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mpanha de recuperação das matas ciliares do Vale do Ribeira Ca ANO I N°01 e 02 JULHO/2007 Está começando a maior e mais participativa CAMPANHA para a recuperação das matas cilia- res do Vale do Ribeira. A parceria entre o Instituto Ambiental Vidágua e o Instituto Socioambiental, em conjunto com mais de 40 instituições públi- cas e segmentos sociais locais, estará desenvol- vendo nos próximos dois anos, um conjunto de ações estratégicas, para proteção das águas e re- versão do quadro de degradação atual das áreas de preservação permanente na Bacia Hidrográfi- ca do Rio Ribeira de Iguape, região que abriga o maior e mais conservado remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil. Nos últimos 20 anos a região perdeu mais de 10.500 campos de futebol de mata ciliar, somente na porção paulista da Bacia. O Rio Ribeira, que outrora foi o berço da colonização do Brasil en- contra-se hoje ameaçado. Se não bastassem todos os problemas históricos associados às suas águas como a contaminação de chumbo e pesticidas, a barragem do Valo Grande na região estuarina, e a previsão de construção de usinas hidroelétricas, CAMPANHA CUJA ESSÊNCIA É COMPARTILHAR! suas margens a cada ano, vêm sendo ocupadas por atividades incompatíveis à proteção dos re- cursos hídricos. Os dados apontam para uma destruição de mais de 500 campos de futebol de mata ciliar por ano, e as conseqüências já estão sendo sentidas, como o assoreamento dos rios, perda da qualidade da água, comprometimento da pesca, aumento dos picos das enchentes, ero- sões das margens e empobrecimento do solo. Preocupados com esta situação, o Instituto Am- biental Vidágua e o Instituto Socioambiental aprovaram dois projetos cuja essência é iniciar um processo de discussão dos temas relaciona- dos à proteção das águas e a recuperação das matas ciliares na região. O Vidágua aprovou jun- to ao Fundo Nacional do Meio Ambiente/FNMA – o Projeto “Plano Estratégico de Recuperação das Matas Ciliares da Bacia Hidrográfica Fede- ral do Rio Ribeira de Iguape”, e o ISA aprovou junto ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape o Projeto “Ribeira Sustentável: Articulação e Mobilização Social para a Conser- vação e Recuperação das Matas Ciliares do Vale do Ribeira”. Em outubro do ano passado, às instituições (ISA/ VIDÁGUA) selaram um acordo para o desenvol- vimento conjunto das duas iniciativas, e inicia- ram um movimento para que o tema das matas ciliares integrasse a agenda ambiental da região, visando a criação de uma ampla CAMPANHA regional para compartilhar iniciativas e ações, em defesa da sociobiodiversidade do Vale do Ribeira. Nesta edição 1 Conheça os objetivos e ações desta CAMPANHA, quem participa, como se envolver nas atividades, e o que já está sendo desenvolvido na região sobre o tema. Parceria ANO I N 01 e 02 JULHO/2007 Tudo sobre a Campanha e o que já aconteceu As experiências de recuperacão já desenvolvidas Qual a importância dos projetos de reflorestamento e como recu- perar as matas ciliares. Rio Cordeiro / Estuários Lagamar . Foto: Isao Okawa Divulgação Vidagua Amavales Divulgação Vidagua

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mpanha de recuperação das matas ciliares do Vale do RibeiraCa

ANO I N°01 e 02 JULHO/2007

Está começando a maior e mais participativa CAMPANHA para a recuperação das matas cilia-res do Vale do Ribeira. A parceria entre o Instituto Ambiental Vidágua e o Instituto Socioambiental, em conjunto com mais de 40 instituições públi-cas e segmentos sociais locais, estará desenvol-vendo nos próximos dois anos, um conjunto de ações estratégicas, para proteção das águas e re-versão do quadro de degradação atual das áreas de preservação permanente na Bacia Hidrográfi -ca do Rio Ribeira de Iguape, região que abriga o maior e mais conservado remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil.Nos últimos 20 anos a região perdeu mais de 10.500 campos de futebol de mata ciliar, somente na porção paulista da Bacia. O Rio Ribeira, que outrora foi o berço da colonização do Brasil en-contra-se hoje ameaçado. Se não bastassem todos os problemas históricos associados às suas águas como a contaminação de chumbo e pesticidas, a barragem do Valo Grande na região estuarina, e a previsão de construção de usinas hidroelétricas,

CAMPANHA CUJA ESSÊNCIA É COMPARTILHAR!

suas margens a cada ano, vêm sendo ocupadas por atividades incompatíveis à proteção dos re-cursos hídricos. Os dados apontam para uma destruição de mais de 500 campos de futebol de mata ciliar por ano, e as conseqüências já estão sendo sentidas, como o assoreamento dos rios, perda da qualidade da água, comprometimento da pesca, aumento dos picos das enchentes, ero-sões das margens e empobrecimento do solo.Preocupados com esta situação, o Instituto Am-biental Vidágua e o Instituto Socioambiental aprovaram dois projetos cuja essência é iniciar um processo de discussão dos temas relaciona-dos à proteção das águas e a recuperação das matas ciliares na região. O Vidágua aprovou jun-to ao Fundo Nacional do Meio Ambiente/FNMA – o Projeto “Plano Estratégico de Recuperação das Matas Ciliares da Bacia Hidrográfi ca Fede-ral do Rio Ribeira de Iguape”, e o ISA aprovou junto ao Comitê da Bacia Hidrográfi ca do Rio Ribeira de Iguape o Projeto “Ribeira Sustentável: Articulação e Mobilização Social para a Conser-vação e Recuperação das Matas Ciliares do Vale do Ribeira”.Em outubro do ano passado, às instituições (ISA/VIDÁGUA) selaram um acordo para o desenvol-vimento conjunto das duas iniciativas, e inicia-ram um movimento para que o tema das matas ciliares integrasse a agenda ambiental da região, visando a criação de uma ampla CAMPANHA regional para compartilhar iniciativas e ações, em defesa da sociobiodiversidade do Vale do Ribeira.

Nesta edição

1

Conheça os objetivos e ações desta CAMPANHA, quem participa, como seenvolver nas atividades, e o que já está sendo desenvolvido na região sobre o tema.

Parceria

ANO I N 01 e 02 JULHO/2007

Tudo sobre a Campanha e o que já aconteceu

As experiências de recuperacão já desenvolvidas

Qual a importância dos projetos de refl orestamento e como recu-perar as matas ciliares.

Rio Cordeiro / Estuários Lagamar . Foto: Isao Okawa

Divulgação Vidagua

Amavales

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O QUE SE ESPERA DA CAMPANHA

A CAMPANHA tem como objetivo pro-mover uma ampla articulação regional, envolvendo os diversos segmentos - pre-feituras, órgãos públicos federais e esta-duais, empresas, escolas, proprietários ru-rais e comunidades em geral, para umaprofunda discussão sobre a situação dedegradação das fl orestas ciliares e seusimpactos para a manutenção da qualida-de das águas da região, e nas condiçõeseconômicas das populações locais.

A CAMPANHA tem como metas a elabo-ração de um plano estratégico e perma-nente de recuperação ambiental das ma-tas ciliares, iniciando pela recuperaçãoimediata de 120 hectares destas fl orestas,com a fi nalidade de proteção dos rios eda biodiversidade. Serão abrangidos 33municípios da Bacia, sendo 23 deles naregião paulista e 10 na porção paranaen-se.

A iniciativa pretende aprimorar os estu-dos técnicos sobre a situação das matas ciliares;a produção de mais 230 mil mu-das de espécies nativas, além de promover a capacitação de técnicos e comunidades locais nos processos de refl orestamento eprodução de mudas. Também está previs-to envolver diretamente todas as escolaspúblicas do Vale do Ribeira em ações deeducação ambiental, e engajar os proprie-tários rurais e a sociedade nas açõesde reversão do quadro de degradaçãoatual.

Uma ação desta magnitude precisa deações compartilhadas para ser bem suce-dida. Seja na produção de conhecimen-tos, seja no entendimento dos problemas ou no desenvolvimento de ações pensa-das para sua solução. A proposta de uma ampla articulação regional envolvendo os diversos segmentos dos estados de São Paulo e Paraná, favorece a iniciativa, e fortalece o debate sobre as propostas de intervenção, recuperação e proteção das matas ciliares e da qualidade das águas da Bacia Hidrográfi ca do Rio Ribeira.

A MOBILIZAÇÃO PELAS MATAS CILIARES DA REGIÃO

O Vale do Ribeira foi dividido em 5 sub-regiões para realização dos seminários regionais queteve como objetivo mapear e envolver todos os atores e instituições locais com inserção em te-mas socioambientais, para discussão de estratégias conjuntas de recuperação das matas ciliaresda região. Os eventos também foram importantes para esclarecer e sensibilizar os diferentes setores, sobre a necessidade de ações integradas para reversão do quadro atual de degradação das fl orestas ciliares.Durante os seminários regionais, tendo como ferramentas metodológicas à visualização da pro-blemática referente às fl orestas ciliares, com o grau de degradação por município; as discussões em plenárias sobre as ações já em andamento e as possíveis parcerias para os processos de intervenção; e os trabalhos realizados em grupos divididos por município; foi possível elaborar o primeiro mapa/diagnóstico (pág 4 e 5) das áreas e rios que na visão dos grupos locais são prio-ritários para receber as primeiras ações de recuperação das matas ciliares.Conheça um pouco mais sobre a realização dos Seminários Regionais, onde ocorreram, quem participou, e quais os resultados preliminares levantados.

SEMINÁRIOS REGIONAIS

Em 28 de novembro de 2006 a cidade de Registro,sediou o primeiro Seminário Regional da Campa-nha - Sub-Grupo Médio Ribeira que contou com a participação de 107 técnicos e representantes dos setores públicos e sociais dos municípios de Eldora-do, Jacupiranga, Barra do Turvo, Cajati; Registroe Sete Barras.

Em 14 de fevereiro de 2007, Ilha Comprida foi asede o 2o Seminário Regional da Campanha - Sub-Grupo Lagamar que contou com a participação de 51 técnicos e autoridades locais, e envolveu os mu-nicípios de Cananéia; Pariquera-Açu; Iguape e Ilha Comprida.

O 3o. Seminário Regional da Campanha - Sub-Gru-po Alto Ribeira foi realizado no município de Apiaí, em 08 de março de 2007, com participação de 50 técnicos, professores e representantes de comunida-des locais dos municípios de Apiaí, Itaóca, Itapira-puã Paulista, Ribeira e Barra do Chapéu.

Em 21 de março de 2007, a cidade de Miracatu se-diou o 4o. Seminário Regional da Campanha - Sub-Grupo Portal do Vale que envolveu os municípios de Juquiá; Tapiraí; Itariri; Pedro de Toledo e Peruíbe, com a participação de 55 técnicos, professores e au-toridades locais.

A cidade de Cerro Azul na porção paranaense da região, em 10 de maio de 2007, fechou o primeiro ciclo de debates com o 5o. Seminário Regional da Campanha - Sub-Grupo Ribeira Paraná com a parti-cipação de 37 técnicos e representantes de institui-ções públicas dos municípios de Itaperuçu; Adria-nópolis; Rio Branco do Sul; Tunas do Paraná

Divulgação Vidagua

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O QUE SÃO MATAS CILIARES E SUAS FUNÇÕES

As matas ciliares são formações fl orestais que ocorrem ao longo dos rios, córregos ou no entorno de lagos, várzeas e reservatórios. Protegidas pelo Código Florestal, as fl orestas ciliares são essen-ciais para o escoamento das águas das chuvas, estabilização das margens e barrancos evitando o assoreamento dos rios, interação entre os ecossistemas terrestre e aquático (temperatura da água, alimentação da fauna aquática e terrestre). As matas ainda desem-

penham um papel de corredor genético para a fl ora e fauna, pro-movendo o fl uxo de espécies dentro e entre os diferentes biomas.

Um dos ecossistemas mais explorados nos últimos 20 anos, as matas ciliares se estabelecem como importantes formações fl orestais a se-rem conservadas ou recuperadas. O PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) incluiu estas fl orestas e os temas en-volvendo a sua conservação e recuperação, como estratégias prioritá-rias para preservação dos recursos hídricos e da biodiversidade.

A SITUAÇÃO DAS MATAS CILIARES NO VALE DO RIBEIRA E POR ONDE DEVE COMEÇAR A CAMPANHA

O Vale do Ribeira abriga a maior extensão continua e conservada da Mata Atlântica no Brasil. Desta área, 78% ainda estão cobertos por remanescentes originais, com alto grau de preservação e endemismo. Em 2003, uma parceria envolvendo a SOS Mata Atlântica, ISA, Ins-tituto Florestal, Vidágua e ArcPlan, foi possível viabilizar o primeiro projeto de verifi cação da real situação das matas ciliares na região, denominado de “Projeto APP”, com fi nanciamento do CBH-RB e FEHIDRO. De acordo com o Biólogo Clodoaldo Gazzetta, coordena-dor do Programa Mata Atlântica do Vidágua, e autor do projeto APP, a região perdeu nos últimos 20 anos, somente na porção paulista da Bacia, 11.596,99 hectares de mata ciliar. Isso resulta em graves pro-cessos erosivos, comprometimento do solo, assoreamento da calha dos rios, agravamento dos processos de cheias e até perda de biodi-versidade.

O relatório destaca ainda o uso inadequado que está sendo dado para as APP’s. De acordo com Gazzetta, a pastagem foi à atividade eco-nômica que mais expandiu suas fronteiras sobre as áreas de preser-vação permanente da região, ampliando sua área de 1.079 hectares em 1985, para mais de 1.900 hectares em 1999, o que corresponde a um aumento de mais 80% no período. A banana também é destacada neste estudo, e representa hoje a segunda maior pressão econômica sobre as APP’s, ocupando aproximadamente 11,39% destas áreas de proteção, o que representa mais de 2.240 hectares.

O estudo verifi cou também, em quais áreas da Bacia ainda se pode encontrar uma mata ciliar preservada. O município de Eldorado é o que detém o maior remanescente deste ecossistema, são 453,39 hec-tares de fl oresta ciliar em bom estado de conservação. Este número representa 17,42% do total de 2.602,47 hectares de APP que o muni-cípio possui. Dois municípios também se destacam pela proteção de suas matas ciliares, Juquiá, que possui em números absolutos 691,73 hectares de mata ciliar em estágio médio e avançado de regenera-ção, e Barra do Chapéu, que pode ser considerado o município que mais preserva suas APPs, pois 81,95% destas áreas encontra-se com fl oresta.

O Vale do Ribeira possui um défi cit de mata ciliar da ordem de 10.542,85 hectares, uma vez que 1.054,14 são ocupações já conso-lidadas, com cidades, estradas e áreas antropizadas mais densas. Para os próximos dois anos, segundo Nilto Tatto coordenador do Programa Vale do Ribeira do ISA e um dos idealizadores da CAMPANHA, a estratégia é recuperar 1.243,33 hectares de APPs que hoje estão aban-donadas do ponto de vista econômico, sendo que deste 1.043,46 hec-tares correspondem a áreas denominadas de campo/sujo, e 199,87 são áreas de solo exposto com alto grau de degradação.

Inicialmente, a CAMPANHA vai priorizar a recuperação das matas ciliares nas áreas defi nidas no mapa/diagnóstico. Gazzetta destaca, que as informações levantadas pelos grupos locais foram confronta-dos com as estatísticas de uso do solo, com a fi nalidade de destacar áreas com alto grau de degradação e de baixo confl ito para as inter-venções de recuperação fl orestal. Neste contexto, as áreas de solo exposto e passível de erosão, e os campos sujos - áreas abandonadas de uso econômico, serão as priorizadas para os processos iniciais de recuperação.

Cenas do Rio Ribeira de Iguapee seus afl uentes.

Rio Ribeira de Iguape/Registro - Arcplan

Lelis Ribeiro

Arcplan

Arcplan

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ENTENDA O QUE DIZ A REGRA LEGALPARA A RECUPERAÇÃO DAS MATASCILIARES

As matas ciliares são consideradas Áreas de Preservação Permanente e são protegidas por lei federal (Lei Federal 4771/65) que estabelece ainda, regras para sua amplitude mínima de acordo com a largura dos rios, córregos, lagos, represas e nascentes:• Até 10m de largura, 30m de mata ciliar em cada margem• Entre 10 e 50m de largura, 50m de mata ciliar em cada margem• Entre 50 e 100m, 100m de mata ciliar em cada margem• Grandes rios com até 600m, 500m de mata ciliar em cada margem.

Os instrumentos legais que regem o processo de recuperação das matas ciliares são: a resolução da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo – SMA 08/2007 que ampliou e alterou as resoluções SMA 21/2001, SMA 47/2003 e que estabelecem regras para recuperação das matas ciliares e estrutura de refl orestamento. Essas determinações estabelecem que a recuperação fl orestal deve ser priorizada nas Áreas de Preservação Permanente (nascentes e olhos d’água) com grande variedade de espécies, compatível com o tipo de vegetação nativa ocorrente no local. Conheça as principais regras:- Em áreas de ocorrência das formações de fl oresta ombrófi la, de fl oresta estacional semidecidual e de savana fl orestada (cerradão), a recuperação fl orestal deverá atingir, no mínimo de 80 espécies fl orestais nativas de ocorrência regional.- Pelo menos 20% das espécies devem ser zoocóricas (a disseminação de frutos e sementes são feitas por animais) nativas da vegetação regional;- 5% das espécies escolhidas devem ser de categorias ameaçadas, ou seja, que estão em iminência de extinção;- As espécies deverão contemplar os dois grupos ecológicos: pioneiras e não pioneiras. No mínimo 40% para qualquer dos grupos, exceto para a savana fl orestada (cerradão), não podendo exceder 60% do total dos indivíduos do plantio;- Nenhuma espécie pioneira pode ultrapassar o limite máximo de 20% de indivíduos do total do plantio;- Nenhuma espécie não pioneira pode ultrapassar o limite máximo de 10% de indivíduos do total do plantio.- O solo deve ser preparado, considerando-se as especifi cidades de suas características.- A área deve ser isolada, sempre que necessário, visando controlar os fatores de risco ao crescimento das plantas.- As práticas de manutenção da área em recuperação fl orestal deverão ser executadas, no mínimo, por 24 meses após o plantio

PRODUÇÃO DAS MUDAS

A produção de mudas e coleta de sementes fl orestais pode ser realizada de diferentes formas, mas sempre devem obedecer a critérios e a legislação em vigor. Os instrumentos legais e que regulam a produção de mudas e sementes no país são:

• Lei 10.711/2003 que dispõe sobre o sistema nacional de sementes e mudas, regulamentada pelo decreto 5.153/2004;

• Instrução Normativa 112 de 21/08/2006 expedida pelo IBAMA;

• Lei 11.428/2006 que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação do Bioma Mata Atlântica.

As mudas podem ser produzidas em sacos plásticos ou tubetes de diferentes proporções, utilizando como substrato, subprodutos fl orestais ou terra vegetal. Recomenda-se para o bom desenvolvimento da muda, que sejam utilizados tubetes plásticos 40/150 ou 65/190 mm, ou sacos plásticos 10 x 20 cm. As mudas devem ser postas lado a lado para o crescimento, e dependendo da espécie fl orestal, podem ser colocadas diretamente ao sol ou sob cobertura de sombrite de 35% à 50% de sombreamento. É necessário também planejar a irrigação de modo a fornecer água em quantidade adequada para o crescimento da planta. Para produção das mudas destinadas à recuperação de áreas degradadas ou de matas ciliares, é fundamental a observação da legislação vigente, e utilizar apenas espécies nativas e ocorrentes na região. Após a germinação das sementes, o tempo de crescimento das mudas pode variar entre 3 a 8 meses, dependendo da espécie. As mudas estão aptas ao campo quando alcançarem a estatura mínima de 60cm.

PREPARANDO A ÁREA PARA O PLANTIO

Para recuperação das matas ciliares, a largura do rio deve ser avaliada, visando adequar o projeto à legislação vigente. Além disso, outras características ambientais da área escolhida devem ser diagnósticadas como: fertilidade do solo, possibilidades de erosões, profundidade e umidade; extensão das áreas inundáveis e duração média dos períodos de inundação, como também a topografi a e declividade do terreno. Para o sucesso do processo de restauração destas fl orestas a área deve ser isolada com cercas; as espécies competidoras como braquiárias e mamonas devem ser eliminadas, alem do controle de pragas.Após a devida demarcação, controle dos agentes de perturbação e isolamento, as areas devem ser capinadas manualmente ou mecanicamente, dependendo da necessidade, de modo que os impactos negativos sejam os menores possíveis. As covas e coroas devem ser feitas distantes umas das outras de 2 metros na linha e 3 metros nas faixas. A abertura das covas pode ser feita manualmente com auxílio de cavadeira ou enxadão na medida de 40x40x40cm, ou mecanicamente com tratores usando sulcadores ou perfuratrizes. É recomendado que o plantio seja feito em linha que podem variar de 3x3m, 3x2m, 2.5x2.5m. As mudas devem ser plantadas de forma alternada, em relação às mudas da outra linha.As linhas são divididas em dois grupos diferentes: a linha de diversidade e a linha de preenchimento. Na de preenchimento são utilizadas espécies de crescimento rápido (árvores pioneiras), com a fi nalidade de fechar a área. Na de diversidade são utilizadas espécies de crescimento lento (árvores secundárias e clímax).Outro fator que deve ser seguido rigorosamente é a realização de um refl orestamento heterogêneo, com no mínimo 80 espécies distintas para áreas com mais de 50 hectares, sendo que, as espécies fl orestais deverão obedecer à lista e os parâmetros de recomposição estipulados pela resolução SMA 08/2007. Vale destacar que são usadas em média 1.800 mudas para a recuperação de um hectare.

fatores de risco ao crescimento das plantas.- As práticas de manutenção da área em recuperação fl orestal deverãoser executadas, no mínimo, por 24 meses após o plantio

Flávio Fagian

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CONHEÇA AS INICIATIVAS DERECUPERAÇÃO

PREFEITURA DE ELDORADO PLANTA 1200 MUDAS PARA RECUPERAÇÃO DO RIO RIBEIRA

A prefeitura Municipal de Eldorado já tomou iniciativa e está desen-volvendo projeto de recuperação da Mata Ciliar do rio Ribeira, loca-lizado na várzea do Ribeira, em Eldorado. Segundo Rodrigo Aguiar, diretor de Meio Ambiente do município, serão plantadas 1.270 mudas de 50 espécies, características da Mata Atlântica.Aguiar ressalta que o apoio da população que mora nas proximi-dades do projeto é fundamental. “Eles atuam como defensores da recuperação da mata ciliar, ajudando no plantio e cobrando do Poder Público Municipal a contínua manutenção da área e o replantio das espécies que se perderam”. E o projeto já tem resultados. Segundo Aguiar as mudas estão com mais de um metro de altura, bem adaptadas ao solo e clima, e muitos pássaros vêm se instalando na área do projeto, evidenciando a recu-peração da biodiversidade.

projetos de refl orestamento. Para Timóteo a fi scalização deve ser mais intensiva na preservação do Vale do Ribeira. “Não consigo entender como um território tão amplo e rico em biodiversidade tenha tão pou-cos fi scais”, lamenta.

PREFEITURA DE ITAOCA INCENTIVA PLANTIO DE PROPRIETÁRIOS RURAIS

O Refl orestamento de Matas Ciliares em afl uentes e nascentes do rio Ribeira de Iguape também é o foco da Prefeitura de Itaoca. Segundo Jonas Mendes Junior, diretor do Departamento de Educação e Cultura da prefeitura, eles conseguem as mudas e doam para os proprietários das áreas realizarem o plantio. O resultado é satisfatório, os proprietá-rios assimilaram a importância do refl orestamento e estão plantando nas margens dos córregos. E o interesse vem crescendo. “Agora vamos precisar de mais mudas, pois com a iniciativa desses proprietários, outros também estão se interessando”. A base do Vidágua em Iguape já contribui com a iniciativa e doou mudas para os projetos de refl o-restamento de Itaoca.Para Mendes Junior a necessidade de preservação das Matas Ciliares no Vale do Ribeira é urgente, resultando em secas em alguns locais. “Por mais água que tenha nessa região, nos períodos de estiagem, os pequenos córregos secam por falta de vegetação ao redor, por isso a nossa preocupação”. A prefeitura pretende realizar uma grande mobilização com alunos e comunidade, com plantio de aproximadamente mil mudas de es-pécies nativas. A área escolhida iria abrigar a lagoa de tratamento de esgoto, mas, por conta das nascentes que existem no local a obra não pode ser efetuada. “Estamos trabalhando para a recuperação das nascentes”, argumenta o diretor.

AMAVALES PRODUZ, PLANTA E PESQUISA AS MATAS CILIARES DA REGIÃO

Desde 1997 a Associação dos Mineradores de Areia do Vale do Ribeira e Baixada Santista (Amavales) desenvolve o projeto “Viva Ribeira”, que além de trabalhos educativos e de resgate da cidadania com comunidades do entorno, realiza projetos voltados para recom-posição da Mata Ciliar dos rios Ribeira de Iguape e Juquiá, através do plantio de espécies nativas. Segundo o geólogo da Associação, Páblo Fernández, as mudas plantadas provêem de viveiros instalados nos próprios portos de areia, e as sementes são coletadas nas matas rema-nescentes de vegetação próxima aos empreendimentos.Segundo levantamento da Amavales cerca de 150 mil m2 de áreas ribeirinhas foram revegetadas, com plantio de 25 mil espécies. Para ampliar as ações e avaliar cientifi camente a importância das Matas Ciliares para a fauna do rio, o geólogo explica que a Amavales deu início ao projeto - “Rio Ribeira, uma fonte de vida e renda”, desenvolvido por pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio no Pólo do Vale do Ribeira. A pesquisa está centrada na coleta dos peixes e posterior análise em laboratório para identifi -car os hábitos alimentares das espécies do rio, para, então, orientar a escolha das espécies vegetais nativas das Matas. Ciliares. “Com isto, pretende-se aumentar a oferta de alimento para a ictiofauna e sua conseqüente proliferação, resgatando a vida do rio e criando mais oportunidades de pesca, tanto esportiva como profi ssional”, relata o geólogo. Além disso, o aumento de peixes nos rios também acaba gerando renda para a população local.A Amavales é mais uma parceira da Campanha de Recuperação da Matas Ciliares.

Mas ele aponta obstáculos enfrentados no desenvolvimento do pro-jeto, como a criação de animais nas áreas de proteção. O problema vem sendo solucionado com o apoio do Ministério Público, que atua na colaboração da manutenção do projeto, intimando os proprietá-rios de cavalos a retirarem seus animais do local.

BARRA DO CHAPÉU CAPACITASITIANTES

A Prefeitura Municipal da Barra do Chapéu está desenvolvendo junto aos sitiantes que moram as margens do rio Catas Altas, um projeto para o replantio de mudas de árvores nativas em áreas desmatadas, na tentativa de recuperar a vegetação em áreas particulares.Segundo o diretor de Meio Ambiente do município, Gilson Timóteo, o trabalho deve ser aperfeiçoado. “Percebo que a maioria dos agri-cultores não sabe fazer uma cova de maneira adequada para plantar as mudas. Isso faz com que muitas mudas morram ou tenham o de-senvolvimento muito devagar”. A CAMPANHA vem ao encontro dos anseios de Barra do Chapéu, porque visa compartilhar informações técnicas e experiências de recuperação, e com isso, contribuir com

Mas ele aponta obstáculos enfrentados no desenvolvimento do pro

Prefeitura de Eldorado

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A IMPORTÂNCIA DA RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES

“A mata ciliar atua como um corredor ecológico, que possibilita que indivíduos isolados em fragmentos possam deslocar-se até outro fragmento garantindo a sustentabili-dade de espécies vegetais e animais em suas relações na-turais”, explica um dos responsáveis técnicos pelas ações de recuperação das matas ciliares da CAMPANHA, o bió-logo Jonas Costa Rangel. Segundo ele, a mata propicia o fl uxo gênico, ou seja, a interação de indivíduos da mesma espécie, mas de comunidades diferentes. “Sem este fl uxo, pode ocorrer um empobrecimento genético e declínio no número de espécies”.Para os recursos hídricos, a mata protege as cabeceiras, curso dos rios, e o volume de água. O técnico explica que sem a mata ciliar a água da chuva penetra com mais in-tensidade no solo e os sedimentos são depositados dentro dos rios, provocando assoreamento e mudanças na quali-dade das águas. Neste sentido, projetos de recomposição fl orestal são essenciais para a manutenção da biodiversi-dade e preservação dos recursos hídricos.O engenheiro fl orestal Marcos Rogério Diniz coordenador dos processos de recuperação fl orestal da CAMPANHA, alerta que os projetos de restauração devem ser planeja-dos e seguir regras estipuladas pela legislação vigente. No Vale do Ribeira, o engenheiro explica que a predominân-cia é das formações fl orestais da fl oresta ombrófi la den-sa, mas também são encontradas formações de restinga, manguezais e encosta atlântica fl uvial, o que faz da região um complexo mosaico de ambientes.Para Marcos Diniz a CAMPANHA vai proporcionar a dis-seminação de técnicas apropriadas de refl orestamento, dentro de um trabalho participativo. “O potencial de re-plicabilidade é o diferencial do projeto. Esperamos que os proprietários rurais, as prefeituras da região, e as comuni-dades de modo geral, se envolvam e consigam expandir as ações de refl orestamento em cada localidade”.

• Protege as margens e o solo• Evita o assoreamento dos rios• Conserva as nascentes e a água• Aumenta a quantidade de peixes• Alimenta os animais• Melhora o clima• Evita grandes enchentes.

• Erosões e desbarrancamento das margens• Assoreia os leitos dos rios• Intensifi ca a poluição das águas• Os peixes desaparecem• Os animais silvestres fogem para outras áreas• Temperaturas da região aumentam• As enchentes se agravam

Sua ausência causaA Mata Ciliar

Instituto Ambiental Vidágua; Instituto Socioambiental; Comitê da Bacia Hidrográfi ca do Rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul – CBH-RB; Prefeitura de Ilha Comprida; Prefei-tura de Eldorado; Prefeitura de Ribeira; Prefeitura de Miracatu; Prefeitura de Itaóca; Prefeitura de Apiaí; Ministério Público do Estado de São Paulo – Promotoria de Justiça do Meio Ambiente Vale do Ribeira; Universidade Estadual Paulista – UNESP/Registro; Departamento Estadual de Água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo – DAEE; Coordenadoria Estadual de Assistência Técnica Integral - CATI; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; Área de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe – APA-CIP; Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná – SEAB; Centro de Estudo, Defesa e Educação Ambiental - CEDEA; Instituto de Terras de São Paulo - ITESP; Instituto de Pesca – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Sul; Secretaria de Meio Ambiente do Paraná – SEMA; In-stituto Ambiental do Paraná – IAP; Associação de Monitores Ambientais de Eldorado – AMAMEL; Associação de Moradores Vila Bestel – PR; AMAINAM – Brasil; Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira – IDESC; Associação Sindical dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Cerro Azul – AS-STRAF; Associação Vidas Verde de Estudos Ambientais – AVV; Associação dos Mineradores de Areia do Vale do Ribeira e Baixada Santista – AMAVALES; Movimento dos Ameaçados por Barragens – MOAB; Programa da Terra – PROTER; Sindicato Regional da Agricultura Familiar do Vale do Ribeira e Litoral Sul – SINTRAVALE; Diretora de Ensino Região Miracatu; Diretora de Ensino Região Apiaí; Diretora de Ensino Região de Registro; Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo; Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo; Instituto de Economia Agrícola de São Paulo – IEA; Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo/Departamento de Proteção de Recursos Naturais – DEPRN; Cooperativa de Assessoria Técnica Integral do Vale do Ribeira – CATIVAR; Ministério do Desenvolvim-ento Agrário/Secretaria Agricultura Familiar/Rede de Turismo e Agricultura Familiar – MDA/SAF/REDETRAF; Equipe de Assessoria e Articulação das Comunidades Negras do Vale do Ribeira – EAACONE; Colônia de Pescadores de Iguape – Z-7/Veiga Miranda; Colônia de Pescadores de Cananéia – Z-9/Apolinário de Araújo.

QUEM APOIA E PARTICIPA DA CAMPANHACONSELHO GESTOR DA CAMPANHA

Parceria Apoio CAMPANHA DE RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES DO VALE DO RIBEIRA

Inst. Ambiental Vidágua [email protected] T:(13) 3841 4956 www.vidagua.org.brInst. Socioambiental [email protected] www.socioambiental.org T:(11) 3515.8900 Jornalista responsável Katarini Miguel (MTB 43961)Diagramação PÃO criação (www.paocriacao.com.br)Tiragem 3.000 exemplaresImpressão Gráfi ca Coelho

Flávio Fagian

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anha de recuperação das matas ciliares do Vale do RibeiraCampa