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Patrícia Gabriela Mourão Alves
Polícia Marítima:
Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
Universidade Fernando Pessoa
Porto, 2013
Patrícia Gabriela Mourão Alves
Polícia Marítima:
Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
Universidade Fernando Pessoa
Porto, 2013
IV
Patrícia Gabriela Mourão Alves
Polícia Marítima:
Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
Patrícia Gabriela Mourão Alves
_______________________________
Trabalho apresentado à Universidade
Fernando Pessoa como parte dos requisitos
para a obtenção do grau de Licenciatura em
Criminologia.
V
Resumo
O presente projeto de graduação baseia-se no estudo de um crime contra o
património intitulado de furto de motores fora de borda a embarcações. É um crime
relativamente recente, mas que tem vindo a aumentar de ano para ano. Assim, urge que
se efetive uma análise a este tema e este é um estudo que contribui para que melhor se
compreendam os contornos criminais do furto a motores fora-de-borda.
Para a melhor perceção do tema em estudo, este projeto inclui uma abordagem à
Polícia Marítima no que se refere ao enquadramento histórico, ao regime de atividade, à
sua estrutura e competências e principalmente a razão pela qual o furto de motores fora-
de-borda é da competência da Polícia Marítima, uma vez que está estabelecido na Lei
de Segurança Interna, que esta polícia é por inerência um dos órgãos de polícia criminal
nacionais.
A cooperação inter-policial também sustenta este projeto de graduação, na
medida em que é de relevante importância a cooperação entre as autoridades de polícia
nacionais e internacionais, para que o princípio da partilha de informações policiais seja
cumprido. É de grande utilidade que na investigação do crime em estudo, a Polícia
Marítima coopere com as demais autoridades policiais para fins de recolha de
informação pertinente.
Palavras-chave: Furto de motores fora-de-borda; Cooperação inter-policial; Polícia
Marítima; Segurança Interna.
VI
Abstract
The current project of graduation is based on the study of a crime against the
inheritance entitled theft of outboard motors. This is a recent crime, but it has increased
year after year and this requires an urgent analysis to this theme. This is a study that
contributes to a better understand of the criminal outlines of the theft of outboard
motors.
For the best perception of the subject in study, this project includes an approach
to the Maritime Police in what it refers to the historical framing, to the regime of
activity, to his structure and competences, and mainly the reason why the theft of
outboard motors is of the competence of the Maritime Police, since it is established in
the Law of Internal Security, that this police is for inherence, one of the national organs
of criminal police.
The cooperation between police forces also supports this project of graduation,
in so far as the cooperation between the national and international authorities of police
officer is of great matter/value, so that the tenet of the share of police informations is
fulfilled. It is of great usefulness that in the investigation of the crime in study that the
Maritime Police cooperates with other law enforcement authorities with the purpose of
gathering relevant information.
Keywords: theft of outboard motors; cooperation between police forces; Maritime
Police; Internal Security
VII
Agradecimentos
Por todo o apoio e compreensão, por tudo o que fizerem pela pessoa que sou
hoje agradeço aos meus pais, Marieta e Manuel, que sempre demonstraram confiança
nas minhas escolhas académicas e suportaram todo este caminho trilhado.
Aos meus irmãos, Susana, Orinda, Manuela e Rui o meu muito obrigada pelo
vosso contributo para a minha formação, sempre foram bons exemplos, sempre foram
compreensivos, companheiros e sobretudo amigos. Que a nossa união e espirito de
entreajuda sejam sempre inquebráveis.
Um agradecimento aos meus sobrinhos Leonor, Afonso e Martim, por
iluminarem as nossas vidas com a vossa alegria de viver.
Agradeço aos meus amigos de curso, Tita, Marylene, Liliana, Helena e Manuel
pela amizade, pelo companheirismo, pela ajuda, pelos sorrisos e risos mas sobretudo,
pelo facto de fazerem destes três anos, uma etapa inesquecível na minha vida.
À Carolina, Felipe, Nicole, Carina, Luísa, e Rita amigos de outras “batalhas”, os
meus sinceros agradecimentos por continuarem a ser esses amigos sempre presentes que
nunca deixam de me amparar.
Agradeço ao Dr. Luís Costa Diogo do departamento jurídico da Direção Geral
de Autoridade Marítima Nacional, que me acolheu no estágio da melhor forma, com
toda a sua cordialidade e disponibilidade para partilhar saberes no âmbito da Autoridade
Marítima e pelo apoio prestado na realização do presente projeto de graduação.
Agradeço também a toda a DGAM e a todos aqueles que me brindaram com palestras
tão enriquecedoras neste meu percurso. Por certo, não será por mim esquecida esta fase,
todas as pessoas e ensinamentos.
VIII
Ao Dr. Paulo Alves do Comando Geral da Polícia Marítima, pelo apoio prestado
na realização deste projeto de graduação. Obrigada por me presentear com os seus
saberes, com o seu tempo e auxilio.
A todos os oficiais da Capitania do Porto de Leixões e a todos os Polícias
Marítimos do Comando Local da Policia Marítima de Leixões, por me acolherem na 2ª
fase do estágio e pela excelente experiência que se revelou.
À minha Orientadora Professora Doutora Ana Sacau, pelo suporte,
disponibilidade e tempo prestados a todo este processo de estágio e ao projeto de
graduação.
A toda a comunidade académica da Universidade Fernando Pessoa,
principalmente a todos os professores que partilharam saberes importantes da
criminologia ao longo destes três anos, e sempre nos transmitiram confiança num futuro
melhor. É esta comunidade académica que faz da UFP uma excelente universidade para
se estudar.
IX
Índice
Introdução ............................................................................................................. 1
I Enquadramento teórico ...................................................................................... 3
1.1 Polícia Marítima .......................................................................................... 3
1.1.2. Origens e enquadramento histórico e orgânico........................................ 3
1.1.3. Natureza e regime de atividade ............................................................... 7
1.1.4. Estrutura do Comando Geral da PM ....................................................... 8
1.1.5. Competências ....................................................................................... 10
1.2. A Polícia Marítima no âmbito da Segurança Interna e da investigação
criminal ................................................................................................................ 11
1.2.1. O modelo de Segurança Interna ............................................................ 13
1.2.2. Segurança Interna: Atividades .............................................................. 13
1.3. Forças e Serviços de Segurança: O princípio da cooperação .................. 16
1.3.1. Cooperação policial internacional ......................................................... 19
1.4. O furto de motores fora-de-borda a embarcações ................................... 20
1.4.1. Contexto internacional ......................................................................... 20
1.4.2. Enquadramento legal ............................................................................ 21
1.4.3. Estatísticas oficiais ............................................................................... 22
1.4.4. Caso de estudo de furtos a motores fora-de-borda ................................. 23
II Investigação Empírica ..................................................................................... 25
2.1. Metodologia ............................................................................................... 25
2.1.1 Objetivos gerais e específicos ............................................................... 26
2.1.2. Plano de Amostragem .......................................................................... 26
2.1.3. Instrumento .......................................................................................... 27
2.1.4. Procedimentos ...................................................................................... 29
2.2. Resultados ................................................................................................. 30
2.3. Discussão ................................................................................................... 31
Conclusão ............................................................................................................. 32
Bibliografia .......................................................................................................... 33
X
Anexos .................................................................................................................. 39
XI
Índice de Siglas
AMN – Autoridade Marítima Nacional
CPM - Corpo da Polícia Marítima
GNR – Guarda Nacional Republicana
PJ – Polícia Judiciária
PM – Polícia Marítima
PSP – Polícia de Segurança Pública
SEF – Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
SIS – Serviço de Informações de Segurança
SP – Serviços Prisionais
PIIC – Plataforma de Intercâmbio de Informações Criminais
XIV
Índice de Gráficos
Gráfico.1: Distribuição dos furtos de motores fora-de-borda pelos Comandos Regionais
da PM (Fonte: Polícia Marítima).
Gráfico.2: Furto de motores fora-de-borda registados na estrutura da Polícia Marítima
(Fonte: Polícia Marítima).
XV
Índice de Anexos
Anexo I: Termo de consentimento informado.
Anexo II: Guião da entrevista para as empresas náuticas.
Anexo III: Guião da entrevista dirigida à Polícia Marítima.
Anexo IV: Guião da entrevista dirigida às vítimas de furto de motores fora-de-borda.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
1
Introdução
Todos os dias se noticiam fraudes, assaltos, violações, homicídios entre outros.
Porém existem instâncias de controlo como as prisões, os tribunais e os serviços de
polícia e de segurança, capazes de afrontar a criminalidade que cada vez tem mais
espaço nos dias de hoje. Assim, o objetivo da criminologia é tornar clara a relação entre
os comportamentos e as instituições e explicar de que é feito o fenómeno criminal.
Sabe-se qua cada vez mais, existe um aumento de crimes relacionados com roubos,
casos de tráficos de droga e com furtos. Talvez uma explicação plausível para tal
fenómeno seja a ligação que grande parte dos países ocidentais tem com a abundância
de bens e com classes cada vez mais pobres (Cusson, 2006).
Assim, o objetivo deste projeto de investigação, cujo tema é a Polícia Marítima:
cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações, baseia-se, no
quadro de uma envolvente de Segurança Interna e de atuação de autoridades de polícia,
na abordagem ao crime de furto de motores de embarcações, tomando como pergunta de
partida “qual o destino de motores fora-de-borda furtados em Portugal e qual o interesse
em furtá-los?”. A investigação deste crime é da competência da Polícia Marítima e, para
melhor entender este fenómeno criminal, torna-se imprescindível e útil desde logo
clarificar o quadro de competências da Polícia Marítima, quer na vertente da Autoridade
Marítima Nacional, quer no âmbito orgânico da Segurança Interna, relevando a sua
qualidade jurídico-institucional de autoridade de polícia e de polícia criminal, dando-se
algum ênfase ao atual sistema de cooperação inter-policial que resulta, entre outros
diplomas, da Lei de Segurança Interna e da Lei de Organização da Investigação
Criminal.
É no contexto de uma utilidade de avaliação que surgiu a ideia de realizar um
projeto que articulasse a Polícia Marítima, a cooperação de polícias e, especialmente,
quanto à natureza do crime a investigar, o furto a motores fora-de-borda de
embarcações, o qual ganhou forma, e substância, no decorrer do estágio na Direção
Geral de Autoridade Marítima e nos serviços centrais do Comando Geral da Polícia
Marítima, designadamente numa palestra sobre a informação – procura, tratamento,
avaliação e fusão em âmbito da Polícia Marítima e a cooperação com outras forças
policiais e os órgãos da SI, tanto mais que, no quadro do que se pesquisou, é um tema
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
2
inovador e que tem potencial interesse num país como Portugal cuja 72% da população
vive ou exerce atividade a menos de 95 Km da linha de costa, e que tem nos espaços
dominiais públicos e marítimos uma dimensão significativamente superior – 18 vezes -
à dimensão territorial terrestre (92.450 Km2).
O furto de motores a embarcações ganha relevância, no sentido em que, se
tornou um dos crimes contra o património que tem vindo a aumentar em espaços sob
jurisdição marítima nos quais, em razão da matéria e do território, a Polícia Marítima
exerce as suas competências como polícia de especialidade.
Este projeto de graduação utiliza o método qualitativo no processo de
investigação, sendo que o instrumento para recolha de informação é a entrevista
semiestruturada. No que concerne às restrições de pesquisa, esta está limitada
geograficamente ao litoral de Portugal, por razões que se prendem com o facto deste
tipo de furto a motores fora-de-borda apenas ocorrer em locais onde existem
embarcações de pesca e de recreio.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
3
I Enquadramento teórico
1.1 Polícia Marítima
1.1.2. Origens e enquadramento histórico e orgânico
Não obstante indicações legais anteriores e precedentes dispersos, foi no Decreto
de 01 de dezembro de 1892, que publicou a organização dos serviços dos departamentos
marítimos e das Capitanias dos Portos, que as questões relativas aos serviços de
fiscalização, de visita e de cumprimento das ordens das autoridades marítimas foram
melhor sistematizadas, ficando, contudo, dispersas pelo quadro de competências dos
patrões-mores, dos cabos do mar e dos guardas de lastro.
A assinatura da Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida no Mar em
1914, elaborada na sequência dos dramáticos acontecimentos do Titanic, deveu-se em
grande parte ao progresso portuário-mercantil, ao acréscimo e o advento das grandes
questões marítimo-comerciais de início do século XX, e, mais marcadamente, após o
fim da 1ª Guerra Mundial, à especificidade das atividades ligadas à navegação, à maior
densidade da aplicação das respetivas normas nas zonas portuárias e marítimas, e à
necessidade de fazer cumprir um conjunto de disposições e determinações dos capitães
dos portos quanto à visita de navios e embarcações e à segurança da navegação em
geral. Todos os anteriores fatores induziram a necessidade de criação de um Corpo da
Polícia Marítima, pela Lei n.º 876, o que ocorreu, de início, no Porto de Lisboa, a 13 de
setembro de 1919. Constituído por cabos-de-mar encarregues de fazer o policiamento
das áreas das capitanias dos portos, e também de alguns espaços balneares, as funções
do CPM foram definidas pelo Decreto n.º 7 094, de 06 novembro de 1920, sendo criado,
ainda nesse ano, pelo Decreto nº 6 273, de 10 de dezembro, o Corpo da Polícia
Marítima do porto do Douro e Leixões, sendo atribuídas a este corpo de polícia de
especialidade inúmeras missões de fiscalização e de investigação.
O Código Penal e Disciplinar da Marinha Mercante, aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 33 252, de 20 de novembro de 1943, no seu art.º 181º, veio definir que nos lugares
onde houver Polícia Marítima será esta incumbida de proceder ao corpo de delito,
competindo-lhe um conjunto de competências instrutórias e processuais, e que vieram
especificar, e aprofundar, os contornos processuais e de investigação da polícia,
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
4
sobretudo no respeitante aos crimes marítimos de especialidade (furtos a bordo,
insubordinação e motim, deserção, lesões causadas ao navio, à carga ou aos objetos de
bordo, atentados conta a segurança da navegação, abandono do navio, recusa de
socorros a náufragos, entre alguns outros).
Em novembro de 1946, o Decreto-Lei n.º 36 081 reorganizou o então designado
Ministério da Marinha, integrando a Polícia Marítima no seu quadro de pessoal civil,
sendo que, duas décadas depois, pelo Decreto-Lei n.º 49 078, de 25 de junho de 1969, a
Polícia Marítima seria, com hierarquia própria, integrada na Direcção-Geral dos
Serviços de Fomento Marítimo, entidade que dirigia e coordenava todos os assuntos
respeitantes às marinhas de pesca, mercante e de recreio, tendo ainda competência de
gestão, ordenamento e exercício da autoridade do estado nos espaços integrantes do
Domínio Público Marítimo.
No ano seguinte àquela reforma, no âmbito da reestruturação operada no quadro
do pessoal civil do então Ministério da Marinha, o Decreto-Lei n.º 618/70, de 14 de
dezembro, criou 23 grupos profissionais, entre os quais o Corpo de Polícia Marítima e
os Cabos-de-Mar.
Em termos de definição orgânica, o Corpo de Polícia Marítima conhece nova
dinâmica com a publicação do Decreto-Lei n.º 265/72, de 31 de julho, que aprovou o 4º
Regulamento Geral das Capitanias da história portuguesa, cometendo-se a este corpo,
pelo seu artigo 17º, um conjunto de competências específicas, de fiscalização e polícia,
e de cooperação com outros órgãos judiciários, atribuindo-se destacamentos desta
polícia a todas as áreas de jurisdição marítima. Esta alteração normativa foi
importantíssima, tanto mais que, conjugadamente com os artigos 15º e 16º daquele
Regulamento, foram definidas a finalidade e competências do serviço de policiamento
marítimo, para o qual concorriam, igualmente, além do Corpo de Polícia Marítima, os
cabos-de-mar e os militares da armada designados, a título temporário, para
desempenhar tais serviços. Contudo, quanto a competências de índole processual,
instrutória, diligências de investigação e colaboração com a polícia judiciária em termos
de combate à criminalidade, a lei restringiu tais competências ao foro do Corpo de
Polícia Marítima, sendo-lhes garantidas prerrogativas jurídico-funcionais de acesso a
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
5
locais e instalações objeto da investigação.
Mais tarde, o Decreto-Lei n.º 190/75, de 12 de abril, veio criar o Quadro do
Pessoal dos Serviços de Polícia e Transportes da Marinha, alterado no ano seguinte pelo
Decreto-Lei n.º 282/76 de 20 de abril, o qual instituiu o Quadro do Pessoal Militarizado
da Marinha, nele integrando o Corpo de Polícia Marítima como seu grupo 1, diploma
que, em determinadas disposições normativas, ainda vigora.
Em junho de 1984, por ação do Decreto-Lei n.º 191/84, o Corpo de Polícia
Marítima passa a designar-se, definitivamente, por Polícia Marítima.
A alteração mais estrutural viria, contudo, a ocorrer somente em 1995, tendo-se
identificado a função de polícia exercida no âmbito da AMN, com o objetivo de
constituir uma força policial armada e uniformizada de competência especializada, o
que ficou expresso com a publicação do Decreto-Lei n.º 248/95 de 21 de setembro, e
com o Estatuto do Pessoal da Polícia Marítima que lhe está anexo. Institucionalizou-se,
assim, a Polícia Marítima como uma força dotada de competência especializada nas
áreas e matérias legalmente atribuídas ao Sistema da Autoridade Marítima, resultando
da unificação da anterior Polícia Marítima com o quadro de militarizados dos cabos de
mar, constituindo-se, assim, numa força policial uniforme no âmbito da Autoridade
Marítima, mas com funções de polícia e de polícia criminal especificamente cometidas
por lei, ou seja, estruturou-se uma autoridade de polícia e de polícia criminal totalmente
identificada em termos da atividade, da função e dos órgãos, da estrutura técnico-
administrativa que é corporizada pelas capitanias dos portos.
O Estatuto do Pessoal da Polícia Marítima estatui, ainda, que o pessoal desta
força policial é considerado órgão de polícia criminal para efeitos de aplicação da
legislação processual penal, sendo os inspetores, subinspetores e chefes autoridades de
polícia criminal, assim como os órgãos de comando da Polícia Marítima, como tal
definidos no artigo 4º do presente estatuto, preceituando a lei, no artigo 8º, um
mecanismo de inerência funcional entre os cargos de direção e comando na Autoridade
Marítima e na Polícia Marítima. No cumprimento das suas competências de polícia,
compete a esta força policial fiscalizar o cumprimento da lei nas áreas de jurisdição do
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
6
SAM, preservar a regularidade das atividades marítimas, e garantir a segurança e os
direitos dos cidadãos, tendo-se definido um regime funcional em que a Polícia Marítima
é, pela razão da sua atividade e pela lógica da sua inserção institucional,
necessariamente agregada às competências da Autoridade Marítima, estatuídas, em
quadro, no artigo 6º do Decreto-lei nº 43/2002, de 02 de março.
Em 2002, com a publicação do diploma que institui e define a Autoridade
Marítima Nacional e seus órgãos, o Decreto-Lei n.º 43/2002, de 2 de março, estabelece-
se, expressamente, que a Polícia Marítima integra a estrutura operacional da Autoridade
Marítima, sendo criado, pelo seu artigo 15º, o Comando-Geral da PM.
O Decreto-Lei nº 235/2012, de 31 de outubro, veio alterar a fórmula legal de
inserção da Polícia Marítima na Autoridade Marítima, integrando-a, agora, como um
dos seus órgãos, não obstante estatuir, aliás com reforçado texto e sentido, que o
comandante-geral da Polícia Marítima é “o órgão superior de comando da PM,
competindo-lhe, como dirigente máximo da PM: a) Dirigir a PM.”. Este diploma
sublinha, de forma expressa e clara, a decisão governamental de reforçar o vínculo
funcional entre este órgão de policia e a Autoridade Marítima, estatuindo, em sede de
disposições preambulares, que “Através do Decreto-Lei nº 44/2002, de 02 de março, a
Autoridade Marítima Nacional garante e conforma, assim, um modelo desconcentrado
de Autoridade Marítima cujo centro de gravidade assenta no acervo de competências
próprias do capitão do porto, compreendendo o respetivo vínculo funcional num
manancial de funções policiais, intrínsecas e corporizadas na Polícia Marítima. Nesse
modelo, a Polícia Marítima integra, necessariamente, a estrutura da Autoridade
Marítima Nacional, constituindo um dos seus órgãos e serviços, e materializando um
conjunto de funções executivas e policiais, cuja génese histórica, aperfeiçoamento e
consolidação é indissociável ao funcionamento das capitanias dos portos, que
aproveitam economias de esforço e de escala, bem como o desenvolvimento de
sinergias, por partilha de conhecimentos e recursos das capacidades da armada.”.
Desde 1995, e na sequência do Estatuto de Pessoal da Polícia Marítima, foram já
publicadas 4 leis da Assembleia da República, 6 decretos-leis e decretos
regulamentares, 8 portarias e 4 Despachos Ministeriais, além, obviamente, das leis-
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
7
quadros da Proteção Civil (2006), Segurança Interna (2008) e Organização da
Investigação Criminal (2008) que definem regimes legais que, no aplicável, respeitam
igualmente à atividade da Polícia Marítima.
1.1.3. Natureza e regime de atividade
A Polícia Marítima constitui-se, assim, como a única1 força policial de âmbito
nacional que assume, transversalmente, competências no âmbito da maritime safety, da
maritime security2, da proteção e preservação do meio marinho, e da fiscalização de
todas as atividades que se realizam em espaços dominiais e marítimos (pescas, náutica
de recreio, navegação mercante, esquemas de separação de tráfego, ordenamento de
espaços balneares e atividades portuárias), com intervenção direta em todos os atos de
Estado relativos ao acesso, entrada, estadia e saída de navios de portos nacionais, e a
única que lida com atos e procedimentos específicos do universo marítimo – relatórios
e/ou protestos de mar, inquirições de tripulantes, instrução de ocorrências de naufrágios,
inquéritos a sinistros marítimos e verificação de certificados e documentos de bordo,
entre muitos outros, competindo-lhe, também, a investigação de crimes próprios do foro
marítimo – designadamente dos artigos 278º, 279º, 280º, 288º, 289º e, no aplicável,
crimes de especialidade previstos no Código Penal e Disciplinar da Marinha Mercante
(AMN, 2010).
É, portanto, uma polícia de competência específica que se pode definir pelo
critério conjunto do território (espaços de jurisdição da Autoridade Marítima) e da
matéria (quadro de competências dos capitães dos portos), o que lhe confere uma
caracterização jurídica muito própria. Conforme o que declara o artigo 15º do Decreto-
lei 44/2002 de 2 de março, a Polícia Marítima é uma força policial armada e
uniformizada, constituída por militares da marinha e agentes militarizados, possuindo
competências nas áreas atribuídas por lei ao Sistema de Autoridade Marítima e à
1 Tendo-se como pressuposto de tal avaliação que a Guarda Nacional Republicana, instituição nuclear da República e de alto prestígio no quadro público do Estado português, tem a sua vertente de competências
em termos marítimos – corporizada fundamentalmente pela Unidade de Controlo Costeiro (UCC) –
definida nos termos da sua lei orgânica aprovada pela Lei nº 63/2007, de 06 de novembro; isto é, além da
vigilância e patrulhamento marítimo, exercem as suas competências sobretudo em matéria tributária,
fiscal e aduaneira, e, no aplicável, em matéria de fiscalização da atividade de pescas, em articulação com
a AMN, e de estrangeiros e fronteiras, em cooperação com o SEF.
2 Maritime safety e maritime security, constituem termos próprios utilizados pela Autoridade Marítima
Nacional e Marinha para designar a segurança de bens e pessoas no mar.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
8
Comandante - Geral
2º Comandante Geral
Comandantes Regionais
Comandantes Locais
Serviços Centrais do Comando Geral
Comando - Geral da Polícia Marítima
Autoridade Marítima Nacional. Para além do referido, a Polícia Marítima é uma
autoridade policial e de polícia criminal.
1.1.4. Estrutura do Comando Geral da PM
A PM rege-se, estatutariamente, como se viu supra, pelo Estatuto do Pessoal de
Polícia Marítima3, anexo ao DL 248/95, de 21 de setembro, sendo uma estrutura de
polícia que tem como órgãos de comando o comandante geral, o 2º comandante geral,
os comandantes regionais e os comandantes locais, conforme o representado na seguinte
figura:
O diretor geral e o subdiretor geral da Autoridade Marítima são, por definição de
uma inerência orgânico-funcional, também o comandante geral e o 2º comandante geral
da Polícia Marítima, sendo os chefes dos departamentos marítimos e os capitães dos
portos, igualmente pelo mesmo mecanismo jurídico de inerência, comandantes
regionais e locais desta força policial (AMN, 2010).
3 O Decreto-lei n.º 235/2012, de 31 de outubro faz alterações ao anexo Decreto -Lei n.º 248/95, de 21 de
setembro.
Fig.1: Estrutura do Comando Geral da Polícia Marítima
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
9
A Polícia Marítima, como polícia de especialidade agregada ao quadro de
atribuições da Autoridade Marítima Nacional, é uma corporação relativamente pequena,
com cerca de 570 elementos, mais 35 órgãos de comando, cuja atividade se desdobra,
ainda, em funções de cooperação e colaboração com os demais órgãos de polícia
criminal e serviços de segurança, em especial a PJ em matéria de tráfico de
estupefacientes, furtos, entre outros, o SEF em matéria de imigração clandestina e de
fronteiras, e a GNR, no aplicável, quanto a pescas e ilícitos detetados em marinas,
funções essas que decorrem da sua inclusão no sistema de segurança interna (Pereira,
1990).
Como se viu supra, a Polícia Marítima é organizada e estrutura-se em comandos,
desde o nível central, até regional e local, existindo, ainda, em determinadas zonas do
país, postos marítimos sobretudo em espaços em que existem delegações marítimas.
Estruturalmente, fazem também parte desta polícia o Grupo de Intervenção Rápida e o
Grupo de Mergulho Forense. No que respeita ao primeiro, este é um grupo altamente
especializado, que atua em situações de ilícito criminal e extrema ameaça à integridade
física humana, e em casos de desordem social. Foi criado com o propósito de evitar
danos para a sociedade, recorrendo ao uso da força, empregando-o da melhor forma. As
situações onde atua este grupo são: em aglomerações de pessoas nos espaços de
jurisdição marítima, em ocupações ilegais dos espaços de jurisdição marítima e em
conflitos nas áreas portuárias ou balneares. Quanto ao Grupo de Mergulho Forense, este
insere-se na Polícia Marítima, órgão de polícia criminal para efeitos de aplicação da
legislação processual penal, constituindo valência no que respeita ao mergulho forense e
à investigação criminal subaquática e também na cooperação com outas forças policiais,
como a PJ, PSP e GNR. Ao Grupo de Mergulho Forense compete realizar buscas em
meio aquático para deteção e remoção de cadáveres, substâncias psicotrópicas proibidas
ou estupefacientes, veículos ou objetos que foram usados para fins de atividades
criminosas, realizar buscas a caís e obras vivas de embarcações e navios, tendo sempre
em vista a preservação do meio de prova (AMN, 2010).
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
10
1.1.5. Competências
A missão da Polícia Marítima, tal como resulta do estatuído no Estatuto do
Pessoal da Polícia Marítima, no Decreto-Lei nº 383/98, de 27 de novembro, nos artigos
13º e 15º do DL 44/2002, quer de vários diplomas de especialidade como sejam a Lei nº
34/2006, de 28 de julho, o Decreto-Lei nº 370/2007, de 06 de novembro, o Decreto-Lei
nº 226/2006, de 15 de novembro, o Decreto-Lei nº 61/2012, de 14 de março, a Lei nº
18/2012, de 07 de maio, e um conjunto vasto de diplomas de cariz sancionatório e
contraordenacional, e, no ainda aplicável, no Regulamento Geral das Capitanias, entre
muitos outros, baseia-se num quadro de deveres de vigilância, fiscalização dos seus
espaços de jurisdição, nomeadamente espaços integrantes do Domínio Público
Marítimo, águas interiores e águas sob soberania (Mar territorial) e jurisdição nacional
(Zona Contígua e Zona Económica Exclusiva). Assim, a Polícia Marítima garante o
cumprimento das leis e regulamentos impostos nos seus espaços de jurisdição marítima
nacional. A cooperação com as demais forças policiais, tem bastante relevância na
medida em que o fim único desta colaboração é garantir que a segurança e os direitos
dos cidadãos, na observância do princípio da legalidade e de defesa dos direitos,
liberdade de garantias no quadro do Estado de Direito, são assegurados no cumprimento
estrito da Constituição e demais leis.
Em concreto, a presente força policial efetua funções de policiamento,
fiscalização, vigilância, e de investigação, mais concretamente, visitas de entrada a
navios e embarcações de acordo com as leis vigentes, com ou sem processo de vistoria
técnica, despachos de largada de navios e embarcações, inquéritos a sinistros marítimos
desenvolvendo todos os atos processuais necessários, incrementar atos processuais e
instrutórios no que respeita aos ilícitos contraordenacionais, detenção de estrangeiros
que ocupem ilegalmente os espaços de jurisdição e soberania marítima nacional,
cumprimento de diretrizes do Capitão de Porto respeitantes à segurança de navegação e
tomar providências no que concerne à instrução dos relatórios de mar (AMN, 2010).
À Polícia Marítima, como órgão de investigação criminal, compete também, sob
a direção do Ministério Público, desenvolver diligências no âmbito judicial,
nomeadamente ordens e mandados judiciais no que concerne a apreensões, arrestos,
entre outras mediadas cautelares. Relativamente a atos processuais, cabe-lhe o
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
11
cumprimento de diligências de investigação, salvaguardando qualquer indício de prova
respeitante a ilícitos detetados. Nesta linha de pensamento, a lei igualmente comete à
Polícia Marítima os seguintes atos: preservação do meio marinho, regulamentação das
atividades marítimas, zelar pelo cumprimento das normas referentes aos banhistas e às
pescas, investigar casos referentes a naufrágios, verificar normas de segurança no
acesso a embarcações e navios e intervir para salvaguardar a ordem e o cumprimento de
normas a bordo, ressalvando a segurança da navegação e a segurança de pessoas e bens,
como já anteriormente foi referido. É, como se verifica, uma polícia de especialidade
que, embora agregada a uma autoridade técnico-administrativa – o capitão do porto –
tem um vastíssimo leque de atribuições e de matérias sob sua jurisdição material e
territorial (AMN, 2010).
Embora ainda não tenha ocorrido a regulamentação específica do Conselho
Coordenador Nacional do Sistema da Autoridade Marítima, cuja determinação consta
do Decreto-Lei nº 43/2002, o certo é que, atento o estatuído no artigo 6º deste diploma,
e no nº1, do artigo 3º, do Decreto-Lei nº 46/2002, à Polícia Marítima está cometida o
exercício de funções especificas em âmbito portuário, sendo, aliás, metodológica e
formativamente, a única autoridade de polícia nacional preparada, em qualidade e
funcionalizada a matérias e atividades próprias do âmbito marítimo-portuário. Neste
aspeto, tudo o que respeita ao Código ISPS – segurança de pessoas, navios,
embarcações e bens -, tal como regulado designadamente pelo Decreto-Lei nº 226/2006,
de 15 de novembro, assume uma importância fulcral no quadro das preocupações da
International Maritime Organization (IMO) e da União Europeia, em matéria de
maritime security.
1.2. A Polícia Marítima no âmbito da Segurança Interna e da investigação
criminal
Para Portela (2007), a segurança e a liberdade são duas conceções estreitamente
ligadas, pois, só se poderá exercer a liberdade no seu pleno se a segurança estiver
garantida. Já no que concerne ao direito à segurança, este apresenta-se como a garantia
de um livre exercício dos direitos fundamentais.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
12
A segurança dos Estados está, historicamente dissociada em dois conceitos que
tem por base a origem e natureza das ameaças, a segurança externa e a segurança
interna. A segurança externa, ou defesa nacional, tem como objeto as ameaças oriundas
do exterior, já no que se refere à segurança interna, esta ocupa-se das ameaças que
colocam em perigo a segurança do Estado e os direitos fundamentais dos cidadãos
(Rodrigues, 2011).
Como atividade pública regulada pela Lei 53/2008 de 29 de agosto, a segurança
interna destina-se a garantir a ordem a segurança e a tranquilidade pública dos cidadãos
e dos bens, e protegê-los contra situações ilícitas e criminosas que ofendam a
regularidade das instituições democráticas e sejam potencialmente violadas de direitos,
liberdades e garantias.
A segurança interna tem um enquadramento institucional específico - Título IX
da Administração Pública e de Polícia - e distingue-se neste pressuposto constitucional
de defesa nacional e das Forças Armadas que têm um enquadramento na lei
fundamental (Constituição da República Portuguesa), o que pressupõe e indicia
estruturas, órgãos, competências e intervenções operacionais totalmente diferentes dos
das polícias.
A Lei 53/2008 de 29 de agosto estipula, na alínea i) do nº2 do Artigo 12º, no nº2
do Artigo 21º, no nº1 do Artigo 23º, no Artigo 24º e na alínea a) do nº3 do Artigo 25º
que os órgãos da Autoridade Marítima Nacional integram, por representatividade
própria, a estrutura e os órgãos próprios da segurança interna. Este modelo, assim
definido e essencialmente em virtude do facto da Polícia Marítima exercer as suas
funções no âmbito institucional global da Autoridade Marítima Nacional, atuando,
como se viu supra, como força policial armada e uniformizada dotada de competências
especializadas nos espaços de Domínio Público Marítimo e nas águas sobre soberania e
jurisdição nacional, e, em razão da matéria, no âmbito funcional das atribuições do
Sistema da Autoridade Marítima conforme se estatui no artigo 6º do Decreto-Lei 43/
2002 de 2 de março, detendo ainda em termos de investigação criminal competência
específica naquelas áreas e âmbitos, tal como decorre do nº2 do artigo 3º da Lei de
Organização da Investigação Criminal, aprovada pela lei 49/2008 de 27 de agosto.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
13
1.2.1. O modelo de Segurança Interna
Segundo a Lei 53/2008 de 29 de agosto (Artigo 7º), a Assembleia da República
coopera no sentido de enquadrar a política de segurança pública e de fiscalizar a sua
execução, já no que concerne à condução da política de segurança interna esta é da
exclusiva competência do Governo que a executa através do Concelho de Ministros,
coordenando, planeando, assegurando os meios necessários e aprovando os planos de
cooperação entre as forças e serviços de segurança (Artigo 8º). Cabe ao Primeiro-
ministro a direção da política de segurança interna, este coordena, orienta e dirige as
ações dos seus membros relativamente aos assuntos relativos à segurança interna. Para
este fim, apropria do Concelho superior de segurança interna no qual estão integrados
todos os membros de Governo que tenham a seu cargo forças e serviços de segurança,
assim como os dirigentes máximos. A coordenação tática e operacional é realizada pelo
Gabinete Coordenador de Segurança (Artigo 9º). Ao Ministro da Administração Interna
compete a direção da política de segurança, sendo esta a única entidade em que o
Primeiro-ministro pode delegar as suas funções (Artigo 9º).
O cumprimento da política de segurança interna cabe às forças e serviços de
segurança, que devem cooperar sempre no sentido único de cumprir objetivos mútuos,
comunicando e partilhando informações relevantes e necessárias (Artigos 6º, 12º, 13º,
14º).
Ainda relativamente ao Concelho Superior de Segurança, que está na
dependência do Primeiro-ministro ou do Ministro da Administração interna, caso este
delegue as suas funções, integram-no os dirigentes máximos dos seguintes organismos e
serviços: GNR, PSP, PJ, PM, SEF, SIS, SP entre outros, conforme o disposto no Artigo
12º da referida Lei 53/2008 de 29 de agosto.
1.2.2. Segurança Interna: Atividades
O atual sistema de Segurança Interna foi criado para responder aos reptos da
atualidade em matéria de segurança, resultando de uma discussão prorrogada sobre qual
o modelo que melhor responderia a um novo quadro de ameaças e riscos (Rodrigues,
2011).
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
14
A Resolução do Concelho de Ministros nº 45/2007, de 19 de março de 2009,
chegou a um conceito alargado de Segurança Interna que aponta para um Sistema que
“corresponda ao quadro de ameaças e riscos típicos do atual ciclo histórico”, e que
impulsione as “parcerias com vocação fortemente preventiva para enfrentar riscos que
impendem sobre a sociedade portuguesa, tanto resultantes da criminalidade em geral,
como naturais, tecnológicos ou outros.”
A atividade de segurança interna faz sentido na medida em que, as forças e
serviços de segurança estão coordenados e cooperam, mantendo a especificidade de
cada um e trabalhando para o fim único de garantir a ordem a segurança e a
tranquilidade pública dos cidadãos e dos bens, e protegê-los contra situações ilícitas e
criminosas em que sejam violados direitos, liberdades e garantias, ou seja, manter a
integridade do Estado de direito (Pereira, 1990).
A segurança interna desenvolve-se dentro das seguintes atividades: prevenção de
todas as formas de criminalidade, manutenção ou reposição da ordem pública,
investigação criminal e informações. A prevenção de todas as formas de criminalidade é
garantida pelas forças e serviços de segurança através de medidas dissuasoras como o
patrulhamento, vigilância e a monitorização de determinados eventos, com o objetivo de
garantir a segurança e a ordem social. Com base no art.º 3.º da Lei de Organização da
investigação criminal são considerados órgãos de competência genérica a Guarda
Nacional Republicana, a Policia de Segurança Pública e a Policia Judiciária, sendo que
a esta última é-lhe atribuída principalmente a investigação de crimes com carácter
violento ou organizado, conferindo aos restantes órgãos de polícia criminal onde se
inclui a Polícia Marítima, competência específica (art.º 2.º). Segundo o art.º 14.º deste
mesmo diploma legal, é também da competência do conselho coordenador dos órgãos
de polícia criminal orienta-los genericamente assegurando assim a articulação entre as
forças de segurança. A manutenção ou reposição da ordem pública, visa a prevenção e
repressão do crime através da presença da figura de autoridade, seja ela nas ruas, em
manifestações, comícios, entre outros, onde os cidadãos estão expostos a situações de
ameaça relevante. Quanto à investigação criminal, esta está inserida na fase de inquérito
que compreende a primeira fase do processo criminal, onde estão inerentes a ela a
recolha de provas penalmente relevantes, o exame, a interpretação, e a conservação da
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
15
prova. Para além destas ações, a investigação criminal, compreende ainda a análise dos
fatos envolventes ao crime com vista a identificar o autor do crime e responsabilizá-lo,
submetendo o processo para a apreciação do Ministério Público e do Juiz (Pereira,
1990).
A Polícia Judiciária é por excelência, polícia de investigação criminal, esta
investiga a criminalidade violenta e organizada, o que não significa que não coadjuve
com os restantes órgãos de polícia criminal. Esta atividade é regulada pela legislação
processual penal, não dispensando as normas e regulamentos de cada força e serviço de
segurança (Pereira, 1990).
Por último, a atividade das Informações tem como base de funcionamento a
pesquisa, recolha, análise, o processamento de dados e a difusão dos mesmos pelas
entidades competentes, com vista a prevenir a criminalidade e garantir a segurança
interna. A entidade que, por excelência, esta direcionada para o domínio das
Informações é o Serviço de Informações de Segurança, que colabora estreitamente com
as forças e serviços policiais, transmitindo sempre que oportuno, todas as informações
necessárias à salvaguarda da investigação criminal, da prevenção e repressão da
criminalidade e da manutenção da ordem pública, de acordo com o determinado no
Artigo 1º da Lei 53/2008 (Pereira, 1990).
À partida, não faz sentido associar as informações com a atividade de
investigação criminal exercida pelos órgãos de polícia criminal, mais concretamente
pela Polícia Marítima. O legislador procurou sempre dissociar as informações da
investigação criminal, tanto na Lei-quadro do Sistema de Informações da República
Portuguesa como na Lei da Organização da Investigação Criminal (Pereira, 2005).
No entanto, seria um erro não correlacionar as informações e a investigação
criminal, uma vez que ambas têm um propósito comum: a salvaguarda dos direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos. Assim, as informações são um instrumento
importante para a investigação criminal, uma vez que com as informações obtidas se
pode desencadear processos referentes aos mais variados tipos de crimes, entre os quais,
tráfico de armas, tráfico de pessoas, crimes de sabotagem e, por exemplo, no caso da
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
16
Polícia Marítima em concreto, o furto de motores de embarcações, entre outros (Pereira,
2005).
As informações policiais constituem a fase prévia da investigação criminal e da
intervenção dos órgãos de investigação criminal, antecedem a tutela ministrada pelo
direito penal (Pereira, 2005).
No entanto, há determinados assuntos que podem interessar ao Serviço de
Informações de Segurança e não terem relevância para os órgãos de polícia criminal
(e.g. Comércio de armamento). A “ exclusividade” dos serviços de informações relativa
às informações de segurança não impede porém a produção de informações no âmbito
da investigação criminal. Esta afirmação é sustentada em dois pontos de vista: Os
órgãos de polícia criminal, na fase prévia ao inquérito, podem realizar atividades
probatórias antecedentes do inquérito e a própria partilha de informações através do
Sistema Integrado de Investigação Criminal, previsto na Lei nº 73/2009 de 12 de agosto
que pressupõe a existência de informação com alcance estratégico para a prevenção
criminal (Pereira, 2005).
No cômputo geral, a Segurança interna tem natureza pluridisciplinar e conta com
organismos e serviços que são interdependentes e cooperam entre si, partilhando
informações para a prossecução de determinado objetivo, de acordo com o estatuído no
artigo 6º, da Lei n.º 53/2008.
1.3. Forças e Serviços de Segurança: O princípio da cooperação
A cooperação policial é efetuada entre as forças policiais e serviços de segurança.
Estes concentram-se na prevenção e deteção de infrações penais. É de realçar o fato de a
cooperação policial estar diretamente relacionada com a cooperação judicial,
nomeadamente o Ministério Público como é o caso de Portugal (Gouveia e Pereira,
2007).
Com base na Lei de Segurança Interna, Lei 53/2008 de 29 de agosto, o Estado
Português dispõe de forças e serviços de segurança para garantir o cumprimento de fins
e interesses inerentes à Segurança Interna, sendo que, as forças e serviços de segurança
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
17
que exercem funções de segurança interna são a Polícia Judiciária, a Polícia de
Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana, o Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, o Serviço de Informações de Segurança, a Policia Marítima, e os órgãos de
Sistema de Autoridade Aeronáutica.
Existe neste quadrante de atuação do Estado, portanto, uma área que não é
suscetível de ser confundida com outros órgãos e estruturas públicas, e seu foro de
competências, como sejam as Forças Armadas, uma vez que a atividade de Segurança
Interna, garantida pela atuação de órgãos de polícia, se inscreve no preceito
constitucional previsto no artigo 272º da lei fundamental, o qual, inserindo-se no Titulo
IX da Administração Pública, tem um enquadramento normativo especifico que não se
cruza, funcionalmente, com o Título X - Defesa Nacional, construído e direcionado para
outras funções e obrigações públicas do Estado Português.
No que respeita às forças de segurança, estas são polícias uniformizadas e
armadas inteiradas de pessoal militarizado Polícia de Segurança Pública, Polícia
Marítima ou com estrutura militar como é exemplo disso a Guarda Nacional
Republicana, obedecendo a uma estrutura de comando hierarquizada. Os serviços de
segurança para além de serem organismos públicos, são integrados por agentes com
estatuto equivalente ao pessoal da Administração Pública, direcionados para o
desempenho de funções de carácter policial, como a Polícia Judiciária ou o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras, ou no âmbito das informações respeitante ao Serviço de
Informações de Segurança (Pereira, 1990).
O artigo 5º da Lei de Segurança Interna estatui os princípios reguladores dos
deveres gerais e especiais da colaboração, do ponto de vista dos cidadãos, dos
funcionários e dos militares, e, no artigo 6º, os princípios da coordenação e cooperação
das forças de segurança, estatuindo, a lei, neste preceito que:
“1 – As forças e os serviços de segurança exercem a sua atividade de acordo
com os princípios, objetivos, prioridades, orientações e medidas da política de
segurança interna e no âmbito do respetivo enquadramento orgânico.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
18
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, as forças e serviços de
segurança cooperam entre si, designadamente através da comunicação de informações
que, não interessando apenas à prossecução dos objetivos específicos de cada um
deles, sejam necessárias à realização das finalidades de outros, salvaguardando os
regimes legais do segredo de justiça e do segredo de Estado.”
Há, assim, três pressupostos de atuação das polícias: 1. Seguem-se pelo seu
regime orgânico e funcional específico; 2. cooperam através de um sistema de partilha
de informação que não coloque em causa quer o segredo profissional dos autores, quer o
segredo de justiça, quer, sobretudo, o segredo de Estado; 3. Colaboram num princípio
de utilidade e prossecução do interesse público, reenviando a outras polícias
informações que lhes sejam úteis para os seus próprios âmbitos de atuação profissional.
É ainda relevante referir que esta matéria tem interesse acrescido em ser
conjugada com o Capítulo V da Lei de Segurança Interna, artigos 28º a 31º, que regula
as medidas de polícia, as medidas especiais de polícia, e os princípios da necessidade e
da identificação.
Ainda em matéria de cooperação, foi de acordo com a Lei nº 73/2009 de 12 de
agosto, criada a Plataforma de Intercâmbio de Informações Criminais para garantir uma
interoperabilidade entre sistemas de informação dos órgãos de polícia criminal,
assegurando assim, o pressuposto da partilha de informação. No art.º 2.º está referido o
objetivo da PIIC como sendo, a garantia de uma partilha de informações entre órgãos de
polícia criminal com elevado nível de segurança, garantindo a realização de ações de
investigação e prevenção criminal, com vista a prevenir e reprimir a criminalidade.
Quanto aos princípios desta plataforma, estes estão proclamados no art.º 3.º e inferem
que a plataforma assegura e facilita a partilha de informação, de veras útil para todas as
investigações criminais incluindo a investigação do crime de furto a motores fora-de-
borda, sendo que o fornecimento de informações deve limitar-se apenas ao que for
considerado relevante para o sucesso da investigação e prevenção criminal.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
19
1.3.1. Cooperação policial internacional
Referindo a Lei de intercâmbio de dados e informações de natureza criminal, Lei
74/2009 de 12 de agosto, esta tem proclamado no seu art.º 2.º a definição de operações
de informações criminais e de dados ou informações. As operações de informações
criminais trata-se de uma fase processual que se realiza anteriormente à fase de
investigação criminal e onde uma autoridade competente para a aplicação da lei esta
legalmente apta para recolher, tratar e analisar informações que respeitam a atos
criminosos, para que se possa determinar se atos criminosos concretos poderão vir a ser
consumados. No que respeita aos dados ou informações estes estão na posse das
autoridades de aplicação da lei e autoridades públicas ou entidades privadas desde que
as autoridades de aplicação de lei tenham acesso.
O art.º 5.º da lei acima referida prevê ainda, que todas as autoridades nacionais
de aplicação da lei estejam sujeitas ao segredo de justiça, garantindo assim a
confidencialidade dos dados e informações suprarreferidos.
Quanto à cooperação policial internacional, esta está concretamente prevista no
art.º 11.º da Lei de intercâmbio de dados e informações de natureza criminal, Lei
74/2009 de 12 de agosto, onde se refere que as autoridades nacionais de aplicação da lei
devem cooperar internacionalmente com outros estados membros interessados,
fornecendo dados ou informações que podem ajudar na deteção ou investigação de
infrações.
No entanto, também está prevista a cooperação policial para intercâmbio de
dados ou informações na convenção de aplicação do acordo de Schengen, mais
concretamente no seu art.º 39.º, que refere o facto de a cooperação policial internacional
ter como mediador um órgão central encarregado de cooperação policial internacional.
Nas regiões transfronteiriças, a cooperação pode ser regulada pelos ministros
competentes das partes contratantes. Com o acordo de Schengen deixou de haver
controlo policial transfronteiriço, carecendo assim, de maior cooperação policial
internacional.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
20
1.4. O furto de motores fora-de-borda a embarcações
1.4.1. Contexto internacional
Em geral, a problemática do tráfico de veículos roubados e suas componentes
tem vindo a ganhar proporções consideráveis na Europa, América, Ásia e Africa. Estes
veículos e os seus componentes são furtados e traficados através do recurso a
documentos falsificados. Os países para onde são traficados são selecionados em função
do fraco controlo policial existente nesse país (Upadhyay, et al, (2000).
No Reino Unido circulam milhões de veículos e contentores pelos portos, o que
fornece claramente terreno fértil para a criminalidade, sendo que a este país pertence
também o maior setor de portos da Europa em termos de carga e tonelagem (Elaine, et
al, 2007).
Outro fenómeno a registar a nível internacional, é o contrabando de emigrantes
ilegais por via marítima, onde muitas vezes os contrabandistas utilizam embarcações
furtadas incluindo componentes como os motores fora-de-borda (UNODC, 2011).
O furto a componentes de embarcações é um problema grave e pode tomar
diferentes formas, uma entre as quais, o furto de motores fora-de-borda. Estes, muitas
vezes são furtados para uso da própria pessoa que o furtou ou, em alternativa, para
venda do motor fora-de-borda (Steven, 2006).
No caso do Equador, o furto de motores fora-de-borda afigura grande
preocupação para a Marinha deste país, uma vez que, estatisticamente são furtados
todos os meses 20 motores fora-de-borda, o que representa perdas monetárias
significativas (Helguero, et al., 2009).
No Reino Unido, também é motivo de preocupação para as autoridades do país o
aumento significativo de furtos às embarcações incluindo o furto a motores fora-de-
borda, sendo que este aumento tem sido mensal. A polícia deste país relata que estes
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
21
motores fora-de-borda são removidos de forma profissional, sugerindo o envolvimento
de gangs profissionais.4
A Florida, é igualmente alvo deste tipo de crime de furto. Neste Estado dos
EUA, os motores fora-de-borda são vistos como um item preferencial para o mercado
negro internacional ou para venda a comerciantes que desconhecem o facto de estes
terem sido furtados. A flórida é o Estado dos EUA que mais sofre com o furto de
motores fora-de-borda.5
1.4.2. Enquadramento legal
Segundo Dias e Andrade (1997), a definição de crime encontra-se difundida
numa pluralidade de conceitos, uma das definições dadas pela lei criminal positiva para
o crime é, qualquer tipo de comportamento que a lei criminal tipifique como sendo
crime.
Assim, o crime de furto de motores de embarcações enquadra-se no código penal
português no Título II – Dos crimes contra o património, Capitulo II – Dos crimes
contra a propriedade, nos Artigos 203º e 204º referentes ao Furto e ao Furto qualificado.
Quando os motores furtados são de alta cilindrada e, por este motivo, estes mesmos
motores de embarcações são de valor elevado, perfaz um crime de furto qualificado
(Artigo 204º). O próprio código penal português qualifica o crime de furto a quem
“furtar coisa móvel alheia”, neste caso, “a) De valor elevado”. Quando os motores
furtados são de baixa cilindrada, ou seja, de valor diminuto, estes estão incluídos no
Artigo 203º, que tipifica o crime de furto simples.
4 Segundo notícia publicada no jornal online “In West Union” (2013) disponível em:
http://www.thisiscornwall.co.uk/Boat-owners-warned-increase-theft-outboard/story-18079160-
detail/story.html#axzz2VFDHOKr4.
5 Segundo notícia avançada pelo jornal online “Sun Sentinel” (2010) disponível em: http://articles.sun-
sentinel.com/2010-11-12/news/fl-boat-thefts-20101112_1_outboard-motors-boats-yamaha.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
22
1.4.3. Estatísticas oficiais
Criminalidade
geral Crimes contra o
património Variação
Furtos de embarcações
e motores Variação
2010 1199 805 67% 87 10,8%
2011 1176 749 63,7% - 6,9% 126 16,8% + 30,9% 2012 1134 763 67,3% + 1,8% 159 20,8% + 20,7%
Nota:
2ª Coluna Apresenta o valor total de crimes (de todas as categorias) registado no ano. 3ª Coluna Apresenta o valor total de crimes da categoria “contra o Património” - valor já incluído no da criminalidade geral.
5ª Coluna Apresenta o valor total de furto de motores e embarcações registado no ano – valor já incluído no valor “crimes
contra o património”.
Quadro. 1: Furtos a embarcações e motores (Fonte: Polícia Marítima).
Analisando as estatísticas oficiais, pode-se constatar que, no ano de 2012, houve
um total de 1134 participações no que respeita à criminalidade geral, existindo uma
diminuição de 3,6% no referente ao ano anterior. Na categoria dos crimes contra o
património incluem-se os furtos a embarcações e os furtos a motores fora-de-borda,
sendo que esta categoria tem mais representatividade, ou seja 67%. No que concerne ao
crime de furto de embarcações e motores, este teve um aumento de cerca de 20,7% em
comparação com o ano anterior (Relatório anual de segurança interna, 2012).
Gráfico. 1: Distribuição dos furtos de motores fora-de-borda pelos Comandos Regionais da PM (Fonte:
Polícia Marítima).
10 15
37
2
28
41
35
29
39
53
0
10
20
30
40
50
60
C.R. Norte C. R. Centro C. R. Sul C. R. Madeira C. R. Açores
2010
2011
2012
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
23
Em termos geográficos, observando a distribuição das participações registadas
pelos diferentes Comandos Regionais da Polícia Marítima, constata-se que a maior
percentagem destas (76,3% – 284 participações) ocorreu nos Comandos Regionais da
Polícia Marítima do Sul (43% – 160 participações) e do Centro (33,3% – 124
participações), onde os Comandos Locais da Polícia Marítima de Lisboa (20,6% – 77
participações), de Olhão (14,2% – 53 participações) e de Portimão (11,3% – 42
participações) são os mais representativos (Relatório anual de Segurança interna, 2012).
Gráfico. 2: Furto de motores fora-de-borda registados na estrutura da Polícia Marítima (Fonte: PM).
No gráfico anterior podemos comparar 2010 e 2011 com o ano de 2012,
verificando que existe um claro aumento de furto de motores fora-de-borda ao longo
destes três anos.
1.4.4. Caso de estudo de furtos a motores fora-de-borda6
O caso em estudo remete-se a um processo por furto a motores fora-de-borda.
Uma vez que o processo de investigação se encontra ainda em segredo de justiça, não
foi possível consulta-lo e obter dados concretos, contudo através dos meios de
comunicação social em que se relata a ocorrência do presente caso, bem como, junto da
Policia Marítima foi possível obter a informação de extrema importância para o presente
estudo relativo a furtos de motores fora-de-borda em Caminha, uma vez que, escasseiam
estudos neste âmbito tanto a nível nacional como internacional. Este foi um caso com
bastante relevo, por se tratar de um caso com ramificações a nível internacional. Os
6 Informações do presente texto recolhidas junto da Polícia Marítima e de uma notícia disponível em:
http://avei.ro/noticia.aspx?id=70766¬ic=Costa%20Nova:%20Capitania%20admite%20ter%20detecta
do%20grupo%20que%20furta%20motores%20de%20barco.
0
20
40
60
80
100
120
140
Ano 2010 Ano 2011 Ano 2012
64
104
121
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
24
furtos foram detetados na freguesia e concelho de Caminha, mais precisamente em
Seixas e Lanhelas, e ocorreram em horário noturno entre a 1:00 h e as 2:00 h da
madrugada. Geograficamente, por se tratar de uma zona transfronteiriça, existem fatores
facilitadores do crime no que se refere à análise de risco, como a falta de controlo na
fronteira, o facto de ser um local ermo e sem vigilância, a facilidade com que se
deslocam motores furtados com valor comercial de aproximadamente 6 mil euros para
Espanha em apenas uma hora, e a baixa probabilidade de serem abordados pelas
autoridades Portuguesas ou Espanholas.
Este caso envolveu empresas náuticas de Portugal e Espanha, estas empresas
tinham como modus operandi o furto de motores fora-de-borda e peças destes motores,
conforme os pedidos do mercado, onde o valor de algumas peças de motores (no
mercado negro) chegam a valer 4 mil euros. Depois de furtados, estes motores são
remetidos para empresas de reparação ou de náutica que vendem estes motores em 2ª
mão. Existe também o furto paralelo de motores fora-de-borda, que têm como destino
Espanha a fim de serem embarcados em contentores para África para, à posteriori
serem usados no tráfico ilegal de imigrantes para a Europa.
Os indivíduos envolvidos neste processo são de nacionalidade romena,
espanhola e portuguesa, no entanto, era um português com ligações a uma náutica da
região que coordenava os atos criminais, sendo que, o responsável e constituído no
processo tem um vasto antecedente criminal. A referida empresa náutica estava sedeada
no concelho de Caminha o que se torna favorável à ocorrência do crime em questão,
uma vez que a extensão entre a empresa e os locais dos furtos dista apenas 3 a 4
quilómetros. No entanto, a principal motivação, é o valor monetário dos motores.
A principal critica neste processo, é apontada à falta de troca de informações
policiais, que no referido caso levou a que o Ministério Público determinasse como
medida cautelar, a apresentação periódica dos indivíduos de nacionalidade romena,
quando existiam processos pendentes sobre os mesmos, conhecidos apenas algum
tempo depois. Assim, a medida cautelar poderia ter sido diferente da aplicada, ou seja,
os arguidos poderiam ter ficado em prisão preventiva até ao julgamento, este que não se
realizou por se desconhecer o paradeiro dos arguidos.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
25
II Investigação Empírica
Após o término da revisão da literatura sobre o furto de motores fora-de-borda a
embarcações em Portugal, sobre a Polícia Marítima por ser a força policial a quem
compete a investigação deste crime e o seu enquadramento na segurança interna que lhe
confere, por inerência, o estatuto de órgão de polícia criminal, assim como, a
cooperação inter-policial, procede-se à segunda fase deste projeto, a fase de
investigação.
Sendo este um crime com pouca incidência comparativamente a outros crimes
contra o património, é ainda assim um crime que tem vindo a aumentar de ano para ano,
pelo que, urge uma investigação que divulgue respostas que ajudem a compreender este
recente fenómeno criminal.
2.1. Metodologia
Este projeto de investigação baseia-se numa investigação qualitativa, onde esta
tem como preocupação central a compreensão e interpretação de factos ao invés de
medições como é exemplo disso a investigação quantitativa (Martins e Theófhilo,
2007).
A metodologia é o procedimento adotado com o objetivo de encontrar resposta à
questão-básica, e inclui, entre outras atividades, as técnicas utilizadas, amostragens, a
recolha de dados e processos de análise (Carvalho, 2009).
A metodologia, é o estudo das possíveis formas de argumentação respeitantes a
importantes campos disciplinares de investigação que posteriormente é aplicado na
enunciação de regras gerais no procedimento prático. Os estudos de metodologia
seguem duas formas: o método indutivo e o dedutivo. O método indutivo parte de factos
particulares e infere uma preposição geral ou universal, sendo que, este método baseia-
se numa operação lógica que parte de uma preposição de objetos ou acontecimentos em
que posteriormente constrói-se uma generalização. O método dedutivo parte do geral
para o particular e pretende explicar o conteúdo das premissas, ao contrário do método
indutivo que procura ampliar o alcance dos conhecimentos (Carvalho, 2002).
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
26
Este projeto de investigação segue o método indutivo, tendo como base uma
pesquisa qualitativa, recorrendo à administração de entrevistas semiestruturadas (em
anexo) à amostra, para que posteriormente se generalize os dados recolhidos.
2.1.1 Objetivos gerais e específicos
O objetivo geral, ao qual este projeto de investigação se propõe a encontrar
respostas, é deslindar qual o principal interesse em furtar motores fora-de-borda em
Portugal, nesta linha de pensamento, torna-se também relevante patentear qual o destino
destes motores fora-de-borda, ou seja, para que efeitos são utilizados após o furto.
Como objetivos específicos, pretende-se clarificar as relações das empresas
náuticas com este tipo de crime, se eventualmente estas empresas se encontram
frequentemente associadas à prática do crime de furto de motores fora-de-borda e, de
que forma estão associadas, tendo-se em conta que uma elevada taxa de vendas de
motores fora-de-borda ou das suas componentes aponta para um possível envolvimento
neste tipo de crime. Não menos importante é a informação que se possa recolher junto
das vítimas e da Polícia Marítima, que serve os objetivos relativos à identificação do
modus operandi dos infratores, ao perfil das vítimas, à caracterização dos locais de furto
e à discriminação dos valores monetários associados aos motores fora-de-borda
furtados.
2.1.2. Plano de Amostragem
A população alvo coincide com a totalidade de elementos que estão em
concordância com as especificações do estudo em causa, aqueles que de alguma forma
estão relacionados com o fenómeno em estudo (Vicente, et al., 1996).
Uma vez que há grande dificuldade em ter contacto com os indivíduos que
furtam os motores fora-de-borda, por não existir ainda condenados por este ilícito, a
população alvo incide essencialmente sobre empresas náuticas7, vítimas do furto de
motores fora-de-borda e sobre a polícia marítima por ser a força de segurança que por
7 Como anteriormente referido no caso de estudo de furto a motores fora-de-borda, as empresas náuticas
estão muitas vezes ligadas a furtos de motores fora-de-borda, assim se explica a pertinência da
administração da entrevista semiestruturada às empresas náuticas.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
27
inerência tem a seu cargo a investigação deste ilícito criminal. A população alvo acima
referida está geograficamente limitada ao litoral de Portugal, mais especificamente a
locais onde existem fatores facilitadores da ocorrência de furtos a motores fora-de-borda
a embarcações, como sendo a falta de segurança, a falta de vigilância, locais ermos e
locais transfronteiriços.
No que se refere à amostra esta tem como objetivo orientador ser representativa
da população. Esta divide-se em duas categorias aleatória e não aleatória. Quando
aleatória, qualquer individuo da população tem a mesma probabilidade de poder ser
selecionado. Quando não aleatória, há a aplicação de um critério subjetivo na seleção da
amostra. A amostra da presente investigação insere-se assim, na categoria de amostra
não aleatória, sendo que, no que se refere ao tipo de amostra esta é uma amostra
intencional composta por elementos selecionados deliberadamente (Vicente, et al.
1996).
Quanto à dimensão da amostra esta é constituída por 2 trabalhadores e 1 sócio-
gerente de duas empresas náuticas8, 4 vítimas de furtos a motores fora-de-borda e a 4
agentes da polícia marítima que tenham participado de investigações relativas a este
crime.
2.1.3. Instrumento
A entrevista, é uma técnica de pesquisa para recolha de dados e evidências em
que o principal objetivo é assimilar o significado que os entrevistados atribuem a
determinadas situações, questões ou contextos. É um processo de recolha de dados mais
custoso e demorado do que, por exemplo, o questionário, exigindo por isso aptidão do
entrevistador. Esta pode ser de três tipos: estruturada; semiestruturada e não estruturada
(Martins e Theófhilo, 2007).
A entrevista estruturada compreende um guião prévio e é aplicado a todos os
entrevistados, a entrevista semiestruturada têm também um guião prévio mas há
8 Neste caso é indispensável contrapor as informações recolhidas junto dos trabalhadores e sócios-
gerentes das empresas náuticas selecionadas, pois, há informações relevantes que podem ser ocultadas por
uma das partes, daí a necessidade de administrar a entrevista destinada às empresas náuticas, em anexo,
tanto aos trabalhadores como aos sócios-gerentes.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
28
liberdade para que sejam acrescentadas novas perguntas, quanto à entrevista não
estruturada, esta não utiliza um guião prévio, apenas o entrevistado é abordado pelo
entrevistador para a obtenção de informações detalhadas sobre determinado tema. Uma
entrevista pode fornecer informações para corroborar evidências já recolhidas
aumentando, assim, o grau de fiabilidade da entrevista (Martins e Theófhilo, 2007).
A entrevista semiestruturada foi escolhida como o instrumento de recolha de
dados a utilizar neste projeto de investigação, pois, para além de ter um guião
predefinido o entrevistador pode acrescentar outras perguntas relevantes ao longo da
entrevista, enriquecendo este processo. Este tipo de instrumento vai também de
encontro ao pretendido, uma vez que possibilita a recolha de posições e crenças da
amostra em relação ao propósito do presente projeto e através da informação que o
entrevistado possa facultar, analisar os dados recolhidos, e posteriormente dar ênfase
aos resultados.
No que se refere ao custo e pelo facto de esta ser uma entrevista pessoal, este
método de recolha de informação é tido como mais custoso, uma vez que o
entrevistador tem que se deslocar ao local onde está o respondente. Quanto ao tempo,
este tipo de instrumento é moroso, caso se tenha em conta fatores tais como, o tempo de
deslocação entre entrevistado e respondente, a necessidade de se marcar a entrevista e
por ventura a necessidade de voltar mais do que uma vez para completar a entrevista.
No entanto este método de recolha de dados permite obter mais informação que os
restantes métodos (Vicente et al, 1996).
Em anexo, estão três entrevistas, devidamente identificadas, dirigidas à amostra
anteriormente selecionada. Estas entrevistas terão uma duração de cerca de 30 minutos,
auxiliada por um gravador de áudio, caso o entrevistado esteja de acordo, para garantir a
máxima recolha de dados. As entrevistas só serão realizadas caso o respondente assine
voluntariamente o termo de consentimento informado, também este em anexo.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
29
2.1.4. Procedimentos
O primeiro procedimento desta investigação empírica é entrar em contacto com
a amostra para que, mediante a autorização da mesma, a investigação possa prosseguir
para a administração das entrevistas, em anexo. Para que este contacto seja possível é
essencial a recolha de informação relativa aos contactos da amostra, que no caso em
concreto, pretende-se que a recolha seja efetuada junto do Comando Geral da Polícia
Marítima, pois, é a força policial que tem a seu cargo a investigação do crime de furto
de motores fora-de-borda, para além de ser a entidade central que está sempre em
contacto com todos os Comandos Locais da Polícia Marítima e com toda a informação
que daí advém. Esta entidade tem acesso a contactos de pessoas que constituem a
amostra, como sejam, vítimas, Polícias Marítimos e trabalhadores e sócios-gerentes de
empresas náuticas. O pedido de informação relativa aos contactos da presente amostra
junto do Comando Geral da Polícia Marítima, não dispensa a administração de um
pedido de autorização para obter a referida informação junto desta entidade. Caso a
informação relativa aos contactos da amostra for dispensada, proceder-se-á à escolha de
2 vítimas do crime em estudo, 2 Polícias Marítimos e 2 trabalhadores e 1 sócio-gerente
de uma empresa náutica, todos os anteriores de Caminha; e 2 vítimas do crime em
estudo, 2 Polícias Marítimos e 2 trabalhadores e 1 sócio-gerente de uma empresa
náutica, onde todos os anteriores pertencem a Vila Real de Santo António. A escolha
das anteriores localidades para a realização da presente investigação segue o critério já
apontado no plano de amostragem, que se refere a fatores facilitadores da ocorrência do
crime em estudo, como sejam locais transfronteiriços (e.g. Vila Real de Santo António e
Caminha) e locais ermos (e.g. Caminha).
O facto da amostra possuir uma dimensão reduzida, prede-se com o principal
fator referente à baixa taxa de criminalidade relacionada com o furto de motores fora-
de-borda, quando comparada com a criminalidade geral em Portugal, o que faz com que
a presente população alvo seja também ela reduzida.
O passo seguinte é entrar em contacto com a amostra selecionada de Caminha e
de Vila Real de Santo António, para que, depois de se explicitar os objetivos do estudo
e a garantia de confidencialidade dos dados prestados pelo respondente, se possa,
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
30
mediante a autorização dos mesmos, prosseguir o estudo para a administração das
entrevistas destinadas à amostra (anexo II, III e IV).
Para que a administração das entrevistas se torne possível, foi necessária a
elaboração de um termo de consentimento informado (anexo I), para que os
respondentes assinem antes de cada entrevista, uma vez que este é um documento
imprescindível que atesta a livre vontade do entrevistado em colaborar com a
investigação em causa.
O objetivo, os termos e a pertinência da presente investigação serão sempre
explicitados antes que o entrevistado assine o termo de consentimento informado.
O local escolhido para a realização das entrevistas deve ser neutro para ambas as
partes e deve garantir a confidencialidade dos dados fornecidos, pelo que será solicitado
aos Comandos Locais da Polícia Marítima de Caminha e de Vila Real de Santo António
uma sala para a realização das entrevistas, em anexo.
Ressalva-se o facto dos anteriores procedimentos não decorrerem como o
previsto.
2.2. Resultados
Os dados obtidos através das entrevistas ajudam a deslindar os objetivos
propostos para esta investigação na medida em que, através das respostas dadas pelos
trabalhadores e sócios-gerentes destas empresas náuticas sediadas junto de locais onde
ocorrem furtos, pode-se deduzir qual o interesse em furtar motores fora-de-borda devido
ao elevado lucro que reverte das vendas, mas sobretudo conhecer quais os países para
onde são vendidos estes motores, o que poderá revelar linhas importantes para
desvendar redes de tráfico destes motores fora-de-borda. Através das respostas dadas
pelos agentes da Polícia Marítima, pretende-se que o modus operandi destes infratores
seja revelado, que também se desvende aqui a existência de rotas de tráfico dos motores
fora-de-borda e que se confirme o fato de não existir ainda detidos por este tipo de
crime. Quanto à entrevista administrada às vítimas de furto a motores fora-de-borda,
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
31
pretende-se atestar que o principal interesse em furtar estes motores se prende com o
motivo único do elevado lucro na revenda destes motores furtados e na facilidade com
que estes são furtados, pelo fato de não haver vigilância às embarcações.
Quanto à planificação do tipo de análise dos dados recolhidos, e uma vez que a
metodologia deste projeto segue a investigação qualitativa e os dados recolhidos são
dados não métricos, faz todo o sentido que o tipo de análise se alicerce numa análise de
conteúdo. Os dados recolhidos das entrevistas serão organizados em matrizes para uma
consulta facilitada dos mesmos.
2.3. Discussão
Este é sem dúvida um projeto de graduação inovador e original que abre
horizontes na investigação deste fenómeno criminal. É, de resto, um estudo que
aprofunda conhecimentos em âmbito do furto a motores fora-de-borda, da Polícia
Marítima por ser a força de segurança que por inerência tem a seu cargo a investigação
deste crime e pelo facto de a Lei se Segurança Interna lhe conferir o estatuto de órgão
de polícia criminal, e por último, em âmbito da cooperação inter-policial pelo facto de
ser crucial, no que respeita à investigação do crime de furto de motores fora-de-borda,
que as forças policiais nacionais e internacionais cooperem no sentido de trocarem
informação policial. O presente projeto prima pela originalidade, essencialmente porque
é um tema pouco estudado tanto a nível nacional como internacional, o que se constatou
após a revisão bibliográfica.
A descoberta das motivações e os objetivos que levam indivíduos a furtar
motores fora-de-borda é absolutamente determinante para a prevenção deste tipo de
crime contra o património. Já conhecendo o fenómeno criminal em causa, o modus
operandi dos infratores, e o ponto de vista das vítimas, relevam deste projeto linhas de
orientação muito importantes para que a Criminologia, como ciência que estuda o
fenómeno criminal e como ciência presente neste estudo, atue futuramente na realização
de um plano de prevenção para este crime.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
32
Conclusão
Fica, com este projeto de graduação explicitado quais as competências da Polícia
Marítima, nomeadamente, que esta está cometida a funções de carácter específico em
âmbito marítimo-portuário o que lhe confere o estatuto de única autoridade de polícia
nacional preparada em qualidade e funcionalizada no que respeita à segurança de
pessoas, navios, embarcações e bens.
Assim, no seguimento do que anteriormente foi exposto, cabe à polícia
marítima, como polícia de especialidade e órgão de investigação criminal proclamado
na Lei de Segurança interna, a investigação do crime por furto a motores fora-de-borda.
No que respeita à cooperação inter-policial também abordada neste estudo,
mostra-se de grande relevância o cumprimento de preceitos já estatuídos em regimes
legais por parte das autoridades policiais nacionais e internacionais. Preceitos estes, que
estão diretamente relacionados com o dever de partilha de informação policial relevante
para crimes em fase de investigação, como é o caso de investigações relativas a furtos
de motores fora-de-borda.
O crime em estudo não é ainda alvo de estudos profundos, mas a pertinência
deste projeto de graduação é inequívoco, principalmente porque os furtos a motores
fora-de-borda têm vindo a aumentar e o lucro que advém deste crime é substancial, pelo
que é de prever que continue a aumentar. É de veras oportuno saber qual os destinos
destes motores após o furto e quais as motivações dos infratores, pelo que no presente
projeto, se pôde desvendar que as motivações podem-se prender essencialmente com os
lucros que advém deste crime e que o destino destes motores após o furto pode ser a
revenda do motor ou peças, ou o seu tráfico para países como a Espanha. Conjugando
estas informações com o modus operandi dos infratores, relevam dados deste projeto de
grande importância para a prevenção deste crime.
Polícia Marítima: Cooperação inter-policial e furto de motores fora-de-borda a embarcações
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Anexos ______________________________________________________________________
Anexo I: Termo de Consentimento Informado
Termo de Consentimento Informado
Eu, , pelo presente
instrumento, declaro que fui suficientemente esclarecido(a) pela investigadora sobre os
procedimentos da entrevista, a que vou ser submetido(a), do qual sou responsável legal,
tanto dos riscos da entrevista como da utilidade da mesma.
Declaro também que fui informado(a) de todos os cuidados e orientações que
devo seguir a fim de alcançar o melhor resultado. Pelo presente também manifesto
expressamente a minha concordância e meu consentimento para realização do
procedimento acima descrito.
/ / (Local e data)
_____________________
Documento de Identidade
____________________________________________
Nome e assinatura do entrevistado
Anexo II: Guião da entrevista para as empresas náuticas
______________________________________________________________________
Guião da entrevista dirigida aos trabalhadores e sócios-gerentes das empresas
náuticas que constituem a amostra.
A presente entrevista insere-se no âmbito do projeto de graduação do 1º Ciclo de
estudos de Criminologia, lecionado na Universidade Fernando Pessoa, tendo este como
objetivo na sua investigação o deslindar de interesses relativos ao furto dos motores
fora-de-borda e o seu destino após o furto. Ressalva-se, o facto de todos os dados
fornecidos para a presente entrevista, possuírem carácter confidencial.
Questões:
1- Vende em maior percentagem motores fora-de-borda em 2ª mão, ou novos?
2- Vende peças e sucata de motores fora-de-borda?
3- Qual o mercado para onde vende em maior número estes motores e sucata, para
o mercado nacional ou internacional?
4- Lucra mais com o mercado nacional ou internacional?
5- Qual o valor comercial de motores fora-de-borda em 2ª mão comercializados por
esta empresa?
6- Quais as marcas mais vendidas? Coloque por ordem ascendente.
7- Os sócios gerentes ou a empresa estão associados a outras empresas?
8- A quem compra motores em 2ª mão e qual o perfil de quem os vende?
9- Para que tipo de função são utilizados estes motores em 2ª mão após a venda?
10- Já alguma vez foi aliciado para a compra de motores furtados? Se sim qual a
nacionalidade das pessoas?
11- Alguma vez se sentiu tentado a comprar motores ou sucata de origem duvidosa?
Anexo III: Guião da entrevista dirigida à Polícia Marítima
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Guião da entrevista dirigida aos agentes da Polícia Marítima que constituem a
amostra.
A presente entrevista insere-se no âmbito do projeto de graduação do 1º Ciclo de
estudos de Criminologia, lecionado na Universidade Fernando Pessoa, tendo este como
objetivo na sua investigação o deslindar de interesses relativos ao furto dos motores
fora-de-borda e o seu destino após o furto. Ressalva-se, o facto de todos os dados
fornecidos para a presente entrevista, possuírem carácter confidencial.
Questões:
1- Qual o nº de participações de furtos na área de jurisdição do comando nos
últimos 4 anos?
2- Qual o mês de maiores incidentes?
3- Caracterize os locais do furto?
4- O furto de motores de embarcações incide mais sobre a pesca ou sobre
embarcações de recreio?
5- Estas têm seguro?
6- Qual o perfil das vítimas?
7- Qual o grau de instrução de quem furta?
8- E a profissão?
9- Existem suspeitos detidos?
10- E estes têm normalmente antecedentes criminais ou é a 1ª vez?
11- Qual o modus operandi dos infratores?
12- Há evidências da existência de rotas de tráfico de motores fora-de-borda?
Anexo IV: Guião da entrevista dirigida às vítimas de furto de motores fora-de-borda
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Guião da entrevista dirigida às vítimas de furto de motores fora-de-borda a
embarcações que constituem a amostra.
A presente entrevista insere-se no âmbito do projeto de graduação do 1º Ciclo de
estudos de Criminologia, lecionado na Universidade Fernando Pessoa, tendo este como
objetivo na sua investigação o deslindar de interesses relativos ao furto dos motores
fora-de-borda e o seu destino após o furto. Ressalva-se, o facto de todos os dados
fornecidos para a presente entrevista, possuírem carácter confidencial.
Questões:
1- Qual a periocidade com que utiliza a embarcação?
2- Qual foi a última vez que esteve na embarcação?
3- O motor fora-de-borda furtado tinha que valor monetário?
4- O motor tem seguro?
5- Qual o local do furto? Este tem ou não vigilância?
6- Qual o local do fundeadouro da embarcação?
7- Que impacto económico tem o furto do motor fora-de-borda na sua vida?
8- Que apoio pode encontrar junto da seguradora?
9- Qual o destino que acha que estes motores furtados têm após o seu furto?