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cadernos pagu (43), janeiro-junho de 2014:13-56. ISSN 0104-8333 DOSSIÊ O GÊNERO DA POLÍTICA: FEMINISMOS, ESTADO E ELEIÇÕES http://dx.doi.org/10.1590/0104-8333201400430013 Para além da sociedade civil: reflexões sobre o campo feminista* Sonia E. Alvarez ** Resumo Este artigo propõe uma linguagem conceitual, um aparelho interpretativo e uma nova unidade de análise para repensarmos as dinâmicas e mudanças dos feminismos no Brasil e América Latina. Enquadrando os feminismos como campos discursivos de ação, elabora uma revisão narrativa de três momentos na trajetória dos feminismos contemporâneos à luz dessa abordagem analítica: 1) o “centramento” e a configuração do feminismo no singular; 2) o descentramento e pluralização dos feminismos e o “mainstreaming” (fluxos verticais) do gênero; e 3) o momento atual de “sidestreaming” (fluxos horizontais) dos feminismos plurais e a multiplicação de campos feministas. Palavras-chave: Movimentos Sociais, Protestos, Feminismos Plurais, Feminismos Jovens, Feminismos Negros, Transversalidade, Sidestreaming. * Recebido para publicação em 22 de julho de 2014, aceito em 15 de setembro de 2014. ** Center for Latin American, Caribbean and Latino Studies, University of Massachusetts-Amherst. [email protected].

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cadernos pagu (43), janeiro-junho de 2014:13-56. ISSN 0104-8333 DOSSI O GNERO DA POLTICA: FEMINISMOS, ESTADO E ELEIES http://dx.doi.org/10.1590/0104-8333201400430013 Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista* Sonia E. Alvarez** Resumo Esteartigopropeumalinguagemconceitual,umaparelho interpretativoeumanovaunidadedeanlisepararepensarmos asdinmicasemudanasdosfeminismosnoBrasileAmrica Latina. Enquadrando os feminismos como campos discursivos de ao,elaboraumarevisonarrativadetrsmomentosna trajetriadosfeminismoscontemporneosluzdessa abordagemanaltica:1)ocentramentoeaconfiguraodo feminismonosingular;2)odescentramentoepluralizaodos feminismos e o mainstreaming (fluxos verticais) do gnero; e 3) omomentoatualdesidestreaming(fluxoshorizontais)dos feminismos plurais e a multiplicao de campos feministas. Palavras-chave:Movimentos Sociais, Protestos, Feminismos Plurais, Feminismos Jovens, Feminismos Negros, Transversalidade, Sidestreaming.

*Recebido para publicao em 22 de julho de 2014, aceito em 15 de setembro de 2014. ** CenterforLatinAmerican,CaribbeanandLatinoStudies,Universityof Massachusetts-Amherst. [email protected] alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista Beyond Civil Society: Reflections from the Feminist Field Abstract Thisessayproposesaconceptuallanguage,aninterpretive framework, and a new unit of analysis for re-thinking the changing dynamicsoffeminismsinBrazilandtherestofLatinAmerica. Theorizingfeminismsasdiscursivefieldsofactioninlightofthis analyticalperspective,itdevelopsanarrativerevisionofthree momentsinthetrajectoryofcontemporaryfeminisms:1)the centeringandconfigurationoffeminisminthesingular;2)the de-centering and pluralization of feminisms and the mainstreaming (orverticalflows)ofgender;and3)thecurrentmomentofside-streaming(orhorizontalflows)ofpluralfeminismsandthe multiplication of feminist fields. Key Words:Social Movements, Protests, Plural Feminisms, Young Feminisms, Black Feminisms, Mainstreaming, Side-Streaming. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez15 Introduo Muita tinta j foi derramada, inclusive por mim, sobre como deveramos avaliar o surgimento, o desenvolvimento, o sucesso, e o declnio dos movimentos sociais, suas estratgias e relaes com oEstado,ospartidos,osespaosparticipativos,easarenas internacionais.1Entrens,feministas,militanteseacadmicas, essasquestesconstituemfocofrequentetantodemanifestos polticos e ensaios eruditos como de brigas ferrenhas em mesa de botecoediatribesnociberespaoenasredessociais. Independentementedonveldeabstraoouintensidade,nossas indagaespressupemumadefinio,quasesempretidacomo sensocomume/ouverdadecientfica,doqueprecisamente constituiriaummovimentosocialou,nocaso,omovimento feministasuasprincipaisexpressesorganizativas,atoras legtimas, lugares de atuao, etc. Miramos siempre a un tipo de organizacindemujeresenlasclavesdondeimaginamosenla dcadapasadayesonodaresultado,afirmaramastericas ativistaschilenasRaquelOleaeClaudiaBaratiniduranteuma conversaemSantiagosobreoestadodomovimentonofinal dosanos1990.Esmuyfrustranteporquetmiraselmodelo socialybuscasesoynoloencuentras,insistiram,peronada dice que se va a volver a articular de la misma manera. Ese es el grandesafo.2Oargumentoterico-epistemolgicoquesvou poder pincelar aqui foi originalmente inspirado em parte por esse desafio. Vou sustentar que como e onde buscamos, o feminismo emmovimento,inevitavelmente,informaoqueconseguimos enxergare,consequentemente,flexionacomopodemosimagin-lo, teoriz-lo, e portanto, pratic-lo. Ruminar, discursar, discordar, eatdelirarsobreoestadodomovimentoediagnosticarasua sadeemrelaoaopassado,ssuasperspectivasatuais,eao seufuturo,imediatooudistante,sopassatemposcorriqueiros

1Alonso,2009;AberseVonBulow,2011;eGohn,2012e2013,oferecem panoramas sucintos e incisivos da literatura sobre movimentos sociais. 2Entrevista com Raquel Olea e Claudia Barattini, La Morada, Santiago de Chile, em 11 de julho 1997. 16Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista entreaquelas(ealgunsaqueles)queseidentificamcomoque proponhoqueentendamoscomocampo(s)discursivo(s)de ao,aoinvsdemovimento(s),feminista(s).Emais,quero sugerir que essas e outras questes interpretativas e preocupaes politico-culturaiscompartilhadas,mesmoquandoas/osnelas engajadas/oschegamadiagnsticosradicalmenteopostos,fazem parte constitutiva de taiscampos. Algumas logo iram retrucar que aquelasmulheresdopartido,movimento,ousindicatotal definitivamentenosofeministas;masmantenhoqueesse debateemsi,tocomumemuitasvezesacrimnio,sobre autenticidadeepertencimento,entreasincludaseas excludas,quemesmorecusadasemalgunscasosinsistememse autoproclamar feministas, um dos componentesdiscursivos que articula o campo feminista.Esteartigopropeumare-visoepistemolgicapara repensarmos as dinmicas dos feminismos no Brasil e na Amrica Latina.Oargumentofazpartedeumprojetomaisamploque procuraelaborarumalinguagemconceitual,umaparelho interpretativo,eumanovaunidadedeanlisequenospermitam melhorapreenderasmudanasnosfeminismoscontemporneos e,porextenso,emoutroscampospolticosquecaracterizamos comomovimentossociaisequeconceitualmentecostumamos situar na arena da sociedade civil. Enquadrandoosfeminismoscomocamposdiscursivosde ao3umanooquevenhoenunciandohjalgumtempo, masquenuncarealmenteexpliciteiteoricamenteesseprojeto mais amplo avana umare-viso interpretativa detrs momentos nastrajetriasdosfeminismosnoSuldasAmricas:1)um primeiromomentodecentramentoeaconfiguraodo

3A minha principal dvida terica na formulao dessa noo com a literatura brasileirasobrecampostico-polticos(Baierle,1992,1998;Doimo,1993, 1995; Sader, 1988). H tambm uma vasta literatura sociolgica sobre/teorias de fields ou campos, influenciada pelo Bourdieu e recentemente revisada em uma proposta de um novo paradigma por Fligstein e McAdam, 2012. Discutir os meus pontos de convergncia e divergncia com essa literatura est fora do escopo do presente trabalho. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez17 feminismonosingular;2)umsegundomomentode descentramentoepluralizaodosfeminismosedo mainstreaming(fluxooutransversalidadevertical)dognero;e 3)umterceiromomento,oatual,emquepresenciamosoque chamodesidestreaming,ofluxohorizontaldosdiscursose prticasdefeminismospluraisparaosmaisdiversossetores paralelosnasociedadecivil,earesultantemultiplicaode camposfeministas.Voumealongarmaisnesteltimomomento, focalizando a experincia brasileira.4 Enquantoosmovimentossociaistipicamentesoteorizados comoumcomponentemaisoumenoscentraldasociedadecivil, sustento que os movimentos feministas, ao igual que a maioria dos chamados movimentos sociais, geralmente se expandem para alm dasociedadecivil.Ancoradosnasociedadecivileseampliando

4ComapoiodeumabolsadaComissoFulbrighteFondosdoLeonardJ. HorwitzEndowmentdaUniversidadedeMasschusetts-Amherst,tive oportunidadederealizarpesquisadecampoemBeloHorizonte,Salvador, Florianpolis,ealgumasoutrascidadesbrasileiras,entrejulhode2013ejunho de2014.VersesanterioresdesteartigoforamapresentadasnoNEPEMenos Seminrios Internacionais em Cincia Poltica, Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas,UniversidadeFederaldeMinasGerais,BeloHorizonte,MG,24de maro2014;noSeminriodasCinco,DepartamentodeCinciaPoltica, UniversidadeEstadualdeCampinas,Campinas,SP,26demaro2014;eno SeminrioDesafiosparaaPesquisanoSculo21:LugaresdaMulherna Poltica, Fundao Carlos Chagas, So Paulo, 14-15 de maio de 2014. Ganhei insightspreciososdasminhasinterlocutoras/esnessesseminrios.Agradeoa tod@squemeconcederamentrevistasecompartilharamdocumentoses colegasquemeacolheramduranteomeusabticonoNEPEM-UFMG, especialmente Marlise Matos; no NEIM-UFBA, particularmente Ana Alice Costa e Cecilia Sardenberg, e, em Salvador, Claudia Pons Cardoso e Suzana Maia, entre fevereiro e junho de 2014. Vrias estudantes de ps-graduao e recm-doutoras prestaramassistnciaimprescindvelnessaetapadapesquisa,especialmente LauraMartelloeAnaCarolinaOgandonaUFMG,RebecaSobraleViviane Hermidia na UFBA, e Renata Reinaldo na UFSC. Fico grata tambm s colegas feministasdaUFSCpor terem merecebidomaisumavez,especialmenteJoana Pedro,CristinaWolff,easjovenspesquisadorasdoLaboratriodeEstudosde GneroeHistria.ngelaArajogentilmentemebrindouaoportunidadede contribuir a esse dossi. Por ltimo, agradeo, como sempre, a Claudia de Lima Costa,incansvelinterlocutora,companheiradevidaeeditoraminuciosado meu portugus acadmico. 18Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista lateralmenteparaabarcardiversasinstanciasorganizativasda mesma,elesmuitasvezestambmseestendemverticalmente, paraassimdizer,emdireosociedadepoltica,aoEstado,e outros pblicos dominantes nacionais e transnacionais. Os campos discursivos de ao so muito mais do que meros aglomeradosdeorganizaesvoltadasparaumadeterminada problemtica;elesabarcamumavastagamadeatoras/es individuais e coletivos e de lugares sociais, culturais, e polticos. Os setoresmaispolticaeculturalmentevisveisdessescampos,eos pontosnodaisqueosarticulam,variamaolongodotempo.Em diferentesmomentos,distinta/osatoras/esouvertentesganham maioroumenorvisibilidadepolticaecultural,emaioroumenor acesso ao microfone pblico e aos recursos materiais e culturais, s vezesconseguindoseestabelecercomohegemnicos.Eem contextoshistricosdistintos,diversosatores,comoporexemplo, setoresdaIgreja,asONGs,ouatespaosdentrodoprprio Estado, podem servir como ns articuladores desses campos. Elessearticulam,formaleinformalmente,atravsderedes poltico-comunicativas ou melhor, teias ou malhas reticuladas.5 Ou seja, as atoras/es que neles circulam se entrelaam em malhas costuradasporcruzamentosentrepessoas,prticas,ideiase discursos(Doimo,1995).Eessasteiasnosvinculamgrupos estruturadoseONGs.Tambminterconectamindivduose agrupamentosmenosformalizados,situadosemdiversosespaos nasociedadecivil,nasociedadenocvica,quesemanifesta politicamentenasruasenocampo(quecostumochamardo outrodasociedadecivil),nasociedadepoltica, noEstado,nas instituiesintergovernamentais,nosmovimentoseredesde advocacy transnacionais, na academia, nas indstrias culturais, na mdia e na internet, e assim por diante. Essescampostambmsearticulamdiscursivamenteatravs delinguagens,sentidos,visesdemundopelomenos parcialmentecompartilhadas,mesmoquequasesempre

5Sobreredesdemovimentossociais,verDiani,2003;Mische,2008;Scherer-Warren, 1993, 2012.cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez19 disputadas,porumaespciedegramticapolticaquevinculaas atoras/esquecomelesseidentificam.Nessesentido,oscampos feministasseconstroempormeiodeumemaranhadode interlocues; as suas redes no so meras condutoras de processos culturais,soculturalmenteconstitudasporinteraes comunicativas(Mische,2003).Elesconformamcomunidades discursivas envolvidas na enunciao de novos cdigos culturais [e polticos]quedisputamasrepresentaesdominantes(Taylore Whittier, 1995:181). Como conjuntos de ideias, pressupostos, temas e interpretaes,osdiscursosfeministasconstituemumuniversode significadosquesetraduzem ouse(re)constroem ao fluir ao longo dediversasteiaspoltico-comunicativas,norteandoasestratgiase identidades das atoras/es que se coligam nesse campo. importante frisar que as pessoas que se identificam com um determinadocampoarticulamedisputamasrepresentaeseos significadosparaeentresi,enososenquadram estrategicamente(atravsdeframingprocesses),para transform-los em demandas que possam ter maior ressonncia comoosistemapoltico,comoalegariaateoriadeprocesso polticosobreosmovimentossociais.6Almdisso,sustentoque essesespaosdiscursivos,emsimesmos,constituemformaes nitidamente polticas nas quais a cidadania construda e exercida, os direitos so imaginados, e no s demandados, as identidades e necessidadessoforjadaseospodereseosprincpiosso negociados e disputados. Quer dizer, no so espaos pr-polticos nempara-polticos,comoficaimplcitonadistinocomumente feitaentremovimentossociaisepartidos,instituiesou processos representados como (realmente) polticos.Emefeito,opoder,osconflitos,aslutasinterpretativas,as disputaspoltico-culturaistambmsoelementosconstitutivosdo campo feminista. Como o caso em todas as formaes polticas, oscamposdiscursivosdeaomovimentistasestosempre minados por desigualdades e relaes desiguais de poder.

6Para uma reviso dessa vasta literatura, ver Tarrow, 2011. 20Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista Essasinequidadespodemeventualmenteseralteradas,j que o campo feminista est permanentemente em fluxo. Isto , os camposerguem-se,seestabilizam,reconfiguram-se,reconstroem-se,eperiodicamente,sedesconstroeme/oudesembocamemou geram novos e distintos campos. Osfluxosdocampofeministaresultamdassuasinteraes dinmicascomoscamposdepodernosquaiseleseinsereem umadeterminadaconjunturahistrica.Etaiscontextosmais amplos, por sua vez, permitem, facilitam, ou at incentivam certas expresses,discursos,eprticasfeministas,aomesmotempoem que sempre limitam, disciplinam, circunscrevem, reprimem ou at criminalizamoutras.7Contudo,as(re)configuraesdocampo feministatambmsoprodutodemudanasnasalianase disputasinternasedastransformaesnascoligaesbemcomo dastransformaesnascoligaeseconflitoscomoutroscampos movimentistas e constituem o principal foco deste ensaio. Ofereoaseguirumbreveesboointerpretativo necessariamenteesquemticoeparcialdealgunstraosdos campos feministas brasileiro e latino-americano em trs momentos dasuastrajetrias,buscandoilustraraalternativaepistmicaque proponhoparaolharmos,enxergarmosere-teorizarmoso movimento.Primeiro Momento: o centramento do campo e a configurao do feminismo no singular Oprimeiroseriaomomentofundacionaldachamada segundaonda.Comotal,existeumaespciedehistriaoficial, umquasemitodeorigem,quecaracterizaessemomentocomo aqueleemqueofeminismo,digamosassim,separeceriamais comoquecostumamosentendercomoummovimentosocialde

7EmrecenteartigopublicadonaRevistaFeminismos,editadapeloNEIM, elaboroasmaneirasemquetrsfasesdoneoliberalismomoldaramas potencialidadeseoslimitesdaaofeministanaregio.Essasfasesneoliberais coincidem,grossomodo,comosmomentosnastrajetriasdosfeminismos analisados aqui. Ver Alvarez, 2014b. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez21 verdade. Segundo a histria oficial, consagrada nas narrativas das veteranasouhistricaseassuasobservadoras,euincluda,as feministasfundadorassemobilizavam,semoviam,muito. Estavamfirmementeancoradasnocampomaisamploda resistnciaedaoposiosditaduras,inclusivemuitasdelas provinhamdalutaarmada.Omitodeorigemtambmsustenta queasfeministasdaqueleperodo,todas,seorganizavamem coletivosautnomos,autossustentadosembasedetrabalho voluntrio,esemanifestavamregularmentenasruaspelofimda subordinao da mulher, pelo fim da ditadura militar, pela anistia e os diretos humanos, pelo direito ao aborto, etc. E, a autonomia entoinvocada,principalmente,emrelaoaospartidose organizaes revolucionrias de esquerda virou uma espcie de palavramgicalanadadiscursivamenteparadistinoentre feministaseoutrasmulheresativistas(SchumahereVargas, 1993:450). Demarcarumespaopolticoprpriorepresentouum dificlimo paradoxo, como sugere Celi Pinto: aomesmotempoquetevedeadministrarastensesentre uma perspectiva autonomista e sua profunda ligao com a lutacontraaditaduramilitarnoBrasil,foivistopelos integrantesdestamesmacomoumsriodesviopequeno-burgus (Pinto, 2003:45). Esemdvidaalguma,esseespaoviabilizouatraduode questestidascomoprivadasemassuntospolticoseixo discursivonorteadordosfeminismosdesdeesseprimeiro momentoemdiante.Pormarepresentaoautonomistado feminismo tende a apagar o fato de que, desde os seus primrdios nosanos70,eleconstituiumcampodiscursivodeao heterogneo, mesmo que relativamente reduzido em sua extenso horizontal e com uma articulao vertical em direo ao Estado nula evidentemente, dado o contexto ditatorial. Naqueleprimeiromomento,ossetoresautnomos procuraramdefiniredelimitarofeminismoemrelaoaoque 22Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista poderamoschamarseuexteriorconstitutivo,comoqualse constrastava: em relao esquerda revolucionria que relegava a questodamulheraostatusdeumacontradiosecundria; s outras mulheres que militavam em partidos de esquerda, que as feministasautnomasrotulavamdepolticasoumilitantes, vistascomonofeministaspor,presumivelmente,priorizarema lutageral;scentenasdeorganizaespopularesdemulheres, muitas vezes ligadas Igreja, ento proliferando pelo Brasil afora; eemrelaoecontrasteimagemdistorcidapelamdiados movimentosfeministasnoNorte/Ocidentetachadosde burgueses,imperialistas,queodiavamoshomens(Alvarez, 2000).Sebempoderamosdizerqueadicotomialutageral-militnciapolticaversuslutaespecfica-militnciaautnoma figuravacomoumcomponenteantagnico,pormcentralda gramticapolticacompartilhadaquearticulavaoincipiente campofeministanaqueleprimeiromomento,essesbinmios tambm foram alvo de disputa contnua, conformando o que vou chamar de um conflito constitutivo desse campo nos anos 70 e 80.8 Essalutainterpretativasearticulouemdiversasescalas local, nacional, e j desde aquele primeiro momento do feminismo latino-americano,emescalatransnacional,atravsdosEncontros FeministasLatino-americanosedoCaribe,quecomearamase realizarperiodicamenteapartirde1981,porexemplo.Desdeo incio,osEncontrosforammarcadosporconfrontosacirrados entrefeministasepolticasedisputashomricassobreseas mulheres populares, negras, lsbicas, e outras outras podiam ou deviamserconsideradasverdadeirasfeministas.Masa dobradinhalutaespecfica-militnciaautnomaganhouclara hegemonianadisputaconstitutivadocampofeministanaquele primeiro momento (Alvarez et al., 2003; Wills, 2002).Porm,muitasentreasalterizadas,asoutrasdo feminismo, seapropriavameautoidentificavamcomelementos

8AhistoriografiarecentesobreesseprimeiromomentodofeminismonoBrasil lanaumaluznuanadasobreessadisputa,tratadadeformanecessariamente esquemticaaqui.VerespecialmentePedro,2008;PedroeWolff,2010;Pedro, Wolff e Veiga, 2011; Rago, 2009. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez23 doideriofeministaeportantofaziampartedoqueaquiestou chamandodecampodiscursivodeao.Masmuitas consideravamqueachamadalutaespecficasupostadivisora dasguasentreofeminismohegemnicoeoseuexterior constitutivo estava profundamente marcada pela classe social, a heteronormatividade,eumabranquidadeinominadaou implcita que constitua um pano de fundo silenciado (Bento, 2002; Cardoso,2012;Maia,2012;Slovik,2010;Pinho,2009)poruma posio racial presumivelmente neutra, no reconhecida, negada, expurgada do seu potencial poltico (Piza, 2000:108, 118). Isto,apesardeessahegemoniadiscursivaterdelimitado estreitamente o que e quem compunha o movimento feminista, ocampofeministacontemporneonoBrasileemmuitoda AmricaLatinadefatojnasceupluraleheterogneo.Como insistiuumadasminhasentrevistadasfeministadelongadata autoidentificada como branca de classe mdia , uma diversidade de mulheres j circulava nesse campo desde o primeiro momento e procurava alianas e coligaes entre si: podeserquetenhaalgunslugares[quesejamexcees], masdaminhaexperinciadePernambuco,doqueeu conheodoBrasil,desdeoincioummovimentoonde mulheresdeclassemdia,estojuntocommulheresque sopobres,mulheresquesonegras,mulhereslsbicase sempre com uma generosidade e uma forma de querer que esse movimento abarque todas essas questes.9

Mesmoassim,muitasentreasoutrasdofeminismo hegemnico logo tambm trilharam caminhos prprios. J no final dos anos 70, por exemplo, algumas mulheres militantes articuladas no interior do movimento negro faziam as suas prprias reflexes sobreasubordinaodamulher,ofeminismo,easuarelao com o racismo:

9Entrevistacoletivasobrefeminismoeantirracismocommulheres autodeclaradas brancas, Salvador, BA, 4 de junho de 2014. 24Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista oprincipaldesafioparaomovimentodemulheresnegras nos70eraestabelecerquaiseramasquestesessenciais para as mulheres negras, de um lado, e qual seria a melhor formadedesenvolvimentoeaplicabilidadedosconceitos feministas,comfinsaorganizarofeminismonegro(Lemos, 1977 apud Santos, 2009:277). SegundoSniaSantos(2009:277),umadascaractersticas marcantes do feminismo negro incipiente era sua contradio direta com o feminismo. Llia Gonzalez chamavaaatenoparaofatodequeascategorias utilizadaspelofeminismoneutralizavamtantooproblema dadiscriminaoracialquantodoisolamentoenfrentado pelacomunidadenegranasociedade(Gonzalez,1982:100 apud Santos, 2009:277). Temumdadomomentodarelaocomofeminismo,da luta com as feministas, quens no tnhamos conflito,que ns estvamos construindo um movimento de mulheres em funo de uma determinada opresso, que era opresso de gnero,masnsmulheresnegrastinharaaegnero (entrevistacoletivacomfeministasnegras,Salvador,BA,10de maio de 2014), afirmouumadasmilitantesnegrashistricasrecentemente entrevistadasnaBahia,entonsramos,naverdadevioladas pelos homens negros e pela mulher branca.10 Jnofinaldos1970einciodos1980,surgiram organizaesdemulheresnegrasnoBrasilquesedeclararam autnomasdomovimentofeministabrancoetambmdo movimento negro misto (que abarca homens e mulheres), se bem queparaJuremaWerneck,umaproeminentemilitantedo movimentodemulheresnegras,aorganizaodasmulheres negras no foi um racha em relao ao movimento negro, foi sim umsaltodequalidade,porcontadasnecessidadessobrea

10 Entrevista coletiva com feministas negras, Salvador, BA, 10 de maio de 2014. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez25 reflexosobreaprpriadiversidade...(Lemos,1997apudSantos, 2009:277).Muitasativistasnegraseoutrasmulheresmilitantes continuaramagindonosmovimentosmistosenamilitncia partidria, comearam a se apropriar e a culturalmente traduzir os discursosfeministas,assimcrescentementeressignificandoo chamadoespecfico.Aespecificidadedasmulheresnegras (Ribeiro,1995),porexemplo,desdelogofoienquadradaem termosdeumatripladiscriminaopormilitantesnegrasque nosesentiaminterpeladaspelofeminismoquenessemomento ento se configura como hegemnico. Segundo Momento: o descentramento e a pluralizao dos feminismos e o mainstreaming do gnero Sedesdeosprimrdiosdachamadasegundaonda,o movimentofeministasemprefoidefatoumcampoplural11es foirepresentado,edepoisreificadonahistriaoficial,como singular, no h de surpreender que o feminismo se diferencie, se pluralizeesedescentreaindamaisquandoocampo oposicionistanoqualeleestavainseridotambmsereconfigura duranteaduplatransioparaademocraciarepresentativade baixaintensidadeeparaummodeloeconmiconeoliberalno final dos 80 e em toda a dcada de 90.Esse seria o momento em que a histria oficial do feminismo proclamaria que o movimento se institucionalizou. Em efeito, porumlado,pareciaqueofeminismojnosemoviamuito; poroutrolado,muitasatorassereposicionaramparaalmda sociedadecivil,adentrandonasmaisvariadasinstituies masculinistas.Diagnsticosdequeomovimentoestaria desmobilizado, despolitizado, cooptado e at moribundo, quando no findo, abundavam nas fileiras feministas.

11 Emvriosartigospublicadosnofinaldos90,euafirmeiqueomovimento feministaestavavirandoumcampodeaonaquelapoca.Aquiestou revisandoessainterpretao,colocandoqueofeminismolatino-americanoj surgiu como um campo desde os seus primrdios nos 60-70.26Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista Muitosdiscursoseprticasfeministasmesmoquequase sempre distorcidas, tergiversadas, e descafeinadas comearam asearticularverticalmente,acircularmaisamplamentenos partidos(agoraeleitorais,nomaissosrevolucionrios),nos prpriosgovernos,nasuniversidades,nacooperao internacional, at na ONU e no Banco Mundial. Isso , o gnero um dos discursos definidores do campo nesse segundo momento, comoveremosaseguirpassouaser,nolinguajardaONU, mainstreamed, ou trasnversalizado, pelas instituies polticas. Eoscoletivosfeministasautnomosdeantanhopareciamdar lugar a ONGs especializadas e profissionalizadas, incentivadas pela chamadacooperaointernacional,quetransformaram-seem verdadeirasinstituiesdomovimento(Soares,1998),masque, segundoassuasdetratoras,emalgunscasosconverteram-seem instituiesaserviodoEstadoedeorganizaes intergovernamentais. Independentemente de se as ONGs soenxergadas como a coca-coladodesertoouasservasouatconcubinasdo patriarcadoneoliberalglobalouumacombinaodastrs designaes!,elasindiscutivelmentefiguraramcomoasatoras maisvisveis(emaiscontroversas)noscamposfeministas brasileiroelatino-americano(eglobal)nosanos1990.Comsuas sedespermanentes,oramentosexpressivos,departamentos especializados,epessoalremunerado,viraramoquepoderamos chamarverdadeirosesteios,nsarticuladoresporexcelncia, dosagoradescentradoscamposfeministas.Produzindoe disseminandoconhecimentosediscursos,almdeexecutandoos maisdiversosprojetos,asONGsesuasredesajudarama entrelaar as atoras feministas agora amplamente espalhadas pela fbricasocial,articulando-asorganizacionalediscursivamente (Alvarez, 2009; 2014a).Contudo,sealgumasONGsdentreasmais transnacionalizadas,profissionalizadaseespecializadas conformaram um ncleo hegemnico do campo feminista naquele segundomomento,noforamasnicasatorasquecontriburam paraasuareconfiguraoedescentramento.NoChile,ento cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez27 consideradopormuitasofeminismomaisinstitucionalizadoe ONGizadodaregiolatino-americana,porexemplo,surgiram maisde30coletivosorganizadosinformalehorizontalmente justamentenopicodainstitucionalizaonosanos1990(Ros, Godoy e Guerrero, 2003). Mesmo que muitas vezes efmeros e nem semprepoliticamentevisveis,quandonopropositalmente reprimidosnocontextoneoliberal,coletivoseoutrasexpresses feministasmenosestruturadas,tantoautnomascomoos primeirosgruposRiotGrrlseagrupaesfeministasnacena anarco-punk(Marques,2013;ZanettieSouza,2008),comoauto-organizadasnointeriordosmovimentosdajuventude,comoo hip-hopeoestudantil,dossindicatos,dosmovimentostnico-raciais,oudospartidos,comonocasodosfeminismos articuladosdentrodosmovimentosesindicatosurbanoserurais (Barbosa,2013;Godinho,1998;MagrinieLago,2013;Silva,2008), continuaramaseestabelecernoBrasileemoutraspartesda regio latino-americana mesmo durante o auge da ONGizao.12 NoBrasil,outroatorfundamentalnocampofeministanos anos1980e1990,masraramentereconhecidoenquantotale situadoclaramenteparaalmdasociedadecivil,foioPartido dosTrabalhadorese,comele,osmovimentospopularesque entoconstituamasuabase.Nasminhasentrevistase observaesdecampoficountidoqueastrajetriaspolticasde muitas ativistas que se identificavam com o feminismo tinham sido

12 Devoesclarecerqueousooriginalquefaodotermo(Alvarez1998,1999) no foi concebido como um sinnimo ou uma abreviao para a proliferao de ONGsnos90.AONGizaoduranteessadcadanorepresentouumsimples aumentononmerodeorganizaesfeministasmaisformalmenteestruturadas, comprofissionalpagoefinanciamentodogoverno,agnciasmultilateraise bilateraisedoadoresestrangeiros.Emvezdisso,aONGizao,ameuver, implicouapromooativaeosancionamentooficialpeloneoliberalismo nacionaleglobaldedeterminadosformatoseprticasorganizativasentre organizaesfeministaseoutrossetoresdasociedadecivil.Efoiapromoo, pelosEstadoseinstituiesintergovernamentais,deprticasmaisretoricamente contidas,politicamentecolaborativasetecnicamenteproficientesque desencadeou o que eu tenho chamado de Boom de ONGs da dcada de 1990 na Amrica Latina (Alvarez 2009, 2014a). 28Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista profundamentemarcadaspelasuapassagemporousua continuadaparticipaoemdiversastendnciasdessepartido,da CUTeoutrosespaossindicais;noMSTeoutrosmovimentos rurais;emdiversosmovimentospopularesligadosIgreja,a exemplo das minhas entrevistadas declaradamente feministas que faziampartedasPromotorasLegaisPopularesediversossetores dosmovimentosestudantisedemulheresruraiseurbanosem vriasregiesdoBrasil(Borda,FariaeGodinho1998;Macauley 2006).AlgumasComissesdaMulher,Assessorias, Coordenadorias,eoutrasagrupaesfeministasdentrodas administraesdoprpriopartido,assuasadministraes municipaiseestaduais,esuastendncias(comonocasodas mulheresdaDemocraciaSocialista)formaramimportantesns articuladoreseprodutoresedisseminadoresdeconhecimentose discursosqueimpulsionaramaampliaoepluralizaodo campofeminista.Assimestimularam,mesmoqueasvezes inadvertidamente,aproliferaodefeminismosnopluralentre mulherespopulares,sindicalistas,emilitantesdomovimento estudantil, por exemplo.13 Nocasodosmovimentosdemulheresnegras,asmalhas organizativaseosencontrosregionaisenacionaisdoprprio movimentonegrotambmserviramcomoforoscruciaisparaa disseminaoeconfiguraodosfeminismosnegros(Cardoso, 2012;RodriguesePrado,2010;Santos,2009).Eosprocessosde ativismotransnacionalestimuladospelasvriasconfernciasda ONUnosanos1990einciodos2000especialmenteBeijinge Durban, no caso especfico dos feminismos negros amplificaram aindamaisasteiaspoltico-comunicativasqueconstituamo campo e conferiram maior visibilidade a feminismos cada vez mais pluraisediversos(Bairros2002;Carneiro2003;OliveiraeSantAnna 2002).Emefeito,adiversidadeapareceentreos discursosmais proeminentes no campo feminista nos anos 1990, produto do fato

13 EntrevistacoletivacomointegrantesdasPromotorasPopularesdeSoPaulo, em10deoutubrode2009;entrevistacoletivacomjovensativistasdaMarcha Mundial das Mulheres, So Paulo, em 18 de agosto 2010. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez29 dequeasoutrasdofeminismonoprimeiromomento decididamenteviraramoutrosfeminismosnessesegundo (Alvarez, 2000). Aautonomiareemergeentrevriosdiscursoschavesque ento faziam ponte e, a sua vez, constituam fonte de disputa entre asdiversasexpressesdofeminismo,reordenandoasua gramtica poltica e redefinindo as disputas e as relaes de poder dentrodocampo.Nessecaso,umadisputaparticularmente estridente se deu em relao participao feminista nos espaos nacionaiseinternacionaisdapolticainstitucional,noschamados mecanismosinstitucionaisdamulher,enasprpriasONGs. Apropriando-sedeumtermoque,comovimosacima,eratido como definidor do feminismo hegemnico no primeiro momento, umanovacorrenteautodenominando-sefeministas autnomaslanouumacrticaferozcontraasativistasaquem elas,pejorativamente,etiquetavamdeinstitucionaisporterem, de forma ostensiva, trado o feminismo e se vendido s foras nefastasdopatriarcadoneoliberalglobal(Alvarez,1999;2009; Alvarez et al., 2004).Gnero,comoautonomia,comosabemos,tambmserviu comoumbridgingdiscourseouumdiscursoquefazponte umportadormultivalentedeumadiversidadesdeprojetosde intervenofeminista(Mische,1995:132).Almdeforneceruma gramticapolticacompartilhada,mesmoquesempredisputada entreolequedeatorasdiversasqueseidentificavamcomo feminismo,osdiscursosdegnerofacilitaramastradues feministas, possibilitando maior fluncia nos esforos das militantes noengajamentoeinterpretaesdasideiaseprticasfeministas paraatores/assituadosnoexteriordofeminismo,emoutros campos dominantes e subalternos.14 Gneroserviuparticularmentebemparaosesforos feministasdearticularassuasagendascomasdeoutrosatores polticos,comotododasvisesdedesenvolvimento,

14 Sobreatraduopoltica-culturalfeminista,verAlvarezetal.,2014;Costae Alvarez, 2009; Alvarez, 2009; Thayer 2010, 2014. 30Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista democratizao,bem-estarsocialedireitoscontidosnaspolticas pblicas(Camura,1997:23).Omovimentofeministafoi percebendo que preciso ter propostas para melhorar a vida das mulheres, propunham na poca Nalu Faria e Miriam Nobre, e isso significa lutar por um mundo melhor para todas e todos, semperderacapacidadederespondersquestesdas mulheres.Nesseprocessodereflexofoiproduzidoo conceito de gnero e, posteriormente, sua articulao com os conceitos de classe e raa-etnia (Faria e Nobre, 1997:29-30). Se, como Snia Corra mantinha em um texto circulado em 1997, asrelaessociaisdegneroconstituemumacadeiade desigualdadesquecomeanonvelmicro(dafamliaeda comunidade),atravessaossistemasnormativosede mediao social (o mercado de trabalho, o sistema legal, as polticas de Estado, os meios de comunicao), terminando porafetarospressupostosapartirdosquaissedefinemas macro-polticas do desenvolvimento (Correa, 1997:8), seognero,enfim,eraubquo,perpassavatodasasrelaese espaos sociais e polticos, ento era imperativo que as feministas tambmestivessememtodolugar,enosnosespaos autnomos.Mas,comosabido,umadasdisputasfundamentais, primordialmenteconstitutivasdocampofeministanessesegundo momento,sedeujustamentenoterrenodiscursivo,movedioe muitas vezes traioeiro do gnero. Isso porque a noo de gnero despolitizadaetecnocratizadatambmvirouparteintegraldo receiturioneoliberaldemuitosgovernoslatino-americanose instituies intergovernamentais no ps-Consenso de Washington. Duranteaschamadasreformasneoliberaisdesegunda gerao, um perodo que representou uma fase do neoliberalismo quealgunsapelidaramdemulticulturalcomfacehumana (Molyneux, 2006; Peck e Tickel, 2002) marcado pelo que, seguindo aminhacolegaEvelinaDagnino,poderamoschamardeuma cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez31 conflunciaperversa(Dagnino2002;Dagnino,OlveraePanfichi, 2006),nonossocaso,degnero.Essaperversidadesurgeda confluncia entre as conquistas reais, que levaram incorporao deelementosseletosdaagendafeministalatino-americanapor algunspartidos,governos,einstituiesintergovernamentaisna Amrica Latina, por um lado, e, por outro, o lugar cada vez mais conspcuo que gnero ocupou na chamada Nova Agenda Anti-Pobreza (New Poverty Agenda) promovida durante essa segunda fase do neoliberalismo global.AAgendaNeoliberalAnti-Pobreza,comosabemos, consideravaqueumaabordagemtecnocrticacomperspectiva degneroseriacrucialparaaumentarocapitalsocialdas mulheres,emparticulardasmulherespobreseracializadas.Eesse capitalsocialfeminino,porsuavez,passouaservistocomo essencialparaintegrarsmulheresaumdesenvolvimentode mercado mais eficaz e eficiente (palavras chaves do neoliberalismo nessafase),inspirandopolticasfocadasparaosgruposditos vulnerveis.Eprecisamentenessaconjunturaqueo neoliberalismopassaavestirumacara(oumelhor,mscara)mais humana,multiculturaleparticipativa,conclamandos associaesdasociedadecivilincluindoalgumasorganizaes feministasprofissionalizadasaseremparceirasno desenvolvimentoenagovernana.Nasuacondiode especialistasemgnero(ougenerlogas...verCosta,1998; Costa e Sardenberg, 1994), algumas acadmicas e ONGs feministas passaramaadministrarprojetosdirecionadossmulherespobres e/ou de grupos raciais subalternizados (Alvarez, 2014a). NoBrasil,comoemmuitosoutrospasesdaregiolatino-americana, podemos dizer que esses setores mais ONGizados do feminismoseconsolidarametornaram-sedominantes,quando no hegemnicos, dentro do campo feminista ganhando acesso privilegiado ao microfone pblico e a muitos recursos econmicos eculturais,eassimexacerbandodesigualdadesjinscritasno campodofeminismoegerandoalgumasnovas.Asinequidades nasrelaesdepoder,semprepresentesemqualquerformao poltica,apartirdalificaramexplcitasemaisagudas:uma 32Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista feministanegradelongadatainsistiu,porexemplo,queo rompimentocomasfeministasbrancasseintensificounesse segundomomento,nahoradadisputadosespaosdepoder, porqueatento,nsnotnhamosnempercepoqueaao daquela militncia gerava um espao de poder.15

Terceiro Momento: o sidestreaming dos feminismos plurais e a multiplicao de campos feministas As atoras e os setores do campo feminista que continuaram levantandocrticascadavezmaiscontundentesaoquenoChile veiosechamarelmodelitoperderamvisibilidadepoltica duranteoaugedoneoliberalismo.Assuasprticasediscursos ficaram cada vez mais circunscritos e deslegitimados, notoriamente peloentopresidenteFernandoHenriqueCardoso,como neobobismos.Nosanos90,houveumatendncia homogeneizadora(dentrodocontextodoneoliberalismo, democratizao/modernizaodoEstado)queobscureceos setoresquetinhamoutravisoinsisteNalFaria(2006:12), proeminente liderana identificada com o setor anticapitalista do campofeministabrasileiroeregional.Aabsorodogneropela Nova Agenda Anti-Pobreza neoliberal, junto com a ONGizao e a transnacionalizaodoadvocacyfeministaqueprevaleceramno segundo momento, porm, exacerbaram conflitos e tornaram mais agudas as desigualdades pr-existentes, gerando novos paradoxos que propulsaram mudanas no campo feminista da regio. Comosabemos,as/ossilenciadas/osemarginalizadas/os peloneoliberalismoserebelarameganharammaiordestaque polticoapartirdofinaldos1990emtodaaregiolatino-americana,elaborandoumataquecadavezmaisvociferante, expressivoecontundenteaosneoliberalismosglobal,regional,e nacional.Essacrticanovamenteselanousruaseconquistou, ou pelo menos hegemonizou, algumas instituies polticas com a ascenso da chamada mar rosa na Amrica Latina, a partir da

15 Entrevista coletiva com feministas negras, Salvador, BA, 10 de maio 2014. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez33 eleio de Hugo Chvez, em 1998. Abrangeu crescentes setores da sociedadeciviledasociedadepoltica,masespecialmente agregoumuitasatoraseatoresdasociedadenocvica,que chamo do outro da sociedade civil neoliberal. Nocomeodadcadapassada,esseoutrotevealgumas desuasexpressesmaisconcretasnasmanifestaesalter-mundistas e no Frum Social Mundial (Alvarez, Faria e Nobre 2003; Conway 2013; Corra 2003; Juris 2008; Sen et al. 2004), demarcando oinciodoqueestouchamandodeumterceiromomentona trajetriadocampofeministalatino-americanocontemporneo. NoBrasilessacomplexaformaopolticaqueofeminismo atualcontinuasemovendoeseremodelandoeminterao dinmicacomaschamadasJornadasdeJunhode2013esuas sequelasmaisradicais,anticapitalistas,anti-CopaMundialdo 2014e,recentemente,anti-olmpiadas.Essesoutroscampos discursivosparalelos,porsuavez,searticularamcomos feminismos atravs de um retorno s ruas liderado por mulheres ehomensatuantesnosmovimentosautonomistas,anarquistas, neo-leninistasetrotskystas(detodasascoloraesimaginveis), os quais tm mltiplos pontos de interseo e influncia mtua, mas uma relao nem sempre tranquila com diversos setores do campofeministaatual,especialmentecomosmaisvariados setores do chamado feminismo jovem. Duranteaminhamaisrecenteincursonocampo(no sentidoantropolgico)dosfeminismosnoBrasil,entrejulhode 2013ejunhode2014,procureiempreenderconversas intergeracionais com dezenas de ativistas feministas que militam nosmultifacetadosmovimentosdeprotestoatuais,entreelesa AssembleiaPopularHorizontaldeBeloHorizonte;oMovimento PasseLivredeSoPaulo,easuaencarnaomineira,oTarifa Zero;najuventudedaCUT;noLevantePopulardaJuventude; nasvriastendnciasdomovimentoestudantil,quasesempre ligadasadiversastendnciasdeesquerda:nosgruposauto-organizadosdaMarchaMundialdasMulheresdentrodesses movimentos e nos sindicatos e no campo; nas Marchas das Vadias de Florianpolis, Rio, BH, e Bahia; nos partidos neovanguardistas, 34Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista leninistasetrotskistasesquerdadoPT;nasdistintasagrupaes defeministasatuantesnascenasanarquista,punk,skate,funk, hip-hop,erock,incluindoasjovensnegraselsbica-queer-trans presentesemtodosessesrols,eoutrastantasnoamploleque defeministasautnomasqueseidentificamcomofaavoc mesmoeohorizontalismodosanarco-autonomistasque prevalecem nos movimentos/protestos/levantes globais dos 2010s. bvioquenopossofazernemmnimajustiaaquiao riqussimoaprendizadoqueparamimrepresentaramesses dilogos, e ainda no finalizei a sistematizao de todos os dados colhidos.Osexemplosacimasnomeadosdessesmaisnovos feminismos, porm, j evidenciam a imensido do sub-campo, ou,talvezcomosugerireinaconclusodesteartigo,dosnovos camposqueeles,juntocomasmulheresnegraseoutrossetores queanalisobrevementeaseguir,representamhojeemdia.De formamuitopreliminar,queroapenasdestacaraquialgumasdas maneiras em que essas ativistas a maioria das quais s comeou acircularnocampoapsaviradadessesculoecujasmltiplas especificidadesediferenassoapagadaspelotermo homogeneizantefeministasjovensestoefetuandomudanas nocampofeministaeseinter-relacionandocadavezmaiscom amplos setores da sociedade, especialmente a no cvica. Devofrisarquevriasdentreasminhasentrevistadasmais moas sustentaram que a autoidentidade como feminista jovem eramaiscomumentreasquecirculavamnocircuitoONGs-ONU-CooperaoInternacional-Estadoenosmeiospartidrios, sindicais,eestudantis,osquaisasdemarcaminstitucionale discursivamenteenquantotal.Muitasoutrascomquemconversei simplesmentesereconheciamcomofeministaseponto,oucom adjetivoscomoanarcasouanticapitalistasounegrasouqueer, mas no primordialmente como jovens. Quasetodascomquedialogueideclararamquequerem construirummovimentofeministaquevainovamentesruas (Name e Zanetti, 2013:15), e muitas entendem o feminismo por uma ticadeverasirreverente:queremfazerofeminismoseruma cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez35 ameaa de novo, fazer o feminismo ser uma ameaa real.16 Para umadasmilitantesdaColetivaVadiasdoDesterro,de Florianpolis,branca,lsbica/queer,vinculadacenaanarca-punketambmdoutorandaepesquisadoranoLaboratriode Estudos de Gnero e Histria da UFSC, por exemplo, Omeufeminismoumfeminismointerseccional, anticapitalista,antirracista,umfeminismodofaavoc mesma,umfeminismodecriarseusespaos,deacreditar quepormaisquenaacademiaagentecritiqueo empoderamentoeaquestodopoder,queimportante queasmulheresseempoderem,quenosalvacionista, porquenosoutestemunhadofeminismoparairlna porta de cada uma e bater e levar a palavra do feminismo, sertestemunhadeJeovdofeminismo,masdepensar comoofeminismocapazdealterarasnossasvidasnum pontoto,tosubjetivoquefazagentesermaisforte. Feminismoantesdetudoumaescolhapessoal.Uma escolhaquemetornouumapessoamaisforteparalidar comaexistnciahumana,edialogarcomoutrosespaos, comosquaisantes,quandodiscutiaoutrascoisas,euno tinhacinciademefazerterempatiaporoutrascoisas. umfeminismoquevisaalteraodasociedade,masno pela via institucional que isso vai acontecer, dentro do meu ponto de vista.No com dinheiro da Fundao Ford que isso vai acontecer. Apesar que eu adoraria estar recebendo meu cheque, ser bolsista tal, mas no estou recebendo.17 Salientando essas ltimas palavras, vale a pena frisar que cadavezmaisreduzidoonmerodeativistaseorganizaes feministasnoBrasilealgumasoutraspartesdeAmricaLatina, dentroouforadaacademia,querecebembolsada cooperaointernacional,desdequeestaltimasedeslocou

16 Grifo meu. Entrevista coletiva com integrantes da Coletiva Vadias do Desterro, 13 novembro 2013. 17 Ibid. A essa ltima parte eu respondi, Eu trabalhei trs anos na Fundao Ford em meados dos 90; e ela falou, sem muita ironia, mas sorrindo, Pois , eu sei. 36Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista paraoutraspartesdoSulGlobalemconsequnciadoto celebrado(etalvezefmero)crescimentoeconmicolatino-americano da dcada dos 2000. Almdessedesincentivomaterialaosformatosmais institucionalizados tpicos do momento anterior, h entre muitas inclusive entre algumas das mais velhas chamadas de adultas poraquelasqueseautodefinemcomojovensfeministas,um crescente reconhecimento de que ofeminismoseinstitucionalizouatporumanecessidade naquelemomentodecriarpolticaspblicasMasofoco niconapolticainstitucional,nacriaodepolticas pblicas para mulheres, no resolve o problema... Que no resolve o problema da sociedade ser uma sociedade criada porumalgicamachistaepatriarcal.umaconstruo culturalmuitoforte,inclusivedentrodosmovimentosque sedizemanarquistas,inclusivedentrodomovimento anarquista punk, que da onde eu venho, que uma cosia muito forte.18

Paraoutramilitanteengajadanosrecenteslevantesou movimentosdeprotestoeligadachamadaesquerdafestiva em Belo Horizonte, ser feminista nosfazerumadiscussodeopressodamulher,mas fazerumadiscussodegneropropriamente,de desconstruir binarismos, detrazer discusso LGBTtambm, porquetemmuitosmovimentosfeministasquenoolham para essas outras pautas.19

18 EntrevistacoletivacomintegrantesdaColetivaVadiasdoDesterro,13 novembro 2013. 19 Entrevistacoletiva,em19defevereirode2014,commilitantesdevrios setoresfeministasdeBeloHorizonteengajadasnaorganizaodoSuspirin FeministaAnti-Fest,realizadoemabrilde2014.Sobreoanti-fest,inspirado noFestivalVulvaLaVida(http://festivalvulvalavida.wordpress.com/),analisado emGonalves,FreitaseOliveira(2013),consultar .Tambmentrevisteialgumasdas fundadoras e participantes do Vulva La Vida e outras jovens militantes de vrias cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez37 Defato,paravriasdasminhasentrevistadasdessagerao poltica,ofeminismotemquesercontratodasasopressesque existem na sociedade, todas mesmo. Eu acho que o feminismo tem apossibilidadetericainclusivedetrazermuitasreflexespara muitacoisanasociedade.20Sapatocontratodaopresso, proclamavaumadasbandeirasda10aCaminhadadeLsbicase Bissexuais de Belo Horizonte, realizada em agosto de 2014.Emumaafirmaoenfticaebastanterepresentativade muitasdessasmaisnovasativistascomquemconversei,uma cariocade28anos,autoidentificadacomononegra,insistiu que, ser feminista ser antirracista tambm, uma coisa no tem como estar descolada da outra, essa era uma pauta s. No era uma pauta do feminismo, era uma pauta s... para mim issojfoiumacoisaincorporadaquandoeuchegueino feminismo, h 13 anos atrs.21

Emefeito,pareceriaqueoracismoeadesigualdadeemgeral,e nomaissadiversidadeprevalentenos1990equevirou nadamaisqueumaplatituderetrica,hojeconstituiriamum discurso articulador. Issosignificareconheceroquantooracismo,nassuas expresses mais impostoras, constitutivo da nossa prtica poltica,semoqueserimpossvelrejeitar,coma radicalidade democrtica que se exige, os velhos esquemas hegemnicos e hegemonizantes, excludentes de identidades coletivas (Oliveira e SantAnna, 2002:205). identificaes raciais e setores polticos como o veganismo, transfeminismos, hip hop, reggae e capoeira, em Salvador, Bahia, em 11 de maio de 2014. 20 Entrevista Coletiva Vadias do Desterro, em 13 de novembro de 2013. 21 Entrevistacoletivasobrefeminismoseantirracismocomfeministas autoidentificadascomobrancas,realizadanoRiodeJaneiro,em2dejulhode 2011.Asdiferenasintergeracionaisemrelaoaoreconhecimentodoracismo e, especialmente, do privilgio das mulheres brancas foram notveis, mesmo que no uniformes, nessa e em outras entrevistas realizadas sobre esse tema.38Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista Aautonomiatambmfiguradenovocomoumdiscurso definidor,quefazponte,agoracomaindaoutrossignificados nuanados: umaautonomiaquesubjetiva,umaautonomiadocorpo eumaautonomiadeinstituies,umaautonomiade alguns lugares, que s vezes podem ser cerceadores de uma criatividade de luta, e por isso que eu pessoalmente gosto dessasatuaesfeministasquesomaisaodireta,que so mais horizontais22, oquemotivamuitasdelasatentarsearticularcomos movimentos/protestos/levantestoexpressivosnoatualcenrio poltico nacional, regional e internacional, e disputar esses espaos. Ainseronessesmovimentostemgeradoinmeros paradoxos para as ativistas feministas de hoje em dia; seja qual for asuaidade,raa,sexualidade,identificaopartidria, movimentista, etc. Tais contradies, para aquelas com conscincia histrica,seassemelhamdemaissrelatadaspelassuas contrapartestambmmajoritariamentejovensnapocado primeiro momento do campo feminista: parece coisa dos anos 70.Mesmoapontandoapresenasignificativadefocos feministas nos movimentos de protesto, a resistncia dos caras aofeminismo,especialmentedaquelescomumdiscursobonito quedizemterlidoButler,AnzaldaeEmmaGoldmane,ainda porcima,terecomendamaleitura,comoumaentrevistada contou indignada, um tema bastante generalizado em todos esses espaos de tribos e de movimentos e tal, o questionamentodopontodevistadegnero,dapostura poltica,noexiste;entosapoiamos,apoiamos porque bacana, d uma imagem de igualdade, tal, mas retrica, infelizmente retrica.23

22 Entrevista Coletiva Vadias do Desterro, em 13 de novembro de 2013. 23 Entrevista coletiva Vadias do Desterro. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez39 Asquestesfeministasssepolitizamnamarra,as entrevistadasmecontaramcomfrequncia,geralmenteem consequnciadoenfrentamentodiretocomoassdioououtras violnciassexuais,comonocasodoocorridonaocupaoda CmaraMunicipaldeBH,emjunho2013,vistocomoumcaso muitoemblemticoporqueaconteceuumestuproeafoi quando comeou toda a discusso de gnero l dentro.24 Outra jovemativista,negra,bissexual,tambmatuantenos movimentos autonomistas de hoje, ecoou: Conversandocomasmeninasemvriasreunies,pessoas ligadasapartidos,asindicatos,tal,issoestpresenteem vriosgrupos.Tantonospartidos,comoemsindicatose outros grupos. Por exemplo, eu j participei de movimento deculturanegra,queaconteceutambmisso,masque acabasendodiscutidointernamente,oqueeuacho bastantesintomticotambm,enoexternalizado,ea maioria das vezes invisibilizado, justamente para no sujar o nome do grupo.25 Comprovandoseupapelcomodiscursoarticuladordo campo,mesmoquandoelecristalizadivergncias,aindaoutra traduo do que poderamos chamar uma autonomia engajada, aauto-organizaodasmulheresadotadaporjovens feministasintegrantesdaMarchaMundialdasMulheres. Organizaosurgidanofinaldosanos1990,reconhecidamente vinculada Democracia Socialista no interior do PT, e coordenada pela SOF, Sempre Viva Organizao Feminista, a Marcha hoje tem expressivapresenanosmovimentospopulares,sindicais, estudantis,edocampopeloBrasilaforaeemmuitosoutros lugaresnaregiolatino-americanaenomundo.Paraelas,a auto-organizao entendida como

24 Entrevista coletiva Suspirin Anti-Fest. 25 Ibidem. 40Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista uminstrumentonossopraconstruirosujeitopolticodo feminismo.Nonecessariamenteummovimento autnomodemulheresporquenonossocaso,por exemplo,eraauto-organizaodentrodomovimento estudantil.Entovocorganizardentrodomovimento estudantilosujeitopolticodofeminismo...Agente consideraimportantefazerorecortedofeminismodentro domovimentoestudantil,dentrodomovimentopartidrio, dentrodosoutrosmovimentosdoqualasmulheresda Marchafazempartelevarnossaspautaspradentrodas outras,porqueumavezqueagentefazalutacomos companheiros,alutageral,juntosejuntas,querdizer,a nossalutaespecfica,oaborto,aviolncia,tal,tambm tem que ser assumida por eles.26 (aspas no original) Aestratgiadepromoverncleosauto-organizadosno interior de outros movimentos e sindicatos tem sido bem sucedida, atraindo milhares de ativistas s fileiras da Marcha no Brasil e, por sua vez, divulgando prticas e discursos feministas nesses campos movimentistasparalelos.27Essesucessoemsidestreamingdo feminismofoipossveldevidoaorduotrabalho,invisibilizado pelo neoliberalismo, da SOF e de outros setores feministas que focaramassuasenergiasemespalharumaperspectiva socialista-feministaparaoutroscamposdemovimento... umaestratgiaintencionalmenteadotada...pormuitos anos, antes do seu envolvimento com a Marcha e o Frum Social Mundial que, desde os 1990, vm se articulando com mulheres da Central dosMovimentosPopulares,daCUTeaCONTAG,almdo Movimento Sem Terra e a Via Campesina (Lebon, 2014).

26 EntrevistacoletivacomjovensatuantesnaMarchaMundialdasMulheres,a maioria tambm vinculada a movimentos estudantis e tendncias da esquerda do PT, em So Paulo, no dia 18 de agosto de 2010. 27 SegundoNathalieLebon(2014),desde2000,aMarchatemsetransformado em uma rede de mais de 5000 grupos em 164 naes do mundo.cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez41 Na cena feminista anarco-autonomista, porm, as ativistas daMarchaMundial,entreoutrasativistasquemilitamem organizaesdaesquerdaorganizada,soconsideradas mulheresdepartido.Mashhojeumclaroreconhecimentode que elas so feministas, mesmo existindo discordncias polticas. Diversasagrupaesdemulheres,muitasdelasjovens,ligadasa partidos esquerda do PT, como o Movimento Mulheres em Luta do PSTU com diferentes graus de autenticidade hoje tambm circulam no campo feminista brasileiro.Aschamadasfeministasjovens,ento,sodefatoatoras extremadamenteheterogneas,abarcandotodasaspluralidades, contradieseconflitosquecaracterizamocampofeministamais amplo.Seosegundomomentodessecampofoimarcadopela pluralizao,comovimosacima,expressesfeministasquese desenvolveram para alm das interseces ganham cada vez maior visibilidadenosinterstciosdosfeminismosdescentradosdosanos 1990. Contudo, hoje vemos no s uma proliferao geomtrica de atoras/es que se identificam com o campo feminista e nele disputam espaoepoder;tambmtestemunhamosprocessosde descentramento no interior desses feminismos plurais. Almdouniversocomplexoediferenciadodo feminismo jovem,omovimentodemulheresnegrasseriaoutroexemplo quintessencialseriaque,aoseentrecruzacadavezmaiscom outrosfeminismosemdiversospontosemomentos,hojetalvez seconstitui,emsimesmo,emumcampodiscursivodeao, extensoediverso,eleprpriocompostoporvriasvertentes, vriossidestreamscomosugereaMinistraemilitante feministanegradelongadata,LuizaBairros,emumaentrevista concedida a mim no final de 2011(Alvareze Bairros,2012). Entre essasvertentesencontramosasdomsticas,asquilombolas,as lsbicas,asmulheresdecomunidadestradicionaisdematriz africana, e as jovens/hip-hopeiras/grafiteiras/b-girls/capoeiristas,28

28 Entrevistacoletivacomfeministasjovensdediversasidentidadesraciais, sexuais,edegneroedevriosdessessetoresdocampofeministabaiano,em Salvador, BA, em 13 de maio de 2014. 42Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista entre outras. Hoje, no interior de cada uma dessas vertentes, h mulheres,ealgunshomensepessoastrans,queseproclamam feministas negras. ValeobservarqueaMarchadasMulheresNegras2015 contra o Racismo e a Violncia e pelo Bem Viver representa um dosprocessosrecentesaproporumametodologiainovadora [que] o reconhecimento dessa diversidade.29 O bem viver no nomedaMarchaevocaodiscursodescolonial,bastante expressivonoscamposfeministasemoutraspartesdaAmrica Latina,masquetambmganhaadeptasentrealgumastericase ativistas negras e indgenas no Brasil (ver Costa, 2014).SegundoValdecirNascimento,reconhecidaliderana feministaearticuladoradaMarchade2015,apluralidadeno interior dos movimentos de mulheres negras deixa claro que elas no querem as mesmas coisas, e elas no so iguais. Agora, so todasgrandeslideranas,continua,Aestratgiavoc estabelecerumdilogohorizontalevocfalardasexpertisesde cadaumaetrazercadaumaparaacenaemcadamomento [parair]consolidandoumpoucoasalianasnanossaprpria diversidade.30 Esse processo de pluralizao talvez seja ilustrativo decomoumdeterminadocampopodedesembocaremnovose distintos campos discursivos de ao: Tem mulheres que nunca foram no encontro do feminismo hegemnico,eelasestoaquieelassolideranaseelas voconstruiraMarcha.Issoparamimimpressionante, porquevocvquequandoaquelamulherfala,elano carreganenhumjargo,nenhumapalavradeordemdo velhovocabulriodessevocabulriohegemnicoelas

29 A Marcha ser realizada em 13 de maio do prximo ano, no Dia Nacional de Denncia contra o Racismo, em Braslia. 30 Entrevista coletiva com feministas negras, Salvador, BA, 11 de maio de 2014. Para informaes sobre a Marcha, ver . cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez43 nocarregam,noumconflitoparaelaaexistncia dessas outras feministas.31 Mesmo que haja maior visibilidade das negras, das jovens edasmulheresdossetorespopularese/ouanticapitalistas marginalizadas durante o auge do neoliberalismo, a hegemonia do campohojeindeterminadaou,nomximo,disputada.Como crescentesidestreamingdasideiaseprticasfeministas, presenciamos,porumlado,umamultiplicaodefeminismos popularesnacidadeenocampo,comoexemplificadonocaso Marcha das Margaridas, que agrega milhares de mulheres em um processomobilizadordeabrangncianacional(Silva,2008;Porto Aguiar,2011).Poroutrolado,asVadias,acenaanarca,a galeradohiphop,asBlogueirasFeministas,asBlogueiras Negras,asminasdorocketantasoutrasexpressespoltico-culturaisldicassinalizamumapopularizaodofeminismo (Ferreira 2013; Golfarb, Minella e Lago, 2013).32 MesmoseasONGseredesouarticulaesfeministas,com demonstrada base popular (como a SOF, a Marcha Mundial; SOS Corpo,aArticulaodeMulheresBrasileiras),hojetmmaior acesso ao microfone pblico, continuam firmes algumas ONGs de advocacyespecializadas,articuladasemredesnacionaise internacionais.Damesmamaneira,osncleos,institutose programasdeestudosfeministas/degneronasuniversidades estohojemuitomaisconsolidadosqueemdcadasatrsetm sido vitais para a popularizao dos feminismos entre estudantes.33

31 Entrevista coletiva com feministas negras, Salvador, BA, 11 de maio de 2014. Para informaes sobre a Marcha, ver . 32 Devo essa formulao sobre a simultaneidade da multiplicao dos feminismos populares e a popularizao dos feminismos Marlise Matos e s/aos estudantes docursosobreFeminismosLatino-americanos,queparticiparamemuma oficina/seminrio sobre essa pesquisa na UFMG no 14 de maro de 2014. 33 Presenciei isso claramente nas aulas de ps-graduao que ministrei no NEIM, naUFBA,enoNEPEM,juntoaMarliseMatos,naUFMG,eemminha participaoemvriosFazendoGneros,eventosdoIEG,enoLaboratriode Estudos de Gnero e Histria, na UFSC. 44Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista Outrosetorquemarcamaiorpresenapblicanocampo feministaapartirdosanos2000oprprioEstadoque,atravs dofeminismoestatalparticipativo(Matos,2010;MatoseParadis, 2013;SardenbergeCosta,2010),instanciadoprincipalmentenos processosorganizativosdasConfernciasNacionaisdePolticas paraasMulheresrealizadasem2004,2007,e2011,vem promovendoumaespciedesidestreamingviamainstreaming, defluxoshorizontaisdofeminismoemconsequnciada transversalidadeverticaldognero.34Essesprocessosestotalvez entreosprincipaispontosarticuladoresdocampobrasileirohoje em dia, juntando um leque amplssimo de expresses organizadas demulheres,nointeriordoqualasfeministasatuantesnos variados espaos reunidas pelas conferncias precisam se articular para marcar presena e tentar estabelecer hegemonia.Htambmoutrasteiasediscursosarticuladoresque caracterizamoatualmomento.Debatessobreascorporalidades, sexualidades,eidentidadesdegnerotambmtmsido particularmente marcantes, como, por exemplo, o transfeminismo, otransgnero,ops-gnero,oqueer,eoutrosdebatestrazidos pelas trabalhadoras do sexo, mulheres trans, lsbicas, e bissexuais.Outrossetores,comoasMarchasdasVaidas,contribuemparaas discussesaoimpeliremocampofeministaparaalmdos binarismosdegnero,muitoalmdosessencialismoscorporais mesmodiantecontnuasresistncia.35Essesdiscursos fundamentalmente implodem no s a categoria mulher, mas a prprianoodofeminismo,dequemseriamosseussujeitos privilegiadosesuavisodemundocompartilhadaelementos centraisnaconstituiodecamposdiscursivosde ao,incluindo tanto o universo trans quanto os movimentos de mulheres negras.

34 Abers e Tatagiba (2014) oferecem uma contundente e inovadora anlise sobre as relaesentrefeministasatuantesnoEstado,engajadasnoqueelaschamamde institutional activism, e outras ativistas feministas que militam no movimento. 35 Para um excelente exemplo dos debates transfeministas, ver Coacci, 2014; ver tambmAmaral,TonelieFilgueiras,2014;eBarbosa,B.2013.Sobre trabalhadoras do sexo, ver Barreto et al., 2013; Simes, 2010. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez45 Seainternetjeraimportantenocampofeministalatino-americanodesdemeadosdosanos1990,asredesoumeios sociaishojetmumpapeldedestaque,especialmentena popularizaodosfeminismosenaarticulaodessescampos incipientesemaisprecarizados.Aprpriapredominnciada modalidadeMarcha,comoevidenciadanasacepesda MarchaMundialdasMulheres,aMarchadasVadias,aMarcha dasMulheresNegras,aMarchadasMargaridas,emuitasoutras no mencionadas aqui, como a Marcha do Orgulho LGBT, reflete precisamenteopredomniodessesmeiosmassivosde comunicaoeinterao,estimulandooqueJuris(2012:260-61) tem chamado uma lgica de agregao, evidente tambm nos processosdeprotestoglobaiscomoOccupyeosIndignados, que envolve a aglomerao de massas de indivduos de diversas origens em espaos fsicos e manifestaes eventuais.36 A modo de concluso Omomentoatualdemobilizaes,protestose manifestaes no cvicas, no institucionalizadas e mais fluidas, edefeminismoscadavezmaispluraisediferenciadosentresie dentrodesi,pedeumareavaliaometodolgicadecomo apreender, elucidar e interrogar os movimentos. Uma concluso bsicaseriaindagaralmdoschamadosebbsandflowsou fluxoserefluxosdosmovimentos,tpicosdasanlises sociolgicas.Oscamposdiscursivosdeaosoelementos permanentesdasformaespolticasnamodernidade tardia/descolonial.Para entendermos as mudanas contnuas, mesmo que nem sempre perceptveis para observadoras/es situados no seu exterior (constitutivo),precisamosdeumaunidadedeanlisediferente. Em vez (ou alm) de estudar, por exemplo, os movimentos sociais easuarelao/interaocomoEstadoouasociedadepoltica,

36 Sobre o que estou chamando de modalidade Marcha, ver tambm Scherer-Warren, 2014. 46Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista deveramosaveriguarsehatoresouvetoresatuantesemum determinadocampomovimentistaquesearticulamverticalmente nointeriordoEstadooudospartidosemumdadocontexto histrico e o que isso significa para o campo como um todo. A abordagem epistemolgica elaborada acima, por sua vez, nos levaria a rever os nossos diagnsticos polticos sobre o estado domovimento,talvezalterandoonossoentendimentodas aliadas/os,porexemplo,que,umalgunscasosdeveriamser vistas/oscomointegrantesou,svezes,atarticuladoras/esdo mesmocampodiscursivodeao.Issonosignificariaquea relaocomelas/elesnoseriaconflitiva,apenasqueseria importanteagirpoliticamenteapartirdeumreconhecimentode queoperamosemumuniversodiscursivoparcialmente compartilhado.Paraefeitosdepesquisa,osdiferenteselementos, componentesedimensesdoscamposdiscursivosdeao poderiamseranalisadosisoladamentesemprequandosituados nocampocorrespondente.Narpidaanlisequefizdostrs momentosdosfeminismosbrasileiroselatino-americanos, podemosdiscerniralgunsdoselementosqueconformamum campodiscursivodeao:1)atoras/esmaisoumenosvisveis, hegemnicos,marginalizados;2)malhas/teias/redesarticuladoras; 3)pontosnodais;4)dimensesverticais,horizontais,etalvez densidade; 5) discursos definidores; 6) lutas interpretativas/conflitos constitutivos; e 7) paradoxos transformadores. Comisso,noquerodizerqueoscamposdiscursivosde aosejambolhasautocontidas.37Seusparmetrosefronteiras, ou limites, so fluidos e formam parte das disputas polticas que os constituem e os reconfiguram. A questo de como identificarmos e delimitarmos um determinado campo vai ser sempre uma questo emprica e poltica.

37 AgradeoessepontodeesclarecimentoaPriscilaCarvalho,queosugeriu duranteoseminriodepesquisaquerealizamosem14demarode2014,no NEPEM-UFMG. cadernos pagu (43)Sonia E. Alvarez47 Nesse sentido, uma dimenso crucial seria indagarmos sobre quandoatoras/esatuantesemumdadocampotraduzemosseus discursos articuladores e comeam a enunciar outros universos de significados,outrasvisesdemundo,eassim,talvez,configurar outroscamposdiscursivosdeao.Sugeriesteserocasodos atuaismovimentosdemulheresnegrasnoBrasil,como certamente o tambm o dos movimentos de mulheres indgenas emtodaaregiolatino-americana.38Tervisesdemundo distintivasimplicanosemdiferenasculturaisoudistintas perspectivassobreummesmomundo(querdizer,diferentes epistemologias),mastambmemdiferenasontolgicas, percebidasapartirdeoutrosmundos,comosugeremalgumas tericas/osdecolnias(delaCadena2010;Escobar2010).A insistncia na raa e no racismo como eixos norteadores de ao, nocasodocampodomovimentodemulheresnegras,ouda prpriadefiniodoqueseriasermulher,nocasodocampo trans/queer,comoaludiacima,apontamparaacrescente possibilidade de equivocao poltica, alm de conceitual, como sustenta Claudia de Lima Costa: anoodeequivocao,termoprovenientedo perspectivismoamerndioearticuladoteoricamentepor Castro(2004),invocadaparasignificarnoapenas engano,equvoco,masincapacidadedecompreenderque hdiferentescompreensesdediferentesmundos.Por exemplo, classe, raa e etnia so categorias que pertencem divisocolonialnatureza/cultura.Porm,quando empregadaspelospovosindgenas,elasno necessariamentecorrespondemaossignificadosquelhes temosdadoaolongodahistria. Elasso,emoutras palavras,equivocaesoucategoriasequvocas:embora pareamseramesmacoisa,teromesmosignificado,de fatonoosoquandoutilizadaspelosindgenasandinos. Paraoreconhecimentodaexistnciademundos

38 Sobrefeminismosindgenasnaregio,cujotratamentoadequadoexcedeos parmetrosdaatualpesquisa,verGargallo,2014;HernndezCastillo,2010; Richards, 2004; Rousseau, 2011; Speed, 2006. 48Para alm da sociedade civil: reflexes sobre o campo feminista heterogneosedecategoriasequvocas,eapossibilidade dearticularconexesparciaisentreeles,hanecessidade dotrabalhodatraduo.Equivocao(nosentidodem interpretao, erro), em outras palavras, implica desde j a traduo: a partir de tradues politicamente motivadas e infiis que podemos interconectar a pluralidade de mundos sem torn-los comensurveis (Costa 2014:271). Queroconcluirobservandoquenessemomentohistrico emquesevislumbramnovoscamposdiscursivosdeao, contagiadosporeintersectadoscomfeminismoscadavezmais heterogneos entre e em si mesmos, preocuparmos com a poltica de traduo feminista uma necessidade urgente e imprescindvel. 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