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PROFESSOR: Tigran Magnelli e Gustavo Abreu BANCO DE QUESTÕES - LÍNGUA PORTUGUESA - 2ª SÉRIE - ENSINO MÉDIO =========================================================================================== == TEXTO 1 O SEGREDO DE ESCOBAR Bento Santiago, protagonista e narrador do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, trabalhava em casa quando foi interrompido por um escravo que fazia alarido ao portão. O criado, propriedade de seu velho conhecido Escobar, estava aflito e pedia ajuda. “Para ir lá… sinhô nadando, sinhô morrendo”, anunciou. Bento correu à praia do Flamengo o mais rápido que pôde, mas não havia mais nada a fazer além de confirmar a morte do amigo. Arranjou-se velório e enterro para o mesmo dia e, “na hora da encomendação e da partida”, o desespero de Sancha, esposa do falecido, “consternou a todos”, levando homens e mulheres ao choro. É nesse momento tumultuado que ocorre o fato decisivo da narrativa: Bento desconfiou: o olhar de Capitu fitava o defunto. Eram iguais aos “da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora”. Nascia nele a dúvida sobre a traição. A semelhança entre Ezequiel, filho do casal, e o finado Escobar, reparada um ano depois, foi a evidência final de que o protagonista precisava para se convencer do adultério. O casamento desgastou-se, e, em pouco tempo, a simples presença do filho já lhe era insuportável. Considerou se matar colocando veneno no café, acabou por desistir no último instante, por falta de coragem. E recuou de outra ideia impulsiva, que faria dele não um suicida, e sim um assassino: a de passar a xícara ao menino. Não deixou de confrontar a mulher, contudo. Ela riu e respondeu ao marido num tom, segundo o narrador, ao mesmo tempo irônico e melancólico. “Pois até os defuntos!”, reclamou. Concordando que os dois, filho e falecido, se pareciam, Capitu justificou a coincidência pela “vontade de Deus”. Dali em diante passariam a levar vidas separadas, mantendo as aparências. Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Sobre essa suspeita, a mais famosa da literatura brasileira, uma outra interrogação que, surpreendentemente, não costuma ser feita: o que Capitu teria visto em Escobar? Ou, caso se acredite na inocência da moça, por que Bento Santiago enxergou no amigo uma ameaça? Sabemos que era ciumento, mas todas as suas crises haviam sido sempre passageiras – menos esta. É verdade que não faltavam a Escobar elementos capazes de atrair uma mulher, como o porte de atleta, o sucesso profissional, o espírito prático. E até poderíamos menosprezar a questão, supondo que o coração tem lá seus motivos insondáveis... Se estivéssemos falando de José de Alencar, essas explicações talvez bastassem. Talvez. Mas não em Dom Casmurro. Nada ali pode ser descartado como gratuito ou não significativo – muito menos Escobar, elemento central da história. Página 1 de 27 - 25/07/2022 - 11:07 PM

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PROFESSOR: Tigran Magnelli e Gustavo AbreuBANCO DE QUESTÕES - LÍNGUA PORTUGUESA - 2ª SÉRIE - ENSINO MÉDIO

=============================================================================================

TEXTO 1

O SEGREDO DE ESCOBARBento Santiago, protagonista e narrador do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis,

trabalhava em casa quando foi interrompido por um escravo que fazia alarido ao portão. O criado, propriedade de seu velho conhecido Escobar, estava aflito e pedia ajuda. “Para ir lá… sinhô nadando, sinhô morrendo”, anunciou. Bento correu à praia do Flamengo o mais rápido que pôde, mas não havia mais nada a fazer além de confirmar a morte do amigo. Arranjou-se velório e enterro para o mesmo dia e, “na hora da encomendação e da partida”, o desespero de Sancha, esposa do falecido, “consternou a todos”, levando homens e mulheres ao choro. É nesse momento tumultuado que ocorre o fato decisivo da narrativa: Bento desconfiou: o olhar de Capitu fitava o defunto. Eram iguais aos “da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora”. Nascia nele a dúvida sobre a traição.

A semelhança entre Ezequiel, filho do casal, e o finado Escobar, reparada um ano depois, foi a evidência final de que o protagonista precisava para se convencer do adultério. O casamento desgastou-se, e, em pouco tempo, a simples presença do filho já lhe era insuportável. Considerou se matar colocando veneno no café, acabou por desistir no último instante, por falta de coragem. E recuou de outra ideia impulsiva, que faria dele não um suicida, e sim um assassino: a de passar a xícara ao menino. Não deixou de confrontar a mulher, contudo. Ela riu e respondeu ao marido num tom, segundo o narrador, ao mesmo tempo irônico e melancólico. “Pois até os defuntos!”, reclamou. Concordando que os dois, filho e falecido, se pareciam, Capitu justificou a coincidência pela “vontade de Deus”. Dali em diante passariam a levar vidas separadas, mantendo as aparências.

Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Sobre essa suspeita, a mais famosa da literatura brasileira, há uma outra interrogação que, surpreendentemente, não costuma ser feita: o que Capitu teria visto em Escobar? Ou, caso se acredite na inocência da moça, por que Bento Santiago enxergou no amigo uma ameaça? Sabemos que era ciumento, mas todas as suas crises haviam sido sempre passageiras – menos esta. É verdade que não faltavam a Escobar elementos capazes de atrair uma mulher, como o porte de atleta, o sucesso profissional, o espírito prático. E até poderíamos menosprezar a questão, supondo que o coração tem lá seus motivos insondáveis... Se estivéssemos falando de José de Alencar, essas explicações talvez bastassem. Talvez. Mas não em Dom Casmurro. Nada ali pode ser descartado como gratuito ou não significativo – muito menos Escobar, elemento central da história.

Trata-se, como todo mundo sabe, da conturbada história de amor entre Bentinho e Capitu, com um detalhe que, na verdade, constitui o ponto fundamental para a compreensão do romance: o protagonista é o próprio narrador, disposto a convencer o leitor de sua posição de vítima inocente de uma traição indesculpável. Sendo bacharel em direito, como mandava o figurino das grandes famílias da época, ele tem consciência de que precisa comprovar o seu caráter confiável. Para isso, no século XIX, nada mais decisivo do que identificar-se como parte da “boa sociedade”. Assim, como quem não quer nada, o narrador revela logo no segundo capítulo que mora em casa própria, construída a seu mando, num bairro valorizado. Caracterizar a família Santiago como rica proprietária foi uma das prioridades do narrador, e com razão.

À primeira vista, o vizinho Pádua, pai de Capitu, vivia em condições muito superiores às de José Dias, tinha emprego público e casa própria, mas se trata de outro tipo de dependente. Emerge logo precariedade de sua situação, pois descobrimos que comprou a casa com dinheiro de loteria e que seu salário não sustenta um padrão de vida condizente com a residência. Vive saudoso do breve período em que foi administrador interino da repartição em que trabalhava, quando conseguia bancar algum luxo para a família; ao fim da promoção temporária, pensou em se matar, tamanha a vergonha de voltar à penúria de antes, e aparentemente desistiu por ordem de dona Glória. De fato, as condições de vida em sua casa, pelo menos aos olhos de Bentinho, não eram das melhores. Capitu, como fez questão de observar o narrador às vésperas do primeiro beijo, tinha apenas “um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão”. A menina, por sua vez, compreende a delicadeza de sua situação. Em certa ocasião, chega a jogar Página 1 de 17 - 18/05/2023 - 9:55 PM

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na cara de Bentinho, em um de seus raros momentos de descontrole, que se fosse rica ele fugiria com ela.

O próprio Bento, na abertura do livro, conta que àquela altura tem um único criado e mobília velha, reforçando a impressão de decadência que a melancolia do narrador (contrabalançada por um humor cortante, como quase sempre em Machado) sugere o tempo todo. Nessas circunstâncias, nada mais natural que um homem como ele procurasse reafirmar, para todos e sobretudo para ele mesmo, que Escobar fora a origem de sua desgraça. A ruína de Bentinho representa não só a sua própria, mas também a do grupo social do qual fazia parte. Já que para essa elite cheia de si estava fora de cogitação atribuir a responsabilidade pela própria decadência à sua incompetência, os suspeitos mais indicados para assumir a culpa ficavam sendo justamente aqueles comerciantes, identificados com a riqueza móvel que caracterizava os novos tempos, que sobreviveram sem grandes problemas ao fim da escravidão, que mantiveram sua trajetória ascendente.

Só podiam ter sido eles os culpados. Na virada para o século XX, quando o dom Casmurro narra a sua história na esperança de atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência, haviam roubado quase tudo da aristocracia. Influência. Status. Riqueza. Até a mulher.

BOUCINHAS, André Dutra. O segredo de Escobar. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-segredo-de-escobar/

Acesso em 29 jul. 2018 (Fragmento adaptado)

01- O texto de André Dutra foi redigido a partir de uma relação de intertextualidade entre o próprio autor e o narrador do romance resenhado. Identifique o recurso textual utilizado pelo autor para criar a interlocução, explicando a sua importância argumentativa.

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02- As marcas coesivas de um texto nem sempre estão em sua superfície, como se observa no seguinte trecho do primeiro parágrafo:

“Bento desconfiou: o olhar de Capitu fitava o defunto”

Reescreva o trecho substituindo os dois-pontos por um conectivo subordinativo que atribua ao fragmento o valor semântico de certeza. Após isso, classifique sintaticamente as orações que constituem o período.

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03- Releia o fragmento a seguir:

“Eram iguais aos ‘da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora’”.

Na descrição do olhar de Capitu, há uma comparação que remete a uma metáfora dita no início do romance pelo narrador. Apresente essa primeira metáfora. Indique, ainda, a relação estabelecida entre a personagem e o episódio da morte de Escobar, a partir do efeito produzido por essa metáfora inicial.

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04- No terceiro parágrafo, o uso de um recurso linguístico sugere a reprodução do processo de investigação, comum às resenhas. Ao mesmo tempo, observa-se o uso de ironia, que é próprio de Machado de Assis. Identifique o recurso textual utilizado para representar a investigação e, em seguida, explique em que consiste a ironia feita pelo autor da resenha.

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05- Em sua análise, André Dutra apresenta, no quarto parágrafo, dois argumentos descritivos utilizados por Bento Santiago para persuadir os leitores. A apresentação do perfil do narrador machadiano, no que diz respeito ao seu efeito argumentativo, caracteriza-se por ele:

(A) apresentar-se como pertencente à elite de seu tempo.(B) distrair seu interlocutor com dados verídicos.(C) identificar-se como superior aos demais da época.(D) informar o leitor acerca do contexto econômico.

06- Leia o fragmento a seguir:

“Em certa ocasião, chega a jogar na cara de Bentinho, em um de seus raros momentos de descontrole, que se fosse rica ele fugiria com ela.”

Explique a personalidade de Capitu, em oposição à de Bento, a partir da visão apresentada por André Dutra. Em seguida, retire da resenha um exemplo de outra ação de Capitu que comprove a perspectiva do autor sobre a personagem feminina.

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07- Leia o trecho abaixo:

“Emerge logo a precariedade de sua situação, pois descobrimos que comprou a casa com dinheiro de loteria e que seu salário não sustenta um padrão de vida condizente com a residência.”

Identifique a primeira oração do fragmento. Indique o tipo de relação sintática que a segunda oração estabelece com a primeira. Em seguida, classifique sintaticamente a terceira oração.

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08- Observe o seguinte fragmento:

“A ruína de Bentinho representa não só a sua própria, mas também a do grupo social do qual fazia parte.”

No período acima, o autor procura delimitar o sentido de uma expressão, restringindo-o. Essa delimitação apresenta uma formulação sintático-semântica do seguinte tipo:

(A) superposição.(B) exemplificação.(C) particularização.(D) contradição.

09- O comentário de André Dutra sobre o final melancólico de Bento Santiago apresenta um posicionamento historicamente contextualizado acerca da obra. A construção dessa opinião está revelada, na construção do fragmento, a partir de:

(A) estruturas subordinadas e oposição de sentidos.(B) coordenação adversativa e sentido de explicação.(C) conjunção integrante e coordenação assindética.(D) paralelismo sintático e adição semântica.

10- Leia o trecho abaixo:

“É verdade que não faltavam a Escobar elementos capazes de atrair uma mulher.”

A oração destacada não pode ser classificada como subordinada substantiva predicativa, ainda que a oração principal do período apresente um verbo de ligação. Explique essa afirmação. Em seguida, aponte a classificação sintática do trecho sublinhado.

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11- Leia o trecho abaixo:

“À primeira vista, o vizinho Pádua, pai de Capitu, vivia em condições muito superiores às de José Dias, tinha emprego público e casa própria, mas se trata de outro tipo de dependente.”

Embora as orações coordenadas assindéticas naturalmente não apresentem valores semânticos explícitos, eles podem estar subentendidos no discurso. Transcreva do trecho a segunda oração coordenada assindética e indique o valor semântico implícito nela.

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12- Observe o fragmento a seguir:

“A ruína de Bentinho representa não só a sua própria, mas também a do grupo social do qual fazia parte.”

O comentário do autor sobre o final melancólico de Bento Santiago defende um posicionamento historicamente contextualizado acerca da obra. A construção dessa opinião está revelada, na estrutura do fragmento, a partir de:

(A) estruturas subordinadas e oposição de sentidos.(B) coordenação adversativa e oração subordinada.(C) paralelismo sintático e adição semântica.(D) conjunção integrante e coordenação assindética.

13- Atar as duas pontas da vida é o propósito do narrador de Dom Casmurro. A respeito do enredo central da obra, apresentado brevemente na resenha, a única alternativa cujo conteúdo não está de acordo com o romance machadiano encontra-se em:

(A) A história envolve três personagens, Bentinho, Capitu e Escobar, e três projetos de vida, todos interrompidos quando pareciam atingir a plena realização.

(B) O enredo se revela a partir da perspectiva rancorosa do narrador com o objetivo de reinventar questões vividas apenas na adolescência e que reverberam em sua vida adulta.

(C) A trama estrutura-se ao redor do sentimento de ciúme, numa linha de ascensão de construção de felicidade e de dispersão, com a felicidade destruída no desfecho.

(D) A narrativa se marca por digressões que chamam a atenção para a inevitabilidade do que se vai narrar, bem como pela presença constante de intertextualidade e de metalinguagem.

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TEXTO 2CAPÍTULO III

A DENÚNCIA (FRAGMENTO)

— Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de metê-lo no seminário quanto antes.

— Bem, uma vez que não perdeu a ideia de o fazer padre, tem-se ganho o principal. Bentinho há de satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o Império...

— Governo como a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos. — Perdão, doutor, não estou defendendo ninguém, estou citando. O que eu quero é dizer que o clero ainda tem grande papel no Brasil.

— Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?

— É promessa, há de cumprir-se. — Sei que você fez promessa... mas uma promessa assim... não sei... Creio que, bem

pensado... Você que acha, prima Justina? — Eu? — Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de todos.

Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta! Pois isto é coisa de lágrimas?

Minha mãe assoou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a dizer. Prima Justina exortava: "Prima Glória! Prima Glória!" José Dias desculpava-se: "Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo...”

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdfAcesso em 05 ago. 2018.

14- O agregado José Dias alerta D. Glória de que pode haver uma dificuldade caso ela ainda pretenda colocar Bentinho no seminário. Tendo em vista o contexto realista em que se insere a obra, explique a quem se dirige e quais são as críticas feitas por meio desse episódio.

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15- Leia o fragmento a seguir:

“José Dias desculpava-se: ‘Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo...’”

Indique o efeito de sentido que o emprego desse adjetivo no superlativo confere ao texto.

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16- No trecho acima, o emprego das justificativas de José Dias após a reação de D. Glória configura uma superposição de figuras de linguagem, recurso frequente em textos artísticos. As figuras de linguagem superpostas na frase são:

(A) gradação e hipérbole.(B) metáfora e paradoxo.(C) ironia e metonímia.(D) personificação e antítese.

TEXTO 3

CAPÍTULO CXIIAS IMITAÇÕES DE EZEQUIEL (FRAGMENTO)

Tal não faria Ezequiel. Não comporia bolas envenenadas, suponho, mas não as recusaria também. O que faria com certeza era ir atrás dos cães, a pedrada, até onde lhe dessem as pernas. E se tivesse um pau, iria a pau. Capitu morria por aquele batalhador futuro.

— Não sai a nós, que gostamos da paz, disse-me ela um dia, mas papai em moço era assim também; mamãe é que contava.

— Sim, não sairá maricas, repliquei; eu só lhe descubro um defeitozinho, gosta de imitar os outros.

— Imitar como? — Imitar os gestos, os modos, as atitudes; imita prima Justina, imita José Dias; já lhe achei até

um jeito dos pés de Escobar e dos olhos... Capitu deixou-se estar pensando e olhando para mim, e disse afinal que era preciso emendá-

lo. Agora reparava que realmente era vezo do filho, mas parecia-lhe que era só imitar por imitar, como sucede a muitas pessoas grandes, que tomam as maneiras dos outros; e para que não fosse mais longe...

— Também não vamos mortificá-lo. Sempre há tempo de corrigi-lo.(...)

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdfAcesso em 05 ago. 2018.

17- A princípio, Capitu parece desconhecer a brincadeira de imitação feita por Ezequiel. Após pensar, a reprovação assertiva de Capitu no que diz respeito a esse costume do filho põe em destaque a seguinte característica de sua atitude:

(A) revela-se como censura autêntica às ações do filho.(B) manifesta-se numa postura egoísta de autoproteção. (C) apresenta-se como proposta de dissolução da memória.(D) conjuga-se como necessidade de desviar a intuição de Bento.

18- A principal característica da linguagem das narrativas realistas é o modo objetivo, e aparentemente isento de juízo de valor, com que as personagens são construídas. Bento, ao contrário, contamina a sua narração. Explique a ocorrência dessa contaminação com base no fragmento de capítulo lido acima.

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TEXTO 4CAPÍTULO CXLVIII

E BEM, E O RESTO?

Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro.

O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. I: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.

E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdfAcesso em 05 ago. 2018.

19- A associação metafórica entre as personalidades de Capitu e a constituição de uma fruta intensifica a argumentação do narrador. Invocando aqui a memória e o testemunho do leitor de sua história, o narrador arremata a narrativa:

(A) lembrando que os ciúmes de Bentinho por Capitu poderiam perfeitamente ser injustificáveis.(B) concluindo que a única explicação para a traição de Capitu é a força caprichosa de

circunstâncias acidentais.(C) citando passagem bíblica, à luz da qual é possível perceber uma ressalva que admite a

possibilidade de inocência de Capitu.(D) pretendendo que a personalidade de Capitu tenha se desenvolvido de modo a cumprir a sua

inclinação orgânica.

20- A emoção dos românticos dá lugar a uma postura mais objetiva e crítica ao projeto literário dos escritores realistas. Com base no final de Dom Casmurro, explique de que maneira a anatomia do caráter vincula Machado de Assis a uma vertente alternativa do Realismo.

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TEXTO 5

21- No contexto da tira, a comparação entre o primeiro e o último quadrinho produz humor. A produção de humor se deve ao seguinte recurso:

(A) destaque de uma situação extraordinária.(B) demonstração de uma atitude caricatural.(C) desconstrução de uma expectativa do leitor.(D) afirmação de características do personagem.

22- A fala final remete ao resultado da leitura concomitante de três obras feitas pelo personagem. Essa formulação final configura um recurso da linguagem conhecido como:

(A) ironia.(B) designação.(C) verossimilhança.(D) intertextualidade.

23- A expressão facial do personagem é um recurso gráfico que contribui para ampliar o sentido da tira. A união entre aspectos verbais e não verbais no segundo quadrinho desempenha principalmente o papel argumentativo de:

(A) revelar contradição.(B) explicar comprovação.(C) fundamentar afirmação.(D) promover exemplificação.

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GABARITO

TEXTO 1O SEGREDO DE ESCOBAR

Bento Santiago, protagonista e narrador do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, trabalhava em casa quando foi interrompido por um escravo que fazia alarido ao portão. O criado, propriedade de seu velho conhecido Escobar, estava aflito e pedia ajuda. “Para ir lá… sinhô nadando, sinhô morrendo”, anunciou. Bento correu à praia do Flamengo o mais rápido que pôde, mas não havia mais nada a fazer além de confirmar a morte do amigo. Arranjou-se velório e enterro para o mesmo dia e, “na hora da encomendação e da partida”, o desespero de Sancha, esposa do falecido, “consternou a todos”, levando homens e mulheres ao choro. É nesse momento tumultuado que ocorre o fato decisivo da narrativa: Bento desconfiou: o olhar de Capitu fitava o defunto. Eram iguais aos “da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora”. Nascia nele a dúvida sobre a traição.

A semelhança entre Ezequiel, filho do casal, e o finado Escobar, reparada um ano depois, foi a evidência final de que o protagonista precisava para se convencer do adultério. O casamento desgastou-se, e, em pouco tempo, a simples presença do filho já lhe era insuportável. Considerou se matar colocando veneno no café, acabou por desistir no último instante, por falta de coragem. E recuou de outra ideia impulsiva, que faria dele não um suicida, e sim um assassino: a de passar a xícara ao menino. Não deixou de confrontar a mulher, contudo. Ela riu e respondeu ao marido num tom, segundo o narrador, ao mesmo tempo irônico e melancólico. “Pois até os defuntos!”, reclamou. Concordando que os dois, filho e falecido, se pareciam, Capitu justificou a coincidência pela “vontade de Deus”. Dali em diante passariam a levar vidas separadas, mantendo as aparências.

Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Sobre essa suspeita, a mais famosa da literatura brasileira, há uma outra interrogação que, surpreendentemente, não costuma ser feita: o que Capitu teria visto em Escobar? Ou, caso se acredite na inocência da moça, por que Bento Santiago enxergou no amigo uma ameaça? Sabemos que era ciumento, mas todas as suas crises haviam sido sempre passageiras – menos esta. É verdade que não faltavam a Escobar elementos capazes de atrair uma mulher, como o porte de atleta, o sucesso profissional, o espírito prático. E até poderíamos menosprezar a questão, supondo que o coração tem lá seus motivos insondáveis... Se estivéssemos falando de José de Alencar, essas explicações talvez bastassem. Talvez. Mas não em Dom Casmurro. Nada ali pode ser descartado como gratuito ou não significativo – muito menos Escobar, elemento central da história.

Trata-se, como todo mundo sabe, da conturbada história de amor entre Bentinho e Capitu, com um detalhe que, na verdade, constitui o ponto fundamental para a compreensão do romance: o protagonista é o próprio narrador, disposto a convencer o leitor de sua posição de vítima inocente de uma traição indesculpável. Sendo bacharel em direito, como mandava o figurino das grandes famílias da época, ele tem consciência de que precisa comprovar o seu caráter confiável. Para isso, no século XIX, nada mais decisivo do que identificar-se como parte da “boa sociedade”. Assim, como quem não quer nada, o narrador revela logo no segundo capítulo que mora em casa própria, construída a seu mando, num bairro valorizado. Caracterizar a família Santiago como rica proprietária foi uma das prioridades do narrador, e com razão.

À primeira vista, o vizinho Pádua, pai de Capitu, vivia em condições muito superiores às de José Dias, tinha emprego público e casa própria, mas se trata de outro tipo de dependente. Emerge logo precariedade de sua situação, pois descobrimos que comprou a casa com dinheiro de loteria e que seu salário não sustenta um padrão de vida condizente com a residência. Vive saudoso do breve período em que foi administrador interino da repartição em que trabalhava, quando conseguia bancar algum luxo para a família; ao fim da promoção temporária, pensou em se matar, tamanha a vergonha de voltar à penúria de antes, e aparentemente desistiu por ordem de dona Glória. De fato, as condições de vida em sua casa, pelo menos aos olhos de Bentinho, não eram das melhores. Capitu, como fez questão de observar o narrador às vésperas do primeiro beijo, tinha apenas “um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão”. A menina, por sua vez, compreende a delicadeza de sua situação. Em certa ocasião, chega a jogar na cara de Bentinho, em um de seus raros momentos de descontrole, que se fosse rica ele fugiria com ela.

O próprio Bento, na abertura do livro, conta que àquela altura tem um único criado e mobília velha, reforçando a impressão de decadência que a melancolia do narrador (contrabalançada por um humor cortante, como quase sempre em Machado) sugere o tempo todo. Nessas circunstâncias, Página 10 de 17 - 18/05/2023 - 9:55 PM

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nada mais natural que um homem como ele procurasse reafirmar, para todos e sobretudo para ele mesmo, que Escobar fora a origem de sua desgraça. A ruína de Bentinho representa não só a sua própria, mas também a do grupo social do qual fazia parte. Já que para essa elite cheia de si estava fora de cogitação atribuir a responsabilidade pela própria decadência à sua incompetência, os suspeitos mais indicados para assumir a culpa ficavam sendo justamente aqueles comerciantes, identificados com a riqueza móvel que caracterizava os novos tempos, que sobreviveram sem grandes problemas ao fim da escravidão, que mantiveram sua trajetória ascendente.

Só podiam ter sido eles os culpados. Na virada para o século XX, quando o dom Casmurro narra a sua história na esperança de atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência, haviam roubado quase tudo da aristocracia. Influência. Status. Riqueza. Até a mulher.

BOUCINHAS, André Dutra. O segredo de Escobar. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-segredo-de-escobar/

Acesso em 29 jul. 2018 (Fragmento adaptado)

01- O texto de André Dutra foi redigido a partir de uma relação de intertextualidade entre o próprio autor e o narrador do romance resenhado. Identifique o recurso textual utilizado pelo autor para criar a interlocução, explicando a sua importância argumentativa.

Resposta: O autor usa citações diretas (ou fragmentos entre aspas) para garantir mais credibilidade ao seu discurso, à medida que insere trechos do romance em sua própria narração, misturando os narradores.

02- As marcas coesivas de um texto nem sempre estão em sua superfície, como se observa no seguinte trecho do primeiro parágrafo:

“Bento desconfiou: o olhar de Capitu fitava o defunto”

Reescreva o trecho substituindo os dois-pontos por um conectivo subordinativo que atribua ao fragmento o valor semântico de certeza. Após isso, classifique sintaticamente as orações que constituem o período.

Resposta: Bento desconfiou que o olhar de Capitu ficava o defunto. Oração principal / Oração subordinada substantiva objetiva direta.

03- Releia o fragmento a seguir:

“Eram iguais aos ‘da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora’”.

Na descrição do olhar de Capitu, há uma comparação que remete a uma metáfora dita no início do romance pelo narrador. Apresente essa primeira metáfora. Indique, ainda, a relação estabelecida entre a personagem e o episódio da morte de Escobar, a partir do efeito produzido por essa metáfora inicial.

Resposta: A metáfora é “olhos de ressaca”. A relação estabelecida é que Escobar, possível amante de Capitu, morreu afogado no mar; em seu enterro, tais olhos marinhos de Capitu, na perspectiva do narrador, pareciam querer levá-lo para dentro, tal qual o mar.

04- No terceiro parágrafo, o uso de um recurso linguístico sugere a reprodução do processo de investigação, comum às resenhas. Ao mesmo tempo, observa-se o uso de ironia, que é próprio de Machado de Assis. Identifique o recurso textual utilizado para representar a investigação e, em seguida, explique em que consiste a ironia feita pelo autor da resenha.

Resposta: O uso iterativo de interrogações/perguntas. A ironia está no fato de que o autor afirma que poderíamos resumir todas as explicações à ideia de que o coração tem motivos insondáveis, ironizando os romances românticos.

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05- Em sua análise, André Dutra apresenta, no quarto parágrafo, dois argumentos descritivos utilizados por Bento Santiago para persuadir os leitores. A apresentação do perfil do narrador machadiano, no que diz respeito ao seu efeito argumentativo, caracteriza-se por ele:

(A) apresentar-se como pertencente à elite de seu tempo.(B) distrair seu interlocutor com dados verídicos.(C) identificar-se como superior aos demais da época.(D) informar o leitor acerca do contexto econômico.

06- Leia o fragmento a seguir:

“Em certa ocasião, chega a jogar na cara de Bentinho, em um de seus raros momentos de descontrole, que se fosse rica ele fugiria com ela.”

Explique a personalidade de Capitu, em oposição à de Bento, a partir da visão apresentada por André Dutra. Em seguida, retire da resenha um exemplo de outra ação de Capitu que comprove a perspectiva do autor sobre a personagem feminina.

Resposta: Capitu é racional enquanto Bento é emocional. Outro exemplo de ação ocorre quando Capitu ri e ironiza Bento ao ser questionada sobre uma possível traição, durante o enterro de Escobar.

07- Leia o trecho abaixo:

“Emerge logo a precariedade de sua situação, pois descobrimos que comprou a casa com dinheiro de loteria e que seu salário não sustenta um padrão de vida condizente com a residência.”

Identifique a primeira oração do fragmento. Indique o tipo de relação sintática que a segunda oração estabelece com a primeira. Em seguida, classifique sintaticamente a terceira oração.

Resposta: A primeira oração é “Emerge logo a precariedade de sua situação”. A relação da segunda oração com a primeira é coordenação (ou é coordenada sindética explicativa). A terceira oração é subordinada substantiva objetiva direta.

08- Observe o seguinte fragmento:

“A ruína de Bentinho representa não só a sua própria, mas também a do grupo social do qual fazia parte.”

No período acima, o autor procura delimitar o sentido de uma expressão, restringindo-o. Essa delimitação apresenta uma formulação sintático-semântica do seguinte tipo:

(A) superposição.(B) exemplificação.(C) particularização.(D) contradição.

09- O comentário de André Dutra sobre o final melancólico de Bento Santiago apresenta um posicionamento historicamente contextualizado acerca da obra. A construção dessa opinião está revelada, na construção do fragmento, a partir de:

(A) estruturas subordinadas e oposição de sentidos.(B) coordenação adversativa e sentido de explicação.(C) conjunção integrante e coordenação assindética.(D) paralelismo sintático e adição semântica.

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10- Leia o trecho abaixo:

“É verdade que não faltavam a Escobar elementos capazes de atrair uma mulher.”

A oração destacada não pode ser classificada como subordinada substantiva predicativa, ainda que a oração principal do período apresente um verbo de ligação. Explique essa afirmação. Em seguida, aponte a classificação sintática do trecho sublinhado.

Resposta: A oração destacada é subordinada substantiva subjetiva porque funciona como sujeito da oração principal, não como predicativo do sujeito.

11- Leia o trecho abaixo:

“À primeira vista, o vizinho Pádua, pai de Capitu, vivia em condições muito superiores às de José Dias, tinha emprego público e casa própria, mas se trata de outro tipo de dependente.”

Embora as orações coordenadas assindéticas naturalmente não apresentem valores semânticos explícitos, eles podem estar subentendidos no discurso. Transcreva do trecho a segunda oração coordenada assindética e indique o valor semântico implícito nela.

Resposta: A oração é “tinha emprego público e casa própria”. Introduz um valor semântico de explicação, tendo em vista que se subentende a conjunção “pois”.

12- Observe o fragmento a seguir:

“A ruína de Bentinho representa não só a sua própria, mas também a do grupo social do qual fazia parte.”

O comentário do autor sobre o final melancólico de Bento Santiago defende um posicionamento historicamente contextualizado acerca da obra. A construção dessa opinião está revelada, na estrutura do fragmento, a partir de:

(A) estruturas subordinadas e oposição de sentidos.(B) coordenação adversativa e oração subordinada.(C) paralelismo sintático e adição semântica.(D) conjunção integrante e coordenação assindética.

13- Atar as duas pontas da vida é o propósito do narrador de Dom Casmurro. A respeito do enredo central da obra, apresentado brevemente na resenha, a única alternativa cujo conteúdo não está de acordo com o romance machadiano encontra-se em:

(A) A história envolve três personagens, Bentinho, Capitu e Escobar, e três projetos de vida, todos interrompidos quando pareciam atingir a plena realização.

(B) O enredo se revela a partir da perspectiva rancorosa do narrador com o objetivo de reinventar questões vividas apenas na adolescência e que reverberam em sua vida adulta.

(C) A trama estrutura-se ao redor do sentimento de ciúme, numa linha de ascensão de construção de felicidade e de dispersão, com a felicidade destruída no desfecho.

(D) A narrativa se marca por digressões que chamam a atenção para a inevitabilidade do que se vai narrar, bem como pela presença constante de intertextualidade e de metalinguagem.

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TEXTO 2CAPÍTULO III

A DENÚNCIA (FRAGMENTO)

— Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de metê-lo no seminário quanto antes.

— Bem, uma vez que não perdeu a ideia de o fazer padre, tem-se ganho o principal. Bentinho há de satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o Império...

— Governo como a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos. — Perdão, doutor, não estou defendendo ninguém, estou citando. O que eu quero é dizer que o clero ainda tem grande papel no Brasil.

— Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?

— É promessa, há de cumprir-se. — Sei que você fez promessa... mas uma promessa assim... não sei... Creio que, bem

pensado... Você que acha, prima Justina? — Eu? — Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de todos.

Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta! Pois isto é coisa de lágrimas?

Minha mãe assoou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a dizer. Prima Justina exortava: "Prima Glória! Prima Glória!" José Dias desculpava-se: "Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo...”

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdfAcesso em 05 ago. 2018.

14- O agregado José Dias alerta D. Glória de que pode haver uma dificuldade caso ela ainda pretenda colocar Bentinho no seminário. Tendo em vista o contexto realista em que se insere a obra, explique a quem se dirige e quais são as críticas feitas por meio desse episódio.

Resposta: Críticas feitas à igreja e à política, representadas por meio da promessa de D. Glória e pelos comentários de José Dias a respeito da influência e poder da igreja na política brasileira.

15- Leia o fragmento a seguir:

“José Dias desculpava-se: ‘Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo...’”

Indique o efeito de sentido que o emprego desse adjetivo no superlativo confere ao texto.

Resposta: O efeito de sentido é explicitar o exagero de José Dias, a fim de demonstrar a importância do seu dever e o quão amargo ele era.

16- No trecho acima, o emprego das justificativas de José Dias após a reação de D. Glória configura uma superposição de figuras de linguagem, recurso frequente em textos artísticos. As figuras de linguagem superpostas na frase são:

(A) gradação e hipérbole.(B) metáfora e paradoxo.(C) ironia e metonímia.(D) personificação e antítese.

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TEXTO 3

CAPÍTULO CXIIAS IMITAÇÕES DE EZEQUIEL (FRAGMENTO)

Tal não faria Ezequiel. Não comporia bolas envenenadas, suponho, mas não as recusaria também. O que faria com certeza era ir atrás dos cães, a pedrada, até onde lhe dessem as pernas. E se tivesse um pau, iria a pau. Capitu morria por aquele batalhador futuro.

— Não sai a nós, que gostamos da paz, disse-me ela um dia, mas papai em moço era assim também; mamãe é que contava.

— Sim, não sairá maricas, repliquei; eu só lhe descubro um defeitozinho, gosta de imitar os outros.

— Imitar como? — Imitar os gestos, os modos, as atitudes; imita prima Justina, imita José Dias; já lhe achei até

um jeito dos pés de Escobar e dos olhos... Capitu deixou-se estar pensando e olhando para mim, e disse afinal que era preciso emendá-

lo. Agora reparava que realmente era vezo do filho, mas parecia-lhe que era só imitar por imitar, como sucede a muitas pessoas grandes, que tomam as maneiras dos outros; e para que não fosse mais longe...

— Também não vamos mortificá-lo. Sempre há tempo de corrigi-lo.(...)

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdfAcesso em 05 ago. 2018.

17- A princípio, Capitu parece desconhecer a brincadeira de imitação feita por Ezequiel. Após pensar, a reprovação assertiva de Capitu no que diz respeito a esse costume do filho põe em destaque a seguinte característica de sua atitude:

(A) revela-se como censura autêntica às ações do filho.(B) manifesta-se numa postura egoísta de autoproteção. (C) apresenta-se como proposta de dissolução da memória.(D) conjuga-se como necessidade de desviar a intuição de Bento.

18- A principal característica da linguagem das narrativas realistas é o modo objetivo, e aparentemente isento de juízo de valor, com que as personagens são construídas. Bento, ao contrário, contamina a sua narração. Explique a ocorrência dessa contaminação com base no fragmento de capítulo lido acima.

Resposta: Ao mostrar Capitu aparentemente fingindo desconhecer a brincadeira e depois a reprovando imediatamente, o narrador contamina a leitura de modo a fazer recair sobre Capitu a culpa de adultério.

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TEXTO 4

CAPÍTULO CXLVIII

E BEM, E O RESTO?

Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro.

O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. I: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.

E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdfAcesso em 05 ago. 2018.

19- A associação metafórica entre as personalidades de Capitu e a constituição de uma fruta intensifica a argumentação do narrador. Invocando aqui a memória e o testemunho do leitor de sua história, o narrador arremata a narrativa:

(A) lembrando que os ciúmes de Bentinho por Capitu poderiam perfeitamente ser injustificáveis.(B) concluindo que a única explicação para a traição de Capitu é a força caprichosa de

circunstâncias acidentais.(C) citando passagem bíblica, à luz da qual é possível perceber uma ressalva que admite a

possibilidade de inocência de Capitu.(D) pretendendo que a personalidade de Capitu tenha se desenvolvido de modo a cumprir a sua

inclinação orgânica.

20- A emoção dos românticos dá lugar a uma postura mais objetiva e crítica ao projeto literário dos escritores realistas. Com base no final de Dom Casmurro, explique de que maneira a anatomia do caráter vincula Machado de Assis a uma vertente alternativa do Realismo.

Resposta: A estratégia discursiva de Machado de Assis é analisar o comportamento e as motivações das personagens, articulando-os ao contexto da época, o que se materializa em um romance realista de vertente psicológica.

TEXTO 5

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21- No contexto da tira, a comparação entre o primeiro e o último quadrinho produz humor. A produção de humor se deve ao seguinte recurso:

(A) destaque de uma situação extraordinária.(B) demonstração de uma atitude caricatural.(C) desconstrução de uma expectativa do leitor.(D) afirmação de características do personagem.

22- A fala final remete ao resultado da leitura concomitante de três obras feitas pelo personagem. Essa formulação final configura um recurso da linguagem conhecido como:

(A) ironia.(B) designação.(C) verossimilhança.(D) intertextualidade.

23- A expressão facial do personagem é um recurso gráfico que contribui para ampliar o sentido da tira. A união entre aspectos verbais e não verbais no segundo quadrinho desempenha principalmente o papel argumentativo de:

(A) revelar contradição.(B) explicar comprovação.(C) fundamentar afirmação.(D) promover exemplificação.

MCS/1907/BANCO DE QUESTOES/PORTUGUES/2019/PORTUGUES- 2A SERIE – ENSINO MEDIO – 2A ETAPA – 2019 - TIGRAN MAGNELLI E GUSTAVO ABREU.DOC

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