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Universidade da Beira Interior Curso: Ciências da Comunicação 1

Para além da paisagem

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Para além da paisagem

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Universidade da Beira Interior

Universidade da Beira Interior

Curso: Cincias da Comunicao

Disciplina: Fotografia

Aluna: Llia Gomes Carvalho

Covilh, 12 de Junho de 2007

No se faz uma fotografia apenas com uma cmara. Traz-se para

o acto fotogrfico todas as imagens vistas, os livros lidos,

a msica ouvida e as pessoas amadas.

Ansel Adams

ndice

Introduo..4

A fotografia e o acto de fotografar.5Fotografia de informao versus fotografia artstica..7Fotografia de paisagem...9Ansel Adams..11Outros fotgrafos...20

Braos que se erguem aos cus..26Concluso...27Bibliografia28IntroduoMuito mais do que uma simples representao da realidade, a fotografia uma arte. A imagem fotogrfica no retrata apenas um cenrio, evoca as emoes, convida quem a v a abrir a mente e o corao e deixar-se maravilhar.

O presente estudo intitulado Para alm da paisagem pretende descortinar esta vertente artstica da fotografia, interpretar o seu lado mais subjectivo. Perceber o que de grandioso ter um determinado cenrio, o transcendentalismo nele disfarado, e como tudo isto lhe conferido o objectivo deste trabalho.

A palavra fotografia deriva dos termos gregos photo, que significa luz, e de graphy, que quer dizer grafia. Deste modo, fotografia desenhar com luz, um resultado inaltervel criado atravs do reflexo da luz. Assim importa referir de que forma que fotgrafos criaram espantosos jogos de luz para que fosse possvel atribuir o sentimento e at espiritualidade aqui em observao.

Para uma melhor reflexo e consequentemente um mais compreensvel entendimento desta forma de fotografar ser analisado o percurso de Ansel Adams, um dos fotgrafos de paisagem mais conhecidos do mundo e um dos primeiros a fotografar o esprito do Oeste Americano. Posteriormente ser apresentada uma reflexo de uma das suas fotografias (Moon and Mount Mackinley) e outras que por mim sero analisadas, um caminho que pretendo trilhar com o intuito de entrar no mundo fascinante da sua criao e me envolver no turbilho de emoes e sentimentos que ele desperta. Finalmente procurarei encarnar no esprito de Ansel Adams apresentando uma fotografia por mim captada e interpretando as suas linhas, sombras, matizados e a sua luz.A Fotografia e o Acto de Fotografar

O trabalho mais importante do fotgrafo no o de aprender o manejo da sua cmara, nem o de revelar a pelcula, nem de fazer as provas. o de aprender a ver com olho fotogrfico, quer dizer, aprender a contemplar o seu tema em termos adequados capacidade dos seus instrumentos e processos, para assim traduzir instantaneamente os elementos e valores da cena escolhida na fotografia que se deseja criar. Edward Weston

Arte de deixar numa emulso sensvel a imagem de um objecto, por meio da luz, arte de fixar e reproduzir por meio de reaces qumicas, em superfcies convenientemente preparadas, as imagens obtidas em cmara escura. Estas so algumas das definies de fotografia que podemos encontrar no dicionrio. certo que necessria tcnica para fotografar bem como para a revelao das fotografias, mas h muito mais a dizer para que se possa definir convenientemente fotografia.

A primeira fotografia data de 1822 e retrata uma natureza morta, pensa-se que seria uma composio em betume da Judeia. Ao longo do tempo a fotografia foi ganhando o estatuto de representao do real, de testemunho desta. Ganhou assim uma grande credibilidade, habituamo-nos a confiar nela. Isto , quando vemos um qualquer objecto ou cenrio retratado acreditamos de imediato que tal objecto ou cenrio existe de facto. A fotografia concebida como uma espcie de prova, ao mesmo tempo necessria e suficiente que atesta indubitavelmente a existncia do que d a ver.

Com o decorrer da histria da fotografia, autores defenderam diferentes percursos histricos desta. De acordo com esta ideia existem ento trs tempos: a fotografia como espelho do real, a fotografia como transformao do real e a fotografia como vestgio do real. Num primeiro tempo temos a fotografia como espelho do real. Aqui a fotografia est intimamente ligada realidade, representando-a. No segundo tempo, o da fotografia como transformao do real, onde a fotografia vista como um instrumento de anlise, interpretao, e no meramente um espelho neutro. O ltimo tempo refere-se fotografia como vestgio de uma realidade. Assim, esta reflexo incidir na fotografia enquanto interpretao da realidade e portanto algo subjectivo.Como diria Grard Castello-Lopes, um dos mais importantes cronistas portugueses e nome de referncia na fotografia, fotografar expor-se, aceitar um quase obsceno confronto com o outro atravs da silenciosa mas vicariante comunicao do olhar. () olhar um acto de coragem (). Aqui a referncia feita a fotografias de pessoas, no entanto, fotografar uma paisagem tambm um acto de coragem uma vez que importante captar o seu melhor. crucial que se olhe mas sobretudo que se sinta a paisagem, caso contrrio no lhe ser feita justia. Para Henri Cartier-Bresson, um dos mais importantes fotgrafos do sculo XX e considerado pai do fotojornalismo, fotografar prender a respirao quando todas as nossas faculdades se conjugam diante da realidade fugidia; neste momento que a captura da imagem uma grande alegria fsica e intelectual. No momento em que se fotografa, agarra-se aquele instante efmero que jamais se repetir e tenta-se faz-lo de forma a afirmar uma originalidade prpria do fotgrafo e que o distingue de todos os outros. Fotografar pr na mesma linha de mira a cabea, o olho e o corao. () A mquina fotogrfica para mim (Cartier-Bresson) um bloco de esboo, o instrumento da intuio e da espontaneidade, a senhora do instante, que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para significar o mundo, preciso sentir-se implicado no que se descobre atravs do visor. Esta atitude exige concentrao, uma disciplina de esprito, sensibilidade (). Ora, para uma fotografia paisagstica dotada de esprito, a fervilhar de mundos por detrs do cenrio retratado, fulcral que aquando do acto fotogrfico corao, cabea e olho estejam em comunho e se fundam num s. A natureza oferece uma abundncia quase infindvel de temas fotografveis, e um mesmo tema pode originar realidades muito diferentes. J Fay Godwin afirmava passar cerca de duas horas a fotografar um mesmo tema a fim de captar as subtis mudanas de luz. A isto chamava sentir o tempo. Cabe ao fotgrafo escolher o que fotografar, o enquadramento, o ngulo que pretende, a luz mais adequada, se vai optar pela profundidade de campo, se pelas texturas, etc. Fotografar tambm resistir e cada um resistir conforme a sua pessoa, No humanamente possvel fotografar tudo; h que escolher, portanto h que excluir. Mas tambm no possvel reduzir o mundo sua representao fotogrfica. Tudo depende do fotgrafo e ele que determinar, ou melhor, delimitar o momento que quer eternizar, o privilegiado, excluindo os outros.A fotografia o nico meio de expresso que fixa um momento preciso e a este seguem-se inmeros outros que nunca se repetem, so nicos e suscitam incontveis possveis composies. A composio deve ser uma das nossas preocupaes constantes, mas no momento de fotografar ela s pode ser intuitiva, pois estamos volta com instantes fugidios em que as relaes so instveis. Para aplicar a seco urea, o compasso do fotgrafo s pode estar dentro do seu olho.

Entende-se que fotografia pode ser definida, segundo Cartier-Bresson, como uma aco imediata, um impulso momentneo e espontneo que capta o instante e sua eternidade. Aquilo que desaparece no volta nunca, desaparece para sempre. O cenrio fotografado eterno, viver para sempre preso na fotografia, a sua grandiosidade permanecer l perpetuamente. O que me apaixona e guia na fotografia que o gesto e o esprito coincidam.

Fotografia de Informao Versus Fotografia Artstica

A cmara no tem seno um olho: a lente. S pode registar um fragmento do mundo visual. O fotgrafo leva com ele o segundo olho. Este o olho da seleco. O artista tem ainda um terceiro olho: o olho da imaginao criativa. Este terceiro olho o que pode penetrar no nosso mundo interno.

David H. CurlA fotografia de informao diz respeito a todas as instncias em que ela utilizada como forma de autenticao da realidade, de a representar. Aqui fala-se da fotografia astronmica, cientfica, documental, a micrografia, a radiografia, a fotografia de viagem ou de um casamento, etc. Esta vertente da fotografia normalmente utilizada por grupos limitados de pessoas como a famlia, uma certa comunidade cientfica de uma determinada rea especfica, os amigos.

Podemos tambm associar aqui o fotojornalismo muito embora a sua rea seja bastante mais alargada, podendo dizer-se at global. As fotografias que o fotojornalista regista so desencadeadoras de aces por parte da sociedade. Elas actuam sobre as pessoas, tm impacto. Aqui a fotografia tem um papel educador, educa os indivduos, informa-os sobre o estado das coisas no mundo, e neste contexto que se desencadeiam aces uma vez que aquilo que uma pessoa v fotografado de imediato tido como verdadeiro. Isto porque j aprendemos a desconfiar das palavras mas ainda no aprendemos a desconfiar das imagens.Agora tempo de dissertar acerca da fotografia artstica, apesar de por vezes a linha que divide a vertente artstica da vertente informativa ser muito tnue. Nomes como Ansel Adams, Edward Weston, Minor White, unicamente fazem sentido nesta vertente, tal a magnitude das suas obras. Enaltecem a beleza de tudo o que fotografam, engrandecem a perfeio da natureza.Estes fotgrafos-artistas utilizam a fotografia para mostrar o que o pblico conhece mas no viu. () O que o artista produz, seja ele fotgrafo, pintor, romancista ou poeta, o resultado da dolorosa procura duma coerncia entre a pulso interior e uma realidade que lhe d corpo. A fotografia cincia e arte, permite que se expressem sentimentos e emoes. Ao longo do tempo a mquina fotogrfica deixou de ser vista como um objecto novo e at algo estranho para passar a ser vista como objecto de criao e de instrumento da imaginao. O ano de 1933 foi muito importante na afirmao da fotografia como arte. Foi nesta data que o Museum of Modern Art de Nova York abrigou a primeira de muitas exposies de fotografia. Assim se comeou a afirmar sem receios que a fotografia arte.

Fotografia de PaisagemSe eu pudesse contar uma histria com palavras, no precisava de andar com uma cmara. Lewis Wickles Hine

O cenrio o tema da fotografia paisagstica e a paisagem uma parte do cenrio vista de um determinado ngulo. Nas fotografias de paisagem muito raro ver pessoas e animais, e quando aparecem vemo-las em dimenses muito pequenas e includos na composio da imagem. Alguns fotgrafos defendem ainda que praias, cidades e estruturas feitas pelo homem tambm no devem ser includas neste gnero de fotografia. De acordo com esta considerao, a paisagem deve estar em bruto, sem qualquer toque humano, ainda que nem sempre seja assim to rgido. possvel distinguir trs estilos dentro da fotografia paisagstica: o estilo representativo, o abstracto e o impressionista.O estilo representativo , como alis o prprio nome indica, aquele que reflecte o lado mais realista e natural, sem qualquer manipulao.O que integra o cenrio tratado pelo fotgrafo no estilo abstracto, sendo que os elementos naturais aparecem quase irreconhecveis. A prioridade pertence forma, os elementos podem ser sobrepostos para comparao ou mesmo para contraste.Finalmente, fao referncia ao estilo impressionista onde o fotgrafo emprega tcnicas fotogrficas que resultaro em imagens um pouco menos concretas um pouco mais irreais, apesar de ainda conterem aquilo que delas faz fotografias de paisagem. Quem v a fotografia fica com a sensao da paisagem e no apenas com a viso objectiva desta.

Desta feita, neste ltimo estilo que a cmara obtm impresses da natureza menos concretas, composta pela luz atmosfrica, misturando todos os objectos visveis com uma consistncia que durante muito tempo era exclusivo dos pintores mais persistentes e observadores.

Ansel AdamsO negativo comparvel partitura dum compositor; a cpia a sua interpretao. Ansel Adams Ansel Adams um dos grandes nomes da fotografia. O seu trabalho conhecido por todo o mundo. Ainda hoje, a forma como retrata as paisagens fascina pessoas por todo o lado, seja atravs dos livros publicados, postais e calendrios.Nasceu em So Francisco em 1902. Desde cedo, aos doze anos mais precisamente, demonstrou grande apetncia musical, aprendendo a tocar piano sozinho. O Parque Nacional de Yosemite foi de suma importncia na sua vida. Foi l que fotografou pela primeira vez, em 1916, usando uma Kodak N1 Box Brownie. Adams voltaria a Yosemite inmeras vezes ao longo da sua vida.Entrou para o Sierra Club em 1919 e foi aqui que em 1922 publicou as suas primeiras fotografias. Doze anos depois tornou-se director do Club e defensor do Parque Nacional de Yosemite.Foi Albert M. Bender que encorajou Adams se transformasse no artista que, segundo o crtico Abigail Foerstner, fez para os parques nacionais algumas coisas comparveis somente com o que os picos de Homero fizeram de Odisseia.

Em 1932, Ansel Adams funda juntamente com Edward Weston, Willard Van Dyke, Imogen Cunningham, entre outros, o Grupo f/64. Buscavam a fotografia enquanto pura arte, imagens lmpidas e a profundidade de campo.Adams teorizou acerca da fotografia, onde props processos que foi utilizando ao longo da vida. So apenas propostas e no uma religio para se seguir cegamente. Ele critica aqueles que seguem outros sem deixar voar a sua prpria imaginao e criatividade. Segundo ele existe gente demais a fazer somente o que lhes disseram para fazer. A maior satisfao que podemos obter da fotografia est na realizao de nosso potencial individual, na percepo nica de algo e em sua expresso por meio da compreenso dos instrumentos. Tire proveito de tudo: no se deixe dominar por nada, a no ser por suas prprias convices. Jamais perca de vista a importncia essencial do orifcio. Qualquer esforo humano que valha a pena depende de muita concentrao e grande domnio dos instrumentos bsicos.

Nas fotografias que criava estava implcita muita dedicao, tcnica, e um grande cuidado com os mnimos pormenores, da que se diga que este era um fotgrafo altamente tcnico. Afirmava optar, atravs de diferentes mquinas de diferentes modelos, mostrar a natureza, isto esperando que o fotgrafo possa levar essas discusses em considerao no contexto de suas intenes e de seu prprio estilo. A fotografia no teria de ser uma representao inequvoca da realidade, o fotgrafo deve, atravs da sua alma e olhar, ser capaz de dotar as suas fotografias de uma certa magia.Ferramenta de auxlio ao olhar para que se veja mais alm ento a tcnica que importa para Ansel Adams. Ajuda a mente a produzir aquilo que apreende a partir de um determinado cenrio. Em suma, a tcnica deve adequar-se e estar ao servio da criatividade e da imaginao.Ansel Adams era um visionrio no que toca a fotografia paisagstica e na preservao do seu lado selvagem, era tambm um smbolo do Oeste Americano. Buscava, semelhana de outros fotgrafos americanos, a perfeio na paisagem, o idlico, a perfeio, a harmonia, o transcendental. Inmeras vezes ter sido criticado pelo facto de nas suas fotografias no surgirem pessoas e por se interessar pela natureza selvagem. Mas foi, no entanto, graas a ele que algumas reas tm vindo a ser protegidas ao longo dos tempos. Acreditava numa vivncia equilibrada e harmoniosa entre humanos e a natureza.As suas fotografias a preto e branco no eram documentos realistas que muito objectivamente retratavam a natureza. Ao invs, buscavam uma intensificao e purificao da experincia psicolgica do contacto com a beleza natural. Ensinou a ver na natureza a sua sublime magnificncia. Concentrou-se naquilo a que chamou os aspectos esprito-emocionais da natureza selvagem.Num contexto artstico mais tradicional e histrico, Adams foi a ltima e essencial figura na tradio romntica americana da paisagem na fotografia do sculo XX.

Toda a sua obra inclui tambm retratos, estudos arquitectnicos bem como a ilustrao comercial. Toda esta diversidade que lhe diz respeito torna-o um dos mais importantes fotgrafos do sculo XX.

Acostumado ao dedicado trabalho das tcnicas musicais e ao estudo de grandes compositores, transferiu para as suas fotografias o sentido de esttica voltada para a criatividade. Este factor fez de Ansel Adams um fotgrafo altamente tcnico, seno vejamos: as suas fotografias so cuidadosamente produzidas at aos mais nfimos pormenores, de modo a que nada fuja do seu controlo.

Espero que o meu trabalho encoraje a expresso pessoal de cada um e estimule a busca pela beleza e o entusiasmo criativo pelo magnfico mundo nossa volta. Debrucemo-nos agora, por instantes, em algumas fotografias deste mestre da fotografia.Algumas obras de Ansel Adams

Sendo Mount McKinley a mais alta montanha dos Estados Unidos, torna-se claro o que levou Ansel Adams a querer capt-la, uma vez que busca o maior dos significados. Procura algo grandioso que evoque o transcendental, um cenrio puro, um mundo primitivo que tenha em si entranhada uma presena filosfica, um significado superior por detrs daquilo que visvel ao olho. Criar, atravs do contraste do claro e escuro e da imponncia do cenrio, algo inexplicvel, impossvel de ser exprimido por palavras, foi deveras o efeito pretendido. Numa fotografia organizada com uma srie de faixas horizontais, temos num primeiro plano uma plancie e ao olhar com ateno podemos vislumbrar msica infiltrada na imagem, sobretudo nas pequenas montanhas no sop de outras maiores que lhe conferem um certo ritmo. Tambm a grandiosidade da paisagem impe uma paridade com a msica, lembrando grandes compositores como Beethoven, Mozart, Schubert, entre outros. No h qualquer vestgio de actividade humana. No cimo da fotografia apercebemo-nos da espantosa forma como a nuvem parece espelhar a montanha, parecendo mesmo um reflexo desta, e a forma como a luz vai criando um sentido de espao.

Ansel Adams procurava, juntamente com outros fotgrafos como Weston, uma esttica formal, o perfeito, o ideal de paisagem americana.

Na fotografia Half Dome, pico Glacial, Parque Nacional de Yosemite estamos mais uma vez perante uma magnificncia da natureza. Aqui o pretendido era fazer sobressair o cume da montanha iluminada contra o cu carregado, embora as nuvens se apresentassem mais claras. Decidiu ampliar as nuvens mais escuras, de modo a que do lado direito se veja uma escurido que parece deslocar-se, o lado esquerdo completamente sombrio.

A claridade que emana das nuvens faz com se repare imediatamente no cimo da montanha e estes dois elementos contrastam com a escurido envolvente. A variedade de tons que podemos visualizar confere a esta fotografia algo de fascinante. A riqueza desta imagem reside neste equilbrio e ao mesmo tempo no contraste dos tons.Se por momentos prestarmos ateno s nuvens temos a sensao de revolta, os cus esto zangados. O pico e as nuvens quase parecem tocar-se o que leva a pensar que aqui, como em outras partes do mundo que sabemos existir mas que nunca vimos, que o cu e a terra se chocam.

Como referi anteriormente, cada momento mpar, no se volta a repetir, desaparece to depressa como aparece. No seu livro A Cpia, Ansel Adams mencionou que escassos minutos aps ter fotografado este cenrio o sol fez-se ver e esse momento nico deixou de existir.Ansel Adams captou um cenrio exclusivo e revelou aquilo que viu e sentiu.

Ansel Adams a fotografias que acendem em ns sensaes fortes, inexplicveis, indescritveis e intraduzveis, que no se podem reduzir a meras palavras pois estas so instrumentos rudimentares quando comparados c a imagem, essa linguagem mais profunda mais intensa, e mais completa que encerra em si um nmero infindvel de contrastes: o claro e o escuro, o visvel e o invisvel, a tranquilidade e a fria.

As palavras no so suficientes para descrev-la e s uma imagem vale mais do que mil palavras. Para esta fotografia qualquer palavra que a tente explicar soar um tanto oca, tal a sua insignificncia perante este cenrio. H algo de sobrenatural, de majestoso. Aqui no temos uma montanha enorme como nas anteriores fotografias, podemos antes ver um nevoeiro que cobre a floresta e que parece fundir-se e desaparecer no horizonte.

Podemos ir at mais longe. Se abrirmos a mente e o corao e fixarmos os olhos na imagem, comeamos a imaginar o que poder estar escondido por entre as rvores. Aqui h o visvel e o invisvel que podemos afigurar. Vemos as rvores, vemos as nuvens mas tambm imaginamos o invisvel que estar por detrs da nvoa. O contraste entre os tons mais claros e os tons mais escuros e o equilbrio entre a sombra e a luz so o segredo. Este fotgrafo-artista apostava na sua criatividade e sensibilidade, lidando com coisas que desaparecem, e quando desaparecem, impossvel faz-las reviver.. Emprestou-nos os seus olhos mostrou-nos o infinito, e toda a intensidade que pode haver na natureza. Ensina-nos no apenas a olhar para ela mas sobretudo a v-la e senti-la.

Falemos do que h para alm deste cenrio. Emana por detrs da nuvem uma luz que se pode classificar de quase celestial. Temos escurido, temos sombra, temos luz e temos uma certa musicalidade nesta fotografia. Depois da tempestade vem a bonana, depois da chuva vir o sol, como podemos perceber os raios de sol quase trespassam a nuvem como que impondo-se perante ela a pouco e pouco. A nuvem e a fotografia so as duas autnticas mquinas de luz, vus, fundos, armadilhas, reveladores, ecr, cortinas, espectros, fantasmas de luz. No s h luz por detrs das nuvens, mas h tambm a impresso de a prpria nuvem ter luz sobretudo nos extremos. O cu ocupa grande parte da fotografia e contrasta com o preto da terra. Podemos desta forma detectar aqui uma presena algo transcendental, ao olhar atentamente o cenrio sente-se a magia nesta natureza selvagem.

Mais uma vez Ansel Adams faz jus ao seu dom de conferir ao cenrio algo especial, algo por detrs dele. No est aqui presente uma mera representao da realidade, h algo mais, h sentimento. Vemos o cenrio pelo olho e corao do fotgrafo. Aqui a representao est estreitamente ligada transcendncia, ao poder divino.

As nuvens parecem revoltas e parecem estender-se nos cus com toda a sua fora avassaladora revelando algo assustadoramente fantasmagrico, poderoso e dominante.

Olhar esta imagem faz-me tambm lembrar das fortes batidas das sinfonias de Bethoveen, pelo que me atrevo a dizer que h algo de musical no cenrio.

Foi esta arte de elevar a natureza ao um pedestal divino que fez com que determinados parques que Adams retratou sejam at hoje protegidos, cenrios onde se celebra toda a beleza do mundo. Ningum querer destruir aqueles cenrios perfeitos, idlicos, dotados de uma espiritualidade suprema.

A fotografia Minos Lake and Mount Watkins, demonstra novamente a abordagem fotogrfica que Ansel Adams elege. Aqui podemos mais uma vez vislumbrar a perfeio, chegando mesmo a haver um intenso sentimentalismo, um lirismo profundo. Os elementos do cenrio coexistem harmoniosamente, h um subtil e delicado equilbrio. No admira que Ansel Adams seja conhecido pelos postais.

Tudo nesta fotografia to perfeito que parece ter sido construdo pela mo de uma entidade divina. Procura-se algo por detrs do que vemos, h sensao, emoo, sentimento.Se traarmos uma linha horizontal a meio da imagem verificamos que o que est do meio para baixo um reflexo invertido completamente perfeito da imagem que est do meio para cima, procurando conferir-lhe um significado algo grandioso.O contraste irrepreensivelmente utilizado para criar o sentimentalismo.Pode afirmar-se sem qualquer sombra de dvidas que Ansel Adams uma fonte inexaurvel de criatividade e inspirao. Escolhe o seu tema, avalia a sua magnitude, mede a sua importncia e fotografa o instante que resultar numa obra de arte.

O cenrio que vemos nesta fotografia algo acinzentado, com um contraste de tons que a torna, no divergindo das outras fotografias, emocionalmente potente, poderosa, e dramtica.

O primeiro plano, em que nos aparece o rio, est na completa penumbra. J o topo da montanha banhado por alguma claridade, seguido do cu nublado mas nem por isso sombrio, antes o contrrio.

V-se por detrs das montanhas uma luz, uma claridade muito intensa. H por detrs uma qualquer divindade. E o rio parece indicar-nos o caminho at ela. Esta uma imagem extremamente forte. Podemos aqui fazer uma associao msica, uma vez que as imagens que vemos ao fundo em muito se parecem com as oscilaes de, por exemplo, uma sinfonia.H um mundo que fervilha alm deste mundo que vemos, um mundo que parece estar prestes a romper aquele que vemos e a mostrar-se.

Podemos comparar esta fotografia de Ansel Adams com a fotografia Dunes, Oceano 1936 de Edward Weston.

Esta fotografia consiste no aproveitamento de trs principais elemento: a areia, a luz e a sombra. Todos estes elementos esto sujeitos a contnuas mudanas. Ao fotograf-los, o fotgrafo prende-os no tempo e no espao, capta-os para todo o sempre, para uma incessante eternidade. As linhas que vemos na areia do-nos a sensao de movimento.

Este contraste bem como os jogos de luz expressam uma presena metafsica, transcendental, de outro plano que no o terrestre, o divinal.Outros Fotgrafos

Muitos outros fotgrafos se dedicaram a enaltecer a natureza, acreditando sem quaisquer dvidas que a fotografia uma arte.

Edward Weston

Edward Weston dedica-se vertente artstica, aquela que torna um cenrio em algo mais, em algo que se supera a ele prprio.

Dele se diz que tudo aquilo que fotografa se torna algo nico, diferente.

A lente revela mais do que o olho pode ver.

Fay Godwin

Comeou por retratos, mas depressa se voltou para as paisagens. Costumava permanecer cerca de duas horas a fotografar subtis mudanas de luz a que chamava sentir o tempo. Procura o sentimento e o intenso lirismo nas paisagens.No acredito que exista algo como uma fotografia definitiva de uma qualquer coisa. A terra est viva, respira, e a luz modifica as suas caractersticas a cada segundo, todos os dias. Charlie Waite

Nascido em 1949, este fotgrafo britnico paisagstico trabalhou para o teatro e televiso Britnicos durante uma dcada. Mas gradualmente deixou-se fascinar pela luz e pelo design, pelo modo como a paisagem pode ser vista por ns atravs do jogo da luz e da sombra. Este fotgrafo foi de suma importncia no renascimento mundial da fotografia paisagstica.Por vezes penso na alegria que estar na presena de cenrios maravilhosos. onde a luz e as formas se entrelaam to harmoniosamente que me sinto maravilhado pelo seu mistrio.Geoff Murray

Este fotgrafo contemporneo define-se como fotgrafo paisagstico e da natureza selvagem. fascinado pela Tasmnia na Austrlia que, segundo o fotgrafo, possui os mais belos locais.Gosta de tornar as suas imagens em cenrios dramticos.

H sempre algo mais a descobrir.

Jeremy Turner

Este fotgrafo afirma ter a esperana de que as suas fotografias possam mudar a atitude das pessoas perante o mundo. Declara ainda que o mundo no pode ser visto apenas como um local para passar o fim-de-semana ou para passar frias. Turner quer chamar a ateno pelo facto de o mundo nos manter e pelo facto de que sem ele no seramos nada. Anseia que se preste mais ateno ao mundo.Jeremy Turner foi muitas vezes inspirado pelo grande mestre da fotografia, e de quem j tive o prazer de referir ao longo deste estudo, Ansel Adams. Este facto visvel nas suas fotografias que lembram as de Adams.

H muitos locais no mundo que merecem ateno.

Importa contudo mencionar que nos dias que correm inmeras fotografias de paisagem so tiradas todos os dias por fotgrafos profissionais e at fotgrafos amadores. No entanto para tornar essas fotografias majestosas alguns deles utilizam programas de computador como o Photoshop, o Corel Draw, etc.

Estas fotografias manipuladas retiram aquilo que prprio da natureza, que lhe retira a sua verdadeira essncia e lhes confere algo que no lhe pertence e que falso.Vejamos alguns exemplos:

Fonte: http://olhares.aeiou.ptAs rvores que se juntam

Antes de me debruar na anlise a esta fotografia que captei no mbito da disciplina de fotografia, importa referir que a imagem que em cima vemos se trata da digitalizao do negativo e no da fotografia revelada em laboratrio. Enquanto que a imagem a cima nos aparece num tom spia, a revelada em laboratrio tem tons de preto, branco nas nuvens e cinzentos detendo uma carga mais dramtica. Ser ento sobre esta ltima que me debruarei por alguns instantes, sendo a imagem a cima apenas uma referncia.Devo confessar que no final do trabalho em laboratrio me surpreendi agradavelmente com o resultado, no imaginava um resultado to intenso.

O entrelaar dos ramos parece formar uma teia cujas garras pretendem alcanar o inatingvel, o divino. Os ramos que se estendem na horizontal a partir dos lados para o centro parecem abrir caminho e convidar-nos a entrar num espao e tempo perfeitos, onde reina a harmonia, a tranquilidade e a paz. Os ramos parecem surgir de um espao mais obscuro e misterioso em busca de luz e de uma comunho com o divino. Os vrios tons de cinzento conferem uma sensao de mistrio. Outros ramos porm sobem nos cus apontando para o infinito, em busca de algo sobrenatural. Esta fotografia transpira lirismo, transcendentalismo, algo de sobrenatural. Tambm ela capta a natureza na sua magnitude, na sua majestosa beleza.Concluso

Fotografar pois capturar o efmero e conferir-lhe imortalidade e intemporalidade. Fotografar a natureza captar a sua essncia, o que nela h de mais sublime e grandioso. desenhar com luz, jogando com os seus diferentes matizados e imbuir-lhe poesia, msica, sentimentos, vivncias e sonhos. E por isso fotografar uma arte que requer uma especial sabedoria e sensibilidade e uma coragem de apreender a beleza na sua fugacidade e a transmitir aos outros, para que tambm estes possam desfrutar desses momentos e sentir, admirar, elogiar e preservar essa majestosa natureza. Ansel Adams pode retribuir natureza o privilgio de desfrutar de momentos inesquecveis, capturando a sua imagem e dando a conhecer a sua obra a toda a humanidade partilhando com ela emoes, vivncias e sentimentos. Toda a sua obra um elogio beleza, perfeio e grandiosidade da natureza. E por isso devemos admirar a obra mas tambm o seu criador.

Este trabalho foi para mim extremamente especial. Devo revelar que h fotografias nas quais me difcil ver alguma beleza, o que no acontece de todo com fotografias dos grandes mestres como Ansel Adams, Minor White, Edward Weston, entre outros.

Com a certeza fico de que daqui em diante olharei a natureza de outra forma e de que a mquina fotogrfica ir comigo para onde quer que eu v, no como um mero objecto mas antes como um prolongamento de mim prpria, do meu olho, do meu esprito e do meu corao.

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Half Dome, pico Glacial, Parque Nacional de Yosemite

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Evening Cloud, Ellery Lake

Mirror Lake and Mount Watkins

Montes Tetons e o rio Snake, Parque Nacional Grand Teton, Wyoming

Dunes, Oceano

Lake Tenaya, 1937

Oceano, 1936

Sunrise, Lake Matheson, South Island, New Zealand

Little Sandhills, Moreton Island National Park, Austrlia

Forest in mist near Camp Rock, Morton National Park, NSW

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CASTELLO-LOPES, Grard, Refkexes sobre Fotografia, Assrio e Alvim, Lisboa, 2004, p.119

In http://sepia.no.sapo.pt/sepiafot_c.html

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Ibidem

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