Parassubordinação e Tutela Ao Trabalhador Atípico_ Os Dilemas Do Direto Do Trabalho Em Tempos de Globalização - Trabalho - Âmbito Jurídico

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    Trabalho

    Parassubordinao e tutela ao trabalhador atpico: Os dilemas do Direto do Trabalho emtempos de globalizaoCintia Mirna Arajo Vieira

    Resumo: O novo paradigma produtivo, conh ecido como toyotismo o u p s-fordismo, aliado ao fenmeno da globalizao ec onmica trouxe sensveis transformaes ao

    mundo do trabalho. As empresas no mais se estruturam em torno do modelo taylorista/fordista de pro duo. No h mais o c ontrole efetivo e direto do ambiente de

    trabalho. A precarizao das relaes de trabalho ganha espao. Surgiram novas formas de prestao de servios, fruto da reestruturao produtiva empresarial, em

    busca de reduzir os c ustos e aumentar os lucros, onde a subordinao no atua mais de forma efetiva e direta, encontrando-se mitigada e d iluda. O c onceito clssico

    de subo rdinao, no alcana essas novas formas surgidas, pois se apresentam fronteirias, situadas entre o trabalho subordinado e o trabalho autnomo. Essas novas

    relaes de trabalho parassubordinado desenvolvem-se e ganham importncia cada vez maior na nova realidade laboral, caracterizando-se pela prestao de trabalho

    desenvolvido por pessoa fsica, com pessoalidade, onerosidade, continuidade e coordenao. O chamado trabalhador atpico enc ontra-se, dessa forma, merc do

    entendimento do julgador, j que no e xiste uma legislao que trate especificamente do assunto. O Direito do Trabalho n o pode ignorar a existncia de tais

    relaes, pois esc aparia sua finalidade: a proteo ao obreiro enquanto parte mais fraca da relao entre c apital e trabalho. O p resente trabalho realizou um estudo

    acerca da possibilidade da adoo do c onceito de parassubordinao (oriundo da doutrina italiana) pelo o rdenamento jurdico brasileiro, a partir de uma nova leitura

    do artigo 3 da CLT, como forma de efetivar a tutela jurdica ao chamado trabalhador atpico. Assim, diante dessa nova realidade, torna-se premente a valorizao do

    trabalho humano, para que seja possvel a efetivao do direito ao trabalho digno.[1]

    Palavras-chave: Direito do Trabalho. Subordinao. Parassubordinao.

    Abstract: The new production paradigm known as Toyota or po st-Fordism, coupled with the phenomenon of economic globalization have brou ght about c onsiderable

    changes to the world of work. Companies no longer structu red around the Taylorist / Fordist production. No more effective control and direc t the wo rk environment.

    The precariousness of labor relations gaining ground. New forms of service, the result of corpo rate restructuring proc ess, seeking to reduce c osts and increase profits,

    where the subo rdinate does not act more effectively and directly, being watered and watered. The classical conc ept of subordination does no t reach these new forms

    have arisen bec ause the present bo rder, situated between paid work and self-employment. These new working relationshipsparassubordinadodevelop and gain

    increasing importance in the new reality of labor, ch aracterized by the p rovision of work by individuals with personality, financial burden, continuity and co ordination.

    The so-called atypical workers is thus at the mercy of understanding of the judge, since there is no legislation dealing specifically with the issue. The Labor Law can

    not ignore the existence of such relations because esc ape its purpose: the protec tion of the worker as the weaker of the relationship between capital and labor. This

    paper conducted a study on the possibility of adopting the concept of parassubordin ao(coming from the Italian doctrine) by the Brazilian legal system, from a new

    reading of Article 3 of the Labor Code as a means of effecting legal protection to so-called atypical workers. So, before this new reality, it is urgent for recovery of

    human work, to make possible the realization of the right to decent work.

    Keywords:Labor Law. Subordination. Parassubordinao.

    Sumrio:1. Introduo. 2. O surgimento do direito do trabalho. 2.1. Evoluo da tutela jurdica ao trabalho. 2.1.1. O caso brasileiro: evoluo da tutela ao trabalho no

    pas. 2.2. Princpios do Direito do trabalho. 2.3. Dignidade da pessoa humana e Direito do Trabalho: o direito ao trabalho digno. 2.4. Organizao da produo: dofordismo-taylorismo ao ps-fordismo. 2.5. Globalizao e flexibilizao trabalhista. 3. Subordinao trabalhista . 3.1. Relao de trabalho e relao de emprego:

    elementos caracterizadores. 3.2. Subordinao jurdica: conceito e c aractersticas. 3.3. A c rise do modelo clssico de subordinao jurdica. 3.4. Distines entre o

    trabalho subordinado, o trabalho parassubordinado e o trabalho autnomo. 4. Parassubordinao. 4.1. Conceito e caractersticas. 4.2. Princpios trabalhistas e

    parassubordinao. 4.3. A parassubordinao c omo ponto de identificao da insero estru tural do ob reiro na dinmica do tomador de servio. 4.4. Tutela ao

    trabalhador atpico: a adoo da parassuboridnao como mecanismo de sua efetivao. 4.5. Parassubordinao e realidade brasileira: possibilidade de adequao do

    instituto ao ordenamento juslaboral ptrio. 5. Concluso. 6. Referncias bibliogrficas.

    1 INTRODUO

    O trabalho, entendido como o esforo racional do homem para transformar a natureza em busca de benefcios antiga, confundindo-se com a prpria evoluo

    humana. Com o deco rrer do tempo sofreu lentas transformaes, pe rdendo seu inicial carter de sano, to rnando-se meio de subsistncia e finalmente modo de

    produo.

    O Direito do Trabalho, inegvel fruto da Revoluo Industrial e do capitalismo surgiu como meio de controle desse sistema, buscando o equilbrio da relao entre

    capital e trabalho, e conferindo-lhe, conforme Delgado (2008), um patamar mnimo civilizatrio. Assim, percebe-se que dinmica social afeta diretamente as relaes

    trabalhistas, no sentido qu e lhes impe novas idias e configuraes.

    Assistimos hoje uma nova mudana de paradigmas, pois o capital reestrutura-se de forma mundial. As empresas no mais se estruturam em torno do padrofordista/taylorista de produ o, hegemnico durante quase todo o sc ulo XX. As inovaes tecn olgicas e as novas prticas de gesto empresarial, decorrentes do ps-

    fordismo (ou toyotismo, como preferem alguns), novo paradigma produtivo surgido no final dos anos 1980, demonstram que mundo do trabalho de hoje bem diferente

    daquele no qual foi concebida a maioria das leis trabalhistas.

    As novas tendncias mundiais de organizao de trabalho e o fenmeno da globalizao impuseram mtodos e frmulas, que procuram maximizar resultados e diminuir

    custos, num mercado cada vez mais acirrado e competitivo.

    Para uma melhor compreenso acerca da relevncia do tema tratado no presente trabalho faz-se necessrio explicar que, no Brasil, o Direito do Trabalho estrutura-se e

    baseia-se na prestao de trabalho subordinado. Contudo essa viso tradicional mostra-se incapaz de resolver questes mais complexas, surgidas a partir dessas novas

    formas de o rganizao do o mercado de trabalho, que encontra-se segmentado e dspar. O labor formal, na condio de empregado, vem decrescendo e a p recarizao

    das relaes laborais ganha espao. Aumentam o nmero de trabalhadores autnomos e das formas de subc ontratao.

    A realidade que se apresenta traz consigo uma necessria reflexo sobre a inocuidade de um sistema de p roteo social que deixa uma considervel parcela dos

    trabalhadores sua margem, pelo fato de no se amoldarem s tradicionais frmulas de classificao do trabalho, pois atualmente as relaes laborais se modificaram

    profundamente e no mais se centralizam na figura do trabalho subordinado que, pressionado pelo novo regime de acumulao flexvel se tornou multiforme e dspar.

    Como afirmado acima, o critrio utilizado na construo da legislao trabalhista foi o da subordinao jurdica, elemento indispensvel para a configurao da relao

    empregatcia. Mas, com as novas formas de prestao de servios surgidas, essa subordinao encontra-se mitigada, muitas vezes difcil de ser identificada. Essas

    relaes so as chamadas formas atpicas de trabalho, localizadas em uma regio fronteiria entre o trabalho autnomo e o subordinado. Justamente nesse ponto reside

    a problemtica a ser e xplorada no presente estudo. Por no estarem claramente regulamentadas, essas relaes laborais ficam merc do entendimento dos

    julgadores, que em geral optam por desconsiderar suas peculiaridades, interpretando-as como no empregatcias, jogando-as na vala comum do trabalho autnomo.

    Assim, esses obreiros no gozam da mesma proteo destinada aos empregados subo rdinados. Portanto, como efetivar a pro teo jurdica aos direitos dos trabalhadores

    fronteirios? A resposta parece estar na adoo da parasubordinao, critrio surgido na Itlia, como um meio-termo entre as formas atualmente reconhe cidas de

    contratos de atividade.

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    A importncia deste estudo reside, pois, no fato de tratar-se de assunto envolto em diversas nuances: ideolgicas, polticas, econmicas e trabalhistas. Ante o claro

    conflito de o pinies sobre um tema indisfaravelmente complexo, se tornou nec essrio escrever esta obra pertinente a uma questo to palpitante quanto atual.

    Por surtir efeitos conc retos para os que lidam nessa rea, inegvel o grande valor de um estudo aprofundado do assunto em tela, originando-se da sua c ontribuio

    para a doutrina, para o aprendizado nas academias e para o embasamento terico necessrio prtica do Direito do Trabalho.

    Diante da relevncia do tema e, principalmente, por fazer parte do dia-dia dos cidados, fica patente a necessidade da anlise de suas consequncias e aplicabilidades

    prticas, de forma a evidenciar sua melhor compreenso e importncia para os leitores e para a sociedade em si.

    O p resente trabalho tem por objetivo geral verificar a validade da adoo do instituto da parassubordinao frente ao o rdenamento jurdico brasileiro, como forma de

    efetivar a tutela ao trabalhador fronteirio.

    Assim, no captulo dois ser descrito, de forma sucinta, a evoluo do Direito do Trabalho no mundo e no Brasil, examinados seus princpios e importncia, analisada a

    evoluo modo de produo capitalista at sua chegada ao atual modelo e de senvolvida uma discusso acerc a de qu estes relevantes como o direito ao trabalho digno

    e os efeitos da globalizao no sistema juslaboral.

    O terc eiro captulo trata do tema da subordinao jurdica, apresentando seu conc eito e c aractersticas, a diferenciao entre relao de emprego e relao de

    trabalho, a crise do seu modelo clssico e as distines entre o trabalho subordinado, parassubordinado e autnomo.

    O quarto captulo c uida da parassubordinao, define seu conc eito e caractersticas, analisa a relao entre os p rincpios trabalhistas e a parassubordinao, analisa a

    presena da coo rdenao c omo critrio de sua identificao ftica, investiga sua adoo c omo meio de efetivao da tutela ao trabalhador atpico e averigua a

    possibilidade da adequao do instituto ao orde namento jurdico brasileiro.

    O enfoque analtico do trabalho proposto ser a dogmtica jurdica e a metodologia utilizada ser a analtico-sinttica, atravs da pesquisa bibliogrfica. Assim, no exame

    da matria, sero utilizados entendimentos legais, doutrinrios e jurisprudenciais. Haver, tambm, permanente utilizao dos Manuais de Direito do Trabalho, em

    especial, os dos autores Arnaldo Sssekind e Maurcio Godinho Delgado, bem como serviro como instrumento bibliogrfico til realizao do prese nte estudo artigos

    publicados em renomados sites jurdicos, obras literrias pertinentes ao tema e dissertaes de mestrado acerca do assunto.

    Por fim, cabe ressaltar que um outro aspecto relevante, que justifica a importncia do objeto da pesquisa (alm daqueles anteriormente descritos) refere-se defesa

    de uma ampliao da estrutura do Direito do Trabalho para abrigar em sua estrutura essas novas formas laborais, com o fim de uma reconstruo do valor do trabalho

    humano.

    2 O SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO

    O Direito do Trabalho um ramo jurdico especializado, cuja importncia vem se ampliando ao longo do tempo. Nesse aspecto, Gonalves (2007) salienta que sem

    dvidas o surgimento desse direito ocorreu na tentativa de amortecer os impactos do capitalismo desenfreado, que impunha aos trabalhadores fardos cada vez mais

    pesados.

    Delgado (2008) lembra que todo Direito, por ser instrumento de regulao de instituies e relaes humanas, atende a fins preestabelecidos em determinado c ontexto

    histrico. Assim, para uma melhor compreenso do tema tratado no presente trabalho, faz-se necessrio desenvolver uma anlise histrica dos fatos mais relevantes que

    esclarecem o surgimento e e voluo da tutela jurdica ao trabalho.

    O c onhecimento dessa histria possibilita-nos ver quo ret rico o argumento de que o Direito do Trabalho e os direitos sociais em geral so os c ulpados pelo estado

    atual de misria dos trabalhadores, pregando a sua extino e a restituio do livre mercado.

    2.1 Evoluo da tutela jurdica ao trabalho

    Inicialmente importante destacar que, conforme rec orda Alves (2003), a origem do trabalho, entendido como resultado consc iente da ao humana no intuito de

    transformar a natureza em busca de benefcios extremamente antiga remontando-se ao incio da humanidade e se confunde com a prpria existncia humana. Todavia

    em seus primrdios possua um carter de pena, sendo imposto to so mente aos destitudos de poder ec onmico ou po ltico. Com o decorrer do tempo, aps lentas

    transformaes, passou de c astigo a meio de subsistncia, convertendo-se (com o advento do c apitalismo) em importante fator de produo.Nesse sentido, Roc ha e outros (2005) lembram que, embora o surgimento do Direito do Trabalho co mo um novo ramo da cincia jurdica fato recen te, datando do

    sculo XIX, h quase dois mil anos antes de Cristo os povos j recepcionavam em seu Direito matrias relacionadas normatizao trabalhista, como os babilnicos com

    o estabelecimento de preos para vrias modalidades de trabalho e os hebreus, co m a criao do repouso semanal e a humanizao do trabalho escravo. Em outros

    povos, tais como os hindus e os egpcios, havia regras que distribuam as atividades segundo as castas das quais a sociedade era formada. Ressaltam, ainda, os autores

    que no perodo romano, cuja economia se baseava no trabalho esc ravo e a questo soc ial no se conc entrava nas relaes entre capital e trabalho, pouca importncia

    atribua-se a legislao social em geral. Contudo, como alguns escravos foram conquistando a liberdade e tornando-se trabalhadores assalariados, tendo seu trabalho

    regulado pelo contrato locatio conductio, corporificado como locatio rei, locatio operarum e locatio operis faciendi, que legou ao atual direito civil a locao de servio

    e a empreitada.

    Continuam os autores:

    Durante a poca medieval houve grandes transformaes nas relaes de trabalho, provindas das invases brbaras e das guerras, dificultando o comrcio e estimulado

    a escravido, restando a valorao da terra, que passou a ser o centro da organizao feudal. Surgiu uma infinidade de poderes e uma multiplicidade de ordens

    jurdicas, originrias da ordenao dos feudos (servido) e das co rporaes de o fcio. (ROCHA et. al, 2005, p.8)

    Alves (2003) esclarece que no perodo medieval o vnculo que pren de o trabalhador quele que lhe explora a mo-de-obra no o de propriedade e sim a sujeio

    pessoal (servido), posto no ser mais formalmente escravo. Embora no se deva olvidar que a postura do grupo dominante a mesma do momento histrico anterior jque, de maneira idntica, tal explorao vista no apenas como justificvel, mas plenamente justa conquanto consiste numa troca: a de no morrer nas mos dos

    brbaros e ter como produzir algo o que comer, por meio do trabalho. Contudo, conforme relembra o autor, na Idade Mdia tambm existiam relaes trabalhistas no

    baseadas na servido (artesos) havendo, inclusive, uma insipiente regulamentao pelas Corporaes de Ofcio, que disciplinavam as relaes de trabalho entre os

    mestres os mestres, companheiros e aprendizes. Perce be-se, portanto, que embora houvesse trabalho livre, esse no era socialmente relevante, diante da

    predominncia das relaes servis.

    A partir do dec lnio da estrutura feudal, iniciou-se no sculo XVII a concentrao do poder e conmico e o desenvolvimento das atividades manufatureiras propiciou o

    surgimento da estrutura capitalista, que culminou com a Primeira Revoluo Industrial, na Inglaterra do sculo XVIII. Gonalves (2007) ressalta que nesse momento inicia-

    se o mundo trabalho, como se conhece hoje. Se antes a lgica girava em torno da fixao do homem terra, sendo essa no s forma de subsistncia, mas tambm

    centro de negociaes, com o aparecimento da indstria esse modelo praticamente se esgotou. Com o surgimento do c apitalismo industrial, os proprietrios das

    mquinas eram quem diziam se haveria necessidade de trabalhadores, e se esses eram homens, mulheres ou crianas, tambm decidiam quanto tempo essas pessoas

    deveriam trabalhar, quanto iriam ganhar e o que iriam fazer. O direito existente beneficiava to somente o capital, no se preocupando com as necessidades daqueles

    desprovidos de proteo.

    Rocha e outros (2005) salientam que o proletrio do sculo XVIII tinha uma jornada de trabalho de at 16 horas, transformando-o em um ser desumanizado, com pouca

    formao intelectual e tanto seu ambiente de trabalho quanto o seu ambiente domstico e ram extremamente insalubres. O e mpregador impunha as c ondies de

    trabalho, o tempo de servio e os horrios do trabalhador. Por possuir apenas sua fora de trabalho para garantir a prpria sobrevivncia e a de sua famlia, esteterminava por no questionar o patro, j que desprovido de riqueza e fora poltica, constitua a parte mais fraca dessa relao.

    O liberalismo econmico deixava o Estado numa posio passiva, de no-interveno. Gonalves (2007) recorda que ao Estado Liberal era vedado intervir nas relaes

    entre particulares e, dessa forma, tambm o era nas relaes trabalhistas. O empregador ditava as regras de trabalho a serem cumpridas pelo trabalhador, proprietrios

    apenas de sua fora de trabalho. Porm os trabalhadores passaram a ter conscincia que essa passividade estatal beneficiava to somente os ricos. Passaram, ento, a

    revoltar-se contra as mquinas, destruindo-as e manifestando suas revoltas. Essas quebras de mquinas, bem como o surgimento das primeiras greves tinham por objetivo

    a conquistas de direitos, que deveriam se manifestar em leis. Portanto a presso social, a organizao e a lutas dos trabalhadores foraram o surgimento de leis, que

    desta vez no ignoravam a existncia dessa classe.

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    Pode-se afirmar, portanto, conforme esclarece Ferreira (2006), que a partir dessa necessidade de conferir equilbrio a essa relao capital-trabalho, bem como evitar a

    sobreposio do capital sobre o homem, surge a interveno do Estado, com as primeiras regulamentaes trabalhistas.

    Sobre o assunto Gomes (2005) afirma que a partir de ento os interesses polticos se voltam para a elaborao de leis tendentes a regulamentar o trabalho.

    Por certo, essa regulamentao dos direitos do trabalhador no surgiu com facilidade e tampouco por iniciativa prpria do Estado, seno pelas muitas e sofridas

    reivindicaes da classe trabalhadora, conforme relembra Ferreira (2006). Primeiramente, conforme a autora, instalou-se o caos nas relaes laborais, para somente

    ento iniciar-se a interveno estatal.

    Ainda, segundo Gomes (2005), a primeira lei social, de 1841 (surgida na Inglaterra), proibia empregar na indstria crianas menores de oito anos e vedava a imposio

    jornada superiores a oito horas dirias s crianas entre oito e doze anos; o direito de associao surgiu em 1848. J na Frana a jornada de trabalho foi reduzida (10

    horas dirias em Paris e 11 horas dirias nas provncias) e em 1864 foi reconhecido o direito de greve; na Alemanha, em 1881, foram previstos pela primeira vez os seguros

    sociais. No ano de 1883, na Itlia, foi prevista a tutela aos acidentados no trabalho (direito que se estendeu Alemanha em1884). Entretanto, conforme a autora, grande

    parte dessas leis (em especial aquelas que tutelavam os acidentados, as mulheres e as crianas) no tiveram eficcia, sendo muitas delas posteriormente abolidas ou

    revogadas. Apesar disso inegvel que atravs delas se deu incio materializao de normas de proteo ao trabalhador.

    Prossegue, ainda, a autora afirmando que aps a Primeira Guerra Mundial, que se instalou em 1914, as normas de tutela do trabalho se fortalecem, insculpidas em

    Constituies, a exemplo da Constituio do Mxico, de 1917, e de Weim ar, de 1919[...] (Gomes, 2005, p.87).

    Gonalves (2007) salienta que a Constituio do Mxico de 1917, a primeira a constitucionalizar normas trabalhistas, previa jornada diurna de oito horas, proibia o

    trabalho de crianas menores de doze anos, previa a proteo maturidade, criava legislao acidentria e o salrio mnimo, bem como o direito de sindicalizao e o

    direito de greve. Ainda nas palavras do autor, a Constituio Alem de 1919 trouxe direitos trabalhistas ainda mais avanados, influenciando toda a Europa, de forma que

    pases como a Itlia, Espanha e Portugal tambm elevaram os direitos trabalhistas ao patamar de direitos constitucionais. Destaca-se, tambm nesse perodo, o Tratado

    de Versalhes (28 de junho de 1919) que instituiu a Organizao Internacional do Trabalho. A Amrica Latina tambm foi influenciada e o Brasil trouxe para o bojo de sua

    Constituio normas de tutela ao trabalho. E, a partir de 1945, os direitos sociais progrediram em todo o mundo, durando at o final dos anos 70 e incio dos anos 80.

    Delgado (2006) considera que, desde as ltimas dc adas do scu lo XX, o Direito do Trabalho entrou em crise e tem-se assistido um processo de desc onstruo cultural

    do p rimado do trabalho na sociedade atual.

    Observa-se, dessa forma, que o Direito do Trabalho inegvel fruto da Revoluo Industrial e do capitalismo, e que a tutela ao trabalho surgiu como meio de controle

    desse sistema, no sentido em que, conforme as palavras de Delgado (2006), lhe confere um patamar mnimo civilizatrio.

    2.1.1 O caso brasileiro: evoluo da tutela ao trabalho no pas

    A realidade brasileira apresenta caractersticas peculiares, que devem ser levadas em considerao ao se abordar o surgimento e a evoluo do Direito do Trabalho no

    Brasil. Assim, embora essa evoluo possa, em princpio, parecer igual s que ocorreu no restante do mundo capitalista, tais peculiaridades a tornaram diferentes em

    aspectos relevantes.

    Como ponto de partida na busca dessa compreenso, torna-se fundamental a lio de Souto Maior (2000) quando afirma que a primeira constatao a ser levada em

    conta o fato de que, dos qu atro sculos e meio de histria do Brasil, trs sculos foram marcados pela escravido. Segundo o autor interessante notar que,

    enquanto na Europa a produo industrial j havia alterado a vida social desde fins do sculo XVIII, no Brasil do sculo XIX ainda havia prevalncia da atividade rural.

    Portanto, a evoluo da legislao trabalhista na Europa no se identifica do ponto de vista temporal, com a evoluo desse direito no Brasil.

    Sobre o assunto, Gonalves (2007) ressalta que doutrinariamente o Direito do Trabalho no pas dividido em trs fases, sendo seu marco inicial a edio da Lei urea e

    a conse qente abolio da escravatura, j que no perodo escravocrata no existia na legislao ptria nenhuma norma de c unho trabalhista, pois o esc ravo n o era

    sujeito de direitos e obrigaes, o que o deixava sem qualquer amparo legal. A nica norma trazida pela Constituio de 1824 que possua alguma relao com atividades

    laborais era a c ontida no inciso XXV do artigo179, que abolia as corporaes de o fcio no territrio brasileiro. Assim, o fim da escravido deu incio s relaes

    empregatcias e levou primeira fase do direito do laboral brasileiro, perodo que vai de 1891 a 1930, chamado de fase das manifestaes incipientes ou esparsas. Ainda

    segundo o autor, a Constituio da Repblica, de 1891, no trouxe qualquer princpio espec fico de proteo ao trabalho, havendo apenas algumas leis dispersas que

    tratavam do assunto, que no podem ser vistas como fruto de um movimento organizado dos trabalhadores, pois ainda era restrita sua capacidade de organizao epresso. A categoria mais organizada, at ento, era a dos ferrovirios. Dentre as normas criadas na poca, o autor destaca os 22 artigos contidos no Cdigo Civil de

    1916, sob o ttulo Locao de Servios e a Lei Eli Chaves, de 1923.

    Tratando da questo, Rocha e outros (2005) sustentam que as primeiras tentativas de criao de rgos dedicados soluo de problemas trabalhistas surgiram em 1922,

    sem obter xito. Contudo mais tarde, influenciado por fatores externos e internos, teve incio a formao do Direito do Trabalho brasileiro. Entre as influncias

    externas, os autores apontam a crescente elaborao legislativa de proteo ao trabalhador em muitos pases da Europa, que de certo modo exerceram presso no

    sentido de levar o Brasil a elaborar leis trabalhistas e o compromisso assumido pelo Brasil ao ingressar na Organizao Internacional do Trabalho, propondo-se a observar

    normas trabalhistas. J em relao aos fatores internos, se de stacam os movimentos operrios e ncabeados por imigrantes eu ropeus com inspiraes anarquistas, o

    surto industrial (conseqncia da Primeira Guerra Mundial), com a elevao do nmero de fbricas e de operrios e a poltica trabalhista de Getlio Vargas em 1930.

    Na lio de Gonalves (2007), a partir de 1930 iniciou-se a segunda fase do Direito do Trabalho no Brasil, chamada de perodo da oficializao, que durou realmente

    at 1945, com o fim do governo Getlio Vargas, mas seus efeitos se estenderam at a promulgao da Constituio de 1988.

    Discorrendo sobre o tema, Souto Maior defende que com Vargas repete-se no Brasil a mesma histria j vivida na Europa, a proliferao de leis trabalhistas, mas a sua

    fonte material preexistiu ao perodo Vargas.(2000, p.68).

    A Constituio de 1934, embora tenha durado apenas trs anos, conforme rec orda Gonalves (2007), elevou o Direito do Trabalho c ondio de Direito Constitucional.

    Todavia Segadas Vianna, citado pelo autor, defende que a Constituio de 1937 fixou, de forma melhor que a anterior, as diretrizes da legislao trabalhista.

    Nesse aspecto, conforme Souto Maior (2000), tornou-se lugar-comum a afirmao de que as leis trabalhistas brasileiras so mero fruto do fascismo de Getlio Vargas,

    numa viso simplista, como se tais leis no fossem resultado de lutas da massa trabalhadora. Idia errnea, j que as condies de trabalho eram enormemente

    precrias, e isso por si s justifica a criao de leis para minimizar tal situao. Alm do mais, ocorreram vrias greves por melhores condies de trabalho.

    Concorda Gonalves (2007), quando defende que Getlio Vargas encontrou um pas no qual havia uma grande massa de imigrantes, cujas idias anarquistas e socialistas

    levaram organizao da luta dos trabalhadores brasileiros, inclusive atravs de greves. Diante desse quadro, o ento presidente passou a editar leis em funo dessa

    organizao dos operrios, no intuito de acalmar os nimos e evitar convulses sociais. Donde se c onclui que o direito trabalhista no Brasil foi uma conquista, e no um

    presente do chamado pai dos pobres.Rocha e outros (2005) recordam que o objeto da luta das primeiras manifestaes sindicais era, sobretudo, a redu o do horrio

    de trabalho e das horas extras, o fim do trabalho infantil e do trabalho noturno feminino. Na metade do sculo XX, finalmente os direitos pelos quais os trabalhadores

    tanto lutaram foram reconhecidos com a edio, em 1942, da Consolidao das Leis do Trabalho, uma compilao de vrias leis que j existiam.

    Em relao CLT, Gonalves (2007) aponta que recorrente a afirmao de que ela consistiu simplesmente no resultado de um sistema fascista, tendo por base a Carta

    Del Lavoro, de 1927. Por ou tro lado, h autores que a consideram um conjunto das conquistas dos trabalhadores, decorrente das grandes greves do incio do sc ulo.

    Polmicas parte, o fato que a Consolidao das Leis do Trabalho foi promulgada sob o nmero 5.452, no dia 1 de maio de 1943.

    Em 1945, o Estado Novo chegou ao fim e o Brasil voltou para um regime democrtico, at a implementao do Regime Militar de 1964. Ainda segundo Gonalves, a

    Constituio de 1946 trouxe diretrizes democrticas, ampliando os direitos individuais e coletivos. O Direito do Trabalho no pas repetiu a lgica do Direito do trabalhono mundo, qual seja o protecionismo ao trabalhador. Continua o autor:

    Em 1985, chega ao fim o Regime Militar e se inicia um novo perodo democrtico, juntamente com a terceira fase do Direito do trabalho no Brasil, com a instaurao da

    Assemblia Nacional Constituinte que elabora a Constituio de 1988. A Constituio da Repblica, ento promulgada, dedicou os artigos 7, 8, 9, 10 e 11 ao direito

    dos trabalhadores, valorizando a atuao sindical e a participao do trabalhador nas negociaes coletivas. (GONALVES, 2007, pp.151 e 152)

    Assim, conforme observa o autor, embora a Consolidao das Leis do Trabalho, cuja vigncia se estende at os dias atuais, tenha sido o ponto marcante para o direito

    laboral ptrio, foi com a Constituio Federal de 1988 que se institucionalizou derradeiramente o direito social no sistema jurdico brasileiro.

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    Portanto, aps essa breve anlise acerc a do surgimento do Direito do Trabalho, chega-se a conc luso, consoante a lio de So uto M aior (2000), que esse ramo jurdico

    tem uma razo histrica inequvoca, posto ter surgido como reao enorme injustia social provocada pelo advento da produo em massa. Possui, tambm, uma

    funo que dec orrente dessa razo: humanizar as relaes de trabalho.

    O Direito do Trabalho co nfigura-se, ento, como ramo autno mo do direito, com caractersticas e princpios prprios. Assim, passa-se ao desenvolvimento do estudo

    acerca desses princpios, analisando seus conc eitos e caractersticas.

    2.2 Princpios do Direito do Trabalho

    Princpio, na definio do Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa (2001), o comeo, o incio, o primeiro momento da existncia de algo, de uma ao ou processo.

    Mas tambm o define c omo a propo sio elementar e fundamental que serve de base a uma ordem de c onhec imentos; propo sio lgica fundamental sobre a qual

    sobre a qual se apia o raciocnio.

    Mello (2004) conc eitua princpios como o s mandamentos n ucleares de um sistema, que co nstituem seu verdadeiro alicerce, sendo a disposio fundamental que se

    irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o esprito e servindo de critrio para sua exata compreenso e inteligncia, justamente por definirem a lgica e aracionalidade do sistema normativo no que lhe confere a tnica que lhe d sentido harmnico.

    Para Sussekind, princ pios so enunciados genric os que devem ilum inar tanto a elaborao de leis, a criao de normas jurd icas autnomas e a estipulao de

    clusulas contratuais, como a interpretao e a aplicao do direito.(SUSSEKIND,2004, p. 109)

    Conforme acep o de Delgado (2007), princpio se traduz na noo de proposies fundamentais que se formam na consc incia das pessoas e grupos sociais a partir de

    certa realidade, e que aps formadas direcionam-se compreenso, reprodu o ou c riao dessa realidade.

    Quanto importncia dos princpios, Souto Maior (2000) entende que falar em regulamentao pela lei, restritamente, no significa falar em direito, pois a construo

    do d ireito um passo alm. Segundo o autor, a formao do direito c onsiste em agrupar o aglomerado de normas (cujos elementos se ligam coerentemente) num

    sistema. O elemento aglutinante desse sistema so os princpios jurdicos porque so eles que do sustentao ao co njunto, influenciando a atuao de legisladores,

    intrpretes e aplicadores do direito. Concorda Nascimento (2007), quando afirma que expulsar princpios para fora da ordem jurdica, projet-los alm do campo do

    direito, seria o mesmo que torn-los inteis e de stitudos de funo operacional, pois princpios esto no ordenamento jurdico c omo realidades enc ontradas em seu

    interior e se caracterizam como valores que o direito reconhece, dos quais as regras jurdicas no se devem afastar, para que possam cumprir adequadamente o seu

    fim.

    Nesse sentido, Gonalves (2007) ressalta que, embora os princpios possuam extrema relevncia em qualquer ramo do Direito, no se pode olvidar que no Direito do

    Trabalho eles tm importncia estrutural, cuja inobservncia pode resultar na sua desintegrao.

    A prop sito do tema afirma Souto M aior:

    Negar a aplicabilidade dos princpios do direito do trabalho, que so extrados dessa situao, obstando que se jam determinantes da elaborao de normas trabalhistas

    e da interpretao das normas existentes, equivale a negar a razo e a funo espec fica do direito do trabalho, obsc urecendo seu dado histrico. Equivale, em suma, a

    negar a prpria existncia do direito do trabalho, pois, como dito por Goldschimidt, um Direito sem princpios nunca houve verdadeiramente. (SOUTO MAIOR, 2000,

    p. 289).

    Todavia Nascimento (2007) ressalta que os princpios no so exatamente tcnicas de integrao das lacunas da lei, no so leis embora possam vestir-se da sua

    roupagem: eles tem uma trplice funo: primeira, a funo interpretativa, da qual so um elemento de apoio; segunda, a funo de elaborao do direito do trabalho,

    j que auxiliam o legislador na produo legislativa; terceira, a funo de aplicao do direito, na medida em que servem para de base para o juiz sentenciar.

    Rocha e outros (2005) ressaltam que a enumerao dos princpios justrabalhistas um dos pontos em que se depara com a maior variedade de opinies, j que o tema

    no est suficientemente c onsolidado. Apesar disso, segundo os autores, no h discrepncia entre os doutrinadores em apresentar seis princpios bsicos que

    norteiam esse ramo da cincia jurdica. So eles: princpio proteto r (que po de se conc retizar em trs idias: in dubio pro operrio,norma mais favorvel e condio

    mais benfica), princpio da irrenunciabilidade dos direitos, princpio da continuidade da relao de emprego, princpio da primazia da realidade, princpio da

    razoabilidade e princpio da boa-f.

    Passa-se, agora, a uma breve anlise desses princpios.

    Quanto ao princpio protetor (ou da prote o), importante ressaltar, conforme Roc ha e outro s (2005), que de forma diversa ao que oco rre no direito comum, no qual

    a inteno prezar pela igualdade jurdica entre os contratantes, no direito laboral a orientao proteger a parte mais fraca: o obreiro. Ao realizar esta proteo se

    alcana uma igualdade substancial e verdadeira entre as partes. Dessa forma, se pode afirmar que o critrio fundamental que norteia o Direito do Trabalho a proteo

    do trabalhador, visando o equilbrio entre o c apital e o trabalho.

    Souto M aior (2000) esclarece que conforme doutrina de Amrico Pl Rodrigues, o princpio protetor engloba: a) a regra do in dbio pro operrio; b) a regra da norma

    mais favorvel; e c) a regra da condio mais benfica.

    Em relao ao in dbio pro operrio, Souto M aior (2000) explica que significa o critrio segundo o qual, no c aso de uma norma ser suscetvel de entender-se de

    vrios modos, deve-se preferir a interpretao mais favorvel ao trabalhador. Ressalva, contudo que a aplicao desse princpio no tem uma conotao processual, ou

    seja, no deve servir para que se co nfira ao trabalhador um direito que ele no possua, j que o processo deve ser eficiente para proporc ionar-lhe aquilo que seu

    direito.

    Para Delgado (2007), a regra da norma mais favorvel dispe que deve-se optar pela regra mais propcia ao obreiro em trs situaes distintas, quais sejam: no instante

    da elaborao da regra, no contexto de c onfronto entre regras conco rrentes ou, por fim, no con texto de interpretao das regras jurdicas.

    No que tange regra da condio mais benfica, Souto M aior (2000) esclarece que se refere ao fato de uma lei posterior no poder d iminuir as condies de trabalho

    j auferidas pelo empregado. Essa limitao se aplica, igualmente, ao poder normativo da Justia do Trabalho. Mas ressalta que ele no absoluto, em nosso

    ordenamento, haja vista as disposies da Constituio da Repblica de 1988, esculpidas no artigo 7, incisos VI (reduo de salrio), XII (compensao de jornada) e XIV

    (turnos ininterruptos de revezamento).

    Sobre o princpio da irrenunciabilidade, Rocha e outros (2005) explicitam que ele versa sobre a impossibilidade de o empregado privar-se voluntariamente de vantagens

    conc edidas pelo direito trabalhista em benefcio prprio.

    Completa Souto Maior (2000) que trata-se, portanto, de importante preceito valorativo, base da prpria sobrevivncia do direito do trabalho, visto que a situao de

    inferioridade econmica do trabalhador, mesmo coletivamente considerado, faz que com este, com facilidade, troque as garantias j conquistadas pela manuteno do

    emprego.

    J o princpio da primazia da realidade, de acordo com Delgado (2007), entendido como a preponderncia dos fatos em relao estrutura jurdica empregada. Assim,

    em caso de discordncia entre o ocorrido na prtica e o que se de preende de docu mentos ou acordos, se deve dar preferncia ao primeiro, pesquisar

    preferencialmente, a prtica c oncreta efetivada ao longo da prestao de servios.

    O princpio da razoabilidade, segundo Rocha e outros (2005, p.32), consiste na afirmao essencial de que o ser humano, em suas relaes trabalhistas, procede e deve

    proceder conform e a razo, ou seja, se pautar pelo razovel. Ainda conforme os autores, por se tratar de um critrio geral, o princpio em tela no possui umcontedo c oncreto , sendo justamente essa caracterstica a garantidora de grande parte de sua utilidade, no sentido que no h limitao ao seu alcance, de sua

    funcionalidade.

    A respeito do princpio da co ntinuidade, Souto Maior (2000) aponta que esse princpio re vela a importncia da integrao do trabalhador empresa, no apenas para

    lhe con ferir segurana, como tambm para favorecer pro duo, no sentido da qualidade do servio prestado. Expressa a tendnc ia atual de o Direito do Trabalho

    atribuir relao de emprego a mais ampla durao. Assim, exprime-se pela preferncia pelos contratos de trabalho cuja durao seja indefinida; na amplitude para a

    admisso das transformaes do contrato de trabalho; na facilidade para manter o contrato (apesar dos descumprimentos ou nulidades em que se haja inserido); na

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    resistncia em admitir a resciso unilateral do co ntrato por via patronal; na interpretao das interrupes dos contratos c omo simples suspenses e na manuteno

    do c ontrato de trabalho em casos de substituio do empregador.

    Tratando sobre o princpio da boa-f, Rocha e outros (2005), lembram que importante ressaltar que a boa-f no uma norma, mas um princpio jurdico fundamental,

    que apresenta grande influncia no Direito do trabalho, uma vez que tambm levado em conta para a aplicao de todos os direitos e obrigaes que as partes

    adquirem como conseqncia do contrato de trabalho.

    Souto Maior (2000) conc lui que nessa perspectiva, ainda que se possa estabelecer alguma controvrsia quanto identificao dos princpios do Direito do Trabalho, no

    se pode negar que o norteiam fundamentalmente, em decorrnc ia de sua origem histrica e da sua pr pria razo de ser como instrumento autnomo do conhe cimento

    jurdico, j que sem estes preceitos de ordem valorativa ele estaria fadado a desaparecer, ou melhor, nem teria surgido.

    2.3 Dignidade da pessoa humana e Direito do Trabalho: o direito ao trabalho digno

    A formulao de um conceito sobre o que seja dignidade da pessoa humana, conforme explica Sarlet (2007), das mais tortuosas tarefas apresentadas pelas doutrinas

    filosfica e constitucional, pois no h definio consensual e universal sobre a temtica. Todavia, o autor prope uma formulao jurdica de se u c onceito, c omo aqualidade intrnseca e distintiva reconh ecida em cada ser humano, que o faz merecedo r do mesmo respeito e co nsiderao por parte tanto do Estado quanto da

    comunidade. Neste sentido implica um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa no apenas contra to do e qualquer ato de c unho

    degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condies existenciais mnimas para uma vida saudvel, alm de propiciar e promover sua participao ativa e

    co-responsvel nos destinos da prpria existncia e da vida em comunho c om os de mais seres humanos.

    Consoante Delpre, citado por Carvalho (2006),

    O conceito de dignidade humana repousa na base de todos os direitos fundamentais (civis, polticos ou sociais). Consagra assim a Constituio em favor do homem, um

    direito de resistnc ia. Cada indivduo possui uma capacidade de liberdade. Ele est em cond ies de orientar sua p rpria vida. Ele por si s depositrio e responsvel

    do sen tido de sua existncia. Certamente, na prtica, ele suporta, c omo qualquer um, presses e influncias. No en tanto, nenhuma autoridade tem o direito de lhe

    impor, por meio de constrangimento, o sentido que ele espera dar a sua existncia. O respeito a si mesmo, ao qual tem direito todo homem, implica que a vida que ele

    leva dependa de uma deciso de sua conscincia e no de uma autoridade exterior, seja ela benevolente e paternalista. (DELPRE, apudCARVALHO, 2006, p.463)

    De acordo com a c oncep o de Ferreira (2006), a Histria mostra, ainda, que a dignidade da pesso a humana objetivo de toda soc iedade, sendo perseguida por todos,

    mesmo que por c aminhos diversos e sob contraditrios pon tos de vista e o direito, por sua vez, constitui o instrumento que o Estado po ssui para assegurar a dignidade

    do cidado.

    A partir do exposto, conforme afirma Sarlet (2007), verifica-se que tambm para a ordem jurdico-constitucional a concepo do homem-objeto (ou homem-instrumento), com todas as c onseqnc ias da resultantes, constitui justamente a anttese da dignidade da pessoa humana.

    Pode-se resumir destas concep es, de acordo com Zanoti (2006), que os seres humanos no podem ser tratados como objetos, e sim como sujeitos, posto qu e sua

    estatura extrapola a sua individualidade, atingindo um espectro comunitrio social.

    A Constituio Federal de 1988, em seu artigo 1, inciso III, inscreve a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado.

    Carvalho (2006) considera que isso significa no apenas um reconhecimento do valor do homem em sua dimenso de liberdade: o prprio Estado se constri com base

    nesse princpio. Assim, o te rmo dignidade designa o respeito que merece qualquer pessoa.

    Sobre o assunto, Delgado (2006) assevera que o princpio da dignidade da pessoa humana traduz, na Constituio de 1988, a idia de que o valor central da sociedade

    est na pessoa, centro convergente do s direitos fundamentais.

    Portanto, na lio de Carvalho (2006), a dignidade da pessoa humana significa ser ela um ser que deve ser tratado e considerado como um fim em si mesmo, e no para a

    obteno de um resultado (diferentemente das coisas), ou como algo que pode servir de meio. O princpio abrange, dessa forma, no s os direitos individuais, mas

    tambm os de natureza econmica, social e cultural. Justamente por dignificar o homem, a Constituio atribui relevante valor social ao trabalho, colocando-o, como

    um dos fundamentos do Estado.

    Destarte, conforme Delgado (2006), o valor social do trabalho, como um dos fundamentos enunciados pela Repblica Federativa do Brasil, constitui parmetro relevante

    para a vida da comunidade brasileira e para as polticas estatais destinadas aos seres humanos. Isso significa que a Carta Magna fixa um contedo para o Direito, para a

    sociedade e para o prprio Estado em torno do valor do trabalho. Diante disso, v-se que a Constituio de 1988 apresenta novos paradigmas no que conc erne ao

    direito fundamental ao trabalho digno, c riando possibilidades no rmativas de efetivao da proteo ao trabalhador. Entende-se portanto que o trabalho, desde que

    prestado em condies dignas, no violar o homem enquanto fim em si mesmo.

    Sobre o tema, Ferreira (2006) assevera que atualmente o valor social do trabalho tem sido declarado no apenas no Brasil, mas em todas as partes do mundo onde se

    respeitam os direitos humanos.

    Nesse aspecto Gomes defende que no se pode perder de vista o papel tico-cultural do Direito, mormente s conquistas histricas obtidas no campo do Direito do

    Trabalho. (2005, p.125). A autora lembra que o surgimento das normas jurdicas de tutela ao trabalhador subordinado deu-se a partir do sculo XIX, como reflexo das

    conquistas histricas da humanidade, entretanto, a luta em busca do reconhecimento da dignidade do servio humano bem mais remota. Entende, ainda, que muito

    oportuno indagar de que vale o direito vida sem o provimento das condies mnimas de uma existncia digna (alimentao, moradia, vesturio)? De que vale o direito

    locomoo sem o direito de moradia adequada? De que vale o direito liberdade de expresso sem o acesso instru o e edu cao bsica? De que valem os direitos

    polticos sem o direito do trabalho?

    Por isso, quando o Direito utiliza-se da regulamentao jurdica significa, nas palavras de Delgado (2006), que ele servir como suporte de valor para proteger o homem

    em seus direitos. Ressalta, ainda a autora, que apesar de o Direito do Trabalho demarcar de forma precisa sua seara de proteo, isso no significa que ele deva servisto como uma rea jurdica estanque, isenta de reformulaes. Ao se reconhecer o trabalho digno como valor e direito fundamental necessrio, tambm, torn-lo

    vivel. Assim, papel do Direito reconhecer toda e qualquer manifestao do valor do trabalho digno.

    Nesse se ntido, Carelli (2004) conc orda que os direitos relacionados ao trabalho, presen tes na Constituio da Repblica, devem ser interpretados evolutivamente, de

    forma a se retirar a restrio imposta ao termo trabalhadores, no mais caracterizando como destinatrios dessas normas somente os empregados, ou trabalhadores

    subordinados. Deve-se trazer e impor a proteo constitucional de direitos mnimos no trabalho para os trabalhadores sem adjetivo, generalizando a proteo social

    constitucional. De acordo c om o autor, tal hiptese pode ser a nica c apaz de atender s demandas deco rrentes da pluralidade e multiformidade em que se apresenta

    o trabalho, trazendo para o agasalho c onstitucional aqueles componentes da sociedade desgarrados pela modificao estrutural do mercado de trabalho.

    Dessa maneira, refletir sobre o trabalho, segundo Delgado, significa transgredir a ordem at ento imposta e lanar um novo olhar sobre o trabalho no mundo

    contemporneo. Reconhecer o Direito do Trabalho em sua incompletude fundamento para poder transform-lo. Aceitar que seu sistema tradicional pode ser

    renovado (apesar da preservao de toda prote o jurdica relao de emprego) reflete sensibilidade e respeito dignidade do homem, valor capaz de expressar, co m

    exatido, o sentido do trabalho digno na contemporaneidade do Direito. o valor da dignidade, pois, essencial para o trabalho humano, sob qualquer uma de suas

    formas e em qualquer processo histrico. A questo, portanto, a de saber qual deve ser hoje o compromisso do Direito do trabalho com a dignidade humana, a de

    saber qual deve ser a medida de sua atuao.(DELGADO, 2006, p.240).

    Assim, passa-se ao estudo da evoluo dos modos de produ o e do fenmeno da globalizao, como forma de possibilitar melhor c ompreenso sobre as mudanasproduzidas nas relaes do trabalho e a importncia de uma conseqente reviso na regulamentao trabalhista.

    2.4 Organizao da produo: do fordi smo-taylorismo ao ps-fordismo

    Sandroni (1999) define modo de produo como:

    Conceito da econ omia marxista que definido pelo conjunto das foras produtivas e das relaes de p roduo. O modo de produ o se confunde, de certa maneira,

    com a estrutura e conmica da so ciedade, englobando a produo, distribuio, circulao e c onsumo. Teoricamente, numa formao soc ial concreta, podem estar

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    presentes vrios modos de produ o, tendo um como dominante. Distinguem-se, ao longo da histria, vrios modos de produ o: o comunista primitivo, o escravista, o

    feudal, o capitalista e o socialista.(SANDRONI, 1999, p. 404)

    Nagem (2001) lembra que o ser humano, organizado em sociedade, sempre se relacionou, tanto com a natureza quanto com os seus semelhantes, buscando assegurar

    sua prpria sobrevivncia. Quando tais formas de relao se tornaram mais complexas e se solidificaram, deram origem quilo que os autores denominam sistemas

    produtivos, os quais caracterizaram distintas pocas histricas e se modificaram paralelamente ao desenvolvimento e s transformaes do trabalho humano.

    A anlise da organizao da produo ser direcionada Idade Contempornea, sobretudo a partir dos marcos do paradigma do modelo taylorista. Todavia, como forma

    de melhor ilustrar o tema, ser resgatada (sumariamente) a evoluo do processo de produo capitalista at o taylorismo.

    Segundo Carelli (2004), aps o desaparecimento do modo escravagista de acumulao do capital, foi-se formando uma organizao onde o trabalhador (de certa forma

    livre) oferecia sua fora de trabalho, integrando-se em uma unidade produtiva, dela participando e obtendo em troca uma retribuio (o salrio).

    Nesse pon to, Marx esclarece que o proc esso de surgimento do assalariado e do c apitalista tem suas razes na sujeio do trabalhador, cujo progresso co nsistiu numa

    metamorfose desta, ou seja, na transformao da explorao feudal em explorao capitalista:

    O produtor direto, o trabalhador, s pde dispor de sua pessoa depois que deixou de e star vinculado gleba e de ser escravo ou servo de outra pessoa. Para vender

    livremente sua fora de trabalho, levando sua mercadoria a qualquer mercado, tinha ainda de livrar-se do domnio das corporaes, dos regulamentos a que elas

    subordinavam os aprendizes e oficiais e das prescries com que entravavam o trabalho. Desse modo, um dos aspecto s desse movimento histrico que transformou o s

    produtores em assalariados a libertao da servido e da coero corporativa [...] (MARX, 1994, v.II, p.830).

    Ainda conforme o autor, esse c onstitui o preldio da revoluo que criou a base do modo capitalista de produ o, pois a partir da dissoluo das vassalagens feudais

    lanada ao mercado de trabalho uma massa de proletrios, expropriada e expulsa de suas terras, que acaba sendo enquadrada na disciplina exigida pelo sistema de

    trabalho assalariado. Ao progredir a produo capitalista, desenvolve-se uma classe trabalhadora que por educao, tradio e costume aceita as exigncias daquele

    modo de produo c omo leis naturais evidentes.

    Essa classe trabalhadora constitui, segundo Nagem (2001), os tarefeiros assalariados, que marcaram o sistema de organizao predominante do sculo XVI ao sculo XVIII.

    Gonalves (2007) lembra que, nesse perodo o trabalhador ainda possua uma viso global de todo o processo produtivo, o que foi paulatinamente retirado, at o ponto

    em que, com a introduo da maquinaria, inicia-se a evoluo da apropriao do processo produtivo pelo capitalista, tirando do ope rrio, passo a passo o c ontrole do

    produto final e transformando o trabalhador em mero apndice da mquina.

    Sobre o assunto, Nagem (2001) explica que a Revoluo Industrial, ocorrida na Inglaterra, no final do sculo XVIII e incio do sculo XIX, foi essencial para o futuro daeconomia capitalista no sentido que c hega-se ao grau mximo de expropriao: o trabalhador separado dos meios de produ o, mas subo rdinados ao proprietrio n o

    mbito da relao empregatcia.

    Assim, extremamente relevante a lio de Marx:

    Com to imenso custo , estabeleceram-se as eternas leis naturais do modo capitalista de pro duo, c ompletou-se o processo de dissoluo entre trabalhadores e

    suas condi es de trabalho, os meios soc iais de p roduo e de subsistncia se transformaram em capital, num plo, e, no plo opo sto, a massa da populao se

    converteu em assalariados livres, em pobres que trabalham, essa obra-prima da indstria moderna. (MARX, 1994, p.878).

    Entre o fim do sculo XIX e incio do sculo XX o modo de produo vigente, conforme salienta Gonalves (2007), caracterizava-se pela acumulao de riquezas por

    parte do c apitalista, que extraa do trabalhador o mximo de sua fora fsica e apropriava-se do seu saber, impedindo-o de conhe cer todos o s passos do processo

    produtivo como forma de garantir maior hegemonia sobre o operrio. Essa diviso de trabalho foi trabalhada por Friedrich Taylor, visando o aperfeioamento do

    processo de produo, atravs da anlise de cada movimento de forma a diminuir o tempo de sua realizao e torn-lo mais racional.

    Conforme explica Pinto e Silva (2004), a teoria da administrao cientfica, proposta por Taylor, consistia na diviso do processo produtivo em operaes elementares,

    correspondentes a movimentos mecnicos, rpidos e repetitivos, executados pelo trabalhador com a utilizao de mquinas padronizadas.

    A partir desse modelo a acumulao atingiu nveis inimaginveis e mo-de-obra tornou-se ainda mais desqualificada.Na primeira metade do s culo XX, Henry Ford (fundador da Ford M otor Company), utilizando-se dos mtodos tayloristas criou um novo modo de produ o, que

    conforme sustenta Alves (2003), revolucionou as indstrias mundiais nesse perodo.

    Sobre esse fato, Pinto e Silva (2004) esclarece que os princpios de Taylor foram consagrados por Ford na produo em srie de automveis. Surgia, assim, a linha de

    montagem, que diminuiu o tempo gasto na produ o, propiciando seu cresc imento e , por via de conseq ncia, o aumento do c onsumo.

    Verifica-se, portanto, que o fordismo no uma ruptura com o taylorsimo, no sentido que, consoante afirma de Silva (2003), as idias de Taylor fornecem as bases

    tcnicas e culturais para um novo impulso na revoluo da produo, realizada principalmente, na sua origem, pela indstria automobilstica.

    Por isso, de acordo com Pinto e Silva (2004), tornou-se c omum denominar esse mtodo de fordismo-taylorismo,sendo ele caracterizado pe las formas de produo em

    massa, pela expanso da econ omia de esc ala e pelo amplo uso de mtodos c ientficos nos processo s produtivos.

    Em torno desse novo modelo de produo baseado no trabalho subordinado, consoante afirma Carelli (2004), gerou-se o regime de acumulao de capital fordista-

    taylorista. Ao longo do sculo XX as empresas moldadas nesse modelo se multiplicaram, ao mesmo tempo em que novas tecnologias surgiram e foram por elas absorvidas.

    A produo, organizava-se, ento, em uma grande unidade fabril que concentrava todas as atividades necessrias confeco do produto final e os trabalhadores eram

    organizados em torno da linha de produo, todos detendo o mesmo estatuto, organizados, porm, em forma piramidal de hierarquia. Dessa maneira, a empresa no

    apenas conc entrava todas as atividades sob sua responsabilidade, como tambm organizava os operrios sob sua dependn cia e c omando direto, por meio de sua

    estrutura hierarquizada. Este o tipo paradigmtico de uma organizao fordista.

    Ainda de acordo com o autor, por volta do fim dos anos 1960 e na dcada de 1970, a queda dos nveis de acumulao de capital gerou uma crise no capitalismo mundial,

    o que levou a idealizao de um novo regime, denominado acumulao flexvel. Dessa nova forma surge a chamada reestruturao produtiva, na qual a produo passa a

    se organizar no mais verticalmente, como o modelo fordista, mas horizontalmente, em redes de empresas prestadoras de servio.

    Assim, conforme Delgado (2006), ao final do sculo XX e incio do s culo XXI o c apital promove novas condies de produo e c ria novas formas de gerenciamento n as

    empresas, levando ao extremo a explorao do trabalho e instrumentalizao do homem.

    A mudana dos parmetros produtivos, gerenciais e econ micos, alm da aportao tecn olgica progressiva no sistema de p roduo, sugerem, conforme analisa Juc

    (2000), que os referenciais do sistema taylorista/fordista entravam em declnio.

    O novo sistema de organizao produtiva, esclarece Gonalves, surgiu e evoluiu no Japo, na empresa Toyota a partir das idias de Taiichi Ohno. Da ser conhecido

    como toyotismo ou ohnismo. Nele a fbrica no mais aquele complexo enorme: agora existe uma fbrica-me, que faz o produto final, mas no produz todos os

    componentes desse produto (GONALVES, 2007, p.86).

    Nesse sentido, Delgado (2006) ressalta que o padro toyotista se estruturou mediante a legitimao esse novo conceito de empresa, a empresa-magra ou enxuta. A

    produo enxuta torna-se rentvel na medida em que como no h mais estoque de mercadorias, elas passam a ser produzidas com alto grau de especializao, em

    pequena esc ala e atendendo to-somente, demanda de pblicos especficos. O toyotismo, fonte de inspirao para significativo c ontingente empresarial que

    pretende viabilizar a acumulao de capital, prioriza, concomitantemente, regimes de contratos de trabalho mais flexveis.

    Concorda Antunes (2003), quando disserta que esse outro ponto essencial do toyotismo, a efetiva flexibilizao do aparato produ tivo, se conso lida atravs da

    imprescindvel flexibilizao dos trabalhadores, de modo a dispor desta fora de trabalho em funo direta das necessidades do mercado consumidor. Assim o toyotismo

    estrutura-se a partir de um nmero mnimo de trabalhadores, ampliando-os, atravs das horas extras, trabalhadores temporrios ou subcontratao, dependendo das

    condies de mercado.

  • 5/26/2018 Parassubordinao e Tutela Ao Trabalhador Atpico_ Os Dilemas Do Direto Do Trabalho Em Tempos de Globalizao - Trabalho - mbito Jur

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    16/5/2014 Parassubordinao e tutela ao trabalhador atpico: Os dilemas do Direto do Trabalho em tempos de globalizao - Trabalho - mbito Jurdico

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    Pinto e Silva (2004) assevera que esse seto r ec onmico emergente estaria, em tese, capacitado para absorver esses novos c ontingentes de trabalhadores, porm

    mediante vnculos precrios, atpicos, tendo e m vista a perda de centralidade do trabalho subordinado tpico e m suas relaes co m as polticas pblicas destinadas ao

    fomento da oc upao.

    Em meio essas formas de contratao de trabalho preconizadas, Delgado (2006) destaca a macia utilizao de mo-de-obra informal ou subterrnea, o que implica

    na maior prec ariedade do mercado de trabalho.

    Enfim, diante deste novo contexto econmico-social que as relaes empregatcias configuram-se na atualidade. As relaes empregatcias clssicas, firmadas desde o

    sculo XIX, subsistem, ainda hoje, porm de maneira substancialmente atenuada, em contraponto ampla hegemonia que j detiveram dcadas atrs. Silva (2003)

    considera que a prtica do toyotismo, paradigma dessa nova fase de expanso capitalista, embora tenha se revelado de forma diferenciada de pas para pas, de regio

    para regio e mesmo de empresa para empresa, apresenta tentativas de padronizao mundo afora, inserindo-se num processo de globalizao.

    2.5 Globalizao e flexibilizao trabalhista

    A passagem do sculo XX para o XXI, acompanhada de uma srie de mudanas histrico-polticas e aliada ao fenmeno da globalizao, est trazendo diversastransformaes ao mercado de trabalho. Delgado (2008) explica que esse fenmeno (tambm chamado globalismo) se traduz no apenas como fase do capitalismo, mas

    tambm como processo, medida que tende a afetar de maneira direta ou indireta as realidades econmicas, sociais, culturais e polticas ao longo do mundo.

    Lima (2007) ressalta que a globalizao, junto crescente evoluo tecnolgica, terminaram por reduzir drasticamente os postos onde a atividade exigia um mnimo de

    qualificao do trabalhador, gerando desemprego em todas as partes do mundo. Ainda segundo o autor, paralelamente o sistema capitalista busca, por via da viso neo-

    liberalista, reduzir custos para maximizar lucros. Um dos meios encontrados para se atingir esse objetivo consiste na minimizao do custo do trabalho, iniciando-se

    campanha feroz na reduo de direitos trabalhistas sob a denominao de flexibilizao.

    Sobre a questo, Souto Maior recorda que defende-se a flexibilizao dos direitos trabalhistas, como reflexo inexorvel da globalizao. Mas h de se verificar,

    inicialmente, o que vem a ser essa tal globalizao.(2000, p.127).

    Conforme Sandroni (1999), Globalizao

    Termo que designa o fim das economias nacionais e a integrao cada vez maior dos mercados, dos meios de comunicao e dos transportes. Um dos exemplos mais

    interessantes do proc esso de globalizao o global sourcing, isto , o abastecimento de uma empresa por meio de fornec edores qu e se e ncontram em vrias partes

    do mundo, c ada um produzindo e oferec endo as melhores condi es de preo e qualidade naqueles produtos que tm maiores vantagens comparativas. (SANDRONI,

    1999, p. 265).

    Delgado (2008) explica que globalizao ou globalismo corresponde fase do sistema capitalista, surgida no final do sculo XX, que se caracteriza por uma estreita

    vinculao entre os d iversos sub sistemas nacionais, regionais ou c omunitrios, de modo a criar como parmetro relevante para o mercado a no o de globo terrestre e

    no mais de nao ou regio exclusivamente.

    Completa Souto M aior que trata-se, portanto, de um fenmeno c omplexo, podendo ser traduzido c omo o conjunto de estruturas e p rocesso s poltico-econmicos,

    derivados do carter cambiante das mercadorias e bens que compes a base da economia poltica internacional em particular, a diferenciao estrutural crescente

    dessas mercadorias e bens. (2000, p.127). Considera, ainda, que na base da globalizao est o capitalismo, que no somente um processo econmico, mas tambm

    cultural.

    O processo de globalizao se caracteriza, consoante esclarece Pinto (2003), pela mundializao da economia e do capital, por via da telecomunicao, da robtica, da

    informtica e de ou tros meios tecnolgicos, permitindo o deslocamento de um lugar para o outro (por meios eletrnico s) na busca de apropriar-se de mercados,

    visando hegemonia econ mica e trazendo conseqentes re flexos na vida social de to dos e, de forma especialmente sen svel, no mundo do trabalho.

    Segundo Souto Maior (2000), junto globalizao c aminha a doutrina neoliberal, que sustenta as regras do livre mercado e que as interferncias do Estado so ruins,

    facilitando o avano do capital, por c erto, na direo do menor custo.

    Sandroni (1999) assim conceitua neoliberalismo:

    Doutrina poltico-econmica que rep resenta uma tentativa de adaptar os princpios do liberalismo econmico s cond ies do c apitalismo moderno. Estruturou-se no

    final da dcada de 30 por meio das obras do norte-americano Walter Lippmann, dos franceses Jacques Rueff, Maurice Allais e L. Baudin e dos alemes Walter Eucken, W.

    Rpke, A. Rstow e Mller-Armack. Como a escola liberal clssica, os neoliberais acreditam que a vida econmica regida por uma ordem natural formada a partir das

    livres decises individuais e cuja mola-mestra o mecanismo dos preos. Entretanto, defendem o disciplinamento da economia de mercado, no para asfixi-la, mas para

    garantir-lhe sobrevivncia, pois, ao contrrio dos antigos liberais, no acreditam na autodisciplina espontnea do sistema. Atualmente, o termo vem sendo aplicado

    queles que defendem a livre atuao das foras de mercado, o trmino do intervencionismo do Estado, a privatizao das empresas estatais e at mesmo de alguns

    servios pblicos essenciais, a abertura da economia e sua integrao mais intensa no mercado mundial. (SANDRONI, 1999, p. 421).

    J Gomes (2005), afirma que neoliberalismo trata-se da doutrina em voga nas ltimas dcadas do sculo XX, que busca a reduo do papel do Estado, sobretudo na

    esfera econmica. uma teoria globalizante utilizada como paradigma econmico e poltico, que se traduz como um conjunto de polticas e processos que permitem a

    um nmero relativamente pequeno de interesses particulares controlar a maior parte possvel da vida social, com o intuito de alcanar o mximo de benefcios

    individuais. O neoliberalismo opera, portanto, como um sistema no apenas econmico, mas tambm poltico e cultural, pois a soluo dos problemas referentes

    distribuio dos rec ursos, da o rganizao social e da produo ficam submetidas atuao das foras do mercado.

    De acordo com Soares (2004), os adeptos dessa teoria prope que o Estado recupere suas tradicionais funes polticas e transfira ao setor privado determinadas

    tarefas, que permitam, em um contexto de economia globalizada, a livre circulao de bens, servios e capitais, atravs de medidas como a reprivatizao dos servios e

    prestaes de bens de interesse sociais; a restrio das funes estatais no que tange garantia do marco legal dos direitos e liberdades; a reduo da burocracia

    pelo critrio custo versusbenefcio e a de sonerao do s custo s dos servios pblicos, os quais devem ser imputados mais diretamente aos u surios.

    Uma das teses sustentadas pelos neoliberais consiste, de acordo com Zanoti (2006), na flexibilizao das normas trabalhistas, como forma de propiciar a queda do custo

    do produto ou servio e, por sua vez, elevar o lucro do empresrio, aumentando o capital deste para investir em sua atividade produtiva, provocando como

    conseq ncia, a gerao de mais empregos e o fortalecimento dos salrios.

    Souto Maior (2000) explica que ataca-se o Direito do Trabalho, como se fosse o responsvel pelo encarecimento da mo de obra, que inviabilizaria as atividades

    empresariais. Assinala ainda o autor, que essa alegao, na verdade, corresponde lgica perversa do capital, que, no tendo de onde extrair lucro, o visualiza na

    reduo do custo da mo-de-obra.

    Contudo o Direito do Trabalho no constitui a causa do desemprego ou subemprego, como afirmam os neoliberais. Em relao a essa questo, Nagem (2002) afirma que

    hoje o desemprego no mais co njuntural e sim estrutural. Esclarecendo o fato, a autora explica que por de semprego estrutural entende-se aquele no qual a vaga de

    trabalho definitivamente substituda por um processo mecnico ou ento, devido a uma reorganizao do esquema de trabalho, eliminada definitivamente.

    Conforme assinala Pinto (2003), a realidade tem demonstrado o crescimento do desemprego estrutural, que se instaura como um novo co mponente contraditrio do

    desenvolvimento capitalista, da surgindo um novo patamar de excluso social nos principais pases capitalistas.

    Nesse pon to Zanoti (2006) revela que esse fenmeno reside no acentu ado avano tecnolgico e dos meios de produo observado nas ltimas dcadas, o que obriga o

    homem a competir com mquinas de ltima gerao, num flagrante desnvel que causa a sucumbncia daquele. O desemprego ou subemprego acha-se, tambm, na

    estratgia adotada de se cultivar um desemprego estrutural, visando sua utilizao como instrumento de diminuio dos salrios daqueles que ainda esto no mercado

    de trabalho.

    Como conseqncia disso, consoante anlise de Lima (2007), tem-se o crescimento das formas precrias de trabalho: parte presente nos empregos informais, parte

    alocada no que se aco stumou chamar de terceirizao. Ainda segundo o autor, o n mero de trabalhadores formalmente empregados apresentou srio dec lnio,

    causando, con forme referido acima, novas formas de re laes de laborais c omo as cooperativas, o teletrabalho e o trabalho parassubordinado.

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    Concorda Pinto e Silva (2004), ao afirmar que a precarizao das relaes de trabalho ganha espao, quer seja com o aumento do nmero de trabalhadores autnomos,

    quer seja com a ampliao das formas de subcontratao de trabalho (terceirizao, cooperativas), ou mesmo com a simples informalidade ou clandestinidade. Essa

    realidade provoca, portanto, uma necessria reflexo sobre a inocuidade de um sistema de proteo social que deixa uma significativa parcela do mercado de trabalho

    sua margem.

    Como se depreende do exposto, conforme assevera Nagem (2002), o emprego precrio (autnomos, trabalhadores sem carteira, terceirizados) esta em crescimento. O

    que oc orre, entretanto, que estes setores no tm sido capazes de absorver a mo-de-obra dispensada pelos demais.

    Aps essas anlises, nas palavras de Zanoti (2006), no difcil concluir que o quadro da economia globalizada extremamente perverso gerador de excluso social, haja

    vista que alimenta a informalidade, o subemprego, o desemprego e a precarizao do trabalho, fatos esses que impedem o homem de desfrutar de uma vida com um

    mnimo de dignidade.

    Assim, como se v, a globalizao, como fenmeno econmico, possui repercusses, em nvel social, que so perversas, se adotada para os problemas sociais a mesma

    lgica que destina economia.(SOUTO MAIOR, 2000, p.138). Por isso, prossegue o autor, o Direito do Trabalho deve ter uma preocupao fundamental, qual seja: a

    melhoria das condies do trabalhador, preservando-lhe a dignidade e garantindo uma contra prestao justa pelo servio prestado.

    Gomes (2005) pondera que esse processo de globalizao, ao mesmo tempo em que propicia a internacionalizao do sistema produtivo e dos servios, comea a

    evidenciar a necessidade de se buscar de uma forma mais concreta, imediata e progressiva, a soluo de necessidades prementes como forma de garantir a

    sobrevivncia da humanidade, que deixa de ser uma abstrao para se converter em uma realidade.

    Segundo Delgado (2008, p.11), o primado do trabalho e do emprego na vida social constitui uma das maiores conquistas da democracia no mundo ocidental

    capitalista.. Todavia, conforme acentua o autor, desde as ltimas dcadas do sculo passado tem-se assistido um iniludvel processo de desc onstruo cultural desse

    primado no sistema capitalista. Os pressupostos tradicionais de trabalho so questionados pela nova organizao flexvel.

    Silva (2003) sustenta que, como decorrncia da globalizao neoliberal, estamos presenciando uma desagregao da classe operria, tendo em vista que esse processo

    provocou uma mudana radical nos meios de produ o, gerando assim um fenmeno de excluso social, em que predomina: o desemprego cresc ente, que estrutural,

    planejado pelo sistema capitalista neoliberal; a precarizao formal que provoca a perda dos direitos trabalhistas; o crescimento do trabalho informal, que uma

    economia de sobrevivncia; at mesmo a instituio da misria moderna, massiva e globalizada.

    Prossegue, ainda o autor, afirmando que diante dessa situao, configura-se o substrato para uma reflexo sobre o aspec to jurdico da questo do trabalho, inclusive

    sobre o papel do Direito do Trabalho e da Justia do Trabalho, num momento em que se verifica a perda da centralidade do emprego, no que tange ao trabalho

    subordinado clssico. Assim, o modelo clssico de emprego no se mostra mais adequado. Em muitas situaes no mais suficiente para dar uma resposta satisfatria

    na relao entre capital e trabalho, mormente diante das novas relaes sociais resultantes do desenvolvimento tecnolgico. A noo clssica era adequada para um

    Direito do Trabalho prote cionista, desenvolvido num c ontexto de estabilidade (princpio da continuidade) e su bordinao fiscalizada. Portanto o momento de reflexo

    e de tentativa de solues para a questo da rarefao da subordinao jurdica, diante das anomalias surgidas, tais como: desemprego, trabalho informal, reduo de

    salrios, reduo de jornada, trabalho distncia, partilha de emprego, terceirizao, entre outras.

    3 SUBORDINAO TRABALHISTA

    O Direito do Trabalho brasileiro adota como principal critrio para a distino entre as vrias modalidades de relaes laborais a existncia da subordinao.

    O Direito do trabalho c lssico, c onforme Juc (2000), tem como ponto c entral da sua construo doutrinria a subordinao jurdica do empregado ao empregador.

    Assim a conc eituao de emprego elaborada at agora centraliza-se nessa subordinao, que c orresponde ao poder diretivo do empregador.

    Pinto (2003) assegura que, segundo a qu ase-totalidade dos doutrinadores, a marca c aracterstica do contrato de trabalho (ou c ontrato de emprego, segundo Catharino)

    a subordinao jurdica do empregado para com seu empregador. A partir desta idia de depen dncia, a doutrina criou a no o de subordinao jurdica,

    considerada clssica no direito do trabalho.

    Assim, para uma melhor c ompreenso, acerca do c onceito de subo rdinao jurdica e sua importncia para a construo te rica do Direito do Trabalho clssico,

    mostra-se relevante o estu do sob re relao de trabalho e relao de emprego.

    3.1 Relao de trabalho e relao de emprego: elementos caracterizadores

    De acordo com Freitas (2007), uma fundamental questo que invade o ramo juslaboral aquela que distingue a relao de trabalho da relao de emprego. Tem-se,

    portanto, que relao de trabalho o antecedente de que a relao de emprego o conseqente, ou ainda, o gnero, do qual se tem como espc ie a relao de

    emprego.

    Nascimento (2007) conc eitua relao de emprego como a relao jurdica, de natureza contratual, tendo por su jeitos o empregado e o empregador, e po r objeto o

    trabalho subordinado, continuado e assalariado.

    J Delgado (2008), considera que a relao de emprego, do ponto de vista tcnico-jurdico, apenas uma das modalidades especficas de relao de trabalho

    juridicamente configuradas. Corresponde, dessa forma, a um tipo legal prprio e especfico, que no se confunde com as demais modalidades de relao de trabalho

    ora vigorantes.

    Dessa forma, imperioso concluir, conforme Freitas (2007), pela impreciso da afirmativa segundo a qual relao de trabalho e relao de emprego possuem o mesmo

    significado.

    Pinto (2003) esclarece que, c onforme a maioria dos doutrinadores, a relao de trabalho trata-se de qualquer liame jurdico c ujo objeto seja a prestao de trabalho

    ou servio, envolvendo um determinado sujeito, pessoa fsica ou jurdica, a um destinatrio determinado. Trata-se, pois, de uma categoria ampla e que abrangeinmeras espcies.

    Relao de trabalho, co nforme c once ituada por Delgado (2008), refere-se a todas as relaes jurdicas, cuja caracterstica seja o fato de terem sua prestao essenc ial

    centrada em uma obrigao de fazer, consubstanciada em labor humano. Refere-se, segundo o autor, a toda modalidade de contratao do trabalho humano

    modernamente admissvel e traduz o gnero a que se acomodam todas as formas de pactu ao e de pre stao de trabalho existentes no mundo jurdico atual.

    Com base nisso, pode-se concluir que a relao de emprego, conforme acima explicitado, uma das espcies de relao de trabalho e em torno dessa relao laboral

    que se construiu o Direito do Trabalho ptrio. Pinto (2003) recorda, ainda, que a relao de emprego tem carter contratual, na medida em que a presena da vontade

    elemento essenc ial em sua configurao.

    Contrato, na definio de Fiza (2006), o ato jurdico lcito de reperc usso pessoal e socioec onmica que c ria, modifica ou extingue relaes c onvencionais

    dinmicas, de carter patrimonial, entre duas ou mais pessoas. Essas pessoas, em regime de coordenao visam atender necessidades individuais ou coletivas em busca

    da satisfao pessoal, assim promovendo a dignidade humana.

    Para Santos, o contrato conceituado como

    [...] o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos. No Direito Civil, o contrato faz-se presente no s no Direito das Obrigaes, como

    tambm no Direito de Empresa, no Direito das Coisas, no Direito de Famlia e no Direito das Sucesses. Perpassa o mbito do Direito Civil e atinge um expressivo nmerode c ontratos de Direito Pblico, c onstituindo-se um instrumento de c irculao de bens, produtos e servios de virtualmente todas as naturezas no mundo capitalista de

    produo. (SANTOS, 2003, p. 7-8)

    Continua o autor esclarecendo que, na relao de emprego, esta vontade possui limitaes, pois para o conc eito de contrato, o elemento essencial na constituio do

    vnculo reside na liberdade de consentir e no na liberdade de consentimento. Trata-se de uma relao contratual especfica, distinta e mpar, uma vez que tem por

    objeto uma obligatio faciendi(obrigao de fazer) prestada continuamente, intuitu personae, no que tange ao empregado, em carter de subo rdinao.

    Nesse sentido, Maranho (2005), ao citar Corrado:

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    [...] o c ontrato de trabalho no tem um contedo e specfico. Nele se compreende qualquer obrigao de fazer, desde qu e realizada em um estado de subordinao.

    Esta situao pe culiar, este modo de ser da pre stao, que o distingue, assim de outros c ontratos afins, como a empreitada e o mandato. (CORRADO apud

    MARANHO, 2005, p. 243)

    Outra diferenciao primordial entre c ontrato c ivil e contrato de trabalho apontada por Basile (2008). Tal diferenciao diz respeito ao fato de que , enquanto n o

    contrato de natureza civil presume-se uma igualdade (ainda que formal) entre as partes, no contrato de trabalho h a p resuno de de sigualdade entre as partes,

    entendo-se o trabalhador como a parte mais fraca, hipossuficiente, dessa relao. Da a maior interveno estatal no contrato de natureza trabalhista.

    Pinto e Silva (2004) acentua que, conforme disposto no artigo 442 da CLT, o c ontrato de trabalho acordo tcito ou expresso c orresponde nte relao de emprego.

    De todo o expo sto pode-se inferir que a relao de emprego o ncleo bsico do Direito do Trabalho. Consoante a lio de Alves (2003), permeiam tal relao jurdica

    elementos extrados da realidade ftica e consagrados pelo Direito (da a denominao elementos ftico-jurdicos).

    Todavia, conforme lembra Pinto (2003), no se pode perder de vista que o elemento subordinao indissocivel da relao de emprego, con stituindo um de seus

    elementos caracterizadores. Ainda segundo ele, os demais elementos caracterizadores da re lao de emprego apontados pelos doutrinadores so: trabalho por pe ssoafsica, prestado com pessoalidade, no-eventualidade, onerosidade.

    Basile considera que a subordinao e voluo do c onceito de depen dncia, e como requ isito do vnculo empregatcio no ec onmica, nem hierrquica, mas sim

    jurdica, j que o empregado c umpre as ordens que lhe so dirigidas pelo empregador em respeito ao contrato de trabalho. Declara, ainda que a subo rdinao

    representa o oposto de autonomia, em que o prestador mantm o pleno poder de organizao do trabalho [...]. (BASILE, 2008, p.16).

    Nesse sentido, M aranho (2005) lembra que a subo rdinao do empregado jurdica porque re sulta de um contrato, nele enc ontrando seu fundamento e seus limites,

    pois, conforme o autor, o conte do desse elemento c aracterizador do contrato de trabalho no pode assimilar-se a uma relao senhorial j que apenas uma situao

    jurdica.

    Em relao ao trabalho prestado por pessoa fsica, conforme afirma Alves (2003), seu entendimento no oferece grandes dificuldades. Significa que, para ser

    reconhe cido validamente c omo empregado, o sujeito ao prestar servios a um tomador deve ser nec essariamente pessoa fsica.

    Sobre a questo, Delgado (2008) assevera que a prestao de servios que o Direito o Trabalho toma em considerao aquela pactuada por uma pessoa fsica (ou

    natural), pois os bens jurdicos por ele tutelados (vida sade, integridade, moral, bem-estar, lazer, etc.) importam pessoa fsica, no podendo ser usufrudos por

    pessoas jurdicas. Portanto, a figura do trabalhador h de ser, sempre, uma pessoa natural.

    No tocante pessoalidade, Delgado (2008) esclarece qu e elemento que incide apenas sobre a figura do empregado, e se c aracteriza pelo c arter de infungibilidade. Arelao jurdica pactuada ser personalssima com respeito ao pre stador de servios, qu e no poder fazer-se substituir intermitentemente por outro trabalhador ao

    longo da concretizao dos servios pactuados.

    De outra maneira, na opinio de Basile (2008), no basta apenas o carter personalssimo da contratao: o fundamental elemento da pessoalidade o requisito de que

    seja uma pessoa fsica na c ondio de prestador dos servios.

    No qu e c oncern e no-eventualidade, conforme destaca Alves (2003), o trabalho para ser caracterizado co m relao de emprego no pode ser prestado

    eventualmente.

    Nesse sentido, conforme leciona Delgado (2008), para que haja relao empregatcia, necessita-se que o trabalho seja prestado em carter de permanncia, no se

    qualificando como trabalho espordico. Contudo, ainda segundo o autor, esse um dos conc eitos mais controvertidos no Direito do Trabalho.

    J a definio de onerosidade, para fins trabalhistas, conforme defende Basile (2008), deve ganhar um contorno muito mais abrangente que para os outros ramos do

    direito. Derivada de nus, a on erosidade se far presente sempre que o tomador de servios se comprometer ao c umprimento de u ma obrigao, seja de pagar (em

    moeda ou em utilidade), seja de fazer ou no fazer, j que a simples idia de que a falta de pagamento pecunirio implica na ausncia de onerosidade falsa. A

    ausncia de onerosidade n a prestao configura trabalho gratuito (beneficente, filantrpico).

    Assim, na lio de Delgado (2008), a onerosidade se manifesta, pela contraprestao devida pelo empregador ao empregado, pelo efetivo pagamento ao obreiro daparcela remuneratria aos se rvios prestados.

    Ao ensejo de concluso desse item, importante assinalar conforme Alves (2003), que embora todos esses elementos sejam importantes na caracterizao da relao

    de emprego, pre ciso de scer ao detalhamento quanto subo rdinao, em razo de seu papel c omo eixo de gravidade no paradigma atual da relao de emprego.

    Cumpre-se, dessa maneira, realizar uma anlise conceitual acerca da subordinao, como tambm sobre sua atuao no atual contexto imposto pela globalizao

    neoliberal e reestruturao produtiva, onde encontramos hoje muitas anomalias (diversas modalidades de trabalho atpicas).

    3.2 Subordinao jurdica: conceito e caractersticas

    Embora seja necessria a confluncia dos cinco elementos ftico-jurdicos para que se caracterize validamente a figura do empregado, e conforme aponta Alves (2003),

    a subordinao jurdica o elemento preponderante na conformao juslaboral brasileira.

    Nesse sentido, Delgado (2008) sustenta ser a su bordinao o marco que diferencia a relao de emprego perante as tradicionais modalidades de relao de produo

    que j foram hegemnicas na histria dos sistemas socioec onmicos. Ainda segundo ele, subo rdinao deriva de sub(baixo) e ordinare(ordenar). Seria, portanto, uma

    sujeio ao poder de outro s, s ordens de terceiros. Todavia, no Direito do Trabalho, essa subordinao encarada sob um prisma objetivo, pois atua sobre o modo de

    realizao da prestao e no sobre a pessoa do trabalhador, sendo efeito do contrato de trabalho. Da a denominao subordinao jurdica.

    Nascimento (2007) conc eitua subordinao c omo uma situao em que se enc ontra o trabalhador, sendo ela decorrente da limitao contratual da autonomia da suavontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de direo sobre a atividade que de sempenhar.

    Sobre o assunto, Me ireles (2005, p.93) esclarece que por subordinao jurdica, desse modo, entende-se a sujeio do empregado s ordens do empregador. O

    empregado, ao ser contratado, passa a ficar subordinado ao empregador, recebendo ordens (poder diretivo). Continua o autor:

    A subordinao jurdica, assim, significa que o empregador, por exercer o po der de direo da atividade ec onmica ou mesmo quando no exerce atividade

    econmica, mas dirige o servio prestado pelo empregado (numa relao domstica, por exemplo), reserva-se, por contrato firmado com o empregado, o direito de lhe

    dar ordens e de dirigir a prestao dos servios contratados. (MEIRELES, 2005, p.93)

    J para Chaves e Men des (2008), essa submisso evidencia que no mundo do trabalho o empresrio no apenas te m um direito c omo credo r, como no campo

    obrigacional, mas tambm um direito de po der, de c arter jurdico pe ssoal. Contudo, a subordinao atua sob re o modo de realizao da prestao e no sobre a

    pessoa do trabalhador e por isso, no se c aracteriza como uma relao de poder entre pessoas, mas