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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428 Page 1 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDT vitruvius | arquitextos 120.00 vitruvius.com.br como citar RAMASSOTE, Rodrigo Martins; BESSONI, Giorge . Patrimônio Imaterial: ações e projetos da Superintendência do Iphan no DF. , São Paulo, ano 10, n. 120.00, Vitruvius, maio 2010 Arquitextos <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428>. Introdução Este artigo tem como objetivo divulgar as ações e projetos voltados para a área do patrimônio imaterial promovidos pela Superintendência do Iphan no Distrito Federal. Para tanto, pretende-se descrever os principais trabalhos desenvolvidos por esta unidade nos últimos quatro anos, indicando as áreas privilegiadas de atuação, o quadro conceitual adotado, os resultados obtidos – em alguns casos apenas parcialmente, por força do próprio andamento das atividades –, as etapas concluídas até o momento e, por fim, os objetivos futuros almejados. Para além de sua arquitetura modernista, renomada e protegida pelo instrumento do tombamento, Brasília possui um universo de referências culturais de natureza imaterial de grande importância para a conformação da identidade e do patrimônio local, o qual, na maior parte das vezes, passa despercebido ou então acaba obscurecido pela monumentalidade de suas edificações. Ao investir na produção de conhecimento e implantação de iniciativas dedicadas à proteção deste universo, a Superintendência do Iphan no Distrito Federal busca fortalecer e dar visibilidade a todos os grupos e segmentos sociais que participaram, ao longo desses cinquenta anos, da construção do patrimônio cultural da capital do país. A partir de 04 de agosto de 2000, por efeito do Decreto 3551, que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vem realizando políticas públicas voltadas para o reconhecimento, a valorização e o apoio sustentável aos chamados bens culturais de natureza imaterial. Desde então, ofícios e modos de fazer tradicionais, formas de expressão (musicais, coreográficas, cênicas, literárias e lúdicas), lugares onde se concentram ou se reproduzem práticas culturais e celebrações coletivas associadas, em especial, a minorias étnicas e segmentos sociais marginalizados, passaram a ser, de modo sistemático, objeto de ações de inventários, de proposições de registros e de projetos de salvaguarda. De uso e difusão recentes, a expressão Patrimônio Imaterial ainda causa certa celeuma e equívocos, tanto no âmbito do debate acadêmico quanto entre os próprios grupos sociais a cujos universos de práticas e representações culturais o termo se refere. Conforme define o 2º artigo da Convenção para a , ocorrida em Paris, em 2003, a expressão patrimônio Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial imaterial designa “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana”. (1) Embora tenha sido promulgado apenas nos últimos anos, cabe lembrar que a instituição do Decreto 3551 representa, dentro do Iphan, o ponto culminante de um longo processo de iniciativas que remontam, no

Patrimônio Imaterial: ações e projetos da Superintendência do Iphan no DF

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Artigo sobre Patrimônio Imaterial e ações e projetos daSuperintendência do Iphan no DF para sua preservação.

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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 1 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTvitruvius | arquitextos 120.00 vitruvius.com.brcomo citarRAMASSOTE, Rodrigo Martins; BESSONI, Giorge . Patrimnio Imaterial: aes e projetos daSuperintendncia do Iphan no DF., So Paulo, ano 10, n. 120.00, Vitruvius, maio 2010 Arquitextos.IntroduoEste artigo tem como objetivo divulgar as aes e projetos voltados para a rea do patrimnio imaterialpromovidos pela Superintendncia do Iphan no Distrito Federal. Para tanto, pretende-se descrever osprincipais trabalhos desenvolvidos por esta unidade nos ltimos quatro anos, indicando as reasprivilegiadas de atuao, o quadro conceitual adotado, os resultados obtidos em alguns casos apenasparcialmente, por fora do prprio andamento das atividades , as etapas concludas at o momento e,por fim, os objetivos futuros almejados.Para alm de sua arquitetura modernista, renomada e protegida pelo instrumento do tombamento, Brasliapossui um universo de referncias culturais de natureza imaterial de grande importncia para aconformao da identidade e do patrimnio local, o qual, na maior parte das vezes, passa despercebidoou ento acaba obscurecido pela monumentalidade de suas edificaes. Ao investir na produo deconhecimento e implantao de iniciativas dedicadas proteo deste universo, a Superintendncia doIphan no Distrito Federal busca fortalecer e dar visibilidade a todos os grupos e segmentos sociais queparticiparam, ao longo desses cinquenta anos, da construo do patrimnio cultural da capital do pas.A partir de 04 de agosto de 2000, por efeito do Decreto 3551, que instituiu o Registro de Bens Culturais deNatureza Imaterial e criou o Programa Nacional de Patrimnio Imaterial, o Instituto do Patrimnio Histricoe Artstico Nacional (Iphan) vem realizando polticas pblicas voltadas para o reconhecimento, avalorizao e o apoio sustentvel aos chamados bens culturais de naturezaimaterial. Desde ento, ofciose modos de fazer tradicionais, formas de expresso (musicais, coreogrficas, cnicas, literrias e ldicas),lugares onde se concentram ou se reproduzem prticas culturais e celebraes coletivas associadas, emespecial, a minorias tnicas e segmentos sociais marginalizados, passaram a ser, de modo sistemtico,objeto de aes de inventrios, de proposies de registros e de projetos de salvaguarda.De uso e difuso recentes, a expresso Patrimnio Imaterial ainda causa certa celeuma e equvocos, tantono mbito do debate acadmico quanto entre os prprios grupos sociais a cujos universos de prticas erepresentaes culturais o termo se refere. Conforme define o 2 artigo da Conveno para a, ocorrida em Paris, em 2003, a expresso patrimnio Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterialimaterial designaas prticas, representaes, expresses, conhecimentos e tcnicas junto com os instrumentos, objetos,artefatos e lugares que lhes so associados que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, osindivduos reconhecem como parte integrante de seu patrimnio cultural. Este patrimnio cultural imaterial,que se transmite de gerao em gerao, constantemente recriado pelas comunidades e grupos emfuno de seu ambiente, de sua interao com a natureza e de sua histria, gerando um sentimento deidentidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito diversidade cultural e criatividade humana. (1)Embora tenha sido promulgado apenas nos ltimos anos, cabe lembrar que a instituio do Decreto 3551representa, dentro do Iphan, o ponto culminante de um longo processo de iniciativas que remontam, nohttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 2 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTrepresenta, dentro do Iphan, o ponto culminante de um longo processo de iniciativas que remontam, nolimite, ao anteprojeto elaborado em 1936 por Mrio de Andrade para a criao do rgo, no qual j seprevia o estudo e reconhecimento de expresses culturais populares. Por razes diversas, tal perspectivano foi implementada naquele momento mas uma srie de eventos, movimentos e experinciasposteriores podem ser identificados como marcos decisivos que impulsionaram tanto a elaborao eregulamentao da legislao nacional a respeito da matria quanto a formulao de instrumentosjurdicos e administrativos e formas apropriadas de acautelamento que levassem em conta ascaractersticas especficas dos bens em questo. (2)Se as dimenses materiais e imateriais do patrimnio cultural so conceitualmente concebidas comocomplementares e indissociveis, no que se refere gesto e protees legais envolvidas com bens denatureza material e bens de natureza imaterial h ntidas diferenas de abordagens: para garantir aintegridade do bem tombado, so necessrias vistorias, visitas tcnicas, fiscalizaes e, caso sejanecessrio, emisso de autorizaes, notificaes e embargos. J em relao ao registro, o Decreto 3551assegura ao bem registrado documentao por todos os meios tcnicos admitidos, cabendo ao Iphanmanter banco de dados com o material produzido durante a instruo do processo, bem como ampladivulgao e promoo. Enquanto o tombamento busca promover a proteo e conservao dascaractersticas de interesse preservao de uma obra de arte ou edificao ou stio arqueolgico, oinstrumento do registro pressupe o carter processual e dinmico das formas e significados dos benssob sua alada, submetidos por seus praticantes a um contnuo processo de recriao e atualizao,colocando nfase, sobretudo, na sua continuidade histrica e referncia identitria para uma coletividade.Da a substituio, como esclarece Mrcia SantAnna, da:idia de autenticidade ancorada na originalidade e permanncia de atributos tangveis por outra, quetome como parmetro as prticas tradicionais e as dimenses sociais do patrimnio, alm dos contextosculturais que lhe conferem significado [...], a seleo e avaliao dos bens culturais imateriais devem estarapoiadas mais em noes de referncia cultural e de continuidade histrica do que no conceito deautenticidade que tradicionalmente estrutura o campo da preservao. (3)Conquanto no esteja presente no texto do Decreto 3551, a proposio do registro prev a execuo doschamados planos de salvaguarda. Com isso, para alm da descrio acurada dos principais elementosculturalmente relevantes do bem cultural submetido ao processo de registro, as pesquisas promovidas narea procuram diagnosticar entraves e dificuldades que o afligem, com o intuito de promover projetos eaes de fomento capazes de garantir-lhe as condies sociais e materiais necessrios para a suareproduo e continuidade.Quais so os mecanismos de atuao mobilizados pela rea do patrimnio imaterial? De modo geral, osbens de natureza imaterial podem ser preservados por meio de trs tipos de instrumentos: aes deinventrios, proposies de registros e projetos de salvaguarda.Os inventrios tm como objetivo produzir conhecimento sobre os aspectos da vida social aos quais soatribudos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos de referncias de identidade paradeterminado grupo social. Ancorados na noo de referncia cultural, entendida como marcos identitriose de referncia aos quais so atribudos, por parte de um dado grupo social, valores e nexos de relao epertencimento, os inventrios so realizados pelo Iphan com o auxlio da metodologia do InventrioNacional de Referncias Culturais (INRC), concebida com o propsito de nortear as etapas deidentificao, descrio e sistematizao das informaes e do material etnogrfico coletado durante oprocesso de investigao de um bem cultural de natureza imaterial. Essa metodologia, que teve comobase experincias anteriores do IPHAN em Serro (MG), Cidade de Gois (GO) e Diamantina (MG), foiaplicada pela primeira vez, conforme acima mencionamos, na rea do Museu Aberto do Descobrimento(MADE), na costa sul da Bahia. A partir de ento, sua aplicao foi adotada, com os devidos ajustes ahttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 3 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDT(MADE), na costa sul da Bahia. A partir de ento, sua aplicao foi adotada, com os devidos ajustes acada contexto e bem cultural especfico, pelos inventrios realizados pelas unidades do IPHAN.As informaes captadas pelas fichas que compem o INRC permitem tanto a instruo de potenciaisprocessos de registro, passando pela realizao de aes de cunho promocionais, preocupadas emdivulgar em nvel mais amplo o bem estudado, quanto a elaborao de diretrizes de apoio e fomento abens culturais em situao de risco. Conforme explicita o Manual de Aplicao do INRC, os objetivostraados pelo Iphan para o INRC levaram formulao de um procedimento de investigao que sedesenvolve em planos de complexidade crescente, prevendo-se a consecuo de trs etapas sucessivasde pesquisa:, e. Levantamento Preliminar Identificao DocumentaoO registro tem como objetivo reconhecer e valorizar um determinado bem cultural enquanto parteintegrante do patrimnio cultural do Brasil. Nos termos do Decreto 3551, o registro consiste na valorizaoe reconhecimento por parte do Iphan, designado como o rgo representante do Estado responsvel pelaconduo dos processos, da relevncia de um dado bem para a memria, a identidade e a formao dasociedade brasileira. Ao ser registrado, o mesmo inscrito em uma das modalidades disponveis no Livrode Registro, recebendo o ttulo que lhe correspondente. So cinco as modalidades disponveis: Livro deRegistro dos Saberes, no qual sero inscritos conhecimentos e modos defazer enraizados no cotidianodas comunidades; Livro de Registro das Celebraes, onde sero inscritos rituais e festas que marcama vivncia coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras prticas de vida social;Livro de Registro das Formas de Expresso, em que sero inscritas manifestaes literrias, musicais,plsticas, cnicas e ldicas e, por fim, o Livro dos Lugares, no qual sero inscritos mercados, feiras,santurios, praas e demais espaos onde se concentram e reproduzem prticas culturais coletivas; porfim, Livros das Lnguas, que dever contemplar lnguas indgenas, afro-brasileiras e de imigrantes, almdas variedades do prprio portugus, a fim de garantir a manuteno da pluralidade lingstica quecaracteriza o pas.Podem requerer o pedido de registro de um bem cultural: I o Ministrio de Estado da Cultura; II Instituies vinculadas ao Ministrio da Cultura; III Secretarias de Estado, de Municpio e do DistritoFederal; IV Sociedades ou associaes civis. J a abertura e instruo do pedido de registro, oproponente deve orientar-se conforme as normas estabelecidas pela Resoluo n001/2006. importante assinalar, ainda, que o Decreto 3551 prev a reavaliao do processo de registro, no mximo acada dez anos, a fim de acompanhar as mudanas sofridas pelo bem, indicando a permanncia ou nodos valores que justificaram o Registro. Caso tenha ocorrido o desaparecimento de seus elementosessenciais ou ento a sua total descaracterizao, o bem perde o ttulo, mantendo-se o registro apenascomo referncia histrica.Como vimos acima, os projetos de salvaguarda tm como objetivo facultar aos bens registrados ascondies materiais, ambientais e sociais que garantam, de maneira adequada, a sua transmisso ereproduo. Isto feito com base no conhecimento produzido durantes as etapas do processo deinventrio e a instruo do registro, ao trmino dos quais possvel identificar tanto os modos deexpresso e organizao prprios dos produtores e/ou detentores do bem cultural, os instrumentos eprocessos de transmisso do conhecimento ou prticas tradicionais especficas, quanto os dilemas eentraves que oferecem risco para a continuidade do bem, de maneira a definir as formas mais adequadasde proteo. Essas formas podem ir desde a ajuda financeira a detentores de saberes especficos comvistas sua transmisso, at, por exemplo, a organizao comunitria ou a facilitao de acesso amatrias primas. A pretenso maior que a implementao das polticas de salvaguarda desencadeieprocessos sustentveis de fortalecimento e continuidade desse patrimnio, conduzidos, de modoautnomo, por seus prprios produtores.Dentre as possveis linhas de ao, destacam-se, sobretudo, quatro frentes de atuao (4): a) aes dehttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 4 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTDentre as possveis linhas de ao, destacam-se, sobretudo, quatro frentes de atuao (4): a) aes deapoio s condies de transmisso e reproduo de saberes, prticas e tcnicas tradicionais passveis dedesaparecem, por meio do estmulo na montagem ou fortalecimento de bases e estruturas desustentabilidade (envolvendo o auxlio na organizao comunitria, na capacitao gerencial e no acessoaos conhecimentos necessrios busca de apoios e financiamentos); b) aes de valorizao epromoo, que envolvem, numa ampla gama de possibilidades, projetos e atividades interessadas nasensibilizao da sociedade para o reconhecimento e valorizao dos bens de natureza imaterial, como,por exemplo, a execuo de trabalhos de divulgao, de formao de pblico e, eventualmente, projetosde insero econmica, ampliao ou abertura de mercados; c) aes de defesa de direitos depropriedade vinculados ao uso de conhecimentos tradicionais ou reproduo/difuso de padres ou deimagens relacionadas a expresses culturais tradicionais, buscando combater a utilizao indevida eindiscriminada por parte de terceiros ou grandes empresas; d) aes de acompanhamento, avaliao edocumentao, desenvolvidas seja a partir da continuidade e aprofundamento das pesquisas sobreaspectos poucos explorados durante as etapas de inventrio e da instruo do registro seja pelaelaborao de diagnsticos de avaliao de impactos econmicos, culturais ou sociais sobre o bem.Aes e projetos da Superintendncia do Iphan no DFNeste contexto renovado de atuao, grande parte das unidades do Iphan, localizadas em todos osestados do pas e no Distrito Federal, comeou a receber demandas ou ento definir potenciais reas deatuao de inventrios e bens culturais passveis de registro. Em particular, na Superintendncia do Iphando Distrito Federal desde 2005 vm sendo realizadas aes na rea do patrimnio imaterial, com aexecuo do INRC das Feiras Permanentes do Distrito Federal. Embora no tenha prosseguido, talprojeto propiciou tanto a familiarizao dos tcnicos com o instrumental terico-metodlogico mobilizadoquanto com os demais procedimentos envolvidos na consecuo de um projeto na rea em discusso.Nas aes seguintes, a nfase foi colocada na Braslia mstica, com a realizao de dois inventriosnesta temtica: o INRC do Vale do Amanhecer e o INRC dos Lugares de Culto de Matrizes Africanas eAfro-brasileiras do DF e Entorno.INRC das Feiras Permanentes do Distrito FederalO INRC das Feiras do Distrito Federal foi a primeira ao realizada pela Superintendncia do DistritoFederal, com incio no ano de 2005, sob o comando do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social.Naquele momento, a pesquisa pretendia identificar as principais referncias culturais existentes nas feirasdo DF, com vistas a articular polticas pblicas que beneficiassem tanto seus proprietrios e usuriosquanto como fornecer subsdios para uma gesto mais eficaz por parte do poder pblico.Delimitando o Distrito Federal como o stio a ser inventariado, decidiu-se que cada feira configuraria umalocalidade onde se encontram bens culturais, sendo realizado um levantamento histrico de cada umadelas, um inventrio de seus principais referncias culturais, detectando os rituais, festas, celebraes,saberes tradicionais, artesanatos variados e especiais.Definidos os critrios orientadores centrais da pesquisa, a equipe contratada percorreu as principais feirasdo stio delimitado, entrevistando feirantes antigos, transeuntes, clientes, administradores de feira,presidente de associaes, anotando dados em campo, captando imagens, vasculhando arquivospblicos, peridicos e jornais e realizando filmagens no intuito de levantar informaes mais apuradasdiante da ausncia de dados disponibilizados pela documentao oficial. No total, foram identificadas 10Feiras Permanentes, em sua grande maioria nas cidades-satlites do Distrito Federal (com suasrespectivas principais referncias culturais). So elas: a) Feira da Ceillndia; b) Feira do Guar; c) Feirado Ncleo Bandeirante; d) Feira de Taguatinga; e) Feira de Artesanato da Torre de TV; f) Feira dosImportados de Braslia; g) Feira de Planaltina; h) Feira do Cruzeiro; i) Feira do Gama; j) Feira dehttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 5 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTImportados de Braslia; g) Feira de Planaltina; h) Feira do Cruzeiro; i) Feira do Gama; j) Feira deSobradinho.Deste projeto, surgiu a publicao A cidade e suas feiras: um estudo sobre as feiras permanentes de, redigida, a partir de encomenda da Superintendncia do Iphan no Distrito Federal e com base Braslianos resultados alcanado pelo Levantamento preliminar, pelas pesquisadoras da Universidade deBraslia (UnB) Mariza Veloso e Anglica Madeira. Longe de constituir apenas uma sntese dasinformaes etnogrficas obtidas pela pesquisa, a publicao redefiniu o enfoque bsico assumido,passando a encarar as feiras como lugares no sentido antropolgico, isto , como espaos capazes dereunir significados e valores socialmente compartilhados (5) e procurando discutir a dinmica e ofuncionamento delas no mbito de uma cidade modernista. Segundo as autoras, as feiras configuram,numa cidade racionalmente planejada e setorizada, lugares onde, para alm da compra e venda deprodutos [...], ocorrem mltiplos e intensos fluxos de comunicao de pessoas e de bens e onde seforjam vnculos sociais (6), permitindo a insero de grupos socialmente alijados e a garantia dapermanncia de ofcios artesanais e saberes tradicionais, tornados presentes e acessveis na paisagemurbana da cidade (7). Desordenando o traado geomtrico da capital federal com ncleos de ocupaosurgidos de modo espontneo e caprichoso, reconstruindo num novo contexto urbano e social as prticase hbitos trazidos por migrantes de suas regies de origem, as feiras pontilham o mapa do territrioinventariado, dotando a cidade de ncleos e redes de relaes (de parentesco e vizinhana) queassumem o papel de referncias culturais para a insero da populao que aporta na capital federal,rompendo como o anonimato e isolamento caractersticos da cidade moderna.A (8) Braslia MsticaComo se sabe, a construo de Braslia est envolta numa narrativa modernizante e mstica, apoiada emprofecias, indcios e inferncias que evidenciariam certas predestinao mstica e vocaodesenvolvimentista da capital. De um lado, o planejamento urbano e a arquitetura futurista do chamadoPlano Piloto revelam o sonho de instaurar uma civitas no Brasil, inaugurando assim um novo tempo, dedesenvolvimento, no qual Braslia seria a primeira prova da capacidade de modernizao e progresso dopovo brasileiro. Braslia seria, assim, uma nova civilizao, uma urbe sustentada pela viso de igualdadee um espao urbano que possibilitasse a diminuio de diferenas econmicas e de status social.De outro, um mito de carter mstico-religioso, referenciado nas profecias do padre catlico Dom Bosco,que, em 1882 ou 1883, teria tido sonhos e vises que auguravam um futuro grandioso para a Amrica doSul, particularmente para o Brasil, mais precisamente entre os paralelos de 15 e 20, onde surgiria umaterra prometida, uma grande civilizao de riqueza incomensurvel no planalto. A esta profecia do clrigose somaram outras identificaes de cunho mstico a Braslia: cardaco do Planeta Terra; centro chakrairradiador de poder e energia; regio onde se dar a prxima civilizao de Aquarius; Nova Civilizao doTerceiro Milnio. Assim, o mito foi-se tornando lenda e, gradativamente, foi-se plasmando no imaginriosocial da populao local.Com tudo isso, est formado um terreno propcio para o surgimento de novas religiosidades juntamentecom a nova capital, como o caso da Cidade Ecltica, da Cidade da Fraternidade, do Vale doAmanhecer. Dentro ou fora dos limites territoriais do Distrito Federal, estas religiosidades se referemclaramente a Braslia como cidade mstica, como motivo pelo qual seus adeptos vieram para c ou, atmesmo, para a criao e legitimao de suas prticas espirituais. E o movimento continua com osurgimento de novas formas de religiosidade fundadas a partir de sonhos e premonies de pessoas egrupos sociais.Se o conjunto de fatores acima listado impulsionou o surgimento e a proliferao de movimentos religiososalternativos, as principais caractersticas do processo de ocupao da nova capital federal respondemhttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 6 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTalternativos, as principais caractersticas do processo de ocupao da nova capital federal respondempela considervel incidncia de religies de matrizes afro-brasileiras na regio do Distrito Federal e seuentorno. Como se ver adiante, seja para estender a presena de terreiros em outros territrios do Brasil,seja por fora da migrao para Braslia e adjacncias por outros motivos, estas casas religiosas seinstalaram por toda a microrregio: em alguns momentos em apartamentos de Braslia, em outros emchcaras ou em terrenos um pouco menores, na zona urbana das cidades-satlites.Com tais consideraes em vista, a Superintendncia do Iphan no Distrito Federal decidiu investir napesquisa de dois grandes focos de religiosidade local, os quais esto sendo inventariados porpesquisadores contratados pelo rgo. So eles: o INRC do Vale do Amanhecer, iniciado em 2007, e oINRC dos Lugares de Culto de Matrizes Africanas e Afro-Brasileiras, em 2008.INRC do Vale do AmanhecerO Vale do Amanhecer est situado na Regio Administrativa de Planaltina RA VII, e l vive umapopulao superior a 25 mil habitantes, entre mdiuns residentes e pessoas sem filiao com a doutrina.Vale do Amanhecer o nome pelo qual conhecida a comunidade religiosa oficialmente denominadaObras Sociais da Ordem Espiritualista Crist OSOEC. Dista de Planaltina aproximadamente seisquilmetros, ao sul, e ocupa uma rea de 22 alqueires goianos (aproximadamente um milho dequilmetros quadrados).O Vale do Amanhecer foi lido, em termos de patrimnio imaterial, como, porque configura um espao lugarurbano-ritual, repleto de edificaes, smbolos, formas de expresso e celebraes, reunidas no Solar dosMdiuns e na rea do Templo, locais onde ocorrem a maior parte dos rituais da Doutrina.E considerado como tal porque sua aluso primeira como lugar especial, no sentido de sersocialmente representado. Esta representao social associa-se figura de Tia Neiva, mentora econstrutora da Doutrina do Amanhecer. No h dvidas quanto qualificao de lugar diferenciado: noVale existe um conjunto de edificaes especficas, so condensados saberes peculiares, que seexpressam em linguagens, performances e iconografias diversas.Historicamente, o percurso traado pelo Vale at os dias atuais confunde-se com a vida da mdium NeivaChaves Zelaya, popularmente conhecida como Tia Neiva (9). Tem como base temporal o ano de 1957,data em que as obras de Braslia foram iniciadas. Nesta poca, Tia Neiva que trabalha comocaminhoneira na construo dos prdios da capital acometida por conflitos de definio e aceitao desua mediunidade; a sua superao ocorreu mediante as confirmaes e a consolidao de suas vises.Sua relao com o sagrado passa a se solidificar, e o reconhecimento de sua mediunidade encontraparcerias em outras pessoas.A partir de ento, Tia Neiva comea a realizar trabalhos de cunho espiritual ancorados em suamediunidade no Ncleo Bandeirante, onde residia. Em 1959, juntamente com um tmido grupo dereligiosos, funda na regio da Serra do Ouro, no municpio de Alexnia, Gois, a Unio Espiritualista SetaBranca UESB. J instalada na Serra do Ouro, a pequena comunidade no parava de receber novosadeptos.Em fevereiro de 1964, Tia Neiva e seu grupo se transferem para Taguatinga, momento em que ocorre ofim da UESB e o comeo da OSOEC, fundada em 30 de junho do mesmo ano. Esse acontecimento entendido por alguns adeptos como decisivo para a expanso da comunidade religiosa. No entanto,Taguatinga ainda no seria o ltimo local deste grupo religioso liderado por Tia Neiva.Conforme os adeptos acreditam, orientados pela Espiritualidade, o grupo foi guiado para os arredores dePlanaltina e, no ano de 1969, estabelece suas razes e crenas no espao hoje conhecido como Vale dohttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 7 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTConforme os adeptos acreditam, orientados pela Espiritualidade, o grupo foi guiado para os arredores dePlanaltina e, no ano de 1969, estabelece suas razes e crenas no espao hoje conhecido como Vale doAmanhecer. Da em diante muitas transformaes se processaram, a Doutrina se expandiu e, num perodopouco superior a 40 anos, um fenmeno religioso que partilha diversos bens simblicos e materiais seconsolida como comunidade religiosa e espao urbano, mantido, sobretudo, pela manuteno dasolidariedade social em torno desse universo ritual-religioso complexo, composto de elementos religiososde procedncia diversas, mas integrados num conjunto doutrinrio coeso e unificado em torno damanuteno e assistncia espiritual.At o momento, o INRC do Vale do Amanhecer realizou as fases de pesquisa de LevantamentoPreliminar, na qual foram identificadas as principais referncias culturais existentes, e Identificao, emque procurou discutir, em relatrio analtico final, as categorias de espao, territrio, memria, paisagemcultural e geografia cultural, culminando na compreenso do Vale do Amanhecer como, isto lugar sagrado, um lugar imantado, desde a sua escolha, em 1969, como futura sede da entidade Obras Sociais daOrdem Espiritualista Crist (OSOEC), pela dimenso da sacralidade: uma Hierpolis consagrada reproduo e difuso de sua prpria doutrina.Com o trmino do Levantamento Preliminar, no qual foram identificadas 62 referncias culturais, 28pessoas para contato, 103 indicaes bibliogrficas e 79 registros audiovisuais, os pesquisadorescontratados, em comum acordo com os tcnicos da Superintendncia do Iphan no Distrito Federal,decidiram convergir o foco da anlise do inventrio para a categoria de, entendida, conforme com os lugarparmetros conceituais apregoados pelo Manual de Aplicao do INRC, como espaos apropriados porprticas e atividades de naturezas variadas (exemplo: trabalho, comrcio, lazer, religio, poltica, etc)[...].Essa densidade diferenciada quanto a atividades e sentidos abrigados por esses lugares constitui a suacentralidade ou excepcionalidade para a cultura local, atributos que so reconhecidos e tematizados emrepresentaes simblicas ou narrativas. (10)Por seu carter estruturador e inclusivo, a categoria de lugar tornou-se o fio condutor adequado para aapreenso dos principais elementos rituais e doutrinrios existentes no Vale do Amanhecer. Dentre osvrios espaos que compem o seu complexo arquitetnico-paisagstico-ritual, definiram-se dois locais como particularmente significativos: rea do Templo (inclusos o Templo-Me, Turigano e a Estrela focaisde Neruh, Casa Grande, Cabana do Pequeno Paj, Estrela de Davi, Biblioteca do Jaguar, Bonrio, Salodo Grupo Jovem, estacionamento, hotel e cinco blocos comerciais) e o Solar dos Mdiuns (abrangendo aEstrela Candente, Cachoeira do Jaguar, Cabala dos Delfos, Orculo de Koatay 108, Quadrantes ePirmide). Ambos acomodam atividades ritualsticas cotidianas e eventuais, concentrando o maior nmerode adeptos. Ambos, ainda, comearam a ser construdos na dcada de setenta, atravs de indicaesmedinicas recebidas por Tia Neiva.Em conformidade com as etapas de pesquisa predefinidas pela metodologia do INRC, no momento,encontra-se em andamento a fase de Documentao, iniciada em setembro de 2009, que ir realizaruma publicao contendo os resultados alcanados pelas etapas de pesquisa anteriores e um documentoaudiovisual que permita reconhecer os elementos culturalmente relevantes para o entendimento do Valedo Amanhecer.INRC dos Lugares de Culto de Matrizes Africanas e Afro-brasileiras do DF e EntornoA pesquisa teve incio em 2008, aps e a partir da solicitao de adeptos de casas de umbanda ecandombl para preservao de lugares centrais de culto e para considerao dos terreiros nas aes deplanejamento territorial. Como logo ficou claro que a localizao das casas extrapolava os limitesterritoriais do Distrito Federal, situadas na regio compreendida pelo Entorno, embora mantendo umaligao com a cidade de Braslia, decidiu-se estender os limites territoriais da pesquisa, situao quecomprova, uma vez mais, que o universo das referncias culturais tende a atravessar as fronteirashttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 8 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTcomprova, uma vez mais, que o universo das referncias culturais tende a atravessar as fronteirasmantidas pelos marcos geopolticos. Em vista disso, para que o inventrio pudesse ser levado a efeitocom sucesso, foi realizado um acordo de cooperao tcnica com a Superintendncia do Iphan em Gois,o que permitiu uma ao integrada, com a colaborao de tcnicos de ambas as unidades.Em reunio envolvendo tcnicos das Superintendncias do Iphan no DF e em Gois e a equipe tcnica depesquisa contratada, deliberou-se que o critrio definidor que nortearia a identificao das casas de cultoconsistira no conceito de, envolvendo a antiguidade religiosa e de existncia nas lugares matrizeslocalidades onde atuam; a expressividade do nmero de adeptos que seguem os preceitos e as tradies;o desenvolvimento de aes sociais e/ou educativas nas comunidades a que pertencem; oreconhecimento social de sua atuao e da continuidade de suas tradies. De acordo com esseentendimento, os terreiros foram territrios de aes, smbolos, significados, estratgias e atitudes queconformam referncias identitrias e culturais para o Distrito Federal em seu entorno. Tal critrio permite,ainda, a incluso de casas que existem no territrio demarcado desde pouco depois da criao deBraslia, como de terreiros fundados recentemente, todos consistindo em referncias culturais para osadeptos destas religies de matrizes africanas.No foi possvel identificar exaustivamente as casas que se enquadram nos critrios indicados, em razode dificuldades de localizao e acesso, da escassez de recursos e de tempo hbil de pesquisadisponvel. Ao longo da etapa de Levantamento Preliminar, ocorrida entre setembro de 2008 e agosto de2009, foram identificados 26 terreiros em atividade, com a aplicao de questionrios do INRC em 20deles. Dada a amplitude do universo a ser pesquisado, teve incio, ainda em setembro de 2009, umasegunda fase de pesquisa, que pretende aprofundar o conhecimento sobre os terreiros da regiodemarcada e ampliar o nmero de terreiros identificados.Quais so os limites territoriais da rea abrangida pelo Levantamento Preliminar? A pesquisa realizadateve seu recorte espacial na microrregio do Brasil que compreende municpios que integram a RegioIntegrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE). Alm do DF, fazem parte desta reamunicpios de Gois Leste Goiano e de Minas Gerais. Este territrio tem aproximadamente 55.430quilmetros quadrados de extenso e sua populao se aproxima do nmero de 3,5 milhes dehabitantes.Desde a fundao de Braslia, quando um contingente expressivo de pessoas provindas de todo o Brasil,sobretudo da Regio Nordeste, do Rio de Janeiro, de Gois e de Minas Gerais, veio para construir aCapital e dar a configurao inicial do que hoje em dia o Distrito Federal, os terreiros, aqui tidos comoLugares de Culto de Matrizes Africanas e Afro-Brasileiras, foram sendo instalados, tanto no interior doquadriltero do Distrito Federal quanto em cidades-satlites de Braslia e em cidades do Entorno do DF.Seja para estender a presena de terreiros em outros territrios do Brasil, seja por fora da migrao paraBraslia e adjacncias por outros motivos, estas casas religiosas se instalaram por toda a microrregio: emalguns momentos em apartamentos de Braslia, em outros em chcaras ou em terrenos um poucomenores, na zona urbana das cidades-satlites.De acordo com pesquisas acadmicas, os primeiros terreiros chegaram neste territrio h mais ou menos40 anos, e j encontraram logo em seus primeiros momentos todo tipo de preconceito e perseguio,inclusive policial, tendo que se organizar politicamente, para enfrentar os percalos, por meio defederao e de outras estratgias de sobrevivncia. (11)Com isso, podemos afirmar que a existncia dos terreiros de Candombl e Umbanda se confunde com aprpria construo de Braslia. Inicialmente, conforme afirmamos, os primeiros terreiros de Braslia foramimplantados nas residncias dos adeptos, a maioria deles servidores pblicos advindos do Rio de Janeiro.Com o passar dos anos e o decorrer das mudanas na capital federal, muitos terreiros migraram parahttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 9 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTCom o passar dos anos e o decorrer das mudanas na capital federal, muitos terreiros migraram paraoutros espaos, em regies situadas no Entorno do DF. Podemos, a partir destas informaes, afirmarque atualmente maior a quantidade de terreiros de Candombl e Umbanda nos municpios que integramesta microrregio e nas Regies Administrativas do DF as cidades-satlites do que no Plano Piloto.Segundo dados etnogrficos levantados pela pesquisa at o momento, em termos de Naes, a maioriados terreiros de Candombl existentes no DF e Entorno se identifica com a Tradio Ketu, culto baseadonos provenientes da chamada Yorubalndia (12). Ainda h a existncia relevante de terreiros quepertencem Tradio Angola e Nao Jeje Mahin, todas elas cultuando Orixs que na Nao Angolaso chamados de Inkices.Ao final da Etapa Preliminar, foi elaborada, pelos tcnicos do Iphan, a publicao INRC dos Terreiros do, com os objetivos principais de: a) divulgar para o pblico em geral os dados DF e Entorno 1 Faseetnogrficos coligidos nesta primeira fase, devolvendo aos adeptos que autorizaram a realizao dapesquisa e abriram as portas de seus templos para os pesquisadores contratados; b) ensejar ascondies favorveis para o avano da pesquisa, envolvendo de forma ativa a comunidade na construodo INRC; c) contribuir, na medida do possvel, no combate intolerncia religiosa.Questes de ordem fundiria, deficincias ou ausncia de equipamentos de infra-estrutura urbana naslocalidades, queixas contra o descaso do poder pblico em relao ao esquecimento desta populao naelaborao de polticas de planejamento territorial e de promoo da cultura e receio de que os terreirosno perpetuem suas tradies e prticas aps o falecimento de suas respectivas lideranas, eis osdilemas que repontam nos depoimentos dos entrevistados no Levantamento preliminar.Com o incio da 2 etapa da pesquisa, os tcnicos da Superintendncia do Iphan no Distrito Federalenfatizaram junto equipe de pesquisa contratada a necessidade de se aprofundar o conhecimento sobreas questes pouco exploradas durante a primeira incurso da pesquisa, mas de crucial importncia parafuturas aes patrimoniais, em conjunto com a comunidade e outras instituies pblicas, de maneira acontribuir para a afirmao de direitos culturais e identidade de grupos minoritrios e para a manutenoda diversidade religiosa do pas. Dentre os aspectos que merecem uma ateno mais apurada,destacam-se: a) a elaborao de uma genealogia dos terreiros do stio inventariado, com vistas a verificara rede de influncia de tais lugares no contexto territorial pesquisado e com os terreiros inventariados; 2)aprofundamento da relao dos terreiros inventariados com as localidades em que se situam, sobretudodo ponto de vista fundirio; 3) descrio sinttica da disposio espacial do, tanto em relao ao Ilentorno de seu barraco (uso do terreno e situao fundiria) quanto ao seu arranjo interno; c) enfatizar asmodificaes ocorridas nesta casa ao longo de sua trajetria de existncia.Tais so os projetos em andamento na Superintendncia do Iphan no Distrito Federal, cuja continuidade edesdobramento tornar-se-o os desafios a serem enfrentados nos prximos anos. Desafio que envolveno apenas a atuao do Iphan, mas tambm o compromisso dos demais poderes pblicos, instituies ergos locais, da sociedade civil organizada e sobretudo da participao ativa dos grupos na construode um cenrio futuro desejado, no qual, espera-se, polticas de incluso social, valorizao esustentabilidade de nosso patrimnio e desenvolvimento socioeconmico do pas caminharo juntos.notas 1Cf. CURY, ISABELLE (Org.).. 3 Edio, Rio de Janeiro: Iphan, 2004, p. 373. Cartas Patrimoniais2Para uma boa sntese sobre o assunto, confira: Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Os. Braslia: Departamento de Patrimnio Imaterila, 2006. sambas, as rodas, os bumbas os meus e os boishttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 10 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDT (2006). Os sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois3Cf. SANTANNA, Mrcia. A face imaterial do patrimnio cultural: os novos instrumentos dereconhecimento e valorizao In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mrio (Orgs.). Memria e patrimnio:. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 9. ensaios contemporneos4Cf. SantAnna, Mrcia. Polticas pblicas e salvaguarda do patrimnio cultural imaterial. In: FALCO,Andra (Org.).. Srie Encontros e Registro e polticas de Salvaguarda para as culturas popularesEstudos, vol. 6, Rio de Janeiro: Funarte, Iphan, CNFCP, 2008.5MADEIRA, Anglica; Veloso, Mariza. A cidade e suas feiras: um estudo sobre as feiras permanentes de. Braslia, DF: IPhan/15 Superintendncia Regional, 2007, p. 13. Braslia6Idem, ibidem, p. 19.7Idem, ibidem, p. 10.8As linhas mestras desta discusso encontram-se nas investigaes e publicaes pioneiras que DeisSiqueira vem desenvolvendo, desde 1994, no Departamento de Sociologia da Universidade de Braslia,com apoio contnuo do CNPq e em parteda FAPDF, em torno do tema. Cf. SIQUEIRA, Deis; BANDEIRA,Lourdes. O profano e o sagrado na construo da Terra Prometida. In: NUNES, B. F. (Org.). Braslia: a Braslia: Paralelo 15, 1997. ______. Misticismo no Planalto Central: a Chapada construo do cotidiano.dos Veadeiros, chakra cardaco do planeta. In: DUARTE, Laura M. G. (Org.). Tristes Cerrados. Braslia: Paralelo 15, 1998; _______. Misticismo no Planalto Central: a Sociedade e Diversidade.Chapada dos Veadeiros, chakra cardaco do planeta. In: DUARTE, Laura M. G. (Org.). Tristes Cerrados. Braslia: Paralelo 15, 1998; _______. Misticismo no Planalto Central: a Sociedade e Diversidade.Chapada dos Veadeiros, chakra cardaco do planeta. In: DUARTE, Laura M. G. (Org.). Tristes Cerrados. Braslia: Paralelo 15, 1998; SIQUEIRA, Deis. Novas religiosidades na capital Sociedade e Diversidade.do Brasil. In:. Revista do Departamento de Sociologia da USP, vol. 14, n 01. So Paulo: Tempo SocialUniversidade de So Paulo; _______.. As novas religiosidades no Ocidente: Braslia, cidade msticaBraslia: Editora da UNB, 2003; SIQUEIRA, Deis e LIMA, Ricardo Barbosa de. Sociologia das Adeses. Rio de Janeiro/Goinia: Novas religiosidades e a busca mstico-esotrica na capital do Brasil.Garamond/Vieira, 2003; SIQUEIRA, Deis; BANDEIRA, Lourdes, COSTA; Patrcia T. M; OSRIO, Rafael.Perfil dos adeptos e caracterizao dos grupos mstico-esotricos no Distrito Federal. In: SIQUEIRA,Deis e LIMA, Ricardo Barbosa de (Orgs.). Sociologia das adeses: novas religiosidades e a busca Rio de Janeiro/Goinia: Garamond/Vieira, 2003. Por sua vez, esta mstico-esotrica na capital do Brasil.discusso vemsendo aprofundada pela equipe de pesquisa que est realizando o INRC do Vale doAmanhecer, desde 2007, e da qual fazem parte: Deis Siqueira (Coordenadora), Marcelo Reis e JairoZelaya Leite.9Para uma anlise da trajetria biogrfica de Tia Neiva e a construo do Vale do Amanhecer, ver REIS,Marcelo. Discurso e Temporalidades: a construo da memria e da identidade no Vale do Amanhecerhttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 11 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTMarcelo. Discurso e Temporalidades: a construo da memria e da identidade no Vale do Amanhecer 2004. 137p. Dissertao (Mestrado em Histria) - Departamento de Histria, Universidade (1957-2004).de Braslia, Braslia, 2004; ______. Tia Neiva: a trajetria de uma lder religiosa e sua obra, o Vale do 2008. 301p. Tese (Doutorado em Histria) Departamento de Histria, Amanhecer (1957-2007).Universidade de Braslia, Braslia, 2008.Reis (2004; 2007).10Cf. Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Manual de Aplicao do inventrio nacional de. Braslia: Departamento de Identificao e Documentao do Iphan, 2000. p.12. referncias culturais11Cf. ABREU, Joanisa Vieira de. Braslia:Fundao Cultural Os orixs danam no Planalto Central.Palmares,2006; PACHECO, Jandira Gill Chalu. Povo de rua em Braslia, exu e pomba-gira: iconografia e Braslia, 2000. 136 f. Dissertao (Mestrado em Antropologia) - transgresso do imaginrio popular.Instituto de Cincias Sociais da Universidade de Braslia, Braslia, 2000. SANTOS NETO, Jose Marinhodos. 1993. 275 f. Obsesso e modernidade: Um estudo de caso sobre cultos afro-brasileiros em Braslia.Dissertao (Mestrado em Antropologia) - Instituto de Cincias Sociais da Universidade de Braslia,Braslia, 1993.12Territrio do ocidente africano que compreende os pases que falam o idioma Yorub, como Benin, Togo,Costa do Marfim e Nigria.referncias bibliogrficasABREU, Joanisa Vieira de.. Braslia: Fundao Cultural Palmares, Os orixs danam no Planalto Central2006.BESSONI, Giorge; RAMASSOTE, Rodrigo M.. Braslia: Inventrio dos terreiros do DF e Entorno 1 faseSuperintendncia do Iphan no Distrito Federal, 2010.CURY, ISABELLE (Org.).. 3 Edio, Rio de Janeiro: Iphan, 2004. Cartas PatrimoniaisFALCO, Andra (Org.).. 2 Edio. Registro e Polticas de Salvaguarda para as culturas popularesSrie Encontros e Estudos, vol. 6. Rio de Janeiro: Iphan, CNFCP, 2008.FONSECA, Maria Ceclia Londres. Trs anos de existncia do Decreto 3.551/2000. In: O Registro doPatrimnio Imaterial: Dossi final das atividades da Comisso e do Grupo de Trabalho Patrimnio. Braslia: Ministrio da Cultura/ Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, 2003. ImaterialGALINKIN, Ana L.. 1 Edio. Braslia: TechnoPolitk, 2008. A cura no Vale do AmanhecerInstituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Manual de Aplicao do inventrio nacional de. Braslia: Departamento de Identificao e Documentao do Iphan, 2000. referncias culturaisInstituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Os sambas, as rodas, os bumbas os meus e os Departamento de Patrimnio Imaterial, 2006. bois. Braslia:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 12 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTMADEIRA, Anglica; Veloso, Mariza. A cidade e suas feiras: um estudo sobre as feiras permanentes de. Braslia, DF: IPhan/15 Superintendncia Regional, 2007. BrasliaPACHECO, Jandira Gill Chalu. Povo de rua em Braslia, exu e pomba-gira: iconografia e transgresso do. Braslia, 2000. 136 f. Dissertao (Mestrado em Antropologia) - Instituto de Cincias imaginrio popularSociais da Universidade de Braslia, Braslia, 2000.SANTANNA, Mrcia. A face imaterial do patrimnio cultural: os novos instrumentos de reconhecimento evalorizao In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mrio (Orgs.). Memria e patrimnio: ensaios. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. contemporneos_________. Polticas pblicas e salvaguarda do patrimnio cultural imaterial. In: FALCO, Andra(Org.).. Srie Encontros e Estudos, vol. 6. Registro e Polticas de Salvaguarda para as culturas popularesRio de Janeiro: Funarte, Iphan, CNFCP, 2005.SANTOS NETO, Jose Marinho dos. Obsesso e modernidade: Um estudo de caso sobre cultos 1993. 275 f. 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Tese (Doutorado em Histria) Departamento de Histria, Universidade de (1957-2007).Braslia, Braslia, 2008.http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3428Page 13 of 13 Aug 11, 2015 07:57:19AM MDTsobre os autores120.07Um breve olhar sobre os apartamentos de Rino Levi:produo imobiliria, inovao e a promoo modernista de edifcios coletivos verticalizadosna cidade de So Paulo (1)