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workers around the Uma revista trimestral que aproxima os trabalhadores da área de desenvolvimento de várias partes do mundo No.58 MAIO 2004 TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO Passo a Passo Foto: Tim Prentki O teatro não requer alfabetização ou uma boa oratória para ser eficaz. O teatro comunica-se com a pessoa como um todo – não apenas com o nosso pensamento e a nossa razão. Ele apela para as nossas emoções, paixões e preconceitos. Ele nos desafia a encarar- mos aspectos das nossas vidas que tentamos ignorar. Ele é uma forma divertida de compar- tilhar informações. Tanto os adultos quanto as crianças aprendem mais quando estão interessados. O teatro não usa apenas palavras. Ele também pode se comunicar com eficácia através da mímica, da dança e das imagens. O teatro tem sido usado no desenvolvi- mento comunitário de várias maneiras: Propaganda educativa Os governos e as ONGs podem usar o teatro para transmitir mensagens através de uma abordagem “de cima para baixo”. Por exemplo, uma agência de desenvolvimento ou um grupo comunitário pode usar uma peça que incentive a utilização de fogões solares para evitar o derrube de árvores. Embora esta possa ser uma maneira eficaz de passar informações adiante, ela não será eficaz, se ignorar a cultura e a situação locais, assim como o conhecimento e a experiência dos espectadores. Incentivando-se a participação O teatro para o desenvolvimento pode incentivar a O Teatro de Rua Aarohan Passando para a realidade • Cartas Lições úteis para o teatro no desenvolvimento Dicas práticas para o uso do teatro Imaginação – um recurso didático sem limites e grátis! Rampa Fund: Promovendo a cultura no Quirguistão Estudo Bíblico: Valorização de culturas e identidades étnicas diferentes Exploração de questões através da representação de papéis • Recursos Estes Direitos são Meus LEIA NESTA EDIÇÃO O uso do teatro no desenvolvimento O teatro pode cruzar as barreiras da língua e da cultura e é um meio de comunicação extremamente útil … Tim Prentki e Claire Lacey participação ativa das pessoas cujas vozes não são normalmente ouvidas na comuni- dade. O uso de histórias ajudam as pessoas a expressarem como compreendem o que lhes acontece nas suas vidas cotidianas. Estas estórias podem incentivar uma participação verdadeira. O teatro para o NOTA AOS LEITORES A Passo a Passo é lida na África, Europa e América do Sul. A língua portuguesa muda de um continente para o outro. Alguns artigos podem estar escritos em um estilo diferente do português que você fala. Esperamos que isto não venha a mudar a sua apreciação pela Passo a Passo. NB Escrevemos “AIDS/SIDA”, porque alguns de nossos leitores conhecem a doença como “AIDS”, enquanto outros a chamam de “SIDA”.

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A quarterly newsletter linkingdevelopmentworkers around theworld

Uma revista trimestral que aproxima os trabalhadores da área de desenvolvimento de várias partes do mundo

No.58 MAIO 2004 TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

Passo a Passo

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■ O teatro não requer alfabetização ouuma boa oratória para ser eficaz.

■ O teatro comunica-se com a pessoacomo um todo – não apenas com onosso pensamento e a nossa razão. Eleapela para as nossas emoções, paixões epreconceitos. Ele nos desafia a encarar-mos aspectos das nossas vidas quetentamos ignorar.

■ Ele é uma forma divertida de compar-tilhar informações. Tanto os adultosquanto as crianças aprendem maisquando estão interessados.

■ O teatro não usa apenas palavras. Eletambém pode se comunicar com eficáciaatravés da mímica, da dança e dasimagens.

O teatro tem sido usado no desenvolvi-mento comunitário de várias maneiras:

Propaganda educativa Os governos e asONGs podem usar o teatro para transmitirmensagens através de uma abordagem “decima para baixo”. Por exemplo, umaagência de desenvolvimento ou um grupocomunitário pode usar uma peça queincentive a utilização de fogões solarespara evitar o derrube de árvores. Emboraesta possa ser uma maneira eficaz depassar informações adiante, ela não seráeficaz, se ignorar a cultura e a situaçãolocais, assim como o conhecimento e aexperiência dos espectadores.

Incentivando-se a participação O teatropara o desenvolvimento pode incentivar a

• O Teatro de Rua Aarohan

• Passando para a realidade

• Cartas

• Lições úteis para o teatro nodesenvolvimento

• Dicas práticas para o uso do teatro

• Imaginação – um recurso didáticosem limites e grátis!

• Rampa Fund: Promovendo a culturano Quirguistão

• Estudo Bíblico: Valorização deculturas e identidades étnicasdiferentes

• Exploração de questões através darepresentação de papéis

• Recursos

• Estes Direitos são Meus

LEIA NESTA EDIÇÃOO uso do teatro nodesenvolvimento

O teatro pode cruzar as barreiras da língua e da cultura e é um meio decomunicação extremamente útil …

Tim Prentki e Claire Lacey

participação ativa das pessoas cujas vozesnão são normalmente ouvidas na comuni-dade. O uso de histórias ajudam as pessoasa expressarem como compreendem o quelhes acontece nas suas vidas cotidianas.Estas estórias podem incentivar umaparticipação verdadeira. O teatro para o

NOTA AOS LEITORESA Passo a Passo é lida na África, Europa e América do Sul. Alíngua portuguesa muda de um continente para o outro.Alguns artigos podem estar escritos em um estilo diferente doportuguês que você fala. Esperamos que isto não venha amudar a sua apreciação pela Passo a Passo.

NB Escrevemos “AIDS/SIDA”, porque alguns de nossosleitores conhecem a doença como “AIDS”, enquanto outros achamam de “SIDA”.

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TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

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Passo a PassoISSN 1353 9868

A Passo a Passo é uma publicação trimestral queprocura aproximar pessoas em todo o mundoenvolvidas na área de saúde e desenvolvimento. ATearfund, responsável pela publicação da Passo aPasso, espera que esta revista estimule novasidéias e traga entusiasmo a estas pessoas. A revistaé uma maneira de encorajar os cristãos de todas asnações em seu trabalho conjunto na busca damelhoria de nossas comunidades.A Passo a Passo é gratuita para aqueles quepromovem saúde e desenvolvimento. É publicadaem inglês, francês, português e espanhol.Donativos são bem-vindos.Os leitores são convidados a contribuir com suasopiniões, artigos, cartas e fotografias.Editora: Isabel CarterPO Box 200, Bridgnorth, Shropshire, WV16 4WQ, Inglaterra

Tel: +44 1746 768750 Fax: +44 1746 764594E-mail: [email protected]

Subeditora: Rachel BlackmanEditora – Línguas estrangeiras: Sheila Melot Administradoras: Judy Mondon, Sarah CarterComitê Editorial: Ann Ashworth, Simon Batchelor,Mike Carter, Paul Dean, Richard Franceys, MartinJennings, Ted Lankester, Simon Larkin, SandraMichie, Nigel Poole, Alan Robinson, José Smith, Ian WallaceIlustração: Rod Mill Design: Wingfinger Graphics Impresso por Aldridge Print Group usando-serecursos sustentáveis ou renováveis e processosque não prejudicam o meio ambiente.Tradução: L Bustamante, A Coz, Dr J Cruz, S Dale-Pimentil, N Gemmell, L Gray, R Head, M Machado, O Martin, N Mauriange, J Perry, L WeissRelação de endereços: Escreva, dando uma breveinformação sobre o trabalho que você faz einformando o idioma preferido para: FootstepsMailing List, 47 Windsor Road, Bristol, BS6 5BW,Inglaterra. Tel: +44 1746 768750 Mudança de endereço: Ao informar uma mudançade endereço, favor fornecer o número de referênciamencionado na etiqueta.Artigos e ilustrações da Passo a Passo podem seradaptados para uso como material de treinamentoque venha a promover saúde e desenvolvimento,desde que os materiais sejam distribuídosgratuitamente e que os que usarem estes materiaisadaptados saibam que eles são provenientes daPasso a Passo, Tearfund. Deve-se obter permissãopara reproduzir materiais da Passo a Passo.As opiniões e os pontos de vista expressos nascartas e artigos não refletem necessariamente oponto de vista da Editora ou da Tearfund. Asinformações técnicas fornecidas na Passo a Passosão verificadas minuciosamente, mas não podemosaceitar responsabilidade no caso de ocorreremproblemas.A Tearfund é uma organização cristã evangélica quese dedica ao trabalho de desenvolvimento eassistência através de grupos associados, a fim delevar ajuda e esperança às comunidades emdificuldades no mundo. Tearfund, 100 ChurchRoad, Teddington, Middlesex, TW11 8QE,Inglaterra. Tel: +44 20 8977 9144

Publicado pela Tearfund, uma companhia limitada,registrada na Inglaterra sob o No.994339.Organização sem fins lucrativos sob o No.265464.

desenvolvimento transforma as históriasparticulares e individuais em dramascoletivos.

Defesa de direitos O teatro pode oferecerum meio para que os espectadores partici-pem das questões levantadas e pode causarum impacto muito maior do que outrasformas de defesa de direitos. O teatro podedesafiar pessoas que talvez sejam capazesde responder e agir quanto às questõeslevantadas.

Terapia A dramatização pode ser usadacomo terapia para ajudar as pessoas alidarem com o trauma e os problemasemocionais. Para isto, são necessários umtreinamento especial e compreensão.

Desenvolvendo as própriashistórias das pessoasAs estórias podem ser usadas para ajudaras pessoas e as comunidades a compreen-derem o seu lugar no mundo. Osfacilitadores externos que estiveremplaneando usar o teatro com uma comuni-dade precisam de passar algum tempodesenvolvendo relacionamentos com aspessoas. Eles precisam de criar confiança esegurança com as pessoas, mostrandohumildade, interesse e aprendendo sobreos problemas da região.

Encontrar uma maneira interessante deincentivar as pessoas a conversarem sobresi próprias é geralmente um bom ponto departida. Pode-se pedir aos participantesque tragam ao encontro um objeto de valor

Glossáriodramatização experiência de se comunicar

através de actores

peça guião (script) escrito sobre oqual a dramatização estábaseada

representação método através do qual asde papéis pessoas comuns participam da

dramatização

teatro comunicação entre actores eespectadores; também o localem que as peças sãodesempenhadas

pessoal e, então, contem as histórias dessesobjetos. Pode-se pedir às pessoas quecantem as suas canções favoritas.

Compartilhar estórias sobre o passadorequer confiança e abertura. Os facilita-dores podem oferecer suas próprias estóriasprimeiro e, então, podem pedir às outraspessoas que façam o mesmo. Ao compar-tilhar uma variedade de estórias, osaspectos mais importantes da comunidadegradualmente virão à tona.

Elaboração de estóriasHá muitas técnicas para este processo.Pode-se começar simplesmente colocando--se as pessoas em duplas e pedindo-lhespara que contem estórias umas às outras. Apessoa que ouviu a estória, então, reconta oque acabou de ouvir para uma outrapessoa.

Ou os participantes poderiam contar umaestória, um para o outro, num círculo,sendo que cada pessoa faz uma pequenaalteração cada vez que ela é recontada.

A seguinte atividade também poderia serusada para ajudar um grupo a elaboraruma estória:

■ Divida os participantes em dois grupose forme duas rodas – uma roda interna euma externa, com cada participante daroda interna de frente para um partici-pante da roda externa.

O teatro pode desafiar-nospara que enfrentemos osaspectos do nosso caráterque tentamos ignorar.

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TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

EDITORIAL

Cada edição da Passo a Passo traz novos desafios e aprendizagem. Esta edição foi especialmenteinteressante de elaborar. Eu sempre soube como a representação de papéis era divertida de seassistir. Nos últimos anos, eu me dei conta também de como as pessoas comuns podem sertalentosas no uso da representação de papéis. Esta edição mostrou-me o poder do uso do teatropara incentivar a compreensão sobre todo o tipo de questões de desenvolvimento.

A dramatização de questões de desenvolvimento pode servir como uma ferramenta poderosa paratransmitir informações e pode desafiar as nossas atitudes e o nosso comportamento. O uso doteatro baseia-se na cultura e nas tradições locais, tais como o teatro itinerante, a narração deestórias, espetáculos de marionetes, mímica, canções, dança e enigmas. Os espectadores podemser envolvidos na apresentação de várias formas – através de decisões, participando da atuação,decidindo o que deveria acontecer a seguir, planejando novas cenas ou planejando a ação dedefesa de direitos como resposta. O envolvimento com os espectadores é o que distingue o termoteatro de outros termos, tais como a dramatização ou a representação de papéis. É por isto queusamos este termo nesta edição. Esperamos que todos vocês se sintam incentivados a pensaremsobre como incluir o uso do teatro e da cultura no vosso trabalho. Os professores ficarão especial-mente interessados em saber como o projeto PAX usou a imaginação das crianças como recurso.

Após a recente atualização da lista de endereços, foram retiradosmais de 13.000 nomes da nossa lista. Se os seus colegasestiverem entre estas pessoas, peça-lhes para que entremem contato conosco para renovarem a sua assinatura. Apróxima edição examinará os cuidados com o nosso meioambiente, com ênfase especial na poluição.

■ Peça à roda interna para que comeceuma estória. É útil dar sugestões. Porexemplo, “Contem uma estória sobreuma caixa secreta.” Cada pessoa, então,inventa uma estória e conta-a para oparceiro da roda externa por exatamenteum minuto.

■ Peça à roda externa para que dê umpasso para o lado e se coloque em frenteao parceiro seguinte e, então, conte aestória que eles acabaram de ouvir paraos novos parceiros da roda interna. Destavez, porém, eles devem acrescentar algonovo à estória – por exemplo, “umleopardo”. Mais uma vez, eles contam aestória por exatamente um minuto.Sugira palavras para incentivá-los apensarem em tópicos específicos, taiscomo intimidação, violência e os papéisdo homem e da mulher. Entretanto, éimportante acrescentar idéias ridículastambém, para que haja um clima alegre.

■ Peça à roda externa para que dê maisum passo para o lado, colocando-se emfrente à próxima pessoa da roda interna,a qual, então, repetirá a estória queacabou de ouvir – mais uma vez, sobre“a caixa secreta”, “o leopardo” e maisuma idéia nova.

■ Continue este processo de mudar osparticipantes externos um lugar de cadavez. Alternadamente, os participantesouvirão uma estória e, então, a contarãopara uma outra pessoa – sempre acres-centando uma nova idéia. Faça-os parar,quando todos os participantes da rodaexterna tiverem formado duplas comtodos os participantes da roda interna.As estórias ficarão bastante desordena-das e confusas, mas isto faz parte dadiversão!

■ No final do exercício, cada pessoa teráuma estória final totalmente diferente,que incluirá a colaboração de cada parti-cipante. Divida os participantes, então,em vários pequenos grupos. Peça a cadaum deles para que contem suas estóriasfinais para os outros e decidam qualdelas preferem.

Depois, estas estórias podem ser contadaspara os outros grupos. As decisões sobre oque deve ser incluído nas estórias revelarãomuitas coisas sobre o grupo como um todo– como eles se sentem, o que pensam e noque acreditam e como se relacionam comos outros na comunidade.

Transformando as estóriasem peçasA qualidade da apresentação provavel-mente estará ligada a até que ponto osparticipantes sentem que o materialpertence a eles. Os participantes devem,portanto, decidir em conjunto que estória

escolher para transformar numa peça. Ofacilitador talvez precise de salientarquestões práticas sobre o que é possíveldramatizar! Os participantes talveztambém possam incorporar partes dasestórias descartadas à estória escolhida.

Exploração de questõesMuitas questões delicadas, que talvezsejam arriscadas ou perigosas demais paraserem discutidas abertamente, podem serexploradas através do uso da dramatiza-ção. Desempenhar o papel de umapersonagem diferente permite às pessoasdizerem coisas que não seriam possíveiscom suas próprias vozes. Às vezes, ohumor pode ajudar a compartilhar ques-tões difíceis ou delicadas de maneiras quenão sejam ofensivas.

As pessoas não precisam de basear o teatrona sua situação atual. Podem-se imaginaroutras situações ou circunstâncias culturais.

O teatro pode, às vezes, oferecer váriasalternativas para a estória com suas conse-qüências, ao invés de oferecer apenas umasolução definitiva. Isto pode incentivar aspessoas a pensarem nas alternativas econsiderarem como elas pessoalmenteresponderiam à situação.

Pense bastante sobre como envolver osespectadores. Eles poderiam ser envolvidos:

■ como outros actores?

■ como participantes do debate?

■ através de atividades posteriores ediscussões?

A sustentabilidade no uso do teatro é muitoimportante depois que os facilitadores vãoembora. Sempre que possível, devem-seencontrar pessoas dentro da comunidadeque possam ser treinadas em facilitaçãopara permitir que o processo seja continua-do pela comunidade sem a ajuda externa.

Tim Prentki é Professor Catedrático de Teatropara o Desenvolvimento em King Alfred’sCollege, Winchester, Reino Unido. Elerecentemente escreveu, em co-autoria, o livroPopular Theatre in Political Culture (veja a página 14).E-mail: [email protected]

Claire Lacey é enfermeira e, no momento, estáestudando teatro para o desenvolvimento emKing Alfred’s College, com ênfase na utilizaçãodo teatro para ajudar a combater o HIV (VIH) e a AIDS (SIDA).E-mail: [email protected]

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TemasO Aarohan apresentou muitas peças sobreuma variedade de temas, inclusive sobreos problemas enfrentados pelas pessoassurdas, o direito ao voto e a democracia, orelacionamento entre as pessoas e o meioambiente, a importância do bom sanea-mento, a lepra, o planeamento familiar e aconservação das florestas. As peças sobre acorrupção e as questões políticas fazemmais sucesso nas cidades – enquanto que,nos povoados, as peças sobre o meioambiente e a lepra são mais apreciadas.

Chegando até as pessoasAs apresentações geralmente são encena-das para grupos muito grandes – de 2.500a 3.000 pessoas nas cidades, mas menospessoas nos povoados.

É difícil chegar até aos nepaleses, princi-palmente fora do Vale Katmandu. O Nepalé um país montanhoso, e o transportepara as regiões remotas é muito limitado.Às vezes, os actores têm de caminhar pormuitos dias. Poucas pessoas têm acesso àtelevisão, e a circulação de jornais é baixa.Somente o rádio tem crescido constante-mente ao longo dos anos, desde quealgumas estações de rádio comunitáriascomeçaram a funcionar.

Teatro interativoRecentemente, o Aarohan começou a usaro kachahari. Este é um tipo de teatro intera-tivo em que os espectadores dirigem apeça e decidem o resultado da apresen-tação. Por exemplo, o Aarohan apresentouuma peça sobre uma estória de amor entreum homem de classe baixa e uma mulherde classe alta. Quando ela foi apresentadanos povoados, as pessoas acabaram nãoquerendo que os actores deixassem opalco sem um final feliz para a peça. Elesqueriam que os dois apaixonados secasassem, apesar das diferenças de classesocial. Uma peça como esta pode sermuito eficaz para os espectadores que

participam do seu desenvolvimento. Estetipo de teatro também foi usado comgrupos étnicos sobre o tema da resoluçãode conflitos.

Áreas de trabalhoHá três áreas de trabalho importantes parao Teatro Aarohan:

Treinamento de novos grupos O treina-mento oferece uma forma de expandir ouso da dramatização para centenas depovoados que, caso contrário, não seriamatingidos. Ao formar novos gruposconstantemente, a Aarohan multiplica oimpacto do uso do teatro para aconscientização e a participação da comu-nidade. São treinados pequenos grupos depessoas em encontros de treinamento deum dia. O treinamento geralmente temcomo alvo grupos de jovens com maistempo livre. Já foram realizados encontrosde treinamento em mais de 40 distritos,treinando pessoas do local, gruposjuvenis, crianças e membros comunitários,os quais escolhem os temas, preparam as

O Teatro de Rua AarohanNa língua nepalesa, aarohan significa subir – ou a uma montanha (num paísque possui muitas das montanhas mais altas do mundo) ou a um palco deteatro. O Teatro de Rua Aarohan já funciona há muitos anos. Ele começoucom apresentações em um palco e, depois, mudou para o teatro de rua. NoNepal, há uma tradição de apresentações ao ar livre. As danças folclóricas eo teatro são realizados com a participação da comunidade. O teatro de rua éfacilmente aceite pelas pessoas.

peças e participam como actores duranteas apresentações. Muitos grupos de teatrotreinados ao longo dos anos pelo Aarohancontinuam ativos e oferecem uma redeinformal com um potencial enorme para amudança social.

Pesquisa para novas peças Sempre que osfuncionários do Aarohan viajam, eles

aprendem sobre as preocupações do local,sua música e qualquer forma de dramati-zação existente. É escrita, então, uma peça,incluindo as tradições teatrais do local e ascircunstâncias sociais atuais.

Interação dos espectadores Algumas peçasincentivam a interação com os espectado-res durante a apresentação. São realizadasdiscussões após cada apresentação, asquais são fundamentais para se decidir seo processo de comunicação teve sucesso.Isto assegura que as mensagens tenhamsido compreendidas e transmitidascorretamente.

LimitaçõesNo início, quando a equipe do Aarohan seapresentava em regiões remotas do Nepal,as diferenças de língua, cultura e estilo devida representaram um grande problema.Agora, com a sua estratégia de treinarpessoas da região, esta dificuldade foisuperada. Entretanto, ainda há o desafiode se encontrar o estilo e o conteúdocertos para cada comunidade.

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TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

O financiamento é sempre uma preocu-pação para os actores. Os fundos limitadospara pagar aos actores podem fazer comque eles vão embora e procurem outrosempregos.

Há sempre o risco de que uma peça acabesendo superficial ou pesada demais emtermos de propaganda. Com freqüência,as agências de desenvolvimento que estãofinanciando a peça querem ver muitasmensagens concentradas nela. Algunsactores também gostam de incluirentretenimento demasiado durante asapresentações, enfraquecendo, assim, asmensagens. Sunil Pokharel, o Diretor, acha

que deveria haver um equilíbrio entre oentretenimento e a educação em todas aspeças.

Sunil Pokharel é o Diretor do Teatro de RuaAarohan. O seu trabalho tem sido financiadopor várias agências, inclusive a UNDP, aUNICEF, a Save the Children, a UnitedMission to Nepal, a Nepal Leprosy Trust e aAssociação Dinamarquesa para a CooperaçãoInternacional. O endereço de Sunil é:GPO Box 12819, Kathmandu, Nepal.

Assim, os actores do povoado apresenta-ram uma peça. Ela mostrava uma famíliapobre conversando com o seu chefe,contando sobre a necessidade desesperadade uma nova fonte de abastecimento deágua, o que fez com que ele pedisse umnovo poço à ONG que estava trabalhandocom o povoado.

A maior parte da comunidade do povoadoaparecia para assistir a estas peças sema-nais, inclusive o chefe e as pessoas maisidosas, as mulheres que tinham tantadificuldade com a água diariamente e ascrianças, que transmitiam tudo às pessoasque não haviam podido comparecer.Estariam presentes também funcionáriosda ONG.

O povoado de Kolo precisava de um novo poço. Os poços antigos estavamsecando e as paredes, desmoronando-se, pois, à medida que o Saara avançalentamente a cada ano, o solo deteriora-se, transformando-se em areia. Ochefe do povoado e seus conselheiros pareciam não se importar; talvez porqueo chefe, pelo menos, possuía um poço perfeito no seu próprio quintal, aocontrário dos outros habitantes do povoado, cujas mulheres se levantavamàs quatro ou cinco horas da manhã para fazerem fila e obterem o seu baldede água escassa.

Passando para a realidadeAlex Mavrocordatos Quando o chefe (da peça) concordou em se

encontrar com os parceiros da ONG e pedirseu auxílio com este problema, todos osespectadores viram a ironia da situação. E,quanto o actor que fazia o papel do chefecruzou a praça onde a apresentação estavasendo realizada e dirigiu-se ao funcionárioda ONG que estava assistindo, todos viramque o jovem estava, na verdade, realizandoo encontro com a ONG que, o tempo todo,ele e os outros jovens queriam que os maisidosos realizassem. E não havia comovoltar atrás.

Alex diz: “A cultura bambara, em Mali, nãopermite que os rapazes jovens expressemsuas opiniões em encontros públicos.Entretanto, o teatro proporcionou-lhes umavoz. A apresentação teve um momentomuito significativo, quando os actores ultra-passaram os limites do teatro, passandopara a realidade dos espectadores, diri-gindo-se diretamente aos funcionários daONG que estavam assistindo à ‘peça’. Osfuncionários responderam a este encontropúblico exatamente da mesma maneira queteriam feito com o ‘verdadeiro’ chefe.Assim, o encontro foi realizado, e a ONGconcordou em participar, mas tambémexplicando as condições da auto-ajuda emque a parceria poderia estar baseada.”

Alex Mavrocordatos, do Centro para as Artesem Comunicações para o Desenvolvimento,possui experiência considerável no uso do teatrono desenvolvimento em muitos países e trabalhacomo professor de Mestrado em Teatro e Mídiapara o Desenvolvimento em King Alfred’sCollege, Winchester, Reino Unido.

Mais informações sobre a Prática de TeatroParticipativo podem ser obtidas no website:www.cdcarts.org/ppp

Teatro interativo: perguntando aos espectadores como aestória de amor entre um homem de classe social baixa euma mulher de classe social alta deveria terminar.

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os Um jovem actor representandoo chefe dirigindo-se à ONG naplatéia – na verdade, realizandoo encontro com a ONG que elee seus colegas queriam que osmais idosos realizassem.

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CARTAS

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PASSO A PASSO

47 WINDSOR ROAD

BRISTOLBS6 5BWINGLATERRA

Ajuda com a criação de caracóisEstamos trabalhando para combater apobreza, a subnutrição e os problemassociais nas regiões rurais de Camarõesatravés do aperfeiçoamento de métodosagrários. Um dos projetos que realizamosé a criação de caracóis. Depois de um ano,2.000 deles morreram como conseqüênciade uma doença estranha. Alguém poderiaajudar com idéias sobre como lidar melhorcom estes animais? Gostaríamos de sabertambém se há algum uso para as conchas.

Revd Father Dominic NyuyilimSave Our SoulsPO Box 257, Dschang, West ProvinceCamarões

Idéias para a criação de caracóisOs caracóis são animais da floresta etendem a ser mais ativos, quando estão àsombra das árvores – principalmente emplantações de cacau ou de noz de cola.Recomendamos mantê-los à sombra dasárvores. Procure também evitar o uso degaiolas ou caixas de metal.

Oluwafemi OgundipeGPO Box 11602, DugbeNigéria

E-mail: [email protected]

Energia solarO nosso departamento de energia solartrabalha arduamente para ensinar aoshabitantes locais sobre a importância dasárvores e as conseqüências do desmata-mento. Também ensinamos sobre asvantagens da energia solar e como fazer eutilizar um forno solar. A energia solar égratuita e sem fim. Em comparação, autilização de madeira como fonte deenergia destrói as árvores e, a longo prazo,pode resultar na desertificação. Entre asárvores derrubadas pelas pessoas para

obter lenha, estão as árvores com proprie-dades medicinais. Estamos fazendo todo opossível aqui para tornar a utilização daenergia solar mais popular.

Emmanuel MufunduAnamed – Solar Energy CentreBP 4830, Kinshasa/GombeRepública Democrática do Congo

E-mail: [email protected]

Os riscos da gravidezAs mulheres grávidas deveriam ocuparuma posição de honra nas nossas socieda-des. Ao invés disto, entretanto, elasenfrentam todo o tipo de risco:

■ problemas de saúde, inclusive anemia,hemorragia, complicações durante oparto e, às vezes, morte

■ problemas socioeconômicos, inclusiveum acesso menor ao trabalho, ao casa-mento e à escolarização

■ questões de justiça.

Diminuir os riscos da maternidade é umaquestão fundamental para a nossa organi-zação. Na cidade de Goma, descobrimosque 85% das gravidezes não são desejadas.Também que 90% das mulheres não têmacesso a métodos anticoncepcionaisdevido a vários obstáculos, inclusive afalta de conhecimento, a atitude dosmaridos, costumes e pobreza.

Precisamos de estabelecer estratégias comum suporte legal para proteger os direitosde todas as mães.

Emmanuel K N’solo BitangaloCoordenador, LICOSAMI (LIGUE Congolaisepour la Santé Maternelle et Infantile)GomaRepública Democrática do Congo

Rádio das Mulheres RuraisA nossa sociedade ajuda as mulheres,principalmente as viúvas, a resolverem osseus inúmeros problemas sociais,

econômicos e de saúde. As mulheresaprenderam habilidades no processamentode alimentos, nutrição e saúde, e osgrupos de auto-ajuda são incentivados.

Agora estamos desenvolvendo um novoprograma: a Radio das Mulheres Rurais.As mulheres são incentivadas a trocaramboas idéias e notícias através das estaçõesde rádio locais, entre as quais, receitas,métodos agrários aperfeiçoados, conserva-ção de alimentos, cuidados com a saúde,higiene e participação política. Serãoestabelecidas cabines de rádio em 50povoados, onde as mulheres poderãoescutar os programas de rádio e realizardiscussões.

Gostaríamos de obter informações depessoas e organizações que estejaminteressadas.

Pastor CP UdoSociety for Empowerment of Widows andRural WomenNtezi PIECHARTS CentrePO Box 10, Enugu 400001Nigéria

E-mail: [email protected]

Teatro infantilAs crianças possuem muitos talentos e sãocapazes de uma criatividade extraordiná-ria. Trabalhamos com actores infantis paraproduzir peças. Muitos dos nossos actoressão crianças que foram vítimas de abusoou negligência. Estas crianças ganhaminspiração ao aprenderem sobre os seusdireitos e o amor de Deus. As nossas peçassão inspiradas na Bíblia e em questões dointeresse destas crianças. Através do teatro,elas cicatrizam as suas feridas, dramati-zando os maus tratos que sofreram eincentivando os espectadores a defendê--las em situações semelhantes.

O trabalho do teatro é auto-financiado.Organizamos espetáculos, fazemos visitaspelas escolas e participamos de eventos deconscientização. O dinheiro arrecadado

Divulgando aenergia solar na

RepúblicaDemocrática do

Congo.

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IX Dia Mundial de Oraçãopela Infância em Risco5 de junho de 2004

Milhares de pessoas, em mais de 32países na América Latina, estarão orandopela infância.

A Revista Mãos Dadas (Brasil), em parceriacom a Tearfund e a Ultimato, estaráproduzindo materiais para o Dia Mundialde Oração pela Infância em Risco.

Endereço para contato: Mão Dadas, CaixaPostal 88, 36570-000 Viçosa – MG, Brasil,E-mail: [email protected]

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TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

Paul OmandjiLe Mouvement pour l’Enfant Congolais45 Av Lisala, Commune de Kasa-Vubu, LisalaRepública Democrática do Congo

E-mail: [email protected]: [email protected]

■ Certifique-se de que os fatos estejamcorretos. Não há nada pior do que darinformações erradas ou enganosas àspessoas, por exemplo, sobre como o HIV(VIH) e a AIDS (SIDA) podem sertransmitidos.

■ Esteja ciente de que a eficácia do teatrodependerá da auto-confiança e dashabilidades dos produtores e dos actores.

■ Veja o que está sendo dito e feito emnome da sua organização: o teatrofreqüentemente alcança um público muito amplo!

■ Esteja ciente de que o custo do desen-volvimento e da apresentação teatral comactores profissionais pode ser muito alto.

■ Não use o teatro apenas para dizer àsua comunidade o que fazer ou como secomportar: se você apenas falar, não estaráouvindo!

■ Não tente incluir demasiadas coisas: aspeças que cobrem questões em demasiapodem apenas confundir as pessoas.

■ Não espere mudar asatitudes ou o compor-tamento com apenasuma apresentação: esteé um processo lento ecuidadoso, que exigetempo, respeito eincentivo.

■ Não tente influenciaras emoções ou osmedos dos especta-dores para alcançar oseu propósito.

Proteção infantilAs atividades culturais são, com freqüência,vistas como divertidas e sem risco. Infeliz-mente, há casos em que abusadores decrianças usam-nas para obterem acesso aelas. É muito importante assegurar a proteçãoinfantil nos projetos culturais e oferecer umaadministração e uma monitorizaçãoadequadas.

Se você tiver alguma dúvida ou preocupação,existe um folheto chamado Setting theStandard, que oferece orientações muito

práticas para organizações, a fim de asse-gurar a proteção das crianças. Pode-se obterum exemplar gratuito através de:

People In AidRegents Wharf, 8 All Saints StreetLondon, N1 9RLReino Unido

E-mail: [email protected]

Ele também pode ser baixado na seção depublicações do site:www.peopleinaid.org

Lições úteis para o teatro no desenvolvimento

Actor infantil numa das peças do MEC.

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contribui para pagar as matrículasescolares das crianças.

Os nossos ensaios semanais começam comoração, estudos bíblicos e aulas sobreteatro. Até ao momento, apresentamoscinco peças. Por exemplo, uma delas ésobre os efeitos da guerra sobre as crianças.Ela se refere a crianças que foram desloca-das devido à guerra e perderam os pais,crianças-soldados e crianças comdeficiências.

No futuro, esperamos produzir estas peçasem vídeo e DVD a nível profissional eestamos muito interessados em encontrarparceiros com quem possamos trocarexperiências e idéias.

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Direitos culturais

O respeito pela cultura das pessoas é importante para oprocesso de desenvolvimento. A Declaração dos DireitosHumanos das Nações Unidas diz algumas coisas impor-tantes sobre os direitos culturais:

“Todo homem, como membro da sociedade, tem direitoaos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveisà sua dignidade e ao livre desenvolvimento da suapersonalidade.”

“Todo homem tem o direito de participar livremente davida cultural da comunidade.”

A Declaração dos Direitos da Criança das Nações Unidastambém diz que as crianças têm direito à nacionalidade eidentidade, à sua cultura, liberdade de expressão, pensa-mento, consciência, religião e crenças, assim como aparticipar da vida cultural, brincar e à recreação.

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TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

OportunidadesO teatro no desenvolvimento oferece uma forma criativa de você se encaixarcom a comunidade local ou o grupo-alvo e aprender com eles.

Passe algum tempo pesquisando questões culturais locais: fale com as pessoas,inclusive líderes comunitários e religiosos, ONGs, artistas, artesãos, narradoresde estórias, jovens e pessoas idosas. Inclua algumas das idéias destas pessoasno trabalho, de maneira que este seja local e novo.

Compilado por Helen Gould,Coordenadora da CreativeExchange, uma rede de 170organizações e profissionais em 26países, que estão usando a arte e acultura para a mudança social.

Creative ExchangeBusiness Office1 East London Centre64 Broadway, StratfordLondonE15 1NTReino Unido

E-mail: [email protected]: www.creativexchange.org

Dicas práticaspara o uso do teatro e da cultura no desenvolvimento

Uso da cultura localComo podemos incluir a cultura local no nosso uso do teatro?

■ Como as pessoas vivem, se cumprimentam, se vestem,brincam umas com as outras?

■ Podemos incluir formas culturais como a dança, estórias,jogos, música ou imagens visuais? Que problemas poderiahaver no uso destes?

■ Como podemos usar atividades culturais para incentivaruma participação animada e a comunicação?

Lembre-se de que alguns grupos podem não ser capazes departicipar em certas formas de atividade criativa, tais como adança ou a música. Nossa atividade permitiria a todos parti-ciparem, ou algumas pessoas se sentiriam deixadas de fora?

Como o programa pode ser adaptado para assegurar quetodos possam ser incluídos? Por exemplo, deveríamosrealizar apresentações separadas para as mulheres ou paraclasses sociais diferentes?

PlanejamentoO que estamos procurando alcançar? Por que a inclusão dacultura local poderia ser uma forma eficaz de alcançá-lo?

Quais são nossos problemas e preocupações principais? Quaissão os fatores culturais que os afetam? Estes poderiam serquestões tais como práticas tradicionais, o clima, atitudes,tabus e métodos de comunicação locais.

“Estas informações são em nossa própria língua: Yoruba!”

AvaliaçãoReserve tempo e recursos para a avaliação. Lembre-se de quemuitas mudanças ocorrem muito tempo depois de o trabalhoestar terminado. Poderemos descobrir mais tarde o queaconteceu como resultado?

Como as mudanças nas atitudes e na prática serão medidas?Podemos medi-las de forma criativa, por exemplo, usandodesenhos, mapeamento, diários dos participantes ou vídeos?

Reúna estórias sobre o impacto do teatro sobre as pessoas,suas famílias e comunidades. O teatro pode afetá-los de formaemocional, financeira, social e política. Seria possível fazer umacompanhamento de quatro ou cinco pessoas antes, durante edepois da peça?

AdministraçãoQuem supervisionará o trabalho teatral? Que experiência eles possuemem combinar questões culturais com questões de desenvolvimento?Que pessoas da comunidade poderiam dar conselhos?

Quem monitorizará nosso progresso e nossas atividades? Há alguémna comunidade ou na ONG local que possa ajudar com isto? Comopodemos assegurar que as atividades representem os valores da nossaorganização, da nossa igreja ou do nosso doador?

Os participantes estarão seguros?

Seja flexível: os processos criativos freqüentemente têm resultadosinesperados!

Como o trabalho será acompanhado?

Músicos de umpovoado escutandosua música gravadapela primeira vez!

Qual é o impacto do teatro nos espectadores?

Incentive o uso das formas culturais locais, inclusive a música.

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Dramatização de papéis sobre marketing no Brasil.

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Alguns dos legados da guerra são ascicatrizes do trauma, que podem freqüen-temente afetar várias gerações. A naturezadestas cicatrizes variam de pessoa parapessoa e de grupo para grupo. O reconhe-cimento e a compreensão deste trauma

10

JOVENS

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Uma aula para crianças de 8 a 9 anos, baseada num conto folclórico local, com o objetivo curricularde compreensão da língua bósnia. O outro objetivo do Projeto PAX era examinar as implicações dodesejo de vingança.

A estória

Os alunos imaginam o cenário como uma clareira na floresta, onde todos os animais estão reunidospara uma reunião de emergência do Conselho Florestal.

Os alunos desempenham os papéis dos animais, tais como cobras, raposas, pássaros e outros,inclusive humanos. O papel do professor é o da velha coruja sábia, Presidente do Conselho Florestal.

Cenário para a dramatização

A dramatização começa exatamente quando o humano está para bater na cobra com um pau. Asraposas decidiram que a cobra precisa ser castigada. A velha coruja sábia voa até eles e evita oferimento ou a morte da cobra. Ela, então, convoca todos os animais e humanos que vivem na floresta,para uma reunião de emergência do Conselho para considerarem o caso. Eles devem considerar asimplicações da ameaça da cobra para a vida dos pássaros e dos humanos. Eles também devemconsiderar as conseqüências para a vida da cobra, se baterem nela com um pau.

O Conselho tem de considerar sua opinião sobre várias questões antes de chegar a uma decisão.

■ Como os pássaros se sentem quanto à entrada da cobra nos seus ninhos?

■ Como os humanos se sentiram quando a cobra ameaçou mordê-los?

■ Como as cobras reagirão, se um parente for morto?

■ O que estas ações significarão para a paz e a futura segurança no bosque?

■ Uma das raposas já julgou e decidiu que a cobra deve ser castigada. O Conselho chegará a umadecisão diferente? Que recomendações ele fará para proteger e aumentar a segurança na floresta?

Materiais visuais úteis

■ um pau

■ uma cobra feita com um círculo de jornal cortado em espiral, com a cabeça presa a um pau

■ um xale ou uma manta para representar as asas da velha coruja sábia.

O Julgamento da Raposa

representam uma parte necessária doensino para a vida. Trabalhando atravésdo teatro, o projeto usou estórias comouma maneira de ajudar as pessoas aexplorarem suas vidas, seus traumas e asimplicações destes. Como resultado destanova compreensão, os estudantes foramauxiliados a cicatrizarem estas feridas.

O trabalho continua ainda hoje, porque aspessoas envolvidas quiseram mantê-lovivo em seu trabalho diário. O projetoincluía tanto o ensino formal quanto o nãoformal, desenvolvendo materiais para usonas salas de aula, com clubes juvenis ecom grupos comunitários. Os princípiosusados neste projeto podem ser adaptadospara vários tipos de situação.

O uso do teatro como a principal “ferra-menta” de ensino e aprendizagem foi umanova abordagem. O trabalho introduziusituações diferentes com perguntas eproblemas e, então, ajudou os partici-pantes a chegarem às suas própriasrespostas e soluções.

Uma pessoa, com habilidades no uso dadramatização participativa comoferramenta didática, trabalhou com osprofessores locais para desenvolver ummanual de aulas para escolas. Estasbaseavam-se no currículo bósnio e assegu-ravam que as aulas seguiriam as matérias,a duração e as diretrizes de ensinonecessárias. Isto ajudou os professores aobterem permissão para tomar parte noprojeto e também facilitou para que otrabalho fosse oficialmente aceito. Foiintroduzida uma forma de pensar nova ecriativa através da mudança na aborda-gem de ensino e aprendizagem. O modelonormal, nas escolas bósnias, baseava-se na“memorização dos fatos”. O novo modelo,porém, incentivava os alunos a aprende-

Imaginaçãoum recurso didático sem limites e grátis!

O Projeto PAX era um pequeno projeto de ensino sobre a construção da paz,iniciado pela CARE International em 1996, como parte do seu trabalho dereconstrução na Bósnia-Herzegovina e na Croácia, após o conflito ocorridonesse local. A preocupação principal do Projeto PAX era promover erestabelecer comunidades saudáveis, pacíficas e reconciliadas por toda aBósnia-Herzegovina.

Tag McEntegart

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JOVENS

rem a usar a imaginação e a realizaremtarefas práticas. Isto mudou a forma comoos alunos aprendiam, passando de reci-pientes passivos para participantes ativos.Os alunos mostraram melhorias na suasaúde emocional e social, assim como umprogresso educacional significativo.

O manual foi chamado No Jardim daImaginação: Semeando um Futuro de Paz, oqual, no final do projeto, foi oficialmenteautorizado pelo Ministro da Educaçãopara uso nas escolas da Bósnia-Herzegovina.

Foram realizados seis encontros de treina-mento, com 350 professores, além dos 60professores que participaram da criaçãodo manual. Entre estes, foram recrutadosvoluntários para compartilhar o programacom seus colegas. Cada voluntárioconcordou em introduzir o manual e suametodologia para, no mínimo, seis outroscolegas. Desta forma, mais 1.200 professo-res e 6.000 alunos foram alcançados peloprojeto.

Como o processo funciona?São desenvolvidos três aspectos para cadaaula:

■ uma estória que desenvolverá o temada aula

■ papéis que permitam ao professor e aosalunos participarem das tarefas práticasestabelecidas

■ preparação de materiais simples apartir de materiais do dia-a-dia àdisposição do professor, para ajudar osalunos a compreenderem novas idéias.

O Julgamento da Raposa é um exemploprático usado numa classe de crianças de8 a 9 anos (veja o quadro).

Vantagens e princípiosA abordagem PAX trabalha a partir dashabilidades naturais, da confiança e daenergia das crianças para brincar, rimar,fazer jogos com palavras, narrar estórias,adivinhar, cantar e dançar. Esta abordagemé muito diferente da abordagem normal,que as incentiva a aprenderem as coisas decor, repetindo informações e seguindoinstruções complicadas, o que, muitasvezes, faz com que as crianças se sintaminadequadas.

A abordagem PAX acredita que:

■ O que ouvimos, esquecemos.■ O que vemos, lembramos.■ O que fazemos, compreendemos.

Uma aula para criançasde 6 a 7 anos baseadanuma discussão entreum elefante e um rato.O elefante come e estragaa maior parte do campo demilho do rato. Os alunos dramatizam estasituação, enquanto o professor desempenhao papel da raposa, que tem a função dejulgar o conflito. A velha raposa pedeconselhos aos alunos nos seus papéis, deelefantes e de ratos. Eles discutem o queaconteceu e o que deve ser feito no futuropara evitar incidentes como este.

Estragos causados por elefantes

Esta nova abordagem aoensino foi usada parauma aula de educaçãofísica na RepúblicaSrpska, com crianças de8 a 9 anos. O objetivo daaula era “Caminhar para fortalecer os pésdas crianças.” Geralmente esta aula seriarealizada num playground, com as criançasmarchando para cima e para baixo em filas,como num exército, e com o professormantendo a ordem. Devido ao mau tempo,a aula foi realizada dentro da sala de aula,com as mesas empurradas para os lados. Oprofessor fez cada exercício e incentivou ascrianças a usarem a sua imaginação. Elastinham que:

■ imaginar que estavam carregando umfardo pesado nas cabeças

■ caminhar como bailarinos

■ caminhar como um viajante contra o vento

■ caminhar como um elefante e uma girafaem duplas

■ caminhar como uma centopéia emconjunto

■ fingir que eram chafarizes em grupos

■ caminhar como modelos de moda.

Cada exercício foi transformado em peça, eas crianças adoraram sua aula de educaçãofísica. O que normalmente era um exercíciomilitar foi transformado numa aula em queas crianças, juntamente com seu professor,imaginaram as alegrias de viver.

Fortalecimento dos pés das crianças

Tag McEntegart é Professora do Centro paraDesenvolvimento e Treinamento Internacional(Centre for International Development andTraining) da Universidade de Wolverhampton,no Reino Unido. Ela trabalhou com o ProjetoPAX por mais de quatro anos, desenvolvendo omanual In the Garden of the Imagination –Sowing the Seeds of a Peaceful Future, em1999, com o Centro para o Teatro e a Educação,na Bósnia-Herzegovina. Não existem maisexemplares impressos do manual. Entretanto,para obter mais informações sobre o projeto ouo manual, Tag pode ser contactada através doCIDT, University of Wolverhampton,Priorslee, Telford, TF2 9NT, Reino Unido.

E-mail: [email protected]

O Projeto PAX incentiva os alunos a aprenderem usando a imaginação e realizando tarefas práticas.

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DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

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Usamos métodos de teatro interativospara ensinar as pessoas sobre sua liber-dade e seus direitos democráticos e anecessidade de se diminuir a pobreza.Usamos o teatro para incentivar a partici-pação dos espectadores em tópicos taiscomo o alcoolismo, a família e os conflitosétnicos. As pessoas tornaram-se maisconfiantes e interessadas no desenvolvi-mento de sua própria cultura e tradiçõesnacionais através do contato com nossaspeças. Usamos jogos com as crianças e osadolescentes para ensiná-los sobre outrasculturas.

Tanto os muçulmanos quanto os cristãostêm apreciado e apoiado o nosso programade teatro. Vimos que as pessoas estãofamintas de ensinamentos espirituais.Nossos programas culturais e educacio-nais trouxeram muitas pessoas para a fé, eisto nos traz grande alegria!

Durante nossas viagens para regiõesremotas do Quirguistão, vimos que nossas

Nestas circunstâncias difíceis, o RampaFund procura incentivar as pessoas e aapreciação da cultura variada doQuirguistão. Oferecemos um programa deteatro de rua interativo para as pessoaspobres que vivem em locais remotos.

Usamos o quirguiz e nossos instrumentosnacionais, o komuz e o temir komuz, eincluímos cerimônias e danças nacionaisem nossas apresentações. Como os nossosartistas e músicos são profissionais, eleschamam muita atenção em povoados compaisagens desoladas!

Apresentamos estórias da Bíblia, tais comoJonas, Davi e Golias, e usamos um palcoinflável. As camas elásticas na rua foramaceitas com prazer nos bairros residenciaispobres! A confiança das pessoas em nósaumenta com a nossa reputação. Além decompartilharmos estórias da Bíblia e dasapresentações culturais, mais recentementecomeçamos a usar os nossos programaspara desafiar as atitudes da sociedade.

Rampa FundPromovendo a cultura no Quirguistão

A vida social, no Quirguistão, hoje em dia, é muito difícil. Há muita pobreza,apatia, desespero, falta de confiança e muito pouca atividade cultural.

Alexander Balbekin

Criando confiança num palco inflável.

apresentações são, muitas vezes, aprimeira vez em dez anos que as pessoastêm podido desfrutar e celebrar suacultura tradicional. Isto proporcionou àspessoas muito prazer e alegria. Vimos quea atividade cultural muda e é até mesmocapaz de transformar a atitude daspessoas pobres de maneira positiva. Ela écapaz de incentivar as pessoas que sesentem perdidas e marginalizadas (comoas pessoas desabrigadas e os alcoólatras),dando-lhes um novo propósito e um novorumo na vida.

Depois de uma recente visita a uma regiãoremota, foi dito numa carta: “Queremosagradecer ao Rampa Fund pelo prazer e peloalimento espiritual que nos trouxeram atravésdo seu treinamento teatral para adultos e dasapresentações infantis. Estaremos esperandocom impaciência pelo seu retorno…”. Recebe-mos muitos comentários favoráveis comoeste.

Para os que organizam as visitas, nossaatividade cultural e educacional ajuda-os aestudar os problemas dos pobres em suasregiões. Eles são incentivados a considera-rem oportunidades a longo prazo parasuperar a pobreza.

Gostaríamos que este tipo de atividadecontinuasse, e incentivamos uma aborda-gem planejada para combinar a culturacom a educação sobre diferentes temas.Recomendamos a abertura de um CentroCultural para procurar resolver oproblema da pobreza no Quirguistão.Através do nosso uso de programasculturais, vimos as pessoas mudarem e seenvolverem mais nas questões da vida.Estas mudanças são fundamentais, nãoapenas para resolver o problema dapobreza, mas também para a construçãoda sociedade como um todo.

Alexander Balbekin é o diretor do RampaFund, sediado em Bishkek, Quirguistão.

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TEATRO PARA O DESENVOLVIMENTO

Valorização de culturas e identidadesétnicas diferentes Dewi Hughes

Em Gênesis 1-11, lemos sobre o início de muitas coisas: do própriomundo e de todas as criaturas, do matrimônio, da agricultura, dopecado, das cidades, da música e do trabalho em metal. Tambémaprendemos sobre o início das nações ou das identidades étnicas emGênesis 10:1-11:9. Algumas pessoas acham as listas de nomes enfado-nhas, mas as listas da Bíblia, inclusive esta, em Gênesis 10, lembram-nos de que Deus está interessado nas famílias, nos clãs, nas tribos e nasidentidades étnicas às quais pertencemos.

Leia Gênesis 10

• O que aconteceu aos descendentes de Noé, conforme é descrito em Gênesis10?

• Deus aprovou a dispersão das pessoas pela Terra? Veja Gênesis 9:1 e 1:28.

• Quais são algumas das diferenças fundamentais que se criaram entre aspessoas, à medida que elas viajavam cada vez para mais longe uma dasoutras?

À medida que os descendentes de Noé aumentavam em número, elesse espalhavam, transformando-se em identidades étnicas separadas,vivendo em lugares diferentes e falando línguas diferentes, como sem-pre havia sido a intenção de Deus. Gênesis 11:1-9 conta sobre umatentativa inicial de evitar que isto acontecesse.

Leia Gênesis 11:1-9

• O que os responsáveis pelo projeto de construção de Babel esperavamalcançar?

• Por que os construtores da torre queriam evitar que as pessoas tomassemoutros rumos e se tornassem diferentes?

• Como Deus pôs um fim à construção de Babel?

Ao longo da história, sempre houve grupos étnicos que tentaram selivrar da diversidade, a fim de aumentarem seu poder e “edificar umatorre cujo cume tocasse nos céus e fazerem-se um nome”. Entretanto,Deus sempre fez com que estes impérios se desmoronassem, demaneira que a diversidade fosse restabelecida. Deus possui sua própriaforma de unir as diferentes identidades étnicas e culturas sem destruirsuas diferenças.

Leia Apocalipse 7:9-10

Faça uma lista das diferenças entre a maneira como os construtores datorre de Babel e os verdadeiros seguidores de Cristo lidam com adiversidade étnica e cultural.

As igrejas que constroem “torres de Babel” forçam-nos a sermos comoelas, para sermos “salvos”; os que seguem Cristo incentivam-nos asermos salvos exatamente do jeito que somos …

Devemos valorizar, respeitar e celebrar as diferenças entre os gruposétnicos, assim como incentivamos o uso do teatro, das canções e dadança no nosso trabalho.

Dewi Hughes é o Assessor Teológico da Tearfund, com um interesse especialna diversidade étnica. E-mail: [email protected]

ESTUDO BÍBLICO

■ Peça a um dos participantes para começar aimprovisar uma cena. Ele pode criar uma cena sobrequalquer coisa que queira, ou o facilitador podepedir-lhe que crie uma cena sobre um tópico emparticular, como a violência, o poder, o nascimentode uma criança ou a doença. Quando um outroparticipante reconhecer a cena, ele grita “Pare!”, ea cena é interrompida.

■ O segundo participante entra, então, em cena. Ofacilitador dá um sinal e os dois participantescontinuam a improvisação.

■ Depois de algum tempo, o facilitador podeinterromper a cena novamente e perguntar “Do queesta cena precisa?” ou “O que está faltando nestacena?”, para pedir sugestões ao resto do grupo.

■ Peça aos participantes para acrescentarem maisuma personagem à cena. Pergunte à personagemseu nome, quem ela é e qual é a sua relação com asoutras personagens.

■ Repita este processo até que a cena estejaconcluída.

Este exercício serve para salientar questões parauma maior discussão dentro do grupo. A atividadepode, então, ser desenvolvida pelo grupo etransformada numa peça que apresente umproblema associado a uma questão em particular.

Usando este exercício com órfãos que vivemnum centro de acolhimento para crianças …Uma vez que o facilitador estabelece um relaciona-mento bom e de confiança com as crianças, ele podepedir a um voluntário que comece a dramatizar umacena sobre a vida na casa das crianças. A criançacomeça, talvez, dramatizando a primeira refeição nocentro de acolhimento para crianças. A segundacriança reconhece aquela experiência e grita “Pare!”e passa a tomar parte como uma segunda persona-gem, que poderia ser uma outra criança do centro,e a atividade continua. São salientadas, então, asexperiências relacionadas com a vida no centro deacolhimento para crianças. Um facilitador delicadopode ajudar as crianças a discutirem estas questões.As crianças podem, então, decidir desenvolver acena e transformá-la numa peça curta, escolhendo

que partes incluir e que partes deixar de fora. Elaspoderiam, depois, apresentá-la para pessoas envol-vidas no centro, como assistentes sociais, auxiliaresresponsáveis por cuidar das crianças e professores.Como a peça se baseia numa estória comum atodos, sobre uma questão geral relevante para amaioria dos participantes, não há nenhum interessepessoal.

Depois da apresentação, os espectadores podemfazer perguntas às crianças sobre a peça. Elespoderiam também participar de uma nova apresen-tação da peça, dessa vez, incluindo-se a si próprioscomo outros profissionais que, na sua opinião,poderiam ter algum efeito positivo na situação.Desta forma, seria possível dramatizar possíveissoluções relacionados com os problemas salienta-dos, permitindo a discussão com todas as pessoasenvolvidas.

Adaptado por Claire Lacey, do Projeto Artpad, de J. McCarthy e K. Galvao (2002), University ofManchester, Reino Unido.

Exploração de questões através da representação de papéis

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RECURSOS

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LivrosBoletinsMateriais de treinamento

Um projeto de reboque para bicicletas do SriLanka permite que as mulheres busquemum grande suprimento de água numa sóviagem. As mulheres rurais pobres sãotradicionalmente as que buscam e carregamágua, o que exige muito de seu tempo e desua saúde.

O projeto foi desenvolvido por Premadasa,um jovem mecânico em Suriyawewa, SriLanka, tendo sido testado e aprovado peloIntermediate Technology DevelopmentGroup. Premadasa agora treina grupos parafabricarem estes reboques para bicicletas.Já há mais de 500 deles em uso.

Para obter as instruções técnicas para oprojeto dos reboques para bicicletas, veja:www.itdg.org/html/transport/expertise.htm

Reboques para bicicletasproporcionam alívio

Popular Theatre in PoliticalCultureTim Prentki e Jan SelmanISBN 1 84150 847 0 livro brochado

Este livro estuda a história e a prática doteatro popular. Os meios de comunicaçãomundiais começaram a ameaçar a sobrevi-vência das companhias teatrais populares.Este estudo segue o desenvolvimento devários tipos de teatro comunitário, desde osanos 70 até os dias de hoje. São realçadasvárias questões, entre elas:

• distinções entre o teatro popular e oteatro normal

• a influência do Teatro para o Desenvol-vimento da África e da Ásia

• o teatro popular como forma de arte, umprocesso de auto-empoderamento e uminstrumento de intervenção cultural.

O livro custa £14,95 libras esterlinas ($29,95dólares americanos). A remessa postal custa£2,05 libras esterlinas na União Européia(grátis no Reino Unido) e £4,05 librasesterlinas para outros lugares. Ele pode serencomendado através de:

Intellect LtdPO Box 862, Bristol, BS99 1DEReino Unido

E-mail: [email protected]: www.intellectbooks.com

Estórias em quadrinhos agrícolasPaul Latham

O Exército da Salvação, no Congo, produziurecentemente uma série de pequenos livrosem forma de estórias em quadrinhos paraagricultores e extensionistas. Eles oferecemuma fonte excelente de informações muitopráticas e bem ilustradas sobre os seguintesassuntos:

■ O plantio de árvores para a saúde■ Hortaliças nativas■ Produção de lagartas comestíveis

e as plantas de que se alimentam■ Cogumelos e como prepará-los■ Apicultura

Estes pequenos livros foram escritosem francês, sendo que alguns vêmcom legendas em kikongo. Astraduções em inglês agora podemser obtidas em CD-ROM e custam£15 libras esterlinas pelo conjunto.Os livros custam £3 esterlinas cada($4 dólares americanos), incluindo aremessa postal e a embalagem, e podem serobtidos através de:

Paul LathamCroft Cottage, Forneth, BlairgowriePerthshire, PH10 6SWReino UnidoE-mail: [email protected]

ou de:Major Gracia MatondoArmee du Salut, KinshasaRepública Democrática do Congo

E-mail: [email protected]

Healthlink Worldwide’s ResourceCentre ManualEsta é a segunda edição deste manual útil.Ele foi escrito para pessoas que trabalhamna área da saúde e de deficiência por todoo mundo e que estejam planejando criar edesenvolver um centro de recursos emcomunidades com poucos recursos, sendoparticularmente útil para pessoas comverbas limitadas.

Escrito num inglês simples de entender,com ilustrações e diagramas claros, estemanual é um kit de ferramentas essencial,cheio de dicas práticas, exemplos e listas deverificação. Ele traz informações sobrecomputadores e a comunicação eletrônica,exames de pacotes de software para bancosde dados, listas de fontes de informaçõeseletrônicas e de bibliografia adicional elistas de fornecedores e distribuidores derecursos.

Este manual pode ser baixado gratuita-mente no website da Healthlink World-wide, em www.healthlink.org.uk/pubs.html

Os exemplares impressos custam £15,00libras esterlinas para os países em desen-volvimento e £25,00 libras esterlinas paraos outros. Há um número limitado deexemplares gratuitos para os casos conside-rados adequados.

E-mail: [email protected]

Art Therapy for Groups:A handbook of Themes, Games and Exercises

Marian LiebmannPublicado por Brunner/RoutledgeISBN 0 415 04327 1

Esta nova segunda edição deste recurso útiltraz orientação sobre como estabelecer eorganizar grupos de terapia através da artee discute as diferentes necessidades que osgrupos podem ter.

Este livro contém vários exercícios práticospara serem usados com grupos e, emboratenha sido planejado para ser usado em

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RECURSOS

terapia, muitos dos exercícios poderiam sermuito úteis para o treinamento teatral. Eleé bem ilustrado com desenhos a traço efotografias em preto e branco.

Este livro brochado custa £17,99 librasesterlinas e pode ser obtido através daBlackwells. A remessa postal custa £2,00libras esterlinas para o Reino Unido, £3,50libras esterlinas para a Europa e £4,50 librasesterlinas para o resto do mundo.

Blackwell’s Mail Order50 Broad Street, Oxford, OX1 3BQReino Unido

E-mail: [email protected]

When People Play People:Development CommunicationThrough Theatre

Publicado pela Zed Books, LondresISBN 1 58391 218 5

Este livro mostra como a dramatização e oteatro podem ser usados no desenvolvi-mento social e explora a relação entre aintervenção e a participação, assim como opotencial do teatro para a mobilização dascomunidades. Ele também examina o papeldo teatro de proporcionar uma verdadeiracomunicação bilateral e incentivar a expres-são cultural das próprias pessoas. O autor éum poeta sul-africano, que usou o teatropara o desenvolvimento em Lesotho epossui uma experiência considerável namobilização social e no uso do teatro devárias maneiras diferentes.

O livro custa £15,95 libras esterlinas atravésna Zed Books. Como oferta especial para osleitores da Passo a Passo, eles não cobram aremessa postal!

Zed Books7 Cynthia Street, London, N1 9JFReino Unido

E-mail: [email protected]

Alguns websites úteiswww.comminit.com The Drum Beat – umareferência essencial para projetos de comu-nicação e mudança, ele apresenta algumasestórias e relatórios muito interessantessobre o teatro e o desenvolvimentochamados Making Waves, de A. G. Dagron.

www.creativexchange.org O website daCreative Exchange possui um centro derecursos com 500 contatos e mais de 100publicações.

www.unesco.org/culture Selecione a seçãode cultura e desenvolvimento para verparte do trabalho da UNESCO nestaregião. Inclui abordagens culturais para aprevenção e a gestão do HIV (VIH)/AIDS(SIDA).

Guie os nossos passosEsta é uma edição completamente novade um recurso muito popular, Guie osmeus passos. Ela contém 101 estudosbíblicos participativos sobre umavariedade de questões de desenvol-vimento. Muitos deles são tirados ouadaptados de estudos usados na Passoa Passo, nos guias PILARES ou naspublicações ROOTS. Ela traz orientaçãosobre como usar os materiais para oestudo bíblico em pequenos grupos etambém sobre como preparar novosestudos bíblicos.

Este recurso custa £7,50 libras esterlinas($13,50 dólares, €11 euros), incluindo aremessa postal e a embalagem.

Mobilização da igrejaEste é um novo e emocionante guia PILARES.Assim como todos os guias PILARES, ele foicriado para ser usado na discussão participa-tiva com pequenos grupos comunitários.Entretanto, este guia é diferente, por serescrito especificamente para ser usado dentrodas igrejas. Cada página apresenta estudosbíblicos para serem usados como parte domaterial de discussão. Este guia foi criadopara incentivar os membros da igreja aampliarem sua visão. Ele traz material sobre opapel da igreja, a liderança, grupos de estudobíblico, a compreensão das necessidades dacomunidade, o planejamento, o trabalhodentro da comunidade e o desenvolvimento ea manutenção da visão da igreja. Esterecurso irá desafiar, entusiasmar e equipartodos os membros das igrejas interessadosem ampliar sua visão.

O guia custa £5 libras esterlinas ($9 dólares,€7 euros), incluindo a remessa postal e aembalagem.

Para encomendar qualquer um destesrecursos ou para obter mais informações, porfavor, entre em contato com:

PO Box 200, BridgnorthWV16 4WQ, Reino Unido

Fax +44 1746 764594E-mail: [email protected]

Recursos da Tearfund

Doutores da AlegriaNo Brasil, a organização Doutores da Alegriamandam palhaços profissionais para os hos-pitais infantis. Eles se vestem com uniformesde médicos e divertem as crianças doentes,seus pais e os profissionais da área da saúde,passando algum tempo brincando e fazendopiadas com cada criança, depois de avaliaremsuas necessidades. Como resultado:

■ As crianças tornam-se menos passivas emais ativas.

■ Elas ficam menos preocupadas com otratamento médico e mais positivas emrelação a estarem no hospital.

■ As crianças freqüentemente se recuperammais rápido.

■ Os pais acham que o período de tempoque seus filhos passam no hospital torna--se menos estressante.

■ Cria-se uma relação melhor entre osprofissionais da área da saúde, os pais eas crianças.

O impacto dos palhaços na saúde das criançase no seu bem-estar geral tem sido incrível. Ohumor realmente ajuda as crianças doentes amelhorarem!

Web: www.doutoresdaalegria.org.brE-mail: [email protected]

www.networkcultures.net O website daSouth North Network Cultures andDevelopment possui uma variedadeinteressante de questões/discussões nesteboletim on-line.

www.cdcarts.org/ppp O Centre for the Artsin Development Communications oferecetreinamento especializado em teatro para odesenvolvimento. Ele contém artigosacadêmicos assim como pesquisa e estóriasinteressantes sobre uma abordagemcultural participativa.

Page 15: Passo a Passo - Tearfund Learntilz.tearfund.org/~/media/Files/TILZ/Publications/Footsteps... · para incentivar a compreensão sobre todo o tipo de questões de desenvolvimento

16 PA S S O A PA S S O 58

DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

Publicado pela: Tearfund, 100 Church Rd,Teddington, TW11 8QE, Inglaterra

Editora: Dra Isabel Carter, PO Box 200, Bridgnorth, Shropshire, WV16 4WQ, Inglaterra

Os funcionários da Tearfund passam uma boa partedo seu tempo revisando milhares de pedidos parafinanciamento, os quais não podemos apoiar. Istoafasta-os do trabalho importantíssimo de levar boasnovas aos pobres através das atuais parcerias. Por favor, observe que todas as propostas definanciamento serão rejeitadas, a menos que sejamprovenientes dos atuais parceiros da Tearfund.

Foram dadas informações sobre os direitoshumanos das crianças aos estudantes, combase na Carta dos Direitos Humanos dasNações Unidas, e pediu-se a eles quepensassem sobre a relevância destes paraas suas vidas e também sobre as responsa-bilidades dos jovens que acompanhamestes direitos.

Cerca de 180 alunos de seis escolas secun-dárias de Kampala, Uganda, trabalharamcom o Small World Theatre, um grupoteatral sediado no Reino Unido. Cadaescola escolheu até cinco dos direitos maisimportantes para elas como base de umapeça. Juntos, os alunos pesquisaram,planearam e ensaiaram uma peça sobre os“direitos da criança” para a sua escola,próximo a escolas primárias, à comuni-dade local e às pessoas responsáveis pelaformulação de políticas. Quarenta alunostambém participaram de três apresenta-ções para o Teatro Nacional, em Kampala,o que provocou um grande interesse dosmedia.

O Small World Theatre introduziu umexercício conhecido como as “SetePerguntas” (veja abaixo) como uma formasimples e rápida de criar uma estória para

uma personagem principal. Este métodofoi desenvolvido por Alex Mavrocordatosdurante um treinamento em teatro partici-pativo no Nepal, com actores de teatro derua (inclusive o Aarohan – veja a página 4).

Este exercício usa sete perguntas paraprocurar criar diferentes aspectos dasituação da personagem principal. Asperguntas fazem com que as pessoasandem para frente e para trás no tempo,para explorar as causas e as conseqüênciasdas ações das personagens e das outraspessoas afetadas pela situação.

O projeto tinha por objetivo explorar oque os “direitos da criança” realmentesignificavam para os jovens em Uganda.Ele usou o teatro participativo para criarestórias a partir das experiências dosparticipantes. O abuso sexual dentro dafamília veio à tona como um tema impor-tante para estes jovens. Cada grupo departicipantes é incentivado a criar umapeça interativa que pode ser usada paraensinar outros estudantes sobre os direitosda criança.

Estes Direitos são Meus

Estes Direitos são Meus é um projeto que explora os direitos da criança entreos jovens de Uganda. Ele usa o teatro, nas escolas secundárias, como formade incentivar a troca de informações e a participação dos jovens.

Ann Shrosbree

QUEM é esta pessoa? (nome, nacionalidade/tribo/cultura, idade, situação econômica, etc)

O QUE está acontecendo com ela? (situaçãorelacionada com os direitos escolhidos)

O QUE decidiu ela fazer? (O que está ela parafazer?)

POR QUE decidiu ela fazer isto? (influências,emoções)

QUEM mais é afetado? (outras personagensprincipais)

O QUE causou esta situação? (passado)

QUAIS serão as conseqüências? (futuro)

As Sete Perguntas

Os estudantes desenvolveram uma formabem ativa de lidar com a discussão com osespectadores. Eles pedem às pessoas parasugerirem formas de mudar as cenas daspeças, a fim de melhorarem a situação. Porexemplo, numa peça sobre abuso sexualdentro de uma família, os espectadoresconcordaram em resolver a situaçãousando a irmã mais velha, que tambémtinha sido abusada. Ela se recusava a sairdo lado da irmã mais nova, embora o paitentasse de várias maneiras separá-las.Assim, os planos do pai foram frustrados.

O projeto é apoiado em parceria pelo ConselhoBritânico em Uganda, e o Small WorldTheatre. Para obter mais informações, entre emcontato com Ann Shrosbree, Small WorldTheatre, PO Box 45, Cardigan, SA43 1WT,Reino Unido.

E-mail: [email protected]: www.smallworld.org.uk

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Peça mostrando abuso dentro de uma família.