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João Carlos Gralheiro

Parecer Alteração à Lei dos Baldios

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VERBO JURÍDICO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer) : 2

Alteração à Lei dos Baldios PARECER

João Carlos Gralheiro Advogado

Exº Sr. Presidente da Comissão de Agricultura e Mar da Assembleia da

República:

Exºs Sr.s Deputados

Antes de tudo quero agradecer o honroso convite que me foi endereçado para

participar na Audição Pública, no âmbito da discussão na especialidade do Projeto Lei

n.º 528/XII (Alteração à Lai dos Baldios).

A minha vontade era mesmo a de participar nessa reunião, deslocando-me no dia

e hora agendados à Assembleia República.

Acontece que moro e trabalho em S. Pedro do Sul, e uma deslocação a Lisboa

acarreta sempre custos avultados.

Como no convite que me foi remetido nada vinha dito quanto a uma eventual

comparticipação nas despesas, tomo esse silêncio no sentido de que teria de ser eu a

arcar com elas, por inteiro.

Ora, esse “simples” facto é impeditivo da minha ida ao Parlamento.

Dito isto como lamento, pois se pudesse assistir/participar na audiência pública,

com certeza que iria enriquecer as minhas reflexões com as de outros, que sobre esta

matéria sabem muito mais do que eu, não queria deixar de partilhar com V. Exªs alguns

“espantos” que este projeto lei me causou.

Envio-vos, por isso, e por escrito, algumas das reflexões que me mereceu o

aludido projeto lei em discussão, na humilde esperança que elas possam, de algum

modo, contribuir para uma melhor lei, já que uma lei melhor, na atual correlação de

forças político-sociais, é difícil, para não dizer impossível.

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JOÃO CARLOS GRALHEIRO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer): 3

Assim:

Sumário:

1 – A questão da personalidade jurídica dos Baldios;

2 - A importância histórica dos Baldios;

3 – A importância do Direito de Propriedade;

4 - A espoliação das águas nativas existentes nos terrenos baldios, perpetrada pelo

PS;

5 – A espoliação dos terrenos baldios que o PSD/CDS pretendem impor;

6 – O perigo da espoliação das águas e da pequena e média propriedade rural;

7 – Outras questões.

1 – A questão da personalidade jurídica dos Baldios:

Se é certo que desde 1976 as sucessivas Leis dos Baldios têm vindo a reconhecer a

estes personalidade judiciária, o mesmo já não acontece no que tange ao

reconhecimento da personalidade jurídica.

Aliás, se o legislador teve a necessidade de expressamente atribuir aos baldios,

através dos mecanismos próprios de representação, personalidade judiciária, isso indicia

que não pretendeu reconhecer-lhes personalidade jurídica, porquanto, se essa

personalidade jurídica existisse, tal era quanto bastava para que tivessem personalidade

judiciária.

Se no âmbito dos DL 39/76 e 40/76 a questão da personalidade jurídica não era

formalmente um tema candente, já que estando os baldios fora do comércio jurídico,

exatamente por isso não havia necessidade de lhes atribuir personalidade jurídica, logo

desde o início da vigência daquela lei, quem trabalhava com estas questões foi

confrontado com esta “lacuna”, uma vez que, de facto, muitos foram os negócios que

se fizeram e que tiveram terrenos baldios por objeto, designadamente de arrendamento

(alguns dos quais vieram, aliás, a ser considerados nulos pelos Tribunais, exatamente

por estarem os baldios fora do comércio jurídico).

Contudo, com a lei 68/93, as alterações ali introduzidas operaram um verdadeiro

corte epistemológico nesta questão da negociabilidade dos terrenos baldios, porquanto

se passou, expressamente, a reconhecer a possibilidade de realização de negócio sobre

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VERBO JURÍDICO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer) : 4

terrenos baldios: alienação e cessão de exploração. Relativamente à expropriação, a lei

obriga a que a mesma seja precedida de proposta de aquisição.

A questão que se coloca é pois esta: se os baldios (quem nos termos da lei os

representa: o seu Conselho Diretivo) não têm personalidade jurídica, como é que

podem ser sujeitos de direitos e obrigações? Como podem celebrar negócios jurídicos,

designadamente os previstos na lei?

Aqueles que trabalham juridicamente com os baldios tentaram superar esta

“lacuna” por recurso analógico ao instituto das pessoas coletivas - associações que não

tenham por fim o lucro económico dos associados, mormente das associações sem

personalidade jurídica e comissões especiais. Confessa-se, contudo, que só com muita

boa vontade se consegue introduzir naqueles institutos jurídicos a complexa

mundividência que encerra a vida dos baldios no comércio jurídico (para além das

questões relacionadas com a negociabilidade dos terrenos baldios, e a título meramente

exemplificativo, enumeram-se as relacionadas com questões de responsabilidade civil,

incumprimento, mora ou cumprimento defeituoso de contratos, designadamente de

empreitadas, de mandatos, de compra e venda de bens móveis, etc., etc., etc.), para além

de tal construção dogmática “embater” sempre na parede da contradição de princípios:

se o legislador quisesse que assim fosse, não necessitava de atribuir expressamente

personalidade judiciária aos baldios. Se os baldios tivessem, de acordo com tal

interpretação, personalidade jurídica, por lei teriam também personalidade judiciária,

inexistindo, assim, motivo para ela tivesse de vir expressa na lei. Se o legislador lhes

atribuiu expressamente personalidade judiciária foi, exatamente, por que não lhes ter

querido atribuir personalidade jurídica.

Seria, assim, este o momento mais do que adequado para que o legislador se

debruçasse sobre esta questão e, pondo fim às querelas que ela levanta, fixasse, em letra

de lei, o reconhecimento da personalidade jurídica da Assembleia de Compartes,

quando representadas pelos seus Conselhos Diretivos, se o Baldio se tivesse sido

constituídos no cumprimento da lei e este órgão atuasse no exercício das suas funções

ou, quando necessário, mandatado por aquela Assembleia.

2 -A importância histórica dos Baldios

A Constituição da República Portuguesa (CRP), no seu art. 82º/1, afirma que “é

garantida a coexistência de três setores de propriedade dos meios de produção”,

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estabelecendo-se, no seu nº 4, b) que “o setor cooperativo e social compreende

especificadamente os meios de produção comunitários, possuídos e geridos por

comunidades locais”.

No seguimento do plasmado na CRP, densificou, o legislador ordinário, o

estatuto jurídico dos Baldios, através da Lei 68/93 de 04/09, onde, no seu art. 1º/1,

deixou estipulo que “são baldios os terrenos possuídos e geridos por comunidades

locais” que, designadamente se destinem à apascentação de gados, recolha de lenhas ou

de matos, de culturas e outras fruições, nomeadamente de natureza agrícola, silvícola,

silvo-pastoril ou apícola (art. 3º).

Historicamente, o fenómeno jurídico-económico que levou à criação deste tipo

de dominialidade, vamos encontrá-lo no povoamento do território e na economia de

subsistência que desde a origem da nacionalidade tem vindo, de forma permanente, a

caracterizar o tipo de produção no setor primário: a agricultura.

Efetivamente, perante a necessidade de ocupação humana do território e

reconhecendo-se que era o povo/pobo, a arraia miúda, os ventres ao sol, nas palavras de

FERNÃO LOPES, que a poderia fazer – já que aos nobres e ao clero, a monarquia,

quer a feudal quer a liberal, concedia mordomias, designadamente através da entrega

das melhores terras, que libertavam os membros dessas classes sociais do nefando

sacrifício da sobrevivência, em prol da evangelização e da defesa das fronteiras – e por

que os membros dessa classe social não tivesses meios de produção próprios, a não ser,

numa primeira fase, a sua força de trabalho e, num momento historicamente posterior,

de pequenas parcelas de terra que exploravam, a superestrutura jurídico-económica que

suportava o sistema e os regimes políticos de antanho, permitiram a esses

“descamisados” que, para sua sobrevivência, possuíssem e gerissem parte de vastíssimas

áreas do território nacional, histórico-localmente com várias designações: montes,

brejos, pegos, montadigos de terrenos, montadigos de vicino, matos maninhos, matos

bravios, logradouro ou logradouro dos povos.

Nesses terrenos, que não pertenciam nem aos nobres nem ao clero, a coroa

permitia que os descamisados deste país aí pudessem ir, designadamente, e nos que se

encontravam nas serras e montes do interior centro e norte do país, para retirar as

pedras, a madeira o barro, a areia que usariam na construção de suas casas, dos seus

móveis, dos utensílios agrícolas e domésticos, dos currais para o seu gado; para recolher

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a lenha, que usariam no aquecimento dos seus lares e na confeção dos seus alimentos;

para apanhar o mato, que usariam para fazer a “cama do gado”, de modo a criarem o

estrume com que fertilizariam as terras aquando das suas sementeiras; para levar o seu

gado a pastar; para colocarem colmeias para exploração do mel; para apanhar e queimar

a torga e a carqueja com que faziam o carvão, que depois usariam para fins diversos,

quer na casa quer na indústria; para cortarem as árvores com que faziam os tamancos

que calçavam; para apanharem o linho com que faziam as suas roupas, etc., etc., etc..

Foi exatamente em razão desta fruição e gestão de vastíssimas áreas do território

nacional, e da sua importância no povoamento, que levou a que o poder acabasse por

reconhecer aos membros das comunidades locais que as possuíam e geriam, direitos

sobre as mesmas.

Bem assim, e com o dealbar de novos estádios de evolução do capitalismo, esse

mesmo poder – leia-se: as concretas pessoas que formavam a classe dominante desse

poder -, ávido por fazer seu esses espaços do território nacional, iniciou, e fez

perpetuar até aos dias de hoje, um feroz ataque a esse tipo de propriedade comunal, que

só a tenaz e persistente luta dos povos, designadamente dos serranos, em defesa desse

seu património, tem vindo a fazer perpetuar (leia-se: Quando os Lobos Uivam, de

AQUILINO RIBEIRO).

Na sequência desta ininterrupta luta contra os povos e os seus baldios, depois do

PS, o PSD e o CDS preparam-se para impor aos portugueses a mais escandalosa

espoliação dos tempos modernos.

3 –A importância do Direito de Propriedade

O direito de propriedade, instituto jurídico com força constitucional, é

fundamentante da consciência axiológico-jurídica da comunidade de cidadãos que

formam os estados de direito, do espaço geopolítico em que Portugal se integra, sendo

as normas em que tal direito se afirma na legislação nacional resultante de uma

sedimentação concetual com mais de 2000 anos, por terem a sua matriz no Direito

Romano.

Se eu sou dono e senhor de um prédio, sou-o, e continuarei a ser, sendo

irrelevante o facto de exercer, ou não, concretos atos de posse sobre o mesmo. E sê-lo-

ei até que terceiro de mim o adquira, por negócio válido e com virtualidade de

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JOÃO CARLOS GRALHEIRO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer): 7

transmissão desse meu direto, ou por usucapião ou por expropriação, a qual só se

considera validamente feita após o pagamento da justa indemnização que me é devida.

Por ser dono e senhor de um prédio todos os demais têm a obrigação de respeitar

esse meu direito.

Do direito de propriedade sobre um imóvel faz parte integrante tudo o que o

incorpora, embora dele se possa autonomizar, como, e por exemplo, as águas

subterrâneas, exploradas e por explorar, salvo se terceiros as tiverem adquirido, por

justo título.

4 - A espoliação das águas nativas existentes nos terrenos baldios, perpetrada pelo

PS

Em 2005, pela mão do PS, foi publicada a Lei 54/2005 de 15/11, que estabeleceu,

no seu artigo 8º, nº 2, que o domínio hídrico das águas nascidas e subterrâneas de

terrenos baldios ficaria a pertencer às Juntas ou às Câmaras, consoante tais baldios

fossem paroquiais ou municipais.

Com o PS os portugueses, compartes de terrenos baldios, viram ser-lhes

expropriadas as águas nativas dos terrenos integrantes da propriedade social cuja

dominialidade lhes pertencia, sem que fossem devidamente indemnizados por tal

expropriação.

5 – A espoliação dos terrenos baldios que o PSD/CDS pretendem impor

O PSD e o CDS apresentaram na Assembleia da República um Projeto-lei (nº

528/XII) que prevê, no seu art. 26º, nº 2 e 28º, a), que os terrenos baldios que não

forem usados por um período de 15 anos se extinguirão, passando a integrar o domínio

privado da Junta em cuja área territorial se situem. Já relativamente aos terrenos baldios

que ainda não tiverem sido devolvidos aos compartes a quem pertencem, ou cuja

administração tenha sido transferida para qualquer entidade administrativa e que nessa

situação se mantenham à data da entrada em vigor daquela lei, e assim prosseguirem

durante mais 10 anos, são também extintos, passando a integrar o dito domínio privado

das Juntas, nos termos da norma transitória constante do art. 7º. Tudo isto sem

esquecer que em tal lei passam a ser compartes dos terrenos baldios apenas os cidadãos

eleitores inscritos na freguesia ou freguesias onde eles se situem (art. 1º, nº 2).

No que tange à questão da dominialidade dos terrenos baldios, a espoliação dá-se

ao nível da determinação subjetiva de quem são os titulares da mesma: deixam de ser as

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VERBO JURÍDICO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer) : 8

comunidades locais, que segundo os usos e costumes têm direito ao uso e fruição do

baldio, passando a ser os cidadãos eleitores inscritos nos cadernos de recenseamento da

freguesia ou freguesias onde se situem esses terrenos.

A lei leva a que, sem o direito a qualquer indemnização, os proprietários,

arrendatários rurais, parceiros pensadores, que tendo, ou trabalhando casas e/ou terras

situadas na freguesia onde se encontra o terreno baldio e que, por causa disso, e de

acordo com os usos e costumes desse lugar, tinham direito ao uso e fruição do mesmo,

embora ali não estivessem recenseados nos cadernos eleitorais, deixarão de ter esse

direito, em benefício de quem, embora recenseado nos aludidos cadernos eleitorais, não

tenha nem casa nem terras na área da freguesia, nem exerça qualquer atividade que o

ligue ao uso e fruição do baldio.

Por outro lado, baldios que, desde tempos imemoriais, pertenceram à

comunidade de um determinado lugar, passarão agora a pertencer a todos os eleitores

de novas freguesias resultantes da união de freguesias, ainda que nada tenham a ver com

aquela realidade, aliás, algumas das vezes, após lutas de muitos e muitos anos na

afirmação do que era baldio de uma ou de outra dessas freguesias vizinhas agora

unificadas.

Depois, e não menos despiciendo, muitos dos terrenos baldios que existem nem

sequer estão na posse, gestão e administração dos moradores de todos os lugares de

uma ou várias freguesias, pertencendo, antes, em exclusivo, aos moradores de

concreto(s) lugar(es) de uma freguesia, com a exclusão dos moradores dos demais

lugares da mesma.

Se fossemos ingénuos, diríamos, usando a expressão utilizada por um ex-

Bastonário da Ordem dos Advogados, que os “betinhos” que dão assessoria jurídica

àqueles partidos não compreenderam a natureza histórico-antopológico-sociológico-

jurídica da dominialidade dos povos sobre os terrenos baldios e a intrincada relação dos

mesmos com as economias familiares, numa agricultura de subsistência ainda tão

própria do interior norte e centro de Portugal. Mas não somos….

Por fim, o mais absurdo e iníquo da lei: a extinção de um direito de propriedade

(o direito dos compartes à propriedade social consubstanciada nos terrenos baldios),

pelo não uso ou pelo uso de 3ºs, sem intenção aquisitiva, por prazos de 15 e 10 anos,

respetivamente.

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JOÃO CARLOS GRALHEIRO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer): 9

Como já se deixou dito, o direito de propriedade, de acordo com o nosso

ordenamento jurídico, não se extingue pelo não uso, e para que 3ºs o possam adquirir,

pela sequela aquisitiva da posse (a usucapião), para além de terem de demonstrar que

houve um qualquer negócio entre eles e o anterior titular desse direito, através do qual

a posse deles passou a ser exercida com uma intenção aquisitiva e em nome próprio,

exigindo-se que a mesma perdure, com carater de continuidade, durante, pelo menos,

20 anos, de forma pública e pacífica, já que só a posse titulada é considerada de boa-fé,

reduzindo-se aqui o prazo para 15 anos.

E veja-se bem o absurdo da lei: esta perda do direito de propriedade social sobre

os terrenos baldios por banda da comunidade local à qual eles pertenciam e

subsequente aquisição por parte da Junta de Freguesia dá-se sem se suportar em

decisão judicial!... Esta extinção/aquisição de direito de propriedade sobre o terreno

baldio opera-se ope legis, por DL (vide art. 7º, nº 1) ….

Mas não se fica por aqui o legislador no que tange à espoliação do que é dos

compartes: se passado um ano após a entrada em vigor da lei houver receitas a serem

entregues aos compartes, provenientes da exploração dos baldios, e não existirem

órgãos representativos eleitos ou se verificar uma vacatura dos lugares (nota: não se

entende o que se quer dizer com “vacatura dos lugares”, atento o disposto no nº 3 do

art. 11º e no nº 3 do art.15º), ou faltar acordo dos compartes quanto aos limites

territoriais dos respetivos baldios, essas verbas serão entregues a um Fundo Florestal

Permanente…

Um ano após a entrada em vigor da lei, e sem decisão judicial, por mero despacho

dos membros do Governo responsáveis pela área das finanças e da floresta, o Estado

locupleta-se com o que bem sabe não lhe pertencer e, pior que isso, sabe bem a quem

pertence ….

Não se pode fechar este item do nosso sumário sem denunciar o

“chicoespertismo” maquiavélico do legislador, ao colocar na lei como que uma

“anestesia” aos povos a quem pertençam terrenos baldios.

Como que com o objetivo de os “adormecer no canto da sereia”, através do

reconhecimento das deliberações dos seus órgãos (vide al. c) do art. 26º) e da obrigação

de prestação de contas por banda de quem utiliza esses terrenos baldios (vide nº 3 do

art. 27º), factos estes demonstrativos, por um lado, da afirmação do direito de

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VERBO JURÍDICO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer) : 10

administração sobre os terrenos baldios (mesmo que as deliberações não venham,

depois, a ser cumpridas) e, por outro, do reconhecimento por banda da entidade que os

explora de que eles são terrenos baldios e que pertencem àquela concreta comunidade a

quem prestam contas, sem suspensão do prazo (art. 27º, nº 5), dá-lhes a estocada

mortal da extinção dos baldios.

Se isto não é legislar de má-fé, estamos para descobrir os limites ético- jurídicos

do legislador.

6 - O perigo da espoliação das águas e da pequena e média propriedade rural

Depois da espoliação de direitos que se consideravam invioláveis, como o dos

salários e o das pensões e reformas (sobre estes últimos o Tribunal Constitucional

alemão considerou-os como direitos de propriedade dos seus titulares, logo,

impossíveis de lhes serem retirados), estamos a caminho da espoliação da pequena e

média propriedade rural.

Ontem foram as águas dos terrenos baldios, amanhã serão as dos poços e minas

que possam existir nas terras de cada um de nós, pois, na essência jurídica, nada separa

uma situação da outra.

Na verdade, entre o ontem e o amanhã, que nos permite antever que poderá ser

breve, vemos bem, hoje, o que esteve na base dessa espoliação: a entrega das águas às

empresas criadas pelos “amigos” do PS/PSD/CDS para a privatização do abastecimento

de água às populações.

Se essas empresas vierem a precisar dessas águas privadas para aumentar os seus

lucros (obviamente que não dirão isso, mas antes que se destinarão a garantir o acesso

das populações a água em quantidade e qualidade), não será de espantar que, para os

manter e, quiçá, para se pagarem chorudas comissões que suportarão principescas

campanhas eleitorais e manterão a “voz do dono” dos “fazedores de opinião” nos

“democráticos” e “pluralistas“ meios de comunicação social nacional, nada impedirá

esses partidos de espoliarem, uma vez mais, os portugueses dessas suas águas.

Dirão, até, que é o princípio da igualdade que obrigará a tal…

Depois, com as alterações que este Governo já produziu na legislação florestal

(revogando, por exemplo, a lei que proibia a plantação de eucaliptos próximo de casas,

muros, terras de cultivo e explorações de água e permitindo, quase sem limites, a

eucaliptização do país); com as políticas seguidas por este Governo tendentes à

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JOÃO CARLOS GRALHEIRO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer): 11

desertificação do interior centro e norte do país (através da retirada de serviços

públicos essenciais: centros de saúde, tribunais, repartições de finanças, correios, etc…)

e a recente lei do “Banco de Terras” feita aprovar na Assembleia da República pela

maioria e com a ruidosa abstenção do PS, tudo isto faz-nos antever que, agora, o

PSD/CDS, quiçá, uma vez mais, com outra ruid(n)osa abstenção do PS, estão a

preparar-se para entregar aos “amigos” da indústria da celulose toda a extensa área

baldia do norte e centro de Portugal.

7 – Outras questões:

I – O disposto no art. 2º-B, aparentemente de louvar, trás atrás de si a espada de

Dâmocles uma vez que o projeto lei não vem associado com uma alteração do Código

do IMI, no sentido de isentar de IMI os terrenos baldios.

Ora, como normalmente este terrenos têm áreas extensas ou mesmo bastantes

extensas, uma alteração aos valores patrimoniais dos prédios rústicos (há já muitos anos

anunciada) implicará a aplicação de pesadas tributações sobre estes terrenos, mesmo

daqueles que rendimento algum possam produzir, o que poderá trazer a “morte” desses

baldios.

Dito isto, nada temos a dizer quanto ao que vem plasmado no normativo em

questão. Achamos, contudo, que se deveria isentar de IMI os terrenos baldios.

II - Na afirmação do princípio da segurança, a lei deve ser clara e precisa, de modo

a que a sua aplicação não ofereça dúvidas.

Confessamos que, por muito esforço que façamos, e apesar da nossa formação

académica e prática, nos suscitam todas as dúvidas do mundo a interpretação do

disposto no nº 2 do art. 11ºA.

Queremos acreditar que a insuficiência é nossa.

Apesar disso, alertamos para o facto, tendo em vista colocar-se na lei a redação

mais precisa e concisa que permita até, a simples licenciados em direito (antes de

Bolonha) pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e com 30 anos de

advocacia, como nós, perceber o que se quer com aquele normativo.

III – O disposto no art. 11ºB, associado a normas com o do nº 6 do art 1º e nos

nºs 2 dos art.s 25ºA e 25ºB, em baldios de poucos recursos poderá induzir as

populações a não tomar nas suas mãos os destinos do que é seu, pelos custos que isso

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VERBO JURÍDICO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer) : 12

lhes poderá acarretar e, bem assim, pelas consequências que poderão advir para quem

assuma a gestão dos mesmos.

Admitiria norma de jaez semelhante, mas apenas para baldios cujo resultado de

exploração assumisse valores compatíveis com esses tipos de situações e de

responsabilidades.

IV – No que tange à 2ª parte do nº 2 do art. 12º, após quase 40 anos da publicação

de leis que obrigaram a devolução do uso, fruição e administração dos terrenos baldios

aos compartes a quem pertencem, não deveria o Estado ver-se confrontado com uma

lei que expressamente dissesse que ele não terá cumprido aquela lei.

Na verdade, salvo clara violação da lei, o Estado não deverá administrar terrenos

baldios, quando muito, nos termos da al. b) do art. 9 do DL 39/76, poderá administrar

em regime de associação com os compartes.

Se era a essa realidade que o legislador se queria referir, então que seja preciso e

expressamente diga: “sob administração, em regime de associação com os compartes

nos termos da al. b) do art. 9º do DL 39/76 de 19/01 (…)”. Se o legislador se quis

referir à nova possibilidade prevista no art. 22º, devê-lo-ia dizer, também: “sob

administração delegada nos termos do art. 22º ou 23º (…)”.

V – no nº 1 do art. 35 faz-se uma referência para o nº 4 do art. 10º, norma esta

expressamente revogada pelo art. 8º. Deve, assim, corrigir-se aquele lapso.

VI – No nº 3 do art. 37º apenas se prevê a parte das “despesas” que a entidade

administrante poderá ter tido. E os proventos? Não se deverão deduzir às “despesas”

os “proventos” que essa entidade possa ter feitos seus?

É que, colocar na lei apenas a referência às benfeitorias e aos investimentos e nada

dizendo sobre os proventos que ao longo do período de administração a entidade fez

seu, pode inculcar ao interprete que essa “coluna” na contabilidade do “Deve e do

Haver” está excluída, com manifesto prejuízo dos compartes, e ilegítimo

enriquecimento da entidade que administrou o terreno baldio.

VIII – Na al. a) do nº 5 do art. 7º faz-se uma referência para as al.s a) e b) do nº

anterior, quando o nº anterior (nº 4) não tem quaisquer alíneas. Deve, assim, corrigir-

se, em conformidade, a redação dada àquela al..

Já vai longa esta minha reflexão, penitenciando-me por não ter conseguido ser

mais sintético, pedindo, por isso, a vossa benevolência, sinceramente esperando que o

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JOÃO CARLOS GRALHEIRO Alteração à Lei dos Baldios (Parecer): 13

esforço que tiverem que despender para ler este meu texto não tenha sido causador de

cansaço tamanho que vos tenha levado a deitá-lo fora, substituindo a maçada da leitura

por um reconfortante sono. Embora esse fastio possa ter atacado alguns, acredito que

outros haverá que o terão lido sem adormecer, e quero acreditar que, de entres estes,

alguns haverá que até o possam considerar positivo.

Dito isto, e s.m.o., este é o meu parecer sobre o projeto lei em análise.

S. Pedro do Sul, 1 de junho de 2014

João Carlos Gralheiro

JOÃO CARLOS GRALHEIRO

Portal Verbo Jurídico | 06-2014

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PROJETODELEINº528/XII

AlteraçãoàLeidosBaldios(alteraaLein.º68/93,de4desetembro,comredação

daLein.º89/97,de30dejunho,queestabelecealeidosbaldios,alteraoEstatuto

dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo Decreto‐Lei n.º 215/89, de 1 de julho, e

efetua a nona alteração ao Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo

Decreto‐Lein.º34/2008,de26defevereiro.)

ExposiçãodeMotivos

Arelaçãodasociedadecomoterritóriosofreutransformaçõesprofundasaolongo

dos últimos 50 anos. De uma situação em que o uso da terra, nomeadamente

daquela que era propriedade comunitária, visava permitir o sustento de uma

comunidaderuralemexpansão,passou‐separaumasituaçãoemquealigaçãoao

território assenta em parâmetros distintos. Esta evolução, que acompanhou o

desenvolvimentodaprópria sociedade, fezcomqueo sustentodascomunidades

rurais já não assuma os contornos prioritários da relação com o baldio, embora

este continue a ser a fonte principal de rendimento de muitas famílias,

nomeadamentenoquedizrespeitoàsilvopastorícia.

Decorridosmaisde15anossobreaúltimaalteraçãolegislativaàLeidosBaldios,

constantedaLein.º68/93,de4desetembro,alteradapelaLein.º89/97,de30de

julho,eemboraosbaldioscontinuemarepresentarumenormepotencialparaas

populações locais, constata‐se que, na generalidade das situações, aqueles

deixaram de ser aproveitados e geridos de modo a produzir os benefícios

idealizados,peloquesetornaessencialprocederaumaadequaçãodoquadrolegal

emvigor.

A importânciadegarantirqueasreceitasobtidascomaexploraçãodosrecursos

dosbaldiosrevertememexclusivoemproveitodestesedosrespetivoscompartes,

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seja essa utilização efetuada diretamente pelos compartes ou mediante

disponibilização a outras entidades por mútuo acordo, exige um processo mais

transparente e estável quanto à forma de eleição dos órgãos das comunidades

locais e quanto à sua responsabilização. Desta feita, torna‐se ainda necessário

clarificarasexigênciasquantoàapresentaçãodecontaspúblicasanuaisedefinir

claramenteascompetênciasdefiscalizaçãodasmesmas.

Ocrescenteaumentodereceitasresultantesdaexploraçãodeterrenosbaldioseos

processos de negociação em curso, tendo em vista a instalação de diversos

equipamentos electroprodutores, nomeadamente para a produção de energia

eólicaehídrica, temconduzidoaumfenómenodecriaçãodenovasdelimitações

de baldios e à sua consequente atomização. Contudo, este fenómeno contraria a

necessidadedeaumentodeescalanecessáriaparaassegurara coesãodoespaço

rural, e garantir, nomeadamente, a viabilidade do investimento na gestão e no

ordenamentodoterritório,tãoessencialàcriaçãodeempregoestáveleduradouro

nessesespaços,bemcomoàreduçãodosriscosdeincêndio.

O presente projeto de lei corporiza uma reforma de cariz funcional, colmatando

lacunasesolucionandoconflitos,designadamentenoâmbitodagestãoterritorial

dosbaldios,regulando‐adeformaobjetivaetransparenteatravésdeumequilíbrio

entre aboagestãoe a criaçãode riquezae tornandoas zonas rurais capazesde

fixar as populações, com a criação de alternativas a todas as vertentes que a

exploração da terra pode proporcionar nomeadamente económica, ambiental e

cultural. Não obstante, importa ter presente que os baldios são uma realidade

dinâmica e que, como tal, tem que ser adaptada à situação domeio rural onde

estão inseridos, correspondendo cada vez mais aos anseios e necessidades das

populações.

OsGruposParlamentaresdoPSDeCDS‐PPpretendem,atravésdopresenteprojeto

de lei alterar a Lei dos Baldios, criar uma dinâmica na gestão dos espaços

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comunitários que os liberte de barreiras anteriormente impostas e,

simultaneamente,habilitarasentidadesgestorasdosbaldiosaaproveitardeforma

mais eficaz os mecanismos financeiros colocados à disposição de quem neles

investe,quero investimento seja realizadopelos conselhosdiretivosdosbaldios

ououtroscomquemaquelesvenhamacontratualizaragestão,umavezobtidaa

concordânciadoscompartes.

Procura‐se, também,alcançarmaior transparênciaaoníveldagestãosustentável

dos recursos financeiros que os baldios propiciam, alterando a definição de

compartes e fazendo‐a coincidir comos cidadãos eleitores inscritos na freguesia

ondesesituamosrespetivosterrenosbaldios.

Opresenteprojetode leiconsagraoequilíbrioentreaboagestãoeageraçãode

riquezanaquelesterritórios,habilitandoascomunidadeslocaisqueneleshabitam

edelesusufruem,combenseserviços,tangíveiseintangíveis,deinegávelvalore

importânciaeconómica,ambientalecultural,deformatransparenteefiscalizável

pelaAutoridadeTributáriaeAduaneira,atravésdoseuenquadramentonosector

nãolucrativo.

As alterações que agora se propõem eliminam um dos maiores entraves que

atualmente existem na boa e rentável gestão dos baldios, e que, naturalmente,

resultaembenefíciodaspopulaçõese,reflexamente,embenefíciodetodooPaís.

Importa encarar o baldio como uma unidade, passível de ser gerida com uma

perspetiva demédio e longo prazo, favorecendo a consolidação da propriedade

comunitária, e criando as condições para ser exercida uma gestão efetiva e

adequadadestesterritórios,promotoradasuarevitalizaçãosócioeconómicaeda

valorizaçãodosseusrecursosendógenos.

Por outro lado, pretende‐se clarificar várias situações de depósitos bancários

colocados em instituições financeiras à ordem de quem provar pertencer,

resultantes de operações de expropriação por utilidade pública ou de cortes

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florestaisemáreasdebaldios,osquaisnãosãolevantadoshádécadasporrazões

de indefiniçãoquantoaostitularesdosdireitosepor litígioquantoàdelimitação

dosperímetrosdebaldiosconfrontantes.Urgereverteressesativosfinanceirosa

favordasrespetivascomunidadeslocaisedodesenvolvimentodosectorflorestal.

O baldio passa a seguir o regime do património autónomo no que respeita à

personalidade judiciária e tributária, consagrando‐se a obrigatoriedade de

inscriçãomatricial dos terrenosbaldios, que ficam isentosde impostomunicipal

sobreimóveis.

Assim, nos termos constitucionais e regimentais aplicáveis, os Deputados dos

GruposParlamentaresdoPSDedoCDS‐PPapresentamoseguinteProjectodeLei:

Artigo1.º

Objecto

A presente lei procede à segunda alteração à Lei n.º 68/93, de 4 de setembro,

alteradapelaLein.º89/97,de30dejunho,queestabelecealeidosbaldios,altera

oEstatutodosBenefíciosFiscais, aprovadopeloDecreto‐Lein.º215/89,de1de

julho,eefetuaanonaalteraçãoaoRegulamentodasCustasProcessuais,aprovado

peloDecreto‐Lein.º34/2008,de26defevereiro.

Artigo2.º

AlteraçãoàLein.º68/93,de4desetembro

Osartigos1.ºa6.º,10.ºa12.º,15.º,17.ºa19.º,21.º,22.º,26.ºa32.º,35.º,37.ºe41.ºdaLei

n.º68/93,de4desetembro,alteradapelaLein.º89/97,de30de julho,passama tera

seguinteredação:

«Artigo1.º

[...]

1‐ […].

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2‐ […].

3‐ São compartes todos os cidadãos eleitores, inscritos na freguesia ou nas

freguesiasondesesituamosrespetivosterrenosbaldios.

4‐ São ainda compartes os menores emancipados que sejam residentes na

freguesiaounasfreguesiasondesesituamosrespetivosterrenosbaldios.

5‐ Os compartes usufruem os baldios conforme os usos e costumes locais e

gerem de forma sustentada, nos termos da lei, os aproveitamentos dos

recursos dos respetivos espaços rurais, de acordo com as deliberações

tomadasemassembleiadecompartes.

6‐ O baldio segue o regime do património autónomo no que respeita à

personalidade judiciária e tributária, respondendo pelas infrações

praticadas em matéria de contraordenações nos mesmos termos que as

pessoascoletivasirregularmenteconstituídas,comasdevidasadaptações.

Artigo2.º

[…]

1‐ […]:

a) Terrenos consideradosbaldios e como tais possuídos e geridospor

comunidades locais, mesmo que ocasionalmente não estejam a ser

objeto,notodoouemparte,deaproveitamentopeloscompartes,ou

careçamdeórgãosdegestãoregularmenteconstituídos;

b) […];

c) […];

d) […].

2‐ […].

Artigo3.º

[…]

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Os baldios constituem, em regra, logradouro comum, designadamente para

efeitos de apascentação de gados, de recolha de lenhas ou de matos, de

culturas e de outros aproveitamentos dos recursos dos respetivos espaços

rurais.

Artigo4.º

[…]

1‐ […].

2‐ Adeclaraçãodenulidadepodeserrequerida:

a) Pelosórgãosdobaldioouporqualquerdoscompartes;

b) PeloMinistérioPúblico,emrepresentaçãodaadministraçãocentral,

regionaloulocaldaáreadobaldio;

c) Pela entidade na qual os compartes tenham delegado poderes de

administraçãodobaldionostermosdosartigos22.ºe23.º;

d) Pelos arrendatários e cessionários do baldio, nos termos do

artigo10.º

3‐ […].

Artigo5.º

[…]

1‐ Ouso,afruiçãoeaadministraçãodosbaldiosefetivam‐sedeacordocomos

usos e costumes locais e as deliberações dos órgãos competentes das

comunidadeslocais,semprejuízododispostonosartigosseguintes.

2‐ […].

Artigo6.º

[…]

1‐ O uso, a fruição e a administração dos baldios obedecem a planos de

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utilizaçãoaprovadosemreuniãodaassembleiadecompartes.

2‐ O conteúdo e as normas de elaboração, de aprovação, de execução e de

revisão dos planos de utilização obedecem ao disposto no Decreto‐Lei

n.º16/2009,de14de janeiro,alteradopeloDecreto‐Lein.º114/2010,de

22deoutubro,comasnecessáriasadaptações.

Artigo10.º

Arrendamentoecessãodeexploração

1‐ Osbaldiospodemserobjeto,notodoouemparte,dearrendamentooude

cessão de exploração, com vista ao aproveitamento dos recursos dos

respetivosespaçosrurais,norespeitopelodispostonaleienosprogramas

eplanosterritoriaisaplicáveis.

2‐ […].

3‐ Aexploraçãodosbaldiosmediantearrendamentooucessãodeveefetivar‐

se de forma sustentada, sem prejuízo da tradicional utilização do baldio

peloscompartes,deacordocomosusosecostumeslocais.

4‐ Oarrendamentoeacessãodeexploraçãodebaldiostêmlugarnasformase

nostermosprevistosnalei.

Artigo11.º

[…]

1‐ Os baldios são administrados, por direito próprio, pelos respetivos

compartes, nos termos dos usos e costumes locais, através de órgãos

democraticamenteeleitos.

2‐ […].

3‐ Osmembrosdamesadaassembleiadecompartes,bemcomodoconselho

diretivo eda comissãode fiscalização, são eleitospeloperíododequatro

anos, renováveis, e mantêm‐se em exercício de funções até à sua

substituição.

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Artigo12.º

[…]

1‐ […].

2‐ Podemparticiparnasreuniõesdaassembleiadecompartes,semdireitoa

votonasrespetivasdeliberações,representantesdajuntaoudasjuntasde

freguesia em cuja área territorial o baldio se situe e, quando se trate de

baldio sob administração do Estado, um representante do Instituto da

ConservaçãodaNaturezaedasFlorestas, I.P.(ICNF,I.P.), tendoemvista

esclarecer as questões relativas à atividade desenvolvida nos domínios

florestal,daconservaçãodanaturezaedabiodiversidade.

3‐ Às reuniões da assembleia de compartes podem ainda assistir, como

convidadas e sem direito a voto nas respetivas deliberações, pessoas ou

entidades que exerçamna áreado baldio atividades relacionadas comos

assuntos constantes da ordem de trabalhos, podendo estes expor os

respetivospontosdevista.

4‐ Independentemente do disposto no n.º 2, o ICNF, I. P., pode fazer‐se

representar nas reuniões da assembleia de compartes de cuja ordem de

trabalhos constem intervenções na área do baldio, quando integrada no

sistema nacional de áreas classificadas, procedendo aos esclarecimentos

julgadosconvenientes.

Artigo15.º

[…]

1‐ […]:

a) […];

b) […];

c) [Revogada];

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d) [...];

e) Discutir,aprovaremodificaroplanodeutilizaçãodobaldioe

asrespetivasatualizações,sobpropostadoconselhodiretivo;

f) […];

g) [...];

h) Discutir, alterar e votar anualmente o plano de atividades, o

relatório e as contas de cada exercício, sob proposta do

conselhodiretivo;

i) Discutir, alterar e deliberar sobre a aplicação de receitas

propostapeloconselhodiretivo,observadoodispostonoartigo

11.º‐A;

j) Deliberar sobre a alienação, o arrendamento ou a cessão de

exploraçãodedireitossobrebaldios,nostermosdodispostona

presentelei;

l) […];

m) Fiscalizar a atividade do conselho diretivo e, no âmbito da

delegaçãoaquesereferemosartigos22.ºe23.º,dasentidades

emquetiveremsidodelegadospoderesdeadministração,bem

como emitir a um e outras diretivas sobre matérias da sua

competência, sem prejuízo da competência própria da

comissãodefiscalização;

n) […];

o) […];

p) […];

q) […];

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r) […];

s) Deliberar sobre a disponibilização de terrenos do baldio na

BolsadeterrascriadapelaLein.º62/2012,de10dedezembro.

2‐ A eficácia das deliberações da assembleia de compartes relativas às

matériasprevistasnasalínease),j),l),p)es)donúmeroanteriordepende

da sua aprovação por maioria qualificada de dois terços dos membros

presentes.

3‐ Quando não exista conselho diretivo ou comissão de fiscalização, a

assembleia de compartes assume a gestão e representação do baldio e

exerceasdemaiscompetênciasqueestejamatribuídasàquelesórgãospor

forçadapresentelei.

Artigo17.º

[…]

Aassembleiadecompartesreúneordinariamenteumavezporano,até31de

março, para apreciação, sempre que seja caso disso, das matérias a que se

referemasalíneasa),b),h)ei)don.º1doartigo15.ºe,extraordinariamente,

semprequesejaconvocada.

Artigo18.º

[…]

1‐ A assembleia de compartes é convocada mediante editais afixados nos

locaisdoestiloeporqualqueroutromeiodepublicitaçãodelargadifusão

localounacional.

2‐ […].

3‐ […].

4‐ […].

5‐ […].

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Artigo19.º

[…]

1‐ […].

2‐ Decorridos 30 minutos sobre a hora designada no aviso

convocatório, a assembleiade compartes reúnevalidamente, desde

queseencontrempresentes:

a) 30%dosrespetivoscompartesouomínimode100compartes,

quando se trate de deliberações que devam ser tomadas por

maioriaqualificadadedoisterçosdoscompartespresentes;

b) 10%dosrespetivoscompartesouomínimode50compartes,

nosrestantescasos.

3‐ […].

Artigo21.º

[…]

[…]:

a) […];

b) [Revogada];

c) […];

d) […];

e) Elaborar e submeter anualmente à aprovação da assembleia de

compartes o plano de atividades, o relatório e as contas de cada

exercício, bem como a proposta de aplicação das receitas, observado

quantoaestaodispostonoartigo11.º‐A;

f) Proporàassembleiadecompartesouemitirparecersobrepropostasde

alienação,dearrendamentoedecessãodeexploraçãodedireitossobre

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baldios,bemcomodedisponibilizaçãodeterrenosdobaldionaBolsade

terrascriadapelaLein.º62/2012,de10dedezembro;

g) […];

h) […];

i) […];

j) […];

l) […];

m) Zelarpeladefesadosvaloresecológicosepelocumprimentodasregras

legaiseregulamentaresrelativasàproteçãodaflorestacontraincêndios

noespaçodobaldio;

n) […];

o) Promover a inscrição dos terrenos baldios namatriz e as necessárias

atualizaçõesdesta;

p) [Anterioralíneao)].

Artigo22.º

[…]

1‐ Os compartes podem delegar poderes de administração dos baldios, em

relação à totalidade ou a parte da sua área, em junta de freguesia ou na

câmara municipal da situação do baldio, bem como em serviço ou

organismodaadministraçãodiretaouindiretadoEstadocompetentepara

a modalidade ou modalidades de aproveitamento a que a delegação se

reporte.

2‐ [Revogado].

3‐ [Revogado].

4‐ […].

5‐ […].

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Artigo26.º

Causasdeextinçãodosbaldios

Extinguem‐se os baldios, no todo ou em parte da respetiva área

territorial:

a) […];

b) […];

c) Quando,porperíodoigualousuperiora15anos,nãoforemserusados,

fruídosouadministrados,nomeadamenteparafinsagrícolas,florestais,

silvopastoris ou para outros aproveitamentos dos recursos dos

respetivosespaçosrurais,deacordocomosusosecostumeslocaiseas

deliberações dos órgãos representativos dos compartes, nos termos a

regulamentarpordecreto‐lei.

Artigo27.º

[…]

1‐ Decorridos trêsanossemqueosbaldiosestejamaserusados, fruídosou

administrados nos termos da alínea c) do artigo anterior, a junta ou as

juntas de freguesia em cuja área se localizem podem utilizá‐los

diretamente,disponibilizá‐losnabolsadeterrasoucederaterceirosasua

exploração precária,mantendo‐se estas situações enquanto os compartes

nãodeliberaremregressaraousoenormalfruiçãodosbaldios.

2‐ O início da utilização dos baldios a que se refere o número anterior é

publicitadonasformasprevistasnon.º1doartigo18.º,comaantecedência

mínimade30dias.

3‐ Durante o período em que os baldios estão a ser utilizados

diretamente pela junta ou juntas de freguesia ou são explorados a

títuloprecárioporterceiros,esemprejuízododispostononúmero

seguinte,hálugaràprestaçãodecontas,comentregaaoscompartes

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do valor da cedência ou da receita líquida de exploração apurada,

deduzidade50%atítulocompensatório,nocasodeutilizaçãodireta

dosbaldiospelasreferidasjuntas.

4‐ Os contratos celebrados por junta ou juntas de freguesia a que se

referem os números anteriores caducam no termo do prazo

respetivo ou quando os compartes regressem ao normal uso e

fruição dos terrenos, salvo se eles mantiverem interesse na sua

manutenção, caso em que os compartes sucedem na posição

contratualdajuntaoujuntasdefreguesia.

5‐ A utilização dos baldios pela junta ou juntas de freguesia, nas

condiçõese formasprevistasnon.º1,não suspendeoprazode15

anosprevistonaalíneac)doartigoanterior.

Artigo28.º

[…]

Daextinção,totalouparcial,deumbaldiodecorre:

a) Noscasosdasalíneasa)ec)doartigo26.º,asuaintegraçãonodomínio

privado da freguesia ou das freguesias em cujas áreas territoriais se

situeoterrenobaldioabrangidopelaextinção;

b) […].

Artigo29.º

[...]

1‐ Osbaldiospodem,notodoouemparte,serobjetodeexpropriação

pormotivodeutilidadepública.

2‐ À expropriação a que se refere o número anterior aplica‐se o

disposto no Código das Expropriações, com as especialidades

previstasnosnúmerosseguintes.

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3‐ Nãopode ser requerida a declaraçãode utilidadepública semque,

previamente,aentidadeinteressadadiligencienosentidodeadquirir

obaldioporviadedireitoprivado.

4‐ A assembleia de compartes dispõe do prazo de 60 dias para se

pronunciarsobreapropostadeaquisição.

5‐ Nocálculodaindemnizaçãodevesertomadoemconsideraçãonãosó

ograudeutilizaçãoefetivadobaldio,comoasvantagenspropiciadas

à comunidade local pela afetação do terreno aos fins da

expropriação, não podendo, no entanto, daí resultar um valor

inferior ao decorrente da aplicação do princípio da justa

indemnizaçãodevidaporexpropriação.

6‐ [Revogado].

Artigo30.°

Ónus

1‐ Osterrenosbaldiosnãosãosuscetíveisdepenhora,nempodemserobjeto

de penhor, hipoteca ou outros ónus, sem prejuízo da constituição de

servidões,nostermosgeraisdedireito,edodispostononúmeroseguinte.

2‐ Os terrenos baldios estão sujeitos às restrições de utilidade pública

previstasnalei.

Artigo31.º

[…]

1‐ […]:

a) Quandoosbaldios confrontemcomo limitedaáreadepovoaçãoe a

alienaçãosejanecessáriaàexpansãodorespetivoperímetrourbano;

b) […].

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2‐ As parcelas sobre que incidam os direitos a alienar não podem ter área

superior à estritamente necessária ao fim a que se destinam e, quando

afetadasaobjetivosdeexpansãourbana,nãopodemexceder1500metros

porcadanovahabitaçãoaconstruir.

3‐ Para efeito do disposto no presente artigo, a propriedade de áreas de

terrenos baldios não pode ser transmitida sem que a câmara municipal

competenteparaolicenciamentodosempreendimentosoudasedificações

emita informaçãoprévia sobrea viabilidadedapretensão, nos termosdo

dispostonoregimejurídicodourbanismoedaedificação.

4‐ Aalienaçãodepartesdebaldiospara instalaçãodeequipamentossociais,

culturais, desportivos ou outros equipamentos coletivos sem fins

comerciaisou industriaispode ter lugar a título gratuito,pordeliberação

daassembleiadecompartes,nostermosdaalíneaj)don.º1edon.º2do

artigo15.º

5‐ […].

Artigo32.º

[…]

1‐ Cabe aos tribunais comuns territorialmente competentes conhecer dos

litígios que, direta ou indiretamente, tenhampor objeto terrenos baldios,

designadamente os referentes ao domínio, à delimitação, à utilização, à

ocupaçãoouapropriação,acontratosdearrendamento,dealienaçãoede

cessãodeexploração,bemcomodasdeliberações,deaçõesoudeomissões

dosseusórgãoscontráriasàlei.

2‐ [Revogado].

Artigo35.º

[…]

1‐ Os arrendamentos e as cessões de exploração de baldios, nomeadamente

para efeitos de aproveitamento dos respetivos espaços rurais e dos seus

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recursos,emcursoàdatadaentradaemvigordapresentelei,quetenham

sidoobjetodeacordocomórgãorepresentativodarespetivacomunidade

localoudedisposiçãolegal,continuamnostermosajustadosouprescritos

atéaotermofixadoouconvencionado,sendorenováveisnostermosdon.º

4doartigo10.º.

2‐ [Revogado].

3‐ [Revogado].

Artigo37.º

[…]

1‐ […]:

a) […];

b) A comunicação pela assembleia de compartes ao Estado, na pessoa

ouentidadequeparaoefeitoo represente,dequedeveconsiderar

findoaqueleregime.

2‐ […].

3‐ Quando o regime de associação referido no n.º 1 chegar ao termo, a

entidade que administra o baldio tem direito a ser compensada pelos

compartes das benfeitorias e investimentos realizados, nos termos a

regulamentarpordecreto‐lei.

Artigo41.º

[…]

Aregulamentaçãonecessáriaàboaexecuçãodapresente lei revestea

formadedecreto‐lei.»

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Artigo3.º

AditamentoàLein.º68/93,de4desetembro

SãoaditadosàLein.º68/93,de4desetembro,alteradapelaLein.º89/97,de30

de junho, os artigos 2.º‐A, 2.º‐B, 11.º‐A, 11.º‐B, 25.º‐A e 25.º‐B, com a seguinte

redação:

«Artigo2.º‐A

Utilidadepública

Os baldios gozam dos benefícios atribuídos às pessoas coletivas de

utilidadepública.

Artigo2.º‐B

Inscriçãomatricial

1‐ Os terrenos que integram os baldios estão sujeitos a inscrição namatriz

predialrespetiva.

2‐ Acadaterrenoindividualizadoqueintegraobaldiocorrespondeumartigo

matricial próprio, que deve incluir todos os elementos de conteúdo

estabelecidos no artigo 12.º do Código do Imposto Municipal sobre

Imóveis,queseapliquemàespecificidadedosterrenos.

3‐ Paraefeitosdoartigo8.ºdoCódigodoImpostoMunicipalsobreImóveisos

terrenosdebaldiosãoinscritosemnomedoprópriobaldio.

Artigo11.º‐A

Aplicaçãodereceitas

1‐ As receitas obtidas com a exploração dos recursos dos baldios são

aplicadas em proveito exclusivo do próprio baldio e das respetivas

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comunidadeslocais,nostermosaregulamentarpordecreto‐lei.

2‐ São nulas as deliberações dos órgãos das comunidades locais relativas à

aplicaçãodasreceitasnoproveitodascomunidadeslocais,naparteemque

nãoasseguremocumprimentodeobrigaçõeslegaisdosrespetivosbaldios

ouincidentessobreosterrenosbaldios.

Artigo11.º‐B

Gestãofinanceira

Agestãofinanceiradosbaldiosestásujeitaaoregimedanormalização

contabilística para as entidades do setor não lucrativo, devendo o

conselho diretivo apresentar à assembleia de compartes, anualmente

até31demarço,ascontaseorelatóriodeatividadesdobaldiorelativos

aoexercícioanterior.

Artigo25.º‐A

Responsabilidadecontraordenacional

1‐ O baldio é responsável pelas contraordenações praticadas pelos seus

órgãosnoexercíciodassuas funções,quandoestesajamemnomeouem

representaçãodorespetivobaldio.

2‐ Aresponsabilidadedobaldionãoexcluiaresponsabilidadeindividualdos

membrosdosrespetivosórgãosnemdependedaresponsabilizaçãodestes.

Artigo25.º‐B

Responsabilidadedosmembrosdosórgãosdascomunidadeslocais

1‐ Osmembros dos órgãos das comunidades locais respondem pelos danos

causados aos respetivos baldios por atos ou omissões praticados com

preterição dos deveres legais ou contratuais, segundo as regras do

mandato,comasnecessáriasadaptações.

2‐ Os membros do conselho diretivo são pessoal e solidariamente

responsáveispelocumprimentodasobrigaçõesdeclarativasdosrespetivos

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baldiosperanteaadministraçãofiscaledasegurançasocial.»

Artigo4.º

AlteraçãoàorganizaçãosistemáticadaLein.º68/93,de4de

setembro

São introduzidas as seguintes alterações à organização sistemática da Lei n.º

68/93,de4desetembro,alteradapelaLein.º89/97,de30dejulho:

a) OcapítuloIIpassaateraepígrafe«Uso,fruiçãoeadministração»;

b) Éaditada ao capítulo III umanova secçãoV, coma epígrafe «Responsabilidade

pela administração e fiscalização do baldio» e composta pelos artigos 25.º‐A e

25.º‐B.

Artigo5.º

AlteraçãoaoEstatutodosBenefíciosFiscais

O artigo 59.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo Decreto‐Lei n.º

215/89,de1dejulho,passaateraseguinteredação:

«Artigo59.º

Baldios

1‐ Estão isentosde IRCosbaldios, enquadráveisnos termosdaalíneab)do

n.º1doartigo2.ºdoCódigodoIRC,quantoaosrendimentosderivadosdos

terrenos baldios, incluindo os resultantes de cessão de exploração ou de

arrendamento, bem como os da transmissão de bens ou da prestação de

serviços comuns aos compartes, quando, em qualquer caso, aqueles

rendimentossejamafetos,deacordocomoplanodeutilizaçãoaprovado,

com os usos ou costumes locais, ou com as deliberações dos órgãos

competentes dos compartes, em investimento florestal ou outras

benfeitoriasnosprópriosbaldiosou,bemassim,emmelhoramentosjunto

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da comunidade que os possui e gere, até ao fim do quarto exercício

posterior ao da sua obtenção, salvo em caso de justo impedimento no

cumprimento do prazo de afetação, notificado à Autoridade Tributária e

Aduaneira, acompanhado da respetiva fundamentação escrita, até ao

últimodiaútildo1.ºmêssubsequenteaotermodoreferidoprazo.

2‐ Não são abrangidos pelas isenções previstas no número anterior os

rendimentos de capitais, tal como são definidos para efeitos de IRS, e as

mais‐valiasresultantesdaalienação,atítulooneroso,departesdebaldios.

3‐ Aosrendimentosdosbaldios,administrados,emregimededelegaçãooude

utilizaçãodireta,pelasjuntasdefreguesiaemcujaáreaobaldioselocalize,

oupeloserviçodaAdministraçãoPúblicaquesuperintendanamodalidade

ou modalidades de aproveitamento a que a delegação se reporte, que

revertamafavordaautarquiaouserviçoemcausa,aplica‐seodispostono

artigo9.ºdoCódigodoIRC.

4‐ Os rendimentos dos baldios que sejam diretamente distribuídos aos

compartes, em dinheiro ou em espécie, neste último caso quando não

enquadráveis nas situações previstas no n.º 1, são considerados

rendimentos de capitais em sede de IRS, estando sujeitos a retenção na

fonteàtaxade28%.

5‐ A retenção na fonte a que se refere o número anterior tem carácter

definitivo,podendoos sujeitospassivos,porém,optarpeloenglobamento

para efeitos de IRS, caso em que o imposto retido tem a natureza de

impostoporconta,seguindoostermosprevistosnoartigo78.ºdoCódigo

doIRS.

6‐ Os terrenos baldios estão isentos de IMI, sendo esta isenção reconhecida

oficiosamente,desdeque:

a) Severifiqueainscriçãodosprédiosnamatrizemnomedobaldio;e

b) Osprédiosnãosejamexploradosporterceiroforadeumaatividade

agrícola,silvícolaousilvopastoril.»

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Artigo6.º

AlteraçãoaoRegulamentodasCustasProcessuais

O artigo 4.º do Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Decreto‐Lei

n.º34/2008,de26defevereiro,passaateraseguinteredação:

«Artigo4.º

[…]

1‐ […]:

a) […];

b) […];

c) […];

d) […];

e) […];

f) […];

g) […];

h) […];

i) […];

j) […];

l) […];

m) […];

n) […];

o) […];

p) […];

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q) […];

r) […];

s) […];

t) […];

u) […];

v) […];

x) Os compartes e os órgãos dos baldios, nos litígios que, direta ou

indiretamente,tenhamporobjetoterrenosbaldios.

2‐ […].

3‐ […].

4‐ […].

5‐ Noscasosprevistosnasalíneasb),f)ex)don.º1enaalíneab)don.º2,a

parte isenta é responsávelpelopagamentodas custas,nos termosgerais,

quandoseconcluapelamanifestaimprocedênciadopedido.

6‐ Sem prejuízo do disposto no número anterior, nos casos previstos nas

alíneasb),f),g),h),s),t)ex)don.º1enaalíneab)don.º2,aparteisentaé

responsável,afinal,pelosencargosaquedeuorigemnoprocesso,quando

arespetivapretensãofortotalmentevencida.

7‐ […].»

Artigo7.º

Disposiçõestransitórias

1‐ Osbaldiosaquesereferemosartigos34.ºe36.ºdaLein.º68/93,de4desetembro,

alterada pela Lei n.º 89/97, de 30 de julho, e pela presente lei, extinguem‐se e são

integradosnodomínioprivadoda freguesiaoudas freguesias emque se situam,nos

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termosaregulamentarpordecreto‐lei,quando,decorridos10anosacontardadatada

entradaemvigordapresentelei,nãotiveremsidodevolvidosdefactoaouso,fruiçãoe

administraçãodosncompartes.

2‐ A extinção dos baldios, operada nos termos do número anterior, não prejudica a

validadedoscontratosemvigorquetenhamporobjetoosbaldiosaquesereferemos

artigos34.ºe36.ºdaLein.º68/93,de4desetembro,alteradapelaLein.º89/97,de30

de julho, e pela presente lei, sucedendo a junta ou as juntas de freguesia na posição

contratualdaentidaderesponsávelpelaadministraçãodosrespetivosbaldios.

3‐ Semprejuízododispostonon.º5,asreceitasdebaldios,decorrentesdasuaexploração

ouprovenientesdaexpropriaçãodosrespetivosterrenos,quetenhamsidogeradasaté

à integraçãodos terrenosnodomínioprivadoda freguesiaou freguesiaseaindanão

entregues aos respetivos compartes, revertem integralmente para o Fundo Florestal

Permanente decorridoumano a contardadata da entrada emvigorda presente lei,

desdequeseverifiqueumadasseguintessituações:

a) Não existirem órgãos representativos eleitos pelos compartes ou, existindo,

ocorrer vacatura dos lugares, ausência por período superior a três anos ou

impedimentodefinitivodosmembroseleitos;ou

b) Faltar acordo dos compartes quanto aos limites territoriais dos respetivos

baldios.

4‐ Oprazodeumanoaqueserefereonúmeroanteriorsuspende‐seduranteotempoem

que estiverpendente em juízo açãoque tenhaporobjeto a organizaçãodo respetivo

baldioouosseuslimitesterritoriais.

5‐ Areversãoaqueserefereon.º3nãotemlugarquando,nodecursodoprazodeumano

acontardadatadaentradaemvigordapresentelei:

a) Cessarqualquerdassituaçõesreferidasnasalíneasa)eb)donúmeroanterior;

ou

b) Os compartes procederem ao levantamento das verbas que se encontrem

depositadasàsuaordem.

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6‐ A reversão a que se refere o n.º 3 opera por despacho dos membros do Governo

responsáveis pelas áreas das finanças e das florestas, produzindo efeitos com a

comunicação à entidade devedora ou à instituição financeira em que as receitas se

encontramdepositadas.

7‐ Odispostonon.º3doartigo11.ºdaLein.º68/93,de4desetembro,alteradapelaLei

n.º 89/97, de 30 de julho, e pela presente lei, apenas se aplica aos mandatos dos

membrosdamesadaassembleiadecompartes,doconselhodiretivoedacomissãode

fiscalizaçãoqueseiniciaremapósadatadaentradaemvigordapresentelei.

8‐ Odispostono artigo11.º‐BdaLei n.º 68/93, de4de setembro, alteradapela Lei n.º

89/97,de30dejulho,epelapresentelei,éaplicávelàscontasapartirdoexercíciode

2015.

9‐ Ainscriçãonamatrizdosterrenosbaldiosdeveterlugarnoprazomáximodeumanoa

contardadatadaentradaemvigordapresentelei.

Artigo8.º

Normarevogatória

Sãorevogadosoartigo8.º,aalíneac)don.º1doartigo15.º,aalíneab)doartigo

21.º,osn.ºs2e3doartigo22.º,on.º6doartigo29.º,on.º2doartigo32.º,oartigo

33.ºeosn.ºs2e3doartigo35.ºdaLein.º68/93,de4desetembro,alteradapela

Lein.º89/97,de30dejulho.

Artigo9º

Aplicaçãonotempo

O artigo 4.º do Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Decreto‐Lei

n.º34/2008,de26defevereiro,comaredaçãodadapelapresentelei,éaplicável

aos processos iniciados a partir da entrada em vigor da presente lei e aos

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processospendentesnessadata.

Artigo10.º

Entradaemvigor

Apresenteleientraemvigor30diasapósasuapublicação.

AssembleiadaRepública,7deMarçode2014.

OsDeputadosdoPSDedoCDS‐PP