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Papel da Fosfolipase A 2 cálcio independente nas vias endocítica e exocítica de Leishmania amazonensis ANNE CRISTINE SILVA FERNANDES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia) do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Microbiologia). Orientador (a): Thaïs Souto-Padrón Rio de Janeiro Julho de 1

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Papel da Fosfolipase A2 cálcio independente nas vias endocítica e exocítica de Leishmania

amazonensis

A N N E C R I S T I N E S I L V A F E R N A N D E S

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia) do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Microbiologia).

Orientador (a): Thaïs Souto-Padrón

Rio de Janeiro Julho de

1

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FICHA CATALOGRÁFICA

2

Fernandes, Anne Cristine Silva

O papel da fosfolipase A2 cálcio independente nas vias endocítica/exocítica de

Leishmania amazonensis/ Anne Cristine Silva Fernandes– Rio de Janeiro, Instituto de

Microbiologia Prof. Paulo de Góes, UFRJ, 2010.

xiv, 66f.

Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - UFRJ/ Instituto de Microbiologia Prof.

Paulo de Góes/ Programa de Pós-graduação em Ciências (Microbiologia), 2010.

Orientadora: Thaïs Souto-Padrón

Referências bibliográficas: f . 57 - 66

1. Leishmania amazonensis 2. Fosfolipase A2 cálcio independente 3. Bromoenol lactona

4. Via endocítica/exocítica 5. Microscopia eletrônica 6. Citometria de fluxo I. Souto-

Padrón, Thaïs. II. UFRJ/ Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, mestrado em

ciências biológicas. Programa de Pós-graduação em Ciências (Microbiologia), 2010. III.

“O papel da fosfolipase A2 cálcio independente nas vias endocítica/exocítica de

Leishmania amazonensis”.

.

Anne Cristine Silva Fernandes

O papel da fosfolipase A2 cálcio independente nas vias endocítica/exocítica de Leishmania amazonensis

Rio de Janeiro, 15 de julho de 2010

(Thais Souto-Padron, sua titulação Institudo de Microbiologia prof Paulo de Góes)

(Antônio, sua titulação Institudo de Microbiologia prof Paulo de Góes)

(Rosiane, sua titulação e Institudo de Biofísica Carlos Chagas Filho)

(Técia, sua titulação e Institudo de Biofísica Carlos Chagas Filho)

(Elvira Maria Saraiva, sua titulação Institudo de Microbiologia prof Paulo de Góes)

3

O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Biologia Celular e Ultraestrutura,

Departamento de Microbiologia Geral, Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes (IMPPG),

Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação do(a)

Profª. Thaïs Souto-Padrón.

4

Num piscar de olhos lá estou eu, na seleção do mestrado e num minuto depois, lá estava eu, “passei!”. Sem pausa, chega agosto e começa a correria, experimento para um lado, disciplinas para o outro, mas arranja um espacinho, pois ainda tem os seminários e o treinamento didático. Não pisca, pois um ano passa e você tem que defender seu projeto. Corre, dá um jeitinho, pois ainda tem os congressos, até porque o mundo também quer ver o seu trabalho, mas atenção, não pare de ler e estudar nem por um segundo, pois em um segundo “n” novas publicações surgem e você não pode ficar para trás, até porque o mestrado é apenas o início. Que início longo, 2 anos. Pode parecer longo na teoria, mas na prática voa e quando você se dá conta já está na hora de escrever a dissertação. Corre, corre, seu tempo está acabando, não se esqueça: chore, se desespere, não durma, entre em pânico, praticamente suma, isso faz parte. Falta um mês, entrega para o revisor, 10 dias, 1 semana, entrega para a banca, a apresentação... espero que já esteja pronta. Noite anterior. Noite ou dia? Alguém dorme? Chega o grande dia, você defende. UFA acabou, mas o que predomina é a realização e o gostinho de quero mais, então começa a torcida para que venha o doutorado.

Anne Cristine Silva Fernandes

5

Esta tese é dedicada primeiramente a Deus,

Por ser minha esperança, meu refúgio e minha fortaleza. Obrigado por estar presente em todos os momentos da minha vida e por me fazer chegar até aqui, sem Ti não sou nada. Te amo!“Entrego a Ele o meu futuro, pois sei que estou seguro nas promessas do meu Deus”.

6

Esta tese é dedicada aos meus pais, Luiz e Emília.

Dedico a vocês todas as vitórias da minha vida, pois devo a vocês tudo o que sou até hoje, que fizeram destes 23 anos, muito mais que uma simples vida, me fazem viver um sonho do qual eu não quero acordar nunca. Amos vocês mais que tudo nessa vida.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Thaïs, por fazer desse meu sonho realidade, por todos os ensinamentos, que só aumentam minha admiração, por esclarecer TODAS as minhas dúvidas, por toda a dedicação mesmo em momentos difícies, nesses últimos meses admiro cada vez mais, sua

garra, coragem e determinação. Obrigada por tudo.

As Cristines da minha vida, Caroline (Ká), Emanuele (Nú) e Gabriele (Bi), obrigada por todo carinho, apoio, paparicação, brincadeiras, confidências, empréstimos de roupa (com certeza o Fundão ficou mais bonito com a ajudinha do armário de vocês). Obrigado por vocês serem as

melhores irmãs do mundo e por estarem sempre comigo. Amo vocês mais que tudo nessa vida, vocês são meus exemplos, quando “crescer” quero ser igual a vocês, sem vocês não teria chegado

até aqui.

Como te agradecer, toda a atenção, compreensão, paciência, força, carinho. Obrigado por nesses dois anos você ter sido mais que um namorado, e muitas vezes ter confiado mais em mim do que eu

mesma. Obrigado por toda digitação, help no inglês, almocinhos diários, obrigada por me aturar chorando, rindo, em pânico, desesperada, feliz, triste, irritada, sempre com toda a calma e com a famosa frase “calma, eu resolvo para você” e sempre deu certo, você sempre resolveu TUDO.

Te amooo muito Caiq!

As duas pessoas mais incríveis que nos fazem hoje ser oito, Fabio e Thiago.Fabitcho, obrigado por todo o design, aulas de photoshop, ajudinhas no inglês e dedinho para

relaxar. Said brother!!! Torto, obrigado pelos toques, com certeza minha voz está menos estridente agora pelos seus comentários “delicados”. Amo vocês.

A melhor família que uma pessoa pode ter, tios, tias, primos, primas e Avós, aqui ou no céu. Vocês são a base da minha vida, meu porto seguro. Amo muuuuito todos vocês

Elas, as de todo o dia, o dia todo. Camila, Moara, Roberta, Cyntia e Gabi. Agradeço a vocês por toda a diversão, besteiras, ajuda teórico pratica, companheirismo, puxão de orelha, ombro amigo.

Mesmo vocês me perguntando até hoje quem me trouxe, eu sei que vocês me amam e com certeza o laboratório não seria a mesma coisa sem mim, mas posso afirmar que sem vocês ao meu lado não

conseguiria ter chegado até aqui.

Luana, Natália, Marcela, Juliana, Elcia, Patrícia, Gabriela, Bizinha, Mizulene, Teka, Bia, Camilas e Clara. Obrigado por vocês me acharem a pessoa mais inteligente do mundo. E obrigado por toda a amizade de muuuito tempo, confidências, conselhos, que me fortaleceram para chegar até aqui.

A turma de farmácia UFRJ 2004/2, obrigado por serem mais que uma turma, serem uma segunda família, amo todos vocês, mas especialmente queria agradecer as farmacêuticas mais lindas desse mundo: Alicia, Letícia, Mariah e Taissa, obrigado por essa amizade que não tem fim. E como não

agradecer ao pessoal papo de pimba major, Stephan, Mariana, Said, Luzia, Kassia, Lidi, Geisa, Bruno. E claro ele, Fernandinho, obrigado por toda a amizade, conselhos e por ter aturado todos

meus surtos. Amo todos vocês.

A minhas companheiras de Recreio X Fundão: Lívia, Ana Clarissa, Bia e Rô, obrigado pelas conversas variadas que transformam 2h de trânsito em pura diversão.

A professora Elvira por toda a ajuda, ensinamento e revisão da dissertação. Muito obrigada.

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Aos professores Norton, Zé Roberto, Rosângela, Ângela, Ulysses, Obrigada por toda a disponibilidade, sugestões e ensinamentos.

A todos meus professores da graduação, que me despertaram esse amor pela UFRJ e por este mundo acadêmico.

Deived, obrigado por aturar minhas ligações semanais e por toda Leishmania cedida. Carol, obrigada por todos os toques com os géis. Alexandre, obrigado pelas dosagens. Fernanda, obrigada

pelos toques de microscopia. Rafael, obrigada pela atividade da 3`nucleotidase.

Venício, obrigado por adoçar meus dias com suas balinhas e por toda a ajuda com as pirâmides e com os probleminhas no MET.

Obrigada a todos que contribuíram nessa fase tão importante da minha vida.

9

RESUMOAnne Cristine Silva Fernandes

PAPEL DA FOSFOLIPASE A2 CÁLCIO INDEPENDENTE NAS VIAS ENDOCÍTICA E EXOCÍTICA DE Leishmania amazonensis

Orientadora: Thaïs Souto-PadrónResumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.

Compartimentos das vias endocítica e exocítica em protozoários da família Trypanosomatidae apresentam características estruturais e funcionais distintos daqueles descritos para os mesmo compartimentos em células de mamíferos. A dinâmica desses compartimentos é de importância fundamental em processos como a secreção, remoção e exposição de moléculas na superfície do parasita, assim como a modulação processo de adesão, de virulência e defesa contra o sistema imune do hospedeiro. Embora a estrutura e a composição de muitos compartimentos das vias endo / exocítica em Leishmania foram elucidadas, pouco se sabe sobre os mecanismos que controlam o reconhecimento e afusão de membranas. Várias proteínas entre elas algumas enzimas, como a fosfolipase A2 (PLA2), estão envolvidos no processo de fusão de membrana de compartimentos no citoplasma em diferentes células. Neste estudo, nós investigamos o efeito de Bromoenol lactona (BEL), um inibidor específico e irreversível da fosfolipase A2 cálcio independentes (iPLA2), na dinâmica e ultra-estrutura dos compartimentos das vias endo/exocítica em Leishmania amazonensis. Os parasitos foram cultivados por 72h em meio de Schneider, incubadas por 1h com 2,5 µM de BEL e analisados por microscopia eletrônica, imunofluorescência, citometria de fluxo (FACS), SDS-PAGE, immunoblotting, e ensaios bioquímicos. BEL promoveu mudanças significativas na estrutura de Golgi com o alargamento e a fragmentação de suas cisterna. BEL também alterou o aspecto e distribuição dos túbulos agregados e vesículas translúcidas na região anterior do corpo perto da bolsa flagelar, a estrutura e a dimensão do TMV e a distribuição intra-extracelular da atividade da fosfatase ácida. BEL inibiu a atividade endocítica de promastigotas. Parasitos tratados, incubados por 2hs na presença de BSA-TRITC, Transferrina-FITC e ConcanavalinaA-FITC e analisadas por citometria de fluxo mostraram cerca de 60 e 75% de inibição da atividade endocítica da fase fluida (BSA) e da endocitose mediada por receptor (transferrina) , respectivamente. Não houve mudança na endocitose de Concanavalina A. BEL também mudou a atividade exocítica dos parasitos. Observamos uma redução de aproximadamente 24% na atividade secretora detectado pela concentração de proteína total pelo método de Bradford. Análise do perfil de polipeptídeos secretado por SDS-PAGE mostrou uma redução de 48% na intensidade das bandas determinada por densitometria após o tratamento com BEL. A secreção de gp63 detectado por immunoblotting, e da fosfatase ácida, detectada por ensaio bioquímico da atividade da enzima, foram reduzidas em 38% e 43%, respectivamente. Os resultados sugerem que iPLA2 está envolvido no controle da fusão de diferentes compartimentos da via endocítica e exocítica em Leishmania.

Palavras-chave: 1. Leishmania amazonensis 2. Fosfolipase A2 cálcio independente 3. Bromoenol lactona 4. Via endocítica/exocítica 5. Microscopia eletrônica 6. Citometria de fluxo.

Rio de Janeiro Julho de 2010

10

ABSTRACT

Anne Cristine Silva FernandesROLE OF CALCIUM INDEPENDENT PHOSPHOLIPASE A2 IN THE PATHWAYS ENDOCYTIC

AND EXOCYTIC OF Leishmania amazonensis

Orientadora: Thaïs Souto-Padrón

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.

Compartments of the endocytic and exocytic pathways in protozoans of the Trypanosomatidae family present structural and functional characteristics distinct from those described for the same compartments in mammalian cells. The dynamics of these compartments is of fundamental importance in processes such as secretion, removal and exposure of molecules on the surface of the parasite thus modulating process like adhesion, virulence, and defense against the host immune system. Although the structure and composition of many compartments of the endo/exocytic pathway in Leishmania have been elucidated, very little is known about mechanisms controlling their recognition and fusion. Several proteins among them some enzymes, such as phospholipase A2 (PLA2), are involved in the process of fusion of membrane bound compartments in the cytoplasm in different cells. In this study, we investigated the effect of Bromoenol lactone (BEL), a specific and irreversible inhibitor of a calcium independent phospholipase A2 (iPLA2), in the dynamics and ultrastructure of the compartments of the endo/exocytic pathways in Leishmania amazonensis. Parasites were grown for 72h in Schneider medium, incubated for 1 h with 2.5 mM of BEL and analyzed by electron microscopy, immunofluorescence, flow cytometry (FACS), SDS-PAGE, immunoblotting, and biochemical assays. BEL promoted significant changes in Golgi structure with enlargement and fragmentation of its cisterna. BEL also changed the aspect and distribution of the clustered tubules and translucent vesicles in the anterior region of the body near the flagellar pocket, the structure and size of MVT and the intra-and extracellular distribution of the acid phosphatase activity. BEL inhibited the endocytic activity of promastigotes. Treated parasites incubated for 2hs in the presence of BSA-TRITC, Transferrin-TRITC and ConcanavalinaA-FITC and analyzed by flow cytometry showed approximately 60 and 75% inhibition of endocytic activity of fluid phase (BSA) and of receptor-mediated endocytosis (transferrin), respectively. There were no change in the endocytosis of Concanavalin A. BEL also changed the exocytic activity of the parasites. We observed a reduction of approximately 24% in secretory activity detected by total protein concentration by the Bradford method. Analysis by SDS-PAGE profiles of secreted polypeptides showed a 48% reduction in the intensity of the bands determined by densitometry after treatment with BEL. The secretion of gp63 detected by immunoblotting, and of acid phosphatase, detected by the biochemical detection of enzyme activity, were reduced by 38% and 43%, respectively. The results suggest that iPLA2 is involved in the control fusion of different compartments of the endocytic and exocytic pathway in Leishmania.

Palavras-chave: 1. Leishmania amazonensis 2. calcium-independent phospolipase A2 3. Bromoenol lactone 4. Endocytic and exocytic pathways 5. Electron microscopy 6. Flow cytometr

Rio de Janeiro Julho de 2010

11

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................1

1.1. Tripanosomatídeos....................................................................................................................1

1.2. Leishmania e Leishmaniose......................................................................................................2

1.3. O papel da via secretória e endocítica na modificação da superfície celular...........................6

1.4. O controle de fusão de vesículas...........................................................................10

1.4.1 As proteínas Rab.........................................................................................................10

1.4.2. As PI3-cinases.............................................................................................................12

1.4.3. As fosfolipases.............................................................................................................13

1. 5 Inibidores da Fosfolipase A2 independente de cálcio (iPLA2)...............................................15

1.6. Tripanosomatídeos – o que sabemos sobre os compartimentos envolvidos em processos

endocíticos/exocíticos e dos mecanismos moleculares que os controlam..................................................16

1.6.1 Distribuição de compartimentos da via endocítica/exocítica em tripanosomatídeos....................17

1.6.1.1 Via endocítica/exocítica em T. brucei...........................................................................18

1.6. 1.2 Via endocítica/exocítica em T. cruzi............................................................................19

1.6. 1.3 Via endocítica/exocítica em Leishmania......................................................................20

1.6. 1.4 O controle da fusão de vesículas em Tripanosomatídeos.............................................22

1.7 Fosfatase ácida: atividade presente nas vias endocítica/exocítica de Leishmania................................23

2. OBJETIVOS................................................................................................................................25

2.1. Objetivo...................................................................................................................................25

2.2. Objetivos específicos..............................................................................................................25

3. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................................26

3.1. Parasitos..................................................................................................................................26

3.2. Materiais.................................................................................................................................26

3.3 Curva de Crescimento na presença de Bromoenol lactona (BEL)..........................................26

3.4. Tratamento com Bromoenol lactona (BEL) ...........................................................................26

3.4.1 Controle com DMSO.............................................................................................................26

3.5. Dosagem de proteína...............................................................................................................27

3.6. Endocitose...............................................................................................................................27

3.7. Ensaio de Viabilidade.............................................................................................................27

3.8. Eletroforese em gel de poliacrilamida sob condições desnaturantes (SDS-PAGE)...............27

12

3.9 Transferência das proteínas para membrana de nitrocelulose...............................................28

3.10. Immunoblotting...................................................................................................................28

3.11. Atividade fosfatase ácida .....................................................................................................29

3.12. Citometria de Fluxo..............................................................................................................29

3.14. Microscopia Eletrônica de Transmissão Convencional.......................................................30

3.15 Citoquimica da atividade da enzima fosfatase ácida.............................................................31

3.16. Análises estatísticas.............................................................................................................30

4. RESULTADOS..................................................................................32

4.1 Ação da BEL sobre o cerscimento de L. amazonensis............................................................33

4.2. Ensaios de Viabilidade...........................................................................................................33

4.3. Análise ultraestrutural...........................................................................................................33

4.4. Interferência da BEL na aquisição de moléculas pelo parasito............................................37

4.5. Efeito da BEL sobre a rota secretora e a secreção protéica.................................................42

5. DISCUSSÃO.........................................................................................50

5. CONCLUSÃO.........................................................................................56

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................57

13

LISTA DE ABREVIATURAS

LPG -lipofosfoglicano

Gp63 - glicoproteina de 63kDa

GPI - glicosilfosfatidilinositol

PPG - proteofosfoglicano

RE -retículo endoplasmático

CG -complexo de Golgi

LDL-lipoproteína de baixa densidade

Aps - proteínas adaptadoras

BF -bolsa flagelar

EI/ ET - endossoma inicial/tardio

TGN - trans-Golgi-Network

Rab -família de pequenas GTPase

SNARE -receptor de SNAPs

SNAPS -proteína solúvel de ligação ao NSF

NSF -proteína de fusão sensível a N-etilmaleimida

NEM -N-etilmaleimida

GTP/ GDP – trifosfato/difosfato de guanidina

ATP - trifosfato de adenosina

EEA1 -autoantígeno 1 de endossomo inicial

PL - fosfolipase

PLA -fosfolipase A

iPLA2-fosfolipase A2 cálcio independente

sPLA2 - fosfolipase A2 secretada

cPLA2 - fosfolipase A2 cácio dependente

VSG -glicoproteína variante de superfície

Tbclh - cadeia pesada de clatrina

MVB -corpos multivesiculares

TMV -tubulo mutivesiculares

BEL -bromoenol lactona

MET - microscopia eletrônica de transmissão

14

1. INTRODUÇÃO

Tripanosomatídeos tem sido modelo de estudos em nosso laboratório durante vários anos

devido a características, tanto estruturais pela presença de organelas típicas, como fisiológica pela

relação com os diferentes hospedeiros. Nesta dissertação em particular utilizamos a Leishmania

como modelo de estudo por motivos que serão mostrados a medida que desenvolvermos o tema.

1.1. Tripanosomatídeos

Os tripanosomatídeos compreendem um grupo de protozoários classificados em uma única

ordem, Kinetoplastida, que abriga duas famílias de protozoários, os Bodonidae e a

Trypanosomatidae, em função da presença de uma estrutura subcelular típica denominada

cinetoplasto, que é um complexo arranjo de fibrilas do DNA mitocondrial, denominado kDNA

(MEYER, 1968; Revisado por DE SOUZA, 2002a). O ciclo biológico dos tripanosomatídeos é

extremamente variado conforme a espécie e, pode depender de mais de um tipo de hospedeiro,

sendo classificado em monoxênicos e heteroxênicos.

Os tripanosomatídeos heteroxênicos compreendem um grande grupo de protozoários, alguns

dos quais causam importantes doenças em diversos mamíferos incluindo os humanos. Dentre os

tripanosomatídeos podemos citar o Trypanosoma brucei, agente causador da doença do sono no

continente Africano, o Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas na América

Central e do Sul e Leishmania spp., representada por diferentes espécies causadoras de 4 diferentes

tipos de Leishmaniose nas regiões tropicais e subtropicais. Todos esses parasitos são transmitidos

por insetos vetores e ao invadir os hospedeiros vertebrados podem completar seu ciclo de vida no

espaço extracelular (parasitos extracelulares; Ex.: sangue - T. brucei) e uma gama de diferentes

tipos de células (parasitos intracelulares obrigatórios; Ex.: T. cruzi e Leishmania).

A presença dos parasitos em diferentes ambientes durante o ciclo de vida acarreta em

mudanças morfológicas e fisiológicas específicas (HOARE & WALLACE, 1996). As variações

morfológicas dão origem às diferentes formas de desenvolvimento. A definição das diferentes

formas do parasito é baseada na forma do corpo celular, na posição do cinetoplasto em relação ao

núcleo e na região do corpo do parasito a partir do qual o flagelo emerge. Além das alterações na

forma, a sobrevivência dos parasitos em diferentes ambientes extra e intracelulares também exige

mudanças moleculares, como por exemplo, a presença de moléculas de superfície específicas para

cada forma em desenvolvimento. Essas mudanças exigem a síntese e direcionamento para a

superfície através de um transporte intracelular de glicoproteinas, glicolipídeos, proteínas

transportadoras, enzimas de superfície e receptores.

15

1.2. Leishmania e Leishmanioses

Os parasitos do gênero Leishmania são protozoários dimórficos, apresentam uma forma

flagelada extracelular, presente no trato digestivo do inseto-vetor, denominada promastigota e uma

forma intracelular, sem flagelo livre, denominada amastigota, encontrada no interior dos

fagolisossomos de macrófagos do hospedeiro vertebrado. Esses parasitos são os agentes causadores

da leishmaniose, uma doença que atinge milhões de pessoas anualmente em todo mundo (CHAPPUIS

et al, 2007). Até o momento foram descritas mais de 20 espécies do gênero Leishmania que se

dividem em espécies do Velho e do Novo Mundo e que apresentam um amplo espectro de

manifestações clínicas que vão de lesões cutâneas superficiais (Leishmaniose cutânea algumas de

cura espontânea), a lesões cutâneas mais profundas que caracterizam a forma mucocutânea

(Leishmaniose mucocutânea ou cutâneo-mucosa), leões cutâneas disseminadas e não ulcerativas

(Leishmaniose cutâneo-difusa) e a forma visceral (Leishmaniose viceral) e fatal da doença

(SILVEIRA et al, 2004; VAN GRIENSVEN et al, 2010). Os agentes etiológicos, sua localização e formas

da doença podem ser observados no quadro abaixo

O ciclo de vida deste parasito (Fig.1) no inseto vetor se inicia quando formas amastigotas

são ingeridas pelo flebotomínio durante o repasto sanguíneo em um hospedeiro vertebrado

Forma da Doença

Espécies

Velho Mundo Novo Mundo

Leishmaniose Cutânea

L. majorL. aethiopicaL. tropicaL. infantun

Complexo mexicanaL. amazonensisL. garnhamiL. mexicanaL. pifanoiComplexo braziliensisL. braziliensisL. colombiensis L. guyanensisL. lainsoniL. panamensisL. peruviana

Leishmaniose Mucocutânea

(somente descrita no Novo Mundo)

L. braziliensisL. peruviana

Leishmaniose Cutâneo Difusa L. aethiopica L. amazonensisL. mexicanaL. pifanoi

Leishmaniose Visceral

L. archibaldiL. donovaniL. infantumL. tropica

L. chagasiL. amazonensis

16

infectado. A etapa seguinte ocorre no interior da matriz peritrófica, formada principalmente por

quitina secretada pelas células do epitélio intestinal, onde se dá a digestão do sangue e a

transformação das formas amastigotas em promastigotas procíclicas. Os promastigotas procíclicos

que possuem o corpo celular alongado e o comprimento do flagelo semelhante ao tamanho do

corpo, se multiplicam ativamente. Após o rompimento da matriz peritrófica, por ação de uma

quitinase secretada pelos parasitos (SCHLEIN et al., 1991), alguns procíclicos se ligam às células

epiteliais do intestino pela inserção de seus flagelos entre as microvilosidades através da interação

do (lipofosfoglicano) LPG presente na superfísie do parasito a moléculas de galectina da célula

hospedeira. Após a completa eliminação dos restos da digestão, os promastigotas migram para a

região anterior do trato digestivo alcançando a probóscide. À medida que esta migração acontece,

as formas promastigotas procíclicas sofrem um processo de diferenciação denominado

metaciclogênese, em que os promastigotas passam de um estágio não-infectante (procíclico), para

um estágio infectante (metacíclico).

Somente formas metacíclicas são inoculadas no hospedeiro vertebrado pelo vetor no

momento da picada. No vertebrado, essas formas se aderem às células do sistema fagocítico

mononuclear, e são fagocitadas. Nos macrófagos, as promastigotas metacíclicas são direcionadas e

permanecem em um ambiente inóspito, o fagolisossoma, onde se diferenciam em formas

amastigotas que sobrevivem e se multiplicam. Com a multiplicação das formas amastigotas as

células hospedeiras se rompem liberando essa forma no meio extracelular que então infectam novas

células, mantendo assim o ciclo no hospedeiro vertebrado.

A diferenciação entre metacíclicos e procíclicos é acompanhada tanto por mudanças

morfológicas, os metacíclicos possuem corpo celular pequeno e delgado e um longo flagelo, como

por mudanças moleculares reguladas, principalmente em moléculas de superfície dos

promastigotas. Uma das mudanças mais significativas descritas até o momento são as alterações no

padrão de glicosilação LPG. Outras diferenças são observadas no perfil de proteínas de superfície,

sendo a mais expressiva aquela relacionada ao aumento na expressão de uma glicoproteína de

63kDa (gp63), a principal protease de superfície dos promastigotas que é ancorada a membrana por

uma âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI). Em algumas espécies como a Leishmania

braziliensis, o aumento de expressão da gp63 está correlacionado ao aumento da virulência

(KWEIDER et al, 1987).

17

Amastigota intracelular

Figura 1: Representação esquemática do ciclo celular, mostrando os hospedeiros invertebrado e vertebrado e as duas formas evolutivas. (1) Formas promastigotas metacíclicas são fagocitadas por células do hospedeiro vertebrado; no interior do fagolisossomo da célula hospedeira se diferenciam em amastigotas; (2) as formas amastigoas se multiplicam intensamente no interior desse vacúolo; (3) após sucessivas divisões a célula hospedeira é rompida e as formas infectivas são liberadas no meio extracelular, podendo infectar novas células (4) ou serem ingeridas pelo inseto vetor (5); (6) no intestino do hospedeiro invertebrado as formas amastigotas se diferenciam em formas promastigotas procíclicas; (7) essas se multiplicam, realizam metaciclogênese e migram em direção a probóscide, as formas infectivas serão inoculadas no próximo repasto sanguíneo (8)as formas metacíclicas se aderem à superfície dos macrófagos e são fagocitadas por essas células reiniciando o ciclo de desenvolvimento do parasito. (adaptado de CHAPPUIS et al.,200

Macrófago

Promastigotas metacíclicas

Promastigotas procíclicas

Fagocitose Lise

Proliferação

Re-invasão

Repasto sanguíneo do inseto vetor

Proliferação no intestino médio

Adesão

Repasto Sanguíneo do inseto vetor

(1)

(5)

(4)

(3)

(2)

(8)

(7)

(6)

Amastigota

18

Fagolisossomo

No caso das Leishmanias, o principal alvo no hospedeiro vertebrado são os macrófagos.

Após a adesão à superfície dos macrófagos, as formas metacíclicas são interiorizadas através da

fagocitose, formando o fagossoma que só irá se fundir ao lisossoma após a transformação de forma

promastigota metacíclicas em amastigotas, uma vez que a primeira não resistiria à ação das enzimas

lisossomais. Este atraso na fusão do fagossomo ao lisossomo se deve à presença de actina na forma

filamentosa que recobre o vacúolo formado e que se desfaz após completa transformação do

parasito em amastigota (RASMUSSOM & DESCOTEAUX, 2004). A modulação da formação do

fagolisossomo em algumas espécies de Leishmania parece ocorrer devido à ação do LPG presente

na superfície do parasito. O LPG é transferido do parasito para a membrana dos macrófagos durante

a fagocitose e induz a ação da F-actina inibindo a maturação do fagossomo. As propriedades

biofísicas do LPG sugerem que ele pode ser intercalado na membrana celular do hospedeiro

(LODGE & DESCOTEAUX, 2005; WINBERG et al., 2009).

Dentre as várias funções que a superfície de parasitos apresenta, usando como exemplo a

Leishmania, estão o reconhecimento e adesão à célula hospedeira seguida da invasão e

sobrevivência no interior das mesmas. Um dos principais grupos de moléculas relacionados às

funções citadas acima estão os carboidratos que constituem o glicocálice ou “coat” celular. Nas

Leishmanias as cadeias de açúcar que constituem o glicocálice estão principalmente associadas a

proteínas transmembrana, ancoradas na membrana através de âncoras de GPI, ou a lipídios

formando os glicolipídios como o LPG, próteofosfoglicano (PPG) e outros (FERGUSON, 1999).

A principal glicoproteína de superfície de Leishmania é a gp63 (glicoproteina de 63kDa)

que é uma metaloprotease dependente de zinco ancorada à membrana através de uma âncora de

GPI. Algumas funções específicas foram identificadas nesta proteína. A gp63 pode clivar proteínas

do sistema complemento inativando-as como, por exemplo, na clivagem de C3b para C3bi

(BRITTINGHAM, et al., 1995). Este procedimento facilita a sobrevivência das formas promastigotas

no meio extracelular além de mediar o reconhecimento dos parasitos por macrófagos de mamíferos

através do receptor CR3 e CR1 (YAO et al.,2003), entretanto estudos com mutantes em gp63

mostraram que a atividade enzima não é necessária para a ligação a CR3, sugereindo que esta

molécula pode estar ligada diretamente na interação com a célula hospedeira. A gp63 foi também

reconhecida como sendo um fator de virulência (CHANG, et al., 1990) estando sua ação relacionada

com a proteção do parasito sobre a ação de enzimas lisossomais e da atividade citotóxica de

macrófagos (ALEXANDER, et al., 1999). Assim, gp63 pode desempenhar um papel crucial no

reconhecimento da Leishmania pelos macrófagos, na resistência a lise pelo sistema complemento e

na sobrevivência de formas amastigotas no interior de macrófagos (CORRADIN, et al., 2002; YAO et

al.,2003 ).

19

Outro importante glicoconjugado de superfície sintetizado pelo parasito é o LPG que

também é ancorado a membrana via âncora de GPI. É o glicoconjugado mais abundante na

superfície dos promastigotas, e tem um papel importante em mediar interações parasito-inseto e

parasito-célula hospedeira além de promover a resistência dos metacíclicos à lise mediada pelo

sistema complemento (PUENTES et al., 1990) e de modular a transdução de sinal em macrófagos

gerando resistência ao ataque oxidativo permitindo que o parasito possa estabelecer uma infecção

com sucesso. Esta cobertura proporciona também proteção da forma promastigota contra a ação de

hidrolases extracelulares (PUENTES et al., 1990). Formas promastigotas e amastigotas do parasito

apresentam ainda outra molécula secretada, os PPG que podem facilitar a transmissão de parasitos

aos flebotomínios durante a picada (NAHIRE et al., 2004). Os PPGs secretados podem degradar

componentes do sistema complemento em lesões em mamíferos, através da inativação de

precursores da cascata (PETERS et al., 1997) e também modulam o número e o tamanho dos vacúolos

parasitóforos assim como a produção de citocinas por macrófagos (PIANI et al., 1999).

Durante o processo de diferenciação de promastigotas não infectivos em promastigotas

metacíclicas, e também entre promastigota e amastigota e durante a interação parasito-célula

hospedeira as proteínas de superfície, LPG, gp63, PPG e moléculas secretadas podem variar em sua

composição e/ou quantidades expressas o que implica em alta síntese, trânsito intracelular mediado

pela fusão de compartimentos da via exocítica e finalmente a exposição/secreção dessas moléculas

pelo mecanismo de exocitose (MORGAN et al, 2002b). Alterações no processo de reconhecimento

entre compartimentos intracelulares do parasito podem interferir na exposição de moléculas

inviabilizando a sobrevivência destes nos seus hospedeiros.

A existência de diferentes rotas endocíticas e exocíticas de moléculas com diferentes

caracteristicas estruturais torna o modelo Leishmania particulamente atrativo para o estudo do

controle de suas vias endocítica e exocítica.

1.3. O papel da via secretória e endocítica na modificação da superfície celular

A breve explanação sobre o ciclo do parasito deixa claro o papel da sua superfície no

processo de reconhecimento da/pela célula hospedeira assim como na sobrevivência em ambientes

agressivos em ambos os hospedeiros. Modificações na superfície celular pressupõem mecanismos

de aporte e remoção de componentes através de mecanismos como a endocitose, exocitose e

“shedding”.

As células eucarióticas desenvolveram um complexo sistema de compartimentos

citoplasmáticos que permite a captação, processamento e secreção de macromoléculas. A rota

biossintética-secretora possibilita que a célula sintetize moléculas, que a elas sejam adicionados os

açúcares, que sejam ligadas a âncoras lipídicas, que sejam estocadas e finalmente expostas ao meio

20

extracelular ou secretadas por um processo denominado exocitose. Ao mesmo tempo as moléculas

endocitadas seguem trajetos distintos através de compartimentos citoplasmáticos que podem ser

compartilhados pelas vias exocíticas.

Em células eucarióticas o clássico caminho secretório envolve o reconhecimento de uma

sequencia sinal em proteínas recém sintetizadas para serem exportadas, proteínas exocitadas são

sintetizadas no retículo endoplasmático (RE) e se movem ao longo do caminho secretório através de

transporte vesicular. Em eucariotos superiores estas vesículas são revestidas por uma camada de

proteínas do complexo II (COPII) que promovem o direcionamento de RE ao Compartimento

Intermediário entre o Retículo e o Golgi (ERGIC) (LEE et al., 2004). COPII é composto por pequenas

GTPase (Sar1), pelos complexos de proteínas interior (Sec23-Sec24) e exterior (Sec13-Sec31). A

exportação de proteínas transmembranares do RE baseia-se no reconhecimento pelo domínio

citosólico Sec24 do revestimento da vesícula COPII desencadeando sinais para o transporte. Em

contrapartida, proteínas ancoradas a membrana por âncoras de GPI não conseguem vincular

diretamente a Sec24 e devem utilizar receptores de carga ou mecanismos alternativos para a

exportação do RE. Pouco se sabe sobre o mecanismo subjacente à exportação de proteínas

ancorada a GPI do RE em eucariontes superiores. Porém resultados recentes sugerem que a

exportação de proteínas ancorada às GPI a partir do RE depende de proteínas transmembrana

denominadas Emp24p (complexos protéicos que permitem o ciclo entre RE, ERGIC e Golgi)

(JENNE et al., 2002) e da participação de “lipid rafts” presentes na membrana do RE (BONNON et al.,

2010). As moléculas recém sintetizadas transportadas do RE ao complexo de Golgi (G) sofrem

alterações pós-transducionais sendo encaminhados posteriormente ao seu destino final (SCHARZ &

DOBBERSTEIN, 1996; LEE et al., 2004).

Outro tipo de secreção é baseada na fusão de corpos multivesiculares à membrana

plasmática com a liberação de exossomos (KELLER et al., 2006). A liberação de exossomos já foi

descrita em diferentes tipos celulares e em diferentes situações como, por exemplo, células

infectadas com bactérias ou vírus (BHATNAGAR et al., 2007; NGUYEN et al., 2003), células tumorais

(GRANER et al., 2009), em Caenorhabditis elegans (LIEGEOIS et al., 2006) e Cryptococcus neoformans

(RODRIGUES et al., 2008).

Outra forma de secreção considerada atualmente é a remoção de componentes da superfície

pelo mecanismo de shedding, que pode ser definido como a liberação de constituintes da superfície

celular na forma solúvel ou associados a vesículas sem afetar a viabilidade celular (TARABOLETTI et

al., 2002). A liberação de constituintes solúveis depende da atividade proteolítica que cliva

ectodomínios das proteínas transmembrana enquanto que as vesículas são liberadas a partir da

membrana plasmática (DELLA SBARBA & RODOVIDA 2002).

21

Já foram descritos 4 tipos de processos endocíticos baseados no tamanho do material a ser

endocitado e nas espécies moleculares envolvidas na formação do compartimento responsável pela

endocitose. São eles: a fagocitose, a macropinocitose, a pinocitose e a endocitose mediada por

receptor (Fig.2). Abordaremos apenas os dois últimos processos, pois, são os únicos descritos em

tripanosomatídeos.

O termo pinocitose também conhecido como endocitose de fase fluida ou endocitose não

adsortiva é atribuído à aquisição de fluidos e moléculas solúveis através da formação de pequenas

vesículas que brotam da membrana em direção a região mais central da célula. A pinocitose é um

processo constitutivo que permite não só a obtenção de nutrientes do meio extracelular como

representa um dos mecanismos responsáveis pela manutenção do volume celular. Vesículas de

pinocitose se fundem a compartimentos da via endocítica (vide a seguir) onde descarregam seu

conteúdo.

Outro processo que também pemite a aquisição de moléculas só que desta vez de maneira

específica, é a endocitose mediada por receptor. Este processo, que proporciona maior eficiência na

aquisição de moléculas, está normalmente associado à captação de moléculas essenciais e é

conservado nos mais diferentes organismos eucarióticos. A endocitose mediada por receptor requer

especificidade de interação, envolvendo reconhecimento receptor-ligante. Na região onde ocorrem

estas interações iniciam-se diversos processos de associação de proteínas à face citoplasmática da

membrana plasmática, que levam à formação de um coat visível ao microscópio eletrônico de

transmissão (ROTH & PORTER, 1964). As regiões especializadas da membrana plasmática onde se

inicia o processo de endocitose mediada por receptor são denominadas “coated pits”. No lado

citoplasmático a proteína majoritária das “coated pits” é a clatrina que possui 190kDa, e que

promove não só a agregação de determinados tipos de receptores como os receptores ligantes de

LDL (low density lipoprotein), manose-6-fosfato, transferrina, como também promove a curvatura

da membrana plasmática levando à formação de vesículas. A essa região também se associam

outras proteínas como as proteínas adaptadoras (APs) e proteínas transmembrana (ROBINSON, 1987).

Uma vez estando a clatrina ligada ao complexo adaptador na membrana alvo, entram em

ação pequenas GTPases denominadas dinaminas. Sua atividade causa o estrangulamento da “coated

pits” e a formação de vesículas revestidas ou “coated vesicles”. No citoplasma, as “coated vesicles”

perdem rapidamente o seu revestimento de clatrina, expondo proteínas necessárias à fusão da

vesícula com a membrana dos endosomas (ROBINSON, 1994). Uma vez formadas, as vesículas

perdem rapidamente seu revestimento e se fundem ao Endossoma Inicial (EI) (YOUNG, BARRAL &

ULRICH HARTL, 2003). O endossomo inicial é o sítio de distribuição das moléculas internalizadas.

Estas podem ser direcionadas de volta à superfície diretamente do EI ou através de segundo

compartimento denominado Endossoma de Reciclagem (ER). Além das vias de reciclagem as

22

moléculas presentes no EI podem ser direcionadas para uma via de degradação quando são

direcionadas para o Endossoma Tardio (ET). Além das vesículas vindas do EI, o ET recebe

vesículas da rede Trans-Golgi (TGN) que carreiam diferentes tipos de proteínas, dentre elas as

enzimas lisossomais (Fig. 2).

Figura 2: Representação esquemática do percurso endocítico em células de mamíferos. À esquerda estão representados os vários tipos de endocitose: clatrina-dependente, caveolina-dependente e um tipo de endocitose clatrina e caveolina independente que utiliza dinamina para promover a formação de vesículas. A fusão com o endossoma permite a reciclagem de algumas moléculas para a membrana plasmática e as moléculas restantes são dirigidas à degradação sendo transportadas para os endossomos tardios. A degradação é concluída nos lisossomas. O lado direito do esquema mostra interiorização de grandes partículas por fagocitose ou grandes volumes de fluidos por macropinocitose, pela emissão de projecções de membrana sustentada por filamentos de actina. Os vacúolos assim formados se aderem ao percurso endocitico pelas sucessivas fusões com endossomos e lisossomos. GEEC-

23

Compartimento endossomal inicial enriquecido em proteínas ancoradas por GPI (DE SOUZA, SANT`ANNA. e CUNHA E SILVA, 2009).

A estação final da via endocítica é o lisossoma. Nele encontram-se todas as moléculas

destinadas à degradação. Os lisossomas possuem características comuns que são a grande variedade

de enzimas hidrolíticas, alta permeabilidade, um glicocálice com um alto ter de ácido neuramínico e

o pH em torno de 5,0 que é mantido por ATPases vácuolares (ESKELINEN, TANAKA & SAFTIG, 2003).

A transferência de carga entre o endossomo tardio e o lisossomo, é controversa. Bright e

colaboraores. (2005), mostraram que os dois compartimentos temporariamente se fundem, formando

uma organela híbrida, e posterior separação com re-estruturação do lisossomo.

Pouco tempo depois do descobrimento do revestimento de clatrina, Palade e Bruns (1968)

descreveram a presença de invaginações abundantemente distribuídas no endotélio relacionadas

com a passagem de material de uma extremidade a outra da célula através da formação de

caveossomos com fusão com os endossomas iniciais (PARTON E SIMONS, 2007). Rothberg e

colaboradores (1992) demonstraram que estas invaginações, denominadas cavéolas, possuíam um

revestimento granular, no lado citoplasmático da membrana, que se dispunha em forma de espiral.

Estes mesmos autores revelaram a presença de uma proteína de 28kDa, a caveolina, como sendo o

principal componente protéico deste revestimento. Existem evidências da presença de receptores

como o receptor para insulina (GOLDENBERG, SMITH & JARETT, 1987) e para toxina colérica e

tetânica que se concentram nas cavéolas, sugerindo um papel seletivo destas regiões. Demonstrou-

se que drogas que ligam colesterol alteram funcionalmente e morfologicamente as cavéolas,

sugerindo que estas organelas constituem um sítio de concentração e interiorização destes lipídeos

(PARTON E SIMONS, 2007). A endocitose mediada por cavéola também é conhecida como potocitose,

que é a aquisição de fluidos do meio extracelular através da região rica em caveolina.

1.4 - O controle de fusão de vesículas

A fusão de membranas é um evento chave no funcionamento de um organismo vivo. O

transporte de macromoléculas ao longo das vias endocítica e exocítica requer uma série de

eventos de fusão de membranas, que são coordenados por múltiplos fatores presentes tanto no

citosol quanto na membrana dos compartimentos. O processo de fusão envolve duas etapas, a

agregação de vesículas e a fusão propriamente dita. Já são conhecidas algumas proteínas que

participam deste processo algumas delas inclusive já descritas em tripanosomatídeos conforme

será comentado a seguir.

1.4.1. As proteínas Rab

24

As proteínas Rab constituem a maior família de pequenas GTPases monoméricas. Estas

proteínas estão envolvidas na regulação do tráfego de membranas, na fusão e no brotamento de

vesículas, assim como na reciclagem de membrana ao longo das vias endocítica e exocítica em

diferentes tipos celulares e na interação das vesículas com o citoesqueleto celular (ZERIAL &

MCBRIDE, 2001). Proteínas Rab atuam juntamente com moléculas efetoras e com componentes da

maquinaria SNARE (descrito mais adiante), para a iniciação do processo de fusão de membranas

dos compartimentos intracelulares. O princípio regulatório das proteínas Rab, assim como para

outras GTPases, está na habilidade em funcionar como um interruptor molecular, que oscila entre

sua conformação ligada ao GTP (forma ativa) ou ao GDP (forma inativa). Quando ligada ao GTP

esta proteína é endereçada para a membrana do compartimento onde atuará, já quando está ligada

ao GDP esta proteína encontra-se livre no citosol.

Cada proteína Rab apresenta uma distribuição intracelular específica, sendo assim estas

proteínas podem servir como importantes marcadores sub-celulares (ZERIAL & MCBRIDE, 2001).

Dentre elas, a Rab5 e a Rab4 encontram-se localizadas em domínios distintos de endossomas

iniciais. A Rab5 está intimamente envolvida no processo de fusão homotípica de endossomas

iniciais, enquanto que a Rab4 está envolvida na reciclagem de receptores para a membrana

plasmática. A Rab7 e a Rab9 estão localizadas nos endossomas tardios. Suas funções são as de

regular a fusão heterotípica de endossomas iniciais e tardios, e de vesículas provenientes do ET para

o CG, respectivamente. A Rab11 está localizada nos endossomas de reciclagem, atuando no

processo de reciclagem de receptores para a membrana plasmática (RODMAN & WANDINGER-NESS,

2000; TAKAI, SASAKI & MATOZAKI, 2001).

Além das proteínas Rab, um outro grupo de moléculas garante a especificidade aos eventos

de fusão de membranas intracelulares. A proteína de fusão sensível a N-etilmaleimida (NSF) que é

um fator importante para a realização de vários eventos de fusão intracelular. Esta molécula foi

originalmente identificada como um fator que iniciava a fusão de membrana do Golgi quando

tratadas com N-etilmaleimida (NEM) (BLOCK et al., 1988). NSF faz parte de uma família de

proteínas ligadoras de ATP, delineadas por uma ou mais regiões conservadas que correspondem aos

sítios de ligação para o ATP. Sendo assim, a hidrólise do ATP possui um papel muito importante na

fusão de vesícula com sua membrana alvo. NSF requer SNAPs (proteínas solúveis de ligação ao

NSF) para ligar-se às membranas (COLOMBO, 1996). NSF medeia a liberação de α-SNAP das

membranas dos endossomas numa etapa anterior a fusão dos compartimentos intracelulares.

A especificidade dos eventos de fusão intracelular se dá, pelo menos em parte, pelas

moléculas SNAREs (receptores de SNAPs), que possuem distribuição intracelular distinta. As

moléculas SNAREs mais relevantes são: Sinaptobrevina (v-SNARE), sintaxina 1 e SNAP-25 (t-

SNARE). Uma v-SNARE representa uma SNARE predominantemente associada com a vesícula 25

doadora, enquanto a t-SENARE, representa uma SNARE predominantemente associada com a

membrana alvo (CLAGUE, 1998). A interação entre as duas SNAREs forma um complexo ao qual o

complexo SNAP/NSF se liga (Fig. 3). Em seguida, a hidrólise do ATP mediada pelo NSF gera um

rearranjo conformacional das proteínas SNARES levando a fusão da bicamada lipídica. A

sinalização de Ca2+ também participa da regulação do processo de fusão de membranas

(COLOMBO, 1996; CLAGUE, 1998).

Figura 3: Proteínas envolvidas na fusão de membranas de vesículas através de NSF. SNAP recruta NSF para a t-SNARE, que então estimula a hidrólise de ATP por NSF deixando a t-SNARE em um estado alterado de conformação que permite a interação com um v- SNARE, resultando na deformação da membrana, provocando a fusão dos compartimentos. EEA1 (Early Endossomal Autoantigen 1). Adaptado de CLAGUE (1998).

1.4.2. As PI3-cinases

A fosfatidilinositol-3-cinase (PI3K) constitui uma família de enzimas modificadoras de

lipídios que estão envolvidas na transdução de sinais, na organização do citoesqueleto e no

transporte de membrana (RAMEH & CANTLEY, 1999). PI3K são ativadas por uma grande variedade

de estímulos gerando produtos lipídicos específicos que promovem a interação e/ou ativação de

efetores da via de sinalização (TOKER & CANTLEY, 1997). Três classes de PI3K já foram descritas:

classe I (A e B), classe II e classe III. Elas diferem de acordo com a molécula preferencialmente

utilizada como substrato (fosfatidilinositol, fosfatidilinositol-4-fosfato e fosfatidilinositol-4,5-26

bisfosfato, respectivamente), assim como na sua regulação. PI3Ks são importantes componentes no

tráfego de receptores da via endocítica de mamíferos e no transporte de vesículas do CG para os

vacúolos de leveduras (RAMEH & CANTLEY, 1999). A ancoragem e fusão de EI, que são regulados

pela Rab5, requerem a atividade da PI3K, esta enzima regula o recrutamento para membrana do

EEA1 (Autoantígeno 1 do EI), uma molécula efetora da Rab5 e um componente central da

maquinaria de ancoragem e fusão de endossomas iniciais (Fig.3). Além da EEA1, a PI3K também

atua como uma molécula efetora da Rab5 (CHRISTOFORIDIS et al, 1999). A Rab5 estimula a PI3K,

que faz com que o fosfatidilinositol-3-fosfato forme um domínio localizado na membrana do

endossoma que irá atuar como um sítio de ligação para os componentes da maquinaria de fusão de

membrana. Isto também contribui para a ligação de proteínas que irão atuar no processo de

motilidade dos endossomas ao longo dos microtúbulos.

1.4.3. As fosfolipases

Fosfolipases são enzimas hidrolíticas que clivam fosfolipídios. A posição de clivagem da

cadeia do glicerol identifica a família de fosfolipases. As principais fosfolipases são as fosfolipases

A (PLA), C (PLC) e D (PLD) (Fig.4).

A fosfolipase A2 (PLA2) é uma super-família de enzimas constituída por muitos membros.

Estas enzimas clivam fosfolipídios de membrana (sn-2 ésteres de glicerofosfolipídios) gerando dois

produtos, lisofosfolipídios e ácidos graxos livres. Existem diferentes tipos de PLA2 que são

distinguidas pelo seu peso molecular, dependência de íons cálcio, mecanismo hidrolítico, e no caso

das espécies de baixa massa molecular, pelo número das pontes dissulfeto e modo de secreção. As

fosfolipases A2 podem ser subdivididas em dois principais tipos: as PLA2 secretadas (sPLA2) e as

PLA2 intracelulares. As PLA2 secretadas são enzimas de baixa massa molecular (14 kDa) que

27

Figura 4: Representação esquemática do local de hidrólise das diversas fosfolipases (PL) em fosfolipídios de membrana. Adaptado de Brown e colaboradores (2003).

requerem concentrações milimolares de Ca2+ para exercer sua atividade enzimática. São sintetizadas

por estímulos, encontradas no interior de grânulos citoplasmáticos e então secretadas

extracelularmente. O grupo das sPLA2 parece estar relacionado ao desenvolvimento de alguns

processos patológicos, iniciando a produção de numerosos metabólitos que irão atuar no processo

inflamatório (YEDGAR, LICHTENBERG & SCHNITZER, 2000). Por outro lado, muitos estudos têm

sugerido o papel em potencial das sPLA2 (de diferentes grupos) em vários eventos biológicos não

relacionados com a produção de mediadores lipídicos. Estes eventos incluem o metabolismo de

lipoproteínas envolvido na aterosclerose, na hidrólise de surfactantes no pulmão e também na

imunidade inata contra infecções bacterianas (KINI, 2005).

As PLA2 intracelulares incluem dois grupos de enzimas: as PLA2s citosólicas (cPLA2) que

requerem concentrações micromolares de Ca2+ e as PLA2 independentes de cálcio (iPLA2). As

cPLA2s estão livres no citosol, porém podem ser translocadas para as membranas dos

compartimentos intracelulares dependendo do estímulo sofrido pelas células (MURAKAMI, 2002). As

iPLA2 estão localizadas tanto no citoplasma como em frações de membrana (AKIBA & SATO, 2004).

As iPLA2s são enzimas de 85-88 kDa que existem em forma de agregados e que estão classificadas

em grupos ( VIA-1, VIA-2, VIB, VIC, VID VIE e VIF). O grupo VIA é o grupo das PLA2s

independentes de cálcio mais bem caracterizado. Elas possuem atividade de lisofosfolipase, são

capazes de hidrolisar ambas as cadeias pequena e longa de fosfolipídios e exibir atividade de PAF

(fator ativador de plaquetas), acetilhidrolase, além de exercer sua atividade de fosfolipase A2. Sua

principal função celular é mediar o remodelamento dos fosfolipídios (WINSTEAD, BALSINDE &

DENNIS, 2000). Existem evidências de que o processo de fusão esta diretamente ligado a mudanças

na bicamada lipídica, sugerindo que as propriedades fisiológica dos lipídeos desempenhem um

papel importante no processo de fusão (ROUX et al., 2005). As modificações lipídicas pela enzima

PLA2 e especialmente a iPLA2, estão envolvidas em vários eventos de tráfego intracelular de

membrana, como a formação de tubulos de membrana a partir do CG e endossomos, e eventos de

fusão de membrana nos caminhos endocíticos e exocíticos (DE FIGUEIREDO et al., 2000). As iPLA2

geram ácido graxos livres e lisofosfolipídeos que alteram a curvatura da membrana e as

propriedades intrínsecas de multicomponentes membranares além de modificarem a tensão nas

regiões de “lipid raft”, sendo assim considerada uma indutora de fissão e fusão de vesículas. As

iPLA2 participam também no processo de apoptose. Sua ativação pela caspase-3, leva à produção de

moléculas de lisofosfatidilcolina que são secretadas pelas células apoptóticas gerando sinais

quimioatrativos para que células fagocíticas profissionais as reconheçam e as englobem (LAUBER et

aL, 2003; MURAKAMI & KUDO, 2004). Outra função descrita para as iPLA2s é a de restaurar o estoque

de Ca+2 intracelular, permitindo o influxo destes íons em células com baixo estoque dos mesmos

(MURAKAMI & KUDO, 2004).

28

A participação da enzima iPLA2 nos processos de tráfego de membranas esta relacionada à

produção de moléculas sinalizadoras que poderão estimular indiretamente ou inibir uma via de

transdução de sinais. Através da produção de lisofosfolipídios e ácido araquidônico (duas moléculas

que afetam a estabilidade da membrana), a iPLA2 pode também ter um efeito direto na estrutura e

função da membrana, influenciando mais intimamente os eventos de fusão entre compartimentos

intracelulares, como no caso dos endossomos (BROWN, CHAMBERS & DOODY, 2003). Estudos

utilizando uma série de inibidores da PLA2, mostraram que a fagocitose mediada por anticorpos

assim como a adesão e o espalhamento de macrófagos são bloqueados por esses inibidores. Este

efeito foi revertido quando ácido aracdônico foi adicionado ao meio, o mesmo não acontecendo

quando da adição de lisofosfolipídeos. Desta forma foi sugerido que o ácido aracdônico é

necessário juntamente com outros fatores para a fusão de endossomos (MAYORGA et al., 1993).

1.5 Inibidores da Fosfolipase A2 independente de cálcio (iPLA2)

Nos últimos anos tem havido grande interesse no estudo do metabolismo de fosolipídeos de

células intactas. Tal interesse decorre sobre tudo da descoberta que fosfolipídeos de membrana

celular podem não só interferir na estrutura de membranas biológicas, mas também participar na

formação de segundos mensageiros fundamentais na sinalização celular.

A abordagem mais simples para avaliar a função de uma enzima é através da inibição da sua

atividade utilizando inibidores específicos. Existem diferentes compostos que agem como potentes

inibidores de iPLA2, e estes podem ser protótipos para o desenvolvimento de drogas mais seletivas.

Inibidores da iPLA2, como a bromoenol lactona (BEL) e anestésicos locais como a dibucaína,

quinacrina e procaína alteram processos como a fagocitose mediada por anticorpos assim como a

adesão e o espalhamento de macrófagos (LENNARTZ et al., 1997), a endocitose e exocitose em

fibroblastos, células musculares e mastócitos (MICHALIK et al., 2003; HAGIWARA & OZAWA, 1990;

FENSOME-GREEN et al., 2007) e a fusão de compartimentos da via endocítica e do Golgi (MAYORGA

et al.,1993). A bromoenol lactona (BEL) é um membro de uma família de compostos conhecida

como lactonas haloenol (Fig.5) que foram primeiramente descritos como substratos suicidas de

quimiotripsina e serina proteases (FENSOME-GREEN et al., 2007). Posteriormente, foi relatado que esta

droga é um potente inibidor específico de iPLA2, que apresenta uma especificidade 1000 vezes

maior para a inibição de iPLA2 em comparação com cPLA2 (FENSOME-GREEN et al., 2007). Devido a

esta seletividade, BEL, tem sido utilizada para identificar o papel de iPLA2 em células. Foi descrita

também a ação da BEL sobre uma outra enzima envolvida no metabolismo de fosfolipídeos, uma

fosfohidrolase citosólica dependente de magnésio, a PAP1 (FUENTES et al., 2003).

Estudos com inibidores de PLA2 mostraram que estes alteram morfologicamente e

funcionalmente estruturas envolvidas no processo endocítico. Foi mostrado que esses inibidores

29

causam uma separação em largos fragmentos do complexo de Golgi, sugerindo que a arquitetura

deste requer a atividade de PLA2 (DE FIGUEIREDO et al., 1998). Posteriormente, De Figueiredo e

colaboradores (2001), mostraram que estes antagonistas inibiam a reciclagem de receptores e

moléculas endocitadas para a membrana plasmática, se acumulando em regiões da via endocítica de

acordo com a concentração do inibidor utilizada e também impediam a formação de túbulos em

compartimentos endossomais. Estes resultados sugerem que a PLA2 desempenha um papel geral na

regulação ou medeia diretamente os eventos de trafego de membrana em células de mamíferos.

Em Tripanosomatídeos pouco se sabe sobre a ação de inibidores da iPLA2 na vias

endocítica/exocítica. Souto-Padrón e colaboradores (2006) mostraram que a dibucaína, anestésico

local que também age como inibidor específico de iPLA2, foi capaz de reduzir a taxa de endocitose

de albumina (BSA), a velocidade de sua degradação e também a quantidade de cisteína proteinase

encontrada nos reservossomos sugerindo uma interferência da dibucaína na fusão de diferentes

compartimentos da via endocítica da forma epimastigota do T. cruzi.

Figura 5.: Estrutura química da bromoenol lactona (BEL), inibidor seletivo e irreversível de iPLA2.

1.6. Tripanosomatídeos – o que sabemos sobre os compartimentos envolvidos em processos

endocíticos/exocíticos e dos mecanismos moleculares que os controlam.

Em tripanosomatídeos os processos endocítico e exocítico têm sido mais bem estudados em

T. brucei, T. cruzi e Leishmania. A atividade endocítica não foi ainda identificada em

tripanosomatídeos monoxênicos. O modelo de endocitose em tripanosomatídeos desperta grande

interesse, pois como já mostrado, apresenta diferenças morfológicas e funcionais nítidas em relação

aos modelos já bem estabelecidos de células de mamíferos além de apresentarem diferenças entre as

espécies analisadas (MCCONVILLE et al., 2002).

Leishmania, T. brucei e T. cruzi tem pelo menos uma forma de desenvolvimento com alta

atividade endocítica e exocítica que são as formas promastigota, tripomastigota e epimastigota,

respectivamente. O processo endocítico nestes protozoários está relacionado à aquisição de

nutrientes além da evasão da resposta imune e virulência. A bolsa flagelar se caracteriza por ser a

30

região do corpo desses protozoários desprovida de microtúbulos subpeliculares (Fig.6) cuja

presença e arranjo molecular com proteínas fibrosas, formando um arcabouço no lado

citoplasmático da membrana do corpo celular, impedem a fusão e brotamento de vesículas. O

processo endocítico e exocítico através da bolsa flagelar foi identificado em Leishmania, T. brucei

e T. cruzi. Em T. cruzi, no entanto, e principalmente na forma epimastigota, a endocitose se dá

preferencialmente através de uma estrutura denominada citóstomo que leva o material endocitado

através de uma invaginação tubular, a citofaringe, até regiões mais centrais do corpo do parasito

onde vesículas que brotam da citofaringe se fundem a outros compartimentos da via endocítica

(PORTO-CARREIRO et al., 2000)

1.6.1. Distribuição de compartimentos da via endocítica/exocítica em tripanosomatídeos

Embora em alguns aspectos do tráfego endocítico sejam semelhantes nos tripanosomatídeos

citados, existem diferenças nítidas na organização estrutural dos compartimentos das suas via

endo/exocítica.

31

GD

F

E

A B C

Figura 6: Representação esquemática das organelas que compõem as vias endocítica e exocítica em tripanosomatídeos. A) compartimentos da via endocítica de formas tripomastigotas sanguínea de T. brucei; B) em formas promastigotas de Leishmania; e C) em formas epimastigotas de T. cruzi; D) microscopia eletrônica de transmissão enfatizando a formação de vesículas a partir da membrana flagelar em formas tripomastigotas do T. brucei. As cabeças de seta indicam a formação de uma coated-pit; E) microscopia eletrônica de transmissão da região anterior de promastigotas de L. mexicana; F) vesículas contendo coat em brotamento a partir da mmbrana da bolsa flagelar de Leishmania; G) ensaio de pulso e caça tendo como marcador o complexo BSA-ouro coloidal mostrando a sua concentração nos reservossomos das formas epimastigotas do T. cruzi (seta).Ac.: acidocalcissoma ; L: lisossoma;m: tubulo multivesicular; FL: flagelo; FP: bolsa flagelar; bz: zona de brotamento; sc: revestimento de superfície e CCP: revestimento marcado com anticorpo anti-clatrina. Figura adaptada de MCCONVILLE et al, 2002, PORTO-CARREIRO et al., 2000; DE SOUZA, SANT`ANNA. & CUNHA E SILVA, 2009.

1.6.1.1. Via endocítica/exocítica em T. brucei

Em T. brucei, o processo endocítico é o mais bem conhecido e é o que apresenta maior

semelhança com os processos endocíticos descrito em células de mamíferos. Nas formas

tripomastigotas do T. brucei, a bolsa flagelar e os compartimentos das vias endocítica e exocítica,

incluindo os lisossomos e o CG, estão localizados na região posterior do corpo do parasito. Estudos

em T. brucei têm mostrado que o processo pode envolver a presença de receptores de superfície

(ex.: transferrina e LDL), a fusão das vesículas endocíticas, EI (endossoma inicial), ET (endossoma

tardio) e lisossomos.

Os compartimentos celulares que fazem parte da via endocítica de formas tripomastigotas do

T. brucei pode ser visualizadas na figura 6. Macromoléculas presentes no meio extracelular são

endocitadas através da região da bolsa flagelar de onde brotam vesículas que se dirigem à região

mais central do corpo do parasito. No caso do T. brucei, estas vesículas se fundem a uma rede

interconectada de túbulos e cisternas que compõem o EI. Vesículas que brotam deste

compartimento poderão se fundir ao endossoma de reciclagem ou então ao ET. A partir deste

último compartimento duas rotas de tráfego ainda podem ser seguidas pelas moléculas endocitadas:

1) a rota de reciclagem, onde vesículas carreadoras que brotam do ET transportarão o material

endocitado até o ER; ou 2) a rota de degradação, com a subsequente fusão do ET ao lisossoma, que

é o compartimento final da via endocítica deste parasito (OVERATH & ENGSTLER, 2004).

Como já foi visto, tripanosomatídeos podem possuir receptores para auxiliar o processo de

endocitose. O mecanismo de endocitose mediado por receptor em T. brucei foi primeiramente

descrito por Coppens e colaboradores (1987), neste estudo a transferrina foi utilizada como traçador,

mostrando que a captura desta era rápida, saturável, sensível à temperatura e ao tratamento com

tripsina e limitada a região da bolsa flagelar. O receptor de transferrina de T. brucei é um

heterodímero codificado pela associação de dois genes associados ao sítio de expressão (ESAG6 e

ESAG7) (STEVERDING et al., 1994). Este não apresenta homologia com o receptor de transferrina 32

homodimérico de células de mamíferos. Normalmente os genes ESAGs são co-transcritos

juntamente com o gene da glicoproteína variante de superfície (VSG), como um grande transcrito

policistrônico. Como existem aproximadamente 20 sítios de expressão do gene da VSG (cada um

com pelo menos uma cópia do ESAG6 e ESAG7), o T. brucei pode, teoricamente, fazer 20

receptores de transferrina diferentes, porém somente um sítio de expressão está ativo em um

determinado momento (CHAVES et al., 1999). No T. brucei após ser capturado, o complexo

transferrina-receptor é transportado através de um sistema vesículo-tubular que está presente entre a

região da bolsa flagelar e o núcleo até chegar a um compartimento que é positivo para TbRab5A,

uma GTPase homóloga a Rab5 de mamífero (PAL et al. 2002) onde a transferrina libera a molécula de

ferro contida em sua estrutura, sendo uma parte das moléculas de transferrina degradada e outra

parte reciclada juntamente com seu receptor para a membrana plasmática como sugeriu Steverding

(2000).

Outra molécula que serve como marcador de processos de endocitose é o LDL que é uma

importante fonte de esteróis para os hemoflagelados. Proteínas específicas ligadoras de LDL

parecem ser expressas em Leishmania. T. cruzi e T. brucei. A caracterização da afinidade do LDL

em T. brucei revelou sítios de ligação à lipoproteínas de alta e baixa afinidade, que são

provavelmente duas formas de um único receptor (COPPENS et al., 1988; PAL et al., 2002).

Através de numerosas análises ultraestruturais e bioquímicas têm-se proposto a existência

de endocitose mediada por clatrina em tripanosomatídeos. Em T. brucei, foi caracterizada a cadeia

pesada da molécula de clatrina (TbCLH) que está distribuída em várias estruturas, dentre elas, os

túbulos coletores associados à bolsa flagelar e também à rede trans-Golgi e em vesículas localizadas

na região posterior do corpo celular do parasita (MORGAN et al. 2002b). Evidências ultraestruturais

demonstraram VSGs sendo endocitadas por vesículas contendo revestimento de clatrina

(GRUNFELDER et al, 2003).

Recentemente, foi demonstrado que a depleção de actina interfere na via endocítica, porém

não afeta o transporte de proteínas secretadas na membrana plasmática, sugerindo que, pelo menos

em T. brucei, que os caminhos endocíticos e secretórios são independentes (NOLAN & GARCIA-

SALCEDO, 2008).

As taxas de endocitose e de exocitose são elevadas na forma sanguínea de T. brucei e são

dependentes do fluxo de vesículas do Golgi para os endossomos de reciclagem e para a superfície

ou além da célula pela região da bolsa flagelar.

Uma importante molécula de superfície em T. brucei é a VSG, sendo esta um bom exemplo

para descrevermos a rota biossintética-secretora em T. brucei. A biossíntese de VSG é iniciada no

RE, onde esta se liga com a âncora de GPI, sofre N-glicosilação e posteriormente é transportada

para o CG (BANGS et al., 1986; VIDUGIRIENE & MENON, 1994). A exocitose de VSG para a superfície

33

da célula se dá através da bolsa flagelar (GRUNFELDER et al., 2003). O transporte de moléculas do RE

a superfície celular é rápido e ocorre as custas da atividade de GTPases (GEIGER et al., 2010).

1.6.1.2. Via endocítica/exocítica em T. cruzi

Estudos em T.cruzi mostraram que este protozoário apresenta algumas peculiaridades no seu

percurso endocítico que o distingue de outras células.

A distribuição de organelas é bastante diferente da apresentada por T. brucei e Leishmania

(Fig.6). Em T. cruzi a forma epimastigotas é aquela que apresenta uma atividade endocítica mais

evidente. Além da existência de "duas portas de entrada", bolsa flagelar e citóstoma, que estão

situados na região anterior da célula, as moléculas endocitadas seguem através de vesículas e

compartimentos tubulares (endossomas iniciais) que se dispõem periféricamente, para a região

posterior do corpo do parasito de onde retornam para a região central para encontrar os

reservossomos (PORTO-CARREIRO et al., 2000). Os reservossomos são organelas típicas da forma

epimastigota do T. cruzi, classificados inicialmente como endossomas tardios, que apresentam

enzimas lisossomais no seu interior, pH em torno de 6,0, próton ATPases do tipo P e que acumulam

macromoléculas ingeridas pelo parasito através do processo endocítico (SOARES & DE SOUZA, 1988;

SOARES et al., 1992; VIEIRA et al., 2005). Mais recentemente, os reservossomas da forma epimastigota

assim como compartimentos semelhantes encontrados nas fomas amastigota e tripomastigota foram

classificados como compartimentos semelhantes a lisossomas (SANT`ANNA et al., 2008).

Alguns dados experimentais sugerem a existência de endocitose mediada por receptor em T.

cruzi, no entanto o receptor de transferrina assim como o receptor para LDL ainda não foram

isolados. A presença de proteínas ligadoras de transferrina foi descrita em amastigotas (LIMA &

VILLATA, 1990) em formas epimastigotas (PORTO-CARREIRO, 2004). Em epimastigotas, estudos de

imunocitoquímica localizaram as proteínas ligadoras de transferrina na citofaringe, no citóstoma e

na bolsa flagelar (PORTO-CARREIRO, 2004).

Vesículas revestidas de clatrina foram mostradas pela primeira vez brotando da região do CG

(SANT'ANNA et al., 2004). Posteriores análises comprovaram a presença de clatrina e adaptina em T.

cruzi (CORRÊA et al., 2007),além disso, a expressão de clathrina em T. cruzi foi demonstrada por

immunoblotting utilizando anticorpos policlonais contra a cadeia pesada de clatrina bovina.

TcClathrin foi localizada na região do complexo Golgi e da bolsa flagelar nestes parasitos (CORRÊA

et al., 2008).

Um estudo em T. cruzi utilizando compostos que estabilizam ou despolimerizam o

citoesqueleto (microtúbulos e microfilamentos) mostrou que em formas epimastigotas a utilização

dessas drogas acarretou em um decréscimo de 50% na quantidade de transferrina endocitada

34

quando da utilização de drogas que afetam microtúbulos, enquanto que para as drogas que afetam

microfilamentos a inibição da atividade endocítica foi ainda maior (PORTO-CARREIRO, 2004),

mostrando que de fato a participação do citoesqueleto é essencial no processo endocítico no T. cruzi.

Em T. cruzi, assim como descrito em T. brucei, a bolsa flagelar é o sítio de exocitose de moléculas

secretadas ou expostas na membrana plasmática (DE SOUZA, 1995).

1.6.1.3. Via endocítica/exocítica em Leishmania

Em Leishmania, o processo endocítico é bem estabelecido e apresenta estruturas distintas

daquela encontradas em eucariotos superiores. Assim como em T. brucei, a endocitose em

Leishmania esta relacionada com a aquisição de nutrientes e evasão do sistema imune, sendo um

mecanismo de sobrevivência durante a infecção pelo parasito (DE SOUZA et al., 2009). O caminho

endocítico em Leishmania apresenta compartimentos próprios como o túbulo multivesicular

(TMV), que abrange todo o corpo do parasito e que apresenta um caráter ácido semelhante ao

lisossoma de células de mamíferos (GHEDIN et al., 2001). O TVM é considerado a organela final da

via endocítica em Leishmania. (WEISE et al., 2000) (Fig.6).

Na forma promastigota as vesículas que brotam na região da membrana da bolsa flagelar se

fundem ao endossoma inicial, de onde irão brotar vesículas que transportarão o material endocitado

para MVB. Destes compartimentos brotam vesículas contendo o material destinado a degradação

que irão se fundir ao túbulo multivesicular, que corresponde ao sistema endo-lisossomal deste

parasito. Nas formas amastigotas de Leishmania o lisossoma forma um grande vacúolo eletron-

denso denominado megassomo (MCCONVILLE et al., 2002) que foi descrito pela primeira vez no

complexo Leishmania mexicana e mais recentemente em L. chagasi (ALBERIO et al., 2004) ( Fig.6)

O processo de endocitose mediada por receptor também foi identificado em Leishmania.

Voyiatzaky e Soteriadou (1992) purificaram e caracterizaram bioquimicamente o receptor para

transferrina das formas promastigotas de L.major e L. infantum como uma proteína monomérica

integral de membrana de 70kDa. Além do receptor para transferrina já foram também

caracterizados a presença de proteínas específicas ligadoras de LDL em amastigotas e

promastigotas de L. donovani (BASTIN et al., 1996) e uma proteína transmembrana de 46 KDa, como

o receptor para hemoglobina localizado na bolsa flagelar de formas promastigotas de L. donovani

(SINGH et al., 2003)

Em Leishmania, estudos de microscopia eletrônica de células congeladas por alta pressão e

submetidas a métodos de substituição a frio demonstraram a presença de “coated pits” e vesículas

revestidas que brotam da bolsa flagelar e da rede trans-Golgi (WEISE et al., 2000), sugerindo a

existência de um processo endocítico clatrina dependente. A análise genômica confirmou a

presença da cadeia pesada de clatrina (LmCHC) no genoma de Leishmania(DENNY et al., 2005).

35

Como em células de mamíferos também foi identificada em Leishmania uma banda de

43kDa referente a actina no extrato de L. amazonensis e L. donovani, uma vez que a

despolimerização desta poderia interferir no percursso endocítico (MORTARA, 1989,

SAHASRABUDDHE, BAJPAI & GUPTA, 2004) o citoesqueleto pode estar participando no processo de

endocitose, porém ainda não foi mostrado o envolvimento direto do filamento de actina auxiliando

no processo endocítico.

Especializados sistemas de secreção são usados por patógenos para exportar fatores de

virulência para a célula hospedeira, como mecanismos de defesa e como meio de interação entre

parasito-célula hospedeira (SILVERMAN et al., 2010). Leishmania secreta para o meio extracelular

enzimas envolvidas na interação parasita-célula hospedeira, na virulência e na defesa do sistema

imune como, fosfatase ácida (GOTTLIEB & DWYER, 1982), a maior protease de superfície (gp63)

(MCGWIRE et al.,2002) e uma metalopeptidase homóloga a gp63, que é localizada

predominantemente em estruturas vesiculares do caminho exocítico (CUERVO et al., 2008).

Em Leishmania foi mostrado a presença de proteínas secretadas por microvesículas do tipo

exossomos em L. donovani, L. mexicana, L. major e que estas vesículas poderiam auxiliar na

comunicação com macrófagos e neutrófilos (SILVERMAN et al., 2009, GEIGER et al., 2010).

1.6.1.4.Controle de fusão de vesículas em tripanosomatídeos

A endocitose e exocitose em alguns protozoários unicelulares também são reguladas pela

fusão de vesículas mediada por proteínas da família Rab. Homólogos da Rab4, Rab5, Rab7 e Rab11

já foram identificados em T. brucei, L. donovani e T. cruzi. Em T. brucei, TbRab5Ap e TbRab5Bp,

que são homólogas à Rab5 de células de mamífero e foram detectadas em compartimentos túbulo-

vesiculares, localizados entre a bolsa flagelar e o núcleo, tais compartimentos são similares aos

endossomos iniciais. TbRab4p é uma outra proteína descrita, que também pode ser detectada em

compartimentos pertencentes a via endocítica deste parasito (FIELD et al., 1998). A proteína

homóloga a Rab2- TbRab2p, foi localizada na região do retículo endoplasmático (FIELD et al., 1999),

enquanto que a proteína homóloga a Rab11 – TbRab11, esta presente nas vesículas endocíticas que

contêm materiais a serem reciclados (JEFFRIES, MORGAN & FIELD, 2001).

Embora ainda existam poucas informações sobre as proteínas Rab no T.cruzi, sabe-se que

este protozoário também expressa genes para estas proteínas (MENDONÇA et al., 1993). A proteína

Rab7, que em células de mamífero está associada com os endossomos tardios, possui um homólogo

que está presente nas três formas evolutivas deste parasito, porém sua localização intracelular ainda

é incerta (LEAL et al., 2000). A proteína homóloga a Rab11 foi também descrita nas formas

epimastigotas, localizando-se na região posterior do corpo celular em compartimentos muito

semelhantes aos reservossomos (MENDONÇA et al., 2000).

36

Foi determinado o envolvimento de proteína Rab no caminho endocítico de L. donovani,

mostrando que várias funcionalidades da fusão de membrana deste parasito são semelhantes a

eventos de fusão descritos em células de mamíferos. Um homólogo de Rab5 de mamífero foi

identificado em Leishmania (LmRab5). LmRab5 está localizada na região anterior do parasito,

responsavel pela fusão homotípica nos endossomas iniciais (SINGH et al., 2003) e foi mostrado que

Leishmania requer Rab7 para mediar a degradação de hemoglobina endocitada para auxiliar o

crescimento (PATEL et al., 2008)

Ainda não foi relatada a ação de PI3k auxiliando a fusão de vesículas em tripanosomatídeos,

porém não se pode descartar essa possibilidade, uma vez que já foi mostrada a presença de

homólogos da PI3K de levedura em T. cruzi e a superexpressão desta resulta em alterações

morfológicas e funcionais relacionadas com o tráfico vesicular (SCHOIJET et al., 2008). Desta forma,

PI3K poderia tambem agir na fusão de vesículas em tripanosomatídeos.

Já foram descritos em tripanosomatídeos diferentes tipos de fosfolipases ligadas ao

remodelamento da membrana celular e ao processo de invasão (BERTELLO et al., 2000; BRONIA et al.,

1999) porém seu papel vinculado diretamente ao tráfego intracelular ainda não foi elucidado em

protozoários.

1.7. Fosfatase ácida: atividade presente nas vias endocítica/exocítica de Leishmania.

Leishmania ssp., assim como outros patógenos possuem a capacidade de hidrolisar fosfatos

orgânicos e esta hidrolise é catalizada por fosfomonoesterases ácidas, as fosfatases ácidas, que

podem estar presente em organelas intracelulares, na superfície celular associadas a membrana ou

no meio extracelular na sua forma secretada (GOTTLIEB & DWYER, 1981).

Em 1981, Gottlied e Dwyer mostraram a presença da atividade da fosfatase ácida distribuida

pela superfície externa de promastigotas de L. donovani. Esta atividade também foi detectada em

vesículas intracelulares que são oriundas do CG e fundem-se com compartimentos endossomais e

então são transferidas ao longo da via endocítica até os lisossomas. A existência de altas

concentrações de fosfatase ácida em Leishmania foi e confirmada por Glew e colaboradores (1982),

que também mostraram que promastigotas contém baixo nível de outras hidrolases ácidas. A

fosfatase ácida associada à superfície foi posteriormente dividida em 3 grupos distintos de acordo

com o peso molecular, resistência a tartarato de sódio e especificidade de substrato (REMALEY et al.,

1985). Uma atividade extracelular foi detectada em meio de crescimento de promastigota de

Leishmania (GOTTLIEB & DWYER, 1981) sendo esta descrita com a principal proteína secretada por

algumas espécies (BATES & DWYER, 1987; BATES e tal., 1989, 1990). Esta enzima é sintetizada no RE,

37

D

exportada ao Golgi onde é glicosilada e provalvemente fosforilada estando pronta para ser

direcionada para região da bolsa flagelar para inserção na superfície celular ou secreção para o meio

extracelular, ou direcionadas ao lisossomo através de vias intracelulares (BATES et al,,1989; MOULAY

& ROBERT-GERO, 1995). Logo, a fosfatase ácida é uma enzima que está presente em compartimentos

na via endocítica e exocítica, sendo um bom parêmetro para avaliar modificações nestes sistemas.

Em Leishmania, a função das fosfatases parece estar relacionada com a sobrevivência do

parasito no interior da célula hospedeira (BARBIERI et al., 1990). Esta enzima inibe a produção de

ânions superóxidos por neutrófilos e macrófagos sendo a fosfatase ácida um importante fator de

virulência deste parasito (ELLIS et al., 1998; BATES & DWYER, 1987; KATAKURA & KOBAYASHI, 1988).

No presente estudo procuramos analisar o papel de iPLA2 na fusão de membranas de

compartimentos da via endo/exocítica de promastigotas de L. amazonensis. As diferenças

estruturais entre os compartimentos dessa via em Leishmania em relação a outros

Tripanosomatídeos e em relação a células de mamíferos assim como a possibilidade de mapear o

tráfego de diferentes moléculas como: glicolipídios, glicoproteínas, glicoproteínas ancoradas por

âncoras lipídicas, proteínas integrais de membrana e proteínas secretadas torna o modelo

Leishmania particularmente atraente. Tendo em vista que a fusão de compartimentos é primordial

para o transporte intracelular de moléculas e que estas rotas são essenciais para a sobrevivência e

virulência de parasitos, isto torna a via endo/exocítica em Tripanosomatídeos um potencial alvo

quimioterápico.

38

2- OBJETIVO

Analisar o papel da iPLA2 nos processos endocítico e exocítico em promastigota de

Leishmania amazonensis.

Objetivos específicos

- Analisar as mudanças estruturais provocadas pelo inibidor específico de iPLA2 sobre as diferentes

organelas das via endocíticas /exocíticas de Leishmania através da visualização por microscópio

eletrônico de transmissão (MET) e técnicas associadas.

- Analisar o efeito da BEL sobre o processo endocítico utilizando marcadores de endocitose de fase

fluida e endocitose mediada por receptor passivos de análise e quantificação por citometria de fluxo

e microscopia de fluorescência e MET.

- Analisar a interferência da BEL sobre a exocitose através da dosagem protéica e SDS-PAGE.

- Analisar o efeito da BEL na localização e secreção de moléculas do parasito como a gp63

(protease mais abundante, ancorada por âncora de GPI presente na membrana e no sobrenadante) e

a fosfatase ácida (apresenta pelo menos duas formas: uma ligada a membrana e outra secretada)

através da análise de atividade enzimática, técnicas citoquímicas, citometria de fluxo,

imunofluorescência e immunoblotting.

39

3- MATERIÁIS E MÉTODOS

3.1-Parasito

O modelo celular utilizado foi a forma promastigota de Leishmania amazonensis, cepa

WHOM/BR/75/Josefa (isolada de um caso de leishmaniose cutânea humana, cedida pelo DR.

Cuba-Cuba C.A, Universidade de Brasília), que foi mantida em meio Schneider (Schneider Insert

Medium,Sigma) suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB-Gibco BRL, Gaithersburg MD,

USA) a 26°C por 72horas.

3.2 – Materiais

Bromoenol lactona (BEL), diluída em DMSO formando a solução estoque a 10mM foi

armazenada a -20° e obtida da Sigma-Aldrich. Anticorpo policlonal anti-gp63 foi gentilmente

cedido pela Prof. Marta Branquinha (IMPPG-UFRJ) e o anticorpo monoclonal anti-α-tubulina foi

cedido pela professora Narcisa Cunha e Silva (IBCCF-UFRJ). Anticorpos e traçadores da via

endocítica fluorescentes foram adquiridos da Molecular Probes.

3.3-Curva de Crescimento na presença de Bromoenol lactona (BEL)

A curva de crescimento foi realizada em meio Scheneider com 10% de SFB. As culturas

foram incubadas a 26°C e o número de parasitos avaliados por contagem em câmara de Neubauer

com intervalo de 24 horas por 5 dias consecutivos. A curva de crescimento foi iniciada com 1 x 106

parasitos por ml de meio na ausência (controle) ou na presença de diferentes concentrações de

Bromoenol lactona (BEL).

3.4-Tratamento com Bromoenol lactona (BEL)

A partir da curva de crescimento, em todos os experimentos em que a BEL foi utilizada

ocorreu tratamento com a BEL na concentração final de 2,5µM por 1h a 26°C em meio RPMI sem

soro. A seguir, dependendo do experimento, a droga foi ou não mantida nos meios de incubação

posteriores.40

3.4.1-Controle com DMSO

Em todos os experimentos em que a BEL foi utilizada ocorreu tratamento somente na

presença de DMSO na concentração final de 2,5µM por 1h a 26°C em meio RPMI sem soro. Como

controle , uma vez que este é utilizado na solubilização do inibidor.

3.5-Dosagem de proteína

Formas promastigotas controle e tratadas com BEL por 1 hora, foram centrifugadas a 1500

× g por 8 minutos e lavadas uma vez em salina balanceada de Hank`s (HBSS) sem soro. Foi

avaliada a dosagem de proteínas totais referente a 1×108 parasitos para padronizar a quantidade de

proteínas por ml. Em seguida as células foram incubadas em HBSS sem soro em temperatura

ambiente por 3h. Após a incubação as células foram centrifugadas a 13.000 × g por 4 minutos o

sedimento descartado e as proteínas presentes no sobrenadante foram dosadas pelo método de

Bradford (1976), utilizando solução de albumina (BSA) a 1mg/ml para construção da curva-padrão.

A leitura foi realizada, após 10 min de contato dos sistemas reacionais com o corante, em leitor de

ELISA a 595 nm.

3.6-Endocitose

Parasitos controle e previamente tratados com BEL foram obtidos por centrifugação a 1.500

×g por 8 minutos e lavados 3 vez em PBS, pH 7,2, depois foram incubadas por 15mim em em PBS,

pH 7,2 a 26°C . Os promastigotas foram então submetidos a uma cinética de endocitose na presença

de marcadores fluorescentes: BSA-TRITC (tetramethyl Rhodamina Isothiocyanate) (30µg/ml),

Transferrina-AlexaFluor (25µg/ml) e ConcanavalinaA-AlexaFluor (20µg/ml). A incubação foi de 1

e 2h a 26°C, em meio RPMI sem soro na presença ou na ausência (controle) de BEL. Ao final, as

amostras foram lavadas 1× em PBS, pH 7,2, fixadas para citometria de fluxo ou microscopia de

fluorescência.

3.7-Ensaio de Viabilidade

Parasitos controle e tratados com BEL, que foram expostos a diferentes condições de

incubação, de uma hora e meia e três horas, em HBSS ou RPMI sem soro a 26°C tiveram sua

viabilidade analisada pela incorporação de Iodeto de Propídio (IP). A 5×106 parasitos foram

adicionados IP para uma concentração final de 10µg/ml deixando agir por 15 minutos a 26°C. A

marcação foi analisada por citometria de fluxo ou por microscopia de fluorescência.

41

3.8-Eletroforese em gel de poliacrilamida sob condições desnaturantes (SDS-PAGE)

Analisamos o perfil protéico total do parasito e das proteínas presentes no sobrenadante dos

parasitos controle e tratados com BEL. Após 1 hora de tratamento os parasitos foram lavados 1x em

HBSS sem soro. Os parasitos (1×108 parasitos/ml) controle e previamente tratados com BEL foram

então incubados por 3h em meio HBSS a 26ºC. Foram avaliadas as proteínas liberadas no

sobrenadante após 3 horas de incubação em meio HBSS sem soro em temperatura ambiente para

padronizar a quantidade de proteínas por ml. Após os diferentes tratamentos as células foram

lavadas 2× em PBS, pH 7,2 por 10 min, enquanto, que as proteínas presentes no sobrenadante

foram precipitadas com 100 % de etanol -20ºC (1:10, respectivamente). Após incubação por 10 min

a -20ºC, as proteínas foram centrifugadas 10.000 × g por 5 minutos a 4ºC. Em seguida, as proteínas

precipitadas foram lavadas com 90% de etanol a -20ºC e centrifugadas a 10.000 × g por 5 min 40C.

As proteínas precipitadas e os parasitos suspensos em PBS foram diluídos (1:1), respectivamente,

em tampão de amostra 4× (20% de glicerol, 20% de SDS, 0,02% de azul de bromo fenol e 0, 120M

Tris-HCl pH 6,8) contendo 5% de β-mercaptoetanol no volume final, e foram fervidos durante 5

min a 100°C e então centrifugados a 4.800 × g por 1 min. O perfil protéico foi determinado através

de um SDS-PAGE 12% (LAEMMLI, 1970), utilizando um padrão de peso molecular PageRulerTM

Plus Prestained Protein Ladder (Fermentas). A separação das proteínas ocorreu sob tampão de

corrida 1× (0,192 M de glicina, 0,1% de SDS, Tris-HCl 0,025 M, pH 8,8), em um sistema vertical

Mini Protean II (BioRad Laboratories, Richmond, Calif). A revelação das bandas do gel foi

realizada por coloração com Coomassie Blue R-250 (LAEMMLI, 1970) e por coloração de prata, pelo

método rápido SilverQuestTM. Fast Staining Protocolo, Invitrogen.

3.9-Transferência das proteínas para membrana de nitrocelulose -

Através do método de Towbim e colaboradores (1979), os polipeptídios presentes nos

extratos dos parasitos e do sobrenadante separados por SDS-PAGE foram transferidos

eletroforeticamente para membrana de nitrocelulose (Amersham Hybond™ ECL™ GE Healthcare

Bio-Science Corp., USA) em tampão de transferência (0,025 M de Tris, pH 8,3, 0,192 M de

Glicina e 20% de metanol), sob amperagem constante de 0,35 A0/cm por 90 mim e banho de gelo,

utilizando um sistema vertical Mini Trans-Blot Cell (BioRad Laboratories, Richmond, Calif). A

transferência das proteínas foi confirmada pela coloração da membrana com a solução vermelho de

Ponceau por 2 min.

3.10-Immunoblotting

42

A membrana de nitrocelulose contendo as proteínas transferidas foi incubada em solução de

bloqueio [10 mM de Tris-HCl, pH 7,5, 150 mM de NaCl (TBS); 5% leite em pó desnatado] por 1

hora á temperatura ambiente, com troca da solução bloqueio após 30 min, e sob constante agitação

em todas as etapas. Em seguida, a membrana de nitrocelulose foi lavada 3 × em TBS contendo

0,05% de Tween 20 (TBS-Tween) por 10 min e 1× com TBS por 5 min a temperatura ambiente. A

membrana de nitrocelulose foi então incubada com anticorpos em TBS contendo 3% BSA, 0,05%

NaN3 por 18h a 4°C. Após esse período, a membrana de nitrocelulose foi lavada 3 × com TBS-

Tween 20 por 10 min e 1 × em TBS por 5 min, a temperatura ambiente. Em seguida, a membrana

de nitrocelulose foi incubada com o anticorpo secundário acoplado a fosfatase alcalina (1:1000) em

TBS contendo 3% de BSA por 1 hora a temperatura ambiente. Após três ciclos de lavagem da

membrana de nitrocelulose com TBS-Tween 20 por 10 min e 1 × com TBS por 5 min, as proteínas

foram reveladas com uma solução de 0,03% NBT/ 0,02% BCIP (Fermentas Inc., Glen Burnie, MD,

U.S.A.) em tampão de fosfatase alcalina (100mM Tris-HCl pH 9,5, 150 mM NaCl, 5 mM MgCl2 e

0,05% Tween 20), a temperatura ambiente. Após o aparecimento das bandas proteicas sob a

membrana de nitrocelulose, a reação de revelação foi interrompida através de lavagens sucessivas

da mesma com água destilada.

3.11-Atividade fosfatase ácida

A atividade da fosfatase ácida foi medida pela concentração de p-nitrofenol no sobrenadante

e no extrato celular (p-NP, produto de hidrólise do p-nitrofenilfosfato (p-NPP). Células intactas e

tratadas com 2,5µM de BEL (1x108 parasitos/ml) foram incubadas por 1hora a temperatura

ambiente em 0,5ml de mistura de reação contendo, tampão HEPES-tris, pH5,4 e 25mM de p-NPP

como substrato, na presença ou ausência do inibidor específico, tartarato de sódio na concentração

de 10 mM. A reação foi iniciada pela adição de célula ou sobrenadante e interrompida pela adição

de 1,0ml de NaOH 1N. Controles, onde as células foram adicionadas após a interrupção da reação,

foram uitlizados como branco. Para determinar a concentração de p-NP liberado, os tubos foram

centrifugados a 1500 xg por 20 min e os sobrenadantes foram medidos espectofotometricamnete a

425nm. Nós também testamos a atividade da 3`nucleotidase utilizando com substrato o 3`AMP.

Neste caso, as atividades hidrolíticas foram analisadas espectofotometricamente a 425nm pela

medida de fosfato inorgânico liberado apartir deste substrato. Os valores apresentados representam

média de três experimentos independentes.

3.12-Citometria de Fluxo

Como marcadores utilizamos: (a) iodeto de propídeo (PI), se liga em ácidos nucleicos,

somente em células lisadas (GROOTEN et al., 1993); (b) anticorpo primário associados a anticorpo

43

secundário específico marcadores de antígenos de superfície; (C) marcadores do processo

endocítico, BSA-TRITC, ConA-AlexaFluor e transferrina-AlexaFluor.

Formas promastigotas foram analisadas seguindo o seguinte protocolo: os parasitos (1x106

céls/ml) foram incubados com os composto em meio RPMI sem soro a 26ºC por 1 e 2 horas, após

incubação (b) e (c) foram fixadas em formaldeído a 2% em PBS, pH 7,2 durante 10 minutos a 4ºC.

As amostras foram analisadas em citômetro de fluxo Becton Dickinson FACS Calibur,

100.000 eventos foram analisados. As fluorescências de Rodamina, AlexaFluor, PI e anticorpos

fluorescentes, foram captadas pelos seus respectivos filtros (FL-1: 530±30 nm, FL-1 e FL-2:585±26

e FL-3: acima de 670 nm para os dois últimos). Os dados foram analisados com o auxílio do

programa “Windows Multiple Document Interface Flow Citometry Application” (WinMDI).

3.13-Imunofluorescência

Células controle e tratadas com BEL foram colhidas por centrifugação a 1.500 x g por 8

minutos, lavadas em PBS. Após essa etapa os parasitos foram fixados com 3,7% de formalina em

PBS, pH 7,2 por 10 minutos a 4°C. Após o período de fixação, as amostras foram lavadas em PBS,

e aderidas em lamínulas previamente cobertas com poli-L-lisina (0,1 % em PBS) por 20 minutos.

As lamínulas contendo os parasitos foram lavadas com PBS, pH 7,2 e incubadas em solução de

cloreto de amônio a 50mM em PBS, pH 7,2, durante 30 minutos a temperatura ambiente. Em

seguida foi adicionado sobre as amostras uma solução de bloqueio contendo 0,2% de gelatina, 0,1%

de azida em PBS, pH 7,2 (PGN) por 30 minutos. Após essa etapa os parasitas foram incubados com

o anticorpo primário diluído em PGN (1:100) em temperatura ambiente por 1h. Após esta

incubação as lamínulas foram lavadas 3x em PBS, pH 7,2 e incubadas na presença do anticorpo

secundário conjugado ao marcador fluorescente AlexaFluor diluído (1:400) em PGN por 1h a

temperatura ambiente. Após a marcação as amostras foram lavadas extensivamente em PBS e

montadas sobre lâminas de vidro contendo solução de 0,2N de n-propil-galato diluído em glicerol

90% em PBS. As amostras foram analisadas ao microscópio de fluorescência ZEISS Axioplan.

3.14-Microscopia Eletrônica de Transmissão Convencional

Parasitos controle e cultivados por 1h na presença de BEL, foram fixados em 2,5% de

glutaraldeído em tampão cacodilato de sódio 0,1M, pH 7,2, 5 mM de cloreto de cálcio e 3,7% de

sacarose durante 1 hora a temperatura ambiente. Após fixação essas amostras foram lavadas 2 vezes

em PBS e pós-fixadas durante uma hora no escuro em solução de tetróxido de ósmio a 1% em

cacodilato de sódio 0,1M, pH 7,2, 0,8% de ferrocianeto de potássio e 5mM de cloreto de cálcio. As

amostras foram desidratadas em séries crescentes de acetona e incluídas em resina PolyBed. A

seguir a resina foi polimerizada durante 72 h a 60°C. Secções ultra-finas (60 nm) foram obtidas em

44

um ultramicrótomo Leica e contrastadas com acetato de uranila 5% durante 30 min em água e em

citrato de chumbo durante 5 mim (REYNOLDS, 1963). As secções foram observadas em microscópio

eletrônico de transmissão FEI Morgagni F-268.

3.15-Citoquimica da atividade da enzima fosfatase ácida

Células controle e tratadas de acordo com os protocolos dos experimentos foram

centrifugadas a 1.500 x g por 8 minutos e lavadas duas vezes em PBS e fixados em 1% de

glutaradeído em tampão cacodilato 0,1M, pH 7,2, e 5% de sacarose durante 10 mim a 4°C. Em

seguida as células foram lavadas duas vezes em tampão cacodilato 0,1M, pH 7,2, contendo 5% de

sacarose e posteriormente em tampão tris-maleato de sódio, pH 5,0, contendo 5% de sacarose. As

células foram então incubadas em meio contendo β-glicerofosfato de sódio 2mM, 5% de sacarose e

CeCl3 2mM em tampão Tris-maleato de sódio, pH 5,0, por 1h a 37oC com agitação na presença e

na ausência de 10mM de tartarato de sódio, inibidor da fosfatase ácida. Após o período de

incubação as células foram lavadas em solução de 5% de sacarose em tampão Tris-maleato de

sódio, pH 5,0, e em solução de 5% de sacarose em tampão cacodilato 0,1M, pH 7,2. As células

foram re-fixadas em solução 3% de glutaraldeido, e 3,7% de sacarose em tampão cacodilato 0.1 M,

durante 30 mim em temperatura ambiente. Após esta etapa as amostras foram lavadas em solução

de sacarose 3,7 % em tampão cacodilato 0,1 M, e pós-fixadas durante uma hora, em solução de

tetróxido de ósmio a 1% em cacodilato de sódio 0,1M, pH 7,2. A seguir foi feita desidratação em

série crescente de acetona, inclusão e obtenção de secções ultrafinas como descrito no item 3.13.

3.16- Análises estatísticas

Os resultados foram analisados estatisticamente pelo teste t de student usando o programa

Bio Estat 2.0. Os valores de P menores ou iguais a 0,05 foram considerados significativos.

45

4- RESULTADOS

4.1- Ação da BEL sobre o crescimento de L. amazonensis

Para avaliar o efeito da BEL no crescimento das formas promastigotas e determinar a

melhor concentração a ser utilizada nos experimentos, parasitos foram crescidos durante 4 dias em

meio Schneider contendo 10% de soro fetal bovino, na presença de diferentes concentrações do

composto. Nas primeiras 24h as concentrações de 0,5; 1; 2,5 µM não observamos grandes

alterações no crescimento dos parasitos quando comparado á curva de crescimento dos parasitos

controle, porém nas 24h seguintes observamos uma inibição de 56% do crescimento na

concentração de 0,5 µM e uma inibição de aproximadamente 75% nas concentrações de 1 e 2,5 µM.

No decorrer da curva, o crescimento do parasito se iguala nas concentrações de 0,5; 1; 2,5 µM

reduzindo o mesmo em aproximadamente 25% em relação a curva controle (Fig. 7). Em todos os

tempos analisados os parasitos contabilizados na presença das diferentes concentrações de BEL se

apresentavam viáveis como os parasitos controle. Já as concentrações de 5 e 10 µM provocaram

uma inibição no crescimento durante os 5 dias de cultura. Foram testadas então as concentrações de

0,5; 1; 2,5µM sendo a concentração de 2,5µM escolhida para ser usada nos demais experimentos.

46

Figura 7: Efeito da BEL sobre a proliferação de formas promastigotas de L. amazonensis. Formas promastigotas de L. amazonensis foram cultivadas por até 96 horas na presença de 5 diferentes concentrações de BEL. A concentração de 2,5µM foi escolhida para o desenvolvimento do restante dos experimentos (n=3).

4.2- Ensaios de Viabilidade

Uma vez escolhida a concentração de BEL a ser usada verificamos a viabilidade dos

parasitos na presença e ausência do inibidor para nos certificarmos de que em todos os tempos de

incubação que foram usados nos demais experimentos, os parasitos se apresentam íntegros e viáveis

e que as alterações observadas ocorriam devido à ação da BEL e não por lise. Realizamos o ensaio

de viabilidade através da marcação com iodeto de propídeo (IP). Foram analisados os tempos de 1;2

e 3 horas e estes comparados com células controle na ausência da BEL (Fig. 8). O resultado por

citometria de fluxo da captação de IP foi plotado pela densidade de população. Células na ausência

e na presença de 2,5µM de BEL durante 1; 2 e 3 horas não mostraram uma intensidade de

fluorescência significativamente diferente do controle (Fig. 8), com um pequeno numero de células

marcadas. Células incubadas na presença de saponina foram utilizadas como controle positivo para

a marcação com IP e neste caso aproximadamente 82% das células apresentaram-se marcadas.

47

Figura 8: Análise quantitativa da viabilidade celular de células controle e submetidas à incubação na presença de BEL. Histograma de fluorescência associado com a marcação com IP em promastigotas de L. amazonensis. O eixos Y e X representam o número de eventos e a intensidade de fluorescência log (FL3), respectivamente. Os tempos de incubação analisados foram 1h (verde); 2h (amarelo); e 3h (azul), os dados foram normalizados por células lisadas com saponina (rosa) [10 µM, 15 min., 26oC] servindo de controle positivo para IP. Células controle (preto).

4.3-Análise ultraestrutural

Os efeitos do inibidor da iPLA2 sobre a ultraestrutura de L. amazonensis foram avaliados

por MET. Promastigotas controle apresentaram uma mitocôndria única e ramificada que se estende

a partir do cinetoplasto localizado próximo a bolsa flagelar (BF) (Fig. 9B). Há um grande número

de perfis de acidocalcissomos na região posterior da célula. O Golgi pode ser observado próximo ao

núcleo juntamente ao retículo endoplasmático (RE) (Fig.9C), além de estruturas semelhantes a

glicossomos (Fig. 9G). Sob a membrana plasmática, localizam-se microtúbulos subpeliculares

dispostos regularmente. Estes microtúbulos não são observados na membrana da BF (Fig. 9E, F) e

pode-se observar um elevado número de vesículas na bolsa. Na bolsa encontra-se a estrutura

paraxial, o axonema e um longo flagelo (Fig. 9F). Observamos a presença de diversas estruturas

túbulo-vesiculares (seta rosa nas Figs. 9B, C, D, H) contendo pequenas vesículas com tamanho e

estrutura variável (detalhe na Fig. 9A), estes se estendem ao longo do corpo do parasito. Autores

sugerem que tais estruturas sejam compartimentos originados do Golgi e podem ser considerados

funcionalmente equivalentes a endossomos tardios/lisossomos, que correspondem ao TMV,

também são encontrada vesículas contendo partículas de 45nm em células controle (seta azul na

Fig. 9I) (WEISE et al., 2000).

Após o tratamento de promastigotas com 2,5µM de BEL por 1h, observamos alterações em

estruturas envolvidas com o tráfego exocítico/endocítico. Células tratadas apresentaram um Golgi

fragmentado com cisternas alargadas principalmente na região Trans (Figs 10A e B). Também

observamos alteração nos TMV caracterizada por uma diminuição no número de vesículas internas

e com um aparente aumento do diâmetro das mesmas (Fig. 10A). Não se observou alterações na

estrutura da BF, porém foi observado em algumas micrografias uma redução brusca, próxima a

ausência do número de vesículas no seu interior (Figs 10B e D). A estrutura da região cis do Golgi

também apresentou um aspecto fragmentado (Fig. 10C).

Figura 9: Ultraestrutura das principais organelas das vias endocítica/exocítica de formas promastigotas de L. amazonensis controle – As micrografias mostram as principais organelas de promastigotas de L. amazonensis; (A) detalhe de um túbulo multivesicular (TMV) isolado mostrando as vesículas internas; (B) secção longitudinal mostrando a localização do núcleo, mitocôndria, cinetoplasto, acidocalcissomos (seta preta), várias secções do TMV (seta rosa); (C-D) secção longitudinal mostrando o Golgi e uma porção do TMV (seta rosa); (E-F) secções transversais da bolsa

48

flagelar mostrando seu lumen preenchido por vesículas de aproximadamente 50 nm de diâmetro (seta verde) e perfis de membrana (cabeça de seta em F) e o brotamento de vesículas a partir da membrana da bolsa flagelar (seta preta em F); (G) secção transversal mostrando organelas semelhantes a glicossomos; (H) vesículas com coat podem ser observadas na região Trans do Golgi (cabeça de seta); (I) D) e (H) estrutura de TMVe (I) secção longitudinal da região da bolsa flagelar mostrando os túbulos agregados (cabeça de seta), as vesículas contendo partículas de 45nm (seta azul) e uma vesícula translúcida (vT). Golgi -G; Bolsa flagelar – bf; mitocôndria – m; cinetoplasto-K; vesícula translúcida- VT e núcleo- N. Barras de aumento correspondem a 300nm.

49

50

VT

Figura 10: Ultraestrutura das principais organelas das vias endocítica/exocítica de formas promastigotas de L. amazonensis incubadas na presença de BEL – (A) células apresentando alteração no TMV caracterizada pela redução no número de vesículas internas (seta rosa) e um Golgi fragmentado (seta preta); (B e D) secção transversal da região da bolsa flagelar mostrando um aspecto ramificado dos túbulos agregados (seta preta em B e D), o alargamento das cisternas Trans do Golgi (seta verde) e a presença de uma vesícula translúcida (VT) que parece se fundir à membrana da bolsa flagelar; (C) o Golgi apresenta aspecto fragmentado na região de brotamento (seta vermelha) e na região do Trans-Golgi (seta azul). Golgi -G; Bolsa flagelar – bf e núcleo- N. Barras de aumento correspondem a 300nm.

4.4- Interferência da BEL na aquisição de moléculas pelo parasito

Para estudar o efeito da BEL no processo endocítico foi realizado um monitoramento da

endocitose de traçadores fluorescentes por citometria de fluxo e microscopia de fluorescência,

utilizando BSA (Fig.11) como marcador do processo endocítico de fase fluida, Transferrina

(Fig.13) como marcador de endocitose mediada por receptor e Concanavalina- A como marcador

dos compartimentos tubulares presentes no trêfego endocítico (Fig.12).

A intensidade de fluorescência das células controle após 2h de incubação na presença de

BSA fluorescente foi de aproximadamente 3 vezes a observada no tempo de 1 hora enquanto a

intensidade de marcação nas células tratadas com BEL sofreu um acréscimo de aproximadamente

60% (Tabela I, Fig.11A). Quando comparado ao controle a captação de BSA-TRITC por 2 h, na

presença de BEL apresentou uma redução de aproximadamente 66% em relação ao observado no

controle (Fig. 11A). Ao microscópio de fluorescência observamos que a incubação de

promastigotas por 2 h na presença de BSA-fluorescente resultou em aproximadamente 70% de

células marcadas enquanto na população de células tratadas com BEL a porcentagem de células

marcadas foi de aproximadamente 50%. Logo a BEL provocou tanto redução na porcentagem de

células marcadas (aproximadamente 25%) como na quantidade de marcador adquirido. A marcação

das células controle pode ser observada em vesículas na região posterior da célula, em

compartimentos próximos a bolsa flagelar e no interior da bolsa flagelar (Figs 11B e C). Após o

tratamento a localização da marcação não se apresentou muito diferente do controle, porém, em

algumas células os compartimentos marcados puderam ser observados na região entre o

cinetoplasto e o núcleo (Figs 11D e E).

A endocitose de transferrina seguiu os mesmos padrões apresentados pela endocitose de

BSA no que diz respeito à intensidade de marcação observada por citometria de fluxo. Após 2

horas de incubação a intensidade de fluorescência nas células controle foi de aproximadamente 3

vezes a observada no tempo de 1 hora enquanto que nas células tratadas com BEL e incubadas com

transferrina por 2 h, a intensidade de marcação foi apenas 25% maior do que aquela observada no

tempo de 1 hora de incubação. BEL provocou uma inibição de aproximadamente 70% na aquisição

de transferrina fluorescente em relação às células controle tendo como parâmetro o tempo de 2 51

B

C

D

VTCD

horas de incubação. Ao microscópio de fluorescência observamos que a incubação de

promastigotas por 2 h na presença de transferrina-fluorescente resultou em aproximadamente 87%

de células marcadas enquanto na população de células tratadas com BEL a porcentagem de células

marcadas foi de aproximadamente 19%. Observamos também que um padrão de marcação

significativamente diferente, onde células controle apresentam após 2 h, um grande número de

vesículas marcadas na região posterior das células (Figs 12B e E) enquanto nos promastigotas

tratados com BEL a marcação parece ser mais restrita a superfície celular (Figs 12F e G).

No ensaio com a ConA (Fig. 13A) observamos, nas células controle, uma alta intensidade

de marcação após 1 h de incubação que não foi absolutamente diferente daquela observada após 2

hs. A intensidade de marcação após tratamento com a BEL não apresentou diferença significativa

com a marcação do controle em nenhum dos tempos analisados (Fig 13A) e a diferença entre o

valor captado pelas células controle e tratadas com BEL entre 1 e 2 horas de incubação é

semelhante ficando abaixo de 10% (Tabela I). Ao microscópio de fluorescência observamos um

padrão de marcação bem distinto do apresentado pela BSA. A marcação com a ConA é vista em

aproximadamente 98% dos parasitos controle e dos tratados com BEL e se concentra na superfície

da célula e na bolsa flagelar com poucos compartimentos marcados no citoplasma (Figs 13B e E).

Há apenas uma sugestão de marcação em compartimentos tubulares no controle que precisa ser

averiguado por microscopia eletrônica de transmissão

TABELA I

Distribuição de marcadores da via endocítica em L. amazonensis em condições controle e na presença de BEL

Tratamen

to

Tempo BSA ConA Transferrina% cel1 Intens2 Local3 % cel1 Intens2 Local3 %

cel1

Intens2 Local3

Controle 1h - 4 - - 90 - 32hs 70 11 Região

posterior100 98 Superfície celular,

bolsa flagelar e regiões

vesiculares

87 9 Região posterior

do parasito

BEL 1h - 2,5 - - 91 - 2

2hs 54 4 Região posterior e próximo ao

núcleo

93 97 Superfície celular e bolsa flagelar

19 2,5 superfície celular

1% de células marcadas observadas por microscopia de fluorescência2Intensidade de marcação obtida por análise em citometria de fluxo3Localização da marcação observada por microscopia de fluorescência

52

Figura 11: Efeito da inibição de iPLA2 no processo de endocitose de fase fluida em L. amazonensis. Análise quantitativa por citometria de fluxo da endocitose de BSA-TRITC (A) em promastigotas controle (preto) e tratadas com 2,5µM de BEL (listrado) nos tempos de 1 e 2 horas. Resultados de 3 experimentos são mostrados como intensidade de fluorescência + desvio padrão. Análise do processo endocítico por microscopia de fluorescência em células controle (C) e parasitos tratados (D) com BEL. Células foram incubadas por 2 horas na presença de BSA-FITC seguida de incubação em DAPI marcando o núcleo (seta vermelha) e o cinetoplasto (seta amarela). Observamos uma marcação mais intensa em parasitos controle na região posterior do corpo. Em parasitos tratados com BEL são observados alguns compartimentos na região posterior do corpo e também na região entre o cinetoplasto e o núcleo. (C, E) imagem por contraste interferencial diferencial de Nomarsky das células observadas em B e D. Barras de aumento correspondem a 20 µM. (* P< 0,05)

53

**

Figura 12: Efeito da inibição de iPLA2 no processo endocítico mediado por receptor em L. amazonensis. Análise quantitativa por citometria de fluxo da endocitose de transferrina-AlexaFluor 546 (A) em promastigotas controle (preto) e tratadas com 2,5µM de BEL (listrado) nos tempos de 1 e 2 horas. Resultados de 3 experimentos são mostrados como intensidade de fluorescência + desvio padrão. Análise do processo endocítico por microscopia de fluorescência em células controle (B,D) e tratadas (F) com BEL. Células foram incubadas por 2 horas na presença de transferrina-AlexaFluor 488 seguida de incubação em DAPI marcando o núcleo (seta vermelha) e o cinetoplasto (seta amarela). A marcação nas células controle está presente em compartimentos na região posterior do corpo celular. Após tratamento

54

com BEL a fluorescência é observada na superfície das células. (C, E, G) imagem por contraste interferencial diferencial de Nomarsky das células observadas em B, D e F. Barras de aumento correspondem a 20 µM. (* P< 0,05).

Figura 13: Efeito da inibição de iPLA2 no processo endocítico de ConA em L. amazonensis. Análise quantitativa por citometria de fluxo da endocitose de ConA-AlexaFluor 488 (A) em promastigotas controle (preto) e tratadas com 2,5µM de BEL (listrado) nos tempos de 1 e 2 horas. Resultados de 3 experimentos são mostrados como intensidade de fluorescência + desvio padrão. Análise do processo endocítico por microscopia de fluorescência em células controle (B) e parasitos tratados (D) com BEL. Células foram incubadas por 2 horas na presença de ConA-AlexaFluor 488 seguida de incubação em DAPI marcando o núcleo (seta vermelha) e o cinetoplasto (seta amarela). A marcação se apresentou de forma semelhante em parasitos controle e tratados com BEL, estando distribuída por toda a superfície celular e acentuadamente na região da bolsa flagelar (seta roxa). Em imagens das células controle podemos observar marcações no interior celular, possivelmente em compartimentos tubulares (seta branca); (C, E) imagem por contraste interferencial diferencial de Nomarsky das células observadas em B e D. Barras de aumento correspondem a 20 µM.

55

4.5-Efeito da BEL sobre a rota secretora e a secreção protéica

Com o intuito de investigar a influência da BEL no processo de exocitose, realizamos

primeiramente a dosagem de proteínas totais do sobrenadante de parasitos incubados em meio

Hanks sem soro na ausência e presença do inibidor por um período de até 3h.

Observamos pelo método de Bradford que em todos os tempos analisados (90 min, 2 e 3h)

ocorreu uma redução constante de aproximadamente 24% na secreção de proteínas na presença de

BEL (Fig.14) e que a quantidade de proteínas secretadas aumenta com o tempo de incubação.

Experimentos controle foram realizados na presença de DMSO que quando utilizado na

concentração final de BEL não alterara a secreção dos promastigotas.

Figura 14: Cinética de exocitose em células controle e tratadas com BEL. O total de proteínas liberadas pelo parasito no meio de Hank`s foi analisado em diferentes intervalos de tempo (90 mim, 1 e 2h) em células controle (azul escuro) e tratadas com DMSO (azul claro) e 2,5µM de BEL por 1h (rosa). Resultados da média de 3 experimentos. O desvio padrão em cada um dos pontos analisados foi muito pequeno não aparecendo no gráfico.(* P < 0,05).

Para avaliar o padrão das proteínas presentes no extrato celular e liberadas no meio de

incubação de formas promastigotas na presença e na ausência da BEL, realizamos a análise por

SDS-PAGE. Analisando as bandas protéicas do extrato celular, observamos uma faixa de proteínas

de 15 a 105 kDa, que não variou significativamente na presença da BEL. Uma pequena alteração de

intensidade foi observada nas bandas entre 40-55 kDa e em outras com baixo peso molecular (Fig.

15A). A análise de proteínas presentes no meio de incubação (sobrenadante) de parasitos controle e

tratados com BEL mostrou um perfil de polipeptídeos apresentando as mesmas bandas proteicas

que variaram entre 45-104 kDa. Observamos, no entanto, uma redução significativa (48%) na

intensidade das bandas de 67 e 48 kDa em parasitos tratados com 2,5µM de BEL (Fig. 15B).

* ** *

56

Figura 15: Análise por SDS-PAGE do extrato total (A) e do sobrenadante (B) de promastigotas controle e tratadas com BEL 2,5µM por 1h. Um painel similar de bandas foi encontrado no extrato celular e no sobrenadante na presença e na ausência de BEL. Notar a redução acentuada na intensidade das bandas do sobrenadante total entre os parasitos controle e tratados. Resultados representaivos de 3 experimentos.

Na tentativa de identificar as proteínas liberadas no sobrenadante utilizamos a técnica de

“Western blotting” e o anticorpo anti-gp63, anticorpo policlonal. A gp63 é a proteína mais

abundante da superfície de Leishmania. Ela é transportada através de vesículas para a superfície da

célula e incorporada a “lipd rafts” quando da sua chegada à membrana plasmática (DENNY et

al.,2001). Esta proteína também apresenta uma forma solúvel encontrada no sobrenadante que é

resultado de um processo de autoproteólise (MCGUIRE et al.,2002).

Os resultados obtidos com a técnica de “Western blotting” mostraram uma redução de

aproximadamente 38% na intensidade da banda de maior peso molecular relativa à gp63 e uma

maior diminuição, próximo da inibição na banda de menor peso molecular resultante do processo

de degradação observada no sobrenadante de parasitos tratados com BEL (Fig. 16A). Para avaliar

se a BEL era capaz de interferir na síntese protéica analisamos a presença de tubulina, proteína de

citoesqueleto e não secretada pelo parasito, utilizando um anticorpo monoclonal anti-α-tubulina

(Fig. 16B). Não foram observadas variações no perfil das bandas entre células controle e tratadas

com BEL. Ao analisar a expressão de gp63 por fluorescência notamos que a BEL não causa

alterações significativas na intensidade da marcação total de gp63 observada por citometria de fluxo

(Fig. 16C), ao microscópio de fluorescência não observamos alteração na distribuição desta

molécula entre parasitos na ausência (Figs 16D e E) ou presença de BEL (Figs 16F e G).

57

72KDa

250KDa

130KDa

95KDa

55KDa

36KDa

17KDa

Sobrenadante totalExtrato total

controlecontrole tratado tratado

28KDa

A B

Figura 16: Efeito da BEL na liberação de gp63 no sobrenadante de promastigotas de L. amazonensis. Promastigotas foram tratadas com 2,5µM de BEL por 1h e analisados conforme descrito nos materiais e métodos. Immunobloting mostrando a ligação dos anticorpos anti-gp63 (A) e anti-α-tubulina (B) para a localização de gp63 e tubulina no extrato total e no sobrenadante de células controle e tratadas com BEL . Note uma redução significativa na marcação de gp63 no sobrenadante de parasitos tratados com BEL. Microscopia de fluorescência (D e F) e por contraste interferencial (E e G), respectivamente, de promastigotas controle (D e E) e tratados com BEL (F e G) incubadas na presença de anticorpo ant-gp63. (C) análise quantitativa, por citometria de fluxo, da intensidade de fluorescência ligada aos parasitos após marcação com anti-gp63. Resultadorepresentativo de 3 experimentos.

Estes dados sugerem que a BEL não interfere na síntese protéica da gp63, porém altera a

liberação de moléculas para o meio extracelular, reduzindo os níveis de proteína no meio de

incubação.

Como outro marcador do processo exocítico, utilizamos a enzima fosfatase ácida. Estudos

prévios caracterizando a presença da fosfatase ácida em L. donovani e L. mexicana demonstraram

que esta estava presente nos lisossomos, em vesículas intracelulares, na região da bolsa flagelar, em

toda a superfície do parasito e ainda se encontrava no meio extracelular, sugerindo que esta é

58

sintetizada pelo parasito e exportada para a superfície podendo se desligar desta (GOTTLIEB &

DWYER, 1981; WEISE et al., 2000).

Para analisar a distribuição desta enzima em formas promastigotas, realizamos a citoquímica

para detecção da atividade da fosfatase ácida. A análise de células controle por MET indicou a

presença da atividade enzimática em toda superfície celular, inclusive na membrana flagelar, na

membrana da bolsa flagelar e em compartimentos intracelulares como o TMV, vesículas

translúcidas, nos túbulos agregados (Figs 17A-C) e na região do Trans do Golgi (Fig. 17D). Já em

parasitos tratados com BEL, continuamos observando marcação na superfície do parasito, porém há

uma diminuição acentuada de marcação na região da bolsa flagelar e uma maior intensidade de

marcação em compartimentos intracelulares como o TMV (Figs 18A, B, D e F) e em todas as

cisternas do Golgi (Figs 18C e D) sugerindo que o tratamento com BEL leva a uma redistribuição

na marcação da fosfatase ácida no parasito.

Figura 17: Citoquímica da fosfatase ácida de células controle A-corte longitudinal B e C corte transversal observe a marcação acentuada na superfície e na região da bolsa flagelar e D-vesículas marcadas no caminho do Golgi a região da bolsa flagelar.

59

Figura 17: Citoquímica da fosfatase ácida de células controle: (A e D) secções longitudinais e (B e C) e transversais da marcação de fosfatase ácida na membrana flagelar (seta vermelha), na membrana da bolsa flagelar (seta azul em B), na membrana que envolve o corpo celular (seta preta) e no interior da bolsa onde é liberada (estrela branca). A marcação também pode ser observada nas vesículas translúcidas (seta verde em B) e nos túbulos agregados (seta amarela em C e D). bf-bolsa flagelar. Barras de aumento correspondem a 300nm

A B

CD

bf

bf

bf

bf

G

Figura 18: Citoquímica para detecção de fosfatase ácida em células tratadas com BEL: Após tratamento com 2,5mM de BEL por 1h, observa-se uma diminuição na intensidade de marcação na membrana do flagelo (seta vermelha em A), e na membrana da bolsa flagelar (seta azul em A). A atividade observada na membrana do corpo do parasito parece também variar de intensidade (seta preta em A, B, C. e D). Nos TMVs a marcação pode ser observada na membrana das vesículas internas e no lúmen da organela (B, D e E). O tratamento com BEL provoca a redistribuição da marcação por todas as cisternas do Golgi (C e D). A marcação também se faz presente nos túbulos agregados (seta amarela em F) e nas vesículas translúcidas (seta verde em F). bf- bolsa flagelar ; G-Golgi; MVB-corpos multivesiculares; TMV-túbulo multivesicular. Barras de aumento correspondem a 300nm.

60

A B

C D

E F

bf

bf

bf

bf

GG

MVB

TMV

TMV

Além da análise citoquímica realizamos estudos bioquímicos para a caracterização da

atividade de fosfatase ácida das formas promastigotas (Fig. 19). Como comentado anteriormente a

atividade de fosfatase ácida em Leishmania apresenta características próprias como a localização

(ligada à membrana ou secretada), à especificidade em relação ao substrato (GOTTLIEB E DWYER,

1982) e em relação a diferentes inibidores (ALMEIDA-AMARAL et al., 2006). Observamos que a

atividade fosfatase ácida sensível a tartarato é majoritária tanto no extrato celular como no meio

extracelular e que a atividade tartarato resistente é mais expressiva no extrato celular. Quando

comparamos a atividade das células controle com as células tratadas com BEL observamos uma

redução de 43% (10,1 nM/ml) na atividade fosfatásica sensível ao tartarato observada no meio de

incubação (Fig. 19, comparar barras brancas com pontos pretos ligadas por linha tracejada

vermelha). Coincidentemente observamos um aumento na atividade fosfatásica do extrato celular

de células incubadas com BEL de 10,2 nM/ml (Fig. 19, comparar barras listradas ligadas por linha

tracejada vermelha) indicando que a inibição da iPLA2 leva a uma diminuição na secreção da

fosfatase ácida e consequentemente um acúmulo no parasito tratado. Na figura 19B observamos a

atividade da enzima 3`nucleotidase como controle de síntese protéica e como marcador de

integridade de membrana plasmática, uma vez que somente está presente na membrana plasmática

não sendo secretada para o meio extracelular.

A seguir fomos analisar a distribuição da fosfatase ácida por citoquímica ultraestrutural na

presença do inibidor tartarato de sódio. Em células tratadas com tartarato observamos uma inibição

significativa da atividade enzimática em toda superfície celular e em compartimentos tubulares

intracelulares. Pequena atividade pode ser observada próxima a bolsa flagelar e na região do Golgi

(Figs. 20B e C). Em parasitos tratados com BEL e tartarato, observamos total inibição de marcação

na superfície do parasito e na região da bolsa flagelar e uma menor intensidade de marcação em

compartimentos intracelulares próximos a bolsa flagelar, nos túbulos agregados (Figs. 20D e F).

61

Figura 19: (A) Análise quantitativa da atividade da fosfatase ácida total (coluna preta), sensível (coluna listratada) e resistente (coluna branca) a tartarato de sódio observada no extrato celular de células controle e tratadas com 2,5µM de BEL por 1h. Observar também a atividade de fosfatase ácida secretada total (coluna cinza) sensível (coluna pontilhada) e resistente (coluna azul) ao tartarato de células controle e tratadas com BEL. (B) Análise quantitativa da atividade da enzima 3`nucleotidase, marcador de membrana plasmática, nas células controle e após tratamento com BEL. Não foi observada diferença significativa nos níveis desta atividade. Resultados representativos de 3 experimentos. (* p<0,05)

62

Figura 20: Citoquímica da fosfatase ácida de células controle e tratadas com BEL na presença de tartarato de sódio. (A) Controle positivo da atividade enzimática; (B e C) parasitos incubados na presença de tartarato de sódio. Note uma pequena marcação na superfície e na bolsa flagelar (seta azul em B), também podemos observar pouca marcação nos túbulos agregados (seta amarela em C) e nas vesículas translúcidas (seta verde em C); (D-F) células tratadas com BEL e tartarato de sódio. Note ausência da marcação na superfície e na região da bolsa flagelar. Uma pequena marcação pode ser observada na região anterior do corpo, nos túbulos agregados (seta amarela em F e D). bf-bolsa flagelar. Barras de aumento correspondem a 300nm

63

5- DISCUSSÃO

Os estudos com fosfolipases A2 em mamíferos descrevem seu importante papel no processo

inflamatório. Porém outro papel vem sendo sugerido para esta enzima: o do seu envolvimento na

fusão de membranas dos compartimentos envolvidos nas rotas endo/exocíticas de diferentes tipos

celulares (MAYORGA et al., 1993; DE FIGUEIREDO, 2000). A hidrólise de glicerofosfolipídios na

membrana pelas PLA2s gera lisofosfolipídios, que assumem a forma de cones invertidos

provocando a formação de curvaturas nas membranas e favorecendo a formação de túbulos em

membranas (BROWN, CHAMBERS, DOODY, 2003; STAVENA, ANGELOVA & KOUMANOV, 2004;

TANAKA et AL., 2004; NAKANO et al., 2009), e também ácidos graxos livres como o ácido aracdônico

(AA) cuja participação nos eventos de fusão foi também demonstrada (MEERS et al., 1988).

Diferentes grupos mostraram que a atividade de PLA2 está relacionada diretamente com os

processos de endocitose e exocitose em diferentes modelos celulares (LENNARTZ ET al., 1997;

TAKUMA & ICHIDA, 1997; DARIOS, CONNEL, DAVLETOV, 2007).

Já foram descritos em T. cruzi diferentes tipos de fosfolipases ligadas ao remodelamento de

membrana celular e ao processo de invasão (BERTELLO et al., 2000; BRONIA et al., 1999). Outros

patógenos também usam a fosfolipase no processo infeccioso, como: Toxoplasma gondii,

Cryptosporidium parvum e Entamoeba histolytica (PASSERO et al.,2008;VARGAS-VILLARREAE et al.,

1998). A análise genômica e a atividade enzimática em Leishmania indicaram a presença da enzima

PLA2 em promastigotas de L. amazonensis (PASSERO et al., 2008).

Pouco ainda se sabe sobre a dinâmica do processo endocítico/exocítico em

tripanosomatídeos, portanto demonstrar o envolvimento do iPLA2 na modificação da membrana

plasmática e seu envolvimento na fusão de vesículas no processo de aquisição e secreção de

moléculas em tripanosomatídeos poderia ajudar a entender o mecanismo de transferência de

material vesicular nestes processos, uma vez que estas vias são essenciais para a nutrição, defesa e

virulência do parasito, sendo assim, possíveis alvos quimioterápicos.

A abordagem mais simples para avaliar a função de uma enzima se dá através da inibição de

sua atividade. Anestésicos locais, como a dibucaína e a quinacrina foram algumas das primeiras

drogas utilizadas como inibidores da atividade de iPLA2 em células de mamíferos resultando na

inibição da fusão entre compartimentos da via endo/exocítica com reduções significativas nos

níveis de proteínas endocitadas e excretadas, respectivamente (TOLLESHAUG, BERG & HOLT, 1982;

HAGIWARA & OZAWA, 1990; LENNARTZ et al., 1997; DE FIGUEIREDO et al., 1998). Como anestésicos

locais podem potencialmente interagir com diferentes tipos de proteínas dentre elas receptores de

membrana, enzimas e proteínas do citoesqueleto (MAYORGA et al., 1993; HOLMANN et al., 2001;

MONDAL & CHAKRABARTI, 2002) além de provocarem efeitos diretos na bicamada lipídica, novos

64

compostos inibidores da atividade de PLA2 foram desenvolvidos apresentando uma alta

especificidade para diferentes tipos de fosfolipases. Dentre os compostos mais específicos para a

inibição da iPLA2 está a bromoenol lactona que foi escolhida neste estudo como ferramenta para

investigar a participação desta enzima na fusão de compartimentos da via endo/exocítica de

Leishmania (LENNARTZ et al., 1997; MURAKAME & KUDO, 2004).

Mais recentemente foi observado que a BEL além de inibir a iPLA2, pode inibir uma

fosfohidrolase Mg2+dependente cuja atividade está associada a mudanças no metabolismo de

fosfolipídios podendo promover a morte celular (BAUSINDE & DENNIS, 1996; FUENTES et al., 2003).

Por este motivo, primeiramente realizamos a curva de crescimento para mapear a ação da BEL em

promastigotas de L. amazonensis em função da concentração e tempo de tratamento. Alcançamos

uma concentração ideal do inibidor de 2,5 µM para a realização dos experimentos que é

intermediária àquelas utilizadas em diferentes modelos de células de mamíferos (ACKERMANN,

CONDE-FRIEBOES & DENNIS, 1995; DE FIGUEIREDO et al., 1998, 2001). Os testes de viabilidade

mostraram que nas doses e tempos de incubação utilizados nos nossos diferentes experimentos a

porcentagem de morte celular não foi significativa.

A primeira questão levantada sobre a ação da BEL foi se ela alteraria a morfologia e

localização de organelas das vias endocítica e secretória de tripanosomatídeos. Estudos prévios em

células de mamíferos utilizando diferentes inibidores de iPLA2 mostraram a formação de “blebs” e

fragmentação do complexo de Golgi (DE FIGUEIREDO et al., 1998) e que esta ação é específica, uma

vez que não são observadas em lisossomos e compartimentos pré-lisossomais (DE FIGUEIREDO,

2000). Com base nestes dados, analisamos o efeito da BEL na ultra-estrutura da L. amazonensis por

MET. As alterações observadas no Golgi dos promastigotas, e que podem ser descritas como

fragmentação, são bastante semelhantes àquelas observadas em células de mamíferos e que são

atribuídas a uma alteração no tráfego de vesículas entre o retículo endoplasmático e o Golgi

(MAYORGA et al., 1993; DE FIGUEIREDO et al., 1998). Outras alterações que observamos nos parasitos e

que também foram descritas em outros modelos celulares foram a do alargamento das cisternas na

região do Trans-Golgi e do aumento do diâmetro dos diferentes compartimentos localizados na

região anterior do corpo do parasito entre o núcleo e a bolsa flagelar. Nesta região onde na verdade

se dá toda a movimentação de moléculas a serem endocitadas e exocitadas notamos um aparente

aumento no número de vesículas provavelmente derivadas dos túbulos agregados e das vesículas

translúcidas. A alteração do TMV, considerado um compartimento endossomal/lisossomal foi

também caracterizada pelo aumento aparente do diâmetro dos túbulos e das vesículas internas. Em

outros modelos celulares o aumento do diâmetro das vesículas indica alteração no tráfego (inibição

ou retardo no processo de fusão de compartimentos) que leva a uma inibição tanto do processo de

endocitose como de exocitose (MAYORGA et al., 1993; LENNARTZ et al., 1997; DE FIGUEIREDO et al.,

65

1998). Todas as observações feitas no nosso trabalho necessitam de confirmação por estudos

morfométricos e reconstrução tridimensional além de estudos de pulso e caça com marcadores

fluorescentes ou complexados a ouro coloidal para avaliação da cinética dos processos de fusão e

técnicas imunocitoquímicas para identificação dos diferentes compartimentos.

A pergunta que se seguiu foi se a BEL estaria inibindo a endocitose de macromoléculas em

promastigotas.

O processo endocítico em eucariotos é de grande importância para a captação de nutrientes,

ajuste do volume celular e para a modulação da sinalização celular. Lipídeos são importantes

reguladores de diversas etapas do processo endocítico (SORKIN & VON ZASTROW, 2002).

Em Leishmania a captação de moléculas ocorre pela bolsa flagelar. Já foi descrito a

endocitose de fase fluida e a endocitose mediada por receptor, sendo caracterizados receptores de

transferrina (VOYIATZAKY & SOTERIADOU et al.,1992), LDL (BASTIN et al., 1996) e hemoglobina

(SINGH et al., 2003). Analisamos, por citometria de fluxo e fluorescência, a endocitose de

macromoléculas marcadoras dos dois processos endocíticos citados acima em promastigotas

incubadas com BEL uma vez que já existem dados na literatura mostrando que inibidores da iPLA2

como a dibucaína inibem o processo endocítico de transferrina em células musculares de rato

(HAGIWARA & OZAWA, 1990) de BSA em T. cruzi (SOUTO-PADRÓN et al., 2006) por diferentes

inibidores de PLA2. A endocitose de BSA e transferrina por promastigotas de L. amazonensis

apresentou características bem distintas entre si. O tratamento com BEL provocou uma inibição de

aproximadamente 64% na endocitose de BSA, que foi bem semelhante à inibição observada em

epimastigotas de T. cruzi incubados na presença de dibucaína (SOUTO-PADRÓN et al., 2006). O padrão

da marcação com a BSA é intracelular nas células controle e tratadas. A diminuição na intensidade

de marcação mostra diminuição na quantidade adquirida pelo parasito.

A endocitose de transferrina é relativamente mais afetada pelo tratamento com BEL. A

inibição foi de 72% e o padrão de marcação dos parasitos tratados é bem diferente daquele

observado nos parasitos controle. Nas células controle a presença de transferrina é intracelular

(vesículas observadas na região posterior do corpo dos promastigotas) enquanto nos parasitos

tratados a marcação permanece na superfície sugerindo que há realmente uma inibição do processo

endocítico.

Estudos prévios sugerem um possível envolvimento de domínios de membrana ricos em

colesterol (lipid rafts) na captação de transferrina em epimastigotas de T. cruzi (PORTO-CARREIRO et

al.,2000). Estas são regiões de membrana resistentes a detergentes que têm sido demonstrados em T.

brucei, T. cruzi, L. major e L. (Vianna) braziliensis (NOLAN et al., 2000; DENNY et al., 2005;

YONCYAMA et al., 2006). Estes autores demonstram uma redução dramática na captação de

transferrina em parasitos submetidos a tratamento com filipina e metil-β-ciclodextrina (MbCD),

66

estes compostos afetam o dinamismo de membrana em microdomínios ricos em colesterol. Já foi

mostrado que a atividade de PLA2 na célula é importante para o disparo, desenvolvimento e

finalização do processo de formação de “vesículas transportadoras de rafts” derivadas tanto da

membrana plasmática como de organelas e que a interferência neste mecanismo poderia

comprometer o tráfego intracelular de vesículas (STANEVA, ANGELOVA & KOUMANOV, 2004). A

ação da PLA2 sobre a movimentação das rafts poderia explicar tanto a diminuição na quantidade de

transferrina fluorescente ligada ao parasito (menor quantidade de receptores voltando para ou se

incorporando à superfície) como o padrão difuso de marcação mostrando uma dispersão dos

receptores já presentes na superfície por todo o corpo do parasito. Outro aspecto importante é que a

inibição simples dos processos de fusão entre compartimentos, independentemente da contribuição

das lipid rafts, podem atrasar o processo de aquisição de transferrina ou qualquer outra molécula. A

célula se encontraria em um estado de paralisia.

A análise da marcação com ConA não mostrou diferença significativa na intensidade de

fluorescência medida por citometria de fluxo entre células controle e tratadas ao contrário do

observado em células CHO (SCHWARZ, HARPER & JULIANO, 1982). Selecionamos uma concentração

não aglutinante (20µg/ml) mediante experimentos realizados em outros tripanosomatídeos e

observação do comportamento dos promastigotas após incubação com lectina fluorescente quando

não observamos grumos de células. Ao microscópio de fluorescência as células controle se

destacam das células tratadas com BEL apenas por uma pequena marcação que pode ser observada

no interior celular próximo ao núcleo, região correspondente ao TMV, já que a marcação de

superfície e da bolsa flagelar parecem bem semelhantes entre controle e tratado. Uma melhor

análise desta marcação será feita utilizando a lectina complexada a particulas de ouro coloidal e

análise ao microscópio eletrônico de transmissão. Chamamos, no entanto, a atenção para o fato de

que a marcação de ConA em L. mexicana, diferentemente do observado em T. brucei é

caracterizada pela marcação extracelular (BRICKMAN, COOK & BALBER, 1995).

Uma vez que a BEL está diminuindo a internalização de moléculas no processo endocítico e

este pode compartilhar compartimentos citoplasmáticos com a via exocítica e ambas as vias

parecem compartilhar compartimentos intracelulares semelhantes aos endossomos de células de

mamíferos o passo seguinte foi verificar se a iPLA2 também estaria relacionada com a fusão de

membranas no tráfego exocítico. Fomos então analisar a ação da BEL sobre a secreção de

moléculas em promastigotas de L. amazonensis uma vez que já foi demonstrado que inibidores da

iPLA2 podem inibir a exocitose em mastócitos (FENSOME-GEEN et al., 2007).

Observamos que o tratamento com BEL reduz em aproximadamente 50 % a liberação de

proteínas no meio extracelular. Surpreendentemente, não observamos o acúmulo destas proteínas

não secretadas no gel do extrato celular em promastigotas tratados. Se em células tratadas com BEL

67

menos proteínas eram encontradas no meio de incubação e estatisticamente não se observava um

aumento no número de proteínas no extrato celular de parasitos tratados, será que a BEL estaria

interferindo na síntese de proteínas pelo parasito? Estudos prévios já demonstraram que o ácido

araquidônico e seus metabólitos podem interferir na proliferação de diferentes tipos celulares,

incluindo células endoteliais (HERBERT et al., 2005). Mediante esta informação o nosso passo

seguinte foi analisar se BEL interferiria na síntese protéica de Leishmania amazonensis o que não

aconteceu (Fig. 16B). Então, como explicar a mesma intensidade, em relação ao controle,

apresentada por algumas bandas no extrato celular de promastigotas com BEL. Na verdade em

algumas delas observamos até mesmo um pequeno decréscimo (Fig. 15).

A superfície celular de todo tripanosomatídeo, incluindo espécies de Leishmania é

constituída predominantemente por moléculas ancoradas na membrana por âncoras de

glicosilfosfatidilinositol (GPI). GPI é sintetizado a partir de fosfatidilinositóis convencionais (PIs)

que contém uma cadeia de ácido graxo insaturado na posição sn-2, enquanto que os GPIs maduros,

ancorados à proteína, têm diacilglicerol com ácido graxo de cadeia longa na posição sn-2 (SIPOS et

al., 1997). Após a fixação do GPI à proteína, o grupo acila ligado ao resíduo inositol da âncora de

GPI é eliminado, sendo este um processo necessário para o controle de qualidade de GPI ancorado

a proteína e para seu transporte eficiente do RE para o Golgi e posteriormente à superfície celular

(TANAKA et al., 2004; FUJITA et al., 2006). Em células de mamíferos e em leveduras, o sítio de

remodelação da âncora é o Golgi (TASHIMA et al., 2006) ou o RE e o Golgi, respectivamente (SIPOS et

al., 1997). O mecanismo molecular que evolve a remodelação lipídica não é bem compreendido,

porém dados sugerem que uma PLA2 poderia estar envolvida na remoção de uma cadeia acila na

posição sn-2 das âncoras de GPI durante a remodelação da âncora em leveduras e células de

mamíferos (FUJITA et al., 2006).

A partir dos dados mostrados acima, podemos sugerir que uma vez que em parasitos

tratados com BEL não estaria ocorrendo remodelação lipídica da âncora de GPI, comprometendo,

assim a exportação das moléculas recém-sintetizadas e promovendo o acúmulo destas no RE. Estes

processos levariam à degradação das mesmas explicando então a menor intensidade nas bandas do

extrato celular dos parasitos tratados com BEL em relação ao observado no controle. Ainda são

necessários mais estudos para confirmar esta hipótese.

O estudo de proteínas secretadas tem contribuído para um melhor entendimento dos

mecanismos envolvidos na rota secretora de parasitos e outros tipos celulares (WEISE et al., 2000).

Para confirmarmos a ação da iPLA2 no processo exocitico em L. amazonensis utilizamos como

marcadores duas moléculas específicas do parasito, gp63 e fosfatase ácida, que são direcionadas

para a membrana plasmática podendo também ser encontradas no meio extracelular. A gp63 que é

uma das proteínas predominantemente expressa na superfície de Leishmania (membrana celular e

68

membrana da bolsa flagelar) é ancorada por ancora de GPI e associada à “lipid rafts” no RE ou

compartimentos muito iniciais da via exocítica (WEISE et al., 2000; DENNY, FIELD & SMITH, 2001;

DENNY et al., 2004). Observamos que o tratamento com BEL reduziu a quantidade de gp63 liberada

no meio extracelular mas não modificou, pelo menos nas imagens obtidas por imunofluorescência,

a localização da gp63 na superfície da célula que normalmente se encontra distribuída

homogeneamente por toda a superfície do parasito (WEISE et al., 2000). A quantificação desta

marcação utilizando o anticorpo anti-gp63 será efetuada em estudos de imunocitoquímica

utilizando cortes ultrafinos, quando a distribuição da proteína poderá ser também avaliada nos

diferentes compartimentos intracelulares.

Atualmente já esta bem estabelecida que as vesículas transportadoras contendo enzimas

hidrolíticas destinadas aos lisossomos são oriundas do Golgi e fundem-se com endossomas precoce

e então são transferidas ao longo da via endocítica até os lisossomos (GRUENBERG, 2003) ou

transferidas pela via exocítica a superfície celular e ao meio extracelular. A fosfatase ácida é uma

enzima que está presente em endossomos, lisossomos, Golgi e membrana plasmática de

Leishmania sendo um bom parâmetro bioquímico e citoquímico para avaliar modificações nestes

sistemas. A inibição de iPLA2 não alterou a atividade total de fosfatase ácida nos promastigotas. Ela

altera a distribuição da atividade tartarato sensível (atividade de fosfatase ácida secretada) entre

extrato celular e meio de incubação mostrando uma inibição na secreção desta enzima. A

observação da marcação citoquímica ao MET das células tratadas com BEL mostrou um aumento

do número e/ou volume de compartimentos intracelulares marcados e a diminuição da atividade

fosfatásica no meio extracelular principalmente aquela liberada no interior da bolsa flagelar. Para

avaliar as modificações estruturais associadas à detecção da atividade enzimática serão necessários

estudos de reconstrução tridimensional por microscopia eletrônica de transmissão e o uso de

substratos e inibidores específicos para as diversas atividades de fosfatase ácida existentes em

Leishmania (GOTTLIEB & DWYER, 1982; ALMEIDA-AMARAL et al., 2006).

69

6- CONCLUSÕES

- Inibição da atividade de iPLA2 parece não interferir na disposição das organelas de promastigotas,

no entanto provocou alterações no formato de organelas como Golgi, túbulos agregados e vesículas

translúcidas.

- BEL interferiu significativamente no processo endocítico de BSA (endocitose de fase fluida) e de

transferrina (endocitose mediada por receptor). No caso da endocitose de transferrina notamos

também uma redistribuição dos receptores pela superfície dos promastigotas. A marcação em

compartimentos tubulares intracelulares pela ConcanavalinaA foi ausente em parasitos tratados com

BEL, porem a intensidade de fluorescência não foi alterada pela análise por citometria de fluxo.

-A quantidade de gp63 liberada no meio de incubação foi reduzida com o tratamento com BEL. A

falta de acúmulo da proteína no extrato celular sugere que a BEL pode estar interferindo no

remodelamento da âncora de GPI.

- BEL inibiu a secreção de fosfatase ácida no meio extracelular provocando um acúmulo no interior

do parasito em organelas como o TMV.

- iPLA2 parece estar envolvida na regulação dos processos endocítico e exocíticos de promastigotas de L. amazonensis, sendo seu efeito mais pronunciado no processo exocítico e na endocitose mediada por receptor.

70

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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