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PARANá SANTA CATARINA RIO GRANDE. DO SUL EDIçãO Nº 53 | MARçO — ABRIL 2015 | R$ 8,90 X avantes R epResa AS SURPREENDENTES áGUAS DO INTERIOR DO PARANá LitoraL gaúcho Dois relatos sobre as dificuldades da navegação no litoral do Rio Grande do Sul Mar doce Lar A família gaúcha que transformou um veleiro em sua nova casa FerrugeM a bordo O que você pode fazer para (tentar) evitar este eterno problema em todos os barcos correio do Mar As incríveis mensagens em garrafas que o mar ainda traz

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paraná santa catarina rio grande. do sul

edição nº 53 | março — abril 2015 | r$ 8,90

XavantesavantesRepResaXavantes

as surpreendentes águas do interior do paraná

LitoraL gaúchoDois relatos sobre as dificuldades da

navegação no litoral do Rio Grande do Sul

Mar doce Lar A família gaúcha que transformou

um veleiro em sua nova casa

FerrugeM a bordoO que você pode fazer

para (tentar) evitar este eterno problema

em todos os barcos

correio do MarAs incríveis mensagens em

garrafas que o mar ainda traz

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Índice

BAIXE TAMBÉM AS EDIÇÕES ANTERIORES DE gRAÇA

Edição 50As 50 mElhorEs coisAsE + Oeste Catarinense

Edição 51PrAiA do rosAE + Uma lancha, três motores, O Chef pescador

OESTE CATARINENSEAs surpreendentes águas do

PARANÁ SANTA CATARINA RIO GR. DO SUL

As

50melhores coisas

do litoral sul do país

Para comemorar

nossas 50 edições, elegemos e listamos...

EDIÇÃO Nº 50 | SETEMBRO – OUTUBRO 2014 | R$ 8,90

OESTE CATARINENSE

PARANÁ SANTA CATARINA RIO GR. DO SUL

EDIÇÃO Nº 52 | JANEIRO – FEVEREIRO 2014/2015 | R$ 8,90

OESTE CATARINENSE

MAR DE BILHETINHOSO curioso bar com

milhares de mensagens, em Florianópolis

OS MACETESDO CORRICO

Como se dar bem com os peixes mesmo durante os passeios?

BÊ-Á-BÁ DA BOA ANCORAGEM

O que você precisa saber sobre âncoras,

cabos e amarras

BARCO FEITO EM CASA

OESTE CATARINENSEComo um curitibano construiu

um veleiro no quintal de sua casa

MelIlha do

a doce joia do litoral do paraná

PARANÁ SANTA CATARINA RIO GR. DO SUL

EDIÇÃO Nº 49 | JULHO – AGOSTO 2014 | R$ 8,90

XI, NÃO PEGATudo o que você

precisa saber sobre baterias

a bordo

COMO FISGAR UM DESSES15 dicas de um

especialista em pescarias de robalos-flecha

SERÁ QUE PRECISA?

As tralhas inúteis que os barcos

carregam

XI, NÃO PEGATudo o que você

precisa saber sobre baterias

CANOAGEM EXTREMA!

GuaraqueçabaO MaiOr TesOurO da baía de ParanaGuá

Quem é o catarinense que adora despencar de cachoeiras desse jeito...

Edição 52ilhA do mElE + Barco feito em casa, Bê-á-Bá da boa ancoragem

Edição 49guArAquEçAbAE + Canoagem Extrema, Xi a bateria não pega

NESTA EDIÇÃO...

pág. 66

NÁUTICA SUL 49

NO ÚLTIMO DIA DO ANO DE 2013, o casal de velejadores Duda e Celso Martins estava com o seu barco tranquilamente ancorado na prainha do Cantagalo, em Paraty, curtindo a alegria de mais um ano juntos no mar, quando surgiu a ideia de dividir toda aquela feli-

cidade com outras pessoas. Mas, quem seriam? Deixaram, então, a escolha nas mãos do destino. Pegaram uma garrafa vazia, colocaram um bilhete com votos de bom ano novo e um número de telefone e a atiraram no mar – como faziam os náufragos do passado. Em seguida, esqueceram o fato. Até que...

COMO OS NÁUFRAGOS Trecho de uma das milhares de mensagens já encontradas dentro de garrafas boiando nos mares: o que no passado era uma necessidade, virou uma instigante diversão

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Mesmo em tempos de Facebook e WhatsApp, o singelo ato de mandar mensagens dentro de garrafas ainda é largamente praticado e diverte um bocado — tanto quem manda, quanto, principalmente, quem as encontra

POR CARLOS SANTOS

CORREIO DO MAR ainda vive

O velho

Até hoje restam dúvidas sobre a expedição do francês Binot Paulmier de Gonneville ao litoral de Santa Catarina, 511 anos atrás, que teria levado um índio brasileiro para a Corte francesa e dado origem a uma curiosa história. E que, agora, está voltando à tona, por conta de uma regata

penas quatro anos após o descobrimento oficial do Brasil, uma nau francesa, comandada pelo navegador Binot Paulmier de Gonneville,

teria chegado ao litoral de Santa Catarina e permanecido por seis meses na atual Baía da Babitonga, a mesma de São Francisco do Sul, não por acaso considerada a terceira cidade mais antiga do Brasil. Ali, os franceses teriam criado estreitos laços de amizades com os índios carijós, que habitavam a região. Tanto que, ao retornar à França, Gonneville teria levado consigo um jovem índio brasileiro, chamado Iça-mirim, a pedido do próprio pai do menino (e também cacique da tribo), que queria que ele aprendesse algumas virtudes bélicas dos franceses, para, depois, ensinar aos guerreiros da tribo. Só que Iça-mirim, ou “Essomericq”, como o seu nome fora interpretado pelos franceses, jamais retornou ao Brasil. Teria vivido em um castelo francês até os 96 anos de idade, depois de instruir-se (o que o tornaria o primeiro legítimo brasileiro a ser alfabetizado, entre outros pioneirismos), casar-se com a filha do próprio Gonneville e com ela ter nada menos que 14 filhos (e um incontável número de descendentes), dando início a um clã tão curioso quanto praticamente desconhecido por aqui — além de polêmi-co, já que alguns pesquisadores colocam em dúvida a existência da tal ex-pedição de Gonneville ao litoral de Santa Catarina e, por consequência, do próprio índio catarinense que teria virado um quase nobre na elegante corte da França do século 16. E esta história, agora, está voltando à tona, por con-ta de uma regata francesa que chegará a Itajaí ainda este ano, depois de atra-vessar o Atlântico. Como, mais ou menos, teria feito Gonneville, 511 anos atrás.

O pioneiro catarinense?

A

POR RAQUEL CRUZ

NÁUTICA SUL 57

pág. 68

Não deu tempo. Com velas içadas e o motor ligado, para apressar o caminho de volta à barra, um estrondo ecoou no escuro da noite e uma grande onda desabou sobre a popa do barco. Romildo saiu correndo da cabine, assumiu o leme e acelerou tudo à frente. Agora, ele pelo menos sa-bia de onde as ondas poderiam vir e precisava posicionar o barco para melhor enfrentá-las. Após alguns segundos avan-çando sobre o rastro da onda que passara, girou totalmente o leme, ficando de proa para as outras ondas que porventura viessem. E elas vieram. Duas. Tão altas quanto a primeira.

A segunda onda foi abordada da maneira correta, com o barco indo de encontro a ela — e não o con-trário, como involuntariamente aconteceu no primeiro caso. Mas era tão violenta que empurrou o casco para trás e o fez atravessar na frente da onda seguinte, a ter-ceira e mais fulminante de todas. O Vagabundo ficou, então, na pior posição possível: de lado e impotente,

Em julho de 1982, um acidente no mar, envolvendo o veleiro gaú-cho Vagabundo, deu o que fa-lar no Rio Grande do Sul. Na-

quela ocasião, o experiente comandante Romildo Santos, dono do barco, partiu de Rio Grande, na companhia do filho, Newton, e de um amigo, Luiz Louren-ço, ambos ainda jovens velejadores, rumo a Montevidéu, onde iriam buscar novos equipamentos comprados para o barco — fato que, mais tarde, seria interpreta-do pela sensacionalista imprensa gaúcha como uma espécie de contrabando, em-bora tivesse sido importado legalmente. Mas o mau tempo fez com que eles tives-sem de esperar um bocado antes da partida, já que tanto a barra de Rio Grande quan-to o mar do extremo sul do Rio Grande do Sul merecem respeito. Até que, na fria noi-te de 13 de julho, as condições pareceram adequadas à travessia, apesar do frio cor-tante e do vento gelado. Partiram por volta da meia-noite e, logo após a saída da barra, Newton assumiu o leme, enquanto seu pai desceu à cabine, para preencher o diário de bordo. E foi de lá que ele deu o alerta, depois de sentir correr pelo corpo aquilo que os dois jovens tripulantes lá fora mal notaram: um grande volume de água passara repentinamente sob o casco, feito uma onda submersa — uma “crescente”, no jargão dos escaldados velejadores do litoral gaúcho.

— Vamos voltar! — disse o comandante.

diante da onda que se aproximava, no breu daquela noi-te gelada. Não deu tempo de fazer nada. O vagalhão colheu o costado em cheio, cuspiu seus tripulantes na água e virou o Vagabundo de cabeça para baixo.

Por sorte, as ondas pararam após aquela terceira mu-ralha d’água, e quando os três voltaram à tona, estavam ao lado do casco emborcado. E ali ficaram, agarrados. Até que o barco desvirou sozinho, por conta do peso da quilha, que gera o chamado efeito joão-bobo nos cascos. Os três, então, voltaram a bordo, quase congelados de frio. E com um sé-rio problema a resolver: a quebra do mastro, sem falar na completa inundação do barco, o que exigiu muita rapi-dez da tripulação para o Vagabundo não ir a pique de vez.

Newton entrou na cabine com água pelos joelhos, e tentou mandar um pedido de socorro, pelo rádio. Nada. A antena ficava no topo do mastro e ele, agora, jazia submer-so, pendurado apenas pelos cabos de aço. Tentou, também, ligar as bombas de esgotamento do casco, mas as baterias já estavam submersas e o máximo que ele conseguiu foi a ameaça de um curto-circuito na água dentro da cabine.

Pelo menos, o barco ainda flutuava, apesar de ter per-dido a capacidade de locomoção a motor. A decisão do comandante Romildo foi sábia: esperar o dia clarear e improvisar uma mastreação, com a vela pre-sa ao pau do spinakker, para ten-tar chegar a Rio Grande. Uma hora e meia depois de ter comu-nicado isso ao filho, ele curvou o corpo sob o leme e, sem nenhum aviso, caiu duro no cockpit, ful-minado por um ataque cardíaco.

Ninguém sabia que Romildo era cardíaco, nem ele deveria sa-ber que o contato com a água ge-lada comprime as artérias e au-menta barbaramente o risco de infarto. Mas, agora, isso pouco im-portava. Ele estava morto, den-tro do barco, e nem o filho nem o amigo podiam sequer parar de tirar água de dentro da cabine, para não terem o mesmo destino.

Era a luta pela vida, com a morte bem explícita ao lado. Uma situação angustiante, para não dizer traumatizante.

Mesmo assim, Newton juntou forças para manter o barco à tona até a manhã seguinte, como seu pai dissera que fariam. Quando amanheceu, ele concluiu que o Vagabundo estava cerca de

dez milhas da praia do Cassino e resolveu mudar os planos originais do pai. Fez, sim, o mastro improvisado, mas mu-dou o destino do barco: em vez de retornar a Rio Grande, arremessaria o veleiro de encontro à praia. Por dois motivos: isso abreviaria o sofrimento de ter que navegar com o cadá-ver do pai ao lado e porque se lembrara que ele sempre di-zia que gostaria de morrer no mar, mas o Vagabundo, que ele mesmo construíra, teria que morrer junto, porque não deveria ser de mais ninguém. Arremessar o barco na praia era a última coisa que qualquer comandante faria. Mas, na-quela situação, era o melhor a ser feito. E Newton fez.

Apesar da manobra suicida, o Vagabundo chegou in-teiro, até encalhar na areia. Newton e o amigo baixaram o corpo de Romildo para a praia, que já reunia alguns curio-sos, e pediram para chamar a polícia. Na manhã seguinte,

o Vagabundo já não passava de escom-bros espalhados na beira da praia, depois de ter sido esquartejado, a golpes de ma-chado, pelos saqueadores de barcos, du-rante a madrugada. Mas isso agora pouco importava. Ao contrário, apenas concreti-zava a vontade do comandante Romildo, que queria acabar junto com o seu bar-co — e que, por fim, morreu como que-ria: no mar, a bordo do veleiro que tanto amava. A pedido do filho, ele foi sepul-tado ainda com água salgada no corpo.

Uma semana depois, no dia da missa de Sétimo Dia, Newton saiu da igreja e foi direto comprar outro veleiro: o pequeno Tahiti, antigo barco da família, também construído pelo comandante Romildo e que fora vendido para custear a obra do Vagabundo. E, com ele, Newton navega até hoje, guiado pelas lembranças e ensi-namentos do pai, seu eterno comandante.

Atirar o barco na praia era a última coisa que um comandante faria. Mas, naquela situação, era o melhor a ser feito. E ele fez

OS DOIS JUNTOSO velho Comandante Romildo e o Vagabundo, que ele mesmo construiu, morreram juntos, mas por motivos diferentes. Como, aliás, ele queria que fosse

33 anos depois, o filho de um velho velejador e capitão que morreu no mar, depois de praticamente salvar o barco de um iminente naufrágio, decide trazer à tona a verdadeira história da morte do Comandante Romildo e do veleiro Vagabundo , que tantas polêmicas geraram no meio náutico do Rio Grande do Sul, na década de 1980. O que aconteceu, segundo ele, está aqui, mais de três décadas depois

A HERANÇA DE UM NAUFRÁGIO

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Barcos foram feitos para a água. Portanto, é natu-ral que sofram com a umidade do meio em que vi-vem. Mesmo os barcos com casco de fibra de vidro

contêm muitos metais (cunhos, guarda-mancebos, eixos, etc. etc.) e nem todos eles são suficientemente fortes para lutar contra a nefasta combinação de água + oxigênio, os dois elementos que dão início ao processo de corrosão em qualquer material.

No caso de água salgada, a situação é pior ainda. O sal potencializa o processo de corrosão, que se manifesta até nos ambientes do barco sem contato direto com a água — bastam os efeitos da maresia ou da falta de neutraliza-ção da corrosão nas partes submersas do casco, por exem-plo. Portanto, nem sempre é apenas desleixo do dono do barco. A oxidação em ferragens de aço inox pode apare-cer até em barcos extremamente bem cuidados, porque o ambiente marinho costuma ser um agressor implacável e particularmente feroz em itens como acoplamentos de alumínio e aço inox, bastante comuns em motores e pro-pulsores, provocando estragos bem maiores do que uma simples aparência enferrujada.

Mas, se não há como impedir que a corrosão aconte-ça, há, sim, como prevenir ou, pelo menos, evitar que o problema se alastre de vez. No combate contra a prolife-

Você e seu barcoCOMO EVITAR ESTE PROBLEMÃO

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CORROSÃONos barcos, não é nada fácil evitar a ferrugem e a corrosão. Mas, mesmo quando as manchas começam a aparecer, nem tudo está perdido. Veja aqui o que fazer

POR OTTO AQUINO

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Embora os dois termos sejam

largamente usados como

sinônimos — não! —, não são

a mesma coisa. Por definição,

“corrosão” é um processo que

provoca desgaste em uma

liga metálica qualquer, como,

por exemplo, o aço inox, que é

uma mistura de quatro metais

d i ferentes . Já a “ ferrugem”

designa os casos específicos de

corrosão no ferro. A rigor, barcos

de passeio nem deveriam usar

a expressão “ferrugem” (e sim

“oxidação”), porque ferro é o que

eles menos têm.

Outra confusão bastante

comum é entre os termos

“corrosão” e “oxidação”, que

t a m b é m n ã o d e s i g n a m a

mesma coisa. “Oxidação” é uma

reação química, na qual um

material ou elemento se une ao

oxigênio, formando um novo

composto — um óxido. E nem

toda oxidação gera corrosão.

E la só ocorre quando esta

reação química provoca a perda

de material de uma das partes

envolvidas.

Mas, seja “ferrugem”, “corro-

são” ou “oxidação”, o fato é que

todos eles são um problemão.

FERRUGEM OU CORROSÃO?

1A corrosão ataca mais no mar? Sim. Além do sal, o mar contém cloro natural, o que acelera

a corrosão, porque transforma a água em um eletrólito mais

eficiente, aumentando sua condutividade elétrica — e eletricidade

acentua a corrosão em qualquer metal. Isso faz com que ela avance

bem mais depressa do que na água doce.

Onde a corrosão costuma atacar mais?Nas ferragens do convés, especialmente nos guarda-

mancebos, âncora e escadinha de popa. Mas as partes

metálicas submersas, como eixos, rabetas, hélices e lemes, também

estão sujeitas à corrosão acentuada, embora com menos intensidade,

já que existem os anodos de sacrifício para evitar isso.

Aço inoxidável também oxida?Sim, dependendo da qualidade do aço e dos cuidados do dono do barco. Alguns fabricantes usam ligas mais baratas,

que resistem menos à corrosão — daí o problema. Os aços mais recomendados são os com especificação ABNT 316, que têm alto teor de cromo e suportam bem mais o cloro do mar.

Existe receita caseira para prevenir a corrosão?Sim. Lavar bem as ferragens com água e sabão depois dos

passeios — tanto no mar quanto em água doce — é a mais

simples e eficiente maneira. O polimento com cera também blinda

bem contra a corrosão nos metais. Mas — atenção! — não use cloro

nem água sanitária neles, porque isso só aumenta o problema.

Em qual estágio a ferrugem ainda tem cura?Bem antes de perfurar as partes afetadas. Se a ferrugem

atacar eixos e propulsores, é bem provável que o

funcionamento deles já esteja comprometido — portanto, tarde

demais. Na maioria das peças de aço inox, basta um simples

polimento para resolver o problema. Já parafusos enferrujados devem

ser trocados, porque não vale a pena tentar salvá-los.

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As cinco dúvidas mais comuns que quase todo mundo tem sobre este eterno problema

BÊ-Á-BÁ DA CORROSÃO

ração da corrosão, o melhor remédio costuma ser o mais simples e o mais caseiro de todos: sempre lavar bem o bar-co e as ferragens com água e sabão depois dos passeios (es-pecialmente no mar), além de polir regularmente as par-tes mais suscetíveis à corrosão com cera náutica. Outro recurso muito útil é manter sempre em dia os anodos de sacrifício, que, como o próprio nome diz, existem para se oxidar no lugar das partes mais nobres do barco.

Vale tudo nesta guerra contra um inimigo que corrói tudo nos barcos. Até a paciência dos donos.

68 NÁUTICA SUL NÁUTICA SUL 69

pág. 47 pág. 57

pág. 63

26 NÁUTICA SUL NÁUTICA SUL 27

MELHOR QUE MAR

Com água verde e limpa e uma paisagem

pra lá de deslumbrante, a represa

Xavantes, no norte do Paraná, tem feito

os donos de barcos praticamente ignorar

qualquer outro lugar para navegar

POR JORGE DE SOUZA

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GRANDE E LINDANascida de um represamento do limpo rio Paranapanema, a represa Xavantes fica bem na divisa entre Paraná e São Paulo e é linda, tanto da água quanto de cima

pág. 26

NáuTIcA Sul TAMBÉM ESTá NO... No Facebookfacebook.com/revista.nautica

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DIRETOR DE REDAÇÃO Jorge de Souza [email protected]

COlAbORARAm nESTA EDIÇÃO: Haroldo J. Rodrigues (arte), Aldo macedo (imagens), maitê Ribeiro (revisão)

PRESIDEnTE E EDITOR Ernani Paciornik

VICE-PRESIDEnTE Denise Godoy

PublICIDADE

DIRETORA DE PublICIDADEmariangela bontempo [email protected]

PARAná – SAnTA CATARInA | GEREnTE REGIOnAl Gustavo Ortiz [email protected], tel. 047/9210-2931

PARA [email protected] Tel. 11/2186-1022, fax 11/2186-1050

REDAÇÃO E ADmInISTRAÇÃOAv. brigadeiro Faria lima, 1306, 5o andar, CEP 01451-001, São Paulo, SP. Tel. 11/2186-1005 (adm.), fax 11/2186-1080 e tel. 11/2186-1006 (redação), fax 11/2186-1050

NÁUTICA SUL é uma publicação da G.R. um Editora ltda. – ISSn 1413-1412. março de 2015. Jornalista responsável: Denise Godoy (mTb 14037). Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados.

FOTOS DE CAPA: Divulgação Residencial Ilha bela

CTP, Impressão e Acabamento – IbEP Gráfica

NÁUTICA SUL 63

Corria o ano de 1991 e eu, mesmo sendo parana-ense, morava em Porto Alegre. Lá, como piloto de caça, voava nos supersônicos F-5E, da FAB, e nas horas vagas, como velejador, ia para o clu-be Veleiros do Sul, o mesmo freqüentado por

um colega da Aeronáutica, o Capitão Aviador Nivaldo Luiz Rossato, que mesmo sendo gaúcho e visitante assíduo do lu-gar, não velejava. O meu barco era o Jambock III, um velei-ro de 32 pés todo reformado, pelo qual eu sentia um misto de respeito e gratidão pela sobrevivência nos embates com os temporais pirotécnicos típicos do Rio Grande do Sul.

Tempos depois, decidi deixar a Força Aérea e mon-tar uma empresa de táxi aéreo, no Paraná, após ter a apro-

vação de minha “superior hierárquica”, como as esposas eram carinhosamente chamadas no meio militar. Resolve-mos, então, mudar para lá. Mas, e o barco? Como levá-lo? Decidi ir navegando com ele até Guaratuba, no litoral pa-ranaense, que passaria a ser a nova “base” do bravo Jambo-ck III. Mas minha mulher se recusava a ir junto a bordo. O mar a assustava, especialmente a costa gaúcha, famosa pelo mau humor dos seus ventos fortes e pelo cemitério de barcos que eles já geraram. Onde encontrar um tripulante para me acompanhar naquela travessia? Nos clubes náuti-cos de Porto Alegre, os marinheiros pediam o equivalente a um dólar por milha navegada, o que, para mim, na épo-ca, representava um gasto considerável.

DO AR PARA O MARO novo Comandante Geral da Aeronáutica, Nivaldo Rossato (abaixo) começou sua vida náutica com uma terrível travessia até Florianópolis (ao lado). Mas ele tirou de letra e, na volta, até comprou um barco. Quem sabe comandar, comanda qualquer coisa

Foi durante uma complicada travessia de Porto Alegre a Florianópolis que o recém-empossado novo Comandante Geral da Aeronáutica, o gaúcho Nivaldo Rossato, mostrou a um experiente velejador do Paraná sua capacidade para comandar até o que ele mal conhecia: um barco

FIRME AO LEME, COM A NDA NTE!

POR LUIZ NOGUEIRA GALETTO

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“Na edição dezembro, em uma nota sobre a nossa empresa, NÁUTICA SUL informou que somos revendedores, também, das lanchas So-lara, o que não é verdade. A Brand Stars é con-cessionária exclusiva da marca Ventura em Porto Alegre, embora possamos ter lanchas se-mi-novas de outras marcas para venda, mas, neste caso, apenas modelos usados. Agradece-mos uma reparação na informação.

Roger Rossowski - Brand Stars, Porto Alegre

ErramOs...

10 Náutica Sul

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14 Náutica Sul Náutica Sul 15

Aconteceu...No Carnaval, a Gold Fish, de Londrina, fez muita gente

trocar a navegação e a folia por uma festança diferente,

dentro e fora d’ água, ao mesmo tempo, na represa Xavantes

carnaval eletrônicoAlternando música eletrônica com marchinhas de Carnaval, os DJs botaram todo mundo para dançar, tanto a bordo dos barcos, quanto nos píeres ao redor do bar flutuante. O que não faltou foi animação e gente bonita

ilha da baladaAo redor de um bar flutuante, montado dentro da represa, os barcos foram chegando e curtindo a festa, que teve até DJ a bordo e foi organizada pela loja Gold Fish, de Glauco Bordignon (no alto, com a namorada Fernanda)

na terra ou na água?Uma parte da festa foi montada na praia (ao lado), para quem chegasse por terra, e outra, bem em frente, mas dentro d’água (acima), para quem viesse de barco. Muita gente preferiu aproveitar as duas

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BalaDa Náutica acQua GOlD

A outra sede da festa foi na praia, bem diante da ilha de barcos. Os convidados escolhiam

Dois DJs, um na praia, outro dentro d’água, numa espécie de ilha feita de barcos, animaram a curiosa festa

O condomínio Ilha Bela sediou a festa, que foi inspirada nas famosas baladas náuticas do Caixa d’ Aço, em Santa Catarina

Aproveitando os feriados do Carnaval, a festa aconteceu em dois dias

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16 Náutica Sul

Aconteceu...

Uma grande festa marcou os 54 anos do clube náutico mais famoso do Paraná

diretores e a estrelaAo lado, a atual diretoria e os conselheiros do clube e, abaixo, a hora mais esperada: o show da cantora Fernanda Abreu, que botou todo mundo pra dançar e fez a festa avançar madrugada adentro

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aNiVERSáRiO DO iatE cluBE DE caiOBá

festançaNa festa, a sede do clube virou uma casa de espetáculos e reuniu muitos associados, como Elizabeth e Eros Gradowski Junior, José Jorge Neto, Maria Elvira, Marcia Silva e Aguilar Borsato (ao lado)

Os associados compareceram em peso, para aproveitar a comemoração

O clube manteve a tradição de fazer as melhores festas da região

Para animar ainda mais a grande festa, show de Fernanda Abreu

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18 Náutica Sul

Aconteceu...

Durante o Carnaval, os frequentadores do

mais famoso reduto de barcos de Santa Catarina

receberam revistas e outras coisas mais

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campaNha Náutica Sul NO caiXa D’aÇO

barcos entre barcosA Schaefer aproveitou a presença de muitos barcos no Caixa d’ Aço para expor alguns de seus modelos. Quem quisesse, podia visitá-los

Nem o cancelamento da grande festa Shed Al Mare, que haveria no local, tirou os barcos do Caixa d’ Aço

A Fibrafort e a construtora Mendes Sibara também apoiaram a divulgação de Náutica Sul no Caixa d’ Aço

A Schaefer Yachts aproveitou o movimento e expôs alguns barcos na água

para todas as idadesCada barco recebeu uma sacola com revistas e folhetos sobre assuntos que interessam a quem curte a vida no mar

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20 Náutica Sul

Aconteceu...

Três dos endereços mais

quentes do verão catarinense

(Le BarBaron, Cafe de la

Musique e Brava Sushi)

ofereceram exemplares da

revista aos seus clientes

durante o verão

bonitas e famosos Acima, as amigas Malu, Cinthia, Patricia e Marina, no Le BarBaron e, ao lado, alguns famosos que prestigiaram o Cafe de la Musique neste verão, como Neymar, Gabriel Medina e Bruna Marquezine (abaixo)

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aÇÃO VERÃO Náutica Sul

casa cheiaAcima, o Le BarBaron em dia de alegria. Ao lado, o casal Roger e Fernanda, que também frequentou o descontraído Brava Sushi, em Floripa (foto mais à direita). Abaixo, Nara, Duda Cunha e Roberta, também no Le BarBaron

O badalado Cafe de la Musique, em Jurerê, atraiu os famosos, como sempre

O Le BarBaron, na praia Brava de Floripa, bombou no verão, com muita animação

O Brava Sushi, na praia Brava de Itajaí, virou reduto de quem sabe das coisas

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22 Náutica Sul Náutica Sul 23

Aconteceu...

pREmiaÇÃO VElEiROS DO SulJuntamente com a posse da nova diretoria, o famoso clube

náutico de Porto Alegre premiou os melhores velejadores FO

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passando o timãoO novo comodoro, Eduardo Ribas, recebeu a direção do clube e, depois, posou com a nova diretoria e alguns premiados na festa dos melhores da vela gaúcha de 2014

Na festa, foram também comemorados os 80 anos do clube

tripulantes a caráterNa maioria dosbarcos, os tripulantes também foram fantasiados e isso foi levado em conta pelos jurados

caRNamaREm Florianópolis, os barcos

fantasiados, mais uma vez, viraram

atração nas águas da cidade

tradiçãocatarinenseO desfile dos barcos fantasiados já está virando tradição no Carnaval de Santa Catarina. O deste ano foi um dos mais animados

O Carnamar é promovido pelo clube Veleiros da Ilha e pela Acatmar, associação de marinas de Santa Catarina

Jurados julgaram os barcos. E os mais originais ganharam prêmios

água e ventoO visual dos cataventos para geração de energia eólica, comuns no litoral gaúcho, também fizeram parte da paisagem nas lagoas

JEt tOuR maRRSulA atuante revenda Sea Doo de Porto

Alegre realizou um animado passeio

de jet pelas lagoas do litoral gaúcho

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na garupaMuitos participantes levaram acompanhantes, o que sempre deixa o passeio de jet ainda mais divertido, porque envolve também as famílias

O passeio teve o apoio da Associação Riograndense de Jet Ski, que organizou o passeios

No litoral do Rio Grande do Sul, as lagoas se interligam. Os jets do passeio atravessaram duas delas

BaYliNER DaYA revenda Sanáutica, de Joinville, reuniu

clientes e donos de lanchas Bayliner para

um dia diferente na Baía da Babitonga

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grande começoFoi a primeira vez que a revenda organizou um encontro de proprietários de lanchas Bayliner, mas a adesão foi tão grande que novos programas do tipo acontecerão em breve

A reunião dos barcos aconteceu na Ilha Velha, onde houve também um almoço e muita festa

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26 Náutica Sul Náutica Sul 27

Melhor que Mar

Com água verde e limpa e uma paisagem

pra lá de deslumbrante, a represa

Xavantes, no norte do Paraná, tem feito

os donos de barcos praticamente ignorar

qualquer outro lugar para navegar

por jorge de souza d

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grande e lindaNascida de um represamento do limpo rio Paranapanema, a represa Xavantes fica bem na divisa entre Paraná e São Paulo e é linda, tanto da água quanto de cima

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A Em Xavantes, a água é sempre limpa e chega na represa até por cima

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Xavantes

um show de águasApesar da linda paisagem, que inclui até cachoeiras que desaguam na própria represa, Xavantes ainda é pouco conhecida. Sorte de quem já a descobriu

represa Xavantes, no extremo norte do Paraná, bem na divisa com o sudoeste

de São Paulo, é uma surpresa para quem acha que água boa para navegar só existe no

mar. A começar pela sua cor, que oscila entre o verde intenso, nas partes mais fundas da represa

(que são bem fundas mesmo), e a completa trans-parência nas margens, onde, por isso mesmo, o fun-

do está sempre à mostra. Se você é do tipo que não resiste a uma água clarinha, prepare-se para dar bons

mergulhos quando descobrir esta represa, que realmen-te poucos conhecem — exceção feita aos donos de barcos

da região de Londrina, que há muito transformaram Xavantes numa espécie de refúgio náutico perfeito para relaxantes fins de

semanas entre muita água e muito verde. Isso porque a paisagem ao redor da represa consegue ser ainda mais deslumbrante do que a

própria qualidade da água. São colinas de verde intenso, montanhas revestidas de vegetação densa e paredões de rocha nua que chegam a

formar cânions nas partes mais estreitas. Em alguns deles despencam ca-choeiras, direto na própria represa — em Xavantes, você pode escolher se

quer tomar banho de represa ou de cachoeira, ou as duas coisas ao mesmo tempo. A represa tem, também, prainhas (de areia nem sempre branca, é verda-

de, mas ainda assim deliciosas) e uma quantidade espantosa de ilhas, já que ela foi construída pelo homem, na década de 1960, para gerar energia elétrica, e é um re-

presamento do rio Paranapanema, considerado o mais limpo e menos poluído do es-tado de São Paulo. Ao longo do seu curso, de quase 1 000 quilômetros, o Paranapanema,

“Panema”, para os moradores da região, dá forma a 11 represas, incluindo a de Jurumirim, bem mais conhecida como “a represa de Avaré”, já famosa e consagrada entre os paulistas.

Mas nenhuma tão bonita quanto a de Xavantes. Sobretudo no trecho entre Ribeirão Claro e Carlópolis, os dois principais municípios paranaenses banhados pelas águas da represa, que tem

esse nome por causa da barragem da cidade paulista quase homônima de Chavantes — apesar da grafia diferente... Além disso, a represa é bem grande, com mais de 400 quilômetros de margens que

se espalham em braços sinuosos e formam pequenos e tranquilos lagos, onde começam a brotar con-domínios e empreendimentos de bom gosto. Por essas e outras, quem navega nas águas de Xavantes não

sente a menor falta do mar, porque até a cor da água é a mesma. E, ainda por cima, deliciosamente doce.

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30 Náutica Sul30 Náutica Sul Náutica Sul 31

de encher os olhosAlém da qualidade da água, a paisagem em torno da represa também surpreende, bem como o bom nível dos frequentadores

Xavantes

Por enquanto, praticamente só os donos de barcos da região de Londrina descobriram a represa

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32 Náutica Sul Náutica Sul 33

Xavantes

Décadas atrás, o em-presário local Hiroshi Kubo, nascido em Car-lópolis, mas neto de imi-

grantes japoneses, como tantos ou-tros nesta região do Paraná (não por acaso, chamada de Norte Pioneiro, pois foi por ali que praticamente co-meçou a colonização do estado), olhou para uma ponta particularmente linda, que era quase uma ilha, na então recém-criada represa Xavantes e imaginou ali um grande condomínio de casas de luxo, numa época em que o máximo que havia na região era uma ou outra fazenda de café. Foi taxa-do de louco e sonhador. Mas, tempos depois, ao se aposentar de uma bem-sucedida carrei-ra bancária em São Paulo, ele voltou à região e decidiu colocar o seu plano em prática. Nascia, assim, o Ilha Bela, hoje o maior e mais relevante condomínio residencial de Xavantes e uma espé-cie de quase sinônimo da própria represa — como uma Jurerê Internacional do interior paranaense. É na “Ilha”, como os frequentadores da região costu-mam chamar o condomínio (ocupado em sua maio-ria por belas casas de fim de semana de moradores de Londrina e região), que quase tudo acontece nas águas

de Xavantes, até por conta do entusiasmo do seu criador pelo mundo náutico. Além de um rali para lanchas e jets, que acontecerá novamente em bre-ve, e da primeira balada náutica do interior do es-tado, organizada em parceria com a loja Gold Fish, de Londrina, durante o último carnaval (veja mais no início desta edição), ele, agora, se prepara para inaugurar oficialmente uma ma-rina dentro do condomínio, com, inclusive, posto próprio de abastecimento, algo raríssi-mo de se encontrar fora das grandes mari-nas do litoral e que será aberto a qualquer barco, mesmo os de simples visitantes do Ilha Bela. “A beleza desta represa mere-ce ser compartilhada e apreciada por todo mundo e é da água que a paisa-gem fica ainda mais bonita”, diz Hi-roshi, um apaixonado confesso pela represa que ele viu nascer e cuja ma-neira que encontrou para melhorar o que já era bonito foi construin-do um belo condomínio, numa região que, fora dali, poucos já ouviram falar. Mas que, a cada dia, atrai novos admiradores. Não, ele não estava maluco.

entre casas e barcosO Ilha Bela fica numa acentuada península e tem água por quase todos os lados, além de muitos barcos. Recentemente, ganhou um bar flutuante e, no mês que vem, ganhará uma marina

A Ilha Bela da represa

O condomínio Ilha Bela é quase sinônimo da represa. É ali que quase tudo acontece nas águas de Xavantes

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Uma das cachoeiras

permite entrar com o barco

debaixo da água, que cai direto

na represa

a pé ou de barcoA cascata do Gummy, que permite empolgantes banhos sem sair de dentro do barco, nas épocas de nível alto das águas, é um dos pontos altos da represa e sempre reúne visitantes, nos fins de semana. Mesmo quando não dá para chegar debaixo dela de barco, como vem acontecendo nesta época de forte estiagem

Um banho diferente

A lém da transparência da água, da paisagem e das ilhas e reentrân-cias das margens, Xavantes ain-da tem outro atrativo de primeira

grandeza para amantes da natureza: algu-mas cachoeiras que despencam na pró-pria represa, permitindo, inclusive, inu-sitados banhos de cascata sem sequer sair de dentro do barco. É o que acon-tece na cascata do Gummy, uma em-polgante queda d’água de mais de 30 metros de altura, acessível apenas para quem chega de jet ou lancha, na parte da represa que pertence ao município de Ribeirão Claro — que, por sinal, reúne as principais cachoeiras da região. Algumas fi-cam na beira da água (embo-ra a atual estiagem as tenham afastado um pouco das mar-gens), outras distantes ape-nas uma curta caminhada.

Não por acaso, tomar banho de cachoeira é uma das princi-

pais atividades de quem sai de barco para passear na represa, ao

lado das paradas para mergulhos em ilhas e prainhas e da navegação

entre morros verdejantes e paredões rochosos que mais parecem cânions.

Em Xavantes, os passeios de barco acontecem em paisagens impossíveis

de se encontrar, por exemplo, no mar e não se limitam a ficar apenas andando

de barco pra lá e pra cá. O negócio, aqui, é se molhar. Seja na represa, nas cachoei-

ras ou nas duas coisas, ao mesmo tempo.

Xavantes

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36 Náutica Sul Náutica Sul 37

muitos peixesXavantes é a única represa das regiões Sul e Sudeste que oferece as duas espécies (amarela e azul) de tucunaré, o que fascina ainda mais os pescadores esportivos, além da própria fartura de peixes na água. Fora dela, como mostram as fotos ao lado, o que predomina são as prainhas e as lindas paisagens, que, com a criação da represa, transformaram morros em ilhas

O paraíso dos pescadores

Pelo menos uma vez por ano, as águas de Xavantes viram uma espécie de Meca para os pescadores. É quando a repre-sa sedia o Torneio de Pesca Esportiva

de Carlópolis, mais conhecido pela sigla Pescar, considerado o maior do gênero em barco mo-torizado do país. Participam mais de 1 000 pes-cadores e os prêmios costumam ser tão tenta-dores quanto os peixes da própria represa, o que ajuda a atrair tanta gente e tantos bar-cos para as águas desta cidade, no lado pa-ranaense da represa. Para a próxima edi-ção do evento, nos dias 20 e 21 de março, está previsto até um automóvel como prêmio para o primeiro colocado.

Mas não é por isso que os pesca-dores esportivos gostam cada vez mais desta represa e a frequentam sempre que podem. O que mais atrai os fãs das pescarias é a fartura de peixes que habitam as águas de Xavantes, pra lá de fartas em pacus, doura-

dos, curimbatás, piracanjubas e mandis, originários do pisco-

so rio Paranapanema (“Panema”, como é carinhosamente chamado

pelos habitantes da região), sem fa-lar em algumas espécies introduzi-

das pelo homem e que ali encontra-ram condições ideais de crescimento

e procriação. Como a tilápia, a corvina e, sobretudo, o tucunaré, que ali existe

tanto na versão amarela quanto na azul, o que torna Xavantes a única represa das

regiões Sul e Sudeste com ocorrência des-ses dois tipos de peixes, ao mesmo tempo

— e alguns deles com mais de três quilos de peso!

Contribui bastante para esta variedade de peixes a profundidade da represa, que “seg-

menta” as espécies, embora a transparência das águas seja um problema para os pescadores,

pois favorece a visualização dos barcos e exige ar-remessos mais longos — o que, no entanto, só faz

aumentarem os desafios para os que veem na vara e no anzol apenas dois instrumentos esportivos.

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A água transformou o campo em praias e gerou um dos maiores pesqueiros do Paraná

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Náutica Sul 3938 Náutica Sul

Xavantes

O resort que vira casa na beira d’ água

O bonito resort Tayaya, num trecho particularmente lindo do rio Para-napanema, não é apenas a melhor opção de hospedagem na repre-sa Xavantes. É, também, a melhor alternativa para quem tem um jet ou lanchinha rebocável, mas não tem casa na beira d’água —

porque ele próprio pode virar a “sua casa” na represa. A ideia do resort, que fica na área do município paranaense de Ribeirão Claro e une marina e ho-tel de bom nível no mesmo local, é que os donos de barcos, em vez de ape-nas se hospedarem lá, transformem os seus simpáticos chalés (ou aparta-mentos que estão sendo construídos numa área anexa) em suas próprias casas, de maneira definitiva ou temporária, com a praticidade de ter sem-pre o barco na água, na porta “de casa”. Mesmo se o objetivo for ape-nas conhecer a represa e passar um par de dias pra lá de agradáveis, o Tayaya agrada em cheio. E deve continuar sendo a melhor hospedagem na região, pelo menos até que seja inaugura-do o ultraexclusivo Ponta das Garças, um sun-tuoso hotel que ainda está sendo construído e que terá — entre outros supermimos — suítes de até 120 m2, com vista para a re-presa. Mas, como se trata de um projeto grandioso, não deve acontecer tão cedo.

melhorando a natureza O Tayaya fica num trecho particularmente lindo da represa e tornou-o ainda mais bonito, com uma praia e uma grande piscina na beira d´água. Ir até lá de barco é um passeio que todo mundo curte e faz

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O Tayaya tem praia particular, marina e bangalôs que podem virar “a sua casa” na represa

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Xavantes

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baixou, mas não secouComo todas as represas da região, o nível da água em Xavantes também baixou bastante nos últimos tempos e deixou insólitos píeres suspensos. Mesmo assim, a navegação não foi comprometida

Aqui, a represa ainda não pediu água

A represa Xavantes é um represamento dos rios Itararé e Paranapanema, ambos oriundos de São Paulo, e como praticamente todos os rios pau-listas andam com nível de água bem baixo, a seca também tem afeta-do o volume de água da represa, que nunca esteve tão baixa. No iní-

cio do mês passado, a represa estava cerca de cinco metros abaixo do seu nível normal, mas, ainda assim, perfeitamente navegável, porque como ocupa o leito original daqueles dois rios, sua profundidade é bem generosa — apesar de algumas galhadas antes submersas já terem aflorado à superfície da água.

Nas margens da represa, nítidas faixas de terra antes submersas e imagens de insólitos trapiches hoje muitos metros acima da água são os melhores ter-mômetros da intensidade da seca que atinge a região Sudeste e um claro sinal de alerta. Mesmo assim, apesar da visível diminuição no seu volu-me de água, Xavantes segue aberta aos barcos e aos prazeres náuticos.

Não caiu por um triz

A grande ponte que atravessa o rio Itararé, um dos afluentes do Para-napanema e que ajuda a dar for-ma ao represamento (além de se-

parar São Paulo do Paraná nesta parte do mapa) é um dos símbolos da represa Xa-vantes e um dos seus pontos mais foto-grafados. Mas, em setembro de 2012, ela bateu todos os recordes de popularida-de, por conta deste episódio: uma car-reta ficou milagrosamente pendurada na ponte, depois que o seu motorista perdeu o controle da direção ao des-viar de um carro à sua frente. Ele nada sofreu, mas só conseguiu sair da cabine sem despencar na água graças a cordas lançadas da pon-te por alguns moradores da re-gião. Foi o acidente mais espe-tacular da história desta grande ponte, que, apesar de unir dois estados e ser o principal meio de acesso entre o sudoeste de São Paulo e o norte parana-ense, ficou, por isso mes-mo, uma semana inter-ditada, até que enormes guindastes viessem reti-rar a carreta. Até hoje, felizmente, ninguém al i v iu nada igual .

Apesar da seca que atinge a região, Xavantes ainda está perfeitamente navegável, graças a sua profundidade

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42 Náutica Sul

fórmula própriaO primeiro Rali Náutico de Xavantes, em 2012, foi um misto de competição e gincana, para envolver as famílias. Agora, em abril, a fórmula será repetida e coincidirá com a inauguração da marina do condomínio Ilha Bela, que irá se juntar às outras marinas da represa, como a do Tayaya (abaixo)

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Vem aí mais um rali!

D ois anos atrás, seguindo a onda dos ralis náuticos no Paraná, o condomí-nio Ilha Bela sediou a primeira com-petição do gênero nas águas da repre-

sa Xavantes. Foi um sucesso, com muitos jets na água e famílias inteiras competindo a bordo das lanchas, num misto de rali e gincana náutica, onde além da precisão da navegação era preciso disputar competições paralelas de todos os tipos. Agora, os or-ganizadores se preparam para repetir a fórmula, na se-gunda edição do pra lá de divertido Rali Náutico de Xavantes, que será promovido pelo mesmo residencial, no primeiro sábado de abril próximo, dia 4. A expecta-tiva desta vez é reunir mais de 30 lanchas e 50 jets na competição, que é aberta a todas as famílias e não ape-nas aos proprietários de casas no condomínio que a orga-niza — e que, na ocasião, inaugurará a sua marina, com vagas disponíveis para todos que forem participar da prova, além de oferecer uma grande festa na chegada. Taí uma boa oportunidade de conhecer as verdes águas de Xavantes e cur-tir um fim de semana divertido e diferente, com sua própria lancha ou jet ski. Interessou? Ligue 043/3029-6373 e saiba mais.

A represa Xavantes fica

no extremo norte do

Paraná, a cerca de 180

quilômetros de Londrina, e

faz divisa com o sudoeste

de São Paulo, a cerca de

100 quilômetros (ou uma

hora de viagem, por uma

boa estrada) da cidade de

Avaré, que também tem

uma grande represa e já é

um consagrado balneário

do interior de São Paulo.

No lado paranaense,

banha alguns municípios,

como Carlópolis e Ribeirão

Claro, este com algumas

cachoeiras que desaguam

na própria represa. Já na

margem paulista há nada

menos que 18 cidades,

entre elas Ourinhos,

Santa Cruz do Rio Pardo,

Piraju, Fartura e a própria

Chavantes, que batiza

a represa (embora com

outra grafia no nome). Pela

sua localização, a represa

serve tanto a paranaenses

quanto a paulistas, já que

também fica a quase 400

quilômetros da capital de

São Paulo.

Onde fica?

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Xavantes

Curitiba

londrinaCarlópolis

São Paulo

avaréChavantes

Rib. Claro

Xavantes ou Chavantes? A dúvida que sempre intriga

Ouem pegar um mapa e observá-lo com aten-ção, verá que o nome desta represa costuma estar grafado “Xavantes”, com “X”, como a fa-mosa tribo indígena e como determina o acor-

do ortográfico da Língua Portuguesa de 1943. No entan-to, quem for ainda mais fundo na pesquisa, descobrirá que a represa tem este nome por conta da barragem do rio Pa-ranapanema no município paulista de “Chavantes”, que, no entanto, por decisão da prefeitura da cidade, se escreve com “Ch”. Qual das duas grafias é a correta? É difícil afirmar. Até porque ambos são nomes próprios e, nestes casos, as regras gra-maticais contam menos do que a vontade de quem os batizou. Mas, no caso de Chavantes (ou Xavantes...), há outra agravante: ninguém sabe ao certo qual é a origem do nome da cidade. Boa parte dos historiadores garante que ele veio dos índios que habi-tavam a região, os “Xavantes”, assim denominados (com “X”) por conta de uma lei estadual de 1964, que unificou a grafia de todas as tribos indígenas cujos nomes começavam com este som — até en-tão, a tribo era designada “Chavantes”, como acontece hoje na cida-de. No entanto, para alguns velhos moradores, o nome do município nada teria a ver com os índios e sim com a localização de um antigo entroncamento da ferrovia da região, que ficava, “uma chave antes” da bifurcação, daí a denominação com “Ch”, o que, no entanto, para mui-tos, não passa de pura gozação.

Para aumentar ainda mais a confusão, em 1981, a prefeitura da cida-de decidiu alterar o nome original do município de “Xavantes” para “Cha-vantes” (levando a empresa dona da barragem da represa a fazer o mesmo), “por remeter à grafia primitiva da tribo indígena”, mas também, segundo as más línguas, para tirar o município da incômoda posição de quase último na lista alfabética do estado, o que estaria prejudicando os políticos locais na hora da distribuição dos recursos.

Verdade ou não, Chavantes, que no passado chegou a viver uma autêntica guerra ortográfica entre moradores e historiadores, até hoje convive com a po-lêmica que envolve a grafia do seu nome. Mas isso não extrapolou para a repre-sa porque, para os cartógrafos, ela continua sendo escrita com “ X”, como determi-nou a lei da grafia dos nomes indígenas. E a confusão nunca termina.

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Náutica Sul 47

No último dia do ano de 2013, o casal de velejadores Duda e Celso Martins estava com o seu barco tranquilamente ancorado na prainha do Cantagalo, em Paraty, curtindo a alegria de mais um ano juntos no mar, quando surgiu a ideia de dividir toda aquela feli-

cidade com outras pessoas. Mas, quem seriam? Deixaram, então, a escolha nas mãos do destino. Pegaram uma garrafa vazia, colocaram um bilhete com votos de bom ano novo e um número de telefone e a atiraram no mar – como faziam os náufragos do passado. Em seguida, esqueceram o fato. Até que...

como os náufragos Trecho de uma das milhares de mensagens já encontradas dentro de garrafas boiando nos mares: o que no passado era uma necessidade, virou uma instigante diversão

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Mesmo em tempos de Facebook e WhatsApp, o singelo ato de mandar mensagens dentro de garrafas ainda é largamente praticado e diverte um bocado — tanto quem manda, quanto, principalmente, quem as encontra

por carlos santos

correio do mar ainda vive

o velho

Sem título-5 1 25/02/2015 18:53:55

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48 Náutica Sul Náutica Sul 49

em todas as lÍnguasO hábito de lançar mensagens ao mar dentro de garrafas existe desde os tempos da Grécia Antiga, quando era usado para (tentar) avaliar o tamanho dos oceanos. Até hoje ele continua, movido pelas correntezas e pela curiosidade humana

No ano passado, uma garrafa foi encontrada no Mar Báltico, com uma mensagem de 101 anos atrás

Exatos três meses depois, na tarde de 31 de março do ano passado, duas irmãs caminhavam pela praia de Pontal do Paraná, no litoral paranaen-

se, quando viram uma garrafinha depositada na areia pelo mar. Dentro dela, estava a mensagem que o casal Duda e Celso havia despachado lá da prainha do Cantagalo, distante quase 1 000 qui-lômetros daquele ponto. Para elas foi uma dupla alegria. Primeiro, porque achar uma garrafa com uma mensagem dentro é uma espécie de tesou-ro simbólico, que desperta a imaginação de qual-quer pessoa. E segundo, porque, meses antes, du-rante uma emocionante viagem a Israel, as duas irmãs haviam comentado, do nada, em meio a um cenário repleto de significados bíblicos, que o “brilho” na vida delas bem que poderia vir de uma garrafa encontrada na praia – como a fictí-cia Jeannie é um gênio, do velho seriado da tele-visão. Pois não é que elas acharam mesmo uma mensagem cheia de vibrações positivas e vinda de quem sequer conheciam?

Em seguida, elas fizeram contato com os re-metentes da mensagem e deixaram o casal pau-lista ainda mais eufórico, porque o objetivo de quem atira uma garrafa ao mar é justamente tor-cer para alguém encontrá-la e descobrir onde ela irá dar. E quando isso acontecerá — além de gerar uma intensa curiosidade em quem a en-contrar. Quem teria escrito aquilo? De onde te-ria vindo? Por onde teria passado aquela garrafa, ao sabor apenas dos humores do mar?

No caso de Duda e Celso, a resposta foi prati-camente imediata, já que apenas três meses se pas-saram entre o lançamento e a descoberta da gar-rafa – quase nada para os letárgicos padrões das mensagens desse tipo, que não são apenas a mais antiga forma de comunicação da história, mas, também, a mais lenta. Mesmo assim, quando ela chegou às mãos das irmãs paranaenses já ha-via cruzado todo o litoral de São Paulo e sabe-se lá mais o quê, porque nada é mais intrigante em qualquer objeto trazido pelo mar do que imaginar de onde ele veio – e a história que há por trás dele.

No caso das mensagens dentro de garrafas, hábito que remonta aos gregos, 300 anos antes do início da nossa era, quando eram usadas para tentar avaliar a extensão dos oceanos, as histórias são ainda mais fascinantes, porque há, de fato, uma história escrita por trás de cada mensagem. E uma pessoa em carne e osso do outro lado da-quela história, que merece ser conhecida ou, pelo menos, contatada de volta, feito uma espé-cie de Facebook primitivo.

Como resistir à tentação de ler o que está es-crito em um pedaço de papel que vagou duran-te meses (ou anos, como geralmente acontece)

pelos oceanos? Como não ficar tentando imagi-nar quem o escreveu e em quais circunstâncias isso aconteceu? Como, enfim, ignorar a mais ir-resistível característica humana, a curiosidade? Pois as mensagens em garrafas reúnem todos es-tes atributos numa só embalagem. Além de ser a mais resistente forma de navegar que existe.

Uma garrafa bem lacrada é um dos obje-tos mais marinheiros já inventados pelo homem. Ondas e tempestades são capazes de afundar na-vios, mas não conseguem tirar da superfície uma simples garrafinha com um pouco de ar dentro. Só mesmo um eventual choque com algo bem mais duro do que a força do mar (como as pe-dras de uma costeira, por exemplo) consegue in-terromper a inexorável marcha errante de uma garrafa ao sabor das correntezas. Por isso, elas sempre foram usadas como meio de comunica-ção, ainda que de resultado incerto.

Em sua viagem de volta ao descobrimento da América, ao pe-netrar em uma violenta tempesta-de, Cristóvão Colombo não teve dú-

vidas: redigiu um bilhete e o enfiou dentro de uma garrafa, na esperança de que ela atingis-se alguma praia, caso ninguém sobrevivesse para relatar a descoberta. A garrafa de Colom-bo jamais foi encontrada, mas o mesmo não se pode dizer de outras mensagens do gênero enviadas por oficiais da Marinha Inglesa, para relatar posições de navios inimigos, na época da Rainha Elizabeth — que, por isso mesmo, punia com pena de morte quem abrisse uma dessas garrafas antes de entregá-las à Corte.

Dicas para a sua mensagem ser lidaE, antes disso, para que a sua garrafa seja encontrada com um pouco menos de dificuldade

mensagens ao marsh

ut

tle

rst

oc

k

Escolha uma garrafa de vidro e meio

escura, porque a transparência pode apagar

o texto da mensagem com o tempo.

Pelo mesmo motivo, enrole a mensagem

com o texto para o lado de dentro, para

evitar o desbotamento acelerado da tinta

pelo sol.

Jogue-a na água em local de forte

correnteza, porque assim ela começará a

viagem mais rapidamente e não retornará à

praia mais próxima.

Use papel colorido, porque isso pode

tornar a sua garrafa mais visível na água ou

mais chamativa na praia.

Se quiser chamar ainda mais atenção

para a sua garrafa, enrole a mensagem

em papel laminado, porque ele, além de

proteger o papel, brilha um bocado.

Não nutra muitas esperanças de um

retorno. A maioria das garrafas se perde para

sempre nos oceanos. Mas, quando alguém a

encontra, a alegria é dobrada.

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50 Náutica Sul Náutica Sul 51

Em 1794, um náufrago japonês enviou um pedido de socorro pelo mar. Mas ele só chegou 141 anos depois

Desde aquela época, despa-char mensagens (de amor, de filoso-fia, poéticas ou mesmo pedidos de ajuda) pelo mar tornou-se algo bem

mais comum e frequente do que os filmes de náufragos sugerem. Mesmo nos dias de hoje, como comprovam as muitas histórias (como a de Duda e Celso) que pululam na internet.

Até porque, mais tentador do que mandar uma mensagem, é encontrar outra. “É quase como achar um tesouro enterrado na areia”, de-fine um especialista no assunto, o italiano Ro-berto Regnol, que há quase dez anos se dedica a garimpar, com a ajuda de uma rede de corre-ligionários, garrafas com mensagens que vão dar nas praias da Itália e dos países vizinhos. Sua co-leção já soma 605 mensagens, todas exibidas no seu site (www.messagiodalmare.com) e captura-das apenas de 2006 para cá — o que, por si só, já dá uma boa ideia da quantidade de garrafas

com mensagens que vagueiam pelos mares. “Na era da tecnologia, ainda há românticos que con-fiam ao mar aquilo que eles não têm coragem de dizer”, filosofa Roberto, frente ao tema mais recorrente nas mensagens náuticas contempo-râneas: o amor. Tanto ao mar quanto à humani-dade ou a alguma pessoa específica.

É compreensível. O gesto de lançar uma mensagem ao mar tem mesmo algo de român-tico, além de ser deliciosamente ingênuo – em-bora alguns ecochatos já vejam nisso uma forma de agressão ao meio ambiente. Trata-se de um singelo antídoto para as formas de comunicação cada vez mais instantâneas e uma surpreenden-te maneira de unir pessoas, que, de outra forma, talvez, jamais se conheceriam.

Que o diga o canadense Harold Hackett, que há quase 20 anos só faz aumentar sua rede de amigos mundo afora graças às garrafas que ele periodicamente despacha da ilha Prince

Edwards, onde mora, com pedidos de retorno às suas mensagens. Harold calcula já ter envia-do perto de 5 000 garrafas, das quais obteve res-postas (dos Estados Unidos, da Europa, da Áfri-ca...) para mais de 3 000 delas – e sempre por carta, porque, propositalmente, ele não envia seu telefone, para, depois, ter o que mostrar aos amigos. “Adoro me comunicar da maneira an-tiga”, diz. “E nada é mais antigo do que man-dar uma mensagem pelo mar.”

No Brasil, certa vez, duas garrafas foram lan-çadas ao mar, ao mesmo tempo, no mesmo lu-gar. Uma foi dar na costa da África, outra no lado oposto, na Nicarágua. Em outro experimento, uma ONG internacional coletou cartas de crian-ças e as colocou dentro de uma espécie de boia, a título de garrafa, no meio do Atlântico. Menos de um mês depois, a “garrafa” estilizada da enti-dade foi dar na praia do Mucuripe, em Fortaleza, onde chegou a ser confundida com uma bomba

em 1914, durante a Primeira guerra mundial, o soldado

inglês Thomas Hughes lançou

uma garrafa no Canal da Man-

cha, com uma declaração de

amor à sua esposa. Dois dias

depois, ele morreu em com-

bate. 85 anos se passaram, até

que, em 1999, um pescador

achou a garrafa de Thomas

boiando no rio Tâmisa. Como

a destinatária também já havia

morrido, a mensagem foi en-

viada para a filha do soldado.

Que já somava 86 anos.

também em 1914, um ex-perimento sobre as corren-

tes marítimas lançou no mar

da Escócia 1 890 garrafas com

a mensagem de que, quem a

encontrasse, informasse o local

da descoberta. 98 anos depois,

em 2012, o pescador inglês An-

drew Leaper puxou a rede no

barco em que trabalhava e en-

controu uma das garrafas. E

foi a segunda encontrada pelo

mesmo barco — algo tão im-

provável quanto um raio cair

duas vezes sobre a mesma

casa. Até hoje, apenas 350 das

garrafas foram recuperadas.

em 1916, algumas garrafas

com emocionantes despedi-

das dos parentes surgiram na

costa da Suécia, perto de Go-

temburgo. Foram lançadas

pelos tripulantes do Zeppe-

lin alemão L19, que sucumbiu

no mar, depois de bombarde-

ar a Inglaterra. Embora locali-

zados por um barco pesquei-

ro inglês, os alemães foram

deixados no mar, até se afo-

garem. Só restaram as suas

despedidas, nas mensagens,

lançadas antes de o Zeppelin

afundar por completo.

Jeremiah Burke e nora he-garty, dois jovens primos irlan-

deses que viajavam no Titanic,

lançaram ao mar uma mensa-

gem de despedida, antes de

afundarem com o próprio na-

vio. Nela, diziam apenas “Adeus

a todos”, junto com o nome de-

les e do fatídico transatlântico.

Um ano depois, a garrafa com

a mensagem das vítimas che-

gou a uma praia da Irlanda e foi

entregue à família. Detalhe: era

a mesma garrafa que eles ha-

viam levado de casa com água

abençoada, para que nada de

ruim acontecesse na viagem.

em 1956, um desolado ma-rinheiro sueco, chamado

Ake Viking, resolveu apelar

para o mar em busca de um

amor para sempre. Escreveu

uma mensagem “para uma

jovem bonita e distante” e

lançou a garrafa ao mar. Dois

anos depois, a italiana Paolina

achou a garrafa numa praia

da Sicília e respondeu à men-

sagem. “Não sou bonita, mas

devo ter sido escolhida pelo

destino”, respondeu. Logo, os

dois estavam casados.

em 2005, um grupo de jo-vens imigrantes ilegais foi

abandonado pelos trafican-

tes num barco à deriva, ao

largo da Costa Rica. Sem ne-

nhum meio de comunica-

ção, recorreram a uma men-

sagem de S.O.S dentro de

uma garrafa e ela, milagrosa-

mente, foi recolhida por um

pescador logo em seguida,

que acionou as autoridades

do país. Todos foram salvos.

em 2006, alguns habitan-tes da República de Monte-

negro, nação então envolvida

numa luta

separatista

com a Sér-

via, dispara-

ram men-

s a g e n s

em garrafas pedindo ajuda

internacional, na esperan-

ça de que elas chegassem à

Itália, do outro lado do Mar

Adriático. Muitas, de fato,

chegaram. Como esta aqui

encontrada numa praia ita-

liana, no mesmo ano.

em 17 de abril do ano re-trasado, uma garrafa com

uma mensagem foi dar na

foz de um rio perto de Du-

brovnik, na atual Croácia. Ao

abri-la, os croatas tomaram

um susto: ela havia sido es-

crita 28 anos antes, na dis-

tante Nova Escócia, na costa

do Canadá, a mais de 7 000

quilômetros de distância, e

numa época em que nem a

própria Croácia existia como

país. Acabou no museu da

cidade.

mensagens ao marsh

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Garrafas que fizeram história

flutuante, pelos jangadeiros. De lá, outra boia se-melhante foi despachada sabe Deus para onde.Mais recentemente, os moradores da pequena ci-dade de Itaqui, às margens do Rio Uruguai, na di-visa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, ficaram emocionados com uma mensagem en-contrada dentro de uma garrafa, após uma en-chente que deixou toda a região em estado de ca-

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52 Náutica Sul Náutica Sul 53

lamidade. Ela havia sido atirada ao rio a mais de 500 quilômetros de distância, pelos alunos da esco-la pública do município de Palmitos e trazia uma mensagem no mínimo reconfortante (para não di-zer intrigante) para quem havia perdido tudo na enxurrada. Dizia: “ Aconteça o que acontecer, é preciso amar, apoiar, agasalhar e ajudar ao próxi-mo”. Detalhe: a mensagem na garrafa havia sido lançada no rio três anos antes daquela enchente.

É certo que a maioria das mensa-gens se perdem na imensidão dos oceanos ou ficam dando voltas sem fim ao redor dos setes mares, levadas pelas correntezas,

sem que ninguém as encontre. Mas quem lança ao mar uma garrafa com um bilhete sempre nutre a esperança de que – quem sabe, um dia? – ele seja lido. Mesmo que, às vezes, tardiamente.

Reza a lenda que o caso mais famoso do gê-nero teria acontecido em 1935, quando uma ve-lha garrafa com pedaços de casca de coco escul-pidas com ideogramas japoneses dentro foi dar numa praia de Hiraturemura, no Japão. Ela re-velava a triste saga de um pescador chamado

As mensagens em garrafas são bem mais comuns do que parece. Só o italiano Roberto já achou 605 delas

rei das mensagensO italiano Roberto Regnol, dono de um site dedicado apenas a mensagens trazidas pelo mar: “É como achar um tesouro”, diz o curioso especialista

mensagens ao mar

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Chunosuke Matsuyama, cujo barco naufragara perto de algumas ilhas do Pacífico.Teria sido um final feliz para aquele infortúnio não fosse a data gravada em uma das cascas: 1794 – 141 anos antes de aquela garrafa ser encontrada!

Se for verdade, é bem possível que a garrafa com o pedido desesperado daquele pescador te-nha passado muito tempo presa a algum obstá-culo (pedras, baías fechadas ou parcialmente so-terrada na areia), antes de ser libertada por um fenômeno natural, como aconteceu, dois anos atrás, com a mensagem enviada pela adolescen-te americana Sidoney Fery, em 2001. A garrafa de Sidoney ficou retida nos destroços do furacão Sandy por anos a fio e reapareceu praticamente na mesma praia de onde fora lançada pela me-nina – que, no entanto, já havia morrido, vítima de um acidente. A garrafa foi, então, entregue à mãe da menina, que chorou de emoção ao ler o bilhete. “Foi como uma mensagem dela, trazida pelo mar”, disse, entre lembranças e lágrimas.

Apesar da famosa história da mensagem tar-dia do náufrago japonês, o Livro dos Recordes não a reconhece como a mais antiga mensa-gem em garrafa já encontrada. O mérito, segun-do a entidade, cabe a uma garrafinha que foi dar numa praia do Mar Báltico em 8 de abril do ano passado, com a mensagem de um jovem alemão, chamado Richard Platz, pedindo que quem a encontrasse entrasse em contato. E ter-minava com a data: 17 de maio de 1913, 101 anos antes de ela ser, finalmente, encontrada.

Por onde a garrafa de Platz passou durante mais de um século no mar jamais se saberá. Mas são justamente as dúvidas que recheiam o fascínio das mensagens desse tipo. E quem já não teve von-tade de fazer o mesmo que atire a primeira garrafa!

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Até hoje restam dúvidas sobre a expedição do francês Binot Paulmier de Gonneville ao litoral de Santa Catarina, 511 anos atrás, que teria levado um índio brasileiro para a Corte francesa e dado origem a uma curiosa história. E que, agora, está voltando à tona, por conta de uma regata

penas quatro anos após o descobrimento oficial do Brasil, uma nau francesa, comandada pelo navegador Binot Paulmier de Gonneville,

teria chegado ao litoral de Santa Catarina e permanecido por seis meses na atual Baía da Babitonga, a mesma de São Francisco do Sul, não por acaso considerada a terceira cidade mais antiga do Brasil. Ali, os franceses teriam criado estreitos laços de amizades com os índios carijós, que habitavam a região. Tanto que, ao retornar à França, Gonneville teria levado consigo um jovem índio brasileiro, chamado Iça-mirim, a pedido do próprio pai do menino (e também cacique da tribo), que queria que ele aprendesse algumas virtudes bélicas dos franceses, para, depois, ensinar aos guerreiros da tribo. Só que Iça-mirim, ou “Essomericq”, como o seu nome fora interpretado pelos franceses, jamais retornou ao Brasil. Teria vivido em um castelo francês até os 96 anos de idade, depois de instruir-se (o que o tornaria o primeiro legítimo brasileiro a ser alfabetizado, entre outros pioneirismos), casar-se com a filha do próprio Gonneville e com ela ter nada menos que 14 filhos (e um incontável número de descendentes), dando início a um clã tão curioso quanto praticamente desconhecido por aqui — além de polêmi-co, já que alguns pesquisadores colocam em dúvida a existência da tal ex-pedição de Gonneville ao litoral de Santa Catarina e, por consequência, do próprio índio catarinense que teria virado um quase nobre na elegante corte da França do século 16. E esta história, agora, está voltando à tona, por con-ta de uma regata francesa que chegará a Itajaí ainda este ano, depois de atra-vessar o Atlântico. Como, mais ou menos, teria feito Gonneville, 511 anos atrás.

O pioneiro catarinense?

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POR RAquEl CRuz

Náutica sul 57

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Náutica sul 59

HISTÓRIA

Na França, o jovem índio Iça-mirim virou “Essomericq” e teria constituído família, com descendentes até hoje

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ça-mirim significa “formiga pe-quena”, na língua indígena dos carijós de antigamente. Mas, se a

versão sobre a primeira expedição entre a Fran-ça e o Brasil for verdadeira, esta expressão re-presenta bem mais do que isso — designa um extraordinário pioneiro, que, no entanto, a his-tória do Brasil praticamente ignorou.

A história teria começado em 1503, quando o aventureiro e navegador francês Binot Paulmier de Gonneville, que vivia em Honfleur, no norte da França, convenceu alguns comerciantes locais a fi-nanciar uma expedição até as Índias Orientais. A partida teria sido no dia 24 de junho daquele ano, mas, a exemplo de outras expedições do gênero, que deixaram a Europa no mesmo período, o des-tino do francês foi bem diferente. A bordo da nau L’Espoir (“A Esperança”, em francês), Gonnevil-le e seus 60 marinheiros, segundo consta, foram surpreendidos por fortes ventos na costa africana e, por causa deles, desviado a rota. Na sequência, for-tes correntes marítimas teriam empurrado a em-barcação até uma região do outro lado do Atlân-tico, que hoje se acredita ser a Baía da Babitonga, no litoral norte catarinense, onde fica São Francis-co do Sul, uma das cidades mais antigas do país.

A viagem teria durado quase sete meses, até que, em janeiro de 1504, franceses e índios brasi-leiros fizeram seu primeiro encontro amistoso da história. Em terras catarinenses, Gonneville e seus homens teriam ficado cerca de seis meses, tempo suficiente para criar uma relação amistosa com o líder da tribo carijó da região, o pajé Arouca, que, por isso mesmo, no momento da partida, pediu ao

capitão francês que levasse um de seus filhos, o pequeno Iça-mirim, então com cerca de 14 anos.

A intenção do pajé era que o menino fosse instruído nas terras que havia do outro lado do mar e que aprendesse a usar as armas de fogo que tanto encantaram os indígenas, para, depois do ciclo de “vinte luas” (como os carijós contavam o tempo), fosse trazido de volta à tribo.

Gonneville concordou, mas o que o líder indígena não sabia era que, ao ver a nau fran-cesa sumir no horizonte da Baía da Babitonga, nunca mais teria notícias de seu filho. Porque Iça-mirim jamais retornou ao Brasil.

No caminho de volta à França, quase tudo

58 Náutica sul

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cinco séculos atrásO busto de Gonneville (no alto) decora um dos jardins da cidade de Honfleur, de onde sua expedição teria partido para “acidentalmente” dar no então inexplorado litoral de Santa Catarina, onde ele teria ficado meses, antes de retornar à França, levando consigo um jovem índio que depois faria história. Há fortes indícios, mas nunca houve certeza disso

São CHICo TERIA nASCIDo DISSo?

m 2004, a prefeitura da cidade de São

Francisco do Sul comemorou os 500

anos da chegada do navegador francês

Binot Paulmier de Gonneville à Baía da Babitonga,

com uma certeza (de que aquela expedição existiu de

fato) e muita festa, porque, para boa parte da munici-

palidade, aquela data marcou, também, os 500 anos

da criação da própria cidade — que, por isso mesmo,

seria a terceira mais antiga do país. Na ocasião, até

um monumento que simboliza o “descobrimento” da

cidade e mostra a nau de Gonneville estilizada, foi as-

sentado no centro de São Chico, como a cidade é cari-

nhosamente chamada por seus admiradores.

Mas, nem todos concordaram com as home-

nagens, porque não há provas concretas de que a

nau francesa L’Espoir, de Gonneville (cuja réplica

também ocupa um lugar de destaque no prestigia-

do museu náutico da cidade), tenha frequentado as

águas que banham São Francisco do Sul bem antes

de elas serem visitadas pelo barco do espanhol Juan

Días de Solís, em 1515, como ficou registrado nos li-

vros gerais de história (depois, em 1658, o povoado foi alçado a con-

dição de “vila”, por conta do português Manoel Lourenço de Andra-

de, que se fixou naquelas terras — isto, sim, é certo)

O historiador local Carlos da Costa Pereira Filho é um dos que

não concordam nem um pouco com a suposta relação entre fran-

ceses e a cidade. Para ele, a tão falada visita de Gonneville à região

não passa de uma “lorota histórica”, usada para atrair os turistas. E

ele rebate veementemente todas as indicações contrárias.

Verdade ou não, o fato é que, com ou sem Gonneville, São

Francisco do Sul é uma gracinha de cidade e atraente aos visitan-

tes do mesmo jeito.

Eo que poderia dar errado em uma expedição ma-rítima aconteceu com Gonneville. Primeiro, par-te da tripulação morreu depois de contrair uma peste, incluindo um índio incumbido pelo pajé para acompanhar Iça-mirim, como uma espécie de pajem do menino. E, depois, os sobreviventes foram atacados por piratas, em pleno canal da Mancha, a poucas milhas da França.

uando, finalmente, o L’Espoir atracou de volta no porto de Honfleur, quase um ano depois

da eventual partida de Santa Catarina, só me-tade da tripulação de Gonneville havia sobre-vivido à longa e tumultuada viagem. Mas, entre eles, estava o jovem índio brasileiro, que logo chamou muita atenção na cidade.

Na França, Iça-mirim virou “Essomericq”, por conta do carregado sotaque francês, e vi-rou membro da família de Gonneville. Logo em seguida, aprendeu a ler e a escrever e ga-nhou título de nobreza, ao casar-se com uma das filhas do próprio capitão, com quem teria tido uma prole de 14 filhos — o que teria gera-do uma incalculável quantidade de herdeiros, até os dias de hoje.

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SerÁ que foi aSSim?réplica da nau de Gonneville, em exposição no museu náutico de São francisco do Sul: até hoje a cidade se divide sobre a origem da própria história

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Se for verdade, entre outros pioneirismos, aquele índio catarinense teria se tornado o primeiro brasileiro a ser alfabetizado, o que não deixa de ser outro fato curioso

HISTÓRIA

ais de 500 anos depois da polêmica expedição do ca-pitão Gonneville, cerca

de 100 novos aventureiros, quase todos france-ses, se preparam para refazer aquela viagem rumo ao litoral catarinense, no final deste ano. Será mais uma edição da regata Jacques Va-bre, nome de uma tradicional marca francesa de café, que, por isso mesmo, sempre leva os competidores da França até algum local pro-dutor da bebida nas Américas. No Brasil, a honra já coube a Salvador por três vezes, no passado, e, na última edição, dois anos atrás, à mesma Itajaí, que, este ano, pela segunda vez consecutiva, sediará a chegada da regata.

O trajeto não é exatamente o mesmo da

lá vÊm eles, de novoA chegada dos barcos da Jacques Vabre a Itajaí, dois anos atrás, coincidiu com a tradicional festa da Marejada e gerou 20 dias de alegria na cidade. Este ano, a história se repetirá

Náutica sul 6160 Náutica sul

expedição de Gonneville (até porque, segun-do consta, ele só chegou ao Brasil por aciden-te), mas, coincidentemente, ligará a costa noroes-te da França (a partida será de Le Havre, cidade quase vizinha a Honfleur, de onde partiu o ex-plorador francês) ao litoral catarinense — Itajaí, em vez de São Francisco do Sul, como ficou re-gistrado na história. Ao longo do percurso, os cer-ca de 50 barcos competidores, cada um com ape-nas dois tripulantes, como manda o regulamento, navegarão mais de 5 400 milhas náuticas, ou qua-se 10 000 quilômetros, sem escalas, até a linha de chegada, em Itajaí, onde deverão começar a che-gar por volta do dia 5 de novembro — apenas dez dias depois de partirem da França, já que este ano participarão barcos bem maiores e bem mais ve-lozes, de até 100 pés de comprimento.

Na última edição, a chegada dos barcos a Itajaí coincidiu com a mais tradicional fes-ta da cidade, a Marejada, o que levou mais de 200 000 visitantes à Vila da Regata, como foi batizada a área anexa na qual os barcos fica-ram em exposição, após a chegada. Desta vez, a festança se repetirá, durante quase 20 dias, com muita música, comidas típicas e ativida-des para toda a família, entre os dias 3 e 22 de novembro — uma ótima razão para ir até lá e ver, também, os barcões em ação, já que este

UmA REgATA no RASTRo DA HISTóRIA511 anos depois, os franceses se preparam para voltar a Santa Catarina. Agora, com a regata Jacques Vabre

Mano ainda haverá uma regata de curta dura-ção, entre Itajaí e Itapema, no litoral catari-nense, para todos os barcos que participaram da travessia do Atlântico, em data a ser defini-da. Um motivo a mais para os catarinenses — em especial, os moradores de Itajaí — come-morarem a chegada dos barcos franceses ao Brasil, como, talvez, tenha sido no desembar-que de Gonneville por ali, 511 anos atrás.

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m século depois, alguns deles te-riam localizado, na própria Hon-fleur, documentos que narravam

a viagem de Gonneville e a chegada à França de seu exótico passageiro. Mas, com o tempo, esses documentos teriam desaparecido. Essomericq te-ria vivido, na França, até perto dos 100 anos de idade e experimentado uma improvável vida de nobreza para um índio brasileiro.

Desde então, a história de Iça-mirim já foi pesquisada por vários franceses e brasileiros, mas nem todos concordam que a região descrita no suposto relato de Gonneville seja mesmo a baía catarinense. O primeiro a contestar isso foi o francês Jacques Pontharouart, no livro Paulmier de Gonneville — Sua viagem imaginária, cujo tí-tulo já diz tudo. Para ele, a expedição do francês sequer existiu, já que os documentos que com-provariam isso nunca mais foram localizados.

Pontharouart, assim como outros historiado-res franceses e brasileiros, dedicaram um bom tempo às pesquisas sobre a curiosa história do índio catarinense nas cortes francesas, mas ne-nhum deles foi capaz de afirmar, com absoluta certeza, se ela é falsa ou verdadeira. Mas que é uma boa história, ah, isso ninguém contesta.

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Náutica Sul 63

Corria o ano de 1991 e eu, mesmo sendo parana-ense, morava em Porto Alegre. Lá, como piloto de caça, voava nos supersônicos F-5E, da FAB, e nas horas vagas, como velejador, ia para o clu-be Veleiros do Sul, o mesmo frequentado por

um colega da Aeronáutica, o Capitão Aviador Nivaldo Luiz Rossato, que mesmo sendo gaúcho e visitante assíduo do lu-gar, não velejava. O meu barco era o Jambock III, um velei-ro de 32 pés todo reformado, pelo qual eu sentia um misto de respeito e gratidão pela sobrevivência nos embates com os temporais pirotécnicos típicos do Rio Grande do Sul.

Tempos depois, decidi deixar a Força Aérea e mon-tar uma empresa de táxi aéreo, no Paraná, após ter a apro-

vação de minha “superior hierárquica”, como as esposas eram carinhosamente chamadas no meio militar. Resolve-mos, então, mudar para lá. Mas, e o barco? Como levá-lo? Decidi ir navegando com ele até Guaratuba, no litoral pa-ranaense, que passaria a ser a nova “base” do bravo Jambo-ck III. Mas minha mulher se recusava a ir junto a bordo. O mar a assustava, especialmente a costa gaúcha, famosa pelo mau humor dos seus ventos fortes e pelo cemitério de barcos que eles já geraram. Onde encontrar um tripulante para me acompanhar naquela travessia? Nos clubes náuti-cos de Porto Alegre, os marinheiros pediam o equivalente a um dólar por milha navegada, o que, para mim, na épo-ca, representava um gasto considerável.

do ar para o marO novo Comandante-Geral da Aeronáutica, Nivaldo Rossato (abaixo) começou sua vida náutica com uma terrível travessia até Florianópolis (ao lado). Mas ele tirou de letra e, na volta, até comprou um barco. Quem sabe comandar, comanda qualquer coisa

Foi durante uma complicada travessia de Porto Alegre a Florianópolis que o recém-empossado novo Comandante-Geral da Aeronáutica, o gaúcho Nivaldo Rossato, mostrou a um experiente velejador do Paraná sua capacidade para comandar até o que ele mal conhecia: um barco

Firme ao leme, comandante!

Por Luiz NogueiRa gaLetto

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64 Náutica Sul Náutica Sul 65

ma previsão de ventos favo-ráveis para o trecho seguinte, meu companheiro regressou a Porto Alegre e eu fiquei in-cumbido de monitorar o tem-po e avisá-lo tão logo a previsão estivesse de acordo com o ce-nário que tínhamos planejado.

Alguns dias depois, uma frente fria se aproximou do Uru-guai, e, avisado, o Rossato che-gou rápido e entusiasmado, em plena madrugada. Na mesma hora, fizemos uma tentativa de sair para o mar, mas as condi-ções na barra de Rio Grande ainda eram adversas demais. Re-tornamos ao iate clube, mas for-talecidos pelo desafio, já que, como pilotos, adrenalina era algo que apreciávamos bastante.

No dia seguinte, o ven-to acalmou e rondou para uma direção mais adequada. Parti-

mos e tomamos o rumo nordes-te, que nos afastaria rapidamente do tenso litoral gaúcho. No ca-minho, cruzamos com vários na-vios e fomos brindados com um pôr do sol magnífico. Mas, em seguida, levamos um tremen-do susto: uma inesperada rajada de vento colocou o nosso barco quase na horizontal em relação ao mar.

Resolvi dividir minha angústia com o colega aviador Rossato, que, para minha surpresa,

não pensou duas vezes e dispa-rou: “Tô nessa, tchê!” — mes-mo sem jamais ter ido além do Guaíba nos seus passeios de bar-co como convidado. Começa-mos, na hora, a fazer os planos de navegação, que, obviamen-te, compreendiam a travessia da nem sempre tranquila Lagoa dos Patos, em direção a Rio Grande, onde aguardaríamos a passagem de uma frente fria para termos ventos favoráveis na travessia até Florianópolis. Lá, ele desembar-caria e eu faria o restante da via-gem em solitário. E assim ficou combinado.

O comportamento sólido nas decisões sempre foi uma das características que eu mais ad-mirava no Capitão Rossato e, ao decidir, de imediato, ir junto naquela travessia, ele mais uma vez comprovou isso. Na data marcada, uma ensolarada ma-nhã de abril, desatracamos do Veleiros do Sul e partimos. Para o amigo Rossato era uma espé-cie de batismo náutico.

O trecho até Rio Gran-de exigiu bastante de nós dois. Logo que entramos na Lagoa dos Patos, anoiteceu e começou

a chover e ventar forte. Naque-la época, GPS ainda era sonho e a nossa navegação era feita na base da estimada, mas conferida com um rádio navegador ADF e um sextante para navegação as-tronômica. Para ficar ainda mais emocionante a velejada, fomos brindados com muitas boias lu-minosas apagadas e faroletes da lagoa inoperantes, sem falar que eles ainda estavam fora da posi-ção marcada nas cartas naúticas!

Para Rossato, um avia-dor acostumado às pre-cisões da Aeronáutica, navegar daquele jei-

to não estava sendo nada fácil. Mas, com inteligência e aten-ção, ele se empenhava em en-tender, interpretar e aplicar corretamente as técnicas da na-vegação náutica, de forma que o nosso barco se mantivesse no rumo, apesar das adversidades. “Firme ao leme!” passou a ser o seu bordão, quando assumia o comando do barco. E ele repeti-ria isso a todo instante. No fun-do, o Rossato estava (como eu descobriria mais tarde) desen-volvendo uma nova e profunda paixão pelo mundo náutico.

Em dois dias, muito cansa-dos, chegamos a Rio Grande. Mas, como não havia nenhu-

Corremos para o con-vés, arriamos todas as velas e acionamos o motor, que passou a

nos empurrar a não mais que 5 nós. Foi uma boa decisão, to-mada de comum acordo, por-que, em seguida, o vento voltou ainda mais forte. Por segurança, abrimos ainda mais o rumo, na direção do mar aberto, a fim de evitar qualquer risco de sermos atirados contra a costa.

Com o vento forte, as ondas se agigantaram e passaram a lan-çar espumas sobre nós. Como era noite, perdemos também a visibilidade. E para completar o cenário nada animador, co-meçou uma chuva forte. Vesti-mos roupas impermeáveis, co-lete salva-vidas com cinto de segurança e estabelecemos tur-nos de quatro horas ao leme, que eram bem cansativos, por-que o barco sempre teimava em sair do rumo. Mas nada disso ti-

rava o empenho do Rossato, que seguia repetindo o mantra “Fir-me ao leme!”. E lá fomos nós.

Até que, de repente, uma onda anormal praticamente dei-tou o Jambock na água. Eu es-tava dentro da cabine e fui ar-remessado de encontro a uma antepara. Quase perdi os senti-dos e ganhei um baita hemato-ma na cabeça. O Rossato, que viu tudo lá de fora, berrou (o ba-rulho do vento impedia qual-quer conversa em tom normal) para que eu ficasse na cabine e me recuperasse, enquanto ele conduzia o barco em mais um turno consecutivo.

Zonzo pela pancada, concordei, embora pre-ocupado com as horas extras que o meu ami-

go teria que fazer. Mas ele me tranquilizou, gritando: “Firme ao leme!”. Daí, apaguei. Quan-do acordei, horas depois, o Ros-sato seguia firme na condução do barco, apesar do cansaço. Descobri, então, outras duas ca-racterísticas positivas do meu parceiro: a persistência e a per-feita compreensão do necessário para a eficácia de uma atividade.

O mau tempo, que depois se transformou em um forte vento Carpinteiro (aquele que “prega os barcos na costa”), típi-co do litoral gaúcho, durou até a nossa chegada à entrada sul da ilha de Santa Catarina, assusta-doramente chamada de Ponta dos Naufragados. Ali, as grandes ondulações não davam descanso ao timoneiro.

Surfamos como se o nos-so veleiro, de seis tone-ladas, fosse uma sim-ples prancha, mas

entramos com segurança. Se-guimos, então, para o trapiche do Veleiros da Ilha e, de lá, di-reto para o restaurante, onde pedimos um gigantesco filé e uma cerveja gelada. Por conta do mau tempo na travessia, que durara mais de três dias, come-mos apenas biscoitos e laranjas com casca e tudo, porque nin-guém arriscaria manusear uma faca naquele sobe e desce que nunca acabava. A sensação era que as ondas queriam partir o Jambock ao meio. Mas ele re-sistiu bravamente. Bem como o meu companheiro.

Mesmo assim, ao me des-pedir do Rossato e iniciar a per-na final da viagem em solitário, como combinado, pensei: de-pois de uma estreia dessas ele nunca mais pensará em velejar de novo. Que nada! Pouquíssi-mo tempo depois, o Rossato já tinha o seu próprio barco e até se revelou um campeão de re-gatas, atividade que, agora, tal-vez, passe a desenvolver no lago Paranoá, em Brasília, pois aca-ba de ser nomeado, pela pre-sidenta Dilma, Comandante-Geral da Aeronáutica, cargo máximo da entidade.

Nada mais merecido. Pelo que vi naquela pioneira travessia marítima dele, tenho certeza de que o comando da Aeronáutica brasileira está em boas mãos.

Firme ao leme, comandante! Como sempre.

travessia

“ Com o vento forte, as ondas se agigantaram e, como era noite, perdemos a visibilidade. Mas nada desanimava o Rossato

antes e dUranteA partida, em Porto Alegre (Rossato está ao centro) e o início da travessia, driblando os navios do porto de Rio Grande: depois foi só pauleira, na primeira travessia marítima do novo homem forte da Aeronáutica

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Não deu tempo. Com velas içadas e o motor ligado, para apressar o caminho de volta à barra, um estrondo ecoou no escuro da noite e uma grande onda desabou sobre a popa do barco. Romildo saiu correndo da cabine, assumiu o leme e acelerou tudo à frente. Agora, ele pelo menos sa-bia de onde as ondas poderiam vir e precisava posicionar o barco para melhor enfrentá-las. Após alguns segundos avan-çando sobre o rastro da onda que passara, girou totalmente o leme, ficando de proa para as outras ondas que porventura viessem. E elas vieram. Duas. Tão altas quanto a primeira.

A segunda onda foi abordada da maneira correta, com o barco indo de encontro a ela — e não o con-trário, como involuntariamente aconteceu no primeiro caso. Mas era tão violenta que empurrou o casco para trás e o fez atravessar na frente da onda seguinte, a ter-ceira e mais fulminante de todas. O Vagabundo ficou, então, na pior posição possível: de lado e impotente,

Em julho de 1982, um acidente no mar, envolvendo o veleiro gaú-cho Vagabundo, deu o que fa-lar no Rio Grande do Sul. Na-

quela ocasião, o experiente comandante Romildo Santos, dono do barco, partiu de Rio Grande, na companhia do filho, Newton, e de um amigo, Luiz Louren-ço, ambos ainda jovens velejadores, rumo a Montevidéu, onde iriam buscar novos equipamentos comprados para o barco — fato que, mais tarde, seria interpreta-do pela sensacionalista imprensa gaúcha como uma espécie de contrabando, em-bora tivesse sido importado legalmente. Mas o mau tempo fez com que eles tives-sem de esperar um bocado antes da partida, já que tanto a barra de Rio Grande quan-to o mar do extremo sul do Rio Grande do Sul merecem respeito. Até que, na fria noi-te de 13 de julho, as condições pareceram adequadas à travessia, apesar do frio cor-tante e do vento gelado. Partiram por volta da meia-noite e, logo após a saída da barra, Newton assumiu o leme, enquanto seu pai desceu à cabine, para preencher o diário de bordo. E foi de lá que ele deu o alerta, depois de sentir correr pelo corpo aquilo que os dois jovens tripulantes lá fora mal notaram: um grande volume de água passara repentinamente sob o casco, feito uma onda submersa — uma “crescente”, no jargão dos escaldados velejadores do litoral gaúcho.

— Vamos voltar! — disse o comandante.

diante da onda que se aproximava, no breu daquela noi-te gelada. Não deu tempo de fazer nada. O vagalhão colheu o costado em cheio, cuspiu seus tripulantes na água e virou o Vagabundo de cabeça para baixo.

Por sorte, as ondas pararam após aquela terceira mu-ralha d’água, e quando os três voltaram à tona, estavam ao lado do casco emborcado. E ali ficaram, agarrados. Até que o barco desvirou sozinho, por conta do peso da quilha, que gera o chamado efeito joão-bobo nos cascos. Os três, então, voltaram a bordo, quase congelados de frio. E com um sé-rio problema a resolver: a quebra do mastro, sem falar na completa inundação do barco, o que exigiu muita rapi-dez da tripulação para o Vagabundo não ir a pique de vez.

Newton entrou na cabine com água pelos joelhos, e tentou mandar um pedido de socorro, pelo rádio. Nada. A antena ficava no topo do mastro e ele, agora, jazia submer-so, pendurado apenas pelos cabos de aço. Tentou, também, ligar as bombas de esgotamento do casco, mas as baterias já estavam submersas e o máximo que ele conseguiu foi a ameaça de um curto-circuito na água dentro da cabine.

Pelo menos, o barco ainda flutuava, apesar de ter per-dido a capacidade de locomoção a motor. A decisão do comandante Romildo foi sábia: esperar o dia clarear e improvisar uma mastreação, com a vela pre-sa ao pau do spinakker, para ten-tar chegar a Rio Grande. Uma hora e meia depois de ter comu-nicado isso ao filho, ele curvou o corpo sob o leme e, sem nenhum aviso, caiu duro no cockpit, ful-minado por um ataque cardíaco.

Ninguém sabia que Romildo era cardíaco, nem ele deveria sa-ber que o contato com a água ge-lada comprime as artérias e au-menta barbaramente o risco de infarto. Mas, agora, isso pouco im-portava. Ele estava morto, den-tro do barco, e nem o filho nem o amigo podiam sequer parar de tirar água de dentro da cabine, para não terem o mesmo destino.

Era a luta pela vida, com a morte bem explícita ao lado. Uma situação angustiante, para não dizer traumatizante.

Mesmo assim, Newton juntou forças para manter o barco à tona até a manhã seguinte, como seu pai dissera que fariam. Quando amanheceu, ele concluiu que o Vagabundo estava cerca de

dez milhas da praia do Cassino e resolveu mudar os planos originais do pai. Fez, sim, o mastro improvisado, mas mu-dou o destino do barco: em vez de retornar a Rio Grande, arremessaria o veleiro de encontro à praia. Por dois motivos: isso abreviaria o sofrimento de ter que navegar com o cadá-ver do pai ao lado e porque se lembrara que ele sempre di-zia que gostaria de morrer no mar, mas o Vagabundo, que ele mesmo construíra, teria que morrer junto, porque não deveria ser de mais ninguém. Arremessar o barco na praia era a última coisa que qualquer comandante faria. Mas, na-quela situação, era o melhor a ser feito. E Newton fez.

Apesar da manobra suicida, o Vagabundo chegou in-teiro, até encalhar na areia. Newton e o amigo baixaram o corpo de Romildo para a praia, que já reunia alguns curio-sos, e pediram para chamar a polícia. Na manhã seguinte,

o Vagabundo já não passava de escom-bros espalhados na beira da praia, depois de ter sido esquartejado, a golpes de ma-chado, pelos saqueadores de barcos, du-rante a madrugada. Mas isso agora pouco importava. Ao contrário, apenas concreti-zava a vontade do comandante Romildo, que queria acabar junto com o seu bar-co — e que, por fim, morreu como que-ria: no mar, a bordo do veleiro que tanto amava. A pedido do filho, ele foi sepul-tado ainda com água salgada no corpo.

Uma semana depois, no dia da missa de Sétimo Dia, Newton saiu da igreja e foi direto comprar outro veleiro: o pequeno Tahiti, antigo barco da família, também construído pelo comandante Romildo e que fora vendido para custear a obra do Vagabundo. E, com ele, Newton navega até hoje, guiado pelas lembranças e ensi-namentos do pai, seu eterno comandante.

Atirar o barco na praia era a última coisa que um comandante faria. Mas, naquela situação, era o melhor a ser feito. E ele fez

os dois juntosO velho Comandante Romildo e o Vagabundo, que ele mesmo construiu, morreram juntos, mas por motivos diferentes. Como, aliás, ele queria que fosse

33 anos depois, o filho de um velho velejador e capitão que morreu no mar, depois de praticamente salvar o barco de um iminente naufrágio, decide trazer à tona a verdadeira história da morte do Comandante Romildo e do veleiro Vagabundo , que tantas polêmicas geraram no meio náutico do Rio Grande do Sul, na década de 1980. O que aconteceu, segundo ele, está aqui, mais de três décadas depois

A herAnçA de um nAufrágio

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Page 35: paraná santa catarina rio grande. do sul - Revista NÁUTICA · navegação no litoral do Rio Grande do Sul Mar doce Lar A família gaúcha que transformou um veleiro em sua nova

Barcos foram feitos para a água. Portanto, é natu-ral que sofram com a umidade do meio em que vi-vem. Mesmo os barcos com casco de fibra de vidro

contêm muitos metais (cunhos, guarda-mancebos, eixos, etc. etc.) e nem todos eles são suficientemente fortes para lutar contra a nefasta combinação de água + oxigênio, os dois elementos que dão início ao processo de corrosão em qualquer material.

No caso de água salgada, a situação é pior ainda. O sal potencializa o processo de corrosão, que se manifesta até nos ambientes do barco sem contato direto com a água — bastam os efeitos da maresia ou da falta de neutraliza-ção da corrosão nas partes submersas do casco, por exem-plo. Portanto, nem sempre é apenas desleixo do dono do barco. A oxidação em ferragens de aço inox pode apare-cer até em barcos extremamente bem cuidados, porque o ambiente marinho costuma ser um agressor implacável e particularmente feroz em itens como acoplamentos de alumínio e aço inox, bastante comuns em motores e pro-pulsores, provocando estragos bem maiores do que uma simples aparência enferrujada.

Mas, se não há como impedir que a corrosão aconte-ça, há, sim, como prevenir ou, pelo menos, evitar que o problema se alastre de vez. No combate contra a prolife-

Você e seu barcoComo evitar este problemão

Foto

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CorrosãoNos barcos, não é nada fácil evitar a ferrugem e a corrosão. Mas, mesmo quando as manchas começam a aparecer, nem tudo está perdido. Veja aqui o que fazer

por OttO AquinO

2

4

Embora os dois termos sejam

largamente usados como

sinônimos — não! —, não são

a mesma coisa. Por definição,

“corrosão” é um processo que

provoca desgaste em uma

liga metálica qualquer, como,

por exemplo, o aço inox, que é

uma mistura de quatro metais

d i ferentes . Já a “ ferrugem”

designa os casos específicos de

corrosão no ferro. A rigor, barcos

de passeio nem deveriam usar

a expressão “ferrugem” (e sim

“oxidação”), porque ferro é o que

eles menos têm.

Outra confusão bastante

comum é entre os termos

“corrosão” e “oxidação”, que

t a m b é m n ã o d e s i g n a m a

mesma coisa. “Oxidação” é uma

reação química, na qual um

material ou elemento se une ao

oxigênio, formando um novo

composto — um óxido. E nem

toda oxidação gera corrosão.

E la só ocorre quando esta

reação química provoca a perda

de material de uma das partes

envolvidas.

Mas, seja “ferrugem”, “corro-

são” ou “oxidação”, o fato é que

todos eles são um problemão.

Ferrugem ou corrosão?

1A corrosão ataca mais no mar? Sim. Além do sal, o mar contém cloro natural, o que acelera

a corrosão, porque transforma a água em um eletrólito mais

eficiente, aumentando sua condutividade elétrica — e eletricidade

acentua a corrosão em qualquer metal. Isso faz com que ela avance

bem mais depressa do que na água doce.

Onde a corrosão costuma atacar mais?Nas ferragens do convés, especialmente nos guarda-

mancebos, âncora e escadinha de popa. Mas as partes

metálicas submersas, como eixos, rabetas, hélices e lemes, também

estão sujeitas à corrosão acentuada, embora com menos intensidade,

já que existem os anodos de sacrifício para evitar isso.

Aço inoxidável também oxida?Sim, dependendo da qualidade do aço e dos cuidados do dono do barco. Alguns fabricantes usam ligas mais baratas,

que resistem menos à corrosão — daí o problema. Os aços mais recomendados são os com especificação ABNT 316, que têm alto teor de cromo e suportam bem mais o cloro do mar.

Existe receita caseira para prevenir a corrosão?Sim. Lavar bem as ferragens com água e sabão depois dos

passeios — tanto no mar quanto em água doce — é a mais

simples e eficiente maneira. O polimento com cera também blinda

bem contra a corrosão nos metais. Mas — atenção! — não use cloro

nem água sanitária neles, porque isso só aumenta o problema.

Em qual estágio a ferrugem ainda tem cura?Bem antes de perfurar as partes afetadas. Se a ferrugem

atacar eixos e propulsores, é bem provável que o

funcionamento deles já esteja comprometido — portanto, tarde

demais. Na maioria das peças de aço inox, basta um simples

polimento para resolver o problema. Já parafusos enferrujados devem

ser trocados, porque não vale a pena tentar salvá-los.

3

5

As cinco dúvidas mais comuns que quase todo mundo tem sobre este eterno problema

Bê-á-Bá da corrosão

ração da corrosão, o melhor remédio costuma ser o mais simples e o mais caseiro de todos: sempre lavar bem o bar-co e as ferragens com água e sabão depois dos passeios (es-pecialmente no mar), além de polir regularmente as par-tes mais suscetíveis à corrosão com cera náutica. Outro recurso muito útil é manter sempre em dia os anodos de sacrifício, que, como o próprio nome diz, existem para se oxidar no lugar das partes mais nobres do barco.

Vale tudo nesta guerra contra um inimigo que corrói tudo nos barcos. Até a paciência dos donos.

68 NáutiCa sul NáutiCa sul 69

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Você e seu barco

No aço iNox

Em cunhos,

guarda-mancebos,

escadinhas e

ferragens em

geral, use gel à

base de ácido

nítrico, que elimina

o óxido do inox. Os

melhores são os

das marcas Avesta

e Amazônia.

Primeiro, lave bem

a peça com água

e sabão. Depois,

dilua o gel em

um recipiente,

com um pouco

d’água e aplique

a solução. Deixe

agir por uns 15

minutos, esfregue

novamente

com sabão e

enxágue. Pronto:

o metal voltará a

brilhar. Mas, para

protegê-lo contra

futuros pontos de

oxidação, use cera

náutica polidora,

com frequência.

Nas

ferrageNs

Quando a limpeza

de rotina não for

suficiente nas

peças de inox, faça

uma solução de

gesso, bicarbonato

de sódio e álcool

e aplique com

um pano. Jamais

use vinagre para

tirar manchas das

ferragens (embora

funcione!), porque

deixa as superfícies

pegajosas e isso

aumenta a aderência

do sal do mar.

Na fiação

Use apenas fios de

cobre estanhados e

certificados, que não

corroem. Se eles

forem protegidos

apenas por capinhas

de plástico, “pinte”

os terminais com

borracha líquida,

para vedar contra a

umidade. E nunca

deixe fios expostos

ao sol, porque

isso os resseca e

facilita a entrada de

umidade, gerando

corrosão futura.

No porão

Sempre esgote

toda a água do

porão e jamais

deixe objeto algum

molhado dentro

dele, mesmo que

apenas úmido. Além

disso, mantenha

portas, gaiutas

e vigias sempre

abertas quando o

barco estiver fora

de uso, para ventilar

— e secar bem — os

ambientes internos.

No paiNel

Barcos nunca estão

livres de respingos

de água no painel

— seja da chuva ou

dos borrifos durante

a navegação. Para

evitar infiltrações

e problemas de

corrosão nas fiações

e terminais, cheque

constantemente

a vedação das

borrachas do painel

e dos instrumentos.

Na lavagem

Após lavar o

casco, seque o

barco inteiro. Até

as porcas, mesmo

as de inox, estão

sujeitas à corrosão,

se ficarem molhadas

por muito tempo.

Deixar o barco secar

ao sol não é uma

boa ideia.

Nas baterias

Baterias emitem gases

corrosivos e, como

costumam ficar nos

porões dos barcos,

vivem sujeitas a

contatos com a água.

Sempre evite que isso

aconteça. O certo é

colocá-las em locais

arejados e protegidos

da água.

No motor

de popa

Após “adoçar” o

motor com água

limpa, pulverize

silicone nos seus

mecanismos

internos. Ele protege

que é uma beleza.

Nas coNexôes

Use micro-óleos ou

graxas (mas não

as corrosivas!) em

todas as conexões

de partes metálicas

e elétricas. E faça

isso periodicamente.

Lavou o barco? Seque cada cantinho. Especialme nte os parafusos, que corroem com muita facilidade

onde ela costuma atacarAlgumas dicas para deixar o barco mais protegido contra a corrosão

Nos

parafusos

Mesmo nos

parafusos de

aço inox, aplique

selantes especiais,

como Sikaflex,

para mantê-

los isolados da

umidade. Lembre-

se: parafusos

enferrujam fácil, fácil.

Na correNte

elétrica

A fuga de corrente

elétrica para

partes metálicas

submersas do casco

pode dissolver

rapidamente

qualquer metal.

Desconfie,

portanto, se algum

equipamento

elétrico parar

de funcionar

repentinamente.

Page 37: paraná santa catarina rio grande. do sul - Revista NÁUTICA · navegação no litoral do Rio Grande do Sul Mar doce Lar A família gaúcha que transformou um veleiro em sua nova

Você e seu barco

alguns produtos que podem evitar... ...e os que apenas ajudam a tratar

Nxt geNeratioN

Polidor automotivo

com um poderoso

abrasivo, que dá

brilho às peças

metálicas poucos

minutos depois de

aplicado. Além disso,

forma uma película

protetora e, o que é

melhor ainda, retira

todos os pontos

superficiais de

ferrugem.

Wurth metal

polish

Outro polidor, embora

mais líquido. Trata bem

os metais, formando

uma camada

protetora. Mas o

resultado é melhor nos

cromados, pois não

deixa as peças com

aspecto azulado, como

acontece no alumínio.

Komatherm 600

Protetor fabricado

pela Brascola, que

garante boa proteção

aos metais, desde

que aplicado com

regularidade — como

os demais produtos

do gênero, por sinal.

Sua secagem leva

cerca de uma hora,

mas a proteção dura

quase duas semanas.

corrosioNx hd

Produto bem

eficiente, porque

estabiliza a corrosão

— algo raro, já que é

bem difícil conter este

processo depois de

iniciado. Costuma ser

aplicado em carretas

náuticas, que sofrem

um bocado com o

contato constante

com a água.

graxa braNca

Ao contrário da

tradicional graxa

preta, é impermeável

e oferece alguma

proteção contra

o surgimento de

corrosão em partes

metálicas. Mas resseca

rápido, não isola

completamente a

superfície da umidade

nem dura tanto

quanto os produtos

específicos.

Wd-40

Além de soltar peças

enferrujadas com

facilidade, serve como

preventivo contra

a corrosão. Ou seja,

dispensa outro produto

para proteger a peça,

depois de soltá-la

para reparos. Mas tem

cheiro forte e muitos

navegadores suspeitam

que resseque as

borrachas — embora o

fabricante afirme que

isso não acontece.

boat shiNe

Destrava e desenferruja

rapidamente peças de

metal, além de lubrificá-

las. Mas não previne

contra a ferrugem

futura e cheira a óleo

de cozinha velho.

Em compensação, o

fabricante jura que ele

não danifica plásticos

nem borrachas, se

atingidos pelos borrifos.

Óleo

Nautispecial

Solta peças enferrujadas

facilmente e é bom,

também, para lubrificar

e eliminar a ferrugem

que já exista nelas.

O fabricante garante

que não agride outros

materiais. Seu odor é

bem mais agradável

que o dos concorrentes,

o que o torna

especialmente indicado

para uso dentro das

cabines dos barcos.

limpa costado

Nautispecial

Este produto promete

remover manchas de

ferrugem escorridas

em cascos de fibra de

vidro. Deve ser aplicado

diretamente sobre a

superfície afetada e,

depois, enxaguado com

água doce. Depois, uma

camada de cera náutica

líquida, para proteger

de futuras oxidações,

também cai bem.

semoriN

Este tradicional produto,

usado por donas de casa

para remover manchas

de ferrugem das roupas

lavadas, também vai

bem nos barcos. Mas,

como é muito ácido,

pode gerar manchas no

costado, além de deixar

a superfície sem brilho,

se for usado com muita

frequência e em excesso.

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Você e seu barco

o Boi de piranha dos BarcosO anodo de sacrifício existe para enferrujar no lugar do barco inteiro

O anodo de sacrifício

é o componente

mais relevante para

a conservação de todas as

partes metálicas que ficam

debaixo d’água — como

rabetas, eixos e hélices,

por exemplo. Não fosse

ele, qualquer sistema de

propulsão teria uma vida

útil bem mais curta, por

causa da corrosão gerada

pelo contato direto com a

água. Como o seu próprio nome diz, a função

do anodo é se sacrificar pelo restante do barco: ele se

deixa corroer no lugar de peças mais valiosas, graças a

um fenômeno físico-químico chamado “galvanização”,

uma espécie de “reação” que ocorre entre dois metais

dentro d´água. Como o anodo é feito de um metal mais

“fraco”, no caso o zinco, ele corrói no lugar do outro

material com o qual estiver em contato direto.

É, portanto, um mártir. Uma espécie de boi de

piranha náutico. E fundamental em qualquer barco.

Até os veleiros precisam dele, pois, no caso de falta de

aterramento do mastro (que quase sempre é de metal),

a oxidação pode se estender a outras ferragens,

como os guarda-mancebos e as gaiutas. Para evitar

isso, é preciso que mesmo as partes metálicas “secas”

estejam conectadas a uma placa de metal no fundo do

casco e esta a um anodo.

A rigor, a durabilidade do anodo depende do tempo

em que o barco ficar na água. Mas, em rios e represas

de água doce, a velocidade da corrosão dele é mais

lenta do que no mar. De qualquer forma, quando a

corrosão atingir a metade do anodo, sua capacidade de

proteção começará a diminuir drasticamente — e será a

hora de trocá-lo por um novo. Na média, o anodo deve

ser verificado a cada seis meses e trocado uma vez por

ano — ou quando a corrosão atingir 60% de sua área.

Mas não é nada que exija um grande investimento, já

que um anodo custa pouco. Mas, atenção: o anodo

jamais deve ser pintado, porque a tinta impedirá a

galvanização deste poderoso combatente da oxidação e

que só existe para enferrujar mesmo.

Se a oxidação já corroeu 60% do anodo do motor, é hora de trocá-lo por um novo. Senão, a ferrugem tomará conta do barco inteiro

incêndios são a causa número 1 da perda de barcos. e eles quase

sempre têm origem na parte elétrica. veja aqui onde mora o perigo a bordo

shu

tt

er

sto

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Com fios Não se briNCa

Você e seu barcoVocê e seu barcoVocê e seu barco

InfIltração dE água no paInElBarcos com comando aberto nunca estão livres de respingos d’água

— seja na navegação ou na lavagem do casco. E esse contato com a

água pode gerar pontos de ferrugem nas conexões das fiações, além de

comprometer a durabilidade dos cabos. A única maneira de evitar isso

é checar periodicamente as vedações de borrachas no painel e, no caso

de vazamento crônico, não molhá-lo demais ao lavar o barco.

tErmInaIs E conExõEs Em mau Estado

O “coração” das instalações elétricas são os terminais e as conexões,

principalmente da bateria. Se eles estiverem frouxos, podem superaque-

cer e derreter os cabos. Para evitar isso, faça um check-up completo,

tanto na fiação quanto nos seus complementos, uma vez por ano.

EquIpamEntos Em contato com a água

O inversor deve ficar sempre o mais próximo possível das

baterias, para evitar quedas de tensão. Porém, é importante também

instalá-lo sempre o mais alto possível no porão, para evitar contato

com a água que ali empoça, o mesmo valendo para qualquer outro

equipamento elétrico. Energia e água não combinam!

EquIpamEntos quE não dEslIgam

Se o seu barco tiver guincho elétrico ou bow thruster, verifique

periodicamente o estado do sensor de acionamento desses

equipamentos. Como esses aparelhos consomem altas correntes, a

quebra do sensor pode fazer com que eles funcionem ininterruptamente,

sem você perceber. E isso gera superaquecimento na fiação.

Instalar EquIpamEntos dIfErEntEs

Certifique-se de que o automático das bombas é compatível com a cor-

rente elétrica. Instalar um modelo errado pode fazer com que a bomba

não funcione na hora em que você mais precise dela. Da mesma forma,

tome cuidado com certos acessórios, como forno micro-ondas e secador

de cabelos, que puxam bastante energia e podem superaquecer a fiação.

Sobrecargas e maus contatos são prenúncios de tragédias

gamBiarras? nem pensar

use apenas fios de cobre estanhados e certificados, para evitar corrosão.

sele os terminais e as pontas dos fios com silicone, para vedar a entrada de ar entre o cobre e o plástico que reveste os cabos.

os terminais dos cabos da bateria de-vem ser prensados e não soldados. A sol-da enrijece os cabos, tornando-os sujeitos a quebras.

use disjuntores termomagnéticos, que protegem contra sobrecargas e curtos. Mas, atenção: há disjuntores que não fun-cionam em correntes contínuas.

Fusíveis em circuitos de alta corrente costumam criar quedas de tensão. Se isso acontecer com baterias fracas, pode dificul-tar a partida do motor.

Para não tombar com o balanço do bar-co, a bateria deve ser bem presa, mas com cintas ou cabos que não contenham par-tes de metal.

em hipótese nenhuma, qualquer fiação deve passar perto de alguma mangueira de combustível.

A fiação deve ser fixada a cada 25 centí-metros ao longo do casco. Mas não muito esticada, para não romper com os trancos, o que é bem frequente nos barcos.

NáutiCa sul 75

causa da corrosão gerada

arcos

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ClassificadosLANCHAS

Trawler San Marino. R$1.700.000,00. Tel. 41/9967.1948 c/ Jackson

Focker 255. 2008. Yamaha, 4T, 225 HP. R$ 115 mil, Tel. 11/98204.1237 — Crhohl

Phantom 500 HT. 2012. Volvo IPS 60. R$2.300.000,00. Tel. 21/98107.2171 c/ Asgvenda

Ventura V195. 2012.R$ 59.500 mil. Yamaha F90 HP 4T. São Paulo. Tel. 11/94701.8944 c/ Eduardo Rossi

DM 26 cabinada. 1985. R$ 85 mil. MWM VP 229/6 diesel. Tel. 12/99144-5188 c/ Eden

Segue 40 com fly. 2011. 2 volvos Diesel eletrônicos de 370 hp. R$ 1 milhão. Tel. 21/99518.5048 c/ Celio

Eagle 18. 1991. Mercury 90 Optimax. R$ 30 mil. Tel. 11/7836.9029 c/ Manuel

Jet Boat. 1994. Mercury Sport Jet. 90HP. R$ 15 mil. Tel. 19/3233.3776 c/ Anisio

Phantom 290. 2004. Mercruiser 1.7. R$ 200 mil. Tel. 24/98817.3000 c/ Marcos Freitas

Offshore Cigarette. 1989. 2 2 2 2 2 motores Volvo Penta AQAD 41. R$ 190 mil. Tel. 11/ 97539.2842 c/ Arquimedes

Phantom 500 Fly. 2008. Volvo Volvo 575hp. R$ 1.800.000,00. Tel. 21/99159.4285 c/ Fabio

Phantom 235. 1998. Evinrude 225 HP. R$ 40 mil. Tel. 11/3872.8647 c/ João

FS 275 Concept. 2013. Mercury 300 HP. R$ 220 mil. Tel. 51/9334.3876 c/ Gelemos

Magnum 40 Plus. 2007. 2 x Volvo Penta KAD 44 de 260hp cada. R$ 300 mil. Tel. 19/99784.0155 c/ Aizer

Colunna 325. 2011. 2 x Volvo D3-220 DPS — Diesel (220 HP). R$ 450 mil. Tel. 11/99779.4579 c/ Eduardo

Sedna SF 38 2004. 2 X Mercedes 400 HP cada. R$ 599 mil. Tel. 47/9976.4757 c/ Daniel

Focker 222. 2005. Evinrude E-Tec 250HP. R$ 63.500,00. Tel. 11/7002.1958 c/ Adriano

Ventura V 330. 2014. 2 motores Mercruiser 5.7 300 Rabeta Bravo III. R$ 435 mil. Tel. 11/99693.5944 c/ Marcio

Ventura 195 Comfort. 2008. Mercury Optimax 135. R$ 59 mil. Tel. 19/99928.2288 c/ Eduardo

Striker - Real Power Boats. 1994. Mariner 225 HP. R$ 25 mil. Tel. 21/99998.6082 c/ Wilson

Solara 31. 2012. Motor Mercury.R$ 360 mil. 20 horas de uso. Tel. 16/99602.7287 c/ Danielly

Jet Boat Challenger. 2010. 430 hp. R$ 140 mil. Tel. 11/3052.0344 c/ Cavalo de Fogo

Lancha toda revisada e pronta para uso. 2004. 2 mwm. R$ 200 mil. Tel. 71/8836.9896 c/ Fernando

Focker 222. 2007. R$ 49 mil. Motorboat. Tel. 11/94878.5307 c/ Daniela

Focker 205. 2013. Mercury Pro XS 115 HP. R$ 78 mil. Tel. 21/2610.0337 c/ Nathanael

Phantom 300. 2010. Dois motores Volvo D3 200.R$ 310 mil. Tel. 21/99858.7618 c/ Rodrigues

Tecnomarine 40.1992. 2 Volvo 480HP. R$ 300 mil. Tel. 11/2480.4448 c/ Francisco

Axtor 46. 2010. Volvo Penta D6 (370HP cada). R$ 750 mil. Tel. 11/99964.4366 c/ Guilherme

Beneteau GT 38 Francesa. 2010. 2 x Volvo D4 Diesel 300 hp. R$ 800 mil. Tel. 11/99602 5297 c/ Thomas

Focker 200. 2008. Mercury Optmax 150 hp. R$ 58 mil. Tel. 16/98107.2407 c/ Rainer

Angra 30. 1995. 2 x 200HP Yamaha. R$ 75 mil. Tel. 51/9113.5032 c/ Rubem Andrade

Cobra 32 Monte Carlo. 1985. Mercedes Benz 200 hp. R$ 70 mil. Tel. 41/9953. 6924 c/ Raul

Floripa 160. 2012. Yamaha 60 HP.R$ 35 mil. Tel. 41/9621.2413 c/ Rodrigo

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www.interyachts.com.brSão Paulo: 11 4116-7007 | Guarujá: 13 3354-5861 | Curitiba: 41 9973-5462

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Spirit Ferretti 40Caterpillar modelo 3116 de 420hp

ESTOQUE INTERYACHTS

Intermarine 60Volvo Penta modelo D12 de 900hp

ESTOQUE INTERYACHTS

55 Offshore3 Mercedes 447 720hp

ESTOQUE INTERYACHTS

Yacxo 3372 Mercriser 200hp DieselESTOQUE INTERYACHTS

76 Náutica Sul

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PARANÁ AN TO NI NA

• Clu­be­Náu­ti­co­de­An­to­ni­naTel. 41/3432-1331 www.nautico-online.com.br

CAIOBÁ

• ­Ia­te­Clu­be­de­Cai­o­báTel. 41/3452-1545 www.icc.org.br

• Marina­BaliTel. 41/3473-5174/99742209

GUARATUBA

• ­Porto­Marina­GuaratubaTel. 41/3472-1624

• Iate­Clube­de­GuaratubaTel. 41/3442-1535/3222-6813 www.iateguaratuba.com.br

• Marina­do­SolTel. 41/3442-1178 [email protected]

•­­Marina­GuarapescaTel. 41/3472-3791 www.marinaguarapesca.com.br

• Marina­Vela­MarTel. 41/3442-1909

• Porto­EstaleiroTel. 41/3472-2609 www.portoestaleiro.com.br

PARANAGUÁ

• Iate­Clube­de­ParanaguáTel. 41/3422-5622

www.icpgua.com.br

www.icpgua.com.br

• Marina­Velho­MarujoTel. 41/3424-4672 [email protected]

• Marlim­Azul­Marina­ClubeTel. 41/3422-7238

• Porto­Marina­OceaniaTel. 41/3423-1831 portomarinaoceania­@yahoo.com.br

PONTAL DO SUL

• ­Cond.­Náutico­Ilha­do­MelTel. 41/3455-1580

• Cond.­NáuticoIlhas­do­SulTel. 41/3455-1380

• Iate­ClubePontal­do­SulTel. 41/3455-1145/3264-1153

• Marina­AragãoTel. 41/3455-1392

• Marina­Central­NáuticaTel. 41/3455-1528

• ­Marina­LagamarTel. 41/3455-2187 marinalagamar.com.br

• Marina­Las­PalmasTel. 41/3256-1709

• ­Marina­Quebra-MarTel. 41/3455-1222

• ­Marina­Sete­MaresTel. 41/3455-2177

• Marina­Vale­do­SolTel. 41/3455-2282 [email protected]

• Ponta­do­PoçoTel. 41/3455-1450

• Porto­MarinaMares­do­SulTel. 41/3455-1447 www.marinamaresdosul.com.br

SAN TA CA TA RI NA

BIGUAçU

• Marina­Pier­33Tel. 48/3285-3333

• Marina­Terra­FirmeTel. 48/3285-1524 www.marinaterrafirme.com.br

• Marina­3­MaresTel. 48/3243-1199 www.marina3mares.com.br

BOMBINHAS

• ­Marina­ArvoredoTel. 47/3393 4653

• Marina­Canto­GrandeTel. 47/3393-3227

CAMBORIÚ

• ­Ia­te­Clu­be­de­Cam­bo­riúTel. 47/3367-0452

• ­Jet­Point­(só­jets)Tel. 47/3361-0294 www.jet­point.com.br

• Ma­ri­na­By­Den­te (só­jets) Tel. 47/3366-3114 www.byden­te.com.br

• Ma­ri­na­Cam­bo­riúTel. 47/3367-3699

• Ma­ri­na­Oce­a­noTel. 47/3366-8564www.marinaoceano.com.br

• Ma­ri­na­Off­Sho­reTel. 47/3361-0765

• Ma­ri­na­VipTel. 47/3361-9393ma­ri­na@so­nau­ti­ca.com.br

• ­Te­des­co­Ma­ri­naTel. 47/3361-1420www.te­des­co­ma­ri­na.com.br

• ­­Vi­la­Ma­ria­Ma­ri­na­Clu­beTel. 47/3361-4721lo­bo­do­marsc@ter­ra.com.br

FLORIANÓPOLIS

• ­Ia­te­Clu­be­deSanta­CatarinaTel. 48/3225-7799www.icsc.com.br

• La­goa­Ia­te­Clu­beTel. 48/3232-0088www.lic.org.br

• Marina­da­ÂncoraTel. 48/3269-6356

• Marina­Barra­da­LagoaTel. 48/3232-4657

• Ma­ri­na­Blue­FoxTel. 48/3369-0185

• Ma­ri­na­da­Con­cei­çãoTel. 48/3232-1297

• Ma­ri­na­da­CroaTel. 48/3266-1980 www.marinadacroa.com.br

• Ma­ri­na­ClubTel. 48/3284-5080

• ­Ma­ri­na­do­CostãoTel. 48/9972-2143www.costaogolf.com.br

• Ma­ri­na­FortalezaTel. 48/3232-3296

• ­Ma­ri­na­Gua­ráTel. 48/3232-9614

• ­Ma­ri­na­ItaguaçuTel. 48/3348-7084

• ­Ma­ri­na­da­La­goa/Pro­Náu­ti­caTel. 48/[email protected]

• ­Ma­ri­na­Ma­rinaTel. 48/3235-2418www.ma­ri­na­marina.com.br

• Ma­ri­na­Pon­ta­da­Areia­(Fe­do­ca)Tel. 48/3232-0759www.chef­fe­do­ca.com

• Ma­ri­na­Ponta­Norte Tel. 48/3284-1558

• Ma­ri­na­Recanto­da­LagoaTel. 48/3232-2260

• Ma­ri­na­Ribeirão­da­IlhaTel. 48/9925-9188

• Marina­Santo­AntônioTel. 48/3233-0009www.marinasantoantonio.com.br

• Marina­Sea­EscapeTel. 48/3248-3596www.seaescape.com.br

• Marina­Verde­MarTel. 48/3232-7323www.marinaverdemar.com.br

GOv. CeLSO RAMOS

• Marina­São­SebastiãoTel. 48/3262-7414www.marinasaosebastiao.com.br

ITAjAí

• ANITel. 47/9146-2020

www.culturanautica.org.br

ITAPeMA

• Marina­do­GalegoTel. 47/3368-3474

jOINvILLe

• CN­Porto­do­SolTel. 47/3427-2143www.centronauticoportodosol.com.br

• Ia­te­Clu­be­Boa­VistaTel. 47/3433-4429

• Joinville­Iate­ClubeTel. 47/3434-1744www.joinvilleiateclube.com.br

• Marina­das­Garças Tel. 47/3467-3801 www.marinadasgarcas.com.br

• Nass­MarinerTel. 47/3427-4915

• SociedadeRecreativa­MarbiTel. 47/3437-4124

LAGUNA

• I.C.­LagunaTel. 48/3644-0551

PIçARRAS

• Marina­ParkTel. 47/3345-0338www.marinaparksc.com.br

POR TO Be LO

• CN­Por­to­Be­loTel. 47/[email protected]

• IC­de­Por­to­Be­loTel. 47/3369-4333

• Ma­ri­na­Atlân­ti­daTel. 47/3369-5665

• Ma­ri­na­Cos­ta­Man­saTel. 47/3369-4760ma­ri­na­cos­ta­man­[email protected]

• Ma­ri­na­Por­to­Be­loTel. 47/3369-4570

• Ma­ri­na­Porto­do­RioTel. 47/3369-4000www.marinaportodorio.com.br

SÃO FRANCISCO DO SUL

• Capri­Iate­ClubeTel. 47/3444-7247www.capriiateclube.com.br

• Clube­NáuticoCruzeiro­do­SulTel. 47/3444-2493

• Iperoba­Hangaragem­NáuticaTel. 47/9922-0070

• Marina­NautilusTel. 47/3444-7172www.marinanautilus.com.br

Marinas e Iates Clubes

78 Náutica Sul Náutica Sul 79

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Marinas cruzadas Náuticas

Respostas­na­página­80

RIO GRANDe DO SUL

OSÓRIO

• ­Fa­zen­da­Pon­talTel. 51/9971-1793www.fa­zen­da­pon­tal.com.br

• La­goa­da­Pin­gue­laIate­ClubeTel. 51/3628-8080www.pin­gue­lai­a­te­clu­be.com.br­

PeLOTAS

• Veleiros­Saldanha­da­GamaTel. 53/3225-5399www.veleirossaldanhadagama.com.br

PORTO ALeGRe

• Clu­be­dos­Jan­ga­dei­rosTel. 51/3268-0080www.jan­ga­dei­ros.com.br

• Ia­te­Clu­be­Guaí­baTel. 51/3268-0397www.ia­te­clu­be­guai­ba.com.br

• Marina­SulTel. 51/3203-1944www.marinasul.com.br

• Marina­da­CongaTel. 51/9899-2894www.marinadaconga.com.br

• Marina­das­FloresTel. 51/3203-2002www.marinadasflores.com.br

• Marina­RefúgioTel. 51/3243-4703

• Marina­do­LessaTel. 51/9967-3036

• Marina­Ilha­BelaTel. 51/3211-7551

• Marina­Porto­30Tel. 51/3022-3217

• Marina­Vitória­RégiaTel. 51/3211-7938

• NautiescolaTel. 51/3203-2177www.nautiescola.com

• Píer­340Tel. 51/3264-6800www.pier340.com.br

• Porto­Alegre­Boat­ClubTel. 51/9956-1033www.portoalegreboatclub.com.br

• Sava­ClubeTel. 51/3269-1984www.savaclube.com.br

• ­Veleiros­do­SulTel. 51/3265-1733www.vds.com.br

TAPeS

• Clu­be­Náu­ti­co­Ta­pen­seTel. 51/3672-1209www.nauticotapense.com.br

RIO GRAN De

• Rio­Gran­de­Yacht­ClubTel. 53/3232-7196www.rgyc.com.br

SÃO LOUReNçO

• Iate­Clube­São­Lourenço­do­SulTel. 53/3251-3606www.icsls.com.br

vIAMÃO

• Clube­Náutico­ItapuãTel. 51/3494-1355www.clubenauticoitapua.com.br

Você eNteNde de mar?

elab

orad

as p

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a.co

m.b

r

1 Apêndice afilado da quilha, existente em embarcações de uma só hélice, em que o leme tem de girar afastado do cadaste, com o pé da madre apoiado

nesse apêndice • 2 A continental é a parte do relevo submarino próximo ao litoral, de largura variável e com profundidade média de 200 m • 3 (Náut.) Cada

uma das velas auxiliares quadrangulares usadas em vento largo e em bom tempo por navios de vela • 4 A capital mineira, com a famosa lagoa da Pampulha

• 5 Tubo para descarregar os resíduos da combustão do motor de combustão interna • 6 violento vórtice de vento • 7 Cidade paranaense da região de

Paranaguá, no sul do estado, divisa com Santa Catarina • 8 Terreno pantanoso das margens de lagoas e desaguadores de rios; constitui a base da cadeia

alimentar dos oceanos • 9 Bandeirola de uma ou duas pontas para sinalizações ou para ser usada como emblema • 14 Conjunto de cabos usados para

prender uma embarcação • 15 Toucinho frito em pequenos pedaços • 20 (Fig.) Aumento grande e súbito • 21 Profundidade • 22 Ancorado • 24 estrado para

carga e descarga • 26 Pequeno barco, robusto, de duas proas, usado para serviço nos portos, praticagem e pesca • 27 Alavanca de marchas de um veículo.

1 A construção que permite a passagem de uma margem a outra sobre um curso de água • 3 Ato de dar a pressão de ar

adequada a um pneu ou câmara de ar • 6 País da Oceania cuja capital é Nuku’alofa • 10 Tornar a preencher (bateria, dispositivo eletrônico etc.) com o que

é indispensável ao seu funcionamento • 11 Representação gráfica da direção de uma embarcação na carta náutica • 12 Peixe das águas tropicais, com cerca

de 1,5 m de comprimento, de corpo prateado com dorso azul • 13 O céu • 16 Dimensão vertical considerada de cima para baixo • 17 O local onde se

guardam as peças de tecido de uso diário • 18 O creme cosmético usado para tratar o cabelo • 19 Um processo de transmissão e reprodução do som

a distância, por meio de fios, cabos ou ondas eletromagnéticas • 23 Material usado para montagem de caixas, capas de livro, pastas etc. • 25 Lagoa próxima

à capital alagoana, famoso ponto turístico • 28 Mecanismo usado para levantar grandes pesos • 29 Nos guindastes e outros aparelhos de força, cilindro em

que se enrola ou desenrola o cabo • 30 Grande baleia dentada encontrada em todos os oceanos e mares do mundo, de cabeça enorme e formato

quase quadrangular • 31 Aquele que põe uma canoa ou caiaque em movimento • 32 Doce de milho verde, açúcar, leite e coco, envolto nas folhas de milho.

HORIZONTAIS

VERTICAIS

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Nome deste tipo de barco

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Nome deste pequeno barco

Resposta das

CRUzADAS

Já nas bancas!

anuncio Mergulho 1_4.indd 1 26/01/2015 16:07:05

Náutica Sul 81

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“Nossa casa é um barco”

Ogaúcho Fernando Maciel e sua mulher Marta le-vam a vida que muita gente sonharia em ter: eles vivem num barco, navegando sempre que dá von-

tade, geralmente na companhia da filha, Vitória, que só agora passará um tempo em terra firme, por conta da facul-dade. Mas, por outro lado, justamente por viverem a bor-do de um barco, eles costumam ser vistos com certa perple-xidade, porque isso ainda não é algo tão comum por aqui, quanto, por exemplo, é na Europa. Por isso, já se habitua-

ram a responder a verdadeiros interrogatórios de quem ja-mais pensou que um barco pudesse virar, também, casa. “A curiosidade das pessoas sobre o tipo de vida que levamos é grande, porque elas associam barcos com riscos, mas não é nada disso”, garante Fernando, que tomou a decisão de vi-ver a bordo de um pequeno veleiro, o Planeta Água (que já está na segunda unidade e indo para a terceira), nove anos atrás e, junto com a mulher, jamais se arrependeu disso, como ele conta neste rápido bate-papo.

Nove anos atrás, o gaúcho Fernando Maciel decidiu ir morar num barco com sua família e jamais se arrependeu disso. Muito pelo contrário

1 2 3“‘Não é perigoso?’ quase sempre é o

primeiro comentário, porque as pessoas

associam o mar com tempestades,

naufrágios etc. e tal, e ignoram a liberdade

que viver em um barco traz. Você pode ir

mudando de lugar, mas sempre levando

a sua casa junto, o que nenhuma casa

convencional permite. Depois, quase

sempre as pessoas querem saber como

conseguimos viver no espaço tão pequeno

de um barco. Mas, quando ficam sabendo

que ele tem sala, cozinha, banheiro e três

‘quartos’, se surpreendem, apesar de o

nosso veleiro ter apenas 12 metros de

comprimento. Para ajudá-los a entender

melhor como é a vida a bordo de um

barco, costumo fazer analogia com um

motor-home. Explico que um barco é como

um motor-home na água. E esta tem sido

a nossa ‘casa’ nos últimos nove anos. A

melhor casa que já tivemos, por sinal.”

“Acha que somos malucos... (rindo).

É que, além de serem leigos no assunto,

como praticamente todo mundo, ainda

se preocupam bastante com a nossa

segurança, o que é natural em qualquer

família. Mas, se eles experimentassem a vida

num barco e vissem como ela é divertida

e tranquila, talvez também não quisessem

mais voltar para terra firme, como aconteceu

comigo e com a Marta. Quando estamos

no Planeta Água, praticamente todos os

dias saímos para passear em praias e

ilhas, que, de outra forma, talvez sequer

conheceríamos. Não existem segundas-feiras

para quem mora num barco, embora a rotina

da manutenção a bordo seja constante, o

que me leva a trabalhar bastante.

Mas no ambiente que eu gosto. Muitas

pessoas sonham com uma vida assim, mas

poucas têm coragem de perseguir o sonho

até o fim. Nós fizemos isso.”

“Sim, como todo mundo, embora,

talvez, já estejamos vivendo o futuro de

muita gente. Queremos trocar o nosso

barco por outro um pouco maior, de 41

pés, tamanho que oferece mais espaço e

conforto, mas ainda permite ser navegado

por apenas duas pessoas, e ir navegando,

sem pressa, até o Caribe, onde queremos

ficar um tempo, parando de ilha em ilha.

Talvez no final deste ano já consigamos

trocar de barco, mas não temos pressa

alguma em partir, porque, do jeito que está,

já está bom demais. Nosso barco está em

uma marina de Angra dos Reis e é nela que

moramos. Por enquanto... Entre esperar a

velhice chegar para tentar realizar nossos

sonhos e correr atrás deles bem antes

disso, optamos pela segunda opção. E não

nos arrependemos nem um pouco da

decisão de ter trocado nossa casa por um

barco, nove anos atrás.”

O que as pessoas dizem quando vocês falam que moram num barco?

E o que o restante da família acha disso?

Vocês têm planos para o futuro?

ar

qu

ivo

pe

sso

al

3 perguntas

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