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Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth (representados por Norman Tjombe) vs Angola e Treze Outros Resumo da Queixa: 1. A Participação-queixa foi a princípio apresentada pelo Sr. Norman Tjombe (o Queixoso) em nome do Sr. Luke Munyandu Tembani e do Sr. Benjamin John Freeth (as Vítimas) contra a República de Angola (Primeiro Estado Requerido), a República do Botswana (Segundo Estado Requerido), a República Democrática do Congo (Terceiro Estado Requerido), o Reino do Lesoto (Quarto Estado Requerido), a República do Malawi (Quinto Estado Requerido), a República das Maurícias (Sexto Estado Requerido), a República de Moçambique (Sétimo Estado Requerido), a República da Namíbia (Oitavo Estado Requerido), a República das Seicheles (Nono Estado Requerido), a República da África do Sul (Décimo Estado Requerido), o Reino da Swazilândia (Décimo Primeiro Estado Requerido), a República Unida da Tanzânia (Décimo Segundo Estado Requerido), a República da Zâmbia (Décimo Terceiro Estado Requerido), e a República do Zimbabwe (Décima Quarto Estado Requerido) (colectivamente os Estados Requeridos), assim como a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e o Conselho de Ministros da SADC (o Conselho da SADC). 2. Todavia, a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (a Comissão) passou a lidar com a presente Participação-queixa contra os catorze (14) Estados Requeridos na sua qualidade de Estados Partes da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Carta Africana). 1 3. Em virtude das declarações ajuramentadas feitas pelas Vítimas, apoiadas por diversos documentos comprovativos (constituindo tudo isso a Participação-queixa), o Queixoso alega que a Primeira Vítima, um zimbabweano, havia adquirido em 1995 um título de prédio rústico destinado à agricultura, no qual investiu consideráveis recursos em meios de exploração agrícola, passando entretanto a estar privado desse título e forçado a abandonar o referido prédio rústico como consequência de uma acção executiva do Governo do Zimbabwe. Esta questão foi levada ao Tribunal da SADC (o Tribunal), tendo esta instância decidido a favor da Primeira Vítima, confirmando a convicção desta de que a perda prédio rústico estava em conflito com as obrigações Contratuais do Zimbabwe, por isso em violação do Direito internacional. 2 4. O Queixoso sustenta que a decisão do Tribunal não foi cumprida pelo Zimbabwe, tal como outras decisões tomadas por essa instância contra o Zimbabwe, incluindo a 1 Para detalhes da decisão da Comissão em passar a lidar com a Participação-queixa, é favor consultar o parágrafo 17 adiante. 2 A decisão pertinente está apensa à Paticipação-queixa sob a designação de Anexo A.

Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

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Page 1: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

Participaccedilatildeo-queixa 40912 ndash Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth (representados por Norman Tjombe) vs Angola e Treze Outros

Resumo da Queixa 1 A Participaccedilatildeo-queixa foi a princiacutepio apresentada pelo Sr Norman Tjombe (o Queixoso)

em nome do Sr Luke Munyandu Tembani e do Sr Benjamin John Freeth (as Viacutetimas) contra a Repuacuteblica de Angola (Primeiro Estado Requerido) a Repuacuteblica do Botswana (Segundo Estado Requerido) a Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Terceiro Estado Requerido) o Reino do Lesoto (Quarto Estado Requerido) a Repuacuteblica do Malawi (Quinto Estado Requerido) a Repuacuteblica das Mauriacutecias (Sexto Estado Requerido) a Repuacuteblica de Moccedilambique (Seacutetimo Estado Requerido) a Repuacuteblica da Namiacutebia (Oitavo Estado Requerido) a Repuacuteblica das Seicheles (Nono Estado Requerido) a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul (Deacutecimo Estado Requerido) o Reino da Swazilacircndia (Deacutecimo Primeiro Estado Requerido) a Repuacuteblica Unida da Tanzacircnia (Deacutecimo Segundo Estado Requerido) a Repuacuteblica da Zacircmbia (Deacutecimo Terceiro Estado Requerido) e a Repuacuteblica do Zimbabwe (Deacutecima Quarto Estado Requerido) (colectivamente os Estados Requeridos) assim como a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) e o Conselho de Ministros da SADC (o Conselho da SADC)

2 Todavia a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (a Comissatildeo) passou a

lidar com a presente Participaccedilatildeo-queixa contra os catorze (14) Estados Requeridos na sua qualidade de Estados Partes da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Carta Africana)1

3 Em virtude das declaraccedilotildees ajuramentadas feitas pelas Viacutetimas apoiadas por diversos

documentos comprovativos (constituindo tudo isso a Participaccedilatildeo-queixa) o Queixoso alega que a Primeira Viacutetima um zimbabweano havia adquirido em 1995 um tiacutetulo de preacutedio ruacutestico destinado agrave agricultura no qual investiu consideraacuteveis recursos em meios de exploraccedilatildeo agriacutecola passando entretanto a estar privado desse tiacutetulo e forccedilado a abandonar o referido preacutedio ruacutestico como consequecircncia de uma acccedilatildeo executiva do Governo do Zimbabwe Esta questatildeo foi levada ao Tribunal da SADC (o Tribunal) tendo esta instacircncia decidido a favor da Primeira Viacutetima confirmando a convicccedilatildeo desta de que a perda preacutedio ruacutestico estava em conflito com as obrigaccedilotildees Contratuais do Zimbabwe por isso em violaccedilatildeo do Direito internacional2

4 O Queixoso sustenta que a decisatildeo do Tribunal natildeo foi cumprida pelo Zimbabwe tal

como outras decisotildees tomadas por essa instacircncia contra o Zimbabwe incluindo a

1 Para detalhes da decisatildeo da Comissatildeo em passar a lidar com a Participaccedilatildeo-queixa eacute favor consultar o paraacutegrafo 17 adiante 2 A decisatildeo pertinente estaacute apensa agrave Paticipaccedilatildeo-queixa sob a designaccedilatildeo de Anexo A

decisatildeo a favor daquilo que passa a ser designado de requerentes Campbell3 decisatildeo essa tomada pelo Tribunal no caso Mike Campbell (PVT) Limited e Outros vs Repuacuteblica do Zimbabwe4 (o caso Campbell) A Segunda Viacutetima era um dos Requerentes Campbell5 a qual age agora em nome dos requerentes Campbell na presente Participaccedilatildeo-queixa

5 Declara igualmente o Queixoso que as Viacutetimas meteram uma seacuterie de requerimentos

junto do Tribunal no intuito de que a desobediecircncia do Zimbabwe fosse remetida agrave Cimeira de Chefes de Estado da SADC (Cimeira da SADC) para a tomada de medidas contra o Zimbabwe como Estado membro e que tais medidas haviam sido tambeacutem aprovadas mas de igualmente modo desobedecidas

6 O Queixoso alega que por decisatildeo da Cimeira da SADC incluindo os Estados Requeridos

enquanto entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees entre 16 e 17 de Agosto de 2010 (a ldquoPrimeira Decisatildeordquo) o Tribunal foi suspenso deixando as decisotildees desta instacircncia de poder ser aplicadas As Viacutetimas procuraram lidar com esta questatildeo da suspensatildeo metendo um requerimento junto do Tribunal em Marccedilo de 2011 demandando uma declaraccedilatildeo em que inter alia a Cimeira da SADC tinha o dever de apoiar e facilitar o funcionamento contiacutenuo do Tribunal6 todavia o Tribunal natildeo pocircde sernatildeo foi convocado para lidar com estas questotildees por ter sido suspenso em virtude de uma outra decisatildeo (a ldquoSegunda Decisatildeordquo) tomada pela Cimeira da SADC (e alegadamente de forma impliacutecita pelos Estados Requeridos) em 20 de Maio de 2011 7

7 O Queixoso afirma que a Segunda Decisatildeo perpetua a paralisia indefinida do Tribunal

por natildeo assegurar a nomeaccedilatildeo de juiacutezes e por reiterar a moratoacuteria quanto agrave aceitaccedilatildeo de novos casos ou audiecircncias pelo Tribunal ateacute que o Protocolo da SADC referente ao Tribunal tenha sido revisto e aprovado Alega ainda o Queixoso que a Segunda Decisatildeo natildeo teve em conta a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC que havia deixado em aberto os requerimentos para pocircr em praacutetica decisotildees tomadas requerimentos suplementares referentes a questotildees jaacute ouvidas e requerimentos pendentes

8 O Queixoso assevera que a decisatildeo da Cimeira da SADC em suspender o Tribunal teve

segundas intenccedilotildees afirmando que em vez de pocircr em praacutetica a decisatildeo do Tribunal contra o Zimbabwe enquanto Estado Membro da SADC a Cimeira da SADC deu efeito ao desejo do Zimbabwe em ser absolvido das suas responsabilidades suspendendo essa

3 O falecido William Michael Campbell firma privada da qual ele era um dos directores e 75 outros fazendeiros 4 Caso SADC (T) 1108) Anexo C da Paticipaccedilatildeo-queixa 5 Eacute favor ver Declaraccedilatildeo Ajuramentada da Constituiccedilatildeo de William Michael Campbell Anexo D da

Participaccedilatildeo-queixa pp 10-29 (141-161 da Compilaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa) e o paraacutegrafo 2 da Declaraccedilatildeo Ajuramentada Confirmatoacuteria de Benjamin John Freeth Anexo L da Participaccedilatildeo-queixa (p 348 da Compilaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa) 6 Ver Anexo D da Paticipaccedilatildeo-queixa 7 Prova Marcada F constante da Declaraccedilatildeo Ajuramentada da Constituiccedilatildeo de Luke Muyandu Tembani apensa como pp 4-17 da compilaccedilatildeo da Paticipaccedilatildeo-queixa

instacircncia juriacutedica um acto que alegadamente natildeo proporciona quaisquer recursos face agraves violaccedilotildees de direitos humanos em relaccedilatildeo agraves quais o Tribunal se pronunciara

9 O Queixoso tambeacutem sustenta que a suspensatildeo do Tribunal viola a Carta Africana e o

Tratado e Protocolo da SADC e que a decisatildeo em suspender essa instacircncia eacute irracional arbitraacuteria e motivada por consideraccedilotildees estranhas e de qualquer forma ilegais

10 O Queixoso argumenta que as Viacutetimas na presente Participaccedilatildeo-queixa demandam recursos da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (a Comissatildeo) pois uma vez que o Tribunal foi suspenso a decisatildeo desta instacircncia em seu favor natildeo foi cumprida Assim as viacutetimas e as respectivas famiacutelias continuam a sofrer

11 O Queixoso declara que as decisotildees e acccedilotildees da Cimeira da SADC e por conseguinte de

cada Estado Membro da SADC isto eacute os Estados Requeridos em dar consentimento a tais decisotildees e acccedilotildees e por natildeo terem consequentemente assegurado que o Tribunal continuasse a funcionar constituem uma violaccedilatildeo dos direitos das Viacutetimas ao abrigo da Carta Africana assim como das disposiccedilotildees do Tratado da SADC (Artigos 4 e 6) e do Protocolo da SADC

Artigos que se alega terem sido violados

12 O Queixoso alega violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana Pedidos

13 Na Queixa original o Queixoso pediu que

a a Comissatildeo remetesse a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (o Tribunal Africano)

b se emitissem declaraccedilotildees em que (i) as decisotildees tomadas pela Cimeira da SADC (isto eacute constituindo os

Estados Requeridos como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees) em se suspender as funccedilotildees do Tribunal infringiam a Carta Africana o Tratado da SADC e princiacutepios de Direito internacional a que os Estados Requeridos estatildeo vinculados

(ii) os Estados Requeridos deviam levantar com efeito imediato a professa suspensatildeo das funccedilotildees do Tribunal e fazer tudo o que fosse necessaacuterio para se apoiar e facilitar o Tribunal e as suas funccedilotildees incluindo

A renomeaccedilatildeo dos membros do Tribunal cujo mandato consentiu-se que expirasse em conformidade com a decisatildeo de se suspender o Tribunal

B prestar o financiamento necessaacuterio para que as operaccedilotildees do Tribunal prossigam

C evitar a tomada de quaisquer medidas que melindrem o funcionamento do Tribunal e

D abster-se de quaisquer medidas que possam alterar a independecircncia imparcialidade eficaacutecia acessibilidade e estatuto do Tribunal

(iii) os Estados Requeridos deviam dar efeito agraves decisotildees do Tribunal

incluindo os avisos por ele remetidos agrave Cimeira da SADC e pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees feitas pelos Peritos e que constam do Relatoacuterio Final sobre a Revisatildeo Responsabilidades e Competecircncias do Tribunal da SADC com a data de 6 de Marccedilo de 2011

Procedimentos 14 Em 28 de Dezembro de 2011 o Secretariado recebeu a Queixa datada de 27 de Julho de

2011 A Queixa seguiu os tracircmites processuais a fim de se decidir se a Comissatildeo deveria passar a lidar com a mesma Durante a sua 11ordf Sessatildeo Extraordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 21 de Fevereiro de 2012 a 01 de Marccedilo de 2012 a Comissatildeo tomou a decisatildeo de passar a lidar com a Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo decidiu natildeo remeter a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano por natildeo reunir os necessaacuterios requisitos tal como estipulado nos Regulamentos Internos da CADHP

15 Em 6 de Marccedilo de 2012 o Queixoso foi informado da decisatildeo da Comissatildeo em aceitar a

Participaccedilatildeo-queixa ldquoem relaccedilatildeo apenas aos catorze (14) Estados mencionadosrdquo8 e de natildeo remetecirc-la ao Tribunal Africano O Queixoso foi ainda convidado a articular perante a Comissatildeo argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa contra os catorze (14) Estados Em 13 de Marccedilo de 2012 foram enviadas Notas Verbais a todos os catorze (14) Estados Requeridos informando-os da Queixa apensando esta agraves referidas Notas Verbais

16 Entre 18 de Abril de 2012 e 14 de Maio de 2012 o Queixoso apresentou argumentos

quanto ao provimento da Participaccedilatildeo-queixa nas liacutenguas oficiais de todos os Estados Requeridos O Secretariado transmitiu esses argumentos a todos os Estados Requeridos por meio de Notas Verbais datadas de 18 de Maio de 2012

17 Em 15 de Julho de 2012 o Botswana escreveu ao Secretariado a solicitar que o prazo de

apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao provimento da Queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses A Comissatildeo decidiu que o prazo fosse prorrogado por um (1) mecircs apenas

8 Ver carta com referecircncia ACHPRLPROTCOMM40912SADC0119412

18 Em 24 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu os argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade e a 3 de Agosto de 2012 transmitiu-os ao Queixoso

19 Em 25 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu um pedido das Mauriacutecias para que o

prazo de articulaccedilatildeo de factos quanto a Admissibilidade fosse prorrogado por um (1) mecircs A Comissatildeo concedeu esse prazo

20 Por Nota Verbal datada de 18 de Julho de 2012 as Seicheles reagiram os factos

articulados pelo Queixoso relativamente agrave Admissibilidade da Queixa Os pontos de vista das Seicheles foram transmitidos ao Queixoso

21 Em 03 de Setembro de 2012 os Queixosos enviaram argumentos suplementares

relacionados com a Admissibilidade da Queixa em resposta aos factos articulados pelo Governo da Tanzacircnia quanto ao provimento da Queixa

22 Na sua 52ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Yamoussoukro Cocircte drsquoIvoire de 9 a 22 de

Outubro de 2012 a Comissatildeo examinou a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa tendo-a declarado admissiacutevel

23 Em 16 de Novembro de 2012 o Secretariado informou o Queixoso e os Estados

Requeridos da decisatildeo quanto a Admissibilidade tendo o Queixoso sido solicitado a enviar argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa dentro de sessenta (60) dias da data de notificaccedilatildeo de acordo com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

24 Entre 24 de Dezembro de 2012 e 16 de Janeiro de 2013 o Secretariado recebeu os

argumentos do Queixoso sobre o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa com revisatildeo dos pedidos Acusou-se a recepccedilatildeo dos argumentos tendo estes sido transmitidos aos Estados Requeridos em 22 Janeiro de 2013 Os Estados Requeridos foram igualmente solicitados a enviar por escrito os respectivos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa eou observaccedilotildees referentes aos factos articulados pelo Queixoso dentro de sessenta (60) dias da data da notificaccedilatildeo em conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

25 Em 18 de Fevereiro de 2013 a Aacutefrica do Sul pediu que o prazo de apresentaccedilatildeo de

argumentos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses Em resposta a Comissatildeo concedeu o prazo de um (1) mecircs em conformidade com o 2 do Regulamento 113 dos Regulamentos Internos O aviso da prorrogaccedilatildeo do prazo foi enviado agrave Aacutefrica do Sul e ao Queixoso em 19 de Fevereiro de 2013

26 Em 28 de Fevereiro de 2013 e em 11 de Marccedilo de 2013 as Mauriacutecias informaram o Secretariado de que soacute haviam recebido a Nota Verbal por este enviada a transmitir os factos articulados pelo Queixoso quanto ao Meacuterito da Queixa em 28 de Fevereiro de 2013 Por essa razatildeo solicitava que fosse prorrogado o prazo de apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao Meacuterito

27 Em 11 de Marccedilo de 2013 a Comissatildeo informou as Mauriacutecias de que iria em

conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos calcular o prazo de entrega dos argumentos a partir da data em que esse Estado havia efectivamente recebido os argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito e que a questatildeo da prorrogaccedilatildeo do prazo tal como sugerida pelas Mauriacutecias de facto natildeo se colocava O aviso desta decisatildeo foi igualmente foi igualmente facultado ao Queixoso por meio de carta com a mesma data

28 Em resposta a um pedido da Tanzacircnia em 29 de Abril de 2013 o Secretariado enviou a

decisatildeo sobre a Admissibilidade da Queixa a esse Estado informou a Tanzacircnia de que o Queixoso havia articulado factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e apensou coacutepias da sua Nota Verbal anterior e nota de envio dos referidos factos articulados agrave Tanzacircnia Fez-se recordar a este Estado que em conformidade com os Regulamentos Internos da Comissatildeo o prazo estipulado para envio ao Secretariado por escrito dos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa havia expirado

29 Em 29 de Abril de 2013 o Secretariado recebeu os argumentos das Mauriacutecias quanto ao

Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa cuja recepccedilatildeo foi devidamente confirmada Os argumentos foram transmitidos ao Queixoso na mesma data

30 De 4 a 10 de Junho de 2013 o Secretariado recebeu a resposta do Queixoso

relativamente aos argumentos das Mauriacutecias quanto ao Meacuterito em conformidade com o 2 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

31 Em 12 de Junho de 2013 as Mauriacutecias solicitaram o texto da decisatildeo quanto a

Admissibilidade o qual foi transmitido pela Comissatildeo em 25 de Junho de 2013

32 Em 20 de Junho de 2013 a Aacutefrica do Sul informou a Comissatildeo de que natildeo iria articular quaisquer factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e que acataria a decisatildeo da Comissatildeo sobre a Participaccedilatildeo-queixa O Secretariado acusou a recepccedilatildeo dessa informaccedilatildeo tendo disso notificado o Queixoso

33 Em 30 de Junho o Queixoso enviou ao Secretariado para seu conhecimento uma decisatildeo

do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul contra o Zimbabwe datada de 27 Junho de 2013

34 Por Nota Verbal datada de 15 de Agosto de 2013 recebida pelo Secretariado em 19 de

Agosto de 2013 o Lesoto pediu agrave Comissatildeo para que lhe prestasse informaccedilotildees sobre a situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Solicitou igualmente se era permissiacutevel nesta fase os Estados Requeridos articularem factos sobre a Participaccedilatildeo-queixa Em 20 de Agosto de 2013 o Secretariado informou o Lesoto da situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Indicou ainda que uma vez que o prazo estipulado para que o Lesoto enviasse por escrito ao Secretariado os argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa em conformidade com o 1 do Regulamento 108 esse paiacutes jaacute natildeo poderia articular quaisquer factos

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 2: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

decisatildeo a favor daquilo que passa a ser designado de requerentes Campbell3 decisatildeo essa tomada pelo Tribunal no caso Mike Campbell (PVT) Limited e Outros vs Repuacuteblica do Zimbabwe4 (o caso Campbell) A Segunda Viacutetima era um dos Requerentes Campbell5 a qual age agora em nome dos requerentes Campbell na presente Participaccedilatildeo-queixa

5 Declara igualmente o Queixoso que as Viacutetimas meteram uma seacuterie de requerimentos

junto do Tribunal no intuito de que a desobediecircncia do Zimbabwe fosse remetida agrave Cimeira de Chefes de Estado da SADC (Cimeira da SADC) para a tomada de medidas contra o Zimbabwe como Estado membro e que tais medidas haviam sido tambeacutem aprovadas mas de igualmente modo desobedecidas

6 O Queixoso alega que por decisatildeo da Cimeira da SADC incluindo os Estados Requeridos

enquanto entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees entre 16 e 17 de Agosto de 2010 (a ldquoPrimeira Decisatildeordquo) o Tribunal foi suspenso deixando as decisotildees desta instacircncia de poder ser aplicadas As Viacutetimas procuraram lidar com esta questatildeo da suspensatildeo metendo um requerimento junto do Tribunal em Marccedilo de 2011 demandando uma declaraccedilatildeo em que inter alia a Cimeira da SADC tinha o dever de apoiar e facilitar o funcionamento contiacutenuo do Tribunal6 todavia o Tribunal natildeo pocircde sernatildeo foi convocado para lidar com estas questotildees por ter sido suspenso em virtude de uma outra decisatildeo (a ldquoSegunda Decisatildeordquo) tomada pela Cimeira da SADC (e alegadamente de forma impliacutecita pelos Estados Requeridos) em 20 de Maio de 2011 7

7 O Queixoso afirma que a Segunda Decisatildeo perpetua a paralisia indefinida do Tribunal

por natildeo assegurar a nomeaccedilatildeo de juiacutezes e por reiterar a moratoacuteria quanto agrave aceitaccedilatildeo de novos casos ou audiecircncias pelo Tribunal ateacute que o Protocolo da SADC referente ao Tribunal tenha sido revisto e aprovado Alega ainda o Queixoso que a Segunda Decisatildeo natildeo teve em conta a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC que havia deixado em aberto os requerimentos para pocircr em praacutetica decisotildees tomadas requerimentos suplementares referentes a questotildees jaacute ouvidas e requerimentos pendentes

8 O Queixoso assevera que a decisatildeo da Cimeira da SADC em suspender o Tribunal teve

segundas intenccedilotildees afirmando que em vez de pocircr em praacutetica a decisatildeo do Tribunal contra o Zimbabwe enquanto Estado Membro da SADC a Cimeira da SADC deu efeito ao desejo do Zimbabwe em ser absolvido das suas responsabilidades suspendendo essa

3 O falecido William Michael Campbell firma privada da qual ele era um dos directores e 75 outros fazendeiros 4 Caso SADC (T) 1108) Anexo C da Paticipaccedilatildeo-queixa 5 Eacute favor ver Declaraccedilatildeo Ajuramentada da Constituiccedilatildeo de William Michael Campbell Anexo D da

Participaccedilatildeo-queixa pp 10-29 (141-161 da Compilaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa) e o paraacutegrafo 2 da Declaraccedilatildeo Ajuramentada Confirmatoacuteria de Benjamin John Freeth Anexo L da Participaccedilatildeo-queixa (p 348 da Compilaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa) 6 Ver Anexo D da Paticipaccedilatildeo-queixa 7 Prova Marcada F constante da Declaraccedilatildeo Ajuramentada da Constituiccedilatildeo de Luke Muyandu Tembani apensa como pp 4-17 da compilaccedilatildeo da Paticipaccedilatildeo-queixa

instacircncia juriacutedica um acto que alegadamente natildeo proporciona quaisquer recursos face agraves violaccedilotildees de direitos humanos em relaccedilatildeo agraves quais o Tribunal se pronunciara

9 O Queixoso tambeacutem sustenta que a suspensatildeo do Tribunal viola a Carta Africana e o

Tratado e Protocolo da SADC e que a decisatildeo em suspender essa instacircncia eacute irracional arbitraacuteria e motivada por consideraccedilotildees estranhas e de qualquer forma ilegais

10 O Queixoso argumenta que as Viacutetimas na presente Participaccedilatildeo-queixa demandam recursos da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (a Comissatildeo) pois uma vez que o Tribunal foi suspenso a decisatildeo desta instacircncia em seu favor natildeo foi cumprida Assim as viacutetimas e as respectivas famiacutelias continuam a sofrer

11 O Queixoso declara que as decisotildees e acccedilotildees da Cimeira da SADC e por conseguinte de

cada Estado Membro da SADC isto eacute os Estados Requeridos em dar consentimento a tais decisotildees e acccedilotildees e por natildeo terem consequentemente assegurado que o Tribunal continuasse a funcionar constituem uma violaccedilatildeo dos direitos das Viacutetimas ao abrigo da Carta Africana assim como das disposiccedilotildees do Tratado da SADC (Artigos 4 e 6) e do Protocolo da SADC

Artigos que se alega terem sido violados

12 O Queixoso alega violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana Pedidos

13 Na Queixa original o Queixoso pediu que

a a Comissatildeo remetesse a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (o Tribunal Africano)

b se emitissem declaraccedilotildees em que (i) as decisotildees tomadas pela Cimeira da SADC (isto eacute constituindo os

Estados Requeridos como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees) em se suspender as funccedilotildees do Tribunal infringiam a Carta Africana o Tratado da SADC e princiacutepios de Direito internacional a que os Estados Requeridos estatildeo vinculados

(ii) os Estados Requeridos deviam levantar com efeito imediato a professa suspensatildeo das funccedilotildees do Tribunal e fazer tudo o que fosse necessaacuterio para se apoiar e facilitar o Tribunal e as suas funccedilotildees incluindo

A renomeaccedilatildeo dos membros do Tribunal cujo mandato consentiu-se que expirasse em conformidade com a decisatildeo de se suspender o Tribunal

B prestar o financiamento necessaacuterio para que as operaccedilotildees do Tribunal prossigam

C evitar a tomada de quaisquer medidas que melindrem o funcionamento do Tribunal e

D abster-se de quaisquer medidas que possam alterar a independecircncia imparcialidade eficaacutecia acessibilidade e estatuto do Tribunal

(iii) os Estados Requeridos deviam dar efeito agraves decisotildees do Tribunal

incluindo os avisos por ele remetidos agrave Cimeira da SADC e pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees feitas pelos Peritos e que constam do Relatoacuterio Final sobre a Revisatildeo Responsabilidades e Competecircncias do Tribunal da SADC com a data de 6 de Marccedilo de 2011

Procedimentos 14 Em 28 de Dezembro de 2011 o Secretariado recebeu a Queixa datada de 27 de Julho de

2011 A Queixa seguiu os tracircmites processuais a fim de se decidir se a Comissatildeo deveria passar a lidar com a mesma Durante a sua 11ordf Sessatildeo Extraordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 21 de Fevereiro de 2012 a 01 de Marccedilo de 2012 a Comissatildeo tomou a decisatildeo de passar a lidar com a Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo decidiu natildeo remeter a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano por natildeo reunir os necessaacuterios requisitos tal como estipulado nos Regulamentos Internos da CADHP

15 Em 6 de Marccedilo de 2012 o Queixoso foi informado da decisatildeo da Comissatildeo em aceitar a

Participaccedilatildeo-queixa ldquoem relaccedilatildeo apenas aos catorze (14) Estados mencionadosrdquo8 e de natildeo remetecirc-la ao Tribunal Africano O Queixoso foi ainda convidado a articular perante a Comissatildeo argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa contra os catorze (14) Estados Em 13 de Marccedilo de 2012 foram enviadas Notas Verbais a todos os catorze (14) Estados Requeridos informando-os da Queixa apensando esta agraves referidas Notas Verbais

16 Entre 18 de Abril de 2012 e 14 de Maio de 2012 o Queixoso apresentou argumentos

quanto ao provimento da Participaccedilatildeo-queixa nas liacutenguas oficiais de todos os Estados Requeridos O Secretariado transmitiu esses argumentos a todos os Estados Requeridos por meio de Notas Verbais datadas de 18 de Maio de 2012

17 Em 15 de Julho de 2012 o Botswana escreveu ao Secretariado a solicitar que o prazo de

apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao provimento da Queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses A Comissatildeo decidiu que o prazo fosse prorrogado por um (1) mecircs apenas

8 Ver carta com referecircncia ACHPRLPROTCOMM40912SADC0119412

18 Em 24 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu os argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade e a 3 de Agosto de 2012 transmitiu-os ao Queixoso

19 Em 25 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu um pedido das Mauriacutecias para que o

prazo de articulaccedilatildeo de factos quanto a Admissibilidade fosse prorrogado por um (1) mecircs A Comissatildeo concedeu esse prazo

20 Por Nota Verbal datada de 18 de Julho de 2012 as Seicheles reagiram os factos

articulados pelo Queixoso relativamente agrave Admissibilidade da Queixa Os pontos de vista das Seicheles foram transmitidos ao Queixoso

21 Em 03 de Setembro de 2012 os Queixosos enviaram argumentos suplementares

relacionados com a Admissibilidade da Queixa em resposta aos factos articulados pelo Governo da Tanzacircnia quanto ao provimento da Queixa

22 Na sua 52ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Yamoussoukro Cocircte drsquoIvoire de 9 a 22 de

Outubro de 2012 a Comissatildeo examinou a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa tendo-a declarado admissiacutevel

23 Em 16 de Novembro de 2012 o Secretariado informou o Queixoso e os Estados

Requeridos da decisatildeo quanto a Admissibilidade tendo o Queixoso sido solicitado a enviar argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa dentro de sessenta (60) dias da data de notificaccedilatildeo de acordo com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

24 Entre 24 de Dezembro de 2012 e 16 de Janeiro de 2013 o Secretariado recebeu os

argumentos do Queixoso sobre o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa com revisatildeo dos pedidos Acusou-se a recepccedilatildeo dos argumentos tendo estes sido transmitidos aos Estados Requeridos em 22 Janeiro de 2013 Os Estados Requeridos foram igualmente solicitados a enviar por escrito os respectivos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa eou observaccedilotildees referentes aos factos articulados pelo Queixoso dentro de sessenta (60) dias da data da notificaccedilatildeo em conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

25 Em 18 de Fevereiro de 2013 a Aacutefrica do Sul pediu que o prazo de apresentaccedilatildeo de

argumentos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses Em resposta a Comissatildeo concedeu o prazo de um (1) mecircs em conformidade com o 2 do Regulamento 113 dos Regulamentos Internos O aviso da prorrogaccedilatildeo do prazo foi enviado agrave Aacutefrica do Sul e ao Queixoso em 19 de Fevereiro de 2013

26 Em 28 de Fevereiro de 2013 e em 11 de Marccedilo de 2013 as Mauriacutecias informaram o Secretariado de que soacute haviam recebido a Nota Verbal por este enviada a transmitir os factos articulados pelo Queixoso quanto ao Meacuterito da Queixa em 28 de Fevereiro de 2013 Por essa razatildeo solicitava que fosse prorrogado o prazo de apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao Meacuterito

27 Em 11 de Marccedilo de 2013 a Comissatildeo informou as Mauriacutecias de que iria em

conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos calcular o prazo de entrega dos argumentos a partir da data em que esse Estado havia efectivamente recebido os argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito e que a questatildeo da prorrogaccedilatildeo do prazo tal como sugerida pelas Mauriacutecias de facto natildeo se colocava O aviso desta decisatildeo foi igualmente foi igualmente facultado ao Queixoso por meio de carta com a mesma data

28 Em resposta a um pedido da Tanzacircnia em 29 de Abril de 2013 o Secretariado enviou a

decisatildeo sobre a Admissibilidade da Queixa a esse Estado informou a Tanzacircnia de que o Queixoso havia articulado factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e apensou coacutepias da sua Nota Verbal anterior e nota de envio dos referidos factos articulados agrave Tanzacircnia Fez-se recordar a este Estado que em conformidade com os Regulamentos Internos da Comissatildeo o prazo estipulado para envio ao Secretariado por escrito dos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa havia expirado

29 Em 29 de Abril de 2013 o Secretariado recebeu os argumentos das Mauriacutecias quanto ao

Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa cuja recepccedilatildeo foi devidamente confirmada Os argumentos foram transmitidos ao Queixoso na mesma data

30 De 4 a 10 de Junho de 2013 o Secretariado recebeu a resposta do Queixoso

relativamente aos argumentos das Mauriacutecias quanto ao Meacuterito em conformidade com o 2 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

31 Em 12 de Junho de 2013 as Mauriacutecias solicitaram o texto da decisatildeo quanto a

Admissibilidade o qual foi transmitido pela Comissatildeo em 25 de Junho de 2013

32 Em 20 de Junho de 2013 a Aacutefrica do Sul informou a Comissatildeo de que natildeo iria articular quaisquer factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e que acataria a decisatildeo da Comissatildeo sobre a Participaccedilatildeo-queixa O Secretariado acusou a recepccedilatildeo dessa informaccedilatildeo tendo disso notificado o Queixoso

33 Em 30 de Junho o Queixoso enviou ao Secretariado para seu conhecimento uma decisatildeo

do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul contra o Zimbabwe datada de 27 Junho de 2013

34 Por Nota Verbal datada de 15 de Agosto de 2013 recebida pelo Secretariado em 19 de

Agosto de 2013 o Lesoto pediu agrave Comissatildeo para que lhe prestasse informaccedilotildees sobre a situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Solicitou igualmente se era permissiacutevel nesta fase os Estados Requeridos articularem factos sobre a Participaccedilatildeo-queixa Em 20 de Agosto de 2013 o Secretariado informou o Lesoto da situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Indicou ainda que uma vez que o prazo estipulado para que o Lesoto enviasse por escrito ao Secretariado os argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa em conformidade com o 1 do Regulamento 108 esse paiacutes jaacute natildeo poderia articular quaisquer factos

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 3: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

instacircncia juriacutedica um acto que alegadamente natildeo proporciona quaisquer recursos face agraves violaccedilotildees de direitos humanos em relaccedilatildeo agraves quais o Tribunal se pronunciara

9 O Queixoso tambeacutem sustenta que a suspensatildeo do Tribunal viola a Carta Africana e o

Tratado e Protocolo da SADC e que a decisatildeo em suspender essa instacircncia eacute irracional arbitraacuteria e motivada por consideraccedilotildees estranhas e de qualquer forma ilegais

10 O Queixoso argumenta que as Viacutetimas na presente Participaccedilatildeo-queixa demandam recursos da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (a Comissatildeo) pois uma vez que o Tribunal foi suspenso a decisatildeo desta instacircncia em seu favor natildeo foi cumprida Assim as viacutetimas e as respectivas famiacutelias continuam a sofrer

11 O Queixoso declara que as decisotildees e acccedilotildees da Cimeira da SADC e por conseguinte de

cada Estado Membro da SADC isto eacute os Estados Requeridos em dar consentimento a tais decisotildees e acccedilotildees e por natildeo terem consequentemente assegurado que o Tribunal continuasse a funcionar constituem uma violaccedilatildeo dos direitos das Viacutetimas ao abrigo da Carta Africana assim como das disposiccedilotildees do Tratado da SADC (Artigos 4 e 6) e do Protocolo da SADC

Artigos que se alega terem sido violados

12 O Queixoso alega violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana Pedidos

13 Na Queixa original o Queixoso pediu que

a a Comissatildeo remetesse a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (o Tribunal Africano)

b se emitissem declaraccedilotildees em que (i) as decisotildees tomadas pela Cimeira da SADC (isto eacute constituindo os

Estados Requeridos como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees) em se suspender as funccedilotildees do Tribunal infringiam a Carta Africana o Tratado da SADC e princiacutepios de Direito internacional a que os Estados Requeridos estatildeo vinculados

(ii) os Estados Requeridos deviam levantar com efeito imediato a professa suspensatildeo das funccedilotildees do Tribunal e fazer tudo o que fosse necessaacuterio para se apoiar e facilitar o Tribunal e as suas funccedilotildees incluindo

A renomeaccedilatildeo dos membros do Tribunal cujo mandato consentiu-se que expirasse em conformidade com a decisatildeo de se suspender o Tribunal

B prestar o financiamento necessaacuterio para que as operaccedilotildees do Tribunal prossigam

C evitar a tomada de quaisquer medidas que melindrem o funcionamento do Tribunal e

D abster-se de quaisquer medidas que possam alterar a independecircncia imparcialidade eficaacutecia acessibilidade e estatuto do Tribunal

(iii) os Estados Requeridos deviam dar efeito agraves decisotildees do Tribunal

incluindo os avisos por ele remetidos agrave Cimeira da SADC e pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees feitas pelos Peritos e que constam do Relatoacuterio Final sobre a Revisatildeo Responsabilidades e Competecircncias do Tribunal da SADC com a data de 6 de Marccedilo de 2011

Procedimentos 14 Em 28 de Dezembro de 2011 o Secretariado recebeu a Queixa datada de 27 de Julho de

2011 A Queixa seguiu os tracircmites processuais a fim de se decidir se a Comissatildeo deveria passar a lidar com a mesma Durante a sua 11ordf Sessatildeo Extraordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 21 de Fevereiro de 2012 a 01 de Marccedilo de 2012 a Comissatildeo tomou a decisatildeo de passar a lidar com a Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo decidiu natildeo remeter a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano por natildeo reunir os necessaacuterios requisitos tal como estipulado nos Regulamentos Internos da CADHP

15 Em 6 de Marccedilo de 2012 o Queixoso foi informado da decisatildeo da Comissatildeo em aceitar a

Participaccedilatildeo-queixa ldquoem relaccedilatildeo apenas aos catorze (14) Estados mencionadosrdquo8 e de natildeo remetecirc-la ao Tribunal Africano O Queixoso foi ainda convidado a articular perante a Comissatildeo argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa contra os catorze (14) Estados Em 13 de Marccedilo de 2012 foram enviadas Notas Verbais a todos os catorze (14) Estados Requeridos informando-os da Queixa apensando esta agraves referidas Notas Verbais

16 Entre 18 de Abril de 2012 e 14 de Maio de 2012 o Queixoso apresentou argumentos

quanto ao provimento da Participaccedilatildeo-queixa nas liacutenguas oficiais de todos os Estados Requeridos O Secretariado transmitiu esses argumentos a todos os Estados Requeridos por meio de Notas Verbais datadas de 18 de Maio de 2012

17 Em 15 de Julho de 2012 o Botswana escreveu ao Secretariado a solicitar que o prazo de

apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao provimento da Queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses A Comissatildeo decidiu que o prazo fosse prorrogado por um (1) mecircs apenas

8 Ver carta com referecircncia ACHPRLPROTCOMM40912SADC0119412

18 Em 24 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu os argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade e a 3 de Agosto de 2012 transmitiu-os ao Queixoso

19 Em 25 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu um pedido das Mauriacutecias para que o

prazo de articulaccedilatildeo de factos quanto a Admissibilidade fosse prorrogado por um (1) mecircs A Comissatildeo concedeu esse prazo

20 Por Nota Verbal datada de 18 de Julho de 2012 as Seicheles reagiram os factos

articulados pelo Queixoso relativamente agrave Admissibilidade da Queixa Os pontos de vista das Seicheles foram transmitidos ao Queixoso

21 Em 03 de Setembro de 2012 os Queixosos enviaram argumentos suplementares

relacionados com a Admissibilidade da Queixa em resposta aos factos articulados pelo Governo da Tanzacircnia quanto ao provimento da Queixa

22 Na sua 52ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Yamoussoukro Cocircte drsquoIvoire de 9 a 22 de

Outubro de 2012 a Comissatildeo examinou a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa tendo-a declarado admissiacutevel

23 Em 16 de Novembro de 2012 o Secretariado informou o Queixoso e os Estados

Requeridos da decisatildeo quanto a Admissibilidade tendo o Queixoso sido solicitado a enviar argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa dentro de sessenta (60) dias da data de notificaccedilatildeo de acordo com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

24 Entre 24 de Dezembro de 2012 e 16 de Janeiro de 2013 o Secretariado recebeu os

argumentos do Queixoso sobre o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa com revisatildeo dos pedidos Acusou-se a recepccedilatildeo dos argumentos tendo estes sido transmitidos aos Estados Requeridos em 22 Janeiro de 2013 Os Estados Requeridos foram igualmente solicitados a enviar por escrito os respectivos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa eou observaccedilotildees referentes aos factos articulados pelo Queixoso dentro de sessenta (60) dias da data da notificaccedilatildeo em conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

25 Em 18 de Fevereiro de 2013 a Aacutefrica do Sul pediu que o prazo de apresentaccedilatildeo de

argumentos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses Em resposta a Comissatildeo concedeu o prazo de um (1) mecircs em conformidade com o 2 do Regulamento 113 dos Regulamentos Internos O aviso da prorrogaccedilatildeo do prazo foi enviado agrave Aacutefrica do Sul e ao Queixoso em 19 de Fevereiro de 2013

26 Em 28 de Fevereiro de 2013 e em 11 de Marccedilo de 2013 as Mauriacutecias informaram o Secretariado de que soacute haviam recebido a Nota Verbal por este enviada a transmitir os factos articulados pelo Queixoso quanto ao Meacuterito da Queixa em 28 de Fevereiro de 2013 Por essa razatildeo solicitava que fosse prorrogado o prazo de apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao Meacuterito

27 Em 11 de Marccedilo de 2013 a Comissatildeo informou as Mauriacutecias de que iria em

conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos calcular o prazo de entrega dos argumentos a partir da data em que esse Estado havia efectivamente recebido os argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito e que a questatildeo da prorrogaccedilatildeo do prazo tal como sugerida pelas Mauriacutecias de facto natildeo se colocava O aviso desta decisatildeo foi igualmente foi igualmente facultado ao Queixoso por meio de carta com a mesma data

28 Em resposta a um pedido da Tanzacircnia em 29 de Abril de 2013 o Secretariado enviou a

decisatildeo sobre a Admissibilidade da Queixa a esse Estado informou a Tanzacircnia de que o Queixoso havia articulado factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e apensou coacutepias da sua Nota Verbal anterior e nota de envio dos referidos factos articulados agrave Tanzacircnia Fez-se recordar a este Estado que em conformidade com os Regulamentos Internos da Comissatildeo o prazo estipulado para envio ao Secretariado por escrito dos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa havia expirado

29 Em 29 de Abril de 2013 o Secretariado recebeu os argumentos das Mauriacutecias quanto ao

Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa cuja recepccedilatildeo foi devidamente confirmada Os argumentos foram transmitidos ao Queixoso na mesma data

30 De 4 a 10 de Junho de 2013 o Secretariado recebeu a resposta do Queixoso

relativamente aos argumentos das Mauriacutecias quanto ao Meacuterito em conformidade com o 2 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

31 Em 12 de Junho de 2013 as Mauriacutecias solicitaram o texto da decisatildeo quanto a

Admissibilidade o qual foi transmitido pela Comissatildeo em 25 de Junho de 2013

32 Em 20 de Junho de 2013 a Aacutefrica do Sul informou a Comissatildeo de que natildeo iria articular quaisquer factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e que acataria a decisatildeo da Comissatildeo sobre a Participaccedilatildeo-queixa O Secretariado acusou a recepccedilatildeo dessa informaccedilatildeo tendo disso notificado o Queixoso

33 Em 30 de Junho o Queixoso enviou ao Secretariado para seu conhecimento uma decisatildeo

do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul contra o Zimbabwe datada de 27 Junho de 2013

34 Por Nota Verbal datada de 15 de Agosto de 2013 recebida pelo Secretariado em 19 de

Agosto de 2013 o Lesoto pediu agrave Comissatildeo para que lhe prestasse informaccedilotildees sobre a situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Solicitou igualmente se era permissiacutevel nesta fase os Estados Requeridos articularem factos sobre a Participaccedilatildeo-queixa Em 20 de Agosto de 2013 o Secretariado informou o Lesoto da situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Indicou ainda que uma vez que o prazo estipulado para que o Lesoto enviasse por escrito ao Secretariado os argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa em conformidade com o 1 do Regulamento 108 esse paiacutes jaacute natildeo poderia articular quaisquer factos

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 4: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

B prestar o financiamento necessaacuterio para que as operaccedilotildees do Tribunal prossigam

C evitar a tomada de quaisquer medidas que melindrem o funcionamento do Tribunal e

D abster-se de quaisquer medidas que possam alterar a independecircncia imparcialidade eficaacutecia acessibilidade e estatuto do Tribunal

(iii) os Estados Requeridos deviam dar efeito agraves decisotildees do Tribunal

incluindo os avisos por ele remetidos agrave Cimeira da SADC e pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees feitas pelos Peritos e que constam do Relatoacuterio Final sobre a Revisatildeo Responsabilidades e Competecircncias do Tribunal da SADC com a data de 6 de Marccedilo de 2011

Procedimentos 14 Em 28 de Dezembro de 2011 o Secretariado recebeu a Queixa datada de 27 de Julho de

2011 A Queixa seguiu os tracircmites processuais a fim de se decidir se a Comissatildeo deveria passar a lidar com a mesma Durante a sua 11ordf Sessatildeo Extraordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 21 de Fevereiro de 2012 a 01 de Marccedilo de 2012 a Comissatildeo tomou a decisatildeo de passar a lidar com a Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo decidiu natildeo remeter a Participaccedilatildeo-queixa ao Tribunal Africano por natildeo reunir os necessaacuterios requisitos tal como estipulado nos Regulamentos Internos da CADHP

15 Em 6 de Marccedilo de 2012 o Queixoso foi informado da decisatildeo da Comissatildeo em aceitar a

Participaccedilatildeo-queixa ldquoem relaccedilatildeo apenas aos catorze (14) Estados mencionadosrdquo8 e de natildeo remetecirc-la ao Tribunal Africano O Queixoso foi ainda convidado a articular perante a Comissatildeo argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa contra os catorze (14) Estados Em 13 de Marccedilo de 2012 foram enviadas Notas Verbais a todos os catorze (14) Estados Requeridos informando-os da Queixa apensando esta agraves referidas Notas Verbais

16 Entre 18 de Abril de 2012 e 14 de Maio de 2012 o Queixoso apresentou argumentos

quanto ao provimento da Participaccedilatildeo-queixa nas liacutenguas oficiais de todos os Estados Requeridos O Secretariado transmitiu esses argumentos a todos os Estados Requeridos por meio de Notas Verbais datadas de 18 de Maio de 2012

17 Em 15 de Julho de 2012 o Botswana escreveu ao Secretariado a solicitar que o prazo de

apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao provimento da Queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses A Comissatildeo decidiu que o prazo fosse prorrogado por um (1) mecircs apenas

8 Ver carta com referecircncia ACHPRLPROTCOMM40912SADC0119412

18 Em 24 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu os argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade e a 3 de Agosto de 2012 transmitiu-os ao Queixoso

19 Em 25 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu um pedido das Mauriacutecias para que o

prazo de articulaccedilatildeo de factos quanto a Admissibilidade fosse prorrogado por um (1) mecircs A Comissatildeo concedeu esse prazo

20 Por Nota Verbal datada de 18 de Julho de 2012 as Seicheles reagiram os factos

articulados pelo Queixoso relativamente agrave Admissibilidade da Queixa Os pontos de vista das Seicheles foram transmitidos ao Queixoso

21 Em 03 de Setembro de 2012 os Queixosos enviaram argumentos suplementares

relacionados com a Admissibilidade da Queixa em resposta aos factos articulados pelo Governo da Tanzacircnia quanto ao provimento da Queixa

22 Na sua 52ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Yamoussoukro Cocircte drsquoIvoire de 9 a 22 de

Outubro de 2012 a Comissatildeo examinou a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa tendo-a declarado admissiacutevel

23 Em 16 de Novembro de 2012 o Secretariado informou o Queixoso e os Estados

Requeridos da decisatildeo quanto a Admissibilidade tendo o Queixoso sido solicitado a enviar argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa dentro de sessenta (60) dias da data de notificaccedilatildeo de acordo com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

24 Entre 24 de Dezembro de 2012 e 16 de Janeiro de 2013 o Secretariado recebeu os

argumentos do Queixoso sobre o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa com revisatildeo dos pedidos Acusou-se a recepccedilatildeo dos argumentos tendo estes sido transmitidos aos Estados Requeridos em 22 Janeiro de 2013 Os Estados Requeridos foram igualmente solicitados a enviar por escrito os respectivos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa eou observaccedilotildees referentes aos factos articulados pelo Queixoso dentro de sessenta (60) dias da data da notificaccedilatildeo em conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

25 Em 18 de Fevereiro de 2013 a Aacutefrica do Sul pediu que o prazo de apresentaccedilatildeo de

argumentos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses Em resposta a Comissatildeo concedeu o prazo de um (1) mecircs em conformidade com o 2 do Regulamento 113 dos Regulamentos Internos O aviso da prorrogaccedilatildeo do prazo foi enviado agrave Aacutefrica do Sul e ao Queixoso em 19 de Fevereiro de 2013

26 Em 28 de Fevereiro de 2013 e em 11 de Marccedilo de 2013 as Mauriacutecias informaram o Secretariado de que soacute haviam recebido a Nota Verbal por este enviada a transmitir os factos articulados pelo Queixoso quanto ao Meacuterito da Queixa em 28 de Fevereiro de 2013 Por essa razatildeo solicitava que fosse prorrogado o prazo de apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao Meacuterito

27 Em 11 de Marccedilo de 2013 a Comissatildeo informou as Mauriacutecias de que iria em

conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos calcular o prazo de entrega dos argumentos a partir da data em que esse Estado havia efectivamente recebido os argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito e que a questatildeo da prorrogaccedilatildeo do prazo tal como sugerida pelas Mauriacutecias de facto natildeo se colocava O aviso desta decisatildeo foi igualmente foi igualmente facultado ao Queixoso por meio de carta com a mesma data

28 Em resposta a um pedido da Tanzacircnia em 29 de Abril de 2013 o Secretariado enviou a

decisatildeo sobre a Admissibilidade da Queixa a esse Estado informou a Tanzacircnia de que o Queixoso havia articulado factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e apensou coacutepias da sua Nota Verbal anterior e nota de envio dos referidos factos articulados agrave Tanzacircnia Fez-se recordar a este Estado que em conformidade com os Regulamentos Internos da Comissatildeo o prazo estipulado para envio ao Secretariado por escrito dos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa havia expirado

29 Em 29 de Abril de 2013 o Secretariado recebeu os argumentos das Mauriacutecias quanto ao

Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa cuja recepccedilatildeo foi devidamente confirmada Os argumentos foram transmitidos ao Queixoso na mesma data

30 De 4 a 10 de Junho de 2013 o Secretariado recebeu a resposta do Queixoso

relativamente aos argumentos das Mauriacutecias quanto ao Meacuterito em conformidade com o 2 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

31 Em 12 de Junho de 2013 as Mauriacutecias solicitaram o texto da decisatildeo quanto a

Admissibilidade o qual foi transmitido pela Comissatildeo em 25 de Junho de 2013

32 Em 20 de Junho de 2013 a Aacutefrica do Sul informou a Comissatildeo de que natildeo iria articular quaisquer factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e que acataria a decisatildeo da Comissatildeo sobre a Participaccedilatildeo-queixa O Secretariado acusou a recepccedilatildeo dessa informaccedilatildeo tendo disso notificado o Queixoso

33 Em 30 de Junho o Queixoso enviou ao Secretariado para seu conhecimento uma decisatildeo

do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul contra o Zimbabwe datada de 27 Junho de 2013

34 Por Nota Verbal datada de 15 de Agosto de 2013 recebida pelo Secretariado em 19 de

Agosto de 2013 o Lesoto pediu agrave Comissatildeo para que lhe prestasse informaccedilotildees sobre a situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Solicitou igualmente se era permissiacutevel nesta fase os Estados Requeridos articularem factos sobre a Participaccedilatildeo-queixa Em 20 de Agosto de 2013 o Secretariado informou o Lesoto da situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Indicou ainda que uma vez que o prazo estipulado para que o Lesoto enviasse por escrito ao Secretariado os argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa em conformidade com o 1 do Regulamento 108 esse paiacutes jaacute natildeo poderia articular quaisquer factos

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 5: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

18 Em 24 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu os argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade e a 3 de Agosto de 2012 transmitiu-os ao Queixoso

19 Em 25 de Julho de 2012 o Secretariado recebeu um pedido das Mauriacutecias para que o

prazo de articulaccedilatildeo de factos quanto a Admissibilidade fosse prorrogado por um (1) mecircs A Comissatildeo concedeu esse prazo

20 Por Nota Verbal datada de 18 de Julho de 2012 as Seicheles reagiram os factos

articulados pelo Queixoso relativamente agrave Admissibilidade da Queixa Os pontos de vista das Seicheles foram transmitidos ao Queixoso

21 Em 03 de Setembro de 2012 os Queixosos enviaram argumentos suplementares

relacionados com a Admissibilidade da Queixa em resposta aos factos articulados pelo Governo da Tanzacircnia quanto ao provimento da Queixa

22 Na sua 52ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Yamoussoukro Cocircte drsquoIvoire de 9 a 22 de

Outubro de 2012 a Comissatildeo examinou a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa tendo-a declarado admissiacutevel

23 Em 16 de Novembro de 2012 o Secretariado informou o Queixoso e os Estados

Requeridos da decisatildeo quanto a Admissibilidade tendo o Queixoso sido solicitado a enviar argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa dentro de sessenta (60) dias da data de notificaccedilatildeo de acordo com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

24 Entre 24 de Dezembro de 2012 e 16 de Janeiro de 2013 o Secretariado recebeu os

argumentos do Queixoso sobre o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa com revisatildeo dos pedidos Acusou-se a recepccedilatildeo dos argumentos tendo estes sido transmitidos aos Estados Requeridos em 22 Janeiro de 2013 Os Estados Requeridos foram igualmente solicitados a enviar por escrito os respectivos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa eou observaccedilotildees referentes aos factos articulados pelo Queixoso dentro de sessenta (60) dias da data da notificaccedilatildeo em conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

25 Em 18 de Fevereiro de 2013 a Aacutefrica do Sul pediu que o prazo de apresentaccedilatildeo de

argumentos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa fosse prorrogado por trecircs (3) meses Em resposta a Comissatildeo concedeu o prazo de um (1) mecircs em conformidade com o 2 do Regulamento 113 dos Regulamentos Internos O aviso da prorrogaccedilatildeo do prazo foi enviado agrave Aacutefrica do Sul e ao Queixoso em 19 de Fevereiro de 2013

26 Em 28 de Fevereiro de 2013 e em 11 de Marccedilo de 2013 as Mauriacutecias informaram o Secretariado de que soacute haviam recebido a Nota Verbal por este enviada a transmitir os factos articulados pelo Queixoso quanto ao Meacuterito da Queixa em 28 de Fevereiro de 2013 Por essa razatildeo solicitava que fosse prorrogado o prazo de apresentaccedilatildeo de argumentos quanto ao Meacuterito

27 Em 11 de Marccedilo de 2013 a Comissatildeo informou as Mauriacutecias de que iria em

conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos calcular o prazo de entrega dos argumentos a partir da data em que esse Estado havia efectivamente recebido os argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito e que a questatildeo da prorrogaccedilatildeo do prazo tal como sugerida pelas Mauriacutecias de facto natildeo se colocava O aviso desta decisatildeo foi igualmente foi igualmente facultado ao Queixoso por meio de carta com a mesma data

28 Em resposta a um pedido da Tanzacircnia em 29 de Abril de 2013 o Secretariado enviou a

decisatildeo sobre a Admissibilidade da Queixa a esse Estado informou a Tanzacircnia de que o Queixoso havia articulado factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e apensou coacutepias da sua Nota Verbal anterior e nota de envio dos referidos factos articulados agrave Tanzacircnia Fez-se recordar a este Estado que em conformidade com os Regulamentos Internos da Comissatildeo o prazo estipulado para envio ao Secretariado por escrito dos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa havia expirado

29 Em 29 de Abril de 2013 o Secretariado recebeu os argumentos das Mauriacutecias quanto ao

Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa cuja recepccedilatildeo foi devidamente confirmada Os argumentos foram transmitidos ao Queixoso na mesma data

30 De 4 a 10 de Junho de 2013 o Secretariado recebeu a resposta do Queixoso

relativamente aos argumentos das Mauriacutecias quanto ao Meacuterito em conformidade com o 2 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

31 Em 12 de Junho de 2013 as Mauriacutecias solicitaram o texto da decisatildeo quanto a

Admissibilidade o qual foi transmitido pela Comissatildeo em 25 de Junho de 2013

32 Em 20 de Junho de 2013 a Aacutefrica do Sul informou a Comissatildeo de que natildeo iria articular quaisquer factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e que acataria a decisatildeo da Comissatildeo sobre a Participaccedilatildeo-queixa O Secretariado acusou a recepccedilatildeo dessa informaccedilatildeo tendo disso notificado o Queixoso

33 Em 30 de Junho o Queixoso enviou ao Secretariado para seu conhecimento uma decisatildeo

do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul contra o Zimbabwe datada de 27 Junho de 2013

34 Por Nota Verbal datada de 15 de Agosto de 2013 recebida pelo Secretariado em 19 de

Agosto de 2013 o Lesoto pediu agrave Comissatildeo para que lhe prestasse informaccedilotildees sobre a situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Solicitou igualmente se era permissiacutevel nesta fase os Estados Requeridos articularem factos sobre a Participaccedilatildeo-queixa Em 20 de Agosto de 2013 o Secretariado informou o Lesoto da situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Indicou ainda que uma vez que o prazo estipulado para que o Lesoto enviasse por escrito ao Secretariado os argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa em conformidade com o 1 do Regulamento 108 esse paiacutes jaacute natildeo poderia articular quaisquer factos

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 6: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

27 Em 11 de Marccedilo de 2013 a Comissatildeo informou as Mauriacutecias de que iria em

conformidade com o 1 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos calcular o prazo de entrega dos argumentos a partir da data em que esse Estado havia efectivamente recebido os argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito e que a questatildeo da prorrogaccedilatildeo do prazo tal como sugerida pelas Mauriacutecias de facto natildeo se colocava O aviso desta decisatildeo foi igualmente foi igualmente facultado ao Queixoso por meio de carta com a mesma data

28 Em resposta a um pedido da Tanzacircnia em 29 de Abril de 2013 o Secretariado enviou a

decisatildeo sobre a Admissibilidade da Queixa a esse Estado informou a Tanzacircnia de que o Queixoso havia articulado factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e apensou coacutepias da sua Nota Verbal anterior e nota de envio dos referidos factos articulados agrave Tanzacircnia Fez-se recordar a este Estado que em conformidade com os Regulamentos Internos da Comissatildeo o prazo estipulado para envio ao Secretariado por escrito dos argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa havia expirado

29 Em 29 de Abril de 2013 o Secretariado recebeu os argumentos das Mauriacutecias quanto ao

Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa cuja recepccedilatildeo foi devidamente confirmada Os argumentos foram transmitidos ao Queixoso na mesma data

30 De 4 a 10 de Junho de 2013 o Secretariado recebeu a resposta do Queixoso

relativamente aos argumentos das Mauriacutecias quanto ao Meacuterito em conformidade com o 2 do Regulamento 108 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

31 Em 12 de Junho de 2013 as Mauriacutecias solicitaram o texto da decisatildeo quanto a

Admissibilidade o qual foi transmitido pela Comissatildeo em 25 de Junho de 2013

32 Em 20 de Junho de 2013 a Aacutefrica do Sul informou a Comissatildeo de que natildeo iria articular quaisquer factos quanto ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa e que acataria a decisatildeo da Comissatildeo sobre a Participaccedilatildeo-queixa O Secretariado acusou a recepccedilatildeo dessa informaccedilatildeo tendo disso notificado o Queixoso

33 Em 30 de Junho o Queixoso enviou ao Secretariado para seu conhecimento uma decisatildeo

do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul contra o Zimbabwe datada de 27 Junho de 2013

34 Por Nota Verbal datada de 15 de Agosto de 2013 recebida pelo Secretariado em 19 de

Agosto de 2013 o Lesoto pediu agrave Comissatildeo para que lhe prestasse informaccedilotildees sobre a situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Solicitou igualmente se era permissiacutevel nesta fase os Estados Requeridos articularem factos sobre a Participaccedilatildeo-queixa Em 20 de Agosto de 2013 o Secretariado informou o Lesoto da situaccedilatildeo da Participaccedilatildeo-queixa Indicou ainda que uma vez que o prazo estipulado para que o Lesoto enviasse por escrito ao Secretariado os argumentos quanto ao Meacuterito da Queixa em conformidade com o 1 do Regulamento 108 esse paiacutes jaacute natildeo poderia articular quaisquer factos

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 7: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

35 Na sua 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria realizada em Banjul Gacircmbia de 22 de Outubro a 5 de

Novembro de 2013 a Comissatildeo examinou o Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa A Lei sobre a Admissibilidade Os Argumentos do Queixoso quanto agrave Admissibilidade da Queixa

36 O Queixoso sustenta que todos os criteacuterios de Admissibilidade enumerados ao abrigo

do Artigo 56 da Carta Africana foram satisfeitos e que portanto a Participaccedilatildeo-queixa deve ser declarada como tendo provimento

37 No que diz respeito ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana o Queixoso declara que em

cumprimento da pertinente disposiccedilatildeo a presente Participaccedilatildeo-queixa indica claramente os nomes e identidade dos requerentes e do respectivo representante legal

38 O Queixoso tambeacutem declara que as disposiccedilotildees do 2 do Artigo 56 da Carta Africana

foram cumpridas uma vez que a Participaccedilatildeo-queixa estabelece claramente todas as quatro ratione jurisdictionis necessaacuterias para que a Comissatildeo possua competecircncia para examinar a queixa designadamente jurisdiccedilatildeo pessoal material temporal e territorial

39 Assevera igualmente o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 3 do

Artigo 56 da Carta Africana por natildeo ter sido redigida em linguagem depreciativa para com os Estados Requeridos A linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa eacute inteiramente apropriada concisa clara e enuncia de forma competente a causa da queixa

40 O Queixoso afirma que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 4 do Artigo 56

da Carta Africana por natildeo basear-se em notiacutecias da comunicaccedilatildeo social mas eacute antes totalmente apoiada em provas directas incluindo relatoacuterios oficiais objectivos e fiaacuteveis Afirma igualmente que as provas que apoiam a Participaccedilatildeo-queixa satildeo fiaacuteveis indisputaacuteveis objectivas e independentes

41 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo o Queixoso sustenta igualmente que

a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 5 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes satisfizeram integralmente os requisitos para o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno considerando natildeo haver nenhuma perspectiva de se obter tais recursos ou instacircncias O queixoso compara os factos da presente Participaccedilatildeo-queixa aos do caso Sir Dawda K Jawara vs Gacircmbia9

42 De acordo com o Queixoso a queixa na presente Participaccedilatildeo eacute precisamente a

suspensatildeo do Tribunal (o que significa que este natildeo pode ser abordado para decidir sobre a legalidade da sua proacutepria suspensatildeo) Assim nas circunstacircncias da presente

9 Paticipaccedilatildeo-queixa 14795 amp 14996 - Dawda K Jawara vs Gacircmbia (2000) ACHPR paraacutegrafos 31- 34

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 8: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

queixa natildeo restam recursos ou instacircncias de Direito interno O Queixoso defende ainda que as tentativas dos requerentes em abordar o referido Tribunal demonstram sem reacutestia de duacutevida que natildeo havia (e continua a natildeo haver) nenhuma perspectiva de se obter quaisquer desses recursos

43 Declara ainda o Queixoso que a presente Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 6 do

Artigo 56 da Carta Africana uma vez que os requerentes apresentaram-na da forma devida procuraram ser expeditos quanto ao seu processamento pelo Secretariado e pela Comissatildeo tendo cumprido com todos os regulamentos directivas ou pedidos da Comissatildeo dentro do prazo exigido

44 O Queixoso declara que a Participaccedilatildeo-queixa cumpre com o 7 do Artigo 56 da Carta Africana uma vez que a suspensatildeo do Tribunal (a base da queixa) natildeo foi ainda levantada apesar das recomendaccedilotildees do Relatoacuterio dos Peritos e da condenaccedilatildeo puacuteblica por ONG ordens de advogados da SADC e ateacute mesmo da comunidade internacional Para aleacutem do mais o Queixoso assevera natildeo existir na Carta Africana ou na Carta das Naccedilotildees Unidas qualquer disposiccedilatildeo a autorizar a paralisaccedilatildeo do Tribunal ou a perpetuaccedilatildeo da paralisaccedilatildeo nem tatildeo pouco qualquer mecanismo legal junto do qual a queixa possa ser ldquoresolvidardquo

Argumentos dos Estados Requeridos quanto a Admissibilidade

45 Dos catorze (14) Estados Requeridos a quem foram facultados os factos de relevacircncia

articulados pelo Queixoso relacionados com a presente Participaccedilatildeo-queixa apenas a Tanzacircnia e as Seicheles reagiram aos argumentos do Queixoso

Os Argumentos das Seicheles quanto a Admissibilidade

46 Em reacccedilatildeo agrave queixa e aos argumentos do Queixoso quanto a Admissibilidade as

Seicheles enviaram uma Nota Verbal de uma paacutegina a indicar que natildeo eram parte directa nas questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa e mais indicando que iriam ldquoadoptar os factos articulados pelo 1ordm Requerido (a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADC) e pelo 2ordm Requerido (Conselho de Ministros da SADC) no que se refere agrave questatildeo da admissibilidaderdquo10

Os Argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

47 Por seu turno a Tanzacircnia apresentou de forma detalhada argumentos em contraacuterio

sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nos requisitos enunciados no Artigo 56 da Carta Africana defendendo que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo havia cumprido com as disposiccedilotildees desse artigo

10 Paraacutegrafo 2 Nota Verbal das Seicheles endereccedilada agrave Comissatildeo Ref MFA3531321 e datada de 18 de Julho de 2012 tal como mencionada no paraacutegrafo 25 supra

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 9: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

Objecccedilatildeo Preliminar levantada pela Tanzacircnia relativamente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo

48 Como questatildeo preliminar a Tanzacircnia quis que a Comissatildeo como oacutergatildeo da UA se debruccedilasse sobre a questatildeo de poder decidir sobre uma queixa apresentada contra um oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se dispunha de mandato para avanccedilar com a emissatildeo de um aviso contra a SADC e os seus Estados Membros A Tanzacircnia pediu portanto agrave Comissatildeo para rejeitar a Participaccedilatildeo-queixa por falta de jurisdiccedilatildeo

Argumentos nos termos do Artigo 56

49 No que se refere ao 1 do Artigo 56 da Carta a Tanzacircnia defende que embora os nomes dos autores estivessem indicados na Participaccedilatildeo-queixa a relevacircncia do segundo autor da Participaccedilatildeo-queixa ndash Benjamin John Freeth ndash natildeo havia sido claramente estabelecida e que nem a nacionalidade profissatildeo ou funccedilatildeo do mesmo eram conhecidas

50 Relativamente ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Tanzacircnia disputa o facto de o

Queixoso ter reunido todos os requisitos relacionados com a compatibilidade da Carta Africana no que se refere agrave jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial A Tanzacircnia defende que as disposiccedilotildees da Carta Africana que se alega terem sido violadas satildeo irrelevantes para os factos que deram azo agrave Queixa e de nenhuma forma estabelecem qualquer violaccedilatildeo prima facie quer da Carta Africana quer dos Princiacutepios da Carta da OUA uma vez que os Artigos em referecircncia tratam do processo do Direito penal e de tribunais nacionais ao contraacuterio do Tribunal da SADC que eacute um oacutergatildeo sub-regional da Comunidade Sustenta ainda a Tanzacircnia que o formato adoptado pelo Queixoso isto eacute em moldes de declaraccedilotildees ajuramentadas eacute incompatiacutevel com o recomendado pela Comissatildeo e que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa ao incluir a Cimeira da SADC e o Conselho da SADC os quais natildeo satildeo por definiccedilatildeo Estados Partes da Carta Africana

51 A Tanzacircnia argumenta que a Comissatildeo natildeo estaacute mandatada para lidar com as

reivindicaccedilotildees do Queixoso quer por disposiccedilatildeo expressa da Carta Africana que por quaisquer implicaccedilotildees necessaacuterias Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Africano no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana11 a Tanzacircnia defende que nem a SADC nem os seus oacutergatildeos que foram arrolados na Participaccedilatildeo-queixa satildeo partes da Carta Africana para que se possa invocar a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo ou mandato para lidar com a Participaccedilatildeo-queixa E mais argumenta que as obrigaccedilotildees da Tanzacircnia decorrentes do Tratado da SADC satildeo completamente diferentes daquelas que emanam da Carta Africana e como tal o Queixoso natildeo pode fazer uso de factos decorrentes da SADC para apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa ao abrigo da Carta Africana

11 Requerimento 0012011

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 10: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

52 No que diz respeito agrave jurisdiccedilatildeo material (ratione materiae) da Comissatildeo a Tanzacircnia assevera que as questotildees levantadas pelo Queixoso relacionadas com o acesso ao Tribunal podem ser levantadas e tratadas a niacutevel da SADC enquanto organizaccedilatildeo internacional e oacutergatildeo sub-regional agrave qual foi conferida jurisdiccedilatildeo exclusiva para lidar com questotildees comunitaacuterias desse geacutenero Em apoio desse argumento a Tanzacircnia fundamenta-se no caso Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano12

53 A Tanzacircnia argumenta que face a tudo quanto atraacutes se referiu o Queixoso estaacute a

convidar a Comissatildeo a lidar com uma questatildeo que se situa fora da sua jurisdiccedilatildeo material pessoal temporal e territorial

54 E mais defende a Tanzacircnia que o requisito enunciado no 3 do Artigo 56 da Carta

Africana natildeo foi cumprido dado que a Participaccedilatildeo-queixa ldquoestaacute repleta de linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Tanzacircnia sustenta que o QueixosoViacutetimas empregaram retoacuterica poliacutetica e linguagem grosseira

55 A Tanzacircnia fundamenta-se nas decisotildees da Comissatildeo relativamente agraves Participaccedilatildeo-

queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees13 e Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Gana14 ao solicitar agrave Comissatildeo que considere a Participaccedilatildeo-queixa de insultuosa e depreciativa e como natildeo tendo cumprido com o 3 do Artigo 56 da Carta Africana Para aleacutem do mais a Tanzacircnia citou a Participaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Queacutenia15

56 Relativamente ao 4 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que pese embora o facto da Participaccedilatildeo-queixa natildeo se basear em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social ela baseia-se exclusivamente em alegaccedilotildees que tecircm como premissa as decisotildees da Cimeira da SADC assim como do Tribunal as quais situam-se inteiramente fora do acircmbito da intervenccedilatildeo da Comissatildeo um grupo sub-regional inteiramente diferente com mecanismos proacuteprios para resoluccedilatildeo de disputas A Tanzacircnia argumenta igualmente que o QueixosoVitimas natildeo investigaram minuciosamente nem determinaram a veracidade dos factos e onde apresentar as suas reivindicaccedilotildees antes de recorrerem agrave Comissatildeo

57 A Tanzacircnia sustenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpriu com as disposiccedilotildees do

5 do Artigo 56 da Carta Africana relativamente ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno A Tanzacircnia argumenta que a suspensatildeo do Tribunal da

12 Requerimento 0102011 13 Participaccedilatildeo-queixa 6592 ndash Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Cameroon (1997) ACHPR 14 Participaccedilatildeo-queixa 3222006 ndash Tsatsu Tsikata vs Republic of Ghana (2006) ACHPR 15 Paticipaccedilatildeo-queixa 26302 ndash Kenya Section of the International Commission of Jurists Law Society of Kenya Kituo Cha Sheria vs Kenya (2004) ACHPR

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 11: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

SADC natildeo constitui justificativo para as Viacutetimas natildeo terem esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno em cada Estado da SADC tal como o tanzaniano e que os factos apresentados pelo QueixosoViacutetimas apenas indicam como eacute que as viacutetimas instauraram processos junto dos tribunais do Zimbabwe antes de recorrerem agrave Comissatildeo Baseando-se na Participaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network e Outros vs Tanzacircnia16 e na Participaccedilatildeo-queixa 2630217 atraacutes referida a Tanzacircnia defende que as viacutetimas natildeo instauraram processos judiciais perante os tribunais tanzanianos e como tal ao Estado tanzaniano natildeo foi concedida oportunidade para lidar com as alegadas injusticcedilas em conformidade com o princiacutepio de Direito internacional de esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno

58 A Tanzacircnia afirma que seria bastante injusto a Comissatildeo usurpar a sua jurisdiccedilatildeo neste caso contra a Tanzacircnia ao mesmo tempo que aos seus organismos municipais natildeo foi sequer dada a oportunidade de oferecerem uma soluccedilatildeo para a questatildeo A Tanzacircnia refuta o argumento do Queixoso afirmando existirem recursos ou instacircncias de Direito interno efectivos e suficientes a niacutevel da SADC Fundamentando-se na decisatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos no caso Earl Spencer e Countess Spencer vs Reino Unido18 e na da Comissatildeo (Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Artigo 19 vs Eritreia)19 a Tanzacircnia afirma que cabia agraves ViacutetimasQueixoso dar todos os passos necessaacuterios para se esgotar ou pelo menos tentar esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que tivessem razotildees para acreditar que os mesmos seriam ineficazes

59 Para aleacutem do mais no que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno a Tanzacircnia sustenta que a suspensatildeo do Tribunal eacute uma questatildeo que estaacute ainda a ser tratada a niacutevel da SADC Acrescenta que em relaccedilatildeo a essa questatildeo estaacute ainda por tomar uma decisatildeo final dado estar previsto que o relatoacuterio final sobre o processo de revisatildeo dos instrumentos legais de relevacircncia da SADC deveraacute ser apresentado agrave cimeira em Agosto de 201220 Sustenta tambeacutem a Tanzacircnia que a referecircncia feita pelas Viacutetimas contra o Zimbabwe ainda estaacute a ser tratada pela Cimeira da SADC (dentro do respectivo prazo e calendaacuterio de trabalhos) acrescentando que a Cimeira teraacute ainda de decidir sobre esse assunto Afirma a Tanzacircnia que os Queixosos estatildeo vinculados agraves disposiccedilotildees contidas no 5 do Artigo 32 do Protocolo do Tribunal da SADC as quais exigem que a Cimeira da SADC tome medidas apropriadas logo que um Tribunal determine que a sua decisatildeo natildeo foi respeitada Assim a Tanzacircnia defende que o QueixosoViacutetimas agiram impetuosamente ao apresentarem a presente Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo

16 Paticipaccedilatildeo-queixa 3332006 ndash Southern Africa Human Rights NGO Network and Others vs Tanzania (2010) ACHPR paraacutegrafos 55-66 17 n19 supra 18 App 2885195 e 2885295 (Eur Commrsquon on HR 1998) 19 Participaccedilatildeo-queixa 2752003 ndash Article 19 vs Eritrea (2007) ACHPR 20 Paraacutegrafos 13 e 44 dos argumentos da Tanzacircnia sobre Admissibilidade

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 12: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

60 Sobre o 6 do Artigo 56 referente agrave entrega da Participaccedilatildeo-queixa dentro de um prazo razoaacutevel a contar da data do esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno a Tanzacircnia argumenta que uma vez que as Viacutetimas natildeo esgotaram quaisquer desses recursos em territoacuterio tanzaniano a questatildeo da entrega da Queixa dentro de um prazo razoaacutevel natildeo se levanta nem pode ser levantada Argumenta ainda a Tanzacircnia que uma vez que as alegadas questotildees estatildeo ainda por concluir a niacutevel da SADC o prazo natildeo comeccedilou a ser contado para se conceder ao Queixoso a oportunidade de apresentar a Queixa

61 Em alternativa a Tanzacircnia sustenta que caso a Comissatildeo constate que as Viacutetimas

esgotaram os recursos ou instacircncias de Direito interno a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi apresentada dentro de um prazo razoaacutevel a partir da data em que tais recursos e instacircncias foram esgotados no Zimbabwe e na Aacutefrica do Sul tal como indicado na Participaccedilatildeo-queixa Argumenta a Tanzacircnia que embora a Queixa natildeo mostre claramente quando eacute que as Viacutetimas tentaram exactamente fazer valer as decisotildees junto dos tribunais locais essa mesma Queixa indica que nos factos articulados o QueixosoViacutetimas haviam declarado que a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC em Agosto de 2010 havia tido o efeito praacutetico de retirar ao Tribunal a capacidade de ouvir os requerimentos apresentados a esta instacircncia para que a recusa do Zimbabwe em executar a decisatildeo tomada por esse mesmo Tribunal fosse remetida agrave Cimeira A Tanzacircnia alega portanto que os Queixosos poderiam ter apresentado a Participaccedilatildeo-queixa imediatamente a seguir a Agosto de 2010 altura em que a causa de pedir surgiu isto eacute quando foi tomada a Primeira Decisatildeo em vez de esperar ateacute 27 de Julho de 2011 quase um ano depois do uacuteltimo evento que retirou ao Tribunal a capacidade de ouvir a questatildeo periacuteodo que natildeo eacute razoaacutevel

62 Quanto a isso a Tanzacircnia insta a Comissatildeo a inspirar-se e a subscrever a praacutetica e a

jurisprudecircncia do sistema de direitos humanos europeu e interamericano em constatar ldquoseis mesesrdquo como prazo razoaacutevel para se apresentar uma Participaccedilatildeo-queixa apoacutes terem-se esgotado os recursos ou instacircncias de Direito interno

63 Finalmente relativamente ao 7 do Artigo 56 a Tanzacircnia argumenta que a

Participaccedilatildeo-queixa aborda um caso que estaacute presentemente a ser tratado por um outro oacutergatildeo internacionalsub-regional ndash SADC e portanto a Participaccedilatildeo-queixa natildeo tem nenhuma razatildeo de ser

Argumentos Suplementares do Queixoso quanto a Admissibilidade

64 Nos argumentos suplementares que apresentou quanto agrave Admissibilidade da

Participaccedilatildeo-queixa o Queixoso argumenta que a sugestatildeo de que os processos legais para se fazer respeitar direitos ao abrigo da Carta Africana devem dar prioridade a processos poliacuteticos em curso nunca se fundamentou no princiacutepio de poliacutetica legal Ele argumenta que o suposto escrutiacutenio ou exame da jurisdiccedilatildeo do Tribunal pela Cimeira constituiu uma usurpaccedilatildeo ilegal da jurisdiccedilatildeo exclusiva do Tribunal ndash a mesma ilegalidade a que a Participaccedilatildeo-queixa se refere Para aleacutem do mais o Queixoso

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 13: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

defende que um tal argumento significa igualmente que nunca haveria acesso agrave justiccedila face a uma violaccedilatildeo de natureza contiacutenua

65 E mais argumentou o Queixoso que a Participaccedilatildeo-queixa era instaurada contra os

Estados Requeridos natildeo por ldquoserem meramente membros da SADCrdquo21 mas como entidades responsaacuteveis pela tomada de decisotildees que resolveram unanimemente suspender o Tribunal e que satildeo igualmente todos eles ldquomembros da Uniatildeo Africana e por conseguinte sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeordquo22 Tambeacutem sustenta que no caso Femi Falana vs Uniatildeo Africana23 a que a Tanzacircnia fez referecircncia natildeo tem relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa jaacute aceite pela Comissatildeo relativamente aos catorze Estados Requeridos ao passo que a Participaccedilatildeo-queixa Efoua Mbozorsquoo Samuel vs Parlamento Pan-Africano24 na realidade confirma a jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e do Tribunal Africano relativamente agrave questatildeo

66 Argumenta ainda que a ldquojurisdiccedilatildeo exclusiva rdquo em relaccedilatildeo agrave questatildeo da suspensatildeo do

Tribunal que o Estado alega fundamentar-se no Protocolo da SADC deve nos termos deste Protocolo (no 1 do Artigo 15) ser exercida pelo mesmo Tribunal cuja jurisdiccedilatildeo foi retirada constituindo isto a violaccedilatildeo da Carta Africana alegada pelo QueixosoViacutetimas25

67 Finalmente sobre a questatildeo da jurisdiccedilatildeo o Queixoso disputa o argumento da

Tanzacircnia de que a suspensatildeo do Tribunal natildeo apoia uma causa de pedir nos termos da Carta Africana e afirma que embora isto seja uma questatildeo a ser tratada na fase de anaacutelise do Meacuterito da questatildeo os factos alegados indicam claramente uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

68 No que se refere agrave objecccedilatildeo da Tanzacircnia nos termos do 1 do Artigo 56 sobre a

relevacircncia do segundo autor ele argumenta que o 1 do Artigo 56 meramente exige que os autores de uma Participaccedilatildeo-queixa sejam identificados pelo nome

69 O Queixoso tambeacutem argumenta que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa transgrediu as Directivas sobre Participaccedilotildees-queixa eacute despropositada dado que essas Directivas natildeo satildeo imutaacuteveis e o que eacute mais importante todas as informaccedilotildees materiais foram claramente fornecidas no requerimentoParticipaccedilatildeo-queixa

70 O Queixoso tambeacutem disputa a alegaccedilatildeo da Tanzacircnia de que a linguagem utilizada na Participaccedilatildeo-queixa natildeo cumpre com o 3 do Artigo 56 e afirma que todos os termos identificados como ldquogrosseirosrdquo constituem ldquoterminologia juriacutedica normalrdquo e que a opiniatildeo da Tanzacircnia de que tais palavras ldquosatildeo muito fortesrdquo e ldquohellipinapropriadasrdquo natildeo se

21 Argumentos Suplementares do Queixoso sobre Admissibilidade paraacutegrafo 22 22 Ibid 23 n14 supra 24 n15 supra 25 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 23

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 14: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

enquadram no estipulado no 3 do Artigo 56 O Queixoso nega igualmente que a Participaccedilatildeo-queixa inclua ldquoespeculaccedilotildees assim como questotildees estranhas com um toque de retoacuterica poliacuteticardquo Afirma que os conteuacutedos a que a queixa se refere natildeo satildeo especulativos mas factos histoacutericos incontestaacuteveis (corroborados inter alia por provas documentais) apresentadas sob juramentordquo26 Afirma igualmente o Queixoso que os factos dizem respeito ao Zimbabwe dos quais a Tanzacircnia optou por tirar as suas proacuteprias ilaccedilotildees e que este Estado ldquonatildeo pode invocar as suas proacuteprias ilaccedilotildees para impedir as audiecircncias quanto ao Meacuterito da questatildeordquo27 Para aleacutem do mais o Queixoso declara que o conteuacutedo em disputa da Participaccedilatildeo-queixa fundamenta-se numa preensatildeo razoaacutevel de parcialidade dado que indiviacuteduos na posiccedilatildeo das Viacutetimas satildeo levados por uma questatildeo de rotina a comparecer perante tribunais zimbabweanos sob a acusaccedilatildeo da praacutetica de crimes por procurarem exercer direitos proacuteprios tal como os proferidos pelo Tribunal e que como resultado da decisatildeo impugnadardquo tais indiviacuteduos natildeo dispotildeem de outro foacuterum legal onde possam proteger os seus direitos

71 Fundamentando-se na decisatildeo da Comissatildeo no caso Tsatsu Tsikata vs Repuacuteblica do Gana28 o Queixoso sustenta que a Comissatildeo apenas apoiaria um argumento com base no 3 do Artigo 56 em circunstacircncias excepcionais dado ser necessaacuterio que a causa de pedir seja alegada em termos pouco delicados para com as entidades em causa Defende o Queixoso que na forma como argumentou a Tanzacircnia estava efectivamente a defender que as Participaccedilotildees-queixa deviam ser apresentadas em termos que dificilmente seriam capazes de transmitir uma causa de pedir o que inibiria mesmo a Comissatildeo na forma como formula constataccedilotildees de facto e conclusotildees de direito

72 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia quanto ao requisito enunciado no 4 do

Artigo 56 o Queixoso argumenta natildeo ser mais necessaacuterio verificar a veracidade dos factos subjacentes agraves alegaccedilotildees a autenticidade dos quais estaacute demonstrada pelo texto das resoluccedilotildees formais e a respeito das quais ldquonenhum dos Estados Requeridos procurou apresentar provas em contraacuterio dissociar-se da decisatildeo impugnada qualificaacute-la ou projectaacute-la de forma diferente29

73 No que se refere ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno sustenta

igualmente o Queixoso que as Viacutetimas esgotaram todos os recursos ou instacircncias de Direito interno necessaacuterios e que a suspensatildeo do Tribunal tambeacutem frustrou a tentativa que haviam feito para esgotar tais recursos ou instacircncias (mediante a abordagem do Tribunal) Em resposta agrave opiniatildeo de que as Viacutetimas natildeo recorreram aos tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia o Queixoso argumenta que a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees agrave luz do Direito internacional estaacute sob a alccedilada da justiccedila apenas em foacuteruns internacionais de jurisdiccedilatildeo competente Para aleacutem do mais os tribunais municipais da Tanzacircnia natildeo satildeo ldquointernosrdquo em relaccedilatildeo agraves Viacutetimas e o 5 do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado de forma a considerar o absurdo tal como o

26 Id paraacutegrafo 44 27 Ibid 28 n18 supra 29 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 51

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 15: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

argumento da Tanzacircnia deixa transparecer em que o Queixoso deveria de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno nos catorze Estados Requeridos

74 Fundamentando-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo30 o Queixoso defende que ela natildeo

exigiria que o esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno fosse aplicado literalmente em casos em que se crecirc que esse exerciacutecio seria fuacutetil

75 No que se refere ao argumento da Tanzacircnia de que as Viacutetimas estatildeo vinculadas ao 5

do Artigo 32 do Protocolo da SADC devendo aguardar pela decisatildeo da Cimeira da SADC no que se refere agrave menccedilatildeo por elas feita ao Zimbabwe o Queixoso reitera que a queixa das Viacutetimas prende-se com o facto de o Tribunal ter sido suspenso natildeo que o Zimbabwe tenha repudiado as suas decisotildees

76 O Queixoso tambeacutem disputa a opiniatildeo da Tanzacircnia de que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo foi

apresentada dentro de um prazo razoaacutevel tal como exigido nos termos do 6 do Artigo 56 da Carta Africana e sustenta que a ldquodecisatildeo final [sic] de se suspender o Tribunal31 foi tomada em 20 de Maio de 2011 e natildeo em Agosto de 2010 tal como declarado pela Tanzacircnia e que efectivamente a Participaccedilatildeo-queixa havia sido apresentada dois meses depois de ter surgido a causa de pedir das Viacutetimas

77 Finalmente o Queixoso sustenta que a Tanzacircnia interpreta erradamente a o requisito

de Admissibilidade ao abrigo do 7 do Artigo 56 ao afirmar que tal requisito natildeo havia sido cumprido dado que a mateacuteria de causa da Participaccedilatildeo-queixa estaacute presentemente a ser tratada num outro oacutergatildeo internacional sub-regional ndash SADC O Queixoso sustenta que o 7 do Artigo 56 natildeo se aplica a questotildees que estejam ldquoainda em consideraccedilatildeordquo mas a questotildees que jaacute tenham sido dirimidas pelos Estados envolvidos de ldquoacordo com os princiacutepios da Carta das Naccedilotildees Unidas ou da Carta da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana ou das disposiccedilotildees da presente Cartardquo Aleacutem disso o Queixoso sustenta que a suposta ldquorevisatildeordquo da questatildeo pela Cimeira da SADC natildeo eacute em conformidade com os princiacutepios dos instrumentos internacionais em referecircncia dado que nenhum deles permite a revisatildeo suspensatildeo ou fim da jurisdiccedilatildeo de um tribunal internacional pelo departamento executivo dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente pelo facto de um sistema judicial independente ser um ramo essencial da organizaccedilatildeo tal como estabelecido pelo seu instrumento constitutivo

Decisatildeo da Comissatildeo sobre a questatildeo preliminar da sua jurisdiccedilatildeo ratione personae e jurisdiccedilatildeo ratione materiae

30 Paticipaccedilatildeo-queixa 2752003 (n24 supra) paraacutegrafo 75 Participaccedilotildees-queixa 13794 13994 15497 e 16197 - International PEN et al (em nome de Ken Saro-Wiwa Jr) vs Nigeacuteria (1999) ACHPR paraacutegrafos 74-76 e Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwe Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe(2006) ACHPR paraacutegrafo 72 31 Nota de Rodapeacute 27 paraacutegrafo 66

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 16: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

78 A Tanzacircnia levanta objecccedilotildees quanto ao exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo ratione personae e

jurisdiccedilatildeo ratione materiae da Comissatildeo e solicita que esta determine como questatildeo preliminar se como oacutergatildeo da UA ela pode examinar uma queixa apresentada contra outro oacutergatildeo sub-regional e os respectivos membros e consequentemente se ela possui mandato para emitir uma ordem contra a SADC e os seus Estado Membros A Tanzacircnia argumenta que nem a SADC a sua Cimeira o Conselho de Ministros e nem a Tanzacircnia satildeo partes da Carta Africana meramente por serem membros da SADC de forma a habilitar o QueixosoViacutetimas a qualquer direito de causa de pedir contra os seus oacutergatildeos ou Estados Membros

79 Dos factos articulados pela Tanzacircnia a Comissatildeo observa que o argumento por ela

utilizado em relaccedilatildeo agrave objecccedilatildeo jurisdicional refere-se somente agrave jurisdiccedilatildeo ratione personae da Comissatildeo No entanto a Comissatildeo faz notar que todas as quatro rationes jurisdictionis para que ela tenha competecircncia para examinar a Participaccedilatildeo-queixa satildeo defendidas pela Tanzacircnia nos argumentos que apresenta em relaccedilatildeo ao 2 do Artigo 56 da Carta32 e que todos eles satildeo abordados na anaacutelise de Admissibilidade que a Comissatildeo faz adiante

80 No que se refere especificamente agrave objecccedilatildeo preliminar levantada quanto agrave jurisdiccedilatildeo

ratione personae da Comissatildeo esta faz notar que a queixa no seu formato original enunciou a ldquoCimeira de Chefes de Estado ou de Governo da SADCrdquo o ldquoConselho de Ministros da SADCrdquo e os Estados Requeridos individuais como requeridos Todavia a Comissatildeo tem perfeita consciecircncia de que natildeo possui jurisdiccedilatildeo sobre organizaccedilotildees intergovernamentais e respectivos oacutergatildeos tais como a SADC e a Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo ou Conselho de Ministros dessa Comunidade Portanto a Comissatildeo passou a tratar da presente Participaccedilatildeo-queixa apenas no que se refere aos catorze Estados Requeridos enquanto Estados Partes da Carta Africana

81 Como consequecircncia do acima exposto a Comissatildeo defende que a presente Participaccedilatildeo-

queixa natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a SADC a sua Cimeira ou Conselho de Ministros Tambeacutem natildeo estaacute a ser examinada como tendo sido apresentada contra a Tanzacircnia meramente por ser um membro da SADC mas como Estado Parte da Carta Africana em virtude desse mesmo Estado a ter ratificado no ano de 1984

Anaacutelise da Comissatildeo quanto a Admissibilidade

82 De referir que em conformidade com o Artigo 57 da Carta Africana os pertinentes argumentos do Queixoso relacionados com a Participaccedilatildeo-queixa foram fornecidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos A Comissatildeo interpretou o Artigo 57 da Carta Africana como ldquoindicando implicitamentehellip que o Estado Parte da hellip Carta contra quem a alegaccedilatildeo de violaccedilotildees de direitos humanos eacute feita deve examinaacute-la de boa-feacute e fornecer agrave Comissatildeo todas as informaccedilotildees que tenha agrave sua disposiccedilatildeo para permitir que ela

32 Paraacutegrafo 31 dos argumentos da Tanzacircnia quanto a Admissibilidade

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 17: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

Comissatildeo tome uma decisatildeo equitativardquo33 Natildeo obstante o significado desta disposiccedilatildeo e as notificaccedilotildees enviadas a todos os Estados Requeridos apenas a Tanzacircnia apresentou argumentos quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa

83 Por seu turno as Seicheles expressaram a opiniatildeo de que natildeo eram parte directa das

questotildees levantadas na Participaccedilatildeo-queixa natildeo tendo articulado outros factos excepto confiar em quaisquer argumentos que os oacutergatildeos da SADC tenham apresentado caso fossem partes Assim as Seicheles ficaratildeo vinculadas por quaisquer decisotildees tomadas pela Comissatildeo com base nos factos e provas que lhe tenham sido apresentados

84 Apesar de lhes ter sido dada ampla oportunidade para enviar argumentos quanto agrave

Admissibilidade da questatildeo o Botswana e as Mauriacutecias natildeo o fizeram Lamentavelmente a Comissatildeo natildeo tem pois outra alternativa mas passar a examinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa com base nas informaccedilotildees de que dispotildee

85 Os outros dez (10) Requeridos nomeadamente Angola Repuacuteblica Democraacutetica do

Congo Lesoto Malawi Moccedilambique Namiacutebia Aacutefrica do Sul Swazilacircndia Zacircmbia e Zimbabwe natildeo reagiram aos argumentos do Queixoso nem enviaram quaisquer argumentos ou correspondecircncia agrave Comissatildeo relativamente agrave Queixa A Comissatildeo gostaria de realccedilar que a ausecircncia de reacccedilotildees da parte dos Estados Requeridos natildeo os absolve da decisatildeo que a Comissatildeo iraacute tomar face ao exame da Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa dado que os pertinentes Estados haviam indicado no momento de ratificaccedilatildeo da Carta Africana o seu compromisso em cooperar com a Comissatildeo e acatar todas as decisotildees por ela tomadas34

86 O Artigo 56 estabelece sete requisitos que devem ser cumulativamente cumpridos antes que a Comissatildeo possa declarar uma Participaccedilatildeo-queixa como tendo provimento Se uma das condiccedilotildeesrequisitos natildeo for cumprida a Comissatildeo declararaacute a Participaccedilatildeo-queixa sem provimento salvo se o Queixoso fornecer justificativos bastantes a explicar a razatildeo de quaisquer dos requisitos natildeo poder ser cumprido

87 Em relaccedilatildeo ao 1 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que a

Participaccedilatildeo-queixa indica as Viacutetimas como sendo Luke Munyandu Tembani e Benjamin John Freeth e Norman Tjombe como seu representante legal e autorQueixoso na Participaccedilatildeo-queixa35 A Comissatildeo faz ainda notar as razotildees para que o requisito

33 Participaccedilatildeo-queixa 15996 - Union interafricaine des droits de lHomme Feacutedeacuteration internationale des ligues des droits de lHommeRADDHO Organisation nationale des droits de lHomme au Seacuteneacutegal e Association malienne des droits de lHomme vs Angola (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 34 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 22799 ndash Repuacuteblica Democraacutetica do Congo vs Burundi Rwanda Uganda (2003) ACHPR paraacutegrafos 51-53 35 Eacute favor tomar nota que de acordo com a Poliacutetica Editorial sobre Normas de Redacccedilatildeo de Decisotildees para a Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (sendo este um documento de trabalho interno da Comissatildeo) se um queixosoautor natildeo for a viacutetima das alegadas violaccedilotildees o autorqueixoso (como parte que apresenta a queixa agrave Comissatildeo) distingue-se da viacutetima Assim na identificaccedilatildeo de uma Participaccedilatildeo-

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 18: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

constante do 1 do Artigo 56 como sendo ldquohellipa Comissatildeo deve receber Participaccedilotildees-queixa com informaccedilotildees adequadas e um certo grau de especificidade no que se refere agraves Viacutetimasrdquo36 e assegurar que ela ldquoComissatildeo esteja em contacto com o autor conhecer a sua identidade e estado estar assegurada do seu contiacutenuo interesse na Participaccedilatildeo-queixa e solicitar informaccedilotildees suplementares se o caso assim o exigirrdquo37

88 Por conseguinte a Comissatildeo constata que as Viacutetimas na Participaccedilatildeo-queixa assim

como o autorQueixoso vecircm claramente indicados conforme o exigido A Comissatildeo portanto considera que o requisito nos termos do 1 do Artigo 56 da Carta Africana foi cumprido

89 No que respeita ao 2 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo faz notar que o

requisito de compatibilidade nos termos dessa disposiccedilatildeo refere-se a (i) os titulares de direitos por quem e os titulares de deveres contra quem poderatildeo ser instauradas Participaccedilotildees-queixa (ii) as questotildees substanciais que poderatildeo ser invocadas (iii) o prazo e (iv) o local onde as violaccedilotildees devem ter ocorrido38 No caso Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees39 a Comissatildeo considerou que

[a condiccedilatildeo relativa agrave compatibilidade com a Carta Africana basicamente exige que a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada contra um Estado Parte da Carta a Participaccedilatildeo-queixa deve alegar violaccedilotildees prima facie de direitos protegidos pela Carta Africana a Participaccedilatildeo-queixa deve ser instaurada em funccedilatildeo de violaccedilotildees que ocorreram depois [da] ratificaccedilatildeo da Carta Africana pelo Estado ou nos casos em que as violaccedilotildees tiveram iniacutecio antes do Estado Parte ter ratificado a Carta Africana mas que continuaram apoacutes essa ratificaccedilatildeo

90 Agrave luz desses requisitos a Comissatildeo observa que a presente Participaccedilatildeo-queixa alega a

denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila e explica prima facie que os Artigos 7 e 26 da Carta Africana foram violados A Comissatildeo tambeacutem faz notar que a Participaccedilatildeo-queixa eacute instaurada contra Estados Partes da Carta Africana e alega violaccedilotildees dos direitos de cidadatildeos do Zimbabwe Todos os Estados Requeridos estatildeo sujeitos agrave jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo e os seus territoacuterios regem-se pela Carta Africana As decisotildees pertinentes da Cimeira da SADC que se alega terem sido tomadas colectivamente pelos Estados Requeridos e que formam a base da alegada violaccedilatildeo em curso de denegaccedilatildeo de acesso agrave justiccedila foram adoptadas na Namiacutebia e em Moccedilambique operando nos territoacuterios de todos os Estados Requeridos todos eles regendo-se pela Carta Africana A Comissatildeo

queixa o nome da viacutetima antecede o do Estado Parte com o nome do queixosoautor entre parecircntesis tal com no presente caso 36 Paticipaccedilatildeo-queixa 10494-10994_12694 ndash Centre of the Independence of Judges and Lawyers vs Argeacutelia (1995) ACHPR paraacutegrafo 3 37 Paticipaccedilatildeo-queixa 10893 - Monja Joana vs Madagaacutescar (1997) ACHPR paraacutegrafo 6 Ver igualmente Paticipaccedilatildeo-queixa 6291 - Committee for the Defence of Human Rights (em relaccedilatildeo agrave Sra Jennifer Madike) vs Nigeacuteria e Paticipaccedilatildeo-queixa 7092 - Ibrahima Dioumessi Sekou Kande Ousmane Kaba vs Guineacute encerrados pela Comissatildeo como resultado da falta perda de contacto com os queixosos 38 Frans Viljoen International Human Rights Law in Africa (2012) 311 39 Participaccedilatildeo-Queixa 26603 - Kevin Mgwanga Gunme et al vs Camarotildees (2009) ACHPR paraacutegrafos 71

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 19: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

Africana considera portanto que os requisitos ao abrigo do 2 do Artigo 56 foram cumpridos

91 No que respeita ao 3 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota que nos factos

que articulou a Tanzacircnia considera que os paraacutegrafos 21 22 24 ndash 26 e 29 da Participaccedilatildeo-queixa foram redigidos ldquoem linguagem depreciativa ou insultuosa dirigida aos Estados Membros da SADCrdquo A Comissatildeo faz aqui referecircncia agrave interpretaccedilatildeo que fez dessas terminologias na Participaccedilatildeo-queixa 26803 - Ilesanmi Nigeacuteria40 e Participaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe41 em que considerou respectivamente que ldquohellip depreciativa significa ldquofalar desdenhosamentehellip ou rebaixar e insultar significa abusar com desdeacutem ou ofender a dignidade ou modeacutestia derdquo A linguagem deve ter como objectivo debilitar a integridade e estado da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la (sic)rdquo42 e ldquoinsultuosa significa abusar com desdeacutem ou ofender a estima e modeacutestia dehelliprdquo43

92 Para aleacutem do mais a Comissatildeo defendeu na Participaccedilatildeo-queixa 2840344 acima

mencionada que inter alia

ao se determinar se um determinado reparo eacute depreciativo ou insultuoso e se diminui a integridade do sistema judicial a Comissatildeo tem de se sentir satisfeita que o referido reparo ou linguagem destina-se a violar de forma ilegal e intencional a dignidade reputaccedilatildeo ou integridade de uma entidade judicial ou organismo judiciais e se eacute usado de forma calculada para conspurcar as mentes do puacuteblico ou de qualquer homem razoaacutevel usando expressotildees indelicadas e enfraquecer a confianccedila do puacuteblico na administraccedilatildeo de justiccedila A linguagem deve visar o enfraquecimento da integridade e estatuto da instituiccedilatildeo e desacreditaacute-la Nesse sentido o 3 do Artigo 56 deve ser interpretado tendo em mente o 2 do Artigo 9 da Carta Africana o qual estabelece que lsquotodo o indiviacuteduo deveraacute ter o direito de expressar e disseminar as suas opiniotildees dentro da leirsquo Deve ser criado um equiliacutebrio entre o direito de falar livremente e o dever de proteger as instituiccedilotildees do Estado para se assegurar que embora desencorajando a linguagem abusiva a Comissatildeo Africana natildeo estaacute ao mesmo tempo a violar ou a inibir o usufruto de outros direitos garantidos na Carta Africana designadamente o direito de liberdade de expressatildeo tal como no presente caso [ecircnfase adicionado]45

93 Em virtude da interpretaccedilatildeo acima referida a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que as

terminologias contestadas pela Tanzacircnia na presente Participaccedilatildeo-queixa natildeo satildeo

40Participaccedilatildeo-Queixa 26803 - Ilesanmi vs Nigeacuteria (2005) ACHPR paraacutegrafos 37-40 41Paticipaccedilatildeo-queixa 28403 - Zimbabwe Lawyers for Human Rights amp Associated Newspapers of Zimbabwe Zimbabwe (2009) ACHPR paraacutegrafos 83-97 42 n60 supra paraacutegrafo 39 43 n61 supra paraacutegrafo 88 44 n61 supra 45 Ibid paraacutegrafo 91

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 20: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

insultuosas ou depreciativas na forma como estatildeo previstas nas disposiccedilotildees do 3 do Artigo 56 Palavras como propoacutesito inconfessadordquo ldquovioladorrdquo e irracional e que foi feito de maacute-feacuterdquo mais natildeo satildeo do que meras alegaccedilotildees representando tal como as partes o entendem a percepccedilatildeo de que o QueixosoViacutetimas tecircm dos factos e que formam a base das alegaccedilotildees e receios em que a Participaccedilatildeo-queixa se fundamenta Foram usados para descrever uma situaccedilatildeo que foi condenada e que seria difiacutecil descrevecirc-la de forma diferente46

94 Neste contexto a Comissatildeo deseja distinguir as palavras usadas na presente

Participaccedilatildeo-queixa por exemplo das que foram utilizadas no caso Ligue Camerounaise des Droits de lrsquoHomme vs Camarotildees47 a que a Tanzacircnia faz referecircncia em que a Comissatildeo condenou o uso de palavras tais como ldquoPaul Biya tem de responder [sic] pelos crimes contra a humanidaderdquo ldquo30 anos do regime criminoso e neo-colonial encarnado na dupla AhidjioBiyardquo ldquoregime de torturadoresrdquo e ldquobarbaacuterie do governordquo como linguagem insultuosa48 Com base no acima exposto a Comissatildeo defende que o requisito constante do 3 do Artigo 56 foi cumprido

95 Em relaccedilatildeo ao 4 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo explicou no caso Dawda

K Jawara vs Gacircmbia49 que a razatildeo de ser desse requisito visa sem mais determinar se os factos de uma Participaccedilatildeo-queixa baseiam-se ldquoexclusivamenterdquo em notiacutecias disseminadas atraveacutes da comunicaccedilatildeo social Consequentemente a Comissatildeo leu minuciosamente os apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa tendo observado que os mesmos contecircm documentos oficiais pertinentes que natildeo foram recolhidos da comunicaccedilatildeo social Na opiniatildeo da Comissatildeo portanto a Participaccedilatildeo-queixa reuacutene os requisitos do 4 do Artigo 56

96 Relativamente ao 5 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo nota a opiniatildeo da

Tanzacircnia de que as Viacutetimas natildeo recorreram a recursos ou instacircncias de Direito em tribunais municipais dos Estados Requeridos incluindo a Tanzacircnia A regra quanto ao esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno codificada nos termos do 5 do Artigo 56 da Carta Africana eacute um princiacutepio de Direito internacional que permite que um Estado tenha a oportunidade de corrigir erros ocorridos sob sua jurisdiccedilatildeo no quadro do proacuteprio sistema legal antes da suas responsabilidades internacionais serem postas em causa Um princiacutepio bem enraizado do Direito internacional consuetudinaacuterio eacute o de que antes de se instaurarem processos internacionais deve-se esgotar os vaacuterios recursos ou instacircncias de Direito interno proporcionados pelo Estado50

46 Ver Paticipaccedilotildees-Queixa 26202 - Mouvement ivoirien de droits de lHomme (MIDH) vs Cote dIvoire (2008) ACHPR paraacutegrafos 47- 48 e 26002 - Bakweri Land Claims Committee vs Camarotildees (2004) ACHPR paraacutegrafo 48 47 n17 supra 48 Ibid paraacutegrafo 13 49 n9 supra paraacutegrafos 23-27 50 Ver igualmente Nsongurua Udombana So Far So Fair The Local Remedies Rule in the Jurisprudence of the African Commission on Human and Peoplesrsquo Rights (2003) 97 AJIL No 1 p 2 disponiacutevel em lt httpwwwasilorgajiludombanapdfgt (acedido em 03 de Agosto de 2012) Silvia DrsquoAscoli e Katherine Maria Scherr ldquoThe Rule of Prior Exhaustion of Local Remedies in the International Law

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 21: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

97 A Comissatildeo comentou sobre este princiacutepio na sua proacutepria jurisprudecircncia51 e considerou

que ldquoo significado geralmente aceite de recursos ou instacircncias de Direito interno que devem ser esgotados antes de se instaurar qualquer Participaccedilatildeo-queixa perante a Comissatildeo Africana refere-se aos mecanismos de Direito comum existentes em jurisdiccedilotildees e normalmente acessiacuteveis a pessoas em demanda de justiccedilardquo52 e que ldquoo recurso interno [a] que o 5 do Artigo 56 se refere implica mecanismos demandados em tribunais de natureza judicialhelliprdquo53 Para aleacutem do mais a nota informativa da Comissatildeo (Information Sheet No 3)54 refere igualmente que ldquo[o] autor [de uma Participaccedilatildeo-queixa] deveraacute ter levado a questatildeo a todos os mecanismos ou instacircncias de Direito interno disponiacuteveis Isto eacute eleela deveraacute ter levado o caso agrave mais alta instacircncia do paiacutesrdquo

98 O que do acima exposto se infere eacute que o 5 do Artigo 56 considera o esgotamento de

recursos ou instacircncias de Direito comum existentes nos tribunais judiciais dos Estados Requeridos

99 Natildeo obstante esta regra geral a Comissatildeo Africana considerou em Participaccedilotildees-queixa

anteriores que

ldquohellipa regra dos recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo eacute riacutegida Natildeo se aplica se os recursos ou instacircncias de Direito interno forem inexistentes os recursos ou instacircncias de Direito interno revelarem-se demorados de forma indevida e prolongada ser impossiacutevel o acesso a tais recursos ou instacircncias agrave face da queixa natildeo existir justiccedila nem recursos ou instacircncias de Direito interno a serem esgotados por exemplo nos casos em que o sistema judicial estaacute sob controlo do oacutergatildeo executivo responsaacutevel pelo acto iliacutecito e o mal praticado resulta de um acto executivo do governo como tal que natildeo estaacute claramente sujeito agrave jurisdiccedilatildeo dos tribunais municipaisrdquo 55

100 Para aleacutem do mais a Comissatildeo considerou que o

[Artigo 56] da Carta Africana exige que os Queixosos esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno antes que a Comissatildeo possa aceitar um caso salvo

Doctrine and its Application in the Specific Context of Human Rights Protectionrdquo European University Institute EUI Working Papers Law 200702 p 15 51 Haacute um grande nuacutemero de decisotildees da Comissatildeo sobre esta mateacuteria Para facilidade de referecircncia ver Compilation of Decisions on Communications of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights 1994-2001rsquo (2002) Institute for Human Rights amp Development pp 429-430 Decisions of the African Commission on Human amp Peoplesrsquo Rights on Participaccedilotildees-queixa 2002-2007rsquo (2008) Institute for Human Rights amp Development pp 421-424 52 Paticipaccedilatildeo-queixa 24201 - Institute of Human Rights and Development in Africa and Interights vs Mauritania (2004) ACHPR paraacutegrafo 27 53 Paticipaccedilatildeo-queixa 22198 - Alfred B Cudjoe vs Ghana (1999) ACHPR paraacutegrafo 14 54Procedimentos relacionados com participaccedilotildees-queixa disponiacutevel em lthttpwwwachprorgcommunicationsproceduregt (acedido em 26 de Setembro de 2012) 55 Nota de Rodapeacute 24 paraacutegrafo 48

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 22: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

se tais recursos ou instacircncias natildeo estiverem por uma questatildeo praacutetica disponiacuteveis ou sejam indevidamente prolongados [e que] a Comissatildeo nunca tenha considerado que o requisito de recursos ou instacircncias de Direito interno deva ser aplicado literalmente em casos em que seja impraticaacutevel ou indesejaacutevel o Queixoso abordar os tribunais nacionais relativamente a cada violaccedilatildeordquo56[Ecircnfase adicionada]

101 Da mesma forma o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que nos

casos ldquoem que a exigecircncia do requerente utilizar um recurso especiacutefico natildeo seja na praacutetica razoaacutevel e constitua um obstaacuteculo desproporcional ao exerciacutecio eficaz do direito da aplicaccedilatildeo individual nos termos do Artigo 34 da Convenccedilatildeo o requerente estaacute dispensado desse requisito57

102 A Comissatildeo faz notar que os foacuteruns para esgotamento de recursos ou instacircncias de

Direito interno previstos no 5 do Artigo 56 da Carta natildeo incluem o Tribunal que eacute um oacutergatildeo supranacional e sub-regional de controlo da aplicaccedilatildeo de tratados58 e natildeo um ldquotribunal judicialrdquo de quaisquer dos Estados Requeridos Como resultado seria incorrecto afirmar que os ldquorecursos ou instacircncias de Direito internordquo natildeo podiam ser esgotados como consequecircncia da suspensatildeo do Tribunal

103 Todavia a Comissatildeo estaacute convencida de que o argumento do Queixoso de que o 5

do Artigo 56 natildeo pode ser interpretado como querendo dizer que as ViacutetimasQueixoso teriam de recorrer a recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo se estes existissem em todos os catorze (14) Estados Requeridos antes de abordarem a Comissatildeo Sobre esta questatildeo a Comissatildeo orientada pela sua jurisprudecircncia em casos em que face ao vasto e variado acircmbito das violaccedilotildees alegadas e ao grande nuacutemero de viacutetimas em causa considerou que os recursos ou instacircncias de Direito interno natildeo necessitam de ser esgotados pois isso envolveria abordar os tribunais nacionais em

56 Participaccedilatildeo-queixa 2589-4790-5691-10093 - Free Legal Assistance Group Lawyers Committee for Human Rights Union Interafricaine des Droits de lHomme Les Teacutemoins de Jehovah vs DRC (1996) (ACHPR) Ver tambeacutem Participaccedilatildeo-queixa 5491-6191-9693-9893-16497_19697-21098 - Malawi African Association Amnesty International Ms Sarr Diop Union interafricaine des droits de lHomme and RADDHO Collectif des veuves et ayants-Droit Association mauritanienne des droits de lHomme Mauritania (2000) ACHPR paraacutegrafo 85 Participaccedilatildeo-queixa 2789-4691-4991-9993 - Organisation mondiale contre la torture Association Internationale des juristes deacutemocrates Commission internationale des juristes Union interafricaine des droits de lHommeRwanda (1997) ACHPR paraacutegrafo 18 Participaccedilatildeo-queixa 7392 - Mohammed Lamin Diakiteacute vs Gabon (2000)(ACHPR) paraacutegrafo 16 e Participaccedilatildeo-queixa 7192 - Rencontre africaine pour la deacutefence des droits de lHomme (RADDHO) vs Zambia (1997) (ACHPR) paraacutegrafo 11 57 European Court of Human Rights ndash Practical Guide on Admissibility Criteria Council of EuropeEuropean Court of Human Rights (2011) disponiacutevel em lt httpwwwechrcoeintNRrdonlyresB5358231-79EF-4767-975F-524E0DCF2FBA0ENG_Guide_pratiquepdf gt (acedido em 25 de Setembro de 2012) [Ecircnfase adicionada] 58 Artigo 2 Tribunal da SADC disponiacutevel em lt httpwwwsadcintindexbrowsepage163gt (acedido em 03 de Agosto de 2012)

relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

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relaccedilatildeo a cada violaccedilatildeo eou viacutetima o que efectivamente iria prolongar indevidamente o processo de se esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno em tais casos59

104 A Comissatildeo observa que a implicaccedilatildeo de uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56

da presente Participaccedilatildeo-queixa seria a mesma que a Comissatildeo procurou evitar nas decisotildees anteriores jaacute referidas Quanto a isto a Comissatildeo tem conhecimento do facto de que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi instaurada contra catorze Estados diferentes que se alega terem colectivamente tomado uma decisatildeo que viola os direitos das Viacutetimas protegidos ao abrigo da Carta Africana (cujo meacuterito estaacute ainda por examinar pela Comissatildeo) e que cada Estado possui jurisdiccedilatildeo legal e sistemas de tribunais proacuteprios Na base disso a Comissatildeo considera que uma aplicaccedilatildeo riacutegida do 5 do Artigo 56 agrave presente Participaccedilatildeo-queixa exigindo-se que as ViacutetimasQueixoso esgotem os recursos ou instacircncias de Direito interno em todos os catorze (14) Estados Requeridos mediante a apresentaccedilatildeo de requerimentos em tribunais contra cada Estado60 ocasionaria tal como argumentado pelo Queixoso uma demora paralisante e custos para o QueixosoViacutetimas

105 Com base no acima exposto a Comissatildeo sente-se persuadida a concluir que o

esgotamento de recursos ou instacircncias de Direito interno mesmo que disponiacuteveis natildeo eacute nem praacutetico nem desejaacutevel no presente caso especialmente por vir a tornar-se indevidamente prolongado considerando portanto que o Queixoso estaacute dispensado do requisito constante do 5 do Artigo 56 da Carta Africana

106 No que se refere ao 6 do Artigo 56 da Carta Africana a Comissatildeo observa que a

Carta Africana natildeo refere especificamente o que quer dizer com ldquoprazo razoaacutevelrdquo contrariamente agrave aliacutenea b) do 1 do Artigo 46 da Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos e ao 1 do Artigo 35 do Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos que estabelecem um periacuteodo de seis meses Na ausecircncia de uma especificaccedilatildeo deste tipo a Comissatildeo decidiu sempre com base nos contextos e caracteriacutesticas de cada caso61

107 Para aleacutem do mais o requisito enunciado no 6 do Artigo 56 estabelece dois

eventos em funccedilatildeo dos quais o periacuteodo em que uma Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada pode ser computado sendo (i) ldquoa partir do momento em que os recursos ou instacircncias de Direito interno tenham sido esgotadosrdquo ou (ii) ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Da anaacutelise do 5 do Artigo 56 feita pela Comissatildeo nos paraacutegrafos precedentes no presente caso (natildeo era necessaacuterio) esgotar os recursos ou instacircncias de Direito interno e como consequecircncia disso o periacuteodo para entrega da Participaccedilatildeo-queixa natildeo pode ser calculado ldquoa partir do momento em que os

59 Participaccedilotildees-queixa 2589-4790-5691-1009 5491-6191-9693-9893-16497-19697-21098 e 2789-4691-4991-9993 Nota de Rodapeacute 76 supra 60 Em particular o Queixoso natildeo pode meter requerimentos na Tanzacircnia (ou quanto a isso em qualquer

outro Estado Requerido) contra os outros Estados Requeridos dado que os tribunais nacionais da Tanzacircnia natildeo possuem jurisdiccedilatildeo sobre os demais Estados Requeridos ACHPR paraacutegrafo 65 61 Paticipaccedilatildeo-queixa 33306 (n 21 supra) paraacutegrafo 68 Ver tambeacutem Paticipaccedilatildeo-queixa 31005 - Darfur Relief and Documentation Centre vs Sudatildeo (2009) ACHPR paraacutegrafo 75

recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

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recursos ou instacircncias de Direito interno satildeo esgotadosrdquo Isto deixa-nos com o segundo aspecto da disposiccedilatildeo isto eacute ldquoa partir da data em que a Comissatildeo passou a lidar com a questatildeordquo Em particular este segundo aspecto do 6 do Artigo 56 natildeo foi articulado na jurisprudecircncia da Comissatildeo

108 Quanto a isto a Comissatildeo faz notar que embora o termo ldquolidarrdquo tenha adquirido um

significado teacutecnico no processo de tratamento de Participaccedilotildees-queixa da Comissatildeo querendo significar ldquoa decisatildeo da Comissatildeo em examinar uma Participaccedilatildeo-queixardquo62 o significado teacutecnico de lidar natildeo eacute claramente considerado na segunda parte do 6 do Artigo 56 Isto por que para que a fase de lidar ocorra tecnicamente a Participaccedilatildeo-queixa deveraacute ter sido primeiro apresentada agrave Comissatildeo enquanto que por outro lado o 6 do Artigo 56 considera que uma Participaccedilatildeo-queixa deve ser apresentada ldquodepoisrdquo e dentro de um periacuteodo ldquoa contar da data em que a Comissatildeo passa a lidar com a questatildeordquo

109 Na opiniatildeo da Comissatildeo ela passou a ter jurisdiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa na data em que a alegada causa de pedir surgiu ao abrigo da Carta Africana Quanto a isto a Comissatildeo observa dos apecircndices da Participaccedilatildeo-queixa que embora a Primeira Decisatildeo da Cimeira da SADC de Agosto de 2010 tenha consentido que membros do Tribunal permanecessem nos cargos foi no entanto imposta uma moratoacuteria na aceitaccedilatildeo de novos casos pelo Tribunal enquanto se aguardava pela decisatildeo da Cimeira Extraordinaacuteria sobre o estado funccedilotildees e responsabilidades do Tribunal63 a Segunda Decisatildeo de 20 de Maio de 201164 reafirmou a moratoacuteria e65 enunciou a resoluccedilatildeo da Cimeira de natildeo reconduzir no cargo membros do Tribunal cujos cargos haviam expirado66

110 Tomando todos os factos em conta a Comissatildeo observa que o Tribunal natildeo pocircde ser

convocado como resultado da Segunda Decisatildeo de Maio de 2011 em natildeo reconduzir no cargo os juiacutezes dessa instacircncia juriacutedica cujos cargos haviam expirado Eacute portanto claro que foi essa uacuteltima decisatildeo que excluiu a possibilidade das Viacutetimas abordarem o Tribunal Consequentemente esta data seria na opiniatildeo da Comissatildeo aquela em que a alegada causa de pedir nos termos da Carta Africana surgiu e em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Por conseguinte a Comissatildeo constata que a presente Participaccedilatildeo-queixa foi apresentada dentro de pelo menos dois (2) meses a contar da data em que o periacuteodo de jurisdiccedilatildeo da Comissatildeo teve iniacutecio em relaccedilatildeo aos factos da presente Participaccedilatildeo-queixa Assim os requisitos do 6 do Artigo 56 foram cumpridos

62 Ver 1 e 2 do Artigo 55 da Carta Ver igualmente Participaccedilatildeo-queixa 6592 - Ligue Camerounaise des Droit de lrsquoHomme vs Camarotildees (1997) ACHPR paraacutegrafo 10 63 Ibid paraacutegrafos 94 33 e 102(i) e (iii) 64 Anexo E da Paticipaccedilatildeo-queixa pp 171-174 65 Id paraacutegrafo 8 66 Id paraacutegrafo 7

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 25: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

111 No que se refere ao 7 do Artigo 56 da Carta a Comissatildeo faz notar que a

disposiccedilatildeo codifica a regra non bis in idem67 a qual assegura que nenhum Estado poderaacute ser processado judicialmente ou condenado mais do que uma vez pelas mesmas violaccedilotildees de direitos humanos alegadamente praticadas e procura confirmar e reconhecer o estado res judicata68 de decisotildees tomadas por tribunais eou organismos internacionais regionais

112 A implicaccedilatildeo deste requisito eacute a de que a questatildeo em debate que deve relacionar-se

com os mesmos factos e partes teraacute de ter sido ldquoresolvidardquo ndash jaacute natildeo pode estar a ser examinada ao abrigo de nenhum processo internacional de resoluccedilatildeo de disputas69 Outrossim a resoluccedilatildeo anterior da questatildeo teraacute de ter sido alcanccedilada por um organismo ldquocapaz de conceder reparaccedilatildeo declaratoacuteria ou compensatoacuteria agraves viacutetimas e natildeo meras resoluccedilotildees e declaraccedilotildees poliacuteticasrdquo70 isto eacute ldquoum mecanismo internacional decisoacuterio com mandato na aacuterea dos direitos humanosrdquo71

113 Natildeo existem provas perante a Comissatildeo que mostrem que a presente Participaccedilatildeo-

queixa tenha sido ldquoresolvidardquo por qualquer ldquomecanismo internacional decisoacuteriordquo em conformidade com os instrumentos internacionais em referecircncia Assim a Comissatildeo considera terem sido cumpridos os requisitos do 7 do Artigo 56

114 Em face da anaacutelise acima feita a Comissatildeo Africana declara a Participaccedilatildeo-queixa

como tendo provimento Anaacutelise do Meacuterito

Resumo dos Argumentos do Queixoso

115 O Queixoso sustenta que a suspensatildeo e a permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral (SADC) (o Tribunal da SADC) eacute ilegal por violar as disposiccedilotildees vinculativas da Carta Africana do Tratado da SADC e do Conveacutenio Internacional sobre Direitos Civis e Poliacuteticos (ICCPR) uma vez que essa destituiccedilatildeo infringe o direito de acesso ao tribunal interfere com a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC pocircs termo a processos existentes e a recursos em vigor violou as regas de Direito e transgrediu a doutrina da separaccedilatildeo de poderes E mais sustenta o Queixoso que a suspensatildeo e permanente destituiccedilatildeo do Tribunal da SADC eacute processualmente

67 Tambeacutem conhecido pelo Princiacutepio ou Proibiccedilatildeo da Dupla Incriminaccedilatildeo 68 Princiacutepio segundo o qual a decisatildeo final de um tribunal competente eacute conclusiva relativamente agraves partes em qualquer litiacutegio subsequente envolvendo a mesma causa de pedir 69 Ver Paticipaccedilatildeo-queixa 4090 ndash Bob Ngozi Njoku vs Egypt (1997)ACHPR paraacutegrafos 54-56 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 320 70 Paticipaccedilatildeo-queixa 27903 29605 (agregada) Sudan Human Rights Organisation and the Centre on Housing Rights and Evictions vs Sudatildeo (2010) ACHPR paraacutegrafo 105 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321 71 Id paraacutegrafo 104 Ver tambeacutem Viljoen n 53 supra p 321

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 26: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

irregular por interferir com a existecircncia e funcionamento desse mesmo Tribunal ldquoum oacutergatildeo de controlo de tratados essencialrdquo e constitui um exerciacutecio ldquoirracional e arbitraacuterio de poderes executivosrdquo por ldquoser de maacute-feacute e motivada por consideraccedilotildees estranhasrdquo

116 O Queixoso defende que a suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo permanente do Tribunal da SADC pelos Estados Requeridos eacute uma violaccedilatildeo do direito de uma Viacutetima ter acesso a um tribunal tal como garantido nos Artigos 7 e 26 da Carta Africana conjugados com a Resoluccedilatildeo da Comissatildeo sobre o Direito a Recurso e a Julgamento Justo72 O Queixoso baseia-se na jurisprudecircncia da Comissatildeo no caso Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria em apoio desse ponto73

117 E mais argumenta o Queixoso que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

equivalem a uma violaccedilatildeo da independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC e por via disso da doutrina de separaccedilatildeo de poderes tal como aplicaacutevel no quadro da SADC Neste ponto o Queixoso cita a decisatildeo da Comissatildeo no caso Lawyers for Human Rights vs Swazilacircndia74

118 O Queixoso argumenta ainda que a totalidade dos actos e omissotildees dos Estados

Requeridos equivale a um fim retroactivo de processos ainda existentes e agrave privaccedilatildeo de decisotildees legais a favor das Viacutetimas uma vez que o Tribunal da SADC natildeo eacute agora capaz de ouvir casos novos ou existentes incluindo os que foram instituiacutedo antes dos eventos a que a queixa se refere O Queixoso defende que ao fazecirc-lo os Estados Requeridos violaram o 2 do Artigo 3 e o 1 do Artigo 7 da Carta Africana o 3 do Artigo 2 do ICCPR e o Artigo 14 deste mesmo Conveacutenio assim como o Artigo 27 da Declaraccedilatildeo de Viena e Programa de Acccedilatildeo Em apoio desta opiniatildeo o Queixoso cite o caso Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe75

72 Adoptada na 11ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana realizada em Tunes Tuniacutesia de 2 a 9 de

Marccedilo de 1992 73 Participaccedilatildeo-queixa 12994 Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1995) (ACHPR) paraacutegrafo 13 O Queixoso fundamenta-se igualmente na Participaccedilatildeo-queixa 14395 15096 ndash Constitutional Rights Project amp Civil Liberties Organisation v Nigeacuteria (1999) (ACHPR) nas Participaccedilotildees-queixa 13794 15496 16197 ndash International PEN Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation amp Interights (Em nome de Ken Saro-Wiwa Jnr) vs Nigeacuteria (1999) (ACHPR) 74 Participaccedilatildeo-queixa 25102 ndash Lawyers for Human Rights v Swaziland (2005) ACHPR paraacutegrafos 54 - 56 O Queixoso cita igualmente a Participaccedilatildeo-queixa 14795 14996 ndash Jawara v Gacircmbia (2000)ACHPR e a decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos relativamente agrave Paticipaccedilatildeo-queixa 4681991- Bahamonde v Equatorial Guinea (1993) HRC 75 Paticipaccedilatildeo-queixa 24502 - Zimbabwean Human Rights NGO Forum vs Zimbabwe (2006) ACHPR paraacutegrafo 215 no que diz respeito agrave descontinuidade de casos em curso o Queixoso refere-se agrave decisatildeo do Comiteacute de Direitos Humanos constante da Paticipaccedilatildeo-queixa 5471993 ndash Mahuika vs Nova Zelacircndia (2000) HRC

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 27: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

119 Argumentando que o princiacutepio das regras de Direito eacute uma doutrina fundamental do Direito nacional e internacional o Queixoso argumenta que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos constituem uma violaccedilatildeo desse princiacutepio O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o princiacutepio per se por que os seus actos e omissotildees para com o Tribunal da SADC exclui a supervisatildeo do oacutergatildeo executivo da SADC pelo seu oacutergatildeo judicial priva os interessados de acesso ao Tribunal remove uma decisatildeo legal que estaacute perante um tribunal independente e imparcial e retira a protecccedilatildeo legal de indiviacuteduos contra Estados Isto de acordo com o Queixoso eacute agravado pelo facto de os acontecimentos terem ocorrido depois do Zimbabwe ter ignorado as ordens dos seus proacuteprios tribunais e do Tribunal da SADC

120 Concluindo os seus argumentos quanto ao Meacuterito da questatildeo sob o tiacutetulo

lsquoConclusatildeo e recurso apropriadorsquo o Queixoso apresenta a versatildeo revista de um conjunto de pedidos pedindo agrave Comissatildeo que

a) Declare que as decisotildees dos Estados Requeridos violam a Carta Africana o

Tratado da SADC e outras disposiccedilotildees do Direito internacional a que os Requeridos estatildeo vinculados

b) Instrua os Requeridos a levantar a professa suspensatildeo do Tribunal da SADC e a fazer tudo quanto seja necessaacuterio para restaurar a sua jurisdiccedilatildeo e funcionamento

c) Instrua os Estados Requeridos a concretizar as decisotildees do Tribunal da SADC e

d) Instrua os Estados Requeridos a pocircr em praacutetica as recomendaccedilotildees contidas no relatoacuterio final sobre a revisatildeo das funccedilotildees responsabilidades e poderes do Tribunal da SADC (datado de 6 de Marccedilo de 2011)

Resumo dos Argumentos do Estado Requerido

121 Embora os Argumentos do Queixoso quanto ao Meacuterito da questatildeo tenham sido transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos apenas o Sexto (6ordm) Estado Requerido (Mauriacutecias) articulou factos quanto ao Meacuterito da questatildeo Factos Articulados pela Mauriacutecias quanto ao Meacuterito

122 Os factos articulados pelo Sexto Requerido dividem-se em duas partes principais Uma parte conteacutem as observaccedilotildees do Sexto Estado Requerido quanto a Admissibilidade e a outra os argumentos referentes ao Meacuterito da questatildeo Relativamente a Admissibilidade o Sexto Estado Requerido argumenta que a Participaccedilatildeo-queixa natildeo satisfaz os requisitos de Admissibilidade constantes dos Artigos 55 e 56 da Carta Africana e complementados pelo Regulamento 103 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo

123 Em relaccedilatildeo ao Meacuterito o Sexto Estado Requerido defende que uma que vez que em virtude do Artigo 3 do Tratado da SADC a Comunidade de Desenvolvimento da Aacutefrica Austral eacute uma organizaccedilatildeo internacional dotada de personalidade juriacutedica

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 28: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

separada dos respectivos Estado Membros o Sexto Estado Requerido natildeo pode ser tido como responsaacutevel pelos actos e omissotildees da SADC Face agrave personalidade juriacutedica internacional da SADC o Sexto Estado Requerido sustenta que a Comissatildeo Africana natildeo pode interferir nos trabalhos da SADC por esta natildeo ser parte nem da Lei Constitutiva nem da Carta Africana E mais argumenta o Sexto Estado Requerido natildeo possuir poderes de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e respectivas instituiccedilotildees

124 Argumenta ainda o Sexto Estado Requerido que o Tribunal da SADC natildeo pode ser considerado como tribunal nacional uma vez que foi criado por via de um tratado internacional Argumenta-se ainda que as decisotildees do Tribunal da SADC natildeo podem ser aplicadas por meios juriacutedicos adicionais mas por via dos oacutergatildeos poliacuteticos da SADC Defendendo natildeo existir nenhuma alegaccedilatildeo de que violou as suas obrigaccedilotildees ao abrigo do Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana o Sexto Estado Requerido sustenta natildeo ter violado nenhuma disposiccedilatildeo da Carta Africana

Argumentos Suplementares do Queixoso

125 Em resposta aos factos articulados pelo Sexto Estado Requerido quanto ao Meacuterito o Queixoso cita o caso Falana vs Uniatildeo Africana76 para argumentar que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que afirmar que a personalidade juriacutedica direitos e deveres de uma organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado O Queixoso sustenta que a SADC natildeo pode ser tida como representante dos respectivos Estados Membros no que respeita agraves suas obrigaccedilotildees agrave luz de tratados internacionais

126 E mais argumenta o Queixoso que nos termos do 1 do Artigo 61 e do 1 do Artigo 62 dos Artigos Preliminares sobre a Responsabilidade de Organizaccedilotildees Internacionais assim como dos Princiacutepios Gerais do Direito Internacional os Estados Requeridos natildeo podem escapar agrave responsabilidade por violaccedilatildeo das suas responsabilidades internacionais pelo mero facto de terem criado uma organizaccedilatildeo internacional especialmente se o acto ilegal da Organizaccedilatildeo Internacional constitua violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais de direitos humanos caso tenha sido perpetrado pelos proacuteprios Estados77 O Queixoso defende ainda que os Estados Requeridos natildeo podem fundamentar-se num acto ilegal por eles proacuteprios praticado isto eacute a suspensatildeo e destituiccedilatildeo de um Tribunal como defesa da presente acccedilatildeo

Anaacutelise da Comissatildeo Africana quanto ao Meacuterito

76 Requerimento Ndeg 0012011 ndash Falana v African Union (2012) ACtHPR 77 Em apoio deste argumento o Queixoso fundamenta-se na autoridade de Waite and Kennedy v Germany (1999) ECtHR Requerimento 2608394 e Caso C-8495 Bosphorus Hava Yollary Turizm ve Ticaret Anonim Sirketi v Ireland (1996) ECR (Caso Bosphorus)

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

Page 29: Participação-queixa 409/12 – Luke Munyandu Tembani e Benjamin

127 Ao examinar a Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo faz notar que nos argumentos quanto ao Meacuterito o Queixoso procedeu agrave entrega agrave versatildeo revista de um conjunto de pedidos O Queixoso demanda directamente da Comissatildeo determinados desagravos e desiste do pedido de que a Participaccedilatildeo-queixa suba ao Tribunal Africano para uma decisatildeo quanto ao Meacuterito Portanto a Comissatildeo iraacute abordar a Participaccedilatildeo-queixa com base na versatildeo revista de um conjunto de pedidos apresentado pelo Queixoso

128 A Comissatildeo iraacute primeiro abordar a observaccedilatildeo feita pelo Sexto Estado Requerido quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Da sua decisatildeo relativamente agrave Admissibilidade da presente Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo recorda que toda documentaccedilatildeo e argumentos do Queixoso pertinentes ao caso foram transmitidos a todos os catorze (14) Estados Requeridos juntamente com o necessaacuterio pedido de que os Estados Requeridos fornecessem as respectivas observaccedilotildees quanto agrave Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa78 Poreacutem apenas dois dos catorze Estados Requeridos apresentaram observaccedilotildees sobre a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa Os factos articulados por esses dois Estados Requeridos foram por conseguinte examinados pela Comissatildeo para se determinar a Admissibilidade da Participaccedilatildeo-queixa A Comissatildeo faz notar que ao abrigo dos seus Regulamentos Internos operacionais ela apenas pode efectuar a revisatildeo de uma decisatildeo sobre inadmissibilidade79 Assim a Comissatildeo natildeo iraacute nesta fase reabrir ou rever a decisatildeo por si tomada quanto agrave Admissibilidade da queixa

129 Relativamente ao Meacuterito da Participaccedilatildeo-queixa a Comissatildeo lamenta o facto de apenas um dos catorze Estados Requeridos ter articulado factos Em conformidade com os seus Regulamentos Internos a Comissatildeo passa a tomar a sua decisatildeo com base nos argumentos do Queixoso e nos factos disponiacuteveis articulados por apenas um dos Estados Requeridos

130 A Comissatildeo nota a opiniatildeo do Queixoso de que os actos e omissotildees dos Estados

Requeridos que resultaram na suspensatildeo e subsequente destituiccedilatildeo em regime permanente do Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo das disposiccedilotildees da Carta Africana e do Tratado da SADC e do ICCPR Recordando o 2 do Artigo 45 da Carta Africana que estabelece que uma das funccedilotildees da Comissatildeo deveraacute ser a de ldquoassegurar a protecccedilatildeo dos direitos humanos e dos povos nos termos das condiccedilotildees estipuladas pela presente Cartardquo a Comissatildeo eacute da opiniatildeo de que a sua competecircncia limita-se a facilitar a aplicaccedilatildeo pelos Estados Partes dos direitos garantidos na Carta Africana

131 Embora os Artigos 60 e 61 da Carta permitam que a Comissatildeo se inspire em outras fontes de Direito internacional de direitos humanos na execuccedilatildeo do seu mandato e cumprimento de funccedilotildees essas disposiccedilotildees natildeo autorizam a Comissatildeo a supervisionar a aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo de outros tratados internacionais tais

78 Ver paraacutegrafo 96 supra 79 Ver Regulamento 107 dos Regulamentos Internos da Comissatildeo Africana

como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

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como o Tratado da SADC Assim a Comissatildeo limitar-se-aacute a determinar a responsabilidade dos Estados Requeridos face agraves disposiccedilotildees da Carta Africana invocadas pelo Queixoso

132 O Queixoso argumentou que os actos e omissotildees dos Estados Requeridos

relativamente ao Tribunal da SADC constituem uma violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana na medida em que esses actos e omissotildees restringem o direito de acesso das Viacutetimas ao tribunal tal como garantido nas referidas disposiccedilotildees da Carta Para se abordar adequadamente os argumentos do Queixoso a Comissatildeo necessita primeiro de tratar do argumento do Sexto Estado Requerido de que natildeo assume responsabilidade pelas alegadas irregularidades por possuir uma personalidade juriacutedica separada da SADC e natildeo tem poder de direcccedilatildeo no que se refere agrave SADC e aos seus oacutergatildeos e instituiccedilotildees A Comissatildeo concorda com o Queixoso de que a posiccedilatildeo correcta do Direito internacional contemporacircneo eacute a de que em casos apropriados os Estado Membros de uma Organizaccedilatildeo Internacional podem ter responsabilidade directa pelos actos ilegais e omissotildees dessa mesma organizaccedilatildeo especialmente nos casos em que estejam envolvidos direitos de terceiros80

133 A Comissatildeo recorda que a responsabilidade internacional de um Estado eacute invocada

nos casos em que ele age ou deixa de agir apesar do facto de que a acccedilatildeo ou omissatildeo viola uma obrigaccedilatildeo internacional que o Estado havia assumido quer por meio de Tratado quer por qualquer outra fonte de Direito internacional O Sexto Estado Requerido com base no argumento de que natildeo havia ele proacuteprio violado quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Lei Constitutiva da UA ou da Carta Africana procura evitar qualquer responsabilidade directa pelas alegadas violaccedilotildees dando como razatildeo o princiacutepio de caso tenham ocorrido quaisquer violaccedilotildees estas foram ocasionadas pela SADC enquanto Organizaccedilatildeo Internacional

134 Na opiniatildeo da Comissatildeo a actual tendecircncia do Direito Internacional eacute a de que

quando os Estados transferem poderes soberanos para uma Organizaccedilatildeo Internacional e que ao levar a cabo as funccedilotildees que lhe foram atribuiacutedas essa organizaccedilatildeo ocasiona irregularidades que invoquem a responsabilidade internacional individual dos Estado Membros caso tenham agido em nome proacuteprio os Estados podem a tiacutetulo individual ter responsabilidade por tais actos ilegais e omissotildees da Organizaccedilatildeo Internacional81 O Queixoso argumentou de forma convincente e indisputaacutevel de que os Estados Requeridos satildeo colectivamente responsaacuteveis pelos actos e omissotildees que constituem as alegadas violaccedilotildees dos Artigos 7 e 26 da Carta A questatildeo que necessita de ser resolvida eacute

80 Quanto a isto a Comissatildeo apoia a posiccedilatildeo do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos

(Tribunal Africano) na decisatildeo final que tomou no caso Falana v Nigeacuteria (n 101 supra) de que o reconhecimento da personalidade juriacutedica internacional de uma organizaccedilatildeo internacional natildeo eacute o mesmo que dizer que a personalidade juriacutedica direitos e deveres da organizaccedilatildeo satildeo os mesmos de um Estado 81 Caso Bhosphorus n 102 supra

se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

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se os alegados actos ou omissotildees constituem uma violaccedilatildeo de quaisquer obrigaccedilotildees ao abrigo da Carta Africana

Alegada violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana

135 O Queixoso defende que os Estados Requeridos violaram o direito de acesso ao tribunal assente na premissa de que o direito de acesso ao Tribunal da SADC pode fundamentar-se na leitura conjugada dos Artigos 7 e 26 da Carta A Comissatildeo iraacute analisar os dois artigos a fim de determinar se esse direito e uma obrigaccedilatildeo correlativa para com os Estados Requeridos pode ser sancionada

136 A aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 que eacute a parte de relevacircncia para a Participaccedilatildeo-queixa estabelece que ldquoToda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada Este direito compreende (a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto que viole os direitos fundamentais tal como reconhecidos e garantidos pelas convenccedilotildees as leis os regulamentos e os costumes em vigorrdquo82 O Queixoso tem a convicccedilatildeo de que estas disposiccedilotildees garantem agraves viacutetimas o direito de acesso a um tribunal o que inclui o direito de acesso ao Tribunal da SADC Na opiniatildeo do Queixoso isso traduz-se numa obrigaccedilatildeo internacional correlativa por parte dos Estados Requeridos em se assegurar acesso irrestrito ao Tribunal da SADC inter alia em questotildees em que se alegue violaccedilatildeo de direitos humanos Em apoio deste argumento o Queixoso faz referecircncia agrave jurisprudecircncia da Comissatildeo

137 Tal como a Comissatildeo jaacute fez ver ldquoo direito de uma pessoa a ser ouvida exige que o

Queixoso tenha acesso livre a um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para que o seu caso seja ouvidordquo83 Entende tambeacutem a Comissatildeo que o direito de ser ouvido ldquoexige que a questatildeo seja levada perante um tribunal de jurisdiccedilatildeo competente para ouvir casosrdquo84 Na opiniatildeo da Comissatildeo a exigecircncia do direito de acesso a um tribunal eacute consistente com o direito a um julgamento justo ao abrigo do Artigo 7 da Carta

138 O fraseado da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute uma indicaccedilatildeo clara de que as disposiccedilotildees tecircm em vista o direito de acesso de indiviacuteduos a um tribunal a niacutevel nacional Nessa conformidade a Comissatildeo entende que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta inclui o direito de acesso a um tribunal e o direito a um recurso eficaz a niacutevel nacional na eventualidade de uma violaccedilatildeo dos direitos garantidos na Carta A denegaccedilatildeo do direito de acesso a um foacuterum judicial nacional equivale a uma violaccedilatildeo definitiva e indesculpaacutevel da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta Quanto a isto a Comissatildeo faz notar a sua proacutepria jurisprudecircncia jaacute estabelecida e que foi citada pelo Queixoso de que em casos apropriados a destituiccedilatildeo da

82 A aliacutenea b) ndash d) do 1 do Artigo 7 assim como o 2 do mesmo Artigo tratam fundamentalmente do direito a um julgamento justo em processos penais e natildeo se aplica agrave presente Paticipaccedilatildeo-queixa 83 Paticipaccedilatildeo-queixa 31305 - Kenneth Good v Botswana (2010) ACHPR paraacutegrafo 139 84 Ibid

jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

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jurisdiccedilatildeo de tribunais constitui uma restriccedilatildeo do acesso aos mesmos e portanto equivale a uma violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta85 Todavia tal como vem claramente estabelecido na proacutepria Carta o acesso considerado na aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute o acesso a tribunais nacionais dentro do sistema legal nacional dos Estados Partes da Carta

139 Na opiniatildeo da Comissatildeo embora uma interpretaccedilatildeo teleoloacutegica do Artigo 1 da

Carta permita que os Estados Partes da Carta Africana adoptem medidas apropriadas incluindo cooperaccedilatildeo a niacuteveis intergovernamentais para que os direitos garantidos na Carta tenham efeito a principal obrigaccedilatildeo assumida pelos Estados Partes no acircmbito da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta eacute a de assegurar o acesso a tribunais nacionais Nesta conformidade a Comissatildeo interpretou consistentemente o Artigo 7 da Carta como pretendendo impor uma obrigaccedilatildeo aos Estados Partes de assegurar o direito a um julgamento justo a niacutevel nacional86

140 O ponto de vista da Comissatildeo coincide com a posiccedilatildeo do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECtHR) cuja jurisprudecircncia pode servir de inspiraccedilatildeo agrave Comissatildeo por virtude dos Artigos 60 e 61 da Carta Africana Tratando da questatildeo de acesso a um tribunal em relaccedilatildeo ao Artigo 13 da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (ECHR) o ECtHR declarou no caso Maksimo vs Ruacutessia que ldquoa Convenccedilatildeo garante a niacutevel nacional a disponibilidade de um recurso para se a aplicar a substacircncia dos direitos e liberdades da Convenccedilatildeo qualquer que seja a forma em que possam ocorrer para serem garantidos a niacutevel nacionalrdquo87 Isto significa que o ECtHR tambeacutem entende o direito de acesso a um tribunal como querendo significar o direito de acesso a tribunais nacionais dos Estados Partes de um Tratado internacional de direitos humanos

141 A reclamaccedilatildeo apresentada pelo Queixoso eacute a de os Estados Requeridos retiraram

um direito processual garantido a niacutevel da plataforma da SADC A Comissatildeo faz notar que o Queixoso natildeo alegou que o acesso a tribunais nacionais dos Estados Requeridos em casos de alegadas violaccedilotildees de direitos contidos na Carta tivesse sido retirado De facto em vez disso o Queixoso forneceu uma decisatildeo do Tribunal Constitucional da Aacutefrica do Sul que valida os direitos das Viacutetimas

142 A Comissatildeo faz ainda notar que na eventualidade dos tribunais nacionais deixarem

de proteger os direitos das Viacutetimas o acesso a foacuteruns alternativos tais como a Comissatildeo Africana permanece intacto A Comissatildeo eacute portanto da opiniatildeo de que a aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta natildeo impotildee uma obrigaccedilatildeo legal internacional

85 A Participaccedilatildeo-queixa 12994 ndash Civil Liberties Organisation vs Nigeacuteria eacute por exemplo indicativa desta jurisprudecircncia 86 Todas as decisotildees citadas pelo Queixoso relacionam-se com tribunais nacionais Ver igualmente Participaccedilotildees-queixa 14094-14194-14595 - Constitutional Rights Project Civil Liberties Organisation e Media Rights Agenda v Nigeacuteria (1999) ACHPR e Paticipaccedilatildeo-queixa 22598 - Huri - Laws Nigeacuteria (2000) ACHPR 87 (Requerimento 4323302) - Maksimo v Russia (2010) ECtHR Ver tambeacutem a decisatildeo do ECtHR no caso do Requerimento 705106 Golha v The Czech Republic (2011) ECtHR paraacutegrafo 71

aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013

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aos Estados Requeridos para que assegurem o acesso ao Tribunal da SADC constatando assim que natildeo houve violaccedilatildeo da aliacutenea a) do 1 do Artigo 7 da Carta

143 Em relaccedilatildeo ao Artigo 26 da Carta para aleacutem da opiniatildeo de que quando conjugado

com o Artigo 7 dessa mesma Carta o mesmo garante o direito de acesso ao Tribunal da SADC o Queixoso argumenta que esse artigo impotildee aos Estados Requeridos o dever de assegurar a independecircncia competecircncia e integridade institucional dessa instacircncia O Artigo 26 da Carta estabelece que ldquoOs Estados Partes na presente Carta tecircm o dever de garantir a independecircncia dos Tribunais e de permitir o estabelecimento e o aperfeiccediloamento de instituiccedilotildees nacionais apropriadas a quem foi confiada a promoccedilatildeo e a protecccedilatildeo dos direitos e liberdades garantidos pela presente Cartardquo A questatildeo que necessita de ser abordada eacute se o Artigo 26 da Carta impotildee uma obrigaccedilatildeo aos Estados Requeridos no que se refere ao Tribunal da SADC

144 A Comissatildeo concorda com o Queixoso que o Artigo 26 da Carta deve ser conjugado

com o Artigo 7 Quanto a isto a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que a referecircncia ldquo(a)os Tribunais rdquo no Artigo 26 da Carta natildeo se refere a um tribunal internacional mas eacute anaacuteloga e relacionada com os oacutergatildeos judiciais nacionais mencionados no Artigo 7 da Carta A Comissatildeo faz notar que a sua proacutepria jurisprudecircncia relativa ao significado e implicaccedilotildees do Artigo 26 da Carta aplica-se aos tribunais nacionais que exercem jurisdiccedilatildeo obrigatoacuteria sobre indiviacuteduos que natildeo tenham possibilidade de deixar de fazer uso da cobertura da autoridade judicial de tais tribunais Nesta conformidade a Comissatildeo natildeo constata da Carta nenhuma obrigaccedilatildeo da parte dos Estados Requeridos para que garantam a independecircncia competecircncia e integridade institucional do Tribunal da SADC

145 Natildeo tendo constatado a existecircncia de uma obrigaccedilatildeo visando assegurar o acesso

ao Tribunal da SADC na anaacutelise em separado dos Artigos 7 e 26 da Carta a Comissatildeo eacute da opiniatildeo que mesmo a leitura conjugada das duas disposiccedilotildees natildeo cria a obrigaccedilatildeo de se assegurar o acesso ao Tribunal da SADC

146 Em face do raciociacutenio acima exposto a Comissatildeo Africana constata que natildeo houve

violaccedilatildeo dos Artigos 7 e 26 da Carta Africana pelos Estados Requeridos

Feito em Banjul Gacircmbia durante a 54ordf Sessatildeo Ordinaacuteria da Comissatildeo Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 2013