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253 RESUMO Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 253-268, jun. 2008 Lúcia Rabello de Castro PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E JUVENTUDE: DO MAL-ESTAR À RESPONSABILIZAÇÃO FRENTE AO DESTINO COMUM Recebido em 10 de agosto de 2006. Aprovado em 17 de outubro de 2007. ARTIGOS I. INTRODUÇÃO A participação política dos jovens não se faz no vazio cultural e histórico, mas em sociedades reais que carregam as marcas singulares de sua história e as dificuldades específicas de seu pre- sente. No contexto das desigualdades sociais da sociedade brasileira, compreender como e por- quê os jovens brasileiros participam da constru- ção e da decisão societárias põe em questão a for- ma como cada um reconhece-se como integrante desse conjunto tão desigual e como se vê implica- do nos seus destinos. Assim, a participação políti- ca não pode desvincular-se das condições subjetivantes que darão forma ao sentimento de pertencimento à coletividade por parte de jovens e de crianças e de como essa coletividade é repre- sentada por eles. A lenta assunção de cada indivíduo à condição de sentir-se, de reconhecer-se e de agir como parte desse todo maior apóia-se na construção dos la- ços sociais, derivados não da semelhança entre iguais, nem tampouco das afinidades de parentes- co ou afetivas, mas da identificação com objeti- vos considerados coletivamente como importan- tes. Para o jovem, “sair de casa”, no sentido de assumir-se como integrante da polis ou da nação, significa entender-se como “tendo a ver” com o estado de coisas ao seu redor e interpelado a res- ponsabilizar-se por elas. Pertencimento e responsabilização imbricam-se e constituem as- pectos subjetivos primordiais no processo de as- sumir-se como membro de uma sociedade, seja ela qual for. Nesse processo, uma dupla passa- gem é necessária: uma que se dá por meio de no- vas identificações com objetivos coletivamente ge- rados (MOUFFE, 1993), outra que se realiza por meio do engajamento concreto do indivíduo em ações e movimentos com os outros, propiciando novas determinações e fluxos dentro da sociedade. O artigo analisa a relação entre juventude e política no contemporâneo, tendo como foco de discussão o processo de subjetivação política, que implica a construção do pertencimento à coletividade e a responsabilização pela vida em comum. As possibilidades de ação engajada e seu sentido político são discutidos frente às aparentes inércia e apatia dos jovens de hoje em relação à política. Um estudo empírico qualitativo com cerca de 25 jovens é apresentado, baseado em entrevistas realizadas tanto com jovens militantes de organizações estudantis e partidos políticos como com aqueles que se engajam no trabalho social voluntário. Na análise, evidenciam-se convergências e divergências entre os dois grupos nos sentidos e objetivos da ação engajada e das formas convencionais de militância. Discutem-se as relações entre as trajetórias desses jovens e o abraçamento de determinadas “causas” que os mobilizam para a ação e a participação na sociedade. Os dois grupos relatam impasses e dificuldades inerentes às escolhas de seus modos de agir e participar: seja por força de buscarem uma eficácia da ação e evitar seus percalços ao submetê-la ao enquadramento da política institucionalizada; seja por força das concessões que se vêem fazendo aos princípios e ideais partidários, distanciando a ação de seu fundamento. Tais dificuldades remetem à distinção entre a política e o político, tendo em vista que a forma institucionalizada de fazer política hoje parece não dar mais conta das demandas da vida em comum; por outro lado, as novas formas de participação política podem insular-se nas ações pontuais. Conclui-se que, para os jovens entrevistados, as formas de participação e de engajamento social enveredam por caminhos diversos, sejam os da política institucional, sejam os da ação militante no trabalho social voluntário; embora o sentido político das ações nem sempre seja explicitamente admitido, as formas convencionais da ação política permanecem em tensão com outras escolhas de engajamento e de participação na sociedade. PALAVRAS-CHAVE: juventude; subjetivação política; participação; coletivo; democracia; vínculos sociais.

Participação política e juventude - do mal-estar à responsabilização frente ao destino comum

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 253-268 JUN. 2008

RESUMO

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 253-268, jun. 2008

Lúcia Rabello de Castro

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E JUVENTUDE:DO MAL-ESTAR À RESPONSABILIZAÇÃO FRENTE

AO DESTINO COMUM

Recebido em 10 de agosto de 2006.Aprovado em 17 de outubro de 2007.

ARTIGOS

I. INTRODUÇÃO

A participação política dos jovens não se fazno vazio cultural e histórico, mas em sociedadesreais que carregam as marcas singulares de suahistória e as dificuldades específicas de seu pre-sente. No contexto das desigualdades sociais dasociedade brasileira, compreender como e por-quê os jovens brasileiros participam da constru-ção e da decisão societárias põe em questão a for-ma como cada um reconhece-se como integrantedesse conjunto tão desigual e como se vê implica-do nos seus destinos. Assim, a participação políti-ca não pode desvincular-se das condiçõessubjetivantes que darão forma ao sentimento depertencimento à coletividade por parte de jovense de crianças e de como essa coletividade é repre-sentada por eles.

A lenta assunção de cada indivíduo à condiçãode sentir-se, de reconhecer-se e de agir como parte

desse todo maior apóia-se na construção dos la-ços sociais, derivados não da semelhança entreiguais, nem tampouco das afinidades de parentes-co ou afetivas, mas da identificação com objeti-vos considerados coletivamente como importan-tes. Para o jovem, “sair de casa”, no sentido deassumir-se como integrante da polis ou da nação,significa entender-se como “tendo a ver” com oestado de coisas ao seu redor e interpelado a res-ponsabilizar-se por elas. Pertencimento eresponsabilização imbricam-se e constituem as-pectos subjetivos primordiais no processo de as-sumir-se como membro de uma sociedade, sejaela qual for. Nesse processo, uma dupla passa-gem é necessária: uma que se dá por meio de no-vas identificações com objetivos coletivamente ge-rados (MOUFFE, 1993), outra que se realiza pormeio do engajamento concreto do indivíduo emações e movimentos com os outros, propiciandonovas determinações e fluxos dentro da sociedade.

O artigo analisa a relação entre juventude e política no contemporâneo, tendo como foco de discussão oprocesso de subjetivação política, que implica a construção do pertencimento à coletividade e aresponsabilização pela vida em comum. As possibilidades de ação engajada e seu sentido político sãodiscutidos frente às aparentes inércia e apatia dos jovens de hoje em relação à política. Um estudo empíricoqualitativo com cerca de 25 jovens é apresentado, baseado em entrevistas realizadas tanto com jovensmilitantes de organizações estudantis e partidos políticos como com aqueles que se engajam no trabalhosocial voluntário. Na análise, evidenciam-se convergências e divergências entre os dois grupos nos sentidose objetivos da ação engajada e das formas convencionais de militância. Discutem-se as relações entre astrajetórias desses jovens e o abraçamento de determinadas “causas” que os mobilizam para a ação e aparticipação na sociedade. Os dois grupos relatam impasses e dificuldades inerentes às escolhas de seusmodos de agir e participar: seja por força de buscarem uma eficácia da ação e evitar seus percalços aosubmetê-la ao enquadramento da política institucionalizada; seja por força das concessões que se vêemfazendo aos princípios e ideais partidários, distanciando a ação de seu fundamento. Tais dificuldadesremetem à distinção entre a política e o político, tendo em vista que a forma institucionalizada de fazerpolítica hoje parece não dar mais conta das demandas da vida em comum; por outro lado, as novas formasde participação política podem insular-se nas ações pontuais. Conclui-se que, para os jovens entrevistados,as formas de participação e de engajamento social enveredam por caminhos diversos, sejam os da políticainstitucional, sejam os da ação militante no trabalho social voluntário; embora o sentido político das açõesnem sempre seja explicitamente admitido, as formas convencionais da ação política permanecem em tensãocom outras escolhas de engajamento e de participação na sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: juventude; subjetivação política; participação; coletivo; democracia; vínculos sociais.

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Neste trabalho pretendemos discutir algunscaminhos e vias pelos quais os jovens brasileirosconstroem tais pertencimento e responsabilizaçãofrente ao destino comum, inaugurando possibili-dades de participação política. Não consideramosque essa participação deva ser necessariamenteentendida como uma contribuição marginal ou ten-tativa, seja como uma simulação, seja como umaaprendizagem à ulterior participação política “real”,como muitos autores fazem quando se referemao processo de “socialização política”(FLANAGAN & SHERROD, 1998, p. 448). Con-sideramos que o processo de construção da sub-jetividade política (RANCIÈRE, 1995) diz res-peito a todas as experiências de comparecimentoe de adesão dos jovens a um espaço de disputasem torno do que vai mal no seu entorno e na soci-edade em geral, que os leva, conseqüentemente, aassumir ações junto com outros em prol da igual-dade, da justiça e da emancipação.

Dessa forma, as experiências de participaçãopolítica podem ser “reais” ao longo da infância eda adolescência, na medida em que esses sujeitosparticipam de situações de construção de espaçoscomuns de negociação e de luta. O voto aos 18ou aos 16 anos por si só, não garante, de modoalgum, um comprometimento maior com as lutasde transformação social; alguns autores observammesmo um declínio desse tipo de participação nassociedades ocidentais contemporâneas, não ape-nas em relação aos jovens, mas em relação a to-dos os outros segmentos etários (FORBRIG, 2005,p. 11). Nesse sentido, desejamos discutir a parti-cipação como uma demanda subjetiva, isto é,como o reposicionamento que os indivíduos fa-zem frente à sociedade mais ampla, expresso pelamaneira como cada um busca vincular-se à cole-tividade e lançar-se em espaços de discurso e deação no intuito de afirmarem-se como seus mem-bros. Nessa perspectiva, pretendemos questionara noção de “participação política”, entendida ape-nas como ação engajada por meio dos mecanis-mos instituídos de pressão e reivindicação. Essesmecanismos, estabelecidos nas formas de repre-sentação política de partidos e agremiaçõesparapolíticas (organizações estudantis, sindicatosetc.), reiteram a maneira conhecida e legitimadade “fazer-se política”, interpelando os jovens atomarem uma posição de luta tendo em vista idéi-as de transformação do país. No entanto, junta-mente com outros autores (ION, 1996; CELLIER,2004;GRIFFIN, 2005; KOVACHEVA, 2005), en-

tendemos que a responsabilização frente ao desti-no comum vai além da militância nas organiza-ções partidárias e parapartidárias. Ainda que essamilitância seja imbuída de uma perspectivatotalizante da sociedade e permita ao jovem apren-der a lidar com a pluralidade de interesses quecompõem a vida em comum, surgem hoje novaspossibilidades de luta pela transformação do pre-sente, que põem em curso demandas de transfor-mação social a partir de rupturas de “baixo paracima”, implodindo fronteiras e identidades e des-locando a noção do político para as margens doque é convencionalmente concebido como tal. Aquestão da participação dos jovens abre novoshorizontes para compreender como em cada con-texto histórico e cultural a própria política (enten-dida como a forma de refundar a convivência so-cial) pode ser reinventada.

II. SUBJETIVAÇÃO POLÍTICA E JUVENTUDENO CONTEMPORÂNEO

Entender a si mesmo como parte de um todomaior – uma nação por exemplo – requer umalenta transformação subjetiva que redimensiona osentido de lugar e de inserção do jovem. Se a casados pais foi, e continuará sendo, uma referênciaimportante para responder às perguntas “quem eusou?” “de onde vim?”, outras questões impõem-se gradualmente e que dizem respeito aos víncu-los mais amplos com todos os outros com quemcompartilha os mesmos valores, costumes, lín-gua e sensibilidades.

A vida na cidade – em grandes cidades brasi-leiras, como Rio de Janeiro, São Paulo e outrastantas, no Brasil e no mundo – é uma experiênciaimportante e intensa de mobilização da questão dooutro: “quem são, de onde vêm, o que significamtodos esses outros – estranhos – com quem sedivide o território, as experiências de circulação ede lazer e de quem se depende para realizar obje-tivos próprios de estudo ou trabalho?”. A vida ur-bana expõe os jovens à experiência radical de con-fronto com um “outro” diferente dos pais e dosfamiliares, convocando-os a compreender e darconta de vínculos que os unem, ou não, a essesoutros – diferentes, estranhos, próximos e dis-tantes ao mesmo tempo. Como vários autoresapontam, a experiência urbana contemporâneafavorece a visão das diferenças (LEFEBVRE, 1974;NEGT, 2002) e das desigualdades (SANTOS &SILVEIRA, 2001) no horizonte das lutas pela igual-dade (DOMINGUES, 2000). Esse processo é lo-

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calizado histórica e culturalmente, o que significaque construir a dimensão do vínculo social quedá conta da inserção no todo mais amplo está sub-metido às condições específicas de história e decultura que estruturam a experiência subjetiva.

Certamente, hoje, no Brasil como em outrospaíses, a cultura do consumo globalizada conduztodos, inclusivamente os jovens, a umaprivatização crescente da experiência, em que oimportante é a fruição de prazeres ditos “priva-dos”, como as emoções intensas relacionadas aexperiências corporais e estéticas orientadas porvalores como o bem-estar e a felicidade individu-ais, a segurança e o conforto (ARENDT, 1972;SENNETT, 1992). Contrariamente a isso, o pro-cesso de subjetivação política pauta-se por expe-riências que levam os jovens a interrogarem-sesobre o que está inadequado e difícil na convivên-cia humana ao seu redor. Dessa forma, esse pro-cesso coloca o jovem frente às contradições desua época e no encalço de outros que possamajudá-lo a responder tais questões e a agir frente aelas.

Para o jovem brasileiro, a interpelação para umoutro tipo de pertencimento à coletividade, dife-rente daquele do lar e da família, esbarra em umcenário singular. A sociedade brasileira, conformeela apresenta-se hoje nas suas formas mais visí-veis do espaço urbano, expõe o fosso abismal entreas elites e o enorme contingente de pobres e mi-seráveis. País que carrega uma herança culturalde quase 400 anos de escravidão dos negros e umprocesso de modernização que acumulou umadívida social cujas cifras são assustadoras, o Bra-sil não conseguiu implantar práticas sociais fun-dadas sobre direitos universais reais e não apenasde jure – a liberdade e a igualdade para todos. Seos direitos universais – à educação, por exemplo– não têm sido de facto implementados, princi-palmente para crianças e jovens pobres1 (ainda queas leis brasileiras preconizem-nos), a situação defato parece demasiadamente real nos seus efeitosde subjetivação, ou seja, corre-se o risco de natu-ralizar-se o arbítrio humano, de habituar-se comas desigualdades e com o mal-estar que elas cau-sam. Com efeito, alguns autores (por ex., CAR-VALHO, 2002) comentam esses efeitos subjeti-

vos perversos no coração e na cabeça de muitosbrasileiros quando afirmam que em nosso imagi-nário vigora a máxima da constituição da fábulaAnimal Farm2 de George Orwell: “Todos os ani-mais são iguais, mas alguns animais são mais iguaisdo que os outros”.

Portanto, são muitas as dificuldades que seinterpõem na construção dessa passagem dos jo-vens à sociedade mais ampla, como membros res-ponsáveis pela coletividade. Dar-se conta de queos outros desconhecidos têm a ver consigo ou decomo se está vinculado a todos aqueles quem,inicialmente, não se tem nem como parentes nemcomo amigos, significa reordenar internamenteprioridades para que novos investimentos afetivossejam possíveis, dando lugar a uma nova práxis.Dentro desse cenário, que apresenta dificuldadesbastante específicas para o florescimento de umacultura cívica no Brasil, pode-se perguntar comoseria para os jovens a construção de um sentidode pertencimento e de responsabilização, uma vezinterpelados a responder o que os liga a todos osoutros, os estranhos, com quem convivem na ci-dade e no país.

A discussão que hoje se faz sobre a participa-ção social e política dos jovens toma importânciafundamental na pesquisa científica quando pare-cem existir indicações de que os jovens não seinteressam pela política (WELTI, 2002;PLEYERS, 2005), alimentando ansiedades sobreos efeitos de tal desinteresse sobre a coesão soci-al e o futuro da democracia. O declínio observa-do por alguns autores em relação aos comporta-mentos políticos institucionalizados(INGLEHART, 1997) – o voto, por exemplo –relaciona-se com mudanças dos valores, quandohoje as novas gerações não se identificam maiscom organizações hierarquizadas e burocratiza-das e preferem experiências políticas não-conven-cionais, “expressivas” e informais. Por outro lado,Stolle e Hooghe (2004) complementam essa vi-são ao alertarem para o fato de que se devem bus-car explicações tanto relativas à estrutura (aspec-tos institucionais e culturais) quanto à agência(aspectos subjetivos). Isso significa que o declíniono interesse dos jovens pela política não é apenasdevido à sua falta de motivação pela coisa públi-ca, mas que também pode ser determinado pelofato de que os recursos para a mobilização e a1 De acordo com o IBGE (2003), dos aproximadamente 50

milhões de jovens brasileiros entre 10 e 24 anos, 7% entre10 e 14, 30% entre 15 e 17 e 51% entre 18 e 19 anos, jáestão fora do sistema educacional.

2 Conhecida no Brasil como A revolução dos bichos (notado revisor).

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participação que antes existiam não estão maisdisponíveis. Esses autores citam, por exemplo, ofato de que os partidos políticos estão ficando cadavez mais profissionalizados e, portanto, menospropensos a fazer esforços no sentido de aliciar oingresso maciço de membros, jovens ou velhos.

Assim, muitos aspectos tornam-se relevantespara avaliar a situação dos jovens frente à partici-pação política, mesmo aqueles relativos ao enten-dimento do que seria participar e do que se enten-de por política. A própria definição dos pesquisa-dores sobre o que é a política deveria fazer senti-do para os jovens que são por eles pesquisados(KOVACHEVA, 2005), uma vez que os resultadosdessas pesquisas orientam políticas públicas paraa juventude e canalizam investimentos públicosnessa direção.

No Brasil, poucos estudos examinam a ques-tão da participação política e social dos jovens.Recentemente, o estudo amplo sobre o perfil dajuventude financiado pelo Instituto da Cidadania(ABRAMO & BRANCO, 2005) mostrou algumasrelações entre política e juventude. Ressaltam-sealguns aspectos: apenas 15% de jovens partici-pam de quaisquer atividades de grupo no bairro ena cidade, mesmo que 37% dos jovens reconhe-çam que a política “influi muito” em suas vidas.Além disso, o item “confiança nas instituições”mostra que 83% dos jovens confiam totalmentena família, mas, no que se refere aos partidospolíticos, esse valor é de apenas 3% (ABRAMO& BRANCO, 2005). Em outro estudo com 8 000jovens de todo o Brasil, conduzido pelo InstitutoPolis e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociaise Econômicas (Ibase) (POLIS-IBASE, 2006), osresultados indicam que apenas 8,5% dos jovensconsideravam-se politicamente participantes, em-bora 65,6% tenham afirmado buscar informaçõessobre política, mas sem participar diretamente. Agrande maioria dos jovens dessa pesquisa (65%)mostrou descrença em relação à representatividadedos políticos na defesa dos interesses dos cida-dãos e enfatizaram a corrupção, a desorganizaçãoe a fragmentação de projetos que não geram re-sultados. Afirmaram ainda a importância das açõesvoluntárias e comunitárias como forma de parti-cipação que lhes é mais acessível (idem). Por meiodesses dois estudos, é possível constatar que umacompreensão maior das relações entre política ejuventude hoje exige, sobretudo, que se possamouvir os jovens, tanto nas suas críticas em rela-ção ao modo vigente de fazer-se política, quanto

nos encaminhamentos que podem fazer, e efeti-vamente fazem, em relação às novas possibilida-des do jogo democrático.

III. A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE JOVENSNO CONTEMPORÂNEO

Passamos a apresentar os resultados de umapesquisa qualitativa sobre a participação políticade jovens por meio da análise de entrevistas reali-zadas3 com 25 sujeitos inseridos seja no trabalhosocial voluntário, seja em organizações partidári-as e/ou estudantis no estado do Rio de Janeiro.Buscou-se compreender as condições queestruturam o ingresso dos jovens em tais movi-mentos e organizações, além das conseqüênciasdas escolhas de inserirem-se e participarem nasociedade a partir de uma outra posição.

Para fins da análise, o grupo foi dividido emdois: um composto por aqueles que tinham filiaçãopartidária ou militavam em organizações estudan-tis; o outro composto por aqueles engajados notrabalho social e comunitário voluntário. Essa di-visão pôde identificar aspectos importantes refe-rentes ao laço social nos dois grupos, assim comoconvergências e diferenças na forma de encara-rem sua adesão à causa comum e os efeitos desua ação. A escolha desses grupos não se deve aofato de eles representarem posições claramenteexcludentes e/ou antagônicas, já que, por exem-plo, muitos jovens que militam nas organizaçõespartidárias iniciaram sua vida de militância no tra-balho social voluntário, mas, em função do que seobjetiva aqui – a compreensão da natureza dosvínculos que os jovens endereçam à sociedademais ampla –, esses grupos constituem lugaresdiferentes que permitem percepções e ações dis-tintas por parte dos jovens em relação a como eporquê abraçar uma “causa”. Nesse sentido, taisgrupos estimulam determinadas ações e percep-ções de si mais do que outras e favorecem deter-minados sentidos da ação coletiva em detrimentode outros, como veremos a seguir.

As idades dos jovens variaram entre 16 a 28anos, segundo o Quadro 1, que também apresen-ta suas filiações institucionais.

3 Projeto de pesquisa intitulado “Diferença e participa-ção: subjetivação política na infância e na adolescência”,apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico (CNPQ) e pela Fundação CarlosChagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro(Faperj).

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III.1. A militância juvenil nos partidos políticose nos movimentos estudantis: a política comovisão crítica da sociedade e a participaçãoem prol de sua ampla transformação

A adesão de jovens à causa político-partidáriaestá relacionada ao desejo de transformação soci-al e à expectativa de um mundo melhor, mais jus-to, com menos desigualdades sociais, em que “ascoisas possam estar menos erradas”. A militâncianos partidos é construída lentamente na trajetóriade cada jovem, dando continuidade a uma históriapessoal de preocupação com a realidade social.Muitos jovens entrevistados, que estavam nomomento da entrevista militando em partidos ounos movimentos estudantis, já participaram comovoluntários em serviços a populações pobres (porexemplo, cursos noturnos para jovens carentesque querem entrar na universidade, distribuiçãode “sopão” para a população de rua, aulas de apoioe recreação para crianças pobres, implantação detevês comunitárias). Assim, muitas vezes, a cau-sa partidária segue à causa humanitária anterior-mente abraçada, mas o ingresso nos partidos ounos movimentos estudantis assinala uma rupturano modo de vincular-se à realidade social maisampla. Alguns jovens ingressaram nos partidostendo já participado ativamente dos grêmios e dosmovimentos estudantis, tendo iniciado na escola

seus embates por mudanças. Nesse caso, a parti-cipação ativa na vida escolar constituiu um fatorimportante na história pessoal que favoreceu seuingresso nos partidos políticos, dando continui-dade ao desejo de lutar por mudanças, agora nasociedade mais ampla.

O cerne da motivação para o ingresso no par-tido, como forma preferencial de militância, con-sistiu na possibilidade de intervir mais diretamen-te na sociedade, assegurando uma amplitude mai-or de ação que aquela desenvolvida por meio deum trabalho social. Nas falas abaixo, de três jo-vens, dois ligados a partidos e um ao movimentoestudantil, constatamos a importância que o pro-grama e a institucionalidade partidárias adquiremna visão dos jovens para que as mudanças pos-sam efetivamente acontecer. “A gente escolheu avia institucional. E pra você intervir na sociedade,você tem que se eleger, entendeu? [...] Porquevocê pode fazer pressão pra que o governo façaalguma coisa, tipo, os sindicatos são assim [...].Mas quando você está no governo você pode fa-zer muito mais, porque você tem a máquina dogoverno na mão” (F. – PT). “[...] Se você tem,numa sociedade, uma ação correndo prum lado,uma ação correndo pro outro, você não otimizaisso, você gasta dinheiro desnecessariamente...Deve-se sempre buscar uma ação, um programa

FONTE: a autora.NOTA: PDT: Partido Democrático Trabalhista; PSOL: Partido Solidariedade e Liberdade; DEM: Partido Democratas; PSDB:Partido da Social-Democracia Brasileira; PT: Partido dos Trabalhadores; PV: Partido Verde; Cefet-RJ: Centro Federal deEnsino Tecnológico do Rio de Janeiro; DCE: Diretório Central dos Estudantes; UFRJ: Universidade Federal do Rio deJaneiro; UERJ: Universidade Estadual do Rio de Janeiro; UFF: Universidade Federal Fluminense; PSU: Universidade SantaÚrsula; UBES: União Brasileira de Estudantes Secundaristas; UEE: União Estadual de Estudantes do Rio de Janeiro; AMES:Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas; ONG: organização não-governamental.

QUADRO 1 – JOVENS ENTREVISTADOS: FILIAÇÃO INSTITUCIONAL, IDADE E GÊNERO

PARTIDOS POLÍTICOS

ASSOCIAÇÕES ESTUDANTIS, MOVIMENTOS SOCIAIS, ONGS

GRÊMIOS

F., PDT, 17 a., M. G., Colégio D. Pedro II, 17 a., M. F., Radio Comunitário Mme. Satã, 23 a., M. R., PSOL, 21 a., M. A., Escola Anísio Teixeira, 17 a., M. M.,Movimento Afro-Reggae, 19 a., M. D., DEM, 24 a., M. N., Escola Abel, 16 a., F. T., Centre de Cultura Afro, 17 a., M. S., PSDB, 24 a., M. M., Cefet-RJ, 16 a., F. E., Movimento Capoeira, 23 a., M. R., PSDB, 28 a., M. P., Escola São Vicente, 17 a., M. M., ONG Consciência Cidadã, 21 a., M. I., PSDB, 18 a., F. J., DCE-UFRJ, 21 a., F. T., ONG Alma, 22 a., F.

F., PT, 23 a., F. C., UERJ, 20 a., F. P., ONG Lumina, 19 a., M. A., PV, 19 a., F. R., UFF, 23 a., M. F., ONG Vetor, 23 a., M.

D., DCE-USU, 20 a., F. M., Missão Infância, 18 a., F. P., UBES, 23 a., M. R., Movimento Brasil, 25 a., M. R., UEE, 21 a., M. A., AMES, 19 a., M.

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de ação, da Prefeitura, do estado, da União [...].Porque já existindo uma linha de ação, você nãoduplica um trabalho gastando dinheiro à toa, gas-tando recursos [...]” (D. – DEM). “[...] Porém,[...] acredito é [n]o seguinte: você não precisaestar filiado a um partido, mas você precisa teruma concepção de mundo para entender o seguinte– não adianta você somente militar naquilo ali,naquela causa específica, quando a questão tam-bém está ligada a coisas maiores [...]” (P. – UBES).

Assim, a aposta na mudança social para os jo-vens militantes em partidos e em organizaçõesestudantis assume, quase sempre, um viésprogramático ligado à linha de ação partidária. Eleé expresso por meio da defesa de um projeto denação – “coisas maiores” – que explicariam osaspectos menores do cotidiano. Tais idéiasprogramáticas variam segundo o espectro políti-co-partidário: no espectro político mais à direita,os jovens defenderam a “eficiência administrati-va” e o “bom uso dos recursos públicos” ou “aanálise técnica para basear as decisões políticas”,assim como a promoção de igualdade de oportu-nidades para todos (jovens filiados ao DEM e aoPSDB); aqueles mais à esquerda enfatizaram asidéias de justiça social e de combater a concentra-ção de riqueza no país (jovens filiados ao PT, aoPartido Comunista do Brasil (PCdoB) e ao PSOL).

Os dois aspectos que foram apontados comofundamentais para a adesão à causa partidária ouà estudantil foram o desejo de transformação so-cial e o de participar ativamente dessa transfor-mação. Quase todos os entrevistados apontaramque um estado de coisas errado convocou-os auma resposta no sentido de tomar uma atitude.Alguns afirmaram que se dar conta de que algu-ma coisa vai mal e não fazer nada seria “hipocri-sia”. Portanto, o reposicionamento subjetivo devinculação ao social mais amplo implicou abraçaruma “causa de transformação social” frente aoque vai mal. Tal visão teve o peso de uma convo-cação para o agir, como explicitada na afirmaçãoque se segue: “Eu faço movimento estudantil por-que eu acredito que posso transformar as coisasque estão postas pra mim. A gente vê vários pro-blemas na universidade, vários problemas no nossocurso, a gente vê vários problemas na nossa cida-de, vê vários problemas no nosso país, e eu façomovimento estudantil porque eu quero transfor-mar esses problemas” (R. – UFF).

Juntamente com a convocação para o agir,aparecem também a “conscientização” e a neces-sidade de “compreensão do mundo à sua volta”como expressões freqüentes, ao analisarem suainserção na militância: “Acho que a vontade deentender muito das coisas que acontecem no Bra-sil hoje, porque todas dependem da política. Opreço da passagem que eu pago [no] ônibus de-pende da política, o preço do feijão que eu com-pro no mercado depende da política. Então é avontade de entender [...] o porquê da evasão dosalunos do Ensino Técnico. Há uma diferença so-cial muito grande. Você não consegue entenderporque aquele cara tá num sinal pedindo dinheiroe o outro tá morando numa cobertura” (M. –Cefet-RJ).

É interessante notar que, entre os jovens comdistintas filiações partidárias, não há uma oposi-ção ideológica notável: todos convergem para prin-cípios gerais como “melhorar os serviços públi-cos”, “combater a corrupção”, “dar melhor edu-cação às crianças e aos jovens”. Não se pôde ob-servar um contraste marcante de idéias entre ojovem de um partido socialdemocrata e o jovemdo Partido Comunista. No entanto, a crítica feitaaos outros partidos surgiu com freqüência nasfalas, indicando, assim, uma forma de definir fron-teiras ideológicas e de delinear as identidades po-líticas. Os filiados aos partidos à direita no espec-tro político criticaram “o blablablá dos da esquer-da, que só sabem discutir e não fazem nada” e a“máscara do governo da esquerda que caiu, por-que era revolucionário e agora está mostrando aoque veio, com tanta corrupção e não fez nada doque prometeu”. Os à esquerda criticaram “oneoliberalismo” dos outros partidos, como umanoção invocada para definir “o grande mal”, semrealmente se deterem sobre quais as propostasneoliberais que devem ser combatidas e porquê;defenderam ainda a idéia de ética na política comoprincípio de que os fins não devem justificar osmeios.

Se um conjunto claro de idéias não parececolocar os jovens em posições distintas ou anta-gônicas no quadro partidário, quando pergunta-dos sobre como viam sua própria inserção ao lon-go do espectro político, definido pelas noções de“direita”, “esquerda”, “capitalismo”, “socialismo”e “comunismo”, essas noções também não foramde grande valia para definir sua identidade políti-

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ca: “É, tenho uma orientação política de esquer-da. Mas não é aquela esquerda rigorosa, radical,que a gente tem que chegar ao poder, fazer umarevolução armada, por meio da luta, da força. Nósnão pregamos isso, somos de esquerda, uma es-querda mais tranqüila [...]. Uma esquerda que visaà reforma” (A. – AMES). “Olha, eu sou uma mis-tura [risos]. Não, é sério, eu tenho tendênciassocialistas, mas não sou socialista. Não acreditosó no socialismo e não acredito que seja melhorhoje, mas tem muita coisa do socialismo que par-ticularmente eu defendo. Eu particularmente po-deria dizer que sou progressista, ponto, mas temmuita coisa no socialismo que eu ainda defendo”(M. – Cefet-RJ). “Nós poderíamos dizer que oPDT é um partido de esquerda, mas na últimaeleição municipal eu diria que ele foi um partidode direita, porque nosso Prefeito vinha de umalinhagem de partido de direita que acabou sefiliando ao PDT. Então, o partido toma uma espé-cie de forma mais à direita. É [...], o poder trans-forma um pouco essa coisa de esquerda e direita,porque quem tem o poder não é tão radical [...]”(F. – PDT).

“Ser de esquerda” aparece como uma confi-guração identitária que compreende um espectroideológico amplo e, de algum modo, bastante im-preciso, como nas definições abaixo: “Ah, eu meacho uma pessoa de esquerda, apesar de que,comparada com outras pessoas que se dizem deesquerda, eu sou totalmente conservadora. Àsvezes, eu converso com algumas pessoas domovimento estudantil, que pregam – sei lá! Issode nacionalizar todas as universidades privadas,sabe? Essas coisas – então, eu me acho conser-vadora, né? Mas eu acredito que sou de esquerda,uma esquerda sensata – mas de esquerda” (J. –UFRJ). “Mas eu me considero de esquerda poracreditar numa sociedade mais justa e, de manei-ra geral, é isso que caracteriza todo esse campo.E aí a direita, eles querem conservar as coisascomo estão, o centro seriam aqueles envergonha-dos que não sabem onde estão e topam tudo dojeito que está; a esquerda seriam aqueles que que-rem mudar, mas [sobre] essa mudança, aí temtodo um debate [...]” (R. – UEE).

Desse modo, a taxionomia política convenci-onal parece não servir para estabelecer fronteirasclaras nas identidades políticas entre os jovens,seja porque, para eles, ela não estabelece conjun-tos díspares de ideais e causas, seja porque, na

prática, as lutas podem ser encampadas por umou outro campo político forçando convergências.O que importa assinalar aqui é que as identifica-ções políticas com determinados campos partidá-rios fazem-se, para os jovens, para além das con-venções usualmente reconhecidas para definircampos políticos opostos.

Nesse sentido, os jovens entrevistados afirma-ram a importância da filiação partidária, seja elaqual for: há um efeito narcísico poderoso ao sen-tirem-se reconhecidos pelos outros como líderes,como fazendo um trabalho relevante para a soci-edade, como efetivando mudanças visíveis na es-cola, na universidade ou na comunidade. Algoocorre na militância que os fazem sentir-se po-tentes e capazes: “E aí, o que acontece? Comoseus amigos não passam por esse processo quevocê está passando, ou você tenta que eles pelomenos compreendam que a política é importante,que eles têm que ler o jornal, que eles têm queentender política, que eles têm que ler o jornalpara entender o que está acontecendo no país;saber quem é o fulano, o beltrano, saber se podeconfiar em fulano, saber as movimentações polí-ticas que estão por detrás de qualquer coisa. Ouvocê tenta conquistar a mente e o coração do seuamigo ou você vai ter que ter momentos de alie-nação, porque, senão, você perde seus amigos.Ou você se enquadra no mundo deles” (F. – PT).[...] De aglutinar poderes, de aglutinar forças parafazer uma transformação real e profunda, que agente vê todos os dias, problemas sociais, proble-mas estruturais mesmo na sociedade; esses mo-vimentos sociais, principalmente os partidários,são formas de você estar ajudando a transformaro que você acha errado” (N. – Abel).

Militar no movimento estudantil ou no partidoconfere aos jovens reconhecimento social epertencimento. Tornar-se membro de um orga-nismo (partido ou associação estudantil), que éconsiderado por eles mesmos como “forte” e vi-sível, permite-lhes verem-se de um novo lugar queconfere importância e outro significado às suasações. Dessa forma, os jovens podem exorcizar olimbo a que são condenados na longa moratóriada adolescência em que todos são apenas estu-dantes, ou seja, indivíduos que se preparam paraum futuro profissional. A fala desses jovens, aoenfatizarem suas possibilidades de ação no pre-sente e a relevância do que estão fazendo,conferida pelo pertencimento a um partido ou a

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uma associação, leva-nos a crer que os espaçosde luta e de discussão política constituem umreferencial importante para a formação de identi-dades juvenis, para além daquelas comumenteconsideradas, como a família e a escola.

“Sair de casa” como metáfora da busca devínculos sociais mais amplos significa em geral,para os jovens, um adiamento da identidade e daação que somente virão mais tarde pelo delinea-mento profissional. Isso pode ser sentido de ma-neira negativa como um amordaçamento a queestão submetidos que os rechaça para as bordasda sociedade, impedindo sua ação. A ação militan-te dos jovens traz para o presente o agir e as gra-tificações que dele decorrem, como exemplificadasnas falas dos jovens abaixo: “Tem certos tipos decoisas que te fazem legal, eu estar aqui porqueparticipei de um processo da história. Por exem-plo, a questão do passe livre em 1999 foi umaparada e assim que... pô! A gente colocou 5 000alunos nas ruas e gente luta até hoje pelo passelivre” (F. – PT). “A UBES sempre esteve ligada àsquestões mais gerais do Brasil. Você pega qual-quer coisa nos últimos 50 anos, que sejam acon-tecimentos importantes na vida política do país, aUBES estava presente [...]. Estava presente naeleição de Lula, na época do ‘fora Collor’ foi quemmais mobilizou os jovens. Então a luta da UBESse confunde com a história política do país” (P. –UBES). “O que a gente percebeu é que existemoutras três deficiências que o Estado não atende:uma delas é a educação, a segunda é a falta detrabalho e a terceira é a fome. Eu considero que omeu trabalho em educação já foi resolvido. Quaissão os outros dois paradigmas que eu tenho queresolver hoje? É o da fome e o do primeiro em-prego. O da fome eu já resolvo, estou trabalhandohoje num projeto chamado Projeto Oásis, que dis-tribui sopa na rua para pessoas... Agora, esse tra-balho que estamos montando, que é o do primeiroemprego, que ainda não decolou, estamos juntan-do a equipe, esse tipo de coisa” (R. – PSDB).

Foi interessante observar em todos os depoi-mentos que o vínculo intenso com as causas detransformação social faz que renunciem ao amor(muitos desentendem-se com seus namorados),são criticados e mal interpretados pela família,passam agruras financeiras e são reprovados nosestudos. Os inúmeros conflitos entre a vida pes-soal e o investimento nas causas são decorrentesde sua opção pela atividade militante, que, para osentrevistados, é alguma coisa da qual não podem

abrir mão. Dessa forma, pertencer a um partidoou a uma organização estudantil garante-lhes umaautorização para agir, permitindo um sentimentode eficácia subjetiva por meio de sua contribuiçãosocial e política no presente, reforçando o sentidode pertencimento a um todo maior: “Tem gentena UJS [União da Juventude Socialista] que nãopassou no vestibular por causa da UJS, tem genteque foi proibido pela mãe de ir à UJS porque esta-va atrapalhando muito, entendeu? Eu nem sou umdos que participa mais, tem gente [para] que[m] aUJS é prioridade absoluta, só vive pela UJS, sófazem ir para a UJS...” (P. – Esc. S. Vicente).

Nesse sentido, o que parece importante res-saltar aqui é como cada um desses jovens lidacotidianamente com o conflito entre a busca dafelicidade e a da sobrevivência e a adesão à causacoletiva, uma vez que parecem ser projetos queos arrastam a direções opostas. Esse é um pontoque merece destaque, pois alude às questões am-plamente discutidas sobre a crescente retração dosindivíduos para a vida privada (ARENDT,1963;BECK, 1998), o declínio do interesse pelo que écomum (SENNETT, 1992) e a transformação dosatores sociais em clientes que delegam ao poderrepresentativo a tarefa de decidir sobre o destinocomum (VILLA, 1992). Para os jovens dessa pes-quisa, embora a opção pela causa coletiva cause-lhes dificuldades, ela permanece como fundamen-tal nas suas vidas. Não se sabe, porém, até quan-do “resistirão”, já que também assinalam a durezados conflitos resultantes de abrir mão dos proje-tos pessoais em prol da adesão à causa coletiva.

Se o projeto coletivo pode ser, às vezes, difí-cil, há um sentido de excepcionalidade que osmilitantes concedem-se por serem membros deuma organização mais ampla, em que a situaçãoindefinida de qualquer jovem adolescente éressignificada: os jovens que militam nos partidose nas associações estudantis sentem-se diferenci-ados dos outros, considerados como“despolitizados”, “alienados”, “individualistas”,“entreguistas” e “com aversão à política”. A mai-or crítica dos militantes é dirigida aos jovens quetêm dinheiro e deixam-se absorver pelo consumoe em si mesmos, mas também se dirige ao modocomo hoje se vive a vida, todos absorvidos naluta pela sobrevivência. A militância confere o sen-timento de estarem enxergando “para além dohorizonte” da maioria dos mortais e a responsabi-lidade de poder “representar” outros jovens. A falada jovem abaixo retrata tal situação: “Sabe, se eu

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mudar a cabeça de um jovem, pra mim eu já ficofeliz. Que eu consiga pegar uma ‘patricinha’ –sabe? Que só pensa em ir pro shopping – e mos-trar pra ela que é importante assistir [a]o horáriopolítico, por exemplo, eu vou estar muito feliz”(M. – Cefet-RJ).

Entre os que militam nos diferentes partidos enos movimentos estudantis não há convergênciasobre quais as causas dos jovens são mais impor-tantes: há menção de lutas pontuais como o passelivre, a reforma universitária e o primeiro empre-go. Alguns defendem bandeiras comuns que agre-guem as lutas da juventude; outros reconhecemque isso é impossível, basta que os diferentes gru-pos conscientizem-se de porquê lutar. Há tambémdiscordâncias e antagonismos em relação àburocratização, à centralização e ao autoritarismonas organizações partidárias e estudantis. Umadivisão clara ocorre entre aqueles que defendemuma partidarização do movimento estudantil eoutros que a abominam. Dos 12 militantes emorganizações estudantis que entrevistamos, ape-nas três não eram filiados a partidos e delimitaramsua militância à causa de “melhoria do ensino uni-versitário”. Um deles afirmou: “O debate que éfeito no Diretório Central dos Estudantes é umdebate muito cansativo, às vezes fratricida, pare-ce que um quer destruir o outro e não construirum movimento que busque mais direitos, maisganhos para os estudantes” (R. – UFF).

Esses três jovens ressaltaram que sua não-ade-são aos partidos foi um ato de resistência, namedida em que quase sempre os jovens militantesdos movimentos estudantis são cooptados pelasfacilidades e vantagens que os partidos oferecemaos estudantes filiados. Essa resistência deixa-osmais aptos a construir uma representatividade queseja mais próxima dos estudantes e de suas cau-sas e também menos vulnerável à lógica dos inte-resses partidários. Por outro lado, os que defen-dem a partidarização invocam a necessidade deconstruir-se pautas comuns, o que somente oengajamento partidário permite.

A construção de um “nós” por meio da filiaçãoaos partidos ou às associações estudantis faz-sepor meio da ação e também do delineamento deuma identidade do “nós” em contraposição ao“eles”. Parece haver uma tendência à minimizaçãodas diferenças intragrupos e ao aumento das dife-renças intergrupos, favorecendo que os de forasejam vistos sempre como mais corrompidos por

uma maneira “antiga” de fazer política. Dessemodo, as críticas a como se age e a como se fazpolítica sempre cabe aos outros. Por exemplo, osjovens dos partidos mais à direita criticam o fatode que o movimento estudantil está completamentepartidarizado, o que quer dizer que os partidosfinanciam os estudos dos estudantes filiados, pa-gam-lhes viagens para participar de congressosde estudantes, financiam festas e eventos paraatrair filiados... Nesse sentido, criticam a maneirade fazer política dos partidos de esquerda, quecooptam os estudantes por meio das vantagenspessoais que podem oferecer. Por outro lado, osque estão nos partidos de esquerda criticam amaneira como os da direita sempre cooptaramdeputados, comprando seus votos nos projetosde interesse do governo. A direita é vista comorepresentante direta dos interesses da oligarquianacional. Em geral, a autocrítica parece ser ab-sorvida com dificuldade por medo de enfrenta-rem-se os aspectos indignos do fazer político nopróprio grupo. No limite, busca-se preservar umaimagem idealizada do partido e dos que nele mili-tam. Alguns conseguem expressar a franca de-cepção com o partido e as razões de mudançapartidária. Nesse sentido, pôde-se perceber que arelação com a política, enquanto instituição, apa-rece sempre gerando conflitos, seja porque os ide-ais partidários não se refletem na práxis, seja por-que o fazer político sofre limitações, seja porquea tomada de decisões não resulta de um debatemais amplo. Os depoimentos abaixo ilustram taispreocupações: “Então a gente corre o risco doaluno, do estudante, do jovem ficar perdido e denão querer saber mais de política, pega nojo depolítica... E quanto mais a política vai gerar nessemeio de corrupção, de toma-lá-dá-cá, de lama,menos a gente vai oxigenar isso, menos a gentevai mudar isso” (D. – DEM). “Então, neste con-gresso eu pude ver que dentro da política brasilei-ra, eu pude ver que... eu desiludi[-me] um poucodisso. Eu vi que tem muita corrupção, tem muitagente que não quer nada. Nesse congresso deu20 000 pessoas; dessas, cinco ou seis mil esta-vam a fim [de participar], o resto não estava; des-sas que estão a fim, quem realmente manda são100. Então, quem pode realmente fazer algumacoisa são essas 100 e eu não sou uma dessas 100.Então, isso dá um desânimo!” (D. – USU).

De qualquer modo, as críticas ao modo de agirpolítico encobrem uma questão que os jovenshesitam em propor-se mais explicitamente: como

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construir outro agir político que não se torne tam-bém corrompido? Será que a política força todos,de algum modo, a fazer concessões que, em prin-cípio, renegam? Tais questões apenas insinuadasnão puderam ser averiguadas completamente, massugerem uma enorme preocupação dos jovens emrelação à sua ação futura como militantes.

A adesão ao partido ou à organização estudan-til, para os jovens engajados nas militâncias parti-dária e estudantil, conduz a uma outra visão de si,do futuro e dos outros. Por meio dela, abre-seoutra fronteira de enlaçamento com o social dadapelo que eles chamam de “uma visão crítica dasociedade” ou de uma “conscientização”, carac-terizando uma crise positiva de reordenamento devalores. É como se tudo, de repente, pudesse seriluminado pelo sentido da luta contra a opressão eas injustiças; enfim, o sentido político ilumina to-das as outras vivências do jovem. Dessa forma, apolítica, não como instituição, mas como visãocrítica da sociedade, seria o significante que bati-za a ingresso do jovem em uma outra vida em quepode ver com outros olhos a si mesmo, sua pró-pria família, os problemas que o circundam e asdeterminações a que está submetido.

Assim, a política é sentida como uma formade vida e de compreensão das relações sociais.Situar suas ações no horizonte da política signifi-ca para esses jovens dar novo sentido às experi-ências cotidianas à luz de outros entendimentos,que ampliam o raio de determinação dos aconte-cimentos. O espaço do grupo e das discussões nopartido e nas organizações constitui-se como asustentação objetiva dessa construção coletiva:estar em grupo fazendo ou discutindo realiza ob-jetivamente o esforço para “ser político”, aindaque essa experiência esteja pontuada por traições,rachas e conflitos.

III.2. A militância dos jovens em movimentos so-ciais. A adesão às causas humanitárias: otrabalho social como reparação

O outro grupo de jovens entrevistados estavainserido no trabalho social e comunitário voluntá-rio. O percurso dos jovens assim engajados apre-sentou-se bastante variado, em muitos casos con-fundindo-se até com o resgate da própria históriapessoal. Por exemplo, alguns jovens pobres quetrabalhavam em ONGs em prol de outros jovensdesfavorecidos afirmaram que seu ingresso nes-sas organizações permitiu-lhes “sair da rua”, “lar-gar as drogas e o caminho errado” e optar por um

caminho de realização e trabalho. Nesses casos,as causas pessoais vão ao encontro de e mes-clam-se às causas sociais, na medida em que vi-ram na sua própria mudança a possibilidade con-creta de trabalhar em prol da mudança de outrosjovens nas mesmas condições.

Em geral, há uma preocupação dos entrevista-dos a respeito da falta de oportunidades causadapelas desigualdades sociais, aspecto que os moti-va a realizar o trabalho social. Essa motivação ésentida como um “ter que agir”, ainda que muitosdeles reconheçam que fazem o que seria a obriga-ção do governo fazer: “É, eu acho exatamente isso,que as pessoas, na [sua] maioria, preferem igno-rar mesmo o que está acontecendo às vezes dian-te dos próprios olhos – entendeu? – e falar mes-mo que quem tem que fazer isso é o governo eque não têm nada a ver com isso. Bom, de fatonão é a minha obrigação estar aqui, mas eu achoque – sei lá! – se o governo não faz, eu não vousimplesmente ficar quieto, entendeu? Eu acho queo maior problema com os jovens de hoje é o fatode eles não lidarem com essa questão social, deeles simplesmente fingirem que não existe” (F. –Vetor).

A educação é considerada o instrumento porexcelência de transformação e de justiça social.Alguns comentam a emoção de poderem ver ou-tros jovens transformando suas vidas por meiodo trabalho que realizam. É o caso de muitos quetrabalham em cursos pré-vestibulares ou cursospreparatórios comunitários para jovens pobres: “Euestava, eu fiquei maravilhado [...] de olhar aque-las pessoas, a grande maioria delas trabalhou odia inteiro e estavam lá, de 7 da noite às 10, estu-dando com a maior garra, o que eu nunca tinhavisto assim nas escolas onde eu estudei [...]. Nin-guém tinha pego com tanta garra uma oportuni-dade como aquelas pessoas que estavam ali. Aquilome emocionou muito” (P. – Lumina).

Em uma outra variante, mas na mesma linhade pensamento, os jovens pobres que trabalham,por exemplo, em rádios comunitárias e na forma-ção artística e musical de outros jovens enfatizamas possibilidades identificatórias do seu trabalho ede sua vida para aqueles jovens pobres que nas-ceram e vivem nas mesmas condições que as de-les. “Ser exemplo” para um enorme contingentede jovens e crianças que não têm nada a não ser ocaminho das drogas e mostrar-lhes por meio dassuas próprias vidas que há outras opções de vida

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e de realização parece ser o ideal que enlaça essesjovens ao trabalho social. Dois jovens dizem: “En-tão eu via meus amigos passando sufoco, tendoque fazer besteira para arrumar dinheiro, às vezesa gente quer andar bonito e tal. Então o circo foiuma forma de reverter essa história. Eu falei: ‘eunão quero fazer o mesmo que muitas pessoas es-tão fazendo, eu quero seguir um caminho dife-rente’ [...]. Então eu quero passar a mesma coisapara as crianças, [para] que elas possam perceberque têm muitas escolhas, uma ou duas, tem mi-lhões de escolhas, e podem ser escolhas boas”(M. – Afro-Reggae). “[...] Então a rádio comuni-tária está ali pra isso, né, mano? Pra dar a voz aosexcluídos, né, mano? Porque às vezes você temuma comunidade que é excluída assim, não temvoz, não tem nada, não tem ninguém que acolhe,só pessoas que chegam ali pra sugar da própriacomunidade. Então, a rádio comunitária, ela já édiferente disso, ela está ali pra poder dar voz àprópria comunidade e interagir também junto coma comunidade ao seu próprio crescimento” (F. –Rádio Mme. Satã).

Com algumas variações em termos do percur-so que fizeram até o ingresso no trabalho comu-nitário e social, todos os entrevistados estão uni-dos à causa de transformação de um outro – prin-cipalmente o outro destituído social e economica-mente nas atuais condições das grandes cidadesbrasileiras –, em um movimento subjetivo de re-tribuir o que ganharam e em um processo deobjetivar uma “reparação” da dívida social brasi-leira.

Alguns percebem um sentido político do tra-balho social, não por sua inserção na máquinapartidária, mas pela luta emancipatória cujo fimseria, em última análise, a contribuição para queseus pares possam usufruir de condições de li-berdade e de igualdade. Para outros, o sentidopolítico é terminantemente recusado, por justa-mente não quererem ter a ver com partidos políti-cos ou com políticos, vistos como corruptos emanipuladores. Nesse sentido, o vínculo com osexcluídos é direto, sem intermediações, as quaispodem impedir, atrapalhar ou desviar a ação repa-radora: “Acho que a gente considerar política sóo que o Estado coloca ou só atuar em termos departido [...] não é correto. E, na verdade, achoque esse é um instrumento que está muito limita-do. Eu vejo como um instrumento muito limitado.[Os] Partidos políticos hoje em dia têm muita bri-

ga interna, eu já tive muito acesso a esse tipo decoisa e vi que os resultados talvez não sejam osmelhores. Então, hoje eu me vejo na oportunidadede trabalhar com outras coisas que gerem maisresultados” (M. – Consciência Cidadã). “[...] Euacho que partido [não tem] nada a ver. Partido ésó uma forma de você se aliar, de fazer alianças econseguir votos. Eu vejo assim. Porque é muitodifícil que as pessoas pensem [de maneira] igualem todas as coisas e dá tanto problema isso. Ocara sai do partido, vai pro outro, fica sem parti-do, não sei o quê... Eu acho que não tinha que terpartido, não” (T. – Alma).

A relação com a política institucionalizada équase sempre de suspeitas, na medida em que asdisputas, os debates e as diferenças são conside-rados fatores que atrasam, quando não impedema ação engajada. É importante assinalar que essapercepção dos jovens entrevistados aparece tam-bém em estudos realizados em outros países, emque se constata que muitos jovens recusam ainstitucionalização política de suas ações – por meioda vida partidária, por exemplo – por ela estar maisa serviço da máquina partidária do que da trans-formação social (MUXEL, 1994; BAUGNET,1996; ION, 1996; ION & RAVON, 1998;GAUTHIER, 2003; REGUILLO, 2003). Portan-to, tais jovens preferem uma via direta de ação ede participação na sociedade, em que podem cons-tatar, por eles mesmos, os efeitos do que fazem,sem intermediações.

Ainda que considerado como uma obrigaçãomoral pela qual se sentem convocados a agir, ovínculo aos destituídos por meio do trabalho so-cial e comunitário não é sentido como excessivoou “viciante”, como foi no caso dos jovens dogrupo anteriormente discutido. Assim se expres-sa um jovem que trabalha em um curso prepara-tório para o vestibular para jovens pobres: “A res-peito da minha doação pessoal, eu tento me doaro máximo que eu posso. É bem verdade que medoar totalmente nem sempre é possível, princi-palmente quando a vida na faculdade aperta umpouco, com provas, fica complicado se doarmuito, mas sempre que possível eu tento partici-par das reuniões e tento articular as coisas. Achoque é isso. Cada um faz o que pode” (P.– Lumina).

A ação visa a produzir efeitos visíveis de trans-formação nos outros. Desse modo, o trabalho temque se realizar no seu próprio ritmo e as mudan-ças acontecem por força do investimento conti-

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nuado e da convicção de que se pode fazer algu-ma coisa para mudar o estado de coisas ao redor.Alguns entrevistados explicam seu distanciamentode uma atividade político-partidária dizendo queessas agremiações acabam tornando-se um fimem si mesmas, uma “carreira”, em que o que seaprecia são os cargos, exacerbando as vaidadespessoais dos próprios jovens e atiçando o desejode uns terem mais “poder sobre os outros”. Ou,ainda, criticam as associações estudantis por elasserem partidarizadas e não tolerarem a não-partidarização das lutas. Assim, a desconfiança emrelação à atividade político-partidária dirige-se aoseu eventual desvirtuamento no sentido da afir-mação pessoal e do descompromisso com a mu-dança social produzindo apenas a rolageminstitucional do status quo.

A relutância a respeito da partidarização ex-pressa, talvez, uma dificuldade encoberta de osjovens enfrentarem a dispersão e os conflitos de-correntes da pluralidade de interesses e de idéias.Ainda que possam ser procedentes as críticas emrelação ao descomprometimento com a ação e coma transformação a que a luta pelo poder pode even-tualmente conduzir, os entrevistados desse grupoparecem recusar, de todo, a vinculação partidáriacomo uma forma de agir politicamente. Colocamem questão a distância que se estabelece entre adiscussão e a ação dos que militam nos partidospolíticos e a minimização dos efeitos de sua açãosobre a ordem social.

Ainda que seu vínculo ao coletivo faça-se demodo mais pontual, centrado sobre o trabalho emrelação ao outro desfavorecido, esse grupo de jo-vens expressa claramente os conflitos a que estãosujeitos pela sua opção de militância por meio dotrabalho social: em primeiro lugar, com a famíliaque ou desaprova ou acha exagerada sua dedica-ção; em segundo lugar, em termos da própria vidapessoal quando, em algum momento, a satisfaçãopessoal tem que ser adiada. De qualquer modo,não parece haver para esse grupo um adiamentodos estudos ou do trabalho em prol da adesão àcausa, como no grupo anteriormente discutido.

O que parece fundamental no enlaçamentodesses jovens à sociedade mais ampla é o contí-nuo processo de construção de um coletivo emque as opiniões pessoais de cada um devem con-vergir para metas comuns. Em um desses movi-mentos, tivemos a oportunidade de estar presenteem uma reunião em que discutiam como obter

financiamento e como seriam as atividades dopróximo curso preparatório que estavam plane-jando. A reunião durou cerca de seis horas, por-que todos achavam que as diferenças de opiniãotinham que ser expressas e somente quando to-dos concordassem em relação aos pontos discu-tidos a discussão deveria acabar. Nesse sentido,parece enorme o investimento psíquico que essesjovens fazem na direção da construção de seu vín-culo com o grupo social mais amplo, encarado evivido na lenta superação das diferenças, apos-tando que um trabalho comum possa ser abraça-do por todos, nem que para isso tenha que haverum esforço incomum alimentado pelo ideal daconstrução coletiva.

III.3. Participação: da “política”“ ao “políti-co”?

A apresentação dos resultados permite-nos fa-zer algumas considerações sobre os aspectos co-muns e comentar as divergências entre os doisgrupos de entrevistados. Destaca-se, em ambosos grupos, a busca de um vínculo com o socialque dê outros sentidos às suas relações com omundo e insira o jovem em um coletivo de açãona sociedade.

Pari passu à construção de um novo lugar,reconstroem-se também as ligações com a famí-lia e as expectativas desta em relação ao jovem.Não é à toa que todos os jovens, independente-mente do grupo a que estão filiados, enfrentemconflitos com os pais e redirecionem escolhasprofissionais. A busca de uma nova inserção con-duz à luta que também se trava internamente, con-sigo mesmo, do que advirá uma nova compreen-são de si, de sua inserção no mundo e da convi-vência social.

No entanto, muitos afirmam que foi justamen-te da família que vieram suas primeiras percep-ções sobre temas políticos, seja por meio de dis-cussões, seja por meio do exemplo dos pais. Mastambém dos professores, principalmente de His-tória e de Geografia, citados como aqueles quemais incentivam a “ver a realidade de outra for-ma”, a “questionar”, a “ser mais crítico”.

O tema da democracia revela-se pleno de reti-cências e ambigüidades nas falas de todos os jo-vens: a maioria diz crer na democracia como me-lhor forma de governo, mas não acha que o quese esteja vivendo no Brasil possa se chamar dedemocracia, seja porque não há justiça social, seja

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porque a representatividade é uma fraude, sejaporque o governo é opressor, seja porque não háparticipação real da sociedade. Dessa forma, osjovens de ambos os grupos e de todos os espec-tros ideológicos, convergem para uma crítica ex-plícita à maneira como suas vidas são governadaspor um poder que não lhes diz respeito e que dis-simula seus aspectos autocráticos. Assim, fazemeco à afirmação do historiador José Murilo deCarvalho (2002, p. 278): “No Brasil, a política éapenas formalmente democrática”.

A crítica ao fazer político vigente também en-contra ressonância em ambos os grupos, que re-clamam da corrupção na política, mas diferentespropostas de ação são encaminhadas. O grupo dejovens ligado ao trabalho social e comunitário pa-rece ver na adesão partidária – dos grupos parti-dários juvenis ou dos movimentos estudantis –uma solução continuísta e também corruptível,que não rompe com as mazelas deirresponsabilidade e descompromisso do fazerpolítico. Nesse sentido, tentam encaminhar umaação cujo compromisso com a realidade social sejapreservado “na sua essência”, afastando-se dascausas partidárias que lhes parecem sectárias epouco abertas à pluralidade de idéias. O compro-misso com a causa humanitária assume, algumasvezes, uma interface com os movimentos cultu-rais e expressivos dos jovens ligados à crítica so-cial, como o rap e o hip hop. Assim, o vínculodos jovens aos outros destituídos busca investirem uma participação efetiva de transformação dasociedade, iluminada por uma imagem holística eutópica do todo social.

Seus pares que militam nos partidos e nosmovimentos estudantis também tecem críticas aofazer político, cujo desvirtuamento é atribuído,sobretudo, aos outros partidos, não propiciando,assim, atitudes de autocrítica. No entanto, há quese reconhecer que o ingresso dos jovens nas or-ganizações partidárias expõem-nosinexoravelmente à violenta pluralidade de interes-ses que os partidos políticos incorporam e às so-luções e encaminhamentos no âmbito dos parti-dos, que nem sempre contemplam a pureza dosprincípios ideológicos, mas o pragmatismo dasdecisões. O horizonte do político acaba circuns-crevendo-se à luta encarniçada pelo poder, per-dendo sua qualidade de arena que encerra apluralidade e o enfrentamento do adversário, namaioria das vezes apenas considerado como o ini-migo a ser vencido ou destruído.

Por um lado, os jovens militantes do trabalhosocial e comunitário apostam na preservação deum ethos de transformação de mundo em que to-dos possam estar consensualmente integrados eharmonizados; por outro lado, os jovens militan-tes de partidos ou de agremiações estudantis lan-çam-se à defesa da ação partidária programática etêm que encarar a luta aberta e adversa de diver-sos grupos de interesse marcados por métodosnem sempre legítimos. Em ambos os grupos, ain-da que por caminhos e inserções diferentes, per-cebe-se o desejo de transformação de um mundodesigual e injusto.

Assim, os jovens põem em evidência a difícilconquista de um espaço organizado por meio doqual possam fazer valer suas expectativas de mu-dança social. Se nos dois grupos de entrevistadosé patente seu inconformismo perante o status quoe a busca de construção de um coletivo pelo qualas mudanças podem ser operadas, tanto pela viapartidária como pela do trabalho voluntárioengajado, há dificuldades no estabelecimento deuma conjunção da política com o político. A “po-lítica” é entendida como o modus operandi soci-almente legitimado e organizado de levar adiantemudanças societárias no horizonte de lutas e an-tagonismos; o “político” é visto como construçãocoletiva contra-hegemônica que visa a restabele-cer o vínculo com os excluídos. Para os jovensaqui entrevistados, ao levantar-se a bandeira dapolítica corre-se o risco de tornar-se parte de umaengrenagem em que se pode perder de vista ocompromisso com a mudança real e com os prin-cípios partidários. Ou, ao preferir-se o político,engajando-se no trabalho voluntário engajado,corre-se o risco de se evitar confrontar e lidarcom as engrenagens mais amplas a que estão sub-metidos e os diversos interesses que dividem asociedade mais ampla.

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A “causa comum” traduz a passagem dos jo-vens a um outro lugar na sociedade fora da famí-lia de origem, inserindo-os nas relações sociaismais amplas. Ela denota a resposta dos jovens fren-te ao mal-estar que experimentam ao depararem-se com injustiças e desigualdades sociais, interpe-lando-os à responsabilidade por tal situação. Asrespostas dos jovens, como vimos, não são isen-tas de conflitos e impasses. O que parece impor-tante assinalar é que elas põem em curso diferen-tes modalidades de ação, todas aspirantes a trans-

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formar a sociedade em direção a mais justiça, li-berdade e igualdade.

Os jovens engajados no trabalho socialengajado visam a não perder de vista a “causa”dos destituídos ao longo da organização e daefetivação da ação. Seu afastamento das institui-ções políticas, como os partidos, revela decepçãocom os interesses “vindos de cima” que solapamo comprometimento com a transformação social.Nesse sentido, preferem permanecer circunscri-tos à ação local, de modo a constatar “com seuspróprios olhos” qual a eficácia que tal ação pos-sui. Os que se engajam em partidos e nos movi-mentos estudantis pensam que somente dentrodessas organizações será possível transformarradicalmente a sociedade no âmbito de um proje-to de nação. No entanto, esses jovens vivem osconflitos em relação às concessões que a luta par-tidária parece demandar, uma vez que a ação polí-tica está submetida a um enquadramento de inte-resses mais amplos. Em ambos os casos, o cená-rio de desigualdades sociais parece ser o aspectoque convoca à ação, incitando a transformaçãodo estado de coisas ao redor.

A corrupção do fazer político nas instituiçõesformais é duramente criticado. Pelos jovens queestão militando nos partidos, essa crítica acom-panha-se de angústias e questionamentos em re-lação à sua futura trajetória: de que modo os obje-tivos partidários podem vir a legitimar os meios?Até onde compromissos podem ser feitos? Alémdisso, muitos deles mostraram claramente suadecepção e suas frustrações com o jogo político eprofessam atitudes “realistas” quando confessamque estão convencidos de que “a política tem li-mitações”. Ou seja, as mudanças, ainda que aca-lentadas, nem sempre são alcançadas. Para aque-les que ingressaram e permanecem no trabalhosocial engajado, essas dúvidas parecem ter sidorespondidas ao optar-se pela distância em relaçãoaos mecanismos formais de participação política.Parece ser uma resposta de esquiva aoenfrentamento das lutas de interesses mais amplosque podem incidir sobre a ação engajada. Aindaassim, é importante notar o questionamento quefazem das formas convencionais de luta pela igual-dade e pela emancipação e sua opção pela militânciapor meio do trabalho social voluntário, o que abreespaço para que se discutam outras maneiras decombater-se a opressão. Nessa linha de pensamento,Terry Eagleton afirma que é justamente do pontode vista subalterno e pontual que a sociedade pode

enriquecer-se e reinventar modos de embate con-tra as injustiças: “A sociedade não pode ser totalizadade um ponto de vista privilegiado acima dela mes-ma, mas de um ponto subordinado dentro dela. Alógica de uma situação geral só pode ser decifradapelos que a olham de um ângulo específico, já quesão eles que mais necessitam desse conhecimentopara o fim de sua emancipação. Eles estão, a bemdizer, na posição de saber, uma expressão simplesque nega que a ‘posicionalidade’ seja necessaria-mente contrária à verdade” (EAGLETON, 2000,p. 81; sem grifos no original).

Assim posicionados nas bordas dos mecanis-mos estabelecidos de pressão e reivindicação, osjovens questionam as visões de Brasil e as formasde convivência que o fazer político tem reprodu-zido ao longo da república brasileira.

Concluindo, cabe perguntar sobre os delinea-mentos futuros das formas de participação políti-ca que os jovens têm encaminhado. Cabe questi-onar se as críticas ao fazer político, tanto por partedos que militam nos partidos, como dos que seengajam no trabalho social e comunitário, trarãoum renascimento das instituições políticas ou sepermanecerão anódinas às engrenagens partidári-as legitimadas. Será que a participação política dosjovens, sob suas várias formas e ainda comosurplus e energia pouco organizada, contribuirápara trazer para mais próximo o ideal da demo-cracia no Brasil? As ações dos jovens aquipesquisados venceram a apatia e o conformismo,juntando-se à causa da transformação social e ins-tituindo formas de lidar com o mal-estar da con-vivência. Nesse sentido, suas ações acompanhamum processo crescente de politização da vida so-cial, como afirma Ernesto Laclau (1994, p. 4):“[...] nas sociedades pós-modernas há tanto odeclínio dos grandes atores históricos quanto dosespaços públicos centrais, em que as decisõesimportantes para a sociedade como um todo eramtomadas. Mas, ao mesmo tempo, há umapolitização de vastas áreas da vida social que abrecaminho para uma proliferação de identidadespolíticas particulares”. Nesse sentido, parece sertanto no limite quanto no exterior das atividadesconvencionalmente tidas como políticas que a po-lítica adquire algum sentido e importância paramuitos jovens no Brasil hoje, justapondo ideais detransformação do presente com os de reparaçãosocial, ambos podendo ser concebidos comoreordenações do vínculo com o social e permitindoao jovem o compromisso com o destino comum.

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Artigo modificado por solicitação do editor em (Abril/2009).