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TRIBUNA LIBERAL DOMINGO | 14 DE ABRIL | 2013 | 09 S umaré um dia foi Rebouças, que antes era um pequeno povoado da região do Qui- lombo. Simplificadamente, esta foi a transformação que a região passou durante mais de um século de existência histórica. Como toda evolu- ção, o processo construtivo de Suma- ré também deixou marcas e vestígios da sua existência. Essas marcas são o que chamamos de patrimônios cultu- rais. Estes podem ser materiais, como edificações, conjuntos arquitetônicos, complexos urbanos, ou até mesmo, formas documentais. Podem ser tam- bém, patrimônios imateriais, que são as práticas, expressões, conhecimen- tos, usos e costumes que identificam um grupo. Independente da sua for- ma de representação, um patrimônio remete à produção humana de toda ordem, independente de sua origem, época ou natureza, e simboliza o universo histórico e cultural de uma comunidade. O patrimônio preserva a memória. Esta, por sua vez, é um recurso fundamental para a compre- ensão de uma realidade, pois resgata uma situação ameaçada pelo esqueci- mento. Preserva fatos acontecidos em uma sociedade de outrora, que identi- fica os indivíduos recentes. Resumidamente, devemos enten- der que nossa existência é resultado de um processo histórico, econômico, social, político e cultural. Só existimos porque a História nos trouxe a este exato momento. Todo ser humano é um agente histórico e seus atos ge- ram consequências. Somos todos, en- tão, inevitavelmente, consequências históricas, assim como nosso contex- to social. Portanto, é preciso ter esse conceito enraizado na mentalidade social, pois, somente a noção concreta da identidade individual como fruto e consequência de ações coletivas de um passado, nem tão remoto, possi- bilita a preservação desta memória. Precisamos conhecer para, então, proteger. Como iremos nos preocupar em preservar, manter e salvaguardar algo que desconhecemos ou que não remete nenhum tipo de significado da nossa existência? Precisamos en- tender a realidade atual para compre- ender efetivamente a necessidade de salvar os vestígios do passado. Portan- to, neste artigo iremos apresentar aos cidadãos sumareenses seus patrimô- nios históricos já preservados, os que estão em processo para tal e sua enti- dade protetora. CONDEPHAEA Criado em 1987, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Ar- tístico, Etnográfico e Ambiental de Sumaré (CONDEPHAEA), é o órgão municipal que tem por finalidade bá- sica promover o tombamento de bens encontrados em território municipal, cuja proteção, restauração, conserva- ção ou preservação, seja de interesse público em função de seu valor histó- rico, artístico, etnológico ou ambien- tal. Ou seja, este conselho deve zelar pela memória da cidade de Sumaré, tombando, isto é, mantendo, preser- vando e registrando em livro tombo, os bens de interesse da comunidade para preservação. Sumaré possui atualmente regis- trado no livro tombo de bens imóveis, três patrimônios: 1º: - ANTIGA PREFEITURA - O primeiro imóvel tombado de Sumaré é o prédio da antiga Prefeitura Muni- cipal, que atualmente é o Centro de Memória “Thomaz Didona” e abriga a sede da Associação Pró-Memória de Sumaré. Quando Rebouças era ainda distrito de Campinas, seu pri- meiro subprefeito, Antonio Rodrigues Azenha, fez de tudo para que fosse construído um prédio para a Subpre- feitura. Assim, em 1913, ergue-se a sede da Subprefeitura de Rebouças, que só teve sua edificação reformada em 1937, para instalar a moradia do zelador. Quando da emancipação de Campinas, em 1953, no prédio fun- cionou a primeira Câmara Munici- pal e Prefeitura até que, em 1964, foi construído o Paço Municipal da Rua Dom Barreto. Desse ano em diante o edifício serviu para abrigar a Guarda-Mirim, a Biblioteca Municipal, o curso de Admissão ao Ginásio Estadual, a di- retoria da APM do Segundo Grupo Escolar e as salas de aula do Colégio Comercial até 1971. Durante mais de 20 anos foi implantado nesse prédio o Pronto Socorro Municipal e, de 1990 a 1996, foi sede do Departamento de Saúde e Higiene. Após quase um sé- culo de uso, em 1998, foi tombado pelo CONDEPHAEA e transformado no Centro de Memória “Thomaz Di- dona”. Neste ano de 2013 o edifício completa 100 anos de história e está carregado da memória e identidade do povo sumareense. 2º: - IGREJA DO BOM JESUS DO MATÃO - A Igreja do Bom Je- sus do Matão foi tombada em 26 de julho de 2000. A história de sua cons- trução está intrinsecamente ligada ao seu bairro e à cidade de Sumaré. Foi construída em 1917, por Giovanni Fantinatto, imigrante italiano, antigo morador local que ao chegar ao Brasil, fizera uma promessa a Nossa Senho- ra do Monte Bérico, na qual, se con- seguisse comprar um pequena terra para viver com sua família, iria cons- truir uma capela em sua homenagem. Comprou um sítio; construiu primeiro a igreja e depois sua casa. Nomeou-a em homenagem ao filho da padro- eira, o Senhor Bom Jesus. Sua torre foi construída somente em 1928 e re- cebeu o forro em 1946 e, o bairro do Matão cresceu em suas redondezas. 3º: COMPLEXO FERROVI- ÁRIO DE SUMARÉ - O tomba- mento do Complexo Ferroviário foi homologado em 14 de novembro de 2006. Compreende a preserva- ção do edifício da Estação Ferrovi- ária, do conjunto da Subestação de Energia e da Vila dos funcionários. A importância deste conjunto patri- monial é imprescindível para a exis- tência do nosso município. Eis sua história: Em 1868, uma união de fazendeiros de café fundou a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que teria como objetivo unir, através da linha férrea, o interior pau- PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE SUMARÉ Preservar e Proteger Estação Ferroviária em 2003 Igreja Senhor Bom Jesus do Matão, antes de sua restauração Subestação Ferroviária FERNANDA BIONDO Historiadora e Diretora da Associação Pró-Memória de Sumaré FOTOS: ASSOCIAçãO PRó-MEMóRIA/SUMARé Tribuna Memória lista ao porto de Santos. Neste contex- to, o pequeno vilarejo que se formava às margens do Ribeirão Quilombo, foi ponto de instalação de uma das esta- ções intermediárias, que dinamizaria a produção cafeeira. Assim, em 27 de agosto de 1875, foi inaugurada a Esta- ção Ferroviária de Rebouças, que ga- nhou esse nome em homenagem a seu engenheiro, Antônio Pereira Rebou- ças, que falecera durante sua constru- ção. A Companhia Paulista de Estra- das de Ferro preocupou-se, também, com o uso da tração elétrica nas fer- rovias e, em 1925, o trecho de Rebou- ças precisaria ser eletrificado e então iniciaram-se as obras da Subestação de Energia e das casas dos ferroviários. Desta forma, aquele pequeno vila- rejo já existente começara a crescer e ganhar forma de cidade no entorno da ferrovia, que se tornara ponto de referência para a localização das casas e terrenos. Como o professor Francis- co Antônio de Toledo bem descreve, “foi tão certa e decisiva a construção da Estação Rebou- ças onde ela está que passou a ser polo dinamizador da econo- mia e do povoamento, deixando quase à sombra bairros e sítios arredores”. Sumaré que nós conhecemos atu- almente nasceu, criou vida e forma, cresceu se desenvolveu e se tornou o que transparece aos nossos olhos hoje, em função da implantação da Estação Ferroviária. Se Sumaré é uma flor, a Estação é a semente que a germinou. Esses são os três patrimônios his- tóricos de Sumaré. Preservados por lei, porém em precário estado de con- servação, na realidade. Existem ain- da, no CONDEPHAEA, processos em estudo para tombamento de outros patrimônios municipais. Entre eles, o Conjunto da Praça da República; a Igreja de Santana; os jatobeiros da praça Ana Makarenko; o Horto Flo- restal; o Complexo da Rua Bandeiran- tes; entre outros. Assim, a Associação Pró-Memória de Sumaré convida a todos os moradores a visitar esses pa- trimônios; a reconhecer outros a se- rem preservados; a ajudar a fiscalizar e preservar nossa história e memória. ASSOCIAÇÃO PRÓ-MEMÓRIA DE SUMARÉ Temos um acervo de aproximadamente 200.000 documentos e 40.000 fotos. Se tiver interesse em preservar as fotos de sua família ou publicá-las, dirija-se ao Centro de Memória. Estudantes, professores, pesquisadores e população em geral são sempre bem-vindos. A Associação Pró-Memória é uma entidade particular, sem fins lucrativos. Se você quiser ajudá-la a se manter ou ampliar suas atividades, torne-se um sócio. Custa R$ 20,00 por mês. Por conta disso, você recebe um DVD com todo material publicado no mês pela imprensa local e um filme original de Sumaré. Endereços: Praça da República 102 – Centro –E-mail [email protected] - Fones: 3803.3016 / 3883.8829 RÁDIO WEB PRÓ-MEMÓRIA DE SUMARÉ 24 horas de música sem parar. Músicas originais e de época. Vale a pena ouvir. E curtir.

PATRIMôNIO HISTóRICO DE SUMARÉ Preservar e Proteger · ponto de instalação de uma das esta-ções intermediárias, que dinamizaria a produção cafeeira. Assim, em 27 de agosto

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tribuna liberaldomingo | 14 dE ABRiL | 2013 | 09

Sumaré um dia foi Rebouças, que antes era um pequeno povoado da região do Qui-lombo. Simplificadamente,

esta foi a transformação que a região passou durante mais de um século de existência histórica. Como toda evolu-ção, o processo construtivo de Suma-ré também deixou marcas e vestígios da sua existência. Essas marcas são o que chamamos de patrimônios cultu-rais. Estes podem ser materiais, como edificações, conjuntos arquitetônicos, complexos urbanos, ou até mesmo, formas documentais. Podem ser tam-bém, patrimônios imateriais, que são as práticas, expressões, conhecimen-tos, usos e costumes que identificam um grupo. Independente da sua for-ma de representação, um patrimônio remete à produção humana de toda ordem, independente de sua origem, época ou natureza, e simboliza o universo histórico e cultural de uma comunidade. O patrimônio preserva a memória. Esta, por sua vez, é um recurso fundamental para a compre-ensão de uma realidade, pois resgata uma situação ameaçada pelo esqueci-mento. Preserva fatos acontecidos em uma sociedade de outrora, que identi-fica os indivíduos recentes.

Resumidamente, devemos enten-der que nossa existência é resultado de um processo histórico, econômico, social, político e cultural. Só existimos porque a História nos trouxe a este exato momento. Todo ser humano é um agente histórico e seus atos ge-ram consequências. Somos todos, en-tão, inevitavelmente, consequências históricas, assim como nosso contex-to social. Portanto, é preciso ter esse conceito enraizado na mentalidade social, pois, somente a noção concreta da identidade individual como fruto e consequência de ações coletivas de um passado, nem tão remoto, possi-bilita a preservação desta memória. Precisamos conhecer para, então, proteger. Como iremos nos preocupar em preservar, manter e salvaguardar algo que desconhecemos ou que não remete nenhum tipo de significado da nossa existência? Precisamos en-tender a realidade atual para compre-ender efetivamente a necessidade de salvar os vestígios do passado. Portan-to, neste artigo iremos apresentar aos cidadãos sumareenses seus patrimô-nios históricos já preservados, os que estão em processo para tal e sua enti-dade protetora.

CONDEPHAEACriado em 1987, o Conselho de

Defesa do Patrimônio Histórico, Ar-tístico, Etnográfico e Ambiental de Sumaré (CONDEPHAEA), é o órgão municipal que tem por finalidade bá-sica promover o tombamento de bens encontrados em território municipal, cuja proteção, restauração, conserva-ção ou preservação, seja de interesse público em função de seu valor histó-rico, artístico, etnológico ou ambien-tal. Ou seja, este conselho deve zelar pela memória da cidade de Sumaré, tombando, isto é, mantendo, preser-vando e registrando em livro tombo, os bens de interesse da comunidade para preservação.

Sumaré possui atualmente regis-trado no livro tombo de bens imóveis, três patrimônios:

1º: - ANTIGA PREFEITURA - O primeiro imóvel tombado de Sumaré é o prédio da antiga Prefeitura Muni-cipal, que atualmente é o Centro de Memória “Thomaz Didona” e abriga a sede da Associação Pró-Memória de Sumaré. Quando Rebouças era ainda distrito de Campinas, seu pri-meiro subprefeito, Antonio Rodrigues Azenha, fez de tudo para que fosse construído um prédio para a Subpre-feitura. Assim, em 1913, ergue-se a sede da Subprefeitura de Rebouças, que só teve sua edificação reformada em 1937, para instalar a moradia do zelador. Quando da emancipação de Campinas, em 1953, no prédio fun-cionou a primeira Câmara Munici-pal e Prefeitura até que, em 1964, foi construído o Paço Municipal da Rua Dom Barreto.

Desse ano em diante o edifício serviu para abrigar a Guarda-Mirim, a Biblioteca Municipal, o curso de Admissão ao Ginásio Estadual, a di-retoria da APM do Segundo Grupo Escolar e as salas de aula do Colégio Comercial até 1971. Durante mais de 20 anos foi implantado nesse prédio o Pronto Socorro Municipal e, de 1990 a 1996, foi sede do Departamento de Saúde e Higiene. Após quase um sé-culo de uso, em 1998, foi tombado pelo CONDEPHAEA e transformado no Centro de Memória “Thomaz Di-dona”. Neste ano de 2013 o edifício completa 100 anos de história e está carregado da memória e identidade do povo sumareense.

2º: - IGREJA DO BOM JESUS DO MATÃO - A Igreja do Bom Je-sus do Matão foi tombada em 26 de julho de 2000. A história de sua cons-trução está intrinsecamente ligada ao seu bairro e à cidade de Sumaré. Foi construída em 1917, por Giovanni Fantinatto, imigrante italiano, antigo morador local que ao chegar ao Brasil, fizera uma promessa a Nossa Senho-ra do Monte Bérico, na qual, se con-seguisse comprar um pequena terra para viver com sua família, iria cons-truir uma capela em sua homenagem. Comprou um sítio; construiu primeiro a igreja e depois sua casa. Nomeou-a em homenagem ao filho da padro-eira, o Senhor Bom Jesus. Sua torre foi construída somente em 1928 e re-cebeu o forro em 1946 e, o bairro do Matão cresceu em suas redondezas.

3º: COMPLEXO FERROVI-ÁRIO DE SUMARÉ - O tomba-mento do Complexo Ferroviário foi homologado em 14 de novembro de 2006. Compreende a preserva-ção do edifício da Estação Ferrovi-ária, do conjunto da Subestação de Energia e da Vila dos funcionários. A importância deste conjunto patri-monial é imprescindível para a exis-tência do nosso município.

Eis sua história: Em 1868, uma união de fazendeiros de café fundou a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que teria como objetivo unir, através da linha férrea, o interior pau-

PATRIMôNIO HISTóRICO DE SUMARÉ

Preservar e Proteger

Estação Ferroviária em 2003

Igreja Senhor Bom Jesus do Matão, antes de sua restauração

Subestação Ferroviária

Fernanda biondoHistoriadora e Diretora da Associação Pró-Memória

de Sumaré

Fotos: ASSociAção Pró-MeMóriA/SuMAré

tribuna Memória

lista ao porto de Santos. Neste contex-to, o pequeno vilarejo que se formava às margens do Ribeirão Quilombo, foi ponto de instalação de uma das esta-ções intermediárias, que dinamizaria a produção cafeeira. Assim, em 27 de agosto de 1875, foi inaugurada a Esta-ção Ferroviária de Rebouças, que ga-nhou esse nome em homenagem a seu engenheiro, Antônio Pereira Rebou-ças, que falecera durante sua constru-ção. A Companhia Paulista de Estra-das de Ferro preocupou-se, também, com o uso da tração elétrica nas fer-rovias e, em 1925, o trecho de Rebou-ças precisaria ser eletrificado e então iniciaram-se as obras da Subestação de Energia e das casas dos ferroviários.

Desta forma, aquele pequeno vila-rejo já existente começara a crescer e ganhar forma de cidade no entorno da ferrovia, que se tornara ponto de referência para a localização das casas e terrenos. Como o professor Francis-co Antônio de Toledo bem descreve,

“foi tão certa e decisiva a construção da Estação Rebou-ças onde ela está que passou a ser polo dinamizador da econo-mia e do povoamento, deixando quase à sombra bairros e sítios arredores”.

Sumaré que nós conhecemos atu-almente nasceu, criou vida e forma, cresceu se desenvolveu e se tornou o que transparece aos nossos olhos hoje, em função da implantação da Estação Ferroviária. Se Sumaré é uma flor, a Estação é a semente que a germinou.

Esses são os três patrimônios his-tóricos de Sumaré. Preservados por lei, porém em precário estado de con-servação, na realidade. Existem ain-da, no CONDEPHAEA, processos em estudo para tombamento de outros patrimônios municipais. Entre eles, o Conjunto da Praça da República; a Igreja de Santana; os jatobeiros da praça Ana Makarenko; o Horto Flo-restal; o Complexo da Rua Bandeiran-tes; entre outros. Assim, a Associação Pró-Memória de Sumaré convida a todos os moradores a visitar esses pa-trimônios; a reconhecer outros a se-rem preservados; a ajudar a fiscalizar e preservar nossa história e memória.

ASSOCIAÇÃO PRÓ-MEMÓRIA DE SUMARÉtemos um acervo de aproximadamente 200.000 documentos e 40.000 fotos. se tiver interesse em preservar as fotos de sua família ou publicá-las, dirija-se ao Centro de memória. Estudantes,

professores, pesquisadores e população em geral são sempre bem-vindos. A Associação Pró-memória é uma entidade particular, sem fins lucrativos. se você quiser ajudá-la a se manter ou ampliar

suas atividades, torne-se um sócio. Custa R$ 20,00 por mês. Por conta disso, você recebe um dVd com todo material publicado no mês pela imprensa local e um filme original de sumaré.

endereços: Praça da república 102 – centro –e-mail [email protected] - Fones: 3803.3016 / 3883.8829

rÁdio Web PrÓ-MeMÓria

de SuMarÉ24 horas de música sem parar. músicas originais e de época. Vale a pena ouvir. E curtir.