148
ESTUDO SOLUÇÕES FINANCIAMENTO PARA EMPRESAS Projeto Co-Financiado

PARA EMPRESAS - moneris.pt§ões/AIP - Financiamento... · Factoring Confirming Leasing mobiliário e imobiliário Renting e aluguer operacional de viaturas Papel comercial Suprimentos

Embed Size (px)

Citation preview

ESTUDO SOLUÇÕES

FINANCIAMENTO

PARA EMPRESAS

Projeto Co-Financiado

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 2

Agradecimentos A AIP/CCI - Associação Industrial Portuguesa / Câmara de Comércio e Indústria gostaria de expressar o mais sincero agradecimento à Moneris – Serviços de Gestão, S.A. e seus colaboradores, que apoiaram e contribuíram para o enriquecimento do presente estudo subordinado ao tema do “Financiamento”, inserido no projeto “Mercados, Financiamento e Inovação”, co-financiado pelo Programa Operacional Fatores de Competitividade – COMPETE.

Lisboa, janeiro de 2015

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 3

Índice

Introdução ................................................................................................................................ 5 Sumário executivo .................................................................................................................... 6 1. Ações .................................................................................................................................... 7 1.1. Introdução ......................................................................................................................... 7 1.2. Normativo contabilístico aplicável ...................................................................................... 9 1.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 12 2. Obrigações .......................................................................................................................... 17 2.1. Introdução ....................................................................................................................... 17 2.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 18 2.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 21 3. Capital de Risco (CR)............................................................................................................ 25 3.1. Introdução ....................................................................................................................... 25 3.1.1. Business Angels (BA) ...................................................................................................... 26 3.1.2. Sociedades de Capital de Risco (SCR) ............................................................................. 27 3.1.3. Fundos de Capital de Risco (FCR) ................................................................................... 28 3.1.4. Fundos de Reestruturação e Internacionalização Empresarial (FRIE) .............................. 29 3.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 29 3.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 31 4. Crowdfunding ..................................................................................................................... 36 4.1. Introdução ....................................................................................................................... 36 4.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 37 4.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 39 5. Crédito Bancário ................................................................................................................. 44 5.1. Introdução ....................................................................................................................... 44 5.1.1. Microcrédito ................................................................................................................. 45 5.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 45 5.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 48 6. Factoring ............................................................................................................................. 50 6.1. Introdução ....................................................................................................................... 50 6.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 51 6.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 58 7. Confirming .......................................................................................................................... 61 7.1. Introdução ....................................................................................................................... 61 7.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 62 7.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 64 8. Leasing Mobiliário ou Imobiliário ........................................................................................ 66 8.1. Introdução ....................................................................................................................... 66 8.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 67 8.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 69 9. Renting ou Aluguer Operacional de Viaturas (AOV) ............................................................. 74 9.1. Introdução ....................................................................................................................... 74 9.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................... 75 9.3. Regime fiscal aplicável ...................................................................................................... 78 10. Papel Comercial ................................................................................................................ 82

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 4

10.1. Introdução ..................................................................................................................... 82 10.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................. 84 10.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................... 85 11. Suprimentos ...................................................................................................................... 92 11.1. Introdução ..................................................................................................................... 92 11.2. Normativo contabilístico aplicável .................................................................................. 93 11.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................... 95 12. Incentivos ao investimento – Portugal 2020 ...................................................................... 99 12.1. Introdução ..................................................................................................................... 99 12.2. Normativo contabilístico aplicável ................................................................................ 100 12.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................. 104 13. Garantia bancária ............................................................................................................ 107 13.1. Introdução ................................................................................................................... 107 13.2. Normativo contabilístico aplicável ................................................................................ 108 13.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................. 110 14. Garantia Mútua ............................................................................................................... 113 14.1. Introdução ................................................................................................................... 113 14.2. Normativo contabilístico aplicável ................................................................................ 114 14.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................. 118 15. Cobertura de Risco Cambial............................................................................................. 121 15.1. Introdução ................................................................................................................... 121 15.2. Normativo contabilístico aplicável ................................................................................ 121 15.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................. 126 16. Cobertura de Risco de Taxa de Juro ................................................................................. 129 16.1. Introdução ................................................................................................................... 129 16.2. Normativo contabilístico aplicável ................................................................................ 131 16.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................. 138 17. Seguro de Crédito ........................................................................................................... 141 17.1. Introdução ................................................................................................................... 141 17.2. Normativo contabilístico aplicável ................................................................................ 141 17.3. Regime fiscal aplicável .................................................................................................. 143 18. Referências bibliográficas ................................................................................................ 146

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 5

Introdução

Tendo como objetivo responder às necessidades prementes das empresas em matéria de financiamento e, em particular, contribuir para uma maior eficácia na concretização deste tipo de operações, a AIP-CCI concebeu o projeto, que denominou de Portal do Financiamento. Dirigido a micro, pequenas e médias empresas, o Portal do Financiamento pretende integrar num espaço único informação atual e de natureza muito diversificada sobre soluções de financiamento para empresas. A sustentabilidade e sucesso do desenvolvimento das empresas depende, efetivamente, de opções acertadas no que respeita ao financiamento dos projetos e da atividade empresarial. O estudo que agora se apresenta será integrado no Portal do Financiamento e dessa forma os empresários passarão a dispor de um manual com o enquadramento contabilístico e fiscal de cada uma das soluções de financiamento e, consequentemente, a usufruir, de uma forma prática, de informação muito útil para apoiar as suas decisões de gestão.

A AIP-CCI selecionou o grupo Moneris para prestar consultoria especializada ao nível da

elaboração deste manual, visando sintetizar os principais conceitos, implicações contabilísticas

e inerências fiscais relacionados com as operações de financiamento, o qual poderá ser

utilizado pelas entidades que pretendam levar a efeito financiamento empresarial.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 6

Sumário executivo

O presente manual pretende disponibilizar informação básica de natureza contabilística e

fiscal, sobre um conjunto de soluções de financiamento que podem ser equacionadas num

processo de financiamento da atividade empresarial.

Esta manual não substitui o aconselhamento junto de profissionais e especialistas, como seja,

consultores, advogados e avaliadores, devido precisamente à multiplicidade de áreas que os

processos de financiamento envolvem, para além das partes interessadas.

Os autores do estudo não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo emergente de

decisão tomada ou não, com base na informação aqui descrita.

Ações

Obrigações

Capital de risco

Crowdfunding

Crédito bancário

Factoring

Confirming

Leasing mobiliário e imobiliário

Renting e aluguer operacional de viaturas

Papel comercial

Suprimentos

Incentivos ao investimento

Garantia bancária

Garantia mútua

Cobertura de risco cambial

Cobertura de risco de taxa de juro

Seguro de crédito

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 7

O que são ações? As ações são títulos representativos de uma fração do capital social de uma sociedade anónima, que pode ser ou não cotada em mercado regulamentado.

1. Ações

1.1. Introdução

As ações são títulos de valores mobiliários representativos do capital social de uma sociedade anónima. Os detentores de ações de uma sociedade anónima designam-se acionistas o que lhes confere, na sua qualidade de investidores, um conjunto de direitos sobre a sociedade. Esses direitos variam em função do número e da categoria de ações por eles detidas.

As ações conferem aos investidores, entre outros, os seguintes direitos:

Nos estatutos das sociedades podem encontrar-se outros direitos e deveres dos investidores, bem como limitações ao exercício do respetivo direito de voto, sendo esta matéria regulada em sede de

Titulos de valores mobiliários representativos do capital social

de uma sociedade anónima

Investidores

Ações

Acionistas

Direitos Estar presente nas reuniões da assembleia geral da sociedade, ou a nomearem representantes para o efeito, e a votar as deliberações aí propostas de acordo e conforme os estatutos da sociedade

Ser informado sobre o desenvolvimento da atividade da sociedade, em determinadas condições e de acordo com os estatutos da sociedade

Participar nos lucros da sociedade e a receber dividendos na proporção das ações detidas

Receber a respetiva quota de liquidação da sociedade no caso da sua extinção, sempre que se verifique a existência de bens no seu património, sendo que estes serão distribuídos após ressarcimento de todas as obrigações existentes para com os credores da sociedade naquele momento

Direitos

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 8

Código das Sociedades Comerciais (CSC) e Código dos Valores Mobiliários (CVM). O justo valor da ação, ou da totalidade das ações representativas do capital social de uma sociedade anónima, traduz, por norma, o valor da empresa em determinado momento. No caso de empresas cotadas em bolsa, a cotação das ações em determinado momento tende a refletir o valor efetivo da empresa, sendo que este pode variar de acordo com todas as informações disponíveis e disponibilizadas ao mercado, assim como outros fatores externos à entidade, como seja, a variação das taxas de juro ou a performance de outras entidades (concorrentes, clientes, fornecedores, etc.).

O valor nominal das ações corresponde ao valor inscrito no título em si ou no respetivo registo de ações, com relevância meramente contabilística, sendo que o somatório do valor da totalidade das ações corresponde ao capital social da sociedade anónima. As ações podem ser cotadas e negociadas em mercado regulamentado, tal como o Euronext Lisbon (Bolsa de Lisboa). Neste caso, é exigido um capital inicial mínimo de 5 milhões de euros e com pelo menos 25% de capital disperso. Outras condições de acesso são a existência de Relatório & Contas certificadas por Revisor Oficial de Contas (ROC) dos últimos 3 anos e a adoção das normas internacionais de contabilidade (IFRS).

O Euronext criou um mercado alternativo para responder às necessidades das PME's que procuram acesso ao mercado de ações - o Alternext. Neste caso, o capital inicial mínimo de acesso é de 2,5 milhões de euros e pelo menos 3 acionistas distintos. São condições de acesso também a existência de Relatório & Contas certificadas por ROC dos últimos 2 anos e uma parceria com um listing sponsor, normalmente um banco de investimento.

n.º ações em circulação

Cotação Capitalização

bolsista

Easynext

Alternext

Euronext

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 9

Existe ainda um outro mercado - o Easynext - que admite a negociação de ações destinado às empresas de menor dimensão, com critérios de admissão mais flexíveis, sendo apenas necessário o Relatório & Contas certificados por ROC dos últimos 2 anos.

1.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), atual normativo contabilístico vigente em Portugal, foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, revogando o anterior Plano Oficial de Contabilidade (POC), as Diretrizes Contabilísticas e demais legislação conexa em vigor até então. O SNC é constituído por elementos fundamentais, entre eles destacam-se as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e das normas internacionais de relato financeiro (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. A NCRF que regula esta solução de financiamento é a NCRF 27 - Instrumentos financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente instrumentos de capital próprio. As ações são consideradas pelos seus detentores um ativo financeiro no termos da alínea b), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um ativo financeiro é qualquer ativo que seja um instrumento de capital próprio de uma outra entidade. Ora, por outro lado, o mesmo parágrafo da norma refere que um instrumento de capital próprio é qualquer contrato que evidencie um interesse residual nos ativos de uma entidade após dedução de todos os seus passivos. No que concerne ao reconhecimento dos instrumentos de capital próprio, a NCRF 27 prevê que as entidades reconheçam os seus instrumentos de capital próprio (parágrafo 8). Sempre

Alternext

Condições de acesso

Capital mínimo inicial de 2,5 milhões de euros

Mínimo 3 acionistas

R&C últimos 2 anos certificados por ROC

Parceria com "Listing Sponsor"

Easynext

Condições de acesso

Empresas menor dimensão

R&C últimos 2 anos certificados por ROC

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 10

que uma entidade adquira os seus próprios instrumentos de capital próprio, esses devem ser reconhecidos como dedução ao capital próprio (parágrafo 9). Os instrumentos de capital próprio devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12) quando não sejam negociados publicamente e cujo justo valor não possa ser obtido de forma fiável. Caso os instrumentos de capital próprio sejam negociados publicamente, então estes devem ser mensurados ao justo valor (parágrafo 15), que corresponde à cotação em bolsa. Pela primeira emissão de ações:

Aumento de capital por emissão de novas ações:

Aquisição de ações próprias com desconto:

€ € € €

51 - Capital261 - Acionistas com

subscrição

12 - Depósitos à

Ordem

€ € €

54 - Prémios de

emissão

12 - Depósitos à

Ordem51 - Capital

261 - Acionistas com

subscrição

522 - Ações próprias -

descontos e prémios

521 - Ações próprias -

valor nominal

12 - Depósitos à

Ordem

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 11

Aquisição de ações próprias com prémio:

Exemplo: Cinco amigos decidiram proceder à constituição de uma sociedade anónima, com vista ao desenvolvimento de uma ideia criativa na área das tecnologias de informação. Cada um tem para investir cerca de 100 mil euros, pelo que decidiram emitir 500 mil ações ao portador com o valor nominal de 1€ cada. O capital social foi integralmente realizado à data da constituição da sociedade.

Ao fim de um ano, decidiram proceder ao aumento do capital social da empresa, pelo que emitiram mais 100 mil ações com o valor nominal de 1€ cada, subscritas pelo montante unitário de 1,25€, integralmente realizado 30 dias após a subscrição.

12 - Depósitos à

Ordem

522 - Ações próprias -

descontos e prémios

521 - Ações próprias -

valor nominal

€ €

Débito Crédito Valor Observações

261 - Acionistas com

subscrição51 - Capital 500.000 €

500.000 mil ações com valor

nominal de 1€ cada

12 - Depósitos à ordem261 - Acionistas com

subscrição500.000 € Pela realização da emissão

Débito Crédito Valor Observações

261 - Acionistas com

subscrição51 - Capital 100.000 €

261 - Acionistas com

subscrição

54 - Prémios de

emissão25.000 €

12 - Depósitos à ordem261 - Acionistas com

subscrição125.000 € Pela realização do aumento

Emissão de 100.000 ações

com valor nominal de 1€

cada, subscritas por 1,25€

cada

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 12

Quando um dos acionistas decidiu alienar uma parte da sua participação (50 mil ações), foi a própria empresa que adquiriu essas ações pelo valor de 0,95€ cada.

Mais tarde a própria empresa voltou a adquirir ações próprias (75 mil ações), mas desta vez esteve disposta a pagar 1,15€ por cada uma das ações.

1.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Ações

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Isento

IS Sujeito

IMT Sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

Aumentos de capital Os aumentos de capital realizados em qualquer modalidade (incluindo os prémios de emissão de ações ou quotas, as coberturas de prejuízos, a qualquer título, feitas pelos titulares do capital), bem como outras variações patrimoniais positivas que decorram de operações sobre ações, quotas e outros instrumentos de capital próprio da entidade emitente, incluindo as que resultem da atribuição de instrumentos financeiros derivados que devam ser reconhecidos como instrumentos de capital próprio, embora configurem variações patrimoniais positivas,

Débito Crédito Valor Observações

521 - Ações próprias -

Valor nominal50.000 €

522 - Ações próprias -

Descontos e prémios2.500 €

12 - Depósitos à ordem 47.500 €

Aquisição de 50.000 ações

com o valor nominal de 1€

cada por 0,95€ cada

Débito Crédito Valor Observações

521 - Ações próprias -

Valor nominal75.000 €

522 - Ações próprias -

Descontos e prémios11.250 €

12 - Depósitos à ordem 86.250 €

Aquisição de 75.000 ações

com o valor nominal de 1€

cada por 1,15€ cada

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 13

não concorrem para a formação do lucro tributável em IRC de acordo com alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIRC. Ações próprias Na esfera da empresa adquirente no momento da aquisição das ações próprias não há lugar ao apuramento de qualquer valor que influencie a composição do lucro tributável. Ora, na sequência da aquisição de ações próprias, as mesmas passam a constar do balanço da empresa adquirente e apenas no momento de uma posterior alienação poderá haver lugar ao apuramento de ganho ou perda (aquisição vs alienação). No entanto, dever-se-á ter em conta a existência de relações especiais entre os acionistas e a sociedade no termos do artigo 63.º do Código de IRC, na fixação do preço de aquisição das ações próprias. Assim, se o valor se afastar do preço que normalmente seriam praticados entre entidades e pessoas independentes, a Administração Tributária (AT) pode recorrer aos mecanismos previstos no regime dos preços de transferência.

Dividendos de ações nacionais pagos a empresas residentes Os rendimentos que provenham de ações nacionais distribuídos ou colocados à disposição do titular são considerados como rendimentos do exercício para efeitos de cálculo do lucro tributável. Existem no entanto algumas exceções, sendo que a exclusão do lucro tributável dos rendimentos provenientes de dividendos não é aplicável quando estes corresponderem a gastos dedutíveis pela empresa que os distribui. Assim, os dividendos de ações nacionais que sejam distribuídos a sujeitos passivos de IRC não concorrem para a determinação do lucro tributável, desde que se verifique cumulativamente o seguinte:

A entidade que procede à distribuição dos dividendos tenha a sua sede ou a direcção efetiva em território português e esteja sujeita e não isenta de imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas (IRC);

O beneficiário do rendimento não seja abrangido pelo regime da transparência fiscal;

A entidade beneficiária dos dividendos detenha, diretamente ou indiretamente, uma participação no capital social ou dos direitos de voto da entidade que distribui os dividendos não inferior a 5% e esta tenha permanecido na sua titularidade, de modo ininterrupto, durante os 24 meses anteriores à distribuição deste rendimento ou, se detida há menos tempo, a participação seja mantida durante o tempo necessário para completar aquele período.

Dever-se-á ter em atenção que quando a participação social da empresa beneficiária dos dividendos não tenha permanecido na sua titularidade, de modo ininterrupto, durante o ano anterior à data da sua colocação à disposição, estes rendimentos estão sujeitos a retenção na fonte, à taxa de 25% a qual revestirá a natureza de pagamento por conta do IRC. Mais-valias

O saldo positivo apurado entre as mais-valias e menos-valias fiscais realizadas com a transmissão onerosa de ações nacionais pelo titular concorre para a formação do lucro tributável dos sujeitos passivos de IRC com sede ou direção efetiva em território português, conforme é referido no Artigo 46.º do CIRC.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 14

Consideram-se mais-valias ou menos-valias realizadas os ganhos obtidos ou as perdas sofridas mediante transmissão onerosa, qualquer que seja o título por que se opere e, bem assim, os decorrentes de sinistros ou os resultantes da afectação permanente a fins alheios à atividade exercida, respeitantes a instrumentos financeiros. Importa ainda referir, que nos termos das alíneas a) e b) do n.º 9 do artigo 18.º, os ajustamentos decorrentes da aplicação do justo valor não concorrem para a formação do lucro tributável, sendo imputados como rendimentos ou gastos no período de tributação em que os elementos ou direitos que lhes deram origem sejam alienados, exercidos, extintos ou liquidados, exceto quando respeitem a instrumentos financeiros reconhecidos pelo justo valor através de resultados, desde que, quando se trate de instrumentos de capital próprio, tenham um preço formado num mercado regulamentado e o sujeito passivo não detenha, direta ou indiretamente, uma participação no capital igual ou superior a 5% do respetivo capital social; ou tal se encontre expressamente previsto no CIRC. De acordo com o n.º 3 do Artigo 23ª-A do CIRC, também não são aceites como gastos do período de tributação os suportados com a transmissão onerosa de instrumentos de capital próprio, qualquer que seja o título por que se opere, de entidades com residência ou domicílio em país, território ou região sujeitos a um regime fiscal claramente mais favorável constante de lista aprovada por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças. Contudo, não concorrem para a determinação do lucro tributável desses sujeitos passivos, as mais e menos-valias realizadas com a transmissão onerosa de ações, independentemente da percentagem da participação transmitida, das ações detidas ininterruptamente por um período não inferior a 24 meses, e desde que, na data da transmissão, cumpram os seguintes requisitos:

O sujeito passivo detenha, direta ou indiretamente, uma participação não inferior a 5% do capital social ou dos direitos de voto da entidade cujas partes de capital são alienadas;

O beneficiário da mais-valia não se encontre abrangido pelo regime da transparência fiscal;

A entidade cujas partes de capital são alienadas encontra-se sujeita a imposto (IRC) e não isenta do mesmo.

Não concorrem para a formação do lucro tributável as menos-valias e outras perdas relativas a

instrumentos de capital próprio, na parte do valor que corresponda aos lucros ou reservas

distribuídos ou às mais-valias realizadas com a transmissão onerosa de partes sociais da

mesma entidade que tenham beneficiado, no próprio período de tributação ou nos quatro

períodos anteriores, da dedução prevista no artigo 51.º, do crédito por dupla tributação

económica internacional prevista no artigo 91.º-A ou da dedução prevista no artigo 51.º-C.

Por fim, quando se trate de titulares que sejam sujeitos passivos, os alienantes e adquirentes de ações nacionais, são obrigados a entregar, por via electrónica a Declaração Modelo 4, nos 30 dias subsequentes à operação, à Direcção-Geral dos Impostos, quando a respetiva alienação ou aquisição tenha sido realizada sem a intervenção de terceiros (Instituições de crédito e outras sociedades financeiras, Notários, Conservadores e Oficiais de Justiça).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 15

Em sede de IRS

Dividendos de ações nacionais pagos a pessoas residentes O titular de ações nacionais e que resida em território português está sujeito a retenção na fonte definitiva, à taxa de 28%1 sobre montante dos dividendos que lhe sejam distribuídos ou que sejam colocados à sua disposição. O titular dos dividendos pode optar pelo englobamento deste tipo de rendimento na sua declaração de rendimentos, sendo que, nesse caso apenas será considerado 50% do montante total dos dividendos, sendo tributado às taxas aplicáveis aos escalões de rendimentos. Consoante o rendimento colectável resultante do englobamento, este rendimento poderá ficar sujeito a uma sobretaxa extraordinária de IRS de 3,5%, bem como a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 2,5%, na parte do rendimento coletável que seja superior a € 80.000 mas não exceda € 250.000. O quantitativo do rendimento coletável que exceda € 250.000 estará sujeito a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 5%. Mais-valias O saldo anual positivo entre as mais-valias e as menos-valias resultantes da alienação de ações é tributado em IRS, à taxa especial de 28%, sem prejuízo de o titular residente optar pelo seu englobamento. Consoante o rendimento colectável resultante do englobamento, este rendimento poderá ficar sujeito a uma sobretaxa extraordinária de IRS de 3,5%, bem como a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 2,5%, na parte do rendimento coletável que seja superior a € 80.000 mas não exceda € 250.000. O quantitativo do rendimento coletável que exceda € 250.000 estará sujeito a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 5%. Caso o titular residente opte pelo englobamento, o saldo negativo (entre as mais-valias e as menos-valias realizadas com a alienação de ações nacionais) apurado em determinado ano pode ser reportado para os dois anos seguintes. No apuramento do saldo positivo ou negativo entre as mais-valias e as menos-valias realizadas com a alienação de ações nacionais, o titular residente não pode deduzir, aos ganhos que obtenha, as perdas apuradas com alienação de ações em que a entidade se encontre domiciliada numa jurisdição sujeita a um regime fiscal claramente mais favorável. Sempre que obtenha rendimentos desta categoria, o titular encontra-se obrigado à apresentação do Anexo G juntamente com a sua Declaração de Rendimentos. Em sede do Imposto do Selo O aumento do capital social de uma sociedade mediante a entrada de bens de qualquer espécie é um ato sujeito a Imposto do Selo sobre o valor real dos bens de qualquer natureza entregues ou a entregar pelos sócios à taxa de 0,4%, de acordo com a verba 26.3 da Tabela Geral do Imposto do Selo.

1 Caso se trate de um sujeito passivo que resida na Região Autónoma dos Açores é aplicada uma taxa de 22,4%.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 16

A transmissão gratuita de ações está sujeita a Imposto do Selo à taxa de 10%, com exceção das situações em que o beneficiário do rendimento seja o cônjuge ou unido de facto, descendente ou ascendente do transmitente (figura da doação). Em sede do Imposto de IMT Nos aumentos de capital em espécie poderá existir sujeição a IMT – Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis, pois de acordo com a alínea e) do n.º 5 do artigo 2.º do Código do IMT estão sujeitas àquele imposto “As entradas dos sócios com bens imóveis para a realização do capital das sociedades comerciais.”.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 17

2. Obrigações

2.1. Introdução

As obrigações são títulos de valores mobiliários com uma duração temporal limitada e representam uma parte de um empréstimo contraído por uma empresa junto dos seus investidores (credores obrigacionistas). Os detentores de obrigações (obrigacionistas) são credores da entidade emitente das mesmas.

Após o período temporal previamente estabelecido aquando da emissão das obrigações por parte da entidade emitente, o investidor deverá ter direito a receber o valor inicialmente investido e deverá igualmente receber periodicamente os juros dos cupões, no caso dos mesmos terem sido previamente acordados e estabelecidos. Conforme o tipo de obrigações, no momento da sua emissão deverá ser estabelecido:

O valor nominal da obrigação (também conhecido por “par” ou “valor facial”), que corresponderá ao valor a reembolsar no final do respetivo prazo de vencimento, caso a emissão não preveja prémios ou descontos (emissão ou reembolso ao par, acima do par ou abaixo do par);

O prazo do empréstimo obrigacionista e o período de duração das obrigações; A periodicidade do pagamento de juros dos cupões, no caso de previamente

estabelecidos e a correspondente taxa de juro a aplicar no cálculo dos mesmos (fixa ou variável).

O valor nominal das obrigações corresponde ao valor inscrito no respetivo título ou registo próprio de emissão e o seu somatório traduz o montante total do financiamento contraído pela entidade emissora e que será restituído ao investidor no final do prazo determinado para o efeito.

Empréstimo

Obrigação Valores mobiliários Duração temporal

limitada

Empresa Investidor

Emissão

Juros (cupões)

Reembolso

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 18

O subscritor de obrigações (investidor) deverá estar ciente que tal investimento incorpora o risco de não receber o valor investido ou os respetivos juros dos cupões, no caso da entidade financiada apresentar problemas de tesouraria e liquidez naqueles momentos. Os empréstimos obrigacionistas podem ser emitidos por entidades de diversos tipos e naturezas, como sejam as sociedades anónimas, as sociedades por quotas, o Estado, as autarquias locais, as cooperativas ou outras. As obrigações emitidas no âmbito de uma operação de financiamento obrigacionista podem assumir diversas naturezas:

A emissão de obrigações obriga a entidade emitente a cumprir com os seguintes deveres, de entre outros:

Pagamento de um juro do cupão com periodicidade previamente fixada ou, em alternativa, no momento de vencimento das obrigações;

Pagamento do valor nominal das obrigações no fim do prazo do financiamento ou à sua conversão em capital social, se previsto;

Dar conhecimento aos subscritores das obrigações das decisões dos detentores do capital das entidades emitentes das obrigações emanadas em assembleia geral, sendo que os referidos subscritores têm direito a participar nas assembleias gerais ou a nomear representante para o efeito;

Prestar informação aos subscritores das obrigações no que diz respeito ao desenvolvimento dos negócios e atividade da sociedade.

2.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, sendo o seu núcleo central as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adatação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e das normas internacionais de relato financeiros (IFRS), as quais garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. A NCRF que regula os empréstimos obrigacionistas é a NCRF 27 - Instrumentos financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente dos passivos financeiros.

Natureza Com juro suplementar ou prémio de reembolso, fixo ou em função dos lucros apresentados pela entidade emitente

Com juro e plano de reembolso, variável de acordo e conforme os lucros apresentados pela entidade emitente

Convertíveis em ações, ou seja, os investidores passarem a ser detentores de capital das entidades emitentes

Assumirem o direito de subscrição de uma ou mais ações (obrigações com warrants)

Com prémio de emissão definido

Ob

riga

çõe

s

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 19

As obrigações são consideradas, na esfera da entidade emitente, um passivo financeiro no termos do ponto i), da alínea a), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um passivo financeiro é qualquer passivo que seja uma obrigação contratual de entregar dinheiro ou outro ativo financeiro a uma outra entidade. Os passivos financeiros apenas são reconhecidos quando a entidade se torne uma parte das disposições contratuais do instrumento (parágrafo 6).

Os passivos financeiros devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12 e 14) quando não sejam negociados publicamente e cujo justo valor não possa se obtido de forma fiável. Caso os instrumentos de capital próprio sejam negociados publicamente, então estes devem ser mensurados ao justo valor (parágrafo 15 e 16). Pela emissão do empréstimo obrigacionista:

Juro do 1.º cupão:

Juro do último cupão e reembolso do empréstimo obrigacionista:

€ €

2521 - Empréstimos

por obrigações

12 - Depósitos à

ordem

2521 - Empréstimos

por obrigações

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos12 - Depósitos à

Ordem

€ €€€

2521 - Empréstimos

por obrigações

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos12 - Depósitos à

Ordem

€ €€€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 20

Exemplo: A sociedade Liabilities emitiu 8 mil obrigações cujo valor nominal ascende a 100€ cada, tendo sido as mesmas subscritas por investidores pelo preço de subscrição ao par. As obrigações de taxa fixa têm as seguintes caraterísticas:

i) Cupão anual fixo de 6,25% ii) Maturidade 4 anos iii) Reembolso acima do par 143,75%

A taxa de juro efetiva do empréstimo obrigacionista, também designada por Yield To Maturity (YTM), pode ser calculada através da função TIR, tal como segue:

Débito Crédito Valor Observações

12 - Depósitos à ordem2521 - Empréstimos

por obrigações800.000 €

Emissão do empréstimo

obrigacionista

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

120.082 €

2521 - Empréstimos

por obrigações70.082 €

12 - Depósitos à ordem 50.000 €

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

156.615 €

2521 - Empréstimos

por obrigações106.615 €

12 - Depósitos à ordem 50.000 €

2521 - Empréstimos

por obrigações 12 - Depósitos à ordem 1.150.000 € Reembolso acima do par

Juros do último cupão e

reembolso

Juros do 1.º cupão

Recebimento inicial 800.000 €

Cupão 1 -50.000 €

Cupão 2 -50.000 €

Cupão 3 -50.000 €

Cupão 4 + Reembolso -1.200.000 €

TIR 15,010%

Cálculo TIR

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 21

A partir deste cálculo, apresenta-se o seguinte quadro resumo, que serve de base aos movimentos indicados:

2.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Obrigações

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Isento

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC Os empréstimos por obrigações obtidos pelas empresas configuram um passivo financeiro, sendo que estes vencem juros (cupão) suportados pela empresa beneficiária do empréstimo obrigacionista. Ora, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC, considerando-se na alínea c) do n.º 2 do Artigo 23.º do CIRC que os gastos e perdas de natureza financeira, tais como juros de capitais alheios aplicados na exploração, descontos, ágios, transferências, diferenças de câmbio, gastos com operações de crédito, cobrança de dívidas e emissão de obrigações e outros títulos, prémios de reembolso e os resultantes da aplicação do método do juro efetivo aos instrumentos financeiros valorizados pelo custo amortizado. Em matéria de aplicação do método do juro efetivo, trata-se de calcular o custo amortizado do passivo financeiro (obrigações) e de imputar o gasto dos juros durante o período relevante. A taxa de juro efetiva é a taxa que desconta exatamente os pagamentos de caixa futuros estimados durante a vida esperada do instrumento financeiro ou, quando apropriado, um período mais curto na quantia escriturada líquida do passivo financeiro. Por outro lado, importa perceber que o custo amortizado de um passivo financeiro é a quantia pela qual o passivo financeiro é mensurado no reconhecimento inicial, menos os reembolsos

PeriodoObrigações

inicial

Juros a

reconhecerCash Outflows

Obrigações

final

0 800.000,00 € 800.000,00 €

1 800.000,00 € 120.082,37 € 50.000,00 € 870.082,37 €

2 870.082,37 € 130.601,94 € 50.000,00 € 950.684,31 €

3 950.684,31 € 142.700,53 € 50.000,00 € 1.043.384,84 €

4 1.043.384,84 € 156.615,16 € 1.200.000,00 € 0,00 €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 22

de capital, mais ou menos a amortização cumulativa, usando o método do juro efetivo, de qualquer diferença entre essa quantia inicial e a quantia na maturidade, e menos qualquer redução (diretamente ou por meio do uso de uma conta de abatimento) quanto à imparidade ou incobrabilidade. No caso da obtenção de rendimentos (juros) por parte das empresas provenientes da compra de obrigações o IRC é objeto de retenção na fonte relativamente aos rendimentos de aplicação de capitais, tal como são definidos para efeitos de IRS, quando o seu devedor seja sujeito passivo de IRC ou quando os mesmos constituam encargo relativo à atividade empresarial ou profissional de sujeitos passivos de IRS que possuam ou devam possuir contabilidade, obtidos em território português, nos termos do Artigo 94.º do CIRC. As retenções na fonte têm a natureza de imposto por conta, exceto nos seguintes casos em que têm carácter definitivo:

Quando, nos termos dos artigos 9.º e 10.º, ou nas situações previstas no Estatuto dos Benefícios Fiscais, se excluam da isenção de IRC todos ou parte dos rendimentos de capitais;

Quando se trate de rendimentos de capitais que sejam pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não identificados, exceto quando seja identificado o beneficiário efetivo, termos em que se aplicam as regras gerais.

Referir também que as retenções na fonte de IRC são efetuadas à taxa de 25 %. Excetuam-se as retenções que, nos termos do n.º 3 do Artigo 94.º do CIRC, tenham carácter definitivo, em que são aplicáveis as correspondentes taxas previstas no artigo 87.º. A obrigação de efetuar a retenção na fonte de IRC ocorre na data que estiver estabelecida para obrigação idêntica no Código do IRS ou, na sua falta, na data da colocação à disposição dos rendimentos, devendo as importâncias retidas ser entregues ao Estado até ao dia 20 do mês seguinte àquele em que foram deduzidas e essa entrega ser feita nos termos estabelecidos no Código do IRS ou em legislação complementar. Em sede de IRS Juros De acordo com o artigo 5.º do CIRS, consideram-se rendimentos de capitais os frutos e demais vantagens económicas, qualquer que seja a sua natureza ou denominação, sejam pecuniários ou em espécie, procedentes, direta ou indiretamente, de elementos patrimoniais, bens, direitos ou situações jurídicas, de natureza mobiliária, bem como da respetiva modificação, transmissão ou cessação, com exceção dos ganhos e outros rendimentos tributados noutras categorias. Esses frutos e vantagens económicas compreendem, designadamente os juros, os prémios de amortização ou de reembolso e as outras formas de remuneração de obrigações, obrigações de caixa ou outros títulos análogos, emitidos por entidades públicas ou privadas.

Os juros de obrigações nacionais estão sujeitos a retenção na fonte definitiva, à taxa de 28% (ou 22,4%, caso se trate de sujeito passivo residente na Região Autónoma dos Açores), não havendo lugar ao englobamento obrigatório destes juros na sua Declaração de Rendimentos.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 23

No entanto, o titular pode optar pelo englobamento dos juros obtidos das obrigações com os demais rendimentos. Optando pelo englobamento, o titular deve solicitar ao Banco um documento comprovativo dos juros vencidos e do imposto retido na fonte, devendo o mesmo ser junto à Declaração de Rendimentos do agregado familiar ou, no caso de envio da declaração por transmissão eletrónica de dados, deve guardar a declaração comprovativa do rendimento e da retenção, para exibição à AT no caso de ser solicitado. Os valores inscritos na declaração devem ser considerados no Anexo E da Declaração Modelo 3 do IRS. Mais-valias O saldo anual positivo entre as mais-valias e as menos valias realizadas por um titular residente em território português com a transmissão onerosa de obrigações nacionais são tributadas, em sede de IRS, à taxa especial de 28%. O sujeito passivo poderá optar pelo englobamento. Consoante o rendimento coletável resultante do englobamento, este rendimento poderá ficar sujeito a uma sobretaxa extraordinária de IRS de 3,5%, bem como a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 2,5%, na parte do rendimento coletável que seja superior a € 80.000 mas não exceda € 250.000. O quantitativo do rendimento coletável que exceda € 250.000 estará sujeito a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 5%. Em sede de IVA Nos termos da alínea e) e f) do n.º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto as operações e serviços, incluindo a negociação, mas com exclusão da simples guarda e administração ou gestão, relativos a ações, outras participações em sociedades ou associações, obrigações e demais títulos, bem como os serviços e operações relativos à colocação, tomada e compra firmes de emissões de títulos públicos ou privados.

Em sede de IS O artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS) prevê que são sujeitos passivos do imposto as entidades concedentes do crédito ou credoras de juros, prémios, comissões e outras contraprestações, bem como Instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas relativamente às operações de crédito, no momento em que forem realizadas e nas operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas, no momento da cobrança dos juros, prémios, comissões e outras contraprestações, considerando-se efetivamente cobrados, sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 51.º, os juros e comissões debitados em contas correntes à ordem de quem a eles tiver direito (artigo 5.º do CIS).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 24

Conforme previsto no artigo 3.º do CIS, o encargo do imposto, incumbe na concessão do crédito, ao utilizador do referido crédito e nas restantes operações financeiras realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades ou outras instituições financeiras, ao cliente destas. De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da

Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS), aplicando-se aos empréstimos obrigacionistas a verba

17 – Operações financeiras.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 25

3. Capital de Risco (CR)

3.1. Introdução

O Capital de Risco (CR) assume-se como uma solução de financiamento empresarial, tendo o objetivo de financiar empresas por forma a apoiar o seu nascimento, desenvolvimento, crescimento e consolidação, com impactos significativos na gestão das mesmas.

É o capital de risco (CR) é uma das possíveis soluções de financiamento para jovens empresas, start-up’s e investimentos de risco, mas com elevado potencial de valorização, crescimento, sucesso e rentabilização, assumindo o sucesso do projeto ou entidade financiada como o seu próprio sucesso, ou melhor, como o sucesso do seu investimento.

Comparativamente às demais soluções de financiamento conhecidas, o CR é, com exceção do crowdfunding, a única em que o capital investido não é remunerado por via de juro e amortização de capital, mas sim através das mais-valias a gerar no futuro e diretamente relacionadas com o sucesso que os projetos venham a atingir, resultantes da alienação das participações societárias adquiridas aquando da concretização do investimento.

Capital de Risco

Empresas

Financiamento

Criação

Crescimento

Consolidação

O Capital de risco é uma forma de investimento de risco com elevado potencial

de rentabilização em que a entidade financiadora assume uma participação no

capital da empresa financiada, ainda que minoritária. As entidades financiadoras

em capital de risco podem ser Business Angels (BA), Sociedades de Capital de

Risco (SCR), Fundos de Capital de Risco (FCR) e Fundos de Reestruturação e

Internacionalização Empresarial (FRIE).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 26

Em suma, o CR traduz-se num investimento no capital social ou em outros ativos patrimoniais de empresas em setores de mercado potencialmente competitivos e movidos pela inovação de produtos ou serviços, de processos produtivos ou de distribuição com elevado potencial de crescimento e com altas rentabilidades esperadas. O capital de risco é um investimento normalmente associado a índices de risco elevado, efetuado por investidores individuais ou institucionais e por um período temporal limitado.

3.1.1. Business Angels (BA)

Entende-se por business angel (BA), um investidor particular que investe o seu próprio capital, de forma direta ou através de sociedades onde é detentor do respetivo capital social, normalmente em empresas start-up’s, ou sob a forma de seed capital, isto é, investimento de capital na promoção de novos projetos com elevado potencial humano ou técnico e de onde se espera uma rentabilidade elevada no futuro.

Capital Risco Capital

investido Remuneração

Sucesso do projeto

Alienação Mais-valias

Empréstimo Capital

investido Remuneração Capital Juros

Investidores individuais

Investidores institucionais

Investimento Risco elevado

Período tempo

limitado

Fundos de Capital de Risco (FCR)

Business Angels (BA) Sociedades de Capital de

Risco (SCR) Fundos de Capital de

Risco (FCR)

Fundos de Reestruturação e

Internacionalização Empresarial (FRIE)

Capital de

risco

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 27

Projeto

Suporte

Crescimento

Valorização

Alienação

Sendo financeiramente independente, o BA, assumindo uma orientação lógica de rentabilização futura do financiamento que está a conceder, não está dependente do sucesso ou insucesso do projeto que apoia, visto que este não originará alterações significativas no seu património em qualquer dos casos. Os projetos financiados pelo BA terão sempre o seu suporte estratégico, na perspetiva de proporcionar aos promotores o alcance do sucesso inicialmente esperado. O objetivo do BA será, portanto, o da valorização das start-up’s, adquirindo uma participação no capital social durante um determinado período, garantindo suporte financeiro, técnico, humano ou outro à implementação, crescimento e consolidação do projeto. A alienação da participação adquirida pelo BA é realizada dando ênfase à manifestação de vontade e interesse dos promotores do projeto. Assim, o objetivo último do BA será o da alienação da sua participação obtendo uma natural mais-valia. O BA assume solidariamente o risco do projeto com os respetivos promotores.

3.1.2. Sociedades de Capital de Risco (SCR)

O objetivo das Sociedades de Capital de Risco (SCR) é apoiar e promover o investimento e a inovação ao nível tecnológico, comercial e humano em entidades de qualquer natureza jurídica em negócios com elevado potencial de crescimento, por via da participação temporária no seu capital social. As SCR podem, acessoriamente, prestar serviços a empresas suas participadas ou a empresas com as quais esteja a ser desenvolvido um projeto de participação e entrada no seu capital social. Tais serviços podem, entre outros, ser:

Assistência na gestão financeira, técnica, administrativa e comercial das sociedades participadas;

Realização de estudos de viabilidade técnica e económica de empresas ou de novos projetos de investimento (estudos de mercado, avaliações, due diligences, etc.), assim como das condições e modalidades do financiamento a conceder.

Investidor particular

Business Angel

Investimento

Star-up´s

Investimento

Seed capital

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 28

Sendo as empresas alvo das SCR, normalmente, entidades com necessidades de financiamento elevadas, o financiamento prestado materializa-se na aquisição de uma percentagem do seu capital social, quer este esteja dividido em ações ou em quotas. Assim, a empresa alvo obtém um financiamento adequado e ajustado às suas reais necessidades, sendo que a remuneração do investidor (SCR), será a mais-valia resultante da alienação futura da participação, seja a outros sócios, seja a novas entidades. As participações de capital de risco são minoritárias, pelo que a SCR acompanha a atividade e desenvolvimento da empresa alvo, podendo ou não interfer na sua gestão (embora possa aconselhar), e são temporárias, cessando com a alienação da participação, que normalmente ocorre entre 5 a 7 anos da aquisição da mesma.

3.1.3. Fundos de Capital de Risco (FCR)

Os Fundos de Capital de Risco (FCR) são fundos de investimento mobiliário, cujo património é composto por ações, obrigações e quotas de capital, não cotadas em mercados bolsistas.

Objetivo

SCR

Promover investimento

Inovação

Participações societárias

temporárias

Fundos de

Capital de Risco

Ações

Obrigações

Quotas de

capital

Não cotadas em

mercados

bolsistas

Património

Fundos fechados

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 29

Trata-se de fundos fechados e o montante do capital a investir tem que ficar estipulado nos respetivos documentos constitutivos. Apenas as SCR podem gerir e administrar os FCR, sendo que, quando aplicável, esta gestão poderá competir igualmente a outras entidades, como sejam entidades bancárias ou sociedades de investimento, agindo na qualidade de entidades gestoras dos mesmos.

3.1.4. Fundos de Reestruturação e Internacionalização

Empresarial (FRIE)

Os Fundos de Reestruturação e Internacionalização Empresarial (FRIE) são fundos de investimento mobiliário abertos, tendo como alvo empresas que tenham por objetivo proceder ao desenvolvimento de processos de reestruturação ou de internacionalização das suas organizações, atividades ou negócios.

Assim, o património dos FRIE deverá ser investido na aquisição de participações de capital de sociedades que estejam inseridas em setores cuja atividade tenha sido declarada em reestruturação (pela tutela governativa competente e assim deliberado em Conselho de Ministros), contribuindo para a competitividade da economia nacional, assim como sociedades que se envolvam na concretização de investimentos diretos fora do território nacional.

3.2. Normativo contabilístico aplicável

O atual normativo contabilístico vigente em Portugal, o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, revogando o anterior normativo constituído pelo Plano Oficial de Contabilidade (POC), Diretrizes Contabilísticas e demais legislação conexa em vigor até então. O SNC é constituído por elementos fundamentais, destacando-se entre eles as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que são uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), garantindo os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. A NCRF 27 - Instrumentos financeiros regula o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente instrumentos de capital próprio. As partes de capital (ações ou quotas) são consideradas um ativo financeiro no termos da alínea b), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um ativo financeiro é qualquer ativo que seja um instrumento de capital próprio de uma outra entidade. Ora, por outro lado, o mesmo parágrafo da norma refere que um instrumento de capital próprio é qualquer contrato

FRIE Fundos mobiliários abertos desenvolvimento processos

reestruturação ou internacionalização

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 30

que evidencie um interesse residual nos ativos de uma entidade após dedução de todos os seus passivos. No que concerne ao reconhecimento dos instrumentos de capital próprio, a NCRF 27 prevê que as entidades reconheçam instrumentos de capital próprio no capital próprio (parágrafo 8).

Os instrumentos de capital próprio devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12), quando não sejam negociados publicamente e cujo justo valor não possa se obtido de forma fiável. Caso os instrumentos de capital próprio sejam negociados publicamente, então estes devem ser mensurados ao justo valor (parágrafo 15).

No que diz respeito à subscrição de obrigações no âmbito de operações enquadradas como CR, as mesmas são consideradas um passivo financeiro no termos do ponto i), da alínea a), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um passivo financeiro é qualquer passivo que seja uma obrigação contratual de entregar dinheiro ou outro ativo financeiro a uma outra entidade. Os passivos financeiros apenas são reconhecidos quando a entidade se torne uma parte das disposições contratuais do instrumento (parágrafo 6).

Os passivos financeiros devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12 e 14) quando não sejam negociados publicamente e cujo justo valor não possa se obtido de forma fiável. Caso os instrumentos de capital próprio sejam negociados publicamente, então estes devem ser mensurados ao justo valor (parágrafo 15 e 16).

De referir também que a atividade de capital de risco encontra-se regulamentada por lei e está

sujeita à supervisão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), nomeadamente

através do Decreto-Lei n.º 375/2007, de 8 de novembro.

Pela subscrição de ações – entrada no capital:

Pela realização do capital subscrito:

€ €

261 -

Acionistas/sócios

com subscrição51 - Capital

€ €

261 -

Acionistas/sócios

com subscrição12 - Depósitos à

Ordem

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 31

Exemplo: A SRC Venture Capital decidiu apoiar o investimento em investigação e desenvolvimento de uma empresa start-up através da aquisição de 20% do seu capital social no montante de 120 mil euros (6 quotas no valor de 20.000€ cada), pelo qual pagou 180 mil euros.

No final do 6.º ano de investimento, a SCR Venture Capital decidiu alienar a sua participação social nesta empresa. Perante os resultados obtidos pelo projeto desenvolvido, o justo valor das quotas, nesse momento, ascendia a 44 mil euros cada. As quotas foram adquiridas pela própria empresa.

3.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Capital de risco

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Isento

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Débito Crédito Valor Observações

261 - Acionistas/Sócios

com subscrição51 - Capital 120.000 € Valor nominal

261 - Acionistas/Sócios

com subscrição

54 - Prémios de

emissão60.000 € Prémio de emissão

12 - Depósitos à ordem261 - Acionistas/Sócios

com subscrição180.000 €

Débito Crédito Valor Observações

521 - Ações próprias -

Valor nominal120.000 €

522 - Ações próprias -

Descontos e prémios144.000 €

12 - Depósitos à ordem 264.000 €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 32

Em sede de IRC

Aumentos de capital Os aumentos de capital realizados em qualquer modalidade (incluindo os prémios de emissão de ações ou quotas, as coberturas de prejuízos, a qualquer título, feitas pelos titulares do capital), bem como outras variações patrimoniais positivas que decorram de operações sobre ações, quotas e outros instrumentos de capital próprio da entidade emitente, incluindo as que resultem da atribuição de instrumentos financeiros derivados que devam ser reconhecidos como instrumentos de capital próprio, embora configurem variações patrimoniais positivas, não concorrem para a formação do lucro tributável em IRC de acordo com alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIRC. Ações próprias Na esfera da empresa adquirente no momento da aquisição das ações próprias não há lugar ao apuramento de qualquer valor que influencie a composição do lucro tributável. Ora, na sequência da aquisição de ações próprias, as mesmas passam a constar do balanço da empresa adquirente e apenas no momento de uma posterior alienação poderá haver lugar ao apuramento de ganho ou perda (aquisição vs alienação). No entanto, dever-se-á ter em conta a existência de relações especiais entre os acionistas e a sociedade no termos do artigo 63.º do Código de IRC, na fixação do preço de aquisição das ações próprias. Assim, se o valor se afastar do preço que normalmente seriam praticados entre entidades e pessoas independentes, a Administração Tributária pode recorrer aos mecanismos previstos no regime dos preços de transferência.

Dividendos de ações nacionais pagos a SCR Os rendimentos que provenham de ações nacionais distribuídos ou colocados à disposição do titular são considerados como rendimentos do exercício para efeitos de cálculo do lucro tributável. Existem no entanto algumas exceções, sendo que a exclusão do lucro tributável dos rendimentos provenientes de dividendos não é aplicável quando estes corresponderem a gastos dedutíveis pela empresa que os distribui. Assim, os dividendos de ações nacionais que sejam distribuídos a sujeitos passivos de IRC não concorrem para a determinação do lucro tributável, desde que se verifique cumulativamente o seguinte:

A entidade que procede à distribuição dos dividendos tenha a sua sede ou a direção efetiva em território português e esteja sujeita e não isenta de imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC);

O beneficiário do rendimento não seja abrangido pelo regime da transparência fiscal;

A entidade beneficiária dos dividendos detenha, diretamente ou indiretamente, uma participação no capital social ou dos direitos de voto da entidade que distribui os dividendos não inferior a 5% e esta tenha permanecido na sua titularidade, de modo ininterrupto, durante os 24 meses anteriores à distribuição deste rendimento ou, se

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 33

detida há menos tempo, a participação seja mantida durante o tempo necessário para completar aquele período.

Dever-se-á ter em atenção que quando a participação social da empresa beneficiária dos dividendos não tenha permanecido na sua titularidade, de modo ininterrupto, durante o ano anterior à data da sua colocação à disposição, estes rendimentos estão sujeitos a retenção na fonte, à taxa de 25% a qual revestirá a natureza de pagamento por conta do IRC. Mais-valias

O saldo positivo apurado entre as mais-valias e menos-valias fiscais realizadas com a transmissão onerosa de ações nacionais pelo titular concorre para a formação do lucro tributável dos sujeitos passivos de IRC com sede ou direção efetiva em território português, conforme é referido no Artigo 46.º do CIRC. Consideram-se mais-valias ou menos-valias realizadas os ganhos obtidos ou as perdas sofridas mediante transmissão onerosa, qualquer que seja o título por que se opere e, bem assim, os decorrentes de sinistros ou os resultantes da afectação permanente a fins alheios à atividade exercida, respeitantes a instrumentos financeiros. Importa ainda referir, que nos termos das alíneas a) e b) do n.º 9 do artigo 18.º, os ajustamentos decorrentes da aplicação do justo valor não concorrem para a formação do lucro tributável, sendo imputados como rendimentos ou gastos no período de tributação em que os elementos ou direitos que lhes deram origem sejam alienados, exercidos, extintos ou liquidados, exceto quando respeitem a instrumentos financeiros reconhecidos pelo justo valor através de resultados, desde que, quando se trate de instrumentos de capital próprio, tenham um preço formado num mercado regulamentado e o sujeito passivo não detenha, direta ou indiretamente, uma participação no capital igual ou superior a 5% do respetivo capital social; ou tal se encontre expressamente previsto no CIRC. De acordo com o n.º 3 do Artigo 23ª-A do CIRC, também não são aceites como gastos do período de tributação os suportados com a transmissão onerosa de instrumentos de capital próprio, qualquer que seja o título por que se opere, de entidades com residência ou domicílio em país, território ou região sujeitos a um regime fiscal claramente mais favorável constante de lista aprovada por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças. Contudo, não concorrem para a determinação do lucro tributável desses sujeitos passivos, as mais e menos-valias realizadas com a transmissão onerosa de ações, independentemente da percentagem da participação transmitida, das ações detidas ininterruptamente por um período não inferior a 24 meses, e desde que, na data da transmissão, cumpram os seguintes requisitos:

O sujeito passivo detenha, direta ou indiretamente, uma participação não inferior a 5% do capital social ou dos direitos de voto da entidade cujas partes de capital são alienadas;

O beneficiário da mais-valia não se encontre abrangido pelo regime da transparência fiscal;

A entidade cujas partes de capital são alienadas encontra-se sujeita a imposto (IRC) e não isenta do mesmo.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 34

Não concorrem para a formação do lucro tributável as menos-valias e outras perdas relativas a

instrumentos de capital próprio, na parte do valor que corresponda aos lucros ou reservas

distribuídos ou às mais-valias realizadas com a transmissão onerosa de partes sociais da

mesma entidade que tenham beneficiado, no próprio período de tributação ou nos quatro

períodos anteriores, da dedução prevista no artigo 51.º, do crédito por dupla tributação

económica internacional prevista no artigo 91.º-A ou da dedução prevista no artigo 51.º-C.

De acordo com o Artigo 32.º-A do EBF, as SCR podem deduzir ao montante apurado nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 90.º do Código do IRC (quando a liquidação deva ser feita pelo sujeito passivo nas declarações a que se referem os artigos 120.º e 122.º do CIRC, tem por base a matéria colectável que delas conste), e até à sua concorrência, uma importância correspondente ao limite da soma das coletas de IRC dos cinco exercícios anteriores àquele a que respeita o benefício, desde que seja utilizada na realização de investimentos em sociedades com potencial de crescimento e valorização. Esta dedução é feita nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo 90.º do Código do IRC, na liquidação do IRC respeitante ao exercício em que foram realizados os investimentos ou, quando o não possa ser integralmente, a importância ainda não deduzida poderá sê-lo, nas mesmas condições, na liquidação dos cinco exercícios seguintes.

Por outro lado, e nos termos do n.º 5 do Artigo 32.º-A do EBF, os sócios das sociedades por quotas unipessoais ICR, bem como os investidores informais das sociedades veículo de investimento em empresas com potencial de crescimento, certificadas no âmbito do Programa COMPETE, e os investidores informais em capital de risco a título individual certificados pelo IAPMEI, no âmbito do Programa FINICIA, podem deduzir à sua coleta em IRS do próprio ano, até ao limite de 15 % desta, um montante correspondente a 20 % do valor investido por si ou pela sociedade por quotas unipessoais ICR de que sejam sócios. Esta dedução à coleta não se aplica aos seguintes casos:

Investimentos em sociedades cotadas em bolsa de valores e em sociedades cujo capital seja controlado maioritariamente por outras sociedades, excetuados os investimentos efectuados em SCR e em fundos de capital de risco;

Investimentos em sociedades sujeitas a regulação pelo Banco de Portugal (BdP) ou pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF).

Por último, referir que o Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) entende por valor investido a entrada de capitais em dinheiro destinados à subscrição ou aquisição de quotas ou ações ou à realização de prestações acessórias ou suplementares de capital em sociedades que usem efetivamente essas entradas de capital na realização de investimentos com potencial de crescimento e valorização.

Em sede de IVA Importa distinguir dois tipos de operações entre as SCR e a empresa participada. Assim, temos operações não sujeitas/isentas de IVA, como é o caso dos juros debitados pela SCR às suas participadas pelos empréstimos concedidos e pelos dividendos recebidos. Por outro lado temos operações sujeitas a IVA e sobre as quais as SCR devem liquidar imposto, podendo o mesmo ser posteriormente deduzido pela empresa participada, tais como sejam os serviços de

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 35

consultoria prestados e a remuneração auferida pelo exercício de cargos sociais, que constituem prestações de serviços sujeitas a tributação, conforme previsto no artigo 4º do CIVA. Em sede de IS Nos termos do disposto na alínea e) do n.º 1 do artigo 7º do Código do IS, as operações financeiras e os juros, comissões, garantias prestadas e crédito concedido por instituições de crédito, sociedades financeiras e instituições financeiras a SCR encontram-se isentos de IS. No que respeita a empréstimos concedidos pelas SCR às suas participadas, e de acordo com o disposto na alínea g) do n.º 1 do artigo 7º do Código do IS, tanto o crédito concedido como os respetivos juros beneficiam de isenção em sede deste imposto, desde que se destinem à cobertura de carências de tesouraria, cujo prazo não seja superior a um ano. Contudo, se o prazo do empréstimo exceder um ano, será possível eliminar a tributação prevista na verba 17.1 da Tabela Geral do IS, desde que a participação detida no capital social da participada seja igual ou superior a 10% ou cujo valor de aquisição não seja inferior a 5.000.000 €, de acordo com o último balanço aprovado e, bem assim, efetuadas em benefício de sociedade com a qual se encontre em relação de domínio ou de grupo e tenha permanecido na sua titularidade durante um ano consecutivo, beneficiando assim da isenção prevista na alínea h) do n.º 1 do artigo 7º do Código do IS.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 36

Investidores

Contribuições reduzidas

Projetos cariz social

Retorno | Potencial mercado

Crowdfunding

4. Crowdfunding

4.1. Introdução

O crowdfunding consiste num sistema de financiamento coletivo, que pretende ser uma alternativa ao financiamento tradicional oferecido pelas entidades bancárias e demais instituições financeiras.

Com o crowdfunding o montante financiado é obtido através de uma plataforma online, para projetos de interesse coletivo através de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas. A angariação de contribuições é feita de acordo com um sistema de contrapartidas, no qual o apoio dos investidores implica sempre algum tipo de retorno. Apesar do principal objetivo deste sistema ser a angariação do montante necessário para financiar projetos de reduzido nível de investimento e orientado para projetos de cariz social, o crowdfunding apresenta outras potencialidades, como sejam a avaliação da potencial ideia de projeto junto do mercado, assim como a angariação de potenciais clientes ou outros investidores, que podem vir a ser mais-valias para o projeto em causa. No crowdfunding as contribuições são feitas, geralmente, tendo por base um sistema de contrapartidas, isto é, uma perspetiva de retorno. É da responsabilidade do promotor do projeto, criar e idealizar as contrapartidas que quer dar em troca aos seus investidores. As contrapartidas, normalmente, estão diretamente relacionadas com a concretização e sucesso do projeto em si, e podem traduzir-se numa recompensa monetária, de reconhecimento, de agradecimento, doação ou outra estreitamente relacionada com a utilização do produto ou serviço proveniente do

Crowdfunding

Instituições financeiras

Fin

anci

amen

to c

ole

tivo

Finan

ciamen

to trad

icion

al

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 37

projeto. Existem vários modelos de crowdfunding, sendo que os mais populares on-line são os seguintes:

4.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, é o normativo contabilístico vigente em Portugal. O núcleo central deste normativo é a adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e das normas internacionais de relato financeiros (IFRS), que se traduz em 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação dos factos contabilísticos. A NCRF que regula esta solução de financiamento é a NCRF 27 - Instrumentos financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente instrumentos de capital próprio. Na perspetiva do investidor, o crowdfunding é considerado um ativo financeiro no termos da alínea b), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um ativo financeiro é qualquer ativo que seja um instrumento de capital próprio de uma outra entidade. O mesmo parágrafo da norma refere ainda que um instrumento de capital próprio é qualquer contrato que evidencie um interesse residual nos ativos de uma entidade após dedução de todos os seus passivos. No que respeita ao reconhecimento dos instrumentos de capital próprio, a NCRF 27 prevê que as entidades reconheçam instrumentos de capital próprio no capital próprio (parágrafo 8). Os instrumentos de capital próprio devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12) quando não sejam negociados publicamente e cujo justo valor não possa se obtido de forma fiável.

Empréstimo (Lending)

Capital (Equity)

Recompensa (Reward)

Donativo (Donation)

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 38

Pela entrada no capital (subscrição e aquisição de capital social):

Pela realização do capital subscrito:

Exemplo: O senhor António Manuel Joaquim decidiu participar num projeto de cariz social, divulgado numa plataforma de crowdfunding, que pretende desenvolver brinquedos interativos para crianças com Trissomia 21. O seu investimento traduziu-se na aquisição de 30 ações com o valor nominal de 5€ cada. Na óptica da entidade detentora do projeto:

A recompensa divulgada na plataforma pelo promotor é o reconhecimento público pelo contributo para o desenvolvimento deste projeto, e a oferta de um exemplar do brinquedo interativo desenvolvido.

€ €

261 -

Acionistas/sócios

com subscrição51 - Capital

€ €

261 -

Acionistas/sócios

com subscrição12 - Depósitos à

Ordem

Débito Crédito Valor Observações

261 - Acionistas/Sócios

com subscrição51 - Capital 150 €

Subscrição de ações (30

unidades com o valor

nominal de 5€/cada)

12 - Depósitos à ordem261 - Acionistas/Sócios

com subscrição150 €

Realização do capital

subscrito

Débito Crédito Valor Observações

6884 - Oferta e

amostra de inventários

38 - Reclassificação e

regularização de

inventários

23,5 € Oferta do bem produzido

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 39

4.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Crowdfunding

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

Aumentos de capital Os aumentos de capital realizados em qualquer modalidade (incluindo os prémios de emissão de ações ou quotas, as coberturas de prejuízos, a qualquer título, feitas pelos titulares do capital), bem como outras variações patrimoniais positivas que decorram de operações sobre ações, quotas e outros instrumentos de capital próprio da entidade emitente, incluindo as que resultem da atribuição de instrumentos financeiros derivados que devam ser reconhecidos como instrumentos de capital próprio, embora configurem variações patrimoniais positivas, não concorrem para a formação do lucro tributável em IRC de acordo com alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIRC. Donativos A noção e donativo prevista no Artigo 61.º EBF refere que “Para efeitos fiscais, os donativos constituem entregas em dinheiro ou em espécie concedidos sem contrapartidas que configurem obrigações de carácter pecuniário ou comercial às entidades públicas ou privadas (…) cuja actividade consista predominantemente na realização de iniciativas nas áreas social, cultural, ambiental, desportiva ou educacional”. Ora, as entregas de dinheiro por empresas ou particulares a sociedades inseridas num projecto de crowdfunding sem esperar nada em troca, são consideradas como donativos (variações patrimoniais positivas), sendo que o artigo 21.º do CIRC refere que concorrem para a formação do lucro tributável, as variações patrimoniais positivas não reflectidas no resultado líquido do período de tributação, com algumas exceções, as quais não comtemplam este tipo de entrega. Importa referir no entanto, que existe variada doutrina administrativa que versa sobre o tema, nomeadamente quanto à natureza e ao alcance desta noção, vertida por parte das autoridades fiscais na vigência do Estatuto do Mecenato, que se mantem actual, nos seguintes despacho/circulares:

Despacho n.º 127, de 3 de Dezembro de 2001, emitido pelo Ministério das Finanças;

Circular n.º 12, de 19 de Abril de 2002, emitida conjuntamente pela Direcção de Serviços do IRC e Direcção de Serviços do IVA;

Circular n.º 2/2004, de 20 de Janeiro, emitida pela Direcção de Serviços do IRC.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 40

Assim, e de acordo com a Circular n.º 2/2004, de 20 de janeiro, as importâncias que revistam a natureza de donativos fora do âmbito do regime do mecenato não logram passar o teste da respectiva indispensabilidade, pelo que não são aceites como custos para efeitos fiscais. Por outro lado, e nas situações em que as importâncias atribuídas não revistam a natureza de donativo, constituindo a contrapartida da aquisição de um bem ou serviço, as mesmas são, em princípio, aceites como custo para efeitos fiscais à luz do disposto no CIRC. Já a Circular n.º 12/2002 indica que a apreciação pela Administração Tributária da qualificação de determinada liberalidade como de donativo dependerá sempre da exposição precisa dos elementos de facto, nomeadamente quanto à respectiva natureza e valor, bem como de eventuais regalias que em correspondência lhe estejam associadas. Deve também apurar-se se “a regalia eventualmente facultada pelo beneficiário do mesmo confirma o espírito de liberalidade do doador ou se, pelo contrário, permite concluir pela existência de uma intenção de enriquecimento, consubstanciando um negócio oneroso” Referir ainda, que as regalias em espécie atribuídas ao doador, como sejam a disponibilização ao mesmo de instalações do beneficiário, a atribuição de convites ou bilhetes de ingresso para iniciativas promovidas pelo beneficiário podem não desvirtuar o espírito de liberalidade do doador e a respectiva qualificação como donativo se representarem um valor manifestamente insignificante face ao donativo efectuado, i.e., quando o valor de mercado das regalias atribuídas não ultrapassar, anualmente, o limite de 5% dos donativos atribuídos, tal como é referido na Circular n.º 2/2004. Em sede de IRS Donativos Conforme estipula o CIRS, os donativos em dinheiro atribuídos pelas pessoas singulares residentes em território nacional, nos termos e condições previstos, são dedutíveis à colecta do IRS do ano a que digam respeito, em valor correspondente a 25 % das importâncias atribuídas, nos casos em que não estejam sujeitos a qualquer limitação. Em caso de limitação, no valor correspondente a 25 % das importâncias atribuídas, até ao limite de 15 % da colecta. As deduções só são efectuadas no caso de não terem sido contabilizadas como custos. Acresce que são ainda dedutíveis à colecta, nos termos e limites fixados nas alíneas b) e c) do n.º1 do Artigo 63.º do EBF, os donativos concedidos a igrejas, instituições religiosas, pessoas colectivas de fins não lucrativos pertencentes a confissões religiosas ou por elas instituídas, sendo a sua importância considerada em 130 % do seu quantitativo. Mais-valias por alienação de quotas ou ações O saldo anual positivo entre as mais-valias e as menos-valias resultantes da alienação de ações é tributado em IRS, à taxa especial de 28%, sem prejuízo de o titular residente optar pelo seu englobamento. Consoante o rendimento colectável resultante do englobamento, este rendimento poderá ficar sujeito a uma sobretaxa extraordinária de IRS de 3,5%, bem como a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 2,5%, na parte do rendimento coletável que

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 41

seja superior a € 80.000 mas não exceda € 250.000. O quantitativo do rendimento coletável que exceda € 250.000 estará sujeito a uma taxa adicional de solidariedade no valor de 5%. Caso o titular residente opte pelo englobamento, o saldo negativo (entre as mais-valias e as menos-valias realizadas com a alienação de ações nacionais) apurado em determinado ano pode ser reportado para os dois anos seguintes. No apuramento do saldo positivo ou negativo entre as mais-valias e as menos-valias realizadas com a alienação de ações nacionais, o titular residente não pode deduzir, aos ganhos que obtenha, as perdas apuradas com alienação de ações em que a entidade se encontre domiciliada numa jurisdição sujeita a um regime fiscal claramente mais favorável. Sempre que obtenha rendimentos desta categoria, o titular encontra-se obrigado à apresentação do Anexo G juntamente com a sua Declaração de Rendimentos. Em sede de IVA Donativo e oferta Os donativos podem reverter-se em duas formas distintas, em dinheiro ou em espécie, sendo que o seu tratamento em sede de IVA depende da sua forma, conforme prevê o CIVA. Assim, teremos:

De acordo com o artigo 3.º do CIVA, considera-se, em geral, transmissão de bens a transferência onerosa de bens corpóreos por forma correspondente ao exercício do direito de propriedade.

Por outro lado, e nos termos definidos por portaria do Ministro das Finanças, os bens não destinados a posterior comercialização que, pelas suas características, ou pelo tamanho ou formato diferentes do produto que constitua a unidade de venda, visem, sob a forma de amostra, apresentar ou promover bens produzidos ou comercializados pelo próprio sujeito

Donativo

Dinheiro Espécie

Não são contrapartida

de bens ou serviços

Serviços Bens

Transmissões gratuitas

/ ofertas de bens

Serviços – Sujeitos a

IVA

Não sujeitos a IVA

Transmissões de bens-

Sujeitas a IVA

Serviços gratuitos –

não sujeitos a IVA

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 42

passivo, assim como as ofertas de valor unitário igual ou inferior a (euro) 50 e cujo valor global anual não exceda cinco por mil do volume de negócios do sujeito passivo no ano civil anterior, em conformidade com os usos comerciais. O n.º 8 do artigo 3.º do CIVA refere que no caso de início de actividade, a permilagem referida no número anterior aplica-se aos valores esperados, sem prejuízo de rectificação a efectuar na última declaração periódica a apresentar no ano de início de actividade, se os valores definitivos forem inferiores aos valores esperados.

Assim, no caso de donativos em espécie, ou seja, bens oferecidos a título gratuito cujo IVA da aquisição não tenha sido alvo de dedução, não são considerados transmissão de bens, pelo que não são sujeitos a IVA. No caso dos bens oferecidos a título gratuito cujo IVA da aquisição tenha sido alvo de dedução, total ou parcialmente, que tenham um valor unitário menor ou igual a 50 euros (quando é um conjunto de bens este valor aplica-se ao conjunto) e cujo o valor global das ofertas não exceda os 5 por mil do volume de negócios, não são considerados transmissão de bens, mas sim ofertas de bens não são sujeitos a IVA. Por outro lado, não existe necessidade de emitir o respetivo documento de suporte à liquidação do imposto, sem obviamente esquecer o documento (recibo) para efeitos de comprovar o donativo/oferta. Nos restantes casos há que liquidar IVA sobre o valor de aquisição dos bens ou sobre o preço de custo. Nos caso de se tratar de serviços teremos:

O IVA é liquidado sobre o valor normal dos serviços, sendo que, e de acordo com o artigo 16.º do CIVA, o valor tributável das transmissões de bens e das prestações de serviços sujeitas a imposto é o valor da contraprestação obtida ou a obter do adquirente, do destinatário ou de um terceiro. Nos casos em que a contraprestação não seja definida, no todo ou em parte, em dinheiro, o valor tributável é o montante recebido ou a receber, acrescido do valor normal dos bens ou serviços dados em troca.

Donativo

Utilização de bens para a

realização gratuita de serviços

sem fins alheios à empresa

Utilização de bens para a

realização gratuita de serviços

com fins alheios à

Serviços que prossigam o

objetivo ou os fins

institucionais

Não sujeitos a IVA

Fins sem carácter comercial

ou que se afastem do objetivo

institucional

Liquida IVA

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 43

Por fim, o documento de suporte para os bens e serviços oferecidos a título gratuito sujeitos a IVA, deverá conter uma série de elementos, entre eles:

Data e natureza da operação;

Valor tributável e taxa de imposto aplicável;

Valor do imposto. Em sede do Imposto do Selo O aumento do capital social de uma sociedade mediante a entrada de bens de qualquer espécie é um acto sujeito a Imposto do Selo sobre o valor real dos bens de qualquer natureza entregues ou a entregar pelos sócios à taxa de 0,4%, de acordo com a verba 26.3 da Tabela Geral do Imposto do Selo. A transmissão gratuita de ações está sujeita a Imposto do Selo à taxa de 10%, com exceção das situações em que o beneficiário do rendimento seja o cônjuge ou unido de facto, descendente ou ascendente do transmitente (figura da doação).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 44

5. Crédito Bancário

5.1. Introdução

O crédito bancário é uma operação pela qual um banco põe determinada soma de dinheiro à disposição do beneficiário, com a garantia de este lhe pagar os juros convencionados e de lhe restituir, na data fixada para o reembolso, importância que havia sido emprestada.

As principais caraterísticas do crédito bancário podem ser definidas como:

As demais características do crédito bancário são específicas de cada produto e ou de cada instituição financeira, e baseiam-se em aspetos como a finalidade, o prazo, o montante, a taxa de juro associada, o risco ou as garantias.

O crédito bancário pode ser concedido a curto prazo (com maturidade inferior a um ano), a médio prazo (com maturidade entre um e cinco anos) e a longo prazo (com maturidade superior a cinco anos), podendo a instituição financeira prestadora do financiamento realizar o crédito sem garantias (apenas contratualmente suportado), ou, por outro lado, exigir à entidade financiada a apresentação de garantias reais ou pessoais.

Caraterísticas Só pode ser realizado por instituições financeiras credenciadas pelo Banco de Portugal

Pode ser concedido a empresas ou a particulares

Pode ser feito nas modalidades de reembolso ou assinatura

Visa a obtenção de lucro por parte das instituições bancárias financiadoras, por via da remuneração do capital cedido

Permite às empresas e particulares obterem, de forma rápida, os meios financeiros necessários às suas necessidades de investimento

Crédito

bancário

Curto prazo

Médio prazo

Longo prazo

Com garantias

Sem garantias

Reais

Pessoais

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 45

Microcrédito

Instituições Financeiras

Empresário IAPMEI

5.1.1. Microcrédito

O microcrédito é uma linha de crédito disponibilizada por algumas instituições financeiras e criada no âmbito do programa FINICIA II do IAPMEI, tendo como objetivo o de facilitar o acesso a crédito e a financiamento por parte das pequenas empresas e empresários em nome individual, de qualquer sector de atividade e cujo início da mesma se tenha verificado há menos de três anos.

Assim, o microcrédito tem como finalidade principal a de apoiar os investimentos das empresas e dos empresários em nome individual na fase inicial da sua atividade ou negócios.

Estão excluídas operações de restruturação financeira das empresas, bem como operações de substituição de créditos já existentes.

5.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, é o normativo contabilístico vigente em Portugal, sendo o seu núcleo central as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), as quais garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. A NCRF que regula os empréstimos bancários é a NCRF 27 - Instrumentos Financeiros, cujo objetivo é fixar o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente passivos financeiros. O crédito bancário é considerado um passivo financeiro nos termos do ponto i), da alínea a), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um passivo financeiro é qualquer passivo que seja uma obrigação contratual de entregar dinheiro ou outro ativo financeiro a uma outra entidade. Os passivos financeiros apenas são reconhecidos quando a entidade se torne uma parte das disposições contratuais do instrumento (parágrafo 6).

Os passivos financeiros, nomeadamente os contratos para conceder ou contrair empréstimos que não possam ser negociados numa base líquida, quando reúnam as condições para reconhecimento ao custo ou ao custo amortizado menos perdas por imparidade e quando no reconhecimento inicial esteja expressamente referido tal condição, devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12 e 14).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 46

Pelo reconhecimento do empréstimo bancário:

Pelo reconhecimento do imposto selo sobre a utilização do financiamento bancário obtido:

Pelo pagamento da 1.ª prestação sobre o financiamento bancário obtido:

€ €

12 - Depósitos à

Ordem2511 - Empréstimos

bancários

€ €

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à

Ordem

6812 - Impostos

indiretos

12 - Depósitos à

Ordem

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

2511 - Empréstimos

bancários

€ €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 47

Exemplo: A empresa obtém Financiamento contratou um financiamento de médio prazo a fim de fazer face a um investimento em ativos fixos tangíveis e intangíveis relacionados com a expansão do seu negócio para mercados externos. As condições desse financiamento são:

i) Prazo 2 anos ii) Amortizações trimestrais e constantes de capital iv) Taxa de juro 8% v) Imposto do selo conexo à operação

De seguida apresenta-se plano financeiro de suporte aos movimentos abaixo indicados:

Pelo reconhecimento do financiamento:

Pelo pagamento da primeira prestação:

Periodo Amortização Juros RendaCapital em

dívidaIS Juros ISAC

0 500.000,00 € 2.500,00 €

1 62.500,00 € 10.000,00 € 72.500,00 € 437.500,00 € 400,00 €

2 62.500,00 € 8.750,00 € 71.250,00 € 375.000,00 € 350,00 €

3 62.500,00 € 7.500,00 € 70.000,00 € 312.500,00 € 300,00 €

4 62.500,00 € 6.250,00 € 68.750,00 € 250.000,00 € 250,00 €

5 62.500,00 € 5.000,00 € 67.500,00 € 187.500,00 € 200,00 €

6 62.500,00 € 3.750,00 € 66.250,00 € 125.000,00 € 150,00 €

7 62.500,00 € 2.500,00 € 65.000,00 € 62.500,00 € 100,00 €

8 62.500,00 € 1.250,00 € 63.750,00 € 0,00 € 50,00 €

Débito Crédito Valor Observações

12 - Depósitos à ordem2511 - Empréstimos

bancários500.000 €

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 2.500 €

Imposto selo s/ utilização

crédito 0,5%

Débito Crédito Valor Observações

2511 - Empréstimos

bancários12 - Depósitos à ordem 62.500 € Amortização de capital

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

12 - Depósitos à ordem 10.000 €Juros trimestrais à taxa 8%

ao ano

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 400 € Imposto selo s/ juros 4%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 48

5.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Microcrédito

IRC Sujeito

IRS Não aplicável

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC Os empréstimos bancários obtidos pelas empresas configuram um passivo financeiro, sendo que estes vencem juros, os quais suportados pelo beneficiário do mesmo. Ora, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC, considerando-se na alínea c) do n.º 2 do Artigo 23.º do CIRC que os gastos e perdas de natureza financeira, tais como juros de capitais alheios aplicados na exploração, descontos, ágios, transferências, diferenças de câmbio, gastos com operações de crédito, cobrança de dívidas e emissão de obrigações e outros títulos, prémios de reembolso e os resultantes da aplicação do método do juro efetivo aos instrumentos financeiros valorizados pelo custo amortizado. Em sede de IVA Nos termos da alínea a) e b) do n.º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto a concessão e a negociação de créditos, sob qualquer forma, compreendendo operações de desconto e redesconto, bem como a sua administração ou gestão efectuada por quem os concedeu, bem como, a negociação e a prestação de fianças, avales, cauções e outras garantias, bem como a administração ou gestão de garantias de créditos efectuada por quem os concedeu;

Em sede de IS O artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS) prevê que são sujeitos passivos do imposto as entidades concedentes do crédito ou credoras de juros, prémios, comissões e outras contraprestações, bem como Instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas relativamente às operações de crédito, no momento em que forem realizadas e nas operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas, no momento da cobrança dos juros, prémios, comissões e outras contraprestações,

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 49

considerando-se efetivamente cobrados, sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 51.º, os juros e comissões debitados em contas correntes à ordem de quem a eles tiver direito (artigo 5.º do CIS). Conforme previsto no artigo 3.º do CIS, o encargo do imposto, incumbe na concessão do crédito, ao utilizador do referido crédito e nas restantes operações financeiras realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades ou outras instituições financeiras, ao cliente destas. De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS), aplicando-se aos empréstimos a verba 17 – Operações financeiras. Assim, sobre o valor do crédito utilizado pelo titular incide Imposto do Selo, variando a taxa aplicável em função dos seguintes prazos:

Pela utilização de crédito, sob a forma de fundos, mercadorias e outros valores, em

virtude da concessão de crédito a qualquer título excepto nos casos referidos na verba

17.2, incluindo a cessão de créditos, o factoring e as operações de tesouraria quando

envolvam qualquer tipo de financiamento ao cessionário, aderente ou devedor,

considerando-se, sempre, como nova concessão de crédito a prorrogação do prazo do

contrato - sobre o respectivo valor, em função do prazo:

o Crédito de prazo inferior a um ano - por cada mês ou fracção (0,04%);

o Crédito de prazo igual ou superior a um ano (0,50%);

o Crédito de prazo igual ou superior a cinco anos (0,60%);

o Crédito utilizado sob a forma de conta corrente, descoberto bancário ou

qualquer outra forma em que o prazo de utilização não seja determinado ou

determinável, sobre a média mensal obtida através da soma dos saldos em

dívida apurados diariamente, durante o mês, divididos por 30 (0,04%);

Operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades

financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas e quaisquer outras

instituições financeiras - sobre o valor cobrado, designadamente, juros por, desconto

de letras e bilhetes do Tesouro, por empréstimos, por contas de crédito e por crédito

sem liquidação (4%);

Comissões por garantias prestadas (3%);

Outras comissões e contraprestações por serviços financeiros (4%).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 50

6. Factoring

6.1. Introdução

O factoring é uma operação financeira que consiste na tomada de créditos a curto prazo por uma instituição financeira (factor), que os fornecedores de bens ou serviços (aderentes) constituem sobre os seus clientes (devedores), permitindo às empresas obter uma antecipação dos recebimentos dos seus clientes.

A atividade de factoring pode também ser considerada como a entrega, por parte de uma empresa que vende produtos ou serviços, das suas operações de cobrança de curto prazo à empresa de factoring, especializada em cobranças. Pode, então, considerar-se que a empresa de factoring age como uma entidade que apoia, de facto, a empresa fornecedora que tem créditos de curto prazo a receber, efetuando a sua gestão de créditos e a sua cobrança, adiantando-lhe o montante dos créditos e partilhando, total ou parcialmente, o risco inerente à solvência da empresa devedora. A sociedade de factoring, pelos serviços de antecipação e/ou de gestão das cobranças, cobra uma comissão que será mais baixa para operações com recurso (ou seja, nas quais a factor não assume o risco) e mais elevada para operações sem recurso (ou seja, nas quais a factor assume o risco). A factor irá igualmente cobrar juros que incidem sobre os adiantamentos efetuados. Para as entidades que recorram a uma operação desta natureza, pode-se referir as seguintes vantagens, entre outras:

Diminuir o desfasamento entre o prazo médio de recebimentos (PMR) e o prazo médio de pagamentos;

Resolver problemas de liquidez imediata e tesouraria; Obtenção de fundo de maneio numa empresa em fase de crescimento; Diminuir dificuldades de tesouraria de empresas sazonais.

Fornecedor •Aderente

Cliente •Devedor

Instituição Financeira

•Factor

Prazo médio recebimentos

Prazo médio pagamentos

Tesouraria Fundo maneio

necessário Liquidez

Antecipação de

recebimentos

Possibilidade

transferência do risco

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 51

Factor

Aderente

Devedor

São três os intervenientes numa operação típica de factoring:

Factor: é a sociedade de factoring à qual são cedidos os créditos a curto prazo devidos pelos clientes e decorrentes da atividade comercial normal da empresa aderente;

Aderente: é a empresa que vendeu produtos ou serviços a um cliente, no decorrer da sua atividade normal e que cede à sociedade de factoring, os créditos de curto prazo decorrentes dessas vendas;

Devedor: é a empresa cliente que adquiriu à empresa aderente produtos e serviços, a crédito, e que lhe ficou assim a dever um valor estipulado alvo de faturação.

Esta operação financeira desenvolve-se em quatro fases: 1ª fase: A empresa aderente, ou fornecedora, vende à empresa devedora, ou cliente,

bens ou serviços a crédito, emitindo uma fatura; 2ª fase: A empresa aderente cede o seu crédito de curto prazo à sociedade de

factoring; 3ª fase: A sociedade de factoring, ou factor, efetua o adiantamento dos valores que a

empresa aderente tem a receber, atualizados e descontados de uma taxa previamente acordada;

4ª fase: A empresa devedora, ou cliente, efetua o pagamento do montante devido, na data acordada, à sociedade de factoring e não à empresa fornecedora.

6.2. Normativo contabilístico aplicável

O normativo contabilístico em vigor em Portugal, o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, revogando o anterior Plano Oficial de Contabilidade (POC), as Diretrizes Contabilísticas e demais legislação conexa em vigor até então. O SNC é constituído por elementos fundamentais, dentre os quais destacam-se as 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das operações contabilísticas. O tratamento contabilístico do factoring está previsto na NCRF 27 - Instrumentos Financeiros.

1.ª fase - Emissão fatura

2.ª fase - Cedência de crédito

3.ª fase - Adiantamento

4.ª fase - Pagamento

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 52

O factoring é um instrumento financeiro na medida em que é um contrato que dá origem a um ativo financeiro numa entidade e a um passivo financeiro ou instrumento de capital próprio noutra entidade (parágrafo 5). Quando estamos perante a modalidade de factoring com recurso, a entidade deve continuar a reconhecer um ativo financeiro e um passivo financeiro correspondente ao adiantamento concedido pela factor (parágrafo 30 a 32). O passivo financeiro apenas deve ser desreconhecido quando o devedor proceder à liquidação do montante adiantado à factor. (parágrafo 33). No caso de factoring sem recurso, a entidade desreconhece o ativo financeiro no montante igual ao adiantamento recebido da factor, dado que o risco de cobrança é transferido na totalidade para a factor, conforme previsto na alínea b) do parágrafo 30. As alíneas a) dos parágrafos 12 e 14 da NCRF 27 preveem que os instrumentos financeiros sejam mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade. Factoring com recurso No factoring com recurso é permitido à factor exigir da entidade aderente a liquidação da quantia antecipada caso não receba o montante do devedor no prazo de recebimento estipulado. Pela cedência de créditos à Factor (% da facturação) - Adiantamento:

Pela retenção de créditos pela Factor (% da facturação):

Pelo recebimento antecipado (financiamento):

€ €

12 - Depósitos à

Ordem

2131- Clientes

Factoring -

Adiantamentos

€ €

2132- Clientes

Factoring - Retenções2111 - Clientes gerais

€ €

2514 - Empréstimos

bancários - Factoring

2132- Clientes

Factoring - Retenções

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 53

Pela restituição de adiantamentos (não cobrados):

Pela transferência da dívida não cobrada (crédito cedido e retenções):

Pela restituição das retenções após boa cobrança:

Pela regularização dos créditos cedidos após boa cobrança:

€ €

12 - Depósitos à

Ordem

2131- Clientes

Factoring -

Adiantamentos

2132 - Clientes

Factoring - Retenções

2131- Clientes

Factoring -

Adiantamentos

2111 - Clientes gerais

€ €

2132 - Clientes

Factoring - Retenções

12 - Depósitos à

Ordem

€ €

2131- Clientes

Factoring -

Adiantamentos

2514 - Empréstimos

bancários - Factoring

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 54

Pelos juros e encargos com a operação de factoring:

Exemplo: A sociedade Cedência de Créditos vendeu ao cliente KWY produtos a crédito no montante de 44.000€, e ao cliente Y123 o montante 6.000€. Na mesma data, esta sociedade decidiu ceder estas dívidas à empresa de factoring FactorXLS. As condições contratadas com a sociedade de factoring são:

i) Factoring com recurso ii) Adiantamento de 95% dos créditos cedidos iii) Juros e demais comissões conexas à cedência de créditos

Na data do vencimento, o cliente Y123 não liquidou à empresa de factoring o montante em dívida, pelo que esta, por ter celebrado um contrato de factoring com recurso, transferiu esse risco para a empresa aderente. O cliente KWY cumpriu a sua obrigação de pagamento com a sociedade de factoring na data fixada. Nesta data, a sociedade FactorXLS transferiu para a empresa aderente a retenção de 5% efetuada na data da cedência dos créditos.

6913 - Juros de

factoring

6983 - Outros gastos

e perdas de

financiamento

relativos a factoring

12 - Depósitos à

Ordem

€ €

Débito Crédito Valor Observações

2131 - Clientes

Factoring -

Adiantamentos

2111 - Clientes gerais 47.500 €

Cedência de créditos à factor

95% da faturação -

adiantamento

2132 - Clientes

Factoring - Retenções2111 - Clientes gerais 2.500 €

Retenção de créditos pela

factor 5% da faturação

12 - Depósitos à ordem2514 - Empréstimos

bancários - Factoring47.500 € Recebimento antecipado

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 55

A sociedade FactorXLS debitou à empresa aderente os seguintes encargos com esta operação de factoring.

Factoring sem recurso No factoring sem recurso a factor assume a totalidade do risco de incobrabilidade da dívida, pelo que caso a entidade devedora não liquide o montante em dívida no prazo fixado, a factor não pode exigir à entidade aderente a liquidação da mesma. Pela cedência de créditos à Factor (% da facturação) - Adiantamento:

Débito Crédito Valor Observações

2131 - Clientes

Factoring -

Adiantamentos

12 - Depósitos à ordem 5.700 €Restituição do adiantamento

que não foi possível cobrar

2111 - Clientes gerais

2131 - Clientes

Factoring -

Adiantamentos

5.700 €Transferência da dívida não

cobrada, crédito cedido

2111 - Clientes gerais2132 - Clientes

Factoring - Retenções300 €

Transferência da dívida não

cobrada, retenções

12 - Depósitos à ordem2132 - Clientes

Factoring - Retenções2.200 €

Restituição das retenções de

5% após boa cobrança pela

factor

2514 - Empréstimos

bancários - Factoring

2131 - Clientes

Factoring -

Adiantamentos

47.500 €

Regularização de créditos

cedidos após boa cobrança

pela factor

Débito Crédito Valor Observações

6913 - Juros do

Factoring12 - Depósitos à ordem 400 € Juros

6983 - Outros gastos e

perdas de

financiamento

relativos a Factoring

12 - Depósitos à ordem 375 € Comissão de cobrança

€ €

2111 - Clientes gerais2131- Clientes

Factoring -

Adiantamentos

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 56

Pela retenção de créditos pela Factor (% da facturação):

Pela restituição de adiantamentos (não cobrados):

Pela restituição das retenções após boa cobrança:

Pelos juros e encargos com a operação de factoring:

€ €

2132- Clientes

Factoring - Retenções2111 - Clientes gerais

€ €

12 - Depósitos à

Ordem

2131- Clientes

Factoring -

Adiantamentos

€ €

2132 - Clientes

Factoring - Retenções

12 - Depósitos à

Ordem

6913 - Juros de

factoring

6983 - Outros gastos

e perdas de

financiamento

relativos a factoring

12 - Depósitos à

Ordem

€ €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 57

Exemplo: Pegando no mesmo exemplo indicado para o factoring com recurso, temos os seguintes movimentos contabilísticos no caso de factoring sem recurso. A sociedade Cedência de Créditos vendeu ao cliente KWY produtos a crédito no montante de 44.000€, e ao cliente Y123 o montante 6.000€. Na mesma data, esta sociedade decidiu ceder estas dívidas à empresa de factoring FactorXLS. As condições contratadas com a sociedade de factoring são:

i) Factoring sem recurso ii) Adiantamento de 95% dos créditos cedidos iii) Juros e demais comissões conexas à cedência de créditos

Na data do vencimento, o cliente Y123 não liquidou à empresa de factoring o montante em dívida, pelo que esta, por ter celebrado um contrato de factoring sem recurso, viu-se obrigada a assumir esse risco de incobrabilidade. O cliente KWY cumpriu a sua obrigação de pagamento com a sociedade de factoring na data fixada. Nesta data, a sociedade FactorXLS transferiu para a empresa aderente a retenção de 5% efetuada na data da cedência dos créditos.

Débito Crédito Valor Observações

2131 - Clientes

Factoring -

Adiantamentos

2111 - Clientes gerais 47.500 €Cedência de créditos à factor

95% da faturação

2132 - Clientes

Factoring - Retenções2111 - Clientes gerais 2.500 €

Retenção de créditos pela

factor 5% da faturação

12 - Depósitos à ordem

2131 - Clientes

Factoring -

Adiantamentos

47.500 € Recebimento antecipado

Débito Crédito Valor Observações

12 - Depósitos à ordem2132 - Clientes

Factoring - Retenções2.200 €

Restituição das retenções de

5% após boa cobrança pela

factor

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 58

A sociedade FactorXLS debitou à empresa aderente os seguintes encargos com esta operação de factoring.

6.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Factoring

IRC Sujeito

IRS Não aplicável

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC As operações de factoring realizadas pelas empresas com as instituições de crédito, configuram uma cedência de créditos, sendo que esta vence juros e suporta comissões, os quais são suportados pelo beneficiário da operação de factoring. Ora, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC, considerando-se na alínea c) do n.º 2 do Artigo 23.º do CIRC que os gastos e perdas de natureza financeira, tais como juros de capitais alheios aplicados na exploração, descontos, ágios, transferências, diferenças de câmbio, gastos com operações de crédito, cobrança de dívidas e emissão de obrigações e outros títulos, prémios de reembolso e os resultantes da aplicação do método do juro efetivo aos instrumentos financeiros valorizados pelo custo amortizado. Em sede de IVA Nos termos da alínea a) e b) do n.º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto a concessão e a negociação de créditos, sob qualquer forma, compreendendo operações de desconto e redesconto, bem como a sua administração ou gestão efectuada por quem os concedeu, bem como, a negociação e a prestação de fianças, avales, cauções e outras

Débito Crédito Valor Observações

6913 - Juros do

Factoring12 - Depósitos à ordem 575 € Juros

6983 - Outros gastos e

perdas de

financiamento

relativos a Factoring

12 - Depósitos à ordem 522,5 € Comissão de cobrança

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 59

garantias, bem como a administração ou gestão de garantias de créditos efectuada por quem os concedeu. Para além disso, e ainda nos termos da alínea c) do º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto as operações, compreendendo a negociação, relativas a depósitos de fundos, contas correntes, pagamentos, transferências, recebimentos, cheques, efeitos de comércio e afins, com excepção das operações de simples cobrança de dívidas. Importa salientar que AT, tem entendido que as comissões de factoring e ou de garantia cobradas pelas sociedades de factoring aos seus clientes estão isentas de IVA, uma vez que, configuram a contraprestação de operações abrangidas pela alínea c) do n.º 27 do Artigo 9.º do Código do IVA (CIVA) e dela não exceptuada, uma vez que não se trata de uma simples cobrança de dívidas, em conformidade com as definições e os pressupostos constante de informação vinculativa.

Em sede de IS O artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS) prevê que são sujeitos passivos do imposto as entidades concedentes do crédito ou credoras de juros, prémios, comissões e outras contraprestações, bem como Instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas relativamente às operações de crédito, no momento em que forem realizadas e nas operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas, no momento da cobrança dos juros, prémios, comissões e outras contraprestações, considerando-se efetivamente cobrados, sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 51.º, os juros e comissões debitados em contas correntes à ordem de quem a eles tiver direito (artigo 5.º do CIS). Conforme previsto no artigo 3.º do CIS, o encargo do imposto, incumbe na concessão do crédito, ao utilizador do referido crédito e nas restantes operações financeiras realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades ou outras instituições financeiras, ao cliente destas. De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS), aplicando-se aos empréstimos a verba 17 – Operações financeiras. Assim, sobre o valor do crédito utilizado pelo titular incide Imposto do Selo, variando a taxa aplicável em função dos seguintes prazos:

Pela utilização de crédito, sob a forma de fundos, mercadorias e outros valores, em

virtude da concessão de crédito a qualquer título excepto nos casos referidos na verba

17.2, incluindo a cessão de créditos, o factoring e as operações de tesouraria quando

envolvam qualquer tipo de financiamento ao cessionário, aderente ou devedor,

considerando-se, sempre, como nova concessão de crédito a prorrogação do prazo do

contrato - sobre o respectivo valor, em função do prazo:

o Crédito de prazo inferior a um ano - por cada mês ou fracção (0,04%);

o Crédito de prazo igual ou superior a um ano (0,50%);

o Crédito de prazo igual ou superior a cinco anos (0,60%);

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 60

o Crédito utilizado sob a forma de conta corrente, descoberto bancário ou

qualquer outra forma em que o prazo de utilização não seja determinado ou

determinável, sobre a média mensal obtida através da soma dos saldos em

dívida apurados diariamente, durante o mês, divididos por 30 (0,04%);

Operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades

financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas e quaisquer outras

instituições financeiras - sobre o valor cobrado, designadamente, juros por, desconto

de letras e bilhetes do Tesouro, por empréstimos, por contas de crédito e por crédito

sem liquidação (4%);

Comissões por garantias prestadas (3%);

Outras comissões e contraprestações por serviços financeiros (4%).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 61

7. Confirming

7.1. Introdução

O confirming é uma operação financeira que possibilita antecipar aos fornecedores, recursos financeiros relativos à venda de bens e prestação de serviços, sem necessidade destes aderirem a qualquer tipo de crédito junto de uma instituição financeira. O confirming materializa-se num serviço prestado por uma instituição financeira, normalmente um banco, encarregando-se este de efetuar aos fornecedores da entidade aderente os pagamentos nas datas previamente acordadas, de forma célere.

Do ponto de vista processual, a operação de confirming pode-se resumir como segue:

A empresa aderente envia ao banco listagens com as ordens de pagamento a efetuar aos fornecedores;

O banco envia a cada um dos fornecedores constantes da listagem acima referida, uma notificação a informar sobre o pagamento futuro das faturas e oferecendo os serviços de pagamento antecipado das mesmas por via da concessão de crédito;

Após a recepção da referida notificação, o fornecedor tem a possibilidade de optar entre uma de duas alternativas:

a) Proceder à cobrança das faturas na data do seu vencimento, ou b) Solicitar o respetivo pagamento antecipado.

O banco procederá à liquidação dos montantes que constam das ordens de pagamento, de acordo com as instruções recebidas, i.e., ou na data de vencimento original das faturas ou antecipadamente se essa foi a intenção expressa pelo fornecedor.

Esta solução financeira pode apresentar as seguintes vantagens, quer na ótica da empresa aderente, quer na ótica do fornecedor. Assim, temos: Empresa aderente

Redução de custos administrativos inerentes à emissão e controlo de ordens de pagamento;

Melhoria no controlo de pagamentos com possibilidade de reconciliação bancária enviada e controlada pelo banco;

Maior capacidade de negociação no que diz respeito à aquisição e fornecimento de bens e serviços.

Fornecedor

•Credor

Cliente

•Devedor

Banco (IF)

•Prestador do serviço

Pagamento

Ordem de

pagamento

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 62

Fornecedor:

Acesso a um financiamento automático e simples que não obriga a apresentação de elementos financeiros, nem tão pouco à apresentação de garantias adicionais de qualquer natureza;

A antecipação efetuada pelo banco é definitiva e sem recurso sobre o fornecedor; A obtenção de financiamento pela via do confirming não representa endividamento

adicional, gerando ainda melhorias imediatas na sua liquidez; O fornecedor pode solicitar a antecipação de uma ou várias faturas e em datas

distintas; O fornecedor pode domiciliar estas antecipações em qualquer instituição bancária.

7.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), o atual normativo contabilístico vigente em Portugal, foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho. O SNC é constituído por elementos fundamentais, entre eles destacam-se as 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS). As NCRF garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das operações contabilísticas. A NCRF que regula esta solução de financiamento é a NCRF 27 - Instrumentos Financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente passivos financeiros. O confirming é um passivo financeiro na medida na medida em que representa uma obrigação contratual de entregar dinheiro ou outro ativo financeiro a uma outra entidade (parágrafo 5).

Aderente

- custos

+ controlo

+ negociação

Vantagens

Fornecedor

+ liquidez

- endividamento

- reporting

Vantagens

Co

nf

ir

min

g C

on

fi

rm

ing

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 63

Conforme prescrito na NCRF 27, nos parágrafos 30 a 33, perante uma operação de confirming a entidade deve desreconhecer o passivo financeiro relativo à dívida ao fornecedor, e reconhecer o passivo financeiro referente ao montante antecipado a estes pela instituição financeira. As alíneas a) dos parágrafos 12 e 14 da NCRF 27 preveem que os instrumentos financeiros sejam mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade. Pela antecipação das faturas:

Pelos juros e demais encargos cobrados pela Instituição Financeira:

Pela liquidação das faturas:

€ €

2211 - Fornecedores

gerais

2515 - Empréstimos

bancários -

Confirming

6914 - Juros ddo

confirming

6812 - Impostos

indiretos

12 - Depósitos à

Ordem

€ €

€ €

2211 - Fornecedores

gerais

2515 - Empréstimos

bancários -

Confirming

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 64

Exemplo: A sociedade Céu Azul recebeu faturas dos seus fornecedores do montante total de 88.000€. Em virtude do contrato de confirming celebrado com o seu banco, esta sociedade enviou-lhe uma listagem com as ordens de pagamento a efetuar aos diversos fornecedores.

Na data de vencimento das faturas, a sociedade Céu Azul liquidou ao banco os montantes em questão. Por esta operação, foram cobradas juros e demais encargos.

7.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Confirming

IRC Sujeito

IRS Não aplicável

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC As operações de confirming realizadas pelas empresas com as instituições de crédito, configuram operação financeira que possibilita antecipar recursos financeiros relativos à venda de bens e ou prestação de serviços, sendo que pagam comissões pela utilização do serviço de confirming. Ora, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos

Débito Crédito Valor Observações

2211 - Fornecedores

gerais

2515 - Empréstimos

bancários - Confirming88.000 €

Antecipação de faturas no

montante de 88.000€ a 90

dias

Débito Crédito Valor Observações

6914 - Juros do

Confirming12 - Depósitos à ordem 990 €

Juros trimestrais à taxa 4,5%

ao ano

6812 - Impostos

indiretos 12 - Depósitos à ordem 39,6 € Imposto selo s/ juros 4%

2515 - Empréstimos

bancários - Confirming12 - Depósitos à ordem 88.000 €

Liquidação das faturas

antecipadas

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 65

sujeitos a IRC, considerando-se na alínea c) do n.º 2 do Artigo 23.º do CIRC que os gastos e perdas de natureza financeira, tais como juros de capitais alheios aplicados na exploração, descontos, ágios, transferências, diferenças de câmbio, gastos com operações de crédito, cobrança de dívidas e emissão de obrigações e outros títulos, prémios de reembolso e os resultantes da aplicação do método do juro efetivo aos instrumentos financeiros valorizados pelo custo amortizado. Em sede de IVA Nos termos da alínea c) do º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto as operações, compreendendo a negociação, relativas a depósitos de fundos, contas correntes, pagamentos, transferências, recebimentos, cheques, efeitos de comércio e afins, com excepção das operações de simples cobrança de dívidas. Porém, as prestações de serviços associadas ao confirming, como sejam, as comissões de abertura, renovação, rescisão e gestão anual de contratos, encontram-se sujeitas à taxa legal em vigor de IVA. Apenas as operações de processamentos dos montantes associados às operações de confirming propriamente ditas, estão isentas, embora sujeitas a IS. Em sede de IS O artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS) prevê que são sujeitos passivos do imposto as entidades concedentes do crédito ou credoras de juros, prémios, comissões e outras contraprestações, bem como Instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas relativamente às operações de crédito, no momento em que forem realizadas e nas operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas, no momento da cobrança dos juros, prémios, comissões e outras contraprestações, considerando-se efetivamente cobrados, sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 51.º, os juros e comissões debitados em contas correntes à ordem de quem a eles tiver direito (artigo 5.º do CIS). Conforme previsto no artigo 3.º do CIS, o encargo do imposto, incumbe na concessão do crédito, ao utilizador do referido crédito e nas restantes operações financeiras realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades ou outras instituições financeiras, ao cliente destas. De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS), aplicando-se aos empréstimos a verba 17 – Operações financeiras. Assim, sobre o valor do crédito utilizado pelo titular incide Imposto do Selo, variando a taxa aplicável em função dos seguintes prazos:

Operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades

financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas e quaisquer outras

instituições financeiras - sobre o valor cobrado, designadamente, juros por, desconto

de letras e bilhetes do Tesouro, por empréstimos, por contas de crédito e por crédito

sem liquidação (4%);

Outras comissões e contraprestações por serviços financeiros (4%).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 66

8. Leasing Mobiliário ou Imobiliário

8.1. Introdução

O leasing mobiliário ou imobiliário é um instrumento de financiamento de médio e longo prazo para investimento em aquisição de bens móveis (equipamentos, viaturas, etc.) ou imóveis (habitação, escritórios, armazéns, etc.).

O leasing materializa-se na celebração de contrato entre a empresa de leasing (locador, que detém a propriedade do bem) e o cliente (locatário, que detém a propriedade económica do bem), permitindo, findo o prazo do mesmo e mediante o pagamento de um valor residual variável, a aquisição definitiva do bem em causa pelo locatário. O prazo máximo previsto legalmente para este instrumento de financiamento é cerca de 30 anos para os bens imóveis, sendo que para os bens móveis o prazo de duração contratual coincide normalmente com o prazo estimado de utilização dos mesmos.

O plano financeiro de reembolsos neste tipo de operação é normalmente antecipado. As rendas, compostas por capital e juros, podem ser de valor constante ou variável. Durante o período do contrato, o locatário detém a propriedade económica do bem, sendo a respetiva propriedade jurídica detida pelo locador.

Leasing

Mobiliário

Imobiliário

Locador Contrato de leasing Locatário

Mobiliário Imobiliário

Máximo 30 anos Prazo de

utilização

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 67

Este instrumento de financiamento pode apresentar as seguintes vantagens, entre outras:

8.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, sendo o seu núcleo central as atuais 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), as quais garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. Os contratos de leasing são regulados pela NCRF 9 – Locações, cujo objetivo é definir as políticas contabilísticas e divulgações associadas às locações financeiras e locações operacionais. Assim, as locações são classificadas como financeiras ou operacionais, tendo em conta a extensão em que os riscos e vantagens inerentes à posse do bem objecto de locação são transferidos para o locatário. Numa locação financeira os riscos e vantagens associadas ao bem são transferidos para a esfera do locatário. Ao invés, estamos perante uma operação de locação operacional – parágrafos 7 a 19. Numa locação financeira o locatário reconhece inicialmente um ativo pela locação bem como a respectiva responsabilidade, pelo justo valor do bem locado ou, se inferior, ao valor presente dos pagamentos mínimos da locação, reconhecendo igualmente uma responsabilidade no passivo (parágrafos 20 a 22). A locação financeira dá origem a um gasto de depreciação, relativo ao ativo depreciável contabilizado e imputável a cada um dos períodos contabilísticos e correspondentes ao período de vida útil do bem (parágrafos 23 a 27). Pelo registo do contrato de locação financeira:

Vantagens Financiamento de fácil acesso

Simplicidade na tramitação processual

Rapidez na entrega do bem e liquidação do mesmo ao fornecedor

Possibilidade de adaptação do reembolso do capital financiado aos fluxos de tesouraria do locatário

€ €

43 - AFT

44 - Ativos intangíveis

2513 - Locações

financeiras

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 68

Pelo pagamento da prestação:

Exemplo: A sociedade All Rent adquiriu uma nova máquina para reforçar o seu parque industrial através de um contrato de locação financeira. A máquina teve um custo de 90.000€ acrescido do IVA à taxa legal em vigor. O contrato leasing foi celebrado pelo prazo de 4 anos com rendas trimestrais e antecipadas (16 rendas) calculadas à taxa de 0,9% (taxa de juro anual efetiva de 3,65%), e com um valor residual no montante de 10% do valor de aquisição. O valor da renda ascende a 5.490€ mensais.

2513 - Locação

financeira

6912 - Juros da

locação financeira

2432321 - IVA

dedutível - OBS - Taxa

normal

12 - Depósitos à

Ordem

€ €

capital

Juros

IVA

Débito Crédito Valor Observações

433 - Equipamento

básico

2513 - Locações

financeiras90.000 €

Valor de aquisição contratual

sem IVA

2513 - Locações

financeiras12 - Depósitos à ordem 4.729,41 € Amortização de capital

6912 - Juros da

locação financeira12 - Depósitos à ordem 760,59 € Juros

2432321 - IVA dedutível

OBS à taxa normal 12 - Depósitos à ordem 1.262,70 € IVA à taxa legal 23%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 69

O plano financeiro de suporte a este contrato de leasing é tal como segue:

8.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Leasing Mobiliário Leasing Imobiliário

IRC Sujeito Sujeito

IRS Sujeito Sujeito

IVA Sujeito Sujeito

IS Sujeito Sujeito

IMT Não sujeito Sujeito

IMI Não sujeito Sujeito

Nesta matéria, é importante ter em conta o regime jurídico do contrato de locação financeira, o qual foi consagrado no Decreto-Lei n.º 149/95, de 24 de Junho, sucessivamente actualizado pelo Decreto-Lei n.º 265/97, de 2 de outubro, Decreto-Lei n.º 285/2001, de 3 de novembro e pelo Decreto-Lei n.º 30/2008, de 25 de Fevereiro2.

2 Vide também Rectificação n.º 17-B/97, de 31/10.

Periodo Amortização Juros PrestaçãoCapital em

dívida

0 90.000,00 €

1 5.490,00 € 0,00 € 5.490,00 € 84.510,00 €

2 4.729,41 € 760,59 € 5.490,00 € 79.780,59 €

3 4.771,97 € 718,03 € 5.490,00 € 75.008,62 €

4 4.814,93 € 675,07 € 5.490,00 € 70.193,69 €

5 4.858,25 € 631,75 € 5.490,00 € 65.335,44 €

6 4.901,98 € 588,02 € 5.490,00 € 60.433,46 €

7 4.946,10 € 543,90 € 5.490,00 € 55.487,36 €

8 4.990,62 € 499,38 € 5.490,00 € 50.496,74 €

9 5.035,53 € 454,47 € 5.490,00 € 45.461,21 €

10 5.080,85 € 409,15 € 5.490,00 € 40.380,36 €

11 5.126,57 € 363,43 € 5.490,00 € 35.253,79 €

12 5.172,72 € 317,28 € 5.490,00 € 30.081,07 €

13 5.219,27 € 270,73 € 5.490,00 € 24.861,80 €

14 5.266,24 € 223,76 € 5.490,00 € 19.595,56 €

15 5.313,64 € 176,36 € 5.490,00 € 14.281,92 €

16 5.361,47 € 128,53 € 5.490,00 € 8.920,45 €

17 8.920,45 € 80,28 € 9.000,00 € 0,00 €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 70

De facto, em termos fiscais, este contrato tem subjacente um princípio de neutralidade fiscal, ou seja, quem adquire algo através de um contrato de locação financeira não deve, fiscalmente, ficar mais onerado que aquele que adquire directamente. Obviamente, que este principio baseia-se no facto, de que a locação financeira é um contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço nele determinado ou determinável mediante simples aplicação dos critérios nele fixados. Assim, a existência deste princípio ajuda a entender as soluções encontradas pelo legislador no tratamento das várias operações que podem ocorrer na vigência do contrato (aquisição, renuncia, cedência de posição, opção de compra, entre outras). Em sede de IRC As operações de locação financeira (leasing) realizadas pelas empresas com as instituições de crédito pagam juros e comissões. Ora, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC, considerando-se na alínea c) do n.º 2 do Artigo 23.º do CIRC que os gastos e perdas de natureza financeira, tais como juros de capitais alheios aplicados na exploração, descontos, ágios, transferências, diferenças de câmbio, gastos com operações de crédito, cobrança de dívidas e emissão de obrigações e outros títulos, prémios de reembolso e os resultantes da aplicação do método do juro efetivo aos instrumentos financeiros valorizados pelo custo amortizado.

No caso das rendas e ou das amortizações, quer no leasing mobiliário, quer no leasing imobiliário, não são considerados gastos mas sim, as depreciações e amortizações. Em conclusão, apenas as depreciações/amortizações e os juros é que são tributadas em sede de IRC como gastos.

Releva-se no entanto, que em função do tipo de bem sobre o qual o contrato de leasing é estabelecido, os encargos suportado com esse contrato poderão ser ou não dedutíveis. O caso mais comum, é o referido pela alínea i) do n.º 1 do Artigo 23º-A do CIRC, o qual refere que não são dedutíveis para efeitos da determinação do lucro tributável, mesmo quando contabilizados como gastos do período de tributação os encargos com o aluguer sem condutor de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, na parte correspondente ao valor das depreciações dessas viaturas que, nos termos das alíneas c) e e) do n.º 1 do artigo 34.º, não sejam aceites como gastos.

Em resumo, na óptica do locador os juros incluídos nas rendas, que constituem rendimentos para este, são tributados em sede de IRC. Na óptica do locatário, os juros incluídos nas rendas, bem como as amortizações fiscais dos bens adquiridos em locação financeira, são considerados como gastos para efeitos de IRC. No caso de cedência da posição contratual, e dado que o locatário transmite, através dum negócio entre partes, um direito de natureza obrigacional que constitui para si um elemento do ativo (AFT, AI, Propriedade de investimento e ou ativo biológico). Perante tal, terá que

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 71

apurar mais ou menos-valias contabilística e fiscais, as quais concorrem para a formação do lucro tributável da empresa. Em sede de IRS Nos termos do n.º 1 e do n.º 2 do artigo 5.º do CIRS, o leasing mobiliário e o imobiliário são considerados rendimentos de capitais – categoria E. Em sede de IVA

Para analisar o efeito que o imposto sobre o valor acrescentado (IVA), tem num contrato de locação financeira, teremos de dividir a questão em duas partes:

Leasing mobiliário – Neste tipo de contrato de locação, o IVA incide sobre as transmissões de bens e serviços e aplicando-se a taxa conforme o tipo de bem locado, sendo dedutível, nas condições do CIVA. Assim, e regra geral, o regime de IVA das operações de locação financeira é o que se aplica às prestações de serviços nos termos do artigo 4º do CIVA, e a taxa a que seria aplicável no caso de transmissão dos bens dados em locação, conforme preconiza o n.º 3 do artigo 18º do CIVA.

No caso do leasing imobiliário, tratando-se de uma aquisição de um bem imóvel, esta beneficia da isenção que consta do n.º 29 do Artigo 9.º do CIVA. Existem no entanto, exceções específicas, como sejam:

as prestações de serviços de alojamento, efectuadas no âmbito da actividade hoteleira ou de outras com funções análogas, incluindo parques de campismo;

a locação de áreas para recolha ou estacionamento colectivo de veículos; a locação de máquinas e outros equipamentos de instalação fixa, bem como

qualquer outra locação de bens imóveis de que resulte a transferência onerosa da exploração de estabelecimento comercial ou industrial;

a locação de cofres-fortes; e a locação de espaços para exposições ou publicidade.

Porém, e no caso do leasing imobiliário, por indicação do locatário, o vendedor e a locadora, poderão renunciar à isenção do IVA. Nos casos em que ocorra cedência de posição contratual por parte do locatário, trata-se da transmissão dum direito de natureza obrigacional, o que e nos termos do n.º 1 do artigo 4.º do CIVA configura uma prestação de serviços (o que se tributa não é a transmissão de um bem, mas sim uma prestação de serviços que não consta de qualquer lista anexa ao CIVA), a qual será tributada em sede de IVA à taxa normal se for efectuada por um sujeito passivo no âmbito da sua actividade, conforme estipula o n.º 1 do artigo 1.º do CIVA. Como é óbvio, este IVA resulta dedutível na sua totalidade se o adquirente for um sujeito passivo. A taxa normal a aplicar incidirá sobre o valor da contraprestação, composta pelo valor recebido pelo cedente e pelo total das rendas ainda não pagas de que este se desonera.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 72

Em sede de IS As componentes do contrato de leasing, nomeadamente os juros, não são objecto de IS, uma vez que todas as rendas se encontram sujeitas a IVA, uma vez que o contrato de leasing, enquanto negócio jurídico ou operação, não está sujeito a imposto do selo de acordo com a verba 17 da Tabela Geral do Imposto do Selo. Em sede de IMT O leasing mobiliário não está sujeito a IMT, ao contrário do que acontece com o leasing imobiliário. Desta forma, podemos delimitar os seguintes casos ao nível da locação financeira imobiliária:

Contrato locação financeira imobiliária IMT

Celebração do contrato Sujeito

Opção de compra antes do final do contrato Sujeito, podendo aplicar-se isenção

Opção de compra no final do contrato Sujeito, com isenção

Opção de não compra Não sujeito

Cedência de posição contratual do locatário Não sujeito

Rescisão Não sujeito

Leaseback Sujeito

Assim, celebração de um contrato de locação financeira imobiliária para a aquisição de um imóvel está sujeita a IMT nos termos gerais, sendo constituída a base para a liquidação do imposto pelo preço acordado ou pelo valor patrimonial tributário (VPT) do imóvel, consoante o que for maior, de acordo com a regra geral prevista no n.º 1 do artigo 12.º do CIMT. Se a aquisição do imóvel for efetuada antes do final do contrato, está sujeita a IMT, acaba por ficar isenta nos termos do artigo 3.º do DL n.º 311/82, de 4/08, o qual refere que está isenta de imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis a transmissão por compra e venda a favor do locatário, no exercício do direito de opção de compra previsto no regime jurídico do contrato de locação financeira, da propriedade ou do direito de superfície constituído sobre o imóvel locado. Desta forma, trata-se duma isenção automática, a qual não carece de qualquer reconhecimento por parte da Autoridade Tributária. Dever-se-á ter em atenção a cláusula da opção de compra e se prevê que essa antecipação possa ser realizada dentro do âmbito previsto no artigo 3.º do DL n.º 311/82, de 4/08. Quando a opção de compra for efetuada no final do contrato, esta operação está sujeita a IMT, no entanto, acaba por ficar isenta nos termos do artigo 3.º do DL n.º 311/82, de 4/08, o qual refere que está isenta de imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis a transmissão por compra e venda a favor do locatário, no exercício do direito de opção de compra previsto no regime jurídico do contrato de locação financeira, da propriedade ou do direito de superfície constituído sobre o imóvel locado. Trata-se duma isenção automática, a

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 73

qual não carece de qualquer reconhecimento por parte da Autoridade Tributária, devendo apenas ser referida no momento da escritura. No caso da opção de não compra ou da rescisão do contrato de locação financeira imobiliária, por parte do locatário, o imóvel continua a ser propriedade da locadora. Por isso, não existe qualquer transmissão do direito de propriedade, logo também não haverá lugar à tributação em sede de IMT. A cedência de posição contratual num contrato de locação financeira imobiliária por parte do locatário, não está sujeita a IMT, porque ela não implica a transmissão do direito real de propriedade do cedente para o cessionário, ou seja, a propriedade do imóvel continua na titularidade da locadora e por lá se mantem após a cedência da posição, até que o cessionário venha a optar pela aquisição do direito de propriedade do imóvel no momento da opção de compra.

No que toca ao valor residual, o IMT, e de acordo com o ponto 14, do n.º4, do art.º 12 do CIMT irá incidir sobre o valor residual, que será determinado de acordo os termos definidos no contrato de locação. Contudo, ressalvar que na transmissão para o locatário, poderá existir isenção do imposto, conforme estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 311/82 de 4 de agosto. Por último, à que considerar a questão do leaseback, visto tratar-se de um contrato de locação financeira com a especial relevância da locadora comprar o bem à entidade que passará a ser a sua locatária. Esta aquisição, tendo por base este tipo de contrato está sujeita a IMT nos termos gerais, sendo a base para a liquidação constituída pelo preço acordado ou pelo VPT dos imóveis, consoante o que for maior, nos termos da regra geral constante no artigo 12.º do CIMT. Com é obvio, e à semelhança da aquisição, também, o valor deste IMT será repercutido ao locatário, incluído nas rendas que vierem a ser pagas ao longo da vida útil do contrato celebrado.

Em sede de IMI

O IMI incide unicamente sobre o leasing imobiliário, sendo que este recai apenas sobre o valor patrimonial tributário dos prédios rústicos e urbanos situados no território português, constituindo receita dos municípios onde os mesmos se localizam de acordo com o estipulado no artigo 1.º do CIMI.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 74

9. Renting ou Aluguer Operacional de Viaturas (AOV)

9.1. Introdução

O renting ou Aluguer Operacional de Viaturas (AOV) é uma solução de financiamento automóvel materializado num contrato de aluguer de viaturas com prestação de serviços associado, por um período e quilometragem pré-determinado, mediante o pagamento de uma renda. O renting ou AOV afigura-se como uma solução global, sendo mais abrangente relativamente às demais soluções de financiamento automóvel. Assim, com a celebração de um contrato desta natureza, o usufrutuário garante o acompanhamento da viatura ao longo de toda a vigência do contrato, uma vez que nele estão incluídos serviços de manutenção, assistência, seguro ou outros. O renting ou aluguer operacional de viaturas é uma solução de financiamento automóvel para particulares e empresas, decorrente da celebração de um contrato de aluguer de viaturas incluindo um determinado conjunto de serviços associados, por um período e quilometragem pré-estabelecidos. De entre os vários serviços que poderão ser contratados, destaca-se os seguros, a manutenção e reparação, mudança de pneus, viatura de substituição, pagamento do IUC, entre outros. A diferença fundamental entre o Leasing ou o Aluguer de Longa Duração (ALD) e o Renting, consiste no prazo de celebração do contrato (médio-longo prazo versus curto prazo) e nos riscos associados, sendo que no renting o utilizador não tem que se preocupar com a desvalorização da viatura.

No renting o usufrutuário paga apenas uma renda pela utilização do bem durante o período do contrato, com custos mensais fixos e, por esse motivo, previsíveis. De referir que atualmente existem disponíveis no mercado soluções de financiamento sob a forma de renting, direcionadas para outro tipo de equipamentos e bens que não viaturas automóveis, como seja

Contrato de

aluguer

Equipamento Prestação serviços

associada

Usufrutuário Fornecedor

Período pré-

determinado

Utilização pré-

determinada

Manutenção

Assistência

Seguro

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 75

renting associado a equipamentos informáticos (hardware e software) e a equipamentos administrativos (mobiliário de escritório, etc.).

Regra geral o Renting é contratado por prazos entre 12 e 48 meses e para quilometragens até 180.000 Km nas viaturas a gasolina e 200.000 Km para as viaturas a gasóleo.

9.2. Normativo contabilístico aplicável

O atual normativo contabilístico vigente em Portugal, o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, revogando o anterior Plano Oficial de Contabilidade (POC), as Diretrizes Contabilísticas e demais legislação conexa em vigor até então. O SNC é constituído por elementos fundamentais, dentre os quais destacam-se as 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. Os contratos de renting são regidos pela NCRF 9 – Locações, cujo objetivo é estipular as políticas contabilísticas e divulgações associadas às locações financeiras e locações operacionais. Do ponto de vista contabilístico, a destrinça entre o renting e o Leasing ou o ALD, encontra-se definida na Norma Contabilística e de Relato Financeiro (NCRF) 9 – Locações, a qual considera que uma Locação operacional: é uma locação que não seja uma locação financeira. Logo, o enquadramento das locações operacionais é feito a contrário senso, ou seja, é necessário verificar se a locação não é financeira para que possa ser classificada como locação operacional, independentemente daquilo que as partes tenham convencionado com contrato.

Assim, as locações são classificadas como financeiras ou operacionais, tendo em conta a extensão em que os riscos e vantagens inerentes à posse do bem objecto de locação são transferidos para o locatário. Numa locação financeira os riscos e vantagens associadas ao bem são transferidos para a esfera do locatário. Ao invés, estamos perante uma operação de locação operacional – parágrafos 7 a 19. O parágrafo 10 da NCRF 9, determina que a classificação de uma locação como financeira ou operacional depende da substância da transação e não da forma do contrato, elencando 5

Veículo Software Hardware Mobiliário escritório

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 76

exemplos de situações que podem normalmente conduzir a que uma locação seja classificada como uma locação financeira, como segue:

a) A locação transfere a propriedade do ativo para o locatário no fim do prazo da locação; b) O locatário tem a opção de comprar o ativo por um preço que se espera que seja

suficientemente mais baixo do que o justo valor à data em que a opção se torne exercível tal que, no início da locação, seja razoavelmente certo que a opção será exercida;

c) O prazo da locação abrange a maior parte da vida económica do ativo ainda que o título de propriedade não seja transferido;

d) No início da locação o valor presente dos pagamentos mínimos da locação ascende a pelo menos, substancialmente, todo o justo valor do ativo locado; e

e) Os ativos locados são de uma tal natureza especializada que apenas o locatário os pode usar sem que sejam feitas grandes modificações.

Para além dos exemplos supra, o paragrafo 11 da mesma NCRF, apresenta 3 indicadores de situações que individualmente ou em combinação podem também conduzir a que uma locação seja classificada como financeira, como segue:

a) Se o locatário puder cancelar a locação, as perdas do locador associadas ao cancelamento são suportadas pelo locatário;

b) Os ganhos ou as perdas da flutuação no justo valor do residual serem do locatário (por exemplo sob a forma de um abatimento na renda que iguale a maior parte dos proventos das vendas no fim da locação); e

c) O locatário tem a capacidade de continuar a locação por um segundo período com uma renda que seja substancialmente inferior à renda do mercado.

Os exemplos e indicadores enunciados nos parágrafos 10 e 11 da NCRF 9 nem sempre são conclusivos. Se for claro com base noutras características que a locação não transfere substancialmente todos os riscos e vantagens inerentes à posse, a locação é classificada como locação operacional. Por exemplo, pode ser o caso se a propriedade do ativo se transferir no final da locação mediante um pagamento variável igual ao seu justo valor no momento, ou se existirem rendas contingentes, como resultado das quais o locatário não tem substancialmente todos os riscos e vantagens. Uma vez que se verifique que a locação não é considerada financeira, então ela deve ser classificada como locação operacional, como é o caso do Renting ou aluguer operacional de viaturas, a ser reconhecida pelo locatário na conta 6261 – Rendas e alugueres. Numa locação operacional o locatário não reconhece um ativo, continuando, portanto, o locador a reconhecer o ativo e a depreciá-lo. Os pagamentos relativos a uma locação operacional são normalmente reconhecidos, na esfera do locatário como um gasto, numa base linear durante o prazo da locação (parágrafo 30).

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 77

Pelo registo da renda:

Pelo pagamento da renda:

Exemplo: A sociedade Só Vende celebrou um contrato de renting com uma empresa do setor automóvel para uma viatura ligeira de mercadorias pickup pelo prazo de 4 anos. A renda mensal é de 1.500€ e inclui o custo do aluguer, seguro, manutenção e reparações.

2432321 - IVA

dedutível - OBS - Taxa

normal

2211 - Fornecedores

gerais

6261 - Rendas e

alugueres

€ €

2211 - Fornecedores

gerais

12 - Depósitos à

Ordem

€€

Débito Crédito Valor Observações

6261 - Rendas e

alugueres

2211 - Fornecedores

gerais1.500 € Aluguer de viatura

2432321 - IVA dedutível

OBS à taxa normal

2211 - Fornecedores

gerais345 € IVA à taxa legal 23%

2211 - Fornecedores

gerais12 - Depósitos à ordem 1.845 € Pagamento da renda

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 78

9.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Renting

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRS Para os sujeitos passivos de IRS com contabilidade organizada aplicam-se as mesmas limitações para a dedutibilidade dos gastos com viaturas ligeiras de passageiros aplicáveis aos sujeitos passivos de IRC. No que respeita às tributações autónomas, estas encontram-se previstas no artigo 73.º do CIRS, como segue:

São tributados autonomamente os seguintes encargos, suportados por sujeitos passivos que possuam ou devam possuir contabilidade organizada no âmbito do exercício de atividades empresariais ou profissionais, excluindo os veículos movidos exclusivamente a energia elétrica: a) Os encargos dedutíveis relativos a despesas de representação e a viaturas ligeiras

de passageiros ou mistas cujo custo de aquisição seja inferior a 20.000 €, motos e motociclos, à taxa de 10 %;

b) Os encargos dedutíveis relativos a automóveis ligeiros de passageiros ou mistos, cujo custo de aquisição seja igual ou superior a 20.000 €, à taxa de 20 %.

No caso de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas híbridas plug-in, as taxas referidas nas alíneas a) e b) do n.º 2 são, respetivamente, de 5 % e 10 %.

No caso de viaturas ligeiras ou mistas de passageiros movidas a gases de petróleo liquefeito (GPL) ou gás natural veicular (GNV), as taxas referidas nas alíneas a) e b) do n.º 2 são, respetivamente, de 7,5 % e 15 %.

Excluem-se do disposto anteriormente os encargos relacionados com viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, motos e motociclos, afetos à exploração do serviço público de transportes, destinados a serem alugados no exercício da atividade normal do sujeito passivo, bem como as reintegrações relacionadas com as viaturas relativamente às quais tenha sido celebrado o acordo previsto no n.º 9) da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º. Consideram-se encargos relacionados com viaturas ligeiras de passageiros, motos e motociclos, nomeadamente, as reintegrações, rendas ou alugueres, seguros, despesas com manutenção e conservação, combustíveis e impostos incidentes sobre a sua posse ou utilização.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 79

Em sede de IRC Artigo 88.º do CIRC - Taxas de tributação autónoma em 2015 Viaturas ligeiras de passageiros, viaturas ligeiras de mercadorias referidas na alínea b) do n.º 1 do artigo 7.º do Código do Imposto sobre Veículos, motos ou motociclos, excluindo os veículos movidos exclusivamente a energia eléctrica (Redação conjugada pela Lei n.º 82-C/2014 e Lei n.º 82-D/2014, ambas de 31 de dezembro)

Custo de aquisição da viatura

Caraterísticas da viatura Taxas (TA)

Custo de aquisição inferior a 25.000 €

Viaturas convencionais 10,0 %

Viaturas ligeiras de passageiros hibridas plug-in 5,0 %

Viaturas ligeiras de passageiros movidas a GPL ou GNV 7,5 %

Custo de aquisição igual ou superior a 25.000 € e

inferior a 35.000 €

Viaturas convencionais 27,5 %

Viaturas ligeiras de passageiros hibridas plug-in 10,0 %

Viaturas ligeiras de passageiros movidas a GPL ou GNV 15,0 %

Custo de aquisição igual ou superior a 35.000 €

Viaturas convencionais 35,0 %

Viaturas ligeiras de passageiros hibridas plug-in 17,5 %

Viaturas ligeiras de passageiros movidas a GPL ou GNV 27,5 %

As taxas de tributação autónoma são agravadas em 10 pontos percentuais para os sujeitos passivos que apresentem prejuízo fiscal no exercício.

GPL - Gases de petróleo liquefeito GNV - Gás natural veicular Viaturas plug-in - Viaturas híbridas cuja bateria utilizada para alimentar o motor elétrico

pode ser carregada por meio de uma tomada convencional Modelos ligeiros de mercadorias abrangidos pela Tabela A do ISV - Peso bruto até

3500Kg, lotação não superior a 9 lugares, incluindo o condutor, destinados ao transporte alternado, ou simultâneo, de pessoas e carga

Consideram-se encargos relacionados com viaturas ligeiras de passageiros, motos e motociclos, nomeadamente, depreciações, rendas ou alugueres, seguros, manutenção e conservação, combustíveis e impostos incidentes sobre a sua posse ou utilização. No caso do Renting ou aluguer operacional, poderá existir a dificuldade de determinação do valor de mercado da viatura na data da celebração do contrato de Renting ou aluguer operacional, para efeitos de aplicação da taxa de tributação autónoma, sendo que a Autoridade Tributária (AT) poderá ter sempre acesso a essa informação. Releva-se ainda que nos termos da alínea i) do artigo 23.º-A do CIRC, não são dedutíveis para efeitos da determinação do lucro tributável, os encargos com o aluguer sem condutor de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, na parte correspondente ao valor das depreciações dessas viaturas que, nos termos das alíneas c) e e) do n.º 1 do artigo 34.º, não sejam aceites como gastos, conforme tabela seguinte:

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 80

Caraterísticas da viatura Até

31-12-2009

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Viaturas ligeiras de passageiros ou mistas

29.927,87 € 40.000,00

€ 30.000,00

€ 25.000,00

€ 25.000,00

€ 25.000,00

€ 25.000,00

Veículos movidos exclusivamente a energia

eléctrica --- ---

45.000,00 €

50.000,00 €

50.000,00 €

50.000,00 €

62.500,00 €

Veículos híbridos plug-in --- --- --- --- --- ---

50.000,00 €

Veículos híbridos movidos a GPL ou GNV

--- --- --- --- --- --- 37.500,00

Em sede de IVA Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do Código do IVA, exclui-se o direito à dedução nas despesas relativas à aquisição, fabrico ou importação, à locação, à utilização, à transformação e reparação de viaturas de turismo, de barcos de recreio, helicópteros, aviões, motos e motociclos. É considerado viatura de turismo qualquer veículo automóvel, com inclusão do reboque, que, pelo seu tipo de construção e equipamento, não seja destinado unicamente ao transporte de mercadorias ou a uma utilização com carácter agrícola, comercial ou industrial ou que, sendo misto ou de transporte de passageiros, não tenha mais de nove lugares, com inclusão do condutor. Esta exclusão do direito à dedução nas viaturas de turismo é aplicável aos locatários das viaturas utilizadas em regime de Renting ou aluguer operacional. Contudo, por parte das empresas locadoras, é possível deduzir o IVA destas viaturas que integram o seu ativo fixo tangível, conforme previsto na alínea a) do n.º 2 do artigo 21.º do CIVA. Relativamente à dedução do IVA nas viaturas de mercadorias, a Autoridade Tributária emitiu o Ofício Circulado N.º 30152, de 16 de outubro de 2013, onde esclareceu o seguinte: Para efeitos da exclusão do direito à dedução prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º

do CIVA, é considerada viatura de turismo, por não se destinar unicamente ao transporte de mercadorias, qualquer viatura ligeira que possua mais de três lugares, com inclusão do condutor.

Assim, não confere direito à dedução o imposto contido nas despesas relativas à aquisição, fabrico ou importação, à locação, à utilização, à transformação e reparação de viaturas ligeiras que possuam mais de três lugares, com inclusão do condutor, ainda que o “tipo de veículo” inscrito no certificado de matrícula seja “mercadorias”.

Para que seja possível deduzir o IVA nestes casos, não é suficiente que os bens sejam utilizados para a realização de operações tributáveis. Ainda que estes bens sejam utilizados e indispensáveis para a actividade do sujeito passivo, o direito à dedução apenas pode ser exercido nas situações em que o objeto da atividade é a venda ou exploração desses bens, como por exemplo, a venda e/ou locação de automóveis, o ensino da condução ou a exploração de táxis.

A Lei n.º 82-D/2014, de 31 de dezembro (Reforma da fiscalidade ambiental), com entrada em vigor a partir de 1 de janeiro de 2015, veio permitir o direito à dedução do IVA nas despesas relativas à aquisição, fabrico ou importação, à locação e à transformação em viaturas eléctricas

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 81

ou híbridas plug-in, de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas elétricas ou híbridas plug-in, quando consideradas viaturas de turismo, cujo custo de aquisição não exceda o definido na portaria a que se refere a alínea e) do n.º 1 do artigo 34.º do Código do IRC. Para as viaturas ligeiras de passageiros ou mistas adquiridas nos períodos de tributação que se iniciem em 1 de janeiro de 2015 ou após essa data, os montantes são:

a) 62.500 € relativamente a veículos movidos exclusivamente a energia elétrica; b) 50.000 € relativamente a veículos híbridos plug-in.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 82

10. Papel Comercial

10.1. Introdução

O papel comercial é um título de valor mobiliário transmissível, representativo de dívida e emitido por empresas ou entidades públicas, que funciona como fonte de financiamento a curto prazo, sendo os prazos mais habituais, 1, 3 e 6 meses. Os títulos são emitidos às taxas resultantes das propostas aceites em cada colocação.

O Decreto-Lei n.º 29/2014, de 25 de fevereiro, procedeu à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 69/2004, de 25 de março, que regula a disciplina aplicável aos valores mobiliários de natureza monetária designados por papel comercial.

Têm capacidade para emitir papel comercial as sociedades comerciais ou civis sob a forma comercial, as cooperativas, as empresas públicas e as demais pessoas coletivas de direito público ou privado.

A colocação pode ser direta em função do rating da empresa emissora, ou por leilão, mas sempre junto de instituições financeiras previamente selecionadas para a materialização e concretização da operação. Relativamente à emissão deste tipo de títulos, as entidades emitentes devem cumprir com um dos seguintes requisitos:

Evidenciar no último balanço aprovado e sujeito a certificação legal de contas ou a auditoria efetuada por revisor oficial de contas, capitais próprios ou património líquido não inferior a 5 milhões de euros;

Apresentar notação de risco da emissão do programa de emissão dos títulos conforme previsto na competente legislação, notação que deverá ser apresentada entidade habilitada para o efeito e registada na Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM);

Obter, a favor dos detentores, garantia autónoma à primeira interpelação que assegure o cumprimento das obrigações de pagamento decorrentes da emissão ou do programa de emissão.

Título valor mobiliário

Transmissível

Representativo da dívida

Emitido por empresas ou entidades públicas

Fonte financiamento curto prazo

Taxas aceites em cada colocação

1, 3 e 6 meses

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 83

A exigência dos requisitos acima descritos não se aplica ao papel comercial cujo valor nominal unitário seja igual ou superior a 50.000 euros. As entidades emitentes ficam ainda obrigadas a elaborar uma nota informativa que tem por objeto o programa de emissão, contendo informação sobre a sua situação patrimonial, económica e financeira, assim como outros elementos legalmente exigidos.

As entidades emitentes de papel comercial, com exceção das instituições de crédito, sociedades financeiras, empresas de seguros e sociedades gestoras de fundos de pensões, não podem obter, com a emissão deste tipo de valor mobiliário, recursos financeiros superiores ao triplo dos seus capitais próprios. O Papel Comercial é representado por títulos nominativos, que devem estar domiciliados num banco ou em qualquer outra instituição financeira que preste serviço de guarda de títulos, podendo ser transmitidos por endosso e amortizados pela entidade emitente na data do vencimento.

Compete à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) elaborar os regulamentos necessários à concretização das emissões de papel comercial, nomeadamente definir:

a) Os rácios de autonomia financeira adequados que as entidades emitentes de papel comercial devem apresentar;

b) A instrução do pedido de aprovação de nota informativa; c) A forma de liquidação dos juros relativos à emissão de papel comercial; d) As condições de rateio; e) A caducidade da aprovação da nota informativa; f) O relatório a publicar semestralmente pelo intermediário financeiro ou o patrocinador

da emissão, consoante aplicável, do papel comercial emitido e não admitido à negociação em mercado regulamentado;

g) Os termos em que deve ser divulgada a oferta pública de papel comercial e locais de prestação ao público de informação relevante.

Enti

dad

e em

iten

te

Programa de emissão

Informação patrimonial

Informação financeira

Informação económica

Requisitos legais

Nota

informativa

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 84

10.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, sendo o seu núcleo central as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), as quais garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. A NCRF que regula a emissão de papel comercial é a NCRF 27 - Instrumentos Financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente passivos financeiros. Os títulos de dívida representativos de papel comercial são enquadrados como um passivo financeiro, na medida em que este constitua uma obrigação contratual de entregar dinheiro ou outro ativo financeiro a uma outra entidade, nos termos do ponto i), da alínea a), do

parágrafo 5, da NCRF 27. Os passivos financeiros apenas são reconhecidos quando a entidade se torne uma parte das disposições contratuais do instrumento (parágrafo 6). Neste caso, os passivos financeiros devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado menos perdas de imparidade (parágrafo 12 e 14), uma vez que não são negociados publicamente e cujo justo valor não é obtido de forma fiável. Pela obtenção do financiamento:

Pelo pagamento dos juros suportados com o financiamento em papel comercial:

Pelo reembolso do empréstimo:

2522 - Empréstimos

por papel comercial

12 - Depósitos à

Ordem

€€

12 - Depósitos à

Ordem

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

€€

12 - Depósitos à

Ordem

2522 - Empréstimos

por papel comercial

€€ €€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 85

Exemplo: A sociedade TantoCash diante de um défice de tesouraria para concretizar um investimento no prazo de 60 dias, no valor de 150.000€, decidiu emitir 3.000 títulos de crédito de curto prazo, designados papel comercial, no montante de 50€ cada, com vista a obter o financiamento de curto prazo necessário para o efeito. Este montante será reembolsado aos investidores no prazo de 6 meses mediante o pagamento de juros à taxa de 8%.

10.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Papel comercial

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

O enquadramento fiscal do papel comercial encontra-se previsto Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários, publicado pelo Decreto-Lei n.º 193/2005, de 7 de novembro e alterado pela Lei n.º 83/2013, de 9 de dezembro.

Em sede de IRS

Tributação sobre os juros auferidos por Pessoas Singulares Residentes Rendimentos sujeitos a tributação, na data do seu vencimento, sendo o imposto retido na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 28 %. A retenção na fonte libera a obrigação de

Débito Crédito Valor Observações

12 - Depósitos à ordem2522 - Empréstimos

por papel comercial150.000 €

Financiamento - Papel

comercial

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

12 - Depósitos à ordem 12.000 € Juros

2522 - Empréstimos

por papel comercial12 - Depósitos à ordem 150.000 € Reembolso

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 86

declaração de imposto, salvo se o titular optar pelo englobamento (caso estes rendimentos não sejam obtidos no âmbito do exercício de actividades empresariais e profissionais), situação em que a taxa de imposto pode variar entre 14,5 % e 48 %, sem prejuízo das exceções previstas por lei, tendo a retenção na fonte natureza de pagamento por conta do imposto devido em termos finais.

No caso da opção pelo englobamento é ainda aplicável uma sobretaxa extraordinária de 3,5 %, e pode incidir também uma taxa adicional de solidariedade aplicável ao rendimento coletável obtido em 2015 que exceda 80.000,00 €, incidindo uma taxa de 2,5 % ao rendimento coletável de mais de 80.000,00 € até 250.000,00 € e uma taxa de 5 % ao rendimento coletável superior a 250.000,00 €.

Estes rendimentos ficam sujeitos a retenção na fonte a título definitivo à taxa liberatória de 35 % sempre que sejam pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não identificados, exceto quando seja identificado o beneficiário efetivo, termos em que se aplicam as regras gerais.

Tributação sobre as Mais-valias auferidos por Pessoas Singulares Residentes Nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 10º do Código do IRS, constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não sendo considerados rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem da alienação onerosa de partes sociais e de outros valores mobiliários. O saldo positivo entre as mais-valias e as menos-valias é tributado à taxa de 28 %, conforme previsto no artigo 72.º do CIRS, salvo se o titular optar pelo englobamento (caso estes rendimentos não sejam obtidos no âmbito do exercício de actividades empresariais e profissionais).

Tributação das transmissões gratuitas em sede de IRS

Nos termos do n.º 6 do artigo 12.º do Código do IRS, este imposto não incide sobre os incrementos patrimoniais provenientes de transmissões gratuitas sujeitas a Imposto do Selo, nem sobre os que se encontrem expressamente previstos em norma de delimitação negativa de incidência deste imposto. Tributação sobre os juros auferidos por Pessoas Singulares Não Residentes

Se a emissão de papel comercial for enquadrável no Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários Representativos de Dívida, e se a sua emissão se concretizar após 31/12/2013, os rendimentos obtidos beneficiam de isenção de IRS, desde que o seu beneficiário efetivo disponha de prova idónea de que:

a) reside em país, território ou jurisdição com o qual esteja em vigor convenção para evitar a dupla tributação internacional ou acordo que preveja a troca de informações em matéria fiscal;

b) não tenha em território português residência, sede, direção efetiva nem estabelecimento estável ao qual os rendimentos possam ser imputáveis, conquanto não seja residente em país, território ou região com um regime de tributação claramente mais favorável,

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 87

constante da lista aprovada por portaria pelo membro do governo responsável pela área das finanças.

O regime de isenção aplica-se ainda às emissões de papel comercial anteriores a 31/12/2013, desde que enquadráveis no Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários Representativos de Dívida, mas apenas quanto aos rendimentos obtidos após a data do primeiro vencimento que ocorra depois do dia 31/12/2013. Na ausência de prova ou se o papel comercial não se enquadrar no citado Regime Especial de Tributação há lugar a incidência de IRS, mediante retenção na fonte a título definitivo à taxa de 28 %, excetuando-se os casos em que haja aplicação de Acordos de Dupla Tributação que prevejam taxas mais reduzidas e sejam cumpridas determinadas formalidades.

Estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 35 %, os rendimentos de capitais obtidos por pessoas singulares não residentes sem estabelecimento estável em território português, que sejam domiciliadas em país, território ou região sujeitas a um regime fiscal claramente mais favorável, constante de lista aprovada por portaria do Ministro das Finanças.

Tais rendimentos ficam sujeitos a retenção na fonte a título definitivo à taxa liberatória de 35% sempre que sejam pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não identificados, exceto quando seja identificado o beneficiário efetivo, termos em que se aplicam as regras gerais.

Tributação sobre as Mais-valias auferidas por Pessoas Singulares Não Residentes

As mais-valias obtidas por pessoas singulares não residentes estão isentas de IRS, nos termos do artigo 27.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais, desde que não sejam residentes em país, território ou região, sujeitas a um regime fiscal claramente mais favorável, constante de lista constante na Portaria n.º 292/2011, de 8 de novembro. Não sendo aplicável a referida isenção ou, se for esse o caso, a prevista no Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários Representativos de Dívida, aplica-se o regime geral.

Em sede de IRC

Tributação sobre os juros auferidos por Pessoas Coletivas Residentes

Rendimentos sujeitos a tributação em sede de IRC por retenção na fonte à taxa de 25 %, a qual assume a natureza de pagamento por conta do imposto devido em termos finais. Os rendimentos concorrem para a formação do lucro tributável do sujeito passivo (investidor de papel comercial), o qual no ano de 2015 é tributado à taxa de IRC de 21 %, eventualmente acrescido de derrama municipal cuja taxa máxima é de 1,5 %, podendo ainda incidir derrama estadual caso o lucro tributável seja superior a 1.500.000,00 €.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 88

Estes rendimentos estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo à taxa liberatória de 35 % sempre que sejam pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não identificados, exceto quando seja identificado o beneficiário efetivo, termos em que se aplicam as regras gerais.

Do lado da entidade emitente do papel comercial, os juros pagos são considerados gastos ou perdas do exercício a que respeitam, nos termos previstos no artigo 23.º do Código do IRC.

Relativamente aos Fundos de investimento mobiliário e imobiliário que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional, os juros do papel comercial ficam sujeitos a tributação, à data do seu vencimento, sendo o imposto retido na fonte a título definitivo, à taxa de 28 %.

Por sua vez, os Fundos de pensões e fundos de capital de risco que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional, estão isentos de IRC relativamente aos rendimentos dos fundos de pensões e equiparáveis que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional (n.º 1 do artigo 16º do Estatuto dos Benefícios Fiscais). Estão também isentos de IRC os rendimentos de capitais obtidos por fundos de capital de risco que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional (n.º 1 do artigo 23.º do EBF).

Tributação sobre as Mais-valias auferidas por Pessoas Coletivas Residentes

As mais-valias concorrem para a determinação do lucro tributável em sede de IRC e são tributadas nos termos gerais.

Relativamente aos Fundos de investimento mobiliário e imobiliário que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional, o saldo positivo entre as mais-valias e as menos-valias resultantes da alienação de títulos de dívida é tributado á taxa de 25%.

No que respeita aos fundos de pensões e fundos de capital de risco que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional, estão isentos de tributação nos termos do respetivo regime fiscal aplicável.

Tributação das transmissões gratuitas auferidas por Pessoas Coletivas Residentes

As transmissões gratuitas a favor de pessoas coletivas residentes em território português concorrem para efeitos de determinação da matéria coletável sujeita a IRC, a qual no ano de 2015 é objeto de tributação à taxa de 21 %.

Tributação sobre os juros auferidos por Pessoas Coletivas Não Residentes

Tratando-se de papel comercial enquadrável no Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários Representativos de Dívida, se a sua emissão se concretizar

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 89

após 31/12/2013, aplica-se o regime já descrito para as pessoas singulares não residentes, com a especificidade de que a isenção de IRC é extensiva a Bancos centrais e agências de natureza governamental, bem como a organizações internacionais reconhecidas pelo Estado português.

O mesmo regime de isenção aplica-se às emissões de papel comercial anteriores a 31/12/2013, desde que enquadráveis no Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários Representativos de Dívida, mas apenas quanto aos rendimentos obtidos após a data do primeiro vencimento que ocorra depois do dia 31/12/2013.

Na ausência de prova idónea quanto ao estatuto do beneficiário dos rendimentos ou se o papel comercial não se enquadrar no citado Regime Especial de Tributação, há lugar a incidência de IRC, mediante retenção na fonte de imposto a título definitivo à taxa de 25 %, excetuando-se os casos em que haja aplicação de Acordos de Dupla Tributação ou de um outro acordo de direito internacional que vincule o Estado Português ou de legislação interna, que prevejam taxas mais reduzidas e sejam cumpridas determinadas formalidades. No caso de não residentes com estabelecimento estável em Portugal ao qual o rendimento seja afeto, a tributação é efetuada nos moldes supra referidos para as pessoas coletivas residentes.

Estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 35 %, os rendimentos de capitais obtidos por entidades não residentes sem estabelecimento estável em território português, que sejam domiciliadas em país, território ou região sujeitas a um regime fiscal claramente mais favorável, constante de lista aprovada por portaria do Ministro das Finanças. Os referidos rendimentos ficam sujeitos a retenção na fonte a título definitivo à taxa liberatória de 35 % sempre que sejam pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não identificados, exceto quando seja identificado o beneficiário efetivo, termos em que se aplicam as regras gerais.

Tributação sobre as Mais-valias auferidas por Pessoas Coletivas Não Residentes

As mais-valias obtidas por pessoas coletivas que não tenham domicílio em território português e aí não possuam estabelecimento estável ao qual as mesmas sejam imputáveis estão, em regra, isentas de IRC, por força do disposto no artigo 27.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais ou da eventual aplicação de Acordos para evitar a Dupla Tributação Internacional, a que acresce, quando for esse o caso, a isenção atualmente prevista no Regime Especial de Tributação dos Rendimentos de Valores Mobiliários Representativos de Dívida. Para pessoas coletivas não isentas, aplica-se o regime geral.

Tributação das transmissões gratuitas a favor de Pessoas Coletivas Não Residentes

As transmissões gratuitas a favor de pessoas coletivas não residentes em Portugal estão sujeitas a IRC à taxa de 25 %, sendo que, nos termos das CDT em vigor poderão existir exceções.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 90

Em sede de IS

Isenção na emissão do papel comercial e pagamento dos juros

O financiamento obtido através da emissão de papel comercial e os juros suportados pela entidade emitente (juros pagos aos investidores no papel comercial), não se encontram sujeitos a Imposto do Selo, ao contrário do que acontece com os financiamentos bancários.

Tributação das transmissões gratuitas auferidas por Pessoas Singulares Residentes

As transmissões gratuitas de títulos representativos de papel comercial estão sujeitas a Imposto do Selo à taxa de 10%, a qual incide sobre o valor da cotação destes títulos na data de transmissão e, não a havendo nesta data, o da última mais próxima dentro dos seis meses anteriores ou, na falta de cotação oficial, pelo valor indicado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, determinado pela aplicação da seguinte fórmula:

𝑉𝑡 =𝑁 + 𝐽

1 +𝑟𝑡

1200

em que:

Vt - representa o valor do título à data da transmissão;

N - é o valor nominal do título;

J - representa o somatório dos juros calculados desde o último vencimento anterior à transmissão até à data da amortização do capital, devendo o valor apurado ser reduzido a metade quando os títulos estiverem sujeitos a mais de uma amortização;

r - é a taxa de desconto implícita no movimento do valor das obrigações e outros títulos, cotados na bolsa, a qual é fixada anualmente por portaria do Ministro das Finanças, sob proposta da Direção-Geral dos Impostos, após audição da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários;

t - é o tempo que decorre entre a data da transmissão e a da amortização, expresso em meses e arredondado por excesso, devendo o número apurado ser reduzido a metade quando os títulos estiverem sujeitos a mais de uma amortização.

É aplicável uma isenção no caso das transmissões, inter vivos ou mortis causa, a favor do cônjuge ou unido de facto, descendentes e ascendentes.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 91

Tributação das transmissões gratuitas auferidas por Pessoas Singulares Não Residentes

As transmissões gratuitas a favor de pessoas singulares sem domicílio em território português não são sujeitas a Imposto do Selo.

Tributação das transmissões gratuitas auferidas por Pessoas Coletivas

Não são sujeitas a Imposto do Selo as transmissões gratuitas a favor de sujeitos passivos de IRC, ainda que dele isentos, na medida em que são tributadas em sede de IRC.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 92

11. Suprimentos

11.1. Introdução

Os suprimentos são empréstimos dos sócios à sociedade, podendo ser considerados como uma fonte de financiamento das mesmas. Os suprimentos são regulados pelo Código das Sociedades Comerciais (CSC), e revestem-se das seguintes caraterísticas:

Montante em dinheiro ou algo fungível; Obrigatoriedade de restituição por parte da sociedade; Diferimento do vencimento do crédito, desde que o prazo de reembolso seja

superior a um ano, ou seja, tenha carácter de permanência.

O contrato de suprimentos pode ou não prever a aplicação de juros e não existe obrigatoriedade do mesmo constar do contrato societário.

A origem dos suprimentos provém não só das entradas em dinheiro ou coisa fungível, da não exigência do pagamento de créditos sobre a sociedade, como também do não levantamento de resultados distribuídos. Neste caso, os prazos de permanência iniciam-se a partir da data da assembleia que deliberou a distribuição de resultados.

Se existirem juros, a empresa deve proceder à retenção na fonte de uma parte do valor a título de IRC ou IRS. Contrato de suprimento

Nos termos do artigo 243.º do Código das Sociedades Comerciais (CSC), considera-se contrato de suprimento o contrato pelo qual o sócio empresta à sociedade dinheiro ou outra coisa fungível, ficando aquela obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade, ou pelo qual o sócio convenciona com a sociedade o diferimento do vencimento de créditos seus sobre ela, desde que, em qualquer dos casos, o crédito fique tendo carácter de permanência. Constitui índice do carácter de permanência a estipulação de um prazo de reembolso superior a um ano, quer tal estipulação seja contemporânea da constituição do crédito quer seja posterior a esta. No caso de diferimento do vencimento de um crédito, computa-se nesse prazo o tempo decorrido desde a constituição do crédito até ao negócio de diferimento. Não depende de forma especial a validade do contrato de suprimento ou de negócio sobre adiantamento de fundos pelo sócio à sociedade ou de convenção de diferimento de créditos de sócios.

Código Sociedades Comerciais

Sociedade Empréstimo Sócios

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 93

Por sua vez, o artigo 245.º do CSC estipula que decretada a falência ou dissolvida por qualquer causa a sociedade:

a) Os suprimentos só podem ser reembolsados aos seus credores depois de inteiramente satisfeitas as dívidas daquela para com terceiros;

b) Não é admissível compensação de créditos da sociedade com créditos de suprimentos.

11.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC) publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, é o atual normativo contabilístico vigente em Portugal. O núcleo central deste normativo é a adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), que se traduz em 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação dos factos contabilísticos. Esta operação de financiamento - os suprimentos, é regulada pela NCRF 27 - Instrumentos Financeiros, cujo objetivo é definir o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente passivos financeiros. Os empréstimos de sócios à sociedade, também designados de suprimentos, são passivos financeiros na medida em que representam uma obrigação contratual de entregar dinheiro ou outro ativo financeiro a uma outra entidade (parágrafo 5). A entidade apenas deve reconhecer o passivo financeiro quando esta se torne uma parte das disposições contratuais do instrumento (parágrafo 6). Como critério de mensuração, a NCRF 27, nas alíneas a) dos parágrafos 12 e 14, permite que as entidades, neste facto contabilístico, optem pelo método do custo ou do custo amortizado menos perdas de imparidade. Pelo recebimento dos suprimentos (financiamento):

2532 - Outros

participantes -

suprimentos e outros

mútuos

12 - Depósitos à

Ordem

€€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 94

Pelo pagamento dos juros contratualizados com o sócio:

Pelo pagamento do empréstimo ao sócio:

Exemplo: A empresa Investe Tudo pretende realizar um investimento na área na investigação e desenvolvimento, e para o efeito necessita de 100.000€ de meios financeiros. Diante desta necessidade, o sócio maioritário decidiu fazer um empréstimo à sociedade nesse montante, mediante o pagamento de juros anuais à taxa de 6,5%.

2423 - Retenção

impostos sobre o

rendimento - capitais

12 - Depósitos à

Ordem

6915 - Juros de

suprimentos

€€ €€

12 - Depósitos à

Ordem

2532 - Outros

participantes -

suprimentos e outros

mútuos

€€

Débito Crédito Valor Observações

12 - Depósitos à ordem

2532 Outros

participantes -

Suprimentos e outros

mútuos

100.000 €Recebimento de um

suprimento

6915 - Juros de

suprimentos6.500 € Juros à taxa de 6,5%

2423 - Retenção de

impostos sobre o

rendimento - Capitais

1.820 € Retenção na fonte de IRS 28%

12 - Depósitos à ordem 4.680 €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 95

11.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Suprimentos

IRC Sujeito

IRS Não aplicável

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRS

Nos termos do artigo 5.º do Código do IRS (Rendimentos da categoria E), são considerados rendimentos de capitais:

Os juros e outras formas de remuneração de suprimentos, abonos ou adiantamentos de capital, feitos pelos sócios à sociedade;

Os juros e outras formas de remuneração devidos pelo facto de os sócios não levantarem os lucros ou remunerações colocados à sua disposição.

Por sua vez, o artigo 6.º do CIRS, determina a presunção a título de lucros ou adiantamento dos lucros, relativamente aos lançamentos a seu favor, em quaisquer contas correntes dos sócios, escrituradas nas sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, quando não resultem de mútuos, da prestação de trabalho ou do exercício de cargos sociais.

Os juros de suprimentos obtidos em território português, por residentes ou não residentes, pagos por ou através de entidades que aqui tenham sede, direção efetiva ou estabelecimento estável a que deva imputar-se o pagamento e que disponham ou devam dispor de contabilidade organizada, estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 28 %. No entanto, o respetivo titular, se for residente em Portugal, poderá optar pelo englobamento destes rendimentos para efeitos da sua tributação, desde que obtidos fora do âmbito do exercício de atividades empresariais e profissionais. Feita a opção pelo englobamento, a retenção que tiver sido efetuada tem a natureza de pagamento por conta do imposto devido a final.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 96

No entanto, caso os juros de suprimentos sejam pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não identificados, ficam sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 35 %, exceto quando seja identificado o beneficiário efetivo, termos em que se aplicam as regras gerais. Aplica-se igualmente a retenção na fonte à taxa liberatória de 35 %, caso sejam obtidos por entidades não residentes sem estabelecimento estável em território português, que sejam domiciliadas em país, território ou região sujeitos a um regime fiscal claramente mais favorável, constante de lista aprovada por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças (vide lista constante na Portaria n.º 292/2011, de 8 de novembro).

Nos termos do artigo 72.º do CIRS, os juros de suprimentos são tributados autonomamente à taxa especial de 35 %, se forem devidos por entidades não residentes sem estabelecimento estável em território português, que sejam domiciliadas em país, território ou região sujeitos a um regime fiscal claramente mais favorável, constante da já referida lista aprovada por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças, quando não sujeitos a retenção na fonte.

Manifestações de fortuna

Nos termos previstos no artigo 89.º-A da Lei Geral Tributária (LGT), há lugar a avaliação indireta da matéria coletável quando falte a declaração de rendimentos e o contribuinte evidencie manifestações de fortuna, como seja os empréstimos a sociedades efetuados por qualquer membro do agregado familiar de valor anual igual ou superior a 50.000,00 €, ou quando o rendimento líquido declarado mostre uma desproporção superior a 30 %, para menos, em relação ao rendimento padrão, que deverá ser igual ou superior a 50 % do valor anual dos suprimentos.

O controlo anual do valor dos suprimentos e empréstimos efetuados pelos sócios ou qualquer elemento do seu agregado familiar é efetuado no quadro 063 da IES através da indicação do NIF dos sujeitos passivos que efetuaram suprimentos no ano à sociedade e do correspondente valor do acréscimo anual.

Em sede de IRC

Nos termos da alínea m) do n.º 1 do artigo 23.º-A do CIRC, não são aceites como gasto fiscal os juros e outras formas de remuneração de suprimentos e empréstimos feitos pelos sócios à sociedade, na parte em que excedam a taxa definida por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças, salvo no caso de se aplicar o regime estabelecido no artigo 63.º (preços de transferência).

A Portaria n.º 279/2014, de 30 de dezembro, fixou os seguintes limiares para aceitação fiscal dos juros de suprimentos e empréstimos efetuados pelos sócios às sociedades:

Grandes empresas - Taxa Euribor a 12 meses do dia da constituição da dívida acrescida de um spread de 2 %;

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 97

Pequenas e médias empresas - Taxa Euribor a 12 meses do dia da constituição da dívida acrescida de um spread de 6 %.

Caso tenham sido cobrados juros calculados por taxas superiores, o diferencial será acrescido na linha 734 do quadro 07 da Modelo 22.

Nos termos previstos no anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de novembro, a categoria das micro, pequenas e médias empresas (PME) é constituída por empresas que empregam menos de 250 pessoas e cujo volume de negócios anual não excede 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não excede 43 milhões de euros.

Os juros de suprimentos e empréstimos pagos a sócios que sejam pessoas colectivas ficam sujeitos a retenção na fonte à taxa de 25 %, podendo ser dispensados de retenção na fonte nos casos em que haja uma participação no capital social com direito de voto de pelo menos 10%, diretamente, ou indiretamente através de outras sociedades em que o sujeito passivo seja dominante, desde que a participação no capital social tenha permanecido na sua titularidade, de modo ininterrupto, durante o ano anterior à data da sua colocação à disposição.

No que respeita a pagamentos de juros de suprimentos a sócios que sejam pessoas coletivas não residentes, há a possibilidade de isenção de retenção na fonte, ao abrigo da Diretiva n.º 2003/49/CE, de 3 de junho, desde que sejam residentes noutro país da União Europeia, devendo haver uma participação direta mínima de 25%, detida há pelo menos 2 anos (ou no caso do devedor e beneficiário dos rendimentos serem detidos em pelo menos 25 % por uma mesma sociedade, durante pelo menos 2 anos).

Em sede de IS

O artigo 7.º do Código do Imposto do Selo (CIS) prevê a isenção:

Nas operações financeiras, incluindo os respetivos juros, por prazo não superior a um ano, desde que exclusivamente destinadas à cobertura de carência de tesouraria e efetuadas por sociedades de capital de risco (SCR) a favor de sociedades em que detenham participações, bem como as efetuadas por outras sociedades a favor de sociedades por elas dominadas ou a sociedades em que detenham uma participação de, pelo menos, 10 % do capital com direito de voto ou cujo valor de aquisição não seja inferior a 5.000.000,00 € de acordo com o último balanço acordado e, bem assim, efetuadas em benefício de sociedade com a qual se encontre em relação de domínio ou de grupo;

Nas operações, incluindo os respetivos juros, referidas anteriormente, quando realizadas por detentores de capital social a entidades nas quais detenham diretamente uma participação no capital não inferior a 10 % e desde que esta tenha permanecido na sua titularidade durante um ano consecutivo ou desde a constituição da entidade participada, contanto que, neste último caso, a participação seja mantida durante aquele período;

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 98

Nos empréstimos com características de suprimentos (com carácter de permanência), incluindo os respetivos juros, efetuados por sócios à sociedade.

Caso o empréstimo efetuado pelo sócio à socieddae seja por prazo inferior a 1 ano, fica sujeito a Imposto do Selo pela aplicação da verba 17.1.1 da TGIS, ou seja 0,04 % por cada mês ou fração, ficando também os respetivos juros pagos ao sócio sujeitos a Imposto do Selo à taxa de 4 % (verba 17.3.1 da TGIS).

Exemplo:

O sócio ABC emprestou à sociedade uma quantia de 50.000,00 € pelo prazo de 6 meses, estipulando uma taxa de juro anual de 5 %.

Imposto do Selo sobre o empréstimo: 50.000,00 € x 0,04 % x 6 = 120,00 € Imposto do Selo sobre os juros: 50.000,00 € x 5 % x / 2 x 4 % = 50,00 €

Nos casos em que os empréstimos tenham amortizações ou utilizações periódicas, aplica-se o disposto na alínea g) do artigo 5.º do CIS, considerando-se a obrigação tributária constituída nas operações de crédito, no momento em que forem realizadas ou, se o crédito for utilizado sob a forma de conta corrente, descoberto bancário ou qualquer outro meio em que o prazo não seja determinado nem determinável, no último dia de cada mês.

Exemplo:

Durante o mês de abril a conta de empréstimos do sócio XYZ à sociedade evoluiu como segue: De 1 a 10 de abril = 80.000,00 € De 11 a 21 de abril = 50.000,00 € De 22 a 30 de abril = 90.000,00 € A média dos saldos do empréstimo durante o mês de abril foi 72.000,00 € como segue: 10 dias x 80.000,00 € = 800.000,00 € 11 dias x 50.000,00 € = 550.000,00 € 9 dias x 90.000,00 € = 810.000,00 € (800.000,00 € + 550.000,00 € + 810.000,00 €) / 30 dias = 72.000,00 €

Pelo que no mês de abril há lugar à liquidação de Imposto do Selo no montante de 28,80 € (72.000,00 € x 0,04%), que deverá ser pago até ao dia 20 de maio.

Nos termos do artigo 3.º do CIS, o Imposto do Selo é devido e constitui encargo da sociedade, que é a entidade que retira o benefício económico da operação.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 99

Portugal

Comissão Europeia

Portugal 2020

Inclusão Social e Emprego

Capital Humano Competitiidade e

Internacionalização

Sustentabilidade e Eficiência no uso de

recursos

12. Incentivos ao investimento – Portugal 2020

12.1. Introdução

Designa-se por Portugal 2020 o resultado do Acordo de Parceria adotado entre Portugal e a Comissão Europeia, que reúne a atuação dos 5 Fundos Europeus Estruturais e de Investimento - FEDER, Fundo de Coesão, FSE, FEADER e FEAMP - no qual se definem os princípios de

programação que consagram a política de desenvolvimento económico, social e territorial para promover, em Portugal, entre os anos de 2014 e de 2020.

Está previsto que Portugal receba cerca de 25 mil milhões de euros até ao ano de 2020, sendo que para tal foram definidos objetivos temáticos para estimular o crescimento e a criação de emprego, as intervenções necessárias para a sua concretização e realização, bem como os resultados esperados com estes financiamentos.

Entre estes temos: Estímulo à produção de bens e serviços transacionáveis; Incremento das exportações; Transferência de resultados do sistema científico para o tecido produtivo; Cumprimento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos; Redução dos níveis de abandono escolar precoce; Integração das pessoas em risco de pobreza e combate à exclusão social; Promoção do desenvolvimento sustentável, numa óptica de eficiência no uso dos

recursos; Reforço da coesão territorial, particularmente nas cidades e em zonas de baixa

densidade; Racionalização, modernização e

capacitação da Administração Pública.

A implementação e guião do Portugal 2020 foram organizados em quatro pilares. O Portugal 2020 concretizar-se-á através de 16 Programas Operacionais aos quais acrescem os Programas de Cooperação Territorial nos quais Portugal participará em parceria com os demais Estados membros.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 100

Os sistemas de incentivos ao investimento são instrumentos que apoiam a criação ou expansão da atividade das empresas, através do co-financiamento dos seus investimentos, sob a forma de subsídios não reembolsáveis (fundo perdido) ou subsídios reembolsáveis. Existem atualmente em vigor vários sistemas de incentivos, como seja:

PAECPE / Invest + (IEFP) São apoios a fundo perdido ou de acesso a financiamento bancário em regime bonificado para a criação de novas empresas e destinados a trabalhadores em situação de desemprego ou a jovens à procura do 1.º emprego.

Portugal 2020 (novo QREN) Apoios a fundo perdido ou reembolsáveis para a criação de empresas ou para expansão e modernização das atividades de empresas já constituídas e que desenvolvem atividades em setores inovadores e competitivos.

PDR 2020 (novo PRODER) Desenvolvimento Rural Apoios à produção agrícola à instalação de novos agricultores e para a expansão de atividades de empresas agrícolas já existentes.

PDR 2020 (novo PRODER) Medida Leader/GAL Apoios a fundo perdido para a criação de novas empresas e para desenvolvimento de atividades de turismo e animação turística em zonas rurais.

Horizonte 2020 Apoio a projetos de investigação aplicada.

Comércio Investe Incentivos à modernização do comércio.

Plataformas FINICIA Financiamento bancário em regime bonificado para a criação de novas microempresas e para expansão de atividades de empresas já constituídas.

Linha de Apoio à Qualificação da Oferta (Turismo de Portugal) Linhas de crédito para investimentos no setor do Turismo.

12.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), o atual normativo contabilístico vigente em Portugal, foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, revogando o anterior Plano Oficial de Contabilidade (POC), as Diretrizes Contabilísticas e demais legislação conexa em vigor até então. O SNC é constituído por elementos fundamentais, entre eles destacam-se as atuais 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 101

A NCRF que regula este incentivo ao investimento é a NCRF 22 – Contabilização dos subsídios do Governo e divulgação de apoios do Governo, cujo objetivo é definir os procedimentos e os critérios de reconhecimento dos vários tipos de subsídios. O parágrafo 4 define subsídios do Governo, como auxílios do Governo na forma de transferência de recursos para uma entidade em troca do cumprimento passado ou futuro de certas condições relacionadas com as atividades operacionais da entidade. Excluem as formas de apoio do Governo às quais não possa razoavelmente ser-lhes dado um valor, e transações com o Governo que não se possam distinguir das transações comerciais normais da entidade. Quando os apoios do governo respeitam a um acordo individualizado da sua concessão a favor da entidade, cumpram as condições estabelecidas para a sua concessão, e não existam dúvidas de que os subsídios serão recebidos, estamos na presença de subsídios não reembolsáveis. Os subsídios do Governo só devem ser reconhecidos após existir segurança de que a entidade cumprirá as condições a eles associadas, e que os subsídios serão recebidos (parágrafo 8). Quando os subsídios do Governo não reembolsáveis estão relacionados com ativos fixos tangíveis e intangíveis devem ser inicialmente reconhecidos nos capitais próprios e, subsequentemente imputados numa base sistemática como rendimentos durante a vida útil do ativo, no caso de respeitarem a bens depreciáveis, ou mantidos nos capitais próprios, exceto se a respetiva quantia for necessária para compensar qualquer perda por imparidade, caso se refiram as bens não depreciáveis (parágrafos 12). Por outro lado, quando os subsídios do Governo não reembolsáveis digam respeito a investimentos não associados com ativos devem ser reconhecidos como rendimento do período em que se tornar recebível, conforme previsto no parágrafo 18. Subsídios não reembolsáveis respeitantes a ativos fixos tangíveis e intangíveis

Os subsídios relacionados com ativos são reconhecidos inicialmente na rubrica de capital próprio, e imputados a rendimentos na proporção das depreciações praticadas em cada um dos bens elegíveis.

Pela atribuição do subsídio – contratualização do apoio:

593 - Subsídios2781 - Outros

devedores

€€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 102

Pelo recebimento do subsídio:

Pelo reconhecimento como rendimento:

Exemplo: A empresa All Invest, cuja atividade principal é a agricultura, candidatou-se ao programa Portugal 2020 para aquisição de máquinas que permitam desenvolver um novo produto para o mercado. O subsídio a que se candidatou não é reembolsável e é atribuído até 80% do investimento elegível. A empresa despendeu em 2014 cerca de 230 mil euros em ativos fixos tangíveis elegíveis e em 2015 o montante de 180.000€.

Subsídios não reembolsáveis respeitantes a investimentos não associados com ativos

Os subsídios não relacionados com ativos são reconhecidos inicialmente na conta 282 – Rendimentos a reconhecer, e imputados a rendimentos na proporção dos gastos incorridos em cada uma das rubricas elegíveis.

12 - Depósitos à

Ordem

2781 - Outros

devedores

€€

7883 - Imputação de

subsídios para

investimento

593 - Subsídios

€€ €€

Débito Crédito Valor Observações

2781 - Outros

devedores 593 - Subsídios 328.000 €

Reconhecimento do subsídio

em 2015

12 - Depósitos à ordem2781 - Outros

devedores328.000 €

Recebimento do subsídio em

2015

642 - Gastos de

depreciação de ativos

fixos tangíveis

438 - Depreciações

acumuladas51.250 €

Taxa de depreciação média

de 12,5%

593 - Subsídios

7883 - Imputação de

subsídios para

investimento

41.000 €Imputação proporcional do

subsídio

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 103

Pela atribuição do subsídio – contratualização do apoio:

Pelo recebimento do subsídio:

Pelo reconhecimento como rendimento:

Exemplo: Tendo por base o mesmo exemplo indicado para os subsídios respeitantes a investimentos relacionados com ativos, temos os seguintes movimentos contabilísticos no caso de investimentos não associados com ativos. A empresa All Invest, cuja atividade principal é a agricultura, está a desenvolver um projeto na área da investigação e desenvolvimento de um novo produto, pelo que candidatou-se ao programa Portugal 2020. O subsídio a que se candidatou não é reembolsável e é atribuído até 80% do investimento elegível. A empresa despendeu em 2014 cerca de 230 mil euros em despesas com investigação e desenvolvimento (materiais, pessoal e outros) e em 2015 o montante de 180.000€.

282 - Rendimentos a

reconhecer

2781 - Outros

devedores

€ €€ €€

12 - Depósitos à

Ordem

2781 - Outros

devedores

€€ €€

751 - Subsídios do

Estado e Outros Entes

Públicos

282 - Rendimentos a

reconhecer

€€ €€

Débito Crédito Valor Observações

2781 - Outros

devedores

282 - Rendimentos a

reconhecer328.000 €

Reconhecimento do subsídio

em 2015

12 - Depósitos à ordem2781 - Outros

devedores328.000 €

Recebimento do subsídio em

2015

282 - Rendimentos a

reconhecer

751 - Subsídios do

Estado e outros entes

públicos

328.000 €Reconhecimento em

rendimentos

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 104

12.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Incentivos ao investimento

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC Os incentivos ao investimento sob a forma de subsídios reembolsáveis são classificados como passivos financeiros (operações idênticas aos financiamentos bancários) e, como tal, a sua obtenção não concorre para a formação do lucro tributável em sede de IRC. Já os subsídios não reembolsáveis (fundo perdido) têm impacto fiscal em sede de IRC, conforme previsto no artigo 22.º do CIRC, como segue:

1. A inclusão no lucro tributável dos subsídios relacionados com ativos não correntes obedece às seguintes regras:

a) Quando os subsídios respeitem a ativos depreciáveis ou amortizáveis, deve ser incluída no lucro tributável uma parte do subsídio atribuído, independentemente do recebimento, na mesma proporção da depreciação ou amortização calculada sobre o custo de aquisição ou de produção, sem prejuízo do disposto no n.º 2;

b) Quando os subsídios respeitem a ativos intangíveis sem vida útil definida, deve ser incluída no lucro tributável uma parte do subsídio atribuído, independentemente do recebimento, na proporção prevista no artigo 45.º-A;

c) Quando os subsídios respeitem a propriedades de investimento e a ativos biológicos não consumíveis, mensurados pelo modelo do justo valor, deve ser incluída no lucro tributável uma parte do subsídio atribuído, independentemente do recebimento, na proporção prevista no artigo 45.º-A;

d) Quando os subsídios não respeitem aos ativos referidos nas alíneas anteriores, devem ser incluídos no lucro tributável, em frações iguais, durante os períodos de tributação em que os elementos a que respeitam sejam inalienáveis, nos termos da lei ou do contrato ao abrigo dos quais os mesmos foram concedidos, ou, nos restantes casos, durante 10 anos, sendo o primeiro o do recebimento do subsídio.

2. Nos casos em que a inclusão no lucro tributável dos subsídios se efetue, nos termos da alínea a) do número anterior, na proporção da depreciação ou amortização calculada sobre o custo de aquisição, tem como limite mínimo a que proporcionalmente corresponder à quota mínima de depreciação ou amortização nos termos do n.º 6 do artigo 30.º.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 105

A remissão para o artigo 45.º-A prevista no artigo 22.º em matéria subsídios ao investimento relacionados com ativos intangíveis com vida útil indefinida, ativos biológicos de produção e propriedades de investimento mensuradas ao justo valor, obedece às seguintes regras:

1. É aceite como gasto fiscal, em partes iguais, durante os primeiros 20 períodos de tributação após o reconhecimento inicial, o custo de aquisição dos seguintes ativos intangíveis quando reconhecidos autonomamente, nos termos da normalização contabilística, nas contas individuais do sujeito passivo:

a) Elementos da propriedade industrial tais como marcas, alvarás, processos de produção, modelos ou outros direitos assimilados, adquiridos a título oneroso e que não tenham vigência temporal limitada;

b) O goodwill adquirido numa concentração de atividades empresariais. 2. O custo de aquisição, as grandes reparações e beneficiações e as benfeitorias das

propriedades de investimento que sejam subsequentemente mensuradas ao justo valor é aceite como gasto para efeitos fiscais, em partes iguais, durante o período de vida útil que se deduz da quota mínima de depreciação que seria fiscalmente aceite caso esse ativo permanecesse reconhecido ao custo de aquisição.

3. O custo de aquisição dos ativos biológicos não consumíveis, que sejam subsequentemente mensurados ao justo valor, é aceite como gasto para efeitos fiscais, em partes iguais, durante o período de vida útil que se deduz da quota mínima de depreciação que seria fiscalmente aceite caso esse ativo permanecesse reconhecido ao custo de aquisição.

A tabela seguinte resume as várias situações relativas à tributação dos subsídios ao investimento não reembolsáveis relacionados com ativos não correntes.

Tipo de ativo não corrente Enquadramento contabilístico Enquadramento fiscal

Ativos depreciáveis ou amortizáveis

Imputação do subsídio reconhecida na conta 7883 e, como tal, incluída no resultado líquido do período.

A tributação em IRC decorre do aumento do resultado líquido do período por força do reconhecimento como rendimento de uma parcela do subsídio na proporção das deprecições/amortizações praticadas sobre o ativo. No entanto, caso as depreciações/amortizações sejam praticadas abaixo da quota mínima, há que acrescer o diferencial entre esta e o valor contabilizado no Quadro 07 da Modelo 22.

Ativos intangíveis sem vida útil definida

Não são amortizados contabilisticamente, logo o subsídio permanece na conta 593 e não é imputado anualmente a rendimentos.

A tributação é feita em 20 anos por acréscimo ao Quadro 07 da Modelo 22.

Ativos biológicos de produção ou propriedades de investimentos, mensurados ao justo valor

Não são depreciados contabilisticamente, logo o subsídio permanece na conta 593 e não é imputado anualmente a rendimentos.

A tributação é feita por acréscimo ao Quadro 07 da Modelo 22, com base na proporção da quota mínima de depreciação/amortização que

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 106

seria fiscalmente aceite caso os ativos permanecessem reconhecidos ao custo de aquisição.

Outros ativos cujo contrato de concessão do subsídio fixe um prazo em que não podem ser alienados

Não são depreciados contabilisticamente, logo o subsídio permanece na conta 593 e não é imputado anualmente a rendimentos.

A tributação é feita por acréscimo ao Quadro 07 em partes iguais, pelo número de anos em que a entidade não pode alienar os ativos.

Outros ativos cujo contrato de concessão do subsídio não fixe qualquer prazo relativamente à autorização para a sua alienação

Não são depreciados contabilisticamente, logo o subsídio permanece na conta 593 e não é imputado anualmente a rendimentos.

A tributação é feita por acréscimo ao Quadro 07 em partes iguais, pelo prazo de 10 anos, sendo o primeiro o do recebimento do subsídio.

Em sede de IRS Relativamente aos sujeitos passivos de IRS que aufiram rendimentos empresariais e ou profissionais, e que não sejam tributados pelo regime simplificado, aplicam-se as mesmas regras do IRC no que respeita à tributação dos subsídios ao investimento não reembolsáveis, na medida em que o artigo 32.º do CIRS contém uma remissão para o Código do IRC, segundo a qual, na determinação dos rendimentos empresariais e profissionais não abrangidos pelo regime simplificado, aplicam-se as regras estabelecidas no Código do IRC, com algumas exceções e com as adaptações resultantes do CIRS. Neste domínio, o artigo 36.º-A do CIRS contém o enquadramento fiscal dos subsídios não destinados à exploração (subsídios ao investimento), no caso de cessação da determinação do rendimento tributável com base na contabilidade no decurso do período estabelecido no artigo 22.º do Código do IRC, definindo que a parte dos subsídios ainda não tributada será imputada, para efeitos de tributação, ao último exercício de aplicação daquele regime. No caso de sujeitos passivos de IRS abrangidos pelo regime simplificado, encontra-se prevista na alínea e) do n.º do artigo 31.º a tributação subsídios ou subvenções não destinados à exploração (ao investimento), através da aplicação do coeficiente de 0,30. Os rendimentos são considerados, depois de aplicado o referido coeficiente, em frações iguais, durante cinco exercícios, sendo o primeiro o do recebimento do subsídio. Cessando a aplicação do regime simplificado no decurso do referido período de cinco exercícios, as frações dos subsídios ainda não tributadas serão imputadas, para efeitos de tributação, ao último exercício de aplicação daquele regime.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 107

13. Garantia bancária

13.1. Introdução

A garantia bancária é um instrumento de crédito através da qual o banco emitente garante a

execução de uma obrigação constituída pelo seu cliente a favor de outrém, i.e. o beneficiário

da garantia, caso esta não seja pontual e integralmente cumprida pelo seu cliente.

A garantia bancária constitui uma solução de:

Uma Garantia Bancária é um documento emitido pelo Banco a pedido dos seus Clientes a favor

de terceiros (o beneficiário da garantia) perante o qual o Banco assume a obrigação de, nos

termos expressamente previstos na garantia, satisfazer determinadas obrigações se estas não

forem cumpridas pontual e integralmente pelo seu Cliente (o ordenador da garantia).

As Garantias Bancárias podem ser exigidas para a admissão a concursos, realização de obras,

contratos de arrendamento, entre outras operações, podendo ser substituídas pelo chamado

“Depósito caução”. O mapa de central de risco de crédito do Banco de Portugal (BdP) contém

o montante das garantias bancárias ativas de cada entidade.

O facto de existir uma garantia bancária a favor do devedor poderá significar o acesso a

melhores condições de financiamento, na medida em que o Banco assegura o bom

cumprimento das obrigações da Empresa perante terceiros.

Muitas vezes as Garantias contêm uma cláusula de pagamento “on first demand”, que

corresponde a uma garantia autónoma à primeira solicitação, na qual o garante para além de

se obrigar a realizar uma prestação pecuniária no caso de futura frustração de um interesse do

beneficiário, como na garantia autónoma simples, assume ainda o dever de pagar

automaticamente – i.e. à mera solicitação pelo beneficiário – a quantia correspondente.

Apoio à atividade económica

Concursos

Realização de obras

Contratos de arrendamento

Acesso a melhores condições financeiras

Garantia bancária a favor do credor

Implica melhores condições de

financiamento

Garantia de obrigações contratuais

Instituição Financeira assegura o bom cumprimento de

obrigações perante terceiros

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 108

Tipos de garantias e fianças bancárias Financeiras com carácter de substituição de crédito

Destinam-se a garantir o reembolso de prestações pecuniárias de capital e juros no âmbito de uma obrigação creditícia (já existente ou futura, formalizada ou a formalizar contratualmente) entre o devedor garantido e um credor.

Financeiras sem carácter de substituição de crédito

Destinam-se a garantir ou substituir responsabilidades de carácter pecuniário assumidas pelo ordenador, ou por um terceiro, perante o beneficiário, decorrentes de obrigações legais ou contratuais.

Técnicas Destinam-se a assegurar o bom cumprimento por parte do ordenador, ou por terceiro, de obrigações de carácter técnico acordadas entre o devedor garantido e o beneficiário, ainda que do seu não cumprimento resulte para o Banco uma responsabilidade de carácter pecuniário perante o beneficiário.

Relativamente ao prazo, as Garantias e as Fianças Bancárias dividem-se em:

Sem termo certo (sem prazo) - quando no texto da Garantia ou Fiança Bancária não é mencionado qualquer prazo limite de validade para a garantia ou para o Banco ser interpelado para pagar;

Com termo certo - quando se indica o prazo de validade no texto da Garantia ou Fiança Bancária, podendo estar prevista, ou não, a sua renovação.

Normalmente a prestação de uma garantia tem como contragarantia a subscrição de uma

livrança em branco pela Empresa com aval dos sócios e/ou membros dos órgãos de gestão,

bem como dos respetivos cônjuges. Poderão ser negociadas ainda outras contragarantias em

função da análise de risco de crédito.

13.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), o atual normativo contabilístico português, foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, sendo o seu núcleo central as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), as quais garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 109

Embora em SNC exista uma rubrica autónoma para gastos e perdas de financiamento, esta apenas comporta os gastos exclusivamente relacionados com o financiamento. Desta forma, ficam excluídos os serviços bancários, como por exemplo, as comissões de transferências, as emissões de cheques e as suas devoluções, e as garantias bancárias, entre outros. Estes gastos e perdas que não são relativos a financiamentos devem ser contabilizados numa subconta de serviços especializados, como seja a conta 6227. Pela emissão da garantia bancária:

Pelos custos de manutenção da garantia bancária (mensal/trimestral/anual):

Exemplo: A sociedade Sempre Constrói celebrou um contrato de construção de um edifício para escritórios com a sociedade All Services. Na data de celebração do contrato foi pago um adiantamento de 180.000€ mediante a apresentação de uma garantia bancária no mesmo montante, que garanta a boa execução da obra no prazo estipulado.

12 - Depósitos à

Ordem

6227 - Comissões

bancárias

6812 Impostos

indiretos

€€

12 - Depósitos à

Ordem

6227 - Comissões

bancárias

6812 Impostos

indiretos

€€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 110

13.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Garantia bancária

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

As comissões cobradas pelos Bancos relativas à prestação de garantias bancárias são

consideradas gastos para efeitos fiscais do ordenador da garantia, nos termos do artigo 23.º do

CIRC. Com efeito, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e

perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos

sujeitos a IRC, onde se incluem os gastos com operações de crédito.

A inclusão dos gastos em cada exercício deve ser efetuada sob o princípio da periodização do

lucro tributável (regime da periodização económica), tal como previsto no artigo 18.º do CIRC,

independentemente de serem pagos só no exercício seguinte.

Débito Crédito Valor Observações

6227 - Comissões

bancárias12 - Depósitos à ordem 300 € Comissão de emissão

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 12 € Imposto Selo s/ comissão 4%

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 900 €

Imposto Selo s/ garantia de

prazo superior a um ano 0,5%

6227 - Comissões

bancárias12 - Depósitos à ordem 360 €

Comissão de garantia 0,8%

cobrada trimestralmente

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 10,8 €

Imposto Selo s/ comissão de

garantia 3%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 111

Em sede de IRS

Relativamente aos sujeitos passivos de IRS que aufiram rendimentos empresariais e ou

profissionais, e que não sejam tributados pelo regime simplificado, aplicam-se as mesmas

regras do IRC no que respeita ao enquadramento dos gastos e perdas suportados com a

negociação de garantias bancárias, na medida em que o artigo 32.º do CIRS contém uma

remissão para o Código do IRC, segundo a qual, na determinação dos rendimentos

empresariais e profissionais não abrangidos pelo regime simplificado, aplicam-se as regras

estabelecidas no Código do IRC, com algumas exceções e com as adaptações resultantes do

CIRS.

Em sede de IVA

Nos termos da alínea b) do n.º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto a

negociação e a prestação de fianças, avales, cauções e outras garantias, bem como a

administração ou gestão de garantias de créditos efetuada por quem os concedeu. Significa

que a prestação de garantias bancárias pelos Bancos constitui uma operação isenta de IVA

(sujeita a Imposto do Selo).

Em sede de Imposto do Selo

Nos termos do artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS), são sujeitos passivos do imposto

as Entidades concedentes do crédito e da garantia ou credoras de juros, prémios, comissões e

outras contraprestações, considerando-se constituída a obrigação tributária no momento da

realização das operações (artigo 5.º do CIS). Já o encargo do imposto, previsto no artigo 3.º do

CIS, incumbe aos titulares do interesse económico, considerando-se nas garantias as entidades

obrigadas à sua apresentação (as Empresas garantidas).

No âmbito das isenções subjetivas previstas no artigo 6.º do CIS, são isentos de imposto do

selo, quando este constitua seu encargo, as pessoas coletivas de utilidade pública

administrativa e de mera utilidade pública, assim como as instituições particulares de

solidariedade social e entidades a estas legalmente equiparadas.

De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da

Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS). No que concerne às garantias bancárias, podem existir

vários factos sujeitos a Imposto do Selo em vários momentos, como segue:

10. Garantias das obrigações, qualquer que seja a sua natureza ou forma,

designadamente o aval, a caução, a garantia bancária autónoma, a fiança, a hipoteca, o

penhor e o seguro-caução, salvo quando materialmente acessórias de contratos

especialmente tributados na presente Tabela e sejam constituídas simultaneamente com

a obrigação garantida, ainda que em instrumento ou título diferente - sobre o respetivo

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 112

valor, em função do prazo, considerando-se sempre como nova operação a prorrogação

do prazo do contrato:

10.1. Garantias de prazo inferior a um ano - por cada mês ou fração 0,04%

10.2. Garantias de prazo igual ou superior a um ano 0,5%

10.3. Garantias sem prazo ou de prazo igual ou superior a cinco anos 0,6%

17.3. Operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito,

sociedades financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas e quaisquer

outras instituições financeiras - sobre o valor cobrado:

17.3.3. Comissões por garantias prestadas 3%

17.3.4. Outras comissões e contraprestações por serviços financeiros 4%

Significa que o Banco poderá cobrar comissões pela emissão da garantia bancária, as quais

ficam sujeitas a Imposto do Selo à taxa de 4% por se tratar de um serviço financeiro, ao passo

que as comissões periódicas pela utilização da garantia bancária ficam sujeitas a Imposto do

Selo à taxa de 3%.

22.1. Apólices de seguros - sobre a soma do prémio do seguro, do custo da apólice e de

quaisquer outras importâncias que constituam receita das empresas seguradoras,

cobradas juntamente com esse prémio ou em documento separado:

22.1.1. Seguros do ramo «Caução» 3%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 113

14. Garantia Mútua

14.1. Introdução

Conforme divulgado pelas Sociedades de Garantia Mútua3, a Garantia Mútua é um sistema

privado de carácter mutualista de apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas que se traduz,

essencialmente, na prestação de garantias financeiras para facilitar a obtenção de crédito em

condições adequadas aos investimentos e ciclos de atividade das empresas. Esta característica

mutualista, que resulta do facto das empresas beneficiárias das garantias serem acionistas de

Sociedades de Garantia Mútua, facilita o acesso das Empresas ao crédito, ao partilhar o risco

com outras entidades financeiras e libertando desta forma plafonds bancários e permitindo a

obtenção de montantes, condições de custo e prazo adequados às necessidades, por norma

com redução de outras garantias prestadas ao setor financeiro pelas Empresas.

As sociedades de garantia mútua prestam normalmente todas as garantias necessárias ao

desenvolvimento de atividades nos sectores da indústria, comércio, serviços, construção,

turismo e transportes, sendo que as empresas podem obter qualquer tipo de garantia para

apresentar perante organismos públicos, clientes, fornecedores, ou outros.

As Sociedades de Garantia Mútua estão aptas a conceder um vasto conjunto de garantias,

conforme se apresenta na tabela infra.

Garantias a empréstimos

Garantias financeiras

Garantias técnicas

Garantias para incentivos

Outras garantias

- De médio longo prazo

- De curto prazo - Leasing

- Protocolos - Linhas garantidas

- FINICIA

- De bom pagamento - Ao Estado - De bom

cumprimento

- A concursos públicos - A bom

cumprimento contratual

- A boa execução técnica

- Incentivos UE - Outros

programas de incentivos

- Situações específicas com análise

casuística

3 Informação disponível em http://www.garantiamutua.com/garantia-mutua/, consulta em 2015/01/15.

Prestação de Garantia

Sociedade Garantia Mútua

Facilidade Crédito

Instituição Financeira

Obtenção

Crédito

PME

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 114

A utilização da garantia mútua como alternativa às soluções apresentadas pela banca tradicional permite também a diminuição do risco de crédito, ou seja, a empresa mantém intacta a sua capacidade de endividamento noutras instituições financeiras, que consumirá unicamente em operações especificamente financeiras. Exemplo de utilização de garantia mútua numa operação de financiamento

A Empresa X (garantida) negociou em 01/01/20N15 com o Banco Y (beneficiário da garantia) uma operação de financiamento, com prestação de garantia autónoma à primeira solicitação pela Sociedade de Garantia Mútua Z, que assegura o bom e atempado cumprimento da obrigação de reembolso, nas seguintes condições:

Montante do financiamento: € 1.000.000,00

Prazo: 2 anos

Amortização: Trimestral constante

Juros: Postecipados à taxa anual de 5%

Tipo de contagem dos juros: 30/360

Garantia autónoma prestada por SGM: 75% sobre a dívida pendente

Comissão trimestral antecipada de garantia: 0,5%

Imposto do Selo sobre juros: 4%

Imposto do Selo sobre garantia: 3%

Apresenta-se em seguida o serviço da dívida do financiamento e os gastos associados.

14.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), o atual normativo contabilístico vigente em Portugal, foi publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho. O SNC é constituído por elementos fundamentais, entre eles destacam-se as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas. Em SNC os serviços bancários, como por exemplo, as comissões de transferências, as emissões de cheques e as suas devoluções, as garantias bancárias, e as garantias mútuas, entre outros,

Total Amortização Juro IS s/ Juro Dívida Total Comissão IS s/ Comissão Garantia pendente

01/01/20N15 --- --- --- --- 1.000.000,00 € 3.862,50 € 3.750,00 € 112,50 € 750.000,00 €

31/03/20N15 138.000,00 € 125.000,00 € 12.500,00 € 500,00 € 875.000,00 € 3.379,69 € 3.281,25 € 98,44 € 656.250,00 €

30/06/20N15 136.375,00 € 125.000,00 € 10.937,50 € 437,50 € 750.000,00 € 2.896,88 € 2.812,50 € 84,38 € 562.500,00 €

30/09/20N15 134.750,00 € 125.000,00 € 9.375,00 € 375,00 € 625.000,00 € 2.414,06 € 2.343,75 € 70,31 € 468.750,00 €

31/12/20N15 133.125,00 € 125.000,00 € 7.812,50 € 312,50 € 500.000,00 € 1.931,25 € 1.875,00 € 56,25 € 375.000,00 €

31/03/20N16 131.500,00 € 125.000,00 € 6.250,00 € 250,00 € 375.000,00 € 1.448,44 € 1.406,25 € 42,19 € 281.250,00 €

30/06/20N16 129.875,00 € 125.000,00 € 4.687,50 € 187,50 € 250.000,00 € 965,63 € 937,50 € 28,13 € 187.500,00 €

30/09/20N16 128.250,00 € 125.000,00 € 3.125,00 € 125,00 € 125.000,00 € 482,81 € 468,75 € 14,06 € 93.750,00 €

31/12/20N16 126.625,00 € 125.000,00 € 1.562,50 € 62,50 € 0,00 € 0,00 € 0,00 € 0,00 € 0,00 €

Garantia MútuaData

Prestação Banco

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 115

não são considerados como gastos e perdas de financiamento, pelo que devem ser contabilizados numa subconta de serviços especializados, tal como a conta 6227. Por outro lado, visto que a emissão de uma garantia mútua depende da aquisição de capital social ao acionista promotor ou outro mutualista, então neste facto contabilístico deve-se atender ao prescrito na NCRF 27 - Instrumentos Financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente ativos financeiros. Assim, as ações adquiridas respeitantes ao capital social do mutualista são consideradas um ativo financeiro no termos da alínea b), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um ativo financeiro é qualquer activo que seja um instrumento de capital próprio de uma outra entidade. Ora, por outro lado, o mesmo parágrafo da norma refere que um instrumento de capital próprio é qualquer contrato que evidencie um interesse residual nos activos de uma entidade após dedução de todos os seus passivos.

No que concerne ao reconhecimento dos instrumentos de capital próprio, a NCRF 27 prevê

que as entidades reconheçam instrumentos de capital próprio no capital próprio (parágrafo 8).

Os instrumentos de capital próprio devem ser mensurados ao custo ou ao custo amortizado

menos perdas de imparidade (parágrafo 12) quando não sejam negociados publicamente e

cujo justo valor não possa se obtido de forma fiável. Caso os instrumentos de capital próprio

sejam negociados publicamente, então estes devem ser mensurados ao justo valor (parágrafo

15).

Pela aquisição de participação no capital social ao acionista promotor ou outro mutualista (valor igual ou superior a 2% da garantia emitida):

Pelo imposto de selo sobre a emissão da garantia:

12 - Depósitos à

Ordem

4141 - Investimentos

noutras empresas -

Participações de

capital

€ €€ €€

12 - Depósitos à

Ordem

6812 Impostos

indiretos

€ €€ €€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 116

Pela comissão de emissão da garantia:

Pela comissão periódica da manutenção da garantia:

12 - Depósitos à

Ordem

6227 - Comissões

bancárias

6812 Impostos

indiretos

€€

12 - Depósitos à

Ordem

6227 - Comissões

bancárias

6812 Impostos

indiretos

€€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 117

Pela extinção da garantia mútua com a liquidação do financiamento, e alienar das ações detidas na sociedade de garantia mútua:

Exemplo: A empresa Works recorreu a uma sociedade de garantia mútua para a emissão de uma garantia no montante de 180 mil euros que serviria de suporte à celebração de um contrato de financiamento de apoio à tesouraria. Para o efeito, a empresa viu-se obrigada a adquirir parte do capital social à sociedade de garantia mútua no montante igual a 2% do valor da garantia emitida.

4141 - Investimentos

noutras empresas -

Participações de

capital

12 - Depósitos à

Ordem

7862/6862 -

Rendimentos e ganhos

(Gastos e perdas) nos

restantes ativos

financeiros -

Alienações

€ €€

€€€€ €

Débito Crédito Valor Observações

4141 - Investimentos

noutras empresas -

Participações de

capital

12 - Depósitos à ordem 3.600 €

Aquisição de capital social

ao acionista promotor ou

outro mutualista no montante

igual a 2% do valor da

garantia emitida

6227 - Comissões

bancárias12 - Depósitos à ordem 1.350 € Comissão de emissão

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 54 € Imposto Selo s/ comissão 4%

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 900 €

Imposto Selo s/ garantia de

prazo superior a um ano 0,5%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 118

Trimestralmente são cobradas as comissões adstritas ao custo da garantia mútua.

Na data da liquidação do financiamento, e respetiva extinção da garantia mútua, a empresa Works decide alienar as ações detidas na sociedade de garantia mútua, pelo mesmo valor de aquisição.

14.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Garantia bancária

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

Tendo em conta o enquadramento supra descrito, verifica-se que as Sociedades de Garantia Mútua não concedem crédito diretamente às Empresas, mas antes prestam garantias às demais Instituições de Crédito (Bancos financiadores), para que estes possam reduzir a sua

Débito Crédito Valor Observações

6227 - Comissões

bancárias12 - Depósitos à ordem 900 €

Comissão de garantia 0,5%

cobrada anualmente

6812 - Impostos

indiretos12 - Depósitos à ordem 27 €

Imposto Selo s/ comissão de

garantia 3%

Débito Crédito Valor Observações

12 - Depósitos à ordem

7862 - Rendimentos e

ganhos nos restantes

ativos finnaceiros -

Alienações

3.600 €

7862 - Rendimentos e

ganhos nos restantes

ativos finnaceiros -

Alienações

4141 - Investimentos

noutras empresas -

Participações de

capital

3.600 €

Após a extinção ou

caducidade da garantia, o

mutualista pode vender as

suas acções pelo seu valor

nominal (€1)

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 119

exposição e risco de crédito perante os seus clientes nas operações de financiamento. Assim, não se trata de uma concessão direta de financiamento, logo não há lugar à cobrança de juros nem ao reconhecimento de passivos financeiros pelas Empresas nos seus balanços, sendo no entanto divulgadas as garantias obtidas no Anexo.

As comissões cobradas pelas Sociedades de Garantia às Empresas relativas à prestação de garantia ao bom e atempado cumprimento da obrigação de reembolso do capital mutuado, que incidem sobre o capital em dívida em cada momento, são consideradas gastos para efeitos fiscais nos termos do artigo 23.º do CIRC. Com efeito, para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC, onde se incluem os gastos e perdas de natureza financeira, tais como juros de capitais alheios aplicados na exploração, descontos, ágios, transferências, diferenças de câmbio, gastos com operações de crédito, cobrança de dívidas e emissão de obrigações e outros títulos, prémios de reembolso e os resultantes da aplicação do método do juro efetivo aos instrumentos financeiros valorizados pelo custo amortizado.

Em certos casos as Sociedades de Garantia Mútua cobram a comissão de garantia diretamente ao Banco, o qual inclui este valor no spread a praticar na operação de financiamento. Neste caso, o gasto relacionado com a garantia mútua está incluso nos juros a pagar ao Banco, os quais são também dedutíveis pela Empresa para efeitos fiscais, nos termos do citado artigo 23.º do CIRC.

A inclusão dos gastos em cada exercício deve ser efetuada sob o princípio da periodização do lucro tributável (princípio da especialização dos exercícios), tal como previsto no artigo 18.º do CIRC, independentemente de serem pagos só no exercício seguinte.

Já a aquisição de ações da Sociedade de Garantia Mútua pelas Empresas, não é considerada um gasto, mas sim um investimento financeiro a reconhecer na conta 4141 – Participações de capital noutras empresas, logo não tem impacto no apuramento do resultado fiscal no momento da aquisição. Caso no momento da alienação destas ações (após o termino da operação de financiamento coberta pela garantia mútua e desde que a Empresa não pretenda efetuar novas operações com recurso a este tipo de garantia), haja apuramento de mais ou menos-valias, as mesmas concorrem para a formação do resultado fiscal nos termos previstos no artigo 46.º e seguintes do CIRC.

Releva-se que não é expectável o apuramento de mais ou menos-valias no momento da alienação das ações a favor da Sociedade de Garantia Mútua, pois no momento da sua aquisição é celebrado um acordo de recompra que funciona com uma put option (opção de venda) por parte da Empresa que beneficia da garantia mútua.

Em sede de IRS

Relativamente aos sujeitos passivos de IRS que aufiram rendimentos empresariais e ou profissionais, e que não sejam tributados pelo regime simplificado, aplicam-se as mesmas regras do IRC no que respeita ao enquadramento dos gastos e perdas suportados com a obtenção de garantia mútua, na medida em que o artigo 32.º do CIRS contém uma remissão

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 120

para o Código do IRC, segundo a qual, na determinação dos rendimentos empresariais e profissionais não abrangidos pelo regime simplificado, aplicam-se as regras estabelecidas no Código do IRC, com algumas exceções e com as adaptações resultantes do CIRS.

Em sede de IVA

Nos termos da alínea b) do n.º 27 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto a negociação e a prestação de fianças, avales, cauções e outras garantias, bem como a administração ou gestão de garantias de créditos efectuada por quem os concedeu. Significa que a prestação de garantias pelas Sociedades de Garantia Mútua constitui uma operação isenta de IVA (sujeita a Imposto do Selo).

Em sede de Imposto do Selo

Nos termos do artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS), são sujeitos passivos do imposto as Entidades concedentes do crédito e da garantia ou credoras de juros, prémios, comissões e outras contraprestações, considerando-se constituída a obrigação tributária no momento da realização das operações (artigo 5.º do CIS). Já o encargo do imposto, previsto no artigo 3.º do CIS, incumbe aos titulares do interesse económico, considerando-se nas garantias as entidades obrigadas à sua apresentação (as Empresas garantidas).

No âmbito das isenções subjetivas previstas no artigo 6.º do CIS, são isentos de imposto do selo, quando este constitua seu encargo, as pessoas coletivas de utilidade pública administrativa e de mera utilidade pública, assim como as instituições particulares de solidariedade social e entidades a estas legalmente equiparadas.

De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS), aplicando-se às Garantias a verba 17.3.3, com a taxa de 3%, com a seguinte redação:

17.3.3 Comissões por garantias prestadas 3%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 121

15. Cobertura de Risco Cambial

15.1. Introdução

A cobertura de risco cambial limita ou anula o risco cambial associado a operações financeiras e a transações comerciais realizadas em moeda estrangeira. A cobertura de risco cambial permite determinar, antecipadamente, o preço de compra ou venda de determinada divisa, eliminando a incerteza relativamente ao valor de pagamentos ou recebimentos futuros, protegendo assim, as empresas aderentes a esta solução financeira contra as futuras variações da taxa de câmbio.

Existem vários tipos de instrumentos financeiros associados à solução de cobertura de risco cambial, como sejam:

Forward Cambial - permite garantir a taxa de câmbio dos pagamentos e recebimentos, deixando de haver preocupações com as variações da taxa de câmbio;

Swap Cambial - com um swap cambial poderá ser acautelado o risco cambial associado a um financiamento ou a uma aplicação em moeda estrangeira;

Call e Put Cambial - com a call option pode-se acautelar o risco da depreciação de uma moeda estrangeira, limitando esse mesmo risco, e com a put option o risco da apreciação de uma moeda estrangeira.

15.2. Normativo contabilístico aplicável

A norma contabilística e de relato financeiro (NCRF) 23 trata a temática dos efeitos de alterações em taxas de câmbio, prescrevendo como se devem incluir transações em moeda estrangeira e unidades operacionais estrangeiras nas demonstrações financeiras de uma entidade e como se deve transpor demonstrações financeiras para uma moeda de apresentação. A norma aplica-se, também, quando uma entidade transpõe quantias relacionadas com derivados da sua moeda funcional para a sua moeda de apresentação.

De entre as várias definições, destaca-se: Diferença de câmbio: é a diferença resultante da transposição de um determinado

número de unidades de uma moeda para outra moeda a diferentes taxas de câmbio. Investimento líquido: numa unidade operacional estrangeira é a quantia relativa ao

interesse da entidade que relata nos ativos líquidos dessa unidade operacional. Moeda de apresentação: é a moeda na qual as demonstrações financeiras são

apresentadas. Moeda estrangeira: é uma moeda que não seja a moeda funcional da entidade. Moeda funcional: é a moeda do ambiente económico principal no qual a entidade opera.

Cobertura de risco cambial

Forward Cambial Swap Cambial Call option Put Option

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 122

Taxa de câmbio: é o rácio de troca de duas moedas. Taxa de câmbio à vista: é a taxa de câmbio para entrega imediata de moeda. Taxa de fecho: é a taxa de câmbio à vista à data do balanço.

Uma transação em moeda estrangeira deve ser registada, no momento do reconhecimento inicial na moeda funcional, pela aplicação à quantia de moeda estrangeira da taxa de câmbio entre a moeda funcional e a moeda estrangeira à data da transação. Posteriormente, à data de cada balanço: a) Os itens monetários em moeda estrangeira devem ser transpostos pelo uso da taxa de fecho (este procedimento é correntemente designado por “actualização cambial à data do balanço” e aplica-se a itens como “Caixa”, “Depósitos bancários”, “Dívidas a pagar e a receber”, entre outros); b) Os itens não monetários que sejam mensurados em termos de custo histórico numa moeda estrangeira devem ser transpostos pelo uso da taxa de câmbio à data da transacção (como é o caso dos ativos fixos tangíveis); c) Os itens não monetários que sejam mensurados pelo justo valor numa moeda estrangeira devem ser transpostos pelo uso das taxas de câmbio que existiam quando os valores foram determinados. Por regra, as diferenças de câmbio resultantes da liquidação de itens monetários ou do relato de itens monetários de uma empresa a taxas diferentes das que foram inicialmente registadas durante o período, ou relatadas em demonstrações financeiras anteriores, devem ser reconhecidas nos resultados do período em que ocorram. Para efeitos de contabilização, de acordo com a FAQ n.º 10 divulgada pela Comissão de Normalização Contabilística (CNC) em 24/02/2010, são utilizadas as seguintes contas para registar as diferenças de cêmbio:

692 – Diferenças de câmbio desfavoráveis 6921 - Relativas a financiamentos obtidos 6928 - Outros 786 - Rendimentos e ganhos nos restantes ativos financeiros 7861 - Diferenças de câmbio favoráveis

Daqui parece poder indiciar-se que a segunda se reporta às diferenças de câmbio favoráveis associadas a itens relativos às atividades de investimento da entidade e que a primeira respeita às diferenças de câmbio desfavoráveis associadas às atividades de financiamento. Não considerou o legislador a previsão de contas relativas às diferenças de câmbio desfavoráveis associadas às atividades de investimento, nem às diferenças de câmbio favoráveis associadas às atividades de financiamento, nem qualquer conta respeitante às diferenças de câmbio (favoráveis e desfavoráveis) associadas a itens relativos às atividades operacionais. Tendo sido detetada a lacuna acima referida e mostrando-se necessário clarificar o modo de a superar, entende a CNC que, para registo daquelas operações, podem ser criadas as seguintes contas: Para a atividade de investimento

6863 – Diferenças de câmbio desfavoráveis Para a atividade operacional

6887 – Diferenças de câmbio desfavoráveis 7887 – Diferenças de cambo favoráveis

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 123

Para a atividade de financiamento 793 – Diferenças de câmbio favoráveis

Expressão das taxas de câmbio De acordo com a definição constante na NCRF 23, por taxa de câmbio entende-se o rácio de troca entre duas moedas. No entanto, este rácio pode ser apresentado de duas formas distintas, sendo de todo relevante conhecer a respetiva forma de apresentação para efeitos de cálculo e contabilização. Assim, as taxas de câmbio podem ser apresentadas ao certo (ou termos europeus) ou ao incerto (ou termos americanos).

Na cotação ao certo considera-se que uma unidade de moeda nacional corresponde a X unidades de moeda estrangeira ou, dito de outra forma, a quantidade de moeda estrangeira que é necessário para adquirir uma unidade de moeda nacional. Por outro lado, a cotação ao incerto considera-se que uma unidade de moeda estrangeira corresponde a X unidades de moeda nacional ou, de outra forma, corresponde à quantidade de moeda nacional que é necessário para adquirir uma unidade de moeda estrangeira. Por exemplo, a cotação Euro/Dólar = 1,161 significa que 1 Euro vale 1,161 Dólares Americanos (USD). Outra forma de apresentação alternativa será Dólar/Euro = 0,8475.

Cotação ao certo (EUR/USD) Cotação ao incerto (USD/EUR)

1 / Cotação ao incerto 1 / Cotação ao certo

1 / 0,8613 = 1,18 1 / 1,161 = 0,8613

No entanto as instituições de crédito apresentam, regra geral, duas cotações que correspondem ao câmbio da compra (cotação bid) e ao câmbio da venda (offer), conforme exemplo infra de cotação ao certo:

Moeda Compra (bid) Venda (offer)

USD 1,1607 1,1561

Pela aplicação das taxas supra indicadas, se uma entidade tiver a receber uma dívida de um cliente de 1.000 USD, o banco efetua o seguinte câmbio: 1.000 / 1,1607 = 861,55 €. Por outro lado, se uma empresa efetuar o pagamento a um fornecedor de 1.000 USD o banco efetua o seguinte câmbio: 1.000 / 1,1561 = 864,98 €. O diferencial entre a cotação de compra e a cotação de venda corresponde à margem de intermediação das instituições de crédito que se obtém pela seguinte expressão:

Margem de intermediação = (Cotação de venda – Cotação de compra) / Cotação de venda

Aplicando ao exemplo supra, obtém-se:

Margem % do banco = (864,98 – 861,55) / 864,98 = 0,396%

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 124

Estratégias de cobertura de risco cambial

As entidades que efetuam transações em moeda estrangeira (compras e ou vendas) ficam expostas ao chamado risco cambial. Significa que podem vir a receber um valor inferior às expectativas e vir a pagar valores igualmente superiores às expectativas. Para se protegerem do risco cambial as entidades podem adotar algumas medidas, como seja:

Escolha da moeda de facturação: Tentar que o cliente ou o fornecedor aceitem a transacção em Euros.

Pronto pagamento: Pagar ou receber a pronto para eliminar o risco de subida/descida das taxas de câmbio

Utilização do referencial das taxas forward: Significa formar o preço de venda ou aceitar o preço de compra não em função da taxa de câmbio à vista (taxa spot), mas sim em função das taxas de câmbio forward divulgadas para as datas de recebimento ou pagamento.

Posições cruzadas: Vender em moeda estrangeira e em simultâneo comprar também em moeda estrangeira, para permitir uma compensação de valores e redução da exposição cambial.

Cobertura (Hedge): Entrar num contrato forward para proteger o valor da moeda nacional de ativos ou passivos originariamente expressos em moeda estrangeira.

Utilização de futuros e ou opções cambiais negociados em bolsa.

Pela exportação / prestação de serviço para o exterior:

Pela diferença cambial da dívida:

71 - Vendas / 72 -

Prestação de serviços

211 - Clientes - Conta

corrente

€ €€

6887 - Diferenças

câmbio desvaforáveis

7887 - Diferenças

câmbio favoráveis

211 - Clientes - Conta

corrente

€ €€ €€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 125

Pela variação do forward:

Pelo recebimento da dívida:

Exemplo de utilização de forward cambial: Em 30/11/20N14 uma Empresa portuguesa vendeu mercadorias a um cliente angolano pelo montante de 1.000.000 USD, com prazo de pagamento a 60 dias (29 de janeiro de 20N15), sendo a taxa de câmbio no mercado à vista (taxa de câmbio spot) EUR/USD = 1,3000. Nesta mesma data celebrou um contrato forward de divisas com o Banco Lusitano para 29/01/20N15, com a taxa de câmbio EUR/USD = 1,2757.

Em 31/12/20N14 a taxa de câmbio spot era EUR/USD = 1,2877 e a taxa de câmbio forward para 29/01/20N15 era EUR/USD = 1,2639.

No dia 29 de janeiro de 20N15 o cliente efetuou a transferência de 1.000.000 USD, sendo a taxa de câmbio spot nesta data EUR/USD = 1,3125.

661 - Perdas por

redução de justo

valor - Em

instrumentos

financeiros

771 - Ganhos por

aumento de justo

valor - Em

instrumentos

financeiros

141 - Derivados

€ €€ €€

211 - Clientes - Conta

corrente

12 - Depósitos à

Ordem

141 - Derivados

€ €€€ €€

€€€€€ €

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 126

O forward de divisas é considerado um instrumento financeiro derivado negociado em mercado balcão (over-the-counter market), dado que é padronizado pelo Banco para um cliente e uma ou mais operações específicas. Neste caso, o forward pressupõe a entrega, numa data fixa futura, de um montante especificado de euros contra o recebimento em dólares americanos.

15.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Cobertura de risco cambial

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

Nos termos do artigo 20.º do Código do IRC as diferenças de câmbio favoráveis consideram-se rendimentos e ganhos, quer sejam efetivas (resultem de recebimentos ou pagamentos que já tenham ocorrido) ou potenciais, enquadrando-se nestas últimas as que resultam da atualização cambial na data do balanço, não obstante poderem reverter no exercício seguinte aquando do recebimento ou pagamento.

Da mesma forma, também as diferenças de câmbio desfavoráveis, efectivas ou potenciais, são consideradas gastos e perdas nos termos do artigo 23.º do Código do IRC.

A tributação das diferenças de câmbio potenciais tem acolhimento no artigo 18.º do CIRC, o qual considera que os rendimentos e os gastos, assim como as outras componentes positivas ou negativas do lucro tributável, são imputáveis ao período de tributação em que sejam

Débito Crédito Ativo Passivo

30/11/20N14 769.230,77 €Exportação para o cl iente

angolano (1.000.000 / 1,3000)211 711

31/12/20N14 7.347,62 €Atual ização cambia l favorável

da dívida (1.000.000 / 1,2877) - (1.000.000 / 1,3000)211 7887

31/12/20N14 7.318,48 €Variação desfavorável do

forward (1.000.000 / 1,2639) - (1.000.000 / 1,2757) 661 1412 0,00 € 7.318,48 €

29/01/20N14 14.673,63 €Diferença cambia l

desfavorável da dívida (1.000.000 / 1,3125) - (1.000.000 / 1,2877)6887 211

29/01/20N14 29.297,08 € Variação favorável do forward (1.000.000 / 1,2639) - (1.000.000 / 1,3125) --- 771

29/01/20N14 21.978,60 € Variação favorável do forward (1.000.000 / 1,2757) - (1.000.000 / 1,3125) 1411 --- 21.978,60 € 0,00 €

29/01/20N14 7.318,48 € Variação favorável do forward (1.000.000 / 1,2639) - (1.000.000 / 1,2757) 1412 ---

29/01/20N14 783.883,36 € Pelo recebimento (1.000.000 / 1,2757) 12 ---

29/01/20N14 761.904,76 € Pelo recebimento --- 211

29/01/20N14 21.978,60 € Pelo recebimento --- 1411 0,00 € 0,00 €

Data Valor Descrição das operações Contabilização Forward cambial

Cálculos

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 127

obtidos ou suportados, independentemente do seu recebimento ou pagamento, de acordo com o regime de periodização económica.

Em matéria de instrumentos financeiros derivados, dispõe o artigo 49.º do CIRC que concorrem para a formação do lucro tributável, os rendimentos ou gastos resultantes da aplicação do justo valor a instrumentos financeiros derivados, ou a qualquer outro ativo ou passivo financeiro utilizado como instrumento de cobertura restrito à cobertura do risco cambial. Esta regra tem uma exceção no que respeita às operações cujo objetivo exclusivo seja o de cobertura de fluxos de caixa ou de cobertura do investimento líquido numa unidade operacional estrangeira, diferindo-se, neste caso, os rendimentos ou gastos gerados pelo instrumento de cobertura, na parte considerada eficaz, até ao momento em que os gastos ou rendimentos do elemento coberto concorram para a formação do lucro tributável.

Em sede de IRS

Nos termos do artigo 5.º do Código do IRS, considera-se rendimento de capitai (categoria E) o ganho decorrente de operações de swaps cambiais, swaps de taxa de juro, swaps de taxa de juro e divisas e de operações cambiais a prazo. O ganho sujeito a imposto é constituído:

a) Tratando-se de swaps cambiais ou de operações cambiais a prazo, pela diferença positiva entre a taxa de câmbio acordada para a venda ou compra na data futura e a taxa de câmbio à vista verificada no dia da celebração do contrato para o mesmo par de moedas;

b) Tratando-se de swaps de taxa de juro ou de taxa de juro e divisas, pela diferença positiva entre os juros e, bem assim, no segundo caso, pelos ganhos cambiais respeitantes aos capitais trocados.

Havendo lugar à cessão ou anulação de um swap ou de uma operação cambial a prazo, com pagamento e recebimento de valores de regularização, os ganhos respetivos constituem também rendimento de capitais.

Estando em causa instrumentos financeiros derivados, se a substância de uma operação ou conjunto de operações diferir da sua forma, o momento, a fonte e a natureza dos pagamentos e recebimentos, rendimentos e gastos, decorrentes dessa operação, podem ser requalificados pela administração tributária de modo a ter em conta essa substância, com as necessárias adaptações, para efeitos de IRS.

O Código do IRS contém ainda uma disposição específica em matéria de swaps e operações cambiais a prazo, contida no seu artigo 40.º-B. Assim, no cálculo do rendimento da cessão ou anulação de um swap ou de uma operação cambial a prazo, com pagamento e recebimento de valores de regularização, não é considerado:

a) Qualquer pagamento de compensação que exceda os pagamentos de regularização, ou terminais, previstos no contrato original, ou os preços de mercado aplicáveis a operações com idênticas características, designadamente de prazo remanescente;

b) O custo imputado à aquisição de uma posição contratual de um swap preexistente que exceda os pagamentos de regularização, ou terminais, previstos no contrato original, ou os

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 128

preços de mercado aplicáveis a operações com idênticas características, designadamente de prazo remanescente.

Já o artigo 23.º do CIRS versa sobre os valores fixados em moeda sem curso legal em Portugal, prevendo que a equivalência de rendimentos ou encargos expressos em moeda sem curso legal em Portugal é determinada pela cotação oficial da respetiva divisa, de acordo com as seguintes regras:

a) Tratando-se de rendimentos transferidos para o exterior, aplica-se o câmbio de venda da data da efetiva transferência ou da retenção na fonte, se a ela houver lugar;

b) Tratando-se de rendimentos provenientes do exterior, aplica-se o câmbio de compra da data em que aqueles foram pagos ou postos à disposição do sujeito passivo em Portugal;

c) Tratando-se de rendimentos obtidos e pagos no estrangeiro que não sejam transferidos para Portugal até ao fim do ano, aplica-se o câmbio de compra da data em que aqueles forem pagos ou postos à disposição do sujeito passivo;

d) Tratando-se de encargos, aplica-se o câmbio de venda da data do pagamento.

Ainda assim, não sendo possível comprovar qualquer das datas referidas anteriormente, aplica-se o câmbio de 31 de dezembro do ano a que os rendimentos ou encargos respeitem. Por último, não existindo câmbio nas datas referidas, aplica-se o da última cotação anterior a essas datas.

Estas regras de utilização das taxas de câmbio não têm acolhimento quando a determinação do rendimento coletável se faça com base na contabilidade, seguindo-se neste caso as regras legais aplicáveis, nomeadamente as normas contabilísticas e de relato financeiro do SNC.

Em sede de IVA

O artigo 16.º do Código do IVA prevê que quando os elementos necessários à determinação do valor tributável sejam expressos em moeda diferente da moeda nacional, a taxa de câmbio a utilizar é a última divulgada pelo Banco Central Europeu ou a de venda praticada por qualquer banco estabelecido no território nacional.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 129

O swap de taxa de juro é um contrato no

qual o banco e a empresa acordam trocar

pagamento de juros periódicos,

calculados com base em diferentes taxas

de juro, mas sobre o mesmo valor de

referência, designado por valor nocional.

16. Cobertura de Risco de Taxa de Juro

16.1. Introdução

A cobertura de risco de taxa de juro, ou swap de taxa de juro é uma solução financeira disponibilizada por instituições financeiras materializada por via contratual, onde as referidas instituições financeiras e as empresas trocam de posição financeira relativamente a taxas de juro, o que faz com que venham a trocar fluxos financeiros.

Assim, o swap de taxa de juro permite às

empresas, que tenham financiamentos contraídos

junto de instituições financeiras, através da

contratação de uma taxa de juro fixa, proteger-se

e acautelar-se do impacto que a variação das

taxas de juro tem nos seus compromissos

financeiros durante o período de vigência dos

mesmos.

O swap funciona como um produto de cobertura do risco de taxa de juro, protegendo a

empresa de eventuais agravamentos de encargos financeiros no futuro. É no entanto uma

solução e opção de risco, uma vez que a volatilidade e incerteza dos mercados financeiros não

permitem que a tomada de decisão a este nível seja pautada por um grau de certeza e

confiança elevados.

Ambos os juros trocados (de taxa fixa e taxa variável) devem ser pagos na mesma moeda e calculados com base num determinado valor de referência (valor nocional), o qual poderá ser correspondente ao montante, total ou parcial, do empréstimo base.

As entidades utilizam geralmente instrumentos de cobertura de risco de taxa de juro visando

reduzir o impacto negativo decorrente do aumento das taxas de juro de mercado associado à

possível subida da taxa do indexante utilizada nos contratos de financiamento, nomeadamente

a EURIBOR.

A palavra EURIBOR resulta da abreviatura da expressão anglo-saxónica Euro Interbank Offered

Rate. As taxas EURIBOR são determinadas com base na média das taxas de juro praticadas por

um conjunto de bancos europeus (painel de 25 a 40 bancos), nas operações de financiamentos

Instituição

financeira

Empresa

Taxa juro fixa Taxa juro

variável

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 130

concedidos entre si, excluindo-se 15% das percentagens mais altas e 15% das percentagens

mais baixas, relatadas todos os dias úteis, às 11:00 horas (Hora Central Europeia - CET). O

painel de bancos europeus, selecionados para fornecerem os seus dados para a determinação

da EURIBOR, é controlado por uma comissão diretora da Federação de Bancos Europeus.

Os referidos instrumentos de cobertura de risco de taxa de juro são designados por

instrumentos financeiros derivados, sendo normalmente utilizados para o efeito os swaps e os

cap’s de taxa de juro. Embora o espirito subjacente à utilização de derivados seja as operações

de cobertura ou também conhecidas por contabilidade de cobertura (hedge accounting),

algumas entidades utilizam-nos para especulação ou, até mesmo, para explorar possíveis

situações de arbitragem originadas por imperfeições temporárias dos mercados financeiros.

Swap de taxa de juro

O swap de taxa de juro consiste num contrato celebrado entre uma entidade (cliente) e uma

instituição de crédito (banco), consubstanciado num derivado de crédito em que, através de

contrato, fica estabelecido a troca ou permuta de taxa de juro (normalmente designado por

IRS - Interest Rate Swap), entre as partes contraentes. Sobre um determinado montante

(nocional) e durante um determinado período de tempo, o cliente paga juros calculados à taxa

fixa e recebe do banco juros calculados a taxa variável, podendo existir a compensação total

ou parcial dos fluxos de juros caso exista coincidência da periodicidade no seu

recebimento/pagamento, havendo apenas lugar à troca do valor resultante do diferencial

entre as taxas de juro.

O swap de taxa de juro permite ao cliente que contraiu um empréstimo com taxa variável,

passar a pagar os juros à taxa fixa, em ordem a cobrir o risco de subida da taxa de juro. No

entanto, caso as taxas se mantenham abaixo da taxa fixa o cliente sai a perder, só tendo

impacto positivo caso a taxa variável supere a taxa fixada pelo swap.

Utilização de instrumentos

financeiros derivados

Operações de cobertura de

risco (hedging)

Operações especulativas

Exploração de possibilidades de arbitragem

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 131

Opção de taxa de juro (Cap)

A compra de uma opção de taxa de juro (Cap) permite à Empresa, mediante o pagamento de

um prémio inicial, fixar uma taxa máxima de juro a pagar no seu financiamento, dado que o

Cap funciona como o tecto máximo ou o “chapéu” para a taxa de juro a pagar. A vantagem

relativamente ao swap tem a ver com a possibilidade de a Empresa beneficiar também das

descidas da taxa de juro, ou seja, a taxa é variável até atingir o nível de proteção do Cap e

torna-se fixa caso as taxas de mercado (Euribor) ultrapassem a taxa cap, havendo neste caso

lugar ao pagamento da diferença por parte do Banco.

O valor do prémio inicial do Cap depende das condições dos mercados financeiros na data da

sua negociação, ou seja, das expectativas de evolução da curva da estrutura temporal das

taxas de juro Euribor e do maior ou menor nível de cobertura pretendido. O Cap é

normalmente utilizado como instrumento de cobertura e não para especulação, sendo a perda

máxima igual ao valor do prémio caso a taxa de mercado nunca ultrapasse a taxa do Cap.

16.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, revogou o Plano Oficial de Contabilidade (POC), as Diretrizes Contabilísticas e demais legislação conexa em vigor até então. O SNC é constituído por um núcleo fundamental, a saber as 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação dos factos contabilísticos. De acordo com a definição constante na NCRF 27 Instrumentos financeiros, derivado: é um

instrumento financeiro ou outro contrato com todas as três características seguintes:

a) O seu valor altera-se em resposta à alteração numa especificada taxa de juro, preço de

instrumento financeiro, preço de mercadoria, taxa de câmbio, índice de preços ou de taxas,

notação de crédito ou índice de crédito, ou outra variável, desde que, no caso de uma variável

não financeira, a variável não seja específica de uma parte do contrato (por vezes denominada

"subjacente");

Cliente Banco Paga taxa fixa e

recebe taxa variável Paga taxa variável e

recebe taxa fixa

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 132

b) Não requer qualquer investimento líquido inicial ou requer um investimento inicial líquido

inferior ao que seria exigido para outros tipos de contratos que se esperaria que tivessem uma

resposta semelhante às alterações nos fatores de mercado;

c) É liquidado numa data futura.

A NCRF 27 prescreve ainda as seguintes orientações para a contabilização de cobertura do

risco de variabilidade da taxa de juro, risco cambial, risco de preço de mercadorias no âmbito

de um compromisso ou de elevada probabilidade de transacção futura ou de investimento

líquido numa operação estrangeira (parágrafos 41 a 43).

41 - Se as condições de qualificação forem satisfeitas e a cobertura de risco respeitar à

exposição à variabilidade na taxa de juro de um instrumento de dívida mensurado ao custo

amortizado, a entidade deve:

a) Reconhecer as alterações no justo valor do instrumento de cobertura diretamente em

capital próprio; e

b) Subsequentemente, deverá reconhecer as liquidações periódicas em base líquida na

demonstração de resultados no período em que as liquidações em base líquida ocorram.

Contabilização de um swap de taxa de juro variável Pela obtenção do financiamento:

Pelo pagamento dos juros do financiamento:

2511 - Empréstimos

bancários

12 - Depósitos à

Ordem

€ €€

12 - Depósitos à

Ordem

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

€ €€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 133

Pelo pagamento de juros do swap:

Pela variação do justo valor do swap:

Reconhecimento final do justo valor do swap:

12 - Depósitos à

Ordem6918 - Outros juros

€ €€

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

1411 - Outros Inst.

Financeiro -

Derivados -

Potencialmente

favoráveis

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

€ €€€ €€€ €€€ €€ €€€€€€€€ €€€ €€€ €€€ €€ €€€€€€€

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

1412 - Outros Inst.

Financeiro -

Derivados -

Potencialmente

desfavoráveis

€ €€€ €€€ €€€ €€ €€€€€€€

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

1411 - Outros Inst.

Financeiro -

Derivados -

Potencialmente

€ €€€ €€€ €€€ €€

1412 - Outros Inst.

Financeiro -

Derivados -

Potencialmente

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

€ €€€ €€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 134

Pelo pagamento do capital em dívida:

Exemplo de contabilização do swap de taxa de juro variável:

Um Empresa contraiu no início do ano 20N15 um financiamento cujo capital será liquidado

integralmente no vencimento, ao final do segundo ano (prazo de 2 anos) no montante de €

1.000.000, que vence juros trimestralmente à Taxa Euribor 3 meses em vigor em cada data de

pagamento, acrescida de um spread de 3,5%. Prevendo uma subida da Euribor, que na data da

obtenção do financiamento era de 0,25%, a Empresa contratou com o Banco um swap de 4%,

pelo mesmo prazo de 2 anos, tendo, por sua vez, o Banco negociado o swap no Mercado

Monetário Interbancário (MMI) à taxa de 3,8%.

Por hipótese simplificada, admite-se que nos próximos 2 anos os fluxos financeiros e as

contabilizações serão os seguintes, considerando que na data de obtenção do financiamento a

expectativa era que ao final do primeiro trimestre a Euribor a 3 meses se situasse nos 0,50% e

que no final dos trimestres seguintes não houvesse informação adicional sobre as taxas

forward da Euribor a 3 meses4:

Em 20N15:

4 O justo valor dos swaps é, em regra, determinado em cada momento pelos bancos, tendo em conta a curva da estrutura

temporal das taxas de juro forward estimadas para a evolução das cotações da Euribor. Na prática, em cada data relevante para efetuar o cálculo do justo valor do swap e das respetivas contabilizações, é necessário obter esta informação junto das instituições de crédito.

12 - Depósitos à

Ordem

2511 - Empréstimos

bancários

€ €€€ €€

Débito Crédito Ativo Passivo

01/01/20N15 1.000.000,00 € 12 2511 0,00 € 0,00 € Obtenção do financiamento

31/03/20N15 9.250,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,20%

31/03/20N15 750,00 € 6918 12 Pagamento dos juros do swap (4,00% - 3,70%)

31/03/20N15 -5.061,02 € --- --- 0,00 € 5.061,02 € Justo va lor do swap potencia lmente desfavorável

31/03/20N15 -5.061,02 € 599 1412 Variação de justo va lor do swap

30/06/20N15 9.375,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,25%

30/06/20N15 625,00 € 6918 12 Pagamento dos juros do swap (4,00% - 3,75%)

30/06/20N15 -3.629,97 € --- --- 0,00 € 3.629,97 € Justo va lor do swap potencia lmente desfavorável

30/06/20N15 1.431,05 € 1412 599 Variação de justo va lor do swap

30/09/20N15 10.000,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,50%

30/09/20N15 0,00 € --- --- Pagamento dos juros do swap (4,00% - 4,00%)

30/09/20N15 0,00 € --- --- Justo va lor do swap potencia lmente neutro

30/09/20N15 3.629,97 € 1412 599 0,00 € 0,00 € Variação de justo va lor do swap

31/12/20N15 10.625,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,75%

31/12/20N15 625,00 € 12 7915 Recebimento dos juros do swap (4,25% - 4,00%)

31/12/20N15 2.434,98 € --- --- 2.434,98 € 0,00 € Justo va lor do swap potencia lmente favorável

31/12/20N15 2.434,98 € 1411 599 Variação de justo va lor do swap

Data Valor ObservaçõesContabilização Swap

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 135

Em 20N16:

Verifica-se que o montante trimestral dos juros do financiamento acrescido ou deduzido dos juros a pagar ou a receber do swap é sempre igual a € 10.000, decorrente a cobertura de risco de taxa de juro. Relativamente à determinação do justo valor do swap (tarefa a cargo do Banco), nas condições estabelecidas para o exemplo supra, obtêm-se da seguinte forma para 31/03/20N16:

JV swap 310320N16 =1.250

(1 +4,50%

4 )3+

1.250

(1 +4,50%

4 )2+

1.250

(1 +4,50%

4 )= 3.667,18 €

Na prática, e meramente a título de exemplo, o cálculo do justo valor do swap para este período, corresponde à atualização dos fluxos previsionais a favor da empresa utilizando a taxa de juro variável, partindo do princípio que esta taxa se manterá até ao final do contrato. Contabilização do Cap de taxa de juro Pela obtenção do financiamento:

Débito Crédito Ativo Passivo

31/03/20N16 11.250,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 1,00%

31/03/20N16 1.250,00 € 12 7915 Recebimento dos juros do swap (4,50% - 4,00%)

31/03/20N16 3.667,18 € --- --- 3.667,18 € 0,00 € Justo va lor do swap potencia lmente favorável

31/03/20N16 1.232,20 € 1411 599 Variação de justo va lor do swap

30/06/20N16 10.000,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,50%

30/06/20N16 0,00 € --- --- Recebimento dos juros do swap (4,00% - 4,00%)

30/06/20N16 0,00 € --- --- 0,00 € 0,00 € Justo va lor do swap potencia lmente neutro

30/06/20N16 3.667,18 € 599 1411 Variação de justo va lor do swap

30/09/20N16 9.375,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,25%

30/09/20N16 625,00 € 6918 12 Pagamento dos juros do swap (4,00% - 3,75%)

30/09/20N16 -619,20 € --- --- 0,00 € 619,20 € Justo va lor do swap potencia lmente desfavorável

30/09/20N16 619,20 € 599 1412 Variação de justo va lor do swap

31/12/20N16 9.125,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,15%

31/12/20N16 875,00 € 6918 12 Pagamento dos juros do swap (4,00% - 3,65%)

31/12/20N16 0,00 € --- --- 0,00 € 0,00 € Justo va lor fina l do swap

31/12/20N16 619,20 € 1412 599 Reconhecimento fina l do justo va lor do swap

31/12/20N16 1.000.000,00 € 2511 12 Pagamento do capita l em dívida

Data Valor ObservaçõesContabilização Swap

2511 - Empréstimos

bancários

12 - Depósitos à

Ordem

€ €€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 136

Pelo pagamento dos juros do financiamento:

Pela amortização do Cap de taxa de juro:

Pelo recebimento dos juros do Cap:

Pela variação de justo valor do Cap de taxa de juro:

6911 - Juros de

financiamentos

obtidos

12 - Depósitos à

Ordem

€ €€

1411 - Outros Inst.

Financeiro -

Derivados -

Potencialmente

favoráveis

6988 - Outros gastos

e perdas de

financiamento -

Outros

€ €€

7915 - Juros obtidos -

de financiamentos

obtidos

12 - Depósitos à

Ordem

€ €€€ €€

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

1411 - Outros Inst.

Financeiro -

Derivados -

Potencialmente

favoráveis

599 - Outras

variações no capital

próprio - Outras

€ €€€ €€€ €€€ €€ €€€€€€€€ €€€ €€€ €€€ €€ €€€€€€€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 137

Pelo pagamento do capital em dívida:

Exemplo de contabilização do Cap de taxa de juro: Uma Empresa contraiu no início do ano 20N15 um financiamento cujo capital será liquidado integralmente no vencimento, ao final do segundo ano (prazo de 2 anos) no montante de € 1.000.000, que vence juros trimestralmente à Taxa Euribor 3 meses em vigor em cada data de pagamento, acrescida de um spread de 3,5%. Prevendo uma subida da Euribor, que na data da obtenção do financiamento era de 0,25%, a Empresa contratou com o Banco um Cap de taxa de juro de 4,15%, pelo mesmo prazo de 2 anos, partindo do princípio que o valor do Cap será reconhecido em partes iguais em cada data de pagamento dos juros.

Por hipótese simplificada, admite-se que nos próximos 2 anos os fluxos financeiros e as contabilizações serão os seguintes, considerando que na data de obtenção do financiamento a expectativa era que ao final do primeiro trimestre a Euribor a 3 meses se situasse nos 0,65% e que no final dos trimestres seguintes não houvesse informação adicional sobre as taxas forward da Euribor a 3 meses:

Em 20N15:

12 - Depósitos à

Ordem

2511 - Empréstimos

bancários

€ €€€ €€

Cap

Débito Crédito Ativo

01/01/20N15 1.000.000,00 € 12 2511 Obtenção do financiamento

01/01/20N15 1.000,00 € 1411 12 1.000,00 € Pagamento do prémio pela aquis ição do Cap de taxa de juro

31/03/20N15 9.250,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,20%

31/03/20N15 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

31/03/20N16 875,00 € --- --- 875,00 € Justo va lor do Cap de taxa de juro

30/06/20N15 9.375,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,25%

30/06/20N15 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

30/06/20N15 750,00 € --- --- 750,00 € Justo va lor do Cap de taxa de juro

30/09/20N15 10.000,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,50%

30/09/20N15 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

30/09/20N15 625,00 € --- --- 625,00 € Justo va lor do Cap de taxa de juro

31/12/20N15 10.625,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,75%

31/12/20N15 250,00 € 12 7915 Recebimento dos juros do Cap (4,25% - 4,15%)

31/12/20N16 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

31/12/20N15 1.473,99 € --- --- 1.473,99 € Justo va lor do Cap de taxa de juro potencia lmente favorável

31/12/20N15 973,99 € 1411 599 Variação de justo va lor do Cap de taxa de juro

Data Valor ObservaçõesContabilização

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 138

Em 20N16:

16.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Cobertura de risco de taxa de juro

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

O artigo 49.º do Código do IRC contém o enquadramento fiscal dos instrumentos financeiros

derivados. Ao nível da contabilidade de cobertura, estabelece que relativamente às operações

cujo objetivo exclusivo seja o de cobertura de fluxos de caixa ou de cobertura do investimento

líquido numa unidade operacional estrangeira, são diferidos os rendimentos ou gastos gerados

pelo instrumento de cobertura, na parte considerada eficaz, até ao momento em que os

gastos ou rendimentos do elemento coberto concorram para a formação do lucro tributável.

Nas restantes situações, concorrem para a formação do lucro tributável, os rendimentos ou

gastos resultantes da aplicação do justo valor a instrumentos financeiros derivados, ou a

Cap

Débito Crédito Ativo

31/03/20N16 11.250,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 1,00%

31/03/20N16 875,00 € 12 7915 Recebimento dos juros do Cap (4,50% - 4,15%)

31/03/20N16 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

31/03/20N16 2.942,03 € --- --- 2.942,03 € Justo va lor do Cap de taxa de juro potencia lmente favorável

31/03/20N16 1.593,03 € 1411 599 Variação de justo va lor do Cap de taxa de juro

30/06/20N16 10.000,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,50%

30/06/20N16 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

30/06/20N16 250,00 € --- --- 250,00 € Justo va lor do Cap de taxa de juro

30/06/20N16 2.567,02 € 599 1411 Variação de justo va lor do Cap de taxa de juro

30/09/20N16 9.375,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,25%

30/09/20N16 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

30/09/20N16 125,00 € --- --- 125,00 € Justo va lor do Cap de taxa de juro

31/12/20N16 9.125,00 € 6911 12 Pagamento dos juros do financiamento com Euribor 3 M 0,15%

31/12/20N16 125,00 € 6988 1411 Amortização do Cap de taxa de juro

31/12/20N16 0,00 € --- --- 0,00 € Justo va lor do Cap de taxa de juro

31/12/20N16 1.000.000,00 € 2511 12 Pagamento do capita l em dívida

Data Valor ObservaçõesContabilização

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 139

qualquer outro ativo ou passivo financeiro utilizado como instrumento de cobertura restrito à

cobertura do risco cambial.

Relativamente às operações cujo objetivo exclusivo seja o de cobertura de justo valor, quando

o elemento coberto esteja subordinado a outros modelos de valorização, são aceites

fiscalmente os rendimentos ou gastos do elemento coberto reconhecidos em resultados, ainda

que não realizados, na exata medida da quantia igualmente refletida em resultados, de sinal

contrário, gerada pelo instrumento de cobertura.

Desde que se verifique uma relação económica incontestável entre o elemento coberto e o

instrumento de cobertura, por forma a que da operação de cobertura se deva esperar, pela

elevada eficácia da cobertura do risco em causa, a neutralização dos eventuais rendimentos ou

gastos no elemento coberto com uma posição simétrica dos gastos ou rendimentos no

instrumento de cobertura, são consideradas operações de cobertura as que justificadamente

contribuam para a eliminação ou redução de um risco real de:

a) Um ativo, passivo, compromisso firme, transacção prevista com uma elevada

probabilidade ou investimento líquido numa unidade operacional estrangeira; ou

b) Um grupo de ativos, passivos, compromissos firmes, transações previstas com uma

elevada probabilidade ou investimentos líquidos numa unidade operacional

estrangeira com características de risco semelhantes; ou

c) Taxa de juro da totalidade ou parte de uma carteira de ativos ou passivos financeiros

que partilhem o risco que esteja a ser coberto.

Só é considerada de cobertura a operação na qual o instrumento de cobertura utilizado seja

um derivado ou, no caso de cobertura de risco cambial, um qualquer ativo ou passivo

financeiro.

Não são consideradas como operações de cobertura:

a) As operações efetuadas com vista à cobertura de riscos a incorrer por outras

entidades, ou por estabelecimentos da entidade que realiza as operações cujos

rendimentos não sejam tributados pelo regime geral de tributação;

b) As operações que não sejam devidamente identificadas e documentalmente

suportadas no processo de documentação fiscal previsto no artigo 130.º, no que se

refere ao relacionamento da cobertura, ao objetivo e à estratégia da gestão de risco da

entidade para levar a efeito a referida cobertura.

Se a substância de uma operação ou conjunto de operações diferir da sua forma, o momento,

a fonte e a natureza dos pagamentos e recebimentos, rendimentos e gastos, decorrentes

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 140

dessa operação, podem ser requalificados pela administração tributária de modo a ter em

conta essa substância.

A não verificação dos requisitos para tipificação da operação como cobertura, determina, a

partir dessa data, a desqualificação da operação como operação de cobertura. Assim, não

sendo efetuada a operação coberta, ao valor do imposto relativo ao período de tributação em

que a mesma se efetuaria deve adicionar-se o imposto que deixou de ser liquidado, ou, não

havendo lugar à liquidação do imposto, deve corrigir-se em conformidade o prejuízo fiscal

declarado. À correção do imposto referida anteriormente são acrescidos juros

compensatórios, exceto quando, tratando-se de uma cobertura de fluxos de caixa ou de

cobertura do investimento líquido numa unidade operacional estrangeira, a operação coberta

seja efetuada em, pelo menos, 80% do respetivo montante.

Em sede de IRC, estas regras fiscais visam permitir o diferimento da tributação nos casos em

que exista efectivamente uma intenção de cobertura, tributando de imediato as situações

especulativas.

Em sede de IRS

Do ponto de vista do Código do IRS, tal como previsto no artigo 5.º, considera-se rendimento

de capitais o ganho decorrente de operações de swaps cambiais, swaps de taxa de juro, swaps

de taxa de juro e divisas e de operações cambiais a prazo. O ganho sujeito a imposto é

constituído:

a) Tratando-se de swaps cambiais ou de operações cambiais a prazo, pela diferença

positiva entre a taxa de câmbio acordada para a venda ou compra na data futura e a

taxa de câmbio à vista verificada no dia da celebração do contrato para o mesmo par

de moedas;

b) Tratando-se de swaps de taxa de juro ou de taxa de juro e divisas, pela diferença

positiva entre os juros e, bem assim, no segundo caso, pelos ganhos cambiais

respeitantes aos capitais trocados.

Nos casos em que haja lugar à cessão ou anulação de um swap ou de uma operação cambial a

prazo, com pagamento e recebimento de valores de regularização, os ganhos respetivos

constituem rendimento de capitais. Há semelhança do que dispõe o artigo 49.º do Código do

IRS, também o artigo 5.º do Código do IRS, com as necessárias adaptações, prevê que estando

em causa instrumentos financeiros derivados, se a substância de uma operação ou conjunto

de operações diferir da sua forma, o momento, a fonte e a natureza dos pagamentos e

recebimentos, rendimentos e gastos, decorrentes dessa operação, podem ser requalificados

pela administração tributária de modo a ter em conta essa substância.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 141

17. Seguro de Crédito

17.1. Introdução

O seguro de crédito é um instrumento disponível às empresas para cobrir o risco de não pagamento de vendas e prestações de serviços faturados a crédito.

O seguro de crédito apresenta as seguintes caraterísticas: Prevenção de risco de cobrança da carteira de clientes; Recuperação das quantias não recebidas de clientes por incumprimento destes

relativamente aos prazos de vencimento das faturas a eles emitidas; Indemnização por parte da seguradora no caso de não pagamento por parte do

cliente. A percentagem a pagar nestes casos varia de acordo com o negociado e contratualizado entre as partes (seguradora e segurado).

17.2. Normativo contabilístico aplicável

O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), publicado através do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, é o atual normativo contabilístico vigente em Portugal. O SNC é constituído por elementos fundamentais, entre eles destacam-se as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), que constituem uma adaptação das normas internacionais de contabilidade (IAS) e as normas internacionais de relato financeiros (IFRS), e garantem os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação das mesmas.

Seguro crédito

Prevenção

Recuperação

Contrato

Indemnização

Incumprimento

Risco de cobrança

O seguro de crédito é uma apólice de seguro que cobre o risco de

não pagamento de vendas a crédito de bens e serviços a clientes

elegíveis.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 142

Em SNC os gastos incorridos com a contratação do seguro de crédito devem ser reconhecidos em fornecimentos e serviços externos, na conta 6263 – seguros. O seguro de crédito será acionado, sempre que um cliente coberto pela apólice entre em incumprimento na data de pagamento. Neste caso, é necessário reconhecer o crédito em mora, e solicitar o pagamento da indemnização. A NCRF que regula esta operação é a NCRF 27 - Instrumentos Financeiros, cujo objetivo é prescrever o tratamento contabilístico dos instrumentos financeiros, designadamente ativos financeiros. Assim, o crédito em mora configura e é considerado um ativo financeiro no termos da alínea c), do parágrafo 5, da NCRF 27, segundo o qual, um ativo financeiro é qualquer activo que seja um direito contratual de receber dinheiro ou outro ativo financeiro de outra entidade. Este instrumento financeiro deve ser mensurado ao custo ou ao custo amortizado deduzido das respetivas perdas de imparidade (parágrafos 12 e 13). Pela contratação do seguro:

Pelo accionamento do seguro:

Exemplo: A empresa Segura Total contratou um seguro de crédito com vista a cobrir o risco de não pagamento de vendas a crédito de bens e serviços aos seus clientes. Esta apólice de seguro de crédito cobre 90% das vendas de bens e serviços até ao limite de 250.000€.

12 - Depósitos à

Ordem6263 - Seguros

€ €€

211 - Clientes gerais217 - Clientes

cobrança duvidosa

€ €€

Débito Crédito Valor Observações

6263 - Seguros 12 - depósitos à ordem 5.000 €

Contratação da apólice de

seguro de crédito cujas

condições cobrem 90% das

vendas de bens e serviços até

ao limite de 250.000€

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 143

Em determinada data, a empresa Segura Total vendeu ao seu cliente, elegível para efeitos de apólice de seguro de crédito, bens no montante de 125 mil euros, cuja data de vencimento era de 90 dias.

Após a data de vencimento, e depois de terem sido tomadas todas as diligências com vista ao recebimento do montante aposto na fatura, a empresa Segura Total acionou o seguro de crédito contratado, e pediu o pagamento da indemnização contratada no montante de 90% do valor da venda.

17.3. Regime fiscal aplicável

Imposto Financiamento

Seguro de crédito

IRC Sujeito

IRS Sujeito

IVA Sujeito

IS Sujeito

IMT Não sujeito

IMI Não sujeito

Em sede de IRC

As indemnizações pegas pelas Seguradoras de Crédito às Empresas, a título de compensação por perdas em dívidas a receber, nos termos previstos nas respetivas apólices de seguro de crédito, consideram-se rendimentos e ganhos tal como previsto no artigo 20.º do Código do IRC, isto, claro está, desde que a Empresa reconheça o gasto ou a perda relativo à dívida incobrável do cliente pela totalidade. Caso contrário, desde que a Empresa reconheça o valor

Débito Crédito Valor Observações

2111 - Clientes gerais

712 - Produtos

acabados e

intermédios

125.000 €

Venda de bens a cliente

elegível na apólice de seguro

de crédito

Débito Crédito Valor Observações

217 - Clientes em mora 2111 - Clientes gerais 125.000 € Crédito em mora

12 - Depósitos à ordem 217 - Clientes em mora 112.500 € Indemnização do crédito em

mora

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 144

da indemnização como um abatimento à dívida do cliente, sem afetar resultados, não à lugar ao reconhecimento de qualquer rendimento para efeitos fiscais, mas ao mesmo tempo a perda relacionada com a dívida incobrável é apenas reconhecida pela parte não coberta pelo seguro.

No entanto, nos termos previstos no artigo 18.º do CIRC, em matéria de periodização do lucro tributável, caso a Empresa reconheça num determinado exercício a perda relativa à dívida incobrável de um cliente para o qual exista cobertura de seguro de crédito, deve também reconhecer no mesmo exercício o valor da indemnização, ainda que esta venha a ocorrer só no exercício seguinte.

Já o prémio a pagar à Seguradora de Crédito é considerado um gasto nos termos previstos no artigo 23.º do CIRC, tal como a imparidade a reconhecer pela parte não coberta. Neste domínio, tendo em conta que o seguro de crédito não constitui uma obrigatoriedade, mas antes uma decisão de gestão da Empresa, não tem aplicabilidade o que dispõe o artigo 23.º-A do CIRC, o qual não aceita como gasto fiscal as indemnizações pela verificação de eventos cujo risco seja segurável. Significa que uma Empresa que não tenha seguro de crédito pode deduzir fiscalmente, e na integra, as perdas por imparidade ou dívidas incobráveis, desde que respeite a disciplina prevista no CIRC, na medida em que este tipo de seguro é de realização facultativa5.

As regras para dedução fiscal das perdas por imparidade em dívidas a receber encontram-se elencadas nos artigos 28.º-A a 28.º-C do CIRC, prevendo-se, no caso das Empresas em geral, que não são considerados de cobrança duvidosa os créditos cobertos por seguro, com exceção da importância correspondente à percentagem de descoberto obrigatório, ou por qualquer espécie de garantia real. Para as Empresas do Setor Bancário existe também uma disposição específica, constante no artigo 28.º-C, que não aceita fiscalmente o montante anual acumulado das perdas por imparidade e outras correções de valor para risco específico de crédito e para risco-país, no caso de créditos garantidos por contratos de seguro de crédito ou caução, com exceção da importância correspondente à percentagem do descoberto obrigatório.

Já as regras para dedução fiscal dos créditos incobráveis encontram-se descritas no artigo 41.º do CIRC, sendo a incobrabilidade reconhecida apenas pela parte não coberta por seguro.

Em sede de IRS

Relativamente aos sujeitos passivo de IRS que aufiram rendimentos empresariais e ou profissionais, e que não sejam tributados pelo regime simplificado, aplicam-se as mesmas regras relativamente ao enquadramento dos rendimentos e ganhos e dos gastos e perdas em matéria de seguros de crédito, na medida em que o artigo 32.º do Código do IRS contém uma remissão para o Código do IRC, segundo a qual, na determinação dos rendimentos empresariais e profissionais não abrangidos pelo regime simplificado, aplicam-se as regras estabelecidas no Código do IRC, com algumas exceções e com as adaptações resultantes do CIRS.

5 A título de exemplo e a contrário, caso uma Empresa não tenha seguro automóvel contra danos terceiros, não lhe serão aceites

fiscalmente eventuais indemnizações a pagar a terceiros, na medida em que se trata de eventos cujo risco é obrigatoriamente segurável.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 145

Em sede de IVA

Nos termos do n.º 28 do artigo 9.º do Código do IVA, estão isentas do imposto as operações de seguro e resseguro, bem como as prestações de serviços conexas efetuadas pelos corretores e intermediários de seguro. Significa que os prémios a pagar referentes às apólices de seguros de crédito, são isentos de IVA (sujeitos a Imposto do Selo). No entanto, alguns serviços debitados pelas Seguradoras de Crédito, como sejam as despesas de recuperação das dívidas, já estão sujeitas a IVA nos termos gerais, por terem enquadramento no artigo 4.º enquanto prestações de serviços.

A temática da dedução de IVA respeitante a créditos considerados incobráveis encontra-se prevista no artigo 78.º (para os créditos vencidos até 31/12/2012 e considerados incobráveis até aquela data) e nos artigos 78.º-A a 78.º-D (para os créditos vencidos a partir de 01/01/2013), todos do Código do IVA. Dispõe o artigo 78.º-A do CIVA que não são considerados créditos incobráveis ou de cobrança duvidosa os créditos cobertos por seguro, com exceção da importância correspondente à percentagem de descoberto obrigatório, ou por qualquer espécie de garantia real.

Em sede de Imposto do Selo

Nos termos do artigo 2.º do Código do Imposto do Selo (CIS), são sujeitos passivos do imposto as Empresas seguradoras relativamente à soma do prémio do seguro, custo da apólice e quaisquer outras importâncias cobradas em conjunto ou em documento separado, bem como às comissões pagas a mediadores, líquidas de imposto, considerando-se constituída a obrigação tributária nas apólices de seguros, no momento da cobrança dos prémios (artigo 5.º do CIS). Já o encargo do imposto, previsto no artigo 3.º do CIS, incumbe aos titulares do interesse económico, considerando-se nos seguros, o tomador e, na atividade de mediação, o mediador.

No âmbito das isenções subjetivas previstas no artigo 6.º do CIS, são isentos de imposto do selo, quando este constitua seu encargo, as pessoas coletivas de utilidade pública administrativa e de mera utilidade pública, assim como as instituições particulares de solidariedade social e entidades a estas legalmente equiparadas.

De acordo com o previsto no artigo 22.º do CIS, as taxas do imposto são as constantes da Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS), aplicando-se aos Seguros a verba 2 e ao caso concreto dos seguros de crédito aplica-se a taxa de 5% prevista na verba 22.1.2 com a seguinte redação:

22.1 Apólices de seguros - sobre a soma do prémio do seguro, do custo da apólice e de quaisquer outras importâncias que constituam receita das empresas seguradoras, cobradas juntamente com esse prémio ou em documento separado:

22.1.2 Seguros dos ramos «Acidentes», «Doenças» e «Crédito» e das modalidades de seguro «Agrícola e pecuário» 5%.

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 146

18. Referências bibliográficas

Banco Santander Totta – Opção de Taxa de Juro (CAP)

NCRF’s publicadas através do Aviso 15655/2009, de 7 de setembro no seguimento da

aprovação do SNC pelo Decreto-Lei 158/2009, de 13 de julho

CSC - Código das Sociedades Comerciais

CIS – Código do Imposto do Selo

CIRC – Código do Imposto Sobre Rendimento de Pessoas Coletivas

CIRS – Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares

CIVA – Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado

CIMT – Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões onerosas de Imóveis

CIMI – Código do Imposto Municipal sobre Imóveis

Sistema de Normalização Contabilística - Teoria e Prática, de Gomes, João e Pires,

Jorge – Ano 2010

SNC - Casos Práticos e Exercícios Resolvidos, Volume 1 e 2, de Almeida, Rui e outros –

Ano 2010

Sistema de Normalização Contabilística Explicado, de Rodrigues, João – Ano 2009

Instrumentos Financeiros Derivados – Enquadramento Contabilístico e Fiscal, de Correia, Maria Luísa, Universidade Católica Editora – Ano 2000

Sites:

Banco Santander Totta – Opção de Taxa de Juro (CAP)

CNC – Comissão de Normalização Contabilística

Banco de Portugal

IAPMEI

CMVM – Comissão de Mercado de Valores Mobiliários

OTOC – Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas

OROC – Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

Portal das Finanças

Portugal 2020

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 147

Glossário

AT – Autoridade tributária

BdP - Banco de Portugal

CSC - Código das Sociedades Comerciais

CIS – Código do Imposto do Selo

CIRC – Código do Imposto Sobre Rendimento de Pessoas Coletivas

CIRS – Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares

CIVA – Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado

CIMT – Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões onerosas de Imóveis

CMVM – Comissão Mercados Valores Mobiliários

CIMI – Código do Imposto Municipal sobre Imóveis

DL – Decreto-Lei

IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis

IMT – Imposto municipal sobre as Transmissões onerosa de imóveis

IRC – Imposto sobre o Rendimento da Pessoas Coletivas

IRS – Imposto sobre o rendimento das Pessoas Singulares

IS – Imposto do Selo

NCRF – Norma Contabilística e de Relato Financeiro

OROC – Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

OTOC – Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas

ROC – Revisor Oficial de Contas

SNC – Sistema de Normalização Contabilistico

TOC – Técnico Oficial de Contas

UE – União Europeia

ES T U D O SO LU Ç Õ E S F INA NC IAME NTO PA RA EMPRE SA S

AIP – ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA PÁGINA | 148

Título

Mercados e Financiamento

Data

Janeiro 2015

Promotor

AIP/CCI – Associação Industrial Portuguesa / Câmara de Comércio e Indústria Praça das Indústrias Apartado 3200 EC Junqueira

1301 – 918 Lisboa | Portugal

Equipa Técnica

Célia Nogueira João Gomes João Nunes Jorge Pires

Moneris – Serviços de Gestão, S.A. Centro Empresarial Arquiparque Rua Dr. António Loureiro Borges, 1, 2.º 1495-131 Algés | Portugal