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PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO Dra Doralice Aparecida Favaro Soares Eng a . Civil CREA 17308/D

PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

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PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E

DE PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO

Dra Doralice Aparecida Favaro Soares Enga. Civil – CREA 17308/D

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1. Sistemas hidráulicos prediais e de prevenção contra

incêndios

O abastecimento de água sempre foi uma preocupação para todos os

povos, porém, a água deve ser fornecida ao usuário em quantidade e com

qualidade adequadas ao uso a que se destina.

Desta forma, os sistemas hidráulicos prediais têm o papel fundamental

de fornecer água às habitações, para dar as condições de saúde e higiene

requeridas pelo usuário.

Dos sistemas hidráulicos faz parte o armazenamento e a distribuição de

água potável, a coleta e destinação dos esgotos e das águas pluviais, o

sistema de aquecimento de água e o sistema de proteção contra incêndios.

Conforme Benedicto (2009) inúmeras são as não conformidades nos

sistemas hidráulicos prediais e sanitários que podem ocorrer quando o usuário

passa a ocupar e interagir com a edificação.

1.1 Características e definições importantes relacionadas aos sistemas

hidráulicos prediais e de prevenção contra incêndio

Os sistemas prediais de água fria se constituem em um subsistema do

sistema de abastecimento de água e pode ser considerado como a

“extremidade” última do sistema público de abastecimento onde estabelece o

elo de ligação com o usuário final (NBR 5626:1998)

O sistema predial de água fria tem por objetivo fornecer água ao usuário

em quantidade e com qualidade adequadas ao uso a que se destina.

O sistema predial de água quente é o responsável por oferecer ao

usuário as condições de conforto e higiene em atividades importantes para o

ser humano como banho e lavagem de louças e roupas.

O objetivo do sistema predial de esgoto sanitário é coletar e conduzir os

despejos provenientes do uso adequado dos aparelhos sanitário a um destino

apropriado e deve ser projetado de forma a evitar a contaminação da água

potável, permitir o rápido escoamento da água utilizada e dos despejos

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introduzidos evitando vazamentos e depósitos no interior da tubulação, impedir

a passagem dos gases provenientes da rede para o ambiente e o acesso de

corpos estranhos ao interior do sistema, conforme NBR 8160:1999.

Os sistemas prediais de águas pluviais devem coletar e conduzir a

vazão de projeto até os locais permitidos pelos dispositivos legais, ser

estanques, resistir aos esforços a que estiverem sujeitos e não devem provocar

ruídos.

O sistema predial de prevenção contra incêndios apresenta-se como

salvaguarda dos bens e da vida humana. Compreende as instalações que têm

como objetivo detectar, informar onde incêndio se iniciou e debelá-lo tão logo

se inicie, evitando que se propague.

Entende-se aqui por sistemas hidráulicos prediais os sistemas

prediais de água fria e quente, coleta e destinação de esgotos sanitários e

coleta e destinação das águas pluviais.

Algumas definições são importantes para o entendimento dos demais

assuntos deste texto:

Fecho hídrico: Camada líquida, de nível constante, que em um

desconector veda a passagem dos gases.

Altura do fecho hídrico: Profundidade da camada líquida, medida entre

o nível de saída e o ponto mais baixo da parede ou colo inferior do

desconector, que separa os compartimentos ou ramos de entrada e saída

desse dispositivo.

Antes de se fazer o projeto executivo, deve-se fazer um projeto

básico. Este estudo deve estabelecer com precisão, através de seus

elementos constitutivos, todas as características, dimensões, especificações, e

as quantidades de serviços e de materiais, custos e tempo necessários para

execução do serviço a ser executado, de forma a evitar alterações e

adequações durante a elaboração do projeto executivo.

Conforme IBRAOP (2010), o projeto básico é o conjunto de desenhos,

memoriais descritivos, especificações técnicas, orçamento, cronograma e

demais elementos técnicos necessários e suficientes para a precisa

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caracterização dos sistemas hidráulicos prediais referentes à obra a ser

executada, atendendo às Normas Técnicas e à legislação vigente, elaborado

com base em estudos anteriores que assegurem a viabilidade e o adequado

tratamento ambiental do empreendimento.

Todos os elementos que compõem o projeto básico devem ser

elaborados por profissional legalmente habilitado, sendo indispensável o

registro da respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica (ART),

identificação do autor e sua assinatura em cada uma das peças gráficas e

documentos produzidos (IBRAOP, 2010).

O projeto executivo deverá conter os detalhes executivos do sistema

referido, já estudados (e resolvidas) todas as questões de compatibilidade com

os projetos dos demais sistemas prediais para que não tenham que ser

tomadas decisões de última hora durante a execução da obra.

A durabilidade pode ser definida como a capacidade de um material

conservar as suas propriedades ao longo do tempo, ou ainda, propriedade na

qual o produto resiste, satisfatoriamente, a determinadas condições de

exposição que venha a ser submetido. Avalia-se um produto durável pela

resistência que este apresenta frente a fatores de degradação, mantendo a sua

estrutura acima de limites mínimos estabelecidos para o desempenho, quando

submetidos a serviços normais de manutenção, durante um período

determinado de tempo, chamado vida útil.

A durabilidade de um sistema hidráulico predial está diretamente

relacionada ao comportamento do todo, sendo eles, a durabilidade dos

materiais empregados, as condições de exposição e de uso as quais o sistema

hidráulico será submetido e à realização da manutenção periódica.

Segundo John (1987) a durabilidade nem sempre é uma propriedade

intrínseca do material. Pequenas mudanças no projeto podem ser feitas de

forma que a exposição dos materiais aos agentes degradantes seja amenizada

tornando assim o produto mais durável. Desta forma, pode-se dizer que a

durabilidade depende muito mais do conhecimento e sabedoria do projetista e

construtor do que de recursos.

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A vida útil é o intervalo de tempo ao longo do qual a edificação e suas

partes constituintes atendem aos requisitos funcionais para os quais foram

projetadas, obedecidos os planos de operação, uso e manutenção previstos

(NBR 5674:1999).

A vida útil de um sistema está relacionada com a vida útil de seus

componentes.

Lichtenstein (1985) conceitua desempenho como o comportamento de

um produto quando em uso. No caso da construção civil, este produto pode ser

tanto o sistema “edifício”, os vários subsistemas que o compõem (estruturas,

instalações, vedações, etc.), ou os próprios componentes que formam um

determinado subsistema.

Amorim (1989) ressalta que o conceito fundamental da concepção

sistêmica reside no princípio de que os produtos (projetos, sistemas,

componentes, etc.) podem ser descritos e o seu desempenho medido, sem que

seja necessário pensar nas partes que os compõem.

Por requisito de desempenho compreende-se a formulação qualitativa

das propriedades a serem alcançadas pelo edifício, ou por suas partes, de

maneira a atender determinadas necessidades do usuário. Os requisitos de

desempenho são relativos ao uso propriamente dito da edificação, à resistência

que esta deverá oferecer aos desgastes que sobre ela atuam e às

conseqüências que ela produzirá sobre o meio ambiente.

Desta forma, pode-se afirmar que incorre numa patologia ou numa

inconformidade, todo sistema ou subsistema que não atende algum requisito

de desempenho, especialmente aqueles exigidos por legislação específica,

regulamentação ou normalização técnica.

A manutenção predial é um conjunto de atividades que, se executadas

regularmente ao longo de toda a vida útil de um edifício, podem aumentar o

tempo em que o desempenho é satisfatório (LICHTENSTEIN, 1985).

O processo de manutenção recomenda procedimentos periódicos, para

que estes possam ser tomados como medidas de conservação e prevenção de

problemas patológicos e, assim, sejam evitadas atividades corretivas ou

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emergenciais. A manutenção de edificações visa preservar ou recuperar as

condições ambientais adequadas ao uso previsto para as edificações.

Por falta de manutenção nas edificações, pequenas manifestações

patológicas evoluem para situações de desempenho insatisfatório com

ambientes insalubres e alto custo de recuperação.

O sistema de manutenção é o conjunto de procedimentos organizado

para gerenciar os serviços de manutenção.

O serviço de manutenção é a própria intervenção realizada sobre a

edificação e suas partes constituintes, com a finalidade de conservar ou

recuperar a sua capacidade funcional.

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2. Manifestações patológicas em sistemas hidráulicos,

sanitários e de prevenção contra incêndio;

A preocupação com as manifestações patológicas das edificações e

suas partes constituintes apareceu juntamente com as primeiras edificações.

Segundo Lichtenstein (1985), já em 1700 a.C. o código de Hamurabi já

impunha intimidações aos responsáveis por possíveis colapsos em edificações,

como por exemplo, se a edificação entrasse em colapso e morresse o dono da

obra, deveria morrer também o construtor, se morresse seu filho, deveria

morrer também o filho do construtor.

Consideram-se patologias da construção as manifestações ocorrentes

na edificação, que não atendam as exigências dos usuários, quando esta

passa a operar abaixo dos níveis mínimos de desempenho exigidos por norma.

A patologia das edificações é, então, a ciência que visa estudar as

origens, causas, mecanismos de ocorrência, manifestações e conseqüências

da fase em que o edifício e suas partes têm seus comportamentos ou

desempenhos atuando abaixo do limite mínimo pré-estabelecido.

Em uma obra, os processos patológicos podem ser originários de

qualquer uma das fases, seja ela o projeto, a aquisição dos materiais a

execução dos sistemas ou até mesmo durante a ocupação e uso e, além disso,

podem ocorrer devido ao conjunto de vários fatores e não somente os

decorrentes de uma etapa isolada.

O controle de qualidade dentro de cada etapa do processo é de

fundamental importância pois pode levar à prevenção das patologias.

Apesar de se saber da frequência da incidência de patologias nos

sistemas hidráulicos prediais, este assunto tem sido pouco estudado, talvez por

que sejam necessários ensaios e simulações invasivos e às vezes destrutivos

em edifícios existentes, e com longa duração, para que os dados sejam

consistentes.

Com a introdução de inovações tecnológicas e com a vigência do

Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.087 de 1990), o novo Código Civil (Lei

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10.406 de 2002), os sistemas que compõem os edifícios, como as instalações

hidrossanitárias, as estruturas, os pisos, fachadas, coberturas e outros, terão

que atender obrigatoriamente a um nível de desempenho mínimo ao longo de

uma vida útil. Assim, o estudo das falhas construtivas no campo da Engenharia

começou a ser tratado de forma mais sistematizada, com base em princípios

científicos, através da divulgação das ocorrências de patologias construtivas e

seus reparos.

A importância do estudo das patologias relativas aos sistemas

hidráulicos prediais reside na possibilidade da atuação preventiva,

especialmente quando elas têm por causa falhas no processo de produção dos

respectivos projetos de engenharia.

Knipper (2010) afirma que as principais causas das patologias se devem

as falhas na fase de elaboração do projeto (quase 50% de incidência) e erros

de execução (quase 30%) e ainda elenca mais de uma dezena de problemas

que podem surgir e defende o uso incondicional das normas técnicas em vigor

e da manutenção preventiva.

Alguns dos principais problemas patológicos encontrados nos sistemas

hidráulicos prediais são: infiltrações, vazamentos, pressão insuficiente,

deslocamento de revestimentos, ruídos e vibrações, retorno de odores e

retorno de espuma.

Segundo Lichtenstein (1985) as origens dos problemas patológicos

podem ser apresentadas como no Quadro 1.

Uma metodologia para a elaboração de diagnósticos e a definição da

conduta na recuperação de edificações foi proposta por Lichtenstein (1985), a

qual está dividida em três fases: levantamento de subsídios, diagnóstico da

situação e definição de conduta.

No levantamento de subsídios são organizadas as informações com o

objetivo de se entender o problema. São feitas análises do tipo de

manifestação da patologia, entrevistas com os usuários, a vistoria do local, a

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anamnese1 do caso, a análise de documentos existentes, exames

complementares, análises e ensaios em laboratório, etc.

Quadro 1 – Origens dos problemas patológicos nas edificações. Fonte: Adaptado de Lichtenstein (1985)

1. Falhas de projeto

1.1 Falhas de compatibilização entre os diversos projetos da obra

1.2 Falhas nos projetos própria-mente ditos

1.2.1 Baixa qualidade dos materiais especificados ou especificação inadequada dos materiais

1.2.2 Especificação dos materiais inadequada

1.2.3 Detalhamento insuficiente, omitido ou errado

1.2.4 Detalhe construtivo inexequível

1.2.5 Falta de clareza da informação 1.2.6 Falta de padronização de nas

representações gráficas 1.2.7 Erro de dimensionamento

2. Falhas de gerenciamento e execução

2.1 Falta de procedimento de trabalho 2.2 Falta de treinamento de mão de obra 2.3 Processo de aquisição de materiais e serviços

deficiente 2.4 Processo de controle de qualidade insuficiente

ou inexistentes 2.5Falhas ou falta de planejamento de execução

3. Falhas de utilização

3.1 Utilização errôneas dos Sistemas hidráulicos prediais

3.2 Vandalismo 3.3 Mudança de uso devido a novas necessidade

impostas à edificação

4. Deterioração natural do sistema

4.1 Desgastes naturais dos mecanismos de vedação dos componentes das instalações hidráulicas prediais

4.2 Desgastes devido ao uso 4.3 Deterioração dos materiais

1 Anamnese:é uma entrevista realizada pelo profissional ao seu cliente, que tem

o objetivo de ser um ponto inicial no diagnóstico de um caso. Em outras palavras, é uma

entrevista que busca relembrar todos fatos que se relacionam com caso em questão.

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Quando ocorre uma manifestação patológica em um sistema hidráulico

predial, independente da causa ou do sintoma, a coleta de informações se faz

necessária para o possível entendimento do problema em questão.

Muitas patologias podem ser rapidamente caracterizadas com um

exame visual do profissional, porém outras precisam de mais compreensão e aí

sugere-se a coleta de informações dos usuários a respeito de fenômenos

atípicos e desempenho insatisfatório, vistoria do local, ensaios in loco, análises

de laboratório, etc. Com estes dados, o profissional identifica a existência e

caracteriza a gravidade da patologia.

O diagnóstico compreende o entendimento e explicação científica das

causas e dos efeitos dos fenômenos ocorridos, a partir dos subsídios

levantados. O diagnóstico deve levar em conta o dinamismo das patologias.

Depois de estabelecido o diagnóstico, define-se a conduta a ser seguida,

ou seja, a medida a ser adotada para o caso. Antes de se adotar uma dada

medida, deve-se levar em conta a evolução futura da patologia.

A NBR 5674:1999 e a NBR 14037:1998 tratam especificamente da

manutenção de edifícios, com o objetivo de orientar a organização de um

sistema de manutenção adequado das edificações.

As normas citadas definem o escopo da manutenção predial onde diz

que a manutenção visa preservar ou recuperar as condições adequadas ao uso

previsto para as edificações, incluindo todos os serviços necessários para

prevenir ou corrigir a perda de desempenho gerada pela deterioração dos

componentes. Dentro destes serviços estão incluídos os sistemas hidráulicos

prediais. São excluídos das funções atribuídas às atividades de manutenção e

serviços referentes à alteração do uso da edificação.

Conforme a NBR 5674:1999, a responsabilidade de manutenção é do

proprietário. Este pode contratar diretamente profissionais para realizar a

manutenção ou mesmo contratar uma empresa especializada, a qual se

responsabilizara pela laboração de um plano de manutenção.

Esta empresa deverá elaborar um sistema de manutenção baseado em

problemas comuns e em reclamações dos usuários.

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Além disso, para a implantação do sistema de manutenção é necessária

uma estrutura de documentos e registros de informações, devendo estar

contido neste: manual de operação, uso e manutenção; registro completo de

serviços de manutenção realizados; registro de reclamações e solicitações dos

usuários; relatórios de inspeções; procedimentos, normas vigentes e o

programa de manutenção.

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3. Patologias causadas por erros de projeto

Os sistemas hidráulicos prediais devem se prestar a todas as funções as

quais eles se destinam e para estas devem ser projetados, buscando, assim,

atender às necessidades de seus usuários e enquadrar-se no contexto da

região de sua implantação.

Cada projeto deve ser elaborado conforme exigências e necessidades

específicas para a localidade de implantação da edificação, uma vez que estas

variam conforme as características econômicas, culturais e sociais da

população alvo pois, em qualquer situação, as normas brasileiras devem ser

sempre respeitadas e, para o caso de não se ter uma referência específica, as

Normas ISO (International Organization for Standardization) para o caso podem

ser adotadas a critério do especialista que está julgando o problema.

Conforme Grunau (1988), uma das principais causas de patologias são

falhas de projeto uma vez que muitas empresas optam pela elaboração do

projeto de forma rápida e superficial visando dar início às obras o quanto antes

possível, levando os profissionais a tomarem decisões imediatas no canteiro de

obras de forma impensada e emergencial, podendo, com isso, ocasionar

grandes falhas no processo. Quando elaborados, muitas vezes os projetos são

fontes de patologias por falta de compatibilidade entre os mesmos ou falta de

especificação adequada dos materiais a serem empregados.

Segundo Knipper (2010), o projeto deve oferecer informações técnicas,

de modo a satisfazer todos os intervenientes que dele farão uso, entre eles, os

projetistas dos demais sistemas da edificação, durante o processo de

compatibilização dos projetos; os orçamentistas, durante as fases de

planejamento da obra e levantamento de custos para execução; analistas,

durante a fase de aprovação legal em companhias concessionárias e órgãos

fiscalizadores; e os instaladores hidráulicos na etapa de execução da obra.

A NRB 5626:1998, no item 5.2.5.3 estabelece que os reservatórios

devam ser divididos em dois ou mais compartimentos a fim de permitir

operações de manutenção sem que haja interrupção na distribuição de água,

porém o descumprimento deste item da norma faz com que os edifícios

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passem por longos períodos de desabastecimento durante operação de

limpeza dos reservatórios pelo fato de terem câmara única (sem septo

separador).

Cada aparelho de utilização tem uma pressão e vazão mínima de

trabalho, estabelecidas pela NBR 5626:1998. A não verificação da pressão nos

pontos mais desfavoráveis (pavimentos mais elevados de um edifício,

pavimento superior de um sobrado ou mesmo uma residência), com a adoção

correta dos diâmetros dos tubos de água fria e quente faz com que os pontos

tenham pressão e, consequentemente vazão disponível, inferior a aquela

requisitada pelo aparelho tornando o seu funcionamento inadequado ao uso.

São exemplos comuns os filtros de água nos últimos pavimentos dos edifícios,

os chuveiros que acabam tendo que usar pressurizadores para atender a

pressão de trabalho, aquecedores de passagem, etc.

Infiltração de água do lençol freático em reservatórios enterrados: Os

reservatórios enterrados ou semi enterrados, ou mesmo que tenham apenas o

fundo em contato com o solo, estão sujeitos à infiltração de água do lençol

freático através das suas paredes por qualquer falha na impermeabilização ou

mesmo pequenas fissuras. Para se evitar este tipo de problema, a NBR

5626:1998, no item 5.2.4.8 diz que:

“Em princípio um reservatório para água potável não deve ser apoiado no solo, ou ser enterrado total ou parcialmente, tendo em vista o risco de contaminação proveniente do solo, face à permeabilidade das paredes. Nos casos em que tal exigência seja impossível de ser atendida, o reservatório deve ser executado dentro de compartimento próprio, que permita operações de inspeção e manutenção, devendo haver um afastamento, mínimo, de 60 cm entre as faces externas do reservatório (laterais, fundo e cobertura) e as faces internas do compartimento. O compartimento deve ser dotado de drenagem por gravidade, ou bombeamento, sendo que, neste caso, a bomba hidráulica deve ser instalada em poço adequado e dotada de sistema elétrico que adverte em casos de falha no funcionamento na bomba”.

Portanto, para atender à NBR5626:1998 os reservatórios, quando

realmente precisam ser enterrados, devem ser construídos como mostrado na

Figura 1.

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Figura 1 - Planta e corte do reservatório semi enterrado, conforme NBR 5626:1998

Desperdício de água por rompimento frequente de engates flexíveis em

aparelhos sanitários de apartamentos de andares baixos em edifícios de

múltiplos pavimentos: a NBR 5626:1998 no item 5.5.5 estabelece as pressões

mínimas e máximas em cada ponto da rede predial e, no subitem 5.3.5.3,

prevê que a pressão máxima (pressão estática) em qualquer ponto do sistema

predial de água não deva ser superior a 400kPa. Em muitos edifícios,

principalmente onde se utiliza válvula redutora de pressão, ou por erro no

dimensionamento ou por falha da válvula, muitas vezes a pressão atinge

valores superiores ao previsto na norma. Outro fator é que algumas vezes o

engate flexível não tem qualidade adequada e acaba se rompendo mesmo

sujeito a pressões inferiores a 400kPa.

As tubulações de água fria e de água quente devem ser dimensionadas

de forma que a pressão na entrada do misturador seja a mesma tanto para a

água fria como para a água quente pois, caso contrário, a água passa do lado

de maior pressão para o lado de menor pressão. É o caso da água fria

penetrando em tubulação de distribuição de água quente, e vice-versa, através

de misturador de ducha manual com registros abertos e gatilho fechado.

Cavitação no rotor das bombas centrífugas que atendem sistemas

prediais de água fria e sistemas de prevenção de incêndios: as bombas

centrífugas, quando instaladas com seu eixo acima do nível da água, como

mostra a primeira situação da Figura 2, trabalham com pressões negativas na

entrada do rotor e na tubulação de sucção. Esta pressão negativa faz com que

as partículas de ar dissolvidas na água se desprendam formando bolhas que

vão parar no rotor da bomba. Quando estas bolhas passam para o outro lado

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do rotor, onde a pressão é positiva devido à ação da força centrifuga, elas

implodem liberando íons que atacam a carcaça do rotor. Ao implodirem, as

partículas adquirem alta velocidade e se chocam contra a carcaça do rotor

fazendo cavas neste. Este processo gera um ruído parecido com marteladas

no rotor e que se chama cavitação, que nada mais é que o processo de

formação de cavas na carcaça do rotor até seu rompimento. Para se evitar ete

processo de desgaste do rotor, basta posicionar o eixo da bomba abaixo do

nível da água no reservatório (bomba afogada).

Figura 2 – Posição da bomba centrifuga em relação ao reservatório

Obstruções frequentes em tubulações de esgoto: Nos ramais de

descarga e de esgoto, o escoamento dos efluentes ocorre por gravidade e,

para tanto, estes devem apresentar declividade constante, como previsto no

subitem 4.2.3.e da NBR 8160:1999. Esta mesma norma, no próximo subitem,

4.2.3.2 recomenda que, para tubos com diâmetros iguais ou menores que

75mm, a declividade deve ser de no mínimo 2% e para diâmetros maiores ou

iguais a 100mm a declividade mínima deve ser 1%. Ainda recomenda, no

subitem 4.2.3.3 que as mudanças de direção nos trechos horizontais devem

ser feitas com peças com ângulo central igual ou inferior a 45° para facilitar o

escoamento dos efluentes. Porém, verifica-se na prática que nem sempre isto

acontece gerando pontos de fácil obstrução, como pode ser observado na

Figura 3.

Page 16: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

Figura 3 – Pontos de possível obstrução nos ramais de descarga e de esgoto

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4. Patologias causadas por materiais e componentes e por

problemas de execução

Devido à falta de organização e à racionalização da indústria construtiva,

a indústria de materiais e componentes acaba por condicionar os sistemas

construtivos e a qualidade final das obras (LICHTENSTEIN, 1985). Fatores

como durabilidade e a relação custo-benefício acabam sendo deixados de lado

quando a escolha do material é feita por preço e não pela qualidade do mesmo.

A não conferência na entrega dos materiais na obra e o seu armazenamento

inadequado no canteiro de obras também comprometem o desempenho final

dos mesmos, provocando patologias já no início do processo. A falta de

controle de qualidade na produção dos componentes também compromete o

desempenho dos produtos.

Como na construção civil, nenhum procedimento é exatamente igual ao

outro (não é uma indústria de processos repetitivos), a mão-de-obra tem baixa

qualificação e adquire seu conhecimento na própria obra, a rotatividade é alta e

os salários não são incentivadores, os engenheiros desenvolvem outras

atividades administrativas e burocráticas, não se consegue manter um controle

total de todas as fases da obra, ocorrem baixa produtividade e serviços mal

executados levando e falhas e patologias (ANTONIAZZI, 2008).

O uso incorreto ou operação inadequada dos sistemas hidráulicos

prediais podem levar a patologias que poderiam ser evitadas através da

orientação técnica correta ao usuário. É possível mostrar que o custo da

reparação de patologias é mais elevado que o custo das manutenções

periódicas.

São muitas as manifestações patológicas nos sistemas hidráulicos

prediais e mesmo depois de identificada a origem da patologia, são vários os

fatores que podem estar relacionados às causas desta patologia, como por

exemplo, entupimento das tubulações de esgoto sanitário onde a origem da

patologia é o entupimento propriamente dito e a causa pode ser mau uso do

sistema como lançamento de dejetos indesejados, mudança brusca de direção

com a colocação de um joelho de 90º onde deveria ser uma curva de raio longo

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ou duas de 45º, mudança de declividade da tubulação executada de forma

inadequada, etc.

Em vários casos analisados por Antonelli, Carasek e Cascudo (2002),

obtiveram-se como causa dos problemas, infiltrações na periferia de ralos e

tubulações, evidenciando falhas nos sistemas de arremates e acabamentos da

impermeabilização.

Transmissão de vibração e ruídos na operação de bombas de recalque

de água potável em edifícios altos: o conjunto motobomba deve ser assentado

sobre base firme, normalmente de concreto, de forma a absorver as vibrações,

com dimensões um pouco maiores que a base do conjunto para receber os

parafusos chumbadores. O interior da base deverá ser preenchido com

argamassa efetuada com produtos que evitam a retração durante o processo

de cura, bem como proporcionam fluidez adequada para o total preenchimento

do interior da base, não permitindo vazios (CARVALHO, 2008). A Figura 4

mostra como deve ser a base para assentamento da bomba centrifuga.

Figura 4 – Base para assentamento da bomba centrífuga

Degradação de tubulações de PVC expostas à incidência direta de luz

solar: com a ação dos raios ultravioletas do sol, além de perder a pigmentação,

as tubulações de PVC ficam ressecadas e, portanto, mais suscetíveis a

rompimento por impacto externo. Se realmente for necessário alguma

tubulação ficar exposta ao sol, esta deve ser protegida com pintura adequada.

A Figura 5 mostra um tubo de PVC exposto ao sol.

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Figura 5 – Tubo de PVC exposto ao sol

Acúmulo de ar em colos altos de trechos de tubulações de distribuição

de água fria e quente conformando sifões, conforme mostrado na Figura 6: as

tubulações deveriam ser executadas de modo a ficarem retilíneas em toda sua

extensão, porém, muitas vezes são apoiadas em alguns pontos e, dada sua

flexibilidade, formam colos. Dado a baixa pressão que acontece em alguns

pontos da linha de água, ocorre o desprendimento das moléculas de ar

contidas na água e estas vão parar exatamente nestes pontos mais elevados.

Estas bolhas de ar podem crescer a ponto de obstruir a seção e dificultar o

escoamento se a pressão reinante neste ponto for baixa. Por este fato, deve-se

traçar a linha piezométrica ao se fazer o traçado principalmente de trechos

mais longos, e verificar a pressão em todos os pontos considerados críticos

para verificar se atendem o item 5.3.5.1 da NBR 5626/98 que estabelece a

pressão mínima em cada ponto da rede predial de água.

Figura 6 – Representação esquemática da formação de bolsas de ar em colos altos das tubulações

Oscilações nas temperaturas dos aparelhos providos de água quente:

quando o subramal do chuveiro está ligado ao mesmo ramal que o sub-ramal

da válvula de descarga, por serem as vazões e diâmetros destes bastante

diferentes, ao se acionar a válvula de descarga, parte da vazão que alimentava

o sub-ramal do chuveiro deixa de alimentá-lo e passa a alimentar apenas o

sub-ramal da válvula de descarga, como pode ser visto na Figura 7. Com a

conseqüente redução de vazão de água fria no sub-ramal do chuveiro e a

manutenção da vazão de água quente, ocorre desequilíbrio da temperatura

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anteriormente ajustada para o banho. A mesma oscilação ocorreria caso fosse

o lavatório quem estivesse em uso. A influência de uma descarga chega a

atingir até mesmo o chuveiro ou lavatório de outros pavimentos ligados a

mesma coluna. A NBR 7198/93 não permite nem que as tubulações que

alimentam a válvula de descarga façam parte do mesmo barrilete que as que

alimentam os misturadores, como esta no item 5.4.7 “As tubulações de água

fria, que alimentam misturadores, não podem estar conectadas a barrilete,

colunas de distribuição e ramais que alimentam válvulas de descarga”.

Figura 7 – Representação esquemática do desvio de água fria do chuveiro para a válvula de descarga.

No sistema predial de água quente há o desperdício permanente de

energia devido à ausência ou falha de aplicação de isolamento térmico em

tubulações de água quente. O isolamento térmico também evita o

descolamento do revestimento das paredes. O tubo deve ser totalmente

revestido para garantir que haja o isolamento térmico. A Figura 8 mostra como

deve ser feita a aplicação do isolamento térmico

Page 21: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

.

Figura 8 – Colocação de isolamento térmico nas tubulações de água quente de cobre. Fonte: Nakamura (2010).

Muitas vezes a água “quente” chega fria ao ponto de utilização: isto pode

ocorrer quando o reservatório térmico do aquecedor está muito distante do

ponto de utilização e o sistema não possui recirculação. Também acontece em

locais onde, em determinados dias do ano, a temperatura da água é muito

baixa e usa-se aquecedor de passagem. Nesta segunda situação, o acréscimo

de temperatura dada à água, pelo aquecedor, não é suficiente para atingir a

temperatura desejada para a finalidade a que se destina. Em ambas as

situações, o ideal seria utilizar aquecedor de acumulação, dimensionado

corretamente, de acordo com o volume a ser consumido, com sistema de

recirculação.

Entupimentos são frequentes em subcoletores e coletores prediais de

esgoto. Os subcoletores e coletores prediais não devem ter mudanças bruscas

de direção sendo que nestas devem ser usados sempre joelhos de 45º se as

mesmas forem aparentes. Caso sejam enterradas, a recomendação e que

sejam usadas caixas de inspeção em todas as mudanças de direção, de

declividade ou de diâmetro pois estes pontos são passíveis de entupimentos e

com as caixas, a manutenção pode ser feita com maior facilidade ou até

mesmo não ocorrer o entupimento.

Retorno de espuma ou refluxo de esgoto em ralos sifonados de

unidades condominiais de pavimentos baixos em edifícios: esta patologia pode

ocorrer por erro de projeto ou de execução, uma vez que a NBR 8160:1999 diz,

no item 4.2.4.2, que os tubos de queda que recebam efluentes de aparelhos

sanitários como pias, tanques, máquinas de lavar e outros similares, onde são

utilizados detergentes que provoquem a formação de espuma, em edifícios

Page 22: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

com dois ou mais andares devem ser adotadas soluções no sentido de evitar o

retorno de espuma e, indicar quais são as regiões de pressão de espuma. Esta

exigência da norma muitas vezes não é obedecida, onde ocorre o retorno de

espuma e até refluxo de esgoto. A própria norma sugere algumas soluções de

como se fazer a ligação para não se ter este problema. A Figura 9 mostra como

deve e como não deve ser feita a ligação do ramal de esgoto próximo de um

desvio do tubo de queda, conforme recomendações da NBR 8160:99.

Mau cheiro proveniente de ralos sifonados: ao decompor os esgotos, as

bactérias liberam gases e estes aumentam a pressão nas redes de esgotos.

Para que estes gases não sejam liberados para o ambiente há a necessidade

de fechos hídricos os quais devem ter uma coluna de água maior que a

pressão reinante na rede de esgotos. A NBR 8160:99, no item 5.1.1.1 (a) diz

que todo desconector deve ter fecho hídrico com altura mínima de 0,05m, o

que impediria a passagem dos gases provenientes da rede para o ambiente.

Porém, no item. 4.2.2.7 a mesma norma diz que deve ser assegurada a

manutenção do fecho hídrico dos desconectores mediante as solicitações

impostas pelo ambiente (evaporação, tiragem térmica e ação do vento,

variações de pressão no ambiente) e pelo uso propriamente dito (sucção e

sobrepressão). O próprio uso dos desconectores faz com que a parcela do

fecho hídrico que foi perdida por evaporação, tiragem térmica, ação do vento

ou variação de pressão no ambiente, seja reposta, porém, para se evitar a

perda do fecho hídrico por sucção ou sobrepressão, deve-se ventilar o ramal

imediatamente após o desconector para que os efeitos da variação de pressão

sejam aliviados pela coluna de ventilação e não atinja o desconector,

consequentemente o fecho hídrico.

A Figura 10 mostra o processo de sifonagem no vaso sanitário. Nesta

figura pode-se observar que o ramal de descarga do vaso sanitário fica com

sua seção completamente cheia de líquido formando um pistão de água, o qual

se arrasta por um longo trecho da tubulação. Durante este escoamento, nas

seções anteriores ao pistão, a pressão reinante é negativa e, se não houver a

ventilação adequada, ocorre a sucção do desconector nesta região e, na seção

posterior ao pistão a pressão é positiva, expulsando o fecho hídrico.

Page 23: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

10 DN4

0 D

N

10 D

N

Coluna de

ventilação

40 DN

Tubo de queda

10 DN

Desvio horizontal

Laje

Tubo de queda

40 D

N

Desvio horizontal

10 DN

Tubo de queda

40 DN

10 DN

40 D

N

Tubo de queda

Laje

Coluna de

ventilação

40 D

N

10 D

N

Figura 9 – Representação esquemática do desvio da coluna de esgoto sujeita à pressão de espuma

Page 24: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

Ambas as situações reduzem a lâmina d’água do desconector permitindo a

passagem dos gases da rede para o ambiente.

Figura 10- Processo de sifonagem do vaso sanitário. Fonte: www.valvulahydra.com.br

A Figura 11 mostra a região de pressão negativa e positiva, antes e

depois do pistão de água formado, respectivamente.

Figura 11 – Pistão de água formado devido à sifonagem do vaso sanitário e às regiões de pressão negativa e positiva no ramal de descarga.

No sistema de coleta de águas pluviais é comum o empoçamento de

pátios e áreas descobertas devido à redução da seção útil de ralos planos por

causa da má colocação da manta de impermeabilização superficial da laje e

sua proteção mecânica.

As calhas devem ser projetadas para trabalhar no máximo a meia seção,

porém com as chuvas intensas de verão ou pela construção de prédios

vizinhos, como mostra o esquema da Figura 12, a área de contribuição

aumenta significativamente (o cálculo da área de contribuição deve ser feito

Page 25: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

segundo a Figura 2 da NBR 10844:1989) e as calhas passam a trabalhar a

seção plena como mostra Figura 13 a e até a extravasar, danificando o imóvel.

(a)

(b)

Figura 12 – Construção executada ao lado de outra existente

Figura 13 – Nível da água na seção transversal das calhas

Page 26: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

5. Patologias causadas por falta de manutenção

Um dos grandes causadores de patologias detectados nos sistemas

hidráulicos prediais é a falta de uma política de manutenção dos mesmos, seja

para edifícios públicos, comerciais ou residenciais. O empreendedor vê o

edifício composto apenas das fases de concepção, projeto e execução,

esquecendo-se da importância da manutenção durante a vida útil do

emprendimento.

A falta de manutenção planejada e programada adequadamente

inclusive com previsão financeira, leva a manifestações patológicas nas

edificações que muitas vezes acabam sendo irreversíveis, causando inclusive

desvalorização patrimonial.

Algumas das patologias dos sistemas hidráulicos prediais, que ocorrem

por falta de manutenção são apresentadas a seguir:

Presença de vazamentos em tubos e componentes: Essas

manifestações patológicas podem ocorrer tanto devido à idade da edificação e,

consequentemente das tubulações e componentes, como má utilização e falta

de manutenção dos sistemas.

A Figura 14 mostra o vazamento no registro de gaveta, junto a um

hidrômetro, por falta de manutenção preventiva no mesmo.

Figura 14 – Vazamento no registro de gaveta junto ao hidrômetro.

Vazamento de torneiras: Ao abrir e fechar as torneiras, o reparo se

desgasta, permitindo que a água passe livremente da rede de água para o

Page 27: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

ambiente causando grandes desperdícios. Se á água for quente, além da água,

ainda é desperdiçada a energia utilizada para aquecer a água. A NBR 5626/98,

no item 5.1.2.1 (a) diz que as instalações prediais de água fria devem ser

projetadas de modo a promover economia de água e energia durante a vida útil

do edifício. A manutenção freqüente, com a substituição do reparo evita este

desperdício e atende o referido item da norma.

A Figura 15 mostra o caminho percorrido pela água, junto ao reparo da

torneira, onde se pode verificar que o reparo é o principal responsável pela

vedação do escoamento e qualquer dano neste, pode provocar vazamento de

água.

Figura 15 – Torneira de lavatório para água fria ou quente.

Além das torneiras, acontece também o desgaste dos equipamentos da

rede de prevenção de incêndios do edifício, como o desgaste do registro globo

angular mostrado na Figura 16, além do desperdício de água, neste caso

também ficou comprometida a pintura da parede.

Envelhecimento das tubulações de ferro fundido: com o passar do

tempo, vão ocorrendo incrustações nas paredes dos tubos, principalmente

aqueles de maior rugosidade, aumentando ainda mais a rugosidade inicial do

tubo, reduzindo a seção do mesmo. O aumento de rugosidade aumenta

também o atrito do fluido com as paredes, aumentando a turbulência e

reduzindo a velocidade do escoamento. Como conseqüência, tem-se a redução

da vazão do escoamento e até a obstrução completa da seção do tubo.

Page 28: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

Figura 16 - Registro globo angular danificado e encharcamento da parede

A oxidação das paredes do tubo além de aumentar a sua rugosidade,

provoca a corrosão desta, levando à formação de cavidades que chegam a

atravessar a parede do tubo, provocando vazamentos indesejados.

A falta de manutenção adequada leva à ocorrência de corrosão em

trechos enterrados de tubulações de aço galvanizado de alimentador predial de

água fria e da saída da rede de hidrantes para o hidrante de recalque de

passeio.

A Figura 17 mostra um tubo de ferro fundido desgastado por

incrustações e oxidação.

A Figura 18 mostra o empoçamento de água no vestiário devido à

infiltração da água no solo por vazamento no revestimento e nas tubulações de

uma piscina na Escola de Educação Física e Desportos da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, (ALVES e VASQUEZ, 2009), devido ao

envelhecimento das tubulações e falta de manutenção destas e do

revestimento da piscina.

Outro motivo de vazamento são as trincas principalmente em peças

como joelhos, que muitas vezes ficam submetidos a esforços para os quais não

foram projetados. A Figura 19 mostra um joelho trincado encontrado na

manutenção da instalação hidráulica de um edifício.

Page 29: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

Figura 17 – Incrustação e oxidação em tubo de ferro fundido Fonte: Leal; Mertens (2009).

Figura 18 - Infiltração por capilaridade, devido a vazamento da piscina. Fonte: Alves e Vasquez (2009)

Figura 19 – Joelho trincado

Ruídos, golpes de aríete, dificuldades de acionamento, vazamentos e/ou

desperdícios de água na operação de válvulas de descarga de bacias

sanitárias: os ruídos podem ocorrer devido à vazão e, consequentemente

velocidades excessivas nas tubulações que atendem às válvulas de descarga,

principalmente nas pavimentos mais baixos, devido à alta pressão e regulagem

inadequada da válvula de descarga. A regulagem inadequada do registro

interno da válvula de descarga pode provocar a não sifonagem e desperdícios

de água na bacia sanitária. Dificuldades de acionamento e vazamentos junto à

válvula de descarga indicam falta de manutenção na válvula. Quando a água

escorre pela parede toda vez que se aciona a válvula de descarga há a

Page 30: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

necessidade de substituição do retentor. A Figura 20 mostra um esquema de

uma válvula de descarga aberta onde é possível se visualizar tanto o retentor

quanto a chave de regulagem.

Figura 20 – Válvula de descarga. Fonte: www.docol.com.br

O controle de perdas de água é fundamental para o ser humano, tanto

do ponto de vista ecológico como econômico e de segurança daí a

preocupação com as perdas seja nos sistemas de abastecimento, seja na

instalação predial e por isso a fundamental importância dos investimentos em

métodos de detecção e controle dessas perdas (LEAL; MERTENS, 2009).

Todo reservatório deve ter uma bóia a qual controla a entrada de água

neste. A falta de manutenção na bóia faz com que seu funcionamento deixe a

desejar fazendo com que haja extravasamento de água continuado a partir de

tubulação de extravasão de reservatório, desaguando normalmente sobre o

sistema de coleta de águas pluviais e, quando desprovido de tubulação de

aviso de extravasão, o desperdício pode ocorrer por um período prolongado.

O acúmulo de calcário presente na água obstrui as saídas de chuveiros

e torneiras deixando-os com pressões e vazões insuficientes, causando uso

deficiente dos mesmos. A Figura 21 mostra um chuveiro com funcionamento

normal e outro com as saídas obstruídas.

O acúmulo de sujeira por falta de manutenção ou das calhas e dos

telhados reduz a seção da calhas e aumenta a sua rugosidade, reduzindo a

velocidade do escoamento, consequentemente aumentando a lâmina de água

e causando transbordamento conforme mostra a Figura 22.

Page 31: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

Figura 21 – Chuveiro com funcionamento normal e chuveiro com as saídas de água obstruídas

Figura 22 – Acúmulo de sujeira no fundo das calhas

Page 32: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

6. Diretrizes gerais para a redução das patologias e

manutenção de sistemas hidráulicos prediais e de

prevenção contra incêndio

Quanto ao projeto, para se reduzir os erros na hora da execução dos

mesmos, além do completo delineamento dos sistemas projetados nas plantas

baixas correspondentes, o projeto deve conter todos os detalhes necessários à

sua execução, seja através de ampliações em planta dos ambientes sanitários

e vistas, no caso dos detalhes de esgoto e águas pluviais, ou das perspectivas

isométricas ou cavaleiras, bem como elevações das paredes com vistas

frontais das tubulações.

Além disso, devem fazer parte do projeto, detalhes específicos,

esquemas verticais dos vários sistemas hidráulicos prediais, corte esquemático

dos reservatórios, casa de bombas e barrilete mostrando inclusive como serão

feitas a drenagem e a limpeza dos reservatórios. Devem constar também

detalhes construtivos padronizados, como caixas de inspeção, caixas de areia,

caixas de gordura, caixas de passagem e suportes de tubulações.

As normas devem ser rigorosamente seguidas para se reduzir ao

máximo as patologias por erros de projeto.

Cada obra deverá ter um manual de operação, uso e manutenção dos

sistemas projetados.

Os sistemas hidráulicos prediais devem atender às peculiaridades de

cada sistema construtivo, seja ele alvenaria estrutural, drywall, lajes

protendidas, pré-moldadas, mistas e nervuradas. Em alguns casos, o

posicionamento das peças deve mudar em função do sistema construtivo.

Conforme NBR 7198:1993, item 6.2.1, “O executor, de comum acordo

com o construtor e o projetista, deve cadastrar todas as eventuais modificações

introduzidas no projeto, durante sua execução, que forem aceitas pelo

projetista. Com base neste cadastro, o projetista deve elaborar desenhos

definitivos das instalações, para que sejam entregues ao usuário final.” Com

estas informações registradas, a manutenção futura fica bastante facilitada.

Page 33: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

7. CONCLUSÕES:

Toda obra, além do projeto dos sistemas hidráulicos prediais e de

prevenção de incêndios, deve ter o registro de todas as alterações realizadas

durante a execução da mesma, um manual de operação dos sistemas e um

sistema de manutenção preventiva a fim de que as patologias não afetem o

empreendimento de tal forma que atinja o seu valor patrimonial.

As normas estabelecem regras claras que, se seguidas, evitam muitas

das patologias hoje encontradas nos sistemas hidráulicos prediais e de

prevenção de incêndios.

A previsão orçamentária para a manutenção periódica é de fundamental

importância para que não se tenha despesas inesperadas quando da

ocorrência de uma patologia maior causada pela falta de manutenção

corriqueira.

Dependendo do tamanho do edifício, uma empresa especializada pode

ser contratada para gerenciar o serviço de manutenção dos sistemas

hidráulicos prediais.

Page 34: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

8. REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES L. A.; VAZQUEZ, E. G. Estudo de patologias e proposta para melhoria nas instalações hidrossanitárias da escola de educação física e desportos. Rio de Janeiro: 2009. Iniciação Científica. (Graduando em Engenharia Civil) - Escola Politécnica. Orientador:.

AMORIM, S.V. Instalações prediais hidráulico-sanitárias: desempenho e normalização. 1989. 235 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Departamento de Arquitetura e Planejamento, Universidade de São Paulo, São Carlos,1989.

ANTONELLI, G. R.; CARASEK, H.; CASCUDO, O. Levantamento das Manifestações Patológicas de Lajes Impermeabilizadas em edifícios Habitados de Goiânia/GO: In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, IX, 2002, Foz do Iguaçu. Anais. 2002.

ANTONIAZZI, J. P. Patologia das construções: metodologia para diagnóstico e estudo de caso em marquises. Santa Maria, RS Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Engenharia Civil). Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia, Universidade Federal De Santa Maria, Santa Maria, RS, 2008

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626. Instalação predial de água fria. Rio de Janeiro, 1998

________________. NBR 5674 Manutenção de Edificações – Procedimento. Rio de Janeiro, 1999

________________. NBR 7198. Projeto e execução de instalações prediais de água quente. Rio de Janeiro, 1993

________________. NBR 8160. Sistemas prediais de esgoto sanitário – Projeto e execução. Rio de Janeiro, 1999

________________. NBR 10844. Instalações prediais de águas pluviais. Rio de Janeiro, 1989

________________. NBR 14037. Manual de Operação, uso e manutenção das edificações: Conteúdo e recomendações para a elaboração e apresentação. Rio de Janeiro, 1998.

BENEDICTO, S. M. O. Desempenho de sistema predial de água quente. 2009. 200 f. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Programa de Pós Graduação em Construção Civil - Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP, 2009.

Page 35: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

CARVALHO, J. A. (editor); OLIVEIRA, L. F. C. Instalações de bombeamento para irrigação - hidráulica e consumo de energia. 1ª Ed. Lavras-MG, UFLA, 2008.

GRUNAU, E. B. Lesiones en el hormigón: CEAC, Barcelona, 1988.

IBRAOP - Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas. OT – IBR 001/2006 Projeto básico. Porto Alegre. Disponível em: http://www.ibraop.org.br/, Acesso em 08/12/2010.

JOHN, V. M. Avaliação da durabilidade de materiais, componentes e edificações - emprego do índice de degradação. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, CPGEC/UFRGS, 1987.

KNIPPER, S. Projeto hidráulico ou a busca da excelência. AcWeb. Disponível em http://www.aecweb.com.br/ Acesso em 15/12/2010

LEAL, C.; MERTENS, G. Perdas de Água - Preocupação Ambiental e novas tecnologias: tudo em prol do desenvolvimento sustentável. Itajaí-SC: Jornalismo Científico. Trabalho da disciplina de Jornalismo Científico do Curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí – Univali. 23/11/2009. http://jcientifico.wordpress.com/2009/11/23/perdas-de-agua-3/ Acesso em 12/12/2010

LICHTENSTEIN, N. B. Patologia das construções: procedimentos para formulação do diagnóstico de falhas e definição de conduta adequada à recuperação de edificações. 1985. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.

NAKAMURA, J. Instalações hidráulicas com tubos de cobre. Equipe de obra. Disponível em: http://www.equipedeobra.com.br/. Acesso em 15/12/2010.

www.docol.com.br Acesso em 16/12/2010.

www.valvulahydra.com.br Acesso em 09/12/2010.

Page 36: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

DORALICE APARECIDA FAVARO SOARES

1. Dados pessoais: Endereço: Rua Caracas, 256 – Maringá-PR

Fone: (44) 9914 6332

Email: [email protected]

2. Formação acadêmica:

Título: Graduação em Engenharia Civil

Instituição: Universidade Estadual de Maringá

Período de realização: 03/1981 a 07/1985

Área de atuação: Sistemas hidráulicos prediais

Título: Mestre em Engenharia Civil

Instituição: Escola Politécnica da USP

Período de realização: 03/1987 a 02/1992

Área: Engenharia hidráulica

Título da dissertação: Um bombeamento hidráulico não convencional: Elevador Cherepnov

Título: Doutora em Agronomia

Instituição: Universidade Estadual de Maringá

Período de realização: 03/2006 a 12/2009

Área: Reúso de efluentes

Título da tese: Avaliação da aplicação da água residuária de fecularia em cultivo de Brachiaria brizantha cv mg-5 e seu impacto no solo.

Page 37: PATOLOGIAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS E DE INCÊNDIO

3. Experiência profissional:

Instituição: Universidade Estadual de Maringá

Período: 1986

Disciplinas lecionadas: Instalações hidráulicas prediais (para o curso de Engenharia Civil)

Instituição: Universidade Estadual de Londrina

Período: 1987-1996

Disciplinas lecionadas: Instalações hidráulicas prediais e Hidráulica (para os cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo)

Instituição: Universidade Estadual de Maringá

Período: 1994-atual momento

Disciplinas lecionadas: Instalações hidráulicas prediais (para os cursos de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo e Engenharia de Produção)

Experiência em projeto de sistemas hidráulicos prediais desde 1985.