Para uma revolução epistemológica dos estudos indológicos

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  • 8/14/2019 Para uma revoluo epistemolgica dos estudos indolgicos

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    A crise cientfica estprofundamente ligada aomecanismo social, poltico

    e econmico que tende adeterminar o naturaldesenvolvimento dascincias e disciplinas

    correlativas. Ora, oconhecimento cientfico

    distingue-se da ideologia,que deforma o princpio e arealidade dos factos

    cientficos; quando aideologia se apropria da

    cincia, a ponto de adeformar, o movimento

    natural imanente dodesenvolvimento da

    prpria cincia, leva consequente ruptura do

    paradigma. Os momentosde crise surgem, portanto,

    quando os mtodos detrabalho ou as teorias, no

    satisfazem mais asexigncias do prpriodesenvolvimento.

    Jos Carlos CalazansCentro de Estudos

    em Cincia das Religiese Bolseiro da Fundao para a

    Cincia e Tecnologia

    A R T I G O S

    Para uma revoluoepistemolgica

    dos estudos indolgicos

    REVISTA LUSFONA DE CINCIA DAS RELIGIES Ano V, 2006 / n. 9/10 227-237 227

    Amaioria dos historiadores da Histria da ndia, ind-logos e filologistas do Indo-europeu do sculo dezanove,adoptaram trs postulados falaciosos (evidncia lin-gustica, teoria ariana invasionista e cronologia bblica),a partir dos quais determinaram com impreciso posi-tivista alguns estudos indolgicos e a cronologia da His-tria da ndia Pr-clssica. Infelizmente, alguns historia-dores contemporneos continuam a seguir os mesmospostulados, sem se terem apercebido que novas cronolo-gias (corrigidas), novos dados arqueolgicos e novas in-terpretaes e tradues dos textos clssicos, tm abertonovos horizontes e esclarecido uma parte considervelda Histria da ndia Pr-clssica. Este perodo histrico,tinha permanecido obscuro nos manuais da histria e dalingustica, enquanto as culturas do Oriente Mdio des-de finais do sculo dezanove, j apresentavam quadrosclaros de classificao.

    O resultado desta errada atitude metodolgica notrabalho de investigao cientfica em Histria, levaramaqueles investigadores a exclurem alguns dos elemen-

    tos mais importantes de todo o processo evolutivo dopensamento pr-clssico indiano. A astronomia e a ne-cessidade de clculo matemtico foram justamente doisdesses elementos, utilizados para resolver os problemasbsicos da sobrevivncia das populaes, ligados con-struo do espao urbano, religioso e astronmico.

    O que se pretendeu rejeitar como no sendo provaevidente e no relevante, para os filologistas e linguistas

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    do Indo-Europeu (Indo-Ariano), precisamente o que representa o centro das atenes

    de todo o ritual vdico: a preocupao de medir o tempo de tal forma precisa, que nohaja nenhuma falha nos rituais ao longo do ano.

    A medio do tempo religioso foi coincidente com a do tempo astronmico sideral.Sem ela, todo o ritual e toda a cosmogonia no teriam nenhum sentido; sem ela, noteria feito sentido manter a tradio (oral) e registar no perodo fontico (utilizando umnovo alfabeto, o devangar), um ritmo de tempo determinado por configuraes ni-cas e irrepetveis.

    O perodo vdico e ps-vdico refere-se, portanto, a um perodo astronmico per-feitamente identificvel, que coincide com as referncias feitas noR.gveda. legtimo,portanto, classificar-se o Snscrito-Vdico, que preferimos designar por arsam?, comoo monumento lingustico Indo-Ariano mais antigo que se conhece.

    Exceptuando a exagerada extrapolao astronmica de Tilak (1893) sobre a origem

    rctica dos Arianos, deve-se prestar a devida homenagem ao esforo de investigaorealizada por Hermann Jacobi (1894), P. C. Sengupta (1938, 1941) e A. Seidenberg(1962, 1978). Os seus clculos e investigaes estavam basicamente correctos, mas assuas teses no fizeram eco entre sanscritlogos e historiadores, durante o seu tempode vida.

    A tese romntica de uma invaso Ariana na ndia (que os historiadores positivis-tas tradicionais defendiam e ainda hoje se mantm), no podia tolerar a vetusta anti-guidade dos Vedas, provada pela informao astronmica neles contida. De facto, nosVedas no se encontra uma nica referncia a invaso, nem a consta nenhuma descri-o geogrfica que possa ser identificvel com a sia central, com os Balcs ou com aAnatlia.

    Apesar do respeito que merecem os sanscritlogos, indlogos e historiadores tra-dicionais da ndia, que ainda seguem a cronologia bblica proposta por Max Mllercomo base para a datao do R.gveda, deve-se dizer, que excluram dos seus instru-mentos de auxlio metodolgico, precisamente o que a Antiguidade Pr-Clssica india-na considerou de maior importncia: a astronomia e a matemtica.

    Ao terem excludo estas cincias da sua metodologia de trabalho cientfico, re-duziram a investigao a uma leitura deficiente dos textos em Vdico. Durante o pe-rodo em que viveu Max Mller, a arqueologia era to deficiente que ningum pode-ria advinhar, que algum dia ela vira a ser um instrumento til da Histria e daAntropologia e mais tarde tornar-se ela mesma uma cincia independente. O que di-riam Max Mller, Monier-Williams, A. A. Macdonell, A. B. Keith, J. Eggeling e W. D.Whitney (s para mencionar os mais conhecidos), se tivessem tido acesso s dataesfornecidas por 14C sobre o esplio arqueolgico da cultura Harapp? no mencio-nando outros mtodos como a termoluminescncia,fission track dating, obsidian hydra-

    tion, dendrocronologia e archaeomagnetic dating.Esta falha desculpvel para quem viveu no sculo dezanove ou at mesmo noincio do sculo XX, porm, Hermann Jacobi (1894) e P. C. Sengupta (1938, 1941), quetambm viveram neste perodo, no foram da mesma opinio quanto s possveiscronologias detectadas a partir de referncias nos hinos vdicos. Estes dois investi-gadores partiram de um exaustivo estudo, que teve como referncia fundamental, ainformao astronmica contida nos textos vdicos.

    A ltima grande contribuio cientfica para a correco deste erro metodolgico

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    no trabalho cientfico em histria, foi sem dvida a investigao realizada pelo grande

    historiador da cincia A. Seidenberg (1962, 1978). No a primeira vez nem ser a l-tima, que as cincias como a matemtica, a fsica e a astronomia, concorrem para a cor-reco de desvios na metodologia de trabalho em outras cincias auxiliares. Este pro-cesso bem conhecido na evoluo das cincias, e sempre que se chega a um impassecientfico (crise do paradigma), certo que os sintomas indicam um momento de revoluoepistemolgica e de revoluo cientfica.

    A revoluo na cincia histrica um facto conhecido, detectado e necessrio. Temocorrido sempre que se do fenmenos de crise cientfica, porm, esta revoluo noocorre simultaneamente em todas as cincias, dependendo unicamente da dinmicainterna e da capacidade que cada disciplina tm para se adaptar s novas exignciasrequeridas.

    O modelo de autenticidade cientfica actual, atravessa uma profunda crise doparadigma dominante originado pelo racionalismo, que no caso da Indologia comeoucom Max Mller, A. B. Keith, J. Eggeling, W. D. Whitney, A. A. Macdonell e outros. Aruptura pela qual estamos a passar, iniciou-se com Einstein e com a mecnica qun-tica, mostrando que no s a relatividade do conhecimento est relacionada com a de-scontinuidade da matria, como possvel ocorrerem vrios acontecimentos no mesmotempo e no mesmo lugar em total simultaneidade com outros ocorridos distncia(relatividade da simultaneidade).

    Ora, para os fillogos e historiadores da ndia do sculo dezanove, era impossvelimaginar sequer a possibilidade de outras civilizaes terem atingido um ponto to altona sua evoluo, como as civilizaes Egpcia, Assrica e Grega; a ndia encontrava-sefora desta escala, e a sua prolixidade literria (lingustica) como arquitectnica, devia-se unicamente a uma invaso Indo-europeia, para no dizer Indo-germnica. Paraeles seria inaceitvel a relatividade do conhecimento, assim como a relatividade da si-multaneidade dos factos histricos, o que desculpvel; Heinsenberg publicaria o seuDie physikalischen Prinzipen der Quanten-theorie em 1930 e Einstein apresentaria a suaTeoria da Relatividade em 1954.

    Como se sabe tambm, a crise cientfica (ruptura do paradigma dominante) est pro-fundamente ligada ao mecanismo social, poltico e econmico que tende a determinaro natural desenvolvimento das cincias e disciplinas correlativas. Ora, o conhecimentocientfico distingue-se da ideologia, que deforma o princpio e a realidade dos factoscientficos; quando a ideologia se apropria da cincia a ponto de a deformar, o movi-mento natural imanente do desenvolvimento da prpria cincia, leva consequenteruptura do paradigma. Os momentos de crise surgem, portanto, quando os mtodos detrabalho ou as teorias, no satisfazem mais as exigncias do prprio desenvolvimento.

    A Cincia sempre mais rpida no seu desenvolvimento do que os mecanismos so-ciais e polticos. este fenmeno que se detecta hoje entre os estudos indianos que incluem as disci-

    plinas da Lingustica Comparada, Snscritologia, Histria, Mitologia Indiana, Arqueo-logia, entre outras. Os imperativos polticos e econmicos, assim como a estrutura cul-tural do sistema colonial europeu do sculo dezanove, determinaram o andamento dosestudos das lnguas africanas e asiticas, de tal forma que os horizontes cronolgicose a interpretao dos textos das culturas em estudo, ficou limitado aos parmetros cul-

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    turais e religiosos da poltica colonial europeia. No caso dos estudos indianos, afecta-

    dos pelo nacionalismo Alemo e pelo colonialismo Britnico. Este ltimo, dando ori-gem a uma tradio historiogrfica nacionalista indiana.

    A historiografia produzida nesta altura tem a marca profunda do seu tempo,ilustrado pelo exemplo citado por Monier-Williams, quando Colonel Boden foinomeado para dirigir o departamento de Snscrito da Universidade de Oxford: [to] pro-mote Sanskrit learning among the English, so as to enable his countrymen to proceed in theconversion of the natives of India to the Christian Religion (Monier-Williams 1899) 1.

    Outro exemplo, Frederick Max Mller (1823-1901), positivista alemo e presbteroprotestante, que em 1868 ao escrever ao Duque de Argyll, o secretrio de estado dandia, dizia: The ancient religion of India is doomed, and if Christianity does not step in, whose

    fault it be? (in Devi Chand 1988).A situao que se verifica ainda hoje nos estudos indianos (Indologia) o resulta-

    do deste processo social e poltico que marcou a Europa e os pases que dela depen-deram quando ainda colnias. A ndia, Indonsia e Indochina, por um lado, Marro-cos, Arglia, Congo, Angola, Moambique e frica do Sul por outro, so exemplos daEuropa de novecentos.

    Foi Max Mller que criou a falsa cronologia para os textos vdicos, baseada nacrena Bblica de que o mundo tinha sido criado a 23 de Outubro de 4004 a.C.; foi apartir desta crena que ele estabeleceu para oR.gveda a data de 1200 a.C., e apesar doerro bvio e da falta de rigor cientfico que caracterizou a maior parte dos investiga-dores do sculo dezanove, e das crticas que Max Mller recebeu, a sua retractao noeliminou o erro nem o uso que se fez da sua tese lingustica e racial: Whether the Vedichymns were composed in 1000, 1500 or 2000 or 3000 a.C., no power on earth will ever deter-mine. Max Mller considerava ser impossvel datar rigorosamente os Vedas, por ex-cluir da sua metodologia de trabalho, o que ainda hoje uma grande parte dos indlo-

    gos excluem: o conhecimento astronmico contido nos textos e a matemtica extensvel agrimensura prtica que os egpcios e sumrios consideravam vital no seu dia adia (e porque no a cultura Vdica?).

    Naturalmente, que os novos avanos em investigao do perodo pr-clssico dandia, vm das disciplinas onde o elemento da cincia mais evidente devido ao rigorrequerido na anlise dos factos. Foi a Arqueologia, neste caso como cincia auxiliar dapr-histria da ndia, que comeou a fornecer novos dados baseados em anlises crite-riosas feitas a partir do esplio e das estruturas urbanas, utilizando os novos mtodosde datao e anlise. Foram tambm as fotografias de satlite dos vales do Indo e doSarasvati, que permitiram detectar dramticas anomalias nos seus cursos, para umperodo que coincide com os acontecimentos descritos no R.gveda.

    tambm natural, que os novos dados e os relatrios de todas as campanhas ar-queolgicas realizadas nos ltimos cinco anos, pelo menos, no sejam, nem estejam

    acessveis a todos os investigadores e departamentos de estudos indianos (que no in-cluem necessariamente arquelogos, gelogos e climatologistas). Tambm de esperara natural reaco e resistncia por parte dos especialistas que ainda usam e defendemo antigo sistema maxmlleriano. Mas precisamente esta situao que define o mo-mento de ruptura do paradigma dominante nos estudos indianos.

    A cincia indolgica, no que diz respeito anlise da informao astronmica con-

    1 Monier-Williams,A Sanskrit-English Dictionary, p. ix.

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    tida no R.gveda, e matemtica do perodo vdico (Subalsutras), funciona ainda com o

    sensocomumdo racionalismo do sculo dezanove e portanto, carece do rigor no critriode cientificidade, o que estabelece fundamentalmente, como se sabe, a diferena entresenso comum e o prprio conhecimento cientfico o mesmo senso comum do sculodezanove continua a ser praticado, infelizmente, entre historiadores, linguistas e in-dlogos contemporneos como se fosse um dado aceite, como se fosse parte do critriointerno de cientificidade, nomeadamente a intersubjectividade.

    So precisamente os critrios de cientificidade, que estabelecem os meios apro-priados para conhecer o universo em todas as suas manifestaes e fenmenos. Comono existe cincia sem mtodo, e como para cada abordagem especfica h um mtodoespecfico, no se pode tentar interpretar um texto de caracter cosmolgico, com refe-rncias astronmicas, como o caso do R.gveda, fazendo uso de mtodos estritamente

    lingusticos.Seria completamente absurdo abordar Coprnico ou Galileu pela vertente filolgi-ca, ou tentar entender a teoria da relatividade e doprincpio quntico partindo das etimo-logias dos termos chaves usados em fsica. Ficaramos com a impresso de que os seusautores assim como as suas obras, teriam sofrido o resultado do choque cultural pro-duzido por uma repentina invaso de uma cultura estrangeira, embora da mesmafamlia lingustica. Uma invaso de povos nmadas, das estepes centrais da cincia as-tronmica e da Fsica um passo muito curto para a mitificao de uma Tartria daCincia. Felizmente que nem Einstein nem Heisenberg viveram no tempo de GiordanoBruno!

    Ora, a monumentalidade da historiografia indiana e da lingustica comparada(indo-europeia) originada no sculo dezanove, segundo as determinaes de uma Eu-ropa colonial, provocou um estrangulamento na investigao cientfica para os pero-

    dos pr-clssico e pr-histrico indiano. Por esta razo careceu ao nvel do critrio for-mal requerido em cincia, de coerncia, consistncia e de originalidade. Ao nvel do cri-trio interno falhou na objectividade, no conseguiu representar a realidade de formaprecisa, tendo criado modelos errados de interpretao histrica e lingustica.

    A reaco crtica em relao aoparadigma dominante nos estudos indianos, derivada natural reflexo epistemolgica e do caracter temporal e provisrio do conhecimen-to vigente. A natural consequncia, precisamente a ruptura epistemolgica que se esta operar entre ns, e tambm, complementar o conhecimento das coisas, com o conhe-cimento do conhecimento das coisas.

    Sintetizando, verificamos neste momento o declnio da hegemonia indolgica daLei de Max Mller, incidente em duas vertentes:ontolgica causal e metodolgica causal. Aprimeira, partindo de uma abordagem errada, quanto s causas que originaram o apa-

    recimento dos povos e das lnguas indo-europeias; a segunda, carecendo do mtodo eda verificao cientfica adequados, o que originou uma falsa perspectiva cronolgica.No aceitar outras formulaes ou modelos explicativos, equivalente a rejeitar a

    articulao das cincias (a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade), para a con-struo de novos conceitos, tendo como objectivo complementar o conhecimento dascoisas, com o conhecimento do conhecimento das coisas. Foi o que exactamente os filologis-tas e indlogos clssicos evitaram, e foi por esta razo que a decifrao da escritaideogrfica da cultura Harapp, tem resistido tanto tempo (quase um sculo!).

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    Entre os sistemas de escrita simblica conhecidos podemos reconhecer trs evolu-

    es grficas designadas normalmente porpictogrfico, ideogrfico, analtico de transio(sistemas fonticos) e silabrios, correspondendo respectivamente s escritas cuneifor-me, linear elamita, hitita, hieroglfica egpcia e minoica, linear A e linear B, cipro-mi-noico e silabrio cipriota.

    Os sistemas pictogrficos no so fonticos, obedecem a um processo cujo factorsugestivo visual tem um papel de importncia capital e em que cada sinal pretendeimitar o objecto (de maneira mais ou menos estilizada), ou mesmo um conceito abstrac-to que, por sua vez, tem uma equivalncia lingustica. Assim, no nvel existencial, te-mos o objecto que de uma forma clara ou estilizada representado no nvel grfico porimitao. O nvel lingustico (oral) expressa atravs do significado/significante umfacto acidental que a forma lingustica qual o objecto representado equivale.

    O grande problema nas decifraes das escritas pictogrficas reside exactamente

    neste nvel, que o da escolha da lngua que se supe ser a original, ou culturalmentemais aproximada, em que uma dada cultura se exprimiu. Como os sistemas pictogr-ficos so sintticos e representativos de objectos reais, qualquer lngua pode ser tradu-zvel e expressa pelos mesmos pictogramas, o que torna os processos de decifrao ver-dadeiros quebra-cabeas lingusticos. Qualquer lngua , assim, uma forte candidata.

    Do ponto de vista estrutural, importa fixar a ligao necessria do pictograma como nvel existencial, e a relao acidental com um domnio lingustico determinado. Poroutro lado, os sistemas pictogrficos suscitam dificuldades tais, que no possvelobter atravs deles uma descrio completa (e provavelmente nem aproximada) dumalngua, e isto devido a quatro razes principais: 1. a traduo de ideias abstractas impossvel, como em prazer, dor, bem, dizer, etc.; 2. no se adaptam facil-mente notao de elementos gramaticais (desinncias, preposies, modos, tempos,etc.), o que sublinha a ideia acima expressa, da independncia do pictograma relati-

    vamente ao nvel lingustico; 3. a fixidez do sistema grfico exige normalmente umelevadssimo nmero de sinais; 4.a por no ser um sistema grfico flexvel est su-jeito a constantes renovaes no vocabulrio pictogrfico, o que demonstra os proble-mas suscitados pela evoluo semntica. Devido a estas razes, no encontramos sis-temas pictogrficos que sejam ao mesmo tempo puros e completos.

    A necessidade de exprimir ideias mais abstractas ou de diferenciar ideias prxi-mas expressas por pictogramas semelhantes ou iguais, representou o passo seguintena evoluo destes sistemas de escrita. A introduo de um factor convencional veiosolucionar o problema de diferenciao ideogrfica e gramatical e revolucionar assimo antigo sistema grfico. Os sinais convencionais com ou sem valor fontico, passarama ser assim uma das marcas caractersticas dos sistemas ideogrficos. Porm, as difi-culdades de traduo no diminuem perante as escritas ideogrficas, por isso que o

    trabalho de transliterao e traduo deve ser sempre apoiado pelo conhecimentoprvio de outros sistemas de escrita, assim como, sempre que possvel, da recorrnciaa textos posteriores considerados como pertencentes mesma tradio cultural e lin-gustica. Este normalmente o processo seguido pelos investigadores quando decidemdecifrar a escrita de uma proto-lngua, como o caso do da cultura Harappa.

    Outra alterao ocorrida nos sistemas ideogrficos a simplificao (estilizao)dos ideogramas principais ou bsicos, que numa fase anterior expressavam uma ideiaclara e inequvoca com poucas variantes. A estes geralmente passou-se a juntar sinais

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    convencionais por um processo de aglutinao ideogrfica, pretendendo-se evidenciar

    assim de forma mais precisa, a tentativa de copiar as formas aglutinantes expressaspela oralidade.

    Posteriormente, os sistemas fonticos trouxeram em inovao uma maior aproxi-mao oralidade, isto , tentaram reproduzir graficamente frases ou expresses co-muns formadas por conjuntos de fonemas. Assim, os sinais fonticos traduzem a re-alidade oral atravs de formas fisico-visuais dispostas segundo normas fixas pr-es-tabelecidas, e de acordo com um protocolo lingustico cultural mais ou menos homo-gneo, referente a uma unidade cultural, ou tendendo para uma standartizao. Os sis-temas fonticos pressupem j um notvel esprito lingustico e um elevado poder deabstraco e anlise. Como as palavras podem-se fraccionar em fonemas e estes con-tm vogais e consoantes, os sistemas fonticos estruturaram-se em torno das compo-sies possveis que os fonemas permitiam numa dada lngua; os sons consonnticos

    com o auxlio de vogais so reconhecidos nos sistemas fonticos como elementos cons-trutivos na composio de palavras e expresses.O sistema grfico da cultura de Harappa (Indo-Sarasvati,), no se enquadra histori-

    camente nos sistemas fonticos e muito menos nos silbicos, mas tambm j no apre-senta as caractersticas da pura escrita pictogrfica, pois os sinais convencionaiscom ou sem valor fontico aparecem abundantemente, reflectindo assim um passo de-cisivo na evoluo da escrita e da semntica.

    Nesta escrita, a sobreposio de dois ideogramas formando um composto ideogr-fico, um indicativo da importncia que se passou a dar ao elemento fontico princi-pal de cada ideograma, abdicando-se inclusivamente do sentido homgrafo de cadaideograma base para formar um outro atravs de uma nova palavra. Desta forma, aaglutinao de sucessivos ideogramas a um ideograma base no sinnimo de uma ln-gua aglutinante, mas pode muito bem significar um passado lingustico a esse nvel,

    assim como o sistema ideogrfico demonstra uma derivao pictogrfica mais antiga.Por outro lado, a colocao de dgitos e de bastesjuntos a ideogramas base demonstrauma flexibilidade da lngua que se pretendeu traduzir graficamente. Assim, estesideogramas base ao manterem o seu significado fundamental, podem sofrer modifi-caes por afixao de outros sinais adicionais indicando a situao de casos e de nmero.

    Se por um lado a composio dos ideogramas subentende um passado lingusticoaglutinante, por outro, a utilizao das ideias e conceitos expressos atravs deles in-dicam um estado peculiar de notvel abstraco, capaz de conceitos que se traduzemna forma subjectiva e na significao indirecta das relaes gramaticais, expressas porpequenos indicativos (prefixos, infixos e sufixos) que cedem o seu significado inicial emfuno do ideograma base a que esto sujeitos.

    Sabemos tambm que a prpria evoluo grfica no acompanha a da linguagem,

    sendo esta ltima a que est constantemente actualizada. Enquanto que no Vale doIndo ainda se utilizavam ideogramas semelhantes ao pictogrfico assrio e ao elamita,ao mesmo tempo na Mesopotmia j se escrevia em cuneiforme. Neste sentido A. Has-san Dani refere: ()Although the Persians used Aramaic for their official transactions be-cause of their employment of Aramaean clerks, it is not clear why Darius used the late cuneiformalphabet for monumental inscriptions. (A. H. Dani 1986.)

    Numa nota dispersa Marc Bloch deixou-nos tambm esta reflexo:Muitos homens,muitos escribas vivem mais de quarenta anos e, se a letra s vezes se modifica ao envelhe-

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    cerem, raro que seja para se adaptarem a novas letras ambientes. Deve ter havido, por volta

    de 1200, escribas que, j sexagenrios, escreviam ainda como lhes tinham ensinado a faz-lo volta de 1150. De facto, a histria da escrita atrasa-se, de maneira estranha, em relao da lin-

    guagem. (M. Bloch 1987, p. 179.)Este pensamento adapta-se perfeitamente ao caso da escrita da cultura Harappa,

    pois s assim se explica a desactualizao em que os escribas se encontravam rela-tivamente. Por esta razo no pode haver uma relao directa ou derivada, entre a lin-guagem falada pelas populaes naquele perodo do Vale de Indo, e os ideogramasutilizados, provavelmente associados a uma lngua da elite social que pode no ter sidoda mesma origem tnica.

    Parafraseando ainda Marc Bloch: Praticaram numerosas sociedades aquilo a que podechamar-se bilinguismo hierrquico. Afrontavam-se duas lnguas uma popular, erudita aoutra. O que se pensava e se dizia correntemente na primeira escrevia-se, exclusivamente ou de

    preferncia, na segunda. Assim, a Abissnia, do sculo XI ao sculo XVII, escreveu o guez, falouo amrico. Assim os Evangelhos narram em grego, que era ento a grande lngua de cultura doOriente, conversas que, devemos sup-lo, foram travadas em arameu. (M. Bloch 1987.)

    Como sabemos, a lngua a forma de expresso na construo de modelos domundo, e ao mesmo tempo que sofre evolues na medida em que o homem evoluido nomadismo para o sedentarismo, a cidade passou a ser, o bastio da lngua me. ento que o fenmeno da escrita surge com o nascimento da cidade, e no mesmo mo-mento em que se fabricou o tijolo, o homem teve a ousadia de escrever na argila osnomes dos deuses e at o seu prprio nome. Um princpio geral pode ser aplicado atodas as civilizaes: no local onde floresceram e onde se ramificaram, surgiu maistarde uma lngua padro regional, fixada por vrias reformas gramaticais, mas que nasua essncia manteve os traos de origem.

    claro que se uma civilizao sedentria como a das populaes dos vales do Indo

    e do Sarasvat, falava uma lngua de elite e pelo menos um dialecto regional de base,e tendo um poder econmico considervel, por certo que influenciou linguisticamenteas populaes nmadas que transitavam ao seu redor, e que se tornaram satlites dessecentro. , portanto, nossa convico, de que a lngua que a elite social falava se sobrepsaos falares vulgares e dialectais.

    Para que uma mutao de lngua seja possvel, preciso a cumplicidade do sentimento. preciso que os dominados sintam e estejam dispostos a reconhecer o prestgio dos dominantes[] quando a lngua dos dominados aspira a um prestgio seno superior, pelo menos igualquele de que goza a lngua dos que dominam, nada h a fazer. A coero falha, falhar sem-

    pre No entanto, a coaco no pode resultar seno pelo preo de uma abominvel violncia,de uma inquisio pblica e privada que decorra a todas as delaes (L. Febvre 1989, p. 175.)

    Ora, a escrita actual da lngua Tamil no mais do que uma adaptao grfica do

    antigo Brhmi e as primeiras inscries datam apenas do sculo III a.C., uma data muitoposterior ao colapso da cultura de Harappa c. 1900 a.C. No defendemos que um oumais dialectos dravdicos (ou proto-dravdicos), no fossem falados durante o perododesta civilizao, o que propomos que o sistema ideogrfico da civilizao do Valedo Indo deve estar associado a uma lngua padro que serviu de base para vrios tex-tos de ordem astronmica-astrolgia, religiosa, poltica e econmica.

    A questo de uma populao dravdica absorvida por uma minoria invasora aria-na, no faz sentido, da mesma forma como uma populao geral de fundo dravdico

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    e de uma elite ariana, no parece ter fundamento, se considerarmos como verdadeira

    a premissa de que o termoAriano no significa raa, mas educao religiosa e com-portamento social adequado com determinado cnon religioso e tico; desta forma,

    Ariano seria todo o elemento social que respeitasse tal lei. De facto, a anlise dos esque-letos encontrados at hoje no espao arqueolgico da civilizao do Indo-Sarasvati,mostram influncias vrias que incluem o mundo mediterrnico e a sia; no se en-contram, portanto, nem grupos tipicamente Drdivas nem puros Arianos.

    Asko Parpola, que defendeu a existncia de uma lngua proto-dravdica como fun-do lingustico para esta escrita ideogrfica, aceita a ideia da invaso ariana, rejeitandoo que a prpria tradio indiana diz a respeito do termoAriano. Por esta razo, a suatentativa de decifrao falhou: The religion of the later Vedic texys is in many respects strink-ingly different from that of the oldest R.gvedic hymns in the family books. The presence andabsence or references to the lunar marking stars is just one of these differences. It seems to me

    that the radical change in the Vedic religion at this juncture is due to the mingling of the R.gvedicAryans with an earlier wave of Aryan speakears. The later in turn seem to have become Indi-anized previously by going through a similar acculturation process, in which they fused togetherwith the Harappans. (Parpola 1994, p. 14.)

    Partindo do princpio de que a lngua padro deve ter sido Indo-Ariana, o Vdico--Snscrito (arsam), ou um uma variante regional (bhas a), deve ser o candidato para adecifrao deste sistema ideogrfico. claro que a escolha desta lngua padro implicaa probabilidade e a aceitao da presena de um fundo cultural Indo-Ariano, crono-logicamente mais recuado do que suponhamos at hoje.

    A falaciosa tese de Max Mller de uma invaso Ariana na ndia, assim como a his-toriografia produzida a partir dela, no fazem sentido perante as novas dataes. Emreforo desta tese, temos as imagens de satlite do vale do rio Sarasvati, que revelamuma mudana dramtica do curso do rio at sua completa drenagem; a total ausn-

    cia de referncias a invases no R.gveda; a informao astronmica contida nos Vedas;e as recentes descobertas das mmias da regio de Tarim Basim (Xinjiang), cujo estadode surpreendente conservao possibilitou a identificao de um substracto Indo-Eu-ropeu c. 4000-2400 a.C., so outra prova da presena Indo-Ariana no espao indiano ehimalaico, em poca muito recuada e no associada a invases.

    Desta evidncia arqueolgica deriva directamente uma reformulao cronolgicaquanto existncia de populaes que se expressavam em formas dialectais (variantes)do Indo-Europeu na sia central, anteriores aos grupos j conhecidos do TocharianoA e B. Neste sentido e com precauo, D.Q. Adams sugeriu a possibilidade da exis-tncia de um nvel lingustico mais antigo, que designou como Tochariano C, tendocomo base as dataes estremas fornecidas por C14 de amostras provenientes de Hami,Zaghunlug e Knch Darya 6000 B.P.-3800 B.P. (Adams, pp. 399-411; Francalacci, pp.

    385-396.)Como j referimos anteriormente, o grande problema nas decifraes das escritaspictogrficas e ideogrficas reside exactamente na identificao donvel lingustico, poresta razo a escolha de uma metodologia de trabalho no processo de investigao toimportante, ocupando grande parte da actividade intelectual dos investigadores du-rante o momento que antecede o processo de decifrao e mesmo durante, sempre quese trata de fazer correces ao mtodo, ou at mesmo de escolher outro quando o pri-meiro se mostrou inoperante, o que acontece com no menos frequncia.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    evidente que a escolha de um vocbulo numa determinada lngua elimina logo

    partida todas as outras resultando numa reaco em cadeia no processo de decifrao.Se o primeiro passo dado, que o da escolha da lngua, foi em falso, o investigadorencontra-se em situao de erro material e antes que se aperceba disso pode levar al-guns meses ou at anos at constatar tal facto.

    Erro material no significa neste contexto erro metodolgico, pois a metodologiapode estar correcta e ser aplicvel a vrias situaes de investigao cientfica; o erromaterial diz unicamente respeito escolha do elemento base (neste caso lingustico) aser testado em vrias situaes e combinaes possveis. Mas tambm pode dar-se ocaso de o objecto a ser testado (a lngua) estar certo e o sistema metodolgico errado, o quejuntamente com a hiptese anterior faz aumentar de forma aritmtica as possibilidadesde erro.

    Pelas razes expostas torna-se clara a concluso de que num processo de decifrao

    de uma escrita pictogrfica ou ideogrfica, o investigador deve valer-se de uma for-mao bsica e cientfica slida, o que inclui na sua bagagem metodolgica vrios ins-trumentos de auxlio. Dever valer-se tambm, pelo menos, da informao fornecidapor outras cincias auxiliares que podem concorrer para o efeito com segura e ade-quada informao. Entre os instrumentos de auxlio contam-se as regras bsicas decombinao pictogrfica j conhecidas de outros sistemas de escrita, situaes quegeralmente so imutveis devido fixidez interna destas escritas. Das cincias auxilia-res destacamos a Antropologia, Arqueologia, Histria, Geografia e naturalmente a Lin-gustica, o que inclui pelo menos o conhecimento de uma lngua clssica (neste casodo Snscrito e do Vdico). A situao ideal seria a de um investigador cuja formaocontemplasse estes cinco ramos do conhecimento.

    Como se pode constatar, a decifrao de uma escrita desconhecida envolve gran-des dificuldades e obstculos vrios impedem muitas vezes o rpido sucesso. Durantedcadas, a excessiva especializao universitria criou nichos estruturais que s recen-temente comearam a tornar-se permeveis a outras fontes de informao e formaooriundas de outras cincias, e a razo para este fenmeno clara, a ruptura epistemol-

    gica, a revoluo nas cincias e a constante procura de uma teoria explicativa do fenmenohumano, neste caso ao nvel das proto-lnguas, tm sido o motor fundamental naenorme reestruturao que se est a operar entre ns. Neste sentido referiram-seMichael Fuett e Colin Renfrew durante uma conferncia internacional realizada emAbril de 1996 no museu da Universidade de Pennsylvania para a discusso dos referi-dos achados arqueolgicos em Xinjiang, sustentando que quer as investigaes sobreo cultura Tochariana, as mmias encontradas naquela regio e os respectivos artefac-tos, revelam de forma clara um longo processo de difusionismo, ponto de vista que de-veria ser tomado seriamente outra vez, como sublinhou C. Renfrew.

    As dificuldades na decifrao da escrita da cultura Harappa foram acrescidas, pelatotal inexistncia de uma tablete bi(tri)-lngue como sucedeu com Champollion,que foi presenteado com a Pedra de Roseta, e Rawlinson com a inscrio de Behistun.A existncia de tbuas deste gnero implica sempre actividades relacionadas com adiplomacia e relaes poltico-econmicas, entre culturas que se relacionaram de formaprofunda, e cujos tratados regulavam as formas de trato. Mas mais importante do queas prprias tbuas, foram os indivduos ou pequenas comunidades de escribas e tradu-tores, responsveis pelas tradues desses textos e das mensagens trazidas periodica-

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    PARA UMA REVOLUO EPISTEMOLGICA DOS ESTUDOS INDOLGICOS

    mente por estafetas. de supor que no Egipto existissem tradutores de Sumrio, como

    na Sumria vivessem tradutores de Egpcio, assim, no difcil de admitir que na cul-tura Harapp se encontrassem tambm escribas e tradutores bi e tri-lingues.

    Como existem descries sumrias de tempo de Sargo de Akkad, relativas a ter-ras a oriente da Sumria incluindoArat.t.a eMelahha (Mlecchadesa MleCDdez), prov-vel que de facto tenham existido tabletes de textos mais longos, o problema encon-tr-las. At que a sorte nos bafeje com um achado desta envergadura, contentamo-noscom a coleco de selos que temos nossa disposio publicada noCorpus of Indus Sealsand Inscriptions (Parpola et all.).

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