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PARADIGMAS EM DISPUTA NA EDUCAO DO CAMPO
Rodrigo Simo Camacho
Fonte:
Presidente Prudente, Janeiro de 2014
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
1
PARADIGMAS EM DISPUTA NA
EDUCAO DO CAMPO
Rodrigo Simo Camacho
Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da FCT-UNESP, Campus de Presidente Prudente como um dos requisitos para a obteno do ttulo de Doutor em Geografia.rea de concentrao: Produo do Espao Geogrfico. Linha de pesquisa: Estudos Rurais e Movimentos Sociais. Orientador: Prof. Dr. Bernardo Manano Fernandes Co-orientadora: Profa. Dra. Rosemeire Aparecida de Almeida.
Presidente Prudente, Janeiro de 2014.
FICHA CATALOGRFICA
Camacho, Rodrigo Simo.
C17p Paradigmas em disputa na educao do campo / Rodrigo Simo Camacho. - Presidente Prudente : [s.n.], 2014
806 p. Orientador: Bernardo Manano Fernandes Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Cincias e Tecnologia Inclui bibliografia 1. Paradigmas. 2. Movimentos socioterritoriais camponeses. 3. Educao
do campo. 4. PRONERA. I. Fernandes, Bernardo Manano. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Tecnologia. III. Ttulo.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
2
DEDICATRIA
Aos meus pais pela experincia concedida, carinho, dedicao e ateno, durante todos esses anos e, sobretudo, desde a graduao, que propiciou com que eu conseguisse alcanar meus
objetivos.
A todos os educandos-camponeses-militantes que nos proporcionaram entender a complexidade da construo de diferentes saberes a fim de que possamos construir juntos uma Educao do Campo enquanto um saber emancipatrio.
A todos que lutam por uma sociedade mais justa, igualitria e democrtica...
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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AGRADECIMENTOS
- Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp) pelo financiamento da pesquisa. - Aos meus pais Adelina Simo Fracasso e Jos Francisco Camacho por todo apoio que me deram durante minha vida inteira e na realizao deste trabalho. E, sobretudo, por mais uma vez ter que lidar com a minha ausncia (perto e longe). -Ao meu orientador Bernardo Manano Fernandes que possibilitou no s que eu estudasse este tema, como trouxe todo este debate para a Geografia. - minha co-orientadora Rosemeire Aparecida de Almeida por sempre ter apoiado e acreditado no meu trabalho desde o tempo da graduao em Geografia na UFMS. - Aos meus professores da graduao em Geografia do campus de Trs Lagoas/MS e da ps-graduao (mestrado) em Geografia do campus de Aquidauana/MS, por me indicarem os caminhos a serem percorridos. -Aos professores da ps-graduao em Geografia da UNESP campus de Presidente, sobretudo, ao Thomaz Junior, Cliff Welch e Eliseu Sposito com a qual fiz as disciplinas. -Aos Coordenadores do Instituto Souza Cruz e coordenadores e educadores do CEDEJOR que foram bastante prestativos a fim de contriburem com a minha pesquisa; -Aos educandos-camponeses do PEJR pelas entrevistas concedidas; -Aos companheiros educandos-camponeses-militantes do Curso Especial de Graduao em Geografia, na UNESP e na ENFF, pelas entrevistas concedidas, pelas conversas e pela amizade. -Aos monitores, professores, secretaria e coordenao do CEGeo pela colaborao com a pesquisa e pela convivncia. - minha namorada, Jaque Vieira, que chegou h pouco tempo em minha vida, mas j tem uma importncia gigante. Teve que ter uma grande compreenso para o trmino dessa tese desde o incio do nosso relacionamento. E, tambm, agradeo sua famlia pais (Damio e Ivonete) e irms (Gabi, Jssica e Carol) pela recepo em julho em Atibaia.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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- Mayara (Senhora Tom), que me ajudou com as transcries. - Aos amigos que trago da UFMS e que tive o prazer de conviver com eles novamente em Presidente Prudente, especialmente, ao Joo e o Mauro, e sua companheira Marine. -Aos amigos que compartilharam a repblica comigo, o casal Joo (ainda vamos ouvir muito som massa juntos) e Nati (a ganhadora da melhor tese de geografia fsica 2013). -Aos amigos da minha turma de doutorado, em especial: Z e Karina, Arcanjo, Mrcio,Andra e Ronaldo. -Aos amigos da ps-graduao, com a qual passamos bons momentos de socializao juntos, especialmente: Juscelino, Fernando Heck (o cara da geografia do trabalho), Baiano, Ciro, Agnaldo, Nbia, Paoca (do PCA), Tssio, Karime, Liz, Afonso, Wagno, Cssio, Shinoby, Leandro, Sidney, Langa, Gerson (ps da Via Campesina), ao casal Wagnho e Edna (valeu pela companhia no EGAL). -Aos que me ajudaram nos debates durante a elaborao da tese: Francilane, Ciro, Janaina, Cac e Munir. -Aos amigos do NERA: Tom, Rafa, Nai e, especialmente, ao Nino, (foram 04 anos de discusso terica, muita risada e Zuao), Tiago Cubas (parceiro de produo acadmica e Zuao) e Valmir (amigo h 14 anos, foi uma boa influncia para mim fazer Geografia). -Aos meus vizinhos da Melen Isaac: Pira, Diego e Natlia (esquina paranoia delirante). - Aos amigos de Tupi Paulista e regio, sempre presentes nas festas, churrascos e tambm nas discusses tericas na busca de um mundo melhor: Luciano (Dente), Karina, Jaqueline e Piva (compadres), Diego (Mijo), Diego (Rato), Jass, Mauro, Nicolau, Uiara, Zizeli, Faf, do, Marlon, Tiago Bertolin, Lilian, Mano e Danilo-Japons (agregado de Tupi). Especialmente, aos meus dois amigos que viraram meus irmos: lder e Falco; e o meu (con)cunhado Alder Suricate. - Aos meus tios e primos pelo companheirismo, amizade e apoio: Tio Tonho, Tio Diogo, Tio Man, Tio Z, Tia Tereza, Tia Regina e Tio Luis, Marquinhos, Elaine, Simone, Eldinnho, Flavinho, Nando, Valdeis. E, especialmente, ao Augusto Csar (Guto) - meu primo-irmo. - Ao Luciano (Dente) - meu amigo-irmo-primo que me ajudou na confeco dos mapas.
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- todos os meus professores da Educao Bsica das escolas estaduais onde estudei: 3 escola de Tupi Paulista; Prof. Bueno de Azevedo Filho e Prof. Jos de Bezerra Sanches de Francisco Morato; CEFAM de Franco da Rocha e CEFAM de Tupi Paulista. Pois, estes me ajudaram a construir a base que me propiciou dar continuidade aos meus estudos. - Aos amigos de infncia e adolescncia, que mesmo estando to distantes e, que provavelmente nunca tero a oportunidade de ler o que escrevi, foram de grande importncia no meu processo de construo enquanto ser social. Especialmente, aos amigos de Franco da Rocha e Francisco Morato, onde compartilhamos juntos as dificuldades e as experincias do modo de vida da periferia. - Aos amigos do CEFAM (Centro Especfico para Formao de Aperfeioamento do Magistrio) de Franco da Rocha e de Tupi Paulista, por tudo que vivemos e vivenciamos em um momento muito especial da minha vida. - Aos amigos da Graduao e mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no qual, compartilhamos nossas experincias e construmos juntos grande parte do nosso conhecimento acadmico. - todos que colaboraram de maneira direta, ou indiretamente, para que o trabalho pudesse ser realizado.
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Epgrafe
Aos que habitam Cortios e favelas
e mesmo que acordados pelas sirenes das fbricas
no deixam de sonhar de ter esperanas
pois o futuro vos pertence
Pois o futuro vos pertence! Pois o futuro vos pertence!
Aos que carregam rosas Sem temer machucar as mos
pois seu sangue no azul nem verde do Dlar
mas vermelho da fria amordaada
de um grito de liberdade preso na garganta Fuzilados da CSN
assassinados no campo torturados no DEOPS
espancados na greve A cada passo desta marcha
Camponeses e operrios tombam homens fuzilados
Mas por mais rosas que os poderosos matem nunca conseguiro deter
a Primavera! Pois o futuro vos pertence!
Pois o futuro vos pertence! 1
1Aos Fuzilados da C.S.N. Garotos Podres.
http://letras.mus.br/garotos-podres/
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Entre tijolos de areia, Uma nova escola se ergue
Das mos de homens e mulheres, Que se misturam ao cimento.
E enquanto sobem as paredes,
Avanamos nossa luta Forjando novos sujeitos
Nessa construo da vida.
O que construmos?
Com suor e com beleza, Construmos a ns mesmos; Construmos nossos sonhos; Construmos nossa histria.
Num projeto coletivo,
Construmos um novo homem; Construmos uma nova mulher;
Construmos um novo campo; Construmos uma nova educao.
Construmos a Educao do Campo!2
Se a educao sozinha no pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda. (Paulo Freire).
2 Paulo Roberto.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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RESUMO
O objetivo geral dessa tese o de demonstrar as diferenas dos aspectos tericos,
polticos e ideolgicos existentes entre a Educao do Campo construda a partir da tendncia
campesinista do Paradigma da Questo Agrria (PQA), tendo como recorte analtico a
experincia do Curso Especial de Graduao em Geografia (CEGeo) convnio
INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF, e a proposta de Educao do Campo construda a partir
do Paradigma do Capitalismo Agrrio (PCA), tendo como recorte analtico a experincia do
Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR) que recebe apoio tcnico, pedaggico e
financeiro do Instituto Souza Cruz (ISC), e implementada pelo Centro de Desenvolvimento
do Jovem Rural (CEDEJOR),no Centro-Sul do Paran. Com esta comparao pretendemos
defender o que consideramos ser o Paradigma Originrio da Educao do Campo e afirmar a
tese de que o territrio terico da Educao do Campo est amparado na tendncia
campesinista do Paradigma da Questo Agrria. A metodologia utilizada foi anlise do
Projeto Poltico-Pedaggico, a observao participante e as entrevistas com coordenadores,
educandos, monitores e educadores de ambos os cursos. A nossa reflexo vai estar calcada em
torno de dois paradigmas: o PQA e o PCA. A tendncia campesinista do PQA defende a tese
da recriao camponesa, entende que o desenvolvimento do capitalismo no campo se faz a
partir de um movimento desigual e contraditrio. No PCA, a tese principal da metamorfose
do campesinato em agricultor familiar a partir da integrao do campons ao mercado.
Nossa tese central a de que o Paradigma da Educao do Campo um territrio imaterial
construdo poltica-ideologicamente a partir da tendncia campesinista do PQA. A Educao
do Campo construda como uma forma de resistncia cultural e poltica do campesinato
frente territorializao capitalista no campo. Os camponeses-militantes licenciados e
bacharis pelo Curso Especial de Graduao em Geografia (CEGeo) vo utilizar os
conhecimentos geogrficos aprendidos, na escola do seu assentamento e na militncia dos
movimentos socioterritoriais. Por outro lado, a experincia de Educao do Campo construda
a partir do PCA, o PEJR, visa formar empreendedores rurais na lgica da profissionalizao
dos camponeses para competir e se integrar ao mercado.
Palavras-chave: Paradigmas; Movimentos Socioterritoriais Camponeses; Educao do
Campo; PRONERA.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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RESUMEN
El objetivo general de esta tesis es demostrar las diferencias de los aspectos tericos,
polticos y ideolgicos existentes entre la Educacin del Campo construida desde la tendencia
campesinista del Paradigma de la Cuestin Agraria (PQA), teniendo como recorte analtico la
experiencia el Curso Especial de Graduacin enGeografa (CEGeo) convenio
INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF, y la propuesta de la Educacin del Campo construida
desde el Paradigma del Capitalismo Agrario (PCA), teniendo como recorte analtico la
experiencia del Programa Empreendedorismo del Joven Rural (PEJR) que recibe apoyo
tcnico, pedaggico y financiero del Instituto Souza Cruz (ISC), y es implementada por el
Centro de Desarrollo del Joven Rural (CEDEJOR), en el Centro-Sur de Paran. Con esta
comparacin intentamos defender lo que consideramos ser el Paradigma Originario de la
Educacin del Campo y afirmar la tesis de que el territorio terico de la Educacin del Campo
est amparado en la tendencia campesinista del PQA. La metodologa utilizada fue la anlisis
del Proyecto Poltico-Pedaggico, la observacin participante y las entrevistas con
coordinadores, educandos, monitores y educadores de ambos cursos. Nuestra reflexin va a
estar acerca de dos paradigmas: el PQA y el PCA. La tendencia campesinistadel PQA
defiende la tesis de la recreacin campesina, entiende que el desarrollo del capitalismo en el
campo se hace a partir de un movimiento desigual y contradictorio. En el PCA la tesis
principal es sobre la metamorfosis del campesinado en el agricultor familiar a partir de la
integracin del campesino al mercado. Nuestra tesis central es la que el Paradigma de la
Educacin del Campo es un territorio i-material construido poltica-ideolgicamente a partir
de la tendencia campesinista del PQA. La Educacin del Campo es construida como una
forma de resistencia cultural y poltica del campesino frente a la territorializacin capitalista
en el campo. Los campesinos-militantes licenciados y bachilleres del Curso Especial de
Graduacin en Geografa van a utilizar los conocimientos geogrficos aprendidos en el
CEGeo, en la escuela del sitio donde viven y en la militancia de los movimientos socio-
territoriales. Por el contrario, la experiencia de la Educacin del Campo construida a partir del
PCA, el PEJR, normaliza formar emprendedores rurales, en la lgica de la profesionalizacin
de los campesinos, para competir y si integrar al mercado.
Palabras-llave: Paradigmas; Movimientos socioterritoriales Campesinos; Educacin del
Campo; PRONERA.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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QUADROS
Quadro 1 - Temas e autores do Paradigma da Questo Agrria. .......................................... 125
Quadro 2 - Temas e autores da vertente campesinista do Paradigma da Questo Agrria. ... 126
Quadro 3 - Componentes Curriculares e Carga Horria .................................................441
Quadro 4- Aes executadas pelo Cedejor e seus apoiadores................................................569
Quadro 5 - Estruturao Curricular do PEJR..........................................................................584
Quadro 6 -Sntese das disputas paradigmticas PQA e PCA...............................................662
Quadro 7 - Sntese das diferenas entre as duas experincias de Educao do Campo.........665
FOTOS
Foto 1 - Escola Nacional Florestan Fernandes .................................................................... 541
Foto 2 - Refeitrio da ENFF Josu de Castro ................................................................... 542
Foto 3 - Auditrio da ENFF Patativa do Assar ............................................................... 542
Foto 4 - Criao de porcos da ENFF .................................................................................. 543
Foto 5 - O dia de trabalho no pomar da ENFF .................................................................... 550
Foto 6 - Dia de trabalho (atividade da horta). ..................................................................... 551
Foto 7 - Dia de trabalho (atividade da construo) .............................................................. 551
Foto 8 - Hasteando as bandeiras MST e Via campesina ................................................... 559
Foto 9 - Mstica na ENFF (Amrica Latina) ....................................................................... 560
Foto 10 - Mstica na ENFF (Turma Milton Santos) ............................................................ 560
Foto 11 - Mstica na ENFF (Bandeiras dos Movimentos Sociais e Ferramentas). ............... 561
Foto 12 - Mstica na ENFF (alimentao agroecolgica X agrotxicos do agronegcio). .... 563
Foto 13 - Mstica na ENFF (explorao do trabalho no agronegcio). ................................ 564
Foto 14 - Mstica na ENFF (colonizao na Amrica Latina) ............................................. 565
Foto 15 - Mstica na ENFF (a importncia da preservao do solo). ................................... 566
Foto 16 - Mstica de encerramento do CEGeo na ENFF ..................................................... 566
Foto 17 - Mstica na ENFF (turma de estudos de Marx). .................................................... 567
Foto 18 - Cerimnia de encerramento................................................................................. 568
Foto 19 - Cerimnia de encerramento................................................................................. 569
Foto 20 - Placa de homenagem a ENFF afixada pela turma de Geografia da Via Campesina
.......................................................................................................................................... 570
Foto 21 - Mstica na FCT/Unesp no incio do 7 Tempo Escola .......................................... 588
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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Foto 22 - Trabalho de Campo dos educandos do CEGeo no Morro do Diabo .................. 611
Foto 23 - Trabalho de Campo dos educandos do CEGeo na U.H.Porto Primavera .............. 611
Foto 24- Desfile temtico dos ncleos do Cedejor. ............................................................. 649
Foto 25 - Centro de Formao do Territrio Centro Sul do Paran ..................................... 654
Foto 26 - Exposio do Projeto de Empreendedorismo Artesanato em EVA ................... 733
Foto 27 - O Ensino do Empreendedorismo ......................................................................... 737
Foto 28 - O Empreendedorismo: temtica principal do PEJR ............................................. 738
MAPAS
Mapa 1 - Localizao dos municpios de Presidente Prudente e de Guararema - SP............ 475
Mapa 2 Territrios de Atuao do Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural no Brasil............................................................................................................................. ..........618
Mapa 3 - Localizao do Territrio Centro Sul/PR ............................................................. 652
Mapa 4 - Localizao da Sede do Cedejor Centro Sul/PR ................................................... 653
TABELAS
Tabela 1 - Condies fsicas da FCT/Unesp Campus Presidente Prudente .......................... 459
Tabela 2- Temticas relacionadas s atividades agrcolas e no agrcolas .......................... 728
Tabela 3 - Cronograma das apresentaes do dia 14/12/2011 ............................................ 731
Tabela 4 - Cronograma das apresentaes do dia 15/12/2011 ........................................... .732
FIGURAS
Figura1 - O Desenvolvimento Cientfico de acordo com Kuhn ........................................... 104
Figura 2 - Slogan de evento promovido pelo Instituto Souza Cruz ...................................... 640
Figura 3 - Desenho da Atuao Institucional do Cedejor .................................................... 647
Figura 4 - Pilastras do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural. ............................... 656
Figura 5 - Ciclos de Formao do PEJR. ............................................................................ 666
Figura 6 - Estrutura de Funcionamento do PEJR. ............................................................... 666
Figura 7 - Processo formativo dos jovens rurais. ................................................................ 669
GRFICOS
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
12
Grfico 1 - Trabalhadores Rurais X reas de Lavoura no Brasil (1920-2006) .................... 244
Grfico 2 - Atividades agrcolas ......................................................................................... 729
Grfico 3 - Atividades no agrcolas .................................................................................. 730
SUMRIO RESUMO ................................................................................................................................. 8
FOTOS ................................................................................................................................... 10
MAPAS ............................................................................................................................. ..... 11
TABELAS ............................................................................................................................. . 11
FIGURAS ........................................................................................................................... 11
GRFICOS ...................................................................................................................... 112
INTRODUO .................................................................................................................. 19
METODOLOGIA ................................................................................................................. 28
CAPTULO I - OS TERRITRIOS IMATERIAIS EM DISPUTA: A TEORIA, A POLTICA E A IDEOLOGIA NA PRODUO DO CONHECIMENTO CIENTFICO ............................................................................................................................................ 46
1.1 A PRODUO DO CONHECIMENTO CIENTFICO EM QUESTO .................. 48
1.2 AS IDEOLOGIAS EM DISPUTA: ELEMENTO INERENTE A PRODUO CIENTFICA EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES ...................................................... 61
1.3 - OS TERRITRIOS MATERIAIS/IMATERIAIS E A QUESTO AGRRIA ........... 96
1.4 OS PARADIGMAS: A PRODUO DO CONHECIMENTO CIENTFICO EM DISPUTA .......................................................................................................................... 100
1.5 O PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA E O PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO EM DISPUTA ................................................................................................. 111
CAPTULO II - O PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA: AS DIFERENTES TENDNCIAS DO MARXISMO ..................................................................................... 119
2.1 - UNIDADE NA DIVERSIDADE: O DEBATE DO FIM OU DA PERMANNCIA DO CAMPESINATO NO MARXISMO AGRRIO ................................................................ 121
2.2 A TENDNCIA PROLETARISTA DO PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA EM QUESTO: A TESE DO FIM DO CAMPESINATO ....................................................... 129
2.3 - A TENDNCIA CAMPESINISTA DO PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA . 151
2.3.1 - As contraposies ao Marxismo Ortodoxo: o Narodnismo Marxista, o Marxismo Heterodoxo e a Economia Camponesa de Chayanov ................................................................151
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
13
2.3.2 - A Lgica Desigual-Contraditria-Combinada do Capitalismo no Campo Brasileiro: a Tese
da Recriao Camponesa .........................................................................................................162
2.3.3 - A Recriaodo Campesinato por meio da Luta pela/na Terra/Territrio: a conflitualidade
de Classes e a Resistncia Camponesa .....................................................................................177
2.4 O CONCEITO DE CAMPESINATO NA TENDNCIA CAMPESINISTA DO PQA: MODO DE VIDA E CLASSE SOCIAL ............................................................................ 184
2.4.1 - Economia e Cultura: a importncia do Modo de Vida Campons construdo na Trade Terra-Famlia-Trabalho ...........................................................................................................187
2.4.2 - O Campesinato como classe em si epara si .............................................................196
2.5 - A INTERPRETAO GEOGRFICA DO CAMPO A PARTIR DO PQA: O MOVIMENTO DE TDR E AS DISPUTAS TERRITORIAIS NO CAMPO ..................... 207
2.5.1 - O Territrio como Categoria de Anlise Geogrfica ......................................................207
2.5.2 - Os Processos de TDR do Capital e do Campesinato e de Monopolizao do Territrio pelo
Capital: o Conflito e a Disputa Territorial ................................................................................213
2.5.3 - Movimentos Socioterritoriais: um Conceito Geogrfico para explicar a Territorializao
dos Movimentos Sociais ..........................................................................................................222
2.5.4 - O Agronegcio: Territorializao do Capital no Campo ................................................236
CAPTULO III - O PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO EM QUESTO .......................................................................................................................................... 253
3.1 DISCUTINDO A OBRA SEMINAL DO PCA: A RUPTURA COM O PARADIGMA MARXISTA E O NASCIMENTO DE UM NOVO PARADIGMA............................................. 255
3.2 O PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO NA ACADEMIA, NOS MOVIMENTOS CAMPONESES E NAS POLTICAS PBLICAS ....................................262
3.3 - A QUESTO DA PERMANNCIA E DO FIM DO CAMPESINATO NO PCA: A INCOMPATIBILIDADE DO CAMPESINATO COM O CAPITALISMO .........................278
3.4 - A DIFERENCIAO ENTRE O CAMPESINATO E O AGRICULTOR FAMILIAR/MODERNO/PROFISSIONAL/INTEGRADO: A METAMORFOSE ............295
3.5 AGRICULTOR MODERNO OU SUJEITOS DIFERENCIADOS EM UMA MESMA CLASSE SOCIAL? .....................................................................................................306
CAPTULO IV - A EDUCAO DO CAMPO NO PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA ........................................................................................................................ 315
4.1 - POR UMA EDUCAO DO CAMPO: COMBATENDO A EXCLUSO SOCIAL E EDUCACIONAL DO CAMPO ......................................................................................... 319
4.2 - A EDUCAO DO CAMPO E O MODO DE VIDA CAMPONS: TERRA/TERRITRIO-FAMLIA-TRABALHO ............................................................. 329
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
14
4.3 - A EDUCAO DO CAMPO NA TENDNCIA CAMPESINISTA DO PQA: O CONFLITO/DISPUTA DE TERRITRIOS MATERIAIS/IMATERIAIS COM O AGRONEGCIO .............................................................................................................. 341
4.4 - A EDUCAO TERRITORIAL CAMPONESA: UNIDADE NA DIVERSIDADE ................................................................................................................................................ 355
4.5 - A EDUCAO DO CAMPO E OS SEUS PRESSUPOSTOS TERICO-METODOLGICOS E POLTICO-IDEOLGICOS ...................................................... 369
4.6 - POR UMA EDUCAO DO CAMPO PARA ALM DO CAPITAL: EM BUSCA DA EMANCIPAO HUMANA ............................................................................................ 397
4.7 - A CONQUISTA JURDICA DA EDUCAO DO CAMPO: AS LUTAS CRIAM AS LEIS .................................................................................................................................. 410
CAPTULO V - O CURSO ESPECIAL DE GRADUAO EM GEOGRAFIA - CONVNIO INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF: UMA EXPERINCIA DE EDUCAO DO CAMPO NO PQA ................................................................................ 424
5.1 - O PRONERA COMO CONSTRUO PRTICA E TERICA DA EDUCAO DO CAMPO: UMA POLTICA PBLICA DO PQA .............................................................. 428
5.2 - O PRONERA: UMA POLTICA PBLICA DE GESTO TRIPARTITE ESTADO/UNIVERSIDADE/MOVIMENTOS SOCIAIS.................................................. 441
5.3 - O PROJETO POLTICO-PEDAGGICO DO CURSO ESPECIAL DE GRADUAO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA E BACHARELADO ................... 455
5.4 - A PEDAGOGIA DA ALTERNNCIA NO CEGEO: RELAO ENSINO-PESQUISA E TEORIA-PRTICA........................................................................................................... 472
5.5 A UNESP E O CUSO ESPECIAL DE GEOGRAFIA: COORDENAO, MONITORIA E ORIENTAO......................................................................................... . 482
5.6 QUEM SO OS EDUCANDOS-CAMPONESES-MILITANTES DO CEGEO: TRAJETRIAS HISTRICAS-GEOGRFICAS ............................................................ 492
5.7 - A RELAO DOS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS CAMPONESES COM A UNIVERSIDADENO CEGEO ......................................................................................... 518
5.7.1 - A Escola Nacional Florestan Fernandes ........................................................................541
5.8 - A FORMAO DE EDUCADORES-CAMPONESES-MILITANTES PELO PRONERA: O CASO DO CEGEO ................................................................................... 570
5.9 - A FORMAO DE CAMPONESES-MILITANTES BACHARIS E LICENCIADOS EM GEOGRAFIA ............................................................................................................. 587
5.10 - A PESQUISA-MILITANTE: O PROJETO DE MONOGRAFIA DOS EDUCANDOS-CAMPONESES-MILITANTES DO CEGEO ........................................................................... 612
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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CAPTULO VI - A EDUCAO DO CAMPO NO PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO: O PEJR CEDEJOR/INSTITUTO SOUZA CRUZ ................................. 631
6.1 - CONCHECENDO OS SUEJEITOS RESPONSVEIS PELO PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL .............................................................. 633
6.2 - INSTITUTO SOUZA CRUZ: APOIO TCNICO, PEDAGGICO E FINANCEIRO DO PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL .......................... 637
6.3 - O CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO JOVEM RURAL - CEDEJOR: A EXECUO DO PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL .... 643
6.4 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: CONCEPES ORIENTADORAS DO PROGRAMA ..................................................... 655
6.5 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: A RESIGNIFICAO DA EDUCAO DO CAMPO ........................................................ 674
6.6 O PROCESSO DE FORMAO E AS ATRIBUIES DOS EDUCADORES DO CEDEJOR ............................................................................................................................ 688
6.7 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: INCORPORANDO A IDENTIDADE DE JOVENS RURAIS E JOVENS DA AGRICULTURA FAMILIAR ........................................................................................... 692
6.8 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: AGRICULTURA FAMILIAR E AGRONEGCIO .......................................................... 698
6.9 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL ........................................................... 708
6.10 O PROGRAMA DE EMPREENDERORISMO DO JOVEM RURAL: A EDUCAO PARA O EMPREENDEDORISMO ........................................................... 719
6.11 ALGUMAS CONSIDERAES CRTICAS ACERCA DA IDEOLOGIA DIFUNDIDA NA EDUCAO DO CAMPO DO PCA .................................................... 741
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 772
ANEXOS .......................................................................................................................... 801
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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LISTA DE SIGLAS
AAENFF Associao de Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes ADEL - Agncia de Desenvolvimento Econmico Local
ARCAFAR SUL - Associao Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil
CEBs Comunidades Eclesiais de Base
CEDEJOR Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural CEFAM Centro Especfico para a Formao e Aperfeioamento do Magistrio
CEGeo Curso Especial de Graduao em Geografia CNA Confederao Nacional da Agricultura
CNBB Confederao Nacional de Bispos Brasileiros
CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPP Comisso Poltico-Pedaggica CPT Comisso Pastoral da Terra
CUT Central nica dos Trabalhadores
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais EDUCAFRO - Educao e Cidadania de Afro-descedentes e Carentes
EFA Escola Famlia Agrcola EMATER/PR Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado do Paran
ENFF- Escola Nacional Florestan Fernandes
FCT - Faculdade de Cincias e Tecnologia
FETAEP Federao dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Paran
FONEC - Frum Nacional de Educao do Campo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INCRA - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
ISC Instituto Souza Cruz LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens
MCP - Movimento Consulta Popular
MDA - Ministrio do Desenvolvimento Agrrio
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
17
MEC Ministrio da Educao
MEPES - Movimento de Educao Promocional do Estado do Esprito Santo
MMC -Movimento de Mulheres Camponesas
MOC Movimento de Organizao Comunitria MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de So Paulo
PCA Paradigma do Capitalismo Agrrio PJER Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural
PJR - Pastoral da Juventude Rural
PPP Projeto Poltico-Pedaggico PQA Paradigma da Questo Agrria PRONAF Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar
PRONAT -Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentvel de Territrios Rurais
PRONERA - Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria
RACEFFAES- Regional das Associaes dos Centros Familiares de Formao
emAlternncia do Esprito Santo
SECADI Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao, Diversidade e Incluso SENARServio Nacional de Aprendizagem Rural SERTA - Servio de Tecnologia Alternativa
TC Tempo Comunidade TDR Territorializao/Desterritorializao/Reterritorializao
TE Tempo Escola UNEFAB -Unio Nacional das Escolas Famlias Agrcolas do Brasil
UNESP - Universidade Estadual Paulista - Jlio Mesquita Filho
USP Universidade de So Paulo
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
18
A histria
como um conjunto
de possibilidades,
um dado a priori.
Milton Santos
No h transio que no implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanh se cria num ontem, atravs de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o que somos, para saber o que seremos. (FREIRE, 1981a, p.33).
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
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INTRODUO
O objetivo geral dessa tese o de demonstrar as diferenas dos aspectos
tericos/filosficos, polticos e ideolgicos existentes entre a Educao do Campo, construda
a partir da tendncia campesinista do Paradigma da Questo Agrria pelos movimentos
socioterritorias camponeses, tendo como recorte analtico a experincia do Curso Especial de
Graduao em Geografia (licenciatura e bacharelado) convnio
INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF CEGeo, e a proposta de Educao do Campo construda
em parceria com o agronegcio a partir do Paradigma do Capitalismo Agrrio. Esta ltima
tendo como recorte analtico a experincia do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural
que recebe apoio tcnico, pedaggico e financeiro do Instituto Souza Cruz - ISC, e
implementada pelo CEDEJOR Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural,no Centro-Sul
do Paran, com sede no municpio de Guamiranga.
necessrio ressaltarmos que a comparao que estabelecemos do Programa de
Empreendedorismo do Jovem Rural com o Curso Especial de Graduao em Geografia, se faz
do ponto vista paradigmtico (PQA X PCA), da perspectiva terica-poltica-ideolgica-
utpica que permeia a constituio e funcionamento desses dois modelos distintos de
Educao do Campo. A principal divergncia que buscamos compreender como o CEGeo
d nfase s questes estruturais e o PEJR d nfase s questes conjunturais. No temos a
inteno de estabelecer comparao em termos da estrutura curricular destes, tendo em vista
que enquanto o CEGeo uma poltica pblica de nvel superior de graduao em Geografia,
por outro lado, o PEJR uma experincia do terceiro setor de nvel de ps-mdio para a
formao de empreendedores. Com esta comparao pretendemos defender o que
consideramos ser o Paradigma Originrio da Educao do Campo materializado na
experincia do CEGeo.
Os objetivos especficos almejados nessa tese foram: estudar a disputa paradigmtica
existente no interior da produo do conhecimento cientfico; Refletir acerca dos aspectos
terico-poltico-ideolgicos distintos presentes no Paradigma da Questo Agrria e no
Paradigma do Capitalismo Agrrio; Interpretar as diferenas entre as tendncias proletarista
(fim do campesinato) e campesinista (recriao camponesa) no interior do Paradigma da
Questo Agrria, e os seus desdobramentos para a construo de uma Geografia agrria da
tendncia campesinista; Analisar as distintas influncias que as correntes do Paradigma da
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
20
Questo Agrria e do Paradigma do Capitalismo Agrrio tm nos processos de construo de
experincias de Educao do Campo; Delimitar um territrio terico, no que concerne a
Educao do Campo, a partir do Paradigma da Questo Agrria; Afirmar a importncia da
Educao do Campo para a reproduo do modo de vida e da identidade territorial e de classe
camponesa; Analisar a Proposta Poltica e Pedaggica do Curso Especial de Graduao em
Geografia (licenciatura e bacharelado) convnio INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF
CEGeo; Possibilitar um avano na discusso da temtica da Educao do Campo, sobretudo,
na cincia geogrfica; Fazer uma anlise crtica aos pressupostos tericos-polticos-
ideolgicos do Paradigma do Capitalismo Agrrio, com nfase na obra: Paradigmas do
Capitalismo Agrrio em Questo de Ricardo Abramovay;Refletir sobre os aspectos positivos
e negativos da experincia de Educao do Campo construda a partir da Paradigma do
Capitalismo Agrrio proposta pelo Instituto Souza Cruz, o Programa Empreendedorismo do
Jovem Rural, implementada pelo CEDEJOR Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural;
Conhecer quem so e, tambm, o que pensam os sujeitos envolvidos no processo de
construo das duas experincias de Educao do Campo distintas investigadas.
Podemos dividir nossos procedimentos metodolgicos em 04 etapas principais. A
primeira foi a leitura e o fichamento de livros, revistas, jornais, artigos publicados em anais
etc., a partir dos eixos temticos principais que perpassam a tese. Na segunda etapa fizemos
04 trabalhos de campo relacionados ao Curso Especial de Graduao em Geografia - CEGeo
(Presidente Prudente e Guararema), quatro trabalhos de campo no Centro de
Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR) no Centro-Sul do Paran e um trabalho de
campo no Instituto Souza Cruz no Rio de Janeiro. Por meio da observao participante, nestes
trabalhos de campo, fotografamos e entrevistamos - utilizando a metodologia das fontes orais
com questionrio semi-estruturado - os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento dos
Cursos: educadores-professores, educandos (estudantes-camponeses), coordenadores dos
Cursos, monitores etc.
A terceira etapa foi o trabalho com as fontes orais que teve um carter de pesquisa
qualitativa no objetivando quantificar as respostas, mas, sim, ouvir as argumentaes dos
sujeitos da pesquisa. Entrevistamos da experincia do CEGeo, 41 estudantes do total de 46
formandos, 06 monitores dos 08 que participaram do curso e 02 professores da coordenao.
E da experincia do PEJR-CEDEJOR/Instituto Souza Cruz, entrevistamos 03 integrantes do
Instituto, 01 representante do CEDEJOR e 02 educadores. Dos estudantes, entrevistamos os
12 jovens que frequentavam o Programa em 2011. Entrevistamos tambm, 12 Agentes de
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
21
Desenvolvimento Rural, 01 representante da FETAEP e um agricultor que participa do
conselho deliberativo do CEDEJOR.
A quarta etapa se refere ao debate dos resultados preliminares e a publicao destes
resultados. Deste modo, realizamos a apresentao e discusso dos resultados parciais da
pesquisa em 23 eventos cientficos nacionais e internacionais relacionados s temticas de
Geografia, Geografia Agrria, Ensino de Geografia, Educao e Educao do Campo atravs
de debates em eventos nos Espaos de Dilogos, nas Comunicaes Livres e Comunicaes
Coordenadas. E divulgamos os resultados parciais da pesquisa por meio de publicaes em
anais de eventos (23 publicaes), revistas (15 publicaes) e captulos de livros (02
publicaes). Alm da participao em colquios organizados pelo Ncleo de Estudos e
Pesquisas da Reforma Agrria-NERA, como ouvinte e como expositor, e como palestrante em
dois eventos.
A tese composta de 06 captulos. O primeiro captulo objetivoudemonstrar a
disputa paradigmtica existente no interior da produo do conhecimento cientfico. A
produo do conhecimento cientfico se faz a partir de diferentes paradigmas. Os paradigmas
expressam a viso de mundo - terica-poltica-ideolgica-utpica - dos pesquisadores que o
criaram ou que o seguem. Estas divergncias existentes nos paradigmas levam a diferentes
interpretaes da realidade. A existncia de diferentes paradigmas gera disputas e
conflitualidades. As diferenas de tericas-polticas-ideolgicas-metodolgicas etc., existente
nos paradigmas levam a diferentes interpretaes da realidade. Essas diferentes interpretaes
geram disputas que podem ser visualizadas nos debates em eventos cientficos, nas
publicaes de textos cientficos, na direo das polticas pblicas, nos objetivos dos
movimentos sociais, na configurao de partidos polticos etc. Dentre as disputas
paradigmticas vamos tratar especificamente daquelas que dizem respeito s explicaes
acerca da questo agrria. Neste sentido, a nossa reflexo vai estar calcada em torno dos dois
paradigmas estudados: Paradigma da Questo Agrria e o Paradigma do Capitalismo
Agrrio (FERNANDES, 2009).
No segundo captulo discutimos as diferenas entre as tendncias proletarista e
campesinistado Paradigma da Questo Agrria e os seus desdobramentos no interior da
geografia agrria a fim de estabelecer a vertente campesinista do Paradigma da Questo
Agrria como sendo a tendncia defendida nesta tese. Partimos da perspectiva de que o
Paradigma da Questo Agrria formado por autores que defendem que a Questo Agrria
um problema estrutural, logo, somente poder ser resolvido com a luta contra o capitalismo
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
22
(FERNANDES, 2009). Pelo fato de os pressupostos tericos-metodolgicos que compe este
paradigma ser o materialismo histrico e dialtico, podemos afirmar que perpassam a todos os
autores e vertentes desse paradigma os seguintes elementos de anlise: a disputa, o conflito, a
contradio, as perspectivas de superao do capitalismo e a luta de classes. Todavia,
podemos subdividir esse paradigma em duas tendncias principais: a tendncia proletarista
aquela que tem como principal referencial terico o marxismo ortodoxo agrrio e a tendncia
campesinista aquela que tem como principais referenciais tericos o marxismo heterodoxo e
o narodnismo marxista.
A duas obras clssicas fundamentais para entendermos o debate a respeito do
marxismo ortodoxo agrrio foram escritas pelos autores Karl Kautsky e Vladimir I. Lnin.
Destas obras seminais, resulta a vertente proletarista do Paradigma da Questo Agrria que
afirma que o desenvolvimento do capitalismo no campo levar ao inevitvel desaparecimento
do campesinato via territorializao do capital. Neste caso, o campons tratado como um
resduo social ainda no eliminado. Esta anlise tem como base a crena na determinao
estrutural como uma caracterstica mxima do capitalismo. Neste caso, o capitalismo tem o
poder de eliminar todas as formas de produo que no forem totalmente capitalistas, que no
se baseie na lgica: proletariado versus burguesia. Por conseguinte, o trabalho assalariado a
todos um fim inevitvel, somente essas duas classes antagnicas existiro quando o modo
de produo capitalista estiver consolidado plenamente (OLIVEIRA, 2004).
Na tendncia campesinista participam pesquisadores que defendem a tese da
recriao camponesa3. Fazemos a anlise das problemticas do espao rural a partir do
Paradigma da Questo Agrria no interior da vertente que entende que o desenvolvimento do
capitalismo no campo se faz a partir de um movimento desigual e contraditrio.Isto significa
que existe um processo de produo de capital por meio de relaes no-capitalistas.
Entendemos que o campesinato uma classe social e um modo de vida heterogneo e
complexo inerente contradio do modo de produo capitalista e no um resduo social em
vias de extino. Ele se recria, assim, na contradio estrutural e por meio dacompra e da
luta pela terrana sua resistncia ao capital (OLIVEIRA, 1999; 2004; FERNANDES, 2001;
2009; ALMEIDA; PAULINO, 2010). Numa perspectiva campesinista do Paradigma da
Questo Agrria na geogrfica agrria, podemos explicar a subordinao do campesinato ao
capital por meio do conceito de a monopolizao do territrio pelo capital
monopolista.Nesse processo, o campons no expropriado, mas sua renda fica subordinada 3 o caso da tese aqui defendida.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
23
ao capital, e uma dessas formas, sendo obrigado a repassar o produto do seu trabalho para o
capitalista. Essa parte da renda camponesa que apropriada pelo capitalista utilizada por
este para reproduo/acumulao de capital. Por outro lado, quando ocorre a territorializao
do capital no campo, quando o campons expropriado e se proletariza (OLIVEIRA, 1999;
2004).
O terceiro captulo traz uma anlise crtica dos pressupostos tericos-polticos-
ideolgicos do Paradigma do Capitalismo Agrrio, com nfase na obra: Paradigmas do
Capitalismo Agrrio em Questo de Ricardo Abramovay, tendo como contraponto o
Paradigma da Questo Agrria. Com relao ao Paradigma do Capitalismo Agrrio, temos a
tese principal da metamorfose do campesinato em agricultor familiar a partir da integrao
do campons ao mercado. Integrao esta, que pode ser conseguida por meio de polticas
pblicas de cunho neoliberal. Nesta anlise, agronegcio e campesinato interagem e se
completam sem conflitos, cumprindo funes diferentes e necessrias ao desenvolvimento do
capitalismo. Por isso, neste paradigma no existe a contestao ao capital. A ideologia do
Paradigma do Capitalismo do Agrrio torna a ao dos movimentos socioterritoriais
camponeses limitados a obedincia ao capital.
O principal representante deste paradigma no Brasil Ricardo Abramovay que
defende estas ideias em sua tese de doutorado intitulada: Paradigmas do Capitalismo Agrrio
em Questo, publicada em 1992. Ele prope uma ruptura com o paradigma marxista de
interpretao da Questo Agrria e defende a emergncia de um novo paradigma para se
compreender o desenvolvimento do capitalismo na agricultura. A proposta de construo de
um novo paradigma ocorre desde o ttulo do seu livro. Cria-se, neste paradigma uma
dicotomia entre o arcaico, ineficiente, miservel e condenado a desaparecer, o campons e,
por outro lado, o moderno, eficiente, prspero e compatvel com o mercado, o agricultor
familiar/profissional. Ocorre, tambm,que a chegada desse novo personagem, chamado de
agricultor profissional, decreta o fim do campesinato enquanto classe social e modo de vida.
No quarto captulo discutimos o que o Paradigma Originrio da Educao do
Campo (FERNANDES, 2012), o histrico, e os pressupostos terico-metodolgicos. O
objetivo deste captulo construir teoricamente a afirmao de nossa tese central, que o
Paradigma da Educao do Campo um territrio imaterial construdo poltica-
ideologicamente a partir da tendncia campesinista do Paradigma da Questo Agrria em
dilogo com as tendncias no-hegemnicas da pedagogia: Pedagogia Socialista, Pedagogia
Libertadora-Freireana e a Pedagogia do Movimento.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
24
Neste caso, estabelecemos que a Educao do Campo contm, necessariamente, um
debate de concepo de campo (territrios em disputa) e campons (classe social e modo de
vida), e um debate sobre a concepo do que Educao (emancipao humana)4.Neste
contexto, defendemos neste captulo que a Educao do Campo uma prtica pedaggica
resultante da luta camponesa, mas tambm, um instrumento desta luta contra
terrritorializao do agronegcio no campo e pela reterritorializao/recamponizao.
Posicionando-se terica-poltica-ideologicamente contra a territorializao do capital no
campo.
Neste sentido, nossa intencionalidade estabelecerdiferena terica (na prtica, no
captulo V) entre o Paradigma Originrio da Educao do Campo em relao as outras
concepes de Educao do Campo que surgem numa perspectiva neoliberal. Buscamos
afirmar que inerente luta por distribuio de terra e renda dos movimentos socioterritoriais
est luta dos povos do campo por uma educao que seja condizente a sua realidade. O
modo de vida e a identidade territorial camponesa so partes integrantes do projeto educativo
dos camponeses. A Educao do Campo o resultado da luta do campesinato, bem como,
dialeticamente, um dos instrumentos de sua luta. A Educao do Campo no Paradigma da
Questo Agrria construda como uma forma de resistncia invaso do territrio capitalista
no campo. Pois, o capitalismo territorializado no campo significa o fim do campesinato
enquanto classe e modo de vida. Para isso, a Educao do Campo forma um conjunto de
procedimentos socioeducativos que objetivam a resistncia material e cultural camponesa
frente s tentativas de sua destruio por parte do capital na forma do agronegcio
(CALDART, 2005).
Existe uma relao intrnseca entre a tendncia campesinista do Paradigma da
Questo Agrria e o Paradigma Originrio da Educao do Campo. S possvelpensarmos a
construo de uma Educao do Campo emancipatria a partir da tendncia campesinista do
Paradigma da Questo Agrria. Porque ao entendermos a recriao do campesinato a partir
do processo desigual e contraditrio do desenvolvimento do capital no campo e a partir da sua
resistncia na luta pela/na terra/territrio, permite pensarmos a possibilidade de permanncia
do campesinato sob o modo de produo capitalista. Pelo contrrio, se pensarmos o
campesinato como sendo uma classe em vias de extino, no ser possvel acreditar na
necessidade de construo de uma educao adequada s especificidades do campesinato.
Tambm, no possvel de pensarmos uma Educao do Campo emancipatria se partimos 4 Alm do debate das polticas pblicas, que faremos de maneira mais aprofundada no captulo V.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
25
do princpio existente no Paradigma do Capitalismo Agrrio de que o campesinato deve se
integrar ao mercado capitalista, se profissionalizar, modernizar-se e deixar de ser um modo de
vida para continuar existindo. Esta no a proposta da Educao do Campo que defendemos.
No quinto captulo escrevemos que no territrio das polticas pblicas de Educao
do Campo, na lgica do Paradigma da Questo Agrria, temos o Programa Nacional de
Educao na Reforma Agrria- PRONERA. O PRONERA a construo terica-prtica da
Educao do Campo. Ele est vinculado ao Movimento da Articulao Nacional Por uma
Educao do Campo. Os dois movimentos fazem parte do mesmo tempo histrico. O
Programa funciona como uma espcie de indutor da prpria reflexo e de muitas aes da
Educao do Campo. O objetivo central a construo de uma educao adequada lgica do
trabalho e da cultura nos territrios dos povos do campo em busca de uma outra forma de
desenvolvimento (MOLINA, 2004).
Com base nos pressupostos terico-metodolgicos da Educao do Campo
apresentada no captulo IV, buscamos pensar a lgica que permeia a construo do Curso
Especial de Graduao em Geografia (licenciatura e bacharelado). Este curso foi organizado
a partir de uma parceria construda entre a Via Campesina Brasil; a Escola Nacional
Florestan Fernandes ENFF; a Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade
Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho UNESP - Campus de Presidente Prudente; o
Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA e Instituto Nacional de Colonizao e
Reforma Agrria INCRA por meio do Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria
PRONERA.
A turma nomeada pelos educandos-camponeses de Milton Santos, contava
inicialmente, em 2006, com 60 estudantes, no qual destes se formaram 46 em 2011. Todos
representando movimentos sociais ligados a Via Campesina - Brasil:MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), MAB
(Movimento dos Atingidos por Barragens), MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) e
PJR (Pastoral da Juventude Rural), RACEFFAES5 (Rede de Amigos e Colaboradores das
Escolas Famlia Agrcola do Esprito Santo), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
de So Paulo),EDUCAFRO (Educao e Cidadania de Afro-descedentes e Carentes)e o MCP
(Movimento Consulta Popular).
Ametodologia do curso baseia-se na Pedagogia da Alternncia, ou seja, alternava o
Tempo Escola (TE) com o Tempo Comunidade (TC). Sendo que os Tempos Escolas ocorriam 5Regional das Associaes de Centros de Formao por Alternncia - Norte do Esprito Santo.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
26
em janeiro e fevereiro na Universidade Estadual Paulista em Presidente Prudente/SP e em
julho e agosto na Escola Nacional Florestan Fernandes ENFF em Guararema/SP. Os
camponeses-militantes licenciados e bacharis vo utilizar os conhecimentos geogrficos
aprendidos nos CEGeo na escola do seu assentamento, na militncia dos movimentos
socioterritoriais que fazem parte, nos cursos de formao de militantes, na construo de
projetos de polticas pblicas etc. difundindo, assim, nas suas bases conceitos e concepes da
Geografia libertadora. Neste captulo foi dado nfase aos trabalhos de campo feitos na
UNESP (Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho, Faculdade de Cincias e
Tecnologia, Campus de Presidente Prudente) e na Escola Nacional Florestan Fernandes
ENFF. Nelas entrevistamos, em sua maioria, os estudantes-militantes dos movimentos
socioterritoriais camponeses integrantes dos movimentos sociais ligados a Via Campesina
Brasil.Estes nos relataram suas trajetrias de militncia e de vivncia do modo de vida
campons antes de sua chegada ao curso e nos disseram como entendem que o Curso
Especialde Graduao em Geografiacontribuiu para a militncia e interveno na comunidade
em que se inserem.
No sexto captulo buscamos refletir sobre os limites da experincia de Educao do
Campo construda a partir do Paradigma do Capitalismo Agrrio proposta pelo Instituto
Souza Cruz, o Programa Empreendedorismo do Jovem Rural, implementada pelo CEDEJOR
Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural, no Centro-Sul do Paran, com sede no
municpio de Guamiranga. A experincia de Educao do Campo construda na perspectiva
do Paradigma do Capitalismo Agrrio tem o objetivo de integrar segura e plenamente os
jovens do campo no processo produtivo. Este Programa visa formar empreendedores rurais e
Agentes de Desenvolvimento Rural (ADR), na lgica da profissionalizao dos agricultores,
apostando na sua metamorfose em agricultor familiar para competir e se integrar ao mercado:
o denominado agronegocinho. O discurso principal o de que o fortalecimento da
capacidade empreendedorada juventude da agricultura familiar algo capaz de influenciar
positivamente em todas as dimenses do territrio: econmica, poltica, ambiental, social e
cultural, promovendo o desenvolvimento territorial sustentvel.
Este Programa se estrutura por meio de trs temticas centrais: Juventude Rural,
Agricultura Familiar e Desenvolvimento Territorial. Estes trs temas so interligados a
temtica central: o Empreendedorismo. Com base nestas temticas centrais procuramos
discuti-los a partir dos principais autores do Paradigma do Capitalismo Agrrio com a
intencionalidade de demonstrar que o todo o PEJR se estrutura com base neste paradigma.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
27
Paralelamente a apresentao dos temas e seus principais tericos, realizamos uma anlise
crtica de cada um destes temas a partir da perspectiva campesinista do Paradigma da Questo
Agrria. A metodologia que utilizamos para alcanar nossos objetivos neste captulo foi a
leitura dos tericos do Paradigma do Capitalismo Agrrio e de seus principais temas
discutidos: agricultura familiar, multifuncionalidade, pluriatividade, desenvolvimento
territorial, empreendedorismo etc. Fizemos a anlise da Unidade Poltico-Pedaggica do
PEJR, dos documentos do ISC e do CEDEJOR. Entrevistamos os coordenadores do ISC,
coordenadores e educadores do CEDEJOR, os educandos-camponeses do PEJR e os Agentes
de Desenvolvimento Rural ADR. Organizamos os dados dos projetos de empreendedorismo
apresentados pelos educandos.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
28
METODOLOGIA
Podemos dividir nossos procedimentos metodolgicos em 04 etapas principais. A
primeira foi a leitura e o fichamento de livros, revistas, jornais, artigos publicados em anais
etc., a partir dos eixos temticos principais que perpassam a nossa tese. A segunda etapa
foram os 04 trabalhos de campo relacionados ao Curso Especial de Graduao em Geografia,
os 04 trabalhos de campo no Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR) Centro
Sul do Paran no Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR) e 01 trabalho de
campo no Instituto Souza Cruz (ISC) no Rio de Janeiro.
Por meio da observao participante, nestes trabalhos de campo, fotografamos e
entrevistamos - utilizando a metodologia das fontes orais com questionrio semi-estruturado -
os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento dos cursos: educadores-professores,
educandos (estudantes-camponeses), coordenadores dos cursos, monitores etc.
A terceira etapa foi o trabalho com as fontes orais que teve um carter de pesquisa
qualitativa no objetivando quantificar as respostas, mas sim, ouvir as argumentaes dos
sujeitos da pesquisa. Com relao ao trabalho com as fontes orais, Rosemeire Aparecida de
Almeida afirma que esta metodologia um instrumento de reflexo que trouxe grandes
contribuies para cincia geogrfica, pois ela rompe com os tradicionais/positivistas
questionrios estruturados. Estes questionrios j traziam uma interpretao prvia da
realidade no dando a oportunidade de entender a dinmica da realidade com toda a sua
complexidade. Para entender a realidade em sua complexidade necessrio considerar as
subjetividades existentes nas narrativas dos sujeitos da pesquisa e estar aberto ao imprevisvel,
ao desconhecido ainda. Em suas palavras:
A deciso por trabalhar com fontes orais na produo do conhecimento geogrfico se colocou como caminho diante da riqueza das narrativas que, em muito, superam os questionrios rigidamente estruturados, os quais, comumente, partem de uma interpretao prvia da realidade e, na maioria das vezes, deixam de contemplar a imprevisibilidade do concreto, do real, e das significaes que os eventos tm, de acordo com o narrador. [...]. (2006b, p.158).
As fontes orais tambm tm uma importncia poltica-ideolgica muito grande para a
cincia que tem o objetivo de ser um instrumento de mudana social, pois ela permite que
ouamos o que os sujeitos das classes subalternas tm a dizer, ou seja, ela permite que a
realidade social seja contada pelos de baixo. Este fato se torna mais evidente quando
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
29
verificamos que na sociedade capitalista a leitura e a escrita so instrumentos de status/poder,
por isso ao longo da histria foi tratada como um privilgio das classes dominantes, logo, a
fala era a nica alternativa das classes subalternas. Enquanto isso, as classes dominantes
contavam a histria na sua verso e disseminavam a sua ideologia (CAMACHO, 2008). Os
sujeitos subalternos ficaram durante muito tempo sem o direito de se apropriar dos cdigos da
cultura letrada, ou seja, ficaram submetidos a [...] privao absoluta ou quase absoluta de
smbolos e objetos da cultura letrada [...]. (BRANDO, 1999, p. 35).
Por isso, necessrio ressaltarmos que apesar das narrativas serem dos sujeitos
entrevistados, a pesquisa com fontes orais no neutra. o pesquisador que direciona as
perguntas para atingir seus objetivos. Ele tambm escolhe os depoimentos, as passagens que
considera mais relevante e as interpreta a partir dos pressupostos terico-metodolgicos na
qual se assenta o seu trabalho. Dito de outra maneira:
[...] o depoimento oral no algo neutro, desprovido de interesses do entrevistador e do entrevistado, sendo que a participao ativa do pesquisador se d tanto no momento da entrevista, estimulando o fluxo rememorativo e, posteriormente selecionando os fragmentos a serem discutidos luz da teoria. (ALMEIDA, 2006b, p.161).
Na transcrio das fontes orais decidimos por no utilizar os nomes dos sujeitos
entrevistados a fim de no ocorrer a identificao dos mesmos.
A quarta etapa se refere ao debate dos resultados preliminares e a publicao destes
resultados. Deste modo, realizamos a apresentao e discusso dos resultados parciais da
pesquisa em 23 eventos cientficos nacionais e internacionais relacionados s temticas de
Geografia, Geografia Agrria, Ensino de Geografia, Educao e Educao do Campo atravs
de debates em eventos nos Espaos de Dilogos, nas Comunicaes Livres e Comunicaes
Coordenadas. E divulgamos os resultados parciais da pesquisa por meio de publicaes em
anais de eventos (23 publicaes), revistas (15 publicaes) e captulos de livros (02
publicaes). Alm da participao em colquios organizados pelo Ncleo de Estudos e
Pesquisas da Reforma Agrria-NERA, como ouvinte e como expositor, e como palestrante em
dois eventos.
Descreveremos todas estas etapas de uma maneira mais abrangente nos itens a
seguir:
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
30
A - DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA BIBLIOGRFICA: LEITURAS E
FICHAMENTOS
Fizemos a leitura e o fichamentode livros, revistas, jornais, artigos publicados em
anais etc., a partir de seis eixos temticos principais sob o qual a pesquisa se estrutura. O
primeiro eixo temtico so os Paradigmas em Disputa, o segundo eixo temtico o
Paradigma da Questo Agrria, o terceiro eixo temtico sobre o Paradigma do
Capitalismo Agrrio, o quarto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma da
Questo Agrria, o quinto eixo temtico a Formao de Camponeses-Militantes Bacharis
e Licenciados em Geografia, o sexto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma
do Capitalismo Agrrio.
O primeiro eixo so os Paradigmas em Disputa. As temticas que perpassam este
eixo so a teoria, a poltica, a ideologia, o mtodo etc. As principais leituras e fichamentos
que fizemos para trabalhar com essas temticas foram: Rosemeire Aparecida deAlmeida e
Eliane Tomiasi Paulino (2000); Janaina Francisca de SouzaCampos e Bernardo
MananoFernandes (2011); MarilenaChau (1980; 2000; 2007);Munir JorgeFelcio (2010);
Bernardo MananoFernandes (2009; 2010);Leandro Konder (1998; 2002; 2012); Tomas
SamuelKuhn (1994); KarlMarx e FriedrichEngels (1984); Boaventura de SouzaSantos (1988);
John R.Searle (1995); Eliseu SavrioSposito (2001; 2004).
O segundo eixo temtico o Paradigma da Questo Agrria.As temticas
principais discutidas neste eixo temtico foram: a questo agrria, o campesinato, aos
movimentos socioterritoriais camponeses, o agronegcio, as disputas territoriais, o
desenvolvimento desigual e contraditrio do capitalismo no campo, a luta pela/na terra, a luta
de classes, o materialismo histrico e dialtico, as relaes no capitalistas, a territorializao
do capital e do campesinato, a subordinao do campesinato ao capital, o modo de vida
campons etc. Os principais autores que trabalhamos para discutir estas temticas foram:
Teodor Shanin (2005; 2008); Jos de Souza Martins (1981; 1991); Ariovaldo Umbelino de
Oliveira (1986; 1997; 1999; 2001; 2003; 2004; 2008); Bernardo Manano Fernandes (2000;
2001; 2005; 2008; 2009; 2010); Rosemeire Aparecida de Almeida (2003; 2004; 2006); Eliane
Tomiasi Paulino (2006); Rosemeire Aparecida de Almeida e Eliane Tomiasi Paulino (2000;
2010); Rodrigo Simo Camacho (2008); KarlKautsky (1980); Marta Ins MedeiroMarques
(2002; 2004; 2008a; 2008b); Carlos Walter Porto-Gonalves (2001; 2002; 2004); Antonio
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
31
Thomaz Junior (2003; 2004; 2009); Carlos Rodrigues Brando (1999); Joo Pedro Stedile
(1998; 2002; 2006; 2008); Eduardo Sevilla Guzmn e Manuel Gonzlez deMolina (2005).
O terceiro eixo temtico sobre o Paradigma do Capitalismo Agrrio. As
temticas principais discutidas neste eixo temtico foram: a agricultura familiar, a
metamorfose do campesinato e a integrao do agricultor ao mercado. E os apontamentos
futuros para este eixo temtico ser trabalhar com as temticas: a juventude e a agricultura
familiar, a multifuncionalidade, a pluriatividade, o novo rural, o desenvolvimento
territorial/rural, os meios inovadores, a sucesso familiar, o empreendedorismo social etc. As
principais referncias que estamos utilizando para discutir estas temticas so: Ricardo
Abramovay (1992; 1997; 1999; 2000; 2001; 2002; 2007); Srgio Shneider (1999; 2003; 2009;
2010); Jos Eli da Veiga (1991; 2002; 2003); Jos Graziano da Silva (1999), Maria Jos
Carneiro (2003; 2007), Arilson Favareto (2003; 2010); Flvio Sacco dos Anjos (2009);
Ministrio do Desenvolvimento Agrrio/Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural
Sustentvel (2012).
O quarto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma da Questo Agrria.
As temticas principais discutidas neste eixo temtico foram: a resistncia poltica e cultural
camponesa, os movimentos socioterritoriais e a Educao do Campo, a educao
emancipatria, os pressupostos terico-metodolgicos da Educao do Campo, a pedagogia
freireana, a educao para alm do capital, o PRONERA, as polticas pblicas de educao
superior no/do campo, a universidade e os movimentos sociais, a formao de educadores do
campo etc. As referncias utilizadas para discutir estas temticas tiveram nfase nos livros da
Coleo: Por uma Educao do Campo e Educao do Campo e Pesquisa e nos
documentos do governo Federal: Manual de Operaes do PRONERA (2011)(produzido pelo
Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA; Instituto Nacional de Colonizao e
Reforma Agrria INCRA; Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria
PRONERA) e as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do
Campo(2001) (produzido pelo Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao). E
os principais autores que estamos trabalhando para discutir estas temticas so: Bernardo
Manano Fernandes, Miguel Arroyo (1999; 2004a; 2004b; 2007), Roseli Salete Caldart
(1999; 2004a; 2004b; 2005; 2010; 2012); Mnica Molina (2004; 2006; 2010; 2012); Paulo
Freire (1981; 1983a; 1983b, 1999; 2000); Istvn Mzros (2005; 2007); Claudemiro Godoy
Nascimento (2003; 2011); Marcia Regina Andrade e Maria Clara Di Pierr (2004); Maria
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
32
Isabel Antunes-Rocha (2009; 2010); Maria do Socorro Xavier Batista (2007);Antonio Jlio de
Menezes Neto (2009).
O quinto eixo temtico a Formao de Camponeses-Militantes Bacharis e
Licenciados em Geografia. As temticas principais discutidas neste eixo foram: a relao da
Educao do Campo com o Curso Especial de Graduao em Geografia; a geografia e o modo
de vida campons, a formao de camponeses-professores de geografia; a geografia como
instrumento de luta dos movimentos socioterritoriais camponeses etc. O principal referencial
para fazermos esta discusso foi Projeto Poltico Pedaggico do Curso Especial de Graduao
em Geografia da UNESP/INCRA/PRONERA. E os principais autores que utilizamos para
discutir estas temticas foram: Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1994a; 1994b); Helena
Copetti Callai (2001; 2003); Nestor Andr Kaercher (2003); Ruy Moreira (1985; 2006); Ndia
Nacib Pontuschka (1999); Massimo Quaini (1979); Milton Santos (1980; 1988; 1999; 2001;
2002; 2004); Eliseu Savrio Sposito (2001; 2004); Rafael Straforini (2002; 2004).
O sexto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma do Capitalismo
Agrrio. As temticas principais que foram ou sero (apontamentos futuros) discutidas neste
eixo so: o empreendedorismo, a educao empreendedora, pedagogia empresarial, a
formao de capital social, a formao tcnica humana gerencial, os jovens rurais, o
protagonismo juvenil, a juventude empreendedora, a agricultura pluriativa, educao e ONGs,
a educao e o empresariado etc. Para discutir estas temticas, a nfase foi dada nas revistas,
cartilhas, relatrios, sites etc. produzidos pelo Instituto Souza Cruz, com destaque para a
Revista Marco Social: desenvolvimento humano sustentvel (2004; 2005; 2006; 2007; 2010;
2011), a Revista Sustentabilidade do Campo (2011a;2011b; 2011c), o Boletim Jovens em
Campo (2010a; 2010b; 2010c; 2010d) e as informaes contidas no site do Instituto Souza
Cruz: http://www.institutosouzacruz.org.br. Os principais autores que estamos trabalhando
para discutir estas temticas so: Fernando Dolabela (1999; 2004; 2011; 2012); Jos Carlos
Assis Dornelas (2005); Idalberto Chiavenato (2008); Antonio Carlos Gomes da Costa (2001;
2006; 2008).
B - TRABALHOS DE CAMPO NO CURSO ESPECIAL DE GRADUAO EM
GEOGRAFIA: OBSERVAO-PARTICIPANTE E ENTREVISTAS
Fizemos 04 trabalhos de campo no Curso Especial de Graduao em Geografia. O
primeiro trabalho de campo nosso, que foi feito entre os dias 10 de janeiro e o dia 20 de
http://www.institutosouzacruz.org.br/
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
33
fevereiro de 2010, refere-se ao 7 Tempo Escola na Faculdade de Cincias e
Tecnologia/Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente/SP. O segundo foi
feito no ms de julho de 2010, 8 Tempo Escola, na Escola Nacional Florestan Fernandes, no
municpio de Guararema/SP. O terceiro, foi entre os dias 10 de janeiro a 07 de fevereiro de
2011, 9 Tempo Escola, na Faculdade de Cincias e Tecnologia/Universidade Estadual
Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente/SP. E o quarto trabalho de campo foi
no ltimo Tempo Escola (10 Tempo Escola), na Escola Nacional Florestan Fernandes em
Julho de 2011.
Por meio da observao participante, nestes trabalhos de campo, fotografamos e
entrevistamos, utilizando a metodologia das fontes orais com questionrio semi-estruturado,
os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento do curso: educadores-professores,
educandos (Estudantes-Camponeses), coordenadores do curso, monitores etc.
B.1 - TRABALHO DE CAMPO EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2010 NA
FCT/UNESP- 7 TEMPO ESCOLA
Durante o 7 Tempo Escola (10/01/10 a 20/02/10)integramos a Comisso Poltico-
Pedaggica (CPP) do Curso Especial de Graduao em Geografiacomo membro da
Coordenao pedaggica e da Secretaria do curso. Ocupei este cargo, inicialmente com Tiago
Mdici Vinha (na poca Mestrando em Geografia) e, posteriormente, com o Herivelton
Fernades Rocha (na poca graduado em Geografia e membro do grupo NERA).
Configurando uma metodologia da observao-participante, participei das reunies
da CPP que eram realizadas com a secretaria e coordenao do curso. As pessoas que
participavam dessas reunies eram os coordenadores gerais (Prof. Dr. Bernardo M. Fernandes
e Prof. Dr. Antonio Thomaz Jnior), os professores da coordenao pedaggica (Prof. Dr.
Clifford Welch e Prof. Dr. Maria P. de Ftima Rotta Furlanetti), a coordenadora pedaggica
do setor de educao do MST (pedagoga Marisa de Ftima Luz) e os representantes discentes
(Ivanei Costa e Delwek Mateus). Nestas reunies eram discutidas as questes administrativas
e pedaggicas do curso: cronogramas, corpo docente, corpo discente, tarefas do Tempo
Comunidade, Tempo Escola, formas de avaliao dos estudantes, funo dos monitores e dos
coordenadores etc.
Tivemos a oportunidade tambm de permanecer durante todo o perodo do 7 Tempo
Escola no alojamento, Cria Diocesana de Presidente Prudente, com os educandos do curso.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
34
Onde pudemos compartilhar os momentos de descanso e lazer juntamente com os estudantes
do curso. Dividi o quarto com mais trs integrantes do curso. Neste espao pudemos
conversar vrios assuntos no que concerne a reforma agrria, a luta dos movimentos sociais, a
Educao do Campo etc. Aos domingos sempre havia uma confraternizao que durava quase
o dia inteiro, neste espao de socializao, os educandos recebiam convidados da
universidade e dos movimentos sociais. Havia sempre uma turma com instrumentos musicais
cantando e tocando.
Neste perodo, no fizemos nenhuma entrevista, mas o contato direto com a parte
pedaggica e administrativa do curso, mais a convivncia no alojamento dos estudantes, fez
com que j fossemos conhecendo os sujeitos que faziam parte do processo de construo do
curso educandos,professores, coordenadores, monitores -, bem como este contato
possibilitou que fossemos conhecendo a estrutura organizacional administrativa e pedaggica
do CEGeo.
Neste perodo, tambm, participamos juntamente com os estudantes de um trabalho
de campo da aula de Recursos Naturais, onde visitamos a Reserva: Parque Estadual Morro
do Diabo, na Regio do Pontal do Paranapanema/SP, e tambm a Usina Hidreltrica Porto
Primavera da CESP.
B.2 - TRABALHO DE CAMPO EM JULHO DE 2010 NA ESCOLA NACIONAL
FLORESTAN FERNANDES - 8 TEMPO ESCOLA
No trabalho de campo na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema/SP,
(julho de 2010)eu era um dos colaboradores do curso. Neste perodo, participamos de todas as
atividades desenvolvidas na escola: msticas, limpeza, dia de trabalho, atividades dirias:
lavar a loua do almoo/janta, servir o caf etc.
Entrevistamos em julho de 2010, na ENFF, 22 estudantes do Curso Especial de
Graduao em Geografia. O questionrio semi-estruturado significou apenas um roteiro, pois
os alunos estavam vontade para falar o que achavam mais relevantes. No tivemos a
inteno de quantificar as respostas, mas sim de dar um carter qualitativo para a pesquisa.
Buscamos com as entrevistas entender quem so os sujeitos (educandos-camponeses-
militantes) que esto participando dessa experincia de Educao do Campo no ensino
superior. As questes propostas (no Anexo I) foram no sentido de entender a importncia do
curso para eles e para a luta dos movimentos socioterritoriais camponeses. Refletindo acerca
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
35
da indagao de qual maneira o cursosuperior pode auxili-los em sua luta e entendendo a
especificidade da geografia neste processo. Todos os educandos entrevistados se propuseram
a colaborar com a pesquisa entendendo a relevncia que tem a mesma para o debate da
Educao do Campo.
Nesta etapa tambm entrevistamos um dos principais coordenadores da Escola
Nacional Florestan Fernandes, o coordenador geral, GG, que falou sobre todo o processo de
construo e manuteno da Escola. Tambm, entrevistamos o militante do MST, Er, ele era
um membro da brigada permanente Apolnio de Carvalho (brigada responsvel pela
organizao da Escola naquele perodo), coordenador da parte de produo da Escola. Ele nos
contou os detalhes da forma como os militantes se organizam para manter o funcionamento da
Escola6.
Participamos das reunies dos monitores junto com os professores coordenadores do
curso. Nestas reunies foram discutidas as dificuldades de cada estudante monitorado e as
formas de interveno por parte dos monitores. Em nossa observao participante, ouvimos e
emitimos nossa opinio dando sugestes e contribuies. As reunies com os monitores eram
coordenadas, em sua maioria, pela Prof. Dr. Maria P. de Ftima Rotta Furlanetti.
B.3 - TRABALHO DE CAMPO EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2011 NA
FCT/UNESP- 9 TEMPO ESCOLA
No ms de janeiro e fevereiro de 2011 - 9 tempo escola que ocorreu na Faculdade
de Cincias e Tecnologia/UNESP campus de presidente prudente, tivemos a oportunidade de
conviver com os estudantes do CEGeo nos perodos de aula e nos intervalos, almoo etc.
Tambm, convivemos com os educandos no alojamento, na Cria Diocesana, todos os dias
aps as aulas e nas atividades de lazer nos finais de semana. Neste perodo de quase um ms:
de 10/01/ 2011 at 07/02/2011,conseguimos conversar/entrevistar 15 estudantes do Curso
Especial de Graduao em Geografia do PRONERA. Totalizando, assim, juntamente com o
8 Tempo Escola na Escola Nacional Florestan Fernandes, 37 estudantes entrevistados do
total de 46 regularmente matriculados no curso. Todos educandos do curso entrevistados
mostraram boa vontade e satisfao em estarem participando como sujeitos dessa pesquisa de
doutorado. As entrevistas gravadas variavam entre 30 minutos e 01 hora em mdia. As
6Esto no Anexo I s questes que foram feitas para aos responsveis pela organizao da ENFF.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
36
mesmas foram feitas, principalmente, no alojamento aps o jantar, mas tambm, aps o
almoo na FCT/UNESP Presidente Prudente.
Outra oportunidade importante que tivemos para consolidar a nossa observao
participante foi o fato de termos participado das bancas de restituio das monografias dos
estudantes do curso. Esta uma espcie de banca de qualificao dos trabalhos. Participamos
de 05 bancas ligadas a pesquisa da Educao do Campo. Nestas bancas pudemos dialogar de
maneira a auxili-los em como sistematizar suas experincias construdas junto com o
Movimento de maneira acadmica/cientfica, auxili-los nas normas da ABNT, indicar
bibliografias e sugerir novos rumos para a pesquisa.
Este momento nos possibilitou que pudssemos conhecer seus trabalhos, suas
experincias, e suas angstias, participando tambm desse processo de construo do curso.
E, dialeticamente, na medida em que eu refletia a partir de suas experincias e percepes
para engendrar uma elaborao terica acerca da Educao do Campo e dos movimentos
sociais, eu tambm, pude oferecer aos mesmos as minhas experincias de construo de um
texto acadmico. Experincias estas advindas de meus conhecimentos tcnico-cientficos
adquiridos devido aos vrios anos em que estive inserido no interior da universidade. Este
processo demonstra na prtica a importncia do dilogo entre saberesprticos e tcnico-
cientficos, tanto para a academia, quanto para os movimentos sociais.
Nesta etapa, tambm, comeamos as entrevistas com os monitores (esto no Anexo I
as questes que foram feitas aos monitores). As questes feitas aos entrevistados, por meio
de um questionrio semi-estruturado, significou apenas um roteiro, pois os monitores estavam
vontade para falar o que achavam de mais relevante, inclusive interferindo nos rumos que as
questes deveriam tomar, oferecendo algumas sugestes do que consideravam como relevante
para sabermos a respeito de suas experincias. Foram dois os monitores entrevistados: Gb,
graduado em geografia e membro do CEGeT (Centro de Estudos de Geografia do Trabalho),
e El, graduada em pedagogia e membro do GEPEP (Grupo de Estudos em Educao Popular).
Os monitores falaram um pouco sobre o seu processo para chegar at a monitoria,
descreveram suas funes, as dificuldades encontradas com a responsabilidade assumida e o
sentimento de estar participando dessa experincia inovadora.
As entrevistascom os monitores nos trazem a percepo dos sujeitos que no so dos
movimentos sociais, mas que participam ativamente do processo de construo do CEGeo.
Tentamos entender qual a sua funo, as dificuldades, os aprendizados para a sua carreira
como professor ou gegrafo e as diferenas percebidas pelos mesmos no que diz respeito ao
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
37
curso regular e o Curso Especial de Graduao em Geografia, tendo em vista que os mesmos
so alunos do curso regular de geografia e de pedagogia.
Apesar de termos contato direto e conversarmos com os professores da coordenao
geral e pedaggica, professores orientadores e supervisores, nesta etapa no tinha sido
possvel ainda fazermos uma entrevista com os mesmos.
B.4 - TRABALHO DE CAMPO EM JULHO DE 2011 NA ESCOLA NACIONAL
FLORESTAN FERNANDES 10 TEMPO ESCOLA
O 10 Tempo Escola que ocorreu no perodo de 08 at 30 de julho de 2011 na Escola
Nacional Florestan Fernandes foi ltima etapa em que participei. Nesta etapa, entrevistamos
mais 04 educandos do CEGeo, finalizando nossas entrevistas com 41 estudantes do total de
46 formandos. Devido ao intenso envolvimento da turma com as monografias, esta etapa foi a
mais difcil de conseguir que os educandos arrumassem um tempo para conversar.
Fizemos uma entrevista muito importante com a coordenadora pedaggica do curso
que integrante do setor de educao nacional do MST. Neste caso, a entrevista trouxe a
perspectiva do MST com relao ao curso, todavia, de algum que no estudante, mas sim,
participa da organizao do curso juntamente com os professores coordenadores da UNESP.
Expondo, assim, na prtica como funciona esta gesto tripartite do PRONERA entre Estado-
Universidade-Movimentos.
Tambm, entrevistamos 04 monitores do CEGeo. Totalizando 06 entrevistados dos
08 monitores do curso. Estes monitores esto vinculados a trs grupos de pesquisa: o NERA -
Ncleo de Estudos Pesquisas e Projetos da Reforma Agrria (coordenado pelo Bernardo M.
Fernandes), o CEGeT - Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (Coordenado pelo
Antonio Thomaz Junior) e o GEPEP - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educao Popular
(coordenadores: Maria Peregrina de Ftima Rotta Furlanetti e Lus Antonio Barone).
Gravamos, tambm, as falas do vice-coordenador Prof. Dr. Bernardo Manano
Fernandes e do representante discente, e membro da coordenao nacional do MST, DM,
durante o discurso da cerimnia de encerramento do curso que ocorreu no dia 28 de julho de
2011. Alm, dos discursos finais, a cerimnia de encerramento contou com a entregade um
certificado que tem um carter simblico (sem valor institucional) para atestar a passagem da
Turma Milton Santos pela Escola e,tambm, foi entregue uma placa de agradecimento em
nome da turma Milton Santos e da Via Campesina.
Paradigmas em Disputa na Educao do Campo
38
Minha participao nesta etapa,que tinha como ponto central a entrega das
monografias no final do ms de julho, foi no sentido de auxiliar alguns educandos que
estavam com mais dificuldades para concluir a sua monografia e, sobretudo, que pesquisam a
temtica de Educao do Campo. Com relao educanda Ronimrcia, eu fiquei sendo o co-
orientador de sua monografia que tinha como ttulo: Articulao e conflitualidade das
polticas de Educao do Campo, entre o Estado e o Movimento Sem Terra na escola do
assentamento Valdicio Barbosa dos Santos no municpio de Conceio da Barra ES.
Com exceo da co-orientao, o nosso apoio no era no sentido de orientar, mas
sim, na perspectiva de monitorar, ou seja, visualizar erros mais bsicos e propiciar que o texto
chegasse ao orientador com um grau transparncia que o permita se preocupar em corrigir e
apontar as reflexes terico-metodolgicas mais profundas. A principal interveno, neste
caso, est no fato de podermos formatar o texto e tentar explicar o que significa escrever uma
monografia. Como usar a teoria, como relacion-la com a prtica. Como dialogar com os
autores, e estes com seu trabalho de campo.
Esta etapa foi marcada tambm pela vinda de vrios professores que estiveram
trabalhando com os educandos as Novas Abordagens da Geografia. Neste caso, havia duas
preocupaes: uma era o fato de termos um prazo reduzido para a entrega da monografia e o
outro era o fato de termos uma intensificao da diversidade de temticas ao longo da semana
que seriam as disciplinas finais do curso.
B.5 - ENTREVISTAS COM COORDENADORES DO CURSO ESPECIAL DE
GRADUAO EM GEOGRAFIA
Tendo em vista o tempo escasso existente na Escola Nacional Florestan Fernandes
para os coordenadores do curso, tivemos que optar por realizar