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GAZETA DE PIRACICABA 10 CIDADE PIRACICABA, SEXTA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2014 ELENI DESTRO Especial para a Gazeta O encontro com espécies raras e belas da flora brasileira bem no “quintal” dos piracicabanos. São falsas-seringueiras, mari- nheiros, jequitibás, figueiras, tamboris, entre outras árvo- res, que podem ser conheci- das em um passeio pelo Par- que do Mirante, uma verdadei- ra floresta no coração de Pira- cicaba, criado no século 19 pe- lo Barão de Rezende. A Gazeta convidou Rafael Jó Girão, ges- tor ambiental da ONG (organi- zação não governamental) Flo- respi, para um passeio pelo lo- cal para descobrir as caracte- rísticas de algumas das princi- pais árvores. Reservar uma hora para o passeio é o suficiente. Logo na entrada, as gigantescas fal- sas-seringueiras dão as boas- vindas. “As suas raízes me- dem o mesmo que as suas co- pas”, revela Girão, para a sur- presa da reportagem. Isso sig- nifica que as raízes da princi- pal falsa-seringueira do par- que chega a 45 metros de diâ- metro. Girão calcula a idade, mas avisa que em todas as es- pécies ela depende das condi- ções, como clima, solo, umida- de e espaço entre uma árvore e outra. “Deve ter uns 75 anos”, calcula. A falsa-serin- gueira é nativa do Brasil e está em muitos outros locais, co- mo a praça da Boyes. Um de- talhe que chama a atenção são as raízes aéreas que, ao en- contrarem o solo, viram tron- cos e ajudam a suportar o seu peso. Ao lado da espécie, uma pla- ca do projeto Trilha no Par- que, da Sedema (Secretaria de Defesa do Meio Ambiente), exi- be as 18 principais espécies do parque (leia matéria sobre o projeto nesta página). Já dentro da trilha, um cha- péu-de-sol chama a atenção pelo seu tamanho: deve medir cerca de 10 metros de altura. Muito comuns nas praias, nes- se ambiente ficam mais encor- pador e baixos. Girão explica que se trata de sobrevivência: cercado por muitas outras es- pécies, ele precisa crescer pa- ra alcançar o sol. O mesmo ocorre com um flamboyant, que fica inclinado em direção ao rio, em uma clareira. Mas não há risco de queda? Girão explica que não, porque, as- sim como as falsas-seringuei- ras, o flamboyant tem raízes ta- bulares (em forma de tábua), que ajudam a sustentação. Mais à frente, Girão, acostu- mado a todo tipo de árvores, se surpreende com uma, a fi- gueira-violino. “Essa é uma es- pécie africana”, diz. Mesmo com toda sua experiência, Gi- rão conta que é difícil fazer o reconhecimento de algumas espécies. “Quando não identi- ficamos no campo fazemos a coleta de flores, folhas e fru- tos e levamos para o herbá- rio”, conta ele, que é formado pela Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e tem mestrado em políticas pú- blicas ambientais. ROSA Nesta época do ano, vários pontos do Mirante estão cor- de-rosa graças às brasileiríssi- mas paineiras, espécies que existem em abundância no lo- cal. Uma árvore que parece muito antiga é mais um desa- fio para Girão, que precisa ler a placa de identificação: é uma marinheiro, também co- nhecida como taúva. Este exemplar do Mirante apresen- ta alguns pontos podres. “Pa- ra analisar o risco de queda de árvores, observamos raiz, co- lo, tronco, galhos e folhas”, avisa Girão. A marinheiro é uma espécie longeva, que po- de chegar aos 150 anos. Uma das mais curiosas é a brasileira figueira mata-pau. O nome não é por acaso, já que ela se apodera de outras espécies - até das de sua famí- lia - e as destrói. Da África Central existe a espatódea, que dá flores vermelhas e en- feita algumas ruas de Piracica- ba também. SEM FÔLEGO O ponto alto da visita está no meio da trilha: o encontro com um imponente e centená- rio jequitibá, que precisa de quatro homens para envolvê- lo e mede cerca de 30 metros de altura. Ao lado, há uma fi- gueira branca, maior ainda, com suas raízes tabulares. Ou- tra espécie entre as centená- rias é um pé de pau d’alho. E encontrá-lo não fica difícil: o cheiro forte de alho é sentido de longe. Seguindo a trilha ainda pude- ram ser vistas as cássias, uma delas de tamanho incomum, que chamou a atenção de Gi- rão, cedro-rosa, alecrim-de- campinas, embiruçu, a cabreú- va e o açoita-cavalos, isso sem falar nas outras centenas de ár- vores, de tamanhos e espécies diversos, responsáveis pela re- generação da mata. E quase ao final da trilha, o vi- sitante tem um encontro com a árvore-símbolo de Piracica- ba: o tamboril, usada pelo capi- tão Antônio Correa Barbosa, fundador de Piracicaba, para construir sua frota de barcos. Segundo Girão, a escolha do coronel teve um motivo: o tam- boril, além de crescer rapida- mente, oferece uma madeira leve, ideal para embarcações. INTERVENÇÃO Uma situação comum na mata do Mirante é a presença de ci- pós ou lianas, trepadeiras que muitas vezes se apoderam das copas das árvores e podem le- vá-las à morte. A situação é co- mum em florestas mas, para Girão, por se tratar de uma área urbana, o ideal seria uma intervenção. “É preciso fazer o manejo, cortar o parasita. A es- tética aqui é importante e se- ria ideal intervir no local. Um parque como este é importan- te para o lazer, para desestres- sar, valoriza as casas e comér- cios ao redor, além do benefí- cio para o meio ambiente. Aqui a temperatura não oscila tanto, é mais agradável”, enu- mera Girão. Segundo a Sedema (Secreta- ria Municipal de Defesa do Meio Ambiente), existem apro- ximadamente 800 árvores no parque, 100 delas catalogadas. A manutenção é feita levando- se em conta a existência de ve- getação nativa juntamente com a ocupação prática do bosque. Alguns galhos, folhas, fora da área de circulação de pessoas são deixados para a re- ciclagem de nutrientes. TRILHA Como opção para conhecer as espécies do Mirante existe o projeto Trilha no Parque, cria- do pela equipe do Núcleo de Educação Ambiental (NEA), a partir de um levantamento e mapeamento das espécies pre- dominantes. O objetivo da trilha é criar passeios monitorados de reco- nhecimento das espécies. O passeio pode ser autoguiado ou monitorado. Informações pelo telefone 3417-9494 ou blo- gs - sedemapiracicaba.blogs- pot.com.br e neasedema.blogs- pot.com.br. Rafael Jó Girão mostra o tamanho do jequitibá centenário: raridade Tamboril, árvore símbolo de Piracicaba, ideal para construção de barcos A enorme figueira branca é uma das espécies que podem ser admiradas No coração da cidade Uma floresta com cerca de 800 árvores, lindas e gigantes, bem perto dos piracicabanos Parque do Mirante Fotos: Del Rodrigues

Parque do Mirante: no coração da cidade

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GAZETA DE PIRACICABA10 CIDADE PIRACICABA, SEXTA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2014

ELENI DESTRO

Especial para a Gazeta

Oencontro com espéciesraras e belas da florabrasi leira bem no

“quintal” dos piracicabanos.São falsas-seringueiras, mari-nheiros, jequitibás, figueiras,tamboris, entre outras árvo-res, que podem ser conheci-das em um passeio pelo Par-que do Mirante, uma verdadei-ra floresta no coração de Pira-cicaba, criado no século 19 pe-lo Barão de Rezende. A Gazetaconvidou Rafael Jó Girão, ges-tor ambiental da ONG (organi-zação não governamental) Flo-respi, para um passeio pelo lo-cal para descobrir as caracte-rísticas de algumas das princi-pais árvores.

Reservar uma hora para opasseio é o suficiente. Logona entrada, as gigantescas fal-sas-seringueiras dão as boas-vindas. “As suas raízes me-dem o mesmo que as suas co-pas”, revela Girão, para a sur-presa da reportagem. Isso sig-nifica que as raízes da princi-pal falsa-seringueira do par-que chega a 45 metros de diâ-metro. Girão calcula a idade,mas avisa que em todas as es-pécies ela depende das condi-ções, como clima, solo, umida-de e espaço entre uma árvoree outra. “Deve ter uns 75anos”, calcula. A falsa-serin-gueira é nativa do Brasil e estáem muitos outros locais, co-mo a praça da Boyes. Um de-talhe que chama a atençãosão as raízes aéreas que, ao en-contrarem o solo, viram tron-cos e ajudam a suportar o seupeso.

Ao lado da espécie, uma pla-ca do projeto Trilha no Par-que, da Sedema (Secretaria deDefesa do Meio Ambiente), exi-be as 18 principais espécies doparque (leia matéria sobre oprojeto nesta página).

Já dentro da trilha, um cha-péu-de-sol chama a atençãopelo seu tamanho: deve medircerca de 10 metros de altura.Muito comuns nas praias, nes-se ambiente ficam mais encor-pador e baixos. Girão explicaque se trata de sobrevivência:cercado por muitas outras es-pécies, ele precisa crescer pa-ra alcançar o sol. O mesmoocorre com um flamboyant,que fica inclinado em direçãoao rio, em uma clareira. Masnão há risco de queda? Girãoexplica que não, porque, as-sim como as falsas-seringuei-ras, o flamboyant tem raízes ta-bulares (em forma de tábua),que ajudam a sustentação.

Mais à frente, Girão, acostu-mado a todo tipo de árvores,se surpreende com uma, a fi-gueira-violino. “Essa é uma es-pécie africana”, diz. Mesmocom toda sua experiência, Gi-rão conta que é difícil fazer oreconhecimento de algumasespécies. “Quando não identi-ficamos no campo fazemos acoleta de flores, folhas e fru-tos e levamos para o herbá-rio”, conta ele, que é formadopela Esalq (Escola Superior deAgricultura Luiz de Queiroz) etem mestrado em políticas pú-

blicas ambientais.

ROSANesta época do ano, váriospontos do Mirante estão cor-de-rosa graças às brasileiríssi-mas paineiras, espécies queexistem em abundância no lo-cal. Uma árvore que parecemuito antiga é mais um desa-fio para Girão, que precisa lera placa de identificação: éuma marinheiro, também co-nhecida como taúva. Esteexemplar do Mirante apresen-ta alguns pontos podres. “Pa-ra analisar o risco de queda deárvores, observamos raiz, co-lo, tronco, galhos e folhas”,avisa Girão. A marinheiro éuma espécie longeva, que po-de chegar aos 150 anos.

Uma das mais curiosas é abrasileira figueira mata-pau.O nome não é por acaso, jáque ela se apodera de outrasespécies - até das de sua famí-lia - e as destrói. Da ÁfricaCentral existe a espatódea,que dá flores vermelhas e en-feita algumas ruas de Piracica-ba também.

SEM FÔLEGOO ponto alto da visita está nomeio da trilha: o encontrocom um imponente e centená-rio jequitibá, que precisa dequatro homens para envolvê-lo e mede cerca de 30 metrosde altura. Ao lado, há uma fi-gueira branca, maior ainda,com suas raízes tabulares. Ou-tra espécie entre as centená-rias é um pé de pau d’alho. Eencontrá-lo não fica difícil: ocheiro forte de alho é sentidode longe.

Seguindo a trilha ainda pude-ram ser vistas as cássias, uma

delas de tamanho incomum,que chamou a atenção de Gi-rão, cedro-rosa, alecrim-de-campinas, embiruçu, a cabreú-va e o açoita-cavalos, isso semfalar nas outras centenas de ár-vores, de tamanhos e espéciesdiversos, responsáveis pela re-generação da mata.

E quase ao final da trilha, o vi-sitante tem um encontro coma árvore-símbolo de Piracica-ba: o tamboril, usada pelo capi-

tão Antônio Correa Barbosa,fundador de Piracicaba, paraconstruir sua frota de barcos.Segundo Girão, a escolha docoronel teve um motivo: o tam-boril, além de crescer rapida-mente, oferece uma madeiraleve, ideal para embarcações.

INTERVENÇÃOUma situação comum na matado Mirante é a presença de ci-pós ou lianas, trepadeiras que

muitas vezes se apoderam dascopas das árvores e podem le-vá-las à morte. A situação é co-mum em florestas mas, paraGirão, por se tratar de umaárea urbana, o ideal seria umaintervenção. “É preciso fazer omanejo, cortar o parasita. A es-tética aqui é importante e se-ria ideal intervir no local. Umparque como este é importan-te para o lazer, para desestres-sar, valoriza as casas e comér-cios ao redor, além do benefí-cio para o meio ambiente.Aqui a temperatura não oscilatanto, é mais agradável”, enu-mera Girão.

Segundo a Sedema (Secreta-ria Municipal de Defesa doMeio Ambiente), existem apro-ximadamente 800 árvores noparque, 100 delas catalogadas.A manutenção é feita levando-se em conta a existência de ve-getação nativa juntamentecom a ocupação prática dobosque. Alguns galhos, folhas,fora da área de circulação depessoas são deixados para a re-ciclagem de nutrientes.

TRILHAComo opção para conhecer asespécies do Mirante existe oprojeto Trilha no Parque, cria-do pela equipe do Núcleo deEducação Ambiental (NEA), apartir de um levantamento emapeamento das espécies pre-dominantes.

O objetivo da trilha é criarpasseios monitorados de reco-nhecimento das espécies. Opasseio pode ser autoguiadoou monitorado. Informaçõespelo telefone 3417-9494 ou blo-gs - sedemapiracicaba.blogs-pot.com.br e neasedema.blogs-pot.com.br.

Rafael Jó Girão mostra o tamanho do jequitibá centenário: raridade Tamboril, árvore símbolo de Piracicaba, ideal para construção de barcos

A enorme figueira branca é uma das espécies que podem ser admiradas

No coração da cidadeUma floresta com cerca de 800 árvores, lindas e gigantes, bem perto dos piracicabanos

Parque do Mirante

Fotos: Del Rodrigues