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Parque Natural Municipal
Das Garças
Estudos para Criação
Uberlândia julho/2015
2
INTRODUÇÃO
O estudo aqui apresentado tem por objetivo submeter à sociedade, através de Consulta Pública e ampla
divulgação, a proposta de criação de uma nova Unidade de Conservação, no Município de Uberlândia, localizada
na sua área urbana, na região oeste da cidade.
A criação do Parque Natural Municipal das Garças é uma iniciativa do Poder Público Municipal, que conta com
o apoio e cooperação da inciativa privada, desde a sua concepção e nas tarefas iniciais de sua implementação.
Os estudos para a criação da nova UC, é fruto da cooperação técnica entre a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, que coordenou a sua realização, e a equipe de colaboradores e consultores da ITV Empreendimentos
Imobiliários, empresa sediada no Município.
Durante 2014 e 2015, foram realizadas inúmeras reuniões promovidas pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, envolvendo outros setores da administração municipal, especialmente a equipe da Secretaria de
Planejamento Urbano e a Procuradoria Jurídica, muitas delas coordenadas pelo Exmo. Prefeito Gilmar Machado,
com o objetivo de viabilizar o novo Parque.
Utilizou-se como referência para a elaboração dos estudos, o “Roteiro para Criação de Unidades de Conservação
Municipais” publicado pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (2010), entre
outras publicações de referência e a legislação Federal e Estadual e Municipal pertinente.
No Capitulo 1. Histórico e Capitulo 2. Área Proposta para a nova Unidade de Conservação, estão descritos o
processo e a concepção desta inciativa, que foi desenvolvida durante a discussão de diretrizes para a
apresentação do processo de aprovação e licenciamento do empreendimento de parcelamento do solo da
Fazenda do Óleo, de propriedade da Delta Administração e Participação Ltda. – ITV.
Os estudos aqui apresentados para a caracterização do meio físico e biótico da área proposta, foram
desenvolvidos pela empresa Bevilaqua Ambiental & Cultura que serviram de base para a elaboração dos
capítulos correspondentes. As informações fornecidas, compilam dados secundários disponíveis em referências
bibliográficas, relatórios das pesquisas, registros documentais e depoimentos orais, além de incluírem dados
primários de levantamentos de campo realizados no período de março e abril de 2015, para a elaboração do EIA
– Estudo de Impacto Ambiental da Fazenda do Óleo, inerente ao processo de licenciamento ambiental de
empreendimento urbanístico de parcelamento de solo urbano. O seu uso foi autorizado pelos autores, sendo que
a citação ou uso das informações constantes dos Capitulo 3, 4 e 5, respectivamente Caracterização do Meio
Físico, Caracterização do Meio Biótico e Caracterização da Vegetação, quando ocorrer, deverá ser feita mediante
aviso prévio e autorização dos autores.
Além da relevância ambiental da nova Unidade de Conservação, nos demais capítulos, procurou-se ressaltar a
importância da criação do novo Parque para a população da cidade em especial para a região Oeste, a mais
populosa da cidade, bem como as medidas de proteção e gestão da área até a aprovação do Plano de Manejo
da nova Unidade de Conservação.
Por fim, o estudo além das medidas transitórias de gestão, propõe a discussão de iniciativas inovadoras de
gestão do novo Parque, que possam além de garantir uma adequada implantação, a sua gestão sustentável ao
longo do tempo e incentivar a ampla participação da sociedade civil de Uberlândia nesse processo.
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................02
1. HISTÓRICO.............................................................................................................................................04
2. ÁREA PROPOSTA
2.1. Localização.....................................................................................................................................06
2.2. Composição da Área.......................................................................................................................06
2.3. Importância da Área.......................................................................................................................07
2.4. Enquadramento da Área / Categoria SNUC......................................................................................10
3. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO
3.1. Clima e Condições Meteorológicas..................................................................................................13
3.2. Geologia.........................................................................................................................................21
3.3. Geomorfologia...............................................................................................................................24
3.4. Podologia.......................................................................................................................................26
3.5. Recursos Hídricos...........................................................................................................................29
3.6. Águas Subterrâneas........................................................................................................................33
3.7. Canal fluvial e morfologia da bacia..................................................................................................35
4. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO BIÓTICO
4.1. Caracterização da fauna silvestre....................................................................................................36
4.1.1. Herpetofauna.......................................................................................................................37
4.1.2. Aves.....................................................................................................................................37
4.1.3. Mamíferos ...........................................................................................................................44
4.2. Caracterização da Vegetação..........................................................................................................47
4.2.1. Vereda.................................................................................................................................48
4.2.2. Cerradão..............................................................................................................................48
4.2.3. Cerrado sentido restrito........................................................................................................49
4.2.4. Estrutura e florística encontradas na área proposta...............................................................49
5. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO SOCIOECONÔMICO
5.1. Aspectos demográficos do Município..............................................................................................61
5.2. Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal (IDH-M) ..............................................................63
5.3. Caracterização do Setor Oeste........................................................................................................64
5.4. Demanda Potencial de Uso Público e Educação Ambiental..............................................................65
6. PROPOSTA DE GESTÃO DA UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO......................................................................................................................................67
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................................................................74
4
1. HISTÓRICO
A proposta de criação do PNM das Garças, por iniciativa do Poder Executivo Municipal, teve sua origem no
âmbito das discussões do processo de aprovação do empreendimento da ITV Empreendimentos Imobiliários,
localizado em glebas urbanas de sua propriedade, conhecidas como Fazenda do Óleo.
A ITV tem uma trajetória de atuação histórica no setor, que foi iniciada com a Imobiliária Tubal Vilela de
reconhecida importância na expansão urbana de Uberlândia.
Desde o início do processo, dadas as dimensões do empreendimento, as discussões com a Secretaria Municipal
do Meio Ambiente - SEMEIAM e Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e ITV Empreendimentos
Imobiliários, foram pautadas pela busca de soluções e propostas urbanísticas e ambientais, que fossem além
das condicionantes da legislação vigente e que pudessem inserir o projeto numa perspectiva de desenvolvimento
urbano sustentável.
Para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a destinação das Áreas de Preservação Permanente - APPs do
empreendimento, com 87,468 há, isoladamente, poderia ser apenas um ônus administrativo e de fiscalização
para a sua preservação.
Diante desta constatação, as equipes técnicas da SEMEIAM e do empreendedor deram início a uma série de
discussões em busca de soluções que preservassem as áreas com vegetação natural, em razão da forte
influência antrópica na área em questão.
Durante os estudos e discussões, ficou evidente que a área de APP da Fazenda Planalto conecta-se territorial e
ecologicamente com outras duas áreas protegidas e pertencentes ao Município: o Parque Natural Municipal do
Óleo, criado em 2004 e a área de APP da antiga SUDEPE, hoje incorporada ao patrimônio municipal.
Vislumbrou-se assim, por parte da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a possibilidade de consolidação das
três áreas em uma única Unidade de Conservação, o que traria significativos ganhos ambientais e de gestão.
Visto que o Parque Municipal do Óleo, criado pelo Decreto Municipal nº 9.505 de 02 de junho de 2004, nunca foi
de fato implementado, e sequer tem seus limites identificados e não é reconhecido como tal pela população do
seu entorno, o município propôs incorporar, com base na Lei 9.985 de 2000, Art. 22§ 6º, o PNM do Óleo, à nova
Unidade de Conservição, mantendo o mesmo grau de proteção e sem a redução do seu território.
Justifica-se a incorporação ao PNM das Garças, sendo este uma Unidade de Conservação da mesma categoria
que a UC incorporada, mas com maior viabilidade de implantação e com evidentes ganhos ambientais e de
gestão.
Por sua vez, a incorporação da área da Fundação de Excelência Rural de Uberlândia – FERUB, antiga SUDEPE,
justificou-se por dois fatores principais: aumentar o grau de proteção de parte da área com vegetação natural e
possibilitar a conexão da APP da Fazenda do Óleo, com a área do Parque do Óleo, ligando as duas vertentes
do Córrego do Óleo, que se conectam, na sequência, ao Parque Linear do Óleo, configurando um importante
corredor ecológico.
Além disso, e não menos importante, durante os estudos verificou-se a possibilidade de incorporar integralmente
o espelho d’agua existente na área da FERUB, que em parte já pertencia ao PNM do Óleo, ao novo Parque
Natural Municipal das Garças. A incorporação do reservatório contribuirá para a beleza cênica e será mais um
atrativo para o uso público e educação ambiental do novo Parque. Essa proposta teve o apoio e a aprovação da
Fundação de Excelência Rural de Uberlândia - FERUB. Essa inclusão também permite viabilizar o acesso da
população dos bairros Jardim das Palmeiras, Planalto, Jardim Europa e Chácaras Tubalina, Jardim Canaã,
Jardim Célia, Chácaras Panorama, Santo Antônio, Jardim Europa, Mansour, Jardim Holanda, Luizote de Freitas,
Jardim Patrícia, Jaraguá e Tubalina ampliando a interação socioambiental com a população do entorno do
Parque.
5
Por fim, as equipes técnicas da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, consideraram a possibilidade de
incorporar à nova Unidade de Conservação as Áreas Dominiais, devidas pelo empreendimento da DELTA-ITV,
doação que está prevista na Lei Complementar nº 525, de 14 de abril de 2011 que dispõe sobre o Zoneamento
do Uso e Ocupação do Solo no município de Uberlândia e Lei Complementar n° 523 de 07 de abril de 2011 que
dispõe sobre o Parcelamento do Solo do Município e dos seus Distritos. O regramento municipal determina que
os loteamentos devem doar ao Município, descontadas as áreas de APP, 7% da área total do empreendimento.
No caso do empreendimento da Delta - ITV, corresponde a uma área de 27, 874 há, que será incorporada ao
novo Parque.
Após reuniões com as equipes técnicas da Secretaria de Planejamento Urbano e com a Procuradoria Jurídica
da Prefeitura, foi aprovado pelo chefe do Executivo Municipal a proposta de incorporação das Áreas Dominiais
ao perímetro da nova Unidade de Conservação, mediante encaminhamento para aprovação pela Câmara
Municipal, de projeto de Lei do Executivo autorizando a doação antecipada das Áreas Dominiais da Delta
Administração e Participação Ltda., para fins de incorporação ao novo Parque a ser criado.
As áreas dominiais incorporadas ao novo Parque permitirão, melhorar a proteção da vegetação natural das APP,
visto que poderão recepcionar as áreas de uso público intensivo como as instalações administrativas, praças de
alimentação, estacionamentos, áreas de esporte e lazer, e outros usos, que serão definidos no Plano de Manejo
do Parque, sem intervenção nas áreas naturais existentes. Com a elaboração do Plano de Manejo do Parque,
parcelas significativas dessas áreas dominiais também poderão ser destinadas à recuperação e enriquecimento
florestal e servirão de proteção aos processos erosivos que ameaçam a integridade das veredas existentes na
sua zona núcleo.
Desta forma a proposta do novo PNM das Garças resultou da consolidação de 4 (quatro) áreas, que deverão,
ser todas de domínio público municipal.
A concepção do novo Parque proposta em última instância procurou dar consequência as diretrizes do SNUC
que em seu Art.5º inciso XIII estabelece que as Unidades de Conservação:
“busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes
categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, da
natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.”
No caso, buscou-se integrar numa mesma Unidade de Conservação sob a mesma gestão na busca de maior
eficiência e eficácia na sua implantação e racionalização de recursos financeiros e humano.
Em resumo, este breve histórico procura resumidamente, relatar um processo bem sucedido de cooperação
público-privada para a criação de um Parque Natural Municipal. A expectativa é que essa cooperação, continue
no processo de implantação e gestão e que incorpore outros segmentos da sociedade civil uberlandense nessa
importante missão.
Para a ITV, por sua trajetória quase centenária, foi uma oportunidade de deixar um legado para a cidade, e desta
forma homenagear seu fundador, Tubal Vilela, que dedicou uma vida, sempre olhando Uberlândia pela lente do
futuro.
Para o Poder Público Municipal, a oportunidade de criação de um Parque Natural Municipal, com 136,381 há,
consolidando diversas áreas protegidas, numa visão estratégica e racional de gestão ambiental e principalmente
de poder oferecer à população de Uberlândia uma melhor qualidade de vida.
6
2. ÁREA PROPOSTA
2.1. Localização
A área proposta para a criação do Parque Natural Municipal das Garças compreende o total de 136,381
há.
A área está inserida no perímetro urbano do município de Uberlândia, na região administrativa do
Triangulo Mineiro, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Localiza-se na Zona Oeste do município (Figura 1), a mais populosa da malha urbana municipal, com
140.539 habitantes, segundo dados do censo de 2010 do IBGE.
A região caracteriza-se pela forte expansão urbana nas últimas décadas.
De acordo com o mapa de biomas brasileiros do IBGE, a área encontra-se totalmente inserida no Bioma
Cerrado.
2.2. Composição da Área
Conforme já abordado anteriormente, a definição dos limites propostos para criação do PNM das
Garças levou em consideração a oportunidade de consolidar 4 (quatro) áreas naturais contíguas, sendo
que 2(duas) já são de domínio do Poder Público Municipal, e outras 2(duas), que serão incorporadas
Figura 1: Localização do PNM das Garças no contexto do Município de Uberlândia.
7
ao domínio municipal, no âmbito do processo de licenciamento de empreendimento nas glebas que
compõe a Fazenda do Óleo, de propriedade da Delta Administração e Participação Ltda, da ITV
Empreendimentos Imobiliários.
Estas áreas configuram o polígono constante no Memorial Descritivo, parte integrante do Decreto
Municipal de criação da nova Unidade de Conservação (figura 2 e 3), com área total de 136,381
hectares conforme descritas abaixo:
Figura 2 e 3: Polígono referente aos limites do Parque Natural Municipal das Garças e detalhes das áreas originárias.
8
I- Área de 87,468 há correspondente à Área de Preservação Permanente das glebas da Delta
Administração e Participação Ltda., delimitada no âmbito do processo de licenciamento ambiental
pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente que serão destinadas como área de preservação ao
Município, no âmbito do processo de licenciamento do empreendimento imobiliário na Fazenda do
Óleo;
II- Área de 27,874 há, de áreas dominiais, decorrentes do processo de licenciamento acima descrito.
III- Área de 18,748 há do Parque Municipal do Óleo, criado pelo Decreto Municipal nº 9505 de 02 de
junho de 2004, que passa a incorporar a nova UC;
IV- Área de 2,291 há, Parte da área da “antiga SUDEPE”- FERUB, correspondente a Área de
Preservação Permanente.
2.3. Importância da Área
A área proposta para a criação do PNM das Garças pode ter sua importância abordada sob dois
aspectos principais: a) a relevância de seus atributos ambientais e sua importância para a conservação
da natureza e b) a importância de uma unidade de conservação da categoria PNM que possibilita a
disponibilização de área verde para o lazer e uso público pela população do entorno e do município
como um todo.
Com relação ao primeiro aspecto, importância ambiental, a área do PNM proposto apresenta
importantes fragmentos de Cerrado, em bom estado de conservação, de cerrado estrito senso,
cerradão e principalmente importantes áreas de fitofisionomia de Veredas.
Na área núcleo do Parque, além de incorporar uma nascente do PNM do Óleo, encontram-se 3 (três)
outras nascentes do Córrego do Óleo, um importante contribuinte do Rio Uberabinha, principal fonte
de abastecimento de água do Município.
Os estudos de fauna realizados indicaram que a área proposta abriga 38% das espécies da silvestres
com ocorrência registrada na área urbana de Uberlândia. No levantamento de campo da avi-fauna, os
estudos comprovaram a ocorrência de 85 espécies, que corresponde a 60% das espécies já registradas
no município.
Em relação ao grau de conservação da vegetação nativa é importante destacar que as Veredas encontram-se bem preservadas, sem evidências significativas de processos erosivos ou contaminação de recursos hídricos. As pressões predatórias são essencialmente decorrentes de ações antrópicas, como lançamento irregular de entulhos e lixo nas bordas mais próximas das ruas e caminhos próximos ao PNM das Garças. Há ocorrência de vegetação exótica invasora nas bordas da APP o que deverá ser objeto de recuperação e enriquecimento florestal e incrementar o grau de conservação da área do novo Parque. Cabe destacar que a revegetação com espécies arbóreo-arbustivas e frutíferas a serem definidas no plano de manejo para as áreas dominiais anexas à APP, é um fator contribuinte efetivo para elevar a relevância ecológica da UC e principalmente para a proteção da área núcleo representada pela fitofisionomia de Veredas, dos efeitos de borda para a vegetação e de zona buffer para os processos erosivos. De um modo geral, considerando tratar-se de uma área urbana, e ocupação consolidada, a mesma apresenta-se bem preservada e com potencialidade de incremento em sua conservação e na capacidade de suporte para o uso público.
9
Ainda sob o aspecto da conservação ambiental, outra característica importante da área proposta para
a criação do PNM das Garças, é a sua conexão com o Parque Linear do Óleo, que por sua vez conecta-
se ao Parque Linear do Rio Uberabinha (Figura 4), principal fonte de abastecimento de agua do
município e a outros importantes remanescentes de vegetação natural.
Tal fato, melhor detalhado no capítulo dedicado à caracterização do meio biótico deste estudo, aumenta
a importância da nova UC na configuração de um importantíssimo corredor ecológico urbano,
provavelmente de dimensão impar entre as grandes cidades brasileiras.
Considerando o segundo aspecto relevante que caracteriza a área proposta, pode-se afirmar que a
criação do PNM das Garças possibilitará suprir de forma significativa a carência de áreas verdes e de
lazer, estruturadas como Parques Municipais na Região Oeste do Município.
O grande adensamento populacional e a tendência de crescimento futuro da região, contrapondo-se
às Unidades de Conservação já existentes no Município de Uberlândia (Figura 5 e Tabela 1),
demonstram a importância do PNM das Garças na busca de um melhor equilíbrio no município como
um todo entre a demanda da população e a oferta de espaços verdes para o lazer, a educação
ambiental e a qualidade de vida como um todo.
Figura 4: Conexão entre as várias UCs e o PMN das Garças possibilitando a existência de corredor ecológico
10
Por fim, considerando-se a associação entre o aspecto locacional, os atributos ambientais e cênicos
da área estudada, a proposta de criação do Parque Natural Municipal das Garças está em perfeito
alinhamento com as diretrizes estratégicas do modelo de desenvolvimento urbano e ambiental
consignados no Plano Diretor do município, correspondendo ao compromisso do poder executivo
municipal de promover o desenvolvimento sustentável e o direito ao meio ambiente saudável a todos
os cidadãos e em todas as regiões do município.
2.4. Enquadramento da Área / Categoria SNUC
A proposta de Categoria de Manejo da nova Unidade de Conservação levou em consideração a
delimitação da Área Proposta, bem como os estudos dos meios físico e biótico, a caracterização da
vegetação e a do meio socioeconômico, que compõem os estudos aqui apresentados.
No entanto, desde o início dos estudos, ficou evidente para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente
que um Parque Natural Municipal seria a melhor alternativa para assegurar a preservação da
biodiversidade, proteger a paisagem natural e assegurar o uso público de forma sustentável.
Considerando que a área proposta está totalmente inserida no perímetro urbano e tem seus limites
imediatos cercados por bairros populosos e consolidados, avaliou-se ser inviável o manejo de uma UC
com grau de restrição maior que um Parque Natural. Por outro lado, e pela mesma razão da forte
pressão antrópica do seu entorno, praticamente se impõe uma categoria onde o uso público ordenado
seja permitido, como é o caso do Parque Natural Municipal.
Parques Municipais Categoria Área Total / ha Região/ ZONA
Parque do Sabiá Parque Municipal 184,74 Norte
Parque Distrito Industrial Parque Municipal 28,24 Norte
Parque Victorio Siquierolli Parque Natural Municipal 23,32 Norte
Parque Santa Luzia Parque Municipal 26,83 Sul
Parque Luizote de Freitas Parque Municipal 5,59 Oeste
Parque do Óleo Parque Natural Municipal 18.75 Oeste
Tabela 1 e Figura 5: Conjunto dos Parques Municipais de Uberlândia com respectivas áreas e localização
(carência atual da Zona Oeste do Município)
11
A Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), define Unidade de Conservação como o “espaço territorial e seus recursos ambientais,
incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo
Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
A unidade de conservação proposta, tem entre os objetivos definidos no Art.4º da lei do SNUC, o
propósito de:
a) Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos;
b) Contribuir para a preservação e restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
c) Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de
desenvolvimento;
d) Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
e) Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
f) Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
g) Favorecer condições e promover a educação ambiental e interpretação ambiental, a recreação
em contato com a natureza e o turismo ecológico.
A mesma Lei define no seu Art.11, os objetivos da categoria Parque, estabelecendo que:
”Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. § 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. § 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. § 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.” (grifo nosso).
Por sua vez, a Lei Estadual nº 20.922 de 2013, define no seu Art.43, item a transcrito abaixo, o conceito de Parque no Estado de Minas Gerais.
“a) parque: a área representativa de ecossistema de valor ecológico e beleza cênica que contenha espécies da fauna e da flora e sítios com relevância científica, educacional, recreativa, histórica, cultural, turística, paisagística e espiritual, em que se possa conciliar, harmoniosamente, o uso científico, educativo e recreativo com a preservação integral e perene do patrimônio natural;”
Nesse sentido, o Poder Público Municipal, considerando a legislação vigente, e as características da área proposta, considerou que a categoria Parque Natural Municipal é a mais apropriada para os objetivos propostos. A denominação do parque proposto, como Parque Natural Municipal das Garças, segue o estabelecido na Lei do SNUC e no Decreto Federal nº 4.340, capitulo I, Art.3º de 2002, que recomenda que “a denominação de cada unidade de conservação deverá basear-se, preferencialmente, na sua
12
característica natural mais significativa, ou na sua denominação mais antiga, dando-se prioridade, neste último caos, ás designações indígenas ancestrais”. O nome foi escolhido em função da presença da garça-branca-grande (Ardea alba) na área do
parque, sendo ela uma ave de grande porte e de grande beleza. Em função da represa e da criação
de peixes na FERUB sua presença é cada vez maior no local.
13
3. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO
3.1. Clima e Condições Meteorológicas
Para a caracterização climática da Área de Estudo foi realizado um levantamento acerca do clima em
escala regional e feita uma descrição dos principais sistemas de circulação atmosférica atuantes na
região. Foram consultados, dentre outros, os trabalhos de NIMER (1977), MONTEIRO (1973),
SANT’ANA NETO (2009), DEL GROSSI (1992), SÁ JUNIOR (2009), o Mapa de Climas do Brasil na
escala 1:5.000.000 (IBGE, 2002), além do modelo de classificação climática de Koeppen (KOEPPEN,
1948; THORNTHWAITE; MATHER, 1951; ROLIN et al., 2007, PEEL et. al., 2007). As análises também
se pautaram nas informações disponibilizadas no Zoneamento Ecológico Econômico do Estado de
Minas Gerais (2008).
Na seqüência foram levantados os dados de estações meteorológicas presentes na área de estudo e
analisados os resultados dos parâmetros coletados. Para tanto, foram utilizadas as Normais
Climatológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 1992) e consultados o banco de dados
do INPE/CPTEC (2011), Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2011), AGRITEMPO (BRASIL, 2011),
CENSOLAR (1993), bem como o Atlas Brasileiro de Energia Solar (CRESESB, 2011).
Clima Regional
Com base nos critérios definidos por Koppen (simplificados por Setzer, 1966), o município de
Uberlândia encontra-se em área de transição climática, onde o regime térmico e de precipitação define
as tipologias climáticas regionais. Conforme o Zoneamento Climático do Estado de Minas Gerais
proposto por Sá Júnior (2009) – apresentado na Figura 6 – a área de estudo encontra-se sob o domínio
de dois sub-tipos climáticos, descritos a seguir:
Figura 6: Classificação climática de Koppen para o Estado de Minas Gerais
Fonte: SÁ JÚNIOR, 2009
14
Cwa – Clima subtropical quente com inverno seco. Predomina na maior parte da bacia, à exceção do
extremo norte e extremo sul da mesma. Este tipo de clima é caracterizado por temperaturas inferiores
a 18 ºC no mês mais frio e superiores a 22 ºC no mês mais quente. No mês mais seco, é usual a
ocorrência de totais pluviométricos inferiores a 30 mm.
Aw – Clima tropical com inverno seco. Neste tipo de clima, a temperatura média do mês mais frio é
igual ou superior a 18 ºC e a temperatura média do mês mais quente é sempre igual ou superior a 22
ºC. Em relação à distribuição das chuvas, observa-se invernos secos, quando as precipitações não
ultrapassam os 60 mm médios mensais no mês mais seco.
De acordo com a classificação climática do IBGE (2005), que leva em consideração o regime de
precipitações, a área em questão está sob o domínio de climas úmidos e semi-úmidos, que diferenciam-
se, sobretudo, em relação ao regime térmico. Observa-se a atuação do clima Quente semi-úmido, com
4 a 5 meses secos e com temperatura superior a 18 ºC em todos os meses do ano. Nessas áreas o
inverno é ameno e a sensação de frio somente se verifica em forma de ondas espasmódicas por
ocasião das invasões do anticiclone polar.
Outro tipo de clima atuante é o Subquente semi-úmido, também com 4 a 5 meses secos, porém com
temperatura média entre 15 e 18 ºC em pelo menos 1 mês do ano. Neste tipo de clima, a menor
freqüência de temperaturas elevadas no verão e temperaturas mais amenas no inverno deve-se,
principalmente, à influência da altitude.
De acordo com a classificação de Thornthwaite e Mather (1955), apresentada na Figura 7, o município
de Uberlândia encontra-se em área de transição entre o domínio do sub-tipo climático B2, onde as
Figura 7: Classificação climática do Estado de Minas Gerais segundo Thornthwaite e Mather
Fonte: DANTAS et al, 2001.
Município de
Uberlândia
15
médias anuais da temperatura e da precipitação acumulada são da são da ordem de 19,0 a 20 ºC e
1500 a 1600 mm, respectivamente. Por sua vez a evapotranspiração potencial segue valores relativa-
mente mais baixos, com deficiência hídrica anual no solo agrícola da ordem de 87 mm (DANTAS et all,
2001).
De maneira geral, o que particulariza as diferenciações climáticas na região de Uberlândia é a amplitude
altimétrica, que atua como um fator de abrandamento do caráter tropical do clima. Conforme diversos
estudos clássicos da geografia física brasileira (AB’SABER, 1967; NIMER, 1979; MONTEIRO, 1973;
CONTI, 1975; SANT’ANA NETO, 2009), nenhuma outra região do Brasil sofre influência tão nítida deste
fator estático, que comanda a distribuição espacial das temperaturas e das precipitações.
No entanto, apesar da grande influência deste fator estático sobre o clima da região, além da sua
localização tropical, apenas estes fatores não permitem uma maior compreensão do clima da região.
Portanto, a seguir são descritos sucintamente os principais sistemas de circulação atmosférica.
Circulação Atmosférica
Para a caracterização sinótica do clima na região de Uberlândia foram considerados os principais
sistemas de circulação atmosférica que, por sua atuação direta, exercem um importante papel na
variação das composições climáticas do estado de Minas Gerais, e da região Sudeste de forma geral,
tanto no tempo como no espaço.
Em relação aos principais parâmetros de larga escala que comandam o regime climático diário e
sazonal, destacam-se os sistemas de alta pressão e os sistemas de frentes, que se alternam ao longo
do ano ocasionando as linhas de instabilidade (chuvas) e as condições de alta pressão (tempo bom).
O primeiro aspecto a destacar é que o clima regional é marcado pela nitidez de estações secas e
úmidas. Isto se deve aos sistemas de circulação atmosférica que determinam os tipos habituais que se
expressam pelo domínio de massas de ar. Assim, a sazonalidade marcante das precipitações se deve
a influência das massas tropicais e polares.
Durante o inverno na região do Triângulo, há resfriamento noturno com ausência de chuvas. É quando
domina na região a massa Tropical atlântica (mTa), que juntamente com a massa Polar atlântica (mPa),
lidera a circulação atmosférica nessa época do ano. A mTa, ao atingir o continente, nessa época
resfriado, sofre também resfriamento basal, tendendo a estabilizar-se. Parte de sua umidade é
condensada por efeito orográfico, ocorrendo precipitações no litoral e chegando ao interior já bem mais
seca.
Por outro lado, as precipitações produzidas no avanço da massa polar são também mais abundantes
nas proximidades do litoral, no contato mais direto com a mTa. Assim, durante o inverno, os índices
pluviométricos são advindos apenas da frente polar. Como a região de Uberlândia fica a maior parte
do tempo, nesse período, sob o domínio da mTa prevalecem as condições de estabilidade. Podem
ocorrer, no entanto, precipitações ocasionais de origem frontal durante os avanços esporádicos da
mPa.
No verão, também se observa o domínio da mTa, pois com o aquecimento do continente, enfraquece-
se o abastecimento do ar polar. Esse aquecimento provoca instabilidade na mTa que se reproduz em
precipitações. Mesmo nesta estação, as chuvas da mTa matem íntima conexão com os fenômenos da
frente polar, especialmente em decorrência da sua instabilidade pré frontal. As ondas de frio, nesse
período, são fracas e não atingem a região que, no entanto, é atingida por ondas de calor vindas do
Noroeste, provocadas pelas linhas de instabilidade tropicais que ocasionam fortes aguaceiros,
sobretudo convectivos.
16
Em síntese, pode-se concluir que as condições de tempo e a típica sazonalidade climática na região
do Triângulo Mineiro, decorre da atuação dos seguintes fenômenos sinóticos:
Sistemas de alta pressão: também chamados de anticiclones, são responsáveis por estabilizar a
atmosfera e estão associados às massas de ar Subtropical Atlântica. Portanto, são denominados sobre
a latitude da área em questão, de Anticiclones Subtropical Marítimo do Atlântico Sul. Ao girarem no
sentido anti-horário, divergem o ar do centro para as suas bordas. Este sistema produz estabilidade do
tempo, provocando aumento das temperaturas e diminuição da umidade pelo efeito adiabático ao longo
de sua trajetória. Em função da rugosidade do terreno, este sistema deixa parte de sua umidade a cada
vertente a barlavento, e ao transpô-las provoca ressecamento adiabático nas vertentes a sotavento,
além de aquecimento nos vales encaixados (SANT’ANA NETO, 2009).
Sistemas de frentes: estão associados às áreas de baixa pressão, formadas a partir do encontro da
Massa Polar Atlântica e do ar úmido e quente do Brasil Central. Das Correntes Perturbadas, as que
atuam mais diretamente sobre o território do Triângulo Mineiro são as Correntes Perturbadas de Oeste
e Sul. As Correntes Perturbadas de Oeste correspondem às Linhas de Instabilidade Tropical (LIT) ou
Instabilidades Tropicais (IT), originadas na Massa Equatorial Continental. Ocorrem no interior do Brasil
entre meados da primavera a meados do outono, sendo mais freqüentes no verão. Provocam chuvas
intensas, localizadas, acompanhadas de trovoadas e algumas vezes granizo, conhecidas como chuvas
de verão.
Estes sistemas de baixas pressões giram no sentido horário, convergindo o ar quente e úmido para o
seu centro e com isso aumentam a nebulosidade e intensificam a velocidade do vento. Possuem um
raio médio horizontal em torno de 600 km. Tem a sua maior freqüência de atuação durante a primavera
e no verão. Esta condição acontece porque o núcleo do anticiclone se desloca para superfície oceânica,
permitindo o avanço da massa de ar equatorial quente e úmida responsável pelas freqüentes
ocorrências de precipitações do tipo convectiva. O mês de Dezembro é o que representa maior número
de passagens deste tipo de frente, responsável pela ocorrência dos tempos instáveis.
Em síntese, no período de primavera/verão, o anticiclone migratório polar é responsável pelo avanço
das frentes frias que atuam na região, por mecanismos de circulação superior do ar e pelo
deslocamento do equador térmico para o hemisfério norte. No outono/inverno, os bloqueios das frentes
tornam-se mais frágeis e o anticiclone polar avança para latitudes mais baixas, deixando terreno para
a evolução da massa polar, que traz episódios de temperaturas mais amenas.
Parâmetros Meteorológicos
Os dados históricos utilizados no presente diagnóstico são aqueles coletados na Estação Climatológica
do Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Uberlândia, operada
Estação Uberlândia
Código A507
Latitude 18.91S
Longitude 48.25W
Responsável INMET/UFU
Operadora INMET/UFU
Altitude 869,00 m
Parâmetros Utilizados Precipitação, Umidade Relativa e Temperatura do Ar
Tabela 2: Dados relativos à Estação Climatológica A507 – Uberlândia/MG
Fonte: INMET (2014).
17
em parceria com o INMET. Os dados compreendem o período entre 1981-2003 e são relativos às
médias mensais. Os dados da estação climatológica supracitada encontram-se apresentados na
Tabela 2 Estes dados foram assumidos como representativos do comportamento do regime climático
dominante na região de estudo.
Precipitação
A distribuição da precipitação, assim como de outros elementos climáticos, é bastante irregular junto à
superfície terrestre. Isso se deve, em princípio, à existência de alguns fenômenos que tendem a
modificar a normalidade de ocorrência da precipitação e conseqüentemente dos períodos de estiagem.
Na região Sudeste, a irregularidade da precipitação está diretamente relacionada com o deslocamento
de sistemas circulatórios de escala sinótica, associados à formação de linhas de instabilidades locais,
principalmente no Verão devido à oscilação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, ZCAS. Da
mesma, forma a altitude imprime a influência do fator estático na distribuição das chuvas, que
compreendem o elemento climático de maior importância na definição do clima regional.
Nota-se, fundamentalmente, que tal distribuição implica em duas estações bem definidas: verões
chuvosos e períodos de estiagem no inverno. Quanto à época dos mínimos, ela se dá de maio a
setembro, relacionando-se à ausência quase completa de chuvas de IT, ficando a região na
dependência quase que exclusiva das instabilidades frontais representadas pelas correntes
perturbadas de sul. Por outro lado, observa-se que o trimestre dezembro-janeiro-fevereiro representam
os meses mais chuvosos, quando as precipitações ultrapassam facilmente os 170 mm mensais.
Cabe destacar, no entanto, que o mecanismo atmosférico na região de Uberlândia, e na região tropical
de forma geral, se caracteriza por sua notável irregularidade, podendo apresentar comportamento bem
distintos de um ano para o outro. Disto resulta que as precipitações em cada ano estão,
consequentemente, sujeitas a totais bem distintos, podendo se afastar grandemente dos valores
normais (NIMER, 1979).
Na Tabela 3 é ilustrada a distribuição anual das precipitações médias no município de Uberlândia.
Dado as características citadas, verifica-se que o mês de dezembro é o mais chuvoso: 318,9 mm.
Ademais, observam-se totais elevados em outubro, novembro, janeiro, fevereiro e março, quando as
alturas médias são sempre superiores a 200 mm.
Em relação ao período seco, observam-se os menores valores entre maio e setembro, sendo as
precipitações médias inferiores a 60 mm. Junho, julho e agosto são os meses mais secos (precipitações
Meses do ano Precipitação média (mm) Jan 311,6 Fev 201,0 Mar 228,2 Abr 78,7 Mai 39,7 Jun 15,3 Jul 8,7 Ago 15,5 Set 52,6 Out 110,4 Nov
203,0 Dez 318,9
Total médio anual
1.583,6
Tabela 3: Precipitação média mensal (mm). Uberlândia (A507) 1981-2003
Fonte: INMET, 2014.
Fonte: INMET, 2014.
Fonte: INMET, 2014.
18
médias <30 mm), refletindo a atuação do Anticiclone Tropical Semi-fixo do Atlântico Sul que caracteriza
o sub-tipo climático “w” já descrito neste estudo.
No que diz respeito às médias anuais, verifica-se que na estação climatológica em análise alturas
médias de 1.583 mm, em acordo com as Normais Climatológicas do INMET (1992).
Em síntese, confirmar-se a sazonalidade climática típica da região, fato explicado tanto por fatores
estáticos, como a posição geográfica e a altitude, quanto por fatores dinâmicos associados à atuação
dos sistemas de circulação atmosférica.
Temperatura
Em relação às temperaturas no estado de Minas Gerais, enfatiza-se que as diferenças térmicas
regionais, assim como as pluviométricas, são extremamente diversificadas. A extensão latitudinal
associada às altitudes elevadas do relevo exercem importante papel na distribuição das temperaturas
médias anuais. A variação térmica implica temperaturas mais elevadas entre os meses de setembro a
dezembro, quando os valores médios se elevam entre 26 e 28 ºC, e temperaturas mais amenas entre
junho, julho e agosto, quando estas aproximam-se dos 14 ºC médios no sul de Minas (INMET, 1992;
NIMER, 1977).
A distribuição temporal das temperaturas médias, máximas e mínimas é apresentada na Tabela 4. A
média térmica mensal é de 22,3 ºC. De forma geral, verificam-se valores mais elevados entre outubro
e março, porém o mês mais quente é o de outubro com média de 23,9 ºC, sendo as médias máximas
de 30,7 ºC. Junho e julho são os meses mais frios, quando os valores mínimos médios apresentaram-
se na faixa dos 14 ºC.
De forma geral, verifica-se que as médias do ano exprimem bem a predominância de temperaturas
medianas a elevadas durante quase todo o ano. Entretanto, observa-se mais comumente que estas
são mais predominantes entre a primavera e o verão, quando a incidência dos raios solares se verifica
em ângulos maiores e em períodos mais prolongados. Por outro lado, no restante dos meses do ano,
principalmente entre maio e agosto, as temperaturas são mais amenas em função de diversos fatores,
os quais destacam-se a maior inclinação dos raios solares em função dos solstício de inverno, redução
da intensidade da radiação solar incidente nesta época do ano e avanços mais rigorosos das massas
de ar frio de origem polar.
Meses do ano Média Máxima média Mínima média
Jan 23,4 29,2 19,6
Fev 23,7 29,9 19,5
Mar 23,5 29,5 19,4
Abr 22,,8 29,2 18,3
Mai 20,7 27,5 15,8
Jun 19,3 26,7 14,3
Jul 19,4 27,0 14,0
Ago 21,1 29,0 15,3
Set 22,8 30,1 17,3
Out 23,9 30,7 18,9
Nov 23,6 29,8 19,3
Dez 23,5 29,1 19,4
Média mensal 22,3 28,9 17,5
Tabela 4 Temperatura média mensal, máxima média mensal e mínima média mensal (ºC). Uberlândia (A507)
1981-2003
Fonte: INMET, 2014.
19
Umidade relativa do ar
A distribuição anual dos valores da umidade relativa do ar em Uberlândia é apresentada na Tabela 5.
Da mesma forma que ocorre com os totais pluviométricos, a distribuição da umidade relativa do ar
caracteriza-se pelos valores elevados durante o verão, e que decrescem durante os meses do outono
inverno em função da ausência de chuvas nesses período. Conforme os dados históricos do INMET
(1992) a umidade relativa do ar média na região varia entre 70 e 75% durante o ano, valores estes
condizentes com aqueles registrados em Uberlândia (70,5%).
De forma semelhante à distribuição dos totais pluviométricos, os meses de maior umidade
compreendem o período entre dezembro e março, com pico no mês de janeiro (80%). O mês de agosto
é o mais seco, quando observou-se valores médios de 58%.
Os meses mais úmidos estão associados à atuação dos sistemas de correntes perturbadas que
ocasionam chuvas, enquanto os meses mais secos relacionam-se à atuação dos sistemas de alta
pressão responsáveis por estabilizar a atmosfera nestas regiões do Brasil central. De toda forma, e
como já descrito anteriormente, são comuns desvios anuais em relação às normais, e períodos críticos
de úmidade já foram observados na região, quando os valores absolutos da umidade relativa do ar
permanecem abaixo dos 30% no fim da estação seca (agosto/setembro).
Dentre os motivos que explicam os valores não tão elevados da umidade do ar, quando comparados
com outras localidades do estado, destacam-se a posição latitudinal com intensa radiação solar e o
efeito de continentalidade, que diminui consideravelmente a influência das massas úmidas durante os
meses de inverno.
Meses do ano Umidade relativa do ar (%)
Jan 80
Fev 77
Mar 79
Abr 73
Mai 71
Jun 68
Jul 62
Ago 58
Set 61
Out 66
Nov 73
Dez 79
Média mensal 70,5
Tabela 5: Umidade relativa do Ar. Médias mensais (%). Uberlândia (A507) 1981-2003
Fonte: INMET, 2014.
Nível ceráunico
O nível ceráunico mede a quantidade de descargas atmosféricas em uma determinada área, avaliada
a partir do número de dias de tempestades por ano em uma região.
Em linhas gerais a formação de uma descarga atmosférica acontece quando existem nuvens
intensamente carregadas (tempestades), e massa de ar úmida, com carga negativa em parte inferior,
que cria uma descarga piloto em direção a terra. Em contrapartida um caminho ionizado inicia-se da
terra em direção a nuvem e vai se desenvolvendo até encontrar a descarga piloto. Neste momento,
forma-se um caminho completo que dá origem a primeira descarga (líder) possibilitando então a
corrente de retorno (terra para a nuvem) de maior intensidade.
20
Devido à densidade de descargas atmosféricas para a terra ser expressa pelo número de raios por
quilômetro quadrado, o valor dessa densidade, para uma dada região, é função direta do número de
dias de trovoadas por ano (Nível Ceráunico).
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), através do Grupo de Eletricidade Atmosférica
(ELAT), monitora as descargas elétricas na região Centro Sul, incluindo a região de Uberlândia. De
acordo com dados disponibilizados pelo referido Instituto, a quantidade de raios no município de
Uberlândia no ano de 2013 foi de 7,08 descargas/km²/ano, para uma área de 4.130 km².
Balanço hídrico
Levando-se em conta os parâmetros meteorológicos apresentados e as respectivas distribuições ao
longo do ano, tem-se o balanço hídrico climatológico para a região de Uberlândia. Foi utilizada a
proposta metodológica de Thornthwaite e Mather (1955) e a Capacidade de Água Disponível Padrão
(CAD) de 125 mm (ROLIN et al., 2007). Os resultados são apresentados na Figura 8.
Figura 8: Balanço hídrico climatológico para a localidade de Uberlândia (CAD 125 mm)
Fonte: INMET (2014); Queiroz (2009).
O balanço hídrico climatológico, desenvolvido por Thornthwaite e Mather (1951) é uma das várias
maneiras de se monitorar a variação do armazenamento de água no solo. Através da contabilização
do suprimento natural de água ao solo, pela chuva (P), e da demanda atmosférica, pela
evapotranspiração potencial (ETP), e com um nível máximo de armazenamento ou capacidade de água
disponível (CAD) apropriada ao estudo em questão, o balanço hídrico fornece estimativas da
evapotranspiração real (ETR), da deficiência hídrica (DEF), do excedente hídrico (EXC) e do
21
armazenamento de água no solo (ARM), podendo ser elaborado desde a escala diária até a mensal
(ROLLIN; SENTELHAS, 1999).
De forma geral, o período de deficiência hídrica na localidade em estudo é compatível com a distribuição
dos totais pluviométricos e atuação dos sistemas de circulação atmosférica ao longo do ano. Em
Uberlândia, o período de deficiência hídrica é observado entre abril e setembro, sendo outubro e
novembro meses de reposição. O pico de deficiência hídrica ocorre em agosto (41,1 mm).
Os meses de dezembro (198,4 mm) e janeiro (199,8 mm) são os que apresentam os maiores
excedentes.
Em síntese, apresenta-se na Figura 9 o climograma representativo do comportamento térmico e
pluviométrico na cidade de Uberlândia.
Figura 9: Climograma da cidade de Uberlândia
Fonte: INMET (2014); Queiroz (2009).
3.2. Geologia
Para a caracterização do substrato rochoso foram consultados o Mapa Geológico da Folha Goiânia
SE.22 da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo (FARACO et al., 2004) e o Mapa Geológico do
Estado de Minas Gerais, bem como o texto explicativo deste último (COMIG, 2994).
Complementarmente, consultou-se os mapeamentos realizados pelo CETEC e artigos científicos que
versam sobre a área (SOARES, 2002; BACCARO, 1994; NISHIYAMA, 1989; DEL GROSSI, 1992).
Também foi consultado o mapeamento disponibilizado no Zoneamento Ecológico Econômico do Estado
de Minas Gerais (2008). A análise foi complementada com estudos expeditos em campo durante os
meses de setembro de 2014.
Considerando-se as Províncias Estruturais, a área de estudo (bacia hidrográfica do córrego do Óleo)
situa-se na Província Paraná, que abrange grande parte do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. A
complementação do nome Província Paraná com a designação Província Sedimentar Meridional,
22
realizada por Bahia et al (2003), teve como objetivo enfatizar o estudo das bacias que a compõe, cada
qual com seu processo de formação e constituição distintos.
Esta província compreende três áreas de sedimentação independentes, separadas por profundas
discordâncias: Bacia do Paraná propriamente dita, uma área de sedimentação que primitivamente se
abria para o oceano Panthalassa a oeste (Milani e Ramos, 1998); a Bacia Serra Geral, compreendendo
os arenitos eólicos da Formação Botucatu e os derrames basálticos da Formação Serra Geral; e a
Bacia Bauru, uma bacia intracratônica.
O município de Uberlândia insere-se na Bacia Bauru, assim designada por Fernandes e Coimbra
(1998), inteiramente contida na seqüência neocretácea (Épsilon, de Soares et al. 1974) da “Bacia do
Paraná” (Milani, 1997). O seu substrato é composto pelas rochas vulcânicas da Formação Serra Geral
(Grupo São Bento). De acordo com Fernandes e Coimbra (1998, 2000) a espessura máxima das suas
rochas sedimentares sobrepostas (300 m) compõe duas unidades correlatas: o Grupo Caiuá e o Grupo
Bauru.
A seguir são descritas as áreas de ocorrência e as principais características das unidades
litoestratigráficas verificadas no município de Uberlândia, com ênfase na bacia hidrográfica do
córrego do Óleo.
Unidades
Litoestratigráficas
Litotipos Datações
(106 – anos) Idades
Qa¹
Depósitos aluvionares
Sedimentos de canais fluviais e
planícies de inundação. 1.75 – atual Quaternário
NQd
Coberturas detríticas
Depósitos colúvio-eluviais e,
eventualmente lateríticas ±1.75
Neogeno/Quaternári
o
K2m
Formação Marília
Arenitos com intercalações de
laminito arenoso ±65 Cretáceo Superior
K1βsg
Formação Serra Geral
Basalto com intercalações de
arenito e diques de diabásio ±135 – 96 Cretáceo Inferior
¹Não mapeadas na escala de trabalho.
Tabela 6: Unidades Litoestratigráficas que ocorrem na área urbana do município de Uberlândia
Fonte: FARACO et al. (2004) e COMIG (1994).
Qa – Depósitos aluvionares
Os sedimentos aluviais são inconsolidados, têm baixa capacidade de suporte, sendo constituídos por
areia fina argilosa, argila orgânica, argila siltosa e por vezes cascalhos. Os sedimentos aluviais têm
espessuras que podem superar 3 m, ocorrendo na base camadas de areias e cascalhos finos. Esses
depósitos formam planícies fluviais estreitas e descontinuas, por vezes em forma de leques, que
conformam pequenas bancos arenosos ao longo das imediações do córrego do Óleo e alguns de seus
afluentes.
NQd – Coberturas detríticas
A cobertura detrítica que recobre as superfícies de topos planos da bacia em estudo é formada por
sedimentos terciários e quaternários, de identificação contravertida. Feltran Filho (1997) considerou os
sedimentos como pertencentes ao Cretáceo, enquanto RADAMBRASIL (1983) e Nishiyama (1989)
mapearam-na como sendo composta por sedimentos do Terciário e/ou Quaternário. Para o primeiro
autor, os sedimentos encontrados recobrindo o material considerado da Formação Marília são
alterações “in situ” da própria Formação.
23
De forma semelhante aos sedimentos aluviais, os sedimentos detríticos apresentam-se quase sempre
inconsolidados. Sua constituição é bastante variável, englobando desde seixos mais grosseiros de
quartzo, quartzito e sílex até areia grossa e solos argilosos de cor avermelhada.
Estes sedimentos predominam na bacia do córrego do Óleo, estando distribuídos por quase toda a sua
extensão.
K2m – Formação Marília
Como já mencionado anteriormente, a Bacia Bauru, assim chamada por Fernandes & Coimbra (1998),
é inteiramente contida na seqüência neocretácea da “Bacia do Paraná” (MILANI, 1997). Estes autores
atribuem, à Bacia Bauru, duas fases de deposição: a primeira fase compreende um trato de sistema
desértico, e a segunda, podendo ser representada também pela Formação Marília, um trato de sistema
flúvioeólico, proveniente do nordeste (FERNANDES & COIMBRA, 2000.), em bancos de espessura
média entre 1 e 2 m (NISHIYAMA, 1989).
A Formação Marília é representada por arenitos, arenitos cineríticos, conglomerados, às vezes
calcíferos, lentes de calcários, siltitos e argilitos. Entre outros, destacam-se os seguintes constituintes
mineralógicos: quartzo, sericita, plagiocásio olivina, calcita e minerais de argila (FERNANDES &
COIMBRA, op. cit.).
Os arenitos conglomeráticos e conglomerados com seixos de argilito, típicos desta formação, atestam
períodos de sazonalidade climática marcados por inundações e períodos de aridez alternados. A
estrutura das rochas remontam à um ambiente fluvial com canais anastomasados associados a leques
aluviais e planícies de inundação.
SOARES et al (1980) sugeriram que as rochas desta formação foram depositadas por correntes de alta
energia, com transporte fora de canais em extensos lençóis de escoamento; o que implica em
reconhecer a importância dos leques aluviais como ambiente de sua formação.
Na região do Triângulo Mineiro, Barcelos, Landim e Suguio (1981 apud MME, 1983) propuseram a
designação de Fácies Serra da Galga para caracterizar um pacote de sedimentos com espessura em
torno de 50-70m, constituídos predominantemente por arenitos grosseiros, feldspáticos, argilosos,
conglomeráticos, coloração vermelho rósea, com níveis cinza-esbranquiçado, grãos angulosos e
subangulosos, mal selecionados, carbonáticos, com recorrência da fácies basal (Ponte Alta)
representada por nódulos e concreções carbonáticas.
Esta Formação é distribuída nas áreas mais elevadas do município, sustentando modelados planos,
suavemente ondulados e levemente convexos. Na bacia do córrego do Óleo, os sedimentos da
Formação Marília ocorrem em sua porção centro-norte, inclusive nas áreas destinadas à criação da
nova Unidade de Conservação.
K1βsg – Formação Serra Geral
O Grupo São Bento compreende as formações Botucatu e Serra Geral, e se integra cronologicamente
ao período Jurássico/ Cretáceo Inferior (SILVA et al. 2003).
A Formação Serra Geral, de caráter vulcânico, consiste-se de derrames basálticos continentais, que
formam uma das grandes províncias ígneas do mundo (SAUNDERS et al. 1992, apud SILVA et al.
2003), quando um imenso volume de lava fora expelido através de gigantescas fissuras (NISHIYAMA,
1989). Compreende sucessão de derrames com cerca de 1.500 m de espessura, onde Leinz & Amaral
(1985) consideram 650 m como sendo a espessura média dos derrames.
As principais feições da formação indicam que os basaltos se originaram do extravasamento rápido de
lava muito fluida através de geoclases e de falhas menores. Como não há o conhecimento de produtos
24
erosivos no interior da formação, deduz-se não ter havido hiatos significativos durante a atividade
vulcânica. A existência das intercalações eólicas comprova o predomínio das condições desérticas
durante o vulcanismo.
Com relação à composição petrográfica, as rochas da Formação Serra Geral apresentam-se de forma
simples, sendo constituídas, essencialmente, de labradorita zonada associada a clinopiroxênios (augita
e às vezes pigeonita). De forma associativa, ocorrem titano-magnetita, apatita, quartzo e raramente
olivina. Na área de abrangência deste estudo a Formação Serra Geral tem aspecto maciço, uniforme,
amigdaloidal, vesicular, formando espessuras variáveis de derrames, com intercalações lenticulares de
arenito. Possuem fraturas irregulares a subconchoidais.
Os derrames são constituídos por rochas de cores escuras a cinza escuro, por vezes vítreas e
granulação variando de fina a média. São afaníticas, porém, ocasionalmente porfiríticas. Adquirem
colorações vermelho amareladas quando alteradas superficialmente, com as amigdalas preenchidas
por quatzo, calcita ou minerais verdes.
Os basaltos da Formação Serra Geral encontram-se, predominantemente, no baixo curso do córrego
do Óleo, aflorando em alguns setores de seu médio curso.
3.3. Geomorfologia
A caracterização do relevo na Área de Estudo (bacia hidrográfica do córrego do Óleo) teve como
principal referência os estudos realizados por BACCARO (1991, 2004), DEL GROSSI (1992), SOARES
(2002), CARRIJO (2003), FERREIRA et al (2007) e RODRIGUES et al (2004). Também foram
consultados os mapeamentos geomorfológicos do CETEC (1982), do Laboratório de Geomorfologia e
Erosão de Solos da Universidade Federal de Uberlândia, além do Modelo Digital de Elevação do
Terreno (RSTM/NASA). Os estudos expeditos em campo complementaram a descrição apresentada a
seguir.
As formas de relevo identificadas estão descritas em detalhe a seguir.
A área proposta para a criação do novo Parque Municipal está localizada na bacia hidrográfica do rio
Uberabinha (tributário do rio Araguari), inserida no domínio morfoclimático dos Chapadões Tropicais,
recobertos por cerrados e penetrados por florestas galerias. Os relevos são caracterizados por
planaltos de estruturas complexas, capeados ou não por lateritas de cimeira e por planaltos
sedimentares (AB'SABER, 1973). Nesse Domínio ocorre clima tropical com duas estações bem
definidas.
Os planaltos apresentam interflúvios muito largos, vales bastante espaçados, níveis de pedimentos
escalonados e de terraços com cascalhos. As vertentes têm forma de rampas suaves e com muito
pouca mamelonização, que refletem uma evolução condicionada pela ação de processos
morfoclimáticos que foram responsáveis pela elaboração de níveis de aplainamento regional e recuo
das grandes escarpas, que estão sendo dissecadas pela drenagem atual.
O relevo atual da área é resultado da evolução passada e presente, condicionado pela geologia e pelos
processos morfoclimáticos. No Domínio Morfoclimático do Cerrado, em que o Triangulo Mineiro está
inserido, atualmente, a ação da água trabalha como principal agente modelador da paisagem, seja por
meio de canais de escoamento ou em forma de chuva.
Considerando-se a existência de áreas aplainadas, de relevo suave e áreas dissecadas ou rebaixadas
em função da resistência litológica, a visão de conjunto possibilitada pela correlação das informações
geomorfológicas e geológicas torna evidente a influência da estrutura geológica no processo de
formação do relevo.
25
Ab’Saber (1971) salientou que após a deposição do Grupo Bauru, representado nesta área pela
Formação Marília, ocorreu uma lenta degradação e rebaixamento das superfícies anteriormente
formadas, bem como a formação de extensas crostas lateríticas, devido ao clima semi-árido ou de
savana (BACCARO, 1989). Estas lateritas em particular, formam patamares abruptos nas vertentes,
que podem manter declividades mais elevadas em relação ao restante da encosta.
A seguir, são descritos as Unidades Geomorfológicas identificadas na Área de Estudo (bacia
hidrográfica do córrego do Óleo): Planalto Tabular e Relevo Dissecado em Patamares Estruturais. Cabe
ainda salientar que, ao longo do médio e alto curso do córrego do Óleo, ocorre a presença de áreas
úmidas, que também serão descritas ao longo deste estudo.
Planalto Tabular
O Planalto Tabular é caracterizado pela baixa variação na declividade, que se apresenta inferior a 12
%, e pela ocorrência de topos amplos e com feições tabulares. Este compartimento corresponde a uma
superfície denudacional praticamente plana. Tem como processo principal na remoção dos detritos o
escoamento superficial pluvial laminar e difuso, agindo assim de forma menos intensa quando
comparado aos relevos dissecados. O relevo dessa área é predominantemente esculpido em formas
tabulares amplas, apresentando escarpas com desníveis superiores a 150 m.
Conforme a classificação de Baccaro (1991) esta área foi denominada de Áreas Elevadas de Cimeira
com topos planos, amplos e largos, entre 950 e 1050m de altitude, marcada pela baixa densidade e
ramificação da drenagem. As vertentes, sustentadas por arenitos da Formação Marília
(predominantemente recobertos por sedimentos cenozóicos), são de baixa declividade, apresentando-
se em formas retilíneas, côncavas ou convexas (FERREIRA et al, 2007).
Em continuidade aos trabalhos de Baccaro, FERREIRA (2001) denominou a área de Planalto Tabular,
aplicando a linha taxonômica de classificação de relevo proposta por Ross (1992). Os níveis altimétricos
mais elevados deste modelado estão assentados diretamente sobre arenitos cretáceos da Formação
Marília, que repousando sobre os derrames basálticos da Formação Serra Geral, constituindo
patamares em cotas em torno 800m.
Verifica-se a presença de extensas rampas coluvionares que transgridem do contato do arenito com o
basalto, marcando transições suaves. Estas rampas constituem extensos depósitos que foram
constituídos pelo retrabalhamento da superfície sulamericana no fim do Terciário e início do Cretáceo.
As formas de relevo configuram-se como modelados suavemente ondulados com declividades de 1 à
10% onde o entalhamento dos vales é de fraco à médio e a dimensão interfluvial é de grande à média.
Esse modelado abrange áreas das nascentes e médio-curso dos principais afluentes do Araguari.
Nos amplos interflúvios os vales são rasos, circundados por campos úmidos, onde ocorrem os solos
hidromórficos. Cabe ainda destacar que, em áreas depressionais de topo ainda podem ser encontradas
lagoas, hoje em processo de ressecamento, conectadas ou não à rede de drenagem.
Os cursos d’água, apresentam baixo gradiente e correm sobre as rochas sedimentares da Formação
Marília. Em algumas situações, como no caso do córrego do Óleo, os canais já apresentam algum
aprofundamento, cortando o pacote de solos hidromórficos e originando barrancas sujeitas a
desmoronamento. Salienta-se, no entanto, que grande parte dessas áreas já encontram-se alteradas
pelos processos de ocupação urbana.
Vale enfatizar que, em razão do modelado de declive suave, esta unidade é ocupada amplamente pela
mancha urbana de Uberlândia e serviu de vetor para seus sucessivos processos de expansão.
26
Planalto Dissecado em Patamares Estruturais
Os processos de formação de Unidades de Relevo Dissecadas são principalmente o escoamento
superficial pluvial difuso e concentrado, e é neste compartimento que os processos erosivos se
apresentam mais agressivos. O Planalto Dissecado se caracteriza por uma maior rugosidade da
superfície, com declividades mais intensas, variando de 12 a 40 %.
Na bacia do córrego do Óleo, o Planalto Dissecado coincide topograficamente com as áreas do baixo
curso do coletor principal, já nas imediações de sua foz no rio Uberabinha. No que diz respeito à
hipsometria da região, o Planalto Dissecado se localiza entre 700 e 800 m de altitude.
Esta Unidade é caracterizada por um maior entalhamento dos canais, que se apresentam com maior
gradiente e drenagens mais ramificadas em função da composição estrutural. Os vales se apresentam
encaixados e definidos, sendo que os canais cortam os pacotes sedimentares da Formação Marília no
alto curso e correm sobre os basaltos da Formação Serra Geral.
A presença de soleiras rochosas e patamares com ondulações suaves, resultado do trabalho erosivo
nas camadas horizontalizadas dos basaltos (mais resistentes ao poder erosivo da água),
proporcionaram rupturas e formações de trechos de maior declividade, como aquelas observadas nas
imediações da foz do córrego do Óleo.
Em relação aos processos de intemperismo, vale salientar que a pedogenização dos basaltos
resultaram em solos mais férteis e mais estáveis em função dos teores elevados de argila, enquanto
que aqueles originados dos pacotes sedimentares são mais pobres, como no restante das áreas onde
predominam as litologias das Formação Marília.
Áreas Úmidas
As áreas úmidas aparecem interpenetrando as áreas de topo plano do Planalto Tabular, acentuando-
se no alto curso do córrego do Óleo. Sempre relacionadas à intensa umidade, caracterizam-se por
brejos que aparecem nas áreas deprecionais dos fundos de vale, assim como nas regiões de
nascentes. Apesar de existirem nas áreas de relevo Dissecado em Patamares Estruturais, apresentam-
se extremamente restritas às proximidades dos canais. Destaca-se que no caso em estudo, estas áreas
já encontram-se relativamente alteradas pelas dinâmicas de expansão urbana da cidade de Uberlândia.
3.4. Podologia
Para a caracterização dos solos na bacia hidrográfica do córrego do Óleo foram adotados como
referências o Mapa de Solos do Brasil, na escala 1:5. 000.000 (IBGE/EMBRAPA, 2001) e Mapa de
Solos do Estado de Minas Gerais na escala 1:650.000 (UFV, 2010).
Na Área de Estudo estão presentes as seguintes tipologias de solos, conforme apresentado na Tabela 7.
A seguir, descrevem-se as classes de solos identificadas na Área de Estudo.
27
Latossolos
Compreendem solos minerais e não hidromórficos com horizonte B latossólico. Têm grande
homogeneidade de características ao longo do perfil, mineralogia da fração argila predominantemente
caulinítica ou caulinítica-oxídica, que se reflete em valores de relação Ki baixos, inferiores a 2,2, e
praticamente ausência de minerais primários e secundários pouco resistentes ao intemperismo.
Diferenciam-se principalmente pela coloração e teores de óxidos de ferro que determinaram a sua
separação em quatro classes distintas ao nível de subordem (EMBRAPA, 2006). Em geral, apresentam
capacidade de troca de cátions da fração argila baixa (<17cmolc/kg).
Correspondem a solos profundos a moderadamente profundos, porosos e com boa drenagem, o que
resulta em menor suscetibilidade à erosão devido à textura uniforme ao longo do perfil. Por outro lado,
a textura média confere macroporos preponderantes e rápida permeabilidade que, somados à baixa
capacidade adsortiva podem elevar as possibilidades de contaminação de aqüíferos, apesar da grande
espessura (OLIVEIRA, 1999).
Em geral, são solos com boas condições físicas que ocorrem em terrenos planos ou suavemente
ondulados. A principal limitação ao uso desses solos se deve à sua acidez e baixa fertilidade, que é
mais acentuada nos solos de textura média, os quais também são mais susceptíveis à erosão.
Na Área de Estudo de criação da nova UC, são encontrados latossolos distroférricos e distróficos
vermelhos, que constituem solos de coloração vermelha, geralmente com grande profundidade,
homogêneos, de boa drenagem e quase sempre com baixa fertilidade natural, necessitando de
correções químicas para aproveitamento agrícola (EMBRAPA, 2006). Distribuem-se de forma
generalizada em toda a bacia hidrográfica do córrego do Óleo, desde as áreas de topo plano
estruturadas em sedimentos da Formação Marília, até nas áreas onde predominam os basaltos, já no
baixo curso do coletor.
Argissolos
Constituem solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B textural imediatamente abaixo de
horizonte A ou E, o que possibilita uma distinta individualização dos horizontes. São solos profundos
a pouco profundos, porosos e com boa até imperfeita drenagem. A textura no horizonte A é variável
predominando a arenosa, sendo média ou argilosa no horizonte B. Este gradiente textural conduz à
maior suscetibilidade ao processo erosivo, constituindo a sua principal limitação.
Símbolo Legenda do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS
(2006)
LVdf2
LATOSSOLO VERMELHO distroférrico típico A moderado textura argilosa
+ ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO eutrófico típico A moderado textura
média/argilosa + CAMBISSOLO HÁPLICO eutrófico típico A chernozêmico
textura média/argilosa, fase pedregosa; todos fase cerrado e floresta
caducifólia, relevo plano e suave ondulado e ondulado.
LVd1 LATOSSOLO VERMELHO distrófico típico A moderado textura média; fase
floresta subcaducifólia, relevo plano e suave ondulado.
GMd3¹
GLEISSOLO MELÂNICO distrófico típico A proeminente + GLEISSOLO
HÁPLICO distrófico típico A moderado + ORGANOSSOLOS HÁPLICO
sáprico típicos e terricos; todos fase campestre, relevo plano.
¹Não mapeados na área de estudo.
Tabela 7: Unidades de Solos Mapeados da Área de Estudo
Fonte: EMBRAPA (2006).
28
Maior relação textural entre os horizontes B e E ou A ocorrem nos Argissolos Vermelho-Amarelos,
quando comparados aos Argissolos Vermelhos, sendo os primeiros, portanto, mais suscetíveis à
erosão. Quando a mudança textural é abrupta a erodibilidade é exacerbada (OLIVEIRA, 1999). São
solos com grande diversidade de características e que ocorrem em diferentes relevos de modo que não
se podem generalizar suas qualidades e limitações para o uso agrícola.
Na Área de Estudo, identificou-se o argissolo vermelho-amarelo, que ocorre em associação com o
latossolo vermelho e cambissolo háplico. Neste solo, as cores do horizonte Bt são vermelho-
amareladas, porém no horizonte A, são sempre mais escurecidas. A profundidade dos solos é variável,
mas em geral são pouco profundos e profundos (EMBRAPA, 2006).
Cambissolos
Os Cambissolos são solos constituídos por material mineral, com horizonte B incipiente subjacente a
qualquer tipo de horizonte superficial. Comporta solos desde fortemente até imperfeitamente drenados,
de rasos a profundos, de cor bruna ou bruno-amarelada até vermelho escura, com saturação por bases
variada, bem como, de alta a baixa atividade de argilas. Podem ocorrer com e sem pedregosidade e
em diversos relevos, desde plano até montanhoso.
Apresentam sequência de horizontes A-Bi-C, transições normalmente claras entre os horizontes e
derivados de materiais relacionados a rochas de composição e natureza bastante variáveis. O
comportamento físico do horizonte Bi é muito variado, principalmente em função da natureza do
material originário. A drenagem, por exemplo, pode variar de acentuada, nos solos de textura média
com grau de floculação elevado, a imperfeita nos solos gleicos, vérticos e/ou solódicos. Com relação
ao tipo de horizonte A, no semi-árido, predomina o do tipo A fraco e A moderado e na zona úmida
costeira, o do tipo A moderado e em poucos casos A proeminente.
Ocorrem associados a latossolos vermelhos e argissolos vermelho amarelos, de forma generalizada
em toda a bacia do córrego do Óleo.
Gelissolo Melânico
São solos característicos de áreas alagadas ou sujeitas a alagamento como margens de rios, ilhas ou
grandes planícies. Apresentam cores acinzentadas, azuladas ou esverdeadas, dentro de 50 cm da
superfície. Podem ser de alta ou baixa fertilidade natural e têm nas condições de má drenagem a sua
maior limitação de uso. Na Área de Estudo, o Gleissolo tem característica Melânica, que remete à
coloração escura ou negra do solo devido à incorporação de matéria orgânica (EMBRAPA, 2006). É
encontrado próximo à calha do rio Uberabinha e ao longo do alto e médio curso do córrego do Óleo e
seus afluentes dentro da Área de Estudo.
Organossolos
São solos constituídos por material orgânico, que apresentam horizonte O ou H, com teor de matéria
orgânica maior ou igual a 0,2kg/kg de solo (20% em massa), com espessura mínima de 40cm, quer se
estendendo em seção única a partir da superfície, quer tomado cumulativamente dentro de 80cm da
superfície do solo, ou com no mínimo 30cm de espessura, quando sobrejacente a contato lítico.
Compreende solos pouco evoluídos, constituídos por material proveniente de acumulações de restos
vegetais em grau variado de decomposição, acumulados em ambientes mal a muito mal drenados, de
coloração preta, cinzento muito-escura ou marrom e com elevados teores de carbono orgânico.
Usualmente, são solos fortemente ácidos, apresentando alta capacidade de troca de cátions e baixa
saturação por bases.
29
São solos muito problemáticos e ainda pouco conhecidos no que diz respeito a sua utilização como
substrato para o cultivo de lavouras, além de serem, quase sempre, parte importante de delicados
ecossistemas que se encontram naturalmente sob tênue equilíbrio.
Os háplicos apresentam horizonte sulfúrico e/ou materiais sulfídricos e nem estão saturados por água
por período inferior a 30 dias consecutivos. São de constituição essencialmente orgânica, resultante de
acumulações sucessivas de restos orgânicos em ambientes de grande umidade que geralmente se
tratam de planícies de inundação de rios e córregos ou áreas deprimidas.
As cores são geralmente pretas e o lençol freático está à superfície pela maior parte do tempo.Ocorrem
em condição de relevo plano, associados aos gleissolos, no alto curso do córrego do Óleo.
3.5. Recursos Hídricos
Para a caracterização dos recursos hídricos superficiais que inclui a Área de Estudo para a criação do
Parque Municipal, foram consultados os dados consolidados da Agência Nacional de Águas – ANA -
(BRASIL/ANA, 2005; 2007a; 2007b; 2007c; 2009), e dos Resumos Técnicos ou Cadernos Regionais
da Região Hidrográfica do Paraná que subsidiaram a elaboração do Plano Nacional de Recursos
Hídricos (MMA/SRH, 2005; 2006). Também foram utilizadas as informações disponibilizadas nos
Relatórios Técnicos do Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM – (IGAM, 2009; 2008; 2007) e
nos Relatórios Técnicos das Bacias Hidrográficas do rio Paranaíba (CBH/Paranaíba, 2009) e do rio
Araguari (CBH/Araguari, 2008).
As informações concentram-se em dados indicativos do enquadramento das bacias nas unidades de
planejamento e de suas características fisiográficas.
A Área de Estudo (bacia hidrográfica do córrego do Óleo) está situada na Unidade de Planejamento e
Gestão de Recursos Hídricos PN2 Rio Araguari (IGAM, 2009) – 174 (ANA, 2005), inserida na Sub-
região Hidrográfica (60) do Rio Paranaíba, que pertence à Região Hidrográfica (6) do Rio Paraná. Cabe
ressaltar que neste trabalho adotou-se a metodologia de aproximações sucessivas, considerando,
portanto, desde as características da divisão hidrográfica nacional até aquelas compatíveis com a
escala da bacia hidrográfica do rio Uberabinha e seus afluentes.
De acordo com ANA (2009), a Região Hidrográfica do Rio Paraná é dividida em 6 Subunidades
Hidrográficas 1 de Planejamento: Grande, Iguaçu, Paraná, Paranaíba, Paranapanema e Tietê.
Em consonância com a divisão nacional, na divisão hidrográfica do Estado de Minas Gerais, a bacia
hidrográfica em estudo está alocada na UPGRH do rio Paranaíba, especificamente na Subunidade de
Planejamento PN2 Rio Araguari.
A seguir, descreve-se sumariamente as bacias hidrográficas onde a Área de Estudo está inserido. A
caracterização da qualidade das águas na bacia do córrego do Óleo, bem como informações sobre a
geomorfologia fluvial serão apresentadas a seguir.
Bacia Hidrográfica do rio Araguari
O rio Araguari tem suas nascentes localizadas no município de São Roque de Minas na região da Serra
da Canastra. Afluente da margem esquerda do rio Paranaíba, sua bacia ocupa uma área de 20.186
km2, integrando parte, ou a totalidade, dos municípios de Araguari, Araxá, Campos Altos, Ibiá,
Indianópolis, Irai de Minas, Nova Ponte, Patrocínio, Pedrinópolis, Perdizes, Pratinha, Rio Paranaíba,
Sacramento, Santa Juliana, Serra do Salitre, Tapira, Tupaciguara, Uberaba e Uberlândia.
Entre seus principais formadores destacam-se os rios Quebra Anzol pela margem direita, e o
Uberabinha pela margem esquerda. Possui orientação predominante SE-NW e apresenta grande
30
potencial hidrelétrico, marcado pela presença de quatro UHEs: Miranda, Nova Ponte, Capim Branco I
e CCapim Branco II.
Em relação à dinâmica fluvial e aos aspectos fisiográficos desta bacia, destaca-se que ao escavar as
rochas de diferentes litologias, o rio Araguari deixou feições por todo o vale. Uma das características
mais importantes pode ser associada às suas formas meandrantes e numerosas ilhas, muitas delas
suprimidas pelos barramentos supracitados.
Para fins de planejamento e gestão, a bacia do rio Araguari foi dividida em 18 sub-bacias, considerando,
basicamente, as áreas de drenagem, conforme apresentado na Figura 10 acima e Tabela 8 a seguir.
Com regime hídrico típico de rios tropicais, no Araguari e em seus afluentes, as cheias são observadas
no fim do período chuvoso, enquanto que as menores vazões médias são observadas no fim do período
seco, ou seja, entre os meses de agosto e setembro (ANA/HIDROWEB, 2009).
Os resultados do projeto “Revisão das séries de vazões naturais das principais bacias do Sistema
Interligado Nacional”, apresentado em ANA (2005), calculou as vazões naturais entre os principais
aproveitamentos hidrelétricos do país para o período compreendido entre os anos de 1931 e 2001. Na
Tabela 9, são apresentados os dados de vazão da sub-unidade 2 Rio Araguari.
Verifica-se que a vazão média na bacia (Qm), considerando apenas a área de drenagem na Sub-
unidade, é de 432,5 m3/s, e a vazão específica por unidade de área é de 19,99 l/s.km2. Em relação à
vazão crítica de referência (ou de estiagem), adotada como disponibilidade hídrica, observa-se que na
bacia, esta é de 180,3 m3/s.
Figura 10: Localização das sub-bacias na bacia hidrográfica do rio Araguari
Fonte: Monte Plan, 2009
31
Conforme dados da ANA (2014), a irrigação agrícola responde pelas maiores vazões de retirada,
perfazendo mais de 40% do total. Em segundo plano aparece o uso urbano com aproximadamente
30% seguido pelo uso industrial e dessedentação animal. O uso rural é o menos significativo na bacia,
respondendo por apenas 2% do total.
Bacia Hidrográfica do rio Uberabinha
O rio Uberabinha é afluente da margem esquerda do rio Araguari. Possui comprimento longitudinal de
aproximadamente 142,7 km, desde suas nascentes (cota 978,00 m) no município de Uberaba até a
sua foz no remanso da UHE de Itumbiara (cota 550,00 m). Em seu alto curso, o rio Uberabinha recebe
as contribuições dos córregos do Caroço, do Roncador, Fortaleza e Beija Flor, todos pela margem
esquerda. De todo modo, o seu principal contribuinte é o ribeirão Bom Jardim, já nas proximidades do
sítio urbano de Uberlândia. Sua área de drenagem é de aproximadamente 2.188,56 km².
Na área urbana do município de Uberlândia, destaca-se as contribuições dos córregos Cajubá,
Tabocas, São Pedro (totalmente canalizados) e córregos Liso, do Óleo, Vinhedo, do Salto, Guaribas,
Bons Olhos, Cavalo e Lagoinha. Uma série de outros tributários aporta a este canal a jusante da área
urbana de Uberlândia.
Em relação à compartimentação do canal em função da orientação predominante do talvegue, observa-
se que desde a nascente o canal segue na orientação SE-NW até aproximadamente 60 km, quando
inflete para E e percorre, nesta direção, 20 km aproximadamente, até a confluência com o ribeirão Bom
Jardim. Deste ponto em diante, o canal assume novamente a orientação SE-NW até a sua foz junto ao
remanso da UHE de Itumbiara.
Código Bacia Área (km2) Perímetro (km)
01 Foz do Araguari 685,69 133,36
02 Rio Uberabainha 2.188,86 291,41
03 AHEs Capim Branco 1.178,89 161,82
04 Médio Araguari 1.744,98 352,00
05 Ribeirão das Furnas 284,67 104,47
06 Rio Claro 1.162,16 194,33
07 Baixo Quebra Anzol 2.103,91 363,95
08 Ribeirão Santa Juliana 484,56 115,34
09 Ribeirão Santo Antônio 842,95 142,27
10 Alto Araguari 3.028,15 381,02
11 Rio Galheiro 774,42 144,08
12 Rio Capivara 1.359,65 197,06
13 Ribeirão do Salitre 612,82 128,44
14 Ribeirão do Inferno 564,29 145,91
15 Alto Quebra Anzol 2.302,62 303,24
16 Ribeirão Grande 249,69 79,80
17 Rio São João 962,12 151,59
18 Rio Misericórdia 1.411,23 188,91
Tabela 8: Divisão das sub-bacias na bacia hidrográfica do rio Araguari
Fonte: Monte Plan, 2009
Sub-unidade Hidrográfica 2 Qm (m3/s) Q95 (m3/s) Q (l/s.km2)
Araguari – 174 432,5 180,3 19,99
Tabela 9: Vazão Qm, Q95 e q para a Sub-unidade Hidrográfica 2 Rio Araguari
Fonte: ANA, 2005
32
Em relação aos aspectos geológicos, a bacia encontra-se assentada sob os sedimentos Mesozóicos
do Grupo Bauru (Formação Marília e Adamantina) e rochas básicas da Formação Serra Geral (Grupo
São Bento). Coberturas Holocências e Cenozóicas são observadas na maior parte da bacia, capeando
as litologias supracitadas.
O relevo da bacia é caracterizado por amplos chapadões de topo plano separados por extensos
interflúvios, particularmente no alto curso. No médio e baixo curso, observa-se áreas levemente à
intensamente dissecadas, sendo que o grau de dissecação é função das condicionantes geológicas.
O regime hídrico é caracterizado pela sazonalidade típica do clima Tropical atuante na região do
Triângulo Mineiro. A época das cheias ocorre entre dezembro e abril sendo que o restante do ano
caracteriza o período de estiagem.
No que tange aos aspectos do uso e ocupação do solo, cumpre registrar que seu processo de ocupação
acompanhou o conjunto de políticas públicas de incentivo à produção nos Cerrados, desde meados da
década de 1970. Atualmente, os relevos de topo plano localizados no alto curso do canal são
intensamente ocupados pela agricultura modernizada típica do Brasil central.
Por fim, cumpre destacar que o rio Uberabinha e seu principal afluente, o ribeirão Bom Jardim, são os
principais mananciais de abastecimento público no município de Uberlândia.
Bacia Hidrográfica do córrego do Óleo
De acordo com a compartimentação proposta no Plano da Bacia Hidrográfica do rio Araguari (Monte
Plan, 2009), a bacia hidrográfica do córrego do Óleo insere-se na Sub-bacia 03 Rio Uberabinha, que
drena uma área de aproximadamente 2.188 km².
A área de drenagem do córrego do Óleo é de cerca de 23,817 km². Possui comprimento longitudinal
de aproximadamente 6,329 km, desde suas nascentes (cota 866,00 m) no extremo oeste da mancha
urbana de Uberlândia, até a sua foz no rio Uberabinha (cota 775,00 m), a montante da travessia da BR-
365.
Na área urbana da cidade, o córrego do Óleo drena parte dos seguintes bairros: Jardim Canaã, Jardim
Célia, Chácaras Panorama, Santo Antônio, Jardim Europa, Mansour, Jardim Holanda, Jardim das
Palmeiras, Planalto, Chácaras Tubalina, Luizote de Freitas, Jardim Patrícia, Jaraguá e Tubalina.
Em função da orientação predominante do talvegue, observa-se que desde a nascente o canal principal
segue na orientação NW-SE até aproximadamente 1,877 km, onde passa a correr com orientação E.
Nesta direção percorre aproximadamente 1,676 km, quando seu canal inflete para NE, seguindo nesta
direção predominante até a sua foz.
Em seu alto curso, o córrego do Óleo recebe as contribuições de dois canais de 1ª ordem pela margem
direita e um canal de mesma ordem pela margem esquerda. Nas imediações da coordenada UTM
781400 E / 7905306 S, recebe os aporte de seu principal contribuinte através de sua margem direita.
Em relação aos aspectos geológicos, a bacia encontra-se assentada sob os sedimentos Mesozóicos
do Grupo Bauru (Formação Marília) e rochas básicas da Formação Serra Geral (Grupo São Bento).
Coberturas Holocências e Cenozóicas são observadas no alto curso da bacia, capeando as litologias
supracitadas.
O relevo da bacia é caracterizado por amplos chapadões de topo plano nas nascentes, sendo que no
restante da área observa-se relevos dissecados em função das condicionantes geológicas. Cumpre
ressaltar que no médio curso predominam formas de colinas médias/amplas, sendo que no baixo curso
as vertentes se tornam mais inclinadas dado a presença de rochas basálticas.
33
O regime hídrico é caracterizado pela sazonalidade típica do clima Tropical atuante na região do
Triângulo Mineiro. A época das cheias ocorre entre dezembro e abril sendo que o restante do ano
caracteriza o período de estiagem.
Considerando as vazões específicas da bacia do rio Uberabinha, estima-se que as descargas médias
do córrego do Óleo sejam da ordem de 0,5 m³/s.
No que tange aos aspectos do uso e ocupação do solo, cumpre registrar que grande parte da bacia já
encontra-se sob condições de urbanização consolidada. Suas nascentes, apesar de posicionadas em
áreas com altos índices de permeabilidade, já apresentam características de processos
degradacionais, ocasionadas tanto por usos rurais quanto pela influência da dinâmica urbana. Na área
de estudo proposta para a criação do Parque Natural Municipal o processo de degradação é menos
intenso nas duas nascentes inseridas em seu território, bem como a qualidade das matas ciliares,
bastante preservadas, embora com pontos específicos que demandam a sua recuperação.
Embora seus afluentes recebam contribuições difusas do escoamento superficial provenientes das
áreas urbanas, as nascentes presentes na área de estudo estão totalmente inseridas e protegidas em
seu entorno imediato por áreas de alta permeabilidade, basicamente pastagens de uso extensivo.
3.6. Águas Subterrâneas
As informações sobre as águas subterrâneas na área obtidas junto ao Sistema de Informações de
Águas Subterrâneas (Siagas) do CPRM (2011), Zoneamento Ecológico Econômico do Estado de Minas
Gerais (ZEE-MG, 2014) e no Plano de Bacia do Rio Araguari (Monte Plan, 2008). Informações
complementares foram compiladas nos diagnósticos de geologia, geomorfologia e pedologia, já
apresentados neste estudo, no Sistema de Informações Ambientais do Estado de Minas Gerais (Siam,
2014), assim como na nota explicativa do Mapa de Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo
(Instituto Geológico, 2010). Destacam-se as contribuições obtidas junto ao Relatório de Monitoramento
das Águas Subterrâneas de Minas Gerais (IGAM, 2009) e do trabalho de Oliveira e Campos (2004).
A ocorrência das águas subterrâneas na bacia hidrográfica do córrego do Óleo é condicionada pela
presença de três unidades aqüíferas: sistema aqüífero Bauru, aqüífero Serra Geral e aqüífero Guarani.
Este último, apesar de ocorrer em toda a área da bacia, não apresenta afloramentos, restringindo-se a
sub-superfície. O sistema aqüífero Bauru ocorre em associação às rochas sedimentares do Grupo
geológico homônimo, que se fazem representar na área de estudo pela Formação Marília. Já o sistema
aqüífero Serra Geral condiciona-se a presença de rochas basálticas.
Na bacia do córrego do Óleo, a área de afloramento do sistema Bauru corresponde a 2,701 km², ou
seja, 11,34% da área total da bacia, localizada na porção centro norte. Admite-se, no entanto, que as
áreas capeadas por sedimentos recentes (coberturas detrito lateríticas) constituem áreas de recarga
desse sistema, o que, em conjunto, perfaz uma área de aproximadamente 23,138 km².
Já nas imediações da confluência com o rio Uberabinha, no baixo curso do córrego do Óleo, portanto,
fora da área de estudo, aflora o sistema Serra Geral que ocupa 2,85% da área da bacia (0,679 km²).
A seguir, descreve-se as unidades aqüíferas identificadas.
34
Sistema Aquífero Bauru
O Aquífero Bauru é formado pelas três litofácies da Formação Bauru e pela Formação Caiuá, e constitui
uma única unidade aqüífera. Esses sedimentos do Cretáceo Superior apresentam uma ocorrência
extensiva e contínua na região do Triângulo Mineiro, daí sua grande importância como manancial.
De acordo com Oliveira e Campos (2002) O Sistema Aqüífero Bauru compreende os depósitos não
confinados de água subterrânea, associados a rochas da Formação Marília – Grupo Bauru e suas
coberturas. Apesar do caráter intergranular da porosidade, o Sistema Aqüífero Bauru é heterogêneo.
As fácies que o compõem são distintas quanto à granulometria, porosidade, condutividade hidráulica e
litotipo, e levaram à divisão do Sistema Aqüífero Bauru em dois subsistemas: Aqüífero Bauru Superior
e Inferior.
O Aqüífero Bauru Superior engloba os latossolos que formam espessas coberturas pedogenéticas
desenvolvidas in situ. Os latossolos estendem-se por grande parte da bacia do córrego do Óleo,
compondo a porção superior deste subsistema. Na base dos latossolos pode ocorrer uma camada de
couraça laterítica, em diferentes graus de degradação (pode conter concreções feruginosas).
O Aqüífero Bauru Inferior é formado pelos sedimentos do Membro Araguari. As fácies arenítica e
conglomerática do Membro Araguari estão assentadas discordantemente sobre os basaltos da
Formação Serra Geral e compõem a base do Sistema Aqüífero Bauru. Em função da paleogeografia
irregular do topo do basalto, a espessura da camada deste subsistema é variável, podendo chegar a
20 m.
A fácies conglomerática é mal selecionada com seixos de diâmetros variando entre 2 a 350 mm de eixo
maior, é clastosuportada e apresenta matriz arenosa a areno-argilosa. Mais de 90% dos seixos são
compostos por quartzito com grau de arredondamento variável, friável ou litificado (silicificado), com
características de retrabalhamento fluvial. A camada de conglomerado é encontrada em toda a área de
extensão do Sistema Aqüífero Bauru. Apesar da variação na espessura, o topo da camada é
homogêneo, e comporta-se como uma superfície plana. Exceto nas áreas marginais das chapadas,
onde há adelgaçamento da camada por erosão, a fácies conglomerática encontra-se saturada de água,
sendo que a porção não saturada do sistema ocorre sempre em materiais arenosos (Oliveira e Campos,
2004).
Como aqüífero freático, a recarga é feita diretamente pela precipitação pluvial, sendo sua base de
drenagem local o rio Uberabinha e suas malhas de afluentes em toda a área de afloramento. O aqüífero
funciona, em geral, como reservatório regulador do escoamento dessa rede fluvial. O período de
recarga dá-se, especialmente, entre os meses de fevereiro e março.
Sistema Aquífero Serra Geral
Conforme já mencionado, este sistema aqüífero ocorre em uma porção restrita da bacia, nas
proximidades da foz do córrego do Óleo com o rio Uberabinha.
O sistema Serra Geral é formado litologicamente por basaltos toleíticos da formação de mesmo nome,
com texturas microcristalinas e estrutura que refletem sua gênese através de sucessivos derrames de
lava (LEINZ & AMARAL, 2001). A composição mineralógica se dá em função da presença de
plagioclásio, seguido de augita e piogenita, além de óxidos de alumínio, ferro, cálcio, magnésio, sódio,
titânio e potássio, conforme colocado anteriormente.
Devido à suas características litológicas, apresenta pouca permeabilidade primária para o
armazenamento de grandes volumes de água, sendo que esta se faz em função dos planos de clivagem
e de descontinuidades físicas que marcadamente caracterizam esta formação geológica. Além disso,
pode ocorrer acumulação de água nas juntas e espaços inter derrames.
35
Com características fissurais, este sistema se desenvolve ao longo de fraturas e descontinuidades,
compreendendo zonas amigdalodais e vesiculares de topos de derrames e zonas de disjunção
horizontal. Estas feições, quando interceptadas por zonas de fraturas, podem armazenar grandes
quantidades de água (NANNI et al, 2006).
Segundo estudos que enfocaram as características químicas do sistema Serra Geral (ROSA FILHO et
al., 2006), verifica-se que a tipologia das águas armazenadas nas rochas basálticas é
preferencialmente bicarbonatada cálcica, com baixos teores de sólidos totais dissolvidos.
Conforme Rebolças & Fraga (1988), os mecanismo de recarga deste aqüífero ocorrem
predominantemente por dois condicionamentos distintos: infiltração de águas pluviais em fraturas
recobertas por manto de alteração e infiltração de águas armazenadas nas estruturas sedimentares
sobrepostas (caso das Formações Marília e coberturas observadas na AII).
3.7. Canal fluvial e morfologia da bacia
Conforme já colocado na seção de recursos hídricos, o córrego do Óleo tem suas nascentes
localizadas em altitudes próximas 870,00 m, no extremo oeste da mancha urbana de Uberlândia, junto
ao interflúvio que separa as bacias que drenam ao rio Uberabinha, daquelas que aportam ao rio Tijuco.
De modo geral os aspectos fisiográficos da bacia do Óleo estão intimamente ligados às características geológicas e geomorfológicas regionais, importando as litologias da Bacia Sedimentar do Paraná e as rochas efusivas da Formação Serra Geral. O canal principal possui um comprimento total de aproximadamente 6,329 km, desde suas nascentes até a confluência com o rio Uberabinha. Seu gradiente vertical médio até este ponto é de cerca de 14 m/km. A dimensão da bacia de drenagem é da ordem de 23,817 km² sendo seu perímetro equivalente a 19,89 km. Seus principais contribuintes são canais de primeira de primeira ordem, que aportam diretamente ao coletor principal. Dado as condicionantes fisiográficas do alto curso da bacia, observa-se a presença de trechos deposicionais, que conformam planícies fluviais sujeitas à inundação durante a época das cheias. No baixo, no entanto, a presença de soleiras basálticas imprime maior declividade ao canal, condicionando trecho erosivo.
36
4. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO BIÓTICO
4.1. Caracterização da fauna silvestre
A caracterização da fauna silvestre (répteis, anfíbios, aves e mamíferos) inclui informações gerais da
região, do município, da área urbana de Uberlândia, e mais especificamente, da área da Fazenda do
Óleo, que inclui a área da futura UC.
Preliminarmente cumpre destacar que a composição faunística da cidade está drasticamente reduzida
em relação à biodiversidade original, em decorrência do processo de urbanização que afetou
negativamente os diversos ecossistemas e fitofisionomias, que originalmente cobriam o seu território.
Processo similar ao registrado no próprio bioma Cerrado, que abrangia mais de 23% de todo o território
brasileiro, ocupando extensas áreas contínuas dos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Distrito Federal,
Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo e Tocantins.
Ocorria também em áreas isoladas dos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima e Paraná, com
inserções na Floresta Amazônica, Floresta Atlântica, Pantanal e Caatinga (EITEN, 1994).
Atualmente, estima-se que mais de 80% da área total do Cerrado já tenha sido alterada por ações
humanas (MYERS, 2000), sendo a região sudeste a mais altamente fragmentada e ocupada por
agricultura, pecuária e expansão urbana (CAVALCANTI; JOLY 2002). Dados do Ministério do Meio
Ambiente apontam para uma taxa anual de desmatamento do Cerrado de 6.200 Km2, no período de
2009 a 2010, uma taxa bem menor do que registrado no período 2002-2008, quando segundo a mesma
fonte, superou 21.000 Km2.
Para efeito ilustrativo, essa taxa de desmatamento anual, corresponde a praticamente três vezes o
tamanho do Parque Estadual do Pau Furado, único parque estadual do Triângulo Mineiro, localizado
às margens do rio Araguari, entre os municípios de Uberlândia e Araguari, distante cerca de 20 km do
centro da cidade de Uberlândia.
Ressalte-se ainda, que o Triângulo Mineiro é umas das regiões de Minas Gerais com as menores taxas
de cobertura vegetal original (FAGRO, 2007), e consequentemente com várias espécies da flora nativa
e fauna silvestre relacionadas em listas nacionais e internacionais de espécies ameaçadas de extinção
(IUCN, 2014).
Nesse contexto de evidente depreciação das características ambientais originais, a capacidade de
suporte ecológico à vida silvestre, nos pequenos e fragmentados remanescentes de habitats, é
reduzida e comprometida pelo uso e ocupação do solo urbano. Isto se reflete na prevalência de
espécies mais adaptadas ao ambiente urbano, também chamadas de sinantrópicas.
As aves constituem o grupo mais frequente, significativo e com a maior diversidade relativa, em função
da presença de diversos remanescentes de ecossistemas associados aos cursos d’água, da existência
de unidades de conservação, como o Parque do Sabiá, Parque Victorio Siquierolli, Parque Santa Luzia,
Parque linear do rio Uberabinha, da existência de algumas praças bem arborizadas e da própria
arborização urbana, além de veredas e áreas verdes remanescentes.
Apesar do intenso grau de antropização na mancha urbana, a criação do Parque Municipal proposto
para as veredas do córrego do Óleo, representa extrema significância ecológica, por colaborar para o
incremento de áreas naturais protegidas em um setor urbano muito carente de unidades de
conservação e áreas de lazer, o que pode colaborar para uma requalificação ambiental da cidade,
conectando-se com outras áreas de preservação e o parque linear do Uberabinha, ampliando assim,
a capacidade de suporte ecológico para a fauna silvestre.
37
4.1.1. Herpetofauna
Composta pelos anfíbios e répteis, a herpetofauna está presente em praticamente todas as
comunidades terrestres. Mundialmente, são identificadas mais de 6.400 espécies de anfíbios (FROST,
2009) e mais de 8.800 espécies de répteis (UETZ et al, 2009). No Brasil, são perto de 850 espécies de
anfíbios (SBH, 2009) e 708 espécies de répteis (BÉRNILS, 2009).
A presença e diversidade de répteis, além de importante para a manutenção do equilíbrio ecológico
dos ecossistemas, pode ser um indicador biológico da qualidade das condições do ambiente. No
entanto, por serem animais arredios, de hábitos e aparência mimética, sua visualização no ambiente
natural é difícil e rara. Além disso, a identificação taxonômica também apresenta algumas dificuldades,
pois a distinção entre espécies, muitas vezes é feita após demoradas campanhas de captura e por
análise de detalhes morfológicos, aos quais só estão familiarizados os herpetólogos especializados.
De acordo com os dados bibliográficos, na região de Uberlândia há registros da presença de pelo
menos 54 espécies de anuros (rãs e pererecas), 47 espécies de cobras, 15 espécies de lagartos, 01
de quelônio (jabuti) e uma espécie de jacaré. Nos levantamentos realizados durante a elaboração do
Plano de Manejo do Parque Estadual do Pau Furado foram registradas 22 espécies de anuros e 17
espécies de répteis.
Para a área urbana do município de Uberlândia são registradas principalmente as espécies mais
comuns e adaptadas às alterações antrópicas. Dentre elas destacam-se os lagartos Calango
(Tropidurus torquatus), Lagarto-Bico-Doce (Ameiva ameiva) e Teiú (Tupinambis merianae). Dentre as
serpentes com registro comprovado na área urbana, estão a coral-verdadeira (Micrurus sp), a falsa-
coral (Erytrolamprus sp), a dormideira (Sibynomorphus sp), a jibóia (Boa constrictor), a sucuri (Eunectes
murinus), a cascavel (Crotalus durissus), a jararaca (Bothrops sp) e a caninana (Spilotes pulatus).
A seguir é apresentada a lista de espécies de répteis registrada na fazenda do Óleo (Tabela 10) durante
os levantamentos realizados para o EIA – Estudo de Impacto Ambiental.
Tabela 10: Lista de Répteis
ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOME POPULAR
An
ura
Hylidae
Dendropsophus cruzi (Pombal & Bastos, 1998) pererequinha-do-brejo
Dendropsophus jimi (Napoli & Caramaschi, 1999) pererequinha-do-brejo
Dendropsophus minutus (Peters, 1972) pererequinha-do-brejo
Hypsiboas albopunctatus (Spix, 1824) perereca-cabrinha
Phyllomedusa azurea Cope, 1862 perereca-das-folhagens
Scinax fuscomarginatus (A. Lutz, 1925) pererequinha-do-brejo
Scinax fuscovarius (A. Lutz, 1925) perereca-de-banheiro
Leptodactylidae Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) rã-pimenta
Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826 rã-cachorro
Squ
am
ata
Amphisbaenidae Amphisbaena alba Linnaeus, 1758 cobra-de-duas-cabeças
Boidae Boa constrictor Linnaeus, 1758 Jibóia
Tropiduridae Tropidurus torquatus (Wied-Neuwied, 1820) Calango
4.1.2. Aves
A avifauna brasileira registra a presença de aproximadamente 1.700 espécies (MARÇAL JÚNIOR;
FRANCHIN, 2003), uma das três mais ricas do mundo. No bioma Cerrado são 837 espécies (KLINK;
38
MACHADO; 2005) e em Minas Gerais, 753 (ANDRADE 1997), o que representa mais de 45% das
espécies encontradas no país (SICK, 1997).
Importantes na análise da qualidade ambiental dos ecossistemas naturais ou antropizados, as aves
estão entre os animais mais susceptíveis aos impactos ambientais provocados e pelo uso de
agrotóxicos e pela fragmentação de habitats (MACHADO, 2000, MARINI, 2001). Talvez por isso, este
grupo de animais tem buscado refúgio em ambientes urbanos, para o que contribuem as áreas
protegidas, praças, áreas de preservação permanentes às margens dos córregos e rios urbanos,
quintais e vias públicas bem arborizadas.
Regionalmente, diversos trabalhos científicos com aves já foram publicados, em especial sobre parques
urbanos, praças e áreas rurais de Uberlândia (FRANCHIN; MARÇAL JÚNIOR, 2002; 2004, VALADÃO
et al, 2006a;b, TORGA et al, 2005) e poucos realizados em áreas naturais (MELO; MARINI, 1997;
MARINI 1996). Na área urbana já foram registradas mais de 140 espécies de aves, enquanto no
diagnóstico do Plano de Manejo do Parque Estadual do Pau Furado foram registradas 162 espécies de
41 famílias. Segundo o site Wikiaves (www.wikiaves.com), 280 espécies de aves já foram fotografadas
no município de Uberlândia.
Essa diversidade é favorecida, sobretudo, pela existência das unidades de conservação, parques
lineares, córregos urbanos e também por que a área urbana é rota de voo entre locais de alimentação
e repouso localizados no “chapadão” e vales dos rios Araguari e Uberabinha.
Segue a lista das espécies de aves encontradas em Uberlândia (Tabela 11).
Tabela 11: Lista de Aves encontradas na cidade de Uberlândia, MG
Ordem Tinamiformes
Família Tinamidae
Crypturellus parvirostris (inhambu-chororó)
Nothura maculosa (codorna-amarela)
Ordem Anseriformes
Família Anatidae
Dendrocygna viduata (irerê)
Ordem Pelecaniformes
Família Phalacrocoracidae
Phalacrocorax brasilianus (biguá)
Família Anhingidae
Anhinga anhinga (biguatinga)
Ordem Ciconiiformes
Família Ardeidae
Butorides striata (socozinho)
Bubulcus ibis (garça-vaqueira)
Ardea alba (garça-branca-grande)
Syrigma sibilatrix (maria-faceira)
Egretta thula (garça-branca-pequena)
Família Threskiornithidae
Mesembrinibis cayennensis (coró-coró)
Theristicus caudatus (curicaca)
Ordem Cathartiformes
Família Cathartidae
Coragyps atratus (urubu-de-cabeça-preta)
Ordem Falconiformes
39
Tabela 11: Lista de Aves encontradas na cidade de Uberlândia, MG
Família Accipitridae
Ictinia plumbea (sovi)
Rupornis magnirostris (gavião-carijó)
Buteo albicaudatus (gavião-asa-de-telha)
Família Falconidae
Caracara plancus (caracará)
Milvago chimachima (carrapateiro)
Herpetotheres cachinnans (acauã)
Falco sparverius (quiri-quiri)
Falco femoralis (falcão-de-coleira)
Ordem Gruiformes
Família Rallidae
Aramides cajanea (saracura-três-potes)
Família Cariamidae
Cariama cristata (seriema)
Ordem Charadriiformes
Família Charadriidae
Vanellus chilensis (quero-quero)
Ordem Columbiformes
Família Columbidae
Columbina talpacoti (rolinha-roxa)
Columbina squammata (fogo-apagou)
Patagioenas picazuro (pomba-asa-branca)
Patagioenas cayennensis (pomba-galega)
Zenaida auriculata (pomba-de-bando)
Leptotila verreauxi (juriti-pupu)
Ordem Psittaciformes
Família Psittacidae
Diopsittaca nobilis (maracanã-pequena)
Aratinga leucophthalma (periquitão-maracanã)
Aratinga auricapillus (jandaia-de-testa-vermelha)
Aratinga aurea (periquito-rei)
Forpus xanthopterygius (tuim)
Brotogeris chiriri (periquito-de-encontro-amarelo)
Amazona aestiva (papagaio-verdadeiro)
Ordem Cuculiformes
Família Cuculidae
Piaya cayana (alma-de-gato)
Crotophaga ani (anu-preto)
Guira guira (anu-branco)
Tapera naevia (saci)
Ordem Strigiformes
Família Tytonidae
Tyto alba (suindara)
Família Strigidae
Athene cunicularia (coruja-buraqueira)
Ordem Caprimulgiformes
40
Tabela 11: Lista de Aves encontradas na cidade de Uberlândia, MG
Família Caprimulgidae
Chordeiles pusillus (bacurauzinho)
Nyctidromus albicollis (curiango)
Ordem Apodiformes
Família Trochilidae
Phaethornis pretrei (rabo-branco-acanelado)
Aphantochroa cirrochloris (beija-flor-cinza)
Chlorostilbon lucidus (besourinho-de-bico-vermelho)
Amazilia fimbriata (beija-flor-de-garganta-verde)
Heliomaster squamosus (bico-reto-de-banda-branca)
Ordem Coraciiformes
Família Alcedinidae
Megaceryle torquata (martim-pescador-grande)
Chloroceryle amazona (martim-pescador-verde)
Família Momotidae
Baryphthengus ruficapillus (juruva-verde)
Ordem Galbuliformes
Família Galbulidae
Galbula ruficauda (ariramba-de-cauda-ruiva)
Família Bucconidae
Nystalus chacuru (joão-bobo)
Ordem Piciformes
Família Ramphastidae
Ramphastos toco (tucanuçu)
Família Picidae
Melanerpes candidus (birro, pica-pau-branco)
Colaptes melanochloros (pica-pau-verde-barrado)
Colaptes campestris (pica-pau-do-campo)
Ordem Passeriformes
Família Thamnophilidae
Thamnophilus doliatus (choca-barrada)
Thamnophilus pelzelni (choca-do-planalto)
Herpsilochmus atricapillus (chorozinho-de-chapéu-preto)
Família Dendrocolaptidae
Lepidocolaptes angustirostris (arapaçu-de-cerrado)
Família Furnariidae
Furnarius rufus (joão-de-barro)
Synallaxis frontalis (petrim)
Phacellodomus ruber (graveteiro)
Hylocryptus rectirostris (fura-barreira)
Família Tyrannidae
Leptopogon amaurocephalus (cabeçudo)
Hemitriccus margaritaceiventer (sebinho-de-olho-de-ouro)
Todirostrum cinereum (sebinho-relógio)
Phyllomyias fasciatus (piolhinho)
Myiopagis caniceps (guaracava-cinzenta)
Elaenia flavogaster (guaracava-de-barriga-amarela)
41
Tabela 11: Lista de Aves encontradas na cidade de Uberlândia, MG
Elaenia spectabilis (guaracava-grande)
Elaenia parvirostris (chibum)
Elaenia chiriquensis (guaracava-de-bico-curto)
Camptostoma obsoletum (risadinha)
Suiriri suiriri (siriri-cinza)
Tolmomyias sulphurescens (bico-chato-de-orelha-preta)
Myiophobus fasciatus (filipe)
Lathrotriccus euleri (enferrujado)
Cnemotriccus fuscatus (guaracavuçu)
Knipolegus lophotes (maria-preta-de-penacho)
Xolmis cinereus (primavera)
Xolmis velatus (noivinha-branca)
Gubernetes yetapa (tesoura-do-brejo)
Fluvicola nengeta (lavadeira-mascarada)
Colonia colonus (viuvinha)
Machetornis rixosa (suiriri-cavaleiro)
Myiozetetes cayanensis (bentevizinho-de-asa-ferrugínea)
Myiozetetes similis (bentevizinho-de-penacho-vermelho)
Pitangus sulphuratus (bem-te-vi)
Myiodynastes maculatus (bem-te-vi-rajado)
Megarynchus pitangua (neinei)
Empidonomus varius (peitica)
Griseotyrannus aurantioatrocristatus (peitica-de-chapéu-preto)
Tyrannus albogularis (siriri-de-garganta-branca)
Tyrannus melancholicus (siriri)
Myiarchus swainsoni (irré)
Myiarchus ferox (maria-cavaleira)
Myiarchus tyrannulus (maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado)
Família Pipridae
Antilophia galeata (soldadinho)
Família Vireonidae
Cyclarhis gujanensis (pitiguari)
Vireo olivaceus (juruviara)
Família Corvidae
Cyanocorax cristatellus (gralha-do-campo)
Cyanocorax cyanopogon (gralha-cancã)
Família Hirundinidae
Pygochelidon cyanoleuca (andorinha-pequena-de-casa)
Stelgidopteryx ruficollis (andorinha-serradora)
Progne tapera (andorinha-do-campo)
Progne chalybea (andorinha-azul-grande)
Tachycineta albiventer (andorinha-do-rio)
Família Troglodytidae
Troglodytes musculus (corruíra)
Pheugopedius genibarbis (garrinchão-pai-avô)
Cantorchilus leucotis (garrinchão-de-barriga-vermelha)
Família Polioptilidae
42
Tabela 11: Lista de Aves encontradas na cidade de Uberlândia, MG
Polioptila dumicola (balança-rabo-de-máscara)
Família Turdidae
Turdus rufiventris (sabiá-laranjeira)
Turdus leucomelas (sabiá-barranco)
Turdus amaurochalinus (sabiá-poca)
Família Mimidae
Mimus saturninus (sabiá-do-campo)
Família Coerebidae
Coereba flaveola (cambacica)
Família Thraupidae
Thraupis sayaca (sanhaçu-cinzento)
Thraupis palmarum (sanhaçu-do-coqueiro)
Tangara cayana (saíra-amarela)
Tersina viridis (saí-andorinha)
Conirostrum speciosum (figuinha-de-rabo-castanho)
Família Emberizidae
Zonotrichia capensis (tico-tico)
Ammodramus humeralis (tico-tico-do-campo)
Sicalis flaveola (canário-da-terra-verdadeiro)
Volatinia jacarina (tiziu)
Sporophila lineola (bigodinho)
Sporophila nigricollis (baiano)
Sporophila caerulescens (coleirinha)
Coryphospingus cucullatus (tico-tico-rei)
Família Cardinalidae
Saltator similis (trinca-ferro-verdadeiro)
Cyanoloxia brissonii (azulão)
Família Parulidae
Parula pitiayumi (mariquita)
Basileuterus hypoleucus (pula-pula-de-barriga-branca)
Basileuterus flaveolus (canário-do-mato)
Família Icteridae
Cacicus haemorrhous (guaxe)
Icterus cayanensis (encontro)
Gnorimopsar chopi (pássaro-preto)
Molothrus bonariensis (vira-bosta)
Família Fringillidae
Euphonia chlorotica (fim-fim)
Na sequência apresenta-se a lista de espécies de aves registrada na fazenda do Óleo durante os
levantamentos realizados para o EIA (Tabela 12).
43
Tabela 12: Lista de Aves
ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOME POPULAR
Tinamiformes Tinamidae Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) inhambu-chororó
Galliformes Cracidae Crax fasciolata Spix, 1825 mutum-de-penacho
Suliformes Phalacrocoracidae Phalacrocorax brasilianus (Gmelin,
1789) Biguá
Pelecaniformes
Ardeidae
Butorides striata (Linnaeus, 1758) Socozinho
Ardea alba Linnaeus, 1758 garça-branca-grande
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) maria-faceira
Threskiornithidae
Mesembrinibis cayennensis (Gmelin,
1789) coró-coró
Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) Curicaca
Cathartiformes Cathartidae Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta
Accipitriformes Accipitridae
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) Sovi
Heterospizias meridionalis (Latham,
1790) gavião-caboclo
Charadriiformes Charadriidae Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero
Columbiformes Columbidae
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa
Columbina squammata (Lesson, 1831) fogo-apagou
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Pombão
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre,
1792) pomba-galega
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) pomba-de-bando
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu
Cuculiformes Cuculidae
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato
Coccyzus melacoryphus Vieillot, 1817 papa-lagarta-acanelado
Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto
Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco
Strigiformes Strigidae Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira
Caprimulgiformes Caprimulgidae Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789) Bacurau
Apodiformes Trochilidae
Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre,
1839) rabo-branco-acanelado
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura
Coraciiformes Alcedinidae Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-verde
Momotidae Momotus momota (Linnaeus, 1766) udu-de-coroa-azul
Galbuliformes Galbulidae Galbula ruficauda Cuvier, 1816 ariramba-de-cauda-ruiva
Piciformes
Ramphastidae Ramphastos toco Statius Muller, 1776 Tucanuçu
Picidae
Picumnus albosquamatus d'Orbigny,
1840 pica-pau-anão-escamado
Melanerpes candidus (Otto, 1796) pica-pau-branco
Colaptes campestris (Vieillot, 1818) pica-pau-do-campo
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) pica-pau-de-banda-branca
Cariamiformes Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Seriema
Falconiformes Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777) Caracará
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Carrapateiro
Falco sparverius Linnaeus, 1758 Quiriquiri
Falco femoralis Temminck, 1822 falcão-de-coleira
Psittaciformes Psittacidae
Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) maracanã-pequena
Psittacara leucophthalmus (Statius
Muller, 1776) periquitão-maracanã
Eupsittula aurea (Gmelin, 1788) periquito-rei
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Tuim
Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818) periquito-de-encontro-amarelo
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio-verdadeiro
Passeriformes Thamnophilidae Herpsilochmus longirostris Pelzeln, 1868 chorozinho-de-bico-comprido
44
Passeriformes
Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) choca-barrada
Thamnophilus pelzelni Hellmayr, 1924 choca-do-planalto
Taraba major (Vieillot, 1816) choró-boi
Dendrocolaptidae Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot,
1818) arapaçu-de-cerrado
Furnariidae
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) joão-de-barro
Phacellodomus ruber (Vieillot, 1817) Graveteiro
Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 Petrim
Pipridae Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) Soldadinho
Rhynchocyclidae Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) ferreirinho-relógio
Tyrannidae
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-de-barriga-amarela
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller,
1776) maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) suiriri-cavaleiro
Myiozetetes cayanensis (Linnaeus,
1766) bentevizinho-de-asa-ferrugínea
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Suiriri
Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) lavadeira-mascarada
Gubernetes yetapa (Vieillot, 1818) tesoura-do-brejo
Xolmis cinereus (Vieillot, 1816) Primavera
Xolmis velatus (Lichtenstein, 1823) noivinha-branca
Hirundinidae Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serradora
Troglodytidae Cantorchilus leucotis (Lafresnaye, 1845) garrinchão-de-barriga-vermelha
Polioptilidae Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) balança-rabo-de-máscara
Turdidae Turdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco
Mimidae Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) sabiá-do-campo
Passerellidae
Zonotrichia capensis (Statius Muller,
1776) tico-tico
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo
Parulidae Myiothlypis flaveola Baird, 1865 canário-do-mato
Icteridae
Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819) Encontro
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Graúna
Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850) polícia-inglesa-do-sul
Thraupidae
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Cambacica
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento
Tersina viridis (Illiger, 1811) saí-andorinha
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) canário-da-terra-verdadeiro
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Tiziu
Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) Baiano
Fringillidae Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim
Passeridae Passer domesticus (Linnaeus, 1758) Pardal
4.1.3. Mamíferos
Em ambientes alterados pela ação humana, os registros de mamíferos silvestres são relativamente
raros, uma vez que em geral esses animais têm hábitos noturnos e não são gregários.
Dentre os vários grupos animais, os mamíferos costumam ser considerados como indicadores do
estado de conservação de determinados ecossistemas (Soulé & Wilcox, 1980), particularmente porque
muitas espécies da mastofauna interagem dinamicamente com a vegetação, além de se mostrarem
muito vulneráveis à degradação ambiental, à caça e à captura.
45
A manutenção da diversidade de árvores em áreas florestais depende em parte, da ação de mamíferos
frugívoros e herbívoros, para a dispersão e propagação de sementes (Dirzo; Miranda, 1990; Fragoso,
1994). Por outro lado, os mamíferos carnívoros, por meio da predação regulam as populações de
herbívoros e frugívoros (Emmons, 1987; Terborgh et al., 1992, Guimarães, J. F., 2009). Nas Florestas
Neotropicais, os pequenos roedores e marsupiais são considerados bons indicadores ecológicos,
influenciando na dinâmica das florestas e nas alterações de paisagem, por meio da predação e
dispersão de sementes, plântulas e fungos (Martinez-Gallardo, 1998; Pardini, Umetsu, 2006; Sánchez-
Cordero, Tabarelli et al., 2004; Vieira et al., 2003).
Além dos mamíferos terrestres, os mamíferos voadores (morcegos) também prestam serviços
ambientais importantes como o controle populacional de insetos, a polinização e a dispersão de
sementes, o que os torna muito úteis para a recuperação de áreas degradadas, tanto em áreas rurais,
quanto urbanas. Estimativas apontam que uma colônia de morcegos pode consumir cerca de seis mil
toneladas de insetos ao ano, o que os habilita como grandes predadores dessa classe de animais. Ao
comerem os insetos exercem o controle biológico de potenciais pragas que prejudicam as culturas
agrícolas, podendo contribuir com a redução dos custos de produção (Reis et al., 2007; Romano et al.,
1999; Novas, 2008).
A diversidade biológica do Brasil é considerada uma das maiores do planeta, contribuindo com
aproximadamente 10% da biota mundial (Mittermeier et al., 1998; Myers et al., 2000; Lewinsohn e
Prado, 2002). No que se refere aos mamíferos, são mais de 530 espécies descritas no país, com
possibilidades reais de que novas espécies sejam descobertas (Reis, N.L. et al., 2006).
Somente no estado de Minas Gerais estão descritas 243 espécies de mamíferos terrestres e voadores,
número elevado, que provavelmente se justifica pela presença de vários biomas no estado, o que
amplia a complexidade estrutural do ambiente e a riqueza da fauna (Machado et al., 1998).
Segundo os dados secundários disponíveis para a região de Uberlândia, existem 26 espécies de
mamíferos terrestres e 55 espécies de morcegos descritas, contudo, de um modo geral, apenas as
mais comuns e bem adaptadas às condições adversas impostas pela antropização, podem ser
encontradas regularmente no perímetro urbano.
Como já mencionado anteriormente, a existência de unidades de conservação e áreas naturais
relativamente preservadas às margens dos córregos e do rio Uberabinha, no perímetro urbano de
Uberlândia favorecem a sobrevivência das espécies de mamíferos registradas. Destacam-se dentre
elas, o sagüi-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata), o macaco-prego (Cebus apella), a Capivara
(Hydrochoerus hydrochaeris), o preá (Cavia aperea), os ratos-silvestres do gênero Calomys sp, o
cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o gambá (Didelphis albiventris), o tatu-peba (Euphractus
sexcinctus), a irara (Eira barbara), o quati (Nasua nasua), o mão-pelada (Procyon cancrivorus), o
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), sendo
que os dois últimos figuram na lista de espécies ameaçadas de Minas Gerais, sob a classificação de
em perigo.
A seguir apresenta-se a lista de mamíferos terrestres registrados em Uberlândia (Tabela 13).
Tabela 13: Lista de Mamíferos terrestres encontrados em Uberlândia, MG
Ordem Carnívora
Família Canidae
Pseudalopex vetulus
Cerdocyon thous
Chrysocyon brachyurus
Família Felidae
Puma yagouaroundi
46
Tabela 13: Lista de Mamíferos terrestres encontrados em Uberlândia, MG
Lepardus pardalis
Puma concolor
Família Mustelidae
Eira bárbara
Lontra longicaudis
Família Procyonidae
Nasua nasua
Procyon cancrivorus
Ordem Cingulata
Família Dasypodidae
Euphractus sexcicntus
Dasypus sp.
Cabassous unicinctus
Ordem Pilosa
Família Myrmecophagidae
Myrmecophaga tridactyla
Tamandua tetradactyla
Ordem Artiodactyla
Família Tayassuidae
Pecari tajacu
Família Cervidae
Mazama americana
Mazama gouazoubira
Ordem Primates
Família Cebidae
Cebus apela
Callithrix penicillata
Ordem Rodentia
Família Cuniculidae
Cuniculus paca
Família Dasyproctidae
Dasyprocta azarae
Família Erethizontidae
Coendou prehensilis
Família Hydrochaeridae
Hydrochaeris hydrochaeris
Ordem Didelphimorphia
Família Didelphidae
Didelphis albiventris
Ordem Lagomorpha
Família Leporidae
Sylvilagus brasilensis
A seguir segue a lista de mamíferos registrados na fazenda do Óleo durante os levantamentos
realizados para o EIA (Tabela 14).
47
Tabela 14: Lista de Mamíferos / fazenda Óleo
ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOME
POPULAR
Cingulata Dasypodidae Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) tatu-peba
Dasypus novencinctus Linnaeus, 1758 tatu-galinha
Pilosa Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 tamanduá-
bandeira
Didelphimorphia Didelphidae Didelphis albiventris (Lund, 1840) Gambá
Primates Callithrichidae Callithrix penicillata (É. Geoffroy, 1758) mico-estrela
Carnivora Procyonidae Procyon cancrivorus (Cuvier, 1798) mão-pelada
Artiodactyla Cervidae Mazama gouazoubira (G. Fischer, 1814) veado-
catingueiro
Rodentia Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) Capivara
4.2. Caracterização da Vegetação
O município de Uberlândia insere-se no Bioma Cerrado, um dos três biomas presentes no Estado de
Minas Gerais, representando mais da metade do território mineiro, reconhecido internacionalmente por
sua grande riqueza biológica e alta pressão antrópica a que vem sendo submetido (MYERS et al. 2000).
Compreendido como um complexo vegetacional, que possui relações ecológicas e fisionômicas com
outras savanas da América tropical e de continentes como África e Austrália (Beard, 1953; Cole, 1958;
Eiten 1972, 1994; Allem & Valls, 1987), o Cerrado ocorre em altitudes que variam de cerca de 300 m,
a exemplo da Baixada Cuiabana (MT), a mais de 1600m, na Chapada dos Veadeiros (GO). Abrange
como área contínua os estados de Goiás, Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia,
Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo, além
de ocorrer em enclaves nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e em pequenos
fragmentos no Paraná.
A flora do Cerrado é característica e diferenciada dos biomas adjacentes, embora muitas fisionomias
compartilhem espécies com outros biomas (Heringer et al, 1977; Rizzini, 1979; Prado & Gibbs, 1993;
Oliveira Filho & Ratter, 1995). Além do clima, que segundo Eiten (1994) tem efeitos indiretos sobre a
vegetação, pois age sobre o solo (intemperismos), a química e a física do solo, a disponibilidade hídrica
e de nutrientes, a geomorfologia e a topografia condicionam a composição da flora. A sua distribuição
é ainda condicionada pela latitude, freqüência de queimadas, profundidade do lençol freático, pastejo
e inúmeros fatores antrópicos, como mineração, agricultura, pecuária, silvicultura e queimadas.
A sazonalidade climática típica do interior da região sudeste do Brasil, também influencia na distribuição
das formações florestais (florestas estacionais), formações savânicas (cerradão e cerrado sentido
restrito) e campestres do Cerrado (RIBEIRO; WALTER, 2008).
Na área da unidade de conservação proposta estão presentes fragmentos das fitofisionomias Vereda,
Cerrado senso restrito e cerradão.
48
4.2.1. Vereda
A Vereda é um tipo de vegetação com a palmeira arbórea Mauritia flexuosa (buriti) emergente, em meio
a agrupamentos mais ou menos densos de espécies arbustivo-herbáceas (RIBEIRO & WALTER,
2008). As Veredas são circundadas por campos típicos, geralmente úmidos, e os buritis não formam
dossel (cobertura contínua formada pela copa das árvores) como ocorre no Buritizal. Na Vereda os
buritis adultos possuem altura média de 12 a 15 metros e a cobertura varia de 5% a 10%. Se
consideradas somente a ‘borda’ e o ‘meio’, a cobertura arbórea pode ser próxima de 0%. Se
considerado o ‘fundo’, a cobertura sobe para porcentagens acima de 50% em alguns trechos, com uma
vegetação densa de arbustos e arvoretas, efetivamente impenetrável em muitos locais (IVANAUSKAS
et al., 1997).
As Veredas ocorrem em solos argilosos e mal drenados, com alto índice de saturação durante a maior
parte do ano. Geralmente ocupam os vales pouco íngremes ou áreas planas, acompanhando linhas de
drenagem mal definidas, quase sempre sem murundus (microrrelevo, em forma de montículo, típico na
região das nascentes do rio Uberabinha). Também são comuns numa posição intermediária do terreno,
próximas às nascentes (olhos d’água), ou nas bordas das cabeceiras de Matas de Galeria (ROCHA et
al., 2005).
A ocorrência da Vereda condiciona-se ao afloramento do reservatório subterrâneo de água (lençol
freático), decorrente de camadas de permeabilidade diferentes em áreas de deposição de sedimentos
(ROCHA et al., 2005). As veredas exercem papel fundamental na distribuição dos rios e seus afluentes,
na manutenção da fauna do Cerrado, funcionando como local de pouso para a fauna de aves, atuando
como refúgio, abrigo, fonte de alimento e local de reprodução para a fauna terrestre e aquática (SILVA
et al., 2009).
Apesar desta importância, as Veredas têm sido progressivamente pressionadas em várias localidades
do bioma Cerrado, devido às ações agrícolas, pastoris e urbanização. Além disso, têm sido
descaracterizadas pela construção de pequenas barragens e açudes, por estradas, pela agricultura,
pela pecuária e até mesmo por queimadas excessivas. O simples pisoteio do gado pode causar
processos erosivos e compactação do solo, que afetam a taxa de infiltração de água que vai alimentar
os mananciais.
4.2.2. Cerradão
O Cerradão é a uma formação florestal do bioma Cerrado com características esclerófilas (grande
ocorrência de órgãos vegetais rijos, principalmente folhas) e xeromórficas (com características como
folhas reduzidas, suculência, pilosidade densa ou com cutícula grossa que permitem conservar água
e, portanto, suportar condições de seca) (RIBEIRO & WALTER, 2008). Caracteriza-se pela presença
preferencial de espécies que ocorrem no Cerrado sentido restrito e também por espécies de florestas,
particularmente as da Mata Seca Semidecídua e da Mata de Galeria não-Inundável. Do ponto de vista
fisionômico é uma floresta, mas floristicamente se assemelha mais ao Cerrado sentido restrito.
O Cerradão apresenta dossel contínuo e cobertura arbórea que pode oscilar de 50 a 90%, sendo maior
na estação chuvosa e menor na seca. A altura média da camada de árvores varia de oito a 15 metros,
proporcionando condições de luminosidade que favorecem a formação de camadas de arbustivas e
herbáceas diferenciadas.
49
4.2.3. Cerrado sentido restrito
O cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com
ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de queimadas (RIBEIRO &
WALTER, 2008). Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espécies
apresentando órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), que permitem a rebrota após queima ou corte.
Na época chuvosa as camadas subarbustiva e herbácea tornam-se exuberantes, devido ao seu rápido
crescimento.
Os troncos das plantas lenhosas em geral possuem cascas com cortiça espessa, fendida ou sulcada,
e as gemas apicais (responsáveis pelo crescimento dos vegetais) de muitas espécies são protegidas
por densa quantidade de pelos (BRANDÃO et al., 1992). As folhas em geral são rígidas e com
consistência de couro. Esses caracteres indicam adaptação a condições de seca (xeromorfismo).
Todavia é bem relatado na literatura que as árvores não sofrem restrição de água durante a estação
seca, pelo menos aquelas espécies que possuem raízes profundas.
O cerrado sentido restrito denso é um subtipo de vegetação predominantemente arbóreo, com
cobertura de 50% a 70% e altura média de cinco a oito metros. Representa a forma mais densa e alta
de Cerrado sentido restrito. As camadas de vegetação de arbustos e ervas são menos adensados,
provavelmente devido ao sombreamento resultante da maior cobertura das árvores. Ocorre
principalmente nos solos dos tipos Latossolos Vermelho e Cambissolos.
4.2.4. Estrutura e florística encontradas na área proposta
As áreas de vegetação nativa da Fazenda do Óleo são veredas, cerrado sentido restrito e cerradão. As
veredas estão localizadas ao longo dos cursos d’água presentes na propriedade, que constituem o
córrego do Óleo. As áreas de cerrado sentido restrito estão localizadas em pequenas áreas associadas
às veredas. Os fragmentos de cerradão estão localizados isolados, principalmente ao longo do limite
sul e sudeste da propriedade. Todas as áreas com vegetação nativa estão incluídas na área de estudo
para a criação da nova unidade de conservação.
A seguir são descritas a estrutura e florística, bem como o estado de conservação das fitofisionomias
de cerrado encontradas na área de estudo.
Vereda
As veredas da Fazenda do Óleo, todas incluídas na área do novo Parque, encontram-se em bom
estado de conservação, embora apresentem evidências de degradação provocada por incêndios,
predação ou pontos de lançamento clandestino de entulhos. Elas ocorrem em topografias mais planas
o que condiciona o alagamento do terreno, com solo classificado como Gleissolo, típico de áreas
inundadas. Os dados florísticos das veredas estudadas durante a elaboração do EIA, estão expostos
na Tabela 15.
Em boa parte das Veredas estudadas, encontra-se uma alta diversidade de espécies, apresentando
uma comunidade densa na maior parte de sua extensão, com apenas alguns indícios pontuais de
degradação (Erro! Fonte de referência não encontrada.).
50
Figura 11: Vista de Vereda bem conservada, com alta densidade de espécies e cerca (A). Aspecto de
fragmentos de Vereda mais rala (B). Registro de Mauritia flexuosa (buriti) regenerando (C) e ponto
de lançamento clandestino de entulhos próximo à Vereda (D).
51
Tabela 15: Lista de espécies amostradas nas veredas da Fazenda do Óleo, em Uberlândia, MG.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD
Alismataceae
Echinodorus sp. chapéu-de-couro herbáceo Auto
Sagittaria sp. sagitária herbáceo Auto
Anacardiaceae
Tapirira guianensis Aubl. pau-pombo arbóreo Zoo
Annonaceae
Xylopia aromatica (Lam.) Mart. pimenta-de-macaco arbóreo Zoo
Xylopia emarginata Mart. pindaíba-d'água arbóreo Zoo
Apocynaceae
Aspidosperma tomentosum Mart. peroba-do-cerrado arbóreo Anemo
Odontadenia sp. flor-de-veado liana Zoo
Aquifoliaceae
Ilex cerasifolia Reissek congonha arbóreo Zoo
Araliaceae
Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.)
Frodin morototó arbóreo Zoo
Arecaceae
Mauritia flexuosa L.f. Buriti arbóreo Zoo
Asteraceae
Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze. carrapicho-rasteiro arbustivo Zoo
Ageratum fastigiatum (Gard.) King & H.
Rob. matapasto arbustivo Anemo
Baccharis dracunculifolia DC. dente-de-dragão arbustivo Zoo
Elephantopus sp. erva-de-colégio herbáceo Anemo
Mikania sp. guaco liana Anemo
Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker pau-de-fumo arbóreo Anemo
Vernonia ferruginea Less. assa-peixe arbustivo Anemo
Vernonia sp assa-peixe arbustivo Anemo
Bignoneaceae
Arrabidae sp. cipó-uma liana Anemo
Boragenaceae
Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. ex Steud. freijó arbóreo Zoo
Bromelia sp. gravatá arbustivo Zoo
Burseraceae
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand almecega arbóreo Zoo
Cannabaceae
Trema micrantha (L.) Blume grandiuva arbóreo Zoo
Caryocaraceae
Caryocar brasiliense Cambess. pequi arbóreo Zoo
Celastraceae
Maytenus floribunda Reissek cafezinho arbóreo Zoo
Chloranthaceae
Hedyosmum brasiliense Mart. ex Miq chá-de-bugre arbóreo Zoo
Clusiaceae
Calophyllum brasiliense Cambess. guanandi arbóreo Zoo
Clusia sp. clúsia arbóreo zoo
Combretaceae
Terminalia glabrescens Mart. capitão arbóreo Anemo
Cyperaceae
Cyperus sp. tiririca herbáceo Anemo
52
Tabela 15: Lista de espécies amostradas nas veredas da Fazenda do Óleo, em Uberlândia, MG.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD
Eleocharis sp. junco herbáceo Anemo
Dicksoniaceae
Dicksonia sp samambaiaçu arbóreo Anemo
Euphorbiaceae
Croton urucurana Baill. sangra-d'água arbóreo Zoo
Ricinus communis L. mamona arbustivo Zoo
Fabaceae
Poincianella pluviosa (DC.) L.P.Queiroz sibipiruna arbóreo Auto
Copaifera langsdorffii Desf copaíba arbóreo Zoo
Leptolobium dasycarpum (Vogel) Yakovlev colher-de-pedreiro arbóreo Anemo
Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit leucena arbóreo Anemo
Machaerium barsiliense Vogel pau-sangue arbóreo Anemo
Mimosa caesalpiniifolia Benth sansão-do-campo arbustivo Anemo
Mimosa setosa Benth. unha-de-gato arbustivo Anemo
Schizolobium parahyba (Vell.) S. F. Blake guapuruvu arbóreo Anemo
Icacinaceae
Emmotum nitens (Benth.) Miers sôbro arbóreo Anemo
Malvaceae
Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna paineira arbóreo Anemo
Luehea divaricata Mart. & Zucc. açoita-cavalo arbóreo Anemo
Melastomataceae
Miconia albicans (Sw.) Triana azulinho arbustivo Zoo
Miconia chamissois Naudin beira-rio arbustivo Zoo
Miconia ferruginata DC. pixirica arbustivo Zoo
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. micônia arbustivo Zoo
Microlicia sp microlicia arbustivo Zoo
Meliaceae
Cabralea canjerana (Vell.) Mart. canjarana arbóreo Zoo
Moraceae
Ficus arpazusa Casar. figueira arbóreo Zoo
Myristicaceae
Eucalyptus sp eucalipto arbóreo Anemo
Onagraceae
Ludwigia elegans (Camb.) Hara cruz-de-malta arbustivo Anemo
Pinaceae
Pinus sp pinheiro arbóreo Anemo
Piperaceae
Piper aduncum L. falso-jaborandi arbóreo Zoo
Piper amalago L. pariparoba arbustivo Zoo
Piper corintoanum Yunck. capeba arbustivo Zoo
Piper arboreum Aubl. jaborandi arbustivo Zoo
Primulaceae
Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze pororoca arbóreo Zoo
Myrsine umbellata Mart. arbóreo Zoo
Poaceae
Andropogon sp. capim-rabo-de-burro herbáceo Anemo
Bambusa sp. bambu herbáceo Anemo
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase capim flexinha herbáceo Zoo
Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster capim braquiária herbáceo Anemo
Rubiaceae
53
Tabela 15: Lista de espécies amostradas nas veredas da Fazenda do Óleo, em Uberlândia, MG.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD
Coussarea hydrangeafolia (Benth.)
Müll.Arg. bugre-branco arbóreo Zoo
Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. veludo-branco arbóreo Zoo
Salicaceae
Casearia sylvestris Sw. guassatonga arbóreo Zoo
Sapindaceae
Matayba guianensis Aubl. camboatá arbóreo Zoo
Serjania sp. cipó-uva liana Zoo
Sapotaceae
Pouteria guianensis Aubl abiurana arbóreo Zoo
Pouteria torta (Mart.) Radlk. guapeva arbóreo Zoo
Styracaceae
Styrax camporum Pohl laranjinha-do-campo arbóreo Zoo
Styrax ferrugineus Nees & Mart. laranjinha-do-campo arbóreo Zoo
Urticaceae
Cecropia pachystachya Trécul embaúba arbóreo Zoo
Vochysiacaea
Vochysia tucanorum Mart. pau-de-tucano arbóreo Anemo
Zingiberaceae
Hedychium coronarium Koehne lírio do brejo herbáceo Anemo
Cerrado sentido restrito Os fragmentos remanescentes de cerrado sentido restrito da propriedade estão localizadas ao norte
da pista que corta a fazenda, entre as Veredas, onde ocorre isolamento por cerca nos limites com a
rodovia e as veredas. Os dados florísticos das áreas de cerrado sentido restrito amostradas estão
expostos na Tabela 16.
O cerrado sentido restrito ocorre em solo com cascalho pedregoso (Erro! Fonte de referência não
encontrada.). A comunidade arbórea é formada em sua maior extensão por poucos indivíduos
arbóreos esparsos com dossel descontinuo, atingindo alturas entre 5 e 10 metros. As principais
espécies arbóreas registradas foram: Ouratea hexasperma (folha-de-serra), Myrcia variabilis (cambuí),
Davilla elliptica (lixeirinha), Diospyros hispida (fruta-de-boi), Xylopia aromatica (pimenta-de-macaco),
Tachigali aurea (carvoeiro-borão), Miconia ferruginata (pixirica), Dalbergia miscolobium (jacarandá-d-
cerrado), Handroanthus chrysotrichus (ipê-amarelo), Vochysia rufa (pau-doce), Caryocar brasiliense
(pequi) e Kielmeyera coriacea (pau-santo). As espécies subarbustivas mais frequentes foram Bauhinia
rufa (pata-de-vaca), Solanum lycocarpum (lobeira) e Byrsonima intermedia (murici).
54
Tabela 16. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda do
Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD CERRADÃO CERRADO
Acanthaceae
Ruellia sp. viuvinha arbustivo Zoo X
Anacardiaceae
Tapirira guianensis Aubl. pau-pombo arbóreo Zoo X
Annonaceae
Annona crassiflora Mart. araticum arbóreo Zoo X
Figura 12: Solo com cascalho pedregoso (A) no cerrado sentido restrito. (B) Ouratea hexasperma (folha-de-
serra). (C) Diospyros hispida (fruta-de-boi). (D) Handroanthus chrysotrichus (ipê-amarelo). (E)
Dalbergia miscolobium (jacarandá-d-cerrado). (F) Davilla elliptica (lixeirinha). (G) Kielmeyera coriacea
(pau-santo).
55
Tabela 16. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda do
Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD CERRADÃO CERRADO
Cardiopetalum
calophyllum Schltdl. imbirinha arbóreo Zoo X
Xylopia aromatica (Lam.)
Mart. pimenta-de-macaco arbóreo Zoo X X
Apocynaceae
Aspidosperma
macrocarpon Mart. peroba arbóreo Anemo X
Aspidosperma
tomentosum Mart. peroba-do-cerrado arbóreo Anemo X
Himatanthus obovatus
(Müll.Arg.) Woodson leiteiro arbustivo Anemo X
Araliaceae
Schefflera macrocarpa
(Cham. & Schltdl.) Frodin morototó arbóreo Zoo X
Asteraceae
Aspillia sp. bem-me-quer arbustivo Anemo X
Baccharis dracunculifolia
DC. dente-de-dragão arbustivo Zoo X
Piptocarpha rotundifolia
(Less.) Baker pau-de-fumo arbóreo Anemo X X
Vernonia ferruginea Less. assa-peixe arbustivo Anemo X
Bignoneaceae
Handroanthus
chrysotrichus (Mart. ex
DC.) Mattos
ipê-amarelo arbóreo Anemo X
Handroanthus ochraceus
(Cham.) Mattos ipê-amarelo arbóreo Anemo X X
Zeyheira digitalis (Vell.)
L.B. Sm. & Sandwith bolsa-de-pastor arbustivo Anemo X
Bixaceae
Bixa orellana L. urucum arbóreo Auto X
Boraginaceae
Cordia trichotoma (Vell.)
Arráb. ex Steud. louro-pardo arbóreo Anemo X
Burseraceae
Protium heptaphyllum
(Aubl.) Marchand almecega arbóreo Zoo X
Caryocaraceae
Caryocar brasiliense
Cambess. pequi arbóreo Zoo X X
Celastraceae
Cheiloclinium cognatum
(Miers.) A.C.Sm. bacupari arbóreo Zoo X
Plenckia populnea
Reissek macieira arbóreo Zoo X
56
Tabela 16. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda do
Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD CERRADÃO CERRADO
Salacia crassifolia (Mart.
ex Schult.) G.Don bacupari-do-cerrado arbóreo Zoo X
Clusiaceae
Kielmeyera coriacea
Mart. & Zucc. pau-santo arbóreo Anemo X X
Combretaceae
Terminalia argentea
(Cambess.) Mart. capitão-do-campo arbóreo Anemo X X
Terminalia glabrescens
Mart. capitão arbóreo Anemo X
Connaraceae
Connarus suberosus
Planch. ruiva arbóreo Zoo X X
Rourea induta Planch. chapeudinha arbustivo Zoo X
Cyperaceae
Cyperus sp tiririca herbáceo Anemo X
Dilleneaceae
Curatella americana L. lixeira arbóreo Anemo X X
Davilla elliptica A.St.-Hil. lixeirinha arbóreo Zoo X X
Ebenaceae
Diospyros hispida A.DC. caqui-bravo arbóreo Zoo X X
Erythroxylaceae
Erythroxylum daphnites
Mart. mercurio-da-mata arbustivo Zoo X
Erythroxylum deciduum
A.St.-Hil. fruta-de-sagui arbustivo Zoo X
Erythroxylum suberosum
A.St.-Hil. muxiba-curta arbustivo Zoo X
Erythroxylum tortuosum
Mart. muxiba-comprida arbustivo Zoo X
Euphorbiaceae
Maprounea guianensis
Aubl maprunea arbóreo Zoo X
Phyllanthus sp filantus herbaceo Zoo X X
Fabaceae
Andira vermifuga (Mart.)
Benth. angelim arbóreo Zoo X X
Bauhinia sp pata-de-vaca arbóreo Zoo X
Bauhinia rufa (Bong.)
Steud. pata-de-vaca arbóreo Zoo X X
Bowdichia virgilioides
Kunth sucupira-preta arbóreo Anemo X
Copaifera langsdorffii
Desf. óleo-de-copaíba arbóreo Zoo X
Crotalaria sp chiquechique herbaceo Auto X
57
Tabela 16. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda do
Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD CERRADÃO CERRADO
Dalbergia miscolobium
Benth. caviúna arbóreo Anemo X X
Dimorphandra mollis
Benth. faveiro arbóreo Auto X X
Enterolobium
gummiferum (Mart.)
J.F.Macbr.
tamboril arbóreo Auto X X
Inga sessilis (Vell.) Mart. ingá-amarelo arbóreo Zoo X
Leptolobium dasycarpum
(Vogel) Yakovlev colher-de-pedreiro arbóreo Anemo X
Machaerium opacum
Vogel jacarandá arbóreo Anemo X
Mimosa setosa Benth. unha-de-gato arbustivo Anemo X
Pterodon pubecens
(Benth.) Benth. sucupira-preta arbóreo Anemo X
Stryphnodendron
adstringens (Mart.) Cov. barbatimão arbóreo Auto X
Vatairea macrocarpa
(Benth.) Ducke amargosão arbóreo Zoo X
Tachigali aurea Tul. carvoeiro-borão arbóreo Zoo X
Lauraceae
Ocotea corymbosa
(Meisn.) Mez canela-miúda arbóreo Zoo X
Ocotea minarum (Nees &
Mart.) Mez canelinha arbóreo Zoo X
Malpighiaceae
Byrsonima coccolobifolia
Kunth murici-vermelho arbóreo Zoo X
Byrsonima intermedia murici arbustivo Zoo X
Byrsonima pachyphylla
A.Juss. murici arbóreo Zoo X
Byrsonima verbascifolia
(L.) DC. murici arbóreo Zoo X
Malvaceae
Eriotheca gracilipes
(K.Schum.) A.Robyns paineira-do-cerrado arbóreo Anemo X
Luehea divaricata Mart.
& Zucc. açoita-cavalo arbóreo Zoo X
Melastomataceae
Miconia albicans (Sw.)
Triana azulinho arbustivo Zoo X X
Miconia ferruginata DC. pixirica arbustivo Zoo X
Miconia pohliana Cogn. pixirica arbustivo Zoo
Meliaceae
58
Tabela 16. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda do
Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD CERRADÃO CERRADO
Cabralea canjerana
(Vell.) Mart. cedro-bravo arbóreo Zoo X
Guarea guidonia (L.)
Sleumer marinheiro arbóreo Zoo X
Moraceae
Brosimum gaudichaudii
Trécul mama-cadela arbóreo Zoo X
Myristicaceae
Virola sebifera Aubl. virola arbóreo Zoo X
Myrtaceae
Blepharocalyx salicifolius
(Kunth) O.Berg araçá arbóreo Zoo
Campomanesia velutina
(Cambess.) O.Berg veludinho arbóreo Zoo X
Eucalyptus sp eucalipto arbóreo Anemo X
Eugenia dysenterica DC. pitanga arbóreo Zoo X
Eugenia florida DC. guamirim arbóreo Zoo X
Eugenia punicifolia
(Kunth) DC. pitanga arbóreo Zoo X
Myrcia splendens (Sw.)
DC. goiabeira-do-campo arbóreo Zoo X
Myrcia variabilis DC goiabeira-do-cerrado arbustivo Zoo X
Psidium acutangulum
DC. araçá-pêra arbóreo Zoo X
Nyctaginaceae
Guapira graciliflora
(Mart. ex Schmidt)
Lundell
guapira arbóreo Zoo X X
Guapira noxia (Netto)
Lundell maria-mole arbóreo Zoo X X
Neea theifera Oerst. caparosa arbóreo Zoo X X
Ochnaceae
Ouratea hexasperma
(A.St.-Hil.) Baill. oratea arbóreo Zoo X X
Piperaceae
Piper sp falso-jaborandi arbustivo Anemo X
Poaceae
Andropogon sp capim-rabo-de-burro herbaceo Anemo X X
Echinolaena inflexa
(Poir.) Chase capim flexinha herbaceo Zoo X X
Urochloa decumbens
(Stapf) R.D.Webster capim braquiária herbaceo Anemo X X
Proteaceae
Roupala montana Aubl. carne-de-vaca arbóreo Anemo X X
Rubiaceae
59
Tabela 16. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda do
Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME-POPULAR HÁBITO SD CERRADÃO CERRADO
Cordiera sessilis (Vell.)
Kuntze marmelada-de-cachorro arbóreo Zoo X
Palicourea rigida Kunth bate-caixa arbustivo Zoo X
Psychotria sp psicótica arbustivo Zoo X
Rutaceae
Zanthoxylum riedelianum
Engl. mamica-de-porca arbóreo Zoo X
Zanthoxylum rhoifolium
Lam. mamica-de-porca arbóreo Zoo X
Salicaceae
Casearia sylvestris Sw. guassatonga arbóreo Zoo X X
Sapindaceae
Matayba guianensis
Aubl. camboatá arbóreo Zoo X
Sapotaceae
Pouteria ramiflora
(Mart.) Radlk guapeva arbóreo Zoo X
Pouteria torta (Mart.)
Radlk. guapeva arbóreo Zoo X
Solanacea
Solanum lycocarpum
A.St.-Hil. lobeira arbustivo Zoo X X
Styracaceae
Styrax camporum Pohl laranjinha-do-campo arbóreo Zoo X
Styrax ferrugineus Nees
& Mart. Laranjinha-do-cerrado arbóreo Zoo X
Symplocaceae
Symplocos pubescens
Klotzsch ex Benth. sete-mentiras arbóreo Zoo X
Urticaceae
Cecropia pachystachya
Trécul embaúba arbóreo Zoo X
Vochysiaceae
Qualea grandiflora Mart. pau-terra arbóreo Anemo X X
Qualea multiflora Mart. pau-terra-de-folha-miúda arbóreo Anemo X X
Qualea parviflora Mart. fígado-de-galinha arbóreo Anemo X X
Vochysia tucanorum
Mart. pau-de-tucano arbóreo Anemo X
Vochysia rufa Mart. pau-doce arbóreo Anemo X
Cerradão
Os remanescentes de cerradão estão concentrados ao sul da propriedade e ocorrem em solos
profundos, bem drenados, de média e baixa fertilidade, ligeiramente ácidos. A comunidade arbórea
forma dossel contínuo com indivíduos atingindo alturas entre oito e 15 metros. Em sua maior extensão,
60
os fragmentos de Cerradão da comunidade possuem um intenso efeito de borda, havendo maior
adensamento de indivíduos nas áreas nucleares destes fragmentos, bem como menor frequência de
clareiras (Erro! Fonte de referência não encontrada.). Os dados florísticos dos fragmentos de
cerradão estudados estão expostos na Tabela 16.
Nessas áreas nucleares foram alocadas as parcelas para os estudos fitossociológicos. As principais
espécies arbóreas que compõem do dossel são: Xylopia aromatica (pimenta-de-macaco), Copaifera
langsdorffii (copaíba), Pterodon pubescens (sucupira-branca), Qualea grandiflora (pau-terra-grande),
Pouteria ramiflora (curriola), Ocotea minarum (canela-vassoura), Protium heptaphyllum (almecega) e
Vatairea macrocarpa (amargosão) (Erro! Fonte de referência não encontrada.).
Figura 13. (A) Borda do fragmento de cerradão com alta densidade de trepadeiras e (B) clareira
no interior do fragmento.
Figura 14. Espécies comuns no cerradão. (A) Xylopia aromatica (pimenta-de-macaco). (B) Qualea
grandiflora (pau-terra-grande). (C) Copaifera langsdorffii (copaíba). (D) Protium
heptaphyllum (almecega). (E) Pouteria ramiflora (curriola).
61
5. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO SOCIOECONÔMICO
5.1. Aspectos demográficos do Município
Nas Tabelas 18, 19 e 20 estão sintetizados os aspectos mais relevantes relacionados ao crescimento
populacional de Uberlândia, que teve um ritmo acelerado no período de 1996 a 2000, com um incremento
superior a 14% no período, que representa uma taxa anualizada de 3,31%. Entre 2000 e 2010, verifica-se
um arrefecimento das taxas de crescimento, todavia com maior incremento relativo de população, com
crescimento acumulado de 20,5% e taxa anual de 2,051%.
O atual quadro das características demográficas do município de Uberlândia é semelhante ao panorama
encontrado na maior parte do país, caracterizando-se por um processo de aceleração e generalização do
fenômeno urbano. Nos últimos quarenta anos, foram significativas as mudanças na dinâmica demográfica
que podem ser verificadas através da análise da evolução das taxas de crescimento populacional, do grau
de urbanização e dos índices de densidade populacional.
Tabela 18 - Evolução da População do Município de Uberlândia – 1996 a 2010
Crescimento Populacional/Ano
Área 1996¹ 2000² 2001³ 2002³ 2003³ 2004³ 2005³ 2006³ 20104
Urbana 431.744 488.982 505.167 521.888 539.162 556.133 570.982 585.719 587.266
Rural 7.242 12.232 12.637 13.055 13.487 13.909 14.280 14.649 16.747
Total 438.986 501.214 517.804 534.943 552.649 570.042 585.262 600.368 604.013
Fonte:IBGE/Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano
Nota: 1. Contagem populacional/IBGE/1996.
2. Censo Demográfico/IBGE/ 2000
3. Estimativa Populacional
4. Censo Demográfico/IBGE/2010
Tabela 19 – Evolução da Densidade Demográfica do Município de Uberlândia – 1996 a 2010
Densidade Demográfica
Área Superfície
(km²)
Habitantes / km²
1996¹ 2000² 2001³ 2002³ 2003³ 2004³ 2005³ 2006³ 20104
Urbana 219,00 1.971,43 2.232,79 2.306,70 2.383,05 2.462,00 2.539,42 2.607,22 2.674,51 2.681,57
Rural 3.896,82 2,85 3,13 3,24 3,35 3,46 3,57 3,66 3,76 4,29
Total 4.115,82 106,66 121,77 125,80 129,97 134,27 138,50 142,20 145,87 142,71
Fonte: IBGE
Nota: ¹Contagem Populacional/IBGE - 1996
²Censo Demográfico/IBGE - 2000
³Estimativa Populacional
4. Censo Demográfico/IBGE/2010
62
O fato mais marcante do processo de urbanização é dado pelos movimentos migratórios, ou seja, saída da
população das pequenas cidades da região, saída da população do campo em razão da modernização
agropecuária e pela chegada de imigrantes de outros estados.
A pirâmide etária da população mostra que o município apresenta alteração na forma piramidal típicas das
regiões em desenvolvimento econômico acentuado, ou seja, a base da pirâmide apresenta totais
populacionais inferiores as faixas etárias subsequentes o que denota um arrefecimento do crescimento
vegetativo desses municípios. Por outro lado, melhores condições de atendimento a saúde e acesso de
melhores condições de moradia, prolongam expectativa de vida e acentua a participação das faixas etárias
do topo da pirâmide, conforme Figura 15.
Figura 15 – Pirâmide etária do município de Uberlândia – MG.
Fonte: Censo Demográfico/IBGE/2010.
Tabela 20 – Crescimento Populacional em Uberlândia (1996-2010)
Censo Taxas de Crescimento
20001 20102 Anual Período
501.214 604.013 2,051% 20,5% Fonte: IBGE
Nota: 1. Censo Demográfico/IBGE – 2000.
2. Censo Demográfico/IBGE – 2010
63
5.2. Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal (IDH-M)
O IDH-M é um indicador sintético, de utilização mundial, que permite a avaliação simultânea de algumas
condições básicas de vida da população de uma dada localidade, abrangendo uma síntese dos índices de
longevidade, educação e renda para caracterizar o seu grau de desenvolvimento humano dessas
localidades.
Além do IDH-M para os municípios, obteve-se o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do Estado de
Minas Gerais para comparação da situação dos municípios frente ao Estado, conforme observado nas
Tabelas 21 e 22.
Tabela 21 - Comparativo do Índice de Desenvolvimento Humano de Uberlândia (MG) com o
Estado de Minas Gerais e Brasil – 1970/2010
Índice - IDH
Município de Uberlândia Estado Brasil
1970 1980 1991 2000 2010 2010 2010
Total 0, 567 0, 746 0, 777 0, 830 0,789 0, 731 0, 727
Renda 0, 587 0, 954 0, 726 0, 768 0,776 0, 730 0, 739
Longevidade 0, 490 0, 600 0, 758 0, 802 0,885 0, 838 0, 710
Educação 0, 625 0, 683 0, 848 0, 920 0,716 0, 638 0, 637
Ranking no
Brasil - - 76º 134º 71° 9º -
Ranking no
Estado 3º 1º 3º 7º 3° - -
Fonte: IPE, Ministério do Planejamento, 2010. Org.: Michelotto, 2014.
Tabela 22 - Evolução dos indicadores componentes do IDH-M de Uberlândia (MG) – 1970/2010
Componentes do IDHM
Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal
1970 1980 1991 2000 2010
0, 567
0, 756
0, 778
0,830
0,789
Esperança de vida ao nasce (em anos) 54,38 61,01 70,45 73,11 78,09
Taxa de alfabetização de adultos (%) 91,5 94,55 95,87
Taxa Bruta de Frequência Escola (%) 71,31 86,97 89,98
Renda per capita (em R$ de 2000) 306,29 389,32 1001,45
Índice de longevidade (IDHM-L) 0, 490 0, 600 0, 758 0, 802 0,885
Índice de educação (IDHM-E) 0, 625 0, 683 0, 848 0, 920 0,716
Índice de renda (IDHM-R) 0, 587 0, 954 0, 728 0, 768 0,776
Classificação em Minas Gerais 3º 7º 3°
Classificação no Brasil 73º 131º 71°
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013. Org.: Michelotto, 2014.
64
Em 2000, Uberlândia com IDH-M de 0,83, alcançou o índice relativo às localidades com alto
desenvolvimento humano (0,800 a 1,000) apresentando, inclusive, índice superior à média do Estado de
Minas Gerais (0,766).
Em 2010, Uberlândia ocupava a 71a posição no ranking dos municípios brasileiros e a 3a posição entre
os municípios mineiros, com IDH-M de 0,789.
5.3. Caracterização do Setor Oeste
A área proposta para a criação do PNM das Garças insere-se na zona oeste do município de Uberlândia,
composta por 19 bairros e grande extensão territorial, considerada com um eixo vetorial de crescimento
da cidade. Atualmente, é ocupada basicamente por bairros populares.
O Setor Oeste de Uberlândia, segundo dados do IBGE de 2010, elaborados pela Diretoria de Pesquisas
Integradas da Secretaria de Planejamento Urbano possui uma população de 140.539 habitantes, sendo o
mais populoso da cidade, seguido do Setor Leste com 137.000, Setor Sul com 125.842, Setor Norte com
93.267 3 Setor Central com 84.903 habitantes.
Neste setor da cidade a infraestrutura é satisfatória, com eixos comerciais nas principais avenidas, centros
de compras, equipamentos públicos e empreendimentos privados diversificados de comércio e serviços.
É notável a densidade populacional dos bairros Luizote de Freitas, Jardim Patrícia, Dona Zulmira e
Planalto.
Com relação aos Parques Municipais, como demonstrado no item 2.1 deste estudo, o Setor Oeste, apesar
de dois Parque Municipais existentes atualmente, ambos de pequeno porte, pela sua importância
demográfica, carece de um novo Parque aberto ao uso público.
Para a caracterização da infraestrutura de serviços sociais e equipamentos comunitários na região do novo
Parque, foram realizados estudos expeditos em campo e consulta ao Banco de Dados Integrados do
Município de Uberlândia.
A região do novo PNM das Garças, especificamente o setor oeste da cidade, na qual os futuros moradores
poderão ter acesso a esse novo equipamento público, caracteriza-se por uma média densidade em
instituições públicas de serviços. O novo parque agrega um importante diferencial à região que conta com
apenas duas unidades de esportivas de uso comunitário, o Grêmio Esportivo e Cultural dos Funcionários
Públicos do Município de Uberlândia e o Poliesportivo Tancredo Neves e duas praças publicas de porte,
Morum Bernardino e Theodora Santos.
O novo PNM das Garças, com 157 há e grandes áreas destinadas ao uso público seguramente trará um
grande incremento na qualidade de vida da população da Zona Oeste.
65
Com relação a acessibilidade da população ao novo Parque, a área onde está localizado é bem provida
de transporte coletivo com 09 linhas de ônibus, que passam pelas suas imediações.
5.4. Demanda Potencial de Uso Público e Educação Ambiental
No âmbito deste trabalho de criação da nova Unidade de Conservação não foi possível quantificar a
demanda de uso público e educação ambiental, com base nas informações disponíveis, o que deverá
ser avaliado com melhor precisão durante a elaboração do Plano de Manejo.
Mesmo assim, por meio de entrevistas e com base nos dados demográficos da região Oeste da cidade
é possível inferir que a nova UC cumprirá uma importante função com relação a estes objetivos, não
somente em relação à Zona Oeste como também na complementariedade com os demais Parque
Municipais.
Em linhas gerais pode ser constatado que a população de Uberlândia tem uma cultura de uso dos
parques públicos, bastante importante e que há uma preocupação do município com a gestão e
ampliação desses espaços. Foi possível identificar também a complementariedade dos parques
existentes em relação as suas vocações e usos.
Parque do Sabiá: basicamente voltado ao uso público de lazer e atividades esportivas, inserido na
área mais consolidada da cidade e com função paisagística de destaque. No entanto, sua capacidade
de suporte com relação à visitação pública, segundo informações coletadas, está praticamente no
limite, principalmente nos finais de semana quando é visitado por pessoas de todas as regiões da
cidade. O Novo Parque seguramente contribuirá para reduzir essa pressão.
Parque Victorio Siquierolli: o seu uso é de natureza distinta do Parque Sabiá, basicamente voltado
para a conservação, educação ambiental e pesquisa em biodiversidade do cerrado. É muito bem
estruturado quanto aos seus objetivos, em especial a qualidade do Museu do Cerrado. Conta com
parcerias com a UFU e convênios com o Ministério do Meio Ambiente. O parque é frequentado
basicamente por escolas e não tem vocação, nem espaço, para atender a demanda de usuários mais
interessados em lazer e atividades esportivas. O novo Parque, também uma Unidade de Conservação
de Proteção Integral, poderá estabelecer inúmeras sinergias e cooperação com o Parque Siqueiroli e
principalmente aumentar a oferta de espaço para educação ambiental.
Parque Linear Rio Uberabinha: localizado na região mais central da cidade, protege as margens do
rio responsável pelo abastecimento da cidade e que recebeu importante obra de despoluição. Os
equipamentos disponíveis no parque linear são limitados a atividades de caminhadas e exercícios
físicos.
Parque Linear do Óleo: está em implantação, na mesma região da Fazenda do Óleo. Essa situação
é muito favorável para o futuro PNM das Garças, e para a população, visto que poderá integrar
atividades de uso público, caminhadas, ciclovias, etc., ao novo Parque.
Na Zona Oeste, considerando apenas as Escolas Municipais, atualmente existem 55.765 estudantes
matriculados. Sendo: 8.158 em creches, 10.711 em pré-escola, 35.490 no 1º grau, 62 pessoas com
deficiência e 1344 em educação para jovens e adultos. Somando-se os 1.510 alunos de escola
66
particulares e mais 10.138 das Escolas Estaduais, apenas na região Oeste tem-se um contingente de
67.413 de crianças e jovens que terão uma nova possibilidade de espaço para educação ambiental e
lazer nas proximidades dos equipamentos de ensino.
Os números acima, sem considerar os benefícios para a população em geral, já são suficientemente
convincentes dos benefícios que o novo Parque trará para a oferta de espaço para a atividades de
educação ambiental, atividades esportivas e de lazer ao ar livre e contemplação da natureza.
67
6. PROPOSTA DE GESTÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
Considerando-se a legislação vigente que disciplina os processos de gestão e implantação de Unidades Federais,
nos âmbitos municipal, estadual e federal, bem como a experiência acumulada pelos órgãos gestores destas
áreas protegidas, pode-se afirmar que a elaboração de Proposta de Gestão de uma Unidade de Conservação
não pode desconsiderar alguns elementos fundamentais a saber: a) qual o modelo de gestão a ser utilizado,
considerando-se a categoria da UC, o tipo de uso que se pretende, a nível de envolvimento da população local,
dentre outros, b) quais as ferramentas de planejamento e gestão das ações, projetos e programas voltados
para a implantação e consolidação da UC, c) definição de programas emergenciais a serem implementados até
que que elabore e aprove o Plano de Manejo da UC e d) os mecanismos de financiamento que garantam a
consecução das metas estabelecidas para a implantação, manutenção e consolidação da UC.
a) Modelo de Gestão:
a.1) No Brasil, a grande maioria das Unidades de Conservação (cerca de 1800 UCs) instituídas pelos governos federal, estaduais e municipais, são geridas pelas próprias estruturas governamentais que proveem todos os recursos necessários à gestão. Predominam as estruturas da administração direta, autarquias e as fundações públicas, todas em regime jurídico especial do setor público, que tem reconhecidamente, graves limitações do ponto de vista gerencial e disputam os escassos recursos orçamentários com outras prioridades como saúde, educação, segurança pública, etc.
Nos últimos anos, esse modelo de gestão de UC, quase único no Brasil, vem sendo alvo de um intenso debate no âmbito governamental e na sociedade civil. São evidentes as dificuldades do setor público de cumprir de forma adequada as suas atribuições, especialmente as de proteção da biodiversidade e outros atributos pelos quais estas UC foram criadas, ao mesmo tempo em que se verifica o crescente interesse de participação da sociedade civil e mesmo de empresas privadas interessadas em explorar economicamente os atrativos e espaços públicos existentes nas UC. Como buscamos mostrar a seguir, na própria Lei do SNUC e principalmente no Decreto Federal nº 4.340 de 2002, que a regulamentou, estão previstas possibilidades legais para que os órgãos gestores procurem formas alternativas de gerenciamento das UC e do financiamento dos recursos necessários para o seu custeio e investimentos. No Decreto Federal nº 4.340 de 2002, já estão previstas alternativas e possibilidades de gestão compartilhada das UC. Está estabelecido que:
”Art. 30. As unidades de conservação podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão”.
Sendo que a gestão compartilhada de unidade de conservação por OSCIP é regulada por termo de parceria firmado com o órgão executor, nos termos da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999 e as condições detalhadas no Capitulo VI do SNUC, estabelecendo as condições e demais regramentos para esta alternativa.
Todavia, mesmo com a previsão legal para a gestão e financiamento alternativos, muito pouco se avançou nessas possibilidades.
68
São poucas e recentes as experiências implantadas nas UC federais e estaduais. Com o intuito de subsidiar essa discussão, recentemente, o Instituto Semeia, instituição sem fins lucrativos, que tem como missão “transformar as áreas protegidas em orgulho para todos os brasileiros” e ser “uma referência na articulação entre os setores público e privado para o desenvolvimento e aplicações de modelos de gestão inovadores, que valorizem a conservação, o uso público e a sociodiversidade do entorno das áreas protegidas, com foco em parques”, publicou um alentado estudo denominado “Modelos de Gestão Aplicáveis às Unidades de Conservação do Brasil” (Instituto Semeia, 2015,59p.). Nesse estudo, são discutidos os diversos modelos de gestão possíveis de serem adotados pelas UC, e foram separados em: Estatais: estruturas da administração direta; estruturas da administração indireta (autarquias e fundações públicas); estruturas da administração indireta (empresas públicas e sociedades de economia mista); e, Não Estatais: estruturas do terceiro setor (OS e OSCIP); ONGS e organizações colaborativas e estruturas de mercado- concessões (concessões não prestacionais, concessões prestacionais, concessões integradas e PPP). Para cada tipo de estrutura, foram analisados os prós e contras com relação a: responsabilidade pelos investimentos na UC, administração de riscos, eficiência na gestão da UC e controle de resultados e fiscalização, perfil dos funcionários, além da legislação de referência. Embora não caiba, no espaço deste estudo de criação do PNM das Garças, discutir detalhadamente cada uma das possibilidades de gestão levantadas pelo trabalho do Instituto Semeia, fica a recomendação da Secretaria do Meio Ambiente de promover no âmbito do Conselho Consultivo do novo parque e de forma ampliada com as demais representações da sociedade civil de Uberlândia a discussão do modelo de gestão que queremos construir em busca da excelência e sustentabilidade do novo Parque e que o ato de criação da nova UC tenha a previsão de sua gestão considerando as possibilidades previstas em lei. Como recomendação, vale registrar a principal conclusão do estudo do Instituto Semeia: “Na verdade não existe um modelo único a ser utilizado para as UC do Brasil, permanecendo uma miríade de opções que devem se adequar, em maior ou menor escala, as características de cada situação concreta que as autoridades responsáveis pela gestão das Unidades de Conservação vierem a enfrentar”.
a.2) Outra questão a ser reafirmada é a imposição de um modelo de gestão que garanta, de forma
efetiva, a real e permanente participação de todos os segmentos interessados na implantação eficaz da unidade de conservação, de modo a garantir o cumprimento de seus objetivos.
A Lei do SNUC que os Parque Naturais Municipais devem constituir um Conselho Consultivo da UC, presidido pelo representante do órgão responsável por sua administração e composto por representantes de órgãos públicos e representações da sociedade civil. O Decreto Federal 4.340 de 2002, no seu Capitulo V, abaixo transcrito, regulamenta as linhas gerais da composição, atribuições e funcionamento dos Conselhos da UC.
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“Art. 17. As categorias de unidade de conservação poderão ter, conforme a Lei no 9.985, de 2000, conselho consultivo ou deliberativo, que serão presididos pelo chefe da unidade de conservação, o qual designará os demais conselheiros indicados pelos setores a serem representados. § 1° A representação dos órgãos públicos deve contemplar, quando couber, os órgãos ambientais dos três níveis da Federação e órgãos de áreas afins, tais como pesquisa científica, educação, defesa nacional, cultura, turismo, paisagem, arquitetura, arqueologia e povos indígenas e assentamentos agrícolas. § 2° A representação da sociedade civil deve contemplar, quando couber, a comunidade científica e organizações não-governamentais ambientalistas com atuação comprovada na região da unidade, população residente e do entorno, população tradicional, proprietários de imóveis no interior da unidade, trabalhadores e setor privado atuantes na região e representantes dos Comitês de Bacia Hidrográfica. § 3° A representação dos órgãos públicos e da sociedade civil nos conselhos deve ser, sempre que possível, paritária, considerando as peculiaridades regionais. § 4° A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP com representação no conselho de unidade de conservação não pode se candidatar à gestão de que trata o Capítulo VI deste Decreto. § 5° O mandato do conselheiro é de dois anos, renovável por igual período, não remunerado e considerado atividade de relevante interesse público. § 6° No caso de unidade de conservação municipal, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, ou órgão equivalente, cuja composição obedeça ao disposto neste artigo, e com competências que incluam aquelas especificadas no art. 20 deste Decreto, pode ser designado como conselho da unidade de conservação. Art. 18. A reunião do conselho da unidade de conservação deve ser pública, com pauta preestabelecida no ato da convocação e realizada em local de fácil acesso. Art. 19. Compete ao órgão executor: I - convocar o conselho com antecedência mínima de sete dias; II - prestar apoio à participação dos conselheiros nas reuniões, sempre que solicitado e devidamente justificado. Parágrafo único. O apoio do órgão executor indicado no inciso II não restringe aquele que possa ser prestado por outras organizações. Art. 20. Compete ao conselho de unidade de conservação: I - elaborar o seu regimento interno, no prazo de noventa dias, contados da sua instalação; II - acompanhar a elaboração, implementação e revisão do Plano de Manejo da unidade de conservação, quando couber, garantindo o seu caráter participativo; III - buscar a integração da unidade de conservação com as demais unidades e espaços territoriais especialmente protegidos e com o seu entorno; IV - esforçar-se para compatibilizar os interesses dos diversos segmentos sociais relacionados com a unidade; V - avaliar o orçamento da unidade e o relatório financeiro anual elaborado pelo órgão executor em relação aos objetivos da unidade de conservação;
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VI - opinar, no caso de conselho consultivo, ou ratificar, no caso de conselho deliberativo, a contratação e os dispositivos do termo de parceria com OSCIP, na hipótese de gestão compartilhada da unidade; VII - acompanhar a gestão por OSCIP e recomendar a rescisão do termo de parceria, quando constatada irregularidade; VIII - manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto na unidade de conservação, em sua zona de amortecimento, mosaicos ou corredores ecológicos; e IX - propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e otimizar a relação com a população do entorno ou do interior da unidade, conforme o caso”.
Assim, considerando o regramento acima descrito, propõe que a Secretaria do Meio Ambiente, tome as inciativas necessárias para que o Conselho Consultivo seja constituído no prazo de 90 dias, a contar do ato de criação do PNM das Garças. Tais inciativas devem garantir a ampla divulgação junto à sociedade civil, especialmente nos bairros do entorno da nova UC e entidades representativas com atuação na zona Oeste do Município, bem como nos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, órgãos de pesquisa, universidades, Comitê de Bacia Hidrográfica, etc. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente deve estabelecer as regras para a representação das entidades da sociedade civil com antecedência apropriada para sua divulgação e debate público. A representação do setor público deve ser equilibrada entre os três níveis da Federação e contemplar a participação dos organismos ambientais. O Conselho Consultivo deverá ter composição paritária entre os órgãos governamentais e representações da sociedade civil.
b) Ferramentas de Planejamento e Gestão:
O SNUC define no Cap.1, Art.2º, XVII o plano de manejo como o “documento técnico mediante o qual,
com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento
e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação
das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade”
Mais adiante, o diploma legal detalha os alcances e condições para a elaboração do plano de manejo.
“Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo. § 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas. § 3o O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação”.
O regramento estabelece ainda que: “Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos.
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Parágrafo único. Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, (...)”.
O Decreto Municipal que propõe a criação do Parque Natural Municipal do Córrego do Óleo, determina que o Plano de Manejo da nova Unidade de Conservação seja desenvolvido num prazo de 18 (dezoito) meses a partir da sua criação, sob a responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente, órgão da administração municipal designado para a sua gestão.
c) Normas transitórias até a aprovação do Plano de Manejo:
No Estado de Minas Gerais, a Lei Estadual nº 20.922 de 2013, no seu Art.44. § 1º, que:
“O ato de criação de Unidade de Conservação estabelecerá as regras de transição para o uso dos recursos naturais da área demarcada, válidas até a aprovação do plano de manejo”.
Os estudos desenvolvidos, principalmente aqueles que analisam as principais ameaças à integridade dos recursos naturais que a nova UC se propõe proteger, sugerem a necessidade de estabelecer normas transitórias, até a aprovação do plano de manejo. As medidas abaixo foram ajustadas entre as equipes da Secretaria do Meio Ambiente e da ITV Empreendimentos Imobiliários, como parte do acordo de cooperação para a criação do novo Parque.
a) No prazo de 18 (dezoito) meses, promover o isolamento físico, através do cercamento adequado, das Áreas de Preservação Permanente - APP e áreas úmidas, desmembradas das glebas da Fazenda do Óleo, que compõe a nova unidade de conservação. A sua implementação será de responsabilidade da ITV Empreendimentos Imobiliários, mediante estudo técnico coordenado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente;
b) No prazo de 12 meses, promover a sinalização dos limites da unidade de conservação nos pontos
de maior pressão antrópica, especialmente, naqueles em que a deposição de lixo é mais crítica;
c) Estabelecer a proibição da visitação e uso público das áreas de APPs, exceto as de caráter científico e previamente autorizadas pelo gestor da unidade de conservação,
d) Implementação imediata de medidas básicas de fiscalização e vigilância da área da unidade de conservação, sendo que o os proprietários das glebas da Fazenda do Óleo ficarão com a obrigação de fazer a vigilância das área de APPs e dominiais incorporadas na criação do novo PNM. A vigilância ficaará a cargo da ITV Empreendimentos Imobiliários se dará pelo prazo de 5 (cinco) anos a partir da criação do, sob supervisão do órgão gestor da unidade de conservação.
e) Implementar, no prazo de 12 (doze) meses, sob coordenação da Secretaria do Meio Ambiente do
município, campanha de divulgação e conscientização da população do entorno do novo Parque, sobre seus objetivos e a necessidade e importância da participação da sociedade civil.
Além das medidas transitórias acima descritas, em função da área proposta estar totalmente inserida no perímetro urbano foi sugerido o regramento básico da Zona de Amortecimento da nova UC, no ato de sua criação.
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O SNUC no Art. 2º. XVIII – define zona de amortecimento como “o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”. No Art.25 §1º do SNUC diz que todas as Unidades de Conservação, exceto Área de Proteção Ambiental (APA) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), devem possuir uma zona de amortecimento, cujas normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento (e dos corredores ecológicos), serão estabelecidas pelo órgão responsável pela administração da unidade. Assim, considerando que:
a) A área da nova unidade de conservação, bem como o seu entorno, já está inserido no perímetro urbano do município, e portanto não há como contrariar o Parágrafo Único do Art.49 do SNUC, que estabelece que a zona de amortecimento das unidades de conservação uma vez definida formalmente não pode ser transformada em zona urbana;
b) A UC proposta está integralmente localizada numa região totalmente urbanizada, com vários bairros já consolidados nos limites da nova Unidade de Conservação, e que,
c) O Art.25. §2º do SNUC estabelece que “os limites da zona de amortecimento e corredores
ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1º poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente”; (grifo nosso)
A Secretaria do Meio Ambiente propõe definir no Decreto de criação do PNM das Garças, sem prejuízo da sua discussão mais aprofundada quando da elaboração do Plano de Manejo, que a zona de amortecimento do PNM das Garças fique delimitada pelas vias marginais a serem implantadas no seu entorno imediato e às demais vias públicas já estabelecidas, respeitadas as normas estabelecidas pela legislação municipal de zoneamento, uso e parcelamento do solo.
d) Mecanismos de Financiamento:
Quanto aos recursos para a implantação e gestão das UC o mesmo Decreto prevê que regulamenta o SNUC aponta para a possibilidade das UC buscarem outras fontes de recursos, que não sejam do orçamento do poder público.
“Art. 34. Os órgãos responsáveis pela administração das unidades de conservação podem receber recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou sem encargos, provenientes de organizações privadas ou públicas ou de pessoas físicas que desejarem colaborar com a sua conservação. Parágrafo único. A administração dos recursos obtidos cabe ao órgão gestor da unidade, e estes serão utilizados exclusivamente na sua implantação, gestão e manutenção”.
Outra forma, prevista no mesmo Decreto Federal, de financiar os recursos necessários à gestão das UC é a de concessão para a exploração de serviços desde que previstas no Plano de Manejo da unidade de conservação.
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Essa possibilidade também está detalhada no CAPÍTULO VII - DA AUTORIZAÇÃO PARA A EXPLORAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS
“Art. 25. É passível de autorização a exploração de produtos, subprodutos ou serviços inerentes às unidades de conservação, de acordo com os objetivos de cada categoria de unidade. Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, entende-se por produtos, subprodutos ou serviços inerentes à unidade de conservação:
I. aqueles destinados a dar suporte físico e logístico à sua administração e à implementação das atividades de uso comum do público, tais como visitação, recreação e turismo;
II. a exploração de recursos florestais e outros recursos naturais em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, nos limites estabelecidos em lei.
Art. 26. A partir da publicação deste Decreto, novas autorizações para a exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços em unidade de conservação de domínio público só serão permitidas se previstas no Plano de Manejo, mediante decisão do órgão executor, ouvido o conselho da unidade de conservação. Art. 27. O uso de imagens de unidade de conservação com finalidade comercial será cobrado conforme estabelecido em ato administrativo pelo órgão executor. Parágrafo único. Quando a finalidade do uso de imagem da unidade de conservação for preponderantemente científica, educativa ou cultural, o uso será gratuito. Art. 28. No processo de autorização da exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços de unidade de conservação, o órgão executor deve viabilizar a participação de pessoas físicas ou jurídicas, observando-se os limites estabelecidos pela legislação vigente sobre licitações públicas e demais normas em vigor. Art. 29. A autorização para exploração comercial de produto, subproduto ou serviço de unidade de conservação deve estar fundamentada em estudos de viabilidade econômica e investimentos elaborados pelo órgão executor, ouvido o conselho da unidade. Art. 30. Fica proibida a construção e ampliação de benfeitoria sem autorização do órgão gestor da unidade de conservação”. Assim, mediante as possibilidades legais acima descritas, espera-se que o Parque Natural Muncipal das Garças, possa com o apoio da sociedade civil de Uberlândia encontrar o seu caminho inovador de gestão sustentável, que garanta o cumprimento dos objetivos pelos quais foi criado.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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8. LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1: Localização do PNM das Garças no contexto do Município de Uberlândia.
Figura 2 e 3: Polígono referente aos limites do Parque Natural Municipal das Garças e detalhes das áreas
originárias.
Figura 4: Conexão entre as várias UCs e o PMN das Garças possibilitando a existência de corredor ecológico
Figura 5: Conjunto dos Parques Municipais de Uberlândia com respectivas áreas e localização (carência atual
da Zona Oeste do Município)
Figura 6: Classificação climática de Koppen para o Estado de Minas Gerais
Figura 7: Classificação climática do Estado de Minas Gerais segundo Thornthwaite e Mather
Figura 8: Balanço hídrico climatológico para a localidade de Uberlândia (CAD 125 mm)
Figura 9: Climograma da cidade de Uberlândia
Figura 10: Localização das sub-bacias na bacia hidrográfica do rio Araguari
Figura 11: Vista de Vereda bem conservada, com alta densidade de espécies e cerca (A). Aspecto de fragmentos
de Vereda mais rala (B). Registro de Mauritia flexuosa (buriti) regenerando (C) e ponto de
lançamento clandestino de entulhos próximo à Vereda (D).
Figura 12: Solo com cascalho pedregoso (A) no cerrado sentido restrito. (B) Ouratea hexasperma (folha-de-
serra). (C) Diospyros hispida (fruta-de-boi). (D) Handroanthus chrysotrichus (ipê-amarelo). (E)
Dalbergia miscolobium (jacarandá-d-cerrado). (F) Davilla elliptica (lixeirinha). (G) Kielmeyera
coriacea (pau-santo).
Figura 13. (A) Borda do fragmento de cerradão com alta densidade de trepadeiras e (B) clareira no interior do
fragmento.
Figura 14. Espécies comuns no cerradão. (A) Xylopia aromatica (pimenta-de-macaco). (B) Qualea grandiflora
(pau-terra-grande). (C) Copaifera langsdorffii (copaíba). (D) Protium heptaphyllum (almecega). (E)
Pouteria ramiflora (curriola).
Figura 15 – Pirâmide etária do município de Uberlândia – MG.
Tabela 1: Conjunto dos Parques Municipais de Uberlândia com respectivas áreas e localização (carência atual
da Zona Oeste do Município)
Tabela 2: Dados relativos à Estação Climatológica A507 – Uberlândia/MG
Tabela 3: Precipitação média mensal (mm). Uberlândia (A507) 1981-2003
Tabela 4 Temperatura média mensal, máxima média mensal e mínima média mensal (ºC). Uberlândia (A507)
1981-2003
Tabela 5: Umidade relativa do Ar. Médias mensais (%). Uberlândia (A507) 1981-2003
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Tabela 6: Unidades Litoestratigráficas que ocorrem na área urbana do município de Uberlândia
Tabela 7: Unidades de Solos Mapeados da Área de Estudo
Tabela 8: Divisão das sub-bacias na bacia hidrográfica do rio Araguari
Tabela 9: Vazão Qm, Q95 e q para a Sub-unidade Hidrográfica 2 Rio Araguari
Tabela 10: Lista de Répteis
Tabela 11: Lista de Aves encontradas na cidade de Uberlândia, MG
Tabela 12: Lista de Aves
Tabela 13: Lista de Mamíferos terrestres encontrados em Uberlândia, MG
Tabela 14: Lista de Mamíferos / fazenda Óleo
Tabela 15: Lista de espécies amostradas nas veredas da Fazenda do Óleo, em Uberlândia, MG.
Tabela 17. Lista de espécies amostradas nos remanescentes de cerrado sentido restrito e cerradão da Fazenda
do Óleo, em Uberlândia, MG. SD = síndrome de dispersão.
Tabela 18 - Evolução da População do Município de Uberlândia – 1996 a 2010
Tabela 19 – Evolução da Densidade Demográfica do Município de Uberlândia – 1996 a 2010
Tabela 20 – Crescimento Populacional em Uberlândia (1996-2010)
Tabela 21 - Comparativo do Índice de Desenvolvimento Humano de Uberlândia (MG) com o Estado de Minas
Gerais e Brasil – 1970/2010
Tabela 22 - Evolução dos indicadores componentes do IDH-M de Uberlândia (MG) – 1970/2010