26
Círculo do Graal Carmo Vasconcelos Página 1 PASSOS PARA A ETERNIDADE Poesia de Carmo Vasconcelos

Passos para a Eternidade

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Poesia espiritual e humanista.

Citation preview

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 1

PASSOS PARA A ETERNIDADE

Poesia

de

Carmo Vasconcelos

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 2

ÍNDICE

I – Construindo a Ponte

II – Começo a Entender

III – Rugas

IV – A Arte de Viver

V – (In) Direitos Humanos

VI – Ferve ao Poeta

VII – De Narciso… a Narcisista

VIII – A Metamorfose

IX – Se a Natureza Grita…

X – Poemas em Tempo de Guerra – Hoje como Ontem…

XI – Quero-te Flor Primeira!

XII – E… Fez-se Luz!

XIII – Reconstruindo Pontes

XIV – Estrela-Guia

XV – Oração à Virgem

XVI – Amigo

XVII – Luz na Escuridão

XVIII – Quando Choras…

XIX – Êxtase

XX – Canção à Vida

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 3

I

CONSTRUINDO A PONTE...

Suave e lentamente, desligo-me do mundo.

Sem pena nem tristeza; nem asceta...

Sem depressão ou euforia, apenas circunspecta,

preparo a outra vida que vislumbro ao fundo...

Para trás, a estrada já vencida, o “dejá-vu”

que, perdido o espanto,

tal amantes desgastados de eu e tu,

já não empolga mais...

Na nova esfera introspectiva há silêncios de catedrais,

cores a desbravar num imo de vitrais.

Dos satélites pulsantes ao redor,

já conheço os estafados movimentos e quadrantes.

O caminho, sem arestas de temor, faz-se agora para dentro,

numa rota ponderada de regresso ao antes.

Guardo os olhos para Paisagens Superiores,

e os ouvidos para Sinfonias Divinais.

Prevejo, até...

Uma nova poesia por sinais aromados de incensos:

luzes, toques, brisas calmas;

a linguagem enigmática das almas.

Pressinto orgias transcendentais,

orgasmos cósmicos deslumbrantes,

anjos e vestais fazendo amor num céu de debutantes.

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 4

Largo as vestes da vaidade, a nudez visto de branco;

descalço-me de intentos,

despeço louvores, rebaptizo sentimentos.

Experimento o desapego franco!

Abafo o ego prepotente; queimo o lixo material e poluente.

Na mala... apenas os valores invisíveis:

aprendizado, conhecimento, justeza,

doação, desprendimento.

Não há limite de peso para a bagagem dos possíveis

que estou juntando em sossego.

Quantos mais... maior leveza!

Ah! Minha vontade fraqueja…

Pesos ainda da carne que lateja.

Das paixões, persistem sombras torturantes,

pecados veniais, sedutores e fascinantes.

E as feras, sequiosas de prazer, rondam-me a fonte...

Mas, por entre a força e a fraqueza, a certeza

do paraíso defronte!

Sem data agendada para a passagem,

estou construindo a ponte!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 5

II

COMEÇO A ENTENDER...

Começo a entender

a inutilidade do, teimosamente, querer...

Lentamente, dispo a frustração

do não ter...

Pragmática,

visto a minha gramática.

“Passar” é o meu verbo,

não, “Ficar”.

Chuva miúda que cai,

entranha, vivifica, revigora,

e se vai,

homeopática!

Brisa forte, mais que aragem,

menos que suão,

espaneja, sacode, areja,

e se vai,

errática!

A todos os meus amores

amei intensamente

e desejei eternos.

Mas isso... seria outra gramática,

estática!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 6

Meu verbo é “Passar”,

não, “Ficar”.

Água corrente, transparente,

refresca, tonifica, reverdece,

e se vai,

profiláctica!

Chama quente e rubra,

acalenta, purifica, alumia,

e se vai,

carismática!

Começo a entender-me, sem lamento,

da Natureza elemento.

Chuva, brisa, água, chama,

gente e agente

do Super-Regente

que, em Sua divina táctica,

enigmática,

escreveu minha gramática,

sistemática.

“Servir”, “Servir”, “Servir”,

depois... “Partir”!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 7

III

RUGAS

Em cada ruga houve um caminho percorrido,

Em cada estria outra jornada sem avesso,

Marcas de um tempo irreversível e pregresso,

Fundos sinais de antigo carma já vencido.

Todas afago sem revolta e sem lamentos,

E bendizendo-as me desdobro em oração,

De alma ora leve e apaziguado coração,

Grata e liberta de penhores e tormentos.

Esculturais sulcos divinos a lembrar

Que o purgatório tem morada permanente

Aqui na Terra onde se saldam fatalmente

Dívidas cármicas deixadas por pagar.

Outrora filhas de actos vãos, irreflectidos,

As minhas rugas, mais que contas liquidadas,

São no presente as mães de luz, purificadas,

Destes meus versos, de pecado redimidos.

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 8

IV

A ARTE DE VIVER

Nem sempre é fácil a arte de viver...

Renúncia exige em meio a sacrifícios,

Há que fechar os olhos pra não ver

A falsidade eivada de artifícios.

Calar os sapos rente ao coração,

Riscar da mente abruptos desenganos,

De orgulho e brios, sem mágoa, abrirmos mão,

E dar amor a crentes e profanos!

Essa a palavra ouvida à cristandade:

Amar o nosso irmão, qual Jesus Cristo,

Que já na cruz, perdoa ao Judas falso!

Mas desse exemplo longe, eu preces alço

Pra que essa luz me toque enquanto existo

E possa ser-me leve a Eternidade!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 9

V

(In) DIREITOS HUMANOS

Quanta esperança esse justo enunciado

Já trouxe ao ser humano desvalido...

Num maná de direitos prometido,

Depois de longas eras aviltado.

Um halo novo iluminou as mentes!

Quantas almas fremiram de euforia!

Corações se inflamaram de utopia!

Que homens ainda os há, puros e crentes!

Porém, a vilania dos dementes,

De poder e ambição gananciosos,

Faz-se cega aos direitos proclamados...

Sobra calçada prós desalojados,

Recheada têm a bolsa os ardilosos,

E grassa a fome sobre os inocentes!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 10

VI

FERVE AO POETA…

Fervem-lhe os sãos direitos esquecidos

Aos homens, às mulheres e às crianças,

Ferve-lhe um amanhã nulo de esp'ranças

Para os pobres viventes desvalidos.

Ferve-lhe, inda, a justiça surda e cega

Que deixa soltos, ímpios e ladrões,

Ferve-lhe a impunidade que lhes lega

E mete os indigentes nas prisões.

– Inocentes se roubam um milhão

Culpados se com fome roubam pão!

Fervem-lhe ao rubro os luxos desmedidos,

Vaidades sem acerto e probidade,

Fervem-lhe os que de tudo desprovidos

Dia-a-dia, são mendigos sem idade.

Fervem-lhe as verdes matas derrubadas

Para servir aos reis da construção,

Ferve-lhe este planeta sem espadas,

Que em fúria se insurge à degradação.

– Ferve-lhe o homem d'agir louco e macabro

Conducente do mundo ao descalabro!

Ferve-lhe, quente, o sangue de poeta,

Gritam-lhe a dor, as letras em cachão,

Ferve-lhe n’alma a mágoa não secreta,

E na mente, a denúncia p’la razão.

Ferve-lhe a compulsão pela justiça

Tomar de vez o rumo rectilíneo,

Ferve-lhe a mão pra actuar na dura liça,

Em resgate da Paz em extermínio.

- Na pena... a garra d’abolir o imundo!

Ao poeta... A força de mudar o Mundo!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 11

VII

DE NARCISO... a NARCISISTA

Carmo Vasconcelos

Narciso

Na mitologia greco-romana, Narciso ou O Auto-Admirador (Língua grega:

Νάρκισσος), era um herói do território de Téspias, Beócia, famoso pela sua

beleza e orgulho. Várias versões do seu mito sobreviveram: a de Ovídio,

das suas Metamorfoses; a de Pausânias, do seu Guia para a Grécia; e uma

encontrada entre os papiros achados em Nag Hammadi, ou Chenoboskion,

também chamada Oxyrhynchus. Era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa

Liríope. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que

Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.

Narcisismo

O narcisismo tem o seu nome derivado de Narciso, e ambos derivam da

palavra Grega narke, "entorpecido" de onde também vem a palavra

narcótico. Assim, para os gregos, Narciso simbolizava a vaidade e a

insensibilidade, visto que ele era emocionalmente entorpecido às

solicitações daqueles que se apaixonaram pela sua beleza.

Como Pausânias também nota, outra história conta que a flor narciso foi

criada para atrair Perséfone, filha de Deméter, para longe das suas

companheiras e permitir que Hades a raptasse.

Versão de Ovídio

Em Metamorfoses, Ovídio conta a história de uma ninfa bela e graciosa

tão jovem quanto Narciso, chamada Eco e que amava o rapaz em vão. A

beleza de Narciso era tão incomparável que ele pensava que era

semelhante a um deus, comparável à beleza de Dionísio e Apolo. Como

resultado disso, Narciso rejeitou a afeição de Eco até que esta,

desesperada, definhou. Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 12

Némesis condenou Narciso a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na

lagoa de Eco. Apaixonando-se profundamente por si próprio, inclinou-se

cada vez mais para o seu reflexo na água, acabando por cair na lagoa e se

afogar.

***

DE NARCISO... a NARCISISTA

Nas lendas de Narciso, a bela flor

Serviu paixões e fúteis leviandades...

Cúmplice foi do rapto por amor

Da adorada Perséfone, por Hades.

Porém, a estória dita, apenas é

Uma das ricas faces mitológicas;

Mas é doutra, a de Ovídio, que vem fé

De renegarmos tais vias analógicas.

Lembre-se a lenda antiga de Narciso!

O jovem que adorando a própria imagem,

De egocêntrico amor, morreu, sem siso,

Havendo os que hoje ainda, tal qual agem!

Se remiram no lago da vaidade,

Julgando-se no Cosmos, sem igual,

Não vendo que no espelho da verdade,

Seu rosto é reflectido de amoral.

Se afogam na água fétida do egoísmo,

Ignorando os iguais, pares e irmãos,

Alheados dum fraterno e são altruísmo,

Carregando em si, péssimos senãos!

Que lhes baixe a luz ígnea do saber

Existir em global humanidade,

A iluminar o anverso do seu Ser,

E a guiá-los à sagrada eternidade!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 13

VIII

A METAMORFOSE

Desde criança ouvi o vaticínio

Que em dois mil seria o morticínio

De todos nós, na Terra em extinção...

Mas, talvez, pla mudança dos vectores

Que do planeta são os regedores,

A Esfera continua em rotação.

Indubitavelmente, os seus valores

São hoje testemunhos dos horrores,

Perpetrados plos génios da ambição...

Que do espiritual alvo distanciados,

Fazem dos bens venais deuses amados,

A que ajoelham em louca obsessão.

Se auto-destruindo em lutas e chacinas,

Revestem-se de crenças peregrinas,

Em nome de um suposto Deus Maior...

Olvidando que irmãos somos do Cristo,

Que morrendo por nós se fez benquisto,

Filho do mesmo Pai, de insigne Amor!

Mas a metamorfose, que requer

Novel tempo do "Ser" e não do "Ter",

Deixou de ser um mito imaginário...

Uma nova Era não é mais opção,

Imposta já se fez! E em transição,

Caminhamos pra Luz da Era de Aquário!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 14

IX

SE A NATUREZA GRITA...

É sábia a Natureza em seu poder,

Que sempre há-de acudir a rude lance,

Inda que algum de nós tal não alcance,

Duvidoso do seu divo saber.

Se à fúria da Invernia oferece a gruta

Que em alto mar espera acolhedora,

Já no queimar do estio dá estrada afora,

A árvore cuja sombra se desfruta.

Todos os seres são seus protegidos,

Se o perfeito equilíbrio não lhe ofendem

Co'a ambição em seus actos desmedidos...

Que é brava a Natureza quando grita,

Revoltada plos males que lhe acendem;

E pla afronta ao planeta, ruge, aflita!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 15

X

Poemas em tempo de guerra

HOJE COMO ONTEM...

Hoje os rios correm vermelhados de vergonha,

Plúmbeos os céus, envergam traje de ímpar dor,

Na atmosfera gaseifica-se o estertor,

Poeira de sangue sem limite que se oponha.

É uma barbárie turbulenta que regressa,

A insanidade da feroz Roma de Nero,

A arena ignóbil do bestial exemplo fero,

A demoníaca loucura, vã, pregressa.

Qual a que à morte condenou natos varões,

Pra aniquilar a voz do Cristo Redentor,

Chegado ao Mundo pra pregar a paz e o amor,

Mote enjeitado por Herodes e vilões.

A mesma que, ímpia, conduziu à Inquisição,

Injustamente, os desafectos, fés avessas,

E fez rolar na guilhotina essas cabeças,

Sem vacilar um só momento em compaixão.

Hoje, motivos e razões bem divergentes,

Vestem a Guerra igual, no sangue mergulhada,

E capitula a Paz, às mãos da malfadada

Carnificina que dizima os inocentes.

Novo Dilúvio venha à Terra! E que extermine

Os vis demónios que a ambição trazem aos pés,

E nos devolva o Mundo, tal o que Deus fez,

Um Mundo Novo que a violência recrimine!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 16

XI

QUERO-TE FLOR PRIMEIRA!

Quando eu futuramente regressar,

Noutro corpo, diversa alma prefiro,

Despida de memórias, qual papiro

Liso... Que esta enrugou-se de chorar!

Quero-a nua de passados já sofridos,

Flor primeira, enxertada de ignorância,

Alheada de lembranças que em constância,

A tolham pelos erros conhecidos!

Erros que antes de fluírem largos prantos,

Se vestiram de riso, gozo, encantos,

Inefáveis momentos de prazer!

Então, que venha a mim alma inocente,

A aventurar-se, audaz, inconsciente,

Que entre riso e pranto há vida a viver!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 17

XII

E… FEZ-SE LUZ!

(Soneto de Natal)

Eram tempos de angústia, tenebrosos,

Quando os servos do mal e da ambição

Reinavam neste mundo, poderosos,

Espalhando terror, desolação…

Mas dessa escuridão, soturna e fria,

Emerge a Luz por dentre a palha loura,

Abrem-se as nuvens, brilha a estrela-guia,

E eis que nasce Jesus na manjedoura!

E a Luz iluminou os corações,

Com Deus feito o Menino que chegou

Para mudar o senso às multidões

Pla Palavra que ao Mundo proclamou!

Que o Seu Verbo Divino contra o mal

Renasça, vivo em nós, cada Natal!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 18

XIII

RECONSTRUINDO PONTES

Derrubem-se as paredes orgulhosas,

Erigidas na raiva dos repentes,

Triturem-se os tijolos insolentes

E as pedras de arremesso, belicosas!

E desfeitos os muros corrompidos,

Reconstruam-se pontes migratórias

Que resgatem afectos e memórias,

Em águas rancorosas imergidos!

Retome-se a palavra naufragada,

Recolham-se os abraços afundados,

Desafoguem-se os réus, por nós julgados…

- E a travessia da paz faz-se alcançada!

Que a morte espreita e surge inesperada,

E o que sabemos dela é quase nada!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 19

XIV

ESTRELA-GUIA

(Aos meus filhos)

Quando um dia, filhos meus, eu vos deixar,

Não chorem por meu corpo já cansado,

Que já não pode ter-vos ao cuidado,

Se é tempo de partir e descansar.

Revejam-me no céu, já estrela-guia,

Que do alto vos protege e por vós zela,

Seguindo vossos passos, sentinela,

A adoçar-vos a mágoa que angustia.

Espalhem minhas cinzas pelo mar,

Que sempre vossos pés virei beijar,

Em ondas segredantes de carinho.

E em seus murmúrios, hão-de ouvir, baixinho,

Vindo da profundeza dos corais,

Que zelo e amor de mãe são imortais!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 20

XV

ORAÇÃO À VIRGEM

Senhora, de alva tez com olhos d’água,

Suplicamos a vós, lavai da mágoa

Este mundo que sofre em provação…

Resguarda-nos em teu manto de amor,

Preserva de teus filhos toda a dor,

Ave Mãe! Te imploramos protecção!

Por todos nomes que usas te invocamos,

E aos teus sagrados pés nos arrojamos

Virgem Santa, Maria ou Conceição…

De Fátima, de Lourdes, ou do Mundo,

Escuta nossas preces, do mais fundo

Amargor que nos fere o coração!

E de nossos pecados nos perdoa,

Tira de nós a angústia que magoa,

Despe-nos de vingança e desamor…

Inunda-nos com vosso olhar de luz,

E intercede por nós junto a Jesus,

Pra que o Mundo renasça em Seu esplendor!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 21

XVI

AMIGO

Amigo, as minhas mãos são tuas!

Cavalgam no luar das tuas luas,

Aquecem no sol que te bafeja…

Navegam no mar das tuas mágoas,

Remam contigo por marés e fráguas,

Unem-se para orar a Deus que te proteja!

E o meu maior desejo é estar contigo,

És tu que me dás consolo e abrigo,

Quando dos meus olhos corre o choro…

Que me aconchegas, suave, no teu peito,

Se de tristeza e amor insatisfeito,

Sofro… E na tristeza me demoro!

Por isso te dou as minhas mãos,

Façamos a viagem como irmãos,

De mãos dadas nas pedras do caminho…

E quando a nossa mente desnorteia,

Que seja o meu amor tua candeia,

Que seja a minha luz o teu carinho!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 22

XVII

LUZ NA ESCURIDÃO

Nossos erros do passado,

Nossas metas incumpridas,

Pedem mais caminho andado,

Numa, duas, ou mil vidas!

Por nós sermos ignorantes

Desta e de outras verdades,

Somos cegos caminhantes

Neste mundo de vaidades!

De olhos vendados entramos,

Às cegas e iludidos,

Em portas onde vibramos

Pela evasão dos sentidos!

E loucos, não percebemos,

P’las tentações atraídos,

Que desses falsos terrenos

Só sairemos caídos!

É tempo de dizer não!

Busquemos a rota certa

Que leva da confusão

À consciência desperta!

Acharemos muitas “velas”

Alumiando a estrada,

Que luzindo, paralelas,

Dão mais luz à caminhada!

Se nos juntarmos a elas

Ressurgirá um clarão…

- De muitas pequenas velas

Se faz Luz na escuridão!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 23

XVIII

QUANDO CHORAS

Quando choras sem querer,

Sem motivos aparentes,

E choras sem perceber

Por que sofres e o que sentes

Que tanto te faz doer…

O que choras, sem saber,

É o profundo desgosto

Das crianças maltratadas,

Dos sem-lar não acolhidos,

Das raças discriminadas…

É o sofrimento sem rosto

Dos pobres desprotegidos,

Da miséria envergonhada,

Das rameiras e oprimidos…

Tanta vítima calada! …

É o longo fogo posto

Do dependente agarrado,

Dos carentes de afeição,

Do inocente acossado,

Dos velhos em solidão…

É do fel o duro gosto

Das matas incendiadas,

Do mar azul poluído,

Das aves envenenadas,

Das guerras de ímpio sentido…

Quando choras, sem querer,

Sem motivos aparentes,

E sem saber o que sentes…

O que choras, na verdade,

São as dores da Humanidade!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 24

XIX

ÊXTASE

Quando sentires com desalento

Que foste traído pela vida,

E te achares impotente na subida

Do poço onde se afoga o teu tormento,

E na escalada do abismo em que caíste…

Não julgues inaudível teu lamento,

Lembra-te sempre que Ele existe!

Quando sentires, amargurado,

Que o túnel para ti não tem saída,

Julgando-te no mundo abandonado,

Cão raivoso, águia ferida,

E que a vida assim já nada vale…

Açaima a tua fúria aguerrida,

Aguarda apenas que Ele fale!

Busca-O no sol e no vento,

No verde mar que te rodeia,

No céu, ora azul ora cinzento,

Nas estrelas, na brilhante lua cheia,

Ou até numa lembrança de outro tempo!

Busca-O na paz do moribundo,

No primeiro gemido da criança,

Na rotação eterna deste mundo,

No germinar do grão lançado fundo,

Na derradeira força de uma esperança!

Ouvirás em tudo a Sua Voz!

Sentirás então a Sua Paz!

Julgarás, em êxtase, que a Terra se virou

E que a outra dimensão tu aportaste…

Verás depois que nada se mudou,

A não ser tu que sem saber mudaste!

***

(1º Prémio Jogos Florais da Associação Portuguesa de Poetas/1997)

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 25

XX

CANÇÃO À VIDA

Eu canto a cada alvorada

Que à vida me traz de novo,

Canto a alegria de um povo

Que ri de alma atormentada!

Canto o riso da criança

E a sua pura inocência,

Canto a minha irreverência

E a minha eterna esperança!

Canto as searas repletas

E o Sol em cada manhã,

Canto um melhor amanhã

Pra justiças incompletas!

Canto a vida que não pára,

A noite que segue o dia,

Canto até, quem tal diria…

O silêncio que os separa!

Canto os peixes e o mar,

E as fontes de água fria,

Canto esta minha alegria

E o meu desejo de amar!

Canto a deusa poesia,

Meus devaneios risonhos,

Canto a ilusão dos meus sonhos

E a minha doce utopia!

Canto o ter sido nascida,

E o nosso Deus Criador,

Canto o meu profundo amor

Pela dádiva da Vida!

Círculo do Graal

Carmo Vasconcelos Página 26

EPÍLOGO

Amigo/a que me leste,

Estes “Passos para a Eternidade”, mais do que mera produção literária, são

catarses d’alma, necessidade comum a todos nós, caminhantes, face aos

pesos da humanidade que nos reveste. São longos e muitos os caminhos a

trilhar e as vias buscadas para a libertação desses pesos que nos oprimem,

até que encontremos o verdadeiro caminho da espiritualidade, e a alma se

torne leve o bastante para ascender definitivamente à Eternidade. Se os

meus passos, ainda incertos, se fazem, também, através da poesia, é porque

me foi concedida a bênção divina de encarnar como aprendiz de poeta.

Sinto, pois, que é meu dever partilhar o que, semeado em mim, por

privilégio divino, vem sendo por mim lavrado – o melhor e o menos bom –

consciente de que o caminho se vai fazendo progressivamente, seguindo

um percurso em tempo próprio, inerente a cada um de nós, na diferença

que, afinal, nos completa.

Leituras atentas levam-nos a descobrir, por detrás do apenas pretenso

escritor ou poeta, igualmente um ser que se veste de prosa e/ou verso para

transmitir, não só sentimentos e estados, humanos e pessoais, fruto da sua

tríade, corpo/alma/mente, mas também, as mensagens que, através de sutis

vibrações, recebe do Cosmos, ainda que, na maioria das vezes, não tenha

consciência da sua acção de agente receptor/transmissor da Voz Divina do

Universo.

Partilhando nossas letras, mutuamente, se ensina e se aprende, não apenas a

via literária, mas, sobretudo, como fazer “o caminho”, como almas

encarnadas, cujas vidas terrenas se cruzaram na mesma estrada, onde,

empunhando armas semelhantes (letras diversas), buscamos tornar, a nós

próprios e ao mundo que nos rodeia, menos imperfeitos, como irmãos,

filhos do mesmo Deus Supremo, abraçando os altos ideais de Humildade,

Amor e Fraternidade, conducentes à União Cósmica e Divina.

De mim para ti, companheiro de estrada, com Amor, em Paz e Luz.

Carmo Vasconcelos