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Nos Prédios Para tirar dúvidas e mandar casos sobre condomínios, envie e-mail para [email protected] ou mande mensagem para o Whatsapp do Agora: (11) 97549-7959 B6 Segunda-feira, 8 de agosto de 2016 Morador encrenqueiro pode Morador encrenqueiro Morador encrenqueiro ter de pagar multa pesada Robson Ventura/Folhapress Condômino que vive desrespeitando as regras de convívio pode sofrer processo e até ser expulso O morador que está sem- pre desrespeitando as regras do prédio pode ser multado em até dez vezes o valor do condomínio. Ele é o chama- do “condômino antissocial” e esse é o mais alto grau de punição baseada no Código Civil. O caso também pode ser levado à Justiça. “Essa questão é difícil, porque não há um padrão para dizer quem é antisso- cial”, diz o advogado Ale- xandre Berthe. “Não é al- guém que faz uma festa até de madrugada uma ou duas vezes por ano, mas uma pes- soa sempre advertida e mul- tada ”, afirma. É o caso de um morador com quem o síndico profis- sional Nilson Soares, 39 anos, teve de lidar. “Ele ti- nha uma vaga na garagem, mas queria colocar três car- ros. Também fazia festas até as 2h ou 3h, de três a quatro vezes por semana”, diz. As multas somaram R$ 8.000. No fim, ele mudou-se de lá. Berthe lembra que até quem não paga condomínio pode ser enquadrado como antissocial, mas isso depen- de do que diz a convenção. Se a administração já apli- cou todas as punições pre- vistas na convenção, é possí- vel usar o Código Civil como base para cobrar a multa de até dez vezes o valor da taxa condominial. “Mas isso precisa ser apro- vado em assembleia”, avisa o advogado Rodrigo Karpat, da Karpat Sociedade de Ad- vogados. O morador acusado tem direito à defesa. Karpat diz que outro recur- so do condomínio é entrar com ação na Justiça contra o morador, e o juiz pode de- terminar multa para cada vez que a regra for quebrada. É possível pedir a expulsão de- le. “Mas conseguir isso é ex- ceção”, diz Karpat. (Gislaine Gutierre) 08CF601-12.2CM 2.45 22.0 O síndico profissional Nilson Soares, 39 anos, mostra exemplo de conduta antissocial, estacionar o carro em duas vagas ao mesmo tempo Vizinho antissocial exemplos de comportamento inadequado Na garagem Estaciona mais de um carro na garagem, quando só tem uma vaga Ocupa mais de uma vaga com o mesmo carro Bloqueia a saída de outro carro com seu veículo Nas áreas comuns Não recolhe as fezes de seu animal de estimação Usa bronzeador na piscina quando isso é proibido Ameaça a vida de vizinhos Em seu apartamento Sempre faz barulho em horário de silêncio Dá festas ruidosas até de madrugada, com frequência Solta rojão de sua janela Fonte: Rodrigo Karpat, advogado da Karpat Sociedade de Advogados Na Justiça O condomínio pode entrar com ação da Justiça pedindo aplicação de multas cada vez que o morador infringir de novo a regra tratada no processo É possível pedir a expulsão do condômino, mas é muito raro acontecer isso Dicas Síndicos devem guardar as reclamações por escrito e eventuais imagens de câmera que mostrem o morador cometendo infração É melhor deixar que a assembleia vote pela aplicação ou não da multa Punições Advertência e multas conforme determina a convenção Se o morador continuar cometendo infrações: Gestão propõe em assembleia multar em até cinco vezes o valor do condomínio Essa proposta precisa ser aprovada em assembleia por 2/3 dos condôminos (sem incluir o acusado) Para aplicar multa de até dez vezes o valor do condomínio, 3/4 dos condôminos precisam concordar A lei não estabelece limites para a reaplicação das multas Quem é O morador que sempre desrespeita as regras do condomínio Como proceder Queixas devem ser registradas no livro de ocorrências ou enviadas por e-mail para o síndico, conforme o que determina as regras do prédio O síndico deve apurar se as queixas correspodem à realidade tire suas dúvidas O Agora responde Casos de condomínio Porteiro salva moradora que ameaçava pular da janela Onde moro há muitos rateios. Tudo o que acontece de diferente no prédio tem rateio, até conserto de vazamento em apartamentos. Isso está certo? Ana Claudia, São Paulo Há duas quadras no prédio onde moro. O morador pode autorizar a entrada de visitantes para usá-las e participar com eles de campeonatos? Magda Aparecida Félix, São Paulo Moira Toledo, advo- gada e diretora de locação da Aabic (Associação das Administra- doras de Bens Imóveis e Condomínios), explica que não há um limite para a quantidade de rateios a ser feita em um condomínio. O que é necessário é que se- jam aprovados em assem- bleia. “A exceção são os ca- sos urgentes, como o de va- zamento em apartamen- tos”, explica a advogada. A divisão de despesas, se- gundo Moira, deve ser cal- culada com base nas frações ideais das unidades, “a não ser que a convenção do condomínio estabeleça ou- tra maneira”. Donos de imóveis e inquili- nos têm responsabilidades diferentes. “A regra geral é que despesas ordinárias, ou seja, de manutenção, são de responsabilidade dos in- quilinos, e as extraordiná- rias, que correspondem a melhorias, por exemplo, são do locador”, diz. Alexandre Callé, as- sessor jurídico do Secovi (Sindicato da Habitação) de São Paulo, explica que as regras de uti- lização das áreas comuns costumam estar previstas no regulamento interno. “Essas regras são obrigató- rias não só aos condôminos, mas a qualquer estranho que entrar no prédio, já que se trata de uma proprieda- de privada”, diz. Isso inclui visitantes, funcionários e prestadores de serviços. Callé afirma que se houver restrição quanto ao uso de determinada área comum aos “não condôminos”, o síndico poderá, nos casos de abusos ou prejuízos, aplicar punição ao condô- mino —mas não ao visitan- te—, além das eventuais perdas e danos. “O melhor é sempre ter bom senso na aplicação das regras e puni- ções, para que qualquer implicância não gere mais desentendimento”, afirma especialista. Sebastião Neves, 66 anos e porteiro há 42 anos, lem- bra-se com emoção de quando salvou uma moradora que ameaçava pular da janela. O caso ocorreu na dé- cada de 1970, na rua Piauí, em Higienópolis (centro). “Era uma moça muito bonita, arquiteta famosa. O na- moro acabou e ela ficou muito mal, sem sair do apar- tamento, no sétimo andar, por vários dias”, conta. Ne- ves então recebeu uma ligação no interfone. “Era a empregada, dizendo que ela estava na janela e amea- çava pular”, lembra. “Subi lá e ela estava nua, e grita- va que ia pular se eu chegasse perto. Acalmei ela, até que apontei para um lado e disse ‘olha lá’. Ela olhou e eu pulei em cima dela, enrolando-a na cortina”, diz. “O namorado chegou logo depois. Eles se casaram e ela viveu feliz, até onde sei. E sempre me agradeceu muito por ter salvado sua vida.” (Fabio Pagotto)

Para tirar dúvidas emandar casos sobrecondomínios, envie e ... · de madrugada umaouduas vezes porano,mas umapes-soasempre advertidaemul-tada ”, afirma. Éocaso de um morador

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Nos Prédios Para tirar dúvidas e mandar casos sobre condomínios, enviee-mail para [email protected] ou mandemensagem para o Whatsapp do Agora: (11) 97549-7959

B6 Segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Morador encrenqueiro podeMorador encrenqueiroMorador encrenqueiroter de pagar multa pesada

Robson Ventura/Folhapress

Condômino que vivedesrespeitando asregras de convíviopode sofrer processoe até ser expulso

O morador que está sem-pre desrespeitando as regrasdo prédio pode ser multadoem até dez vezes o valor docondomínio. Ele é o chama-do “condômino antissocial”e esse é o mais alto grau depunição baseada no CódigoCivil. O caso também podeser levado à Justiça.

“Essa questão é difícil,porque não há um padrãopara dizer quem é antisso-cial”, diz o advogado Ale-xandre Berthe. “Não é al-

guém que faz uma festa atéde madrugada uma ou duasvezes por ano, mas uma pes-soa sempre advertida e mul-tada ”, afirma.

É o caso de um moradorcom quem o síndico profis-sional Nilson Soares, 39anos, teve de lidar. “Ele ti-nha uma vaga na garagem,mas queria colocar três car-ros. Também fazia festas atéas 2h ou 3h, de três a quatrovezes por semana”, diz. Asmultas somaram R$ 8.000.No fim, ele mudou-se de lá.

Berthe lembra que atéquem não paga condomíniopode ser enquadrado comoantissocial, mas isso depen-de do que diz a convenção.

Se a administração já apli-

cou todas as punições pre-vistas na convenção, é possí-vel usar o Código Civil comobase para cobrar a multa deaté dez vezes o valor da taxacondominial.

“Mas isso precisa ser apro-vado em assembleia”, avisao advogado Rodrigo Karpat,da Karpat Sociedade de Ad-vogados. O morador acusadotem direito à defesa.

Karpat diz que outro recur-so do condomínio é entrarcom ação na Justiça contra omorador, e o juiz pode de-terminar multa para cada vezque a regra for quebrada. Épossível pedir a expulsão de-le. “Mas conseguir isso é ex-ceção”, diz Karpat.

(GislaineGutierre)

08CF601-12.2CM2.4522.0

OsíndicoprofissionalNilsonSoares,39anos,mostraexemplodecondutaantissocial,estacionarocarroemduasvagasaomesmotempo

Vizinho antissocial

exemplos decomportamentoinadequado

Na garagem■ Estaciona maisde um carro nagaragem, quando

só tem uma vaga

■ Ocupa mais de uma vaga como mesmo carro

■ Bloqueia a saída de outrocarro com seu veículo

Nas áreascomuns■ Não recolhe as fezes

de seu animal de estimação

■ Usa bronzeador na piscina quandoisso é proibido

■ Ameaça a vida de vizinhos

Em seuapartamento■ Sempre faz barulho

em horário de silêncio

■ Dá festas ruidosas até demadrugada, com frequência

■ Solta rojão de sua janela

Fonte: Rodrigo Karpat, advogado daKarpat Sociedade de Advogados

Na Justiça■ O condomínio

pode entrar comação da Justiçapedindo aplicação demultas cada vez queo morador infringirde novo a regratratada no processo

■ É possível pedira expulsão docondômino, masé muito raroacontecer isso

Dicas■ Síndicos

devem guardar asreclamações porescrito e eventuaisimagens de câmeraque mostremo moradorcometendoinfração

■ É melhor deixarque a assembleiavote pela aplicaçãoou não da multa

Punições■ Advertência e multas conforme determina a convenção

■ Se o morador continuar cometendo infrações:

Gestão propõe emassembleia multar ematé cinco vezes o valordo condomínio

Essa proposta precisaser aprovada emassembleia por 2/3dos condôminos (semincluir o acusado)

Para aplicar multa deaté dez vezes o valordo condomínio, 3/4dos condôminosprecisam concordar

A lei não estabelecelimites para areaplicação dasmultas

Quem éO morador que sempre desrespeitaas regras do condomínio

Como proceder■ Queixas devem ser

registradas no livrode ocorrências ouenviadas por e-mailpara o síndico,conforme o quedetermina as regras doprédio

■ O síndico deve apurarse as queixascorrespodemà realidade

tire suas dúvidasO Agora responde

Casos decondomínio

Porteiro salva moradora queameaçava pular da janela

Onde moro há muitos rateios. Tudo o que acontecede diferente no prédio tem rateio, até conserto devazamento em apartamentos. Isso está certo?Ana Claudia, São Paulo

Há duas quadras no prédio onde moro. O moradorpode autorizar a entrada de visitantes para usá-lase participar com eles de campeonatos?Magda Aparecida Félix, São Paulo

Moira Toledo, advo-gada e diretora delocação da Aabic

(Associação das Administra-doras de Bens Imóveis eCondomínios), explica quenão há um limite para aquantidade de rateios a serfeita em um condomínio. Oque é necessário é que se-jam aprovados em assem-bleia. “A exceção são os ca-sos urgentes, como o de va-zamento em apartamen-tos”, explica a advogada.A divisão de despesas, se-

gundo Moira, deve ser cal-culada com base nas fraçõesideais das unidades, “a nãoser que a convenção docondomínio estabeleça ou-tra maneira”.Donos de imóveis e inquili-nos têm responsabilidadesdiferentes. “A regra geral éque despesas ordinárias, ouseja, de manutenção, sãode responsabilidade dos in-quilinos, e as extraordiná-rias, que correspondem amelhorias, por exemplo,são do locador”, diz.

Alexandre Callé, as-sessor jurídico doSecovi (Sindicato da

Habitação) de São Paulo,explica que as regras de uti-lização das áreas comunscostumam estar previstasno regulamento interno.“Essas regras são obrigató-rias não só aos condôminos,mas a qualquer estranhoque entrar no prédio, já quese trata de uma proprieda-de privada”, diz. Isso incluivisitantes, funcionários eprestadores de serviços.

Callé afirma que se houverrestrição quanto ao uso dedeterminada área comumaos “não condôminos”, osíndico poderá, nos casosde abusos ou prejuízos,aplicar punição ao condô-mino —mas não ao visitan-te—, além das eventuaisperdas e danos. “O melhor ésempre ter bom senso naaplicação das regras e puni-ções, para que qualquerimplicância não gere maisdesentendimento”, afirmaespecialista.

Sebastião Neves, 66 anos e porteiro há 42 anos, lem-bra-se com emoção de quando salvou uma moradoraque ameaçava pular da janela. O caso ocorreu na dé-cada de 1970, na rua Piauí, em Higienópolis (centro).“Era uma moça muito bonita, arquiteta famosa. O na-moro acabou e ela ficou muito mal, sem sair do apar-tamento, no sétimo andar, por vários dias”, conta. Ne-ves então recebeu uma ligação no interfone. “Era aempregada, dizendo que ela estava na janela e amea-çava pular”, lembra. “Subi lá e ela estava nua, e grita-va que ia pular se eu chegasse perto. Acalmei ela, atéque apontei para um lado e disse ‘olha lá’. Ela olhou eeu pulei em cima dela, enrolando-a na cortina”, diz.“O namorado chegou logo depois. Eles se casaram e elaviveu feliz, até onde sei. E sempre me agradeceu muitopor ter salvado sua vida.” (Fabio Pagotto)