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Seminário Reabilitação de Fachadas, Vasconcelos&Lourenço (eds.), 2016 35 PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À VISTA: PROJETO, CONCEÇÃO E REABILITAÇÃO Eduardo L.C.F. COSTA Arquiteto (Departamento Comercial) Cerâmica Vale da Gândara, Mortágua SUMÁRIO No âmbito da temática proposta, caracteriza-se as paredes de alvenaria em tijolo face à vista quanto à sua composição e funcionamento como ponto de partida para a identificação das principais patologias registadas neste sistema construtivo. Pretende-se identificar as suas causas e realizar uma breve análise das estratégias de reabilitação destas anomalias. 1. INTRODUÇÃO As alvenarias de tijolo assumem um papel preponderante na construção em Portugal. No entanto, a sua evolução não tem registado avanços significativos, apesar da constante introdução de novas soluções materiais e construtivas no setor. Assumindo na maior parte dos casos a função de enchimento e recorrendo a mão-de-obra a baixos custos, neste tipo de alvenarias regista-se descoramento na execução e o consequente aparecimento de patologias. Nos sistemas em que as alvenarias de tijolo são posteriormente finalizadas com outros revestimentos como as argamassas, rebocos, etc., os problemas resultantes dos erros cometidos na realização da obra acabam por se manifestar visualmente de forma mais retardadas. Na construção em sistema de tijolo face à vista, onde as alvenarias de tijolo se caracterizam como o acabamento das fachadas e o tijolo assume o papel de acabamento final, os erros de projeto e execução manifestam-se em patologias de uma forma preponderante e resultam em consequências mais graves. Deste modo, é fundamental que na fase de projeto haja uma cuidada pormenorização dos desenhos e partes escritas, de modo a salvaguardar as corretas prescrições do sistema, que servirão de manual guia, tanto para a fiscalização como para o empreiteiro na fase de construção. Do mesmo modo è essencial que durante a execução da obra, tanto nos trabalhos preparatórios como na fase de realização das alvenarias de tijolo face à vista sejam cumpridas as recomendações da memória descritiva e caderno de encargos para que se evitem os erros que estão na origem dos problemas futuros. Nesta breve reflexão serão abordadas as principais patologias que se registam na construção em alvenaria de tijolo face á vista e analisadas de forma breve algumas estratégias para a sua correção no âmbito das boas práticas da construção em paredes de tijolo face à vista. Adicionalmente, apresenta-se uma nova solução de revestimento pelo exterior com acabamento cerâmico desenvolvida recentemente com aplicação direta na reabilitação de fachadas.

PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À VISTA: … · Cerâmica Vale da Gândara, Mortágua SUMÁRIO ... quanto à sua composição e funcionamento como ponto de partida para a identificação

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Seminário Reabilitação de Fachadas, Vasconcelos&Lourenço (eds.), 2016 35

PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À VISTA:

PROJETO, CONCEÇÃO E REABILITAÇÃO

Eduardo L.C.F. COSTA

Arquiteto (Departamento Comercial)

Cerâmica Vale da Gândara, Mortágua

SUMÁRIO

No âmbito da temática proposta, caracteriza-se as paredes de alvenaria em tijolo face à vista

quanto à sua composição e funcionamento como ponto de partida para a identificação das

principais patologias registadas neste sistema construtivo. Pretende-se identificar as suas

causas e realizar uma breve análise das estratégias de reabilitação destas anomalias.

1. INTRODUÇÃO

As alvenarias de tijolo assumem um papel preponderante na construção em Portugal. No

entanto, a sua evolução não tem registado avanços significativos, apesar da constante

introdução de novas soluções materiais e construtivas no setor. Assumindo na maior parte dos

casos a função de enchimento e recorrendo a mão-de-obra a baixos custos, neste tipo de

alvenarias regista-se descoramento na execução e o consequente aparecimento de patologias.

Nos sistemas em que as alvenarias de tijolo são posteriormente finalizadas com outros

revestimentos como as argamassas, rebocos, etc., os problemas resultantes dos erros cometidos

na realização da obra acabam por se manifestar visualmente de forma mais retardadas.

Na construção em sistema de tijolo face à vista, onde as alvenarias de tijolo se caracterizam

como o acabamento das fachadas e o tijolo assume o papel de acabamento final, os erros de

projeto e execução manifestam-se em patologias de uma forma preponderante e resultam em

consequências mais graves. Deste modo, é fundamental que na fase de projeto haja uma

cuidada pormenorização dos desenhos e partes escritas, de modo a salvaguardar as corretas

prescrições do sistema, que servirão de manual guia, tanto para a fiscalização como para o

empreiteiro na fase de construção. Do mesmo modo è essencial que durante a execução da

obra, tanto nos trabalhos preparatórios como na fase de realização das alvenarias de tijolo face

à vista sejam cumpridas as recomendações da memória descritiva e caderno de encargos para

que se evitem os erros que estão na origem dos problemas futuros.

Nesta breve reflexão serão abordadas as principais patologias que se registam na construção

em alvenaria de tijolo face á vista e analisadas de forma breve algumas estratégias para a sua

correção no âmbito das boas práticas da construção em paredes de tijolo face à vista.

Adicionalmente, apresenta-se uma nova solução de revestimento pelo exterior com acabamento

cerâmico desenvolvida recentemente com aplicação direta na reabilitação de fachadas.

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 36

2. TIJOLO FACE À VISTA

2.1. Caracterização

O tijolo face à vista consiste num bloco de configuração paralelepipédica obtido a partir de

uma base argilosa e por meio de um fabrico que passa por várias etapas desde a extrusão,

secagem e cozedura a elevadas temperaturas. Quando aplicado em obra é normalmente

utilizado como alvenaria da parede exterior de um sistema duplo definindo o acabamento da

fachada através de uma das suas faces que se apresenta visível sem ser rebocada.

Os tijolos face à vista fabricados pela Cerâmica Vale da Gândara são do tipo Klinker, o que

significa que no seu fabrico são utilizadas argilas especiais e uma temperatura de cozedura na

ordem dos 1150°C para redução da sua porosidade e aumento da massa volúmica. Isto permite

que o tijolo Klinker apresenta propriedades de absorção de água inferiores a 6%, massa

volúmica superior a 2000 kg/m3 e resistência mecânica a compressão superior a 45 N/mm2,

constituindo a gama alta do tijolo face à vista [1].

A Cerâmica Vale da Gândara produz tijolos face à vista em diferentes tonalidades e

acabamentos nas dimensões (24x11,5x5 /24x11,5x7/ 28x13,5x5 cm) a que correspondem

diferentes referencias (Figura 1).

Figura 1: Gama de tijolos face à vista da Cerâmica Vale da Gândara

2.2. Vantagens

Durabilidade - Por ação do calor, estas argilas sintetizam e desenvolvem ligações cerâmicas

extremamente fortes e estáveis. Como consequência, os tijolos suportam climas extremamente

agressivos e são inertes a quase todos os ataques químicos. Assim, este material de construção

apresenta-se com uma grande durabilidade [1].

Fatores Estéticos - Os tijolos cerâmicos apresentam cores naturais, esteticamente agradáveis e

atrativas. A cor deriva de complexas reações físico-químicas ocorridas durante o processo de

cozedura. A cor do tijolo é permanente e não se degrada com o tempo. As cores naturais dos

tijolos são extremamente versáteis podendo criar ambientes muito diversos, mas sempre

confortáveis e duradouros [1].

Isolamento Térmico e Acústico - As paredes em tijolo atenuam os sons devido à sua estrutura

densa. A espessura e massa volúmica do tijolo amortecem a transmissão de ruídos e facilitam a

reflexão do ruído de volta ao ambiente envolvente. O tijolo klinker tem melhor comportamento

térmico do que outros materiais de construção equivalentes. A inércia térmica das paredes em

tijolo mantém estável a temperatura interior das habitações. O tijolo absorve e liberta calor

lentamente e assim mantém a casa fresca durante o dia e mais quente durante a noite [1].

Resistência mecânica - A elevada resistência do tijolo à compressão foi explorada durante

milénios para construir estruturas, desde edifícios a pontes e viadutos. Uma parede em tijolo é

um elemento construtivo que confere ao edifício uma segurança adicional [1].

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Resistência ao fogo - O material cerâmico é incombustível, pelo que uma parede de alvenaria

de tijolo apresenta propriedades otimizadas de resistência ao fogo [1].

Custos de manutenção - Os tijolos não necessitam de manutenção. O custo inicial é

rapidamente recuperado, pois os custos de manutenção são inexistentes. A aparência das

paredes mantém-se com o passar do tempo, enobrecendo-se. Trata-se de um investimento com

retorno garantido [1].

3. O SISTEMA DE PAREDES EXTERIORES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À

VISTA

As paredes de alvenaria em tijolo face á vista são normalmente utilizadas num sistema de

parede dupla, sendo composta pelo interior por uma parede de tijolo de alvenaria (ex:

30x20x15cm) sobre a qual se aplica o isolamento (projetado ou em placas). Depois do

isolamento deve ser salvaguardada uma caixa-de-ar (4cm no mínimo) e finalmente pelo

exterior é realizada a parede em alvenaria de tijolo face á vista (Figura 2a).

A parede exterior deve estar apoiada na sua base em elementos estruturais ou elementos em

aço inox solidários a estes, em pelo menos 2/3 da largura do tijolo. Esta base de assentamento

deve estar nivelada e aprumada e sobre esta deve ser aplicada uma tela de apoio impermeável e

elástica, para permitir os micro movimentos do paramento relativamente á estrutura. Ambas as

paredes devem estar solidárias através de grampos que ligam ambos os panos. Este

grampeamento será realizado com 5 grampos por m2 em aço inoxidável com Ø˃ 3mm

distribuídos em quincôncio. O isolamento térmico a aplicar sobre a parede interior poderá ser

projetado ou em placas, com uma espessura mínima de 4cm e deverá contornar os elementos

estruturas para prevenir pontes térmicas (Figura 2b).

A caixa-de-ar deverá ter um minino 4 cm e um máximo 7cm, devendo estar completamente

desobstruída de argamassa. Na sua base deverão ser criados quartos ou meias canas,

devidamente impermeabilizadas e localizadas juntas de ventilação na fiada de tijolo da parede

exterior que se encontra no seu alinhamento. Este pormenor permitirá uma eficaz ventilação e

escoamento da caixa-de-ar. Para assentamento dos tijolos face à vista deverá ser utilizada uma

argamassa específica para o efeito, com características hidrófugas. As juntas entre os tijolos

verticais e horizontais terão uma dimensão entre 1 e 1,5cm de espessura.

(a) (b)

Figura 2: (a) Corte de uma parede dupla com tijolo face à vista; (b) pormenor 3D de uma

parede dupla com o pano exterior em TFV [1].

3.1 Fachadas ventiladas

O processo construtivo de fachada ventilada em tijolo face à vista consiste num conceito

desenvolvido com o propósito de melhorar o desempenho das fachadas relativamente à

construção tradicional, principalmente ao nível do isolamento térmico, estanquidade e

estabilidade. Este tipo de fachada proporciona maior proteção dos agentes atmosféricos e seus

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 38

efeitos como: calor, frio, vento e chuva, o que se traduz num maior conforto no interior das

habitações.

As principais características que definem este tipo de fachada e que contribuem para os

desempenho melhorado em relação ao sistema tradicional são: (1) a utilização de uma parede

exterior contínua que não apoia diretamente na estrutura do edifício e por isso não é

interrompida laje a laje (Figura 3b,c); (2) continuidade da caixa-de-ar ao longo de toda a

fachada, o que permite uma melhor ventilação evitando as pontes térmicas entre exterior e

interior e evacuação das condensações; (3) continuidade do isolamento térmico eliminando a

possibilidade de ocorrência de pontes térmicas (Figura 3a). Nesta configuração, a parede

interior, que assenta diretamente na estrutura do edifício, posiciona-se no alinhamento do

remate dos elementos estruturais (lajes/vigas) fechando o espaço interior e ao mesmo tempo

serve de suporte ao pano exterior ao qual se liga por meio de grampos e outros elementos

metálicos.

4. PATOLOGIAS: CAUSAS E ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO

4.1. Fissuração

As causas para a ocorrência de fissuras nas paredes de alvenaria de tijolo face à vista são

variadas podendo estar relacionadas com:

- Alterações na estrutura por ação de movimentos e deformações em fundações, apoios,

pilares e vigas [2];

- Movimentos de Dilatação/contração;

- Uso de argamassas inadequadas ao nível das características de resistência e elasticidade;

- Negligência no cálculo, pormenorização e execução de juntas de dilatação verticais e

horizontais;

- Alteração dimensional do material cerâmico por absorção de água.

- Negligência no reforço de pontos particulares onde se prevejam cargas diferenciais;

Ao nível das fissuras nos paramentos de tijolo face à vista podemos observar dois tipos: as

fissuras nas juntas de argamassa entre tijolos e as fissuras nos próprios tijolos.

(a) (b) (c)

Figura 3: Pormenores da fachada ventiladas; (a) fases de construção; (b) montagem de perfil de

arranque; (c) apoio com suportes individuais em laje de betão [1].

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4.1.1. Fissuras nas juntas

No caso das fissuras nas juntas, o seu tratamento desadequado no momento da sua execução,

no que respeita à salvaguardada das condições térmicas e atmosféricas para a execução dos

trabalhos, e o uso de argamassas impróprias para o efeito são dois dos principais motivos que

estão na origem destas patologias (Figura 4a). Tendo em conta que as juntas correspondem em

média a 20% da área visível do pano construído, estas constituem um elemento importante na

qualidade estética e funcional das fachadas em tijolo face à vista. É essencial que se proceda à

sua realização com precaução, respeitando as indicações dos projetistas e fornecedores.

Para a correção deste tipo de fissuras devemos utilizar argamassas de composição específica

para o efeito e com características que garantam impermeabilidade, resistência e elasticidade,

não obstante da sua consistência permitir uma excelente trabalhabilidade. No que respeita à sua

composição devem consistir numa mistura de conglomerantes inorgânicos (cimento e/ou cal),

areia, água de amassadura e aditivos, devendo cumprir o disposto na norma NP EN 998-2

(2012) [3].

Cada um dos constituintes deve verificar as seguintes características:

- Cimento: de modo a garantir a plasticidade da argamassa este devera apresentar uma

resistência inferior a 35 MPa e evitar a presença de elevados índices de sais solúveis de

modo a prevenir o aparecimento eflorescências. Na presença de necessidades de

utilização de argamassa branca ou pigmentada recomenda-se o uso de uma base de

cimento branco [1].

- Cal hidráulica: deve ser utilizada sempre que a proporção cimento-areia for inferior a

1:4, e permite conferir à argamassa melhor plasticidade tornando a tonalidade final da

argamassa mais clara [1].

- Areia: isenta de sais e materiais orgânicos que alterem as suas propriedades, poderá ser

proveniente de rio, mina, lavada, fina ou uma conjugação destes tipos [1].

- Saibro: usado de forma correta e controlada atribui maior qualidade ás argamassas

conferindo-lhes maior plasticidade, impermeabilização, trabalhabilidade, facilidade de

limpeza e redução do risco da ocorrência de eflorescências e fissuração [1].

- Água: deverá ser potável sem a presença de sais, sendo totalmente desaconselhado o uso

de águas marinhas ou salinizadas [1].

- Aditivos: quando introduzidos na composição as argamassas estes produtos alteram as

suas características podendo classificar-se como: plastificantes, indutores de ar, corantes,

hidrófugos, etc. Devem ser previamente testados em parede de ensaio antes de serem

aplicados na construção de modo a verificar eventuais reações não desejadas da

argamassa aditivada e o tijolo face à vista como: eflorescências, manchas ou alterações de

cor [1].

Atualmente o mercado dispõe de argamassas pré-doseadas em sacos (ex: argamassa de

montagem Vale da Gândara ou equivalente) com os componentes adequados e pré-doseados às

quais é apenas necessário acrescentar água nas quantidades recomendadas pelo fornecedor.

Estas argamassas prontas asseguram a qualidade das matérias-primas e proporcionam os

desempenhos desejados. No que diz respeito ao dimensionamento e configuração das juntas

verticais e horizontais de assentamento dos tijolos face à vista, estas deverão apresentar uma

espessura compreendida entre 1 e 1,5 cm, podendo assumir diferentes acabamentos de remate,

dos quais o mais comum é o refundado (Figura 4b,c).

4.1.2. Fissuras nos tijolos face à vista

As fissuras que se apresentam nos tijolos (Figura 5a) estão relacionadas principalmente: com a

expansão anormal do material cerâmico por absorção de água, movimentações e deformações

dos elementos estruturais, ausência de reforço dos paramentos em casos específicos de

acentuadas variações de cota e défice e/ou inadequadas juntas de movimento/dilatação.

Para evitar este tipo de problema é fundamental a adoção de uma estratégia de prevenção que

passa por estabelecer logo na fase de projeto pormenores construtivos que permitam definir o

posicionamento e execução corretos das juntas de movimento/dilatação necessárias e

apropriadas.

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 40

Para prevenir a ocorrência de patologias de fissuração nos panos de tijolo poderá ser adotado o

uso da aplicação de armaduras metálicas em forma de treliça plana em arame de aço zincado

(Figura 5b) numa ou mais fiadas consecutivas de modo a reforçar situações particulares das

fachadas onde por especificidade da configuração arquitetónica se prevejam pontos sensíveis

mais suscetíveis á ocorrência destes fenómenos.

Nos casos simples de fissuração, como por exemplo retração, o método de reabilitação poderá

passar pela limpeza das fissuras e aplicação de produtos adequados disponíveis no mercado.

Nos casos mais graves poderá ser necessário, antes de proceder à correção do problema na

fachada, o reforço da estrutura para que se possa estabilizar estes movimentos. Neste tipo de

fissuras, com aberturas de expressão significativa, a estratégia de reabilitação assenta, na

generalidade dos casos, sobre uma intervenção mais agressiva e dispendiosa, caracterizada por

uma substituição pontual dos tijolos danificados ou mesmo pela demolição e reconstrução total

ou parcial de paredes da fachada. Normalmente na reconstrução das paredes são introduzidos

elementos de reforço e prevenção como: grampeamento ou reforço deste e aplicação de

armaduras metálicas entre fiadas.

(a) (b) (c)

Figura 4: (a) Fissuração de juntas [2]; (b) exemplo de acabamento de juntas de assentamento

refundadas; (c) execução do refundado das juntas [1]

(a) (b)

Figura 5: (a) Exemplo de fissuras em tijolo face à vista; (b) aplicação de armaduras em

alvenarias de tijolos face à vista [1]

4.2. Deformação das juntas de dilatação

Os fenómenos de fissuração, esmagamento localizado e destacamento de revestimentos,

caracterizam-se como as patologias mais comuns relacionadas com as juntas de

expansão/contração (dilatação). Na generalidade dos casos as patologias relacionadas com as

juntas de dilatação ocorrem devido a negligências que se praticam em primeira instância na

fase de projeto e posteriormente no momento de execução em obra.

Na fase de projeto, de construções em alvenaria de tijolo face à vista, observa-se um défice na

definição das juntas de dilatação verticais e horizontais necessárias à absorção as

movimentações previsíveis por parte do edifício. Regista-se uma alienação da consideração dos

fatores que influenciam o seu cálculo e distribuição como a exposição solar a que estão sujeitas

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as diferentes fachadas e a própria dimensão dos panos de parede ao nível da sua altura e

comprimento. Pela verificação das obras construídas constata-se que nos locais onde estão

omissas estas juntas acabam por surgir ruturas dos panos de parede que se traduzem em

patologias graves com impacto negativo ao nível estético e funcional no edifício. (Figura 6d)

Na fase de construção os erros cometidos na execução das juntas de expansão/contração

verificam-se na omissão juntas previstas no projeto e incorreta realização das mesmas não

sendo respeitadas as espessuras recomendadas e as características dos componentes materiais

de preenchimento e vedação prescritos em caderno de encargos.

As variações dos teores de humidade e temperatura proporcionam movimentos naturais de

expansão ou contração nos diferentes materiais. Para que os panos de parede e os próprios

edifícios se possam adaptar a estas movimentações sem entrarem em rutura devem existir

juntas de movimento/dilatação distribuídas de acordo com um estudo rigoroso dos edifícios na

fase de projeto, tendo em consideração a sua configuração volumétrica e as diferentes

exposições solares a que estão sujeitas as fachadas. No caso específico das alvenarias em tijolo

face à vista para além de se fazer corresponder as juntas de dilatação do edifício no pano

exterior de fachada, deverão também ser previstas juntas de movimento horizontais e verticais

que serão realizadas apenas ao nível deste paramento exterior, uma vez que neste sistema de

parede dupla com isolamento no interior é o pano exterior que sofre maior variação do

diferencial térmico entre dia e noite. A localização das juntas deverá considerar a estética do

edifício e ao mesmo tempo respeitar as necessidades de expansão de pontos particulares. As

juntas de movimento verticais devem estar distanciadas cerca de 10 metros entre si (Figura 6a).

Nos cunhais devem também existir juntas de movimento verticais principalmente nos que

ligam com fachadas orientadas a Sul e a Poente. Estas juntas podem adquirir uma configuração

retilínea ou em zig-zag acompanhando o traçado das juntas verticais e horizontais que

contornam os tijolos (Figura 6b).

(a)

(b)

(c) (d)

Figura 6: (a) Posicionamento das juntas de movimento em função da orientação dos alçados;

(b) exemplo de junta de movimento vertical retilínea e em zig-zag a acompanhar o traçado das

juntas; (c) pormenor de junta de dilatação horizontal [1]; (d) rotura de cunhal

As juntas de movimento horizontais devem ser previstas a cada 6 m de altura ou sempre que as

soluções construtivas o justifiquem (Figura 6c). Estes valores variam consoante a localização

geográfica, das amplitudes térmicas dos locais, da exposição solar e das propriedades do tijolo

usado.

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 42

A largura destas juntas deve estar compreendida entre 15 a 20 mm e deverão ser preenchidas

com cordão celular, de diâmetro superior à largura da junta, e posteriormente seladas com

silicone neutro, resistente aos raios solares, para evitar a sua degradação precoce e consequente

penetração da água. Para evitar a diminuição da resistência do pano de parede onde são

executadas as juntas de dilatação verticais deverá ser utilizado um sistema de ancoragem

metálico com bainha plástica a cada 50 cm.

Além das juntas referidas anteriormente, devem ser criadas juntas de dilatação sempre que haja

pontos frágeis como grandes vãos, portas ou janelas.

4.3. Humidades

Os fenómenos de humidades derivam em grande parte das patologias de fissuração abordadas

anteriormente. A água infiltra-se pelas fissuras da argamassa ou tijolo atravessando as juntas de

assentamento em argamassa e o próprio tijolo, e vai-se depositando na caixa-de-ar.

Associadas a estas patologias estão também problemas relacionados com a

drenagem/ventilação da caixa-de-ar caracterizados pela inexistência ou má execução de juntas

de ventilação e pela ausência ou incorreta impermeabilização da meia cana entre a base da

caixa-de-ar e o arranque da parede interior.

Nos casos mais graves, quando este sistema de drenagem/ventilação das paredes de tijolo face

à vista, não está corretamente executado aliado à falta de impermeabilização dos arranques das

paredes interiores, a água acaba por se infiltrar no pano interior. O tijolo de alvenaria

normalmente utilizado na parede interior apresenta menor resistência à água relativamente ao

tijolo face à vista do pano exterior, dando origem a graves problemas de humidades no interior

dos edifícios.

Os vãos, quando mal executados, constituem também focos críticos para a penetração de

humidades, estando na origem de grande percentagem das humidades patológicas registadas.

As humidades nas paredes de tijolo face à vista podem também derivar do solo. Através da

capilaridade da água, quando existe contacto destas paredes diretamente ou por via de

elementos construtivos com solos húmidos, a humidade ascende originando patologias de

difícil resolução com manifestações visuais no pano exterior da parede.

Para garantir um correto escoamento das águas, resultantes das condensações que ocorram na

caixa-de-ar e eventuais infiltrações de água pela parede exterior, devem ser executados quartos

de cana ou meias canas, em argamassa hidrófuga, na ligação da parede interior com a base de

assentamento (Figura 7b). As pendentes de escoamento devem ser direcionadas no sentido do

pano de parede exterior. As meias canas deverão ser repetidas sempre que haja uma

interrupção da caixa-de-ar, como por exemplo, os vão de janelas e portas onde a sua

implementação deverá estar prevista nos pormenores de padieiras.

O arranque das paredes interiores e as ligações destas paredes com os elementos estruturais

deverá ser rebocado a uma altura de 40 cm, que posteriormente serão impermeabilizados com

uma tela, pintura de borracha liquida, etc. Na fiada de tijolo do pano exterior, alinhada com a

cota de base onde termina a meia cana, deverão ser garantidas juntas de ventilação executadas

através das juntas verticais (entre tijolos consecutivos) abertas ou por grelhas de ventilação

(Figura 7c). Estas juntas deverão existir no máximo de 4 em 4 tijolos e deverão fazer-se

corresponder o mesmo tipo de juntas no remate superior da parede, na fiada abaixo da laje,

para garantir a ventilação da caixa-de-ar (Figura 7a).

Por sua vez, a caixa-de-ar cuja largura compreenderá 4 a 7 cm, deverá estar limpa e

completamente desobstruída de argamassa. Isto, permite evitar pontos de contacto entre os dois

panos de parede (interior e exterior) e a obstrução do normal escoamento das águas na sua

base, garantido assim a sua perfeita ventilação.

No âmbito da salvaguarda destas questões, durante o processo de construção da parede de

tijolo face à vista, poderão ser utilizados acessórios que permitam fechar momentaneamente a

caixa-de-ar, bloqueando a passagem da argamassa para a sua abertura, à medida que se vai

levantando a parede.

No caso específico dos vãos, para evitar pontes de transmissão de humidades, deve-se garantir

sempre uma separação nas ligações entre o pano de parede exterior e interior, nas diferentes

zonas do vão como: padeiras, ombreiras, peitoris e soleiras através do recurso a barreiras anti-

humidade. Estas barreiras serão tratadas como uma junta de dilatação com um mínimo de 1 cm

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de afastamento. Na impossibilidade de cumprir este afastamento deverão ser previstas zonas de

proteção devidamente tratadas com mais de 10 cm para cada um dos lados a partir da zona de

contacto, por forma a evitar que se estabeleça esta ligação.

Figura 7: (a) Juntas de ventilação e drenagem da caixa-de-ar; (b) pormenor da meia cana na

caixa-de-ar; (c) exemplo de colocação de grelhas de ventilação [1]

A nível das humidades ascensionais as estratégias de prevenção deverão passar pela atuação

nos fatores, que conjugados originam estes problemas como: presença de água, existência de

materiais com porosidade “capilar” e possibilidade de contacto entre ambos. Assim, deverão

ser adotados um conjunto de procedimentos de modo a precaver a ocorrência destas situações:

prever a correta drenagem do terreno para evitar a presença de água; usar materiais com

porosidade de dimensão “não capilar” em contacto com as zonas húmidas (por exemplo,

enrocamentos de brita sem “finos”) ou colmatar os poros dos cerâmicos e betões com produtos

hidrófugos; impermeabilização de fundações e outros elementos em contacto com o solo

através de barreiras hídricas ou criar baixas horizontais de impermeabilização numa das

primeiras fiadas de alvenaria elevada, conhecida na gíria inglesa como DPC (“damp proof

course”) [4].

Nos casos em que as paredes estejam em contato direto com as fundações devem ser aplicadas

telas impermeabilizantes entre duas camadas de argamassa para corte da capilaridade. A

correta execução da caixa-de-ar e a consequente eficaz ventilação da mesma, indicada

anteriormente, contribui decisivamente para secagem das infiltrações nas paredes exteriores.

4.4. Eflorescências

Este fenómeno patológico decorre normalmente das características e componentes das

argamassas de assentamento utilizadas e da quantidade de água que se utiliza na sua

composição. Estas patologias podem–se manifestar em escorrimentos provenientes de

humidades que se libertam para o exterior pelas juntas de argamassa entre tijolos, provocando

carbonatações vulgarmente designados por “babados de junta” ou “escorridos” (Figura 8). Este

fenómeno dá-se devido à presença de uma quantidade de água na argamassa superior ao

recomendado.

A presença de sais solúveis em elevado teor nos componentes da argamassa constitui também

um fator preponderante para a formação das manchas de eflorescências sobre os tijolos.

As condições climatéricas e atmosféricas na fase de execução destas paredes influência

também diretamente a probabilidade de formação desta patologia, por isso é essencial a tomada

de medidas de proteção específicas para garantir que o processo de execução não seja

prejudicado por fenómenos atmosféricos.

Os componentes das argamassas de assentamento do tijolo face à vista, assim como os próprios

tijolos devem conter apenas os teores admissíveis de sais solúveis. Deste modo, deve-se ter em

consideração a utilização de argamassas compostas por matérias-primas de origem controlada e

(a) (c)

(b)

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 44

respeitar as quantidades de água recomendadas pelos fornecedores para se conseguir uma

consistência com o mais baixo teor de água possível.

Ao nível do projeto de Arquitetura é necessário prever elementos como: platibandas, caleiras,

rufos, etc., que funcionem como sistemas de desvio das águas que possam incidir diretamente

sobre as fachadas em tijolo face à vista, minimizando assim de uma forma eficaz o risco destas

ocorrências.

Durante o processo de construção da parede de tijolo face à vista e de modo a garantir as

condições ideais para a realização deste trabalho, devem ser previstas precauções de proteção

dos agentes atmosféricos:

- Proteção das fiadas recentemente executadas com capas plásticas ou semelhante quando

se registarem chuvas fortes, de modo a evitar o dano das juntas e a absorção de água em

demasia pela argamassa fresca;

- Na presença de geadas, verificar o estado do trabalho realizado previamente ao nível das

fiadas de tijolo e perceber se é necessário a recuperação de juntas danificadas. Nos casos

em que estas condições adversas persistam, deve ser providenciada a proteção das

alvenarias;

- Durante a execução dos trabalhos em períodos de calor é necessário manter húmidas as

fiadas de tijolo para prevenir uma secagem rápida da argamassa diminuindo a sua

aderência;

- Em locais com predominância de ventos fortes, é conveniente assegurar o travamento

dos paramentos de dimensão considerável, que poderá ser realizado a partir dos andaimes

ao final de cada dia de trabalho.

Figura 8: eflorescencias generalizadas [2]

4.5. Deformação da fachada para fora do plano

A projeção e empolamento das paredes ou setores destas nas fachadas em tijolo face à vista

está normalmente associado à inexistência ou inadequado grampeamento de ligação das

paredes. Nos casos de utilização das paredes de tijolo face à vista em fachada ventilada, o

insuficiente número de apoios e respetiva divisão horizontal através de interrupção dos panos e

criação de juntas de movimento horizontais (no máximo a cada 6 m) poderá estar também na

origem desta patologia.

Regra geral, a criação de paredes duplas pressupõe o seu funcionamento em conjunto o que se

traduz no aumento dos seus desempenhos individuais ao nível de aspetos como por exemplo a

estabilidade. No caso das paredes em tijolo face à vista, motivado pelo seu perfil esbelto, a

necessidade de solidarização das duas paredes é essencial.

Esta ligação dos paramentos é realizada em termos mecânicos através do recurso a um

grampeamento entre as duas paredes (Figura 9a). Estes elementos mecânicos, normalmente

denominados de grampos de ligação ou ancoragem permitem a amarração dos panos interiores

em tijolo face à vista ao pano interior da parede dupla. O grampeamento deve dispor de 5

grampos/m2 distribuídos em quincôncio (Figura 9b). Devem ser utlizados grampos em aço

inoxidável Ø ≥ 3 mm e munidos com pingadeira. Nos cunhais, na aproximação das juntas de

dilatação e junto aos vãos serão aplicados mais três grampos por metro linear (Figura 9c). Os

grampos são aplicados na argamassa das juntas de assentamento dos tijolos quando estão a ser

levantadas as paredes interiores. Durante o levantamento da parede interior são colocados os

grampos nas juntas de argamassa entre fiadas de tijolo, ficando ai fica uma das suas

extremidades. A extremidade oposta do grampo será posteriormente fixa na parede exterior do

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E. Costa 45

tijolo face à vista. Na execução da parede exterior os grampos devem ser empurrados e imersos

na argamassa da junta do TFV, sendo que a parte mais baixa dos grampos terá sempre de ficar

para o lado da parede exterior para evitar que as eventuais condensações não escorram no

sentido da parede interior.

(a) (b) (c)

Figura 9: (a) pormenor de aplicação do grampo; (b) esquema de grampeamento de pano

exterior em tijolos face à vista ao pano interior (5 grampos/m2 em quincôncio); (c) esquema de

reforço do grampeamento (vãos) [1]

5. NOVO SISTEMA DE REABILITAÇÃO TERMOFACE

5.1. Descrição

No âmbito da reabilitação das fachadas de edifícios, com especial enfase nas de acabamento

cerâmico, a Cerâmica Vale da Gândara desenvolveu um novo sistema designado

TERMOFACE. Trata-se de um sistema compósito de isolamento pelo exterior (ETICS) com

acabamento a ladrilhos cerâmicos (plaquetas) (Figura 10a).

(a) (b)

Figura 10: (a) Pormenor legendado da composição do sistema TERMOFACE [5]; (b)

pormenor 3D da constituição do sistema TERMOFACE

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 46

O sistema destina-se à aplicação sobre as zonas opacas das fachadas conferindo-lhe

regularização, impermeabilização isolamento térmico e um acabamento final cerâmico. A

reduzida espessura do sistema confere-lhe vantagens praticas principalmente ao nível da

reabilitação já que não reduz a área interior e minimiza os constrangimentos na sua adaptação

ao edifício existente.

O sistema é constituído por uma camada de isolante térmico de poliestireno expandido

moldado (TERMOFACE.Neo) que é fixada diretamente ao suporte por um produto de colagem

(TERMOFACE.Flex)); este mesmo produto é também utilizado para a colagem do acabamento

à camada de isolante térmico. O acabamento é constituído por ladrilhos cerâmicos

(TERMOFACE.Slip) com juntas refechadas com argamassa de junta (TERMOFACE.Color),

com funções de proteção e decorativas. O sistema inclui ainda componentes auxiliares, tais

como cavilhas de fixação adicionais (TERMOFACE.Fix) e perfil de arranque (TERMOFACE.

Start) (Figura 10b) [5].

5.2. Processo de Montagem

Depois de devidamente preparada a parede de suporte são coladas as placas de isolamento

(TERMOFACE.Neo) de baixo para cima a partir do perfil de arranque com o produto de

colagem (TERMOFACE.Flex) (Figura 11a, b). Depois de coladas as placas são fixas

mecanicamente através de cavilhas (TERMOFACE.Fix) em quantidade nunca inferior a 9

unidades/m2 e distribuídas 5 por placa em quincôncio (Figura 11c a f) [5].

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

(g) (h) (i)

Figura 11 - Processo de Montagem: (a) Passo 1: Barrar a argamassa de colagem na parte lesa

da placa de isolamento (b) passo 2: Pressionar a placa de isolamento contra o suporte de forma

a colá-la firmemente; (c) passo 3: com uma broca para poliestireno fazer um rebaixo de 3-

4mm; (d) passo 4: com um berbequim fazer orifício na placa de isolamento e no suporte; (e)

passo 5: colocar a fixação mecânica no orifício, de forma a que não fique saliente da placa de

isolamento; (f) passo 6: com um martelo golpear a cavilha de aço; (g) passo 7: barrar a

plaqueta com argamassa de colagem; (h) passo 8: colocar a plaqueta no intervalo das guias da

placa de isolamento e pressionar; (i) passo 9: proceder ao enchimento das juntas.

Posteriormente são coladas as plaquetas cerâmicas (TERMOFACE.Slip) sobre isolamento com

aplicação em camada única do (TERMOFACE.Flex) sobre a zona entre guias das placas

(TERMOFACE.Neo) na qual os ladrilhos serão colocados com uma ligeira pressão (Figura

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11g,h). As guias do isolamento servem ao mesmo tempo de encaixe e auxiliar para a realização

das juntas horizontais. As juntas verticais deverão ser salvaguardadas com recurso a uma bitola

de dimensão apropriada para o espaçamento em plaquetas. Para o refecho das juntas

horizontais e verticais entre plaquetas (TERMOFACE.Slip), é utilizada a argamassa

(TERMOFACE.Color) com recurso a talocha ou a pistola (Figura 11i) [5].

5.3. Vantagens

Isolamento Térmico – O sistema confere isolamento térmico à envolvente opaca das fachadas

dos edifícios permitindo a correção das pontes térmicas, o que contribui para o conforto

térmico e higrotérmico dos edifícios. Proporciona um desempenho térmico do edifício ideal

tanto nas estações frias como nas estações quentes ao permitir que a espessura total da parede

contribuía para a inércia térmica.

Isolamento Acústico – A utilização da plaqueta cerâmica Klinker, como acabamento deste

sistema de isolamento pelo exterior, permite um melhor desempenho acústico relativamente a

sistemas semelhantes com outros acabamentos. A maior espessura do cerâmico facilita a

reflexão do ruído para o ambiente exterior ao mesmo tempo amortece a sua transmissão.

Eficiência Energética – A beneficiação térmica proporcionada pelo sistema traduz-se num

melhor desempenho energético. Com a maior estabilidade das temperaturas interiores diminui

a necessidade de recurso aos meios de climatização artificial para garantir o conforto térmico.

Esta eficiência permite um aumento da poupança de energia e consequente maior economia a

longo prazo.

Resistência mecânica – O sistema é adequado para aplicação em zonas das fachadas acessíveis

ao público e como tal sujeitas a choques fortes, o que confere maior segurança e durabilidade

para o edifício. Quando comparado com sistemas congéneres, está vantagem torna-se

preponderante, uma vez que na maior parte dos sistemas ETICS a fragilidade nas zonas

acessíveis é assinalada como uma das principais desvantagens.

Resistência ao fogo - O material cerâmico é incombustível, apresentando propriedades

otimizadas de resistência ao fogo. A utilização das plaquetas cerâmicas no acabamento do

sistema proporciona um maior desempenho de reação ao fogo quando comparado com sistemas

semelhantes com outros tipos de revestimentos.

Durabilidade – As Plaquetas cerâmicas, utilizadas no revestimento do sistema TERMOFACE,

resultam de um processo de sintetização das argilas por ação do calor que lhes confere

características de resistência e estabilidade. Deste modo, este acabamento cerâmico apresenta

uma grande durabilidade devido à sua capacidade para suportar climas agressivos sendo inerte

à maioria dos ataques químicos. A cor do tijolo é permanente e não se degrada com o tempo.

O Sistema serve de proteção aos elementos estruturais e alvenarias o que contribui para a sua

durabilidade.

Custos de manutenção - O acabamento cerâmico do sistema TERMOFACE necessita de uma

reduzida manutenção, mantendo a sua aparência, com um envelhecimento nobre ao longo do

tempo. Deste modo o investimento inicial é recuperado a medio/longo prazo.

Estética Ambiental Integrada – As plaquetas cerâmicas apresentam cores naturais,

esteticamente agradáveis e atrativas que derivam de complexas reações físico-químicas

ocorridas durante o processo de cozedura das matérias primas naturais baseadas em argila.

5.4. Certificação

O sistema TERMOFACE está homologado pelo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia

Civil). Durante o processo de homologação o sistema foi submetido a um conjunto de ensaios:

reação ao fogo; resistência à sucção do vento; absorção de água por capilaridade;

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Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 48

comportamento higrotérmico; resistência ao choque; resistência à perfuração; permeabilidade

ao vapor de água; substâncias perigosas; segurança no uso; resistência térmica; resistência aos

fungos; durabilidade e adequação ao uso; tendo obtido apreciação geral satisfatória. Os

detalhes dos resultados dos ensaios poderão ser consultados no documento de homologação

DH 938 [5] disponível para consulta pública no portal do LNEC (www.lnec.pt).

5.5. Aplicações

Como exemplo de aplicação apresenta-se o caso de uma moradia unifamiliar isolada,

construída em estrutura porticada com paredes exteriores construídas em parede simples de

alvenaria de tijolo (20 cm de largura) e acabamento das fachadas em reboco areado grosso

pintado com tinta branca. A construção não dispunha de nenhum tipo de isolamento térmico.

Eram visíveis sinais de degradação no acabamento das fachadas com necessidade de

manutenção ao nível das pinturas, o que afetavam a estética do edifício. No entanto, o principal

problema da casa consistia no seu péssimo desempenho térmico consequente da total ausência

de isolamento aliado ao faco da inexistência de caixa-de-ar, devido à utilização de apenas um

pano de parede. Esta circunstância traduzia-se no funcionamento em ponte térmica de toda a

envolvente exterior da casa. Deste modo, como estratégia de reabilitação foi aplicado o sistema

TERMOFACE sobre as paredes de fachada existentes que apresentavam o desempeno e

regularização exigidos. A beneficiação do desempenho térmico e o recurso a um acabamento

de fachada cerâmico de baixa manutenção constituíram os dois fatores decisivos para a opção

desta solução por parte do cliente. Nas imagens apresentadas demonstra-se a comparação da

aparência estética da casa antes e depois da aplicação do sistema.

Figura 12: comparação do aspeto visual da casa antes e depois da aplicação do TERMOFACE

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reabilitação posiciona-se em Portugal como último recurso para a resolução de problemas

que poderiam ser evitados ou minimizados através da implementação das boas práticas

construtivas, desde a fase de projeto e posteriormente respeitadas em obra. A esta conjuntura,

soma-se a o descuramento da manutenção exigida ao longo da vida útil do edifico, que

permitiria o desagravamento ou mesmo eliminação de algumas patologias com forte impacto

na componente estética e funcional dos edifícios.

No caso específico da construção em tijolo face à vista, embora a manutenção não revele os

mesmos níveis de exigência de outras soluções construtivas, os erros de projeto e construção

manifestam-se de forma mais evidente. Neste sentido, é fundamental adotar uma estratégia de

prevenção assente na salvaguarda das boas práticas construtivas, testadas e aperfeiçoadas ao

longo dos anos, durante as fases de projeto e conceção.

Para a reabilitação em construções em tijolo face à vista, a estratégia poderá consistir numa

aproximação tradicional caracterizada pela correção das anomalias com base nos princípios

fundamentais deste sistema construtivo. As intervenções pontuais ou reconstruções alargadas

definem-se através da substituição do material danificado e retificação dos erros cometidos na

execução.

Noutra perspetiva, o sistema TERMOFACE surge como uma nova abordagem no campo da

reabilitação de edifícios com acabamento cerâmico nas fachadas. Salvaguardada a estabilidade

da parede de base, esta solução, enquanto sistema compósito de isolamento pelo exterior,

possibilita a eliminação das patologias na origem das infiltrações pelas fachadas e ao mesmo

tempo corrige eventuais pontes térmicas existentes. Poderá constituir uma intervenção mais

ligeira e económica, principalmente nos casos com maior área de atuação. No caso específico

das construções em tijolo face à vista ou acabamento a plaquetas cerâmicas, o recurso a este

sistema não desvirtua a estética dos edifícios garantindo a sua imagem no final da aplicação.

7. REFERÊNCIAS

[1] Manual de Aplicação de tijolos de face à vista e pavers cerâmicos, Cerâmica Vale da

Gândara., Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, Mortágua. 2012.

[2] Silva, J. Mendes - “Alvenarias não estruturais. Patologias e estratégias de reabilitação”,

Seminário Paredes de Alvenaria, pp.187-206, 2002.

[3] NP EN 998-2 - Especificações de argamassas para alvenaria. Parte 2: argamassas de

montagem, 2012.

[4] Silva, J. Mendes., Abrantes, V. – “Patologias em paredes de alvenaria: causas e

soluções”, Seminário Paredes de Alvenaria: Inovação e possibilidades atuais, Lourenço

et al. (eds.), pp. 65-84, 2007.

[5] DH 938 – Documento de homologação, Termoface: Sistema compósito de isolamento

térmico pelo exterior, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 12 pp., 2016.

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