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 APRESENTAÇÃO

“Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos’” (Lc 11,1). E

em resposta a este pedido, o Senhor confiou à Seus discípulos e à Sua Igreja a oraçãocristã fundamental, uma verdadeira síntese do Evangelho.

Esta oração que nos vem de Jesus é realmente única: ela é “do Senhor”. Pelas palavras desta oração, o Filho único nos dá as palavras que o Pai Lhe deu; Ele é oMestre de nossa oração. Por outro lado, como Verbo encarnado, Ele conhece em Seucoração de homem as nossas necessidades e no-las revela; é o Modelo de nossa oração.

ão há oração mais importante do que o Pai-Nosso, porque brotou do coração de Jesus.Jesus ensinou aos Apóstolos o que é mais importante pedir na oração do Pai-Nosso. O papa Bento XVI, no seu livro Jesus de Nazaré I , disse: “O Pai-Nosso provém da oração

 pessoal de Jesus, do diálogo do Filho com o Pai.” Da intimidade de Jesus com o Painasceu o Pai-Nosso. Então, é fundamental fazer dela a nossa oração principal,desdobrando todo o seu valioso sentido.

Santo Tomás de Aquino disse: “A oração dominical (Pai-Nosso) é a mais perfeita dasorações. Nela não só pedimos tudo quanto podemos desejar corretamente, mas aindasegundo a ordem em quem convém desejá-lo. De modo que esta oração, não só nosensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos.” E Santo Agostinho completadizendo: “O Pai-Nosso é a síntese do Evangelho: ‘Percorrei todas as orações que seencontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja

incluído na Oração do Senhor’”(Ep. 130).Os santos se debruçaram sobre o Pai-Nosso. Santa Teresa de Ávila meditou

 profundamente suas palavras, e o mesmo fizeram muitos outros santos. Tertuliano(†220), de Cartago, repetiu: “A Oração dominical é realmente o resumo de todo oEvangelho. Cada qual pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações conforme as suasnecessidades, mas começando sempre pela Oração do Senhor, que permanece a oraçãofundamental” (Or. 1;10).

O nosso Catecismo ensina:

O Sermão da Montanha é doutrina de vida, a Oração do Senhor é oração, mas em ambos o Espírito doSenhor dá forma nova aos nossos desejos, isto é, a estas moções interiores que animam nossa vida.

Jesus nos ensina esta vida nova por suas palavras e nos ensina a pedi-la pela oração. Da retidão de

nossa oração dependerá a retidão de nossa vida em Cristo (§2764).

São João Crisóstomo lembra-nos: “O Senhor nos ensina a rezar nossas orações emcomum por todos os nossos irmãos. Pois não diz ‘meu Pai’ que estás nos céus, mas‘nosso’ Pai, a fim de que nossa oração seja, com um só coração e uma só alma, por todo

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o Corpo da Igreja” (Hom. in Mt 19,4). É a oração da comunidade cristã, rezada emtodas as missas e celebrações litúrgicas. Nesta fé inabalável em Deus Pai, brota em nós aesperança que anima cada um dos sete pedidos que exprimem os gemidos do tempo presente, este tempo de paciência e de espera durante o qual “ainda não se manifestou oque nós seremos” (1Jo 3,2).

A Oração dominical é a oração da Igreja por excelência. É parte integrante dasgrandes Horas do Ofício Divino e dos sacramentos da iniciação cristã. Por tudo isso, emuito mais, precisamos meditar profundamente o Pai-Nosso e deixar Deus Pai falar emnosso coração como falava com Jesus. Nas páginas que se seguem você poderáaprofundar o sentido de cada um dos sete pedidos que Jesus apresenta e tirar daí grande proveito espiritual.

Que Jesus conceda a todos que o lerem a graça de se enriquecerem em sua vidaespiritual.

Prof. Felipe Aquino

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MEDITANDO O PAI-NOSSO

 A oração dominical (Pai-Nosso) é a mais perfeita das orações. Nela não só pedimos tudo quanto podemosdesejar corretamente, mas ainda segundo a ordem em quem convém desejá-lo. De modo que esta oração, não só

nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos.

(Santo Tomás de Aquino)

O Catecismo diz:

A oração dominical é a mais perfeita das orações, […] nela, não só pedimos tudo quanto podemos

desejar corretamente, mas ainda segundo a ordem, em que convém desejá-lo. De modo que esta oração

não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos (§2363).

 No Pai-Nosso Jesus revela que conhece as nossas necessidades e as revela a nós. Éuma oração da comunidade, pois não dizemos “Meu Pai”, mas “Pai-Nosso”.

É Jesus quem nos dá a ousadia de chamar Deus de Pai, porque só Ele, “depois de ter realizado a purificação dos pecados (Hb 1,3), pode nos introduzir diante da face do Pai:Eis-me aqui com os filhos que Deus me deu” (Hb 2,13). Chamar a Deus de Pai é aoração do Espírito Santo em nós. “Não recebestes um espírito de escravidão paraviverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Abba!Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus”(Rm 8,15-16). Isto nos leva a ter diante do Pai uma simplicidade sem rodeios, umaconfiança filial, uma segurança jovial e uma audácia humilde, porque tem certeza de ser amado (cf. CIC §2778).

Quem é o Pai? Jesus disse que “ninguém conhece o Pai senão o Filho e a quem oFilho quiser revelar” (Mt 11,27), especialmente aos pequeninos (Mt 11,25).Orar ao Pai é entrar no Seu mistério, como ele é, como Jesus o revelou. A glória de

Deus é que nós O reconheçamos como Pai. Demos-Lhe graças por nos ter revelado issoe ter-nos concedido crer Nele e por sermos habitados por Ele (1Cor 3,16). Ele nos fezrenascer para a Sua vida, adotando-nos como filhos em Jesus Cristo – “filhos no Filho” –  pelo Batismo. Assim nos incorporou no Corpo do Seu Filho, e pela Unção do EspíritoSanto fez de nós cristãos. Por isso podemos chamar Deus de Pai. Pode haver alegria ehonra maiores? Isto exige de nós uma atitude de filhos, e não de escravos ou

mercenários.São Cipriano de Cartago (210-258), no seu Tratado sobre a Oração do Senhor , diz:

O homem novo, renascido e, por graça, restituído a seu Deus, diz, em primeiro lugar, Pai!, porque já

começou a ser filho. “Veio para o que era seu e os seus não o receberam. A todos aqueles que o

receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aqueles que creem em seu nome” (Jo

1,12). Quem, portanto, crê em seu nome e se fez filho de Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar 

graças e por confessar-se filho de Deus ao declarar ser Deus o seu Pai nos céus.

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Brilhantemente, São Tomás de Aquino sintetiza a essência da oração que o Senhor nos ensinou, e que veremos com mais profundidade nas próximas páginas deste livro.

Segundo o “doutor angélico”, o Pai-Nosso contém todas as coisas que devemosdesejar e todas as coisas das quais devemos fugir. Entre as coisas desejáveis, o que maisse deseja é o que mais se ama, isto é, a Deus, e por isso primeiramente pedimos a glória

de Deus, quando dizemos: “SANTIFICADO SEJA O TEU NOME”. E de Deus sãoesperadas três coisas – que alcancemos a vida eterna: “VENHA A NÓS O TEUREINO”; que se cumpra a vontade de Deus e Sua justiça: “SEJA FEITA TUAVONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU”; e que tenhamos as coisasnecessárias para a vida: “O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE”.

As coisas que devem ser evitadas e das quais devemos fugir são as contrárias ao bem. Assim, o Pai-Nosso nos ensina a evitar o que é contrário à glória de Deus, e a estanenhum mal é contrário; à vida eterna, e a ela se opõe o pecado, porque ela se perde por causa do pecado, e por isso para renunciá-lo dizemos: “PERDOAI NOSSAS OFENSAS,

ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO”; à justiça e às boas obras, pois a estas se opõem as tentações, pois as tentações nos impedem de fazer o bem, e para apartá-las pedimos: “E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO”; e por último, às coisas que nos são necessárias, e a isto se opõem as adversidades e astribulações, e para apartá-las pedimos: “MAS LIVRAI-NOS DO MAL. AMÉM”.

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 AS EXIGÊNCIAS DO PAI-NOSSO

Oremos, portanto caríssimos irmãos, como Deus, o nosso Mestre, nos ensinou! É uma oração familiar eíntima quando oramos a Deus com aquilo que é Seu, quando fazemos elevar aos Seus ouvidos a oração deCristo. Possa o Pai reconhecer as palavras do Seu Filho quando dissermos a oração!... Reconheçamos que

estamos diante do Seu olhar!(São Cipriano de Cartago)

Sabemos que esta é a “Oração perfeita”, pois saiu do coração de Jesus quando umdos discípulos pediu-Lhe que os ensinasse a rezar (Lc 11,1). São sete pedidos perfeitosao Pai. Saudamos a Deus como Pai – uma ousadia de amor – e Lhe fazemos três pedidos para a Sua Glória e realização de Sua Santa vontade, e mais quatro pedidos paranossas necessidades.

O Pai-Nosso é o resumo de todo o Evangelho, como disse Santo Agostinho:“Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possaisencontrar nelas algo que não esteja incluído na Oração do Senhor.”

 No Sermão da Montanha e no Pai-Nosso, a Igreja ensina que o Espírito Santo dáforma nova aos nossos desejos, o que anima a nossa vida. De um lado Jesus nos ensinauma “vida nova”, por palavras, e por outro lado nos ensina a pedi-la ao Pai na oração, para podermos vivê-la.

É a oração dos filhos de Deus, que deve ser rezada com o coração, na intimidadecom o Pai, para que se torne em nós “espírito e vida”. Isto é possível porque o Paienviou aos nossos corações o Espírito do Seu Filho que clama em nós: “Abba, Pai” (Gl

4,6), e nos fez Seus filhos adotivos em Jesus Cristo.De pecadores que somos, mas perdoados em Cristo, podemos levantar os olhos parao Pai e dizer “Pai-Nosso”.

Crer que Deus é nosso Pai tem consequências enormes para toda a nossa vida eexige de nós algumas atitudes:

1. Conhecer a majestade e a grandeza de Deus. “Deus é grande demais para que o possamos conhecer” (Jó 36,26). Santa Joana D´Arc disse: “Deus deve ser o primeiro aser servido.”

2. Viver em ação de graças. Tudo o que somos e possuímos vem Dele. “Que é que

 possuis que não tenhas recebido?” (1Cor 4,7). “Como retribuirei ao Senhor todo o bemque Ele me fez?” (Sl 116,12).3. Confiar em Deus em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. “Buscai em

 primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo”(Mt 6,33).

4. Conversão contínua e vida nova. Desejo e vontade de assemelhar-se a Ele, poisfomos criados à Sua semelhança.

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5. Se comportar como filho e não como mercenário que age por interesse ou escravoque obedece por temor.

6. Contemplar sem cessar a beleza do Pai e deixá-la impregnar a alma.7. Cultivar um coração de criança, humilde e confiante no Pai, pois é aos pequeninos

que Ele se revela.

8. Conversar com Deus como seu próprio Pai, familiarmente, com ternura e piedade.9. Ter a esperança de alcançar o que Lhe pede na oração. Como Ele pode nos

recusar alguma coisa se nos aceitou adotar como filhos?10. Conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens, todos criados

à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27).11. Desapegar-se das coisas que nos desviam Dele. “Meu Senhor e meu Deus, tirai

de mim tudo o que me afasta de vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo que meaproxima de vós. Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-meinteiramente a vós” (São Nicolau de Flue).

O Pai nos ama tanto que não nos quer perder de forma alguma para os falsos deusesque querem Lhe roubar a glória e o nosso coração. Por isso o Pai nos corrige com“correção paterna” (cf. Hb 12,4s). Nem sempre entendemos os Seus mistérios, mas Elesabe do que precisamos e conduz a nossa vida com amor.

Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, disse: “Tudo procede do amor, tudo estáordenado à salvação do homem. Deus não faz nada que não seja para esta finalidade.”

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PAI-NOSSO: DEUS É NOSSO PAI!

 Na oração do Senhor, dizemos todos em conjunto: “Pai-Nosso”. Diz o mesmo o imperador, o pedinte, oescravo, o senhor. São todos irmãos, pois têm o mesmo Pai.

(Santo Agostinho)

Jesus revelou-nos algo maravilhoso: Deus é nosso Pai! Não é patrão e juiz. Deus é oSeu Pai e o Pai dos cristãos, dos irmãos que o Pai Nele adotou pelo Batismo. São Paulousa a expressão “Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15,6; 2Cor 1,3;11,31; Ef 1,13;Cl 1,3). Jesus diz “Meu Pai e vosso Pai” (Jo 20,17; Mt 7,21; Mt 5,16).

Jesus é muito claro nos Evangelhos ao mostrar a Sua filiação a Deus Pai (Lc 2,49;Mc 13,32). Ele declara-se “o enviado do Pai” (Jo 3,17.34;5,23.36.37;6,44,57); afirmaque sua pregação são palavras do Pai (Jo 3,34;12,49-50;14,10) e dá testemunhostambém do Pai (Jo 5,19.36;9,4).

As orações de Jesus começam com “Pai”, para louvar (Mt 11,25-26), na invocaçãodurante a agonia no Getsêmani (Mt 26,39.42), na súplica na Cruz (Lc 23,34.36).

Jesus se dirige a Deus com a expressão carinhosa “Abba” (“Papai, meu Pai”) (Mc14,16). É uma linguagem usada pelas crianças na família. Ao chamar Deus de “Abba”,Jesus demonstrou o relacionamento íntimo entre Ele e Deus, a familiaridade, a fidelidade,o respeito, a disposição que Ele possui de servir o Pai e fazer Sua vontade. Os judeusantigos nunca ousaram chamar a Deus de Pai, “Abbá”.

Deus nos criou à imagem de Seu Filho e quer que sejamos semelhantes a Ele; tantoque Ele tornou-se o primogênito de todos os irmãos e irmãs (Rm 8,29) e colocou em

nossos corações o Espírito de Seu Filho que clama: “Abbá, Pai” (Gl 4,6).Deus nos escolheu para sermos Seus filhos adotivos através de Jesus Cristo (Ef 1,6).

O Espírito Santo testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus, e nós quetemos as primícias do Espírito, gememos interiormente, “esperando a adoção comofilhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8,16.23).

É pela fé e pelo Batismo que nós nos tornamos filhos de Deus. “Vós todos sois filhosde Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3,26). “Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que creem em seu nome” (Jo 1,12). Assim, nostornamos irmãos de Cristo, através de quem podemos dirigir-se a Deus como Pai

“nosso”. Os catecúmenos, na antiguidade, não rezavam o Pai-Nosso antes de serem batizados.

Jesus, o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8,29), chamou Seus Apóstolos deirmãos (cf. Mt 28,10; Jo 20,17). Quando fazemos comunhão com o Pai, fazemostambém com Jesus e com o Espírito Santo, porque Deus é indivisível e consubstancial,uma só natureza.

Portanto, quando adoramos o Pai, adoramos também a Jesus e ao Espírito Santo. A

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expressão “Pai-Nosso” revela que a Igreja é a nova comunhão com Deus, unida ao Filhoúnico, primogênito entre muitos irmãos (cf. Rm 8,29). Infelizmente há muitas divisõesentre os cristãos, mas Deus quer unir a todos debaixo de “um só rebanho e um sóPastor” (Jo 10,16). Se o Pai é único, a família tem que ser uma só e unida.

Rezar o Pai-Nosso exige que cada pessoa saia do individualismo; não podemos

excluir ninguém. Precisamos nos sentir unidos a toda a Igreja no mundo todo, poissomos todos irmãos. É toda a realidade do Corpo Místico de Cristo. “Vós sois o corpode Cristo, e cada um de sua parte é um dos seus membros” (1Cor 12,27).

Quanto mais os homens se afastam de Deus Pai, de Cristo e da Igreja, mais setornam individualistas e egoístas, e mais se dividem, fazem guerras, e não se ajudammutuamente. Há fome no mundo e muitas outras carências, porque falta a consciência deque temos um mesmo Pai e somos todos irmãos. Sabemos que hoje sobra alimento nomundo, o desperdício é enorme, e, no entanto, muitos passam fome. A fome humana égerada pela fome de Deus.

Somente quando toda a humanidade rezar, de coração aberto e consciente, o Pai-osso, poderá haver paz no mundo, comida para todos, alimento, casa, educação e

fraternidade verdadeira. Por isso Jesus insistiu tanto em nos ensinar a chamar Deus dePai-Nosso.

O encontro com Deus, nosso Pai, o Senhor do céu e da terra, e o nosso nada,desperta a consciência de que Deus nos chamou a partir do nada e de que estamos dianteDele, desfrutando do banquete da vida, não por força de nossas obras ou de nossasvirtudes, mas de Seu puro amor por nós.

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PAI... “QUE ESTAIS NO CÉU”

 Af eiçoai-vos às coisas do alto e não às da Terra!(Cl 3,2)

O céu não é um lugar, um espaço, mas uma maneira de ser, de existir divino; é acomunhão com Deus, a majestade infinita.

Deus está em toda parte, é onipresente, Ele está para além de tudo. E, sobretudo,está na Eucaristia, está em nós quando estamos na graça santificante. Os santos falam do“céu de nossa alma”, onde adoram Deus sem cessar. “Sois o templo do Espírito Santo”(1Cor 3,16), disse São Paulo. Onde Deus está, aí está o céu.

Santa Teresa dizia: “Onde está o Rei está toda a corte.” Em sua oração a beataElisabete da Trindade rezava:

Apaziguai-me a alma, fazei dela o Vosso céu, Vossa morada preferida, o lugar do Vosso repouso: que aí jamais Vos deixe só... Encontrei o meu Céu na terra, pois o Céu é Deus e Deus está na minha alma. No

dia em que O compreendi, tudo se tornou luminoso para mim e eu gostaria de confiar este segredo,

 bem baixinho, àqueles que amo.

Em nossa alma Ele é como disse Isaías, “um Deus escondido” (Is 45,15), mas real,vivo, presente. Santa Ângela de Foligno disse: “O abismo da imensidade de Deus seentretém com o abismo do nada da criatura, e Deus abraça este nada.”

Jesus falou várias vezes do “Pai que está no céu” (Mt 5,16.45) e do “Pai celeste”(Mt 5,48). Para os evangelistas o céu é o trono de Deus (Mt 5,34), de onde Sua voz é

ouvida (Mc 1,11). O Espírito Santo desce do céu (Mc 1,10; At 1,12). Jesus é do céu,veio do céu (Jo 6,38), e é do céu que um dia Ele descerá novamente (1Ts 4,16). Osanjos sempre vêm do céu (Lc 2,13-15). A recompensa do cristão está no céu, o lar (2Cor 5,1), a bênção (Ef 1,3), a recompensa (Mt 5,12), a esperança (Cl 1,5) e herança (1Pd1,4). Céu é uma realidade divina, é onde Deus está (Mt 3,2;16,1s).

Dizer que o Pai está no céu  significa dizer que a Casa do Pai é a nossa morada,nossa Pátria. Jesus veio do céu, para nos levar para lá, por meio de Sua Cruz, Morte,Ressurreição e Ascensão. Com Ele o povo de Deus já está assentado no céu. São Paulofala que “estamos escondidos com Cristo em Deus” e que “gememos pelo desejo ardente

de revestir por cima de nossa morada terrestre a nossa habitação celeste” (2Cor 5,2).É Jesus quem nos introduz no céu. Diante da sarça ardente, foi dito a Moisés: “Não

te aproximes daqui; tira as sandálias” (Ex 3,5). Só Jesus podia transpor o limiar daSantidade divina. E Ele o fez por Sua Paixão, e “depois de ter realizado a purificação dos pecados” (Hb 1,3), nos introduz diante da Face do Pai: “Eis-me aqui com os filhos queDeus me deu” (Hb 2,13). Só Jesus pode, com Seu Sangue, rasgar o véu do Templo enos introduzir no céu.

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 Fomos criados para o Céu. Ele é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva em Deus. São Paulofalava do Céu com grande alegria: “Nós somos cidadãos do Céu! É de lá que tambémesperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter 

a Si toda a criatura” (Fl 3,20-21). No Céu seremos homens e mulheres como Deus quis desde a origem, “sua imagem e

semelhança” (Gn 1,26); já que fomos “predestinados a ser conforme à imagem do seuFilho”. Seremos a “glória de Deus”, uma vez que Ele nos criou para “sermos acelebração de sua glória” (Ef 1,5.9-11).

A Igreja chama de Céu, a vida de comunhão perfeita com a Santíssima Trindade,com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados (cf. CIC, §1024). O Céu é acomunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Cristo(cf. CIC, §1026).

Jesus disse que a vida eterna consiste em “conhecer a Deus” e que vai preparar-nosum lugar no céu: “Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a Ti, um só Deusverdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste” (Jo 17,3). Esse “conhecer” implica emcomunhão profunda.

“Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que,onde eu estou, também vós estejais” (Jo 14,3).

São Paulo disse: “O que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem ocoração humano imaginou (Is 64,4) são os bens que Deus tem preparado para aquelesque o amam” (1Cor 2,9).

“O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho” (Mt26,2). “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta,entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo. Escreve: Felizes osconvidados para a ceia das núpcias do Cordeiro. Disse-me ainda: Estas são palavrasautênticas de Deus” (Ap 3,20;19,9).

A Igreja chama de “visão beatífica” a contemplação de Deus no Céu pelo homem,quando Ele mesmo se revela ao homem e o capacita para contemplar a sua glória celeste.São Cipriano de Cartago (†258) dizia:

Qual não será tua glória e tua felicidade: ser admitido a ver a Deus, ter a honra de participar das alegriasda salvação e da luz eterna na companhia de Cristo, o Senhor teu Deus, [...] desfrutar no Reino dos

Céus, na companhia dos justos e dos amigos de Deus, as alegrias da imortalidade adquirida (Epístola

58,10).

A felicidade do Céu consiste em possuirmos a Deus e sermos possuídos por Elenuma união tão absoluta e completa que jamais poderemos imaginar aqui nesta vida. Eesta felicidade será eterna, isto é, um instante “que não passa”, um agora sem fim; não

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acabará nunca. Estaremos de posse do Amor.

Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo, e ele, Deus-com-

eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda a lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem

luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram! (Ap 21,3-4).

O que se faz no Céu? O Catecismo ensina: “Na glória do Céu, os bem-aventuradoscontinuam a cumprir com alegria a vontade de Deus em relação aos outros homens e àcriação inteira. Já reinam com Cristo; com Ele ‘reinarão pelos séculos dos séculos’” (Ap22,5; §1029).

Elisabete da Trindade dizia:

 No céu cada alma é um “louvor de glória” ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, pois cada alma está

fixada no amor puro, não vivendo mais da sua própria vida, mas da vida de Deus... No Céu da glória os

 bem-aventurados não descansam de dia nem de noite, dizendo: “Santo, Santo, Santo, o Senhor Todo-

 poderoso... e, prostrando-se adoram Aquele que vive pelos séculos dos séculos” (Ap 4,8.10). No Céu

da alma o louvor de glória começa, desde já, a função que tem na eternidade.

Os santos ansiavam pelo Céu e diziam como Santa Teresinha: “Tenho sede do Céu,dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Deus sem restrições. Sinto que vou entrar no repouso... mas sinto principalmente que minha missão vai começar, minha missão defazer amar o Bom Deus como O amo. Vou passar meu Céu na terra...”

O livro do Apocalipse nos dá algumas imagens do Céu:

 Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor é o seu templo, assim como o Cordeiro. A cidade

não necessita de sol nem de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o

Cordeiro. As nações andarão à sua luz, e os reis da terra levar-lhe-ão a sua opulência. As suas portasnão fecharão diariamente, pois não haverá noite... Nela não entrará nada de profano nem ninguém que

 pratique abominações e mentiras, mas unicamente aqueles cujos nomes estão inscritos no livro da vida

do Cordeiro (Ap 21,22-27).

 Não haverá aí nada execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Seus servos lhes

 prestarão um culto. Verão a sua face e o seu nome estará nas suas frontes. Já não haverá noite, nem se

 precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão de reinar pelos séculos

dos séculos (Ap 22,1-5).

Santo Agostinho dizia que no Céu “serás insaciavelmente saciado com a verdade”.o Céu todos estarão plenamente saciados por Deus, cada um em sua dimensão,

segundo a intensidade com que amou a Deus e aos irmãos nesta vida. Os santos dizemque na eternidade há níveis diferentes de glória, embora todos estejam saciados.

Acima de tudo, o Céu é a intimidade com Deus; aquela que Adão e Eva tinham noParaíso e que perderam. “Ao vencedor farei sentar sobre o meu trono e eu e meu Paisentaremos em seu trono” (Ap 3,21). É possível intimidade maior? “Ao que vencer dareido maná escondido e dar-lhe-ei uma pedrinha branca. Nela está escrito o nome novo que

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ninguém conhece senão aquele que a recebe” (Ap 2,17).Falando do Céu disse Santo Agostinho: “Ali descansaremos e veremos. Veremos e

amaremos. Amaremos e louvaremos. Eis a essência do fim sem fim. Pois que fim maisnosso que chegar ao reino que não terá fim?” (A Cidade de Deus, 30,5).

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SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME

O nome do Deus único deve tornar-se cada vez mais aquilo que é: um nome de paz e um mandamento de paz.

(São João Paulo II)

Depois de nos colocarmos na presença de Deus, nosso Pai, que está no céu, paraadorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, Jesus nos ensinou a fazer sete pedidos, sete bênçãos. Ostrês primeiros, para buscar a Glória do Pai; os quatro seguintes, por causa de nossamiséria suplicarmos a Sua Graça. “Um abismo grita a outro abismo” (Sl 42,8), diz osalmista. O abismo da nossa miséria clama pela majestade do Pai.

O primeiro pedido nos leva em direção a Ele: Vosso Nome, Vosso Reino, VossaVontade! É próprio do amor pensar primeiro naquele que amamos. Em cada um destestrês pedidos não falamos de nós mesmos, mas do que se apodera de nós, que é o desejo

da Glória do Pai: “Seja santificado o Vosso Nome!”.O Catecismo explica que o termo “santificar” deve ser entendido no sentido de

“reconhecer como santo, tratar de maneira santa”. Na adoração, esta invocação é àsvezes compreendida como um louvor e uma ação de graças... Pedir-Lhe que Seu Nomeseja santificado nos envolve na Sua decisão que “nos escolheu para sermos santos eirrepreensíveis diante de seus olhos” (Ef 1,4).

 No Sermão da Montanha Jesus deixou claro que devemos fazer brilhar a nossa luzdiante dos homens, com boas obras, e “glorifiquem o vosso Pai que está no céu” (Mt5,16).

A Santidade de Deus é o Seu mais profundo mistério. A Escritura chama de Glória, airradiação de sua Majestade manifestada na criação e na história. Ao criar o homem “àsua imagem e semelhança” (Gn 1,26), Deus o  coroa de glória; mas, pecando, o homemficou privado da Glória de Deus. Sendo assim, Deus vai manifestar Sua Santidade a fimde restaurar o homem “segundo a imagem de seu Criador” (Cl 3,10). O Pai deseja quecada filho seja “conforme a imagem do Seu Filho” (Rm 8,29), que é Santo.

A partir da Aliança que Deus fez com Seu povo no Sinai, este povo é “Seu” e deveser uma “nação santa” (ou consagrada, em hebraico) porque o Nome de Deus “habitanele”. O nome de Deus o representa e santifica Seu povo.

O povo de Deus profanou o Seu nome entre as nações, se entregando ao culto dosdeuses dos pagãos, que todos os profetas denunciaram. A preocupação dos que voltaramdo exílio da Babilônia (530 a.C.) era exatamente resgatar a paixão do Nome de Deus.

 Jesus nos revela o Pai e santifica plenamente o Seu Nome.   No Batismo fomos“lavados, santificados, justificados em Nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito denosso Deus” (1Cor 6,11). Durante toda nossa vida, Deus nosso Pai “nos chama àsantidade” (1Ts 4,7). O que glorifica a Deus Pai é o fato de Seu nome ser santificado em

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nós e por nós, mediante uma vida santa.São Cipriano de Cartago, (†258) pergunta:

Quem poderia santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica? Mas, inspirando-nos nesta palavra:

“Sede santos porque eu sou Santo” (Lv 11,44), nós pedimos que, santificados pelo Batismo,

 perseveremos naquilo que começamos a ser. Pedimo-lo todos os dias, porque cometemos faltas todos

os dias e devemos purificar-nos de nossos pecados por uma santificação retomada sem cessar...Recorremos, portanto, à oração para que esta santidade permaneça em nós.

Para que o Nome de Deus seja santificado entre as nações, isso depende de nossavida e de nossa oração, como mostraram os Profetas e os Apóstolos. São Paulo disse:“Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras! Tu, que abominas os ídolos, pilhasos seus templos! Tu, que te glorias da lei, desonras a Deus pela transgressão da lei! O

ome de Deus está sendo blasfemado por vossa causa entre os pagãos” (Rm 2,22-24; Is52,5).

O profeta Ezequiel mostrou bem como o Nome de Deus era profanado pelos pecados do povo idólatra e como seria santificado pela sua conversão. Deus santificaráSeu Nome, definitiva e completamente, quando Ele purificar os israelitas de seus pecados, dando-lhes um novo coração e um novo espírito, para que possam observar osSeus estatutos (Ez 36,22-28).

Entre todos os povos aonde foram, aviltaram o Meu santo nome, porque se dizia deles: eis o povo do

Senhor, eles deixaram a sua terra. Eu, pois, quis salvar a honra do Meu santo Nome, que os israelitas

 profanaram entre as nações, às quais tinham ido. Por isso, declara à casa de Israel o que segue: eis o

que diz o Senhor Javé: não é por vós que faço isto, ó israelitas, mas por honra do Meu santo nome que

 profanastes entre pagãos, aonde tínheis ido. Quero manifestar a santidade do Meu augusto Nome queaviltastes, profanando-o entre as nações pagãs, a fim de que conheçam que eu sou o Senhor – oráculo

do Senhor Javé –, quando sob seus olhares eu houver manifestado a Minha santidade por meu proceder 

em relação a vós. Eu vos retirarei do meio das nações, eu vos reunirei de todos os lugares, e vos

conduzirei ao vosso solo. Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas

imundícies e de todas as vossas abominações. Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito

novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Dentro de vós meterei

Meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os Meus preceitos.

Habitareis a terra de que fiz presente a vossos pais; sereis Meu povo, e serei vosso Deus (Ez 36,20-28).

Pedimos a Deus que santifique Seu Nome, porque é pela santidade que Ele salva esantifica toda a criação. Trata-se do Nome que dá a salvação ao mundo perdido, mas pedimos que o Nome de Deus seja santificado em nós por nossa vida. Pois, se vivermos bem, o Nome divino é bendito; mas, se vivermos mal, ele é blasfemado.

Rezamos, portanto, para merecer ter em nossas almas tanta santidade quanto é santoo Nome de nosso Deus. Quando dizemos “santificado seja o vosso Nome”, pedimos queEle seja santificado em nós que estamos Nele, mas também nos outros, que a graça de

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Deus ainda aguarda, a fim de conformar-nos ao preceito, que nos obriga a rezar por todos, mesmo por nossos inimigos. E por isso não dizemos expressamente: vosso Nomeseja santificado “em nós”, porque pedimos que ele O seja em todos os homens.

De acordo com a Bíblia, o Nome de Deus podia ser santificado ou profanado pelohomem ou por Deus. A humanidade santifica o Nome pela observância de Seus

mandamentos. Ela profana Seu Nome quando transgride-os: “Guardareis os Meusmandamentos e os praticareis. Eu sou Iahweh. Não profanareis o meu Santo Nome, afim de que Eu seja Santificado no meio dos filhos de Israel” (Lv 22,31-32).

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 VENHA A NÓS O VOSSO REINO

O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e gozo no Espírito Santo.(Rm 14,17)

Cristo veio a nós para implantar o Reino de Deus e extinguir o reino do maligno quereinava soberano. “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15). “Jesus andava pelas cidades e aldeiasanunciando a Boa-nova do Reino de Deus” (Lc 8,1).

Jesus mandou que antes de tudo buscássemos o Reino: “Buscai em primeiro lugar oReino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt6,33).

O Reino está no meio de nós e virá plenamente na glória quando Cristo o restituir aSeu Pai. A Igreja é na terra “o germe e o começo do Reino de Deus” (LG, 5). Sem a

Igreja não há Reino de Deus.Jesus entregou o Reino de Deus ao cuidado da Igreja; disse aos Apóstolos:

Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha

mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel. Não temas pequeno

rebanho, porque foi do agrado do Pai dar-vos o Reino (Lc 22,29-30;12,32).

A Pedro, Jesus confiou as “chaves do Reino”, uma autoridade específica: “Eu tedarei as chaves do Reino dos Céus: o que ligares na terra será ligado nos Céus, e o quedesligares na terra será desligado nos Céus” (Mt 16,19). O  poder das chaves  designa a

autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, “o Bom Pastor” (Jo10,11), confirmou este encargo depois de Sua Ressurreição: “Apascenta as minhasovelhas” (Jo 21,15-17). O poder de ligar e desligar   significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesusconfiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos apóstolos (cf. Mt 18,18).

São Cipriano de Cartago (210-258), Padre da Igreja, dizia:

O Reino de Deus pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas súplicas todos

os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera. Assim como Ele é nossa Ressurreição, pois

 Nele nós ressuscitamos, assim também pode ser o Reino de Deus, pois Nele nós reinaremos.

Este pedido é o  Maranatha, o grito do Espírito e da Esposa: “Vem, Senhor Jesus”.Tertuliano de Cartago (†220) disse:

Mesmo que esta oração [Pai Nosso] não nos tivesse imposto um dever de pedir a vinda deste Reino,

nós mesmos, por nossa iniciativa, teríamos soltado este grito, apressando-nos a ir abraçar nossas

esperanças. As almas dos mártires, sob o altar, invocam o Senhor com grandes gritos: “Até quando,

Senhor, tardarás a pedir contas de nosso sangue aos habitantes da terra?” (Ap 6,10). Eles devem, com

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efeito, obter justiça no fim dos tempos. “Senhor, apressa portanto a vinda de teu reinado (Or. 5).

O Catecismo explica:

 Na Oração do Senhor, trata-se principalmente da vinda final do Reinado de Deus mediante o retorno de

Cristo. Mas este desejo não desvia a Igreja de sua missão neste mundo, antes a empenha ainda mais

nesta missão. Pois a partir de Pentecostes a vinda do Reino é obra do Espírito do Senhor “parasantificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra (Oração Eucarística, IV; §2818).

São Paulo explica que o “Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo”(Rm 14,17). Os últimos tempos, que estamos vivendo, são os tempos da efusão doEspírito Santo. Trava-se, por conseguinte, um combate decisivo entre a carne e o Espírito, que o Apóstolo explica aos gálatas:

Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos

da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso

que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, asobras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas,

ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes.

Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus!

Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade,

 brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a

carne, com as paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com

o Espírito. Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós (Gl 5,16-

26).

São Cirilo de Jerusalém (315-386), bispo e doutor da Igreja, dizia em suas

Catequeses mistagógicas:

Só um coração puro pode dizer com segurança: “Venha a nós o vosso Reino”. É preciso ter aprendido

com Paulo para dizer: “Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal” (Rm 6,12).

Quem se conserva puro em suas ações, em seus pensamentos e em suas palavras pode dizer a Deus:

“Venha o vosso Reino” (5,13).

A Igreja chama a atenção para o fato de que o Reino de Deus não se confunde como reino dos homens, o progresso da cultura e da sociedade em que estão empenhados.Mas, esta distinção não é separação. A vocação do homem para a vida eterna não

suprime, antes reforça seu dever de acionar as energias e os meios recebidos do Criador  para servir neste mundo à justiça e à paz (cf. GS 22; EN, 31).

O papa Paulo VI, na Exortação Apostólica  Evangelii Nuntiandi,   chamou a atenção para a missão da Igreja e a realidade do Reino de Deus:

 Não devemos esconder que numerosos cristãos, generosos e sensíveis perante os problemas

dramáticos que se apresentam (...) têm frequentemente a tentação de reduzir a sua missão às dimensões

de um projeto simplesmente temporal; os seus objetivos a uma visão antropocêntrica; a salvação, de

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que ela é mensageira e sacramento, a um bem-estar material; a sua atividade, a iniciativas de ordem

 política ou social esquecendo todas as preocupações espirituais e religiosas. No entanto, se fosse ass im,

a Igreja perderia o seu significado próprio. A sua mensagem de libertação já não teria originalidade

alguma e ficaria prestes a ser monopolizada e manipulada por sistemas ideológicos e por partidos

 políticos. Ela já não teria autoridade para anunciar a libertação, como sendo da parte de Deus. Foi por 

tudo isso que nós quisemos acentuar bem na mesma alocução, quando da abertura da terceira

Assembleia Geral do Sínodo, “a necessidade de ser reafirmada claramente a finalidade especificamentereligiosa da evangelização. Esta última perderia a sua razão de ser se se apartasse do eixo religioso que a

rege: o reino de Deus, antes de toda e qualquer outra coisa, no seu sentido plenamente teológico (n. 62;

EN, 32).

Jesus contou sete parábolas para explicar a realidade do Reino de Deus, que já estáno meio de nós, mas que vai se construindo entre nós.

“Fazei penitência porque está próximo o Reino de Deus” (Mt 3,2). Nessas parábolasEle revela a pequenez e a humildade de sua origem, o seu crescimento progressivo, suadimensão universal, sua força salvadora, os bens espirituais que o Reino traz, a misturados bons com os maus até o juízo final, a ligação íntima entre os aspectos terrenos ecelestes e a sua consumação no fim dos tempos.

Jesus explica o Reino comparando-o com a parábola do semeador (Mt 13,4-9) quesemeia em todo tipo de terreno, mas apenas um quarto das sementes dão fruto.

O joio e o trigo (Mt 13,24-30) – um inimigo lança o joio no meio da evangelização(as heresias). Aqui vemos a preguiça dos trabalhadores que não guardaram o campo e permitiram a ação dos inimigos.

O grão de mostarda (Mt 13,31-32), a menor das hortaliças, mas que dá grande

árvore, mostra a força da Igreja, que avança lentamente por todo o mundo.O fermento na massa (Mt 13,33), que a mulher lança na farinha, mostra a ação daIgreja no mundo para implantar o Reino de Deus.

O tesouro escondido (Mt 13,44) revela a grande quantidade de dons do Reino, quealguém encontra quando menos espera.

A pérola preciosa que o negociante encontra (Mt 13,45-46) revela a beleza do Reinode Deus que o encanta, o desprendimento e a generosidade de quem deseja entrar nesteReino.

A rede de arrasto lançada ao mar (Mt 13,47-50) indica que haverá no final dos

tempos a separação entre os bons e os maus que caminharam juntos no Reino.O Reino não virá de maneira triunfante: “Os fariseus perguntaram um dia a Jesusquando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes: O Reino de Deus não virá de um modoostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio devós” (Lc 17,21).

Jesus enviou os Apóstolos “a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc9,2), e nos envia hoje como “discípulos e missionários” (Bento XVI). Jesus é exigente:

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“Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus” (Lc9,62).

É preciso ser puro para pertencer a Seu Reino: “Se o teu olho for para ti ocasião dequeda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que,tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo” ( Mc 9,47). O Reino pertence aos

 pequeninos: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deusé daqueles que se lhes assemelham” (Mc 10,14).

São Paulo chama a atenção para isso.

Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os

impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões,

nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de

Deus. (1Cor 6,9-10).

Os que põem sua confiança e segurança no dinheiro terão dificuldade para entrar no

Reino: “Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiançanas riquezas! É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o ricono Reino de Deus” (Mc 10,24-25).

Os milagres, as curas, exorcismos etc., que Jesus fez, mostravam a presença doReino de Deus: “Mas, se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegadoa vós o Reino de Deus” (Lc 11,20).

É preciso estar disposto a fazer violência a si mesmo para entrar no Reino, cortandotudo que impede a entrada nele: “Desde então é anunciado o Reino de Deus, e cada umfaz violência para aí entrar” (Lc 16,16).

Os que buscarem o Reino em primeiro lugar serão recompensados: “Em verdade vosdeclaro: ninguém há que tenha abandonado, por amor do Reino de Deus, sua casa, suamulher, seus irmãos, seus pais ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo eno mundo vindouro a vida eterna” (Lc 18,29).

Para entrar no Reino é preciso do Batismo. “Em verdade, em verdade te digo: quemnão nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus” (Jo 3,5).

Para entrar no Reino é preciso encarar as tribulações da vida com fé: “Confirmavamas almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessárioentrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações” (At 14,22).

“O Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). Cristo convoca-nos à conversão e à fé,como também, à vigilância. Na oração, o discípulo vigia atento à espera “Daquele que Ée que vem”. Na Sua primeira vinda, veio na humildade da carne; virá na Sua segundavinda na Glória.

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SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

 A conf ormidade com a vontade divina é o tesouro do cristão e o remédio para todos os seus males.

(São Vicente de Paulo)

Qual é a vontade de Deus? São Paulo diz que “Deus quer que todos os homenssejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4). Ele “usa de paciência, porque não quer que ninguém se perca” (2Pd 3,9). Seu mandamento, queresume todos os outros e que nos diz toda a Sua vontade, é que “nos amemos uns aosoutros, como Ele nos amou” (Jo 13,34). “Deus é amor” (1Jo 4,8).

Jesus cumpriu perfeitamente a Vontade do Pai uma vez por todas. Jesus disse aoentrar neste mundo: “Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7).

Só Jesus pode dizer: “Faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8,29). Na oração de Suaagonia, Ele aceita totalmente esta vontade: “Não a minha vontade, mas a tua seja feita!”(Lc 22,42). É por isso que Jesus “se entregou a si mesmo por nossos pecados, segundo avontade de Deus” (Gl 1,4). “Graças a esta vontade é que somos santificados pelaoferenda do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10,10).

 Nós, criaturas e pecadores, que nos tornamos em Cristo filhos adotivos, pedimos aonosso Pai que una nossa vontade a de Seu Filho para realizar Sua Vontade, Seu plano desalvação para a vida do mundo. Não somos capazes de fazer a Vontade do Pai; mas,unidos a Jesus e com a força de Seu Espírito Santo, podemos entregar-Lhe nossa

vontade e decidir-nos a escolher o que Seu Filho sempre escolheu: fazer o que agrada aoPai.

Pela oração é que podemos “discernir qual é a vontade de Deus” e obter “a perseverança para cumpri-la”. Jesus nos ensina que entramos no Reino dos céus não por  palavras, mas praticando a vontade do Pai que está nos céus. “Se alguém faz a vontadede Deus, a este Deus escuta” (cf. Mt 7,21; Jo 9,31).

Fazer a vontade de Deus, dizia Santo Afonso de Ligório (†1787), é “fazer o queDeus quer e querer o que Deus faz”. Fazer o que Deus quer é algo objetivo: obedecer àsleis de Deus, aos Seus Mandamentos e viver a doutrina ensinada pela Igreja em termos

de fé e de moral. Querer o que Deus faz é aceitar com resignação e fé tudo o que Deus permitir que aconteça conosco, sem revolta e murmuração. Sem dúvida, dizia o Santo,este é o caminho da santidade. “Aceita tudo o que te acontecer” (Eclo 2,4).

Mas, por que nem sempre é fácil discernir e realizar a vontade de Deus? Porque o pecado entrou no mundo e desorganizou o plano de Deus. Ele criou o melhor dosmundos possíveis. “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom”(Gn 1,31); mas os pecados estragaram a obra do Criador.

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O profeta diz que Deus não se compraz em holocaustos e sacrifícios, mas sim naobediência total à Sua vontade.

Samuel replicou-lhe: “Acaso o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios como na

obediência à sua voz? A obediência é melhor que o sacrifício e a submissão valem mais que a gordura

dos carneiros. A rebelião é tão culpável quanto a superstição; a desobediência é como o pecado de

idolatria. Pois que rejeitaste a palavra do Senhor, também ele te rejeita e te despoja da realeza!” (1Sm15,22-23).

A obediência é a resposta livre dada a Deus; no ser e no fazer cotidiano é quemostramos a submissão ao que o Senhor deseja. Isso significa a “imolação da vontade própria” para aderir ao que Deus quer. Por isso é importante, pelo dom dodiscernimento, entender e fazer a vontade de Deus. Jesus é o Caminho desta condutadiária; Ele nos deixou com Sua vida e Suas palavras o exemplo de como fazer a vontadede Deus.

Somos servos daquele a quem obedecemos: “Não sabeis que, quando vos ofereceis aalguém para lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça?” (Rm 6,16).

O cristão precisa aprender o que significa renúncia, não se revoltar contra as provações que, na sua sabedoria, Deus sabe serem necessárias para purificar a nossaalma. O Evangelho é uma escola de mortificação, ensina a “tomar a cruz a cada dia” eseguir Jesus.

Em seguida, dirigiu-se a todos: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a

sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida

 por amor de mim, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-sea si mesmo e se causa a sua própria ruína?” (Lc 9,23-26).

Há cristãos que só querem as consolações de Deus e as doçuras espirituais. Deusmuitas vezes nos dá as Suas consolações, conforta e anima a nossa pobre alma; masmuitas vezes também permite as tribulações da vida; e é durante esse tempo que Lhemostramos a nossa fidelidade. Precisamos buscar mais o Deus das consolações do que asconsolações de Deus, senão não seremos verdadeiros filhos fiéis.

 Não nos esqueçamos jamais de que o Filho amado de Deus veio a esse mundo como

um menino, numa manjedoura, em uma gruta pobre, para realizar o grande projetoredentor traçado pelo Pai; e depois abraçou livremente a cruz por amor a cada um denós.

O Sim radical de Jesus ao Pai, à Sua obra salvadora, deve ser a referência para todosos que desejam se salvar, agradar a Deus, fazendo a Sua santa vontade. Infelizmentehoje o mundo quer o contrário; deseja que Deus se acomode aos caprichos humanos.Seja feita a “minha” vontade!

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Amar a Deus e querer fazer a Sua Vontade é o caminho diário da santificação. “Sejafeita a Vossa Vontade assim na terra como no Céu”, dizemos todos os dias.

Quando se faz a Vontade de Deus, nada é pequeno e desprezível nesta vida, tudo setorna sagrado: o trabalho mental ou braçal, o estudo, a oração, a luta para manter afamília e educar os filhos; enfim, tudo se torna santificador. É o que fazia o beato

Henrique Suzo dizer: “Prefiro ser neste mundo o verme mais miserável da terra, pelavontade de Deus, do que um Serafim no Céu pela minha própria vontade!”.

Só o amor a Deus nos fará cumprir com reta intenção, sem desânimo, e comdiligência, a Sua vontade e aceitar tudo o que Ele quiser para nós. E é preciso nosconvencermos de uma vez por todas, sem a mínima desconfiança, de que tudo que Ele permite que nos aconteça é para o nosso bem, principalmente para a nossa santificação.Jesus deixou isto muito claro quando disse que o Pai não nos dá pedra quando Lhe pedimos um pão, não nos dá uma cobra quando Lhe pedimos um peixe, e não nos dá umescorpião quando Lhe pedimos um ovo (cf. Lc 11,9-13).

Frei Pascoal, religioso capuchinho, guia dos peregrinos na Terra Santa, costumadizer-lhes: “Tudo o que nos acontece nos favorece, se a gente não se aborrece e aindaagradece”. Isso não é comodismo mórbido, não! É uma ação na fé.

“Se vós pois, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais oPai do Céu dará coisas boas aos que Lhe pedirem” (Mt 7,11).

Também as provações que nos atingem são “coisas boas” para a nossa santificação eé, também, por amor a Deus que devemos acolhê-las. Esta é a maior prova do nossoamor: acolher a Vontade de Deus, qualquer que ela seja.

Quando aprendermos, de fato, a aceitar, incondicionalmente, a Vontade de Deus, emtodas as circunstâncias da nossa vida, então – ensinam os santos – nada poderá nos perturbar.

Somente com esta “reta intenção”, de tudo fazer só por Deus, e nada mais, é queconseguiremos vencer todos os obstáculos do apostolado e todas as dificuldades da vida.

Há um versículo que aparece pelo menos quatro vezes na Sagrada Escritura: “Ousto vive pela fé” (Hab 2,4; Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,36).

A palavra  fé  na Bíblia é também traduzida como “fidelidade” a Deus. É a atitudedaquele que crê e que obedece ao Senhor. Neste sentido São Paulo fala aos romanos da“obediência da fé” (Rm 1,5).

A fé é um ato de adesão a Deus; isto é, submissão que implica obediência à Suasanta e perfeita vontade. A fraqueza da nossa natureza humana impede muitas vezes quea nossa fé seja coerente; quer dizer, às vezes os nossos atos não estão conforme asexigências da fé. Portanto, não basta crer, é preciso “obedecer”.

Depois que o povo hebreu recebeu a Lei de Deus por meio de Moisés, exclamou:“Tudo do que Iahweh falou, nós o faremos e obedeceremos” (Ex 24,7). Esta era a

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vontade do povo; no entanto, sabemos que este mesmo povo prevaricou muitas vezes prestando culto aos deuses dos pagãos. Depois que Josué, no limiar da morte, conclamouo povo a ser fiel a Deus e só a Ele prestar culto na Terra que Deus lhe dava, o povorespondeu: “A Iahweh nosso Deus serviremos e à sua voz obedeceremos” (Js 24,24).

Mas sabemos que logo após atravessar o rio Jordão e tomar posse da Terra tão

esperada, este povo não demorou a render-se aos encantos dos deuses dos cananeus.Isto mostra que não é fácil, também para nós, viver a fidelidade a Deus, pois tambémhoje os falsos deuses nos atraem e querem ocupar o nosso coração.

 Na obediência radical a Deus, o Cristo “desatou o nó da desobediência de Adão” enos reconciliou com o Pai. Da mesma forma, ensinam os Santos Padres, pela obediênciada Virgem, ela desatou o laço da desobediência de Eva que lançou a humanidade nadanação.

A partir daí, a obediência a Deus passou a ser a marca principal daquele que crê. Elaé o melhor remédio para os males que o pecado original deixou em nossa natureza:

orgulho, vaidade, presunção, autossuficiência, exibicionismo etc.O profeta afirma: “A obediência é melhor do que o sacrifício” (1Sm 15,22). E

Thomás de Kempis, na Imitação de Cristo, assegura: “Obedecer é muito mais seguro doque mandar.”

 No pátio da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende-RJ, onde estudei,está escrito uma frase da qual nunca me esqueci: “Cadetes, ides comandar, aprendei aobedecer!” Se a obediência é tão necessária para com os homens, quanto mais para comDeus!

A outra característica da fidelidade a Deus é o firme propósito de servir-Lhe sempre,com perseverança e reta intenção, mesmo nos momentos mais difíceis. Como agrada aDeus o filho fiel! O profeta diz: “Iahweh guarda os passos dos que lhe são fiéis” (2Sm22,26). E o Senhor Jesus disse: “Muito bem servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel,sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu Senhor” (Mt 25,21). Tudo o querecebemos de Deus nesta vida, é este “pouco” sobre o qual é testada a nossa fidelidade aDeus.

Ser fiel a Deus é ser obediente às Suas leis, à Sua vontade, e servir-Lhe com toda aalma. Santo Inácio de Loyola afirmava que viver bem é “amar e servir a Deus nestavida”. Jesus disse aos Apóstolos na última Ceia: “Se me amais, guardareis os meusmandamentos” (Jo 14,15). Portanto, amar a Deus, mais do que um sentimento, é uma“decisão”: guardar os Seus mandamentos, cumprir a Sua vontade.

O Senhor instituiu a Igreja para que a Sua vontade fosse expressa e objetivamenteconhecida, e não ficasse ao sabor do julgamento de cada um. Ele garantiu à Sua Igreja – na última Ceia – que o Espírito Santo a conduziria “a toda a verdade” (Jo 16,13), e que avoz da Igreja seria a Sua voz: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos rejeita, a Mim

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rejeita; e quem Me rejeita, rejeita aquele que me enviou”(Lc 10,16).Então, ser fiel ao Senhor é ser fiel à Sua Igreja e a tudo aquilo que ela ensina. O papa

Paulo VI disse certa vez: “Quem não ama a Igreja, não ama Jesus Cristo.” É lógico! AIgreja é o Corpo de Cristo! Quem não é fiel à Igreja, não é fiel a Jesus Cristo! Quem nãoserve a Igreja, não serve a Jesus Cristo... A Igreja é o Cristo prolongado na história dos

homens. Quando a Igreja nos toca, é o próprio Senhor quem nos toca.A fidelidade está ligada à perseverança e à paciência. Santo Agostinho disse: “Os que

 perseveram em vossas companhias sejam vossos modelos. E os que vão ficando pelascalçadas, aumentem vossa vigilância.”

O grande São João da Cruz ensinava: “A constância de ânimo, com paz etranquilidade, não só enriquece a pessoa, como a ajuda muito a julgar melhor asadversidades, dando-lhes a solução conveniente.”

Mas, para que haja serviço a Deus, perseverante e alegre, e para que possamos amar e cumprir os seus mandamentos, é preciso uma vida de piedade, vigilância e oração, sem

isso, a alma esfria. Sabemos que “mosca não assenta em prato quente”; quando a almaesfria, os demônios se aproximam dela para vencê-la pela tentação.

 Não seremos julgados pela nossa capacidade intelectual e nem pela grandeza dasnossas obras, mas, como disseram os santos, pela pureza do nosso amor a Deus e pela perseverança nesta vivência. Jesus garantiu que diante de todas as adversidades quevirão, “quem perseverar até o fim será salvo” (Mt 24,13).

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O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE

 A total renúncia a si mesmo signif ica aceitar com um sorriso o que Ele dá e o que Ele tira... Dar sempre oque é pedido, quando serve o teu bom nome ou a tua saúde, significa total renúncia a si mesmo; então, serás

livre.

(Beata Madre Teresa de Calcutá)

Quando dizemos a Deus: “Dai-nos o pão de cada dia”, é a bela confiança dos filhosque tudo esperam de seu Pai. Deus é bom, disse Jesus: “Ele faz nascer o seu soligualmente sobre maus e bons e cair chuva sobre justos e injustos e dá a todos os seresvivos o alimento a seu tempo” (Mt 5,45; Sl 104,27).

Jesus nos ensina a fazermos este pedido, “o pão de cada dia”, tudo de que precisamos para viver; que glorifica efetivamente nosso Pai, porque reconhece como Eleé Bom para além de toda bondade. Pertencemos a Deus, e Ele pertence a nós, age em

nosso favor. Mas esse “nós” O reconhece também como o Pai de todos os homens e nósLhe pedimos por todos eles, em solidariedade com suas necessidades e sofrimentos.O “pão nosso” não é apenas o pão material, mas todos os bens “úteis”, materiais e

espirituais. No Sermão da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera coma Providência de nosso Pai. Jesus quer nos libertar de toda inquietação e de toda preocupação. É esse o abandono filial dos filhos de Deus.

Aos que procuram o Reino e a justiça de Deus, Ele promete dar tudo por acréscimo.Tudo pertence a Deus, Ele não tem falta de nada. “Quem possui Deus, nada lhe falta, seele próprio não falta a Deus”. Meditemos profundamente nessas palavras de Jesus e Lhe

 peçamos a graça de acreditar nelas e vive-las na fé, a cada dia:Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso

corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes?

Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as

alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar 

um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como

crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão

no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje

cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem

digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam

com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o

Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis,

 pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu

cuidado (Mt 6,25-34).

A realidade dos que têm fome por falta de pão revela outra profundidade deste pedido de pão que fazemos ao Pai. O drama da fome no mundo convoca os cristãos que

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rezam para uma responsabilidade em relação aos irmãos, tanto no comportamento pessoal como em sua solidariedade com a família humana. O cristão, como “sal da terrae luz do mundo” (Mt 5,13-14), tem de lutar no mundo pela justiça social, dentro do quea Igreja nos ensina e chama de “Doutrina social da Igreja”. Não é o socialismo ateu ematerialista, estatizante, que vai trazer a paz e o alimento a todos; e nem o capitalismo

selvagem, que só visa o lucro. A Igreja ensina que a dignidade do homem é que devereger o comportamento social, político, econômico etc.

A pobreza das bem-aventuranças é a virtude da partilha que convoca a comunicar e partilhar os bens materiais e espirituais, não por coação, mas por amor, para que aabundância de uns venha em socorro das necessidades dos outros.

Ao pedir o pão de cada dia, não podemos esquecer que Deus nos deu os meios paraobtê-lo. A terra nos fornece tudo de que precisamos para viver; e é com o trabalho que ohomem conquista o pão de cada dia, com a graça de Deus. “Reza e trabalha”, é o lemade São Bento para seus monges. Santo Inácio de Loyola ensinou a seus jesuítas: “Rezai

como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós.”Tendo realizado nosso trabalho, o alimento fica sendo um dom de nosso Pai; convém

 pedi-lo e disso render-Lhe graças. É esse o sentido da bênção da mesa numa famíliacristã. Daqui vem todo o belo sentido do trabalho no plano de Deus.

O trabalho não é um castigo para o homem, foi inserido na nossa vida por Deus paraa nossa redenção. Por causa do pecado ele agora é acompanhado do “suor”, mas estesofrimento Deus o fez matéria-prima de salvação.

Infelizmente, a maioria dos homens, inclusive muitos deles católicos, têm uma visãodistorcida do trabalho, e por isso fazem de tudo para se ver livres desse “fardo”. É umengano.

Para nos mostrar a importância do trabalho Jesus trabalhou até os trinta anos naquelacarpintaria humilde e santa de Nazaré. E para nos mostrar que todo trabalho ésantificado, Ele assumiu o trabalho mais humilde, o de carpinteiro, que era desprezadono Seu tempo.

Trabalhando, como homem, Jesus tornou sagrado o trabalho humano e fonte desantificação. Por isso, o lema de vida de Santo Afonso de Ligório era: “Nunca perder tempo”.

Deus nos colocou no mundo “para cultivá-lo e guardar” (Gn 2,15); logo, “o trabalhonão é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus noaperfeiçoamento da criação visível” (CIC, §378).

Falando da vida oculta de Jesus, na família de Nazaré, o papa Paulo VI dizia: “Umalição de trabalho. Nazaré, ó casa do “Filho do Carpinteiro”, é aqui que gostaríamos decompreender e celebrar a lei severa e redentora do trabalho humano” (5 de janeiro de1964).

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O trabalho é, pois, um dever: “Quem não quer trabalhar, também não há de comer”(2Ts 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Suportando a pena do trabalho unido a Jesus, o artesão de Nazaré, o homem colabora de certa maneiracom o Filho de Deus na Sua obra redentora. Mostra-se discípulo de Cristo carregando acruz cada dia, na atividade que está chamado a realizar. “O trabalho pode ser um meio

de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo” (CIC,§2427).

A primeira maneira de vivermos bem o “mandamento do amor” é trabalhando bem para servir bem àqueles que se beneficiam do nosso trabalho. Jesus nos deixou comomodelo a Sua vida de serviço. Disse muito claramente: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28).

Toda a nossa vida é sagrada, tanto a espiritual quanto a profissional. Nada é profanoem nossa vida. Os primeiros cristãos não se afastaram do mundo para viverem oEvangelho; mas continuavam a viver no meio da sociedade.

Como dizia São Josemaria Escrivá, é preciso “santificar o trabalho, santificar-se notrabalho e santificar-se pelo trabalho”. Santificar o trabalho é dar glória a Deus por meiodele. São Paulo disse aos coríntios: “Quer comais ou bebais ou façais qualquer outracoisa, façais tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). Se até o simples comer e beber devem dar glória a Deus, quanto mais o trabalho!

Aos colossenses São Paulo explica mais claro ainda: “Tudo quanto fizerdes, por  palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”(Cl 3,17).

Um pouco adiante, o Apóstolo insiste novamente: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis comorecompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Cl 3,13).

Aqui está o ponto mais importante. Tudo o que fazemos deve ser feito “para oSenhor”. Não importa o que seja, se é grande ou pequeno, deve ser feito tendo o Senhor como o “Patrão”.

Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça como se o próprio Jesusfosse vesti-las. Se você cozinha, faça a comida como se o Senhor fosse sentar-se à mesadaqui a pouco, para comer essa comida. Se você é professor, dê a sua aula como seJesus fosse um aluno que quer aprender. Se você é um médico, atenda cada pacientecomo se o próprio Jesus fosse o doente.

O trabalho bem feito é um bom exemplo, por isso o cristão tem que realizá-lo comtoda a perfeição possível, empregando todos os talentos. Um mau trabalhador é um maucristão. Um operário displicente é um mau cristão. Um professor cristão, mas relapso, éum contratestemunho cristão...

Um mau trabalhador é um mau cristão. Uma dona de casa relaxada e preguiçosa não

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é uma boa cristã. E assim, poderíamos multiplicar os casos... Não basta viver a santidadena Igreja, no grupo de oração e nos encontros; acima de tudo, é preciso ser santo na ruae no trabalho.

O pedido do “pão de cada dia” nos lembra o “Pão descido do céu”, a SagradaEucaristia, “remédio e sustento para a nossa vida”. Jesus deixou claro que sem Ele não

 podemos nada. “Permanecei em Mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeistampouco dar fruto, se não permanecerdes em Mim... Sem Mim nada podeis fazer” (Jo15,5).

Poderá haver meio melhor do que “permanecer em Jesus” do que comungando oSeu Corpo? Ele mesmo no diz que Seu corpo e sangue são o nosso sustento na fé.Medite isso com profundidade, no silêncio da alma:

Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. “Eu sou o pão vivo

que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minhacarne para a salvação do mundo”. “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do

Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha

carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é

verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne

e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo

 pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão que desceu do

céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá

eternamente” (Jo 6,50.53-58).

São rios de bênçãos e de promessas que Jesus nos dá na Eucaristia; mas quem

acredita nisso? Quem O vai receber com frequência? Quando Jesus nos manda pedir o pão “de cada dia”, significa a Eucaristia, nosso pão cotidiano. Ela nos une ao Corpo doSalvador e nos faz seus membros, a fim de que “nos transformemos naquilo querecebemos”.

O Pai do céu nos exorta a pedir, como filhos do céu, o Pão do céu. Cristo, “é Elemesmo o pão que, semeado na Virgem, levedado na carne, amassado na Paixão, cozidono forno do sepulcro, colocado em reserva na Igreja, levado aos altares, proporcionacada dia aos fiéis um alimento celeste” (São Pedro Crisólogo, Sermão 67,7).

O pedido do pão de cada dia nos leva também ao pão da Palavra de Deus, quealimenta nossa alma. Este pedido implica também para outra fome da qual os homens padecem: “O homem não vive apenas de pão, mas de toda palavra que procede da bocade Deus” (Mt 4,4). Precisamos levar esse “pão” a muitos. São João Paulo II disse que“o homem tem mais fome de Deus do que de pão material”. O profeta Amós disse quehá uma fome na terra, “não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra deDeus” (Am 8,11).

“A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois

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gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).

“Por isso, também damos graças sem cessar a Deus porque recebestes a Palavra deDeus, que de nós ouvistes. Vós a recebestes não como palavra de homens, mas comorealmente é: Palavra de Deus, que age eficazmente em vós que crestes” (1Ts 2,13).

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PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS, ASSIMCOMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM

OFENDIDO

Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão,a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê.

(1Jo 4,20)

O nosso pedido, ao Pai, de perdão, não será atendido, a não ser que tenhamosdisposição para perdoar a todos que também nos ofenderam. Neste pedido, nós nosvoltamos ao Pai, como o filho pródigo, e nos reconhecemos pecadores, diante Dele,como o publicano. Nosso pedido é uma “confissão”; declaramos, ao mesmo tempo,nossa miséria e Sua Misericórdia. Nossa esperança é firme, porque, em Seu Filho,

“temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1,14).Mas este mar de misericórdia não pode penetrar em nosso coração enquanto não

tivermos perdoado aos que nos ofenderam. O amor, como o Corpo de Cristo, éindivisível: “não podemos amar o Deus que não vemos, se não amamos o irmão quevemos”, disse São João. Recusando-nos a perdoar aos nossos irmãos e irmãs, nossocoração se fecha, sua dureza o torna impermeável ao Amor Misericordioso do Pai;confessando nosso pecado, nosso coração se abre à Sua graça.

“Deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48); “Sedemisericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36); “Dou-vos um mandamento

novo: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Lc 13,34).Mas só o Espírito Santo, que é “nossa Vida” (Gl 5,25), pode fazer “nossos” os

mesmos sentimentos que teve Jesus. Então torna-se possível a unidade do perdão,“perdoando-nos mutuamente como Deus em Cristo nos perdoou” (Ef 4,32); como Cristo perdoou seus algozes.

A parábola do servo desumano termina com esta palavra: “Eis como meu Pai celesteagirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, o seu irmão”. O patrão lhetinha perdoado uma dívida impagável, mas ele não perdoou ao amigo que lhe deviaquase nada. Nossa dívida para com Deus era impagável, e Jesus veio pagá-la com SeuSangue, como agora não vamos perdoar a quem nos ofende?

A oração cristã chega até o perdão aos inimigos, nos faz configurados,misericordiosos, ao Mestre. O perdão é um ponto alto da oração cristã; o dom da oraçãonão pode ser recebido, a não ser num coração em consonância com a compaixão divina.O perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, “o amor é mais forte que o pecado”. Os mártires, de ontem e de hoje, dão este testemunho de Jesus. O perdão é acondição fundamental da Reconciliação dos filhos de Deus com Seu Pai e dos homens

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entre si (cf. CIC, §2844). Não há limite nem medida para esse perdão essencialmente divino. Jesus mandou:

“Amai vossos inimigos.” Morreu perdoando seus algozes. “Pai, perdoai-lhes, porque elesnão sabem o que fazem...” (cf. Mt 5,44; Lc 23,31).

Gandhi aprendeu com Cristo que “a força de um homem e de um povo está na não

violência”. Ele dizia: “Procuro amassar completamente a ponta da espada do tirano: nãooponho um aço mais afiado, e assim ludibrio sua esperança de ver-me oferecer umaresistência física. Encontrará em mim uma resistência de alma que escapa a seu cerco.”

“Tendes ouvido o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo!’ Eu, porém, vos

digo: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelo que vos maltratam e perseguem!

Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?

Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?”

(Mt 5,43-47).

“Tendes ouvido o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente!’ Eu, porém, vosdigo: Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra”(Mt 5,38-39).

A única exigência que Deus nos impõe para perdoar os nossos pecados é esta:“Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará” (Mt6,14-15).

“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam”(Mt 6,12).

“Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teuirmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiroreconciliar-te com teu irmão; só então, vem fazer a tua oferta” (Mt 5,23-24).

“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).“Abençoai os que vos perseguem, abençoai-os e não os praguejeis... Não pagueis a

ninguém o mal com o mal... Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: ‘A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz oSenhor’” (Dt 32,35; Rm 12,14-19).

“Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber.

Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça” (Pv 25,21; Rm12,20).

É preciso também ter mansidão com os outros. São Francisco de Sales dizia: “Nãohá nada que tanto edifique o próximo como a caridosa benignidade nos tratos. Para ossuperiores, não há melhor meio de se fazer obedecer do que a mansidão.”

São Paulo recomendava aos pais não deixar os filhos com raiva: “Não exaspereis osvossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e na doutrina do Senhor” (Ef 6,4).

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Os santos nos ensinam a mansidão: “Uma resposta branda aplaca o furor, uma palavra dura excita a cólera” (Pr 15,1).

São Francisco de Sales disse: “Eu nunca me deixei conduzir pela ira sem que logo metenha arrependido.”

Santo Afonso de Ligório: “Irritar-se contra nós mesmos, após uma falta, não é

humildade, mas refinada soberba, como se nós não fôssemos fracos e miseráveiscriaturas.”

Santa Teresa dizia: “A humildade que irrita não vem de Deus, mas do demônio.”Santo Afonso: “Uma alma perturbada pouco conhece a Deus e aquilo que deve

fazer.”Santa Catarina de Gênova: “Senhor, estas são as ervas daninhas do meu jardim.”Precisamos também saber receber a correção necessária: “Aquele que odeia a

correção segue os passos do pecador” (Eclo 21,7).Uma fonte de sofrimentos muito grande são o ódio, o desejo de vingança e a falta de

 perdão e de reconciliação entre as pessoas. Quanto sangue é derramado neste mundo por causa disto! Não só com as guerras entre as nações, mas também entre os homens, oscrimes são inúmeros.

A Palavra de Deus nos ensina: “Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vosa fazer o bem diante de todos os homens” (Rm 12,17). O Apóstolo ensina a deixar austiça por conta de Deus e jamais fazê-la com as próprias mãos. “Não vos vingueis uns

dos outros caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: ‘A mim avingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor’” (Dt 32,35; Rm 12,19). “Procedendoassim, diz São Paulo, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça” (Pv 25,22); oque significa que o coração duro daquele que é mau se converte para o bem quando lhe pagamos o bem em troca do mal recebido.

O próprio São Paulo experimentou isso na sua vida. Ele segurava os mantos daquelesque apedrejavam Santo Estevão, que, recebendo o martírio, como Jesus, orava pelosseus executores. “Senhor, não lhes leves em conta este pecado...” (At 7,60). E Saulo,que havia aprovado a morte de Estêvão, converteu-se maravilhosamente em seguida, por esses “carvões em brasa” que foram amontoados sobre a sua cabeça pela atitude deEstêvão.

Essa é a verdadeira mansidão cristã, que não aceita o revide, não aceita pagar o malcom o mal, porque não se apaga fogo com gasolina; não se aplaca a violência com maisviolência. Só com a resposta não violenta pode-se quebrar a cadeia perniciosa daviolência.

 Jesus ensina que na mansidão reside a perfeição cristã. O mais bonito de tudo éque Jesus viveu essa mansidão perfeitamente. O profeta Isaías, sete séculos antes, jáhavia anunciado a mansidão do Cordeiro de Deus: “Foi maltratado e resignou-se; não

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abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro e uma ovelha muda nasmãos do tosquiador. Ele não abriu a boca” (Is 53,7). E o profeta acrescenta: “O justo,meu Servo, justificará muitos homens e tomará sobre si suas iniquidades” (v. 11).

Foi pela humildade e mansidão que Jesus nos salvou. Ao sofrer a paixãosilenciosamente, ao ser preso como um marginal, flagelado até o sangue como um

malfeitor, zombado como um farsante, coroado de espinhos como um falso rei,condenado à morte como um criminoso, esbofeteado como um blasfemador, escarrado, pregado na cruz, e tudo mais, com a mansidão de um cordeiro, Ele conquistou osméritos infinitos que nos redimiu de todos os nossos pecados.

Quando agimos com a mesma humildade e mansidão do Senhor, conformamos anossa vida com a Dele e completamos na nossa carne o que falta à Sua paixão (Cl 1,24).Aí, então, somos, de fato, Seus discípulos. Do alto da cruz Jesus pagava o mal com o bem: “Pai perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Emconsequência dessa atitude do Senhor, já ali, aos pés da cruz, o centurião romano que

chefiava a Sua crucificação se converte: “Vendo o centurião o que aconteceu, deu glóriaa Deus e disse: ‘Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!’” (Mt 27,54; Lc23,47).

Muitos se converteram porque foram perdoados e receberam o bem em troca do malque praticaram.

Um exemplo disso foi dado por uma senhora, D. Ana Maria. Essa senhora teve a suacasa invadida por um rapaz durante a madrugada, e este assassinou, dentro de sua casa,um dos seus filhos, um jovem de 18 anos.

Ela não quis vingança contra o assassino e, na própria missa de corpo presente doseu filho assassinado, ela declarou o seu perdão ao criminoso. Foi um momento deemoção e lágrimas! O rapaz assassino foi preso, julgado e condenado à prisão na Casa deDetenção em São Paulo. Tão logo D. Ana Maria soube da prisão do assassino, passou avisitá-lo em São Paulo semanalmente. Pegava o ônibus em Lorena, viajava 200 km parafalar de Deus ao assassino do seu próprio filho. Pouco tempo depois, esse jovemrevelava, sob lágrimas, ante as câmaras da TV Globo, o arrependimento do seu gesto. Elamentava não ter conhecido Jesus Cristo antes de parar na cadeia (Programa Fantástico,exibido em 13 de abril de 1985).

Esse caso mostra o que São Paulo chama de “amontoar carvões em brasa” sobre acabeça daquele que vive mal, e mostra a forma cristã de vencer o mal pelo bem. Assim,e só assim, quebra-se a corrente da violência.

Mahatma Ghandi libertou a Índia do colonialismo inglês, pela não violência, e dizia:“Existem muitas causas pelas quais estou disposto a morrer, mas nenhuma causa pelaqual eu esteja disposto a matar.” E mais: “A não violência é a mais alta qualidade daoração. O teu inimigo se renderá não quando sua força se esgotar, mas quando o teu

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coração se negar ao combate.”Saiba que a raiva destrói o seu dono; ela hiperativa as glândulas suprarrenais, lança

adrenalina no sangue, é uma causa psicológica de efeitos bioquímicos, com elevação da pressão, vasoconstrição, agitação do músculo cardíaco, e outros fenômenos.

Se você sentir seu coração pulsar acelerado, pare, relaxe, saiba perdoar, desculpar,

tolerar. O contrário pode causar uma úlcera gástrica. Na vida de São Clemente Hofbauer, há um fato que mostra a força do perdão e da

mansidão. Certa vez ele entrou numa taverna para pedir uma esmola para as obras querealizava. Um homem, Kalinski, o odiava, e estava presente. São Clemente entra, sedirige à mesa de Kalinski e pede uma esmola. “Como é Kalinski, você não vai fazer nada?”, falou alguém. Kalinski pegou o copo de cerveja que bebia, encheu a boca edespejou no rosto de São Clemente.

Embora de índole colérica, o santo não se perturbou. Puxou o lenço, limpou o rostoe disse ao agressor: “Você já deu o que eu mereço. Agora, dê uma esmola para meus

 pobres”. A atitude do santo desconcertou Kalinski e os demais do grupo. Na mesma noite, Kalinski mandou a São Clemente um saquinho de moedas de ouro

e, arrependido e penitente, tornou-se grande amigo e colaborador do santo. É a força damansidão e do perdão. Isto é amontoar brasas ardentes sobre a cabeça do pecador.

Para praticarmos essa bela virtude é preciso estarmos convencidos de sua beleza,eficácia e poder, pois o mundo nos ensina o contrário: “bateu, levou!” Jesus ensina ooposto: “bateu, dê-lhe a outra face!” É certo, como dois mais dois são quatro, que oagressor ficará desconcertado e envergonhado do seu gesto. Se não na hora, depois,quando esfriar o seu sangue. As brasas do amor foram acumuladas sobre a sua cabeça...

Estou convencido de que esta é a maior prova para o cristão: “pagar o mal com o bem, amar o inimigo, orar pelo que te persegue...”. Não é fácil perdoar e orar pelamulher que levou o seu marido; pelo rapaz que assassinou o seu filho; pelo ladrão queroubou o seu carro; pelo sujeito que te humilhou em público... Não é fácil! A naturezareage, esperneia, quer vingar-se, quer o revide, quer “beber o sangue” do outro... Só pelagraça de Deus é possível, pois, como disse Santo Agostinho: “O que é impossível ànatureza, é possível à graça.”

Quando olho para Jesus crucificado, a lição mais forte que aprendo é essa: “Eu quesou Deus, morri crucificado, perdoando os meus algozes. Faças o mesmo se queres ser cristão.” Não há mérito maior diante de Deus!

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NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

Quem se entrega a Deus não teme ao Demônio.   (Santo Ambrósio)

Se Deus é por nós, quem será contra nós.(Rm 8,31)

Pedimos ao nosso Pai que não nos “deixe cair em tentação”. São Tiago diz que“Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tg 1,13). Ele quer nos livrar dela. Estamos empenhados no combate “entre a carne e o espírito”.

Quem foi criado livre, à imagem e semelhança de Deus, pode ser tentado não só peloDemônio – o principal tentador – mas também pelo mau uso da liberdade e demaisfaculdades da alma, como aconteceu com os anjos no céu. Eles não foram tentados por alguém, mas caíram pelo mau uso da liberdade, não querendo servir a Deus, masquerendo ser “como Deus”. Foi o pecado de soberba, nascido do seu interior.

Por que o Demônio nos tenta? Porque ele quer afastar-nos da amizade de Deus.Como ele perdeu esta amizade e experimenta definitivamente a frustração, então, tentaaliviar sua dor fazendo-nos também rejeitar a Deus e participar da sua danação. Quem érevoltado como ele, não pode ver o outro em paz e feliz, porque se sente mal com isso.

O livro da Sabedoria explica algo muito importante: “Ora, Deus criou o homem paraa imortalidade, e o fez a imagem de sua própria natureza. Foi por inveja do demônio quea morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão. Deus não é oautor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma” (Sb 2,23-24;1,13).

O livro do Apocalipse revela uma triste realidade: “Houve uma batalha no céu,

Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão, Satanás, o sedutor do mundo inteiro.Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos” (Ap 12,9). São Pedro chama oDemônio de adversário, e contra quem devemos estar atentos: “Sede sóbrios e vigiai.Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como leão que ruge, buscando aquem possa devorar. Resisti-lhe fortes na fé” (1Pd 5,8).

O Demônio é um revoltado contra Deus e contra o Seu Reino, por isso Jesus veiovencê-lo e destruir o seu reino, com Sua morte na Cruz. A morte que o Demônio fazentrar no mundo, pelo pecado, é a morte espiritual, da qual a morte física é um sinal. SãoPaulo explica tudo quando diz que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23). Há duasmortes, diz Santo Tomás, a primeira é quando o corpo se separa da alma, mas a pior é asegunda, quando a alma se separa de Deus, pelo pecado mortal.

O pecado original desorganizou a nossa natureza e a nossa vida; tirou-nos o foco deDeus, que é nossa felicidade, e nos voltou para as criaturas. Elas foram criadas para nós, para que servindo delas cheguemos a Deus; mas, o pecado nos tornou escravos delas enão seus senhores. O dinheiro é ótimo como servo, mas é cruel como patrão; o mesmo podemos dizer do sexo, da gula etc. A fraqueza da carne nos tornou escravos das

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combate e à Sua agonia que Cristo nos une neste pedido a nosso Pai. A vigilânciaconsiste em “guardar o coração”, e Jesus pede ao Pai que “nos guarde em seu nome”.Esse pedido adquire todo seu sentido dramático no contexto da tentação final de nossocombate na terra; pede a perseverança final: “Eis que venho como um ladrão: felizaquele que vigia!” (Ap 16,15).

Temos de lutar com todas as forças contra o pecado porque ele nos separa de Deus emata a nossa alma. O Catecismo ensina:

O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a

 perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for 

recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a

morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso

(§1861).

Fomos criados para participar da vida bem-aventurada, vida feliz em Deus; viver sem

Ele, para sempre, é a morte da alma. Santo Agostinho disse:É desígnio de Deus que toda alma desregrada seja para si mesma o seu castigo. Eu pecava, porque em

vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em

mim e nos outros. Por isso precipitava-me na dor, na confusão e no erro.

O salmista diz que “o que ama a iniquidade odeia a sua alma” (Sl 10,6). O pecado éa nossa tristeza, a santidade é a nossa alegria, diz o Santo. É tão grave o pecado que aCarta aos hebreus manda “resistir até o sangue na luta contra o pecado” (Hb 12,4).

Muitos preferiram o martírio ao pecado. Ainda que sejamos vencidos na tentação,

não podemos desanimar; é preciso voltar sempre a Deus na humildade e com o coraçãocontrito. Volte a Deus rapidamente, como o salmista:

Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa

misericórdia, apagai a minha iniquidade. Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu

 pecado. Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Dos meus pecados desviai os olhos, e

minhas culpas todas apagai. Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de

firmeza. De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito. Restituí-me a alegria

da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa... Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito

contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar (Sl 50,1-19).

 Nunca podemos desanimar na luta contra o pecado, pois o Catecismo nos diz que“não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar.

ão existe ninguém, por mau e culpado que seja, que não deva esperar com segurança aseu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero. Cristo, que morreu por todos oshomens, quer que, em Sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todoaquele que recua do pecado” (§982).

A Igreja nos dá os remédios contra o pecado: a vigilância sobre os sentidos, o jejum,

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a esmola, a oração, a meditação da Palavra de Deus e de bons livros, a Confissão e aEucaristia. Quem usa esses remédios, mesmo que caia, acaba vencendo a luta contra os pecados. É uma luta dura, mas necessária, sem a qual não podemos agradar a Deus e ser felizes.

“O jejum purifica a alma, eleva os sentidos, sujeita a carne ao espírito, faz-nos

contrito e humilhado o coração, dissipa o nevoeiro da concupiscência, extingue os odoresda sensualidade, acende a verdadeira luz da castidade”, diz Santo Agostinho.

O profeta nos diz: “Volta, Israel, ao Senhor teu Deus, porque foi teu pecado que tefez cair. Eis o que diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me e vivereis! Buscai o bem enão o mal, e vivereis; e o Senhor Deus dos exércitos estará convosco, como o dizeis”(Os 14,1; Am 5,4.14).

Jesus poderia ter se livrado da tentação do deserto, poderia não ter permitido Satanáschegar a Ele e O tentar; mas Ele permitiu, para nos ensinar como vencê-lo. O Demônioquer, acima de tudo, “nos afastar de Deus”, a fonte da nossa felicidade. “Sois o meu

Senhor, fora de Vós não há felicidade para mim. Senhor, Vós sois a minha parte deherança e meu cálice; Vós tendes nas mãos o meu destino” (Sl 15,2).

 No combate contra o Demônio, Jesus lançou três vezes a Palavra de Deus, oDeuteronômio, no rosto de Satanás, e ele caiu para trás. “Nem só de pão vive o homem,mas de toda palavra que sai da boca de Deus! Adorarás o Senhor teu Deus e só a Eleservirás. Não tentará o Senhor teu Deus” (Dt 8,3;6,13.16).

O Demônio não pode nada contra a Palavra de Deus porque ela é viva e eficaz,mais penetrante do que uma espada de dois gumes. Ela é a espada do Espírito   (cf. Hb4,12; Ef 6,17). Sem a Palavra divina, estamos desarmados diante do Mal. Nós também precisamos trazer esta espada de fogo no coração e nos lábios contra as tentações.Meditá-la, absorvê-la, guardá-la, amá-la.

O nosso combate espiritual não pode ser travado por nós mesmos, não! Temos devencer na força do Espírito Santo. São João disse que “esta é a vitória que vence omundo: a nossa fé” (1Jo 5,4). O salmista canta:

O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador. Meu Deus é a minha rocha, onde

encontro o meu refúgio, meu escudo, força de minha salvação e minha cidadela. Invoco o Senhor,

digno de todo louvor, e fico livre dos meus inimigos. Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para

meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos seusouvidos (Sl 17,3-7).

É preciso vigiar. As portas da alma são os nossos cinco sentidos, e são por eles que oTentador penetra no coração. Santo Agostinho disse que “o demônio não influencia nemseduz ninguém se não encontra terreno propício. Quando o homem ambiciona umacoisa; sua concupiscência legitima as sugestões do demônio. Quando um homem temealgo, o medo abre uma brecha em sua alma pela qual se infiltram suas insinuações. Por 

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essas duas portas, a concupiscência e o medo, o demônio se apodera do homem”.Então, é preciso expulsar a busca do prazer e o medo, com oração. O Salmista diz:

“Apenas clamaram os justos o Senhor atendeu e os livrou de todas as suas angústias.Muitas são as provações do justo, mas de todas as livra o Senhor” (cf. Sl 33,18.20).

 Nas tentações é preciso ter paciência, confiança e abandono nas mãos de Deus. A

tentação atinge muito o homem inconstante e que não se recomenda a Deus; pode ser comparado a um barco sem leme, que fica a deriva no meio das ondas do mar.

Se houver uma queda, não fique pisando na alma e se condenando; isso é refinadoorgulho de quem não aceita a sua miséria. Temos de levantar, pedir perdão a Deus eretomar a caminhada.

 Não é porque somos tentados que perdemos a graça de Deus. Sentir não é pecado,mas sim consentir. Não são os maus pensamentos que fazem perder a Deus, mas sim osmaus consentimentos. “Mesmo carregado de grandes e molestas tentações, o homem pode ir a Deus, desde que sua razão e vontade não consintam nelas”, disse São João da

Cruz. Os santos sofreram muitas tentações, por isso podem nos ensinar.São Francisco de Sales dizia: “Não vos aflijais com as tentações de blasfêmias.

Deixai que o demônio as maquine à vontade, mas conservai bem fechadas as portas daalma, pois que lhe virá o cansaço ou será ele afinal, obrigado por Deus, a levantar ocerco.”

O grande São Bernardo, doutor da Igreja, pregador do Papa, dizia: “Quem somosnós, ou qual é a nossa força para resistirmos a tantas tentações? Certamente era isso queDeus queria: que nós, vendo a nossa insuficiência e a falta de auxílio, recorrêssemos comtoda humildade à sua misericórdia. Quantas vezes vencemos as tentações, tantas vezessomos coroados.”

 Nesse combate espiritual não pode faltar a presença de Nossa Senhora em nossadefesa. Ela é a Mãe espiritual que Jesus nos deu na cruz, que O acompanhou até otúmulo e que nos acompanha em nosso combate espiritual. A consagração diária a ela e adevoção profunda em seu auxílio nos ajudam a vencermos as insídias do Demônio. SãoJoão Bosco rezava a ela:

Virgem poderosa, Tu grande e ilustre defensora da Igreja; Tu auxílio maravilhosodos cristãos; Tu temível como um exército em ordem de batalha; Tu que só

destruístes todas as heresias em todo o mundo; ó Senhora, nas nossas angústias,lutas, tentações e aflições, defende-nos do inimigo; e na hora da nossa morteacolhe a nossa alma no paraíso. Amém!

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MAS LIVRAI-NOS DO MAL 

Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como um leão que ruge, buscandoa quem devorar.

(1Pd 5,20)

“O último pedido ao nosso Pai aparece também na oração de Jesus: ‘Não te peçoque os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno’” (Jo 17,15), diz o nossoCatecismo. E nos ensina: “Neste pedido, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O diabo (diabolôs) é aquele que“se atira no meio” do plano de Deus e de sua “obra de salvação” realizada em Cristo”(§2851).

Jesus disse que ele é “homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira fala

daquilo que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44). Ele, “Satanás,é sedutor de toda a terra habitada” (Ap 12,9).

Foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo. O livro da Sabedoria explicaalgo muito importante:

Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez a imagem de sua própria natureza. Foi por inveja

do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão. Deus não é o

autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma” (Sb 1,13;2,23-24).

E é por sua derrota definitiva que a criação toda será “liberta da corrupção do pecado

e da morte”. Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o gerado por Deus se preserva e o

Maligno não o pode atingir. Nós sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do

Maligno. Não façamos como Caim, que era do Maligno e matou o seu irmão. E por que o matou?

Porque as suas obras eram más, e as do seu irmão, justas (1Jo 3,12;5,18-19).

 Não há dúvidas sobre isso, o Demônio existe. A Igreja diz que sim; e esta realidade éatestada pela Bíblia, pela Tradição dos Apóstolos e pelo Magistério sagrado da Igreja. Ossantos o confirmam. Não há um só santo que não tenha acreditado no Demônio. Seria

 preciso destruir a Igreja e o cristianismo, desde as suas raízes, para negar a existência doDemônio. No entanto, inacreditavelmente, ainda encontramos pessoas na Igreja, mesmo

sacerdotes e teólogos, que, em oposição ao que a Igreja ensina, têm a coragem e adesonestidade de ensinar que Satanás não existe. É uma grande e terrível heresia.

São João deixa claro: “Eis que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obrasdo demônio” (1Jo 3,8). Isso é determinante.

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Eis o que ensina o Catecismo da Igreja Católica:

§328. A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente

anjos, é uma verdade de fé. O testamento da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da

Tradição.

§330. Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade; são criaturas

 pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de

sua glória.

§391. Por trás da opção de desobediência de nossos primeiros pais há uma voz sedutora que se opõe a

Deus, e que, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo

destronado, chamado Satanás ou Diabo. A Igreja ensina que ele tinha sido anteriormente um anjo bom,

criado por Deus! Com efeito, o Diabo e outros demônios foram por Deus criados bons em (sua)

natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa.

§392. A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta “queda” consiste na opção livre desses espíritos

criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e o seu Reino. Temos um reflexo desta

rebelião nas palavras do Tentador ditas a nossos primeiros pais: “E vós sereis como deuses” (Gn 3,5).“O Diabo é pecador desde o princípio; pai da mentira” (1Jo 3,8; Jo 8,44).

§393. É o caráter irrevogável da sua opção, e não uma deficiência da infinita misericórdia divina, que

faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. Não existe arrependimento para eles depois da

queda, como não existe arrependimento para os homens após a morte.

§394. A Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama de “o homicida desde o

 princípio” (Jo 8,44), e que até chegou a tentar desviar Jesus de sua missão recebida do Pai. Para isto é

que o filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do Diabo” (1Jo 3, 9). A mais grave dessas

obras, devido às suas consequências, foi a sedução mentirosa que induziu o homem a desobedecer a

Deus.

§395. Contudo, o poder de Satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de

ser puro espírito, mas sempre criatura; não é capaz de impedir a edificação do Reino de Deus. Embora

Satanás atue no mundo por ódio contra Deus e o seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause

graves danos – de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física – para cada homem e para

a sociedade, esta ação é permitida pela Divina Providência, que com vigor e doçura dirige a história do

homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas “nós sabemos

que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28).

O Magistério da Igreja ensina que eles são reais, criados bons, dotados de inteligênciae vontade, capazes de agir no mundo. Este é um dado de fé. Não podem ser entendidoscomo personificação mitológica do bem ou do mal no mundo. Os anjos dependem deDeus Criador. Foram criados por Deus; por conseguinte, foram criados bons. Se o Diaboé mau, isto se deve ao fato de que pecou. Afastou-se livremente de Deus condenando-sea estar privado de Deus para sempre, pois os seres espirituais são imortais por sua própria natureza.

Por permissão de Deus, o Diabo atua astuciosamente, tentando levar o homem aomal, sem poder anular a liberdade humana. O homem, ao pecar, entrega-se à influência

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do Maligno.Cristo Redentor nos resgatou do domínio do Maligno. Dom Estêvão Bettencourt

(osb) ensina:

O Magistério da Igreja não se compromete com outras afirmações, como ao tipo de pecado dos anjos

maus, ao número e à hierarquia dos anjos bons e maus, às modalidades de sua atuação no mundo. Se

alguém deseja ultrapassar os limites dos dados fundamentais propostos pelo Magistério da Igreja,

“entra, como diz Paulo VI, num mundo misterioso, marcado por um drama muito infeliz, do qual pouca

coisa conhecemos (15 de novembro de 1976).

Quem se entrega a Deus não teme o Demônio. “Se Deus é por nós, quem serácontra nós?” (Rm 8,31). Padre Pio disse que “o demônio é como um cão raivosoacorrentado: além dos limites da corrente ele não pode atacar ninguém. Fique, portanto,longe dele. Se você se aproxima, você se deixa agarrar! O demônio só tem uma porta para entrar na nossa alma: a vontade. Não há nenhuma porta secreta”.

A vitória sobre o “príncipe deste mundo” foi alcançada, de uma vez por todas, na Hora em que Jesus se

entregou livremente à morte para nos dar sua vida. O príncipe deste mundo é “lançado fora”, “Ele põe-

se a perseguir a Mulher”, mas não tem poder sobre ela: a nova Eva, “cheia de graça” por obra do

Espírito Santo, é preservada do pecado e da corrupção da morte (Imaculada Conceição e Assunção da

Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre virgem). “Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então

guerrear contra o resto de seus descendentes” (Ap 12,17). Por isso o Espírito e a Igreja rezam: “Vem,

Senhor Jesus” (Ap 22,17.20), porque a sua Vinda nos livrará do Maligno (§2853).

A Virgem Maria é Aquela que lhe esmaga a cabeça; por isso, temos de sempre nosconsagrar a Ela. Ao pedir que nos livre do Maligno, pedimos igualmente que o Pai nos

liberte de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ouinstigador.

 Neste último pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com alibertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e agraça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo. Rezando dessa forma, elaantecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo Naquele que “detém aschaves da Morte e do Hades” (Ap 1,18), “o Todo-Poderoso, Aquele que é, Aquele queera, Aquele que vem” (Ap 1,8).

“Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossamisericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos,enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”, é o querezamos na santa Missa.

O papa Bento XVI, em 22 de julho de 2012, disse:

 Na verdade, o diabo tenta sempre arruinar a obra de Deus, semeando divisões no coração humano,

entre corpo e alma, entre o homem e Deus, nas relações interpessoais, sociais, internacionais, e também

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entre o homem e a criação. O maligno semeia guerra; Deus cria a paz. Com efeito, como indicou São

Paulo, Cristo “é a nossa paz: de dois povos fez um só povo, em sua carne derrubando o muro da

inimizade que os separava.1

Os evangelhos apresentam seis histórias de exorcismo, e mais a referência a MariaMadalena, da qual foram expulsos sete demônios. Isto mostra a importância do Rito doExorcismo aprovado pelo Papa.

 – Mc 1,23-28 // Lc 4,33-37: o endemoninhado na sinagoga de Cafarnaum; – Mc 5,1-20: o endemoninhado geraseno; – Mc 7,24-30 // Mt 15,21-28: a filha da mulher siro-fenícia; – Mc 9,14-29: o menino possuído; – Mt 12,24 // Lc 11,14-15: o endemoninhado mudo e cego; – Mt 9,32-33: o endemoninhado mudo; – Lc 8,2: Maria Madalena.

Em 15 de novembro de 1972, em uma Audiência, o papa Paulo VI fez a famosaAlocução  Livrai-nos do Mal , na qual falou da existência do Demônio e de sua ação perversa.

O Papa começou perguntando: “Atualmente, quais são as maiores necessidades daIgreja?” E ele mesmo responde: “Não deveis considerar a nossa resposta simplista, ouaté supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa daquele Mal, a quechamamos Demônio.”

Paulo VI mostra que a realidade do pecado é uma ação perversa deste Mal; “o efeitode uma intervenção, em nós e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimigo, o

Demônio. O mal já não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo,espiritual, pervertido e perversor. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa emedonha”.

E deixou claro que estão em desacordo com o ensinamento da Igreja quem nega aexistência do Demônio:

Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos e eclesiásticos que se recusa a reconhecer a existência desta

realidade; ou melhor, quem faz dela um princípio em si mesmo, como se não tivesse, como todas as

criaturas, origem em Deus, ou a explica como uma pseudorealidade, como uma personificação

conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças.

Paulo VI relembra a tríplice tentação que Jesus sofreu no deserto e os muitosepisódios evangélicos, nos quais o Demônio se encontra com o Senhor e aparece nosSeus ensinamentos (cf. Mt 1,43).

“E como não haveríamos de recordar que Jesus Cristo, referindo-se três vezes aoDemônio como seu adversário, o qualifica como “príncipe deste mundo” (Jo12,31;14,30; 16,11)? E a ameaça desta nociva presença é indicada em muitas passagens

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do Novo Testamento. São Paulo chama-lhe “deus deste mundo” (2Cor 4,4) e previne-nos contra as lutas ocultas, que nós cristãos devemos travar não só com o Demônio, mascom a sua tremenda pluralidade:

Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às ciladas do Demônio. Porque nós não

temos de lutar (só) contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, contra os Dominadores deste

mundo tenebroso, contra os Espíritos malignos espalhados pelos ares (Ef 6,11-12).

Paulo VI afirma que “não se trata de um só Demônio, mas de muitos (cf. Lc 11,21;Mc 5,9), um dos quais é o principal: Satanás, que significa o adversário, o inimigo; e, aolado dele, estão muitos outros, todos criaturas de Deus, mas decaídas, porque rebeldes econdenadas; constituem um mundo misterioso transformado por um drama muito infeliz,do qual conhecemos pouco (cf. DS 800)”.

O Papa diz que o Demônio é a origem de todo o pecado que entrou no mundo:

O Demônio é a origem da primeira desgraça da humanidade; foi o tentador pérfido e fatal do primeiro

 pecado, o pecado original (cf. Gn 3; Sb 1,24). Com aquela falta de Adão, o Demônio adquiriu um certo

 poder sobre o homem, do qual só a redenção de Cristo nos pode libertar. Ele é o inimigo número um, o

tentador por excelência. Sabemos, portanto, que este ser mesquinho, perturbador, existe realmente e

que ainda atua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história

humana.

Depois de nos lembrar da parábola do joio que o Demônio semeia no bom trigo deDeus ( Inimicus homo hoc fecit   – Mt 13,2), relembra que ele é o assassino desde o princípio, e “pai da mentira”, como o define Cristo (cf. Jo 8,44-45).

Ele é o pérfido e astuto encantador, que sabe insinuar-se em nós através dos sentidos, da fantasia, daconcupiscência, da lógica utópica, ou de desordenados contatos sociais na realização de nossa obra,

 para introduzir neles desvios, tão nocivos quanto na aparência, conforme às nossas estruturas físicas

ou psíquicas, ou às nossas profundas aspirações instintivas.

Este Papa ainda ensina que nem todo pecado é obra direta do Demônio, mas lembra-nos de que “aquele que não vigia com certo rigor moral a si mesmo (cf. Mt 12,45; E6,11), se expõe ao influxo do “mysterium iniquitatis”, ao qual São Paulo se refere (2Ts2,3-12) e que torna problemática a alternativa da nossa salvação”.

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ONDE ESTÁ A AÇÃO DO MAL? PAULO VIRESPONDE

Podemos admitir a sua atuação sinistra onde a negação de Deus se torna radical, sutil ou absurda; onde

o engano se revela hipócrita, contra a evidência da verdade; onde o amor é anulado por um egoísmofrio e cruel; onde o nome de Cristo é empregado com ódio consciente e rebelde (cf. 1Cor 16,22;12,3);

onde o espírito do Evangelho é falsificado e desmentido; onde o desespero se manifesta como a última

 palavra.

Paulo VI termina nos ensinando a defesa contra o Mal: “Sabemos – escreve oevangelista São João – que todo aquele que foi gerado por Deus guarda-o, e o Malignonão o toca” (1Jo 5,19).

A graça é a defesa decisiva. A inocência assume um aspecto de fortaleza. E, depois, todos devem

recordar o que a pedagogia apostólica simbolizou na armadura de um soldado, ou seja, as virtudes que podem tornar o cristão invulnerável (cf. Rm 13,13; Ef 6,11-14-17; 1Ts 5,8). O cristão deve ser 

militante; deve ser vigilante e forte (1Pd 5,8); e algumas vezes, deve recorrer a algum exército ascético

especial, para afastar determinadas invasões diabólicas. Jesus ensina-o, indicando o remédio “na oração

e no jejum” (Mc 9,29). E o apóstolo indica a linha mestra que se deve seguir: “Não te deixes vencer 

 pelo mal; vence o mal com o bem” (Rm 12,21; Mt 13,29).

E termina dizendo: “Procuraremos dar sentido e eficácia à usual invocação da nossaoração principal: ‘Pai nosso... Livrai-nos do Mal.’”

O maior serviço que alguém pode prestar ao Demônio é ensinar que ele não existe;

assim, os fiéis não se defendem contra ele, e se tornam assim, suas vítimas.“A maior falcatrua do Diabo é convencer-nos de que ele não existe” (Charles

Baudelaire – 1821-1867, poeta lírico francês).

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CATEQUESES DO PAPA JOÃO PAULO II

O papa João Paulo II fez três Catequeses importantes sobre os anjos maus.

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A queda dos anjos rebeldes

(Audiência do dia 13 de agosto de 1986 - L’osservatore Romano, ed. port., no dia 17de agosto de 1986).

1. Continuando o argumento das catequeses passadas dedicadas aos Anjos, criaturasde Deus, concentramo-nos hoje a explorar o mistério da liberdade que alguns delesorientaram contra Deus, e o seu plano de salvação em relação aos homens.

Como testemunha o evangelista Lucas, no momento em que os discípulos voltavamao Mestre cheios de alegria, pelos frutos recolhidos no seu tirocínio missionário, Jesus pronuncia uma palavra que faz pensar: “Eu via Satanás cair do céu como um raio” (cf.Lc 10,18). Com estas palavras o Senhor afirma que o anúncio do Reino de Deus ésempre uma vitória sobre o Diabo, mas ao mesmo tempo revela também que aedificação do reino está continuamente exposta às insídias do espírito mau.

Interessar-se por isso, como pretendemos fazer com a catequese de hoje, quer dizer  preparar-se para a condição de luta que é própria da vida da Igreja neste tempoderradeiro da história, da salvação (como afirma o livro do Apocalipse, cf. 12,7). Por outro lado, isto permite esclarecer a reta fé da Igreja perante quem a altera exagerando aimportância do diabo, ou quem nega ou minimiza o seu poder maléfico. As catequeses passadas, acerca dos anjos, preparam-nos para compreender a verdade que a SagradaEscritura revelou e que a tradição da Igreja transmitiu sobre Satanás, isto é, sobre o anjocaído, o espírito maligno, chamado também diabo ou demônio.

2. Esta queda, que apresenta o caráter da rejeição de Deus, com o consequente

estado de danação, consiste na livre escolha daqueles espíritos criados, que radical eirrevogavelmente rejeitaram Deus e o seu reino, usurpando os seus direitos soberanos etentando subverter a economia da salvação e a própria ordem da criação inteira. Umreflexo desta atitude encontra-se nas palavras do tentador aos progenitores: “sereis comoDeus” ou “como deuses” (cf. Gn 3,5). Assim o espírito maligno tenta insuflar no homema atitude de rivalidade, de insubordinação e de oposição a Deus, que se tornou quase amotivação de toda a sua existência.

3. No Antigo Testamento, a narração da queda do homem, apresentada no livro doGênesis, contém uma referência à atitude de antagonismo que Satanás quer comunicar 

ao homem para o levar à transgressão (Gn 3,5). Também no livro de Jó (cf. Jó 1,11;2,24), Satanás é apresentado como o artífice da morte que entrou na história do homemuntamente com o pecado.

4. A Igreja, no Concílio Lateranense IV (1215), ensina que o diabo, ou (Satanás) e osoutros demônios “foram criados bons por Deus, mas tornaram-se maus por sua própriavontade”. De fato, lemos na Carta de São Judas: “Os anjos que não souberam conservar a sua dignidade, mas abandonaram a própria morada, Ele os guardou para o julgamento

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do grande dia, em prisões eternas e no fundo das trevas” (Jd 6). De modo idêntico naSegunda Carta de São Pedro fala-se de “anjos que pecaram” e que Deus “não poupou...e os precipitou nos abismos tenebrosos do inferno, para serem reservados para o Juízo”(2Pd 2,4). É claro que se Deus “não perdoa” o pecado dos anjos fá-lo porque eles permanecem no seu pecado, porque estão eternamente “nas prisões” daquela escolha

que fizeram no início, rejeitando Deus, sendo contra a verdade do Bem supremo edefinitivo que é Deus mesmo. Neste sentido São João escreve que “o demônio pecadesde o princípio” (1Jo 3,8). E foi assassino “desde o princípio” (1Jo 8,44), e “não semanteve na verdade, porque nele não há verdade” (Jo 8,44).

5. Estes textos ajudam-nos a compreender a natureza e a dimensão do pecado deSatanás, consciente na rejeição da verdade acerca de Deus, conhecido à luz dainteligência e da revelação como Bem infinito, Amor e Santidade subsistente. O pecadofoi tanto maior quanto maior era a perfeição espiritual e a perspicácia cognoscitiva dointelecto angélico, quanto maior era a sua liberdade e a proximidade de Deus. Rejeitando

a verdade conhecida acerca de Deus com um ato da própria vontade livre, Satanás torna-se “mentiroso”, cósmico e “pai da mentira” (Jo 8,44). Por isso ele vive na radical eirreversível negação de Deus e procura impor a criação aos outros seres criados àimagem de Deus, que Satanás (sob forma de serpente) tenta transmitir aos primeirosrepresentantes do gênero humano: Deus seria cioso das suas prerrogativas e imporia, portanto, limitações ao homem (cf. Gn 3,5). Satanás convida o homem a libertar-se daimposição deste jugo, tornando-se como “Deus”.

6. Nesta condição de mentira existencial, Satanás torna-se – segundo São João – também “assassino”, isto é, destruidor da vida sobrenatural que Deus desde o princípiotinha introduzido nele e nas criaturas, feitas “à imagem de Deus”: os outros purosespíritos e os homens; Satanás quer destruir a vida segundo a verdade, a vida na plenitude do bem, a sobrenatural vida de graça e de amor. O autor do livro da Sabedoriaescreve: “Por inveja do demônio é que a morte entrou no mundo, e prová-la-ão os que pertencem ao demônio” (Sb 2,24). E no evangelho Jesus Cristo adverte: “Temei antesaquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma” (Mt 10,28).

7. Como efeito do pecado dos progenitores, este anjo caído conquistou em certamedida o domínio sobre o homem. Esta é a doutrina constantemente confessada eanunciada pela Igreja, e que o Concílio de Trento confirmou no tratado sobre o pecadooriginal (cf. DS 1511): ela encontra dramática expressão na liturgia do batismo, quandoao catecúmeno se pede para renunciar ao demônio e a suas tentações.

Deste influxo sobre o homem e sobre as disposições do seu espírito (e do corpo),encontramos várias indicações na Sagrada Escritura, na qual Satanás é chamado “o príncipe deste mundo” (2Cor 4,4). Encontramos muitos outros nomes que descrevem assuas nefastas relações com o homem: “Belzebu” ou “Belial”, “espírito maligno”, e por 

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fim “anticristo” (1Jo 4,3). É comparado com um “leão” (1Pd 5,9), com um “dragão”(Apocalipse) e com uma serpente (Gn 3). Com muita frequência, para o designar, éusado o nome “diabo”, do grego “diabellein” (daqui diábolos), que significa: causar adestruição, dividir, caluniar, enganar. E, para dizer a verdade, tudo isto acontece desde o princípio, por obra do espírito maligno, que é apresentado pela Sagrada Escritura, como

uma pessoa, embora tenha afirmado que não está só: “somos muitos”, respondem osdiabos a Jesus, na região dos gerasenos (Mc 5,9); “o diabo e seus anjos”, diz Jesus, nadescrição do juízo final (cf. Mt 25,41).

8. Segundo a Sagrada Escritura, e de modo especial, no Novo Testamento, odomínio e o influxo de Satanás e dos outros espíritos malignos abrangem todo o mundo.Pensemos na parábola de Cristo sobre o campo (que é o mundo), sobre a boa semente esobre a que não é boa, que o diabo semeia no meio do trigo procurando arrancar doscorações aquele bem que neles foi “semeado” (cf. Mc 13,38-39). Pensemos nasnumerosas exortações à vigilância (cf. Mt 26,41; 1Pd 5,8), à oração e ao jejum (cf. Mt

17,21). Pensemos naquela forte afirmação do Senhor: “Esta espécie de demônios só pode ser expulsa com oração” (Mc 9,29). A ação de Satanás consiste, antes de tudo, emtentar os homens ao mal influindo na sua imaginação e nas suas faculdades superiores para as orientar em direção contrária à lei de Deus. Satanás põe à prova até Jesus (cf. Lc4,3-13), na tentativa extrema de contrariar as exigências da economia da salvação comoDeus a estabeleceu.

 Não é para excluir que em certos casos o espírito maligno chegue até o ponto deexercer o seu influxo não só nas coisas materiais, mas também sobre o corpo do homem, pelo que se fala de “possessos de espíritos impuros” (Mc 5,2-9). Nem sempre é fácildiscernir o que de preternatural acontece nesses casos, nem a Igreja condescende ousecunda facilmente a atribuir muitos fatos a intervenções diretas do demônio, mas emlinha de princípio não se pode negar que, na sua vontade de prejudicar e de levar para omal, Satanás possa chegar a esta extrema manifestação da sua superioridade.

9. Devemos por fim acrescentar que as impressionantes palavras do Apóstolo João:“O mundo inteiro está sob o jugo do maligno” (1Jo 5,19), aludem também à presença deSatanás na história da humanidade, uma presença que se acentua à medida que o homeme a sociedade se afastam de Deus. O influxo do espírito maligno pode ocultar-se de modomais profundo e eficaz: fazer-se ignorar corresponde aos seus “interesses”. A habilidadede Satanás no mundo está em induzir os homens a negarem a sua existência, em nomedo racionalismo e de cada um dos outros sistemas de pensamento que procuram todas asescapatórias para não admitir a obra dele. Isto não significa, porém, a eliminação davontade livre e da responsabilidade do homem e nem se quer a frustração da açãosalvífica de Cristo. Trata-se antes de um conflito entre as forças obscuras do mal e asforças da redenção. São eloquentes a este propósito as palavras que Jesus dirigiu a Pedro

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no início da Paixão: “Simão, olha que Satanás vos reclamou para vos joeirar como otrigo. Mas Eu roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça” (Lc 22,31).

Por isso compreendemos o motivo por que Jesus, na oração que nos ensinou, o “Pai-nosso”, que é a oração do Reino de Deus, termina bruscamente, ao contrário de muitasoutras orações do seu tempo, recordando-nos a nossa condição de expostos às insídias

do Mal Maligno. O cristão, fazendo apelo ao Pai com o espírito de Jesus e invocando oseu Reino, brada com a força da fé: não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do

al , do Maligno. Não nos deixeis, ó Senhor, cair, na infidelidade a que nos tenta aqueleque foi infiel desde o princípio.

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A vitória de Cristo sobre o espírito do mal

(Audiência do dia 20 de agosto de 1986 - L’osservatore Romano, ed. port., no dia 24de agosto de 1986).

1. As nossas catequeses sobre Deus, Criador das coisas “invisíveis”, levaram-nos ailuminar e a retemperar a nossa fé no que se refere à verdade acerca do maligno ouSatanás, não certamente querido por Deus, sumo Amor e Santidade, cuja Providênciasapiente e forte sabe conduzir a nossa existência à vitória sobre o príncipe das trevas. Afé da Igreja, de fato, ensina-nos que o poder de Satanás não é infinito. Ele é só umacriatura poderosa enquanto espírito puro, sendo sempre uma criatura, com os limites dacriatura, subordinada ao querer e ao domínio de Deus.

Se Satanás opera no mundo mediante o seu ódio contra Deus e o seu Reino, isto é permitido pela Divina Providência que, com poder e bondade ( fortiter et suaviter ), dirigea história do homem e do mundo. Se a ação de Satanás, sem dúvida, causa muitos danosde natureza espiritual e indiretamente também de natureza física – aos indivíduos e àsociedade, ele não está, contudo, em condições de anular a definitiva finalidade para quetendem o homem e toda a criação, o Bem. Ele não pode impedir a edificação do Reinode Deus, no qual se terá, no fim, a plena realização da justiça e do amor do Pai para comas criaturas eternamente “predestinadas” no Filho-Verbo, Jesus Cristo. Podemos mesmodizer com São Paulo que a obra do maligno concorre para o bem (cf. Rm 8,28) e queserve para edificar a glória dos “eleitos” (cf. 2Tm 2,10).

2. Assim toda a história da humanidade se pode considerar em função da salvação

total, na qual está inscrita a vitória de Cristo sobre o “príncipe deste mundo” (Jo 12,13;14,30;16,11). “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8), diz peremptoriamente Cristo a Satanás. Num momento dramático do seu ministério a quemo acusava de modo imprudente de expulsar os demônios por serem aliados de Belzebu,chefe dos demônios, Jesus responde com aquelas palavras severas e confortantes aomesmo tempo: “Todo o reino dividido contra si mesmo ficará devastado; e toda a cidadeou casa dividida contra si mesma não poderá subsistir. Ora, se Satanás expulsa Satanás,está dividido contra si mesmo. Como há de subsistir o seu reino?... Mas se é peloEspírito de Deus que Eu expulso os demônios, quer dizer, então, que chegou até vós o

reino de Deus” (Mt 12, 25.26.28). “Quando um homem forte e bem armado guarda oseu palácio, os seus bens estão em segurança; mas se aparece um mais forte e o vence,tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos” (Lc 11,21-22). As palavras pronunciadas por Cristo a propósito do Tentador encontram o seu cumprimentohistórico na cruz e na ressurreição do Redentor. Como lemos na Carta aos Hebreus,Cristo tornou-se participante da humanidade até a cruz “a fim de destruir, pela Suamorte, aquele que tinha o império da morte, isto é, o Demônio, e libertar aqueles que...

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estavam toda a vida sujeitos à escravidão” (Hb 2,14-15).Esta é a grande certeza da fé cristã: “O príncipe deste mundo está condenado” (Jo

16,11); “Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: Para destruir as obras doDemônio” (1Jo 3,8), como nos afirma São João. Por conseguinte, o Cristo crucificado eressuscitado revelou-se como o “mais forte” que venceu “o homem forte”, o diabo, e o

destronou. Na vitória de Cristo sobre o diabo participa a Igreja: Cristo, com efeito, deuaos seus discípulos o poder de expulsar os demônios (cf. Mt 10,1; Mc 16,17).

A Igreja exerce este poder vitorioso mediante a fé em Cristo e a oração (cf. Mc9,29), que em casos específicos pode assumir a forma do exorcismo.

3. Nesta fase histórica da vitória de Cristo inscreve-se o anúncio e o início da vitóriafinal, a Parusia, a segunda e definitiva vinda de Cristo no termo da história, em direçãodo qual está projetada a vida do cristão. Embora seja verdade que a história terrenacontinua a desenrolar-se sob o influxo daquele “espírito que – como diz São Paulo – atuanos rebeldes” (Ef 2,2), os crentes sabem que são chamados a lutar pelo definitivo triunfo

do Bem:“Porque nós não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas contra os Principados

e Potestades, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os Espíritosmalignos espalhados pelos ares” (Ef 6,12).

A luta, à medida que se aproxima do seu termo, torna-se, em certo sentido, cada vezmais violenta, como põe em relevo de modo especial o Apocalipse, o último livro do

ovo Testamento (cf. Ap 12,7-9). Mas precisamente este livro acentua a certeza que nosé dada por toda a Revelação divina: isto é, que a luta se concluirá com a definitiva vitóriado bem. Naquela vitória, pré-contida no mistério pascal de Cristo, cumprir-se-ádefinitivamente o primeiro anúncio do Livro do Gênesis, que é chamado, com termosignificativo, protoevangelho, quando Deus adverte a serpente: “Farei reinar a inimizadeentre ti e a mulher” (Gn 3,15). Naquela fase definitiva, Deus, completando o mistério dasua paterna Providência, “livrará do poder das trevas” aqueles que eternamente“predestinou em Cristo” e “transferi-los-á para o Reino de Seu Filho muito amado” (cf.Cl 1,13-14). Então o Filho sujeitará ao Pai também o universo inteiro, a fim de que“Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28).

4. Aqui concluem-se as catequeses sobre Deus Criador das “coisas visíveis einvisíveis”, unidas na nossa exposição com a verdade acerca da Divina Providência.Torna-se evidente aos olhos do crente que o mistério do princípio do mundo e da históriase liga indissoluvelmente ao mistério do termo, no qual a finalidade de toda a criaçãochega ao seu cumprimento. O Credo, que une tão organicamente tantas verdades, édeveras a catedral harmoniosa da fé.

De maneira progressiva e orgânica podemos admirar estupefatos o grande mistério dointelecto e do amor de Deus, na sua ação criadora, para com o cosmos, para com o

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homem, para com o mundo dos espíritos puros. Desta ação consideramos a matriztrinitária, a sapiente finalização para a vida do homem, verdadeira “imagem de Deus”, por sua vez chamado a reencontrar plenamente a sua dignidade na contemplação daglória de Deus. Fomos iluminados acerca de um dos maiores problemas que inquietam ohomem e penetram a sua busca da verdade: o problema do sofrimento e do mal. Na raiz

não está uma decisão de Deus errada ou má, mas a sua escolha e, de certo modo, o seurisco, de nos criar livres para nos ter como amigos. Da liberdade nasceu também o mal.Mas Deus não se rende, e com a sua sabedoria transcendente, predestinando-nos parasermos filhos em Cristo, tudo dirige com fortaleza e suavidade, para que o bem não sejavencido pelo mal.

Devemos agora deixar-nos guiar pela Divina Revelação na exploração de outrosmistérios da nossa salvação. Entretanto recebemos uma verdade que deve estar a peito atodo o cristão: a de que existem espíritos puros, criaturas de Deus, inicialmente todas boas, e depois, por uma escolha de pecado, separadas irredutivelmente em anjos de luz e

anjos de trevas. E enquanto a existência dos anjos maus requer de nós o sentido davigilância para não cair nas suas tentações, estamos certos de que o vitorioso poder deCristo Redentor circunda a nossa vida, a fim de que nós próprios sejamos vencedores.

isto somos validamente ajudados pelos anjos bons, mensageiros do amor de Deus, aosquais nós, ensinados pela tradição da Igreja, dirigimos a nossa oração: “Santo Anjo doSenhor, meu zeloso guardador, pois a ti me confiou a piedade divina, hoje, sempre,governa-me, rege-me, guarda-me, e ilumina-me. Amém.

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São Miguel nos proteja contra as insídias do Maligno

(Alocução do dia 24 de maio de 1987 no Santuário de São Miguel Arcanjo -L’osservatore Romano, ed. port., no dia 31 de maio de 1987).

Caríssimos irmãos e irmãs:1. Estou feliz de me encontrar no meio de vós à sombra deste santuário de São

Miguel Arcanjo, que há quinze séculos é meta de peregrinações e ponto de referência para quantos procuram a Deus e desejam pôr-se no seguimento de Cristo, por meio deQuem “foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, osTronos, as Dominações, os Principados e as Potestades” (Cl 1,16).

Saúdo cordialmente todos vós, peregrinos, aqui vindos das cidades que circundameste magnífico promontório do Gargano, que oferece ao olhar do visitante enlevosdeliciosos com a sua paisagem suave, florida, e com característicos grupos de oliveirasque se debruçam sobre a rocha. Saúdo em particular as Autoridades civis e religiosas,que contribuíram para tornar possível este encontro pastoral; saúdo o Arcebispo deManfredônia, Mons. Valentino Vailati, a quem se dirige o meu agradecimento, pelas palavras com que se dignou introduzir esta manifestação de fé. Saúdo também, esobretudo, os Padres Beneditinos da Abadia de Montevergine, que têm o cuidadoespiritual deste Santuário. A eles, e de modo especial ao seu Abade, Dom TommasoAgostino Gubitosa, exprimo a minha gratidão pela animação cristã e pelo clima espiritualque por eles são assegurados a quantos aqui vêm para retemperar o seu espírito nasfontes da fé.

2. A este lugar, como já fizeram no passado tantos Predecessores meus na Cátedrade São Pedro, vim também eu gozar um instante da atmosfera própria deste Santuário,feita de silêncio, de oração e de penitência; vim para venerar e invocar o Arcanjo SãoMiguel, para que proteja e defenda a Santa Igreja, num autêntico testemunho cristão,sem compromissos e sem acomodamentos.

Desde quando o Papa Gelásio I concedeu, em 493, o seu assentimento à dedicaçãoda gruta das aparições do Arcanjo são Miguel a lugar de culto e aqui realizou a sua primeira visita, concedendo a indulgência do “Perdão angélico”, uma série de RomanosPontífices seguiu os seus passos para venerar este lugar sagrado. Entre eles recordam-se

Agapito I, Leão IX, Urbano II, Inocêncio II, Celestino III, Urbano VI, Gregório IX, SãoPedro Celestino e Bento XV. Também numerosos Santos aqui vieram para haurir força econforto. Recordo São Bernardo, São Guilherme de Vercelli, fundador da Abadia deMontevergine, Santo Tomás de Aquino, Santa Catarina de Sena; entre estas visitas, permaneceu justamente célebre e ainda hoje continua viva a que foi realizada por SãoFrancisco de Assis, que veio aqui para preparar a Quaresma de 1221. A tradição diz queele, considerando-se indigno de entrar na gruta sagrada, se teria detido na entrada,

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gravando um sinal da cruz numa pedra.Esta viva e jamais interrompida frequência de peregrinos ilustres e humildes, que

desde a alta Idade Média até os nossos dias fez deste Santuário um lugar de encontro, deoração e de reafirmação da fé cristã, diz quanto a figura do Arcanjo Miguel, que é protagonista em tantas páginas do Antigo e do Novo Testamento, é sentida e invocada

 pelo povo, e quanto a Igreja tem necessidade da sua proteção celeste: dele, que éapresentado na Bíblia como o grande lutador contra o Dragão, o chefe dos demônios.Lemos no Apocalipse: “Travou-se, então, uma batalha no Céu: Miguel e os seus Anjos pelejavam contra o Dragão e este pelejava também juntamente com seus anjos. Mas não prevaleceram e não houve mais lugar no Céu para eles. O grande Dragão foi precipitado,a antiga serpente, o Diabo, ou Satanás, como lhe chamou, sedutor do mundo inteiro, foi precipitado na terra, juntamente com os seus anjos” (Ap 12,7-9). O autor sagradoapresenta-nos nesta dramática descrição o fato da queda do primeiro Anjo, que foiseduzido pela ambição de se tornar “como Deus”. Daqui a reação do Arcanjo Miguel,

cujo nome hebraico “Quem como Deus?” reivindica a unicidade de Deus e a suainviolabilidade.

3. Por mais fragmentárias que sejam, as notícias da Revolução sobre a personalidadee o papel de São Miguel são muito eloquentes. Ele é o Arcanjo (cf. Jd 1,9) que reivindicaos direitos inalienáveis de Deus. É um dos príncipes do Céu posto como guarda do PovoEleito (cf. Dn 12,1), de onde virá o Salvador. Ora, o novo Povo de Deus é a Igreja. Eis arazão pela qual ela o considera como próprio protetor e defensor em todas as suas lutas pela defesa e a difusão do reino de Deus na terra. É verdade que “as portas do infernonada poderão contra ela”, segundo a afirmação do Senhor (Mt 16,18), mas isto nãosignifica que estamos isentos das provas e das batalhas contra as insídias do maligno.

esta luta o Arcanjo Miguel está ao lado da Igreja para a defender contra as iniquidadedo século, para ajudar os crentes a resistir ao Demônio que “anda ao redor, como umleão que ruge, buscando a quem devorar” (1Pd 5,8).

Esta luta contra o Demônio, a qual caracteriza a figura do Arcanjo Miguel, é atualtambém hoje, porque o demônio está vivo e operante no mundo. Com efeito, o mal quenele existe, a desordem que se verifica na sociedade, a incoerência do homem, a rupturainterior da qual é vítima não são apenas consequências do pecado original, mas tambémefeito da ação nefanda e obscura de Satanás, deste insidiador do equilíbrio moral dohomem, ao qual São Paulo não hesita em chamar “o deus deste mundo” (2Cor 4,4),enquanto se manifesta como encantador astuto, que sabe insinuar-se no jogo do nossoagir, para aí introduzir desvios tão nocivos, quanto às aparências conformes às nossasaspirações instintivas. Por isto o Apóstolo das Gentes põe os cristãos de sobreaviso,quanto às insídias do Demônio e dos seus inúmeros sectários, quando exorta oshabitantes de Éfeso a revestirem-se “da armadura de Deus para que possam resistir às

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ciladas do Demônio. Porque nós não temos de lutar contra a carne e o sangue, mascontra os Principados e Potestades, contra os Dominadores deste mundo tenebroso,contra os Espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 6,11-12).

A esta luta nos chama a figura do Arcanjo São Miguel, a quem a Igreja, tanto noOriente como no Ocidente, jamais cessou de tributar um culto especial. Como se sabe, o

 primeiro Santuário a ele dedicado surgiu em Constantinopla por obra de Constantino: é océlebre  Michaelion, ao qual se seguiram naquela nova Capital do Império outrasnumerosas igrejas dedicadas ao Arcanjo. No Ocidente o culto de São Miguel, desde oséculo V, difundiu-se em muitas cidades como Roma, Milão, Piacenza, Gênova, Veneza;e entre tantos lugares de culto, certamente o mais famoso é este do monte Gargano. OArcanjo está representado sobre a porta de bronze, fundada em Constantinopla em 1076,no ato de abater o Dragão infernal. É este o símbolo, com o qual a arte no-lo representae a liturgia faz que o invoquemos. Todos recordam a oração que há anos se recitava nofinal da Santa Missa: “Sancte Michael Archangele, defende nos in proelio”; dentro em

 pouco, repeti-la-ei em nome da Igreja toda.E antes de elevar tal oração, a todos vós aqui presentes, aos vossos familiares e a

todas as pessoas que vos são queridas concedo a minha Bênção, que faço extensivatambém a quantos sofrem no corpo e no espírito.

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 A ORAÇÃO DO SENHOR, DE SANTO AGOSTINHO

(BISPO - SÉCULO V)

“Temos necessidade de palavras para incitar-nos e ponderarmos o que pediremos, enão com a intenção de dá-lo a saber ao Senhor ou a comovê-lo.

Quando, pois, dizemos: “Santificado seja o teu nome” (Mt 6,9; Lc 11,2), exortamo-nos a desejar que seu nome, imutavelmente santo, seja também considerado santo peloshomens, isto é, não desprezado.

O que é de proveito para os homens, não é para Deus.E ao dizermos: “Venha teu reino”, que, queiramos ou não, virá sem falta, acendemos

o desejo deste reino; que venha para nós e nele mereçamos reinar.Ao dizermos: “Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu”, pedimos-lheconceder-nos esta obediência de sorte que se faça em nós sua vontade do mesmo modocomo é feita no céu por seus anjos.

Dizemos: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Pela palavra “hoje” se entendeeste nosso tempo. Ou, com a menção da parte principal, indicando o todo pela palavra“pão”, pedimos aquilo que nos basta, ou o sacramento dos fiéis, necessário agora. Não, porém, para a felicidade deste tempo, mas para alcançarmos a felicidade eterna.

Dizendo: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos

devedores”, tomamos consciência do que pedimos e do que temos de fazer para merecer obtê-lo.

Ao dizer: “Não nos leves à tentação”, advertimo-nos a pedir que não aconteça que –  privados de seu auxílio em alguma tentação – iludidos, consintamos nela, ou cedamos perturbados.

Dizer: “Livra-nos do mal” nos leva a pensar que ainda não estamos naquele Bem emque não padeceremos de mal algum. E este último pedido da oração dominical é tãoamplo, que o cristão em qualquer tribulação em que se veja, por ele pode gemer, nelederramar lágrimas, daí começar, nele demorar-se, nele terminar a oração. É preciso

guardar em nossa memória, por meio destas palavras, as realidades mesmas.Pois quaisquer outras palavras que dissermos – tanto as formadas pelo afeto que as

 precede e esclarece, quanto as que o seguem e crescem pela atenção dele – não dirãonada que não se encontre nesta oração dominical, se orarmos como convém.

Quem disser algo que não possa ser contido nesta prece evangélica, sua oração,embora não ilícita, é carnal; contudo não sei como não ser ilícita, uma vez que somentede modo espiritual devem orar os renascidos do Espírito.

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Quem diz, por exemplo: “Sê glorificado em todos os povos, assim como fosteglorificado em nós” (Eclo 36,4) e “Sejam reconhecidos fiéis os teus profetas”, não repetesimplesmente: “Santificado seja o Vosso nome”?

Quem diz: “Deus dos exércitos, converte-nos e mostra a Tua face e seremos salvos”,não diz: “Venha o teu reino”?

Quem diz: “Firma meus passos com tua promessa e não deixes mal nenhum medominar” (Sl 118,133), não diz: “Seja feita tua vontade assim na terra como no céu”?

Quem diz: “Não me dês nem riqueza e nem pobreza” (Pr 30,8), não pedirá o mesmoque: “Lembra-te Senhor, de Davi e de suas fadigas todas” (Sl 131,1) ou: “Senhor, seassim agi, se há iniquidade em minhas mãos, se paguei o bem como mal” (Sl 7,4), nãodiz o mesmo que: “Perdoa nossas dívidas assim como perdoamos a nossos devedores”?

Dizer: “Não me domine o apetite sensual e a luxúria, não me entregue ao desejoimpudico” (Eclo 23,6), não é dizer: “Não nos deixe cair em tentação”?

O que diz: “Senhor, livra-me dos meus inimigos, protege-me dos meus agressores”

(Sl 59,2), diz algo diferente de: “Livra-nos do Mal”?E se percorreres todas as palavras das santas preces, nada encontrarás que não esteja

contido na oração dominical.Por isso, cada qual ao orar é livre de dizer estas ou aquelas palavras, mas não pode

sentir-se livre de dizer coisa diferente.”(Carta a Proba e a Juliana, São Paulo: Paulinas, 1987. p. 34-36).

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Quem nos deu a vida também nos ensinou a orar

(Do Tratado sobre a Oração do Senhor)

Entre as exortações salutares e os preceitos divinos com que orienta seu povo para a

salvação, o Senhor ensinou o modo de orar e nos instruiu e aconselhou sobre o quehavemos de pedir. Quem nos deu a vida, também nos ensinou a orar com a mesma bondade com que se dignou conceder-nos tantos outros benefícios, a fim de que,dirigindo-nos ao Pai com a súplica e oração que o Filho nos ensinou, sejamos maisfacilmente ouvidos.

Jesus havia predito que chegaria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariamo Pai em espírito e em verdade. E cumpriu o que prometera. De fato, tendo nós recebido por sua graça santificadora o Espírito e a verdade, podemos adorar a Deus verdadeira eespiritualmente segundo os seus ensinamentos.

Pode haver, com efeito, oração mais espiritual do que aquela que nos foi ensinada por Cristo, que também nos enviou o Espírito Santo? Pode haver prece mais verdadeiraaos olhos do Pai do que aquela que saiu dos lábios do próprio Filho que é a Verdade?Assim, orar de maneira diferente da que o Senhor nos ensinou não é só ignorância, mastambém culpa, pois ele mesmo disse: Anulais o mandamento de Deus a fim de guardar asvossas tradições (cf. Mc 7,9).

Oremos, portanto, irmãos caríssimos, como Deus, nosso Mestre, nos ensinou. Aoração agradável e querida por Deus é a que rezamos com as suas próprias palavras,fazendo subir aos seus ouvidos a oração de Cristo.

Reconheça o Pai as palavras de seu Filho, quando oramos. Aquele que habitainteriormente em nosso coração, esteja também em nossa voz; e já que o temos junto aoPai como advogado por causa de nossos pecados, digamos as palavras deste nossoadvogado quando, como pecadores, suplicarmos por nossas faltas. Se ele disse que tudoo que pedirmos ao Pai em seu nome nos será dado (cf. Jo 14,13), quanto mais eficaznão será a nossa súplica para obtermos o que pedimos em nome de Cristo, se pedirmoscom sua própria oração!

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Nossa oração é pública e universal

Antes do mais, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que cada um orassesozinho e em particular, como rezando para si só. De fato, não rezamos: Meu Pai queestais nos céus; nem: Meu pão dai-me hoje. Do mesmo modo não se pede só para si o perdão da dívida de cada um ou que não caia em tentação e seja livre do mal, rogandocada um para si. Nossa oração é pública e universal e quando oramos não o fazemos para um só, mas para o povo todo, já que todo o povo forma uma só alma.

O Deus da paz e Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que assimorássemos, um por todos, como ele em si mesmo carregou a todos.

Os três jovens, lançados na fornalha ardente, observaram esta lei da oração,harmoniosos na prece e concordes pela união dos espíritos. A firmeza da SagradaEscritura o declara e, narrando de que maneira eles oravam, apresenta-os como exemploa ser imitado em nossas preces, a fim de nos tornarmos semelhantes a eles. Então, dizela, os três jovens, como por uma só boca, cantavam um hino e bendiziam a Deus.Falavam como se tivessem uma só boca e Cristo ainda não lhes havia ensinado a orar.

Por isto a palavra foi favorável e eficaz para os orantes. De fato, a oração pacífica,simples e espiritual mereceu a graça do Senhor. Do mesmo modo vemos orar osapóstolos e os discípulos, depois da ascensão do Senhor. Eram perseverantes, todosunânimes na oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos (At 2,42).Perseveravam unânimes na oração, manifestando tanto pela persistência como pelaconcórdia de sua oração, que Deus que os faz habitar unânimes na casa, só admite na

eterna e divina casa aqueles cuja oração é unânime. De alcance prodigioso, irmãosdiletíssimos, são os mistérios da oração dominical! Mistérios numerosos, profundos,enfeixados em poucas palavras, porém, ricas em força espiritual, encerrando tudo o quenos importa alcançar!

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Rezai assim, diz ele: Pai-nosso, que estais nos céus

O homem novo, renascido e, por graça, restituído a seu Deus, diz, em primeiro lugar,“Pai”, porque já começou a ser filho. Veio ao que era seu e os seus não o receberam. Atodos aqueles que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aquelesque creem em seu nome (Jo 1,11-12). Quem, portanto, crê em seu nome e se fez filhode Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar graças e por confessar-se filho de Deusao declarar ser Deus o seu Pai nos céus.

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Santificado seja o vosso nome

Quanta indulgência do Senhor, quanta consideração por nós e quanta riqueza de bondade em querer que realizássemos nossa oração, na presença de Deus, chamando-ode Pai, e que, da mesma forma que Cristo é Filho de Deus, também nós recebamos onome de filhos de Deus. Nenhum de nós ousaria chamá-lo Pai na oração, se ele próprionão nos permitisse orar assim. Irmãos diletíssimos, cumpre-nos ter sempre em mente esaber que, quando damos a Deus o nome de Pai, temos de agir como filhos: como anossa alegria está em Deus Pai, também ele encontre sua alegria em nós.

Vivamos quais templos de Deus, para que se veja que em nós habita o Senhor. Nãoseja a nossa ação indigna do Espírito, pois se já começamos a ser espirituais e celestes, pensemos e façamos somente coisas celestes e espirituais, conforme disse o próprioSenhor Deus: Àqueles que me glorificam, eu os glorificarei e àqueles que me desprezamos desprezarei. Também o santo Apóstolo escreveu em uma epístola: Não vos possuís, pois fostes comprados por alto preço. Glorificai e levai a Deus em vosso corpo (1Cor 6,19-20).

Em seguida dizemos: Santificado seja o vosso nome, não que desejemos ser Deussantificado por nossas orações, mas que peçamos ao Senhor seja seu nome santificadoem nós. Aliás, por quem seria Deus santificado, ele que santifica? Mas já que disse:“Sede santos porque eu sou santo” (Lv 11,44; 1Pd 1,16), pedimos e rogamos que nós,santificados pelo batismo, perseveremos no que começamos a ser. Cada dia pedimos omesmo. A santificação cotidiana é necessária para nós, pois, cada dia, falhamos e temos

de purificar nossos delitos por assídua santificação.O Apóstolo descreve qual seja a santificação que, pela condescendência de Deus, nosé dada: “nem fornicadores nem idólatras, adúlteros, nem efeminados, sodomitas, nemladrões nem fraudulentos, nem ébrios, maldizentes, nem usurpadores alcançarão o reinode Deus (Ef 5,5). Na verdade fostes tudo isto, mas fostes lavados, fostes justificados,santificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. Diz-nossantificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. Oramos paraque esta santificação permaneça em nós. Se o Senhor e nosso juiz advertiu aquele quecurava e vivificara de não mais pecar, para que não lhe adviesse coisa pior, fazemos este

 pedido por contínuas orações, suplicamos dia e noite a fim de que, por sua proteção, nosseja guardada a santificação vivificante que procede da graça de Deus.

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Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade

A oração continua. Venha a nós o vosso reino. Pedimos que o reino de Deus se torne presente a nós, da mesma forma que solicitamos que seja em nós santificado o seunome. Porque, quando é que Deus não reina? Ou quando para ele começou o reino quesempre existiu e nunca deixará de ser? Pedimos a vinda de nosso reino, prometido por Deus e adquirido pelo sangue e paixão de Cristo, a fim de que nós que fomos, outrora,escravos do mundo, reinemos depois, conforme ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso:“vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde aorigem do mundo” (Mt 25,34).

Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o reino deDeus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o maisdepressa possível. Sendo ele a ressurreição, pois nele ressurgimos, assim também se pode pensar que ele é o reino de Deus, pois nele reinaremos. Pedimos, é claro, o reinode Deus, o reino celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundoestá acima desse reino terrestre e de suas honrarias.

Acrescentamos ainda: Seja feita a vossa vontade assim na terra como nos céus. Não para que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer.

Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo seopõe a que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que sefaça em nós a vontade de Deus. Que se faça em nós é obra da vontade de Deus, isto é,resultado de seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas próprias forças.

Com efeito, é a indulgência e a misericórdia de Deus que o protegem. Finalmente,manifestando a fraqueza de homem, diz o Senhor: “Pai, se possível, afaste-se de mimeste cálice” (Lc 22,42) e, dando aos discípulos o exemplo de renunciar à própria vontadee de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que eu quero, mas o que tu queres.

A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas palavras, a justiça nas ações,a misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes; o não fazer injúrias; o tolerar asrecebidas; o manter a paz com os irmãos; o amar a Deus de todo o coração; o amá-lo por ser Pai; o temê-lo por ser Deus; o nada absolutamente antepor a Cristo, pois tambémele não antepôs coisa alguma a nós; o aderir inseparavelmente à sua caridade; o estar ao

 pé de sua cruz com coragem e confiança, quando se tratar de luta por seu nome e suahonra, o mostrar firmeza ao confessá-lo por palavras, e, no interrogatório, o manter aconfiança naquele por quem combatemos, e, na morte, o conservar a paciência que noscoroará, tudo isto é querer ser coerdeiros de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, érealizar a vontade do Pai.

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Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados

Continuando a oração, fazemos o pedido: O pão nosso de cada dia nos dai hoje.Pode-se entendê-lo tanto espiritual como naturalmente. De ambos os modos a Deus seserve para nossa salvação. Cristo é o pão da vida e este pão não é de todos, é nosso.Assim como dizemos Pai nosso, por ser Pai dos que entendem e creem, assim dizemos pão nosso, porque Cristo é o pão dos que comem o seu corpo. Pedimos a dádiva deste pão, todos os dias; não aconteça que nós, que estamos em Cristo e diariamenterecebemos sua eucaristia como alimento de salvação, sobrevindo alguma falta maisgrave, nos abstenhamos e sejamos privados de comungar o pão celeste e venhamos anos separar do corpo de Cristo, porque são suas as palavras: “Eu sou o pão da vida, quedesci do céu. Se alguém comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é aminha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51).

Assim, dizendo ele que viverá eternamente quem comer deste pão, como é evidenteque vivem aqueles que pertencem ao seu corpo e recebem a eucaristia nas devidasdisposições, é de se temer, pelo contrário, que se afaste da salvação aquele que seabstém do corpo de Cristo, conforme a advertência do Senhor: “Se não comerdes dacarne do Filho do homem e não beberdes de seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo6,53). Por este motivo, pedimos que nos seja dado diariamente nosso pão, o Cristo, paraque não nos apartemos de sua santificação e de seu Corpo, nós os que permanecemos evivemos em Cristo.

Em seguida, também suplicamos pelos nossos pecados: E perdoai as nossas dívidas,

assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados.Quão necessária, providencial e salvadora a advertência de sermos pecadores, e

obrigados a rogar a Deus pelos pecados! Porque, quando recorre à indulgência de Deus,a alma se lembra de sua condição. Para que ninguém esteja contente consigo, como sefosse inocente e pela soberba se perca mais completamente, quando se lhe ordena pedir todos os dias perdão pelos pecados, cada um toma consciência de que diariamente peca.

Assim também João, em sua carta, nos adverte: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se porém,

confessarmos nossas culpas, o Senhor, justo e fiel, perdoar-nos-á os pecados” (1Jo 1,8-9). Em sua carta reuniu as duas coisas: o dever de rogar pelos pecados e, rogando,suplicar a indulgência. Por isso diz que o Senhor é fiel, mantendo a sua promessa de perdoar as culpas, pois quem nos ensinou a orar por nossas dívidas e pecados também prometeu, logo em seguida, a misericórdia paterna e o perdão.

Cristo acrescentou claramente uma lei que nos obriga a determinada condição: que peçamos a remissão das dívidas, se nós mesmos perdoarmos aos nossos devedores,

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sabendo que não podemos alcançar o perdão pedido a não ser que façamos o mesmo emrelação aos que nos ofendem. Por esta razão, diz em outro lugar: “Com a mesma medidacom que medirdes, sereis medidos” (Mt 7,1-2). E aquele servo que, perdoado de toda adívida por seu senhor, mas não quis perdoar o companheiro, foi lançado ao cárcere. Por não ter querido ser indulgente com o companheiro, perdeu a indulgência com que fora

tratado por seu senhor.Cristo propõe o perdão com preceito mais forte e censura ainda mais vigorosa:

“Quando fordes orar, perdoai se tendes algo contra outro, para que vosso Pai, que estános céus, vos perdoe os pecados. Se, porém, não perdoardes, também vosso Pai, queestá nos céus, não vos perdoará os pecados” (Mt 6,14-15). Não te restará a menor desculpa no dia do juízo, quando serás julgado de acordo com tua própria sentença e oque tiveres feito, o mesmo sofrerás.

Deus ordenou que sejamos pacíficos, concordes e unânimes em sua casa. Mandouque sejamos tais como nos tornou pelo segundo nascimento; assim também ele nos quer 

renascidos e perseverantes. Deste modo nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz deDeus e os que possuem um só Espírito tenham uma só alma e um só coração.

Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia e ordena deixar o altar e ir  primeiro reconciliar-se com o irmão, para que, com preces pacíficas, possa Deus ser aplacado. Maior serviço para Deus é a nossa paz e concórdia fraterna e o povo que foifeito uno pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

 Nos sacrifícios que Abel e Caim foram os primeiros a oferecer, Deus não olhava osdons, mas os corações, de forma que lhe agradava pelo dom aquele que lhe agradava pelo coração. Abel, pacífico e justo, sacrificando com inocência a Deus, ensinou osoutros a depositar seus dons no altar com temor de Deus, simplicidade de coração,empenho de justiça e de concórdia. Aquele que assim procedeu no sacrifício de Deustornou-se merecidamente sacrifício para Deus. Sendo o primeiro a dar a conhecer omartírio, iniciou pela glória de seu sangue a paixão do Senhor, por ter mantido a justiça ea paz do Senhor. Esses serão, no fim, coroados pelo Senhor; esses, no dia do juízo,triunfarão com o Senhor.

Quanto aos discordantes, aos dissidentes, aos que não mantêm a paz com os irmãos,mesmo que sejam mortos pelo nome de Cristo, não poderão, conforme o testemunho dosanto Apóstolo e da Sagrada Escritura, escapar do crime de desunião fraterna, pois estáescrito: “Quem odeia seu irmão é homicida” (1Jo 3,15). Não pode estar com Cristoquem preferiu a imitação de Judas a de Cristo.

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1  Bento XVI pede para imitar o exemplo de conversão de Santa Maria Madalena. Disponível em:

<http://www.acidigital.com/noticia.php?id=23926>.

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Eucaristia Aquino, Prof. Felipe

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em linguagem formal, mas acessível a todo o tipo de público. Todo católico que

estiver disposto a conhecer melhor os dogmas, os preceitos e as recomendações

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Crisma / Matrimônio / Ordem / Unção dos Enfermos.

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30 minutos para mudar o seu diaMendes, Márcio

9788576771494

87 páginas

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 As orações neste livro são poderosas em Deus, capazes de derrubar as barreiras

que nos afastam Dele. Elas nos ajudarão muito naqueles dias difíceis em que

nem sequer sabemos por onde começar a rezar. Contudo, você verá que pouco a

pouco o Espírito Santo vai conduzir você a personalizar sempre mais cada uma

delas. A oração é simples, mas é poderosa para mudar qualquer vida. Coisasmuito boas nascerão desse momento diário com o Senhor. Tudo pode acontecer

quando Deus é envolvido na causa, e você mesmo constatará isso. O Espírito

Santo quer lhe mostrar que existe uma maneira muito mais cheia de amor e mais

realizadora de se viver. Trata-se de um mergulho no amor de Deus que nos cura

e salva. Quanto mais você se entregar, mais experimentará a graça de Deus

purificar, libertar e curar seu coração. Você receberá fortalecimento e proteção.

Mas, o melhor de tudo é que Deus lhe dará uma efusão do Espírito Santo tão

grande que mudará toda a sua vida. Você sentirá crescer a cada dia em seuinterior uma paz e uma força que nunca havia imaginado ser possível.

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Devocionário a Nossa Senhora de FátimaNova, Comunidade Canção

9788576776239

104 páginas

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Dirigido a católicos, em geral, esse "poderoso livrinho” tem a missão de mostrar

quão bela é a devoção à Nossa Senhora de Fátima e quais as bênçãos que são

recolhidas por aqueles que abraçam a vida de oração diária e a renúncia à toda

influência do maligno. O devocionário conta também um pouco da história dos

três pastorinhos que tiveram a graça de receber as visitas de Nossa Senhora, emFátima: Lúcia, Francisco e Jacinta. Impulsionados pela Virgem, os três mostraram

ao mundo o quanto podemos fazer para desagravar seu coração, e oferecer a ela

as flores da conversão do mundo. Três pastorinhos - Lúcia, Francisco e Jacinta -

receberam a graça da visitação de Nossa Senhora, que lhes deu a missão de

divulgar a devoção que consolaria seu Imaculado Coração. Vestida de branco e

mais brilhante que o sol, ela realizou milagres e ordenou: "Orai, orai muito.

Rezem o terço todos os dias, para alcançar a paz para o mundo e o fim da

guerra.” Através deste devocionário, com suas reflexões e novenas, e abraçandouma vida de oração diária, tenha a certeza de que você também receberá - pelas

mãos de Nossa Senhora de Fátima - os frutos da verdadeira conversão e a paz

para você e sua família.

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Batismo Aquino, Prof. Felipe

9788576776512

96 páginas

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Penitência Aquino, Prof. Felipe

9788576776475

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Index

Folha de rosto 2Créditos 4

Imprimatur 6Apresentação 8MEDITANDO O PAI-NOSSO 10AS EXIGÊNCIAS DO PAI-NOSSO 12PAI-NOSSO: DEUS É NOSSO PAI! 14PAI... “QUE ESTAIS NO CÉU” 16SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME 20VENHA A NÓS O VOSSO REINO 23SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

28

O pão nosso de cada dia nos dai hoje 33PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS, ASSIM COMO NÓSPERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO

38

 NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO 43

MAS LIVRAI-NOS DO MAL 48Onde está a ação do Mal? Paulo VI responde 53Catequeses do Papa João Paulo II 54

A queda dos anjos rebeldes 55

A vitória de Cristo sobre o espírito do mal 59

São Miguel nos proteja contra as insídias do Maligno 62

A oração do senhor, de santo agostinho 65

(Bispo - século V) 65Meditação do Pai-Nosso, de São Cipriano de Cartago 67

Quem nos deu a vida também nos ensinou a orar 68

 Nossa oração é pública e universal 69

Rezai assim, diz ele: Pai-nosso, que estais nos céus 70

Santificado seja o vosso nome 71

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Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade 72

Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados 73