrativa Pública confere licença ou

autorização para a prática de ato ou exercício de atividade sujeitos ao poder

de polícia do Estado. Mais resumidamente, o alvará é o instrumento de licença

ou da autorização. Ele é a forma, o revestimento exterior do ato; a licença e a

autorização são o conteúdo do ato”

Nesse sentido, as Prefeituras poderão estabelecer requisitos, em conjunto com

o ICMBio e observando as características deste projeto, para expedir os alvarás

de funcionamento das Embarcações, as quais serão condicionantes para o

credenciamento junto ao Sistema Único de Bilheteria.

A Licença Administrativa não tem prazo de validade e só perderá seus efeitos

em caso de anulação, cassação ou revogação. A anulação ocorre em caso

de ilegalidade em sua expedição, a cassação, por sua vez, na hipótese de

descumprimento pelo particular das condições impostas pela Prefeitura, e a

revogação se advier interesse público incompatível com a Licença.

Assim, a Licença Administrativa possibilita um gerenciamento mútuo dos

operadores das atividades da APACC em conjunto com o parceiro privado, e

igualmente permite o controle do ICMBio que poderá solicitar acesso aos dados

de Licenciamento junto a Prefeitura quanto aos dados de credenciados junto ao

Sistema Único de Bilheteria.

19.5. Projeto Toyota APA Costa dos Corais – Parceria no Desenvolvimento da APACC

Atualmente, na APACC, já está sendo desenvolvido o Projeto Toyota APA Costa dos

Corais (“Projeto APACC”), uma iniciativa da Fundação Toyota do Brasil em parceria

com a Fundação SOS Mata Atlântica que visa a conservação e sustentabilidade

da área, por meio do suporte e financiamento das comunidades locais para o

desenvolvimento de atividades e negócios sustentáveis ligados à pesca e ao

turismo responsável.

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Produto 1: Panorama do território abrangido pela APA Costa dos Corais e atuação do ICMBio na regiãoProduto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais

Para tanto, a Fundação Toyota do Brasil realiza um aporte anual de recursos

financeiros à APACC, em que parte é destinada diretamente às ações de

desenvolvimento na área, e a outra parte destinada a um Fundo de Perpetuidade

(indowment fund), só podendo ser utilizado quando a APACC for autônoma para

gerar os recursos necessários para manter as atividades previstas no Plano de

Manejo.

Por sua vez, a Fundação SOS Mata Atlântica é responsável pelo desenvolvimento

do Projeto APACC, realizando a interface com o ICMBio através de Acordo de

Cooperação, instrumento jurídico no qual não se prevê transferência de recursos

entre as partes (“Acordo”). O Acordo, além de dispor sobre a não transferência

de recursos, característica típica desse instrumento, também atribui ao ICMBio a

tarefa de definir um Plano de Trabalho para as atividades a serem desenvolvidas

no âmbito do Projeto APACC, apontando ações e metas, e de elaborar Relatórios

de Andamento das Ações.

Não menos importante, o Acordo também prevê a possibilidade de terceiros

comporem o Fundo de Perpetuidade da APACC, sendo de responsabilidade da

Fundação SOS Mata Atlântica regularizar juridicamente a iniciativa destes terceiros.

Em suma, o vínculo jurídico entre o ICMBio e a Fundação SOS Mata Atlântica

resume-se à permissão da referida fundação para atuar conjuntamente com o

ICMBio no desenvolvimento da APACC.

20. CONSIDERAÇÕES FINAISDo modelo desenhado pelo ICMBio para gestão e desenvolvimento da APACC,

definiu-se o interesse em celebrar parceria com entidades do terceiro setor, mais

especificamente OSCs, para estruturar o Sistema Único de Bilheteria, que será

composto por uma Bilheteria Física em cada município e uma Bilheteria On-line.

Preliminarmente, mais uma vez, quanto à Bilheteria Física, é necessário frisar

a necessidade do ICMBio de identificar e viabilizar, juntos aos municípios, a

utilização de imóveis pelo parceiro privado, não fazendo parte do escopo do

presente estudo esta análise.

Superada essa questão, tendo em vista que o modelo do Sistema Único de

Bilheteria não pressupõe transferência de recursos financeiros para o parceiro

privado, a parceria deve ser instituída por meio de Acordo de Cooperação,

observando-se a Lei nº 13.204/2015.

É o que ocorre, por exemplo, no Projeto Toyota APA Costa dos Corais, subsidiado

pela Fundação Toyota. O projeto, desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica,

foi formalizado junto ao ICMBio por meio de Acordo de Cooperação - sem

transferência de recursos entre as partes, portanto – para estabelecer a ação

conjunta das partes no desenvolvimento de ações na APACC.

No projeto em questão, o ICMBio, além de acompanhar as ações do particular,

também participa mais diretamente da gestão da APACC por meio da emissão de

Autorizações aos interessados em se credenciar no Sistema Único de Bilheteria

para executar as atividades previstas para a APACC.

Por fim, as Municipalidades também estarão envolvidas no desenvolvimento

da APACC, podendo se atribuir de atividades fiscalizatórias e a instituição de

taxa relativa à referidas atividades de polícia, bem como por meio do controle

fiscalizatório das Embarcações realizado via emissão do alvará de funcionamento,

que será um pré-requisito para o credenciamento dos interessados em

desenvolver atividades que envolvam o transporte de passageiros por catamarãs

e lanchas.

Em suma, a modelagem econômico-financeira apresentada evidenciou que

é possível (i) obter um arranjo financeiro para o Projeto de modo a não onerar

significativamente o turista, uma vez que as maiores taxas de visitação sugeridas

não ultrapassam 10,5% do preço das atividades, e, (ii) oferecer um investimento

atrativo à iniciativa privada.

Conforme foi analisado, o orçamento do turista típico é superior a todas as

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atividades oferecidas, a exceção do mergulho de batismo. Dado que o mergulho

de batismo atrai turistas já dispostos a dispender quantias maiores de dinheiro

com esta atividade, pode-se argumentar que a taxa de visitação a ser introduzida

estaria dentro de orçamento do turista típico da região.

Conforme apresentado, caso haja expansão das atividades por meio da inclusão

de atividades potenciais e ou de receitas acessórias, o Poder Concedente pode

optar, basicamente por dois caminhos: (i) manter as taxas de visitação inalteradas

e aumentar as receitas do ICMBio, prefeituras e concessionário, tornando o projeto

ainda mais atrativo ao investidor ou (ii) reduzir as taxas de visitação de modo a

manter a taxa interna de retorno do investidor.

Verifica-se que a demanda destinada a atividades turísticas em Maragogi torna os

negócios financeiramente mais rentáveis do que as mesmas atividades oferecidas

nos outros municípios analisados. Este munícipio se destaca também quanto

ao potencial de expansão por meio das atividades potenciais. Por fim, verifica-

se que para haver expansão por meio das atividades potenciais nos municípios

de Paripueira, São Miguel dos Milagres e Porto das Pedras, dois fatores precisam

ser levados em conta: é necessário pensar em soluções para lidar com a baixa

demanda (em comparação com Maragogi) e otimizar custos para que essa

expansão seja viável.

21. ESCLARECIMENTOS JURÍDICOSNão se limitando à análise jurídica acima para a Estruturação do Projeto,

acrescentamos ao presente “Produto 2: Viabilidade Econômica e Jurídica do

Modelo de Parceria Ambiental Público-Privada para a APA Costa dos Corais” um

apêndice contendo o esclarecimento de algumas questões levantadas pelo

ICMBio.

22. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABETA. (1 de junho de 2017). Caminhada e caminhada de longo curso. Fonte: ABETA: http://abeta.tur.br/pt/atividades/caminhada-e-caminhada-de-longo-curso/

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